Parecer 111-13
Parecer 111-13
Parecer 111-13
EXÉRCITO BRASILEIRO
SECRETARIA DE ECONOMIA E FINANÇAS
(Contadoria Geral/1841)
3. LEGISLAÇÃO PERTINENTE
4. RELATÓRIO
4.2.1. sobre a possibilidade de o prazo decadencial de que trata o art. 54 da Lei nº 9.784,
de 1999, não alcançar os chamados erros materiais, podendo a Administração
corrigi-los a qualquer tempo;
4.2.4. sobre a possibilidade de que o parcelamento dos débitos para com a União, do
modo como consta na Portaria Conjunta nº 02-PGFN-SRF, de 2002, não seja
entendido como uma obrigação da Administração, mas sim uma possibilidade a ser
conferida nos limites estabelecidos pelo RAE.
4.3. Pronunciando-se a respeito, a Asse Jur do CCIEx, após estudar o assunto, apresentou
conclusão nos seguintes termos:
5. APRECIAÇÃO
5.1.4. Para os casos em que a anulação fosse possível, ou seja, nas hipóteses em que o ato
gerador do benefício tivesse sido praticado há menos de cinco anos, a anulação poderia ser praticada
desde que por meio de processo administrativo ou de sindicância em que se garantisse ao interessado o
exercício do contraditório e da ampla defesa. Mais do que isso, seria possível pleitear-se do beneficiado a
restituição ao erário dos valores recebidos indevidamente. Tal restituição, no entanto, não se configuraria
no caso de percepção de verbas alimentares, fruto de boa fé, aplicando-se, aí, as Súmulas 249/TCU3 e
34/AGU4.
5.1.5. Em qualquer hipótese, não sendo possível alcançar-se o beneficiado, quer pela
superação do prazo decadencial, quer pela impossibilidade de demonstrar sua má fé, caberia à
Administração perquirir a responsabilidade do agente encarregado da implantação do ato imerecido, por
culpa ou dolo, à luz do §3º do art. 149 do Regulamento de Administração do Exército5, não havendo
limitações, nessa hipótese, quanto a prazos para a recomposição do erário6.
5.2.1 Da não aplicação do prazo decadencial do art. 54 da Lei 9.784, de 1999 aos
atos meramente materiais ou operacionais:
1
Art. 54. O direito da Administração de anular os atos administrativos de que decorram efeitos favoráveis para os
destinatários decai em cinco anos, contados da data em que foram praticados, salvo comprovada má fé. § 1o No caso de
efeitos patrimoniais contínuos, o prazo de decadência contar-se-á da percepção do primeiro pagamento. § 2o Considera-se
exercício do direito de anular qualquer medida de autoridade administrativa que importe impugnação à validade do ato.
2
O entendimento dos tribunais pela prevalência da segurança jurídica, na verdade, permanece vigente. Vide, nesse sentido, o
Recurso Especial 1260763, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, DJe 08/09/2011, e o AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO
REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL 1215897, Rel. Min. Hamilton Carvalhido, DJe 24/03/2011, ambos do Superior
Tribunal de Justiça (STJ).
3
“É dispensada a reposição de importâncias indevidamente percebidas, de boa fé, por servidores ativos e inativos, e
pensionistas, em virtude de erro escusável de interpretação de lei por parte do órgão/entidade, ou por parte de autoridade
legalmente investida em função de orientação e supervisão, à vista da presunção de legalidade do ato administrativo e do
caráter alimentar das parcelas salariais.”
4
“Não estão sujeitos à repetição os valores recebidos de boa fé pelo servidor público, em decorrência de errônea ou
inadequada interpretação da lei por parte da Administração Pública.”
5
Art. 149. As indenizações provenientes de alcance, restituições de recebimentos indevidos ou para reposição de bens, serão
descontadas de uma só vez ou, na sua impossibilidade, em parcelas mensais dos vencimentos ou quantia que, a qualquer
TÍTULO, os responsáveis pela indenização recebam do Estado. (...)§ 3º O fixado neste artigo incidirá sobre os responsáveis
pelo pagamento indevido, quando não for possível alcançar o beneficiado.
6
Na esteira do REsp nº 1.067.561/AM, da 2ª Turma do STJ, Rel. Min. Eliana Calmon
(Continuação do Parecer 111/AJ/SEF, de 30 de setembro de 2013 – página 5)
poderiam ser corrigidos a qualquer tempo, eis que não se constituiriam em atos administrativos no
sentido estrito do termo, mas tão somente em uma exteriorização errônea do ato praticado
adequadamente.
5.2.1.3. Em suma, portanto, de acordo com a Asse Jur/CCIEx, não se anularia o ato em si,
mas sua exteriorização equivocada, tendo em vista a supremacia do interesse público. Em todo caso, tal
anulação deveria ser precedida de processo administrativo que garantisse ao interessado o exercício do
contraditório e da ampla defesa.
5.2.1.4. Em que pese a coerência das argumentações acima, há que se delas divergir. Com
efeito, a exteriorização do ato é conseqüência necessária desse próprio ato, não sendo possível separar
causa de conseqüência. Na realidade, a intenção do art. 54 da Lei 9.784, de 1999, é conferir às relações
jurídicas a imprescindível estabilização depois de superado o prazo de cinco anos. Nesse sentido, não se
pode permitir que a Administração alcance atos – ou exteriorizações de atos – com o objetivo de corrigi-
los sob a escusa de que o erro foi operacional e não substancial. Levado a efeito tal raciocínio, seria
possível retroceder-se ao infinito, alcançando-se atos – ou exteriorizações de atos – praticados há vinte,
trinta, cinqüenta, cem anos, o que seria absurdo, colocando em cheque a evidente razão de existir do
citado dispositivo legal.
para o administrado será idêntica em qualquer dos casos e, por isso, haverá de se consolidar em seu
patrimônio se decorridos mais de cinco anos desde a implantação, sob pena de jamais se obter a almejada
pacificação das relações jurídicas.
5.2.1.6. Deve restar claro que ultrapassado o quinquênio decadencial a segurança jurídica
será o princípio prevalente em detrimento da legalidade. A alegada supremacia do interesse público,
superado o prazo de cinco anos, deve ser pela manutenção do status quo vigente e não pela correção a
qualquer custo de um ato – ou de uma exteriorização de ato – praticado de forma viciada. É repetir: o que
é ilegal torna-se legal pelo decurso do tempo, consolidando-se as relações entre Administração e
administrado, independentemente de o erro constar da substância do ato ou de sua exteriorização, do
mérito ou de sua operacionalização.
5.2.1.7. Demais disso, seria por demais temerário deixar ao alvedrio do administrador a
decisão sobre a natureza do erro administrativo que gera um benefício indevido – se é algo que macula o
ato em si, ou se diz respeito à exteriorização do mesmo. Com efeito, não há parâmetros objetivamente
identificáveis capazes de definir se determinada situação, originalmente ilícita, decorre de erro substancial
ou material.
5.2.1.9. Como se denota, também por esse prisma, dada a insegurança gerada, não há como
se conferir tratamentos diferenciados em face da natureza do erro, afinal, como visto, a repercussão no
patrimônio do administrado ocorrerá de todo modo. Em suma, não se deve conferir ao administrador
poderes ilimitados, ante a escusa de que o erro é – ou foi – meramente operacional, sob pena de se
transformar a busca pela correção da situação em sanha desmedida.
7
Art. 1º As dívidas passivas da União, dos Estados e dos Municípios, bem assim todo e qualquer direito ou ação contra a
Fazenda federal, estadual ou municipal, seja qual for a sua natureza, prescrevem em cinco anos contados da data do ato ou
fato do qual se originarem.
8
Art. 1o-C. Prescreverá em cinco anos o direito de obter indenização dos danos causados por agentes de pessoas jurídicas de
direito público e de pessoas jurídicas de direito privado prestadoras de serviços públicos.
(Continuação do Parecer 111/AJ/SEF, de 30 de setembro de 2013 – página 7)
5.2.1.13. A doutrina administrativista tem opinião firme a esse respeito. Com efeito, a
professora WEIDA ZANCANER9, aponta que “toda vez que nos depararmos com atos inválidos, não
passíveis de serem convalidados, a Administração Pública deverá invalidá-los. Para fazê-lo, entretanto,
é mister que seu dever de invalidar possa ser exercitado ou, em outras palavras, que o dever de invalidar
9
Da Convalidação e da Invalidação dos Atos Administrativos, 2ª ed. Malheiros, São Paulo, 2001, p.62
(Continuação do Parecer 111/AJ/SEF, de 30 de setembro de 2013 – página 8)
não esteja obstaculizado por barreiras que o paralisem e transmutem este dever de invalidar em dever
de abster-se”.
5.2.1.14. Na mesma linha, o ilustre Prof. JOSÉ DOS SANTOS CARVALHO FILHO10
ensina (destaques acrescidos):
“Não é possível, em princípio, conciliar a exigência da
legalidade dos atos com a complacência do administrador público em
deixá-lo no mundo jurídico produzindo normalmente seus efeitos; tal
omissão ofende literalmente o princípio da legalidade.
Entretanto, se essa deve ser a regra geral, há que se
reconhecer que, em certas circunstâncias especiais, poderão surgir
situações que acabem por conduzir a Administração a manter o ato
inválido. Nesses casos, porém, não haverá escolha discricionária para o
administrador, mas a única conduta juridicamente viável terá que ser a
de não invalidar o ato e deixa-lo subsistir e produzir seus efeitos.
Tais situações consistem em verdadeiras limitações ao
dever de invalidação dos atos e podem apresentar-se sob duas formas:
1) decurso do tempo; 2) consolidação dos efeitos produzidos. O decurso
do tempo, como é sabido, estabiliza certas situações fáticas,
transformando-as em situações jurídicas. Aparecem aqui as hipóteses da
prescrição e da decadência, para resguardar o princípio da estabilidade
das relações jurídicas.
Desse modo, se o ato é inválido e se torna ultrapassado o
prazo adequado para invalidá-lo, ocorre a decadência, como adiante
veremos, e o ato deve permanecer como estava.
(...)
Nesses casos, é de se considerar o surgimento de
inafastável barreira ao dever de invalidar da Administração, certo que o
exercício desse dever provocaria agravos maiores ao Direito do que
aceitar a subsistência do ato e de seus efeitos na ordem jurídica. Nota-
se, por conseguinte, a prevalência do princípio do interesse público
sobre o da legalidade estrita. Atualmente, como já observamos, a
doutrina moderna tem considerado aplicável também o princípio da
segurança jurídica (na verdade inserido no princípio do interesse
público), em ordem a impedir que situações jurídicas permaneçam
eternamente em grau de instabilidade, gerando temores e incertezas
para as pessoas e para o próprio Estado.”
10
Manual de Direito Administrativo. 20ª ed. Lúmen Juris. Rio de Janeiro, 2008 p. 150-151
(Continuação do Parecer 111/AJ/SEF, de 30 de setembro de 2013 – página 9)
5.2.1.16. Do voto do eminente relator, extrai-se, por oportuno, o seguinte trecho (destaques
acrescidos):
“Na hipótese, a matéria evoca, inevitavelmente, o princípio da
segurança jurídica.
Esse princípio foi consagrado na Lei nº 9.784, de 29 de janeiro de
1999, que regula o processo administrativo no âmbito da
Administração Pública Federal, tanto em seu art. 2º, que
estabelece que a Administração Pública obedecerá ao princípio
da segurança jurídica, quanto em seu artigo 54, que fixa o prazo
decadencial de cinco anos, contados da data em que foram
praticados os atos administrativos, para que a Administração
possa anulá-los.
Em diversas oportunidades esta Corte manifestou-se pela
aplicação desse princípio em atos administrativos inválidos, como
subprincípio do Estado de Direito, tal como nos julgamentos do
MS 24.268, DJ 17.09.04 e do MS 22.357, DJ 05.11.04, ambos por
mim relatados.
Ressalte-se que a Administração busca anular um ato praticado
há mais de 14 anos, não levando em consideração a
impossibilidade de sua anulação, em face da decadência
administrativa, e, ainda, que à época dos fatos, sua
constitucionalidade era controvertida.”
5.2.2.1. Como visto, defende a SAGEF/CCIEx que a simples presença de boa fé por parte
do beneficiado, isoladamente, não basta para que seja dispensada a recomposição dos valores recebidos
indevidamente à Fazenda Pública.
5.2.2.2. A esse respeito, entendeu a Asse Jur/CCIEx que, de fato, a dispensa de restituição
de valores pagos imerecidamente depende, também, da comprovação de outros fatores, como p.ex, a
existência de dúvida razoável de interpretação e da ausência de interferência ou de influência por parte do
beneficiado. Citou, nesse sentido, decisões do STF e do TCU.
(Continuação do Parecer 111/AJ/SEF, de 30 de setembro de 2013 – página 10)
5.2.2.4. Nesse sentido caminhou o Parecer 048/AJ/SEF, de 2009, considerando que a não
comprovação da má fé seria suficiente para desobrigar o beneficiado a ressarcir ao erário os valores
percebidos de forma indevida. Em outras palavras, a boa fé presumida se constituiria em fator bastante
para que as quantias recebidas imerecidamente se consolidassem no patrimônio do beneficiado, mormente
por conta do caráter alimentar envolvido, desde que aliada ao erro escusável de interpretação, em
atenção às súmulas 249/TCU e 34/AGU.
5.2.2.6. Não obstante, é possível acrescentar argumentos a essa orientação, de molde a não
deixar dúvidas sobre os fatores que devem ser considerados quando se verificar o cabimento da
recomposição do erário. Iniciamos pela transcrição de trecho do Acórdão 1909/2003, Plenário, o Tribunal
de Contas da União:
Como já restou esclarecido na Decisão 597/92 - Plenário (TC 020.056/92-
3, Ata 56/92) e no Parecer GQ-161/98/AGU (DOU 9.9.98, Seção I, fls.
18/20), o art. 46 da Lei 8.112/90 apenas regula a forma pela qual as
reposições e indenizações ao erário são efetivadas, não cuidando de
indicar quais as situações em que essas reparações são devidas.
Na verdade, as situações em que será obrigatória a reposição ou
indenização ao erário são aquelas previstas no Direito Civil, quais sejam:
obrigação de restituir o pagamento indevido (CC, art. 876) e obrigação
de indenizar (CC, art. 927).
Assim, cabe ao julgador, em cada caso, aferir a responsabilidade pelo
indébito e o cabimento de sua reposição, em face de suas
circunstâncias peculiares.
Não há dúvida de que existem situações em que é justificável e legítimo
isentar o servidor da obrigação de restituir, especialmente se ele
recebeu de boa fé, sem ter influenciado ou interferido na sua
concessão, e se a vantagem indevida foi concedida em razão de
interpretação razoável, embora errônea, de lei que à época era de
aplicação controversa.
Portanto, trata-se apenas de ampliar os requisitos exigidos para a
dispensa de reposição, a fim de proteger o erário e, ao mesmo tempo,
preservar as situações em que essa medida é legítima.
5.2.2.7. Tal orientação terminou adotada pelo próprio Supremo Tribunal Federal, conforme
se observa abaixo:
MANDADO DE SEGURANÇA. MORTE DE UM DOS IMPETRANTES.
IMPOSSIBILIDADE DE HABILITAÇÃO DE HERDEIROS, FACULTADO O USO
DAS VIAS ORDINÁRIAS. EXTINÇÃO SEM JULGAMENTO DE MÉRITO.
TOMADA DE CONTAS PERANTE O TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO. LEI
N.8.443/92. NORMA ESPECIAL EM RELAÇÃO À LEI N. 9.784/99.
DECADÊNCIA, INOCORRÊNCIA. IMPOSTO DE RENDA SOBRE JUROS DE
(Continuação do Parecer 111/AJ/SEF, de 30 de setembro de 2013 – página 11)
5.2.2.8. A orientação traçada pelo Pretório Excelso foi seguida pela Consultoria Jurídica
do Ministério da Defesa, vinculando, assim, as Forças Armadas, conforme o art. 42 da Lei Complementar
nº 73, de 199911. Em termos específicos, vislumbra-se no Parecer nº 332/CONJUR/MD, de 21 de agosto
de 2009:
“a) A reposição de valores pagos indevidamente a servidores ou
pensionistas deve ser dispensada quando se verifique,
concomitantemente:
i] presença de boa fé do servidor ativo e inativo; e pensionistas;
ii] existência de dúvida plausível sobre a interpretação, validade
ou incidência da norma infringida, no momento da edição do ato
que autorizou o pagamento da vantagem impugnada;
iii] interpretação razoável, embora errônea, da lei, pela
Administração.”
5.2.2.9. Dessa maneira, para que o militar ou o servidor seja dispensado de restituir ao
erário uma verba remuneratória cuja implantação indevida ocorreu há menos de cinco anos, deve haver a
presença concomitante dos requisitos enumerados pela CONJUR/MD, eis que condensam os
entendimentos exarados pelo TCU e pelo STF.
11
Art. 42. Os pareceres das Consultorias Jurídicas, aprovados pelo Ministro de Estado, pelo Secretário-Geral e pelos
titulares das demais Secretarias da Presidência da República ou pelo Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, obrigam,
também, os respectivos órgãos autônomos e entidades vinculadas.
(Continuação do Parecer 111/AJ/SEF, de 30 de setembro de 2013 – página 12)
devedores. Como ente público, sua escolha no agir deve se pautar nas
determinações constitucionais de eficiência e obediência à legalidade
estrita, objetivando sempre o melhor para o interesse público. Sugere-se,
entretanto, que, salvo por motivo justificado, como pretende-se o
ressarcimento ao erário com a maior brevidade possível, todos os
responsáveis solidários devem ser cobrados pela integralidade da
dívida.
5.2.3.3. Conforme apontado pela Asse Jur/CCIEx, nos termos acima, não existe
autorização legal para que sejam estabelecidos limites de molde a apontar que determinados débitos
sejam cobrados administrativamente e outros, mais elevados, remetidos diretamente à PGFN/AGU para
inscrição na Dívida Ativa da União.
(Continuação do Parecer 111/AJ/SEF, de 30 de setembro de 2013 – página 15)
5.2.3.4. Vale dizer, portanto, que não se pode dispensar o administrador militar de intentar
a cobrança pela via administrativa de qualquer débito com a União. Ou seja: mesmo que os valores
envolvidos sejam ínfimos, a cobrança deverá ocorrer, respeitando-se, por natural, o devido processo legal
– em acatamento ao inciso LV do art. 5º da Constituição Federal12 –, oportunizando-se ao devedor o
exercício do contraditório e da ampla defesa, conforme, aliás, consta do art. 5º da Portaria nº 008-SEF, de
200313.
5.2.3.5. Valores elevados devem ser cobrados pela Administração Militar, em um primeiro
momento, já que inexiste autorização legal para outro tipo de providência. Todavia, existirão
circunstâncias que autorizarão desde logo a remessa da sindicância ou do processo administrativo aos
órgãos da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, por intermédio da Região Militar de vinculação, para
inscrição do débito na Dívida Ativa da União. Isso ocorrerá quando os valores devidos forem tão elevados
que a implantação dos descontos em contracheque (ou seja, mesmo que o débito seja cobrado de forma
parcelada), não permitirá nem mesmo o abatimento dos juros incidentes, fazendo com que, na prática, o
saldo devedor aumente ao invés de ser amortizado.
5.2.3.6. Nesse caso será justificável a remessa aos órgãos da PGFN porque a mesma detém
ferramentas que possibilitam a cobrança da dívida por meio da expropriação de bens, via Judiciário, algo
que não compete à Administração Militar.
5.2.4.2. Nesse sentido, argumentou que o RAE impõe a execução do débito de uma só vez
e que o único fator a limitar tal procedimento seria a margem consignável do militar. Dessa forma, seriam
preservados os 30% (trinta por cento) da remuneração a que teria direito o devedor e, retirados os
descontos obrigatórios de maior precedência, aplicar-se-ia o desconto afeto à indenização à Fazenda
Nacional.
12
Art. 5º. (...).LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o
contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;
13
Art. 5° Em decorrência do valor original do prejuízo apurado mediante IPM ou Sindicância, o Cmt, Ch ou Dir da OM
deverá adotar as seguintes providências: I - quando o valor for igual ou superior a R$ 1.000,00 (Hum mil reais), encaminhar
à ICFEx o relatório e a solução da Sindicância ou do IPM; II - quando o valor for inferior a R$ 1.000,00 (hum mil reais),
deverão ser envidadas todas as medidas possíveis, no âmbito da OM, visando ao ressarcimento do prejuízo à Fazenda
Nacional.
14
Art. 15. São descontos obrigatórios do militar: (...) V - indenização à Fazenda Nacional em decorrência de dívida;
15
Art. 149. As indenizações provenientes de alcance, restituições de recebimentos indevidos ou para reposição de bens, serão
descontadas de uma só vez ou, na sua impossibilidade, em parcelas mensais dos vencimentos ou quantia que, a qualquer
TÍTULO, os responsáveis pela indenização recebam do Estado.
(Continuação do Parecer 111/AJ/SEF, de 30 de setembro de 2013 – página 16)
5.2.4.4. É possível reforçar essa idéia: o citado dispositivo do RAE é claro ao estipular que
as indenizações ao erário devem ser descontadas de uma só vez. Essa é a regra geral. E é na
impossibilidade de tal desconto ser efetuado de uma só vez (como o mencionado respeito à margem
consignável do militar16) que o débito poderá ser parcelado. Nada impede, porém, conforme apontado,
que o devedor, se assim, entender, requeira o parcelamento, dependendo, nesse caso de anuência do
ordenador de despesas a que estiver subordinado.
5.2.4.6. Outra hipótese capaz de levar ao parcelamento ocorre quando o devedor reconhece
a dívida que lhe é imputada, após a sindicância ou o processo administrativo instaurado, conforme o
inciso II do art. 8º da Portaria nº 008-SEF, de 200317. Também neste caso porém, para que o parcelamento
ocorra, deverá ser factível o abatimento do saldo devedor com as parcelas implantadas mês a mês.
5.2.4.10. Evidentemente, em qualquer caso, seja na cobrança com abatimento único, seja
naquela realizada de forma parcelada, deverá haver atualização monetária e, eventualmente, incidência de
juros, a contar da data da implantação indevida, de acordo com as orientações contidas no DIEx nº 15-
Asse1/SSEF/SEF, de 19 de fevereiro de 2013:
16
Art. 14. Descontos são os abatimentos que podem sofrer a remuneração ou os proventos do militar para cumprimento de
obrigações assumidas ou impostas em virtude de disposição de lei ou de regulamento. (...).§ 3o Na aplicação dos descontos, o
militar não pode receber quantia inferior a trinta por cento da sua remuneração ou proventos.
17
Art. 8° Se o parecer resultar em responsabilidade pecuniária do indiciado, o Cmt, Ch ou Dir da OM de origem da
Sindicância ou do IPM deverá ser orientado pela ICFEx para que adote as seguintes providências: I - dar oportunidade ao
responsável para que reconheça a dívida, mediante a assinatura do Termo de Reconhecimento de Dívida (Anexo B), e autorize
o desconto em contracheque ou comprometa-se a ressarcir o débito de outra forma, na impossibilidade do referido desconto;
e II - informar ao responsável que, havendo reconhecimento da dívida, o pagamento poderá ser efetuado de forma parcelada,
observado o disposto no Regulamento de Administração do Exército (RAE).
18
Art. 10. Os débitos de qualquer natureza para com a Fazenda Nacional poderão ser parcelados em até sessenta parcelas
mensais, a exclusivo critério da autoridade fazendária, na forma e condições previstas nesta Lei. (Redação dada pela Lei nº
10.637, de 2002)
19
Art. 1 º Os débitos de qualquer natureza para com a Fazenda Nacional poderão ser parcelados em até 60 (sessenta)
prestações mensais e sucessivas, observadas as disposições constantes desta Portaria.
20
Art. 18 . O valor de cada parcela será obtido mediante a divisão do valor da dívida consolidada pelo número de parcelas
solicitadas, observados os limites mínimos de: I - R$ 100,00 (cem reais), quando o devedor for pessoa física; e II - R$ 500,00
(quinhentos reais), quando o devedor for pessoa jurídica.
(Continuação do Parecer 111/AJ/SEF, de 30 de setembro de 2013 – página 17)
c. Em qualquer caso, os cálculos acima poderão ser realizados por meio do “Sistema
Débito” disponível no site do TCU.
5.2.4.11. Por oportuno, ressalte-se que nos casos de boa fé, haverá incidência de juros a
partir da notificação do beneficiado para recolher a quantia devida (ou seja, já na fase de execução do
débito, após a sindicância ou o processo administrativo instaurado), conforme consta do DIEx nº 090-
Asse1/SSEF/SEF, de 18 de junho de 2013.
21
Art. 3° Na ocorrência de fatos de qualquer natureza que contenham indícios de prejuízo à Fazenda Nacional, os
procedimentos para a apuração e ressarcimento serão desenvolvidos mediante instauração de Sindicância, de Inquérito
Policial Militar (IPM), de Processo Administrativo ou de TCE, de acordo com a respectiva legislação e o previsto nestas
Normas.
22
Art. 3º. (...).§ 2° Nos casos de instauração de Sindicância ou IPM, o Comandante, Chefe ou Diretor (Cmt, Ch ou Dir) da
Organização Militar (OM) deverá comunicar sua abertura à Inspetoria de Contabilidade e Finanças do Exército (ICFEx)
correspondente, independente dos valores envolvidos e das demais comunicações regulamentares.
(Continuação do Parecer 111/AJ/SEF, de 30 de setembro de 2013 – página 18)
5.3.2.4. Do mesmo modo, há que se apontar que será razoável, ainda que errônea, a
interpretação da norma quando houver evidente controvérsia sobre a aplicação do direito vigente. A
polêmica pode ser demonstrada mediante a colação de decisões conflitantes a respeito do tema, sejam
procedentes de diferentes órgãos da Administração, sejam procedentes do Judiciário.
5.3.2.5. No que tange à má ou boa fé, há que se admitir que se trata do fator mais difícil de
verificação, especialmente quando transcorrido um considerável lapso temporal. Outro fator a dificultar a
apuração desse quesito refere-se ao fato de que a boa fé é sempre presumida, ao passo que a má fé deve
ser comprovada. A questão que surge, pois, é: como comprovar a má fé?
23
Art. 5° Em decorrência do valor original do prejuízo apurado mediante IPM ou Sindicância, o Cmt, Ch ou Dir da OM
deverá adotar as seguintes providências: I - quando o valor for igual ou superior a R$ 1.000,00 (Hum mil reais), encaminhar
à ICFEx o relatório e a solução da Sindicância ou do IPM; II - quando o valor for inferior a R$ 1.000,00 (hum mil reais),
deverão ser envidadas todas as medidas possíveis, no âmbito da OM, visando ao ressarcimento do prejuízo à Fazenda
Nacional. Parágrafo Único. Não se aplica o encaminhamento previsto no inciso I deste artigo, quando houver o
(Continuação do Parecer 111/AJ/SEF, de 30 de setembro de 2013 – página 19)
b. Se a implantação tiver sido realizada há mais de cinco anos, haverá que se buscar, nos
autos da sindicância, se houve ou não comprovada má fé por parte do beneficiado. Nesse caso, abrem-se
duas possibilidades:
1.1) não há o que se falar em anulação ou revisão da implantação, eis que, em nome da
segurança jurídica, aplicável será, indubitavelmente, o art. 54 da Lei nº 9.784, de 1999. Inexistindo
anulação, não haverá o que se falar em devolução de eventuais quantias recebidas indevidamente pelo
beneficiado;
1.3) ressalte-se que inexiste obrigação legal para o beneficiado assim agir. A lei veda a
anulação de ofício (por parte da Administração) do ato praticado há mais de cinco anos. Porém, não
proíbe que o beneficiado abra mão do direito equivocadamente deferido em seu favor.
2) Se houve comprovada má fé: a implantação deverá ser anulada, eis que se encontrará
inserida na ressalva do caput do art. 54 da Lei nº 9.784. Sendo assim, deverá a Administração buscar
obrigatoriamente o ressarcimento das quantias pagas de forma indevida ao beneficiado, com a aplicação
de juros e atualização monetária sobre o montante devido. Não haverá, pois, limitação temporal para
tanto, sendo a cobrança, nesse caso, imprescritível.
reconhecimento da dívida e a respectiva autorização para desconto em contracheque ou, na impossibilidade do desconto, o
compromisso de saldar o débito, ou ainda, nas situações em que o prejuízo for imputado à União.
24
Art. 54. O direito da Administração de anular os atos administrativos de que decorram efeitos favoráveis para os
destinatários decai em cinco anos, contados da data em que foram praticados, salvo comprovada má fé. § 1o No caso de
efeitos patrimoniais contínuos, o prazo de decadência contar-se-á da percepção do primeiro pagamento. § 2o Considera-se
exercício do direito de anular qualquer medida de autoridade administrativa que importe impugnação à validade do ato.
(Continuação do Parecer 111/AJ/SEF, de 30 de setembro de 2013 – página 20)
2) Não havendo comprovada má fé, ou seja, nos casos de boa fé presumida, haverá duas
possibilidades:
2.1) Se, além da boa fé, for constatado, de forma cumulativa que não houve influência
ou interferência, por parte do beneficiado, na implantação da verba imerecida; que havia dúvida
plausível sobre a interpretação, validade ou incidência da norma em que se fundamentaria a verba, no
momento da edição do ato que autorizou o pagamento da mesma; e que era razoável, ainda que errônea,
a interpretação, pela Administração, da norma em que se fundamentaria a verba, será dispensada a
restituição ao erário, pelo beneficiado, das verbas recebidas indevidamente. Nada impede, porém,
que o beneficiado voluntariamente restitua aos cofres públicos as quantias pertinentes, devidamente
atualizadas pelo IPCA, mediante declaração expressa. Nesse caso, poderá o mesmo requerer o
parcelamento do valor, solicitação essa que será avaliada e, se for o caso, concedida pelo ordenador de
despesas competente.
d. Desse modo, a ICFEx que primeiro atuou no feito providenciará a remessa dos autos da
sindicância ou do processo administrativo original à Setorial Contábil que tiver jurisdição sobre a UG em
que deverá ser instaurado o novo procedimento, se necessário (já que ambas as UG envolvidas podem se
25
Art. 149. As indenizações provenientes de alcance, restituições de recebimentos indevidos ou para reposição de bens, serão
descontadas de uma só vez ou, na sua impossibilidade, em parcelas mensais dos vencimentos ou quantia que, a qualquer
TÍTULO, os responsáveis pela indenização recebam do Estado. (...)§ 3º O fixado neste artigo incidirá sobre os responsáveis
pelo pagamento indevido, quando não for possível alcançar o beneficiado.
26
Art. 275. O credor tem direito a exigir e receber de um ou de alguns dos devedores, parcial ou totalmente, a dívida comum;
se o pagamento tiver sido parcial, todos os demais devedores continuam obrigados solidariamente pelo resto
(Continuação do Parecer 111/AJ/SEF, de 30 de setembro de 2013 – página 21)
situar na área de abrangência da mesma Inspetoria). À ICFEx que receber os autos pertinentes caberá
orientar a UG em que o novo procedimento deverá ser aberto, mediante memória abrangente e
compreensiva, anexando cópia dos documentos que entender necessários.
f. O novo procedimento apuratório, pois, terá por objetivo esclarecer os fatos que
contextualizaram a implantação do direito indevido. Permitirá, assim, que sejam buscadas as
responsabilidades de cada agente então envolvido na implantação, tais como (mas não limitado a) o
operador do sistema, o encarregado do setor de pessoal da UG e até mesmo o Ordenador de Despesas.
g. Uma vez que sejam comprovadas as participações de qualquer dos encarregados acima
mencionados (ou de outrem, dependendo da apuração), deverá ser-lhe(s) oportunizado o exercício do
contraditório e da ampla defesa nos próprios autos da sindicância, abrindo-se-lhe(s) prazo para
apresentação de alegações bem como para que requeira(m) o que entender de direito.
k. Não obstante, se restar demonstrado que o encarregado agiu com boa fé, que havia
dúvida plausível sobre a interpretação, validade ou incidência da norma em que se fundamentava a
concessão da verba, e que era razoável, ainda que errônea, a interpretação da legislação, não haverá
como responsabilizar-se o agente, devendo a União absorver os prejuízos. Ressalte-se, em todo caso, que
a presença de tais requisitos deve ser concomitante.
5.3.4. Para uma melhor compreensão da questão e das diversas possibilidades abordadas,
elaboramos um fluxograma que pode ser observado na página seguinte:
27
Ressalte-se que, havendo comprovação inequívoca da culpa, a busca pela recomposição do erário será imprescritível.
(Continuação do Parecer 111/AJ/SEF, de 30 de setembro de 2013 – página 22)
ICFEx Orienta
Implantação Ocorrida há MAIS de cinco anos Implantação Ocorrida há MENOS de cinco anos
(*) As restituições, em qualquer caso, devem ser buscadas pela Administração à luz da Portaria nº 008-SEF, de 2003. O montante devido
deve ser atualizado monetariamente e, se for o caso, sofrer a incidência de juros. Poderá haver parcelamento do débito se requerido pelo
devedor e autorizado pelo OD.
(**) Nos casos em que não haja obrigação por parte do beneficiário de restituir os valores devidos, nada impede que o mesmo concorde
expressamente em fazê-lo. Se já ultrapassado o qüinqüênio decadencial, nada impede, da mesma forma, que o beneficiado concorde, também
expressamente, em ter o ato de implantação revisto.
(Continuação do Parecer 111/AJ/SEF, de 30 de setembro de 2013 – página 23)
6. CONCLUSÃO -
6.1.2. A boa fé, isoladamente, não é suficiente para dispensar a recomposição do erário.
Nesse sentido, a existência de dúvida plausível sobre a interpretação, validade ou incidência da norma
infringida, no momento da edição do ato que autorizou o pagamento da vantagem impugnada, e a
interpretação razoável, embora errônea, da lei, pela Administração também devem estar presentes para
que seja incabível exigir-se do beneficiado a restituição dos valores recebidos indevidamente.
6.1.3. A regra geral é que não se pode dispensar o administrador militar de intentar a
cobrança pela via administrativa de qualquer débito com a União. A única exceção em que se permite a
remessa do processo diretamente aos órgãos da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional se dá quando os
valores envolvidos não permitem sequer a amortização do saldo devedor em um eventual desconto
parcelado.
6.1.4. Conforme exposto pela Asse Jur/CCIEx, a “Administração Militar deve buscar o
ressarcimento ao erário com a maior brevidade possível, oportunizando o pagamento de forma integral,
de uma só vez e, no caso de não ser o meio mais eficiente e impossível de ser implementado, mediante
requerimento do interessado, pode parcelar em tantas vezes quantas forem necessárias de forma a
compatibilizar a margem de desconto do militar e o interesse público.”
6.3. Sugere-se, por fim, que o presente expediente seja encaminhado ao CCIEx, como
resposta às considerações apresentadas, para que aquele Centro, se julgar oportuno, consolide as
orientações pertinentes e promova a difusão das conclusões às ICFEx, por meio de documento circular,
visando à padronização de procedimentos e à divulgação do assunto junto às unidades gestoras
vinculadas.
É o Parecer.
S.M.J.
_________________________________________
GUSTAVO CASTRO ARAUJO – Cap QCO Dir
Adjunto da Assessoria Jurídica/SEF
De Acordo:
_______________________________
CÁSSIO GRILLI – Cel Cav R/1
Chefe da Assessoria Jurídica /SEF
7. DECISÃO
__________________________________
Gen Div GERSON FORINI
Subsecretário de Economia e Finanças