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Parecer 111-13

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MINISTÉRIO DA DEFESA

EXÉRCITO BRASILEIRO
SECRETARIA DE ECONOMIA E FINANÇAS
(Contadoria Geral/1841)

PARECER Nº 111/AJ/SEF Brasília, 30 de setembro de 2013.

1. EMENTA – danos ao erário; irregularidade administrativa; vantagem pecuniária


indevida; efeitos favoráveis; anulação; decadência; prazo quinquenal; erro escusável de interpretação; boa
fé; interferência; influência; restituição; responsabilidade subsidiária; agente causador;
imprescritibilidade.

2. OBJETO – verificar, em virtude de questionamentos oriundos do Centro de Controle


Interno do Exército, os procedimentos a serem adotados em face da ocorrência de danos ao erário,
especialmente no que respeita à implantação de vantagens pecuniárias indevidas e à (im)possibilidade de
restituição e/ou responsabilização do agente causador do prejuízo.

3. LEGISLAÇÃO PERTINENTE

3.1. Constituição Federal, de 5 de outubro de 1988.


3.2. Lei Complementar nº 73, de 10 de fevereiro de 1993 – Lei Orgânica da Advocacia-
Geral da União
3.3. Decreto 20.910, de 6 de janeiro de 1932 – Regula a Prescrição Quinquenal.
3.4. Lei nº 6.880, de 9 de dezembro de 1980 – Dispõe sobre o Estatuto dos Militares (E1-
80).
3.5. Lei nº 9.784, de 29 de janeiro de 1999 – Lei do Processo Administrativo.
3.6. Lei nº 9.494, de 10 de setembro de 1997 – Disciplina a aplicação da tutela antecipada
contra a Fazenda Pública.
3.5. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 – Código Civil Brasileiro (CCB).
3.6. Lei nº 10.522, de 19 de julho de 2002 – Dispõe sobre o Cadastro Informativo dos
créditos não quitados de órgãos e entidades federais e dá outras providências.
3.7. Regulamento de Administração do Exército (RAE) – R3, aprovado pelo Decreto nº
98.820, de 12 de janeiro de 1990.
3.8. Portaria Conjunta nº 15-PGFN-FRB, de 15 de dezembro de 2009 – Dispõe sobre o
parcelamento de débitos junto à Fazenda Nacional.
3.9. Instruções Gerais para a Elaboração de Sindicância no Âmbito do Exército Brasileiro
(EB10-IG-09.001), aprovadas pela Portaria nº 107-Cmt Ex, de 13 de fevereiro de
2012.
3.10. Portaria 008-SEF, 23 de dezembro de 2003 – Apuração de Irregularidades
Administrativas.

4. RELATÓRIO

4.1. Trata-se de manifestação oriunda do Centro de Controle Interno do Exército (CCIEx)


acerca do Parecer nº 048/AJ/SEF, de 13 de agosto de 2009, desta Secretaria.
(Continuação do Parecer 111/AJ/SEF, de 30 de setembro de 2013 – página 2)

4.2. Em termos específicos, observa-se que em 29 de agosto de 2012, a Seção de


Auditoria, Gestão e Fiscalização (SAGEF), daquele Centro, dirigiu o DIEx nº 233/SAGEF/CCIEx à
Assessoria Jurídica do CCIEx, com uma série de considerações acerca das conclusões constantes do
aludido parecer da SEF, a saber:

4.2.1. sobre a possibilidade de o prazo decadencial de que trata o art. 54 da Lei nº 9.784,
de 1999, não alcançar os chamados erros materiais, podendo a Administração
corrigi-los a qualquer tempo;

4.2.2. sobre a possibilidade de se considerar que apenas a presença de boa fé não é


suficiente para dispensar reposições ao erário;

4.2.3. sobre a possibilidade de se estabelecer uma rotina procedimental visando à


recomposição do erário com a fixação de limites para valores cuja cobrança ficaria
a cargo do Exército e, a partir daí, a cargo de órgãos competentes;

4.2.4. sobre a possibilidade de que o parcelamento dos débitos para com a União, do
modo como consta na Portaria Conjunta nº 02-PGFN-SRF, de 2002, não seja
entendido como uma obrigação da Administração, mas sim uma possibilidade a ser
conferida nos limites estabelecidos pelo RAE.

4.3. Pronunciando-se a respeito, a Asse Jur do CCIEx, após estudar o assunto, apresentou
conclusão nos seguintes termos:

“a. no caso de irregularidade administrativa, há que ser instaurada


sindicância para apurar se a falha se deu por vício no ato administrativo
ou por erro na sua operacionalização (erro operacional ou material);

b. em sendo o ato administrativo viciado, há que se observar o disposto


no artigo 54 da Lei nº 9.784/90, no Parecer nº 048/AJ/SEF, de 13 de
agosto de 2009 e no Of nº 359-Asse Jur – 09 (A1/SEF), de 20 de outubro
de 2009;

c. caso a irregularidade decorra de erro operacional ou material, uma


vez que o ato administrativo não será modificado, mas apenas a sua
execução será corrigida, tal retificação pode ocorrer a qualquer tempo,
desde que atendido o contraditório e a ampla defesa, devendo-se, ainda,
buscar a reposição do dano ao erário em face do beneficiado, limitado
aos últimos 5 (cinco) anos;

d. a irregularidade administrativa apurada, seja decorrente de falha no


ato administrativo, seja por erro operacional ou material, ainda que
imponha o dever de reposição ao erário ao beneficiado, não afasta a
necessária verificação da responsabilidade funcional e/ou disciplinar do
militar e do servidor civil;

e. inexiste na legislação vigente norma que dispense a Administração


Militar de cobrança de dívidas solidárias com a União. Por oportuno, os
Princípios Constitucionais da Eficiência e da Legalidade devem ser os
orientadores do controle e fiscalização do adimplemento de tais dívidas
no âmbito da Força Terrestre;
(Continuação do Parecer 111/AJ/SEF, de 30 de setembro de 2013 – página 3)

f. com base na supremacia do interesse público e no artigo 149 do RAE,


as indenizações, restituições ou reposições ao erário serão cobradas e
descontadas de uma só vez, como regra. Ressalte-se que, caso o militar
deseje pagar o débito de uma só vez por meio de GRU, não há qualquer
vedação legal;

g. a cobrança de dívida com a União mediante desconto em


contracheque do militar não é obrigatória, só sendo implementada se o
montante descontado (ainda que parcelado) amortize a dívida (pague a
dívida);

h. o adimplemento de forma parcelada é uma exceção, cabendo ao


interessado o requerimento. Na hipótese de ser implementado mediante
desconto no contracheque do militar, é considerado desconto
obrigatório, não podendo este receber quantia inferior a trinta por cento
da sua remuneração ou proventos, mas o montante descontado deve
amortizar (abater) o débito;

i. não há limitação para o número de parcelas na hipótese de pagamento


por desconto em contracheque do militar, mas, sugere-se, como critério
objetivo de razoabilidade e evitando-se parcelamentos “infinitos”, que,
caso o número de vezes ultrapasse 60 (sessenta), que seja apresentada
justificativa de que o pagamento extenso é o meio mais eficiente e
razoável para quitação do débito;”

4.4. Acatando, como se denota, em parte, as argumentações da SAGEF/CCIEx, aquela


Asse Jur sugeriu, não obstante, que fosse ouvida esta Secretaria sobre as conclusões apresentadas.

5. APRECIAÇÃO

5.1. Noções Gerais:

5.1.1. A apuração de irregularidades administrativas, notadamente aquelas que dizem


respeito a verbas pecuniárias implantadas de forma indevida, foi apreciada no âmbito deste ODS tendo-
se, em conseqüência, expedido o Parecer nº 048/AJ/SEF, de 2009, documento que desde então vem
balizando os procedimentos a serem adotados nesse jaez. Com efeito, assim concluiu-se naquele
documento:

“1) A constatação de ato irregular, sobretudo de pagamentos indevidos,


leva à instauração de sindicância ou processo administrativo, com
informação à ICFEx de vinculação. Depois de concluídos os trabalhos,
com nova informação à Setorial Contábil, deve a unidade aguardar as
instruções do controle interno.

2) As orientações da Inspetoria à UG onde transcorreu a sindicância


dependerão da época em que o ato irregular foi cometido e, também, da
existência ou não de comprovada má fé por parte do beneficiado, nos
termos da fundamentação acima, com conseqüências que levarão à
anulação ou não do ato administrativo e/ou à necessidade de devolução
das quantias pagas a maior, seja pelo beneficiado (compulsória ou
voluntariamente), seja pelos responsáveis pela implantação do
pagamento indevido, em sede subsidiária.”
(Continuação do Parecer 111/AJ/SEF, de 30 de setembro de 2013 – página 4)

5.1.2. Em síntese, entendeu-se, no âmbito da SEF, de acordo com o citado Parecer n°


048/AJ/SEF, de 2009, que o ato administrativo que gerou efeitos benéficos ao administrado somente
poderia ser anulado se não decorridos cinco anos de sua implantação. Se o prazo fosse maior do que esse,
isto é, se o ato tivesse sido praticado há mais de cinco anos, a Administração Militar decairia do direito de
proceder à anulação do mesmo, ou seja, não poderia mais anulá-lo, em atenção ao art. 54 da Lei 9.784, de
29 JAN 19991.

5.1.3. Tratou-se, em verdade, de privilegiar o Princípio da Segurança Jurídica, seguindo a


orientação jurisprudencial então vigente2. Nessa senda, superado o quinquênio decadencial, a anulação
somente seria admissível no caso de comprovada má fé por parte do beneficiado, que deveria ser
demonstrada por intermédio do processo administrativo ou da sindicância mandada instaurar quando da
constatação da irregularidade.

5.1.4. Para os casos em que a anulação fosse possível, ou seja, nas hipóteses em que o ato
gerador do benefício tivesse sido praticado há menos de cinco anos, a anulação poderia ser praticada
desde que por meio de processo administrativo ou de sindicância em que se garantisse ao interessado o
exercício do contraditório e da ampla defesa. Mais do que isso, seria possível pleitear-se do beneficiado a
restituição ao erário dos valores recebidos indevidamente. Tal restituição, no entanto, não se configuraria
no caso de percepção de verbas alimentares, fruto de boa fé, aplicando-se, aí, as Súmulas 249/TCU3 e
34/AGU4.

5.1.5. Em qualquer hipótese, não sendo possível alcançar-se o beneficiado, quer pela
superação do prazo decadencial, quer pela impossibilidade de demonstrar sua má fé, caberia à
Administração perquirir a responsabilidade do agente encarregado da implantação do ato imerecido, por
culpa ou dolo, à luz do §3º do art. 149 do Regulamento de Administração do Exército5, não havendo
limitações, nessa hipótese, quanto a prazos para a recomposição do erário6.

5.2. Dos argumentos oriundos do CCIEx:

5.2.1 Da não aplicação do prazo decadencial do art. 54 da Lei 9.784, de 1999 aos
atos meramente materiais ou operacionais:

5.2.1.1. Pelo que se denota a partir da documentação trazida a lume, entende a


SAGEF/CCIEx que o quinquênio decadencial constante do art. 54 da Lei 9.784, de 1999, não atingiria os
atos administrativos meramente materiais ou operacionais. De acordo com aquela Seção, pois, tais atos

1
Art. 54. O direito da Administração de anular os atos administrativos de que decorram efeitos favoráveis para os
destinatários decai em cinco anos, contados da data em que foram praticados, salvo comprovada má fé. § 1o No caso de
efeitos patrimoniais contínuos, o prazo de decadência contar-se-á da percepção do primeiro pagamento. § 2o Considera-se
exercício do direito de anular qualquer medida de autoridade administrativa que importe impugnação à validade do ato.
2
O entendimento dos tribunais pela prevalência da segurança jurídica, na verdade, permanece vigente. Vide, nesse sentido, o
Recurso Especial 1260763, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, DJe 08/09/2011, e o AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO
REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL 1215897, Rel. Min. Hamilton Carvalhido, DJe 24/03/2011, ambos do Superior
Tribunal de Justiça (STJ).
3
“É dispensada a reposição de importâncias indevidamente percebidas, de boa fé, por servidores ativos e inativos, e
pensionistas, em virtude de erro escusável de interpretação de lei por parte do órgão/entidade, ou por parte de autoridade
legalmente investida em função de orientação e supervisão, à vista da presunção de legalidade do ato administrativo e do
caráter alimentar das parcelas salariais.”
4
“Não estão sujeitos à repetição os valores recebidos de boa fé pelo servidor público, em decorrência de errônea ou
inadequada interpretação da lei por parte da Administração Pública.”
5
Art. 149. As indenizações provenientes de alcance, restituições de recebimentos indevidos ou para reposição de bens, serão
descontadas de uma só vez ou, na sua impossibilidade, em parcelas mensais dos vencimentos ou quantia que, a qualquer
TÍTULO, os responsáveis pela indenização recebam do Estado. (...)§ 3º O fixado neste artigo incidirá sobre os responsáveis
pelo pagamento indevido, quando não for possível alcançar o beneficiado.
6
Na esteira do REsp nº 1.067.561/AM, da 2ª Turma do STJ, Rel. Min. Eliana Calmon
(Continuação do Parecer 111/AJ/SEF, de 30 de setembro de 2013 – página 5)

poderiam ser corrigidos a qualquer tempo, eis que não se constituiriam em atos administrativos no
sentido estrito do termo, mas tão somente em uma exteriorização errônea do ato praticado
adequadamente.

5.2.1.2. A Asse Jur/CCIEx corroborou esse entendimento. Na opinião daquele órgão de


assessoramento jurídico, haveria que se diferenciar o “ato administrativo irregular” da “implantação
equivocada de um ato plenamente correto”. Nessa senda, a anulação do ato irregular é que estaria sujeita
ao prazo decadencial, enquanto que sua implantação, se equivocada, poderia ser sanada a qualquer
tempo. Explicou: “o ato administrativo foi perfeitamente elaborado, estando de acordo com os ditames
do ordenamento jurídico, mas a sua implementação foi incorreta” e, por isso, não se sujeitaria (a
implantação), a limites temporais para ser corrigida. Nesse sentido, prosseguiu:

“v. Na hipótese de erro material ou operacional, a retificação da falha


não implica em uma revogação do ato em termos jurídicos. O ato
materialmente retificado segue tendo o mesmo conteúdo depois da
retificação, cuja única finalidade é eliminar os erros de transcrição,
registro no sistema ou de simples conta (situações exemplificativas) com
o fim de evitar a perpetuação da irregularidade administrativa e o dano
ao erário.

w. O que há em um erro operacional ou material é um ato jurídico


exteriorizando uma vontade, visando à produção de determinados
efeitos, mas, em virtude de um erro na hora de ser efetivada, a
implantação resulta em vontade diversa, em efeito não desejado. Isto é, o
erro implica na execução de algo não desejado pela Administração
Pública.

x. Como o ato permanecerá intocado, volta-se ao artigo 54 da Lei nº


9.784/99, a qual veda a anulação de atos administrativos após 5 (cinco)
anos, ressalvada má fé. Ora, se o ato continua sendo o mesmo, não
havendo qualquer modificação na manifestação de vontade da
Administração, não há que se falar em anulação, e, por conseguinte, em
restrição ao prazo de 5 (cinco) anos ou comprovação de má fé.

5.2.1.3. Em suma, portanto, de acordo com a Asse Jur/CCIEx, não se anularia o ato em si,
mas sua exteriorização equivocada, tendo em vista a supremacia do interesse público. Em todo caso, tal
anulação deveria ser precedida de processo administrativo que garantisse ao interessado o exercício do
contraditório e da ampla defesa.

5.2.1.4. Em que pese a coerência das argumentações acima, há que se delas divergir. Com
efeito, a exteriorização do ato é conseqüência necessária desse próprio ato, não sendo possível separar
causa de conseqüência. Na realidade, a intenção do art. 54 da Lei 9.784, de 1999, é conferir às relações
jurídicas a imprescindível estabilização depois de superado o prazo de cinco anos. Nesse sentido, não se
pode permitir que a Administração alcance atos – ou exteriorizações de atos – com o objetivo de corrigi-
los sob a escusa de que o erro foi operacional e não substancial. Levado a efeito tal raciocínio, seria
possível retroceder-se ao infinito, alcançando-se atos – ou exteriorizações de atos – praticados há vinte,
trinta, cinqüenta, cem anos, o que seria absurdo, colocando em cheque a evidente razão de existir do
citado dispositivo legal.

5.2.1.5. O que se quer dizer é que a exteriorização do ato administrativo está


intrinsecamente ligada ao ato em si, não havendo distinção entre ambos, eis que, para o administrado o
efeito gerado por um ou por outro será o mesmo. Vale dizer, pouco importa se o aumento indevido no
adicional de tempo de serviço – para citarmos um exemplo recorrente – decorreu de um engano na
consideração dos períodos computáveis ou se decorreu de um simples erro de digitação. A conseqüência
(Continuação do Parecer 111/AJ/SEF, de 30 de setembro de 2013 – página 6)

para o administrado será idêntica em qualquer dos casos e, por isso, haverá de se consolidar em seu
patrimônio se decorridos mais de cinco anos desde a implantação, sob pena de jamais se obter a almejada
pacificação das relações jurídicas.

5.2.1.6. Deve restar claro que ultrapassado o quinquênio decadencial a segurança jurídica
será o princípio prevalente em detrimento da legalidade. A alegada supremacia do interesse público,
superado o prazo de cinco anos, deve ser pela manutenção do status quo vigente e não pela correção a
qualquer custo de um ato – ou de uma exteriorização de ato – praticado de forma viciada. É repetir: o que
é ilegal torna-se legal pelo decurso do tempo, consolidando-se as relações entre Administração e
administrado, independentemente de o erro constar da substância do ato ou de sua exteriorização, do
mérito ou de sua operacionalização.

5.2.1.7. Demais disso, seria por demais temerário deixar ao alvedrio do administrador a
decisão sobre a natureza do erro administrativo que gera um benefício indevido – se é algo que macula o
ato em si, ou se diz respeito à exteriorização do mesmo. Com efeito, não há parâmetros objetivamente
identificáveis capazes de definir se determinada situação, originalmente ilícita, decorre de erro substancial
ou material.

5.2.1.8. Na realidade, se fosse permitido ao administrador realizar esse tratamento


diferenciado (dependendo da natureza do erro), situações idênticas, verificadas em diferentes unidades
gestoras, poderiam ser encaradas de forma díspar, havendo argumentos para que se considerasse o mesmo
erro, ora como operacional, ora como substancial, promovendo-se seu desfazimento ou não, deixando-se
de se aplicar o limite decadencial ou, ao contrário, promovendo sua observância.

5.2.1.9. Como se denota, também por esse prisma, dada a insegurança gerada, não há como
se conferir tratamentos diferenciados em face da natureza do erro, afinal, como visto, a repercussão no
patrimônio do administrado ocorrerá de todo modo. Em suma, não se deve conferir ao administrador
poderes ilimitados, ante a escusa de que o erro é – ou foi – meramente operacional, sob pena de se
transformar a busca pela correção da situação em sanha desmedida.

5.2.1.10. Na mesma linha de raciocínio, é preciso apontar que o inverso também é


verdadeiro: o administrado que busca a correção de determinado ato administrativo – ou de sua
exteriorização – também está sujeito a um limite de cinco anos para tal intento, traduzido tanto no art. 1º
do Decreto 20.910, de 19327, como no art. 1º-C da Lei nº 9.494, de 19968. Dessa forma, o administrado
que viesse a juízo pleiteando a revisão de um ato administrativo sob a alegação de que o erro ocorrera
somente no momento da exteriorização do mesmo – p.ex, quando da digitação de um valor – certamente
teria sua pretensão fulminada pela prescrição incidente, eis que inexiste, também sob esse prisma,
qualquer ressalva quanto à incidência do limite temporal a depender da natureza do ato.

5.2.1.11. Verifique-se a jurisprudência a respeito (destaques acrescidos):


SERVIDOR PÚBLICO. VANTAGENS PECUNIÁRIAS. INCORPORAÇÃO.
TRANSFORMAÇÃO EM VANTAGEM PESSOAL NOMINALMENTE
IDENTIFICADA. SISTEMÁTICA DE CÁLCULO. DEVOLUÇÃO DOS VALORES.
DEVIDO PROCESSO LEGAL. VANTAGEM ILEGALMENTE CONCEDIDA.
PRESCRIÇÃO DO PODER/DEVER DE REVISÃO DOS ATOS DA
ADMINISTRAÇÃO. TERMO A QUO DO PRAZO PREVISTO NO ART. 54, DA LEI
N º 9.784/99. PRECEDENTES DO EG. STJ.
- (...).

7
Art. 1º As dívidas passivas da União, dos Estados e dos Municípios, bem assim todo e qualquer direito ou ação contra a
Fazenda federal, estadual ou municipal, seja qual for a sua natureza, prescrevem em cinco anos contados da data do ato ou
fato do qual se originarem.
8
Art. 1o-C. Prescreverá em cinco anos o direito de obter indenização dos danos causados por agentes de pessoas jurídicas de
direito público e de pessoas jurídicas de direito privado prestadoras de serviços públicos.
(Continuação do Parecer 111/AJ/SEF, de 30 de setembro de 2013 – página 7)

- Em se tratando de suspensão de descontos, em virtude de erro


operacional no pagamento procedido pela Administração, ainda que
recebidos os valores de boa fé e por longo período, tem o servidor o
dever de reposição ao erário, nos termos do art. 46 da Lei nº 8.112/90. A
boa fé no recebimento só impossibilita a reposição em virtude de
alteração no entendimento da Administração acerca do teor das
normas de regência, como tem firmado o Tribunal de Contas da União,
com fulcro nos termos do art. 2º, § único, inciso XIII, da Lei nº 9.784/99,
em que resta vedada a aplicação retroativa de nova interpretação da
norma administrativa.
- A alteração de proventos da aposentadoria pressupõe a instauração
de processo administrativo no qual assegurado ao servidor aposentado
o lídimo direito de defesa. Descabe à Administração, a pretexto de
corrigir situação irregular, adotar procedimento unilateral, desprezando
os contornos próprios do devido processo, entendimento aplicável,
mutatis mutandis, também aos servidores ativos. Precedentes do
Supremo Tribunal Federal.
- (...).
- Tendo a vantagem sido ilegalmente concedida, pode (e deve) a
Administração, dentro do qüinqüênio legal, revisar o ato.
- A Corte Especial do Egrégio STJ, recentemente, consolidou o
entendimento de que "... até 1999, data da Lei 9.784, a Administração
podia rever os seus atos, a qualquer tempo (art. 114 da Lei 8.112/90). -
Ao advento da lei nova, que estabeleceu o prazo de cinco anos,
observadas as ressalvas constitucionais do ato jurídico perfeito, do
direito adquirido e da coisa julgada (art. 5º, XXXVI, CF), a incidência é
contada dos cinco anos a partir de 1º de fevereiro de 1999 (data da sua
publicação). Afinal, a lei veio para normatizar o futuro e não o passado.
Assim, quanto aos atos anteriores à lei, o prazo decadencial de cinco
anos tem por termo a quo a data da vigência da lei, e não a data do
ato." (MS nº 9.157/DF, MS nº 9.112/DF, MS nº 9.115/DF, STJ, Corte Especial,
sessão do dia 16.02.2005, relatoria da Min Eliana Calmon). O qüinqüídio
legal, contado nos termos da fundamentação, terminou em fevereiro
de 2004, sendo assim, inatacável o ato da Administração que adequou
o pagamento da VPNI às disposições legais, visto que, invariavelmente,
nas situações em que houve erro, foi ele sanado bem antes do prazo
acima referido, em conformidade, portanto, com o poder/dever
insculpido no art. 53, da Lei nº 9.784/99, bem assim, com o prazo do art.
54, nos termos da fundamentação.
(TRF 4 - AC 200272040036940, Rel. VALDEMAR CAPELETTI, 4ª Turma, DJ
22/02/2006 PÁGINA: 598)

5.2.1.12. Como se percebe, mesmo o erro de natureza operacional (ou, se preferir, a


exteriorização do ato) tem sua correção limitada pelo prazo decadencial de que trata o art. 54 da Lei
9.784, de 1999. Nesse mesmo sentido, é de se observar a Apelação Cível 2006.51.01.00654-8 (TRF 2),
julgada em 12 de dezembro de 2012, a Apelação Cível 00056342820124059100 (TRF 5), julgada em 28
de junho de 2013, e a Apelação Cível 2004.38.03.001160-5 (TRF 1), julgada em 13 de junho de 2013.

5.2.1.13. A doutrina administrativista tem opinião firme a esse respeito. Com efeito, a
professora WEIDA ZANCANER9, aponta que “toda vez que nos depararmos com atos inválidos, não
passíveis de serem convalidados, a Administração Pública deverá invalidá-los. Para fazê-lo, entretanto,
é mister que seu dever de invalidar possa ser exercitado ou, em outras palavras, que o dever de invalidar

9
Da Convalidação e da Invalidação dos Atos Administrativos, 2ª ed. Malheiros, São Paulo, 2001, p.62
(Continuação do Parecer 111/AJ/SEF, de 30 de setembro de 2013 – página 8)

não esteja obstaculizado por barreiras que o paralisem e transmutem este dever de invalidar em dever
de abster-se”.

5.2.1.14. Na mesma linha, o ilustre Prof. JOSÉ DOS SANTOS CARVALHO FILHO10
ensina (destaques acrescidos):
“Não é possível, em princípio, conciliar a exigência da
legalidade dos atos com a complacência do administrador público em
deixá-lo no mundo jurídico produzindo normalmente seus efeitos; tal
omissão ofende literalmente o princípio da legalidade.
Entretanto, se essa deve ser a regra geral, há que se
reconhecer que, em certas circunstâncias especiais, poderão surgir
situações que acabem por conduzir a Administração a manter o ato
inválido. Nesses casos, porém, não haverá escolha discricionária para o
administrador, mas a única conduta juridicamente viável terá que ser a
de não invalidar o ato e deixa-lo subsistir e produzir seus efeitos.
Tais situações consistem em verdadeiras limitações ao
dever de invalidação dos atos e podem apresentar-se sob duas formas:
1) decurso do tempo; 2) consolidação dos efeitos produzidos. O decurso
do tempo, como é sabido, estabiliza certas situações fáticas,
transformando-as em situações jurídicas. Aparecem aqui as hipóteses da
prescrição e da decadência, para resguardar o princípio da estabilidade
das relações jurídicas.
Desse modo, se o ato é inválido e se torna ultrapassado o
prazo adequado para invalidá-lo, ocorre a decadência, como adiante
veremos, e o ato deve permanecer como estava.
(...)
Nesses casos, é de se considerar o surgimento de
inafastável barreira ao dever de invalidar da Administração, certo que o
exercício desse dever provocaria agravos maiores ao Direito do que
aceitar a subsistência do ato e de seus efeitos na ordem jurídica. Nota-
se, por conseguinte, a prevalência do princípio do interesse público
sobre o da legalidade estrita. Atualmente, como já observamos, a
doutrina moderna tem considerado aplicável também o princípio da
segurança jurídica (na verdade inserido no princípio do interesse
público), em ordem a impedir que situações jurídicas permaneçam
eternamente em grau de instabilidade, gerando temores e incertezas
para as pessoas e para o próprio Estado.”

5.2.1.15. Nesse ponto, o renomado doutrinador trouxe a lume esclarecedor julgado do


Supremo Tribunal Federal (STF) acerca do assunto, cuja ementa é transcrita abaixo:
1. Recurso extraordinário.
2. Ação rescisória. Transposição de cargo. Processo seletivo
anterior à CF/88. Homologação posterior. Ato administrativo
controvertido à época.
3. Princípio da segurança jurídica. Aplicabilidade. Precedentes.
4. Recurso extraordinário a que se nega provimento

10
Manual de Direito Administrativo. 20ª ed. Lúmen Juris. Rio de Janeiro, 2008 p. 150-151
(Continuação do Parecer 111/AJ/SEF, de 30 de setembro de 2013 – página 9)

(Supremo Tribunal Federal, Recurso Extraordinário nº 466.546-RJ, 2ª


Turma. Rel. Min. Gilmar Mendes)

5.2.1.16. Do voto do eminente relator, extrai-se, por oportuno, o seguinte trecho (destaques
acrescidos):
“Na hipótese, a matéria evoca, inevitavelmente, o princípio da
segurança jurídica.
Esse princípio foi consagrado na Lei nº 9.784, de 29 de janeiro de
1999, que regula o processo administrativo no âmbito da
Administração Pública Federal, tanto em seu art. 2º, que
estabelece que a Administração Pública obedecerá ao princípio
da segurança jurídica, quanto em seu artigo 54, que fixa o prazo
decadencial de cinco anos, contados da data em que foram
praticados os atos administrativos, para que a Administração
possa anulá-los.
Em diversas oportunidades esta Corte manifestou-se pela
aplicação desse princípio em atos administrativos inválidos, como
subprincípio do Estado de Direito, tal como nos julgamentos do
MS 24.268, DJ 17.09.04 e do MS 22.357, DJ 05.11.04, ambos por
mim relatados.
Ressalte-se que a Administração busca anular um ato praticado
há mais de 14 anos, não levando em consideração a
impossibilidade de sua anulação, em face da decadência
administrativa, e, ainda, que à época dos fatos, sua
constitucionalidade era controvertida.”

5.2.1.17. Em suma, portanto, no que tange ao desfazimento de atos administrativos


viciados – ou mesmo suas exteriorizações – ultrapassado o prazo decadencial inscrito no art. 54 da Lei
9.784, de 1999, há que prevalecer o Princípio da Segurança Jurídica.

5.2.1.18. Diverge-se, portanto, das assertivas exaradas pela SAGEF/CCIEx, endossadas


pela Asse Jur/CCIEx. Ou seja, há que se entender que mesmo os erros meramente materiais ou
operacionais estão sujeitos ao limite decadencial para serem desfeitos, pois não se pode permitir que a
demora da Administração em perceber sua própria torpeza desestabilize situações verificadas há mais de
cinco anos, sob pena de se fulminar a segurança jurídica necessária às relações entre as partes no
momento em que se confere poderes transcendentais ao ente público.

5.2.2. Da Presença de Boa fé como fator apto, isoladamente, a dispensar reposições


ao erário:

5.2.2.1. Como visto, defende a SAGEF/CCIEx que a simples presença de boa fé por parte
do beneficiado, isoladamente, não basta para que seja dispensada a recomposição dos valores recebidos
indevidamente à Fazenda Pública.

5.2.2.2. A esse respeito, entendeu a Asse Jur/CCIEx que, de fato, a dispensa de restituição
de valores pagos imerecidamente depende, também, da comprovação de outros fatores, como p.ex, a
existência de dúvida razoável de interpretação e da ausência de interferência ou de influência por parte do
beneficiado. Citou, nesse sentido, decisões do STF e do TCU.
(Continuação do Parecer 111/AJ/SEF, de 30 de setembro de 2013 – página 10)

5.2.2.3. Pois bem, a única hipótese em que a lei autoriza a responsabilização do


beneficiado pela implantação de um direito imerecido, mesmo quando reste superado o limite
decadencial, é quando se logra comprovar a má fé do mesmo. Neste ponto, não parece haver divergências
entre esta Secretaria e os citados órgãos do CCIEx: a má fé leva à necessária responsabilização,
independente do tempo de implantação do direito imerecido.

5.2.2.4. Nesse sentido caminhou o Parecer 048/AJ/SEF, de 2009, considerando que a não
comprovação da má fé seria suficiente para desobrigar o beneficiado a ressarcir ao erário os valores
percebidos de forma indevida. Em outras palavras, a boa fé presumida se constituiria em fator bastante
para que as quantias recebidas imerecidamente se consolidassem no patrimônio do beneficiado, mormente
por conta do caráter alimentar envolvido, desde que aliada ao erro escusável de interpretação, em
atenção às súmulas 249/TCU e 34/AGU.

5.2.2.5. É preciso reforçar essa observação: o Parecer 048/AJ/SEF, de 2009, em momento


algum apontou que a boa fé, de forma isolada, seria suficiente para dispensar a reposição ao erário dos
valores recebidos indevidamente pelo beneficiado. Com efeito, de acordo com os precedentes citados,
deveria haver também o justificável erro de interpretação por parte do administrador. Tratou-se, naquela
ocasião, de seguir a jurisprudência mais abalizada sobre o assunto, em um sentido que, aliás, permanece
vigente.

5.2.2.6. Não obstante, é possível acrescentar argumentos a essa orientação, de molde a não
deixar dúvidas sobre os fatores que devem ser considerados quando se verificar o cabimento da
recomposição do erário. Iniciamos pela transcrição de trecho do Acórdão 1909/2003, Plenário, o Tribunal
de Contas da União:
Como já restou esclarecido na Decisão 597/92 - Plenário (TC 020.056/92-
3, Ata 56/92) e no Parecer GQ-161/98/AGU (DOU 9.9.98, Seção I, fls.
18/20), o art. 46 da Lei 8.112/90 apenas regula a forma pela qual as
reposições e indenizações ao erário são efetivadas, não cuidando de
indicar quais as situações em que essas reparações são devidas.
Na verdade, as situações em que será obrigatória a reposição ou
indenização ao erário são aquelas previstas no Direito Civil, quais sejam:
obrigação de restituir o pagamento indevido (CC, art. 876) e obrigação
de indenizar (CC, art. 927).
Assim, cabe ao julgador, em cada caso, aferir a responsabilidade pelo
indébito e o cabimento de sua reposição, em face de suas
circunstâncias peculiares.
Não há dúvida de que existem situações em que é justificável e legítimo
isentar o servidor da obrigação de restituir, especialmente se ele
recebeu de boa fé, sem ter influenciado ou interferido na sua
concessão, e se a vantagem indevida foi concedida em razão de
interpretação razoável, embora errônea, de lei que à época era de
aplicação controversa.
Portanto, trata-se apenas de ampliar os requisitos exigidos para a
dispensa de reposição, a fim de proteger o erário e, ao mesmo tempo,
preservar as situações em que essa medida é legítima.

5.2.2.7. Tal orientação terminou adotada pelo próprio Supremo Tribunal Federal, conforme
se observa abaixo:
MANDADO DE SEGURANÇA. MORTE DE UM DOS IMPETRANTES.
IMPOSSIBILIDADE DE HABILITAÇÃO DE HERDEIROS, FACULTADO O USO
DAS VIAS ORDINÁRIAS. EXTINÇÃO SEM JULGAMENTO DE MÉRITO.
TOMADA DE CONTAS PERANTE O TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO. LEI
N.8.443/92. NORMA ESPECIAL EM RELAÇÃO À LEI N. 9.784/99.
DECADÊNCIA, INOCORRÊNCIA. IMPOSTO DE RENDA SOBRE JUROS DE
(Continuação do Parecer 111/AJ/SEF, de 30 de setembro de 2013 – página 11)

MORA DECORRENTES DE ATRASO NO PAGAMENTO DE VENCIMENTOS.


DEVOLUÇÃO DE VALORES QUE, RETIDOS NA FONTE INDEVIDAMENTE PELA
UNIDADE PAGADORA, FORAM RESTITUÍDOS PELA MESMA NO MÊS
SEGUINTE. DÚVIDA QUANTO À INTERPRETAÇÃO DOS PRECEITOS
ATINENTES À MATÉRIA. SEGURANÇA CONCEDIDA.
(...)
3. A reposição, ao erário, dos valores percebidos pelos servidores torna-
se desnecessária, nos termos do ato impugnado, quando
concomitantes os seguintes requisitos:
"i] presença de boa fé do servidor;
ii] ausência, por parte do servidor, de influência ou interferência
para a concessão da vantagem impugnada;
iii] existência de dúvida plausível sobre a interpretação, validade
ou incidência da norma infringida, no momento da edição do ato
que autorizou o pagamento da vantagem impugnada;
iv] interpretação razoável, embora errônea, da lei pela
Administração."
(STF – Mandado de Segurança 25.641. Rel. Min. Eros Grau, j. 22/11/2007)

5.2.2.8. A orientação traçada pelo Pretório Excelso foi seguida pela Consultoria Jurídica
do Ministério da Defesa, vinculando, assim, as Forças Armadas, conforme o art. 42 da Lei Complementar
nº 73, de 199911. Em termos específicos, vislumbra-se no Parecer nº 332/CONJUR/MD, de 21 de agosto
de 2009:
“a) A reposição de valores pagos indevidamente a servidores ou
pensionistas deve ser dispensada quando se verifique,
concomitantemente:
i] presença de boa fé do servidor ativo e inativo; e pensionistas;
ii] existência de dúvida plausível sobre a interpretação, validade
ou incidência da norma infringida, no momento da edição do ato
que autorizou o pagamento da vantagem impugnada;
iii] interpretação razoável, embora errônea, da lei, pela
Administração.”

5.2.2.9. Dessa maneira, para que o militar ou o servidor seja dispensado de restituir ao
erário uma verba remuneratória cuja implantação indevida ocorreu há menos de cinco anos, deve haver a
presença concomitante dos requisitos enumerados pela CONJUR/MD, eis que condensam os
entendimentos exarados pelo TCU e pelo STF.

5.2.2.10. Trata-se, pois, de reforçar o entendimento constante do Parecer 048/AJ/SEF, de


2009. Conforme consta daquele documento, a boa fé, isoladamente, não é suficiente para dispensar a
recomposição do erário. Também de acordo com o apontado pela SAGEF e pela Asse Jur/CCIEx, a
existência de dúvida plausível sobre a interpretação, validade ou incidência da norma infringida, no
momento da edição do ato que autorizou o pagamento da vantagem impugnada, e a interpretação
razoável, embora errônea, da lei, pela Administração de igual forma devem estar presentes para que seja
incabível exigir-se do beneficiado a restituição dos valores recebidos indevidamente.

11
Art. 42. Os pareceres das Consultorias Jurídicas, aprovados pelo Ministro de Estado, pelo Secretário-Geral e pelos
titulares das demais Secretarias da Presidência da República ou pelo Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, obrigam,
também, os respectivos órgãos autônomos e entidades vinculadas.
(Continuação do Parecer 111/AJ/SEF, de 30 de setembro de 2013 – página 12)

5.2.3. Da rotina procedimental visando à recomposição do erário considerando-se os


valores devidos – limites e competências:

5.2.3.1. De acordo com a SAGEF/CCIEx, dívidas imputadas de forma solidária dificultam


a cobrança, o controle e o acompanhamento dos pagamentos, pelas ICFEx e pelo CCIEx, considerando-se
as movimentações a que estão sujeitos os militares devedores. Nessa senda, sugeriu que fosse
estabelecido um valor máximo, que poderia ser cobrado diretamente pelo Exército, em curto espaço de
tempo, encaminhando-se as quantias daí para inscrição na Dívida Ativa da União, conforme prevê a
legislação, por intermédio dos órgãos com competência legal para tanto.

5.2.3.2. A esse respeito, assim se pronunciou a Asse Jur/CCIEx (destaques acrescidos):

“b. Inicialmente, cumpre esclarecer o que vem a ser


responsabilidade solidária. Para tanto, transcreve-se os seguintes
trechos de lei: (...)

c. Sendo certo que a responsabilidade prevista na legislação


civil se aplica às dívidas com a Fazenda Pública, verifica-se que a
responsabilidade solidária (solidariedade passiva) ocorre quando há
multiplicidade de devedores, os quais estão obrigados pela totalidade da
prestação devida. Isto é, cada titular, isoladamente, responde pela
totalidade da prestação, embora assista o direito de regresso aos
demais. (...)

e. Assim sendo, na hipótese de a responsabilidade apurada ser


solidária, um ou todos os devedores poderão adimplir o devido, bem
como poderão ser, isolada ou coletivamente, demandados pelo credor
(União) para satisfação da integralidade da dívida.

f. Ressalta-se que, inobstante o objeto da prestação, em regra,


poder ser fracionado, já que a dívida com a União é fixada em pecúnia,
tal característica não afasta a natureza solidária da responsabilização,
nem autoriza uma divisão matemática e igualitária do quantum devido,
já que, repita-se, a todos os responsabilizados cabe o pagamento
integral do débito.

g. Destaca-se, também, que como a solidariedade implica a


responsabilidade pela dívida toda, o pagamento parcial não é suficiente
para afastar a responsabilidade de um corresponsável, como deixa claro
o Enunciado de Súmula do Tribunal de Contas da União nº 227: (...)

h. Diante das considerações sobre a responsabilidade solidária


e a normatização pertinente, reconhece-se que não existe na legislação
vigente hipótese que desonere a Administração de intentar a cobrança
administrativa de dívida, devendo a mesma ser perpetrada. Ou seja, a
Administração merece diligenciar em busca da reposição ao erário,
ainda que não consiga efetivá-la. Assim sendo, com base nos Princípios
da Legalidade e da Eficiência, como não há hipótese de desoneração de
cobrança de dívida solidária, necessário se faz o desenvolvimento de
mecanismos para melhor controle do pagamento dos respectivos débitos.

i. Ressalte-se, no entanto, que, partindo da afirmação legal de


que as regras de responsabilidade civil se aplicam as dívidas da União,
cabe ao credor (União) decidir se cobrará de um, alguns ou todos os
(Continuação do Parecer 111/AJ/SEF, de 30 de setembro de 2013 – página 13)

devedores. Como ente público, sua escolha no agir deve se pautar nas
determinações constitucionais de eficiência e obediência à legalidade
estrita, objetivando sempre o melhor para o interesse público. Sugere-se,
entretanto, que, salvo por motivo justificado, como pretende-se o
ressarcimento ao erário com a maior brevidade possível, todos os
responsáveis solidários devem ser cobrados pela integralidade da
dívida.

j. Ultrapassado tal ponto, há que se verificar como se dá o


ressarcimento à Fazenda Nacional.

k. Como conduta geral, nos termos da Lei nº 6.830/80, um


débito, vencido e não-pago, é cadastrado para controle e cobrança em
dívida ativa, o que se dá através da Procuradoria-Geral da Fazenda
Nacional. Poderão ser inscritos em dívida ativa os débitos de natureza
tributária e não-tributária, cuja titularidade do crédito seja da Fazenda
Pública Nacional, conforme definido no artigo 39 e parágrafos da Lei n°
4.320/64. (...)

l. Uma dívida para com os cofres públicos que não for


espontaneamente paga pelo obrigado ou coobrigado enseja, atendidas
as formalidades legais, a inscrição na dívida ativa e a execução judicial
promovida pela Procuradoria da Fazenda Nacional.

m. Somada a tal determinação geral de ressarcimento,


apresenta-se a hipótese de desconto da dívida, ainda que parcelada, no
contracheque do militar responsável pelo débito, independente da sua
concordância, com fulcro no artigo 15, inciso V da MP nº 2.215-10, de
31 de agosto de 2001, que estabelece como desconto obrigatório do
militar a indenização à Fazenda Nacional, desde que o mesmo não
receba quantia inferior a trinta por cento da sua remuneração ou
proventos (artigo 14, § 3º do mesmo diploma legal), bem como no
Decreto nº 98.820, de 12 de janeiro de 1990 (RAE), fundamentos de
validade do disposto nos artigos 22 e 24 da Portaria nº 008-SEF, de 21
de dezembro de 2003. (...)

n. Há base normativa para imposição de desconto do montante


da dívida no contracheque do militar responsável. No entanto, os verbos
“dever” e “determinar” constantes dos artigos transcritos acima da
Portaria nº 008-SEF/03 merecem ser interpretados sistematicamente e
em conformidade com a íntegra da citada Portaria, bem como em
consonância com os supraprincípios do Direito Administrativo da
supremacia e da indisponibilidade do interesse público. (...)

o. O artigo 27 da citada Portaria assevera que, não havendo


possibilidade de implantar o desconto no contracheque, deverão ser
tomadas as providências para inscrição na Dívida Ativa da União.
Esclarecendo tal dispositivo, o artigo 10 do mesmo diploma normativo
informa uma das hipóteses de quando não será possível implantar ou
continuar o desconto em contracheque (lembra-se que a exclusão do
militar será causa de inviabilidade de implantação ou continuidade de
desconto em folha de pagamento), qual seja, o valor elevado da dívida.
(Continuação do Parecer 111/AJ/SEF, de 30 de setembro de 2013 – página 14)

p. Ou seja, em uma leitura interpretativa da Portaria nº 008-


SEF/03 como um todo, constata-se que na hipótese de elevado valor da
dívida que inviabilize o ressarcimento pelo desconto em contracheque,
face à limitação da margem consignável do militar pela vedação legal
de percepção inferior a trinta por cento dos proventos ou remuneração,
o meio de cobrança é a inscrição na Dívida Ativa da União.

q. Ressalte-se que não há óbice para o pagamento por meio de


Guia de Recolhimento da União – GRU pelo militar, o qual, cientificado
no processo administrativo do débito que lhe é imputado, poderá
adimplir o devido por tal meio.

r. Cumpre destacar que o valor elevado da dívida será apurado


pela viabilidade ou não de amortização do débito em face dos descontos
mensais no contracheque do militar. Em suma: se o valor máximo
mensal que puder ser descontado do militar nem ao menos amortizar a
dívida, tal débito é considerado de elevado valor e serão adotadas as
providências cabíveis para inscrição na Dívida Ativa da União. (...)

u. Assim, em sendo demonstrado que a cobrança nos moldes dos


artigos 22 e 24 da Portaria nº 008-SEF/03 poderá causar embaraços
para o pleno adimplemento do quantum devido, poderá ser
implementada a cobrança por meio de inscrição na dívida ativa da
União, já que tornou-se impossibilitado o desconto em contracheque,
incidindo o autorizador artigo 27, I da Portaria nº 008-SEF/03 e a regra
da Lei nº 6.830/80, que versa sobre a execução judicial de dívida da
União.

v. Especificamente sobre o questionado pela SAGEF, não há


como ser fixado um valor máximo de cobrança administrativa por meio
de portaria, já que faltaria fundamento de validade para mesma. De
toda sorte, como a MP nº 2.215-10/01 trata do limite máximo de
desconto obrigatório em contracheque dos militares das Forças
Armadas, em cada caso concreto, no âmbito do processo administrativo,
sendo constatado que o valor máximo possível a ser descontado dos
rendimentos mensais do militar não amortiza a dívida, inviável é a
implementação da cobrança por tal meio, devendo ser adotados os
procedimentos para inscrição na dívida ativa da União.

w. Em suma: deve-se buscar a cobrança administrativa do


débito, com a instauração do competente processo administrativo, nos
moldes da Portaria nº 008/03-SEF. No entanto, a via do pagamento por
meio de desconto em contracheque só deve ser implementada quando o
interesse público for atendido e o montante descontado (ainda que
parcelado) amortize a dívida (pague a dívida). Ou seja, o limite máximo
de cobrança por desconto em contracheque é definido no caso concreto,
em face da margem definida na MP nº 2.215-10/01, devendo,
obrigatoriamente, o quantum descontado amortizar a dívida.”

5.2.3.3. Conforme apontado pela Asse Jur/CCIEx, nos termos acima, não existe
autorização legal para que sejam estabelecidos limites de molde a apontar que determinados débitos
sejam cobrados administrativamente e outros, mais elevados, remetidos diretamente à PGFN/AGU para
inscrição na Dívida Ativa da União.
(Continuação do Parecer 111/AJ/SEF, de 30 de setembro de 2013 – página 15)

5.2.3.4. Vale dizer, portanto, que não se pode dispensar o administrador militar de intentar
a cobrança pela via administrativa de qualquer débito com a União. Ou seja: mesmo que os valores
envolvidos sejam ínfimos, a cobrança deverá ocorrer, respeitando-se, por natural, o devido processo legal
– em acatamento ao inciso LV do art. 5º da Constituição Federal12 –, oportunizando-se ao devedor o
exercício do contraditório e da ampla defesa, conforme, aliás, consta do art. 5º da Portaria nº 008-SEF, de
200313.

5.2.3.5. Valores elevados devem ser cobrados pela Administração Militar, em um primeiro
momento, já que inexiste autorização legal para outro tipo de providência. Todavia, existirão
circunstâncias que autorizarão desde logo a remessa da sindicância ou do processo administrativo aos
órgãos da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, por intermédio da Região Militar de vinculação, para
inscrição do débito na Dívida Ativa da União. Isso ocorrerá quando os valores devidos forem tão elevados
que a implantação dos descontos em contracheque (ou seja, mesmo que o débito seja cobrado de forma
parcelada), não permitirá nem mesmo o abatimento dos juros incidentes, fazendo com que, na prática, o
saldo devedor aumente ao invés de ser amortizado.

5.2.3.6. Nesse caso será justificável a remessa aos órgãos da PGFN porque a mesma detém
ferramentas que possibilitam a cobrança da dívida por meio da expropriação de bens, via Judiciário, algo
que não compete à Administração Militar.

5.2.4. Do Parcelamento do Débito:

5.2.4.1. Conforme se depreende da documentação trazida a lume, entende a


SAGEF/CCIEx que o parcelamento de que trata a legislação procedente da Procuradoria-Geral da
Fazenda Nacional e da Receita Federal do Brasil é uma faculdade da Administração e não um direito do
administrado. Nesse aspecto, concordou a Asse Jur daquele Centro, ao apontar que a “Administração
Militar deve buscar o ressarcimento ao erário com a maior brevidade possível, oportunizando o
pagamento de forma integral, de uma só vez e, no caso de não ser o meio mais eficiente e impossível de
ser implementado, mediante requerimento do interessado, pode parcelar em tantas vezes quantas forem
necessárias de forma a compatibilizar a margem de desconto do militar e o interesse público.”

5.2.4.2. Nesse sentido, argumentou que o RAE impõe a execução do débito de uma só vez
e que o único fator a limitar tal procedimento seria a margem consignável do militar. Dessa forma, seriam
preservados os 30% (trinta por cento) da remuneração a que teria direito o devedor e, retirados os
descontos obrigatórios de maior precedência, aplicar-se-ia o desconto afeto à indenização à Fazenda
Nacional.

5.2.4.3. Com razão a SAGEF e a Asse Jur/CCIEx. Confirmando-se a necessidade de


restituição ao erário, o valor devido se traduzirá em desconto obrigatório a teor do inciso V do art. 15 da
MP 2.215-10, de 200114. Enquanto débito para com a Fazenda Nacional, pois, deverá ser descontado de
uma única vez, a teor do caput do art. 149 do RAE15.

12
Art. 5º. (...).LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o
contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;
13
Art. 5° Em decorrência do valor original do prejuízo apurado mediante IPM ou Sindicância, o Cmt, Ch ou Dir da OM
deverá adotar as seguintes providências: I - quando o valor for igual ou superior a R$ 1.000,00 (Hum mil reais), encaminhar
à ICFEx o relatório e a solução da Sindicância ou do IPM; II - quando o valor for inferior a R$ 1.000,00 (hum mil reais),
deverão ser envidadas todas as medidas possíveis, no âmbito da OM, visando ao ressarcimento do prejuízo à Fazenda
Nacional.
14
Art. 15. São descontos obrigatórios do militar: (...) V - indenização à Fazenda Nacional em decorrência de dívida;
15
Art. 149. As indenizações provenientes de alcance, restituições de recebimentos indevidos ou para reposição de bens, serão
descontadas de uma só vez ou, na sua impossibilidade, em parcelas mensais dos vencimentos ou quantia que, a qualquer
TÍTULO, os responsáveis pela indenização recebam do Estado.
(Continuação do Parecer 111/AJ/SEF, de 30 de setembro de 2013 – página 16)

5.2.4.4. É possível reforçar essa idéia: o citado dispositivo do RAE é claro ao estipular que
as indenizações ao erário devem ser descontadas de uma só vez. Essa é a regra geral. E é na
impossibilidade de tal desconto ser efetuado de uma só vez (como o mencionado respeito à margem
consignável do militar16) que o débito poderá ser parcelado. Nada impede, porém, conforme apontado,
que o devedor, se assim, entender, requeira o parcelamento, dependendo, nesse caso de anuência do
ordenador de despesas a que estiver subordinado.

5.2.4.5. Para deferir o parcelamento, o ordenador de despesas deverá verificar se o valor da


prestação é suficiente para amortizar a dívida, eis que de nada adiantará implantar-se o desconto mensal
se o valor debitado não for bastante para tornar o saldo devedor menor.

5.2.4.6. Outra hipótese capaz de levar ao parcelamento ocorre quando o devedor reconhece
a dívida que lhe é imputada, após a sindicância ou o processo administrativo instaurado, conforme o
inciso II do art. 8º da Portaria nº 008-SEF, de 200317. Também neste caso porém, para que o parcelamento
ocorra, deverá ser factível o abatimento do saldo devedor com as parcelas implantadas mês a mês.

5.2.4.7. No caso de se permitir o parcelamento, na falta de legislação específica aplicável


ao caso, há que se utilizar, por analogia, a Lei 10.522, de 2002, especialmente seu art. 1018, e também a
Portaria Conjunta nº 15-PGFN-RFB, de 2009, permitindo-se, pois, o parcelamento do débito, em
princípio, no máximo 60 (sessenta) prestações19, considerando, ainda, que o valor de cada parcela não
seja menor do que R$ 100,00 (cem reais), se o devedor for pessoa física, ou R$ 500 (quinhentos reais), se
jurídica20.

5.2.4.8. É possível, observe-se, autorizar o parcelamento em uma quantidade maior do que


sessenta prestações. Tal favor poderá ocorrer – mediante despacho fundamentado do Ordenador de
Despesas – quando um número mais elevado de prestações for necessário para respeitar a margem
consignável do devedor e, ainda, desde que o valor das parcelas a se implantar seja suficiente para
amortizar o saldo devedor. De reparar-se que as condições são cumulativas.

5.2.4.9. Como visto acima, na impossibilidade de abatimento do saldo devedor – quando a


dívida for cobrada de forma parcelada – o processo pertinente deverá ser encaminhado à Região Militar
de vinculação, visando à remessa do mesmo à Procuradoria da Fazenda Nacional com competência para
inscrição na Dívida Ativa da União.

5.2.4.10. Evidentemente, em qualquer caso, seja na cobrança com abatimento único, seja
naquela realizada de forma parcelada, deverá haver atualização monetária e, eventualmente, incidência de
juros, a contar da data da implantação indevida, de acordo com as orientações contidas no DIEx nº 15-
Asse1/SSEF/SEF, de 19 de fevereiro de 2013:

16
Art. 14. Descontos são os abatimentos que podem sofrer a remuneração ou os proventos do militar para cumprimento de
obrigações assumidas ou impostas em virtude de disposição de lei ou de regulamento. (...).§ 3o Na aplicação dos descontos, o
militar não pode receber quantia inferior a trinta por cento da sua remuneração ou proventos.
17
Art. 8° Se o parecer resultar em responsabilidade pecuniária do indiciado, o Cmt, Ch ou Dir da OM de origem da
Sindicância ou do IPM deverá ser orientado pela ICFEx para que adote as seguintes providências: I - dar oportunidade ao
responsável para que reconheça a dívida, mediante a assinatura do Termo de Reconhecimento de Dívida (Anexo B), e autorize
o desconto em contracheque ou comprometa-se a ressarcir o débito de outra forma, na impossibilidade do referido desconto;
e II - informar ao responsável que, havendo reconhecimento da dívida, o pagamento poderá ser efetuado de forma parcelada,
observado o disposto no Regulamento de Administração do Exército (RAE).
18
Art. 10. Os débitos de qualquer natureza para com a Fazenda Nacional poderão ser parcelados em até sessenta parcelas
mensais, a exclusivo critério da autoridade fazendária, na forma e condições previstas nesta Lei. (Redação dada pela Lei nº
10.637, de 2002)
19
Art. 1 º Os débitos de qualquer natureza para com a Fazenda Nacional poderão ser parcelados em até 60 (sessenta)
prestações mensais e sucessivas, observadas as disposições constantes desta Portaria.
20
Art. 18 . O valor de cada parcela será obtido mediante a divisão do valor da dívida consolidada pelo número de parcelas
solicitadas, observados os limites mínimos de: I - R$ 100,00 (cem reais), quando o devedor for pessoa física; e II - R$ 500,00
(quinhentos reais), quando o devedor for pessoa jurídica.
(Continuação do Parecer 111/AJ/SEF, de 30 de setembro de 2013 – página 17)

a. Havendo boa fé por parte do administrado, a dívida será atualizada monetariamente,


com base na variação do IPCA, não havendo o que se falar em incidência de juros,
seja qual fora natureza do débito.

b. Não havendo boa fé, a dívida será calculada da seguinte forma:

1) débitos anteriores a 31 de julho de 2011 serão atualizados monetariamente,


até essa data, pelo IPCA, acrescidos de juros de mora de 1% (um por cento)
ao mês.

2) débitos posteriores a essa data, ou seja, a partir de 1º de agosto de 2011,


devem ser atualizados somente com base na taxa SELIC (que engloba a
atualização monetária e os juros), cujo histórico é obtido junto ao site do
Banco Central do Brasil.

c. Em qualquer caso, os cálculos acima poderão ser realizados por meio do “Sistema
Débito” disponível no site do TCU.

5.2.4.11. Por oportuno, ressalte-se que nos casos de boa fé, haverá incidência de juros a
partir da notificação do beneficiado para recolher a quantia devida (ou seja, já na fase de execução do
débito, após a sindicância ou o processo administrativo instaurado), conforme consta do DIEx nº 090-
Asse1/SSEF/SEF, de 18 de junho de 2013.

5.3. Da Consolidação do Procedimento:

5.3.1. Em vista do acima exposto, surge como apropriado consolidar-se sumariamente os


procedimentos a serem adotados pela Administração no caso de danos ao erário, especialmente no tocante
à implantação indevida de direitos pecuniários.

5.3.2. Da Sindicância e do Processo Administrativo:

5.3.2.1. Conforme consta do art. 3º da Portaria nº 008-SEF21, de 2003, a constatação de


pagamento indevido leva, necessariamente à instauração de sindicância (carreada à luz das EB10-IG-
09.001) ou de Processo Administrativo (elaborado de acordo com a Lei 9.784, de 1999), neste caso
quando a implantação irregular for verificada depois de concluído um Inquérito Policial Militar. Tanto na
primeira como na segunda hipótese, isto é, tanto na sindicância como no processo administrativo, há que
se respeitar o devido processo legal, isto é, oportunizar-se ao interessado/beneficiado o exercício do
contraditório e da ampla defesa – qualquer que seja o valor do dano. Ato contínuo, a ICFEx de vinculação
deve ser informada da instauração do procedimento, em observância ao §2º do art. 3º da Portaria 008-
SEF, de 200322.

5.3.2.2. Tanto na sindicância como no processo administrativo, o sindicado ou o


interessado será aquele que foi beneficiado com a implantação da verba indevida. Em qualquer dos casos,
devem ser apurados os seguintes aspectos, dentre outros por ventura considerados necessários:

21
Art. 3° Na ocorrência de fatos de qualquer natureza que contenham indícios de prejuízo à Fazenda Nacional, os
procedimentos para a apuração e ressarcimento serão desenvolvidos mediante instauração de Sindicância, de Inquérito
Policial Militar (IPM), de Processo Administrativo ou de TCE, de acordo com a respectiva legislação e o previsto nestas
Normas.
22
Art. 3º. (...).§ 2° Nos casos de instauração de Sindicância ou IPM, o Comandante, Chefe ou Diretor (Cmt, Ch ou Dir) da
Organização Militar (OM) deverá comunicar sua abertura à Inspetoria de Contabilidade e Finanças do Exército (ICFEx)
correspondente, independente dos valores envolvidos e das demais comunicações regulamentares.
(Continuação do Parecer 111/AJ/SEF, de 30 de setembro de 2013 – página 18)

a. O contexto fático que levou à implantação da verba imerecida;

b. A data da implantação da verba;

c. Se houve influência ou interferência, por parte do beneficiado, na implantação;

d. Se havia dúvida plausível sobre a interpretação, validade ou incidência da norma


em que se fundamentaria o direito à verba, no momento da edição do ato que
autorizou o pagamento da mesma;

e. Se era razoável, ainda que errônea, a interpretação, pela Administração, da norma


em que se fundamentaria o direito à verba.

f. Se houve boa ou má fé por parte do beneficiado.

5.3.2.3. A propósito, ressalte-se que a dúvida plausível de interpretação, validade ou


incidência da norma pode ser constatada quando houver imprecisão quanto à vigência do diploma legal
em que se funda o pagamento imerecido, como por exemplo a edição de portarias sucessivas em pouco
tempo, ou a expedição de orientações normativas díspares também em curto intervalo.

5.3.2.4. Do mesmo modo, há que se apontar que será razoável, ainda que errônea, a
interpretação da norma quando houver evidente controvérsia sobre a aplicação do direito vigente. A
polêmica pode ser demonstrada mediante a colação de decisões conflitantes a respeito do tema, sejam
procedentes de diferentes órgãos da Administração, sejam procedentes do Judiciário.

5.3.2.5. No que tange à má ou boa fé, há que se admitir que se trata do fator mais difícil de
verificação, especialmente quando transcorrido um considerável lapso temporal. Outro fator a dificultar a
apuração desse quesito refere-se ao fato de que a boa fé é sempre presumida, ao passo que a má fé deve
ser comprovada. A questão que surge, pois, é: como comprovar a má fé?

5.3.2.6. O conceito de má fé aproxima-se da definição de dolo, constante do Direito Penal,


ou seja, agirá com má fé aquele que atuar com a vontade livre e consciente de atingir um objetivo
sabidamente ilícito. Isso significa que o encarregado da sindicância ou do processo administrativo deverá
investigar se o beneficiado sabia que tal direito não lhe assistia – e mesmo assim nada fez – ou se atuou
de maneira efetiva de molde a consolidá-lo em seu patrimônio. Tal apuração poderá se valer de
publicações em boletim interno, transcrições em assentamentos ou qualquer documento idôneo que
demonstre cabalmente que o beneficiado tinha conhecimento – ou pelo menos deveria ter – de que a
verba lhe seria indevida.

5.3.2.7. Como se denota, a má fé decorre da influência ou da interferência do beneficiado


na obtenção do direito imerecido, quer por ação, quer por omissão. Vale dizer, tendo o mesmo atuado em
busca da vantagem ilícita – ou se omitido quando deveria se pronunciar – restará evidenciada a má fé.

5.3.3. Das Providências das ICFEx:

5.3.3.1. Ao solucionar a sindicância ou o processo administrativo, a autoridade


instauradora deverá informar a ICFEx a que estiver vinculada sobre o resultado das apurações, em
acatamento ao prescrito no art. 5º da Portaria nº 008-SEF, de 200323. Nesse sentido, deverá encaminhar à

23
Art. 5° Em decorrência do valor original do prejuízo apurado mediante IPM ou Sindicância, o Cmt, Ch ou Dir da OM
deverá adotar as seguintes providências: I - quando o valor for igual ou superior a R$ 1.000,00 (Hum mil reais), encaminhar
à ICFEx o relatório e a solução da Sindicância ou do IPM; II - quando o valor for inferior a R$ 1.000,00 (hum mil reais),
deverão ser envidadas todas as medidas possíveis, no âmbito da OM, visando ao ressarcimento do prejuízo à Fazenda
Nacional. Parágrafo Único. Não se aplica o encaminhamento previsto no inciso I deste artigo, quando houver o
(Continuação do Parecer 111/AJ/SEF, de 30 de setembro de 2013 – página 19)

Setorial cópia do Relatório da sindicância ou do processo administrativo, e também da Solução do


mesmo, sem prejuízo da remessa de outros documentos que entender necessários ou que vierem a ser
solicitados.

5.3.3.2. A Inspetoria, por sua vez, orientará a OM como proceder, levando em


consideração (além do contido nos incisos I e II do art. 8º – já vistos – da aludida norma), o seguinte:

a. Inicialmente, deverá atentar à data em que foi praticada a implantação do direito


imerecido. A definição do aspecto temporal reveste-se de fundamental importância, tendo em vista a
sujeição – ou não – do ato à disciplina do art. 54 da Lei nº 9.784, de 199924.

b. Se a implantação tiver sido realizada há mais de cinco anos, haverá que se buscar, nos
autos da sindicância, se houve ou não comprovada má fé por parte do beneficiado. Nesse caso, abrem-se
duas possibilidades:

1) Se não houve comprovada má fé:

1.1) não há o que se falar em anulação ou revisão da implantação, eis que, em nome da
segurança jurídica, aplicável será, indubitavelmente, o art. 54 da Lei nº 9.784, de 1999. Inexistindo
anulação, não haverá o que se falar em devolução de eventuais quantias recebidas indevidamente pelo
beneficiado;

1.2) nada impede, entretanto, que o beneficiado, voluntariamente, mediante declaração


expressa, se disponha a ter suprimida de seus vencimentos a verba irregularmente implantada. Nada
impede, da mesma forma, que o beneficiado, também, recolha aos cofres públicos as quantias percebidas
a maior, desde que de igual forma declare expressamente. Em caso de devolução, aplicar-se-á ao valor a
restituir apenas a atualização monetária, pelo IPCA, não havendo incidência de juros. O beneficiado
poderá requerer o parcelamento da quantia a restituir, solicitação essa que será avaliada e, se for o caso,
concedida pelo ordenador de despesas competente;

1.3) ressalte-se que inexiste obrigação legal para o beneficiado assim agir. A lei veda a
anulação de ofício (por parte da Administração) do ato praticado há mais de cinco anos. Porém, não
proíbe que o beneficiado abra mão do direito equivocadamente deferido em seu favor.

2) Se houve comprovada má fé: a implantação deverá ser anulada, eis que se encontrará
inserida na ressalva do caput do art. 54 da Lei nº 9.784. Sendo assim, deverá a Administração buscar
obrigatoriamente o ressarcimento das quantias pagas de forma indevida ao beneficiado, com a aplicação
de juros e atualização monetária sobre o montante devido. Não haverá, pois, limitação temporal para
tanto, sendo a cobrança, nesse caso, imprescritível.

c. Se a implantação tiver sido realizada há menos de cinco anos, a implantação do direito


indevido será anulada mesmo que não reste comprovada a má fé do beneficiado, ou seja, mesmo que se
presuma a sua boa fé. Porém, em que pese ser possível a anulação da implantação em qualquer hipótese,
haverá distinções quanto à possibilidade de se buscar o ressarcimento do erário, ou seja, a devolução das
quantias pagas indevidamente.

reconhecimento da dívida e a respectiva autorização para desconto em contracheque ou, na impossibilidade do desconto, o
compromisso de saldar o débito, ou ainda, nas situações em que o prejuízo for imputado à União.
24
Art. 54. O direito da Administração de anular os atos administrativos de que decorram efeitos favoráveis para os
destinatários decai em cinco anos, contados da data em que foram praticados, salvo comprovada má fé. § 1o No caso de
efeitos patrimoniais contínuos, o prazo de decadência contar-se-á da percepção do primeiro pagamento. § 2o Considera-se
exercício do direito de anular qualquer medida de autoridade administrativa que importe impugnação à validade do ato.
(Continuação do Parecer 111/AJ/SEF, de 30 de setembro de 2013 – página 20)

1) Havendo comprovada má fé: será impositiva a restituição ao erário de todos os valores


percebidos ao arrepio da lei, independentemente de qualquer outro fator, com a devida incidência de juros
e de correção monetária ao montante devido, o que se traduz, pois, na aplicação da taxa SELIC desde a
data da implantação.

2) Não havendo comprovada má fé, ou seja, nos casos de boa fé presumida, haverá duas
possibilidades:

2.1) Se, além da boa fé, for constatado, de forma cumulativa que não houve influência
ou interferência, por parte do beneficiado, na implantação da verba imerecida; que havia dúvida
plausível sobre a interpretação, validade ou incidência da norma em que se fundamentaria a verba, no
momento da edição do ato que autorizou o pagamento da mesma; e que era razoável, ainda que errônea,
a interpretação, pela Administração, da norma em que se fundamentaria a verba, será dispensada a
restituição ao erário, pelo beneficiado, das verbas recebidas indevidamente. Nada impede, porém,
que o beneficiado voluntariamente restitua aos cofres públicos as quantias pertinentes, devidamente
atualizadas pelo IPCA, mediante declaração expressa. Nesse caso, poderá o mesmo requerer o
parcelamento do valor, solicitação essa que será avaliada e, se for o caso, concedida pelo ordenador de
despesas competente.

2.2) Se não forem constatados todos os requisitos acima mencionados, de forma


cumulativa e concomitante, os valores recebidos de forma indevida deverão ser obrigatoriamente
devolvidos pelo beneficiado. Nesse caso, será aplicável a atualização monetária apenas, pelo IPCA, não
havendo incidência de juros. O beneficiado poderá requerer o parcelamento da quantia a restituir,
solicitação essa que será avaliada e, se for o caso, concedida pelo ordenador de despesas competente.

5.3.3.3. Da responsabilidade subsidiária dos responsáveis pela implantação:

a. Como visto, em determinadas ocasiões, não será possível obter do beneficiado a


restituição dos valores pagos indevidamente em seu favor. Nessas hipóteses, o mesmo somente restituirá
aos cofres públicos os valores recebidos a maior se assim desejar, mediante declaração expressa e
voluntária. Porém, se isso não ocorrer, o ônus pela recomposição do erário deverá ser atribuído aos
responsáveis pela implantação da verba indevida, nos termos do §3º do art. 149 do RAE25.

b. Vale dizer: no primeiro momento a responsabilidade pela devolução dos valores


indevidos é subsidiária, pois somente atinge os responsáveis pela implantação do direito imerecido se o
beneficiado não puder ser alcançado ou não manifestar o interesse em restituir o quantum pago a maior.
Todavia, uma vez transferida aos encarregados da implantação irregular, a responsabilidade passará a ser
solidária, podendo a Administração cobrar de qualquer dos envolvidos na implantação a restituição das
quantias pagas de modo ilícito, nos termos do art. 275 do Código Civil Brasileiro26.

c. De qualquer forma, a responsabilidade dos envolvidos na implantação irregular deverá


ser apurada mediante nova sindicância (ou novo processo administrativo), a ser instaurada(o) no âmbito
da unidade gestora onde o pagamento imerecido foi implantado.

d. Desse modo, a ICFEx que primeiro atuou no feito providenciará a remessa dos autos da
sindicância ou do processo administrativo original à Setorial Contábil que tiver jurisdição sobre a UG em
que deverá ser instaurado o novo procedimento, se necessário (já que ambas as UG envolvidas podem se

25
Art. 149. As indenizações provenientes de alcance, restituições de recebimentos indevidos ou para reposição de bens, serão
descontadas de uma só vez ou, na sua impossibilidade, em parcelas mensais dos vencimentos ou quantia que, a qualquer
TÍTULO, os responsáveis pela indenização recebam do Estado. (...)§ 3º O fixado neste artigo incidirá sobre os responsáveis
pelo pagamento indevido, quando não for possível alcançar o beneficiado.
26
Art. 275. O credor tem direito a exigir e receber de um ou de alguns dos devedores, parcial ou totalmente, a dívida comum;
se o pagamento tiver sido parcial, todos os demais devedores continuam obrigados solidariamente pelo resto
(Continuação do Parecer 111/AJ/SEF, de 30 de setembro de 2013 – página 21)

situar na área de abrangência da mesma Inspetoria). À ICFEx que receber os autos pertinentes caberá
orientar a UG em que o novo procedimento deverá ser aberto, mediante memória abrangente e
compreensiva, anexando cópia dos documentos que entender necessários.

e. Ressalte-se que tal procedimento difere da orientação contida no Parecer nº 048/AJ/SEF,


de 2009. Com efeito, tal documento considerava que essa nova sindicância deveria ocorrer no âmbito da
OM que constatou a irregularidade em primeiro lugar. No entanto, de acordo com informações colhidas
junto aos Chefes de Inspetorias, questões operacionais terminavam por dificultar ou tornar extremamente
morosos os procedimentos pertinentes. Por essa razão é que se desloca a competência para coordenar as
providências atinentes à segunda sindicância – para a eventual apuração de responsabilidades daqueles
que implantaram o direito imerecido – para a ICFEx em relação à qual se encontra vinculada a OM onde
o pagamento irregular ocorreu originalmente.

f. O novo procedimento apuratório, pois, terá por objetivo esclarecer os fatos que
contextualizaram a implantação do direito indevido. Permitirá, assim, que sejam buscadas as
responsabilidades de cada agente então envolvido na implantação, tais como (mas não limitado a) o
operador do sistema, o encarregado do setor de pessoal da UG e até mesmo o Ordenador de Despesas.

g. Uma vez que sejam comprovadas as participações de qualquer dos encarregados acima
mencionados (ou de outrem, dependendo da apuração), deverá ser-lhe(s) oportunizado o exercício do
contraditório e da ampla defesa nos próprios autos da sindicância, abrindo-se-lhe(s) prazo para
apresentação de alegações bem como para que requeira(m) o que entender de direito.

h. É fundamental destacar que o(s) agente(s) envolvido(s) na implantação do pagamento


indevido só poderá(ão) ser responsabilizado(s) se restar cabalmente demonstrada e comprovada a culpa
ou o dolo de sua(s) conduta(s) 27. Em qualquer caso, a responsabilização dos encarregados da implantação
importa na aplicação da SELIC ao montante devido, ou seja, embutindo-se atualização monetária pelo
IPCA e também juros.

i. O devedor poderá requerer o parcelamento da quantia a restituir, solicitação essa que


será avaliada e, se for o caso, concedida pelo ordenador de despesas competente pela cobrança.

j. De se ressaltar que quando o direito imerecido se consolida no patrimônio do


beneficiado – em virtude p.ex, da superação do prazo decadencial do art. 54 da Lei 9.784, de 1999 – o
responsável pela implantação deverá arcar com o prejuízo do erário enquanto o pagamento indevido
ocorrer, ou seja, mesmo que isso signifique uma recomposição ad aeternum, uma vez que inexiste na
legislação (art. 149, §3º do RAE) qualquer ressalva a esse respeito.

k. Não obstante, se restar demonstrado que o encarregado agiu com boa fé, que havia
dúvida plausível sobre a interpretação, validade ou incidência da norma em que se fundamentava a
concessão da verba, e que era razoável, ainda que errônea, a interpretação da legislação, não haverá
como responsabilizar-se o agente, devendo a União absorver os prejuízos. Ressalte-se, em todo caso, que
a presença de tais requisitos deve ser concomitante.

l. A impossibilidade de responsabilização do(s) agente(s) encarregado da implantação


indevida também será dispensada quando restar comprovado que a Administração agiu com culpa in
eligendo, ou seja, quando ficar evidente que a Administração destacou para a tarefa de agente da
administração – ou auxiliar – indivíduo incapacitado, inapto ou reconhecidamente inepto.

5.3.4. Para uma melhor compreensão da questão e das diversas possibilidades abordadas,
elaboramos um fluxograma que pode ser observado na página seguinte:

27
Ressalte-se que, havendo comprovação inequívoca da culpa, a busca pela recomposição do erário será imprescritível.
(Continuação do Parecer 111/AJ/SEF, de 30 de setembro de 2013 – página 22)

Constatação da Implantação Indevida

Sindicância ou Processo Administrativo Informa a ICFEx


sobre a instauração

Remessa de cópia do Relatório e da


solução à ICFEx de vinculação

ICFEx Orienta

Implantação Ocorrida há MAIS de cinco anos Implantação Ocorrida há MENOS de cinco anos

Implantação ANULADA em qualquer hipótese


Má fé NÃO Má fé
comprovada comprovada

• Má fé NÃO comprovada Falta de um dos


Art. 54 Art. 54 • Dúvida de Interpretação requisitos ao lado
Lei 9.784/99 Lei 9.784/99 ou aplicação da norma
(ressalva) • Iterpretação razoável,
ainda que errônea, da
norma incidente
Implantação Implantação
NÃO anulada anulada

Beneficiado NÃO Beneficiado Beneficiado Beneficiado NÃO


precisa restituir (**) deve restituir (*) deve restituir (*) precisa restituir (**)

Remessa do assunto à ICFEx com


jurisdição sobre a OM onde a
implantação indevida ocorreu

ICFEx orienta que se instaure sindicância


ou processo administrativo nessa OM

Comprovação de culpa ou dolo dos Não comprovação de culpa ou dolo


encarregados da implantação dos encarregados da implantação

Encarregados devem ressarcir (*) Dano Absorvido pela União

(*) As restituições, em qualquer caso, devem ser buscadas pela Administração à luz da Portaria nº 008-SEF, de 2003. O montante devido
deve ser atualizado monetariamente e, se for o caso, sofrer a incidência de juros. Poderá haver parcelamento do débito se requerido pelo
devedor e autorizado pelo OD.
(**) Nos casos em que não haja obrigação por parte do beneficiário de restituir os valores devidos, nada impede que o mesmo concorde
expressamente em fazê-lo. Se já ultrapassado o qüinqüênio decadencial, nada impede, da mesma forma, que o beneficiado concorde, também
expressamente, em ter o ato de implantação revisto.
(Continuação do Parecer 111/AJ/SEF, de 30 de setembro de 2013 – página 23)

6. CONCLUSÃO -

Em vista do exposto, é de se afirmar que:

6.1. Em relação às questões levantadas pelo CCIEx:

6.1.1. Os atos meramente operacionais ou materiais estão sujeitos à decadência quinquenal


constante do art. 54 da Lei 9.784, de 1999, em face da prevalência, também nessas hipóteses, do Princípio
da Segurança Jurídica em detrimento do Princípio da Legalidade.

6.1.2. A boa fé, isoladamente, não é suficiente para dispensar a recomposição do erário.
Nesse sentido, a existência de dúvida plausível sobre a interpretação, validade ou incidência da norma
infringida, no momento da edição do ato que autorizou o pagamento da vantagem impugnada, e a
interpretação razoável, embora errônea, da lei, pela Administração também devem estar presentes para
que seja incabível exigir-se do beneficiado a restituição dos valores recebidos indevidamente.

6.1.3. A regra geral é que não se pode dispensar o administrador militar de intentar a
cobrança pela via administrativa de qualquer débito com a União. A única exceção em que se permite a
remessa do processo diretamente aos órgãos da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional se dá quando os
valores envolvidos não permitem sequer a amortização do saldo devedor em um eventual desconto
parcelado.

6.1.4. Conforme exposto pela Asse Jur/CCIEx, a “Administração Militar deve buscar o
ressarcimento ao erário com a maior brevidade possível, oportunizando o pagamento de forma integral,
de uma só vez e, no caso de não ser o meio mais eficiente e impossível de ser implementado, mediante
requerimento do interessado, pode parcelar em tantas vezes quantas forem necessárias de forma a
compatibilizar a margem de desconto do militar e o interesse público.”

6.2. Em relação ao procedimento geral a ser adotado:

6.2.1. A constatação de ato irregular, sobretudo de pagamentos indevidos, leva à


instauração de sindicância ou processo administrativo, com informação à ICFEx de vinculação. Depois de
concluídos os trabalhos, com nova informação à Setorial Contábil, deve a unidade aguardar as instruções
do controle interno.

6.2.2. As orientações da Inspetoria à UG onde transcorreu a sindicância dependerão da


época em que o ato irregular foi cometido, avaliando-se a incidência do art. 54 da Lei 9.784, de 1999, e
também, a existência ou não de comprovada má fé por parte do beneficiado, de dúvida plausível sobre a
interpretação, validade ou incidência da norma em que se fundamentava a concessão da verba, e que era
razoável, ainda que errônea, a interpretação da mesma nos termos da fundamentação acima.

6.2.3. Em conseqüência, poderá a ICFEx opinar pela anulação ou não do ato


administrativo e/ou à necessidade de devolução das quantias pagas a maior, seja pelo beneficiado
(compulsória ou voluntariamente), seja pelos encarregados da implantação indevida.

6.2.4. Em caso de responsabilização dos encarregados, o assunto deverá ser remetido à


Setorial de Controle Interno com jurisdição sobre a unidade gestora em que o pagamento irregular foi
originalmente implantado, para providências.
(Continuação do Parecer 111/AJ/SEF, de 30 de setembro de 2013 – página 24)

6.3. Sugere-se, por fim, que o presente expediente seja encaminhado ao CCIEx, como
resposta às considerações apresentadas, para que aquele Centro, se julgar oportuno, consolide as
orientações pertinentes e promova a difusão das conclusões às ICFEx, por meio de documento circular,
visando à padronização de procedimentos e à divulgação do assunto junto às unidades gestoras
vinculadas.

É o Parecer.
S.M.J.

_________________________________________
GUSTAVO CASTRO ARAUJO – Cap QCO Dir
Adjunto da Assessoria Jurídica/SEF

De Acordo:

_______________________________
CÁSSIO GRILLI – Cel Cav R/1
Chefe da Assessoria Jurídica /SEF

7. DECISÃO

__________________________________
Gen Div GERSON FORINI
Subsecretário de Economia e Finanças

“FREI ORLANDO – SOLDADO DA FÉ”

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