Almeida-Portugal e o Tráfico de Escravos Na Primeira Metade Do Século XVI
Almeida-Portugal e o Tráfico de Escravos Na Primeira Metade Do Século XVI
Almeida-Portugal e o Tráfico de Escravos Na Primeira Metade Do Século XVI
XVI 13
1
A. C. de C. M. Saunders, A Social History of Black Slaves and Freedmen in Portugal
1441-1555, Cambridge, Cambridge University Press, 1982 (edição portuguesa,
História Social dos escravos e libertos negros em Portugal, 1441-1555, Lisboa, IN-
CM, 1994) ; Didier Lahon, Esclavage et Confréries Noires au Portugal durant l’Ancien
Régime (1441-1830), Tese de Doutoramento apresentada na EHESS, texto
policopiado, Paris, 2001; Jorge Fonseca, Escravos em Évora no século XVI, Évora,
1997 e do mesmo autor Escravos no Sul de Portugal, séculos XVI-XVII, Lisboa, ed.
Vulgata, 2002; Alessandro Stella, Histoires d’esclaves dans la Péninsule ibérique,
ed. de l’Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales, Paris, 2000.
2
Charles Verlinden, L’esclavage dans l’Europe médiévale.vol. I : Péninsule Ibérique.
France, Bruges, 1955.
3
Cristovão Rodrigues de Oliveira, Lisboa em 1551. Sumário em que brevemente se
contêm algumas coisas assim eclesiásticas como seculares que há na cidade Lisboa,
Lisboa, Livros Horizonte, 1987.
4
Philip D. Curtin, The Atlantic slave trade – A Census, University of Wisconsin Press,
Madison & Londres, 1969 ; Vitorino Magalhães Godinho, Os descobrimentos e a
economia mundial, Lisboa, editorial Presença, vol. IV, 1984 e Ivana Elbl, “The volume
of the early atlantic slave trade, 1450-1521” in Journal of African History, 38, 1997,
pp. 31-75.
pp 13-30
Portugal e o tráfico de escravos na primeira metade do séc. XVI 15
5
Cf. Maria do Rosário Pimentel, Viagem ao fundo das Consciências. A escravatura na
época Moderna, Lisboa, ed. Colibri, 1995, cap. I : “O tráfico de escravos na época
Moderna” e João Pedro Marques, Portugal e a escravatura dos Africanos, Lisboa,
ICS, 2004, cap. II : “Novos cenários, velhas práticas”.
6
Charles Verlinden, op. cit., p. 362.
7
José Luís Cortés Lopez, Los origenes de la esclavitud negra en España, Salamanca,
1986, pp. 23-44.
pp 13-30
16 António Almeida Mendes
8
Gomes Eanes de Zurara, Crónica do descobrimento e conquista da Guiné, Lisboa,1989,
cap. XXV.
9
Théodore Monod, L’île d’Arguin (Mauritanie). Essai historique, Lisboa, IICT, 1983.
10
Para a história da feitoria de Santiago e, de forma mais geral, para a evolução do
comércio das ilhas de Cabo Verde na época Moderna veja-se o primeiro volume da
História Geral de Cabo Verde (coord. de Luís de Albuquerque e de Maria Emília
Madeira Santos), Lisboa-Praia, IICT, 2001.
11
Manuel Lobo Cabrera, La Esclavitud en las Canarias Orientales en el siglo XVI, 1982.
pp 13-30
Portugal e o tráfico de escravos na primeira metade do séc. XVI 17
12
IAN/TT, Corpo Cronológico, Parte I, Maço 2, dc. 9 e Parte I, Maço 17, dc. 110.
13
Cf. Maria da Graça A. Mateus Ventura, Negreiros portugueses na rota das Índias de
Castela (1541-1556), Lisboa, ed. colibri, 1999.
14
Enriqueta Vila Vilar, Hispanoamérica y el comércio de esclavos, Sevilha, Escuela de
Etudios Hispano-Americanos de Sevilla, 1977.
pp 13-30
18 António Almeida Mendes
15
IAN/TT, Corpo Cronológico, Parte II, Maço 132, dc. 149 e Parte II, Maço 135, dc.
196.
pp 13-30
Portugal e o tráfico de escravos na primeira metade do séc. XVI 19
16
George Scelle, La traite négrière aux Indes de Castille : contrats et traités d’assiento,
Paris, 1906, 2 vols.
17
Alvise Ca’ da Mosto, Voyages en Afrique Noire, cap. X.
18
Vitorino Godinho Magalhães, op. cit., pp. 157-8.
pp 13-30
20 António Almeida Mendes
Escravos desembarcados
1800
1696
1600
1400 1448
1200
1096
1000
800
652
600
434 471
400
200 169
109 139
0
1 2 3 4 5 6 7 8 9
1512-1520
Crianças
menos de 6 anos
Moças 4%
(8-18 anos)
10%
Homens
(20-35 anos)
Moços 33%
(8-18 anos)
7%
Mulheres
(20-35 anos)
46%
19
IAN/TT, Corpo Cronológico, Parte II, Maço 11, dc. 17 e Parte II, Maço 49, dc. 119.
pp 13-30
Portugal e o tráfico de escravos na primeira metade do séc. XVI 21
Navio N° de Viagens
Santiago 13
Conceição 12
São Miguel 5
Santo Espírito 5
Sta Maria de Guadalupe 2
Santa Cruz 4
Sta Maria do Rosário 4
Anunciada 1
Santa Maria da Luz 1
S. Jorge 1
Sta Maria da Ajuda 1
Nazaré 1
S. Sebastião 1
Pilotos N° de Viagens
Pero Anes de Leiria 11
Pero Ribeiro 11
Álvaro Afonso 7
Afonso Martins 7
Pedro Fernandes 5
Rodrigo Afonso 4
João Rodrigues 2
Francisco Rodrigues 1
Marcos Rodrigues 1
Gonçalo Pires 1
Luís Soeiro 1
pp 13-30
22 António Almeida Mendes
7000
6400
5860
6000
5000
Escravos
4000
3000
2000
1000 644
0
1514-16 1522-23 1525-27
Anos
20
Vitorino Magalhães Godinho, op. cit., p. 160.
21
Maria Emília Madeira Santos e Maria Manuel Torrão, «Subsídios para a História
Geral de Cabo Verde – A Legitimidade da Utilização de Fontes escritas Portuguesas
através da análise de um documento do início do século XVI (Cabo Verde ponto de
intercepção de dois circuitos comerciais)», IICT, Série Separatas nº 218, Lisboa,
1989, pp. 527-551.
pp 13-30
Portugal e o tráfico de escravos na primeira metade do séc. XVI 23
Ainda que tenham que ser manejados com o maior cuidado, esses
números parecem traduzir um acréscimo progressivo e contínuo a partir
da década de 1520. Uma das grandes dificuldades consiste em saber
como se repartia a reexportação desses escravos, tendo em conta que
só uma ínfima parte era utilizada e ficava na ilha. Quantos chegariam
ao Reino? Que percentagem se destinava ao mercado local africano?
Como eram redistribuídos os escravos que chegavam a São Tomé?
Os escravos desembarcados em São Tomé destinavam-se a 3 áreas
principais: Portugal, São Jorge da Mina e as Antilhas (Jamaica, Porto
Rico e Santo Domingo). Para o castelo de São Jorge da Mina partia
grande parte dos escravos que desembarcavam em São Tomé, onde em
seguida eram trocados por ouro. Esse tráfico iniciara-se desde os
primeiros tempos da instalação portuguesa em São Jorge da Mina nos
anos 1470 e inseria-se, certamente, num tráfico mais antigo e sedimen-
tado, preexistente à chegada dos Portugueses22. O tráfico era feito através
de uma linha regular, efectuada por um caravelão que ligava, várias
vezes por ano, - de 6 em 6 semanas -, São Tomé e São Jorge da Mina.
Assim em 10 meses, entre Junho de 1528 e de Fevereiro de 1529,
registaram-se no Castelo de São Jorge da Mina a entrada de 2 060
escravos.
O segundo mercado de exportação era constituído pelas Índias de
Castela. Um primeiro navio deixa o porto de São Tomé em 1525 com
200 escravos. Nos anos que se seguem, partirão para as ilhas das
Antilhas dois a três navios por ano, numa média anual de 600 escravos
aproximadamente. Esse volume ter-se-á mantido durante parte da
década de 1530, aumentando de forma exponencial na década seguinte.
No quadro seguinte apresento as primeiras viagens com destino às
Antilhas, tendo todas deixado São Tomé. Um regimento real estipulava
que os escravos a serem exportados para as Índias de Castela deviam
ser das idades compreendidas entre os 18 e os 40 anos – tal como
sucedia com os escravos destinados a São Jorge da Mina – e que as
“fêmeas” deviam representar 1/3 do total do carregamento.
22
Sobre o castelo de São Jorge da Mina veja-se J. Bato’ora Ballong-Wen-Mewuda, São
Jorge da Mina 1482-1637, Lisboa-Paris, 1993.
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24 António Almeida Mendes
23
IAN/TT, Corpo Cronológico, Parte II, Maço 207, dc. 15.
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24
IAN/TT, Corpo Cronológico, Parte II, Maço 128, dc. 69.
pp 13-30
26 António Almeida Mendes
25
António Domínguez Ortiz, La esclavitud en Castilla en la Edad Moderna y otros
estudios de marginados, Granada, 2003 ; Alfonso Franco Silva, Esclavitud en
Andalucía: 1450-1550, Universidade de Granada, 1992 e José Luís Cortés López, La
esclavitud negra en la España peninsular del siglo XVI, Salamanca, 1986.
26
Maria Emília Madeira Santos e Maria Manuel Torrão, op. cit., p. 540.
27
Alfonso Franco Silva, op. cit., p. 48.
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Portugal e o tráfico de escravos na primeira metade do séc. XVI 27
28
Lutgardo García Fuentes “Licencias para la introduccion de esclavos en Indias y
envios desde Sevilla“ in Jahrbuch, vol. XIX, Berlim, 1982, pp. 1-46 e Esteban Mira
Caballos, “Las licencias de esclavos negros a Hispanoamérica (1544-1550)” in Revista
de Indias, vol. LIV, n°201, 1994.
29
Maria da Graça A. Mateus Ventura, op. cit.
30
Duarte Pacheco Pereira, Esmeraldo de Situ Orbis, ed. crítica de Joaquim Barradas
de Carvalho, Lisboa, 1991.
31
António de Almeida Mendes, “Uma contribuição para a história da escravatura no
Benim: o livro de armação do navio São João (1526)” in Africana Studia, n°5, Porto,
2002.
pp 13-30
28 António Almeida Mendes
pp 13-30
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pp 13-30
30 António Almeida Mendes
Fonte: Instituto dos Arquivos Nacionais/Torre do Tombo (IAN/TT): Corpo Cronológico e Núcleo Antigo
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