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Mudança Linguística em Tempo Real

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BIBLIOTECA,

Jacinto Uchõa
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MUDANÇA LlNGUISTICA
EM TEMPO REAL

Maria da Conceição de Paiva


Maria Eugênia Lamoglia Duarte
ORGANIZAÇÃO

."

tf)JFAPERJ

~i!A
Copyright © 2003, dos autores

Capa, projeto gráfico e preparação

Contra Capa

Mudança lingilistica em tempo real


Maria da Conceição de Paiva e Maria Eugênia Lamoglia Duarte
[organização)

Rio de Janeiro: Contra Capa Livraria, 2003.


208 p.; 16 x 23 cm
Para

ISBN: 85-86011-60-6
Alzira Verthein Tavares de Macedo
Inclui bibliografia.
GiselIe Machline de Oliveira e Silva

2003

Todos os direitos desta edição reservados à


Contra Capa Livr-ar-ia Ltda.

<ccapa@easynet.com.br>
Rua de Santana, 198 Loja - Centro
22230-261 - Rio de Janeiro - RJ

Tel / Fa.x(55 21) 2236.1999/ 2511.4764


AGRADECIMENTOS

Os trabalhos reunidos neste volume são fruto de um projeto de


pesquisa denominado "Implementação e Encaixamento da Mu-
dança Lingüística", cujo desenvolvimento só se tornou possível
graças ao apoio financeiro do Conselho Nacional de Desenvol-
vimento Científico e Tecnológico (CNPq), através de bolsas de
. produtividade em pesquisa, e da Fundação de Amparo à Pes-.
quisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), através da concessão
de verbas que viabilizaram a constituição das amostras neces-
sárias à realização do trabalho.
Deixamos ainda os nossos agradecimentos a todos os bol-
sistas de Iniciação Científica, que, ao longo do desenvolvimento
do projeto, compartilharam conosco a árdua tarefa de obter o
material necessário ao estudo da língua no seu contexto social.

-)
SUMÁRIO

PREFÁCIO 11

Ataliba T. de Castilho

INTRODUÇÃO: A MUDANÇA LINGüíSTICA EM CURSO 13

Maria da Conceição de Paiva


Mana Eugênia Lamoglia Duarte

O PERCURSO DA MONOTONGAÇÃO DE [EYI: OBSERVAÇÕES NO TEMPO REAL 31

Maria da Conceição de Paiva

ESTABILIDADE E MUDANÇA LINGüíSTICA EM TEMPO REAL:

A CONCORDÂNCIA DE NÚMERO 47

Anthony J. Naro
Maria Marta Pereira Scherre

A REFERÊNCIA À PRIMEIRA PESSOA DO PLURAL: VARIAÇÃO OU MUDANÇA? 63

Nelize Pires de Omena

VARIAÇÃO E MUDANÇA NA EXPRESSÃO DO DATIVO NO PORTUGUÊS BRASILEIRO 81

Christina Abreu Gomes

MOTIVAÇÕES FUNCIONAIS NO USO DO SUJEITO PRONOMINAL:

UMA ANÁLISE EM TEMPO REAL 97

Vera Lúcia Paredes Silva


A EVOLUÇÃO NA REPRESENTAÇÃODO SUJEITO PRONOMINAL EM DOIS TEMPOS 115
PREFÁCIO
Maria Eugênia Lamoglia Duarte

RELATIVAS EM TEMPO REAL NO PORTUGUÊS BRASILEIRO CONTEMPORÂNEO 129


Mudança lingüística em tempo real, coletânea de ensaios organizada por Ma-
Maria Cecilia de Magalhães Mollica
ria da Conceição de Paiva e Maria Eugênia Lamoglia Duarte, é mais uma con-
tribuição ao esclarecimento de particularidades do português brasileiro, com
OS MOSTRATIVOS NA VARIEDADE CARIOCA FALADA 139
Cláudia Roncarati
que nos presenteiam os lingüistas reunidos no Programa de Estudos sobre o
Uso da Língua (PEUL).
Organizado no final dos anos 1970, por Anthony Julius Naro, na Univer-
E Aí SE PASSARAM 19 ANOS 159
Maria Luiza Braga
sidade Federal do Rio de Janeiro, o PEUL dedicou-se inicialmente à língua
falada não culta do Rio de Janeiro, consolidando-se na década seguinte como
o mais bem articulado grupo brasileiro de sociolingüistas. Tão articulado quan-
EQUILíBRIO E DESEQUILÍBRIO
to inspirador, pois sob sua influência direta novos grupos de pesquisa surgiram
NA EVOLUÇÂO DAS ESTRUTURASCONDICIONAIS 175
Helena Gryner
no Sul e no Nordeste do país.
A articulação do PEUL se deu em dois marcos.
No marco teórico, o grupo tem descrito a variedade brasileira do português
tomando por princípios a heterogeneidade natural das línguas, a análise da
REFERÊNCIASBIBliOGRÁFICAS 193
língua inseri da em seu contexto social, a aceitação de que motivações internas
e externas competem na estruturação da língua, a proposição de fatores que
tenham poder explanatório e o controle quantitativo dos dados como ferra-
menta de trabalho mais confiável que sua mera introspecção.
No marco empírico, voltou-se o grupo para a constituição de um banco
de dados bem controlado, armazenado eletronicamente, e dotado de instru-
mentos de busca que assegurem a consistência dos dados levantados. Inau-
gurado pelo projeto Censo Lingüístico do Rio de Janeiro, esse banco tem cres-
cido continuadamente, servindo de inspiração a outros grupos de pesquisa-
dores em nosso país.
Assim equipados, voltaram-se os pesquisadores do PEUL para a análise
da variação fonético-fonológica (monotongação de ditongos, tratamento de
[r] e [d] em diferentes contextos, palatização, casos de prótese e de aférese) e
morfossintática (concordância nominal e verbal, sistema pronominal e pre-
posicional, uso do artigo, construções impessoais, o problema da quantificação
etc.), aprofundando questões sobre o português brasileiro que eram até então
meramente afloradas, Novos temas que se originavam das considerações sobre
o discurso, tanto quanto questões do ensino foram igualmente debatidos, con-
centrando-se neste particular alguns pesquisadores ao estudo da aquisição
do padrão escrito formal e informaL

11
As questões do discurso ocuparam fortemente a atenção dos pesquisado- INTRODUÇÃO:
res, inicialmente em sua busca de fatores explanatórios para as variantes sob A MUDANÇA LINGüíSTICA EM CURSO!
estudo, mas crescendo logo depois como um objeto teórico tão importante
quanto a própria estrutura lingüística cujos níveis vinham sendo analisados.
Esta ação científica do PEUL deu pioneiramente em nossa academia voz e vez Maria da Conceição de Paiva
a um novo interesse científico que se mostrava aqui e ali entre os lingüistas Maria Eugênia Lamoglia Duarte
brasileiros, interesse que se cristalizaria no embate "formalismo x funciona-
lismo" promovido por dois de seus pesquisadores. A polêmica então travada
nas páginas da revista D.E.L.T A. funcionou como uma certidão de nascimento 1. A mudança lingüística: tempo real e tempo aparente
da Gramática Funcional em nosso país, enriquecendo o debate e deitando
novas luzes sobre problemas das línguas aqui faladas. A atividade humana da linguagem caracteriza-se por um conflito entre duas
Como é natural, os estudos variacionistas estiveram desde logo relacio- faces aparentemente contraditórias: de um lado, uma aparência de estabilidade
nados com os da mudança lingüística, engajando-se o PEUL nos debates sobre e, de outro, a constante variação e mudança tanto no indivíduo como na co-
a origem do português brasileiro, optando-se pela hipótese da mudança natu- munidade. A conjugação entre essas duas faces tem sido o foco de interesse
ral, e nas indagações sobre a mudança em tempo real. da Teoria da Variação (ou Sociolingüística Variacionista), que tem como um
O presente volume enfeixa as últimas contribuições do grupo à questão dos seus principais axiomas o de que as línguas humanas estão em constante
da mudança, focalizando o conflito entre a permanência e o impulso para a mudança, que se propaga de forma gradativa e implica períodos mais ou menos
inovação que caracteriza as línguas naturais. O pressuposto é que "a associação longos de variação em diversos eixos sociais. Tal concepção, ao romper com a
entre diferenças lingüísticas geracionais com diferenças sociais entre os indi- estaticidade da clássica dicotomia sincronia/diacronia, pressupõe que um esta-
viduos de uma comunidade de fala permite observar a forma como uma mu- do de língua é a face sincrônica da mudança lingüística, ou seja, é caracteriza-
dança lingüística se instala na fala de um determinado grupo social restrito e do pela coexistência de formas representativas de diferentes estágios do siso
vai se espraiando para outros grupos até atingir a comunidade como um todo". tema. Essa dissociação entre o sincrônico e o diacrônico lança luzes também
Para dar conta dessa indagação, foram recontactados sujeitos cuja fala sobre as mudanças que ocorreram no passado, na medida em que se pode
tinha sido documentada vinte anos atrás, gravando-se entrevistas em tudo admitir, com base no Princípio do Uniformitarismo, que as forças e restrições
semelhantes às anteriores, o que permitiu revisitar com segurança temas fo- que propulsionam as mudanças em curso numa dada língua no presente são as
nológicos, morfossintáticos, sintáticos e discursivos. mesmas que impulsionaram mudanças já concluídas (cf. Labov 1994: 21-3).
O que mudou na fala do Rio de Janeiro entre 1980 e 2000? O leitor en- A forma mais adequada de solucionar os problemas ligados à mudança
contrará as respostas neste volume, fadado a de novo inspirar os pesquisadores lingüística é através da compreensão dos padrões de variação que caracterizam
brasileiros interessados em documentar, descrever e historiar a língua uma comunidade de fala em um dado momento e dos padrões sociais a ela
portuguesa falada nesta parte do mundo. correlacionados". Assim, a Sociolingüística Variacionista advoga a possibili-
dade de que movimentos de mudança possam ser apreendidos no seu curso
Ataliba T. de Castilho: de implementação (Labov 1963). Essa perspectiva, mais conhecida como cons-

I Participou da formatação deste livro o bolsista PROFAG Charles AJeixo dos Santos.
l Ao admitir a possibilidade de apreender a mudança na sua gradual idade, o paradigma
. Professor Titular de Filologia e Língua Portuguesa da Universidade de São Paulo sociolingüístico se opõe às posições estruturalistas, que acreditavam ser impossível
Presidente da Associação de Lingüística e Filologia da América Latina observar diretamente a mudança lingüística.

12 13
MUOANÇA UNGuiSTICA EM TEMPO REAL
truta analítico do tempo aparente, se opõe à visão tradicional segundo a qual vados, como também a conjugação de outras formas de estudo da mudança.
a mudança envolve a comparação de dois pontos fixos no tempo, duas sincro- Embora a variação freqüentemente assinale instabilidade do sistema, nem
nias caracterizadas por sistemas pressupostamente estáveis', toda variação indica necessariamente uma mudança em progresso. Retomando
O estudo da mudança no tempo aparente está baseado no pressuposto de aqui o terceiro postulado de Weinreich, Labov e Herzog, "nem toda variabili-
que diferenças lingüísticas entre gerações podem espelhar desenvolvimentos dade e heterogeneidade na estrutura lingüística envolve mudança; mas todas
diacrônicos, quando outros fatores se mantêm constantes. O comportamento as mudanças envolvem variabilidade e heterogeneidade" (1968: 188). Corre-
lingüístico de cada geração reflete um estágio da língua, com os grupos etários lações constantes e significativas entre a variável idade e uma determinada
maisjovens introduzindo novas alternantes que, gradativamente, substituirão variável lingüística colocam o pesquisador frente a duas possibilidades: trata-
aquelas que caracterizam o desempenho lingüística dos falantes de faixas etá- se de uma mudança em progresso na língua ou de uma gradação etária que se
rias mais avançadas. Esse postulado, que talvez fosse mais bem caracterizado repete a cada geração? Em outros termos, não é fácil distinguir com exatidão
como um instrumento heurístico de apreensão do dinamismo interno dos uma distribuição etária indicativa de mudança lingüística e uma distribuição
sistemas lingüísticos, encontra sua motivação na denominada hipótese clássica etária geracional, com os indivíduos mudando seu comportamento lingüístico
acerca da fixação do sistema lingüístico no indivíduo. Em termos simplificados, segundo sua faixa etária, sem mudança no sistema lingüístico.
essa hipótese prevê que o processo de aquisição da linguagem se encerra mais Em situação de mudança lingüística, instaura-se uma luta evolutiva (trans-
ou menos no início da puberdade, estabilizando-se a partir desse momento ou, ferindo uma metáfora própria da Teoria da Evolução) entre as novas formas
pelo menos, não sofrendo modificações significativas a partir de então'. Assim, que passaram a concorrer com as formas antigas, com as primeiras se espa-
a fala de um indivíduo com 75 anos, no ano 2000, representaria um estado de lhando de um falante para outro. Uma hipótese possível é a de que uma variante
língua de sessenta anos atrás, ou seja, 1940. lingüística presente na fala de pessoas adultas ocorre com maior freqüência
Evidentemente, as diferenças de efeito associadas a faixas etárias, embora per- na fala de seus filhos e aumentará gradativamente sua proporção na 'fala de
mitam suspeitar da existência de movimentos no sistema, não podem ser tomadas gerações sucessivas. A conseqüência última dessa concorrência poderá ser a
como indicadores indiscutíveis e conclusivos de mudanças em curso. Se a mudança substituição da forma antiga pela forma nova, que se tornará categórica no
se processa no seio de uma comunidade lingüística, ela envolve, a par de diferenças âmbito de toda a comunidade de fala. De forma bastante regular, diferenças
entre grupos etários, associações com outros parâmetros de organização social, etárias indicativas de mudanças em curso na língua resultam em um padrão
como classe social, sexo/gênero e, na maioria dos casos, estilo de fala. É a asso- linear de correlação com a variante inovadora, que vai gradativamente se es-
ciação entre diferenças lingüísticas geracionais com diferenças sociais entre os palhando por todos os grupos sociais.
indivíduos de uma comunidade de fala que permite observar a forma como uma Do ponto de vista da implementação estrutural da mudança, duas hipó-
mudança lingüística se instala na fala de um determinado grupo social restrito e teses convivem: uma delas pressupõe que a variante inovadora se instala ime-
vai se espraiando para outros grupos até atingir a comunidade como um todo. diatamente em todos os seus possíveis contextos e progride a uma taxa cons-
Apesar da sua validade teórica, o construto do tempo aparente encontra tante, alterando apenas o seu input (cf. Kroch 1989). Uma outra prediz que a
dificuldades empíricas que exigem não apenas rigor dos dados a serem obser- forma inovadora vai gradativamente ampliando seus contextos até a sua con-
secução (cf. Labov 1972b). Evidentemente, essas hipóteses podem n~ ser
3 No clássico estudo de Fischer (1958) já se delineia a preocupação com a origem da
excludentes, referindo-se, na verdade, a diferentes tipos de mudança lingüís-
mudança lingüística. Em Weinreich, Labov e Herzog (1968) encontra-se um modelo
tica: mudanças que se processam através do aumento continuado do input,
mais elaborado para o tratamento das questões relativas à mudança. A definição mais
clara de hipóteses e procedimentos metodológicos é impulsionada por Labov (1975,
mantendo-se inalterado o efeito dos grupos de fatores; mudanças que se pro-
1982) e Cedergren e Sankoff (1974). cessam através da reordenação dos fatores, sem alteração doinput (cf. Oliveira
• Essa visão da mudança opõe-se àquela que situa a descontinuidade lingüística na e Silva s/d). Correlações significativas com a variável idade emergem igual-
descontinuidade genética, isto é, na mudança de gerações. mente no caso de mudanças associadas a fases ou momentos específicos na

14
MUDANÇA UNGuiSTlCA EM TEMPO REAl INTRODuçAO A MUDANÇA UNGuiSTICA EM CURSO 15
vida dos individuos, que se repetem a cada geração. Embora determinadas
variantes lingüísticas predominantes na linguagem de pessoas mais jovens diversos grupos de pesquisa sociolingi.iística para quem a identificação do curso
possam ser substituídas, em faixas etárias subseqüentes, por variantes mais da língua é o objetivo principal'.
apropriadas àquele momento devida, a taxa geral do fenômeno na comunidade O estudo da mudança em tempo real (de curta ou longa duração) permite
de fala mantém-se inalterada, ou seja, o sistema continua estáve]'. Nesse caso, recobrir aspectos que não podem ser detectados pelo estudo em tempo aparen-
emerge um padrão de correlação curvilinear que contradiz a hipótese clássica, te, distinguindo mudanças que se produzem de forma gradual em toda a comu-
em que os grupos etários mais jovens e os mais velhos se aproximam com nidade lingüística daquelas que podem caracterizar a trajetória de comporta-
, , mento lingüística do indivíduo ao longo da sua vída. Em tempo real de curta
maior recorrência de uma forma variante (principalmente quando essa envolve
estigma social) e os grupos etários intermediários se distinguem pela menor duração, essa distinção pode ser apreendida através do que Labov (1994) deno-
incidência da variante. Essa situação é mais característica de variáveis sensíveis minou "estudo de painel" [panel study] e "estudo de tendência" [trend study],
à atuação do mercado Iingüístico, em que as alterações lingüísticas, regulares que, se intercamplementando, podem fornecer evidências mais seguras acerca
e predizíveis, caracterizam um processo de ajuste sociodialetal às exigências do estatuto dos padrões de variação em um dado momento de uma língua.
que são impostas ao longo da vida do indivíduo. O estudo de painel, através da comparação de amostras de fala dos mesmos
O construto do tempo aparente constitui uma hipótese que tem encon- falantes em diferentes pontos do tempo, permite captar mudanças ou estabi-
trado, na medida em que se acumulam os estudos sociolingüísticos de dife- lidade no comportamento lingüístico do indivíduo e pode fornecer os elemen-
rentes comunidades de fala, evidências favoráveis e desfavoráveis, principal- tos necessários para distinguir entre mudança geracional e mudança na co-
mente no que se refere a fenômenos fonológicos variáveis", Distinguir entre munidade. Uma limitação inerente ao estudo do tipo painel é que os resultados
distribuições etárias indicativas de mudança ou de gradação etária caracte- não são conclusivos no que diz respeito aos mesmos fenômenos na comunidade
rística de todas as gerações constitui um problema cuja solução requer a asso- de fala. Ao regravar sujeitos quejá foram entrevistados em um momento an-
ciação de evidências fornecidas por estudos em tempo real, ou seja, a obser- terior, o estudo painel perde a aleatoriedade, não representando a comunidade
vação da comunidade de fala através do tempo. Retomando, então, os termos de fala como um todo.
de Labov, "esta combinação de observações no tempo aparente e no tempo O estudo do tipo tendência, por sua vez, compara amostras aleatórias da
real é o método básico para o estudo da mudança em progresso" (1994: 63). mesma comunidade de fala, estratificadas com base nos mesmos parâmetros
Como bem lembram Bailey et alli (1991), essa desejada associação coloca di- sociais, em dois momentos do tempo. Mantida a exigência de que cada amostra
ficuldades nem sempre facilmente transponíveis, devido, por um lado, à pouca seja efetivamente aleatória, os falantes gravados podem ser considerados re-
confiabilidade de evidências de estágios anteriores da língua e, por outro, aos presentativos da comunidade no momento da gravação e o resultado do estudo
problemas de obtenção de amostras de fala compatíveis e representativas do comparativo das amostras será, em termos estatísticos, equivalente ao estudo
mesmo foco demográfico. Esses transtornos, no entanto, não desanimaram de toda a comunidade. Essa técnica, que nada diz sobre o comportamento
lingüístico do indivíduo, permite depreender a direcionalidade do sistema na
comunidade lingüística e verificar em que medida mudanças na configuração
S Um exemplo bastante conhecido é o da pronúncia variável do sufixo (-ing) no inglês.
social de um grupo podem se refletir na propagação, na estabilização ou no
.~ recuo de processos de mudança. Confrontados às evidências do tempo apa-
6 Em Trudgill (1988), que compara a faixa mais jovem da população de Norwich em
1968 e 1983, o estudo em tempo real confirma a hipótese, possível a partir de dados do
tempo aparente, de que havia em curso um processo de posteriorização de (el) em hell,
belt etc., levando a uma fusão com (uf), como em hull. O estudo de Cedergren (1987)
sobre o espanhol do Panamá confirma a existência de um processo de abrandamento '0 estudo da mudança em tempo real de curta duração já foi empreendido em algumas
de (ch) em muchacha, muchos, de africada para fricativa, que continua avançando na comunidades. Podem ser relacionadas: Montreal, Canadá (Sankoff & Sankoff 1973,
faixa mais jovem da população. Thibault & Daveluy 1989), Panamá (Cedergren 1973, 1987), Norwich, Inglaterra
(Trudgill 1988), NURC-RJ (Callou 1997).

16
MUDANÇA UNGuíSTICA EM TEMPO REAL
INTRODUÇÃO: A MUDANÇA UNGúíSTICA EM CURSO
rente, esses dois modelos de estudo da mudança autorizam afirmações mais relacionadas, que, já na proposição de Weinreich, Labov e Herzog (1968),
seguras acerca das mudanças em progresso numa dada língua. têm de constituir o foco de qualquer modelo sobre a mudança lingüística,
Nos termos de Labov, "nenhum dos modelos é completamente satisfatório quais sejam, a da implementação e a do encaixamento da mudança. Da compa-
em si" (1981a: 183). No estudo painel, está em foco a continuidade/desconti- ração entre duas sincronias separadas por um intervalo de tempo surgem as
nuidade no comportamento lingüístico do indivíduo sem reflexos no sistema; indicações necessárias à identificação da forma como uma determinada mu-
no estudo tendência, a continuidade/descontinuidade na própria língua, que dança progride na língua, sua trajetória estrutural e social e ainda a depreensão
pode, em graus diferentes, se refletir no comportamento do indivíduo. Em das possíveis relações de causa e efeito entre diferentes processos de mudança.
cada um dos modelos, a tensão estabilidade/mudança se situa em um plano De fato, dada a sistematicidade da língua, "é razoável supor que o traço esteja
distinto. Somente a conjugação de ambos pode fornecer o instrumental me- encaixado numa matriz lingüística que mude com ele" (ibid.: 172). Em outras
todo lógico necessário para elucidar aspectos relativos às duas dimensões da palavras, o confronto controlado e sistemático entre amostras representativas
mudança, no indivíduo e na comunidade, as possíveis interseções entre elas e de sincronias distintas permite descobrir a forma como as "mudanças estão
os elementos necessários para identificar o curso de um determinado processo associadas entre si de modo que não possam ser atribuídas ao acaso" (ibid.:
variável. Somente a análise controlada da ação do tempo sobre o sistema lin- 102). Na medida em que um processo de mudança se implementou ou está se
güística e sobre o comportamento do indivíduo permite captar a forma como implementando no sistema, ele deve não só ser conseqüência de outro(s), mas
se dá a resolução da competição entre variantes lingüísticas no interior de também possibilitar o aparecimento de outro(s), ou seja, deve se inserir em
uma comunidade de fala, ou seja, como se dá a mudança na língua. uma matriz de mudanças mais gerais. A descoberta dessas inter-relações per-
A combinação dos dois tipos de estudo da mudança em tempo real de curta mitirá a construção de uma teoria mais abrangente dos processos de mudança.
duração autoriza, teoricamente, duas situações possíveis. Uma primeira possi- Este volume reúne estudos do tipo painel e/ ou tendência que contemplam
bilidade, que decorre naturalmente da hipótese clássica que pressupõe fixação algumas das questões discutidas acima, focalizando a fala do Rio de Janeiro.
das estruturas no indivíduo, seria a de mudança na comunidade e estabilidade no Tomando o tempo real de curta duração como uma variável determinante do
indivíduo através do tempo. No caso de uma variação estável, em que os indivíduos dinamismo do uso lingüístico, os diversos estudos buscam, por um lado, iden-
vão mudando seu comportamento de acordo com o grau de inserção na cadeia tificar os índices de direcionalidade do português brasileiro e, por outro, avaliar
produtiva em cada fase de suas vídas, ou em razão de outros fatores, teríamos a confiabilidade dos modelos de mudança lingüística disponíveis no estado
mudança no indivíduo e estabilidade na comunidade. Existem, no entanto, duas atual da Sociolingüística Variacionista.
outras possibilidades lógicas: tanto o indivíduo como a comunidade podem se Do ponto de vista da variação no indivíduo, os trabalhos aqui reunidos
manter estáveis, não se processando qualquer tipo de mudança, ou podem estar procuram detectar os subsistemas lingüísticos susceptíveis de mudanças na
ambos mudando paralelamente, imbricando-se, nesse caso, o modelo clássico fala adulta. Se o falante pode mudar o uso que faz da língua, no curso da vida,
com o modelo de variação estável. Estudos anteriores vêm mostrando que o mais quais seriam os marcadores de faixas etárias e que variáveis extralingüísticas
provável é o caso de tanto o indivíduo como a comunidade estarem em certo grau motivam essa instabilidade?
de fluxo, comprovando a afirmação de Labov de que, "ao tentar resolver qual dos Do ponto de vista da comunidade, buscam elementos que possibilitem
modelos se aplica a um dado processo, podemos estar criando uma oposição ilu- distinguir entre mudanças que se produzem de forma gradual em toda a co-
sória" (1994: 97),já que os dois podem estar atuando ao mesmo tempo. É a partir munidade lingüística e processos variáveis que implicam gradação etária. Des-
da conjugação entre os dois tipos de estudo, associada às evidências do tempo taca-se ainda a preocupação em identificar a inter-relaçâo entre diversos
aparente, que se pode buscar compreender a intercomplementaridade entre a processos de mudança, com o intuito de contribuir para um perfil mais amplo
mudança no indivíduo e na comunidade e o grau de interseção existente entre elas. do português brasileiro. Esse objetivo, bastante ambicioso, só se torna possível
A complementaridade entre os estudos do tipo painel e tendência fornece graças ao fato de que todos os trabalhos se baseiam nas mesmas amostras de
ainda os subsídios necessários à discussão de duas questões, intimamente fala, tanto para o estudo painel como para o estudo tendência.

18 MUDANÇA uNGuisnCA EM TêMPO REAL INTRODUÇÃO. A MUDftNÇA LlNGuiSTiCA EM CURSO 19


2. Estudos painel e tendência: as amostras analisadas Fundamental 2 Penha
21- Ubi 20 anos
22-Mar 17 anos Fundamental 2 Flamengo

No início dos anos 1980 (mais precisamente no período de 1980 a 1984), um 23-Fat 15 anos Funda mental 2 Água Santa
24-Val 15 anos Fundamental 2 Tanque
grupo de pesquisadores sediado na Universidade Federal do Rio de Janeiro
25-Jae 30 anos Fundamental 2 Costa Barros
constituiu, com o objetivo de estudar processos de variação e mudança, uma 26-Vas 32 anos Fundamental 2 Rio Comprido
amostra da variedade de fala carioca que se tornou conhecida como Amostra 27- Cla 32 anos Fundamental 2 Deodoro
28-Lau 43 anos Fundamental 2 Urca
Censo (ou Corpus Censo) e que, nos dois tipos de estudo, será referida como
29-Dor 44 anos Fundamental 2 Illha do governador
Amostra 80. Essa amostra é composta de 64 falantes de diversos bairros da 30-Ari 43 anos Fundamental 2 Recreio
área metropolitana do Rio de Janeiro, distribuídos segundo as variáveis sexo, 31-Geo 58 anos Fundamental 2 Grajáu

idade e escolaridade. Ela compreende indivíduos de quatro faixas etárias (7 a 32-Cid 47 anos Fundamental 1 lnhoaíba
33-Ago 60 anos Fundamental 1 Marechal Hermes
14,15 a 25, 26 a 49 e acima de 50 anos de idade) e de três níveis de escolarização Fundamental 2 Ipanema
34-Hel 62 anos
(primeiro e segundo segmentos do ensino fundamental e ensino médio)", No 35-Jos 59 anos Fundamental 1 Rocha Miranda
Quadro 1 estão relacionados os 64 falantes que integram essa amostra, com 36-Nad 57 anos Fu ndamental 2 lnhaúma
37-Pit 25 anos Ensino Médio Leblon
sua caracterização em termos das variáveis consideradas.
38-Leo 18 anos Ensino Médio São Cristóvão
39-San 15 anos Ensino Médio Engenho Novo
Quadro 1 40-Ana 19 anos Ensino Médio Cascadura
41-PauR 26 anos Ensino Médio Cidade de Deus
Relação dos falantes da Amostra Censo
42-Dav 31 anos Ensino Médio Cordovil
43-Eve 42 anos Ensino Médio Freguesia
Falante Idade Escolaridade Bairro 44-Hel 44 anos Ensino Médio Lagoa
Ol-Sam 18 anos Fundamental 1 Santa Cruz 45-Wil 51 anos Ensino Médio Barra
02- CarB 16 anos Fundamental 1 Camarim 46-CarS 62 anos Fundamental 2 Campo Grande
03-Jan 56 anos Fundamental 1 Guaratiba 47-Mar 53 anos Ensino Médio Usina
04-Lei 25 anos Fundamental 1 Horta 48-Mgl 52 anos Ensino Médio Santa Tereza
OS-Sue 24 anos Fundamentall Botafogo 49-Nel 07 anos Fundamental I Tijuca
06-Jup 18 anos Fundamental 1 Vila Isabel 50-Mar 08 anos Fundamental 2 Saúde
07-Rdu 41 anos Fundamental! Magalhães Bastos 51-Mar 09 anos Fundamental 1 Irajá
08-Lui 57 anos Fundamental! Madureira 52-Ros 10 anos Fundamental t Realengo
09-Seb 39 anos Fundamental 1 Anchieta 53-Fran 11 anos Fundamental 2 Botafogo
10-Joa 27 anos Fundamental! São Conrado 54-Môn 12 anos Fundamental 2 Santa Cruz
11- Glo 48 anos Fundamental 2 Saúde 55- Ale 13 anos Fundamental 2 São Cristóvão
12-Nil 46 anos Fundamental! Paquetá 56-Jaq 14 anos Fundamental 2 Inhaúma
13-Edu 62 anos Fundamental! Todos os Santos 57-AdrL 10 anos Fundamental 1 Campo Grande
!4-Man 59 anos Fundamental! Maria da Graça 58-Jos 10 anos Fundamental 2 . Engenho Novo
15-Rob 22 anos Fundamental I Bonsucesso 59- Eri 09 anos ru ndamental 2 Estácio
16-Mal 56 anos Fundamental I Irajá 60-Vin 09 anos Fundamental 2 Ilha do Governador
17-lre 52 anos Fundamental 1 Pavuna 61-AdrM 14 anos Fundamental 2 Vila Isabel
!8-Dal 71 anos Fundamental! Campinho 62-Gust 10 anos Fundamental 2 Barra da Tijuca
19-Car 22 anos Fundamental 2 Copacabana 63-AdrR 11 anos Fundamental 2 Pechincha
20-Pau 25 anos Fundamental 2 Manguinhos 64-JosR 14 anos Fundamental 2 Pechincha

8 Uma caracterização mais detalhada dessa amostra, assim como um perfil social dos
informantes que a integram, são apresentados em Oliveira e Silva & Scherre (1996).

20 MUDANÇ!. UNGU:STICA EM TEMPO REAl INTRODUÇÃO. A MUDANÇ!. LINGüíSTICA EM CURSO 21


Para o estudo de painel, o grupo Programa de Estudos sobre o Uso da Língua Quadro 2
(PEUL) empreendeu, nos anos de 1999 e 2000, a tarefa de obter novas gravações Relação dos falantes recontactados para o estudo de painel - Amostra 00 (I)
com os falantes relacionados acima, visando a verificar o binômio estabilidade!
mudança no comportamento lingüístico desses indivíduos. Tal empreendi- Ia. Entrevista 2a. Entrevista
Falante
mento exigiu, antes de mais nada, a adoção de procedimentos similares aos Data Idade Escolaridade Intervalo Idade Escolaridade
utilizados na constituição da Amostra Censo, de forma a garantir a compara- Eri59 F 1983 9 anos Fundamental 1 16 anos 25 anos Ensino Médio
bilidade das entrevistas de cada falante", .' Adr57 F 1983 10 anos Fundamental 1 16 anos 26 anos Fundamental 2
Adr(i3 F 1983 12 anos Fundamental 2 16 anos 28 anos Universitário
Dadas as dificuldades inerentes a esse tipo de empreendimento, conse-
Fat23 F 1981 15anos Ensino Médio 18 anos 33 anos Magistério
guiu-se recontactar e regravar 16 dos 64 falantes que integram a amostra origi-
San39 F 1981 15 anos Ensino Médio 18 anos 33 anos Universitário
nal. Em decorrência das próprias características da comunidade de fala carioca, Jup06 F 1982 18 anos Fundamental I 17 aaos 35 anos Fundamental I
em que se verifica considerável mobilidade das pessoas, e da insuficiência ou Le038 M 1981 18 anos Ensino Médio 18 anos 36 anos Universitário
imprecisão do endereço de muitos dos individuos, inviabilizou-se o recontato Lei04 F 1981 25 anos Fundamental I 18 anos 43 anos Fundamental I

com quase um terço da amostra original. Acrescentou-se às dificuldades já Dav42 M 1980 31 anos Ensino Médio 19 anos 48 anos Ensino Médio
Jos26 M 1983 32 anos Fundamental 2 16 anos 48 anos Fundamental 2
mencionadas o fato de que alguns falantes, principalmente das duas faixas
Eve43 F 1982 42 anos Ensino Médio 17 anos 59 anos Ensino Médio
etárias mais velhas, já haviam falecido. Em outros casos o falante, embora Mgl48 F 1981 52 anos Ensino Médio 18 anos 70 anos Ensino Médio
recontactado, se recusou categoricamente a participar do trabalho de pesquisa, Jan03 M 1981 56 anos Fundamental 1 18 anos 74 anos Fundamental 1
não consentindo na realização de uma nova entrevista. No Quadro 2, relacio- Nad36 F !982 57 anos Fundamental 2 17 anos 74 anos Fundamental 2

namos os falantes recontactados, que constituem um conjunto referido como Joss35 F 1983 59 anos Fundamental! 16 anos 75 anos Fundamental!
Ag033 M 1982 60 anos Fundamental 1 17 anos 77 anos Fundamental!
Amostra 00 (I), fornecendo, além da idade atual do falante e o seu nível de
escolaridade, o interstício que separa a primeira da segunda entrevista.
Alguns aspectos com relação ao Quadro 2 merecem ser destacados. O in-
tervalo de tempo que separa as duas entrevistas varia entre 16 e 19 anos, o que
pode constituir um intervalo exíguo para que se observem alterações significa-
Em relação à variável escolaridade, verifica-se que a maioria dos falantes não
tivas no comportamento lingüístico do indivíduo, embora Labov (1981a: 177)
alterou o nível de escolaridade que tinha por ocasião da primeira entrevista, o
afirme que o espaço ideal para a depreensão da mudança em progresso é de, no
que reflete, pelo menos parcialmente, a distribuição por faixa etária. Os fa-
mínimo, meia geração (12 anos) e, no máximo, duas gerações (cerca de 50 anos).
lantes que, na década de 1980, já possuíam mais de cinqüenta anos, estacio-
O constatável desequilíbrio na distribuição do subconjunto de falantes
naram seu processo de escolarização, enquanto três dos falantes situados nas
recontactados não constitui qualquer obstáculo ao desenvolvímento do estudo
faixas etárias mais jovens atingiram o nível universitário e três outros avan-
do tipo painel, que se concentra no comportamento do indivíduo. Destaca-se,
çaram para o nível de escolarização imediatamente superior.
no Quadro 2, a disparidade no número de falantes por faixa etária: de' duas
Para o estudo de tendência, procedeu-se à constituição de uma nova amos-
das faixas etárias da Amostra Censo, a de 7-14 e a de 26-49 anos, puderam ser
tra de fala da comunidade carioca de acordo com os mesmos parâmetros estra-
recontactados apenas três falantes de cada; das duas outras faixas, 15-25 anos
tificadores da Amostra Censo. Essa nova amostra, que nos diversos artigos
e acima de 50 anos, cinco falantes de cada. Quanto à variável sexo, observa-se
que compõem este volume será referida como Amostra 00 (C), é constituida
um número maior de mulheres (11) do que de homens (5).
por 32 falantes, distribuídos de acordo com as variáveis sexo (homem/mulher),
idade (7 a 14, 15 a 25,26 a 49 e acima de 50 anos) e escolaridade (Fundamen-
9 O trabalho de recontato com os falantes da Amostra Censo e gravação de uma entrevista tal I, Fundamental 2 e Ensino Médio), como se mostra no Quadro 3.
foi realizado por um grupo de bolsistas de IC, sob a orientação dos pesquisadores,

22
MUDANÇA LINGüíSTICA EM TEMPO REAL INTRODUÇÁO A MUDANÇA LINGüíSTICA EM CURSO 21
Quadro 3 Penha
13- Gla Masculino 21 anos Ensino Médio
Distribuição da nova amostra para o estudo de tendência 20 anos Ensino Médio Recreio
14-Gil Feminino
Feminino 26 anos Fundamental 1 Leblon
15- Pat
Idade 7-14 anos 15-25 anos 26-49 anos + 50 anos Total
16- Car Masculino 48 anos Fundamental 1 Copacabana
Sexo M F M F M F M F Horta/Lagoa
17-Sim Feminino 27 anos Fundamental 1
Fundamental 1 1 1 2 2 1 4 1 2 14 Cascadura/Irajá
18- Luc Feminino 49 anos Fundamental 1
Fundamental 2 I 1 2 2 2 1 2 1 12 Vila Isabel
19- Jor Masculino 37 anos Fundamental 2
Ensino Médio 1 1 '1 1 1 1 6
Masculino 47 anos Fundamental 2 M. Herrnes
20- Rei
Total 2 2 5 5 4 6 4 4 32 Paquetá
21- Cla Feminino 33 anos Fundamental 1

22- Ana Feminino 34 anos Fundamental 2 Todos os Santos

Masculino 26 anos Ensino Médio Ilha do Govern.


23- Fia
Feminino 36 anos Ensino Médio Flamengo
24- Adr
Seguindo a técnica já adotada na constituição da Amostra Censo, os fa-
Masculino 54 anos Fundamental 2 Tijuca/Usina
25- Aug
lantes dessa nova amostra foram distribuídos aleatoriamente por diferentes Fundamental 1 Grajaú
26- Man Masculino 51 anos
bairros do Rio de Janeiro. A sua redução Ccorrespondendo à metade da amostra 27- Zil Feminino 69 anos Fundamentall 8onsucesso

base) exigiu, no entanto, um reagrupamento dos bairros em que fora coletada Feminino 69 anos Fundamental 1 Vidigal
28- Ter
67 anos Fundamental 2 Estácio
a Amostra Censo, procurando-se, na medida do possível, respeitar a diversida- 29- Ra Masculino
Feminino 61 anos Fundamental 2 Pavuna
de sociocultural e geográfica do Rio de Janeiro. Feito o reagrupamento dos bair- 30-Mar
Masculino 50 anos Ensino Médio Saúde
31-Tad
ros, os falantes foram sorteados aleatoriamente de acordo com uma conjugação Ensino Médio Barra
32- Euc Feminino 55 anos
de características de escolaridade, sexo e faixa etária pelos bairros da cidade.
No Quadro 4, estão relacionados os 32 falantes que compõem essa amostra que
é tomada como representativa do português atual do Rio de Janeiro.
As novas gravações obedeceram aos procedimentos utilizados na constituição
Quadro 4 da Amostra Censo, realizando uma entrevista sociolingüística que visava a
Composição da nova amostra - Amostra 00 (C) garantir a comparabilidade das amostras de fala e a reduzir a interferência de
outras variáveis possíveis, como, por exemplo, o próprio assuntojtema abor-
Falante Sexo Idade Escolaridade Bairro
dado na entrevista ou a mudança de entrevistador. Obviamente, tornou-se
01- Mca- Feminino 9anos Fundamental 1 São Camada .impossível neutralizar completamente a interferência de todos os outros fa-
02- Raf Masculino 14 anos Fundamental 1 Campinho tores que podem atuar nesse tipo de situação lingüística e que podem ter cul-
03- Ram Masculino 14 anos Fundamental 2 B. de Guaratiba
minado em diferenças no grau de formalidade das duas entrevistas, o que
04- Rob Feminino 14 anos Fundamental 2 Camarim
coloca, portanto, a necessidade de certa cautela nas conclusões que podem
05-And Masculino 21 anos Fundamental 1 Pechincha
06- Ale Masculino 19 anos Fundamental I São Cristóvão ser extraídas de diferenças estatísticas.
07-AdrR Feminino 21 anos Fundarnental I Realengo
08- Cris Feminino 25 anos Fundamental 1 Botafogo
09- Fi! Masculino 15 anos Fundamental 2 Jacarepaguá
3. Os trabalhos reunidos neste volume
10- Isa Masculino 19 anos Fundamental 2 Campo Grande
11- Mir Feminino 15 anos Fundamental 2 Santa Tereza
12- And Feminino 15 anos Fundamental 2
Embora cada um dos trabalhos reunidos neste volume focalize fenômenos va-
Maria da Graça
riáveis distintos (fonológico, morfossintático, sintático e discursivo) e estabe-
leça, muitas vezes, seu próprio recorte teóricojmetodológico, eles se aglutinarn

24 MUDANÇA UNGulSTlCA EM TEMPO REAL INTRODUÇÃO A MUDANÇA UNGUISTlCA EM CURSO


2S
em torno de uma questão comum - a implementação e o encaixamento da A expressão (nula ou plena) do sujeito pronominal é analisada por Paredes
mudança no indivíduo e na comunidade. Além disso, a comparação entre os Silva e Duarte, tanto na perspectiva do indivíduo como na da comunidade,
resultados obtidos em cada uma das pesquisas permite depreender algumas sob diferentes enfoques teóricos. Enquanto a primeira busca as motivações
tendências mais gerais no que diz respeito à mudança no indivíduo e na comu- funcionais que estariam subjacentes à opção pela presença/ausência do pro-
nidade. Um outro ponto comum entre todos eles é o tratamento quantitativo a nome sujeito, a segunda focaliza aspectos estruturais que condicionam a mu-
que foram submetidos os dados, com o objetivo de verificar não apenas a traje- dança numa perspectiva paramétrica. Ambos os trabalhos confirmam a estabi-
tória do processo focalizado como tambémas dimensões estruturais e sociais a lidade da variação no período estudado e atestam a superioridade dos condicio-
ele associadas. Além disso, os trabalhos contemplam níveis lingüísticos distintos, namentos lingüísticos sobre os sociais, embora enfatizem restrições diferentes
do fonológico ao discursivo, o que contribui para fornecer uma vísão mais ampla sobre a forma de realização do sujeito. Paredes confirma a significativa influên-
do espectro de variação e mudança no português falado no Rio de Janeiro. cia do grau de conexão no discurso na realização da variável, enquanto Duarte
O trabalho de Paiva analisa a monotongação de [ey], comparando os re- mostra a força dos contextos encaixados/subordinados na implementação da
sultados do estudo painel aos do estudo de tendência. Mostra que, apesar da variante com o pronome pleno.
estabilidade nos índices gerais de ocorrência do fenômeno, podem ser de- Mollica revísita as estruturas relativas, focalizando as anáforas pronomi-
preendidas algumas alterações na contextualização estrutural da variante mo- nais ou relativas copiadoras, mostrando que não houve maiores alterações na
notongada, que parece recuar tanto no indivíduo como na comunidade. Em- configuração do processo no interstício de tempo analisado. Seus resultados
bora não sejam depreendidas diferenças significativas no input, verifica-se apontam a cópia do sujeito como a anáfora mais produtiva, estando sua ocor-
uma reordenação dos contextos estruturais relevantes. rência condicionada especialmente por um fator de natureza funcional: a dis-
As mudanças relativas à concordância nominal e à concordância verbal tância entre o referente e o relativo. Nas funções oblíquas, prevalece uma ten-
no indivíduo são examinadas por Naro e Scherre. Seus resultados indicam dência ao uso de relativas cortadoras, o que se coaduna com tendências apon-
aumento das taxas de concordância para todos os indivíduos, independente- tadas para o português do Brasil: o preenchimento do sujeito pronominal e as
mente do avanço no grau de escolarização do falante. Os autores ressaltam, perdas no sistema preposicional.
no entanto, que os falantes que aumentaram seu nível de escolarização no A neutralização entre o demonstrativo de primeira (este) e segunda (esse)
período ultrapassam os que mantiveram a mesma escolaridade. O trabalho pessoa é objeto de investigação no trabalho de Roncarati. Além da generali-
permite demonstrar ainda a sistematicidade no efeito da variável "posição zação do sistema binário, convergente no indivíduo e na comunidade, a autora
linear", que atua de forma paralela nos dois momentos de tempo considerados. mostra a trajetória de implementação de estratégias combinatórias de referên-
O trabalho de Omena focaliza o uso das formas nós e a gente para refe- cia dêitica e o incipiente processo de discursivização do demonstrativo neutro
rência à primeira pessoa do plural. A comparação dos dois momentos de tempo isso. Dada a natureza discursiva do fenômeno analisado, este trabalho se dis-
permite concluir, com base nos índices gerais de ocorrência do fenômeno, tingue dos demais metodologicamente, por não adotar procedimentos varia-
pela estabilidade da variação no decorrer do período examinado. Apesar dessa cionistas estritos.
tendência, o trabalho permite identificar que, principalmente para alguns in- O trabalho de Braga examina a multifuncionalidade do elemento aí no
divíduos, a variante a gente amplia seus contextos de utilização, tornando-se indivíduo, contrapondo-o ao elemento então, a fim de verificar a compatibili-
menos sensível à atuação de algumas restrições estruturais. dade da sua trajetória (dêitico > fórico > juntivo > discursivo) com o princípio
Gomes atesta em tempo real a implementação da variante com a preposi- da divergência e a hipótese da retenção do significado original. Focalizando
ção para na expressão do dativo, confirmando sugestão de mudança em tempo os diferentes usos de aí, a autora mostra que a direcionalidade de aí está asso-
aparente diagnosticada em trabalhos anteriores. Sua investigação mostra que, ciada, principalmente, às variáveis sociais idade e escolaridade. O trabalho
lentamente, vai ainda ganhando terreno o uso do complemento dativo com a ressalta ainda o uso afixal do elemento aí, o que coloca problemas particulares
preposição nula, esteja o SN adjacente ou não ao verbo. para o princípio da unidirecionalidade.

27
26 MUDANÇA UNGÜ;ITlCA EM TEMPO REAL INTRODUC,AO A MUDANÇA lINGUI111CA EM CURSO
A formas de correlação modo-temporais na estrutura condicional são ana- Um terceiro aspecto saliente e comum aos diversos trabalhos aqui reunidos
lisadas por Gryner, que associa os estudos do tipo painel e do tipo tendência. é a sistematicidade e o paralelismo no efeito dos fatores estruturais, mostrando
Os resultados indicam uma crescente utilização do futuro do subjuntivo na que esses são independentemente motivados e tendem a preservar sua força
oração condicional e do futuro do indicativo na oração principal, indicando, de restrição.
assim, uma tendência à anticorrelação temporal entre as orações do período. Finalmente, ainda que não de forma conclusiva, os trabalhos aqui reunidos
I O trabalho ressalta também o paralelismo, entre os dois momentos de tempo fornecem alguns argumentos a mais para o pressuposto de que a maioria das

I considerados, em relação ao efeito tanto-de condicionamentos estruturais,


como a forma de conexão e a escala epistêrnica, quanto dos condicionamentos
mudanças nas línguas naturais não são isoladas ou independentes. Como se
poderá constatar ao longo deste volume, os trabalhos, ainda que independen-
I extralingüisticos, como sexo e escolaridade. tes, podem ser tomados como peças de um mosaico no qual se relacionam

I
I;
Os diversos trabalhos aqui reunidos fazem sobressair algumas tendências
que merecem destaque. Tanto do estudo tendência como do estudo painel
emerge, para a m~ioria dos fatos variáveis enfocados, uma tendência à estabi-
diversos processos de mudança.

lidade das variantes, quando se consideram os inputs das regras, evidenciando


I: que, no período de tempo que separa as duas sincronias estudadas, predomi-
I nou a face da estabilidade do sistema. Em vários dos trabalhos destaca-se, no
entanto, a irregularidade no comportamento dos indivíduos, quando compa-
rados entre si: alguns indivíduos apresentam nítida estabilização de compor-
tamento lingüístico no período de tempo considerado, reforçando, assim, a
hip6tese clássica acerca da fixação do sistema; outros apresentam flutuações
quantitativas ou qualitativas ao longo dos anos que separam as duas amostras
de fala, demonstrando, assim, algumas descontinuidades de comportamento
em função da mudança de faixa etária, do nível de escolarização ou da impo-
sição de exigências do mercado lingüístico, embora nem sempre seja fácil isolar
a variável responsável por essas alterações.
Como dissemos no início desta introdução, um dos objetivos do trabalho
realizado era o de fortalecer as evidências do tempo aparente com as evidências
do tempo real de curta duração, buscando depreender com maior exatidão a na-
tureza e a direcionalidade de alguns processos variáveis do português falado. Ainda
que, para a maioria dos fenômenos, o intervalo de tempo considerado possa ser
considerado bastante curto para fornecer evidências mais seguras, ele permitiu
reforçar algumas indicações que já despontavam em estudos do tempo aparente.
Esse é o caso, por exemplo, das formas de realização do dativo (estudo realizado
por Gomes), que demonstra o contínuo aumento na implementação da preposição
para em contextos em que ela rivaliza com a preposição a. Em outros casos, as
indicações são mais sutis, manifestando-se, apesar da estabilidade nos valores de
input, na expansão de contextos ou insensibilidade a algumas restrições estru-
turais, como se pôde perceber na alternância entre nós / a gente.

/
28 MUDANÇA UNGUISTlCA EM TEMPO REAL
2
INTRODUçAO A MUDANÇA lINGuiSTICA EM CURSO
o PERCURSO DA MONOTONGAÇÃO DE [EY]:
OBSERVAÇÕES NO TEMPO REALl

Maria da Conceição de Paiva


UFRJ/CNPq

1. Introdução

A realização variável da semivogal anterior [y] nos ditongos decrescentes [ey]


e [ay] (peixe/pexe, madeira/modera, caixa/caxa, baixo/baxo), fenômeno lar-
gamente disseminado no português brasileiro (cf. Nunes 1951; Naro 1973);já
foi objeto de diversos estudos (Paiva 1986, 1996a,1996b; Biso11989, 1994;
Hora 2000) que buscaram identificar, com base em diferentes amostras de
fala, os condicionamentos estruturais e sociais dessa variação. Esse fenômeno
é de tal forma enraizado nas origens do português que, assim como a mono-
tongação de [ow], ele poderia ter sido transportado para a Península Ibérica
pelos próprios colonizadores (cf. Meier 1948), embora não seja fácil definir a
origem dos primeiros focos do processo e determinar de forma mais exata
sua difusão. Mattos e Silva (1991) esclarece que, já no português arcaico, [ow]
variava com as vogais [o] e eu], e [ey], com as vogais [e] e [i].
A variabilidade na realização da semivogal nos ditongos [ey] e [ay], de
um ponto de vista fonético, está ligada a princípios que regem a constituição
da sílaba. Em proposta defendida por Bisol (1989, 1994), esses ditongos variá-
veis são tratados como instâncias de ditongos derivados que possuem na forma
subjacente apenas uma vogal, sendo a epêntese da semivogal, em nível foné-
tico, conseqüência de um processo de assimilação de traços. Distinguem-se,
portanto, do que a autora denomina verdadeiros ditongos ou ditongos fono-
lógicos, invariáveis, que possuem duas vogais na estrutura subjacente, com a
segunda delas se consonantizando por um processo de silabação.
Uma questão sociolingüística relevante se refere ao estatuto da variação
entre ditongo/ monotongo: trata-se de mudança em curso ou de variação es-

I Participou no levantamento e no tratamento estatístico dos dados a bolsista de [e vanessa


Ribeiro Teixeira.

31

/
~

tável no sistema? As evidências fornecidas por estudos já realizados, baseados Tabela 1

em sua maioria no controle de variáveis sociais clássicas da Sociolingüística, índice geral de variante monotongada no indivíduo e na comunidade'
tais como idade, sexo e escolaridade, embora não conclusivas, sugerem a exis-
tência de uma variação estável, inerente ao sistema, fortemente controlada Estudo Painel Estudo Tendência
Amostra 80 (O Amostra 00 (1) Amostra 80 (C) Amostra 00 (C)
por restrições estruturais e pouco marcada do ponto de vista da sua distribuição
734/965 ~ 76% 715/971=74% 1280/21ll~ 61% 1108/1445 = 77%
social.
0,77 0,74 0,71 0,77
Retomamos a realização variável da semivogal (y), com o objetivo de iden-
tificar, a partir de observações no tempo real, sua trajetória no comportamento
lingüístico do indivíduo e na comunidade de fala, aqui representada pela va-
riedade carioca. Contemplamos particularmente a variação (ey)/[e), uma vez A análise da variante monotongada em cada um dos 16 falantes faz ano
que esta é mais significativa do que a alternância [ayj/ja], O nosso objetivo é rarem algumas questões relativas à regularidade e sistematicidade na trajetória
verificar a ação da variável tempo sobre a alternância entre as variantes di- do comportamento lingüístico dos indivíduos e permite a depreensão de especi
tongada e monotongada. Associando observações do tempo aparente às ob- ficidades no interior desse subconjunto. A análise do indivíduo foi processada
'I
servações do tempo real, nas suas duas dimensões possíveis, a do indivíduo estatisticamente através da separação dos indivíduos em dois grupos naturais
(painel) e a da comunidade (tendência), buscamos evidências acerca do esta- o dos indivíduos que, no intervalo de tempo considerado, aumentaram em
tuto desse processo variável e as possíveis mudanças na sua contextualização, anos de escolarização e o dos indivíduos que estacionaram seu processo dt,
num interstício de tempo que varia de 16 a vinte anos. Partimos de uma análise escolarização. Consideremos, inicialmente, o primeiro grupo de falantes.
do indivíduo e mostramos que tendências depreendidas em um estudo do
tipo painel são reforçadas pelo estudo da comunidade de fala, observando-se Tabela 2

notável sistematicidade e regularidade na trajetória do processo. Monotongação de [ey] entre os falantes que aumentaram escolarização'

Falante Amostra 80 (1) Amostra 00 (I)


2. A direcionalidade da monotongação de [ey] Input ~ 0,92 Freq. PR Freq. PR
l-Eri59 21/23 ~ 91% 0,98 55/64 = 86% 0,67
2-Adr57 13/15 = 87% 0,94 31/45 = 69% 0,5
Uma primeira comparação entre os resultados obtidos para a variável tempo
3-Adr63 43/53 ~ 81% 0.51 29/45 = 64% 0.1
no indivíduo, através da análise do subconjunto dos 16 falantes recontactados,
4-Fat23 89/107 = 83% 0.63 54/69 = 78% 0,27
e na comunidade de fala, através da comparação entre a Amostra 80 (C) e a 5-Son39 41/46 = 89% 0,58 46/69 = 67% 0,36
Amostra 00 (C), aponta uma situação de estabilidade da variação entre forma 6-Leo38 31/38 ~ 82% 0,67 89/116 = 77% 0,62
ditongada e forma monotongada no intervalo de tempo que separa as duas
sincronias, como mostram os resultados da Tabela 1.
Esse primeiro confronto dos dois tipos de análise da mudança no tempo
real leva a suspeitar de que a ação do fator tempo é inoperante no que tange à
2 Os resultados apresentados na Tabela 1 foram retirados de uma rodada C0111''',I" .1,-,
comunidade e ao indivíduo, ou seja, teríamos a quarta combinação proposta
dados do indivíduo, por um lado, e da comunidade, por outro, controlando, 1'1\' 1111110••
por Labov (1994): estabilidade no indivíduo e na comunidade de fala. A relação os casos, urna variável independente tempo.
entre o indivíduo e a comunidade parece ser, no entanto, um pouco mais com- J Os resultados das tabelas 2 e 3 foram extraídos de rodadas em que foi acrcsn'llllllllllllll
plexa e requer uma análise particularizada da direcionalidade do comporta- grupo de fatores que considera a interação falante/tempo, o que autnuzn, 1'11I111111" u
mento lingüístico de cada um dos falantes recontactados. comparação dos pesos relativos.

32 MUDANÇA UNGuiSTICA EM TEMPO REAl


o PERCURSO DA MQNOTONGAÇÃO DE iEYI: OBSERVAÇOES NO TEMPO REAl
As freqüências e os pesos relativos dispostos na Tabela 2 evidenciam uma As estatísticas dispostas na Tabela 3 indicam menor regularidade na
tendência regular por parte da maioria dos falantes que, de forma mais ou trajetória dos indivíduos que estacionaram seu processo de escolarização,
menos significativa, aumentaram os anos de escolarização, com a grande maio- permitindo depreender três tendências aparentemente contraditórias: em
ria deles (Eri59, Adr57, Adr63, Fat23, Sand39), reduzindo, tanto em freqüência quatro falantes (Ago33, Nad36, Jan03 e Jup06) ocorre nítido decréscimo dos
como em peso relativo, os índices de ocorrência da variante monotongada. índices percentuais e dos pesos relativos, com indicações de recuo da variante
Somente ao falante Leo38 são atribuídos pesos relativos muito próximos, con- monotongada'. A essa tendência se opõem três falantes (Dav42, Eve43 e
soantes à estabilização da variante monotongada. Mg148) a quem são atribuídas estatísticas sugestivas de estabilidade do
Uma evidência adicional para a tendência de declínio que desponta nos processo, com freqüências e pesos relativos muito aproximados para as duas
indivíduos relacionados na Tabela 1 é o fato de que, para o agrupamento desses entrevistas. É preciso notar, no entanto, que as forças de estabilização e
falantes, a análise mutivariacional atribui relevância estatística à variável tem- retenção não chegam a conflitar inteiramente no caso da redução do ditongo
po com 0,66, para a amostra de fala de 1980, e 0,37, para a amostra de 2000. [ey], uma vez que ambas atuam no sentido de refrear o processo de
A convergência no comportamento da quase totalidade desses falantes leva ressilabificação que está na origem do ditongo [ey).
naturalmente a suspeitar de um efeito positivo do aumento de escolarização Em direção oposta à dos demais individuos, os falantes Vas26, Lei10 e
'I
sobre a trajetória da variação entre [ey)/[e), ainda que indireto, dada a insen- Jos35 elevam de forma significativa suas taxas da variante monotongada na
sibilidade do fenômeno à avaliação social. Essa suspeita é reforçada pelo fato segunda entrevista, reforçando a hipótese de existência de fluxos e contrafluxos
de que dois dos falantes que reduziram de forma significativa a variante mono- entre os indivíduos pertencentes a uma mesma comunidade de fala. É neces-
tongada (Adr63 e Sand39) atingiram nível universitário no intervalo de tempo sário considerar, porém, a possibilidade de que esse aumento decorra da in-
que separa as duas entrevistas e exibem decréscimo acentuado dos pesos rela- fluência de variáveis imponderáveis como, por exemplo, o tipo de item lexical
tivos, com diferenças de 0,41 e 0,22, respectivamente. mais recorrente numa determinada entrevista. Uma análise mais detida da
A análise dos falantes que mantiveram nível de escolarização inalterado da segunda entrevista desses falantes mostra que a variante monotongada está
primeira para a segunda entrevista, mostrada na Tabela 3, sugere, no entanto, concentrada em itens lexicais em que a semivogal anterior antecede a vibrante
que a trajetória de recuo da variante monotongada nos indivíduos recontactados simples, como em dinheiro, feira, contexto em que, como veremos mais à
pode ser independente da variável escolaridade e estar associada a outros fatores. frente, a realização da variante monotongada se torna praticamente categórica.
No comportamento aparentemente divergente dos indivíduos que com-
Tabela 3 põem o subconjunto dos falantes regravados no final da década de 1990 aflo-
Monotongação de [ey] entre os falantes que não aumentaram escolarização ram algumas regularidades, quando se consideram suas características sociais,
'principalmente no que se refere à variável idade, como transparece no Gráfico
Falante Amostra 80 (I) Amostra 00 (1) 1, em que dispusemos os pesos relativos associados a cada um dos falantes,
Input= 0,80 Fr eq. PR Freq. PR em cada uma das sincronias.
7- Leüo 41/54 = 76% 0,6 30/34 = 88% 0,75
8-Jup06 36/41 = 88% 0,78 45/59 = 76% 0,27
9-Dav42 46/67 = 69% 0,42 44/69 = 64% 0,42
tO-Vas26 02/136 = 75% 0,37 81/88 = 92% 0,72
ll-Eve43 31/47 = 66% 0,45 38/62 = 61% 0,45
12-Mg148 69/90 = 77% 0,47 63/90 = 70% 0,52
13-Jan03 78/109 = 72% 0,64 42/55 = 76% 0,24
14-Nad36 25/31 = 81% 0,78 46/70 = 77% 0,67
• Para essa análise, foi tomada como significativa uma diferença de 0,10 pontos entre os
15-Jos35 25/46 = 54% 0,39 29/48 = 60% 0,57
16-Ago33
pesos relativos obtidos para cada urna das entrevistas do mesmo falante. Nos casos de
65/81 = 80% 0,57 52/79 = 66% 0,3
maior proximidade, foi verificada a significância entre fatores do mesmo grupo.

34 MUDANÇA U"GUíSTiCA EM TEMPO REAL o PEKURSO OA MONOTONGAçAO CE (EVi oaSERVAçCES NO EMPO REAL 35
Gráfico 1 Aparentemente, o Quadro 1 reafirma a validade da hipótese de que a mudança
Redução do ditongo [ey] de comportamento, nesse caso, esteja correlacionada ao aumento dos anos
1,00 .Ji,. ...-. _._-~._,_.._--- .- _. ,--~_...__ ..... - de escolarização, com a escola atuando no sentido de reter um processo bas-
O,90~ tante disseminado na modalidade oral. Pode-se contra-argumentar, no en-

.~
0,80 • ,( A I tanto, que o recuo da variante monotongada se faz perceptível também para a

~~
0,70

c, 0,50
• '"
. t •

.
J.
.•. • maioria dos últimos falantes dispostos no Gráfico 1 (Jan03, Ag033, Nad36 e
Jos35), representantes da faixa etária mais avançada da Amostra Censo (acima
0,40 • • ••• :& de 50 anos), cujo nível de escolarização se manteve inalterado no interstício
0,30 • • ••
0,20
de tempo que separa as duas entrevistas. Entre os falantes da última faixa
0,10 +---_4.-------------------------, etária, apenas Mgl48 exibe resultados compatíveis com uma situação de esta-
0,00 +-~-~~~-~~-~~~-~~-~~-~~~ bilidade. Tal situação permite questionar a magnitude da instrução progressiva
<,"o,.~
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G>
para o declínio da variante monotongada.
Falante A maior divergência de direcionalidade se verifica entre os falantes da
Ili
segunda faixa etária (15-25 anos), com dois deles (Jup06 e Sand39) reduzindo
No Gráfico 1, constata-se a acentuada dispersão dos indivíduos em relação às a variante monotongada, Le038 estabilizando o uso das variantes e LeilO atin-
tendências verificadas para cada sincronia e a existência de agrupamentos que gindo níveis mais altos da variante [e). Entre falantes que compunham a ter-
independem do percurso de escolarização dos indivíduos. Os cinco primeiros ceira faixa etária da Amostra Censo (26-49 anos), predominam estatísticas
falantes representados no Gráfico 1,que declinam regularmente nouso da variante sugestivas de estabilidade, embora o falante Vas26 exiba um aumento consi-
monotongada, pertenciam, no início da década de 1980, às duas primeiras faixas derável da variante monotongada.
etárias da Amostra Censo, 7-14 anos, os três primeiros, e 15-25 anos, os dois A distribuição configurada no Gráfico 1permite aventar a hipótese de que
últimos. Além da faixa etária, algumas outras características aproximam esses a redução do ditongo [ey] constitua um caso de mudança geracional, com
falantes e podem explicar a regularidade da tendência observada: são todos eles indivíduos mudando ao longo da sua vida e a comunidade se mantendo estável.
do sexo feminino e avançaram, de forma mais ou menos significativa, no seu Todos os falantes mais jovens (faixa de 7 a 14 anos), ao se deslocarem para
processo de escolarização, como mostra o Quadro 1 e pode ser confirmado no uma faixa etária mais velha (entre 25 e 28 anos), reduzem a ocorrência do
quadro de caracterização da Amostra 00 (I) (cf. Introdução deste volume). fenômeno, procedendo a um ajuste dos índices de ocorrência das variantes
lingüísticas. Observemos que, na medida em que diminui a freqüência da ~a-
Quadro 1 riante monotongada na década de 1990, esses falantes se aproximam da média
Caracterização dos falantes da primeira faixa etária do grupo. Evidentemente, a questão pode não se reduzir simplesmente a essa
mudança na linha do tempo, uma vez que à faixa etária atual desses falantes
Falante Ia. Entrevista 2a. Entrevista
se impõem diferentes exigências do mercado lingüístico, sujeitando o falante
Idade Escolaridade Idade Escolaridade
Eri59 F 09 anos Fundam, 1 25 anos . Ensino médio
à pressão do valor simbólico da linguagem (cf. Chambers 1995).
Adr57 F 10 anos Fundam. 1 26 anos Fundam, 2 Uma evidência adicional para a interpretação acima delineada é fomecida
Adr63 F 12 anos Fundam. 2 28 anos Universitário pelos resultados para a variável idade, depreendidos com base na análise da
Fat23 F 15 anos Fundam. 2 33 anos Magistério Amostra Censo, que apontaram predominância da variante monotongada
Sand39 15 anos Ensino Médio 33 anos Universitário
entre falantes mais jovens (7-14 anos), como mostram os pesos relativos da
Tabela 4, reproduzida de Paiva (1996a: 330).

36 MUDANÇA UNGUlSTlCA EM TEWO REAL o PERCURSO DA MONDTONGAÇAO DE IEYI OBSERVAÇOES NO TEMPO REAl
,

Tabela 4 É transparente a similaridade entre as duas linhas do Gráfico 2. Considerando a


Efeito de faixa etária na monotongação de [ey] - Amostra Censo- comunidade de fala em duas sincronias, a primeira representada pela Amostra
80 (C) e a segunda pela Amostra 00 (C), a primeira faixa etária (7-14 anos) é
Faixa etária PR
aquela em que predomina a variante monotongada. Esse índice tende a declinar,
7·14 anos 0,56
15· 25 anos 0,46
regularmente, nas faixas etárias seguintes, estabilizando-se a partir de 26 anos.
2.6·49 anos 0,48 Destaca-se também no Gráfico 2 uma queda levemente mais sensível da va-
+ de 50 anos 0,48 riante monotongada entre os falantes da última faixa etária (acima de 50 anos),
na década de 1990, reiterando o que aflorou também na análise do indivíduo em
que, como vímos, a maioria dos falantes acima de 50 anos apresenta recuo da mo-
Relacionando os resultados mostrados no Gráfico 1 aos da Tabela 4, notongação de [ey). Esse declínio poderia ser tomado como um indicador de que
verifica-se que os três primeiros falantes (Eri59, Adr57 e Adr63), ao essa faixa se tornou mais resistente à variante monotongada? É possível que essa
diminuírem suas médias de variante monotongada, se aproximam do peso correlação com faixa etária não seja conclusiva. Variáveis outras, além das classi-
(l! relativo atribuído às faixas etárias para as quais se deslocaram (2a ou 3a), às camente controladas pelos estudos variacionistas, podem estar na origem de algu-
quais estão associados pesos relativos mais baixos de variante monotongada. mas das diferenças de direcionalidade do comportamento lingüístico do indivíduo.
Um outro argumento favorável à hipótese de mudança geracional é dado Apesar das evídências apresentadas, não se pode desconsiderar a possibi-
pela comparação da correlação entre a variante monotongada e a variável lidade de que a mudança sistemática no comportamento dos falantes mais jo-
faixa etária", no estudo da comunidade, através da comparação das amostras vens, com decréscimo regular da variante monotongada, possa constituir um
80 (C) e 00 (C), mostrada no Gráfico 2.
estágio do processo aquisitivo, já que os falantes nela inseridos ainda se en-
contravam, no início da década de 1980, no que se convencionou denominar
Gráfico 2 "período critico". Nesse caso, as alterações quantitativas no comportamento lin-
Variante monotongada por faixa etária. Estudo tendência güístico dos indivíduos mais jovens reproduziriam uma trajetória de fixação do
1
sistema variável, através do ajuste dos próprios índices da variante monotongada
0,9 aos da comunidade de fala como um todo. Se isso é verdadeiro, manter-se-ia
0,8
0,7 a "hipótese clássica" de que o comportamento lingüístico do individuo não está
0,6 sujeito a mudanças substanciais após a consolidação do processo de aquisição.
0,5
0,4
~4 .•.........•.. ....
f
- A análise desenvolvida até este ponto mostra que os resultados para iridi-
0,3
0,2 viduo e para a comunidade se complementam e se reforçam no sentido de
0,1 apontar a existência de uma possível mudança geracional no que se refere à
O+I------~------~-- ~i~----~ redução do ditongo [ey]. Embora se depreendam mudanças no comporta-
Faixa 1 Faixa 2 Faixa 3 Faixa 4
mento lingüístico dos indivíduos, os Índices de ocorrência do processo na co-

I··.•-_. Am 80 (C) ----Am 00 (C) I munidade configuram uma situação de variação estável.

5 Os resultados da Tabela 4 se referem aos 64 falantes da Amostra Censo, distribuídos de 3. Contextualização estrutural da monotongação de [ey]
forma equilibrada pelas quatro faixas etárias.
• Analisada como uma variável independente, a faixa etária do falante não apresenta Como já foi comprovado em diversos estudos, a variabilidade na realização
efeito estatístico significativo no subconjunto dos falantes recontactados.
do ditongo [ey] decorre, em grande parte, da atuação de princípios estruturais

38
MUDANÇA ufIIGuisrro.. EM TéNlPO RE.i\;.. o PERCURSO DA MONOTONGAÇÁO DE {EVI OBSERVAÇÕES NO THftPO REAL 39
que delimitam contextos bastante específicos para a ocorrência de cada uma Para o contexto de fricativas palatais, Bisol propõe uma análise que postula
das variantes, principalmente no que se refere às restrições impostas pelas um processo de assimilação segundo o qual a epêntese variável da semivogal
propriedades fonéticas do segmento seguinte à semivogal. Comprovando a se deve ao espraiamento dos traços vocálicos [coronal] e [abertura] desses
análise realizada com base nos dados da Amostra Censo, e as análises de outros segmentos. Essa proposta tem a vantagem de explicar não apenas a alternância
corpora, sobressai, tanto no estudo do indivíduo como no da comunidade, a entre formas como peixejpexe como também entre caixajcaxaJaxinajfaixi-
relevância do modo e do ponto de articulação do segmento à direita para a na, três/treis, em que a inserção da semivogal anterior não é marcada orto-
instanciação da variante monotongada. Quanto ao modo de articulação do graficamente.
segmento seguinte, destaca-se, nas duas sincronias consideradas, o efeito po- Dada a superposição, pelo menos parcial, entre as propriedades de modo
sitivo da vibrante simples (madeiraJeira) e das fricativas (deixar, beijo) para e ponto de articulação, uma análise mais individualizada do contexto seguinte,
a ocorrência da variação. Quanto ao ponto de articulação, a análise multiva- como é mostrada na Tabela 5 para o indivíduo, reafirma os contextos aponta-
riacional permite reafirmar a relevância dos segmentos palatais (queijo) e dos dos como os fatores mais relevantes para a variante monotongada.
alveolares (dinheiro)7.
A sensibilidade da redução de [ey] à presença de vibrante simples e da
"
'I!i'",
fricativa palatal, casos defendidos por Bisol (1989) como de ditongos deriva-
Tabela 5
Efeito do segmento seguinte sobre a monotongação de [ey). Estudo painel
dos" através da inserção da semivogal, parece se explicar por razões distintas,
mais claramente interpretáveis para o caso da segunda do que da primeira'.
Modo/ponto de articulação Amostra 80 (I) Amostra 00 (I)
No que se refere à vibrante simples, uma suspeita justificada é a de que pelo
Freq. PR Freq. PR
menos uma parte do seu efeito possa ser atribuída ao sufixo -eira, de grande
Vibrante simples 576/585 = 9896 0,69 578/597 = 9796 0,66
produtividade no sistema e recorrente na língua falada. A análise separada Fricativa alveolar 0/5 = 096 - 0/7 = 0% -
dos dados em que a vibrante se situa no radical e no sufixo permite isolar, no Fricativa palatal 147/193 = 7696 0,31 124/187 = 66% 0,10
entanto, o efeito mais relevante do segmento fonético do que do fator morfo- Oclusiva dental 0/61 = 0% - 0/153 = 0% -
lógico". Oclusiva velar 3/10 = 3096 0,01 2/3 = 67% 0,31
Nasal bilabial 5/7= 7196 0,08 7/10 = 70% 0,34
Nasal alveolar 2/2 = 10096 - 3/10 = 30% 0,09

, Da análise da monotongação de [ey] foram excluídos os contextos em que o ditongo


precede segmentos vocálicos (meia), laterais (Lei/a) e africados (direitinho), que se
mostraram categóricos no sentido de presença da semivogal.
8 Uma das evidências utilizadas pela autora é a de que formas como peixe, caixa,faixina
derivam de fontes onde existe apenas uma vogal, (piscis, capsa.fascinay, tendo o ditongo
surgido no processo de mudança da língua.
quando o segmento semivocálico se localiza no sufixo -eiro, o que reforçaria a hipótese
9 Em Bisol (1989) são apontadas interpretações possíveis para variações do tipofeira!
de sujeição do processo a restrições morfológicas:
fera, mangueirajmanguera, como a da metátese da vogal [i] do sufixo =ario e a in-
fluência da escala de sonoridade. A própria autora reconhece, no entanto, que, "até o [y J no radical Amostra 80 (I) Amostra 00 (n

presente, não contamos com uma análise adequada da alternância eyrujeru" (: 197), Ou no .sufixo Fr-eq. PR Fr-eq. PR

embora argumente a favor de que essa seqüência constitua um ditongo leve ou derivado. Sufixo 260/264·98% .64 220/227 • 97% .60

10 A análise rnultivariacional considerou um grupo de fatores que controlou a presença Radical 474/790 = 60% ,45 497/88l • Só% .47

da semivogal no radical da palavra (beijo,feira) ou no sufixo (padeiro, verdureiro),


A retirada dos dados de sufixo não altera, no entanto, os resultados para os grupos
com o objetivo de verificar a existência de restrições morfológicas sobre a redução de
ponto e modo de articulação, reafirmando a importância doflap como o contexto pre-
[ey). Como mostra a tabela abaixo, a monotongação de [ey] aumenta consideravelmente
ferencial de redução do ditongo [ey).

40
MUOANÇA lINGuiSTICA EM TEMPO REAL o PERCURSO D,\ MQNOTONGAÇÁO DE IEYI" OBSERVAÇÓES NO TEMPO REAl 41
\

Considerando os resultados mostrados na Tabela 5, fica mais evidente que o


indivíduos permite identificar no comportamento do falante os contextos de
efeito do modo de articulação é dependente do ponto de articulação do seg-
estabilização ou regressão do processo e mostrar as alterações quantitativas
mento seguinte. As estatísticas da primeira coluna, relativas à Amostra 80,
na contextualização da variante monotongada.
indicam que, enquanto a vibrante simples alveolar (Salgueiro, maneira) pro-
picia a variante monotongada, a fricativa alveolar (aperfeiçoar) a bloqueia
Tabela 6
categoricamente. Os segmentos oclusivos dentais (direito, conceito) não per-
Variante monotongada nos contextos de vibrante simples e de fricativa palatal
mitem a monotongação de [ey], enquanto os velares parecem favorecê-Ia. O
alto peso relativo e o significativo percentual atribuído às consoantes oclusivas
Falante Vibrante simples Fr-icativa palatal
velares tem de ser visto com reserva, pois esse índice se restringe à palavra
Amostra 80 (1) Amostra 00 (I) Amostra 80 (I) Amostra 00 (1)
manteiga, que coloca problemas particulares, como já acenamos em estudos
Eri 15/15 = 100% 44/44 = 100% 4/4 = 100% 10/14 = 7l%
anteriores (Paiva 1986, 1996a). Os segmentos nasal bilabial (teimoso) e nasal Adr57 10/10 = 100% 19/20 = 95% 3/3 = 100% 12/17 = 71%
alveolar (reino) atuam em direções opostas, com o primeiro desfavorecendo Adr.63 21/21 = lOO% 27/32 = 84% 22/23 = 96% 2/3 = 67%
I
e o segundo favorecendo a variante monotongada. Verifica-se, pois, uma quase Fat23 45/45 = lOO% 46/46 = lOO% 7/7 = 100% 8/l2 = 67%
'I i'
'I total complementaridade entre o contexto de oclusivas, por um lado, e de San39 40/40 = lOO% 38/38 = 100% V2 = 50% 6/17 = 35%
Jup06 30/30 = 100% 28/28 = lOO% 40/50 = 80% 16/23 = 70%
vibrante simples e fricativa palatal, por outro. O que se pode concluir numa
Leo38 33/33 = 100% 24/24 = 100% 10/16 = 63% 1/5 = 20%
primeira interpretação dos resultados da Tabela 5 é a relevância do traço [ + Lei04 31/3l = lOO% 24/24 = 100% 7/9 = 78% 4/5 = 80%
contínuo] para a ocorrência da variante monotongada. Dav42 37/37 = lOO% 24/26 = 92% 8/13 = 13% 20/25 = 80%
Ressalta ainda na Tabela 5 o perfeito paralelismo entre as duas amostras Vas26 96/96 = lOO% 64/64 = 100% 5/l3 = 38% 14/16 = 88%
de fala dos individuos recontactados no que se refere ao efeito da vibrante al- Eve43 23/25 = 92% 34/35 = 97% 8/l2 = 67% 4/l3 = 31%
veolar. Insinuam-se, no entanto, algumas alterações na importância atribuída
Mg148 63/69 = 91% 53/59 = 90% 6/l2 = 50% 9/12 = 75%
Jan03 40/40 = 100% 30/33 = 91% 38/42 = 90% 9/9: lOO%
aos demais contextos estruturais no intervalo de tempo considerado. Na Amostra = 7/8 = 88%
Nad36 18/l8 100% 44/44+ 100% 2/8 = 25%
80 (I), associa-se alto peso relativo às consoantes fricativas palatais e, com ex- Jos35 22/22 = lOO% 26/26 = 100% 3/6 = 50% 3/6 = 50%
ceção da nasal alveolar, todos os demais segmentos apresentam valores indica- Ago33 52/53 = 98% 47/48 = 98% l3/13 = 100% 5/7 = 71%

tivos de desfavorecimento da variante monotongada. Na Amostra 00 (I), a na-


sal bilabial e as oclusivas velares (com pesos relativos aproximados) suplantam
o contexto da fricativa palatal, que se desloca, então, para o quinto lugar em
Na Tabela 6, pode-se constatar que, já no início da década de 1980, a variação
ordem relativa de importância. O segmento nasal alveolar, contexto categórico
na redução do ditongo [ey] antes da vibrante simples, se é que se pode real-
de monotongação na Amostra 80 (I), também reduz seu efeito nas entrevistas
mente falar de variação nesse contexto, limitava-se a apenas três falantes CEve,
realizadas entre 1999 e 2000, com peso relativo de apenas 0,09. Mantidas as
MgI,Ago), ainda assim com índices muito próximos do categórico. Nos demais
reservas necessárias quanto aos resultados associados aos segmentos nasais,
falantes, a forma -eru já era categórica, configurando um quadro de mudança
com número muito baixo de dados, e aos segmentos oclusivos velares, pela sua
praticamente concluída.
localização Iexical,pode-se perceber uma redução nítida no efeito dos segmentos
No final da década de 1990, como era de se esperar, mantém-se o quadro
fricativos palatais nas entrevistas realizadas no final da década de 1990. Há
de mudança implementada, com a maioria dos indivíduos produzindo apenas
indícios de que, se se verificam efetivamente mudanças no comportamento
a variante monotongada. Apenas nos falantes Adr57, Adr63, Dav42 e Jan03
lingüístico do indivíduo, elas ocorrem no contexto das fricativas palatais.
observa-se ligeiro declínio das freqüências do processo, de forma mais signi-
Uma análise que considera a interação entre a variável tempo e os con-
ficativa apenas para a falante 3 (Adr63), que passa de aplicação categórica a
textos fonéticos de vibrante simples e de fricativa palatal em cada um dos
84%. O comportamento discrepante dessa falante poderia, num primeiro mo-

42
MUDANÇA UNGuiSTI<A iM TEMPO REAL
o PERCURSO DA MONOTONGAÇÁO DE [EV!. OBSERVAÇÓES ;'0 TEMPO REA" 43
mento, estar correlacionado ao aumento no grau de escolarização, pois, como apontada no estudo do indivíduo, indicando avançada implementação no am-
já vimos, ela é um dos três falantes que atingiram o nível universitário. É biente de vibrantes simples, por um lado, e significativo recuo no ambiente de
necessário considerar, no entanto, a possibilidade de que essa anomalia na fricativa palatal, como se pode observar na Tabela 7.
direcionalidade da falante possa ser decorrente de fatores de natureza lexical.
A monotongação de [ey] no contexto da fricativa palatal faz um percurso Tabela 7
inverso, reforçando a tendência apontada pela Tabela 5. No ambiente da fri- Uso da variante monotongada por contexto estrutural. Estudo tendência
cativa palatal, constata-se menor coerência no comportamento lingüístico in-
dividual, apontando ser esse um ambiente de maior variabilidade na realização Amostra 80 (C) Amostra 00 (C)
Modo/ponto de articulação
da semivogal. Onze dos 16 falantes analisados aumentam seus índices de rea- Freq. PR Freq. PR
lização da semivogal nesse contexto; três outros (Dav42, Vas26, Jan03) redu- Vibrante simples alveolar 897/925 = 97% 0,99 903/910 = 99% 1,00
zem de forma significativa a variante, e dois falantes (Jos35 e LeilO) exibem Fricativa alveolar 5/65 = 7.69% 0,15 0/22 = 0% -
'. freqüências compatíveis com uma situação de estabilidade», Fricativa palatal 339/366 = 93% 0,93 233/313 = 74,44% 0,14
,I!' Oc1usiva dental 12/386 = 3% 0,09 0/220 = 0% -
I "illl A sistemática redução das médias de variante monotongada nos oito pri-
Oclusiva velar 8/15 = 53% 0,89 0/10 = 100% -
"li meiros falantes vai ao encontro do que já acenamos acerca da possível corre- Nasal bilabial 4/19 = 21% 0,22 4/13 = 30,76% 0,57
lação com a variável faixa etária. Esses indivíduos pertenciam, no início dos Nasal alveolar 3/8 = 37.5% 0,42 1/9 = 11,11% 0,12
anos 1980, às duas primeiras faixas etárias da Amostra Censo, tendo se deslo-
cado, no final da década de 1990, para a segunda ou terceira faixas de idade.
Essa mudança no tempo, ao que tudo indica, é acompanhada de alterações
quantitativas do seu comportamento lingüístico em um contexto que ainda A distribuição das estatísticas para contexto fonológico da Tabela 7 se empa-
admite variação entre forma ditongada ou monotongada. relha com as que foram vístas no estudo do indivíduo. No que se refere ao
É claro que se poderia novamente levantar a suspeita de que a realização contexto de víbrante simples, o estudo da comunidade reafirma a implemen-
do segmento semivocálico por esses falantes seja uma decorrência da atuação tação praticamente categórica da variante monotongada no final da década
conjunta da variável escolaridade, uma vez que seis deles passaram por pro- de 1990, à qual se associa o peso relativo de 1.00. Também quanto aos seg-
cesso de escolarização mais prolongado, como já ressaltamos. Nesse caso, um mentos nasais ressalta a convergência dos dois tipos de estudo, indicando
contato mais continuado e sistematizado com a modalidade escrita poderia aumento da importância relativa da nasal bilabial e redução da magnitude no
estar na origem de uma mudança de comportamento lingüístico. Essa possi- efeito da nasal alveolar.
bilidade parece ficar enfraqueci da, no entanto, pelo fato de que essa direcio- O estudo da comunidade reafirma a tendência de declínio da variante
nalidade de realização de [y] no contexto de fricativa palatal se manifesta monotongada no contexto de fricativas palatais, como mostram os resultados
igualmente entre indivíduos que estacionaram seu processo de escolarização, da Tabela 6. Do confronto entre os resultados para as duas sincronias emerge
como, por exemplo, os falantes Nad36 e Eve43. novamente uma alteração quantitativa que sinaliza o recuo da variante mo
Os resultados para os condicionamentos estruturais na alternância [ey 1/ notongada nesse contexto: no início da década de 1980, esses segmentos con
[e] na comunidade de fala (estudo tendência) convergem com a direcionalidade tribuíam com .56 para a variação entre [ey) e [e); no final da década de 1%",
sua contribuição cai para .27, aproximando-se do peso associado à nasal alveo
lar. Essas diferenças, que, como vimos, não alteram a média geral de ocorrência
ti O comportamento mais surpreendente é, sem dúvida, o da falante Jos3S, que apresenta, do fenômeno, parecem indicar uma certa recontextualização da incidêuriu
nas duas entrevistas, freqüências muito baixas de redução de [ey] no contexto de frica- das variantes concorrentes, que opera de forma paralela e sistemática no CUIIl
tiva palatal. portamento lingüística do indivíduo e na comunidade de fala.

44
MUDANÇA UNGuiSTICA EM TEMPO REAL o PERCURSO DA MONOTONGAÇÃO DE IEVI: OBSERVAÇÕES NO TEMPO REAL h
-\

Apesar de algumas diferenças na direcionalidade do processo em alguns ESTABILIDADE E MUDANÇA LINGüíSTICA EM TEMPO REAL:
indivíduos, há acentuada regularidade na trajetória do processo segundo o A CONCORDÂNCIA DE NÚMEROl
contexto considerado. No intervalo de tempo que separa as duas amostras de
fala, tanto do indivíduo como da comunidade, a variante monotongada se
instala e progride irremediavelmente no contexto da vibrante simples e recua Anthony J. Naro
UFRJ/CNPq
no contexto de fricativas palatais. A dissonância nesse caso fica por conta
daqueles indivíduos que, empreendendo uma trajetória distinta, aumentam a
variante monotongada no contexto de fricativas palatais. Maria Marta Pereira Scherre
UFRJ/CNPq

4. Conclusões
1. Análise da mudança no indivíduo
A análise desenvolvida responde parcialmente à pergunta que nos colocamos
no início deste artigo com relação à monotongação de [ey]. Embora tenhamos Como já foi colocado na introdução deste volume, o Programa de Estudos
depreendido, para a maioria dos indivíduos, uma certa tendência ao recuo da sobre o Uso da Língua (PEUL) está desenvolvendo análises lingüísticas diversas
variante monotongada, vimos aflorarem indicações de um quadro compatível com base em duas amostras de fala: 1) uma amostra para estudos do tipo
com uma situação de mudança geracional. O comportamento lingüístico do in- Painel, constituída por 16 falantes gravados na década de 1980 e regravados
divíduo sofre mudanças ao longo da sua vida para se ajustar aos diferentes mo- em 1999 e 2000; 2) uma amostra para estudos do tipo Tendência, constituída
mentos etários e às pressões sociais a que tem de fazer face em diferentes mo- por 32 novos falantes, aleatoriamente escolhidos da mesma comunidade da
mentos da sua vida. Não está excluída, no entanto, a possibilidade de que essas amostra da década de 1980, gravados também em 1999/2000. Um estudo do
mudanças reflitam também maior processo de escolarização e um maior con- tipo Painel permite avaliar a trajetória do indivíduo através do tempo, en-
tato com a forma escrita da língua, em que a semivogal anterior é preservada. quanto um estudo do tipo Tendência permite avaliar a trajetória da comuni-
A determinação da direcionalidade da alternância [ey]/[e] não pode ig- dade. Os dois tipos de estudos têm como objetivo buscar evidências para even-
norar, no entanto, as restrições estruturais que operam sobre o fenômeno, tuais mudanças lingüísticas em tempo real (cf. Labov 1981b, 1994).
em especial as propriedades de ponto e modo de articulação do segmento Neste texto, concentramos nossa atenção nas características sociais indi-
seguinte. Como pudemos constatar, o recuo ou o avanço da variante mono- viduais que possam estar governando a variação da concordância de número
tongada é dependente de condições estruturais bem definidas: por um lado, na amostra para estudos do tipo Painel e apresentamos resultados de uma
se instala no contexto da vibrante simples, no qual parece constituir uma mu- das principais variáveis lingüísticas que envolve este fenômeno: a variável
dança consumada; por outro, recua no contexto das fricativas palatais. Essa "posição". Praticamente todos os 16 falantes recontactados aumentaram sua
relatividade na trajetória das variantes monotongada e ditongada é perceptível média global de uso da concordância no intervalo de 16 a 19 anos que separa
no comportamento lingüístico da maioria dos indivíduos e parece ser inde- as duas etapas de entrevistas. Tanto a concordância nominal quanto a verbal
pendente de suas características sociodemográficas. Resta a explicar, no en- aumentaram em termos globais em aproximadamente 20%, com diferenças
tanto, a presença de "estranhos no ninho", cuja trajetória destoa da tendência
geral, levando a crer que questões relativas à contraparte social da variação e
da mudança lingüísticas não se esgotam nas variáveis clássicas do modelo I O levantamento de dados para esta pesquisa contou com a colaboração dos seguintes
variacionis ta. bolsistas de IC Eduardo Brasil, Luis Otávio Moreira Oliani, Cátia Azevedo de Souza e
Greice da Silva Castela.

46 47
MUDANÇA UNGÚíSTICP. EM TEMPO REAL
I,'

individuais que variam de 3% a 59% na concordância nominal; e de -1% a Como pode ser visto nos percentuais da Tabela 1, o uso da concordância au-
37% na concordância verbal", mentou para os dois falantes em taxas semelhantes no período compreendido
Os falantes recontactados aumentaram a freqüência de uso da concor- entre 1982 e 2000, independentemente de suas diferenças de idade e gênero,
dância sem relação direta com características sociais tais como idade, gênero sem aumento de escolarização.
e anos de escolarização. Há casos de aumento significativo de marcas de con- A despeito destes fatos, todos os falantes que aumentaram os anos de
cordância para falantes que eram crianças, de meia idade ou velhos quando escolarização - que são também os de idade mais jovem na amostra de 1980 -
gravados na década de 1980, bem como para falantes que aumentaram ou aumentaram de forma sistemática os percentuais de concordância. Mas o que
não aumentaram seus anos de escolarização no período entre as duas etapas mais aguçou a nossa atenção nos dados da amostra para estudos do tipoPainel
de entrevistas. é que, embora os individuos variem amplamente nos aumentos percentuais
Para ilustrar que nem só os falantes que aumentaram os anos de escolari- nas duas taxas de concordância, a hierarquia dos falantes na amostra de 1980
i
ri zação foram os responsáveis pelo aumento das taxas de concordância e que é regularmente preservada em cada fenômeno, de tal forma que os falantes
mudanças percentuais evidentes ocorreram na fala de pessoas mais novas e que exibiam as taxas de concordância mais altas, e também as mais baixas,
""1
mais velhas sem aumento de nível de escolarização, considere os dados para tendem a manter hierarquia semelhante, mesmo depois de decorridos cerca
,I!'!
'1!1i"I, a falante Jup06, do sexo feminino, com 18 anos quando foi gravada em 1982, de vinte anos. Todos os falantes que aumentaram os anos de escolarização
""I e para o falante Ag033, do sexo masculino, com sessenta anos também em ultrapassaram os falantes que não freqüentaram a escola no período sob con-
1982, ou seja, na Amostra 80 (1) e na Amostra 00 (I). Observe que estes dois sideração, mas há também casos de amplo aumento da freqüência de uso sem
i falantes tinham em 1982 a mesma faixa de escolarização: primeira fase do
, a influência direta da escola.
ensino fundamental. A fim de medir acuradamente as mudanças no uso individual da concor-
dância, usamos o modelo logístico de análise multivariacional implementado
Tabela 1 pelo programa VARBRUL (Pintzuk 1988; Sankoff1988; Naro 1992). Nos dados
Freqüência de uso da concordância de número em dois falantes de 1980 e de 2000, introduzimos um símbolo para identificar cada um dos
falantes. Os dados de Jup06 dê 1982, por exemplo, foram identificados com
I.I Concordância nominal Concordância verbal um símbolo, e os dados de Jup06 de 2000 foram identificados com outro
,
Am.ostra 80 (1) Am.ostra 00 (1) Am.ostra 80 (1) Am.ostra 00 (1) símbolo. Dessa forma, foi criada uma variável contendo dois fatores para cada
IJUP06 15/115 = 13% 61/151 = 40% 74/158 = 47% 74/101 = 73% um dos falantes, distinguindo-os em cada uma das amostras analisadas. Di-
IAG033 47/147 = 32% 87/168 = 52% 20/35 = 57% 57/69 = 83%
vidimos os falantes em dois subgrupos naturais, em função do aumento ou
não dos anos de escolarização. Efetuamos assim duas etapas de análise para
cada um dos fenômenos: uma com seis falantes e 12 fatores (seis fatores para
cada uma das amostras); outra com dez falantes e vinte fatores (dez fatores
2 Sempreque usarmos apenas os percentuais para argumentação,utilizaremosos dados
da concordâncianominalsem os casosde primeira posição,que, por serem numerosos para cada uma das amostras). Portanto, para cada uma das quatro rodadas,
e terem comportamentosemicategórico,poderiam distorcer os-resultados. No cálculo os pesos relativos são diretamente comparáveis.
dos pesos relativos,estes dados encontram-sepresentes, porque o programa usado dá Considere inicialmente os resultados para os seis falantes com aumento
conta da devida atribuição dos pesos relativos aos diversos fatores. Sendo assim, os nos anos de escolarização.
dadospercentuaisdas tabelas I, 4a e 4b nãobatem comos dadospercentuaisdas tabelas
Na Tabela 2, as colunas dos falantes nos dois pontos no tempo foram,
2 e 3. Até que façamos testes de significânciaestatística entre fatores de um mesmo
grupo (cf. Naro 1981b;Sankoff1988), utilizamosa diferença de 0,10 ou acima como respectivamente, dispostas em ordem crescente de uso de concordância. Li-
uma diferençaque podeser consideradaestatisticamentepertinente, comoapontaram nhas brancas horizontais foram inseridas a fim de agrupar falantes com taxas
testes aleatóriosjá realizadospelo professorAnthony J. Naro. de concordância nitidamente similares ou com taxas que apresentavam de

48 MUDANÇA UNGüiSTICA EM TEMPO REAL ESTABIUDAOE E MUOANÇA UNGÜiSTICA EM TEMPO REAL: A CONCORDÂNOA DE NÚMERO 49

, '
forma contínua diferenças de pequena magnitude. Em outras palavras, busca- Embora os falantes apresentem aumento de uso da concordância em quanti-
mos subagrupamentos igualmente naturais de falantes em termos estatísticos. dades variáveis, é interessante observar que, em cada tipo de concordância,
É importante relembrar que, embora os resultados estejam apresentados em eles permanecem na mesma ordem entre si em ambos os períodos. Assim, se
colunas, todos os pesos relativos de cada um dos fenômenos de concordância um falante usava mais concordância de um determinado tipo do que outro
foram obtidos de uma mesma rodada vARBRUL. Por esta razão, os pesos relativos falante nos anos 1980, a mesma situação permanece em 2000. Para a concor-
podem ser diretamente comparados em cada um dos fenômenos. Como pode dância nominal, a ordem é basicamente idêntica em ambos os períodos, exceto
ser visto, tanto em termos de percentagens quanto em termos de pesos relativos para Le038 e Adr63, que exibem pesos relativos virtualmente iguais; San39
do modelo logístico, todos os falantes aumentaram o seu uso de concordância muda de grupo, mas não muda a sua posição relativa. No caso da concordância
através do tempo. O fato de o aumento se revelar em termos de pesos relativos verbal, San39 encontra-se novamente no grupo intermediário no segundo
assegura que os resultados são estatisticamente mais confiáveis. período, mas praticamente também não muda de posição em relação aos ou-
tros falantes. Os outros três falantes do grupo intermediário, Adr63, Eri59 e
"1
Tabela 2 Le038, tanto no primeiro quanto no segundo período, apresentam pesos re-
,,,'I Freqüências e pesos relativos para a concordância nominal e verbal em dados de lativos muito próximos, com inversão de ordem entre Adr63 e Eri59.
q:I,·11
'li falantes que aumentaram os anos de escolarização entre dois pontos do tempo Observe agora, na Tabela 3, os resultados dos falantes que NÃO freqüen-
taram a escola durante o período entre as duas etapas de entrevistas. Da mesma
CONCORDÀNCIA NOMINAL
forma que na Tabela 2, as colunas foram ordenadas em função do uso crescente
Amostra 80 (I) Amostra 00 (I) da concordância nos dois períodos e linhas brancas horizontais foram inseri-
Falantes Freqüência PR Falantes Freqüência PR das, a fim de associar (geo)graficamente falantes com taxas de concordância
ADRS7 35/ 82=43% 0,03 ADRS7 170/227=75% 0,25
similares.
ERl59 45/100=45% 0,04 ERl59 239/304=79% 0,33
Na concordância nominal, a ordem relativa dos falantes é praticamente a
mesma nos dois períodos. Lei04 e Jup06, que têm os níveis mais baixos de
LE038 137/220=62% 0,14 ADR63 284/310=92% 0,62
ADR63 77/126=61% 0,15 LE038 337/361=93% 0,67 uso da concordância na primeira amostra, continuam na mesma posição na
SAN39 435/457=95% 0,74 segunda amostra, independentemente do fato de ambas evidenciarem relati-
SAN39 229/273=84% 0,4 vamente aumento de concordância. Também Mgl48 e Eve43, que estavam no
FAT23 231/264=88% 0,53 FAT23 278/280=99% 0,96
topo da ordem, mantêm sua posição relativa. Mesmo mudando de grupo,
CONCORDANCIA VERBAL
Ag033 e Jan03 também não alteram suas posições relativas. Há apenas pe-
Amostra 80 (1) Amostra 00 (I) quenas diferenças no interior do grupo, especialmente nos casos de Jos35 a
Falantes Freqüência PR Falantes Freqüência PR Dav42.
ADRS7 10/26=38% 0,06 ADRS7 25/ 43=58% 0,19 O comportamento da concordância verbal é menos claro. Neste caso,
ADR63 37/65=S7%. 0,18 ERl59 99/110=90% 0,61
Dav42, por exemplo, evidencia um salto espetacular, saindo da posição mais
ERl59 18/25=72% 0,2 ADR63 63/ 68=93% 0,7
baixa para se colocar próximo ao ponto mais alto. Ag033 e Jup06 também
LE038 35/49=71% 0,28 SAN39 77/ 83=93% 0,72
LE038 45/49=92% 0,73
aumentam significativamente a concordância, mas alteram em menor grau
SAN39 3/70=76% 0,41 suas posições relativas. Os demais sete falantes recontactados - Jan03, Lei04,
FAT23 55/68=81% 0,45 FAT23 54/55=98% 0,89 J os35, Nad36, Vas26, Eve43 e Mg148 - mantêm praticamente a mesma ordem
relativa entre si, tendo em vista que as diferenças dos pesos relativos atribuídos
a Jan03 e a Lei04 são bem pequenas.

50 MUDANÇA. UNGüíSTIC4 :M TEMPO REAL ESTABrUDAOE E MUDAf'lCA L1NGüíST!CA EM "!':MPO REAL: A CONCORDÃNOA DE f\iÚME~O 51

BIBL/OTf:'rô" 'A(,I~'TI"\' 1j"\ITA~fI


Tabela 3 Em síntese, mesmo que todos os falantes nos dois grupos, com e sem aumento
Freqüências e pesos relativos para a concordância nominal e verbal em dados de no nível de escolarízação, tenham aumentado os usos das formas com marcas
falantes que não aumentaram os anos de escolarização entre dois pontos do tempo de plural em ambos os fenômenos, alguns mais, outros menos (alguns com
diferenças insignificantes), e mesmo que alguns deles tenham mudado de gru-
CONCORDANCIA NOMINAL po, a maior parte das pessoas permaneceu na mesma posição relativa no inte-
Amostra 80 (I) rior de seus respectivos grupos.

-
Amostra 00 (I)
Falantes Freqüência PR Falantes Freqüência PR A comparação da magnitude dos aumentos mostra que os falantes que mais
LEI04 82/183=45% 0,10 LEI04 99/182=64% 0,20 aumentàram os níveis de escolarização tendem a ultrapassar quem não freqüentou
JUP06 81/181=45% 0,14 JUP06 124/221=56% 0,27
os bancos escolares. Portanto, mesmo que os falantes com aumento de
JOS35 124/217=57% 0,18 NAD36 134/218=61% 0,29
NAD36 89/174=51% 0,22 DAV42
escolarização não variem com relação à ordem entre si, eles ultrapassam os outros
153/246=62% 0,32
AG033 117/219=53% 0,24 JOS35 221/330=67% 0,33 falantes que têm taxas similares nos anos 1980 mas que não freqüentaram a
"', DAV42 132/244=54% 0,24 escola. AdrS7 e EriS9, por exemplo, têm taxas de concordância similares às de
!Ir! JAN03 107/172=62%
11""Ii,:
0,33 Jup06 e Lei04 no primeiro período, mas as ultrapassam de forma clara em 2000.
'I' AG033 162/245=66% 0,40
i JAN03 132/186=71% 0,47
Tabela 4a
VAS26 199/283=70% 0,49 VAS26 207/265=78% 0,57
Freqüência de uso da concordância nominal em dados de quatro falantes na
MGL48 410/462=89% 0,72 MGL48 400/410=98% 0,94 Amostra 80 (I) e na Amostra 2000 (I), com e sem mudança de escolarização
EVE43 263/274=96% 0,90 EVE43 303/309=98% 0,95
COM mudança SEM mudança
CONCORDANClA VERBAL de anos de escolarização de anos de escclarízação
Amostra 80 (I) Amostra 00 (1) Amostra 80 (1) Amostra 00 (1) Amostra 80 (I) Amostra 00 (1)
Falantes Freqüência PR Falantes Freqüência PR ADR57 1/47= 2% 80/132= 61% LEI0412/110=11% 29/109=27%
DAV42 27/58=47% 0,18 LEI04 24/41=59% 0,29 ERI599/61=15% 111/175=63% JUP0615/1I5=13% 61/151=40%
JAN03 34/74=46% 0,23 JAN03 32/59=54% 0,31
JUP06 74/158=47% 0,23
LEI04 35/63=56% 0,26
JOS35 56/108=52% 0,27
o mesmo pode ser dito para Le038 e Adr63, que começam com mais concordân-
AG033 20/35=57% 0,30 cia no mesmo nível de Ag033 e Jan03, mas os superam também deforma evidente.
JOS35 88/125=70% 0,43
JUP06 74/101=73% 0,51 Tabela 4b
NAD36 77/109=7196 0,48 NAD36 48/62=77% 0,53 Freqüência de uso da concordância nominal em dados de outros quatro falantes
na Amostra 80 (I) e na Amostra 2000 (I) com e sem mudança de escolarização
AG033 57/69=83% 0,62
DAV42 46/57=81% 0,66
VAS26 40/49=82% 0,62 VAS26 52/64=81% 0,66 COM mudança SEM mudança
EVE43 83/92=90% 0,74 EVE43 59/66=89% 0,75 de anos de escolarização de anos de escolarização
MGL48 90/97=93% 0,85 MGL48 108/114=95% 0,88 Amostra 80 (1) Amostra 00 (I) Amostra 80 (1) Amostra OO (I)
LE038 50/132=38% 203/222=91% AG033 7/147=32% 87/168=52%
ADR63 34/ 80=42% 153/179=85% JAN03 6/111=41% 72/126=57%

52 MUDANÇA UNGüiSTlCA EM TEMPO REAL ESTABIUDADE E MUDANÇA UNGüiSTICA EM TEMPO REAl: A CONCORDÂNCIA DE NÚMERO 53
Estamos ilustrando com a concordância nominal, mas exemplos semelhantes Todavia, é importante observar que, em nossa amostra, todos os falantes que
poderiam ser dados para a concordância verbo/sujeito>, Este fato é particu- aumentaram os anos de escolarização são os que tinham de nove a 18 anos na
larmente digno de nota porque Jup06 e Ag033, ao lado de Josas, aumentaram época da primeira amostra (mais precisamente: Eri59, nove anos; Adr57, dez
de forma sistemática tanto a concordância nominal quanto a verbal, como se anos; Adr63, 12 anos; San39 e Fat23, 15 anos; e Le038, 18 anos). Eles ainda se
pode ver pelas diferenças dos pesos relativos apresentadas abaixo: encontravam mais perto da idade considerada crítica para a faculdade da lin-
guagem e poderiam apresentar maior facilidade para a aquisição de taxas mais
CONCORDANClA NOMINAL
altas de concordância do que os falantes mais velhos. Além disso, à época da
Amostra 80 (I) Amostra 00 (I) Diferenças
segunda amostra, estes mesmos falantes - exceto Eri59, com 25 anos - atingi-
JUP06 0,14 0,27 0,13
0,40
ram a faixa etária entre 26 e 49 anos (Adr57, 26 anos; Adr63, 28 anos; San39 e
AG033 0,24 0,16
JOS35 0,18 0,33 0,15 Fat23, 33 anos; e Le038, 36 anos). Estudos anteriores têm evidenciado que o
grupo desta faixa etária, representando pessoas que estão integradas no mer-
CONCORDANCIA VERBAL cado de trabalho, freqüentem ente mostra tendência a usar mais formas de pres-
JUP06 0,23 0,51 0,28
tígio, como as que envolvem concordância explícita. Já há, portanto, pelo menos
AG033 0,30 0,62 0,32
duas razões, independentemente da educação formal, que poderiam dar conta
JOS35 0,27 0,43 0,16
do maior aumento da concordância pelo grupo que apresentou aumento de ní-
veis de escolarização. Todavia, deste grupo etário mais jovem, nossa amostra inclui
Repetindo, consideramos digno de ênfase o fato de que todos os falantes que apenas um único falante que não freqüentou a escola durante o intervalo entre as
aumentaram os anos de escolarização aumentaram também de forma signifi- duas amostras (Jup06, com 18 anos de idade na época da primeira amostra e
cativaos níveis de concordância. Como se pode ver a seguir, a menor diferença com 35 anos em 2000). Acrescente-se a estas reflexões o fato de que, dos seis
entre os pesos relativos é a de Adr57: 0,22 para a concordância nominal e falantes que aumentaram os anos de escolarização, cinco são do gênero feminino.
0,13para a concordância verbal. Coincidência ou não, Adr57 é também a fa- Estudos anteriores evidenciaram também que mais concordância de nú-
lante que atingiu o menor nível de escolarização: a segunda etapa do nível mero explícita tem sido observada nos dados das mulheres. Por esta razão,
fundamental (antigo ginasial ou antiga segunda etapa do primeiro grau). Dos ainda não temos certeza se o aumento da concordância, nos indivíduos estu-
outros cinco falantes, dois atingiram o nível médio e três, o nível universitário. dados, foi provocado pelo aumento dos anos de escolarização ou pela idade
inicial associada à entrada no mercado de trabalho no período que separa as
Falante I Amostra 80 (I) Amostra 00 (1) Diferenca I Escolarizacão atiorida
duas amostras, ou por estes dois aspectos, ou ainda por outros fatores-por ora
CONCORDANCL<\ NOMINAL
ADR57 0,03 0,25 0,22 Fundamental 2 fora de nosso controle, como o contato com a mídia e a identificação com os
ERl59 0,04 0,33 0,29 Ensino Médio valores de classe média por ela transmitidos, especialmente por meio de no-
LE038 0,14 0,67 0,53 Universitário
ADR63 0,15 0,62 0.47 Universitário velas (cf. Naro & Scherre 1996a; Silva & Paiva 1996).
SAN39 0,40 0,74 0,34 Universitário Essas ponderações assumem maior relevo também pelo fato.já mencionado,
FAT23 0,53 096 0,43 Médio
de que, embora a magnitude de aumento de concordância não tenha sido unifor-
CONCORDANClA VERBAL me, nenhum falante diminuiu o grau de concordância no intervalo sob análise.
ADR57 0,06 0,19 0,13 Fundamental 2
ADR63 0,18 0,70 0,52
Isto pode ser visualizado com mais clareza nas diferenças entre os diversos pesos
Médio
ERl59 0,20 0,61 0041 Universitário relativos atribuídos aos falantes reagrupados em função da sistematicidade/
LE038 0,28 0,73 0.45 Universitário
0,41
assistematicidade de aumento ou de estabilidade da concordância nominal (CN)
SAN39 0,72 0,31 Universitário
FAT23 045 0,89 044 Médio e verbal (CV). Indica-se também o nivel de escolaridade já atingido pelos falantes
nos anos 1980 e a mudança etária no intervalo temporal entre as duas amestras.
'Para a concordância verbal, compare Adr53 e Lei04, por um lado; e Leo38 e Jov26, por outro.

54 MUDANÇA UNGúíSTICA EM TEMPO ,Q:EAI.


E5TABIUOADE E MUDANÇA UNGuiSTlCA EM TEMPO REAL A CONCORDÂNCIA O~ NÚMERO 5S
~

tro últimas séries do atual ensino fundamental- e Eve43 é do antigo colegial -



Amostra 80 (I) Amostra
CONCORDANClA
00 (I) Dif.
NOMINAL
Escolarização Faixa etária
atual nível médio; um deles é do gênero masculino (Jos35) e dois outros são •
JUP06 0,14 0,27 0,13 Ia. etapa ensino fundo 18-35 anos do gênero feminino (Nad36 e Eve43); um deles está na faixa etária de inserção •
JOS35
AG033
0,18
0,24
0,33
0,40
O,LS
0,16
la.etapa
ta.etapa
ensino fundo
ensino fundo
59-75 anos
60-70 anos
no mercado de trabalho (Vas26, 48 anos) e dois outros estão na faixa etária
fora da inserção no mercado de trabalho (Eve43, 59 anos; Nad36, 74 anos).

JUP06 0,23
CONCORDANClA

0,51 0,28
VERBAL

la.etapa ensino fundo 18-35 anos


Além do mais, outros três falantes (Jan03, Lei04, Mgl48) revelam níveis mais

JOS35 0,27 0,43 ·0,16 ta.etapa ensino fundo 59-75 anos estáveis para a concordância verbal, com diferenças de 0,08; 0,03; 0,03, mas •
AG033 0,30 0,62 0,32 ta.etapa ensino fundo 60-70 anos aumento' relativo para a concordância nominal, com diferenças de 0,14; 0,10; 'I
CONCORDANClANONUNAL
0,22. As falantes do gênero feminino - Lei04, 43 anos, e Mg138, setenta anos -
NAD36 0,22 0,29 0,07 2a.etapa ensino fundo 57-74 anos
encontram-se em faixas etárias distintas: Lei04 na faixa de inserção no mercado
VAS26 0,49 0,57 0,08 2a.etapa ensino fundo 32- 48 anos
EYE43 0,90 0,95 0,05 Ensino médio 42-59 anos
de trabalho; Mgl48, fora dele. O décimo falante da Tabela 2 - Dav42, 48 anos, ••
CONCORDANClA VERBAL gênero masculino, inserido na faixa do mercado de trabalho - revela comporta- ~
"'1
.Id NAD36 0,48 0,53 0,05 2a.etapa ensino fundo 57-74 anos mento oposto: aumento significativo da concordância verbal (diferença de 0,48) e
I ::Hlf,~' JOV26 0,62 0,66 0,04 2a .etapa ensino fu nd. 32-48 anos comportamento relativamente estável na concordância nominal (diferença de 0,08).
\1 EYE43 0,74 0,75 O,Ot Ensino médio 42-59 anos
Portanto, os fatos descritos acima evidenciam mais uma vez que caracte-
CONCORDANClA NOMINAL
rísticas sociais convencionais - nível de escolarização, faixa etária e gênero -,
LEI04 0,10 0,20 0,10 Fundamentalt 25-43 anos
JAN03 0,33 0,47 0,14 Fundamental 2 56-74 anos embora pertinentes, não são suficientes para dar conta do entendimento da
MGL48 0,72 0,94 0,22 Ensino médio 52-70 anos dimensão social que envolve a variação da concordância de número em por-
DAV42 0,24 0,32 0,08 Ensino médio 31- 48 anos tuguês (cf. Naro 1981b; Naro & Scherre 1996a). Testes estatísticos e esquadri-
CONCORDANClA VERBAL
nhamento de aspectos que envolvem origem do falante, seu contato com a
JAN03 0,23 0,31 0,08 Fundamental!. 56-74 anos
mídia e seus bens culturais, na linha da orientação cultural, vicária ou expe-
LEI04 0,26 0,29 0,03 Fundamental 2 25- 43 anos
MGL48 0,85 0,88 0,03 Ensino médio 52-70 anos
riencial, proposta por Naro (1981b), serão ainda efetuados para um entendi-
DAV42 0,18 0,66 0,48 Ensino médio 31-48 anos mento mais cabal da trajetória dos indivíduos em termos dos fenômenos de
concordância verbal e da concordância nominal (cf. também Naro & Scherre
1991; Paiva 1994; Lucchesi 1998; Paiva & Gomes 2000).
Por um lado, três falantes (Jup06, Jos35 e Ag033) apresentam aumento de Das nossas reflexões até o presente momento, o que fica realmente claro
concordância nominal e verbal, com diferenças de 0,13; 0,15; 0,16 para a con- é' que a ordem relativa entre os pesos relativos atribuídos aos falantes perma-
cordância nominal e de 0,28; 0,16; 0,32 para a concordância verbal. Estes três nece praticamente a mesma, desde que os falantes sejam analisados em termos
falantes têm nível de escolaridade do antigo primário - quatro primeiras séries dos agrupamentos que fizemos, levando em consideração o fato de terem ou
do atual ensino fundamental; dois são do gênero feminino (Jup06 e Jos35) e não aumentado seus anos de escolarização.
um do gênero masculino (Ag033); um deles está na faixa etária de inserção no
mercado de trabalho (Jup06, 35 anos) e os outros dois estão na faixa etária fora
da inserção no mercado de trabalho (Ago33, setenta anos; Jos35, 75 anos). 2. A variável "posição linear"
Por outro lado, três falantes (Nad36, Vas26 e Eve43) revelam níveis rela-
tivamente estáveis de ambos os tipos de concordância, com diferenças de 0,07; Embora o comportamento dos falantes não tenha apresentado direção única
0,08; 0,05 para a concordância nominal; e de 0,05; 0,04; 0,01 para a concor- em termos de aspectos sociais, o mesmo não se aplica em relação à variável
dância verbal. Destes três falantes, Nacl36 e Vas26 são do antigo ginasial- qua- lingüística considerada até o presente momento, que é a posição relativa e

seI
56 MUDANÇA UNGúiSTICA EM TEMPO REAL
ESTABIUDAOE E MUDANÇA UNGüiSTICA EM TEMPO REAL. A CDNCORDÂNOA DE NÚMERO
\

linear, com resultados uniformes. No que diz respeito aos aspectos estruturais, As lei dele não PERMITE
uma das conclusões mais sólidas com relação à concordância verbo/sujeito é OS irmão dele nunca CHEGARAMaos pés dele
a de que os sujeitos plurais antepostos ou à esquerda do verbo desencadeiam Tem até umas marquinha de pedra que SERVIApra isso
mais marcas de plural nos respectivos verbos; efeito inverso têm os sujeitos Essas troca de experiência VAIcrescendo, né?
pospostos ou à direita do verbo. Na mesma linha, sujeitos antepostos mais
próximos ao verbo implicam mais marcas de plural nos verbos 2. Sujeito à esquerda do verbo, mais distante
correspondentes do que sujeitos mais distantes do verbo. Estes resultados (separado por material interveniente com mais de cinco sílabas):
foram encontrados em amostras de diversas regiões brasileiras com falantes Duas moças lá da Vargem Grande ESTUDAMna Faculdade Gama Filho
de diversos níveis de escolarização (cf.,por exemplo, Naro 1981;Naro & Scherre As garota praticamente não VIVERAM;
- Os filho dela pelo menos TÁpassando bem
1996b, 2000; Nicolau 1984; Rodrigues 1987; Bortoni-Ricardo 1985; Graciosa Os filhos abaixo de quinze anos não PAGAVAtV!
1991;Anjos 1999; Monguilhot 2001). Portanto, encontrar resultados fora deste Mas os que tão dentro do setor progressista até TÃOsabendo desse limite
padrão é que seria surpreendente, tendo em vista o intervalo de apenas cerca Essas novela que acontece no Rio e São Paulo geralmente É levada para todo
de vinte anos que separa as duas amostras. Os resultados associados aos lugar do Brasil
sujeitos zero, com zero distante favorecendo mais marcas explícitas de plural
nos verbos e zero próximo desfavorecendo-as, são também consistentes com 3. Sujeito à esquerda do verbo
os resultados obtidos em Scherre & Naro (1997). Apresentamos a seguir VlERN;I os alunos, quatro ...
exemplos das principais categorias usadas na análise quantitativa: Aí VEIO aqueles cara correndo

1. Sujeito à esquerda do verbo, mais próximo 4. Sujeito zero distante: sujeito expresso a uma distância
(separado por material interveniente com até cinco sílabas) de mais de dez cláusulas precedentes ou expresso na fala do entrevistador.
1a) zero sílaba entre sujeito e verbo:
Eles tvIAl'\!DARAM
a turma toda embora
5. Sujeito zero próximo: sujeito expresso a uma distância
As pessoa FICAolhando pra gente
de até dez cláusulas precedentes.

I b) uma sílaba entre sujeito e verbo:


Vejamos os resultados na Tabela 5.
Eles não VÃOaceitar
Eles se ESCONDERAMnum lugar
Tabela 5
Mas os que TÃOdentro do setor progressista até tão sabendo desse limite Freqüências e pesos relativos para a presença de concordância verbal
Essas novela que ACONTECEno Rio e São Paulo geralmente é levada para em função da variável posição relativa e linear
todo lugar do Brasil
Amostra 80 (I) Amostra 2000 (I)
Posição relativa
Fr-eqü êrrci a PR Freqüência PR
1c) duas sílabas entre sujeito e verbo: Sujeito à esquerda do verbo,
534/723 = 74% 0,60 628/718 = 87% 0,61
Sobrinhos meus nunca LEVARA.'VI
uma paimada mais próximo (0-5 síl)
Sujeito à esquerda do verbo,
Os vizinho daqui É ótimo, né? 9/23 = 39% 0,23 8/24 = 75% 0,43
mais distante (> 5 síl)
Sujeito à direita do verbo 14/44 = 32% 0,10 1/35 = 60% 0,18

1d) três a cinco sílabas entre sujeito e verbo: Sujeito zero distante 56/64= 88% 0,82 31/40 = 77% 0,47
Sujeito zero próximo 131/292 = 45% 0,28 196/290 = 68% 0,30
As mães hoje num UGAMmuito pros filhos não Tola! 744/1146 = 65% 894/1107=i:l1%

MUDANÇA UNGüíSilCA EM TEMPO REfll ESTABILIDADE E MUDANÇA lINGúiSTICA EM TEMPO REAL. A CONCORDÃNClA DE NÚMERO 59
I' 1

o mesmo grande padrão obtido para a concordância verbal tem sido sistema-
Os resultados das duas amostras analisadas neste trabalho também revelam
ticamente observado para a concordância nominal. Elementos à esquerda do
o mesmo padrão encontrado nas pesquisas anteriores, como pode ser
núcleo, na primeira ou na segunda posição, bem como o próprio núcleo mais
observado na Tabela 6.
à esquerda na construção, favorecem marcas explícitas de plural; elementos à
direita do núcleo e núcleos mais à direita favorecem variantes zero de plural,
Tabela 6
ou desfavorecem concordância plural. Este padrão também tem sido observado
Pesos relativos para a presença de concordância nominal
em amostras de diversas procedências geográficas e de falantes com diversos
em função da variável posição relativa
anos de escolarização (cf., por exemplo, Scherre 1998a, 1998b; Brandão 1994;
Almeida 1997; Dias 1993; Fernandes 1996; Carvalho 1997; Lopes 1999). A se- Amostra 80 (O Amostra 00 (I)
guir listamos exemplos das principais categorias para a análise quantitativa. Posição linear
Freqüência PR Freqüência PR
À esquerda do núcleo
1.226/1.266 = 97% 0,92 1.671/1.718 = 97% 0,85
""1 1. Elemento nominal à esquerda do núcleo na posição 1: na Ia. posição
,111 " À esquerda do núcleo
os fregueses / do meus pais; novas escolas / grande viagis / minhas unhas / 100/102 = 98% 0,93 186/190 = 98% 0,83
'l'h'II:~'·' na 2a. posição
'\1 " todos os miúdos / dos meus parentes
À direita do núcleo
33/46 = 76% 0,27 60/70 = 86% 0,40
na 2a. posição
2. Elemento nominal à esquerda do núcleo na posição 2: À direita do núcleo
28/99= 28% 0,05 81/135 = 60% 0,11
as boas ações / essas grande fabrica; do meus pais / tantas outras família / nas demais posições
todos os anos / os mesmos direitos Núcleo na Ia. posição 45/50 = 90% 0,56 66/67 = 99% 0,89
Núcleo na 2a. posição 815/1.725 = 47% 0,16 1.436/2.153 = 67% 0,21
Núcleo nas demais poso 109/186 = 59% 0,20 178/218 = 82% 0,26
3. Elemento nominal à direita do núcleo na posição 2:
Total 2.358/3.474 = 68% 3.678/4.551 = 81%
coisas lindas / eles todos / colegas meu / coisas maravilhosa / eles todo /
amigas minhas

É fundamental observar que não existe diferença no padrão estrutural nas


4. Elemento nominal à direita do núcleo nas demais posições:
duas amostras. Portanto, a principal restrição interna analisada na amostra
esses politicos aí chaguistas / essas estradas nova / as três coisa mais
importante / uns amigos meus / três colega meu de 1980, para a concordância verbal e nominal, continua válida para a amostra
. de vinte anos depois, embora tenha havido um aumento percentual da con-
5. Núcleo na posição 1 - mais à esquerda: cordância de número. Não observamos mudança em função do contexto lin-
coisas lindas / representante diretos güística em que as marcas explícitas ou os zeros plurais tendem a ocorrer.
Este resultado se insere na mesma linha do que já observamos para a concor-
6. Núcleo na posição 2 - mais à direita:
dância variável nos documentos do português europeu medieval, que seguem
as mesmas restrições estruturais válidas para o português brasileiro falado.
suas tias / todos eles / as codorna; todos ele; as porta aberta / os documento
dela todinho; dois risco verde

7. Núcleo nas demais posições 3. Conclusão

mais à direita: as boas ações / do meus pais / os outros colégios / os próprios


vagabundo / as minhas duas filha Em síntese, nossos resultados indicam que, em termos individuais, o que ocor-
reu no intervalo de vinte anos que separa as duas amostras é, de forma geral,

60
MUDANÇA UNGüiSTICA EM rEMPO REAl
ESTABIUDADE E MUDANÇA uNGulsnCA EM TEMPO REAl; A CONCORDANOA DE NÚMERO 61
,

o deslocamento para uma freqüência de uso de concordância mais alta sem A REFERÊNCIA À PRIMEIRA PESSOA DO PLURAL:
mudança no ambiente estrutural analisado. No aspecto social, falantes com
VARIAÇÃO OU MUDANÇA?'
aumento de escolarização (ou idade inicial mais baixa) tendem a ultrapassar
os falantes sem aumento de escolarização (ou idade inicial mais alta), mas no
interior de cada um dos dois grupos não há mudança da ordem que prevalecia Nelize Pires de Omena
desde o início. UFRJ

1. Introdução

Discutem-se neste artigo aspectos da natureza da mudança lingüística num


'; , estudo em tempo real de curta duração, objetivando-se investigar como está
I"
'1~I!'1 se dando a substituição da forma do pronome pessoal de primeira pessoa do
plural pela forma a gente, originalmente um substantivo coletivo.
Mais especificamente, o que se pretende é responder por que fase passa
esse fenômeno variável: encontra-se em um estágio de variação estável ou em
pleno processo de mudança em progresso? É o que se faz no estudo de ten-
dência. E, levando-se em conta o estudo de painel, que retrata o desempenho
individual no uso alternativo ds formas, procura-se responder à questão: quan-
do a comunidade muda ou permanece estável, o desempenho de cada indivíduo
espelha seu comportamento?
Na primeira parte, traça-se um histórico da variação entre nós / a gente,
quando se considera a gramaticalização da forma a gente, seu encaixamento
no subsistema dos pronomes pessoais e sua inter-relação com outros fenô-
menos de natureza lingüística e extralingüística.
Passa-se, em seguida, à descrição dos resultados dos estudos de tendência
e de painel, considerando-se as modificações no desempenho da comunidade
e dos falantes.
Interpretam-se, finalmente, os resultados, analisando sua contribuição
para o entendimento da natureza da mudança.

I Colaboraram nesta pesquisa as bolsistas de IC Simone Silva de Oliveira e Fernanda


Messeder Moura.

62
MUDANÇA lINGúíSTlCA Er...1rEf\·IP') R:Al 63
'I

2. A variação nós I a gente o uso de a gente por nós avançou mais em alguns contextos do que em
outros: predomina na função de adjunto adverbial- com a gente é bem mais
o nome gente, oriundo do substantivo latino qens, gentis, constitui um SN que freqüente do que conosco, chegando a ser categórico entre as crianças. Na
nomeia de forma coletiva, indeterminadora, mais ou menos geral, um agru- função de complemento e de sujeito, com taxas diferentes entre crianças e
pamento de seres humanos, identificados entre si por objetivos, idéias, qualidades, adultos, a gente predomina; há pouca incidência na função do adjunto adno-
nacionalidade ou posição. Determinado pelo artigo fernininoa, é a forma originária minal - da gente -, com preferência para o pronome possessivo - nosso(s),
de a gente que, através de um processo de gramaticalização (cf. Orne na & Braga nossa(s) (Omena 1996: 190-1). Não pode ser modificado por determinantes,
1996; Menon 1996; Lopes 1999) passou a integrar o sistema de pronomes pessoais já que o a que o integra deve guardar ainda resquícios de sua classe de origem,
do português, concorrendo com nós, forma da primeira pessoa do plural. o que é típico dos processos de gramaticalização. Assim, só se usam construções
Lopes (1999) aproxima o processo de pronominalização doSN a gente ao do do tipo: nós dois, todos nós. Nesse contexto, não há possibilidade de variação.
emprego peculiar dos nominais como forma de tratamento. Nesse processo em O estudo dessa mudança na função de sujeito, função mais produtiva,
'i , que SNssão utilizados como pronomes de tratamento, Vossa Mercê, por exemplo, demonstra toda a alteração que ela vai provocar no sistema e os contextos
,1,1 ' passou a você e integrou-se no sistema dos pronomes pessoais. A mudança sofrida
'I .,~,. 11
lingüísticos que a favorecem, assim como os que contêm mais o seu avanço,
"j ':: pelo SNa gente encaixa-se nesse mecanismo em que nominais passam a pronomes inclusive os contextos externos ao sistema, tais como idade, escolaridade e
(exclusivamente pronomes de terceira pessoa). Menon (1994) identifica uma classe sexo. Demonstra-se então, mais uma vez, a não-aleatoriedade do uso variável.
especial deSNs, a que a autora chama de Formas Nominais. SãoSNs que perderam Como costuma acontecer nos processos de gramaticalização, a par do
algumas características gramaticais próprias dessa classe de sintagmas, acréscimo de significado na forma, a gente conserva o traço generalizado r,
evidenciando um estágio de gramaticalização ainda produtivo na língua, pelo indefinido, que lhe era peculiar e passa a ser usado mais do que nós nos con-
qual o SN a gente teria passado no seu processo de gramaticalização. textos de indeterminação e maior número de referentes.
Ter-se-ia, então, segundo as autoras, a seqüência: No seu encaixamento no sistema de pronomes, apesar de ter os traços de
Substantivo coletivo -+ Pronome pessoal -+ Pronome indefinido primeira, segunda e terceira pessoas gramaticais, a gente só se identifica com nós
(SN - núcleo substantivo -+ Formas Nominais -+ SN - pronome) no significado, pois insere-se na oração como sujeito de terceira pessoa gramatical,
como seu substantivo de origem. Essa substituição vai afetar também sua relação
Há dois momentos inseparáveis nessa seqüência: uma mudança na gra- com o verbo, criando contextos favorecedores ou não ao seu aparecimento.
mática do item, que vai gradualmente cristalizando algumas das características Uma conjugação de diferentes fatores, tais como tempo e aspecto verbais,
do SN e perdendo outras, num processo de mudança de classe que se acentua gênero de discurso, oferece ambientes propiciadores e inibidores de seu uso,
com o acréscimo do traço semântico de primeira pessoa gramatical. Como caracterizando os sintagmas verbais aos quais se liga preferencialmente como
pronome pessoal, análogo a nós, passa a co-ocorrer com esse item, ocupando- pronome sujeito, desalojando a forma nós. Além das relações sintáticas esta-
lhe o espaço dentro do sistema de pronomes. belecidas pela inclusão da nova forma no sistema de pronomes, um fator dis-
A cristalização da forma, aliada à modificação do significado gramatical e cursivo relacionado ao uso de a gente / nós atua fortemente: é o que costuma-
lexical, cria um novo sintagma semelhante a outro já existente no sistema, mos chamar de Paralelisrno. Por Paralelismo entendemos a tendência à repe-
deflagrando uma variação que pode ou não se resolver em mudança. A pesquisa tição de uma forma anteriormente usada, efeito esse já detectado na análise
sobre o assunto (Omena 1986,2001; Lopes 1993,1999; Alves Fernandes 1996; de variáveis morfológicas e sintáticas.
Machado 1997, entre outros) demonstra nesse processo de mudança uma fase Como um fenômeno de variação ou mudança, todo esse processo relacio-
de ambigüidade. Rara no início (século XVI), ela vai progredindo até o século na-se à sucessão de gerações. A pesquisa tem demonstrado que a idade do
XIX. Não se registram exemplos ambíguos no século XX (Lopes 1999: 52-5), falante influi na predominância ou não da nova forma. Outro fator externo a
indicando uma gramaticalização já concluída. ela relacionado é a escolaridade do falante.

64 MUDANÇA UNGuiSTICA EM TEMPO REAl A REFER~NOA À PRIMEIRA PESSOA 00 PlURAL VARIAÇÀO OU MUDANÇA' 65
''lI ~I

3. A variável na comunidade: um estudo de tendência da faixa etária de 26-49 do ano 2000 são representantes da geração que, na
década de 1980, pertencia às duas primeiras faixas etárias. Ao mudar de idade,
De um processo de mudança iniciado há vários séculos e que ainda não se eles adaptam o seu desempenho ao grupo etário a que passam a pertencer.
completou esperam-se fluxos e contrafluxos, o que pode gerar uma precária Esse comportamento difere do esperado numa mudança em progresso, quando
estahilidade em determinados momentos de sua trajetória. Uma análise em o previsível é que as diferentes gerações conservem sempre sua taxa de uso
tempo real, mesmo de curta duração, proporciona uma visão de um estágio inicial com aumento crescente da forma inovadora. Por esse resultado, pode-
da mudança, com suas características, O estudo do tipo tendência realizado se constatar que a mudança que se iniciou por volta do século XVIII, se em
com a variável de primeira pessoa do plural mostrou que, em termos de por- processo, não se evidencia no lapso de tempo considerado.
centagem geral do uso das formas, a variante a gente continua a predominar A tensão uniformidade us. variedade se mantém na língua graças a fatores
sobre a forma pronominal mais antiga, na função de sujeito. Os resultados da internos e externos ao sistema. A escola pode ser um dos fatores que atuam na
comparação do desempenho de 32 falantes da Amostra 80 (C) e da Amostra 00 .manútençâo do estado de língua, graças à sua atitude normativista, aos estudos
(C) demonstram que, em relação ao uso dessa variável, a comunidade não mu- gramaticais e ao contato intensivo com a escrita, forças conservadoras. Nos resul-
dou. As proporções no uso das variantes continuam praticamente as mesmas. tados da variável em estudo, há ligeiras alterações nos dois momentos, embora os
Tabela 1
pesos relativosatribuídos à escolaridadedo falante guardem a mesma configuração.
Porcentagem geral do uso de a gente vs. nós
Mantém-se a tendência para o maior uso de a gente entre os falantes do
primeiro segmento do ensino fundamental e do ensino médio, com uma sig-
Amostra 80 (C) Amostra 00 ( C) nificativa queda desse uso no segundo segmento do ensino fundamental. Mas,
1.078/1.374 = 78% 768/968 = 79% na década de 1990, há uma diferença marcante entre os pesos relativos dos
falantes do primeiro segmento do ensino fundamental e do ensino médio,
Esse resultado reproduz os encontrados na análise do total de 64 falantes da que se equiparavam na década de 1980.
Amostra Censo 80: 1979/2701=73% (Omena 1986).
Tabela 3
A porcentagem de uso das variantes não se alterou e essa estabilidade se
Uso de a gente vs. nós segundo escolaridade
reproduz quando relacionamos o uso da variável à idade dos falantes.
Amostra 80 (C) Amostra 00 (C)
Tabela 2
Idade Freqüência PR Freqüência PR
Uso de a gente vs. nós segundo faixa etária .54 395/494 = 80% .54
10 segmento EF 95/494 = 80%
20 segmento EF 361/516 = 70% .36 170/248 = 69% .22
Amostra 80 (C) Amostra 00 (C) 257/317 = 81% .s6 203/226 = 79% .73
Ensino médio
Idade Freqüência PR Freqüência PR
7 a 14 anos 103/116 = 89% .79 99/105 = 94% .84
15 a 25 anos 473/543 = 87% .70 211/227 = 93% .84 O uso de a gente por nós não parece estigmatizado no desempenho oral do
26 a 49 anos 271/369 = 73 % .34 208/251 = 83% .43 falante. Não é o aumento da escolarizaçãa que faz recuar o uso de a gente,
mais de 50 anos 154/267 = 58% .20 250/385 = 65% .22 mas o fato de o falante ser das últimas séries do ensino fundamental e talvez
ter estudado ou estar estudando as conjugações verbais. Aqui há ainda a
A distribuição por faixa etária mostra que, com a passagem do tempo, os fa- considerar influências interacionais, não observadas.
lantes vão adquirindo a forma mais antiga e mais prestigiada na escrita padrão A estabilidade na freqüência geral do uso de a gente e na sua interação
ou usando-a mais freqüentemente. Essa mudança na freqüência de uso das com os fatores sociais investigados, incluindo-se a pequena preferência pelo
gerações sucessivas constitui índice de estabilidade da variação, pois os falantes uso de a gente entre as mulheres, não oferece indícios de mudança. Esse pro-

.'
~
66 MUOANÇ!\ uNGüísrlCA EM TEMPO REAL A REFER~NOA À PRIMEIAAPESSOA DO PLUPAL.: VARIAÇÃO OU MUDANÇA? 67
"1'1

cessamento, porém, pode estar se dando mais sutilmente nas relações que a A inserção de um elemento novo num ponto do sistema desencadeia uma
variável mantém com os elementos do sistema influenciadores de seu uso, reorganização desse sistema. É o que acontece com a inserção da nova forma
O que desencadeia a variação entre nós / a gente é o acréscimo do traço de pronominal no subsistema de pronomes pessoais. Sabe-se que as formas mais
primeira pessoa ao SN que estava passando de substantivo coletivo a pronome. marcadas, uma vez adquiridas, tendem a uma maior estabilidade que as não
Presentemente, são ainda os traços semânticos de número e indeterminação, marcadas, possivelmente devido a fatores de memória. O pronome de primeira
conservados na forma grarnaticalizada, que apresentam sinais de mudança. Na pessoa do plural nós (ou a gente) pode combinar-se com núcleo verbal que
década de 1980, percebeu-se que esses traços do substantivo primitivo gente tem a forma mais ou menos saliente. A nova forma se inseriu no ponto mais
influenciavam na escolha da forma de referência à primeira pessoa do plural, frágil, o menos marcado. Assim, há maior probabilidade de ocorrência de a
sendo o efeito do número dos referentes sobre as formas mais tênue do que o do gente em construções como:
traço de indeterminação. Os pesos relativos indicavam que os falantes usavam (1) Quer dizer que a gentefica assim mais, né? Sobressaltada, né?
mais a forma a gente quando se referiam a um grupo grande de pessoas (507/
'\ ~I', 5777 = 88% .65), enquanto diminuíam seu uso na referência a grupos pequenos do que em:
Ilrl 1.1
(2) Quer dizer que a gente é jogador de futebol.
e intermediários (493/717= 69% .38). Nos registros de 2000, a relação permanece,
I ;i::1' ~,:~~
Il ,,, mas a diferença percentual entre elas não é estatisticamente relevante.
'I '~:~ Há menos distância fonética entre a genteficax nós fica mos do que entre nós
Com o traço de indeterminação, a história se repete. No processo de grama-
ticalização, o traço se conservou e a forma ocupou variavelmente os contextos somos x a gente é. A diferença entrefica eficamos é apenas a do acréscimo de
indeterrninados da primeira pessoa do plural, mas à medida que vai se esta- uma sílaba, o que propicia maior substituição de nós por a gente. É e somos
bilizando como pronome, substitui mais e mais a forma antiga. Nesse caso, passa são formas completamente diferentes, tornando menos provável a ocorrência
a ser usada mais freqüentemente nos contextos de determinação, como aconteceu de agente.
com o on em francês, que na alternância com naus é caracterizado por Laberge O princípio da saliência fônica atuou nesse tipo de mudança e a análise de
(1977) como definido. Em 1980,já se registraram falantes que, durante a gravação, tempo real de curta duração não apresenta grandes modificações. Na Tabela
não utilizavam a forma nós, mostrando-se grandes usuários de a gente indiscri- 5, os resultados vão das formas menos salientes para as mais salientes.
minadamente, em ambos os contextos, o que não significava que desconhecessem
a forma antiga. A proximidade dos pesos relativos na amostra de 1980 confirma Tabela 5
essa falta de especialização da forma a gente. Os resultados da Amostra 00, embora Saliência fônica e uso de a gente vs. nós
indiquem preferência por a gente na referência determinada, não são confiáveis esta-
Saliência Amostra 80 (C) Amostra 00 (C)
tisticamente, pois esse grupo de fatores não foi selecionado. Observe-se a Tabela 4.
tônica Freqüência PR Freqüência PR
Falando 11/11 ; 10096 - 4/4 = 10096 -
Tabela 4 Falava / falávamos 128/180 ; 7196 .72 135/166; 81% .72

Uso de a gente vs. nós segundo o traço [+/- determinado] do referente Fala / falamos 377/421; 9096 .59 250/286 = 8796 .55
Falar / falarmos 98/105 ; 9396 .49 45/46; 9896 .85
Amostra 80 (C) Amostra 00 (C) Saiu / sai mos 158/263 ; 60% .39 151/202 = 75% .48
Freqüência PR Freqüência PR Faz / fazemos 215/282 ; 76% .35 173/234 ; 7496 .31
lndeterminado 694/820 = 8596 .53 482/610 ; 7996 (.43)' É / somos 14/33; 4296 .22 8/28 = 29% .04
Determinado 296/444; 6796 .44 286/358 ; 80% (.61)

Os dados do gerúndio, cuja forma não varia, não foram submetidos ao cálculo
2 Os pesos relativos colocados entre parênteses indicam que a relação entre o grupo de
fatores e as variantes pode ser aleatória. dos pesos relativos. Nesse contexto, ou se cancela o sujeito ou se usa a rOtllla

~
68 MUDANÇA UNGuiSTlCA EM TEMPO ReAL
A REFER~NaA À PRIMEIRA PESSOA DO PlURAL: VAAlAr:,NJ ou MUDANÇA1 I'
<,

a gente. A passagem do tempo não mudou o desempenho da comunidade. apenas uma inversão entre os resultados para passado e futuro, favorecedores
Em relação aos demais fatores, o contexto para a referência à primeira pessoa da forma nós. A pequena diferença entre esses valores, porém, não é signifi-
do plural em que há menos diferença entre a terceira pessoa do singular e a cativa, o que pode estar indicando perda da restrição.
primeira pessoa do plural favorece o uso de a gente. O inverso favorece nós.3 Relacionado ao tempo em que se dá o processo verbal, tem-se o aspecto.
Ainda relacionados ao grupo de fatores Saliência Fônica, que exerce maior Quando se examina a influência dessa categoria sobre o uso da variável, re-
pressão sobre o uso das formas, três outros fatores parecem atuar também na gistra-se uma distribuição complementar: de um lado, ficam os processos irn-
escolha das variantes nós / a gente: o tempo e o aspecto verbais, além do tipo perfectivos, favorecendo o uso de a gente; do outro, o perfectivo provocando
de discurso. A seleção dessas variáveis, porém, é bastante instável nos diferen- ocorrências de nós. Os resultados podem ser vistos na Tabela 7.
tes processamentos, refletindo o fenômeno já percebido nas primeiras pesquisas.
Esses grupos e o grupo de fatores Saliência Fônica costumam ter fatores que se Tabela 7
sobrepõem. Assim, um contexto discursivo do tipo narração apresenta verbos Uso de a gente vs. nós e aspecto verbal
predominantemente no tempo passado, com aspecto perfectivo e no quinto
(11:11 Amostra 80 (C) Amostra 00 (C)
I"i li' grau de saliência, do tipo saiu / saímos, favorecedores da forma nós. Uma disser-
Freqüência PR Freqüência PR
'1""11-1 tação tem verbos geralmente no presente, com aspecto imperfectivo. Elimi-
.. Imperfectivo 161/178 = 90% .51 239/288 = 83% .65
'Itl nando-se as interferências, têm-se os seguintes resultados para o tempo verbal: I. Habitual 545(691 = 79% .67 44/56 = 79% .57

I1
Não-aspecto 199(238 = 84% .47 300/384 = 78% .51

li Tabela 6 Perfectivo 96(188 = 51% .31 185/240 = 77% .37

Uso de a gente vs. nós e tempo verbal

Tempo Amostra 80 (C) Amostra 00 (C)


verbal PR Freqüência
Mais uma vez, pode-se observar que não há modificação provocada pela inter-
Freqüência PR
Formas nominais 98/102 = 96% .87 47/49 = 96% .72 ferência do fator tempo.
Presente 221/372 = 59% .56 233/314 = 74% .59 Há um princípio discursivo já bastante observado nos estudos variacio-
Fururo 33/49 = 67% .23 25/35 = 71% .38 nistas, o de que, no desempenho do falante, uma forma provoca outra seme-
Passado 221/372 = 59% .30 233/314 = 74% .31
lhante. É o princípio do Paralelisrno, que atua fortemente na seleção das va-
riáveis em estudo. O falante, ao se referir pela primeira vez a um grupo maior
. ou menor de pessoas, em que se inclui, escolhe a forma nós, por exemplo, e
É importante perceber que os resultados de ambas as amostras reafirmam a tende a repeti-Ia na próxima referência, como em (3).
conclusão anterior, de que os tempos verbais mais marcados (passado e futu- (3) Mas nós temos o dinheiro, que nill: trabalhamos bastante no início.
ro) tendem a refrear a mudança; os menos marcados (formas nominais e pre-
sente) a impulsionam. As indicações dos fatores favorece dores e desfavorece- O antecedente da forma pronominal sublinhada é nós, e se refere ao mes-
dores de a gente não mudam substancialmente com a passagem do tempo, há mo grupo de .pessoas do dado considerado (antecedente nós, referência igual.)
Em outra possibilidade, o antecedente é a gente, mas sua referência é
diferente da referência do a gente considerado (antecedente a gente, referência
3 Quando se observam os números, vê-se que as freqüências para o infinitivo e para o
diferente), como no exemplo (4).
futuro do subjuntivo -falar / falarmos - não correspondem à dos pesos relativos nos
(4) Meu marido tinha medo dela ser infeliz, tanto que, com ela com vinte e
dados de 1980. Cornoforrnapouco saliente, o resultado do peso relativo não corresponde
à expectativa, o que não acontece com a Amostra 00. Isso se deve à interferência de quatro horas de casada, nós fornos lá, né? ... A gente, dia sim, dia não, ia na
outros fatores quando se quantificam os dados. casa dela ... Porque a gente que é mãe quer sempre o melhor para o filho.

70 MUDANÇA UNGüiSTICA EM TEMPO REAL A REFERÊNCIA À PRIMEIRA PESSOA 00 PLURAL: VARIAÇÃO ou MUDANÇA> 71
{lI 1

No exemplo (4), a falante escolheu nós (primeira referência) para nomear grupo, segundo os resultados apresentados acima, haverá possibilidade de
"eu e o meu marido"; na seqüência do discurso, ao fazer referência às mesmas que mude para nós (ou a gente). Quando o falante antes usou a gente, mas
pessoas, usou a forma a gente (antecedente nós, referência igual). A seguir, mudou o referente (a gente, referente diferente), a probabilidade de que volte
recorre novamente à forma a gente, mas agora fazendo uma referência às a usar a mesma forma é de .52, na primeira amostra, e .26, na segunda. Convém
mães em geral (antecedente a gente, referência diferente). observar que os falantes da Amostra 00 se mostraram bem mais influenciados
pelo fator esperado, passando a usar significativamente mais o nós. Quando
Tabela 8 usam nós e a próxima referência à primeira pessoa do plural tem referente
Uso de a gente vs. nós e paralelisrno diferente (nós, referente diferente), os falantes da Amostra 80 (C) mantêm
ligeiramente mais a mesma forma nós, apesar da mudança de referente (,48
Amostra 80 (C) Amostra 00 (C) para a gente). Nesse particular, ao contrário do que vimos com a gente com
Fr-eqüência PR Freqüência PR referente diferente, a passagem do tempo acentuou a perda do condiciona-
A gente ref. igual 436/477 = 91% .69 346/379 = 91% .64
"'1 nl1.
mento: as amostras de fala registradas em 2000 apresentam dados que de-
~'! "'"~
O v.Sa p.s. ref. igual 85/103 = 83% .50 23/23 = 100% -
monstram uma alta preferência pela conservação da forma (.32 para a gente).
I';~I""lj~ Nós, ref dif. 20/29 = 69% .48 19/41 = 46% .32
"'I ". ~ A gente ref. dif. 90/107 = 84% .52 63/83 = 76% .26
A atuação do paralelismo se verifica igualmente nos contextos em que
i!l O v. Ia p.p. ref. dif. 07/12 = 58% .45 0/1 = 0% - nós / a gente não se realizam formalmente, em que ocorre 0 (zero) seguido
li Inicio 275/368 = 75% .39 292/332 = 88% .60 do verbo na primeira pessoa do plural ou 0 (zero) seguido do verbo na terceira
i~ O v. 3a p.s. ref. dif. 9/12= 75% .29 1/1 = 100% -
I "~
pessoa do singular com referência semântica de primeira pessoa do plural.
., O v. Ia p. p. ref. igual 36/69 = 52% .38 10/18 = 56%
, 1 .36
Favorecerão a repetição da forma, se o grupo for o mesmo: para 0 (zero) seguido
Nós ref. Igual 42/117 = 36% .17 38/115 = 33% .12
de verbo na terceira pessoa do singular, com referente igual, tem-se peso rela-
tivo de .50, na década de 1980, e 100% de ocorrências dea gente, no final da
década de 1990. Se 0 (zero) é seguido de verbo na primeira pessoa do plural,
Mesmo a primeira escolha da forma, que não sofre influência de outra que a com referente igual, tem-se .38, na Amostra 80, e .36, na Amostra 00. Por
I
antecede, não é aleatória. A escolha da forma para a primeira referência é in- outro lado, é baixa a ocorrência de formas de sujeito nulo, principalmente de
II
fluenciada pela forma predominantemente utilizada pelo indivíduo. O que se dá, verbos na primeira pessoa do plural, seguidos de outra referência à primeira
'I com pouquíssimas exceções, é que o falante em cujo desempenho predomina o uso pessoa do plural de referência distinta. Isso se observa nas duas amostras, com
i de a gente tem mais formas iniciais com a gente. O mesmo acontece com os que destaque para a Amostra 00, o que não dá muita consistência aos resultados.
usam predominantemente nós, que tendem a utilizá-Ia em suas referências iniciais. Convém ressaltar que a influência do paralelismo sobre a escolha das va-
Uma vez escolhida a forma, o falante tende a repeti-Ia, principalmente se não riáveis só está relacionada ao aumento de ocorrências de uma ou outra forma
muda o referente. Uma vez que usou a forma a gente e vai nomear novamente o na dependência do incremento de uma delas por outros fatores favorecedores,
mesmo referente (a gente, referente igual), o falante a repete: pesos relativos .69, não constituindo, portanto, um condicionamento que acelere ou retarde a
na Amostra 80, e .64, na Amostra 00. Se, ao contrário, a forma usada antes foi mudança diretamente.
nós e o falante continua a referir-se ao mesmo grupo (nós, referência igual), a proba-
bilidade é que ele siga usando nós. Os pesos relativos de .17, na década de 1980, e
.12, no final da década de 1990, para o uso dea gente, confirmam essa tendência. 4. A variável no indivíduo: um estudo de painel
A mudança de referência pode influenciar na mudança da forma subse-
qüente. Se o falante usou a gente (ou nós), anteriormente, referindo-se a um Abordou-se até aqui um fenômeno variável da perspectiva da comunidade. Um
determinado grupo de pessoas do qual faz parte e, a seguir, referiu-se a outro outro olhar pode ser lançado sobre a evolução desse fenômeno da perspectiva do
~..-.J. _

72 MUDANÇA LINGüíSTICA EM TEMPO REAL A REFER~NaA À PRlMEIRA PESSSlA DO PLURAl VARIAÇÃO OU MUDANÇA' 73
indivíduo, para ver se ela ocorre ou não nos mesmos moldes. Individualmente, vilegiam a forma nós. Dois falantes (Jan03 e Nad36), que antes preferiam
os falantes entrevistados em 1980 e recontactados em 1999/2000 poderiam ter usar a gente, passaram a usar mais a forma nós. Os demais, aumentando
mudado seu comportamento em relação a essa variável com o passar dos anos (seis falantes), mantendo (quatro falantes) ou diminuindo (seis falantes) a
ou poderiam ter se mantido estáveis. No primeiro caso, estar-se-ia diante de taxa geral do uso de Q gente, continuam preferindo a forma inovadora.
uma gradação etária, em que o indivíduo adquire novo comportamento lin- Procurando uma generalização relacionada à faixa etária do falante, levan-
güístico à medida que passa a integrar um novo grupo dentro da comunidade, o do-se em conta as porcentagens, observa-se que entre os mais velhos (falantes
que caracterizaria uma variação estável. No segundo caso, ter-se-ia uma mu- de mais de 50 anos) a tendência é para diminuir o uso de a gente, o que cor-
dança geracional, em que o indivíduo não muda à medida que muda de faixa responde ao desempenho dos indivíduos mais velhos, quando se analisam os
etária ou de escolaridade ou, ainda, de classe social, por exemplo, mas conserva falantes em conjunto. Os falantes que, na Amostra 80, ocupavam a segunda (15
as características de sua geração, o que indicaria uma mudança em progresso. a 25 anos) e terceira (26 a 49 anos) faixas etárias e que agora estão quase todos
A uniformidade verificada nos dois momentos, quando se considera a na terceira faixa etária (com exceção das falantes Eri59, que está no limite da
comunidade, não se reproduz quando se observa o comportamento de cada segunda faixa etária, e Eve43, que ultrapassou a terceira) conservam as mesmas
falante. Indivídualmente, eles alteraram a taxa geral do uso de a gente: alguns taxas ou aumentam o uso de a gente. Fogem a esse padrão os falantes Lei04 e
aumentaram esse uso, outros o diminuíram; em outros, porém, ele permaneceu Dav42, os mais velhos do grupo. A primeira usava categoricamente a gente e
estável. No Gráfico 1, registram-se as porcentagens do uso geral de a gente passou a utilizar nós 18% das vezes; o segundo diminuiu em 9% o uso de a
nos dados da Amostra 80 (I) e da Amostra 00 (I). gente. As falantes mais jovens (7 a 14 anos), que tendiam a usar sempre a forma
inovadora, têm agora raras ocorrências de nós. Elas praticamente não mudaram.
Gráfico 1 Eliminando os falantes que, na Amostra 80 ou na Amostra 00, sempre usa-
Uso de a gente vs. nós por indivíduo ram a gente e os que tinham poucos dados, a fim de anular os efeitos da má dis-
100
tribuição, chega-se a um resultado mais generalizado r, como mostra a Tabela 9.
90
80
70
Tabela 9
60 Resultados individuais para Amostra 80 (I) e Amostra 00 (1)
50
40 Amostra 80 (C) Amostra 00 (C)
30 Falante
Freqüência PR Freqüência PR
20
10 Adr63 25/28 = 89% .78 68/69 = 99% .92
San39 19/22 = 86% .71 55/56 = 9896 .90
O. .,.,
'"
-e
LU
~ !~
e,
'" ~
~ ,;; ~
~
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j ~
8 s ] :>:
-e :s
.Q §ec Joss35 31/34 = 9196 .59 20/32 = 6396 .33
'" Z -c Leo38 62/75 = 8396 .55 53/66 = 8096 .57

I- Amostr.l 80 o A <rostra 00 I Dav42 62/77 = 8196 .52 13/18 = 72% .50


Fat23 27/51 = 53% .29 40/53 = 75% .65
Jos26 16/31 = 53% .26 16/21 = 76% .49

Jan03 1/19 = 58% .21 09/28 = 32% .11


A preferência pelo uso de a gente por nós continua marcante. Deve-se ressaltar, Mg148 08/54 = 15% .05 16/57 = 2896 .15
porém, que nenhum dos falantes abandona por completo a forma nós. Mesmo
na entrevista daqueles que nunca a realizam formalmente, sempre aparece
sujeito O + forma verbal com desinência de primeira pessoa do plural. Apenas
Vê-se, então, que em relação ao uso da variável de primeira pessoa do plural,
duas falantes da terceira e quarta faixas etárias (Eve43 e Mg148) sempre pri-
além dos falantes que usavam categoricamente a forma inovadora e, com a

74
MUDANÇA UNGüíSTlCA EM TEMPO REAL A REfER~NaA A PRIMEIRA PESSOA 00 PlURAl: VARIAÇÁO OU MUDANÇA? 75
passagem dos anos, continuaram a preferi-Ia, a maioria dos falantes (cinco) Quando se considera cada fator isoladamente, a flutuação é bem maior do
aumentou sua taxa de a gente. Apenas dois passaram a preferir a forma mais que a observada nos gráficos acima. Nesses gráficos, que representam os resul-
antiga, ambos com mais de cinqüenta anos e só tendo cursado o primeiro tados considerando em conjunto as diferenças entre as formas verbais menos
segmento do ensino fundamental. salientes e as mais salientes, percebe-se que os falantes utilizam mais a forma
Quanto à observação dos fatores influenciadores do uso da variável, viu-se a gente com as formas verbais menos salientes, como mostram as retas supe-
que essa variação não é aleatória e comprovou-se na pesquisa dos grupos de fa- riores. Há, porém, uma diferença na média dos mínimos quadrados nos re-
lantes a persistência de quase todos os condicionamentos lingüísticos e extralin- sultados das Amostras 80 e 00, no que se refere ao uso dea gente com formas
güísticos. Quando, porém, se observa o efeito de cada condicionamento em cada verbais menos salientes. No Gráfico 2, ela se mantém em torno de 80%, en-
indivíduo, notam-se diferenças salientes', Os gráficos de dispersão apresentados quanto no Gráfico 3 essa média vai de 60% a 95%.
a seguir mostram, para exemplificação do que se afirma, os resultados de um dos O que se verifica nos dois momentos são três situações diferentes. Há os
grupos mais atuantes na escolha das formas: o grupo de fatores Saliência Fônica. falantes que usavam a gente em todas as ocorrências de referência à primeira
''', r!11J1
pessoa do plural. Esses, obviamente, usavam a forma tanto com verbos menos
.~I.,,,,, Gráfico
'1i,~,~,d 2 salientes quanto com verbos mais salientes. Na Amostra 80 (I) havia quatro
\1 ::~: Uso de a gente vs. saliência fônica - Amostra 80 (O falantes nessa situação (Eri59, Adr57, Jup06 e Lei04). Na Amostra 00 (I),
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3 ~ ~ ~ ~ 8 ~ ~ ~
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apenas Eri59 continua a usar 100% das vezes a forma a gente. Nas entrevistas
das outras falantes, registram-se poucas (uma ou duas) ocorrências de nós.
Elas passam a se enquadrar no grupo de falantes do tipo seguinte.
Havia também um grupo de falantes na Amostra 80 (I) que tinha as maio-
res taxas de uso da variante inovadora (acima de 80%). Eles sempre usavam
'C ~ 'E
~ ~ ~ ~ ~ ~
õl -e 'li.
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~ 8
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~
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~
"
~ z ~ <'il
'C ~ mais a gente com ambos os tipos de verbos, mas o uso dessa forma predomi-
nava com os verbos menos salientes. Na Amostra 00 (I) esse grupo cresceu, a
10 + saliente •. saliente I
ele se acrescentaram três falantes que antes não variavam (Adr57, Jup06 e
Lei04) e mais dois que antes usavam mais a forma nós e passaram a usar
Gráfico 3 mais a gente (Fat23 e Vas26). Suas taxas gerais de a gente ficaram em torno
:1
I:rÂ~"'-"--"-
Uso de a gente vs. saliência fônica - Amostra 00 (I)

.....__.:._.-. de 75%.
Por outro lado, os falantes que tinham uma taxa geral de uso de a gente
abaixo de 80% assemelhavam-se em seu comportamento ao que fora consta-
70
60 tado na análise da comunidade, ou seja, usavam a gente com verbos menos
50
40 salientes e nós com verbos mais salientes, o que é o comportamento esperado.
30
20
10
São justamente os falantes de comportamento mais variável. Três deles
01, , ,t,,, , (Ag033, Mg148 e Eve43) usavam predominantemente nós. Na Amostra 00
~ ~ G 8 g ~ ~ ~ 1 ~~ ~ 8 ~ ~ ~ (1), como já se disse, apenas dois falantes que antes se enquadravam nessa
w ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~
~
8 > ~ i ]z ~ ~
<
situação passaram à situação anterior (Fat23 e Vas26), enquanto os outros
16 mais saliente _ menos saliente I continuaram a manter o comportamento esperado.
Viu-se na análise do tipo tendência, ao se enfocarem as restrições estru-
• Como o pequeno número de dados de cada falante não permite calcular os pesos relativos turais, que a forma a gente guarda ainda o traço semântico de indeterminação
dos diferentes fatores, a observação feita restringiu-se às porcentagens. do SN original, mas vai perdendo essa característica com o passar do tempo.

76 MUDANÇA UNGúiSTICA EM TEMPO REAl A REFf~NOA À PRIMEIRA PESSOA DO PlURAl. VARlAÇÁO OU MUDANÇA' 7
~-:r"
: I

Tem-se,então, o exemplo de um grupo de fatores que está atuando mais fra- Gráfico 5
camentenessa variação. Uso de a gente vs. semântica do referente - Amostra 00 (I)
NaAmostra 80 (1), os falantes que usam a forma Q gente em todas as suas 100 , •••••••
90
*--= •.• • I

referênciasde primeira pessoa do plural formalmente expressas (quatro fa- 80


70
lantes)vão usá-Ia indiscriminadamente para referentes determinados e inde- 60
50
40
terminados. Adr63 e Fat23 também não registram diferença de uso das va- 30
20
riantes. Todos os outros falantes (dez); 'no entanto, apresentam sistematica-
Ig I ' ó; , I
mente uma taxa maior de uso de Q gente para a referência indeterminada,
~ ~ ~ 8 ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ê ~ ~ ~
comexceção da falante Mg148, que usa pouco essa forma e o faz mais para a ~ ~ ~ & ~ ~ j ~ o > ~ f ; z ~ ~
I ô,determinado .indeterminado I
referência determinada.
A média dos mínimos quadrados, no Gráfico 4, reflete essa distribuição.
.., I'" Asretas estão próximas, no princípio, e vão se distanciando à medida que
~'I!
refletemo comportamento dos falantes em que a referência à primeira pessoa 5, Conclusão
'1'~':""~
~
", ... do plural está em plena variação. A atuação da variável independente se faz
iit Considerando gue a implementação da variável de referência à primeira pessoa
..'
,,~ sentirprincipalmente entre os mais velhos. No Gráfico 5, referente à Amostra ....----._- - :--:- -----"-- ---_._. .- ----' --_. -
do plural começou no século XVIII, o período de tempo decorridoentre as
. - _.'~'

.~ 00 (I), no 'entanto, as linhas ora se aproximam ora se distanciam, indicando


modificaçõesna distribuição de nós e Q gente. Aumentaram os fal~te~ue duas investigações, mais ou menos vinte anos, é irrisório, o que dificulta a
~ estãousando a gente indiscriminada ou quase indiscriminadamente IJara re- compreensão do processo.
j O que se pode perceber no momento atual é que o indivíduo, ao adquirir
ferentesdeterminados e indeterminados (dez falantes). Os outros continuam
'I,j
a ter seu uso submetido a essa restrição em maior ou menor proporção. a língua, está sendo submetido a uma maior ocorrência da variante inovadora,
u
11 Em suma, pode-se dizer que os falantes que têm o comportamento mais em detrimento da forma mais antiga. Embora conheça a variante nós, esse é
:1 variável seguem o padrão esperado: usam a forma mais nova com formas um conhecimento passivo, pois, a princípio, usa sempre ou quase sempre a
I
verbaismenos salientes e na referência indeterminada. Os gue têm uma alta variante mais nova. Com o passar do tempo, o falante amplia seus contatos
,11 taxa da forma a gente, porém, tendem a usá-Ia mais indiscriminadamente. sociais, vai sendo submetido a forças mais conservadoras e aumenta a fre-
qüência da variante nós. Dependendo do maior ou menor incremento da forma

II Gráfico 4 inovadora, o processo vai avançando mais ou menos lentamente.


'I Uso de a gente vs. semântica do referente - Amostra 80 (1) Levando em conta os resultados obtidos, quando se compara o desempe-
I
nho dos falantes, em grupo, nos diferentes momentos, podemos concluir que
a variação nós I a gente apresenta a mesma proporção de ocorrência através

'~[~1
o
~ ~
,""'"
~

~ ~ ~ ~~ ~ a ~
< <
~ ~

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• M

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oo
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~ ~ ~ ~
> w ~ ~ z
8
~ ~
0.0

~ ~
o::J
M ~
do tempo, a forma inovadora continua a predominar e a direção da mudança
é a mesma. Esse equilíbriopermanece quando consideramos as forças lin-
güísticas e sociais.atuantes nesse processo ..Os pesos relativos que apontam
para a ação das pressões estruturais do sistema são bastante próximos nos
IA determinado .'"determlnado I dois momentos.
Embora tenhamos uma amostra limitada e o intervalo de tempo conside-
rado tenha si.do pequeno, temos uma resposta à primeira pergunta: os resul-
tados demonstram situação de estabilidade, no presente momento, no uso do

78 MUDANÇA LlNGiJisTICA EM TEMPO REAL A REFERÊNGA À PRIMEIPA PESSOA DO PlURAL: VARIAÇÃO OU MUDANÇA? 79
fenômeno variável, resultante de uma mudança lingüística que já vem sendo VARIAÇÃO E MUDANÇA NA EXPRESSÃO DO DATIVO
implementada, há muito tempo, na comunidade estudada. NO PORTUGUÊS BRASILEIRO'
Em relação ao desempenho individual dos falantes, observam-se fluxos e
contrafluxos. Vemos que, em relação ao uso variável de primeira pessoa do
plural na função de sujeito, os indivíduos mudam. Mas mudam sem seguir Christina Abreu Gomes
um padrão regular que indicaria uma variação estável ou uma mudança em CNPq/UFRJ
progresso, da maneira classicamente.prevista.
A flutuação no uso da forma predominante observada nos resultados in-
dividuais pode ter resultado de vários fatores que não puderam ser controlados 1. Introdução
na pesquisa. A má distribuição das Amostras, resultante dos problemas en-
:1 frentados no recontacto, pode ter enviesado os resultados. Embora se tenham Este texto apresenta a análise de um processo sintático variável do português
reproduzido no recontacto as mesmas estratégias empregadas na organização brasileiro contemporâneo, desenvolvida a partir das questões centrais desse
"', ~llll
/I ',jj-fl;f
da Amostra Censo, várias circunstâncias de coleta de amostras escapam ao livro, que envolvem a implementação e o encaixamento da mudança lingüís-
I, ":'II~J:
1 ".~I"
" ~",
controle. A situação de interação entre entrevistador e entrevistado nos dois tica. O processo estudado foi o do uso variável da preposição a que introduz o
"l1!Í'
...,~ momentos diferentes é uma delas. Os momentos da entrevista influem no sintagma preposicionado de verbos cuja estrutura argumental prevê dois ar-
grau de cooperação entre os participantes, por exemplo, em função da troca gumentos internos. No português brasileiro (PB), mais precisamente no dialeto
'

l.:
,. de entrevista dores, com características pessoais e atitudes diferentes. carioca, essa alternância envolve três variantes: preposição a, preposição para
u:
~, Outro aspecto a considerar são os assuntos abordados. As embalagens da e ausência de preposição.
.•.
Jtl
mensagem contribuem para a flutuação no uso. No caso da variação nós / a Os sintagmas preposicionados que acompanham esses verbos diferem
"1'
'l' gente, uma entrevista em que predominassem as dissertações, argumentações, quanto à possibilidade ou não de serem substituídos por um clítico, além de
'HI
por exemplo, tenderia a incrementar o uso de a gente; favoreceria, ao contrário, possuírem diferentes valores semânticos. Adotamos a classificação proposta
III11
'111
o uso de nós uma entrevista em que houvesse muitas ocorrências de narração. em Berlinck (1996), que trata todos esses complementos sob o rótulo de dativo.
,.
Considerando, então, os resultados mais consistentes da Tabela 9 - em Estão, portanto, sujeitos à variação em questão alguns dos verbos classificados
,i ~ãuI'i
que dois falantes (Jan03 e Jos35) diminuíram o uso de a gente à medida que no nível 1da tipologia de Berlinck, os verdadeiros dativos, isto é, aqueles com-
I .jl
ti''"I aumentaram de idade (indício de gradação etária), dois (Le038 e Dav42) man- plementos que são constituintes do complexo verbal, definidos como um dos
II!I tiveram o mesmo peso relativo nos dois momentos (mudança geracional) e argumentos do verbo. Incluem-se neste grupo verbos que apresentam dife-
,![ os cinco falantes restantes aumentaram o uso de a gente - e a manutenção rentes características semânticas, como aqueles em que há transferência mate-
~I das forças sociais e estruturais propulsoras da mudança, pode-se, relativizando
aumentos e diminuições, concluir que a forma inovadora vai lenta,!!,constan-
rial, como dar, pedir; os de transferência verbal e perceptual, como dizer,
ensinar; verbos de movimento fisico, como levar, encaminhar; verbos de mo-
temente ganhando terreno de sua concorrente, mesmo que nesse p~queno vimento abstrato, como atribuir, submeter (cf, Berlinck 1996: 128-33).
período de tempo apresente certa estabilidade. Foi observado que também estão sujeitos ao mesmo processo variável os
complementos preposicionados que acompanham os chamados verbos leves,

I Participaram da pesquisa as seguintes bolsistas de rc, alunas do Curso de Letras da


UFRJ: Bianca Graziela Souza Gomes da Silva (CNPq-Balcão), Mônica Genelhu Fagundcs
(CNPq-Balcão). Luciana Limeira Vieira (CNPq-PIBIC).

80, MUDANÇA UNGufSTICA EM roMPO REAL 81


mais precisamente, algumas construções com o verbo dar. Essas construções alternância de dativo. Pode haver correlação entre posição do sintagma pre-
se caracterizam por apresentar o verbo principal, no caso dar, semanticamente posicionado (srrep) em relação ao verbo e a ausência de preposição. Por exem-
vago, formando um composto com o SNque o segue, normalmente um subs- plo, no inglês, a construção sem a preposição é obrigatória quando o objeto
tantivo deverbal, como em dar apoio a. Apesar de serem verbos cuja natureza indireto está adjacente ao verbo (Mary gave John the book). Diversos estudos
estrutural difere da dos verbos citados anteriormente", o comportamento do procuraram identificar as propriedades dessa subclasse de verbos, que, no
sintagma preposicionado (SPrep) que participa da construção é semelhante inglês, alternam a construção dativa (v SN1 SP) e a construção de objeto duplo
ao dos verdadeiros dativos no que toca-à variação na realização da preposição. (v SN2SN 1)3. Mazurkewich (1984) propôs dois contextos que restringem a cons-
As gramáticas tradicionais do português (cf. Bechara 1976; Cunha 1970) trução de objeto duplo no inglês: uma morfológica e a outra semântica. A res-
apresentam somente a preposição a como possibilidade para introduzir o sin- trição morfológica diz respeito à diferença de origem da raiz verbal. Somente
tagma preposicionado, quando este é o objeto indireto de verbos como dar, os verbos de raiz germânica admitem a construção de objeto duplo, sendo
falar e escrever. Já as outras variantes foram mencionadas por Nascentes essa construção bloqueada com verbos de raiz latina: a) Peter told / "reported
(1953), que registrou a possibilidade de complementos verbais indiretos sem his boss the news; b) The professor showed/ *demontrated us his new meth-
lIl,
"lIl preposição como "Vou contá papai", "perguntá ele o dia do pagamento", e ods; c) Paul got / *obtained his girlfriend a ticket. Há exceção para verbos
Iljl'
"'Ri também se referiu ao uso do complemento do verbo dizer regido da preposição dissílabos de raiz latina: offer, promise. A restrição semântica estabelece que
;;~l~
,.:14' para, condenando os abusos desse tipo de construção e prescrevendo seu uso a entidade a que o tema é transferido, isto é, a meta ou o beneficiário, deve ser
•.•
I~.

somente naqueles casos em que o falante se refere ao interlocutor presente. um possuidor prospectivo, isto é, uma entidade capaz de ser o possuidor
.nl'U: A análise aqui desenvolvida tomou como ponto de partida o estudo de [ownership]. Lugares não podem ser possuidores, daí a agramaticalidade de:
:j;
;: tempo aparente sobre a comunidade de fala do Rio de Janeiro (Gomes 1996), a) *1sent England a letter. Mas se substituímos England por Helen, a sentença
I
.!fl
a partir da Amostra Censo. Os resultados indicaram tratar-se de um fenômeno será gramatical: b)I sent Helen a letter. Na sentença em a) existe transferência
de mudança em progresso no uso da preposição que introduz o sintagma pre- de posição e não de possuidor, enquanto Helen, na sentença b), implica os
posicionado, através da substituição da preposição a pela preposição para e dois.
especialização da preposição a na indicação de relações semânticas abstratas No mandarim e no cantonês (cf. Liejiong & Peyraube 1997), a construção
entre verbo e argumento preposicionado, respectivamente nos exemplos: "o de dativo também admite a preposição nula, mas, quando a preposição está
cara vem do Brasil, um nordestino, pra dar um presentepro Papa", "não dão ausente, a configuração da estrutura do sintagma verbal tem a ordem categó-
muita ênfase a isso". rica Verbo + Objeto Indireto + Objeto Direto no manda rim e, no cantonês, a
Abordaremos a hipótese de encaíxarnento lingüístico e os resultados rela- ordem Verbo + Objeto Direto + Objeto Indireto. Os autores apresentam evi-
tivos à implementação da mudança na comunidade. dências diacrônicas de que, em cantonês, a configuração V OD or é derivada
de V OD Prep 01 via apagamento da preposição in situ, diferentemente do que
ocorre go inglês.
2. A natureza do fenômeno estudado No português brasileiro, a variáçâo em questão pode ser observada de
duas maneiras. De um lado, pode ser parte do processo relacionado à própria
Em várias línguas, o dativo pode ser expresso através de construções que al- expressão do dativo anafórico, que engloba outras variantes, como a possibili-
ternam presença e ausência de preposição. Essa propriedade foi rotulada como

3 Há diversas interpretações sobre a construção de objeto duplo (Larson 1988; Jackendoff


2 Scher (2000), em estudo sobre as construções com verbos leves no português, observa 1990; Groefsema 2001, entre outros) que se circunscrevem ao campo da teoria gerativa.
que, nessas construções, o verdadeiro predicado é o núcleo nominal que participa do O objetivo aqui não é discutir as diversas hipóteses, mas indicar algumas configurações
composto com o verbo. categóricas de expressão do dativo observadas em algumas línguas.

82 MUDANÇA UNGüíSTICA EM TEMP') R!:Al VARIAÇÃO E MUOANÇA NA EXPRESSÁO DO DATIVO NO PORTUGU~I BRASILEIRO 83
dade de sua ocorrência como clítico ou como categoria vazia' . Por outro, pode o pressuposto da independência da ordem dos complementos do verbo e
ser focalizada somente em relação à alternância na realização da preposição da alternância da preposição pode ser confirmado no conjunto de dados em
que afeta também o sintagma preposicionado com informação nova, conforme (2). As três variantes do complemento indireto ocorrem nas duas posições
os exemplos a seguir: possíveis de serem ocupadas quando o objeto direto também está realizado.
(1) a. E pede um comprovante ao presidente do morro né? Pede [ ] o seu Esse trabalho tratará somente do uso variável da preposição'.
Aurino, pede um comprovante [ ] ele (Amostra 80 (C). A possibilidade de supressão da preposição na configuraçãoV + SN + SPrep
b. Ela disse os piores nomes feios para o meu filho (Amostra 80 (C). está em consonância com a hipótese de Tarallo (1993: 85), segundo a qual o
português brasileiro se caracteriza por apresentar estruturas derivadas via
No PB, a ordem dos complementos e a variação da preposição do SPrep apagamento de constituintes in situ, isto é, sem movimento, como no caso
parecem ser processos independentes. A alternância no uso da preposição das estratégias das relativas. Por exemplo, a relativa cortadora - "É uma pessoa
não está restrita à adjacência do sintagma preposicionado ao verbo e nem que essas besteiras que a gente'fica se preocupando (com) (e), ela não fica
mesmo a possibilidade de ordens diferentes para os dois complementos pode esquentando a cabeça" (ibid.: 86) - é resultante de apagamento de sintagma
", 11'1 r
l: ~;I,,+~ ser associada exclusivamente à supressão da preposição, conforme pode ser QU- itisitu, não havendo portanto movimento.
". i'~~'
't
1
•.
1 •••

••• '
.,.
observado nos exemplos a seguir: Em relação à possibilidade de existência de restrição semântica no portu-
l"lij1: (2) a. o garoto escreveu coisas lindas para o pai (Amostra 80 (C)
··'1
••• 1 ••
guês, foram encontrados casos de ausência de preposição que apontam para
sempre pedia opinião a ela (Amostra 80 (C) a inexistência da restrição observada no inglês:
'1j;:
I ~:
eu falaria com o João para me dar um emprego melhor [ ] os meus (3) a. Eu falaria com o João para dar um emprego melhor [ ] o meu filho
."
11: filhos (Amostra 80 (C) (Amostra 80 (C)
'~II
.~,,
b. eu vendi [ ] ela dois voto (Amostra 80 (C)
'!"
,qll b. Aí Jesus Cristo deu pra ele uma inteligência (Amostra 80 (C) c. ela levava a gente sempre [] o quadro pra fazer as coisas (Amostra 80 (C)
li!
aí dei a ele o jogo (Amostra 80 (C)
1",11 ... ensinar [ ] o povo regras básicas de saneamento (Amostra 80 (C) Nos dados acima, observamos que a ausência da preposição ocorre inde-
'!H,I
'I",
pendentemente do fato de o SPrep ser ou não um recipiente (exemplo c) ou d
F; haver ou não transferência material entre OD e 01 (exemplos a e b). Já no caso
111::;
4 O envelope da variação, em relação às estratégias de realização do dativo de terceira de verbos em que não há transferência material mas o SPrep é marcado pelo
" pessoa, tem sido definido de maneira diferente em diversos estudos realizados sobre o traço [-animado], registramos a ocorrência categórica da preposição a:
PB. Freire (2000) estabelece quatro variantes: c1ítico,categoria vazia, sintagma prepo-
(4) a. eles não dão muita ênfase a isso (Amostra 80 (C)
sicionado com a forma tônica do pronome e sintagma preposicionado com SN pleno.
Berlinck (2000) estabelece três variantes: c\ítico, categoria vazia e sintagma preposi- b. eles não dão atenção ao caso (Amostra 80 (C)
cionado (independentemente de estar realizado com a forma pronominal tônica ou
com SN pleno). Aautora refere-se ainda ao fato de que no PB a construção sem preposição o registro
dessas ocorrências categóricas permitiu que se afirmasse que,
é agramatical. As variantes estabelecidas nesse estudo focalizam, além do c\ítico e da no processo de substituição da preposição a pela preposição para, estaria
categoria vazia, a possibilidade de presença ou ausência da preposição como marca de havendo uma especialização no uso de a, que seria a preposição preferida
caso do complemento indireto, independentemente do fato de o objeto ser retomado
para representar relações semânticas mais abstratas. No entanto, conto
pela forma pronominal tônica ou por um SN pleno. Nas amostras estudadas, em geral,
o sintagma preposicionado anafóríco de terceira pessoa é constituído pela forma pro-
nominal tônica (ele/ela), mas foram observadas algumas ocorrências de retomada ana- 5 A questão da ordem dos complementos está sendo tratada no projeto "Movimento .I"
fórica com sintagma nominal pleno (ver exemplos em (1). Sobre a realização da dativo no português brasileiro", que é parte do Projeto Integrado "Princípios ulllolllll'
preposição, ver ainda Ramos (1992). no uso: tensão e sistematização" / CNPq-520792/00-9 (NV), desde março de ;.>O()I

84 MUDANÇA UNGüíSTICA EM TEMPO REAL VARIAÇÃO E MUDANÇA NA EXPRESSÁO 00 DATIVO NO PORTUGU~I BPASILE!RO H'I
veremos na seção 4, o processo de mudança detectado em tempo real na co- cessos que afetaram a reorganização do paradigma pronominal do PB. Em
munidade de fala do Rio de Janeiro parece indicar ampliação dos contextos outras palavras, a diminuição na retenção de clíticos está relacionada a um au-
de variação da preposição. mento na freqüência de ocorrência de sintagmas preposicionados, principal-
mente dos de terceira pessoa, que pode ter influenciado a estrutura interna do
sintagma verbal em relação à ordem dos complementos e à possibilidade de
3. A hipótese de encaixamenta lingüística variação da preposição que acompanha o complemento indireto (Gomes 2001).
A reorganização no sistema pronominal a que fazemos referência neste
Uma das questões a ser abordada no estudo da variação lingüística é o tipo de. trabalho afeta diversas pessoas do paradigma pronominal. Observa-se no PB
.

relação que um determinado processo pode ter com outros processos do sis- o uso freqüente do pronome você como referência à segunda pessoa do singu-
o tema e que não pode ser atribuída ao acaso, mas sim a uma relação de causa e lar. No dialeto carioca, registra-se a concorrência da forma tu acompanhada
efeito. da forma verbal de terceira pessoa (Paredes Silva 2000). A primeira pessoa
Em Scher (1997), encontramos a correlação entre a supressão da prepo- do plural também é expressa pela forma a gente acompanhada de verbo tanto
sição e o efeito de um processo de natureza fonológica. Segundo a autora, o na forma de terceira do singular quanto na de primeira do plural (Omena
apagamento da preposição a nas construções aqui focalizadas deve-se "a fator 1996). Observa-se também a substituição categórica do pronome vós pela for-
morfo-fonológico que, em contextos adequados, favorece o apagamento da ma vocês no português do Brasil.
preposição" (ibid.: 354). O contexto fonológico apropriado para o apagamento Como pode ser ainda observado, a reorganização do paradigma não está
da preposição a, na configuração V Prep. OI OD, seria a seqüência de vogais restrita às formas de norninativo, tendo também afetado o subsistema de clí-
formada pela vogal do verbo, a própria preposição e o artigo definido mascu- ticos. O PB perdeu as formas clíticas de terceira pessoa tanto de acusativo (0/
lino, como no exemplo "O João entregou (a/para/0) o pai a carta" (ibid.: 353). aios/as) quanto de dativo (lhe/Ines). Duarte (1986) e outros atestam a baixa
Assim, ocorreria uma reestruturação silábica, pois a seqüência Vogal-Vogal, ocorrência do clítico acusativo de terceira pessoa no português falado. No
'"
resultante da omissão da preposição, poderia ser convertida numa única sílaba. trabalho de Duarte, dados relativos à língua em uso de falantes do dialeto
No entanto, foram encontradas evidências nos dados levantados nas amos- paulista revelaram a ausência absoluta de clíticos na fala de jovens entre 15 e
tras estudadas que demonstram que a supressão da preposição não pode ser 17 anos. Gomes (1999) e Freire (2000), analisando, respectivamente, dados
explicada como um processo de natureza fonológica. Os dados indicaram que de falantes não universitários (Amostra 80 (C) e universitários cariocas (Amos-
nem toda seqüência resultante da supressão da preposição possibilita rees- tra NURC - Recontato), observam a ausência do clítico lhe como referência à
truturação em uma única sílaba ("eu vendi [ ] ela dois voto"); em algumas terceira pessoa e seu uso não só como referência à segunda pessoa, como
ocorrências com o contexto fonológico proposto em Scher, a preposição resiste também na função de objeto direto. Ramos (1998) observa que a ocorrência
("eu destinaria inteiro aos asilos") e há, ainda, ocorrências categóricas da pre- do lhe com essas características é também marca de formalidade. Como con-
posição a (em virtude do tipo de verbo) que não são afetadas pelo efeito desse seqüência, o PB caracteriza-se pela ausência de formas pronominais exclusivas
contexto fonológico ("aí me dediquei a isso"). Parece-nos que a reestruturação para referência à terceira pessoa na expressão do acusativo e do dativo.
silábica em alguns contextos é conseqüência da supressão da preposição, e O levantamento realizado na Amostra 80 (C) e Amostra 00 (C) revelou
não causa. que só há ocorrê?cia de clíticos para a primeira e a segunda pessoas do singu-
Defendemos que a variação em questão é um processo sintático e que a lar e a ausência de clíticos para todas as outras pessoas nas duas amostras.
implementação da mudança que envolve a substituição da preposição a no A partir dos resultados dos diversos estudos sobre o dialeto carioca, po-
dialeto carioca está relacionada ao fenômeno de alternância das estratégias demos propor, então, o seguinte quadro pronominal do português falado na
de dativo no português brasileiro, que, por sua vez, está relacionado aos pro- comunidade do Rio de Janeiro.

86 MUDANÇA UNGúíSTlCA EM TEMPO REAL VARIAÇÃO E MUDANÇA NA EXPRESSÃO DO DATIVO NO PORTUGU~S BRASIL!'IRO 87
•.

(5) Paradigma das Formas Pronominais no dialeto carioca 4. Análise dos resultados obtidos

Formas de Norninativo Acusativo Oativo


Pessoa/Número o estudo de tendência, que compara o comportamento da comunidade em
Ia pessoa/singular eu me me / a +para mim
dois momentos diferentes, revelou, de um lado, a estabilidade das freqüências
2a pessoa/singular você / tu te / lhe / você te, lhe / a - para você
3a pessoa/singular ele / ela ele / ela a - para ele / ela
de uso das estratégias de dativo e, de outro, a implementação da mudança no
Ia pessoa/plural nós / a gente a gente para a gente uso da preposição do complemento indireto - substituição de a por para -
2a pessoa/plural vocês (lhes?) / vocês (lhes?) / a - para vocês em contextos inicialmente favorecedores da preposição a, ou de ocorrência
3a pessoa/plural eles / elas eles / elas a - pa ra eles / elas categórica de a, respectivamente, srreps não adjacentes ao verbo e aqueles
cujo SNtem o traço [-animado].
Nos gráficos 1 e 2, a seguir, estão dispostas as freqüências das variantes
Avalidação de nossa hipótese de encaixamento requer ainda uma comparação das estratégias de dativo anafórico nas duas amostras - Amostra 80 (C) e
", rull '; dos resultados encontrados para o dialeto carioca com o que ocorre em outros Amostra 00 (C). O que se observa, nas duas amostras, é a manutenção do uso
~ ..'..,- de clíticos exclusivamente para a primeira e segunda pessoas do singular e a
il""'f~J:: dialetos do PB em relação à alternância da preposição do SPrep dativo e à
',':;;:; retenção de clíticos. Scher (1997), no estudo sobre o dialeto da Zona da Mata ausência de clíticos de primeira e segunda do plural e-de terceira pessoa. O au-
. 'I:!lr
'.J:::... Mineira (Sudeste do estado de MG), aponta a alternânciaprep. a - prep. para mento de freqüência do objeto nulo na Amostra 00 (C) não pode ser interpre-
..",
'"f,' - prep. nula somente na configuração V SN2SN isto é, quando o objeto indireto tado ainda como mudança porque estão incluídos nessas ocorrências dados
" que ocorreram em reprodução de diálogos, contexto altamente favorecedor
':1: :. está adjacente ao verbo, Seu trabalho não menciona a possibilidade de estar
~;.~ havendo processo de mudança nesse dialeto. É importante ainda observar do objeto nulo (Ex: Aí eu disse: ...; Aí ela disse: ...).
"I\"

.p. que a hipótese de encaixamento aqui proposta diz respeito às condições que
.< proporcionaram o processo de mudança no dialeto carioca, considerando-se Gráfico 1
H
inr.: que há evidências de que todas essas variantes já estavam presentes no portu-
guês pelo menos desde o século XJy6.
Distribuição

80%
das variantes por pessoa do discurso - Amostra 80 (C)

60%

6 Exemplos retirados do Liuro dos Conselhos de El-rei D. Duarte (Liuro da Cartuxa) (Edito- 40% \_sprep I
rial Estampa 1982), com textos escritos entre 1423 e 1438 -dítico - SP: (terceira pessoa): OSN
20%
"".uos podeis mandar chamar / / seus mayores e dizer lho ese ujrdes que leuam ofeyto a de
0%1)- ;
çima e não curão, hum prelado que uos o mandeis tirar e dizer ao proujnçial e ao ministro, I' Sing. I' Plural 2' Pess , 3' Pess.
que asy fareis a ele ..: (: 30); clítico - categoria uazia: "As cartas que sobre ysto el enujou [J.
e a que lhe Respondye a que me o Ifante enujou uosenuyo pera lhas amostrardes ..." (: 54);
prep. a - prep. para - prep. nula: "A Bertolomeu gomez damos carguo da moeda da
Gráfico 2
çidade de Lisboa" (: 17), "... eper o esmoler que foyd el rey meu senhorcuJa alma deus aja
Distribuição das variantes por pessoa do discurso - Amostra 00 (C)
seJam dadas outras doze rações de quatro pães cada dia ..." (: 20); "e daqui avante em cada
mês ele va requerer [ ] todolos oficiães em presença de seus escriuães que lhe deçlarem se --~-_...
_- -·-----1 r----
100% '1------
reçeberão mais algua cousa ou he fecta alguma despesa da que aviam" (: 19). Exemplos I .clílico
I
retirados de Vasconcelos (1970), referentes aos séculosXJI ou XIV, do Nobiliário - prep. a IOnulo
- prep. nuLa: "E o caualleyro, veendo que lho nom queria filhar elrrey per nehua guisa o 50% I I!llsprep
castello, ouve d'ir a Alemanha e a Lombardia e a Ingraterra ea França e a Çezilia e a Navarra
0% p. rL
., --E_L.,. .. Eby--I.!2b;
. I OSN
e a Aragom e a castella e a Leom, e preguntou [...1 todollos reys e [...] todollos prirnçepes ea
Ia sing Ia plur 2a pcss. 3a pess.
todollos hommens de todallas terras como poderia leixar aquell castello a seu salvo" (: 42).

88 MUDMIÇA UNGuíSTICA EM TEMPO REAL VARIAÇÃO E MUDANÇA NA EXPRESSÃO 00 DATIVO NO PORTUGU~S BRASILEIRO 8.
o Gráfico 3, que compara as freqüências referentes à variação no uso da pre- Gráfico 5
posição nas duas amostras, revela o aumento significativo da variante para Freqüência das variantes em função da faixa etária - Amostra 00 (C)
na comunidade, acompanhado do decréscimo nas freqüências das outras duas
variantes. 100%,.,--.---- --.-.-.- -- - --.--- - ..--.----,

80%
Gráfico 3 60% I!ilPrep A

40% 111I PARA


Freqüência das variantes nas duas amostras
20% i
.Prep Nula
100%.,.,------------ N»
V70
jj.rrttL ..-~ I

7 - 14 ano 15 - 25 26 - 49 50 -

40%
Uma possível explicação para esse tipo de distribuição está no caráter superfi-
20%
cial do processo envolvido. A mudança não se dá no tipo de marcação do da-
0%
Prep. A Para
tivo, ausência ou presença da preposição, mas na substituição da preposição
Prep nula
que indica o caso em questão.

4.1. A atuação dos fatores estruturais


Os gráficos 4 e 5 mostram a distribuição das variantes por faixa etária nas Conforme observamos na seção anterior, os percentuais globais de ocorrência
duas amostras, confirmando, no estudo de mudança em tempo real de curta das variantes bem como a distribuição por faixa etária nas duas amostras
duração, o processo de mudança detectado em tempo aparente no estudo de indicam um aumento significativo de ocorrência da preposiçãopara. Vamos,
Gomes (1996). Em 1980, a distribuição das ocorrências por faixa etária indi- então, verificar se há diferença na atuação dos condicionamentos estruturais
cava, em tempo aparente, um aumento gradual da preposição para na faixa considerando os dois momentos estudados. Serão analisados o efeito da posi-
dos mais jovens. As diferenças mais nítidas estão nos dois extremos, respecti- ção do SPrep em relação ao verbo e o tipo de verbo, definido em função da
vamente na faixa de 7-14 anos e acima de 50. No entanto, o Gráfico 5, relativo relação semântica que há entre o verbo e o SPrep dativo.
ao ano 2000, indica que essa implementação não se deu de forma gradual, Os resultados da Tabela 1mostram que a posição dosrrep é um dos fatores
mas tomou toda a comunidade independentemente da faixa etária. que condicionam a ocorrência da preposição a, cuja realização é favorecida
quando o SPrep está em posição não adjacente ao verbo. A supressão da
Gráfico 4 preposição é favorecida quando o complemento está adjacente ao verbo. Já a
Freqüência das variantes em função da faixa etária - Amostra 80 (C) ocorrência da preposição para não sofre efeito da posição do complemento.
A Tabela 2 apresenta os resultados obtidos para a distribuição das va-
60%
riantesna Amostra 00 (C). Podemos observar que a freqüência de realização
de para se mantém a mesma' nas duas posições. Parece ter havido perda do
4{)% !li Prep A
efeito da posição do complemento na realização da preposição a, não havendo
20% I!!lPARA
• Prep.nula
diferença percentual significativa entre as duas posições. Os resultados de
0%
peso relativo revelam que a supressão da preposição é favorecida quando o
7-14an. 15-25 26-49 50-71
SPrep está adjacente ao verbo.

90
MUDANÇA UNGuiS71CA EM TéMPO REAL VARIAÇÀü E MUDANÇA NA EX?RESSÁO 00 DATIVO NO PORTUGUÊS SRASIlEIRO 91
Tabela 1 piente (exemplo 2d) ou de haver transferência material entreOD e 01 (exemplo
Posição de ar em relação a V - Amostra 80 (C) 2a). Nas ocorrências de verbos leves, observamos a possibilidade, na Amostra
00 (C), de variação nesse contexto de realização categórica de a na Amostra
Variantes A PARA Prep. Nula 80 (C). Trata-se da construção com verbo leve acompanhado da estrutura
Fatores Apl. % PR Apl. % PR Apl. % PR preposição + SN [-animado], conforme exemplíficado a seguir:
Adjacente 41/148 28 .155 74/148 50 .221 32/148 22 .624
Não-adjacente
(6) a. pra dar continuação [ ] o trabalho (Amostra 00 (C)
57/114 50 .512 54/114 47 .360 3/114 3 .128
b. não deu muita inclinação para a parte intelectual (Amostra 00 (C)
C. que eu dou muito valor a uma reunião (Amostra 00 (C)
Tabela 2
Posição de ar em relação a v - Amostra 00 (C) Conforme já foi mencionado, o verbo leve, em geral o verbo dar, forma
um composto semântico com o SN que o segue. Uma outra característica im-
Variantes A
~~",'.
;1
.I~
PARA Prep. Nula portante parece ser a ocorrência categórica nesses dados da ordem V SNSPrep.
Fatores Apl. % PR Apl.
~~t: % PR Apl. % PR A variação também afeta a construção verbo leve + objeto indireto [s-animadc]
'I:~~;
f~

,•.
f IJ
111
Adjacente
Nao-adjacente
12/124
18/129
10
14
.431
.202
104/124
109/129
84
84
.422
.202
8/124
2/129
6
2
.593
.147
(Ex.: Aí ele mandou o cara dar suspensão pra todo mundo da sala).
As tabelas 3 e 4 trazem a distribuição das ocorrências das variantes em
-~~:
I'.L
, I ., função do tipo de verbo nas duas amostras.
~~
d~
~:
~~ o efeito do condicionamento de ordem semântica foi analisado em função Tabela 3
~-
om
das nuances observadas entre o verbo e seus argumentos internos. Foram
estabelecidos, inicialmente, cinco tipos:
Tipo de verbo - Amostra 80 (C)
'L
.~
.ftl!
1. verbo de significação plena com transferência material (ex.: dar) Variantes A PARA Prep. Nula
2. verbo de significação plena sem transferência material (ex: falar) Fatores Apl. % Ap}, % Apl. %
3. verbo de movimento espacial (ex.: levar) I - Verbo pleno 1 55/160 34 78/160 51 27/160 17
II - Verbo pleno 2 31/83 37 46/83 55 6/83 7
4. verbo leve com complemento indireto [+animado] (ex.: dar apoio a alguém)
!lI - Mov. Espacial 1/2 50 - - 1/2 50
5. verbo leve com complemento indireto [-animado] (ex.: dar apoio a IV-V.leve [a SN+na.] 8/13 62 4/13 30 1/13 8
alguma coisa) V- V.leve [a SN-na.] 4/4 100 - - - -

Os três primeiros tipos englobam as ocorrências de SPrep que constituem os


verdadeiros dativos. A diferença entre os verbos I e li está no fato de que em r há
Tabela 4
transferência material e em li não, mas o SPrep constitui um receptor da ação do
Tipo de verbo - Amostra 00 (C)
verbo. Nos verbos da categoria III, mesmo havendo transferência material, oSPrep
não é um recipiente, e sim um lugar. As categorias IV e V subdividem os verbos Variantes A PARA Prep, Nula

leves de acordo com o traço de animacidade do SN que compõe o SPrep. Fatores Apl. % Apl. % Apl. %
I - Verbo pleno 1 13/129 9 113/129 88 3/129 2
Conforme já mencionamos na seção 2, no PB, parece não haver restrição
II - Verbo pleno 2 6/76 8 64/76 84 6/76 8
semântica em relação à supressão da preposição no que diz respeito à possi- !lI - Mov. Espacial 1/5 25 4/5 75 - -
bilidade ou não de transferência material. Nas duas amostras estudadas, obser- IV-V.leve [a SN~na.] 8/36 22 28/38 78 - -
vamos a variação em questão independentemente do fato de ar ser um reei- v- V.leve [a SN-na.] 2/7 29 4/7 57 1/7 4


92
MUDANÇA UNGüiSTI(A EM TEMPO REAL VARlAr,ÂO E MUDANÇA NA EXPRESSÃO DO oATIVO NO PORTUGU~S 9RASILElRO
Observa-se na Tabela 3 que a freqüência mais alta de ocorrência da preposição Tabela 5
a está nos SPreps que aparecem em construções com verbo leve. Nessas cons- Efeito do tipo de verbo sobre a realização de para nas duas amostras
truções, a preposição participa de uma construção que apresenta relações se-
Amostra 80 (C) Amostra 00 (C)
mânticas mais abstratas, uma vez que não há uma entidade transferida ou
Tipo de verbo Input .45 Tipo de verbo lnput .85
transmitida a um SN [+animado], na maioria das vezes [+humano]. Verbo pleno .51 Verbo pleno .53
Os SPreps que constituem os verdadeiros dativos (verbos de significação Verbo leve+ [a SN+an.] .17 Verbo leve+la SN+an.] AO
plena - tipos I e II) apresentam maior incidência de ocorrência da preposição Verbo leve + [a SN-an.] - Verbo leve-Ia SN-an.] .19

para. Essa preposição parece ser mais transparente para representar relações
semânticas mais concretas, que envolvem uma entidade (material ou não) e
sua transferência ou transmissão para um receptor [+animado], novamente, O que se observa com os resultados de peso relativo é a confirmação da
na maioria das ocorrências [s-humano]. direcionalidade observada nas freqüências das variantes para a rodada terná-
k; freqüências relativas à supressão da preposição reafirmam a possibili- ria. Na Amostra 80 (C), os resultados de peso relativo? indicam que a prepo-
dade de sua ocorrência com qualquer tipo de verbo, exceto nas construções sição para é fortemente desfavorecida nas construções com verbos leves.
de verbo leve + prep. SN [-animado]. A rodada binária relativa à Amostra 00 (C) indica um aumento significativo
k; freqüências observadas na Amostra 00 (C), dispostas na Tabela 4, re- no input da regra. Com relação à atuação do tipo de relação semântica entre
•• '''.
1.. velam a preferência pela preposição para com todos os tipos de verbo. A gra- verbo e complementos, de um lado, observa-se a manutenção da hierarquia
11,
+

~ dação do valor das freqüências parece indicar que o uso da preposição para entre os fatores do grupo, e, de outro, a implementação gradual da preposição
,..
.•II~J

~,.
... expandiu-se para contextos anteriormente favorecedores da preposição a, ca- para em estruturas com verbo leve + [a SN +animado] e verbo leve + [a SN -
bendo à preposição para o papel de também representar relações semânticas animado).
'I'"'
mais abstratas nessas construções. Não houve registro de ocorrência de su- A polaridade verifica da entre verbos de significado pleno e construções
pressão de preposição em complementos preposicionados de verbos que in- com verbos leves na Amostra 80 (C) e entre verbos plenos e verbos leves + [a
dicam movimento espacial e em construções de verbo leve com complementos SN -animado] sugere que a ocorrência da preposição para é favorecida em
marcados como [+animados]. construções que expressam relações semânticas mais concretas e a preposição
Com o objetivo de testar o efeito da atuação dos grupos de fatores nas a é favorecida em construções que apresentam relações semânticas mais abs-
duas amostras comparadas, os dados foram submetidos a tratamento esta- tratas entre o verbo e seus comp~ementos.
tístico pelo programa VARBRUL para cálculo do peso relativo. Foram reali-
zadas rodadas binárias, estabelecendo como aplicação a realização da pre-
posição para. Foram mantidos os dados com supressão de preposição. Os
grupos de fatores considerados foram: posição do SPrep em relação ao verbo,
tipo de verbo.faixa etária, sexo e escolaridade. O único grupo selecionado
foi o tipo de verbo, cujos resultados de peso relativo estão apresentados na
Tabela 5. 7 No modelo logístico, o ponto de referência para identificar o favorecimento ou desfa-
vorecimento de um contexto é arbitrário. A única propriedade estável dos pesos é a
relação entre eles e não o valor numérico em si. De acordo com Naro, "é necessário
sempre ter em mente que a solução numérica da equação logística é até certo ponto
arbitrária [. ..]. Em princípio, os valores absolutos dos pesos relativos calculados não
têm significância analítica; o que importa é a sua ordenação, sendo justamente por
isso que se deve preferir o uso do termo peso RELATiVO" (1992: 24).

94
MUDANÇA lINGúílTlCA EM TE'IPD REAL VARIAÇÃO E MUDANÇA NA EXPRESSÃO DO DATIVO NO PORTUGU~S BRASILEôRO 95
5. Considerações finais MOTIVAÇÕES FUNCIONAIS NO USO DO SUJEITO PRONOMINAL:
UMA ANÁLISE EM TEMPO REAL'
Os resultados para a implementação da mudança na comunidade confirmam,
em tempo real, a mudança detectada em tempo aparente na Amostra 80 (C).
A implementação se dá em todas as faixas etárias e também no efeito de fatores Vera Lúcia Paredes Silva
de natureza estrutural. A implementação abrupta de para em todas as faixas UFRJ/CNPq

etárias pode ser explicada pela natureza superficial do processo, que envolve
a substituição de uma preposição por outra na indicação de um determinado
tipo de relação sintática. Pode-se apontar também, como um fator que con- 1. Uma visão geral do problema
tribui para a propagação da preposição para, o caráter neutro dessa variante,
em relação à preposição a, mais formal, e à variante nula, estigmatizada (cf. A variação no âmbito do pronome sujeito no português do Brasil tem sido
Gomes 1996: 87-90). investigada a partir de diferentes hipóteses teóricas. Para a lingüística formal,
, n,,"· de orientação chomskyana, a discussão do tema se insere no chamado Parâ-
, 'J_'"",,4,.i; Já a direcionalidade observada no uso de para, codificando relações se-
IL1'~1,•••
mânticas que vão num continuum do [s-concreto] ao [s-abstrato] - transfe- metro do Sujeito Nulo, para o qual línguas como o português e o espanhol são
::"'::1
~~r.~: rência material para um recipiente [+humano], transferência perceptual e marcadas positivamente. Associando essa perspectiva a uma análise quanti-
verbal para um recipiente [+humano]; ausência de transferência material, tativa laboviana, no quadro da chamada Sociolingüística Paramétrica (cf. Ta-
11::::
rallo 1987), Duarte, neste volume, aponta evidências da expansão de contextos
, ~r.~;
~~
perceptual e SPrep [+/-animado] - indica que o uso da preposição para se
ot"- expande para contextos inicialmente preferenciais ou exclusivos ao uso da de preenchimento do sujeito que sinalizariam um processo de mudança de
.~,
,t'"~
",", preposição a. marcação do parâmetro para o português do Brasil.
"",r. Nossa abordagem parte da outra vertente predominante na lingüística
' •... ,; Uma questão teórica importante está emjogo aqui: o grau de estabilidade
11 ••• •
da gramática do adulto. Lightfoot (1999: 80) defende que as inovações obser- contemporânea (cf. Schiffrin 1994; Moura Neves 1997), a lingüística funcional,
lJ1:'
U~, vadas entre adultos não afetam a gramática (aqui no sentido biológico adotado associando-a também ao tratamento variacionista laboviano. Nessa perspec-
"S:::
no modelo gerativista). Essas inovações apenas terão reflexo nos dados lin- tiva, a escolha entre presença e ausência de pronome sujeito estaria correla-
güísticos primários disponíveis para as gerações seguintes. De um lado, pode- cionada a motivações externas ao sistema lingüistico, colocadas nas pressões
se argumentar que a mudança em questão não afeta a gramática, uma vez que de natureza comunicativa a que falante e ouvinte estão submetidos. Em outras
a mudança não ocorreu na forma de expressar a relação de caso, mas sim na palavras, trata-se de entender a gramática não como um sistema autônomo,
forma lingüística preferencial de expressar essa relação através de uma deter- mas como um mecanismo adaptativo, e não imune a questões como interação
minada preposição. Mas se a propagação da mudança se dá também na am- e comunicação. No caso em questão, trata-se de dar conta de como o domínio
pliação dos contextos de uso da variante inovadora, no sentido de poder ex- funcional da referência pode exigir maior ou menor expressão fonética (codi-
pressar relações mais abstratas entre o verbo e seus argumentos, o processo ficação gramatical, nos termos de Givón 1995b) de acordo com o grau de pre-
em questão não pode estar circunscrito apenas a seu aspecto superficial. dizibilidade da informação. Assim, quanto mais predizível o referente de um
sujeito, menor a necessidade de explicitá-lo.
Análises anteriores do fenômeno em amostras de escrita informal (Paredes
Silva 1988, 1990, 1993, 1994) apontavam um comportamento bastante dife-

1 Colaboraram nesta pesquisa, em diferentes momentos, as bolsistas Gilda Moreira, Ta-


tiana Ribeiro, Amanda Beatriz de Oliveira, Bianca Simões e Lina Arao.

96 MUOANÇA UNGúISTIcÃ;M TEMPO REAL 97

-.
renciado, nessa modalidade, para as três pessoas gramaticais, com forte ten- O primeiro ponto a ressaltar dessas comparações é o fato de os índices
dência para a omissão do pronome de primeira pessoa, mas taxas elevadas de gerais de aplicação da regra - os inputs - se manterem praticamente inalte-
sujeito explícito na segunda e uma posição intermediária para a terceira pessoa. rados de um período para o outro. Isso se observa, em especial, na primeira
Além disso, nesta última - a não-pessoa, como lembra Benveniste (1985) - a pessoa, em que temos um input de 0,72 na Amostra 80 (C) e 0,74 na Amostra
variação deixa de ser binária por entrar em jogo uma terceira alternativa: a 00 (C); e 0,72 e 0,75 na Amostra 80 (1) e na Amostra 00 (1), respectivamente.
expressão através de SN pleno", Ora, esses números já nos dão um sinal claro da estabilidade do fenômeno.
Independentemente dessas diferenças, entretanto, tais estudos revelaram Quanto à terceira pessoa, enquanto os índices de 0,59 na Amostra 80 (C) e
uma forte influência de fatores de natureza discursivo-funcional, em especial 0,55 na Amostra 00 (C) também apontam estabilidade, os resultados referentes
a conexão discursiua, a ambigüidade e a ênfase ou contraste, na expressão às Amostras 80 (1) e 00 (I) apresentam uma diferença um pouco maior (nove
do sujeito para todas as pessoas gramaticais. pontos) de um período para outro: 0,63 e 0,54, respectivamente. Embora não
Neste trabalho a discussão é retomada, no sentido de igualmente explo- haja uma distância muito grande, de qualquer forma é de se notar o fato de o
rarmos hipóteses funcionalistas. Estas são agora verificadas em um corpus índice de uso do pronome sujeito ter caído, nos últimos vinte anos, para a
que permite, ao mesmo tempo, comparar a comunidade de fala carioca em terceira pessoa, contrariando as expectativas gerais de tendência crescente ao
dois momentos e um subconjunto de indivíduos dessa comunidade, recon- seu maior preenchimento. Por outro lado, entre primeira e terceira pessoa
tactados cerca de vinte anos mais tarde (cf. Introdução a este volume), com o observa-se uma diferença de mais de dez pontos, o que não é desprezível,
objetivo de se verificar em que medida o fenômeno em questão se apresenta como comentaremos adiante.
~::~. estável ou em processo de mudança. Empreendemos, assim, um estudo do tipo A essa manutenção da regra, de um modo geral, nos mesmos patamares,
Tendência e do tipo Painel (cf. Labov 1994) e podemos ainda discutir até que deve-se acrescentar a constância das variáveis lingiiísticas selecionadas. A cone-
ponto o comportamento do indivíduo está em sintoma com o da comunidade. xão discursiva é a primeira delas, em todas as rodadas, sejam de primeira ou de
O estudo em questão envolve, portanto, dois tipos de confronto. Por um terceira pessoa. O tipo de oração vem em segundo lugar, reiteradamente na
lado, comparam-se as estatísticas referentes à comunidade como um todo, primeira pessoa, mas às vezes desbancado pelo traço de animacidade na ter-
através das duas amostras, Amostra 80 (C) e Amostra 00 (C); além desse, faz- ceira pessoa, traço este que atua como forte condicionador da presença do pro-
se o cotejo entre 16 informantes, entrevistados na década de 1980 e posterior- nome no português, como podem atestar outros trabalhos neste volume (cf.
mente recontactados, que constituem respectivamente a Amostra 80 (I) e a Mollica, Gomes). Igualmente bem selecionados nas duas pessoas são ocontraste
Amostra 00 (I). ou ênfase e a ambigüidade (morfológica ou contextual). Finalmente, o número
Nessas amostras, foi feita separadamente a análise estatística dos sujeitos gramatical aparece fortemente influindo no uso do pronome de primeira pessoa.
de primeira e de terceira pessoa, tomando-se sempre como aplicação da regra
a presença de pronome. Como trabalhamos apenas com sujeitos de referência
específica e a entrevista sociolingiiística, por sua própria natureza, não favorece 2. Os fatores externos
o tratamento direto do ouvinte pelo entrevistado, as ocorrências de sujeito de
segunda pessoa de uso não genérico eram esparsas e não estão incluídas neste De um modo geral, um aspecto que se salienta é o apagado desempenho dos
estudo>, fatores sociais convencionais, que estratificam a amostra. Por exemplo, não
há qualquer sinal de diferença no uso de pronomes por homens e mulheres - a
variável sexo nunca é selecionada. As variáveis idade e escolaridade mos-
2 Apesar de termos, ao longo desta pesquisa, trabalhado com o sujeito retomado por SN, tram-se influentes na comunidade (estudo de Tendência) apenas na década
esses resultados não serão aqui discutidos. de 1980, indicando preferência pela expressão pronominal do sujeito nos mais
3 Sob nossa orientaçãõç, fi. bolsista Tatiana de Oliveira .Ribeiro analisou esses casos. jovens e nos que têm nível médio de instrução, respectivamente, tanto na

98 MUDANÇJI LlNGUiSTICA EM TEMPO REAL MOTlVAÇOES FUNQONAIS NO uso 00 SUJEITO PRONOMIN.\l: UMA ANÁUSE EM TEMPO REAL 99
I"",
~'I""

primeira corno na terceira pessoa. No caso da faixa etária, esse resultado, à o Gráfico 1, referente à primeira pessoa, mostra como se comportaram
primeira vista, confirmaria tendência já observada em outros trabalhos (cf, os falantes nos dois momentos. Nele, os informantes estão dispostos em ordem
Paredes Silva 1988) e traria urna sugestão de mudança, através da análise em crescente de idade. Assim, Eri59, Adr57 e Adr63 pertenciam, na década de
tempo aparente. No entanto, ao confrontarmos essa amostra com a Amostra 1980, à faixa entre 9 e 14 anos, enquanto Fat23, San 39, Jup06, Le038 eram
00 (C), explorando, portanto, o tempo real, nenhuma ilação pode ser feita, jovens com até 18 anos. Coincidentemente, esses falantes mais novos são os
urna vez que esses são os fatores de pior desempenho, com significâncias altis- que também aumentaram seu nível de escolarização, à exceção de Jup06, que
simas desde o primeiro nível da rodada. permaneceu com nível elementar (primeira fase do ensino fundamental).
Corno as taxas gerais de expressão do sujeito praticamente não se altera-
ram no intervalo de tempo analisado, seja para a primeira, seja para a terceira
pessoa, não surpreende que variáveis sinalizadoras de um eventual processo
[ Presença de pronome de Ia
Gráfico
pessoa nas Amostras
1

80 I (Censo) e 00 I (Recontato)
de mudança, corno idade e escolaridade, não sejam selecionadas ou apareçam

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~,:~~t;~
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em segundo plano. Além disso, corno o fenômeno em pauta não sofre estig-
matização social, está menos sujeito à sanção da escola.
Para a comparação dos indivíduos no estudo de Painel, identificamos os PR
0,8
0.6
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dois tipos de combinações: com os 16 informantes em cada período (urna o
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~::;;: rodada para a década de 1980 e outra para 2000); com os informantes agru- J3 'õ
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pados de acordo com o aumento ou não de sua escolaridade. Neste caso, por
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011,"1:1
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fatores, também duas rodadas foram feitas, urna com os que aumentaram seu
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grau de instrução (seis deles) e outra com os dez que o mantiveram. Dessa
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Ijtr~: forma, pudemos comparar, na mesma rodada, os pesos relativos de um mesmo Nesse primeiro subconjunto, duas informantes se destacam: Fat23, pelo au-
dllí:",
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'111Il;;1
informante nos dois momentos. Esses dois tipos de rodadas (por período e t
{i
mento em mais de 0,20 pontos do peso relativo associado à expressão prono-
por escolaridade) apresentaram resultados muito parecidos, em termos dos minal do sujeito; e Eri59, que faz o percurso inverso, caindo 0,1&. Em termos
!;i~l:
11~~~'i
\ I ·1~,
pesos relativos associados a cada falante. de escolaridade, arnbas atingiram o nível médio, o que à primeira vista descarta
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Embora, no conjunto, não se notem diferenças marcantes de urna época
para outra (cf. inputs acima mencionados), os falantes, individualmente, os-
uma interpretação dos resultados com base nesse parâmetro.
;i ~
Independentemente da escolaridade, também falantes de urna mesma
t:11
;1'::1' cilam entre pesos que vão da faixa dos 0,20 à faixa dos 0,60. Na comparação faixa etária podem apresentar tendências distintas, uns aumentando, outros
'! I por períodos, na primeira pessoa, a variável informante foi selecionada para
I i. diminuindo sua taxa de expressão do sujeito de primeira pessoa. É o caso de
a Amostra 80 (I) e, embora não selecionada quando do recontato, teve signi- Nad36 e Jan03, ambos da terceira faixa etária e com mais de setenta anos por
ficância de .006 no primeiro nível da rodada". Esse fato, por si, revela o com- ocasião do recontato. Enquanto o uso do pronome em Nad36 aumenta signi-
portamento diferenciado dos participantes da pesquisa. ficativamente (de 0,27 para 0,52), em Jan03 cai quase o mesmo número de
pontos (de 0,63 para 0,40). Outros informantes idosos se mantêm bastante
estáveis, seja nos níveis mais baixos de uso (Jos35 e Ag033), seja nos mais
4 Colhemoscerca de cem ocorrênciasde primeira pessoa e cinqüenta de terceira pessoa
em cada entrevista, todas extraídas de orações com verbo na forma finita.
5 Os números em que nos baseamos, quando se discutem fatores não selecionados,são 6 Talcomoem outros trabalhos nestevolume,estou considerandopertinentes diferenças
retirados da primeira tabela do step-doum. acima de 0,10 pontos entre pesos relativosde fatores de um mesmogrupo.
,
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I'
100 MUDANÇA LINGüíSTICA EM TEMPO REAL r:t.' MOTIVAÇÓES FUNCIONAiS NO USO DO SUJEITO PRONOMINAL: UMA ANÁLISE EM TEMPO REAL 101

QU~IInTI:(' A /I I"f'1r..:TI'\ 11'" tA." 11


altos (MgI48). Não se consegue, assim, captar um padrão a partir de relações com taxas mais altas de sujeito expresso, principalmente na terceira pessoa.
sociais convencionais, na tendência a aumento ou diminuição de pronome de No entanto, a informante que mais usa o sujeito pronominal (Fat23) está
primeira pessoa. entre aqueles cujos índices de concordância mais subiram de 1984 para 2000.
No estudo de Painel, na terceira 'pessoa, deparamo-nos novamente com Assim também Adr63 e Dav427, que também aumentaram seu níveis de sujeito
resultados individuais que desafiam nossas categorizações referentes à esco- expresso. Por outro lado, Adr57 e Lei04, ambas mantendo índices bastante
laridade. Mais uma vez, a informante Fat23 se destaca pelo aumento, aqui de baixos de concordância verbal, diminuem sensivelmente a expressão do sujeito
0,30, no uso de pronome de terceira pessoa. Outras jovens, cujo nível de ins- pronominal de terceira pessoa, como se verifica no Gráfico 2. A falante Jup06
trução também aumentou, como Eri59 e Adr57, não acompanham essa ten- é das poucas que, tendo aumentado razoavelmente os níveis de concordância
dência. Além dessas, destaquem-se Lei04 e Jup06, que permaneceram com verbal, apresenta queda no sujeito pronominal.
instrução elementar e ao mesmo tempo diminuíram a taxa de expressão de Esses resultados aparentemente paradoxais, no entanto, vêm ao encontro
sujeito pronominal na terceira pessoa, como se vê no Gráfico 2. de outros trabalhos sobre o português, especialmente de Naro (1981a), Scherre
(1988a) e Scherre & Naro (1991), em que os autores demonstram que concor-
1111
r '1 ••• Gráfico 2 dância e expressão do sujeito não caminham juntas: a concordância não é de
Illr.~: natureza funcional, mas está sujeita aos efeitos do chamado paralelismo. Já a
-;""j Presença de pronome de 3a pessoa nas Amostras 80 I (Censo) e 00 I (Recontato)
1r"l,
...
b expressão do sujeito pode-se dizer funcional, como atestam análises anteriores

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•. .. e nossos resultados para esta amostra, apresentados na próxima seção. Desse


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o tópico discursivo, o tipo de texto ou a própria forma de conduzir a entrevista
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I_ Censo •. Recontato I formantes tomando direções opostas. Afinal, sabemos que a presença de pro-
nomes, em especial dos de primeira pessoa, é um traço marcante de envolvi-
mento no discurso (Tannen 1985; Biber 1988) e, no conjunto de entrevistas,
O exame desses falantes não permite creditar à influência da escola a queda podem-se perceber diferenças dessa natureza",
nas taxas de sujeitos pronominais, No entanto, trabalhos anteriores sobre a Passamos a discutir, então, o que temos de mais constante nesta análise:
mesma variação em cartas pessoais de informantes com maior grau de ins- as principais motivações funcionais que se manifestaram sistemáticas ao longo
trução (cf. Paredes Silva 1988,1990, 1994) já demonstraram a distância, em dos dois tipos de estudo: no indivíduo (painel) e na comunidade (tendência).
termos de taxas de uso, entre fala e escrita, especialmente no que se refere à O fato de os mesmos condicionamentos de natureza lingüística terem sido
terceira pessoa. Assim, parece que o convívio com a língua escrita, proporcio- sempre os mais bem colocados na seleção estatística é mais um elemento que
nado em parte pela escola, acaba por se refletir nessas taxas, mais como fruto fala a favor da estabilidade do fenômeno. . .
de adequação de estilo e de planejamento de discurso, próprios desta modali- Na seqüência da apresentação, optamos por ilustrar nossas afirmações
dade, do que por imposição gramatical. com o tratamento da primeira pessoa. Os resultados referentes à terceira pes-
Uma breve comparação de nossos resultados com os de Naro e Scherre soa pronominal serão referidos sempre que houver divergências.
(neste volume) para a concordância verbal, nas mesmas amostras, permite
algumas reflexões. Se, de fato, a elevada taxa de sujeitos pronominais no por- 1 As taxas de concordância verbal desses falantes aumentaram em 0,44 (Fat23), 0,52
tuguês brasileiro falado se correlaciona à perda crescente das marcas flexionais, (Adr63) e 0,48 (Dav42), de 1984 para 2000 (cf. Naro e Scherre).
era de se esperar que taxas mais baixa~ de concordância verbal coincidissem 8 Estamos atualmente buscando investigar esses fatores.

i02 MUDANÇA UNGüíSTIO\ EM TEMPO ?EAl MOTlVAÇÓES FUNCIONAIS NO uso DO SUJEIT0 PRONOMINAL' UM~ANÁLISE !:M TE~'PO REAL 103
3. Os fatores internos Os exemplos abaixo ilustram, através da primeira pessoa, os sete níveis
da escala de conexão discursiva. A hipótese, mais uma vez confirmada, esta-
Já na década de 1980, diversos estudos variacionistas envolvendo a expressão belece que, quanto mais estreita a conexão entre um referente/sujeito e sua
do sujeito pronominal em espanhol e em português (Bentivoglio 1980; Silva- menção prévia, menor a necessidade de explicitá-lo, seja por um pronome ou
Corvalán 1982; Lira 1982) apontavam a relevância da variável mudança de nome (no caso da terceira pessoa).
referência para o fenômeno. Os resultados dessas pesquisas evidenciavam,
de maneira bastante sistemática, que a escolha do pronome está fortemente 1. A conexão ótima (Grau 1) corresponde à permanência, na função de sujeito,

correlacionada à não-manutenção do mesmo referente como sujeito. do mesmo referente/tópico, no mesmo plano discursivo (manifestado pela ma-
Em Paredes Silva (1988), a partir da análise de um corpus de cartas pes- nutenção do sistema de tempo-aspecto-modo verbal), como no exemplo que se
soais, demonstramos, entretanto, a necessidade de se investigar com mais segue:
(1) Eujá desfilei na S.Clemente, 0 desfilei no Arrastão de Cascadura, 0 desfilei
minúcia o contexto discursivo precedente, no intuito de estabelecer o tipo de
relação entre um referente/tópico/sujeito e sua menção prévia no discurso. no Folião de Botafogo, 0 desfilei em uma porção de escola mas só que a escola
, :11'1 _:,~
OJ4I •• , •• Com isso, podíamos dar conta de distinções mais sutis, que o simples olhar de coração mesmo é o Salgueiro" (Lei 80: 2,19).
,w--
,,;"I~'··li para o referente/sujeito anterior não permitia. Propôs-se, assim, a substituição
11 ::~:l, 2. O Grau 2 indica uma mudança de plano: embora se mantenha o mesmo
:~~~;: da variável mudança de referência por uma escala de conexão discursiua,
referente/tópico como sujeito, há uma mudança de plano discursivo, do tipo
.r.:::: que leva em conta não só a identidade ou não de referentes em orações adja-
.•..
t,,··
~.,tit.
centes, mas também a continuidade ou não de ações, a manutenção ou não figura-fundo, fato-opinião, realidade-irrealidade, refletida em modificações no

(~:
.iI~.::
do plano discursivo (no sentido de passagem de figura a fundo ou vice-versa, sistema de tempo-aspecto-modo das orações adjacentes:
(2) Eu sempre morei em casa, nunca morei em apartamento. Estou satisfeita .
de fato a hipótese ou comentário etc.). Em caso de descontinuidade, observa
!~:.:t=
ainda a natureza dos elementos intervenientes: se orações de curta extensão, Eu não ~orar em apartamento não (NadOO: 2,44).
...
••'li::;

sem sujeitos pessoais, ou orações com sujeitos de outras pessoas gramaticais,


eventuais concorrentes à função de sujeito. Finalmente, considera a própria 3. Neste nível (Grau 3), considera-se a manutenção do mesmo referente no
mudança de tópico discursivo, no sentido do assunto ou tema. sujeito, apesar da mudança de turno. No exemplo abaixo, a informante, referida
A escala originalmente proposta foi adaptada para as entrevistas agora como a senhora pelo entrevistador, dá continuidade ao discurso como eu no
analisadas''. Foi necessário, por exemplo, levar em conta a intervenção do seu turno:
entrevistado r, que muitas vezes estimula e mantém a referência através das (3) - A sra. tem lembrança de seus avós?
_ Não, ~ só Yi meu avô, porque minha avó eu não conheci (N adOO: 1,30).
perguntas dirigidas ao informante, embora de alguma forma provoque um
corte na seqüência". Além disso, o último nível da escala foi estendido para
incluir digressões e retomadas do mesmo assunto, mais freqüentes no gênero 4. A interferência de orações de sujeito impessoal entre sujeito em causa e sua°
de fala analisado do que a própria mudança de tópico discursivo: esta, na última menção (Grau 4) representa uma quebra na continuidade de um referente
entrevista, geralmente se faz por iniciativa do entrevistado r. como sujeito, mas não chega a afetá-Ia muito, como se vê no exemplo abaixo:
(4) - Eu pinto, eu desenho, eu pinto (hes) eu compro bonequinha de papel e
tem aqueles desenho pra pintar, lioa! pinto (Eri80: n.za).

9 Cezario (1994) já fizera, em parte, uma adaptação da escala à análise de textos orais.
10 No sentido de evitar um eventual efeito gatilho, foram excluídas da amostra todas as ocor-
rências que representam respostas, com o mesmo verbo, a perguntas do entrevistador.
11 Nos exemplos, o sublinhado ilustra ° caso em pauta e o itálico, a menção precedente.

104 .- MUOANÇA LINGüíSTICA EM TEMPO REAL


MOTIVAÇÕES FUNOONAlS NO uso DO SUJEITO PRONOMINAl. UMA ANÁUSE EM TEMPO REAL 10S
5. O Grau 5 trata da interferência de orações com sujeitos de outras pessoas Tabela 1
gramaticais, estes sim mais capazes de desviar a atenção do referente/tópico Influência da conexão discursiva na presença de sujeito de 1a pessoa - Tendência
previamente mencionado, como é o caso do sintagma meus netos no exemplo:
(5) E eu acredito que teve uma melhora muito grande. Meus netos são felizes, Amostra só (C) Amostra 00 {c)
Graus de conexão
se relacionam muito bem com a mãe, com o pai e são crianças verdadeiras Apl/T % PR AplfT % PR

que ~ espero que continuem assim (Eve 00:2,40). Conexão ótima 295/793 37 .24 322/737 44 .25
Mudança de plano 632/936 68 .48 660/933 71 .49
Mudança de turno 97/127 76 .61 207/284 73 .52
6. No Grau 6 temos a retomada, na função de sujeito, de referente que ocorreu Interferência impessoal 408/501 81 .67 426/524 81 .63

anteriormente em outra função. Trata-se, portanto, de mudança de função, Interferência pessoal 569/697 82 .66 533/642 83 .67
Mudança de função 34/36 94 .90 15/17 88 .75
pela passagem a tópico. No exemplo abaixo, o referente/tópico predominante
IMud. De tópico/digressão 70/85 82 .64 74/89 83 .69
nas orações anteriores é Deus, a primeira pessoa está em papel secundário (como
Total I 2.105/3.175 66 2.23:('/3.226 69
indicam as menções através de pronome oblíquo) até assumir a posição de
tópico/sujeito na última oração.
(6) Deus [...] é o que me dá vontade, o que me dá força, sabe, tudo que me dá
inspiração para mim fazer alguma coisa, isso é meu Deus, sabe? Tudo que faz Tabela 2
as coisa andar certinha. Não sei explicar bem o que é, sabe? É aquilo que me Influência da conexão discursiva na presença de sujeito de Ia pessoa - Painel
faz ser o que ~ sou (Leo80: 3,21-25).
Amostra 80 (I) .Amostra 00 O)
Graus de conexão
ApljT \ % \ PR ApljT I % I PR
7. A mudança de tópico/subtópico discursivo representa um desvio nos rumos
Conexão ótima 207/498 1421 .24 190/276 I 40 I .30
no discurso, ou mesmo uma digressão - este é o Grau 7. No exemplo abaixo, o Mudança de plano 310/457 1 681 .48 294/430 \ 681 .52
comentário da falante sobre o tempo de moradia no bairro representa uma Mudança de turno 77/95 I 811 .68 65/88 1 74\ .61
Interferência impessoal 151/200 I 75 I .59 232/276 I 841 .58
ruptura na seqüência, retomada logo depois, como resposta à pergunta da en-
Interferência pessoal 312/376 I 831 .73 336/401 1 841 .57
trevistadora.
Mudança de função 33/37 I 891 .80 31/35 1 891 .78
(7) - E você vai ao cinema? Mud. De tópico/digressão 38/44 I 861 .73 59/67 1 881 .72
- Olha, a última vez que eufui ao cinema (risos) (falando rindo) eu tenho Total 1.128/ L707 I 66 1.207/1.774 I 68

20 anos de Campo Grande.


- Sei
- Tá, eu já fui umas três vezes foi muito (Adr57 00:17,3).

o que ressalta da leitura dessas tabelas é, primeiramente, que os sujeitos ex-


Como vimos, este condicionamento revelou-se o mais constante na aná- plícitos praticamente dobram quando passamos do grau 1 para o grau 2, e
lise: a variável conexão discursiva foi a primeira a ser selecionada em todas note-se que em ambos estamos lidando com referentes mantidos. Ora, esses
as rodadas do VARBRUL. As tabelas 1 e 2, abaixo, comparam os resultados na números só comprovam que não basta olhar a identidade de referência do
comunidade, nos dois momentos (anos 1980 e 2000) e nos indivíduos, res- sujeito, é preciso levar em conta a natureza da seqüência discursiva. A passa-
pectivamente.
gem do plano dos fatos para o do desejo, corno se vê no exemplo (2), já traz
alguma descontinuidade na seqüência capaz de justificar o aumento da ex-
pressão pronominal do sujeito .

..
'
t:
106 MUDANÇA LlNGúisTI("..AEM TEMPO REAL MOflVAÇÓES fUNCIONAIS NO USO DO SUJEITO PRONOMINAL: UMA »'NAuSE EM TEMPO REAL 107
3~··~ _
No outro pólo dessa escala, diferentemente da testada em Paredes Silva a posição da oração com relação àquela com que se combinava. Desse modo,
(1988), não é a mudança de tópico discursivo ou a digressão que tende a pro- distinguimos, por exemplo, as principais antepostas a sua subordinada das
vocar o maior número de sujeitos explícitos, mas são os casos de passagem de principais pospostas. O mesmo fizemos com as chamadas subordinadas ad-
um referente a tópico (mudança de função). Observe-se, contudo, que esse verbiais", as únicas desse grupo que permitem deslocamento, mas no caso
fator tem baixa incidência na primeira pessoa, pois só foram assim codificados dessas orações a distinção não se revelou útil e acabaram por ser amalgamadas.
casos em que esta não se apresentara na seqüência precedente como tópico/ Entre as subordinadas, o menor número de casos e a proximidade de resultados
sujeito, como no exemplo (6), o que é bastante raro se considerarmos a ten- estatísticos também nos fizeram reunir num mesmo grupo adverbiais e subs-
dência ao egocentrismo do discurso humano, Trata-se de um uso mais típico tantivas, deixando à parte apenas as orações adjetivas, aquelas que mais fa-
do pronome na terceira pessoa, muitas vezes retomando o que já foi expresso vorecem a expressão pronominal do sujeito, confirmando resultados de di-
por um nome, como exemplificado abaixo; versos outros estudos, a começar por Lira (1982) e também Duarte (1995).
(8) Então eu, como vendedor, já procuro cercar os outros colegas, como eles Quanto às coordenadas, esse grupo diz respeito apenas às não iniciais. As
procuram me cercar (Vas80: 3). iniciais, codificadas num primeiro momento separadamente, foram depois
1/111",.,
1 ....•..
"'.I.!!.:JI
I':<if,,_ agrupadas às demais independentes. Nesse ponto, no que diz respeito à língua
, ~:~~,:I~: De qualquer forma, esses casos, juntamente com a mudança de tópico ou falada, é preciso reconhecer a dificuldade em distinguir por vezes orações in-
1 ';~~~;:;:
~."o\. a digressão e a interferência de elemento pessoal, representam maiores quebras dependentes em períodos simples de seqüências coordenadas, o que se pode
,il:;:::
11a."o.,
na continuidade do referente e correspondem aos pesos relativos mais altos. tornar tarefa árdua sem o auxílio de recursos prosódicos ou de medição de
!~
••••.
:t:~'::: A variável selecionada em segundo lugar pelo programa VARBRUL, com pausa. A presença de um conectivo não serve como critério; muitos períodos
f~:, •., maior constância, foi o tipo de oração. Neste caso, parte-se de uma classificação
.!fi...,.::: simples são começados por conjunções coordenativas, como em (9) abaixo, e
*,'" sintática, mas a ela se atribui uma interpretação funcional, na perspectiva da muitas orações coordenadas dispensam conectivo, conforme se vê em (10);
lJoI !~:;
.#1""' teoria da estrutura retórica de Mathiessen & Thompson (1988). Os autores ali (9) Adoro Rocha Miranda. E eu não vejo defeito em Rocha Miranda, não é?
uC
O«I:!~'
defendem que a gramática da combinação de orações reflete a estrutura retó- (Jos80: 1).
I!~t: rica do discurso, isto é, as relações retóricas entre as partes componentes do

Il..~: '...r'-.;~- texto, e que todos os textos podem ser descritos em termos dessas relações (10) Eu estava grávida da c., barrigão de sete, oito, nove meses! (riso) Pegava

,I;
,
o'

il: 1 $
.':~
I, 0

0.0
I hierárquicas entre suas partes. Distinguem dois tipos principais de relações;
as relações núcleo-satélite e as relações de lista. As primeiras se fizeram pre-
esse ônibus Caxias, em pé, ia a Madureira! Tenho dois braços, eu carregava
três sacolas! (falando rindo) Como eu conseguia fazer isso? (EveOO: 3),
sentes em todos os textos escritos por eles analisados; sempre haverá partes
1 L~
1
:·I;i:
• !t-
do texto que realizam os objetivos centrais do escritor, enquanto outras são Desse modo, após os amálgamas, a classificação das orações reuniu seis
I i I' apenas auxiliares, suplementares. Por outro lado, as relações se apresentam fatores neste grupo: independentes, coordenadas não iniciais, principais an-
como lista quando não há propriamente hierarquização. É evidente a analogia tepostas, principais pospostas, subordinadas e adjetivas.
entre núcleo-satélite e hipotaxe, e lista e para taxe, para usar a mesma termi- Diferentemente de Duarte Ü995 e neste volume), optamos por manter
nologia dos autores=. no corpus, num grupo separado, as orações coordenadas não iniciais. É fato
Nossa classificação sintática inicial das orações foi bastante detalhada, que o apagamento de elementos idênticos em estruturas coordenadas extrapola
dentro dos cânones da gramática tradicional, e diferenciou ao mesmo tempo

13 Apesar da reconhecida diferença entre o processo de encaixe e o de combinação de


12 Em seu artigo, Mathiessen & Thompson evitam os termos subordinada ou adverbial, orações, por uma questão de facilitar a referência está sendo utilizada a terminologia
tratando como hipotaxe o processo de articulação dessas orações. tradicional.

108 . lor)
MUDANÇA lINGüiSTICA EM,TEMPO REAL MOTIVAÇÕES FUNOONAlS NO uso DO SUJEITO PRONOMINAL: UMA ANÁUSE EM TEMPO REAL
o domínio das línguas que admitem sujeito zero. No entanto, ao ali encon- Tabela 4
trarmos um pronome explícito em português, temos um indício da expansão Influência do tipo de oração na presença de pronome de primeira pessoa - Painel
dos contextos de variação, que não deve ser desprezado. Foram essas orações Amostra 00 (1)
Amostra 80 (1)
que, de fato, mais propiciaram a omissão do pronome sujeito, tanto na primeira Tipo de oração
Apl/T % PR Apl/T % PR
pessoa como na terceira pessoa. Tome-se, por exemplo, a seguinte seqüência: Coordenada 312/596 52 .39 429/780 55 .36
398/614 65 ,42 334/484 69 ,41
(n) Olha ... eu posso te dizer que eu tento levar a minha vida,~ levo a minha Independente
Principal inicial 126/167 75 .54 131/163 80 .57
vida, eu tô aqui de férias. Até a hora da minha morte eu tô de férias nessa vida
Subordinada 119/142 84 .72 140/158 89 .78
(Eve43 00: 4). Principal posposta 88/98 90 .81 80/94 85 .72

Adjetiva 85/90 94 .88 93/95 98 .95

Aí temos uma sucessão de orações encaixadas que se coordenam, todas Total 1.128/1.707 66 1.207/1.774 68

com o mesmo sujeito, e nelas temos sempre a explicitação do pronome, es-


tendendo-se, inclusive, ao período simples subseqüente.
Ressalte-se que o número de independentes, somadas as coordenadas ini-
ciais, não iniciais e absolutas, representa 70% do total de orações analisadas, Cabe ressaltar que, embora nas percentagens coordenadas e independentes
o que confirma a observação de Chafe (1988) de que são essas orações as por vezes se distanciem bastante, em termos de pesos relativos guardam certa
~.""
, I
predominantes na fala e, ao mesmo tempo, condiz com as hipóteses de Ma- proximidade, compondo, compreensivelmente, os contextos mais fracos de
C
tt::
.~ thiessen & Thompson (1988) sobre estruturas em lista. A esse respeito, obser- expressão do sujeito. No outro extremo, conforme o esperado, as adjetivas,
.--
.•.:.~
ve-se que o gênero de fala investigado - a entrevista sociolingüística -, embora portadoras de informações suplementares, de segundo plano.
>4~.':; possa abranger uma diversidade de tipos textuais, oferece forte predomínio O terceiro grupo de fatores de natureza discursivo-funcional que apre-
'J:
jll'C:
de seqüências narrativas e descrições de vida do falante, que ilustram a orga- sentou pesos relativos extremamente consistentes ao longo das rodadas foi o
~ contraste ou ênfase. Aliás, trata-se de uma das motivações já apontadas desde
nização em lista dos autores. As tabelas a seguir apresentam os resultados
r~
s numéricos. nossas gramáticas tradicionais para a expressão do sujeito pronominal em
português. Para fugir, contudo, à imprecisão ou ao caráter impressionista da
IlB Tabela 3 categorização da ênfase por aqueles autores, adotamos como critério a exi-
Influência do tipo de oração na presença de pronome de primeira pessoa - Tendência gência de marcas formais no discurso para se considerar um uso contrastivo.
Como não trabalhamos com o nível prosódico'" , computamos provavelmente
Amostra 80 (C) Amostra 00 (C)
um número de casos menor do que o real, mas que não deixa margem a dúvi-
Tipo de oração
ApI/T % PR AplfT % PR das. Vejam-se os exemplos abaixo:
Coordenada 583/1.161 50 .37 774/1.356 57 .38 (12) Então o medo da droga assim com relação a ela eu não tenho não,.ílli tenho
Independente 786/1.163 68 .43 748/1.044 72 .45
mais medo assim do namoro ... de uma gravidez na hora errada (DavOO: 3).
Principal inicial 196/246 80 .61 254/317 80 .55
Subordinada 247/284 87 .74 '237/269 88 .74
(13) Posso não ajudar, mas prejudícar eu não vou (Le080: 4).
Principal posposta 138/157 88 .80 93/107 87 .71
Adjetiva 155/164 95 .87 131/133 98 .96 Trata-se, no primeiro caso, de uma oposição entre afirmativa/negativa,
Total 2.105/3.175 66 2.237/3.226 69
reforçada ainda pela presença de um termo como tópico da frase (o medo da

'4 Não houve tempo de fazê-Ia, o que decerto será relevante.

110 MOTIVA.ÇÕES F~NClONAIS NO uso 00 SUJEITO PRONOMINAL: UMA ANALISE EM TEMPO REAl 111
MUOANÇA LINGüíSTICA EM TEMPO REAL
t·~l;~lfll-'·
~~
,
t

droga); no segundo, além do conectivo contrastivo, temos a antonímia dos a forma tradicional de referência à primeira pessoa do plural - nós - pode
verbos. Assim, poderíamos ter ainda oposições no espaço (aqui/ai-lá), tem- acarretar uma flexão verbal bem marcada, favorecendo a ausência do sujeito,
porais (ontem/hoje) etc. (para maiores detalhes sobre a classificação, cf. a forma inovadora a gente, com o verbo flexionado na terceira pessoa, cria
Paredes Silva 1988, 1993). mais um contexto de possível ambigüidade, em sua ausência. Daí a hierarquia
As tabelas 5 e 6 exibem resultados extremamente consistentes. na taxa de sujeitos expressos através de a gente - eu - nós.
Quanto à presença ou não do traço [+animado] no referente do sujeito,
Tabela 5 trata-se, naturalmente, de uma variável aplicada apenas à terceira pessoa. No
Influência da ênfase na presença de pronome de primeira pessoa - Tendência entanto, ela é extremamente forte na sua influência - em geral, foi a segunda
na hierarquia de seleção para a terceira pessoa. Assim, mostrou-se capaz de
Contraste ou Amostra 80 (C) Amostra 00 (C) polarizar a correlação pronome / animado; anáfora zero / inanimado, confir-
ênfase Apl/T % PR Apl/T % PR mando tendência já observada em outros estudos que envolvem o uso de pro-
Enfático 189/295 64 .63 176/279 70 .62
1.916/2.880 .49 .49
nomes no português (cf. Gomes e Mollica, neste volume).
Não-enfático 67 2.061/2.947 63
'UII ",

"'~,~m"
;i'~L",
Total 2.105/3.175 66 2.237/3.226 69
'l.jHII,·'~

''''~'.';~.'
Itl,j
...•,~!:::. 4. Considerações finais
:'~::::~
: Ih~ Tabela 6 Nosso objetivo nesta pesquisa foi o de verificar, através da análise da comuni-
' .•••••• 1

~:~! Influência da ênfase na presença de pronome de primeira pessoa - Painel dade e do indivíduo, se havia evidências de um processo de mudança em curso,
f.:~,.,
!fIl'!lrr.:r
no que se refere ao uso do pronome sujeito de primeira e terceira pessoa.
·W--·
ih:t:t Contraste ou Amostra 80 (I) Amostra 00 (I)
t'C: ênfase
Além disso, também investigar o peso de fatores de natureza funcional na
Apl/T % PR AplfT % PR
:jI""
\~_:l Enfático 150/224 67 .64 131/199 66 .63 definição dos contextos de variação/mudança.
1~r:J Não-enfático 978/1.483 66 .48 1.076/1.575 68 .48 Quanto à primeira questão, fica evidenciado que se trata de variação está-
!!lU:::; Total 1.128/1.707 66 1.207/1.774 68
l-- vel, pelo menos dentro do intervalo de tempo investigado. Aliás, as taxas de

i
,h~~
:)/1!1.11
if'~l
,
aplicação da regra não só se mantêm constantes nas duas amostras, como
repetem as encontradas por Lira (1982) para um corpus de fala carioca, inclu-
1":".,, j sive na diferença entre primeira e terceira pessoa. Por outro lado, consideran-
t1!t

',IJ,
,;:" Observe-se que, em termos percentuais, não há propriamente diferença, até do-se as diferenças estatísticas entre os usos de fala e escrita, seria interessante
t:ld' porque o desequilíbrio entre os totais é grande, pelas razões já mencionadas. verificar se, no mesmo intervalo, as elevadas taxas de ausência de sujeito de
,
, No entanto, os pesos relativos se revelaram constantes, confirmando o papel primeira pessoa na escrita também se preservaram, ou se esta já está sofren-
contrastivo do pronome, que nossos gramáticas já intuíam. do maior influência da fala.
Sobre as demais variáveis internas selecionadas pelo VARBRUL, é neces- Se, por um lado, os indivíduos tomados no seu conjunto apresentam um
sário mencionar separadamente seus efeitos nas pessoas gramaticais. O nú- comportamento regular, sendo sensíveis aos mesmos condicionamentos lin-
mero gramatical mostra-se muito influente na primeira pessoa, já que, para güísticas, a comparação entre eles através do estudo de painel deixa mais ques-
o plural, temos a alternância nós / a gente (estudada em amena, neste volu- tionamentos do que propriamente respostas, ao revelar movimentos em dire-
me). Nossas ocorrências de plural representam apenas 10% do total de refe- ções opostas, independentemente de parâmetros sociais que pudessem apro-
rências à primeira pessoa, mas permitem uma confirmação: se, por um lado, ximá-Ias. O estudo está exigindo, assim, um novo olhar sobre essas questões,

.•.....
112 MUDANÇA UNGüíSTICA EM. TEMPO REAL MonVAçÕES FUNOONA'S NO USO DO SUJE'TO PRONOMINAl: UMA ANÁUSE EM TEMPO REAL 113
,.:ti.

l
'1. 1
levando em conta outros aspectos da interação social, assim como um entre- A EVOLUÇÃO NA REPRESENTAÇÃO DO SUJEITO
laçamento com outras informações sobre esses informantes, que talvez per- PRONOMINAL EM DOIS TEMPOS'
mitam chegar a interpretações mais precisas.
Quanto à força das motivações de natureza funcional, também fica ates-
tada, devido à regularidade com que tais variáveis foram selecionadas, em Maria Eugênia Lamoglia Duarte
todas as análises, seja na perspectiva da comunidade seja na do indivíduo, e à UFRJ/CNPq
constante manutenção da hierarquia' de pesos relativos, dentro dos grupos de
fatores. A escala de conexão discursiua, particularmente, parece indicar que
a questão da escolha pronominal, aparentemente de natureza morfossintática, 1. Introdução
merece um olhar mais penetrante e abrangente para o contexto (ou cotexto)
discursivo, este, sim, capaz de definir em que circunstâncias um discurso pre- Diferentes trabalhos com base em dados de língua oral (Lira 1982; Duarte 1995,
dominantemente subjetivo pode tender a aumentar ou diminuir a expressão 2000) e na escrita de cartas (Paredes Silva 1988) ou de peças de teatro popular
pronominal, sempre tendo em mente a predizibilidade da informação. (Duarte 1993) têm mostrado que o português do Brasil apresenta índices de
preenchimento do sujeito pronominal bem superiores aos apresentados pelas
chamadas línguas românicas de sujeito nulo, como o espanhol, o italiano e a
variedade européia do português. De modo geral, o fenômeno tem sido associado
à simplificação ocorrida em nossos paradigmas flexionais verbais, que contam
com a mesma forma para a segunda e terceira pessoas do singular e, com
freqüência cada vez maior, para a primeira do plural, graças ao crescente uso
da forma "a gente" em detrimento de "nós" (ver Omena, neste volume).
Este trabalho busca investigar o fenômeno sob a perspectiva do tempo real
de curta duração (Labov 1994). Com isso, espera-se observar a possível imple-
mentação da mudança em direção ao sujeito foneticamente realizado e seu en-
caixamento no sistema lingüística em duas amostras separadas por um intervalo
de cerca de dezenove anos (cf Introdução para informações sobre as amostras).
O trabalho se insere no quadro da Sociolingüística Paramétrica ou Variação
Paramétrica (cf Tarallo 1987; Tarallo & Kato 1989; Kato 1999a; Ramos 1999;
Duarte 1999, entre outros), que associa pressupostos teóricos da Teoria da
Variação ou Sociolingüística (Weinreich, Labov & Herzog 1968; Labov 1972b)
e da Teoria de Princípios e Parâmetros (Chomsky 1981). Daquela vem a crença
de que toda mudança implica um período de variação passível de sistematiza-
ção e, uma vez propagada/implementada, produz reflexos/encaixarnento no
sistema lingüístico e social, isto é, propicia o aparecimento de outras estruturas

, Participaram do levantamento de dados e do tratamento estatístico para esta pesquisa


em diferentes momentos os bolsistas de rc Marco Aurélio ele Souza Couto, Renata Lopes
Marafoni e Michelle Ferreira Freitas.

~.-
MUDANÇA UNGúiSilCA EM Ti:MPO REAL i 15
associadas a ela de forma não acidental. Desta vêm o próprio conceito de Parâ- nulo, o sujeito pleno no português do Brasil é a opção não marcada nos con-
metro do Sujeito Nulo e os feixes de traços que caracterizam as línguas positiva textos sintáticos examinados, como mostram os exemplos a seguir, em quecv
ou negativamente marcadas em relação a ele, particularmente a omissão do representa a categoria vazia sujeito:
sujeito pronominal em contextos não marcados por ênfase ou contraste. Essa (1) Eu nasci aqui em Inhaúma e aqui nessa casa eu moro tem trinta e um
associação tem permitido interpretar os fenômenos observados no português anos. Trinta e um anos que eu moro aqui. Eu morei numa outra casa. Depois

do Brasil dentro de uma perspectiva interlingüística e distinguir a variação que eu comprei esse terreno aqui e (cv) construí a casa. [".] Porque eu vim pra cá,

ocorre no nível superficial daquela que sinaliza mudança na gramática da língua. eu tinha meus dois filhos, mas eu não tinha condições de fazer a casa grande,
Este texto está assim organizado: na seção seguinte apresentam-se os re- aí (cv) fiz pequenininha (Nad80).
sultados obtidos para a representação dos sujeitos referenciais definidos nos
dois estudos: painel e tendência; as evidências do encaixamento da mudança (2) Vocês são muito jovens. Vocês acham que uocês podem mudar o mundo.

em nosso sistema aparecem na seção 3; em 4, finalmente, são apresentadas (cv) Acham que tudo é fácil (Lei80).
as conclusões a que os dois estudos permitem chegar.
~:~;;t..! (3) Meu marido conhece o Brasil quase todo, porque ele trabalhava no Instituto
lit:::~. Nacional de Migração. Então ele viajava muito. Aí, depois que ele se aposentou,
"~":~"
:i~;:' "J:
..•....•.•
.!iH"'"
'
2. A implementação da mudança: estudos de Painel e Tendência (cv) nunca mais viajou. Tanto que ele ainda não foi lá na casa do meu filho. Ele
.~"'" ainda não foi lá. Ele conhece, que ele já esteve lá quando ele trabalhava. Ele
plI.:::; :
!I..•••• I·
2.1. 05 fatores sociais conhece as Sete Quedas, ele conhece Foz, (cv) conhece tudo, mas ele nunca foi
:f~;j:
......
'11:" ' No cômputo das ocorrências de sujeitos pronominais de referência definida na casa do meu filho. Acho que ele viajou tanto que agora (cv) não liga (Nad80).
t.,,".~:
;f~-;' foram excluídas as estruturas coordenadas com sujeitos co-referentes, uma
~11C::: vez que um sujeito nulo em tais estruturas constitui uma propriedade mais Os significativos, porém muito próximos, percentuais de preenchimento do
.~~.
aCJi geral das línguas, e considerá-Ias nesta análise nos desviaria do pretendido sujeito pronominal revelam ainda a estabilidade do fenômeno no intervalo de
'n~'···'
Ire::: exame da mudança paramétrica em curso (ver, entretanto, neste volume, a tempo que separa as amostras analisadas, sugerindo que talvez se trate de um
:::::1 : análise de Paredes Silva, que inclui as coordenadas não iniciais). A tabela a período muito curto para observar o progresso de uma mudança morfossintática.
: •..
~~
'~''''''I
:, Para o estudo de painel, procurou-se observar o comportamento de cada
,t~l' seguir mostra o total de dados examinados, com percentuais e input, tomando
'
'1 1 i~ como valor de aplicação o sujeito pronominal preenchido. indivíduo, no total de dezesseis, nos dois momentos, através de uma mesma
t I,;·:~I rodada'. Os resultados estão dispostos na Tabela 2, com os falantes distribuídos
~' l~~~d
I I" Tabela 1
por idade em ordem crescente. Os seis primeiros tiveram o nível de escolarida-
,!.'1+'11
01

Total de sujeitos expressos nas amostras analisadas de alterado. Se levarmos em conta que uma diferença de até .10 pontos entre
pesos relativos não é significativa, nota-se surpreendente regularidade no
Estudo de Painel Estudo de Tendência
comportamento de quatorze indivíduos, entre os quais apenas dois, Jan03 e
Amostr-a 8 O (I) Amostr-a 00 (I) Amostr-a 80 (C) Amostra 00 (C)
Ag033, com 74 e 77 anos à época do recontato, favorecem claramente o sujeito
1696/2168 1646/2056 3640/4540 3421/4264
78% 80% 8096 80% nulo. Apenas duas informantes exibem um comportamento irregular: Nad36,
.79 .81 .81 .81 que aumenta .20 pontos em favor do sujeito preenchido, e Jos35, que desfavorece

Os percentuais já revelam que o preenchimento é a estratégia preferida e con-


2 Como o programa está limitado a trinta grupos de fatores, houve necessidade de fazer
firmam os resultados obtidos em Duarte (1995) para a fala culta carioca. Tais duas rodadas, juntando-se numa os informantes que tiveram seu nível de escolaridade
percentuais sugerem que, ao contrário do que ocorre nas línguas de sujeito alterado e noutra os que mantiveram esse nível.

A EVOLUÇÃO NA REPRESENTAÇÃO DO SUJEITO PRONOMINAL EM DOIS TEMPOS 11 7


116 MUDANÇA LINGüíSTICA EM TEMPO REAL
o preenchimento com uma queda de .19. Tais resultados não permitem associar falante; a faixa etária e o nível de escolaridade foram, entretanto, selecionados.
a realização do sujeito à mudança no nível de escolarização. Tanto falantes que As duas tabelas a seguir apresentam os resultados para ambas as variáveis.
tiveram esse nível alterado como aqueles que o mantiveram mostraram
comportamento notavelmente estável. As duas únicas a mostrar instabilidade já Tabela 3
se encontravam na faixa etária mais alta à época da primeira entrevista. Sujeito preenchido segundo a faixa etária - Tendência

Tabela 2 Amostras Amostra 80 (C) Amostra 00 (C)

Faixa etária % P.R. % P.R.


Sujeito preenchido por indivíduo em dois momentos
07-14 79 .51 75 .44

Amostra 80 (I) 15-25 84 .57 81 .51


Amostra 00 (I)
26-49 82 A9 84 .55
(input .82) (input .83)
Falante Idade P.R. 50 ... 74 A2 78· A7
% P.R. Idade %
Eri59 9 74 AO 25 79 A3
Adr57 10 83 .51 26 84 .50
Adr63 12 76 AO 28 79 A3
Fat23 15 90 .66 33 91 .69 Tabela 4
San39 15 83 .50 33 83 .51 Sujeito preenchido segundo a escolaridade - Tendência
Leo38 18 78 A3 36 85 .51
Jup06 18 84 .62 35 88 .68 Amostra 80 (C) Amostra 00 (C)
Amostras
Lei04 25 83 .53 43 80 .50 Escolaridade % P.R. % P.R.
Dav42 31 89 .70 48 92 .75 Fundam. 1 81 .50 81 .50
Jvas26 32 85 .65 48 84 .65 Fundam. 2 78 A6 77 A6
Eve43 42 82 .56 59 76 A6 Ensino Médio 84 .62 85 .59
Mgl48 52 87 .65 70 92 .78
Jan03 56 69 .38 74 65 .32
Nad36 57 56 .26 74 76 A6
Os pesos obtidos para a faixa etária são muito próximos, não se notando qual-
Jos35 59 79 .53 75 70 .34
Ago33 60 64 .27 77 61 .25
quer polarização nos valores. Confirma-se apenas um leve favorecimento à
supressão do sujeito pela faixa mais velha nas duas amostras e pelo grupo
mais jovem na Amostra 00. Quanto à influência do nível de escolaridade, a
Observe-se ainda que apenas cinco indivíduos mostram índices de favoreci- regra do preenchimento se mostra favorecida pelos indivíduos com formação
mento claro da regra de preenchimento do sujeito (Fat23, Jup06, Dav42, mais elevada, um resultado que só pode ser interpretado como indício de maior
Jvas26 e MgI48), se se leva em conta a relação entre os pesos mais altos e naturalidade e desenvoltura no comportamento desses falantes, gerando mais
mais baixos. Duas das falantes mais jovens (EriS9 e Adr63), pelo contrário, estruturas encaixadas, que, como se verá na seção seguinte, constituem con-
apresentam-se próximas do ponto de neutralidade, com ligeiro favorecimento texto favorecedor do preenchimento. Passemos, pois, aos fatores lingüísticos.
da regra do sujeito nulo. De qualquer forma, os pesos mais baixos se encontram
na fala de alguns informantes mais velhos. 2.2. Os fatores estruturais
Tal como ocorreu em relação ao indivíduo, os resultados do estudo de No que se refere à atuação de fatores estruturais, a análise permitiu identifi-
tendência apontam para a estabilidade na comunidade, que se confirma no exa- car, nos dois estudos realizados, a importância da presença/ausência de ele-
-,
me dos grupos de fatores selecionados pelo programa VARBRUL. Entre os con- mentos antes do sujeito pronominal para sua realização nula/plena. Foi sele-
dicion',irnentos sociais considerados, foi sistematicamente rejeitado o gênero do cionada em ambos os estudos a estrutura do sintagma complementizador (cp),

118 MUDANÇA LINGüíSTICA EM TEMPO REAL A EVOLUÇÃO NA REPRES,NTAÇÃO DO SUJEITO PRONOMINAL EM OO'S TEMPOS 119
posição em que se encontram as palavras qu- (4a) e conjunções subordinativas
encontra bem adiantado, o que se nota particularmente no estudo de tendência,
(4b). Observe-se nas tabelas S e 6 que a presença de elementos nessa posição
em que os pesos para este fator se distanciam significativamente dos demais.
favorece o preenchimento, enquanto a ausência de elementos, representada
Quanto à presença de elemento no núcleo de CP - conjunções subordinativas
pelo grifo (4c, 4d), favorece o sujeito nulo, embora seja muito expressivo o
-, há igualmente um crescimento nos pesos relativos na linha do tempo. Veja-
percentual de realização fonética do pronome:
se, por outro lado, como a ausência de elementos nessa posição constitui im-
(4) a. Foiurna reportagemqug eu vina televisãona época~ eu viatelevisão(Mgl80).
portante contexto de resistência do sujeito nulo.
b. Ela ganha bem, mas eu acho ~ ela devia ganhar mais porgue ela
Da mesma forma que a estrutura de CP, a presença/ ausência de elementos
merece (Dav80).
adjuntos ao sintagma flexional (Ip) foi igualmente selecionada em ambas as
c. Minha esposa trabalha na Embratel. _Ela fez segundo grau técnico
análises. Como mostram as tabelas 7 e 8 a seguir, a existência de elementos
em contabilidade. _Depois ela fez faculdade. _Hoje ela é técnico em
adjuntos ao sujeito, sejam eles resultado de topicalizações (sa), sejam eles
contabilidade da Embratel (Dav80).
adjuntos adverbiais (sb), favorece a expressão plena do sujeito pronominal.
d. Eu estava grávida da Cocódi, barrigão, sete, oito, nove meses. __ (eu)
A ausência de elementos (Sc, sd), por outro lado, favorece o sujeito nulo:
~::i:;~!
.~j'''' !
Pegava esses ônibus, Caxias, em pé. __ (eu) Ia a Madureira ... (eu)
II~jj"j!:l~: (5) a. Minha avó gosta muito de se divertir, gosta de tomar a cerveja dela.
'·~"I~,•. Tenho dois braços. Eu carregava seis sacolas (Eve80).
Cerveja ela toma bastante (Lei80).
itiEid~
;:~~
,~~t~:: b. ~ ele deixou de ter amigo. Agora ele só tem um colega (AleOO).
Id,,"~.• Tabela 5 c. Meu marido? Bom, __ ele faz de tudo, sabe? __ Ele já trabalhou na
ii~:~~; Sujeitos preenchidos e a estrutura de CP - Painel
::;~.:! Socila, __ (eu) já trabalhou no Hotel Sheraton ... (LeiOO).
'11::':;:;
:;,~:=: CondicioDaJnento Amostra 80 (I)
d. Aí ele foi pra França. __ (eu) Botou o bicho pra voar. __ (eu) Fez lá
Amostra 00 (I)
'i"''',
;~r.l:i~
Estrutura inicial da oração (CP) % P.R. % P.R.
o balão (FeIOO).
:1•••. ' Pronomes relativos e interrogativos 90 .72 89 .61
;~~J!
..•..
~
Conjunções subordinativas 80 .54 87 .62
Tabela 7
I, _'" Nenhum elemento 77 .48 .46
78
~
·1:::••1. Sujeitos preenchidos e a presença/ausência de adjuntos a IP - Painel
1-"]"

l~~I·il
tr~I~"'\:: Tabela 6
Condicionamento
Presença/ausência de adjuntos a IP
Amostra

%
80 (I)

P.R.
Amostra

%
00 (I)

P.R.
~ \: ~ ,I,

l,"!; ;:~:;~:I Topicalizações 89 .73 86 .72


Sujeitos preenchidos e a estrutura de CP - Tendência
' ~,
Adjuntos adverbiais 82 .57 82 .50
,11 1'1:[1
• "t·'
:.1. '!j Condicionamento Nenhum elemento 78 .49 80 .49
Amostra 80 (C) Amostra 00 (C)
Estrutura inicial da oração (CP) % P.R. % P.R.
Pronomes relativos e interrogativos 92 .86 96 .91
Conjunções subordinativas 84 .63 87 .75
Nenhum elemento
Tabela 8
79 .44 77 .38 f Sujeitos preenchidos e a presença/ausência de adjuntos a IP - Tendência

Condicionarnento Amostra 80 (C) Amostra 00 (C)

Observe-se nas tabelas 5 e 6 como é expressiva a polarização entre os pesos Presença/ausência de adjuntos a IP % P.R. % P.R.

obtidos para a presença US. ausência de elementos em CP. No que se refere às Topicalizações 91 .74 87 .64
Adjuntos adverbiais 90 .69 80 .55
estruturas com o especificado r de CP preenchido - relativas e interrogativas
Nenhum elemento 79 .48 80 .49
diretas e indiretas =, o processo de preenchimento da posição do sujeito já se

120
MUDANçA LINGüíSTICA" ElA TEMPO REAL A EVOLuÇÁa NA REPRESENTAÇÃO 00 SUJEITO PRONOMINAL EM DOIS TEMPOS 121
~'\

Observe-se que a mesma hierarquia se mantém nos dois estudos, embora a Tabela 10
distância entre o peso mais alto e o mais baixo diminua na amostra 2000 do Sujeitos preenchidos e as condições de referência - Tendência
estudo de tendência. A seleção dos dois condicionamentos estruturais até aqui
Amostra 80 (C) Amostra 00 (C)
apresentados confirma o fato de que a presença de elementos à esquerda da Condicionamento
Condições de referência % P.R. % P.R.
oração favorece o preenchimento do sujeito e suscita a busca de uma explicação
Referente sintaticamente acessível 78 .45 80 .48
para tal fato. Na realidade, num sistema em que o número de flexões verbais
Referente não acessível 91 .71 82 .57
se encontra reduzido (de seis para quatro e, mais freqüentemente, três oposi-
ções), é compreensível que o licenciamento do sujeito nulo passe a depender
das condições de referência, ou seja, quanto mais acessível o referente, mais
facilmente se licencia e se identifica o sujeito nulo. E a presença de elementos
Observe-se que, embora todos os índices percentuais sejam igualmente ele-
à esquerda do sujeito pode dificultar essa acessibilidade ao referente presente
vados, os contextos em que o referente esteja acessível sintaticamente ainda
no contexto precedente. Daí a realização fonológica do sujeito.
favorecem o não preenchimento do sujeito. A distâncía entre os pesos relativos,
Um outro grupo de fatores selecionado em ambos os estudos e, sem dúvida, entretanto, é bem menor na Amostra 00 (C), o que é previsível num sistema
relacionado aos dois anteriores é o que trata das condições estruturais de referên-
que marca com tanta freqüência até mesmo os referentes esperados.
cia, com o referente sintaticamente não acessível (casos de contraste ou ênfase, Numa língua de sujeito nulo, o preenchimento dos sujeitos em (6) e do
como em (6), ou de antecedente em função que não seja a de sujeito, como a
primeiro sujeito pronominal em (7) é funcionalmente motivado. Entretanto,
primeira ocorrência em (7)) favorecendo o preenchimento, enquanto o referente
a segunda ocorrência de pronome no mesmo exemplo não é a opção natural
sintaticamente acessível (em função de sujeito e sem elementos intervenientes
numa língua de sujeito nulo: o sujeito da subordinada tem como antecedente
que ameacem a identificação, como a segunda ocorrência em (7)) ainda favorecem
o SN "meu marido", sujeito da principal, estando, pois, em ótimas condições
o sujeito nulo, embora os índices percentuais já se igualem aos obtidos nos casos
estruturais de referência. Este contexto, quase categoricamente nulo nas lín-
de referente não acessível (cf. Calabrese 1986, para as condições de referência no
guas pro-drop, exceto na ocorrência de ênfase, ainda é um ponto de resistência
italiano, e Paredes Silva, neste volume, para uma detalhada análise desse tipo de
ao preenchimento do sujeito no PB, embora a ocorrência de um pronome já
condicionamento, que a autora designa por graus de conexão no discurso):
seja uma opção natural, o que é sugestivo do progresso da mudança.
(6) Minha noiva era muito ciumenta. Eu ia pra faculdade, ela ia atrás de mim.
Um condicionamento morfológico selecionado sistematicamente apenas
Eu fiz curso de inglês, ela se matriculou também. Eu falava com alguém no
no estudo de tendência foi o tempo verbal, com pesos relativos muitos próxi-
telefone, ela logo queria saber quem era (LeoOO).
mos. O presente do indicativo favorece o preenchimento do sujeito (.54 em
ambas as amostras). Embora os resultados até aqui tenham mostrado que a
(7) A briga começou porque meu marido bateu no meu sobrinho. Ele; estava
flexão, no atual estágio da mudança, tenha perdido terreno para o~tros condi-
batendo no cachorro. Aí meu maridoj não gostou porque elej gosta muito de
cionamentos, pode-se estar diante de uma questão que ainda envolva a saliên-
bicho (LeiOO).
cia das flexões verbais. Esse resultado de fato parece sugerir que formas verbais
-----
com flexões menos salientes, como é o caso do presente-do indicativo, cons-
-
Tabela 9
tituem um contexto favorável à implementação do uso do sujeito preenchido.
Sujeitos preenchidos e as condições de referência - Painel
Finalmente, um fator de natureza semântica, igualmente selecionado no
Condicionamento Amostra 80 (I) Amostra 00 (I) estudo que focaliza a comunidade, mais uma vez se apresenta como importante
Condições de referência % P.R. % P.R. condicionador do fenômeno em estudo: o traço [+/-animado] do referente de
Referente sintaticamente acessível 78 .48 .48
80 terceira pessoa. Embora com pesos relativos muito próximos, o traço [+ani,
Referent€~ 'acessível 80 .64 78 .63 mado] se mostra como favorecedor do preenchimento do sujeito, confirmando

122
MUDAAÇA LINGüíSTICA EM TEMPO REAL A EVOLUÇÃO NA REPRESENTAÇÃO DO SUJEiTO PRONOMif'lAL EM DOiS TEMPOS 123
a atuação da hierarquia referencial proposta em Cyrino, Duarte & Kato (2000) (tt) À5 vezes pelo fato da pessoa ser nascido e criado em morro, eles acham
para a realização de pronomes nulos e plenos em posição de sujeito e objeto. que é tudo mau elemento (lsaOO).

Tabela 11 (12) Normalmente na parte da manhã se faz melhor pescaria (Ag080).


Sujeitos preenchidos e o traço do referente - Tendência
(13) Este semestre agora que nós tamos: trancado de novo. (eu) Estamos
Condicionam.ento Amostra 80 (C) Amostra 00 (C)
vivendo em um mundo de cão (LeoOO).
Traço do referente % P.R. % P.R.
[+ animado) 82 .52 83 .57
[- animado) 67 .31 .48 Os resultados da análise aqui apresentada confirmam a preferência por
54
formas nominativas de indeterminação preferencialmente preenchidas, com
exceção da terceira pessoa do plural (eles), que ainda aparece com o pronome
nulo. Não se notam diferenças expressivas entre os dois períodos focalizados.
Note-se, porém, que na Amostra 00 (C), tal como se observou na Tabela 10
'1"·· Tanto no estudo de painel como no estudo de tendência, os sujeitos indeter-
"l4'';iJl·U em relação às condições de referência, diminui a distância entre os pesos ob-
.....,~.
r"·...- .. minados chegam a 70% de preenchimento e a forma "você" aparece como a
~ '':41"'...1.- tidos, o que pode indicar que a restrição vai aos poucos se perdendo à medida
"

~L:'~
._ .
que o sujeito [-animado] passa igualmente a ser preenchido.
estratégia preferida para a indeterminação nos dois tipos de estudo (com uma
média de 45% em relação às demais estratégias em cada uma das amostras
fi"··'
~1;.0_
"j.

analisadas), seguida por "a gente" (média de 20%) e as formas com a categoria
~~~~~ vazia e a terceira pessoa do plural. Em percentuais muito pouco expressivos,
'1:':_.: 3. O encaixamento da mudança
"'''J::::i! temos o uso de "se", "tu" e "nós". Um cruzamento dessas estratégias com a
,,:.1' faixa etária e o nível de escolaridade dos falantes revela ser "você" a estratégia
tI'C:!]; 3.1. Sujeitos indeterminados plenos
:...,. Uma mudança em direção aos sujeitos de referência definida lex:icalmente ex- por excelência dos indivíduos das faixas 3 e 4, enquanto "a gente" é ampla-
i!~IL
!~-':. pressos não se efetivaria no sistema lingüístico sem deixar vestígios. É natural mente utilizada por indivíduos com nível básico de escolaridade, independen-
Uç::: temente da faixa etária. O uso de "se", "nós" e "tu" varia entre 1% e 5%) estando
esperar algumas conseqüências a ela relacionadas. E, de fato, um dos aspectos já
as duas primeiras formas concentradas na fala dos indivíduos mais velhos, e
observados em outras análises é a tendência à realização dos sujeitos de referência
indeterminada com formas pronominais nominativas, preferencialmente plenas, a última aparentemente ensaiando um renascimento para concorrer com "vo-
em detrimento do uso de "se" indeterminador/apassivador, ao contrário do que cê" (cf. Paredes Silva 2000), na fala dos grupos etários intermediários.
ocorre no português europeu (cf. Duarte 1995, 2000). Os exemplos a seguir ilustram
as formas de indeterminação "você" e "tu" em (8), uma categoria vazia sem 3.2. Os sujeitos deslocados à esquerda
Outra evidência do encaixamento da mudança em direção aos sujeitos pro-
antecedente em (9), "a gente" em (10), "eles" em (11),"se" em (12) e "nós" em (13):
(8 ) Você tem que sair [...]. Tudo isso uocê tem que fazer, (cv)não pode parar nominais preenchidos é a ocorrência de sujeitos deslocados à esquerda (DE),
assim. Tu não morreu, pô! (eu) Aposentou, mas tu 'tá vivo, pô! (JanOO). uma estrutura incompatível com as línguas de sujeito nulo (cf. Duranti & Ochs
1979; Rivero 1980; Duarte 1987) e muito freqüente, por exemplo, em francês,

(9) (eu)Põe um pouquinho de 'Só Alho', aí (eu) põe óleo e (eu) põe um língua de sujeito obrigatoriamente expresso (Barnes 1986; Blanche-Benveniste
pouquinho de cebola, (eu) pica a cebola, (cu) faz uma macarronada (EriOO). 1993). Observe-se o exemplo. a seguir:
(14) Porque a Maria ela paga; ela se aposentou, ela paga 30% das consultas

(10) A gentetem que seguir o que a gente sabe e da forma que a gente foi que ela fizer (DavOO).
...•..
criado (Leo80).

I L~)
124 MUDANÇA UNGuíSTlCA EM TEtiPú REAL A EVOLUÇÃO NA REPRESENTAÇÃO 00 SUJEITO PRONOMINAl EM DOIS TEMPOS
,.

Essas construções, apontadas nos trabalhos pioneiros de Pontes, desen- dança no espaço de tempo considerado. Destaque-se, a respeito dessa estru-
volvidos no início dos anos 1980 (reunidos em Pontes 1987), e estudadas no tura, que Mollica (neste volume), estudando a anáfora em relativas, aponta a
âmbito do discurso por Braga & Mollica (1985, 1986) e Braga (1987), consti- retomada do sujeito relativizado como a mais freqüente entre as estruturas
tuem uma importante evidência de encaixamento da mudança por que passa analisadas. Ora, a cópia do sujeito produz exatamente uma construção de DE,
o PB. Na verdade, se a omissão do sujeito é a opção não marca da numa língua o que vem ao encontro dos resultados aqui apresentados.
de sujeito nulo, é de esperar que a estrutura apontada em (14) acima não As ocorrências em (19) e (21) são partic111armente interessantes porque
ocorra numa língua desse tipo. mostram duas séries de pronomes, uma de pronomes fortes, deslocados à
No caso do PB, a construção ocorre sem restrições, assemelhando-se muito esquerda em adjunção ao sujeito, e uma de pronomes fracos, que ocupam a
à do francês. Nas amostras estudadas há ocorrências de DE, com ou sem pausa: posição de sujeito e correspondem, segundo hipótese de Kato (1999b), aos
(15) A minha vida elajá foi mais tranqüila. Hoje ela é mais agitada (San80). pronomes nulos das línguas pro-drop e das construções que ainda exibem
sujeito nulo no PB. Enquanto no francês e no inglês a série forte assumiu a
(16) O Palmeiras, ele é um time muito forte (AndOO). forma oblíqua (moi / me), no português ela assume o mesmo caso nominativo
do sujeito, e o que distingue as duas séries é a tonicidade. Essa (a)tonicidade
Com ou sem elementos intervenientes: do pronome de segunda pessoa (você/ocê/cê) já se encontra discutida em
(17) Eu [jamais] eu volto ali (FatOO). Ramos (1997, 2000), com base no dialeto mineiro, e em Paredes Silva (1998),
com base na fala carioca.
(18) O meu mais velho, [que é engenheiro,] ele não gosta de estudar (NadOO). Outro aspecto importante, ligado a essa atonicidade dos pronomes que
ocupam a posição de sujeito (especificado r de IP), é sua ocorrência quando se
(19) Eu, [quando eu retomei a Jacarepaguá,] eu vim assim numa situação tem material interveniente entre o elemento deslocado e o sujeito (como ilus-
bem difícil (Eve80). tram os exemplos de (17) a (19) e (21). Isso poderia estar sinalizando uma
evolução de nossos pronomes fracos para clíticos fonológicos, tal como ocorre
Retomando referentes definidos, como os anteriores, ou indefinidos e in- no francês (cf. Vanelli, Renzi & Benincà 1985).
determinados:
(20) Mulher nenhuma ela pode querer dominar o homem. O homem ele é
livre por natureza. A mulher ela tem que aceitar isso (Flaoo). 4. Conclusão

(21) Não é como o Rio de Janeiro, que você [em cada esquina] você tem um Embora estudos diacrônicos (Tarallo 1983 e Duarte 1993) apontem uma
bar pra você lanchar (NadOo). trajetória de mudança no português do Brasil em direção ao sujeito pronomi-
nal preenchido, os resultados dos dois estudos - Painel e Tendência - mostram
Segundo revela o Estudo de Painel, o comportamento do indivíduo é es- certa estabilidade no comportamento do indivíduo e da comunidade, no que
tável em relação a tais estruturas. Apenas um indivíduo (Vas26) não faz uso se refere a esse processo nos últimos 19 anos. O curto espaço de tempo que
dela; na fala dos demais há um uso variável que gira entre quatro e seis estru- separa a gravação das amostras analisadas é certamente o responsável por tal
turas por inquérito. No Estudo de Tendência, a ocorrência dessas construções estabilidade. A respeito de mudança semelhante, Roberts lembra que "o francês
é mais expressiva tanto na década de 1980 quanto na década de 1990, mas não perdeu seus sujeitos nulos da noite para o dia [...]. Houve um período de
elas continuam variando segundo o indivíduo. Do total de sujeitos preenchidos aproximadamente 150 anos durante os quais o francês conviveu com um sis-
(definidos e indeterminados) na década de 1980, 6~ são conify.çi5es com DE, terna de sujeito nulo 'defectivo': um sistema que permitia sujeitos nulos apenas
.-. e na década de 1990, 5%. Não se pode, pois, falar em implementação dá mu- com certas pessoas e/ou certos contextos sintádcos" (1993: 414-5) .
.,;. ;-.

126 A EvaWÇÃO NA RE?RESENTAÇÂO DO 5UJFITO PRONOMINAL fM DOIS TEMPOS


127
MUDANÇA LINGüíSTICA EM TEMPO REAL

~ I ,
RELATIVAS EM TEMPO REAL
No que se refere ao indivíduo, nota-se maior instabilidade no comporta-
NO PORTUGUÊS BRASILEIRO CONTEMPORÂNEO'
mento de apenas dois falantes mais velhos, com idade acima de setenta anos.
Todos os demais mantêm um comportamento estável, conservando os índices
de preenchimento ao mudar de faixa etária, o que pode sugerir mudança ge- Maria Cecilia de Magalhães Mollica
racional. Acrescente-se ainda que somente entre dois dos mais velhos há nítido UFRJ/CNPq

desfavorecimento da regra de preenchimento do sujeito. No que se refere à


comunidade, nota-se igualmente estabilidade e semelhança no comportamen-
to dos diferentes grupos etários. Isso pode levar a duas hipóteses: a) ou o
1. Introdução
comportamento do indivíduo não muda substancialmente ao longo de sua
vida no que se refere à gramática nuclear, confirmando hipóteses da teoria Ao retomar o estudo sobre as construções relativas, desta vez comparando
gerativa, para a qual a gramática do indivíduo já está pronta ao final do pro- seu emprego no português brasileiro atual em tempo real, considero o intervalo
cesso de aquisição; b) ou a mudança na gramática nuclear se dá ao longo de de quase vinte anos, conforme proposição geral e comum a todos os trabalhos
.•I"" ,;:l.r. períodos de tempo mais longos do que o focalizado . desta coletânea. As referidas estruturas foram retiradas das amostras 80 (C)
~r"'-"I
I~h.,•.•...•
'
:~:;t~ Os resultados permitem confirmar quais os contextos estruturais que favo- e 00 (e) e da amostra 00 (I) (conferir mais informações na Introdução geral
l!l~
..•::
.l .."..··: recem a lenta, porém consistente, implementação da mudança. No momento do livro). Observo os mecanismos de referência provenientes das conexões
,,' ..... ,.....
,~:::: em que o quadro flexional se reduz, a estrutura inicial da oração, as condições intersentenciais, tomando como unidade de análise o uso variável da anáfora
I!.".~."
~~
..... ~ estruturais de referência e o traço semântico do referente passam a atuar como pronominal do SN antecedente, quando em função de sujeito, complemento
~~::~:
~~5~
fatores que favorecem ou retardam essa implementação. Assim, uma estrutura
inicial sem conectivos e adjuntos, um referente sintaticamente acessível e com
preposicionado e complemento não preposicionado, conforme os exemplos a
'!::.!:. seguir':
.r!:::!} o traço [-animado] constituem contextos em que o uso do sujeito nulo ainda é
~
expressivo. Por outro lado, a presença de conjunções subordinativas, relativos
e adjuntos, a existência de elementos intervenientes entre o referente e a posição I Participou da elaboração deste trabalho a bolsista de IC Camille de Miranda Fernandes.
de sujeito, além de um referente [+ animado] levam ao preenchimento do sujeito. 2 Foram descartadas as construções que não geram contextos para a realização variável
Foi ainda possível encontrar em ambos os estudos as evidências de encai- da anáfora pronominal, quais sejam: a) construções cujo sintagma referente seja um
xamento, ou "efeitos colaterais" da mudança, aqui representadas pela preferência adjunto adverbial de lugar e/ou de tempo, como em: "foi até no tempo que a minha
mãe estava melhor, vamos à loja que eu comprei as roupas"; b) quando o referente é
por formas pronominais plenas para a expressão do sujeito indeterminado e pelo
um pronome, ou em estruturas cEvadas, como em: "ele queria saber de tudo que se
uso consistente de construções com o sujeito deslocado à esquerda. Tais estruturas,
referia a mim" e "ela que é a professora do Marcos". Outros casos não puderam igual-
que não ocorrem em línguas de sujeito nulo, são consideradas evidências do mente ser aproveitados, por não se tratar de anáforas pronominais de terceira pessoa,
encaixamento da mudança paramétrica por que passa o português do Brasil. embora sejam de especial interesse para a compreensão mais abrangente do português
Pode-se, pois, dizer, com base em tais resultados e nos altos índices per- brasileiro: a repetição na relativa do pronome como em "porque eu sou uma criatura
centuais de aplicação da regra, que, embora relativamente estável no espaço que eu tenho pena de todo mundo, eu sou um cara que eu não sou difícil de se conviver";
a repetição do próprio termo na oração relativa, como em: "ela foi enfrentar um cara
de tempo considerado, a mudança em direção ao preenchimento do sujeito
que o cara falou que era um assalto"; a repetição do referente do SN cabeça por um
prossegue lentamente. O certo é que o sujeito expresso já é a opção não mar-
demonstrativo, como em: "houve umas brigas, umas confusões que eu não quero es-
cada no PB em contextos não coordenados. quentar a cabeça com isso"; a retomada do termo antecedente por pronome na primeira

... ~
I pessoa do plural, como em "mas tem pessoas conhecidas
conversamos" e "o M~ito e os gêmeos também
aqui que nós se encontramos,
que a gente estudamos juntos" .

129

128 MUDANÇA UNGuiSTlCA EM TEMPO REAL

I
l'

(Ia) Ah, eu gostava de urna senhora que ela estudava na minha sala (Sim, dos fatores sociais sobre os estruturais? 4) Qual a diferença entre o compor-
Amostra 00 (I).
tamento dos indivíduos e da comunidade no interstício considerado? 5) Já se
(Ib) Eu conheço um senhor de oitenta e três anos de idade que ele pega onda pode explicar o encaixamento das referidas construções face a outras estruturas
(Fil, Amostra 00 (I).
sintáticas no português?

(za) Ela (a escola) apresenta urna infra- infra-estrutura que eu me adequava


muito a ela (Fil, Amostra 00 (I).
2. Evidências estatísticas e questões relevantes
(zb) Tenho colegas meus que eu encontro com eles às vezes (Geo, Amostra
80 (C).
No que se refere ao uso das estruturas anafóricas nas relativas nos individuos,
(zc) A pessoa tem que ter um serviço fixo que a pessoa possa confiar nele . os resultados indicam que os 16 falantes recontatados apresentam percentual
(Car, Amostra 80 (C).
global idêntico de 6% da regra '(emprego' de anáforas) nas amostras 80 (1) e
00 (I), coincidindo também com o percentual global encontrado nas amostras
(Sa) Ontem foi a chegada de um- de um padre lá com urna moça que o pai 80 (C) e 00 (C). Constata-se estabilidade nos indivíduos, pois as alterações de
dela está preso (Ale, Amostra 00 (I).
comportamento de cada um mostram-se estatisticamente irrelevantes e os
(Sb) Tem outra Cláudia que o apelido dela é Maria Gasolina (AdrR, Amostra cálculos realizados para verificar o grau de dispersão dos indivíduos apresen-
80 (C).
tam pouca diferença entre eles.
No estudo de painel e de tendência, controlei o efeito de escolaridade,
Neste artigo, procedo à retestagem de aspectos já conhecidos (cf. Mollica idade e sexo, assim como o traço de animacidade do referente, sua função
1977, 1981; Tarallo 1983; Kato 1993; Corrêa 1998, entre outros) e levo em sintática e a distância entre o SN referente e o relativizador. As tabelas que se
conta o que não havia abordado nos idos de 1970, com a finalidade de discutir seguem demonstram como as variáveis lingüísticas regulam a sistematicidade
a suposta mudança de um tipo de estratégia anafórica na língua portuguesa, do emprego da anáfora pronominal nas relativas de forma muito semelhante,
sua vinculação com a tendência à complementação direta e com o progressivo seja com relação aos indivíduos, seja com relação à comunidade. Observe-se
aumento de preenchimento de sujeito, de acordo com os estudos de Gomes, a Tabela 1 que se segue.
Paredes Silva e Duarte, presentes neste livro. Aprofundo-me na hipótese de
que o português brasileiro está caminhando na direção das denominadas "va- Tabela 1
riantes cortadoras'' (cf. Tarallo 1983, entre outros), de que está havendo perda Correlação entre variáveis estruturais e sociais e o emprego da anáfora
de preposições (cf. Gomes 1996) e aumento de sujeito preenchido (cf. Duarte Estudo de Painel
1995). Assim, procuro investigar a maneira como o processo se "encaixa" e se
Variável Fatores Amostra 80 (I) Amostra 00 (I)
"irnplementa" no sistema do português e analiso a forma como ele é controlado
+ Distância l2/102 = 12 % 9/69 = 13%
estrutural e socialmente, demonstrando a base de funcionalidade do pronome Distância
- Distância 12/313 = 4% 5/265 - 2%
anafórico em relativas. Procuro oferecer mais elementos a favor da existência + Humano 23/239: 10% 12/l68: 7%
Animacidade
do recurso de esquiva de que os falantes lançam mão de modo a evitar sen- - Humano 1/176= 1% 2/l66: 1%

tenças como "este é um assunto de que eu falei" e preferir construções como Sujeito 18/283 = 6% 12/230 = 5%
Função
"este é um assunto que eu falei". Objeto Indireto 6/132: 4% 2/lD4:2%
Fundamental 1 15/198 = 8% 2/92: 2%
As principais perguntas lançadas são: 1) Pode-se afirmar que houve mu-
Escolaridade
Fundamental 2 7/120 = 6% l/3D = 3%
dança no que se refere ao uso variável das relativas? 2) Os parâmetros contro- Médio 2/97: 2% 5/114 = 4%
ladores são semelhantes nas décadas de 1980 e 199G~) Há predominância Universitário - 6/98: 6%

130
MUDANÇA lINGuis PC" EM TEMPO REAL RELAflVAS E\1 TEMPO REAl NO PORTUGUt~ aRASILEtRO COf\ITEMPORÂNEO 131
De acordo com os resultados, a incidência do pronome cópia é maior quando Confirmo então o que Corrêa (1998) havía assinalado: a escolaridade con-
há um elemento interveniente entre o referente e o pronome relativo, como tribui para a redução de anáforas; a menor distância entre o referente e o
em "a menina de cabelo louro com lacinho vermelho na cabeça que ela quebrou relativo também o faz. Nos casos de maior distância, a ocorrência da anáfora
a perna ontem". O maior número de ocorrências se dá concomitantemente ao é menos estigmatizada, passando a constituir-se num recurso de retomada
traço distância, vinculando-se a princípios de processamento lingüístico do elemento referido com vistas a melhor esclarecer "de quem" ou "do que"
relacionados à clareza comunicativa. No exemplo seguinte, verifica-se a neces- está se falando. Assim, está claro que a variável distância atua independente-
sidade de se ter que recuperar o referente, não só por estar distante, mas para mente da escolaridade, estabelecendo uma tensão entre ambos os fatores,
desfazer ambigüidade: "o professor de matemática era o melhor da minha es- uma vez que um age no sentido de pressionar a redução e o outro favorece a
cola que eu estudei na 8' série". Nessa construção, não se pode precisar qual o utilização da anáfora.
referente do pronome, se "escola" ou "professor". Com a presença do pronome Numa série de processamento dos dados em VARBRUL, retirou-se cada
cópia, desfaz-se a ambigüidade em relação ao antecedente: "o professor de um dos dados pertinentes a um falante em ambas as faixas temporais. Nessa
matemática era o melhor da minha escola que eu estudei com ele na 8" série". etapa, constatei que somente um indivíduo realizou o pronome cópia em po-
11',
,;;;J.r.. O traço de animacidade do referente reafirma tendência universal de que, sição de objeto indireto, encontrado uma única vez dentre as várias construções
1" •• ~ •.J~
:~::;I::: quando o sintagma antecedente é humano, o índice de ocorrência da anáfora relativas. Verifiquei de novo e com maior certeza que há uma implementação
. -.
" •• 1 iL 00.1 ••

:r.~.:;'=::: é maior. Quanto à variável função, observa-se que, na Amostra 00 (1), a anáfora do pronome cópia na posição de sujeito em detrimento das demais posições.
::'.~:::'
... - .•..,
concentra-se integralmente na posição de sujeito, enquanto, na Amostra 80 Em pesquisas anteriormente realizadas, foi encontrado com freqüência o pro-
~.....•. ,
(I), ocorre como sujeito e objeto indireto. Na posição de sujeito, não há dife- nome cópia em função de objeto indireto, diferentemente da situação dos da-
b~~~5:
~. .,- rença estatisticamente significativa de sua ocorrência, enquanto na posição
ti.., •••• ", dos atuais das amostras utilizadas. Dessa maneira, é razoável supor que a
NI":::;':;t ~
de objeto indireto a variação é relevante. A ausência da anáfora em posição de anáfora esteja sofrendo uma reconfiguração no que se refere ao seu encaixa-
1'-"'-'
:::.:.: .
objeto indireto, nos indivíduos em 00 (I), conduz à suposição de que a variação mento no sistema do português brasileiro, comportando-se, na maioria das
esteja de fato se conceni'hlrtdo no domínio sintático do sujeito. vezes, como uma estrutura com clara funcionalidade'.
Segundo a Tabela 1, a escolaridade não se mostra um fator particularmente A contextualização regular da regra se dá também no âmbito da comu-
atuante, com um leve favorecimento da anáfora pelos falantes da Amostra 80 nidade. Em relação às variáveis estruturais - animacidade, distância e função -,
(I) e pelos universitários da Amostra 00 (I). No entanto, quando se cruza esse há equiparação bastante acentuada dos resultados em ambas as amostras,
fator com as demais variáveis, nota-se que os indivíduos com nível superior como mostra a Tabela 2.
de escolaridade revelam um índice elevado de anáforas em estruturas em que
os referentes apresentam o traço [+humano] e se acham distantes do relativo,
o que nos leva a concluir que são empregos cuja funcionalidade é explícita, "('"

como em "eu ganhei um cachorro da raça pequenez doentinho da minha pro- 3 Ao cruzar a escolaridade com função, somente os falantes menos escolarizados empre-
fessora particular que ele não sobreviveu". Assim, é de se supor que a escola gam a anáfora em sintagmas preposicionados, e os mais escolarizados a utilizam ex-
clusivamente em posição de sujeito. Outros resultados processados pelo VARBRUL, se-
rnonitora com sucesso somente os casos mais estigmatizados em que o falante
gundo os indivíduos em grupos dos que favorecem a incidência do pronome cópia, dos
utiliza a anáfora em posição de sintagma preposicionado, como em "o cachorro
que não favorecem e dos que se mantêm neutros são pertinentes estatisticamente e
o que eu gosto dele", mas não dá conta da forma standard "o cachorro de que mostram que os falantes de perfil favorecedor realizam anáfora com mais distância e
eu gosto", verificando-se atualmente o predomínio do emprego da forma cor- na posição de sujeito. Sendo assim, pode-se concluir que essa é uma variável estrutural
tadora "o cachorro que eu gosto" . forte que aponta o "locus sintático" do sujeito como favorecedor entre as demais funções.

..
~;..:.-.

132 MUDANÇA lINGuíSTICA EM TEMPO RE,\L RELATIVAS EM TEMPO REAL NO PORruGU~S BRASILEIRO CONTEMPORÂNEO
133
....,.,,:;""
~!.f""
~'(

Tabela 2 Tabela 3
Correlação entre variáveis estruturais e o emprego da anáfora Correlação entre variáveis sociais e emprego da anáfora
rj;,
Estudo de Tendência Estudo de Tendência

Amostra Peso Amostra Peso Amostra Peso Amostra Peso


Variável Fatores Fatores
80 (C) Relativo 00 (C) Relativo Variável 80(C) Relativo 00 (C) Relativo

+ Distância 45/368 = 12% .74 16/142 = 11% .72 7 a 14 anos 34/376= 9% .60 4/37 = ll% .64
Distância
- Distância 42/1152 = 4% .42 16/441 = 4% .42 .42 11/188 = 6% ,53
15 a 25 anos 12/256 = 5%
Idade .46
+ Humano 75/804= 9% .70 28/314 = 9% .72 26 a 49 anos 25/466 = 5% .54 12/217 = 6%
Animacidade
- Humano 12/716 = 2% .28 4/269 = 1% .24 16/421 = 4% .42 5/141 = 4% .49
+ de 50 anos
Sujeito 63/1008 = 6% .54 24/376 = 6% .53 Fundamental 1 34/582 = 6% .49 12/165 = 7% .57
Obj. Indireto 9/73 = 12% .80 2/24 = 8% .84 Escolaridade Fundarnental2 41/661= 6% .52 19/264 = 7% .71
Função Adj. Adnominal 7/12 = 58% .97 3/7 = 43% .99 12/276 = 4% .48 1/154 = 1% .14
Médio
Adj. Adverbial 4/88 = 5% .64 2/37 = 5% .76 Mulher 43/685 = 6% .52 26/365 = 7% .62
Obj. Direto 4/339 = 1% .24 1/126 = 1% .23 Sexo .48
Homem 44/834= 5% 6/218 = 3% .31
~,

~
Saliente-se o efeito positivo que os referentes de traço [+humano] assim como :Iil
os referentes distantes do relativo têm sobre a emergência das anáforas. Com relação às variáveis sociais idade e sexo, os resultados mostram que os li;

Quanto à variável "função", os resultados indicam estabilidade, o que equi- falantes de menos idade e de sexo feminino tendem a empregar os pronomes ',..-
1:10-

vale a dizer que, do ponto de vista do sistema, o encaixamento e a implernen- anafóricos nas cláusulas examinadas. A escolaridade, no entanto, é fator rele- s....
tação do fenômeno não vêm apresentando um quadro de mudança e as modi-
vante para inibir os empregos anafóricos a partir do nível médio mais especi- .; ~
-..
Illl

ficações observadas são sutis, posto que são extremamente localizadas. Re- ficamente. ~\

Comparativamente, na perspectiva dos indivíduos, os resultados não se mos- .\


gistre-se também a ausência de anáforas em função de objeto direto nos dois ,t
....•
traram muito regulares quanto ao efeito de certas variáveis sociais, especial-
tempos. É relevante ressaltar tendência decrescente (mesmo que discreta) da ~~I

anáfora nas posições de objeto indireto e adjunto adnominal: 1) não há casos mente idade, sexo e escolaridade. Considere-se, entretanto, que: a) trata-se de
um conjunto de falantes não estratificado regularmente, posto que a constituição ~iil I""J
de anáforas com objeto indireto dativo, como "Essa é a pessoa que eu mandei !::i .'11
a carta a/para/pra ela"; 2) os casos de anáforas do que aqui classifico como da Amostra 00 (I) dependeu de inúmeros fatores operacionais, alheios às
adjunto adnominal, do tipo "Ela é uma mulher que a vida dela é marcada pelo questões lingüísticas e às técnicas estatisticas normalmente observadas na

sacrifício" são extremamente raros, chegando-se à constatação de que a forma, composição de banco de dados; b) o cálculo global dos dados desses falantes,
segundo a norma culta, com eujo está inteiramente banida da fala dos cariocas pelos motivos sumarizados em a), neutralizam diferenças individuais, ca-
até o nível médio deescolarízação. Os resultados referentes à função das aná- racterísticas desse grupo heterogêneo, que acabou por configurar e proporcio- :!'
foras parecem espelhar uma distribuição do fenômeno em que a predomi- nar parte da análise em tempo real que eu e os demais componentes da equipe
do PEUL estarnos levando a cabo em relação a fenômenos variáveis diversos.
nância da variação incide sobre o "locus sintático" do sujeito, do objeto indireto
não dativo e do adjunto adverbial, sendo que a maioria dos dados concentra- Constatadas tais diferenças, pode-se cogitar sobre a importância de se
1
se na função de sujeito. examinarem, além das variáveis já controladas, fatores de outra ordem, afetos
Quanto às células sociais, o perfil que compõe a Amostra 80 (C) é seme- a características peculiares dos indivíduos analisados, movimentos pessoais
lhante ao da Amostra 00 (C), o que leva a supor que o fator tempo não atuou de vida, atividades profissionais, modus uivendi dos falantes. Afora estas con-
na comunidade no que tange à 'inscrição sociaL Eis os resultados nos dois siderações, não se pode esquecer de que o fenômeno que estou examinando
eixos temporais, expostos na Tabela 3 . acontece na esfera sintática da língua, dimensão mais resistente à mudança.

..
134 RELATIVAS EM TIMPO REAL NO PORTUGUt:S BRASILEiRO CONTEMPORÂNEO 135 [.i"
MUDANC,A LlNGüiITlG\ EM TEMPO REAL
,-t
~:'I
Ao final de inúmeras testagens com diferentes variáveis, posso afirmar que 3. Encaixamento e implementação e algumas características
a análise de correlação de variáveis, em que se verifica o comportamento re- da gramática do português
gular de vetares internos nos dois peno dos considerados, em estudo de painel
e de tendência, evidencia-se a sistematicidade da variação e um controle bas- Segundo Weinreich, Labov & Herzog (1968), o encaixamento e a implemen-
tante forte e definido de alguns fatores. O pronome anafórico em relativas tem tação são processos simultâneos, através dos quais as inovações se instalam
mais chance de emergir quando o referente pronominalizável é [+hurnano] e nos sistemas lingüísticos e se articulam com outras estruturas dinâmicas coe-
[+animado] e quando há alguma distância entre o SN antecedente cabeça e o xistentes. É crucial, então, conhecerem-se as propriedades estruturais da língua
relativizador (pronome relativo) que se situa na fronteira intersentencial. Hie- sem as quais nem é permitido o "encaixe" nem a implementação das inovações.
rarquicamente, o fator que mais atua é a distância: em todas as rodadas com- As línguas do mundo exibem cláusulas relativas que estabelecem relações de
putacionais, o programa seleciona esse grupo primeiramente como relevante. atribuição a referentes através de cadeias sentenciais subordinadas adjetivas,
A escolaridade, por sua vez, é importante para se constatar que a variante No entanto, nem todas prevêem que o operador de relativas seja "repetido"
~::.:l[.~ cortadora vai sendo preferida pelos falantes à medida que aumenta o nível através de estratégias anafóricas. O português do Brasil aceita que o relativi-
I:::::' escolar, nos casos em que as anáforas são precedidas de preposição. A partir zador seja retomado variavelmente através de pronomes, quer na função de
:::it:::
~. ...., do nível médio de ensino, os falantes só empregam anáforas com função desujeito,
~~;:.1::;~ sujeito, quer nas funções já mencionadas e analisadas na pesquisa.
I •••
,,, .•....
' ••• • •• •• mesmo assim se o fator distância estiver atuando.
Ao considerar somente relativas copiadoras com referentes não circuns-
~~:;~: : Vale então frisar novamente que a escolarização atua para inibir o emprego tanciais, levei em conta apenas a cópia pronominal com a forma tônica "ele",
~ •••• , ;J"
~~:.1=.: da cópia nas sentenças relativas, que redundam no uso de variantes não stand-
"," ..• -
•........... "ela", "eles", "elas" cujos referentes podem ser humanos e não humanos, ani-
IIlIl:,:!I:
1--'" .
ard, mas a força do componente funcional se sobrepõe, pois o fator distância mados e não animados. Meu propósito consistiu em demonstrar que a relativa
b.:: .,..
passa a ser o mais importante. Só foi possível constatar a tensão entre forças copiadora não é um fato isolado no português. As construções "o meu trabalho
.tr::::'1':
f" •• ,
internas e externas ao sistema quando foram levados em conta dados da (ele) é uma reanálise das construções relativas, eu conheço um cara que todo
JC
f;r,"-.oi't
i-·.I·
Amostra 00 (I), já que alguns dos falantes galgaram outros níveis escolares, mundo precisa dele quando quer consertar eletrodomésticos" são evidências
!:=:j': de modo que passamos a ter, do ponto de vista dos indivíduos, falantes de de que o português lança mão da pronominalização para retomar os referentes
nível fundamental, intermediário e superior de ensino. Operando a testagem da sentença matriz, e essa possibilidade da língua ocorre também em cons-
da variável escolaridade no conjunto da Amostra 80 (C) e 00 (C), o programa truções de deslocamento à esquerda, em cadeias tópicas e vem se localizando
oferece números que indicam similar tendência, mas não seleciona escolari- mais na função de sujeito.
zação como estatisticamente pertinente. Nos indivíduos, porém, o cruzamento Tal constatação é tanto surpreendente quanto esperada, pois apresenta-
de escolaridade com distância é selecionado computacionalmente, uma vez se coerente com o que Duarte e Paredes Silva (entre outros autores) vêm cons-
que todos os dados dos falantes universitários são "com distância", o que pesa tatando com relação ao preenchimento de sujeito e para aspectos referentes
mais no cômputo geral.
às cadeias tópicas: verifica-se a tendência de os sujeitos estarem sendo paula-
Não resta qualquer dúvida a respeito da funcionalidade da estratégia co- tinamente preenchidos no português, sendo a cláusula relativa um contexto
piadora em sentenças relativas (através de pronomes), que possibilita a reto- favorável para que não haja sujeito nulo, o que estaria indicando uma modifi-
mada de referentes que se queiram recuperar na memória durante a interco- cação de parârnetro na língua portuguesa, evidenciando coerência e articulaçã
municação. De fato, existem tensões entre os vetores que agem sobre os usos muito grandes entre os achados dos estudos desenvolvidos.
lingüísticos variáveis, tópico que tem sido abordado na área e está a merecer O aumento do preenchimento de sujeitos não só é consoante ao trabalh
investigação mais aprofundada.
de Paredes Silva desde 1988 e ao de Duarte (1995) como corrobora os achados
de Mollica (1989,1995), TIo.squais eujá apontava uma tendência do portugues
de buscar empregar a complementação direta, mais canônica. Reatestamsu,

136
MUDANÇA lINGúíSTICA EM TEMPO REAL RELATIVAS EM TEMPO REAL NO PORTUGU~S BRASILEIRO CONTEMPORÂNEO IJ I
através dos resultados aqui mostrados, as previsões de Tarallo (1983) e Corrêa OS MOSTRATIVOS NA VAR!EDADE CARIOCA FALADN
(1998), segundo as quais deve-se supor que os falantes preferem as construções
de esquiva do tipo "esse é o dinheiro que eu preciso", em conformidade com
as conclusões de Gomes (1996): o português brasileiro vem sofrendo perda Cláudia Roncarati
no sistema preposicional em alguns verbos, procurando a deriva da cornple- UFFjCNPq

mentação direta. Tais fatos são prova também de que o nosso sistema codifica
com freqüência estruturas topicalizadas.
Não ficou provado o avanço das copiadoras, de forma que algumas pergun- 1. Introdução
tas permanecem sem resposta e devem constituir preocupação em estudos pos-
teriores. 1) Há princípios mais gerais que norteiam a interação entre pressões o estudo sobre os mostratívos' tem a virtude de descortinar interessante campo
de ordem externa e de ordem interna à língua e pressões relacionadas às con- investigativo sobre a questão dos seus valores default: e sua correlação com
dições de uso lingüístico? 2) Existem outras evidências da supremacia dos fa- domínios referenciais. Trata-se de tema relevante. Pelo menos dois instigantes
tores estruturais sobre os sociais? 3) Se a resposta à pergunta 2 é positiva, em motivos justificam o estudo da natureza estrutural e funcional variável dos
que tipo de variação e/ou em que subsistema da lingua tal fato é sistemático? mostrativos: primeiro, a estreita conexão que a face diádica dos mostrativos,
dêitica e fórica, mantém com princípios atuantes em domínios referenciais e,
segundo, o interesse que essas formas pronominais despertam enquanto es-
tratégias possibilitadoras de compreensão textual.
Neste artigo, ofereço um perfil dos usos dos mostrativos e teço algumas
considerações, empiricamente fundamentadas, acerca do estatuto referencial
da dêixis, por acreditar que, em larga medida, os fatores reguladores de usos
de expressões dêiticas estão estreitamente vinculados a pressões que atuam
nas esferas do discurso e cognição. Em relação a estudos anteriores (cf., entre
outros, Castilho 1978, 1990a e 1990b; Moraes de Castilho 1991; Rocha 2000),

1 Colaborou nesta pesquisa a bolsista de IC Bárbara Pontes dos Santos .


.2 Termo adotado de Castilho (1990a, 1990b), que engloba em classe única os demonstra-
tivos de primeira, segunda e terceira pessoas, os advérbios aqui, ali, lá e o clítico o (no-
minal ou verbal), em função das propriedades sintático-semânticas por eles compartilhadas.
O presente estudo, entretanto, abrange somente a categoria dos pronomes demonstrativos.
3 Os valores default, ou propriedades semânticas básicas, dos mostrativos, apontados
por Cunha (1970: 235) e Moura Neves (2000: 499-502), configuram o seguinte espaço
distribucional: este/isto (e suas flexões), pronomes de primeira pessoa, referem-se di-
retamente ao falante, designando situação próxima ej ou referente presente no momento
da enunciação e no tempo atual; isso/esse (e suas flexões), pronomes de segunda pessoa,
referem-se diretamente ao ouvinte, designando situação intermediária ou distante e
tempo passado ou futuro pouco distantes; aquele/aquilo (e suas flexões), pronomes
de terceira pessoa, referem-se a algo ou alguém que não constitui pessoa do discurso
(uma não-pessoa), designando situação longínqua e passado remoto ou vago.

138 139
MUDANÇA UNGüiSTICA EM TEMPO REAL
este estudo diferencia-se pela sustentação teórico-metodológica praticada, já que O comportamento do indivíduo e da comunidade como um todo confirma
os resultados emergem de análises em tempo aparente (distribuição por faixa uma das direções de mudança possíveis no sistema dos mostrativos na variedade
etária) e em tempo real de curta duração (dois recortes de tempo distintos). carioca falada: a passagem de um sistema tricotômico a um sistema dicotômico:

SISTEMA TIUCOTÔMICO > SISTEMA DICOTÔMICO


Formas de lap. -formas de 2'p. vs formas de Jap I formas de I' e 2·p.vs formas de Jap
2. Os mostrativos na variedade carioca falada: a alteração de
seus valores default e a emergência de mecanismo compensatório

Nossos resultados fornecem aporte empírico para tendência já observada no Essa direcionalidade no sistema dos pronomes demonstrativos anafóricos
português brasileiro falado em substituir os mostrativos de primeira pessoa no português brasileiro estaria acompanhando um processo de mudança co-
(este e isto) pelas formas de segunda pessoa (esse e isso). Câmara Jr. (1979: mum em outros sistemas lingiiísticos. Cid, Costa & Oliveira (1986), com base
103) já decretara a redução do sistema dos mostrativos a dois tipos - de um nos materiais do NURC-RJ, sugerem que o nosso sistema tricotômico - compar-
'.n'_:
:::)
11" •.•.
lado, esse e este, gramaticalmente equivalentes, mas estilisticamente diversos tilhado por outras línguas românicas como o espanhol (estejessejaquel), ga-

;5
.::J
e, de outro, aquele, a partir da distinção do campo do falante. Os resultados
baseados em corpus, muito embora ainda se restrinjam às dimensões geodia-
lego Cistejisejaquil) e o sardo (custejcussejcullo) - acabaria por se tornar di-
cotômico, acompanhando tendência registrada no italiano (questojquello), pro-
::j letais paulista e carioca, também corroboram o uso majoritário de esse: Cid, vençal (acest/aquel), catalão (aqueatjaquell), rético (kuest/kueii e no romeno
!~'~
.•..•.
Costa & Oliveira (1986), estudando a fala culta dos cariocas com dados do (acestjacel). Completada essa evolução lingiiística, o português se aproximaria
• roi, •••
NURCjRJ, descobriram que o discurso universitário prioriza esse (91,8%) em do sistema francês, que instancia um elemento único, ce co-ocorrendo com ci e
,::(.
detrimento de este, reservado para contextos de maior formalidade. A fala là para codificar as noções de proximidade e distanciamento, respectivamente.
::i!!~ culta dos paulistas, segundo dados dONURcjSP (cf. Castilho 1990b), igualmente É bem provável que, na implementação desse sistema dicotômico dos mos-
r: atesta o posto de liderança de esse (58%). trativos, fatores semântico-cognitivos também entrem em cena. Via de regra,
Nossas evidências permitem interpretar essa tendência em um quadro mais os estudos que se debruçam sobre propriedades sintático-semânticas dos mos-
......
Il,·1 geral de implicação mútua entre processos de mudança aparentemente inde- trativos explicam o seu caráter dêitico em função de seus valores default ou
I_I';
'!'
pendentes, fenômeno conhecido na teoria variacionista como "encaixamento". propriedades semânticas básicas. Para esses estudos, que adotam uma vísão
Os resultados atestam nítida tendência de reconfiguração dos domínios de
referência dos mostrativos neutros e não neutros de primeira e segunda pes-
soas, processo inequívoco de deslocamento da propriedade semântica básica que acabou de ser enunciado) e este (a ser enunciado a seguir). O discurso da prosa
de centração no falante (perda de referência centrada na pessoa do discurso) e acadêmica é prototípico. A publicação cientifica observa a oposição distal/proximal
para controlar a entrada de referentes novos/velhos e sinalizar marchas de subtópicos
no contexto imediato. Configura-se, então, uma situação de convergência entre
e tópicos. Assim, não é incomum encontrar tópicos de abertura apresentando um "Esta
o comportamento do indivíduo e da comunidade tendente a um processo de
tese tem por objetivo ..." ou "Esta mesa-redonda pretende discutir ...". Câmara Jr. (1979:
reformulação dos valores default dos mostrativos que, previsivelmente, acabaria 193-4) avalia que tal convenção é mais rigorosamente obedecida no português europeu
por produzir uma transformação do sistema tricotômico dos mostrativosi. do que no brasileiro, o qual prefere esse em lugar de aquele para referenciar o contexto
comunicacional imediato, reservando este para marcar ênfase. Para ele, a refcrenciaçà
dêitica tende a suprimir o sistema tripartido este.esse.aquele, reduzindo-o à oposiçao
4 Mattos e Silva (1993: 27) afirma que, pela datação de Teyssier (1982), o sistema dêitico este/esse.aquele, vigentes nos sistemas italiano, romeno ou inglês. Como vemos, a tru
teria se firmado como tricotômico lá pelo século xv. Mas a instabilidade da distinção dição gramatical reconhece - ainda que imputando casos desviantes a efeitos cstilísticos
tricotômica é fato já inconteste no português brasileiro falado. Contudo, a modalidade ou a empregos particulares - que as distinções previstas por esse sistema ternãrio IIUO

escrita ?O português .europeu e brasileiro ainda conserva a distinção entre esse (aquilo são rigorosamente obedecidas, sobretudo na modalidade oral do português brusrleiro.

140
MUDANÇA lINGulSTICA EM TEMPO REAL
01 MOITRATlVOI NA VARIEDADE CARIOCA fAlADA 1111
semântica das expressões dêiticas baseada na referenciação extensional (apon-
faixa dos recontatados mais jovens (18,99%), mas se mantém estável nos de
tadora, ostensiva), as entidades (ou referentes) designadas, a partir de um
idade mais alta (9,52%). Aquele igualmente avança na faixa inicial dos
campo mostrativo (ou ponto dêitico), costumam ser dimensionadas em uma
recontatados (11,03%) e recua nos de mais idade (6,25%). Os índices deaquilo
escala demarcada pelos pólos proximal e distal, a partir dos quais se definem os
duplicam nos recontatados ainda mais jovens (4,78%) e continuam estáveis
valores default (cf. Rubba 1996). O cerne de todo o problema, como demons-
nas outras faixas etárias, decorridos quase vinte anos.
tramos mais adiante, está no estatuto que a literatura semântica em geral con-
fere à noção de "designação", concebendo-a como um processo de atribuição
Tabela 1
de correlação apriorística das entidades designadas com o mundo fenomênico.
Distribuição dos mostrativos no Estudo de Painel
Essa noção de designação extensional, no entanto, é inoperante para explicar o
problema da autonomia referencial de alguns usos dos mostrativos. NAO-NElIT'RO NEUTRO

Os índices fornecidos pelo exame dos dados nos estudos de painel e de Amostra ESTE ESSE AQUELE ISTO ISSO AQUILO

tendência flagram o enfraquecimento do sistema ternário dos mostrativos _ 80 (I) 11 664 350 - 449 82
N~ 1556 0,70% 42,67% 22,49% - 28,85% 5,26%
aliado a uma tendência mais visível na fala em "relaxar" a distinção entre
Amostra ESTE ESSE AQUELE ISTO ISSO AQUILO
referência de primeira e segunda pessoas. Tal resultado, em princípio, pareceria 00 (I) 823 413 2 662 154
4
ilustrar um efeito dominó ou de encaixamento, desencadeado por uma recon- N ~ 2058 0,19% 39,99% 20,06% 0,09% 32,16% 7,48%
figuração paradigmática no sistema pronominal do demonstrativo no portu-
guês brasileiro. A redução do sistema paradigmático pronominal não é estra-
nha entre nós: Duarte (1993 e 1997, por exemplo) vem atestando reconfigu-
No estudo de tendência, os índices de mostrativos encontram-se muito pró-
rações nos pronomes pessoais associadas à redução no quadro de desinências
ximos, sinalizando quadro de estabilidade na comunidade como um todo.
verbais alterando as características de línguapro-drop do português brasileiro.
Observe-se que esse e isso são menos freqüentes nas idades iniciais.
Vejam-se os indices relativos à distribuição dos mostrativos, expostos na
Tabela 1. As formas isto e este são inexpressivas tanto nas trajetórias indivi-
Tabela 2
duais quanto na comunidade como um todo. No estudo de painel, na Amostra
Distribuição dos mostrativos no Estudo de Tendência por faixa etária
80 (I), não há registro de isto; a Amostra 00 (I) exibe apenas duas ocorrências
Amostra 80 (C)
em um mesmo falante com 48 anos (Dav42). Dentre as ocorrências da forma
Idade Este Esse Aquele Isto Isso Aquilo
não neutra de primeira pessoa (este e suas flexões), na Amostra 89 (1), sete
7-14 01 103 62 $ 74 05
aparecem em um único falante (MgI48), com 52 anos; na Amostra 00 (I) 15-25 <I> 547 292 $ 339 49
todos os casos de este se apresentam entre falantes com mais de quarenta 26-49 02 509 219 $ 430 85
anos. Nessas 11ocorrências, este sinaliza ênfase e/ou especificação. Os índices +50 04 491 254 $ 328 102

dos outros mostrativos mantêm-se basicamente equiparados. N 07 1650 827 <I> 1171 241
3896 0,17% 42,35% 21,22% 30,05% 6,18%
O comportamento dos indivíduos pode estar revelando interessante
Amostra 00 (C)
quadro de tensão: instabilidade nos mais jovens e estabilidade nos falantes Idade Este Esse Aquele Isto Isso Aquilo
de mais idade. Na Amostra 00 (I), o emprego de esse, o mostrativo mais 7-14 $ 188 43 <I> 89 01
freqüente no estudo de painel, aumenta nos falantes recontatados mais jovens 15-25 $ 343 136 <I> 443 57

(20,31%) e recua ligeiramente naqueles de mais idade (14,50%). O uso de 26-49 02 303 103 <I> 322 53
+50 04 318 102 02 326 53
isso, segundo maior índice nos corpora (forma bastante recorrente como
N 06 1152 384 2 1180 164
núcleo de sintagma com função remissiV<'M"esumidora), também aumenta na
2888 0,20% 39,88% 13,29% 0,06% 40,85% 5,67%

142
MUDANÇA lINGviSTICA EM TEMPO REAL OS MOSiRAT1VOS NA VARiEDADE CARJOG'\ FALADA 143
o dado relevante a ser ressaltado, convergente no indivíduo e na comunidade, mente debilitado, Esse mecanismo, ainda discreto na variedade carioca falada,
é que as formas de primeira pessoa, este e isto, se concentram em falantes de se restringe a contextos particularizados. Na modalidade escrita, Santos Silva
mais idade e em contextos discursivo-pragmáticos específicos (ênfase, focali- (1998) acolhe registros diacrônicos de que, na Carta de Pero Vaz de Caminha,
zação de constituintes, atitude subjetiva do falante, reorientação dêitica e ca- essa reposição não ocorre nos usos tipicamente dêiticos dos mostrativos.
táfora inferível). O único registro de este foi observado em Ale55 (13 anos), Em nosso trabalho, diferentemente de Pavani (1987), que estudou deta-
por ocasião da primeira entrevista, em situação de discurso citado (faz parte lhadamente as propriedades distribucionais das classes que podem migrar
de uma antiga canção): para a categoria de reforçadores, só controlamos os advérbios dêiticos (esse
(1) F: [...] Agora eu vô cantá outra, da cachoeira. aqui por este), modalizadoresjaspectualizadores (isso muito, isso assim) e
E: É? Oito e meia, tá legal. quantificadores (esses troço tudo, isso tudo), por considerá-los os reforçadores
F: (cantando) "Cada dia semear a mais linda canção pra colher as estrelas mais produtivos. Os resultados relativos aos indivíduos e à comunidade reve-
do céu nestes meus olhos de mais, e o maior. Meu amor é cachoeira que lam que a reposição do sistema temário enfraquecido vem-se verificando atra-
levou meu coração das águas de um rio de sonhos. Me leva em tuas mãos" vés da combinatória com o advérbio e, em menor escala, com quantificadores
(cantando) (Ale55). resumitivos que, segundo Castilho (1990a: 60), ao passo que quantificam sin-
~:::
::,
,,~ tetizam informações-suporte.
:5::n O quadro resultante (exceto em aquele, cf. Amostra 00 (C) é o de conver- O efeito da duplicidade dêitica no estudo do painel (cf. Tabela 4) revela
gência entre o comportamento do indivíduo e o da comunidade. Ou seja, a um quadro de estabilidade entre os indivíduos quanto ao uso do dêitico refor-
"'li
••,;1
deriva detectada no sistema como um todo reflete-se de forma bastante ho- çador. No estudo de tendência (cf. Tabela 5), atesta-se uma redução desse
::1,,1
' ....
..
.."
mogênea na trajetória dos indivíduos: mecanismo compensador no sistema como um todo: na Amostra 00 (C), há
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'~-' uma diminuição bastante expressiva do dêitico, uma redução, pela metade,
~~:
Tabela 3 do percentual da combinatória com o quantificador e um aumento da combi-
:~:~'''I
Distribuição dos mostrativos nas amostras analisadas nação com o modalizador.
c:::
Mio" Tabela 4
'l"
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,.0)
PAINEL Este Esse Aquele Isto Isso Aquilo
Mecanismo compensatório no Estudo de Painel
~;: Amostra 80 (I)
Amostra 00 (I)
0,70%
0,19%
42,67%
39,99%
22,49%
20,06%
<P

0,09%
28,85%
32,16%
5,26%
7,48%
Amostra 80 (I) Amostra 00 (I)
;1 :
TEND~NCIA Este Esse Aquele Isto Isso Aquilo
S/comb. 1.332/1.541 = 86,43% 1.718/1.932 = 88,92%
Amostra 80 (C) 0,17% 42,35% 21,22% <P 30,05% 06,18% 152/1.932 = 7,86%
Dêitico 135/1.541 = 8,76%
Amostra 00 (C) 0,20% 39,88% 13,29% 0,06% 40,85% 05,67%
Moda!. 22/1.541 = 1,42% 26/1.932 = 1,34%
Quantif. 52/1.541 = 3,37% 36/1.932 = 1,86%

Outro efeito gatilho associado à implementação de um sistema dicotômico


nos mostrativos na variedade carioca falada é a emergência de um mecanismo Tabela 5
compensatório, que, nos termos de Tarallo (1990), visa a preservar o "equilíbrio Mecanismo compensatório no Estudo de Tendência
instável do sistema" em razão de perdas ou reduções. Tal mecanismo, já sina-
Amostra 80 (C) Amostra 00 ( C)
lizado por Cunha (apud Pavani 1987: 46) e atestado por Castilho (1978) nos = 86,54%
S/ Combinação 3.300/4.490 = 61,13% 2.502/2.891
dados do NURC-SP, consiste no reforço via advérbio dêitico, recurso empregado Dêitico 1.432/4.490 = 28,69% 232/2.891 = 8,02%
pelo falante para melhor especificar o status discursivo dos referentes, e que Modalizador 54/4.490 = 1,20% 72/2.891 = 2,49%
pode sinalizar uma tentativa de se restabelecer o sistema ternário já visível- Quantificador 204/4.490 = 4,08% 85/2.891 = 2,94%

144' MUDANÇA LINGüíSTICA EM TEMPO REAL os MOSTRATIVOS NA VARIEDADE CARIOCA FAlADA


145
3. Os usos dêiticos e fóricos dos mostrativos: o desafio à tese da As propriedades dêiticas e fóricas dos mostrativos vêm alimentando vivo de-
autonomia referencial dessas formas pronominais bate sobre a natureza processual cognitiva e interativa da referencialidade. Nessa
linha investigativa, enquadram-se, entre outros, os trabalhos de Mondada &
o estudo dos usos dêiticos e fóricos dos mostrativos não pode continuar igno- Dubois (1995); Mondada (1997); Kleiber et alli (1991); Charolles (1994); Rubba
rando um problema fundamental: a questão das condições de identificação do (1996); Koch & Marcuschi (1998) e Marcuschi (1993,1998, 1999a, 1999b, 1999c).
referente que regulam os processos de remissão e introdução dos referentes no A pedra de toque desses autores consiste em ressignificar a noção de dêixis,
discurso. Em nossos dados há eloqüentes' exemplos diante dos quais o recurso destituindo-a de seu caráter ostensivo, que considera o referente como objeto
ao contexto imediato da situação não preenche satisfatoriamente as condições de mundo e a atividade de referi-lo como um processo de designação exten-
de identificabilidade dos referentes. Em alguns casos nem mesmo o apelo ao sional, de estabelecimento de uma relação biunívoca e especular entre o mundo
princípio de continuidade tópica resolve o problema da progressão referenciaê. e uma linguagem representacional desse mundo. Referir, segundo sublinham
Nas amostras analisadas, por exemplo, encontramos referentes introduzidos Koch e Marcuschi (1998), não é uma atividade de etiquetar um mundo pree-
sem continuidade referencial, outros sem referência prévia, a exigir cálculos xistente extensionalmente designado, mas uma atividade alimentada e san-
inferenciais; há referentes, como as expressões genéricas ou de designação vaga, cionada pela atividade discursiva, em que o referente se torna um objeto de
quase dessemantizados (como em "elejoga golfe, eu vou na piscina, entendeu? discurso, interpretável no contexto temático em andamento. A adoção desse
Essas coisas assim", com função resumitiva, sinalizando finalização de enfoque analítico implica, então, substituir a noção de referência, amplamente
subtópico/tópico, série enunciativa anteposta ou posposta ou coda); referentes à margem das condições de uso, pela de referenciação, o que, a nosso ver,
sem ligação argumental sintática com enunciados prévios (como o caso de implica conferir plasticidade à significação lingüística: a referenciação, en-
mostrativos, apontado por Castilho (1990a e 1990b), que funcionam como um quanto estratégia processual, cognitiva e interativa, pressupõe, então, uma
tipo de pró-sentença, um SN solto sem qualquer ligação argumental com um concepção de língua como atividade negociada, em que a determinação de
verbo, como em "Foi um furto, a gente chegou o carro num tava. Isso aqui no sentido se constitui (e se molda) na interação, social e historicamente inscrita.
Rio", Adr63) e, por fim, referentes ambíguos e de interpretação mais opaca que Desse modo, a noção de referente se torna ela também a expressão de um
remetem a informações exofóricas, codificadas na memória episódica através processo dinâmico, o que, em última instância, implica considerar que os va-
de saber enciclopédico socialmente compartilhado. lores default de expressões dêiticas possam ser alterados em função do en-
Neste artigo, só comentamos os usos discursivo-pragmáticos dos mos- quadre comunicativo em jogo. A referenciação dêitica não possui sentido
trativos que ilustram casos de referentes não estritamente marcados quanto à imanente: ela instaura sentidos permanentemente, ou seja, enquadres. No dizer
designação referencial e que, em última instância, apontam para a necessidade de Salomão (2000), o mundo é tão-somente um pressuposto para poder falar e
de se redefinir a noção de referente, incorporando, além de motivações de discretizar o mundo. Em, outras palavras, como traduz Marcuschi (1998: 3),
ordem sintático-discursiva, condicionamentos semântico-cognitivos. Isso não quer dizer que se nega a existência do mundo extra-mental, pois
este continua sendo a base para a designação. Afinal, não postulamos uma
teoria subjetivista nem idealista na qual o mundo seria uma criação de nossos
5 Segundo Koch e Marcuschi (1998), há que se distinguir entre progressão referencial
discursos. A rigor, a realidade empírica extra-mental existe, mas mais do que
(í.é., estratégias de designação de referentes que dizem respeito a atividades de intro-
uma experiência estritamente sensorial e especularmente refletida pela lin-
dução, preservação, continuidade, identificação e retomada de referentes) e topicidade
ou progressão tópica (assuntos tratados ao longo do fluxo discursivo). Para eles, não guagem é discretizada no processo de designação discursiva e dependente de
há uma relação biunívoca dos processos de topicidade com aqueles de coesão e coerên- um trabalho cognitivo realizado no discurso.
cia, trata-se de aspectos diversos, muito embora haja uma certa relação de reciprocidade
entre manutenção de referentes e construção de tópicos discursivos. A progressão re- o exemplo a seguir ilustra a tese de que os referentes não são apontáveis, "'-
ferencial, sustentam os autores, é estabelecida a partir de uma complexa relação entre
mas constituem estratégias de enquadre que se reconfiguram continuamente:
linguagem, pensamento e mundo.

146 os MOSTRATlVOS NA VARIEDADE CARIOCA fALADA 147


MUDANÇA LINGüíSTICA EM TEMPO PEAL
(2) F: Está vendo? [falante está mostrando fotos] Esse aqui (est), isso aqui já A interpretação referencial do mostrativo em função catajórica cultural-
é o peixe lá na praia, né? Esse pessoal todinho que está aqui, te garanto uma mente compartilhada, segunda maior ocorrência nas amostras analisadas, se
coisa, todos eles estão esperano chegar a parte deles, do trabalho de puxar, verifica parcialmente pelo léxico e parcialmente pela vía memorial enciclopé-
né? (riso do E). dica. O falante supõe que seu interlocutor estabelece inferência, em parte,
E: A deles. Eles - é pessoal da região mesmo? através de conexão anafórica na representação episódica da informação em
F: Aqui sou eu que estava num barco. Eu fui pescar nessa ilha lá atrás. processamento e, em parte, através daquilo que Giyón (1995a: 351,365) chama
Então foi batido uma (rindo) fotografia. Mas quem apareceu eu todo de "conhecimento lexical genérico, culturalmente compartilhado" ou "infe-
apareceu foi a metade do corpo. rência guiada pelo vocabulário". Assim, a identificação da entidade de um
E: É. Deve ser lindo esse lugar, hein? [falante continua mostrando referente corno "Antigamente usava muito aquele tablete de cleibom, lembra?"
fotografia] (Jan03). (Fat, Rec: 09) pressupõe acesso a um tipo de conhecimento situacionalmente
evocado: o fato de a margarina ser vendida em um tablete avulso ou em uma
Os referentes em destaque constituem um modo de se referir atributiva- caixinha com quatro tabletes. Por vezes, há menção a referentes estereotipados
.~:: mente, de se designar papéis aos participantes ativados no contexto imediato como em "eu sou aquela imagem de avó".
z da consciência (no sentido de Chafe 1994) de uma moldura comunicativa. O mostrativo de terceira pessoa aquele, que parece adquirir tom enfático,
':5; Enunciados corno "Esse aqui, isso aquijá é o peixe lá na praia, aqui sou eu que é o de maior incidência nessa função. Vejam-se alguns exemplos:
:~~~
:;u estava num barco e apareceu eu todo foi a metade do corpo" tipificam casos (3) E: A senhora participa da criação deles? [dos netos].
.."."
::....
de referentes evolutivos, ou melhor, de entidades que vão se moldando numa E: Participo .
~:;;; situação discursiva referencial: trata-se da atividade de referir-se a Y na con-
~::.. E: Como é que a senhora ajuda suas filhas nessa parte?
::l~ii dição de X. Nesses exemplos, não há elos co- referenciais, nem, tampouco, F: Eu sou aquela imagem da avó, né? E que tudo mais ou menos corre
~Il::
I'~II
etapas intermédias de referenciação. O que importa é que o fim do processo pra avó pra resolver a situação e eu participo dando conselhos, eu participo
i.:::t seja identificável em razão do enquadre comunicativo em jogo. orientando no que me for possível, e vendo as coisas que eu acho que
Com relação aos processos dejoricidade, tradicionalmente vinculados à precisam ser moldadas um pouquinho melhor [...] (Eve43).
~.:;;
•.•• 1' função remissiva, explícita ou implícita, de referentes previamente enunciados
h:::::
~j:: (anaforização) ou anaforicamente antecipados (cataforização),nossos dados (4) E: E o que você acha da juventude assim em geral, como tá a juventude hoje?
são mais ricos em usos catafóricos confinados a domínios implícitos, que im- F: Oh, eu acho que a educação tá muito vaga, muito vaga, tá entendendo?
plicam cálculos referenciais que extrapolam o contexto discursivo prévio ime- Eu acho que o jovem hoje em dia, eu não sei, tudo bem que o mundo
diato. Tanto no estudo de painel quanto no de tendência, foram esses os casos evoluiu, então não existe mais aquela educação de antigamente [...]
que, interessantemente, registraram os maiores índices quantitativos", índices (Dav42).
esses que permaneceram relativamente estáveis no indivíduo e na comunidade.
(5) F: [...] nunca foram hippie, nem nunca tomaram droga, não, mas aquelas
calças larga e cabelo grande, havia um pouco de choque entre pai e filho
6 As outras funções discursivas dos fóricos catafóricos controladas foram: catáfora con-
(Gl048).
trastiva, catáfora apresentativa (função cataforizante propriamente dita do mostrativo,
F: [...] Ah, eu gostava de fazê ... fazia um - um - um antigamente um
ancorando a introdução de entidades novas: "Ai começa aquela arruaça: é tiro, é mata, é
morre, é uma bagunça louca" (Jup06) e catáfora predicativa (eqüativa, um tipo de fórico sorvete, que eu apanhava aquele pezinho lá, comprava aquele pacotinho,
resumitivo atributivo, que ao tempo que olha para trás, olha para frente: "Falo porque aí eu - eu lia aquelas instrução, fazia, depois parei de fazê e esqueci, né?
esse pessoa, ela, a Natália,
.... ela é minha amiga. do meu colégio da minha sala". (MCaOl). (Jmach25).

148 MUDANÇA UNGüiSTICA EM TEMPO REAL os MOSTRATIVOS NA VARIEDADE CARIOCA FAlADA


14
(6) F: [...] Então tu imagina eu, pô, ia pra casa dele direto, que que eu ouvia?
No estudo de painel, salienta-se o emprego estável dos mostrativos fóricos
Rock Maluco, entendeu? Led Zepellín, porra, Pynk Floyd, essas bandas
catafóricos cuja designação referencial requer apelo a estratégias inferenciais,
todas que pô a gente conhece, Yes, pô, Emmerson Lake & Palmer, porra,
principalmente na faixa etária intermediária e naquela de mais idade. No estu-
essas bandas todas dos anos setenta, né? (Fla23).
do de tendência, na Amostra 80 (C), os índices para "catáfora culturalmente
compartilhada" e "catáfora inferível" mantêm-se estáveis; o fato digno de men-
Já o uso do mostrativo em função decatáfora inferioel, o de maior incidên-
ção é que os percentuais para catáfora inferível são os mais elevados no uni-
cia nos estudos de painel e de tendência, é um belo exemplo de introdução de
verso das funções catafóricas ali flagradas.
mostrativo não marcado quanto à designação referencial: aqui, a identidade do
referente se mantém indefinida, confinada a um domínio implícito. Não há apelo
Tabela 6
a instruções de sentido desencadeadoras de processo inferencial, apenas conexão
Distribuição dos mostrativos catafóricos no Estudo de Painel
com o contexto temático em andamento. É exatamente esse tipo de fórico que põe
em xeque a noção de que o pronome não tem autonomia referencial: trata-se de Mostrat. Catafóricos Amostra 80 (I) Amostr-a 00 (I)

um caso em que a competência pronominal para a interpretação fica prejudicada. Cat. Apresentativa 96/362 = 26,51% 170/502 = 33,86%

(7) F: [...] Diz que antigamente é... a pessoa ... a pessoa da macumba falava Cat. Contrastiva 01/362 = 0,27% <I>

Cat. cultur, cornpart. 161/362 = 44,47% 101/502 = 38,04%


um tal dia - tal dia que vai acontecer isso e acontecia e agora, hoje em
Cato Predicativa 05/362 = 1,38% 29/502 = 5,77%
dia, não sei, né? (Adr57).
Cat. Inferível 99/362 = 27,34% 112/502 = 22,31%

(8) E: Apesar da crise dá pra sobreviver.


Tabela 7
F: É. É. É aquilo fazendo economia ali, umas economias aqui, um mês
Distribuição dos mostrativos catafóricos no Estudo de Tendência
tem isso, um mês não tem aquilo. Aí dá pra i levano [fim de turno] (Adr63).

Mostrativos catafóricos Amostra 80 (C) Amostra 00 (C)


(9) F: [...] Então eles ficam: professora Hilda, Hilda, vê isso pra eles, Hilda, Cat. Apresentativa 138/598 = 23,07% 149/959 = 15,53%
olha isso, Hilda olha aquilo. Aí ela falou assim: "PÔ você querem que eu Cat. Contrastiva 01/598 = 0,16% 2/959 = 0,20%
faço tudo!" (Fat23). Cat. Cultur. compart. 110/598 = 18,39% 219/959 = 22,83%
Cat, Predicativa 17/598 = 2,84% 84/959 = 8,75%
Cat. Inferível 332/598 = 55,51% 505/959 = 52,65%
(10) F: [ ...] fui ao ginecologista e ele disse: "Agora a senhora vai comer isso,
isso, isso, isso ... eu minha mãe - que está no céu - ela deve tá morrendo
de ri porque eu não comia verdura [...] (Eve43).

4. A discursivização no emprego dos mostrativos


(U) F, [...] Conheço sua terra mais do que você, melhor cinema é a rua tal, número
tal, o melhor teatro é um tal lugar, o melhor restaurante, a melhor comida
Nos corpora em que se baseia esse estudo, flagramos a discursivização ainda
típica do bar é essa, aquela e aquela outra, era assim, né? (Ag033).
incipiente do mostrativo, através da qual o mostrativo vai perdendo suas pro-
priedades dêiticas e fóricas. Em razão desse processo de descoloramento ou
(12) F: [...] "Está legal. Você é machãozinho, mas nisso, nisso, nisso e nisso
esmaecimento semântico, o mostrativo começa a sofrer um processo de ritua-
eu não vou concordar com você nunca!" Aí ele: "Está legal você é liberada,
mas nisso, nisso, nisso e n~
nunca!" [.,.] (San39).
ta~'ã.o.You concordar com você'
~i lização (opacidade de isornorfismo forma-função) e passa a ser utilizado como
um marcador dÍscursÍve(Mc), asseverativo ou de assentimento, ou como uma
expressão dêitica dessemantizada, integrando uma construção cristalizada.

150
I
II
MUDANÇA LINGüíSTICA EM 'TEM?Q REAL OS MOS1RATIVOS NA VMIEDADE CARIOCA FAlADA 1 :; 1

BIBLIOTECA !4JA~it~Tni 1~j:fnâ!f


Para Pavani (1987: 60-1), o uso do neutro isso, em fórmulas breves e dialo-
(17) F: [...] que a primeira campanha do Lula ... lÁ na agora na zona sul que
gadas com o valor de "sim", ocorre como núcleo de SN e núcleo de oração. Tra-
morava minhas amigas, sei que ele perdeu a eleição na primeira vez que
ta-se de repetidor asseverativo que retoma uma fala anterior do interlocutor e a
ele se candidatou a PRESIDENTE porque dizia que ele e todas as turmas
avalia positivamente. Em nossos dados, contudo, esse asseverador também toma
do comício que essa sopa vai acabm·... (MgI48).
como escopo de referência as atitudes subjetivas de natureza avaliativa do
falante. Os contextos mais freqüentes dos mostrativos são o turno único (sem
(18) E: O que você pretende fazer?
material lingüístico subseqüente) e o início de turno. Mais esporadicamente,
F: Aí, só estudá.
aparecem em séries enunciativas de cunho enfático. Vejam-se alguns exemplos:
E: Só estudá.
(13) E: E no caso, você é... querendo sê uma professora primária, né, você vai
fazer o curso normal? F: Só quero estudá. Ah, tem esse lance também de trabalhar, né? [...] É
por isso mais que eu - É por isso que eu também tinha de sabe, aquele
F: Isso, exatamente curso normal (AdrLS7) [Fim de turno].
lance que eu tinha escolhido medicina ou engenharia, é por causa disso
~.
~.. [...] (Le038).
:::Ji' (14) E: Ah, sim. Aí você participa mais dessa parte, né, de entrá em contato
~l; com as pessoas, né? Fazendo é até divulgação da associação [de Mora-
::'1 dores de Campo Grande]. O estudo de painel aponta um padrão de estabilidade entre os indivíduos,
::111 em que preponderam expressões cristalizadas sinalizadoras de enquadre fi-
F: Exatamente. Isso. Isso. Exatamente (Adr63) [Fim de turno].
.•.
.I"" nal de seqüências narrativas (coda avaliativa). No estudo de tendência observa-
~::~ se discreto avanço do MD isso (cf. Amostra 00 (C):
j:.: (15) E: E o homem está ficando desempregado.
F: Isso aí (Mar30).
Ri""
.:;", Tabela 8
...:/
••,1,,1

(16) E: Por exemplo, eh você (hes). Como é que cê tenta procurar um serviço?
Discursivização de isso no Estudo de Painel
;:3 Cê vai nas empresa, nas casas.
:;:'j Disc. De isso Amostra 80 (I) Amostra 00 (I)
C:I F: Isso, eu posso (hes) Eu vou batendo de casa em casa e pergunto se ...se Mace. Discursivo 16/35 = 45, 71% 25/56 = 44,64%
1::: Expc.eristalizada = 54, 31/56 = 55,35%
ta precisando de alguém pra trabalhar ... Se vai querer fazer uma reforma 19/35 28%

na casa. É isso que eu faço.


E: Que você também é pedreiro.
F: Isso, sou também pedreiro (pausa). Tabela 9
Discursivização de isso no Estudo de Tendência
E: (Falando rindo) Jardineiro, pedreiro e pintor!
F: Isso. Eu tenho três profissões (AndOs).
Disc. de isso Amostra 80 (C) Amostra 00 (C )
Marc. Discursivo 126/158 = 79,74% 165/188 = 87,76%
Integrando a composição de expressões cristalizadas, o mostrativo parece Expc. Cristalizada 32/ 158 = 20,25% 23/188 = 12,23%
comportar-se como um sintagma bloqueado (na acepção de Carone 1998),
que não admite alteração de ordem nem inserção de constituintes (como aspec-
tualizadores, por exemplo). Em geral, funciona como enquadre de subtópico/
No estudo de painel, é importante mencionar que as análises quantitativas
tópico e coda, emoldurando a fala dos indivíduos como "bordões": é mole
sugerem tímido processo de discursivização de isto corno MO na maioria dos
isso, é isso aí, es~nee, que isso, o negócio é esse, comigo num tem isso, é
isso aí, essas coisas assim e esses troços aí: fàÍantêS que atitfgiram a faixa etária de 26 a 49 anos. Contudo, convém destaca I
aqui um enviesamento: das 41 ocorrências do MD (16 na Amostra 80 (I) t' '1',

152
MUDANÇA UNGuiSTiCA EM TEMPO REAL
05 MOSTRAnvos NA VARIEDADE CARIOCA FALADA h
na Amostra 00 (1), 16 pertencem a um único falante (AdrL57). Na Amostra 5, O efeito do processamento lingüístico-cognitivo nos mostrativos
00 O), observa-se um intervalo em que 9 MD é zerado (de 33 a 35 anos), rea-
parecendo discretamente na faixa de 36 a 48 anos (Le038, Lei04, Dav42 e Nesta última seção, apresentamos o emprego dos mostrativos sinalizando fe-
Jos35) e confirmando sua queda após os 59 anos (Eve43 em diante). nômenos passíveis de promover descontinuidades sintáticas e retardamento
Quanto à incidência do mostrativo em expressões cristalizadas, o perfil no fluxo discursivo.
dos indivíduos é instável: enquanto alguns falantes recuam, outros avançam Em função de busca lexical, os mostrativos indiciam problemas de reativa-
(AdrL57, com 16 ocorrências) e quatro' permanecem estáveis (AdR63, Fat23, ção ou resgate de referentes na memória episódica, onde se armazenam con-
Jup06 e JOS15). Os índices de queda e de aumento são extremamente parcos, juntos de conhecimentos ou informações que configuram o saber compartilhado:
oscilando entre uma a cinco ocorrências. As 16 ocorrências de AdrL57 (que (19) F: [...] É o que a seguradora ganha do... da empresa todo mês por segura
foge do padrão) dizem respeito ao MD isso asseverativo, em turno único, em aqueles ... aquela ... aquele ... aqueles segurados, né? (Fat23).
resposta ao entrevistador. As 11 ocorrências de Jan03 aos 74 anos (que igual-
mente destoa do padrão) referem-se, na sua quase totalidade, ao seu bordão (20) E: Foi no programa do Chico Anísio, aquele ... nu esqueço no nome dele.
"essa é a minha vida". E: Sábado? Não.
No estudo de tendência, Amostra 80 (C), a incidência da discursivização F: Não, foi um dia de semana [...] (Dav42).
do mostrativo é bastante inexpressiva, oscilando entre um a cinco casos por
faixa etária e apenas na fala de alguns indivíduos. Em geral, referem-se aos (21) F: [...] Se você come carne de qualquer espécie, entendeu? Vermelha,
MDs isso aí e é isso aí, como enquadre final de subtópicojtópico e coda. Edu07 carne branca ... e tal. É... isso vai acumulando muito carma negativo no
é o que apresenta maior índice de ocorrências (cinco). Na Amostra 00 (C), o corpo, entendeu, né? Existem essas ... essas' ... essas preocupações deles,
padrão também se repete: o uso dos mostrativos em expressões cristalizadas entendeu? (Fla23).
é de uma a cinco ocorrências; só dois falantes exibem as taxas maiores de MD
(Ale06 e Fla23, ambos com cinco casos), e igualmente para demarcar fronteiras Os mostrativos também expressam truncamento/ruptura em seqüências
entre cadeias tópicas e introduzir expressões genéricas a modo de bordões. discursivas em desenvolvimento ou abandono de constituintes e de segmentos
O uso do MDtambém é incipiente na Amostra 00 (C) e concentrado em oracionais, que ficam sem conexão sintática e coesiva. Por vezes, também
alguns falantes: Rom03 emprega 19 vezes o MD isso asseverativo corno coda; atuam como mecanismos de reparo, correções referenciais antecedidas ou
Jor19 utiliza quatro vezes não é isso para demarcar fronteiras entre cadeias não por uma seqüência fragmentada seguida de posterior reelaboração. Podem
tópicas; Tad31 (oito vezes) e AnaOS (83 vezes, destoando da tendência geral) ou não aparecer em seqüências parentéticas ou digressivas e configurar ruptura
empregam o MD isso em séries enunciativas. A expressão lexical recorrente temática (como em (24):
em Fla93 tipifica seu bordão, "a verdade é essa", e, em Ter28, o bordão "que (22) F: [...] gosta de bacalhau, azeite puro né? (riso do entrevistado r) A não
isso?", de cunho argumentativo-avaliativo. Ale06, por sua vez, emprega a ex- ser essas coi... esses detalhezinhos (AdrL57).
pressão genérica "essas coisa" como estratégia de organização de tópicos.
Os índices globais de ambas as amostras evidenciam que, no período de (23) F: [...] É remédio em cima de remédio na calça, tá entendendo? (inint.)
quase vinte anos, o avanço no processo de discursivização do mostrativo corno Outro é remédio, é remédio em cima de remédio, aquilo num ... Eu quan-
MD e expressão cristalizada é bastante incipiente. Em face dos magros quan- do fui pra Bahia, eu dei minha roupa e só vim com a roupa do corpo, dei
titativos colhidos, o quadro geral se torna difuso de modo a não permitir en- tudo: calça, sapato e camisa. Dei tudo, só vim com a roupa do corpo,
trever uma direção nítida de avanço ou recuo.
.•. Que é muita miséria! (Ago33).

-' - _Jv- -~

154 OS MOSTRATlVOS NA VARIEDAOE CARIOCA FALADA


155
MUDANÇA UNGuíST'CA eM rEM?Q REA~
(24) E: [...] Aí o primeiro quadro ainda se deu bem, o segundo ... a gente vai Tabela 11
no primeiro que tem o profissional, né? Que tem o... que nem esses que Proces. Ling (trunc.) no Estudo de Tendência
tem o ... Primeiro joga o aspirante, depois joga o profissional, né?
(MeaOl). Faixa etária Amostra 80 (C) Amostra 00 (C)
7-14 8/269 = 2,97% 16/ 131 = 12,21%
15-25 93/269 = 34,57% 54/131 = 41,22%
Confira-se a distribuição dos mostrativos como estratégia de reativação 26-49 108/269 = 40.14% 28/131 = 21,37%
de itens estocados na memória lexical. Quanto à trajetória individual, os resul- +50 60/269 = 22,30% 33/131 = 25.19%
tados do estudo de painel atestam que na Amostra 00 (I) , os percentuais TOTAL ~69/278 = 96,76 % 131/172 = 76,16%

duplicam em relação àqueles da Amostra 80 (I): 26,73% (27/101) e 10,20%


(10/98), respectivamente. O desempenho dos indivíduos exibe perfil de ins-
tabilidade: há aumento sensível na faixa etária inicial na Amostra 00(1) (12/ 6. Considerações finais
27= 44,44%), recuo na idade intermediária (4/27= 14,81%) e queda acentuada
~ nos falantes de maior idade (11/27=40,74%). Em linhas gerais, a distribuição dos mostrativos na variedade carioca atesta
/,'
No estudo de tendência, atesta-se que o emprego dos mostrativos como que a deriva observada no sistema como um todo reflete de modo bastante
?,I estratégia de busca lexical é estável nas faixas etárias iniciais, mais visível na similar a trajetória lingüística do falante.
:11
faixa etária de 26 a 49 anos, mas decresce após os cinqüenta anos. Entre os resultados mais relevantes, salienta-se o efeito dominó da re-
configuração paradigmática no sistema dos mostrativos de primeira e segun-
~:J
Tabela 10 da pessoas, alterando os valores default dos mostrativos, em função da perda
,~
Proces. Ling. (busca lexical) no Estudo de Tendência de referência centrada na pessoa do discurso, e pressionando a implementação
d~I Faixa etária Amostra 80 (C) Amostra 00 (C)
de um sistema dicotômico na variedade falada. Em razão dessa perda, está-se
7-14 instalando um mecanismo compensatório visando a restabelecer o sistema
:) 15-25
1/9= 11,11
1/9 = 11.11
9/41 = 21.95
ternário visivelmente debilitado. Destaca-se, também, liderança de esse no-
:f 26-49
8/41 = 19.51
::1 5/9 = 55,55 16/ 41 ~ 39,02 tadamente na faixa etária mais jovem. Em termos da propagação de formas
~l +50 2/9 = 22.22 8/41 = 19.51 lingüísticas inovadoras, embora os índices sejam algo discretos, pelo fator
TOTAL 9/278 = 3.23 41/172 = 23.83
gradação etária é possível detectar que, à exceção do mostrativoisso, que tende
a avançar na faixa etária mais jovem, os índices dos outros mostrativos en-
contram-se muito próximos. O avanço relativo da forma neutra isso, em posi-
A incidência de ruptura na seqüenciação temática, acarretando desarticulação ção de núcleo de sintagma, correlaciona-se à ampliação de sua capacidade
e perda na progressão temática, no estudo de painel (Amostra 00 (I), aumenta fórica resumitiva, encapsuladora de informações-suporte previamente intro-
consideravelmente na faixa etária inicial dos falantes recontatados (54/74= duzidas, desempenhando funções predicativa e argumentativo-avaliativa, con-
72,97%), recua bastante na faixa média (4/74 = 8,51%) e regride nas idades firmando a tendência já apontada por Paredes Silva (1986) e Castilho (1990a),
mais altas (16/74= 21,62%). No estudo de tendência, progride na faixa inter- Quanto aos usos discursivo-pragmáticos dos mostrativos dêiticos e fóricos,
média (Amostra 00 (C) e cai gradualmente após 26 anos. ressalta-se, por fim, o avanço de funções confinadas a casos de referenciaçun
de domínios inferiveis.

"--
;..

156
MUDANÇA UNGuíSTICA EM TEMPO REAL OS MOSTRATlVOS NA VARIEDADE CARIOCA FALADA Ili
E Aí SE PASSARAM 19 ANOS1

Maria Luiza Braga


UFRJ/CNPq

1. Introdução

Os itens aí e então, nas duas últimas décadas, foram examinados por nume-
rosos lingüistas brasileiros. Embora os enfoques teóricos que nortearam as
investigações sejam diferentes, os pesquisadores parecem concordar quanto
ao caráter multifuncional desses elementos, que podem ser utilizados como
dêiticos, fóricos, juntivos e discursivos.
Da perspectiva da gramaticalização, essa multifuncionalidade é referida
através do princípio da divergência, postulado por Hopper (1991). De acordo
com o autor, as formas lexicais que se gramaticalizam em clíticos ou afixos
podem permanecer como elementos autônomos e, enquanto tal, sofrer as mu-
danças que atingem os itens da classe a que pertencem. O substantivo gente,
de uso freqüente em vocativos, que coexiste com a forma pronominal a gente,
de uso quase categórico em certas posições sintáticas no português falado no
Brasil (Omena 1996), ilustra bem o princípio em pauta.
A hipótese de retenção do significado anterior, formulada por Bybee et
alii (1994), por sua vez, também incide sobre o caráter multifacetado de nu-
merosos itens que se encontram em processo de gramaticalização. Do meu
ponto de vista, mais relevantes do que a hipótese em si, uma asserção sobre a
preservação de certas nuances semânticas mais específicas pelos itens/cons-
truções em processo de gramaticalização, são as ilações metodológicas que
podem ser inferidas dessa proposição. Com efeito, para Bybee et alii, esta
preservação constitui uma evidência de fases anteriores de gramaticalização
e, enquanto tal, pode ser proveitosamente explorada pela análise sincrônica,
pelos estudos comparativos e pelas reconstruções internas. A este respeito,
Bybee d alii são claros:

, Participaram em diversas etapa~ desta pesquisa as bolsis,!.asde lC Renata Cristina Valla-


· "
dares P. da Silva e Suelen Mendes Soares. ~
".'-

159

I
,

Multiple uses, then, are not randomly distributed: given uses are associated 2. Aí e sua multifuncionalidade
only with certain others, sometimes uniquely. And from these associations we
can construct diachronic developments ... Thus we find that multiple uses and Com vistas a explorar as hipóteses aventadas por Hopper (1991) e Bybee et
the retention of lexical specificities can be employed as diagnostics of the ear- alii (1994), distribuí as ocorrências de aí, extraídas das amostras de fala que
lier history of grammatical material, even in languages for which historical attes- integram os acervos Amostra 80 (1) e Amostra 00 (I), em quatro subgrupos:
tation is sparse or nonexistent... Pattems of multiple uses in effect constitute dêitico, fórico, juntivo e discursivo.
fossil evidence and can serve as a diagnostic of earlier history. Just as full and Considerei corno dêiticos aqueles usos que "provêem orientação por refe-
reduced phonetic forms of individuallexemes or grams constitute a synchronic rência ao falante-agora, que é o complexo modo-temporal que constitui o ponto
record of earlier history, pattems of multiple uses encapsulate part ofthe sernan- de referência do evento de fala" (Moura Neves 1992: 263-4) e comofóricos
tic history of a grammatical marker, with older versions surviving even as re- aqueles "que propiciam a busca ou recuperação de informação por meio de
duction proceeds in vanguard environments and contexts of use. (ibid.: 17-9). remissão a um ponto do enunciado, ou à situação de enunciação" (ibid.: 265).
Os trechos (1) e (2), a seguir, ilustram, respectivamente, os dois empregos.
o presente artigo se volta para aspectos capturados pelo princípio e hipóte-
~~I ;
se- mencionados acima. Ao investigar o item aí, contrapondo-o a então, in- (1) Uso dêitico
:U" teressa-me depreender sua trajetória de gramaticalização, a partir das proprie- F: [...] o pessoal lá me trata muito bem, inclusive tem umas família lá que me
:11,
dades contextuais que facultaram suas sucessivas recategorizações, e examinar considera como se eu fosse irmã delas. E tudo que tem, algum tipo de festa,
!II
o efeito de fatores sociais sobre este tipo de mudança lingüística. Assim pro-
..
,tI~

", cedendo, procuro adequar as descobertas e pressupostos da teoria da variação


se num tô lá, elas ligam cá pra casa da minha mãe: "Ah, Lei, tá aí?" (Lei04).

:~..
:;~i,1 a um tipo de análise de mudança desenvolvido usualmente sob uma ótica (2) Uso fórico
I""
qualitativa. Ao estudar os usos de aí em amostras de fala dos mesmos individuos, F: [...] que eu adoro viajá, falou que é prá <bo ... >, pegá um avião e ir prá
.•....
"1' recolhidas após um intervalo de, aproximadamente, 19 anos, procuro suprir a qualquer lugar.
::::Ii
.,,~
" •• I escassez de dados diacrônicos e controlar de forma mais efetiva os fatores E: Hum .
,.Ir'
extralingüísticos que porventura estejam correlacionados a essa utilização. F: Eu já tô batendo palma, gosto muito, agora num sei, quer dizer, eu ainda
;:n
:.::Ü As questões referidas no parágrafo anterior constituem os eixos deste ar- num sei, quer dizer, vai mudar muito quando eu tiver um filho? Com certeza,
;:iJi.
tigo. Na primeira parte, considero as diferentes funções do item aí e sua dis- porque aí entra todo o contexto da casa, da criança, mas até agora, eu gosto
tribuição ao longo de um continuum; na segunda, a partir de resultados esta- muito de viajá, né? (San39).
tísticos obtidos para variáveis lingüísticas e sociais, procuro determinar em .
que medida a seleção de aí, em detrimento de outras palavras capazes de de- Categorizei como juntivas as instâncias em que aí interliga duas orações,
sempenhar funções! juntivas e discursivas, instancia ou uma mudança em contexto que favorece a inferência de relações proposicionais diversas, como
curso ou uma variação estável. mostrei previamente (Braga 2000). Nesta parte, vou me restringir àquelas
que denominei de seqüenciais e continuativas, exemplificadas em (3). A dis-
tinção entre os dois tipos repousa sobre a relevância do eixo temporal (Lon-
2 Observe que estou aplicando aos conectivos interoracionais uma hipótese concebida
gacre 1976) para as primeiras: a ordem das orações em uma seqüência textual
para os morfemas que codificam categorias verbais. Esta extensão se justifica, a meu
ver, pelo fato de esses domínios assistirem a urna contínua substituição dos expoentes estaria reproduzindo iconicamente a ordenação dos fatos a que remetem no
de suas categorias. mundo extralingüístico, de forma tal que a alteração na posição dessas orações
_ J Estarei utiljz~, neste artigo, por razões estilísticas, as'fYàlavr.asfunção/uso/signifi-- corresponderia.a uma diferente seqiienciação dos fatos correlajos no mundo
cado corno sinônimas. (cf. Nichols 1984 a respeito das acepções da palavra função). extralingüístico; para as segundas, essa ordenação é irrelevante. Os empregos

160 MUDANÇA LINGüíSTICA EM TEMPO REAL E AÍ SE PASSARAM 19 ANOS I GI


seqüensiais incluem as cláusulas narrativas, tais como' propostas por Labov ficil na minha casa não ter gente. Você sabe? Ontem mesmo eu disse: "Se
(1972a), as orações do gênero peeeedural (Longacre 1976) e das descrições de hoje fosse dia deu dar entrevista a ele estava ruim" .Aí elefoi pedir desculpas.
vida; os usos continuativos, por seu turno, compreendem as orações que co- Ele falou que num ... (~ad36).
dificam eventos simultâneos, membros de lista e orações que codificam in-
formação de fundo. (4b) Fechamento de subtópico
F: Quando eu chego do posto de gasolina, de noite, que eu fui lá ver, as bichi-
(3) Uso juntivo nha não enxergavam. Está com os olho tudo tapado, tudo colado, né? Aí meu
(3a) Sequencial cunhado (disse): "Deixa morrer!". Aí eu fiquei com pena, né? Aí apanhava
F: Porque às vez vai as menina, as menina fica atolada, vai fazer um macarrão, água quente aqui, apanhei algodão ... aí lavando as codorna ... com algodão
não sabe, vai fazer isso, não sabe. "Chama lá o Davi".Aí eles começa a gritar: (rindo) ... eu lavando os olhinho ... mais de setenta por cento, ainda, eu salvei
"Maria! Quebra o nosso galho, olha a comida!" Aí eu vou (rindo) fazer a está (entendendo?).Outras não, não é? Mas estava demais. Está tudo colado.
comida pra todo mundo (Dav42). (Foi ...) Que digo: "Quem foi que fez (isso)?". "Ah, quem foi? Foi Milito". Eu
não quis falar nada. Digo: "Ah, deixa pra lá". Aífiquei eu com meu cunhado
(3b) Continuativo (rindo) limpando as codornas.
E: Mas, por que você não se dá bem com seus vizinhos? Você acha o que lá I: Era a mãe da menina? (Ag033).
eh ... Eles são individualistas ou ...
F: Ah, não. É muita fofoca ... um tal de disse me disse, [todo] ... tudo deles Por fim, considerei aquelas ocorrências de justaposição de aí a um N5,
tem briga, eles brigam quase todo dia, aqueles vizinho, quase todo dia eles exemplificada em (5), a seguir, aqui denominadas de afixais. A escolha do
estão discutindo. Então eu prefiro, sabe? evitá, fico mais com as minhas filhas, rótulo foi motivada pela posição de aí e escamoteia o fato de que, nestas cir-
deixo eles pra lá. "Ah, Jup, vem aqui!" Quê? Vou nada. Porque tem uma cunstâncias, este elemento está a serviço da focalização do item a que se apõe.
parte que tem assim um campinho, né?Aí elesjicam lá em cima, né? (Jup06). Em outras palavras, a interpretação atribuída à construçãoN+aí, seja depre-
ciativa ou atenuadora, parece depender menos da presença de aí e mais das
A outra categoria - discursiuos - congrega os usos de aí enquanto ele- propriedades semânticas da palavra à qual ele se liga ou das características do
mento que colabora para a organização do tópico discursivo-, Interessava-me contexto maior em que a construção se insere.
a sinalização de introdução/retomada de subtópico discursivo e de fechamento
de subtópico/tópico discursívo, através de seqüências avaliativas. (5) Uso sufixal
E: Que que tem de bom aqui, o que que tem de ruim?
(4) Usos discursivos F: Olha, bom não tem nada; ruim tem fofoca, tem não tem ninguém na rua,
(4a) Retomada de subtópico isso é péssimo sei lá, e quando tem (latido cão) não, sempre tem! Tem um
F: que ele [Alexandre Pires] falou [mal] dos nortistas. Do Norte, né? Agora o grupinho de mulher ali que fica ali, sabe? (De) antena ligada para ver se sai
que ele falou eu não sei, não vi porque eu não vi a outra ... não sei onde foi que alguma fofoquinha aí (Adriôô).
ele falou. Acho que foi na Hebe que ele falou: que o nortista é um ... sabe eu
quase eu não presto atenção. Porque às vezes na minha cabeça ... gente. É di- Os exemplos apresentados até então são prototipicos de cada função. Ilus-
tram o uso mais saliente de cada classe, nada dizendo a respeito dos menos

, Os aspectos relacionados à interação, que incluem os variad~os


. -, ~ de assentimento e
estírn~ao prosss~mento da conversação, bem como as expr~ões 'fõrmulaicas cons- 5 As i~ârlCias de afixação de ai a v« m~;;:;s produtivas, serão desconsideradas neste--'~~
tituídas parcialmente por 'aí não serão considerados neste áITigo. - ,-o •. artigo ..

16,.- -. MUD~ÇA tl~tiüísnCA EM n:MPO REAL E Aí SE PASSARAM 19 ANOS 163


centrais, geralmente de estatuto híbrido, a compartilhar atributos de classes • relativa fixação posicional dos usos dêiticos nas fronteiras à esquerda de V;
diferentes. A título de exemplo, considere os trechos seguintes, cada um deles
admitindo mais de uma interpretação.
(6) E: Mas você acha que o homem tá acompanhando essa mudança da
-~ • capacidade de remeter a informações textuais "maiores", vale dizer, re-
cuperar conteúdos proposicionais;
• ocorrência de enunciados compatíveis com mais de uma intbrpretação.e->
capazes de desencadear, portanto, uma reanálise, vale dizer, alteração
,... -':

mulher?
F: Não muito. Que eu ouço várias reclamações. Não muito. Na hora do na fronteira de constituintes (Langacker 1977).
dinheirinho é muito bom, na hora do pagamento. Mas, quando tu chega
em casa e vê tua casa suja, não sei o que (inint.), aí começa, sabe? Aí você O espraiamento funcional de ai juntivo e sua recategorização em discur-
tem que fica lembrando: "Ah, mas, pô eu trabalhei o dia inteiro, tou sivo, por seu turno, também foi mediado por instâncias que admitiam mais
cansada" (EriS9). de uma interpretação do estatuo morfossintático de aí, como mostrei a pro-
pósito do exemplo (7). Exemplos similares a (8), por outro lado, parecem
(7) F: Então chegava na hora do almoço, ele não tinha o que fazer e dizia: aceitar tanto uma interpretação dêitica quanto a que venho denominando de
"Ago, vai ali na casa do Flora' e (inint.) diz a ele para me mandar um afixal: esta é favorecida pela justaposição a um N e aquela, pelas menções
limão". Ele era muito amigo do Flora, né? Aí eu ia até o meio do caminho, anteriores a outros bairros cariocas.
chegava no meio do caminho, eu voltava (Ag033). Sob um enfoque sincrônico, os dados do registro semicoloquial oral do por-
tuguês brasileiro confirmam o princípio da divergência proposto por Hopper
(8) F: [...] mas a gente também não ... não pode esquecer que [o PT] tem núcleos (1991). Com efeito, o item em estudo continua a ser empregado em todas as
na Cidade de Deus, que é um bairro eh ... popular, não é? Em Jacarepaguá, funções, independentemente do estágio de gramaticalização de cada uma, o
que é um bairro predominantemente popular ainda, né? E vários outros que propicia, por vezes, a co-ocorrência de aí, com diferentes estatutos rnor-
ai, né? Que estão (Pau20). fossintáticos, no mesmo enunciado, como ilustra o trecho seguinte.
(9) E: Você já pensou em mudar daí ou ...
Em (6), rrí na oração - você tem queficá lembrando - admite tanto uma clas- F: Não, eu nunca pensei.
sificação fórica quanto uma juntíva, podendo ser parafraseado por nessas cir- F: Gostaria de ficar morando aí?
cunstâncias e e, respectivamente. O fato de a sentença em pauta suceder a uma F: Uma é por causa da minha mãe. Que aí, se eu for mudar daí, ela não
outra que abriga um ai fórico parece não constituir empecilho para a segunda leitura. vai querer sair daí, que a minha irmãjá chamou ela várias vezes para ir lá
Em (7), uma descrição de vida, a oração introduzida poraí apresenta carac- morar com ela, ela não quer.
terísticas de cláusula narrativa (Labov 1972a), ocorrendo, todavia, após uma E: Hum, hum. E se você tivesse mais dinheiro, se não precisasse se preo-
informação de caráter parentético - ele era muito amigo do Flora. A presença cupar com aluguel, com essas coisas? --~
da digressão garantiria a classificação da sentença - aí eu ia até o meio do F: Não, eu ..Aí eu ficaria aí (Lei-04).
caminho - como um exemplar de reintrodução de subtópico discursivo? Ou,
levando-se em consideração a pequena extensão do material inserido, deveria O estudo conduzido até o momento mostra que a gramaticalicazação e
ser classificada como seqüencial? discursivização de aí tomou-se possível graças aos sucessivos ciclos de reaná-
As ocorrências ambíguas, embora problemáticas para uma abordagem lise, facultados pelos contextos compatíveis com duas ou mais interpretações
clássica das categorias, constituem o material que permite a reconstrução da morfossintáticas. Estes, representados graficamente a seguir pelas partes se)
trajetória de gramaticalização de aí fórico emjuntivo. Com efeito, a investiga- brepostas e achuriadas, por seu turno, referendam a hipótese de Bybeeet alii,
ção de dados empíricos revela qu~·a recategorização em pauta tornou-se pos- particularmente no qüeêliz respeito à exploração da polisserrria de palavrn:
sível graças à atuação de três condições, quais sejam: em processo de gramaticalização.

1I1
164 MUDANÇA lIr-IGúlSTICA EM TEMPO P.EAl E AÍ SE PASSARAM 19 ANOS
Gráfico 1
Usos juntivos de aí US. então em duas sincronias

0,8
A representação acima, motivada por uma concepção de ciclos que se super- 0,6
põem parcialmente, explica a origem dos iisos juntiuo e discursivo, mas esca-
0,4
moteia a provável rota dafi.mção afixar de aí. Com efeito, esta parece remeter
diretamente ao uso dêitico (cf. também Martelotta 1994 e Tavares 1999), não 0,2
1I1 .- m
~ e- ,.., B ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ,.., '" .., ..,..,
constituindo, portanto, um desdobramento da função discursiva, O que ob-
servamos, então, é que uma mesma forma-fonte pode dar origem a duas tra- ° '"'C '"... 1: = = ~ ~ ~ ~ ~ > ~ ~ '" ~o ~
~ -e < ~ ~ ...,
"O "O
" <"" ...,o
~ ~ Q > ~ ~ '" z .-.
"O

jetórias de grarnaticalização", corno já havia sido sustentado por Heine et alii


(1991) a propósito do marcador de caso alativo nas línguas Ik e Kanuri.
111 Amostra·SO OAmostra·OO I

A desordenação sugeri da pelo gráfico acima se desfaz parcialmente quando


2. Teriam os mesmos falantes mudado seu comportamento lingüístico? se considera a mudança no grau de letramento" dos indivíduos cujas amostras
de fala foram examinadas. Recorde-se que a escola privilegia a aprendizagem
Mostrei em trabalho anterior (Braga 2000) que o item aí, nos usos juntiuo e da variedade padrão, particularmente da escrita padrão, modalidade conven-
discursiuo, é evitado na escrita mais formal, o que, a princípio, constitui em- cionalizada de maneira mais abstrata, menos auto matizada (Trudgill 1975
pecilho a urna investigação do seu processo de gramaticalização sob a ótica apud Marcuschi 1995) e avessa ao uso juntivo de aí.
diacrônica. A este respeito, portanto, a existência de amostras de fala gravadas Para verificar o efeito do ensino formal sobre o emprego de aí, distribuí
em duas sincronias, não obstante o pequeno intervalo de tempo entre elas, os falantes em dois grupos, conforme tivessem mantido ou não o mesmo grau
permite tanto driblar, de uma certa maneira, o impedimento referido quanto de escolaridade, ao longo das duas décadas que se interpuseram entre a cons-
controlar de forma mais sistemática o efeito de variáveis sociais sobre o pro- tituição das Amostras 80 e 00 (1). Desnecessário lembrar que apenas 6 (seis)
cesso de variação/mudança sob exame. falantes conseguiram estudar. Os demais, quase 2/3 (dois terços) da subamos-
Com vistas a verificar a estabilidade/não-estabilidade do comportamento tra em análise, mantiveram o mesmo grau de escolaridade.
lingüístico dos falantes, adultos e não adultos, cotejei as ocorrências de aí às Os resultados estatísticos para os usos juntivos mostram que todos os fa-
de então, elemento que remete a urna forma-fonte conceitualmente próxima lantes do primeiro subgrupo (daqui em diante, Os Jovens, por razões estilís-
à do primeiro item e com o qual compartilha numerosos contextos, e investi- ticas) estão substituindo aí por então, inclusive aqueles que categoricamente se
guei os dados segundo os procedimentos da metodologia da teoria da variação. valiam apenas do primeiro item, na época da constituição da amostra pioneira.
Os resultados estatisticos relativos ao uso de aí como juntivo obtidos para Os resultados para os demais informantes.são mais complexos, Aqui se
cada falante, nas duas sincronias, são apresentados no gráfico seguinte? instanciam três possibilidades: seis informantes (Lei04, Dav42, Jan03, Ag033,
Nad36, Joss35) generalizam o uso de aí, trajetória em direção oposta à exibida
6 Constituem, portanto, contra-evidência a uma outra hipótese de Bybee, Perkins & Pa-
pelos integrantes do outro subgrupo; dois (MG48 e Eve43) apresentam índices
gliuca, a da determinação pela fonte (1994: 9-12).
7 Nesse gráfico,os falantes estão dispostos segundo a idade, com os mais novos ocupando
a posição mais à esquerda. Maiores irl!l:lrÍnaçõessobre faixa etária dos entre~stados ..•
8 Por razões estilísticas, estou utilizando letramento e grau de-escolaridade como
são oferecidas na introdução deste volume.
sinônimos.

166 MUDANÇA LINGüíSTICA EM TEMPO REAL E A..i SE PASSAAAM 19 ANOS 167


de restrições negativas à utilização juntiva de aí quanto da exposição sistemá-
estatísticos iguais ou próximos para emprego de aí; dois (Vas26 e Jup06)
tica do aprendiz a uma gama de gêneros discursivos. Em outras palavras, o
restringem as ocorrências de aí, comportando-se, pois, como Os Jovens.
contato com argumentações e dissertações acarreta uma familiarização com
orações capazes de codificar relações proposicionais outras que não seqüen-
Tabela 1
ciação e continuação. As relações semânticas de causa lato sensu e condição,
Usos juntivos de aí e então para falantes que aumentaram o grau de escolaridade"
por sua vez, cruciais para os mencionados gêneros discursivos, são amiúde
Falantes Amostra 80 (I) Amostra 00 (I) sinalizadas por então, juntivo mais avançado no processo da gramaticaliza-
Input .91 No. % PR No. % PR çâo", imune, portanto, às sanções gramaticais. É provável que a partir destes
EriS9 37/39 9S,O .87 8/11 73,0 .62 contextos, então se irradie para outros e comece a invadir espaços previamente
AdrS7 34/34 100,0 1,0 3/LO 30,0 .36
ocupados por aí. Essa interpretação é corroborada, indiretamente, pelos re-
Adr63 33/33 LOO,O 1,0 19/31 61,0 .67
sultados obtidos pelos falantes que não alteraram o grau de letramento: pri-
Fat23 20/26 77,0 .69 13/24 54,0 .52
Sand39 26/52 SO,o .38 2/LO 20,0 .24 vados das restrições ao emprego de aí e dos estímulos positivos ao uso de
Len38 35/37 95,0 .91 9/13 69,0 .79 então, aí acaba por se generalizar como um juntivo multifuncional.
:Jt
Essa hipótese explicativa encontra respaldo estatístico na tabela abaixo,
que arrola diferentes relações proposicionais que podem emergir em contextos
li! Tabela 2
:I> em que duas orações vêm interligadas por aí ou então12• A tabela contempla,
:n Usos juntivos para falantes que preservaram o mesmo grau de escolaridade'?
a par dos usos seqüenciais e continuativos e das estruturas ambíguas entre
Falante Amostra 80 (I) Amostra 00 (I) funções juntiva e discursiva, consideradas na primeira parte desse trabalho,
:\ Input = .72 Freq. PR Freq. PR as ocorrências "mistas" e os "empregos causais". Este rótulo vale por uma
:. Leil04 24/32 75,0 .04 12/14 86,0 .90 macrocategoria, englobando causa estrito senso, conclusão, conseqüência,
~ Dav42 12/29 41,0 ,SI 25/30 83,0 .89 raciocínio epistêmico (Sweetser 1991), As estruturas "mistas", exemplificadas
:~ Jan03 2/10 20,0 .23 1/3 33,0 .42
,,:1 em (10), por sua vez, incluem as construções formadas por uma oração hipo-
••••I
66,0 .62 -
:) Ago33
Nad36
25/38
12/1B 67,0 .73
6/6
15/1B
100,0

83,0 .92
tática inrroduzida por se, quando ou porque e por uma oração núcleo encabe-
'".1,
:::~I Jos35 0/3 O ,00 4/6 67,0 .56 çada por aí ou então. Do ponto de vista dos processos de combinação das
:~ Mgl48 2/20 10,0 .07 1/13 B,O .07 orações, essas construções constituem um enunciado com orações mais vin-
Eve43 2/12 17,0 .20 1/8 13,0 .11 culadas entre si, já que o item ai (ou então) na oração núcleo, ao remeter
Vas26 4/B 60,0 .67 LO/19 53,0 .44
anaforicamente ao conteúdo proposicional da oração hipotática, acaba por
Jup06 59/59 100,0 .1,0 30/38 79,0 .79

" Desnecessáriosalientar que o freqüente uso de então comodiscursivo,a atuar na orga-


nizaçãodo tópico discursivo,possivelmenteconstitui outra forçaa explicarsua difusão
A comparação entre as duas últimas tabelas desvela a importância da escola-
(cf.Augusto 2001).
ridade enquanto variável que ajuda a explicar a substituição de aí por então, 12 Defendoque aí sinalizaque existeuma relaçãosintática entre duas orações,vinculaçáo
em se tratando de falantes que tiveram acesso à instrução formal no intervalo quese configuracomouma ocorrênciade parataxe (Braga2000). As relaçõessemânticas
de tempo da constituição da Amostra (00). A alteração parece ser fruto tanto que emergem da combinaçãodas orações podem ser inferidas independenterrl1'lfllC ou.
"'"::.
mesmo,a despeito da presença do conectivo(cf.,no entanto, Rodrigues1995).Todavlol,
Esse grupo de fatores foiselecionadocom nível de sighificância .000. por questões de redação, por vezes,vO'ú:iTiereferira aí e então comose eles estivessem
"" 9

10 Grupo de fatores selecionadocom nível de significância .000. indiciando uma determinada relação proposiciooal.

E Ai SE PASSARAM 19 ANOS
168 - ~ MUDANÇA LlNGúíSTICA EM TEMPO REAL
conferir uma nuance de correlação ao enunciado como um todo. O fato de Quanto aos usos discursiuos, os itens em estudo apresentam distribuição
,. tais construções constituírem uma categoria distinta daquela instanciada pelos diferenciada: as instâncias de aí decrescem na segunda amostra enquanto as
demais usos juntivos de aí, instâncias de parataxe, justifica o tratamento dife- de então invertem tal tendência" -:-- -«,
renciado que concedi a elas=.
Tabela 4
(10) F: Tem um pagode ali sexta-feira, mas eu não vou ali toda sexta-feira
Distribuição de aí e então nas duas sincronias
não, uma vez ou outra porque dá na telha aí eu VOll (Jup06).
F: [...] [Discorrendo sobre a educação de crianças] [...] quando fica mais Amostra 80(1) Amostra 00 (I)
Itens
N % N %
velho, aí num vai pedir por favor (Fat23).
Ai 73 44 55 33

Então 92 56 111 67
Por fim, a tabela desconsidera as relações semânticas de ocorrência mais 165 166
Total
rarefeita, incluídas em outros e as ocorrências ambíguas entre estatuto fórico
ejuntivo.
À semelhança dos procedimentos adotados para a investigação dos valores
Tabela 3 juntivos, confrontei as ocorrências de aí discursiuo às de então e examinei a
Relações proposicionais e uso de aí influência da exposição ao ensino formal sobre o uso desses dois elementos.
Amostra 80 (I) Amostra 00 (1)
Inicialmente apresento os resultados para os falantes, dispostos, no Gráfico
Relações
proposicionais Input= .80 Input = .76 2, segundo a idade; posteriormente, distribuo os indivíduos em dois subgrupos,
Seqüenciação 178/185 96,0 .86 61/64 95,0 .93 consoante a mudança ou não mudança no grau de escolaridade.
"Causa" 9/36 25,0 .05 5/26 19,0 .04
Estruturas "mistas" 29/43 67,0 .25 26/48 54,0 .28
Gráfico 2

Continuação 71/128 55,0 .24 42/64 66,0 .46 Uso discursivo de aí vs. então em duas sincronias
Usos ambíguos 38/52 73,0 .10 18/34 53,0 .38

0,8
0,6
A tabela acima mostra que a difusão de aí restringe-se, até o momento, a dois
0.4
ambientes bastante específicos: continuação e estruturas ambíguas entre in-
terpretação juntiva e discursioa. As diferenças estatísticas para os demais 0.2

fatores são pouco expressivas. Esses achados vêm comprovar, mais urna vez, o·
!E
,., '00

;
.. .... ..
,., ,., '" ,.,
'" e--'"•.. ""'"•.. <j '",., <::>o.. '"o <::>'" '"> ....~ .•." ~ ~ ~ ~
'00
'00

'ao ..
que os processos de gramaticalização são detonados em ambientes bastante ~ ""-e -<"" ~ .., j " o'" ;>" ~ ~ ~ z < ..,
..J
'" "
específicos; sugerem, também, que a irradiação de usos é gradual e, possivel-
mente, sensível às propriedades gramaticais dos contextos, conforme preco-
I_Amostra-80 OAmostra-OO I
nizado por Hopper & Traugott (1993) e Reine et alli (1991), entre outros.
\4 O usos juntivos exibem a mesma distribuição, conforme tabela a seguir:
Amostra-80 Amosta-a-Oe

13 Da perspectiva dos processos de combinação de orações, estão alocadas no intervalo Aí 319 72 144 64

entre as construções hipotáticas propriamente ditas, por um lado, e as construções Então 11 26 81 36

subordinadas, por outro. Total 430 225

170 MUDANÇA UNGüiSTICA EM TEMPO REAL E AÍ SE PASSARAM 19 ANO~


171
o gráfico mostra uma distribuição mais complexa do que a observada para os O fato de parte dos falantes do segundo subgrupo preservarem o padrão iden-
usos juntivos. O rearranjo dos resultados segundo a alteraçãe no grau de letramen- tificado anteriormente a propósito das funções juntivas - Lei04, Dav42, Jan03,
to, por seu turno, não logra explicar a distribuição; ao contrário, ressalta lidiluição Ag033 e Nad36 ampliam o emprego de aí na última sincronia, enquanto Jup
do padrão consistente detectado para Os Jovens. O que se observa são subagru- restringe essa utilização - poderia sugerir que o que está se alterando é o
pamentos vários, com alguns indivíduos generalizando os usos discursivos de aí, emprego da forma aí, independentemente do seu estatuto morfossintático.
outros restringindo-os e, por fim, outros preservando os mesmos índices esta- Com vistas a verificar essa hipótese, redistribui os dados segundo o papel
tísticos de seleção de aí em detrimento de então. Essas constatações aplicam-se discursivo de aí: introdutor de seqüência que sinaliza retomada de subtópico
aos dois subgrupos em pauta, corno pode ser verificado nas tabelas 5 e 6, a seguir>. discursivo, encabeçador da oração que indiciafechamento de subtópico dis-
cursivo e elemento de construção que organiza a interação. Os resultados
Tabela 5 para essa variável podem ser contemplados na tabela" a seguir.
Uso discursivo de aí por falantes que alteraram o grau de escolaridade Tabela 7
Usos de aí discursivo
Falantes Amostra 80 (I) Amostra 00 (I)
Innut » .54 Freo. PR Freo. PR Amostra 80'(1) Amostra 00 (1)
Eri59 5/5 100,0 1,0 13/15 87,0 .92 Funções Input = .35 lnput =.15
Adr63 14/15 93,0 .44 6/23 26,0 .47
Retomada de subtôoico 23/58 40,0 15/58 I 26,0
Leo38 7/9 78,0 .79 4/6 67,0 .77
Fechamento de subtóoico 16/53 24,0 5/61 I 8,0
San39 10/35 29,0 .30 1/10 10,0 .20
Orz. da interação 5/6 83,0 8/12 I 67,0
Fat23 3/7 43,0 .73 4/19 21,0 .46
Adri57 IOIH 91,0 .27 4/12 33,0 .59

1"
~,
A tabela acima se configura como um mosaico intrincado: elevação dePR com
",li Tabela 6 relação ao fator sinalização de retomada de subtópico, decréscimo de PR com
til
Uso discursivo de aí por falantes que não alteraram o grau de escolaridade referência à sinalização defechamento de subtópico e manutenção do PRquan-
),
to à organização da interação. É provável que essa distribuição decorra da
'i!
:~ Amostra 80 (11 Amostra 00 (I) atuação de duas circunstâncias complementares: a menor estabilidade dos
Falante
~ Fren. PR Freo. PR elementos que integram a classe dos marcadores discursivos e o fato de tais
Jos.35 l/I 100,0 1.0 4/8 50,0 .82
elementos não serem, usualmente, objeto da atenção escolar. A esse respeito,
Juo06 6/6 100,0 1.0 0/3 0,0 .0
MGl48 1/7 14,0 .51 0/16 0,0 .0 os resultados para usos juntivos e díscursívos se referendam mutuamente.
Vas26 10/16 63,0 .47 12/21 57,0 .54 A última palavra desta parte do artigo concerne aos usos ajixais, para os
Lei04 2/7 29,0 .02 1/1 100,0 1.0
quais não disponho de PRs, visto que no corpus em análise não ocorreu justa-
Dav42 1/8 13,0 .13 5/14 36,0 .68
Jan03 0/5 0,0 .0 7/8 88,0 .68 posição de então a NS17.A ausência de uma medida estatística mais confiável
Al!o33 5/10 50,0 .58 7/9 78,0 .70 não obscurece, todavia, o fato de que houve um aumento significativo no nú-
Nad.36 0/8 0,0 .0 3/7 43,0 .65
Eve43 0/17 0,0 .0 2/13 15,0 .51
mero de ocorrências de justaposição deaí a N e V, que passou de 15, na Amostra

16 Excluí dessa tabela os resultados para fator Introdução de segmento parentético, dado
o caráter não confiável das células.
..:.:Os PRs foram extraídos do primeiro passo do step-doum, visto que Q -grupo de fatores
17 Estou me referindo a ocorrências nas quais então funciona como um intensificador, como
em pauta não foi selecionado para nenhum dos dois subgrupos de falantes. Ressalte-
no exemploseguinte, retirado da Amostra 00 (C):"[...] mãe do meu pai, entendeu? Pô,teve
se o caráter não confiável de várias células. .~

173
172 MUDANÇA LINGüíSTICA EM TEMPO REAL E Ai SE PASSAMo'v1 19 ANOS
80, para 2.5.,..naAmostra 00'8. Trata-se, aparentemente, do valor que experi- EQUILíBRIO E DESEQUILíBRIO NA EVOLUÇÃO
mentou alterações llllI-~erceptíveis. DAS ESTRUTURAS CONDICIONAIS1
A anális~ desenvolviCÍà ness.~ parte do artigo se· fundamenta nos usos/
valores de aí propostos na primeira seção. Os resultados do tratamento se-
Helena Gryner
gundo a ótica variacionista, objeto dessa seção, sugerem que as alterações
UFRJ
observadas no uso de aí juntiuo decorrem da atuação do ensino formal. Os
resultados diferentes para os usos discursivos, não sujeitos ao controle da
escola, representam, por outro lado, uma confirmação indireta a favor da hi-
pótese explicativa aventada a respeito dos valores juntivos. 1. Introduçáo

A estrutura condicional, ilustrada em (1), é, historicamente, um contexto pri-


3. Conclusáo vilegiado para o surgimento de inovações e conservação de formas obsoletas':
(1) Eu pensava assim: s- eu gostei da fazenda, mas se ela tiver que ser minha,

Neste artigo focalizei os empregos de aí à luz dos postulados da metodologia ninguém vai comprar ela (Eve, 80 (e).
da teoria da variação e dos estudos sobre gramaticalização. Primeiramente,
considerei a coexistência dos variados empregos de aí, associados a diferentes Neste estudo, procuramos identificar as tendências de uso das formas verbais
estatutos morfossintáticos, reconstrução essa que referenda a proposta de nas estruturas condicionais - ou seja, nas chamadas orações "condicionais" e
Bybee, Perkins & Pagliuca (1994). Ressaltei, no entanto, que os chamados "principais" - nos últimos anos e, ao mesmo tempo, estabelecer as suas motivações.
usos afixais constituem problema para a hipótese da unidirecionalidade. A construção condicional canônica é uma estrutura complexa, constituída
A seguir, apresentei os resultados referentes ao tratamento variacionista por duas orações: a prótase, urna oração margem obrigatória, que a gramática
que imprimi às instâncias de aí e então, priorizando a correlação entre uso de tradicional rotula como subordinada' adverbial condicional (PRo-cond), e a
ai] então e duas variáveis - idade dos falantes e exposição ao ensino formal. apódose, uma oração núcleo facultativa, denominada principal (APo-princ).
Com relação aos valores juntivos, os resultados estatísticos sugerem que existe Um terceiro componente apontado, também facultativo, é o conectivo, preto-
uma maior consistência lingüística por parte dos individuos mais jovens, o que tipicamente, a conjunção SE, como nos exemplos (2)-(4).
parece constituir uma evidência a favor da hipótese "clássica" da aquisição (cf. (2) Sóque ali, mais lá pra cima,bem longe mesmo, tem um negóciolá de coco.E

Naro 1996a); desvelam, porém, simultaneamente, a relevância de fatores so- se pegar (PRo-cond)cocolá, os cca> ... o cara dá (APO-princ)tiro (Rom, 00 (e).
ciais. Com referência aos valores discursivos, a menor consistência na distribui-
ção parece ser devida à sua não-focalízação pelo ensino formal". Mostrei, por (3) ... se quer (PRo-cond) fazer uma compra tem (APO-pnnc)que ir a pé parã
fim, que as alterações nos usos de aí são restritas a contextos específicos, o que o Porcão (Dav, 80 (e).
confirma hipótese sobre o caráter gradual dos processos de gramaticalização.
1 Colaboraramnesta pesquisa os bolsistas de [C Michel Baptistae Lucianade Andrade
uns dez, li (filhos),entendeu?Teve,pô, que antigamenteera assim,né? Era basicamente Mesquita.
assim era maisachoquepô...nãoé o meucaso,entendeu?Daminhaavó...masas pessoas 2 Entre elas, o aparecimento do futuro do subjuntivo e a manutenção da forma simples

que pô do Norte então, maluco,era dez, 15 filhos,entendeu?(F1a). do mais-que-perfeitodo indicativo.


18 Recorde-seque exami~e(1/3 da elltrevista de cada falante. E;l outra palavras, a dife- 3 Embora, nos termos de Hopper e Traugott (1993),a relação entre núcleo e margem
_ r~ll~a quantidade de aís afixaisindepende da quantidade de fala examinada. comoa que ocorre em estruturas condicionaisse caracterizecomohipotaxe(cf.Gryner
19 Umaoutra possívelhipóteseexplicativa- relativainstabilidadeda classedos marcadores 1995),para facilitar a identificaçãodas orações, conservamosos rótulos da tradição
discursivos- não foi investigadaneste artigo. filológica(prótase e apódose) e gramatical(principal e condicional).

174 7S
MUDANÇA LINGüíSTICA EM TEMPO R!:Al
(4) Você mora (PRO-cond) em apartamento, você nãofaz (APO-princ) amizade constitui o foco deste estudo. O que importa aqui são as variantes - definidas
(Nad, 00 (1).
..--•... como parte de duas variáveis dependentes - que alternam nos mesmos con-
- textos - definidos -como variáveis independentes. Assim, na pró~condi-
As formas verbais mais freqüentes nas PRO-condpotenciais são: o futuro I cional, interessam-nos os contextos em qúe se dá a variação-entre uma das
do subjuntivo (FS), em (5), o presente do indicativo (PI), em (6), e, em menor
escala, o perfeito do indicativo (PfI), em (7).
.j formas de futuro, o presente e o perfeito do indicativo; e, na apódose princi-
pal, a variação entre o futuro, o presente e o perfeito do indicativo.
(5) Se [por acaso] eufalar
(Eri, 00(1).
(FS) e- espanhol, eujá vou ganhar não sei quanto
I As formas mais freqüentes naxro-prínc - tanto reab quanto potencial= são o
presente do indicativo (PI), como no exemplo (11),o futuro do indicativo (FI), no
exemplo (12), e, em menor escala, o perfeito do indicativo (Pfl), no exemplo (13):
(6) Se [por acaso] você fala (PI) [que ganhou na loteria] vem todo mundo em (U) E se pegar coco lá, os cca» ... o cara dá (PI) tiro (Rom, 00 (C).
cima de você (Dav, 00 (I).

(12) Se você fala [que ganhou na loteria]. .. nego vai te assaltar (FI), vai se-
(7) Mas, não! O cara se [por acaso]formou (Pfl) professor de química orgânica, qüestrar (FI) sua filha, vai-, tá entendendo? (Dav, 00 (1).
então ele vai ser professor-de química orgânica (Vas, 80 (C).

(13) Eu penso assim ... [já que] separou, separou (Ptl) ... (Jos, 80 (C).
Já nas PRO-cond reais, o verbo pode ocorrer no presente (PI), (8), e no
perfeito indicativo (PfI), em (9). A forma de futuro do indicativo, em (10), • Em todas as épocas, desde a origem da língua portuguesa, os verbos da
embora teoricamente admissível, é muito rara. Não surpreende, pois, que não
j
estrutura condicional apresentam-se em variação. Esta instabilidade reflete a
ocorra em nossos corpora:
(8) Se [=já que] um servente num pode (PI) almoçar, o diretor também num
I pressão de duas forças contraditórias. Por um lado, a analogia semântica apro-
xima as formas da prótase-condicional e da apódose-principal, favorecendo
pode (Lei, 00 (I).
combinação de tempos, como em:
Futuro (subjuntivo) - Futuro (indicativo)
(9) Aí aconteceu. E eu- a -crní-c-- o meu modo é esse. Eu penso assim: separou,
separou. Não gosto de ficar é- vai e volta. Aí, então, [já que] separou (Pfl),
I
I ~
Presente (indicativo) - Presente (indicativo)

fica (PI) separado (Jos, 80 (C). j


Por outro lado, pressões estruturais específicas atuam ora na PRo-cond,

(10) *Se [=já que] um servente num poderá (PI) almoçar, o diretor também
I ora na APo-princ, favorecendo a anticorrelação de tempos'.
Futuro (subjuntivo) - Presente (indicativo)
num poderá. I
I Presente (indicativo) - Futuro (indicativo)

Na maioria das línguas românicas atuais, o futuro do indicativo é blo- I


queado em orações condicionais potenciais, sendo substituído pelo presente. • Apesar das condicionais reais serem invariáveis na prótase-condicional, a sua inclusão na
O português, porém, conserva uma segunda forma, que alterna com o presente análise é crucial para estabelecer o efeito da escala epistêmica (cf. adiante) tanto na PRO
do indicativo o futuro do subjuntivo, uma forma restrita aos contextos poten- cond quanto naAPO-princ, assim como as eventuais correspondências entre as duas orações.
ciais. Conseqüentemente, as duas formas de futuro estão em distribuição com- I 5 Entre essas pressões destacam-se a substituição do futuro pelo presente do indicativo,
para codifica~9 do não-passado; a gramaticalização cíclica (Traugott e Heine 194.)1,
plementar, usadas alternativamente conforme o tipo de prótase: o futuro do ~
Heine et alii 1991) das formas perifrásticas originais de futuro do indicativo (cantare
subjuntivo, privativo nas prótases potenciais, e o futuro do indicativo, privativo habeo> cantarei (futuro sintético)e vou (modal) levar> vou~ar (futuro perifrá~ic())
das reais. Esta distribuição, determinada por contextos complementares, não I
I (Poplack & Turpin 1999); e a redução dos modos (subjuntivo> indicativo).

176
MUDANÇA UNGüiSTlCA EM TEMPO REAL EQUIÚBRIO E OESEQUILÍBRIO NA EVOWÇÁO DAS ESTRUTURAS CONOIODNAlS
A inserção e difusão das inovações são fonte da constante variabilidade Corno mencionamos anteriormente, foram analisadas duas variáveis depen-
na correlação de temposentre as orações da estrutura condicional. Pressões dentes: a) a flexão modo-temporal Qa PRO-cond: futãro do subjuntivo (FS) vs.
~
que favorecem o uso do futuro (érn detrimento do presénte) ou que o desfavo- presente do indicatiuo (PI) vs. perfeito do indicativo (Pfl); b) a flexão modo-teme-
recem (favorecendo o presente) nas duas orações intensificam a tendência à poral da APO-cond:futuro do indicativo (FI) vs. presente do indicativo (PI) vs.
correlação de tempos. As que favorecem o futuro em urna das orações e o perfeito do indicatiuo (Pfl). Cada urna destas variáveis, tratada separadamente
desfavorecem em outra intensificam a correlação de tempos. Por fim, pressões em cada momento de tempo, foi submetida aos mesmos grupos de fatores. Assim,
neutralizadas (que não favorecem nem desfavorecem o futuro ou o presente) embora correspondam a análises distintas, apresentamos lado a lado os resultados
em urna das orações não interferem na ausência de relação temporal entre correspondentes a cada grupo de fatores, contrapondo os efeitos relativos à PRO-
PRO-cond e APO-princ. cond aos relativos àAPo-princ. Esses resultados referem-se ao futuro do subjuntivo
Este trabalho discute dois conjuntos de questões relacionadas: a) como (FS), no caso da PRo-cond, e ao futuro do indicativo (FI), no caso da APO-princ.
os contextos lingüísticos e sociais atuam na escolha das formas verbais da
prótase-condicional e da apódose-principal? Quais pressões favorecem e quais
desfavorecem a correlação de tempos? B) Quais as tendências diacrônicas 2. Distribuição das variantes
decorrentes destas pressões? Há evidências de estabilidade ou de mudança?
Neste caso, em direção à correlação ou à anticorrelação de tempos? Os gráficos 1.1 e 1.2 abaixo descrevem a distribuição das três variantes da prótase-
Para responder a estas perguntas, levantamos hipóteses relacionadas a condicional- futuro do subjuntivo, presente do indicativo e perfeito do indicativo
três variáveis estruturais e três extralingüísticas, as quais foram correlaciona- - na comunidade do Rio de Janeiro, para 80 (C) e 00 (C), respectivamente.
das estatisticamente a cada uma das variantes (futuro do subjuntivo da PRO-
cond e futuro do indicativo da APO-princ). Para identificar as situações de Gráfico 1.1 Gráfico 1.2
estabilidade ou de mudança lingüística, procedeu-se à análise em tempo real Distribuição das variantes da Distribuição das variantes da
(cf. capítulo introdutório a este volume) da evolução sociolingüística da comu- PRO-cond. em 80 (C) PRo-cond. em 00 (C)
nidade e dos indivíduos. Nas seções seguintes, discutimos os resultados corres-
7% ~%
pondentes a essas variáveis, comparando seu efeito sobre os futuros do subjun-
tivo e do indicativo nos dois momentos pesquisados. 43%

Nosso estudo se baseia nas amostras elaboradas pela equipe do PEUL(cf.


descrição mais detalhada na Introdução a este volume). Para fins de compa-
ração diacrônica, delas extraimos quatro subamostras, correspondentes a dois
momentos distintos: duas do início da década de 1980 (80 (C) e 80 (I), e duas l_rutsl1bj apr~s ind Operfind] I_rutsubj Opres i~d -Cip!rfi-~-I

em torno da virada do milênio (00 (C) e 00 (I). As duas primeiras (80 (C) e 00
(C), sobre as quais incide o núcleo da pesquisa, permitem identificar as ten-
dências deinudança na comunidade do Rio de Janeiro; as duas últimas (80 Pode-se observar que urna das três variantes da PRo-cond, o perfeito do
(I) e 00 (1), baseadas naqueles informantes que, tendo sido entrevistados no indicativo, não atinge 10% dos dados, o que impôs a sua exclusão da análise
início dos anos 1980, puderam ser recontatados entre 1999 e 2000, permitem quantitativas . A variável dependente fica, portanto, reduzida a duas variantes:
rastrear as mudanças ocorridas na fala de indivíduos. Foram analisadas 64
-,
entrevistas, ou seja, 16 informantes de cada subarnostra. Os procedimentos
metodológicos aqui seguidos e os princípios variacionistas a eles subjacentes s É interessante mencionar, entretanto, que, apesar de pouco freqüente, o perfeito do
seguem o modelo laboviano. indicativo se comporta de maneira semelhante ao presente do indicativo.

178 MUDANÇA lINGúiSTICA EM T~IPO REAL EOUIÚBRIO E DESEQUIUBRIO NA EVOWÇÃO DAS ESTRURIRAS CONDICIONAIS 179
o futuro do subjuntivo (FS) e o presente do indicativo (pI). Comparando-se as Observa-se, novamente, que os índices de perfeito do indicativo são insignifi-
taxas de 80 (C) e 00 (C), percebe-se que, em cerca de vinte anos, houve um cantes, não atingindo os 5%. Do mesmo modo que afastamos o perfeito da
incremento significativo das taxas do futuro do subjuntivo, (80 (C) = 43% e análise das prótases condicionais, a terceira variante da APO-princ também
00 (C) = 66%), em detrimento do presente do indicativo. Este aumento de 23 foi excluída. Os gráficos 2.1 e 2.2 revelam que, ao contrário do que ocorre na
pontos percentuais nas condicionais do português falado no Rio de Janeiro prótase-condicional. os índices das duas variantes consideradas se mantiveram
dá prosseguimento à evolução destas estruturas na língua literária (Leão 1961). inalterados nos últimos vinte anos.
A Tabela 1,reproduzida da autora, descreve a distribuição do futuro do subjun- Observando-se o uso do futuro do presente do indicativo us. o do presente
tivo vs. presente do indicativo no português líterário a partir do século XVI. do indicativo na APO-princ no português literário, temos os seguintes índices
expostos na Tabela 2 (também adaptada de Leão 1961).
Tabela 1
Evolução do futuro do subjuntivo em condicionais na modalidade escrita literária Tabela 2
Evolução das formas de futuro do presente do indicativo na modalidade escrita literária

Os índices registram uma relativa estabilidade no uso do futuro do subj untivo.


No entanto, há no século XIX uma abrupta elevação, seguida, no século se-
guinte, de um recuo acentuado. Esta elevação é semelhante à que atestamos É interessante notar que a distribuição das percentagens da Tabela 2 obedece
nos resultados de língua falada. Cabe, então, verificar se o incremento dos ao mesmo perfil da verificada na Tabela 1. Há, aqui também, uma elevação
índices de futuro do subjuntivo corresponde a mudanças no sistema lingüístico nos índices dos séculos XVII a XIX, seguida de queda em xx, o que sugere a
e quais são elas. existência de uma motivação não aleatória. Comparando-se estes resultados
Os gráficos 2.1 e 2.2 descrevem, respectivamente, os usos das três variantes aos do português contemporâneo, observa-se que a substituição do futuro sinté-
da APo-princ - futuro do presente perifrástico, presente do indicativo e perfeito tico da modalidade escrita pelo perifrástico usado nas amostras orais não altera
do indicativo - nas duas amostras da comunidade. a distribuição entre essas formas e as do presente do indicativo: em ambos os
casos ·(modalidade escrita/literária e oral/coloquial), as taxas de futuro do
presente permanecem estáveis em torno de 25%.
Gráfico 2.1 Gráfico 2.2
Distribuição das variantes Distribuição das variantes na
na APO-princ. em 80 (C) APO-princ. em 00 (C) 3. As variáveis estruturais
31'10
4'"
Os contextos estruturais relevantes que analisamos neste trabalho abrangem
níveis distintos: a) semântico-pragmático, a escala epistêrnica; b) sintático,
explicitação do conectivo; c) discursivos,.marcaqores discursivos.

.-
.
n%

[.-(~t-i~dO~nd~] [.rutindOpn:SindO~ _
A primeira variável estrutural analisada foi a escala epistêrnica. Na maioria
das línguas do mundo, as estruturas condicionais gramaticalizam diferentes
categorias sintático-semânticas, correspondentes aos diferentes graus de cer-

180 MUDANÇA lINGuíSTICA EM T:MPO REAL


EQUILÍBRIO E DESEQUILÍBRIO NA EVOLUÇÃO DAS ESTRUTURAS CONDIOONAIS 181
teza do locutor em relação-ao conteúdo enunciado (Bybee & Fleishman 1995). A tabela 3 revela que, nas PRo-cond, tanto em 80 (C) como em 00 (C), há uma
Translingüisticamente, os esquemas semântico-pragmáticos variam de zero nítida distinção? entre as condicionais possíveis, que favorecem 9 uso de futu-
a cinco graus. Em trabalhó'a'nterior (Gryner 1998), postulamos que, na oração ro do subjuntivo (.65 e .59), e os demais contextos. As condicionais prováveis
condicional do português, a escala epistêmica é constituída por cinco graus tendem a desfavorecer o uso de futuro do subjuntivo (.11 e .15). Já nos contextos
codificados iconicamente, tanto pela forma verbal quanto por sua distribuição reais, o futuro do subjuntivo sofre a redução máxima atingindo o ponto zero.
estatística. Retomamos aqui três categorias: as reais (ou certas), as potenciais De acordo com os princípios da marcação e da iconicidade, conteúdos
prováveis e as potenciais possíveis. Foram analisadas as duas orações. mais perceptíveis, cognitivamente mais accessíveis, são codificados por formas
As orações condicionais reais - fatuais ou certas - pressupõem a afirma- menos marcadas (Givón 1995b). Corroborando a aplicação destes princípios,
ção do conteúdo proposicional veiculado. Podem ser parafraseada~ por já que, a PRO-cond real que codifica informações recentes (cf. Gryner 1990, 1996 e
como no exemplo (14). 1998), disponíveis na memória de curto prazo e facilmente accessíveis, exigem
(14) Então, eu acho que é o seguinte: Uá que] você é (pI) um ser humano; como uso categórico a forma não marcada, ou seja, o presente do indicativo;
então você tem (sr) o direito de falar o que você quiser, tá? (Vas, 80 (C). a PRo-condpossível, que veicula conteúdos menos accessíveis, favorece o uso
da forma mais marcada, o futuro do subjuntivo; por último, a PRo-cond pro-
As orações potenciais não pressupõem a afirmação nem a negação do vável, que ocupa um lugar intermediário, embora admitindo o futuro do sub-
conteúdo proposicional veiculado. As potenciais prováveis - habituais ou juntivo, favorece o presente do indicativo.
genéricas - podem ser parafraseadas por sempre que, como no exemplo (15). Assim, confirmando e expandindo os resultados obtidos anteriormente,
(15) Se I= sempre que] tem (pI) urna pessoa doente, eu vou (PI) lá, ministro atestamos que os princípios de marcação e iconicidade atuam na amostra 80
(pI) o jorei, porque a doença é um estado de espírito (Jos, 00 (1). (C) e se revelam igualmente relevantes na amostra 00 (C). O grau de comple-
xidade das formas - (FS) vs. (pI) - e a escala de pesos relativos para o uso do
As orações potenciais possíveis - ou eventuais - podem ser parafraseadas futuro do subjuntivo (.65 vs. 15 vs. O) refletem iconicamente a acessibilidade
por se por acaso, como no exemplo (16): crescente ao conhecimento de conteúdos cuja realização é, gradualmente,pos-
(16) Eles (os pais) [fala-] ele fala se [por acaso] a gente não passar (FS) de ano sível, provável e certa.
eles não dão (PI) um vídeo game pra gente, outra coisa é- e se [por acaso] a Quanto às variantes daAPO-princ (cf. Tabela 3), o contraste entre contextos
gente não passar (FS) de ano a <gen> a gente vamo apanhá (FI) (Rom, 00 (C). possíveis e prováveis é semelhante ao encontrado na PRo-cond. Condicionais
possíveis favorecem o futuro do indicativo (.77 e .68), enquanto as prováveis
A Tabela 3 descreve o efeito da escala epistêmica sobre as variáveis da o desfavorecem (.35 e .36). Os índices revelam que as motivações que atuam
PRO-cond e APO-princ. nas variáveis da PRO-cond são válidas também para as variáveis daAPO-princ.
. ;::
Este paralelismo, porém, não ocorre nas reais. Surpreendentemente, nasAPO-
Tabela 3 principais este contextofavorece marcadamente o uso do futuro do indicativo
Es~ala epistêmica (.85 e .68). Os efeitos contraditórios do contexto real para o uso do futuro do
. presente perifrástico na APo-princ, em relação ao futuro do subjuntivo na
Variáveis FSPRO-cond FI APO-princ PRo-cond, derivaria do caráter ainda não totalmente gramaticalizado do futuro
Esc. Epist. 80(C) OO(C) 80(C) OO(C) perifrástico (constituldo do modalir seguido de infinitivo). Ao que tudo indica,
Possível 107/120 = 89% .65 151/174 = 87% .59 49/121- 40% .77 58/169 = 34% .68 .;r
Provável •• . 94/'1,96 = 32% .11 169/279 = ~% .15 29/29~.Q~ -::35 ~.rn/275 = 16% .36
Real - - 10/19 = 53% .85 14/40 = 3~.68
Total 203/416 320/45 88/43 115/484 7 Consideramos como mudanças efetivas, diferenças estatísticas não inferiores a dez
pontos entre os dois momentos.

183
182 MUDANÇA UNGúiSTICA EM TEMPO REAL
EQUILÍBRIO E DESEQUILÍBRIO NA EVOLUÇÂO DAS ,STRUTURAS CONDIOONAlS
Vê-se que a explicitação ou não do conectivo afeta marcadamente as PRO-
esta construção mantém, junto com os traços semânticos do modal ir (ê.antos
cond. Em ambas as amostras, a distância entre o futuro e o presente é supe-
2000), o caráter assertivo original do auxiliar no presente do indicativo.Tsto
'- fi": rior a cinqüenta pontos. Em '80 (C), conectivo, marca expliêita de~maior
ó
••....... '
- Ô aprorim~~a ainda mais J!()s contextos reais -' que, em geral, selecionam o
coesão sintática, favorece a flexão verbal que codifica maior dependênci'ã' sin-
presente.
tática, o futuro do subjuntivo (.71). Inversamente, a ausência do conectivo
A hipótese é corroborada pelos resultados de 00 (C), onde o favorecimento
reduz as taxas a .19. Na amostra 00 (C), a polarização se toma ainda mais
do futuro em contextos reais decresce 17 pontos percentuais. Este declínio
pronunciada: a variante (FS) na ausência de SE, que em 80 (C) não ultrapassava
parece refletir o crescente esvaziamento semântico e perda de assertividade
.19, reduz-se drasticamente a .03, desaparecendo praticamente neste contexto,
do auxiliar IR que acompanham a gradativa gramaticalização da construção
O efeito do conectivo sobre o verbo da APO-princ é, em geral, pouco mar-
perifrástica.
cado. Na amostra 80 (C), a ausência de conectivo desfavorece ligeiramente o
A segunda variável diz respeito à conexão. Em trabalho precedente (Gryner
futuro do indicativo (.42 vs . .55), a exemplo do que ocorre marcadamente na
1995), demonstramos que a explicitação do conectivo SE em condicionais po-
PRo-cond. Vinte anos depois, porém, ao contrário do que ocorre na PRo-cond,
tenciais está associada sincronicamente a parâmetros de coesão máxima en-
a taxa de futuro em orações justapostas aumenta e anula-se a diferença entre
tre PRO-cond e APO-princ e é codificada pelo futuro do subjuntivo na PRO-
cond. Inversamente, a ausência do conectivo associa-se à menor coesão inte- os fatores (.54 vs . .49).
A terceira variável diz respeito aos marcadores discursivos que também
roracional, codificada pelo presente do indicativo. Nesta pesquisa, testamos
podem funcionar como conectores, isto é, relacionar PRo-cond e APo-princ.
o efeito do conectivo sobre as flexões da PRO-cond e da APO-princ.
Esses, no entanto, caracterizam-se por serem menos gramaticalizados do que
O grupo de fatores é constituído por duas categorias, conforme a presença
os conectivos. Conseqüentemente, os vínculos interoracionais codificados por
ou ausência do conectivo SE como introdutor da PRO-cond.
marcadores são menos sintaticizados (Givón 1995b). As formas mais freqüen-
tes na conexão condicional são: aí (cf. exemplo (19), e então (20).
[ +SE]
(17) Depende se você tivé (FS) vinte cachorros, aí dá (pI) trabalho (Tad, 00 (C).

[-SE] (19) E: É, os professores têm que reclamar.
F: Não quer (pI) dar aumento, li o pessoalfaz (PI) greve (Nad, 00 (I).
(18) Você mora (PI) em apartamento, você nãofaz (PI) amizade (Nad, 00 (I). 1i
1
A Tabela 4 descreve o efeito do conectivo na distribuição das variantes da I Então,
I (20) Então, eu acho que o seguinte: você é (pI) um ser humano, então você
PRO-cond e da APO-princ em 80 (C) e 00 (C).
I tem (pI) o direito de falar o que você quiser, tá? (Vas, 80 (C).

Tabela 4
I
Conexão Zero

FSPRO-cond FI APO-princ
I (21) Se eufalar (FS) e- espanhol, º.eU'já vou ganhar (FI) não sei quailio (Eri,

00 (I).
'"" -J

Conec
80 (C) 00 (C) 80 (C) 00 (C)
+SE 184/260=70% .71 312/375=83% .66 71/273=26% .55 95/406=23% .49 O efeito da presenea dos marca dores no uso do futuro ~c:> su9,juntivo na
-SE-' 8/78 -;- 9~ '-:03 17/163=10% .42
.~
J9!156= 12% .J8 20/78=26% .54
PRO-coJ;l.d.e do futuro do indicativo na APO-princ é apresentado na Tabela 5:
Total 203/416 320/453 88~ 1151-484

185
EQUILÍBRIO E DESEQUILiBRIO NA EVOlUÇÁO DAS ESTRUTURAS CONDICIONAIS
184 MUDANÇA LINGüíSTICA EM TEMPO REAL
Tabela 5 variáveis a partir da distribuição dos usos de acordo com o contexto social.
r __ . Marcadores Contextos convencionais como grau de escolaridade e gênero-sexo, além da
~& ~,
--- .
idade, atuantes na variação sincrônica, podem apontar tendências que serão
FSPRO-cond FI APO-princ
Marcad ou não confirmadas em tempo real.
80 (C) 00 (C) 80 (C) 00 (C)
O grupo de fatores extralingüísticos que se revelou mais relevante para o
Aí 17/44 = 39% .56 24/34 = 71% .59 7/47 = 15% .43 3/34 = 9% .22
Então = 67% .33 uso do futuro do subjuntivo na prótase-condicional foi ograu de escolaridade.
4/33 = 12% .16 6/9 7/35 = 20% .59 3/13 = 23% .37
Zero 182/339 = 53% .53 290/4iO = 71% .50 '·74/354 = 2196 .50 109/437 = 2596 .53
A Figura 3.1, abaixo, atesta que o incremento de futuro do subjuntivo na co-
Total 203/416 320/453 88/436 115/484 munidade do Rio de Janeiro é liderado pelo grupo menos escolarizado. Por-
tanto, uma tendência vinda de baixo. A oposição entre falantes mais escolari-
A Tabela 5 revela que, em 80 (C), o marcado r então desfavorecia o futuro do zados (ensino médio, .45), de escolarização média (segunda fase do ensino
.subjuntivo (.16), opondo-se aafe ausência de marcador, que ficam em torno de fundamental, .47) e menos escolarizados (primeira fase do ensino fundamen-
(.50): Após vinte anos, o perfil permanece praticamente o mesmo. Observa-se, tal, .59), quejá se delineava na década de 1980, aprofunda-se acentuadamente
no entanto, que a taxa de futuro para então aumenta sensivelmente (.33). Isto vinte anos depois, com a escala de .24, .42 e .69, respectivamente. Ou seja, a
é, o marcador desfavorece cada vez menos o futuro do subjuntivo, aproximando- escolha entre futuro do subjuntivo e presente do indicativo se torna, nitida-
se mais das taxas de zero e aí. Esses índices sugerem que a evolução de então _ mente, uma marca social.
de elo de conexão interoracional mais frouxo a mais coesivo - obedece à mesma Esses resultados surpreendem por dois motivos. Primeiro, porque con-
trajetória percorrida por aí. Os índices mais altos de futuro do subjuntivo na trariam as atitudes sociolingüísticas correntes sobre o subjuntivo tido como
presença de aí us. então, nas duas amostras (.56 e .59 us .. 16 e .33, respecti- mais elaborado, mais planejado e mais abstrato e, portanto, atribuído aos
vamente), refletiriam os estágios distintos de gramaticalização de cada marcador. falantes de maior instrução formal. Em segundo lugar, porque contrariam a
Quanto às formas da APO-princ., os efeitos de aí e então são semelhantes: tendência diacrônica atestada nas línguas indo-européias, que faz supor a ob-
ambos passam abruptamente a desfavorecer (então = .59 > .37), ou desfavo- solescência ou mesmo o desaparecimento do subjuntivo na fala informal.
recer mais (aí = .43 > .22) o futuro perifrástico. Tudo indica que, à medida As formas da apódose-principal, embora menos marcadamente que as
que se gramaticaliza a estrutura perifrástica, vai se distanciando gradativa- da PRo-cond, também são sensíveis à pressão da escolaridade dos falantes.
mente dos marcadores que passam a correlacionar-se preferentemente com No entanto, ao contrário do que ocorre na PRo-cond, o futuro do indicativo
o presente do indicativo. da APO-princ será tanto mais favorecido quanto maior o grau de escolarização
Os resultados parecem indicar que conectivos e marcadores se comple- dos falantes, como mostra o gráfico 3.2.
mentam. A presença ou ausência do conectivo SE, por um lado, afeta crescen-

2
temente'ãsformas da PRO-cond, e, poroutro, tom~~operante

ado, afeta cada ve~is polarizadarnente as.formas daAPO-princ ~


para as da
APO-princ; inversamente, a presença ou ausência dos marcadores, por um
outro,
Gráfico 3.1
Escolaridade e uso de FS na
PRo-cond. em dois momentos
Gráfico 3.2
Escolaridade
PRo-cond. em dois momentos
e uso de FI na -
if\'
--:.. apresenta fortes indícios de neutralização das oposições na PRO-cond. 0.8 0.8

0.6

-
0.4
4. !;.s viif"iáveis sociais .
@ :- .•• .-:-,. .~ 0.2

W(C) 00 (C) 80(0 00(0


Um dos aspectos centrais da sociolinguística lab~viana está na possibilidade
de se traçar o movimento - avanços, recuos ou estabilidade - das formas !Of'und~nl.Fu(Kbm2 .Emédí~1 10 Fundam! _Fund:u1'I2 • E. ntédo J

186 EOUlLÍBRIO E DESEQUIÚBRIO NA EVOLUÇÃO DAS ESTRl/TURAS CONDtQONAiS


187
MUDANÇA LINGüíSTICA EM TEMPO RFAL
Procuramos estabelecer associações entre as tendências individuais e a dos
Os estudos sobre o futuro do presente (Santos 2000) apontam a forma peri-
diversos grupos sociais da comunidade.
frástica do futuro, corno própria da língua falada informal. Na evolução das A variação individual em tempo real pode esclarecer a controvérsia ..ern
.: . .,-~ . ..~ .. ~-
formas de futuro, ela substitui a forma sintética como alternativa ao presente 1 torno do processo de aquisição da linguagem. Se o processo se completa e~
do indicativo. Os resultados da Tabela 3.2 confirmam que esta forma inova- 1 torno dos 15 anos de idade, as formas se mantêm estatisticamente inalteradas,
dora, ignorada pelas gramáticas correntes, entrou no sistema através das ca- .!
há estabilidade no uso; se há mudança ao longo da vida correlacionada às
madas mais instruídas, caracterizando um processo vindo de cima. Observa- diferentes faixas etárias e mobilidade socioeconômica, após um intervalo ra-
se que, apesar do ligeiro aumento nas freqüências do futuro perifrástico, a zoável de tempo, os indivíduos apresentam mudanças estatisticamente signi-
oposição entre os grupos sociais se mantém inalterada nos últimos vinte anos.
ficativas.
A segunda variável diz respeito ao sexo/gênero do falante. Desde os pri- Comparando-se os índices de cada falante recontatado nos dois momentos
meiros trabalhos sociolingiiísticos (Labov 1966; Fischer 1958), correlaciona- (amostras 80 (I) e 00 (1), constatamos três tendências, recorrentes nas duas
se o processo de mudança ao gênero do informante. No presente estudo, a
variantes, corno se mostra nos gráficos 4.1 e 4.2.
relevância da variável sexo/gênero, tanto para a prótase-condicional quanto
para a apódose-principal, se restringe à amostra mais recente. Em torno de Gráfico 4.1
2000, as taxas para gênero-sexo, até então muito próximas, passam a dife- Futuro do subjuntivo na PRo-cond. em dois momentos
renciar-se. Na PRO-cond,as mulheres começam a desfavorecer a variante futu-
ro do subjuntivo (AI) em relação aos homens (.56).
Nada indica que o futuro do subjuntivo seja uma forma desprestigiada. Ao
0,8
•• O O O O •
0,6 O O
i i i O
• •
contrário, o consensual é justamente a opinião oposta. Assim, a preferência
feminina pelo presente do indicativo pode ser atribuída quer a um caráter con-
0,4
O •• •• •
servador, quer a um eventual prestígio encoberto, possivelmente derivado do
0,2

o z~õo~~r:i
•gg-~j";l~j,=.;:!Ji
seu caráter assertivo. As transformações da sociedade e a crescente participação da ~ ~ ~ o > ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~

mulher na esfera pública favoreceriam o incremento de um estilo mais afirmativo. 1°80 (1) • 00 (1) I
O efeito do gênero-sexo sobre o futuro do indicativo da Aro-prínc na década
de 1980 também é pouco marcado. Vinte anos depois, torna-se mais nítida a
diferença entre homens (.59), que favorecem o FI, e mulheres, que o desfavorecem Vários informantes apresentaram mudanças bem definidas. Assim, vê-se em
(.37). Enquanto os homens avançam no uso da perífrase IR + Infinitivo, a forma _'p que os seis falantes (Fat, San, Leo, Adrk, Adrl., Eri) cujo nível de educação
nova ainda em fase de gramatícalização.jis mulheres passam a evitá-Ia. Como
~. - - ----", - formal elevou-se no interstícío de tempo considerado reduziram o uso de futuro
vimos, ao contrário do que ocorre na PRO-cond, a inovação que introduz o uso de subjuntivo em 00 (I), reproduzindo individualmente as mudanças dos gru-
do futuro perifrástico vem de cima, das classes mais escolarizadas. Assim, ao
pos sociais mais escolarizado~_(ensino médio) da Amostra 00 (C). Embora
• 1.
desfavorecer FI, as mulheres estão recusando, e não imitando, o modelo.dos grupos não tenha elevado seu nível de instrução formal, a falante Lei se comporta
mais prestigiados, o que corrobora as críticas às definições tradicionais. como aqueles que o fizeram, isto é, reduz o uso do futuro do subjuntivo na
PRO-cond. Moradora de um local privilegiado, um enclave de pequena classe
média, na Zona Sul do Rio, sempre trabalhou como doméstica para pessoas
5. A.a..ri.ação na. indivíduç
de maior nível educacional. Três falantes idosos, dois dos quais (Nad e Ago)
•. --.a . cursaram apenas o primário, ao contrário, aumentaram as taxas de futuro do
A seguir, focalizamos as mudanças que ocorreram no curso da vida dos infor- subjuntivo, atualizando o seu comportamento segundo o modelo do grupo
mantes recontatados após o espaço de tempo que separa as duas entrevistas.

189
EQulLisRIO E DESEQUILÍSRIO NA EVOLUÇÃO DAS ESTRUTURAS CONI;lIODNAlS
188 MUDANÇA LlNGüiSTICA EM TEMPO REAL
menos escolarizado dentro do novo perfil da comunidade em 00 (C). A terceira 6. Considerações finais
_~.if.formante (fv!~l),embora t~\.IJLvel.d~ ensino mé<li?;ap~ese.!lta o me~10
comportamento, talvez pelo oofl'o'Ívio· constante côm pessoas deste grupo em Podemos finalmente sintetizar algumas tendências da correlação de tempos
suas intensas atividades assistenciais, entre os verbos da PRO-cond e da APO-princ. Basicamente, confirmou-se que
Os seis informantes restantes (Eve, Dav, Vas, Jan, Jup, Jos) mantêm as as formas verbais no interior da estrutura condicional não são aleatórias. As
mesmas taxas de 80 (1), o que confirma a hipótese do "congelamento" lin- duas orações tendem a ser afetadas pelos mesmos contextos, passíveis de serem
güístico. definidos objetivamente.
Com relação à APO-princ, verifica-se maior dispersão dos falantes, como A análise das variáveis estruturais, sociais e individuais no uso do futuro
se vê no Gráfico 4.2: ou do presente em prótases-condicionais e apódoses-principais revelam ten-
dênci.as contraditóri.as.
Gráfico 4.2 Das três variáveis estruturais analisadas, temos que:
Futuro do indicativo na APO-pnnc. em dois momentos a) a escala epistêmica atua na mesma direção em ambas as orações, ten-
dência que vem aumentando nos últimos anos. Assim,
0.8
b) contextos possíveis favorecem futuro do subjuntivo na PRO-conde futu-
O
~ <>
O i • ro do indicativo na APO-princ.;

• •
0.6

0,4

0,2

o
~ .
Z ~ ~ ~
O

8 ~ ~ ~ ~
• ~

j
<> <> •
• O

~ ~ ~ ~ ~ ~
e •
O
c) contextos prováveis favorecem presente do indicativo tanto na PRO-
cond. quanto na APO-princ; e
d) contextos reais, que na década de 1980 favoreciam tanto o futuro quanto
o presente do indicativo na APO-princ, em 2000 reduzem as taxas de
< <
EiõJI) • 00 (I) I futuro a favor de presente, tendendo a correlacionar-se com o presente
categórico da PRo-cond;
e) a presença vs. ausência de SE, em 1980, favorecia a correlação entre as
Vemos no Gráfico 4.2 que três dos seis falantes (San, AdrR e Eri) que aumen- formas verbais da PRO-cond e da APO-princ.A presença de SEfavorecia
taram a escolaridade e a mesma informante comentada acima (Lei) aumentam o futuro, enquanto sua ausência agia em sentido contrário. Em 2000,
os índices de futuro perifrástico, atualizando sua fala segundo o modelo do porém, a oposição se neutraliza e a tendência à correlação de tempos se
grupo de nível fundamênhl dois da amostra" 00 (C). Cinco info~antes redu- desfaz; e
zem o uso de futuro do subjuntivo. Desses, três (Ago, Jan e Jup) têm apenas o f) os marcadores discursivos se comportam diversamente. Em 1980, en-
~
-:- ' ·C\lr~i'fmá!~
-
~ _.........
procuram se conformal'-ao CO~mento
.
do grupo social quanto aí permanecia neutro para ambas as orações, então desfavorecia
menos escolarizado em 00 (C). A quarta (MgI) repete aqui a sua tendência de tanto o futuro do subjuntivo da PRO-cond quanto, menos marcadarnen-
aproximar-se dos menos escolarizados. Uma única informante (Fat) entre os te, o futuro do indicativo da APO-princ.A tendência era de correlacionar
que ~êntar~ a-escoféilidãd~mbé~eâuz·o u~o d~-fu~: Os-demais os tempos de ambas as-orações. Em 2000 a distribuição se altera: arn-
informantes mantêm as mesmas taxas, evidenciando que, para muitos indi- .bos os marcadores, mais especialmente então, passam a favorecer, ou ~
víduos, a língua se mantém efetivamente estável. a desfavorecer menos, o futuro do subjuntivo da PRO-cond e a desfavo-
..
~e:
• -
,:-~

~::'!>"
..
..~..
. _~ .
recer o futuro do indicativo da APO-princ. Ou seja, os marcadores pas-
sam a atuar em
sentido oposto à correlação de tempos .

190 EQUILÍBRIO E DESEQUILiBRIO NA EVOLUÇÁO DAS ESTRUTUP.AS CONDIOONAlS 191


IvIUDANÇA UNGüiSTICA EM TEMPO REAL
Os resultados das variáveis sociais também são contraditórios: REFERÊNCIAS BIBLlOGRMICAS
a) a variável gênero-sexo se apresenta consistente. Tanto a neutralidade •..•....
apresentada em 1980 quantO"'2t""diij-ribuição
•.•
entre homens-e mulheres -<!h '.r
em 2000 ocorrem anftl.ogamlrnteem ambas as orações. Assim, embora ~
tenha havido mudanças na distribuição social das formas, a correlação
ALMEIDA, Evanilda Marins
de tempos permanece para ambos os gêneros;
(1997) "A variação da concordância nominal num dialeto rural". Dissertação de Mestrado. Rio de Janeiro,
b) o grau de escolaridade, a variável social mais relevante, desde 1980 Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de Letras.
apresentava efeitos opostos na PRO-cond e na APO-princ. Estes índices
se aprofundam em 2000, revelando uma forte tendência à anticorrela- ALVES FERNANDES, Eliene
(1996) "Nós e a gente: variação na cidade de João Pessoa". Dissertação de Mestrado. João Pessoa. Uni-
ção de tempos. versidade Federal da Paraíba.

Significativamente, em nível individual, apenas dois entre os 16 falantes ANJOS, Sandra Espinola dos
(1999) "Um estudo variacionista da concordãncia verbo-sujeito na fala pessoense". Dissertação de Mes-
recontatados mudaram seu comportamento no sentido de favorecer a corre- trado. João Pessoa, Universidade Federal da Paraíba.
lação temporal. Os demais apresentam uma distribuição complementar dos
ARAÚJO RAMOS, Conceição de Maria de
tempos - anticorrelação - com diversos graus de polarização.
(1999) "O c1ítico de 3" pessoa: um estudo comparativo português brasileiro/português peninsular". Tese
Com efeito, essa parece ser também a tendência da comunidade. Estrutu- de Doutorado. Maceió, Universidade Federal de Alagoas.
ralmente, o efeito da escala epistêmica, embora leve à oposição entre diferentes
AUGUSTO, Marina R. A-
categorias semânticas de condicionais, não impede que dentro de cada cate-
(2001) "O uso de 'então': uma comparação entre português europeu e português brasileiro". Exame de
goria as formas tendam a não se correlacionar: o efeito do conectivo, favorável qualificação. Campinas, Universidade de Campinas.
à correlação na Amostra 80, deixa de atuar na amostra recente; a presença de
marcadores parece favorecer cada vez mais a não-correlação. BAILEY, Guy et alii
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Socialmente, o efeito da variável gênero, embora favorável à correlação, ge University Press.
varia consistentemente conforme o grau de escolaridade, variável que leva à
anticorrelação. BARNES, Betsy K
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Por último, deve-se ter em mente que, na comparação de amostras tão JAEGGU, O. & SILVA-CORVALAN, C. (org.).Studies in romance linguistics. Dordrecht: Fori;;:
próximas como as que -se distanciam apenas vinte anos, as tendências são, p.207-24.

muitas vezes, apenas sugeridas. É possível que alguns indícios de mudança se


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revelem mais' tarde corno instabilidades passageiras: o que parecia avanço (1976) Moderna gramática portuguesa: cursos tkcr' e 2" graus. 20' ed. São Paulo: NaQonaL
pode-se resolver em estabilidade ou mesmo recuo. Talvez, então, possamos
confirmar se houve ou não a mudança - e em que direção. BENTIVOGUO, Paola
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