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M.E.C.E. Apostila

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Capítulo – I
1 - INTRODUÇÃO

1.1 -Bíblia / Formação do Cânon / Citações / Subdivisões


Bíblia fruto da experiência entre Deus e o Povo
Hoje qualquer pessoa pode ir a uma livraria e comprar o Livro mais famoso do mundo: a Bíblia Sagrada.
Ela foi traduzida para quase todas as línguas, sendo que há quem afirme existir tradução impressa em mais de
1.685 línguas diferentes. Bíblia não é uma palavra que tem origem na língua portuguesa. Ela vem da palavra
grega biblos (papiro/livro=coleção de livros).
De fato, num único livro chamado Bíblia temos uma coleção de 73 livros. Eles foram escritos por muitos
autores humanos inspirados por Deus. A Bíblia nasceu da união entre Deus, que se comunica e o povo, que o
descobre nos acontecimentos da vida, na história.

Dois Testamentos, a herança de Deus para nós


A Bíblia é formada por dois grandes blocos, chamados Testamentos. Nós conhecemos a palavra
“testamento”. E o que é um testamento? É um ato pessoal, unilateral, gratuito e solene, pelo qual alguém, com
observância da lei, dispõe de seus bens após a morte, em favor de filhos ou outra pessoa. A palavra
“testamento” aplicada à Bíblia aparece na Carta de São Paulo Apóstolo aos Gálatas (Gl 3,15-17) e na Carta aos
Hebreus (Hb 9,15-17), para dizer que somos herdeiros de uma promessa que foi feita por Deus diretamente a
Abraão e seus descendentes. Abraão faz parte do Primeiro Testamento e Jesus Cristo, do Segundo Testamento.
Convencionou-se chamar o Primeiro Testamento de Antigo Testamento desde o tempo de Paulo (2Cor 3,14),
por volta do ano 54 a.C. A maioria dos livros dessa parte da Bíblia é aceita por judeus e cristãos, enquanto o
Segundo Testamento é aceito somente pelos cristãos e é conhecido como Novo Testamento.
O Antigo Testamento constitui a primeira e maior parte da Bíblia. É formada pelos livros que foram
escritos antes do nascimento de Jesus, aproximadamente entre os anos 1.250 a.C. e 50 a.C. Sendo que o livro da
Sabedoria foi o último a ser escrito. Na Bíblia usada pelos cristãos de confissão católica, foram mantidos 46
(quarenta e seis) livros no Antigo Testamento. Como será visto mais adiante.
O Novo Testamento é a segunda parte da Bíblia, traz os escritos feitos depois do nascimento de Jesus, os
quais falam sobre este e as primeiras comunidades cristãs. Começaram a ser escritos cerca de vinte anos depois
da morte de Jesus Cristo e concluídos por volta do ano 100 d.C. São 27 livros, aceitos por todas as igrejas de
denominação cristã.

Lugares onde foi escrita a Bíblia


De fato, os livros da Bíblia foram escritos não só em lugares diferentes, mas às vezes o mesmo livro
começou a ser escrito em um lugar e foi completado, copiado ou revisado, muitas vezes recebendo acréscimos
em outro. Grande parte dos livros do Antigo Testamento foram escritos na terra de Israel, onde se formou e
viveu o povo de Israel, lugar onde Jesus nasceu, viveu, ensinou, morreu e segundo a fé cristã, ressuscitou.
Porém alguns livros foram escritos fora de Israel: na Babilônia, no Egito, na Ásia Menor, na Grécia e na
Itália, lugares onde se espalharam os judeus e as comunidades cristãs primitivas. Pela diversidade de autores e
lugares, podemos imaginar a variedade de riquezas, costumes, culturas, situações socioeconômicas, políticas e
religiosas que se refletem em cada livro. Estes autores por sua vez sofreram influência de outros povos na
maneira de viver e transmitir a mensagem de Deus à humanidade, com um novo olhar e uma nova forma. Se os
autores eram de lugares diferentes, muitos falavam e escreviam em línguas diferentes. Entre elas destacamos o
hebraico, o aramaico e o grego que costumamos chamar de línguas bíblicas.
No Antigo Testamento, foram escritos em hebraico todos os livros chamados protocanônicos; algumas
pequenas partes foram redigidas em aramaico: Jr 10,11; Dn 2,4b-7,28; Esd 4,8-6,18; 7,12-26. E em grego,
apenas os Livros da Sabedoria e o Segundo Livro de Macabeus. Porém foram conservados em grego os Livros
de Tobias, Judite, Baruc, Eclesiástico e o Primeiro Livro dos Macabeus, Todos esses livros foram escritos
originalmente em hebraico ou aramaico, mas chegaram até nós, apenas as suas traduções gregas.
No Novo Testamento, todos os livros foram escritos em grego.
Nota: Protocanônicos são os livros que estão nas três Bíblias (hebraica, católica e protestante). Isto é,
aqueles livros que foram considerados inspirados por Deus, sempre e por todos.
Deuterocanônicos são os livros cuja inspiração foi objeto de debate e que são aceitos por uns e rejeitados
por outros. Encontram-se somente nas Bíblias católicas.
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“Cânon Bíblico” é a lista de todos os livros da Bíblia. A palavra cânon vem de
cana que era usada como metro, medida. Depois a palavra passou a ser usada
também para significar norma, regra de verdade ou de fé.
Os livros da Bíblia foram chamados de canônicos a partir do século IV porque
foram reconhecidos como normativos para a fé e a vida dos fiéis. Existem para o
AT dois cânones:
 Cânon Alexandrino com 46 livros, presentes na Bíblia Católica;
 Cânon Palestinense com 39 livros presente nas Bíblias Hebraica e
Protestante.

Materiais utilizados para escrever a Bíblia


A Bíblia muito antes de ser escrita foi vivida. Os fatos e as experiências do povo foram guardados na
memória e recontados pelos pais e filhos, de geração em geração. Isso ocorreu no chamado período das
tradições orais, que durou aproximadamente mil anos.
Quando a Bíblia começou a ser escrita, ainda não existia o papel impresso como nós o conhecemos hoje,
pois ele é uma descoberta de pouco mais de 500 anos atrás (acredita-se que Gutemberg por volta de 1455 tenha
imprimido a primeira Bíblia, sendo que 01 (um) dos 46 exemplares desta época se encontra na Biblioteca
Nacional do Rio de Janeiro). Porém no início os livros da Bíblia eram escritos em placas de argila, papiro e
pergaminho.
O Papiro: Já era conhecido no Egito 3.000 anos antes de Cristo, era usado não só para escrever, como para
fabricar cestos e barcos (Ex 2,3 e Is 18,2). Papiro é uma planta que cresce na água, em regiões quentes, tem
caules longos que podem chegar a 4m (semelhante a nossa “tabôa”). Seu caule é cortado em tiras, colocada uma
do lado da outra prensadas e trançadas.
O Pergaminho: Foi inventado na cidade de Pérgamos , na Ásia, da qual vem o nome. Era feito do couro de
animais, cordeiros e ovelhas, depois de seco e raspado, era preparado para a escrita em rolos. Na segunda Carta
a Timóteo (2Tm4,13), Paulo refere-se aos pergaminhos, também por exemplo em Lc 4,17.20.
Outros materiais: No tempo em que a Bíblia começou a ser escrita, usavam-se outros materiais, como
tabuinha de argila,chapas de pedra, paredões de pedra, jarros de cerâmica. O povo antigo registrava nestes
materiais os fatos importantes da sua história.

Escrita cuniforme Planta que se extrai Pedaço de Pergaminho


em placa de barro. papiro
Os manuscritos hebraicos mais antigos que se conheciam, datavam do século IX e X d.C., e eram cópias
dos primeiros cinco livros da Bíblia, isto é, do Pentateuco. Em 1947, ocorreu a grande descoberta dos
manuscritos do mar Morto, provenientes da biblioteca de um grupo religioso judaico que floresceu em Qumrã,
junto ao mar Morto, mais ou menos no tempo de Jesus.
Estes documentos são, portanto, cerca de mil anos mais antigos que os manuscritos antes conhecidos do
século IX -X d.C.
Contém cópias de todos os livros do Antigo Testamento hebraico, exceto o livro de Ester. Os manuscritos
do mar Morto são muito importantes porque contêm essencialmente o mesmo texto dos manuscritos dos séculos
IX-X d.C. Isso mostra que o texto do Antigo Testamento mudou pouquíssimo no decorrer de mil anos. Os
copistas fizeram bem poucos erros e alterações.
Naturalmente em algumas poucas passagens usam palavras e expressões diferentes e às vezes não é mais
possível saber exatamente o que as palavras hebraicas queriam significar. Mas, de qualquer modo, podemos
confiar que o Antigo Testamento, tal como o temos hoje, é substancialmente idêntico ao que foi escrito pelos
seus autores há muitos séculos.
Como se formou o Antigo Testamento?
Não é possível saber com certeza como o Antigo Testamento veio a constituir a coleção de livros que hoje
conhecemos. Mas sabemos que livros incluía, pouco antes do nascimento de Jesus, e os livros que Jesus e os
apóstolos consideravam como sua Bíblia.
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Os Judeus distribuíam seus livros sagrados em três grupos: Tanak
Lei (T), que compreendia os primeiros cinco livros do Antigo Testamento.

Os Profetas (N), que continham não só as mensagens de homens tais como Amós, Jeremias, Isaías e
outros, mas também os livros históricos isto é Josué, Juízes, 1 e 2 Samuel etc. Foram incluídos nesta seção
porque não apresentam só os fatos e também o sentido da história como Deus a vê.

Os Escritos (K), compreendiam os livros sapienciais como Provérbios, Eclesiastes, Jó, e alguns livros
históricos escritos em época posterior, como Esdras, Neemias e Crônicas, além de um livro profético, Daniel.
Como se formou o Novo Testamento?
Sabe-se que entorno ao ano 200 d.C. a Igreja usava oficialmente os quatro evangelhos e não outros, embora
circulassem lendas fantasiosas sobre Jesus, escritos de outros líderes cristãos que sucederam aos apóstolos (os
chamados Apócrifos). A grande tradição da Igreja aceitou claramente só os evangelhos de Mateus, Marcos,
Lucas e João como autoridade sobre a vida e os ensinamentos de Jesus.

 Linha do tempo com os escritos Bíblicos:


Jesus
Cristo

1.250 aC 50 aC 50 dC 100 dC
~1.800 aC
Abraão

Composição do A.T. Composição do N.T.

Como encontrar uma citação em um dos 73 Livros da Bíblia


Ao virar as páginas da Bíblia talvez tenha chamado a atenção a grande quantidade de números maiores e
menores espalhados nelas. Os números são muito importantes para ajudar a encontra um texto da Bíblia. Porém
não nasceram com ela. Foram colocadas mais tarde para facilitar o manuseio.
Quando os textos foram escritos não traziam títulos, subtítulos e divisão em capítulos e versículos. Nem
havia notas de rodapé e as introduções em cada livro. Em 1.226, Estevão Langton, arcebispo de Cantuária e
professor da Universidade de Paris, teve a idéia de dividir os livros em capítulos numerados. A divisão em
versículos foi feita por volta do ano 1.500 dC.
Antes de prosseguir pegue a Bíblia, abra-a e verifique as informações dadas. Procure localizar:
 A introdução de um livro;
 Os títulos e subtítulos do livro cuja introdução você localizou;
 As notas explicativas no pé da página;
 O primeiro e o último livro do Antigo e do Novo Testamento;
 Quantos capítulos traz o livro de Isaías e quantos versículos têm o capítulo 42 de Isaías.
a) Abreviações: Todos os livros da Bíblia têm sua abreviatura. Por exemplo, Mc corresponde ao livro de
Marcos, ou Evangelho de Marcos, que está no Novo Testamento. Veja no final ou no início da Bíblia a relação
das abreviações dos livros.

 Exemplo na carta de São Paulo aos Colossenses (da Bíblia Pastoral):


Procurar as coisas do alto – 1Se vocês foram ressuscitados com Cristo, procurem as coisas do alto,
onde Cristo está sentado à direita de Deus. 2Pensem nas coisas do alto, e não nas coisas da terra.
Explicando: O número grande (3) corresponde ao capítulo, e os pequenos (1 e 2) correspondem aos
versículos, o escrito em negrito é o título, que também não faz parte do texto sagrado e varia em cada
edição/tradução.
Como citar e interpretar uma citação:
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( , ) A vírgula separa o capítulo dos versículos.
( . ) O ponto indica a citação de um versículo apenas.
( s ) Indica a leitura do versículo citado e o seguinte.
( ss ) Indicam todos os versículos até o fim do capítulo, a partir do versículo citado.
( - ) O hífem indica o espaço da citação (de tal versículo/capítulo a tal).
( ; ) Usado par separar citações diferentes.
(a / b / c ) Quando se indica apenas uma parte de um versículo longo, acrescenta-se uma letra ao número
que indica o versículo: a – início, b – meio. c – final.
Baseados nestas informações analisemos a seguinte citação: Mc 8,27-29.31; 9,42-10,12. Deve-se ler no
capítulo 8 do Evangelho de Marcos os versículos 27, 28, 29 e 31, e continuar com a seqüência que vai do
versículo 42 do capítulo 9 até o versículo 12 do capítulo 10.
Salientamos que o modo de fazer citação apresentado, é o usado nas Bíblias de tradução católica, sendo que
as traduções usadas por nossos irmãos separados diferem um pouco no modo de citar por exemplo: Mc 8.27-29
ou Mc 8:27-29 ou Mc 8,27-29.
Partilha afetiva:
 Tínhamos uma Bíblia em casa na nossa infância? O que os adultos falavam sobre ela?
 Quais histórias bíblicas nos eram contadas, e qual mais nos marcou na infância?
 Quando você adquiriu ou ganhou sua primeira Bíblia?

1.2 - Breve história do povo de Deus

Gênesis significa nascimento, origem. No livro podemos distinguir duas partes:


1. Origem do mundo e da humanidade (Gn 1-11). Os dois primeiros capítulos narram a criação do
mundo e do homem por Deus. São duas composições que procuram mostrar o lugar e a importância do homem
e da mulher dentro do projeto de Deus: eles são o ponto mais alto (Gn 1,1 a 2,4a) e o centro de toda a criação
(Gn 2,4b-25). Feitos à imagem e semelhança de Deus, possuem o dom da criatividade, da palavra e da
liberdade. Os capítulos 3-11 mostram a história dos homens dominada pelo mal e, ao mesmo tempo, amparada
pela graça. Não se submetendo a Deus, o homem rompe a relação consigo mesmo, com o irmão, com a natureza
e com a comunidade, reduzindo a história ao caos (dilúvio) e a sociedade a uma confusão (Babel).
2. Origem do povo de Deus (Gn 12-50). Nesta parte encontramos a história dos patriarcas, as raízes do
povo que, dentro do mundo, será o portador da aliança entre Deus e a humanidade. O início da história do povo
de Deus é marcado por um ato de fé no Deus que promete uma terra e uma descendência. A promessa de Deus
cria uma aspiração que vai pouco a pouco se realizando em meio a dificuldades e conflitos. A missão de Israel é
anunciar e testemunhar o caminho que leva a humanidade a descobrir e viver o projeto de Deus: ter Deus como
único Senhor, conviver com as pessoas na fraternidade, e repartir as coisas criadas, que Deus deu a todos.
Os capítulos 37-50 apresentam a história de José, preparando já o relato do livro do Êxodo, onde se
apresenta a mais grandiosa ação de Deus entre os homens: a libertação de um povo da escravidão.
Dois temas ajudarão o leitor a compreender melhor o livro do Gênesis:
1. O bem e o mal: Tudo o que Deus cria é bom (Gn 1 e 2); o mal entra no mundo através da auto-
suficiência do homem (Gn 3), e se desenvolve e cresce até afogar o mundo, salvando-se apenas uma família
(Gn 4-11).
Com Abraão inicia-se uma etapa em que o bem vai superando o mal até que, por fim e através do próprio
mal, Deus realiza o bem, que é a vida (Gn 12-50).
2. A fraternidade: Através de um fratricídio, a fraternidade é rompida (Gn 4,1-16), desvirtuando o projeto
de Deus para os homens. Com isso abrem-se as portas para a vingança sem fim (4,17-24), a dominação (6,1-4),
a desconfiança (12,10-20; cf. 20,1-18), a falta de hospitalidade (19,1-29), a concorrência desleal (25,29-34), que
gera o medo do irmão (32,4-22), a exploração e a escravidão (31,1-42; 37,12-36). Para essa humanidade ferida
Deus repropõe a restauração da fraternidade através de uma comunidade que será bênção para todos os povos
(12,1-3). Desse modo, o homem deixará de ser egoísta (13,1-18), aprenderá a perdoar (18,16-33; 33,1-11) e a
deixar suas próprias seguranças (22,1-19) para viver de novo a fraternidade (45,1-15). Só assim os oprimidos
poderão lutar contra a exploração e opressão, formando uma sociedade justa, na qual haja liberdade e vida para
todos (livro do Êxodo).
Fonte: Bíblia Edição Pastoral
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Cenário da maioria dos eventos narrados na Bíblia o “Crescente Fértil”.

PRINCIPAIS ACONTECIMENTOS NA HISTÓRIA DO “POVO DE DEUS”


Os descendentes de Abraão, por causa de uma grande fome, foram obrigados a emigrar para o
Egito, no final do século XVIII a.C. (~1800 a.C.). Instalaram-se nas férteis planícies do rio Nilo. Lá
prosperaram e se multiplicaram, realizando a promessa de Deus a Abraão.

No início do século XVI a.C., os egípcios conseguiram expulsar muitas tribos invasoras, porém as
que permaneceram no Egito, foram escravizadas.

Essas tribos que permaneceram, foram obrigadas a trabalhar na construção de muitas cidades e
templos. Sendo libertadas por Moisés, aproximadamente no ano 1250 a.C. Fugindo do Egito estas tribos se
reuniram nas regiões do monte Sinai, onde celebraram uma Aliança com Deus. Após um ano de permanência
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no Sinai, as tribos que agora formavam um povo, partiram em direção a Canaã, terra prometida por Deus a
Abraão e seus descendentes.
Os israelitas permaneceram por quarenta anos no deserto, só depois conseguiram tomar a terra que
era habitada por muitos outros povos, sobretudo pelos cananeus. A invasão ocorreu na região de Jericó. Moisés
como a maioria dos que saíram do Egito, não entrou na terra prometida. Moisés morreu no monte Nebo, na
região de Moab.
Durante a estadia no deserto do Sinai, muitas leis foram criadas, muitos fatos do passado foram
lembrados e recontados às novas gerações. Toda a história da libertação do Egito, o caminho pelo deserto e as
leis estão contidos nos livros do Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio.
Josué o sucessor de Moisés, liderou a conquista da terra. A ocupação do território foi um processo
longo. Os cananeus ocupavam as regiões mais férteis. Os israelitas foram obrigados a se estabelecer nos
espaços livres, isto é, nas montanhas, que não eram tão férteis. Ao entrar no país, Josué renovou com as tribos a
Aliança do Sinai, nos montes Ebal e Garizim. (ver o texto de Js 24, 1-28). Provavelmente ali foi criada uma
espécie da confederação das tribos israelitas. Ao estabelecer-se em Canaã, os israelitas tiveram que mudar seu
estilo de vida. De nômades, tornaram-se sedentários, de pastores transformaram se em agricultores. Além disso,
passaram a conviver com outros povos, com culturas e religiões diferentes (politeístas – vários deuses; Culto
dos Cananeus do deus Baal e deusa Astarte, por exemplo).

Estátua de Astarte
Do final do séc. XII, até meados do séc XI a.C., os israelitas mantiveram sua organização de tribos
confederadas. Cada tribo era independente, mas se reunião nos antigos santuários dos patriarcas (Betel, Siquém,
Hebron) para refazer a Aliança e celebrar o Deus “que caminhava com o povo”.
Nos momentos de perigo para uma das tribos, se constituía um chefe militar que organizava uma
exercito com homens e algumas outras tribos para combater o inimigo. Estes chefes receberam o nome de
Juízes. O Livro de JUÍZES conta a história de doze deles, sendo os mais importantes Gedeão e Sansão.
Até aproximadamente o ano 1.050 a.C, as tribos de Israel permaneceram autônomas, unidas
apenas por um passado comum entre elas e pela religião. Mas a ameaça cada vez maior dos Filisteus fez com
que procurassem por uma maior unidade. Diante dessa necessidade e vendo que os povos vizinhos possuíam um
rei, nasce o desejo de ter um rei. Nasce assim a monarquia de Saul, da tribo de Benjamim, foi escolhido por
Deus e ungido pelo Profeta Samuel como o primeiro rei de Israel (1.030 a.C. a 1.010 a.C.).
A princípio Saul foi bem sucedido contra os Filisteus e os Amonitas, as guerra ocuparam quase
todo o seu tempo, os textos bíblicos os apresentam como um homem infeliz, ofuscado pelo Profeta Samuel e
pelo jovem guerreiro Davi. Com a morte de Saul, os Filisteus retomaram o território, e praticamente dividiram o
reino de Israel. Era necessário um monarca que resgatasse a unidade. Davi (1.010 a.C a 970 a.C.) foi escolhido
rei, primeiro pelas tribos de sul, em Hebron, e sete anos depois pelas tribos do norte. Davo dominou os Filisteus
e ampliou as fronteiras de Israel. Transformou a cidade de Jerusalém a transformou na capital do reino.
Sucedeu-lhe o trono seu filho, Salomão (970 a.C a 930 a.C.) homem sábio, político e administrador, construiu o
Templo de Jerusalém em 960 a.C.
Com a morte de Salomão, as tribos se dividiram em dois reinos independentes político e
religiosamente. O Reino do Sul (ou Reino de Judá), com apenas duas tribos, com capital em Jerusalém; e o
Reino do Norte, (ou de Israel), com capital na cidade de Samaria.
O Reino de Israel durou de 931 a 721 a.C. Durante 210 anos de existência, Israel foi governado
por 19 reis, pertencentes a 9 dinastias. Ali viveram e pregaram os Profetas Elias e Elizeu e mais tarde os
Profetas Amós e Oséias. Em 721 a.C., o Reino de Israel foi destruído por Sargon II, rei da Assíria, toda a
população foi levada para o exílio, como escravos.
O Reino de Judá existiu de 931 a 586 a.C. Todos os reis foram descendentes diretos de Davi. No
Reino de Judá profetizaram Isaías (734-698 a.C.), Miquéias, Sofonias (630 a.C.), Naum (612 a.C.), Habacuc
(600 a.C.) e Jeremias (627-585 a.C.). Suas pregações deram origem aos livros bíblicos que levam seus nomes.
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Em 586 a.C., Nabucodonosor, rei da Babilônia, conquistou Jerusalém. A população foi levada
para o exílio, o Templo e a cidade de Jerusalém foram destruídos. São dessa época as “Lamentações”.
O exílio na Babilônia durou até 538 a.C. Durante esse tempo os sábios judeus releram a história do
povo à luz dos acontecimentos, os exilados foram confortados pelo Profeta Ezequiel e depois por um “segundo”
Isaías. Neste período surgiram as Sinagogas, como lugar de encontro e oração, os textos sagrados se tornaram
mais importantes. Os sacerdotes reuniram diversos escritos, com as tradições patriarcais, do êxodo e da
conquista da terra e redigiram o Documento Sacerdotal, dividindo toda a história em quatro etapas: a criação, a
aliança com Noé, a aliança com Abraão e a aliança com Moisés. A história do documento Sacerdotal, bom
como a Javista e a Eloísta, encontra-se nos Livros do Gênesis, Êxodo e Números.
Em 539 a.C., Ciro, Rei da Pérsia, conquistou a Babilônia. Em 539 a.C., permitiu aos exilados
judeus voltarem para sua terra e reconstruir Jerusalém e o Templo. Aqueles que voltaram com muitas
dificuldades e incentivado pelos Profetas Ageu, Zacarias, reconstruíram Jerusalém e reconsagraram o Templo
em 515 a.C.
O domínio Persa durou dois séculos (539 a 332 a.C.). Surgiu então Alexandre Magno (Grego) da
Macedônia, que conquistou toda a Ásia, com sua conquista a cultura grega se espalhou, durante todo o século
III a.C. (~300 a 200 a.C.) a palestina ficou sob o domínio dos Gregos que estavam sediados no Egito. Nesta
época foram escritos os dois livros de Crônicas, Esdra, Neemias, Jó, Eclesiastes, Rute, Jonas. Nesse período
pregou o Profeta Joel.
Em 198 a.C., os Selêucidas da Síria tomaram o território da Israel. Os judeus, liderados pelos
Macabeus, iniciam a luta contra o domínio Sírio. Os dois livros de Macabeus narram a história da revolta e da
conquista da independência. Pelo ano 165 a.C. foi escrito o livro de Daniel e entre os anos de 150 a 100 a.C. os
livros de Macabeus. O Livro da Sabedoria é o último livro a ser escrito da AT, por volta do ano 50 a.C.
O período de independência foi muito curto, marcado por brigas internas entre os descendentes
dos Macabeus. No ano de 63 a.C., Israel passou para o domínio Romano.
Em 40 a.C. Herodes Magno foi declarado por Roma Rei de Israel, assumindo no ano 37 a.C.,
reinando até o ano 4 a.C. Durante seu reinado, nasceu Jesus em Belém da Judéia.
Jerusalém

O Novo Testamento ou Nova Aliança é a parte da Bíblia onde encontramos o anúncio da pessoa de Jesus
Cristo. Sua mensagem central é o próprio Filho de Deus, que veio ao mundo para estabelecer a aliança
definitiva entre Deus e os homens. Sendo Deus-e-Homem, o próprio Jesus é a expressão total dessa aliança: ele
mostra que Deus é Pai para os homens, e como os homens devem viver para se tornarem filhos de Deus.
Através de sua palavra e ação, Jesus inaugurou a nova aliança ou, em outras palavras, o Reino de Deus.
Esse Reino não é mais aliança com um povo só. É aberto a todos os homens, todos os povos de todos os tempos
e lugares. Em Jesus, Deus quer reunir toda a humanidade como uma família em que todos são chamados a viver
como irmãos, repartindo entre si todas as coisas. Essa grande reunião, onde tudo é partilha e fraternidade no
amor, é o Reino de Deus que, semeado na história, vai crescendo até que se torne realidade para todos.
Jesus não deixou nada escrito. Ele pregou, ensinou e praticou o projeto de Deus. Isso fez com que ele
entrasse em conflito com a estrutura da sociedade, que o perseguiu, prendeu e matou. Mas Jesus ressuscitou,
enviou o Espírito aos seus seguidores, chamados apóstolos e discípulos, e eles continuaram sua missão
pregando, ensinando e fazendo como Jesus fazia. Foram eles que escreveram o que encontramos no Novo
Testamento. Não pretenderam fazer uma biografia de Jesus, nem história ou crônica da ação dos seguidores
dele. Quiseram, em primeiro lugar, anunciar Jesus para que os homens tivessem fé e se comprometessem com
Jesus. Fé e compromisso que significam continuar sua palavra e ação, constituindo o Reino.
O Novo Testamento agrupa vinte e sete livros, conforme temas e estilos diferentes: Evangelhos, Atos dos
Apóstolos, Cartas e Apocalipse.
Os evangelhos são quatro formas de anunciar Jesus, escritas no ambiente de comunidades diferentes. Por
isso tratam da pessoa, das palavras e das ações de Jesus de modo ao mesmo tempo semelhante e diferente. Não
são biografia ou história, e sim um anúncio para levar à fé em Jesus, isto é, ao compromisso de continuar sua
obra, pela palavra e ação.
Os Atos dos Apóstolos são a segunda parte do evangelho de são Lucas. Mostram como o anúncio de Jesus
e a formação das comunidades cristãs se expandiram, chegando a Roma, centro do mundo naquela época. Aí
vemos o sentido da missão cristã: levar a boa nova do Evangelho a todos os homens, para que todos possam
tomar conhecimento de Jesus e pertencer ao povo de Deus.
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As cartas ou epístolas são escritos dirigidos às primeiras comunidades cristãs. Elas não só nos dão uma
idéia dos problemas dessas comunidades, mas nos ajudam também a ver e superar os problemas em nossas
comunidades atuais.
O Apocalipse de são João é livro escrito em linguagem figurada, porque se dirige aos cristãos em tempo de
perseguição. Apresenta Jesus Ressuscitado como Senhor da história, e mostra como os cristãos devem anunciá-
lo e testemunhá-lo sem medo, enfrentando até mesmo a própria morte.

A PALESTINA NO TEMPO DE JESUS


É difícil tirar todo o proveito da leitura dos Evangelhos, se não conhecermos alguma coisa da terra, ambiente
e mecanismos da sociedade em que Jesus viveu, há dois mil anos. Isso porque a encarnação do Filho de Deus
aconteceu em tempo e lugar determinados, dentro de circunstâncias precisas e bem concretas. Assim, conhecer o
contexto em que Jesus viveu não é apenas questão de cultura, mas também, e principalmente, dado necessário
para conhecer e avaliar com mais objetividade o que significou a vida, palavra e ação de Jesus. Só assim
poderemos perceber melhor o que sua vida, palavra e ação podem significar hoje, no contexto em que vivemos.

1. A TERRA DE JESUS
Jesus viveu na Palestina, pequena faixa de terra com área de 20 mil km2 , com 240 km de comprimento e
máximo de 85 km de largura (ver mapa).

Corresponderia aproximadamente à área do Estado de Sergipe. Do lado oeste, temos o mar Mediterrâneo. A
leste, o rio Jordão.

A Palestina é dividida de alto a baixo por uma cadeia de montanhas que muito influi no seu clima. Com
efeito, na parte oeste, o vento frio do mar, ao chocar-se com a parte montanhosa, provoca chuvas freqüentes,
beneficiando toda a faixa costeira. O lado leste das montanhas, porém, não recebe o vento do mar e,
conseqüentemente, apresenta clima quente e região mais árida. As terras cultiváveis estão na parte norte, na
região da Galiléia e no vale do rio Jordão. A região da Judéia é montanhosa e se presta mais como pasto de
rebanhos e cultivo de oliveira.
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A cidade de Jerusalém conta com 50 mil habitantes, e está situada no extremo de um planalto, a 760 m acima
do nível do mar Mediterrâneo e 1.145 m acima do nível do mar Morto. Por ocasião das grandes festas, chega a
receber 180 mil peregrinos.

2. A SOCIEDADE DO TEMPO DE JESUS


Toda sociedade humana é formada por pessoas e grupos de pessoas unidas entre si por uma rede complexa
de relações econômicas, políticas e ideológicas. Para situarmos a pessoa e a ação de Jesus, é necessário examinar
as relações sociais que existiam na sociedade daquele tempo.

I. Economia
As atividades que formam a base da economia no tempo de Jesus são duas: a agricultura e a pecuária (junto
com a pesca) de um lado, e o artesanato, de outro.

II. Política
O poder efetivo sobre a Palestina está nas mãos dos romanos. Mas, em geral, estes respeitam a autonomia
interna das suas colônias. A Judéia e a Samaria são dirigidas por um procurador romano, mas o sumo sacerdote
tem poder de gerir as questões internas, através da lei judaica. Este, porém, é nomeado e destituído pelo
procurador romano.
O centro do poder político interno da Judéia e Samaria é a cidade de Jerusalém e o Templo. Com efeito, é
do Templo que o sumo sacerdote governa, assessorado por um Sinédrio de 71 membros, composto de
sacerdotes, anciãos e escribas ou doutores da Lei. O Sinédrio é o Tribunal Supremo (criminal, político e
religioso) e sua influência se estende sobre todos os judeus, mesmo os que vivem fora da Palestina.
Nas cidades também existe pequeno aparato político (conselhos locais), dominado de início pelos grandes
proprietários de terras e, mais tarde, pelos escribas ou doutores da Lei. Da mesma forma, nos povoados
encontramos um conselho de anciãos, que se reúne tanto para decidir sobre questões comunitárias, como para
casos de litígio ou transgressão de lei, funcionando como tribunal. Além disso, no campo, as relações de
autoridade permanente são as relações familiares.

III. Grupos político-religiosos


Na sociedade do tempo de Jesus podemos distinguir vários grupos, que se diferenciam no modo de se
relacionar com a política, economia e religião, e que têm grande importância no quadro social da época.

1. Saduceus
O grupo dos saduceus é formado pelos grandes proprietários de terras (anciãos) e pelos membros da elite
sacerdotal. Têm o poder na mão, e controlam a administração da justiça no Tribunal Supremo (Sinédrio).
Embora não se relacionem diretamente com o povo, são intransigentes em relação a ele, e vivem preocupados
com a ordem pública. São os principais responsáveis pela morte de Jesus.
Os saduceus são os maiores colaboradores do império romano, e tendem para uma política de conciliação,
com medo de perder seus cargos e privilégios. No que se refere à religião, são conservadores: aceitam apenas a
lei escrita e rejeitam as novas concepções defendidas pelos doutores da Lei e fariseus (crença nos anjos,
demônios, messianismo, ressurreição).

2. Doutores da Lei (escribas)


O grupo dos doutores da Lei vai adquirindo cada vez maior prestígio na sociedade do tempo. Seu grande
poder reside no saber. Com efeito, são os intérpretes abalizados das Escrituras, e daí serem especialistas em
direito, administração e educação. A influência deles é exercida principalmente em três lugares: Sinédrio,
sinagoga e escola. No Sinédrio, eles se apresentam como juristas para aplicar a Lei em assuntos governamentais
e em questões judiciárias. Na sinagoga, eles são os grandes intérpretes das Escrituras, criando a tradição através
da releitura, explicação e aplicação da Lei para os novos tempos. Abrem escolas e fazem novos discípulos.

3. Fariseus
Fariseu quer dizer separado. Inicialmente aliados à elite sacerdotal e aos grandes proprietários de terras, os
fariseus deles se afastam para dirigir o povo, embora mantenham distância do povo mais simples (que não
conhece a Lei). São nacionalistas e hostis ao império romano, mas sua resistência é do tipo passivo. O grupo
dos fariseus é formado por leigos provindos de todas as camadas da sociedade, principalmente artesãos e
pequenos comerciantes.
No terreno religioso, os fariseus se caracterizam pelo rigoroso cumprimento da Lei em todos os campos e
situações da vida diária. São conservadores zelosos e também criadores de novas tradições, através da
interpretação da Lei para o momento histórico em que vivem. A maior expressão do farisaísmo é a criação da
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sinagoga, opondo-se ao Templo, dominado pelos saduceus. Desse modo a sinagoga, com a leitura, interpretação
dos textos bíblicos e oração, torna-se expressão religiosa oposta ao sistema cultual e sacrifical do Templo.

4. Zelotas
Os zelotas se constituíram a partir dos fariseus. Provêm especialmente da classe dos pequenos camponeses
e das camadas mais pobres da sociedade, massacrados por um sistema fiscal impiedoso. São muito religiosos e
nacionalistas. Desejam expulsar os dominadores pagãos (romanos), e também são contrários ao governo de
Herodes na Galiléia. Querem restaurar um Estado onde Deus é o único rei, representado por um descendente de
Davi (messianismo). Nesse sentido, os zelotas são reformistas, isto é, pretendem restabelecer uma situação
passada.
Enquanto os fariseus se mantêm numa atitude de resistência passiva, os zelotas partem para a luta armada.
Por isso, as autoridades os consideram criminosos e terroristas, e são perseguidos pelo poder romano. Entre os
apóstolos de Jesus, provavelmente dois eram zelotas: Simão (Mc 3,19) e Judas Iscariotes. Simão Pedro parece
adotar certos métodos dos zelotas.

5. Samaritanos
Apesar de não pertencerem ao judaísmo propriamente dito, os samaritanos são um grupo característico do
ambiente palestinense. Mais ainda que os judeus, observam escrupulosamente as prescrições do Pentateuco. Mas
eles não aceitam os outros escritos do Antigo Testamento, nem freqüentam o Templo de Jerusalém. Para eles, o
único lugar legítimo de culto é o monte Garizim, que fica perto de Siquém, na Samaria. Esperam o messias
chamado Taeb (= aquele que volta). Esse messias não é descendente de Davi, e sim novo Moisés, que vai revelar
a verdade e colocar tudo em ordem no final dos tempos.
Os samaritanos são considerados pelos judeus como raça impura por serem descendentes de população
misturada com estrangeiros.

IV. Religião
A religião dos judeus no tempo de Jesus está centrada em dois pólos fundamentais: o Templo e a sinagoga.

1. O Templo
O Templo é sem dúvida o centro de Israel. É nele que todos os judeus, também os da Dispersão, devem se
reunir para prestar culto a Deus. No Templo habita o Deus único, santo, puro, separado, perfeito. Por natureza, os
seres humanos e as coisas são profanos, impuros, banais, imperfeitos. A única forma de se purificar é aproximar-
se de Deus. O homem se torna mais puro quanto mais perto estiver de Deus; quanto mais distante, mais impuro.
Percebe-se, então, o poder dos sacerdotes na sociedade judaica: são eles que estão mais perto de Deus e,
conseqüentemente, cabe a eles decidir sobre o que é puro e impuro e também o que fazer para se purificar. Essa
autoridade dos sacerdotes sobre o povo acaba legitimando e reforçando o Templo, que se torna não só o centro
religioso, mas também o centro econômico e político. É por isso que no tempo de Jesus o Templo possui imensas
riquezas (o Tesouro) e toda a cúpula governamental age a partir daí (o Sinédrio). Desse modo, a casa de oração e
ofertas a Deus se torna um imenso banco e lugar de poder político. Em outras palavras, a religião se torna
instrumento de exploração e opressão do povo.
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2. A sinagoga
O Templo é o centro de toda a vida de Israel. É o lugar de culto e o povo o freqüenta principalmente por
ocasião das grandes festas. Na vida comum, o centro religioso é constituído pela sinagoga, presente até mesmo
nos menores povoados. Sinagoga é lugar onde o povo se reúne para a oração, para ouvir a palavra de Deus e
para a pregação.
Qualquer israelita adulto pode fazer a leitura do texto bíblico na sinagoga, e pode escolher o texto que quiser.
Depois da leitura, também qualquer adulto pode fazer a pregação, explicando o texto e relacionando-o com
outros textos. Em geral, exalta-se a Deus e procura-se dar uma formação para a fé do povo, convidando-o o
viver segundo a Lei.

Jesus nasceu, viveu e morreu dentro do contexto histórico do séc. I. Quando lemos o texto dos Evangelhos,
devemos estar atentos para avaliar corretamente a sua atividade dentro da formação social, econômica, política
e religiosa do seu tempo. Só assim a palavra e a ação de Jesus adquirem o relevo concreto para que nós as
entendamos melhor e possamos transpor toda a significação que há na pessoa de Jesus para os nossos dias. Não
se trata de reduzir toda a mensagem de Jesus ao nível sociopolítico. Mas nem de cair no oposto, reduzindo a
mensagem de Jesus ao nível individual e intimista.

Margem do Lago de Tiberiades ou Genesaré

História do Povo de Deus – Linha do tempo

Impérios Períodos Eventos Profetas


1.850 Abraão mudou-se de Ur, na Caldéia, para Haran,
que fica entre os rios Tigre e Eufrates
1.800 Atendendo ao chamado de Deus, Abraão foi
morar na Palestina, ou Terra de Canaã, a terra que o
Senhor lhe havia prometido.
1.700 Jacó e seus filhos foram para o Egito, onde já
estava José, que tinha sido vendido pelos irmãos. No
começo, enquanto José era Vice-Rei do Egito, os
israelitas gozavam de liberdade. Mas, depois de 400
anos, o Povo de Deus estava submetido à dura
escravidão na terra dos Faraós.
Hegemonia 1500 O povo de Israel vive em Canaã e no Egito Moisés
Egípcia
1.250 Êxodo: Moisés liberta o povo da escravidão do
Egito e faz “Aliança” com Deus (decálogo)
1.200 - Conquista das cidades cananéias e organização
Juizes das tribos Josué / os Juízes
Os Juízes eram líderes que assumiam a defesa de
uma ou mais tribo de Israel. Samuel foi o último dos Samuel
juízes de Israel
1.030 Início da Monarquia: Saul / Israel
12
O primeiro Rei de Israel foi Saul, ungido por
Samuel.
Mas Saul não mereceu a confiança do Povo nem
as bênçãos de Deus.
1.010 Davi / Judá e Israel Natã
Davi foi ungido Rei e marcou a história do povo
de Israel
970 Salomão é sagrado Rei. Tonou-se célebre pela
sua grande sabedoria. Foi ele quem começo a
construção do templo de Jerusalém
Hegemonia 933 Constituiu-se o Reino do Norte (Samaria) tendo Aías
Assíria cisma como capital a Samaria e o Reino do Sul (Judá).
político Tendo com capital Jerusalém (esta cisão vai até o ano
722).
933 Reino do Norte (Israel) – Jeroboão I
Reino do Sul (Judá) – Roboão
886 Reino do Norte (Israel) – Omiri
Reino do Sul (Judá) – Roboão
875 Reino do Norte (Israel) – Acab Elias
Reino do Sul (Judá) – Roboão
841 Reino do Norte (Israel) – Jeú Elizeu
Reino do Sul (Judá) – Átila
787 Reino do Norte (Israel) – Jeroboão II Amós
Reino do Sul (Judá) – Ozias
746 Reino do Norte (Israel) – Manaém Oséias
Reino do Sul (Judá) – Roboão
732 Reino do Norte (Israel) – Oséias
Reino do Sul (Judá) – Acaz
722 Queda de samaria (povo deportado “tribos Miquéias
Perdidas” os remanescentes são reconhecidos como Isaías
“samaritanos”
Com o fim do Reino do Norte, começa a haver
um só Reino em Israel
716 Reina Ezequias o rei piedoso (por este tempo
mais ou menos é fundada a cidade de Roma).
640 Reina Josias, o rei zeloso da Lei de Deus. Sofonias
Naun
Habacuc
Jeremias
Domínio 609 Reina Joaquim
Babilônico
598 Reina Jeconias
597 Reina Sedecias
586 Queda de Jerusalém, predita pelo profeta Ezequiel
Jeremias e destruição do templo. Milhares de 2° Isaías
Israelitas são deportados para a Babilônia. EXÍLIO Abdias
Daniel
Domínio 538 Ciro, rei da Pérsia, derrota os babilônios e decreta
Persa a volta dos exilados de Israel. O povo hebreu chora ao
(Edito de Ciro) ver a cidade e o templo destruídos. PÓS-EXÍLIO
520 Reina Zorobabel 3° Isaías
Ageu e Zacarias unem o povo e o templo é Ageu
reconstruído “segundo templo” Zacarias
458 Reina Esdras Malaquias
Esdras dedica-se a reconstrução da comunidade
dos judeus em Jerusalém. Era também escriba e
consegui realizar a nova promulgação da lei (Gn, Ex,
Lv, Nm, Dt).
13
445 Reina Neemias Joel
Neemias reergue os muros de Jerusalém. Jonas
Domínio 330 Começa um breve período de dominação grega
Grego
Domínio 323 Israel fica sob o domínio dos Egípcios (Dinastia
Egípicio dos Ptolomeus)
200 Começa a famosa tradução do Antigo
Testamento para o grego, feita pelos 70 sábios de
Alexandria
Domínio 198 Os judeus ficam sob o domínio dos sírios.
Sírio (Dinastia dos Selêucidas).
175 Antíoco IV promove forte perseguição religiosa
contra os Judeus
167 Os Macabeus oferecem grande resistência
Domínio 63 Esse ano marca a tomada de Jerusalém por
Romano Pompeu
40 Herodes, o grande, é feito rei dos judeus, por
vontade dos romanos. Reina até o ano 4 antes de
Cristo
20 Nova reconstrução do templo
04 Reina Herodes Antipas
Jesus de Nazaré
Comunidades cristãs de Jerusalém
Cristãos da diáspora (Antioquia / Roma) Cartas de
Paulo
Mc
70 Destruição do templo Cartas
Pastorais / Hb
Cartas
católicas
MT Lc - At
90 Sínodo rabínico (Jâminia) Ap e
Jo

1.3 BÍBLIA

ANTIGO TESTAMENTO

Nas Bíblias católicas o Antigo Testamento costuma ser dividido em Livros Históricos, Livros Didáticos ou
Poéticos, e livros proféticos. Razões de ordem prática aconselham a conservação desta divisão; considere-se,
porém, que ela não corresponde exatamente nem à forma nem ao conteúdo dos livros dentro daqueles grupos.
Acontece que entre os Livros Históricos figuram obras que em nada representam uma história no sentido genuíno
da palavra, sendo antes «histórias» ou contos edificantes, do gênero de narrações ligeiras, como por exemplo
Judite e Tobias. Aqui deveriam formar também Jonas e a maior parte de Daniel, constando ambos de prosa
edificante pouco condizente com os autênticos Livros Proféticos. Os Salmos e o Cântico são c1âssificados entre
os Livros Didáticos embora contenham muito pouco de didática, mas sim manifestações de sentimentos.
Portanto, de um lado, conservará as grandes linhas da divisão da Bíblia greco-latina; nos casos particulares,
entretanto, estabeleceremos um agrupamento mais realista. Teremos oportunidade de reunir maior número de
«livros» em unidades literárias mais largas, desde que sejam componentes de obras maiores. No agrupamento a
ser adotado serão também levados em conta os pontos de vista cronológicos.
14
OS LIVROS DE MOISÉS OU O PENTATEUCO

Os primeiros cinco livros da Bíblia não são livros isolados, antes constituem um conjunto único de tradições,
sendo considerados, por judeus e cristãos, herança de Moisés. O mesmo segue do título que os judeus costumam
impor a esta coleção: Torá (hebr. Toráh = doutrina, lei; grego: nomos = lei). Os .cristãos chamam-na de
Pentateuco(pentateuchos biblos = livro de cinco rolos, volumes).

O Pentateuco se apresenta qual história contínua da salvação divina exercida_ em relação à humanidade
inteira, _e especialmente no tocante a Israel, a partir da Criação do Mundo até a conquista de Canaã. A
legislação extensa contida no Levítico e em longos trechos do Êxodo, Números e Deuteronômio acha-se
entremeada na história sagrada de tal maneira que, como um dom gracioso de Deus, forma um bloco sólido com
os demais eventos salvífícos, principalmente com a celebração da aliança do Sinai. Do estudo dessas grandes
linhas resulta uma divisão relativamente clara do Pentateuco inteiro:

a) Pré·História

A Pré-história (Gn 1-11) expondo por que razão Deus se viu obrigado a começar tudo de novo, celebrando
um novo convênio salvador com Abraão. O homem tinha sido criado qual coroa da criação e imagem de Deus,
destinado a viver em comunhão íntima com o seu Criador (Paraíso); submetido, porém, à prova, o homem
fracassou. O primeiro pecado acarretou morte, sofrimentos, egoísmo e dissolução, capazes de perder os homens
não apenas moral, mas também fisicamente. Todavia, Deus não entregou o homem ao poder do Mal revelado no
pecado, antes lhe fez vislumbrar a vitória sobre o Mal (Gn 3,15).

b) História dos Patriarcas

A História dos Patriarcas (Gn 12-50) demonstra como Deus, escolhendo Abraão e a sua «semente», isto é, a
posteridade transformou em história de salvação e bênção aquilo que parecia uma sucessão de desgraças e
maldições causadas pelo pecado do homem. Abraão e sua posteridade são cumulados de bênçãos tais que delas
possam participar todos os homens que procuram comunhão com os portadores das promessas confessando-se
solidários com eles (Gn 12,1-3; 18,18; 21,18; 26,4; 28,14). E o plano salvador aludido nas promessas dirigidas a
Abraão começa a realizar-se já nos patriarcas de Israel.

c) Redenção de Israel da servidão

Ex 1-18 passa a descrever como a «semente» dos patriarcas se tornou o povo de Israel; como depois este
povo é escravizado pelos egípcios e ameaçado de perecer; Deus porém lhe enviou um salvador e medianeiro na
pessoa de Moisés que o tirou da servidão para encaminhá-lo ao Monte Santo (Sinai, Horeb).

d) A Aliança do Sinai

O terço central inteiro do Pentateuco (Ex19,1 - Nm 10,11) registra a celebração do convênio entre Deus e o
povo de Israel, bem como o estabelecimento da vivência específica do pacto durante o tempo do Antigo
Testamento. Em virtude do pacto com Deus, Israel deve ser seu «povo santo», sua «propriedade particular», um
«reino sacerdotal», sendo ele mesmo o Deus de Israel (Ex 19,3-8; Lv 26,12; etc.). Depois que Javé libertara o
povo da servidão, ele reclama em troca amor e obediência da parte de seu povo. É pelo mesmo motivo que ele
deu a Israel normas sagradas para regulamentar do povo entre si (Decálogo, Ex 20,1-17; Livro da Aliança, Ex
21-23;Lei da Santidade, Lv 17-26; os vários regulamentos concernentes ao culto e ao sacerdócio em Nm). Essas
normas (“A Lei”) não deveriam pesar sobre Israel como um fardo, e sim constituir um meio de exprimir a
gratidão para com o Deus da Aliança e o fundamento de sua existência nacional, distinguindo-se de todas as
nações pagãs, conservando a sua posição religiosa singular.

e) Em viagem pelo deserto

Nm 10,11-36,13 evoca os itinerários de Israel pelo deserto até a ocupação da Transjordânia; os malogros do
povo; as punições e as mercês do Deus da Aliança, terminando tudo com as medidas preparatórias para a
conquista da Palestina.
15
f) Moisés se despede

O Deuteronômio _consiste numa coleção de discursos de despedida; em vésperas da morte, Moisés lembra
ao povo as proezas e as exigências divinas para incutir-lhe fidelidade e amor para com o Deus da Aliança,
sancionando as normas por meio de bênçãos e maldições. O capítulo final do Deuteronômio versa sobre o
problema da sucessão (Josué) e a morte de Moisés.

Moisés e o Pentateuco

As tradições judaica e cristã, até o tempo moderno, atribuíram à autoria de Moisés essa obra tão bem
disposta e ordenada. Entretanto, de uns 200 anos para cá, dúvidas sempre mais insistentes surgiram contra a
autoria mosaica juntamente com a unidade literária do Pentateuco. Uma pesquisa minuciosa das questões
críticas, literárias e históricas resultou em apresentar o Pentateuco como ponto final dum processo complexo de
tradições orais e escritas, datadas entre os séculos XIII e V aC. É ainda Moisés quem chefia o cortejo das ditas
tradições. Dele provém o núcleo do Pentateuco, isto é, os antecedentes e o desenrolamento da celebração do
pacto com as suas normas básicas de religião e mora.

Diversos documentos misturados?

O estudo da composição literária do Pentateuco mostra que certos trechos são repetidos com variações mais
ou menos importantes.

1) Gn 1 e Gn 2-3: narrativas concorrentes? A história da criação do homem, em Gn 1,1-2,4a, no quadro da


criação do universo, não combina com a história de Adão e Eva em Gn 2,4b-3,24. Em Gn 1, Deus cria primeiro
o universo e a terra, já bem organizada, regada com chuva, etc., e depois coroa sua obra pela criação do ser
humano, varão e mulher. Em Gn 2,4b, parece que tudo recomeça: ainda não tinha chovido e a terra nada podia
produzir, porque ainda não havia homem para a cultivar...

2) Os nomes de Deus. Em Gn 1, Deus é chamado simplesmente "Deus", em Gn 2,4b-3,24, ele é chamado


"Javé Deus". E nas histórias subseqüentes, alternam-se as designações "Deus" e "Javé". Mais: às vezes são
repetidas as mesmas histórias, uma vez com o termo "Deus", outra vez usando o nome de "Javé" (é o caso de
Gn 12 e 20, cf. infra, 3). Quanto à revelação do nome de Javé, observe-se que, segundo Gn 4,26, Enós, filho de
Set, filho de Adão, foi o primeiro a invocar o nome de Javé. Bem mais à frente, porém, em Ex 3, temos a
narração da manifestação do nome de Javé a Moisés, na sarça ardente. Enfim, o texto parece "costurado": Deus
é chamado ora de Javé, ora de elohim ("deus"). Em 3,13-15 - onde se usa elohim - Deus revela a Moisés o seu
nome, Javé, aparentemente sem se lembrar de Gn 4,26 ... Esta "distração" Se torna compreensível quando se
admite que originalmente existiram duas narrações: uma, que usa o nome de Javé desde o início, e outra, que
acha que o nome foi revelado somente no Sinai, a Moisés.

3) Duplicatas. Constatamos, p. ex., em Gn 12 e Gn 20, uma repetição da mesma história, mas com
enfoques diferentes. Em ambas as narrações trata-se do mesmo assunto: Abraão corre o risco de ser morto
porque o rei local se interessa por sua mulher Sara (naquela civilização, não se tomava a mulher de outro
cavalheiro sem primeiro eliminá-lo). Em ambos os casos, ele se salva fazendo Sara passar por sua irmã. Mas aí
termina a semelhança. A maneira de narrar é bem diferente nos dois casos:

- Em Gn 12, o rei local é ninguém menos que o faraó do Egito. Ele recebe bem a Abraão, por causa da linda
Sara, supostamente sua irmã. Porém, começam a cair desgraças sobre ele. Então ele descobre que Sara não é
irmã, mas esposa de Abraão e que, portanto, sem o saber, ele cometera coisa digna de castigo. Amedrontado,
manda Abraão e Sara de volta e ainda lhes oferece escolta. Nesta versão, Deus é chamado "Javé".

-Já em Gn 20, Deus é chamado de "deus", em hebr. elohim, e a narração é diferente nos detalhes. O rei não
é o faraó, mas Abimelec de Gerara, na fronteira do Egito. Num sonho, Abimelec é advertido de que será
castigado por ter tomado a mulher de Abraão. Mas o texto acrescenta logo que ele não tivera relações com ela.
Por isso, o castigo não se efetua, e Abimelec resolve o caso virtuosamente, não porém sem pedir satisfação a
Abraão. Este explica que, por um lado, estava arriscando ser morto, mas que, por outro lado, Sara é realmente
sua irmã, pois é do mesmo pai (meia-irmã). Conclusão: nem Abimelec, nem Abraão cometeram algo
censurável; e terminam celebrando um sacrifício e rezando. Nota-se imediatamente que a segunda narração é
bem menos espontânea e mais moralizante que a primeira.
16
Poderíamos multiplicar os exemplos - a dupla expulsão de Agar e Ismael por Abraão e Sara, em Gn 16 e
Gn 21,8-20; etc. -, mas estas amostras são suficientes para sugerir que antes da Bíblia atual talvez tenham
existido documentos parciais, versões provisórias, etc., como é costume acontecer na literatura, sobretudo
coletiva.

O PROFETISMO

A literatura profética

Os profetas eram, antes de tudo, pregadores que pronunciavam oralmente os seus oráculos e sermões, com
o caráter oral ainda impresso no registro escrito dos seus ditos. Em casos excepcionais, os profetas escreviam
(d. Is 8,1-4; 30,8; Ez 43,l1s; Jr 36,2.28). Pode ser que a obra do Segundo Isaías seja uma composição literária
sustentada - ainda que mais pareça ser, ela própria, uma coleção de oráculos proferidos a princípio oralmente,
porque apesar de uma notável unidade, há uma certa falta de seqüência na disposição. Não resta dúvida de que a
última parte (os capítulos 40-48) do livro de Ezequiel é uma composição literária. São, porém, exceções e, via
de regra, os profetas eram certamente mais oradores que escritores. O que significa que as unidades que formam
as coleções proféticas são breves e numerosas, e que as formas literárias são variadas. É absolutamente
essencial para uma leitura inteligente dos profetas que os limites dessas unidades sejam determinados e
identificadas as suas formas literárias. Ao enumerarmos as mais notáveis dessas formas literárias, devemos ter
presente que a maior parte da profecia veterotestamentária está em forma poética.

COMPOSIÇÃO DOS LIVROS Tornou-se manifesto que os oráculos e sermões dos profetas foram
preservados pelos seus discípulos e finalmente editados por eles. Essas palavras devem ter sido logo lançadas
por escrito, e podemos imaginar uma literatura profética primitiva circulando na forma de escritos breves e
separados. No trabalho gradual de colecionar e editar, acrescentaram-se elementos: fragmentavam-se às vezes
coleções mais antigas, e o material era finalmente disposto segundo um plano - muito vago, às vezes - que deve
ser determinado (se possível) para cada livro. A gênese complexa dos livros proféticos (ou de muitos deles)
ajuda muito a explicar o desconcertante desalinho que pode confundir e exasperar o leitor. Dar-se conta, por
exemplo, de que o livro de Isaías se estende por vários séculos e é, na realidade, uma antologia de sermões e
oráculos, põe o leitor de sobreaviso e capacita-o a seguir a obra inteligentemente.

Os livros proféticos em ordem cronológica


Profetas do século VIII a.C.: Amós Oséias Isaías 1-39 Miquéias;

Profetas do século VII a.c. e começo do século VI a.C. Sofonias Naum Habacuc Jeremias ;

Profetas do Cativeiro: Ezequie1 Segundo Isaías (40-55) ;

Prcfetas do 1:éculo VI a.C.: Isaías 56-66 Ageu Zacarias 1-8;

Profetas do século V aC.: Isaías 34-35 ;24-27 Malaquias Abdias ;

Profetas do século IV a.C.: JoeI Zacarias 9-14 ;

Profetas do Século VIII: Amós;

O PROFETA Amós é o mais antigo dos profetas veterotestamentários cujas palavras nos foram
conservadas em forma de livro O cabeçalho desse livro (Am 1,1) nos informa que Amós era um camponês de
Técua (cerca de seis milhas ao sul de Belém) e que exerceu atividade durante o reinado dos reis contemporâ-
neos Ozias, de Judá, e Jeroboão lI, de Israel. Como o seu ministério se instaurou claramente no apogeu da
prosperidade de Israel, deve ter-se prolongado pelo reinado de Jeroboão II (783-743 a.c.), em outras palavras,
em torno do ano de 750 a.c.

A passagem de Am 7,10-15 nos fornece uma descrição mais pormenorizada dos precedentes de Amós.
Passava parte do seu tempo como pastor e parte como "cultivador de sicômoros" esta expressão se refere à
perfuração do fruto semelhante ao figo, para deixar sair os insetos que se formavam lá dentro 14. A missão de
um profeta de Judá em Israel é uma flagrante indicação de que uma tradição religiosa comum ligava os reinos
divididos. Quando Amasias, sacerdote de Betel, advertiu Amós de que devia ganhar o seu sustento em Judá
(aceitando um salário como os profetas profissionais [cf. 1 Sm 9-8; 1 Rs 14,3; 2Rs 8,8]), Amós respondeu que
17
ele não era um nãbí daquele gênero, nem era tampouco um dos "filhos dos profetas": recebera uma vocação es-
pecial.

Isaías 1-39

O PROFETA Isaías parece ter sido um aristocrata e, ao que tudo indica, natural de Jerusalém. Em 740 a.C.,
o ano da morte do rei Ozias, teve a sua visão inaugural no Templo. Iahweh apareceu-lhe como um monarca
oriental, cercado de um corpo de serafins que proclamavam a santidade de Deus. A primeira reação do profeta
foi de temor e tremor (ls 6,5); em seguida, porém, purificado dos seus pecados, ele respondeu sem hesitação ao
chamamento divino (ls 6,8). Sua missão' ia ser difícil, porque o povo se recusaria a ouvir a sua pregação (Is
6,9s). Havia, contudo, um raio de esperança: um "Resto" ficaria fiel (Is 6,13).

Judá prosperara sob Ozias e continuava a prosperar sob Joatão (740-736 a.C.). Como Amós antes dele.
Isaías atacou o luxo e os abusos sociais; este é o fardo de muitos dos oráculos dos capítulos 1-5. A missão do
profeta continuou sob Acaz e até o final do reinado de Ezequias. Parece, no entanto, ter-se retirado da vida
pública durante a maior parte do reinado de Acaz (de 734 a.c. em diante). Diz a lenda judia que ele foi
martirizado sob Manassés.

Isaías foi um dos mais dotados poetas de Israel e homem de profunda sensibilidade religiosa. Uma medida
de sua estatura é o fato de que mais do que qualquer outro profeta ele inspirou os seus discípulos, de modo que
uma "escola ísaiana" promoveu as suas idéias e produziu oráculos em seu nome até o século V a.C.

O LIVRO No livro de Isaías a crítica moderna distinguiu uma porção de diferentes agrupamentos ou
seções, que datam de épocas diferentes. As três partes principais são: Isaías (capítulos 1-39), o Dêutero-Isaías
(capítulos 40-55) e Isaías 56-66. Embora o livro tenha sido dividido, a crítica moderna leva também em conta
certos elementos constantes que permeiam toda a obra. Assim, por todo o livro Deus é o "Santo de Israel", e sua
transcendência é energicamente salientada. Todo o conjunto é permeado de uma atmosfera messiânica e
escatológica, que faz do livro o clássico da esperança.

PROFETAS DO SÉCULO VII E COMEÇO DO SÉCULO VI

Sofonias

O PROFETA O pouco que sabemos de Sofonias é respigado do seu breve escrito. Sua genealogia (Sf1,1)
vai dar num certo Ezequias, que pode ser o rei deste nome. O objetivo da genealogia é provavelmente esclarecer
que, não obstante o nome do seu pai (Cusi quer dizer "o etíope"), o profeta era judeu. Profetizou sob o reinado
de Josias. O tom de sua pregação indica que sua missão caiu durante a menoridade desse rei e antes da reforma;
com toda a probabilidade, entre 640 a.C. e 630 a.C., justamente , antes do ministério de Jeremias. Seus oráculos
nos dão uma idéia do estado de coisas em Judá às vésperas da grande tarefa de Josias: o culto das divindades
estrangeiras (Sf 1,4s); costumes estrangeiros (Sf 1,8); falsos profetas (Sf 3,4); violência e injustiça social (Sf
3,1-3; 1,11 ). Sua obra deve ter preparado o terreno para a reforma que se aproximava.

O LIVRO Hoje é quase universalmente reconhecido que o escrito, no seu todo - com exceção de dois ou
três pequenos retoques - é autêntico.

Jeremias

O PROFETA Jeremias, como indivíduo, nos é mais bem conhecido que qualquer dos outros profetas,
porque seu livro contém muitas passagens de confissão pessoal e autobiografia, bem como extensas seções de
biografia. Ele se destaca como uma figura isolada, trágica, cuja missão parece ter fracassado inteiramente. Esse
"fracasso", no entanto, foi o seu triunfo, como haviam de reconhecer as épocas posteriores.

Jeremias veio de Anatot, aldeia situada a quatro milhas ao nordeste de Jerusalém. Seu pai, Helcias, era um
sacerdote (Jr 1, 1), de sorte que Jeremias pode ter sido um descendente de Abiatar, sacerdote de Davi, exilado
para Anatot por Salomão (1Rs 2, 26). Sua vocação profética sobreveio em 626 (Jr 1,2), quando ele era ainda
muito jovem, e sua missão vai de Josias (640-609) a Sedecias (597-587), prolongando-se para além do reinado
deste último; ou seja, viveu durante os fagueiros e promissores dias do jovem rei reformador, Josias, e os
trágicos anos subseqüentes que levaram à ruína da nação.
18
São muito discrepantes as avaliações da atitude de Jeremias quanto à reforma de ]osias, porque é muito
pouco o que se sabe da sua carreira primitiva. Afirmam alguns que ele foi um partidário entusiasta da reforma, e
outros que ele lhe fora hostil. Parece que a princípio ele simpatizasse com seus objetivos, mas que se desiludiu
com o seu resultado final. Não há dúvida que tivesse o rei em grande conta e estivesse convencido da sua
sinceridade (22, 15s), mas não tardou a compreender que "não se pode tornar bom um povo por um decreto do
parlamento".

O que ele pedira foi um vivo e sincero arrependimento, uma mudança interior, e o que encontrou foi uma
liturgia mais elaborada que encorajava a autocomplacência e convidava à hipocrisia (7, 21-28;5,26-31). Seu
papel era tentar, em vão, reduzir o povo a uma verdadeira mudança de coração, e arvorar a esperança e lançar
um fundamento para essa mudança, para além da severa prova do desastre nacional.

O livro de Jeremias é uma coleção feita por muitas mãos.

O que é típico de todos os livros proféticos. Tem-se, efetivamente, a impressão de que é uma coleção de
"livros" mais breves, acrescida de algum material variado.

O LIVRO Em Jr 36 lemos a respeito de um "rolo" que continha uma seleção ou digesto das palavras do
profeta, proferidas entre 627 e 605. Não podia ser muito longa, uma vez que se lia três vezes num só dia (36,10
.15.21) com notáveis intervalos de permeio. O rolo, destruído por Joaquim, foi posteriormente re-escrito e
suplementado por Baruc, sob ditado do próprio Jeremias (36,32). Temos aqui o primeiro passo na composição
de Jeremias, mas é ocioso tentar extrair o núcleo original do livro existente. O que podemos dizer
confiantemente é que esse núcleo está contido em Jr 1-25.

Os capítulos 46-51, que consistem em oráculos dirigidos contra nações estrangeiras, formam outra coleção
separada. Não há razão para achar que o grosso desse material não seja autêntico, mas houve alguma ampliação.
A coleção é uma tentativa bem tardia de reunir uma série de oráculos de ameaça contra o maior número
possível de povos circunvizinhos. Um terceiro agrupamento inclui os capítulos 30 e 31 e, talvez, também 32 e
33; é a mensagem de esperança de Jeremias e se chama Livro da Consolação.

PROFETAS DO CATIVEIRO

Ezequiel

Durante a primeira parte do seu ministério, a mensagem de Ezequiel era muito parecida com a de Jeremias.
Poderíamos resumi-ia deste modo:

O povo de Judá é gravemente culpado. Deus é justo, e prepara-se para puni-Ia. Muito em breve o cerco de
Jerusalém e a grande deportação mostrará o que significa uma intervenção de Iahweh.

Procura o profeta justificar a ação de Iahweh insistindo na culpabilidade de Israel. O relato da vocação de
Ezequiel (1,4-3, 15) revela muita semelhança com o da vocação de Isaías (Is 6). Também Ezequiel viu a "glória
de Iahweh" - alguém sentado em um trono. Como embaixador do Rei, ele recebeu um volume enrolado que
trazia as suas instruções: "palavras de lamentação e dor e calamidade". Como Isaías, também, é avisado da
dificuldade e até desesperança da sua posição: deve pregar sem resultado, "porque toda a casa de Israel tem a
fronte inflexível e o coração empedernido" (Ez 3,7).

O ministério de Ezequiel distribui-se em dois períodos: vai de 593 até o fim de Judá, com a queda de
Jerusalém em 587; e da queda da cidade até 571, data da última profecia sua de que se tem registro (29,17-20).
Segundo a forma presente do livro, toda a missão de Ezequiel se endereçava aos judeus exilados em Babilônia,
embora os oráculos da primeira parte (capítulos 124) se dirigissem aos moradores de Jerusalém, e Ezequiel dê a
impressão de estar presente na cidade (cf. 11,13). Todavia, distingue suficientemente entre os exilados (aos
quais fala na segunda pessoa) e os de Jerusalém (aos quais ameaça na terceira pessoa), e a descrição
esquemática que faz da cidade não é a de uma testemunha ocular. O grande interesse com que seguiu o curso
dos acontecimentos de Jerusalém, em que pese a viva preocupação de um exilado, dá por vezes a impressão de
que ele está vivendo entre os de sua gente e na sua própria pátria.

O LIVRO Ezequiel era vidente por temperamento, e quatro grandes visões dominam o seu livro: o "carro
de Iahweh" (1-3), os pecados de Jerusalém (8-11), os ossos secos (37), e a nova Jerusalém (40). A ardente
19
imaginação que se desdobra nessas descrições é também evidente nas alegorias: as irmãs Oola e Ooliba (23), o
naufrágio de Tiro (27), o crocodilo do Nilo (29 e 32), o grande cedro (31), os habitantes do Xeol (32). Ao
mesmo tempo, as coisas simples de cada dia despertavam a sua inspiração: uma sentinela montando guarda
(3,17-21), um muro em construção (13,10-16). Emocionam-nos vivamente as suas próprias experiências: a
morte de sua esposa (24,15-24), certa enfermidade misteriosa e prolongada (4,4-17). Ezequiel usa a técnica do
gesto profético mais vezes e com mais requinte que outro qualquer por exemplo, os símbolos de Jerusalém sob
o cerco (4,1-3.7), dos anos de cativeiro (4,4-8), do cativeiro e do assédio (12,1-20), da união de Judá e Israel
(37,15-28). Paradoxalmente, sua poderosa imaginação e suas artificiosas alegorias encontram expressão num
estilo geralmente duro e seco.

O Servo sofredor de Iahweh

Freqüentemente, ao longo do Segundo Isaías, Israel é denominado o "Servo de Iahweh". Há, porém, quatro
passagens (Is 42,1-7;49,1-6;50,4-9;52,13-53,12) onde o título tem um sentido à parte e não pode mais ser
considerado como designando Israel da mesma maneira que alhures. Não temos intenção de enveredar pela
controvertida questão da relação desses poemas entre si e seu contexto, nem tencionamos fazer um
levantamento do imenso campo de interpretação. Limitar-nos-emos a traçar duas linhas mestras de interpretação
após termos indicado algumas características da figura do Servo.

O Servo dos cânticos contrasta com o Israel-Servo encontrado alhures no Segundo Isaías. Israel é surdo e
cego (Is 42,19s); o Servo ouve (Is 50,4s) e ilumina (Is 49,6). Israel é pecador (Is 42,18-25;43,22-28); o Servo é
justo (Is 53,9-11). Israel precisa de consolação (Is 41,95); o Servo tem uma fé corajosa (Is 42,4). O Servo deve
restaurar Israel (Is 49 ,5s).

O Servo é um personagem misterioso que foi escolhido por Iahweh e cumulado do seu Espírito (Is 42,1) e
que desempenha um papel ao mesmo tempo nacional e universalista. Por um lado, embora pareça inseparável
do Israel de cujo nome é portador, do Resto "em quem Deus será glorificado" (Is 49,3), ele deve reconduzir
Jacó (Is 42,6), reunir (Is 49 ,5s) e ensinar (Is 50,4-9) Israel. Por outro lado, ele deve ser a luz das nações.
Paciente (Is 50,6) e humilde (Is 53,7) realizará, pelos seus sofrimentos e sua morte, o plano de Iahweh: a
justificação dos pecadores de todas as nações (Is 53,8.11 s ) .

Conquanto a identificação do Servo Sofredor é, e sem dúvida continuará a ser, um problema amplamente
discutido, quase todos os exegetas acham que se trata de uma figura messiânica. Ninguém que reconhece a
unidade dos dois Testamentos e aceita o papel messiânico de Jesus pode duvidar disso por um momento.

Isaías 56·66

AUTORIA Conforme a teoria geralmente aceita, Is 56-66 é obra de um ou vários profetas pós-exílicos, da
escola de Isaías, e foi produzida na Palestina logo após a volta do Cativeiro (538 a.C). Várias razões indicam
que esses capítulos são distintos de Is 40-55. O tema de dissertação não é mais a libertação e a restauração; em
muitas passagens se considera que o povo já está instalado na Palestina e a injustiça social teve tempo para se
fazer sentir (1s 58,3-6;59,3s; 56,10-12). Em 1s 40,55 a atenção do profeta se fixa no futuro imediato - a queda
de Babilônia e a libertação, mas não é mais esta a perspectiva de 1s 56-66. É igualmente opinião geral que esses
capítulos são obra de diversos escritores.

Zacarias 1·8

Os exegetas são unânimes em afirmar que os capítulos 9,14 de Zacarias não são autênticos; são,
efetivamente, muito posteriores ao tempo do profeta.

o PROFETA Zacarias, foi contemporâneo de Ageu, e afora as menções feitas em Esd 5,1 e 6,14 não
dispomos de informações independentes sobre ele. Obviamente, foi grandemente influenciado por Ezequiel, e
era provavelmente um sacerdote-profeta. Seus oráculos datam de novembro, 520 a.C., a dezembro, 518 a.C.
Como Ageu, preocupava-se Zacarias com a reconstrução do Templo, e também, mais ardorosamente, com a
restauração nacional e as exigências da pureza legal e a moralidade.
20
PROFETAS DO SÉCULO - V

Isaías 34-35;24-27

Is 34-35: O PEQUENO APOCALIPSE Não é rigorosamente exato descrever estes capítulos (e o mesmo se
diga de Is 24-27) como um apocalipse - posto que alguns traços da forma apocalíptica estejam presentes (por
exemplo, o juízo universal, o triunfo do povo de Deus).

1. Autoria e data. Os dois capítulos, que formam uma unidade, inspiram-se em Is 40-66 (d. Is 34,6-8 e 63,1-
6;35,10 e 51, 11). O capítulo 35 está todo escrito no estilo do Segundo Isaías:

A salvação final de Iahweh é pintada como um novo f:xodo. Os capítulos são manifestamente um produto
da escola de Isaías, e embora a impossibilidade de fixar uma data precisa, parece provável o começo do século
V a.c.

2. Idéias. "Os dois capítulos, provavelmente do mesmo punho, constituem uma espécie de díptico: um
Inferno seguido de um Paraíso" 24. O capítulo 34 descreve o Dia de Iahweh, o juízo final de Deus - porque
Edom é o tipo dos inimigos do povo de Deus. O capítulo 35 é a redenção de Israel. Destacam-se a trans-
formação da natureza e o caminho sagrado por onde Deus conduz para casa o seu povo. Um vasto retorno da
Diáspora é apresentado como uma solene peregrinação em demanda de Sião.

Is 24-27: O GRANDE APOCALIPSE 1. Autoria e data. Esses capítulos são uma coleção de profecias
escatológicas, originariamente independentes, e hinos reunidos para formar uma composição unificada. Devido
a esse arranjo não é fácil postular unidade de autoria para as várias perícopes. No pensamento, no estilo e na
linguagem a seção é pós-exílica, mas é impossível fixar uma data preClsa. Não é impossível uma data do século
IV a.c., mas parece melhor estabelecê-Ia no século V a.c. Como quer que seja, 1s 24-27 é o último produto
daquela fecunda escola isaiana que por tanto tempo sustentou o espírito do grande profeta do século VIII.

Idéias. Hinos e oráculos diferem quanto à visão. O tema dos hinos é o triunfo final da Cidade de Deus. Os
oráculos apocalípticos têm em vista toda a humanidade e a totalidade do universo: Deus punirá as hastes do céu
e os reis da terra (ls 24,21), e destruirá Leviatã, símbolo das forças do mal (Is 27,1). Em seguida todas as naçôes
serão convidadas ao grande banquete messiânico (Is 25,6-8) e os dispersas de Israel serão reunidos (Is 27,12s).

Malaquias

AUTORIA E DATA O livro de Malaquias é realmente um escrito anônimo, porque o nome "Malaquias"
vem de Ml 3,1, em que a palavra é um substantivo comum cujo significado é "meu mensageiro". O título do
escrito (Ml 1,1) corresponde a Zc 9,1 e 12,1; é provável que originalmente houvesse três coleções anônimas.
Malaquias é posterior a 516 a.C., a data da renovação do culto no segundo Templo (cf.. MI 1,13) e parece ser
anterior à interdição de casamentos mistos por Neemias em 445 a.C. (d. Ml 2,10-12). É provável uma data
ligeiramente anterior a 445 a.C.

PROFETAS DO SÉCULO - IV

Joel

AUTORIA E DATA Joel não é mencionado em nenhum outro lugar; o que sabemos dele é que foi um
profeta pós-exílico de Judá. Como no caso de Abdias, as duas partes do livro (capítulos 1-2 e 3-4) poderiam
indicar dupla ,autoria, mas a data da obra não é afetada por essa possibilidade, uma vez que ambas as partes
estão intimamente associadas. O livro é, com toda a probabilidade, um produto dos começos do século IV a.C.
Esta data é indicada por empréstimos feitos a escritos tardios (por exemplo, Jl 2,11 e Ml32; Jl 3,4 e Ml 3,23), e
pela mentalidade particularística e cultual do escrito. O estilo apocalíptico dos capítulos 3-4 milita também a
favor de uma data tardia. Por outro lado, a mudança de perspectiva destes capítulos não exige outro autor: a
descrição de uma calamitosa praga de gafanhotos podia facilmente levar a um quadro da praga final de Deus, o
seu juízo sobre os pecadores. Embora não possamos ter certeza disso, é razoável considerar o livro como obra
de um único autor .
21
Joel marca a transição do gênero profético para o apocalíptico, mas é essencialmente um livro profético. O
profeta não só (de maneira tipicamente profética) interpretou a terrível praga como castigo do pecado, como
também viu nela um símbolo do Dia de Iahweh. "Joel é o profeta de Pentecostes ( cf. Jl 3,1 s ). É também o
profeta da penitência, e seu convite ao jejum e à oração, emprestado das cerimônias do Templo ou nelas
modelado, quadram perfeitamente com a liturgia cristã da Quaresma".

Zacarias 9·14

AUTORIA E DATA A segunda parte do livro de Zacarias consiste em dois grupos de material (capítulos 9-
11 e 12-14) introduzidos pelo termo massa (" fardo" - oráculo de desgraça). Na ordem tradicional dos livros
proféticos, MI - que tem o mesmo cabeçalho (MI 1,1) - vem por último, imediatamente depO'is de Zacarias;
dir-se-ia que Zc 9-11;12-14, e MI, eram três coleções de material profético colocadas no fim dos escritos pro-
féticos à guisa de apêndice. Mais tarde, a terceira dessas coleções foi considerada um livro separado (Ml), e as
outras duas foram anexadas a Zc 1-8; o que assegurou o importante número de doze profetas menores.

O centro de interesse de Zc 9-14 não é certamente o da primeira parte do livro: não se faz menção alguma
de Zorobabel ou de Josué, nem se diz uma palavra sobre a reconstrução do Templo. A Assíria e o Egito surgem
apenas como símbolos de todos os opressores e, por outro lado, os gregos são mencionados em Zacarias 9,13. A
conquista a que se alude em Zc 9,1-8 seria a ação empreendida por Alexandre Magno para proteger o seu flanco
após a batalha de Issus (333 a.C.). Dir-se-ia que Zc 9-14 - compilação anônima - recebeu a sua forma definitiva
no findar do século IV.

A MENSAGEM Zc 9-14 é importante pela sua doutrina messiânica. O oráculo de Zc 12,1-13,6 fala do
restabelecimento da casa de Davi. Essa restauração se prende à morte de um personagem misterioso: " ... aquele
que eles transpassaram" (Zc 12,1 O) ; sem dúvida, devemos olhar para o Servo Sofredor de Is 53. O Messias é
apresentado como figura real, mas não está revestido de pompa mundana (Zc 9 ,9s). Na era messiânica todas as
coisas da terra de Israel serão consagradas ao Senhor (cf.. Ez 40-48). Citações de Zc 9-14 ou alusões a esses
dois capítulos são freqüentes no Novo Testamento (por exemplo, Mt 21,4s; 27,9;26, 31; Jo 19,37).

1.4 - NOVO TESTAMENTO

A FORMAÇÃO DOS EVANGELHOS SINÓTICOS

A palavra grega para evangelho é euangelion) donde a palavra latina evangelium. Na igreja primitiva
euangelion significava um livro que tratava não das palavras e obras de Cristo, e sim da boa nova da salvação
messiânica, a mensagem da salvação. O termo já se encontrava na Setenta. Lemos, por exemplo, em Isaías:
"Quão graciosos, sobre os montes, são os pés do mensageiro, do que anuncia a paz, do que proclama boas novas
e anuncia a salvação" (52,7). O vocábulo é o mesmo, mas no Antigo Testamento a boa-nova é a da salvação
futura, 'ao passo que o evangelho é a boa-nova de uma salvação já consumada.

O evangelho pode ser a boa-nova que o próprio Jesus pregou (p. ex., Mc 1,15 ;Mt 11,5; Lc 4,18), ou pode ser
,a pregação apostólica sobre Cristo e a salvação nele encontrada (p. ex., At 5,42; Rm l,1s). Ambas as coisas vêm
a dar na mesma, porque o que aqui está em causa é Cristo, as suas palavras e obras. ,É de notar que se trata de
pregação, e não da palavra escrita, e os ministros cristãos são chamados "evangelistas" (At 21,8; Ef 4,11; 2Tm
4,5). É mister nos darmos conta de que no próprio Novo Testamento a palavra "evangelho" significa a pregação
de Cristo e de que o "evangelista" é um pregador.

Mas as palavras mudam com freqüência e não raro uma palavara de sentido bem amplo adquire um
sentido preciso, técnico. E foi assim que no século II d.C. euangelion passou ,a designar o relato escrito da vida e
do ensino de nosso Senhor, e foi por esse mesmo tempo, também, que os autores dos evangelhos receberam o
nome de evangelistas. Devemos ter presente que nosso significado muito especial de "evangelho" e
"evangelista" não corresponde exatamente ao do próprio Novo Testamento.

Quando, no século II, euangelion começou ,a significar o evangelho escrito, continuava-se a achar que esses
escritos satisfaziam uma necessidade missionária e que sua finalidade era a mesma que a da palavra falada:
despertar e fortalecer a fé (d. To 20,31). De modo semelhante, também o evangelista é um pregador, e por trás
dele está toda a autoridade docente de uma Igreja viva; ele é um porta-voz dessa igreja. Sua obra é querigmática:
22
anunciar a Cristo, suas obras e palavras. E porque assim é, dedica o evangelista especial atenção ao histórico e se
interessa pelos elementos biográficos: a boa-nova que ele prega gira em tomo de uma pessoa que viveu e circulou
entre os homens e os ensinou, um homem que morreu em determinado tempo e lugar e ressurgiu dos mortos. O
evangelho é, em suma, a exposição da narrativa histórica do sofrimento, morte e ressurreição de Jesus Cristo,
prefaciada por um relato do seu ministério. A pessoa de Jesus, vista e interpretada à luz da ressurreição, é o
próprio centro da história da salvação - e a apresentação das suas palavras e feitos, vista nessa luz. é
necessariamente teológica. O Evangelista não pretende escrever uma biografia de Jesus; sua intenção permanece,
fundamentalmente, querigmática e teológica.

O EVANGELHO DE S. MARCOS

O testemunho da Tradição

A tradição da igreja primitiva é unânime em atribuir um evangelho a S. Marcos, que é constantemente


chamado intérprete e discípulo de Pedra. É, provavelmente, o mesmo Marcos freqüentemente mencionado no
Novo Testamento: At 12,12.25;13,5.13; 15,37.39; CI 4,10; Fm 24; 2Tm 4,11; 1Pd 5,13.

O evangelho de Marcos foi escrito para cristãos não-judeus. É o que indica com evidência a explicação de
expressões aramaicas (p. ex., "Boanerges, isto é, filhos do trovão" (3,17); "T'alítha kúmi - o que significa:
'Menina, eu te digo, levanta-;te'" (5, 41); d. 7,11.34;14,36;15,22.34), bem como de costumes judaicos
(7,3s;14,12;15,42). Conforme uma tradição antiga, o evangelho foi escrito em Roma. Em geral, os numerosos
latinismos encontrados em Marcos podem ser excluídos como termos militares e técnicos de uso corrente. Em
duas ocasiões notáveis, contudo, uma expressão grega é explicada pelo seu equivalente latino: " ... duas lepta
(moedas gregas), isto é, um quadrante (moeda romana)" (12,42); o "interior do pátio, isto é, do Pretória" ( 15,16).
Esses esclarecimentos levam a crer que o evangelho foi escrito em Roma.

Não se põe em dúvida, geralmente, que o evangelho tenha sido escrito antes de 70 d.C (data da destruição de
Jerusalém

O ESTILO DE MARCOS

Marcos está escrito num grego relativamente simples e popular, de flagrantes afinidades com a linguagem
falada da vida de cada dia. O evangelista só usa as construções mais simples; um simples olhar de relance ao
evangelho mostrará que as frases são o mais das vezes ligadas pela conjunção "e", e que nas suas páginas os
aramaísmos são freqüentes ao extremo. A simplicidade do grego pode induzir em erro: Marcos é um escritor
muito mais hábil do que geralmente se tem achado. É um narrador consumado. Os traços nítidos, vivos que
animam as narrativas são sua contribuição pessoal - não refletem a influência de uma testemunha ocular.

ESQUEMATIZAÇAO Neste contexto podemos considerar uma notável tendência em Marcos, a da


esquematização, ou seja, de fundir as narrativas, principalmente as histórias de milagres, num molde único. Eis,
por exemplo, dois milagres distintos e bem diferentes descritos segundo o mesmo padrão e em termos quase
idênticos.

A tempestade acalmada Um exorcismo

4,39-41 1,25-27

Levantando-se, ele conjurou severamente o Jesus, porém, o conjurou severamente: "Cala-te e


vento e disse ao mar: "Silêncio! Quieto!" sai dele". (Efeito da intimação: cura do possesso)

(Efeito da intimação: o mar se acalmou) Todos então se admiraram, perguntando uns aos
outros:
Então ficaram com muito medo, e diziam
uns ,aos outros: "Quem é este?" "Que é isto? "
23
Esquema
I. O mistério do Messias: revelação da pessoa de Jesus 1,14-8,30
Três seções:
a. Jesus e as multidões 1,14-3,6
b. Jesus e o seus 3,7-6a ; 3,7-12.13-19; 6,1-6a
c. Jesus os discípulos e os gentios 6,6b-830;

Conclusão e transição 8,27-33

O mistério do filho do Homem: Revelação dos sofrimentos de Jesus


a. O Caminho do Filho do Homem 8,13-10,52
b. Jesus em Jerusalém 11,1-13,37
c. Paixão e ressurreição 14,1-16,20
O trecho final 16,9-20

O EVANGELHO DE MATEUS

A tradição unânime da igreja primitiva é de que Mateus, um dos Doze, foi o primeiro dos quatro evangelistas
a escrever um evangelho, e que ele escreveu em aramaico. Todavia, o evangelho de Mateus, como nos chegou às
mãos no Novo Testamento, foi escrito em grego; não é uma tradução. A relação entre o tradicional escrito
aramaico e o evangelho posterior é obscura. Mateus pode ter sido o autor da obra aramaica; é-nos impossível dar
o nome do autor do evangelho grego. Por questão de conveniência ele continua a ser, em nossas referências, o
evangelho de Mateus.
Este evangelho se dirigia a judeu-cristãos de língua grega.
Um indício disto são as numerosas expressões judaicas: o parasceve (27,62), raca, geena (5,22), Beelzebu (l
O ,25) e as alusões a costumes judaicos: ablução ritual das mãos antes de comer (15, 2), o uso dos filactérios - e o
autor raramente acha necessário dar uma explicação. Mateus se interessa particularmente pela sorte de Israel; e
preocupa-se com o problema da Lei: que deve agora ser interpretada de acordo com os princípios da superior lei
do amor.
Não é possível datar o evangelho com precisão. A despeito do que comumente se presume, está longe de ser
claro que Mateus tenha usado Marcos; entretanto, é razoável supor que seja mais recente dos dois escritos. O
interesse pela estrutura da igreja parece indicar uma data relativamente tardia. Podemos colocá-lo na década de
80-90 d.C.
O ESQUEMA
O evangelho de Mateus se divide naturalmente em sete partes - sendo que a primeira parte, a narrativa da
infância, constitui o prólogo. A estrutura dos capítulos 3-25 é precisa: cinco seções, cada uma das quais contém
uma parte narrativa e um discurso. Cada discurso tem uma breve introdução (5,1-2;10,1-5; 13,1-3;18,1-2;24,1-3)
e termina por uma fórmula estereotipada: “Aconteceu que ao terminar Jesus estas palavras. . ." (7,28; 11 ,1 ;
13,53;19,1;26,1)0 Estas cinco partes centrais de Mateus não são outras tantas unidades desconexas; há estreito
nexo entre elas. As narrativas indicam os movimentos progressivos dos acontecimentos, enquanto os discursos
ilustram um progresso paralelo no conceito messiânico do reino dos céus.
I Prólogo: narrativa da infância 1-2
I1 O Reino aparece
A manifestação preliminar 3-4
Sermão da montanha 5-7
III Missão salvadora de Jesus
Dez milagres 8-9
Discursos missionários 10
IV O Reino escondido
Oposição e divisão 11-12
Parábolas do Reino 13
V. O Reino se desenvolve
Formação dos discípulos 14-17
Discurso comunitário 18
VI. A caminho da Paixão
Oposição crescente do judaísmo 19-22
Julgamento pronunciado 23-25
VII. Paixão e ressurreição 26-28
24
EVANGELHO DE LUCAS

O testemunho da tradição no que se refere à autoria do terceiro evangelho é categórico: é obra de S. Lucas. A
exegese atual concorda, em geral, com a tradição. Segue-se daí que Lucas é também o autor dos Atos dos
Apóstolos, porque Lucas e o~ Atos são, demonstravelmente, dois volumes de uma única obra. Lucas é
mencionado três vezes nas cartas paulinas: Fm 23s; CI 4,14; 2Tm 4,11.

Lucas certamente escreveu para cristãos gentios. Por isso evita, coerentemente, muitos temas ou assuntos que
poderiam parecer, de modo excessivo, especificamente judaicos. Omite passagens inteiras: as tradições dos
antigos (Mc 7,1-23), a volta de Elias (Mc 9,11-13), as antíteses do Sermão (Mt 5,21s. 27s.3337). Quanto à data
do evangelho, não se pode ser preciso. Podemos situá-Ia nas proximidades do ano 80 d.e. - se foi composto antes
ou depois dessa data, isso é impossível determinar.

O esquema
1. Do templo ao término do ministério da Galiléia 1,5.9-50
Prólogo 1,1-4
A narrativa da infância 1,5-2,52
Preparação do ministério de Jesus 3,1-4,13
O ministério na Galiléia 4,14-9,50
II. A jornada da Galiléia a Jerusalém 9,51-19,27
III. Os últimos dias do Cristo padecente e
Ressuscitado em Jerusalém 19,28-21,38
Ministério em Jerusalém 19,28-21,38
A Paixão 22-23
Após a Ressurreição 24

Lucas, como Marcos e Mateus, seguiu o primitivo plano quádruplo do evangelho. Introduziu, todavia, duas
importantes alterações nessa ordem e deu, assim, ao seu evangelho, uma feição diferente. Colocando no começo
a longa narrativa da Infância (capítulos 1-2) - que contrabalança a narrativa da Paixão e da Ressurreição -
apresentou a história de Jesus em perfeito equilíbrio. Com a inclusão da longa seção (9,51-18,14), ajustou ha-
bilmente à narrativa evangélica uma coleção muito importante de episódios e ditos inteiramente ausentes de
Marcos e apenas parcialmente representados em Mateus. Esta seção lucana é dominada pela perspectiva da
Paixão, e a jornada a Jerusalém é encarada como jornada para a morte (cf. 9,51; 13 ,22; 17,11 ). Desta maneira,
apesar de concordar de modo geral com Marcos e Mateus, o terceiro evangelho apresenta caráter peculiar e à
parte. Contudo, embora a divisão principal seja clara, não é fácil dar arranjo satisfatório dos pormenores.

ATOS DOS APOSTOLOS

No seu prefácio o autor dos Atos apresenta o seu escrito como continuação de uma única obra dedicada a
Teófilo (At 1,1; cf. Lc 1,3). A consideração do tema de ambos os volumes e da estreita semelhança de estilo e
vocabulário corrobora o sentido óbvio do prefácio. O título da obra - "Atos dos Apóstolos" - ou "Atos de
Apóstolos" - descreve bem um livro que faz seqüência aos "Atos e Palavras de Jesus" (cf. At 1,1) - o evangelho.
A tradição antiga é unânime em atribuir os Atos a Lucas, o autor do terceiro evangelho. Quanto à data, é determi-
nada pela atribuída ao evangelho: fica em torno do ano 80 d.C.

FINALIDADE

Sendo os Atos o segundo volume de uma obra, não pode ser entendido senão como continuação do
evangelho de Lucas; é mais correto considerar essa obra seqüência do evangelho do que história da igreja
primitiva. Após o seu relato da infância de João e de Jesus, Lucas passa a tratar da pregação do Reino de Deus na
Pales1tina, primeiro pelo Precursor, e em seguida pelo Messias; e no fim de sua obra Paulo surge em cena,
proclamando o mesmo Reino no centro do mundo romano. O evangelho fala da missão de Jesus e do evento
salvífico de sua morte e ressurreição; termina com sua glorificação na ascensão. Jesus veio na qualidade de
Messias do seu povo e viu-se rejeitado por ele. Mas a sua missão não fracassou: ele trouxera a salvação ao novo
Israel - o arrependimento e o perdão dos pecados haveria de ser pregado em seu nome a todas as nações, a
começar por Jerusalém (Lc 24,47).
25
Dada a íntima relação entre o Evangelho e os Atos, não nos surpreendemos ao verificar que a composição de
ambos se desenvolve ao longo de linhas paralelas. A narrativa do ministério de Jesus é formada por duas partes
mais ou menos iguais: a primeira, que abrange a pregação na Galiléia, centraliza-se nos Doze e termina com a
missão confiada aos Doze; assemelha-se muito aos relatos de Mateus e Marcos. A outra parte, a jornada para
Jerusalém, começa no momento em que os Setenta recebem o encargo da missão, e contém material inexistente
em Mateus e em Marcos. Analogamente, os Atos têm duas partes: uma em que Pedro desempenha o papel de
chefe, e que está voltada para Jerusalém; a segunda, centralizada em Paulo, rompe essa moldura geográfica e
volta-se para Roma. Para seguir esse plano Lucas precisava adotar um meio termo entre o procedimento
sistemático e o motivado pela organização das fontes seguidas por ele. É o que causa - e explica - certa
irregularidade na composição.

Nos Atos Lucas se empenha em mostrar o progresso triunfal do evangelho por todo o mundo conhecido. O
plano de sua obra é ditado pela incumbência do Cristo ressuscitado aos seus discípulos: "Sereis, então minhas
testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria, e até os confins da terra" (At 1,8). Interessa-o
especialmente o fato de que .a pregação passa dos judeus para os gentios e o progresso da missão gentílica. Por
trás do contínuo progresso da boa-nova pelas províncias do Império Romano, vê o poder do Espírito Santo. O
tema do seu livro pode, aliás, exprimir-se desta maneira: "Os Atos descrevem a universal expansão da religião
cristã como foi encetada e mantida pelo poder do Espírito Santo".

O ESQUEMA

Os Atos se dividem em duas partes. No começo de sua segunda jornada missionária (15,36) vamos encontrar
Paulo, oficialmente reconhecido o Apóstolo dos Gentios, embarcando numa empresa que é verdadeiramente sua.
A partir de então, o livro pode ser considerado a narração de uma jornada que leva de Antioquia a Roma
(compare-se com a jornada análoga a Jerusalém em Lc 9,51-19,46). A primeira parte dos Atos não tem a mesma
acentuada coerência; assemelha-se mais .a um mosaico de episódios vários, todos os quais servem para ilustrar o
progresso do cristianismo. Um breve prólogo (1,1s) indica que os Atos forma, com o evangelho, uma única obra,
e relembra que todo o conjunto é dedicado a Teófilo. Em At 1,3-11 a conclusão do evangelho (Lc 24,13-53) é
retomada, ligando entre si os volumes.

Introdução 1,1-11
A.1.A Igreja de Jerusalém 1,12-5,42
II. Primeiras missões 6-12
III. Barnabé e Paulo 13,1-15,35
B. IV A missão de Paulo 15,36-19,20
V. O prisioneiro de Cristo 19,21-28,29
Epílogo 28,30-31

AS CARTAS PAULINAS

A linguagem e o estilo de Paulo

A linguagem de Paulo trai seu condicionamento étnico, cultural e religioso, bem como sua formação. Judeu
da Diáspora, nascido em Tarso (afamado centro de ensino), é homem marcado pela influência da cultura grega. É
o que se nota, por exemplo, no uso que faz da diatribe, isto é, de exposições doutrinais e morais em forma de
diálogo, com perguntas e respostas, apóstrofes e exclamações (d. Rm 3,1-19.27,31; 2Cor 6,4-10), em idéias
tiradas do estoicismo (p. ex., a partida da alma separada para o mundo divino [2Cor 5,6-8], o "pleroma" cósmico
de Colossenses e Efésios), e em certas fórmulas (1Cor 8,6; Rm 11,36; Ef 4,6). Ao mesmo tempo, visto ser ele
fariseu e falar o aramaico desde a infância, discípulo de Gamaliel, o legado judaico é manifesto e preponderante.
Embora maneje o grego com facilidade, como segunda língua materna, parece às vezes que ele pensa em
aramaico, e é tributário da linguagem da LXX.

O estilo do Apóstolo é inconfundível. "Nunca talvez o famoso dito o estilo é o homem mesmo se verificou
mais verdadeiramente que no caso de Paulo, cujo estilo e eloqüência são marcados pelo amor de Cristo e por uma
26
paixão pela pregação do evangelho". Essas influências não só respondem pela surpreendente qualidade de tão
grande parte de sua obra, como também lhe explicam os defeitos. Impelido pela força do seu amor e urgência de
sua mensagem, faltam-lhe literalmente as palavras (cf. 1Cor 9,15). Mais de uma vez tem-se a impressão de que
uma passagem foi escrita ou ditada em incandescência (veja Gálatas e 2° Coríntios). O caráter complexo de
Paulo se espelha nas múltiplas disposições de espírito e matizes do que escreve.

Primeiro Tessalonicenses
A IGREJA TESSALONICENSE A cidade de Tessalônica foi a capital da província romana da Macedônia;
por especial privilégio de Augusto era cidade livre. Porto de mar e parada na grande Via Egnácia que ia de
Dirráquio a Bizâncio, a cidade era florescente centro comercial, de população cosmopolita. Possuía uma
constituição democrática, e seus principais magistrados arvoravam, o título de "politarcas" (At 17,8).

Paulo visitou Tessalônica pela primeira vez no curso de sua segunda viagem missionária, provavelmente no
ano de 50 d C. Era acompanhado de Silas. Ambos os missionários dirigiram-se primeiramente aos judeus,
pregando na sinagoga em três sábados consecutivos. Sua pregação conquistou muitos dos "tementes a Deus"
(seguidores gentios da sinagoga) e algumas mulheres influentes. Os exasperados judeus, adaptando habilmente a
sua tática à situação política, exploraram os sentimentos do povo e incitaram a multidão contra os pregadores. Os
irmãos conseguiram convencer Paulo e Silas a escapar de noite para Beréia, pequena cidade distante algumas
milhas a oeste. É manifesto que a igreja tessalonicense se compunha preponderantemente de elementos oriundos
da gentilidade.

Não é fácil determinar a duração da estada de Paulo em Tessalônica. O relato dos Atos parece indicar que
não foi longa. O mais que podemos dizer é que pode ter sido de dois ou três meses - pouco mais do que isso.

Segundo Tessalonicenses
INTENÇAO E RESUMO Não se pode pôr em dúvida que a principal razão de Paulo para escrever uma
segunda carta aos tessalonicenses foi a necessidade de corrigir certas idéias errôneas sobre a parusia, que haviam
surgido naquela igreja. Embora se tenha alegado que essas idéias talvez tivessem surgido de falsa interpretação
de 1" Tessalonicenses (especialmente 4,13-18), não é fácil ver como suas palavras se pudessem ter prestado a tal
confusão. A alusão a uma "carta que se diga vir de nós" (2Ts 2,2) - que indicaria. como freqüentemente se
afirma, a Iª Tessalonicenses - mais facilmente se entenderia, no seu contexto, de uma carta hipotética. Havia
também outra razão para a epístola, razão, aliás, não sem conexão com a outra. Alguns tessalonicenses não
trabalhavam mais (2Ts 3,l1s), provavelmente porque, acreditando numa parusia iminente, não viam razão para
trabalhar. O Apóstolo aborda, sem rodeios, ambos os problemas.

A 2'·' epístola aos Tessalonicenses começa com um endereço (2Ts 1,ls), seguido de agradecimento pela fé e
fidelidade dos tessalonicenses (2Ts 1,3 s ). Vem a seguir uma declaração sobre a retribuição final de Deus (2Ts
1,5-10) e uma oração pelos fiéis (2Ts 1 ,11s). A carta ventila, a seguir, a questão da parusia e dos seus sinais
precursores (2Ts 2,1-12): o dia do Senhor ainda não chegou porque, antes, haverá grande apostasia, e o "homem
ímpio" (o anti-cristo) deve aparecer. Todavia, o Senhor Jesus vencerá todos os seus inimigos. Novamente
agradece a Deus o Apóstolo a vocação cristã dos tessalonicenses e os anima a perseverar na sua vocação (2Ts
2,13-15), e ora por esta intenção (2Ts 2, 16s ). Pede orações aos fiéis e expressa a confiança que neles deposita
(2Ts 3,1-5). Parece conclusão, mas, subitamente, Paulo passa a outro assunto, provavelmente apenas chegado ao
seu conhecimento (veja 2Ts 3,11). Os irmãos não devem viver na ociosidade; devem trabalhar, seguindo o
exemplo do Apóstolo (2Ts 3,6-15). O escrito termina com a costumeira saudação (2Ts 3,16) e uma despedida e
bênção do próprio punho de Paulo (2Ts 3,17s) - sua autenticação da carta.

Gálatas
O endereço (GI 1,1-5) é de uma solenidade desacostumada.

Frisa dois pontos: a origem divina do apostolado de Paulo e o poder salvífico do sacrifício de Cristo. A
indignação do Apóstolo explica o fato de que esta é a única das suas epístolas que não contém agradecimentos
inicial. Começa, com efeito, abruptamente, cem expressão de dolorosa surpresa ante a volubilidade dos gálatas e
com severa repreensão. Desta vez seus adversários não podem acusá-lo de tentar captar a benevolência dos
27
homens (GI 1,6-10). Passa, em seguida, a afirmar e justificar a sua autoridade apostólica (GI 1,11-1,21). Quando
Paulo afirma (GI 1,l1s) que seu "evangelho" lhe adveio por revelação indireta, tem em mente não todo o seu
conhecimento da fé, mas a doutrina particular da justificação sem as obras da Lei. Não lhe poderia ter advindo o
seu evangelho da comunidade primitiva porque ele, que antes de sua conversão fora um fanático partidário da Lei
(Gl 1,13s), só entrou em contato com os líderes da comunidade cristã três anos após a sua conversão (Gl 1,15-
20), e após aquela breve visita a Jerusalém pregara, longe da cidade, na Síria e na Cilícia (Gl 1,21-24). Por outro
lado, seu evangelho fora formalmente provado pela igreja de Jerusalém (Gl 2,1-10); Paulo além disso, defendera
abertamente aquele evangelho de liberação, num confronto em Antioquia, com o próprio Pedro (Gl 2,11-21). Em
Gl 2,15-21 encontramos clara exposição de sua doutrina da justificação apenas pela fé.

A seção seguinte (Gl 3,1-4,11) desenvolve a doutrina. Deviam os gálatas saber, de própria experiência, que o
Espírito desceu sobre eles pela fé em Jesus, e não pelas obras da Lei (Gl 3,1-5); a história de Abraão abona essa
doutrina (3,6-14), porque ele recebera a promessa, que não podia ser anulada pela Lei posterior (Gl 3,15-18).
Uma vez que nada mais era do que o pedagogo ou tutor do povo de Deus que ainda se achava em estado de
infância, o papel da Lei era transitório (Gl 3,19-24); mas agora, pela fé que tinham em Cristo, os cristãos eram os
verdadeiros descendentes de Abraão, herdeiros da promessa, filhos de Deus (Gl 3,25-4,7). Como, pois, podem os
gálatas sonhar em retomar ao antigo estilo de vida? (Gl 4,8-11).

Em Gl 4,12-6,10 Paulo se volta para seus filhos com palavras de afeto, de repreensão, e com conselhos
práticos. Uma enfermidade do Apóstolo fora a ocasião da conversão dos gálatas notável exemplo do modo de
agir de Deus (Gl 4,12-20). Essa passagem nos proporciona preciosa revelação do caráter de Paulo; as palavras
duras de Gl 1,6-10;3,1-5 devem ser entendidas à luz destes versículos. Para herdar a promessa não basta ser filho
de Abraão: é preciso ser filho não como Ismael e sim como Isaac, o filho da mulher livre e não da escrava (Gl
4,21-31). Todavia, se aceitarem a circuncisão os gálatas tornar-se-ão novamente escravos e irão voltar as costas a
Cristo (Gl 5,1-12). A liberdade cristã, por sua vez, não é libertinagem, e os frutos do Espírito se opõem às obras
da carne (Gl 5,13-26). A visão cristã não é vaga; ao contrário, exige caridade prática (Gl 6,1-6) e que se semeie a
boa semente com vistas à colheita (Gl 6,7-10). Paulo, que ditara a carta, toma agora pessoalmente a pena e
conclui com advertência aos judeus e protesto de que, para ele, Cristo é o centro de todas as coisas (Gl 6,11-18).

Primeiro Coríntios

Paulo visitou Corinto pela primeira vez na sua segunda viagem missionária; ali fundou uma igreja e
permaneceu dezoito meses, do inverno de 50 d C. até o verão de 52 d.C. Como de costume, começou a sua
pregação na sinagoga - no sábado. Quando Silas e Timóteo chegaram da Macedônia, pôde dedicar-se inteira-
mente à pregação; mas em breve os judeus o rejeitaram. Foi, em seguida, para a casa de um gentio "temente a
Deus" chamado Justo. Subseqüentemente, muitos coríntios foram convertidos e batizados. A igreja coíntia era
constituída principalmente de gentios (se bem que houvesse ali alguns judeus [cf. At 18,8]) e recrutava seus
elementos sobretudo no seio das classes mais pobres (embora não exclusivamente [cf. 1 Cor 1,26-28; 11 ,22- 32]
). Pouco depois que Paulo partiu de Corinto, um talentoso judeu convertido de Alexandria, chamado ApoIo, veio
de Éfeso e pregou com notável êxito (At 18,24-28; l Cor 3,5-9).

JUSTIFICAÇÃO Paulo, enquanto estava em Êfeso durante sua terceira viagem missionária (54-57 d.C.),
escreveu o que se pode chamar carta "pré-canônica" - que não mais existe - a Corinto, recomendando aos
convertidos" a não se associarem aos homens imorais" (l Cor 9,1; d. 5,9-13). Tempos depois foi informado "por
pessoas da casa de Cloé" da existência de partidos rivais na igreja de Corinto (l Cor 1,12-17). Soube também,
talvez pela mesma fonte, que alguns desafiavam a sua autoridade apostólica (1 Cor 9,1-3). Chegou igualmente
ao seu conhecimento que os irmãos submetiam as suas contendas aos tribunais pagãos, ao invés de as
resolverem entre si mesmos (l Cor 6,1-8), e foi informado a respeito de escândalos na igreja (l Cor 5, 1 ;6,12-
20). Além do que os coríntios, numa carta ao Apóstolo, lhe haviam submetido uma porção de problemas (1 Cor
7,1); esta carta foi provavelmente levada por uma delegação constituída por Estéfanas, Fortunato e Acaico (l
Cor 16,17). As questões em pauta relacionavam-se com os méritos respectivos do matrimônio e da virgindade
(capítulo 7) o uso das carnes oferecidas aos ídolos (capítulos 8-10), e a questão dos carismas (l Cor 7, 1-11,1 ).
Paulo ouvira também falar de desordens nas assembléias do culto, notadamente na celebração da eucaristia
(capítulo 11), e de dúvidas concernentes à ressurreição dos mortos (capitulo 15). A epístola enfrenta os vários
problemas.
28
Segundo Corinto

JUSTIFICAÇAO Pouco depois de escrever 1° Coríntios uma súbita crise exigiu breve e penosa visita de
Paulo a Corinto (2 Cor 1,23-2,1; 12,14; 13,1s). Retomou a Éfeso, prometendo voltar para uma estada mais
prolongada (2Car 1,15 s ); logo, porém, novo incidente, em que a autoridade de Paulo foi, ao que parece,
desconsiderada na pessoa do seu representante (2Cor 2,5-10;7,12), provocou uma "carta severa" (2Cor 2,3s. 9),
que produziu efeito salutar (2Cor 7,8-13). Foi em Macedônia, não muito depois de sua chegada de Éfeso (l Cor
15,22; 2Cor 1,8-10; At 19,23-40), que Paulo recebeu de Tito confortadoras e tranquilizadoras notícias a respeito
(2Cor 2,12s;7,5-16); e de lá, pelos fins de 57 d.C., escreveu 2° Coríntios. Era a quarta vez, pelo menos que ele
escrevera para Corinto; sendo as outras cartas a "carta pré-canônica" (1 Cor 5,9), 1° Coríntios e a "carta severa"
.

Não há nenhuma referência em 2° Coríntios aos problemas levantados em 1° Coríntios; por isso esta carta
parece ter surtido efeito. Quando escreveu 2° Coríntios, Paulo planejava visitar Corinto "pela terceira vez"
(2Cor 12,14; 13,1 ). Chegou, realmente, à cidade em 57 d.C. e passou lá o inverno (At 20,3). A visita
intermediária (2 Cor 13,2) foi curta e penosa - tanto para os coríntios como para Paulo, Essa visita não
restabelecera a ordem em Corinto. A carta severa, escrita "com muitas lágrimas", menciona uma situação que
envolvia "um que injuriou" e "um que sofreu a injúria" (2 Cor 7,12). Não é o caso do incestuoso (1 Cor 5,1-13),
porque as circunstâncias diferem notavelmente. Como sugerimos, parece tratar-se de alguém que desafiara a
autoridade do representante do apóstolo. Os missionários judaizantes tinham chegado (cf. 2 Cor 11,22) - os
"arquiapóstolos" (2 Cor 11,5) ou "falsos apóstolos" (2 Cor 11,13) que se esforçavam por minar o prestígio e a
autoridade de Paulo. O culpado de 2Cor 7,12 era, com toda a certeza, um desses "apóstolos em grau
superlativo". A severa carta de Paulo teve efeito salutar e em 2° Coríntios ele dá largas ao seu alívio, se bem
que os capítulos 10-13 tenham sido ocasionados por informações de nova agitação na comunidade.

Romanos

A IGREJA ROMANA A origem da igreja romana está envolta em obscuridade, mas é indiscutível que os
cristãos se firmaram em Roma nos primeiros tempos da igreja. A fundação de uma igreja nessa cidade não se
deveu, com certeza, à ação missionária planejada. Foi o resultado da migração dos cristãos para a capital do
império. Alguns dos primeiros convertidos deviam ser contados entre os judeus e prosélitos que haviam ouvido
a pregação de Pedro no Pentecostes (At 2). É improvável que o próprio Pedro tivesse sido o fundador da igreja
romana, porque ele parece ter ido para Roma pela primeira vez na década de 50-60 d.C.

Sustentaram alguns que a comunidade romana se compunha sobretudo de elementos judeu-cristãos. Paulo
se dirige a judeus satisfeitos consigo mesmos (Rm 2,17-3,8); estabelece contraste entre a fé e a Lei (Rm 3,21-
31); fala de "Abraão, nosso progenitor segundo a carne" (Rm 4,1); responde às objeções contra sua doutrina de
liberdade em relação à Lei (Rm 6,1-7,6); discorre longamente sobre o destino de Israel (capítulos 9-11); diz-se,
finalmente, que os "fracos" de Rm 14,1-15,13 são judeu-cristãos. A todas essas provas acrescente-se o
importante fato de que a doutrina principal de Romanos é a seguinte: não é a circuncisão e a Lei, mas a fé sem
as obras da Lei que traz a salvação.

Estas indicações, no entanto, por fortes que pareçam, são contrabalançadas por argumentos em favor de
uma predominância numérica de gentio-cristãos. No seu prólogo e em sua conclusão Paulo expressa o desejo de
visitar Roma e insiste na sua vocação de Apóstolo dos Gentios. Dirigindo-se aos romanos chama-os gentio-
cristãos; recebeu de Cristo a missão do apostolado entre as nações, "das quais fazeis parte também vós" (os
romanos) (Rm 1 ,5s). Até o momento fora impedido de visitar Roma, onde gostaria de produzir fruto "como no
resto da gentilidade" (Rm 15,16). Tem plena consciência de serem gentios aqueles a quem se dirige: "E a vós,
gentios, eu digo: enquanto apóstolo dos gentios, eu honro o meu ministério" (Rm 11,13). Estes textos são con-
cludentes. A igreja romana era constituída, na maior parte, de gentio-cristãos; as provas em contrário não
indicam mais que a existência de judeu-cristãos em minoria.

JUSTIFICAÇÃO De há muito nutria Paulo o desejo de visitar Roma. Proclamara o nome de Cristo no
Oriente e, na Europa, até os confins da Ilíria; queria agora pregar no Ocidente, especialmente na Espanha.
Tencionava passar por Roma quando estivesse a caminho da Espanha. Como Apóstolo dos Gentios, estava mais
ansioso que nunca de estabelecer contato com a igreja romana porque, em vista desse apostolado, sua posição de
igreja da capital do império era de suprema importância. Não desejava construir sobre alicerces lançados por
outrem, mas via claramente que as estradas que partiam de Roma para todas as partes do orbís romanus podiam
tornar-se curtas tantas vias de expansão missionária. A epístola aos romanos foi, por conseguinte, escrita a fim de
29
preparar o caminho para a visita de Paulo: desejava que os romanos conhecessem de antemão as linhas mestras
de "seu" evangelho.

AS EPÍSTOLAS DO CATIVEIRO

As quatro cartas - Filipenses, Colossenses, Filemon e Efésios são chamadas "epístolas do cativeiro", porque
Paulo nos informa que as escreveu na prisão (FI 1,7 .12-17; C1 4,3.10 .18; Fm 1,9s.13.23; Ef 3,1;4,1;6,20). 2°
Timóteo, embora tenha sido escrita também durante um período de encarceramento (2Tm 1, 8.16;2,9), é
agrupada com as epístolas pastorais. Sabemos pelos Atos que Paulo esteve preso durante dois anos em Cesaréia,
em 58-60 d.C. (At 23,33-26,32), e novamente em Roma (At 28,16. 30), também por dois anos, ao que parece
(61-63 d.C.). Mas os Atos não fornecem uma descrição completa das atividades missionárias de Paulo e pouco
nos dizem, realmente, da sua visita de três anos a Éfeso. Por este motivo, nestes últimos tempos muitos exegetas
têm postulado um cativeiro do Apóstolo naquela cidade. A hipótese, no entanto, só se aplica mais diretamente a
Filipenses.

Filipenses

A IGREJA FILIPENSE Filipos foi construída por Filipe da Macedônia, pai de Alexandre Magno, no local da
antiga Crenides. Em 42 d.e. tornou-se colônia militar e recebeu de Augusto o título de Colônia Iulia Augusta
Philippensis. Sua população era constituída principalmente de veteranos romanos, e a cidade era administrada à
maneira romana (At 16,21). O elemento judaico vidente mente muito reduzido, uma vez que lá não havia si-
nagogas (At 16,13). Paulo visitou Filipos pela primeira vez em 50 d. C., durante a sua segunda viagem
missionária; fazia-se acompanhar de Silas, Timóteo e Lucas. Parece provável que a primeira comunidade, se
reunia na casa de Lídia, natural de Tiatira na Ásia Menor, que se dedicava com proveito ao comércio da púrpura.
A igreja de Filipos - inevitavelmente, por ser diminuta a população judia - compunha-se sobretudo de gentios
cf.. At 16, W; FI 2,15s;3,3s;4,8s). O Apóstolo tornou a visitar a cidade sua terceira viagem missionária (57 d.C.) -
Lucas tomou conta da comunidade nesse meio tempo - e uma terceira vez, voltando de Corinto (58 d.C.), quando
trouxe Lucas consigo para Jerusalém (At 20,1-6). Depreendemos que a igreja de Filipos era especialmente cara a
Paulo. Essa a razão por que ele fez uma exceção no caso dos filipenses e, abrindo por uma só vez mão da .
independência rigidamente mantida, aceitou deles uma ajuda material (FI 4,16; 2Cor 11,19).

Filemon

Filemon era colossense convertido pelo próprio Paulo (Fm v. 9). Seu escravo Onésimo fugira - levando
alguns bens de seu amo (vv. 15.18) - e veio a conhecer Paulo na prisão (v. 10). O Apóstolo converteu-o. Paulo
quer enviá-lo' de volta ao seu amo (voltará com Tíquico' [CI 4,9]), e lhe dá uma carta para Filemon.

A saudação introdutória (vv. 1-3), como em Colossenses, associa Timóteo a Paulo. Apia e Arquipo são, com
certeza, a esposa e o filho de Filemon. Sabemos que a casa deles era um local de assembléia cristã. O
agradecimento (vv. 4-7) louva a fé e a caridade de Filemon.

No corpo da carta (vv. 8-21), Paulo, “velho e agora também prisioneiro de Cristo Jesus", apela para a
caridade de Filemon em favor de Onésimo, filho espiritual do Apóstolo.

Colossenses

A IGREJA DE COLOSSENSE A cidade de colossas ficava no vale do Lico, cerca de cem milhas à leste de
Éfeso e bem perto de duas cidade mais importantes. Laodicéia e Hierápolis; havia estreito contato entre essas três
cidades vizinhas (Cl 4,15s). É praticamente certo que Paulo nunca visitou essas cidades Icf. Cl 2,1), e que só
conhecia de ouvir as comunidades (Cl 1,4.9), Sabemos que um dicípulo de Paulo, Epafras, natural de Colossas
(Cl 4,12), evangeliza Colossas (Cl 1,7) e Laodicéia (Cl 4,12).

A comunidade de Colossas era predominantemente gentia de origem (Cl 1,21.27;2,13). Sabe-se, por outro
lado que os judeus eram numerosos nessas cidades da Frígia e que aí, como em outros lugares, tentaram sufocar
o crescimento das igrejas. Sua propaganda desencadeara uma crise: um erro perigoso obtivera certa aceitação e
constituía ameaça para a comunidade.
30
Éfeso

Éfeso, capital da província da Ásia, era o centro natural da atividade missionária. Paulo visitou a cidade pela
vez pelos fins de 52 d.C., a caminha de Jerusalém, no término da segunda viagem missionária (At 18,19-21).
Voltou durante a terceira viagem, para uma longa estada de quase três anos (At 19-20). Daqui mandou seus
discípulos a outras cidades da Ásia.

AS EPÍSTOLAS PASTORAIS

As duas cartas a Timóteo e a carta a Tito formam um grupo à parte entre os escritos paulinos; desde o século
XVIII são conhecidas como Epístolas Pastorais. Como todas as três tratam das qualidades e responsabilidades
dos que dirigem e governam o povo cristão, o designativo é feliz. Mas as três epístolas estão intimamente
relacionadas entre si não só pelo objetivo e conteúdo que lhes são comuns, como ainda pelo vocabulário e estilo.
Podemos, pois, tratá-las como um grupo, ao invés de considerá-las individualmente

Primeiro Timóteo

A saudação (1Tm 1,1s), apresenta Paulo como “apóstolo de Jesus Cristo por ordem de Deus, nosso
Salvador”; o título de “Salvador” aplicado a Deus é freqüente no Antigo Testamento e ocorre seis vezes nas
Pastorais (1 Tm 1,1;2,3;4,10;Tt1,3;2,10;3,4). Dirige-se a Timóteo, seu “verdadeiro filho na fé”.

A Timóteo é pedido com insistência para ficar em Éfeso e combater as falsas doutrinas. As "fábulas" e
"genealogias sem fim" que faziam parte das falsas doutrinas são lendas judaicas, baseadas nas narrativas do
Antigo Testamento, e registros genealógicos esmeradamente elaborados, como os que encontramos na literatura
apócrifa; os que pretendiam passar por doutores perdiam-se em suas próprias discussões estéreis. Timóteo devia
inculcar a caridade, a pureza de consciência e a fé sincera (1 Tm 1.3-7). A Lei judaica (deturpada pelos falsos
doutores) é boa, embora limitada ao seu escopo. Sob o seu aspecto penal, ocupa-se com os que infringem a lei, os
que agem de modo contrário à sã doutrina que está em conformidade com o "evangelho de glória" (1 Tm 1,8-11
). A idéia de "sanidade" da doutrina só se encontra nas Pastorais (lTm 1,11;6,3; Tt 1,9.13;2,1.8; 2Tm 1,13;4,3).

Tito

SUMARIO A missão de Paulo, Apóstolo de Jesus Cristo é, por meio de sua pregação, conduzir os eleitos,
pela fé, à vida eterna prometida por Deus no Antigo Testamento.

Recorda-se a Tito que ele fora deixado em Creta para organizar a igreja e que, especificamente, designaria
para esse fim os anciãos das igrejas locais. Enumeram-se as qualidades e deveres de um ancião - um supervisar ("
bispo" ), administrador de Deus; sua preocupação principal é ensinar e defender a sã doutrina (Tt 1,5-9). os falsos
doutores - trata-se, manifestamente, de judeus ou judaizantes - andaram perturbando as comunidades; devem ser
refutados (Tt 1,10-16).

Vem a seguir a série de admoestações a Tito. Em primeiro lugar sua preocupação constante deve ser ensinar
a sã doutrina. Deve instruir os cristãos sobre os seus deveres. Distinguem-se cinco grupos, e dão-se conselhos
específicos para cada um; homens idosos, mulheres idosas, moças, rapazes, escravos (Tt 2, 1-10). O motivo da
conduta cristã é a revelação da graça salvífica de Deus em Cristo. Embora vivam neste mundo, os olhos dos
cristãos estão (ou deviam estar) voltados para a Parusia de "nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo" -
afirmação desassombrada da divindade de Cristo - que por sua morte conquistou para si o novo povo de Deus (Tt
2,11-15).

Em conclusão, Tito é vivamente encorajado a insistir nos pontos para os quais se chamou a sua atenção.
Deve inculcar a prática das boas obras e, por outro lado, evitar controvérsias fúteis e fugir de enredar-se com os
revoltosos (Tt 3,8-11).

Segundo Timóteo

A Timóteo é insistido a reavivar o carisma interior de Deus, a graça da consagração que ele recebeu
quando foi oficialmente investido no ministério apostólico, graça de coragem e poder. É vivamente exortado a
aceitar sua parte de sofrimento pelo evangelho e a suportar com alegria, a exemplo de Paulo, esses sofrimentos
31
(2Tm 1,6-8). Com efeito, Deus não nos chamou por causa de nossas obras, mas livremente, em virtude de sua
graça, agora manifestada através da aparição de nosso Salvador Jesus Cristo, que destruiu a morte e fez brilhar a
vida e a imortalidade (2 Tm 1,9s). Paulo sofre pelo evangelho, mas não se envergonha dos seus sofrimentos
(tampouco deve Timóteo envergonhar-se).

Timóteo recebeu das mãos Paulo o depósito da sã tradição da fé; deve, por sua vez, confiá-lo a homens de
confiança, que a instruirão a outros. Precisa porém, estar preparado para levar no ombro sua parte de sofrimento,
como o soldado ou o atleta, ou ainda como o agricultor, que só ganha a sua recompensa se enfrentar as
exigências da tarefa que tiver em mãos (2Tm 2,1-7). O serviço fiel lhe valerá companhia de Jesus Cristo.
Novamente aponta Paulo o exemplo seus próprios sofrimentos. A passagem remata com a citação (2Tm 2,11-13)
de um hino batismal: no batismo o cristão morre e ressurge com Cristo, mas o sacramento impõe a obrigação de
ser constante e fiel (2Tm 2,8-13).

A parte central da carta (2Tm 2,14-4,5) é dominada pela preocupação com os perigos a que os falsos
doutores e suas falsas doutrinas c injetam na comunidade.

A Carta aos Hebreus

No fim das cartas de Paulo, na Bíblia, encontra-se de repente uma que não traz cabeçalho, nem nome de
autor, e que é, em diversos sentidos, "fora de série": a Carta aos Hebreus. Sua inserção nos escritos de Paulo
deve-se ao capo 13, um apêndice que lembra as "Cartas Pastorais" {6.6.3}. Mas, como se diz brincando: a
Carta de Paulo aos Hebreus não é nem carta, nem de Paulo, nem dirigida aos hebreus ... pois dirige-se a
cristãos. Revelando uma arte literária típica do judeu-helenismo (talvez de Alexandria), é construída com
perfeita simetria em torno à idéia central: Cristo veio como sumo-sacerdote para nos proporcionar, como
mediador, os bens futuros de Deus, e ele nos santificou, não com o sangue dos animais, como se fazia nos
santuários ou no Templo de Israel, mas com seu próprio sangue da cruz, sangue da nova Aliança. É a única
vez que o NT usa a terminologia de "sacerdote", aplicando-a - num sentido peculiar e simbólico - a Cristo, e
não aos que presidem o culto cristão.

Notável é a primeira página, lembrando os muitos modos de Deus falar "aos nossos pais, e ultimamente,
por meio de seu Filho", o Cristo glorificado. Impressionante é também o capo 11, o elogio das testemunhas
da fé através da história, que termina descrevendo os fiéis como os que correm no estádio, admirados por
"uma nuvem de testemunhas" (= mártyres, em grego) (12,1). É obra de um homem de seu tempo, dominando
a cultura judaica e grega - um cristão anônimo...

AS "CARTAS CATÓLICAS"

Por volta de 70 começam a surgir escritos que se dirigem a diversas Igrejas de determinada região ou
mesmo do mundo inteiro. Já vimos um exemplo entre as próprias cartas de Paulo: a Carta aos Efésios.
Veremos agora outras cartas que não se destinam a uma comunidade só, mas a várias ou a todas elas. Por
isso, são chamadas de "Cartas Católicas", ou seja, cartas com destinação universal (gr. katholikós =
"universal"). São as cartas de Tiago, Pedro, Judas e João.

A Carta de Tiago

Em 62, a Igreja-mãe de Jerusalém perde seu líder, Tiago Menor. É por aquele tempo que se deve situar a
Carta de Tiago, talvez o documento mais importante para nos mostrar como os judeu-cristãos interpretavam
o evento-Jesus. Tg se caracteriza pelo tom prático e concreto, próximo da literatura sapiencial do AT.
Colocando-se na perspectiva de Cristo, concentra a ética em torno ao mandamento do amor, chamado de "lei
régia" (2,8), isto é, lei do povo régio da Aliança (cf. Ex 19,6), ou talvez lei do reino de Deus.

Não se percebe em Tg a ruptura entre o sistema judaico e a fé em Cristo, ruptura tão característica das
cartas de Paulo. A comunidade que nesta carta se dirige aos judeu-cristãos da diáspora (1,1) nunca rompeu
com as instituições judaicas. Já que era uma comunidade de circuncisos, ela não precisava, como Paulo,
combater "judaizantes" que quisessem levar os não-judeus a se circuncidarem. Por isso, não convém opor a
Carta de Tiago às cartas de Paulo, como se Tiago defendesse "as obras" e Paulo, "a fé". Ambos falam para
situações e grupos diferentes. Paulo defende o "regime" da fé em. Cristo - fé que realiza suas obras na
caridade (Gl 5,6) - contra a imposição indevida do "regime" das práticas específicas do judaísmo, a
circuncisão, o jejum, etc.; Tiago ensina, a judeu-cristãos que observam espontaneamente os costumes
32
mosaicos, a atuarem com caridade e sem acepção de pessoas, em nome da "fé em nosso Senhor Jesus Cristo
glorificado" (Tg 2,1). No fundo, diz para outro público a mesma coisa que Paulo em GI 5,6!

Para Tiago, Jesus é o Mestre confirmado na glória, por Deus. Jesus nos leva a pôr a caridade em prática e
a não nos contentar com uma profissão de fé da boca para fora (cap. 2). E nos leva também a colocar nossa
confiança em Deus, que Jesus nos ensinou a chamar de Pai. A carta de Tiago está extremamente próxima do
Sermão da Montanha e das sentenças de Jesus que, como vimos {6.4.1}, provavelmente foram memorizadas
e guardadas nas comunidades judeu-cristãs de Jerusalém e da Palestina antes de 66 de.

A Primeira Carta de Pedro

Em 64, o imperador Nero acusa os cristãos de terem incendiado a cidade de Roma e desencadeia uma
perseguição contra eles. O chefe dos Apóstolos, Pedro, que então se encontrava na comunidade cristã de
Roma, morre como mártir. Conserva-se sob o nome de Pedro uma carta que revela a preocupação de um
"pastor supremo" do rebanho de Cristo: a 1 ª Carta de Pedro. Possivelmente se trata de uma coleção de
sermões e admoestações, reunida logo depois da morte do apóstolo, para ser enviada, como testamento
espiritual, às Igrejas do Próximo Oriente (a Ásia Menor, ou a Turquia).

Já o cabeçalho mostra uma característica que permeia a carta toda: a tipologia do êxodo e do exílio dos
israelitas, aplicada aos cristãos. Eles são, como os judeus do AT, "moradores adventícios" na diáspora (1,1;
d. 2,11) ou "migrantes residentes" (2,11). Esta terminologia revela a ótica de Pedro e sua comunidade sobre o
mundo: os fiéis estão no mundo, mas não lhe pertencem. São "estrangeiros residentes", como os israelitas no
Egito, no exílio babilônico, na diáspora, ou como os estrangeiros nas grandes cidades do mundo romano.
Devem construir uma casa uns para os outros na comunidade. Os cristãos não se devem identificar com os
costumes dissolutos do mundo greco-romano, mas viver a sua esperança específica, a "diferença cristã", e
saber dar resposta a quem pergunta pela razão desta esperança (3,15). Insiste na dignidade do batismo, mas
sem ufania; pelo contrário, aconselha uma vida humilde e "obediente", pois, como pequena minoria de
estrangeiros na sociedade, a melhor coisa que os cristãos podem fazer é envergonhar ou até converter os seus
donos pagãos pela sua conduta irrepreensível.

A Carta de Judas

No último quartel do séc. I situa-se também a Carta de Judas. É um escrito um tanto desconcertante para
o leitor moderno. Seu alvo principal são as heresias, aparentemente de tipo gnosticizante, desvalorizando a
vida corporal e, por isso mesmo, abrindo a porta a toda espécie de abusos. O tom da polêmica parece bem
judaico: é um dos últimos traços do judeu-helenismo cristão, antes de ser absorvido pelas correntes maiores
da história da Igreja. A atribuição a Judas, irmão de Tiago - líder da Igreja de Jerusalém - é "marca de casa"
de uma comunidade judeu-cristã. Significativo para a compreensão da história do cristianismo é que esta
carta cita, sem escrúpulos, os escritos apócrifos do judaísmo antigo: o Livro de Henoc, nos w. 14-15, e a
Assunção de Moisés, no v. 9. Estes livros eram de fato muito queridos no judaísmo daquele tempo e faziam
por assim dizer parte do imaginário dos judeu-helenistas, inclusive dos que se tornaram cristãos.

Segunda Carta de Pedro

Talvez seja a 2ª Carta de Pedro um bom exemplo da absorção da tradição judeu-cristã pelas correntes
dominantes do cristianismo, especialmente a corrente liderada pela Igreja de Roma, herdeira da autoridade de
Pedro. A 2Pd parece uma edição ampliada da carta de Judas, porém mais abstrata, no sentido de que serve
para denunciar qualquer heresia; e também, porque escamoteia a alusão de Jd 9 ao livro apócrifo da
Assunção de Moisés (a disputa de Miguel com o diabo pelo corpo de Moisés); de fato, em 2Pd 2,11, essa
frase vira totalmente insossa. Mas o grande interesse da 2Pd - que com a 1Pd tem pouco em comum, a não
ser o nome - é que ela nos mostra o surgimento de uma espécie de "magistério eclesiástico" para coibir as
doutrinas falsas. Como a 2Tm, insiste no valor dos escritos bíblicos, especificamente os profetas (2Pd 1,19-
21) e as cartas de Paulo (3,16): primeiro sinal da "canonização" de escritos do NT {7.1.6}. A 2Pd é situada,
pelos estudiosos modernos, no início do séc. II, sendo provavelmente o último escrito do NT.
33
Escritos de João

O "quarto evangelho"

O Evangelho segundo João, em comparação com os outros, é sui generis. Como se pode ver João não
adota o mesmo esquema cronológico e geográfico dos outros evangelhos. Estes, correspondendo estritamente
ao esquema de At 10,37-43, descrevem uma atividade inicial de Jesus na Galiléia seguida de sua subida a
Jerusalém, onde ele logo entra em conflito e é crucificado. Em Jo, existe um contínuo vaivém de Jesus entre
a Galiléia e a Judéia, uma atividade na Samaria e outros pormenores histórico-geográficos ausentes dos
evangelhos sinóticos. João menciona três festas da páscoa na vida pública de Jesus, os sinóticos uma só; João
coloca a "purificação do Templo" no início (Jo 2,13-22), os sinóticos a colocam na semana da morte, etc.

Também, em vez de narrar breves passagens contendo alguma palavra ou gesto de Jesus, como fazem
normalmente os sinóticos, Jo narra grandes episódios dramaticamente elaborados. Em Jo, Jesus quase não
prega na forma típica de sentenças e parábolas, como nos evangelhos sinóticos, mas em grandes diálogos ou
discursos, um pouco como o Moisés do Deuteronômio (cf. sobretudo Jo 14-17). Jo é, nitidamente, um
evangelho mais reflexivo que os outros. Mas isso não quer dizer que ele deva ser negligenciado quando
tentamos formar uma idéia a respeito da atuação de Jesus. Mesmo se ele for menos que os outros uma
transmissão de fatos particulares, ele pode estar recordando melhor o sentido profundo daquilo que a atuação
de Jesus revelou: a radical união entre Jesus e Deus e o amor-caridade como critério de nosso agir. Parece
que o evangelho de João reforçou com caneta marcadora os traços essenciais da pregação apostólica,
apagando os detalhes ...

O evangelho e as cartas de João situam-se no contexto do fim do séc. I, marcado pela ruptura com a
sinagoga judaica e a crescente discrepância em relação à cultura ambiente. O evangelho mostra um espírito
agressivamente anti-sinagoga (p. ex. Jo 8,12-59; 15,18-16,4;, etc.),e tanto o evangelho como as cartas
combatem o fenômeno da desistência e da ruptura interna. Tanto Jo como 1Jo usam uma linguagem que por
vezes se aproxima da terminologia gnóstica, sobretudo os contrastes luz/trevas, verdade/mentira, vida/morte.
Mas um exame atento mostra que Jo usa esses termos no espírito dos escritos proféticos e sapienciais do AT
e não no sentido esotérico da gnose. Notável é também a terminologia do testemunho, martyria em grego,
que pode sugerir a freqüência do martírio no tempo em que estes escritos viram a luz. Uma datação bastante
precisa pode-se conjeturar a partir das referências à exclusão da sinagoga, em Jo 9,22; 16,3 (e d. 12,42): seria
a época do sínodo judaico de Jâmnia {6.6.1}, provavelmente depois do ano 90. Esta data confirma a antiga
tradição da Igreja dizendo que João escreveu seu evangelho, em idade avançada, pelo fim do séc. 1. Mas
sabe-se hoje em dia que o evangelho percorreu um longo processo de composição. É provável que, antes de
receber sua forma definitiva, ele tenha existido em forma mais breve; sinal disso é que os caps. 15-16
formam uma "duplicata" do discurso de despedida do capo 14, o qual originalmente tinha sua continuação
em 18,1s.

As Cartas

A Primeira Carta de João tem os mesmos acentos: o título de "Palavra" atribuído a Jesus, a insistência na
caridade e na comunhão fraterna, etc. Como o evangelho, pretende confirmar os leitores na fé de que Jesus é
o Cristo e Filho de Deus e na caridade cristã. Os adversários parecem pessoas da própria comunidade que
desistem da fé em Jesus e do amor fraterno.

As Segunda e Terceira Cartas são extremamente breves, mas nos dão uma visão concreta de alguns
problemas na Igreja joanéia, especialmente a marginalização do "presbítero" (= ancião) que a anima com sua
palavra profética (2Jo 1; 3Jo 1).

O Apocalipse

De todos os escritos atribuídos a João, só um traz o nome do autor: o Apocalipse (Ap 1,4). Não se tem
certeza de que este João seja o mesmo ao qual é atribuído o quarto evangelho, mas é certo que não foi a
mesma mão que escreveu os dois livros. O evangelho usa uma linguagem pouco variada e até monótona, mas
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correta, enquanto o Ap demonstra maior variedade, mas parece escrito por alguém que não dominava bem o
idioma grego. Pode-se pensar que o evangelho, destinado a ser lido na Igreja, foi redigido por um escritor
profissional, enquanto o Ap, literatura privada, não passou por este processo.

O conteúdo é muito diferente do evangelho, que quase não demonstra traços apocalípticos (revelações
acerca da intervenção final de Deus na história do mundo), mas insiste em que a fé em Cristo já é a vida
eterna (11,25; d. 5,24, e 1103,14, dizendo o mesmo da caridade). De qualquer modo, é difícil comparar dois
livros de gêneros literários tão diferentes. Por outro lado, Jo e Ap têm em comum algumas coisas que quase
não aparecem no resto do NT e que indicam que ambos pertencem ao mesmo ambiente: os títulos de "Palavra
de Deus" e "Cordeiro" aplicados a Cristo, a teologia do martírio, a referência à "sinagoga de Satanás" (Ap
2,9; 3,9), que quanto à idéia condiz com Jo 8,31-47.

Existe hoje em dia muito abuso na leitura do Ap. Para muitos, é um livro de horrores, ou, pelo menos,
um livro enigmático, ensejando especulações misteriosas ou fanáticas, como p. ex. as identificações da
"besta-fera" (Ap 13,18). Na realidade, não é nada disso. É um livro de exortação dos cristãos na sua vida
ameaçada, por fora, pela perseguição, por dentro, pela infidelidade. Páginas como Ap 2,17; 3,7-13; 21,1-22,5
justificariam para o Ap um apelido análogo ao do 2º Isaías: o "Livro da Consolação da Igreja Perseguida". O
"vidente" do Apocalipse vê a realidade celeste, a vitória do Cordeiro, decisiva e definitiva, enquanto no plano
da história seus seguidores enfrentam o martírio.

Quanto ao gênero literário, o Apocalipse de João deve ser comparado com os escritos apocalípticos do
AT. Todavia, as constantes citações de Jl, Zc, MI, Ez, 2º e 3º Is, e sobretudo de Dn {5.2.2} não são apenas
um indício do mesmo gênero literário. Significam sobretudo que as visões dos antigos profetas estão
encontrando sua realização. O Ap não é, portanto, um livro de futurologia, mas um anúncio da vitória do
Enviado de Deus (o Cordeiro) na plenitude do tempo, que já se inaugurou com a vinda de Jesus.

Capítulo II

CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA

1 - INTRODUÇÃO

POR QUE A LITURGIA?

1066. No Símbolo da Fé, a Igreja confessa o mistério da Santíssima Trindade e seu "desígnio
benevolente" (Ef 1,9) sobre toda a criação: o Pai realiza o "mistério de sua vontade" entregando seu Filho
bem-amado e seu Espírito para a salvação do mundo e para a glória de seu nome. Este é o mistério de Cristo,
revelado e realizado na história segundo um plano, uma "disposição" sabiamente ordenada que São Paulo
denomina "a realização do mistério" (Ef 3,9) e que a tradição patrística chamará de "Economia do Verbo
Encarnado" ou "a Economia da Salvação".
1067. "Esta obra da redenção humana e da perfeita glorificação de Deus, da qual foram prelúdio as
maravilhas divinas operadas no povo do Antigo Testamento, completou-a Cristo Senhor, principalmente pelo
mistério pascal de sua bem-aventurada paixão, ressurreição dos mortos e gloriosa ascensão. Por este mistério,
Cristo, 'morrendo, destruiu nossa morte, e ressuscitando, recuperou nossa vida'. Pois do lado de Cristo
adormecido na cruz nasceu o admirável sacramento de toda a Igreja." Esta é a razão pela qual, na liturgia, a
Igreja celebra principalmente o mistério pascal pelo qual Cristo realizou a obra da nossa salvação.
1068. E este mistério de Cristo que a Igreja anuncia e celebra em sua liturgia, a fim de que os fiéis vivam
e dêem testemunho dele no mundo:

Com efeito, a liturgia, pela qual, principalmente no divino sacrifício da Eucaristia, "se exerce a obra de
nossa redenção", contribui do modo mais excelente para que os fiéis, em sua vida, exprimam e manifestem
aos outros o mistério de Cristo e a genuína natureza da verdadeira Igreja.

QUE SIGNIFICA A PALAVRA LITURGIA?

1069. A palavra "liturgia" significa originalmente "obra pública", "serviço da parte do povo e em favor
do povo". Na tradição cristã. ela quer significar que O povo de Deus toma parte na "obra de Deus". Pela
35
liturgia, Cristo, nosso redentor e sumo sacerdote, continua em sua Igreja, com ela e por ela, a obra de nossa
redenção.
1070. A palavra "liturgia" no Novo Testamento é empregada para designar não somente a celebração do
culto divino, mas também o anúncio do Evangelho e a caridade em ato. Em todas essas situações, trata-se do
serviço de Deus e dos homens. Na celebração litúrgica, a Igreja é serva à imagem do seu Senhor, o único
"liturgo", participando de seu sacerdócio (culto) profético (anúncio) e régio (serviço de caridade):

Com razão, portanto, a liturgia é tida como o exercício do múnus sacerdotal de Jesus Cristo, no qual,
mediante sinais sensíveis, é significada e, de modo peculiar a cada sinal, realizada a santificação do homem,
e é exercido o culto público integral pelo Corpo Místico de Cristo, cabeça e membros. Disto se segue que
toda a celebração litúrgica, como obra de Cristo sacerdote e de seu corpo que é a Igreja, é ação sagrada por
excelência, cuja eficácia, no mesmo titulo e grau, não é igualada por nenhuma outra ação da Igreja.

A LITURGIA COMO FONTE DE VIDA

1071. Além de ser obra de Cristo, a liturgia é também uma ação de sua Igreja. Ela realiza e manifesta a
Igreja corno sinal visível da comunhão entre Deus e os homens por meio de Cristo. Empenha os fiéis na vida
nova da comunidade. Implica uma participação "consciente, ativa e frutuosa" de todos.
1072. "A liturgia não esgota toda a ação da Igreja": ela tem de ser precedida pela evangelização, pela fé e
pela conversão; pode então produzir seus frutos na vida dos fiéis: a vida nova segundo o Espírito, o
compromisso com a missão da Igreja e o serviço de sua unidade.

ORAÇÃO E LITURGIA

1073. A liturgia é também participação da oração de Cristo, dirigida ao Pai no Espírito Santo Nela, toda
oração cristã encontra sua fonte e seu termo. Pela liturgia, o homem interior é enraizado e fundado no
"grande amor com, o qual o Pai nos amou" (Ef 2,4) em seu Filho bem-amado. E a mesma "maravilha de
Deus" que é vivida e interiorizada por toda oração, "em todo tempo, no Espírito" (Ef 6,18).

CATEQUESE E LITURGIA

1074. "A liturgia é o ápice para o qual tende a ação da Igreja, e ao mesmo tempo é a fonte donde emana
toda a sua força." Ela é, portanto, o lugar privilegiado da catequese do povo de Deus. "A catequese está
intrinsecamente ligada a toda ação litúrgica e sacramental, pois é nos sacramentos, e sobretudo na Eucaristia,
que Cristo Jesus age em plenitude para a transformação dos homens."
1075. A catequese litúrgica tem em vista introduzir no mistério de Cristo (ela é "mistagogia"),
procedendo do visível para o invisível, do significaste para o significado, dos "sacramentos" para os
"mistérios". Tal catequese é da competência dos catecismos locais e regionais. O presente Catecismo, que
pretende servir para a Igreja inteira, na diversidade de seus ritos e de suas culturas, apresentará o que é
fundamental e comum a toda a Igreja no tocante à liturgia como mistério e como celebração (Seção I), e em
seguida os sete sacramentos e os sacramentais (Seção II.).

A ECONOMIA SACRAMENTAL

1076. No dia de Pentecostes, pela efusão do Espírito Santo, a Igreja é manifestada ao mundo. O dom do
Espírito inaugura um tempo novo na "dispensação do mistério": o tempo da Igreja, durante o qual Cristo
manifesta, toma presente e comunica sua obra de salvação pela liturgia de sua Igreja, "até que ele venha" (1
Cor 11,26). Durante este tempo da Igreja, Cristo vive e age em sua Igreja e com ela de forma nova, própria
deste tempo novo. Age pelos sacramentos; é isto que a Tradição comum do Oriente e do Ocidente chama de
"economia sacramental"; esta consiste na comunicação (ou "dispensação") dos frutos do Mistério Pascal de
Cristo na celebração da liturgia "sacramental" da Igreja. Por isso, importa ilustrar primeiro esta "dispensação
sacramental" (Capítulo I). Assim aparecerão com mais clareza a natureza e os aspectos essenciais da
celebração litúrgica (Capítulo II.).

2 - O MISTÉRIO PASCAL NO TEMPO DA IGREJA

2.1 -A LITURGIA.

OBRA DA SANTÍSSIMA TRINDADE


36
I. O Pai, fonte e fim da liturgia

1077. "Bendito seja o Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, que nos abençoou com toda sorte de
bênçãos espirituais, nos céus, em Cristo. Nele escolheu-nos antes da fundação do mundo para sermos santos
e irrepreensíveis diante dele no amor. Ele nos predestinou para sermos seus filhos adotivos por Jesus Cristo,
conforme o beneplácito de sua vontade, para louvor e glória de sua graça, com a qual ele nos agraciou no
Bem-amado" (Ef 1,3-6).
1078. Abençoar é uma ação divina que dá a vida e da qual o Pai é a fonte. Sua bênção é ao mesmo tempo
palavra e dom (benedictio, eulogia, pronuncie "euloguia"). Aplicado ao homem, esse termo significar a
adoração e a entrega a seu criador, na ação de graças.
1079. Desde o início até a consumação dos tempos, toda a obra de Deus é bênção. Desde o poema
litúrgico da primeira criação até os cânticos da Jerusalém celeste os autores inspirados anunciam o projeto de
salvação como uma imensa bênção divina.
1080. Desde o começo, Deus abençoa os seres vivos, especialmente o homem e a mulher. A aliança com
Noé e com todos os seres animados renova esta bênção de fecundidade, apesar do pecado do homem, por
causa do qual a terra é "amaldiçoada". Mas é a partir de Abra o que a bênção divina penetra a história dos
homens, que caminhava para a morte, para fazê-la retomar à vida, à sua fonte: pela fé do "pai dos crentes"
que acolhe a bênção, inaugura-se a história da salvação.
1081. As bênçãos divinas manifestam-se em eventos impressionantes e salvadores: o nascimento de
Isaac, a saída do Egito (Páscoa e Êxodo), o dom da Terra Prometida, a eleição de Davi, a presença de Deus
no templo, o exílio purificador e o retomo de um "pequeno resto". A lei, os profetas e os salmos, que tecem a
liturgia do povo eleito, lembram essas bênçãos divinas e ao mesmo tempo lhes respondem mediante as
bênçãos de louvor e de ação de graças.
1082. Na liturgia da Igreja, a bênção divina é plenamente revelada e comunicada: o Pai é reconhecido e
adorado como a fonte e o fim de todas as bênçãos da criação e da salvação; em seu Verbo, encarnado, morto
e ressuscitado por nós, ele nos cumula com suas bênçãos, e por meio dele derrama em nossos corações o dom
que contém todos os dons: o Espírito Santo
1083. Compreende-se então a dupla dimensão da liturgia cristã como resposta de fé e de amor às
"bênçãos espirituais" com as quais o Pai nos presenteia. Por um lado, a Igreja, unida a seu Senhor e "sob a
ação do Espírito Santo", bendiz o Pai "por seu dom inefável" (2Cor 9,15) mediante a adoração, o louvor e a
ação de graças. Por outro lado, e até a consumação do projeto de Deus, a Igreja não cessa de oferecer ao Pai
"a oferenda de seus próprios dons" e de implorar que Ele envie o Espírito Santo sobre a oferta, sobre si
mesma, sobre os fiéis e sobre o mundo inteiro, a fim de que pela comunhão com a morte e a ressurreição de
Cristo Sacerdote e pelo poder do Espírito estas bênçãos divinas produzam frutos de vida "para louvor e glória
de sua graça" (Ef 1,6).

II. A obra de Cristo na liturgia

CRISTO GLORIFICADO...

1084. "Sentado à direita do Pai" e derramando o Espírito Santo em seu Corpo que é a Igreja, Cristo age
agora pelos sacramentos, instituídos por Ele para comunicar sua graça. Os sacramentos são sinais sensíveis
(palavras e ações), acessíveis à nossa humanidade atual. Realizam eficazmente a graça que significam em
virtude da ação de Cristo e pelo poder do Espírito Santo
1085. Na liturgia da Igreja, Cristo significa e realiza principalmente seu mistério pascal. Durante sua vida
terrestre, Jesus anunciava seu Mistério pascal por seu ensinamento e o antecipava por seus atos. Quando
chegou sua hora, viveu o único evento da história que não passa: Jesus morre, é sepultado, ressuscita dentre
os mortos e está sentado à direita do Pai "uma vez por todas" (Rm 6,10; Hb 7,27; 9,12). É um evento real,
acontecido em nossa história, mas é único: todos os outros eventos da história acontecem uma vez e depois
passam, engolidos pelo passado. O Mistério pascal de Cristo, ao contrário, não pode ficar somente no
passado, já que por sua morte destruiu a morte, e tudo o que Cristo é, fez e sofreu por todos os homens
participa da eternidade divina, e por isso abraça todos os tempos e nele se mantém presente. O evento da cruz
e da ressurreição permanece e atrai tudo para a vida.

... A PARTIR DA IGREJA DOS APÓSTOLOS...

1086. "Assim como Cristo foi enviado pelo Pai, da mesma forma Ele mesmo enviou os apóstolos, cheios
do Espírito Santo, não só para pregarem o Evangelho a toda criatura, anunciarem que o Filho de Deus, por
sua Morte e Ressurreição, nos libertou do poder de Satanás e da morte e nos transferiu para o reino do Pai,
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mas ainda para levarem a efeito o que anunciavam: a obra da salvação por meio do sacrifício e dos
sacramentos, em tomo dos quais gravita toda a vida litúrgica."
1087. Dessa forma, Cristo ressuscitado, ao dar o Espírito Santo aos Apóstolos, confia-lhes seu poder de
santificação: eles tomam-se assim sinais sacramentais de Cristo. Pelo poder do mesmo Espírito Santo, os
Apóstolos confiam este poder a seus sucessores. Esta "sucessão apostólica" estrutura toda a vida litúrgica da
Igreja; ela mesma é sacramental, transmitida pelo sacramento da ordem.

... ESTA PRESENTE NA LITURGIA TERRESTRE...

1088. "Para levar a efeito tão grande obra" a saber, a dispensação ou comunicação de sua obra de
salvação" Cristo está sempre presente em sua Igreja, sobretudo nas ações litúrgicas. Presente está no
sacrifício da missa, tanto na pessoa do ministro, pois 'aquele que agora oferece pelo ministério dos sacerdotes
é o mesmo que outrora se ofereceu na cruz', quanto sobretudo sob as espécies eucarísticas. Presente está por
sua força nos sacramentos, a tal ponto que, quando alguém batiza, é Cristo mesmo que batiza. Presente está
por sua palavra, pois é ele mesmo quem fala quando se lêem as Sagradas Escrituras na Igreja. Presente está,
finalmente, quando a Igreja reza e salmodia, ele que prometeu: 'Onde dois ou três estiverem reunidos em meu
nome, aí estarei no meio deles' (Mt 18,20)."
1089. "Na realização de tão grande obra, por meio da qual Deus é perfeitamente glorificado e os homens
são santificados, Cristo sempre associa a si a Igreja, sua esposa direitíssima, que o invoca como seu Senhor e
por ele presta culto ao eterno Pai.

... QUE PARTICIPA DA LITURGIA CELESTE...

1090. "Na liturgia terrestre, antegozando participamos (já) da liturgia celeste, que se celebra na cidade
santa de Jerusalém, para a qual, na qualidade de peregrinos, caminhamos. Lá, Cristo está sentado à direita de
Deus, ministro do santuário e do tabernáculo verdadeiro; com toda a milícia do exército celestial cantamos
um hino de glória ao Senhor e, venerando a memória dos santos, esperamos fazer parte da sociedade deles;
suspiramos pelo Salvador, Nosso Senhor Jesus Cristo, até que ele, nossa vida, se manifeste e nós apareçamos
com ele na glória."

III. O Espírito Santo e a Igreja na liturgia

1091. Na liturgia, o Espírito Santo é o pedagogo da fé do povo de Deus, o artífice das "obras-primas de
Deus", que são os sacramentos da nova aliança. O desejo e a obra do Espírito no coração da Igreja é que
vivamos da vida de Cristo ressuscitado. Quando encontra em nós a resposta de fé que ele mesmo suscitou,
realiza-se uma verdadeira cooperação. Por meio dela a liturgia se toma a obra comum do Espírito Santo e da
Igreja.
1092. Nesta comunicação sacramental do mistério de Cristo, o Espírito age da mesma forma que nos
outros tempos da economia da salvação: prepara a Igreja para encontrar seu Senhor, recorda e manifesta
Cristo à fé da assembléia, torna presente e atualiza o mistério de Cristo por seu poder transformador e,
finalmente, como Espírito de comunhão, une a Igreja à vida e à missão de Cristo.

O ESPÍRITO SANTO PREPARA PARA ACOLHER A CRISTO

1093. Na economia sacramental o Espírito Santo leva à realização as figuras da antiga aliança. Visto que
a Igreja de Cristo estava "admiravelmente preparada na história do Povo de Israel e na Antiga Aliança", a
liturgia da Igreja conserva como parte integrante e insubstituível - tomando-os seus – alguns elementos do
culto da Antiga Aliança:
- principalmente a leitura do Antigo Testamento;
- a oração dos Salmos;
- e sobretudo a memória dos eventos salvadores e das realidades significativas que encontraram sua
realização no Mistério de Cristo (a Promessa e a Aliança, o Êxodo e a Páscoa, o Reino e o Templo, o exílio e
a volta).
1094. É em tomo desta harmonia dos dois Testamentos que se articula a catequese pascal do Senhor, e
posteriormente a dos Apóstolos e dos Padres da Igreja. Esta catequese desvenda O que permanecia escondido
sob a letra do Antigo Testamento: o mistério de Cristo. Ela é denominada "tipológica" porque revela a
novidade de Cristo a partir das "figuras" (tipos) que a anunciavam nos fatos, nas palavras e nos símbolos da
primeira aliança. Por esta releitura no Espírito de verdade a partir de Cristo, as figuras são desveladas. Assim,
o dilúvio e a arca de Noé prefiguravam a salvação pelo Batismo, o mesmo acontecendo com a nuvem e a
38
travessia do Mar Vermelho, e a água do rochedo era a figura dos dons espirituais de Cristo; o maná do
deserto prefigurava a Eucaristia, "o verdadeiro Pão do Céu" (Jo 6,32).
1095. É por isso que a Igreja, particularmente no advento, na quaresma e sobretudo na noite de Páscoa,
relê e revive todos esses grandes acontecimentos da história da salvação no "hoje" de sua liturgia. Mas isso
exige também que a catequese ajude os fiéis a se abrirem a esta compreensão "espiritual" da economia da
salvação, tal como a liturgia da Igreja a manifesta e no-la faz viver.
1096. Liturgia judaica e liturgia cristã. Um conhecimento mais aprimorado da fé e da vida religiosa do
povo judaico, tais como são professadas e vividas ainda hoje, pode ajudar a compreender melhor certos
aspectos da liturgia cristã. Para os judeus e para os cristãos, a Sagrada Escritura é uma parte essencial de suas
liturgias: para a proclamação da Palavra de Deus, a resposta a esta palavra, a oração de louvor e de
intercessão pelos vivos e pelos mortos, o recurso à misericórdia divina. A Liturgia da palavra, em sua
estrutura própria, tem sua origem na oração judaica. A Oração das horas, bem como outros textos e
formulários litúrgicos, tem seus paralelos na oração judaica, o mesmo acontecendo com as próprias fórmulas
de nossas orações mais veneráveis, entre elas o Pai-Nosso. Também as orações eucarísticas inspiram-se em
modelos da tradição judaica. As relações entre liturgia judaica e liturgia cristã mas também a diferença de
seus conteúdos são particularmente visíveis nas grandes festas do ano litúrgico, como a Páscoa. Cristãos e
judeus celebram a Páscoa; Páscoa da história, orientada para o futuro, entre os judeus; Páscoa realizada na
morte e na Ressurreição de Cristo, entre os cristãos, ainda que sempre à espera da consumação definitiva.
1097. Na liturgia da nova aliança, toda ação litúrgica, especialmente a celebração da Eucaristia e dos
sacramentos, é um encontro entre Cristo e a Igreja. A assembléia litúrgica tira sua unidade da "comunhão do
Espírito Santo", que congrega os filhos de Deus no único corpo de Cristo. Ela ultrapassa as afinidades
humanas, raciais, culturais e sociais.
1098. A assembléia deve se preparar para se encontrar com seu Senhor, deve ser "um povo bem-
disposto". Essa preparação dos corações é obra comum do Espírito Santo e da assembléia, em particular de
seus ministros. A graça do Espírito Santo procura despertar a fé, a conversão do coração e a adesão à vontade
do Pai. Essas disposições constituem pressupostos para receber as outras graças oferecidas na própria
celebração e para os frutos de vida nova que ela está destinada a produzir posteriormente.

O ESPÍRITO SANTO RECORDA O MISTÉRIO DE CRISTO

1099. O Espírito e a Igreja cooperam para manifestar o Cristo e sua obra de salvação na liturgia.
Principalmente na Eucaristia, e analogicamente nos demais sacramentos, a liturgia é memorial do Mistério da
Salvação. O Espírito Santo é a memória viva da Igreja.
1100. A Palavra de Deus. O Espírito Santo recorda primeiro à assembléia litúrgica o sentido do evento da
salvação, dando vida à Palavra de Deus, que é anunciada para ser recebida e vivida:

Na celebração da liturgia é máxima a importância da Sagrada Escritura, pois dela são tirados os textos
que se lêem e que são explicados na homília e os salmos cantados. E de sua inspiração e bafejo que surgiram
as preces, as orações e os hinos litúrgicos. E é dela também que as ações e os símbolos tiram sua
significação.

1101. É o Espírito Santo que dá aos leitores e aos ouvintes, segundo as disposições de seus corações, a
compreensão espiritual da Palavra de Deus. Por meio das palavras, das ações e dos símbolos que formam a
trama de uma celebração, o Espírito põe os fiéis e os ministros em relação viva com Cristo, palavra e imagem
do Pai, a fim de que possam fazer passar à sua vida o sentido daquilo que ouvem, contemplam e fazem na
celebração.
1102. "E a palavra da salvação que alimenta a fé no coração dos cristãos: é ela que faz nascer e dá
crescimento à comunhão dos cristãos." O anúncio da Palavra de Deus não se limita a um ensinamento: quer
suscitar a resposta da fé, como consentimento e compromisso, em vista da aliança entre Deus e seu povo. E
ainda o Espírito Santo que dá a graça da fé, que a fortifica e a faz crescer na comunidade. A assembléia
litúrgica é primeiramente comunhão na fé.
1103. A anamnese. A celebração litúrgica refere-se sempre às intervenções salvíficas de Deus na
história. "A economia da revelação concretiza-se por meio das ações e das palavras intimamente
interligadas.(...) As palavras proclamam as obras e elucidam o mistério nelas contido." Na liturgia da palavra,
o Espírito Santo "recorda" à assembléia tudo o que Cristo fez por nós. Segundo a natureza das ações
litúrgicas e as tradições rituais das Igrejas, uma celebração "faz memória" das maravilhas de Deus em uma
anamnese mais ou menos desenvolvida. O Espírito Santo, que desperta assim a memória da Igreja, suscita
então a ação de graças e o louvor (doxologia).
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O ESPÍRITO SANTO ATUALIZA O MISTÉRIO DE CRISTO

1104. A liturgia cristã não somente recorda os acontecimentos que nos salvaram, como também os
atualiza, toma-os presentes. O mistério pascal de Cristo é celebrado, não é repetido; o que se repete são as
celebrações; em cada uma delas sobrevêm a efusão do Espírito Santo que atualiza o único mistério.
1105. A epiclese ("invocação sobre") é a intercessão na qual o sacerdote suplica ao Pai que envie o
Espírito Santificador para que as oferendas se tornem o Corpo e o Sangue de Cristo, e para que ao recebê-los
os fiéis se tomem eles mesmos uma oferenda viva a Deus.
1106. Juntamente com a anamnese, a epiclese está no cerne de cada celebração sacramental, mais
especialmente da Eucaristia:

Perguntas como o pão se converte no Corpo de Cristo e o vinho em Sangue de Cristo. Respondo-te: o
Espírito Santo irrompe e realiza aquilo que ultrapassa toda palavra e todo pensamento... Basta-te saber que
isso acontece por obra do Espírito Santo, do mesmo modo que, da Santíssima Virgem e pelo mesmo Espírito
Santo, o Senhor por si mesmo e em si mesmo assumiu a carne.

1107. O poder transformador do Espírito Santo na liturgia apressa a vinda do Reino e a consumação do
mistério da salvação. Na expectativa e na esperança ele nos faz realmente antecipar a comunhão plena da
Santíssima Trindade. Enviado pelo Pai que ouve a epiclese da Igreja, o Espírito dá a vida aos que o acolhem
e constitui para eles, desde já, "o penhor" de sua herança.

A COMUNHÃO DO ESPÍRITO SANTO

1108. O fim da missão do Espírito Santo em toda a ação litúrgica é colocar-se em comunhão com Cristo
para formar seu corpo. O Espírito Santo é como que a seiva da videira do Pai que produz seus frutos nos
ramos. Na liturgia realiza-se a cooperação mais íntima entre o Espírito Santo e a Igreja. Ele, o Espírito de
comunhão, permanece indefectivelmente na Igreja, e é por isso que a Igreja é o grande sacramento da
Comunhão divina que congrega os filhos de Deus dispersos. O fruto do Espírito na liturgia é
inseparavelmente comunhão com a Santíssima Trindade e comunhão fraterna entre os irmãos.
1109. A epiclese é também a oração para o efeito pleno da comunhão da assembléia com o mistério de
Cristo. "A graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus Pai e a comunhão do Espírito Santo" (2Cor
13,13) devem permanecer sempre conosco e produzir frutos para além da celebração eucarística. A Igreja
pede, pois, ao Pai que envie o Espírito Santo para que faça da vida dos fiéis uma oferenda viva a Deus por
meio da transformação espiritual à imagem de Cristo, (por meio) da preocupação pela unidade da Igreja e da
participação da sua missão pelo testemunho e pelo serviço da caridade.

RESUMINDO

1110. Na liturgia da Igreja, Deus Pai é bendito e adorado como a fonte de todas as bênçãos da criação e
da salvação, com as quais nos abençoou em seu Filho, para dar-nos o Espírito da adoção filial.
1111. A obra de Cristo na liturgia é sacramental porque seu mistério de salvação se torna presente nela
mediante o poder de seu Espírito Santo; porque seu corpo, que é a Igreja, é como que o sacramento (sinal e
instrumento) no qual o Espírito Santo dispensa o mistério da salvação; porque por meio de suas ações
litúrgicas a Igreja peregrina já participa, por antecipação, da liturgia celeste.
1112. A missão do Espírito Santo na liturgia da Igreja é preparar a assembléia para encontrar-se com
Cristo; recordar e manifestar Cristo à fé da assembléia; tornar presente e atualizar a obra salvífica de
Cristo por seu poder transformador e fazer frutificar o dom da comunhão na Igreja.

2.2 - O MISTÉRIO PASCAL NOS SACRAMENTOS DA IGREJA

1113. Toda a vida litúrgica da Igreja gravita em tomo do sacrifício eucarístico e dos sacramentos. Há na
Igreja sete sacramentos: o Batismo, a Confirmação ou Crisma, a Eucaristia, a Penitência, a Unção dos
Enfermos, a Ordem, o Matrimônio. No presente artigo trataremos daquilo que é comum, do ponto de vista
doutrinal, aos sete sacramentos da Igreja. O que lhes é comum sob o aspecto da celebração será exposto no
Capítulo II, e o que é próprio de cada um deles será objeto da Seção II.
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I. Os sacramentos de Cristo

1114. "Fiéis à doutrina das Sagradas Escrituras, às tradições apostólicas (...) e ao sentimento unânime dos
Padres", professamos que "os sacramentos da nova lei foram todos instituídos por Nosso Senhor Jesus
Cristo".
1115. As palavras e as ações de Jesus durante sua vida oculta e durante seu ministério público já eram
salvíficas. Antecipavam o poder de seu mistério pascal. Anunciavam e preparavam O que iria dar à Igreja
quando tudo fosse realizado. Os mistérios da vida de Cristo são os fundamentos daquilo que agora, por meio
dos ministros de sua Igreja, Cristo dispensa nos sacramentos, pois "aquilo que era visível em nosso Salvador
passou para seus mistérios".
1116. Os sacramentos são "forças que saem" do corpo de Cristo, sempre vivo e vivificante; são ações do
Espírito Santo Operante no corpo de Cristo, que é a Igreja; são "as obras-primas de Deus" na Nova e Eterna
Aliança.

II. Os sacramentos da Igreja

1117. Graças ao Espírito Santo que a conduz à "verdade plena" (Jo 16,13), a Igreja reconheceu pouco a
pouco este tesouro recebido de Jesus e precisou sua "dispensação", tal como o fez com o cânon das Sagradas
Escrituras e com a doutrina da fé, qual fiel dispensadora dos mistérios de Deus. Assim, ao longo dos séculos,
a Igreja foi discernindo que entre suas celebrações litúrgicas existem sete que são, no sentido próprio da
palavra, sacramentos instituídos pelo Senhor.
1118. Os sacramentos são "da Igreja" no duplo sentido de que existem "por meio dela" e "para ela". São
"por meio da Igreja", pois esta é o sacramento da ação de Cristo operando em seu seio graças à missão do
Espírito Santo E são "para a Igreja", pois são esses "sacramentos que fazem a Igreja"; com efeito, manifestam
e comunicam aos homens, sobretudo na Eucaristia, o mistério da comunhão do Deus amor, uno em três
pessoas.
1119. Formando com Cristo-Cabeça "como que uma única pessoa mística", a Igreja age nos sacramentos
como "comunidade sacerdotal", "organicamente estruturada". Pelo Batismo e pela Confirmação, o povo
sacerdotal é capacitado a celebrar a liturgia; por outro lado, certos fiéis, "revestidos de uma ordem sagrada,
são instituídos em nome de Cristo para apascentar a Igreja por meio da palavra e da graça de Deus".
1120. O ministério ordenado ou sacerdócio ministerial está a serviço do sacerdócio batismal. Garante
que, nos sacramentos, é Cristo que age pelo Espírito Santo para a Igreja. A missão de salvação confiada pelo
Pai a seu Filho encarnado é confiada aos apóstolos e, por meio deles, a seus sucessores: recebem o Espírito
de Jesus para agir em seu nome e em sua pessoa. Assim, o ministro ordenado é o elo sacramental que liga a
ação litúrgica àquilo que disseram e fizeram os apóstolos, e, por meio destes, ao que disse e fez Cristo, fonte
e fundamento dos sacramentos.
1121. Os sacramentos do Batismo, da Confirmação e da Ordem conferem, além da graça, um caráter
sacramental ou "selo" pelo qual o cristão participa do sacerdócio de Cristo e faz parte da Igreja segundo
estados e funções diversas. Esta configuração com Cristo e com a Igreja, realizada pelo Espírito, é indelével,
permanece para sempre no cristão como disposição positiva para a graça, como promessa e garantia da
proteção divina e como vocação ao culto divino e ao serviço da Igreja. Por isso estes sacramentos nunca
podem ser reiterados.

III. Os sacramentos da fé

1122. Cristo enviou seus apóstolos para que "em seu Nome fosse proclamado a todas as nações. O
arrependimento para a remissão dos pecados" (Lc 24,47). "Fazei que todos os povos se tornem discípulos,
batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo" (Mt 28,19). A missão de batizar, portanto a
missão sacramental, está implícita na missão de evangelizar, pois o sacramento é preparado pela Palavra de
Deus e pela fé, que é assentimento a esta Palavra:

O povo de Deus congrega-se antes de mais nada pela Palavra do Deus vivo. (...) A proclamação da
Palavra é indispensável ao ministério sacramental, pois se trata dos sacramentos da fé, e esta nasce e se
alimenta da Palavra.

1123. "Os sacramentos destinam-se à santificação dos homens, à edificação do Corpo de Cristo e ainda
ao culto a ser prestado a Deus. Sendo sinais, destinam-se também à instrução. Não só supõem a fé, mas por
palavras e coisas também a alimentam, a fortalecem e a exprimem. Por esta razão são chamados sacramentos
da fé."
1124. A fé da Igreja é anterior à fé do fiel, que é convidado a aderir a ela. Quando a Igreja celebra os
sacramentos, confessa a fé recebida dos apóstolos. Daí o adágio antigo: lex orandi, lex credendi ("a lei da
oração é a lei da fé") (ou então: legem credendi, lex statuat supplicandia lei do que suplica estabeleça a lei do
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que crê, segundo Próspero de Aquitânia [século V]). A lei da oração é a lei da fé, ou seja: a Igreja traduz em
sua profissão de fé aquilo que expressa em sua oração. A liturgia é um elemento constitutivo da santa e viva
Tradição.
1125. E por isso que nenhum rito sacramental pode ser modificado ou manipulado ao arbítrio do ministro
ou da comunidade. Nem mesmo a suprema autoridade da Igreja pode alterar a Liturgia ao seu arbítrio, mas
somente na obediência da fé e no religioso respeito do Mistério da Liturgia.
1126. De resto, visto que os sacramentos exprimem e desenvolvem a comunhão de fé na Igreja, a lex
orandi é um dos critérios essenciais do diálogo que busca restaurar a unidade dos cristãos.

IV. Sacramentos da salvação

1127. Celebrados dignamente na fé, os sacramentos conferem a graça que significam. São eficazes
porque neles age o próprio Cristo; é ele quem batiza, é ele quem atua em seus sacramentos, a fim de
comunicar a graça significada pelo sacramento. O Pai sempre atende à oração da Igreja de seu Filho, a qual,
na epiclese de cada sacramento, exprime sua fé no poder do Espírito. Assim como o fogo transforma nele
mesmo tudo o que toca, o Espírito Santo transforma em vida divina o que é submetido ao seu poder.
1128. Este é o sentido da afirmação da Igreja: os sacramentos atuam ex opere operato (literalmente: "pelo
próprio fato de a ação ser realizada"), isto é, em virtude da obra salvífica de Cristo, realizada uma vez por
todas. Daí segue-se que "o sacramento não é realizado pela justiça do homem que o confere ou o recebe, mas
pelo poder de Deus". A partir de momento em que um sacramento é celebrado em conformidade com a
intenção da Igreja, o poder de Cristo e de seu Espírito agem nele e por ele, independentemente da santidade
pessoal do ministro. Contudo, os frutos dos sacramentos dependem também das disposições de quem os
recebe.
1129. A Igreja afirma que para os crentes os sacramentos da nova aliança são necessários à salvação. A
"graça sacramental" é a graça do Espírito Santo dada por Cristo e peculiar a cada sacramento. O Espírito cura
e transforma os que o recebem, conformando-os com o Filho de Deus. O fruto da vida sacramental é que o
Espírito de adoção deifica os fiéis unindo-os vitalmente ao Filho único, o Salvador.

V. Os sacramentos da Vida Eterna

1130. A Igreja celebra o mistério de seu Senhor "até que Ele venha" e até que "Deus seja tudo em todos"
(1 Cor 11,26; 15,28). Desde a era apostólica a liturgia é atraída para seu termo (meta final) pelo gemido do
Espírito na Igreja: "Maranathá!" (Palavras aramaicas que significam: "O Senhor vem") (1 Cor 16,22). A
liturgia participa assim do desejo de Jesus: "Desejei ardentemente comer esta páscoa convosco (...) até que
ela se cumpra no Reino de Deus" (Lc 22,15-16). Nos sacramentos de Cristo, a Igreja já recebe o penhor da
herança dele, já participa da Vida Eterna, embora ainda "aguarde a bendita esperança, a manifestação da
glória de nosso grande Deus e Salvador, Cristo Jesus" (Tt 2,13). "O Espírito e a esposa dizem: Vem! (...)
Vem, Senhor Jesus!" (Ap 22,17.20).

Santo Tomás resume assim as diversas dimensões do sinal sacramental: "Daí que o sacramento é um
sinal rememorativo daquilo que antecedeu, isto é, a Paixão de Cristo; e demonstrativo daquilo que em nós é
realizado pela Paixão de Cristo, a saber, a graça; e prenunciador, isto é, que prenuncia a glória futura".

RESUMINDO

1131. Os sacramentos são sinais eficazes da graça, instituídos por Cristo e confiados à Igreja, por meio
dos quais nos é dispensada a vida divina. Os ritos visíveis sob os quais os sacra- mentos são celebrados
significam e realizam as graças próprias de cada sacramento. Produzem fruto naqueles que os recebem com
as disposições exigidas.
1132. A Igreja celebra os sacramentos como comunidade sacerdotal estruturada pelo sacerdócio
batismal e pelo dos ministros ordenados.
1133. O Espírito Santo prepara para a recepção dos sacramentos por meio da Palavra de Deus e da fé
que acolhe a Palavra nos corações bem dispostos. Então, os sacramentos fortalecem e exprimem a fé.
1134. O fruto da vida sacramental é ao mesmo tempo pessoal e eclesial. Por um lado, este fruto é para
cada fiel uma vida para Deus em Cristo Jesus; por outro, é para a Igreja crescimento na caridade e em sua
missão de testemunho.
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3 - A CELEBRAÇÃO SACRAMENTAL DO MISTÉRIO PASCAL

1135. A catequese da liturgia implica primeiramente a compreensão da economia sacramental (Capítulo


1). À sua luz revela-se a novidade de sua celebração. No presente capítulo, portanto, tratar-se-á da celebração
dos sacramentos da Igreja. Considerar-se-á - aquilo que, pela diversidade das tradições litúrgicas, é comum à
celebração dos sete sacramentos; o que é próprio de cada um deles ser apresentado mais adiante. Esta
catequese fundamental das celebrações sacramentais responder às questões primordiais que os fiéis levantam
a este respeito:
- Quem celebra?
- Como celebrar?
- Quando celebrar?
- Onde celebrar?

3.1 -CELEBRAR A LITURGIA DA IGREJA

I. Quem celebra?

1136. A liturgia é "ação" do "Cristo todo" ("Christus totus"). Os que desde agora a celebram, para além
dos sinais, já estão na liturgia celeste, em que a celebração é toda festa e comunhão.

OS CELEBRANTES DA LITURGIA CELESTE

1137. O Apocalipse de São João, lido na liturgia da Igreja, revela-nos primeiramente "um trono no céu e,
no trono, alguém sentado": "o Senhor Deus" (Is 6,1). Em seguida, o Cordeiro, "imolado e de pé" (Ap 5,6):
Cristo crucificado e ressuscitado, o único sumo sacerdote do verdadeiro santuário, o mesmo "que oferece e é
oferecido, que dá e que é dado". Finalmente, "o rio de água da vida (...) que saía do trono de Deus e do
Cordeiro" (Ap 22,1), um dos mais belos símbolos do Espírito Santo
1138. "Recapitulados" em Cristo, participam do serviço do louvor a Deus e da realização de seu
desígnio: as potências celestes, a criação inteira (os quatro viventes), os servidores da antiga e da nova
aliança (os vinte e quatro anciãos), o novo povo de Deus (os cento e quarenta e quatro mil), em especial os
mártires "imolados por causa da Palavra de Deus" (Ap 6,9) e a Santa Mãe de Deus (a mulher; a Esposa do
Cordeiro), e finalmente "uma multidão imensa, impossível de se enumerar, de toda nação, raça, povo e
língua" (Ap 7,9).
1139. É dessa liturgia eterna que O Espírito e a Igreja nos fazem participar quando celebramos o mistério
da salvação nos sacramentos.

OS CELEBRANTES DA LITURGIA SACRAMENTAL

1140. É toda a comunidade, o corpo de Cristo unido à sua Cabeça, que celebra. "As ações litúrgicas não
são ações privadas, mas celebrações da Igreja, que é o 'sacramento da unidade', isto é, o povo santo, unido e
ordenado sob a direção dos Bispos. Por isso, estas celebrações pertencem a todo o corpo da Igreja, influem
sobre ele e o manifestam; mas atingem a cada um de seus membros de modo diferente, conforme a
diversidade de ordens, ofícios e da participação atual efetiva." É por isso que "todas as vezes que os ritos, de
acordo com sua própria natureza, admitem uma celebração comunitária, com assistência e participação ativa
dos fiéis, seja inculcado que na medida do possível, ela deve ser preferida à celebração individual ou quase
privada".
1141. A assembléia que celebra é a comunidade dos batizados, os quais, "pela regeneração e unção do
Espírito Santo, são consagrados para serem casa espiritual e sacerdócio santo e para poderem oferecer um
sacrifício espiritual toda atividade humana do cristão". Este "sacerdócio comum" é o de Cristo, único
sacerdote, participado por todos os seus membros:

A mãe Igreja deseja ardentemente que todos os fiéis sejam levados àquela plena, consciente e ativa
participação nas celebrações litúrgicas que a própria natureza da liturgia exige e à qual, por força do batismo,
o povo cristão, "geração escolhida, sacerdócio régio, gente santa, povo de conquista" (1 Pd 2,9), tem direito e
obrigação.

1142. Mas "os membros não têm todos a mesma função" (Rm 12,4). Certos membros são chamados por
Deus, na e pela Igreja, a um serviço especial da comunidade. Tais servidores são escolhidos e consagrados
pelo sacramento da ordem, por meio do qual o Espírito Santo os torna aptos a agir na pessoa de Cristo-
Cabeça para o serviço de todos os membros da Igreja. O ministro ordenado é como o ícone de Cristo
Sacerdote. Já que o sacramento da Igreja se manifesta plenamente na Eucaristia, é na presidência da
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Eucaristia que o ministério do Bispo aparece primeiro, e, em comunhão com ele, o dos presbíteros e dos
diáconos.
1143. No intuito de servir às funções do sacerdócio comum dos fiéis, existem também outros ministérios
particulares, não consagrados pelo sacramento da ordem, e cuja função é determinada pelos bispos de acordo
com as tradições litúrgicas e as necessidades pastorais. "Também os ajudantes, os leitores, os comentaristas e
os membros do coral desempenham um verdadeiro ministério litúrgico."
1144. Assim, na celebração dos sacramentos, a assembléia inteira é o "liturgo", cada um segundo sua
função, mas na "unidade do Espírito", que age em todos. "Nas celebrações litúrgicas, cada qual, ministro ou
fiel, ao desempenhar sua função, faça tudo e só aquilo que pela natureza da coisa ou pelas normas litúrgicas
lhe compete."

II. Como celebrar?

SINAIS E SÍMBOLOS

1145. Uma celebração sacramental é tecida de sinais e de símbolos. Segundo a pedagogia divina da
salvação, o significado dos sinais e símbolos deita raízes na obra da criação e na cultura humana, adquire
precisão nos eventos da antiga aliança e se revela plenamente na pessoa e na obra de Cristo.
1146. Sinais do mundo dos homens. Na vida humana, sinais e símbolos ocupam um lugar importante.
Sendo o homem um ser ao mesmo tempo corporal e espiritual, exprime e percebe as realidades espirituais
por meio de sinais e de símbolos materiais. Como ser social, o homem precisa de sinais e de símbolos para
comunicar-se com os outros, pela linguagem, por gestos, por ações. Vale o mesmo para sua relação com
Deus.
1147. Deus fala ao homem por intermédio da criação visível. O cosmos material apresenta-se à
inteligência do homem para que este leia nele os vestígios de seu criador. A luz e a noite, o vento e o fogo, a
água e a terra, a árvore e os frutos falam de Deus, simbolizam ao mesmo tempo a grandeza e a proximidade
dele.
1148. Enquanto criaturas, essas realidades sensíveis podem tornar-se o lugar de expressão da ação de
Deus que santifica os homens, e da ação dos homens que prestam seu culto a Deus. Acontece o mesmo com
os sinais e os símbolos da vida social dos homens: lavar e ungir, partir o pão e partilhar o cálice podem
exprimir a presença santificante de Deus e a gratidão do homem diante de seu criador.
1149. As grandes religiões da humanidade atestam, muitas vezes de maneira impressionante, este sentido
cósmico e simbólico dos ritos religiosos. A liturgia da Igreja pressupõe, integra e santifica elementos da
criação e da cultura humana conferindo-lhes a dignidade de sinais da graça, da nova criação em Jesus Cristo.
1150. Sinais da aliança. O povo eleito recebe de Deus sinais e símbolos distintivos que marcam sua vida
litúrgica: estes não mais são apenas celebrações de ciclos cósmicos e gestos sociais, mas sinais da aliança,
símbolos das grandes obras realizadas por Deus em favor de seu povo. Entre tais sinais litúrgicos da antiga
aliança podemos mencionar a circuncisão, a unção e a consagração dos reis e dos sacerdotes, a imposição das
mãos, os sacrifícios, e sobretudo a Páscoa. A Igreja vê nesses sinais uma prefiguração dos sacramentos da
Nova Aliança.
1151. Sinais assumidos por Cristo. Em sua pregação, o Senhor Jesus serve-se muitas vezes dos sinais da
criação para dar a conhecer os mistérios do Reino de Deus. Realiza suas curas ou sublinha sua pregação com
sinais materiais ou gestos simbólicos. Dá um sentido novo aos fatos e aos sinais da Antiga Aliança,
particularmente ao Êxodo e à Páscoa, por ser ele mesmo o sentido de todos esses sinais.
1152. Sinais sacramentais. Desde Pentecostes, é por meio dos sinais sacramentais de sua Igreja que o
Espírito Santo realiza a santificação. Os sacramentos da Igreja não abolem, antes purificam e integram toda a
riqueza dos sinais e dos símbolos do cosmos e da vida social. Além disso, realizam os tipos e as figuras da
antiga aliança, significam e realizam a salvação operada por Cristo, e prefiguram e antecipam a glória do céu.

PALAVRAS E AÇÕES

1153. Uma celebração sacramental é um encontro dos filhos de Deus com seu Pai, em Cristo e no
Espírito Santo, e este encontro se exprime como um diálogo, mediante ações e palavras. Sem dúvida, as
ações simbólicas já são em si mesmas uma linguagem, mas é preciso que a Palavra de Deus e a resposta de fé
acompanhem e vivifiquem estas ações para que a semente do Reino produza seu fruto na terra fértil. As ações
litúrgicas significam o que a Palavra de Deus exprime: a iniciativa gratuita de Deus e ao mesmo tempo a
resposta de fé de seu povo.
1154. A liturgia da palavra é parte integrante das celebrações sacramentais. Para alimentar a fé dos fiéis,
os sinais da Palavra de Deus precisam ser valorizados: o livro da palavra (lecionário ou evangeliário), sua
veneração (procissão, incenso, luz), o lugar de onde é anunciado (ambão), sua leitura audível e inteligível, a
homilia do ministro que prolonga sua proclamação, as respostas da assembléia (aclamações, salmos de
meditação, ladainhas, profissão de fé...).
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1155. Inseparáveis enquanto sinais e ensinamento, a palavra e a ação litúrgicas são indissociáveis
também enquanto realizam o que significam. O Espírito Santo não somente dá a compreensão da Palavra de
Deus suscitando a fé; pelos sacramentos ele realiza também as "maravilhas" de Deus anunciadas pela
palavra: torna presente e comunica a obra do Pai realizada pelo Filho bem-amado.

CANTO E MÚSICA

1156. "A tradição musical da Igreja universal constitui um tesouro de valor inestimável que se destaca
entre as demais expressões de arte, principalmente porque o canto sacro, ligado às palavras, é parte
necessária ou integrante da liturgia solene." A composição e o canto dos salmos inspirados, com freqüência
acompanhados por instrumentos musicais, já aparecem intimamente ligados às celebrações litúrgicas da
antiga aliança. A Igreja continua e desenvolve esta tradição: Recital "uns com os outros salmos, hinos e
cânticos espirituais, cantando e louvando ao Senhor em vosso coração" (Ef. 5,19) . "Quem canta reza duas
vezes."
1157. O canto e a música desempenham sua função de sinais de maneira tanto mais significativa por
"estarem intimamente ligados à ação litúrgica", segundo três critérios principais: a beleza expressiva da
oração, a participação unânime da assembléia nos momentos previstos e o caráter solene da celebração.
Participam assim da finalidade das palavras e das ações litúrgicas: a glória de Deus e a santificação dos fiéis:

Quanto chorei ouvindo vossos hinos, vossos cânticos, os acentos suaves que ecoavam em vossa Igreja!
Que emoção me causavam! Fluíam em meu ouvido, destilando a verdade em meu coração. Um grande elã de
piedade me elevava, e as lágrimas corriam-me pela face, mas me faziam bem.

1158. A harmonia dos sinais (canto, música, palavras e ações) é aqui mais expressiva e fecunda por
exprimir-se na riqueza cultural própria do povo de Deus que celebra? Por isso, o "canto religioso popular ser
inteligentemente incentivado a fim de que as vozes dos fiéis possam ressoar nos pios e sagrados exercícios e
nas próprias ações litúrgicas, de acordo com as normas e prescrições das rubricas. Todavia, "os textos
destinados ao canto sacro hão de ser conformes à doutrina católica, sendo até tirados de preferência das
Sagradas Escrituras e das fontes litúrgicas.

AS SANTAS IMAGENS

1159. A imagem sacra, o ícone litúrgico, representa principalmente Cristo. Ela não pode representar o
Deus invisível e incompreensível; é a encarnação do Filho de Deus que inaugurou uma nova "economia" das
imagens:

Antigamente Deus, que não tem nem corpo nem aparência, não podia em absoluto ser representado por
uma imagem. Mas agora que se mostrou na carne e viveu com os homens posso fazer uma imagem daquilo
que vi de Deus. (...) Com o rosto descoberto, contemplamos a glória do Senhor.

1160. A iconografia cristã transcreve pela imagem a mensagem evangélica que a Sagrada Escritura
transmite pela palavra. Imagem e palavra iluminam-se mutuamente:

Para proferir sucintamente nossa profissão de fé, conservamos todas as tradições da Igreja, escritas ou
não-escritas, que nos têm sido transmitidas sem alteração. Uma delas é a representação pictórica das
imagens, que concorda com a pregação da história evangélica, crendo que, de verdade e não na aparência, o
Verbo de Deus se fez homem, o que é também útil e proveitoso, pois as coisas que se iluminam mutuamente
têm sem dúvida um significado recíproco.

1161. Todos os sinais da celebração litúrgica são relativos a Cristo: são-no também as imagens sacras da
santa mãe de Deus e dos santos. Significam o Cristo que é glorificado neles. Manifestam "a nuvem de
testemunhas" (Hb 12,1) que continuam a participar da salvação do mundo e às quais estamos unidos,
sobretudo na celebração sacramental. Por meio de seus ícones, revela-se à nossa fé o homem criado "à
imagem de Deus" e transfigurado "à sua semelhança", assim como os anjos, também recapitulados em Cristo:

Na trilha da doutrina divinamente inspirada de nossos santos Padres e da tradição da Igreja católica, que
sabemos ser a tradição do Espírito Santo que habita nela, definimos com toda certeza e acerto que as
veneráveis e santas imagens, bem como as representações da cruz preciosa e vivificante, sejam elas pintadas,
de mosaico ou de qualquer outra matéria apropriada, devem ser colocadas nas santas igrejas de Deus, sobre
os utensílios e as vestes sacras, sobre paredes e em quadros, nas casas e nos caminhos, tanto a imagem de
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Nosso Senhor, Deus e Salvador, Jesus Cristo, como a de Nossa Senhora, a puríssima e santíssima mãe de
Deus, dos santos anjos, de todos os santos e dos justos.

1162. "A beleza e a cor das imagens estimulam minha oração. É uma festa para os meus olhos, tanto
quanto o espetáculo do campo estimula meu coração a dar glória a Deus." A contemplação dos ícones santos,
associada à meditação da Palavra de Deus e ao canto dos hinos litúrgicos, entra na harmonia dos sinais da
celebração para que o mistério celebrado se grave na memória do coração e se exprima em seguida na vida
nova dos fiéis.

III. Quando celebrar?

O TEMPO LITÚRGICO

1163. "A santa mãe Igreja julga seu dever celebrar com piedosa recordação, em certos dias fixos no
decurso do ano, a obra salvífica de seu divino esposo. Em cada semana, no dia que ela passou a chamar 'dia
do Senhor', recorda a ressurreição do Senhor, celebrando-a uma vez por ano, juntamente com sua sagrada
paixão, na solenidade máxima da Páscoa. E desdobra todo o mistério de Cristo durante o ciclo do ano (...)
Recordando assim os mistérios da Redenção, franqueia aos fiéis as riquezas das virtudes e dos méritos de seu
Senhor, de maneira a torná-los como que presentes o tempo todo, para que os fiéis entrem em contato com
eles e sejam repletos da graça da salvação."
1164. O povo de Deus, desde a lei mosaica, conheceu festas fixas a partir da páscoa para comemorar as
ações admiráveis do Deus salvador, dar-lhe graças por elas, perpetuar-lhes a lembrança e ensinar às novas
gerações a conformar sua conduta com elas. Na era da Igreja, situada entre a páscoa de Cristo, já realizada
uma vez por todas, e a consumação dela no Reino de Deus, a liturgia celebrada em dias fixos está toda
impregnada da novidade do mistério de Cristo.
1165. Quando celebra o mistério de Cristo, há uma palavra que marca a oração da Igreja: hoje!, fazendo
eco à oração que seu Senhor lhe ensinou e o apelo do Espírito Santo'. Este "hoje" do Deus vivo em que O
homem é chamado a entrar é "a hora"; da Páscoa de Jesus que atravessa e leva toda a história:

A vida estendeu-se sobre todos os seres, e todos ficam repletos de uma generosa luz; o Oriente dos
orientes invadiu o universo, e aquele que era "antes da estrela da manhã" e antes dos astros, imortal e imenso,
o grande Cristo brilha sobre todos os seres mais que o sol! É por isso que, para nós que cremos nele, se
instaura um dia de luz, longo, eterno, que não se apaga: a páscoa mística'.

O DIA DO SENHOR

1166. "Devido à tradição apostólica que tem origem no próprio dia da ressurreição de Cristo, a Igreja
celebra o mistério pascal a cada oitavo dia, no dia chamado com razão o dia do Senhor ou domingo. " O dia
da ressurreição de Cristo é ao mesmo tempo "o primeiro dia da semana", memorial do primeiro dia da
criação, e o "oitavo dia", em que Cristo, depois de seu "repouso" do grande sábado, inaugura o dia "que O
Senhor fez", o "dia que não conhece ocaso". A "Ceia do Senhor" é seu centro, pois é aqui que toda a
comunidade dos fiéis se encontra com o Senhor ressuscitado, que Os convida a seu banquete:

O dia do Senhor, o dia da ressurreição, o dia dos cristãos, é o nosso dia. E por isso que ele se chama dia
do Senhor: pois foi nesse dia que o Senhor subiu vitorioso para junto do Pai. Se os pagãos o denominam dia
do sol, também nós o confessamos de bom grado: pois hoje levantou-se a luz do mundo, hoje apareceu o sol
de justiça cujos raios trazem a salvação.

1167. O domingo é o dia por excelência da assembléia litúrgica, em que os fiéis se reúnem "para,
ouvindo a Palavra de Deus e participando da Eucaristia, lembrarem-se da paixão, ressurreição e glória do
Senhor Jesus, e darem graças a Deus que os 'regenerou para a viva esperança, pela ressurreição de Jesus
Cristo de entre os mortos"

Quando meditamos, ó Cristo, as maravilhas que foram operadas neste dia de domingo de vossa
santa ressurreição, dizemos: Bendito é o dia do domingo, pois foi nele que se deu o começo da criação
(...) a salvação do mundo (...) a renovação do gênero humano.(...) E nele que o céu e a terra
rejubilaram e que o universo inteiro foi repleto de luz. Bendito é o dia do domingo, pois nele foram
abertas as portas do paraíso para que Adão e todos os banidos entrem nele sem medo.
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O ANO LITÚRGICO

1168. Partindo do tríduo pascal, como de sua fonte de luz, o tempo novo da Ressurreição enche todo o
ano litúrgico com sua claridade. Aproximando-se progressivamente de ambas as vertentes desta fonte, o ano
é transfigurado pela liturgia. É realmente "ano de graça do Senhor". A economia da salvação está em ação
moldura do tempo, mas desde a sua realização na Páscoa de Jesus e a efusão do Espírito Santo o fim da
história é antecipado, "em antegozo", e o Reino de Deus penetra nosso tempo.
1169. Por isso, a páscoa não é simplesmente uma festa entre outras: é a "festa das festas", "solenidade
das solenidades", como a Eucaristia é o sacramento dos sacramentos (o grande sacramento). Santo Atanásio a
denomina "o grande domingo como a semana santa é chamada no Oriente "a grande semana". O mistério da
ressurreição, no qual Cristo esmagou a morte, penetra nosso velho tempo com sua poderosa energia até que
tudo lhe seja submetido.
1170. No Concílio de Nicéia (em 325), todas as Igrejas chegaram a um acordo acerca de que a páscoa
cristã fosse celebrada no domingo que segue a lua cheia (14 Nisan) depois do equinócio de primavera. Por
causa dos diversos métodos utilizados para calcular o dia 14 de mês de Nisan, o dia da Páscoa nem sempre
ocorre simultaneamente nas Igrejas ocidentais e orientais. Por isso busca-se um acordo, a fim de se chegar
novamente a celebrar em uma data comum o dia da Ressurreição do Senhor.
1171. O ano litúrgico é o desdobramento dos diversos aspectos do único mistério pascal. Isto vale muito
particularmente para o ciclo das festas em tomo do mistério da encarnação (Anunciação, Natal, Epifania) que
comemoram o começo de nossa salvação e nos comunicam as primícias do Mistério da Páscoa.

O SANTORAL NO ANO LITÚRGICO

1172. "Ao celebrar o ciclo anual dos mistérios de Cristo, a santa Igreja venera com particular amor a
bem-aventurada mãe de Deus, Maria, que por um vínculo indissolúvel está unida à obra salvífica de seu
Filho; em Maria a Igreja admira e exalta o mais excelente fruto da redenção e a contempla com alegria como
puríssima imagem do que ela própria anseia e espera ser em sua totalidade."
1173. Quando, no ciclo anual, a Igreja faz memória dos mártires e dos outros santos, "proclama o
mistério pascal" naqueles e naquelas "que sofreram com Cristo e estão glorificados com ele, e propõe seu
exemplo aos fiéis para que atraia todos ao Pai por Cristo e, por seus méritos, impetra os benefícios de Deus"

A LITURGIA DAS HORAS

1174. O Mistério de Cristo, sua Encarnação e sua Páscoa, que celebramos na Eucaristia, especialmente
na assembléia dominical, penetra e transfigura o tempo de cada dia pela celebração da Liturgia das Horas, "o
Ofício Divino" Esta celebração, em fidelidade às recomendações apostólicas de "orar sem cessar", "está
constituída de tal modo que todo o curso do dia e da noite seja consagrado pelo louvor de Deus" Ela constitui
"a oração pública da Igreja", na qual os fiéis (clérigos, religiosos e leigos) exercem o sacerdócio régio dos
batizados. Celebrada "segundo a forma aprovada" pela Igreja, a Liturgia das Horas "é verdadeiramente a voz
da própria esposa que fala com o esposo, e é até a oração de Cristo, com seu corpo, ao Pai".
1175. A Liturgia das Horas é destinada a tornar-se a oração de todo o povo de Deus. Nela, o próprio
Cristo "continua a exercer sua função sacerdotal por meio de sua Igreja"; cada um participa dela segundo seu
lugar próprio na Igreja e segundo as circunstâncias de sua vida: os presbíteros, enquanto dedicados ao
ministério da palavra; os religiosos e as religiosas, pelo carisma de sua vida consagrada; todos os fiéis,
segundo suas possibilidades: "Os pastores de almas cuidarão que as horas principais, especialmente as
vésperas, nos domingos e dias festivos mais solenes, sejam celebradas comunitariamente na Igreja.
Recomenda-se que os próprios leigos recitem o Ofício divino, ou juntamente com os presbíteros, ou reunidos
entre si, e até cada um individualmente".
1176. Celebrar a Liturgia das Horas exige não somente que se harmonize a voz com o coração que reza,
mas também "que se adquira um conhecimento litúrgico e bíblico mais rico, principalmente dos Salmos".
1177. Os hinos e as ladainhas da Oração das Horas inserem a oração dos salmos no tempo da Igreja,
exprimindo o simbolismo do momento do dia, do tempo litúrgico ou da festa celebrada. Além disso, a leitura
da Palavra de Deus a cada hora (com os responsos ou os tropários que vêm depois dela) e, em certas horas, as
leituras dos Padres da Igreja e dos mestres espirituais revelam mais profundamente o sentido do mistério
celebrado, ajudam na compreensão dos salmos e preparam para a oração silenciosa. A lectio divina, em que a
Palavra de Deus é lida e meditada para tornar-se oração, está assim enraizada na celebração litúrgica.
1178. A Liturgia das Horas, que é como que um prolongamento da celebração eucarística, não exclui,
mas requer de maneira complementar as diversas devoções do Povo de Deus, particularmente a adoração e o
culto do Santíssimo Sacramento.
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IV. Onde celebrar?

1179. Oculto "em espírito e em verdade" (Jo 4,24) da nova aliança não está ligado a um lugar exclusivo.
A terra inteira é santa e foi entregue aos filhos dos homens. O que ocupa lugar primordial quando os fiéis se
congregam em um mesmo lugar são as "pedras vivas" reunidas para "a construção de um edifício espiritual"
(1 Pd 2,5). O Corpo de Cristo ressuscitado é o templo espiritual do qual jorra a fonte de água viva.
Incorporados a Cristo pelo Espírito Santo, "nós é que somos o templo do Deus vivo" (2Cor 6,16).
1180. Quando o exercício da liberdade religiosa não sofre entraves, os cristãos constróem edifícios
destinados ao culto divino. Essas igrejas visíveis não são simples lugares de reunião, mas significam e
manifestam a Igreja viva neste lugar, morada de Deus com os homens reconciliados e unidos em Cristo.
1181. "A casa de oração onde a Eucaristia é celebrada e conservada, onde os fiéis se reúnem, onde a
presença do Filho de Deus (Jesus, Nosso Salvador, o qual se ofereceu por nós no altar do sacrifício) é
honrada para auxílio e consolação dos cristãos deve ser bela e adequada para a oração e as celebrações
religiosas." Nesta "casa de Deus", a verdade e a harmonia dos sinais que a constituem devem manifestar o
Cristo que está presente e age neste 1ugar:
1182. O altar da nova aliança é a cruz do Senhor, da qual brotam os sacramentos do mistério pascal.
Sobre o altar, que é o centro da igreja, se faz presente o Sacrifício da Cruz sob os sinais sacramentais. Ele é
também a mesa do Senhor, para a qual o povo de Deus é convidado. Em certas liturgias orientais, o altar é
também o símbolo do sepulcro (Cristo morreu de verdade e ressuscitou de verdade).
1183. O tabernáculo (ou sacrário) deve estar localizado "nas igrejas em um dos lugares mais dignos, com
o máximo decoro". A nobreza, a disposição e a segurança do tabernáculo eucarístico devem favorecer a
adoração do Senhor realmente presente no Santíssimo Sacramento do altar.

O Santo Crisma (Mýron = perfume líquido) que, usado na unção, é sinal sacramental do selo do
dom do Espírito Santo, é tradicionalmente conservado e venerado em um lugar seguro da igreja. Perto
dele pode-se colocar o óleo dos catecúmenos e o dos enfermos.

1184. A cadeira (cátedra) do Bispo ou do presbítero "deve exprimir a função daquele que preside a
assembléia e dirige a oração". O ambão. "A dignidade da Palavra de Deus exige que exista na igreja um lugar
que favoreça o anúncio desta Palavra e para o qual, durante a liturgia da Palavra, se volta espontaneamente a
atenção dos fiéis."
1185. O congraçamento do povo de Deus começa pelo Batismo; por isso, a igreja deve ter um lugar para
a celebração do Batismo (batistério) e fazer com que o povo lembre as promessas feitas na celebração do
Batismo. (O persignar-se com água benta faz lembrar o Batismo.)

A renovação da vida batismal exige a penitência. Por isso, a Igreja deve prestar-se à expressão do
arrependimento e ao recebimento do perdão, o que exige um lugar apropriado para acolher os
penitentes.

A igreja deve também ser um espaço que convide ao recolhimento e à oração silenciosa, que
prolongue e interiorize a grande oração da Eucaristia.

1186. Finalmente, a igreja tem um significado escatológico. Para entrar na casa de Deus, é preciso
atravessar um limiar, símbolo da passagem do mundo ferido pelo pecado para o mundo da vida nova ao qual
todos os homens são chamados. A igreja visível simboliza a casa paterna para a qual o povo de Deus está a
caminho e na qual o Pai "enxugará toda lágrima de seus olhos" (Ap 21,4). Por isso, a igreja também é a casa
de todos os filhos de Deus, amplamente aberta e acolhedora.

RESUMINDO

1187. A liturgia é a obra do Cristo inteiro, cabeça e corpo. Nosso Sumo Sacerdote a celebra sem cessar
na liturgia celeste, com a santa mãe de Deus, os apóstolos, todos os santos e a multidão dos que já entraram
no Reino.
1188. Em sua celebração litúrgica, a assembléia inteira desempenha o papel de "liturgo", cada um
segundo sua junção. O sacerdócio batismal é o de todo o corpo de Cristo. Mas certos fiéis são ordenados
pelo sacramento da Ordem para representar Cristo como cabeça do corpo.
1189. A celebração litúrgica comporta sinais e símbolos que se referem à criação (luz, água, fogo), à
vida humana (lavar, ungir, partir o pão) e à história da salvação (os ritos da Páscoa). Inseridos no mundo
da fé e assumidos pela força do Espírito Santo, esses elementos cósmicos, esses ritos humanos, esses gestos
memoriais de Deus se tornam portadores da ação salvadora e santificadora de Cristo.
1190. A Liturgia da Palavra é uma parte integrante da celebração. O sentido da celebração é expresso
pela Palavra de Deus que e anunciada e pelo compromisso da fé que ela exige como resposta.
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1191. O canto e a música guardam uma conexão íntima com a ação litúrgica. Critérios de seu bom uso:
a beleza expressiva da oração, a participação unânime da assembléia e o caráter sagrado da celebração.
1192. As santas imagens, presentes em nossas igrejas e em nossas casas, destinam-se a despertar e a
alimentar nossa fé no mistério de Cristo. Por meio do ícone de Cristo e de suas obras salvíficas, é a ele que
adoramos. Mediante as santas imagens da santa mãe de Deus, dos anjos e dos santos, veneramos as pessoas
nelas representadas.
1193. O domingo, "dia do Senhor", é o dia principal da celebração da Eucaristia por ser o dia da
ressurreição. É o dia da assembléia litúrgica por excelência, o dia da família cristã, o dia da alegria e do
descanso do trabalho. O domingo é "o fundamento e o núcleo do ano litúrgico".
1194. A Igreja "apresenta todo o mistério de Cristo durante o ciclo do ano, desde a Encarnação e o
Natal até a Ascensão, até o dia de Pentecostes e até a expectativa da feliz esperança e do retorno do
Senhor".
1195. Celebrando a memória dos santos, primeiramente da Santa Mãe de Deus, em seguida dos
apóstolos, dos mártires e dos outros santos, em dias fixos do ano litúrgico, a Igreja manifesta que está unida
à Liturgia Celeste; glorifica a Cristo por ter realizado sua salvação em seus membros glorificados. O
exemplo delas e deles a estimula em seu caminho para o Pai.
1196. Os fiéis que celebram a Liturgia das Horas unem-se a Cristo, nosso Sumo Sacerdote, por meio da
oração dos salmos, da meditação da Palavra de Deus, de cânticos e bênçãos, a fim de serem associados à
oração incessante e universal dele, que dá glória ao Pai e implora o dom do Espírito Santo sobre o mundo
inteiro.
1197. Cristo é o verdadeiro templo de Deus, "o lugar em que reside a sua glória"; pela graça de Deus,
também os cristãos se tornam templos do Espírito Santo, pedras vivas com as quais é construída a Igreja.
1198. Em sua condição terrestre, a Igreja precisa de lugares onde a comunidade possa reunir-se: esses
lugares são as nossas igrejas visíveis, lugares santos, imagens da Cidade Santa, a Jerusalém Celeste para a
qual caminhamos como peregrinos.
1199. E nessas igrejas que a Igreja celebra o culto público para a glória da Santíssima Trindade; é
nelas que ouve a Palavra de Deus e canta seus louvores, que eleva sua oração e que oferece o sacrifício de
Cristo, sacramentalmente presente no meio da assembléia. Essas igrejas são também locais de recolhimento
e de oração pessoal.

3.2 -DIVERSIDADE LITÚRGICA E UNIDADE DO MISTÉRIO

TRADIÇÕES LITÚRGICAS E CATOLICIDADE DA IGREJA

1200. Desde a primeira comunidade de Jerusalém até a parusia, o mesmo mistério pascal é celebrado, em
todo lugar, pelas Igrejas de Deus fiéis à fé apostólica. O mistério celebrado na liturgia é um só, mas as formas
de sua celebração são diversas.
1201. A riqueza insondável do mistério de Cristo é tal que nenhuma liturgia é capaz de esgotar sua
expressão. A história do surgimento e do desenvolvimento desses ritos atesta uma complementaridade
surpreendente. Quando as Igrejas viveram essas tradições litúrgicas em comunhão na fé e nos sacramentos da
fé, enriqueceram-se mutuamente e cresceram na fidelidade à tradição e à missão comum à Igreja toda.
1202. As diversas tradições litúrgicas surgiram justamente em razão da missão da Igreja. As Igrejas de
uma mesma área geográfica e cultural acabaram celebrando o mistério de Cristo com expressões particulares
tipificadas culturalmente: na tradição do "depósito da fé", no simbolismo litúrgico, na organização da
comunhão fraterna, na compreensão teológica dos mistérios e nos tipos de santidade. Assim, Cristo, luz e
salvação de todos os povos, é manifestado pela vida litúrgica de uma Igreja ao povo e à cultura aos quais ela
é enviada e nos quais está enraizada. A Igreja é católica: pode integrar em sua unidade, purificando-as, todas
as verdadeiras riquezas das culturas.
1203. As tradições litúrgicas ou ritos atualmente em uso na Igreja são o rito latino (principalmente o rito
romano, mas também os ritos de certas Igrejas locais como o rito ambrosiano, ou de certas ordens religiosas)
e os ritos bizantinos, alexandrino ou copta, siríaco, armênio, maronita e caldeu. "Obedecendo fielmente à
tradição, o sacrossanto Concílio declara que a santa mãe Igreja considera como iguais em direito e em
dignidade todos os ritos legitimamente reconhecidos, e que no futuro quer conservá-los e favorecê-los de
todas as formas."

LITURGIA E CULTURAS

1204. Por isso a celebração da liturgia deve corresponder ao gênio e à cultura dos diferentes povos. Para
que o mistério de Cristo seja "dado a conhecer a todos os gentios, para levá-los à obediência da fé" (Rm
16,26), deve ser anunciado, celebrado e vivido em todas as culturas, de sorte que estas não sejam abolidas,
mas resgatadas e realizadas por ele". E mediante sua cultura humana própria, assumida e transfigurada por
Cristo, que a multidão dos filhos de Deus tem acesso ao Pai, para glorificá-lo, em um só Espírito.
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1205. "Na liturgia, sobretudo na liturgia dos sacramentos, existe uma parte imutável - por ser de
instituição divina -, da qual a Igreja é guardiã, e há partes suscetíveis de mudança, que ela tem o poder e,
algumas vezes, até o dever de adaptar às culturas dos povos recentemente evangelizados.
1206. "A diversidade litúrgica pode ser fonte de enriquecimento, mas pode também provocar tensões,
incompreensões reciprocas e até mesmo cismas. Neste campo, é claro que a diversidade não deve prejudicar
a unidade. Esta unidade não pode exprimir-se senão na fidelidade à fé comum, aos sinais sacramentais que a
Igreja recebeu de Cristo, e à comunhão hierárquica. A adaptação às culturas requer uma conversão do
coração e, se necessário, a ruptura com hábitos ancestrais incompatíveis com a fé católica."

RESUMINDO

1207. Convém que a celebração da liturgia tenda a exprimir-se na cultura do povo em que a Igreja se
encontra, sem submeter-se a ela. Por outro lado, a liturgia mesma é geradora e formadora de culturas.
1208. As diversas tradições litúrgicas (ou ritos), legitimamente reconhecidas por significarem e
comunicarem o mesmo mistério de Cristo, manifestam a catolicidade da Igreja.
1209. O critério que garante a unidade na pluralidade das tradições litúrgicas é a fidelidade à Tradição
apostólica, isto é, a comunhão na fé e nos sacramentos recebidos dos apóstolos, comunhão significada e
assegurada pela sucessão apostólica.

Capítulo III

4 - OS SETE SACRAMENTOS DA IGREJA

1210. Os sacramentos da nova lei foram instituídos por Cristo e são sete, a saber: o Batismo, a
Confirmação, a Eucaristia, a Penitência, a Unção dos Enfermos, a Ordem e o Matrimônio. Os sete
sacramentos atingem todas as etapas e todos os momentos importantes da vida do cristão: dão à vida de fé do
cristão origem e crescimento, cura e missão. Nisto existe certa semelhança entre as etapas da vida natural e as
da vida espiritual.
1211. Seguindo esta analogia, exporemos primeiramente os três sacramentos da iniciação cristã (Capítulo
1), em seguida os sacramentos de cura (Capítulo II.) e, finalmente os sacramentos que estão a serviço da
comunhão e da missão dos fiéis (Capítulo III.). Sem dúvida, esta disposição não é a única possível, mas
permite ver que os sacramentos formam um organismo no qual cada um especificamente tem seu lugar vital.
Neste organismo, a eucaristia ocupa um lugar único por ser "sacramento dos sacramentos": "todos os demais
sacramentos estão ordenados a este como a seu fim"'.

4.1 - OS SACRAMENTOS DA INICIAÇÃO CRISTÃ

1212. Pelos sacramentos da iniciação cristã; Batismo, Confirmação e Eucaristia são lançados os
fundamentos de toda vida cristã. "A participação na natureza divina, que os homens recebem como dom
mediante a graça de Cristo, apresenta certa analogia com a origem, o desenvolvimento e a sustentação da
vida natural. Os fiéis, de fato, renascidos no Batismo, são fortalecidos pelo sacramento da Confirmação e,
depois, nutridos com o alimento da vida eterna na Eucaristia. Assim, por efeito destes sacramentos da
iniciação cristã, estão em condições de saborear cada vez mais os tesouros da vida divina e de progredir até
alcançar a perfeição da caridade."

4.1.1 - O SACRAMENTO DO BATISMO

1213. O santo Batismo é o fundamento de toda a vida cristã, a porta da vida no Espírito ("vitae spiritualis
janua") e a porta que abre o acesso aos demais sacramentos. Pelo Batismo somos libertados do pecado e
regenerados como filhos de Deus, tornamo-os membros de Cristo, somos incorporados à Igreja e feitos
participantes de sua missão: "Baptismus está sacramentum regenerationis per aquam in verbo O Batismo é o
sacramento da regeneração pela água na Palavra"

I. Como é chamado este sacramento?

1214. Ele é denominado Batismo com base no rito central pelo qual é realizado: batizar ("baptizem", em
grego) significa "mergulhar", "imergir"; o "mergulho" na água simboliza o sepultamento do catecúmeno na
morte de Cristo, da qual com Ele ressuscita como "nova criatura" (2Cor 5,17; Gl 6,15).
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1215. Este sacramento é também chamado "o banho da regeneração e da renovação no Espírito Santo"
(Tt 3,5), pois ele significa e realiza este nascimento a partir da água e do Espírito, sem o qual "ninguém pode
entrar no Reino de Deus" (Jo 3,5).
1216. "Este banho é chamado iluminação, porque aqueles que recebem este ensinamento [catequético]
têm o espírito iluminado..." Depois de receber no Batismo o Verbo, "a luz verdadeira que ilumina todo
homem" (Jo 1,9), o batizado, "após ter sido iluminado", se converte em "filho da luz" e em "luz" ele mesmo
(Ef 5,8):

O Batismo é o mais belo e o mais magnífico dom de Deus. (...) chamamo-lo de dom, graça, unção,
iluminação, veste de incorruptibilidade, banho de regeneração, selo, e tudo o que existe de mais precioso.
Dom, porque é conferido àqueles que nada trazem; graça, porque é dado até a culpados; Batismo, porque o
pecado é sepultado na água; unção, porque é sagrado e régio (tais são os que são ungidos); iluminação,
porque é luz resplandecente; veste, porque cobre nossa vergonha; banho, porque lava; selo, porque nos
guarda e é o sinal do senhorio de Deus.

II. O Batismo na economia da salvação

AS PREFIGURAÇÕES DO BATISMO NA ANTIGA ALIANÇA

1217. Na liturgia da noite pascal, quando da bênção da água batismal, a Igreja faz solenemente memória
dos grandes acontecimentos da história da salvação que já prefiguravam o mistério do Batismo:
Ó Deus, pelos sinais visíveis dos sacramentos realizais maravilhas invisíveis. Ao longo da história da
salvação, vós vos servistes da água para fazer-nos conhecer a graça do Batismo.
1218. Desde a origem do mundo, a água, esta criatura humilde e admirável, é a fonte da vida e da
fecundidade. A Sagrada Escritura a vê como "incubada" pelo Espírito de Deus:
Já na origem do mundo, vosso Espírito pairava sobre as águas para que elas recebessem a força de
santificar.
1219. A Igreja viu na arca de Noé uma prefiguração da salvação pelo Batismo. Por ela, com efeito,
"poucas pessoas, isto é, oito foram salvas da água" (1Pd 3,20):
Nas próprias águas do dilúvio prefigurastes o nascimento da nova humanidade de modo que a mesma
água sepultasse os vícios e fizesse nascer a santidade.
1220. Se a água de fonte simboliza a vida, a água do mar é um símbolo da morte, razão pela qual o mar
podia prefigurar o mistério da cruz. Por este simbolismo, o Batismo significa a comunhão com a morte de
Cristo.
1221. É sobretudo a travessia do Mar Vermelho, verdadeira libertação de Israel da escravidão do Egito,
que anuncia a libertação operada pelo Batismo:
Concedestes aos filhos de Abraão atravessar o Mar Vermelho a pé enxuto, para que, livres da escravidão,
prefigurassem o povo nascido na água do Batismo.
1222. Finalmente, o Batismo é prefigurado na travessia do Jordão, pela qual o povo de Deus recebe o
dom da terra prometida à descendência de Abraão, imagem da vida eterna. A promessa desta herança bem-
aventurada realiza-se na nova aliança.

O BATISMO DE CRISTO

1223. Todas as prefigurações da antiga aliança encontram sua realização em Cristo Jesus. Ele começa sua
vida pública depois de ter-se feito batizar por São João Batista no Jordão, e após sua ressurreição confere esta
missão aos apóstolos: "Ide, pois, fazei que todos os povos se tornem meus discípulos, batizando-os em nome
do Pai e do Filho e do Espírito Santo, e ensinando-as a observar tudo quanto vos ordenei" (Mt 28,19-20).
1224. Nosso Senhor submeteu-se voluntariamente ao Batismo de São João, destinado aos pecadores, para
"cumprir toda a justiça (Cf Mt 3,15)". Este gesto de Jesus é uma manifestação de seu "aniquilamento". O
Espírito que pairava sobre as águas da primeira criação desce então sobre Cristo, preludiando a nova criação,
e o Pai manifesta Jesus como seu "filho amado".
1225. Foi em sua Páscoa que Cristo abriu a todos os homens as fontes do Batismo. Com efeito, já tinha
falado da paixão que iria sofrer em Jerusalém como de um "batismo" com o qual devia ser batizado. O
sangue e a água que escorreram do lado traspassado de Jesus crucificado são tipos do Batismo e da
Eucaristia, sacramentos da vida nova: desde então é possível "nascer da água e do Espírito" para entrar no
Reino de Deus (Jo 3,5).

Vê, quando és batizado, donde vem o Batismo, se não da cruz de Cristo, da morte de Cristo. Lá está todo
o mistério: ele sofreu por ti. E nele que és redimido, é nele que és salvo e, por tua vez, te tornas salvador.
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O BATISMO NA IGREJA

1226. A partir do dia de Pentecostes, a Igreja celebrou e administrou o santo Batismo. Com efeito, São
Pedro declara à multidão impressionada com sua pregação: "Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado
em nome de Jesus Cristo para a remissão de vossos pecados. Então recebereis o dom do Espírito Santo" (At
2,38). Os Apóstolos e seus colaboradores oferecem o Batismo a todo aquele que crer em Jesus: judeus,
tementes a Deus, pagãos. O Batismo aparece sempre ligado à fé: "Crê no Senhor e serás salvo, tu e a tua
casa", declara São Paulo a seu carcereiro de Filipos. O relato prossegue: "E imediatamente [o carcereiro
recebeu o Batismo, ele e todos os seus" (At 16,31-33).
1227. Segundo o apóstolo São Paulo, pelo Batismo o crente comunga na morte de Cristo; é sepultado e
ressuscita com ele:

Batizados em Cristo Jesus, em sua morte é que fomos batizados. Portanto, pelo Batismo fomos
sepultados com ele na morte para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai,
assim também nós vivamos vida nova (Rm 6,3-4). Os batizados "vestiram-se de Cristo". Pelo Espírito Santo,
o Batismo é um banho que purifica, santifica e justifica.

1228. O Batismo é, pois, um banho de água no qual "a semente incorruptível" da Palavra de Deus produz
seu efeito vivificante. Santo Agostinho dirá do Batismo: "Accedit verbum ad elementum, et fit Sacramentum
- Une-se a palavra ao elemento, e acontece o sacramento".

III. Como é celebrado o sacramento do Batismo?

A INICIAÇÃO CRISTÃ

1229. Tornar-se cristão, eis algo que se realiza desde os tempos dos apóstolos por um itinerário e uma
iniciação que passa por várias etapas. Este itinerário pode ser percorrido com rapidez ou lentamente. Dever
sempre comportar alguns elementos essenciais: o anúncio da Palavra, o acolhimento do Evangelho
acarretando uma conversão, a profissão de fé, o Batismo, a efusão do Espírito Santo, o acesso à Comunhão
Eucarística.
1230. Esta iniciação tem variado muito ao longo dos séculos e de acordo com as circunstâncias. Nos
primeiros séculos da Igreja a iniciação cristã conheceu um grande desenvolvimento com um longo período de
catecumenato e uma seqüência de ritos preparatórios que balizavam liturgicamente a caminhada da
preparação catecumenal e que desembocavam na celebração dos sacramentos da iniciação cristã.
1231. Quando o Batismo das crianças se tornou amplamente a forma habitual da celebração deste
sacramento, esta passou a ser um único ato que integra de maneira muito resumida as etapas prévias à
iniciação cristã. Por sua própria natureza, o Batismo das crianças exige um catecumenato pós-batismal. Não
se trata somente da necessidade de uma instrução posterior ao Batismo, mas do desabrochar necessário da
graça batismal no crescimento da pessoa. E o lugar próprio do catecismo.
1232. O Concílio Vaticano II restaurou, para a Igreja latina, "o catecumenato dos adultos, distribuído em
várias etapas". Encontram-se tais ritos no Ordo initiationis christianae adultorum (Ritual da iniciação cristã
dos adultos). O Concílio por sua vez permitiu que, "além dos elementos de iniciação fornecidos pela tradição
cristã", fossem admitidos "em terras de missão estes outros elementos de iniciação cristã, cuja prática
constatamos em cada povo, na medida em que possam ser adaptados ao rito cristão".
1233. Hoje em dia, portanto, em todos os ritos latinos e orientais, a iniciação cristã dos adultos começa
desde a entrada deles no catecumenato, para atingir seu ponto culminante em uma única celebração dos três
sacramentos: Batismo, Confirmação e Eucaristia. Nos ritos orientais a iniciação cristã das crianças começa
no Batismo, seguido imediatamente pela Confirmação e pela Eucaristia, ao passo que no rito romano ela
prossegue durante os anos de catequese, para terminar mais tarde com a Confirmação e a Eucaristia, ápice de
sua iniciação cristã.

A MISTAGOGIA DA CELEBRAÇÃO

1234. O significado e a graça do sacramento do Batismo aparecem com clareza nos ritos de sua
celebração. É acompanhando, com uma participação atenta, os gestos e as palavras desta celebração que os
fiéis são iniciados nas riquezas que este sacramento significa e realiza em cada novo batizado.
1235. O sinal-da-cruz no limiar da celebração, assinala a marca de Cristo naquele que vai pertencer-lhe e
significa a graça da redenção que Cristo nos proporcionou por sua cruz.
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1236. O anúncio da Palavra de Deus ilumina com a verdade revelada os candidatos e a assembléia, e
suscita a resposta da fé, inseparável do Batismo. Com efeito, o Batismo é de maneira especial "o sacramento
da fé", uma vez que é a entrada sacramental na vida de fé.
1237. Visto que o Batismo significa a libertação do pecado e de seu instigador, o Diabo, pronuncia-se um
(ou vários) exorcismo(s) sobre o candidato. Este é ungido com o óleo dos catecúmenos ou então o celebrante
impõe-lhe a mão, e o candidato renuncia explicitamente a satanás. Assim preparado, ele pode confessar a fé
da Igreja, à qual será "confiado" pelo Batismo.
1238. A água batismal é então consagrada por uma oração de epiclese (seja no próprio momento, seja na
noite pascal). A Igreja pede a Deus que, por seu Filho, o poder do Espírito Santo desça sobre esta água, para
que os que forem batizados nela "nasçam da água e do Espírito" (Jo 3,5).
1239. Segue então o rito essencial do sacramento: o Batismo propriamente dito, que significa e realiza a
morte ao pecado e a entrada na vida da Santíssima Trindade por meio da configuração ao mistério pascal de
Cristo. O Batismo é realizado da maneira mais significativa pela tríplice imersão na água batismal. Mas
desde a antigüidade ele pode também ser conferido derramando-se, por três vezes, a água sobre a cabeça do
candidato.
1240. Na Igreja latina, esta tríplice infusão é acompanhada das palavras do ministro: "N..., eu te batizo
em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo". Nas liturgias orientais, estando o catecúmeno voltado para o
nascente, o ministro diz: "O servo de Deus, N..., é batizado em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo". E
à invocação de cada pessoa da Santíssima Trindade o ministro mergulha o candidato na água e o retira dela.
1241. A unção com o santo crisma, óleo perfumado consagrado pelo Bispo, significa o dom do Espírito
Santo ao novo batizado. Este tornou-se um cristão, isto é, "ungido" do Espírito Santo, incorporado a Cristo,
que é ungido sacerdote, profeta e rei.
1242. Na liturgia das Igrejas do Oriente, a unção pós-batismal é o sacramento da Crisma (Confirmação).
Na liturgia romana, porém, esta primeira unção anuncia outra, a do santo Crisma, que será feita pelo Bispo: o
sacramento da Confirmação, que, por assim dizer, "confirma" e encerra a unção batismal.
1243. A veste branca simboliza que o batizado "vestiu-se de Cristo": ressuscitou com Cristo. A vela,
acesa no círio pascal, significa que Cristo iluminou o neófito. Em Cristo, os batizados são "a luz do mundo"
(Mt 5,14). O novo batizado é agora filho de Deus no Filho único. Pode rezar a oração dos filhos de Deus: o
Pai-Nosso.
1244. A primeira comunhão eucarística. Uma vez feito filho de Deus, revestido da veste nupcial, o
neófito é admitido "ao festim das bodas do Cordeiro" e recebe o alimento da vida nova, o Corpo e o Sangue
de Cristo. As Igrejas orientais mantêm uma consciência viva da unidade da iniciação cristã dando a Santa
comunhão a todos os novos batizados e confirmados, mesmo às crianças, lembrando-se da palavra do
Senhor: "Deixai vir a mim as crianças, não as impeçais" (Mc 10,14). A Igreja latina, que reserva a Santa
comunhão aos que atingiram a idade da razão, exprime a abertura do Batismo para a Eucaristia aproximando
do altar a criança recém-batizada para a oração do Pai-Nosso.
1245. A bênção solene conclui a celebração do Batismo. Por ocasião do batismo de recém-nascidos, a
bênção da mãe ocupa um lugar especial.

IV. Quem pode receber o Batismo?

1246. "É capaz de receber o Batismo toda pessoa ainda não batizada, e somente ela."

O BATISMO DOS ADULTOS

1247. Desde as origens da Igreja, o Batismo dos adultos é a situação mais normal nas terras onde o
anúncio do Evangelho é ainda recente. O catecumenato (preparação para o Batismo) ocupa então um lugar
importante. Sendo iniciação à fé e à vida cristã, deve dispor para o acolhimento do dom de Deus no Batismo,
na Confirmação e na Eucaristia.
1248. O catecumenato, ou formação dos catecúmenos, tem por finalidade permitir a estes últimos, em
resposta à iniciativa divina e em união com uma comunidade eclesial, que levem a conversão e a fé à
maturidade. Trata-se de uma "formação à vida crista integral (...) pela qual os discípulos são unidos a Cristo,
seu mestre. Por isso, os catecúmenos devem ser iniciados (...) nos mistérios da salvação e na prática de uma
vida evangélica, e introduzidos, mediante ritos sagrados celebrados em épocas sucessivas, na vida da fé, da
liturgia e da caridade do povo de Deus".
1249. Os catecúmenos "já estão unidos à Igreja, já pertencem à casa de Cristo, não sendo raro levarem
uma vida de fé, esperança e caridade". "A mãe Igreja já os envolve como seus em seu amor, cercando-os de
cuidados."
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O BATISMO DAS CRIANÇAS

1250. Por nascerem com uma natureza humana decaída e manchada pelo pecado original, também as
crianças precisam do novo nascimento no Batismo, a fim de serem libertadas do poder das trevas e serem
transferidas para o domínio da liberdade dos filhos de Deus, para a qual todos os homens são chamados. A
gratuidade pura da graça da salvação é particularmente manifesta no Batismo das crianças. A Igreja e os pais
privariam então a criança da graça inestimável de tomar-se filho de Deus se não lhe conferissem o Batismo
pouco depois do nascimento.
1251. Os pais cristãos hão de reconhecer que esta prática corresponde também à sua função de alimentar
a vida que Deus confiou a eles.
1252. A prática de batizar as crianças é uma tradição imemorial da Igreja. É atestada explicitamente
desde o século II. Mas é bem possível que desde o início da pregação apostólica, quando "casas" inteiras
receberam o Batismo, também se tenha batizado as crianças.

FÉ E BATISMO

1253. O batismo é o sacramento da fé. Mas a fé tem necessidade da comunidade dos crentes. Cada um
dos fiéis só pode crer dentro da fé da Igreja. A fé que se requer para o Batismo não é uma fé perfeita e
madura, mas um começo, que deve desenvolver-se. Ao catecúmeno ou a seu padrinho é feita a pergunta:
"Que pedis à Igreja de Deus?". E ele responde: "A fé!".
1254. Em todos os batizados, crianças ou adultos, a fé deve crescer após o Batismo. E por isso que a
Igreja celebra cada ano, na noite pascal, a renovação das promessas batismais. A preparação para o Batismo
leva apenas ao limiar da vida nova. O Batismo é a fonte da vida nova em Cristo, fonte esta da qual brota toda
a vida cristã.
1255. Para que a graça batismal possa desenvolver-se, é importante a ajuda dos pais. Este é também o
papel do padrinho ou da madrinha, que devem ser cristãos firmes, capazes e prontos a ajudar o novo
batizado, criança ou adulto, em sua caminhada na vida cristã. A tarefa deles é uma verdadeira função eclesial
("officium"). A comunidade eclesial inteira tem uma parcela de responsabilidade no desenvolvimento e na
conservação da graça recebida no Batismo.

V. Quem pode batizar?

1256. São ministros ordinários do Batismo o Bispo e o presbítero e, na Igreja latina, também o diácono.
Em caso de necessidade, qualquer pessoa, mesmo não batizada, que tenha a intenção exigida, pode batizar,
utilizando a fórmula batismal trinitária. A intenção requerida é querer fazer o que a Igreja faz quando batiza.
A Igreja vê a razão desta possibilidade na vontade salvífica universal de Deus e na necessidade do Batismo
para a salvação.

VI. A necessidade do Batismo

1257. O Senhor mesmo afirma que o Batismo é necessário para a salvação. Também ordenou a seus
discípulos que anunciassem o Evangelho e batizassem todas a nações. O Batismo é necessário, para a
salvação, para aqueles aos quais o Evangelho foi anunciado e que tiveram a possibilidade de pedir este
sacramento. A Igreja não conhece outro meio senão o Batismo para garantir a entrada na bem-aventurança
eterna; é por isso que cuida de não negligenciar a missão que recebeu do Senhor, de fazer "renascer da água e
do Espírito" todos aqueles que podeis ser batizados. Deus vinculou a salvação ao sacramento do Batismo,
mas ele mesmo não está vinculado a seus sacramentos.
1258. Desde sempre, a Igreja mantém a firme convicção de que as pessoas que morrem em razão da fé,
sem terem recebido o Batismo, são batizadas por sua morte por e com Cristo. Este Batismo de sangue, como
o desejo do Batismo, acarreta os frutos do Batismo, sem ser sacramento.
1259. Para os catecúmenos que morrem antes de seu Batismo, seu desejo explícito de recebê-lo,
juntamente com o arrependimento de seus pecados e a caridade, garante-lhes a salvação que não puderam
receber pelo sacramento.
1260. "Sendo que Cristo morreu por todos e que a vocação última do homem é realmente uma só, a
saber, divina, devemos sustentar que o Espírito Santo oferece a todos, sob forma que só Deus conhece, a
possibilidade de se associarem ao Mistério Pascal." Todo homem que, desconhecendo o Evangelho de Cristo
e sua Igreja, procura a verdade e pratica a vontade de Deus segundo seu conhecimento dela pode ser salvo.
Pode-se supor que tais pessoas teriam desejado explicitamente o Batismo se tivessem tido conhecimento da
necessidade dele.
1261. Quanto às crianças mortas sem Batismo, a Igreja só pode confiá-las à misericórdia de Deus, como
o faz no rito das exéquias por elas. Com efeito, a grande misericórdia de Deus, "que quer que todos os
homens se salvem" (1Tm 2,4), e a ternura de Jesus para com as crianças, que o levou a dizer: "Deixai as
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crianças virem a mim, não as impeçais" (Mc 10,14), nos permitem esperar que haja um caminho de salvação
para as crianças mortas sem Batismo. Eis por que é tão premente o apelo da Igreja de não impedir as crianças
de virem a Cristo pelo dom do santo Batismo.

VII. A graça do Batismo

1262. Os diferentes efeitos do Batismo são significados pelos elementos sensíveis do rito sacramental. O
mergulho na água faz apelo ao simbolismo da morte e da purificação, mas também da regeneração e da
renovação. Os dois efeitos principais são, pois, a purificação dos pecados e o novo nascimento no Espírito
Santo.

PARA A REMISSÃO DOS PECADOS...

1263. Pelo Batismo, todos os pecados são perdoados: o pecado original e todos os pecados pessoais, bem
como todas as penas do pecado. Com efeito, naqueles que foram regenerados não resta nada que os impeça
de entrar no Reino de Deus: nem o pecado de Adão, nem o pecado pessoal, nem as seqüelas do pecado, das
quais a mais grave é a separação de Deus.
1264. No batizado, porém, certas conseqüências temporais do pecado permanecem, tais como os
sofrimentos, a doença, a morte ou as fragilidades inerentes à vida, como as fraquezas de caráter etc., assim
como a propensão ao pecado, que a Tradição chama de concupiscência ou, metaforicamente, o "incentivo do
pecado" (fomes peccati"): "Deixada para os nossos combates, a concupiscência não é capaz de prejudicar
aqueles que, não consentindo nela, resistem com coragem pela graça de Cristo. Mais ainda: 'um atleta não
recebe a coroa se não lutou segundo as regras' (2Tm 2,5).

UMA CRIATURA NOVA

1265. O Batismo não somente purifica de todos os pecados, mas também faz do neófito "uma criatura
nova", um filho adotivo de Deus que se tornou "participante da natureza divina", membro de Cristo e co-
herdeiro com ele, templo do Espírito Santo.
1266. A Santíssima Trindade dá ao batizado a graça santificante, a graça da justificação, a qual
- torna-o capaz de crer em Deus, de esperar nele e de amá-lo por meio das virtudes teologais;
- concede-lhe o poder de viver e agir sob a moção do Espírito Santo por seus dons;
- permite-lhe crescer no bem pelas virtudes morais.
Assim, todo o organismo da vida sobrenatural do cristão tem sua raiz no santo Batismo.

INCORPORADOS À IGREJA, CORPO DE CRISTO

1267. O Batismo faz-nos membros do Corpo de Cristo. "Somos membros uns dos outros" (Ef 4,25). O
Batismo incorpora à Igreja. Das fontes batismais nasce o único povo de Deus da nova aliança, que supera
todos os limites naturais ou humanos das nações, das culturas, das raças e dos sexos: "Fomos todos batizados
num só Espírito para sermos um só corpo" (1Cor 12,13).
1268. Os batizados tornaram-se "pedras vivas" para a "construção de um edifício espiritual, para um
sacerdócio santo" (1 Pd 2,5). Pelo Batismo, participam do sacerdócio de Cristo, de sua missão profética e
régia; "sois a raça eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo de sua particular propriedade, a fim de que
proclameis as excelências daquele que vos chamou das trevas para sua luz maravilhosa" (1Pd 2,9). O
Batismo faz participar do sacerdócio comum dos fiéis.
1269. Feito membro da Igreja, o batizado não pertence mais a si mesmo, mas àquele que morreu e
ressuscitou por nós. Logo, é chamado a submeter-se aos outros, a servi-los na comunhão da Igreja, a ser
"obediente e dócil" aos chefes da Igreja e a considerá-los com respeito e afeição. Assim como o Batismo é a
fonte de responsabilidades e de deveres, o batizado também goza de direitos dentro da Igreja: de receber os
sacramentos, de ser alimentado com a Palavra de Deus e de ser sustentado pelos outros auxílios espirituais da
Igreja.
1270. "Tornados filhos de Deus pela regeneração (batismal], (os batizados) são obrigados a professar
diante dos homens a fé que pela Igreja receberam de Deus" e a participar da atividade apostólica e
missionária do povo de Deus.
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O VÍNCULO SACRAMENTAL DA UNIDADE DOS CRISTÃOS

1271. O Batismo constitui o fundamento da comunhão entre todos os cristãos, também com os que ainda
não estão em comunhão plena com a Igreja católica: "Com efeito, aqueles que crêem em Cristo e foram
validamente batizados acham-se em certa comunhão, embora não perfeita, com a Igreja católica. (...)
Justificados pela fé no Batismo, são incorporados a Cristo e, por isso, com razão, são honrados com o nome
de cristãos e merecidamente reconhecidos pelos filhos da Igreja católica como irmãos no Senhor". "O
Batismo, pois, constitui o vínculo sacramental da unidade que liga todos os que foram regenerados por ele."

UM SINAL ESPIRITUAL INDELÉVEL...

1272. Incorporado em Cristo pelo Batismo, o batizado é configurado a Cristo. O Batismo sela o cristão
com um sinal espiritual indelével ("character") de sua pertença a Cristo. Pecado algum apaga esta marca, se
bem que possa impedir o Batismo de produzir frutos de salvação. Dado uma vez por todas, o Batismo não
pode ser reiterado.
1273. Incorporados à Igreja pelo Batismo, os fiéis receberam o caráter sacramental que os consagra para
o culto religioso cristão. O selo batismal capacita e compromete os cristãos a servirem a Deus em uma
participação viva na sagrada liturgia da Igreja e a exercerem seu sacerdócio batismal pelo testemunho de uma
vida santa e de uma caridade eficaz.
1274. O "selo do Senhor" ("Dominicus character") é o selo com o qual o Espírito Santo nos marcou "para
o dia da redenção" (Ef 4,30). "O Batismo, com efeito, é o selo da vida eterna." O fiel que tiver "guardado o
selo" até o fim, isto é, que tiver permanecido fiel às exigências de seu Batismo, poderá caminhar "marcado
pelo sinal da fé", com a fé de seu Batismo, à espera da visão feliz de Deus - consumação da fé - e na
esperança da ressurreição.

RESUMINDO

1275. A iniciação cristã realiza-se pelo conjunto de três sacramentos: o Batismo, que é o início da vida
nova; a Confirmação, que é sua consolidação e a Eucaristia, que alimenta o discípulo com o Corpo e o
Sangue de Cristo em vista de sua transformação nele.
1276. "Ide, portanto, e fazei que todos os povos se tornem meus discípulos, batizando-os em nome do Pai
e do Filho e do Espírito Santo, e ensinando-os a observar tudo quanto vos ordenei" (Mt 28,19-20).
1277. O Batismo constitui o nascimento para a vida nova em Cristo. Segundo a vontade do Senhor, ele é
necessário para a salvação, como a própria Igreja, na qual o Batismo introduz.
1278. O rito essencial do Batismo consiste em mergulhar na água o candidato ou em derramar água sobre
sua cabeça, pronunciando a invocação da Santíssima Trindade, isto é, do Pai, do Filho e do Espírito Santo
1279. O fruto do Batismo ou graça batismal é uma realidade rica que comporta: a remissão do pecado
original e de todos os pecados pessoais; o nascimento para a vida nova, pelo qual o homem se torna filho
adotivo do Pai, membro de Cristo, templo do Espírito Santo Com isto mesmo, o batizado é incorporado à
Igreja, corpo de Cristo, e se torna participante do sacerdócio de Cristo.
1280. O Batismo imprime na alma um sinal espiritual indelével, o caráter, que consagra o batizado ao
culto da religião cristã. Em razão do caráter, o Batismo não pode ser reiterado.
1281. Os que morrem por causa da fé, os catecúmenos e todos os homens que, sob o impulso da graça,
sem conhecerem a Igreja, procuram com sinceridade a Deus e se esforçam por cumprir a vontade dele podem
ser salvos, mesmo que não tenham recebido o Batismo.
1282. Desde os tempos mais antigos, o Batismo é administrado às crianças, pois é uma graça e um dom
de Deus que não supõe méritos humanos; as crianças são batizadas na fé da Igreja. A entrada na vida cristã
dá acesso à verdadeira liberdade.
1283. Quanto às crianças mortas sem Batismo, a liturgia da Igreja convida-nos a ter confiança na
misericórdia divina e a orar pela salvação delas.
1284. Em caso de necessidade, qualquer pessoa pode batizar, desde que tenha a intenção de fazer
o que faz a Igreja, e que derrame água sobre a cabeça do candidato dizendo: "Eu te batizo em nome
do Pai e do Filho e do Espírito Santo".
1285.

4.1.2 - O SACRAMENTO DA CONFIRMAÇÃO

1286. Juntamente com o Batismo e a Eucaristia, o sacramento da Confirmação constitui o conjunto dos
"sacramentos da iniciação crista cuja unidade deve ser salvaguardada. Por isso, é preciso explicar aos fiéis
que a recepção deste sacramento é necessária à consumação da graça batismal. Com efeito, "pelo sacramento
da Confirmação [os fiéis] são vinculados mais perfeitamente à Igreja, enriquecidos de força especial do
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Espírito Santo, e assim mais estritamente obrigados à fé que, como verdadeiras testemunhas de Cristo, devem
difundir e defender tanto por palavras como por obras".

I. A Confirmação na economia da salvação

1287. No Antigo Testamento os profetas anunciaram que o Espírito do Senhor repousaria sobre o
Messias esperado em vista de sua missão salvífica. A descida do Espírito Santo sobre Jesus por ocasião de
seu Batismo por João Batista foi o sinal de que era Ele quem devia vir, que Ele era o Messias; o Filho de
Deus. Concebido do Espírito Santo, toda a sua vida e toda a sua missão se realizam em uma comunhão total
com o mesmo Espírito, que o Pai lhe dá "sem medida" (Jo 3,34).
1288. Ora, esta plenitude do Espírito não devia ser apenas a do Messias; devia ser comunicada a todo o
povo messiânico. Por várias vezes Cristo prometeu esta efusão do Espírito, promessa que realizou
primeiramente no dia da Páscoa. e em seguida, de maneira mais marcante, no dia de Pentecostes. Repletos do
Espírito Santo, os Apóstolos começam a proclamar "as maravilhas de Deus" (At 2,11), e Pedro começa a
declarar que esta efusão do Espírito é o sinal dos tempos messiânicos. Os que então creram na pregação
apostólica e que se fizeram batizar também receberam o dom do Espírito Santo
1289. "Desde então, os apóstolos, para cumprir a vontade de Cristo, comunicaram aos neófitos, pela
imposição das mãos, o dom do Espírito que leva a graça do Batismo à sua consumação. E por isso que na
Epístola aos Hebreus ocupa um lugar, entre os elementos da primeira instrução cristã, a doutrina sobre os
batismos e também sobre a imposição das mãos. A imposição das mãos é com razão reconhecida pela
tradição católica como a origem do sacramento da Confirmação que perpétua, de certo modo, na Igreja, a
graça de Pentecostes."
1290. Bem cedo, para melhor significar o dom do Espírito Santo, acrescentou-se à imposição das mãos
uma unção com óleo perfumado (crisma). Esta unção ilustra o nome de "cristão", que significa "ungido" e
que deriva a sua origem do próprio nome de Cristo, ele que "Deus ungiu com o Espírito Santo" (At 10,38). E
este rito de unção existe até os nossos dias, tanto no Oriente como no Ocidente. Por isso, no Oriente, este
sacramento é chamado Crismação, unção com crisma, ou mýron, que significa "crisma". No Ocidente, o
termo Confirmação sugere que este sacramento, ao mesmo tempo, confirma o Batismo e consolida a graça
batismal.

DUAS TRADIÇÕES: O ORIENTE E O OCIDENTE

1291. Nos primeiros séculos, a Confirmação constitui em geral uma só celebração com o Batismo,
formando com este, segundo a expressão de São Cipriano, um "sacramento duplo". Entre outros motivos, a
multiplicação dos batizados de crianças e isto ao longo do ano todo e a multiplicação das paróquias (rurais),
(multiplicação) que amplia as dioceses, não permitem mais a presença do Bispo em todas as celebrações
batismais. No Ocidente, visto que se deseja reservar ao Bispo a complementação do Batismo, se instaura a
separação dos dois sacramentos em dois momentos distintos. O Oriente manteve juntos os dois sacramentos,
tanto que a Confirmação é ministrada pelo presbítero que batiza. Todavia, este não o pode fazer senão com o
"mýron" consagrado por um Bispo.
1292. Um costume da Igreja de Roma facilitou o desenvolvimento da prática ocidental graças a uma
dupla unção com o santo crisma depois do Batismo: realizada já pelo presbítero sobre o neófito, ao sair este
do banho batismal, ela é terminada por uma segunda unção, feita pelo Bispo na fronte de cada um dos novos
batizados. A primeira unção com o santo crisma, a que é dada pelo presbítero, permaneceu ligada ao rito
batismal; ela significa a participação do batizado nas funções profética, sacerdotal e régia de Cristo. Se o
Batismo é conferido a um adulto, há uma só unção pós-batismal, a da Confirmação.
1293. A prática da Igreja do Oriente sublinha mais a unidade da iniciação cristã. A da Igreja latina
exprime mais nitidamente a comunhão do novo cristão com seu Bispo, garante e servo da unidade de sua
Igreja, de sua catolicidade e de sua apostolicidade, e, com isto, o vínculo com as origens apostólicas da Igreja
de Cristo.

II. Os sinais e o rito da Confirmação

1294. No rito deste sacramento convém considerar o sinal da unção e aquilo que a unção designa e
imprime: o selo espiritual. A unção, no simbolismo bíblico e antigo, é rica de significados: o óleo é sinal de
abundância e de alegria, ele purifica (unção antes e depois do banho) e torna ágil (unção dos atletas e dos
lutadores), é sinal de cura, pois ameniza as contusões e as feridas, e faz irradiar beleza, saúde e força.
1295. Todos esses significados da unção com óleo voltam a encontrar-se na vida sacramental. A unção,
antes do Batismo, com o óleo dos catecúmenos significa purificação e fortalecimento; a unção dos enfermos
exprime a cura e o reconforto. A unção com o santo crisma depois do Batismo, na Confirmação e na
Ordenação, é o sinal de uma consagração. Pela Confirmação, os cristãos, isto é, os que são ungidos,
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participam mais intensamente da missão de Jesus e da plenitude do Espírito Santo, de que Jesus é cumulado,
a fim de que toda a vida deles exale "o bom odor de Cristo"
1296. Por esta unção, o confirmando recebe "a marca", o seio do Espírito Santo O selo é o símbolo da
pessoa, sinal de sua autoridade, de sua propriedade sobre um objeto - assim, os soldados eram marcados com
o selo de seu chefe, e os escravos, com o de seu proprietário; o selo autentica um ato jurídico ou um
documento e o torna eventualmente secreto.
1297. Cristo mesmo se declara marcado com o selo de seu Pai. Também o cristão está marcado por um
selo: "Aquele que nos fortalece convosco em Cristo e nos dá a unção é Deus, o qual nos marcou com um selo
e colocou em nossos corações o penhor do Espírito" (2Cor 1,21-22; Cf Ef 1,13; 4,30). Este selo do Espírito
Santo marca a pertença total a Cristo, o colocar-se a seu serviço, para sempre, mas também a promessa da
proteção divina na grande provação escatológica.

A CELEBRAÇÃO DA CONFIRMAÇÃO

1298. Um momento importante que antecede a celebração da Confirmação, mas que, de certo modo, faz
parte dela, é a consagração do santo crisma. É o Bispo que, na Quinta-feira Santa, durante a missa do crisma,
consagra o santo crisma para toda a sua diocese. Nas Igrejas do Oriente, esta consagração é até reservada ao
patriarca:

A liturgia de Antioquia exprime assim a epiclese da consagração do santo crisma (mýron): [Pai... enviai
o vosso Espírito Santo] sobre nós e sobre este óleo que está diante de nós e consagrai-o, a fim de que seja
para todos os que forem ungidos e marcados por ele: mýron santo, mýron sacerdotal, mýron régio, unção de
alegria, a veste da luz, o manto da salvação, o dom espiritual, a santificação das almas e dos corpos, a
felicidade imperecível, o selo indelével, o escudo da fé e o capacete terrível contra todas as obras do
adversário.

1299. Quando a Confirmação é celebrada em separado do Batismo, como ocorre no rito romano, a
liturgia do sacramento começa com a renovação das promessas do Batismo e com a profissão de fé dos
confirmandos. Assim aparece com clareza que a Confirmação se situa na seqüência do Batismo. Quando um
adulto é batizado, recebe imediatamente a Confirmação e participa da Eucaristia [Cf CIC cânone 866].
1300. No rito romano, o Bispo estende as mãos sobre o conjunto dos confirmandos, gesto que, desde o
tempo dos Apóstolos, é o sinal do dom do Espírito. Cabe ao Bispo invocar a efusão do Espírito:

Deus Todo-Poderoso, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, que pela água e pelo Espírito Santo fizestes
renascer estes vossos servos, libertando-os do pecado, enviai-lhes o Espírito Santo Paráclito; dai-lhes,
Senhor, o espírito de sabedoria e inteligência, o espírito de conselho e fortaleza, o espírito da ciência e
piedade - e enchei-os do espírito de vosso temor. Por Cristo Nosso Senhor.

1301. Segue-se o rito essencial do sacramento. No rito latino, "o sacramento da Confirmação é conferido
pela unção do santo crisma na fronte, feita com a imposição da mão, e por estas palavras: 'Accipe signaculun
doni Spitus Sancti, 'N, recebe, por este sinal, o selo do Espírito Santo, o dom de Deus. Nas Igrejas orientais
de rito bizantino, a unção do μύρσν faz-se depois de uma oração de epiclese sobre as partes mais
significativas do corpo: a fronte, os olhos, o nariz, os ouvidos, os lábios, o peito, as costas, as mãos e os pés,
sendo cada unção acompanhada da fórmula: "Σθραγίς δωρεάς Пνεύμαηζς `Αγίοσ", "Selo do dom do Espνrito
Santo".
1302. O ósculo da paz, que encerra o rito do sacramento, significa e manifesta a comunhão eclesial com
o Bispo e com todos os fiéis.

III. Os efeitos da Confirmação

1303. Da celebração ressalta que o efeito do sacramento da Confirmação é a efusão especial do Espírito
Santo, como foi outorgado outrora aos apóstolos no dia de Pentecostes.
1304. Por isso, a confirmação produz crescimento e aprofundamento da graça batismal:
- enraíza-nos mais profundamente na filiação divina, que nos faz dizer "Abbá, Pai" (Rm 8,15),
- une-nos mais solidamente a Cristo;
- aumenta em nós os dons do Espírito Santo;
- torna mais perfeita nossa vinculação com a Igreja;
- dá-nos uma força especial do Espírito Santo para difundir e defender a fé pela palavra e pela ação,
como verdadeiras testemunhas de Cristo, para confessar com valentia o nome de Cristo e para nunca sentir
vergonha em relação à cruz:
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Lembra-te, portanto, de que recebeste o sinal espiritual, o Espírito de sabedoria e de inteligência, o
Espírito de conselho e força, o Espírito de conhecimento e de piedade, o Espírito do santo temor, e conserva
o que recebeste. Deus Pai te marcou com seu sinal, Cristo Senhor te confirmou e colocou em teu coração o
penhor do Espírito.

1305. Como o Batismo, do qual é consumação, a Confirmação é dada uma só vez, pois imprime na alma
uma marca espiritual indelével, o "caráter", que é o sinal de que Jesus Cristo assinalou um cristão com o selo
de seu Espírito, revestindo-o da força do alto para ser sua testemunha.
1306. O "caráter" aperfeiçoa o sacerdócio comum dos fiéis, recebido no Batismo, e "o confirmado recebe
o poder de confessar a fé de Cristo publicamente, e como que em virtude de um ofício (quasi ex ofício)".

IV. Quem pode receber este sacramento?

1307. Todo batizado ainda não confirmado pode e deve receber o sacramento da Confirmação. Pelo fato
de o Batismo, a Confirmação e a Eucaristia formarem uma unidade, segue-se que "os fiéis têm a obrigação de
receber tempestivamente esse sacramento", pois sem a Confirmação e a Eucaristia, o sacramento do Batismo
é sem dúvida válido e eficaz, mas a iniciação cristã permanece inacabada.
1308. O costume latino há séculos indica "a idade da razão" como ponto de referência para receber a
Confirmação. Todavia, em perigo de morte deve-se confirmar as crianças, mesmo que ainda não tenham
atingido o uso da razão.
1309. Se às vezes se fala da Confirmação como o "sacramento da maturidade cristã", nem por isso se
deve confundir a idade adulta da fé com a idade adulta do crescimento natural, nem esquecer que a graça
batismal é uma graça de eleição gratuita e imerecida que não precisa de uma "ratificação" para tornar-se
efetiva. Santo Tomás recorda isto:

A idade do corpo não constitui um prejuízo para a alma. Assim, mesmo na infância, o homem pode
receber a perfeição da idade espiritual da qual fala o livro da Sabedoria (4,8): "Velhice venerável não é
longevidade, nem é medida pelo número de anos". Assim é que muitas crianças, graças à força do Espírito
Santo que haviam recebido, lutaram corajosamente e até o sangue por Cristo.

1310. A preparação para a Confirmação deve visar conduzir o cristão a uma união mais íntima com
Cristo, a uma familiaridade mais intensa com o Espírito Santo, sua ação, seus dons e seus chamados, a fim de
poder assumir melhor as responsabilidades apostólicas da vida cristã. Por isso, a catequese da Confirmação
se empenhará em despertar o senso da pertença à Igreja de Jesus Cristo, tanto à Igreja universal como à
comunidade paroquial. Esta última tem uma responsabilidade peculiar na preparação dos confirmandos.
1311. Para receber a Confirmação é preciso estar em estado de graça. Convém recorrer ao sacramento da
Penitência para ser o purificado em vista do dom do Espírito Santo Uma oração mais intensa deve preparar
para receber com docilidade e disponibilidade a força e as graças do Espírito Santo
1312. Para a Confirmação, como para o Batismo, convém que os candidatos procurem a ajuda espiritual
de um padrinho ou de uma madrinha. Convém que seja o mesmo do Batismo, a fim de marcar bem a unidade
dos dois sacramentos.

V. O ministro da Confirmação

1313. O ministro originário da Confirmação é ó Bispo. No Oriente, é normalmente o presbítero batizante


que também ministra imediatamente a Confirmação em uma única e mesma celebração. Mas o faz com o
santo crisma consagrado pelo patriarca ou pelo Bispo, o que exprime a unidade apostólica da Igreja, cujos
vínculos são reforçados pelo sacramento da Confirmação. Na Igreja latina aplica-se a mesma disciplina nos
batizados de adultos, ou quando se admite à comunhão plena com a Igreja um batizado de outra comunidade
cristã que não recebeu validamente o sacramento da Confirmação.
1314. No rito latino, o ministro ordinário da confirmação é o Bispo. Embora o Bispo possa, quando
houver necessidade, conceder aos presbíteros a faculdade de administrar a Confirmação, é conveniente que
ele mesmo o confira, não esquecendo que é por este motivo que a celebração da Confirmação foi separada
temporalmente do Batismo. Os Bispos são os sucessores dos Apóstolos, receberam a plenitude do
sacramento da Ordem. A administração deste sacramento pelos Bispos marca bem que ele tem como efeito
unir aqueles que o receberam mais intimamente à Igreja, às suas origens apostólicas e à sua missão de dar
testemunho de Cristo.
1315. Se um cristão estiver em perigo de morte, todo presbítero pode dar-lhe a Confirmação. Com efeito,
a Igreja não quer que nenhum de seus filhos, mesmo se de tenra idade, deixe este mundo sem ter-se tornado
perfeito pelo Espírito Santo com o dom da plenitude de Cristo.
59
RESUMINDO

1316. "Tendo ouvido que a Samaria acolhera a palavra de Deus, os Apóstolos, que estavam em
Jerusalém, enviaram-lhes Pedro e João. Estes, descendo até lá, oraram por eles, a fim de que recebessem o
Espírito Santo Pois ele ainda não descera sobre nenhum deles, mas somente haviam sido batizados em nome
do Senhor Jesus. Então começaram a impor-lhes as mãos, e eles recebiam o Espírito Santo" (At 8,14-17).
1317. A Confirmação aperfeiçoa a graça batismal; é o sacramento que dá o Espírito Santo para enraizar-
nos mais profundamente na filiação divina, incorporar-nos mais firmemente a Cristo, tornar mais sólida a
nossa vinculação com a Igreja, associar-nos mais à sua missão e ajudar-nos a dar testemunho da fé cristã pela
palavra, acompanhada das obras.
1318. A Confirmação, como o Batismo, imprime na alma do cristão um sinal espiritual ou caráter
indelével; razão pela qual só se pode receber este sacramento uma vez na vida.
1319. No Oriente, este sacramento é administrado imediatamente depois do Batismo; é seguido da
participação na Eucaristia, tradição que põe em destaque a unidade dos três sacramentos da iniciação cristã.
Na Igreja latina administra-se este sacramento quando se atinge a idade da razão, e normalmente se reserva
sua celebração ao Bispo, significando assim que este sacramento corrobora o vínculo eclesial
1320. Um candidato à Confirmação que tiver atingido a idade da razão deve professar a fé, estar em
estado de graça, ter a intenção de receber o sacramento e estar preparado para assumir sua função de
discípulo e de testemunha de Cristo, na comunidade eclesial e nas ocupações temporais.
1321. O rito essencial da Confirmação é a unção com o santo crisma na fronte do batizado (no Oriente,
também sobre outros órgãos dos sentidos), com a imposição da mão do ministro e as palavras: "Accipe
signaculum doni Spiritus Sancti", "Recebe, por este sinal, o Dom do Espírito Santo", no rito romano, e
"Signaculum doni Spiritus Sancti", "Selo do dom do Espírito Santo", no rito bizantino.
1322. Quando a Confirmação é celebrada em separado do Batismo, sua vinculação com este e expressa,
entre outras coisas, pela renovação dos compromissos batismais. A celebração da confirmação no decurso da
Eucaristia contribui para sublinhar a unidade dos sacramentos da iniciação cristã.

4.1.3 - O SACRAMENTO DA EUCARISTIA

1323. A santa Eucaristia conclui a iniciação cristã. Os que foram elevados à dignidade do sacerdócio
régio pelo Batismo e configurados mais profundamente a Cristo pela Confirmação, estes, por meio da
Eucaristia, participam com toda a comunidade do próprio sacrifício do Senhor.
1324. "Na última ceia, na noite em que foi entregue, nosso Salvador instituiu o Sacrifício Eucarístico de
seu Corpo e Sangue. Por ele, perpetua pelos séculos, até que volte, o sacrifício da cruz, confiando destarte à
Igreja, sua dileta esposa, o memorial de sua morte e ressurreição: sacramento da piedade, sinal da unidade,
vínculo da caridade, banquete pascal em que Cristo é recebido como alimento, o espírito é cumulado de graça
e nos é dado o penhor da glória futura."

I. A Eucaristia - fonte e ápice da vida eclesial

1325. A Eucaristia é "fonte e ápice de toda a vida cristã ". "Os demais sacramentos, assim como todos os
ministérios eclesiásticos e tarefas apostólicas, se ligam à sagrada Eucaristia e a ela se ordenam. Pois a
santíssima Eucaristia contém todo o bem espiritual da Igreja, a saber, o próprio Cristo, nossa Páscoa."
1326. "A comunhão de vida com Deus e a unidade do povo de Deus, pelas quais a Igreja é ela mesma, a
Eucaristia as significa e as realiza. Nela está o clímax tanto da ação pela qual, em Cristo, Deus santifica o
mundo, como do culto que no Espírito Santo os homens prestam a Cristo e, por ele, ao Pai."
1327. Finalmente, pela Celebração Eucarística ]a nos unimos a liturgia do céu e antecipamos a vida
eterna, quando Deus ser tudo em todos (1Cor 15,28).
1328. Em sua palavra, a Eucaristia é o resumo e a suma de nossa fé: "Nossa maneira de pensar concorda
com a Eucaristia, e a Eucaristia, por sua vez, confirma nossa maneira de pensar".

II. Como se chama este sacramento?

1329. A riqueza inesgotável deste sacramento exprime-se nos diversos nomes que lhe são dados. Cada
uma destas designações evoca alguns de seus aspectos. Ele é chamado:

Eucaristia, porque é ação de graças a Deus. As palavras "eucharistein" (Lc 22,19; 1 Cor 11,24) e
"eulogein" (Mt 26,26; Mc 14,22) lembram as bênçãos judaicas que proclamam sobretudo durante a refeição
as obras de Deus: a criação, a redenção e a santificação.

1330. Ceia do Senhor, pois se trata da ceia que o Senhor fez com seus discípulos na véspera de sua
paixão, e da antecipação da ceia das bodas do Cordeiro na Jerusalém celeste.
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Fração do Pão, porque este rito, próprio da refeição judaica, foi utilizado por Jesus quando abençoava e
distribuía o pão como presidente da mesa, sobretudo por da ocasião. Ultima Ceia. É por este gesto que os
discípulos o reconhecerão após a ressurreição, e é com esta expressão que os primeiros cristãos designarão
suas assembléias eucarísticas.

Com isso querem dizer que todos os que comem do único pão partido, Cristo, entram em comunhão com
ele e já não formam senão um só corpo nele.

Assembléia eucarística (synaxxis, pronuncie "sináxis"), porque a Eucaristia é celebrada na assembléia


dos fiéis, expressão visível da Igreja.

1331. Memorial da Paixão e da Ressurreição do Senhor. Santo Sacrifício, porque atualiza o único
sacrifício de Cristo Salvador e inclui a oferenda da Igreja; ou também santo sacrifício da Missa, "sacrifício de
louvor" (Hb 13,15), sacrifício espiritual, sacrifício puro e santo, pois realiza e supera todos os sacrifícios da
Antiga Aliança.

Santa e divina Liturgia, porque toda a liturgia da Igreja encontra seu centro e sua expressão mais densa
na celebração deste sacramento; é no mesmo sentido que se chama também celebração dos Santos Mistérios.
Fala-se também do Santíssimo Sacramento, porque é o sacramento dos sacramentos. Com esta denominação
designam-se as espécies eucarísticas guardadas no tabernáculo.

1332. Comunhão, porque é por este sacramento que nos unimos a Cristo, que nos toma participantes de
seu Corpo e de seu Sangue para formarmos um só corpo; denomina-se ainda as "coisas santas: ta hagia
(pronuncia-se "ta háguia" e significa "coisas santas"); sancta (coisas santas" este é o sentido primeiro da
"comunhão dos santos" de que fala o Símbolo dos Apóstolos pão dos anjos, pão do céu, remédio de
imortalidade, viático...
1333. Santa Missa, porque a liturgia na qual se realizou o mistério da salvação termina com o envio dos
fiéis ("missio": missão, envio) para que cumpram a vontade de Deus em sua vida cotidiana.

III. A Eucaristia na economia da salvação

OS SINAIS DO PÃO E DO VINHO

1334. Encontram-se no cerne da celebração da Eucaristia o pão e o vinho, os quais, pelas palavras de
Cristo e pela invocação do Espírito Santo, se tornam o Corpo e o Sangue de Cristo. Fiel à ordem do Senhor, a
Igreja continua fazendo, em sua memória, até a sua volta gloriosa, o que ele fez na véspera de sua paixão:
"Tomou o pão..." "Tomou o cálice cheio de vinho..." Ao se tomarem misteriosamente o Corpo e o Sangue de
Cristo, os sinais do pão e do vinho continuam a significar também a bondade da criação. Assim, no ofertório
damos graças ao Criador pelo pão e pelo vinho, fruto "do trabalho do homem", mas antes "fruto da terra" e
"da videira", dons do Criador. A Igreja vê neste gesto de Melquisedec, rei e sacerdote, que "trouxe pão e
vinho" (Gn 14,18), uma prefiguração de sua própria oferta.
1335. Na antiga aliança, o pão e o vinho são oferecidos em sacrifício entre as primícias da terra, em sinal
de reconhecimento ao Criador. Mas eles recebem também um novo significado no contexto do êxodo: os
pães ázimos que Israel come cada ano na Páscoa comemoram a pressa da partida libertadora do Egito; a
recordação do maná do deserto há de lembrar sempre a Israel que ele vive do pão da Palavra de Deus.
Finalmente, o pão de todos os dias é o fruto da Terra Prometida, penhor da fidelidade de Deus às suas
promessas. O "cálice de bênção" (1Cor 10,16), no fim da refeição pascal dos judeus, acrescenta à alegria
festiva do vinho uma dimensão escatológica: da espera messiânica do restabelecimento de Jerusalém. Jesus
instituiu sua Eucaristia dando um sentido novo e definitivo à bênção do Pão e do Cálice.
1336. O milagre da multiplicação dos pães, quando o Senhor proferiu a bênção, partiu e distribuiu os
pães a seus discípulos para alimentar a multidão, prefigura a superabundância deste único pão de sua
Eucaristia. O sinal da água transformada em vinho em Caná já anuncia a hora da glorificação de Jesus.
Manifesta a realização da ceia das bodas no Reino do Pai, onde os fiéis beberão o vinho novo, transformado
no Sangue de Cristo.
1337. O primeiro anúncio da Eucaristia dividiu os discípulos, assim como o anúncio da paixão os
escandalizou: "Essa palavra é dura! Quem pode escutá-la?" (Jo 6,60). A Eucaristia e a cruz são pedras de
tropeço. É o mesmo mistério, e ele não cessa de ser ocasião de divisão. "Vós também quereis ir embora?" (Jo
6,67). Esta pergunta do Senhor ressoa através dos séculos como convite de seu amor a descobrir que só Ele
tem "as palavras da vida eterna" (Jo 6,68) e que acolher na fé o dom de sua Eucaristia é acolher a Ele mesmo.
61
A INSTITUIÇÃO DA EUCARISTIA

1338. Tendo amado os seus, o Senhor amou-os até o fim. Sabendo que chegara a hora de partir deste
mundo para voltar a seu Pai, no decurso de uma refeição lavou-lhes os pés e deu-lhes o mandamento do
amor. Para deixar-lhes uma garantia deste amor, para nunca afastar-se dos seus e para fazê-los participantes
de sua Páscoa, instituiu a Eucaristia como memória de sua morte e de sua ressurreição, e ordenou a seus
apóstolos que a celebrassem até a sua volta, "constituindo-os então sacerdotes do Novo Testamento".
1339. Os três Evangelhos sinópticos e São Paulo nos transmitiram o relato da instituição da Eucaristia;
por sua vez, São João nos relata as palavras de Jesus na sinagoga de Cafarnaum, palavras que preparam a
instituição da Eucaristia: Cristo designa-se como o pão da vida, descido do Céu.
1340. Jesus escolheu o tempo da Páscoa para realizar o que tinha anunciado em Cafarnaum: dar a seus
discípulos seu Corpo e seu Sangue:

Veio o dia dos ázimos, quando devia ser imolada a páscoa. Jesus enviou então Pedro e João, dizendo:
"Ide preparar-nos a Páscoa para comermos" ... Eles foram (...) e prepararam a Páscoa. Quando chegou a hora,
ele se pôs à mesa com seus apóstolos e disse-lhes: "Desejei ardentemente comer esta páscoa convosco antes
de sofrer; pois eu vos digo que já não a comerei até que ela se cumpra no Reino de Deus"... E tomou um pão,
deu graças, partiu-o e distribuiu-o a eles dizendo: "Isto é o meu corpo que é dado por vós. Fazei isto em
minha memória". E, depois de comer, fez o mesmo com o cálice dizendo: "Este cálice é a nova aliança em
meu sangue, que é derramado em favor de vós" (Lc 22,7-20).

1341. Ao celebrar a última Ceia com seus apóstolos durante a refeição pascal, Jesus deu seu sentido
definitivo à páscoa judaica. Com efeito, a passagem de Jesus a seu Pai por sua Morte e sua Ressurreição, a
Páscoa nova, é antecipada na ceia e celebrada na Eucaristia que realiza a Páscoa judaica e antecipa a Páscoa
final da Igreja na glória do Reino.

"FAZEI ISTO EM MEMÓRIA DE MIM"

1342. O mandamento de Jesus de repetir seus gestos e suas palavras "até que ele volte" não pede somente
que se recorde de Jesus e do que ele fez. Visa á celebração litúrgica, pelos apóstolos e seus sucessores, do
memorial de Cristo, de sua vida, de sua Morte, de sua Ressurreição e de sua intercessão junto ao Pai.
1343. Desde o início, a Igreja foi fiel ao mandato do Senhor. Da Igreja de Jerusalém se diz:

Eles eram perseverantes ao ensinamento dos Apóstolos, à comunhão fraterna, à fração do pão e às
orações. (...) Dia após dia, unânimes, mostravam-se assíduos no templo e partiam o pão pelas casas, tomando
o alimento com alegria e simplicidade de coração (At 2,42.46).

1344. Era sobretudo "no primeiro dia da semana", isto é, no domingo, o dia da Ressurreição de Jesus, que
os cristãos se reuniam "para partir o pão" (At 20,7). Desde aqueles tempos até os nossos dias, a celebração da
Eucaristia perpetuou-se, de sorte que hoje a encontramos em toda parte na Igreja, com a mesma estrutura
fundamental. Ela continua sendo o centro da vida da Igreja.
1345. Assim, de celebração em celebração, anunciando o Mistério Pascal de Jesus "até que ele
venha" (1 Cor 11,26), o povo de Deus em peregrinação "avança pela porta estreita da cruz" em
direção ao banquete celeste, quando todos os eleitos se sentarão à mesa do Reino.

IV. A celebração litúrgica da Eucaristia

A MISSA DE TODOS OS SÉCULOS

1346. Desde o século II temos o testemunho de S. Justiço Mártir sobre as grandes linhas do desenrolar da
Celebração Eucarística, que permaneceram as mesmas até os nossos dias para todas as grandes famílias
litúrgicas. Assim escreve, pelo ano de 155, para explicar ao imperador pagão Antonino Pio (138-161) o que
os cristãos fazem:

"No dia 'do Sol', como é chamado, reúnem-se num mesmo lugar os habitantes, quer das cidades, quer dos
campos. Lêem-se, na medida em que o tempo o permite, ora os comentários dos Apóstolos, ora os escritos
dos Profetas. Depois, quando o leitor terminou, o que preside toma a palavra para aconselhar e exortar à
imitação de tão sublimes ensinamentos. A seguir, pomo-nos todos de pé e elevamos nossas preces por nós
mesmos (...) e por todos os outros, onde quer que estejam, a fim de sermos de fato justos por nossa vida e por
nossas ações, e fiéis aos mandamentos, para assim obtermos a salvação eterna.
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Quando as orações terminaram, saudamo-nos uns aos outros com um ósculo. Em seguida, leva-se àquele
que preside aos irmãos pão e um cálice de água e de vinho misturados.

Ele os toma e faz subir louvor e glória ao Pai do universo, no nome do Filho e do Espírito Santo e rende
graças (em grego: eucharístia, que significa 'ação de graças' longamente pelo fato de termos sido julgados
dignos destes dons.

Terminadas as orações e as ações de graças, todo o povo presente prorrompe numa aclamação dizendo:
Amém.

Depois de o presidente ter feito a ação de graças e o povo ter respondido, os que entre nós se chamam
diáconos distribuem a todos os que estão presentes pão, vinho e água 'eucaristizados' e levam (também) aos
ausentes".

1347. A liturgia da Eucaristia desenrola-se segundo uma estrutura fundamental que se conservou ao
longo dos séculos até nossos dias. Desdobra-se em dois grandes momentos que formam uma unidade básica:
- a convocação, a Liturgia da Palavra, com as leituras,
- a homilia e a oração universal;
- a Liturgia Eucarística, com a apresentação do pão e do vinho, a ação de graças consecratória e a
comunhão.
Liturgia da Palavra e Liturgia Eucarística constituem juntas "um só e mesmo ato do culto"; com efeito, a
mesa preparada para nós na Eucaristia é ao mesmo tempo a da Palavra de Deus e a do Corpo do Senhor .

1348. Por acaso não é exatamente esta a seqüência da Ceia Pascal de Jesus ressuscitado com seus
discípulos? Estando a caminho, explicou-lhes as Escrituras, e em seguida, colocando-se à mesa com eles,
"tomou o pão, abençoou-o, depois partiu-o e distribuiu-o a eles".

A SEQÜÊNCIA DA CELEBRAÇÃO

1349. Todos se reúnem. Os cristãos acorrem a um mesmo lugar para a Assembléia Eucarística,
encabeçados pelo próprio Cristo, que é o ator principal da Eucaristia. Ele é o sumo sacerdote da Nova
Aliança. É ele mesmo quem preside invisivelmente toda Celebração Eucarística. É representando-o que o
Bispo ou o presbítero (agindo "em representação de Cristo-Cabeça") preside a assembléia, toma a palavra
depois das leituras, recebe as oferendas e profere a oração eucarística. Todos têm sua parte ativa na
celebração, cada um a seu modo: os leitores, os que trazem as oferendas, os que dão a comunhão e todo o
povo, cujo Amém manifesta a participação.
1350. A Liturgia da Palavra comporta "os escritos dos profetas", isto é, o Antigo Testamento, e "as
memórias dos Apóstolos", isto é, as epístolas e os Evangelhos; depois da homilia, que exorta a acolher esta
palavra como ela verdadeiramente é, isto é, como Palavra de Deus, e a pô-la em prática, vêm as intercessões
por todos os homens, de acordo com a palavra do Apóstolo: "Eu recomendo, pois, antes de tudo, que se
façam pedidos, orações, súplicas e ações de graças por todos os homens, pelos reis e todos os que detêm a
autoridade" (1Tm 2,1-2).
1351. A apresentação das oferendas (o ofertório): trazem-se então ao altar, por vezes em procissão, o pão
e o vinho que serão oferecidos pelo sacerdote em nome de Cristo no Sacrifício Eucarístico e ali se tornarão o
Corpo e o Sangue de Cristo. Este é o próprio gesto de Cristo na última ceia, "tomando pão e um cálice".
"Esta oblação, só a Igreja a oferece, pura, ao Criador, oferecendo-lhe com ação de graças o que provém de
sua criação. A apresentação das oferendas ao altar assume o gesto de Melquisedec e entrega os dons do
Criador nas mãos de Cristo. E ele que, em seu sacrifício, leva à perfeição todos os intentos humanos de
oferecer sacrifícios.
1352. Desde os inícios, os cristãos levam, com o pão e o vinho para a Eucaristia, seus dons para repartir
com os que estão em necessidade. Este costume da coleta, sempre atual, inspira-se no exemplo de Cristo que
se fez pobre para nos enriquecer:

Os que possuem bens em abundância e o desejam, dão livremente o que lhes parece bem, e o que se
recolhe é entregue àquele que preside. Este socorre os órfãos e viúvas e os que, por motivo de doença ou
qualquer outra razão, se encontram em necessidade, assim como os encarcerados e os imigrantes; numa
palavra, ele socorre todos os necessitados.

1353. A anáfora. Com a Oração Eucarística, oração de ação de graças e de consagração, chegamos ao
coração e ao ápice da celebração. No prefácio, a Igreja rende graças ao Pai, por Cristo, no Espírito Santo, por
todas as suas obras, pela criação, a redenção, a santificação. Toda a comunidade junta-se então a este louvor
incessante que a Igreja celeste, os anjos e todos os santos cantam ao Deus três vezes santo.
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1354. Na epiclese ela pede ao Pai que envie seu Espírito Santo (ou o poder de sua bênção) sobre o pão e
o vinho, para que se tornem, por seu poder, o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo, e para que aqueles que
tomam parte na Eucaristia sejam um só corpo e um só espírito (certas tradições litúrgicas colocam a epiclese
depois da anamnese). No relato da instituição, a força das palavras e da ação de Cristo e o poder do Espírito
Santo tornam sacramentalmente presentes, sob as espécies do pão e do vinho, o Corpo e o Sangue de Cristo,
seu sacrifício oferecido na cruz uma vez por todas.
1355. Na anamnese que segue, a Igreja faz memória da Paixão, da Ressurreição e da volta gloriosa de
Cristo Jesus; ela apresenta ao Pai a oferenda de seu Filho que nos reconcilia com ele.

Nas intercessões, a Igreja exprime que a Eucaristia é celebrada em comunhão com toda a Igreja do céu e
da terra, dos vivos e dos falecidos, e na comunhão com os pastores da Igreja, o Papa, o Bispo da diocese, seu
presbitério e seus diáconos, e todos os Bispos do mundo inteiro com suas igrejas.

1356. Na comunhão, precedida pela oração do Senhor e pela fração do pão, os fiéis recebem "o pão do
céu" e "o cálice da salvação", o Corpo e o Sangue de Cristo, que se entregou "para a vida do mundo" (Jo
6,51):

Porque este pão e este vinho foram, segundo a antiga expressão, "eucaristizados", "chamamos este
alimento de Eucaristia, e a ninguém é permitido participar na Eucaristia senão àquele que admitindo como
verdadeiros os nossos ensinamentos e tendo sido purificado pelo Batismo para a remissão dos pecados e para
o novo nascimento, levar uma vida como Cristo ensinou".

V. O sacrifício sacramental: ação de graças, memorial, presença

1357. Se os cristãos celebram a Eucaristia desde as origens, e sob uma forma que, em sua substância, não
sofreu alteração através da grande diversidade dos tempos e das liturgias, é porque temos consciência de
estarmos ligados ao mandato do Senhor, dado na véspera de sua paixão: "Fazei isto em memória de mim" (1
Cor 11 ,24-25).
1358. Cumprimos esta ordem do Senhor celebrando o memorial de seu sacrifício. Ao fazermos isto,
oferecemos ao Pai o que ele mesmo nos deu: os dons de sua criação, o pão e o vinho, que pelo poder do
Espírito Santo e pelas palavras de Cristo se tornaram o Corpo e o Sangue de Cristo, o qual, assim, se torna
real e misteriosamente presente.
1359. Por isso, temos de considerar a Eucaristia:
- como ação de graças e louvor ao Pai;
- como memorial sacrifical de Cristo e de seu corpo;
- corno presença de Cristo pelo poder de sua palavra e de seu Espírito.

A AÇÃO DE GRAÇAS E O LOUVOR AO PAI

1360. A Eucaristia, sacramento de nossa salvação realizada por Cristo na cruz, é também um sacrifício
de louvor em ação de graças pela obra da criação. No sacrifício eucarístico, toda a criação amada por Deus é
apresentada ao Pai por meio da Morte e da Ressurreição de Cristo. Por Cristo, a Igreja pode oferecer o
sacrifício de louvor em ação de graças por tudo o que Deus fez de bom, de belo e de justo na criação e na
humanidade.
1361. A Eucaristia é um sacrifício de ação de graças ao Pai, unia bênção pela qual a Igreja exprime seu
reconhecimento a Deus por todos os seus benefícios, por tudo o que ele realizou por meio da criação, da
redenção e da santificação. Eucaristia significa, primeiramente, "ação de graças".
1362. A Eucaristia é também o sacrifício de louvor por meio do qual a Igreja canta a glória de Deus em
toda a criação. Este sacrifício de louvor só é possível através de Cristo: Ele une os fiéis à sua pessoa, ao seu
louvor e à sua intercessão, de sorte que o sacrifício de louvor ao Pai é oferecido por Cristo e com ele para ser
aceito nele.

O MEMORIAL SACRIFICAL DE CRISTO E DE SEU CORPO, A IGREJA

1363. A Eucaristia é o memorial da Páscoa de Cristo, a atualização e a oferta sacramental de seu único
sacrifício na liturgia da Igreja, que é o corpo dele. Em todas as orações eucarísticas encontramos, depois das
palavras da instituição, uma oração chamada anamnese ou memorial.
1364. No sentido da Sagrada Escritura, o memorial não é somente a lembrança dos acontecimentos dos
acontecimento do passado, mas a proclamação das maravilhas que Deus realizou por todos os homens. A
celebração litúrgica desses acontecimentos toma-os de certo modo presentes e atuais. É desta maneira que
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Israel entende sua libertação do Egito: toda vez que é celebrada a Páscoa, os acontecimentos do êxodo
tomam-se presentes à memória dos crentes, para que estes conformem sua vida a eles.
1365. O memorial recebe um sentido novo no Novo Testamento. Quando a Igreja celebra a Eucaristia,
rememora a páscoa de Cristo, e esta se toma presente: o sacrifício que Cristo ofereceu uma vez por todas na
cruz torna-se sempre atual: "Todas as vezes que se celebra no altar o sacrifício da cruz, pelo qual Cristo nessa
páscoa foi imolado, efetua-se a obra de nossa redenção."
1366. Por ser memorial da páscoa de Cristo, a Eucaristia é também um sacrifício. O caráter sacrifical da
Eucaristia é manifestado nas próprias palavras da instituição: "Isto é o meu Corpo que será entregue por vós",
e "Este cálice é a nova aliança em meu Sangue, que vai ser derramado por vós" (Lc 22,19-20). Na Eucaristia,
Cristo dá este mesmo corpo que, entregou por nós na cruz, o próprio sangue que "derramou por muitos para
remissão dos pecados" (Mt 26,28).
1367. A Eucaristia é, portanto, um sacrifício porque representa (toma presente) o Sacrifício da Cruz,
porque dele é memorial e porque aplica seus frutos:

[Cristo] nosso Deus e Senhor ofereceu-se a si mesmo a Deus Pai uma única vez, morrendo como
intercessor sobre o altar da cruz, a fim de realizar por eles (os homens) uma redenção eterna. Todavia, como
sua morte não devia pôr fim ao seu sacerdócio (Hb 7,24.27), na última ceia, "na noite em que foi entregue (1
Cor 11,13), quis deixar à Igreja, sua esposa muito amada, um sacrifício visível (como o reclama a natureza
humana) em que seria representado (feito presente) o sacrifício cruento que ia realizar-se uma vez por todas
uma única vez na cruz, sacrifício este cuja memória haveria de perpetuar-se até o fim dos séculos (l Cor
11,23) e cuja virtude salutar haveria de aplicar-se à remissão dos pecados que cometemos cada dia.

1368. O sacrifício de Cristo e o sacrifício da Eucaristia são um único sacrifício: "É uma só e mesma
vítima, é o mesmo que oferece agora pelo ministério dos sacerdotes, que se ofereceu a si mesmo então na
cruz. Apenas a maneira de oferecer difere". "E porque neste divino sacrifício que se realiza na missa, este
mesmo Cristo, que se ofereceu a si mesmo uma vez de maneira cruenta no altar da cruz, está contido e é
imolado de maneira incruenta, este sacrifício é verdadeiramente propiciatório".
1369. A Eucaristia é também o sacrifício da Igreja. A Igreja, que é o corpo de Cristo, participa da oferta
de sua Cabeça. Com Cristo, ela mesma é oferecida inteira. Ela se une à sua intercessão junto ao Pai por todos
os homens. Na Eucaristia, o sacrifício de Cristo se torna também o sacrifício dos membros de seu Corpo. A
vida dos fiéis, seu louvor, seu sofrimento, sua oração, seu trabalho são unidos aos de Cristo e à sua oferenda
total, e adquirem assim um valor novo. O sacrifício de Cristo, presente sobre o altar, dá a todas as gerações
de cristãos a possibilidade de estarem unidos à sua oferta. Nas catacumbas, a Igreja é muitas vezes
representada como uma mulher em oração, com os braços largamente abertos em atitude de orante. Como
Cristo que estendeu os braços na cruz, ela se oferece e intercede por todos os homens, por meio dele, com ele
e nele.
1370. A Igreja inteira está unida à oferta e à intercessão de Cristo. Encarregado do ministério de Pedro na
Igreja, o Papa está associado a cada celebração da Eucaristia em que ele é mencionado como sinal e servidor
da unidade da Igreja universal. O Bispo do lugar é sempre responsável pela Eucaristia, mesmo quando é
presidida por um presbítero; seu nome é nela pronunciado para significar que é ele quem preside a Igreja
particular, em meio ao presbitério e com a assistência dos diáconos. A comunidade intercede assim por todos
os ministros que, por ela e com ela, oferecem o Sacrifício Eucarístico:

Que se considere legítima só esta Eucaristia que se faz sob a presidência do Bispo ou daquele a quem
este encarregou. É pelo ministério dos presbíteros que se consuma o sacrifício espiritual dos fiéis, em união
com o sacrifício de Cristo, único mediador, oferecido em nome de toda a Igreja na Eucaristia pelas mãos dos
presbíteros, de forma incruenta e sacramenta até que o próprio Senhor venha.

1371. À oferenda de Cristo unem-se não somente os membros que estão ainda na terra, mas também os
que já estão na glória do céu: é em comunhão com a santíssima Virgem Maria e fazendo memória dela, assim
como de todos os santos e santas, que a Igreja oferece o Sacrifício Eucarístico. Na Eucaristia, a Igreja, com
Maria, está como que ao pé da cruz, unida à oferta e à intercessão de Cristo.
1372. O Sacrifício Eucarístico é também oferecido pelos fiéis defuntos "que morreram em Cristo e não
estão ainda plenamente purificados", para que possam entrar na luz e na paz de Cristo:

Enterrai este corpo onde quer que seja! Não tenhais nenhuma preocupação por ele! Tudo o que vos peço
é que vos lembreis de mim no altar do Senhor onde quer que estejais.

Em seguida, oramos [na anáfora] pelos santos padres e Bispos que faleceram, e em geral por todos os
que adormeceram antes de nós acreditando que haverá muito grande benefício para as almas, em favor das
quais a súplica é oferecida, enquanto se encontra presente a santa e tão temível vítima. (...) Ao apresentarmos
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a Deus nossas súplicas pelos que adormeceram, ainda que fossem pecadores, nós (...) apresentamos o Cristo
imolado por nossos pecados, tomando propício, para eles e para nós, o Deus amigo dos homens.

1373. Santo Agostinho resumiu admiravelmente esta doutrina que nos incita a uma participação cada vez
mais completa no sacrifício de nosso redentor, que celebramos na Eucaristia:

Esta cidade remida toda inteira, isto é, a assembléia e a sociedade dos santos, é oferecida a Deus como
um sacrifício universal pelo Sumo Sacerdote que, sob a forma de escravo, chegou a ponto de oferecer-se por
nós em sua paixão, para fazer de nós o corpo de uma Cabeça tão grande. (...) Este é o sacrifício dos cristãos:
"Em muitos, ser um só corpo em Cristo" (Rm 12,5). E este sacrifício, a Igreja não cessa de reproduzi-lo no
sacramento do altar bem conhecido pelos fiéis, onde se vê que naquilo que oferece, se oferece a si mesma.

A PRESENÇA DE CRISTO PELO PODER DE SUA PALAVRA E DO ESPÍRITO SANTO

1374. "Cristo Jesus, aquele que morreu, ou melhor, que ressuscitou, aquele que está à direita de Deus e
que intercede por nós" (Rm 8,34), está presente de múltiplas maneiras em sua Igreja): em sua Palavra, na
oração de sua Igreja, "lá onde dois ou três estão reunidos em meu nome" (Mt 18,20), nos pobres, nos doentes,
nos presos, em seus sacramentos, dos quais ele é o autor, no sacrifício da missa e na pessoa do ministro. Mas
"sobretudo (está presente) sob as espécies eucarísticas".
1375. O modo de presença de Cristo sob as espécies eucarísticas é único. Ele eleva a Eucaristia acima de
todos os sacramentos e faz com que da seja "como que o coroamento da vida espiritual e o fim ao qual
tendem todos os sacramentos". No santíssimo sacramento da Eucaristia estão "contidos verdadeiramente,
realmente e substancialmente o Corpo e o Sangue juntamente com a alma e a divindade de Nosso Senhor
Jesus Cristo e, por conseguinte, o Cristo todo" . "Esta presença chama-se 'real' não por exclusão, como se as
outras não fossem 'reais', mas por antonomásia, porque é substancial e porque por ela Cristo, Deus e homem,
se toma presente completo."
1376. É pela conversão do pão e do vinho no Corpo e no Sangue de Cristo que este se torna presente em
tal sacramento. Os Padres da Igreja afirmaram com firmeza a fé da Igreja na eficácia da Palavra de Cristo e
da ação do Espírito Santo para operar esta conversão. Assim, São João Crisóstomo declara:

Não é o homem que faz com que as coisas oferecidas se tomem Corpo e Sangue de Cristo, mas o próprio
Cristo, que foi crucificado por nós. O sacerdote, figura de Cristo, pronuncia essas palavras, mas sua eficácia e
a graça são de Deus. Isto é o meu Corpo, diz ele. Estas palavras transformam as coisas oferecidas.

E Santo Ambrósio afirma acerca desta conversão:

Estejamos bem persuadidos de que isto não é o que a natureza formou, mas o que a bênção consagrou, e
que a força da bênção supera a da natureza, pois pela bênção a própria natureza mudada. Por acaso a palavra
de Cristo, que conseguiu fazer do nada o que não existia, não poderia mudar as coisas existentes naquilo que
ainda não eram? Pois não é menos dar às coisas a sua natureza primeira do que mudar a natureza delas.

1377. O Concílio de Trento resume a fé católica ao declarar "Por ter Cristo, nosso Redentor, dito que
aquilo que oferecia sob a espécie do pão era verdadeiramente seu Corpo, sempre se teve na Igreja esta
convicção, que O santo Concílio declara novamente: pela consagração do pão e do vinho opera-se a mudança
de toda a substância do pão na substância do Corpo de Cristo Nosso Senhor e de toda a substância do vinho
na substância do seu Sangue; esta mudança, a Igreja católica denominou-a com acerto e exatidão
transubstanciação".
1378. A presença eucarística de Cristo começa no momento da consagração e dura também enquanto
subsistirem as espécies eucarísticas. Cristo está presente inteiro em cada uma das espécies e inteiro em cada
uma das partes delas, de maneira que a fração do pão não divide o Cristo.
1379. O culto da Eucaristia. Na liturgia da missa, exprimimos nossa fé na presença real de Cristo sob as
espécies do pão e do vinho, entre outras coisas, dobrando os joelhos, ou inclinando-nos profundamente em
sinal de adoração do Senhor. "A Igreja católica professou e professa este culto de adoração que é devido ao
sacramento da Eucaristia não somente durante a Missa, mas também fora da celebração dela, conservando
com o máximo cuidarem com solenidade, levando-as em procissão.
1380. A santa reserva (tabernáculo) era primeiro destinada a guardar dignamente a Eucaristia para que
pudesse ser levada, fora da missa, aos doentes e aos ausentes. Pelo aprofundamento da fé na presença real de
Cristo em sua Eucaristia, a Igreja tomou consciência do sentido da, adoração silenciosa do Senhor presente
sob as espécies eucarísticas. É por isso que o tabernáculo deve ser colocado em um local particularmente
digno da igreja; deve ser construído de tal forma que sublinhe e manifeste a verdade da presença real de
Cristo no santo sacramento.
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1381. É altamente conveniente que Cristo tenha querido ficar presente à sua Igreja desta maneira
singular. Visto que estava para deixar os seus em sua forma visível, Cristo quis dar-nos sua presença
sacramental; já que ia oferecer-se na cruz para nos salvar, queria que tivéssemos o memorial do amor com o
qual nos amou "até o fim" (Jo 13,1), até o dom de sua vida. Com efeito, em sua presença eucarística Ele
permanece misteriosamente no meio de nós como aquele que nos amou e que se entregou por nós, e o faz sob
os sinais que exprimem e comunicam este amor:

A Igreja e o mundo precisam muito do culto eucarístico. Jesus nos espera neste sacramento do amor. Não
regateemos o tempo para ir encontrá-lo na adoração, na contemplação cheia de fé e aberta a reparar as faltas
graves e os delitos do mundo. Que a nossa adoração nunca cesse!

1382. "A presença do verdadeiro Corpo de Cristo e do verdadeiro Sangue de Cristo neste sacramento
'não se pode descobrir pelos sentidos, diz Santo Tomás, mas só com fé, baseada na autoridade de Deus'. Por
isso, comentando o texto de São Lucas 22,19 ("Isto é o meu Corpo que será entregue por vós"), São Cirilo
declara: 'Não perguntes se é ou não verdade; aceita com fé as palavras do Senhor, porque ele, que é a
verdade, não mente":

VI. O banquete pascal

1383. A missa é ao mesmo tempo e inseparavelmente o memorial sacrifical no qual se perpetua o


sacrifício da cruz, e o banquete sagrado da comunhão no Corpo e no Sangue do Senhor. Mas a celebração do
Sacrifício Eucarístico está toda orientada para a união íntima dos fiéis com Cristo pela comunhão. Comungar
é receber o próprio Cristo que se ofereceu por nós.
1384. O altar, em tomo do qual a Igreja está reunida na celebração da Eucaristia, representa os dois
aspectos de um mesmo mistério: o altar do sacrifício e a mesa do Senhor, e isto tanto mais porque o altar
cristão é o símbolo do próprio Cristo, presente no meio da assembléia de seus fiéis, ao mesmo tempo como
vítima oferecida por nossa reconciliação e como alimento celeste que se dá a nós. "Com efeito, que é o altar
de Cristo senão a imagem do Corpo de Cristo?" - diz Santo Ambrósio; e alhures: "O altar representa o Corpo
[de Cristo], e o Corpo de Cristo está sobre o altar". A liturgia exprime esta unidade do sacrifício e da
comunhão em muitas orações. Assim, a Igreja de Roma ora em sua anáfora:

Nós vos suplicamos que ela seja levada à vossa presença, para que, ao participarmos deste altar,
recebendo o Corpo e o Sangue de vosso Filho, sejamos repletos de todas as graças e bênçãos do céu.

"TOMAI E COMEI DELE TODOS VÓS": A COMUNHÃO

1385. O Senhor nos convida insistentemente a recebê-lo no sacramento da Eucaristia: "Em verdade, em
verdade, vos digo: se não comerdes a Carne do Filho do homem e não beberdes o seu Sangue, não tereis a
vida em vós" (Jo 6,53).
1386. Para responder a este convite, devemos preparar-nos para este momento tão grande e tão santo.
São Paulo exorta a um exame de consciência: "Todo aquele que comer do pão ou beber do cálice do Senhor
indignadamente será réu do Corpo e do Sangue do Senhor. Por conseguinte que cada um examine a si mesmo
antes de comer desse pão e beber desse cálice, pois aquele que come e bebe sem discernir o Corpo, come e
bebe a própria condenação" (1 Cor 11,27-29). Quem está consciente de um pecado grave deve receber o
sacramento da reconciliação antes de receber a comunhão.
1387. Diante da grandeza deste sacramento, o fiel só pode repetir humildemente e com fé ardente a
palavra do Centurião: "Domine, non sum dignus ut mires sub tectum meum sed tantum dic verbo et sanabitur
anima mea - Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha morada, mas dizei uma palavra e serei
salvo". E na divina liturgia de São João Crisóstomo os fiéis oram no mesmo espírito:

Da vossa ceia mística fazei-me participar hoje, ó Filho de Deus. Pois não revelarei o Mistério aos vossos
inimigos, nem vos darei o beijo de Judas. Mas, como o ladrão, clamo a vós: Lembrai-vos de mim, Senhor, no
vosso reino.

1388. A fim de se prepararem convenientemente para receber este sacramento, os fiéis observarão o
jejum prescrito em sua Igreja (Cf CIC cânone 919). A atitude corporal (gestos, roupa) há de traduzir o
respeito, a solenidade, a alegria deste momento em que Cristo se torna nosso hóspede.
1389. É consentâneo com o próprio sentido da Eucaristia que os fiéis, se tiverem as disposições
requeridas, comunguem quando participarem da missa: "Recomenda-se muito aquela participação mais
perfeita à missa, pela qual os fiéis, depois da comunhão do sacerdote, comungam o Corpo do Senhor do
mesmo sacrifício".
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1390. A Igreja obriga os fiéis "a participar da divina liturgia aos domingos e nos dias festivos" e a
receber a Eucaristia pelo menos uma vez ao ano, se possível no tempo pascal, preparados pelo sacramento da
reconciliação. Mas recomenda vivamente aos fiéis que recebam a santa Eucaristia nos domingos e dias
festivos, ou ainda com maior freqüência, e até todos os dias.
1391. Graças à presença sacramental de Cristo sob cada uma das espécies, a comunhão somente sob a
espécie do pão permite receber todo o fruto de graça da Eucaristia. Por motivos pastorais, esta maneira de
comungar estabeleceu-se legitimamente como a mais habitual no rito latino. "A santa comunhão realiza-se
mais plenamente sob sua forma de sinal quando se faz sob as duas espécies. Pois sob esta forma o sinal do
banquete eucarístico é mais plenamente realçado." Nos ritos orientais, esta é a forma habitual de comungar.

OS FRUTOS DA COMUNHÃO

1392. A comunhão aumenta a nossa união com Cristo. Receber a Eucaristia na comunhão traz como
fruto principal a união intima o com Cristo Jesus. Pois o Senhor diz: "Quem come a minha Carne e bebe o
meu Sangue permanece em mim e eu nele" (Jo 6,56). A vida em Cristo tem seu fundamento no banquete
eucarístico: "Assim como o Pai, que vive, me enviou e eu vivo pelo Pai, também aquele que de mim se
alimenta viverá por mim" (Jo 6,57):

Quando nas festas do Senhor os fiéis recebem o Corpo do Filho, proclamam uns aos outros a Boa Nova
de que é dado o penhor da vida, como quando o anjo disse a Maria de Mágdala: "Cristo ressuscitou!". Eis
que agora também a vida e a ressurreição são conferidas àquele que recebe o Cristo.

1393. O que o alimento material produz em nossa vida corporal, a comunhão o realiza de maneira
admirável em nossa vida espiritual. A comunhão da Carne de Cristo ressuscitado, "vivificado pelo Espírito
Santo e vivificante", conserva, aumenta e renova a vida da graça recebida no Batismo. Este crescimento da
vida cristã precisa ser alimentado pela Comunhão Eucarística, pão da nossa peregrinação, até o momento da
morte, quando nos ser dado como viático.
1394. A comunhão separa-nos do pecado. O Corpo de Cristo que recebemos na comunhão é "entregue
por nós", e o Sangue que bebemos é "derramado por muitos para remissão dos pecados". Por isso a Eucaristia
não pode unir-nos a Cristo sem purificar-nos ao mesmo tempo dos pecados cometidos e sem preservar-nos
dos pecados futuros:

"Toda vez que o recebermos, anunciamos a morte do Senhor". Se anunciamos a morte do Senhor,
anunciamos a remissão dos pecados. Se, toda vez que o seu Sangue é derramado, o é para a remissão dos
pecados, devo recebê-lo sempre, para que perdoe sempre os meus pecados. Eu que sempre peco, devo ter
sempre um remédio.

1395. Como o alimento corporal serve para restaurar a perda das forças, a Eucaristia fortalece a caridade
que, na vida diária, tende a arrefecer; e esta caridade vivificada apaga os pecados veniais. Ao dar-se a nós,
Cristo reaviva nosso amor e nos torna capazes de romper as amarras desordenadas com as criaturas e de
enraizar-nos nele:

Visto que Cristo morreu por nós por amor, quando fazemos memória de sua morte no momento do
sacrifício pedimos que o amor nós seja concedido pela vinda do Espírito Santo; pedimos humildemente que
em virtude deste amor, pelo qual Cristo quis morrer por nós, nós também, recebendo a graça do Espírito
Santo, possamos considerar o mundo como crucificado para nós, e sejamos nós mesmos crucificados para o
mundo. (...)Tendo recebido o dom de amor morramos para o pecado e vivamos para Deus.

1396. Pela mesma caridade que acende em nós, a Eucaristia nos preserva dos pecados mortais futuros.
Quanto mais participarmos da vida de Cristo e quanto mais progredirmos em sua amizade, tanto mais difícil
de ele separar-nos pelo pecado mortal. A Eucaristia não é destinada a perdoar pecados mortais. Isso é próprio
do sacramento da reconciliação. É próprio da Eucaristia ser o sacramento daqueles que estão na comunhão
plena da Igreja.
1397. A unidade do corpo místico: a Eucaristia faz a Igreja. Os que recebem a Eucaristia estão unidos
mais intimamente a Cristo. Por isso mesmo, Cristo os une a todos os fiéis em um só corpo, a Igreja. A
comunhão renova, fortalece, aprofunda esta incorporação à Igreja, realizada já pelo Batismo. No Batismo
fomos chamados a constituir um só corpo. A Eucaristia realiza este apelo: "O cálice de bênção que
abençoamos não é comunhão com o Sangue de Cristo? O pão que partimos não é comunhão com o Corpo de
Cristo? Já que há um único pão, nós, embora muitos, somos um só corpo, visto que todos participamos desse
único pão" (1Cor 10,16-17).
68
Se sois o corpo e os membros de Cristo, é o vosso sacramento que é colocado sobre a mesa do Senhor,
recebeis o vosso sacramento. Respondeis "Amém" ("sim, é verdade!") àquilo que recebeis, e subscreveis ao
responder. Ouvis esta palavra: "o Corpo de Cristo", e respondeis: "Amém". Sede, pois, um membro de
Cristo, para que o vosso Amém seja verdadeiro.

1398. A Eucaristia compromete com os pobres. Para receber na verdade o Corpo e o Sangue de Cristo
entregues por nós, devemos reconhecer o Cristo nos mais pobres, seus irmãos:

Degustaste o Sangue do Senhor e não reconheces sequer o teu irmão. Desonras esta própria mesa, não
julgando digno de compartilhar do teu alimento aquele que foi julgado digno de participar desta mesa. Deus
te libertou de todos os teus pecados e te convidou para esta mesa. E tu, nem mesmo assim, te tornaste mais
misericordioso.

1399. A Eucaristia e a unidade dos cristãos. Diante da grandeza deste mistério, Santo Agostinho
exclama: "Ó sacramento da piedade! Ó sacramento da unidade! Ó vínculo da caridade!". Quanto mais
dolorosas se fazem sentir as divisões da Igreja que rompem a participação comum à mesa do Senhor, tanto
mais prementes são as orações ao Senhor para que voltem os dias da unidade completa de todos os que nele
crêem.
1400. As Igrejas orientais que não estão em comunhão plena com a Igreja católica celebram a Eucaristia
com um grande amor. "Essas Igrejas, embora separadas, têm verdadeiros sacramentos - principalmente, em
virtude da sucessão apostólica, o sacerdócio e a Eucaristia -, que as unem intimamente a nós." Por isso certa
comunhão in sacris na Eucaristia é "não somente possível, mas até aconselhável, em circunstâncias
favoráveis e com a aprovação da autoridade eclesiástica".
1401. As comunidades eclesiais oriundas da Reforma, separadas da Igreja católica, "em razão sobretudo
da ausência do sacramento da ordem, não conservaram a substância própria e integral do mistério
eucarístico". Por este motivo a intercomunhão eucarística com essas comunidades não é possível para a
Igreja católica. Todavia, essas comunidades eclesiais, "quando fazem memória, na Santa ceia, da morte e da
ressurreição do Senhor, professam que a vida consiste na comunhão com Cristo e esperam sua volta
gloriosa".
1402. Quando urge uma necessidade grave, a critério do ordinário, os ministros católicos podem dar os
sacramentos Eucaristia, Penitência, Unção dos Enfermos) aos outros cristãos que não estão em plena
comunhão com a Igreja católica, mas que os pedem espontaneamente: é preciso então que manifestem a fé
católica no tocante a esses sacramentos e que apresentem as disposições exigidas.

VII. A Eucaristia - "penhor da glória futura"

1403. Em uma oração, a Igreja aclama o mistério da Eucaristia: "O sacrum convivium in quo Christus
sumitur. Recolitur memoria passionis eius; mens impletur gratia etffiturae gloriae nobis pignus datur - O
sagrado banquete, em que de Cristo nos alimentamos. Celebra-se a memória de sua Paixão, o espírito é
repleto de graças e se nos dão penhor da glória". Se a Eucaristia é o memorial da Páscoa do Senhor, se por
nossa comunhão ao altar somos repletos "de todas as graças e bênçãos do céu", a Eucaristia também a
antecipação da glória celeste.
1404. Quando da última Ceia, o Senhor mesmo dirigia o olhar de seus discípulos para a realização da
Páscoa no Reino de Deus: "Desde agora não beberei deste fruto da videira até aquele dia em que convosco
beberei o vinho novo no Reino de meu Pai" (Mt 26,29). Toda vez que a Igreja celebra a Eucaristia lembra-se
desta promessa, e seu olhar se volta para "aquele que vem" (Ap 1,4). Em sua oração, suspira por sua vinda:
"Maran athá" (1 Cor 16,22), "Vem, Senhor Jesus" (Ap 22,20), "Venha vossa graça e passe este mundo!"
1405. A Igreja sabe que, desde agora, o Senhor vem em sua Eucaristia, e que ali Ele está, no meio de nós.
Contudo, esta presença é velada. Por isso, celebramos a Eucaristia "expectantes beatam spem et adventum
Salvatoris nostri Jesu Christi - aguardando a bem-aventurada esperança e a vinda de nosso Salvador Jesus
Cristo", pedindo "saciar-nos eternamente da vossa glória, quando enxugardes toda lágrima dos nossos olhos.
Então, contemplando-vos como sois, seremos para sempre semelhantes a vós e cantaremos sem cessar os
vossos louvores, por Cristo, Senhor nosso".
1406. Desta grande esperança, a dos céus novos e da terra nova nos quais habitará a justiça, não temos
penhor mais seguro, sinal mais manifesto do que a Eucaristia. Com efeito, toda vez que é celebrado este
mistério, "opera-se a obra da nossa redenção" e nós "partimos um mesmo pão, que é remédio de
imortalidade, antídoto não para a morte, mas para a vida eterna em Jesus Cristo".
69
RESUMINDO

1407. Jesus disse: "Eu sou o pão vivo, descido do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente......
Quem come a minha Carne e bebe o meu Sangue tem vida eterna. (...) permanece em mim e eu nele" (Jo
6,51.54.56).
1408. A Eucaristia é o coração e o ápice da vida da Igreja, pois nela Cristo associa sua Igreja e todos os
seus membros a seu sacrifício de louvor e de ação de graças oferecido uma vez por todas na cruz a seu Pai;
por seu sacrifício ele derrama as graças da salvação sobre o seu corpo, que é a Igreja.
1409. A Celebração Eucarística comporta sempre: a proclamação da Palavra de Deus, a ação de
graças a Deus Pai por todos os seus benefícios, sobretudo pelo dom de seu Filho, a consagração do pão e do
vinho e a participação no banquete litúrgico pela recepção do Corpo e do Sangue do Senhor. Estes
elementos constituem um só e mesmo ato de culto.
1410. A Eucaristia é o memorial da páscoa de Cristo: isto é, da obra da salvação realizada pela Vida,
Morte e Ressurreição de Cristo, obra esta tornada presente pela ação litúrgica.
1411. É Cristo mesmo, sumo sacerdote eterno da nova aliança, que, agindo pelo ministério dos
sacerdotes, oferece o sacrifício eucarístico. E é também o mesmo Cristo, realmente presente sob as espécies
do pão e do vinho, que é a oferenda do Sacrifício Eucarístico.
1412. Só os sacerdotes validamente ordenados podem presidir a Eucaristia e consagrar o pão e o vinho
para que se tornem a Corpo e o Sangue do Senhor.
1413. Os sinais essenciais do Sacramento Eucarístico são o pão de trigo e o vinho de uva, sobre os quais
é invocada a bênção da Espírito Santo, e o sacerdote pronuncia as palavras da consagração ditas por Jesus
durante a ultima ceia: "Isto é o meu Corpo entregue por vós. (...) Este é o cálice do meu Sangue (...)"
1414. Por meio da consagração opera-se a transubstanciação do pão e do vinho no Corpo e no Sangue
de Cristo. Sob as espécies consagradas do pão e do vinho, Cristo mesmo, vivo e glorioso está presente de
maneira verdadeira, real e substancial, seu Corpo e seu Sangue, com sua alma e sua divindade.
1415. Enquanto sacrifício, a Eucaristia é também oferecida em reparação dos pecados dos vivos e dos
defuntos, e para obter de Deus benefícios espirituais ou temporais.
1416. Quem quer receber a Cristo na comunhão eucarística deve estar em estado de graça. Se alguém
tem consciência de ter pecado mortalmente, não deve comungar a Eucaristia sem ter recebido previamente a
absolvição no sacramento da penitência.
1417. A santa comunhão do Corpo e do Sangue de Cristo aumenta a união do comungante com o
Senhor, perdoa-lhe os pecados veniais e o preserva dos pecados graves. Por serem reforçados os laços de
caridade entre o comungante e Cristo, a recepção deste sacramento reforça a unidade da Igreja, corpo
místico de Cristo.
1418. A Igreja recomenda vivamente aos fiéis que recebam a Santa Comunhão quando participam da
celebração da Eucaristia; impõe-lhes a obrigação de comungar pelo menos uma vez por ano.
1419. Visto que Cristo mesmo está presente no Sacramento do altar, é preciso honrá-lo com um culto de
adoração. "A visita ao Santíssimo Sacramento é uma prova de gratidão, um sinal de amor e um dever de
adoração para com Cristo, nosso Senhor. "
1420. Tendo Cristo passado deste mundo ao Pai, dá-nos na Eucaristia o penhor da glória junto dele: a
participação no Santo Sacrifício nos identifica com o seu coração, sustenta as nossa forças ao longo da
peregrinação desta vida, faz-nos desejar a vida eterna e nos une já à Igreja do céu, à santa Virgem Maria e
a todos os santos.

4.2 - OS SACRAMENTOS DE CURA

1421. Pelos sacramentos da iniciação cristã, o homem recebe a vida nova de Cristo. Ora, esta vida nós a
trazemos "em vasos de argila" (2Cor 4,7). Agora, ela ainda se encontra "escondida com Cristo em Deus" (Cl
3,3). Estamos ainda em "nossa morada terrestre", sujeitos ao sofrimento, à doença e à morte. Esta nova vida
de filhos de Deus pode se tornar debilitada e até perdida pelo pecado.
1422. O Senhor Jesus Cristo, médico de nossas almas e de nossos corpos, que remiu os pecados do
paralítico e restituiu-lhe a saúde do corpo, quis que sua Igreja continuasse, na força do Espírito Santo, sua
obra de cura e de salvação, também junto de seus próprios membros. É esta a finalidade dos dois sacramentos
de cura: o sacramento da Penitência e o sacramento da Unção dos Enfermos.

4.2.1 - O SACRAMENTO DA PENITÊNCIA E DA RECONCILIAÇÃO

1423. "Aqueles que se aproximam do sacramento da Penitência obtêm da misericórdia divina o perdão da
ofensa feita a Deus e ao mesmo tempo são reconciliados com a Igreja que feriram pecando, e a qual colabora
para sua conversão com caridade exemplo e orações."
70
I. Como se chama este sacramento?

1424. Chama-se sacramento da Conversão, pois realiza sacramentalmente o convite de Jesus à


conversão, o caminho de volta ao Pai, do qual a pessoa se afastou pelo pecado.

Chama-se sacramento da Penitência porque consagra um esforço pessoal e eclesial de conversão, de


arrependimento e de satisfação do cristão pecador.

1425. É chamado sacramento da Confissão porque a declaração, a confissão dos pecados diante do
sacerdote é um elemento essencial desse sacramento. Num sentido profundo esse sacramento também é uma
"confissão", reconhecimento e louvor da santidade de Deus e de sua misericórdia para com o homem
pecador. Também é chamado sacramento do perdão porque pela absolvição sacramental do sacerdote Deus
concede "o perdão e a paz"

É chamado sacramento da Reconciliação porque dá ao pecador o amor de Deus que reconcilia:


"Reconciliai-vos com Deus" (2Cor 5,20). Quem vive do amor misericordioso de Deus está pronto a
responder ao apelo do Senhor: "Vai primeiro reconciliar-te com teu irmão" (Mt 5,24).

II. Por que um sacramento da Reconciliação após o Batismo?

1426. "Vós vos lavastes, mas fostes santificados, mas fostes justificados em nome do Senhor Jesus Cristo
e pelo Espírito de nosso Deus" (1 Cor 6,11). É preciso tomar consciência da grandeza do dom de Deus que
nos é oferecido nos sacramentos da iniciação cristã para compreender até que ponto o pecado é algo que deve
ser excluído daquele que se "vestiu de Cristo". Mas o apóstolo São João também diz: "Se dissermos: "Não
temos pecado", enganamo-nos a nós mesmos, e a verdade não está em nós" (1Jo 1,8). E o próprio Senhor nos
ensinou a rezar: "Perdoa-nos os nossos pecados" (Lc 11,4), vinculando o perdão de nossas ofensas ao perdão
que Deus nos conceder de nossos pecados.
1427. A conversão a Cristo, o novo nascimento pelo Batismo, o dom do Espírito Santo, o Corpo e o
Sangue de Cristo recebidos como alimento nos tornaram "santos e irrepreensíveis diante dele" (Ef 1,4), como
a própria Igreja, esposa de Cristo, é "santa e irrepreensível" (Ef 5,27). Entretanto, a nova vida recebida na
iniciação cristã não suprimiu a fragilidade e a fraqueza da natureza humana, nem a inclinação ao pecado, que
a tradição chama de concupiscência, que continua nos batizados para prová-los no combate da vida cristã,
auxiliados pela graça de Cristo. É o combate da conversão para chegar à santidade e à vida eterna, para a qual
somos incessantemente chamados pelo Senhor.

III. A conversão dos batizados

1428. Jesus convida à conversão. Este apelo é parte essencial do anúncio do Reino: "Cumpriu-se o tempo
e o Reino de Deus está próximo. Arrependei-vos e crede no Evangelho" (Mc 1,15). Na pregação da Igreja
este apelo é feito em primeiro lugar aos que ainda não conhecem a Cristo e seu Evangelho. Além disso, o
Batismo é o principal lugar da primeira e fundamental conversão. É pela fé na Boa Nova e pelo Batismo que
se renuncia ao mal e se adquire a salvação, isto é, a remissão de todos os pecados e o dom da nova vida.
1429. Ora, o apelo de Cristo à conversão continua a soar na vida dos cristãos. Esta segunda conversão é
uma tarefa ininterrupta para toda a Igreja, que "reúne em seu próprio seio os pecadores" e que "e ao mesmo
tempo santa e sempre, na necessidade de purificar-se, busca sem cessar a penitência e a renovação". Este
esforço de conversão não é apenas uma obra humana. E o movimento do "coração contrito" atraído e movido
pela graça a responder ao amor misericordioso de Deus que nos amou primeiro.
1430. Comprova-o a conversão de 5. Pedro após a tríplice negação de seu mestre. O olhar de infinita
misericórdia de Jesus provoca lágrimas de arrependimento e, depois da ressurreição do Senhor, a afirmação,
três vezes reiterada, de seu amor por e1e. A segunda conversão também possui uma dimensão comunitária.
Isto aparece no apelo do Senhor a toda uma Igreja: "Converte-te!" (Ap 2,5.16).

Santo Ambrósio, referindo-se às duas conversões, diz que na Igreja "existem a água e as lágrimas: a água
do Batismo e as lágrimas da penitência".

IV. A penitência interior

1431. Como já nos profetas, o apelo de Jesus à conversão e penitência não visa em primeiro lugar às
obras exteriores, saco e a cinza", os jejuns e as mortificações, mas à conversão do coração, à penitência
interior. Sem ela, as obras de penitência continuam estéreis e enganadoras: a conversão interior, ao contrário,
impele a expressar essa atitude por sinais visíveis, gestos e obras de penitência.
71
1432. A penitência interior é uma reorientação radical de toda a vida, um retorno, uma conversão para
Deus de todo nosso coração, uma ruptura com o pecado, uma aversão ao mal e repugnância às m s obras que
cometemos. Ao mesmo tempo, é o desejo e a resolução de mudar de vida com a esperança da misericórdia
divina e a confiança na ajuda de sua graça. Esta conversão do coração vem acompanhada de uma dor e uma
tristeza salutares, chamadas pelos Padres de "animi cruciatus (aflição do espírito)", "compunctio cordis
(arrependimento do coração)" .
1433. O coração do homem apresenta-se pesado e endurecido. É preciso que Deus dê ao homem um
coração novo. A conversão é antes de tudo uma obra da graça de Deus que reconduz nossos corações a ele:
"Converte-nos a ti, Senhor, e nos converteremos" (Lm 5,21). Deus nos dá a força de começar de novo. É
descobrindo a grandeza do amor de Deus que nosso coração experimenta o horror e o peso do pecado e
começa a ter medo de ofender a Deus pelo mesmo pecado e de ser separado dele. O coração humano
converte-se olhando para aquele que foi traspassado por nossos pecados.

Fixemos nossos olhos no sangue de Cristo para compreender como é precioso a seu Pai porque,
derramado para a nossa salvação, dispensou ao mundo inteiro a graça do arrependimento.

1434. Depois da Páscoa, o Espírito Santo "estabelecer a culpabilidade do mundo a respeito do pecado", a
saber, que o mundo não acreditou naquele que o Pai enviou. Mas esse mesmo Espírito, que revela o pecado, é
o Consolador que dá ao coração do homem a graça do arrependimento e da conversão.

V. As múltiplas formas da penitência na vida cristã

1435. A penitência interior do cristão pode ter expressões bem variadas. A escritura e os padres insistem
principalmente em três formas: o jejum, a oração e a esmola, que exprimem a conversão com relação a si
mesmo, a Deus e aos outros. Ao lado da purificação radical operada pelo batismo ou pelo martírio, citam,
como meio de obter o perdão dos pecados, os esforços empreendidos para reconciliar-se com o próximo, as
lágrimas de penitência, a preocupação com a salvação do próximo, a intercessão dos santos e a prática da
caridade, "que cobre uma multidão de pecados" (1Pd 4,8).
1436. A conversão se realiza na vida cotidiana por meio de gestos de reconciliação, do cuidado dos
pobres, do exercício e da defesa da Justiça e do direito, pela confissão das faltas aos irmãos, pela correção
fraterna, pela revisão de vida, pelo exame de consciência pela direção espiritual, pela aceitação dos
sofrimentos, pela firmeza na perseguição por causa da justiça. Tomar sua cruz, cada dia, seguir a Jesus é o
caminho mais seguro da penitencia.
1437. Eucaristia e penitência. A conversão e a penitência cotidiana encontram sua fonte e seu alimento
na Eucaristia, pois nela se torna presente o sacrifício de Cristo que nos reconciliou com Deus; por ela são
nutridos e fortificados aqueles que vivem da vida de Cristo: "ela é o antídoto que nos liberta de nossas faltas
cotidianas e nos preserva dos pecados mortais".
1438. A leitura da Sagrada Escritura, a oração da Liturgia das Horas e do Pai-nosso, todo ato sincero de
culto ou de piedade reaviva em nós o espírito de conversão e de penitência e contribui para o perdão dos
pecados.
1439. Os tempos e os dias de penitência ao longo do ano litúrgico (o tempo da quaresma, cada sexta-feira
em memória da morte do Senhor) são momentos fortes da prática penitencial da Igreja. Esses tempos são
particularmente apropriados aos exercícios espirituais, às liturgias penitenciais, às peregrinações em sinal de
penitência, às privações voluntárias como o jejum e a esmola, à partilha fraterna (obras de caridade e
missionárias).
1440. O dinamismo da conversão e da penitência foi maravilhosamente descrito por Jesus na parábola do
"filho pródigo", cujo centro é "O pai misericordioso": o fascínio de uma liberdade ilusória, o abandono da
casa paterna; a extrema miséria em que se encontra o filho depois de esbanjar sua fortuna; a profunda
humilhação de ver-se obrigado a cuidar dos porcos e, pior ainda, de querer matar a fome com a sua ração; a
reflexão sobre os bens perdidos; o arrependimento e a decisão de declarar-se culpado diante do pai; o
caminho de volta; o generoso acolhimento da parte do pai; a alegria do pai: tudo isso são traços específicos
do processo de conversão. A bela túnica, o anel e o banquete da festa são símbolos desta nova vida, pura,
digna, cheia de alegria, que é a vida do homem que volta a Deus e ao seio de sua família, que é a Igreja. Só o
coração de Cristo que conhece as profundezas do amor do Pai pôde revelar-nos o abismo de sua misericórdia
de uma maneira tão simples e tão bela.

VI. O sacramento da Penitência e da Reconciliação

1441. O pecado é antes de tudo uma ofensa a Deus, uma ruptura da comunhão com ele. Ao mesmo
tempo é um atentado à comunhão com a Igreja. Por isso, a conversão traz simultaneamente o perdão de Deus
e a reconciliação com a Igreja, Q que é expresso e realizado liturgicamente pelo sacramento da Penitência e
da Reconciliação.
72
SÓ DEUS PERDOA OS PECADOS

1442. Só Deus perdoa os pecados. Por ser o Filho de Deus, Jesus diz de si mesmo: "O Filho do homem
tem poder de perdoar pecados na terra" (Mc 2,10) e exerce esse poder divino: "Teus pecados estão
perdoados!" (Mc 2,5). Mais ainda: em virtude de sua autoridade divina, transmite esse poder aos homens
para que o exerçam em seu nome.
1443. A vontade de Cristo é que toda a sua Igreja seja, na oração, em sua vida e em sua ação, o sinal e
instrumento do perdão e da reconciliação que "ele nos conquistou ao preço de seu sangue". Mas confiou o
exercício do poder de absolvição ao ministério apostólico, encarregado do "ministério da reconciliação"
(2Cor 5,18). O apóstolo é enviado "em nome de Cristo", e "é o próprio Deus" que, por meio dele, exorta e
suplica: "Reconciliai-vos com Deus" (2Cor 5,20).

RECONCILIAÇÃO COM A IGREJA

1444. Durante sua vida pública, Jesus não só perdoou os pecados, mas também manifestou o efeito desse
perdão: reintegrou os pecadores perdoados na comunidade do povo de Deus, da qual o pecado os havia
afastado ou até excluído. Um sinal evidente disso é o fato de Jesus admitir os pecadores à sua mesa e, mais
ainda, de Ele mesmo sentar-se à sua mesa, gesto que exprime de modo estupendo ao mesmo tempo o perdão
de Deus e o retomo ao seio do Povo de Deus.
1445. Conferindo aos apóstolos seu próprio poder de perdoar os pecados, o Senhor também lhes dá a
autoridade de reconciliar os pecadores com a Igreja. Esta dimensão eclesial de sua tarefa exprime-se
principalmente na solene palavra de Cristo a Simão Pedro: "Eu te darei as chaves do Reino dos Céus, e o que
ligares na terra ser ligado nos céus, e o que desligares na terra será desligado nos céus" (Mt 16,19). "O múnus
de ligar e desligar, que foi dado a Pedro, consta que também foi dado ao colégio do apóstolos, unido a seu
chefe (cf. Mt 18,18; 28,16-20)."
1446. As palavras ligar e desligar significam: aquele que excluirdes da vossa comunhão, será excluído da
comunhão com Deus; aquele que receberdes de novo na vossa comunhão, Deus o acolherá também na sua. A
reconciliação com a Igreja é inseparável da reconciliação com Deus.

O SACRAMENTO DO PERDÃO

1447. Cristo instituiu o sacramento da Penitência para todos os membros pecadores de sua Igreja, antes
de tudo para aqueles que, depois do Batismo, cometeram pecado grave e com isso perderam a graça batismal
e feriram a comunhão eclesial. E a eles que o sacramento da Penitência oferece uma nova possibilidade de
converter-se e de recobrar a graça da justificação. Os Padres da Igreja apresentam este sacramento como "a
segunda tábua (de salvação) depois do naufrágio que é a perda da graça.
1448. No curso dos séculos, a forma concreta segundo a qual a Igreja exerceu este poder recebido do
Senhor variou muito. Nos primeiros séculos, a reconciliação dos cristãos que haviam cometido pecados
particularmente graves depois do Batismo (por exemplo, a idolatria, o homicídio ou o adultério) estava ligada
a uma disciplina bastante rigorosa, segundo a qual os penitentes deviam fazer penitência pública por seus
pecados, muitas vezes durante longos anos, antes de receber a reconciliação. A esta "ordem dos penitentes"
(que incluía apenas certos pecados graves) só se era admitido raramente e, em certas regiões, só uma vez na
vida. No século VII, inspirados na tradição monástica do Oriente, os missionários irlandeses trouxeram para
a Europa continental a prática "privada" da penitência que não mais exigia a prática pública e prolongada de
obras de penitência antes de receber a reconciliação com a Igreja. O sacramento se realiza daí em diante de
uma forma mais secreta entre o penitente e o presbítero. Esta nova prática previa a possibilidade da repetição,
abrindo assim o caminho para uma freqüência regular a este sacramento. Permitia integrar numa única
celebração sacramental o perdão dos pecados graves e dos pecados veniais. Em linhas gerais, é essa a forma
de penitência praticada na Igreja até hoje.
1449. Mediante as mudanças por que passaram a disciplina e a celebração deste sacramento ao longo dos
séculos, podemos discernir sua própria estrutura fundamental que consta de dois elementos igualmente
essenciais: de um lado, os atos do homem que se converte sob a ação do Espírito Santo, a saber, a contrição,
a confissão e a satisfação; de outro lado, a ação de Deus por intermédio da Igreja. A Igreja que, pelo Bispo e
seus presbíteros, concede, em nome de Jesus Cristo, o perdão dos pecados e fixa a modalidade da satisfação,
ora pelo pecador e faz penitência com ele. Assim o pecador é curado e reintegrado na comunhão eclesial.
1450. A fórmula da absolvição em uso na Igreja latina exprime os elementos essenciais deste
sacramento: o Pai das misericórdias é a fonte de todo perdão. Ele opera a reconciliação dos pecadores pela
páscoa de seu Filho e pelo dom de seu Espírito, por meio da oração e ministério da Igreja:

Deus, Pai de misericórdia, que, pela Morte e Ressurreição de seu Filho, reconciliou o mundo consigo e
enviou o Espírito Santo para remissão dos pecados, te conceda, pelo ministério da Igreja, o perdão e a paz. E
eu te absolvo dos teus pecados, em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo
73
VII. Os atos do penitente

1451. "A penitência impele o pecador a suportar tudo de boa vontade. Em seu coração está o
arrependimento; em sua boca, a acusação; em suas obras, plena humildade e proveitosa satisfação".

A CONTRIÇÃO

1452. Entre os atos do penitente, a contrição vem em primeiro lugar. Consiste "numa dor da alma e
detestação do pecado cometido, com a resolução de não mais pecar no futuro" .
1453. Quando brota do amor de Deus, amado acima de tudo, contrição é "perfeita" (contrição de
caridade). Esta contrição perdoa as faltas veniais e obtém também o perdão dos pecado mortais, se incluir a
firme resolução de recorrer, quando possível, à confissão sacramental.
1454. A contrição chamada "imperfeita" (ou "atrição") também é um dom de Deus, um impulso do
Espírito Santo. Nasce da consideração do peso do pecado ou do temor da condenação eterna e de outras
penas que ameaçam o pecador (contrição por temor). Este abalo da consciência pode ser o início de uma
evolução interior que ser concluída sob a ação da graça, pela absolvição sacramental. Por si mesma, porém, a
contrição imperfeita não obtém o perdão dos pecados graves, mas predispõe a obtê-lo no sacramento da
penitência.
1455. Convém preparar a recepção deste sacramento fazendo um exame de consciência à luz da Palavra
de Deus. Os textos mais adaptados esse fim devem ser procurados na catequese moral dos evangelhos e das
cartas apostólicas: Sermão da Montanha, ensinamentos apostólicos.

A CONFISSÃO DOS PECADOS

1456. A confissão dos pecados (acusação), mesmo do ponto de vista simplesmente humano, nos liberta e
facilita nossa reconciliação com os outros. Pela acusação, o homem encara de frente os pecados dos quais se
tornou culpado: assume a responsabilidade deles e, assim, abre-se de novo a Deus e à comunhão da Igreja, a
fim de tomar possível um futuro novo.
1457. A declaração dos pecados ao sacerdote constitui uma parte essencial do sacramento da penitência:
"Os penitentes devem, na confissão, enumerar todos os pecados mortais de que têm consciência depois de
examinar-se seriamente, mesmo que esses pecados sejam muito secretos e tenham sido cometidos somente
contra os dois últimos preceitos do decálogo (Cf Ex 20,17; Mt 5,28.), pois, às vezes, esses pecados ferem
gravemente a alma e são mais prejudiciais do que os outros que foram cometidos à vista e conhecimento de
todos".

Quando os cristãos se esforçam para confessar todos os pecados que lhes vêm à memória, não se pode
duvidar que tenham o intuito de apresentá-los todos ao perdão da misericórdia divina. Os que agem de outra
forma, tentando ocultar conscientemente alguns pecados, não colocam diante da bondade divina nada que ela
possa perdoar por intermédio do sacerdote. Pois, "se o doente tem vergonha de mostrar sua ferida ao médico,
a medicina não pode curar aquilo que ignora".

1458. Conforme o mandamento da Igreja, "todo fiel, depois de ter chegado à idade da discrição, é
obrigado a confessar seus pecados graves, dos quais tem consciência, pelo menos uma vez por ano". Aquele
que tem consciência de ter cometido um pecado mortal não deve receber a Sagrada Comunhão, mesmo que
esteja profundamente contrito, sem receber previamente a absolvição sacramental, a menos que tenha um
motivo grave para comungar e lhe seja impossível chegar a um confessor. As crianças devem confessar-se
antes de receber a Primeira Eucaristia.
1459. Apesar de não ser estritamente necessária, a confissão das faltas cotidianas (pecados veniais) é
vivamente recomendada pela Igreja. Com efeito, a confissão regular de nossos pecados veniais nos ajuda a
formar a consciência, a lutar contra nossas más tendências, a deixar-nos curar por Cristo, a progredir na vida
do Espírito. Recebendo mais freqüentemente, por meio deste sacramento, o dom da misericórdia do Pai,
somos levados a ser misericordiosos como ele;

Quem confessa os próprios pecados já está agindo em harmonia com Deus. Deus acusa teus pecados; se
tu também os acusas, tu te associas a Deus. O homem e o pecador são, por assim dizer, duas realidades:
quando ouves falar do homem, foi Deus quem o fez; quando ouves falar do pecador, é o próprio homem
quem o fez. Destrói o que fizeste para que Deus salve o que Ele fez... Quando começas a detestar o que
fizeste, é então que tuas boas obras começam, porque acusas tuas más obras. A confissão das más obras é o
começo das boas obras. Contribui para a verdade e consegues chegar à 1uz.
74
A SATISFAÇÃO

1460. Muitos pecados prejudicam o próximo. É preciso fazer possível para reparar esse mal (por
exemplo restituir as coisas roubadas, restabelecer a reputação daquele que foi caluniado ressarcir as ofensas e
injúrias). A simples justiça exige isso. Mas, além disso, o pecado fere e enfraquece o próprio pecador, como
também suas relações com Deus e com o próxima. A absolvição tira o pecado, mas não remedeia todas as
desordens que ele causou. Liberto do pecado, o pecador deve ainda recobrar a plena saúde espiritual. Deve,
portanto, faz alguma coisa a mais para reparar seus pecados: deve "satisfazer" de modo apropriado ou
"expiar" seus pecados. Esta satisfação chama-se também "penitência".
1461. A penitência imposta pelo confessor deve levar em conta a situação pessoal do penitente e procurar
seu bem espiritual. Deve corresponder, na medida do possível, à gravidade e à natureza dos pecados
cometidos. Pode consistir na oração, numa oferta, em obras de misericórdia, no serviço do próximo, em
privações voluntárias, em sacrifícios e principalmente na aceitação paciente da cruz que devemos carregar.
Essas penitências nos ajudam a configurar-nos com Cristo, que, sozinho, expiou nossos pecados uma vez por
todas. Permitem-nos também tomar-nos co-herdeiros de Cristo ressuscitado, "pois sofremos com ele":

Mas nossa satisfação, aquela que pagamos por nossos pecados, só vale por intermédio de Jesus Cristo,
pois, não podendo coisa alguma por nós mesmos, "tudo podemos com a cooperação daquele que nos dá
força"(Cf Fl 4,13). E, assim, não tem o homem de que se gloriar, mas toda a nossa "glória" está em Cristo...
em quem oferecemos satisfação, "produzindo dignos frutos de penitência (Cf Lc 3,8.), que dele recebem seu
valor, por Ele são oferecidos ao Pai e graças a Ele são aceitos pelo Pai.

VIII. O ministro deste sacramento

1462. Como Cristo confiou a seus apóstolos o ministério da Reconciliação, os Bispos, seus sucessores, e
os presbíteros, colaboradores dos Bispos, continuam a exercer esse ministério. De fato, são os Bispos e os
presbíteros que têm, em virtude do sacramento da Ordem, o poder de perdoar todos os pecados "em nome do
Pai e do Filho e do Espírito Santo".
1463. O perdão dos pecados reconcilia com Deus, mas também com a Igreja. O Bispo, chefe visível da
Igreja Particular, é, portanto, considerado, com plena razão, desde os tempos primitivos, aquele que
principalmente detém o poder e o ministério da reconciliação: ele é o moderador da disciplina penitencial. Os
presbíteros, seus colaboradores, o exercem na medida em que receberam o múnus, quer de seu Bispo (ou de
um superior religioso), quer do Papa, por meio do direito da Igreja.
1464. Alguns pecados particularmente graves são passíveis de excomunhão, a pena eclesiástica mais
severa, que impede a recepção dos sacramentos e o exercício de certos atos eclesiais. Neste caso, a
absolvição não pode ser dada, segundo o direito da Igreja, a não ser pelo Papa, pelo Bispo local ou por
presbíteros autorizados por eles. Em caso de perigo de morte, qualquer sacerdote, mesmo privado da
faculdade de ouvir confissões, pode absolver de qualquer pecado e de qualquer excomunhão.
1465. Os sacerdotes devem incentivar os fiéis a receber o sacramento da Penitência e devem mostrar-se
disponíveis a celebrar este sacramento cada vez que os cristãos o pedirem de modo conveniente.
1466. Ao celebrar o sacramento da Penitência, o sacerdote cumpre o ministério do bom pastor, que busca
a ovelha perdida; do bom samaritano, que cura as feridas; do Pai, que espera o filho pródigo e o acolhe ao
voltar; do justo juiz, que não faz acepção de pessoa e cujo julgamento é justo e misericordioso ao mesmo
tempo. Em suma, o sacerdote é o sinal e o instrumento do amor misericordioso de Deus para com o pecador.
1467. O confessor não é o senhor, mas o servo do perdão de Deus. O ministro deste sacramento deve
unir-se à intenção e à caridade Cristo. Deve possuir um comprovado conhecimento do comportamento
cristão, experiência das coisas humanas, respeito e delicadeza diante daquele que caiu; deve amar a verdade,
ser fiel ao magistério da Igreja e conduzir, com paciência, o penitente à cura e à plena maturidade. Deve orar
e fazer penitência por ele, confiando-o à misericórdia do Senhor.
1468. Diante da delicadeza e da grandiosidade deste ministério e do respeito que se deve às pessoas, a
Igreja declara que todo sacerdote que ouve confissões é obrigado a guardar segredo absoluto a respeito dos
pecados que seus penitentes lhe confessaram, sob penas severíssimas. Também não pode fazer uso do
conhecimento da vida dos penitentes adquirido pela confissão. Este segredo, que não admite exceções,
chama-se "sigilo sacramental", porque o que o penitente manifestou ao sacerdote permanece "sigilado" pelo
sacramento.

IX. Os efeitos deste sacramento

1469. "Toda a força da Penitência reside no fato de ela nos reconstituir na graça de Deus e de nos unir a
Ele com a máxima amizade." Portanto, a finalidade e o efeito deste sacramento é a reconciliação com Deus.
Os que recebem o sacramento da Penitência com coração contrito e disposição religiosa "podem usufruir a
paz e a tranqüilidade da consciência, que vem acompanhada de uma intensa consolação espiritual". Com
75
efeito, o sacramento da Reconciliação com Deus traz consigo uma verdadeira "ressurreição espiritual", uma
restituição da dignidade e dos bens da vida dos filhos de Deus, entre os quais o mais precioso é a amizade de
Deus (Cf Lc 15,32).
1470. Este sacramento nos reconcilia com a Igreja. O pecado fende ou quebra a comunhão fraterna. O
sacramento da Penitência a repara ou restaura. Neste sentido, ele não cura apenas aquele que é restabelecido
na comunhão eclesial, mas tem também um efeito vivificante sobre a vida da Igreja, que sofreu com o pecado
de um de seus membros. Restabelecido ou confirmado na comunhão dos santos, o pecador sai fortalecido
pela participação dos bens espirituais de todos os membros vivos do Corpo de Cristo, quer estejam ainda em
estado de peregrinação, quer já estejam na pátria celeste:

Não devemos esquecer que a reconciliação com Deus tem como conseqüência, por assim dizer, outras
reconciliações capazes de remediar outras rupturas ocasionadas pelo pecado: o penitente perdoado reconcilia-
se consigo mesmo no íntimo mais profundo de seu ser, onde recupera a própria verdade interior; reconcilia-se
com os irmãos que de alguma maneira ofendeu e feriu; reconcilia-se com a Igreja; e reconcilia-se com toda a
criação.

1471. Neste sacramento, o pecador, entregando-se ao julgamento misericordioso de Deus, antecipa de


certa maneira o julgamento a que ser sujeito no fim desta vida terrestre. Pois é agora, nesta vida, que nos é
oferecida a escolha entre a vida e a morte, e só pelo caminho da conversão poderemos entrar no Reino do
qual somos excluídos pelo pecado grave. Convertendo-se a Cristo pela penitência e pela fé, o pecador passa
da morte para a vida "sem ser julgado" (Jo 5,24).

X. As indulgências

1472. A doutrina e a prática das indulgências na Igreja estão estreitamente ligadas aos efeitos do
sacramento da Penitência.

QUE É A INDULGÊNCIA?

"A indulgência é a remissão, diante de Deus, da pena temporal devida pelos pecados já perdoados quanto
à culpa, (remissão) que o fiel bem-disposto obtém, em condições determinadas, pela intervenção da Igreja
que, como dispensadora da redenção, distribui e aplica por sua autoridade o tesouro das satisfações (isto é,
dos méritos) de Cristo e dos santos."

"A indulgência é parcial ou plenária, conforme liberar parcial totalmente da pena devida pelos pecados."
Todos os fiéis podem adquirir indulgências (...) para si mesmos ou aplicá-las aos defuntos.

AS PENAS DO PECADO

1473. Para compreender esta doutrina e esta prática da Igreja, é preciso admitir que o pecado tem uma
dupla conseqüência. O pecado grave priva-nos da comunhão com Deus e, consequentemente, nos toma
incapazes da vida eterna; esta privação se chama "pena eterna" do pecado. Por outro lado, todo pecado,
mesmo venial, acarreta um apego prejudicial às criaturas que exige purificação, quer aqui na terra, quer
depois da morte, no estado chamado "purgatório". Esta purificação liberta da chamada "pena temporal" do
pecado. Essas duas penas não devem ser concebidas como uma espécie de vingança infligida por Deus do
exterior, mas, antes, como uma conseqüência da própria natureza do pecado. Uma conversão que procede de
uma ardente caridade pode chegar à total purificação do pecador, de tal modo que não haja mais nenhuma
pena.
1474. O perdão do pecado e a restauração da comunhão com Deus implicam a remissão das penas
eternas do pecado. Mas permanecem as penas temporais do pecado. Suportando pacientemente os
sofrimentos e as provas de todo tipo e, chegada a hora, enfrentando serenamente a morte, o cristão deve
esforçar-se para aceitar, como urna graça, essas penas temporais do pecado; deve aplicar-se, por inicio de
obras de misericórdia e de caridade, como também pela oração e por diversas práticas de penitência, a
despojar-se completamente do "velho homem" para revestir-se do "homem novo".

NA COMUNHÃO DOS SANTOS

1475. O cristão que procura purificar-se de seu pecado e santificar-se com o auxílio da graça de Deus não
está só. "A vida de cada um dos filhos de Deus se acha unida, por um admirável laço, em Cristo e por Cristo,
com a vida de todos os outros irmãos cristãos na unidade sobrenatural do corpo místico de Cristo, como
numa única pessoa mística."
76
1476. Na comunhão dos santos, "existe certamente entre os fiéis já admitidos na posse da pátria celeste,
os que expiam as faltas no purgatório e os que ainda peregrinam na terra, um laço de caridade e um amplo
intercâmbio de todos os bens". Neste admirável intercâmbio, cada um se beneficia da santidade dos outros,
bem para além do prejuízo que o pecado de um possa ter causado aos outros. Assim, o recurso à comunhão
dos santos permite ao pecador contrito se purificado, mais cedo e mais eficazmente, das penas do pecado.
1477. Esses bens espirituais da comunhão dos santos também são chamados o tesouro da Igreja, "que não
é uma soma de bens comparáveis às riquezas materiais acumuladas no decorrer dos séculos, mas é o valor
infinito e inesgotável que têm junto a Deus as expiações e os méritos de Cristo, nosso Senhor, oferecidos
para que a humanidade toda seja libertada do pecado e chegue à comunhão com o Pai. E em Cristo, nosso
redentor, que se encontram em abundância as satisfações e os méritos de sua redenção".
1478. "Pertence, além disso, a esse tesouro o valor verdadeiramente imenso, incomensurável e sempre
novo que têm junto a Deus as preces e as boas obras da Bem-aventurada Virgem Maria e de todos os santos
que, seguindo as pegadas de Cristo Senhor, por sua graça se santificaram e totalmente acabaram a obra que o
Pai lhes confiara, de sorte que, operando a própria salvação, também contribuíram para a salvação de seus
irmãos na unidade do corpo místico."

OBTER A INDULGÊNCIA DE DEUS MEDIANTE A IGREJA

1479. A indulgência se obtém de Deus mediante a Igreja, que, em virtude do poder de ligar e desligar que
Cristo Jesus lhe concedeu, intervém em favor do cristão, abrindo-lhe o tesouro dos méritos de Cristo e dos
santos para obter do Pai das misericórdias a remissão das penas temporais devidas a seus pecados. Assim, a
Igreja não só vem em auxílio do cristão, mas também o incita a obras de piedade, de penitência e de caridade.
1480. Uma vez que os fiéis defuntos em vias de purificação também são membros da mesma comunhão
dos santos, podemos ajudá-los entre outros modos, obtendo em favor deles indulgências para libertação das
penas temporais devidas por seus pecados.

XI. A celebração do sacramento da Penitência

1481. Como todos os sacramentos, a Penitência é uma ação litúrgica. São estes ordinariamente os
elementos da celebração: saudação e bênção do sacerdote, leitura da Palavra de Deus para iluminar a
consciência e suscitar a contrição, exortação ao arrependimento; confissão que reconhece os pecados e os
manifesta ao padre; imposição e aceitação da penitência; absolvição do sacerdote; louvor de ação de graças e
despedida com a bênção do sacerdote.
1482. A liturgia bizantina conhece diversas fórmulas de absolvição, forma depreciativa, que exprimem
admiravelmente o mistério do perdão: "Que o Deus que pelo profeta Natã perdoou a Davi, que confessou
seus próprios pecados; a Pedro, quando chorou amargamente; à prostituta, quando lavou seus pés com
lágrimas; ao publicano e ao filho pródigo, que esse mesmo Deus vos perdoe, por mim, pecador, nesta vida e
na outra, e vos faça comparecer em seu terrível tribunal sem vos condenar, Ele que é bendito nos séculos dos
séculos. Amém.
1483. O sacramento da Penitência também pode ter lugar no quadro de uma celebração comunitária, na
qual as pessoas se preparam juntas para a confissão e também juntas agradecem pelo perdão recebido. Neste
caso, a confissão pessoal dos pecados e a absolvição individual são inseridas numa liturgia da Palavra de
Deus, com leituras e homilia, exame de consciência em comum, pedido comunitário de perdão, oração do
Pai-Nosso e ação de graças em comum. Esta celebração comunitária exprime mais claramente o caráter
eclesial da penitência. Mas, seja qual for o modo da celebração, o sacramento da Penitência sempre é, por sua
própria natureza, uma ação litúrgica, portanto eclesial e pública.
1484. Em casos de necessidade grave, pode-se recorrer à celebração comunitária da reconciliação com
confissão e absolvição gerais. Esta necessidade grave pode apresentar-se quando há um perigo iminente de
morte sem que o ou os sacerdotes tenham tempo suficiente para ouvir a confissão de cada penitente. A
necessidade grave pode também apresentar-se quando, tendo-se em vista o número dos penitentes, não
havendo confessores suficientes para ouvir devidamente as confissões individuais num tempo razoável, de
modo que os penitentes, sem culpa de sua parte, se veriam privados durante muito tempo da graça
sacramental ou da sagrada Eucaristia. Nesse caso, os fiéis devem ter, para a validade da absolvição, o
propósito de confessar individualmente seus pecados graves no devido tempo. Cabe ao Bispo diocesano
julgar se os requisitos para a absolvição geral existem. Um grande concurso de fiéis por ocasião das grandes
festas ou de peregrinação não constitui caso de tal necessidade grave.
1485. "A confissão individual e integral seguida da absolvição continua sendo o único modo ordinário
pelo qual os fiéis se reconciliam com Deus e com a Igreja, salvo se uma impossibilidade física ou moral
dispensar desta confissão." Há razões profundas para isso. Cristo age em cada um dos sacramentos. Dirige-se
pessoalmente a cada um dos pecadores: "Filho, os teus pecados estão perdoados" (Mc 2,5); ele é o médico
que se debruça sobre cada um dos doentes que têm necessidade dele para curá-los; ele os soergue e reintegra
77
na comunhão fraterna. A confissão pessoal é, pois, a forma mais significativa da reconciliação com Deus e
com a Igreja.

RESUMINDO

1486. "Dizendo isso, soprou sobre eles e lhes disse: Recebei o Espírito Santo; aqueles a quem
perdoardes os pecados ser-lhe-ão perdoados; aqueles aos quais os retiverdes, ser-lhes-ão retidos" (Jo
20,22-23).
1487. O perdão dos pecados cometidos após o Batismo é concedido por um sacramento próprio
chamado sacramento da Conversão, da Confissão, da Penitência ou da Reconciliação.
1488. Quem peca fere a honra de Deus e seu amor, sua própria dignidade de homem chamado a ser
filho de Deus e a saúde espiritual da Igreja, da qual cada cristão é uma pedra viva.
1489. Aos olhos da fé, nenhum mal é mais grave que o pecado, e nada tem conseqüências piores para os
próprios pecador, e para a Igreja e para o mundo inteiro.
1490. Voltar à comunhão com Deus depois de a ter perdido pelo pecado é um movimento que nasce da
graça do Deus misericordioso e solícito pela salvação dos homens. E preciso pedir esse dom precioso para
si mesmo e também para os outros.
1491. O movimento de volta a Deus, chamado conversão e arrependimento, implica uma dor e uma
aversão aos pecados cometidos e o firme propósito de não mais pecar no futuro. A conversão atinge,
portanto, o passado e o futuro; nutre-se da esperança na misericórdia divina.
1492. O sacramento da Penitência é constituído de três atos do penitente e da absolvição dada pelo
sacerdote. Os atos do penitente são o arrependimento, a confissão ou manifestação dos pecados ao
sacerdote e o propósito de cumprir a penitência e as obras de reparação.
1493. O arrependimento (também chamado contrição) deve inspirar-se em motivos que decorrem da fé.
Se o arrependimento estiver embasado no amor de caridade para com Deus, é chamado "perfeito"; se
estiver fundado em outros motivos, será "imperfeito".
1494. Aquele que quiser obter a reconciliação com Deus e com a Igreja deve confessar ao sacerdote
todos os pecados graves que ainda não confessou e de que se lembra depois de examinar cuidadosamente
sua consciência. Mesmo sem ser necessária em si a confissão das faltas veniais, a Igreja não deixa de
recomendá-la vivamente.
1495. O confessor propõe ao penitente o cumprimento de certos atos de "satisfação" ou de "penitencia",
para reparar o prejuízo causado pelo pecado e restabelecer os hábitos próprios ao discípulo de Cristo.
1496. Somente os sacerdotes que receberam da autoridade da Igreja a faculdade de absolver podem
perdoar os pecados em nome de Cristo.
1497. Os efeitos espirituais do sacramento da Penitência são:
- a reconciliação com Deus, pela qual o penitente recobra a graça;
- a reconciliação com a Igreja;
- a remissão da pena eterna devida aos pecados mortais;
- a remissão, pelo menos em parte, das penas temporais, seqüelas do pecado;
- a paz e a serenidade da consciência e a consolação espiritual;
o acréscimo de forças espirituais para o combate cristão.
1498. A confissão individual e integral dos pecados graves, seguida da absolvição, continua sendo o
único meio ordinário de reconciliação com Deus e com a Igreja.
1499. Pelas indulgências, os fiéis podem obter para si mesmos e também para as almas do Purgatório a
remissão das penas temporais, conseqüências dos pecados.

4.2.2 -A UNÇÃO DOS ENFERMOS

1500. "Pela sagrada Unção dos Enfermos e pela oração dos presbíteros, a Igreja toda entrega os
doentes aos cuidados do Senhor sofredor e glorificado, para que os alivie e salve. Exorta os mesmos
a que livremente se associem à paixão e à morte de Cristo e contribuam para o bem do povo de
Deus."

I. Seus fundamentos na economia da salvação

1501. A ENFERMIDADE NA VIDA HUMANA

A enfermidade e o sofrimento sempre estiveram entre problemas mais graves da vida humana. Na
doença, o homem experimenta sua impotência, seus limites e sua finitude. Toda doença pode fazer-nos
entrever a morte.
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1502. A enfermidade pode levar a pessoa à angústia, a fechar-se sobre si mesma e, às vezes, ao desespero
e à revolta contra Deus. Mas também pode tomar a pessoa mais madura, ajudá-la a discernir em sua vida o
que não é essencial, para volta-se àquilo que é essencial. Não raro, a doença provoca uma busca de Deus, um
retomo a Ele.

O ENFERMO DIANTE DE DEUS

1503. O homem do Antigo Testamento vive a doença diante Deus. E diante de Deus que ele faz sua
queixa sobre a enfermidade, e é dele, o Senhor da vida e da morte, que implora a cura . A enfermidade se
toma caminho de conversão e o perdão de Deus de início à cura. Israel chega à conclusão de que a doença, de
uma forma misteriosa, está ligada ao pecado e ao mal e que a fidelidade a Deus, segundo sua Lei, dá a vida:
"Porque eu sou Iahweh, aquele que te restaura" (Ex 15,26). O profeta entrevê que o sofrimento também pode
ter um sentido redentor para os pecados dos outros (Cf Is 53,11). Finalmente, Isaías anuncia que Deus fará
chegar um tempo para Si o em que toda falta será perdoada e toda doença ser curada (Cf Is 33,24).

CRISTO - MÉDICO

1504. A compaixão de Cristo para com os doentes e suas numerosas curas de enfermos de todo tipo são
um sinal evidente de que "Deus visitou o seu povo e de que o Reino de Deus está bem próximo. Jesus não só
tem poder de curar, mas também de perdoar os pecados: ele veio curar o homem inteiro, alma e corpo; é o
médico de que necessitam os doentes. Sua compaixão para com todos aqueles que sofrem é tão grande que
ele se identifica com eles: "Estive doente e me visitastes" (Mt 25,36). Seu amor de predileção pelos enfermos
não cessou, ao longo dos séculos, de despertar a atenção toda especial dos cristãos para com todos os que
sofrem no corpo e na alma. Esse amor está na origem dos incansáveis esforços para aliviá-los.
1505. Muitas vezes Jesus pede aos enfermos que creiam. Serve-se de sinais para curar: saliva e imposição
das mãos, lama e ablução. Os doentes procuram tocá-lo, "porque dele saía uma força que a todos curava" (Lc
6,19). Também nos sacramentos Cristo continua a nos "tocar" para nos curar.
1506. Comovido com tantos sofrimentos, Cristo não apenas se deixa tocar pelos doentes, mas assume
suas misérias: "Ele levou nossas enfermidades e carregou nossas doenças". Não curou todos os enfermos.
Suas curas eram sinais da vinda do Reino de Deus. Anunciavam uma cura mais radical: a vitória sobre o
pecado e a morte por sua Páscoa. Na cruz, Cristo tomou sobre si todo o peso do mal e tirou o "pecado do
mundo" (Jo 1,29). A enfermidade não é mais do que uma conseqüência do pecado. Por sua paixão e morte na
cruz, Cristo deu um novo sentido ao sofrimento, que doravante pode configurar-nos com Ele e unir-nos à sua
paixão redentora.

"CURAI OS ENFERMOS..."

1507. Cristo convida seus discípulos a segui-lo, tomando cada um sua cruz. Seguindo-o, adquirem uma
nova visão da doença e dos doentes. Jesus os associa á sua vida pobre e de servidor. Faz com que participem
de seu ministério de compaixão e de cura: "Partindo, eles pregavam que todos se arrependessem. E
expulsavam muitos demônios e curavam muitos enfermos, ungindo-os com óleo" (Mc 6,12-13).
1508. O Senhor ressuscitado renova este envio ("Em meu nome... eles imporão as mãos sobre os
enfermos e estes ficarão curados". (Mc 16,17-18) e o confirma por meio dos sinais realizados pela Igreja ao
invocar seu nome. Esses sinais manifestam de um modo especial que Jesus é verdadeiramente "Deus que
salva".
1509. O Espírito Santo dá a algumas pessoas um carisma especial de cura para manifestar a força da
graça do ressuscitado. Todavia, mesmo as orações mais intensas não conseguem obter a cura de todas as
doenças. Por isso, São Paulo deve aprender do Senhor que "basta-te a minha graça, pois é na fraqueza que
minha força manifesta todo o seu poder" (2Cor 12,9), e que os sofrimentos que temos de suportar podem ter
como sentido "completar na minha carne o que falta às tribulações de Cristo por seu corpo, que é a Igreja"
(Cl 1,24).
1510. "Curai os enfermos!" (Mt 10,8). A Igreja recebeu esta missão do Senhor e esforça-se por cumpri-la
tanto pelos cuidados aos doentes como pela oração de intercessão com que os acompanha. Ela crê na
presença vivificante de Cristo, médico da alma e do corpo. Esta presença age particularmente por intermédio
dos sacramentos e, de modo especial, pela Eucaristia, pão que dá vida eterna a cujo liame com a saúde
corporal São Paulo alude.
1511. Entretanto, a Igreja apostólica conhece um rito próprio em favor dos doentes, atestado por São
Tiago: "Alguém dentre vós está doente? Mande chamar os presbíteros da Igreja, para que orem sobre ele,
ungindo-o com óleo em nome do Senhor. A oração da fé salvará o doente e o Senhor o aliviará; e, se tiver
cometido pecados, estes lhe serão perdoados" (Tg 5,14-l5). A Tradição reconheceu neste rito um dos sete
sacramentos da Igreja.
79
UM SACRAMENTO DOS ENFERMOS

1512. A Igreja crê e confessa que existe, entre os sete sacramentos, um sacramento especialmente
destinado a reconfortar aqueles que provados pela enfermidade: a Unção dos Enfermos.

Esta unção sagrada dos enfermos foi instituída por Cristo nosso Senhor como um sacramento do Novo
Testamento, verdadeira e propriamente dito, insinuado por Marcos, mas recomendado aos fiéis e promulgado
por Tiago, Apóstolo e irmão do Senhor.

1513. Na tradição litúrgica, tanto no Oriente como no Ocidente, constam desde a Antigüidade
testemunhos de unções de enfermos praticadas com óleo bento. No curso dos séculos, a Unção dos Enfermos
foi cada vez mais conferida exclusivamente aos agonizantes. Por causa disso, recebeu o nome de "Extrema-
Unção". Apesar desta evolução, a liturgia jamais deixou de orar ao Senhor para que o enfermo recobre a
saúde, se tal convier à sua salvação.
1514. A constituição apostólica Sacram unctionem infirmorum, de 30 de novembro de 1972, seguindo o
Concílio Vaticano II, estabeleceu que doravante, no rito romano, se observe o seguinte:

O sacramento da Unção dos Enfermos é conferido às pessoas acometidas de doenças perigosas, ungindo-
as na fronte e nas mãos com óleo devidamente consagrado - óleo de oliveira ou outro óleo extraído de plantas
-, dizendo uma só vez: "Por esta santa unção e por sua puiíssima misericórdia, o Senhor venha em teu auxílio
com a graça do Espírito Santo, para que, liberto de teus pecados, Ele te salve e, em sua bondade, alivie teus
sofrimentos".

II. Quem recebe e quem administra este sacramento?

EM CASO DE DOENÇA GRAVE...

1515. A Unção dos Enfermos "não é um sacramento só daqueles que se encontram às portas da morte.
Portanto, tempo oportuno para receber a Unção dos Enfermos é certamente o momento em que o fiel começa
a correr perigo de morte por motivo de doença, debilitação física ou velhice".
1516. Se um enfermo que recebeu a Unção dos Enfermos recobrar a saúde, pode, em caso de recair em
doença grave, receber de novo este sacramento. No decorrer da mesma enfermidade, este sacramento pode
ser reiterado se a doença se agravar. Permite-se receber a Unção dos Enfermos antes de uma cirurgia de alto
risco. O mesmo vale também para as pessoas de idade avançada, cuja fragilidade se acentua.

.... .QUE CHAME OS PRESBÍTEROS DA IGREJA"

1517. Só os sacerdotes (bispos e presbíteros) são ministros da Unção dos Enfermos. E dever dos pastores
instruir os fiéis sobre os benefícios deste sacramento. Que os fiéis incentivem os doentes a chamar o
sacerdote, para receber este sacramento. Que os doentes se preparem para recebê4o com boas disposições,
com a ajuda de seu pastor e de toda a comunidade eclesial, que é convidada a cercar de modo especial os
doentes com suas orações e atenções fraternas.

III. Como é celebrado este sacramento?

1518. Como todos os sacramentos, a Unção dos Enfermos é uma celebração litúrgica e comunitária, quer
tenha lugar na família, no hospital ou na Igreja, para um só enfermo ou para todo um grupo de enfermos. E
de todo conveniente que ela se celebre dentro da Eucaristia, memorial da Páscoa do Senhor. Se as
circunstâncias o permitirem, a celebração do sacramento pode ser precedida pelo sacramento da Penitência e
seguida pelo sacramento da Eucaristia. Como sacramento da Páscoa de Cristo, a Eucaristia deveria sempre
ser o último sacramento da peregrinação terrestre, o "viático" para a "passagem" à vida eterna.
1519. Palavra e sacramento formam um todo inseparável. A Liturgia da Palavra, precedida de um ato
penitencial, abrirá a celebração. As palavras de Cristo, o testemunho dos apóstolos despertam a fé do
enfermo e da comunidade para pedir ao Senhor a força de seu Espírito.
1520. A celebração do sacramento compreende principalmente os elementos seguintes: "os presbíteros da
Igreja (Cf Tg 5,14) impõem – em silêncio - as mãos aos doentes; oram sobre eles na fé da Igreja. É a epiclese
própria deste sacramento. Realizam então a unção com óleo consagrado, que, se possível, deve ser feita pelo
Bispo. Essas ações litúrgicas indicam a graça que esse sacramento confere aos enfermos.
80
IV. Os efeitos da celebração deste sacramento

1521. Um dom particular do Espírito Santo O principal dom deste sacramento é uma graça de
reconforto, de paz e de coragem para vencer as dificuldades próprias do estado de enfermidade grave ou da
fragilidade da velhice. Esta graça é um dom do Espírito Santo que renova a confiança e a fé em Deus e
fortalece contra as tentações do maligno, tentação de desânimo e de angustia diante da morte. Esta assistência
do Senhor pela força de seu Espírito quer levar o enfermo à cura da alma, mas também à do corpo, se for esta
a vontade de Deus. Além disso, "se ele cometeu pecados, eles lhe serão perdoados" (Tg 5,15).
1522. A união com a paixão de Cristo. Pela graça deste sacramento o enfermo recebe a força e o dom de
unir-se mais intimamente à paixão de Cristo: de certa forma ele é consagrado para produzir fruto pela
configuração à paixão redentora do Salvador. O sofrimento, seqüela do pecado original, recebe um sentido
novo: torna-se participação na obra salvífica de Jesus.
1523. Uma graça eclesial. Os enfermos que recebem este sacramento, "associando-se livremente à
paixão e à morte de Cristo", "contribuem para o bem do povo de Deus". Ao celebrar este sacramento, a
Igreja, na comunhão dos santos, intercede pelo bem do enfermo. E o enfermo, por sua vez, pela graça deste
sacramento, contribui para a santificação da Igreja e para o bem de todos os homens pelos quais a Igreja sofre
e se oferece, por Cristo, a Deus Pai.
1524. Uma preparação para a última passagem. Se o sacramento da Unção dos Enfermos é concedido a
todos os que sofrem de doenças e enfermidades graves, com mais razão ainda cabe aos que estão às portas da
morte ("in exitu vitae constituti"). Por isso, também foi chamado "sacramentum exeuntium". A Unção dos
Enfermos completa nossa conformação com a Morte e Ressurreição de Cristo, como o Batismo começou a
fazê-lo. E o termo das sagradas unções que acompanham toda a vida cristã: a do Batismo, que selou em nós a
nova vida; a da confirmação, que nos fortificou para o combate desta vida. Esta derradeira unção fortalece o
fim de nossa vida terrestre como que de um sólido baluarte para enfrentar as últimas lutas antes da entrada na
casa do Pai.

V. O viático, último sacramento do cristão

1525. Aos que estão para deixar esta vida, a Igreja oferece, além da Unção dos Enfermos, a Eucaristia
como viático. Recebida neste momento de passagem para o Pai, a comunhão do Corpo e Sangue de Cristo
tem significado e importância particulares. E semente de vida eterna e poder de ressurreição, segundo as
palavras do Senhor: "Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei
no último dia" (Jo 6,54). Sacramento de Cristo morto e ressuscitado, a Eucaristia é aqui sacramento da
passagem da morte para a vida, deste mundo para o Pai.
1526. Assim como os sacramentos do Batismo, da Confirmação e da Eucaristia constituem uma unidade
chamada "os sacramentos da iniciação cristã", pode-se dizer que a Penitência, a Sagrada Unção e a Eucaristia
como viático constituem, quando a vida cristã chega a seu término, "os sacramentos que preparam para a
Pátria" ou os sacramentos que consumam a peregrinação.

RESUMINDO

1527. "Alguém dentre vós está doente? Mande chamar os presbíteros da Igreja para que orem sobre ele,
ungindo-o com óleo em nome do Senhor. A oração da fé salvará o doente e o Senhor o aliviará; e, se tiver
cometido pecados, estes lhe serão perdoados" (Tg 5,14-15).
1528. O sacramento da Unção dos Enfermos tem por finalidade conferir uma graça especial ao cristão
que está passando pelas dificuldades inerentes ao estado de enfermidade grave ou de velhice.
1529. O tempo oportuno para receber a sagrada unção é certamente aquele em que o fiel começa a
encontrar-se em perigo de morte devido à doença ou à velhice.
1530. Cada vez que um cristão cair gravemente enfermo, pode receber a sagrada unção. Da mesma
forma, pode recebê-la novamente se a doença se agravar.
1531. Só os sacerdotes (Bispos e presbíteros) podem administrar o sacramento da Unção dos Enfermos;
para conferi-lo, empregam óleo consagrado pelo Bispo ou, em caso de necessidade, pelo próprio presbítero
celebrante.
1532. O essencial da celebração deste sacramento consiste na unção da fronte e das mãos do doente (no
rito romano) ou de outras partes do corpo (no Oriente), unção acompanhada da oração litúrgica do presbítero
celebrante, que pede a graça especial deste sacramento.
1533. A graça especial do sacramento da Unção dos Enfermos tem como efeitos:

- a união do doente com a paixão de Cristo, para seu bem e o bem de toda a Igreja;
- reconforto, a paz e a coragem para suportar cristãmente os sofrimentos da doença ou da velhice;
- perdão dos pecados, se o doente não pode obtê-lo pelo sacramento da Penitência;
- restabelecimento da saúde, se isso convier à salvação espiritual;
81
- a preparação para a passagem à vida eterna.

4.3 - OS SACRAMENTOS DO SERVIÇO DA COMUNHÃO

1534. O Batismo, a Confirmação e a Eucaristia são os sacramentos da iniciação cristã. São a base da
vocação comum de todos os discípulos de Cristo, vocação à santidade e à missão de evangelizar o mundo.
Conferem as graças necessárias à vida segundo Espírito nesta vida de peregrinos a caminho da Pátria.
1535. Dois outros sacramentos, a ordem e o matrimônio, estão ordenados à salvação de outrem. Se
contribuem também para a salvação pessoal, isso acontece por meio do serviço aos outros. Conferem uma
missão particular na Igreja e servem para a edificação do Povo de Deus.
1536. Nesses sacramentos, os que já foram consagrados pelo Batismo e pela Confirmação para o
sacerdócio comum de todos os fiéis podem receber consagrações específicas. Os que recebem o sacramento
da Ordem são consagrados para ser, em nome de Cristo, "pela palavra e pela graça de Deus, os pastores da
Igreja". Por sua vez, "os esposos cristãos, para cumprir dignamente os deveres de seu estado, são fortalecidos
e como que consagrados por um sacramento especial".

4.3.1 -O SACRAMENTO DA ORDEM

1537. A Ordem é o sacramento graças ao qual a missão confiada por Cristo a seus Apóstolos continua
sendo exercida na Igreja até o fim dos tempos; é, portanto, o sacramento do ministério apostólico. Comporta
três graus: o episcopado, o presbiterado e o diaconado.

(Sobre a instituição e a missão do ministério apostólico por Cristo, veja-se acima. Aqui, só se trata da via
sacramental pela qual se transmite este ministério.)

I. Por que o nome sacramento da Ordem?

1538. A palavra ordem, na Antigüidade romana, designava corpos constituídos no sentido civil,
sobretudo o corpo dos que governavam. "Ordinatio" (ordenação) designa a integração num "ordo" (ordem).
Na Igreja, há corpos constituídos que a Tradição, não sem fundamento na Sagrada Escritura, chama, desde os
tempos primitivos, de "taxeis" (em grego; pronuncie "tacseis"), de "ordines" (em latim). Por exemplo, a
liturgia fala do "ordo episcoporum" (ordem dos bispos), do "ordo presbyterorum" ordem dos presbíteros), do
"ordo diaconorum" (ordem dos diáconos). Outros grupos recebem também este nome de "ordo": os
catecúmenos, as virgens, os esposos, as viúvas etc.
1539. A integração em um desses corpos da Igreja era feita por um rito chamado ordinatio, ato religioso e
litúrgico que consistia numa consagração, numa bênção ou num sacramento. Hoje a palavra "ordinatio" é
reservada ao ato sacramental que integra na ordem dos bispos, presbíteros e diáconos e que transcende uma
simples eleição, designação, delegação ou instituição pela comunidade, pois confere um dom do Espírito
Santo que permite exercer um "poder sagrado" ("sacra potestas") que só pode vir do próprio Cristo, por meio
de sua Igreja. A ordenação também é chamada "consecratio" por ser um pôr à parte, uma investidura, pelo
próprio Cristo, para sua Igreja. A imposição das mãos do bispo, com a oração consecratória, constitui o sinal
visível desta consagração.

II. O sacramento da Ordem na economia da salvação

O SACERDÓCIO NA ANTIGA ALIANÇA

1540. O povo eleito foi constituído por Deus como "um remo de sacerdotes e uma nação santa" (Ex
19.6). Mas, dentro do povo de Israel, Deus escolheu uma das doze tribos, a de Levi, reservando-a para o
serviço litúrgico; Deus mesmo é sua herança. Um rito próprio consagrou as origens do sacerdócio da antiga
aliança. Os sacerdotes são ai "constituídos para intervir em favor dos homens em suas relações com Deus, a
fim de oferecer dons e sacrifícios pelos pecados".
1541. Instituído para anunciar a palavra de Deus e para restabelecer a comunhão com Deus pelos
sacrifícios e pela oração, esse sacerdócio continua, não obstante, impotente para operar; a salvação. Precisa,
por isso, repetir sem cessar os sacrifícios, e não é capaz de levar à santificação definitiva, que só o sacrifício
de Cristo deveria operar.
82
1542. Entretanto, a liturgia da Igreja vê no sacerdócio de Aarão, no serviço dos levitas e na instituição
dos setenta "anciãos" prefigurações do ministério ordenado da nova aliança Assim, no rito latino, a Igreja
reza no prefácio consecratório da ordenação dos bispos:

Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo... por vossa palavra estabelecestes leis na Igreja; e escolhestes
desde o princípio um povo santo, descendente de Abraão, dando-lhe chefes e sacerdotes, e jamais deixastes
sem ministros o vosso santuário...

1543. Na ordenação dos presbíteros, a Igreja reza:

Assisti-nos, Senhor, Pai Santo ..... Já no Antigo Testamento, em sinais prefigurativos, surgiram vários
ofícios por vós instituídos, de modo que, tendo à frente Aarão para guiar e santificar o vosso povo, lhes
destes colaboradores de menor ordem e dignidade. Assim, no deserto, comunicastes a setenta homens
prudentes o espírito dado a Moisés que, como auxílio deles, pode mais facilmente governar o vosso povo.

Do mesmo modo, derramastes copiosamente sobre os filhos de Aarão a plenitude concedida a seu pai,
para que o serviço dos sacerdotes segundo a lei fosse suficiente para os sacrifícios do tabernáculo.

1544. E, na oração consecratória para a ordenação dos diáconos, a Igreja professa:

Ó Deus Todo-Poderoso... fazeis crescer... a vossa Igreja. Para a edificação do novo templo, constituístes
três ordens de ministros para servirem ao vosso nome, como outrora escolhestes os filhos de Levi para o
serviço do antigo santuário.

O ÚNICO SACERDÓCIO DE CRISTO

1545. Todas as prefigurações do sacerdócio da antiga aliança encontram seu cumprimento em Cristo
Jesus, "único mediador entre Deus e os homens" (l Tm 2,5). Melquisedec, "sacerdote do Deus Altíssimo"
(Gn 14,18), é considerado pela Tradição cristã como uma prefiguração do sacerdócio de Cristo, único "sumo
sacerdote segundo a ordem de Melquisedec" (Hb 5,10; 6,20), "santo, inocente, imaculado" (Hb 7,16), que
"com uma única oferenda levou à perfeição, e para sempre, os que ele santifica" (Hb 10,14), isto é, pelo
único sacrifício de sua Cruz.
1546. O sacrifício redentor de Cristo é único, realizado uma vez por todas. Não obstante, toma-se
presente no sacrifício eucarístico da Igreja. O mesmo acontece com o único sacerdócio de Cristo: torna-se
presente pelo sacerdócio ministerial, sem diminuir em nada a unicidade do sacerdócio de Cristo. "Por isso,
somente Cristo é o verdadeiro sacerdote; Os outros são seus ministros."

DUAS PARTICIPAÇÕES NO SACERDÓCIO ÚNICO DE CRISTO

1547. Cristo, sumo sacerdote e único mediador, fez da Igreja "um Reino de sacerdotes para Deus, seu
Pai" (Cf Ap 1,6; 5,9-10; 1 Pd 2,5.9). Toda comunidade dos fiéis é, como tal, sacerdotal. Os fiéis exercem seu
sacerdócio batismal por meio de sua participação, cada qual segundo sua própria vocação, na missão de
Cristo, Sacerdote, Profeta e Rei. E pelos sacramentos do Batismo e da Confirmação que os fiéis são
"consagrados para ser... um sacerdócio santo".
1548. O sacerdócio ministerial ou hierárquico dos bispos e dos presbíteros e o sacerdócio comum de
todos os fiéis, embora "ambos participem, cada qual a seu modo, do único sacerdócio de Cristo", diferem,
entretanto, essencialmente, mesmo sendo "ordenados um ao outro". Em que sentido? Enquanto o sacerdócio
comum dos fiéis se realiza no desenvolvimento da graça batismal, vida de fé, de esperança e de caridade,
vida segundo o Espírito o sacerdócio ministerial está a serviço do sacerdócio comum, refere-se ao
desenvolvimento da graça batismal de todos os cristãos. É um dos meios pelos quais Cristo não cessa de
construir e de conduzir sua Igreja. Por isso, é transmitido por um sacramento próprio, o sacramento da
Ordem.

"IN PERSONA CHRISTI CAPITIS" (NA PESSOA DE CRISTO CABEÇA...)

1549. No serviço eclesial do ministro ordenado, é o próprio Cristo que está presente á sua Igreja
enquanto Cabeça de seu Corpo, Pastor de seu rebanho, Sumo Sacerdote do sacrifício redentor Mestre da
Verdade. A Igreja o expressa dizendo que o sacerdote, em virtude do sacramento da Ordem, age "in persona
Christi Capitis" (na pessoa de Cristo Cabeça):
83
Na verdade, o ministro faz as vezes do próprio Sacerdote, Cristo Jesus. Se, na verdade, o ministro é
assimilado ao Sumo Sacerdote por causa da consagração sacerdotal que recebeu, goza do poder de agir pela
força do próprio Cristo que representa ("virtute ac persona ipsius Christi").

"Cristo é a origem de todo sacerdócio: pois o sacerdote da [Antiga Lei era figura dele, ao passo que o
sacerdote da nova lei age em sua pessoa."

1550. Pelo ministério ordenado, especialmente dos bispos e dos presbíteros, a presença de Cristo como
chefe da Igreja se torna visível no meio da comunidade dos fiéis. Segundo a bela expressão de Santo Inácio
de Antioquia, o Bispo é "typos tou Patros" (pronuncie: typos tu patrós), como a imagem viva de Deus Pai.
1551. Esta presença de Cristo no ministro não deve ser compreendida como se este estivesse imune a
todas as fraquezas humanas, ao espírito de dominação, aos erros e até aos pecados. A força do Espírito Santo
não garante do mesmo modo todos os atos dos ministros. Enquanto nos sacramentos esta garantia é
assegurada, de tal forma que mesmo o pecado do ministro não possa impedir o fruto da graça, há muitos
outros atos em que a conduta humana do ministro deixa traços que nem sempre são sinal de fidelidade ao
Evangelho e que podem, por conseguinte, prejudicar a fecundidade apostólica da Igreja.
1552. Esse sacerdócio é ministerial. "Esta missão que o Senhor confiou aos pastores de seu povo é um
verdadeiro serviço." Refere-se inteiramente a Cristo e aos homens. Depende inteiramente de Cristo e de seu
sacerdócio único, e foi instituído em favor dos homens e da comunidade da Igreja. O sacramento da ordem
comunica "um poder sagrado" que é o próprio poder de Cristo. O exercício desta autoridade deve, pois, ser
medido pelo modelo de Cristo que, por amor, se fez o último e servo de todos. "O Senhor disse claramente
que cuidar de seu rebanho é uma prova de amor para com Ele."

"EM NOME DE TODA A IGREJA"

1553. A tarefa do sacerdócio ministerial não é apenas representar Cristo-Cabeça da Igreja - diante da
assembléia dos fiéis; ele age também em nome de toda a Igreja quando apresenta a Deus a oração da Igreja e
sobretudo quando oferece o sacrifício eucarístico.
1554. "Em nome de toda a Igreja" não quer dizer que os sacerdotes sejam os delegados da comunidade.
A oração e a oferenda da Igreja são inseparáveis da oração e da oferenda de Cristo, sua Cabeça. Trata-se
sempre do culto de Cristo na e por sua Igreja. É toda a Igreja, corpo de Cristo, que ora e se oferece, "per
ipsum et cum ipso et in ipso" (por Ele, com Ele e nEle), na unidade do Espírito Santo, a Deus Pai. Todo o
corpo, "caput et membra" (cabeça e membros), ora e se oferece, e é por isso que aqueles que são
especialmente os ministros no corpo são chamados ministros não somente de Cristo, mas também da Igreja.
É por representar Cristo que o sacerdócio ministerial pode representar a Igreja.

III. Os três graus do sacramento da Ordem

1555. "O ministério eclesiástico, divinamente instituído, é exercido em diversas ordens pelos que desde a
antigüidade são chamados bispos, presbíteros e diáconos." A doutrina católica, expressa na liturgia, no
magistério e na prática constante da Igreja, reconhece que existem dois graus de participação ministerial no
sacerdócio de Cristo: o episcopado e o presbiterado. O diaconado se destina a ajudá-los e a servi-los. Por
isso, o termo "sacerdos' designa, na prática atual, os bispos e os sacerdotes, mas não os diáconos. Não
obstante, ensina a doutrina católica que os graus de participação sacerdotal (episcopado e presbiterado) e o de
serviço (diaconado) são conferidos por um ato sacramental chamado "ordenação", isto e, pelo sacramento da
Ordem.

Que todos reverenciem os diáconos como Jesus Cristo, como também o Bispo, que é imagem do Pai, e
os presbíteros como senado de Deus e como a assembléia dos apóstolos: sem eles não se pode falar de Igreja

A ORDENAÇÃO EPISCOPAL - PLENITUDE DO SACRAMENTO DA ORDEM

1556. "Entre aqueles vários ministérios, que desde os primeiros tempos são exercidos na Igreja, conforme
atesta a Tradição, o lugar principal é ocupado pelo múnus daqueles que, constituídos no episcopado,
conservam a semente apostólica por uma sucessão que vem ininterrupta desde o começo."
1557. Para desempenhar sua missão, "os Apóstolos foram enriquecidos por Cristo com especial efusão
do Espírito Santo, que desceu sobre eles. E eles mesmos transmitiram a seus colaboradores, mediante a
imposição das mãos, este dom espiritual que chegou até nós pela sagração episcopal"
1558. O Concílio Vaticano II "ensina, pois, que pela sagração episcopal se confere a plenitude do
sacramento da Ordem, que, tanto pelo costume litúrgico da Igreja como pela voz dos Santos Padres, é
chamada o sumo sacerdócio, a realidade total ('summa') do ministério sagrado".
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1559. "A sagração episcopal, juntamente com o múnus de santificar, confere também os de ensinar e de
reger... De fato, mediante a imposição das mãos e as palavras da sagração, é concedida a graça do Espírito
Santo e impresso o caráter sagrado, de tal modo que os Bispos, de maneira eminente e visível, fazem as vezes
do próprio Cristo, Mestre, Pastor e Pontífice, e agem em seu nome ('in eius persona agant')." "Os Bispos,
portanto, pelo Espírito Santo que lhes foi dado, foram constituídos como verdadeiros e autênticos mestres da
fé, pontífices e pastores."
1560. "Alguém é constituído membro do corpo episcopal pela sagração sacramental e pela hierárquica
comunhão com o chefe e os membros do Colégio." O caráter e a natureza colegial da ordem episcopal se
manifestam, entre outras, na antiga prática da Igreja, que requer para a consagração de um novo Bispo a
participação de vários Bispos. Para a legítima ordenação de um Bispo, é hoje exigida uma especial
intervenção do Bispo de Roma, em razão de sua qualidade de vínculo visível supremo da comunhão das
Igrejas particulares na única Igreja e garantia de sua liberdade.
1561. Cada Bispo, como vigário de Cristo, tem o encargo pastoral da Igreja particular que lhe foi
confiada, mas ao mesmo tempo ele, colegialmente, com todos os seus irmãos no episcopado, deve ter
solicitude por todas as Igrejas: "Se cada Bispo só é pastor propriamente dito da porção do rebanho que lhe foi
confiada, sua qualidade de legítimo sucessor dos apóstolos por instituição divina o toma solidariamente
responsável pela missão apostólica da Igreja".
1562. Tudo o que acabamos de dizer explica por que a Eucaristia celebrada pelo Bispo tem um
significado todo especial como expressão da Igreja reunida em tomo do altar sob a presidência daquele que
representa visivelmente Cristo, Bom Pastor e Cabeça de sua Igreja.

A ORDENAÇÃO DOS PRESBÍTEROS COOPERADORES DOS BISPOS

1563. "Cristo, a quem o Pai santificou e enviou ao mundo (Jo 10,36), fez os Bispos participantes de sua
consagração e missão, por meio dos apóstolos, de quem são sucessores. Os Bispos transmitiram
legitimamente o múnus de seu ministério em grau diverso a pessoas diversas na Igreja." "O múnus de seu
ministério foi por sua vez confiado em grau subordinado aos presbíteros, para que constituídos na ordem do
presbiterado com o fito de cumprir a missão apostólica transmitida por Cristo - fossem os colaboradores da
ordem episcopal."
1564. "O oficio dos presbíteros, por estar ligado à ordem episcopal, participa da autoridade com que o
próprio Cristo constrói, santifica e rege seu corpo. Por isso, o sacerdócio dos presbíteros, supondo os
sacramentos da iniciação cristã, é conferido por meio daquele sacramento peculiar mediante o qual os
presbíteros, pela unção do Espírito Santo, são assinalados com um caráter especial e assim configurados com
Cristo sacerdote, de forma a poderem agir em nome de Cristo Cabeça em pessoa."
1565. "Embora os presbíteros não possuam o ápice do pontificado e no exercício de seu poder dependam
dos Bispos, estão contudo com eles unidos na dignidade sacerdotal. Em virtude do sacramento da Ordem,
segundo a imagem de Cristo, sumo e eterno sacerdote, eles são consagrados para pregar o Evangelho,
apascentar os fiéis e celebrar o culto divino, como verdadeiros sacerdotes do Novo Testamento."
1566. Em virtude do sacramento da Ordem, os presbíteros participam das dimensões universais da
missão confiada por Cristo aos Apóstolos. O dom espiritual que receberam na ordenação prepara-os não para
uma missão limitada e restrita, "mas para a missão amplíssima e universal da salvação até os confins da terra,
"com o espírito pronto para pregar o Evangelho por toda parte".
1567. "Eles exercem seu sagrado múnus principalmente no culto eucarístico ou sinaxe, na qual, agindo na
pessoa de Cristo e proclamando seu mistério, unem os pedidos dos fiéis ao sacrifício de sua Cabeça e, até a
volta do Senhor, tomam presente e aplicam no sacrifício da missa o único sacrifício do Novo Testamento,
isto é, o sacrifício de Cristo que, como hóstia imaculada, uma vez por todas se ofereceu ao Pai. É desse
sacrifício único que retiram a força de todo o seu ministério sacerdotal.
1568. "Solícitos cooperadores da ordem episcopal, seu auxílio e instrumento, chamados para servir ao
povo de Deus, os sacerdotes formam com seu Bispo um único presbitério, empenhados, porém, em diversos
ofícios. Em cada comunidade local de fiéis, tomam presente de certo modo o Bispo, ao qual se associam com
coração confiante e generoso. Assumem, como próprias, as funções e as solicitudes do Bispo e as exercem
em seu empenho cotidiano pelos fiéis. Os presbíteros só podem exercer seu ministério na dependência do
Bispo e em comunhão com ele. A promessa de obediência que fazem ao Bispo no momento da ordenação e o
ósculo da paz do Bispo no fim da liturgia da ordenação significam que o bispo os considera como seus
colaboradores, filhos, irmãos e amigos, e em troca eles lhe devem amor e obediência.
1569. "Estabelecidos na ordem do presbiterado por meio da ordenação, os presbíteros estão ligados entre
si por uma íntima fraternidade sacramental; de modo especial, porém, formam um só presbitério na diocese
para cujo serviço estão escalados sob a direção do próprio Bispo." A unidade do presbitério encontra uma
expressão litúrgica na prática que recomenda que os presbíteros, por sua vez, imponham as mãos, depois do
Bispo, durante o rito da ordenação.
85
A ORDENAÇÃO DOS DIÁCONOS - "PARA O SERVIÇO"

1570. No grau inferior da hierarquia encontram-se os diáconos. São-lhes impostas as mãos "não para o
sacerdócio, mas para o serviço". Para a ordenação ao diaconado, só o Bispo impõe as mãos, significando
assim que O diácono está especialmente ligado ao Bispo nas tarefas de sua "diaconia".
1571. Os diáconos participam de modo especial na missão e graça de Cristo. São marcados pelo
sacramento da Ordem com um sinal ("caráter") que ninguém poder apagar e que os configura a Cristo, que se
fez "diácono", isto é, servidor de todos. Cabe aos diáconos, entre outros serviços, assistir o Bispo e os padres
na celebração dos divinos mistérios, sobre tudo a Eucaristia, distribuir a Comunhão, assistir ao Matrimônio e
abençoá-lo, proclamar o Evangelho e pregar, presidir o funerais e consagrar-se aos diversos serviços da
caridade.
1572. Desde o Concílio Vaticano II, a Igreja latina restabeleceu o diaconato "como grau próprio e
permanente da hierarquia", a passo que as Igrejas do Oriente sempre o mantiveram. Esse diaconato
permanente, que pode ser conferido a homens casados, constitui um importante enriquecimento para a
missão da Igreja. De fato, ser útil e apropriado que aqueles que cumprem na Igreja um ministério
verdadeiramente diaconal, quer na vida litúrgica e pastoral, quer nas obras sociais e caritativas, "sejam
corroborados e mais intimamente ligados ao altar pela imposição das mãos, tradição que nos vem desde os
apóstolos. Destarte desempenharão mais eficazmente o seu ministério mediante a graça sacramental do
diaconato".

IV. A celebração deste sacramento

1573. A celebração da ordenação de um Bispo, de presbíteros ou de diáconos, devido à sua importância


para a vida da Igreja particular, exige o concurso do maior número possível de fiéis. Deverá realizar-se de
preferência num domingo e na catedral, com uma solenidade adaptada à circunstância. As três ordenações –
do Bispo, do padre e do diácono - seguem o mesmo movimento. Seu lugar é no seio da Liturgia Eucarística.
1574. O rito essencial do sacramento da Ordem consta, para os três graus, da imposição das mãos pelo
Bispo sobre a cabeça do ordenando e da oração consagratória específica, que pede a Deus a efusão do
Espírito Santo e de seus dons apropriados ao ministério para o qual o candidato é ordenado.
1575. Como todos os sacramentos, ritos anexos cercam a celebração. Variando consideravelmente nas
diferentes tradições litúrgicas, o que têm em comum é exprimir os múltiplos aspectos da graça sacramental.
Assim, os ritos iniciais no rito latino - a apresentação e a eleição do ordinando, a alocução do Bispo, o
interrogatório do ordinando, a ladainha de todos os santos - atestam que a escolha do candidato foi feita de
conformidade com a prática da Igreja e preparam o ato solene da consagração, depois da qual diversos ritos
vêm exprimir e concluir, de maneira simbólica, o mistério que acaba de consumar-se: para o Bispo e para o
presbítero, a unção do santo crisma, sinal da unção especial do Espirito Santo que torna fecundo seu
ministério; entrega do livro dos Evangelhos, do anel, da mitra e do báculo ao bispo, em sinal de sua missão
apostólica de anúncio da Palavra de Deus, de sua fidelidade à Igreja, esposa de Cristo, de seu cargo de pastor
do rebanho do Senhor; entrega da patena e do cálice ao presbítero, "a oferenda do povo santo" que ele deve
apresentar a Deus; entrega do livro dos Evangelhos ao diácono, que acaba de receber a missão de anunciar o
Evangelho de Cristo.

V. Quem pode conferir este sacramento?

1576. Foi Cristo quem escolheu os apóstolos, fazendo-os participar de sua missão e autoridade. Elevado à
direita do Pai, Ele não abandonou seu rebanho, mas guarda-o por meio dos Apóstolos, sob sua constante
proteção, e o dirige ainda pelos mesmos pastores que continuam até hoje sua obra. Portanto, é Cristo "que
concede" a uns serem apóstolos, a outros pastores. Ele continua agindo por intermédio dos Bispos.
1577. Como o sacramento da Ordem é o sacramento do ministério apostólico, cabe aos Bispos, como
sucessores dos apóstolos, transmitir "o dom espiritual", "a semente apostólica". Os Bispos validamente
ordenados, isto é, que estão na linha da sucessão apostólica, conferem validamente os três graus do
sacramento da ordem.

VI. Quem pode receber este sacramento?

1578. "Só um varão ('vir') batizado pode receber validamente a ordenação sagrada." O Senhor Jesus
escolheu homens ("viri") para formar o colégio dos doze Apóstolos e os apóstolos fizeram o mesmo quando
escolheram os colaboradores que seriam seus sucessores na missão. O colégio dos Bispos, ao qual os
presbíteros estão unidos no sacerdócio, torna presente e atualiza, até o retomo de Cristo, o colégio dos doze.
A Igreja se reconhece vinculada por essa escolha do próprio Senhor. Por isso, a ordenação de mulheres não é
possível.
86
1579. Ninguém tem o direito de receber o sacramento da ordem. De fato, ninguém pode arrogar-se a si
mesmo este cargo. A pessoa é chamada por Deus para esta honra. Aquele que crê verificar em si os sinais do
chamado divino ao ministério ordenado deve submeter humildemente seu desejo à autoridade da Igreja, à
qual cabe a responsabilidade e o direito convocar alguém para receber as ordens. Como toda graça, esse
sacramento não pode ser recebido a não ser como um dom imerecido.
1580. Todos os ministros ordenados da Igreja latina, com exceção dos diáconos permanentes,
normalmente são escolhidos entre os homens fiéis que vivem como celibatários e querem guardar o celibato
"por causa do Reino dos Céus" (Mt 19,12). Chamados a consagrar-se com indiviso coração ao Senhor e a
"cuidar das coisas do Senhor", entregam-se inteiramente a Deus e aos homens. O celibato é um sinal desta
nova vida a serviço da qual o ministro da Igreja é consagrado; aceito com coração alegre, ele anuncia de
modo radiante o Reino de Deus.
1581. Nas Igrejas orientais, está em vigor, há séculos, uma disciplina diferente: enquanto os Bispos só
são escolhidos entre os celibatários, homens casados podem ser ordenados diáconos e padres. Esta praxe é
considerada legítima há muito tempo; esses padres exercem um ministério muito útil no seio de suas
comunidades. O celibato dos presbíteros, por outro lado, é muito honrado nas Igrejas orientais, e são
numerosos os que o escolhem livremente, por causa do Reino de Deus. No Oriente como no Ocidente, aquele
que recebeu o sacramento da Ordem não pode mais casar-se.

VII. Os efeitos do sacramento da Ordem

O CARÁTER INDELÉVEL

1582. Este sacramento toma a pessoa semelhante a Cristo por meio de uma graça especial do Espírito
Santo, para servir de instrumento de Cristo em favor de sua Igreja. Pela ordenação, a pessoa se habilita a agir
como representante de Cristo, Cabeça da Igreja, em sua tríplice função de sacerdote, profeta e rei.
1583. Como no caso do Batismo e da Confirmação, esta participação na função de Cristo é concedida
uma vez por todas. O sacramento da Ordem também confere um caráter espiritual indelével e não pode ser
reiterado nem conferido temporariamente.
1584. Alguém validamente ordenado pode, é claro, por motivos graves, ser exonerado das obrigações e
das funções ligadas à ordenação ou ser proibido de exercê-las, mas jamais poder voltar a ser leigo no sentido
estrito, porque o caráter impresso pela ordenação permanece para sempre. A vocação e a missão recebidas no
dia de sua ordenação marcam a pessoa de modo permanente.
1585. Como, afinal de contas, quem age e opera a salvação é Cristo, por intermédio do ministro
ordenado, a indignidade deste não impede Cristo de agir. Santo Agostinho diz isso categoricamente:

O ministro orgulhoso deve ser colocado junto com o diabo, mas nem por isso é contaminado o dom de
Cristo, que, por esse ministro, continua a fluir em sua pureza e, por meio dele, chega límpido e cai em terra
fértil... Na verdade, a virtude espiritual do sacramento se assemelha à luz: os que devem ser iluminados a
receber em sua pureza, pois, mesmo que tenha de atravessar seres manchados, ela não se contamina.

A GRAÇA DO ESPÍRITO SANTO

1586. A graça do Espírito Santo própria deste sacramento e graça da configuração a Cristo Sacerdote,
Mestre e Pastor, do qual o homem ordenado é constituído ministro.
1587. No caso do Bispo, trata-se de uma graça de força ("O Espírito que constitui chefes": Oração de
consagração do Bispo do rito latino): a graça de guiar e de defender com força e prudência sua Igreja como
pai e pastor, com um amor gratuito por todos e uma predileção pelos pobres, doentes e necessitados. Esta
graça o impele a anunciar o Evangelho a todos, a ser o modelo de seu rebanho, a precedê-lo no caminhada
santificação, identificando-se na Eucaristia com Cristo sacerdote e vítima, sem medo de entregar a vida por
suas ovelhas:

Pai, que conheceis os corações, concedei a vosso servo que escolhestes para o episcopado apascentar
vosso santo rebanho e exercer irrepreensivelmente diante de vós o sumo sacerdócio, servindo-vos noite e dia;
que ele tome incessantemente propício vosso olhar e ofereça os dons de vossa santa Igreja; que, em virtude
do espírito do sumo sacerdócio, tenha o poder de perdoar os pecados segundo o vosso mandamento, distribua
os cargos conforme vossa ordem e se desligue de todo vinculo em virtude do poder que destes aos apóstolos;
que ele vos seja agradável por sua doçura e seu coração puro, oferecendo-vos um perfume agradável, por
intermédio de vosso Filho, Jesus Cristo...

1588. O dom espiritual conferido pela ordenação presbiteral se expressa por esta oração própria do rito
bizantino. O bispo, impondo a mão, diz entre outras coisas:
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Senhor, dignai-vos cumular do dom do Espírito Santo aquele que vos dignastes elevar ao grau do
sacerdócio, a fim de que seja digno de manter-se irrepreensível diante de vosso altar, anunciar o Evangelho
de vosso Reino, cumprir o ministério de vossa palavra de verdade, oferecer dons e sacrifícios espirituais,
renovar vosso povo pelo banho da regeneração, de forma que ele próprio se encaminhe para o grande Deus e
Salvador Jesus Cristo, vosso Filho único, no dia de sua segunda vinda, e que receba de vossa imensa bondade
a recompensa de uma fiel administração de sua ordem.

1589. Quanto aos diáconos, "a graça sacramental lhes concede a força necessária para servir ao povo de
Deus na 'diaconia' da liturgia, da palavra e da caridade, em comunhão com o Bispo e seu presbitério".
1590. Diante da grandeza da graça e da missão sacerdotais, os santos doutores sentiram o urgente apelo à
conversão, a fim de corresponder através de toda a sua vida Aquele de quem são constituídos ministros pelo
sacramento. Neste sentido, São Gregório Nazianzeno, ainda jovem sacerdote, não pôde deixar de exclamar:

É preciso começar a purificar-se antes de purificar os outros, é preciso ser instruído para poder instruir, é
preciso tomar-se luz para iluminar, aproximar-se de Deus para aproximar dele os outros, ser santificado para
santificar, conduzir pela mão e aconselhar com perspicácia. Sei muito bem de quem somos ministros, em que
nível nos encontramos e quem é aquele para o nos dirigimos. Conheço a sublimidade de Deus e a fraqueza
homem, mas também sua força. [Quem é, pois, o sacerdote ?] É o defensor da verdade, eleva-se com os
anjos, glorifica os com arcanjos, leva ao altar celeste as vítimas do sacrifício, partilha do sacerdócio de
Cristo, remodela a criatura, restabelecendo (nela) a imagem (de Deus), recria-a para o mundo do alto e, para
dizer o que há de mais sublime, é divinizado e diviniza.

E o Santo Cura d’Ars: "E o sacerdote que continua a obra de redenção na terra"... "Se soubéssemos o que
é o sacerdote terra, morreríamos não de espanto, mas de amor"... "O sacerdócio é o amor do coração de
Jesus".

RESUMINDO

1591. São Paulo disse a seu discípulo Timóteo: "Eu te exorto a reavivar o dom de Deus que há em ti pela
imposição de minhas mão, (2Tm 1,6), e "se alguém aspira ao episcopado, boa obra deseja" (1 Tm 3,1). A
Tito dizia ele: "Eu te deixei em Creta para cuidares da organização e ao mesmo tempo para que constituas
presbíteros em cada cidade, cada qual devendo ser como te prescrevi" (Tt 1,5).
1592. Toda a Igreja é um povo sacerdotal. Graças ao Batismo, todos os fiéis participam do sacerdócio
de Cristo. Esta participação se chama "sacerdócio comum dos fiéis". Baseado nele e a seu serviço existe
outra participação na missão de Cristo, a do ministério conferido pelo sacramento da Ordem, cuja tarefa é
servir em nome e na pessoa de Cristo Cabeça no meio da comunidade.
1593. O sacerdócio ministerial difere essencialmente do sacerdócio comum dos fiéis porque confere um
poder sagrado para o serviço dos fiéis. Os ministros ordenados exercem seu serviço com o povo de Deus por
meio ensinamento (múnus docendi: "encargo de ensinar"), do culto divino (múnus liturgicum: "encargo
litúrgico") e do governo pastoral (múnus regendi: "encargo de governar").
1594. Desde as origens, o ministério ordenado foi conferido e exercido em três graus: o dos bispos, o
dos presbíteros e o dos diáconos. Os ministérios conferidos pela ordenação são insubstituíveis na estrutura
orgânica da Igreja. Sem o bispo, os presbíteros e os diáconos, não só pode falar de Igreja.
1595. O Bispo recebe a plenitude do sacramento da ordem que o insere no Colégio episcopal e faz dele o
chefe visível da Igreja particular que lhe é confiada. Os Bispos, como sucessores dos apóstolos e membros
do Colégio, participam da responsabilidade apostólica e da missão de toda a Igreja, sob a autoridade do
papa, sucessor de São Pedro.
1596. Os presbíteros estão unidos aos bispos na dignidade sacerdotal e ao mesmo tempo dependem deles
no exercício de suas junções pastorais; são chamados a ser atentos cooperadores dos Bispos; formam em
torno de seu Bispo o "presbitério", que com ele é responsável pela Igreja particular. Recebem do Bispo o
encargo de uma comunidade paroquial ou de uma junção eclesial determinada.
1597. Os diáconos são ministros ordenados para as tarefas de serviço da Igreja; não recebem o
sacerdócio ministerial, mas a ordenação lhes confere junções importantes no ministério da Palavra, do culto
divino, do governo pastoral e do serviço da caridade, tarefas que devem cumprir sob a autoridade pastoral
de seu Bispo.
1598. O sacramento da Ordem é conferido pela imposição das mãos, seguida de uma solene oração
consecratória que pede a Deus, para o ordenando, as graças do Espírito Santo, necessárias para exercer
seu ministério. A ordenação imprime um caráter sacramental indelével.
1599. A Igreja só confere o sacramento da ordem a homens (viris) batizados, cujas aptidões para o
exercício do ministério foram devidamente comprovadas. Cabe à autoridade da Igreja a responsabilidade e
o direito de chamar alguém para receber as Sagradas Ordens.
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1600. Na Igreja latina, o sacramento da Ordem para o presbiterado normalmente é conferido apenas a
candidatos que estão prontos a abraçar livremente o celibato e manifestam publicamente sua vontade de
guardá-lo por amor do Reino de Deus e do serviço aos homens.
1601. Cabe aos Bispos conferir o sacramento da Ordem nos três graus.

4.3.2 - O SACRAMENTO DO MATRIMÔNIO

1602. "A aliança matrimonial, pela qual o homem e a mulher constituem entre si uma comunhão da vida
toda, é ordenada por sua índole natural ao bem dos cônjuges e à geração e educação da prole, e foi elevada,
entre os batizados, à dignidade de sacramento por Cristo Senhor."

I. O Matrimônio no desígnio de Deus

1603. A sagrada Escritura abre-se com a criação do homem e da mulher à imagem e semelhança de Deus
se fecha-se com a visão das "núpcias do Cordeiro" (cf. Ap 19,7). De um extremo a outro, a Escritura fala do
casamento e de seu "mistério", de sua instituição e do sentido que lhe foi dado por Deus, de sua origem e de
seu fim, de suas diversas realizações ao longo de história da salvação, de suas dificuldades provenientes do
pecado e de sua renovação "no Senhor" (1Cor 7,39), na noa aliança de Cristo e da Igreja.

O MATRIMÔNIO NA ORDEM DA CRIAÇÃO

1604. "A íntima comunhão de vida e de amor conjugal que o Criador fundou e dotou com suas leis [...] O
próprio [...] Deus é o autor do matrimônio. "A vocação para o Matrimônio está inscrita na própria natureza
do homem e da mulher, conforme saíram da mão do Criador. O casamento não é uma instituição
simplesmente humana, apesar das inúmeras variações que sofreu no curso dos séculos, nas diferentes
culturas, estruturas sociais e atitudes espirituais. Essas diversidades não devem fazer esquecer os traços
comuns e permanentes. Ainda que a dignidade desta instituição não transpareça em toda parte com a mesma
clareza, existe, contudo, em todas as culturas, um certo sentido da grandeza da união matrimonial. "A
salvação da pessoa e da sociedade humana está estreitamente ligada ao bem-estar da comunidade conjugal e
familiar."
1605. Deus, que criou o homem por amor, também o chamou para o amor, vocação fundamental e inata
de todo ser humano. Pois o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus, que é Amor. Tendo-os Deus
criado homem e mulher, seu amor mútuo se torna uma imagem do amor absoluto e indefectível de Deus pelo
homem. Esse amor é bom, muito bom, aos olhos do Criador, que "é amor" (1Jo 4,8.16). E esse amor
abençoado por Deus é destinado a ser fecundo e a realizar-se na obra comum de preservação da criação:
"Deus os abençoou e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a" (Gn 1,28).
1606. Que o homem e a mulher tenham sido criados um para o outro, a sagrada Escritura o afirma: "Não
é bom que O homem esteja só" (Gn 2,18). A mulher, "carne de sua carne", é, igual a ele, bem próxima dele,
lhe foi dada por Deus como um "auxilio", representando, assim, "Deus, em quem está o nosso socorro". "Por
isso um homem deixa seu pai e sua mãe, se une à sua mulher, e eles se tornam uma só carne" (Gn 2,24). Que
isto significa uma unidade indefectível de suas duas vidas, o próprio Senhor no-lo mostra lembrando qual foi,
'na origem", o desígnio do Criador (Cf Mt 19,4): "De modo que já não são dois, mas uma só carne" (Mt
19,6).

O CASAMENTO SOB O REGIME DO PECADO

1607. Todo homem sofre a experiência do mal, à sua volta e em si mesmo. Esta experiência também se
faz sentir nas relações entre o homem e a mulher. Sua união sempre foi ameaçada pela discórdia, pelo
espírito de dominação, pela infidelidade, pelo ciúme e por conflitos que podem chegar ao ódio e à ruptura.
Essa desordem pode manifestar-se de maneira mais ou menos grave, e pode ser mais ou menos superada,
segundo as culturas, as épocas, os indivíduos. Tais dificuldades, no entanto parecem ter um caráter universal.
1608. Segundo a fé, essa desordem que dolorosamente constatamos não vem da natureza do homem e da
mulher, nem da natureza de suas relações, mas do pecado. Tendo sido uma ruptura com Deus, o primeiro
pecado tem, como primeira conseqüência a ruptura da comunhão original do homem e da mulher. Sua
relações começaram a ser deformadas por acusações recíprocas sua atração mútua, dom do próprio Criador
transforma-se relações de dominação e de cobiça; a bela vocação do homem e da mulher para ser fecundos,
multiplicar-se e sujeitar a terra é onerada pelas dores de parto e pelo suor do ganha-pão.
1609. Não obstante, a ordem da criação subsiste, apesar de gravemente perturbada. Para curar as feridas
do pecado, o homem e a mulher precisam da ajuda da graça que Deus, em sua misericórdia infinita, jamais
lhes recusou. Sem esta ajuda, homem e a mulher não podem chegar a realizar a união de suas vidas para a
qual foram criados "no princípio".
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O CASAMENTO SOB A PEDAGOGIA DA LEI

1610. Em sua misericórdia, Deus não abandonou o homem pecador. As penas que acompanham o
pecado, "as dores da gravidade de dar à luz (Cf Gn 3,16), o trabalho "com o suor de teu rosto" (Gn 3,19)
constituem também remédios que atenuam os prejuízos do pecado. Após a queda, o casamento ajuda a
vencer a centralização em si mesmo, o egoísmo, a busca do próprio prazer, e a abrir-se ao outro, à ajuda
mútua, ao dom de si.
1611. A consciência moral concernente à unidade e à indissolubilidade do Matrimônio desenvolveu-se
sob a pedagogia da lei antiga. A poligamia dos patriarcas e dos reis ainda não fora explicitamente rejeitada.
Entretanto, a lei dada a Moisés visava proteger a mulher contra o arbítrio é a dominação pelo homem, apesar
de também trazer, segundo a palavra do Senhor, os traços da "dureza do coração" do homem, em razão da
qual Moisés permitiu o repúdio da mulher.
1612. Examinando a aliança de Deus com Israel sob a imagem de um amor conjugal exclusivo e fiel, os
profetas prepararam a consciência do povo eleito para uma compreensão mais profunda da unicidade e
indissolubilidade do Matrimônio. Os livros de Rute e de Tobias dão testemunhos comoventes do elevado
sentido do casamento, da fidelidade e da ternura dos esposos. A Tradição sempre viu no Cântico dos
Cânticos uma expressão única do amor humano, visto que é reflexo do amor de Deus, amor "forte como a
morte", que "as águas da torrente jamais poderão apagar" (Ct 8,6-7).

O CASAMENTO NO SENHOR

1613. A aliança nupcial entre Deus e seu povo Israel havia preparado a nova e eterna aliança na qual o
Filho de Deus, encarnando-se e entregando sua vida, uniu-se de certa maneira com toda a humanidade salva
por ele, preparando, assim, "as núpcias do Cordeiro (Cf Ap 19,7 e 9).
1614. No limiar de sua vida pública, Jesus opera seu primeiro sinal a pedido de sua Mãe por ocasião de
uma festa de casamento. A Igreja atribui grande importância à presença de Jesus nas núpcias de Caná. Vê
nela a confirmação de que o casamento é uma realidade boa e o anúncio de que, daí em diante, ser ele um
sinal eficaz da presença de Cristo.
1615. A Celebração do Mistério Cristão Os Sete Sacramentos da igreja. Em sua pregação, Jesus ensinou
sem equívoco o sentido o original da união do homem e da mulher, conforme quis o Criador desde o começo.
A permissão de repudiar a própria mulher, concedida por Moisés, era uma concessão devida à dureza do
coração; a união matrimonial do homem e da mulher é indissolúvel, pois Deus mesmo a ratificou: "O que
Deus uniu, o homem não deve separar" (Mt 19,6).
1616. É provável que esta insistência sem equívoco na indissolubilidade do vínculo matrimonial deixasse
as pessoas perplexas e aparecesse como uma exigência irrealizável. Todavia, isso não quer dizer que Jesus
tenha imposto um fardo impossível de carregar e pesado demais para os ombros dos esposos, mais pesado
que a Lei de Moisés. Como Jesus veio para restabelecer ordem inicial da criação perturbada pelo pecado, ele
mesmo dá a força e a graça para viver o casamento na nova dimensão do Reino de Deus. E seguindo a Cristo,
renunciando a si mesmos e tomando cada um sua cruz que os esposos poderão "compreender" o sentido
original do casamento e vivê-lo com a ajuda de Cristo. Esta graça do Matrimônio cristão é um fruto da Cruz
de Cristo, fonte de toda vida cristã.
1617. É justamente isso que o apóstolo Paulo quer fazer entender quando diz: "E vós, maridos, amai
vossas mulheres, como Cristo amou a Igreja e se entregou por ela, a fim de purificá-la" (Ef 5,25-26),
acrescentando imediatamente: "Por isso de deixar o homem seu pai e sua mãe e se ligar à sua mulher, e serão
ambos uma só carne. E grande este mistério: refiro-me à relação entre Cristo e sua Igreja" (Ef 5,31-32).
1618. Toda a vida cristã traz a marca do amor esponsal de Cristo e da Igreja. Já o Batismo, entrada no
Povo de Deus, é um mistério nupcial: é, por assim dizer, o banho das núpcias que precede o banquete de
núpcias, a Eucaristia. O Matrimônio cristão se torna, por sua vez, sinal eficaz, sacramento da aliança de
Cristo e da Igreja. O Matrimônio entre batizados é um verdadeiro sacramento da nova aliança, pois significa
e comunica a graça.

A VIRGINDADE POR CAUSA DO REINO

1619. Cristo é o centro de toda a vida cristã. O vínculo com Ele está em primeiro lugar, na frente de
todos os outros vínculos, familiares ou sociais. Desde o começo da Igreja, houve homens e mulheres que
renunciaram ao grande bem do Matrimônio para seguir o Cordeiro onde quer que fosse, para ocupar-se com
as coisas do Senhor, para procurar agradar-lhe, para ir ao encontro do Esposo que vem. O próprio Cristo
convidou alguns para segui-lo neste modo de vida, cujo modelo continua sendo ele mesmo:

Há eunucos que nasceram assim do ventre materno. E há eunucos que foram feitos eunucos pelos
homens. E há eunucos que se fizeram eunucos por causa do Reino dos Céus. Quem tiver capacidade para
compreender compreenda! (Mt 19,12).
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1620. A virgindade pelo Reino dos Céus é um desdobramento da graça batismal, um poderoso sinal da
preeminência do vínculo com Cristo, da ardente expectativa de seu regresso, um sinal que também lembra
que o Matrimônio é uma realidade da figura deste mundo que passa.
1621. Ambos, o sacramento do Matrimônio e a virgindade pelo Reino de Deus, provêm do próprio
Senhor. É Ele que lhes dá sentido e concede a graça indispensável para vivê-los em conformidade com sua
vontade. A estima da virgindade por causa do Reino e o sentido cristão do casamento são inseparáveis e se
ajudam mutuamente:

Denegrir o Matrimônio é ao mesmo tempo minorar a glória da virgindade; elogiá-lo é realçar a


admiração que se deve à virgindade... Porque, afinal, o que não parece um bem senão em comparação com
um mal não pode ser verdadeiramente um bem, mas o que é ainda melhor que bens incontestáveis é o bem
por excelência.

II. A celebração do Matrimônio

1622. No rito latino, a celebração do Matrimônio entre dois fiéis católicos normalmente ocorre dentro da
santa missa, em vista de vínculo de todos os sacramentos com o mistério pascal de Cristo. Na Eucaristia se
realiza o memorial da nova aliança, na qual Cristo se uniu para sempre à Igreja, sua esposa bem-amada, pela
qual se entregou. Portanto, é conveniente que os esposos selem seu consentimento de entregar-se um ao outro
pela oferenda de suas próprias vidas, unindo-o à oferenda de Cristo por sua Igreja que se toma presente no
Sacrifício Eucarístico, e recebendo Eucaristia, a fim de que, comungando no mesmo Corpo e no mesmo
Sangue de Cristo, eles "formem um só corpo" nele.
1623. "Como gesto sacramental de santificação, a celebração litúrgica do Matrimônio ... deve ser válida
por si mesma, digna e frutuosa." Convém, pois, que os futuros esposos se disponham à celebração de seu
casamento recebendo o sacramento da Penitência.
1624. Segundo a tradição latina, são os esposos que, como ministros da graça de Cristo, se conferem
mutuamente o sacramento do Matrimônio, expressando diante da Igreja seu consentimento. Nas tradições das
Igrejas Orientais, os sacerdotes, Bispos ou presbíteros, são testemunhas do consentimento recíproco dos
esposos, mas também é necessária a bênção deles para a validade do sacramento.
1625. As diversas liturgias são ricas em orações de bênção e de epiclese para pedir a Deus a graça e a
bênção sobre o novo casal, especialmente sobre a esposa. Na epiclese deste sacramento, os esposos recebem
o Espírito Santo como comunhão de amor de Cristo e da Igreja (Cf Ef 5,32). É Ele o selo de sua aliança, a
fonte que incessantemente oferece seu amor, a força em que se renovar a fidelidade dos esposos.

III. O consentimento matrimonial

1626. Os protagonistas da aliança matrimonial são um homem e uma mulher batizados, livres para
contrair o Matrimônio e que expressam livremente seu consentimento. "Ser livre" quer dizer:
- não sofrer constrangimento;
- não ser impedido por uma lei natural ou eclesiástica.
1627. A Igreja considera a troca de consentimento entre os esposos como elemento indispensável "que
produz o matrimônio" Se faltar o consentimento, não há casamento.
1628. O consentimento consiste num "ato humano pelo qual os cônjuges se doam e se recebem
mutuamente": "Eu te recebo por minha mulher" - "Eu te recebo por meu marido. Este consentimento que liga
os esposos entre si encontra seu cumprimento no fato de "os dois se tomarem uma só carne".
1629. O consentimento deve ser um ato da vontade de cada um dos contraentes, livre de violência ou de
medo grave externo. Nenhum poder humano pode suprir esse consentimento. Se faltar esta liberdade, o
casamento será inválido.
1630. Por esta razão (ou por outras razões que tornam nulo e inexistente o Matrimônio), a Igreja pode,
após exame da situação pelo tribunal eclesiástico competente, declarar "a nulidade do casamento", isto é, que
o casamento jamais existiu. Neste caso, os contraentes ficam livres para casar-se, respeitando as obrigações
naturais provenientes de uma união anterior.
1631. O sacerdote (ou o diácono) que assiste à celebração do Matrimônio acolhe o consentimento dos
esposos em nome da Igreja e dá a bênção da Igreja. A presença do ministro da Igreja (e também das
testemunhas) exprime visivelmente que o casamento é uma realidade eclesial.
1632. É por esta razão que a Igreja normalmente exige de seus fiéis a forma eclesiástica da celebração do
casamento. Diversas razões concorrem para explicar esta determinação:
- casamento-sacramento é um ato litúrgico. Por isso, convém que seja celebrado na liturgia pública da
Igreja.
- Matrimônio foi introduzido num ordo eclesial, cria direitos e deveres na Igreja, entre os esposos e
relativos à prole.
91
- Sendo o Matrimônio um estado de vida na Igreja, é necessário que haja certeza a seu respeito (daí a
obrigação de haver testemunhas).
- caráter público do consentimento protege o mútuo "Sim" que um dia foi dado e ajuda a permanecer-lhe
fiel.
1633. Para que o "sim" dos esposos seja um ato livre e responsável e para que a aliança matrimonial
tenha bases humanas e cristãs sólidas e duráveis, a preparação para o casamento é de primeira importância:

O exemplo e o ensinamento dos pais e da família continuam sendo o caminho privilegiado desta
preparação.

O papel dos pastores e da comunidade cristã como "família de Deus" é indispensável para a transmissão
dos valores humanos e cristãos do Matrimônio e da família, e mais ainda porque em nossa época muitos
jovens conhecem a experiência dos lares desfeitos que não garantem mais suficientemente esta iniciação
(feita dentro da família):

Os jovens devem ser instruídos convenientemente e a tempo sobre a dignidade, a função e o exercício do
amor conjugal, a fim de que, preparados no cultivo da castidade, possam passar, na idade própria, do noivado
honesto para as núpcias.

OS CASAMENTOS MISTOS E A DISPARIDADE DE CULTO

1634. Em muitos países, a situação do casamento misto (entre católico e batizado não-católico) se
apresenta com muita freqüência. Isso exige uma atenção particular dos cônjuges e dos pastores. O caso dos
casamentos com disparidade de culto (entre católico e não-batizado) exige uma circunspecção maior ainda.
1635. A diferença de confissão entre os cônjuges não constitui obstáculos insuperável para o casamento,
desde que consigam pôr em comum o que cada um deles recebeu em sua comunidade e aprender um do outro
o modo de viver sua fidelidade a Cristo. Mas nem por isso devem ser subestimadas as dificuldades dos
casamentos mistos. Elas se devem ao fato de que a separação dos cristãos é uma questão ainda não resolvida.
Os esposos correm o risco de sentir o drama da desunião dos cristãos no seio do próprio lar. A disparidade de
culto pode agravar ainda mais essas dificuldades. As divergências concernentes à fé, à própria concepção do
casamento, como também mentalidades religiosas diferentes, podem constituir uma fonte de tensões no
casamento, principalmente no que tange à educação dos filhos. Uma tentação pode então apresentar-se: a
indiferença religiosa.
1636. Conforme o direito em vigor na Igreja Latina, um casamento misto exige, para sua liceidade, a
permissão expressa da autoridade eclesiástica. Em caso de disparidade de culto, requer-se uma dispensa
expressa do impedimento para a validade do casamento. Esta permissão ou esta dispensa supõem que as duas
partes conheçam e não excluam os fins e as propriedades essenciais do casamento, e também que a parte
católica confirme o empenho, com o conhecimento também da parte não-católica, de conservar a própria fé e
assegurar o batismo e a educação dos filhos na Igreja católica.
1637. Em muitas regiões, graças ao diálogo ecumênico, as comunidades cristãs envolvidas conseguiram
criar uma pastoral comum para os casamentos mistos. Sua tarefa é ajudar esses casais a viver sua situação
particular à luz da fé. Deve também ajudá-los a superar as tensões entre as obrigações que um tem para com
o outro e suas obrigações para com suas comunidades eclesiais, além de incentivar o desabrochar daquilo que
lhes é comum na fé e o respeito por tudo que os separa.
1638. Nos casamentos com disparidade de culto, o cônjuge católico tem uma missão particular: "Pois o
marido não-cristão é santificado pela esposa, e a esposa não-cristã é santificada pelo marido cristão" (1Cor
7,14). Ser uma grande alegria para o cônjuge cristão e para a Igreja se esta "santificação" levar o cônjuge à
livre conversão à fé cristã. O amor conjugal sincero, a humilde e paciente prática das Virtudes familiares e a
oração perseverante podem preparar o cônjuge não-cristão a acolher a graça da conversão.

IV. Os efeitos do sacramento do Matrimônio

1639. "Do Matrimônio válido origina-se entre os cônjuges um vínculo que, por sua natureza, é perpétuo e
exclusivo; além disso, no Matrimônio cristão, os cônjuges são robustecidos e como que consagrados por um
sacramento especial aos deveres e à dignidade de seu estado."

O VÍNCULO MATRIMONIAL

1640. O consentimento pelo qual os esposos se entregam e se acolhem mutuamente é selado pelo próprio
Deus. De sua aliança "se origina também diante da sociedade uma instituição firmada por uma ordenação
divina". A aliança dos esposos é integrada na aliança de Deus com os homens: "O autêntico amor conjugal é
assumido no amor divino".
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1641. O vínculo matrimonial é, pois, estabelecido pelo próprio, Deus, de modo que o casamento
realizado e consumado entre batizados jamais pode ser dissolvido. Este vínculo que resultado ato humano
livre dos esposos e da consumação do casamento é uma realidade irrevogável e dá origem a uma aliança
garantida pela fidelidade de Deus. Não cabe ao poder da Igreja pronunciar-se contra esta disposição da
sabedoria divina.

A GRAÇA DO SACRAMENTO DO MATRIMÔNIO

1642. "Em seu estado de vida e função, (os esposos cristãos) têm um dom especial dentro do povo de
Deus." Esta graça própria do sacramento do Matrimônio se destina a aperfeiçoar o amor dos cônjuges, a
fortificar sua unidade indissolúvel. Por esta graça "eles se ajudam mutuamente a santificar-se na vida
conjugal, como também na aceitação e educação dos filhos".
1643. Cristo é a fonte desta graça. "Como outrora Deus tomou a iniciativa do pacto de amor e fidelidade
com seu povo, assim agora o Salvador dos homens, Esposo da Igreja, vem ao encontro dos cônjuges cristãos
pelo sacramento do Matrimônio." Permanece com eles, concede-lhes a força de segui-lo levando sua cruz e
de levantar-se depois da queda, perdoar-se mutuamente, carregar o fardo uns dos outros, "submeter-se uns
aos outros no temor de Cristo" (Ef 5,21) e amar-se com um amor sobrenatural, delicado e fecundo. Nas
alegrias de seu amor e de sua vida familiar, Ele lhes dá, aqui na terra, um antegozo do festim de núpcias do
Cordeiro.

Onde poderei haurir a força para descrever satisfatoriamente a felicidade do Matrimônio administrado
pela Igreja, confirmado pela doação mútua, selado pela bênção? Os anjos o proclamam, o Pai celeste o
ratifica... O casal ideal não é o de dois cristãos unidos por uma única esperança, um único desejo, uma única
disciplina, o mesmo serviço? Ambos filhos de um mesmo Pai, servos de um mesmo Senhor. Nada pode
separá-los, nem no espírito nem na carne; ao contrário, eles são verdadeiramente dois numa só carne. Onde a
carne é uma só, um também é o espírito.

V. Os bens e as exigências do amor conjugal

1644. "O amor conjugal comporta uma totalidade na qual entram todos os componentes da pessoa apelo
do corpo e do instinto, força do sentimento e da afetividade, aspiração do espírito e da vontade; O amor
conjugal dirige-se a uma unidade profundamente pessoal, aquela que, para além da união numa só carne, não
conduz senão a um só coração e a uma só alma; ele exige a indissolubilidade e a fidelidade da doação
recíproca definitiva e abre-se à fecundidade. Numa palavra, trata-se das características normais de todo amor
conjugal natural, mas com um significado novo que não só as purifica e as consolida, mas eleva-as, a ponto
de torná-las a expressão dos valores propriamente cristãos."

A UNIDADE E A INDISSOLUBILIDADE DO MATRIMÔNIO

1645. O amor dos esposos exige, por sua própria natureza, a unidade e a indissolubilidade da
comunidade de pessoas que engloba toda a sua vida: "De modo que já não são dois, mas uma só carne" (Mt
19,6). "Eles são chamados a crescer continuamente nesta comunhão por meio da fidelidade cotidiana à
promessa matrimonial do dom total recíproco." Esta comunhão humana é confirmada, purificada e
aperfeiçoada pela comunhão em Jesus Cristo, concedida pelo sacramento do Matrimônio . E aprofundada
pela vida da fé comum e pela Eucaristia recebida pelos dois.
1646. "A unidade do Matrimônio é também claramente confirmada pelo Senhor mediante a igual
dignidade do homem e da mulher como pessoas, a qual deve ser reconhecida no amor mútuo e perfeito." A
poligamia é contrária a essa igual dignidade e ao amor conjugal, que é único e exclusivo.

A FIDELIDADE DO AMOR CONJUGAL

1647. O amor conjugal exige dos esposos, por sua própria natureza, uma fidelidade inviolável. Isso é a
conseqüência do dom de si mesmos que os esposos fazem um ao outro. O amor quer ser definitivo. Não pode
ser "até nova ordem". "Esta união íntima, doação recíproca de duas pessoas e o bem dos filhos exigem
perfeita fidelidade dos cônjuges e sua indissolúvel unidade."
1648. O motivo mais profundo se encontra na fidelidade de Deus à sua aliança, de Cristo à sua Igreja.
Pelo sacramento do Matrimônio, os esposos se habilitam a representar esta fidelidade e a testemunhá-la. Pelo
sacramento, a indissolubilidade de casamento recebe um novo e mais profundo sentido.
1649. Pode parecer difícil e até impossível ligar-se por toda a vida a um ser humano. Por isso é de suma
importância anunciar a Boa Nova de que Deus nos ama com um amor definitivo e irrevogável, que os
esposos participam deste amor, que Ele os apoia e mantém e que, por meio de sua fidelidade, podem ser
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testemunhas do amor fiel de Deus. Os esposos que, com a graça de Deus, dão esse testemunho, não raro em
condições bem difíceis, merecem a gratidão e o apoio da comunidade eclesial.
1650. Mas existem situações em que a coabitação matrimonial se torna praticamente impossível pelas
mais diversas razões. Nestes casos, a Igreja admite a separação física dos esposos e o fim da coabitação. Os
esposos não deixam de ser marido e mulher diante de Deus; não são livres para contrair uma nova união.
Nesta difícil situação, a melhor solução seria, se possível, a reconciliação. A comunidade cristã é chamada a
ajudar essas pessoas a viverem cristãmente sua situação, na fidelidade ao vínculo de seu casamento, que
continua indissolúvel.
1651. São numerosos hoje, em muitos países, os católicos que recorrem ao divórcio segundo as leis civis
e que contraem civicamente uma nova união. A Igreja, por fidelidade à palavra de Jesus Cristo ("Todo aquele
que repudiar sua mulher e desposar outra comete adultério contra a primeira; e se essa repudiar seu marido e
desposar outro comete adultério": Mc 10,11-12), afirma que não pode reconhecer como válida uma nova
união, se o primeiro casamento foi válido. Se os divorciados tornam a casar-se no civil, ficam numa situação
que contraria objetivamente a lei de Deus. Portanto, não podem ter acesso à comunhão eucarística enquanto
perdurar esta situação. Pela mesma razão não podem exercer certas responsabilidades eclesiais. A
reconciliação pelo sacramento da Penitência só pode ser concedida aos que se mostram arrependidos por
haver violado o sinal da aliança e da fidelidade a Cristo e se comprometem a viver numa continência
completa.
1652. A respeito dos cristãos que vivem nesta situação e geralmente conservam a fé e desejam educar
cristãmente seus filhos, os sacerdotes e toda a comunidade devem dar prova de uma solicitude atenta, a fim
de não se considerarem separados da Igreja, pois, como batizados, podem e devem participar da vida da
Igreja:

Sejam exortados a ouvir a Palavra de Deus, a freqüentar o sacrifício da missa, a perseverar na oração, a
dar sua contribuição às obras de caridade e às iniciativas da comunidade em favor da justiça, a educar os
filhos na fé cristã, a cultivar o espírito e as obras de penitência para assim implorar, dia a dia, a graça de
Deus.

A ABERTURA · FECUNDIDADE

1653. O instituto do Matrimônio e o amor dos esposos estão, por sua índole natural, ordenados à
procriação e à educação dos filhos, e por causa dessas coisas (a procriação e a educação dos filhos), (o
instituto do Matrimônio e o amor dos esposos) são como que coroados de maior glória.

Os filhos são o dom mais excelente do Matrimônio e contribuem grandemente para o bem dos próprios
pais. Deus mesmo disse: "Não convém ao homem ficar sozinho" (Gn 2,18), e "criou de início o homem como
varão e mulher" (Mt 19,4); querendo conferir ao homem participação especial em sua obra criadora,
abençoou o varão e a mulher dizendo: "Crescei e multiplicai-vos" (Gn 1,28). Donde se segue que o cultivo
do verdadeiro amor conjugal e toda a estrutura da vida familiar que daí promana, sem desprezar os outros
fins do Matrimônio, tendem a dispor os cônjuges a cooperar corajosamente como amor do Criador e do
Salvador que, por intermédio dos esposos, quer incessantemente aumentar e enriquecer sua família.

1654. A fecundidade do amor conjugal se estende aos frutos vida moral, espiritual e sobrenatural que os
pais transmitem seus filhos pela educação. Os pais são os principais e primeiros educadores de seus filhos.
Neste sentido, a tarefa fundamental do Matrimônio e da família é estar a serviço da vida.
1655. Os esposos a quem Deus não concedeu ter filhos podem, no entanto, ter uma vida conjugal cheia
de sentido, humana e cristãmente. Seu Matrimônio pode irradiar uma fecundidade de caridade, acolhimento e
sacrifício.

VI. A Igreja doméstica

1656. Cristo quis nascer e crescer no seio da Sagrada Família José e Maria. A Igreja não é outra coisa
senão a "família de Deus". Desde suas origens, o núcleo da Igreja era em geral constituído por aqueles que,
"com toda a sua casa", se tomavam cristãos. Quando eles se convertiam, desejavam também que "toda a sua
casa" fosse salva. Essas famílias que se tomavam cristãs eram redutos de vida cristã num mundo incrédulo.
1657. Em nossos dias, num mundo que se tornou estranho e até hóstia à fé, as famílias cristãs são de
importância primordial, como lares de fé viva e irradiante. Por isso, o Concílio Vaticano II chama a família,
usando uma antiga expressão, de "Ecclesia domestica". E no seio da família que os pais são "para os filhos,
pela palavra e pelo exemplo... os primeiros mestres da fé. E favoreçam a vocação própria a cada qual,
especialmente a vocação sagrada".
1658. E na família que se exerce de modo privilegiado o sacerdócio batismal do pai de família, da mãe,
dos filhos, de todos os membros da família, "na recepção dos sacramentos, na oração e ação de graças, no
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testemunho de uma vida santa, na abnegação e na caridade ativa". O lar é, assim, a primeira escola de vida
cristã e "uma escola de enriquecimento humano". E aí que se aprende a resistência à fadiga e a alegria do
trabalho, o amor fraterno, o perdão generoso e mesmo reiterado e, sobretudo, o culto divino pela oração e
oferenda de sua vida.
1659. Não podemos esquecer também certas pessoas que, por causa das condições concretas em que
precisam viver – muitas vezes contra a sua vontade -, estão particularmente próximas do coração de Jesus e
merecem uma atenciosa afeição e solicitude da Igreja e principalmente dos pastores: o grande número de
pessoas celibatárias. Muitas dessas pessoas ficam sem família humana, muitas vezes por causa das condições
de pobreza. Há entre elas algumas que vivem essa situação no espírito das bem-aventuranças, servindo a
Deus e ao próximo de modo exemplar. A todas elas é preciso abrir as portas dos lares, "Igrejas domésticas", e
da grande família que é a Igreja. "Ninguém está privado da família neste mundo: a Igreja é casa e família
para todos, especialmente para quantos 'estão cansados e oprimidos'."

RESUMINDO

1660. São Paulo diz: "Maridos, amai as vossas mulheres, como Cristo amou a igreja... E grande este
mistério: refiro-me à relação entre Cristo e sua Igreja" (Ef 5,25.32).
1661. O pacto matrimonial, pelo qual um homem e uma mulher constituem entre si uma íntima
comunidade de vida e de amor, foi fundado e dotado de suas leis próprias pelo Criador. - uma natureza, é
ordenado ao bem dos cônjuges, como também à geração e educação dos filhos. Entre os batizados, foi
elevado, por Cristo Senhor, à dignidade de sacramento.
1662. O sacramento do Matrimônio significa a união de Cristo com igreja. Concede aos esposos a graça
de amarem-se com o mesmo amor com que Cristo amou sua Igreja; a graça do sacramento leva à perfeição
o amor humano dos esposos, consolida unidade indissolúvel e os santifica no caminho da vida eterna.
1663. O Matrimônio se baseia no consentimento dos contraentes, isto é, na vontade de doar-se mútua e
definitivamente para viver uma aliança de amor fiel e fecundo.
1664. Como o Matrimônio estabelece os cônjuges num estado público de vida na Igreja, convém que sua
celebração seja pública no quadro de uma celebração litúrgica diante do sacerdote (ou de testemunha
qualificada da Igreja), das testemunhas e da assembléia dos fiéis.
1665. A unidade, a indissolubilidade e a abertura à fecundidade essenciais ao Matrimônio. A poligamia
é incompatível com unidade do matrimônio; o divórcio separa o que Deus uniu; a recusa da fecundidade
desvia a vida conjugal de seu mais excelente": a prole.
1666. O novo casamento dos divorciados ainda em vida do legítimo cônjuge contraria o desígnio e a lei
de Deus que Cristo ensinou. Eles não estão separados da Igreja, mas não têm acesso à comunhão
eucarística. Levarão vida cristã principalmente educando seus filhos na fé.
1667. O lar cristão é o lugar em que os filhos recebem o primeiro anúncio da fé. Por isso, o lar é
chamado, com toda razão, de "Igreja doméstica", comunidade de graça e de oração, escola das virtudes
humanas e da caridade cristã.

5 – AS OUTRAS CELEBRAÇÕES LITURGICAS

5. 1 - OS SACRAMENTAIS

1668. "A santa mãe Igreja instituiu os sacramentais, que são sinais sagrados pelos quais, à imitação dos
sacramentos, são significados efeitos principalmente espirituais, obtidos pela impetração da Igreja. Pelos
sacramentais os homens se dispõem a receber o efeito principal dos sacramentos e são santificadas as
diversas circunstâncias da vida."

OS TRAÇOS CARACTERÍSTICOS DOS SACRAMENTAIS

1669. São instituídos pela Igreja em vista da santificação de certos ministérios seus, de certos estados de
vida, de circunstâncias muito variadas da vida cristã, bem como do uso das coisas úteis ao homem. Segundo
as decisões pastorais dos bispos, podem também responder às necessidades, à cultura e à história próprias do
povo cristão de uma região ou época. Compreendem sempre uma oração, acompanhada de determinado sinal,
como a imposição da mão, o sinal-da-cruz ou a aspersão com água benta (que lembra o Batismo).
1670. Dependem do sacerdócio batismal: todo batizado é chamado a ser uma "bênção" e a abençoar. Eis
por que os leigos podem presidir certas bênçãos; quanto mais uma bênção se referir à vida eclesial e
sacramental, tanto mais sua presidência ser reservada ao ministério ordenado (bispo presbíteros - "padres" -
ou diáconos).
1671. Os sacramentais não conferem a graça do Espírito Santo à maneira dos sacramentos, mas, pela
oração da Igreja preparam para receber a graça e dispõem à cooperação com ela. "Para os fiéis bem-
dispostos, quase todo acontecimento vida é santificado pela graça divina que flui do mistério pascal da
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paixão, morte e ressurreição de Cristo, do qual todos os sacramentos e sacramentais adquirem sua eficácia. E
quase não há uso honesto de coisas materiais que não possa ser dirigido à finalidade de santificar o homem e
louvar a Deus.

AS DIVERSAS FORMAS DE SACRAMENTAIS

1672. Entre os sacramentais, figuram em primeiro lugar as bênção (de pessoas, da mesa, de objetos e
lugares). Toda bênção é louvor Deus e pedido para obter seus dons. Em Cristo, os cristãos abençoados por
Deus, o Pai "de toda a sorte de bênçãos espirituais" (Ef 1,3). E por isso que a Igreja dá a bênção invocando o
nome de Jesus e fazendo habitualmente o sinal sagrado da cruz de Cristo.
1673. Certas bênçãos têm um alcance duradouro: têm por efeito consagrar pessoas a Deus e reservar para
o uso litúrgico objetos e lugares. Entre as destinadas a pessoas não confundi-las com a ordenação sacramental
- figuram a bênção do abade ou da abadessa de um mosteiro, a consagração das virgens e das viúvas, o rito
da profissão religiosa e as bênçãos para certos ministérios da Igreja (leitores, acólitos, catequistas etc.). Como
exemplos daquelas que se referem a objetos podemos citar a dedicação ou a bênção de uma igreja ou altar, a
bênção dos santos óleos, de vasos e vestes sacras, de sinos etc.
1674. Quando a Igreja exige publicamente e com autoridade, em nome de Jesus Cristo, que uma pessoa
ou objeto seja protegido contra a influência do maligno e subtraído a seu domínio, fala-se de exorcismo.
Jesus o praticou, é dele que a Igreja recebeu o poder e o encargo de exorcizar. Sob uma forma simples, o
exorcismo é praticado durante a celebração do Batismo. O exorcismo solene, chamado "grande exorcismo",
só pode ser praticado por um sacerdote, com a permissão do bispo. Nele é necessário proceder com
prudência, observando estritamente as regras estabelecidas pela Igreja. O exorcismo visa expulsar os
demônios ou livrar da influência demoníaca, e isto pela autoridade espiritual que Jesus confiou à sua Igreja.
Bem diferente é o caso de doenças, sobretudo psíquicas, cujo tratamento depende da ciência médica. É
importante, pois, verificar antes de celebrar o exorcismo se se trata de uma presença do maligno ou de uma
doença.

A RELIGIOSIDADE POPULAR

1675. Além da liturgia sacramental e dos sacramentais, a catequese tem de levar em conta as formas da
piedade dos fiéis e da religiosidade popular. O senso religioso do povo cristão encontrou, em todas as épocas,
sua expressão em formas diversas de piedade que circundam a vida sacramental da Igreja, como a veneração
de relíquias, visitas a santuários, peregrinações, procissões, via-sacra, danças religiosas, o rosário, as
medalhas etc.
1676. Estas expressões prolongam a vida litúrgica da Igreja, mas não a substituem: "Considerando os
tempos litúrgicos, estes exercícios devem ser organizados de tal maneira que condigam com a sagrada
liturgia, dela de alguma forma derivem, para ela encaminhem o povo, pois que ela, por sua natureza, em
muito os supera".
1677. Há necessidade de um discernimento pastoral para sustentar e apoiar a religiosidade popular e, se
for o caso, para purificar e retificar o sentido religioso que embasa essas devoções e para fazê-las progredir
no conhecimento do mistério de Cristo (cf. CT 54). Sua prática está sujeita ao cuidado e julgamento dos
bispos e às normas gerais da Igreja.

A religiosidade do povo, em seu núcleo, é um acervo de valores que responde com sabedoria cristã às
grandes incógnitas da existência. A sabedoria popular católica tem uma capacidade de síntese vital; engloba
criativamente o divino e o humano, Cristo é Maria, espírito e corpo, comunhão e instituição, pessoa e
comunidade, fé e pátria, inteligência e afeto. Esta sabedoria é um humanismo cristão que afirma radicalmente
a dignidade de toda pessoa como filho de Deus, estabelece uma fraternidade fundamental, ensina a encontrar
a natureza e a compreender o trabalho e proporciona as razões para a alegria e o humor, mesmo em meio a
uma vida muito dura. Essa sabedoria é também para o povo um princípio de discernimento, um instinto
evangélico pelo qual capta espontaneamente quando se serve na Igreja ao Evangelho e quando ele é
esvaziado e asfixiado com outros interesses.

RESUMINDO

1678. Chamamos de sacramentais os sinais sagrados instituídos pela Igreja, cujo objetivo é preparar os
homens para receber o fruto dos sacramentos e santificar as diferentes circunstâncias da vida.
1679. Entre os sacramentais, ocupam lugar destacado as bênçãos. Compreendem ao mesmo tempo o
louvor a Deus por suas obras e seus dons e a intercessão da Igreja, a fim de que os homens possam fazer uso
dos dons de Deus segundo o espírito do Evangelho.
96
1680. Além da liturgia, a vida cristã se nutre de formas variadas da piedade popular, enraizadas em
suas diferentes culturas. Velando para esclarecê-las à luz da fé, a Igreja favorece as formas de religiosidade
popular que exprimem um instinto evangélico uma sabedoria humana e que enriquecem a vida cristã.

5. 2 - OS FUNERAIS CRISTÃOS

1681. Todos os sacramentos, principalmente os da iniciação cristã, têm por finalidade a última Páscoa do
Filho de Deus, aquela que, pela morte, o fez entrar na vida do Reino. Agora se realiza o que o cristão
confessa na fé e na esperança: "Espero a ressurreição dos mortos e a vida do mundo que há de vir.

I. A última Páscoa do cristão

1682. O sentido cristão da morte é revelado à luz do mistério pascal da Morte e Ressurreição de Cristo,
em que repousa nossa única esperança. O cristão que morre em Cristo Jesus "deixa este corpo para ir morar
junto do Senhor".
1683. O dia da morte inaugura para o cristão, ao final de sua vida sacramental, a consumação de seu novo
nascimento iniciado no Batismo, a "semelhança" definitiva à "imagem do Filho", conferida pela unção do
Espirito Santo, e a participação na festa do Reino, antecipada na Eucaristia, mesmo necessitando de últimas
purificações para vestir a roupa nupcial.
1684. A Igreja que, como mãe, trouxe sacramentalmente em seu seio o cristão durante sua peregrinação
terrena, acompanha-o, ao final de sua caminhada, para entregá-lo "ás mãos do Pai". Ela oferece ao Pai, em
Cristo, o filho de sua graça e deposita na terra, na esperança, o germe do corpo que ressuscitar na glória. Esta
oferenda é plenamente celebrada pelo Sacrifício Eucarístico. As bênçãos que a precedem e a seguem são
sacramentais.

II. A celebração dos funerais

1685. Os funerais cristãos são uma celebração litúrgica da Igreja. O ministério da Igreja tem em vista
aqui tanto exprimir a comunhão eficaz com o defunto como fazer a comunidade reunida participar das
exéquias e lhe anunciar a vida eterna.
1686. Os diferentes ritos dos funerais exprimem O caráter pascal da morte cristã e respondem às
situações e tradições de cada região, mesmo com relação à cor litúrgica.
1687. O Ordo exsequiarum (rito das exéquias) (OEx) da liturgia romana propõe três tipos de celebração
dos funerais, correspondendo aos três lugares onde acontece (a casa, a igreja, o cemitério) e segundo a
importância que a ele atribuem a família, os costumes locais, a cultura e a piedade popular. Este esquema é,
aliás, comum a todas as tradições litúrgicas e compreende quatro momentos principais:
1688. O acolhimento da comunidade. Uma saudação de fé abre a celebração. Os familiares do defunto
são acolhidos com uma palavra de consolação" (no sentido do Novo Testamento: a força do Espírito Santo na
esperança). A comunidade orante que se reúne escuta também "as palavras de vida eterna". A morte de um
membro da comunidade (ou o dia de aniversário, o sétimo ou o trigésimo dia) é um acontecimento que deve
fazer ultrapassar as perspectivas "deste mundo" e levar os fiéis às verdadeiras perspectivas da fé em Cristo
ressuscitado.
1689. A Liturgia da Palavra, por ocasião dos funerais, exige um preparação bem atenciosa, pois a
assembléia presente ao ato podem englobar fiéis pouco assíduos à liturgia e também amigos do falecido que
não sejam cristãos. A homilia em especial deve "evitar gênero literário de elogio fúnebre" e iluminar o
mistério da morte cristã com a luz de Cristo Ressuscitado.
1690. O Sacrifício Eucarístico. Se a celebração se realizar na igreja, Eucaristia é o coração da realidade
pascal da morte cristã. É então que a Igreja exprime sua comunhão eficaz com o defunto: oferecendo ao Pai,
no Espírito Santo, o sacrifício da morte e ressurreição de Cristo, ela lhe pede que seu filho seja purificado de
seus pecados e de suas c seqüências e que seja admitido à plenitude pascal da mesa do Reino. É pela
Eucaristia assim celebrada que a comunidade dos fiéis, especialmente a família do defunto, aprende a viver
em comunhão com aquele que dormiu no Senhor", comungando do Corpo de Cristo, do qual é membro vivo,
e rezando a seguir por ele e com ele.
1691. O adeus ("a Deus") ao defunto é sua "encomendação a Deus" pela Igreja. Este é o "último adeus
pelo qual a comunidade cristã saúda um de seus membros antes que o corpo dele seja levado à sepultura";
tradição bizantina o exprime pelo beijo de adeus ao falecido:

Com esta saudação final "canta-se por causa de sua partida desta vida e por causa de sua separação, mas
também porque há uma comunhão e uma reunião. Com efeito, ainda que mortos, não estamos separados uns
dos outros, pois todos percorremos o mesmo caminho e nos reencontraremos no mesmo lugar. Jamais
estaremos separados, pois vivemos por Cristo, e agora estamos unidos a Cristo, indo em sua direção...
estaremos todos reunidos em Cristo".
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CAPÍTULO IV

6 - OBJETOS LITÚRGICOS

ALTAR: Mesa onde


se realiza a ceia CÁLICE: Taça onde se
Eucarística; ela coloca o vinho que vai ser
representa o próprio consagrado.
Jesus na Liturgia.

- -
CORPORAL: Pano
quadrangular de linho com
PATENA: Prato onde
uma cruz no centro; sobre
são colocadas as hóstias
ele é colocado o cálice, a
para a consagração.
patena e a âmbula para a
consagração.
- -
GALHETAS:
PALA: Cobertura Recipientes onde se coloca
quadrangular para o a água e o vinho para
cálice. serem usados na
Celebração Eucarística.
- -
LECIONÁRIOS:
Livros que contém as
CRUCIFIXO: Fica leituras da Missa.
sobre o altar ou acima Lecionário ferial (leituras
dele, lembra a Ceia do da semana); lecionário
Senhor é inseparável do santoral (leitura dos
seu Sacrifício Redentor. santos), lecionário
dominical (leituras do
Domingo).
- -
MANUSTÉRGIO:
Toalha usada para MISSAL: Livro que
purificar as mãos antes, contém o ritual da missa,
durante e depois do ato menos as leituras.
litúrgico.
- -
SANGUÍNEO:
OSTENSÓRIO ou
Pequeno pano utilizado
CUSTÓDIA: Objeto
para o celebrante enxugar
utilizado para expor o
a boca, os dedos e o
Santíssimo, ou para levá-lo
interior do cálice, após a
em procissão.
consagração.
- -
TECA: Pequeno
recipiente onde se leva a AMBÃO: Estante onde
comunhão para pessoas é proclamada a palavra de
impossibilitadas de ir à Deus.
Missa.
- -
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INCENSO: Resina de
aroma suave. Produz uma NAVETA: Objeto
fumaça que sobe aos utilizado para se colocar o
céus, simbolizando as incenso, antes de queimá-
nossas preces e orações à lo no turíbulo.
Deus.
-

TURÍBULO:
Recipiente de metal
usado para queimar o
incenso.

ALFAIAS: Designam todos os objetos utilizados no culto, como por exemplo, os paramentos litúrgicos.

ALIANÇA: Anel utilizado pelos noivos para significar seu compromisso de amor selado no matrimônio.

ANDOR: Suporte de madeira, enfeitado com flores. Utilizados para levar os santos nas procissões.

ASPERGES: Utilizado para aspergir o povo com água-benta. Também conhecido pelos nomes de aspergi ou
aspersório.

BACIA: Usada como jarro para as purificações litúrgicas.

BÁCULO: Bastão utilizado pelos bispos. Significa que ele está em lugar do Cristo Pastor.

BATISTÉRIO: O mesmo que pia batismal. É onde acontecem os batizados.

BURSA: Bolsa quadrangular para colocar o corporal.

CALDEIRINHA: Vasilha de água-benta.

CAMPAINHA: Sininhos tocados pelo acólito no momento da consagração.

CASTIÇAIS: Suportes para as velas.

CADEIRA DO CELEBRANTE: Cadeira no centro do presbitério que manifesta a função de presidir o culto.

CÍRIO PASCAL: Uma vela grande onde se pode ler ALFA e ÔMEGA (Cristo: começo e fim) e o ano em
curso. tem grãos de incenso que representam as cinco chagas de Cristo. Usado na Vigília Pascal, durante o Tempo
Pascal, e durante o ano nos batizados. Simboliza o Cristo, luz do mundo.

COLHERINHA: Usada para colocar a gota de água no vinho e para colocar o incenso no turíbulo.

CONOPEU: Cortina colocada na frente do sacrário.

CREDÊNCIA: Mesinha ao lado do altar, utilizada para colocar os objetos do culto.

CRUZ PROCESSIONAL: Cruz com um cabo maior utilizada nas procissões.

CRUZ PEITORAL: Crucifixo dos bispos.

ESCULTURAS: Exitem nas Igrejas desde os primeiros séculos. Sua única finalidade litúrgica é ajudar a
mergulhar nos mistérios da vida de Cristo. O mesmo se pode dizer com relação às pinturas.
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GENUFLEXÓRIO: Faz parte dos bancos da Igreja. Sua única finalidade é ajudar o povo na hora de ajoelhar-
se.

HÓSTIA: Pão Eucarístico. A palavra significa "vítima que será" sacrificada.

HÓSTIA GRANDE: É utilizada pelo celebrante. É maior apenas por uma questão de prática. Para que todos
possam vê-la na hora da elevação, após a consagração.

JARRO: Usado durante a purificação.

LAMPARINA: É a lâmpada do Santíssimo.

LAVATÓRIO: Pia da Sacristia. Nela há toalha e sabonete para que o sacerdote possa lavar as mãos antes e
depois da celebração.

LIVROS LITÚRGICOS: Todos os livros que auxiliam na liturgia: lecionário, missal, rituais, pontifical,
gradual, antifonal.

LUNETA: Objeto em forma de meia-lua utilizado para fixar a hóstia grande dentro do ostensório.

MATRACA: Instrumento do madeira que produz um barulho surdo. Substitui os sinos durante a semana santa.

PISCINA: antigo nome da pia da sacristia.

PÍXIDE: O mesmo que ÂMBULA.

PRATINHO: Recipiente que sustenta as galhetas.

PURIFICATÓRIO: O mesmo que sanguinho.

RELICÁRIO: Onde são guardados as relíquias dos santos.

SACRÁRIO: Caixa onde é guardada a Eucaristia após a celebração. Também é conhecida como
TABERNÁCULO.

SANTA RESERVA: Eucaristia guardada no SACRÁRIO.

TABERNÁCULO: O mesmo que SACRÁRIO.

VÉU DO CÁLICE: Pano utilizado para cobrir o cálice.

VÉU DO CIBÓRIO: Capinha de seda branca que cobre a âmbula. É sinal de respeito para com a Eucaristia.

Anexo - 1

Estatuto, Diretório e Subsídios da Arquidiocese:

Sobre o Ministro Extraordinário da Comunhão Eucarística e da Esperança

21 Sobre a escolha e o múnus do Ministro Extraordinário da Comunhão Eucarística

21 .1 - O Ministro Extraordinário da Comunhão Eucarística deve ser escolhido pelas suas qualidades de
vida, coerentes com as exigências do Evangelho. Tenha-se também em conta que possa ser aceito pelos fiéis.

21.2 - “Os leigos designados devem considerar o múnus que lhes foi confiado não tanto como uma honra,
100
mas principalmente como um encargo, e em primeiro lugar como um serviço em favor dos irmãos, sob a autoridade
do pároco”.

21.3- Este múnus, pois, não lhes é próprio, mas supletivo, pois o exercem, “quando a necessidade da Igreja o
sugere, na falta de ministros ordenados”. Façam tudo e só o que pertence ao ofício que lhes foi confiado.

21 . 4- Exerçam o seu múnus com piedade sincera e com ordem, como convém ao seu ofício e como
justamente exige deles o povo de Deus.

22 Critérios para poder habilitar-se ao Ministério Extraordinário da Comunhão Eucarística e sobre o


que se exige dele:

22.1 - Para o fiel poder habilitar-se ao Ministério Extraordinário da Comunhão Eucarística é preciso
que ele tenha:
a) engajamento paroquial;
b) idade mínima de 21 anos;
c) participação nos encontros de preparação estabelecidos;
d) aprovação e mandato outorgado pelo Arcebispo Metropolitano, na sua ausência o Vigário Geral.

22.2 Exige-se do Ministro Extraordinário da Comunhão Eucarística:

a) dignidade no modo de viver, segundo o Evangelho;


b) presteza e solicitude pastoral, como Ministro(a) Extraordinário(a) da Comunhão entre os irmãos;
c) obediência às normas e ritos determinados pela Santa Sé;
d) interesse pela sua própria formação, comparecendo aos encontros programados pela paróquia ou região
pastoral;
e) inserção na pastoral paroquial.

23 O Ministro Extraordinário da Comunhão Eucarística, sendo casado, precisa ser bom marido (boa esposa)
e pai (mãe) exemplar pois, embora não pertença à hierarquia da Igreja, não deixa de ser representante desta, da qual
toma parte ativa como Ministro(a) Extraordinário(a).

23.1 -Quem vive irregularmente (divorciado, desquitado ou separado que contraria novas núpcias) não pode ser
Ministro Extraordinário da Comunhão Eucarística. Valorize-se para essa função um casal abençoado pelo
sacramento do matrimônio.

24 Para a comunidade, o Ministro Extraordinário da Comunhão Eucarística é um líder religioso, que deve
estar sempre pronto a servi-la, pondo à sua disposição seu tempo, seus conhecimentos e suas aptidões pessoais,
salvaguardando sempre suas obrigações familiares, comunitárias e profissionais.

25 No trabalho profissional, o Ministro Extraordinário da Comunhão Eucarística deve ser uma pessoa
honesta e respeitadora dos direitos de outrem, uma pessoa que viva de acordo com os valores evangélicos e a
doutrina social da Igreja.

26 Para a concessão do mandato de Ministro Extraordinário da Comunhão Eucarística, que vale por dois
anos, é necessária a participação nos encontros preparatórios, organizados pela respectiva Paróquia ou Reião
Pastoral.

Esses encontros terão como base o Manual de Preparação para os Ministros Extraordinários da Comunhão
Eucarística, aprovado pela Arquidiocese. Cada Paróquia ou Região Pastoral deve programar a formação permanente
e mensal para os que receberam esse ministério.

28 Apenas o Ministro Extraordinário da Comunhão Eucarística, devidamente habilitado, pode auxiliar na


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distribuição da Comunhão, levar a Santa Comunhão ao doente, presidir a Celebração da Palavra na ausencia do
Diácono, oficializar as exéquias e realizar as demais atribuições, observadas as condições estabelecidas pela Santa
Sé.

28.1- Extraordinariamente, o presbítero pode encarregar uma outra pessoa para que, em determinado momento,
o ajude a distribuir a Sagrada Comunhão.

28. 2-Para tanto, se possível, a escolha deve seguir sobre quem for (nesta ordem):

a) Leitor estavelmente constituído segundo a norma do CDC, c, 230;


b)Seminarista;
c) Religioso(a);
d) Catequista e
e) Fiéis que não têm nenhum ministério.

Anexo 2

ORIENTAÇÕES PARA A CELEBRAÇÃO DA ESPERANÇA

RITO DE EXÉQUIAS

INTRODUÇÃO

A Igreja celebra com profunda esperança o mistério pascal de Cristo nas exéquias de seus filhos, para
que eles, incorporados pelo Batismo a Cristo morto e ressuscitado, passem com ele da morte à vida.
(Sagrada Congregação para o Culto Divino – Ritual de Exéquias)
As exéquias ou encomendação do corpo não são sacramentos e nem sacramentais, porém exprimem o
caráter pascal da morte cristã. (CIC 1684-1685)
Este subsídio tem o objetivo de auxiliar ministros extraordinários da comunhão eucarística e da
esperança nos velórios dos fiéis cristãos. A participação da comunidade nesse momento difícil serve de
consolo e apoio à família enlutada. Ao mesmo tempo, nos faz professar a fé na ressurreição dos mortos,
dando nosso adeus (a Deus) ao irmão que parte, na certeza de que nos veremos novamente na casa do Pai.
(Sagrada Congregação para o Culto Divino – Ritual de Exéquias).

1. A fé na ressurreição dos mortos é ponto central da vida cristã. A existência da Igreja só tem
sentido se for construída ao redor deste núcleo fundamental da fé. Como lembra o Apóstolo Paulo,
se foi só para esta vida que pusemos nossa esperança em Cristo, somos as pessoas mais dignas de
compaixão e nossas lutas perdem toda razão de ser. "Se os mortos não ressuscitam, comamos e
bebamos, pois amanhã morreremos" (lCo 15,32).
2. A Igreja "existe para evangelizar, ou seja, para pregar e ensinar". Não pode, por isso, ficar
indiferente quando, por ocasião de uma morte, for solicitada pelas pessoas, mesmo se (e justamente
por isso) suas vidas e suas convicções religiosas deixam a desejar. Afinal de contas a Igreja também
reza por aqueles dos quais só Deus conheceu a fé.
3. O objetivo central da ação evangelizadora da Igreja por ocasião das exéquias deve ser
despertar a esperança e fortificar a fé dos participantes sem, no entanto, ofender a tristeza dos que
sofrem. Justamente porque celebram o mistério pascal, as exéquias não podem deixar de levar em
conta tanto o aspecto da dor quanto o anúncio da esperança. Daí a atenção que se pede aos
ministros, pois, além de guias da fé, eles são "ministros da consolação". O cuidado deve ser maior
ainda, quando a morte ocorreu em circunstâncias de violência: terrorismo, chacina, seqüestro,
suicídio, vingança, acidente de diversos tipos (trânsito, trabalho, por imprudência, por ciúme, por
assalto, etc.).
102
4. Em tudo isso a linguagem (atitudes, palavras, símbolos e ritos) desempenha um papel de
suma importância. Nada menos "evangelizador" do que negar-se a celebrar ou celebrar de modo
superficial, sem "unção", e apressadamente, só porque a pessoa morta e talvez sua família não
tenham sido bons cristãos. Neste sentido o Ritual de Exéquias, faz uma recomendação muito
clara: "Na preparação e organização das exéquias, os ministros devem ter diante dos olhos, não
só a pessoa de cada morto e as circunstâncias de sua morte, como também, afável e
compreensivamente, devem considerar a dor e as necessidades da vida cristã dos familiares.
Especial atenção tenham para aqueles que, presentes às celebrações litúrgicas e à leitura do
Evangelho por ocasião das exéquias, não são católicos ou, se católicos, raramente ou jamais
participam da Eucaristia, ou, simplesmente, parecem ter perdido a fé: os sacerdotes são ministros
do Evangelho de Cristo para todos" (Rex 18).
5. O Ritual não fica somente em recomendações. Em toda a sua estrutura, nas orações,
leituras símbolos, e gestos percebe-se de forma clara a preocupação pastoral e a intenção de
evangelizar. A celebração deixou de ser ato exclusivo do ministro e adquiriu um tom mais
eclesial e comunitário. Já não se reza apenas pelo defunto, mas também pelos vivos provados
pela dor. A dimensão comunitária faz parte da identidade cristã, até na hora da morte. Daí a
importância da presença da comunidade cristã na celebração de exéquias de um de seus filhos.
6. Acima de qualquer rito ou oração, no entanto, está a Palavra de Deus que, mais do que
qualquer outro elemento, assegura às exéquias sua dimensão pascal. São previstas celebrações da
Palavra nas seguintes ocasiões: velório (tantas vezes, quantas se acharem oportunas);
encomendação (na igreja, na capela mortuária, ou no crematório, se for o caso); no cemitério (na
hora de sepultar o corpo, ou depositar a urna com as cinzas).
7. Na celebração da Palavra a homília ocupa um lugar de destaque. Nela, alem de se
"despertar a esperança de um novo encontro no Reino de Deus, ensina-se o respeito para com os
mortos e exortam-se os fiéis a dar, por toda parte, o testemunho de uma vida cristã" (REx 11).
Sem excluir a possibilidade de breve e singela alusão à. vida cristã do defunto, é preciso que se
evite qualquer tipo de elogio fúnebre, pois na celebração de exéquias, como em qualquer outra
celebração, não deve haver nenhuma acepção de pessoas ou de classes sociais (REx 41 e 20,
IGMR 338).
8. Esta orientação não pode, porém, levar ao extremo oposto do uniformismo e da total falta
de diferenciação. O próprio Ritual lembra que é preciso levar em conta a situação concreta das
pessoas que participam da celebração e o bom senso aconselha a observar as circunstâncias em
que a morte ocorreu, além de atender as características do defunto, tais como sua vinculação com
a comunidade e seu envolvimento com a sociedade.

Orientações Pastorais
Atualmente, há uma grande necessidade de se preparar ministros e ministras extraordinários
para as exéquias, a fim de que possam promover a pastoral da esperança, visitar os doentes, rezar
nos velórios e visitar as famílias que perderam entes queridos.
Recomenda-se aos ministros que:
Despertem a esperança dos participantes, quanto fortificar a fé no mistério pascal e na
ressurreição dos mortos, de modo que, levando-lhes o carinho da Santa Igreja e a consolação da
fé, levantem o ânimo dos fiéis sem, porém, ofender a tristeza dos que sofrem;
Apresentem-se usando a veste, no caso o blaser, pois estará presidindo um ato em nome da
Igreja;
Durante a Celebração envolver a comunidade para se fazer próxima da família no momento
do velório;
Fazer uso da Palavra de Deus para iluminar a Celebração, evitando proferir longos
discursos, o mais importante é a Igreja se fazer presente.
103
Que essa Celebração possa nos consolar uns aos outros com as palavras de fé e renovar a
nossa esperança cristã, pois sabemos que Jesus Cristo é a ressurreição e a vida e aquele que nele
crê, ainda que morra, viverá (cfe. Jo 11,25).

ESTRUTURA DA CELEBRAÇÃO

Ao chegar ao local é conveniente cumprimentar os parentes mais próximos anotando o nome do


falecido, para mencionar durante o rito. O ministro paramentado, munido de água benta, Bíblia e o ritual,
deve posicionar-se ao lado do corpo para presidir a celebração.

Acolhida: Irmãos sejam bem vindos a esta celebração que fazemos por nosso(a) irmão(ã) falecido.
Ele(a) dormiu em Cristo e nós aqui estamos para saldá-lo(a) e nos despedirmos. Pelo Batismo, ele nasceu e
se uniu a Cristo. Que seja agora convidado a participar da vida divina e possa, com os santos, tornar-se
herdeiro das promessas eternas.

RITO INICIAL: Iniciemos nossa celebração com o sinal da nossa fé.  Em nome do Pai, do Filho e
do Espírito Santo. Amém.

Min.: Estamos reunidos para rezar pelo descanso eterno de N. Queremos rezar pela família, pelos
parentes e amigos do falecido. Queremos nos solidarizar com os que sentem a separação de N.
Vamos rezar também por todos nós aqui reunidos. Desejamos que esta celebração nos ajude a entender
melhor a morte, e ao refletirmos sobre ela, nos apeguemos cada vez mais a Deus, seguindo o caminho do
Evangelho de Jesus Cristo.

OREMOS: Pai de misericórdia e Deus de toda consolação, vós nos acompanhais com amor eterno,
transformando as sombras da morte em aurora de vida. Olhai agora compassivo as lágrimas dos vossos
filhos. Dai-nos, Senhor, vossa força e proteção para que a noite da nossa tristeza se ilumine com a luz da
vossa paz. O vosso Filho e Senhor nosso, morrendo, destruiu nossa morte, e ressurgindo deu-nos
novamente a vida. Dai-nos a graça de ir ao seu encontro para que, após a caminhada desta vida, estejamos
um dia reunidos com nossos irmãos, onde todas as lágrimas serão enxugadas. Por nosso Senhor Jesus
Cristo, vosso Filho, na Unidade do Espírito Santo. Amém.

Rito da Palavra

Com.: A Palavra de Deus é sempre motivo de esperança e consolo, principalmente nestes momentos
em que nos defrontamos com a dor da morte. Em toda a Bíblia, encontramos muitas passagens que nos
garantem a certeza da vida após a morte. A Palavra de Deus nos diz que nem tudo termina com a morte e
que o caminho para o Pai é o próprio Cristo. A ressurreição de Cristo é a certeza da ressurreição de todos
aqueles que procuram viver o que Ele nos ensinou.

Sugestões de Leituras:
Leituras: Sb 3,1-6.9;/ 1Cor 15, 12-20;/ Rm 6, 3-4.8-9;/ Rm 14, 7-10;/ 1Ts 4, 13-18.
Salmos: 22/23 “O Senhor é meu pastor ..” 129 “Das profundezas Senhor a vós eu clamo, Senhor
escutai o meu apelo ...”
Evangelho: Jo 11, 17-27 - “Eu sou a ressurreição e a vida, ...”
Jo 14, 1-6 – “Eu Sou o caminho a verdade e a vida”
Jo 6, 37-40 – “Quem crê no Filho terá a vida eterna, ...”

PISTAS PARA REFLEXÃO

1) A ressurreição de Cristo é a certeza de nossa futura ressurreição. Muitos pensam que com a morte
tudo termina./
2) Jesus é o caminho que leva ao Pai, o verdadeiro caminho para a vida plena. Ele nos convida para
segui-lo, nesta vida e quem o segue não será decepcionado, mas terá plenitude da vida junto de Deus./
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3) Nossa vida é dom de Deus, devemos valorizar a nossa vida e a dos outros. Um dia teremos que
prestar contas a Deus sobre o que nós fizemos com o dom que Ele nos deu./
4) A vida eterna é a vida de Deus. É a união com o Pai celeste. Esta união nós a temos desde o nosso
batismo e a fazemos crescer mais à medida que assumimos com responsabilidade nossa vida cristã. Daí a
importância de vivermos o compromisso assumido no Batismo.

PRECES

Min.: Rezemos pelo nosso irmão N ao Senhor que disse: “Eu sou a ressurreição e a vida, aquele que
crê em mim, ainda que esteja morto, viverá. E todo aquele que vive e crê em mim não morrerá para
jamais.”

Por este nosso irmão N, falecido, que um dia recebeu pelo Batismo a semente da vida eterna, para
que possa participar agora da felicidade sem fim em companhia dos santos, rezemos ao Senhor.
Por todos aqueles que sofrem a ausência deste nosso irmão falecido, para que encontrem consolo em
sua tristeza, rezemos ao Senhor.
Por todos nós que ainda caminhamos nesta vida, para que Deus confirme nossa esperança, rezemos
ao Senhor.

Se for conveniente convidar os presentes a fazer preces espontâneas, ...

Min.: Senhor, Pai santo, imploramos a vossa misericórdia, para que vos digneis olhar para os vossos
filhos que hoje choram e rezam por este nosso irmão(ã) querido. Perdoai-lhe Senhor, todos os pecados.
Não permitais que ele(a) fique separado de Vós; dai-lhe o lugar na luz da felicidade e da paz. A vós,
Senhor, o poder, a honra e a glória, agora e por toda a eternidade. Amém.

Min.: Rezemos como família reunida a oração que o próprio Filho de Deus, Jesus Cristo nos ensinou;
Pai-nosso ...Roguemos também a nossa mãe Maria Santíssima que nos conforte, Ave Maria,

RITO DE ENCOMENDAÇÃO

Com.: Quando nos despedimos de alguém que amamos e admiramos, é sempre um momento difícil e
duro. Sabemos que esta nossa despedida não é um adeus, mas um até breve, pois todos queremos nos
encontrar no Céu, junto de Deus.

Min.: Com fé e confiança recomendamos este nosso irmão(ã) ao Pai, acompanhando-o com nossas
preces. Ele que recebeu no Batismo a adoção de filho de Deus, seja agora convidado a participar, no Céu,
do convívio dos santos, e torne-se herdeiro das promessas eternas. Rezemos também por nós que hoje
choramos, para que um dia, com nosso irmão possamos ir ao encontro de Deus.
Neste momento o ministro asperge o corpo com água benta, rezando.

Min.: Nas vossas mãos Pai de misericórdia, entregamos o nosso irmão N, na firme esperança de que
ele ressurgirá com Cristo no último dia, como todos os que no Cristo adormeceram. Escutai na vossa
misericórdia as nossas preces: Abri para ele as portas do paraíso, e a nós que ficamos concedei que nos
consolemos uns aos outros com as palavras da fé, até o dia em que nos encontraremos todos no Cristo e
assim estaremos sempre convosco. Por Cristo, nosso Senhor. Amém.

Min.: Dai-lhe, Senhor, o descanso eterno (3x).


Todos: E a luz perpétua o ilumine.

RITO FINAL

Min.: O Senhor esteja conosco.


Todos: Ele está no meio de nós.
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Min.: O Deus de toda consolação nos dê a sua bênção, Ele que na sua bondade criou o ser humano e
deu aos que crêem em seu Filho ressuscitado a esperança da ressurreição.
Todos: Amém.

Min.: Abençoe-nos Deus todo-poderoso,  Pai, Filho e Espírito Santo.

Todos: Amém.

Min.: Confortados por esta celebração, permaneçamos em paz.

Todos: Graças a Deus.

Anexo 3

Celebração da Palavra de Deus

A presença real de Cristo na Palavra

O Concílio Vaticano II ampliou e desenvolveu a noção da presença de Cristo na liturgia. Além de estar
presente nas espécies eucarísticas, Cristo está presente na palavra, na pessoa do ministro, nos sacramentos,
na assembléia reunida para orar e salmodiar.

Queremos destacar aqui o valor dado à presença de Cristo na palavra: “Cristo está presente na sua
palavra, pois é Ele quem fala quando na Igreja se lêem as Sagradas Escrituras..” (SC 7). Para que os fiéis
se alimentem também do Cristo presente na palavra, o Concílio recuperou a tradição de valorizar as duas
mesas: palavra e eucaristia como atesta a Constituição Dei Verbum: “A Igreja sempre venerou a Sagrada
Escritura da mesma forma como sempre venerou o próprio Corpo do Senhor, porque, de fato,
principalmente na sagrada liturgia, não cessa de tomar e entregar aos fiéis o pão da vida, da mesa da
palavra de Deus como do corpo de Cristo” (DV 21). Portanto, as duas mesas são fontes de alimento para
todas as pessoas que delas se aproximam. Dessa forma, a palavra de Deus é tão venerável quanto o Corpo
Eucarístico de Jesus Cristo. Comungamos da mesa da palavra, assim como comungamos da mesa da
Eucaristia.
Resgatando a palavra como alimento, o Concílio retomou o ensinamento da tradição e da teologia
cristãs. Encontramos testemunhos dos Santos Padres, os quais afirmam que a palavra da Sagrada Escritura
é a presença de Deus entre nós, e que especialmente a palavra dos Evangelhos é a presença do Verbo
encarnado. Assim, Inácio de Antioquia pode escrever que busca “refúgio no evangelho, como na carne de
Jesus”. É significativo o texto de Jerônimo (+419/420): “Quanto a mim, penso que o Evangelho é o corpo
do Cristo e que a Sagrada Escritura é sua doutrina. Quando o Senhor fala em comer sua carne e beber seu
sangue, é certo que fala do mistério (da Eucaristia). Entretanto, seu verdadeiro corpo e seu verdadeiro
sangue (também) são a palavra da Escritura e sua doutrina”. Lemos constantemente nos escritos de
Orígenes a idéia da presença de Cristo na palavra, por exemplo: “Como Cristo veio escondido no corpo,...
assim também toda a Sagrada Escritura é a sua incorporação”. Mais tarde, Santo Agostinho vê na Sagrada
Escritura uma encarnação permanente do Verbo divino: “O verdadeiro Cristo está na palavra e na carne”.
Nesta mesma linha, Cesário de Arles, retomando a idéia de Orígenes afirma que a palavra de Deus não
vale menos que o corpo de Cristo: “Eu lhes pergunto, irmãos e irmãs, digam o que, na opinião de vocês,
tem mais valor: a palavra de Deus ou o Corpo de Cristo? Se quiserem dar a verdadeira resposta, certamente
deverão dizer que a palavra de Deus não vale menos que o Corpo de Cristo. E por isso, todo o cuidado que
tomamos quando nos é dado o Corpo de Cristo, para que nenhuma parte escape de nossas mãos e caia por
terra, tomemos este mesmo cuidado para que a palavra de Deus, que nos é entregue, não morra em nosso
coração enquanto ficamos pensando em outras coisas ou falando de outras coisas, pois aquela pessoa que
escuta de maneira negligente a palavra de Deus, não será menos culpada do que aquela que, por
negligência, permitir que caia por terra o Corpo de Cristo”.
Portanto, tanto o mistério da palavra como o da Eucaristia conduzem ao mistério do Cristo Senhor.
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Roteiro proposta para a Celebração da Palavra

RITOS INICIAIS

ACOLHIDA:
 Se for oportuno, acolher a pessoas na porta.
 Na hora marcada para o início compor a procissão de entrada.
 Diante do altar, fazer reverência.
 Concluído o canto de entrada, posicione-se diante do povo (próximo) e acolha a todos com carinho e alegria,
usando poucas palavras de maneira espontânea.
 Convide a comunidade a celebrar “Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”.
(o abraço da paz pode ser motivado neste momento como sinal de acolhida e formação de assembléia celebrante)
ATO PENITENCIAL
 Motivar a assembléia a colocar-se na presença de Deus: “Assumindo a condição de pecadores, carentes da
misericórdia e o perdão do Senhor, e cantando invoquemos está misericórdia de Deus nos ama”.
(o abraço da paz pode ser motivado neste momento como sinal de reconciliação)
 Concluído o canto /abraço, faz a oração da coleta.

ORAÇÃO DA COLETA (1° Oremos – do dia)


 Convidar a assembléia a expressar em alta voz (se for pequena comunidade) as motivações de estar reunido para
celebrar, pedidos, intenções (não são preces), trazer presentes situações concretas e pessoas. Acolhe as intenções já
depositadas junto ao altar.
 Reza a oração, conforme folheto/subsídio;
(senta-se com os demais ministros para ouvir a Palavra)
LITURGIA DA PALAVRA
 Iniciado o canto de Aclamação, dirigi-se para o ambão, fazendo reverência para o altar;
 Concluída a proclamação, partilha a reflexão a partir da Palavra ouvida. Aproxima-se da assembléia ou permanece
junto ao ambão para usar os textos como referência.
 Concluída a reflexão, não mais que 6 minutos, pode se fazer um momento de silêncio para reflexão individual.
 Em seguida convida a Assembléia para “professarmos a nossa Fé, dizendo Creio ...”

MOMENTO ORACIONAL PRECES


 Motivar preces espontâneas ou quando já tiverem sido preparadas, introduz com palavras do tipo: “Vamos
apresentar ao Senhor nosso Deus nossas orações e preces”.
 Terminadas a preces conclui, como por exemplo: “Acolhei Senhor Pai Santo estas nossas preces por Jesus Cristo
vosso Filho na unidade do Espírito Santo”; ou “Estes são nossos pedidos Senhor nosso Deus que humildemente vos
apresentamos por Jesus Cristo vosso Filho na unidade do Espírito Santo”.

MOMENTO DE LOUVOR
Da mesma forma que tivemos a oportunidade de apresentar nossos pedidos a Deus, a Igreja nos oferece uma
oportunidade de agradecer, de louvar a Deus pelas coisas boas que ele faz por nós, pela nossa comunidade e todo o
povo.
 Prepara-se o altar para receber comunhão, em seguida buscam-se as âmbulas com as hóstias no sacrário.
 Motivar a assembléia a apresentar em voz altar motivos de louvor e agradecimento a Deus. Nem que seja com
apenas uma palavra, por exemplo: “Eu louvo a Deus pela minha família”, “Eu louvo a Deus pela chuva” ....
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 Terminada a apresentação dos motivos de agradecimento e louvor, convidar para cantar (Glória, ou salmos de
gratidão e louvor).
 Concluir o momento com a oração do Pai-nosso: “Como filhos e filhas do mesmo Pai, rezemos a oração que Jesus
nos ensinou...”

RITO DE COMUNHÃO
 Diante da hóstia consagrada, faz genuflexão, motivando a comunidade que já participou da Mesa da Palavra, a
participar da comunhão em unidade com todas as comunidades que celebram a Eucaristia.
 Pegando uma das hóstias, e elevando-a diante dos olhos, diz: “Eu sou o pão vivo, que desceu do céu, se
alguém come deste pão viverá eternamente. Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”.
 Distribuição da comunhão.
 Oração final, - oração do dia conforme folheto ou subsídios.
 Convida a Assembléia a sentar-se.
 O próprio ministro ou alguém da equipe dá os avisos paroquiais.
 Benção: Vamos invocar a benção de Deus “Que o Senhor nos abençoe +, guarde de todo mal e nos
conduza a vida eterna.” Amém.
 Vamos em paz
108
INDICE

Capítulo I

1. Bíblia
1 – Introdução
1.1 Introdução / Bíblia / Formação Cânon / Citações 01
1.2 Breve História do Povo de Deus 04
1.3 Antigo Testamento 13
1.4 Novo Testamento 21
Capítulo II
Catecismo da Igreja Católica
1. Introdução 34

2. O Mistério Pascal no Tempo da Igreja 35


2.1. A Liturgia 35
2.2. O Mistério Pascal nos Sacramentos da Igreja 39

3. A Celebração Sacramental do Ministério Pascal 42


3.1. Celebrar a Liturgia da Igreja 42
3.2. Diversidade Litúrgica e Unidade do Ministério 48
Capítulo 11I
4. Os sete Sacramentos da Igreja 49
4.1. Sacramentos da Iniciação à Vida Cristã 49
4.1.1. O Sacramento do Batismo 49
4.1.2.0 Sacramento da Confirmação 55
4.1.3.0 Sacramento da Eucaristia 59
4.2. Os Sacramentos de Cura 69
4.2.1.0 Sacramento da Penitência e da Reconciliação 69
4.2.2.A Unção dos Enfermos 77
4.3. Os Sacramentos do Serviço da Comunhão 81
4.3.1 O Sacramento da Ordem 81
4.3.2 O Sacramento do Matrimônio 88

5. As outras Celebrações Litúrgicas 94


5.1. Os Sacramentais 94
5.2 Funerais Cristãos 96
Capítulo IV
6. Objetos Litúrgicos 97

Anexo 1. Estatuto, Diretório e subsídios da Arquidiocese 99


Anexo 2. Rito das Exéquias 101
Anexo 3. Celebração da Palavra de Deus 105
109

Arquidiocese de Maringá

Região Pastoral Nossa Senhora Aparecida

Formação para Ministros Extraordinários da


Comunhão Eucarística
Maringá - PR

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