Da Teoria A Pratica A Clinica Analitica PDF
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Brasília-DF.
Elaboração
Produção
APRESENTAÇÃO.................................................................................................................................. 4
INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 7
UNIDADE I
ASPECTOS CULTURAIS DA PSICOLOGIA ANALÍTICA................................................................................... 9
CAPÍTULO 1
MITOLOGIA E ALQUIMIA EM PSICOLOGIA................................................................................ 11
CAPÍTULO 2
SOCIEDADE, CULTURA E INDIVÍDUO......................................................................................... 23
UNIDADE II
ASPECTOS TEÓRICOS DA PSICOLOGIA ANALÍTICA................................................................................. 33
CAPÍTULO 1
PSICOPATOLOGIA ARQUETÍPICA.............................................................................................. 35
UNIDADE III
A CLÍNICA JUNGUIANA E O PROCESSO DE INDIVIDUAÇÃO................................................................... 45
CAPÍTULO 1
INDIVIDUAÇÃO DENTRO DOS MITOS........................................................................................ 46
CAPÍTULO 2
ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO DA PSIQUE............................................................................. 50
UNIDADE IV
TÉCNICAS EXPRESSIVAS EM PSICOLOGIA ANALÍTICA............................................................................. 57
CAPÍTULO 1
TÉCNICAS EXPRESSIVAS........................................................................................................... 58
CAPÍTULO 2
PSICOPATOLOGIA E PSICOLOGIA ANALÍTICA............................................................................ 65
REFERÊNCIAS................................................................................................................................... 81
Apresentação
Caro aluno
Conselho Editorial
4
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa
A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos
Cadernos de Estudos e Pesquisa.
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.
Atenção
5
Saiba mais
Sintetizando
6
Introdução
Esta apostila está organizada em quatro unidades, e se propõe a fazer aproximações,
indicando leituras importantes para o estudo da Psicologia Analítica.
Objetivos
»» Identificar as principais influências sobre a Psicologia Analítica.
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8
ASPECTOS CULTURAIS
DA PSICOLOGIA UNIDADE I
ANALÍTICA
Figura 1.
Fonte: <http://3.bp.blogspot.com/-2bwxNgNcDQU/UafMooz8IrI/AAAAAAAAM5w/eu0mbRDiFXw/s1600/936328_101513743548818
76_912661909_n.jpg>.
Com o surgimento da Psicologia enquanto ciência moderna, necessitou-se que ela fosse
inclusa em parâmetros científicos, na busca por dar respostas às quais estava sendo
convocada. Falar sobre a experiência transcendental nesse campo não deve ter sido
tarefa fácil para Jung.
Aconselho que o leitor se interesse por buscar a história da Psicologia, para entender
melhor sobre Psicologia Analítica. Sem falar na importância de evitar redutivismos,
pois esses banalizam todos os esforços que um autor teve em sua época. Embora as
teorias deem margem a isso, é necessário um olhar crítico, ainda que de dentro da
perspectiva na qual se identifica.
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UNIDADE I │ ASPECTOS CULTURAIS DA PSICOLOGIA ANALÍTICA
com base no que a sociedade esperava conhecer, produzir e se responsabilizar. Isso não
é diferente com a Psicologia Analítica.
A Psicologia teve influências da filosofia e ciência moderna. Mas, sobretudo, dos esforços
que remontam desde as civilizações mais antigas, na busca de entender sobre o que
podemos e como conhecemos as coisas, se haveria uma conexão entre o que é interno
a nós com o sobrenatural e divino, até que se aproximou da influência do pensamento
e da experiência. Haveria uma realidade para além do que podemos ver? Mas como
podemos conhecer aquilo que não experimentamos? Essas são indagações básicas
sobre as quais se ergueu a produção de conhecimento que temos hoje, na separação ou
unindo a importância da razão e da experiência.
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CAPÍTULO 1
Mitologia e alquimia em psicologia
Figura 2.
Fonte: <https://www.colegioweb.com.br/curiosidades/3-historias-famosas-da-mitologia-grega.html/attachment/mitologia-
grega-historias>.
Nesse mesmo contexto, Carl Gustav Jung (1875-1961), então médico e analista,
inicialmente seguidor de Sigmund Freud (1856-1939), tem interesse pelo estudo do
inconsciente, se dirigindo a aspectos mais específicos para seu entendimento, a partir
de considerações sobre a relação terapêutica, natureza do inconsciente, assim como a
relação entre inconsciente e consciente.
Uma das questões a serem ressaltadas, diz respeito à busca pela cura no processo analítico.
Ainda que se valesse de métodos de acesso ao inconsciente, e que em alguns casos a
cura fosse alcançada, atingindo o período estipulado pelo analista, ou mesmo antes,
ainda existiam casos em que ela não era alcançada. Quais seriam então, as experiências
capazes de fazer com que o paciente superasse sua condição de adoecimento? O que
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UNIDADE I │ ASPECTOS CULTURAIS DA PSICOLOGIA ANALÍTICA
Esse tipo de pergunta, que pode ser depreendida de obras de Jung, nos conduz ao
impasse que envolve nossa dificuldade de tomada de consciência sobre o que nos é mais
profundo e desconhecido, embora habite em nosso interior. Uma das ideias defendidas
pelo autor é a de que religiões têm forte influência, em termos gerais, com relação ao
nosso autoconhecimento. Além disso, elementos como símbolos, ritos, imagens etc.,
presentes no ocidente e oriente, levam ao reconhecimento dos processos psíquicos
como atuantes sobre o processo de permanência das representações e sentidos por trás
de costumes e crenças. Indícios disso, seriam os mitos, considerados como a linguagem
do inconsciente, e pelos quais seria constituído um inconsciente coletivo.
Portanto, embora símbolos e imagens resgatem o que há de mais íntimo, não podem ser
passíveis de uma precisão de significado. Eles dão conta do que não pode ser definido,
e quando o são, deixam de fazer parte da experiência transcendental.
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ASPECTOS CULTURAIS DA PSICOLOGIA ANALÍTICA │ UNIDADE I
Baseado em estudos dos casos clínicos que conduziu, Jung propôs que as imagens
com as quais o inconsciente se comunica com nossa consciência, remetem a símbolos
oriundos de nossas experiências ancestrais, dotadas de elementos típicos. Tais
experiências estariam registradas em nosso inconsciente e transmitidas entre as
gerações, o que explicaria a perpetuação de ritos que, embora em uma observação
preliminar (destituída de conhecimento histórico mais amplo) sejam julgados sem
semelhança com qualquer outro, teriam similaridade com o que era realizado por nossos
ancestrais. Assim, arquétipos seriam manifestações no inconsciente coletivo em cada
indivíduo que em suas representações sobre imagens, transpõem ideais, experiências,
sentimentos etc. de um coletivo. Nesse caso, os arquétipos seriam mais um indício sobre
a atuação de processos psíquicos em fenômenos comuns aos seres humanos, como são
as experiências religiosas.
Isso pode ser notado no estabelecimento de unicidade entre três ou quatro representações
de elementos primordiais para a vida. O número três se faz presente na unificação do
masculino e divino – pai, filho, espírito santo; enquanto o número quatro na unificação
do masculino, feminino e natureza – pai, mãe, terra, fruto. No primeiro grupo, pai e
filho são espírito santo (filho como imagem e semelhança do pai), e a figura divina é
ambos. Já no segundo, o pai, ao unir-se à mãe e conceber o filho, gera um ser não divino,
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UNIDADE I │ ASPECTOS CULTURAIS DA PSICOLOGIA ANALÍTICA
Alquimia
Figura 3.
Fonte: <http://lounge.obviousmag.org/anna_anjos/2013/11/a-alquimia.html>.
[...] apesar dos elementos serem quatro (terra, água, ar e fogo) e quatro
as qualidades (quente, frio, seco e úmido), havia apenas três cores:
preto, branco e vermelho. Uma vez que o processo nunca conduzia à
meta desejada, cada uma de suas partes nunca era levada a termo de
modo padronizado; a mudança na classificação de seus estágios era
devido ao significado simbólico do quatérnio e da Trindade ou, em
outras palavras, era devido a razões de ordem interna e psicológica, e
não externa (JUNG, 1990; pp. 242-243).
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ASPECTOS CULTURAIS DA PSICOLOGIA ANALÍTICA │ UNIDADE I
Por exemplo, o da vida eterna e o da riqueza pela posse do ouro. Assim, muitos
elementos naturais como terra, fogo, água, eram fonte de vida, dos quais originavam
bens preciosos, e em torno dos quais seria possível, por sua transformação, o controle
da vida.
Figura 4.
Fonte: <http://simbologiaealquimia.blogspot.com/2007/09/fases-da-obra.html>.
É provável que muitos achem o conhecimento alquímico inválido, que de nada contribui
para um entendimento respeitado sobre os fenômenos da natureza. Ainda mais com
a química enquanto ciência, e suas metodologias de investigação que garantem uma
verificabilidade, ao menos até certo ponto.
O fato é que para a Psicologia Analítica, sua linguagem tem muito mais a contribuir se
pensarmos em termos de funcionamento psíquico e os indícios de um inconsciente que
se constrói ao longo das eras, se comunicando por símbolos.
de seu surgimento, Costa, Piza e Santos (s/d), descrevem indícios associados à “Maria,
a profetiza”, considerada uma das primeiras alquimistas, responsável pela produção de
instrumentos de modificação dos estados químicos e físicos da matéria.
Figura 5.
Fonte: <http://oplusultra.blogspot.com.br/2015/07/maria-profetisa.htm>.
Figura 6.
Fonte: <https://www.youtube.com/watch?v=6Ris3W8kUSk>.
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ASPECTOS CULTURAIS DA PSICOLOGIA ANALÍTICA │ UNIDADE I
Costa et al. (s/d) nos mostram que sua importância advém, do entendimento sobre o
processo alquímico a partir da interação entre o céu e a terra. Nessa interação, tudo é
obtido do movimento entre o que é antagonista, como o ar e o que é terreno. O mercúrio
seria a substância separadora do puro e impuro, que vai da terra ao céu, unindo ambos.
Seria essa força capaz de representar o retrato do universo.
Figura 7.
Fonte: <http://pablo.deassis.net.br/wp-content/uploads/2011/09/cg_jung_2.jpg>.
Inicia com a pergunta sobre quando Jung se deu conta de seu self individual. Ele traz
uma situação em que, saindo de uma névoa, se deparou com o fato de ser diferente dela.
Isso ocorreu por volta dos 11 anos de idade.
Jung diz que a escolha por medicina foi uma conveniência por sentir que poderia fazer
algo útil para humanidade. Contudo, se interessava por zoologia, cultura egípcia e
filosofia. Durante seu percurso acadêmico, diz ter passado por dificuldades, inclusive
por um professor duvidar de sua capacidade de escrita. Foi ao longo dos estudos para a
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UNIDADE I │ ASPECTOS CULTURAIS DA PSICOLOGIA ANALÍTICA
realização de provas, que ele se deparou com um livro de psiquiatria, o que redirecionou
sua carreira para uma área que na época não era tão valorizada quanto hoje (chega a
afirmar que a psiquiatria naquela época “não era nada”).
O contato com Freud se deu a partir das leituras iniciais sobre histeria e interpretação
dos sonhos. Posteriormente, quando escreve um de seus livros sobre a origem precoce
de demências, o envia para Freud e passam a se comunicar e trocar visitas, discutindo
sobre temas de interesse comum (como a interpretação de sonhos, por exemplo).
Jung chega a afirmar que discordava de Freud em muitos pontos, inclusive sobre
sempre estar duvidando das coisas, enquanto Feud tinha uma visão mais rígida sobre
as coisas (o que, segundo Jung, impossibilitava o aprofundamento de conversas sobre
determinados assuntos dos quais Freud era convicto).
Outro tema tratado na entrevista, foi quanto ao inconsciente coletivo. Será que a
humanidade se aproximaria de uma “coletivização”? Jung diz que haveria uma reação
a isso, pois o indivíduo não suportaria ser anulado pelo outro.
Também havia sido questionado se sua teoria seria mais confiável do que a de Freud, e
a opinião dele quanto ao rigor e verificabilidade, mas Jung afirma que não é seu próprio
historiógrafo para fazer afirmações sobre isso.
Uma das últimas perguntas questiona o que ele diria para pessoas idosas, acerca da
morte. Afirma que já atendeu vários pacientes nessa faixa etária, e achava impressionante
como o inconsciente dessas pessoas negavam a morte, mesmo tendo isso como um fato.
A morte não seria o fim, já que nossa consciência não estaria presa ao tempo cronológico
e ao espaço.
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ASPECTOS CULTURAIS DA PSICOLOGIA ANALÍTICA │ UNIDADE I
Pode ser que essa pessoa esteja me vendo pela última vez
Será que ela vai deixar eu acabar o que eu tenho que fazer?
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UNIDADE I │ ASPECTOS CULTURAIS DA PSICOLOGIA ANALÍTICA
Que meu corpo seja cremado e que minhas cinzas alimentem a erva
E no teu beijo provar o gosto estranho que eu quero e não desejo, mas tenho
que encontrar
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ASPECTOS CULTURAIS DA PSICOLOGIA ANALÍTICA │ UNIDADE I
Figura 8.
Fonte: <https://www.youtube.com/watch?v=J_OefOoZUB4>.
Vindo de uma tradição médica, Jung teve que moldar seus estudos às perspectivas
predominantes influenciadas por correntes filosóficas como o materialismo
e empirismo. É tanto que em sua tese utilizou procedimentos experimentais.
Inserido nos moldes da razão no início de sua carreira, fez ressalvas acerca de
suas proposições iniciais. Uma das principais observações diz respeito à alma:
como comprovar a sua existência empírica?
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UNIDADE I │ ASPECTOS CULTURAIS DA PSICOLOGIA ANALÍTICA
Por outro lado, são feitas algumas ressalvas quanto ao seu entendimento sobre alma,
por exemplo. De todo modo, é sabido que ele reconhece que em certo ponto, as coisas
não podem ser mensuradas, mas isso não quer dizer que elas não estejam ocorrendo.
Nesse contexto, podemos trazer para debate, o que nos diz Chauí (2012) sobre ciência e
as ideias a ela associadas de evolução e progresso.
O que tem predominado é a ideia de uma ordem causal sobre as coisas. Por exemplo,
um acontecimento causando o subsequente. Tal perspectiva sustenta a ideia de que
o futuro é melhor que o passado, ou seja, tudo quanto for produzido posteriormente
supera o que o antecede.
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CAPÍTULO 2
Sociedade, cultura e indivíduo
Figura 9.
Fonte: <http://csm7anoa.pbworks.com/f/1290172320/mediummultiracialbk3.jpg>.
Ortiz (2002) afirma que o debate sobre cultura nem sempre teve prestígio no campo
científico, e entre as Ciências Sociais, em especial a Antropologia e História, o estudo
das civilizações e sociedades indígenas, deram visibilidade a termos como “território”,
“fronteiras”, “local”, “nacional”. O termo cultura é percebido como alvo de diversas
intenções, sendo um lugar político nem sempre associado ao lugar de poder. O autor
também sugere que é preciso uma compreensão das implicações sobre os significados
a ele atribuídos. Em outras palavras, de uma revisão dos conceitos tradicionalmente
postos, devido à globalização que consistiu na unificação de mercados, com
consequências sobre relações entre indivíduos e com os territórios onde convivem,
transitam, residem etc. “A consolidação da modernidade-mundo, a presença dos
meios tecnológicos de comunicação, a unificação dos mercados no seio de uma unidade
integrada, global, altera radicalmente o substrato material no qual estão inseridas as
culturas.” (ORTIZ, 2002, p. 30).
Outra discussão relacionada ao termo cultura, diz respeito à sua suposta oposição à
natureza. Nesse sentido, a cultura seria o que nos diferencia dos animais, por exemplo.
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UNIDADE I │ ASPECTOS CULTURAIS DA PSICOLOGIA ANALÍTICA
Para Vieira (2006), a perspectiva junguiana sobre história envolve uma dialética
entre o sujeito e universo simbólico que, por sua vez, é permeado pela cultura.
A compreensão sobre pensamento e consciência está em função para que se compreenda
conteúdos inconscientes. Segundo o autor, Jung considera que a psique é produzida
historicamente. Transitamos de um passado cujo pensamento foi baseado em mitos,
no qual os símbolos refletiam esse modo de pensar; enquanto que após a Escolástica, a
centralidade se deu para o pensamento lógico.
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ASPECTOS CULTURAIS DA PSICOLOGIA ANALÍTICA │ UNIDADE I
Figura 10.
Fonte: <https://www.blogvambora.com.br/wp-content/uploads/2013/03/mapa_Istambul.jpg>.
Como Jung já mencionava em sua obra ‘Psicologia e Alquimia’, a influência das religiões
diz muito sobre o entendimento que temos sobre o inconsciente. A depender de como
nos distanciamos e nos aproximamos dele, proporcionalmente atingimos ou nos
distanciamos de nossa totalidade, entendemos ou nos rebelamos contra a riqueza da
diversidade das culturas, nos aproximamos ou distanciamos da liberdade do exercício
da espiritualidade. O exemplo da repressão inconsciente e sua compensação em atos
fanáticos (como o holocausto, as perseguições aos povos, a intolerância religiosa etc.),
indicam a importância de entender a experiência religiosa não como um dogma estático
e absoluto sobre a verdade, mas pela completude espiritual que as religiões podem
proporcionar na aproximação ou plenitude do divino e humano. Em geral, as religiões
de origem oriental são dirigidas para um autoconhecimento, enquanto as religiões de
origem ocidental, ao colocar o sagrado externo ao interior do indivíduo, o comparam a
uma entidade perfeita a qual exercerá a função de exemplo a ser seguido.
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UNIDADE I │ ASPECTOS CULTURAIS DA PSICOLOGIA ANALÍTICA
Elíade (1952/1991) traz uma discussão peculiar sobre a história da religião e sua
aproximação com a Psicologia. A aproximação entre ambas, segundo o autor, se dá
pelo interesse sobre “situações limites”, relacionadas aos momentos quando o homem
toma consciência do seu lugar no universo. É preciso que se entenda o homem na
história, e como determinada cultura escolhe determinados símbolos, o que sustenta as
influências do entendimento sobre a própria natureza entre as gerações. Mas, além do
período histórico, nos encaminhamos para o entendimento da alma, considerada como
a verdadeira totalidade humana. Apresenta a ideia de que não basta a discussão histórica
e existencial sobre os acontecimentos religiosos, e a psicologia profunda (expressão que
se refere ao estudo do inconsciente pela Psicologia) tem exercido um conhecimento
importante sobre símbolos e imagens, como é o entendimento sobre arquétipos.
Figura 11.
Fonte: <http://religiao.culturamix.com/religioes/qual-e-a-verdadeira-religiao/>.
Segundo Portela (2013), para entendermos a perspectiva da qual Jung parte sobre
religião, é necessário entender a origem etimológica do termo. Assim, dois são
importantes: relegere e religare.
O termo relegere origina-se de cultos antigos nos quais havia um cuidado com o
entendimento dos desígnios dos deuses, como também sobre os rituais em seus cultos.
Enquanto que o termo religare, é utilizado para referir-se à necessidade da ligação
entre um Deus correto e o indivíduo.
Para Jung, esse último entendimento não condiz com o caráter inato da experiência
religiosa, a qual teria íntima relação com o processo de individuação. Segundo nos
apresenta o autor, Jung, ao propor que o equilíbrio da psique tem como principal
elemento o símbolo, a religião, nos proporcionaria uma disposição à compreensão
simbólica, o que por sua vez, contribui para a totalidade do indivíduo, ou seja, supera
antagonismos inconscientes e conscientes.
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ASPECTOS CULTURAIS DA PSICOLOGIA ANALÍTICA │ UNIDADE I
Vamos pensar sobre o método científico na perspectiva moderna. Nele se faz de grande
importância dar atenção aos parâmetros: verificabilidade, causalidade, distanciamento
do observador sobre o objeto, teste de hipóteses e leis generalizáveis.
Em uma perspectiva oriental, o acaso não era dispensado, já que dizia sobre a natureza
das coisas, nem sempre previsível, e interdependente dos fatos objetivos e subjetivos
daqueles que a observam.
Sabendo que Jung começou em um molde científico moderno. Também teve auxílio
para que sua teoria atendesse parâmetros científicos. Porém, um dos conceitos que
merece destaque, a sincronicidade, nos faz referência total à oposição à visão causal
para uma visão de casualidade.
Considera-se que a influência sobre esse conceito passou por duas fases, a primeira
já apresentada sob influência do sinólogo Wihelm, e a segunda pela influência do
físico Pauli.
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UNIDADE I │ ASPECTOS CULTURAIS DA PSICOLOGIA ANALÍTICA
Fonte: <https://schoolofwisdomcom.files.wordpress.com/2017/02/richardw.jpg>.
Fonte: <http://scarc.library.oregonstate.edu/coll/pauling/catalogue/09/1926i.61-pauli-600w.jpg>.
Diante aos impasses que ciência e religião podem evocar, encontramos na arte
cinematográfica várias referências, dentre as quais podemos destacar a série Game of
Thrones (baseada na obra Crônicas de Gelo e Fogo do autor George R. R. Martin, e
estreada em um canal de TV fechada, a HBO); e o filme Pantera Negra (dirigido por
Ryan Coogler, da Marvel Studios, 2018).
28
ASPECTOS CULTURAIS DA PSICOLOGIA ANALÍTICA │ UNIDADE I
Figura 14.
Fonte: <http://ambrosia.com.br/rpg/olhares-observacoes-religiao/>.
A religião está repleta de sentidos para aqueles que tem experiência religiosa.
Podemos perceber que a partir de determinadas crenças, alguns dogmas são
instituídos.
Figura 15.
Fonte: <https://www.joe.ie/movies-tv/eastenders-actress-joins-game-thrones-season-8-616841>.
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UNIDADE I │ ASPECTOS CULTURAIS DA PSICOLOGIA ANALÍTICA
A trama envolve a tomada de poder pela derrota dos Targaryem, família cujos feitos
eram lendários pelo domínio de dragões. Seus últimos descendentes que se tinha
conhecimento, Daeneris e Viserys Targaryem, exilados para além do fictício Mar
Estreito, lutam para voltar e tomar o trono que lhes pertencia por direito.
Esse é apenas o início da trama que, ao longo de sete temporadas, apresenta a história
de territórios e disputas, ritos e rituais, costumes que remontam o ocidente e oriente.
Figura 16.
Fonte: <https://pipocandonainternet.wordpress.com/2015/04/12/especial-game-of-thrones-serie-de-tv-2011/>.
Cabe destacar uma das cenas emblemáticas, quando Daenerys Targaryem, após uma
série de dificuldades, percorrendo cidades rumo à Westeros, luta contra a escravidão,
e passa a ser adorada pelo povo de um dos lugares. A figura da “Mhysa” (como foi
aclamada), quer dizer mãe.
Além do enredo e por toda simbologia que envolve, vale à pena assistir refletindo sobre
como a ficção pode se basear em analogias com cidades e costumes reais.
30
ASPECTOS CULTURAIS DA PSICOLOGIA ANALÍTICA │ UNIDADE I
Figura 17.
Fonte: <http://www.planocritico.com/critica-pantera-negra-sem-spoilers/>.
Apesar de ficção, Pantera Negra nos leva a uma reflexão sobre perspectivas mais
unificadoras sobre tradição e tecnologia, papéis assumidos por gênero, bem e mal.
Figura 18.
Fonte: <http://ileasemariaconga.blogspot.com.br/2011/01/estudos-umbanda-nao-e-candomble.html>.
31
UNIDADE I │ ASPECTOS CULTURAIS DA PSICOLOGIA ANALÍTICA
Fonte: <http://ileasemariaconga.blogspot.com.br/2011/01/estudos-umbanda-nao-e-candomble.
html>.
32
ASPECTOS
TEÓRICOS DA UNIDADE II
PSICOLOGIA
ANALÍTICA
Figura 19.
Fonte: <http://www.terapiaemdia.com.br/wp-content/uploads/2009/09/romance-293x300.jpg>.
Como recorda Serbena (2010), os arquétipos, de modo geral, atuam na psique de forma
semelhante, por meio de símbolos. Por sua vez, os mitos são expressões simbólicas
resultantes da interação entre inconsciente (fornecendo símbolos) e consciência
(atribuindo sentido).
33
UNIDADE II │ ASPECTOS TEÓRICOS DA PSICOLOGIA ANALÍTICA
Figura 20.
Fonte: <https://www.cafecomjung.com/mitologia/>.
Hellen Reis é responsável pela página Café com Jung, que discute sobre conceitos
e reflexões a partir da perspectiva junguiana na Psicologia Analítica. Em uma
linguagem simples e acessível, é possível realizar consultas e mesmo fazer
comentários sobre os temas apresentados. O endereço da página é: <https://
www.cafecomjung.com/>.
34
CAPÍTULO 1
Psicopatologia arquetípica
Figura 21.
Fonte: <http://www.gnose.org.br/wp-content/uploads/2013/10/alquimia.jpg>.
O que seria adoecimento para Jung? Teria alguma função? O que é importante: entender
o “porquê” ou o “para que” do adoecimento? Qual o papel disso para o processo de
individuação?
O adoecer nos leva a uma perspectiva de entendimento sobre sua direção (e não apenas
de onde veio), e segundo Padua (2017), existe uma função transcendente importante
para a individuação.
A história da humanidade mostra, até aqui, que o modo como se formaram concepções
sobre os mais variados assuntos, seguem uma repetição as quais, embora não sejam
nítidas em uma primeira aproximação, têm correspondência. Bernardo de Gregório, um
psiquiatra e psicoterapeuta de abordagem junguiana, resgata a partir do tema sobre o
papel da mulher, como esse mudou com a influência do patriarcado que não agiu apenas
sob a ordem do cristianismo, mas remontam grupos humanos que não se resumiam à
civilização grega, como também a outros povos que conviveram em diferentes épocas.
35
UNIDADE II │ ASPECTOS TEÓRICOS DA PSICOLOGIA ANALÍTICA
necessário de cuidado com a prole, caçava e precisava recompor suas energias, bem
como um ambiente capaz de prover segurança frente a predadores, e que pudesse
armazenar o alimento. Essas relações aproximaram a mulher da agricultura (resultado
de um longo processo de associação de fenômenos como germinar uma semente na
terra). Menstruação não havia, já que após seu período de ovulação, logo era fecundada.
Toda essa forma de convivência deu lugar à busca pelo entendimento sobre fenômenos
naturais, explicações sobre o que acontecia e seus porquês. As explicações foram em
grande parte fundadas em pensamentos mágicos, muito distante do que mais tarde se
entendeu como ciência. Tais explicações, em uma perspectiva junguiana, não são tidas
como devaneios que povos antigos empregaram, mas um sistema de símbolos e seus
significados, concretizados em narrativas e ritos.
Tomando como exemplo o papel da mulher, como nos lembra Gregório, no que se
refere ao corpo feminino, são identificadas influências de sua relação com a natureza,
semelhante aos ciclos de plantações, cujo início se dava a partir do germinar de uma
semente em terra fértil. Isso contribuiu para o entendimento de ciclos que se renovam a
cada ano, tal qual o período fértil e de gestação, pelos quais mulheres passavam. Grande
parte da mitologia se deu pela valorização de divindades femininas, e a tradição e rituais
envolviam um sacrifício da melhor semente à mãe terra, para que a colheita fosse farta e
suprisse as necessidades de uma aldeia. Tal como a mulher, a terra também operava em
ciclos, e seria preciso agradar à deusa mãe (ou Gaia) para que se tivesse um bom retorno.
Figura 22.
Fonte: <http://hb-camp.weebly.com/uploads/1/0/9/1/10911395/208438794.jpg>.
36
ASPECTOS TEÓRICOS DA PSICOLOGIA ANALÍTICA │ UNIDADE II
Ele cita também, a deusa Artémis que integra a mitologia, e seu culto remonta ao
momento em que mulheres rompem com a tradição de participar de rituais de
fertilidade. Segundo nos conta Gregório, a partir do momento que não seriam mais
fecundadas, eram banidas dos centros onde os grupos se estabeleciam. A menstruação
integra o ciclo feminino, passando de um ano para vinte e oito dias. Essas mulheres,
a partir da necessidade de sobrevivência, exploravam os recursos da floresta a
fim de conhecer seus benefícios e malefícios, e mantêm hábitos noturnos, já que
durante o dia ficariam mais vulneráveis a caçadores e a outros perigos que pudessem
ameaçá-las. A lua passa a ser percebida como influente em seu ciclo, e como precisam
caçar pequenos animais para se manter, é para a figura da Artémis, deusa da lua e caça,
que são realizados rituais.
Prosseguindo nessa ideia, a valorização da figura feminina, por sua vez, o patriarcado
a ameaçou fortemente com a imposição do homem como centro da organização social,
nos mais diversos âmbitos, incluindo relacionamentos afetivos, família, política etc.
Admitindo tal perspectiva de organização, a mulher cumprirá com seu papel procriador,
deverá se casar virgem e os descendentes não poderão casar-se com ela. Em algumas
culturas, se seu marido morre, o mesmo destino da morte é dado à sua viúva, que deverá
ser queimada em fogueira com o corpo morto de seu cônjuge.
Composta por ritos, dogmas e hierarquia, a religião também passa a ser uma forma
de explicar os fenômenos naturais e a organizar a vida em sociedade. As três religiões
atuais que exerceram e ainda exercem forte influência nos quatro continentes, são a
Judaica, o Islã e a Católica. Todas essas têm forte influência do patriarcado, e embora
não pretendam, retomam ritos e símbolos semelhantes aos que as antecederam.
Figura 23.
Fonte: <http://tvbrasil.ebc.com.br/sites/default/files/atoms/image/bernardo_gregoirio_0_grande.png>.
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UNIDADE II │ ASPECTOS TEÓRICOS DA PSICOLOGIA ANALÍTICA
Fonte: <http://tvbrasil.ebc.com.br/entreoceueaterra/bastidores/psiquiatria-e-psicoterapia>.
Normal e patológico
Para Byington (2002), entendermos o normal e o patológico deve considerar que
ambos estão ao lado do processo de individuação. No entanto, não podemos patologizar
funções psíquicas normais, e, em uma perspectiva simbólica, tanto essas funções, como
aquelas patológicas, são coordenadas por arquétipos. É no processo de individuação,
interatuando com inconsciente coletivo, que são formadas as consciências individual
e coletiva. Ou seja, da função simbólica e pelos processos estruturantes de introjeção
e projeção, derivam Ego, Self, e a própria Consciência. O movimento das funções que
integram a psique, em busca de uma totalidade, se encontram entre polos. Por exemplo,
é possível citar o Self, que integra a polaridade consciente-inconsciente, cujos símbolos
e funções estruturantes constituem suas expressões.
»» Arquétipo Matriarcal;
»» Arquétipo Patriarcal;
»» Arquétipo da Alteridade;
»» Arquétipo da Autoridade.
38
ASPECTOS TEÓRICOS DA PSICOLOGIA ANALÍTICA │ UNIDADE II
Figura 24.
Fonte: <https://losarquetipos.files.wordpress.com/2011/08/sombra1.jpg?w=300&h=225>.
39
UNIDADE II │ ASPECTOS TEÓRICOS DA PSICOLOGIA ANALÍTICA
Fonte: <https://cdn.thesunmagazine.org/thumbs/1960x1442c/photos/439-4-vanscoy.jpg>.
Fonte: <https://i1.wp.com/www.thesap.org.uk/wordpress/wp-content/uploads/2015/08/fordham.jpg>.
40
ASPECTOS TEÓRICOS DA PSICOLOGIA ANALÍTICA │ UNIDADE II
Samuels (2008) citado por Padua (2017), inclui ainda a Escola Psicanalítica e a Escola
Fundamentalista. Contudo, considera as mencionadas anteriormente como mais
próximas dos desdobramentos da Psicologia Analítica.
Padua (2017) também diz que isso apresenta uma diversificação teórica dentro da
própria Psicologia Analítica. Mas, a diversidade teórica é comparada ao pluralismo
psíquico: se esse tem uma natureza plural, logo não é necessário que se desmembre
da perspectiva mais abrangente os seus desdobramentos. Sendo assim, pouco ou mais
aprofundado, são aspectos comuns conceitos como Self e arquétipos; personalidade
e seu desenvolvimento; importância dos símbolos (experiência simbólica); relação
transferencial e contratransferencial; imagens.
Fonte: <http://www.theconvention.co.uk/wp-content/uploads/2017/05/Andrew-Samuels.jpg>.
41
UNIDADE II │ ASPECTOS TEÓRICOS DA PSICOLOGIA ANALÍTICA
Mandalas históricas
Figura 28.
Fonte: <https://previews.123rf.com/images/foottoo/foottoo1312/foottoo131200101/24229298-beautiful-historic-tibetian-
mandala.jpg>.
Figura 29.
Fonte: <https://cdn.exoticindia.com/details/buddha/tu04.jpg>.
Segundo Hortegas (2016), as mandalas constituem tema de interesse para Jung (veja
por exemplo, Psicologia e Alquimia; Psicologia e Religião; Simbolismo da Mandala;
todas obras de autoria de Jung). Elas são entendidas como históricas, e como a origem
etimológica sugere, mandala assume significado de círculo.
42
ASPECTOS TEÓRICOS DA PSICOLOGIA ANALÍTICA │ UNIDADE II
Os conteúdos das mandalas podem mudar, e é possível ressaltar a inclusão do mal por
religiões orientais, e a exclusão desse em religiões ocidentais, em suas representações
sagradas.
Por sua simbologia, Jung considera que contribui para a individuação, entendendo que
a imagem consiste na unificação de polos opostos (como o sagrado e o humano, por
exemplo).
O que unifica e integra tantas porções da psique? Existiria um controle sobre cada uma,
ou vários controles correspondentes? Para entendermos isso, é importante pensarmos
em Self (também chamado de arquétipo de Si-mesmo), que é o integrador entre o
consciente e inconsciente; e o Ego que é central para o consciente.
43
UNIDADE II │ ASPECTOS TEÓRICOS DA PSICOLOGIA ANALÍTICA
Sobre esse eixo, inicialmente o Ego está contido no Si-Mesmo e no decorrer de nosso
desenvolvimento, o eixo se apresenta enquanto torna evidente que, embora em limites
peculiares, ambos, em condições ideais, permanecem próximos.
Para Serbena (2010), sendo o mito a expressão da racionalidade, temos o Ego para
o qual se atribui a lógica, e, portanto, a consciência mítica como fase da consciência
egóica. Contudo, quando as defesas impedem a consciência a integrar-se ao todo com o
inconsciente, a individuação é comprometida.
Na tabela 2, são listadas as posições definidas por Byington (2002), baseadas na posição
Ego-Outro, em relação aos arquétipos mencionados anteriormente.
44
A CLÍNICA
JUNGUIANA E O UNIDADE III
PROCESSO DE
INDIVIDUAÇÃO
Figura 30.
Fonte: <https://c.wallhere.com/photos/7a/00/blacksmith_anvil_hammer_metal-6940.jpg!d>.
A figura trazida para a abertura desta unidade, é uma alusão à analogia que Jung realiza
em sua obra “Os arquétipos e o inconsciente coletivo” (1969/2013). Entre o martelo
e a bigorna, há o ferro forjado por uma camada que não permite que seja cindido.
Analogamente, a individuação envolve o indivíduo para que, embora não fique intacto,
permaneça sustentando as tensões internas e externas.
45
CAPÍTULO 1
Individuação dentro dos mitos
Figura 31.
Fonte: <http://4.bp.blogspot.com/-phtjCeAZJfg/UT03eA_lqRI/AAAAAAAAAGE/LzlTxC2egBk/s1600/inconsciente3.jpg>.
Quatérnio primário
Byington realiza uma crítica sobre a figura do pai que não seria um mero
impositor de ordem e castigo, mas desempenha papel afetivo positivo aos
cuidados primários da criança.
46
A CLÍNICA JUNGUIANA E O PROCESSO DE INDIVIDUAÇÃO │ UNIDADE III
Vale salientar, como nos recorda Byington, a criança se identifica com as figuras
primárias, antes mesmo de poder expressar repulsão a quaisquer uma delas.
Na consciência e na
Sombra
Reações da Criança
Fonte: <http://www.carlosbyington.com.br/site/wpcontent/themes/drcarlosbyington/PDF/pt/o_quaternio_primario_e_o_
complexo_de_edipo.pdf>.
47
UNIDADE III │ A CLÍNICA JUNGUIANA E O PROCESSO DE INDIVIDUAÇÃO
Figura 33.
Fonte: <https://i.pinimg.com/564x/d3/88/be/d388becee09d7102827e1cb80640f762.jpg>.
Figura 34.
Fonte: <https://redwitchesjourney.com/2016/09/13/tiamat-the-dark-mother/>.
48
A CLÍNICA JUNGUIANA E O PROCESSO DE INDIVIDUAÇÃO │ UNIDADE III
podemos notar no mito da vitória do deus Marduk sobre Tiamat, como nos conta
Campbell (2004).
Conta o mito, que Apsu (genitor dos grandes deuses), junto com Tiamat (aquela
que gerou e deu vida a tudo que existe), tem como filho Mummu. Outras
gerações vieram de Mummu, como Lashmu e Lahamu, Anshar e Kishar, e desses
Anu (que se tornou rival de seu pai). Anu tem como filho Ea, reconhecido por sua
sabedoria.
Os deuses perturbavam a paz de seu pai Apsu, que planejou matá-los sem que
Tiamat estivesse de acordo. Os deuses descobrem o plano, e Ea os defende,
formando um círculo protetor para que nenhum mal lhes ocorresse. Como
Mummu havia apoiado o plano de seu pai, foi castigado por Ea que o pendurou
com uma corda no nariz.
Sabendo disso, Ea foi até seu pai Anshar que chamou Anu. Mas esse último ficou
com medo da fúria de Tiamat. Então Ea tratou de convencer seu filho Marduk a
proteger seus antecessores e lutar contra Tiamat. Por sua vez, Marduk pediu para
que os deuses proclamassem sua sorte suprema, e venceu a esposa de Apsu, em
uma vitória massacrante.
49
CAPÍTULO 2
Estrutura e funcionamento da psique
Admitindo que existe um inconsciente coletivo (sob o qual está o inconsciente pessoal),
enquanto os conteúdos do inconsciente pessoal são os complexos, no inconsciente
coletivo temos os arquétipos. Os arquétipos orientam o entendimento sobre os
fenômenos naturais e a vida na Terra.
Uma das questões que ampliam o entendimento da psique é considerar que não
apenas a consciência, mas junto a ela o inconsciente, integram uma totalidade. Sendo
a primeira regida pelo pensamento lógico, a razão, parece sobrar pouco espaço para
entender o tipo de funcionamento do inconsciente, caracterizado por uma maneira
análoga (SERBENA, 2010). Segundo Jung, derivada de um inconsciente coletivo que
se formou ao longo da história da humanidade, opera por meio de imagens e tem nos
símbolos dos mitos uma forma de superar as oposições entre conteúdos conscientes e
inconscientes, ou seja, uma forma de transcender.
Seus conteúdos apontam para o passado, para as heranças ancestrais, e para o futuro,
e por isso propõe-se que delas emergem fatores com influências em acontecimentos
futuros, o que forma uma condição anímica e não o mero acúmulo de vestígios que
foram conscientes em outro momento.
50
A CLÍNICA JUNGUIANA E O PROCESSO DE INDIVIDUAÇÃO │ UNIDADE III
Estão, a priori, da consciência que provém uma psique inconsciente, assim como
“personalidade não implica consciência”. Ambas devem estar em colaboração, e temos
no símbolo a transcendência de oposições. Por outro lado, quanto mais se distancia do
inconsciente, uma expressão compensatória busca recuperar o equilíbrio perdido.
51
UNIDADE III │ A CLÍNICA JUNGUIANA E O PROCESSO DE INDIVIDUAÇÃO
pormenorizada de cada detalhe, já que tudo seria indício da mensagem que está sendo
transmitida. Os sentidos seriam melhor entendidos a partir de uma série de sonhos, e é
buscado entender qual atitude consciente é compensada.
A relação disso com a transferência é que para se preservar o papel do outro exercido
pelo terapeuta e seu papel no autoconhecimento do cliente, os conteúdos devem ser
acolhidos e aceitos como realidade.
Muito embora os mitos e símbolos ancestrais orientem a análise dos sonhos, esses
não devem ser considerados fixos, e um cuidado com o dogmatismo deve ser tomado.
As inferências e imposições de imagens, conduzindo a uma interpretação em função
de uma teoria sobre arquétipos e mitologia, pode desvirtuar a intenção terapêutica,
que nesse caso preza pela sintonia com o paciente. Quanto mais nos aproximarmos de
maneira indiscriminada dos símbolos, mais nos distanciamos do indivíduo para o qual
a terapia deve estar voltada. É um paradoxo cujo limite está entre a importância da
teoria que nos orienta e a importância de quem estamos ouvindo: apenas nós mesmos
e a teoria que orienta nosso trabalho, e o indivíduo principalmente.
Figura 35.
Fonte: <http://parismorningsnewyorknights.blogspot.com.br/2012/03/dangerous-method.html>.
52
A CLÍNICA JUNGUIANA E O PROCESSO DE INDIVIDUAÇÃO │ UNIDADE III
O filme retrata a relação de Carl Gustav Jung e Sabina S., e o desenrolar da carreira
de Jung que adota a cura pela fala, já preconizada na época por Sigmund Freud.
Entramos em contato com as divergências de perspectivas entre Freud e Jung, o
primeiro indo em direção de um realismo; já o segundo buscando adentrar em
territórios na maioria das vezes deixados de lado pela ciência.
Figura 36.
Fonte: <https://cdn-images-1.medium.com/max/1600/1*CPI-6ZtpYfMyV3bTt8EumQ.jpeg>.
53
UNIDADE III │ A CLÍNICA JUNGUIANA E O PROCESSO DE INDIVIDUAÇÃO
Figura 37.
Fonte: <http://br.web.img3.acsta.net/r_770_308/editor/17/03/22/18/03/098111.jpg>.
Outras personalidades que vem à tona são uma mulher chamada Patrícia, um estilista, e
menino com 9 anos, que interagem com as jovens e anunciam que elas serão alimento de
54
A CLÍNICA JUNGUIANA E O PROCESSO DE INDIVIDUAÇÃO │ UNIDADE III
uma fera. Apavoradas, as meninas tentam fugir do local, sem sucesso, sendo separadas
em cômodos do cativeiro, uma mistura de espaços comuns de ambientes de trabalho e
de uma casa.
Enquanto isso, as idas à terapia são mantidas, e antecedidas por mensagens on-line.
Desconfiada de que algo não vai bem, a terapeuta se esforça em permitir que essas
personalidades se apresentem, a fim de sustentar uma comunicação. Ela o acompanha
há tempo suficiente para saber, na oportunidade em que ele havia relatado, a existência
das inúmeras identidades. Sua abordagem não é explicitada, mas em vários momentos
se refere ao sobrenatural e à luz que é quando uma das personalidades se apresenta. Nas
sessões, aquele que tem emergido é a de um estilista que passa o tempo falando sobre
tecidos, moda e apresentando os desenhos de sua autoria. Os fatos se tornam intrigantes,
pois ao mesmo tempo em que uma personalidade quer sustentar o argumento de que
tudo vai bem, as mensagens enviadas on-line dizem “Ajude-nos”, e são manifestados
os sinais de outra. A terapeuta percebe os sinais em comportamentos de toque, o que
remete à identidade de Dennis. Ocorre que em uma das sessões, Dennis chega à luz,
e comenta sobre a fera, que seria uma 24ª personalidade ainda desconhecida pela
terapeuta. A fera seria uma espécie de justiceira, que eliminaria jovens impuras, com a
ajuda das demais personalidades. O que se tenta nas sessões é que se dê a oportunidade
da elaboração dos discursos, mas isso acaba não impedindo que atos ilícitos sejam
cometidos.
Jung nos diz que o eu exerce liberdade, pois é capaz de distinguir o real da fantasia,
e permitir que o indivíduo exerça o controle sobre seus impulsos. Sem ele, o caos se
apodera da consciência, que perde sua coordenação com a sistematização de ideias.
A terapeuta diz que seu erro foi não ter se dado mais atenção sobre um evento que
poderia desencadear nas personalidades, a aproximação de conteúdos que de alguma
forma remeteriam a abusos sofridos por Kevin. O sequestro se deu após um período
55
UNIDADE III │ A CLÍNICA JUNGUIANA E O PROCESSO DE INDIVIDUAÇÃO
56
TÉCNICAS
EXPRESSIVAS EM UNIDADE IV
PSICOLOGIA
ANALÍTICA
Figura 38.
Fonte: <https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcTj0OyZi2pO5UOiXubN50v1YcRJGcTM4eDe_7NUs1p_Q-
1DtEm>.
A subjetividade é inerente ao ser humano, mas também convive com o coletivo mesmo
nas estruturas inconscientes, os arquétipos, as quais exercem funções organizativas da
experiência dos indivíduos, por meio do que é compartilhado entre sua ancestralidade
e seu presente.
57
podem ser expressos em modalidades diversas. Portanto, o terapeuta deverá lidar com
uma aproximação do sintoma a partir do que é atribuído por seu cliente, sem sair de
seu papel como analista.
CAPÍTULO 1
Técnicas expressivas
Figura 39.
Fonte: <http://revistaberro.com/literatura/cronicas/surrealismo/>.
58
TÉCNICAS EXPRESSIVAS EM PSICOLOGIA ANALÍTICA │ UNIDADE IV
A medicação em certos casos se fará necessária, porém é importante entender que sua
banalização é extremamente prejudicial não apenas para funções orgânicas, mas para a
integridade psíquica, e para e permanência do indivíduo em sociedade. Devemos calar
tudo que se desvia de uma norma?
Em termos gerais, o terapeuta deverá ponderar sua disposição para o momento peculiar
no qual imaginar ser importante, sem perder de vista que exerce um papel distinto
do seu cliente. Seria um balanceamento entre o Arquétipo Matriarcal e o Arquétipo
Patriarcal. Por isso, é preciso concentrar empatia para estimular a realidade e as
emoções dos envolvidos.
59
UNIDADE IV │ TÉCNICAS EXPRESSIVAS EM PSICOLOGIA ANALÍTICA
60
TÉCNICAS EXPRESSIVAS EM PSICOLOGIA ANALÍTICA │ UNIDADE IV
Assim, foram atingidos os níveis individual e grupal, buscando que a sombra pudesse
acessar personas, e assim uma integração à consciência.
O jogo da areia
Figura 40.
Fonte: <https://portalfloresnoar.com/floresnoar/mini-curso-de-introducao-ao-sandplay-de-19-a-21-de-janeiro-no-lumen-
novum/>.
Conhecido como Jogo de Areia, o sandplay é um método que pode ser utilizado
durante o processo terapêutico na abordagem junguiana. Em uma caixa que
contem areia, é possível inserir miniaturas de personagens humanos ou não,
criando um cenário de expressão, que é permitido no contexto da relação
terapêutica.
Fonte: <http://www.psicologiasandplay.com.br/sandplay/>.
Figura 41.
Fonte: <http://sarauxyz.blogspot.com/2016/07/nise-da-silveira-posfacio-imagens-do.html>.
61
UNIDADE IV │ TÉCNICAS EXPRESSIVAS EM PSICOLOGIA ANALÍTICA
62
TÉCNICAS EXPRESSIVAS EM PSICOLOGIA ANALÍTICA │ UNIDADE IV
»» Existe diferença entre o que Nise viveu em sua época e os dias atuais?
O que podemos destacar sobre essas diferentes épocas?
63
UNIDADE IV │ TÉCNICAS EXPRESSIVAS EM PSICOLOGIA ANALÍTICA
Fonte: <http://www2.assis.unesp.br/jnc/2012julho/files/assets/basic-html/page2_images/0002.jpg>.
Fonte: <https://portal.fiocruz.br/noticia/livro-analisa-relacao-entre-o-critico-mario-pedrosa-e-
psiquiatra-nise-da-silveira>.
64
CAPÍTULO 2
Psicopatologia e psicologia analítica
Figura 43.
Fonte: <http://www.ibamendes.com/2011/08/loucura-mudancas-de-paradigmas.html>.
65
UNIDADE IV │ TÉCNICAS EXPRESSIVAS EM PSICOLOGIA ANALÍTICA
Araújo e Lotufo-Neto (2014) afirmam que foi em 1948 que a Organização Mundial de
Saúde (OMS) incluiu seção dedicada a descrever Transtornos Mentais, na sexta versão
da Classificação Internacional de Doenças (CID -6). Vale ressaltar que, atualmente, a
versão que vigora é o CID-10. Nela são organizados códigos dos respectivos transtornos
e em geral são contemplados os eixos etiológicos, anatômicos, causas maternas e
perinatais (MARANHÃO, s/d).
Figura 44.
Fonte: <https://1bang.wordpress.com/2011/02/15/hello-world/>.
Ressaltam que embora haja críticas quanto à inclusão em altos índices de pessoas
com diagnósticos, é importante a habilitação dos profissionais para o uso do
Manual, não se tratando de um mero checklist. Além disso, eles ressaltam que o
DSM-5 contribui para: evolução e planejamento terapêutico; planejamento da
intervenção clínica; previsibilidade; similaridade de comportamentos; critérios
validados; confiabilidade.
66
TÉCNICAS EXPRESSIVAS EM PSICOLOGIA ANALÍTICA │ UNIDADE IV
Lista de transtornos considerados pela quinta versão do Diagnosticand Statistical Manual of Mental
Disorders (DSM-5)
»» Transtornos do Neurodesenvolvimento
»» Espectros da Esquizofrenia e outros Transtornos Psicóticos
»» Transtorno Bipolar e Outros Transtornos Relacionados
»» Transtornos Depressivos
»» Transtornos de Ansiedade
»» Transtorno Obsessivo-Compulsivo e Outros Transtornos Relacionados
»» Trauma e Transtornos Relacionados ao Estresse
»» Transtornos Dissociativos
»» Sintomas Somáticos e Outros Transtornos Relacionados
»» Alimentação e Transtornos Alimentares
»» Transtornos da Excreção
»» Transtornos do Sono-Vigília
»» Disfunções Sexuais
»» Disforia de Gênero
»» Transtornos Disruptivo, Controle dos Impulsos e Conduta
»» Transtornos Relacionados a Substâncias e Adição
»» Transtornos Neurocognitivos
»» Transtornos Parafílicos
»» Outros Transtornos Mentais
»» Transtornos do Movimento Induzidos por Medicamentos
»» Outros Efeitos Adversos de Medicamentos
»» Outras condições que podem ser foco de atenção clínica
Fonte: adaptado de Araújo e Lotufo-Neto, 2014.
»» classificação simples;
»» descrição;
»» classificação simples;
»» classificação nosológica;
»» diagnóstico diferencial;
»» avaliação compreensiva;
»» entendimento dinâmico;
67
UNIDADE IV │ TÉCNICAS EXPRESSIVAS EM PSICOLOGIA ANALÍTICA
»» prevenção;
»» prognóstico;
»» perícia forense.
Outra questão bastante conhecida diz respeito ao diagnóstico diferencial, que elenca
os critérios que incluem determinado adoecimento em classificações presentes nos
manuais. Tomando como exemplo o Transtorno Afetivo Bipolar, segundo Salvador
(s/d), é comum confundi-lo com sintomas da depressão. Mas é difícil reconhecer que a
necessidade por autoestima pode ser um sintoma nem sempre visto como sofrimento,
pois aquele que sofre não se dá conta disso. Mas, enquanto na depressão o eu é depreciado,
no TAB o eu é dominado. Vivemos em um contexto no qual o sofrimento é visto como tal
porque não se consegue alcançar padrões. É comum o pensamento que está tudo bem,
mesmo com o “sacrifício” de outras áreas da vida, em nome da produtividade. Em uma
perspectiva junguiana, as crises se distanciam da norma operativa, possibilitando viver
novas normas e conferindo novos sentidos para as experiências (SALVADOR, s/d).
Segundo Padua (2017), Jung não teoriza sobre psicopatologia, mas é possível identificar
como os processos inconscientes levam à psicopatologia.
Figura 45.
Fonte: <http://iguatunews.com.br/bemmais/index.php/arevista/saude/553-saiba-um-pouco-sobre-transtorno-de-personalidade-
boderline>.
Figura 46.
Fonte: <http://www.ijep.com.br/index.php?sec=artigos&id=278&ref=reimaginando-transtorno-bipolar-psicopatologia-afeto-e-
sistema-de-valores-iii->.
69
UNIDADE IV │ TÉCNICAS EXPRESSIVAS EM PSICOLOGIA ANALÍTICA
Não é a extinção de um sintoma em si que promove a melhora, mas o quanto foi possível
elaborá-lo, e o terapeuta tem um importante papel nesse processo, cuidando para que
sua identidade, expressa na intepretação do caso, seja assumida pelo cliente, pois é ele
quem deve e precisa elaborar os símbolos envolvidos.
70
TÉCNICAS EXPRESSIVAS EM PSICOLOGIA ANALÍTICA │ UNIDADE IV
Fonte: <https://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/1999/03/resolucao1999_1.pdf>.
Após a leitura, reflita sobre a seguinte questão: onde está a articulação entre
sofrimento psíquico e sintoma, na definição apresentada anteriormente?
71
UNIDADE IV │ TÉCNICAS EXPRESSIVAS EM PSICOLOGIA ANALÍTICA
Psicopatologia e alma
Como tratado neste caderno de estudos, um bom exemplo para a visibilidade de
impasses relativos ao adoecimento da psique e os olhares sobre isto, está na figura de
Nise da Silveira, uma psiquiatra a frente de sua época, por trazer ao Brasil outros olhares
sobre o internamento e tratamento de pessoas com doenças psíquicas. Ela também se
inspirou nos estudos de Jung, trazendo para o debate a alma e as experiências que
não eram passíveis de abafamento – foi pela arte que buscou integrar seus pacientes à
realidade e ao convívio extramuros dos hospitais psiquiátricos.
Como também já foi tratado, a alma diz da experiência transcendental humana. Por
ser complexa, não é passível de um controle tal qual ocorre com processos químicos,
por exemplo, dentro de um laboratório (apesar de por vezes, as analogias se referirem
a processos da natureza). Recordando que os arquétipos constituem os norteadores
de processos psíquicos, os quais interatuam rumo a uma totalidade, ocorre desses
processos estarem suscetíveis a uma desorganização, quando a consciência está
enfraquecida, ou o caos do inconsciente não tem sua polaridade junto aos processos
conscientes superados.
O que se problematiza sobre isso é quanto uma literalidade dos termos atribuídos ao
que se convencionou enquanto transtorno, já que não implicariam necessariamente em
uma enfermidade, mas na transmutação de alguém real para um estado patológico, aos
parâmetros do que é cientificamente aceito.
Não se pretende com isso, afirmar que nomear é algo dispensável, mas como as
nominações podem refletir a relação entre síndromes e arquétipos, posto que poderiam
metaforizar essa relação e, consequentemente, refletir sobre como está a alma.
72
TÉCNICAS EXPRESSIVAS EM PSICOLOGIA ANALÍTICA │ UNIDADE IV
Depressão e símbolos
Figura 47.
Fonte: <http://epicrapbattlesofhistory.wikia.com/wiki/File:The_Underworld_Based_On.png>.
Tentando nos aproximar disso, pensemos sobre imagens atribuídas à depressão: queda,
deserto, morte. É muito comum denotar isso à impossibilidade de uma recuperação das
situações depressivas, prevendo que não há como escapar desste estado. Purcotes-Júnior
(2012) destaca que os mitos trazem essas temáticas, mas também mostram horizontes
de possibilidades. É o caso do mito de Hades, deus habitante de um submundo, mas
onde também existe riqueza de formas de vida.
73
UNIDADE IV │ TÉCNICAS EXPRESSIVAS EM PSICOLOGIA ANALÍTICA
Figura 48.
Fonte: <http://www.deldebbio.com.br/wp-content/uploads/2009/11/nigredo-albedo-rubedo.jpg>.
Fonte: <https://www.letras.mus.br/vinicius-de-moraes/87325/>.
Já estava ficando
Longe de você
Se chegue, tristeza
Se sente comigo
Me dê o seu ombro
74
TÉCNICAS EXPRESSIVAS EM PSICOLOGIA ANALÍTICA │ UNIDADE IV
Chorar de tristeza
Tristeza de amar
Figura 49.
Fonte: <https://2.bp.blogspot.com/-_podhxIfdAo/UHakEj3GyeI/AAAAAAAAAVQ/sdy9dihW4J4/s320/3828_421644071232097_1071
274163_n.jpg>.
75
UNIDADE IV │ TÉCNICAS EXPRESSIVAS EM PSICOLOGIA ANALÍTICA
Figura 50.
Fonte: <http://www.adorocinema.com/filmes/filme-240724/criticas-adorocinema/>.
Ainda vivemos em uma tensão: por um lado, o medo e o não saber tratar, que
leva à adoção de práticas de tortura. Por outro, o desvio da lógica do tratar pela
do cuidado, guiados por um ímpeto de humanização e crença da possibilidade
de ultrapassar o que está posto.
76
TÉCNICAS EXPRESSIVAS EM PSICOLOGIA ANALÍTICA │ UNIDADE IV
O filme pode ser considerado um retrato sobre o nosso olhar para pacientes psiquiátricos,
como uma realidade que envolve receios, experiências de vida (dentro e/ou fora do
hospital), realidade e ideal de cuidado etc. Contudo, também associamos o adoecimento
aos casos de internamento, mas deixamos de lado reflexões fundamentais sobre nossos
estilos de vida.
Figura 51.
Fonte: <https://shakespeareandcompany.com/event/293/philosophers-in-the-library-with-kevin-kennedy-on-georges-bataille>.
77
UNIDADE IV │ TÉCNICAS EXPRESSIVAS EM PSICOLOGIA ANALÍTICA
Bem-estar, sofrimento, bem, mal. O que querem dizer esses termos atualmente? Pode
parecer óbvio para aqueles que têm se dedicado a ouvir o outro, em um sentido clínico
da palavra. “É relativo”, “é subjetivo”, alguns dirão. Tantos outros podem afirmar que
estar bem hoje é ter um bom emprego, morar em uma casa confortável, criar os filhos
de maneira segura. Mas o que é um bom emprego? O que é conforto? O que é seguro?
É muito comum vivermos o ritmo que as necessidades do nosso trabalho nos impõem.
Passar a noite em claro para terminarmos aquele serviço; vivermos fora de nossas casas
mais tempo do que passamos usufruindo dela; impor tarefas que nem sempre nosso
corpo suporta; permitir que nossos filhos ou parentes tenham condições para uma
boa escola e sucesso em sua carreira profissional, dizendo que alguns lugares não são
possíveis de frequentar.
Até certo ponto, esse estilo nos permite realização. A felicidade do sucesso na obtenção
de desejos recompensados socialmente (ter um emprego bem remunerado, utilizar bens
que nos dê status), pode ser devastada com a impossibilidade de continuar impondo
a nós mesmos esses modelos. Mas, e quando estamos impossibilitados de sermos nós,
em nome da realização desses status?
Em um passado não tão distante, o escritor George Bataille fala sobre mal e literatura
(ver entrevista “Georges Bataille – A Literatura e o Mal”, disponível no link: <https://
www.youtube.com/watch?v=Mj1HbXt540w>. Vista por alguns como um exercício
infantil, e não funcional, segundo Bataille não deve ser vista como rebaixada por requerer
uma disposição a surpresas, assim como vemos em uma criança que se surpreende na
expectativa e admiração sobre as coisas. Ao longo da entrevista sugerida, percebemos
uma preocupação em discutir a importância da escrita em comunicar sobre o que
nos toca, ainda que isso possa chocar. O mal estaria em função de alcançar um lugar
desejado e de ultrapassar regras do bem.
78
TÉCNICAS EXPRESSIVAS EM PSICOLOGIA ANALÍTICA │ UNIDADE IV
O que temos enfrentado na vida, e de que maneira temos reunido forças para
vivê-la?
Conclusão
Uma frase célebre, associada à Jung, diz sobre ser outra alma humana, ao tocar em
uma alma humana. Isso faz sentido se entendemos que ela se opõe à postura que até
hoje insiste em se fazer presente, ao lidar com o atendimento em consultório, entre
outras práticas. Nossa expectativa é a escuta, quando temos esperança em sermos
tratados como pessoas; ou o autoritarismo, quando já passamos por experiências
desconfortáveis, e ainda mesmo antes, ao pensarmos que o outro é superior às nossa
angústias e dores.
79
UNIDADE IV │ TÉCNICAS EXPRESSIVAS EM PSICOLOGIA ANALÍTICA
Essa discussão se faz presente em muitas das obras de Jung, como “Ab-Reação, análise
de sonhos e transferência” (JUNG, 1971/2012), ao se referir sobre a importância da
relação terapêutica. Isso implica em permitir ao cliente que ele alcance uma relação
pessoal com seu terapeuta, ou seja, que não o olhe como soberano sobre o que ele
mesmo sente, mas que ele reconheça os limites que estão ao alcance de sua autonomia
e o que o outro pode dizer sobre ele.
80
Referências
81
UNIDADE IV │ TÉCNICAS EXPRESSIVAS EM PSICOLOGIA ANALÍTICA
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