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As Palavras Interditas - Oral de PT

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As palavras interditas

1 Os navios existem, e existe o teu rosto      A 12 s. met


2 encostado ao rosto dos navios.                    B 9   irregularidade MÉTRICA
3 Sem nenhum destino flutuam nas cidades, C
4 partem no vento, regressam nos rios.          B

5 Na areia branca, onde o tempo começa,  D


6 uma criança passa de costas para o mar.  E
7 Anoitece. Não há dúvida, anoitece.     F
8 É preciso partir, é preciso ficar.   E   antítese

9 Os hospitais cobrem-se de cinza. G  metáfora


10 Ondas de sombra quebram nas esquinas.H metáfora
11 Amo-te... E entram pela janela I
12 as primeiras luzes das colinas. H

13 As palavras que te envio são interditas J


14 até, meu amor, pelo halo das searas; K
15 se alguma regressasse, nem já reconhecia L
16 o teu nome nas suas curvas claras. k

17 Dói-me esta água, este ar que se respira,  anáfora (“dói-me esta”)


18 dói-me esta solidão de pedra escura,
19 estas mãos nocturnas onde aperto
20 os meus dias quebrados na cintura.

21 E a noite cresce apaixonadamente.


22 Nas suas margens nuas, desoladas,
23 cada homem tem apenas para dar
24 um horizonte de cidades bombardeadas.

Eugénio de Andrade, in “Poesia e Prosa”


-Tema
O triunfo do amor (em tempos de decadência)
-assunto e o seu desenvolvimento – preciso de ajuda
A confirmação de que “os navios existem” surge como um contraponto ao sentimento de
fragmentação do presente: o “navio” parece ser a única coisa que “existe” e que apresenta
inteireza em meio às ruínas de uma cidade que lembra a “terra desolada” do cenário do pós-
guerra, em que “hospitais” se cobrem de “cinzas” e “ondas de sombra”. O ar é pesado, a
“noite cresce” e encobre certas imagens luminosas que, em sequências fragmentadas, se
apresentam ao longo dos versos: “areia branca”, “primeiras luzes das colinas”, “halo das
searas”, “curvas claras”. Esses estilhaços de “luz”, portanto, aos poucos se extinguem nas
“mãos nocturnas” e na “solidão de pedra escura”: “Anoitece. Não há dúvida, anoitece”. O
“navio” é um signo que possui a inteireza de um símbolo ou de uma metáfora14 , em meio a
outros elementos espedaçados da paisagem, que funcionam como espécies de “alegorias”15,
tal como definida por Rosa Maria Martelo. Desse modo, apresentando-secomo um veículo de
fuga, de exílio, de saída de um país tornado inabitável, o “navio” evoca um espaço de maior
inteireza, em que talvez seja possível experimentar uma realidade alternativa à desolação do
entorno 16. No entanto, está “à deriva”, “sem destino”, levando encostado ao seu o “rosto do
amado”, flutuando e “regressando” nos rios, e apresentando-se, portanto, como veículo de
separação dos amantes. Desse modo, associado a uma vida clandestina, de fuga, exílio ou
mesmo saída para a guerra, o “navio” se distancia da visão idílica geralmente evocada, ou da
imagem gloriosa da nação. Nesse vaivém indeterminado do “navio”, entremeio entre o “claro”
e o “escuro” frequentemente contrastados no poema17, se posiciona a voz lírica: “É preciso
partir, é preciso ficar”. Uma poesia que se caracteriza pela autovigilância e capacidade de
transformação, que pretende afirmar-se contra a ausência, resistir à opressão humana propõe
também aqui a procura pelo “verdadeiro rosto humano”. Porém, como demonstra esse
poema, divide-se entre a vontade do “sim” e o sentimento de negação que habita os “dias
quebrados na cintura” e o “horizonte de cidades bombardeadas”. Ao pronunciar “Amo-te”, “as
primeiras luzes da colina” entram pela janela, mas vagueiam sem destino, sem conseguir se
consubstanciar em palavra poética, e o “Nome” do amado perde-se nas “curvas claras”. A
distância de toda origem é anunciada na imagem: “Na areia branca, onde o tempo começa,
uma criança passa de costas para o mar”18, cujos constituintes, que formariam uma unidade-
arquetípica, se desagregam, mimetizando a profunda dissolução do mundo e do sujeito. O
signo “criança” também tem a espessura simbólica de um “navio”, porém, do mesmo modo
que este, flutua sem destino, caminha “de costas” para outros referentes, retrocedendo o
processo de encontro e realização da imagem poética. O mesmo

-divisão em partes lógicas- preciso de ajuda


-recursos expressivos: identificação e expressividade
antítese: Se por um lado era «preciso partir», pois a vida da época era
como uma corrente morta, por outro era «preciso ficar», por forma a
construir e edificar o ansiado grito de revolta. (expressa aquilo que o S.P.
sentia ao viver num clima ditatorial; indecisão)
Hipérbole e metáfora: ”Ondas de sombra quebram nas esquinas”, no
verso encontra-se um claro exagero da realidade (hipérbole)
Por outro lado temos também uma metáfora uma vez que as “ondas”
remetem para o modo como a sombra se propaga progressivamente pelas
esquinas? Concordam (é tarde posso estar a tripar)
metáfora: “As palavras que te envio são interditas até, meu amor, pelo
halo das searas” aqui o sujeito poético está a comparar as palavras que
envia com o seu amor pelo halo das searas, logo aqui está presente uma
metáfora”
anáfora: “dói-me esta”(versos 17 e 18)- a repetição da mesma expressão
no ínicio destes dois versos remetem para uma anáfora, que neste caso
serve a função de realçar o sofrimento do sujeito poético.(também fui eu
por isso ya estou a tripar certamente)
-análise formal
  6 quadras
 Rima cruzada imperfeita no segundo e quarto versos de cada
estrofe;
 Verso branco no primeiro e terceiro verso de cada estrofe.
ABCB/DEFE/….
 Métrica irregular

. Se pensarmos na data em que o livro foi publicado (1ª publicação em


1951), certamente se compreenderá a razão de todas estas primeiras
características. Afinal, o país estava imerso em pleno clima ditatorial. Era o
tempo da renúncia, da podridão, dos assombros e dos temores. Se por um
lado era «preciso partir», pois a vida da época era como uma corrente
morta, por outro era «preciso ficar», por forma a construir e edificar o
ansiado grito de revolta. Tudo é dor e desolação aos olhos do poeta; e os
Homens, receptáculos da esperança num amanhecer mais límpido, ainda
só têm para dar “um horizonte de cidades bombardeadas”. Por isso, o
título desta obra assume um duplo sentido: as “palavras interditas” pelo
regime fascista em vigor (ou seja, a censura) são igualmente as palavras
que o poeta não pode dirigir ao seu amor. É um misto de intimismo e de
proibição.

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