Este poema descreve um cenário de desolação e ruína em meio à guerra, onde "hospitais se cobrem de cinza" e a noite traz apenas solidão. Apesar disso, o navio é visto como um símbolo de inteirez em meio ao caos, representando a possibilidade de fuga. No entanto, está "à deriva" levando consigo o rosto amado, dividindo os amantes. A voz lírica se vê dividida entre ficar e partir, expressando a dor da separação forçada em tempos somb
Este poema descreve um cenário de desolação e ruína em meio à guerra, onde "hospitais se cobrem de cinza" e a noite traz apenas solidão. Apesar disso, o navio é visto como um símbolo de inteirez em meio ao caos, representando a possibilidade de fuga. No entanto, está "à deriva" levando consigo o rosto amado, dividindo os amantes. A voz lírica se vê dividida entre ficar e partir, expressando a dor da separação forçada em tempos somb
Este poema descreve um cenário de desolação e ruína em meio à guerra, onde "hospitais se cobrem de cinza" e a noite traz apenas solidão. Apesar disso, o navio é visto como um símbolo de inteirez em meio ao caos, representando a possibilidade de fuga. No entanto, está "à deriva" levando consigo o rosto amado, dividindo os amantes. A voz lírica se vê dividida entre ficar e partir, expressando a dor da separação forçada em tempos somb
Este poema descreve um cenário de desolação e ruína em meio à guerra, onde "hospitais se cobrem de cinza" e a noite traz apenas solidão. Apesar disso, o navio é visto como um símbolo de inteirez em meio ao caos, representando a possibilidade de fuga. No entanto, está "à deriva" levando consigo o rosto amado, dividindo os amantes. A voz lírica se vê dividida entre ficar e partir, expressando a dor da separação forçada em tempos somb
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As palavras interditas
1 Os navios existem, e existe o teu rosto A 12 s. met
2 encostado ao rosto dos navios. B 9 irregularidade MÉTRICA 3 Sem nenhum destino flutuam nas cidades, C 4 partem no vento, regressam nos rios. B
5 Na areia branca, onde o tempo começa, D
6 uma criança passa de costas para o mar. E 7 Anoitece. Não há dúvida, anoitece. F 8 É preciso partir, é preciso ficar. E antítese
9 Os hospitais cobrem-se de cinza. G metáfora
10 Ondas de sombra quebram nas esquinas.H metáfora 11 Amo-te... E entram pela janela I 12 as primeiras luzes das colinas. H
13 As palavras que te envio são interditas J
14 até, meu amor, pelo halo das searas; K 15 se alguma regressasse, nem já reconhecia L 16 o teu nome nas suas curvas claras. k
17 Dói-me esta água, este ar que se respira, anáfora (“dói-me esta”)
18 dói-me esta solidão de pedra escura, 19 estas mãos nocturnas onde aperto 20 os meus dias quebrados na cintura.
21 E a noite cresce apaixonadamente.
22 Nas suas margens nuas, desoladas, 23 cada homem tem apenas para dar 24 um horizonte de cidades bombardeadas.
Eugénio de Andrade, in “Poesia e Prosa”
-Tema O triunfo do amor (em tempos de decadência) -assunto e o seu desenvolvimento – preciso de ajuda A confirmação de que “os navios existem” surge como um contraponto ao sentimento de fragmentação do presente: o “navio” parece ser a única coisa que “existe” e que apresenta inteireza em meio às ruínas de uma cidade que lembra a “terra desolada” do cenário do pós- guerra, em que “hospitais” se cobrem de “cinzas” e “ondas de sombra”. O ar é pesado, a “noite cresce” e encobre certas imagens luminosas que, em sequências fragmentadas, se apresentam ao longo dos versos: “areia branca”, “primeiras luzes das colinas”, “halo das searas”, “curvas claras”. Esses estilhaços de “luz”, portanto, aos poucos se extinguem nas “mãos nocturnas” e na “solidão de pedra escura”: “Anoitece. Não há dúvida, anoitece”. O “navio” é um signo que possui a inteireza de um símbolo ou de uma metáfora14 , em meio a outros elementos espedaçados da paisagem, que funcionam como espécies de “alegorias”15, tal como definida por Rosa Maria Martelo. Desse modo, apresentando-secomo um veículo de fuga, de exílio, de saída de um país tornado inabitável, o “navio” evoca um espaço de maior inteireza, em que talvez seja possível experimentar uma realidade alternativa à desolação do entorno 16. No entanto, está “à deriva”, “sem destino”, levando encostado ao seu o “rosto do amado”, flutuando e “regressando” nos rios, e apresentando-se, portanto, como veículo de separação dos amantes. Desse modo, associado a uma vida clandestina, de fuga, exílio ou mesmo saída para a guerra, o “navio” se distancia da visão idílica geralmente evocada, ou da imagem gloriosa da nação. Nesse vaivém indeterminado do “navio”, entremeio entre o “claro” e o “escuro” frequentemente contrastados no poema17, se posiciona a voz lírica: “É preciso partir, é preciso ficar”. Uma poesia que se caracteriza pela autovigilância e capacidade de transformação, que pretende afirmar-se contra a ausência, resistir à opressão humana propõe também aqui a procura pelo “verdadeiro rosto humano”. Porém, como demonstra esse poema, divide-se entre a vontade do “sim” e o sentimento de negação que habita os “dias quebrados na cintura” e o “horizonte de cidades bombardeadas”. Ao pronunciar “Amo-te”, “as primeiras luzes da colina” entram pela janela, mas vagueiam sem destino, sem conseguir se consubstanciar em palavra poética, e o “Nome” do amado perde-se nas “curvas claras”. A distância de toda origem é anunciada na imagem: “Na areia branca, onde o tempo começa, uma criança passa de costas para o mar”18, cujos constituintes, que formariam uma unidade- arquetípica, se desagregam, mimetizando a profunda dissolução do mundo e do sujeito. O signo “criança” também tem a espessura simbólica de um “navio”, porém, do mesmo modo que este, flutua sem destino, caminha “de costas” para outros referentes, retrocedendo o processo de encontro e realização da imagem poética. O mesmo
-divisão em partes lógicas- preciso de ajuda
-recursos expressivos: identificação e expressividade antítese: Se por um lado era «preciso partir», pois a vida da época era como uma corrente morta, por outro era «preciso ficar», por forma a construir e edificar o ansiado grito de revolta. (expressa aquilo que o S.P. sentia ao viver num clima ditatorial; indecisão) Hipérbole e metáfora: ”Ondas de sombra quebram nas esquinas”, no verso encontra-se um claro exagero da realidade (hipérbole) Por outro lado temos também uma metáfora uma vez que as “ondas” remetem para o modo como a sombra se propaga progressivamente pelas esquinas? Concordam (é tarde posso estar a tripar) metáfora: “As palavras que te envio são interditas até, meu amor, pelo halo das searas” aqui o sujeito poético está a comparar as palavras que envia com o seu amor pelo halo das searas, logo aqui está presente uma metáfora” anáfora: “dói-me esta”(versos 17 e 18)- a repetição da mesma expressão no ínicio destes dois versos remetem para uma anáfora, que neste caso serve a função de realçar o sofrimento do sujeito poético.(também fui eu por isso ya estou a tripar certamente) -análise formal 6 quadras Rima cruzada imperfeita no segundo e quarto versos de cada estrofe; Verso branco no primeiro e terceiro verso de cada estrofe. ABCB/DEFE/…. Métrica irregular
. Se pensarmos na data em que o livro foi publicado (1ª publicação em
1951), certamente se compreenderá a razão de todas estas primeiras características. Afinal, o país estava imerso em pleno clima ditatorial. Era o tempo da renúncia, da podridão, dos assombros e dos temores. Se por um lado era «preciso partir», pois a vida da época era como uma corrente morta, por outro era «preciso ficar», por forma a construir e edificar o ansiado grito de revolta. Tudo é dor e desolação aos olhos do poeta; e os Homens, receptáculos da esperança num amanhecer mais límpido, ainda só têm para dar “um horizonte de cidades bombardeadas”. Por isso, o título desta obra assume um duplo sentido: as “palavras interditas” pelo regime fascista em vigor (ou seja, a censura) são igualmente as palavras que o poeta não pode dirigir ao seu amor. É um misto de intimismo e de proibição.