A Semente Da Verdade
A Semente Da Verdade
A Semente Da Verdade
Coordenação editorial:
Juliana Furlanetti
Sílnia N. Martins Prado
Revisão:
Katia Rossini
Realização
Fundação Educar DPaschoal
www.educardpaschoal.org.br
F: (19) 3728-8085
Criada em 1989 para a promoção da educação cidadã como estratégia de transformação social, desenvolveu inicialmente a “Academia Educar”,
que promove a formação de núcleos de lideranças juvenis em escolas públicas, criando oportunidades para que o jovem descubra seu potencial,
tornando-se capaz de transformar sua realidade, a de sua escola e da comunidade.
Em 1999, criou o “Prêmio Trote da Cidadania”, que estimula o empreendedorismo universitário como forma de propagar práticas sustentáveis e a
participação cidadã no ambiente acadêmico.
Em 2000, iniciou o projeto "Leia Comigo!", que produz e distribui gratuitamente livros infanto-juvenis que incentivam o gosto pela leitura, facilitam
o aprendizado na escola e o pleno desenvolvimento da criança e do jovem. São histórias que contribuem para a construção de cidadãos e uma
visão mais humanista.
A DPaschoal acredita que incentivar a leitura e o debate crítico é o melhor caminho em direção ao verdadeiro desenvolvimento do país e da
sociedade.
Ilustrado por
Eduardo Engel
Recontado por
Patrícia Engel Secco
hai era um ótimo menino, responsável, amigo e,
acima de tudo, honesto.
Sempre que chegava da escola, dedicava-se ao seu
passatempo favorito: a jardinagem. O jardim de sua
casa era simplesmente fantástico, com cerejeiras, bambus,
orquídeas e várias outras plantas, todas cuidadas com
muito carinho.
Imerso em seus pensamentos e realizando a tarefa
mais apaixonante de sua vida, o garoto passava horas e
horas no jardim, que a cada dia ficava mais lindo.
As outras crianças não conseguiam entender como
Thai podia passar tanto tempo cuidando das plantas,
mas ele sempre dizia:
– O tempo é o maior aliado da beleza e, em um
jardim, ele não passa rápido nem devagar, apenas no
ritmo certo. O jardim precisa de mim, e eu, do tempo...
Cada planta tocada por ele crescia viçosa, colorida e
forte, e, na família todos tinham certeza de que o menino
era filho da terra, neto do tempo.
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O imperador do país de Thai estava seriamente preocupado em definir quem o
sucederia. Sem filhos nem parentes próximos, ele decidiu chamar todas as crianças
do reino, pois entre elas, com certeza, encontraria alguém digno de assumir o trono.
Como todas as outras crianças, Thai também foi convocado e, no dia marcado,
dirigiu-se até o palácio do imperador. Havia milhares e milhares de pequenos súditos
no jardim, mais do que Thai podia imaginar que vivessem no reino.
Apareceu então o imperador, que disse, sem fazer rodeios:
– Crianças, preciso escolher entre vocês o meu sucessor, o futuro imperador de
nosso país. Eu vou lhes dar uma tarefa, e a minha escolha vai depender da dedicação
de vocês. Estou aqui com milhares de sementes. Quero que vocês as levem e as
cultivem. O trono será daquele que me trouxer, daqui a um ano, a planta mais bonita,
mais bem-cuidada. Vocês irão dispor de um ano inteiro, portanto terão o tempo a seu
favor. Durante esse período, observem o que aconteceu com a semente, com a planta.
Deixem que elas lhes ensinem uma bela lição...
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O coraçãozinho de Thai iluminou-se, pois ele era um
excelente jardineiro. Com certeza, essa seria sua
oportunidade.
Porém a pequena chama de esperança acesa naquele
instante foi se apagando. É que, por mais que Thai se
esforçasse, a semente não brotava. O menino fez tudo o que
podia, adubou a terra, colocou o vaso no sol, regou
a semente com água da nascente, mas seus esforços de
nada adiantaram.
Aquele ano passou muito rápido. Logo chegou o
dia de apresentar a planta ao imperador, e a semente
de Thai ainda não havia brotado. O menino estava tão
envergonhado que não sentia nem mesmo vontade de
comparecer ao evento; porém seu avô lhe disse:
– Você é dedicado, Thai, mas antes de tudo é honesto.
Vá até o imperador e diga a verdade a ele.
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– Mas, vovô, se eu tivesse tido um pouquinho mais de tempo...
– Meu neto, todas as crianças tiveram um ano para cuidar de suas sementes, e um
ano é muito tempo... Sua dedicação foi extrema, mas a semente não brotou. Não
se envergonhe, querido, diga apenas a verdade e não culpe o tempo. Talvez seja esta
a lição que o imperador quer que você aprenda: algumas vezes a verdade não é tão
bonita como uma flor, mas precisamos encará-la com coragem.
– Como assim, vovô? – perguntou Thai.
– É muito simples. Nossas atitudes devem ser norteadas pelo compromisso com
a verdade, e devemos agir sempre em busca da felicidade, sem que a nossa alegria
deixe ninguém infeliz.
– Entendi, vovô. Suas sábias palavras me fizeram compreender que, ao contar a
verdade ao imperador, dizendo que me esforcei ao máximo para fazer a semente
brotar, estarei caminhando em direção à felicidade. A mentira deixaria no mínimo
duas pessoas infelizes, o senhor e eu, porque saberíamos que menti!
– É exatamente isso, querido. Esse é o significado de uma palavra mágica, a ética,
um valor básico que deve acompanhar você por toda a vida.
– Muito obrigado, vovô. Estou pronto para ir ao encontro com o imperador.
Levarei comigo o vaso com a terra e a semente que não brotou e terei em meu coração
a certeza de que fiz o melhor que pude.
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E o jovem jardineiro dirigiu-se ao palácio, cheio
de coragem.
Entretanto, ao chegar lá, Thai ficou muito envergonhado,
pois era a única criança que não levava consigo uma
belíssima planta. Havia flores de todas as cores e árvores
de todos os frutos.
O imperador, sentado em seu trono, chamava as crianças,
uma a uma e examinava minuciosamente as plantas.
Perguntava a cada criança que lição aprendera com a
semente, e todas respondiam ter aprendido sobre o talento, a
perseverança e o dom necessário para fazer a semente brotar.
Apesar de os resultados serem esplêndidos, o
imperador não sorria, nem esboçava contentamento.
Thai estava muito nervoso, pois, se o imperador não
havia até agora aprovado aquelas plantas maravilhosas, o
que não diria de seu vaso contendo apenas terra? E assim o
pequeno menino foi ficando para trás e, quando se deu
conta, era o último da fila, Mas sua vez chegou, e ele não
poderia mais adiar o encontro com o imperador.
– Vejamos bem, meu jovem, o que tem aí para mim?
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Thai não pôde mais conter as lágrimas. Com a cabeça baixa, mostrou o vaso com
terra ao imperador e disse:
– Senhor, eu tenho talento, sou um bom jardineiro, e uma de minhas virtudes é a
perseverança, mas, por mais que eu tenha me esforçado, a semente não brotou.
Estou envergonhado e peço perdão... Talvez tenha sido falta de sorte, mas dedicação
não me faltou. Considero o tempo meu aliado, porém confesso, senhor, que dessa
vez ele se esvaiu muito rápido.
– Mas você não teve tempo suficiente para meditar a esse respeito? – perguntou
o imperador.
– Tive muito tempo para refletir sobre a semente que me foi dada e decidir qual
seria minha atitude. Optei por dizer a verdade, relatar-lhe meu esforço e rogar-lhe
perdão. Estou muito envergonhado por causa desse vaso com terra que trago comigo.
– Não se envergonhe, criança, você fez o que pôde. Aliás, estou muito surpreso de
ter recebido aqui tão lindas plantas brotadas de sementes mortas. Levante a cabeça,
Thai, meu futuro sucessor. E preste atenção, meu filho. Apesar de você considerar a
perseverança sua grande virtude, asseguro que hoje o valor que prevaleceu foi
outro: a ética, a honestidade. Vou explicar: eu havia queimado todas as sementes antes
de entregá-las às crianças. Nenhuma poderia germinar, jamais. Portanto, entre todas as
crianças que aqui estão, você foi a única que plantou a semente da verdade.
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A partir daquele dia, o reino e seus súditos puderam contar com o futuro
governante. Thai ainda tinha muito a aprender com o imperador, um homem justo
e amado pelo povo. Mas nunca, nunca o garoto se esqueceria das sábias palavras de
seu querido avô.
E Thai governou o reino por muitos e muitos anos, ficando conhecido por suas
atitudes justas, honestas e éticas. Foi um excelente imperador e até hoje é lembrado
pelo seu povo como aquele que soube colher os frutos da semente da verdade.
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"Com as ferramentas certas as pessoas
podem transformar o mundo."
ISBN 978-85-7694-183-5