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Conhecimento Humano e Tecnológico Aplicado A Administração

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Conhecimento Humano e Tecnológico

aplicado à Administração
Módulo 1.2
Editorial

Presidente do SEB (Sistema EducacionalBrasileiro Coordenação do Curso de Administração


S.A) Adriana Franzoi
Chaim Zaher
Coordenação do Curso de Tecnologia em
Vice-Presidente do SEB Recursos Humanos
Adriana Baptiston Cefali Zaher Coordenação do Curso de Tecnologia em Gestão
Financeira
Diretoria Executiva do SEB Coordenação do Curso de Tecnologia em Gestão
Nilson Curti de Marketing
Rafael Gomes Perri John Jackson Buettgen

Material elaborado por


Diretor da Faculdade Dom Bosco Rodrigo Rizério
José Antônio Capito Marisley Soares
Marcos Chiodi
Coordenação da EaD da Faculdade Dom Bosco
Moroni Cordeiro Produção Editorial
Alessandra Antunes Godinho
Pricila Massuchetto
Letícia Marcelino

© Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo


Todos os direitos desta edição reservados ao Dom Interativo modalidade de educação a distância da Faculdade Dom Bosco.
Proibida a reprodução total ou parcial desta obra, de qualquer forma ou meio eletrônico, e mecânico, fotográfico e gravação ou
qualquer outro, sem a permissão expressa Dom Interativo. A violação dos direitos autorais é punível como crime (Código
Penal art. 184 e §§; Lei 6.895/80), com busca, apreensão e indenizações diversas (Lei 9.610/98 – Lei dos Direitos Autorais – arts.
122, 123, 124 e 126)
Apresentação Dom Interativo .............. 11
Apresentação do Módulo............................... 12

ri o Filosofia aplicada à administração....................... 13



Unidade 1: O que é Filosofia?............................................ 15
Objetivos da sua aprendizagem.................................................. 15
Você se lembra?............................................................................... 15
Su

1.1  Introdução à Filosofia.................................................................... 16


1.2  A passagem do mito à filosofia......................................................... 20
Mito de Narciso............................................................................................ 22
Filosofia.......................................................................................................... 24
Atividades........................................................................................................... 28
Reflexão................................................................................................................ 29
Leitura Recomendadas............................................................................................ 29
Referências................................................................................................................ 30
Na proxima unidade.................................................................................................... 30
Unidade 2: Filosofia Grega........................................................................................ 31
Objetivos da sua aprendizagem..................................................................................... 31
Você se lembra?.............................................................................................................. 31
2.1  Introdução ao pensamento grego............................................................................. 32
2.2  Pré-socráticos ou filósofos da natureza.................................................................... 32
2.3  A filosofia grega clássica......................................................................................... 33
2.4  Período Helenístico: o fim de uma era................................................................... 39
2.5  O período greco-romano ...................................................................................... 47
Questões para reflexão............................................................................................... 48
Reflexão................................................................................................................... 49
Leitura recomendada............................................................................................ 49
Referências....................................................................................................... 49
Na próxima unidade...................................................................................... 50
Unidade 3: Da filosofia medieval à filosofia moderna.......................... 51
Objetivos da sua aprendizagem............................................................. 51
Você se lembra?................................................................................. 51
3.1  Império romano...................................................................... 52
3.2  Filosofia medieval............................................................. 53

ADM 1-2 2013-1.indb 3 11/04/2013 17:42:00


3.3  O renascimento cultural e a filosofia moderna......................................................... 62
Questões para reflexão..................................................................................................... 66
Reflexão........................................................................................................................... 67
Leituras recomendadas..................................................................................................... 67
Referências....................................................................................................................... 68
Na próxima unidade......................................................................................................... 68
Unidade 4: O conflito entre o indivíduo e a sociedade................................................ 69
Objetivos da sua aprendizagem....................................................................................... 69
Você se lembra?............................................................................................................... 69
4.1  Introdução ao problema............................................................................................ 70
4.2  Doutrina do direito divino......................................................................................... 72
4.3  Teoria do contrato social........................................................................................... 73
4.4  Liberalismo filosófico............................................................................................... 79
4.5  Socialismo científico................................................................................................. 80
4.6  O trabalho.................................................................................................................. 83
Questões para reflexão..................................................................................................... 85
Reflexão .......................................................................................................................... 87
Leitura recomendada........................................................................................................ 87
Referências....................................................................................................................... 87
Na próxima unidade......................................................................................................... 88
Unidade 5: Ética e responsabilidade social.................................................................. 89
Objetivos da sua aprendizagem....................................................................................... 89
Você se lembra?............................................................................................................... 89
5.1  Conceito de ética . .................................................................................................... 90
5.2  A ética ao longo da história....................................................................................... 92
5.3  Maquiavel e a administração de empresas................................................................ 95
5.4  Ética No Século XX.................................................................................................. 97
5.5  Ética e responsabilidade social............................................................................... 100
5.6  Uma nova ética na administração........................................................................... 101
Questões para reflexão................................................................................................... 104
Reflexão......................................................................................................................... 105
Leitura recomendada...................................................................................................... 106
Referências..................................................................................................................... 106

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Psicologia aplicada à administração.............................................................. 107
Unidade 1: A psicologia na administração de empresas........................................... 109
Objetivos da sua aprendizagem..................................................................................... 109
Você se lembra?............................................................................................................. 109
1.1  Uma breve incursão sobre os conceitos “psis”...................................................... 110
1.2  A construção da psicologia como ciência............................................................... 112
1.3  A psicologia na administração de empresas............................................................ 114
Atividades...................................................................................................................... 116
Reflexão......................................................................................................................... 117
Leituras Recomendadas ............................................................................................... 118
Referências..................................................................................................................... 118
Na próxima unidade....................................................................................................... 118
Unidade 2: Psicologia do comportamento................................................................. 119
Objetivos da sua aprendizagem..................................................................................... 119
Você se lembra?............................................................................................................. 119
2.1  Comportamento humano em foco........................................................................... 120
2.2  Princípios básicos da psicologia comportamental.................................................. 121
2.3  Condicionamento respondente e operante.............................................................. 123
2.4  Conceitos-chave...................................................................................................... 127
2.5  A aplicação da psicologia comportamental na gestão de pessoas........................... 128
Atividades...................................................................................................................... 130
Reflexão......................................................................................................................... 131
Leituras Recomendadas ............................................................................................... 131
Referências..................................................................................................................... 131
Na próxima unidade....................................................................................................... 132
Unidade 3: A psicologia da gestalt e a percepção humana....................................... 133
Objetivos da sua aprendizagem..................................................................................... 133
Você se lembra?............................................................................................................. 133
3.1  A escola de frankfurt e a gestalt.............................................................................. 134
3.2  Os princípios da teoria da gestalt............................................................................ 135
3.3  Conceitos da teoria da gestalt................................................................................. 138
3.4  A psicologia da gestalt no dia a dia......................................................................... 140
Atividades...................................................................................................................... 141

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Reflexão ........................................................................................................................ 142
Leitura Recomendada.................................................................................................... 142
Referências..................................................................................................................... 143
Na próxima unidade....................................................................................................... 143
Unidade 4: Psicanálise e comportamento humano................................................... 145
Objetivos da sua aprendizagem..................................................................................... 145
Você se lembra?............................................................................................................. 145
4.1  As mudanças sobre a visão de homem após a psicanálise...................................... 146
4.2  Os modelos explicativos do funcionamento psíquico . .......................................... 147
4.3  As contribuições da psicanálise para a administração............................................ 151
Atividades...................................................................................................................... 152
Reflexão......................................................................................................................... 153
Leitura Recomendada.................................................................................................... 154
Referências..................................................................................................................... 154
Na próxima unidade....................................................................................................... 155
Unidade 5: Comunicação e grupos –A psicologia social........................................... 157
Objetivos da sua aprendizagem..................................................................................... 157
Você se lembra?............................................................................................................. 157
5.1  A psicologia social e de grupos............................................................................... 158
5.2  A teoria de campo de kurt lewin............................................................................. 160
5.3  O grupo na instituição e o grupo como
instituição: as constribuições de josé bleger.................................................................. 162
5.4  Os papéis desempenhados no grupo....................................................................... 163
5.5  O coordenador de grupo ........................................................................................ 165
5.6  Equipes x grupos..................................................................................................... 166
5.7  Comunicão como produção individual e do grupo................................................. 167
Atividades...................................................................................................................... 169
Reflexão......................................................................................................................... 170
Leitura Recomendada.................................................................................................... 170
Referências..................................................................................................................... 170
Na próxima unidade....................................................................................................... 171
Unidade 6: Motivação.................................................................................................. 173
Objetivos da sua aprendizagem..................................................................................... 173
Você se lembra?............................................................................................................. 173
6.1  Definições............................................................................................................... 174
6.2  Teorias clássicas sobre motivação ........................................................................ 175

ADM 1-2 2013-1.indb 6 11/04/2013 17:42:04


6.3  Teorias contemporâneas.......................................................................................... 179
6.4  Motivação: do conceito às aplicações..................................................................... 181
6.5  Princípio do hedonismo.......................................................................................... 183
Atividades...................................................................................................................... 183
Reflexão......................................................................................................................... 184
Leitura Recomendada.................................................................................................... 184
Referências..................................................................................................................... 184
Na próxima unidade....................................................................................................... 185
Unidade 7: Liderança.................................................................................................. 187
Objetivos da sua aprendizagem..................................................................................... 187
Você se lembra?............................................................................................................. 187
7.1  Definições............................................................................................................... 188
7.2  Aspectos psicológicos da liderança . ...................................................................... 189
7.3  Histórico sobre os estudos da liderança ................................................................. 191
7.4  líderes e gerentes..................................................................................................... 194
7.5  Teorias contemporâneas da liderança..................................................................... 195
Atividades...................................................................................................................... 196
Reflexão......................................................................................................................... 197
Leitura Recomendada.................................................................................................... 197
Referências..................................................................................................................... 197

Microinformática............................................................................................... 199
Unidade 1: Introdução à Tecnologia de Informação................................................ 201
Objetivos de sua aprendizagem..................................................................................... 201
Você se lembra?............................................................................................................. 201
1.1  Definindo Tecnologia da Informação..................................................................... 202
Atividade 1.1.................................................................................................................. 204
1.2  Do que é formada a TI?.......................................................................................... 204
1.3  Como podemos definir dado, informação e conhecimento?
Com qual deles trabalhamos na Tecnologia de Informação?......................................... 205
Atividade 1.3.................................................................................................................. 208
1.4  Como a TI pode ser usada nas empresas e pelas pessoas?..................................... 209
Atividade 1.4.................................................................................................................. 213
1.5  Tecnologia de Informação e Carreiras.................................................................... 214
Atividade 1.5.................................................................................................................. 218
1.6  Reflexão sobre a unidade 1..................................................................................... 219

ADM 1-2 2013-1.indb 7 11/04/2013 17:42:04


Leituras Recomendadas................................................................................................. 220
Referências..................................................................................................................... 221
Na próxima unidade....................................................................................................... 221
Unidade 2: Como funciona o computador................................................................. 223
Objetivos de sua aprendizagem..................................................................................... 223
Você se lembra?............................................................................................................. 224
2.1  Uma breve viagem pela história............................................................................. 224
Atividade 2.1.................................................................................................................. 231
2.2  Classificação dos Computadores............................................................................ 231
Atividade 2.2.................................................................................................................. 234
2.3  Visão geral de um computador pessoal................................................................... 235
Atividade 2.3.................................................................................................................. 237
2.4  A arquitetura interna e o funcionamento de um computador.................................. 238
Atividade 2.4.................................................................................................................. 240
2.5  Capacidade de processamento dos computadores ................................................. 241
Atividade 2.5.................................................................................................................. 243
2.6  Reflexão sobre a Unidade 2.................................................................................... 243
Leituras Recomendadas................................................................................................. 243
Referências..................................................................................................................... 246
Na próxima Unidade...................................................................................................... 246
Unidade 3: Sistemas Operacionais e Softwares Aplicativos..................................... 247
Objetivos de sua aprendizagem..................................................................................... 247
Você se lembra?............................................................................................................. 247
3.1  Software do computador......................................................................................... 248
3.2  Software de sistema............................................................................................... 249
3.3  Software aplicativo................................................................................................ 257
Atividade 3.3.................................................................................................................. 264
3.4  Reflexão sobre a Unidade 3.................................................................................... 272
Leituras Recomendadas................................................................................................. 272
Referências..................................................................................................................... 276
Unidade 4: Infraestrutura de comunicação e redes de computadores . ................ 277
Objetivos de sua aprendizagem..................................................................................... 278
Você se lembra?............................................................................................................. 278
4.1  Era uma vez computadores que trabalhavam “sozinhos”....................................... 279
Atividade 4.1.................................................................................................................. 279
4.2  Classificação das redes quanto ao alcance.............................................................. 282

ADM 1-2 2013-1.indb 8 11/04/2013 17:42:04


Atividade 4.2.................................................................................................................. 285
4.3  Classificação das redes quanto à topologia............................................................. 286
Atividade 4.3.................................................................................................................. 288
4.4  Transmissão física de dados e o hardware para redes de computadores................. 288
Atividade 4.4.................................................................................................................. 295
4.5  Software e redes...................................................................................................... 296
Atividade 4.5.................................................................................................................. 297
4.6  Reflexão sobre a Unidade 4.................................................................................... 297
Leituras Recomendadas................................................................................................. 298
Referências..................................................................................................................... 299
Unidade 5: Internet e aplicações .............................................................................. 301
Objetivos de sua aprendizagem..................................................................................... 301
Você se lembra?............................................................................................................. 302
5.1  O que é a Internet?.................................................................................................. 303
5.2  E a Web (WWW) ?................................................................................................. 310
5.3  Noções de e-business e e-commerce....................................................................... 314
Atividade 5.3.................................................................................................................. 314
5.4  Novas tecnologias e novos desafios........................................................................ 319
Atividade 5.4.................................................................................................................. 319
5.5  Reflexão sobre a Unidade 5.................................................................................... 326
Leituras Recomendadas................................................................................................. 326
Referências..................................................................................................................... 328
Na próxima unidade....................................................................................................... 328
Unidade 6: Gerenciamento de dados, banco de dados e informações . ................. 329
Objetivos de sua aprendizagem..................................................................................... 329
Você se lembra?............................................................................................................. 329
6.1  Introdução............................................................................................................... 330
Atividade 6.1.................................................................................................................. 332
6.2  Bancos de dados e SGBDs...................................................................................... 335
6.3  Estrutura, organização e classificação de SGBDs.................................................. 342
Atividade 6.3.................................................................................................................. 349
6.4  Data Warehouse e Data Mining.............................................................................. 351
Atividade 6.4.................................................................................................................. 357
6.5  Reflexão sobre a Unidade 6.................................................................................... 362
Referências..................................................................................................................... 364
Na próxima unidade....................................................................................................... 365

ADM 1-2 2013-1.indb 9 11/04/2013 17:42:04


aç ão DOM Interativo
Prezado(a) acadêmico(a)
ent
Bem-vindo(a) à Faculdade Dom Bosco por
meio do Dom Interativo. Aqui você encontra as
mais diversas tecnologias educacionais a serviço de
res

sua formação.
A Faculdade Dom Bosco caracteriza-se por grupo do-
Ap

cente altamente qualificado e cursos presenciais reconhecidos


em seus segmentos pelas aprovações em concursos, na OAB e
pelos altos índices de empregabilidade de egressos. Toda experi-
ência acumulada agora está disponível na plataforma de educação a
distância, por meio do Dom Interativo.
O Grupo Dom Bosco possui mais de 50 anos de experiência em
educação e pertence ao Sistema Educacional Brasileiro (SEB), um dos
principais e mais sólidos grupos educacionais do país.
O curso ora oferecido foi elaborado conforme as Diretrizes Curri-
culares do MEC, de acordo com padrões de ensino superior da mais alta
qualidade, e embasado em pesquisa de mercado. Por meio da tecnologia
da informação e comunicação, apresentamos, neste ambiente, o trabalho
desenvolvido por professores de forma inovadora e sempre atualizada.
Integram o Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) o Material
Didático para Mediação Pedagógica, videoaulas, atividades e conteúdos
complementares. Neste ambiente, você também conta com a orientação de
tutores e professores a fim de esclarecer dúvidas e aprofundar conhe-
cimentos.
Procure dedicar-se ao curso que escolheu, aproveitando ao
máximo sua graduação. Leia, pesquise, acompanhe as aulas, re-
alize as atividades on-line. Dessa maneira, você se capacita de
maneira responsável, autônoma e, certamente, fará diferença
no mundo contemporâneo.
Sucesso!

ADM 1-2 2013-1.indb 11 11/04/2013 17:42:05


Ap
O Módulo 1.2 res
Caro(a) Aluno(a), e

nt
No Módulo 1.2 (denominado “Conhe-


cimento humano e tecnológico aplicado à admi-
nistração”), você aprenderá conceitos referentes às

ão
seguintes áreas do conhecimento:
• Microinformática;
• Psicologia aplicada à administração;
• Filosofia aplicada à administração.

Este material foi cuidadosamente preparado para auxiliá-lo


na apreensão e na compreensão desses novos conceitos. Tais co-
nhecimentos são fundamentais para a formação do administrador,
contribuindo diretamente para tornar o processo de planejamento mais
efetivo e o de tomada de decisão, mais preciso.
Entretanto, lembre-se de que a colheita de bons resultados tam-
bém depende de você! Para isso, leia o material antes das aulas, acom-
panhe assiduamente as aulas, faça os exercícios propostos, participe das
atividades do ambiente virtual de aprendizagem (AVA), tire suas dúvidas
com os professores e os tutores. Enfim, adote uma postura proativa no
processo de ensino-aprendizagem!

Sucesso!

ADM 1-2 2013-1.indb 12 11/04/2013 17:42:05


aç ão Filosofia aplicada à admi-
nistração
A filosofia é um produto cultural do ociden-
te que, desde a sua origem, no século VI a.C.,
ent
influencia o modo de pensar do homem ocidental.
Trata-se de um tipo de reflexão sobre a realidade que
busca rigor e radicalidade no modo de tratar os proble-
res

mas. Não tem um assunto específico, pois pode voltar-se


para qualquer tema ou assunto de interesse do homem.
Ap

Esperamos que você seja capaz de identificar as diversas fases


do pensamento ocidental, suas características distintivas e seus
principais autores, além de reconhecer os problemas filosóficos
que têm repercussão no âmbito da prática administrativa. Conhecen-
do ideias é que desenvolvemos as nossas próprias ideias, e o curso de
filosofia nada mais almeja senão isso: fomentar ideias.

ADM 1-2 2013-1.indb 13 11/04/2013 17:42:10


ADM 1-2 2013-1.indb 14 11/04/2013 17:42:12
O que é Filosofia?
Nesta unidade conheceremos de maneira

UU introdutória o que é filosofia, como e quan-


do ela surgiu e como se caracteriza o tipo de
UU
abordagem teórica própria da filosofia.

Objetivos da sua aprendizagem


UUU

Você deverá ser capaz de reconhecer a importância


da filosofia para a formação do pensamento ocidental e para a
UU

construção do senso crítico de cada ser humano em específico.

Você se lembra?
De algum filósofo importante da história e alguma de suas
ideias? O que você achou interessante no que ele disse?

ADM 1-2 2013-1.indb 15 11/04/2013 17:42:13


Filosofia aplicada à administração

1.1  Introdução à Filosofia


A filosofia é um produto cultural da humanida-
Conexão:
de, criado há mais de 27 séculos e que, desde então, Para uma introdu-
com maior ou menor influência, tem acompanha- ção ao estudo da filosofia,
visite o seguinte endereço: http://
do o desenvolvimento da civilização ocidental. portal.filosofia.pro.br/. Nesse endere-
Houve épocas em que a filosofia permaneceu ço você encontrará, de forma acessível
e resumida, uma discussão a respeito
esquecida ou apagada, quando, durante a Idade dos principais e mais tradicionais
Média, as autoridades religiosas consideravam problemas com os quais a filosofia
perigoso o seu estudo, já que ele poderia suposta- se envolveu ao longo de sua
história.
mente levar à perda da fé em Cristo.
Contudo, não é possível entender o nosso mun-
do ocidental sem a filosofia, pois foi o tipo de explicação do
mundo por ela inaugurado que construiu a nossa visão de mundo. A filosofia
contribuiu para a formação da religião cristã, especialmente com relação ao ca-
tolicismo; foi importante quando do surgimento da ciência, no século XVII; foi
responsável pela construção de ideias como as de corpo, alma, espírito, enfim,
muitos dos conceitos e das ideias que hoje usamos sem conhecer sua origem
tiveram para sua consolidação a influência e a contribuição da filosofia.
O estudo da filosofia, dentro de um curso de Administração, tem o objeti-
vo de apresentar a disciplina em caráter introdutório, explicitando seus períodos
históricos e suas principais características, assim como relacionando os concei-
tos da filosofia com os conceitos que também ajudam a pensar a prática admi-
nistrativa. Vale lembrar que a filosofia é uma disciplina essencialmente teórica,
o seu objetivo é desenvolver nossa capacidade de pensar e criticar, através do
estudo e do debate acerca de ideias. Como ela será, na prática, utilizada depende
da criatividade de cada um, pois não existe uma única receita de como “aplicar”
a filosofia. Seu estudo deve desenvolver em nós o senso crítico e nos tornar ca-
pazes de pensar a realidade de modo mais profundo e original.
Dito isso, façamos uma primeira caracterização do que é filosofia. Em
Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

geral, começamos a explicar a filosofia por meio da apresentação do signifi-


cado da palavra. A palavra filosofia tem origem grega, pois a filosofia, como
veremos, surgiu na Grécia Antiga: filo quer dizer amor, amizade ou atração;
sofia significa conhecimento ou sabedoria. Portanto, a filosofia consiste em um
amor ou amizade pelo saber ou conhecimento. Qual conhecimento? Qualquer
um. Em certo sentido, podemos dizer que qualquer pessoa que é “apaixonada”
por um tipo de estudo qualquer é filósofa, pois, inicialmente, filosofia significa
apenas atração pelo saber.
16

ADM 1-2 2013-1.indb 16 11/04/2013 17:42:18


O que é Filosofia? - Unidade 1

O que é Filosofia? - Unidade 1

O primeiro a utilizar a palavra foi o filósofo e matemático Pitágoras, e


com isso ele queria expressar o fato de que apenas os deuses são sábios, os
homens podem quando muito se aproximar da sabedoria, buscá-la ou sentir por
ela atração, mas nunca poderão ser, em sentido estrito, considerados “sábios”.
Com efeito, nunca saberemos tudo, pois sempre haverá algo de que ainda não
sabemos, e a capacidade humana de conhecimento é infinita.
Contudo, apesar de ser um “amor ao conhecimento”, a filosofia não se
confunde com a ciência. Em que filosofia e ciência são diferentes? Ora, antes
de tudo no fato de que as ciências possuem, cada qual, um objeto específico de
estudo. Isso significa que a física, por exemplo, estuda algo de específico e dis-
tinto da química, da biologia ou da psicologia. Cada ciência tem o seu ramo de
atuação e só fala a partir dele. Já a filosofia não tem objeto específico, ou seja,
podemos usar o tipo de reflexão da filosofia para pensar sobre qualquer assunto.
Podemos, pois, refletir filosoficamente sobre a vida, sobre o mundo, sobre a
ciência, sobre o conhecimento, sobre a sociedade ou, ainda, sobre o mundo dos
negócios e a prática administrativa. Portanto, a filosofia não tem propriamente
conteúdo, no sentido de que não tem um único assunto. Trata-se antes de um
modo de pensar, que pode ser “aplicado” em qualquer assunto.
Que características possui esse modo de pensar?
Por um lado, a filosofia evita qualquer tipo de dogmatismo. Um dogma
é uma verdade inquestionável, proferida por alguma autoridade e que todos
devem simplesmente aceitar. Não se pode duvidar ou pensar diferente do dog-
ma. A filosofia evita cair nesse tipo de atitude. Ela é sempre aberta a críticas e
a novas construções, sempre é possível pensar de modo diferente daquele que
alguém pensou e seguir um caminho distinto.
Por outro lado, a filosofia também não se fecha no ceticismo. O ceticismo
consiste em negar que seja possível alcançar a verdade e que devemos ficar ape-
EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

nas na dúvida. Ora, quando pensamos filosoficamente, apesar de não ser o nosso
desejo estabelecer uma verdade inquestionável e única, nem por isso negamos

Dogmatismo, do grego dogmatikós, significa o que se funda em


princípios ou o que é relativo a uma doutrina. O dogmatismo designa as
verdades inquestionáveis: o indivíduo, de posse de uma verdade, fixa-se
nela e abdica de continuar a busca por outras verdades. A palavra ceticismo
vem do grego sképsis, que significa investigação, procura. O cético tanto
procura que acaba concluindo pela impossibilidade do conhecimento.

17

ADM 1-2 2013-1.indb 17 11/04/2013 17:42:20


Filosofia aplicada à administração

que aquilo que falamos seja uma verdade, ainda que parcial. Filosofia é sempre
busca da verdade, ainda que uma busca interminável e jamais concluída.
Além de evitar tanto o dogmatismo quanto o ceticismo, a filosofia
caracteriza-se por ser um tipo de reflexão. O termo reflexão vem do verbo latino
reflectere, que significa “voltar atrás”. Filosofar, portanto, significa retomar, re-
considerar os dados disponíveis, revisar, examinar detidamente, prestar atenção
e analisar com cuidado.
Em contrapartida, não é qualquer tipo de reflexão. Não é correto dizer
que sempre quando refletimos sobre algo estamos filosofando. Para que isso
aconteça, precisamos seguir alguns caminhos. Quais são eles? Bom, a reflexão
filosófica deve ser:
a) Radical: dizer que a reflexão filosófica é radical significa afirmar que
é uma reflexão profunda, que vai até as raízes da questão ou problema,
até os seus fundamentos. Comumente, quando pensamos em algo, per-
manecemos na superficialidade do que todo mundo diz ou pensa. Pensar
filosoficamente é ir mais além, pensar de modo próprio e profundo.
b) Rigorosa: a reflexão filosófica é rigorosa porque segue regras e métodos
específicos. Para ser profunda, uma reflexão precisa ser realizada com
rigor, colocando de lado as conclusões da sabedoria popular ou os pre-
conceitos que trazemos conosco a respeito de determinado tema.
c) De conjunto: além do que já foi dito, a reflexão filosófica deve ser tam-
bém de conjunto, e isso significa que devemos pensar cada problema
relacionando todos os seus aspectos, isto é, pensando cada aspecto do
problema com relação aos demais, construindo uma visão do todo. Uma
reflexão filosófica não pode ser parcial, privilegiando um ponto de vista,
mas total ou global.
Todas as vezes, portanto, em que pensamos de modo radical, rigoroso e
de conjunto estamos filosofando. Você já se perguntou a respeito das relações
entre um indivíduo e o grupo social em que ele vive? Se é nossa vontade indi-
vidual ou a vontade coletiva que deve prevalecer? Já se perguntou quem somos
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nós? O que é razão? O que é virtude? O que é liberdade? Por que nascemos
e morremos? De onde viemos e para onde vamos? (Dentre outras perguntas,
é claro!) Tais dúvidas atravessaram os séculos e permanecem no decorrer do
desenvolvimento da humanidade, sem respostas conclusivas. Pensar sobre elas
filosoficamente é pensar, como dito, de maneira radical, rigorosa e de conjunto.
Muitos de vocês com certeza irão perguntar-se: mas para que estudar
filosofia? Qual é a sua utilidade? Bom, esse tema é complicado, pois a filosofia,
estritamente falando, não é, por assim dizer, útil. Como assim? Com ela não
18

ADM 1-2 2013-1.indb 18 11/04/2013 17:42:20


O que é Filosofia? - Unidade 1

aprenderemos como consertar uma Fi-


losofar significa
torneira quebrada, como orga- questionar-se: O que é? /
nizar as luzes de uma casa ou Como é? / Por que é?
como armazenar produtos Dirigindo-se ao mundo que nos cerca e
aos seres humanos que nele vivem e com ele
em uma prateleira. Isto é: a se relacionam.
filosofia não tem uma uti-
lidade imediata ou prática.
Isso significa que ela seja
completamente inútil?
Não. Com efeito, a
filosofia tem uma aplicação
indireta, no sentido de que seu
estudo desenvolve nossa capacidade de
pensar e nosso senso crítico, tornando-nos capazes de refletir sobre a realidade
de modo profundo, rigoroso e global. Certamente não podemos “ver” nosso
pensamento, e isso faz com que frequentemente pensemos que a filosofia nada
fez conosco. Mas ela está lá, quando conversamos com alguém sobre algum
assunto e conseguimos expor nossos argumentos de forma consistente e lógica;
quando conseguimos resolver um problema, percebendo sua relação com ou-
tros problemas; quando conseguimos relativizar nossas opiniões e aprendemos
a ouvir o outro e entender seu ponto de vista. Portanto, a questão não é o que
podemos fazer com a filosofia, mas sim: o que ela pode fazer conosco? E ela
pode transformar nosso pensamento e nos tornar pessoas mais críticas.
O administrador de empresas e professor de filosofia João Mattar apre-
senta testemunhos de administradores que se aproveitaram do estudo da filoso-
fia. Vejamos o que diz um deles, Marshall E. Dimock:

Vários homens de negócios já diziam, na década de 1930, que os


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executivos de alto nível são pagos para ser filósofos, e que esses
homens procuram descobrir a razão por que as instituições sobrevi-
vem e prosperam ou definham e declinam. Esses mesmos homens
já me disseram inúmeras vezes, durante meus estudos, que o filóso-
fo da instituição é o homem mais prático e também o mais necessá-
rio da organização.

MATTAR, João. Filosofia e ética na Administração. São


Paulo: Saraiva, 2004, p. 19.

19

ADM 1-2 2013-1.indb 19 11/04/2013 17:42:21


Filosofia aplicada à administração

Ora, nesse testemunho ficamos sabendo que um bom executivo


deve ser, sob certo aspecto, um filósofo. Em que sentido? Ele deve ser
não apenas um homem de ação, mas também capaz de pensamento e
reflexão, pois deve ser capaz de pensar o funcionamento das institui-
ções, os mecanismos que as fazem prosperar ou declinar. A ação sem
pensamento é instintiva e perigosa; o pensamento sem ação é cego.
Por isso é preciso ser um pouco filósofo, mesmo quanto ao trabalho de
um executivo.
João Mattar oferece, ainda, outro testemunho, dessa vez do bra-
sileiro Roberto de Mello:
O estudo da filosofia me tem alegrado, formado e desenvolvido,
me tem ensinado literalmente a pensar melhor e, portanto, a en-
xergar mais claramente meu mundo de Administrador profissio-
nal, a tomar decisões mais adequadas, a ter mais equilíbrio, a ser
mais criativo, a julgar com mais sabedoria”.
Dessa vez ficamos sabendo, ainda, que o estudo da filosofia pode
ser, além do mais, prazeroso. Além disso, completando o testemunho
anterior, pode fazer-nos pensar melhor, enxergar as coisas com mais
claridade e por consequência tomar melhores decisões, com mais cria-
tividade e sabedoria.
É nessa direção, pois, que está a “utilidade” da filosofia. Se
pensar com mais rigor for útil, se abandonar os preconceitos do senso
comum for útil, se desenvolver nossa criatividade e nossa originali-
dade for útil, se aprender a ver os diversos aspectos de um problema
e entender todos os pontos de vista de uma questão for útil, então a
filosofia se mostra da máxima utilidade, seja em que profissão for, es-
pecialmente no que diz respeito ao administrador, que deve ser alguém
dinâmico e capaz de lidar com uma variedade de problemas e dificul-
dades em seu cotidiano.
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1.2  A passagem do mito à filosofia


Antes de iniciarmos nosso estudo, é necessário analisar-
mos a origem da filosofia. Sabemos que a filosofia surgiu na

Idem, p. 16.

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O que é Filosofia? - Unidade 1

Grécia , mas poucos conseguem dissertar a respei-


to dessa origem e o que exatamente contribuiu Conexão:
Para um estudo mais
para a transformação mais significativa da his- profundo acerca dos mitos
tória do pensamento ocidental. A filosofia nas- gregos, assim como acerca da
distinção entre deuses, ninfas, titãs
ceu na Grécia por volta dos séculos VI e VII e outras figuras mitológicas, visite
a.C., promovendo a passagem do pensamento o site http://www.suapesquisa.
com/mitologiagrega/
mítico ao pensamento racional. Essa passagem,
todavia, ocorreu por meio de longo processo his-
tórico, sem um rompimento brusco com as formas
de conhecimento anteriores. Os primeiro filósofos gre-
gos compartilharam de crenças míticas, enquanto desenvolviam o conhe-
cimento racional que, posteriormente, caracterizaria a filosofia.
Tudo isso ocorreu porque o povo grego cultuava uma série de deu-
ses, semideuses e heróis, contribuindo para o fortalecimento de uma rica
mitologia, isto é, um conjunto de lendas e crenças que forneciam expli-
cações para a realidade. A passagem da mitologia para o logos (uso da
razão) ocorreu quando se tornou necessário o uso da razão para a solução
dos problemas apresentados pela pólis, cidades-Estado. A pólis foi uma
forma de organização social e política desenvolvida entre os séculos VIII
e VI a.C. Durante o governo democrático, tornou-se necessário o desen-
volvimento das habilidades de argumentação, pois os assuntos da cidade
eram decididos em conjunto, e quem sabia falar melhor sempre conseguia
impor suas ideias sobre os outros.
A prática constante da discussão política pelos cidadãos fez com que
o raciocínio bem formulado e convincente se tornasse o modo adotado
para se pensar sobre todas as coisas, não só as questões políticas. Assim,
há uma estreita ligação entre o desenvolvimento das cidades-Estado e o
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pensamento racional. Alguns pensadores chegam mesmo a afirmar que a


filosofia é filha da cidade.
Voltemos-nos, porém, mais pormenorizadamente à distinção entre
mito e filosofia, para entender melhor como se deu a passagem de um
para a outra.

Quando falamos em Grécia, não podemos imaginar um país


unificado, mas sim um conjunto de cidades-Estado, pólis, indepen-
dentes umas das outras, tendo em comum apenas a língua e a religião
politeísta.

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ADM 1-2 2013-1.indb 21 11/04/2013 17:42:22


Filosofia aplicada à administração

Em primeiro lugar, vamos definir melhor o que é um mito. Um


mito não é uma história simplesmente inventada ou ficção; trata-se de um
modo sobrenatural de explicar a realidade, que usa nessa explicação figu-
ras de deuses ou seres imortais, que seriam as causas de tudo o que acon-
tece no mundo. Não é uma mentira criada para enganar o povo: as pessoas
realmente acreditavam no que os mitos diziam.
Entretanto, para tornar isso ainda mais claro, conheçamos um mito
grego, para entender melhor como os gregos, antes da filosofia, explica-
vam a realidade.

Mito de Narciso
O mito de Narciso conta a história de um rapaz extremamente boni-
to e que era admirado por todas as moças de sua região. Todas eram perdi-
damente apaixonadas por ele, mas Narciso, devido a sua enorme vaidade,
sempre desprezava a todas. Uma dessas moças era a ninfa Eco, e era
muito apaixonada por Narciso. Contudo, tinha vergonha de dizer isso a
ele. Além do mais, Eco tinha um grave defeito: ela falava demais. Sempre
em qualquer conversa Eco tomava a palavra e já não parava de falar. Seu
maior e mais importante defeito, portanto, era a tagarelice.
Certo dia Zeus, o mais im-
http://pt.wikipedia.org/wiki/Narciso

portante dos deuses gregos, estava


traindo sua esposa Hera com algumas
amigas de Eco. Hera, porém, descon-
fiou da traição e resolveu averiguar
o que estava fazendo o seu marido.
Contudo, Eco começou a conversar
com Hera para distraí-la e impedir
que ela pegasse o marido em flagran-
te. Como consequência, as amigas de
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Eco fugiram e Zeus não foi apanhado


em traição.

NINFA: na mitologia grega, ninfas são espíritos femininos


que habitam lagos, riachos, rios ou bosques. Em geral personificam
a graça criativa e a fecundidade da natureza.

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O que é Filosofia? - Unidade 1

Contudo, Hera descobriu o Os


deuses gregos
truque de Eco e resolveu puni- eram em tudo semelhantes
la: uma vez que Eco gostava aos seres humanos: sentiam inveja,
muito de falar, ela seria cas- ciúme, traíam, mentiam e tinham até
mesmo desejo sexual. O que diferenciava
tigada com o silêncio: não
os deuses dos seres humanos era o fato de
falaria mais nada, a não ser possuírem poderes especiais e, sobretudo, o fato
repetir as últimas palavras de serem imortais.
que as pessoas dissessem.
Um dia Narciso an-
dava por um bosque e Eco,
escondida, o viu. Como era
muito apaixonada por ele, queria
lhe falar, mas não podia, devido ao cas-
tigo que recebera de Hera. Então fez um barulho na mata a fim de chamar a sua
atenção. Ouvindo o barulho, Narciso perguntou:
– Quem está aí?
– Quem está aí?, respondeu Eco.
Narciso, ao ouvir aquela voz, ficou muito encantando, pois a voz era mui-
to bonita. Perguntou, então:
– O que você está fazendo aí?
– O que você está fazendo aí?, respondeu Eco.
– Ora, venha até aqui!
– Venha até aqui!, respondeu Eco.
A voz que Narciso ouvia era tão bela que ele pensou que quem a possuía
só podia ser alguém de uma beleza extraordinária. Então, falou:
– Saia daí, quero namorar você.
– Namorar você, respondeu Eco e saiu de onde estava escondida.
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Porém, ao vê-la, Narciso decepcionou-se e não quis ter nada com ela.
Pelo contrário, desprezou-a e a mandou embora. Eco ficou muito triste, de tal
forma que perdeu até mesmo o apetite. Como consequência, começou a enfra-
quecer e por fim transformou-se em rocha. É ela que ouvimos quando, dentro
de uma caverna, por exemplo, gritamos algo e recebemos de volta a nossa voz.
Contudo, os deuses sentiram piedade de Eco e resolveram castigar Nar-
ciso. Enviaram-lhe então uma forte sede, e ele, desesperado, procurou imedia-
tamente um lago para beber um pouco de água. Quando se aproximou do lago,
porém, viu sua própria imagem refletida na água e, sem perceber que era ele
próprio, começou a conversar com a imagem:
– Quem é você?
23

ADM 1-2 2013-1.indb 23 11/04/2013 17:42:32


Filosofia aplicada à administração

Mas a imagem nada respondia. Narciso tentou até tocar a imagem,


mas, assim que o fazia, ela se afastava. Então, desesperado de amor, ele
pulou na água a fim de abraçar a imagem, pois sentia-
-se incontrolavelmente apaixonado por ela. O problema é que ele
não sabia nadar e, portanto, morreu afogado.

Para Pensar
Os gregos usavam mitos como o de Narciso para educar os jo-
vens ou mesmo, em alguns casos, para explicar fenômenos da natureza. O
que o mito de Narciso, que conhecemos, poderia ensinar a um jovem?

Filosofia
A filosofia surge, portanto, como uma forma de romper com o tipo de
explicação da realidade que caracteriza o mito. Se o mito antes explicava a
realidade por meio do sobrenatural ou divino, e afirmava a presença ou inter-
ferência dos deuses na vida humana, a filosofia tentará explicar a realidade
apenas a partir da razão ou inteligência e usando para tanto apenas o mundo,
ou seja, sem o recurso a seres ou coisas sobrenaturais.
Isso, como dizemos, aconteceu na Grécia Antiga, mais especificamente
por volta do século VI a.C. Porém, não foi propriamente na Grécia que a filo-
sofia surgiu, mas em colônias gregas, que ficavam na costa ocidental da Ásia
e no que é hoje o sul da Itália. O mapa a seguir ajuda a visualizar essa região e
aponta as localidades em que viveram alguns dos filósofos antigos.

Abdera | Demócrito |
Roma
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Estagira
Tróia JÔNIA
Eléia
| Xenófanes, Clazómenas | Anaxágoras |
IA

GRÉCIA
ÉC

Parmênides, Atenas Éfeso | Heráclito |


GR

Zenão | Crotona | Sócrates |


Micenas Mileto | Tales, Anaximandro,
| Pitágoras |
Anaxímenes |
A

Esparta
GN

Agrigento
MA

| Empédocles |

Mar Mediterrâneo

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ADM 1-2 2013-1.indb 24 11/04/2013 17:42:54


O que é Filosofia? - Unidade 1

A costa ocidental da Ásia era conhecida à época como Jônia, e foi


nessa região, numa cidade chamada Mileto, que nasceu aquele que é con-
siderado o primeiro filósofo, Tales. Onde hoje é o sul da Itália era uma
região conhecida como Magna Grécia, e nela floresceu Pitágoras, um
dos mais influentes pensadores gregos. Apenas cerca de um século após
a criação da filosofia ela foi para a cidade grega de Atenas, onde flores-
ceram Sócrates, filósofo que divide a filosofia grega em antes e depois
dele, além de Platão e depois Aristóteles, que não era ateniense, mas viveu
grande parte de sua vida em Atenas.
Entretanto, o desenvolvimento da filosofia grega, suas diversas eta-
pas e características conheceremos mais adiante.

O que é Filosofia?
O homem, diz-se, é naturalmente filósofo, “amigo da sabe-
doria”. E é verdade. Ávido de saber, não se contenta em viver o mo-
mento presente e aceitar passivamente as informações fornecidas pela
experiência imediata, como fazem os animais. Seu olhar interrogativo
quer conhecer o porquê das coisas, sobretudo o porquê da própria vida.
Mas, enquanto o homem comum, o homem da rua, formula estas
interrogações e enfrenta estes problemas de maneira descontínua, sem
método e sem ordem, pessoas há que dedicam a essas pesquisas todo o
seu tempo e todas as suas energias e propõem-se a obter uma solução
concludente para todos os ingentes problemas que espicaçam a mente
humana, por meio de uma análise aprofundada e sistemática. São estas
as pessoas que costumamos chamar “filósofos”.
Mas, então, o que é exatamente a filosofia?
É um conhecimento, uma forma de saber e, como tal, tem sua esfera
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particular de competência; sobre esta esfera busca adquirir informações


válidas, precisas e ordenadas. Mas, enquanto é fácil dizer qual é a esfera de
competência das várias ciências experimentais, não é igualmente cômodo
delimitar o campo de pesquisa próprio da filosofia. É sabido, por exemplo,
que a botânica estuda as plantas, a geografia os lugares, a história os fatos, a
medicina, as doenças etc. Mas a filosofia, que estuda ela? No entender dos
filósofos, ela estuda tudo. Aristóteles, o primeiro a pesquisar rigorosamente
e sistematicamente a natureza desta disciplina, diz que a filosofia estuda “as
causas últimas de todas as coisas”. Cícero define a filosofia como sendo “o

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ADM 1-2 2013-1.indb 25 11/04/2013 17:42:54


Filosofia aplicada à administração

“o estudo das causas humanas e divinas das coisas”. Descartes


afirma que a filosofia “ensina a bem raciocinar”. Hegel concebe a filo-
sofia como “saber absoluto”. Whitechead julga que seja tarefa da filosofia
“fornecer uma explicação orgânica do universo”. Poderíamos citar muitos
outros filósofos, que definem a filosofia quer como estudo do valor do
conhecimento, quer como pesquisa sobre o fim último do homem, quer
como estudo da linguagem, do ser, da história, da arte, da cultura, da po-
lítica etc. Com efeito, coerentes como estas definições discrepantes, os fi-
lósofos estudaram todas as coisas. Devemos, pois, concluir que a filosofia
estuda tudo? Sem dúvida. Isto por duas razões.
Em primeiro lugar, porque todas as coisas, além de poderem ser
examinadas em nível científico, podem sê-lo também em nível filosófico.
Assim, os homens, os animais, as plantas, a matéria, já estudados
por muitas ciências e sob diferentes pontos de vista, são suscetíveis
também de uma pesquisa filosófica. Com efeito, os cientistas se inter-
rogam sobre a constituição da matéria, perguntam-se o que é a vida,
como estão estruturados os animais e o homem, mas não chegam a
enfrentar certos problemas também referentes ao homem, aos animais,
às plantas, à matéria: por exemplo, o que seja o existir. Especialmente
com relação ao homem, do qual as ciências estudam múltiplos aspec-
tos, são muitos os problemas que nenhuma delas enfrenta (enquanto os
supõe já resolvidos), como o valor da vida e do conhecimento humano,
a liberdade, a natureza do mal, a origem e o valor da lei moral. Somen-
te a filosofia se ocupa destes problemas.
Em segundo lugar, porque, enquanto as ciências estudam esta ou
aquela dimensão da realidade, a filosofia tem por objeto o todo, a tota-
lidade, o universo tomado globalmente.
Eis, pois, a primeira característica que distingue a filosofia de
qualquer outra forma de saber: ela estuda toda a realidade ou, de algum
modo, procura apresentar uma explicação completa e exaustiva de um
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domínio particular da realidade.


Mas há também outras três qualidades que contribuem para dar
ao saber filosófico um caráter próprio e específico: o instrumento de
pesquisa, o método e o escopo.
O instrumento de trabalho, de pesquisa, de análise de que a filo-
sofia se utiliza é a razão, a razão pura, o “raciocínio puro”, como diz
Platão. Ela não dispõe de microscópios, telescópios, máquinas fo-

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ADM 1-2 2013-1.indb 26 11/04/2013 17:42:55


O que é Filosofia? - Unidade 1

ficas etc. Não pode estabelecer controles com instrumentos


materiais nem apressar suas operações recorrendo a computadores.
Mesmo os instrumentos cognitivos de que utiliza todo homem e todo
cientista, os sentidos e a imaginação, ao filósofo só servem na fase ini-
cial, para conseguir alguns conhecimentos do real, para o qual depois
volta o olhar penetrante da razão. O trabalho verdadeiro e próprio de
pesquisa filosófica é realizado apenas pela razão; esta, para subtrair-se
a todo tipo de distração, encerra-se em seu sagrado recinto, longe do
barulho das máquinas, da sedução dos prazeres e da práxis, da confu-
são dos sentidos, em solitária companhia com o próprio objeto.
O método da filosofia é essencialmente raciocinativo, embora
não exclua algum momento intuitivo (quer na fase inicial, quer na
final). Mas os processos raciocinativos são múltiplos, e os mais impor-
tantes dentre eles são a indução e a dedução. A filosofia utiliza ambos:
o primeiro, para ascender dos fatos aos princípios primeiros; o segun-
do, para descer de novo dos primeiros princípios e iluminar posterior-
mente os fatos, para compreendê-los melhor.
Além da natureza e do método, a filosofia se distingue das ciên-
cias também no fim (escopo). A filosofia não está voltada para fins prá-
ticos e interesseiros, como a ciência, a arte, a religião e a técnica; estas,
de um modo e de outro, sempre têm em vista alguma satisfação ou al-
guma vantagem. A filosofia tem como único objetivo o conhecimento;
tem em vista simplesmente pesquisar em si mesma, prescindindo-se
eventuais utilizações práticas. A filosofia tem um objetivo puramente
teórico, ou seja, contemplativo; não pesquisa por nenhuma vantagem
que lhe seja estranha, mas por ela mesma; por isso, como disse egre-
giamente Aristóteles na Metafísica, ela é “livre” enquanto não está
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sujeita a nenhuma utilização de ordem prática e, portanto, realiza-se e


se resume na pura contemplação do verdadeiro.
Já dissemos anteriormente que todas as coisas são suscetíveis de
pesquisa filosófica. Por isso, pode haver uma filosofia do homem, dos
animais, do mundo, da vida, da matéria, dos deuses, da sociedade, da
política, da religião, da arte, da ciência, da linguagem, do esporte, do
riso, do jogo etc. Mas, na realidade, os que se chamam filósofos estu-
dam de preferência apenas alguns problemas, os que são conhecidos
com o nome de lógica, epistemologia, metafísica, cosmologia, éti-
ca, teodiceia, psicologia, política, estética, antropologia cultural

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ADM 1-2 2013-1.indb 27 11/04/2013 17:42:55


Filosofia aplicada à administração

e axiologia; por isto estas constituem também as partes


principais da filosofia. A lógica se ocupa do problema da exatidão
dos raciocínios; a epistemologia, do valor do conhecimento; a meta-
física, do fundamento último das coisas em geral; a cosmologia, da
constituição essencial das coisas materiais, da sua origem e de seu de-
vir; a psicologia, da natureza humana e de suas faculdades; a teodiceia,
do problema religioso, ou seja, da existência e da natureza de Deus e
das relações que os homens têm com ele; a ética, da origem e da na-
tureza da lei moral, da virtude e da felicidade; a política, da origem e
da estrutura do Estado; a estética, do problema do belo e da natureza e
função da arte; a antropologia cultural, do problema da cultura; a axio-
logia do problema dos valores.
Quem quer tornar-se especialista nas disciplinas filosóficas deve,
logicamente, estudar, profunda e sistematicamente, todos os problemas
mencionados, sob cada um dos quais, através dos séculos, acumulou-
se uma bibliografia imensa.
MONDIN, Battista. Introdução à Filosofia: problemas, sistemas,
autores e obras. 16. ed. São Paulo: Paulus, 2006, pp. 5- 8

Atividades
01. O que quer dizer o termo philosophia? A quem se atribui a invenção
dessa palavra?

02. Quais são as características da reflexão filosófica?


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03. Explique as diferenças entre o mito e a filosofia quanto à explicação


da realidade.

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O que é Filosofia? - Unidade 1

04. De acordo com o que vimos, qual seria a utilidade do estudo de filosofia?

05. Quais são os tipos de conhecimento possíveis e como se caracterizam?

Reflexão
A filosofia é uma disciplina essencialmente teórica, cujo estudo tem
a finalidade de desenvolver e aperfeiçoar nosso pensamento. Em qualquer
profissão, sobretudo aquelas que lidam diretamente com pessoas, é de
extrema importância a capacidade de diálogo e debate, de saber ouvir e
entender os diversos pontos de vista, ainda que contrários àqueles que se
tem. O estudo da filosofia tem, portanto, a importante função de alargar
nosso senso crítico e nos tornar capazes de ouvir e escutar o outro, expon-
do nossas ideias com rigor e coerência. Embora, no que diz respeito ao
administrador de empresas, não seja necessário o conhecimento específi-
co da obra de cada filósofo, o conhecimento do modo como os filósofos
pensaram é importante por desenvolver em nós, através desse estudo, o
nosso próprio pensamento.

Leitura Recomendadas
MATTAR, João. Filosofia e ética na Administração. São Paulo: Sa-
raiva, 2004.
EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

Este texto apresenta algumas relações interessantes que podem ser


feitas entre a filosofia e a Administração, especialmente nos capítulos
5 e 6, além de apresentar, de forma breve e geral, todos os períodos da
história da filosofia e suas principais características.

ARRUDA, Maria Lúcia de. Filosofando: introdução à filosofia. São


Paulo: Moderna, 1987.

Este texto apresenta conceitos introdutórios de filosofia, apontando as


principais questões do pensamento filosófico ao longo dos tempos.
29

ADM 1-2 2013-1.indb 29 11/04/2013 17:42:55


Filosofia aplicada à administração

Referências
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. 4. ed. São Paulo:
Martins Fontes, São Paulo, 2003.

ARANHA, Maria Lucia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires.


Filosofando. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2003

BACHELARD, Gaston. Epistemologia. Rio de Janeiro: Zahar, 1977 a.

_______. A formação do espírito científico: a contribuição para uma


psicanálise do conhecimento. Rio de Janeiro: Zahar, 1996.

CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 1998.

FERREIRA, Delson. Manual de Sociologia. São Paulo: Atlas, 2001.

Na próxima unidade
Nesta unidade conhecemos, de maneira introdutória, o que é a filo-
sofia. Trata-se, como vimos, de um tipo de reflexão ou pensamento sobre
a realidade, ainda que não tenha assunto ou objeto específico, como as
demais ciências. Vimos, ainda, em que sentido ela pode ser útil, ou seja,
por ajudar na formação de nosso pensamento crítico. Além disso, ficamos
sabendo que a filosofia surgiu como forma de romper com a explicação
mítica do mundo, típica dos gregos antes da criação da filosofia. Na pró-
xima unidade, depois dessas considerações introdutórias, conheceremos
com mais detalhes a filosofia grega, os períodos em que se divide e quem
foi e o que pensaram seus principais autores.
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ADM 1-2 2013-1.indb 30 11/04/2013 17:42:56


Filosofia Grega

2
Nesta unidade conheceremos os períodos em
que se divide a filosofia grega, as suas principais
de
características e seus autores mais importantes.
ida

Objetivos da sua aprendizagem


Que você reconheça as diferentes etapas de desenvolvi-
mento do pensamento antigo e seus principais problemas.
Un

Você se lembra?
De algum livro ou filme que mencione Sócrates, Platão ou Aris-
tóteles? Com efeito, eles são os filósofos antigos mais importantes.

ADM 1-2 2013-1.indb 31 11/04/2013 17:42:56


Filosofia aplicada à administração

2.1  Introdução ao pensamento grego


No capítulo anterior, ficamos sabendo como foi construída a
filosofia e que essa se estruturou primeiramente na Grécia, berço da
civilização ocidental, influenciada diretamente pela necessidade de
responder aos questionamentos colocados pela política, pela pólis.
Agora estudaremos quais foram os pensadores que lançaram
as bases da filosofia, quais as suas semelhanças e divergências. Ini-
ciaremos pelos filósofos que foram denominados de pré--socráticos,
para depois conhecer o pensamento de Sócrates, Platão e Aristóteles,
os filósofos gregos mais importantes e influentes da história do pen-
samento.

2.2  Pré-socráticos ou filósofos da natureza


Os primeiros filósofos, chamados de pré-socráticos, tinham
como objetivo explicar de que todas as coisas são feitas, ou seja,
qual é o elemento ou quais são os elementos que constituem todas as
coisas. Trata-se de uma preocupação física, daí serem considerados
como físicos ou filósofos da natureza. Para entender a diferença en-
tre o modo de pensar desses filósofos e o modo como os gregos até
então explicavam o mundo, cumpre fazer uma distinção entre teogo-
nia, cosmogonia e cosmologia.
Ora, a palavra gónos, em grego, significa “relação sexual”. Já
o termo teo, presente em teogonia, significa “deus”. Teogonia signi-
fica, portanto, um tipo de explicação da realidade que entende que
todas as coisas são o resultado de relações sexuais entre os deuses.
Com efeito, os gregos imaginavam que os deuses mantinham rela-
ções sexuais entre si e dessas relações teriam surgido a água, o ar, a
terra, enfim, tudo o que existe.
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Com o desenvolvimento da cultura grega, eles passaram a ex-


plicar o mundo não mais a partir da relação entre os deuses, mas ago-
ra pela cosmogonia. O termo cosmo significa “mundo” ou “univer-
so”. Cosmogonia é um tipo de interpretação da realidade que entende
que o mundo é resultado ainda de relações sexuais, mas agora não
mais entre deuses, e sim entre entidades opostas do universo, como o

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Filosofia Grega - Unidade 2

Filosofia Grega - Unidade 2

amor e o ódio, a guerra e a paz e assim por diante. Ou seja, os gregos


passaram a dizer que as coisas no mundo são o resultado da “relação
sexual”, por assim dizer, entre entidades opostas.
Por fim, os gregos, no auge do desenvolvimento de seu pensa-
mento, passaram a explicar o mundo a partir da cosmologia. O termo
logos significa estudo ou razão. Portanto, os gregos passaram a ex-
plicar a realidade não mais a partir de relações sexuais, mas usando
dessa vez a razão ou inteligência humana, e não procurando mais
a origem do mundo no sobrenatural ou nos deuses, mas no próprio
mundo.
Ora, essa passagem da explicação do mundo através de rela-
ções sexuais e de deuses para uma explicação no mundo centrada na
razão humana marca a passagem do mito para a filosofia. Trata-se,
em outras palavras, do surgimento da filosofia. Assim, os primeiros
filósofos tentaram descobrir, com base na razão, e não na mitologia,
a substância primordial existente em todos os seres. Pretendiam, na
verdade, encontrar a “matéria-prima” de que seriam feitas todas as
coisas, inclusive o homem.
Contudo, os pré-socráticos não chegaram a um acordo acerca
de qual seria o elemento ou quais seriam os elementos de que todas
as coisas são feitas. Pelo contrário, tinham cada um ideias diferentes,
todas elas, contudo, centradas na razão, e não mais na religião.

2.3  A filosofia grega clássica


Como visto, o período denominado pré-socrático foi dominado
pela investigação da natureza. Essa investigação tinha, enfim, um
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sentido cosmológico. A esse período segue-se uma nova fase filo-


sófica caracterizada pelo interesse no próprio homem e nas relações
políticas do homem com a sociedade.
A consolidação do que denominamos período socrático da filo-
sofia grega foi possível porque, entre os séculos V e IV a.C., a Grécia
Antiga experimentou grande desenvolvimento cultural e científico.
Atenas dispunha de um sistema político democrático introduzido por
Péricles, o que facilitou a elaboração de uma maneira de pensar não
mais centrada na natureza.

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Filosofia aplicada à administração

2.3.1  Sócrates (469-399 a.C)


“Só sei que nada sei.”

Só sei que
nada sei!

Sócrates foi o pensador que se tornou referência no pensamento


antigo, a ponto de ser considerado um divisor de águas do pensamen-
to antigo. Porém, como o demonstra a charge acima, tinha também
muitos inimigos entre os seus concidadãos.
Sócrates, que nasceu na cidade de Atenas no século V a.C., tinha
como objetivo determinar a essência da humanidade, respondendo à
questão sobre o que é o homem. Para Sócrates, a essência do homem
é a sua psyché, a sua alma, entendendo por alma a consciência, a
personalidade intelectual e moral do homem. O corpo é receptáculo
da alma, e cuidar da alma é a suprema obrigação moral do ho-
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mem.
Sócrates foi muito popular entre os jovens, ensinando-lhes di-
versas coisas. Contudo, foi acusado de ensinar doutrinas perigosas e
de perverter a juventude, além de desrespeitar os deuses da cidade de
Atenas e introduzir outras divindades. Como consequência, foi julga-
do e, por fim, condenado à morte em 399 a.C., tendo sido obrigado a
beber um veneno chamado cicuta.

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Filosofia Grega - Unidade 2

http://ntechapeco.pbworks.com/f/socrates.jpg
Sobre o julgamento de Sócrates, seu discípulo Platão escreveu um
texto, apresentando os argumentos que ele utilizara para se defender. Sócra-
tes negava que suas doutrinas fossem perigosas e negava também ter sido
impiedoso com os deuses da cidade. Porém, ainda assim ele foi condenado.
Era costume, no entanto, que os juízes substituíssem a pena de morte por
outra menor, a pedido da defesa. Sócrates sugeriu que sua pena fosse subs-
tituída pelo pagamento de uma quantia, mas a quantia que ele ofereceu foi
tão pequena que ofendeu os juízes, que ainda mais convictamente o conde-
naram à morte.
Na sua defesa, Sócrates argumentou que não era um homem sábio e
que suas ideias não pervertiam ninguém, além de serem altamente conhe-
cidas. Entretanto, todos o consideravam sábio. Qual a razão disso?
Conta-se que certa vez Sócrates foi consultar o oráculo de Delfos
para saber se era sábio. O oráculo do deus afirmou que Sócrates era o ho-
EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

mem mais sábio do mundo. Sem compreender o oráculo, mas sem duvidar
da palavra de um deus, Sócrates foi atrás de pessoas consideradas sábias
para entender por que o oráculo o considerava o mais sábio. Consultou
políticos, poetas e artesãos, mas decepcionou-se com todos. Questionava-
os a respeito daquilo que afirmavam saber, e eles sempre se perdiam.
Como consequência, Sócrates atraiu muitos inimigos para si. Contudo,
depois de tantas investigações, concluiu: se ele era sábio, como tinha dito
o oráculo, não era porque sabia algo, mas porque aquelas pessoas que se
diziam sábias, na verdade, nada sabiam, mas escondiam sua ignorância.
Se Sócrates devesse ser considerado sábio era porque ele, que nada sabia,
não dizia saber, ou seja, não escondia sua ignorância. Portanto, ele era
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Filosofia aplicada à administração

sábio porque sabia que nada sabia, enquanto que as pessoas que se diziam
sábias nada sabiam, mas fingiam saber. Sócrates era sábio porque não fin-
gia saber, sabia que de nada sabia: “só sei que nada sei.”
Vê-se, pois, que Sócrates era um homem muito convicto de suas
opiniões, a ponto de não temer a própria morte. Além disso, ele dizia
ouvir vozes durante sua vida e era sujeito a transes catalépticos. Conta-se
que, em uma manhã, ele se pôs a meditar sobre um assunto que não con-
seguia resolver. Continuou a pensar no tema até o meio-dia, chegando até
a cidade a notícia de que ele estava ali desde a alvorada. Algumas pessoas
até, após o jantar, trouxeram camas para assistir ao espetáculo, curiosos
para saber se Sócrates permaneceria assim durante toda a noite. E, com
efeito, Sócrates não mudou de posição durante toda a madrugada e, na
alvorada do dia seguinte, fez uma oração ao sol e retirou-se.
Do ponto de vista de sua pessoa, Sócrates era um homem extrema-
mente feio, com nariz chato e uma barriga proeminente. Usava sempre
roupas velhas e andava descalço por toda a parte, mesmo na neve. Conta-
se que suportava como ninguém o frio e a fome, frequentes em tempos
de guerra. Dominava, enfim, todas as paixões do corpo. Raramente bebia
vinho, mas, quando bebia, fazia-o como ninguém, embora jamais tenha
sido visto embriagado.
Por fim, Sócrates tinha o hábito inoportuno de fazer perguntas a
quem quer que seja, e isso, claro, provocava a ira dos charlatães, que eram
por ele desmascarados. Mas ele acreditava que, através de suas perguntas,
conseguia retirar o conhecimento de dentro das pessoas. Por isso se consi-
derava uma espécie de parteiro, pois ajudava a dar à luz novas ideias nas
pessoas, fazendo-as pensar de modo diferente e mais profundo.

2.3.2  Platão (427-347 a.c)


Entre as ideias de Platão, suas teses políticas estão entre as mais conhe-
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cidas e comentadas. Em seu diálogo A República, descreve o que entende ser


uma cidade ideal. Conheçamos, agora, o que Platão pensou a respeito.
A cidade ideal de Platão deveria possuir três classes: a gente comum, os sol-
dados e os guardiões. Apenas estes últimos deteriam o poder político e apenas para
eles deveria ser dedicada a educação, com o objetivo de torná-los homens corajosos
e gentis. Entre os guardiões deveria, pois, ser escolhido o governante, o qual deveria
ser filósofo. Essa ideia é conhecida como a teoria do filósofo-rei ou rei-filósofo e
afirma que o comandante de um povo deve ser o homem mais inteligente entre
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Filosofia Grega - Unidade 2

todos. Na classe dos guardiões, além


Os livros de Platão
disso, não deveria existir riqueza foram escritos em forma de diá-
nem pobreza, pois os guardiões logos, em que, em geral, o personagem
deviam viver em uma espécie central é Sócrates. Assim, para expor as suas
ideias, Platão imagina várias pessoas conver-
de comunismo, morando sando entre si e chegando juntas a uma conclusão
juntos em pequenos acam- qualquer.

pamentos, sem que nenhum


detenha propriedade privada
de algo. Esse comunismo
estende-se também à família:
os amigos devem ter em comum
as mulheres e os filhos.
Na verdade, Platão rejeitava o
casamento para a classe dos guardiões. Não deveria existir casamento, mas o
Estado escolheria casais para a procriação, selecionando os casais mais sau-
dáveis, para que fossem garantidos filhos também saudáveis. Os casais sele-
cionados para se procriar não deveriam amar-se, mas cumprir um dever para
com o Estado. Por sua vez, os filhos deveriam ser retirados dos pais assim que
nascessem, e o Estado teria o maior cuidado em evitar que os filhos soubessem
quem são seus pais, ou que os pais soubessem quem são seus filhos. O objetivo
era fazer com que as crianças tratassem todos os adultos como se fossem seus
pais, e os adultos tratassem todas as crianças como se fossem seus filhos, evi-
tando apego a pessoas específicas.
Seria prerrogativa do Estado a mentira. Com efeito, o governo deve-
ria mentir para os cidadãos para melhor mantê-los sob controle. Entre es-
sas mentiras, deveria contar para os governados que deus fez três espécies
de pessoas: umas de ouro, outras de prata e por fim as demais de bronze
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ou cobre. As que foram feitas de ouro serviam para guardiões, aquelas que
foram feitas de prata serviam para soldados e aquelas que foram feitas de
bronze ou cobre serviam para o trabalho.
Apesar de dividir as pessoas em classes, Platão afirmava que, na
cidade ideal, todos teriam as mesmas oportunidades, apenas seriam desig-
nados para classes diferentes. Os filósofos-reis não teriam nenhum privi-
légio, tendo só os bens necessários para sua sobrevivência. Não haveria
diferença de oportunidades entre os sexos, sendo cada um designado a
fazer uma tarefa de acordo com a sua capacidade. Sendo assim, se fosse
considerada apta, uma mulher poderia exercer as mesmas funções que o
homem, mesmo o combate na guerra ou o exercício da filosofia.
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Filosofia aplicada à administração

2.3.3  Aristóteles (384-322 a.c.)


Aristóteles nasceu por volta do ano 384 a.C., em Estagira, na Trácia.
Seu pai era médico da família do rei da Macedônia. Aos dezoito anos foi
para Atenas, a fim de estudar com Platão. Permaneceu com Platão durante
20 anos e, após a morte do mestre, viajou durante um tempo pelas cidades
gregas. Em 343 a.C., tornou-se professor de Alexandre, o Grande, e per-
maneceu com essa função durante cerca de 4 anos, até que Alexandre foi
declarado pelo pai maior de idade – tinha então 16 anos – e seu substituto na
ausência de Filipe.
A obra de Aristóteles é ampla e diversificada. Algumas das partes
mais conhecidas são sua doutrina ética e política, que se identificava com
a mentalidade dos homens livres da época em que viveu.
Com efeito, o que é a virtude? Há dois tipos de virtude, segun-
do Aristóteles: a intelectual e a moral, que correspondem às partes
racional e irracional da alma. A virtude intelectual aprende-se pelo
ensino; a virtude moral, por meio do hábito. Quanto a esse último
tipo de virtude, Aristóteles afirmava que os cidadãos devem aprender
o que é o bem praticando o bem, ou seja, o “caminho se faz cami-
nhando”: praticando boas ações, tornamo-nos bons homens, median-
te o hábito ou costume de praticá-las. Mesmo que não pratiquemos
uma boa ação porque acreditamos nela, com o tempo, depois de
muito a praticar, ficaremos tão habituados em fazê-lo que acharemos
natural praticar o bem.
A virtude, em contrapartida, está no meio-termo entre dois extremos,
ou seja, virtude significa moderação. Tomemos como exemplo a coragem.
A coragem é uma virtude, pois está no meio-termo entre a covardia, que é
o medo exagerado por tudo, e a temeridade, que é não ter medo de nada e
por consequência agir de modo irresponsável. O mesmo vale para todas as
demais virtudes. Acompanhemos o quadro abaixo:
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Covardia: ter medo de Coragem: saber a hora de Temeridade: não ter medo
tudo. agir. algum.
Avareza: excesso de eco- Liberalidade: gastar com Esbanjamento: gastar
nomia bom senso. tudo sem pensar.
Enfado: ser chato ou inca- Amizade: saber relacio- Condescendente: ser
paz de cordialidade. nar-se com afeto. amigo de todos.

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Filosofia Grega - Unidade 2

A virtude é o caminho do meio, nem o excesso para menos nem o ex-


cesso para mais. Os excessos são chamados por Aristóteles de vícios. Assim,
a virtude – e, por consequência, a felicidade – consiste em se ter coragem,
liberalidade e amizade e, assim como para essas virtudes, não exagerar em
nenhuma das virtudes. Seguir, portanto, o caminho da moderação.

2.4  Período Helenístico: o fim de uma era


O que chamamos de Período Helenístico da filosofia grega foi o perío-
do que teve início por volta do ano 322 a.C., quando Alexandre Magno, mais
conhecido como Alexandre “o Grande”, expandiu o império macedônio, con-
quistando a Grécia. Alexandre foi um dos alunos de Aristóteles e, além de edi-
ficar um imenso império, contribuiu para as pesquisas de seu antigo professor
mandando plantas e animais dos mais diversos lugares por onde passava.
O período é marcado por um forte pessimismo dos filósofos gregos, so-
bretudo porque eles perderam muito do prestígio ou influência que tinham até
então no mundo dos negócios. No período anterior, os filósofos, mesmo aque-
les para quem esse mundo era uma aparência e falso, construíram projetos po-
líticos com o objetivo de transformar os governos. Em maior ou menor grau,
tinham influência sobre os governos.
Com a conquista de Ale- Ale-
xandre pôs fim à
xandre, iniciou-se o período época das Cidades-Estado.
dos grandes impérios, que Com efeito, na Grécia Clássica, as
cidades eram completamente independentes
limitaram em muito a umas das outras, e a unidade do país era devida
liberdade individual. à crença em uma mesma religião e ao fato de fala-
rem uma mesma língua. Depois de Alexandre, a ideia
Como consequência, de um Império único, segundo os mesmos princípios
uma vez que os filósofos administrativos, ganhou força e sobrepõe-se à prática
EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

administrativa anterior.
já não tinham a mesma
influência no mundo dos
negócios, voltaram-se com
cada vez maior decisão contra
esse mundo, visto como ruim ou
injusto, dedicando-se agora a pen-
sar sobre a salvação ou felicidade pessoal. A pergunta que os filósofos se
faziam nesse período já não era como antes: como criar um bom Estado?
Agora a filosofia voltava-se para a pergunta: como ser feliz em um mundo
mau e de sofrimento? Portanto, a visão dos pensadores tornou-se cada vez
mais subjetiva e individualista.
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Filosofia aplicada à administração

É de se considerar também a grande interação entre as culturas da Gré-


cia Clássica e dos povos orientais conquistados por Alexandre. Essa interação
não foi bem vista pelos gregos, que consideravam sua cultura superior à cul-
tura dos povos orientais, muitos dos quais os gregos consideravam bárbaros.
No tocante à filosofia, observa-se a continuação das escolas platô-
nica e aristotélica dirigidas pelos discípulos desses dois filósofos, todavia
não com a mesma força e projeção do período precedente. Com a morte
de Alexandre e a desestruturação de seu império, Aristóteles, temeroso,
fugiu para a Macedônia. Antes, porém, afirmou que o fazia “para evitar
um segundo atentado contra a filosofia”, pois o primeiro fora cometido
contra Sócrates. Pouco depois, também veio a falecer.
Nos séculos que se seguiram a Aristóteles e seus discípulos, as contro-
vérsias filosóficas sobre a condição humana mostraram certa despolitização,
não estavam mais focadas na relação do homem com os demais cidadãos,
passaram a girar em torno do homem concebido como indivíduo, pois não
havia mais canais para a participação dos cidadãos nas decisões do Estado.
A preocupação dos filósofos passou a ser, pois, como já dito, a re-
lação entre a virtude e o prazer. Qual era o caminho para a Felicidade?
Assim, Nesse clima espiritual de pessimismo em relação ao mundo, surgi-
ram quatro escolas de pensamento: o cinismo, o ceticismo, o epicurismo e
o estoicismo. Delas se falará a seguir.

2.4.1  Cinismo
O cinismo foi fundado por um homem chamado Antístenes, antigo
discípulo de Sócrates. Durante a juventude, viveu no círculo aristocrático,
não revelando nenhuma doutrina especial. Contudo, por algum motivo
rebelou-se contra aquilo em que sempre acreditara e passou a defender
apenas a simples bondade. Pregava em praça pública suas ideias, em uma
linguagem fácil e acessível ao homem comum. Afirmava que não devia
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existir governo, propriedade privada, casamento ou religião. Desprezava,


além disso, todos os prazeres do corpo como coisa indigna.
Embora Antístenes tenha sido o fundador do cinismo, seu principal
representante foi Diógenes, seu discípulo. Inicialmente o mestre não que-
ria aceitar o discípulo, pois ele tinha má fama, devida na verdade a seu
pai, preso por falsificar moedas. Inspirado pelo pai, Diógenes afirmava
que queria “falsificar a moeda do mundo”, ou seja, subverter tudo aquilo
que o mundo considerava de valor: riqueza, poder ou prestígio.
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Filosofia Grega - Unidade 2

Diógenes resolveu viver como um cão, de onde deriva o nome


de “cínico”, que significa, em grego, “canino”. Rejeitava todas as
convenções sociais, seja na maneira de vestir, seja no modo de falar,
na moradia ou na decência. Conta-se que tinha o hábito de se mas-
turbar em público, e comparava os homens aos animais: eles não têm
vergonha de manter relações sexuais à frente de todos, também o ho-
mem não deveria ter. Conta-se ainda que Diógenes vivia dentro de um
barril, e que certa ocasião recebeu a visita do próprio Imperador Ale-
xandre, que se dispôs a lhe conceder o favor que pedisse. Diógenes,
porém, solicitou apenas que Alexandre não lhe tirasse o sol, pois que o
imperador fazia-lhe sombra.

http://4.bp.blogspot.com/_LbLAOOWv3i4/S-Hzq23RDhI/AAAAAAAAAlQ/tvgkUcOpK44/s1600/800px-Gerome_-_Diogenes.jpg
EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

Diógenes, portanto, considerava sem importância os bens terre-


nos, procurando libertar-se de todos os desejos e se tornar indiferente,
tanto a riqueza quanto a pobreza. Sua visão é de que o mundo é mau e
seria preciso, pois, fugir dele. O homem deve tornar-se indiferente aos
bens externos e voltar-se para os bens subjetivos, como a virtude, que
ninguém pode nos tirar. Enfim, ensinavam os cínicos o quanto é fácil
viver com pouco dinheiro, como nos bastam alimentos simples, como
era tolice amar o próprio país ou ainda lamentar a morte de filhos ou
amigos. Nada no mundo exterior deve fazer-nos mal, pois a virtude e a
felicidade estão em nós.
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Filosofia aplicada à administração

2.4.2  Ceticismo
O ceticismo não foi propriamente uma Para
maiores infor-
escola original, mas apenas uma doutrina mações a respeito dos
que organizou ideias já conhecidas, em filósofos do período helenista,
consulte http://www.mundodosfi-
sua maioria. Seu fundador foi um homem
losofos.com.br/
chamado Pirro, inicialmente pertencente
ao exército de Alexandre e que morreu em
275 a.C.
O ceticismo nega que exista a verdade.
Sendo assim, não há como determinar qual modo
de viver é melhor que o outro. Ser bandido é pior do que ser honesto?
Não há como afirmar isso, diziam os céticos. Porém, é mais conveniente,
para não sofrer castigos sociais, seguir as normas morais vigentes. Por
isso os céticos, mesmo sem realmente crer em nada, podiam até mesmo
frequentar alguma religião, mas apenas por conveniência. É como se al-
guém, hoje, fosse à igreja no domingo não por acreditar no cristianismo,
mas para agradar os outros e para conquistar a estima social.
Além disso, os céticos negavam qualquer filosofia que pretendia
dizer a verdade. As pessoas, segundo o ceticismo, não deveriam preocu-
par-se com isso, aliás, não deveriam preocupar-se com nada. O futuro é
inteiramente incerto, então o melhor é viver o presente.
Negando a verdade, o ceticismo colocava-se numa posição de
dúvida constante. Um cientista hoje, mesmo ao afirmar uma ideia qual-
quer, não tem sobre ela certeza absoluta; é como se dissesse: “descobri
isso, mas não tenho certeza”. Já o cético afirma categoricamente que
ninguém sabe e ninguém jamais saberá, ou seja, o conhecimento é im-
possível.
Pirro teria levado essas ideias até o extremo. Sua vida é cercada de
lendas. Conta-se, por exemplo, que em certa ocasião um cachorro avan-
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çou contra ele e mordeu-lhe a perda. Pirro nada fez para retirá-lo, pois,
de acordo com a sua filosofia, não se poderia afirmar com certeza se a
mordida do cachorro é algo bom ou ruim. Aliás, sua morte também é
cercada de lendas. Conta-se que andava pelo campo e à frente dele havia
um precipício. Pirro continuou andando e supostamente pensava: não
posso dizer com certeza se cair do precipício é bom ou ruim. Continuou,
pois, andando e caiu, tendo sido assim sua morte. Provavelmente essas
histórias foram inventadas por inimigos de sua escola.
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Filosofia Grega - Unidade 2

Para exemplificar o tipo de argumentos Para


maior aprofunda-
que os céticos usavam, veja-se a seguir o mento acerca do contexto
que disse Sexto Empírico, um dos poucos histórico em que viveram os
filósofos do período helenista,
filósofos céticos cujas obras chegaram até
consultar o site a seguir, que expli-
nós: cita a situação histórica da Grécia
“Aqueles que afirmam positiva- à época: http://greciantiga.org/

mente que Deus existe não podem evitar


de cair na impiedade, porque, se dizem que
Deus controla todas as coisas, transformam-no
em autor de coisas más; se, em contrapartida, dizem que Ele controla
somente certas coisas, ou que Ele nada controla, são obrigados a fazer
de Deus um ser invejoso ou impotente, e fazer isso é, evidentemente,
uma impiedade.”
O ceticismo, enfim, defendia a impossibilidade do conhecimento
da verdade e de estabelecer qualquer critério definidor da justiça ou da
virtude. Foi muito influente principalmente entre a gente do povo, mas
sucumbiu após a vitória do cristianismo.

2.4.3  Epicurismo
A seita epicurista foi fundada por um homem chamado Epicuro,
que se estabeleceu em Atenas e lá organizou a sua escola. O pai de
Epicuro era um ateniense pobre e Epicuro nasceu por volta de 342
a.C., não se sabe exatamente onde. Dedicou-se ao estudo de filosofia
desde os quatorze anos de idade e fundou sua escola em 311, primeiro
em uma cidade chamada Mitilene, depois, desde 307, em Atenas.
A comunidade fundada por Epicuro parecia sofrer de problemas
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financeiros, e o próprio Epicuro vivia apenas de pão e água. Frequen-


temente pedia ajuda a seus discípulos, pois a escola sobrevivia através
de doações voluntárias. Além disso, Epicuro sofria com uma saúde
frágil, que suportou com grande fortaleza de espírito. No dia de sua
morte, escreveu a seguinte carta a um amigo:

In.: RUSSELL, Bertrand. História da Filosofia Ocidental.


Trad. Breno Silveira. São Paulo: Companhia Editorial Nacional,
1967, p. 272.

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Filosofia aplicada à administração

“Neste dia verdadeiramente feliz de minha vida, em que estou


prestes a morrer, escrevo-te isto. As doenças de minha bexiga e de
meu estômago seguem o seu curso com toda a sua severidade habitual;
mas, contra tudo isso, está a alegria em meu coração, ao recordar de
tua dedicação, desde a infância, para comigo e minha filosofia.”
A filosofia, para Epicuro, é um sistema prático com o objetivo de
assegurar uma vida feliz. Contudo, ele impunha suas ideias aos discípulos
e não aceitava contestações. Quem o seguisse deveria obedecer a uma es-
pécie de credo e, em função disso, seus discípulos em nada acrescentaram
a suas ideias, e a própria escola epicurista não sobreviveu muito tempo
após a morte de seu fundador.
Como dito, o objetivo da filosofia, segundo Epicuro, é proporcionar
uma vida feliz. Ora, a vida feliz seria uma vida de prazer. Uma vida aben-
çoada, diz Epicuro, começa e termina com o prazer. Entre os prazeres que
menciona, o prazer do estômago está entre os mais constantes, e a ele se
subordina mesmo a cultura ou a filosofia.
Contudo, os prazeres de que fala são prazeres, por assim dizer, tranqui-
los, sem o arrebatamento de paixões violentas. Assim, o prazer da saciedade
é maior do que o prazer de saciar a fome vorazmente. Comer, sem dúvida, é
um prazer, mas o prazer que se experimenta depois de já ter comido é maior.
Devemos, assim, preferir prazeres que nos levam ao equilíbrio e à ausência de
dor.
Na prática, Epicuro acaba por falar mais em como evitar a dor do
que em como provocar o prazer. Em tese, a ausência de dor já seria um
prazer. Nesse sentido, não devemos buscar riquezas ou honrarias, pois
elas deixam o homem inquieto. O mesmo se pode dizer do poder, ou seja,
seria melhor se afastar da vida pública, já que, quanto mais poder se tem,
mais inveja se desperta nos outros. Aqui vale lembrar a canção de Raul
Seixas, que dizia: “não quero ser prefeito, pode ser que eu seja eleito, e
alguém pode querer me assassinar”.
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Em contrapartida, Epicuro condena, ainda, os prazeres sexuais e é contra


o casamento e os filhos, porque distraem o homem de ocupações mais sérias.

In.: RUSSELL, Bertrand. História da Filosofia Ocidental.


Trad. Breno Silveira. São Paulo: Companhia Editorial Nacional,
1967, p. 276.

44

ADM 1-2 2013-1.indb 44 11/04/2013 17:43:35


Filosofia Grega - Unidade 2

O prazer social que, pelo contrário, de- As


ideias de Epi-
veria ser buscado a todo custo é a amizade. curo podem levar a crer
Ninguém pode viver sem amigos, nem que que ele era um homem frio
ou de temperamento indiferente.
seja para receber ajuda quando necessitar. Pelo contrário, às vezes em con-
Com efeito, sem amizade não se pode ter traste com a sua própria filosofia,
Epicuro era um homem bom e
uma vida segura e sem medo. sempre solícito para com os
Deve-se buscar, pois, amizades e viver seus amigos.
feliz com elas enquanto durar a existência,
pois, para Epicuro, não existe vida após a morte.
A morte significa a desunião das partículas que compõem o nosso corpo,
apenas isso. Depois de se desagregar, as partículas de nosso corpo vão
compor outros corpos, e assim por diante. Por isso, não se deve temer
a morte, pois não há castigo após a vida: nem castigo nem recompensa,
após a morte nada há. Embora o filósofo admita que existam deuses, de-
fendia que eles não interferem na vida humana, mas procuram eles mes-
mos o máximo de prazer, sem se preocupar com os problemas da terra.
A felicidade, pois, deveria ser buscada na terra, e não em uma vida
além, como depois irá defender o cristianismo. E essa felicidade con-
siste na busca do prazer, especialmente o prazer da amizade e na fuga
da dor. Como consolo definitivo de todas as nossas dores está a morte,
que deve ser encarada como um alívio final e conclusivo, o fim de todo
sofrimento, visto que nada há após a morte.

2.4.4  Estoicismo
O estoicismo foi fundado por Zeno, contemporâneo de Epicuro, e
que viveu no terceiro século antes de Cristo. Zeno era um fenício nasci-
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do em Cítio, no Chipre, filho de uma família de comerciantes. Foi a Ate-


nas provavelmente para tratar de assuntos comerciais, mas lá chegando
encantou-se com a filosofia e passou a se dedicar ao seu estudo.
Zeno ensinava que nada acontece por acaso e que o mundo se
formou pela reunião de diversos elementos. Um dia esses elementos
vão se desunir novamente, mas isso não significa o fim do mundo,
tal como pensado pelos cristãos, mas apenas o fim de um ciclo. Após
a desunião, os elementos que compõem o mundo voltarão a se unir
para depois se desunir novamente e assim ao infinito. Logo, tudo o
que acontece no mundo já aconteceu antes e irá acontecer de novo
por toda a eternidade.
45

ADM 1-2 2013-1.indb 45 11/04/2013 17:43:35


Filosofia aplicada à administração

No que diz respeito à vida Como se


percebe, os estoicos,
humana, a única coisa que assim como os gregos de manei-
interessa é a virtude, a qual ra geral, não acreditavam na doutrina
da criação do mundo, ou seja, para eles Deus
é dependente da vontade.
não criou o mundo, pois o mundo já sempre exis-
Assim, um verdadeiro tiu desde todo o tempo. No máximo, Deus apenas
sábio pode ficar pobre, organizou os elementos dentro do mundo e lhes deu
a configuração que eles têm.
doente, pode ser preso
ou condenado à morte;
nada disso o perturbará,
pois a virtude é o que o
interessa e a virtude está
dentro dele. Portanto, o sábio
não sente propriamente simpatia
por ninguém. Se sua esposa ou filhos morrem, isso não o perturba. Se
um amigo o trai, ele não se deixa abalar. Caso entre na política, pode
até trabalhar para o bem da humanidade, mas seu verdadeiro interesse
é sempre a sua própria felicidade. Assim, o sábio não é virtuoso porque
faz o bem, mas faz o bem para ser virtuoso. Isso significa: ele faz o bem
não pensando na pessoa a quem beneficia, mas nele mesmo: fazendo o
bem, ele se torna melhor.
O estoicismo teve uma vida mais longa que o epicurismo e conhe-
ceu desenvolvimentos diferentes ao longo da história, ao contrário do
epicurismo, que sempre permaneceu fiel às doutrinas de seu fundador.
Grande parte dos chefes de Estado depois de Alexandre se declarava es-
toica, e entre os pensadores do movimento há homens ilustres, como o
poeta romano Sêneca e o imperador Marco Aurélio.
Se fôssemos resumir o que é um sábio estoico, diríamos, tal como
disse Epíteto, um dos mais ilustres filósofos estoicos:
“Quem é, pois, um estoico? Aponta-me um homem modelado de
acordo com os juízos que emite (...) Aponte-me um que, estando doente,
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seja feliz; em perigo e, no entanto, feliz; morrendo e, no entanto, feliz; no


exílio, e feliz; na desgraça, e feliz.”

RUSSELL, Bertrand. História da Filosofia Ocidental.


Trad. Breno Silveira. São Paulo: Companhia Editorial Nacional,
1967, p. 300.

46

ADM 1-2 2013-1.indb 46 11/04/2013 17:43:35


Filosofia Grega - Unidade 2

2.5  O período greco-romano


É o último período em que se pode enquadrar a Filosofia Antiga. O
período em questão teve início em 264 a.C., com o movimento expansio-
nista romano, e estendeu-se até o século V da Era Cristã, momento das
invasões bárbaras que culminaram na decadência do Império Romano.
Apesar de sua extensão, trata-se de um período pouco notável com rela-
ção à filosofia.

http://aleluia.com.br/2002/images/objects/humor/2322_1.jpg
EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

Trata-se de um período agitado por conflitos os mais diversos. Os


romanos perdiam a autoridade e o poder que sempre caracterizou o Im-
pério. As religiões disputavam entre si a supremacia sobre as crenças dos
homens, mesmo que essa disputa não fosse sempre pacífica ou muito “re-
ligiosa”. Em períodos assim de crise, a confiança no outro perdia espaço
para o medo e a cautela. Esse é o clima que marca a decadência do Impé-
rio e o início da era cristã.
Durante esse período, pouco se acrescentou às ideias filosóficas,
todavia podemos destacar pensadores como Sêneca, Plotino, Cícero e Plu-
tarco, que se dedicaram mais aos estudos da cultura grega clássica do que
a criar novos caminhos para a história do pensamento.
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ADM 1-2 2013-1.indb 47 11/04/2013 17:43:39


Filosofia aplicada à administração

Fato importante a ser registrado nesse período foi a crescente pene-


tração do cristianismo no Império Romano com o fortalecimento da Igre-
ja Católica; os ideais gregos, considerados pagãos pelos católicos, foram
aos poucos sufocados. Assim, assistimos ao encerramento de uma época
significativa para o desenvolvimento da filosofia que foi sucedida pelo
conflito entre razão e fé.

Questões para reflexão


01. O que há de comum entre as diversas filosofias que foram criadas no
período conhecido como pré-socrático?

02. Em contraste com o período pré-socrático, marcado por reflexões


cosmológicas, qual foi a principal preocupação do período que se inicia
com Sócrates?

03. Explique o significado da frase de Sócrates: “só sei que nada sei”.

04. Quem deve administrar a República, de acordo com Platão? Essa ideia
aplica-se também à administração de empresas?
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05. Qual a diferença entre virtudes morais e virtudes intelectuais em


Aristóteles?

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Filosofia Grega - Unidade 2

Reflexão
A filosofia grega foi o período mais fértil e rico da filosofia e influen-
ciou, desde então, todo o pensamento posterior. Sócrates, Platão e Aris-
tóteles estão certamente entre os pensadores mais importantes do mundo
ocidental. É certo que foram as condições em que a Grécia vivia à época do
surgimento da filosofia que a tornaram possível na Grécia e não em outro
lugar, isto é, os gregos não eram um povo extraordinário, tinham apenas as
condições propícias para o desenvolvimento do livre pensamento. Entre as
ideias estudadas, a teoria política de Platão pode ser, ainda, pensada para a
administração. Com efeito, ele acreditava que o comandante de uma asso-
ciação de homens deve ser a pessoa mais instruída e preparada entre todas,
e isso leva a pensar que o administrador, de acordo com essa visão de Pla-
tão, deve ser o mais preparado e inteligente dentro da empresa ou, ainda, na
linguagem de Platão, o administrador deve ser o filósofo da empresa e deve
usar sua sabedoria para a melhor condução dos negócios.

Leitura recomendada
RUSSELL, Bertrand. História da Filosofia Ocidental. Trad. Brenno
Silveira. São Paulo: Editora Nacional, 1967, v. I.

Esse texto apresenta a filosofia grega de modo crítico e contextualiza-


do historicamente. Mostra como se formou a civilização grega e que
condições tornaram possível o desenvolvimento da filosofia nela.

Referências
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ARANHA, Maria Lucia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires.


Filosofando. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2003

ARISTÓTELES. A Política. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

MARCONDES, Danilo. Introdução à história da filosofia. 10. ed.


São Paulo, Zahar, 2006.

RUSSELL, Bertrand. História da Filosofia Ocidental. Trad. Brenno


Silveira. São Paulo: Editora Nacional, 1967, v. I.
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Filosofia aplicada à administração

Na próxima unidade
O pensamento grego foi de grande originalidade e riqueza concei-
tual. Contudo, depois das conquistas de Alexandre e do Império Romano,
o mundo se preparava para mudanças que iriam determinar os rumos dos
próximos mil anos da história ocidental. Entre as diversas religiões orientais
com as quais a cultura greco-romana entrou em contato, uma delas sairia
vitoriosa e definiria os rumos dos próximos séculos: o cristianismo. Por
sua vez, após expandir seu domínio sobre grande parte do mundo conhe-
cido, o cristianismo entraria em franca decadência moral, o que preparou
o caminho para uma nova mudança na história do ocidente: o começo do
pensamento moderno, de cujas ideias somos hoje o resultado, e dentro de
cujo pensamento surgiu e se desenvolveu a Teoria da Administração, ligada
ao progresso que o sistema social e econômico do capitalismo propiciou.
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Da filosofia medieval à filo-
sofia moderna

3
Nesta unidade conheceremos as principais
características do pensamento medieval, para
de
em seguida diferenciá-lo do pensamento moderno.
ida

Objetivos da sua aprendizagem


Que você seja capaz de perceber as características
distintivas de nossa época, a partir de um contraste com a
Un

mentalidade da Idade Média.

Você se lembra?
De algum filme cujo enredo se passava na Idade Média ou
durante o Renascimento? Quais eram os valores que as pessoas con-
sideravam importantes então?

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Filosofia aplicada à administração

3.1  Império romano


O caos e a desordem pública eram comuns nos últimos séculos an-
tes de Cristo. Nem Alexandre nem o Império Romano conseguiram impor
a paz no território que administravam. Essa situação chegou ao fim duran-
te a inteligente administração de Augusto, que começou seu governo por
volta do ano 30 a.C. Desde então, o Império Romano viveu um período de
paz e tranquilidade, só abalado no século III de nossa era.
Nesse período, o exército percebeu a sua força e fez e desfez
imperadores em troca de dinheiro. Como consequência, já não era uma
força combatente eficaz. Sendo assim, os bárbaros tiveram facilidade
de entrar no território romano e saqueá-lo, dada a incompetência do
exército em garantir a defesa. As despesas não eram suficientes para
custear a guerra, especialmente devido à corrupção e ao suborno do
exército. Para completar, a peste diminuiu significativamente a popu-
lação.
Em suma, o Império estava prestes a sucumbir. Para evitar que isso
acontecesse, dois homens foram fundamentais: o imperador Diocleciano
(286-305) e o imperador Constantino (312-337). Juntos eles empreende-
ram importantes reformas no sistema administrativo do Império, além de
dividi-lo em duas partes: o Império Romano do Ocidente, cuja capital era
a cidade de Roma e que falava latim, e o Império Romano do Oriente,
cuja capital era Constantinopla e que falava o grego.
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Da filosofia medieval à filosofia moderna - Unidade 3

Da filosofia medieval à filosofia moderna - Unidade 3

A mais importante reforma de Constantino foi a adoção do cristia-


nismo como religião oficial do Império, provavelmente porque grande
parte do exército já havia se convertido. Como à época considerava-se
o Império Romano todo o mundo conhecido, pois não se sabia ainda da
existência da América e a maior parte dos povos além do Império era
considerada bárbara, o cristianismo organizou-se e assumiu o título de
Igreja Católica – a palavra “católica” significa “universal” , devido ao fato
de a nova religião ser agora a religião do mundo conhecido – Apostólica,
porque fundada supostamente pelos apóstolos de Jesus Cristo e Romana
porque sua sede passou a ser a cidade de Roma.
Contudo, várias religiões disputavam então o título de religião do Im-
pério. É o caso do culto ao deus Mitra, ou deus do sol, que favorecia a guerra
e que já tinha grande número de adeptos. O fato é que os administradores do
Império perceberam que uma religião qualquer talvez fosse a única arma capaz
de garantir a unidade e a paz. E o cristianismo oferecia de forma especialmente
forte o consolo que o mundo então precisava. Mas o cristianismo, no século III,
já havia absorvido muito da cultura grega, transmitindo-a às gerações seguintes.
A Igreja foi responsável por diversos aspectos de nossa mentalidade
ocidental. Entre eles é de se destacar a ideia de uma civilização mundial,
unida sob a autoridade de uma única Igreja. Essa ideia os homens apren-
deram dos romanos, cujo longo domínio habituou o mundo a pensar em
uma civilização única. Trata-se de uma ideia presente já na denominação
da Igreja: ela é “católica”, ou seja, mundial. Portanto, desde os romanos
que se passou a desejar um Estado mundial. Quando o Império do Oci-
dente caiu, a Igreja Católica foi a responsável por instigar essa ideia no
mundo, lutando constantemente por unificar o mundo sob o seu comando.
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3.2  Filosofia medieval


A filosofia medieval identifica-se com a filosofia
católica e consiste no pensamento filosófico que
Conexão:
dominou a Europa desde Santo Agostinho até o trouxe para as empresas
Renascimento ou começo da Idade Moderna. uma série de melhorias do
ponto de vista técnico: divisão do
Os filósofos cristãos anteriores a Agostinho trabalho
eram intelectualmente inferiores aos filósofos veja mais em:
http://computerworld.uol.com.br
pagãos. Desde Agostinho, os filósofos católicos
passaram a se dedicar à tarefa de construir grada-
tivamente o pensamento filosófico do cristianismo.
53

ADM 1-2 2013-1.indb 53 11/04/2013 17:43:49


Filosofia aplicada à administração

O pensamento medieval é dividido em dois grandes períodos: a


Patrística e a Escolástica. O nome Patrística deriva de “Pais da Igreja” e se
refere aos primeiros filósofos e religiosos que ajudaram a construir as bases
teológicas e dogmáticas da religião cristã. Nesse período destaca-se Santo
Agostinho, inicialmente um filósofo pagão ligado à filosofia de Platão, mas
que em seguida se converteu ao cristianismo e se tornou bispo da Igreja. A
Patrística, porém, não é conhecida por seus grandes filósofos. Pelo contrá-
rio, os principais nomes dessa época são homens religiosos, não filósofos,
que ajudaram de alguma forma a construir a Igreja Católica.
Entre esses homens importantes da Patrística está São Jerônimo,
autor de uma famosa tradução da Bíblia denominada Vulgata. Trata-se da
tradução da Bíblia para o latim, tradução que se tornou canônica. Além
dele, Gregório, o Grande, destaca-se, dessa vez como um dos primeiros
defensores da supremacia do papa. Com efeito, até então o papa era apenas
mais um bispo da Igreja, especificamente o bispo de Roma. Com Gregório
começa a se desenvolver a ideia de que todos os outros bispos devem se
subordinar ao bispo de Roma, isto é, ao papa.
Enfim, a Patrística foi importante não pela filosofia que produziu,
mas por representar o começo e a formação da religião cristã, que pouco
a pouco subjugou o paganismo e deu
início a uma nova era no pensa-
Foi durante a
mento ocidental. Escolástica que surgiram as
O período seguinte primeiras universidades da Europa,
da filosofia medieval foi sistematizando as pesquisas científicas e
preparando o caminho para o Renascimento,
a Escolástica. O nome se
que viria em seguida.
deve à disputa entre as di-
versas escolas que foram
criadas depois do século
XI. Com efeito, em torno
das catedrais se formaram
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verdadeiros centros de ensino


e pesquisa, onde eram debatidas
questões de teologia ou filosofia, ou
mesmo problemas de física ou de ciência natural.
O nome mais importante da Escolástica foi Santo Tomás de Aquino.
Ele é importante por sintetizar as ideias de Aristóteles e adequá-las ao
pensamento cristão. Sua doutrina tornou-se amplamente aceita e tornou-
se mesmo a filosofia oficial da Igreja Católica durante muito tempo.
54

ADM 1-2 2013-1.indb 54 11/04/2013 17:43:49


Da filosofia medieval à filosofia moderna - Unidade 3

A Escolástica, portanto, foi um período mais Para o


aprofundamento
filosófico que a Patrística. A preocupação dos acerca das características
escolásticos era fundamentar a fé cristã a par- gerais do pensamento e da
tradição cristã, é interessante vi-
tir de argumentos racionais, ou de apresentar
sitar o site do Vaticano http://www.
o cristianismo como um sistema racional de vatican.va/phome_po.htm.
ideias. A presença e a autoridade crescentes de
Aristóteles são marcas decisivas desse período.
Após a consolidação da Igreja Católica
como instituição religiosa, ainda sob o domínio
político latino, teve início uma série de invasões de povos que eram cha-
mados de bárbaros e que conseguiram fragmentar todo o grandioso impé-
rio construído pelos romanos.
A sociedade romana foi desarticulada, as cidades foram despovoadas
e ocorreu um processo de ruralização e isolamento da população em gran-
des fazendas que, posteriormente, foram denominadas feudos. Todavia, esse
isolamento não perdurou por todo o período de mil anos, que denominamos
Idade Média, nem tudo foi retração econômica, social e cultural.
O poder político, como podemos notar, ficou descentralizado e o
guia da sociedade passou a ser os valores contidos no evangelho. A socie-
dade passou a ser dirigida pelo poder da Igreja Católica, poder que era di-
vidido com os proprietários das grandes fazendas, ou feudos, os senhores
feudais. O único elemento agregador dessa sociedade era a religião, que
não admitia contestação de seu poder punindo com a Inquisição todos os
que não seguissem os preceitos cristãos.
A Igreja Católica, única instituição a se manter organizada, e até
mesmo por essa razão, conseguiu difundir o cristianismo entre os povos
bárbaros preservando elementos da cultura greco-romana. Culturalmen-
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te, a Igreja Católica exerceu amplo domínio colocando a fé cristã como


condição para se chegar à plena sabedoria, em detrimento da razão. Essa
fé consistia na crença absoluta nas verdades reveladas por Deus aos ho-
mens presentes nas Sagradas Escrituras.
O catolicismo impedia que os filósofos voltassem sua atenção para a
busca da verdade, pois a única verdade possível era aquela revelada por Deus
– somente lhes era permitido demonstrar pela razão as verdades da fé cristã.
Alguns pensadores desse período insistiam, entretanto, que vários elementos
da filosofia grega poderiam ser colocados a serviço do cristianismo. Um des-
ses elementos, por exemplo, seria a argumentação lógica aristotélica.

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Filosofia aplicada à administração

Dois pensadores destacam-se na filosofia católica da Idade Média:


Santo Agostinho e São Tomás de Aquino, o primeiro pertencente à cha-
mada patrística, período em que os padres católicos estavam empenha-
dos em justificar e difundir a fé cristã e o outro, alguns séculos mais tarde,
pertencente à escolástica medieval, movimento que teve como principal
característica a busca da harmonia entre a fé cristã e a razão.

3.2.1  Santo Agostinho (354 – 430), Bispo de Hipona


Aurélio Agostinho nasceu em Tagasta, cidade da Numídia, África,
de uma família burguesa, a 13 de novembro do ano 354. Seu pai, Patrício,
era pagão e recebeu o batismo pouco antes de morrer; sua mãe, Mônica,
pelo contrário, era uma cristã fervorosa e exercia sobre o filho uma notá-
vel influência religiosa.
Santo Agostinho, como ficou conhecido, foi para Cartago, a fim
de aperfeiçoar seus estudos, começados na pátria, e desviou-se moral-
mente; caiu em uma profunda sensualidade, que, segundo ele, é uma das
maiores consequências do pecado original. Essa sensualidade dominou-o
longamente, moral e intelectualmente, fazendo com que aderisse ao ma-
niqueísmo, doutrina persa que afirmava ser o universo dominado por dois
grandes princípios opostos, o bem e o mal, mantendo uma constante luta
entre si. Tendo terminado os estudos, abriu uma escola em Cartago, donde
partiu para Roma e, em seguida, para Milão, onde entrou em contato com
o ceticismo e com o neoplatonismo, escola fundada por Plotino e que re-
vivia as doutrinas de Platão. O neoplatonismo era marcado por sentimen-
tos religiosos e crenças místicas. Até os 32 anos, porém, Santo Agostinho
não era católico. Nesse período aproximou-se de Santo Ambrósio, bispo
de Milão, e, sentindo-se atraído por suas pregações, converteu-se ao cris-
tianismo, do qual não se afastou pelo resto de sua vida.
Pode-se dizer que Santo Agostinho foi o conciliador entre as
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ideias de Platão e as doutrinas da fé cristã. Até possíveis contradições


entre o platonismo e a fé cristã, como a crença nas “ideias eternas”, fo-
ram resolvidas por Santo Agostinho. A fé na criação divina a partir do
nada entrava em choque com as ideias de Platão, que dizia que alguma
coisa sempre existira. Essa “alguma coisa” seriam as ideias eternas.
Então, Santo Agostinho afirmava que, antes da criação, as ideias já
existiam na cabeça de Deus, salvando para o cristianismo a concepção
das ideias eternas.
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Da filosofia medieval à filosofia moderna - Unidade 3

Quanto à imortalidade da
Algumas ideias de
alma, Santo Agostinho não Agostinho foram retomadas
concordava totalmente depois por membros da Reforma
com Platão. Para ele, o Protestante. É o caso de sua doutrina da
predestinação. Contudo, embora não tenham
homem possui um corpo
sido condenadas à época em que Agostinho
material que pertence ao as professou, quando da Reforma essas ideias
mundo físico, mas tem foram insistentemente combatidas.
também uma alma ca-
paz de reconhecer Deus.
Nega, entretanto, a re-
denção do pecado original:
apenas alguns “escolhidos”
seriam salvos da maldição eterna
do pecado original, retornando assim às antigas crenças no destino, na
predestinação.
Ao buscar conciliar o cristianismo com o pensamento pagão, Santo
Agostinho tornou-se o principal representante da Patrística. A Patrística
era a filosofia dos padres ou fundadores da Igreja. Surgiu precisamente
do esforço para converter os pagãos, combater as heresias e justificar a
fé católica. Os padres recorreram inicialmente à filosofia platônica por
intermédio do neoplatonismo e realizaram uma grande síntese com a
doutrina cristã, adaptando o pensamento pagão à ortodoxia da Igreja.
Santo Agostinho é, pois, o primeiro pensador a tentar conciliar
a filosofia com a Sagrada Escritura. Uma das questões que o incomo-
davam era a ideia de criação, que ele defendia contra a posição dos
gregos de que Deus não criou o mundo, apenas lhe deu a forma que
tem. Pelo contrário, segundo Agostinho, Deus criou, sim, o mundo e o
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criou do nada.
Não se deve falar que Deus existia antes do mundo, porque Deus
é eterno e não está submetido ao antes ou ao depois, isto é, não está sub-
metido ao tempo. O tempo apenas começou quando o mundo foi criado.
Outra questão por que Agostinho é conhecido é a sua doutrina da
dualidade entre a Cidade dos Homens e a Cidade de Deus. A Cidade de
Deus é a cidade onde vivem os eleitos de Deus após a morte. O conhe-
cimento desse lugar não é acessível à razão, mas deve ser buscado na
Escritura. Não há como saber quem irá para a cidade dos eleitos e quem
será condenado. Mesmo um nosso inimigo pode ser escolhido para fazer
parte dos eleitos.
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Filosofia aplicada à administração

Em contrapartida, defendendo a ideia da criação, Agostinho afir-


mava que, à sua época, o mundo deveria ter cerca de 6 mil anos. Não
cabe ao homem questionar o que havia antes da criação do mundo e, por
outro lado, o mundo foi criado apenas uma vez e deverá um dia final-
mente acabar.
A morte veio ao mundo devido ao pecado de Adão e Eva. O seu pe-
cado contaminou em seguida toda a humanidade, que desde então expia
o pecado de seus pais. Por meio desse pecado o homem, que poderia ter
sido espiritual no corpo, tornou-se carnal na mente. Em outras palavras:
a luxúria sexual entrou na humanidade mediante o primeiro pecado.
Com efeito, o sexo é entendido como vergonhoso. Certamente é
permitido dentro do casamento, desde que o objetivo seja a procriação
da espécie. Ainda assim, sentimos vergonha quando ficamos nus ou
quando mantemos relações sexuais. Essa vergonha é sinal do pecado
original. Se Adão e Eva não tivessem pecado, o ato sexual não seria
acompanhado de prazer e os órgãos reprodutores obedeceriam fiel-
mente a nosso comando. O sexo seria tão natural e mecânico quanto
o é o trabalho de um carpinteiro, que não é acompanhado de luxúria.
Portanto, o prazer sexual é um castigo de Deus em função do pecado
original.
Esse desagrado em relação ao sexo se deve ao desacordo ou à in-
dependência do ato sexual em relação à vontade. Não podemos contro-
lar nossos impulsos sexuais, em certo sentido somos reféns deles. Ora, a
virtude para os cristãos é identificada com a vontade. Se, no ato sexual,
nossa vontade não é soberana, disso decorre a visão pejorativa que será
direcionada ao sexo.
Além disso, Agostinho defendia, ainda, que Deus já predestinou
todos os homens, seja para a condenação, seja para a salvação, e o fez de
maneira arbitrária. Uns serão enviados à Cidade do Diabo e os outros, à
Cidade de Deus.
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Enfim, outra doutrina importante e influente de Agostinho é a


sua doutrina da separação entre o Estado e a Igreja, com a considera-
ção de que o Estado só poderia fazer parte da Cidade de Deus – co-
munidade de eleitos, que na terra seria vislumbrada na Igreja – caso
se submetesse à Igreja. Com isso, Agostinho ofereceu a justificação
teológica para a política da Igreja durante a Idade Média. Em tese, o
Estado perfeito deveria ser uma teocracia, ou seja, governado pelos
sacerdotes de Cristo.
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Da filosofia medieval à filosofia moderna - Unidade 3

3.2.2  São Tomás de Aquino (1225-1274)


Tomás de Aquino nasceu na Itália. Doutor em teologia, passou a
lecionar em várias cidades italianas. De sua vida dedicada ao ensino resul-
tou sua vasta obra, muitos de seus textos são comentários da Bíblia, dos
santos padres, de Aristóteles e de outros autores. Foi o mais importante
filósofo da Alta Idade Média. São Tomás de Aquino não se opõe às con-
cepções de Agostinho, inclusive concorda com a tese de que Deus ensina
ao homem a partir do interior; seu alvo será o inspirador de Agostinho:
Platão, com o qual ele não tem afinidade, preferindo a obra de Aristóteles.
Assim como Santo Agostinho “cristianizou” Platão, podemos dizer
que São Tomás de Aquino “cristianizou” Aristóteles, pois foi baseado nas
ideias deste pensador grego que ele enxergou não haver contradições irre-
conciliáveis entre o que diz a filosofia e o que prega a fé cristã. Dizia, para
justificar seus posicionamentos, que podemos chegar a Deus tanto pelo
caminho da fé como pelo caminho da razão.
Deus, para Aristóteles, seria a sua “causa primordial” ou, em outras
palavras, Deus seria a causa de si mesmo e o responsável por colocar
o mundo em movimento, responsável por desencadear e coordenar os
processos naturais. Pode-se notar, aí, forte evidência de possibilidade de
conciliação entre a razão e a fé cristã. Tem-se, então, uma “teologia reve-
lada” e uma “teologia natural” que se aplica também na conduta moral:
podemos seguir a Bíblia para vivermos segundo a vontade de Deus, mas
também fomos por Ele dotados de uma consciência que nos permite, pela
razão, distinguirmos as coisas certas das coisas erradas. Em outras pala-
vras: podemos chegar a Deus seja por meio da fé na Bíblia, seja por meio
da razão.
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De Aristóteles, São Tomás de Aquino tomou emprestadas todas as ideias


que não se confrontavam com a teologia da Igreja. Assim foi em relação à sua
lógica, à sua filosofia do conhecimento e à sua filosofia da natureza.
Uma característica importante a ser evidenciada tanto em São To-
más de Aquino quanto em Santo Agostinho é que, não obstante as suas
reflexões terem influenciado tão fortemente um período longo da história
da humanidade, ambos partiam do pressuposto da fé cristã, buscando no
conhecimento filosófico grego argumentos que a legitimassem. As ideias
dos filósofos que se confrontavam com as doutrinas da fé cristã foram
deixadas de lado.

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Filosofia aplicada à administração

Apesar das discordâncias Embora


com relação à contribuição muito culto e sagaz
em suas leituras de Aristóteles,
de São Tomás de Aquino, é Tomás não foi um filósofo original,
quase unânime o reconhe- senão um intérprete da obra do filósofo
cimento de que sua obra grego. Sua principal contribuição para o
pensamento foi não a criação de um pensamen-
filosófica representa o to próprio, mas a adequação do pensamento de
apogeu do pensamento Aristóteles à doutrina cristã.
católico medieval. São
Tomás de Aquino tam-
bém pode ser considerado
o principal representante da
Escolástica (“Doutrina da es-
cola”). A Escolástica caracterizava-
se principalmente pela tentativa de conciliar os dogmas da fé cristã e as
verdades reveladas nas Escrituras Sagradas com as doutrinas filosóficas
clássicas, destacando o platonismo e o aristotelismo.
Entre as obras mais importantes de Tomás está a Suma contra
os gentios, dirigida a um leitor imaginário e destinada a demonstrar
racionalmente a verdade do cristianismo. Tomás afirma que, entre as
verdades do cristianismo, algumas podem ser demonstradas por meio da
razão pura, outras devem recorrer à revelação ou à fé. É claro que todas
as verdades do cristianismo podem ser conhecidas mediante apenas a
fé, e isso para que todos tenham acesso a elas, mesmo as pessoas sem
cultura, jovens ou aquelas cujas ocupações práticas impedem de estudar
filosofia. Porém, as pessoas cultas exigem frequentemente mais do que
a fé, e para elas são destinados os argumentos a favor do cristianismo e
da existência de Deus.
Entre as provas da existência de Deus, Tomás afirma o seguinte:
ora, tudo o que possui ordem recebeu seu ordenamento de um agente
organizador. Por exemplo, um relógio é um objeto organizado e cujas
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partes estão dispostas de maneira pensada e calculada. Portanto, sendo


um objeto organizado, o relógio não é resultado do caos ou do acaso,
mas de uma mente que o pensou e ordenou. Ora, o mundo é aquilo que
há de mais organizado. A natureza e suas leis mostram que o universo é
sumamente ordenado. Sendo assim, o mundo não pode ter sido resultado
do acaso ou do mero caos, mas de uma mente ordenadora. Pois bem:
essa mente ordenadora é Deus.

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Da filosofia medieval à filosofia moderna - Unidade 3

Além de provar a existência A


doutrina da criação
de Deus, por meio de argumen- do mundo, a qual afirma que
tos como o citado acima, Deus criou todas as coisas do nada,
Tomás desenvolve, ainda, é de origem judaica; com efeito, a Igreja
Católica tem como uma de suas fontes a
a chamada Teologia Ne-
história bíblica do povo judeu.
gativa: não podemos dizer
o que Deus é, mas apenas
o que ele não é: Deus não
é mortal, não é finito, não
é móvel, e assim por diante.
A exemplo de Agosti-
nho, Tomás sustenta que Deus
criou o mundo do nada. Afirma, ain-
da, que Deus não possui corpo nem pode mudar a si mesmo. Deus não fa-
lha, não se cansa, não esquece, não se arrepende nem fica triste. Em contra-
partida, Deus não pode mudar as leis da lógica ou da matemática, não pode
desfazer o passado, não pode pecar, criar outro Deus ou deixar de existir.
Outro problema pensado por Tomás dizia respeito à felicidade hu-
mana. De acordo com ele, a felicidade humana não está em prazeres car-
nais, honras, glória ou riqueza nem em qualquer prazer ou bem derivado
dos sentidos. Por sua vez, não consiste também no exercício da virtude,
que é apenas um meio, e não o fim da existência humana. A felicidade hu-
mana consiste, ao contrário, na contemplação de Deus, contemplação que
sempre é, nesta vida, imperfeita, mas que será plena após a morte.
Em contrapartida, o homem peca constantemente, desobedecendo
à lei divina. Esta ordena amar a Deus e ao próximo; proíbe a fornicação,
visto que o pai deve permanecer com a mãe durante a gestação e a criação
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do filho. A lei divina diz, ainda, que o casamento é insolúvel, dada a ne-
cessidade do pai na educação dos filhos, necessidade que se baseia no fato
de o homem ser mais racional que a mulher e ter mais força física quando
é preciso castigar. A lei divina proíbe, ainda, a poligamia e o incesto.
Enfim, Tomás é importante não propriamente enquanto filósofo. Ele
demonstra possuir um conhecimento profundo de Aristóteles, mas todos
os seus argumentos são baseados nas verdades da Igreja. Sendo assim, ele
já tem a conclusão desde o início da argumentação e não procede como
um filósofo livre em busca da verdade, seja ela qual for. Não é um pensa-
dor original, mas, em todo o caso, suas ideias influenciaram e continuam
influenciando profundamente o pensamento católico ocidental.
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Filosofia aplicada à administração

3.3  O renascimento cultural e a filosofia moderna


Até agora observamos que, durante os séculos da Idade Média, a
mentalidade dominante, influenciada pelos princípios da fé cristã, con-
cebia o homem e toda a sociedade de acordo com os ensinamentos da
Igreja. Com o advento das grandes navegações, o florescimento do co-
mércio e o desenvolvimento da burguesia, surgiu aos poucos um novo
homem, uma nova ordem social e uma nova estrutura econômica; a
Europa adentra em um período de grande importância: o Renascimen-
to cultural greco-romano.

Desenvolve-se o Humanismo: o homem percebeu que podia


explicar a natureza a partir de sua própria inteligência ou razão, sem
precisa recorrer a Deus ou a qualquer agente sobrenatural.
Desenvolvem-se o Racionalismo e a Ciência Experimental: a
ciência mostrou-se bem mais eficaz do que a religião para a explicação
do mundo, de modo que gradualmente conquistou o pensamento dos
homens modernos.
Desenvolvem-se o Individualismo e o Nacionalismo: no lugar
do coletivismo cristão, um mundo marcado pela individualidade dos
seres humanos e pela identidade nacional, pelas diferenças regionais
entre as nações.

O Renascimento abriu o caminho para o rompimento com a visão


medieval do mundo, centrada em Deus ou na religião, substituindo-a
pouco a pouco pela ciência e pela explicação experimental.
É importante ressaltar que a passagem da mentalidade medieval
para a mentalidade científica moderna não se deu da noite para o dia.
Foram necessários muitos anos para que o passa-
Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

do medieval fosse superado. E muitas pessoas


Para o aprofunda-
pagaram por isso, como sempre acontece mento acerca dos modos
quando um corpo de ideias coloca em risco de tortura que a Inquisição
o poder constituído; os sábios detentores utilizava para retirar a confissão
de seus acusados, ver http://www.
das ideias renascentistas foram persegui- misteriosantigos.com/inquisi.htm
dos e, muitas vezes, duramente punidos
pelas classes que dominavam a sociedade
durante a Idade Média.
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Da filosofia medieval à filosofia moderna - Unidade 3

http://www.fsspx-brasil.com.br/images/inquisicao01.jpg

A forma utilizada pela Igreja


Católica para a repressão foi o Tribu-
nal da Santa Inquisição, encarregado
de investigar, prender, julgar e conde-
nar os “hereges” responsáveis pela
divulgação de doutrinas contrárias aos
pressupostos da fé cristã. Inúmeros
pensadores e milhares de livros crepi-
taram nas fogueiras da Inquisição.
Frequentemente, os inquisido-
res usavam métodos de tortura para
forçar os acusados a confessar os
seus crimes. A Igreja, embora santa,
não via nenhum problema nesse
expediente. Qualquer pessoa, como
dito, que fosse suspeita de ensinar
ideias contrárias àquelas defendidas
pela Igreja poderia ser alvo de inves-
tigação. Nesse período, milhares de
mulheres foram condenadas pela prá-
tica da feitiçaria ou bruxaria, ainda que a confissão que assinavam não fosse
obtida através de meios muito confiáveis.

3.3.1  O Pensamento moderno


O pensamento moderno apresenta diversas características que o distin-
guem do período medieval. Entre essas características estão a decrescente au-
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toridade da Igreja e a crescente autoridade da ciência. Como consequência, a


cultura moderna é mais profana que sacra, ou seja, o Estado substitui a Igreja
como autoridade controladora da cultura, mas o Estado não terá sobre os fi-
lósofos a mesma influência que a Igreja tinha. Outra característica do período
moderno é o crescente poder da classe mercantil, que pouco a pouco substitui

Heresia: qualquer ato, palavra ou doutrina contrário ao que


foi estabelecido pela Igreja, em termos de fé. Na sua origem grega,
heresia significava escolha, preferência por uma doutrina. Herege era
a pessoa que escolheu determinada heresia.

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Filosofia aplicada à administração

a aristocracia na condução da política. Isso se deve ao desenvolvimento do


capitalismo, que coloca cada vez mais poder nas mãos da burguesia.
O poder da ciência, que substitui a religião, é um poder bem diferente
daquele que a Igreja exercia sobre os homens durante a Idade Média. Com
efeito, quem rejeita uma tese científica qualquer nem por isso é punido ou
moralmente mal visto. Além disso, a ciência não pretende resolver todos os
nossos problemas de uma vez, mas apenas aqueles assuntos que podem ser
verificados na experiência. Em contrapartida, ao passo que as verdades da
religião são eternas e imutáveis, as verdades da ciência são apenas prová-
veis e podem ser modificadas sempre que se mostrar necessário.
Acrescente-se a isso o fato de que a ciência mostrou-se muito eficaz
no que diz respeito à modificação do mundo, ou seja, mostrou-se que a
ciência poderia ser extremamente útil, inicialmente na guerra, devido à
construção de armamentos e de aparatos militares mais poderosos, depois
na melhoria da própria vida humana.
Percebe-se, pois, que a ciência significou uma novidade radical em rela-
ção ao tipo de pesquisa que se realizava até então, na filosofia ou na teologia. A
distinção mais importante da ciência em relação à filosofia está no método expe-
rimental: enquanto que a filosofia demonstrava suas teses apenas através de te-
orias, a ciência o fará por meio de comprovações práticas na experiência. Além
disso, o método experimental exigia unanimidade: se um cientista demonstrava
uma tese qualquer a partir de determinada experiência, todos os demais, repe-
tindo a mesma experiência, deveriam chegar aos mesmos resultados. Isso fez
com que os cientistas alcançassem harmonia entre suas ideias, ao contrário dos
filósofos, que nunca chegavam a um consenso a respeito de qualquer tema.
Em contrapartida, a ciência deu ao homem um poder crescente sobre
a natureza. De tal maneira isso evoluiu que tornou o mundo em mera ma-
téria-prima para as experiências humanas. Em outras palavras, o mundo
perdeu o encantamento que tinha até a Idade Média, tornando-se simples
objeto de estudo e pesquisa. O desenvolvimento dessa tendência levou,
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no século XX, a um sentimento de solidão do homem diante do universo


infinito. O mundo tornou-se absurdo, inexplicável ou incompreensível, e
as relações humanas entraram em crise. Isso porque o desenvolvimento
científico andou de mãos dadas com o desenvolvimento do capitalismo,
que colocou em primeiro plano os interesses econômicos, os quais torna-
ram as relações humanas e mesmo o homem em mera mercadoria. Disso
resultou o nosso tempo, um tempo pouco espiritual, em que os homens se
sentem cada vez mais solitários diante de um mundo desencantado e frio.
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Da filosofia medieval à filosofia moderna - Unidade 3

3.3.2  A renascença
A Renascença foi um movimento de oposição à mentalidade medieval
e teve início na Itália. Seus primeiros adeptos não eram completamente eman-
cipados da mentalidade que caracterizou a Idade Média, isto é, pretendiam
romper com a autoridade da Igreja, mas colocaram em seu lugar a autoridade
dos antigos filósofos. Trata-se de uma mudança significativa, pois os filósofos
gregos discordavam entre si e uma decisão a respeito de suas controvérsias só
poderia advir de um juízo pessoal. Contudo, poucos homens na Renascença
tinham a coragem de defender uma ideia sem a apoiar sobre a autoridade de
alguém, ainda que não fosse mais uma autoridade religiosa.
A repulsa à Igreja e à mentalidade medieval não tinha motivações ape-
nas filosóficas. Deve-se destacar o comportamento imoral dos membros da
Igreja, especialmente os papas. Durante a Renascença, os papas eram menos
homens religiosos do que chefes de exércitos. Usavam as tropas da Igreja
para aumentar a riqueza pessoal e de sua família. Um exemplo foi o papa Ale-
xandre VI, que governou a Igreja entre 1492 e 1503. Embora papa, ele teve
dois filhos e pretendia fundar um reino para que um deles governasse. Seus
projetos não tiveram sucesso, pois o primeiro filho morreu, depois ele próprio
faleceu e à época o último filho estava muito doente para assumir as terras
que o pai conquistara. Esse clima de ganância e avareza precedeu e motivou a
Reforma Protestante, levada a cabo pelo padre Martin Lutero.
Apesar de ter libertado o espírito humano das amarras da ortodoxia cató-
lica, a Renascença não produziu filósofos importantes, apenas preparou o cami-
nho para o advento do importante século XVII. O que se fez na Renascença foi
renovar o estudo de Platão e fornecer a respeito dele e dos filósofos antigos um
conhecimento autêntico, não mediado pela interpretação cristã de suas obras.
EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

Além disso, apresentou a atividade intelectual como uma aventura social, reti-
rando dela as limitações que na Idade Média a tornaram meramente um canal
para a confirmação das verdades da Igreja. Porém, apesar de tudo isso, os ho-
mens dessa época não foram originais, como já dito, pois estavam preocupados
demais em conhecer o pensamento antigo para produzir algo de novo.
Em contrapartida, é de se destacar também que a Renascença não foi
um movimento popular. Pelo contrário, foi um movimento restrito a um pe-
queno número de intelectuais e artistas, protegidos por homens ricos e pode-
rosos. Por mais que hoje consideremos a Renascença um período de grande
importância para a história do pensamento, provavelmente a maior parte da
população que vivia à época nem tinha ideia do que estava acontecendo.
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Filosofia aplicada à administração

Além disso, a libertação dos homens em relação à Igreja não signifi-


cou sua libertação em relação a todos os tipos de superstição. Os homens
continuavam a acreditar em magia ou feitiçaria, por exemplo.
Outro efeito negativo dessa libertação dos grilhões medievais foi o
afrouxamento moral. No que diz respeito aos governantes, muitos deles ad-
quiriam o poder por meio de traições e depois o mantinham através de fria
crueldade. Mesmo os cardeais, quando convidados a festejar a coroação de
um papa, levavam o seu próprio vinho, por medo de envenenamento.
Entretanto, ainda assim a Renascença criou obras de notável beleza. Foi
importante para libertar o homem da mentalidade medieval, tornando possí-
veis o florescimento da liberdade de pensamento e a criação intelectual livre.
Sem dúvida, os homens ainda não ousavam completamente o pensamento
original, presos agora à autoridade não da Igreja, mas dos antigos, mas ainda
assim o clima espiritual que a Renascença inaugurou foi importante para abrir
as portas para o próximo período do pensamento humano, a Idade Moderna.
No entanto, o que propriamente distingue o pensamento moderno
do pensamento medieval ou antigo é o desenvolvimento da ciência, cujo
auge foi o século XVII. Mesmo a filosofia foi influenciada e influenciou o
novo modo de interpretar a realidade. Descartes, por exemplo, considera-
do por muitos o primeiro filósofo moderno, foi também um dos criadores
da ciência. Porém, os quatro homens que têm lugar de destaque na cons-
trução da ciência foram Copérnico, Kepler, Galileu e Newton.

Questões para reflexão


01. Diferencie a Patrística da Escolástica.

02. Que motivações levaram Constantino a oficializar o cristianismo


como religião do Império Romano?
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03. Que tipo de relações teóricas Agostinho e Tomás de Aquino tiveram em


relação a Platão e Aristóteles: rejeição, aceitação parcial ou total? Comente.

04. O que significou, para o pensamento moderno, o Renascimento?

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Da filosofia medieval à filosofia moderna - Unidade 3

05. Explique em que consistem o humanismo, o cientificismo e o indivi-


dualismo, marcas características do pensamento moderno.

Reflexão
A vitória do cristianismo sobre o paganismo antigo, que a filosofia repre-
sentava, foi decisiva e de extrema importância para a formação da mentalidade
ocidental. A Igreja defendeu, às vezes de modo violento, suas ideias e a maneira
de ver o mundo, e essa mentalidade chegou até nós de diversas formas. Mesmo
quem hoje negue o cristianismo não poderá negar, com a mesma facilidade,
conceitos e ideias que a Igreja impôs ao nosso mundo. Como exemplos dessas
ideias, temos a crença de que devemos amar e respeitar a todas as pessoas, mes-
mo aquelas que nos fazem mal; a ideia de que alguém criou o mundo e que esse
alguém é extremamente bom e misericordioso; a ideia de que devemos ajudar
os mais necessitados que nós. Mesmo que hoje essas ideias estejam, com fre-
quência, desligadas de um credo específico, foram, porém, impostas a nós pelo
cristianismo em seus longos mil de anos de dominação.
O rompimento, não completo, é claro, mas parcial com a mentalidade
medieval inaugurou a nossa época, que é, porém, caracterizada pelo pessi-
mismo e às vezes pela falta de sentido do mundo, visto agora como caótico
e absurdo. Esse rompimento, porém, foi definitivo: não há mais como voltar
atrás e aceitar novamente ideias como as que eram defendidas na Idade
Média. O nosso mundo, desde a Reforma até hoje, é marcado por um cres-
cente individualismo, que domina as relações mais cotidianas entre os seres
humanos. É também papel do administrador pensar sobre o tipo de relações
humanas que devemos construir e assim agir no sentido de conferir à hu-
EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

manidade um pouco do encantamento que ela perdeu ao longo dos séculos.

Leituras recomendadas
RUSSELL, Bertrand. História da Filosofia Ocidental. Trad. Brenno
Silveira. São Paulo: Editora Nacional, 1967, v. II e III.
Nos volumes II e III de sua história da filosofia, Russell mostra os deta-
lhes históricos da consolidação do cristianismo como religião do império
romano e as motivações que levaram Constantino a optar por essa reli-
gião, e não por outra. Além disso, aborda, sempre de maneira contextua-
lizada com a história geral, o surgimento do pensamento moderno.
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ADM 1-2 2013-1.indb 67 11/04/2013 17:43:57


Filosofia aplicada à administração

ABBAGNANO, Nicola. História da Filosofia. Tradução Conceição


Jardim; Eduardo Nogueira; Nuno Valvas. 2. ed. Lisboa: Presença, 1979.
Esse texto aborda, de forma acessível, as características distintivas dos
períodos medieval e moderno, e as principais ideias de seus autores.

Referências
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. 4. ed. São Paulo:
Martins Fontes, São Paulo, 2003.

CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 1998.

_______________. Filosofia. São Paulo: Atual, 1992.

RUSSELL, Bertrand. História da Filosofia Ocidental. Trad. Brenno


Silveira. São Paulo: Editora Nacional, 1967, v. I.

Na próxima unidade
Ao fim desta unidade já conhecemos todos os períodos da história
da filosofia, desde o surgimento na Grécia, passando pela Idade Média e
finalmente chegando à Idade Moderna. Inicialmente, na Grécia, a filoso-
fia foi desenvolvida com grande liberdade de pensamento, pois não havia
a obrigatoriedade de obediência a qualquer ortodoxia rígida. Isso mudou
na Idade Média, quando a Igreja impôs aos filósofos limitações ao pensa-
mento: só podiam pensar dentro dos limites dos dogmas do cristianismo.
Em seguida, a Idade Moderna rompe com essa limitação e defende a plena
liberdade de pensamento, mas agora sob o comando não mais da filosofia,
mas da ciência. Na próxima unidade veremos, de maneira mais específica,
como se deu o desenvolvimento dessa complicada relação entre a liber-
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dade individual e as restrições sociais, o que será de grande valor para a


compreensão do nosso tempo. Com efeito, apenas compreendendo o tem-
po em que vivemos, distinguindo-o de épocas posteriores, é que seremos
capazes de pensar para o futuro uma humanidade melhor.

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ADM 1-2 2013-1.indb 68 11/04/2013 17:43:57


O conflito entre o indivíduo e a
sociedade
4 Nesta unidade conheceremos como se deu, des-
de
de a Antiguidade até os tempos modernos, a rela-
ção entre o indivíduo e a sociedade.
ida

Objetivos da sua aprendizagem


Que você seja capaz de identificar o problema que des-
Un

de a Antiguidade incomoda a humanidade e refletir sobre ele: é


melhor a liberdade com a desordem ou a ordem sem liberdade?

Você se lembra?
Da época em que o Brasil vivia sob o regime militar? A restri-
ção da liberdade é aceitável? Se sim, em que condições?

ADM 1-2 2013-1.indb 69 11/04/2013 17:43:57


Filosofia aplicada à administração

4.1  Introdução ao problema


Entre os problemas que sempre acompanharam a filosofia está a ques-
tão da relação entre o indivíduo e a sociedade. Em um primeiro momento, na
Grécia, a coesão social era garantida pela lealdade à Cidade-Estado. Trata-se
de uma devoção religiosa e patriótica à cidade. Depois das conquistas de Ale-
xandre, o Grande, e dos romanos, os gregos perderam muito do vigor político
de outrora, criando uma ética mais individual e menos social. A coesão social,
então, era garantida pela força, isso até Constantino.
Após adquirir prestígio e autoridade, o cristianismo trouxe de volta a
ordem e a coesão social, garantida agora pela lealdade à Igreja, entendida
como o Corpo de Cristo. Todo poder vem de Deus, que o outorgou ao Papa e
ao Imperador. A crença no poder que a Igreja supostamente detinha de mandar
alguém ir para o inferno fez com que mesmo imperadores se submetessem a
ela. Isso apenas começa a mudar durante a Renascença, em que os antigos
costumes medievais são deixados de lado em nome novamente da desordem
e do colapso moral. Ocorre um afrouxamento moral, e tudo o que se relaciona
à virtude passa a ser visto como coisa ligada à superstição.
Do século XVI em diante, o pensamento europeu é dominado pela
Reforma, movimento multiforme com motivações políticas, econômicas e
religiosas. Especialmente, os príncipes perceberam que, se dominassem a
religião em seu país, seriam bem mais poderosos do que se compartilhassem
o poder com o Papa. Disso resultou na política uma tendência ao anarquismo,
visto que a verdade não era mais estabelecida mediante consulta à autoridade,
mas através da meditação íntima.
Como reação ao crescente individualismo moderno surgiram diversas
perspectivas. Uma delas, o liberalismo, pretende delimitar o que é próprio do
indivíduo e o que é próprio do Estado, contrapondo-se tanto ao individualis-
mo extremo quanto à autoridade absoluta do Estado. Em contrapartida, há
também quem pretenda o culto do Estado, atribuindo a ele tanta autoridade
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quanto aquela que o catolicismo atribuía à Igreja ou a Deus. É o caso de Ho-


bbes ou Hegel.
Durante toda a história da filosofia, portanto, os filósofos diferiram en-
tre aqueles que pretendiam estreitar os laços sociais e aqueles que pretendiam
afrouxá-los. Em todo caso, sem dúvida é necessária a coesão social, mas ela
pode gerar a fossilização, devido ao respeito excessivo à tradição. Porém, a
ausência de coesão conduz à dissolução e à conquista estrangeira. Parece que
toda civilização começa com um sistema rígido, que depois se afrouxa para
70

ADM 1-2 2013-1.indb 70 11/04/2013 17:43:57


O conflito entre o indivíduo e a sociedade - Unidade 4

O conflito entre o indivíduo e a sociedade - Unidade 4

conduzir, enfim, à dissolução, a


ANTIGUIDADE
qual, por sua vez, leva a um CLÁSSICA: coesão social
novo sistema rígido. O li- garantida pela lealdade à cidade.
beralismo pretende o fim DE ALEXANDRE A CONSTANTINO:
coesão social garantida pela força.
desse ciclo, mantendo a
IDADE MÉDIA: coesão social garantida pelo
ordem social sem baseá-la pertencimento à Igreja.
no dogma irracional e sem -IDADE MODERNA: coesão social frágil, garanti-
impor mais restrições à da pela propaganda de Estado.

liberdade além das estrita-


mente necessárias.
Ora, na Antiguidade
Clássica, o homem não era con-
cebido como indivíduo, mas como
cidadão, ou seja, membro de uma comunidade política. Vimos que os gregos
cultuavam a Cidade-Estado grega, e é costume dizer que a filosofia é “filha da
cidade”. Para Aristóteles, por exemplo, o homem é essencialmente um animal
político, que por sua natureza é sociável, e qualquer homem que estiver abai-
xo ou acima disso ou é um animal selvagem ou um deus. Em outras palavras,
não se concebe o homem, pelo menos o homem civilizado e educado, senão
dentro da cidade, enquanto cidadão e, portanto, de acordo com as responsabi-
lidades e os compromissos que ele tem com a comunidade.
Em contrapartida, desde as conquistas de Alexandre essa situação mu-
dou. As Cidades-Estado caíram agora sob o jugo de um único império, que
limitou sobremaneira as liberdades individuais. Impossibilitados de participar
da vida política, os filósofos voltaram-se para a busca da felicidade pessoal ou
individual, defendendo a supremacia do indivíduo sobre a sociedade. Em ou-
tras palavras, para os filósofos do período que sucedeu a Alexandre, os acon-
EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

tecimentos da vida social não podiam afetar a vida privada, pois o homem
deveria preocupar-se mais consigo mesmo do que com os outros.
A Igreja modificou esse modo de pensar, defendendo a ideia de uma úni-
ca civilização sob um só comando. O sonho da unidade da civilização deveria
reunir todos os homens em uma mesma comunidade. Também para os cristãos,
assim como na Antiguidade Clássica, o homem não era entendido como indiví-
duo, mas enquanto membro de uma comunidade que era a Igreja, denominada
de o Corpo de Cristo. Cada homem faria parte desse corpo, e, aliás, a ideia de
um corpo é bem sugestiva: um corpo é uma complexa organização em que
cada membro exerce uma função específica e, além disso, cada membro de um
corpo só existe unido ao corpo: fora dele perde sua razão de ser e morre. Isso
71

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Filosofia aplicada à administração

significa que o homem perdia sua


Quando se diz em
essência se não estava integrado coletivismo na Idade Média,
na comunidade, que era, à pretende-se expressar o fato de que
época, a Igreja. nesse período ninguém tinha a liberdade
Um importante de pensar por si mesmo, seguindo em tudo
os mandamentos da Igreja. A Reforma, ao ne-
movimento modificou gar a submissão à autoridade religiosa, criou as
essa visão de unidade da condições para o individualismo, ideia segundo a
Igreja, e esse movimento qual cada um pode pensar e agir por si mesmo.
foi a Reforma Protestan-
te. Negando-se a se sub-
meter à autoridade do papa,
os protestantes, mesmo sem o
pretender explicitamente, criaram
as condições para o desenvolvimento do individualismo moderno, que na
política, em alguns casos, conduziu à anarquia.
À mesma época em que teve lugar a Reforma Protestante, o capi-
talismo dava também os seus primeiros passos. O desenvolvimento do
comércio exigia uma sociedade equilibrada e em ordem, pois a desordem
coletiva poderia ser prejudicial aos negócios. A classe burguesa emer-
gente não poderia aceitar tumultos na ordem pública, sob pena de perdas
financeiras. Era necessário, pois, garantir a unidade e a ordem, e para isso
existiram diversas tendências teóricas que procuravam justificar a existên-
cia do Estado e a necessidade de obediência a ele. Entre essas tendências
destacam-se a Doutrina do Direito Divino e a Teoria do Contrato Social.

4.2  Doutrina do direito divino


A Doutrina do Direito Divino era defendida, sobretudo, por membros da
Igreja Católica, notadamente por Robert Firmer. De acordo com essa doutrina, a
humanidade não é livre para escolher a forma de governo que lhe agrade. Com
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efeito, a liberdade é perigosa e deve ser evitada. Foi o desejo de liberdade que
levou ao pecado de Adão e Eva, o qual introduziu o mal e a morte no mundo.
Uma vez que a humanidade não é livre para escolher a forma de governo que
lhe agrade, ela deve submeter-se à autoridade do rei. Mas por quê?
Os reis, de acordo com essa doutrina, são descendentes diretos de Adão, o
primeiro pai da humanidade. Ora, sendo assim, ele é como um pai para os seus
súditos. É importante destacar que, à época em que essas ideias foram defendi-
das, o dever de obediência para com o pai era devido durante toda a vida do pai.
72

ADM 1-2 2013-1.indb 72 11/04/2013 17:43:58


O conflito entre o indivíduo e a sociedade - Unidade 4

Hoje, após completar a maioridade, O conceito de ges-


as pessoas julgam não precisar tão de pessoas vem evoluindo
mais obedecer rigorosamente paralelamente com as mudanças de
paradigma trazidas pelas escolas da ad-
às ordens de seus pais, prefe- ministração. Vamos fazer esse resgate até os
rindo agir como bem enten- nossos dias para entender como. “Vamos fazer
derem, mesmo que isso por- esse resgate até os nossos dias para entender
ventura signifique contrariar como ocorreu essa evolução.

o desejo dos pais. À época,


pelo contrário, a autoridade
dos pais era vitalícia.
Ora, isso significa que
o dever para com os reis não é
um mero dever civil, mas um dever
religioso. Com efeito, a autoridade dos reis foi dada a eles por Deus;
eles possuem, pois, direito sagrado ao trono. Contrariar o rei e suas
ordens é não apenas um crime, é mais do que isso: trata-se de uma im-
piedade ou pecado.
De acordo com isso, a autoridade dos reis é absoluta e irrevogável.
Ele, sozinho, governa: é ele quem faz as leis – embora não esteja, ele mes-
mo, sujeito a elas – e é ele quem as executa. É o rei ainda o supremo juiz,
devendo julgar e punir aqueles que ferem as leis que ele criou. Portanto, o
rei reúne em si os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário e não preci-
sa prestar contas de suas ações a ninguém.
Contudo, nem todos aceitavam essas ideias. Por consequência, outra
tendência teórica apareceu: a Teoria do Contrato Social.

4.3  Teoria do contrato social


EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

A Teoria do Contrato Social afirma que o Estado surgiu através de


uma espécie de contrato ou acordo celebrado entre os homens para evitar
os inconvenientes do que eles chamavam de estado de natureza.
A maneira de entender o estado de natureza variava de filósofo
para filósofo. Vejamos o que os pensadores dessa Teoria afirmavam.

Vitalício é algo que dura para a vida inteira; portanto,


enquanto os pais estivessem vivos, os filhos deviam obediência
a eles.

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ADM 1-2 2013-1.indb 73 11/04/2013 17:43:58


Filosofia aplicada à administração

4.3.1  Thomas Hobbes (1588 – 1679)


O inglês Thomas Hobbes es-
Estado de natureza
tudou em Oxford e recebeu in- seria a condição do homem
fluências de Bacon e Galileu. quando ainda não existia Estado
Após a Revolução Liberal ou Governo. Não se sabe se os filósofos
acreditavam que um dia isso realmente ocor-
inglesa, exilou-se na Fran-
reu ou se era apenas um conceito que usavam
ça, tornando-se professor. para explicar o contrato social. O fato é que
Hobbes pensava imaginavam um momento da humanidade, muito
que os homens são, por tempo atrás, em que ainda não havia governo e
especulavam sobre a condição da sociedade
natureza, livres, mas humana nesse estado.
exercem sua liberdade do-
minando os outros. Em ou-
tras palavras, o homem jamais
hesita em fazer mal aos outros, se
disso lhe advir algum benefício. Essa seria a condição natural do homem,
o modo como ele é, essencialmente.
Ora, se o homem é assim, caso vivêssemos em uma sociedade em
que não houvesse Estado, viveríamos em um clima de constante luta ou
conflito. Os homens fariam guerra uns aos outros, e não existiria proprie-
dade nem justiça. Com efeito, se tenho uma casa ou propriedade e mesmo
que ela me pertença há muito tempo, tendo nela trabalhado toda uma vida,
caso não exista governo alguém mais forte do que eu pode invadir minha
propriedade e expulsar-me dela, pois, sem governo, não há justiça. Isso
certamente aconteceria, diz Hobbes, pois o homem é lobo do próprio ho-
mem, isto é, está sempre disposto a prejudicar o próximo. Para Hobbes,
portanto, o homem é por natureza mau, invejoso e corrupto.
Para evitar esse estado de conflito e guerra, os homens teriam se
reunido e firmado entre eles um acordo, escolhendo um soberano para
governá-los. É importante destacar que não se tem clareza se para Hobbes
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isso realmente aconteceu ou se é apenas uma maneira de que ele se utili-


zou para explicar sua concepção do Contrato Social.
O fato é que, pelo Contrato, do modo como Hobbes o entende, o sobe-
rano passa a ter poder absoluto sobre todos. Com efeito, ao realizar o contrato
e escolher o soberano, é como se o povo renunciasse um pouco à sua liber-
dade em nome da ordem social, dando total e absoluto poder ao soberano.
Sendo assim, depois do contrato, o povo não tem direitos, exceto aqueles que
o soberano quiser dar-lhes. O povo não tem, por exemplo, direito à rebelião.
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O conflito entre o indivíduo e a sociedade - Unidade 4

http://4.bp.blogspot.com/_5uo63jc96U0/S_RVKdOwF3I/AAAAAAAANJ4/29Br3t51wUU/s1600/leviat%C3%A3.jpg
Além disso, Hobbes era partidá-
rio do poder absoluto: o soberano
não deveria dividi-lo com nin- O Leviatã é a figura
que representa o soberano:
guém, mas exercer sozinho absoluto, ele governa sobre todos
as funções do Executivo, e sobre tudo, não devendo satisfações a
do Legislativo e do Judi- ninguém.
ciário. Não devem exis-
tir, por consequência,
EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

partidos políticos, nem


favoráveis nem contrários
ao soberano. Muito menos
se deve permitir a existência
de sindicatos. Em contraparti-
da, o povo, sob nenhum aspecto,
participa do poder e tudo o que é feito
dentro do Estado tem a função de preservar a autoridade do soberano,
mesmo o ensino: os professores só devem ensinar aquilo que for útil ao
comandante. Por fim, o soberano é absolutamente livre para fazer o que
bem entender e não deve satisfações de suas ações a ninguém.
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ADM 1-2 2013-1.indb 75 11/04/2013 17:44:02


Filosofia aplicada à administração

Em função de sua visão do poder político, Hobbes concebeu o so-


berano através da figura lendária do Leviatã, um monstro mitológico me-
diante cuja imagem Hobbes pretendia expressar o poder e a supremacia
do chefe de Estado, que estaria acima de todos e de tudo.
Vejamos agora o modo como Locke, por seu turno, entendia o Con-
trato Social.

4.3.2  John Locke (1632-1704)


Nascido em Wrington, na Inglaterra, estudou na universidade de
Oxford e, apesar do interesse por diversos campos do conhecimento, gra-
duou-se em medicina. Escreveu, porém, importantes textos de filosofia,
abordando variados assuntos.
Locke entende que o estado de natureza é um estado pacífico, ou pelo
menos relativamente pacífico. Afirma que a propriedade privada existe no
estado de natureza, que é anterior à sociedade civil. Esta teoria da proprie-
dade ocupa em Locke um lugar de destaque, na medida em que atesta as
origens burguesas de seu pensamento e contribui para aclarar seu êxito.
Sua obra Tratado sobre o Governo Civil tinha como objetivo expor
a sua teoria de Estado, investigando os fundamentos da associação política
(“Governo Civil”), demarcando-lhe o domínio, isolando as leis de sua con-
servação ou de sua dissolução. A obra de Locke aparece no momento mais
oportuno e reflete a opinião da ascendente classe burguesa. A motivação
desse pensador foi o antiabsolutismo monárquico, ou seja, o desejo de ver a
autoridade dos reis limitada pelo consentimento do povo, a fim de eliminar
o risco de despotismo. O antiabsolutismo acarreta a vontade intelectual de
abolir, de uma vez por todas, a doutrina de direito divino dos reis.
Entre os direitos que pertencem aos homens nesse estado de natu-
reza, Locke situa, com insistência, o da propriedade privada. Segundo
ele Deus deu a terra entre os homens em comum, mas quer a razão, que
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igualmente lhe deu, façam da terra o uso mais vantajoso e mais cômodo.
Tal comodidade exige certa apropriação individual, primeiro dos frutos
da terra, em segundo da própria terra. Essa apropriação tem por base o

Despotismo é o nome que se dá a um governo tirano, cuja


autoridade é absoluta e é exercida sem freio de espécie alguma.

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ADM 1-2 2013-1.indb 76 11/04/2013 17:44:02


O conflito entre o indivíduo e a sociedade - Unidade 4

trabalho do homem, que é limi-


Para aprofundar a
tado por sua capacidade de discussão acerca dos filósofos
consumo. modernos mencionados aqui, ou
Como a terra fora sobre outros com os quais eles mantêm
dada por Deus em co- relação, consulte o endereço a seguir, que os
apresenta de modo acessível e simples: http://
mum a todos os homens, www.geocities.com/cobra_pages/filmod.html
ao incorporar seu traba-
lho à matéria bruta que
se encontra em estado
natural, o homem tornava-
a sua propriedade, estabe-
lecendo sobre ela um direito
próprio do qual estavam excluídos
todos os outros homens. O trabalho era, para Locke, o fundamento origi-
nário da propriedade.
Para Locke, a propriedade privada é um direito natural como a
vida e o trabalho. Como o Estado pode interferir nisso se são coisas do
direito natural? Usa a Bíblia para justificar essa tese. No começo todos
os homens eram iguais, tudo era de todos, mas o trabalho os diferen-
ciou. Ocorre a valorização do trabalho contra a ideia de que terra era
riqueza, o que foi ótimo para a burguesia. Depois surge a propriedade
ilimitada, adquirida com a compra (acumulação de riqueza), e não com
o trabalho.
Segundo Locke, os homens estavam bem no estado de natureza,
entretanto achavam-se expostos a certos inconvenientes. Viver sem um
governo é possível, diz ele, desde que todos obedeçam à lei natural, que,
na prática, significa a lei de Deus, ou seja: não roubar, não trair, não matar
EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

etc. Porém, não é possível garantir que todos irão obedecer à lei natural e,
caso alguém a desrespeite, quem protegerá os homens?
Sem dúvida, todos os homens são livres, iguais e independentes
por natureza, e ninguém pode ser privado dessa condição nem submetido
a um poder político sem seu consentimento. Mas, quando um número
de pessoas concorda em formar uma comunidade ou governo, passa a
constituir um corpo político no qual é a maioria que tem direito de atuar e
decidir.
Assim sendo, há a necessidade de se estabelecer um contrato, que é
um pacto de consentimento em que os homens concordam livremente em

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ADM 1-2 2013-1.indb 77 11/04/2013 17:44:02


Filosofia aplicada à administração

formar a sociedade civil para consolidar e preservar ainda mais os direitos


que possuíam originalmente, no estado de natureza.
No Estado Civil os direitos naturais são inalienáveis. A vida, a li-
berdade e os bens estão melhores protegidos sobre o amparo das leis, do
arbítrio e da força comum de um corpo político unitário. Passar do Estado
de Natureza para o Estado Civil não implica em perda de direitos, pelo
contrário, os consolida, já que o homem não pode transferir seus direitos
para ninguém, pois são direitos inalienáveis. O que faz um Estado ser le-
gítimo é o consentimento do povo.
Portanto, segundo Locke, o objetivo maior e principal da existência
do governo será a proteção da propriedade privada. Vê-se, assim, que ele
defende os interesses da classe social a que pertencia, ou seja, a burguesia.

4.3.3  Jean-Jacques Rousseau (1712-1788)


No que diz respeito a suas ideias políticas, Rousseau expressou-
as em seu livro O contrato social. Rousseau desenvolveu os princípios
políticos que estão sumarizados na conclusão do Émile (Emílio ou da
educação). Começando com a desigualdade como um fato irreversível,
Rousseau tenta responder à questão do que compele um homem a obe-
decer a outro homem ou com que direito um homem exerce autoridade
sobre outro. Ele concluiu que somente um contrato tácito e livremente
aceito por todos permite cada um “ligar-se a todos enquanto retendo sua
vontade livre”. A liberdade está inerente na lei livremente aceita. “Se-
guir o impulso de alguém é escravidão, mas obedecer a uma lei autoim-
posta é liberdade”.
Rousseau imaginava que o homem é bom por natureza, e sempre
se presta a ajudar o seu próximo. Sua concepção acerca do ser humano
é, portanto, oposta à de Hobbes. Para Rousseau, no estado de natureza
o homem viveria em paz, pois é naturalmente impelido à solidarieda-
Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

de. Contudo, ainda assim esse estado não poderia manter-se por muito
tempo, devido à existência da propriedade privada. Ora, para Rousseau,
a propriedade privada está na origem da desigualdade social. Desde
quando se inventou a propriedade, fez-se preciso o Estado, no objetivo
de protegê-la. Porém, a partir de então, o homem, naturalmente bom,
tornou-se mau, pois o Estado o corrompe. Com efeito, se existe Estado,
existem o poder e a ganância pelo poder. Por isso o homem, de bom que

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O conflito entre o indivíduo e a sociedade - Unidade 4

era no estado de natureza, tornou-se, com a criação do governo, mau e


ambicioso.
Contudo, uma vez que se mostrou inevitável a existência do gover-
no, este deve agora reger-se pela vontade geral, e não pelos caprichos de
um soberano absoluto. Também Rousseau, pois, professa a ideia de um
acordo ou contrato entre os homens que estaria na origem do Governo
civil e que justificaria a obediência a ele.
Entre os três filósofos citados acima, portanto, há a seguinte relação:
Hobbes: pensa que o homem é mau por natureza e que o Estado é
necessário, caso contrário os homens viveriam em constante conflito entre
si. O soberano, porém, uma vez escolhido, tem poderes absolutos.
Locke: o estado de natureza seria possível caso todos os homens
respeitassem a lei natural, mas, como não se pode garantir isso, o governo
é necessário para defender a propriedade. O soberano, porém, não deve
ter poderes absolutos.
Rousseau: o homem é naturalmente bom e solidário. Contudo,
desde que a propriedade foi criada, houve a necessidade de se criar o Go-
verno, com o objetivo de protegê-la. Como consequência, o homem, antes
bom, tornou-se mau em função da ganância pelo poder.

4.4  Liberalismo
No século XX
filosófico desenvolveu-se, como conti-
nuação e adequação do liberalismo
Além de suas ideias à nova época, o neoliberalismo, cujas de-
fesas são: mínima participação do Estado na
acerca do Contrato So-
economia; livre circulação de capital internacio-
cial, Locke também é nal; contra o protecionismo econômico e a favor
um dos autores repre- da desburocratização do Estado; diminuição do
tamanho do Estado; contra impostos excessi-
EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

sentativos da doutrina
vos; base da economia na iniciativa privada.
política conhecida como
liberalismo. O liberalismo
consiste em um conjunto de
ideias e preceitos políticos que,
na prática, espelham os interesses da
classe burguesa.
De um lado, o capitalismo aprofundou o individualismo moderno, ao
qual a Reforma Protestante já havia sinalizado. No pensamento capitalista, os
interesses do indivíduo estão acima dos interesses da coletividade. Cada indiví-
duo deve, por si mesmo, mediante os seus méritos, alcançar o sucesso pessoal.
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Filosofia aplicada à administração

De outro lado, o individualismo extremo pode prejudicar o próprio


capitalismo, pois ameaça a coesão social e toda instabilidade social é, na-
turalmente, prejudicial ao comércio.
O liberalismo surge, pois, como uma tentativa de conciliar o individua-
lismo, que o capitalismo defende e aprofunda, com a vida social ordenada, de
que o capitalismo, por sua vez, necessita. Entre os princípios liberais estão:
Tolerância religiosa: nenhum tipo de conflito deve perturbar a ordem
pública, pois qualquer instabilidade na política pode causar danos ao comércio.
Apreço pelo protestantismo: a Igreja Católica não via com bons
olhos o desejo de lucro dos burgueses, além de condenar a usura. A Igreja
Protestante, em contrapartida, sobretudo com Lutero e Calvino, defen-
diam ideias proveitosas para o capitalismo.
Respeito ao comércio e à indústria: essa é a chave para o progres-
so e o conforto.
Respeito aos direitos de propriedade: nisso os burgueses tinham
grande interesse, pois a fonte de sua riqueza repousava sobre a proprieda-
de privada dos meios de produção.
O liberalismo, portanto, pretendia conciliar o individualismo e a
vida social ordenada, defendendo os interesses do capitalismo contra a
aristocracia. Contudo, no século XIX desenvolveu-se uma teoria cujo ob-
jetivo era justamente combater o liberalismo e tudo o que dizia respeito ao
capitalismo. Essa teoria é o socialismo científico, cujo principal autor foi
o alemão Karl Marx.

4.5  Socialismo científico


Contrapondo-se ao liberalismo e às ideias capitalistas, Marx cons-
truiu uma filosofia política cujo objetivo era conclamar os trabalhadores a
se rebelarem contra os patrões e tomar o poder das fábricas, fundando por
consequência uma sociedade sem distinção entre chefes e empregados,
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sociedade supostamente igualitária e justa.


Para entender sua teoria, comecemos por explicar o que ele considerava
Materialismo Histórico.

Usura: ato de emprestar dinheiro a juro, ou o juro resultado


desse empréstimo.

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O conflito entre o indivíduo e a sociedade - Unidade 4

4.5.1  Materialismo histórico


O materialismo histórico A
dialética pode
consiste em uma interpretação ser entendida, grosso modo,
da história que leva em conta como conflito entre opostos. O método
socrático, por exemplo, era dialético, porque
as mudanças materiais da era baseado no conflito entre as diferentes ideias
humanidade e entende das pessoas que participavam de uma discussão.
todo o desenvolvimento
histórico como o resultado
dessas mudanças. Em ou-
tras palavras: durante mui-
to tempo acreditou-se que as
diferenças entre um período
histórico e outro eram devidas às
diferenças entre as ideias característi-
cas de cada época. Ou seja, o que motivaria as mudanças na história seriam as
mudanças e as evoluções nas ideias ou pensamentos dos homens. Contrapon-
do-se a essa visão, Marx afirma que as mudanças históricas são o resultado de
mudanças nos modos como os seres humanos adquirem seus meios de sobre-
vivência, isto é, mudanças nas condições materiais de sua existência.
Essas condições materiais de existência definem as ideias, a filo-
sofia, a arte ou a religião de cada época. O que caracteriza cada época da
história da humanidade, portanto, não são suas ideias, mas o modo como
cada época produz seus meios de sobrevivência.
O materialismo histórico, em contrapartida, é ainda dialético. Isso
porque cada época caracteriza-se pelo conflito entre três fatores diferentes:
Modo de produção: é a maneira pela qual cada época produz seus
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alimentos ou seus meios de sobrevivência, seja a agricultura familiar, seja


a produção em indústrias.
Forças produtivas: são os instrumentos de trabalho utilizados em
cada época, desde instrumentos rudimentares até equipamentos aperfeiço-
ados, como máquinas ou robôs.
Relações de produção: trata-se do relacionamento humano que
se constrói no interior do processo produtivo. Esse relacionamento pode
assumir diferentes feições: escravidão, servidão ou trabalho assalariado.
Pois bem, o materialismo histórico é dialético porque se caracteriza
pelo conflito entre esses três fatores. É o conflito entre eles que gera as
mudanças na história. Quando os instrumentos de trabalho se modificam,
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Filosofia aplicada à administração

constroem-se novos modos de produção, que por sua vez alteram as rela-
ções de produção. Daí o termo dialético, usado para se referir ao materia-
lismo histórico: porque a história se desenvolve a partir do conflito entre
esses três elementos.

4.5.2  Socialismo e comunismo


Ora, Marx percebe que, ao longo da história, já passamos por diver-
sas fases. Inicialmente, na Antiguidade, tinha-se o trabalho escravo. Em
seguida, ele foi substituído, durante a Idade Média, pela servidão. Por fim,
o capitalismo acabou com a servidão e inventou o trabalho assalariado.
Porém, a história ainda não acabou. Resta ainda mais uma mudança.
Essa mudança consiste em acabar com a propriedade privada dos
meios de produção. Ora, ao longo da história sempre se observou a distin-
ção entre exploradores e explorados. O homem sempre explorou o próprio
homem. A relação entre exploradores e explorados variou: ora se deu
como a relação entre dono e escravo; depois como a relação entre senhor
e servo, e agora como a relação entre patrão e empregado. Em todo caso,
sempre alguém detém os meios de produção – proprietário da terra, por
exemplo, ou da fábrica – enquanto os demais, que não possuem proprie-
dade, trabalham para esse proprietário. Uma sociedade assim é sempre
uma sociedade dividida em classes.
Com efeito, o capitalismo consiste basicamente na propriedade pri-
vada dos meios de produção. Alguém é dono de uma fábrica ou indústria
e as demais pessoas, que não têm condições de também comprar uma
empresa, devem trabalhar para ele. Disso resulta a distinção entre duas
classes: a classe dos trabalhadores e a classe dos patrões.
Em que consiste o socialismo? Consiste em uma revolução social
levada a cabo pelos trabalhadores. Através dessa revolução, os trabalha-
dores tomam o poder das fábricas e acabam com
Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

Vi-
a distinção entre patrão e empregado, ou seja, site o endereço
todos devem ser, ao mesmo tempo, patrões e a seguir para encontrar
outras referências a respeito
empregados. A isso se denomina socializa- do socialismo e suas ideias:
ção dos meios de produção, que se contra- http://www.espacoacademico.com.
br/070/70res_pereira.htm
põe à propriedade privada dos meios de pro-
dução, característica maior do capitalismo.
É claro que os patrões, que dominam a
máquina do governo, farão de tudo para evitar
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O conflito entre o indivíduo e a sociedade - Unidade 4

que isso aconteça. Por isso, para Marx, o socialismo deve advir através de
uma revolução, que imponha uma Ditadura dos Trabalhadores e impeça
que os patrões, que perderam seus privilégios, retomem-no em seguida.
O socialismo não é, porém, o fim da história. Quando a sociedade, sub-
jugada pela Ditadura dos Trabalhadores, que pôs fim à distinção entre patrões
e empregados, estiver habituada a viver sem distinção de classes, o próprio
Estado deve se autodissolver e promover sua extinção. Essa fase histórica é
denominada de comunismo, que consiste, pois, na extinção do Estado: trata-
se de uma sociedade tão justa e igual que nem carece mais de governo, pois
todos têm naturalmente as mesmas oportunidades. Não será mais necessário
polícia ou força armada e as pessoas viverão plenamente livres.
Portanto, as distinções entre capitalismo, socialismo e comunismo,
grosso modo, são as seguintes:
Capitalismo: propriedade privada dos meios de produção.
Socialismo: socialização dos meios de produção.
Comunismo: extinção do Estado e realização de uma sociedade
justa, igual e livre.
Essa é, pelo menos, a visão de Marx. Só assim, segundo ele, o tra-
balho deixaria de ser uma exploração e se tornaria em algo prazeroso para
todos. Com efeito, a história do conceito de trabalho nem sempre o viu
como algo nobre ou digno. Finalizaremos, pois, essa unidade conhecendo
os modos como o trabalho foi visto ao longo da história.

4.6  O trabalho
A palavra trabalho vem do latim tripaliare e faz menção a um apa-
relho de tortura formado por três paus ao qual eram atados os condenados.
EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

Desde a origem da palavra, pois, o trabalho está relacionado a algo de


ruim, difícil ou sofrido.
Na Antiguidade, o trabalho manual era considerado como coisa vil
e indigna de um homem nobre. Com efeito, os homens livres não traba-
lhavam. Quem o fazia eram os escravos, pois a atividade tida como a mais
nobre era a atividade intelectual, especialmente a filosofia. Aristóteles,
sobretudo, enfatizou diversas vezes que um homem livre não deve tra-
balhar em hipótese alguma, seja na terra ou no comércio. E, de maneira
geral, todos os filósofos gregos tinham aversão a tudo o que era prático ou
manual, atividades que sempre eram deixadas a cargo dos escravos, consi-
derados pessoas inferiores.
83

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Filosofia aplicada à administração

Não apenas na Grécia o trabalho era visto com maus olhos. Em


Roma, a palavra negocium significava o oposto ao ócio, entendido como
o tempo livre. Negocium é, pois, oposto ao prazer.
Na Idade Média, porém, o clero e a nobreza não trabalhavam, dei-
xando isso a cargo dos servos. A própria riqueza era vista com maus olhos,
devendo os homens produzir apenas o necessário para a subsistência.
Esse modo negativo de ver o trabalho só muda efetivamente quando
a burguesia conquista poder e passa a impor sua visão de mundo ao pen-
samento ocidental. O trabalho manual, antes sempre considerado como
coisa vil e própria de homens inferiores, passa agora a ser valorizado, seja
o trabalho no comércio, seja aquele realizado na indústria. Para isso, foi
decisiva a participação de Lutero, de um lado, e Calvino, de outro.
Lutero é o iniciador da Reforma Protestante. Segundo ele, o tra-
balho é uma vocação ou chamado de Deus aos homens. Seguindo suas
ideias, os protestantes trabalhavam com muito maior afinco que os cató-
licos, geralmente preguiçosos no trabalho e esbanjadores. Com efeito, era
comum que os católicos, acostumados a viver apenas para a subsistência,
sem pretensão de enriquecimento, gastassem todo o dinheiro que ganha-
vam em tabernas ou coisas fúteis. Os protestantes não o faziam.
Isso porque Calvino, outro reformador, ensinava a doutrina da
predestinação das almas. Segundo ele, desde o nascimento as pessoas já
estão predestinadas, seja para a salvação eterna, seja para a condenação
eterna. A forma de saber se fomos escolhidos para uma coisa ou outra era
a riqueza material. Ou seja, se tivéssemos boas posses, isso era sinal de
que Deus nos escolheu para o paraíso. Como consequência, os protestan-
tes desenvolveram o hábito de economizar dinheiro, e assim aumentaram
consideravelmente seus pertences.
A Reforma Protestante foi importante, portanto, não apenas no que
diz respeito ao desenvolvimento do individualismo, mas também no for-
talecimento do capitalismo, por ensinar que o trabalho era algo sagrado e
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por incentivar a poupança e a economia.


Apenas em nosso tempo, portanto, o trabalho, antes mal visto, re-
cebeu uma avaliação positiva, tornando-se até mesmo fonte de dignidade
para o homem. Sem dúvida, todos já ouvimos a expressão “o trabalho dig-
nifica o homem”. A visão moderna do trabalho, pois, entende-o como algo
essencialmente humano. Os animais, com efeito, não trabalham. Eles ape-
nas encontram maneiras de se alimentar. Os homens, sim, trabalham, pois
o trabalho envolve criatividade, inteligência, capacidade de criar coisas
84

ADM 1-2 2013-1.indb 84 11/04/2013 17:44:04


O conflito entre o indivíduo e a sociedade - Unidade 4

novas. Isso só o homem consegue. Apenas ele é capaz de, olhando para
um pedaço de madeira, retirar dele uma mesa, cadeira ou objeto qualquer
de decoração. Ou ainda: apenas o homem é capaz de criar métodos cada
vez mais eficazes para aumentar a produção de alimentos, fazer crescer o
conforto da humanidade ou diminuir as distâncias entre as pessoas através
de tecnologias diversificadas de comunicação.
É certo que nem tudo é positivo. O processo de mecanização e espe-
cialização nas empresas frequentemente torna o trabalho algo de pesaroso
para o operário. Ele se vê diante da tarefa de, por exemplo, apertar para-
fusos durante todo o seu dia. Dificilmente alguém consideraria isso agra-
dável. Nesse caso, o operário conhece apenas uma das fases do processo
produtivo, não domina toda a produção e não pode experimentar a alegria
que um carpinteiro sente quando, sozinho, fabrica uma mesa elegante e se
vê nesse objeto fabricado, cujo processo de fabricação ele acompanhou
desde o começo até o final.

Contudo, o desenvolvimento da tecnologia e o avanço científico tal-


vez consigam, em um futuro não muito distante, eliminar todas as formas
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enfadonhas e pesarosas de trabalho e fazer dele algo divertido e prazero-


so, tal como o é a atividade criativa de um artista.

Questões para reflexão


01. Aponte como a relação entre indivíduo e sociedade foi entendida ao
longo da história.

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ADM 1-2 2013-1.indb 85 11/04/2013 17:44:10


Filosofia aplicada à administração

02. O que defendia a Doutrina do Direito Divino?

03. O que significa estado de natureza, conceito pertencente à Teoria do


Contrato Social?

04. Qual é a origem do Governo Civil, de acordo com a Teoria do Con-


trato Social?

05. O que Hobbes quis dizer com a frase: “O homem é lobo do próprio
homem”?

06. Qual é o principal objetivo do Governo Civil, segundo Locke?

07. Qual é a origem da desigualdade social, de acordo com Rousseau?

08. O que defendia o liberalismo econômico do século XVII?


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09. Diferencie capitalismo, socialismo e comunismo.

10. O que caracteriza o modo moderno de entender o trabalho humano?

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O conflito entre o indivíduo e a sociedade - Unidade 4

Reflexão
O problema das relações entre o indivíduo e a sociedade é um
dos mais constantes da história do pensamento humano. Ora acredita-
se que é melhor limitar a liberdade individual em nome da coesão so-
cial, ora acredita-se que é preciso valorizar a liberdade do indivíduo,
mesmo em detrimento da ordem coletiva. O liberalismo surgiu como
uma doutrina que tentava conciliar a liberdade com a coesão social,
defendendo princípios e ideias favoráveis ao sistema econômico do
capitalismo. Por sua vez, no século XIX desenvolveu-se o socialis-
mo científico, com a pretensão de limitar violentamente a liberdade
individual em nome da justiça social. Com efeito, na visão inicial de
Marx, o socialismo é uma Ditadura dos Trabalhadores. A pretensão
do socialismo, porém, vai além: se não acabar com o trabalho, torná-
lo, porém, menos oneroso para o homem. De fato, o trabalho sempre
foi visto como algo pesaroso e até como uma espécie de “castigo”. É
papel do administrador, sobretudo ele que é personagem ativa nesse
processo, e mesmo personagem central, refletir sobre o trabalho e seu
lugar no mundo de hoje, sempre na busca da justiça social e de maior
conforto e felicidade humana.

Leitura recomendada
VÁSQUEZ, Adolfo Sánchez. Filosofia da práxis. Trad. Luiz Fernando
Cardo. 2. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977.
O texto apresenta, de maneira simples e acessível, os principais con-
ceitos da teoria econômica e política de Marx, todas as suas críticas ao
EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

sistema capitalista e suas propostas de uma nova sociedade. É interes-


sante mesmo para quem pretenda combater a doutrina socialista, pois
explicita as suas principais teses.

Referências
ARANHA, Maria Lucia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires.
Filosofando. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2003

BOBBIO, Norberto A era dos direitos. Rio de Janeiro: Campus, 1992.

87

ADM 1-2 2013-1.indb 87 11/04/2013 17:44:11


Filosofia aplicada à administração

________________; BOVERO, Michelangelo. Sociedade e estado na


filosofia política moderna. São Pa FIORIN, José Luiz. Linguagem e
Ideologia. São Paulo: Ática , 1998.

HOBBES, Thomas. Leviatã ou Matéria, forma e poder de um esta-


do eclesiástico civil. São Paulo: Abril Cultural, 1979.

ROUSSEAU, Jean Jacques. Do contrato social. São Paulo: Abril, 1983.

Na próxima unidade
Vimos como o conceito de justiça e o modo de entender o ser hu-
mano podem mudar de teoria para teoria. Mesmo o modo de entender as
funções e os objetivos do Governo Civil não é unânime. Tendo visto nesta
unidade como a relação entre o indivíduo e a sociedade mudou ao longo
da história e como esse é um problema importante e ainda hoje carente de
reflexão, iremos, na próxima unidade, abordar outro aspecto desse proble-
ma, também carente de reflexão e hoje em dia cada vez mais presente e
urgente, especialmente no que se refere à prática administrativa: a ética e
a responsabilidade social das empresas. Com efeito, vivemos na época das
grandes corporações. É, sem dúvida, necessária uma profunda e constante
reflexão sobre o papel das organizações e sua função social: se meramente
a de acumular lucros a todo custo ou se, além disso, teriam elas responsa-
bilidade no que diz respeito ao meio ambiente ou à sociedade de maneira
geral. Também nesse caso as opiniões não são unânimes, como veremos.
Em todo caso, e justamente por isso, esse problema merece nossa atenção.
O que significa justiça social? Qual deve ser o objetivo maior de uma
corporação? Devemos respeitar o meio ambiente? Essas são algumas das
questões que pertencem a esse problema.
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ADM 1-2 2013-1.indb 88 11/04/2013 17:44:11


Ética e responsabilidade
social

5 Falaremos nesta unidade do conceito de éti-


ca e de como a discussão a respeito dela pode
de
ser importante no âmbito da prática administrativa.

Objetivos da sua aprendizagem


ida

Que você conheça teoricamente o que significa ética


e consiga, além disso, relacionar os problemas éticos com os
Un

problemas da prática administrativa cotidiana.

Você se lembra?
De algum noticiário na televisão, jornal ou internet relatando
algum caso de escândalo moral dentro de grandes empresas? Com
efeito, hoje é cada vez mais comum falar em ética na administração, e
isso é motivado, entre outras coisas, pelos casos frequentes de escânda-
los envolvendo grandes corporações, no século XX.

ADM 1-2 2013-1.indb 89 11/04/2013 17:44:11


Filosofia aplicada à administração

5.1  Conceito de ética


A ética é um ramo da filosofia cujos estudos tiveram início, de
maneira mais sistemática, com Platão e Aristóteles, no século IV a.C.
De acordo com Aristóteles, a ética é um ramo da filosofia prática, junta-
mente com a política. Aliás, para ele não há como separar ética e políti-
ca, pois ambas pertencem à mesma área da filosofia, ou seja, pertencem
à filosofia prática. Infelizmente, hoje, a união teórica entre ética e po-
lítica nem sempre se vê projetada na prática. Em todo caso, a diferença
entre ética e política residiria apenas em que a ética dedica-se à reflexão
acerca da felicidade individual, de cada homem considerado como pes-
soa, enquanto que a política dedica-se ao estudo da felicidade coletiva,
ou seja, como tornar feliz o maior número de pessoas . Política, em
contrapartida, não se refere à atividade de um grupo de homens especia-
listas, os chamados políticos, ocupando-se de assuntos administrativos
de uma cidade ou país. A política é vista pela filosofia como estando em
toda e qualquer relação humana. Mesmo a relação entre dois vizinhos
é uma relação política. Portanto, pensar a política significa pensar em
como tornar melhores e mais autênticas as relações humanas.
Por sua vez, pensar em ética implica em pensar sobre o modo
como entendemos o ser humano. Seria ele mau por natureza, bom por
natureza, ou nenhuma das duas coisas? O outro homem é um fim em si
mesmo, ou um mero meio para que eu atinja meus objetivos?
Inicialmente, conheçamos o que significa a palavra ética. A pa-
lavra vem do grego ethos, e significa modo de ser ou caráter. A ética,
pois, diz respeito ao homem considerado em seu ser: o que é o ser hu-
mano? Um mero objeto, uma mercadoria entre outras ou uma pessoa a
quem se deve respeito e solidariedade? Pensar a respeito do ser humano
é, pois, o tema da ética.
Em contrapartida, outro conceito também é frequentemente usado
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quando se fala do homem e de seu comportamento: a moral. A palavra


moral vem do latim mos e significa, grosso modo, costumes. A moral
consiste, pois, em um conjunto de normas, leis ou princípios que re-
gulam a vida em sociedade e prescrevem o que é permitido e o que é
proibido fazer.
De acordo com isso, a ética consiste em um ramo de pesquisa e
estudo, enquanto que a moral consiste em uma norma prática de ação.

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ADM 1-2 2013-1.indb 90 11/04/2013 17:44:11


Ética e responsabilidade social - Unidade 5

Ética e responsabilidade social - Unidade 5

http://www.nosrevista.com.br/wp-content/uploads/2010/05/%C3%A9tivs_charge_por_.jpg

A moral diz o que é proibido


ou permitido fazer; refere-se, pois,
aos costumes sociais de determinada
comunidade. A ética, porém, consiste
em uma reflexão pessoal a respeito do
que significa, de maneira geral, o bem
ou o que é a felicidade. Propriamente,
a ética não me diz o que devo ou não
fazer, apenas expressa o meu modo de
entender o homem e a vida humana.
De acordo com essa distinção, pode-se dizer, por exemplo, que
roubar é imoral, visto que transgride uma regra socialmente aceita, mas
não é sempre e necessariamente contra a ética. Vejamos: imaginem que
uma criança abandonada está passando fome e após pedir esmola para
muitas pessoas, é rejeitada por todas. Se a criança vai ao mercado e rouba
algumas frutas para comer, ela está certa ou errada? Moralmente, estará
errada, é claro. Mas o que é o bem maior: a regra social de não roubar ou
a vida humana?
A ética volta-se para pensar sobre o que significa o bem em geral.
Por exemplo: o bem ou a felicidade podem ser entendidos como a posse
de riqueza; como uma vida honesta e virtuosa; como uma vida de prazer
ou como uma vida religiosa. Trata-se do modo de entender o ser humano
e a sua felicidade. De acordo com cada um desses modos de entender
o homem, podem-se fundar regras morais correspondentes: se acredito
que a felicidade é a riqueza, pode ser moralmente aceitável para mim,
por exemplo, mentir ocasionalmente em um contrato, para me favorecer.
Se penso que o bem é a honestidade, será moralmente conveniente para
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mim devolver a carteira que eu vi alguém deixando cair na rua, ainda


que ela esteja recheada de dinheiro. E assim também para os outros
modos de entender o bem ou a felicidade. Portanto, a ética refere-se ao
modo de entender o homem em geral, enquanto que a moral consiste em
regras de conduta que estão baseadas nesse modo de entender o homem
e sua felicidade.
Voltando ao exemplo da criança abandonada: o que é mais impor-
tante: a vida humana, que está ali em perigo devido à fome, ou a regra
moral que proíbe o roubo? Isso mostra que algo imoral nem sempre será
contrário à ética.

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Filosofia aplicada à administração

5.2  A ética ao longo da história


O modo como entender o homem e sua felicidade mudou ao longo da
história. De maneira breve, conheceremos agora a história das concepções éti-
cas que o pensamento ocidental produziu. Começaremos com Aristóteles.
Como já vimos, Aristóteles dividia a virtude em dois tipos: a virtude in-
telectual, que se conquista pelo estudo, e a virtude moral, que se adquire com
a prática de boas ações. Essa divisão é interessante por apresentar um aspecto
intelectual da virtude, que hoje em dia já não vemos.
Com efeito, Aristóteles dizia que a felicidade intelectual consiste em cada
ser desenvolver aquilo que é próprio dele e apenas dele. Mas o que é próprio e
exclusivo do homem? A razão ou inteligência. Portanto, de acordo com essa vi-
são, a felicidade humana consiste no exercício pleno e constante da razão. Isso
nos tornará cada vez mais humanos e, por consequência, cada vez mais felizes.
Ora, disso se conclui que, para Aristóteles, é uma virtude alguém ser, por
exemplo, perito em algum instrumento. Alguém que conhece plenamente a arte
de tocar piano é, por isso, alguém melhor. Em outras palavras, a cultura ou a
inteligência é também um tipo de virtude.
Trata-se, porém, de uma virtude intelectual. O que significa uma virtude
moral já vimos antes, quando falamos da teoria do meio-termo de Aristóteles,
segundo a qual a felicidade consiste em viver uma vida prudente e sem exage-
ros. Façamos, por fim, algumas considerações acerca do que ele entendia por
justiça.
Justiça para Aristóteles significa distribuir desigualmente para pessoas
desiguais, ou ainda: dar a cada um o que ele merece. Justiça nada tem a ver,
portanto, com igualdade. Com efeito, não é justo, para Aristóteles, que todos
recebam o mesmo, se uns fizeram por merecer mais que os outros. Se vivesse
hoje, Aristóteles diria que o trabalhador deve receber um salário de acordo com
o seu rendimento. Caso trabalhe mais, ganhará mais; caso trabalhe menos, ga-
nhará menos. A ideia de que todos devem receber o mesmo, sem discriminação,
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não agradaria a Aristóteles.


Disso resulta também que o amor deve ser distribuído de maneira desi-
gual: como acreditava ele na inferioridade da mulher, dizia que ela deve amar
mais o esposo, seu superior, do que o esposo amá-la.
Além do mais, Aristóteles ainda considerava justa a existência da escravi-
dão. De fato, dizia ele que há homens que nasceram para a obediência e, mesmo
se lhes dermos a liberdade, eles não saberão o que fazer com ela. Por isso de-
vem permanecer escravos, visto que nasceram para isso.
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Ética e responsabilidade social - Unidade 5

Defende ainda outras ideias mais gerais: diz que só é possível amizade
entre pessoas boas e, portanto, dois criminosos não podem ser, em sentido estri-
to, amigos. Diz também que é impossível ser amigo de muita gente e que uma
pessoa inferior não pode ser amiga de uma pessoa superior. Em outras palavras,
o empregado não pode ter amizade com o patrão: amizade só é possível entre
pessoas iguais. Sendo assim, é impossível ser amigo de Deus, pois ele é supe-
rior a todos e ninguém é igual a ele.
As ideias de Aristóteles tiveram muita influência ao longo da história.
Contudo, seu modo de entender o homem virtuoso, modo que incluía a ideia de
que o homem virtuoso deve desprezar as pessoas inferiores e que não deve ter
amizade com elas, foi ultrapassado pelo cristianismo, que, como vimos, domi-
nou o pensamento ocidental durante toda a Idade Média. Como o cristianismo,
de modo geral, entendia o homem e sua felicidade?
Ora, a virtude está, para o cristianismo, na vontade: consiste em praticar
ações boas e evitar o pecado. Se a virtude está na vontade, só é moralmente
bom alguém que pratica boas ações movido por sua boa vontade. Ou seja, o
cristianismo nega a ideia de Aristóteles de que existam virtudes intelectuais.
Alguém que tem domínio de determinado tema ou área, alguém que saiba tocar
plenamente piano, como dizíamos antes, pode até ter por causa disso um gran-
de mérito, mas não será um mérito moral. Em outras palavras: enquanto para
Aristóteles o conhecimento e a inteligência eram também considerados como
virtudes e nos tornavam melhores pessoas, para o cristianismo a virtude estará
apenas na vontade e na prática de boas ações, e não na sabedoria que alguém
possa ter ou deixar de ter.
Em contrapartida, dentro da visão cristã de virtude ocupa posição de
destaque o modo como o corpo é entendido. Segundo Platão, o corpo é inferior
à alma. Porém, com isso Platão não ensinava que o corpo deve ser desprezado,
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apenas que não se compara com a alma e que é, ao contrário da alma, mortal.
Pois bem, o cristianismo, ao ter contato com esse pensamento de Platão, inter-
pretou essa ideia no sentido de que o corpo deveria ser vítima de desprezo e
mesmo de tortura. Com efeito, é comum relatos de santos que, após terem um
pensamento ruim ou pecaminoso, castigavam-se ou feriam de algum modo o
corpo como forma de purificação: rolando em espinhos, chicoteando-se ou fa-
zendo algo parecido.
Essa concepção negativa do corpo está ligada ao modo como os cristãos
entendiam o sexo. Para eles, o sexo era algo essencialmente sujo e vergonho-
so. O desejo sexual teria sido introduzido através do pecado de Adão e Eva,
e desde então é fonte de tentação e pecado. Diziam que a vergonha que se
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Filosofia aplicada à administração

sente quando se está nu e mesmo


Celibato: em senti-
durante o ato sexual é resultado do estrito, celibato é o estado
do pecado, é uma espécie de ou a condição da pessoa solteira.
lembrança do pecado origi- Nem sempre o casamento foi proibido aos
padres, porém o celibato acabou por tornar-
nal. Daí que, no limite, o
se regra na Igreja, para evitar que os bens do
ato sexual é incompatível sacerdote fossem para sua esposa e filhos e
com uma vida virtuosa e, para aumentar sua autoridade na comunidade,
pois, a vida mais virtuosa pois por meio do celibato ele se tornava diferen-
te das demais pessoas e, por assim dizer,
é a vida celibatária. especial.
O modo cristão de
pensar o homem e sua felici-
dade enfim foi superado – não
totalmente, é claro – pela nova men-
talidade que foi introduzida a partir da Idade Moderna. Antes disso, no final
da Idade Média, a Igreja passou por uma forte crise moral. Os papas e demais
membros do clero tornaram-se extremamente gananciosos por dinheiro e
poder e atraíram para si gradativamente a repulsa das pessoas da época. Mui-
tos se chocavam com o comportamento dos sacerdotes, mas, ainda assim,
resignavam-se, devido ao poder de que desfrutavam. Acompanhemos a seguir
o testemunho de um desses homens que se admiravam do comportamento
imoral dos padres, mas que, ainda assim, permanecia submetido a eles:
A ninguém a ambição, a avareza e o desregramento dos sacerdotes
desgostam mais do que a mim, não só porque cada um desses vícios
é, por si só, odioso, como também porque todos eles são sumamen-
te impróprios de homens que, conforme eles próprios o declaram,
mantêm relações especiais com Deus e, ainda, porque são vícios tão
opostos uns aos outros que só podem coexistir em naturezas muito
singulares. Não obstante, minha posição na corte de vários Papas me
obrigava a desejar sua grandeza, em benefício de meus próprios inte-
resses. Mas, não fosse por isso, teria amado a Martinho Lutero como
a mim mesmo, não a fim de libertar-me das leis que o Cristianismo,
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tal como é geralmente compreendido e explicado, nos impõe, mas a


fim de ver essa malta de patifes recolocada em seu próprio lugar, de
modo que se vejam obrigados a viver sem vícios ou sem poder.

Citado de RUSSELL, B. História da Filosofia Ocidental.


Trad. Brenno Silveira. São Paulo: Editora Nacional, 1967, v. III, p.
16-7.

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Ética e responsabilidade social - Unidade 5

O texto acima é de um historiador chamado Guicciardino, e mos-


tra bem o clima espiritual do final da Idade Média. Trata-se de uma
época em que os valores morais como a honestidade e a lealdade não
eram bem vistos nem respeitados. Com efeito, o próprio historiador
mostra que está mais preocupado com os seus próprios interesses do
que com a honestidade ou com o comportamento justo. Pois, se de um
lado condena os padres por seus vícios, de outro lado deseja que eles
aumentem ainda mais o seu poder, visto que isso o beneficiará.
Ora, esse clima espiritual preparou o caminho para o advento do
filósofo florentino Maquiavel, talvez o mais importante do Renasci-
mento. Sobre suas ideias e sua possível aplicação no universo adminis-
trativo falaremos a seguir.

5.3  Maquiavel e a administração de empresas


Maquiavel nasceu na cidade italiana de Florença, em 3 de maio
de 1469, e morreu nessa mesma cidade, em 21 de junho de 1527. A Itá-
lia da época não era um país unificado como é hoje, mas dividido em
diversos territórios, os quais disputavam o poder entre si. A disputa e a
ganância pelo poder não tinham limites: as pessoas faziam o que fosse
preciso para dominar os outros, mesmo que isso significasse imorali-
dade, deslealdade ou desonestidade. Maquiavel apenas expressou em
seus livros esse clima espiritual decadente, próprio de sua época.
O livro mais conhecido e comentado de Maquiavel é O Príncipe.
O objetivo do livro é ensinar aos governantes como eles conquistam e
mantêm o poder político. Embora as ideias de Maquiavel sejam dirigi-
das aos príncipes, iremos pensá-las aqui como se fossem endereçadas
EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

ao administrador de empresas. Afinal, o que um administrador faz,


em certo aspecto, é algo parecido com aquilo que um governante faz.
Assim, imaginemos que Maquiavel esteja dirigindo-se aos administra-
dores de empresas e ensinando-lhes como devem conquistar e manter
o poder. Vejamos algumas de suas ideias.
Em primeiro lugar, a honestidade e a moralidade não são essen-
ciais a um administrador, pois o que ele deve fazer é, antes de tudo,
garantir o seu poder e a sua autoridade sobre os demais. Com efeito,
diz Maquiavel: “[...] não deverá importar-se de incorrer na infâmia dos
vícios, [pois] se encontrará alguma coisa que parecerá virtù, e que leva

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ADM 1-2 2013-1.indb 95 11/04/2013 17:44:20


Filosofia aplicada à administração

à ruína; enquanto outra que parecerá vício pode levar à segurança e


bem-estar”.
Em outras palavras: há ações virtuosas que, se praticadas, podem
levar à ruína do administrador, enquanto que há ações consideradas mo-
ralmente reprováveis que podem trazer bem-estar e segurança. Portanto,
não é com a virtude que deve se preocupar o administrador, mas com a
sua própria segurança.
Ora, de acordo com isso, não é necessário, que o administrador man-
tenha a sua palavra, caso isso lhe parecer no futuro prejudicial. Aliás, talvez
seja por isso que hoje se dá tanto valor aos compromissos escritos e oficiais.
À época de Maquiavel e durante a Idade Média, era possível fazer com
alguém um compromisso firmado apenas com a palavra, visto que cumprir
a palavra era tido como um dever religioso ou sagrado. Com a decadência
moral crescente que em seguida caracterizou o Renascimento, esse tipo de
acordo mostrou-se impossível. Com efeito, o próprio Maquiavel sugeria
que não se cumprisse a palavra firmada caso isso fosse mais vantajoso.
Daí que hoje nem se fala mais em acordo firmado com a palavra: qualquer
tipo de contrato ou mesmo conversas sobre assuntos de trabalho devem ser
oficializados, ou seja, passados para o papel, assinados e reconhecidos em
cartório. Caso contrário, é como se nada do que se conversou tivesse valor.
Outra ideia defendida por Maquiavel era a de que o administrador,
por mais que não deva preocupar-se com honestidade, deve, porém, parecer
ser honesto e passar essa imagem para as outras pessoas. É o que fazem, na
prática, alguns políticos ainda nos tempos modernos: vendem a imagem de
honestidade e seriedade para atrair e conquistar a confiança dos eleitores. O
administrador, pois, deve fazer o mesmo: vender uma imagem de si de res-
peito e moralidade, mas não precisa praticar essas virtudes. Diz ele: “Aliás,
ousarei dizer que, se as tiver [virtudes] serão danosas, enquanto, se parecer
tê-las, serão úteis. Deve parecer todo piedade, todo fé, todo integridade,
todo humanidade e todo religião – e sê-lo, mas com a condição de estar com
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o ânimo disposto a, quando necessário, não o seres”.

Citado a partir de MATTAR, J. Filosofia e ética na Admi-


nistração. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 213.

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Ética e responsabilidade social - Unidade 5

Portanto, um administrador não deve agir do modo como age um


homem bom, mas estar disposto a, se preciso, ir contra a fé, a caridade,
a humanidade ou a religião, para a preservação de seu poder e para que
atinja seus objetivos. Ele, portanto, não se subordina à moral ou à religião,
pois, fazendo o mal, pode, porém, governar bem. Ou seja: às vezes um
bom administrador é justamente aquele que, sem que ninguém o saiba,
age imoralmente, enquanto que o administrador, por assim dizer, “corre-
to” e “honesto”, pode administrar mal ou mesmo perder o cargo.
Em contrapartida, Maquiavel também dá conselhos práticos a res-
peito de como administrar. Diz, por exemplo, que a repreensão deve ser
feita de uma vez, isto é, caso haja algo para reclamar de um funcionário,
faça-o de uma vez só. Porém, os elogios devem ser dados aos poucos, pois
as pessoas são conquistadas facilmente quando muito elogiadas e isso
pode torná-las aliadas do administrador.
Diz também que o administrador deve incitar o ódio entre os admi-
nistrados. É claro que Maquiavel não se refere a ódio no sentido literal,
mas metafórico. O que pretende dizer é que o administrador deve dividir
os trabalhadores de modo a que eles não se associem, pois, associados,
podem representar ameaça ao poder do comandante. Imaginemos, por
exemplo, que dentro de uma grande fábrica os trabalhadores resolvem fa-
zer uma greve. Será bem mais fácil para o patrão controlar e mesmo aca-
bar com a greve se os funcionários estiverem divididos entre si. Pode-se
conseguir isso criando tipos de operários diferentes. Se entram em greve,
beneficia-se um tipo de operário, e não os demais. Com isso, aqueles que
foram beneficiados sairão do movimento grevista e ele se enfraquecerá.
Enfim, essas são algumas das mais importantes ideias de Maquiavel
a respeito do comportamento moral de um chefe político. Se podem ser
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aplicadas hoje no universo administrativo é uma questão aberta. Isso vai


depender do tipo de concepção de homem e de como se entende o que é o
bem e a felicidade para os seres humanos.

5.4  Ética No Século XX


Maquiavel viveu durante o século XV. Como vimos, trata-se de um
período conturbado e moralmente decadente. Seguiu-se a ele o século
XVI, e com ele surgiu também a ciência. Por sua vez, a ciência mostrou-
se ser extremamente eficaz quanto ao desejo humano de controle e domí-
nio da realidade. A capacidade de transformação da natureza aumentou
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Filosofia aplicada à administração

sensivelmente, e por isso muito se pensou que a ciência poderia finalmen-


te resolver os problemas do homem e conduzir a humanidade a uma época
de prosperidade e bem-estar.
Essa crença atingiu o seu momento mais importante no século XVIII,
conhecido como o Século das Luzes. Plenamente confiante na ciência, o
homem acreditava firmemente que a época de obscuridade passara e que
agora anunciava-se para a humanidade um futuro de bem-estar e conforto
crescente, em que as mazelas do passado seriam esquecidas e a civilização
entraria finalmente no caminho da ordem e da justiça. O século XIX é ainda
herdeiro dessa confiança na ciência e cheio de esperanças no homem.
Contudo, veio o século XX, e com ele duas guerras mundiais, a
bomba nuclear, a Guerra Fria, a revolução na Rússia, enfim, uma sucessão
incrível de horror e atrocidade. Como consequência, a esperança que carac-
terizara os séculos anteriores perdeu lugar. A ciência, em vez de resolver
os nossos problemas e expulsar definitivamente a obscuridade da mente
humana, colaborou, pelo contrário, para tornar a humanidade ainda mais
obscura, visto que através dela o homem foi capaz de inacreditável maldade
e crueldade. Com efeito, milhões de pessoas morreram vítimas da ambição
pelo poder ou pela ganância financeira, alvos de técnicas de extermínio so-
fisticadas, para cuja elaboração ideias e conceitos da ciência contribuíram.
Portanto, em lugar da confiança e da esperança dos séculos preceden-
tes, o século XX é caracterizado pela desilusão, pela desesperança e pelo
sofrimento. A Igreja assassinou milhares de pessoas durante a Idade Média,
acusadas de heresias as mais diversas. Mas a ciência, que prometia livrar a
humanidade da supers-
http://jornale.com.br/simon/wp-content/uploads/2008/02/charge-1902g.jpg

tição e conduzi-la para


o caminho da paz e da
civilização, foi uma das
grandes colaboradoras
para o massacre humano
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de que o século XX tem


tantos exemplos.
Por isso, o sé-
culo XX começa sem
conseguir crer em mais
nada. Tudo parece agora
absurdo e incompreen-
sível. O mundo tornou-
98

ADM 1-2 2013-1.indb 98 11/04/2013 17:44:22


Ética e responsabilidade social - Unidade 5

se meramente um objeto de estudo e pesquisa. As rosas não são mais


as “flores no campo”, mas as “plantas do botânico”. Mesmo o homem
tornou-se em simples objeto de pesquisa, sobre o qual se fala como se fala
de um pedaço de ferro dentro de um laboratório. Tudo, pois, parece agora
enigmático e confuso.
De acordo com isso, o homem do século XX é bem mais cético do
que os homens dos períodos anteriores. Não crê em mais nada, perdeu
quase inteiramente a fé. Observando isso, Sartre, filósofo francês do sécu-
lo passado, pergunta-se: e agora? Como viver em um mundo sem Deus?
E, citando o autor russo Dostoievski, lembra: “Se não há Deus, tudo é
permitido.”
Parece ser isso o que caracteriza este último século: a completa
ausência de Deus. Como consequência, tal como no tempo de Maquia-
vel, os valores morais hoje entraram em desuso. Embora ninguém o diga
explicitamente, muitos consideram a honestidade um valor menor que o
sucesso pessoal. Crescem e se aprofundam o individualismo e o egoís-
mo e, por consequência, as distâncias entre os homens. Daí a profunda
solidão que caracteriza nosso tempo. De maneira contraditória, o de-
senvolvimento de tecnologias de comunicação, que deveriam diminuir
as distâncias entre as pessoas, não
consegue, no limite, impedir Quando se fala em
que elas continuem a se sen- ausência de Deus, não se pre-
tir solitárias e perdidas em tende afirmar nada acerca de Deus
entendido como objeto de culto religioso.
um mundo sem sentido e Aqui, Deus aparece na acepção de uma ideia
sem valores. que dá sentido e ordem ao mundo. Quando se
Ora, é no contexto diz que Deus está ausente, o que se pretende
afirmar é que o nosso mundo é caracterizado
de um mundo assim ca-
pela perda de sentido e de valores, e que, em
EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

racterizado que se torna um mundo assim, tudo parece ser permitido


cada vez mais urgente
a reflexão a respeito da
ética e dos valores morais.
Em contrapartida, tendo em
vista que o nosso tempo é o tempo
das grandes corporações, é em seu interior que essa discussão deve, es-
pecialmente, chegar. Em outras palavras, as empresas são o lugar mais
apropriado para pensar a ética e as relações humanas em nosso tempo,
caracterizado pela supremacia das instituições sobre os indivíduos. É o
que faremos a seguir.
99

ADM 1-2 2013-1.indb 99 11/04/2013 17:44:23


Filosofia aplicada à administração

5.5  Ética e responsabilidade social


É cada vez mais comum ouvir algo sobre ética no interior das grandes
empresas ou mesmo na mídia de maneira geral. Isso certamente se deve ao fato
de que o nosso tempo, à semelhança com aquele em que viveu Maquiavel –
aliás, é consequência daquele tempo –, vive um clima de decadência e afrouxa-
mento moral muito profundo. No interior do mundo político já é lugar-comum
falar de corrupção, e tanto estamos acostumados com isso que às vezes nem
damos mais importância ao fato, como se fosse algo de natural acontecer.
Entretanto, não apenas no universo da política, como nas mais
cotidianas relações vive-se um clima geral de perda de valores. Diz-se
frequentemente que os jovens não respeitam mais os professores, que a
população não respeita mais a polícia e que a autoridade está em colapso.
Naturalmente que também se vive isso no mundo do trabalho. A competi-
ção por uma vaga pode às vezes assumir contornos moralmente perigosos.
O que se deseja é sempre o sucesso profissional, e isso ocasionalmente
significa desconsiderar as outras pessoas em nome da “vitória na vida”.
Esses valores inegavelmente são aqueles propagados pelo neoliberalis-
mo. O neoliberalismo, que apareceu no século XX, consiste em um conjunto
de ideias políticas que continuam e aprofundam os princípios do liberalismo
em sua defesa do capitalismo. Entre os valores que estão na base do neolibe-
ralismo está a ideia de que cada um deve ser o melhor no que faz, não basta
ser bom. Cria-se, assim, um clima de competição social e uma corrida cega
para o constante aperfeiçoamento. Contudo, trata-se de uma corrida individu-
al: o fracasso ou o sucesso na vida é entendido no neoliberalismo como uma
consequência da incompetência ou do mérito pessoal, e não das condições
injustas e desiguais da sociedade. Daí a ênfase na educação, como capaz de
levar ao sucesso na vida, com a ideia de que, quanto mais se estuda, melhor
profissional se é e maior será, por consequência, a renda financeira. Portanto,
o que está na base do neoliberalismo é o imperativo:
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“vença na vida!”, entendendo o vencer como ter Visite o endereço a


sucesso profissional. seguir para aprofundar suas
ideias a respeito do conceito
Evidentemente, não se trata de negar de ética ou para saber mais sobre
as ideias do neoliberalismo, mas de evitar os o neoliberalismo e as perspectivas
extremos e os perigos que elas podem trazer éticas que ele traz consigo: http://
portal.filosofia.pro.br/
consigo. É dentro desse quadro que tem lu-
gar o debate acerca da ética e da responsabili-
dade social de uma empresa.
100

ADM 1-2 2013-1.indb 100 11/04/2013 17:44:23


Ética e responsabilidade social - Unidade 5

Contudo, há mais perguntas do que respostas sobre esse tema. O que se


deve pensar, por exemplo, a respeito dos produtos prejudiciais à saúde? Deve-
se respeitar a liberdade individual e de mercado ou o governo deve restringir
sua produção e comercialização? Outra questão que se pode fazer é: como
conciliar a competição e a solidariedade? É possível fazê-lo, ou a ideia de
competição implica necessariamente a de desrespeito ao próximo? Ou ainda:
como justificar a riqueza, quando ela convive com a extrema pobreza?
Debater essas questões é da máxima importância, embora dificilmente
consigamos unanimidade de ideias. É devido ao conflito de opiniões, com efei-
to, que falar de responsabilidade social de uma empresa ainda é tão delicado.
Para alguns, a empresa não tem nenhuma responsabilidade social, mas
deve preocupar-se exclusivamente com a maximização dos lucros. Esse é,
de fato, seu objetivo maior e mesmo único: foi para isso que ela foi criada e
é através disso que ela sobrevive. Além disso, outros motivos são alegados
para se defender que a organização não tem responsabilidade social:
a) preocupar-se com responsabilidade social significa desviar-se do
objetivo real da empresa;
b) a empresa atuará em um mercado em que nem todos adotam medi-
das éticas; se ela o fizer, poderá prejudicar-se;
c) investir em responsabilidade social pode diminuir o valor da empre-
sa e comprometer sua sobrevivência a longo prazo.
Para outros, porém, a empresa tem responsabilidade sobre todos
com que ela lida, desde os funcionários e clientes até a comunidade em
volta e o meio ambiente.
Enfim, não se tem aqui respostas, mas perguntas: o que devemos
fazer é nos questionar a respeito desses problemas e buscar juntos as alter-
nativas para a construção da justiça social. Disso fala Chanlat, ao defender
EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

o caminho em direção a uma nova ética nas empresas.

5.6  Uma nova ética na administração


Chanlat é um autor contemporâneo que muito se preocupa com o
problema do indivíduo dentro das organizações e de como construir uma
nova ética de relações dentro das empresas.
Em primeiro lugar, lembra que uma nova ética só é possível caso haja,
por parte do indivíduo, respeito por si mesmo, pelos outros e pelas institui-
ções; e, por parte das instituições, é preciso que haja respeito pelas pessoas e
pelo coletivo. Conheceremos a seguir suas ideias a respeito desse problema.
101

ADM 1-2 2013-1.indb 101 11/04/2013 17:44:23


Filosofia aplicada à administração

Como já dissemos antes, a preocupação com a ética é hoje cada


vez mais constante. Isso se deve ao fato de que, já no último século,
foram noticiados diversos casos de escândalos financeiros, teste-
munhando o crescente egoísmo que caracteriza atualmente os exe-
cutivos. Contudo, hoje se veem mais claramente as consequências
sociais de determinadas decisões, levando à necessidade de pensar de
maneira mais detida o problema da ética nas organizações.
Com efeito, vive-se um clima de egoísmo generalizado: por
parte dos executivos, que se esquecem dos outros e até mesmo da
própria empresa para pensarem apenas em si mesmos; e por parte das
empresas, que não demonstram interesse real nas pessoas, senão na
medida em que elas lhes são úteis. Daí o conflito hoje fremente entre
o bem individual e o bem coletivo: em vez de juntos, o individual e o
coletivo parecem caminhar como se fossem inimigos.
Trata-se, pois, de construir uma nova perspectiva moral, que
leve em conta o respeito mútuo entre o que é individual e o que é
coletivo. Portanto, deve-se falar, de um lado, no indivíduo e sua
relação com a empresa e de outro, na empresa e sua relação com o
indivíduo.
Do ponto de vista do indivíduo, o interesse deve ser direciona-
do para: a) si mesmo; b) os outros e c) a instituição.
Ora, no que diz respeito ao interesse do indivíduo por si mes-
mo, é esse um problema característico de nosso tempo. De fato, na
história do pensamento ocidental sempre se acreditou, talvez desde
Sócrates, que é central a preocupação que o indivíduo deve ter con-
sigo mesmo. Sem dúvida, o indivíduo deve interessar-se por si; o
problema é quando esse interesse assume uma feição tal que anula
o interesse pelo outro. Com efeito, vivemos em uma sociedade em
que a afirmação da própria imagem faz surgir um indivíduo narci-
sista – lembra-se do mito de Narciso, que discutimos no começo de
Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

nosso estudo? –, para quem o mundo é uma espécie de espelho, e não


um espaço para a afirmação da singularidade. Em outras palavras,
o indivíduo preocupa-se mais em passar uma imagem agradável de
si para os outros, preocupa-se mais, enfim, com o que os outros vão
achar de sua imagem, do que com as suas próprias opiniões e ideias.
As pessoas querem, pois, celebridade e assim se fecham na imagem
pública de si mesmas.

102

ADM 1-2 2013-1.indb 102 11/04/2013 17:44:24


Ética e responsabilidade social - Unidade 5

Minha!
Minha!

De acordo com essa visão, os outros são apenas instrumentos para


se alcançar algo. Testemunhos da escassez de interesse pelo outro são o
desrespeito aos mais velhos, o desaparecimento dos rituais de polidez, ou
seu cumprimento meramente formal ou a exigência maior de direitos que
de deveres.
Em contrapartida, o indivíduo de hoje não tem interesse também
pela própria organização. Nosso tempo faz apologia do sucesso individu-
al, e isso de tal maneira que o indivíduo parece esquecer que trabalha em
uma instituição e para ela.
Entretanto, também as empresas precisam desenvolver, de sua
parte, interesse real pelas pessoas. Hoje é comum em algumas empresas
práticas como priorizar o curto prazo, privilegiar a juventude e promover
a mobilidade dentro da organização. Na prática, isso acaba por enfraque-
cer os laços do indivíduo com a organização, além de estar na origem do
absenteísmo, do desinteresse e das respostas mecânicas dos empregados
EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

no exercício de suas funções.


Por tudo o que foi exposto, Chanlat sugere a construção de uma
nova ética dentro das organizações, que leve em conta, de um lado, as
relações do indivíduo para com a empresa e, de outro, as relações da
empresa para com o indivíduo. Tratar-se-ia de uma ética individual da

Apologia: trata-se de qualquer discurso feito em defesa ou


em louvor de algo.

103

ADM 1-2 2013-1.indb 103 11/04/2013 17:44:28


Filosofia aplicada à administração

reciprocidade, em que o interesse individual e o coletivo não estivessem


com conflito, mas de mãos dadas. Isso exigiria o esforço de ambas as
partes para o respeito mútuo. Na prática, deve-se refletir em estabilidade
de emprego, boas condições de trabalho, igualdade de tratamento e rela-
ções humanas baseadas no diálogo e na partilha de responsabilidades.
Essas são, pelo menos, as ideias de Chanlat. Não precisamos, natural-
mente, aceitá-las, mas, em todo caso, refletir sobre os problemas éticos de
nosso tempo, caracterizado que é pela existência de grandes corporações. É
um dever e uma necessidade urgente, sobretudo por parte daqueles que atuam
diretamente dentro das organizações, ou seja, os administradores de empresas.

Questões para reflexão


01. Diferencie ética de moral.

02. Qual a principal distinção entre o modo de entender a virtude em


Aristóteles e no cristianismo?

03. Comente a ideia de Aristóteles segundo a qual não pode existir amiza-
de entre pessoas desiguais, como é o caso da relação entre patrão e empre-
gado. Você concorda com a opinião de Aristóteles? Justifique.

04. A partir do que foi visto acerca de Maquiavel, comente se e em que


medida é possível ainda hoje aplicar suas ideias no âmbito da Administra-
Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

ção de Empresas.

05. Como o século XX distingue-se dos séculos anteriores, no que diz


respeito à visão acerca da humanidade e seu progresso?

104

ADM 1-2 2013-1.indb 104 11/04/2013 17:44:28


Ética e responsabilidade social - Unidade 5

06. O que significa morte de Deus, conceito comum no pensamento con-


temporâneo?

07. Que motivos geralmente se alegam dentro das empresas para negar
que ela deva se preocupar com responsabilidade social?

08. O que Chanlat pretende expressar por Ética Individual da Reciproci-


dade?

09. Dê exemplos de comportamentos e práticas das empresas que podem


ferir princípios éticos ou de responsabilidade social.

Reflexão
Vivemos hoje em uma época pouco espiritual, que se caracteriza pela
perda geral de valores como a lealdade ou a honestidade em nome do indi-
vidualismo e do egoísmo nas relações. Sem dúvida, isso não é privilégio de
nosso tempo. Por motivos diversos, ao longo da história da humanidade o
egoísmo sempre teve períodos em que se sobressaiu. Foi assim no período en-
EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

tre Alexandre e Constantino, na Antiguidade, época em que os homens se vol-


taram para si mesmos por verem o mundo como um lugar injusto e mau. Foi
assim também no começo da Idade Moderna, devido à vitória da Reforma,
que defendeu a liberdade e o direito de cada um pensar e agir por si mesmo.
E é assim hoje, época em que as relações humanas são subordinadas ao valor
econômico, tido pelo mais importante, e em que o próprio homem tornou-
se mercadoria ou instrumento para a conquista de bens financeiros. Nesse
sentido, é importante e mesmo fundamental que as pessoas envolvidas direta
e ativamente na dinâmica de nosso tempo sejam capazes de pensar nos pro-
blemas acima apontados e buscar soluções para eles. Entre essas pessoas, os
administradores e as administradoras de empresas ocupam lugar de destaque
105

ADM 1-2 2013-1.indb 105 11/04/2013 17:44:29


Filosofia aplicada à administração

ou mesmo central. Sem dúvida, como vimos, o problema das relações entre o
indivíduo e a sociedade não é um problema recente, mas sempre acompanhou
a humanidade. Provavelmente, não terá solução definitiva. Contudo, é tam-
bém papel dos administradores de hoje pensar e encontrar para o nosso tempo
soluções, ainda que parciais, que apontem em direção a uma sociedade mais
justa e que efetivamente seja lugar de realização plena do ser humano.

Leitura recomendada
MAQUIAVEL, Nicolau. O príncipe. Trad. Maurício Dias. São Paulo:
Penguin Companhia das Letras, 2010.
Embora as ideias de Maquiavel sejam controversas em muitos pontos,
ele oferece, ao menos como referência negativa, uma possibilidade
fecunda de diálogo com a Teoria da Administração, por discutir detida-
mente como deve alguém administrar um governo. Ele se refere, é cer-
to, ao príncipe ou monarca, mas algumas de suas ideias podem também
ser pensadas no interior da prática administrativa de uma empresa.

Referências
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. 4. ed. São Paulo:
Martins Fontes, São Paulo, 2003.

BOBBIO, Norberto A era dos direitos. Rio de Janeiro: Campus, 1992.

________________; BOVERO, Michelangelo. Sociedade e Estado


na filosofia política moderna. São Paulo, Brasiliense, 1986.

BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. Trad. de Fernando Tomaz. 4.


ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001.
Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

CHANLAT, J-F. A caminho de uma nova ética das relações nas organi-
zações. Revista de Administração de Empresas, v. 32, n. 3, p. 68-73,
jul./set. 1992.

CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 1998.

________________ Filosofia. São Paulo: Atual, 1992.


106

ADM 1-2 2013-1.indb 106 11/04/2013 17:44:29


aç ão Psicologia aplicada à
Administração
Caro aluno, bem vindo ao curso de psicologia
ent
aplicada à administração! Conheceremos aqui as
contribuições da psicologia para a estruturação da ad-
ministração como uma ciência de cunho humano.
res

Para início, veremos a constituição da psicologia como


ciência e a colaboração de suas ferramentas para a prática da
Ap

administração de empresas.
A seguir, temos a psicologia comportamental e seus recursos de
ampla aplicação na gestão de pessoas – como a aprendizagem de
novos comportamentos.
Adiante, temos o conhecimento da psicologia da gestalt (psicologia
da boa forma) com aplicabilidade voltada aos processos perceptivos
dos estímulos em geral.
O quarto tema aborda a psicanálise: como a teoria desenvolvida por
Freud nos ajuda a entender o comportamento humano em aspectos nem
sempre tangíveis pela nossa consciência.
O tema cinco apresenta como se dá a comunicação humana no estabe-
lecimento de contatos e relações, além da psicologia social aplicada a
grupos, observando o comportamento humano quando em grupo e suas
características.
O tema seis aborda a motivação, quesito de grande interesse no meio cor-
porativo. Conheceremos a importância da atuação sobre aspectos estru-
turais e humanos no intento de manter o grupo de trabalho motivado.
No último capítulo estudaremos a liderança, também de grande in-
teresse no mundo empresarial. Veremos o que torna uma pessoa
líder, suas características e implicações em uma corporação.
Por fim, esta apostila busca apresentá-los à psicologia e
convidá-los a uma reflexão sobre o comportamento humano,
sua relação com as corporações e vice-versa.
Vamos dar início ao nosso curso e bons estudos a to-
dos vocês!

ADM 1-2 2013-1.indb 107 11/04/2013 17:44:30


ADM 1-2 2013-1.indb 108 11/04/2013 17:44:30
A psicologia na administra-
ção de empresas

1 Neste primeiro tema, veremos como a psi-


cologia e a administração de empresas são duas
de
disciplinas que possuem na ação humana e em sua
produção a base de sua fundamentação. Estudaremos
ida

como a psicologia saiu do lugar do senso comum e do


conhecimento cotidiano para se formar como ciência,
dando recursos para entendermos o comportamento humano
Un

e suas implicações. Indo mais além, veremos como esses co-


nhecimentos da psicologia podem nos ajudar a entender em que
lugar o ser humano e seu comportamento encontram-se diante do
atual mundo do trabalho e suas transformações.

Objetivos da sua aprendizagem


• Conhecer a formação da psicologia como ciência;
• Conhecer as aproximações entre psicologia e administração de empresas;
• Conhecer as aplicações da psicologia na administração de empresas.

Você se lembra?
Você se recorda ou já teve algum contato com profissionais da área da
psicologia? Em quais contextos ou situações? Em um local de trabalho,
como a psicologia se faz presente?

ADM 1-2 2013-1.indb 109 11/04/2013 17:44:30


Psicologia aplicada à administração

1.1  Uma breve incursão sobre os conceitos “psis”


Para darmos início à nossa conversa, quem de nós nunca se sentiu
tentado a procurar entender o comportamento humano (muitas vezes nos-
so próprio comportamento) diante de circunstâncias cotidianas, aconteci-
mentos de nosso dia a dia? Quem nunca ouviu comentários do tipo: “Fula-
no teve uma crise de nervos!”, “Nossa! Acho que ela está com depressão”,
“Ele tem um QI elevado!”, “Freud explica!”... Estas e outras frases de
cunho psicológico, ou seja, que dizem respeito ao comportamento huma-
no e como o percebemos, podemos considerar que pertencem ao domínio
público, de tanto que as pessoas se apropriaram dos conhecimentos que a
psicologia nos trouxe.
Mas... O que de fato é a psicologia? O que estuda a psicologia?
Seria a psicologia uma ciência? Se sim, por quê? Até que ponto vai o co-
nhecimento do senso comum (ou seja, as conclusões que as pessoas tiram
a partir de suas próprias experiências), em que ponto começa a psicologia
como ciência? E vocês devem estar se perguntando: o que, afinal, isso
tudo tem a ver com meus estudos de administração de empresas?
Vamos começar com algumas pontuações bem claras sobre o uni-
verso “psi” que muitas vezes confundem o entendimento daqueles que
não são da área: Psicologia, Psicanálise e Psiquiatria não são sinônimos.
São conceitos e conhecimentos diferentes que apresentaremos brevemen-
te, para que possamos partir de um entendimento comum sobre o que
significam essas palavras.
Psicologia diz respeito à ciência que estuda o comportamento,
as crenças, as atitudes e a cognição humana. O profissional psicólogo
pode atuar nas áreas clínica, escolar, da saúde, de esportes, judiciária,
hospitalar, social, organizacional, psicométrica, em pesquisas aplicadas.
A atuação do psicólogo requer o conhecimento de áreas que se inter-
relacionam: as ciências humanas e as ciências biológicas. As conexões
Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

entre estas duas áreas permitem ao psicólogo uma visão tanto sobre os
processos mentais em termos de sua ocorrência como um fato orgânico,
como um evento social-afetivo. Dentre as relações estabelecidas entre
estas duas áreas, estudaremos nesta disciplina algumas teorias que nos
remetem para um olhar sobre o ser humano ora como ser biológico, ora
como ser social.
Temos outro conceito, muito associado à Psicologia e ao estudo da
mente, que é a Psicanálise. Trata-se de uma teoria da Psicologia que foi
110

ADM 1-2 2013-1.indb 110 11/04/2013 17:44:30


A psicologia na administração de empresas - Unidade 1

A psicologia na administração de empresas - Unidade 1

desenvolvida por Sigmund Freud e, como qualquer outra teoria, ajuda-


nos a entender o ser humano e sua psique. Estudaremos mais detida-
mente a Psicanálise mais adiante, tendo em vista tratar-se de um marco
para o campo dos estudos e da compreensão da mente humana e suas
motivações.
Por fim, quando falamos em Psiquiatria, ou Psiquiatra, referimo-nos
a uma especialização médica (residência) que se dá após o término do
curso de medicina. Devido à formação médica, o profissional Psiquiatra,
diferente do Psicólogo, encontra-se habilitado a prescrever medicação
para o tratamento das doenças mentais.

Para aprofun-
dar um pouco mais esta
discussão, leia os comentá-
Madartists / Dreamstime.com

rios postados no site do Conselho


Regional de Psicologia de Alagoas:
http://www.crp15.org.br/conteu-
do_det.php?nid=208

Ficou mais claro?

Desse modo, como a psicologia pode contribuir para a formação do


administrador de empresas? Em que momento os instrumentos da psicolo-
gia podem ajudar no dia a dia de uma corporação, uma organização?
Podemos partir do entendimento de que a empresa em si não
EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

existe: o planejamento, a implementação dos processos de produção,


o alcance de um produto final – enfim, tudo o que diz respeito a uma
empresa – somente se faz possível pelo fato de existirem seus colabora-
dores: pessoas que exercem atividades específicas e variadas que geram
o funcionamento da empresa.
Assim, a administração de uma empresa prescinde a administração
daqueles que a constituem, ou seja: pessoas. Indivíduos que possuem cada
um sua história, sua forma de pensar, suas crenças, seus valores, suas
ideias e maneiras de interpretar o mundo.
Como, então, lidar com esta diversidade e ainda ser produtivo para
o alcance dos objetivos da empresa? Como coordenar tais variáveis huma-
111

ADM 1-2 2013-1.indb 111 11/04/2013 17:44:34


Psicologia aplicada à administração

nas e também lidar com as questões econômicas pertinentes ao cotidiano


empresarial?
Estas e outras questões que abrangem o universo humano da orga-
nização recebem grandes contribuições dos conhecimentos da psicologia
para a gerência empresarial.

1.2  A construção da psicologia como ciência


A psicologia é uma ciência, mas faz-se necessário entender o que
isso significa para irmos mais adiante. Quando afirmamos que determina-
do conhecimento é uma ciência, isto quer
dizer que possui leis e teorias pró-
prias, é passível de reaplicabili- Assim, a psicolo-
gia constitui-se como ciência
dade dos eventos estudados e
a partir do momento em que possui
pode gerar a previsibilidade suas teorias próprias, bem como é
de eventos futuros. capaz de identificar seu objeto e variáveis
Ve j a m o s , e n t ã o , de estudo, as quais permitem a busca de
generalizações, bem como a reaplicabilidade
como a Psicologia formou- do evento estudado.
se como ciência e em que
momento houve o encontro
com a administração de em-
presas.
Remontando a Idade Mo-
derna, temos que a ciência começou
a se desenvolver como forma de conhecimento e construção do saber
neste período, tendo seu ápice no Renascimento. O exercício das ciên-
cias naturais, principalmente no campo da física, da química e da bio-
logia, teve grande êxito devido ao seu método de previsão e controle.
Diante disso, as demais áreas de conhecimento, incluindo a filosofia e as
ciências humanas, passaram a aplicar os métodos semelhantes aos em-
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pregados nas ciências naturais. Por muito tempo, este foi o modelo de
desenvolvimento de ciência aceito no meio acadêmico.
A psicologia, assim como as ciências sociais (sociologia, antropo-
logia e ciências políticas), teve seus primórdios arraigados nas ciências
naturais e em seus métodos. Desse modo, falamos de visões sobre a psi-

112

ADM 1-2 2013-1.indb 112 11/04/2013 17:44:35


A psicologia na administração de empresas - Unidade 1

cologia como ciência sendo tratada como a física, a química e a biologia.


Tendo em vista que era este o tipo de ciência valorizado na época, a psi-
cologia precisou buscar, em seu campo de estudos, meios de conseguir
fazer-se presente e ser respeitada no meio acadêmico como ciência.
Para tanto, procurou igualar-se aos meios de pesquisa das ciências
naturais, buscando em experimentos laboratoriais os primeiros passos
para sua identidade científica. Desse modo, a psicologia no século XIX
era realizada em laboratórios, destinados a estudar o comportamento
humano em busca de leis, variáveis quantificáveis, extração de teorias,
reaplicabilidade dos experimentos. Foi neste período, por exemplo, que se
estudaram os processos mentais como a percepção, a neurofisiologia, a in-
teração com o meio e suas variáveis – para tanto, fazia-se uso de modelos
matemáticos estatísticos para a elaboração de teorias e regras gerais sobre
o comportamento.

Para saber mais sobre a formação da área de humanas


como ciência e seu viés positivista, acesse o texto no seguinte
site: http://abrapso.org.br/siteprincipal/images/Anais_XVENABRAP-
SO/178.%20breve%20ensaio%20acerca%20das%20principais%20
diferen%C7as.pdf

Foi principalmente com o desenvolvimento da Psicanálise, que insti-


tuiu o método clínico (que mais tarde nos dá base para o desenvolvimento
do conhecimento por meio de estudos de caso), e posteriormente nas déca-
das de 1960 e 1970, que a Psicologia precisou rever seus métodos científi-
cos e passar a adotar novos meios de pesquisar e entender a subjetividade.|
Do mesmo modo, tais críticas foram também aplicáveis às demais
EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

ciências humanas, visto que a realidade do mundo não era traduzida em


um contexto de laboratório, o que motivou o estudo destas questões sob
novo enfoque. Assim, passou-se a desenvolver a ciência de cunho quali-
tativo, o qual permitia um estudo da subjetividade sem as amarras de um
estudo controlado.
Posteriormente, também este modelo de ciência foi criticado, tendo
em vista que o homem, à medida que estuda a subjetividade, é também
seu próprio objeto de estudo.

113

ADM 1-2 2013-1.indb 113 11/04/2013 17:44:35


Psicologia aplicada à administração

Lisa F. Young / Dreamstime.com

A orientação profissional de jovens e adultos é uma das áreas de atuação do psicólogo.

1.3  A psicologia na administração de empresas


Diante do exposto até aqui, vimos que a psicologia surge como
ciência a partir dos métodos naturais, mas, no decorrer dos séculos, ad-
quiriu novas formas de gerar conhecimento por meio de métodos quali-
tativos. Atualmente, é possível atender diferentes objetivos, sabendo-se
aplicar os métodos corretos, o que tem dado à psicologia um maior cam-
po de diálogo com outras áreas de conhecimento, como a administração
de empresas.
Aliás, este diálogo tem sido feito desde o desenvolvimento da Te-
oria das Relações Humanas, em 1940, por Elton George Mayo, a qual se
contrapôs à administração científica como modelo de gerência. Tais teo-
rias serão apresentadas com maior propriedade em disciplina específica
deste curso, mas, apenas para demonstrarmos a relação entre psicologia e
administração, reportamo-nos a elas.
Assim, podemos passar a compreender que a relação humana, no
contexto da organização, adquiriu relevância a partir de então e, desse
modo, tem-se estudado as implicações do homem e seu comportamento
sobre a organização e vice-versa.
Hoje, a psicologia aplicada à administração nos possibilita estudar
Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

a intervir sobre aspectos relativos a percepção, aprendizagem, motivação,


liderança, equipes e grupos, treinamentos, estresse, comunicação, reso-
lução de conflitos etc. Indo mais além, os conhecimentos psicológicos
contribuem diretamente com a gestão de pessoas, um setor da organização
que adquiriu importância estratégica atualmente. A psicologia evoluiu

114

ADM 1-2 2013-1.indb 114 11/04/2013 17:44:40


A psicologia na administração de empresas - Unidade 1

e especializou-se para então dar


No Brasil, foi na
conta da demanda contida no década de 1990 que o termo
dia a dia de uma empresa. Psicologia Organizacional e do Tra-
A POT possui como balho (POT) passou a ser empregado.
Relacionar os termos relativos à organiza-
um dos seus principais ção e ao trabalho teve por objetivo contemplar
desafios compreender a a atual diversidade da área, propondo dois
interação entre indivíduos, grandes eixos de fenômenos: o trabalho,
grupos e organizações em enquanto atividade humana capaz de repro-
duzir sua própria existência social, e as
um mundo em constante organizações, como recurso social de
transformação. Diante disso, formação de grupos humanos.
busca propor formas de pro-
mover, preservar e restabelecer a
qualidade de vida e o bem-estar dos indi-
víduos. Para tanto, a POT encontra-se atenta a, por exemplo, situações em
que as pessoas tenham que se adaptar a condições que ultrapassem seus
próprios limites, como a sobrecarga de trabalho, o desempenho de múlti-
plas funções em curto período de tempo, ou mesmo alterar aspectos de sua
identidade (Malvezzi, 2004). Para tanto, faz-se necessária estreita interface
com outras áreas do conhecimento, tais como sociologia, antropologia, ci-
ências políticas, educação, economia e administração (Bastos, 2003).
Tal conhecimento tem tido sua importância cada vez mais valoriza-
da, tendo em vista que, atualmente, o mundo globalizado imprime inova-
ções e tecnologia, ao passo que também nos deixa com o acirramento da
concorrência, e o mundo do trabalho em crise. Uma gerência desatenta
aos recursos humanos de sua empresa abre mão de parte de seu potencial
para crescimento. Com isso, a gestão de pessoas tornou-se estratégica na
mesma medida que pôde desenvolver outros olhares sobre seus colabora-
EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

dores, que passaram a ser vistos como clientes internos.


Enfim, há uma diversidade de ações que a psicologia pode exercer
na administração de empresas, sendo importante que tanto o adminis-
trador de empresas quanto o psicólogo tenham conhecimento da área de
atuação um do outro. A convergência de objetivos entre a Psicologia e a
Administração enseja instigantes possibilidades de promover ganhos de
produtividade conjugados com a melhoria da qualidade de vida, por meio
da aplicação de suas práticas e conceitos em várias áreas de interesse.

115

ADM 1-2 2013-1.indb 115 11/04/2013 17:44:40


Psicologia aplicada à administração

Até o início do século XX, os objetivos sociais eram de domínio da


natureza e das forças produtivas. Neste sentido, a administração e a admi-
nistração científica de Taylor, Ford e Fayol se beneficiavam dos estudos
comportamentais da psicologia, que auxiliavam e auxiliam a administra-
ção voltada às necessidades da empresa como organização única.
Atualmente, o que se observa é uma mudança de perspectiva sobre
a organização. Tem-se que o funcionário deixou de ser mero cumpridor
de tarefas e de ser engrenagem do sistema e passou a ser colaborador
pró-ativo no diagnóstico e na proposição de melhorias para o trabalho, a
empresa, o mercado e a sociedade.
A expansão do mercado e da concorrência exigiu a união entre
organizações, o fortalecimento dos parceiros e da sociedade. As pessoas
que compõem a empresa deixaram de ser um peso, um encargo, para
tornarem-se a solução. Mais do que gerenciar lançamentos e produtos,
produção, produtividade e custos, a gestão irá olhar para o componente
humano e seu potencial buscando seu desenvolvimento como pessoa, pro-
fissional e cidadão.
Este olhar de cuidado ao “cliente interno” da organização reflete
diretamente no contato com o cliente externo, sendo ele consumidores,
fornecedores, acionistas, a sociedade. Ademais, a psicologia também vem
contribuir para o desenvolvimento de ações de cunho social das organiza-
ções, as quais têm sido cada vez mais esperadas a atuação das empresas
diante das questões que envolvem o bem-estar coletivo.
Aliás, as organizações podem utilizar-se intensamente de seu
know how ao lidar com as diversidades, realizar planejamentos, esti-
pular metas, definir funções, entre outras possibilidades, para atuarem
junto à sociedade.

Atividades
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01. Discorra sobre como a formação da psicologia como ciência possibi-


litou a aproximação com a administração de empresas.

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ADM 1-2 2013-1.indb 116 11/04/2013 17:44:40


A psicologia na administração de empresas - Unidade 1

02. Aponte as áreas e os setores, bem como o respectivo conhecimento da


psicologia, que se encontram presentes no cotidiano organizacional.

03. Em que momento a gestão de recursos de pessoas tornou-se estra-


tégica?

Reflexão
Neste primeiro contato, vimos que a psicologia como ciência ini-
cialmente estruturou-se a partir do modelo das ciências naturais, o que
posteriormente foi questionado como modelo capaz de abarcar as ques-
tões subjetivas. Temos que a psicologia, pela natureza de seu conhecimen-
to, dialoga com outras áreas, entre elas a administração de empresas. Os
benefícios da psicologia para a administração são incontestáveis, tendo
em vista que a primeira fornece recursos para lidar com questões diversas
deste universo, como aprendizagem, liderança, comunicação, motivação,
seleção, treinamento, doença no mundo do trabalho etc.
EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

Em nosso curso, os conhecimentos da psicologia aplicada à admi-


nistração fazem parte de um conjunto de outras fontes de conhecimento, a
saber: Comportamento Organizacional e Gestão de Pessoas. A psicologia
fornece as bases para que estas e outras disciplinas tenham um terreno
“preparado’ para se estabelecerem e terem na psicologia suas bases de
sustentação.
O mundo, as ciências sociais, a psicologia e a administração so-
freram e sofrem mudanças mediante o contexto de cada época e lugar.
O modelo de ciência adotado por estas disciplinas até início do século
XX apontava para a necessidade de predição e controle dos fenômenos.

117

ADM 1-2 2013-1.indb 117 11/04/2013 17:44:40


Psicologia aplicada à administração

Este contexto contribuiu para a construção de métodos administrativos e


psicológicos que se inter-relacionam, posto que demandam olhar sobre os
fenômenos sociais.
Veremos, nos temas seguintes, as principais teorias da psicologia e
quais contribuições elas trazem para a administração de empresas no trato
de seus colaboradores.

Leituras Recomendadas
COLTRO, A. “Seção de Pessoal, Departamento de Pessoal, Admi-
nistração de Pessoal, Administração de Relações Industriais, Ad-
ministração de Recursos Humanos, Gestão de Recursos Humanos,
Gestão de Pessoas... ou o Multiforme Esforço do Constante Jogo”.
Piracicaba: 2009. Disponível em: http://www.raunimep.com.br/ojs/in-
dex.php/regen/article/view/79. Acesso em: 07 de setembro de 2010.

Resumo: Este artigo aborda a contextualização da gestão de pessoas


no atual cenário da prática econômico-empresarial. Apresenta um percur-
so histórico da formação deste conceito e finaliza com um debate acerca
da sua complexidade.

Referências
DAVIDOFF, L. Introdução à Psicologia. São Paulo: Makron Books,
2000.

Na próxima unidade
No capítulo seguinte, vamos dar início ao estudo de uma das corren-
tes teóricas da psicologia, que é a psicologia do comportamento.
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118

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Psicologia do comporta-
mento

2 Este tema nos traz a teoria da psicologia do


comportamento, que, como o próprio nome nos
de
diz, possui como objeto de estudo o comportamen-
to humano e sua interação com o ambiente. A psico-
ida

logia do comportamento remete aos primeiros estudos


desenvolvidos pela psicologia como ciência, tendo até hoje
grande relevância seus achados e conceitos. Estudaremos
Un

quais são as principais contribuições que esta corrente teórica


pode trazer para o aprimoramento da prática administrativa e
seus desafios, considerando que o administrador necessita de re-
cursos para lidar com a diversidade de situações presentes no conta-
to com colaboradores, fornecedores, clientes etc.

Objetivos da sua aprendizagem


• Conhecer os principais conceitos da psicologia do comportamento;
• Identificar sua aplicabilidade como ciência de estudo do comportamen-
to humano;
• Relacionar os conceitos teóricos apresentados com a demanda e a rotina
organizacional;
• Aplicar e realizar esquemas de condicionamento comportamentais para
o desempenho de tarefas e atividades com os colaboradores dentro da
empresa.

Você se lembra?
Vimos, no capítulo 1, quais foram os caminhos percorridos pela psi-
cologia para atingir um status de ciência, assim como as demais
ciências humanas. Vimos o quanto foi necessário para a área de
humanas buscar mecanismos semelhantes às ciências naturais
(a física, a química e a biologia) para desenvolver-se como
ciência e firmar-se como tal. A psicologia do comporta-
mento foi um importante reflexo desta busca, trazendo
para conhecimento uma maneira de investigar o com-
portamento humano.

ADM 1-2 2013-1.indb 119 11/04/2013 17:44:41


Psicologia aplicada à administração

2.1  Comportamento humano em foco


Para iniciarmos nossa conver-
sa sobre o presente tema, vamos Comportamento,
refletir sobre o que significa a segundo o Dicionário
Michaellis de Língua Portugue-
palavra comportamento.
sa on line, pode ser definido como uma
A psicologia pode designação genérica a cada reação em
nos dar instrumentais rele- face de um estímulo presente, podendo ser
vantes para que possamos este estímulo a presença do outro, fatos ou
situações. Assim, o comportamento é aquilo
agir e até modificar um que mostramos ao outro, como reagimos
determinado comporta- e nos portamos diante de determinadas
mento, tendo na psicologia situações.
comportamental sua principal
fonte de estudo da interação (e
reação) do homem com o seu meio
ambiente. Para tanto, conheceremos os conceitos de estímulo, resposta,
condicionamento, comportamento reflexo e comportamento operante,
extinção, punição, reforço positivo e negativo – os quais nos servirão
para pensarmos em como o comportamento humano pode ser modifica-
do e receber novos significados.
A psicologia comportamental esteve fortemente presente a partir
do final do século XIX, sendo os Estados Unidos o país onde esta cor-
rente teórica atingiu grande desenvolvimento. Devido a isso, a psicolo-
gia do comportamento também é chamada de “behaviorismo” – palavra
derivada de “behavior”, que significa comportamento. Por isso, em al-
guns momentos, poderemos ao longo do texto utilizar as denominações
“psicologia do comportamento”, “psicologia comportamental” e “beha-
viorismo” como sinônimas.
Podemos dizer que a psicologia comportamental deu à psicologia
seu status de ciência devido à sua possibilidade de desenvolver experi-
Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

mentos de estudo do comportamento em laboratórios, com controle de


variáveis, reaplicabilidade dos resultados e previsibilidade de eventos. Ou
seja, conferia à psicologia a condição semelhante de uma ciência natural.
Veremos, mais adiante, dois nomes que atingiram notoriedade dentro do
behaviorismo devido aos experimentos laboratoriais desenvolvidos.

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ADM 1-2 2013-1.indb 120 11/04/2013 17:44:41


Psicologia do comportamento - Unidade 2

Psicologia do comportamento - Unidade 2

Courtesy of University of Chicago

As pesquisas da psicologia comportamental também foram aplicadas para a aprendizagem


de alunos.

2.2  Princípios básicos da psicologia comportamental


O princípio geral do behaviorismo está no estabelecimento de uma
relação entre um estímulo e uma resposta ao estímulo. Sempre que um de-
terminado estímulo (som, cor, cheiro, uma situação, uma pessoa... enfim,
tudo aquilo que possa servir de disparador para uma resposta específica)
resulta em uma reação, podemos dizer que houve a formação de uma con-
tiguidade, uma associação entre fatos imediatos: estímulo – resposta.
Quando em uma empresa um funcionário apresenta comporta-
mento desejado, ou seja, um comportamento que podemos qualificar
como positivo, essa ação pode ser seguida por um reforço – um elogio,
por exemplo –, o que provavelmente tanto fará com que este comporta-
mento se repita quanto poderá aumentar os números que vezes em que o
comportamento acontece.
Contudo, quando um funcionário age de maneira indesejada, é pos-
EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

sível reduzir a repetição deste comportamento por três caminhos: deixar


de elogiar (ou seja, retirar o reforço que antes era aplicado ao comporta-
mento positivo); ou repreender o funcionário para que o comportamento
não se repita (o que também é um reforço, mas decorrente de um compor-
tamento negativo que se espera cessar); ou retirar/suspender algum bene-
fício em razão deste comportamento indesejado.
Este mesmo funcionário pode tanto de fato reduzir a resposta in-
desejada até que a esta deixe de acontecer, ou ainda poderá, sempre que

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Psicologia aplicada à administração

estiver prestes a se encontrar com seu superior, simplesmente fugir! O


funcionário poderá evitar os mesmos ambientes que seu chefe, tentará se
esquivar de todo e qualquer contato com ele! Enfim, agirá segundo dois
possíveis comportamentos: fuga e esquiva.
A partir das situações citadas, vimos praticamente os principais con-
ceitos presentes na psicologia do comportamento, a saber:

Quadro 1 – Apresentação dos conceitos relativos ao behaviorismo


O que pode desencadear uma determinada resposta;
Estímulo
antecede o comportamento.
É o comportamento em si, decorrente de um estímulo,
Resposta e pode aumentar ou diminuir o número que vezes em
que acontece, dependendo do reforço que recebe.
Aplicado sempre quando se deseja indicar que o com-
Reforço Positivo portamento realizado deve ser mantido e/ou que deve
ser aumentado o número de vezes em que acontece.
Diferentemente do anterior, ocorre sempre que o com-
Reforço Negativo portamento apresentado não é o desejado, e isso indi-
ca que deve deixar de ocorrer.
Dá-se sempre que o comportamento é o esperado para
Aumento de a situação e por isso recebe reforço. Quanto mais refor-
Frequência ço positivo ocorre, mais a resposta positiva acontece e
desse modo tem sua frequência aumentada.
Em casos de comportamentos indesejados, é preciso
Diminuição de
lançar mão de recursos para que deixe de se repetir até
Frequência
que deixe de acontecer em definitivo.
Quando o comportamento deixa de acontecer, ou por-
que recebeu uma punição, ou porque deixou de ser re-
Extinção
forçado positivamente (ou seja, elogiado) ou porque se
aplicou um reforço negativo (uma repreensão).
Aplicada quando se pretende de fato indicar que o
comportamento apresentado não deve ser repetido,
Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

Punição
assim retira-se algo importante para quem agiu de
forma indevida.

122

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Psicologia do comportamento - Unidade 2

Ocorre como uma maneira de lidar com situações de-


sagradáveis, como quando acontece uma repreensão
(reforço negativo) ou uma punição (perda de algo im-
Esquiva portante). Nestes casos, é uma forma de “desviar” do
problema, buscar outras formas que lhe garantam o
não contato com as situações desagradáveis sempre
que elas podem acontecer.
Ocorre quando se pretende de fato abandonar, fugir
da situação desagradável ou até mesmo vexatória
Fuga
como forma de acabar com esta situação desagradá-
vel em definitivo.

Fonte: Adaptado de SOARES, M.V.B. Ribeirão Preto: Editoras COC, 2009.

2.3  Condicionamento respondente e operante


Pavlov Ivan Petrovich (1849-1939) e Lee Edward Thorndike (1874-
1949) são considerados os fundadores do Behaviorismo, em razão das
contribuições que suas descobertas trouxeram para esta corrente teórica.
Pavlov é considerado o responsável pelo conceito de “condicionamento
respondente” (ou também chamado de “condicionamento clássico”), en-
quanto Thorndike, pelo conceito de “condicionamento operante”. Vere-
mos mais detidamente do que tratam ambos os conceitos.
Pavlov era um fisiologista russo e seus estudos em laboratório inicial-
mente estavam direcionados para conhecer como se dava a salivação em
animais. Em meio aos seus experimentos, incidentalmente percebeu que, a
cada vez que o cão (que lhe servia de cobaia) ia ser alimentado, a salivação
do animal aumentava. Na verdade, sempre que se aproximava o momento
de servir a comida ao cachorro, uma campainha emitia um som e, mesmo
EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

sem o animal estar com o alimento à sua frente, ele já começava a salivar.
Esta reação chamou a atenção de Pavlov, que passou a realizar um
maior controle das variáveis e também das condições experimentais desta
situação. Podemos dizer que o seu experimento clássico, que lhe garantiu
reconhecimento no estudo do comportamento, foi o emparelhamento de

123

ADM 1-2 2013-1.indb 123 11/04/2013 17:44:43


Psicologia aplicada à administração

uma campainha à alimentação dos cães de seu laboratório. Cada vez que
os animais iam ser alimentados, no mesmo momento soava uma campai-
nha. Desse modo, passou a ocorrer um emparelhamento de estímulos.
Estamos chamando de estímulo a comida (que faria o cachorro sa-
livar como uma reação reflexa, ou seja, uma reação natural de seu corpo)
e também a campainha, uma vez que ficou relacionada ao momento da
entrega da comida.
Vejamos, então, ao que se refere este conceito: emparelhamento de
estímulos.

Quando um estímulo, que naturalmente nos causa uma rea-


ção corporal (que chamamos de reflexa, pois é toda aquela que não
temos controle em nosso corpo, tratando-se de uma reação fisiológi-
ca), é associado a algo (um som, uma cor, uma figura) que, em outras
circunstâncias, nada nos causaria corporalmente (seria um estímulo
neutro), após a repetição desta associação o estímulo neutro passa a
despertar a mesma reação reflexa, como se fosse o estímulo eliciador
(eliciador = aquele que desperta a reação).
Assim, a alimentação foi emparelhada à comida.

A alimentação (estímulo incondicionado) provoca reações fisio-


lógicas naturais nos animais (resposta incondicionada) relacionadas ao
preparo do organismo para a alimentação, como salivação, dilatação das
pupilas, respiração mais ofegante, dilatação nasal. Quando ocorreu o em-
parelhamento, ocorreu também um condicionamento, ou seja, a campai-
nha tornou-se um estímulo condicionado, provocando as mesmas respos-
tas de um estímulo incondicionado.
No experimento de Pavlov, o emparelhamento da campainha ao
alimento fez com que os cães passassem a salivar quando a campainha
era tocada, mesmo que esta não viesse acompanhada da alimentação.
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Este procedimento foi denominado “condicionamento clássico ou


respondente” e demonstrou como o valor de um estímulo pode ser
transferido a outro.
Neste aspecto é importante refletirmos sobre a importância deste
conceito para nossos estudos em administração – como podemos trans-
ferir o valor de um estímulo a outro. Por exemplo: como um cliente pode
interessar-se pela apresentação de um novo produto se ele (o cliente) ain-
da possui confiança em outra marca, com maior tempo de mercado?
124

ADM 1-2 2013-1.indb 124 11/04/2013 17:44:43


Psicologia do comportamento - Unidade 2

Como, então, seria possível transferirmos o valor atribuído por


este cliente a este produto da concorrência (estímulo eliciador) para a
nova marca que está sendo lançada (estímulo neutro)? São questiona-
mentos e situações diversas por meio das quais podemos refletir sobre
as possibilidades de condicionamento a partir deste experimento realiza-
do por Pavlov.
Vejamos, então, qual foi a contribuição de Lee Edward Thorndike
para os estudos do comportamento. Thorndike desenvolveu o conceito de
condicionamento operante, o qual também é uma associação a uma deter-
minada resposta, mas, neste caso, em vez de a um estímulo (que ocorre
antes do comportamento), a resposta é associada a um reforço. Desse
modo, sempre que ocorre um comportamento desejado, uma reação, suce-
de-se um reforço a essa ação. O condicionamento denomina-se operante
porque se trata de uma resposta que não pertence ao repertório natural da
pessoa ou do animal. Para que receba o reforço, é preciso que realize uma
operação, ou seja, que dê a resposta correta.
Thorndike percebeu que, quando se apresenta um reforço prazeroso,
este é capaz de fixar o comportamento que o antecedeu.
O condicionamento operante diferencia-se do condicionamento
clássico em dois aspectos principais:

Quadro 2 – Diferenciação entre condicionamento clássico e


condicionamento operante
Condicionamento clássico / Respondente condicionamento operante
Estímulo => comportamento Comportamento => reforço
Comportamento reflexo / involuntário Comportamento operante / aprendido
EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

Fonte: SOARES, M.V.B. Ribeirão Preto: Editoras COC, 2009.

O condicionamento operante é um comportamento voluntário e


abrange uma quantidade muito maior da atividade humana. O que pro-
picia a aprendizagem dos comportamentos é a ação do organismo sobre
o meio e a ação resultante (seu efeito, sua consequência). Assim, agimos
sobre o mundo em função das consequências que nossas ações despertam,
por exemplo: uma criança, ao chorar, obtém a atenção de seus pais; o ar-
tista, ao se apresentar, recebe os aplausos do público etc.
A lei do efeito de Thorndike “refere-se à estruturação de compor-
tamentos específicos ligados ao oferecimento de recompensas externas
125

ADM 1-2 2013-1.indb 125 11/04/2013 17:44:43


Psicologia aplicada à administração

a determinadas ações” (Bergamini, Coda; 1997, p. 71) e, para tanto, lan-


çamos mão de instrumentais como reforço, punição ou extinção. Além
disso, por meio destes recursos, é possível introduzir um novo compor-
tamento, ou seja, ocorrer a aprendizagem de um novo comportamento,
uma nova resposta.
Um exemplo claro para compreender como isso pode dar-se é o
adestramento de animais, o qual consiste em apresentar um reforço que
agrade ao animal (alimento, água, um afago) sempre que a resposta/
comportamento esperado aconteça (sentar, dar a pata, rola etc.). As res-
postas mais elaboradas, como “dar a pata”, não fazem parte do repertó-
rio natural de comportamentos do cachorro, mas podem ser aprendidas
por meio de aproximações sucessivas, ou seja, cada vez que o animal
apresentar um comportamento que se aproxime da resposta pretendida,
deverá ser recompensado.
Deve-se recompensar (reforçar) essas respostas por um determina-
do tempo até que elas se repitam com uma boa frequência. A partir dessa
repetição, deve-se exigir cada vez mais que as respostas se aproximem da
conduta que se pretende obter.
Trata-se de uma maneira de inserir novos comportamentos ao re-
pertório da pessoa/animal, o que, na verdade, trata-se de uma forma de
aprendizagem – posto que, quando se dá o reforço de uma determinada
resposta, quem a realiza aprende que esta resposta lhe garante um reforço,
o que não necessariamente ocorrerá com outros comportamentos que ve-
nha a realizar.
Mas, no que tange a condicionamento operante, é o nome de Bur-
rhus Skinner, psicólogo americano, o mais lembrado e associado ao con-
ceito de behaviorismo. Skinner soube demonstrar a grande aplicabilidade
da teoria behaviorista desenvolvendo experimentos na área da aprendiza-
gem e social. Suas ideias foram bem aceitas pela população americana,
que, por sua cultura pragmática, viu no behaviorismo a possibilidade de
Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

conseguir e realizar mudanças comportamentais em si e no outro. Desse


modo, esta corrente teórica é fortemente associada com o espírito da cul-
tura norte-americana.
Veremos a seguir o esclarecimento de alguns conceitos-chave na
teoria comportamental e, posteriormente, a sua aplicabilidade.

126

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Psicologia do comportamento - Unidade 2

2.4  Conceitos-chave
Extinção
Da mesma forma como os comportamentos podem ser criados,
eles podem ser extintos, acabados, cessados. Caso o reforço deixe de
acompanhar determinada resposta, seja ela natural ou condicionada, a
frequência da resposta tende, num primeiro momento, a se elevar, devi-
do à expectativa de que volte a obter o reforço, caindo paulatinamente
até deixar de ocorrer. Quando isto ocorre, diz-se que houve a extinção
do condicionamento.
Quando o reforço ocorre de maneira irregular, ou seja, é intermiten-
te, produz uma frequência de resposta maior do que quando o reforço é
regular. Em contrapartida, a extinção nestes casos tende a ser mais difícil
de ocorrer.

Punição
Os comportamentos podem ser extintos também por meio da pu-
nição, a qual consiste na apresentação de um estímulo aversivo (algo
que desagrade) ou na retirada de um reforço positivo (algo que satisfaz
quem realiza o comportamento) sempre depois de acontecer uma res-
posta inadequada.
Qual seria, então, a diferença entre uma punição com a apresentação
de um estímulo aversivo e outra com a ocorrência de um reforço negativo?
Quando um comportamento está sendo eliminado para se evitar o
contato com um estímulo aversivo, chamamos de punição. Ex.: deixar de
faltar às aulas e assim evitar o risco de notas baixas.
Quando um comportamento é instalado para se evitar o estímulo/
EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

situação desagradável, chamamos de reforço negativo. Exemplo: passar a


estudar mais para se evitar as notas vermelhas.

Aproximações sucessivas
O condicionamento pode ser mais facilmente realizado quando o
comportamento a ser instalado possui alguma relação com o repertório
original da pessoa/animal. Isto quer dizer que, quando se espera a realiza-
ção de um novo comportamento, é importante que se busque inicialmente

127

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Psicologia aplicada à administração

uma resposta que possa ser aprimorada até o objetivo final. Talvez com
um exemplo este conceito fique mais claro: para que uma criança passe
a escrever, é preciso que inicialmente ela saiba segurar o lápis (repertório
original de comportamentos) e, a partir do que ela sabe desenhar (reper-
tório original: riscos, bolinhas etc.), ensiná-la a aproximar seus conheci-
mentos de desenho a um novo comportamento que é escrever.

Corel Stock Photos

A psicologia comportamental é grandemente aplicada para o adestramento de cães, por


exemplo.

2.5  A aplicação da psicologia comportamental na


gestão de pessoas
A aplicação da psicologia comportamental tem-se expandido
dia a dia, podendo abranger demandas e necessidades diferentes do
ser humano. Esta linha teórica de atuação do psicólogo possui amplas
contribuições nas áreas de educação, tratamentos clínicos como nos
casos de fobia (medos) e uso/abuso de álcool e drogas, treinamento de
animais etc.
Na gestão de pessoas, podemos citar reconhecidos instrumentos
como a gerência desenvolvida pelo modelo do “gerente minuto”, o méto-
Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

do kaizen (melhoras contínuas).


Gerente minuto refere-se a uma postura gerencial de pessoas cujo
mote está em observar o que demanda cada um, sendo cada caso um caso.
Porém, o gerente minuto possui quatro estilos básicos de gestão, sendo
que sua aplicação, sua intensidade e sua frequência dependem da realida-
de a ser trabalhada – ou seja, não existe uma fórmula pronta:
a) Direção: o gerente fornece instruções específicas e supervisiona
rigorosamente o cumprimento da tarefa;
128

ADM 1-2 2013-1.indb 128 11/04/2013 17:44:54


Psicologia do comportamento - Unidade 2

b) Treinamento: o gerente continua a dirigir e a supervisionar atenta-


mente a realização da tarefa, mas explica também decisões, solicita
sugestões e incentiva o desenvolvimento;
c) Apoio: o líder facilita e apoia os esforços dos subordinados para
cumprir tarefas e compartilha com eles a tomada de decisões;
d) Delegação: o líder transfere a responsabilidade do processo decisó-
rio e da solução de problemas aos subordinados.

Entenda um pouco mais sobre o que é “gerente minuto” a par-


tir da resenha do livro elaborada pelo Prof. Dr. Cleber Aquino, da
Faculdade de Administração, Economia e Ciências Contábeis (FEA/
USP): www.rausp.usp.br/download.asp?file=v18n04p104.pdf

Qual seria a relação da postura do gerente minuto com a teoria com-


portamental?

À medida que o gerente minuto direciona, treina, apoia e delega ta-


refas, há a aplicação de reforços positivos e negativos, estímulos, punição,
extinção. Desse modo, obtêm-se novos comportamentos por meio do uso
de condicionamento e, assim, a expansão do repertório de respostas.
O método kaizen, de melhorias contínuas, possui grande relação
com o conceito de aproximações sucessivas. O kaizen refere-se a um
método de gestão de controle de qualidade, cujo objetivo principal é a
melhoria contínua dos processos do dia a dia. Seu grande diferencial
está em atribuir aos funcionários a condição de buscar tais melhoras em
seu processo de trabalho, em vez de ser realizado por um supervisor ou
gerente. Sua aplicação se dá tanto na qualidade de produtos quanto em
EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

atendimento, processos de produção, logística. Desse modo, os funcioná-


rios reavaliam a si e suas ações constantemente, o que denota a busca por
um novo comportamento a partir de um conjunto
de respostas e ações já existentes. Este preceito Veja um pouco
é o mesmo quando se realizam as aproxi- mais sobre o método
kaizen no artigo apresentado
mações sucessivas, uma vez que se parte neste link:
de algo existente para se chegar a um novo http://www.aeapg.org.br/
conjunto de respostas/ações. encontro/anais/artigos/eng_
producao/53%20SISTEMA%20
Outras aplicações são possíveis para DE%20CUSTO%20KAI-
a psicologia comportamental no contexto ZEN.pdf

organizacional, como: treinamento, motivação,


129

ADM 1-2 2013-1.indb 129 11/04/2013 17:44:54


Psicologia aplicada à administração

mudanças/aquisição de comportamentos, aprendizagem, comportamento


do consumidor etc.

Atividades
01. O que são comportamento respondente e comportamento operante?

02. Defina o que são reforço positivo e reforço negativo e quais suas apli-
cações.

03. Quais elementos da psicologia comportamental podem estar presentes


em um treinamento para uma nova habilidade de um funcionário?

04. Pesquise o que é o método de “treinamento das três fichas” e busque


quais conceitos da psicologia comportamental fazem-se presentes.
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130

ADM 1-2 2013-1.indb 130 11/04/2013 17:44:54


Psicologia do comportamento - Unidade 2

Reflexão
Vimos neste tema que os conceitos e os princípios da psicologia
comportamental demonstram grande aplicabilidade no contexto organi-
zacional, por meio dos recursos que apresenta (reforços, estímulo, apro-
ximações sucessivas, punição, extinção, condicionamento operante etc.).
Ademais, possibilita que, à medida que se realiza a análise do compor-
tamento, e com isso se observam seus pontos fortes e fracos, também se
pode intervir sobre o comportamento. Tal intervenção pode ser realizada
pelo administrador de empresas, que possui os conhecimentos mínimos
necessários para aprimorar o comportamento organizacional.
A psicologia comportamental é criticada por valorizar demasiada-
mente o comportamento, sendo valorizado o que é passível de medição e
quantificação. Desse modo, o pensamento e a subjetividade não são alvos
do estudo da psicologia do comportamento. Outras escolas apregoam que
o comportamento é um efeito, sendo mais importante ater-se às causas
dele – as quais veremos mais adiante.

Leituras Recomendadas
BLANCHARD, Keneth. Liderança e o gerente minuto: como au-
mentar a eficácia através da liderança situacional. Rio de Janeiro:
Ed. Record, 2004.

Referências
DAVIDOFF, L. Introdução à Psicologia. São Paulo: Makron Books,
EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

2000.

AGUIAR, M.A. Psicologia aplicada à administração: uma aborda-


gem interdisciplinar. São Paulo: Saraiva, 2005.

BERGAMINI, C. W. Psicologia aplicada à Administração de Em-


presas: Psicologia do Comportamento Organizacional. São Paulo:
Atlas, 1995.

131

ADM 1-2 2013-1.indb 131 11/04/2013 17:44:54


Psicologia aplicada à administração

MINICUCCI, A. Relações Humanas – Psicologia das Relações Inter-


pessoais. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2001.

Na próxima unidade
No capítulo seguinte estudaremos a psicologia da gestalt, também
chamada de psicologia da boa forma, em que aprenderemos como se dão
os processos perceptivos de estímulos e quais as relações com o contexto
organizacional.
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ADM 1-2 2013-1.indb 132 11/04/2013 17:44:54


A psicologia da gestalt e a
percepção humana

3 Este tema nos traz para o estudo a teoria


da gestalt, que, na psicologia, também é cha-
de
mada de “teoria da boa forma”. Do que trata esta
corrente teórica? O que seria a “boa forma” a que se
ida

refere esta teoria?


Veremos que os conhecimentos trazidos pela psicologia da
gestalt nos possibilitarão entender como se dá a percepção
Un

humana, ou seja, como o homem é capaz de usar os seus senti-


dos e atingir uma compreensão do que representa esta percepção.
Não se trata apenas de enxergar um objeto, por exemplo, mas tam-
bém de como este objeto é representado para o ser humano.
Como estas noções auxiliam a atuação do administrador de empre-
sas? Veremos que, além da sua grande aplicação na propaganda e na
promoção de um produto, também podemos ter nossa percepção sobre
as pessoas e situações explicadas pela gestalt e assim ter maior acuidade
em nossas ações como administradores e colaboradores.

Objetivos da sua aprendizagem


• Conhecer os principais conceitos e princípios da psicologia da gestalt;
• Saber relacionar os conhecimentos da psicologia da gestalt com situa-
ções diversas em que esteja presente a questão perceptiva tanto como um
fenômeno físico quanto como um fenômeno cognitivo;
• Identificar como tais conhecimentos encontram-se presentes na práti-
ca do administrador de empresas.

Você se lembra?
No capítulo anterior, estudamos a psicologia comportamental,
que possui como objeto de estudo o comportamento humano
e sua relação com o ambiente. Mas de onde parte, para a
psicologia, a consideração de que, além do comportamen-
to externo, também o ser humano possui mecanismos
internos para perceber o mundo? É o que iremos co-
nhecer por meio da psicologia da gestalt.

ADM 1-2 2013-1.indb 133 11/04/2013 17:44:55


Psicologia aplicada à administração

3.1  A Escola de Frankfurt e a Gestalt


Para iniciarmos nossa conversa, é relevante esclarecer que “gestalt”
é uma palavra de origem alemã que significa boa forma. Mais do que isso,
indica que o ser humano, ao perceber um objeto, uma situação, tende a
percebê-los buscando sua “boa forma”. Isto quer dizer que, por meio de
nossos processos cognitivos, tendemos a completar em nossa mente a
informação que eventualmente possa estar faltando e, assim, ter a infor-
mação “completa” para nossa melhor compreensão. Estudaremos estes
conceitos, entre outros, ao longo deste tema.
Podemos destacar três principais teóricos que foram responsáveis
pela construção da teoria da gestalt, ao final do século XIX: Max Werthei-
mer (1880-1943), Wolgfang Köhler (1887-1967) e
Kurt Koffka (1886-1940) – todos advindos da Leia um pouco
Escola de Frankfurt, que mantinha um labo- mais sobre a origem da
psicologia da gestalt e como
ratório de psicologia para estudo do compor- ainda esta teoria é atual:
tamento humano. http://www.scielo.br/pdf/ptp/v18n1/
Contando com forte influência da psi- a02v18n1.pdf

cologia comportamental e seus constructos,


a psicologia da gestalt traz importantes ino-
vações para a concepção dos estudos da mente.
Diferencia-se da teoria comportamental em diversos
aspectos, sendo, em primeira ordem, o seu objeto de estudo. Ao passo que
a psicologia do comportamento estuda as respostas humanas aos estímu-
los e reforços do ambiente, a gestalt estuda a percepção humana.
Para tanto, outro aspecto que lhe garante um status diferenciado
como teoria é o fato de considerar a existência de duas forças em ação:
uma externa e uma interna, que juntas resultam na percepção – como res-
posta de nossos órgãos sensitivos (externo) e também a compreensão ela-
borada em nossa mente (interno). Assim, temos aqui um passo importante
Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

dentro dos estudos sobre o comportamento humanos que é a consideração


da existência de um mundo cognitivo interno.
Diferentemente dos estudos sobre percepção realizados na época, os
quais eram em sua maioria atomistas – ou seja, concebiam que para se ob-
ter a compreensão do todo era preciso subdividir em partes menores –, a
gestalt valoriza a compreensão pelo todo, uma vez que o estudo das partes
menores não garantia o entendimento do fenômeno em sua completude.

134

ADM 1-2 2013-1.indb 134 11/04/2013 17:44:55


A psicologia da gestalt e a percepção humana - Unidade 3

A psicologia da gestalt e a percepção humana - Unidade 3

A teoria da gestalt vai buscar compreender por que algumas


formas agradam mais do que outras, tendo em vista que nossos pro-
cessos cognitivos agem de modo a buscar uma harmonia das formas,
pois, desse modo, nosso cérebro pode, de fato, perceber, decodificar e
assimilar uma imagem ou um conceito.

3.2  Os princípios da teoria da gestalt


Von Ehrenfels (1859-1932), em 1980, lançou as bases do que viria
mais tarde ser os princípios da Psicologia da Gestalt.São eles:
– Princípio da totalidade: o todo é mais do que a soma das partes
que o constituem e apresenta características próprias, que as partes não
possuem;
– Princípio da transposição: o todo é independente das partes que o
constituem.
Vamos nos deter a estas duas significações, as quais representam as
bases da Gestalt, por isso faz-se importante sua compreensão. Quando se
coloca que o todo é maior que a soma de suas partes, trata-se de compre-
ender que o objeto como um todo é em si algo maior (no sentido de com-
preensão) do que suas partes em separado.
Uma imagem que muito ajuda a compreender o que isso quer dizer
são as pinturas impressionistas de Oscar-Claude Monet (1840-1926), por
exemplo. Monet pintava seus quadros dando pinceladas inúmeras até for-
mar o objeto pretendido. Numa pintura como esta, se olharmos de perto,
o que enxergaremos com clareza são somente as pinceladas aplicadas. No
EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

entanto, quando olhamos o quadro a partir de uma distância adequada,


podemos então enxergar a figura desenhada em seu todo, que é formado
por um conjunto organizado de pinceladas. Ou seja, neste caso, quando
falamos em partes e todo, temos que o todo é o quadro pintado, o qual é
formado por inúmeras pinceladas, que seriam suas partes. Olhar apenas
para as pinceladas, uma a uma, não nos garante a compreensão da figura
desenhada. Isso nos mostra que de fato o todo é maior do que a soma de
suas partes e que o todo não depende das partes que o formam.
Com relação à formação da percepção como processo perceptivo,
Von Ehrenfels diz que a percepção ocorre por meio de relações entre estí-

135

ADM 1-2 2013-1.indb 135 11/04/2013 17:44:55


Psicologia aplicada à administração

mulos, que, no percurso da retina até o cérebro, é este último o responsá-


vel por organizar e interpretar este conjunto de informações.
A organização destes estímulos segue alguns princípios de agrupa-
mento, de acordo com suas características, como semelhança, proximida-
de, continuidade e outras.

3.2.1  Unificação e segregação, fechamento e boa


continuidade
As forças de unificação agem em virtude da igualdade de estimu-
lação, enquanto as de segregação agem em virtude da desigualdade. Para
haver a formação de uma unidade de percepção, é preciso haver contraste
ou descontinuidade de estimulação – ou seja, se a estimulação é homogê-
nea, não há como perceber nenhuma forma.

Estimulação
Estimulação pela
pela descontinuidade
igualdade dos estímulos
dos estímulos

Como citado anteriormente, nosso cérebro tende a completar as


formas que estejam incompletas, o que chamamos de fechamento. Se
temos um conjunto de linhas tracejadas que sugerem uma forma co-
nhecida, nossa percepção tende a ser do objeto como um todo. Veja o
exemplo abaixo:

A boa continuidade está relacionada à coincidência de direções, ou


alinhamento, das formas dispostas. Isto nos possibilita a compreensão por
tridimensionalidade e agradabilidade da figura (“ser agradável aos olhos”).
Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

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ADM 1-2 2013-1.indb 136 11/04/2013 17:44:59


A psicologia da gestalt e a percepção humana - Unidade 3

3.2.2  Proximidade e semelhança, pregnância e


experiência passada
A proximidade e a semelhança (igualdade de forma, cor etc.) con-
duzem a um agrupamento de estímulos semelhantes. Na similaridade,
nossa percepção tende a agrupar os objetos similares, assim como na
proximidade.
W o W o W o OOOO OO
W o W o W o OOOO OO
W o W o W o OO
Semelhança: observamos duas colunas – uma de “W” e outra de “o”
e não somente letras W e o.
Proximidade: vemos uma linha horizontal e uma linha vertical e não
somente as letras O.
Com relação à pregnância, esta se refere à forma ou à figura, a qual
indica que as forças de organização da forma tendem a convergir para um
sentido de clareza. É o princípio da simplificação natural da percepção.
Quanto mais simples, mais facilmente é assimilada – a parte mais facil-
mente compreendida é a mais regular.
Diamondimages / Dreamstime.com

A experiência passada refere-se ao fato de que algumas formas só


podem ser compreendidas se há percepção anterior que auxilie na identifi-
cação e na percepção do estímulo atual.
EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

Vimos, então, que estes princípios nos ajudam a explicar a percep-


ção como fenômeno físico. Podemos abranger sua aplicabilidade para nos
ajudar a compreender como se dá nossa percepção de situações e pessoas.
Vejamos alguns exemplos:

a) Unificação/segregação, fechamento e boa continuidade:


Uma situação em que podemos observar a ocorrência de segregação
e unificação é quando um candidato a um cargo necessita apresentar seus
atributos e destacar-se dos demais candidatos. Dessa forma, ao conseguir
evidenciar suas potencialidades para o contratante, este candidato foi

137

ADM 1-2 2013-1.indb 137 11/04/2013 17:45:01


Psicologia aplicada à administração

capaz de causar uma diferenciação entre os demais concorrentes. Desse


modo, podemos dizer que a percepção despertada no contratante baseou-
se na segregação dos estímulos, ao passo que, no caso dos demais candi-
datos, percebidos como “iguais” ou sem qualificações relevantes para o
contratante, deu-se a unificação dos estímulos.
O fechamento e a boa continuidade comumente se dão entre aque-
les que possuem uma qualificação entre os demais colaboradores, a qual
tende a ser percebida continuamente, mesmo quando não houve nova
ocorrência. Para ficar mais claro, digamos que, se temos um colaborador
que historicamente é capaz de conseguir desempenhar com competência
tarefas complexas, quando se encontra em meio à execução e à resolução
de um novo problema, este funcionário é capaz de observar e perceber
informações que anteriormente lhe foram apresentadas em outras tarefas.
Assim, quando diante de um novo desafio, sua percepção age de acordo
com os princípios de fechamento e boa continuidade. Da mesma forma,
este colaborador é percebido pelos colegas de trabalho, os quais possuem
a expectativa de que ele sempre “dará conta do recado”, mesmo antes de
ter apresentado o resultado final de sua produção.
Podemos, aqui, associar inúmeras situações em uma organização em
que os princípios da gestalt são frequentes como estruturas perceptivas. O
importante é que, ao reconhecê-las, tanto podemos potencializar ganhos
produtivos quanto aprimorar e buscar novas maneiras de perceber uma
determinada situação e assim reverter em um ganho organizacional.

3.3  Conceitos da teoria da Gestalt


Antes que passemos aqui a apresentar alguns conceitos pertinentes à
psicologia da gestalt, procure ao longo da leitura fazer uma relação com o
cotidiano de um administrador de empresas. Observe o que seja possível
maior ou menor aproximação com a realidade.
Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

Insight: representa uma compreensão súbita do sujeito diante de uma


situação problemática, conseguindo estruturá-la. É uma forma de entendi-
mento repentino, que não depende de nossa vontade, e se dá quando nosso
cérebro consegue estabelecer relações entre os fatores que formam a situa-
ção problemática de maneira a torná-lo compreensível para a mente.
Isomorfismo: a maneira como estímulos e situações foram uma vez
interpretados e codificados tende a se repetir em casos semelhantes (em
casos de mesma forma).
138

ADM 1-2 2013-1.indb 138 11/04/2013 17:45:01


A psicologia da gestalt e a percepção humana - Unidade 3

Figura-fundo: a percepção se dá por meio de integrações e contras-


tes entre figura e fundo.

Reprodução

O jogo de imagens entre figura e fundo

Percepção e aprendizagem: a percepção de um objeto se dá de


acordo com a seleção de estímulos e sua relação com o ambiente externo
e o ambiente interno individual. A aprendizagem diz respeito à percepção
da relação entre estímulos e a compreensão obtida de tal relação. O grau
de apreensão destes estímulos é variável, sendo estes processos denomi-
nados atenção, distorção e retenção seletiva.
Atenção seletiva: ocorre quando o indivíduo fixa sua atenção em
algum estímulo específico, devido a três possíveis situações:
– a possibilidade de prestar atenção em algo que esteja precisando;
– maior possibilidade de perceber algo quando existe a possibilida-
de de prever os estímulos;
EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

– estímulos que fogem ao padrão (estímulo desviante) são mais bem


percebidos do que um estímulo normal.

Tais condições para a ocorrência de atencão seletiva para de-


terminados estímulos são fortemente exploradas como recurso para
promoção e marketing de produtos.

Distorção seletiva: tendência de interpretar as informações a partir


das pré-concepções individuais, buscando de alguma maneira reforçá-las e
não contrariá-las. Ou seja, ocorre a atenção para determinado estímulo, mas
este é percebido de modo equivocado, segundo a sua realidade interna.
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ADM 1-2 2013-1.indb 139 11/04/2013 17:45:05


Psicologia aplicada à administração

Retenção seletiva: as informações que reforçam posturas pessoais


tendem a não ser esquecidas.
Crenças e atitudes: predispõem as pessoas a agirem ou acreditarem
em algo.

3.4  A psicologia da Gestalt no dia a dia


Do que foi visto até aqui, diante de tantos novos conceitos referen-
tes à teoria da psicologia da gestalt, é de se questionar como estes novos
conhecimentos podem ser úteis para o cotidiano de uma empresa.
De antemão temos sua vasta aplicabilidade no campo da psicologia
do consumidor a na formulação de propagandas, com formas de trabalhar
tanto a percepção quanto a atenção.

Leia o texto sugerido como é possível observar a aplicabilidade


da gestalt nos produtos que temos disponíveis para consumo em nos-
so dia a dia:
http://imasters.uol.com.br/artigo/16893/teoria/gestalt_do_objeto_em_
websites_parte_03_proximidade_semelhanca_boa_continuidade/

Há diversos estudos que apontam para a importância de saber traba-


lhar as cores em uma embalagem, bem como todo o “layout” do produto
em função do que se pretende transmitir, além de que público se pretende
atingir. Cores como o rosa claro e o azul claro são comumente associados
com produtos para roupas, como amaciantes. Tons em marrom e verme-
lho, associados, são comumente utilizados em embalagens para café. O
uso de cores em tons de prata e dourado é indicado para segmentos de
luxo, como cosméticos ou acessórios exclusivos.
Além disso, a gestalt também atua quando se organizar a disposição
e a exposição de produtos, buscando-se aplicar o conceito máximo da boa
Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

forma para o consumidor.


Outro conceito que podemos destacar, o qual participa continua-
mente de nossas ações cotidianas de trabalho, diz respeito à maneira como
nossa atenção encontra-se vinculada a nossas crenças e valores. Quando
em uma organização, o gestor possui consciência desses elementos, e isto

140

ADM 1-2 2013-1.indb 140 11/04/2013 17:45:05


A psicologia da gestalt e a percepção humana - Unidade 3

lhe dá subsídios para conseguir atingir mais eficientemente resultados


positivos na atuação de seus colaboradores. Ao conhecer quais são seus
valores e suas crenças, tanto se faz possível a compreensão de algumas
atitudes no contexto organizacional quanto também possibilita sua mu-
dança – conseguindo maior aproximação com a cultura da empresa.
Não podemos aqui deixar de falar que o princípio máximo da gestalt
diz que “o todo é maior que a soma de suas partes”:

Veja que, ainda assim, o círculo não é preenchido totalmente pela soma de suas partes.

Este conceito traduz o espírito da maioria das organizações, em que


nenhuma parte se sobrepõe ou é maior que as outras, e sim juntas constituem
e encontram-se compreendidas em um todo maior, que é a organização.

Atividades
01. Como você entende este princípio da gestalt: “O todo é maior que a
soma de suas partes”?
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02. Qual a aplicabilidade dos estudos da gestalt sobre atenção?

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Psicologia aplicada à administração

03. Ao observar a letra “M” em amarelo e associá-la a uma famosa rede


de lanchonetes, podemos identificar quais princípios da gestalt?

04. Como o conceito de figura-fundo ocorre em nossa percepção sobre o


outro?

Reflexão
Vimos neste tema que a psicologia da Gestalt, quando começou a se
desenvolver como corrente teórica, trouxe como importante contribuição
o fato de considerar não somente o comportamento humano observável,
mas também incluir em seus estudos os processos mentais e cognitivos –
o que antes não esteve presente na psicologia comportamental.
Isto representou um grande avanço para os estudos do comporta-
mento, posto que passou-se a observar que o ser humano é mais que em-
parelhamentos de estímulos e reforços, sendo a percepção um fenômeno
físico e também subjetivo.
Além disso, suas ferramentas nos servem para executar ações volta-
das para o comportamento organizacional e a gestão de pessoas, em que
a percepção sobre o outro é constante e nos dá parâmetros para nossas
Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

atitudes.

Leitura Recomendada
FARINA, M. Psicodinâmica das cores em comunicação. São Paulo:
Edgard Blucher, 2006.

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A psicologia da gestalt e a percepção humana - Unidade 3

Referências
DAVIDOFF, L. Introdução à Psicologia. São Paulo: Makron Books,
2000.

AGUIAR, M.A. Psicologia aplicada à administração: uma aborda-


gem interdisciplinar. São Paulo: Saraiva, 2005.

BERGAMINI, C. W. Psicologia aplicada à Administração de Em-


presas: Psicologia do Comportamento Organizacional. São Paulo:
Atlas, 1995.

MINICUCCI, A. Relações Humanas – Psicologia das Relações Inter-


pessoais. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2001.

Na próxima unidade
Na próxima unidade, conheceremos uma das teorias da psicologia
de grande popularidade, assim como seu fundador, que é a psicanálise de
Sigmund Freud. Além de conhecer seus principais conceitos, veremos sua
relação com o contexto organizacional e do trabalho.
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Psicologia aplicada à administração

Minhas anotações:
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Psicanálise e comporta-
mento humano

4 O tema 4 de nossa disciplina nos apresentará


uma das teorias da psicologia da qual já ouviu
de
falar até mesmo quem não sabe qual é seu conteú-
do: a psicanálise. O nome de Sigmund Freud, mesmo
ida

depois de 70 anos de seu falecimento, é reconhecido por


suas contribuições ao estudo do comportamento humano.
Podemos dizer que, dentre as várias apresentadas, uma das
Un

descobertas e sistematizações teóricas da psicanálise de maior


relevância foi o conceito de inconsciente e toda a reviravolta que
decorreu deste novo olhar sobre o homem.
Para a administração de empresas, em nossos estudos de base para
a gestão de pessoas e comportamento organizacional, a psicanálise
lança um novo olhar sobre ações e atitudes que antes padeciam de
explicações lógicas. Ademais, a psicanálise nos ajuda a ter um olhar
diferenciado para as motivações pessoais e as ações humanas.

Objetivos da sua aprendizagem


• Apresentar o funcionamento psíquico a partir do entendimento da psi-
canálise;
• Identificar seus principais conceitos e sua ocorrência na vida cotidiana;
• Conjugar tais conceitos e conhecimentos com o contexto organizacio-
nal e de trabalho.

Você se lembra?
Conhecemos até o momento duas teorias da psicologia que nos aju-
dam a compreender o comportamento humano a partir de diferentes
perspectivas. Mas você já parou para pensar em diversas situações
cotidianas que vivemos, nem sempre de fácil explicação?
Você alguma vez se viu traído por suas próprias atitudes?
Em um importante compromisso de trabalho, por exem-
plo, você se esquecer de imprimir o importante relatório
ao qual dedicou dias e noites?
É o que nos ajuda a compreender a psicanálise.

ADM 1-2 2013-1.indb 145 11/04/2013 17:45:07


Psicologia aplicada à administração

4.1  As mudanças sobre a visão de homem após a


psicanálise
O nome Sigmund Freud não passa despercebido. Mesmo aqueles
que não atuam no universo psi ao menos já ouviram falar dele em algum
momento, mesmo que seja para dizer a conhecida frase: “Freud explica!”.
Realmente, a teoria psicanalítica desenvolvida por ele nos permitiu
atingir a compreensão de uma diversa gama de comportamentos humanos
e passar a enxergar o homem como ser em desenvolvimento. Afinal, foi
Freud quem iniciou os estudos da psicologia do desenvolvimento, perce-
bendo que a criança também tinha sua cognição a ser descoberta e estudada.
Podemos colocar Freud entre aqueles que geraram uma quebra
paradigmática na história humana, assim como Nicolau Copérnico (com
a Teoria do Heliocentrismo) e Charles Darwin (Teoria da Evolução). A
grande genialidade de sua descoberta foi identificar que o aparelho mental
é dotado de uma instância sobre a qual não temos controle nem livre aces-
so, que é o inconsciente.
Além disso, Freud foi capaz de mostrar que as particularidades hu-
manas são universais, isto é, sentimentos, sensações, reações – enfim, o
que caracteriza nossa humanidade – são ocorrências que se passam entre
todas as pessoas, independentemente de sua origem, de sua cultura, de seu
tempo. Ao se ocupar da simplicidade da vida cotidiana e suas vicissitudes,
Freud nos mostrou que há uma enorme complexidade nestas questões,
visto que somos nosso próprio objeto de estudo.
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Sigmund Freud (1856-19390)

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Psicanálise e comportamento humano - Unidade 4

Psicanálise e comportamento humano - Unidade 4

A partir de sua teoria, podemos compreender os


Conheça um
pouco mais sobre o porquês de comportamentos e motivações –
contexto social e cultural podemos buscar em nós mesmos as razões
em que viveu Sigmund Freud,
fator de grande relevância para a de um comportamento inadequado, de um
construção de sua teoria. esquecimento irreparável, a repetição de si-
http://pepsic.bvsalud.org/pdf/ tuações, a busca incessante por situações de
pcp/v20n3/v20n3a02.pdf
prazer e desprazer, além de podermos olhar
para os sonhos como um mensageiro de nossa
vida psíquica.
Ademais, outra importante contribuição da obra de Freud foi o de-
senvolvimento do trabalho clínico, o qual realiza o levantamento de sinto-
mas atuais e busca na história de vida da pessoa as suas possíveis causas.
Este modelo, denominado estudo de caso, possui aplicação em diversas
áreas, tanto se realiza estudo de caso na psicologia como na administra-
ção de empresas – aliás, possibilita uma boa chance de aprendizagem por
meio de uma situação prática.
Freud foi responsável pela conceituação de diversos termos, entre
eles: inconsciente, id, ego, superego, Complexo de Édipo, libido, desen-
volvimento psicossexual, pulsão de vida e de morte, interpretação dos
sonhos etc.
Vejamos a seguir a evolução do entendimento sobre o funcionamen-
to do aparelho psíquico e os conceitos que os acompanharam.

4.2  Os modelos explicativos do funcionamento psíquico


O primeiro modelo utilizado por Freud para explicar o funciona-
mento do comportamento humano é o chamado “modelo hidráulico”.
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Assim como uma caixa d’água, que conta com a ajuda do ladrão (de água)
para o escoamento da água excessiva, também o aparelho psíquico pode
“escoar” o excesso de energia acumulada (o que causa tensão).
Esse modelo, chamado de Arco-Reflexo, consiste no acúmulo de
energia e/ou tensão despertado a partir do contato do meio externo (pelos
órgãos sensoriais), até se liberar esse acúmulo de energia através de uma
ação motora. Desse modo, temos: órgãos sensoriais: se desperta a tensão,
recebe energia; geração de desconforto/tensão; transformá-la em ação/res-
posta motora e, consequentemente, reduzir a tensão do circuito.

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Psicologia aplicada à administração

O psiquismo obedece ao princípio de estimulação, transforma-


ção da energia e extravasamento, regulando e equilibrando o sistema
através da descarga da tensão. A tensão é quase totalmente liberada,
mas o resquício que permanece faz-se necessário para que o ser hu-
mano esteja sempre em busca de novas respostas motoras para liberar
essa energia – o que nos faz realizar nossas diversas ações.

Assim, o aparelho psíquico funciona de acordo com o que Freud


chamou de “Princípio do Prazer-Desprazer”, em que se encontra presente
uma constante tensão psíquica (despertada por razões diversas) que gera a
sensação de desprazer. Desse modo, o aparelho psíquico busca o alívio da
tensão gerada por estímulos (interpretados pelo psiquismo) e consequen-
temente o prazer.
Contudo, o aparelho psíquico encontra-se exposto a uma estimula-
ção ininterrupta que, consequentemente, gera tensão e, portanto, despra-
zer. Incessantemente o aparelho é carregado e descarregado, misturando
tensões e satisfações. Desta forma, prazer ou desprazer não significa
meramente a satisfação de uma determinada necessidade; prazer significa
diminuição da tensão, assim como desprazer significa a manutenção ou o
aumento da tensão.
Além de trazer esta primeira noção da dinâmica de funcionamento
do aparelho psíquico, Freud também foi capaz de identificar as instâncias
presentes e suas funções em meio a esta proposta do princípio do prazer-
desprazer.

4.2.1  O aparelho psíquico: a primeira tópica


A primeira tópica refere-se à primeira proposta de Freud de identifi-
cação das instâncias psíquicas, a saber: o consciente, o pré-consciente e o
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inconsciente.
No consciente se dá a nossa percepção e a realização de nosso
pensamento. O pré-consciente, por sua vez, é onde se encontram con-
teúdos de não tão fácil acesso, que exigem certo esforço introspectivo.
Seriam seus conteúdos as memórias e as lembranças. No inconsciente,
temos conteúdos que, para manter o equilíbrio de nosso aparelho, são
recalcados (como guardados a sete chaves: desejos proibidos, medos
etc.), mas nem por isso deixam de se manifestar por meio de sonhos,
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Psicanálise e comportamento humano - Unidade 4

lapsos, atos falhos, somatizações (dores sem explicação física, alergias


etc.), ações inesperadas...
Essas três instâncias possuem interesses e papéis diferentes em nos-
so aparelho psíquico e em sua dinâmica de Prazer/Desprazer: ao passo que
o inconsciente busca o prazer (ou seja, deixar vir à tona seus conteúdos re-
calcados), o pré-consciente fica entre as regras
contidas no consciente e o desejo do
inconsciente. O consciente – que O que vimos até
nada mais é que a representa- aqui nos sugere que para
ção de nós mesmos, o que Freud nossa mente possui três
instâncias que funcionam de acordo com
e como nos mostramos so- o princípio do prazer/desprazer e o princípio
cialmente – lida com a re- da realidade. Cada uma dessas instâncias
alidade dos fatos e por isso (consciente, pré-consciente, inconsciente)
guarda níveis gradativos de processos men-
não cede tão facilmente tais, sendo o inconsciente o de mais difícil
aos desejos e aos impulsos acesso.
do inconsciente, obtendo-se
então a noção de Princípio de
Prazer e Princípio de Realidade.

4.2.2  O aparelho psíquico: a segunda tópica


Freud, dando continuidade a seus estudos do aparelho psíquico e
aprimorando-os, foi capaz de entender a função dos sonhos para o equi-
líbrio de nosso psiquismo, assim como pôde entender que o ser humano
possui em si uma força vital que nos impulsiona à vida, mas também uma
força que nos impele a atos destrutivos e agressivos – à morte. Tais con-
ceitos são denominados pulsão de vida e pulsão de morte, ambas as forças
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presentes em nós e agindo constantemente em nossas vidas.


Além disso, Freud causou muita polêmica ao identificar que o ser
humano, desde seus primeiros instantes de vida, possui uma sexualidade,
a qual perpassa todo o seu desenvolvimento.
Freud foi extremamente condenado por seu enfoque sobre a sexua-
lidade humana e sua energia libidinal. Contudo, o que precisa ficar claro
é que tanto a sexualidade quanto a libido são formas de manifestação
da energia de vida. É por meio da sexualidade que podemos garantir a
reprodução e o aumento da espécie. É em função disso que a libido nos
direciona para o autocuidado, uma vez que assim tanto preservamos a nós
mesmos quanto a espécie humana.
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Psicologia aplicada à administração

A partir destas noções, Freud elaborou a segunda tópica de funcio-


namento do aparelho psíquico, ficando mais claro qual era o papel de cada
uma das instâncias participantes e sem deixar a primeira tópica de lado.
Assim, temos na segunda tópica o desenvolvimento de conceitos
como: id, ego e superego.

Id: onde se encontra localizada a libido; regido pelo princípio do


prazer; busca incessantemente a descarga da tensão; não se atém à reali-
dade objetiva.
Superego: representante das normas e dos valores sociais adquiri-
dos ao longo de nosso desenvolvimento; obtidos pelo cerceamento dos
pais e da sociedade.
Ego: responsável pelo contato do psiquismo com o mundo objetivo,
busca o equilíbrio entre o id e o superego.

Devido à importância da manutenção do equilíbrio das forças exis-


tentes no aparelho psíquico, Freud percebeu a existência de mecanismos
para defender esta dinâmica.
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A Inglaterra vitoriana foi o contexto social e histórico em que Freud viveu parte de sua vida
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e desenvolveu sua grande obra.

Os mecanismos de defesa são um recurso aplicado pelo ego para se


livrar dos conteúdos inconscientes indesejáveis. Temos:

• Sublimação: os impulsos são direcionados a um objeto substitu-


to. Ex.: caçar – agressividade;
• Projeção: projetar no outro os próprios sentimentos com os quais
não consegue lidar. “Você acha que sou desinteressante.”;
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Psicanálise e comportamento humano - Unidade 4

• Recalque: eliminação de parte da realidade que pode lhe parecer


dolorosa e por isso “armazenada” no inconsciente;
• Formação reativa: o desejo, quando não aceito, é substituído
pelo que representa seu oposto. Amor x ódio;
• Regressão: o indivíduo regride em seu desenvolvimento psí-
quico e passa a atuar de forma anterior ao seu atual estágio de
desenvolvimento;
• Racionalização: forma de evitar os sentimentos por meio do uso
de recursos como a explicação prática da realidade, mesmo em
situações dolorosas;
• Somatização: o conflito adquire a forma de uma perturbação
fisiológica.

Veja que interessante leitura a respeito da presença de somatiza-


ções no ambiente de trabalho apresentado neste artigo:
http://www.scielosp.org/pdf/csc/v10n4/a17v10n4.pdf

4.3  As contribuições da psicanálise para a


administração
Diante de tudo o que vimos até aqui, são incontestáveis as evidências
de que os estudos realizados por Freud na psicanálise despertaram uma re-
volução no conceito de homem. A obra de Freud é vasta e possui seguido-
res e estudiosos por todo o mundo ao longo de todos esses anos e encontra-
se inserida em diversos contextos em que se encontra o ser humano.
Desse modo, quando nos reportamos ao fato de tanto a psicologia
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como a administração de empresas serem ciências pertencentes à grande


área de humanas, não podemos desconsiderar que também a psicanálise
colaborou para o crescimento da administração como ciência de estudo.
À medida que temos elementos da dinâmica humana que se encon-
tram inacessíveis, mas nem por isso deixam de se fazer presentes, faz-se
necessário que busquemos as manifestações do inconsciente na organiza-
ção. Desse modo, assim como o ser humano reage à organização, a orga-
nização também reage à presença do homem e com ele: suas frustrações,
seus medos, seus desejos, seus anseios...
A psicanálise, para o administrador de empresas, irá auxiliar a
compreender a manifestação de comportamentos inadequados, de inse-
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Psicologia aplicada à administração

guranças e motivações inexplicáveis. Além disso, é possível identificar


desajustamentos e repetição de comportamentos, mesmo que prejudiciais
a quem os realiza.
Para tanto, Freud também nos deixou indicado o caminho para a
intervenção, sendo levantamentos de “sintomas” e da história anterior im-
portantes auxiliares para a obtenção de um diagnóstico do local.
Podemos também estender nossa reflexão ao valor que o trabalho
pode representar para os colaboradores, como fonte de prazer ou despra-
zer, como mecanismo atuante nas motivações humanas. Inserido na orga-
nização, o indivíduo é impelido a reprimir seus desejos, criando-se então
uma fonte de desprazer/sofrimento. Entretanto, podemos entender que
nem sempre o sofrimento é prejudicial ao trabalhador, uma vez que pode
representar um meio de conferir nova significação ao trabalho e a si mes-
mo. Isto se dá quando o sujeito tem a chance de experimentar um novo
lugar na organização, onde o fruto de seu trabalho, ou seja, sua produção,
dá a ele a chance de alcançar um reconhecimento social e, dessa maneira,
capacidade para lidar com suas angústias e seu sofrimento.
No contexto organizacional, podem ficar mais claros os mecanis-
mos presentes em ações como alto absenteísmo por motivos de saúde (ou
não), baixa produtividade, reações inadequadas e inesperadas que podem
pôr em risco a imagem da empresa junto aos colaboradores externos, fa-
lhas de comunicação etc.
Ao ter identificado estas situações, podemos desenvolver uma polí-
tica de gestão de pessoas que atenda a estas necessidades, olhando para o
colaborador como seu cliente interno e desse modo oferecendo condições
de trabalho aliadas à saúde mental do trabalhador.

Atividades
01. Apresente o que foi a primeira tópica elaborada por Freud.
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Psicanálise e comportamento humano - Unidade 4

02. Do que trata a segunda tópica do aparelho psíquico desenvolvido por


Freud?

03. Elenque algumas situações em que você identifica a ação dos meca-
nismos de defesa e aponte qual o mecanismo atuante.

04. Um funcionário sistematicamente troca o nome de seu superior, mes-


mo sabendo qual o correto. O que representa esta situação?

Reflexão
Este tema nos trouxe maior aprofundamento sobre a dinâmica do
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comportamento humano, dando-nos mais subsídios para o trabalho em


gestão de pessoas e comportamento organizacional.
Além de recursos para o trabalho junto a colaboradores da organi-
zação, temos os contatos externos à empresa, os quais também possuem
suas dinâmicas próprias de atuação que merecem atenção.
A psicanálise nos traz a importância de princípios básicos da psique
humana, como o desejo contido em todo indivíduo e a luta interna entre
realizar e não realizar este desejo. A partir de questões humanas, e por isso

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Psicologia aplicada à administração

universais, como o desejo, a raiva, o medo, a vergonha e a alegria, a orga-


nização pode ter em seus colaboradores uma inesgotável fonte de recursos
produtivos, desde que atenta a estas particularidades.
Freud considerava que para o homem faziam-se necessários o tra-
balho e o amor, ou seja, ele coloca o trabalho como fonte de realização
do ser humano tanto quanto o amor. Isso indica a sabida importância que
possui o desempenho de uma função produtiva como elemento organiza-
dor da psique, conferindo uma identidade social e também a perpetuação
da existência por meio da produção de seu trabalho.
Em tempos de globalização, desemprego, concorrência, o mundo do
trabalho sendo posto em xeque constantemente, a psicanálise nos fornece
instrumentais e recursos para entendermos a importância do trabalho e o
papel que a organização cumpre diante disso.
O que podemos, então, concluir é que a psicanálise veio nos mostrar
que o trabalho e a sua realização possuem um aspecto de construção da
identidade, dando-nos a real dimensão da importância do contexto orga-
nizacional.

Leitura Recomendada
LANCMAN, S.; SZNELMAN, L.I. (orgs). Christophe Dejours: da
psicopatologia à psicodinâmica do trabalho. Rio de Janeiro: Editora
Fiocruz/Brasília, 2004.

Referências
DAVIDOFF, L. Introdução à Psicologia. São Paulo: Makron Books,
2000.

AGUIAR, M.A. Psicologia aplicada à administração: uma aborda-


Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

gem interdisciplinar. São Paulo: Saraiva, 2005.

BERGAMINI, C. W. Psicologia aplicada à Administração de Em-


presas: Psicologia do Comportamento Organizacional. São Paulo:
Atlas, 1995.

MINICUCCI, A. Relações Humanas – Psicologia das Relações Inter-


pessoais. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2001.
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ADM 1-2 2013-1.indb 154 11/04/2013 17:45:14


Psicanálise e comportamento humano - Unidade 4

Na próxima unidade
Conheceremos na unidade 5 quais são as manifestações do compor-
tamento humano quando nos encontramos em grupo e qual a importância
das diferentes formas de comunicação para a sua constituição.
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Psicologia aplicada à administração

Minhas anotações:
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Comunicação e grupos –
A psicologia social

5 Estudaremos neste tema um assunto de gran-


de relevância para as organizações, uma vez que
de
a organização produtiva somente é possível quando
se reúnem pessoas com um mesmo objetivo e com
ida

uma comunicação fluente.


Veremos como se constituem os grupos e suas diversas
formações, entre elas a formação de equipes. Também estu-
Un

daremos como se estabelece a comunicação em suas diferentes


formas, considerando sua importância estratégica para os objeti-
vos organizacionais.

Objetivos da sua aprendizagem


• Conhecer os principais teóricos a respeito de grupos e sua dinâmica;
• Saber quais as atribuições de um coordenador de grupo;
• Compreender as particularidades de trabalho em grupo e trabalho em
equipe;
• As formas de comunicação;
• Estabelecer relações entre as atuações grupais sua comunicação no con-
texto organizacional.

Você se lembra?
A unidade anterior nos trouxe a possibilidade de compreender as moti-
vações, inconscientes, de diversos comportamentos que temos rotinei-
ramente. Vamos agora entender como estes mesmos comportamentos
individuais se manifestam quando estamos reunidos em grupos, aglo-
merações, encontros de pessoas.

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Psicologia aplicada à administração

5.1  A psicologia social e de grupos


Um dos ramos da psicologia que vem se fortalecendo significativa-
mente nos últimos tempos é a psicologia social. Isto se deve em grande
parte a um movimento que não é apenas da psicologia, mas que advém
de uma demanda pela busca de novos caminhos diante dos desafios con-
temporâneos, em que a necessidade de mudanças de comportamentos e
postura sociais tem-se feito urgente. Assim, compreender, desenvolver e
aprimorar as relações sociais de macro e microgrupos possibilitam ações
conjuntas e resultados compartilhados.
No esteio dessa conversa, vemos também que tem sido crescente o
interesse das organizações por desempenhar ações sociais e ambientais e,
por se tratar de um contexto novo para o ramo empresarial, a assessoria de
profissionais capazes de promover essa conversa tem recebido destaque
no mundo corporativo.
O administrador de empresas que possui conhecimentos para tanto
assume um lugar diferenciado dentre os demais, assim como é capaz de
conseguir desempenhar, junto a seus colaboradores, intervenções de cará-
ter grupal.
O estudo de macro e microgrupos – pessoas em série, grupos, equi-
pes, massa – tem sido objeto de estudo de diferentes disciplinas nas ci-
ências humanas, sendo elas a psicologia e as ciências sociais (sociologia,
antropologia, ciências políticas). Porém, você saberia dizer a diferença de
olhares das ciências sociais e da psicologia social – tendo em vista que
ambas possuem a sociedade como objeto de estudo?
As ciências sociais se ocupam do estudo dos fenômenos sociais –
ou seja, a velhice, as ações populares, as manifestações de comunidades
etc., enquanto a psicologia social também olha para estes fenômenos, mas
busca investigar como eles interferem na psique humana e também como
o homem pode agir sobre estes fenômenos.
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A psicologia social parte do entendimento máximo de que o homem


é um ser gregário por natureza. O que isto quer dizer? Que é natural da
natureza humana a necessidade de estar em grupo, tendo sido seus inter-
relacionamentos grupais responsáveis pela sobrevivência da espécie ao
longo dos milhares de anos de sua evolução. Assim, é natural do homem a
convivência grupal, a qual lhe garante uma identidade e também a sensa-
ção de pertencimento.

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Comunicação e grupos – A psicologia social - Unidade 5

Comunicação e grupos – A psicologia social - Unidade 5

Seu objeto de estudo, portanto, é a interação humana, como as


pessoas percebem umas às outras e agem em função disso.

Tendo isso em vista, diversas são as configurações às quais o ho-


mem pode se inserir como participante de um grupo. Aliás, o homem já
nasce fazendo parte de um grupo, o qual lhe será referência para toda a
vida, que é a família.
A psicologia social e de grupos, bem como o interesse por fenôme-
nos sociais como a comunicação, tem alguns nomes que merecem des-
taque pelas contribuições de seus estudos iniciais. Gustave Le Bom, psi-
cólogo francês que viveu entre 1841 a 1931, escreveu a obra “Psicologia
das Massas”, sobre grandes agrupamentos de pessoas, cujo enfoque está
no comportamento do indivíduo diante da influência das massas. Nesta
obra, Le Bon tratou, em grande medida, de descrever o comportamen-
to, a psicodinâmica e os afetos de pessoas em situação de agregação. O
termo empregado é usado principalmente para designar um conjunto de
pessoas reunido fisicamente num mesmo espaço, com qualquer tipo de
propósito conjunto (p. ex. a reunião para um evento público ou um jul-
gamento no tribunal).
No início do século XX, nos EUA, os psicólogos John Dewey e Ge-
orge Mead, da Universidade de Chicago, estudavam relações de pertenci-
mento, conflitos e de produção de saberes, normas, valores e linguagens
dos indivíduos e seus grupos.
Após a Segunda Guerra, Kurt Lewin, em 1965, formulou a teoria
do campo psicológico, estudando detidamente a dinâmica dos pequenos
grupos nas organizações. Ademais, seus estudos mostraram que a pesqui-
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sa pode ser realizada fora do ambiente de laboratório e clínico somente.


Outros autores que contribuíram para os estudos sobre grupo foram José
Bleger (1923-1972) e Enrique Pichon Rivière (1907-1977).
Assim, à psicologia social cabe o estudo dos grupos nas organiza-
ções, a relação do indivíduo com o grupo, o grupo como portado de regras
e funcionamento próprios. Estes conhecimentos contribuem sobremaneira
para ações de intervenção e trabalhos em grupos, posto que, a partir de
então, considera-se o ambiente social um campo de estudo rico em que o
ser humano também se realiza.

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Psicologia aplicada à administração

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Entender o trabalho em grupo é fundamental no contexto organizacional.

5.2  A teoria de campo de Kurt Lewin


Lewin trabalhou com Wertheimer, Koffka e Kohler, da psicologia
da gestalt, mas não podemos defini-lo nesta atuação. Lewin não segue
adiante com as preocupações psicofisiológicas, mas busca na física os
princípios para desenvolver seus conceitos. Um deles é o de espaço vital,
que ele define como sendo a totalidade dos fatos que determinam o com-
portamento do indivíduo num certo momento.
Assim, seriam objeto da psicologia as transações comportamentais
do indivíduo em seu meio interno e externo, sendo a personalidade cons-
tituída por uma totalidade dinâmica – complexidade de sistemas, formas,
processos psíquicos.
O meio interno diz respeito às emoções, aos sentimentos, aos even-
tos psicológicos, ou seja, o que é psicologicamente representativo para o
indivíduo. O meio interno é denominado por Lewin como “eu íntimo”,
enquanto o meio externo corresponde ao meio físico, social e cultural em
que o indivíduo está inserido e é denominado o “eu social”. Há, por fim, o
“eu social”, em que se tem uma região mais superficial, responsável pelos
contatos sociais.
Para Lewin, a explicação psicológica do comportamento implica a
identificação de características direcionais, isto é, todo o comportamen-
to tem propósitos subjacentes e objetivos para os quais é dirigido, quer
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tentando alcançar estes objetivos, quer tentado evitá-los, ou seja, há uma


motivação interna para os comportamentos e nem sempre há clareza sobre
de onde parte essa motivação.
Lewin considera que importantes são os processos internos, causas
do comportamento, que tomam forma nos comportamentos externos. No
caso do valor de uma recompensa, o que é psicologicamente significativo
é a forma como a recompensa é dada e recebida, se é como manifestação

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Comunicação e grupos – A psicologia social - Unidade 5

de um reconhecimento ou se como um suborno. Essa reação, o impacto


psicológico que acompanha a ação, é que se deve procurar compreender,
portanto é o que constitui a realidade psicológica do indivíduo.
Os estudos de campo realizados por Lewin indicam uma totalida-
de dos fatos psicológicos que existem a partir dos efeitos que estes fatos
causam. O campo social trata da origem, da estrutura e da dinâmica de um
grupo como determinantes das diferentes posições dos elementos grupais.
Assim, temos que o grupo é um espaço vital do indivíduo, tendo claro seu
papel no grupo, e assim torna-se terreno sobre o qual a pessoa se sustenta.
O comportamento do indivíduo encontra-se diretamente associado
à sua relação com o grupo. Podemos dizer, por exemplo, que, quando sua
participação no grupo está bem estabelecida, seu espaço de vida se caracte-
riza por uma estabilidade. Caso não estivesse estabelecida sua relação com
o grupo, isto traria reflexos diretamente para sua vida. Devido a esta rela-
ção, o grupo também exerce para a estruturação de vida do indivíduo como
um instrumento para satisfazer suas necessidades físicas e sociais. Quando
adulto, por exemplo, seu status social é um instrumento importante nas
suas relações profissionais, sociais, familiares, etc. Em contrapartida,, uma
mudança na situação do grupo afeta diretamente a situação do indivíduo:
situações de ameaça sobre o grupo, também desperta no indivíduo o sen-
timento de estar ameaçado, assim como sua segurança e seu prestígio au-
mentam ou decrescem à medida que o mesmo acontece com o grupo.
Assim, o constitui-se como um espaço de vida em que o indivíduo
se movimenta livremente (isto quer dizer que as pessoas não se encerram
em si mesmas). É importante destacar que se trata de um terreno onde o
homem se depara com outras pessoas, outras realidades – daí podemos
compreender a importância da determinação de sua posição dentro do
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grupo, o qual pode lhe garantir o acesso a novas realidades, com suas
oportunidades e barreiras.

Vimos, então, que os estudos de Kurt Lewin inauguraram para


a psicologia um novo universo a ser estudado, uma vez que o grupo
social também se faz presente como representação interna. Temos en-
tão, estruturado como teoria, aquilo que podemos vivenciar e observar
em nosso cotidiano, como pessoas que pertencem a diferentes grupos
sociais, convivendo com esta diversidade de situações.

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Psicologia aplicada à administração

5.3  O grupo na instituição e o grupo como


instituição: as constribuições de José Bleger
As contribuições de Bleger se destacam por trazer uma nova pers-
pectiva sobre o que representam os grupos e seus fundamentos. A partir
de seus estudos, passou-se a entender que o grupo, assim como o indiví-
duo, possui uma psicodinâmica que lhe é própria, ou seja, inaugura o que
chamou por “psicologia institucional”, em que a instituição é uma totali-
dade. Desse modo, é infrutífero nos ocuparmos de parte dela, mas sendo
importante desenvolver uma intervenção que atenda ao todo. Bleger nos
faz entender que a manifestação de um problema na organização não se
restringe apenas a uma parte da instituição, mas representa um sintoma,
um problema que é da totalidade.
Em razão disso, também foi Bleger quem nos trouxe o conceito da
importância de se promover uma atuação da psicologia nas instituições
voltada para a busca da higiene mental da organização, denominada “psi-
co-higiene”, que seria conseguir a melhor organização e as condições que
tendem a promover a saúde e o bem-estar de seus integrantes.
Entender que o grupo em si tem sua própria psicodinâmica, ou
seja, que possui tanto conteúdos manifestos (que todos conhecem e
veem) como conteúdos chamados latentes (que ficam inacessíveis, não
expostos para o outro e para o grupo em si), estes conteúdos não são
verbalizados. Isso nos mostra que Bleger via o grupo como uma pessoa,
com suas angústias, sua história, seus desejos, sua dinâmica de funcio-
namento. Assim como o ser humano, o
grupo também não possui consci-
Você chegaria
ência de tudo que lhe acontece
até algum desconhecido e
e por isso muito deixa de ser se apresentaria assim: “Oi, eu sou
explicitado, verbalizado Paulo, tenho medo de avião, estou ten-
– simplesmente porque, tando superar, mas ainda não consegui...”?
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assim como as pessoas


em geral, não se tem claro
tudo o que acontece em
termos das repercussões
dos relacionamentos.
Desse modo, ele nos
mostra que muito fica no campo
do “não dito”, o que não quer dizer
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ADM 1-2 2013-1.indb 162 11/04/2013 17:45:18


Comunicação e grupos – A psicologia social - Unidade 5

omissão, ou mentir algo – simplesmente não se verbaliza tudo o que


acontece.
Assim também o é com o grupo: quando alguma pessoa inicia suas
atividades em um grupo, ela passa a participar desta dinâmica, apesar de
ter muito que lhe é desconhecido e não dito. Além disso, a inserção de no-
vos integrantes a um grupo implica diretamente na inclusão de novas his-
tórias de vida, novas personalidades, estrutura mental e expectativas em
que, na maioria das vezes, esta personalidade, estrutura e expectativa não
são informadas através da verbalização. Considera-se que essa comunica-
ção se dê via não verbal e, mais do que isso, sem que o próprio indivíduo
se dê conta disso. Do outro lado, também o integrante fica no lugar do não
dito, sem ter clareza de quem é este grupo...
E o que resulta desse jogo de “não ditos”? Todo o resto é descoberto
nas inter-relações e interações que se darão ao longo do tempo e a sensa-
ção de identidade, de pertencimento e da valoração dos comportamentos
dependerá da relação que cada indivíduo vier a estabelecer com o grupo e
também do tipo de estrutura que o grupo
tiver. Grupos mais rígidos, mais
Um grupo, mais
frágeis ou grupos mais flexíveis
do que um conjunto de
e abertos terão comportamen- pessoas, representa também uma
tos diferentes quando diante personalidade única formada por todos
de uma situação desruptiva, aqueles que são seus componentes. Isto
nos permite dizer que nossas ações, atitudes,
como a entrada de um novo pensamentos e afetos dentro de um grupo
integrante ou a tomada de não são os mesmos quando os realizamos e
decisão, por exemplo. sentimos individualmente.
O grupo então se cons-
titui a partir das inter-relações
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e da sociabilidade estabelecida.
Pessoas em uma fila, em um pri-
meiro momento, Bleger os considera
como uma serialidade, que também possui normas e regras não verbalizadas.
Porém, quando algo acontece que mobiliza a todos em um aspecto em co-
mum, é quando as individualidades se conectam e assim inicia-se um grupo.

5.4  Os papéis desempenhados no grupo


Enrique Pichon Rivière (1907-1977), assim como Bleger, dedi-
cou-se aos estudos sobre grupo, tendo sido um expoente nome para a
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Psicologia aplicada à administração

sistematização e o aprofundamento sobre o tema. Pichon, dentre outras


contribuições, percebeu que o grupo como entidade requer tempo para de
fato constituir-se como tal. Quando o grupo se estabelece, os integrantes
acabam por assumir diferentes papéis, que se formam de acordo com a
representação que cada um tem de si mesmo, em resposta às expectativas
que os outros têm de nós .
Em diferentes tipos e contextos de grupo, Pichon pôde observar que
esses papéis são desempenhados inconscientemente e não são fixos ou
atribuídos aos seus integrantes, mas atuados mediante o que emerge do
grupo (não se tratando de uma demanda individual, mas do campo gru-
pal), destacando-se:
• Porta-voz: é quem ocupa o lugar de denunciar a ansiedade do
grupo, sendo sua fala representativa do que o grupo como um
todo sente, o qual se identifica com o que o porta-voz verbaliza e
expressa por todos os demais integrantes. Sua fala reflete a ansie-
dade do grupo que o impede para a realização da tarefa.
• Bode expiatório: também ocupa o lugar de expressar a ansie-
dade grupal, mas sua posição – ao contrário do porta-voz, que
possui identificação e aprovação do grupo – não é aceita pelos
demais integrantes. Sua fala, geralmente causa rupturas e segre-
gação no grupo. O bode expiatório acaba por ser aquele que fica
como depositário das frustrações e dificuldades do grupo, que o
culpa pelos fracassos ocorridos ao longo da realização da tarefa.
• Líder: o papel do líder dentro do grupo pode ser desempenhado
por um de seus integrantes. Ainda que o tipo de liderança assu-
mida pelo coordenador reflita sobre a estrutura e a função do
grupo, o integrante que é líder pode conduzir o grupo à realiza-
ção da tarefa, assim como também pode desempenhar resistência
para tal. Quando ocorre o desempenho deste papel, o grupo pode
desenvolver a dependência desta figura, agindo em função de sua
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atuação, e não como um grupo.


• Sabotador: o sabotador, como o próprio nome diz, é quem sabo-
ta a tarefa, ou seja, suas ações são direcionadas para a não evolu-
ção e a não conclusão da tarefa proposta. Além disso, sua postura
pode também causar a segregação do grupo. Diferencia-se do
líder de resistência no que tange ao seu reconhecimento pelo

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Comunicação e grupos – A psicologia social - Unidade 5

grupo, isto é, o sabotador age “na surdina”, sem que suas ações
conspiradoras sejam claramente percebidas pelo grupo (ZIMER-
MAN; OSÓRIO, 1997).

Leia o artigo indicado no link e veja quão importantes são os


conceitos trazidos por Pichon Rivière para a compreensão do grupo
no contexto organizacional:
http://www.scielo.br/pdf/rap/v41n1/06.pdf

5.5  O coordenador de grupo


Pichon também identificou que, para conduzir o grupo à realização
da tarefa, e neste caso estamos falando de grupos em diferentes contextos
(clínico, educacional, organizacional), é necessária a figura do coordena-
dor. O coordenador não se constitui como integrante do grupo, mas ocupa
um lugar diferenciado de escuta e intervenção para que o grupo possa ser
operativo – ou seja, que consiga postar-se diante da tarefa, que é o objeti-
vo/motivo daquelas pessoas estarem reunidas.
Outros estudiosos de grupos também identificaram que algumas ca-
racterísticas são imprescindíveis ao coordenador, sendo elas:
• Gostar de grupos e acreditar neles: se não se parte desta premis-
sa, o investimento do coordenador é comprometido, logo o de-
senvolvimento do grupo;
• Amor à verdade: lidar com a verdade e suas decorrências;
• Coerência: o que é dito ao outro também se aplica a si mesmo;
• Senso de ética: não impor os próprios valores;
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• Respeito: ao outro, a si e ao grupo;


• Paciência: paciência, sempre;
• Ser continente: ser capaz de ouvir e dar conta das angústias e das
ansiedades do grupo;
• Capacidade negativa: assumir seus sentimentos “menos nobres”
(fracasso, raiva, medo), mostrar ao grupo que tais sentimento
também são importantes e humanos;
• Função de pensar: pensar pelo grupo e organizar os pensamentos
dos integrantes;

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Psicologia aplicada à administração

• Discriminação: saber pontuar o que pertence a cada um;


• Comunicação: saber fluir a comunicação do grupo e para o gru-
po, sem exercer vínculos individualmente; quando se fala, se fala
para o grupo;
• Modelo de identificação: servir de exemplo de comunicação, co-
erência, verdade para os integrantes;
• Empatia: conseguir identificar-se com o outro;
• Síntese e integração: ser capaz de sintetizar e integrar as falas e
os sentimentos como uma manifestação do grupo.

5.6  Equipes x grupos


É recorrente na organização a formação de grupos de trabalho e
a partir daí denominá-los como equipe. Mas seriam estes termos sinô-
nimos? Na verdade não são, possuem diferenças fundantes sobre o que
constitui cada caso.
Pontuaremos algumas dessas diferenças para que possamos ter cla-
reza a respeito destes e desse modo identificar e avaliar sua aplicabilidade
para a realidade e a cultura organizacional.
Em grupos de trabalho, a realização da tarefa depende do esforço
individual, enquanto que, na equipe, depende tanto do esforço individual
como do esforço conjunto. Assim, também o é com relação às responsabi-
lidades de realização do trabalho, uma vez que em grupo a responsabilida-
de pelos resultados obtidos é individual: cada empregado se responsabili-
za apenas pelos seus resultados. Quando falamos em equipes de trabalho,
a responsabilidade pelo resultado final é compartilhada, independente-
mente do grau de envolvimento com a tarefa e a função desempenhada.
Por exemplo, a vitória no campeonato é uma responsabilidade da equipe
brasileira e de todos os seus membros.
O grau de responsabilidade com a tarefa possui direta relação com
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o fato de se compartilhar um objetivo em comum. Ainda que cada um


possa ter metas específicas a serem cumpridas, há um objetivo global
que é da equipe. Afinal, a equipe foi criada em função desta meta con-
junta a ser atingida. Nos grupos essa relação é diferente, os objetivos
são distantes, vagos e não se observa claramente o comprometimento
dos membros com eles.
Ademais, os grupos se diferenciam das equipes na relação que
mantêm com a empresa. Os objetivos de trabalho que devem ser atingi-
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Comunicação e grupos – A psicologia social - Unidade 5

dos pelos membros do grupo são definidos pela organização que também
estabelece todas as etapas a serem seguidas. Quando se fala em equipes
de trabalho, o objetivo geral pode ser definido pela organização, mas
há maior flexibilidade na tomada de decisões e no estabelecimento de
mecanismos para atingir o objetivo, tendo maior envolvimento dos seus
integrantes.
Desse modo, observamos que equipes e
grupos de trabalho constituem duas estruturas Vejam que
de desempenho diferentes. Contudo, o em- interessante texto sobre
a importância da formação de
prego destes termos nem sempre respeita equipes de trabalhos em quatro
suas particularidades, e divergências podem diferentes organizações:
ser encontradas entre autores interessados http://www.scielo.br/pdf/gp/v7n2/
a04v7n2.pdf
no seu estudo, assim como entre gerentes ou
administradores que adotam estas denomina-
ções, com o objetivo de nomear as unidades de
desempenho que comandam.

5.7  Comunicão como produção individual e do


grupo
Do que foi apresentado até aqui sobre grupos, um fator que se faz
presente em qualquer das configurações grupais vistas é a comunicação.
Apenas por meio da comunicação é que se estabelecem inter-relaciona-
mentos e, assim, novas produções. Porém, sabemos que a comunicação
não é uma tarefa fácil. Mesmo sob as melhores condições, há riscos de
desvios e mal entendidos iminentes ao longo do caminho.
A comunicação, contudo, permeia nossa capacidade de relaciona-
EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

mento e de trabalho com o outro, daí sua extrema importância como ins-
trumento a ser utilizado no contexto grupal. Na verdade, quando falamos
em grupos, diante do que estudamos até aqui (ou seja, lembrando sua múl-
tipla constituição de singularidades), há uma diversidade de inter-relações
que se estabelecem.
Tem-se que a comunicação é o processo pelo qual as pessoas criam
e enviam mensagens que são recebidas, interpretadas e respondidas por
outras pessoas. O envio e o recebimento da mensagem se fazem quando há
significados compartilhados por membros do grupo. São elementos consti-
tuintes da comunicação: o emissor, o receptor, a mensagem e a codificação.

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ADM 1-2 2013-1.indb 167 11/04/2013 17:45:19


Psicologia aplicada à administração

Devido à nossa natureza interativa, que é constante, com o outro


e com nossa própria realidade, o processo de comunicação não deixa de
fazer parte desta interação e por isso também é submetido a constante
mudança. Assim, ao sair do emissor, a informação é reinterpretada por
cada um dos receptores. À medida que cada um de vocês está lendo este
material, cada um irá ter uma percepção, uma interpretação e um enten-
dimento diferentes sobre o mesmo conteúdo. Veja: o que está escrito é
igual para todos!
As possibilidades de interpretação de uma informação, a partir do
momento em que é emitida, são inúmeras e abrangendo as diversas formas
de comunicação em nosso cotidiano: escrita, oral, corporal, as emoções,
o tom da voz, o poder e toda a sutileza de um idioma! Mesmo o silêncio é
uma forma de comunicação e possui os mais diversos significados, inten-
ções e possibilidades de interpretação.
Com isso, podemos afirmar que um dos aspectos que mais deveria
ser cuidado nas organizações é a comunicação entre as pessoas, as equi-
pes, os grupos. Contudo, raramente merece a devida e necessária atenção,
o que gera como consequências fortes resistências, conflitos e muitas ve-
zes prejuízos que poderiam ser evitados.
Pensando nisso, foram estudadas as mais diversas formas de ex-
pressão e comunicação, o que nos dá algumas “dicas” a respeito de como
aprimorar nossos contatos com o outro dentro da organização. Tais dados
abrangem passar a observar, por exemplo, como dispomos as pessoas em
uma reunião para favorecer ou não sua participação: dispor as pessoas de
forma a estarem em roda, face a face, indica uma comunicação mais fran-
ca e aberta. Em contrapartida, mesas de reunião disposta em linhas pa-
ralelas indicam que o responsável pela reunião possui pouco ou nenhum
interesse na opinião de seus colegas; apenas deseja
passar a informação em vez de recebê-la. Nos
Leia no texto
dois casos, a grande questão é que raramente
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indicado a diferenciação
se tem certeza do que foi compreendido, es- feita pelo autor entre comuni-
cação empresarial e comunica-
tando aí as chances para respostas e compor- ção organizacional:
tamento inesperado. http://www.scielo.br/pdf/rap/
Não podemos deixar de falar que, v40n6/10.pdf

em nosso contexto de trabalho atual, novas


formas de comunicação estão em voga, como
a possibilidade de encontros e reuniões virtuais,

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Comunicação e grupos – A psicologia social - Unidade 5

dispensando a obrigatoriedade da presença física para realizar as tarefas,


compartilhar informações ou socializar-se. Ao olharmos para isso, temos
novas formas e expressões de grupos: equipes virtuais nas organizações,
grupos de apoio social na internet, modalidades de ensino a distância!
Graças às tecnologias da comunicação disponíveis (videoconferência,
bases de dados de informação, correio eletrônico, internet...), está sendo
possível formar equipes virtuais nas organizações, transpondo a separação
física (distâncias e tempo) e tornando possível a produção coletiva e o
compartilhamento de conhecimentos de forma mais rápida.
Afinal, não é isso mesmo o que estamos fazendo em nosso curso?
Yuri Arcurs / Dreamstime.com

Neste tema, estudamos a importância dos grupos para as organizações.

Atividades
01. Quais as principais características dos grupos apontados por Lewin
e Bleger?
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02. Cite ao menos cinco das características do coordenador de grupo e


explique. Você acredita que um coordenador de grupo é um líder?

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Psicologia aplicada à administração

03. Diante do que foi apresentado sobre a psicodinâmica dos grupos, que
papel desempenha a comunicação neste contexto?

04. Grupos de trabalho e equipes: quais suas diferenças?

Reflexão
Este tema possui grande relevância para o contexto organizacional,
desde as bases dos estudos sobre grupos até sua aplicação no cotidiano
organizacional, passando pelas questões referentes à comunicação – reu-
nir diferentes pessoas “sob o mesmo telhado” requer preparo e tato. Esses
conhecimentos são essenciais para o profissional administrador de em-
presas, para que possa melhorar as relações dentro de sua organização e
assim atingir os resultados esperados.
Atentar-se para estas questões não apenas torna o ambiente de tra-
balho mais saudável (a psico-higiene, como apresentou Bleger), mas tam-
bém mais produtivo.

Leitura Recomendada
Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

PAGÉS, M. A vida afetiva dos grupos. Petrópolis: Vozes, 1982.

Referências
AGUIAR, M.A. Psicologia aplicada à administração: uma aborda-
gem interdisciplinar. São Paulo: Saraiva, 2005.

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Comunicação e grupos – A psicologia social - Unidade 5

BERGAMINI, C. W. Psicologia aplicada à Administração de Em-


presas: Psicologia do comportamento organizacional. São Paulo:
Atlas, 1995.

DAVIDOFF, L. Introdução à Psicologia. São Paulo: Makron Books,


2000.

GIL, A.C. Gestão de Pessoas. São Paulo: Atlas, 2001.

MINICUCCI, A. Relações Humanas – Psicologia das relações inter-


pessoais. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2001.

ZIMERMAN, D.E., OSÓRIO, L.C. Como trabalhamos grupos. Por-


to Alegre: Artes Médicas, 1997.

Na próxima unidade
O tema de nossa próxima unidade desperta grande interesse no con-
texto organizacional. Vamos aprender sobre motivação e o que fundamen-
ta este aspecto tão vital dentro de uma organização.
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Psicologia aplicada à administração

Minhas anotações:
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Motivação
A motivação no contexto organizacional

6 vem sendo um tema de estudo e interesse in-


cessante. Trata-se de um fenômeno psicológico
de
que reflete diretamente no cotidiano da empresa,
não sendo possível deixá-lo de lado devido a suas
ida

implicações diretas para a organização, a qual anseia por


funcionários motivados e produtivos.
Veremos neste tema as principais teorias da motivação, que
Un

servirão de base para a compreensão dos processos produtivos


e administrativos junto às pessoas.

Objetivos da sua aprendizagem


• Apresentar as principais teorias da motivação;
• Conhecer as atuais discussões sobre o tema;
• Compreender a inserção dos conhecimentos teóricos sobre motivação
no cotidiano organizacional.

Você se lembra?
Vimos, em nossos estudos anteriores, da unidade 5, a importância de co-
nhecermos os mecanismos que permeiam as relações grupais, assim como
o papel fundamental da comunicação no estabelecimento de novos rela-
cionamentos e assim a formação de grupos. O estado motivacional se faz
presente quando ocorre a reunião de um grupo de pessoas, daí sua impor-
tância em também conhecermos mais sobre este tema.

ADM 1-2 2013-1.indb 173 11/04/2013 17:45:23


Psicologia aplicada à administração

6.1  Definições
A motivação é definida por Robbins (2005) como o desejo de em-
pregar os esforços em direção às metas organizacionais, desde que estas
metas organizacionais estejam vinculadas à satisfação de alguma necessi-
dade do indivíduo. Para Maximiano (2002), a motivação é tudo aquilo que
impulsiona a pessoa a agir de determinada forma ou, pelo menos, que dá
origem a um comportamento específico. Os autores definem de forma se-
melhante a motivação, embora Robbins (2005) a coloque sob enfoque do
trabalho e Maximiano (2002) aborde ciclo motivacional. Ambos partem
do pressuposto de que a motivação é uma resposta do indivíduo ao meio
em que vive e trabalha.
A motivação é causada por al-
guma necessidade, isto é, há um
processo de motivação e de Este processo (de
motivação) começa por meio
ciclo motivacional, que seria de uma necessidade insatisfeita
cíclico: quando se fecha que leva a uma tensão, depois a impul-
uma parte do processo, ou- sos, havendo, assim, um comportamento
de busca pela satisfação, fazendo com que a
tra parte se inicia. necessidade seja satisfeita e a tensão, redu-
Observamos que a zida. A cada necessidade esse ciclo começa
motivação é o resultado da novamente.
interação entre o indivíduo
e a situação, isto é, os indiví-
duos diferem em impulsos mo-
tivacionais básicos. Daí temos três
elementos importantes na compreensão
da motivação: esforço, metas organizacionais e necessidades.
O elemento esforço é entendido como medida de intensidade, isto
é, o indivíduo motivado se esforça mais. O esforço está direcionado coe-
rentemente com as metas da organização que as empresas vêm buscando.
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Entende-se que o elemento necessidade, em algum estado interno, faz


certos resultados parecer atraentes. A necessidade insatisfeita cria ten-
são que estimula impulsos dentro do indivíduo. Estes impulsos geram
um comportamento de busca para encontrar objetivos especiais que, se

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Motivação - Unidade 6

Motivação - Unidade 6

alcançados, satisfazem à necessidade e esta necessidade satisfeita leva à


redução de tensão.

Assim, a motivação é uma resposta do organismo aos estí-


mulos apresentados, sejam eles internos ou externos, que geram a
tensão e despertam uma necessidade.

Para dar conta disso, o empregado usa de seu esforço (diretamente


proporcional ao nível de tensão) até atingir a satisfação de sua necessida-
de e, assim, reduzir a tensão. Desse modo, é preciso conciliar o interesse
do indivíduo ao interesse da organização para que, ao empregar esforços
para a redução da tensão, eles devem ser orientados para as metas organi-
zacionais, resultando em funcionários motivados.
A partir destas primeiras informações, temos que a valorização das
relações humanas no contexto administrativo teve seus primórdios no
experimento realizado por Elton Mayo (1890-1949). Mayo desenvolveu
uma experiência que foi pioneira na área do comportamento humano no
trabalho. Com esta experiência, iniciada em 1927, na fábrica da Western
Eletric (Chicago, EUA), Mayo estudou as influências da iluminação na
produtividade, índice de acidentes e fadiga, e, através destes fatores, de-
monstrou a influência de fatores psicológicos e sociais no produto final do
trabalho. Desde então, as relações humanas passaram a ser mais reconhe-
cidas no âmbito das organizações de maior porte e complexidade.

6.2  Teorias clássicas sobre motivação


Diversas foram as teorias formuladas para explicar as motivações do
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trabalhador, sendo as principais: as teorias clássicas (hierarquia de necessida-


des, as teorias X e Y, a teoria de motivação-higiene). Entre as teorias contem-
porâneas: que recebem este nome por terem sido desenvolvidas recentemen-
te, as principais são: a teoria ERC e a teoria de necessidades de McClelland.
As teorias clássicas são a base para todas as outras teorias contem-
porâneas que foram desenvolvidas, portanto daremos destaque às três
principais teorias clássicas.

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Psicologia aplicada à administração

6.2.1  A teoria de hierarquia de necessidades de


Abraham Maslow
Esta teoria foi desenvolvida após a formulação da hipótese de que,
dentro de cada ser humano, existe uma hierarquia de cinco necessidades
(ROBBINS, 2005). São elas:
1. Básicas (fisiológicas): referentes às necessidades de sobrevivência,
como alimentação e demais necessidades físicas;
2. Segurança: trata-se da necessidade de sentir-se e estar seguro, con-
tra males que podem agir sobre questões físicas e emocionais;
3. Sociais: diz respeito à necessidade do ser humano em relação aos
afetos, à expressão deles com relação a outro e sua aceitação, o esta-
belecimento de relações sociais como amizade;
4. Estima: implica em fatores como autoestima e autoconfiança, o
amor próprio, a expressão da criatividade; em termos de fatores ex-
ternos, implica na necessidade de status e reconhecimento social;
5. Autorrealização: pode ser considerada como a menos urgente, de-
vido à natureza desta necessidade, que é posterior ao alcance das
demais anteriores. Refere-se ao impulso de buscar pelo crescimento
pessoal, bem como pela autorrealização.

Quando cada uma dessas necessidades se torna satisfeita, a neces-


sidade seguinte passa a ser a necessidade dominante. Em outras palavras,
estas necessidades não coexistem, pois uma necessidade é satisfeita por
vez. Uma necessidade somente começa a existir quando a outra está ple-
namente satisfeita.
A teoria de Maslow recebeu amplo reconhecimento, sobretudo entre
gerentes praticantes. Isto pode ser atribuído à lógica intuitiva da teoria e
sua facilidade de entendimento. Infelizmente, entretanto, pesquisas geral-
mente não validam a teoria. Maslow não forneceu substância empírica e
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muitos estudos que buscaram validar a teoria, não encontraram sustenta-


ção para sua proposta.
Enquanto a Teoria das Necessidades de Maslow explica a motivação
a partir do cumprimento das necessidades humanas, a teoria proposta por
Herzberg enfoca dois aspectos no cumprimento do trabalho e o ambiente
onde ele é realizado (BERGAMINI; CODA, 1997).

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Motivação - Unidade 6

6.2.2  Teoria da motivação-higiene de Frederick Herzberg


A teoria da motivação-higiene foi desenvolvida por Frederick Herz-
berg (GIL, 2001), partindo do princípio de que a relação de um indivíduo
com seu trabalho determina o sucesso ou o fracasso do indivíduo.
Herzberg investigou a questão “O que as pessoas querem de seus
trabalhos?” e descobriu que as respostas dadas pelas pessoas eram signifi-
cativamente diferentes entre as que diziam sentir-se bem sobre o trabalho
e as pessoas que diziam sentir-se mal sobre o trabalho. Nas insatisfação
dos funcionários, destacam-se, sempre, a relação interpessoal, a condição
de trabalho e a higiene.
Ele também demonstrou que nem sempre o oposto de satisfação é
insatisfação, pois remover do trabalho características insatisfatórias nem
sempre torna o trabalho satisfatório. Foi observado que, retirando-se estas
características insatisfatórias, o trabalho terá uma paz maior, mas não mo-
tivará os indivíduos: estes apenas não estarão insatisfeitos.
Assim, o autor definiu como fatores higiênicos todos os aspectos
relacionados ao contexto geral do cargo, ou seja, aos fatores externos ao
trabalho, como chefia, colegas de trabalho, salário, ambiente de trabalho,
salubridade etc. E, como fatores motivacionais, os fatores internos ao
trabalho, como realização, satisfação com a própria atividade realizada,
reconhecimento, responsabilidade, progresso ou plano de carreira e de-
senvolvimento pessoal.
Herzberg sugere que, se quisermos realmente motivar as pessoas em
seus trabalhos, devemos dar ênfase à realização, ao reconhecimento, ao pró-
prio trabalho, à responsabilidade e ao crescimento. Para o autor, estas são as
características que as pessoas acham intrinsecamente recompensadoras.
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De forma objetiva, a teoria dos fatores considera que:


– os fatores motivacionais apontam para a satisfação com o trabalho
em função de seu conteúdo e do quanto se mostra desafiador ou esti-
mulante;
– os fatores higiênicos atuam sobre o grau de insatisfação com o cargo,
isto é, abrangem aspectos do ambiente em que o trabalho é desenvolvido,
tanto em termos estruturais como de relacionamentos estabelecidos.

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Psicologia aplicada à administração

6.2.3  Teoria x e teoria y de Douglas McGregor


Esta teoria foi desenvolvida por Douglas McGregor (ROBBINS,
2005), que propôs duas divisões distintas de seres humanos: uma basica-
mente negativa, teoria X, e outra basicamente positiva, teoria Y.
McGregor acreditava que a visão de um gerente sobre os seres hu-
manos está baseada em certas pressuposições que tendem a moldar seu
comportamento em relação aos subordinados.
A teoria X considerava que os trabalhadores eram naturalmente
preguiçosos e que sem a supervisão efetiva eles não trabalhariam, pois o
trabalho era um mal. Com a teoria Y, McGregor propõe as condições para
que as necessidades atendidas fora do local de trabalho possam ser aten-
didas no local. A proposta do autor explicita que o trabalho não precisa
ser um mal. Assim, se as pessoas estiverem adaptadas às suas funções e
fizerem algo de que gostem, elas são capazes de realizar a atividade sem a
necessidade da supervisão efetiva proposta na teoria X.

As quatro pressuposições da teoria X são:


1. empregados naturalmente não gostam de trabalho e, sempre que
possível, tentarão evitá-lo;
2. visto que os empregados não gostam de trabalhar, eles devem ser
coagidos, controlados ou ameaçados com punições para atingirem
metas;
3. empregados evitarão responsabilidades e buscarão orientação for-
mal sempre que possível;
4. a maioria dos trabalhadores coloca segurança acima de todos os ou-
tros fatores associados ao trabalho e exibe pouca ambição.

As quatro pressuposições da teoria Y são:


1. empregados podem ver o trabalho como sendo tão natural quanto
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descanso e lazer;
2. pessoas exercitarão autoorientação e autocontrole se estiverem
comprometidas com os objetivos;
3. a pessoa comum pode aprender a aceitar e até a procurar responsa-
bilidade;
4. a habilidade de tomar decisões inovadoras está amplamente disper-
sada por toda a população.

178

ADM 1-2 2013-1.indb 178 11/04/2013 17:45:24


Motivação - Unidade 6

A teoria X supõe que necessidades de baixa ordem dominam os in-


divíduos, enquanto a teoria Y supõe que as de alta ordem é que dominam
os indivíduos. O próprio McGregor acreditava que as pressuposições da
teoria Y tinham mais valor que as pressuposições da teoria X. Infelizmen-
te, não há evidências que confirmem os conjuntos ou as pressuposições
como válidos ou que indiquem que as pressuposições da teoria Y (ao alte-
rar os atos de uma pessoa) a tornarão mais motivada no trabalho.
Ambas as teorias apresentam concordância na área motivacional,
que acarreta responsabilidade, crescimento, progresso, que, relacionados
às hierarquias das necessidades, são pontos importantes a serem adapta-
dos, tanto na forma de hierarquia de necessidades como nos fatores moti-
vacionais e de enriquecimento do cargo.
Vergara (2003) define motivação como um produto não acabado,
um processo que se configura a cada momento. Nesta ótica, a motivação
tem um caráter de continuidade, o que significa que sempre se terá pela
frente algo a motivar as pessoas, considerando suas particularidades.
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Equipe motivada
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6.3  Teorias contemporâneas


6.3.1  Teoria ERC
De acordo com Robbins (2005), Aldefer denomina três grupos de
necessidades baseados na teoria de Maslow: centrais, relacionamento e
crescimento.
O grupo de existência está preocupado em promover as necessida-
des básicas, incluindo os itens nos quais Maslow considerou as neces-

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ADM 1-2 2013-1.indb 179 11/04/2013 17:45:31


Psicologia aplicada à administração

sidades fisiológicas e de segurança. No segundo grupo de necessidades,


estão os relacionamentos, como desejo de manter os relacionamentos
interpessoais. As necessidades de crescimento dizem respeito a um desejo
intrínseco de desenvolvimento pessoal.
A teoria ERC é compatível com o conhecimento das diferenças
individuais, ou seja, variáveis como educação, formação familiar e am-
biente cultural podem alterar a importância ou a força impulsionadora das
necessidades de um grupo e de um indivíduo em particular.

6.3.2  Teoria das necessidades de mcclelland


De acordo com Marras (2002), McClelland afirma que as pessoas
adquirem três necessidades ou motivos. São elas: a realização, a associa-
ção e o poder mediante interação com o ambiente.
Para Robbins (2005), as três teorias desenvolvidas por McClelland e
seus associados são: poder, realização e afiliação.
• Necessidade de realização: ter sucesso, saber sair-se bem no con-
junto de padrões, buscar desafios, satisfação de tarefas difíceis,
controle e competitividade;
• Necessidade de poder: necessidade de fazer as outras pessoas se
comportarem de maneira que não o fariam naturalmente;
• Necessidade de afiliação: o desejo de relações interpessoais.

As teorias motivacionais são igualmente importantes e oferecem


visões de homem que são complementares com os aspectos de satisfação,
autorrealização, insatisfação, afiliação e poder.
Muitas empresas adotam um sistema de remuneração variável, vi-
sando a motivar seus funcionários, mas observa-se que a motivação não
permanece, tendo curta duração.
Para Robbins (2005), os planos de participação acionária são pla-
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nos de benefícios estabelecidos pela empresa, nos quais os empregados


compram ações da companhia como parte de seus benefícios. Em um
programa desse tipo, é criado um fundo de ações para os empregados.
As empresas contribuem com as ações ou com dinheiro para comprá-las.
Embora os empregados tenham estas ações, geralmente eles não podem
dispor delas enquanto trabalharem na empresa. As pesquisas sobre o as-
sunto mostram que estes planos contribuem para a melhoria da satisfação

180

ADM 1-2 2013-1.indb 180 11/04/2013 17:45:31


Motivação - Unidade 6

dos empregados, mas seu impacto sobre o desempenho é menos claro.


Um estudo comparou 45 empresas que adotavam este tipo de plano contra
outras empresas convencionais. As primeiras tive-
ram um desempenho superior tanto em termos Veja o
texto indicado a
de emprego como de crescimento de vendas. respeito da relação entre
Mas outros estudos revelaram resultados motivação e metas:
desanimadores. As evidências indicam, cla- http://www.scielo.br/pdf/rac/v7n4/
v7n4a03.pdf
ramente, que é preciso haver a propriedade
e um estilo de gestão participativo para se
obterem melhorias significativas no desem-
penho da organização.

6.4  Motivação: do conceito às aplicações


Administração por objetivo: enfatiza a fixação participativa de
metas tangíveis, verificáveis e mensuráveis, um programa que engloba
objetivos específicos e ação participativa, por um período explícito de
tempo, com feedback do progresso em relação às metas.
Vinculando a administração por objetivo à teoria da fixação de
objetivo: demonstra que o estabelecimento de metas específicas leva a
um melhor desempenho do que o genérico “faça o melhor possível”, e que
as metas mais difíceis conduzem a desempenhos melhores e que o feedba-
ck do desempenho também se aprimora. Esta administração é mais eficaz
quando as metas são suficientemente difíceis, a ponto de exigir certo es-
forço das pessoas.
Programa de reconhecimento dos funcionários: programas de
reconhecimento dos funcionários podem tomar diferentes formatos; os
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melhores utilizam múltiplas fontes e reconhecem tanto as realizações do


indivíduo como as do grupo.
Programa de envolvimento dos funcionários: é um processo
participativo que utiliza todo o contingente de funcionários e é elaborado
para estimular o crescente comprometimento com o sucesso da organiza-
ção.
Gestão participativa: é o processo no qual os subordinados com-
partilham um grau significativo de poder de decisão com seus superio-
res imediatos.

181

ADM 1-2 2013-1.indb 181 11/04/2013 17:45:31


Psicologia aplicada à administração

Participação por representação: os funcionários participam do


processo decisório da organização por meio de grupos de representantes.
Conselhos de trabalhadores: são grupos de funcionários, nome-
ados ou eleitos, que devem ser consultados quando os dirigentes tomam
qualquer decisão que envolve a força de trabalho.
Representantes do conselho: uma forma de participação por repre-
sentação, funcionários sentam juntamente com o conselho de diretoria da
empresa e representam os interesses dos trabalhadores.
Círculo de qualidade: grupo de funcionários que se reúnem regu-
larmente para discutir seus problemas de qualidade, investigar as causas
destes problemas, recomendar soluções e tomar as ações corretivas.
Planos de participação acionária: são planos de benefícios estabe-
lecidos pela empresa, nos quais os funcionários compram ações da com-
panhia como parte de seus benefícios.
Reconhecer as diferenças individuais: os funcionários possuem
necessidades diferentes e por isso merecem tratamentos diferentes; com-
preender o que é importante para cada um deles. Com isso será possível
individualizar metas, e os níveis de envolvimento e as recompensas
alinham-se com as necessidades individuais.
Alevtina Guzova / Dreamstime.com

Os componentes motivacionais possuem grande influência no traba-


lho individual e em grupo.
Utilize os objetivos e o feedback: os funcionários precisam ter ob-
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jetivos específicos e desafiantes, bem como feedback em relação ao seu


progresso em direção a essas metas.
Permita que os funcionários participem das decisões que os
afetam: os funcionários podem contribuir com diversas decisões que
os afetam.

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ADM 1-2 2013-1.indb 182 11/04/2013 17:45:33


Motivação - Unidade 6

Vincule as recompensas ao desempenho: as recompensas devem


estar de acordo com o desempenho. Os funcionários precisam saber disso
claramente, independentemente do quanto as recompensas estejam vincu-
ladas ao desempenho.
Verifique a equidade do sistema: as recompensas também preci-
sam ser percebidas como justas em relação às entradas que os funcionários
trazem para o trabalho. Isto quer dizer que a experiência, as habilidades,
as capacidades devem explicar as diferenças de desempenho.

Veja que interessante perspectiva trazem os autores a respeito do


tema motivação:
http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rbop/v5n1/v5n1a06.pdf

6.5  Princípio do hedonismo


É o princípio segundo o qual os indivíduos buscam prazer e afas-
tam-se do sofrimento, assim, pressupõe-se que as pessoas se comportam
de modo a maximizar certos tipos de resultados e a minimizar outros. A
psicologia comportamentalista, cognitivista e a teoria psicanalítica se uti-
lizam deste princípio de diferentes maneiras. Em todos os casos, a moti-
vação é vista como um fator interno, isto é, uma interpretação dos valores
externos. Não se pode esquecer, quanto ao princípio do hedonismo, de
que a fonte de prazer ou desprazer não é percebida nem válida da mesma
forma para indivíduos diferentes.
Em muitas empresas, confunde-se a aceitação das condições de con-
trole na organização como fator motivacional, assim como se confunde
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produtividade com o grau de integração dos indivíduos às normas e aos


procedimentos. O contexto, os fatores organizacionais e a capacidade in-
dividual devem estar em contínua interação.

Atividades
01. A motivação é um fator externo ou interno? Explique.

183

ADM 1-2 2013-1.indb 183 11/04/2013 17:45:33


Psicologia aplicada à administração

02. Quais são e o que dizem a teorias clássicas da motivação?

03. Apresente as teorias contemporâneas sobre motivação.

Reflexão
Vimos que a motivação é uma resposta do organismo aos estímulos
apresentados, podendo estes ser internos ou externos. Assim, podemos di-
zer que ninguém motiva alguém – a pessoa é estimulada e pode responder
ou não a este estímulo.
São várias as teorias da motivação e cada uma realça um aspecto
particular do comportamento e do desempenho humano. Há muita sobre-
posição entre elas, mas as teorias clássicas serviram enormemente para o
desenvolvimento das teorias contemporâneas.

Leitura Recomendada
BRANDEN, N. Autoestima no trabalho: como as pessoas confiantes
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e motivadas constroem organizações de alto desempenho. Rio de Ja-


neiro: Campus, 1999.

Referências
BASTOS, A. V. B.; MALVEZZI, S. Mudanças tecnológicas, cultura e
indivíduo nas organizações: O desafio de construir sistemas de traba-
lho de alto desempenho. In J. C. Zanelli, J. E. Borges-Andrade & A. V.
184

ADM 1-2 2013-1.indb 184 11/04/2013 17:45:34


Motivação - Unidade 6

B. Bastos (Eds.). Psicologia, organizações e trabalho. Porto Alegre:


Artes Médicas, 2004.

BERGAMINI, C.W.; CODA, R. (orgs). Psicodinâmica da vida orga-


nizacional. Motivação e liderança. São Paulo: Atlas, 1997.

BRANDEN, N. Autoestima no trabalho: como as pessoas confiantes


e motivadas constroem organizações de alto desempenho. Rio de Ja-
neiro: Campus, 1999.

DIAS, R. Sociologia das organizações. São Paulo: Atlas, 2008.

DAVEL, E.; VERGARA, S.C. (orgs) Gestão com pessoas e subjetivi-


dade. São Paulo: Atlas, 2009.

FRANÇA, A. Psicologia do trabalho: psicossomática, valores e práti-


cas organizacionais. São Paulo: Saraiva, 2008.

GIL, A.C. Gestão de pessoas. São Paulo: Atlas, 2001.

MINICUCCI, A. Relações Humanas – Psicologia das relações inter-


pessoais. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2001.

MORIN, E.M.; AUBÉ, C. Psicologia e gestão. São Paulo: Atlas, 2009.

SOTO, E. Comportamento organizacional. São Paulo: Thomson,


2002.
EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

ROBBINS, S.P. Comportamento organizacional. São Paulo: Pearson


– Prentice Hall, 2005.

Na próxima unidade
Nossa última unidade de estudo nos traz outro tema de grande inte-
resse para o contexto organizacional e, de certo modo, muito relacionado
aos aspectos relativos à motivação. Vamos estudar o que é liderança e,
dentre outros conteúdos, quais as características de um líder.

185

ADM 1-2 2013-1.indb 185 11/04/2013 17:45:34


Psicologia aplicada à administração

Minhas anotações:
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186

ADM 1-2 2013-1.indb 186 11/04/2013 17:45:34


Liderança
Neste último capítulo, veremos outro

7 tópico de grande relevância e interesse no


mundo corporativo: a liderança. Veremos seus
de
fundamentos e características e como este fator
atua na empresa.
ida

Objetivos da sua aprendizagem


• Discorrer sobre o tema liderança e suas características;
Un

• Compreender sua inserção nos processos administrativos or-


ganizacionais;
• Identificar as formas de liderança.

Você se lembra?
Vimos, no capítulo anterior, quais são as principais teorias que nos aju-
dam a entender a motivação e, desse modo, como podemos despertar um
contexto mais motivador para todos. Adiante, conheceremos o papel do
líder na formação de um contexto motivacional.
Images.com / Corbis (DC) / Latinstock

Vamos entender quais aspectos pertencem à liderança.

ADM 1-2 2013-1.indb 187 11/04/2013 17:45:35


Psicologia aplicada à administração

7.1  Definições
A liderança é um dos elementos de base de todos os acontecimen-
tos dentro das empresas. Em decorrência das mudanças no ambiente de
trabalho, os líderes passaram a ter um papel de destaque, principalmente
quando se pensa no líder como um facilitador para motivação, resultados
e desempenho.
A liderança é um fator importante no ambiente de trabalho e para
os fundamentos do comportamento organizacional. Para Soto (2002), o
fundamento do comportamento está relacionado aos atos e às atitudes das
pessoas nas organizações. Portanto, conhecer o trabalhador, sua persona-
lidade, identificar o que o torna flexível ante as mudanças, compreender
como as decisões são planejadas e efetuadas com base na experiência e na
intuição e criar consciência dos valores e de suas transformações funda-
menta os novos processos de mudança.
Mais do que administradores ou gestores de pessoal, os gestores de
pessoas têm que desempenhar o papel de líder. Do mesmo modo, que as
pessoas se vejam mais como colaboradores do que como subordinados
(GIL, 2001).
Outros dizem que a liderança não é mais do que a função exercida
pelo líder: que lidera, que exerce liderança. Liderança é uma forma de
dominação, o exercício do poder sobre indivíduos ou grupos. O conceito
de poder não é tão claro por estar associada ao conceito de autoridade
(ROBBINS, 2005).
Para Robbins (2005), liderança é a capacidade de influenciar um
grupo em direção à realização de metas. A fonte dessa influência pode
ser formal, como fornecida pela detenção de uma posição gerencial numa
organização.
Como posições gerenciais vêm com algum grau de autoridade for-
malmente designada, algumas pessoas podem assumir o papel de lideran-
Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

ça simplesmente por causa da posição que ocupa na organização. Porém,


nem todos os líderes são gerentes, assim como nem todo gerente é líder.
Uma organização revestir seus gerentes de certos direitos formais não é
garantia de que eles serão capazes de liderar com eficácia.

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ADM 1-2 2013-1.indb 188 11/04/2013 17:45:36


Liderança - Unidade 7

Liderança - Unidade 7

A liderança não sancionada – capacidade de influenciar que


surge fora da estrutura formal da organização – é geralmente tão
ou mais importante do que a influência formal. Em outras palavras,
líderes podem surgir dentro do grupo, bem como por indicação formal
para liderar um grupo.

7.2  Aspectos psicológicos da liderança


É na psicologia aplicada aos grupos que conceitos como líder e lide-
rança podem ser entendidos e aplicados adequadamente às organizações,
assim como se pode entender uma nova concepção da gestão das pessoas
com procedimentos bem diferentes aplicados na época da administração
científica, tornando o trabalho não apenas mais prazeroso, mas também
oferecendo mais oportunidades de realização pessoal.
Aguiar (2005) considera que, quando se fala em grupo, imediata-
mente se pensa em seu líder e a maior parte das vezes se relaciona lideran-
ça com o desempenho e a produtividade do grupo.
Gibb (1969 apud Aguiar, op cit) mostra que, diante da pergunta
“quem é o líder”, a resposta mais comumente dada é o chefe ou o ocupan-
te de um cargo de direção. Redl (apud Aguiar, op cit) conceitua liderança
caracterizando a relação afetiva entre membros de um grupo e a pessoa
central, relação esta que leva à incorporação da personalidade do líder ao
ego de seus seguidores. Moreno, Jennings e Bales (apud Aguiar, op cit)
demonstraram que nem sempre aqueles que na percepção do grupo contri-
buem com as melhores ideias são os mais aceitos. Já Fiedler (1967 apud
EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

Aguiar, op cit, p. 383) considera a liderança:

como um processo compartilhado, mas somente considera líder


aquele que:
a) foi designado como líder do grupo pela organização do qual faz
parte;
b) foi eleito pelo grupo;
c) é um indivíduo que pode ser identificado como mais influente
nas questões relevantes à tarefa por meio da escolha sociométrica.

189

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Psicologia aplicada à administração

Aguiar (op cit) apresenta alguns estudos que apontavam a liderança


como característica de alguns indivíduos, sendo estas características vá-
lidas para todos os grupos, situações e contextos. Noutro caso, apresenta
pesquisas que consideram que liderança é algo que surge à medida que o
grupo se desenvolve e, dependendo da necessidade do momento, o líder
anterior desaparece e aparecem outros líderes. Outro estudo considera que
todo membro de um grupo exerce liderança à medida que as propriedades
do grupo são modificadas por sua presença.

Veja que interessante trabalho sobre o desenvolvimento de


líderes realizado por uma equipe de psicólogos organizacionais na
cidade de Teresina.
http://www.abrapso.org.br/siteprincipal/images/Anais_XVENA-
BRAPSO/217.%20psicologia%20e%20desenvolvimento%20de%20
l%CDderes.pdf

Algumas definições de líderes são recorrentes: o líder como alto


executivo ou coordenador das atividades do grupo; o líder como planeja-
dor; o líder como definidor de políticas; o líder como um especialista; o
líder como um depositário de recompensas e punições.
Bergamini (1994) aponta que não há prova prática de como agir
para lidar com eficácia no processo de lidar com subordinados, mas con-
sidera que liderança pode ser definida a partir de quatro grandes funções
estreitamente ligadas: pôr em funcionamento uma política, pensar uma
estratégia, mobilizar equipes e alianças criando uma cultura de empresa
que seja “motivadora”. Para esta autora, liderar é, antes de tudo, “ser
capaz de administrar o sentido daquilo que estão fazendo” (op cit.,p.22).
Wagner III e Hollenbeck (op cit) apontam como traços do líder: nível
de energia, aptidão cognitiva, conhecimento da tarefa, autoconfiança e
carisma. Os comportamentos do líder são orientados pela consideração
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e possuem estrutura iniciadora. Seus estilos de decisão podem ser: auto-


crático, consultivo, participativo ou delegador. Os comportamentos dos
seguidores do líder diferem entre si, podendo ser altamente confiáveis,
amadurecidos, profissionais e dedicados à organização e à sua missão
ou podem ser exatamente o contrário. Para que a liderança seja eficaz
com seguidores com características diferentes, serão necessários dife-
rentes estilos de liderança. O contexto ao qual o líder e seus seguidores
se encontram também afeta a relação.
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ADM 1-2 2013-1.indb 190 11/04/2013 17:45:36


Liderança - Unidade 7

7.3  Histórico sobre os estudos da liderança


No início da década de 1930, segundo Robbins (2005), pesquisado-
res buscavam identificar e isolar traços de liderança (Teoria dos Traços de
Liderança), porém pelo menos quatro razões fizeram com que esses esfor-
ços não tivessem muito sucesso:
1. não são consideradas as necessidades dos seguidores;
2. geralmente falham ao esclarecer a importância relativa de vários
traços;
3. não separa a causa do efeito (por exemplo: líderes são autoconfian-
tes ou o sucesso como líder desenvolve a autoconfiança?);
4. ignora fatores situacionais.

Essas limitações levaram os pesquisadores a olharem em outras di-


reções.
Pesquisas sobre liderança do final da década de 1940 até meados
da década de 1960 deram ênfase aos estilos de comportamento preferidos
que os líderes demonstravam. Se a abordagem comportamental à liderança
fosse um sucesso, teria implicações bastante diferentes daquelas da aborda-
gem de traços. Se os estudos comportamentais revelassem determinantes
comportamentais críticos de liderança, poderíamos treinar pessoas para
serem líderes. Se as teorias de traços fossem válidas, então a liderança seria
basicamente inata: ou você a teria ou não. Em contrapartida, se existissem
comportamentos específicos que identificassem líderes, então seria possível
ensinar liderança – planejaríamos programas que implantassem esses pa-
drões comportamentais em indivíduos que desejassem ser líderes eficazes.
Vários estudos sobre a teoria comportamental foram realizados
EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

com o intuito de explicar a liderança em termos do comportamento exi-


bido pelo líder. Entretanto, houve um sucesso modesto na identificação
das relações consistentes entre padrões de comportamento de liderança e
desempenho no grupo. O que parece estar faltando é a consideração dos
fatores situacionais que influenciam o sucesso ou o fracasso. As situações
mudam, e estilos de liderança precisam mudar com elas. Infelizmente, as
abordagens comportamentais não reconhecem mudanças nas situações.
As teorias contingenciais mais discutidas são: a teoria situacional de
Fiedler e a teoria situacional de Hersey e Blanchard.
Para Gil (2001), o modelo contingencial de Fiedler propunha que o
desempenho eficaz de um grupo dependesse da combinação apropriada
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Psicologia aplicada à administração

entre o estilo de interagir do líder com seu subordinado e o grau em que a


situação dá controle e influência ao líder. Desenvolveu um instrumento de
trabalho que denominou “questionário do colega de trabalho menos prefe-
rido” (CTMP), que tinha como objetivo medir se uma pessoa é orientada
para a tarefa ou o relacionamento. Além disso, isolou três critérios situa-
cionais: relações líder-membros, estrutura da tarefa e poder de posição,
que ele acreditava que poderiam ser manipulados para criar a combinação
apropriada com a orientação comportamental do líder.
Para Robbins (2005), após estimar o estilo básico de liderança, atra-
vés do CTMP, Fiedler achou necessário combinar o líder com a situação e
identificar três dimensões contingenciais que definam os fatores situacio-
nais-chave e que determinariam a eficácia da liderança:
• relações líder-membro; grau de segurança, confiança e respeito
dos subordinados;
• estrutura da tarefa: grau de procedimento que as missões de tra-
balho têm, estruturada ou desestruturada;
• poder da posição: grau da influência que um líder tem sobre vari-
áveis de poder como contratação e demissão.
Com o conhecimento do CTMP de um indivíduo e uma estimativa
das três variáveis contingenciais, o modelo de Fiedler propõe combiná-
las para atingir a eficácia de liderança máxima. Comparando os estilos
voltados para o relacionamento, com o estilo voltado para tarefa, Fied-
ler descobriu que os líderes orientados para tarefa tendiam a ter melhor
desempenho em situações muito favoráveis a ele e nas situações muito
desfavoráveis.
Foi a partir das teorias contingenciais que a liderança centrada na
tarefa e a liderança centrada nas relações começaram a ser trabalhadas.
A liderança centrada nas relações é também chamada de liderança de-
mocrática, e a liderança centrada na tarefa é também chamada de lide-
rança autocrática.
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A teoria situacional de Hersey e Blanchard indica que o fator mais


importante entre os que influem na seleção do estilo de um líder é o ní-
vel de desenvolvimento (maturidade) de um subordinado. Esse nível de
desenvolvimento seria a combinação específica da tarefa, a atividade
profissional de um empregado e sua motivação de desempenho. Os ad-
ministradores avaliam o grau de desenvolvimento, examinando o nível de
conhecimentos profissionais, habilidades e capacidades do empregado,

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ADM 1-2 2013-1.indb 192 11/04/2013 17:45:36


Liderança - Unidade 7

assim como sua disposição para assumir responsabilidades e capacidade


de agir de forma independente.
Hersey e Blanchard utilizaram uma combinação de orientações de
guia e apoio para criar estilos principais de indicação, venda (treinamen-
to), participação (apoio) e delegação e que se associa com níveis progres-
sivos de desenvolvimento dos empregados, sugerindo que o estilo de lide-
rança do administrador deve variar de acordo com a situação (Gil, 2001).
Considerando algumas expectativas sobre a função da liderança,
Bergamini (1995) relata que o que se espera de um verdadeiro líder é a
capacidade de fazer com que o grupo produza na direção dos objetivos
a serem atingidos. E, uma vez atingidos, a satisfação dos membros do
grupo é facilmente percebida, incidindo sobre o moral da equipe de tra-
balho. Desta forma, a garantia do moral do grupo é também uma respon-
sabilidade da liderança. Finalmente, esse moral do grupo deve também
retratar a satisfação de cada membro em particular, o que implica na
sensibilidade especial para dar a cada um a oportunidade de utilizar-se
de seus próprios recursos da forma mais natural possível. Assim, o líder
deve estar sempre atento, no sentido de favorecer o ajustamento de cada
pessoa ao contexto grupal.
Segundo a autora, a iniciativa das empresas de proporcionarem aos
seus supervisores a oportunidade de participar de programas de desenvol-
vimento pessoal é bastante recente, incidindo sobre o moral da equipe de
trabalho. Tais programas têm por objetivo oferecer um instrumental indis-
pensável para o planejamento de estratégias que facilitem a eficiência na
condução de pessoas, tomando o lugar dos cursos técnicos para chefias,
que ofereciam um conjunto de regras que não levavam em conta nem as
diferenças individuais daqueles que estavam sendo dirigidos nem as ca-
EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

racterísticas naturais do estilo de liderança do próprio chefe.


Muitos autores acreditam ser a liderança eficaz o resultado do con-
fronto dos atributos do líder com as exigências e as restrições da situação
de liderança. Para explicar satisfatoriamente os fenômenos da liderança,
não pode haver superestimação dos atributos do líder, em prejuízo das
características situacionais e vice-versa.

Ao se procurar compreender liderança, deve-se considerá-la


como um fenômeno cultural, psicossocial, oriundo do trabalho so-
cializado.

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Psicologia aplicada à administração

Segundo Drucker (1996), o único traço de personalidade que os lí-


deres eficazes com os quais o autor se deparou tinham em comum era algo
que não possuíam: eles tinham pouco ou nenhum carisma, e pouco tinham
a ver com o termo ou com seu significado. Porém, estes líderes sabiam
quatro fatores simples:
1. o líder possui seguidores; quando alguém é identificado como líder
pelos demais de um grupo, estes tornam-se seus seguidores, dando-
lhe escuta e confiança em suas ações;
2. a eficácia de um líder não se mede por sua popularidade ou carisma
entre seus seguidores, mas, sim, por quanto os seus seguidores reali-
zam as tarefas certas e que devem ser feitas. A liderança é decorren-
te da obtenção de resultados, e não necessariamente da popularidade
de quem é líder;
3. os líderes, pela posição e exposição que acabam ocupando e assu-
mindo, tornam-se referência e modelo para os demais;
4. liderança não é sinônimo de status, maior remuneração, melhor po-
sição social. Significa, antes de tudo, maios responsabilidade.
Pixland / Getty Images

Somente é considerado líder aquele que ocupa essa posição a partir da designação do grupo.

7.4  líderes e gerentes


Biscaia (2002) diz que várias empresas bem gerenciadas e pessima-
Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

mente lideradas são conhecidas. Elas podem ser excelentes na capacidade


de lidar com rotinas diárias e, ainda assim, nunca são capazes de pergun-
tar se essas rotinas deveriam continuar existindo.
Liderar Gerenciar
Atividades de visão. Atividades de eficiência e discernimento.
Puxam. Empurram.
Comunicam: mão dupla. Informam: mão única.

194

ADM 1-2 2013-1.indb 194 11/04/2013 17:45:41


Liderança - Unidade 7

São treinadores. São comandantes.


Donos dos ouvidos mais acurados. Donos da voz mais alta.
Focalizam as pessoas. Focalizam sistemas e estruturas.
Perguntam: o quê e por quê. Perguntam como e quando.
São contestadores. São obedientes.
São criativos. São fazedores.
São eles mesmos. São clones.
Participam dos negócios da empresa. Vestem a camisa da empresa.

Fonte: Minicucci (1992) apud Biscaia (2002).


A partir das diferenças pontuadas, a liderança caracteriza-se por
mostrar o caminho, assim como por influenciar e orientar as ações e as
opiniões de seus liderados. Em contrapartida, a gerência pauta-se no de-
senvolvimento operacional da tarefa, em realizar e ter como atribuição a
responsabilidade por sua condução.

O tema do desenvolvimento da liderança assume grande rele-


vância quando o trazemos para o contexto organizacional. Vejam o
texto indicado no link e aprofundem seus conhecimentos:
http://pepsic.bvsalud.org/pdf/bolpsi/v57n126/v57n126a03.pdf

7.5  Teorias contemporâneas da liderança


São várias as teorias sobre a liderança. Ainda hoje o estudo da li-
derança é realizado, pois sabemos que é a liderança que proporciona os
resultados. Ainda daremos destaque a algumas teorias como a liderança
EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

visionária, a liderança transacional, a liderança transformacional e a lide-


rança de resultados.
Para o líder visionário, três características são destacadas: capacida-
de para explicar a visão aos demais, capacidade de expressar a visão não
apenas verbalmente e, finalmente, estender a visão para diferentes contex-
tos de liderança (Robbins, 2005).
Soto (2002) diz que um líder transformador começa criando uma vi-
são do que deveria ser o ideal de sua organização, departamento ou grupo
de trabalho. A partir da visão, ele busca o melhor caminho para alcançar
os resultados desejados, como qualidade, desempenho e produtividade,
em contraste com os líderes transacionais que dirigem seu enfoque para
195

ADM 1-2 2013-1.indb 195 11/04/2013 17:45:41


Psicologia aplicada à administração

o cumprimento das regras já existentes da organização, que negociam as


recompensas por estar de acordo com os desejos do líder e inclusive abdi-
cam de suas responsabilidades de líderes.
Para Robbins (2005), os líderes transacionais orientam ou moti-
vam seus seguidores em direção às metas estabelecidas, esclarecendo os
requisitos dos papéis e das tarefas. Já os líderes transformacionais inspi-
ram os seguidores a transcender seus próprios interesses para o bem da
organização.
Hoje discutimos também a importância da liderança empreendedo-
ra, na qual os empreendedores estão sempre buscando mudanças, sendo
proativos e identificando novas possibilidades como oportunidade, o que
nem sempre é percebido pela maioria das pessoas. Criam algo novo, di-
ferente, mudam ou transformam valores, não restringindo o seu empreen-
dimento a instituições exclusivamente econômicas, sendo essencialmente
inovadores e com capacidade de conviver com riscos e incertezas que são
envolvidos nas decisões.
Na busca de uma liderança mais eficaz, quase sempre se negli-
gencia algo. Ser capaz e possuir atributos de liderança é ótimo, mas a
capacidade deve ser direcionada para aplicações adequadas e com um
propósito claro. A mensagem aos líderes se enquadraria numa fórmula
simples: liderança eficaz = atributos x resultados. A equação sugere que
os líderes devem empenhar-se pela excelência em ambos os termos, ou
seja, é preciso que demonstrem atributos e que, ao mesmo tempo, aufi-
ram resultados. Cada termo da equação exerce um efeito multiplicador
sobre o outro, não sendo cumulativos.

Atividades
01. Como podemos definir liderança?
Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

196

ADM 1-2 2013-1.indb 196 11/04/2013 17:45:41


Liderança - Unidade 7

02. No atual mundo corporativo, qual estilo de liderança você considera


o mais adequado?

Reflexão
Vimos que, para compreendermos a liderança, devemos considerar
não apenas o líder e suas características, mas também os liderados, a situ-
ação em que a liderança acontece e também o objetivo desta liderança.
Ao longo desta disciplina, vocês tiveram a oportunidade de conhe-
cer algumas das teorias que dão sustentação à psicologia como ciência,
bem como sua importância para a administração de empresas.
Vocês puderam aqui vislumbrar quais as relações que a psicolo-
gia possui com o contexto organizacional e do trabalho e, desse modo,
espera-se que esta visão permaneça em sua atuação como administrador
de uma empresa
Tenham sempre bons estudos e sucesso!

Leitura Recomendada
SLATER, R. Liderança de alto impacto. Rio de Janeiro: Campus,
1999.

Referências
EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

AGUIAR, M.A. Psicologia aplicada à administração: uma aborda-


gem interdiciplinar. São Paulo: Saraiva, 2005.

BISCAIA, J.A. Uma nova liderança, uma nova empresa, um novo


país (on line), disponível em: HTTP://www.guiarh.com.br, acesso em
14/08/2009.

197

ADM 1-2 2013-1.indb 197 11/04/2013 17:45:42


Psicologia aplicada à administração

BERGAMINI, C.W. Liderança. Administração do sentido. São Pau-


lo: Atlas, 1994.

BERGAMINI, C.W.; CODA, R. (orgs). Psicodinâmica da vida orga-


nizacional. Motivação e liderança. São Paulo: Atlas, 1997.

DIAS, R. Sociologia das organizações. São Paulo: Atlas, 2008.

DAVEL, E.; VERGARA, S.C. (orgs) Gestão com pessoas e subjetivi-


dade. São Paulo: Atlas, 2009.

DRUCKER, P.F. FOUNDATION (org). O líder do futuro – visões es-


tratégicas e práticas para uma nova era. São Paulo: Futura, 1996.

GIL, A.C. Gestão de pessoas. São Paulo: Atlas, 2001.

MINICUCCI, A. Relações Humanas – Psicologia das relações inter-


pessoais. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2001.

MORIN, E.M.; AUBÉ, C. Psicologia e gestão. São Paulo: Atlas,


2009.

SOTO, E. Comportamento organizacional. São Paulo: Thomson,


2002.

SLATER, R. Liderança de alto impacto. Rio de Janeiro: Campus,


1999.
Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

198

ADM 1-2 2013-1.indb 198 11/04/2013 17:45:42


aç ão Microinformática
A Internet e, particularmente, a Web e
seus serviços e produtos transformaram o
mundo! Foram transformações sociais, políti-
ent
cas, econômicas e científicas. Hoje, não fazemos
mais comércio como fazíamos há 20 anos. As novas
tecnologias de comunicação revolucionam a convivência
res

cada vez mais.


Falar de Tecnologia de Informação pode parecer óbvio
Ap

às vezes. Mas não é! A infraestrutura que existe por trás do que


conhecemos como Tecnologia de Informação é muito vasta. São
muitos conceitos nas áreas de Sistemas, Redes, Bancos de Dados,
Hardware e Software que suportam toda nossa comunicação digital,
todos os meios que nos permitem trabalhar, estudar, entreter, paque-
rar, consumir, protestar, aprender, ensinar!
Fica claro que esse tema é vasto e que vamos nos aprofundar
em suas diversas áreas neste nosso material de estudo. Eu os convido a
participar ativamente desta leitura. Você pode participar fazendo as ativi-
dades propostas, as pesquisas sugeridas, assistindo aos vídeos recomen-
dados, enviando perguntas, debatendo com seus colegas, participando
dos fóruns, dos chats e das aulas com grande entusiasmo. Não se contente
apenas com o que for apresentado, pois estudar é um processo contínuo e
eu desejo que você seja uma pessoa faminta por conhecimento. Busque
mais informações e conte comigo para ajudá-lo(a)!
A própria luta em direção ao topo é suficiente para preencher um
coração humano. (Albert Camus)
Professor Reginaldo Gotardo

ADM 1-2 2013-1.indb 199 11/04/2013 17:45:43


ADM 1-2 2013-1.indb 200 11/04/2013 17:45:44
Introdução à Tecnolo-
gia de Informação
Olá, pessoal! Vamos começar definindo

UU nossa área de estudo? Faremos um breve


“passeio” pelos conceitos iniciais envolvendo
UU
Tecnologia da Informação

Objetivos de sua aprendizagem


UUU

Nossos objetivos iniciais serão:


• definir Tecnologia de Informação;
UU

• entender a relação da Tecnologia de Informação com ou-


tras áreas;
• apresentar exemplos sobre a importância da Tecnologia de Infor-
mação para as pessoas;
• demonstrar como a Tecnologia de Informação pode ser usada em
algumas carreiras;
• apresentar exemplos sobre a importância da Tecnologia de Informa-
ção para as empresas.

Você se lembra?
Você já ouviu alguém falar ou mesmo já falou sobre algum destes termos?
• Tecnologia de Informação
• Conhecimento
• Computação
• Informação
• Sistemas

Já? Não?
Talvez nem todos?
Tudo bem, não tem problema. Vamos começar definindo alguns
deles, cruciais no desenvolvimento do nosso tema principal,
que será apresentar a Tecnologia de Informação a vocês!
Bom trabalho a todos nós!

ADM 1-2 2013-1.indb 201 11/04/2013 17:45:46


Microinformática

1.1  Definindo Tecnologia da Informação


O termo Tecnologia da Informação (TI), apesar de não ser um termo
novo, é o nosso “termo da moda”! Isso mesmo! São diversas as nomencla-
turas usadas quando queremos nos referir a sistemas que envolvam infor-
mação e o processamento automatizado desta, como, por exemplo, compu-
tação, informática, sistemas computacionais, sistemas de informação. Para
começarmos nossa viagem a este mundo em que vocês, com certeza, já
estão inseridos, vamos analisar as definições desses vários termos e discutir
o porquê de nosso estudo. Abaixo, nós temos termos-chave e iniciais para
nosso estudo definidos de acordo com o dicionário Houaiss:

Tecnologia
1 – teoria geral e/ou estudo sistemático sobre técnicas, processos,
métodos, meios e instrumentos de um ou mais ofícios ou domínios da
atividade humana (p.ex., indústria, ciência etc.). Ex.: o estudo da t. é
fundamental na informática.

Informação
Ato ou efeito de informar(-se)
1 – comunicação ou recepção de um conhecimento ou juízo
2 – o conhecimento obtido por meio de investigação ou instrução; es-
clarecimento, explicação, indicação, comunicação, informe
8 – elemento ou sistema capaz de ser transmitido por um sinal ou com-
binação de sinais pertencentes a um repertório finito
11 – Rubrica: informática.
mensagem suscetível de ser tratada pelos meios informáticos; conteú-
do dessa mensagem
interpretação ou significado dos dados
produto do processamento de dados
Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

Computação
Ação ou efeito de computar
1 – cômputo, cálculo, contagem; operação matemática ou lógica
realizada por regras práticas preestabelecidas
Ex.: <c. de um prazo> <c. de uma dívida>
2 – Rubrica: informática.
202

ADM 1-2 2013-1.indb 202 11/04/2013 17:45:47


Introdução à Tecnologia de Informação – Unidade 1

m.q. processamento de dados


3 – Derivação: por metonímia.
ação ou atividade exercida por meio de computadores eletrônicos

Sistema
2.1 Derivação: por extensão de sentido.
qualquer conjunto natural constituído de partes e elementos interde-
pendentes
Ex.: <s. planetário> <s. animal, vegetal, mineral etc.> <s. auditivo>
<s. nervoso>
2.2 Derivação: por extensão de sentido.
arrolamento de unidades e combinação de meios e processos que
visem à produção de certo resultado
Ex.: <s. eleitoral> <s. curricular> <s. educacional> <s. financeiro>
2.2.1 Derivação: por extensão de sentido.
inter-relação das partes, elementos ou unidades que fazem funcionar
uma estrutura organizada
Ex.: <s. computacional> <s. de irrigação> <s. de sinais de trânsito>
<s. viário>

Informática
ramo do conhecimento dedicado ao tratamento da informação mediante
o uso de computadores e demais dispositivos de processamento de dados

Processar
Rubrica: informática.
submeter a processamento de dados; organizar dados, de acordo
EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

com a sequência de instruções codificada num programa

Automático
Rubrica: tecnologia.
que funciona por si, dispensando operadores (diz-se de aparelho)
Ex.: arma a.

Pelas diversas definições que vimos, podemos agora escrever a


nossa própria interpretação da Tecnologia de Informação. A minha é que
a tecnologia de informação reúne métodos e técnicas que se tornaram au-
tomáticos em sua maioria e que servem para manipulação da informação.
203

ADM 1-2 2013-1.indb 203 11/04/2013 17:45:47


Microinformática

Por exemplo, o celular é um dispositivo eletrônico que manipula informa-


ções de maneira automática para prover ao seu usuário a capacidade de
conversar com pessoas distantes de si.

Atividade 1.1
Esta foi a minha definição. E a sua? Pense Conexão:
e escreva a sua própria definição para Tecno- Recomendações 1.1
Assista ao filme sobre a impor-
logia de Informação. Depois disto, faça uma tância da informação de Waldez
pesquisa na Internet (que será um dos as- Ludwig, disponível em http://www.
youtube.com/watch?v=IvJKT-92-
suntos do nosso material) e veja se encontra
uDw
novas definições. Faça comparações, discuta
com seus colegas e com seu professor!

1.2  Do que é formada a TI?


Ao analisarmos as definições anteriores e nossa própria definição de
TI, foi possível notar que ela depende (ou é formada) de alguns compo-
nentes, ou não?
Os componentes que formam a TI são:
• hardware;
• software;
• banco de dados;
• redes de telecomunicações;
• nós, os usuários finais.

A figura a seguir exemplifica os componentes da TI:


Adaptado de (O´BRIEN, 2004)

Pessoas
Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

Software

Hardware

Dados

Redes

Componentes da Tecnologia da Informação

Mas como fica a relação entre esses componentes e a TI?


204

ADM 1-2 2013-1.indb 204 11/04/2013 17:45:55


Introdução à Tecnologia de Informação – Unidade 1

• As pessoas dependem da tecnologia de informação para manipular


informações (transmitir ou receber, guardar, recuperar etc).
• Esta manipulação da informação é feita por meio de software de com-
putador. O software é a descrição das tarefas necessárias às pessoas,
mas uma descrição de forma que o hardware do computador entende.
• Já o hardware reúne os componentes eletrônicos, que farão o real
“processamento dos dados”.
• Os dados são a representação das informações das pessoas num for-
mato que possa ser armazenado.
• E tudo isto pode ser feito localmente (ou seja, isoladamente) ou usan-
do recursos e computadores remotos. Assim, no último caso, seria
necessária uma infraestrutura de comunicação, também chamada de
rede!

1.3  Como podemos definir dado, informação e


conhecimento? Com qual deles trabalhamos na
Tecnologia de Informação?
Vamos discutir um pouco esses conceitos e as diferenças entre eles?
Abaixo, apresento trechos da definição dada pelo professor Dr. Val-
demar W. Setzer, disponibilizada em:
• http://www.ime.usp.br/~vwsetzer/dado-info.html
Segundo o professor Dr. Valdemar Setzer, podemos dizer que dado
é:
(...) uma sequência de símbolos quantificados ou quantificáveis.
Portanto, um texto é um dado. De fato, as letras são símbolos
quantificados, já que o alfabeto, sendo um conjunto finito, pode por
EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

si só constituir uma base numérica (a base hexadecimal emprega


tradicionalmente, além dos 10 dígitos decimais, as letras de A a E).
Também são dados fotos, figuras, sons gravados e animação, pois
todos podem ser quantificados a ponto de se ter eventualmente di-
ficuldade de distinguir a sua reprodução, a partir da representação
quantificada, com o original. É muito importante notar-se que, mes-
mo se incompreensível para o leitor, qualquer texto constitui um
dado ou uma sequência de dados (...)

205

ADM 1-2 2013-1.indb 205 11/04/2013 17:45:55


Microinformática

Segundo o Dr. Setzer, o dado é uma entidade matemática puramente


sintática, ou seja, os dados podem ser descritos por estruturas de represen-
tação. Assim sendo, podemos dizer que o computador é capaz de arma-
zenar dados. Estes dados podem ser quantificados, conectados entre si e
manipulados pelo Processamento de Dados.
Podemos definir dado também como unidades básicas a partir das
quais as informações poderão ser elaboradas ou obtidas. São fatos brutos,
ainda não organizados nem processados.

Já a informação seria:
(...) uma abstração informal (isto é, não pode ser formalizada atra-
vés de uma teoria lógica ou matemática), que está na mente de
alguém, representando algo significativo para essa pessoa. Note-
-se que isto não é uma definição, é uma caracterização, porque
“algo”, “significativo” e “alguém” não estão bem definidos; assu-
mo aqui um entendimento intuitivo (ingênuo) desses termos. Por
exemplo, a frase “Paris é uma cidade fascinante” é um exemplo de
informação – desde que seja lida ou ouvida por alguém, desde que
“Paris” signifique para essa pessoa a capital da França (supondo-se
que o autor da frase queria referir-se a essa cidade) e “fascinante”
tenha a qualidade usual e intuitiva associada com essa palavra.

Assim, a informação depende de algum tipo de relacionamento,


avaliação ou interpretação dos dados.
Veja também que informação e dado mantêm relações:
(...) Se a representação da informação for feita por meio de dados,
como na frase sobre Paris, pode ser armazenada em um computador.
Mas, atenção, o que é armazenado na máquina não é a informação,
mas a sua representação em forma de dados. Essa representação
pode ser transformada pela máquina, como na formatação de um
Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

texto, o que seria uma transformação sintática. A máquina não pode


mudar o significado a partir deste, já que ele depende de uma pessoa
que possui a informação. Obviamente, a máquina pode embaralhar
os dados de modo que eles passem a ser ininteligíveis pela pessoa
que os recebe, deixando de ser informação para essa pessoa. Além
disso, é possível transformar a representação de uma informação de
modo que mude de informação para quem a recebe (por exemplo, o
computador pode mudar o nome da cidade de Paris para Londres).
206

ADM 1-2 2013-1.indb 206 11/04/2013 17:45:56


Introdução à Tecnologia de Informação – Unidade 1

Houve mudança no significado para o receptor, mas no computador


a alteração foi puramente sintática, uma manipulação matemática
de dados.
Assim, não é possível processar informação diretamente em um
computador. Para isso é necessário reduzi-la a dados. No exemplo,
“fascinante” teria que ser quantificado, usando-se por exemplo uma
escala de zero a quatro. Mas então isso não seria mais informação
(...).

Podemos agrupar dados isolados e torná-los consistentes ao se


transformarem em informações. Por exemplo, se tivermos um conjunto de
dados que descreva a temperatura do ambiente num local, horário e data,
poderíamos ter a seguinte relação:

Adaptado de (CÔRTES, 2008)


Em Ribeirão Preto, SP,
no dia 3 de fevereiro,
15h10
às 15h10 estava uma
temperatura de 24°.
3 de fevereiro
Processamento

Entrada Classificar Saída

(Dados) Filtrar (Informações)

Organizar
Ribeirão
24°
Preto/ SP

Assim, o conjunto de dados inicial foi organizado de maneira que


EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

“faça sentido” àqueles que o estiverem lendo. Isto os torna informação.


No entanto, a representação no computador é feita baseada nos dados.
Veremos mais detalhes disto na unidade sobre Banco de Dados
(Unidade 6).
E como fica o conhecimento?
Caracterizo Conhecimento como uma abstração interior, pessoal, de
algo que foi experimentado, vivenciado, por alguém. Continuando
o exemplo, alguém tem algum conhecimento de Paris somente se a
visitou.
Desta maneira, o conhecimento precisa ser descrito por informa-
ções.
207

ADM 1-2 2013-1.indb 207 11/04/2013 17:45:59


Microinformática

(...) A informação pode ser inserida em um computador por meio


de uma representação em forma de dados (se bem que, estando na
máquina, deixa de ser informação). Como o conhecimento não é
sujeito a representações, não pode ser inserido em um computador.
Assim, neste sentido, é absolutamente equivocado falar-se de uma
“base de conhecimento” em um computador. O que se tem é, de
fato, é uma tradicional “base (ou banco) de dados”.
Um nenê de alguns meses tem muito conhecimento (por exemplo,
reconhece a mãe, sabe que chorando ganha comida, etc.). Mas não
se pode dizer que ele tem informações, pois não associa conceitos.
Do mesmo modo, nesta conceituação não se pode dizer que um ani-
mal tem informação, mas certamente tem muito conhecimento. (...)

A informação, segundo o Dr. Setzer, asso-


cia-se à semântica, enquanto o conhecimento Conexão:
Recomendações 1.3
está associado à pragmática, ou seja, algo Leia na íntegra o artigo do Dr.
existente no mundo real. Setzer em: http://www.ime.usp.
br/~vwsetzer/dado-info.html
Então, será que é impossível aos com-
putadores manipularem conhecimento? Será
que não há computadores capazes de armaze-
nar tais conhecimentos? É uma discussão que
deixo para vocês e para conversarmos no chat, no
fórum e nas aulas!

Atividade 1.3
Leia o artigo do Box Conexão 1.3, faça buscas de novas fontes e
discuta este tema com seus colegas. Depois, diga-me: Será que sistemas
computacionais podem manipular o conhecimento?
_____________________________________________________________________
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Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

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208

ADM 1-2 2013-1.indb 208 11/04/2013 17:45:59


Introdução à Tecnologia de Informação – Unidade 1

1.4  Como a TI pode ser usada nas empresas e


pelas pessoas?
Vamos comparar situações (casos) em que podemos usar a Tecno-
logia de Informação (TI) para melhoraria e otimização dos processos en-
volvidos. Em geral, isto também garantirá mais satisfação para as pessoas
ou as empresas usuárias nestas situações. Vamos fazer as comparações
considerando um cenário sem o uso da TI e com o uso da TI.

Caso 1 – Compra de equipamentos ou bens de consumo pelas


pessoas
Sem a TI
No formato tradicional, você visitaria algumas lojas que comercia-
lizam o produto que deseja. Perguntaria sobre preços, condições de paga-
mento, prazos de entrega. Faria as devidas comparações, “choraria” por
um descontinho, até escolher e, enfim, realizaria a compra. Muitas vezes
você sairia da loja com o produto (depende do tamanho do produto e de a
loja tê-lo à pronta entrega!).

Com a TI
Você entra on-line no site da loja que comercializa os produtos que
deseja. Através do site destas empresas, você pode comprar os itens di-
retamente e pedir que sejam enviados à sua residência. Ou, então, você
entra on-line em sites como o Buscapé1 e solicita aos sistemas de busca
do site que localizem as empresas que vendam o produto da sua escolha.
Então você recebe a informação na tela de seu computador sobre os sites
encontrados que vendem o seu produto, bem como os valores, as condi-
ções de pagamento e os prazos de entrega de cada um deles.
EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

Adaptado de (TURBAN, JR. e POTTER, 2005)

Quer ver um exemplo?


• Entre em www.buscape.com.br.

• Onde eu (isto, eu mesmo!) digitei “DIGITE AQUI O NOME DO


PRODUTO”, escreva o nome do produto que quer buscar. Vamos ten-
tar uma TV LCD Samsung de 40 polegadas?

1 Disponível em www.buscape.com.br

209

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Microinformática

Reprodução

Veja que, após a busca, vieram vários resultados, pois não especifi-
camos modelo.
Vamos clicar no segundo item (pois está mais barato!) e ver as com-
parações das lojas que vendem este modelo. Na minha busca, este segun-
do item foi o modelo LN40B530.
Reprodução
Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

210

ADM 1-2 2013-1.indb 210 11/04/2013 17:46:04


Introdução à Tecnologia de Informação – Unidade 1

Após clicar no segundo item (em “Compare Preços”), o site nos re-
tornou diversas opções de loja vendendo determinado produto. Podemos
verificar o que os usuários acharam do produto (opinião dos usuários),
fazer comparações, verificar a qualificação das lojas, dentre outros.

Veja que podemos, rapidamente, encontrar melhores opções de Reprodução

compra para um determinado produto. Outra opção seria perguntar para


seus vizinhos e amigos sobre o produto que deseja comprar. Verificar se
eles conhecem este produto ou saibam de alguém que conheça. Além dis-
to, você poderia visitar umas 20 lojas diferentes, perguntar aos vendedores
sobre o produto que deseja, comparar os preços e as opções de pagamen-
EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

to. Pareceu difícil? Então você percebeu como a TI pode nos ajudar?

Caso 2 – Compra de livros


Sem a TI
Basta ir a uma livraria próxima e comprar os livros que deseja. Exis-
tem livrarias que comercializam livros usados. Assim você poderá vender
os livros que comprou, posteriormente.
Com a TI
Você entra no site da editora que publica os livros ou num site que co-
mercializa apenas (e não necessariamente publica! Ex. Amazon.com, Subma-
rino etc.), faz a compra, escolhe para onde os livros devem ser enviados!
211

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Microinformática

Caso 3 – Compra em supermercado


Sem a TI
Você vai ao supermercado de sua preferência, passeia por ele esco-
lhendo seus produtos. Às vezes você compra mais do que precisa (prin-
cipalmente algumas guloseimas!). Coloca tudo no carrinho de compras e
vai para a fila dos caixas. Lá, dependendo do dia, você espera um pouqui-
nho ou espera muito! Depois passa os itens pelo caixa, faz o pagamento
em cheque, dinheiro, cartão de crédito ou débito, coloca as compras em
sacolas e leva para a casa. Alguns supermercados oferecem a entrega das
compras.

Com a TI
Alguns supermercados estão se reformulando para permitir que
você leve seus itens a um quiosque de autoatendimento, onde você passa
o código de barras de cada item em uma leitora. Depois de ter passado
todos os seus itens, o quiosque oferece instruções sobre como pagar, seja
em dinheiro, cartão de crédito ou de débito. Nestes cenários, a espera na
fila do caixa tende a ser bastante reduzida.
Adaptado de (TURBAN, JR. e POTTER, 2005)

Caso 4 – Televisão interativa


Sem a TI
É o formato da TV convencional, ou seja, você pode mudar de ca-
nal! O número de canais é reduzido e você não tem acesso eletrônico à
programação do canal.
Com a TI
Hoje, no Brasil, a TV digital já chegou e é uma das grandes novi-
dades tecnológicas. Em breve seremos capazes de participar de votações
on-line (enquanto assistimos ao nosso próprio programa), teremos mais
recursos para a programação da TV e quem sabe até um canal de com-
Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

pras! Você sabe eletronicamente da programação da TV e pode interagir!

Caso 5 – A TI usada por diferentes áreas de uma empresa


Sem a TI
Todo o controle das empresas poderia ser feito via anotações em
papel. Além disso, o funcionamento dos procedimentos ficava com as pes-
soas que os desempenhavam.

212

ADM 1-2 2013-1.indb 212 11/04/2013 17:46:07


Introdução à Tecnologia de Informação – Unidade 1

Com a TI
O controle pode ser feito pelo uso de sistemas de computador. O
funcionamento dos procedimentos pode ser escrito nestes sistemas e, as-
sim, fica mais fácil aprender e passar adiante tais conhecimentos.
A TI pode ser usada desde o controle de entrada e saída dos funcio-
nários da empresa até para fazer previsões de lucros em investimentos da
empresa. Nas áreas financeiras e de contabilidade, a TI pode ser usada por
gerentes para previsão de receitas e despesas, para gerenciamento do flu-
xo de caixa, realizar auditorias, entre outras atividades.
Em vendas, em marketing, os gerentes utilizam a TI para definir os
preços dos produtos e serviços, definir campanhas de vendas, acompanhar
o andamento das vendas, gerenciar o relacionamento com o cliente, entre
outras atividades.
Adaptado de (TURBAN, JR. e POTTER, 2005)

Atividade 1.4
Após esses exemplos, pense um pouquinho e formule os seus, ok?
Quero dois exemplos de situação com o uso da TI e sem o uso da TI. Bom
trabalho!
Situação 1 _____________________________________________________
Sem TI
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
Com TI
_____________________________________________________________________
EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________

Situação 2 _____________________________________________________
Sem TI
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
213

ADM 1-2 2013-1.indb 213 11/04/2013 17:46:07


Microinformática

Com TI
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________

1.5  Tecnologia de Informação e Carreiras


Vimos exemplos de aplicação da TI em
alguns cenários. Vimos também algumas Conexão:
definições iniciais sobre os termos tec- Recomendações 1.4
nologia, informação, conhecimento Para se aprofundar mais sobre a
importância da TI nas empresas, leia
etc. Você já parou e pensou: “tudo alguns artigos:
bem, mas e quanto à minha carreira, http://tribunaemfoco.wordpress.
o que a TI tem a ver com ela?” com/2007/06/26/tecnologia-da-informacao-e-
sua-importancia-no-mundo-globalizado/
É isto que vamos discutir agora. http://www.gestaodecarreira.com.br/
Vamos apresentar o relacionamento de coaching/blog-de-ti/a-importancia-
do-ti-na-sua-empresa.html
TI com algumas áreas e carreiras.

1.5.1  Contabilidade
A Contabilidade foi uma das primeiras áreas a usar computadores.
Desde a década de 1950, com o lançamento dos primeiros computadores
para uso comercial, diversos foram os esforços no desenvolvimento de
sistemas de informação contábeis, como sistema para controle de folha
de pagamento, livros de escrituração, dentre outros. Cada vez mais os
contadores passaram a depender de sistemas de informação para criação
de registros financeiros, organização de dados, análises financeiras, enfim,
tarefas que podem (e podiam) ser realizadas sem o uso de meios tecnoló-
gicos, mas que, face ao volume de informações hoje existente, torna-se
impraticável. Podemos enumerar algumas competências em Tecnologia
Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

de Informação interessantes para os estudantes de contabilidade:


• Conhecimento das mudanças na tecnologia de informação que é usada
nas empresas, nos órgãos públicos, em consultorias. Estas mudanças
estão relacionadas a hardware, software e meios de telecomunicação.
• Compreensão das aplicações contábeis e financeiras para garantir que
as empresas mantenham registros contábeis corretos.
• Saber como usar os sistemas para emissão de relatórios financeiros
corporativos em escala nacional ou global.
214

ADM 1-2 2013-1.indb 214 11/04/2013 17:46:07


Introdução à Tecnologia de Informação – Unidade 1

• Como temos muitos sistemas que usam a Internet como infraestru-


tura, é interessante conhecer sobre transações on-line, ambiente de
negócios móvel, segurança de redes etc.

Imagine, por exemplo, a abertura de uma nova fábrica de calça-


dos em outro país. Trata-se de uma decisão estratégica, que precisará de
conhecimentos e informações para embasá-la. Os gerentes financeiros e
contábeis precisam da Tecnologia de Informação para calcular e analisar
este investimento, prevendo receitas e determinando melhor a utilização
dos recursos, além de permitir a realização de auditorias para que o inves-
timento mantenha-se mais seguro e os cálculos, mais exatos!

1.5.2  Administração
Os administradores desenvolvem ampla gama de atividades em
todos os setores da economia. Estas atividades incluem liderança, planeja-
mento, coordenação, organização e comunicação em equipes de trabalho.
Também são responsáveis pela operação eficiente das empresas e pela
supervisão dos funcionários. Grande parte dos postos de trabalho atuais
exige diploma universitário, capacidade de liderança, habilidades de reda-
ção, apresentação e análise crítica.
Os conhecimentos sobre Tecnologia de Informação também são
exigidos. Cada vez mais o uso de tecnologias digitais como Internet, celu-
lares e smartphones, e-mail etc. permitem aos administradores o monito-
ramento das atividades, a coordenação do relacionamento com clientes e
funcionários e a tomada de decisões de maneira cada vez mais precisa.
O trabalho dos administradores foi e tem sido transformado pelo
grande uso de Tecnologia de Informação. Algumas competências aos es-
EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

tudantes de administração que podemos citar em relação à TI são:


• conhecimento das novidades em hardware e software que possam ser
usadas na administração mais eficiente dos negócios;
• entender, por exemplo, por que bancos de dados desempenham uma
função importante na administração dos recursos de informações da
empresa;
• compreender os sistemas de informação corporativos para gestão de
produção, gestão das vendas, do relacionamento com clientes e forne-
cedores etc.;
• conhecer e compreender os sistemas que integram os sistemas ante-
riores.
215

ADM 1-2 2013-1.indb 215 11/04/2013 17:46:07


Microinformática

1.5.3  Turismo
Os avanços na tecnologia de informação e comunicação nos últimos
trinta anos revolucionaram a maneira de comercializar produtos e serviços
ligados a viagens (MARÍN, 2004). São inúmeros os portais hoje existentes
que permitem ao consumidor final montar seu próprio pacote de viagens
de férias, por exemplo. O número de opções de sistemas tecnológicos dis-
poníveis que possam auxiliar o agente de viagens é muito vasto. Por isso,
algumas necessidades importantes que podemos ressaltar são:
• compreender tanto as alternativas como a maneira de usar sistemas de
informação para melhor atender os clientes;
• compreender sistemas que auxiliem na montagem de pacotes especí-
ficos para clientes;
• entender e conhecer sistemas de comunicação para auxiliar o cliente
em suas viagens, além de sistemas para pagamentos on-line, agenda-
mentos e reservas etc.;
• conhecer e compreender sistemas de buscas e sistemas de mapas on-
line;
• conhecer e saber operar um Sistema Global de Distribuição (GDS).

1.5.4  Economia e finanças


O setor de serviços financeiros, imobiliários, securitários, acioná-
rios, bancários é um setor muito grande. O crescimento, no mundo e so-
bretudo no Brasil, está acima da média. Com este crescimento, o aumento
do número de postos de trabalho também será muito grande. Para isto, os
estudantes nesta área precisarão de sólidos conhecimentos nas ferramen-
tas que os apoiarão no mercado de trabalho. Algumas habilidades que
podemos citar são:
• conhecimento das tecnologias de hardware e software usadas em apli-
cações financeiras, gerenciamento de fluxo de caixa, gerenciamento
de riscos;
Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

• compreender os sistemas on-line de transações;


• aprender e compreender sistemas que funcionem em tempo real,
como bolsas de valores etc.;
• domínio de ferramentas como relatórios financeiros, sistemas que
usem inteligência artificial ou descoberta de conhecimento em base
de dados para auxiliar na tomada de decisões etc.

216

ADM 1-2 2013-1.indb 216 11/04/2013 17:46:08


Introdução à Tecnologia de Informação – Unidade 1

1.5.5  Marketing
A Internet mostrou novos conceitos à área de marketing e publicida-
de. Alguns destes surgiram com a própria Internet. O comércio eletrônico
expande-se rapidamente pela Internet e isto tem atraído diversos inves-
timentos na área de publicidade on-line. Seja qual for a categoria profis-
sional de marketing, os conhecimento em tecnologia da informação serão
cruciais, pois atividades como branding (Gestão de Marcas), promoção e
relações públicas envolvem cada vez mais o domínio de sistemas de in-
formação e tecnologias relacionadas à Internet. Algumas habilidades que
podemos citar aos futuros profissionais são:
• capacidade para entender como as tecnologias de hardware e software
podem auxiliar nas atividades de marketing, como desenvolvimento
de marcas, promoção, vendas etc.
• conhecer e compreender as tecnologias relacionadas à Internet e como
elas influenciam em campanhas de marketing social, por exemplo;
• aprender o poder que os bancos de dados e as tecnologias para explo-
ração dos dados possuem na análise do comportamento do cliente;
• compreender como os sistemas corporativos e os sistemas de geren-
ciamento do relacionamento com os clientes podem ser usados no
desenvolvimento de produtos e análise de demanda.

1.5.6  Gestão de Tecnologia de Informação e


desenvolvimento de sistemas
A administração de tecnologias de informação e de sistemas de in-
formação é outra importante carreira a ser apresentada e discutida.
Caso o profissional dessa área seja um gestor de tecnologia de infor-
mação, algumas habilidades essenciais serão:
EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

• profundo conhecimento de hardware e software usados pelas empre-


sas para auxiliar na aquisição ou substituição, visando a maior efici-
ência e eficácia nas operações dos processos organizacionais;
• profundo conhecimento sobre como os sistemas de informação cor-
porativos podem afetar a gestão da empresa e a produtividade, sobre
como estes sistemas podem gerir o relacionamento com os clientes e
com fornecedores;
• capacidade de liderar projetos de implantação de novos sistemas de
informação, de integrar uma equipe com profissionais de diversas
áreas, entender as necessidades tecnológicas do negócio e traduzi-las

217

ADM 1-2 2013-1.indb 217 11/04/2013 17:46:08


Microinformática

em necessidades de equipamentos, softwares e processos de trabalho


apoiados pela TI;
• conhecimentos sólidos em redes de computadores, softwares, banco
de dados, sistemas integrados etc.
• caso o profissional desta área seja um desenvolver ou engenheiro de
sistemas, precisará de habilidades como:
• capacidade de compreender problemas e traduzi-los em ferramentas
de hardware e software que automatizem a solução destes problemas;
• capacidade de desenvolver tecnologias que facilitem o cotidiano das
pessoas, seja nas empresas, em casa, no lazer;
• capacidade de aprimorar conhecimento e tecnologias existentes usan-
do recursos computacionais;
• necessidade de aprendizagem de ferramentas que possibilitam o de-
senvolvimento de software;
• entender profundamente sobre redes de computadores e telecomuni-
cação, bancos de dados, arquitetura de computadores e sistemas ope-
racionais, segurança da informação etc.

Atividade 1.5
Nós falamos da importância da TI em várias áreas e carreiras. Veja
que não falamos todas, pois são muitas! Faltou falar das engenharias, da
arquitetura, da pedagogia! Será que a TI pode ser usada na pedagogia? E
na física? Na medicina? Viu? Existem diversas outras carreiras que envol-
vem aprender e usar Tecnologia da Informação. Por isto, sua tarefa agora
será responder a duas atividades:
Qual a importância da TI para a sua área? A carreira que está cur-
sando e que em breve estará apto a desempenhar no mercado de trabalho.
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Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

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Introdução à Tecnologia de Informação – Unidade 1

Escolha mais duas carreiras quaisquer. Lembre-se de que citamos


algumas acima. Não vale escolher a sua nem as carreiras já citadas. Tente
responder à mesma pergunta anterior para cada uma destas carreiras. Dis-
cuta com seus colegas, professor, tutor e faça pesquisas antes de respon-
der, ok?
Boa atividade!
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1.6  Reflexão sobre a Conexão:


Recomendações 1.5
EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

unidade 1 Leia artigos sobre carreiras e a TI. Abaixo,


temos alguns deles:
TI e Contabilidade
Nesta unidade, nós http://www.contabeis.com.br/artigos.aspx?id=75
falamos sobre definições TI e Marketing
acerca de temas relacionados http://www.administradores.com.br/informe-se/artigos/
tecnologia-e-marketing-o-que-tem-haver-uma-coisa-com-a-
à Tecnologia da Informação, outra/11697/
sobre informação, dado e co- TI e Turismo
http://www.espacoacademico.com.br/046/46ccampos.
nhecimento e o uso destes pela htm
TI. Além disto, falamos sobre Busque sempre novas fontes e novas
informações a respeito de sua
as carreiras e a importância da TI carreira!
nas empresas. Procure pensar, a partir
219

ADM 1-2 2013-1.indb 219 11/04/2013 17:46:08


Microinformática

da leitura desta unidade, como a TI influencia sua vida, sua carreira, seu
lazer, enfim, qual o relacionamento entre a TI e toda a sua rede social e de
convivência.
Para encerrarmos nossa discussão, leia o texto do Box Recomenda-
ções 1.6 e responda às perguntas abaixo.

Leituras Recomendadas
Artigo – O papel da informação no processo de capacitação tecno-
lógica das micro e pequenas empresas. Escrito por Paulo César Rezende
de Carvalho Alvim.
Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S0100-19651998000100004

Livro – Administração de Sistemas de Informação, do autor Pedro


Luiz Cortes. Livro muito interessante e abrangente sobre o uso de siste-
mas de informação nas empresas. Aborda vários elementos que estudare-
mos em várias unidades. Para mais informações, veja as Referências.

Questão de Encerramento 1.6.1


Quanto vale a informação para você? Dê exemplos.

Questão de Encerramento 1.6.2


Quanto pode valer a informação para as empresas? Dê exemplos.
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220

ADM 1-2 2013-1.indb 220 11/04/2013 17:46:08


Introdução à Tecnologia de Informação – Unidade 1

Referências
CÔRTES, P. L. Administração de Sistemas de Informação. São Pau-
lo: Saraiva. 2008.

MARÍN, A. Tecnologia da informação nas agências de viagens: em


busca da produtividade e do valor agregado. São Paulo: Aleph. 2004.

O´BRIEN, J. A. Sistemas de Informação e as decisões gerenciais na


era da Internet. São Paulo: Editora Saraiva. 2004.

TURBAN, E.; JR., R. K. R. e POTTER, R. E. Administração de Tec-


nologia da Informação – Teoria e prática. Rio de Janeiro, RJ: Cam-
pus. 2005.

Na próxima unidade
Você já se perguntou como funciona um computador? Sim? Ótimo!
Obteve a resposta?
Não? Sem problemas, pois nós vamos falar sobre isto agora na Uni-
dade 2.
Vem comigo?
EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

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ADM 1-2 2013-1.indb 221 11/04/2013 17:46:09


Microinformática

Minhas anotações:
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ADM 1-2 2013-1.indb 222 11/04/2013 17:46:09


Como funciona o
computador

Spike Mafford / Stockbyte / Getty Images


2 As figuras
tradicionais dos
de
computadores que
você vê abaixo não
ida

foram sempre assim. Um


computador foi concebido
com fins muito mais “humil-
Un

des” do que as aplicações que


vemos hoje em dia. Nesta unidade,
nós vamos explorar e entender como

Goce / Dreamstime.com
funciona um computador e ver que
estrutura básica, originalmente conce-
bida para fins mais “humildes”, ainda
persiste. Claro que esta estrutura foi apri-
morada, mas a teoria que a gerou ainda é
utilizada nos mais modernos computadores
da atualidade.

ImageDJ
Objetivos de sua aprendizagem
Nesta unidade, faremos uma breve
viagem sobre os principais conceitos que
explicam o funcionamento dos compu-
tadores. Você entenderá como surgiram
os computadores eletrônicos e verá
que existe uma classificação para Computadores da atualidade
distinguir tipos de computadores.
Também verá os principais componentes de um computa-
dor e entenderá como um computador pessoal funciona.
Não deixe de apreciar as referências apresentadas nos
assuntos e faça todos os exercícios pedidos. Lembre-
-se da nossa frase:
Na teoria, não há diferença entre teoria e prá-
tica. Mas, na prática, há.
Jan L.A van de Snepscheut

ADM 1-2 2013-1.indb 223 11/04/2013 17:46:16


Microinformática

Por isto, faça todos os exercícios e as consultas pedidas. Participe


ativamente dos fóruns e dos plantões, além das aulas!

Você se lembra?
Qual foi a última vez que você usou um computador? Foi hoje? Mas
qual foi o tipo de computador que você utilizou? Como funciona o com-
putador que você usou? Você saberia me explicar?

2.1  Uma breve viagem pela história


Um dos pontos interessantes na história do surgimento dos computa-
dores foi a rápida evolução das tecnologias utilizadas para sua produção.
O primeiro computador de grande porte a usar eletrônica digital
foi o ENIAC (Electrical Numerical Integrator and Calculator). Ele era
de grande porte, devido à quantidade de cálculos que ele era capaz de
realizar: cerca de 5 mil somas ou 360 multiplicações por segundo (muito
pouco comparado à capacidade de nossos computadores atuais).
Wikimedia
Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

ENIAC (Parte dele, na verdade, pois aqui vemos sua interface de operação.)

O ENIAC começou a ser desenvolvido por John Eckert e John


Mauchly. O desenvolvimento iniciou-se em 1943, com financiamento
militar, para ser usado na Segunda Guerra Mundial, mas só se tornou ope-
racional em 1946. Tinha cerca de 30 toneladas e ocupava 180 m2 de área.

224

ADM 1-2 2013-1.indb 224 11/04/2013 17:46:19


Como funciona o computador – Unidade 2

Em 1944, juntou-se ao grupo de pesquisadores o engenheiro John von


Neumann. Este criou a arquitetura (chamada de arquitetura de von Neu-
mann) que é usada até hoje nos computadores comerciais.

Wikimedia
O ENIAC numa visão mais ampla

O ENIAC não tinha sistema operacional (na unidade 3, falaremos


mais sobre o que são estes sistemas) e todas as operações eram inseridas
diretamente na máquina usando códigos numéricos.
Foi produzido usando a tecnologia de válvulas a vácuo, que foi a
tecnologia inicial para computadores eletrônicos. Por isto, ele é o marco
da Primeira Geração de Computadores. O problema das válvulas era o
EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

custo alto para manutenção. Para você ter uma ideia, o ENIAC foi cons-
truído usando mais de 17 mil válvulas e gastava mais de 200.000 watts,
aquecendo muito!
As válvulas eletrônicas possuíam o tamanho aproximado de uma
lâmpada elétrica.
A era da computação comercial iniciou-se no ano de 1951, quando
o UNIVAC (Universal Automatic Computer) foi entregue ao primeiro
cliente: o escritório do Censo do Estados Unidos para tabulação dos dados
do censo do ano anterior. Pode-se dizer que o UNIVAC foi o resultado de
modificações positivas no ENIAC.

225

ADM 1-2 2013-1.indb 225 11/04/2013 17:46:22


Microinformática

Wikimedia

Em 1947, os cientistas John Barde-


en, Walter H. Brattain e William Shockley
desenvolveram o transistor. O transistor
é um pequeno dispositivo que transmite
sinais eletrônicos usando um resistor. Os
transistores revolucionaram a eletrônica e
a maneira de construir computadores. Além
de serem muito menores do que as vál-
vulas, consumiam muito menos energia e
geravam menos calor. Também eram mais
rápidos e mais confiáveis do que as válvu-
las. Um novo avanço, nesta mesma época,
foi a criação de uma linguagem simbólica
para manipular instruções das máquinas
em vez de códigos numéricos, e isto tornou
um pouco menos ardil a tarefa de criar pro-
gramas para os computadores. Depois das
linguagens assembly (as linguagens sim-
Foto de uma válvula eletrônica bólicas), surgiram as linguagens de “mais
alto nível”, como Fortran e COBOL. São
linguagens com comandos em inglês, em vez de símbolos e marcações
como nas linguagens assembly. E esta foi chamada a segunda geração
dos computadores. Nesta época, os computadores ainda não atingiam
as pessoas “comuns” da socie-
Annedave / Dreamstime.com

dade, sendo usados apenas por


universidades e por organiza-
ções do governo e militares.
Entre 1965 e 1970, surgiu
o Circuito Integrado (CI). Tra-
ta-se de um circuito eletrônico
Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

completo num pequeno chip


feito de silício. Em 1965, os
CIs começaram a substituir os
transistores nos computadores
e aí nós tivemos os Computa-
dores de Terceira Geração.

Foto de um transistor simples

226

ADM 1-2 2013-1.indb 226 11/04/2013 17:46:27


Como funciona o computador – Unidade 2

Alexskopje / Dreamstime.com
Foto de circuitos integrados

O silício é um material chamado semicondutor, pois conduz corrente


elétrica quando misturado com impurezas químicas em sua constituição (você
pode pesquisar os detalhes de materiais semicondutores se ficar curioso!).
O marco importante desta terceira geração foi o lançamento do computador
da série IBM 360 em 1964. Trata-se de uma linha de computadores projetada pela
IBM tanto para uso comercial quanto científico. Foi uma série com o intuito de
inserir o uso de computadores nos negócios e em operações comerciais.
NASA / Wikimedia
EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

O IBM 360

International Business Machines (IBM) – trata-se de uma


empresa de desenvolvimento de hardware e software, estaduniden-
se, com quase um século de existência. Mais informações em http://
www.ibm.com/ibm/br/pt/

227

ADM 1-2 2013-1.indb 227 11/04/2013 17:46:33


Microinformática

Já a quarta geração de computadores, com início na década de 1970,


traz consigo a criação do microprocessador. Os computadores atuais são
muito menores, mais de 100 vezes menores que aqueles de primeira ge-
ração, mas um único chip é mais poderoso que o próprio ENIAC. Para
você ter uma ideia, em 1977 uma calculadora podia fazer cerca de 250
multiplicações por segundo, custava de 300 a 500 dólares e pesava mais
de 500 gramas. Hoje, uma calculadora pesa muito pouco, custa 1 dólar ou
menos às vezes (depende da cotação) e realiza muito mais cálculos. Em
comparação ao ENIAC, um Pentium de 150 MHz era capaz de mais de
300 milhões de operações de soma por segundo, enquanto que o ENIAC
processa apenas 5.000 operações.
Dê uma olhada na figura a seguir.
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Evolução dos computadores

Retirado de “A história dos processadores, desde ENIAC até Neha-


lem” / INTEL.

228

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Como funciona o computador – Unidade 2

Swtpc6800 / Wikimedia
Claro que a história
mais recente dos compu-
tadores você já conhece,
mas vamos apenas co-
mentar um pouco sobre
os computadores pesso-
ais. Estes computadores
mudaram completamente
o paradigma do uso de
computadores.
O primeiro compu-
tador pessoal que foi dis-
ponibilizado ao público
em geral foi o MITS Al- MITS Altair
tair, produzido em 1975.
Na época, foi “choque” grande, A
pois os computadores só faziam evolução na
velocidade dos microproces-
sentido para empresas, uni- sadores é tida para alguns como
versidades, o governo ou os a quinta geração dos computadores. O
militares! Para que ter um marco seria o microprocessador Intel 386,
que permitia a execução de várias tarefas ao
computador em casa? Se mesmo tempo.
fosse para investir, inves-
tiria em maquinários, em
ferramentas, mas um com-
putador? Não teria serventia!
Esse seria um típico discurso
de um pai cujo filho acabou de
EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo
VOLKER STEGER / SCIENCE PHOTO LIBRARY / SPL DC / Latinstock

lhe fazer um pedido naquela época!


Quando Steve Jobs e Steve
Wozniak mostraram ao público jo-
vem o Apple I, todo mundo foi ao
delírio! Ele possuía um teclado fácil
de usar e tela! A Apple mostraria,
mais tarde, sua facilidade em conse-
Apple I
guir sucesso comercial com o Apple
II e o software de planilha eletrônica
VisiCalc.
229

ADM 1-2 2013-1.indb 229 11/04/2013 17:46:39


Microinformática

VOLKER STEGER / SCIENCE PHOTO LIBRARY / SPL DC / Latinstock

Apple II

Em 1981, a IBM lançou seu primeiro computador pessoal e captu-


rou a maior fatia de mercado em 18 meses. O padrão IBM PC foi adotado
e copiado por outras empresas.
HO / IBM / AFP

IBM PC

Não podemos nos esquecer de um nome importantíssimo no século


passado. Claro, ainda é um nome muito importante: Microsoft. A hoje gigante
empresa de software forneceu o sistema operacional para o computador pesso-
al da IBM. Este software, chamado de MS-DOS, foi usado pela IBM e pelas
empresas que criaram computadores pessoais baseadas no padrão IBM PC.
230

ADM 1-2 2013-1.indb 230 11/04/2013 17:46:43


Como funciona o computador – Unidade 2

Com grande expansão, a Microsoft logo evoluiu


para novas versões de seu sistema operacional até Conexão:
Recomendações 2.1
que “descobriram” e popularizaram a interface Assista ao filme história
gráfica com o sistema operacional Windows! do computador em minutos
disponível em www.youtube.com/
Os sistemas Windows mudaram o conceito de watch?v=F3qWg1JBPZg
interface entre usuário e computador. Não foi a
Microsoft que criou o conceito de interface grá-
fica, mas foi uma das principais empresas (senão a
principal) a popularizá-lo!

Atividade 2.1
Nesta atividade, vou sugerir a você uma busca pelas informações do
filme Piratas do Vale do Silício (Pirates of Silicon Valley). Se gostar da
dica, tente encontrá-lo numa locadora ou com um amigo e assista a ele.
Você ai gostar, pois o filme é muito bom!

2.2  Classificação dos Computadores


2.2.1  Computadores pessoais
São os chamados computadores de mesa (desktop) ou microcom-
putadores. Esta linha de computadores é usada para tarefas rotineiras,
domésticas ou em escritórios. Uma variação deste tipo de computador que
é usada para serviços mais avançados são as estações de trabalho (works-
tations). São PCs com configuração muito mais robusta.
Goce / Dreamstime.com
EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

Uma Workstation PC

231

ADM 1-2 2013-1.indb 231 11/04/2013 17:46:44


Microinformática

2.2.2  Computadores notebook


Estes computadores são mais leves, projetados para o uso portátil.
Equipados com bateria com boa duração, são usados em viagens ou em
qualquer lugar. Atualmente existem notebooks com configurações tão ro-
bustas e caras quanto workstations.
Recentemente, surgiu uma variação dos notebooks. São modelos
com tela menor (de 7 a 11 polegadas), bateria com maior duração, sem
leitores de CD ou DVD e muito mais leves, além de serem mais baratos
(em geral). São os chamados netbooks. Planejados para portabilidade e
navegação na Internet em qualquer lugar. Com a grande difusão das redes
que fornecem Internet sem fio, este modelo tem ganhado popularidade e
vem sendo adotado até por escolas como ferramenta de auxílio às ativida-
des em sala.
Kmtheman / Dreamstime.com

Um notebook versus um netbook

2.2.3  Mainframes
São os chamados computadores de grande porte. São projetados
Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

para processamento de grandes quantidades de dados a velocidades muito


altas. Em geral, são usados em grandes empresas, como bancos, indús-
trias, companhias aéreas e de seguro. São computadores projetados para
vários usuários (multiusuário) ao mesmo tempo e com custo bem elevado.
Pelo alto custo, os mainframes perderam muito espaço para os servidores
baseados na arquitetura PC.

232

ADM 1-2 2013-1.indb 232 11/04/2013 17:46:46


ADM 1-2 2013-1.indb 233 11/04/2013 17:47:19
Microinformática

2.2.5  Supercomputadores
São os mais caros e mais poderosos computadores. Usados para
grandes simulações, como previsão do tempo, análise do mercado de
ações, efeitos especiais em produções cinematográficas. Também são
muito usados por órgãos do governo para tarefas que envolvam gigantes-
ca manipulação de dados.
LeRoy N. Sanchez, Records Management / Media Services and Operations / Wikimedia

Supercomputador RoadRunner

Atividade 2.2
Liste os computadores aos quais você tem ou teve acesso. Aponte o
maior número de detalhes possível sobre cada um deles.
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_____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_______________________________________________
Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

___________________________________________ Conexão:
Recomendações 2.2
_________________________________________
Verifique mais informações
________________________________________ em informatica.hsw.uol.com.br/
________________________________________ questao543.htm
________________________________________
_________________________________________
_____

234

ADM 1-2 2013-1.indb 234 11/04/2013 17:47:21


Como funciona o computador – Unidade 2

2.3  Visão geral de um computador pessoal


O hardware de seu computador pessoal precisa dos seguintes com-
ponentes para um efetivo funcionamento:
• dispositivos de entrada;
• dispositivos de saída;
• dispositivos de armazenamento secundário;
• unidade de processamento.

O funcionamento básico de um computador convencional acontece


de acordo com a figura abaixo:

Armazenamento secundário

Adaptado de: (CAPRON e JOHNSON, 2004)


O dispositivo de
armazenamento
secundário armazena
dados e programas

A unidade central de
processamento (CPU)
executa instruções
O dispositivo
O dispositivo de computador
de saída
de entrada envia
disponibiliza
dados à unidade
os dados
central de
processados
processamento
A memória mantém (as Informações)
dados e programas em
uso no momento
EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

Entrada Processamento Saída

Componentes principais de um computador e mecanismo de funcionamento.

As informações são inseridas no ambiente computacional por meio


dos dispositivos de entrada. Estes dispositivos permitem que nós, seres
humanos, ou equipamentos forneçamos informações para serem processa-
das. Exemplos seriam o mouse, o teclado, leitores óticos, dentre outros.
Estas informações de entrada são armazenadas na memória, e a uni-
dade central de processamento (CPU) realiza o devido tratamento destas.

235

ADM 1-2 2013-1.indb 235 11/04/2013 17:47:24


ADM 1-2 2013-1.indb 236 11/04/2013 17:48:25
Como funciona o computador – Unidade 2

Além da memória RAM, temos o próprio


Conexão:
processador, a unidade capaz de realizar com- Recomendações 2.3
plexas operações matemáticas, e as placas de Veja o vídeo do Olhar
expansão, que permitem adicionarmos no- Digital sobre o que considerar
na hora de comprar um compu-
vas funcionalidades ao nosso computador, tador, em www.youtube.com/
como uma placa que faça processamento de- watch?v=vYo6IceDsVQ
dicado de vídeo. Enquanto a memória RAM
guarda as informações de trabalho, os discos
rígidos guardam todas as informações e todos os
programas. Quando desligamos o computador, as informações são salvas
no disco. Quando ligamos o computador, os programas necessários para
utilização dele, bem como aquele que desejarmos, são carregados do dis-
co para a memória RAM.
Além dos componentes vistos, podemos enumerar um outro tipo de
dispositivo: Dispositivo para Comunicação Externa. No hardware de seu
computador, ele é tratado com um dispositivo de entrada e saída, mas é
interessante diferenciá-lo. Exemplos destes dispositivos são:
• placas de rede;
• hub;
• switch;
• modems.
Veremos mais sobre estes dispositivos na unidade sobre Redes.

Atividade 2.3
Você consegue listar os componentes do seu computador? Se não
tiver um em casa, pode ser do trabalho, de um amigo. O importante é
tentar! Vamos lá? Ah, não se esqueça de tentar listar características dos
EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

componentes (ex. a marca da placa-mãe). Vamos tentar?


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237

ADM 1-2 2013-1.indb 237 11/04/2013 17:48:26


Microinformática

2.4  A arquitetura interna e o funcionamento de um


computador
Lembra-se de termos comentado sobre John von Neumann, que par-
ticipou da criação do ENIAC?. Apesar de Von Neumann ter sua formação
na área de matemática, sua contribuição foi muito importante em diversas
outras áreas e, ele popularizou a chamada Arquitetura de Von Neumann,
que será nosso objeto de estudo agora.
A arquitetura de Von Neumann é a base da construção da principal
arquitetura dos computadores modernos, os PCs.

De maneira bem simples, ela funciona assim:


A unidade central de processamento (UCP) faz operações com
1. informações. Estas operações podem ser:
a) operações de entrada e saída, como leitura de dados do teclado
e escrever dados na tela. São operações para inserção de dados
na memória do computador ou para exibição de informações
que estejam armazenadas nesta.
b) operações aritméticas como adição, subtração, multiplicação
e divisão de valores inteiros ou ponto flutuante (basicamente,
números reais representados num formato definido);
c) operações lógicas e relacionais como comparações, testes de
condições lógicas etc.;
d) movimentação de dados entre os vários componentes, ou seja,
resgate e inserção de informação na memória ou em dispositi-
vos de entrada e saída.
2. Para fazer estas operações, necessitará de que as informações
estejam na memória. Trata-se de um componente eletrônico
para armazenar informações.
3. Além da memória, existem os dispositivos de entrada e saí-
da, como teclado e mouse (entrada) ou monitor e impressora
Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

(saída), que emitirão as informações num formato legível ao


usuário do computador.

238

ADM 1-2 2013-1.indb 238 11/04/2013 17:48:26


Como funciona o computador – Unidade 2

Memória Primária Dados

Dados Unidade de

Dados
Entrada e
Saída

Unidade Lógico Unidade de


Controle
e Aritmética Controle

A arquitetura de von Neumann – Visão interna do funcionamento de um computador

Então, basicamente, na arquitetura de von Neumann, o que ocorre


é que uma máquina pode armazenar seus programas e executá-los numa
unidade responsável por diferentes operações.
Pela figura, pudemos ver que as informações podem ser dados ou
informações de controle. As informações de controle são aquelas que
dizem o que deve ser feito com os dados. Por exemplo, se tivéssemos, de
alguma maneira, na memória a informação da expressão “5 + 7 < 10 ?”,
saberíamos que estamos tentando comparar a soma de 5 e 7 com o valor
10 e saber quem é maior. Logo, 5, 7 e 10 são dados e “+” , “<” e “?” são
informações de controle. O computador entenderia que deve somar os da-
dos 5 e 7 (controle +) e verificar se o resultado é menor que 10 (controle
< e resultado ?).
As duas outras unidades da figura são a ULA (Unidade Lógica e
EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

Aritmética) que serve para realizar as operações, efetivamente, e a UC


(Unidade de Controle), que serve para decodificar as operações, ou seja,
entender o que precisa ser feito, e disparar novas operações, caso neces-
sário.
A UCP entende operações num determinado formato. Vamos aqui
chamar formato de linguagem, ok?
Bom, o computador entende a linguagem eletrônica que popular-
mente é chamada de binária, devido à sua representação. Como um pro-
gramador vai escrever códigos que descrevam operações em binário? Não
vai (geralmente)!

239

ADM 1-2 2013-1.indb 239 11/04/2013 17:48:28


Microinformática

Neste ponto, entrará em cena uma camada intermediária que cuidará


disto para ele! Um programador de hoje escreve código em linguagem de alto
nível. Isto quer dizer que a linguagem é de mais fácil compreensão humana!

Os passos seguidos por um programador são:


1. ele pensa no problema e o analisa;
2. depois formula algoritmos que possam resolver este problema;
3. na sequência, transforma os algoritmos em código de alto ní-
vel (esta fase é chamada de codificação ou programação);
4. após isto, traduz o código de alto nível, que resultará num
“executável”;
5. um executável é um programa que roda sobre uma plataforma;
6. uma plataforma é um computador com sua arquitetura e
um sistema “principal” de gerenciamento de seus recursos,
chamado sistema operacional;
7. o sistema operacional “sabe” como fazer o executável fun-
cionar, usando memória, dispositivos de entrada e saída etc.
8. O Windows, o Linux, o Solarix e o Unix, dentre outros, são
exemplos de sistemas operacionais (veremos mais sobre siste-
mas operacionais no capítulo seguinte).
9. Mas sistema operacional – por exemplo Windows, não é
aquela interface que você vê com editores de texto e planilhas.
Ele compreende os programas, as rotinas que estão por trás de
todo o funcionamento de seu computador (também veremos
mais disto no capítulo seguinte).

Atividade 2.4
Faça uma busca (livros, Internet, amigos, etc) e me responda: A
arquitetura de funcionamento que vimos é a única existente? Existem (ou
existiam) outras maneiras de um computador funcionar?
Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________

Um algoritmo é uma forma de descrever a solução de um


problema usando algum tipo de método e notação. Por exemplo,
uma receita de bolo é um algoritmo que ensina o que deve ser coloca-
do num bolo e como prepará-lo.

240

ADM 1-2 2013-1.indb 240 11/04/2013 17:48:28


Como funciona o computador – Unidade 2

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_____________________________________________________________________

2.5  Capacidade de processamento dos computadores


Existem computadores de diversos tamanhos, com diferentes recur-
sos para processar informações. Vimos desde dispositivos “de mão”, os
handhelds, até os mainframes e os supercomputadores.
Podemos avaliar os computadores sobre diversos aspectos, mas o que
mais é usado é o tempo necessário para realizar um FLOPS (floating point
operations per second, ou operações de ponto flutuante por segundo). Quanto
mais rápido um computador puder realizar um FLOP, maior será seu desem-
penho. Por exemplo, enquanto um computador de mão tem uma “potência”
de 500 FLOPS, um supercomputador pode chegar a 1 trilhão de FLOPS.
Você com certeza está habituado ao PC (personal computer – com-
putador pessoal), que é o computador de mesa. Se você trabalha com apli-
cativos avançados com poderosos recursos gráficos, provavelmente terá
uma Workstation, que também é um computador de mesa, mas com poder
superior a um PC.
Se sua empresa tem diversos computadores trabalhando em conjun-
to, ela necessitará de um servidor. Servidores são computadores otimiza-
dos para prover recursos a outros computadores numa rede de computado-
res. São componentes importantes da infraestrutura de TI, pois fornecem
plataformas, por exemplo, para o comércio eletrônico.
Os mainframes são computadores de alto desempenho, capazes
EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

de processar enormes quantidades de informação. Surgiram por volta da


década de 1960. São usados em corretoras de ações, companhias aéreas,
grandes bancos etc.
Um supercomputador é um projeto mais Conexão:
sofisticado, utilizado para cálculos comple- Recomendações 2.4
Leia o artigo sobre o que é
xos. São usados em simulações como a um algoritmo de computador
previsão do tempo e em projetos que exigem em “How stuff works”, disponível
cálculos com milhares de variáveis e um em informatica.hsw.uol.com.br/
questao717.htm
tempo de resposta rápido.

241

ADM 1-2 2013-1.indb 241 11/04/2013 17:48:28


Microinformática

Além disso, podemos unir computadores e formar supermáquinas


virtuais. Isto é possível por meio do clustering ou da computação em
grade. Um cluster é um agregado com diversos outros computadores tra-
balhando de maneira dedicada, cumprindo tarefas de um computador de
grande porte, como um mainframe. Já a computação em grade envolve
outros conceitos, como aproveitar a ociosidade dos computadores pesso-
ais numa rede.
A tabela abaixo mostra uma comparação entre alguns tipos de com-
putadores. (LAUDON e LAUDON, 2007)

Processador/
Computador Desempenho Comentários
Velocidade
Executam, em geral,
uma tarefa de cada vez.
Computador IntelTM Maior parte do poder de
de mão, Palm, PXA270 – 500 FLOPS processamento é usada
PDA 312 MHz para formar as imagens
da tela e produzir men-
sagens de voz.
Máquina robusta para
jogos. Maioria dos
PCs usados no mundo
Computador Pentium® D empresarial tem de 1
pessoal Dell Dual Core – 4 Giga FLOPS a 2 GHz, com desem-
XPS 3.20 GHz penho de 2 GFLOPS,
mais do que suficiente
para textos, planilhas e
navegar na Web.
Servidor
(computador UltraSPARC 32 Giga Podem ser usados mais
de médio por- IV + 1.5 GHz FLOPS de 16 processadores.
te) SUN Fire
E4900 server
Mainframe Z990 Podem ser usados mais
IBM Z990 1 Tera FLOPS
1.2 GHz de 54 processadores.
eServer
Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

Cerca de 64 mil pro-


Supercomputa- PowerPC ~136-183 Tera cessadores PowerPC
dor IBM Blue 4400 FLOPS conectados numa única
Gene/L 700 MHz máquina.
Computação Vários pro- Programa sem fins
em Grade Fol- cessadores de ~160 Tera lucrativos com 160 mil
ding@home PC dentre os FLOPS CPUs on-line.
(FAH) disponíveis

242

ADM 1-2 2013-1.indb 242 11/04/2013 17:48:29


Como funciona o computador – Unidade 2

Obs.: para facilidade nos cálculos, considere um giga (230) como 1


milhão de instruções e 1 tera (240) como 1 trilhão.

Pelo que pudemos ver, o computador é um conjunto de componen-


tes eletrônicos que “reagem” à inserção de dados de entrada, seguindo
alguma lógica. Esta lógica é o programa, o software que dá vida ao com-
putador!

Atividade 2.5
Acesse o site www.top500.org e apresente alguns dos mais rápidos e
poderosos computadores do mundo, além do local onde são utilizados.
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2.6  Reflexão sobre a Unidade 2


Vimos até aqui que há muito mais sobre computadores do que sim-
plesmente entender como eles funcionam. A história e a evolução dos
computadores determinaram, de certa forma, como as pessoas passaram
a pensar em tecnologia e a “consumir” tecnologia. Mesmo que você não
EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

se torne especialista na área de tecnologia da informação, é sempre im-


portante saber como funcionam os equipamentos que serão usados no dia
a dia. Isto facilita o diálogo entre nós e as novas
tecnologias. Conexão:
Recomendações 2.5

Leituras Recomendadas Assista ao vídeo do Olhar


Digital sobre supercomputadores
Artigo: Como os computadores fun- disponível em: www.youtube.com/
cionam? watch?v=3TT1Vhm8_AM

http://www.fazfacil.com.br/manuten-
cao/computador_funcionamento.html

243

ADM 1-2 2013-1.indb 243 11/04/2013 17:48:30


Microinformática

Artigo: Entenda o funcionamento do computador


http://vestibular.uol.com.br/ultnot/resumos/ult2766u10.jhtm
Livro: Introdução à Informática, de Capron e Johnson. Livro que
aborda aspectos técnicos e teóricos sobre o funcionamento do computador
e dos softwares básicos para seu uso. Para mais informações, veja as Re-
ferências.

Para encerrar esta unidade, vou deixar algumas questões a você.


Pense criticamente sobre elas, discuta com seus colegas, tutor e professor.
Faça pesquisas e anote suas considerações. Vamos lá?

Questão de Encerramento 2.1


Os computadores tornam a vida das pessoas mais fácil ou mais difí-
cil? Qual sua opinião? Qual a opinião das pessoas que você conhece?
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Questão de Encerramento 2.2


Discuta com seus colegas como os computadores são e serão usados
na carreira que você pretende seguir. Aponte exemplos detalhados.
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Como funciona o computador – Unidade 2

Questão Crítica de Encerramento 2.3


Na sua opinião, se um computador falhar, a falha é humana? (Esta
pergunta pode ser polêmica e isto é muito bom!). Discuta a quem devem
ser atribuídas as falhas em computadores, principalmente aqueles usados
em sistemas críticos como aviação, sistemas médicos, etc.
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Questão de Encerramento 2.4


Apresente ao menos duas carreiras que não precisem do uso de
computadores. Discuta seus resultados com seus colegas e faça um breve
resumo da sua discussão.
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Questão de Encerramento 2.5


Nós devemos aprender eletrônica básica para podermos manipular
um computador? Por que nós não estudamos tudo sobre um equipamento
(como o computador) antes de usá-lo?
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Microinformática

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Referências

CAPRON, H. L. e JOHNSON, J. A. Introdução à Informática. São


Paulo: Pearson Prentice Hall. 2004.

LAUDON, K. C. e LAUDON, J. P. Sistemas de Informação Geren-


ciais. São Paulo: Prentice Hall. 2007.

Na próxima Unidade
Na próxima unidade, nós falaremos sobre tipos específicos de sof-
twares ou programas de computador. Vamos entender que existem dife-
rentes tipos de software para funções diferentes, assim como existem fer-
ramentas diferentes para tarefas diferentes. Mais uma vez, será de grande
importância habilitar-se neste conteúdo e favorecer-se do que a tecnologia
oferece de melhor.
Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

246

ADM 1-2 2013-1.indb 246 11/04/2013 17:48:33


Sistemas
Operacionais e
Softwares Aplicativos

3 O software dá vida ao hardware inanimado!!


É, a frase parece um pouco forte, mas tente usar
de
um computador sem um software! Como veremos,
na verdade, existem tipos de software, divididos em
ida

camadas. Veremos que existem softwares que “conver-


sam” com o hardware do seu computador e softwares que
conversam com estes softwares (que já estão em contato com
Un

o hardware do computador). Pareceu muito? Então, temos tam-


bém softwares para criarmos outros softwares! Vamos entender
um pouco mais sobre eles?

Objetivos de sua aprendizagem


Nesta unidade, trataremos dos softwares de computador. Fa-
remos a apresentação desde os softwares que realizam o controle do
hardware até àqueles que realizam as tarefas do usuário ou mesmo, que
permitem ao usuário criar novos softwares.

Você se lembra?
Quais são os softwares de computador que você usa? Quan-
do foi a última vez que usou um software? Sabe o que é um siste-
ma operacional? Pois, para usar um software como um editor de
textos, você, com certeza, precisou usar um sistema operacional.
Então vamos ver a diferença entre os tipos de software e o que cada um
deles faz!

ADM 1-2 2013-1.indb 247 11/04/2013 17:48:33


Microinformática

3.1  Software do computador


Como falamos antes, para usar os recursos de hardware você preci-
sará de software. Sem o software, seu hardware apenas ficará inerte. Por
meio do software, o hardware recebe instruções detalhadas que dizem ao
computador o que deve ser feito. Basicamente, nós temos dois tipos de
software. Antes, na época do ENIAC, todo o software era escrito desde
o começo, e o próprio software precisava saber manipular tudo o que
fosse necessário: tanto a informação quanto os próprios componentes do
computador. Os dois tipos de software hoje existentes são o software de
sistema e o software aplicativo.
Adaptado de (LAUDON e LAUDON, 2007)

Software aplicativo

Software de sistemas Software de Sistemas


Sistemas operacionais
Tradutores de linguagem
Hardware Programas utilitários

Software Aplicativo
Linguagens de programação
Linguagens de quarta geração
Pacotes de software e ferramentas de produtividade para PCs

Principais tipos de software.


Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

O software de sistema inclui os sistemas operacionais, os tradutores


de linguagem e os programas utilitários. Os softwares aplicativo incluem
as linguagens de programação, as linguagens de quarta geração e os paco-
tes de software.
Os softwares aplicativos com os quais temos mais contatos são
estes pacotes de software. São ferramentas como suítes de aplicati-
vos para escritório, como o Office, da Microsoft. Incluem editores de

248

ADM 1-2 2013-1.indb 248 11/04/2013 17:48:36


Sistemas Operacionais e Softwares Aplicativos – Unidade 3

texto, planilhas eletrônicas, editores de apresentações, dentre outros.


Um navegador para Internet, como o Internet Explorer, o Firefox ou o
Opera, é um exemplo de software aplicativo também. Enfim, são softwa-
res para utilização do usuário final.
Estes softwares aplicativos foram construídos, de alguma maneira,
usando linguagens de programação. No entanto, o desenvolvedor, ao criar
um software, precisa cuidar de muitos detalhes de funcionamento. Isto
torna custoso o processo de desenvolvimento. Porém, este desenvolvedor
não precisa saber como o computador faz para escrever ou desenhar uma
interface gráfica na tela do seu monitor. Para isto, basta que ele solicite
(escreva) isto no seu código, e quem cuidará da execução deste tipo de
tarefa é o sistema operacional.

3.2  Software de sistema


3.2.1  Sistemas operacionais
O software de sistema operacional é aquele que “conversa” com o
hardware e manipula seus recursos. Ele “sabe” como escrever informa-
ções na saída, seja um vídeo ou impressora. Ele também sabe como inter-
pretar as informações vindas da entrada, como o mouse e o teclado. Além
disto, sabe como guardar estas informações na memória e levá-las ao pro-
cessador quando necessário, para que as tarefas descritas por linguagens
de programação possam ser executadas e transformem-se em programas
úteis aos usuários finais, como uma planilha de cálculo, por exemplo.
É por isto que, na figura vista, o sistema operacional fica próximo
do núcleo do computador, que é o hardware. Ele traduz as necessidades
dos softwares aplicativos e, assim, os desenvolvedores têm mais facilida-
EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

de para trabalhar.
Um sistema operacional de propósito geral (pois existem S.Os. para
atividades específicas) é uma coleção de outros softwares que gerenciam
todos os dispositivos do computador. Em geral, ele possui os seguintes
componentes:
• gerenciador (escalonador) de processos;
• gerenciador de memória;
• gerenciador de entrada e saída;
• gerenciador de sistema de arquivos.

249

ADM 1-2 2013-1.indb 249 11/04/2013 17:48:36


Microinformática

Um programa é apenas um conjunto de instruções a serem re-


alizadas, como uma receita. No entanto, o programa está escrito
numa linguagem de máquina, que o computador possa compreender.
Quando você deseja usar este programa, ele se torna um processo para o
sistema operacional. Por isso, o SO possui um escalonador de processos.
Por meio dele o SO consegue controlar os programas em execução, ma-
nipular informações para este processo, controlar os arquivos que este
processo está usando, dentre outros.
O gerenciador de memória atua no sistema operacional para ga-
rantir que cada processo tenha seu espaço de trabalho reservado na me-
mória RAM (a memória de trabalho). O gerenciador de entrada e saída
controla e manipula informações que, por exemplo, entram pelo teclado,
digitadas pelo usuário, e devem ser escritas na tela do monitor. Além
disso, também controlam dispositivos de armazenamento, como discos,
CDs, pen drives etc. Já o gerenciador do sistema de arquivos garante a
manipulação de arquivos em dispositivos de armazenamento, cuida para
que os arquivos fiquem organizados e possam ser acessados.
Estes componentes do sistema operacional, normalmente, não são
visíveis ao usuário final. Digo normalmente porque, em sistemas com
código fonte aberto, como o Linux, é possível ao usuário não só ver
como alterar os códigos para os componentes do sistema operacional.
Para os usuários finais, a manipulação dos recursos oferecidos é
feita por meio de uma interface. Esta interface começou em seus pri-
mórdios, como a famosa “linha de comando” ou interface modo texto!
E hoje evoluímos para interfaces gráficas (tão comuns para as novas ge-
rações que já nasceram com a existência dela), interfaces por comandos
de voz etc.
A seguir temos dois exemplos de interfaces no modo texto: uma
no Linux e outra no Windows.
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250

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Sistemas Operacionais e Softwares Aplicativos – Unidade 3

Já as interfaces gráficas são bem comuns entre nós, mas vamos fazer
um levantamento de alguns tipos dessas para diferentes sistemas opera-
cionais.
Windows 7
O mais novo sistema Windows da Microsoft. Recém-lançado em
meados de 2009, o Windows 7 traz como principais modificações a tenta-
tiva de manter a melhor compatibilidade possível entre diferentes tipos de
hardwares e softwares.
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Microinformática

Windows Vista
É um dos sistemas operacionais Windows da Microsoft. Tem aper-
feiçoamento em suas opções de segurança, como o Windows Defender,
mecanismos de busca interna, sincronização nativa com dispositivos mó-
veis com o Mobile Device Center, além de melhor suporte a vídeos e TV.
Possui recursos visuais, como transparência, e um sistema para troca de
janelas usando o Aero.

Windows XP
O Windows XP é uma família de sistemas operacionais produzida
pela Microsoft, para uso em computadores pessoais. É um sistema robus-
to, com versões para usuários domésticos e corporativos. Possui suporte
para Internet, multimídia, trabalho em grupo, gerenciamento de recursos
de rede, segurança e trabalho corporativo.
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Sistemas Operacionais e Softwares Aplicativos – Unidade 3

Windows Server 2003


É um sistema operacional de rede desenvolvido como sucessor do
Windows 2000 Server. É também conhecido como Windows NT 5.2.
Apresenta o Active Directory como principal ferramenta para a admi-
nistração de domínios. É um sistema utilizado estritamente em redes de
computadores.

Windows CE
É o SO da microsoft para dispositivos com pouca capacidade de
armazenamento, como celulares, PDAs, smartphones etc. Isso mesmo!
Existem sistemas operacionais específicos para celulares, smartphones,
PDAs. Eles são escritos para gerenciar recursos mais “escassos”, mas em
EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

geral tem todas as funcionalidades dos sistemas operacionais mais robus-


tos.

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Microinformática

Unix
Trata-se de um SO para PCs poderosos, estações de trabalho e servi-
dores em rede. Possui suporte para multitarefa, processamento multiusu-
ário e trabalho em rede, além de poder ser instalado em diversas platafor-
mas de hardware.

Linux
Trata-se de uma alternativa grátis e confiável com relação ao Win-
dows e ao Unix. Pode ser instalado em diversas plataformas de hardware
e possui código fonte aberto. Isto significa que pode ser modificado por
programadores e adaptado para necessidades de uma empresa, por exem-
plo.
Existem diversos “sabores” ou distribuições Linux. Cada uma tem
características distintas, mas, em geral, o núcleo (ou kernel) do sistema é
bem semelhante.

Mac OS X
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É o SO da Apple com uma interface com o usuário muito elegante,


recursos fáceis de encontrar e de utilizar. O sistema é bem robusto e tem
recursos avançados para vídeos, além do navegador Safari, que é muito
rápido.

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Sistemas Operacionais e Softwares Aplicativos – Unidade 3

Abaixo temos um relatório divulgado pelo CybernetNews que mos-


tra quais os sistemas operacionais mais usados no mundo para PCs.
May 2008 June 2008 Change
Windows XP 72,12 % 71,20% -0,92%
Windows Vista 15,26 % 16,14 % 0,88 %
Mac - Intel 5,02% 5,25% 0,23 %
Mac OS 2,81% 2,69% -0,12%
Windows 2000 2,25% 2,11% -0,14%
Linux 0,68% 0,80% 0,12 %
Windows NT 0,68% 0,69% 0,01 %
Windows 98 0,48% 0,43% -0,05%
EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

Windows ME 0,27% 0,25% -0,02%


iPhone 0,16% 0,16% 0,00 %

http://cybernetnews.com/browser-os-stats-for-june-2008/#more-13498

3.2.2  Tradutores de linguagem e programas utilitários


Além dos sistemas operacionais, temos também os softwares que fa-
zem a tradução de linguagem e os softwares utilitários. Os softwares de tra-
dução convertem o código escrito numa linguagem de programação (veja o
tópico seguinte) para a linguagem de máquina que será compreendida pelo
hardware e usará recursos administrados pelo sistema operacional.
255

ADM 1-2 2013-1.indb 255 11/04/2013 17:48:46


Microinformática

Já os programas utilitários são aqueles que auxiliam o usuário


na configuração e no gerenciamento do sistema operacional de seu
computador. Um exemplo de programa utilitário é o Windows Explo-
rer para Windows. Trata-se de um gerenciador de janelas que permite
ao usuário encontrar seus arquivos no computador, como na figura a
seguir.

Você já deve estar habituada a ela, não é mesmo?

Outra ferramenta que podemos citar é o Desfragmentador de Dis-


cos, que serve para reorganizar os arquivos que estão no disco rígido de
maneira a ocuparem menos espaço.
Além destes, existem diversas outras ferra-
Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

mentas para auxiliar na configuração da área Conexão:


de trabalho, no logon (entrada do usuário no Recomendações 3.2
sistema), no gerenciamento de recursos etc. Se você quiser saber, detalha-
damente, sobre o funcionamento
do sistema operacional, acesse:
http://informatica.hsw.uol.com.br/
sistemas-operacionais.htm

256

ADM 1-2 2013-1.indb 256 11/04/2013 17:48:50


Sistemas Operacionais e Softwares Aplicativos – Unidade 3

3.3  Software aplicativo


Dentre os softwares aplicativos, nós temos as linguagens de pro-
gramação tradicionais, as linguagens de quarta geração, os pacotes de
software, as ferramentas de produtividade e os softwares de integração
empresarial (em geral, nos referimos a estes últimos como sistemas de
informação ou sistemas integrados de informação).

3.3.1  Linguagens de programação


Dentre os softwares aplicativos existentes, temos as linguagens de
programação, as chamadas linguagens de quarta geração e os pacotes de
software e ferramentas de produtividade. Existem diversas linguagens de
programação famosas, como C, C++, Java, COBOL, Visual Basic, C#,
PHP, Python e muitas outras. A linguagem de programação serve para
representarmos as instruções que um programa deve realizar para alguma
tarefa. O computador entende apenas sinais elétricos. Como representa-
mos a existência (1) ou a ausência (0) de sinal, a linguagem que o compu-
tador entende é chamada de binária. Logo, se instruirmos o computador
por meio de uma linguagem binária, ele poderá realizar a tarefa que dese-
jamos.

100100100100100111
001100011111101011
EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

No entanto, é muito difícil escrever na linguagem do computador,


assim como é muito difícil escrever em inglês ou em japonês se você não
conhece a fundo a linguagem! Mas, se precisamos dar estas instruções e
não sabemos a linguagem daquele que será instruído, então podemos usar
algum intermediário, por exemplo um tradutor.

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ADM 1-2 2013-1.indb 258 11/04/2013 17:49:11
Sistemas Operacionais e Softwares Aplicativos – Unidade 3

Ferra-
mentas de
linguagem Descrição Exemplo
de quarta
geração
WordPerfect Orientada
Ferramentas
Pacotes de softwares de uso geral Internet Explores para o
de software
para PCs. Access usuário
de PC
final
Linguagens para extrair dados arma-
Linguagens zenados em arquivos ou bancos de
SQL
de consulta dados. Suportam requisições de in-
formações que não são predefinidas
Extraem dados de arquivos ou bancos
de dados para criar relatórios especí-
ficos sob uma grande variedade de
formatos que não são produzidos por
sistemas de informação.
Geradores de
Cristal Reports
relatórios
Geralmente proporcionam maior
controle sobre a maneira como dos
dados são formatados, organizados e
apresentados do que as linguagens de
consulta.
Extraem dados de arquivos ou banco
de dados e os apresentam sob o for-
Linguagens mato de gráficos. alguns softwares SAS Graph
gráficas geradores de gráficos também pode Systat
executar operações aritméticas ou ló-
gicas com os dados.
Contém módulos pré-programados
que poderm gerar aplicações comple-
tas, incluindo sites Web, conferindo
FOCUS
grande velocidade ao desenvolvi-
Geradores de PowerBuilder
mento. O usuário pode especificar o
aplicações Microsoft Fron-
que precisa ser feito e o gerador de
tPage
aplicação criará o código de progra-
ma apropriado para entrada, valida-
EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

ção, atualização e apresentação.


Programas de software vendidos ou
Pacotes de PeopleSoft
arrendados por empresas comerciais
softwares HRMS
que eliminam a necessidade de sof-
aplicativos SAP R/3
tware personalizado, da casa.
Gerem códigos de programa com um
número menor de instruções do que
Linguagens
as linguagens convencionais, como
de programa- APL
COBOL ou FORTRAN. Projetadas
ção de altíssi- Normad2
primordialmente como ferramentas
mo nível
de produtividade para programadores
profissionais.

259

ADM 1-2 2013-1.indb 259 11/04/2013 17:49:12


Microinformática

3.3.3  Pacotes de software e ferramentas de


produtividade
Um pacote de software é um conjunto de programas criados e dis-
poníveis no mercado que possuem funções predeterminadas. Assim, eles
não necessariamente são feitos sob medida para as empresas, mas visam a
realizar tarefas bem definidas.
Dentre os tipos de software que podem fazer parte do pacote, temos
editores de texto, planilhas eletrônicas, programas para gerenciamento de
dados, editores gráficos e de apresentações, navegadores Web, pacotes
para trabalho colaborativo, dentre outras.

Você, provavelmente, usa com frequência um software para


edição de texto. Este tipo de software serve para armazenar textos
de maneira eletrônica, como arquivos no seu computador. Além disso,
este tipo de software oferece uma interface ao usuário para que este
possa editar o texto, adicionando informações, pode também forma-
tar o texto adicionando efeitos visuais, ou mesmo usar recursos mais
avançados para criar figuras, tabelas, malas-diretas, dentre outros.

Abaixo a imagem de um editor de textos famoso: o Microsoft Word.


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Sistemas Operacionais e Softwares Aplicativos – Unidade 3

Existem diversos outros recursos para um processador de textos (ou


software para edição), como os corretores ortográficos (que permitem ao
usuário realizar uma correção ortográfica e às vezes gramatical de acordo
com o idioma escolhido no seu texto), os verificadores de estilo, os dicio-
nários de sinônimos.
Já para edições voltadas a empresas do ramo publicitário, por
exemplo, são necessários mais recursos e, assim, elas usam softwares de
editoração eletrônica. Estes softwares permitem maior controle do texto
e efeitos. Alguns exemplos são Corel Draw, InDesign, Illustrator e Pho-
toshop, que é famoso por retoques em fotos!

REPRODUÇÃO
EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

Imagem do Illustrator.

261

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Microinformática

REPRODUÇÃO

Photoshop em ação!

Além dos editores de texto, temos também as famosas planilhas


eletrônicas. São ferramentas computacionais que simulam as tradicionais
técnicas de modelagem financeira, como o livro de registros contábeis
com lápis e calculadora. A planilha eletrônica é organizada como uma
grade com linhas e colunas. O cruzamento entre uma linha e uma coluna
é chamado de célula. Um dos recursos mais interessantes é o fato de os
valores poderem ser atualizados dinamicamente.
As planilhas eletrônicas são frequentemente usadas em aplicações
de modelagem matemática e simulações. Os pacotes com planilhas eletrô-
nicas incluem funções gráficas, que podem apresentar os dados em vários
formatos de gráficos (linhas, colunas, pizza). O Excel é o pacote mais
conhecido e utilizado.
Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

A seguir temos um exemplo de uma planilha que analisa o ponto de


equilíbrio e o seu gráfico correspondente.

“Nome dado ao estudo nas empresas, principalmente na


área da contabilidade, em que o total das receitas é igual ao total das
despesas.” http://pt.wikipedia.org/wiki/Ponto_de_equil%C3%ADbrio

262

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Sistemas Operacionais e Softwares Aplicativos – Unidade 3

Custo fixo 19.000,00


total
Custo
variável por 3,00
unidade
Preço médio 17,00
de venda
Margem de 14,00
contribuição
Ponto de 1.357
equilíbrio
Gravatas modelo Demonstração de resultados pro
tradicional forma
Unidades 0,00 679 1.357 2.036 2.714
vendidas
Receita 011.536 23.071 34.607 46.143
Custo fixo 19.000 19.000 19.000 19.000 19.000
Custo 0 2.036 6.107 6.107 8.143
variável
Custo total 19.000 21.036 23.071 25.107 27.143
Lucros/per- (19.000) (9.500) 9.500 9.500 19.000
das

Gravatas modelo tradicional


(LAUDON e LAUDON, 2007)
Análise do ponto de equilíbrio
50
Dólares (milhares)

40

30

20
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10

0
0,00 679 1.357 2.036 2.714
Unidades vendidas
Custo fixo Custo total Receita

Vamos ler um pouco sobre a Intuit e sobre o mercado de software


para pequenas empresas e consumidores finais.

263

ADM 1-2 2013-1.indb 263 11/04/2013 17:49:18


Microinformática

Atividade 3.3
Nesta atividade, sugiro a você a leitura do texto:

“Intuit: desafio e inovação em softwares para consumi-


dores e pequenas empresas”.
Extraído de (O´BRIEN, 2004) Adaptado de SOLOMON, Jolie.
The secrets of his success. FSB: Fortune Small Business, p. 35-
38, Oct. 2001.Time, Inc. 2001.Todos os di­reitos reservados.

Sott Cook tinha seus vinte e poucos anos quando ele e sua esposa,
Signe, chegaram ao Vale do Silício no ápice da explosão de software do
início dos anos 1980. Ouvindo Signe reclamar de fazer as contas da casa,
Cook teve o clássico momento de “eureka” de um empresário: por que
não criar um software para controlar as finanças domésticas? Mas Cook,
que era um consultor com MBA por Harvard, trabalhando na Procter &
Gamble – aquele era seu primeiro emprego –, tentou conseguir fundos,
colidiu com uma barreira semelhante àquela que os empresários das pon-
tocom encontram atualmente.
No final, a Intuit rompeu barreiras financeiras e psicológicas,
afastou-se de sua desaceleração e de sua bancarrota para se tornar uma
das maiores histórias de sucesso do final dos anos 1980 e 1990. Hoje, os
softwares da Intuit, produtos como o Quicken para finanças pessoais, o
QuickBooks para pequenas empresas de contabilidade e o TurboTax para
a preparação de declarações de imposto são, sem dúvida, os mais popula-
res em seus mercados.
A revista FSB (Fortune Small Business ) conversou com Cook, en-
tão com 49 anos e presidente do comitê da diretoria executiva.

Você foi o primeiro a perceber este mercado?


Não, já havia produtos desse tipo. Fomos quase a 25ª companhia a
elaborar software para finanças pessoais, com concorrentes como a Home
Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

Acco-unt, a Dollars & Sense e o Managing Your Money de Andrew Tobias. Eu


comprei o produto principal esperando descobrir que “Oh, eles já resolveram
problema”. Mas ele era tremendamente lento e difícil de usar. Todos eles eram
terríveis, mas vendiam bem. Que eu saiba, fomos a primeira companhia de
software que fez o teste do consumidor. A Procter & Gamble havia me ensi-
nado a cultura da inovação voltada ao cliente; aprender com os clientes e
dirigir o produto e a organização para conquistá-los. Mas se você retor-

264

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Sistemas Operacionais e Softwares Aplicativos – Unidade 3

nar aos softwares tal como eram em 1983, quando começamos,


você vai ver que, na maioria das vezes, eles eram produtos projetados
por engenheiros e vendidos para corporações. Estávamos elaborando um
produto de consumo. Por isso os controles necessários para vender a clientes
empresariais eram inúteis. Então, quando estávamos a meio caminho do Qui-
cken, recrutamos grupos de donas de casa para trabalhar conosco em nossos
laboratórios. Isso é comum hoje, mas provavelmente nós fizemos isso cinco
anos antes dos outros.

Então, você nunca conseguiu qualquer fundo de capital de risco


(VC)?
Não. Isso foi durante a enorme bolha dos softwares de 1982-1983.
Mesmo ideias verdadeiramente estúpidas, companhias realmente ruins
estavam recebendo dinheiro dos fundos de capital de risco. Tínhamos
nosso produto pronto para demonstração em 1984 e fomos em busca de
fundos. Mas naquela altura o mercado de software ruiu. O operador que
me atendia, Tom LaFevre, disse: “Vamos falar com algumas pessoas ri-
cas”. Eu disse: “Eu não conheço nenhuma pessoa rica”. Ele disse: “Bem,
eu conheço duas”. Elas investiram um total de US$ 151.000. Mas está-
vamos procurando US$ 3 milhões. Tivemos que recalcular nossos planos
umas 20 vezes. Não poderíamos gastar nada com marketing. Em vez de
nós mesmos vendermos o Quicken, começamos a vendê-lo por meio de
bancos, seguindo a sugestão de um amigo que conheci trabalhando em
consultoria, o presidente do banco Wells Fargo. Mas em maio de 1985,
estávamos quase sem dinheiro. Paramos de pagar salários, devolvemos
nossos computadores e móveis alugados; paramos de pagar contas, com
exceção de algumas, como as de telefone. Três pessoas nos deixaram;
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quatro de nós trabalhávamos sem receber nada. Meu casamento quase


ruiu. Minha tarefa era vender aos bancos e eu vinha falhando nisso du-
rante meses. Finalmente, em setembro, eu comecei a contratar um banco
por mês. Finalmente estávamos dando certo. Ultrapassamos todos nossos
concorrentes ao final de 1987. Foi tão rápido que quase não vimos o final
dos anos 1980 passar.

Como você lançou o QuickBooks?


Estávamos tão ocupados em atender aos pedidos do Quicken que nem
o notamos. Isso é uma história sobre o que torna os empreendimentos

265

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Microinformática

tão maravilhosos. Tudo aconteceu por acidente. Tínhamos feito


o Quicken para ser um produto utilizado pelo consumidor em sua casa.
Quando fizemos uma pesquisa com nossos clientes, a metade deles – 48% –
declarou ser uma pequena empresa. Eu ignorei isso; pensei: “Deve haver um
engano”. Então, fizemos a mesma pesquisa um ano e meio mais tarde: 49%.
Ignorei-a. Apenas bem mais tarde entendemos aquilo.

Como puderam não perceber?


Pensávamos, por que eles não estão comprando software de conta-
bilidade? Em resumo, a resposta era que a grande maioria de pequenas
empresas não possui um contador em seu pessoal. Não distinguem débito
de crédito; acreditam que o livro-razão foi um herói da Segunda Guerra
Mundial. Além disso, ninguém havia feito um produto de contabilidade
projetado apenas para eles. É o poder do paradigma. Ele faz com que
você torça e interprete mal os fatos, vendo apenas o que você quer ver.

Qual é o perigo maior para a Intuit agora?


Os lucros operacionais (no ano que termina em 31 de julho de 2001)
foram 42% maiores, as receitas subiram 15%. A Intuit sentiu alguma pressão
da recessão econômica, mas nem tanto quanto as outras companhias. Quase
a metade de nossa receita vem de atividades relacionadas a impostos. Você
já ouviu falar que “apenas a morte e os impostos são certos”, e a certeza dos
impostos acarreta um grande e crescente negócio para a Intuit — um negó-
cio com volatilidade relativamente baixa. Nosso maior risco seria a falta de
inovações. Nosso maior negócio está fornecendo soluções para pessoas de
pequenas em¬presas. Estas necessitam muito delas. A maior tragédia seria,
de alguma maneira, deixar de inovar.

3.3.4  Softwares para Web


Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

Como veremos na Unidade 5, a Internet com a Web se tornou um


ambiente não só de entretenimento, mas de negócios. As empresas, nos
últimos anos, migraram suas aplicações empresariais, que antes rodavam
em Intranets ou em Mainframes, para o ambiente Web. Para isto, é preciso
usar tecnologias que atendam às necessidades deste ambiente. Dentre es-
tas tecnologias, destaca-se o HTML (Hypertext Markup Language), que é
uma linguagem para marcação de hipertextos, como o próprio nome diz.
Os hipertextos são links (ligações) com outras páginas.
266

ADM 1-2 2013-1.indb 266 11/04/2013 17:49:18


Sistemas Operacionais e Softwares Aplicativos – Unidade 3

Outras tecnologias, além do HTML, são usadas em softwares para


Web e na integração em aplicações empresariais. No passado, as empresas
desenvolviam suas próprias aplicações. Isso trouxe à tona um cenário com
diversas aplicações diferentes, que, muitas vezes, tinham grande dificuldade
para “conversar” entre si. Para resolver problemas deste tipo (existiam outros,
como por exemplo portar aplicações de Mainframe para um cenário domina-
do por PCs), surgiram tecnologias como o EDI (Eletronic Data Interchange).
EDI significa troca eletrônica de dados sobre uma rede de computadores. No
mundo real e comercial, EDI significa a troca de informações entre processos
de negócios de empresas distintas. Trata-se de uma técnica para, por exemplo,
trocar informações sobre encomendas entre uma empresa de vendas e uma
empresa de logística. É a comunicação eletrônica entre processos.
Outro exemplo é a Rede Nacional de Dados (RND2), que permite
a comunicação entre empresas parceiras na cadeia automotiva, trocando
informações. Existem diversas aplicações que podem ser realizadas por
meio desta rede e seus integrantes.
A ideia do EDI é trocar a comunicação entre empresas parceiras que,
comumente, seria realizada via fax, ofícios, ou outros documentos em papel,
pela comunicação eletrônica. O EDI traz diversas vantagens, entre elas a
redução de custos operacionais e administrativos, a agilidade nos processos
externos, a melhoria no monitoramento desses processos, dentre outras.
Outra tecnologia é o EAI (Enterprise Application Integration). A in-
tegração de aplicações empresariais é um termo relativamente novo e sur-
ge com o conceito de unificar as aplicações de dentro e de fora da empresa
por meio de um conjunto de ferramentas e tecnologias.
Para exemplificar o uso de EAI, imagine o caso do sistema financeiro
de um banco. Imagine que o sistema de transações internas é desenvolvido em
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COBOL, uma linguagem um pouco antiga, mas muito poderosa para este tipo de
aplicações. Como este banco poderia prover que outras instituições realizassem
transações financeiras com ele? Por meio de um serviço, que poderia ser forneci-
do usando serviços web, por exemplo, este banco poderia prover o acesso a uma
interface em que outras financeiras pudessem se conectar e realizar transações.
Esta interface traduziria as informações externas em transações internas para os
sistemas da empresa, tradicionalmente escritos em COBOL.

2 Para conhecer as transações disponíveis nesta rede visite: www.anfavea.com.br/rnd.html

267

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Microinformática

Figura antes e depois do EDI

Mais recentemente, surgiu o SOA (Service Oriented Architecture).


A arquitetura orientada a serviços é a evolução da integração de sistemas.
Trata-se de um termo em alta no mercado corporativo. A proposta de SOA
é simples: conectar sistemas sem depender de softwares e interfaces pro-
prietários, ou seja, independentemente de plataforma. Isto é possível gra-
ças à XML (Extensible Markup Language) da qual falaremos um pouco
mais adiante.
A integração entre aplicações, com tecnologias proprietárias, de-
manda alto investimento, seja na tecnologia, seja em pessoal. É por isso
que falamos um pouco sobre EDI e EAI.
Como o mundo corporativo é cada vez mais dinâmico e integrar é
uma das palavras da vez, todo processo usando EAI ou EDI pode ser mui-
to caro e dispendioso.
Podemos pensar, então, em usar padrões abertos, ou seja, disponí-
Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

veis para qualquer um, a fim de otimizar essa integração. Geralmente, são
mais fáceis de aceitar, devido ao custo zero. Haja vista a própria internet e
a Web. É claro que existem mantenedores de padrões abertos para melho-
rar a divulgação e garantir ótimas especificações, como o consórcio W3C
(WWW Consortium), que é responsável pela evolução das especificações
do padrão HTML (Hypertext Markup Language), que permite a qualquer
browser acessar e visualizar documentos.

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Sistemas Operacionais e Softwares Aplicativos – Unidade 3

Um ponto importante a ressaltar é que a Programação Orientada a


Objetos (POO) influenciou no surgimento de SOA. Um conceito impor-
tante inserido pela POO foi o encapsulamento, em que os dados de um
objeto ficam “protegidos” e só podem ser acessados por métodos (interfa-
ces). Isto melhora e documenta o uso dos objetos por aplicações.

Métodos Variáveis
(comportamento) (estado)

Objeto

Encapsulamento de dados

Os diversos objetos podem conter informações, e estas só poderão


ser alteradas pelos métodos disponíveis. Os usuários do sistema conhecem
as interfaces, mas não necessariamente as variáveis do sistema.

andar 20 anos andar 35 anos andar 42 anos


1,68 m 1,75 m 1,80 m
58 Kg 58 Kg 78 Kg
falar pular falar pular falar pular
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Maria João José

Exemplos de objetos com dados (variáveis) e métodos (interfaces) bem definidos

Outra vantagem da POO é que a comunicação entre objetos do sis-


tema fica mais bem definida através da troca de mensagens via interfaces
dos objetos.
Infelizmente, embora o conceito fosse muito interessante, não se
conseguiu, na prática, obter a desejada interoperabilidade entre os objetos
de diferentes tecnologias. Por exemplo, objetos escritos em Java não con-
seguem “conversar” com objetos escritos em C#, Python etc.
269

ADM 1-2 2013-1.indb 269 11/04/2013 17:49:24


Microinformática

Qual o seu nome?


Mensagem

Maria José

Comunicação entre objetos

Algumas empresas tiveram iniciativas para tentar a integração entre


“plataformas de objetos” diferentes, como o OMG (Object Management
Group), que desenvolveu a especificação CORBA (Common Object
Request Broker) e a Microsoft com o DCOM (Distributed Component
Object Model), mas “a moda” não pegou por serem opções comerciais e
fechadas.
No entanto, com o advento do padrão XML, surgiu também o con-
ceito de softwares denominados Web Services (Serviços Web). Os padrões
de Serviços Web foram definidos pelo W3C por especificações de padrões
para interoperabilidade, todos baseados em XML, que são o SOAP (Sim-
ple Object Access Protocol) para troca de mensagens entre aplicações,
UDDI (Universal Description Discovery and Integration) como padrão
para localização e identificação de Serviços Web e o WSDL (Web Servi-
ces Description Language) para descrição dos Serviços Web.
Através do uso de Serviços Web, podemos pensar em interoperabi-
lidade e em padrões aberto. Cabe ressaltar que SOA é uma estratégia ou
metodologia, enquanto os Serviços Web são um padrão de desenvolvi-
mento de software.
Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

A XML(eXtended Markup Language), ou linguagem de


marcação estendida, é uma “metalinguagem” baseada em mar-
cadores com a função de descrever estruturas de dados, oferecendo
benefícios que não existem na linguagem HTML (Hipertext Markup
Language). O HTML, que também é uma linguagem de marcação,
tem propósito distinto do XML.

270

ADM 1-2 2013-1.indb 270 11/04/2013 17:49:26


Sistemas Operacionais e Softwares Aplicativos – Unidade 3

O HTML define um conjunto de tipos de elementos que se


preocupam em como as informações serão exibidas (aparência),
enquanto o XML não possui elementos pré-definidos, pois se trata de
uma metalinguagem e serve para definições de novas estruturas, de
acordo com o que deseja o programador. Veja o exemplo a seguir:

<html>

<head>

<title>Exemplo de documento HTML</title>

</head>

<? xml version ="1.0" encoding ="UTF-8"?>

<autor tipo ="Diversos">

<nome > Jose </nome>

<id> 409 </id>


EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

Exemplo de XML e HTML

3 www.w3.org/XML/

271

ADM 1-2 2013-1.indb 271 11/04/2013 17:49:33


Microinformática

Como você pode ver pela figura,


Conexão:
caso o HTML seja exibido num nave-
Saiba mais sobre XML em:
gador, ele irá formatar a saída, en- www.gta.ufrj.br/grad/00_1/miguel/
quanto que o XML não fará nada, www.apostilando.com/sessao.
a não ser tentar processar a saída. php?cod=9
www.codigofonte.com.br/artigos/xml
Para que a aplicação possa entender
www.webtutoriais.com/categorias.
o que o XML quer dizer, é preciso php?categoria=xml
um “Parser” ou interpretador, que www.dicas-l.com.br/dicas-
l/20050326.php
associa o XML a um DTD (Document
Type Definition) ou XML Esquema.
Não é nosso escopo entrar em detalhes so-
bre isso, mas você pode ler mais a respeito na especificação d o
XML.

3.4  Reflexão sobre a Unidade 3


Nesta unidade, vimos como o software de computador “dá vida” ao
hardware. Os programas que fazem com que o hardware possa trabalhar e
responder às necessidades humanas para as quais foram projetados. Pense
nos softwares e tente analisar quais deles envolvem você em seu dia a dia
em casa, na escola e no trabalho.

Leituras Recomendadas
Artigo: Sistemas operacionais
http://pt.wikipedia.org/wiki/Sistema_operativo
Artigo: Como funcionam os sistemas operacionais
http://informatica.hsw.uol.com.br/sistemas-operacionais.htm

Livro: Sistemas de Informações Gerenciais, de Kenneth Laudon e


Jane Laudon. Livro com conceitos de sistemas de informações de maneira
muito abrangente. Possui informações aliadas às decisões estratégicas nas
Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

empresas, funcionamento de softwares, segurança e ética, dentre outros.


Para mais informações, veja as Referências.

Vamos responder a algumas questões. Pense criticamente sobre


elas, discuta com seus colegas, tutor e professor. Faça pesquisas e ano-
te suas considerações. Vamos lá?

272

ADM 1-2 2013-1.indb 272 11/04/2013 17:49:33


Sistemas Operacionais e Softwares Aplicativos – Unidade 3

Questões dissertativas
Questão de Encerramento 3.1
Qual sistema operacional você conhece e/ou utiliza?

Questão de Encerramento 3.2


Qual sua opinião sobre os sistemas Windows, Linux e Mac OS? Al-
gum deles leva vantagem? Em quais quesitos?

Questão de Encerramento 3.3


Você prefere a interface gráfica (GUI) ou a linha de comandos?
Quais as diferentes habilidades que um usuário precisa ter para aprender a
EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

usar cada uma dessas interfaces?

273

ADM 1-2 2013-1.indb 273 11/04/2013 17:49:34


Microinformática

Complete as questões abaixo – Fonte: (O´BRIEN, 2004)


01. O software ____________________ direciona o desempenho de um
uso particular de computadores para atender às necessidades de informa-
ção dos usuários finais.

02. Um ____________________ de software é um conjunto de softwares


que combina a capacidade de realizar várias aplicações de finalidades ge-
rais (como processamento de textos, planilhas eletrônicas e gráficos) em
um programa.

03. Programas chamados ____________________________ gerenciam


os recursos de hardware, software e dados do sistema do computador du-
rante sua execução dos vários trabalhos de processamento de informações
dos usuários.

04. A Microsoft introduziu o(a) _________________________________


em 1995. Trata-se de um sistema operacional poderoso, multitarefa, mul-
tiusuário, que está sendo instalado em servidores de rede para gerenciar
redes de área local e em PCs com requisitos de alto desempenho de com-
putação.

05. Um sistema operacional contém programas de ____________________


que controlam a criação, a anulação e o acesso de arquivos de dados e
programas. Esses programas também acompanham a localização física de
arquivos em discos magnéticos e outros dispositivos de armazenamento
secundário.

Questões de múltipla escolha – Fonte: (O´BRIEN, 2004)


01. Qual das seguintes alternativas não seria considerada exemplo de um
programa de gerenciamento de sistemas?
Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

a) Software de sistemas operacionais


b) Programas de gerenciamento de redes
c) Sistemas de gerenciamento de bancos de dados
d) Programa de groupware

02. Qual das seguintes alternativas é geralmente considerada software de


aplicação?
a) Software de sistemas operacionais
274

ADM 1-2 2013-1.indb 274 11/04/2013 17:49:34


Sistemas Operacionais e Softwares Aplicativos – Unidade 3

b) Um pacote de gráficos
c) Programas utilitários do sistema
d) Programas de gerenciamento de arquivos

03. A função de gerenciamento de recursos de um sistema operacional


normalmente:
a) permite que usuários finais se comuniquem com ele de forma a poder
carregar programas, acessar arquivos e realizar outras tarefas.
b) gerencia os recursos de hardware de um sistema de computado-
res.
c) controla a criação, a anulação e o acesso de arquivos de dados e pro-
gramas.
d) gerencia a realização das tarefas de computação dos usuários finais.

04. Qual das seguintes alternativas se inclui na função de gerenciamento


de recursos de um sistema operacional?
a) Entrada/saída de dados
b) Monitoração de tarefas de usuários finais
c) Controle da criação e anulação de dados
d) Alocação de periféricos de entrada/saída

05. Qual das seguintes alternativas não é uma das principais categorias
de linguagens de programação?:
a) Linguagens de máquina
b) Sistemas operacionais
c) Linguagens assembler
d) Linguagens de alto nível
EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

06. O programa tradutor de linguagem de programação conhecido como


intérprete desempenha a seguinte função:
a) Traduz os códigos simbólicos de instrução de programas escritos em
uma linguagem assembler para instruções em linguagem de máquina.
b) Traduz instruções de linguagem em alto nível.
c) Traduz e executa uma instrução de programa de cada vez.
d) Nenhuma das alternativas acima.

275

ADM 1-2 2013-1.indb 275 11/04/2013 17:49:34


Microinformática

Verdadeiro ou falso – Fonte: (O´BRIEN, 2004)

01. O correio eletrônico é utilizado por usuários finais para se comunica-


rem uns com os outros enviando e recebendo mensagens eletrônicas via
Internet ou intranets e extranets de suas organizações.
( ) Verdadeiro ( ) Falso

02. O software de sistemas atua como uma interface vital de software en-
tre o hardware de sistemas de computadores e os programas de aplicação
dos usuários finais. Consiste em programas que gerenciam e apoiam um
sistema de computadores e suas atividades de processamento de informa-
ções.
( ) Verdadeiro ( ) Falso
03. MS-DOS, o OS/2 e o Sistema Mac OS X são exemplos de programas
conhecidos de aplicações empresariais para microcomputadores.
( ) Verdadeiro ( ) Falso

Referências
LAUDON, K. C.; LAUDON, J. P. Sistemas de Informação Geren-
ciais. São Paulo: Prentice Hall. 2007.

O´BRIEN, J. A. Sistemas de Informação e as decisões gerenciais na


era da Internet. São Paulo: Editora Saraiva. 2004.

Na próxima unidade
Você imagina que possam existir computadores isolados, trabalhan-
do sozinhos? É difícil pensar nisto hoje em dia. O termo “rede” se tornou
tão popular nos últimos vinte anos que superou todos os números da TV e
do telefone fixo.
Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

Na próxima unidade, nós falaremos sobre como funcionam as redes


que interconectam os computadores.
Vamos juntos?

276

ADM 1-2 2013-1.indb 276 11/04/2013 17:49:35


ADM 1-2 2013-1.indb 277 11/04/2013 17:49:46
Microinformática

Objetivos de sua aprendizagem


Vamos aprender os componentes básicos de uma rede de telecomu-
nicações. Também diferenciaremos os tipos de redes de telecomunica-
ções, destacando as suas principais características. Vamos compreender
como as redes se comunicam e trocam informações e quais são algumas
das principais aplicações que funcionam numa rede de computadores.

Você se lembra?
Você se lembra dos diferentes tipos de computadores? Caso não,
reveja nossa Unidade 2 e aproveite para revisar a unidade 3 também. Pre-
cisaremos entender que cada nó de uma rede será um recurso computacio-
nal diferente (pode ser um PC, um notebook, um mainframe etc.).
Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

278

ADM 1-2 2013-1.indb 278 11/04/2013 17:49:46


Infraestrutura de comunicação e redes de computadores – Unidade 4

4.1 Era uma vez computadores que trabalhavam “sozinhos”


Depois do surgimento dos microcomputadores nos anos 1970 e
depois que as empresas começaram a adotá-los para execução das mais
diversas tarefas, como geração de relatórios, uso de planilhas para con-
trole de despesas, dentre outras, surgiu a necessidade de melhorar a forma
como estes computadores trocavam dados. E, então, o conceito de interli-
gação ou rede de computadores passou a fazer muito sentido!
As empresas, no passado, usavam dois tipos de redes: redes telefô-
nicas e redes de computadores. Estas redes são (eram) fundamentalmente
diferentes. As redes telefônicas foram construídas ao longo do século XX
por grandes companhias no mundo todo. As redes de computadores foram
sendo construídas e interligadas por empresas que necessitavam interligar
seus computadores para trocas de informações.
Aos poucos, as duas redes foram se fundindo e, apesar de esta fusão
ainda não estar completa, hoje as redes de computadores e as redes de telefo-
nias interligam-se utilizando padrões da Internet para troca de informações.

Atividade 4.1
Antes de seguirmos, vamos fazer uma leitura sobre a importância da
infraestrutura de comunicações numa empresa.

Rede global do McDonald’s desativada rapidamente


(LAUDON e LAUDON, 2007)
Servir hambúrguer é um negócio grande! O McDonald’s, uma empre-
sa de US$ 15,4 bilhões, possui mais de 30.000 restaurantes em 121
países, servindo mais de 46 milhões de clientes por dia. Porém, a em-
presa possui uma série de problemas.
EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

Era primeiro lugar, as notas obtidas pelo McDonald’s na American Cus-


tomer Satisfaction Índex (ACSI) foram menores que as de Wendy’s, Burger
King, Pizza Hut e Kentucky Fried Chicken, seus maiores concorrentes. As
reclamações do cliente giraram em torno de serviço lento e um menu “velho
e cansado”. O McDonald’s deseja agilizar o serviço e desenvolver um menu
oferecendo opções mais “saudáveis”. Em segundo lugar, os dados que fo-
ram processados em lote no sistema de mainframe próprio do McDonald’s,
em sua sede, a cada noite, não ofereciam detalhe de que os executivos
precisavam, e era necessária uma semana inteira para serem analisados e
distribuídos aos gerentes.

279

ADM 1-2 2013-1.indb 279 11/04/2013 17:49:47


Microinformática

Embora o McDonald’s colete dados de vendas diários, os sis-


temas de relatório financeiro de uma década da empresa não foram
criados visando à inteligência de negócios em tempo real. Em terceiro
lugar, trabalhadores não preparados e a troca de funcionários exigiam trei-
namento de novos funcionários rapidamente e tornar o método de linha de
montagem da preparação de alimentos extremamente fácil de entender.
O McDonald´s planejou gastar US$ 1 bilhão por cinco anos para unir
todas as suas operações em uma rede digital de tempo-real, global,
baseada na Internet, chamada Innovate, o projeto de tecnologia de
informação mais dispendioso e extenso da história da empresa. A sede
queria criar um meio de controlar a qualidade fundamental que torna
uma cadeia de fast-food bem-sucedida: coerência. Portanto, os execu-
tivos precisavam saber o que estava acontecendo nas lojas.
O Innovate foi projetado para ser uma rede baseada na Web com computa-
dores e monitores conectados a cada equipamento de cada loja. As informa-
ções oferecidas instantaneamente teriam dado aos executivos a capacidade
de monitorar e possivelmente afetar, em tempo real, a capacidade da em-
presa de levar um produto coerente para os clientes o mais rápido possível.
O Innovate também teria dado aos executivos uma visão geral do sistema
inteiro a qualquer minuto do dia. O McDonald’s esperava que o Innovate
permitisse que seus executivos vissem, a qualquer momento do dia, como as
vendas de qualquer produto em qualquer loja estavam prosseguindo, onde
os estoques de reserva estavam localizados, em qualquer lugar entre suas
lojas e as fábricas de seus fornecedores, e gerenciar suas lojas de acordo.
O centro do Innovate teria sido um sistema de planejamento de recur-
sos empresariais Oracle, que substituiria o sistema de contabilidade
geral do antigo mainframe IBM da empresa e os sistemas de finanças,
gerenciamento da cadeia de fornecimento e recursos humanos da em-
presa. A rede teria ligado todos os restaurantes da empresa e todos os
seus mais de 300 fornecedores 24 horas por dia, sete dias por semana,
Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

ao sistema de back-office em sua sede.


O Innovate simplificaria o agendamento para os membros da equipe,
pois o sistema diria aos gerentes, por exemplo, exatamente quantos
clientes pedem Big Macs ou Mac Fishes entre rneio dia e 2 horas da
tarde todos os dias da semana. O Innovate também agilizaria a remes-
sa de dados de treinamento e benefícios aos funcionários pela Web.

280

ADM 1-2 2013-1.indb 280 11/04/2013 17:49:48


Infraestrutura de comunicação e redes de computadores – Unidade 4

O McDonald’s esperava usar o Innovate para facilitar


a vida para seus franqueados, gerando automaticamente regis-
tros de temperatura, históricos para os relatórios de segurança de
alimentos, exigidos pelo FDA (Food and Drug Administradon). Ele
também poderia alertar os proprietários no evento de uma transação
cancelada incomum no sistema de ponto de vendas da janela de drive-
-through (sugerindo que um membro da equipe poderia estar embol-
sando dinheiro em vez de colocá-lo na caixa registradora).
Depois de apenas dois anos, porém, o McDonald´s perdeu US$ 170
milhões quando a empresa descontinuou o Innovate. Embora a empre-
sa tivesse mostrado pouca ou nenhuma experiência em implementação
de sistemas de informação em grande escala quando o Innovate foi
iniciado, seus executivos acharam que poderiam remodelar completa-
mente toda a sua infraestrutura básica de tecnologia.
O MacDonald´s se sentiu vítima das armadilhas clássicas que acon-
tecem com corporações, tentando implementar e justificar projetos de
sistemas de informação desse tamanho pela primeira vez. A empresa
tinha uma falta de experiência nessa área, pois nunca esteve na ponta
da tecnologia. Além do mais, seus executivos não entendiam de tecno-
logia e a tornaram uma prioridade baixa para a empresa.

Atualmente, é praticamente impossível não pensar em redes de


computadores ao utilizarmos um computador. Um ambiente de trabalho,
com computadores isolados, sem comunicação em rede, atualmente, é
inconcebível. Além da possibilidade de troca de arquivos, é possível o
compartilhamento de periféricos como impressoras, o compartilhamento
EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

de recursos como a conexão com Internet, o compartilhamento de softwa-


re como o acesso a um servidor de aplicações.
A comunicação numa rede de computadores é possível graças aos
seguintes componentes (O´BRIEN, 2004):
• PCs e outros terminais (1): são os computadores conectados a uma
rede;
Cabe ressaltar que os dispositivos finais de comunicação (aqueles
que ficam nas pontas da rede) são chamados de terminais.
• Processadores de telecomunicações (2): dispositivos de hardware
que apoiam a transmissão e a recepção de dados entre os terminais de
computadores;
281

ADM 1-2 2013-1.indb 281 11/04/2013 17:49:48


Microinformática

Alguns exemplos são: modems, hubs, switches, comutadores e ro-


teadores;
• Canais e meios de telecomunicações (3): são os meios, ou mídias
pelas quais os dados trafegam, seja na transmissão ou recebimento;
Podemos considerar dois principais tipos de meios: meios a cabo ou
meios de difusão.
Adaptado de (O´BRIEN, 2004)

Processadores de 4
Telecomunicações
1
2 3 2 5
Software de
Telecomunicações

PCs e
Outros Canais e Meios de Computadores
Terminais Telecomunicações

Os componentes básicos de uma conexão entre computadores.

• Computadores (4): todos os tipos e categorias de computadores,


como mainframes, supercomputadores, computadores pessoais, note-
books, etc.

• Software de controle de telecomunicações (5): programas que


apoiam a comunicação ou a gerenciam. Sistemas operacionais para
redes, browsers etc.

4.2  Classificação das redes quanto ao alcance


Podemos classificar as redes de computadores quanto ao seu alcance
e quanto à sua topologia. Com relação ao alcance, temos desde as redes de
pequeno ao alcance até redes globais. Vamos a elas.
Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

Conexão:
• PAN (Personal Area Network): trata-se Recomendações 4.1
Leia mais sobre redes de
de uma rede com alcance restrito. Em computadores em:
geral, você pode conectar dispositivos http://pt.wikipedia.org/wiki/Rede_
numa PAN por meio de Bluetooth (tec- de_computadores
nologia de comunicação sem fio para dis-
positivos muito próximos uns dos outros),
por exemplo, ou por meio de infravermelho.
282

ADM 1-2 2013-1.indb 282 11/04/2013 17:49:49


Infraestrutura de comunicação e redes de computadores – Unidade 4

Adaptado de (CÔRTES, 2008)


PAN

InfraRed

Exemplo de Rede PAN usando infravermelho

• LAN (Local Area Network): uma LAN conecta computadores


próximos e, geralmente, internos a uma empresa. Um exemplo, na
figura a seguir, é a conexão de diversos subsistemas de uma empresa.
Um sistema de estoque, por exemplo, poderia solicitar ao setor de
compras a compra de mais materiais, pois o nível de estoque destes
chegou a um valor crítico. Um sistema de vendas poderia informar ao
financeiro para efetuar a cobrança de uma venda efetuada, à contabili-
dade para registros e à produção para iniciar a montagem do produto
em questão.

Adaptado de (CÔRTES, 2008)


Compras
Estoque

hub ou
switch
EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

Contabilidade

Financeiro

Vendas

Produção

Exemplo de uma LAN conectando áreas internas de uma empresa.

283

ADM 1-2 2013-1.indb 283 11/04/2013 17:49:50


ADM 1-2 2013-1.indb 284 11/04/2013 17:50:01
Infraestrutura de comunicação e redes de computadores – Unidade 4

Adaptado de (CÔRTES, 2008)


Manaus Belém

Recife

Salvador
Brasília

Belo Horizonte

Londrina Rio de Janeiro


São Paulo
Curitiba

Exemplo de abrangência de uma rede WAN

Atividade 4.2
Faça uma pesquisa e apresente exemplos dos tipos de redes vistas.
Por exemplo, podemos dizer que um banco X possui uma rede metropoli-
tana, pois suas operações se estendem a mais de uma cidade. Apresente os
exemplos com as devidas considerações e fontes das pesquisas.
___________________________________________________________________________________
EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

___________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________

285

ADM 1-2 2013-1.indb 285 11/04/2013 17:50:04


Microinformática

4.3  Classificação das redes quanto à topologia


A camada física de uma rede chama-se topo-
logia, ou seja, é a forma como os computadores Conexão:
estão realmente (e fisicamente) conectados. Recomendações 4.2
Existem três tipos comuns de topologias e Leia o artigo sobre rede metro-
politana de alta velocidade em:
podemos classificar as redes quanto a estes
http://www.rnp.br/newsgen/9911/
tipos. Numa topologia de rede, cada compo- rmav.html
nente é chamado de nó. Um nó, geralmente,
é um computador da rede. As topologias co-
muns são:

Rede em anel: todos os nós são unidos por uma cadeia circular.
Todos os dados percorrem um único sentido em torno do anel. Todos os
dados são examinados por cada nó para verificar se a ele pertence esta
transmissão. Caso não pertença, é repassada ao próximo nó. Se um nó
falha, o anel se rompe e a rede cai.
Adaptado de (CÔRTES, 2008)
Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

Rede em barramento: existe uma linha única (BUS) em que todos


os nós da rede estão conectados. Os nós tentam enviar informações e,
caso exista colisão entre eles, simplesmente tentam de novo. Todos os nós
“escutam” a rede e verificam se a informação a eles pertence. Em caso
afirmativo, fazem uma cópia dela. É possível adicionar e remover nós sem
prejudicar o barramento.

286

ADM 1-2 2013-1.indb 286 11/04/2013 17:50:05


Infraestrutura de comunicação e redes de computadores – Unidade 4

Adaptado de (CÔRTES, 2008)


• Rede em estrela: existe um centralizador responsável por gerenciar a
rede. Este centralizador é chamado, por vezes, de Hub. O Hub trata as
requisições e evita as colisões. É possível adicionar novos nós e remo-
ver nós da rede sem prejuízo a esta. Basta que o Hub (para adicionar)
tenha slots de conexão disponíveis. Cabe aqui uma ressalva impor-
tante sobre o Hub. Embora o nome Hub seja o adequado, a tecnologia
dos dispositivos Hub vendidos no mercado nem sempre funciona da
forma como deveria. Em geral, você encontra-
rá Hubs que farão sua rede funcionar como
Conexão:
uma topologia em barramento, ou seja, o Recomendações 4.3
Hub apenas interliga os computadores, Leia mais sobre estas diferen-
mas não faz a “arbitragem” que deve- ças em:
http://www.infowester.com/hubswi-
ria. Este tipo de problema é resolvido tchrouter.php
com a compra de um Switch. Este dis- http://www.abusar.org.br/
positivo é, sim, um Hub “completo” que hub_e_switch.html
faz o papel de centralizador e “árbitro” da
rede.

Topografia em estrela
Adaptado de (CÔRTES, 2008)
EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

HUB

287

ADM 1-2 2013-1.indb 287 11/04/2013 17:50:08


Microinformática

Atividade 4.3
Faça uma pesquisa e apresente exemplos das topologias de redes
vistas. Qual topologia se aplica à sua empresa ou ao seu local de trabalho?
Por quê?
___________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________

4.4  Transmissão física de dados e o hardware para


redes de computadores
Para que os computadores possam, efetivamente, comunicar-se,
é preciso que um produza sinais elétri-
cos que o outro (ou outros) possa A
compreender. Assim, o funcio- transmissão de
namento das redes necessita, sinais digitais envia dados
como pulsos distintos (ou ligados
inicialmente, da troca de ou desligados) de uma maneira parecida
dados entre computadores como a forma de os dados trafegarem no
através de algum meio computador. No entanto, as redes de telefonia
operam com sinais analógicos e, como boa
físico. A comunicação parte da infraestrutura da Internet se relaciona
entre duas máquinas pode com estas redes, muitas vezes a conexão
ser feita usando-se sinais precisa passar de um tipo de sinal para
Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

analógicos ou sinais digitais. outro.

Como há a interligação en-


tre redes de telefonia e redes de
computadores, talvez haja a necessi-
dade de conversão destes sinais. Por quê?

288

ADM 1-2 2013-1.indb 288 11/04/2013 17:50:08


Infraestrutura de comunicação e redes de computadores – Unidade 4

Digital signal

Analog signal

Para que um sinal digital possa ser enviado por uma linha telefônica
(analógica), por exemplo, é preciso que este sinal seja convertido na for-
ma analógica. Nesta conversão, podem ser alteradas a amplitude (altura
da onda) ou a frequência (número de repetições num intervalo de tempo)
do sinal. A conversão dos sinais digitais em analógicos chama-se modu-
lação, e o processo inverso chama-se demodulação. Para realizar a (de)
modulação, é necessário um dispositivo chamado modem.
No mundo da Internet, a função do modem não é apenas conversão
de sinais. Ele conecta você à rede mundial de computadores. O problema
dos primeiros dispositivos para este tipo de conexão foi, sem dúvida, a
necessidade da transmissão de volumes maiores de dados num tempo me-
nor. Os modems convencionais mais modernos chegavam a uma taxa de
56.000 bps (bits por segundo).
Sinal Sinal Sinal
Adaptado de (CAPRON e JOHNSON, 2004)

digital analógico digital

Modem Modem
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Computador Terminal

A conexão através de um modem.

No entanto, os modems convencionais foram (no Brasil ainda estão


sendo) substituídos por outras tecnologias. O serviço de linha digital de
assinante (DSL) usa técnicas eletrônicas avançadas para transmitir sinais
eletrônicos convertidos em analógicos usando a mesma infraestrutura
de redes analógicas, mas com velocidade de transmissão muito maior.

289

ADM 1-2 2013-1.indb 289 11/04/2013 17:50:14


Microinformática

Em geral, este tipo de tecnologia permite compartilhar a linha telefônica


(ou seja, você pode usar seu telefone ao mesmo tempo em que está usando
a linha para navegar na Internet).
Outra tecnologia para conexão são os Modems a cabo, que são
muito rápidos e usam cabos coaxiais de televisão já instalados sem inter-
romper a recepção normal da TV. Além disso, temos também Modems
celulares, que usam as tecnologias de telefones celulares para transmissão
de dados. Os sistemas celulares digitais de terceira geração (3G) apre-
sentam velocidades bem superiores e “aceitáveis” para a navegação na
Internet.

O envio de dados a um destino funcionará se o dispositivo que irá


receber tais dados estiver preparado para isto. O “sincronismo” entre o
dispositivo que envia e o que recebe dados permite dois tipos de transmis-
são:

• transmissão síncrona: neste caso, os dois nós de transmissão se comu-


nicam e sincronizam suas ações. Assim, os dados que serão transmiti-
dos ou recebidos são sincronizados num fluxo contínuo;
• transmissão assíncrona: neste tipo de transmissão, bits especiais são
inseridos no início e no fim de cada conjunto de bits transmitido. Isto
permite ao receptor “compreender” o que foi transmitido.

Dependendo da direção do fluxo de tráfego permitido, temos ainda


as seguintes configurações:

• transmissão simplex: envia dados numa única direção apenas. Ex.:


televisão, painéis de aeroportos (com chegadas e partidas) etc.
• transmissão half duplex: permite transmissões em qualquer direção,
mas apenas um sentido por vez. Ex.: conversa por rádio;
Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

• transmissão full duplex: a transmissão pode ser feita em ambos os


sentidos simultaneamente. Ex.: conversa telefônica.

O meio de transmissão determina como o sinal é fisicamente envia-


do de um dispositivo para outro. As formas possíveis de transmissão são
(CAPRON e JOHNSON, 2004):

290

ADM 1-2 2013-1.indb 290 11/04/2013 17:50:14


Infraestrutura de comunicação e redes de computadores – Unidade 4

• pares de fios: também são conhecidos como pares trançados. São dois
fios trançados um ao redor do outro para reduzir a interferência elé-
trica. São estas as vantagens: são relativamente baratos e, em muitos
casos, já estão instalados (para sistemas telefônicos). No entanto, es-
tão suscetíveis a interferências elétricas e a ruídos (qualquer coisa que
provoque distorção do sinal);
• cabos coaxiais: neste tipo de cabo, um fio condutor central é envol-
to por uma camada isolante e de blindagem metálica. É comumente
usado para conectar a TV a cabo, possuindo maior largura de banda e
sendo menos suscetível a ruído do que os pares trançados;
• fibra óptica: esta tecnologia usa a luz em vez de eletricidade para en-
viar dados. A largura de banda é muito maior do que a dos cabos co-
axiais, além disto é imune a interferências elétricas. Os materiais, em
geral, são mais baratos do que os cabos coaxiais, no entanto o custo
de instalação é mais elevado;
Baran Ivo / Wikimedia
Latentlight / Dreamstime.com

Coaxial Par trançado Fibra óptica


Tipos de cabos usados em conexão de redes
EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

• transmissão por micro-ondas: esta transmissão usa sinais que possam


ser “enxergados” pelo emissor e pelo receptor na atmosfera. As mi-
cro-ondas do emissor precisam “ver” o receptor. Isto requer estações
repetidoras aproximadamente a cada 48 quilômetros. Isto ocorre por-
que as ondas seguem uma linha reta, mas a Terra é curva. Oferecem
alta velocidade e eficiência quanto ao custo, no entanto é suscetível às
condições climáticas;

291

ADM 1-2 2013-1.indb 291 11/04/2013 17:50:20


Estação Estação
Emissora Emissora
de Micro-ondas de Micro-ondas
Estação Estação
Emissora Emissora
de Micro-ondas de Micro-ondas

ADM 1-2 2013-1.indb 292 11/04/2013 17:50:27


Infraestrutura de comunicação e redes de computadores – Unidade 4

• transmissão sem fio: é um formato para transmissão de dados em


curtas distâncias (sem fio). Exemplos possíveis para transmissão são:
IrDA – que utiliza infravermelho; o bluetooth – que usa ondas de rá-
dio para conexão de dispositivos móveis; e os padrões 802.11 – que
regem a transmissão sem fio.

Como exemplo, vamos usar a seguinte situação descrita em (CA-


PRON e JOHNSON, 2004) e que está relacionada à figura a seguir.

Imagine um contador com um escritório em Sacramento necessite


de informações de imposto de renda dos arquivos do computador da ma-
triz que fica em Savannah. Uma rota possível para o pedido do usuário e
da resposta seria:
1. O Contador solicita os dados,
2. A solicitação percorre o sistema telefônico local até
3. Uma estação de microondas vizinha que transmite o pedido
para
4. Uma estação terrestre de transmissão por satélite mais próxi-
ma
5. Onde ele é retransmitido a um satélite no espaço que o re-
transmite à Terra
6. Para uma estação terrestre de comunicação próxima a Savan-
nah
7. Este sinal será enviado a uma estação de microondas
8. Depois, através de linhas telefônicas
9. O computador da matriz recebe e processa o pedido.
EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

O computador faz o processamento da re-


quisição, solicitando as informações ao disco
Conexão:
(ou base de dados, se for o caso) e devolve Recomendações 4.4
a resposta num caminho inverso. Veja mais sobre os padrões 802.11
em:
http://pt.wikipedia.org/wiki/IEEE_802.11
http://www.ieee802.org/11/
Para a conexão das LANs, MANs,
WANs, podemos usar os diversos
tipos de meios combinando-os
para cada necessidade
específica.

293

ADM 1-2 2013-1.indb 293 11/04/2013 17:50:28


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Infraestrutura de comunicação e redes de computadores – Unidade 4

Protocolos de redes Este


acordo define, entre
Um protocolo de redes
outras coisas, como será o
é um conjunto de normas padrão dos bits ou do sinal analógico
para intercâmbio de dados que será lido e escrito nos transmissores
entre um dispositivo de e receptores (cabos, satélites etc).
rede e um computador ou
entre dois computadores.
Trata-se de um acordo so-
bre como se devem enviar
dados e como o recebimento
deve ser confirmado.

Isto é necessário para que com-


putadores de diferentes fornecedores se comuniquem. O exemplo mais
“famoso” atualmente é o Transmission Control Protocol/Internet Protocol
(TCP/IP), que permite a qualquer computador comunicar-se com a Inter-
net.
Outro exemplo de protocolo é o Ethernet. Trata-se de um protocolo
predominante nas topologias de barramento ou em estrela. No Ethernet,
um nó “ouve” a rede para se certificar de que ela esteja disponível. Se
dois computadores transmitirem ao mesmo tempo, ocorrerá colisão. No
entanto, é um protocolo que prevê e trata colisão, assim cada computador
aguarda certa quantidade aleatória de tempo e retransmite.
Mais um exemplo de protocolo, padrão nas redes com topologia em
anel, é o Token Ring. Ele usa uma ficha, ou token (sinal elétrico), que con-
trola qual nó pode enviar mensagens num determinado instante. A ficha
percorre os nós e, para que um computador possa enviar uma mensagem,
EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

ele aguarda a chegada de uma ficha vazia, anexa à mensagem, e a trans-


mite.

Atividade 4.4
Você consegue dizer qual é o protocolo de rede para comunicação
na Internet? É possível definir apenas um protocolo?
___________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________

295

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Microinformática

4.5  Software e redes


A tecnologia de redes de computadores pode ser usada para diversas
aplicações com diversos fins. Vamos a algumas delas (CAPRON e JOHN-
SON, 2004):

Correio eletrônico (e-mail): envia mensagens de um computador


para outro. As mensagens são armazenadas até que o destinatário“abra”
a correspondência. Este serviço não interrompe a atividade de uma pes-
soa, como ocorre com uma ligação telefônica, e não exige que ambos os
participantes estejam presentes no momento da transmissão.

Tecnologia de fac-símile (fax): usa tecnologia de computador e


links de comunicações para enviar documentos praticamente para qual-
quer lugar do mundo. Pode enviar desenhos, gráficos e texto. O docu-
mento é colocado no aparelho de fax e digitalizado. Um modem embutido
converte sinais digitais em analógicos e os transmite. O aparelho de fax
recebedor recompõe o documento e o imprime. O fax modem executa as
mesmas funções no PC.

Groupware: software que possibilita a grupos de pessoas trabalhar


em arquivos ou projetos de forma conjunta. Os dados são armazenados
em bancos de dados em disco. Linhas de comunicação são necessárias
para que empregados distantes possam trabalhar juntos.

Teleconferência: reúne pessoas e ideias. Videoconferência usa câ-


meras de vídeo, telas, computadores e comunicações para possibilitar a
grupos distantes de pessoas realizar reuniões. Muito menos dispendiosa
do que viagens.

Intercâmbio eletrônico de dados: possibilita que as empresas


Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

transmitam eletronicamente documentos comerciais padrão. Faturas e


ordens de compra são exemplos de documentos comerciais padrão. Usa
XML como padrão para definir dados. Elimina a necessidade de preen-
cher formulários de papel em um dos lados e digitá-los em um computa-
dor do outro lado. Reduz a papelada e os custos com pessoal.

296

ADM 1-2 2013-1.indb 296 11/04/2013 17:50:36


Infraestrutura de comunicação e redes de computadores – Unidade 4

Transferência eletrônica de fundos: possibilita que as pessoas


paguem bens e serviços realizando transferências de fundos entre várias
contas. O caixa eletrônico automático é um exemplo de EFT. Depósito
direto de contracheques, cheques de benefícios do governo etc. são uma
aplicação de alto volume da EFT.

Telecommuting: troca de informações e computadores por viagens


de trabalho.
As pessoas podem ligar-se diretamente às redes da sua companhia
ou baixar (download) o trabalho e transferi-lo depois de concluído. A
maioria dos telecommuters trabalha no escritório pelo menos dois dias
por semana.

Internet: uma rede global de centenas de milhares de computa-


dores. Amplamente considerada a tecnologia que define o início deste
século.

Atividade 4.5
Você consegue apresentar mais algum exemplo de aplicação sobre
uma rede de computadores?
___________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

4.6  Reflexão sobre a Unidade 4


Nesta unidade, vimos como a infraestrutura de conexão de redes de
computadores pode transmitir informações entre vários tipos diferentes de
dispositivos. Por meio desta infraestrutura, nós mantemos vários serviços
importantes, e não apenas a nossa navegação na Web.
Pense e pesquise como seria o mundo sem esta infraestrutura hoje.
E se ela falhar? São bancos, companhias de energia, órgãos do governo,
todos conectados numa grande, muito grande, infraestrutura de comunica-
ção.

297

ADM 1-2 2013-1.indb 297 11/04/2013 17:50:37


Microinformática

Leituras Recomendadas
Livro técnico: Redes de computadores, de Gabriel Torres. Para
aqueles que quiserem mais detalhes técnicos de funcionamento das redes
de computadores, este é um livro interessante. Veja abaixo indicações no
site do próprio autor (Clube do Hardware):
http://www.clubedohardware.com.br/pagina/livro19

Livro: Sistemas de informação e as decisões gerenciais na era


da Internet, de O´Brien. Livro também abrangente, com diversos temas
relacionados à TI. Para mais informações, veja as Referências.

Para encerrar nossa unidade 4, temos um conjunto de questões suge-


ridas para reflexão.

Questão de Encerramento 4.6.1


Descreva as características principais das redes de comunicação.

Questão de Encerramento 4.6.2


Quais são os diferentes meios de transmissão numa rede?
Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

298

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Infraestrutura de comunicação e redes de computadores – Unidade 4

Questão de Encerramento 4.6.3


Faça uma pesquisa sobre o padrão 801.11. Apresente algumas si-
tuações em que você usa redes sem fio (ou que você conheça) que estão
descritas por este padrão.

Questão de Encerramento 4.6.4


O que é a tecnologia VoIP ? Faça uma pesquisa para responder a
esta pergunta.

Referências
EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

CAPRON, H. L.; JOHNSON, J. A. Introdução à Informática. São


Paulo: Pearson Prentice Hall. 2004.

CÔRTES, P. L. Administração de sistemas de informação. São Pau-


lo: Saraiva. 2008.

LAUDON, K. C. e LAUDON, J. P. Sistemas de informação geren-


ciais. São Paulo: Prentice Hall. 2007.

299

ADM 1-2 2013-1.indb 299 11/04/2013 17:50:37


Microinformática

O´BRIEN, J. A. Sistemas de Informação e as decisões gerenciais na


era da Internet. São Paulo: Editora Saraiva. 2004.

Na próxima unidade
Na próxima unidade, nós falaremos sobre a Internet, que virou si-
nônimo de rede mundial de computadores. Veremos o que é a Internet e
como ela surgiu e o que é a Web, o recurso que popularizou a Internet!
Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

300

ADM 1-2 2013-1.indb 300 11/04/2013 17:50:37


ADM 1-2 2013-1.indb 301 11/04/2013 17:50:50
Microinformática

Você se lembra?
Na unidade anterior, nós falamos sobre a infraestrutura de redes. Então,
você se lembra o que é um protocolo? Qual o protocolo da Internet?

Quando foi a primeira vez que você usou a Internet e para qual fim?
Hoje você a usa para quê?

Pense nestas perguntas.


Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

302

ADM 1-2 2013-1.indb 302 11/04/2013 17:50:50


Internet e aplicações – Unidade 5

5.1  O que é a Internet? Conexão:


Na década de 1960, a Defense Advan- Recomendações 5.1
ced Projects Research Agency (DARPA) Assista aos vídeos sobre a
patrocinou um projeto para desenvolver história da Internet em:
http://videolog.uol.com.br/video.
uma tecnologia de rede que permitisse que php?id=142573
pesquisadores, em várias localizações no http://www.youtube.com/watch?
país, pudessem compartilhar informações. v=9hIQjrMHTv4&feature=pl
ayer_embedded
Esta tecnologia também deveria ser resistente
a falhas. O resultado deste projeto foi a ARPA-
NET, lançada em setembro de 1969. A ARPANET conectava computado-
res em quatro localizações:
• UCLA;
• Stanford Research Institute;
• UC Santa Barbara;
• Universidade de Utah.

Nos anos que se seguiram, a quantidade de computadores conecta-


dos cresceu de maneira bem rápida. Em 1972, foi introduzida a ferramenta
de e-mail que se tornou a maior aplicação da rede. Em 1973, a ARPANET
conectou à University College of London no Reino Unido e com o Royal
Radar Establishment na Noruega, tornando-se internacional. Em 1986, a
NSFnet (a grande rede da National Science Foundation) foi conectada à
ARPANET, e o resultado passou a ser conhecido como Internet. Com o
tempo, diversas outras companhias se conectaram à Internet. (CAPRON e
JOHNSON, 2004)
Na arquitetura de funcionamento da Internet, os Backbones (cir-
cuito de transmissão de alta velocidade análogo ao sistema de rodovias
EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

estaduais) principais conectam-se a redes regionais. Estas redes regionais,


por sua vez, dão acesso a provedores de serviços, grandes empresas e ins-
tituições públicas. Os pontos de acesso à Internet (NAPs – Network Acess
Point) e as Trocas de Internet Metropolitana (MAE – Metropolitan Area
Exchanges) são grandes Hub, em que o backbone intercepta redes regio-
nais e locais e em que os proprietários dos backbones se conectam uns aos
outros. (LAUDON e LAUDON, 2007)

As pessoas se conectam à Internet de duas maneiras:

303

ADM 1-2 2013-1.indb 303 11/04/2013 17:50:51


ADM 1-2 2013-1.indb 304 11/04/2013 17:50:56
Internet e aplicações – Unidade 5

No Linux
Abra uma janela de terminal e digite nslookup.
Após isso, basta digitar o nome do domínio cujo IP deseja descobrir.
EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

Quando um usuário envia uma mensagem a outro usuário da Internet,


a mensagem é decomposta em vários pacotes por meio do TCP. Cada paco-
te contém seu endereço de destino. Os pacotes são enviados a um servidor
de rede, que encaminha para quantos servidores forem necessários até que
todos os pacotes cheguem ao destino e a mensagem seja remontada.

305

ADM 1-2 2013-1.indb 305 11/04/2013 17:50:58


Servidores
Como vai você? Como vai você?
A B C A B C
Z
C

A B C A
C B
C A B C

A B C Y
C A B C

X
C
C
Gateway Gateway

Bem, obrigado! Bem, obrigado!


X Y Z X Y Z

ADM 1-2 2013-1.indb 306 11/04/2013 17:51:05


ADM 1-2 2013-1.indb 307 11/04/2013 17:51:13
Microinformática

Internet, intranets e extranets


A intranet de uma empresa é uma rede privada que utiliza a mesma
tecnologia da Internet (ou tecnologia semelhante) para conectar computa-
dores, recursos e aplicações de uma rede, tornando-os disponíveis somen-
te ao seu público interno.
Uma intranet deve ser protegida por medidas de segurança como
firewalls, mecanismos para autenticação e controle de acesso, per-
mitindo apenas que usuários autorizados possam fazer uso dos recursos
disponíveis.
As principais diferenças entre a Internet e a intranet são relaciona-
das ao conteúdo (que é restrito na intranet e liberado na Internet).

As empresas podem usar intranets para diversos fins, como:


• ensino eletrônico;
• repositório de dados;
• TV corporativa;
• comunicação instantânea (por texto ou voz);
• divulgação de notícias;
• gerenciamento de projetos;
• conectar aplicativos;
• etc.

Já a extranet pode ser considerada como um ponto de conexão


externo a uma intranet, ou seja, um ponto onde a intranet fica passível de
acesso ao público externo (como clientes, fornecedores, parceiros comer-
ciais etc.). O acesso da extranet também deve ser controlado. Afinal, se
não fosse assim e o acesso fosse público, estaríamos falando da Internet!
As extranets fornecem recursos até parecidos com os das intranets,
como troca de informações, ensino eletrônico, trans-
missão de dados, comunicação instantânea, den-
Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

Conexão:
tre outros. Recomendações 5.2
Quando uma empresa conecta sua in- Veja um menu interativo da
tranet à intranet de outra empresa, podemos Discovery com vários detalhes
sobre a história da Internet.
dizer que há a formação de uma extranet
http://www.discoverybrasil.com/
(claro, se a conexão for com o fim de prover internet/interactivo.shtml
os recursos citados e, ainda, com a devida
proteção – se for pública, não faz sentido cha-
má-la de extranet).
308

ADM 1-2 2013-1.indb 308 11/04/2013 17:51:14


A C
Internet

Dados
Dados

B D

ADM 1-2 2013-1.indb 309 11/04/2013 17:51:18


Microinformática

5.2  E a Web (WWW) ?


A World Wide Web é o que podemos chamar de mais conhecido
serviço de Internet. É um padrão universalmente aceito para armazenar,
recuperar, formatar e apresentar informações usando uma arquitetura
cliente / servidor. Neste padrão, páginas Web são formatadas por meio do
hipertexto que possui links, vinculando documentos.
Para “navegarmos” na Web, precisamos de um browser (navega-
dor). O software faz as requisições de objetos usando a arquitetura cliente
/ servidor na Web.
Abaixo temos o browser Internet Explorer, usado para navegação na
Internet.
reprodução

Por enquanto, o Internet Explorer ainda é o mais usado no mundo.


globalstats.php?year=2010&month=3
Adaptado de: http://www.w3counter.com/

Web Browser Market Share

Internet Explorer 47,9%

Firefox 32,3%

Chrome 7,4%
Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

Safari 5,5%

Opera 2,1%

Browsers mais usados no mundo. Pesquisa em março de 2010.

310

ADM 1-2 2013-1.indb 310 11/04/2013 17:51:20


Internet e aplicações – Unidade 5

Ao digitarmos um endereço no navegador, o que acontece é o se-


guinte:

• O endereço é o URL de um objeto: http://www.faculdadescoc.com.br/


CorpoDocente.asp
• Esta URL define um endereço único de um site ou arquivo na Inter-
net.
• O servidor usa o DNS para traduzir o endereço do computador host
na Internet.
• Feito isso, ele usa o protocolo apropriado para solicitar ao servidor o
objeto desejado pelo usuário.

http
{ : // 1
www .faculdadescoc
4444 4244444 .com.3
br / CorpoDocente.asp
144 42444 3
protocolo Endereço do Computador Host Caminho, direetório,
( domínio ) nome do arquivo

As páginas Web são baseadas numa linguagem-padrão chamada


Linguagem de Marcação de Hipertex-
tos (hypertext markup language A
história da WWW
– HTML). Esta linguagem é possui um marco importante
interpretada pelo navegador, em 1990, quando TIM Berners-Lee
apresentou seu trabalho ao mundo. O Dr.
que exibirá os resultados na Berners-Lee, físico do laboratório de física de
tela de seu computador. partículas em Genebra pertencente ao CERN,
acreditava que o conjunto de links que se interco-
O protocolo acima nectavam e levavam a documentos era visto como
especificado é o HTTP uma teia, daí o nome Web.
(protocolo de transferência
de hipertexto – hypertext
EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

transfer protocol), que é um


padrão de comunicações usado
para transferência de páginas Web.

Então, aquele endereço que você digitou acima (no nosso exemplo)
foi enviado como uma requisição do seu navegador, usando o protocolo
HTTP, ao servidor faculdadescoc.com.br solicitando a página dos docen-
tes da faculdade (CorpoDocente.asp).

311

ADM 1-2 2013-1.indb 311 11/04/2013 17:51:38


Microinformática

Você poderia perguntar: “Não deveria ser uma página .html?”.


A resposta é sim, deveria. No entanto, temos nesse caso um servidor
intermediário de aplicações que recebe a requisição e a converte numa
resposta usando HTML. Nesse caso, o servidor entende a estrutura ASP
(active server pages), que interpreta scripts (códigos executáveis) no lado
do servidor e devolve uma resposta em HTML.
Todo o endereçamento na Web é possível graças ao URL (Locali-
zador Uniforme de Recursos – Uniform Resource Locator)! Ao digitar o
URL num navegador, ele informa ao navegador onde procurar a informa-
ção!

Se você quiser testar como o HTML funciona, faça o seguinte:


1 – Abra um arquivo novo no notepad ou bloco de notas.
2 – Salve-o como teste.html (quando for salvá-lo abaixo da opção
para colocar o nome do arquivo tem uma chamada tipo, mude o tipo “para
todos os arquivos *.*”)
3 – Digite o código abaixo:
( se você não usar um editor específico como eu usei, não apare-
cerão os nomes das TAGs HTML destacados, mas não há problema, vai
funcionar da mesma forma!).
Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

É um exemplo de uso do HTML com formatação de textos.

312

ADM 1-2 2013-1.indb 312 11/04/2013 17:51:40


Internet e aplicações – Unidade 5

4 - Depois, salve, feche o arquivo e abra-o (com dois cliques ou ar-


rastando para seu browser).
Você verá o efeito abaixo:

Resultado do código anterior executado num browser.

Gostou?
Vamos fazer um novo exemplo para testar um formulário:
1 – Aproveitando o exemplo anterior, abra um arquivo novo no
notepad ou bloco de notas, salve-o como teste2.html e digite o conteúdo
abaixo:
EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

313

ADM 1-2 2013-1.indb 313 11/04/2013 17:51:42


Microinformática

2 – Salve-o e execute-o num browser. O resultado será:

É um exemplo de uso do HTML com formatação de textos.

Se você digitar os valores do formulário e clicar em enviar, nada


vai acontecer, pois você precisa colocar este formulário num servidor de
aplicações que recebe os dados vindos do usuário e os trata. O código que
trata as informações vindas do formulário está disponível em “para_onde_
vou_mandar_este_form.asp” como você especificou no código do próprio
formulário!
A forma como as pessoas usam a Web tem sido mudada nos últimos
anos. Tanto que já falamos em Web 2.0 (em alguns casos, já se fala até da
Web 3.0!).

5.3  Noções de e-business e e-commerce


Vamos iniciar este tópico de discussão com uma leitura.

Atividade 5.3
Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

Amazon.com – o rei do e-tailing


(TURBAN, JR. e POTTER, 2005)
O Empreendedor e pioneiro no e-tailing Jeff Bezos, vislumbrando
o imenso potencial para vendas de varejo pela Internet, selecionou
livros como o produto mais lógico para e-tailing. Em julho de 1995,
Bezos iniciou o Amazon.com, oferecendo livros por meio de um ca-
tálogo eletrônico a partir de seu Web site. Os principais recursos

314

ADM 1-2 2013-1.indb 314 11/04/2013 17:51:43


Internet e aplicações – Unidade 5

oferecidos pela superloja “Amazon.com” foram ampla sele-


ção, preços baixos, busca e pedido fácil, informações úteis sobre o
produto e personalização de produtos, sistemas de pagamento seguros
e atendimento eficiente do pedido. Logo cedo, reconhecendo a impor-
tância do atendi­mento do pedido, a Amazon.com investiu centenas (e
milhões de dólares na montagem de depósitos fí­sicos projetados para
remeter pequenos pacotes a centenas de milhares de clientes).
No decorrer dos anos desde sua fundação, a Amazon.com melhorou
continuamente seu modelo de negócios, melhorando a experiência do
cliente. Por exemplo, os clientes podem personalizar suas contas Ama-
zon e gerenciar pedidos on-line com o recurso de pedido “One-Click”
patenteado. Esse serviço personalizado inclui uma carteira eletrônica,
permitindo que os compradores façam um pedido de maneira segura,
sem a necessidade de entrar com seu endereço, número de cartão de
crédito, e assim por diante, toda vez que eles comprarem. O One-Click
também permite que os clientes vejam Status de pedido e façam mu-
danças nos pedidos que ainda não entraram no processo de envio.
Além disso, a Amazon acrescentou serviços e alianças para atrair
clientes a fazerem mais com­pras, Por exemplo, a empresa agora ofe-
rece bens especializados, como sua loja profissional e técnica. Ela
também está expandindo suas ofertas além de livros. Por exemplo, em
junho de 2002, ela se tornou revendedor autorizado da Sony Corpo.
para vender produtos Sony on-line. Hoje, você pode en­contrar quase
todo produto que vende bem na Internet, desde produtos de beleza até
produtos esportivos e carros.
A Amazon possui mais de 500.000 parceiros afi­liados que enviam
clientes para Amazon.com. A Amazon paga de 3% a 5% de comissão
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por qualquer venda resultante. Outra extensão de seus serviços, em


setembro de 2001 a Amazon assinou um acordo com a Borders Group
Inc., oferecendo aos usuários do Amazon a opção de apanhar livros,
CDs etc. nas li­vrarias físicas da Borders. A Amazon.com também está
se tornando um contratante pela Web para ca­deias nacionais como
Target e Circuit City.
Em janeiro de 2002, a Amazon.com declarou seu primeiro lucro – para
o quarto trimestre de 2001 – e isso veio acompanhando de um primeiro
trimestre lucrativo de 2002. Mesmo assim, seu su­cesso financeiro de
forma alguma estaria assegu­rado: a empresa sustentou perdas

315

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Microinformática

operacionais no segundo e terceiro trimestres de 2002,


embora elas fossem menores do que as perdas nos mesmos tri­
mestres dos anos anteriores. No quarto trimestre de 2002, a empresa
novamente obteve lucro; 2003 foi o primeiro ano com lucro em cada
trimes­tre. Como todas as empresas, e especialmente todas as empresas
de e-tailing, a Amazon.com continuará a caminhar pela tênue linha de
lucratividade pelo fu­turo previsível.

O e-commerce revolucionou a forma como as pessoas interagem


com a Web (e continua fazendo isso!). Muitas empresas implementam três
modelos básicos de aplicações para e-commerce:
• Modelo B2C: neste modelo, as empresas vendem produtos a seus
consumidores através de portais que funcionam como lojas virtuais,
com catálogos de produtos, processamento de pedidos (com carrinhos
de compras!), sistemas para controle de pagamento com cartão de
crédito, boleto etc.

• Modelo B2B: neste modelo, temos a ligação direta entre empresas.


Através de Intranets e Extranets, as empresas trocam informações
sobre pedidos. Isto também é feito através de EDI (troca eletrônica de
dados – Eletronic Data Interchange), Serviços Web ou SOA (arquite-
tura orientada a serviços – Service Oriented Architecture).

• Modelo C2C: geralmente associado aos modelos de leilões on-line,


como MercadoLivre (www.mercadolivre.com.br), eBay (www.ebay.
com), dentre outros. Permite que os consumidores (e as empresas) pos-
sam comprar e vender num processo cujo controle é dos consumidores.
O portal, geralmente, oferece ferramentas para auxiliá-los neste processo.
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A figura a seguir exibe uma estrutura de e-commerce desenvolvida


pela Sun Microsystem e seus parceiros de negócio (O´BRIEN, 2004).
Esta organização lógica apresenta:
• A infraestrutura da rede de negócios (ou base do e-commerce) é base-
ada em Internet, intranets e extranets.
• Os clientes possuem um conjunto de serviços como o catálogo de pro-
dutos do comerciante, informações sobre a empresa, comunicações
(como notícias) etc.
316

ADM 1-2 2013-1.indb 316 11/04/2013 17:51:44


Internet e aplicações – Unidade 5

• Os clientes também devem possuir um conjunto de serviços seguros


para processamento de transações (como a efetivação da compra, o
processo de pagamento etc.).
• Para isso, um dos pontos importantes é a autenticação do cliente, ou seja,
o cliente precisa possuir credenciais que o identifiquem no sistema.

Adaptado de: (O´BRIEN, 2004)


Bancos de dados em
multimídia
Funcionários Remotos Servidor de
Funcionários Comunicações
internos
Impulso de Informações Groupware /
Mensagens
Navegação / Pesquisa
Administração de
Clientes Perfis / Uso e análise documentos
da rede
Produtividade na rede

Mensagens seguras
Propaganda Autenticação e no escritório
Servidor do comerciante
Catálogo
Informações Ferramentas de
Comunidade online Herança /
Extranet

criação /
Publicação Desenvolvimento Middleware Administração
de site
de aplicações de rede
Administração
de conteúdo
to nto
me
n me
a ga ros
tur Pa segu Data warehouse /
Fa Sistema de apoio à decisão

Banco de dados de
contas de clientes

Internet / EDI Cadeia de suprimentos e


Sistemas financeiros
Dispositivo
Parceiros Comerciais de Segurança
Internet (Firewall) Intranet

Um modelo completo de componentes para um sistema de comércio eletrônico

• Os parceiros comerciais contam com a Internet e extranets para troca


de informações e transferência eletrônica de dados (EDI), além de
conexão de cadeias de suprimentos, conexões com bases de dados e
sistemas financeiros.
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• Os funcionários da empresa contam com serviços e recursos dispo-


níveis na intranet da empresa, como ferramentas de colaboração para
troca de mensagens, administração de documentos, ferramentas de
produtividade no escritório, dentre outras.
• Além disso, a empresa conta com ferramentas de software como
bancos de dados de clientes, gerenciadores de cadeias de suprimento,
sistemas integrados, sistemas para apoio à decisão, que auxiliam na
própria gestão da empresa, seus clientes, seus parceiros, enfim, em
todo o negócio.

317

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Microinformática

Veja que esse modelo de e-commerce é muito completo e focado


em diversas tecnologias (algumas das quais já falamos e outras ainda para
vermos em nossas unidades).
Quando lidamos com um modelo mais completo de e-commerce, cos-
tumamos defini-lo com e-business, pois vai além da ação de comercialização.

e-commerce – processo de comprar, vender, transferir ou


trocar produtos, serviços ou informações usando sistemas em rede,
principalmente a Internet.
e-business – é uma definição mais ampla de e-commerce que envolve
atendimento aos clientes, colaboração com parceiros, transações ele-
trônicas dentro de uma organização.

Em geral, associamos os sistemas de comércio eletrônico ao caso


abaixo:
Adaptado de: (O´BRIEN, 2004)

Servidor do
Navegador
Negociente
do Cliente
na Web

▪ Verificar negociante ▪ Verificar cliente


▪ Receber pedido Servidor de ▪ Reexaminar pagamento
▪ Receber pagamento pagamento ▪ Autorizar ou negar
▪ Confirmar pedido pagamento

Cartões de Contas Pagamento Eletrô- Dinheiro


Crédito Bancárias Compra online nico de Conta Eletrônico
VISA Cartões de Débito CyberCash CheckFree Cybergold
Master Card Online Banking 1 ClickCharge BillerXpert Qpass
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Um modelo mais simples de e-commerce.

Veja que temos o cliente usando seu navegador para acessar o portal
de comércio eletrônico (e, assim, o servidor Web da empresa), escolher
produtos, adicioná-los em seu carrinho de compras e efetuar o pagamen-
to dos mesmos para poder efetivar a operação. O servidor de pagamento
pode até ser um servidor de terceiro, contratado pela empresa para geren-
ciamento de pagamentos apenas.
318

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Internet e aplicações – Unidade 5

5.4  Novas tecnologias e novos desafios


Para finalizar nossa discussão e falar sobre as novas tecnologias,
vamos ler o artigo abaixo.

Atividade 5.4
O Google conquista o mundo!
(LAUDON e LAUDON, 2007)
Quando podemos dizer que uma marca é um sucesso completo? Talvez
quando a marca em si substitui o propósito para o qual é utilizada. Alguns
anos atrás, se você perguntasse a um internauta norte-americano como
encontrar o endereço de um site em particular, ele ou ela provavelmente
o aconse­lharia a usar uma máquina de busca. Hoje, a resposta seria sim-
plesmente “Procure no Google”.
A ascensão do Google foi rápida e avassaladora. Os fun­dadores da em-
presa, Sergey Brin e Larry Page, conheceram-se em 1995, como colegas
de faculdade da Universidade Stanford, onde estavam fazendo o douto-
rado em ciência da computação. Eles descobriram um interesse em co-
mum: o desafio de filtrar informações relevantes em grandes conjun­tos de
dados. Sua colaboração resultou em uma máquina de busca, concebida
em seus dormitórios no campus, que eles denominaram BackRub, porque
produzia resultados de busca com base em links reversos, isto é, links que
apontavam para trás (back) para uma página Web particular. A máquina
com­bina as tecnologias do sistema PageRank, de Larry Page, que avalia
a importância de uma página com base nos links exter­nos que apontam
para ela, e o Web crawler de Sergey Brin, que visita sites e registra um
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resumo de seu conteúdo.


Brin e Page incorporaram seus projetos sob o nome Google em 1998,
após levantar 1 milhão de dólares entre amigos, familiares e investido-
res de risco. O primeiro escritório do Google fora dos alojamentos da
Stanford foi uma garagem em Menlo Park, Califórnia. No fim de 1998, o
Google, que ainda estava na fase de testes beta, recebia 10 mil con­sultas
de busca por dia. A reputação do Google como uma máquina de busca
eficiente se disseminou rapidamente boca a boca e, no primeiro semestre
de 1999, o site já estava recebendo 500 mil consultas por dia sem ter feito
nenhuma propaganda.

319

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Microinformática

Durante os anos seguintes, o Google continuou a se


expandir e contratar os melhores especialistas em tecnologia da in-
formação, muitos deles estudantes de pós-graduação do Departamento
de Ciência da Computação da Stanford. A AOL/Netscape escolheu o
premiado serviço para suas pró­prias buscas, aumentando a taxa de
uso para 3 milhões de buscas por dia. No segundo semestre de 1999, a
empresa levou seus 39 funcionários para a nova sede Googleplex, em
Mountain View, Califórnia. A máquina de busca também saiu oficial-
mente do estágio beta. Em 2000, o índice Google incluía 1 bilhão de
páginas Web. Mas o seu escopo e popula­ridade estavam apenas engati-
nhando.
Desde a metade de 2005, o Google vasculha um índice com mais de 8
bilhões de páginas Web. Esse índice também inclui 1 bilhão de imagens
e 1 bilhão de mensagens de grupos de discussão Usenet. Além de buscar
páginas Web, os usu­ários do Google.com podem buscar arquivos PDF,
PostScript, de texto, Microsoft Office, Lotus, PowerPoint e Shockwave. O
Google diz ser um dos cinco sites mais populares da Internet, com mais
de 80 milhões de usuários únicos por mês e mais de 50% do tráfego vindo
atualmente de fora dos Estados Unidos. A empresa emprega mais de 3
mil pessoas para cumprir sua missão de “organizar as informações mun­
diais e torná-las universalmente acessíveis e úteis”. Para encontrar as
potenciais fragilidades na abordagem de negócios do Google, é necessário
examinar primeiro as forças da empresa. Duas fontes principais respondem
pela maior parte da receita do Google: a publicidade on-line e os serviços
de busca on-line. A Google Search Services possibi­lita às organizações in-
cluir a máquina de busca Google em suas próprias páginas Web. Trata-se
de um contrato simples de licenciamento de tecnologia — algo não muito
original, mas lucrativo, considerando-se que a máquina de busca é tida
por muitos como a melhor entre as disponíveis. O lado do Google, que,
na verdade, impulsionou seus lucros e seu crescimento fenomenal, é
o programa de publicidade. Em uma fração de segundo, a tecnolo-
Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

gia Google pode avaliar milhões de variáveis sobre seus usuários e


anunciantes, cor­relacioná-las com milhões de anúncios potenciais e
apresen­tar a mensagem certa para o usuário com mais probabilidade
de reagir favoravelmente a ela. Como essa tecnologia torna os anún-
cios mais relevantes, os usuários clicam em anúncios 50% a 100%
mais frequentemente no Google do que no Yahoo!, o que garante me-
lhor retorno para os anuncian­tes. Em 2005, o Google faturou mais
de 6 bilhões de dólares com anúncios.

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Internet e aplicações – Unidade 5

Em 2000, o Google lançou o AdWords, um programa de publi-


cidade self-service ao qual os fornecedores aderem on-line usando um
cartão de crédito. Os anunciantes pagam para ter seus anúncios exibidos
na barra lateral dos resul­tados de buscas por palavras-chave específicas.
Em 2002, o AdWords Select introduziu o conceito de preço de custo-por-clique
(CPC), para que os anunciantes pagassem pelos anúncios apenas quando os
usuários efetivamente clicassem sobre eles. O Google determina a exibição
dos anúncios por meio de uma combinação entre as taxas de CPC e de click-
through (número total de diques); assim, os anúncios mais relevantes para
um conjunto de palavras-chave aparecem nas posições mais destacadas. O
AdWords oferece ampla exposição porque os anúncios direcionados por pala-
vra-chave aparecem por toda a Google Network, o que inclui America Online,
Netscape Netcenter, Shopping.com, Ask Jeeves, The New York Times na Web e
mais de uma dezena de sites com forte presença na Internet.
O número de anunciantes ativos do programa AdWords ultrapas-
sou os 100 mil no início de 2003. No entanto, o programa esteve
sob fogo cruzado recentemente, por ser vulnerável a práticas mal-
-intencionadas de manipulação. Especificamente, empresas inescrupu-
losas podem usar uma prática conhecida como “fraude do clique” para
aumentar os custos dos anúncios de seus concorrentes. Uma empresa cujo
anúncio recebe centenas de diques de fontes que não têm a intenção de
fazer uma compra pode esgotar seu orça­mento de marketing rapidamente,
sendo obrigada a suspen­der qualquer forma de publicidade e ficando, as-
sim, em des­vantagem competitiva.
O problema cresceu tanto que fez surgir empresas dedica­das a detectar
diques fraudulentos. Empresas que vendem a publicidade direcionada por
palavra-chave, como o Google e seu concorrente Yahoo!, reconhecem o
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problema, mas não lhe dão uma resposta objetiva. O Google reembolsa os
clientes pelos diques inválidos, além de manter um sistema para detectar
fraudes antes que os clientes sejam cobrados. Por questões de segurança,
o Google não divulga aos anun­ciantes detalhes sobre seus métodos anti-
fraude. A empresa também não quer expor a tecnologia de vigilância em
uso, porque isso poderia dar aos infratores uma vantagem a mais. Nem
o Google nem o Yahoo! comentam casos específicos de fraude. Ambas
as empresas mostram-se dispostas a tra­balhar com detectores de fraude
independentes, mas ainda são criticadas por sua irresponsabilidade e
ineficiência diante do problema.

321

ADM 1-2 2013-1.indb 321 11/04/2013 17:51:50


Microinformática

Enquanto os clientes de publicidade estão preocupados com


os ataques fraudulentos da concorrência, o Google pre­cisa ocupar-se
com as ofensivas legítimas de seus próprios rivais — e não são poucos.
Pequenas e grandes empresas estão em posição de ataque para tirar a su-
premacia do Google no mercado de máquinas de busca. Liderando a arti­
lharia está ninguém menos do que a desenvolvedora de software número
um do mundo, a Microsoft. A Microsoft tem por hábito abalar e destruir
seus concorrentes, explorando o fato de que o seu sistema operacional Mi-
crosoft Windows se encontra em 95% dos 6 bilhões de computado­res pes-
soais existentes no mundo. Netscape Navigator, Lotus 1-2-3 e WordPerfect
foram todos derrotados dessa maneira. No entanto, o Google mostrou-se
um adversário tão formi­dável que Bill Gates, frustrado, está dirigindo
pessoalmente as reações estratégicas de sua empresa. Gates viu o Google
suplantar a Microsoft como o nome tecnológico do momento, e a ação tec-
nológica do momento, bem debaixo de seu nariz. Houve até mesmo uma
significativa migração de funcionários da Microsoft para o Google.
Na maior parte da sua existência, o MSN, o portal Web da Microsoft,
terceirizou seus mecanismos de busca. A tecnolo­gia de busca nunca foi
considerada algo lucrativo, até que o Google desenvolveu seu rentável
programa de anúncios dire­cionados, de mãos dadas com sua renomada
máquina de busca. Em 2003, Chris Payne, um funcionário da Microsoft,
convenceu Gates a aprovar um projeto de 18 meses e 100 milhões de
dólares para desenvolver a própria máquina de busca da Microsoft. O
MSN Search foi lançado em novem­bro de 2004, com o auxílio de uma
campanha promocional de 150 milhões de dólares. No entanto, nos seis
primeiros meses, o MSN Search fez apenas um estrago marginal no mer-
cado, respondendo por 13% das solicitações de busca em todo o mundo.
Contudo, esses 13% podem crescer facilmente para 25% com a introdu­
ção do novo sistema operacional Windows Vista.
A Microsoft planeja incorporar a tecnologia de busca no Windows Vista
Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

e nas futuras versões do Office. Para a empresa, esses aperfeiçoamentos


tornarão antiquada a ideia de ir a uma página Web para fazer uma con-
sulta e receber centenas de combinações possíveis. Duas outras áreas nas
quais a Microsoft pode desbancar o Google são as buscas contextualiza-
das e as buscas na Web oculta. Ao personalizar sua tecnologia de busca,
uma máquina de busca pode retor­nar resultados que combinem precisa-
mente com o contexto da consulta do usuário.

322

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Internet e aplicações – Unidade 5

O Google lançou uma ferramenta de busca personalizada que


leva em conta as buscas anteriores do usuário ao retornar os resulta-
dos. O efeito cumulativo se traduz em resultados mais relevantes.
O conceito de Web oculta refere-se à imensa quanti­dade de documentos e
dados que existem nos servidores do mundo todo, mas não estão disponí-
veis para o público em geral e não podem ser indexados pelas máquinas
de busca. Alguns desses dados têm direitos autorais protegidos, enquan-
to outros estão simplesmente armazenados muitas camadas abaixo da
superfície dos bancos de dados, emer­gindo apenas quando solicitados
especificamente por meio de um formulário de site. Estima-se que a Web
oculta seja 500 vezes maior que a Web visível. Como Gates dispõe de ca-
pital para comprar os direitos do material protegido e sua empresa possui
formidáveis softwares de gestão de direitos digitais, a Microsoft é vista
como uma boa candidata a se tornar uma porta de acesso à Web oculta.
Uma máquina de busca desenvolvida pela Dipsie, empresa com sede em
Chicago, alega poder rastrear uma grande parcela dos 99% da Web que a
maior parte das máquinas de busca não consegue acessar.
A lista de candidatos ao trono do Google também inclui pequenas empresas
como Teoma e Mooter. O Teoma, que pertence ao Ask Jeeves, não classifica
os sites com base no número de links que apontam para eles. Em vez disso,
ana­lisa as comunidades que se desenvolvem espontaneamente em torno de
um assunto particular na Web; depois, baseia suas classificações no núme-
ro de páginas sobre o mesmo assunto que apontam para determinado site.
O Teoma acre­dita que essa técnica torna os resultados mais abalizados,
enquanto os do Google seriam mais propriamente uma dis­puta de popula-
ridade. O Teoma — ‘especialista’, em gaélico — foi criado por cientistas da
computação da Universidade Rutgers, liderados por Apóstolos Gerasoulis.
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A Mooter, uma start-up australiana fundada por Liesl Capper, usa princí-
pios de psicologia, softwares e tecnologia de rede neural (veja o Capítulo
10) para tornar as buscas na Web mais pessoais. Capper e seus sócios,
Jondarr Gibb e John Zakos, criaram um algoritmo classificador que
aprende com as escolhas que um usuário faz ao trabalhar com os resulta-
dos de busca. Primeiro os resultados são exibidos em grupos, de maneira
que o usuário possa imediatamente afunilar a busca até sua categoria
de interesse. O Mooter se lembra de quais grupos o usuário escolheu e,
então, ajusta os resultados futuros para que obedeçam ao padrão de in-
teresse.

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Microinformática

A Microsoft difere desses empreendimentos menores na medi-


da em que sua batalha pela participação de mercado do Google vai
além das máquinas de busca. Para a Microsoft, o Google deixou de ser
uma empresa de tecnologia de busca e é, hoje, uma empresa de software
capaz de ameaçar os mercados dominados por ela, como o de sistemas
operacio­nais e produtividade pessoal. No passado, a Microsoft dri­blou a
concorrência fixando preços de maneira estratégica e melhorando seus
produtos; além disso, vinculava seus produ­tos de tal maneira que eles se
tornavam os mais convenien­tes de usar. A integração do navegador Web
Internet Explorer ao sistema operacional Windows, por exemplo, significou
o fim da Netscape. Talvez não seja tão fácil para a Microsoft fazer o mesmo
com o Google. Outros fabricantes de software tiveram de confiar no Windo-
ws como a plataforma sobre a qual rodam seus produtos. O Google está dis-
tribuindo seus programas baseados em Linux gratuitamente, pela Internet.
O Google está sempre buscando novas maneiras de cres­cer. Seu programa
AdSense vasculha páginas Web em busca de palavras-alvo e exibe anún-
cios apropriados, permitindo que os operadores do site lucrem com ele. A
empresa tam­bém lançou a barra de ferramentas Google, com a qual o in-
ternauta pode usar o índice Google sem ter de visitar a home-page. A bar-
ra de ferramentas também oferece uma das mais antigas proteções contra
anúncios pop-up. O índice de busca por imagens do Google foi lançado em
2001 com 250 milhões de imagens arquivadas (agora são mais de l bilhão).
Em 2002, nascia o Google Labs, permitindo que os usuários mais curiosos
testassem as novas iniciativas da empresa on-line, enquanto elas ainda esta-
vam em desenvol­vimento. Ainda naquele ano, apareceu o Google News, que
se tornou o primeiro serviço de notícias da Internet compilado totalmente
por algoritmos computacionais. Em seguida veio o Google News Alerts,
que permite aos assinantes receber alertas personalizados de notícias por e-
-mail.
Em abril de 2004, o Google anunciou o Gmail, um ser­viço de e-mail
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baseado na Web, que oferece um gigabyte de armazenagem on-line gra-


tuita, um espaço sem preceden­tes na época. Graças a uma campanha
de marketing virai, o Gmail se tornou uma cobiçada commodity. En-
quanto o ser­viço estava em versão beta, a única maneira de obter uma
conta Gmail era receber um convite de alguém que já fosse usuário.
O Google voltou à boca do povo no fim de 2004, quando lançou o Google
Desktop Search, um programa que podia ser baixado e era capaz de

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Internet e aplicações – Unidade 5

buscar arquivos pessoais no computador, incluindo e-mails,


arquivos de produtivi­dade, históricos de navegação e mensagens ins-
tantâneas. Esse lançamento foi uma afronta particular à Microsoft, que
demorou dois meses para oferecer uma ferramenta parecida. Entre outros
serviços populares que o Google lançou estão o Froogle, um localizador
de produtos de consumo, e o Google Maps, que inclui mapeamento dinâ-
mico on-line e fotos de satélite para endereços que podem ser buscados.
O Google também adquiriu e melhorou o software de gerenciamento de
fotos digitais Picasa, que pode ser baixado gratuitamente, e introduziu um
serviço de comunicação por voz e mensa­gens instantâneas gratuito para
computadores pessoais, o Google Talk.
Nem todos os produtos Google foram recebidos com entu­siasmo unânime.
O Gmail, por exemplo, atraiu a ira dos defensores da privacidade, porque
usa a mesma tecnologia do AdSense para exibir anúncios ao lado das
mensagens. A seleção de anúncios se baseia no texto real das mensagens,
o que significa que todas as mensagens do Gmail são lidas por um escâner
automatizado. Em 2005, o Google irritou alguns membros da indústria
de entretenimento ao arquivar fotos de programas televisivos para testar
seu novo serviço de busca Google Vídeo. Segundo executivos do ramo de
entre­tenimento, o Google havia sido desrespeitoso por não pedir licença
para usar materiais protegidos por direitos autorais. A empresa enfrentou
críticas similares quando pensou em digi-talizar o conteúdo de milhões
de livros. Foi ainda processada por uma agência de notícias francesa por
possíveis violações de direitos autorais no Google News.
Os planos de iniciar um serviço de pagamento eletrônico on-line indicam
que a próxima meta do Google é tornar-se um grande comerciante de
mídia. Permitir que os usuários busquem e depois reproduzam programas
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de TV, eventos esportivos, clipes e vídeos musicais pode requerer estraté­


gias de negócio que a empresa ainda não teve de empregar ao lidar com
informações gratuitas. O Yahoo! e a Microsoft já acumulam anos de ex-
periência na negociação com prove­dores de conteúdo, que se preocupam
particularmente com a pirataria na era digital. Eric Schmidt, o CEO do
Google, diz que a busca de vídeo e seus respectivos direitos “serão a prin-
cipal preocupação do Google durante anos”. Nesse meio tempo, a em-
presa continuará a inovar em seu negócio cen­tral. Schmidt estima que o
Google levará 300 anos para organizar todas as informações do mundo.

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Microinformática

5.5  Reflexão sobre a Unidade 5


Nós vimos, nesta unidade, conceitos importantes sobre o funcio-
namento da Internet e da Web. Também falamos sobre o e-business e o
comércio eletrônico como principais serviços hoje na Internet.
A Web é o serviço mais popular funcionando sobre a infraestrutura
da Internet. Será que você consegue imaginar qual será o próximo passo
na evolução da Internet agora? E os próximos passos?

Leituras Recomendadas
Livro: Sistemas de Informação e as decisões gerenciais na era da
Internet, de O´Brien. Livro também abrangente, com diversos temas rela-
cionados à TI. Para mais informações, veja as Referências.

Para encerrarmos nossa discussão, vamos responder a algumas per-


guntas sobre nossa unidade 5.

Questão de Encerramento 5.1


Por que podemos dizer que a Internet (e toda sua infraestrutura) fa-
cilita a comunicação e o comércio?

Questão de Encerramento 5.2


Quais são os principais tipos de comércio eletrônico?
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Internet e aplicações – Unidade 5

Questão de Encerramento 5.3


Qual a diferença entre Internet e Web? Explique com exemplos.

Questão de Encerramento 5.4


O que é o HTML? Por que ele é importante na implantação de servi-
ços que usem a Internet como infraestrutura?

Questão de Encerramento 5.5


O que você pode dizer sobre a Web 2.0? E sobre a Web 3.0? Já ou-
viu falar? Faça uma definição delas e, após isto, conclua o que é a Web 1.0
(faça pesquisas e apresente suas fontes).
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ADM 1-2 2013-1.indb 327 11/04/2013 17:51:51


Microinformática

Referências
CAPRON, H. L. e JOHNSON, J. A. Introdução à Informática. São
Paulo: Pearson Prentice Hall. 2004.

LAUDON, K. C.; LAUDON, J. P. Sistemas de Informação Geren-


ciais. São Paulo: Prentice Hall. 2007.

O´BRIEN, J. A. Sistemas de Informação e as decisões gerenciais na


era da Internet. São Paulo: Editora Saraiva. 2004.

TURBAN, E.; JR., R. K. R.; POTTER, R. E. Administração de Tec-


nologia da Informação. Teoria e prática. Rio de Janeiro, RJ: Campus.
2005.

Na próxima unidade
Na próxima unidade, falaremos sobre bancos de dados. Veremos
como os dados são organizados, como os Sistemas Gerenciadores de Ban-
cos de Dados oferecem recursos para administração dos dados numa em-
presa. Além disso, falaremos sobre métodos e técnicas para descoberta de
informações importantes em bases de dados que podem subsidiar decisões
importantes!
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ADM 1-2 2013-1.indb 328 11/04/2013 17:51:51


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Microinformática

6.1  Introdução
O termo banco de dados surgiu numa época em que o espaço dis-
ponível para armazenamento em computadores de grande porte (mainfra-
mes) era muito escasso. Assim, era possível apenas armazenarmos dados,
pois constituem as unidades mais básicas e ocupam menos espaço do que
informações mais estruturadas. Atualmente, temos a possibilidade de ar-
mazenar formas que vão muito além da representação de dados, podendo
chegar até a representação de estruturas de conhecimento.
Você deve se perguntar: “Não é possível representar o conhecimen-
to, certo?”.
Bom, esta questão na verdade é muito discutível. Você já ouviu falar
da Web Semântica? Já ouviu falar com projeto Common Sense?
Não há contradição entre o que conversamos na unidade 1; o que
há na verdade é uma evolução. Nós chegaremos a um ponto em que o
conhecimento será representado em máquinas que possam raciocinar de
maneira automática.
E veremos que armazenar o conhecimento e estruturá-lo é um dos
passos iniciais para isto.
Dependemos de sistemas com inteligência artificial, sistemas de
raciocínio automático, mineradores de dados e muitos outros, para tentar
fazer com que máquinas e sistemas possam “tomar decisões”.
Para ficar mais claro, vamos considerar o que a figura a seguir nos propõe.
Veja que partimos da representação física da informação, seja na
forma escrita, seja na forma de bits num computador. O conjunto de bits
gera um tipo de dado específico como um número ou uma letra. Um
conjunto de letras e número forma um dado sobre determinado fato. Por
exemplo, se eu guardar o valor de $450 para o salário de um funcionário,
significa que este funcionário recebe mensalmente
tal valor. Veja que isto é um fato, pois está
registrado. Ao reunir diversos dados de um Conexão:
Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

Recomendações 6.1
funcionário, podemos dizer que temos
Leia mais sobre o projeto do
informações, pois interpretamos estes Senso Comum em:
dados. Já o conhecimento, a inteligência www.sensocomum.ufscar.br/
e a sabedoria, como apresentados por Leia mais sobre a Web Semântica em:
Côrtes (2008) na figura, estão além da http://pt.wikipedia.org/wiki/Web_
sem%C3%A2ntica
representação física e, segundo esta repre-
sentação, não poderíamos ter máquinas que
armazenassem isto.
330

ADM 1-2 2013-1.indb 330 11/04/2013 17:54:54


Gerenciamento de dados, banco de dados e informações – Unidade 6

Adaptado de: (CÔRTES, 2008)


Sabedoria
A inteligência disponível sobre determinado tema é ampliada,
ocorrendo a geração de conhecimento adicional pelo acúmulo

Nível Abstrato

Densidade das Interações


seletivo de informações complementares que são cruzadas,
inter-relacionadas e complementadas pela
experiência acumulada.

Inteligência
O inter-relacionamento de pessoas pertencentes a diferentes
níveis e setores organizacionais, com um fluxo constante de

EXPERIÊNCIAS
troca de dados, informações e conhecimentos, aliada à
experiência adquirida e disseminada, promove a
com a difusão e troca de dados,
Interações sociais crescentes

informações e conhecimento

geração de inteligência coletiva.

Conhecimento
Textos mais elaborados, com maior
abrangência e densidade, resultado do
relacionamento de informações oriundas
de diferentes áreas.

Informação
Predominância de textos mais
elaborados e mais longos, fruto
do relacionamento de dados ou
informações mais simples

Dado ou Informação
Bancos de
Dados

no real no int texto


1 número inteiro
ocupa 2 bytes
1 número real 1 caractere = 1 byte
ocupa 4 bytes 1 palavra com 10 caracteres
ocupa 10 bytes
Nível Físico
Armazenamento

byte
Sistemas de

Físico

1 byte = 8 bits

bit bit bit bit bit bit bit bit


EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

A relação entre o nível físico (aquele que pode ser armazenado) e o nível abstrato (o campo
de ideias que fica na mente das pessoas).

Vamos então a uma definição para banco de dados?


Banco de Dados e Informações: um sistema de armazenamento e
organização lógica e física de dados e informações, que permite
que eles sejam lidos, editados, complementados, excluídos, orga-
nizados e relacionados, com a utilização de sistemas manuais ou
automáticos próprios ou externos. (CÔRTES, 2008)

331

ADM 1-2 2013-1.indb 331 11/04/2013 17:54:54


Microinformática

Esta definição nos guiará para o restante de nossa unidade. Vamos


tratar dos assuntos mais técnicos em relação a bancos de dados. Os mais
teóricos quanto à representação do conhecimento ficarão fora de nosso
escopo, por enquanto, mas com certeza será tema de nossas discussões em
aula, fóruns e chat!

Atividade 6.1
Leia o texto abaixo e depois responda às questões, ok?

Aetna e Boeing: desafios do gerenciamento de dados


(O´BRIEN, 2004) Adaptado de NANCE. Barry. Managing tons of
data Computerwortd, p 62-64, Apr. 23”1. 2001; e SCHIER. Robert
The data squeeze. Computerwortd, p. 36-J8.Oct. 15*, 2001. Reimpres-
so com permissão.
Como uma empresa lida de forma cuidadosa e eficaz com enormes
quantidades de informação de difícil controle? Pedimos que duas com-
panhias com grande quantidade de dados — a Aetna, Inc. e a Boeing
Co.— descrevessem a forma como armazenaram esses dados e os pro-
blemas enfrentados durante esse processo. Para cada companhia, os
dados são um recurso significativo que resulta de imensos investimen-
tos de tempo e de esforço. Constituem também uma fonte de muitas
aflições e tribulações para os empregados, que devem manter um olhar
vigilante sobre esses dados.
Aetna, Inc. Renee Zaugg, gerente de operações na área de apoio central
aos serviços operacionais na Aetna, é responsável por 174,6 terabytes
(TB) de dados por dia. Ela afirma que 119,2 TB estão em unidades de
disco conectadas ao mainframe, enquanto os restantes 55.4TB estão
em discos conectados a computadores de médio porte que utilizam o
Unix num IBM ou Sun. Quase todos esses dados estão localizados na
Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

sede da companhia em Hartford, Connecticut. A maior parte da infor-


mação está em bancos de dados relacionais, controlados pelo DB2 da
IBM, Oracle8 ou Sybase. Para tornar o assunto ainda mais interessan-
te, acrescenta Zaugg, clientes externos têm acesso a cerca de 20 TB
de informação. Quatro centros de dados interconectados contêm 14
mainframes e mais de 4.100 dispositivos de armazenamento de acesso
direto para manter os bancos de dados mais importantes da Aetna.

332

ADM 1-2 2013-1.indb 332 11/04/2013 17:54:54


Gerenciamento de dados, banco de dados e informações – Unidade 6

Nancy Tillberg, chefe do planejamento de dados estratégicos,


diz: “A integridade dos dados, as cópias de arquivos, sua segurança e sua
disponibilidade são nossas maiores preocupações”. Assim, Zaugg diz que
seus softwares de controle de dados, padrões de procedimentos e operações
devem permanecer à frente e não apenas do crescimento normal que resulta
das atividades dos departamentos de vendas, subscrições e reclamações, mas
também do crescimento resultante de aquisições e fusões de empresas.
Ela acrescenta que a Aetna desenvolve um esforço de consolidação do ser-
vidor para reduzir o esforço necessário para controlar os dados em máquinas
de médio porte. Para seus servidores da web, a Aetna utiliza o software
Resonates Global Dispatch, de equilíbrio de carga, para distribuir o tráfico
de dados da web ao servidor mais próximo que esteja menos ocupado e
disponível. Tillberg também diz que a companhia está aumentando seu uso
de redes de área de armazenamento para centralizar e dar eficiência ao ge-
renciamento daqueles dados. Ela destaca que a Aetna utiliza o software de
monitoração de desempenho, Global Enterprise Management, da Tivoli Sys-
tems, para monitorar a rede, distribuir arquivos e acompanhar a utilização
do banco de dados. Os gerenciadores de banco de dados da Aetna mantêm
mais de 15.000 tabelas de banco de dados com a ferramenta de modelagem
de dados da ERWin, de acordo com Michael Mathias, um especialista em
armazenamento de dados de sistemas de informação da Aetna. Segundo ele,
a manutenção manual das tabelas tornou-se impossível há anos. Mathias vê
a importância de examinar a manutenção de grandes quantidades de dados
sob uma perspectiva lógica. Embora o controle físico de um grande armaze-
namento de dados seja certamente um esforço incomum, Mathias diz que a
falha em manter os dados organizados conduz inexoravelmente a problemas
de andamento do trabalho para o usuário, a desvalorização dos dados como
EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

um recurso da empresa e, finalmente, a reclamações do cliente.


Boeing Co. LeaAnne Armstrong, gerente dos servidores existentes na
Boeing, assegura que cerca de 50 a 150 TB de dados que a companhia
possui são tão confiáveis e seguros quanto as aeronaves e espaçona-
ves que a companhia fabrica. Ela diz que os cálculos de 50 a 150 TB
refletem a incapacidade da Boeing para saber exatamente quantos da-
dos existem em seus 150.000 computadores de mesa. Segundo ela, os
usuários não armazenam necessariamente seus arquivos de dados num
servidor, o que torna a quantificação do armazenamento de dados da
Boeing difícil.

333

ADM 1-2 2013-1.indb 333 11/04/2013 17:54:54


Microinformática

Como a Aetna, a Boeing tem dezenas de mainframes e mi-


lhares de servidores de médio porte rodando Unix e Windows NT.
“Grande parte dos dados existe na forma relacional”, diz Armstrong,
“mas por toda a empresa, os arquivos da Boeing percorrem a gama
que vai de imagens de documentos a CADs (projetos auxiliados por
computador — computer-aided design) e descrições de peças e máqui-
nas industriais”. O software de banco de dados relacional empregado
abrange o DB2 da IBM nos mainframes, o Oracle nas máquinas de mé-
dio porte com Unix e o Servidor SQL da Microsoft em computadores
menores, com processadores Intel e Windows NT.
Os dados da Boeing estão armazenados em várias localidades ao redor
do mundo, mas a maioria dos processamentos ocorre na região de Pu-
get Sound, em Washington. Armstrong diz que, atualmente, a compa-
nhia tem dúzias de utilitários diferentes para fazer cópias e restauração
de arquivos. Cada departamento adquire suas próprias mídias de fazer
cópias e executa suas próprias operações de gravação e restauração de
arquivos. Segundo Armstrong, nunca houve uma perda relevante de
dados, mas, mesmo assim, ela está atenta aos riscos, planejando centra-
lizar o sistema de gravação e restauração de arquivos no futuro.
Embora os discos rígidos sejam atualmente baratos, Armstrong diz que
a conservação de dados cobrada em termos de disco ou de fitas é tão
alta que ela quer reduzir significativamente a quantidade de espaço em
discos e fitas nas mídias que a Boeing utiliza. Assim, ela deseja que
todas as fitas e os discos sejam baseados num modelo de “armazena-
mento a pedido” por meio do qual a Boeing possa simplesmente alugar
qualquer capacidade que necessite de um fornecedor externo, não pre-
cisando se preocupar com a falta de espaço.

Quais desafios as duas empresas enfrentam no gerenciamento de


Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

dados?
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Gerenciamento de dados, banco de dados e informações – Unidade 6

Quais as necessidades computacionais apresentadas pelas duas empresas?


Você consegue descrever os cenários e as tecnologias citadas?
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6.2  Bancos de dados e SGBDs


Os bancos de dados são conjuntos muito grandes de dados, como já
vimos. Então, uma biblioteca poderia ser considerada um banco de dados?
De certa forma, sim.
O conjunto de arquivos .doc que você possui com diversas letras
de músicas seria um banco de dados? Sim também! Numa empresa, o
conjunto de documentos, notas fiscais, planilhas, apresentações seria um
banco de dados? Também sim. No entanto, a maneira como organizamos
e tratamos estes dados se torna cada vez mais complexa quando o volume
de dados aumenta. Tente organizar 100 músicas no seu computador. Ok,
conseguiu? Agora tente fazer o mesmo com 100 milhões de músicas. Fi-
cou fácil? Com certeza não.
Entre o banco de dados fisicamente armazenado (vamos pensar em
arquivos no seu computador) e o software de usuário que tenta manipular
tais dados existe uma camada intermediária, que é um software, chamada
de Sistema Gerenciador de Banco de Dados (SGBD).
EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

Um SGBD na verdade não é um software, mas um conjunto de


softwares para organização e manipulação dos seus dados. Como já vi-
mos nas Unidades anteriores, existem ferramentas que nos permitem
criar softwares. Então, poderíamos realizar o armazenamento dos dados
utilizando-se registros em arquivos que não fossem padronizados e dessa
forma, toda vez que precisássemos implementar um sistema para armaze-
nar dados, teríamos que implementar todo o código para gravar, eliminar
e alterar os dados, e isso sem falar nos temas de segurança e integridade
dos dados.
Sendo assim, a maneira mais fácil para gerenciar dados é usar um
SGBD.
335

ADM 1-2 2013-1.indb 335 11/04/2013 17:54:55


Microinformática

Entre outros aspectos, um SGBD provê:

• combate à redundância de dados: redundância significa que um mes-


mo dado está armazenado mais de uma vez no banco de dados;
• mantém a consistência dos dados: consistência significa que se existe
mais de uma cópia de um determinado dado no banco de dados, então
elas sempre possuirão a mesma informação;
• facilita o acesso e a manipulação dos dados: oferece interfaces e lin-
guagens de acesso padronizados para manipulação dos dados;
• mantém a integridade dos dados: integridade significa que o conjunto
de dados armazenados obedece todas as regras do negócio em ques-
tão.
Ex.: Suponha, para um banco de dados de um sistema bancário, que
o saldo de uma conta bancária não possa ser inferior a um determinado
valor, digamos R$ –1.000,00. Um SGBD fiscalizaria as operações na con-
ta e não permitiria aquelas que violassem essa regra. Se o cliente tem de
saldo R$ –900,00; se ele tenta sacar R$ 200,00 então o SGBD não concre-
tizará a operação.
• Permite a realização de operações atômicas: operações atômicas são
aquelas realizadas de maneira que nenhuma outra possa interferir en-
quanto esta está executando.
• Elimina anomalias no acesso concorrente: o acesso concorrente é
aquele em que mais de um usuário está manipulando a mesma infor-
mação ao mesmo tempo;
Ex.: Dois clientes leram o saldo de uma mesma conta A com
R$ 500,00. Em seguida um sacou R$ 50,00 e o outro R$ 100,00. De-
pendendo da ordem em que o valor do saldo for atualizado, a conta A
ficará com R$ 450,00 ou R$ 400,00 de saldo, e não R$ 350,00, como
seria o certo. SGBDs tratam e tomam precauções para eliminar esse
problema.
Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

• Eliminam problemas de segurança, ou seja, SGBDs têm mecanismos


para evitar que usuários não autorizados tenham acesso a dados res-
tritos.

336

ADM 1-2 2013-1.indb 336 11/04/2013 17:54:55


Gerenciamento de dados, banco de dados e informações – Unidade 6

Adaptado de: (O´BRIEN, 2004)


Sistema
Operacional

Sistema de Banco de
Gerenciamento Dados
de Banco
Dicionário
de Dados de Dados
Gerenciamento de Sistema
Banco de Dados Operacional

Sistema de Gerenciamento de Banco de Dados que faz o intermédio entre aplicações do


usuário e os bancos de dados armazenados fisicamente.

Como podemos ver na figura anterior, o SGBD atua em conjunto


com o Sistema Operacional e Softwares Aplicativos como uma camada
intermediária que manipula os dados e fornece os serviços acima expos-
tos.
Veja também que o SGBD precisa de um dicionário de dados. Não
só o dicionário, mas alguns outros elementos:
• Linguagem de Definição de Dados (DDL – Data Definition Langua-
ge): é a linguagem que especifica como os dados são organizados e se
relacionam;
• Linguagem de Manipulação de Dados (DML – Data Manipulation
Language): permite a inserção, a remoção e a atualização de dados;
• Linguagem de Controle de Dados (DCL – Data Control Language):
permite autorizar ou revogar acesso a dados e o controle destas per-
missões;
• Linguagem de Consulta de Dados (DQL – Data Query Language):
EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

permite consultar os dados com recursos avançados na recuperação


de informações;
• Dicionário de dados: o resultado de toda a descrição de como os da-
dos são armazenados, acessados, quais são os direitos de acesso de
cada usuário etc. Trata-se de um conjunto de metadados (dados que
descrevem dados!).

Veja a forma como um SGBD pode manipular e “entender” a orga-


nização de dados na figura a seguir.

337

ADM 1-2 2013-1.indb 337 11/04/2013 17:54:55


Microinformática

Adaptado de: (O´BRIEN, 2004)

Bancos de Dados de Pessoal

Arquivo de
Arquivo de
Folha de
Benefícios
Pagamento

Funcionário Funcionário Funcionário Funcionário


Registro 1 Registro 2 Registro 3 Registro 4
No da No da No da No da
Nome Previ- Salário Nome Previ- Salário Nome Previ- Salário Nome Previ- Salário
dência dência dência dência

Dados Dados Dados Dados Dados Dados Dados Dados Dados Dados Dados Dados

A organização física de um banco de dados.

Observando a figura, podemos ver que nosso grande banco de dados


reúne diversos arquivos, por exemplo, arquivos com dados sobre folha
de pagamentos. Cada arquivo com estes dados contém registros de al-
gum funcionário. E, para cada registro de funcionário, temos dados como
nome, número de previdência social e salário. Se você fosse organizar
estes dados manualmente ou mesmo em arquivos distintos no seu compu-
tador, seria muito mais difícil. Por isto, é mais interessante deixar para que
um SGBD possa fazer isto por você.

Grandes corporações terão vários e vários bancos de dados e, inclu-


sive, mais de um SGBD.
Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

Como podemos ver na figura abaixo, nós podemos ter dados de


diversos sistemas sendo integrados numa aplicação no cliente ou no servi-
dor de aplicações.

338

ADM 1-2 2013-1.indb 338 11/04/2013 17:54:56


Banco de
Dados Externos
na Internet e
Serviços Online

Banco de Cliente
Dados PC ou NC Banco de
Servidor de
Distribuídos Dados
em
Redes Operacionais da
intranets e Organização
outras Redes

Banco de Depósitos
Mercado
Dados do de
de Dados
usuário Final Dados

ADM 1-2 2013-1.indb 339 11/04/2013 17:54:57


Microinformática

Com certeza, você se depara com arquiteturas como a figura acima


e, às vezes, nem sabemos que isto está acontecendo.
Um exemplo está na figura abaixo. Você já realizou compras num
portal de comércio eletrônico? Este portal que é visto por você como um
web site tem vários serviços e softwares implementados que suportam
desde sua navegação e registro de suas preferências até suas compras com
formas de pagamento diversas (como cartão de crédito, boleto bancário,
transferência), permitindo que você acompanhe todo o processo de pós-
venda (que inclui entrega, opiniões etc.) e analisa sua satisfação com a
compra.
REPRODUÇÃO

www.americanas.com.br

Veja que é um claro exemplo de um sistema que guarda uma quan-


tidade muito grande de dados e depende destes dados para diversos fins
estratégicos, como a melhoria no atendimento aos clientes.
Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

Outro exemplo de utilização das bases de dados está no softwa-


re a seguir. Trata-se de um sistema para gerenciamento do relacio-
namento com o cliente (um CRM – Customer Relationship Manage-
ment).

340

ADM 1-2 2013-1.indb 340 11/04/2013 17:54:58


Gerenciamento de dados, banco de dados e informações – Unidade 6

REPRODUÇÃO
Um software CRM que faz uso de uma extensa base de dados.

Esse software de CRM precisa guardar uma série de informações e


solicitações do cliente. Precisa, além disso, organizar estas informações
de acordo com as solicitações, com as datas, com os tipos de solicitações
e assim por diante. Logo, ele precisa de uma base de dados gerenciada por
um SGBD.

Para finalizarmos os exemplos, abaixo temos um software para ges-


tão financeira que também necessita de um conjunto grande de dados que
se relacionam e que estejam logicamente organizados.
Através destes dados são possíveis várias análises, gerações de rela-
EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

tórios para tomada de decisão, como mostra o exemplo da figura. Veja que
temos uma análise de Receitas por centro de resultado (ou seja, qual foi a
origem da receita).

341

ADM 1-2 2013-1.indb 341 11/04/2013 17:54:59


Microinformática

REPRODUÇÃO

Software que faz gerenciamento financeiro

6.3  Estrutura, organização e classificação de SGBDs


Os SGBDs organizam os dados de maneira
que seja viável armazená-los, buscá-los, orga-
nizá-los etc. Um dos tipos de banco de dados Conexão:
Recomendações 6.2
mais utilizados no mercado é o chamado
Leia mais sobre SGBD:
banco de dados relacional. Os bancos de http://pt.wikipedia.org/wiki/Siste-
dados relacionais funcionam de manei- ma_de_gerenciamento_de_ban-
co_de_dados
ra que o usuário não precise conhecer a
http://www.plugmasters.com.br/sys/
forma como os dados estão organizados materias/108/1/SGBD---Siste-
fisicamente, mas sim a organização lógica ma-Gerenciador-de-Ban-
co-de-Dados
desses dados, ou seja, a abstração sobre o re-
lacionamento entre estes dados.
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O modelo relacional é apoiado num conjunto de definições tais


como tabelas, campos e registros. As tabelas são o local onde os dados são
armazenados. Cada linha da tabela é um registro que contém informações
diversas para campos diversos. Assim, cada campo é uma das informa-
ções de um registro.

342

ADM 1-2 2013-1.indb 342 11/04/2013 17:55:00


Gerenciamento de dados, banco de dados e informações – Unidade 6

CÔRTES, 2008
Campos

Código Nome Nome Cidade


1 Pedro Rua Mercosul, 1360 Campinas
2 Antônio Estrada Velha, 20 Itabira
3 Helena Rua das Américas, 30 Belo Horizonte
Registros 4 Maria Av. José Filho, 520 Diadema
5 José Rua Alfândega, 66 Londrina
6 Marilene Av. Iguape, 1230 Rio de Janeiro
7 Ana Rua Dutra Filho, 77 Santos
8 José Rua Minas, 122 São Paulo

Uma tabela de banco de dados

No exemplo anterior, temos uma tabela com diversas informações


sobre pessoas. Cada linha da tabela representa o registro de uma pessoa
com suas informações individuais. E cada registro possui informações
para os seus campos. Exemplos de campos são código, nome, endereço,
cidade, CEP etc.

Adaptado de: (CÔRTES, 2008)


Dados Tabelas Tabelas Dados

Pedro Alves Lima Funcionários Clientes


Konan S.A
Antônio Silveira campo 1 campo 2 campo 1 campo 2 Estaleiros Neptuno Ltda.
Helena Maciel
J. Alves & Irmãos Ltda.
Mary Philips
Fenix S.A.
José Tanaka
Fase Equipamentos S.A.
Marilene Soares

Financeiro Departamentos Fornecedores


Contabilidade campo 1 campo 2 campo 1 campo 2 Aços Petrópolis S.A.
Vendas Metalurgica Audax S.A.
Compras Siderúrgica Onix S.A.
Marketing Fundação Ajax Ltda.
Engenharia

Produtos
campo 1 campo 2 Tubo de Aço Inox 5 cm
Tubo de Aço Inox 10 cm
Chapa Aço Inox 1 mm
Chapa Aço Inox 3 mm
O Sistema Gerenciador
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de banco de Dados
geralmente fica
hospedado em um
servidor específico,
podendo contar um ou
mais bancos de dados
independentes

Os programas utilizados pelos


Diferentes bancos de dados
usuários conectam-se ao servidor
podem ser armazenados em
do banco de dados, o qual gerencia
uma mesma máquina (no
as solicitações e demandas.
servidor de bancos de dados)
ou em máquinas independentes,
conforme indicado ao lado.

Banco de Dados Banco de Dados


RH Clientes e
Fornecedores

Vários bancos de dados gerenciados num SGBD.

343

ADM 1-2 2013-1.indb 343 11/04/2013 17:55:02


Microinformática

Um SGBD pode gerenciar diversos bancos de dados. Por exemplo,


na figura anterior um SGBD possui um banco de dados com informações
de Recursos Humanos e um banco de dados com informações de Clientes
e Fornecedores. O SGBD gerencia separadamente estes bancos de dados e
fornece interfaces para que os usuários ou as aplicações possam acessar e
gerenciar tais dados.
Ainda pela figura, podemos perceber que o banco de dados de re-
cursos humanos possui uma tabela “funcionários”, uma tabela “departa-
mentos”, cada tabela com diversos campos e um conjunto de informações
pertinente a cada tabela/campo (ou seja, os registros de pessoas devem
conter informações sobre pessoas e assim por diante).
Pela figura a seguir, podemos verificar claramente a hierarquia entre
os componentes de um banco de dados.
Adaptado de: (LAUDON e LAUDON, 2007)

Exemplo
Hierarquia
Banco de dados de alunos

Arquivo Arquivo
do curso do curso
Banco de dados
Arquivo de
histórico pessoal

Arquivo do curso
NOME CURSO DATA NOTA
João IS I0I F0I B+
Banco de dados Karina IS I0I F0I A
Eduardo IS I0I F0I C

NOME CURSO DATA NOTA


Registro João IS I0I F0I B+
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Campo João (campo NOME)

Byte 0I00I0I0 (letra J em aSCII

Bit 0

Hierarquia dos componentes de um banco de dados.

344

ADM 1-2 2013-1.indb 344 11/04/2013 17:55:02


Gerenciamento de dados, banco de dados e informações – Unidade 6

Podemos notar, pela figura anterior, que um campo é formado por


bytes. A forma como estes bytes são organizados é chamada de tipo de
dados. Por exemplo, temos tipos como CHAR, VARCHAR, TEXT, INT e
FLOAT.
• CHAR: armazena caracteres (letras, números etc.) que serão tratados
como texto.
• VARCHAR: um tipo similar ao CHAR, no entanto não possui um
tamanho fixo. Assim, esse tipo tende a ocupar um espaço menor no
banco de dados.
• INT: usado para armazenar números inteiros.
• FLOAT: usado para armazenar números reais.

Você poderia perguntar: “Por que não usamos um campo CHAR


para armazenar um número?”. A resposta é que as operações com núme-
ros implementadas no seu processador devem ser feitas com número em
formato binário (números descritos através de bits). No entanto, um cam-
po CHAR representa texto, e não número, e isto causaria uma interpreta-
ção errônea do tipo de dado.
Outro ponto importante a destacar no modelo relacional é que as
tabelas podem ter relacionamentos entre si. Isto significa que parte dos
dados está numa tabela e a outra parte está em outra tabela. As tabelas são
conectadas de alguma maneira.
E então, outra pergunta: “Por que não trabalhamos com uma única
tabela?”A resposta seria: “Para evitarmos redundâncias e inconsistências”.
Por exemplo, para um cadastro de funcionários e seus departamentos de
trabalho, se tivermos uma única tabela com todas as informações, como
no caso abaixo, nós teremos informações divergentes que na verdade re-
EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

presentam o mesmo caso, e isto é chamado de inconsistência.


codFun nome end depto coddepto localDepto
123 José x 5 Tec Inf RibPreto
456 João y 5 Tec Inf RibPreto Inconsistência
(perda de informação)
789 Pedro z 4 Financ SPaulo
234 Luis w 5 Tec Inf RibPreto

Ao separarmos a tabela anterior em duas tabelas distintas ligadas


apenas pela informação de número de departamento, nós conseguimos
evitar não só a inconsistência, como também a redundância.
345

ADM 1-2 2013-1.indb 345 11/04/2013 17:55:03


Microinformática

codFun nome end depto depto coddepto localDepto


123 José x 5 5 Tec Inf RibPreto
456 João y 5 5 Tec Inf RibPreto

789 Pedro z 4

Isto que nós vimos nesse exemplo é chamado de relacionamento.


O relacionamento entre tabelas de uma base de dados relacional é
uma das principais características desta, pois fornece meios para evitar-
mos as redundâncias e as inconsistências de dados, além de otimizarmos a
maneira como representamos estes dados.
Outro elemento importante de uma base de dados relacional é a
chave primária. Uma chave primária permite que cada linha de uma tabela
seja identificada de maneira única. Assim, não seria possível existir duas
pessoas cadastradas com o mesmo número de RG, por exemplo, caso RG
fosse uma chave primária.
Na figura a seguir, o campo código é uma chave primária e possui um
relacionamento em outra tabela. Ele pertence à tabela 1, mas também seus
valores aparecem na tabela 2. Isso faz com que as tabelas 1 e 2 estejam conec-
tadas, ou seja, parte da informação está na tabela 1 e parte está na tabela 2.
Adaptado de: (CÔRTES, 2008)

Tabela 1
código fornecedor
0192 Fazenda Real
5657 Usina Corrente
3938 Sugar Free - Alimentos
3454 ChocoSuper Ind. Alimentícia

chave primária
integridade referencial cada fornecedor tem o
somente serão seu código exclusivo e
aceitos produtos é cadastrado apenas
cujos fornecedores uma vez
já estejam previamente
cadastrados
Tabela 2
código fornecedor
Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

0192 Café solúvel


0192 Leite em pó
5657 Açúcar
Note que apenas o campo código da tabela 1 3938 Adoçante
recebeu o atributo de chave primária, pois 3454 Achocolatado
cada fornecedor tem o seu código específico.
chave estrangeira
O campo código na tabela 2 não foi marcado um ou mais
como chave primária, pois um mesmo código produtos podem
repete-se para mais de um produto. ser associados a um
Ele é denominado de chave estrangeira. mesmo fornecedor

Relacionamento entre tabelas num SGBD.

346

ADM 1-2 2013-1.indb 346 11/04/2013 17:55:04


Gerenciamento de dados, banco de dados e informações – Unidade 6

A figura a seguir mostra um relacionamento numa base de dados


real, editado no Microsoft Access. Veja que se trata de uma base de dados
sobre informações de agendamento de consultas e que a tabela clientes
está relacionada à tabela agendamentos através do código de agendamen-
to.

Relacionamento num banco de dados real

Já a próxima figura mostra uma tabela com as informações de clien-


tes com agendamentos atrasados com campos como código do paciente,
nome, telefone, data para reagendamento etc.
EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

Informações numa tabela de um banco de dados real

347

ADM 1-2 2013-1.indb 347 11/04/2013 17:55:06


Microinformática

E a figura abaixo mostra uma consulta que pode ser feita usando a
linguagem de consulta fornecida pelo banco (nós a chamamos de DQL,
lembra?). Comercialmente, esta linguagem é conhecida como SQL –
Structured Query Language )

Um exemplo de linguagem de consulta num


banco de dados real Conexão:
Existem outros tipos de organização de Recomendações 6.3
SGBDs: Veja mais sobre SQL em:
http://pt.wikipedia.org/wiki/SQL
• estrutura hierárquica: as relações entre
os registros formam uma hierarquia
ou estrutura do tipo árvore. Todos os
registros são dependentes e dispostos em
vários níveis;
• estrutura em rede: representa relações lógicas
mais complexas e é utilizada por pacotes de SGBDs para mainframes;
• estrutura multidimensional: variação do modelo relacional, utilizado
Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

em Data Warehouses (veremos a seguir);


• estrutura baseada em objetos: modelo mais recente com princípios da
orientação a objetos como herança.

348

ADM 1-2 2013-1.indb 348 11/04/2013 17:55:07


Gerenciamento de dados, banco de dados e informações – Unidade 6

Atividade 6.3
Vamos fazer uma leitura complementar?

Oracle, IBM e outras: a batalha pelo mercado de aplica-


tivos e de banco de dados para empresas
(O´BRIEN, 2004)
Se você perguntar ao diretor-executivo da Oracle, Lawrence Ellison, o
que o mantém acordado à noite, a resposta poderá surpreendê-lo.
Ele não dirá que é a Microsoft, fonte de seus males de longa data, nem a
Siebel Systems, em franco desenvolvimento, mas sim a IBM, o despertar
da gigante de tecnologia. “Ele parou de dizer que ‘a Microsoft é coisa do
diabo’ e se voltou para nós”, diz Steve Mills, chefe de software da IBM.
Mas há boas razões para isso. Quem quer que vença este confronto
agarrará a parte do leão de um mercado de software de US$ 50 bilhões
durante anos. Para cada produto da Oracle, a IBM tem um concorren-
te: bancos de dados, aplicativos e software de apoio ao e-business. Ao
mesmo tempo, as filosofias das companhias são notavelmente diferen-
tes. A estratégia da Oracle é oferecer aos clientes um conjunto com-
pleto e fortemente integrado de softwares — tudo que uma companhia
precisa para controlar suas finanças, produção industrial, equipe de
vendas, logística, e-commerce e fornecedores. Em contraste, o presi-
dente e diretor-executivo da IBM, Louis Gerstner, está apoiando uma
abordagem de “melhor da espécie”, na qual a IBM junta, numa só peça,
um sistema integrado de gestão (ERP), um software de gerenciamento
do relacionamento com o cliente (CRM) e outros softwares, seus e de
várias outras companhias.
O resultado dessa batalha tem imensas implicações para o setor de
EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

software. Se a estratégia de parceria da IBM for vitoriosa, haverá bas-


tante espaço para os principais fabricantes de softwares, como a SAP,
a Siebel e a PeopleSoft, e também para numerosos iniciantes que estão
oferecendo ao mercado programas aplicativos via Internet. Se a Oracle
ganhar o controle, venderá seus próprios aplicativos, deixando menos
espaço para os outros concorrentes.
Para conquistar a dianteira nesta briga, a IBM se concentra naquilo que,
segundo ela, é a principal vulnerabilidade da Oracle: esta compete no
mercado de software com os mesmos fabricantes nos quais confia para
ajudá-la a vender seus bancos de dados. A IBM tem uma vantagem

349

ADM 1-2 2013-1.indb 349 11/04/2013 17:55:08


Microinformática

porque não vende software de seu próprio desenvolvimento


e, portanto, apresenta-se como uma parte neutra. Assim, pode con-
quistar aquelas companhias como aliadas. Isso impulsiona suas vendas
de software de bancos de dados, uma vez que as companhias de aplica-
tivos frequentemente recomendam aos clientes os bancos de dados que
acreditam que devem ser utilizados com seus softwares. Os consultores
da IBM juntam, então, o software.
O impulso da IBM é inegável. Considere o carro-chefe em negócios
de banco de dados da Oracle. Seguramente, a Oracle ainda lidera o
segmento de mercado composto por computadores de pequeno e médio
porte, com uma fatia de 50%, de acordo com a pesquisa da AMR. Mas
as vendas de banco de dados da Oracle mantiveram-se estabilizadas
durante o último semestre, enquanto a IBM está em crescimento. No
último trimestre, as vendas de banco de dados DB2 da IBM em com-
putadores sofisticados rodando o sistema operacional Unix cresceram
36%, enquanto a Oracle cresceu apenas 6%. Graças, em parte, à recen-
te aquisição de US$ 1 bilhão do software de banco de dados da com-
panhia Informix Corp., a IBM, que praticamente domina o mercado de
banco de dados para grandes computadores, é agora o segundo maior
fabricante de software de banco de dados para computadores de menor
porte, com uma parcela de 25% do mercado.
Entretanto, Ellison preocupa-se com outras coisas além de bancos de
dados. Considere o software de e-business denominado “servidor de
aplicativos” — uma base de software de e-commerce que realiza tran-
sações e se liga a programas de final de processo como bancos de da-
dos. Como resultado de um salto inicial no negócio, a IBM possui 30%
do mercado — três vezes a parcela da Oracle — de acordo com a Giga
Information Group.
Nos últimos 18 meses, a IBM assinou 59 alianças com fabricantes de
softwares como a Siebel Systems, aAriba e a PeopleSoft — todos concor-
Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

rentes da Oracle. Muitos deles, há muito tempo sob o domínio da Oracle,


estão contentes de se alinharem a uma companhia com a qual não concor-
rem. “Eu não ajudarei a Oracle a conseguir um só centavo se não for obri-
gado a isso”, diz Rick Berquist, principal vice-presidente da PeopleSoft.
No outono de 2000, a Oracle começou a vender um “pacote para e-bu-
siness”, que contém todos os softwares de sua empresa unidos a banco
de dados num amplo pacote

350

ADM 1-2 2013-1.indb 350 11/04/2013 17:55:08


Gerenciamento de dados, banco de dados e informações – Unidade 6

Isso parece familiar? A SAP s* dúvida o maior fornecedor de


aplicativos empresariais, tentou algo semelhante e falhou. Há cerca de
dois anos, a SAP estava juntando seu ERP e outros aplicativos como uma
solução para todos, desdenhando dos produtos de quase todos os outros fa-
bricantes de software. Mas colocar o software em funcionamento tornou-se
algo extremamente caro, e SAP tinha o costume de dificultar, desnecessaria-
mente, a conexão entre seus produtos e os de outras empresas. O co-diretor
executivo, Hasso Plattner, admite agora que “ninguém irá adotar unicamente
softwares da SAP. O futuro será operação entre os diferentes softwares.”
Bruce Richardson, durante muito tempo o guru da empresa de pesquisa
AMR Research, concorda que dificilmente uma companhia vai querer
tirar um software cuja instalação foi trabalhosa nem obterá vantagem
competitiva por usar o software da Oracle, usado por todas as outras
companhias. Byron Miller, um analista de tecnologia da Giga Group,
acrescenta: “Os principais fornecedores precisam abandonar a ideia
de que podem fornecer tudo”.

6.4  Data Warehouse e Data Mining


Existe um processo chamado Descoberta de Conhecimento em Ba-
ses de Dados (Knowledge Discovery in Databases, KDD). Trata-se de um
processo composto de várias etapas:
• coleta de dados;
• seleção dos dados;
• pré-processamento;
• transformação;
• data mining;
EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

• interpretação.

Interpretação
a) Ação 1
Data Mining b) Ação 2

Transformação

Pré-processa-
mento Conhecimento
Seleção Padrões
Dados
transformados

Dados
pré-processados
Dados Dados relevantes

O modelo de extração de conhecimento em bases de dados (KDD)

351

ADM 1-2 2013-1.indb 351 11/04/2013 17:55:08


Microinformática

Esse processo visa a extrair e tratar dados diversos para análises e


tomada de decisões nas empresas.
Até a fase de transformação, é comum a formação do que chama-
mos de data warehouse. Um data warehouse armazena dados que foram
extraídos de vários bancos de dados de uma empresa oriundos de diversas
bases de dados operacionais, bases de dados de histórico, dados externos,
dentre outros.
Um data warehouse é um repositório de dados transacionais orienta-
dos a assuntos, organizados de maneira a facilitar o processamento analíti-
co (TURBAN, JR. e POTTER, 2005).
Adaptado de: (LAUDON e LAUDON, 2007)

Dados
operacionais

Dados
FONTES históricos
INTERNAS
DE DADOS Acesso e
Dados Extrai e Data
análise
operacionais transforma ware-
de dados
house
Dados
históricos

Dados Diretório de
FONTES externos informações
EXTERNAS
DE DADOS Dados
externos

As fontes de dados para o Data Warehouse

Todos os dados citados são coletados, Conexão:


trabalhados e transformados em dados que Recomendações 6.4
podem ser mais bem usados para análise. Veja mais sobre a extração
de conhecimento em bases de
Este processo engloba consolidação de dados em:
várias fontes de dados, correção de dados,
Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

http://pt.wikipedia.org/wiki/
filtragem, conversão etc. Extra%C3%A7%C3%A3o_de_
conhecimento
As principais características de um data
warehouse, segundo (TURBAN, JR. e POT-
TER, 2005), são:
• organização: os dados são categorizados (por exemplo, por fornece-
dor, produto, região);
• consistência: ajuste nos dados para manter um determinado padrão
– por exemplo, em alguns sistemas o sexo pode ser cadastro como
352

ADM 1-2 2013-1.indb 352 11/04/2013 17:55:09


Gerenciamento de dados, banco de dados e informações – Unidade 6

M/F (masculino/feminino) ou H/M (homem/mulher), e isto deve ser


homogêneo no data warehouse;
• variante de tempo: os dados são mantidos para serem usados por mui-
to tempo a fim de se fazerem previsões.

Adaptado de: (LAUDON e LAUDON, 2007)


Inteligência
Bancos de dados Data warehouse
empresarial
OLAP
Data
mining

Consultos
Relatórios

Controlar Descobrir padrões Tomar decisões em


transações e insights resposta aos dados e padrões

O processo do Data Warehouse para formação de informações na tomada de decisão

Como podemos ver na figura a seguir, uma das possibilidades do data


warehouse é a formatação dos dados
num modelo multidimensional. O
processo de
Isto significa que podemos criação e utilização de
“cruzar” os dados em função um data warehouse faz parte da
de mais de um “eixo” de chamada Inteligência Empresarial. Um
dos pontos principais deste processo é o
significado para a análise. foco na utilização de dados para tomada de
EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

Por exemplo, podemos decisão estratégica ou tática. Com base num


analisar para as vendas de data warehouse organizado, podemos usar
vários produtos quais são os ferramentas que gerem relatórios, gráficos
ou análises sobre os dados para gerar
valores reais versus os valo- informações que facilitem a tomada
res projetados de acordo com de decisões.
localidades ou regiões especí-
ficas. Como na figura abaixo, ao
“girar” o cubo formado pelo cruzamento
destas dimensões de dados, podemos focar em cada cruzamento desejado.

353

ADM 1-2 2013-1.indb 353 11/04/2013 17:55:09


Microinformática

Girando o cubo 90 graus, a face que aparecer mostrará o produto versus


vendas projetadas e reais. Girando 90 graus novamente, teremos as regi-
ões versus vendas reais e projetadas, e assim por diante.
Adaptado de: (LAUDON e LAUDON, 2007)

Projetada
Real

Porcas

PRODUTO Pinos

Arruelas

Parafusos

Leste
Oeste
Central
REGIÃO

Exemplo de um cubo de dados. Dados organizados de maneira mul-


tidimensional.

Um processo que podemos considerar auxiliar na descoberta


de conhecimento é o data mining, do qual falaremos a seguir.

A mineração de dados ou data mining é o processo de explorar gran-


des quantidades de dados, buscando padrões como regras de associação
ou sequências temporais, e tentar detectar relações entre variáveis, visan-
do a consistências nestes padrões. Uma definição importante seria:
Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

O processo não-trivial de identificar, em dados, padrões váli-


dos, novos, potencialmente úteis e ultimamente compreensíveis.
(FAYYAD et al., 1996)

A descoberta de padrões ocultos em bases de dados contribui muito


para estratégias de negócio; contribui também em áreas científicas e mé-
dicas e também tentando predizer comportamentos futuros de mercados
financeiros.
354

ADM 1-2 2013-1.indb 354 11/04/2013 17:55:10


Gerenciamento de dados, banco de dados e informações – Unidade 6

Os ramos de aplicação da mineração de dados são muitos. Desde


o setor bancário para buscar e identificar padrões nos clientes e em suas
regras de consumo, na área de marketing para tentar identificar perfis de
consumidores, em seguradoras, em operadoras de cartão de crédito para
identificar padrões de fraudes, dentre muitos outros.
As técnicas de data mining utilizam diversas outras áreas de pes-
quisa, como estatística, inteligência artificial, reconhecimento de padrões
etc.
Por meio do uso de algoritmos de classificação ou aprendizagem, é
possível explorar um conjunto de dados e tentar descobrir conhecimento.
Ao analisarmos os dados de uma empresa com estatística e de maneira
mais detalhada, buscando padrões e vínculos entre registros e variáveis,
estaremos realizando data mining. Assim, podemos conhecer melhor os
clientes e seus padrões de consumo, o mercado e sua “sazonalidade”, por
exemplo, e como se comporta nosso controle de estoque diante de tudo
isto.
Vamos a um exemplo prático, que busca encontrar regras de asso-
ciação em uma base de dados. Neste exemplo, vamos usar um tipo de
algoritmo que busca encontrar “regras de associação” entre elementos de
bases de dados.
A aplicação de regras de associação considera entradas numa base
de dados estruturada, em que cada tupla (linha) é tratada como um con-
junto de itens que podem assumir um valor verdadeiro ou falso. A regra
de associação consiste no relacionamento X ⇒ Y (X e Y são conjuntos de
itens com intersecção vazia), associada a um valor de suporte (Fator de
Suporte – FSup) e a um valor de confiança (Fator de Confiança – FConf).
O valor do Fator de Suporte representa a razão de representatividade
EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

da associação entre X e Y, pois consiste na razão de tuplas que satisfazem


X e Y sobre o total de tuplas. Desta forma:

X⇒Y
FSup = , em que N é o número total de tuplas.
N
O valor do Fator de Confiança visa a garantir que a relação a qual
realmente ocorre é a medida da frequência, em que a relação acontece so-
bre o item em questão. Assim:
X⇒Y
FConf =
X

355

ADM 1-2 2013-1.indb 355 11/04/2013 17:55:11


Microinformática

A extração de regras significativas ocorre estipulando-se valores para


FSup e FConf, encontrando regras na base de dados que satisfaçam estes valo-
res.
A tabela a seguir demonstra um conjunto de dados que, após passar por
um processo de descoberta usando regras de associação, apresenta os resultados
a seguir. A coluna ID representa os identificadores dos usuários, e as demais
colunas são os itens existentes no sistema. A informação de cada linha é se um
determinado usuário comprou ou não determinado item.
Dados para descoberta de regras de associação

ID Item1 Item2 Item3 Item4 Item5 Item6 Item7


1 Não Sim Não Sim Sim Não Não
2 Sim Não Sim Sim Sim Não Não
3 Não Sim Não Sim Sim Não Não
4 Sim Sim Não Sim Sim Não Não
5 Não Não Sim Não Não Não Não
6 Não Não Não Não Sim Não Não
7 Não Não Não Sim Não Não Não
8 Não Não Não Não Não Não Sim
9 Não Não Não Não Não Sim Sim
10 Não Não Não Não Não Sim Não

Conjunto de Itens frequentes: Item2, Item4. FSup = 0,3

Regra: Se (Item2) então (Item4), FConf = 1


3 3
FSup = e FConf =
10 3

Conjunto de Itens frequentes: Item4, Item5. FSup = 0,4


Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

Regra: Se (Item4) então (Item4), FConf = 0,8

Regra: Se (Item5) então (Item4), FConf = 0,8


4 4
FSup = e FConf =
10 5

Regras de Associação resultantes dos dados da tabela anterior. Exemplo de aplicação de


data mining

356

ADM 1-2 2013-1.indb 356 11/04/2013 17:55:13


Gerenciamento de dados, banco de dados e informações – Unidade 6

Neste exemplo de aplicação, a primeira coluna da tabela representa


um identificador para cada transação e as demais indicam se um item foi
ou não adquirido na transação. As suposições para os valores de FSup e
FConf são, respectivamente, 0,3 e 0,8. As regras descobertas, apresentadas
na figura abaixo da tabela, servirão para análise destes itens em conjunto,
devido à similaridade de consumo descoberta entre eles. Este exemplo de
aplicação foi adaptado de (REATEGUI, CAZELLA e OSÓRIO, 2006).
Assim, imagine que os itens 2 e 4 são pão e manteiga. Isto quer di-
zer que “toda vez que alguém comprou pão também comprou manteiga”.
Cuidado, pois não podemos inverter esta frase! Este é apenas um exemplo
das muitas possibilidades de data mining.
Um caso real interessante divulgado de aplicação de data mining
está na nossa leitura logo a seguir!

Atividade 6.4
Vamos à leitura deste exemplo real bem interessante!

O que cerveja tem a ver com fraldas?


Revista Exame Edição 633 – 09/05/1997
Por Hélio Gurovitz
Não é charada. Entenda como o armazém de dados pode aumentar a
produtividade a partir de informações aparentemente desconexas. Você
acredita em ETs? E num investimento que dá um retorno médio de
400% em três anos? O responsável por tal façanha, segundo um estudo
do respeitado International Data Corporation (IDC), é o mais novo feti-
che tecnológico do mercado: chama-se armazém de dados ou, em inglês,
data warehouse.
EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

Basicamente, é um sistema de computadores onde ficam guardadas


todas as informações da empresa. Nele, os executivos podem obter, de
modo imediato, respostas para as perguntas mais exóticas e, com isso,
tomar decisões com base em fatos, não em meras intuições ou especu-
lações misteriosas. Está duvidando do IDC? Vá lá. Mas antes dê uma
olhada nos exemplos a seguir:
Uma das maiores redes de varejo dos Estados Unidos descobriu, em
seu gigantesco armazém de dados, que a venda de fraldas descartáveis
estava associada à de cerveja. Em geral, os compradores eram homens,
que saíam à noite para comprar fraldas e aproveitavam para levar

357

ADM 1-2 2013-1.indb 357 11/04/2013 17:55:13


Microinformática

algumas latinhas para casa. Os produtos foram postos lado a


lado. Resultado: a venda de fraldas e cervejas disparou.
Outra rede varejista descobriu que a venda de colírios aumentava na
véspera dos feriados. (Por quê? Mistério...) Passou a preparar seus es-
toques e promoções do produto com base nesse cenário.
O banco Itaú, pioneiro no uso de data warehouse no Brasil, costumava
enviar mais de 1 milhão de malas diretas, para todos os correntistas. No
máximo 2% deles respondiam às promoções. Hoje, o banco tem arma-
zenada toda a movimentação financeira de seus 3 milhões de clientes
nos últimos 18 meses. A análise desses dados permite que cartas sejam
enviadas apenas a quem tem maior chance de responder. A taxa de re-
torno subiu para 30%. A conta do correio foi reduzida a um quinto.
A Sprint, um dos líderes no mercado americano de telefonia de longa
distância, desenvolveu, com base no seu armazém de dados, um méto-
do capaz de prever com 61% de segurança se um consumidor trocaria
de companhia telefônica dentro de um período de dois meses. Com um
marketing agressivo, conseguiu evitar a deserção de 120.000 clientes e
uma perda de 35 milhões de dólares em faturamento.
Outra empresa de telefonia detectou, ao implantar seu armazém de da-
dos, que quatro grandes clientes empresariais eram responsáveis por
mais da metade das chamadas de manutenção. Um deles estava prestes a
abandonar os serviços. A telefônica fez reparos imediatos, convenceu o
cliente a ficar e manteve uma receita anual de 150 milhões de dólares.
O governo de Massachusetts, nos Estados Unidos, compilava informa-
ções financeiras imprimindo telas e mais telas de terminais dos com-
putadores de grande porte. Era preciso seis pessoas só para reunir os
relatórios necessários ao orçamento anual. Com o armazém de dados,
informações atualizadas estão disponíveis on-line para 1.300 usuários.
Só em papel, economizam-se 250.000 dólares por ano. Em 1995, pela
primeira vez em dez anos, o orçamento estadual foi assinado antes do
Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

início do ano fiscal.


O Brasil quer a mesma agilidade. O Serpro, órgão responsável pelo
processamento dos dados do governo federal, já investiu 2 milhões
no seu projeto de data warehouse, desenvolvido com a Oracle. Só
consolidou 5% de suas informações, mas já é possível fazer em cinco
minutos cruzamentos de dados que antes demandavam quinze dias de
trabalho.

358

ADM 1-2 2013-1.indb 358 11/04/2013 17:55:13


Gerenciamento de dados, banco de dados e informações – Unidade 6

PRODUTIVIDADE – A promessa do armazém de dados


se resume numa única palavra: produtividade. Ou seja: ganho de
tempo – e dinheiro –, com qualquer informação acessível aos exe-
cutivos no momento e no formato que eles determinarem. Segundo
o IDC, os armazéns constituem a melhor chance para a tecnologia
da informação finalmente mostrar ao que veio e derrubar o famige-
rado paradoxo da produtividade. (De acordo com ele, até hoje todos
os investimentos feitos em computadores, softwares e quejandos
não aumentaram a produtividade da economia mundial.) As taxas
de retorno sobre investimento que o IDC encontrou ao analisar 62
data warehouses são um indício dessa possibilidade.
Só que reconciliar o abalado casamento entre tecnologia e negócios não
é uma tarefa fácil. “Não adianta o pessoal de informática criar bases de
dados poderosas se os gestores de negócios não souberem usar a infor-
mação”, diz Timótio Louback, diretor de tecnologia da informação da
Golden Cross. Na Golden, que iniciou há dois anos seu data warehou-
se, ainda é um grupo técnico de seis estatísticos e atuários que gera, a
partir do armazém de dados, os relatórios pedidos pelos executivos. A
empresa ainda está distante do ideal em que o executivo pode fazer, de
seu micro, qualquer pergunta sobre os dados da empresa e obter auto-
maticamente relatórios atualizados, escritos em português.
DETALHES – Mesmo assim, os resultados do investimento de 500.000
dólares no ainda modesto armazém da Golden são visíveis. Nele, a
empresa guarda a ficha médica de cada paciente ao longo do tempo.
Também são armazenados detalhes sobre médicos e hospitais. Desco-
briu-se, por exemplo, que as pessoas que mais cancelavam o seguro de
saúde eram as que menos o usavam. Iniciou-se, então, uma campanha
EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

para manter esses clientes. (Conquistar um novo cliente pode custar


sete vezes mais que manter um cliente antigo.) Ao lançar seu novo se-
guro para automóveis, a Golden também vai buscar no armazém quais
são os clientes com chance de comprar uma apólice para carros. Pode
inclusive descobrir se é lucrativo oferecer vantagens para quem tiver
dois seguros – de saúde e do carro.
Embora o marketing eficaz seja um dos maiores benefícios do data wa-
rehouse, não foi isso o que levou a Golden a adotá-lo. O fator crucial
foi administrar uma conta mensal de 70 milhões de reais, pagos em
sinistros a médicos e hospitais.

359

ADM 1-2 2013-1.indb 359 11/04/2013 17:55:13


Microinformática

Negociar com cada fornecedor de serviço e cada segurado


conhecendo de antemão seu perfil dá grande força à seguradora.
“Conseguimos comparar o andamento das ocorrências e verificar onde
pode haver gastos excessivos”, diz Louback. “Graças a isso, temos
uma das menores taxas de si-nistros do mercado.”
No Brasil, casos como o da Golden são cada vez mais comuns. Só a
IBM está desenvolvendo seis projetos de data warehouse no país. “O
mercado vem crescendo muito de um ano e meio para cá”, diz Nitzi
Roehl, gerente de consultoria da IBM para a América Latina. A NCR,
líder mundial como integradora de grandes armazéns de dados, tem
pelo menos dois contratos engatilhados aqui. As estimativas variam,
mas os mais otimistas dizem que, até 1998, os gastos em armazéns de
dados brasileiros, entre hardware, software e serviços, podem chegar
a 2 bilhões de reais. Segundo o IDC, o mercado mundial de software
para os armazéns deve crescer de 1,4 bilhão para 5,5 bilhões até o ano
2000. A América Latina deve registrar até lá um crescimento anual de
35%. “Devem acontecer nos próximos 12 meses pelo menos 10 pro-
jetos de data warehouses de verdade no Brasil”, diz Diego Coppola di
Canzano, gerente de vendas para a América Latina da Prism, fabricante
de softwares para extrair e transformar dados nos armazéns.
CUSTO ELEVADO – O que Coppola chama de data warehouse de
verdade pode custar mais de 10 milhões de dólares. Pelo menos é isso
que vai gastar o Banco América do Sul nos próximos três anos para
montar um armazém com o triplo de informações do que tem hoje o
Itaú. “Nossa meta é estar no ano 2000 entre os dez maiores bancos do
país”, diz Vicent Katashi Kawakami, diretor executivo do América do
Sul. “O data warehouse será nosso grande diferencial competitivo.”
Projetos como esse envolvem um conjunto de produtos e serviços.
Primeiro, é preciso hardware para guardar e acessar com eficiência
um volume astronômico de informações. No caso do América do Sul,
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essa quantidade pode chegar a 1 trilhão de caracteres, ou 2.400 anos de


jornal diário. (O maior data warehouse do mundo, do Wal Mart, está
sendo expandido pela NCR para conter 23 trilhões de caracteres, mais
de 60.000 anos de jornal diário. Esse tempo equivale a 10 vezes toda a
história humana, desde o surgimento da escrita.) O hardware é a parte
mais cara e deve ser planejado desde o início para comportar futuras
expansões. A principal característica dos armazéns de dados é que,

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Gerenciamento de dados, banco de dados e informações – Unidade 6

ao contrário dos bancos de dados simplórios, nenhuma in-


formação é jogada fora.
Além das máquinas, vários softwares são necessários para manter um
armazém em funcionamento. A Prism, por exemplo, faz programas para
extração e transformação dos dados armazenados. Esses dados, por sua
vez, são acessados por programas especiais de banco de dados, feitos
por empresas como Oracle ou Informix. Finalmente, há softwares para
a consulta e elaboração de relatórios, como os que são desenvolvidos
pela Cognos ou Business Objects. Toda essa confusão cria duas dificul-
dades: o preço e a necessidade imperativa de realizar a integração de
tudo. Quem se encarrega disso em geral são as consultorias, ou grandes
empresas integradoras, como IBM, NCR ou Unisys.
A instalação do armazém pode levar anos. Só para decidir de quem
comprar, o Banco América do Sul precisou de cinco meses. “O data
warehouse não é um produto, é um processo”, afirma Peter Eck, diretor
de marketing para a América Latina da NCR. Envolve, por isso, uma
mudança cultural no modo como os executivos se relacionam com os
computadores e com a informação. “Cada resposta pode levar a uma
nova pergunta”, diz Eck. “Diante de um data warehouse poderoso, é
possível agir exatamente como uma criança na idade dos porquês.
Ninguém sabe qual será a próxima pergunta nem a próxima resposta”.
A maior vantagem, diz Eck, é que o armazém de dados mantém um
quadro único e coerente das informações ao longo da empresa, uma
única versão da verdade.
Com ele, executivos passam a ter uma ideia muito mais precisa do
papel de seus departamentos e do que é essencial ao negócio. “Com
dados atuais à disposição, cada executivo passa a ter de pensar e optar
EAD-13-AD 1.2 – Proibida a reprodução – © Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo

sozinho, sem transferir todas as decisões ao superior ou ao dono da


empresa”, afirma Antônio Amaral Júnior, gerente de consultoria da
Oracle. Um exemplo disso é a Kaiser, que começou a montar seu arma-
zém no ano passado. Toda madrugada as informações são atualizadas.
“Quando o executivo chega de manhã, tudo está disponível em seu
micro”, diz o gerente de informática Milton Maester. “Ele pode agir
diretamente nas áreas de venda, estoque e produção”.
Quando os armazéns de dados atingem um determinado porte, é possí-
vel usar neles as chamadas ferramentas de mineração, ou data mining.
São softwares caros e assustadores. “Podem encontrar respostas

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Microinformática

antes que você tenha tempo de fazer as perguntas”, diz José


Sérgio Alves, gerente da Informix. Desenvolvidos com base em
técnicas de inteligência artificial, eles ficam vasculhando os dados em
busca de informações que podem ser de interesse, de acordo com crité-
rios predeterminados.
São usados por grandes cadeias varejistas para descobrir, por exemplo,
que quem compra fraldas descartáveis é um consumidor potencial de
cerveja ou que quem leva para casa sandálias havaianas pode estar in-
teressado em CDs de Gilberto Gil.
Com técnicas usadas em data mining, torna-se realidade algo muito pa-
recido com o computador HAL, personagem do livro e do filme 2001:
uma odisseia no espaço.
Se você já aceitou a existência dos ETs e do investimento com retorno
de 400% em três anos, tente engolir mais essa.
Créditos: Helio Gurovitz / Editora Abril

6.5  Reflexão sobre a Unidade 6


Vimos, nesta unidade 6, que os dados gerados nas empre-
sas devem ser tratados de maneira muito cuidadosa, devido à
sua importância. Vimos também que, além de cuidar da geração
dos dados, precisamos pensar em como armazená-los, recuperá-
-los, tratá-los e analisá-los de maneira segura e eficiente. Nós falamos de
processos e técnicas para descobrir padrões em bases de dados e falamos
em como estas bases de dados devem ser gerenciadas por softwares com
recursos específicos.
Artigos on-line: para mais informações sobre estes outros tipos de
banco de dados, consulte:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Modelo_hier%C3%A1rquico
http://pt.wikipedia.org/wiki/Object_database
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http://pt.wikipedia.org/wiki/Base_de_dados_em_rede

Livro: Sistemas de informações gerenciais, de Kenneth Laudon e


Jane Laudon. Livro com conceitos de sistemas de informações de maneira
muito abrangente. Explica bancos de dados com vários exemplos e exer-
cícios. Para mais informações, veja as Referências.
Para encerrarmos nossa unidade, vamos estabelecer os pontos prin-
cipais de cada um dos tópicos vistos?
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Gerenciamento de dados, banco de dados e informações – Unidade 6

Questão de Encerramento 6.1


Defina os dados nas empresas e sua importância.

Questão de Encerramento 6.2


Defina sistemas gerenciadores de banco de dados. O que são? Como
funcionam? Por que precisamos deles?

Questão de Encerramento 6.3


Defina a análise de dados. O que podemos ganhar com a análise de
dados?
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Microinformática

Questão de Encerramento 6.4


Qual a diferença entre data warehouse e data mining?

Referências
CÔRTES, P. L. Administração de sistemas de informação. São
Paulo: Saraiva. 2008.

FAYYAD, U. M. et al. Advances in knowledge discovery & data


mining. Califórnia: Menlo Park. 1996. 611 p. (American Association
for Artificial Intelligence).

LAUDON, K. C. e LAUDON, J. P. Sistemas de informação geren-


ciais. São Paulo: Prentice Hall. 2007.

O´BRIEN, J. A. Sistemas de informação e as decisões gerenciais na


era da Internet. São Paulo: Editora Saraiva. 2004.

REATEGUI, E. B.; CAZELLA, S. C.; OSÓRIO, F. S. Personalização


de Páginas Web através dos Sistemas de Recomendação. In: Tópico
em sistemas interativos e colaborativos. São Carlos, v, 2006
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TURBAN, E.; JR., R. K. R. e POTTER, R. E. Administração de Tecno-


logia da Informação. Teoria e prática. Rio de Janeiro, RJ: Campus. 2005.

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Gerenciamento de dados, banco de dados e informações – Unidade 6

Na próxima unidade
Como assim? Não acabou?
Acabou, pessoal! Chegamos ao final de nossa jornada sobre Tecno-
logia de Informação.
Daqui para a frente é com vocês. Apliquem em sua atuação profis-
sional e em suas vidas o que aprenderam, ok?
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Microinformática

Minhas anotações:
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Gerenciamento de dados, banco de dados e informações – Unidade 6

Minhas anotações:
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Microinformática

Minhas anotações:
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