Dança, Música, Artes Visuais e Teatro: Reflexões Sobre As Práticas Pedagógicas em Sala de Aula e o Professor Propositor
Dança, Música, Artes Visuais e Teatro: Reflexões Sobre As Práticas Pedagógicas em Sala de Aula e o Professor Propositor
Dança, Música, Artes Visuais e Teatro: Reflexões Sobre As Práticas Pedagógicas em Sala de Aula e o Professor Propositor
Resumo: Este artigo consiste numa reflexão sobre as práticas pedagógicas em sala de aula a partir
das quatro linguagens das artes: DANÇA, MÚSICA, ARTES VISUAIS e TEATRO. O texto aborda
especificamente cada área, apontando sua importância para o desenvolvimento do aluno em seu ato
criativo, bem como a necessidade de um professor propositor para a educação contemporânea.
Abstract: This article is a reflection on pedagogical practices in the classroom from the four language
arts: DANCE, MUSIC, THEATRE, and VISUAL ARTS. The text specifically addresses each area,
pointing out its importance for the development of the student in his creative act, as well as the need for
a proposer to contemporary teacher education.
O presente artigo versa sobre a presença das quatro linguagens das artes na
sala de aula: Artes Visuais, Dança, Música e Teatro. Discorre sobre a importância das
áreas trazendo reflexões de práticas pedagógicas no contexto do Ensino
Fundamental, buscando fomentar o ato criativo, desafiando o ensino tradicional e
apontando para a valorização do professor propositor.
O trabalho na sala de aula a partir das quatro linguagens vai além do
desenvolvimento da sensibilidade do ser humano, pois estimula as pessoas em
múltiplos aspectos, como, por exemplo: disciplina, memória, concentração,
socialização, percepção, coordenação, possibilidades estéticas, entre outros, sendo
cada área contemplada a partir dos seus conteúdos específicos, colaborando para a
formação do ser humano mais completo.
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A presença das quatro linguagens artísticas na escola é um objeto de estudo
que necessita de investigação e reflexão permanente para que as práticas
pedagógicas específicas de cada área, trabalhando isoladas ou interdisciplinarmente,
sejam motivadoras e significativas para os alunos. Para que isto aconteça, é
interessante que o professor participe do planejamento escolar em todos os níveis,
que conheça a realidade social da escola e dos alunos, bem como da comunidade
onde esta escola está inserida.
Neste momento, num tempo plural e contemporâneo em que se deseja que o
professor seja um propositor, provocador das propostas por ele pensadas,
selecionadas, dotadas de um olhar sensível para práticas pedagógicas que possam
compreender também o conhecimento prévio do aluno, é preciso olhar, dar voz a ele,
conhecer e reconhecer os seus saberes, com suas subjetividades e intencionalidades,
buscando cada vez mais sentido aos objetivos do trabalho em artes, pois o processo
da reflexão é dinâmico e gera novas construções de conhecimento.
Para refletir sobre as relações entre a arte e a educação em diferentes
contextos do ensino é fundamental buscar um diálogo entre as práticas expressivas
da arte consonante com o histórico sociocultural e afetivo do aluno. Neste sentido,
desde os anos noventa a escola vem discutindo a melhor maneira de ensinar arte nos
mais variados espaços escolares, bem como vem tentando regulamentar o Ensino de
Artes na Educação Básica. Esta ideia de valorizar o que o aluno traz como experiência
concreta do espaço onde ele vive, ou seja, a valorização de suas experiências e o
pensamento artístico de seu entorno, vem ao encontro dos PCNs em arte, que nos
dizem que:
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Como esse pensamento pode ser traduzido especificamente nas quatro
linguagens das artes?
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e exploração espacial sem que nos desliguemos do grupo. [...] Ao
experimentar tais possibilidades, o aluno poderá também aprender sobre a
flexibilidade e o respeito na tomada de decisões, e como interagir
criativamente no mundo sem que tenha que impor de maneira autoritária,
injusta e desrespeitosa suas ideias. (MARQUES, 2003, p. 49).
Porém, para que estas possibilidades de ação não se tornem “receitas de bolo”
faz-se necessário um professor disposto e atento às necessidades e anseios de seus
alunos, aberto às propostas que irão surgindo.
Assim como as outras áreas da arte: Artes Visuais, o Teatro e a Música, a
Dança não existe por si só. Há que se perceber que o “objeto” a ser “trabalhado” é
sempre o mesmo em qualquer destas áreas, que é o próprio ser humano. E ele não
está fracionado em atitudes, sentimentos ou plasticidade. A cada movimento que se
pode chamar de “dança” estão subtendidos a plástica através da forma, a
interpretação cênica pela intenção e o som (ou ausência dele) neste deslocamento.
Enfim, o ser humano é “intrínseco”, “interligado” em suas ações, e não fracionado. Por
isto a arte o torna um ser mais amplo em suas percepções. De acordo com os PCNs:
arte:
O ser humano que não conhece arte tem uma experiência de aprendizagem
limitada, escapa-lhe a dimensão do sonho, da força comunicativa dos objetos
à sua volta, da sonoridade instigante da poesia, das criações musicais, das
cores e formas, dos gestos e luzes que buscam o sentido da vida. (BRASIL,
1997, p. 19).
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sentido e significado aos conceitos e conteúdos referentes à linguagem musical,
especificamente.
Considerando as vivências e experiências estéticas do cotidiano musical dos
nossos alunos, confiro maior interesse dos mesmos pelas práticas pensadas por nós,
enquanto professores propositores.
A prática do professor de música em sala de aula pode partir do princípio da
leitura do conhecimento musical prévio dos alunos. A partir da escuta desse
conhecimento, que é vivo e vivido, é possível pensar em metodologias alicerçadas e
desdobradas sobre um tema, ou de um novo conhecimento. De acordo com Souza
(2000, p.174), “a música na vida cotidiana faz-se cada vez mais presente, e sua
massiva utilização na sociedade ocidental contemporânea indica o seu significado
para o ser humano”.
Outra questão que merece igualmente a nossa atenção é o reconhecimento
das tecnologias que podem e devem ser utilizadas também nas outras linguagens
artísticas. As tecnologias estão cada vez mais presentes em todos os espaços em que
circulamos e na sala de aula. Elas se apresentam nos celulares, tablets, Iphones,
Ipads, entre outros artefatos eletrônicos, os quais, certamente, podem contribuir com
ações e proposições pedagógicas mais próximas e significativas para o nosso aluno.
De acordo com Giroux (1995, pp. 74-75), é importante “reconhecer a importância
pedagógica” do que os nossos alunos “trazem para a sala de aula ou qualquer outro
local de aprendizagem, como sendo crucial para descentrar o poder na sala de aula”.
Dessa forma, a inclusão das novas tecnologias de informação cumpre o propósito de
transformar e subsidiar as práticas em educação musical.
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da criatividade e a Metodologia Triangular1 que versa sobre ações que valorizem a
vivência dos alunos, relacionadas com outros campos do conhecimento, bem como
valoriza o fazer artístico, a análise de obras e objetos de arte e a história da arte.
Já falamos, ainda que brevemente, sobre a importância das práticas em artes
visuais no contexto escolar, dos seus objetivos em relação ao desenvolvimento do
nosso aluno; entretanto, é necessário que priorizemos uma prática voltada para a
transformação, que vai além do ato de sensibilizar, de pintar, recortar, colar, moldar e
ler textos imagéticos. De acordo com Martins (2005, p. 06), “é preciso provocar
experiências que ressoem na pele e que penetrem no corpo”. Nesse sentido, cabe a
nós, professores, essa busca constante, alicerçada em uma reflexão permanente do
nosso fazer em sala de aula, com um olhar voltado para a proposição de experiências
que sejam significativas para os alunos.
Proposições pedagógicas desafiadoras contribuem para a construção do
conhecimento em artes visuais, principalmente quando as propostas são
contextualizadas com a realidade contemporânea, ou seja, com as imagens que
povoam o contexto cultural do nosso aluno. A partir das imagens impregnadas e
atravessadas pelas mídias, que, certamente, fazem parte do seus repertórios, ao
desdobrar-se, contribuem para a construção de outras imagens e para a ampliação
do imaginário.
A partir das ideias defendidas aqui, ressalta-se que o ensino das artes visuais
precisa cada vez mais compreender e propor práticas que oportunizem um
questionamento diante das produções que ilustram o nosso tempo, provocando outros
olhares, significados, conceitos e novas criações.
O Teatro e o Jogo
O contato com o teatro na escola se dá, muitas vezes despercebido, através
do jogo. Huizinga, um filosofo holandês, em seu livro Homo Ludens, apresenta o jogo
1 Proposta elaborada por Ana Mae Barbosa. Essa modalidade de ação pedagógica vem sendo
estudada desde a década de 1990. Iniciou em São Paulo, no Museu de Arte Contemporânea da USP,
teve continuidade no Rio Grande do Sul pela Fundação Iochpe e Universidade Federal do RGS,
disseminando-se nas instituições de ensino por todo o país.
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como um fenômeno fundamental da cultura que se encontra presente na linguagem,
no direito, na ciência, na filosofia, na guerra e nas artes. Logo, ele define o jogo como
Portanto, partindo desta definição, percebe-se que o jogo está presente na vida.
Independentemente do nível socioeconômico e cultural, todos jogam. Volto aqui
novamente meu olhar ao universo infantil, quando brincam no pula-pula em uma festa
de aniversário, quando correm suando por entre as mesas e cadeiras de jantar de
uma festa de casamento, quando gritam (ou falam alto por ser um espaço amplo) no
pátio da escola na hora do recreio, quando jogam futebol ou bolita na rua. Enfim,
poderia citar inúmeras situações. Apesar destas situações parecerem uma bagunça,
um caos, uma desordem, há uma organização permeada por regras estabelecidas
entre as crianças e, como Huizinga (2011, p.33) mesmo menciona, “exercida dentro
de certos determinados limites de tempo e espaço”. Quando mudamos nosso olhar
perante estas situações e tratamos com naturalidade, podemos ficar mais tranquilos,
pois passamos por um entendimento de que não precisamos, necessariamente,
intervir neste “espaço e tempo” já organizado por “regras livremente consentidas”.
Spolin (1987, p. 03) afirma que “se o ambiente permitir, pode-se aprender
qualquer coisa, e se o indivíduo permitir, o ambiente lhe ensinará tudo o que ele tem
para ensinar. ‘Talento’ ou ‘falta de talento’ tem muito pouco a ver com isso.” Sendo
assim, o teatro é uma arte com potencial para o processo de ensino-aprendizagem,
uma vez que estimula a criatividade, a interdisciplinaridade, o trabalho coletivo e a
pesquisa, colaborando para a formação do aluno, desenvolvendo aspectos sociais,
afetivos, éticos e cognitivos, ao mesmo tempo em que reflete e relaciona as questões
que envolvem o seu cotidiano com a realidade social mais ampla. Deste modo, é
importante que os alunos tenham contato com jogos teatrais e de improvisação.
Sendo este processo a ‘peça’ final. Pois, de acordo com Japiassu,
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perspectiva improvisacional ou lúdica. O princípio do jogo teatral é o mesmo
da improvisação teatral, ou seja, a comunicação que emerge da
espontaneidade das interações entre sujeitos engajados na solução cênica
de um problema de atuação. (JAPIASSU, 2001, p.26).
Considerações finais
Ao provocar novos olhares e sentidos pelo ato de afetar e tocar, percebemos
novas possibilidades de ampliação das competências em relação ao trabalho docente
que compreende as quatro linguagens artísticas. Assim como somos capazes de
dançar, tocar, cantar, ouvir, atuar e ver, enquanto professores de ARTES, somos
responsáveis pela proposição de práticas que vão além da prescrição.
Ao pensar que a sala de aula pode ser o único espaço em que nosso aluno tem
a oportunidade de realizar experiências no campo das artes, devemos refletir
seriamente sobre as nossas práticas diárias e fazer uma análise sobre a história
cultural dos alunos, para garantir que as nossas práticas docentes proporcionem a
construção de conhecimento.
Consolidar uma educação em ARTES que possa contribuir para a formação do
aluno, levando em conta o seu contexto e a sua cultura, implica em aceitar e garantir
um ensino que tenha significado para os alunos e adotar metodologias e práticas
pedagógicas propositoras. O aluno que só executa não é capaz de criar novas
possibilidades em torno do seu fazer, o aluno que só conhece o que vive, não é capaz
de arriscar-se, criar e recriar o novo.
Referências
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DANTAS, Mônica. Dança: o enigma do movimento. Porto Alegre: UFRGS, 1999.
GIROUX, Henry A. Disneysação da cultura infantil. In: SILVA, Tomaz Tadeu da;
MOREIRA, Antonio Flavio B. (Orgs.). Territórios contestados: o currículo e os novos
mapas políticos e culturais. Petrópolis: Vozes, 1995, p. 49-81.
HUIZINGA, Johan. Homo Ludens: o jogo como elemento da cultura. São Paulo: Ed.
Perspectiva, 2011.
SOUZA, Jusamara. Caminhos para a construção de uma outra didática da música. In:
SOUZA, Jusamara. Música, cotidiano e educação. Porto Alegre: UFRGS, 2000, p.
173-184.
SPOLIN, Viola. Improvisação para o teatro: o fichário de Viola Spolin. São Paulo:
Perspectiva, 1987.
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