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Confort Food

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Comfort Food

Quando se tem um dia difícil, é muito comum surgir um desejo de comer algo gostoso.
Comer algo que esteja na sua lista de favoritos pode aliviar sua tensão ou até mudar seu
humor. Quem nunca viu nos filmes a garota após terminar com o namorado se consolar
num pote de sorvete? Ou um momento em família em que dividem uma tradição culinária
sob uma atmosfera de alegria e união? Pois bem, estão nessas situações alguns dos
conceitos de comfort food.

Comfort food vem da língua inglesa, comida de conforto. De acordo com Cari Romm,
jornalista do The Atlantic, ​"Os adultos, quando estão sob intenso estresse emocional,
recorrem ao que poderia ser chamado de 'comida de conforto' - comida associada à
segurança de infância, como o ​ovo escalfado​ da mãe ou a famosa sopa de galinha " .​Muitas
pessoas a associam a apenas comida caseira. Mas isso não é verdadeiro, já que a beleza
da comfort food é ser essencialmente pessoal, e para algumas pessoas, o próprio fast food
e guloseimas compradas que trazem essa sensação de acolhimento e serenidade. Logo,
comfort food é qualquer comida que traga conforto e bem estar ao ser consumida. Há, claro,
correntes mais extremas que defendem que fast food está na contramão da ideologia da
comfort food, já que estamos falando não só do que está sendo consumido mas também da
maneira com que está sendo consumido: Num ambiente sem as correrias e estresses
diários, sem precisar pegar trânsito para voltar pra casa ou sem um horário limitado de
almoço para retornar ao trabalho. E se, mesmo os pratos das redes de fast food,
estivessem sendo consumidos na própria casa? E se esses pratos das redes de fast food
trouxessem boas lembranças de algum dia memorável? Bom, ninguém é melhor definindo
qual é sua comfort food do que você mesmo.

Por isso, a comfort food pode ser dividida em quatros grupos: ​alimentos nostálgicos,
alimentos de indulgência, alimentos de conveniência e alimentos de conforto físico. A
primeira representa aquelas pessoas que estão afastadas de sua família ou de sua terra
natal; estar em um contexto não-familiar pode ser estressante, porém, ao comer algo
tradicional e típico estabelece-se uma reconexão com a cultura de origem e pode matar a
saudade de alguém que está longe ou já se foi. A segunda está associada à
despreocupação com as quantidades de calorias e gorduras ou valores nutricionais dos
alimentos, serve como consolo ou recompensa diante de uma situação triste, angustiante
ou simplesmente desagradável. A terceira é aquela cujo a origem geralmente é
industrializada, por ser mais fácil e rápido de se obter e possibilita um consumo imediato;
está associada essencialmente à praticidade.E, por fim, tem-se a quarta: comidas de
conforto físico são aquelas cujas composição, temperatura e textura proporcionam, além do
bem-estar emocional, uma melhora no estado físico. Exemplos desse tipo de alimento
podem ser os gordurosos, ricos em açúcar e até mesmo o chá, o café e bebidas alcoólicas,
que têm comprovada ação química no cérebro.

No Brasil, a cronista e gastrônoma Nina Horta utilizou o termo ​“comida da alma​” em seu
livro “Não é Sopa” (1996), definindo-o da seguinte forma:
“Comida da alma é aquela que consola, que escorre garganta abaixo quase sem
precisar ser mastigada, na hora da dor, de depressão, de tristeza pequena. Não é,
com certeza, um leitão à pururuca, nem um menu nouvelle seguido à risca. Dá
segurança, enche o estômago, conforta a alma, lembra a infância e o costume”
(Horta, 1996, p.15-16).

Vê-se um exemplo muito bem desenvolvido no longa de animação da Pixar: Ratatouille. Em


uma cena, um amargo, sério e difícil de agradar crítico gastronômico, tem seu coração
amolecido ao provar o prato que estava avaliando. Isso se deveu ao fato de que o chef
executou um prato que remetia o crítico à sua infância, já que o mesmo prato costumava
ser feito por sua mãe. O sentimento de nostalgia explodiu em sua boca e ele foi enchido de
boas memórias e sensações mais que satisfatórias, fazendo com que, assim, ele aprovasse
a preparação com enorme prazer.

Comfort food em si é uma experiência pessoal j​ustamente porque a pessoa que está
passando por uma experiência de solidão e isolamento, tristeza, dificuldade ou estresse
precisa se reconectar, mesmo que no plano simbólico, a momentos e pessoas significativos
de um período que, para ela, era mais feliz. Logo, não tem certo e errado nessa tendência.
Além de ser uma ótima maneira de perpetuar receitas e sabores. Em síntese, é uma comida
com afeto.

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