Resumo Exame (10ºano)
Resumo Exame (10ºano)
Resumo Exame (10ºano)
1. Contextualização histórico-literária
Poesia trovadoresca é a designação dada ao conjunto de composições poéticas medievais que eram destinadas a serem
cantadas e que foram produzidas por poetas que, para alem de comporem poemas (cantigas), tocavam e cantavam sendo por
isso trovadores. Esses trovadores eram normalmente nobres e dedicavam-se a compor e cantar poemas apenas por prazer.
A poesia trovadoresca apareceu durante a Idade média (de meados do século XII a meados do seculo XIV).
A poesia trovadoresca reflete, de forma de trabalhada e representa vivências do seu tempo de forma subjetiva, pois
tem por base os sentimentos e as emoções. Um dos temas predominantes é o amor.
→Cantiga de amigo – apresenta uma voz feminina (donzela), os sentimentos por ela vividos relativamente a um amigo que pode estar longe,
ausente (por sua vontade ou guerra/viagem), levando-a a manifestar saudade, tristeza, mágoa, angústia etc. O sentimento que tem pelo amigo
também pode expressar nela alegria, sensualidade, confiança. A donzela normalmente revela o que sente à sua mãe, às amigas ou mesmo à
Natureza, tornando-se assim, todas confidentes desse amor, ou silenciosas ou respondendo aos seus anseios e duvidas da donzela. A ligação à
Natureza e sendo ela uma personagem de confiança, dão a este tipo de cantiga uma espontaneidade e naturalidade próprias.
→Cantigas de amor – apresenta uma voz masculina e o sentimento vivido por homem que se coloca ao serviço da mulher, normalmente,
casada. A dama reflete-se distante fria ou até indiferente que a torna superior ao poeta, o que lhe presta um serviço de vassalagem seguindo o
código de amor cortês. O sujeito masculino vive numa paixão infeliz (coita de amor) porque não pode ser concretizada. Nestes poemas encontram-
se emoções que refletem o seu sofrimento de amor, como a dor, a angústia, o desespero, a loucura ou a própria morte. O amador pode louvar
também a sua amada, a sua senhor, e traça todo um retrato idealizado da mesma, realçando as suas características físicas (cabelo, pele…) ou
características morais (bom senso, bem falar…). Para prestar um bom serviço, o poeta nunca menciona a donzela mantendo o respeito por ela.
→Cantigas de escárnio e maldizer – os trovadores e jograis sentiram também necessidade de apontar o dedo a algumas figuras da sociedade,
como situações ou comportamento, e fizeram-no de forma direta usando linguagem satírica, por vezes violenta- cantigas de maldizer. As cantigas
de escárnio são mais indiretas, não referindo especificamente quem era o alvo e recorrendo a uma linguagem de trocadilhos e irónica. Este tipo de
cantigas tem uma intenção critica, moralizadora e cómica, dando assim um retrato mais completo da sociedade daqueles tempos.
▪ Cantiga de amigo – Ambiente doméstico e familiar, marcadamente feminino (donzela ou meninas e as amigas, ou a
mãe e a filha); ambiente coletivo (romaria, santuário) ou rural (campo, rio, mar); origem autóctone, resultando da
tradição lírica já existente na região.
▪ Cantiga de amor – Ambiente aristocrático (rei, nobres, senhores); palácio ou corte; ambiente marcado por um código e
por convenções (amor cortês); cantigas importadas em particular da zona de Provença.
▪ Cantiga de escárnio e maldizer – Ambiente palaciano e de corte.
4. Linguagem, estilo e estrutura → As cantigas de amigo caracterizam se por uma estrutura rítmica e estrófica muito
próxima de uma musica. Como tal, podem acontecer dois processos (em simultâneo ou isolados) : o refrão-
repetição de um ou mais versos no final de cada estrofe- e o paralelismo. Estão presentes também recursos
expressivos como a personificação, comparação ou apostrofe. As cantigas de amor podem ou não recorrer a um
refrão e normalmente são utilizados recursos expressivos como a adjetivação, a hipérbole ou a comparação. Nas
cantigas de maldizer e escárnio é muito recorrente utilizar a sátira e o cómico recorrendo também, como recurso
expressivo, a ironia
Analise de algumas cantigas:
Características temáticas :
▪ O sujeito poético é uma donzela que deseja saber noticias sobre o seu amigo ausente e distante.
▪ A natureza é confidente da menina e é às ondas que a donzela questiona pelo amado.
▪ O cenário é primitivo e singelo – o mar.
▪ A simplicidade da cantiga é evidente na sua estrutura (refrão e paralelismo) e também no tipo de rima.
2. Cantigas de amigo
Caracteristicas temáticas :
Ai eu, coitada, como vivo en gran cuidado
▪ A donzela revela o seu sofrimento, a sua coita (desgraça), e
por meu amigo, que hei alongado! preocupação pelo amigo que está afastado e que se demora na
Muito me tarda Guarda.
o meu amigo na Guarda! ▪ A donzela revela na segunda estrofe, que a saudade torna-se em
grande desejo de o ver.
Ai eu, coitada, como vivo en gran desejo ▪ A interjeição “Aí” confere um tom de confidência que acentua a dor
por meu amigo, que tarda e non vejo! da ausência.
Muito me tarda ▪ O excesso de (!) contribui para acentuar a sentimentalidade já
expressada.
o meu amigo na Guarda
▪ Voz feminina;
▪ Sentimentalidade espontânea e natural – expressão da saudade pelo amigo que tarda.
▪ Estrutura simples e repetida (paralelismo e refrão) que remete para um caracter tradicional (autóctone).
3.
Bailemos nós ja todas tres, ai amigas, Por Deus, ai amigas, mentr'al non fazemos,
so aquestas avelaneiras frolidas so aqueste ramo frolido bailemos
e quen for velida, como nós, velidas, e quen ben parecer, como nós parecemos,
se amigo amar, se amig'amar,
so aquestas avelaneiras frolidas so aqueste ramo so'l que nós bailemos
verrá bailar. verrá bailar.
Marcas das cantigas de amigo:
Bailemos nós ja todas tres, ai irmanas,
so aqueste ramo destas avelanas -Voz feminina faz convite a outras donzelas,
e quen for louçana, como nós, louçanas que também são suas confidentes.
se amig'amar,
so aqueste ramo destas avelanas -Autoelogio às mulheres
verrá bailar.
-Empatia com a Natureza que está em
Caracteristicas temáticas: consonância com os sentimentos de felicidade,
amor e sedução da menina.
▪ Uma donzela enamorada, alegre e feliz, confiante na sua beleza e na das suas amigas, certa
na sua capacidade de sedução, mostra-se ansiosa por ir bailar e faz o convite às amigas. -O refrão e o paralelismo ajudam a criar um
▪ Esse convite é alargado a outras donzelas desde que sejam igualmente formosas e belas, ritmo e uma cadência, reforçando a mensagem
desde que estejam apaixonadas. e contribuindo para o caracter musical da
▪ As donzelas, sendo as destinatárias do convite são as suas confidentes. cantiga.
▪ Todas bailam, envolvidas na Natureza, que com elas partilha a alegria do despertar do
amor.
Proençaes soen mui ben trobar Caracteristicas temáticas:
e dizen eles que é con amor;
mais os que troban no tempo da frol ▪ O tema desta cantiga é a coita do amor, ou seja,
e non en outro, sei eu ben que non a morte por amor.
an tan gran coita no seu coraçon ▪ O trovador compara o seu amor com o dos
provençais. Embora os provençais saibam
qual m'eu por mha senhor vejo levar.
trovar, só trovam na primavera (“tempo da
flor”) e fora desse tempo não.
Pero que troban e saben loar ▪ Logo, o trovador critica e distancia-se dos poetas
sas senhores o mais e o melhor provençais. O sofrimento do interprete é
que eles poden, soõ sabedor verdadeiro em oposição ao convencionalismo
que os que troban quand'a frol sazon provençal.
á, e non ante, se Deus mi perdon, ▪ Esta cantiga também pode funcionar como uma
non an tal coita qual eu ei sen par. arte poética na arte de trovar: a poesia
convencional (a dos provençais) e uma poética
autêntica assente na coita de amor profunda (a
Ca os que troban e que s'alegrar
do trovador).
van eno tempo que ten a color
a frol consigu', e, tanto que se for
Marcas das cantigas de amor:
aquel tempo, logu'en trobar razon
non an, non viven [en] qual perdiçon ▪ O sujeito poético é masculino – um trovador.
oj'eu vivo, que pois m'á-de matar. ▪ Coita do amor associadas ao amor cortês.
▪ Relação direta entre a senhor e o sofrimento
do poeta.
• Voz masculina que manifesta a sua posição critica perante o comportamento ridículo de um poeta especifico.
• Efeito comico nas antíteses “morrer”/”viver” e da ironia.
Fernão Lopes, Crónica de D. João I
1. Contextualização histórico:
A crónica de D. João I é, na realidade, uma legitimação da nova dinastia, a dinastia de Avis, iniciada após um período conturbado
entre dois reinos na monarquia portuguesa que vai de 1383 a 1385 (crise politica). Esta crónica é considerada a crónica medieval
mais importante, quer pelos acontecimentos que relata, quer pela qualidade literária da sua prosa. Foi publicada pela primeira
vez em Lisboa a 1644 e está dividida em duas partes:
É no prólogo da Crónica de D. João I que o cronista expõe o seu objetivo e método de historiar inovador. O seu desejo é "em esta obra
escrever verdade sem outra mistura", para o que faz concorrer toda a gama de documentos possível, desde narrativas a documentos oficiais,
confrontando-os entre si para assegurar a veracidade dos registos existentes. Ao mesmo tempo, esta crónica estabelece, de certa forma, o
ponto de chegada das duas crónicas precedentes, na medida em que estas preparam os acontecimentos que culminam com a sublevação
popular e consequentemente, com a entronização de D. João I.
A primeira parte da crónica descreve a insurreição de Lisboa na narração célere dos episódios quase simultâneos do assassinato do
conde Andeiro, do alvoroço da multidão que acorre a defender o Mestre e da morte do bispo de Lisboa. Ao longo dos capítulos, fundamenta-se
a legitimidade da eleição do Mestre, consumada nas cortes de Coimbra, na sequência da argumentação do doutor João das Regras, enquanto
desfecho inevitável imposto pela vontade da população. Nesta primeira parte, o talento do cronista na animação de retratos individuais, como
os de D. Leonor Teles ou D. João I, excede-se na composição de uma personagem coletiva, o povo, verdadeiro protagonista que influi sobre o
devir dos acontecimentos históricos.
Na segunda parte, o ritmo narrativo diminui, tratando-se agora de reconhecer o rei saído das cortes, e é de novo pela ação do povo que a
glorificação do monarca é transmitida, como, por exemplo, no modo como o acolhe a cidade do Porto. Um outro momento de maior relevo é
consagrado, nesta parte, à narrativa da Batalha de Aljubarrota, embora aí não ecoe o mesmo tom de exaltação com que, na primeira parte,
colocara em cena o movimento da massa popular.
A crónica de D. João I constitui uma afirmação da consciência coletiva, no sentido em que o verdadeiro herói que povoa
na obra não é um herói individual como habitual (não é um cavaleiro, um nobre…) mas sim um herói coletivo – o POVO. Fernão
Lopes mostram-nos com imenso realismo, vivacidade, pormenor descritivo e emotividade o povo que se revolta, que irrompe as
ruas de Lisboa à procura do Mestre, que defende a cidade contra os castelhanos, que passa fome e privações por causa do
cerco.
A voz do povo, o sentir dos homens e das mulheres, dos mesteirais, dos homens-bons, é muitas vezes transmitida através
de uma voz anonima e da multidão. Outras vezes é a própria cidade que parece revelar essa consciência do todo, assumindo
quase o estatuto de uma personagem coletiva.
O povo manifesta o seu patriotismo e o seu apoio ao Mestre. O povo é o verdadeiro herói da revolução e da crónica de
Fernão Lopes.
▪ Atores coletivos: as gentes de Lisboa, quer como uma massa, uma coletividade, quer como grupos sociais (ex:
lavradores, homens-bons, as mulheres).
▪ Atores individuais:
✓ Mestre de Avis- é caracterizado como um homem vulgar, hesitante e vulnerável às fraquezas. É um
homem receoso, no seguimento do assassinato do conde Andeiro. Apesar destes defeitos – que o tornam
uma personagem profundamente realista –, D. João I mostra também ser capaz de atos espontâneos de
solidariedade, o que o converte numa figura cativante. Líder “desfeito” mas também solidário com a
população, durante o cerco de Lisboa.
✓ Álvaro Pais- o burguês que espalha pelas ruas de Lisboa que estão a matar o Mestre, influenciando o povo
a correr a seu auxilio.
✓ D. Leonor Teles- a mulher que gera ódio na população e é apelidada de “aleivosa” (traidora).
5. Capítulos 11, 115 e 148 da 1ª parte ( + importantes)
Uma das importâncias para Fernão Lopes era relatar a verdade objetiva e para isso o cronista não só recolhe e compila
registos anteriores, como também pesquisa, confronta e recorre a documentos da Torre do Tombo, de cartórios etc… Falamos
então de uma critica documental e histórica.
❖ Capitulo 11 (resumo):
• O pajem do Mestre de Avis grita pelas ruas, a caminho da casa de Álvaro Pais, que matam o Mestre nos paços
da rainha, o que leva as gentes, em agitação, a saírem para a rua e a pegarem em armas;
• Álvaro Pais, que já estava preparado, dirige-se com o pajem e outros aliados para o paços, apelando à
população para se junte e corra em auxilio de Mestre;
• Chegada às portas do paço, que estavam fechadas, a multidão mostra-se ansiosa e agitada, querendo entrar
para confirmar que o Mestre está vivo;
• Aconselhado pelos que estavam consigo e atendendo ao alvoroço das pessoas, o Mestre aparece à janela para
apaziguar os ânimos. Perante esta visão, a população manifesta um “gram prazer”.
• Sentindo-se seguro, o Mestre deixa os paços e cavalga pelas ruas em direção aos paços do Almirante, onde se
encontrava o conde D. João Afonso, irmão da rainha.
• Pelo caminho, o Mestre contacta com a população, que se mostra aliviada, alegre e disponível.
• Próximo dos paços do Almirante, o Mestre é acolhido pelo conde, pelos funcionários da cidade e por outros
fidalgos.
• Já à mesa, vêm dizer ao Mestre que as gentes da cidade querem matar o bispo. O Mestre faz tenções de o ir
socorrer, mas é aconselhado a permanecer ali (o bispo é morto pela população)
Tópico de analise:
• O episódio narrado neste capítulo enquadra-se na sequência de eventos que levaram ao cerco da cidade de
Lisboa, considerado um dos focos estruturadores da crónica.
• Neste capitulo, Fernão Lopes relata como se deu a aclamação do Mestre, após o assassinato do conde
Andeiro, as ações da população quando soube que o Mestre corria perigo e os seus sentimentos relativamente
ao futuro monarca do país.
• A população é, aliás, a protagonista deste episódio. Assemelhando-se a um repórter que assistiu ao desenrolar
dos acontecimentos, Fernão Lopes transmite-nos as movimentações (“d’as gentes”) através de sensações
auditivas e visuais.
• Verifica-se uma concentração espacial (rua-paço-janela) que coincide com uma gradação e um ritmo
crescentes das ações (ao apelo do pajem e de Álvaro Pais, segue-se o alvoroço da população, que se desloca
para o paço e que aí mostra o seu estado de espírito – confusão, nervosismo) que culminam no clímax: o
aparecimento do Mestre à janela.
• Após a visão do Mestre, o ritmo narrativo diminui e o estado de espirito da população passa a ser de alegria,
de satisfação e de alivio.
• Os sentimentos do povo são ainda realçados através das próprias falas que tanto conferem uma totalidade
realista e expressiva a todo o episódio como servem também para denegrir a imagem de Leonor Teles e para
fazer a apologia do futuro monarca.
• Entre a multidão (atores coletivos) destacam-se porém alguns atores individuais como:
→Pajem do Mestre- já preparado, desencadeia toda a movimentação posterior;
→Álvaro Pais- avisado pelo pajem, e também ele pronto, pegou no seu cavalo e, com os seus aliados foi até ao
paço espalhando o alvoroço e influenciado o povo a correr em auxilio do Mestre.
→Mestre de Avis- atua segundo o conselho dos que o rodeiam; de inicio, parece ter receio da multidão e
depois, mostra-se à janela e sentindo-se seguro, abandona o palácio e percorre as ruas da cidade a cavalo até
ao paço do Almirante.
• Quanto ao narrador, detetamos a sua subjetividade e a sua simpatia pelo povo e a sua defesa do Mestre.
Linguagem e estilo:
• Visualismo e dinamismo: a movimentação e o sentir das massas são-nos apresentados de uma forma muito
forte e real, não só através de recursos expressivos, como a comparação, como também através do apelo às
sensações ou do uso de verbos de movimento.
❖ Capitulo 115 (resumo):
• Ao saberem da vinda do rei de castelo, o mestre e os habitantes de Lisboa começam a recolher mantimentos e
muitos vão buscar gado morto para alimentação.
• As populações movimentam-se: muitos lavradores deslocam-se para ao pé das mulheres e dos filhos com tudo
o que têm para dentro da cidade; outros vão para Setubal e Palmela; outros ficam em Lisboa e há quem
permaneça em terras que apoiam os Castela.
• Começa-se por preparar a defesa da cidade: primeiro pensa-se na defesa a nivel das muralhas e das torres,
tarefa que o mestre dá aos fidalgos e cidadãos honrados, que contam com a ajuda de homens de armasO
mestre mostra preocupação em defender a cidade. As gentes estão em alerta e são cuidadosos.
• Depois, analisa-se a defesa das portas da cidade: quem vigia as várias portase que cuidados devem ter.
• Depois, na ribeira foram construidas estacas para impedir e dificultar a passagem dos castelhanos.
• Ainda sobre a defesa, há uma construção de um muro à volta das muralhas da cidade que com a ajuda das
mulheres sem medo, apanham pedras pelas herdades e cantam cantigas a louvar Lisboa.
• O narrador salienta a coragem e a determinação dos portugueses que defendem a cidade ao mesmo tempo
que construem uma muralha, comparando-os com os filhos de Israel.
• Todos pensavam em sintonia, num bem maior, o que leva o cronista a concluir o capitulo num tom elogioso.
No final, Fernão Lopes, menciona a superioridade do rei de castela apenas para elogiar o povo português que
defendeu a cidade de Lisboa perante um adversário feroz.
Tópico de análise:
• O leitor começa, neste capitulo por presenciar: →a descrição da cidade de Lisboa (quando o rei de castela a
cerca); →a preparação da defesa da cidade pelo Mestre de Avis com a ajuda da população; →o esforço, a
valentia, a determinação que a gente de Lisboa mostrava.
• O cronista passa a relatar o que foi feito em relação aos mantimentos, mostrando depois a sua preocupação
por defender a cidade.
• A informação sobre a defesa da cidade é bastante detalhada: fala-se dos muros, depois das torres, chegando-
se por fim às portas da cidade (há referencia por exemplo do numero de portas/ torres... e há termos
associadas a “guerra”).
• Ao ir descrevendo a situação de defesa da cidade , vai também referindo os atores coletivos (grupos sociais)
que participam. Os lavradores recolhem à cidade, pois a defesa da muralha ficou encarregue dos fidalgos e
homens de armas. As mulheres também tiveram um papel importante de recolher pedras e cantando.
• A cantiga ilustra bem a solidariedade, o espirito de entreajuda, de patriotismo e de orgulho que reinava entre
as gentes. Esta atitude é várias vezes elogiada pelo narrador . Há, assim, uma afirmaçao da consciência
coletiva das gentes contra o inimigo pela defesa da cidade.
• O mestre (ator individual) também recebe elogios pelo seu comportamento digno de louvor, que merece uma
caracterização favoravel destacando a sua determinação bem como todo o apoio dado ao povo.
Linguagem e estilo:
• Registo coloquial- evidente nos apelos ao leitor e no uso da 2ª pessoa do plural (vós); a transcrição da cantiga,
ao reproduzir uma linguagem popular e cheia de insinuações.
• Descrição viva e dinâmica - os preparativos da defesa são descritos minunciosamente recorrendo a
promenores, a vocabulário técnico e a recursos expressivos, como a enumeração e a dejetivação.
❖ Capitulo 148 (resumo):
• A cidade está cercada e os mantimentos começaram a falhar, por causa da quantidade de pessoas dentro das
muralhas, o que leva a quem vá procurar comida fora do cerco correndo perigo.
• As esmolas escasseiam e não ha como socorrer os pobres. Começa se a estabelecer quem deve ser colocado
fora da cerca: as pessoas miseráveis, os que não combatem, as prostitutas, os judeos...Inicialmente os
castelhanos recolhiam todos mas após verem que tal ato se devia à fome, recusaram.
• Na cidade há carência de todos os elementos (milho, vinho, trigo). O preço dos produtos é elevado e por isso
os habitos alimentares alteraram-se, levando pessoas a beberem agua até à morte ou mesmo procurar apenas
graos de trigo na terra. A carne e os ovos são outros alimentos caros e escassos.
• As crianças não tem que comer e pedem pela cidade, mães já não têm leite para os filhos e veem-nos morrer.
A cidade está agora num ambiente de tristeza, de pesar e de morte. As pessoas rezam. Circula um rumor de
que o mestre vai expulsar todos os que não tem comida mas esse rumor é depois desmentido.
• O capitulo termina com um forte apelo ao leitor, representante da “geração que depois vem”, que não teve de
enfrentar os sofrimentos descritos anteriormente.
Tópico de analise:
• Mais uma vez, o capitulo começa com uma interpelação ao leitor através da qual estabelece uma ponte com o
capitulo anterior e se transmite uma ideia de continuidade e de ligação ao centro da narrativa, o cerco.
• O protagonismo do capitulo é dado às gentes de lisboa (ator coletivo), que vivem momentos atrozes por causa
da fome que assola a cidade, devido ao grande numero de pessoas que nela se acolheram
• Num estilo vivo e emotivo, o cronista narra e descreve promenorizadamente, o sofrimento da população: a
procura arriscada de trigo, à noite e em barcos; a falta de esmolas para socorrer os pobres; a expulsão de
todos aqueles que não podiam combater, bem como os judeus e das prostitutas; a recusa dos castelhanos ao
recolhimento dos que foram expulsos do cerco; a procura desesperada de algo para comer ou beber. O
sofrimento é evidenciado através de promenores como o preço alto dos alimentos.
• Perante este cenário, o narrador mostra-se solidário e pretende sensibilizar os leitores. Por isso, dirige-lhes,
repetidamente, perguntas retóricas carregadas de intensidade.
• O mestre de avis (ator individual) aparece-nos neste capitulo como o chefe que tem de tomar decisões,
algumas dificeis até, a bem da comunidade como a expulsão dos inaptos. Por outro, mostra se solidário com as
suas gentes.
Linguagem e estilo
• Rigor do pormenor- descrição detalhada e minunciosa dos que saiam à noite de barco e iam buscar trigo;
informação precisa sobre o preço de alguns alimentos como o trigo, o milho, o vinho, a carne- recurso à
enumeração.
• Conjunção de planos – por um lado, é-nos dado um plano geral da cidade; por outro, são-nos apresentados
planos de pormenor.
• Coloquialismo – muito evidente nas interrogações retóricas e no uso do imeprativo.
Farsa de Inês Pereira, Gil Vicente
1. Pequeno resumo:
Inês Pereira é uma jovem solteira que sofre a pressão constante do casamento, e reclama da sorte por estar presa em casa, aos serviços
domésticos, cansando-se deles. Imagina Inês casar-se com um homem que ao mesmo tempo seja alegre, bem-humorado, galante e que
goste de dançar e cantar, o que já se percebe na primeira conversa que estabelece com sua mãe e Leonor Vaz. Essas duas têm uma visão
mais prática do matrimônio: o que importa é que o marido cumpra suas obrigações financeiras, enquanto que Inês está apenas
preocupada com o lado prazeroso, cortesão.
O primeiro candidato, apresentado por Leonor Vaz, é Pero Marques, camponês de posses, o que satisfazia a idéia de marido na visão de
sua mãe, mas era extremamente simplório, grosseirão, desajeitado, fatos que desagradam Inês. Por isso Pero Marques é descartado pela
moça.
Aceita então a proposta de dois judeus casamenteiros divertidíssimos, Latão e Vidal, que somente se interessam no dinheiro que o
casamento arranjado pode lhes render, não dando importância ao bem-estar da moça. Então lhe apresentam Brás da Mata, um escudeiro,
que mostra-se exatamente do jeito que Inês esperava, apesar das desconfianças de sua mãe.
Eles se casam. No entanto, consumado o casamento, Brás, seu marido, mostra ser tirano, proibindo-a de tudo, até de ir à janela. Chegava a
pregar as janelas para que Inês não olhasse para a rua. Proibia Inês de cantar dentro de casa, pois queria uma mulher obediente e discreta.
Encarcerada em sua própria casa, Inês encontra sua desgraça. Mas a desventura dura pouco pois Brás torna-se cavaleiro e é chamado para
a guerra, onde morre nas mãos de um mouro quando fugia de forma covarde.
Viúva e mais experiente, fingindo tristeza pela morte do marido tirano, Inês aceita casar-se com Pero Marques, seu antigo pretendente.
Aproveitando-se da ingenuidade de Pero, o trai descaradamente quando é procurada por um ermitão que tinha sido um antigo
apaixonado seu. Marcam um encontro na ermida e Inês exige que Pero, seu marido, a leve ao encontro do ermitão. Ele obedece
colocando-a montada em suas costas e levando Inês ao encontro do amante.
Consuma-se assim o tema, que era um ditado popular de que "é melhor um asno que nos carregue do que um cavalo que nos derrube"
Mãe : uma mulher de pouca sorte, perspicaz, manifesta opiniões totalmente contraditórias das da filha
relativamente ao casamento e ao marido que esta devia escolher. Analisando as suas falas, repletas de provérbios
e as suas falas podemos dizer que a mãe é a voz do bom senso, da razão e também da expriência. A mãe quer
ajudar a sua filha tanto que elogia-a ao saber da proposta da Alcoviteira. Por outro lado, dá conselhos a Inês
sempre que um pretendente a vem visitar, o que mostra cuidado e preocupação. Outras vezes coloca perguntas à
filha com fim a deixá-la reflirir e a ponderar melhor sobre o seu futuro, fazendo referência à necessidade de um
futuro seguro. Inês não quer casar com um homem da sua classe social mas sim alguém da corte com um home
que toque viola e que saiba falar bem. A mãe porém é mais realista e interessa-se pela condição económica do
Lavrador. A partir do casamento com o escudeiro, a mãe não volta a aparecer, como se a sua missão já estivesse
terminada e que agora “todo o mal” fosse responsabilidade da escolha que Inês fez.
Lianor vaz: esta é uma personagem-tipo, uma alcoviteira, é uma mulher cujo oficio consistia em arranjar
casamentos apresentando pretendentes. Assim dá a conher Pêro Maruqes a Inês e à sua mãe considerando-o
“bom marido, rico, honrado conhecido”. Lianor Vaz partilha das mesmas opiniões da mãe quanto à escolha que
Inês devia fazer. Porém, tal como a Mãe, a alcoviteira não consegue convencer inicialmente Inês a optar pelo
lavrador e é só depois da morte do Escudeiro que Lianor Vaz aparece e aconselha-a novamente chamando a
atenção para as vantagens económicas de tal união. Esta personagem denuncia o comportamento devasso do
clero, através do encontro com o clérigo que a assedia, o que constitui uma critica social.
Pêro Maques: Retrato fiel do camponês, do homem rústico e simples, Pêro Marques é uma personagem-tipo e
aparece como o primeiro pretendente, aquele que, apesar de todos os elogios da Alcoviteira, é desprezado por
Inês Pereira. Inês não hesita em caracterizá-lo de uma forma bastante negativa e sarcástica, tecendo comentários
insultuosos sobre ele (“parvo vilão”/”nunca vi tal coisa”/ “oh, Jesus!Que joão de bestas”). Esta caracterização
direta (heterocaracterização) decorre das atitudes e comportamentos que Pêro Marquês teve com Inês mesmo
ainda antes de a conhecer (por exemplo, a carta que lhe escreveu com uma linguagem demasiado básico). Quando
é apresentando a inês, esta personagem tem uma situação cómica que se cria com Pêro Marques sem saber para
que serve uma cadeira sentando-se ao contrário nela ou quando procura em vão as pêras no seu chapéu. Pêro
Marques autocaracteriza-se como sendo um homem do bem, sério e decente. Para Inês estas qualidades não são
de valorizar, antes pelo contrário (ridiculariza-o sem perceber que ele se sente desconfortavel por estar na mesma
sala com apenas ela). Por fim, a imagem do camponês inocente, ingénuo e desajeitado fica completa no ultimo
episódio da peça quando o vemos a transportar Inês, agora sua mulher, às costas, levando-as ao encontro do
Ermitão. Pêro Marques encara então o papel de marido ingénuo e obdiente que é enganado pela mulher.
Escudeiro Brás da Mata: Segundo pretendente de Inês Pereira que parece corresponder ao perfil desenhado por
ela para seu marido. Após os vários elogios dos judeus, o Escudeito também ele é uma pesonagem-tipo que parece
ser um homem encantador, hábil com as palavras e com os instrumentos musicais, mas na verdade é apenas um
homem falso, arrogante, pelintra e prepotente.
Judeus (Latão e Vidal): Desempenham um papel semelhante ao da Alcoviteira e têm por missão apresentar a Inês o
Escudeiro. São personagens cómicas e recorrem a uma linguagem caricaturial como quando apresentam o
Escudeiro a Inês num retrato exagerado. Pertencem a uma comunidade judaica, contribuindo para serem como
personagens-tipo (na cerimónia de casamento executam rituais judaicos). São grananciosos pois concretizam o
casamento e exigem logo a quantia de dinheiro devida. Funcionam como uma unica personagem porque tanto ao
nivel do discurso como a nivel do comportamneto, ambos completam-se.
Moço: Criado do Escudeiro, acompanha-o ao longo de toda a peça e é uma voz critica do amo. Leva uma vida dura
de pobreza e é maltratado pelo amo. É fiel mesmo assim ao seu amo fazendo tudo o que lhe pede (como, por
exemplo, o pedido do escudeiro para o moço vigiar inês) e contra a sua vontade, cumpre o pedido.
Ermitão: é um ermitão que é diferente dos ermitas e monges que viviam isolados para se dedicarem
exclusivamente a Deus e que viviam da a fé e da a caridade das pessoas que os ajudavam e os alimentavam. Para
este “Deus é Cupido”. Seduz Inês Pereira e representa a vida da liberdade que a moça pretendia levar, com a
aprovação do próprio marido que não vê maldade em nada. Representa uma critica ao clero, à sua imoralidade e à
sua corrupção.
3. A representação do quotidiano:
As farsas têm como caracteristica a representação da vida quotidiana e nesta podemos encontrar os hábitos, os
costumes, as crenças e os modos de vida da época, em especial aos que diziam respeito:
Ao casamento: o texto vicentino dá-nos a conhecer as ideias contrárias de Inês , da Mãe e de Lianor Vaz em relação ao
casamento (a intervenção de uma alcoviteira e dos judeus, os encontros com os pretendentes, as regras, a festa de
casamento e a vida a dois).
Ao estatuto da mulher: (sobretudo a solteira). Os casamentos eram, grande parte das vezes, um negócio entre duas
partes, sem que a mulher tivesse alguma participação na decisão. Neste caso, que é uma exceção a essa regra, apesar de
haver na mesma intermediários entre ambos, a ultima palavra é de Inês que deseja uma vida sem ser de “cativeiro” e
ascender socialmente, objetivo esse que não foi cumprido com o primeiro marido (o escudeiro).
À vida doméstica: ao longo da farsa, acompanhamos a protagonista nas suas tarefas domésticas, assumindo uma
postura da típica mulher que trata da casa. No seu monólogo inicial, Inês encontra-se a costurar em casa; depois, já
casada, também costura fechada em casa.
À vida palaciana: apesar da vida de aparências que existiam na corte e que está representada na figura do Escudeiro ,
muitos ambicionavam a sua ascendência social de modo a fazer parte desta classe (ex: Inês)
À vida do campo: Uma vida simples, autêntica mas pouco considerada. Pêro Marques representa essa classe social em
oposição à vida falsa da corte. Esta vida simples de trabalho garantia mais sustento que a vida dos fidalgos pelintras.
À vida do clero: o encontro da alcoviteira com um membro do clero e o de Inês Pereira com um Ermitão devoto de
cupido são exemplos que denunciam comportamentos imorais desta classe social.
4. A dimensão satírica:
Um dos objetivos do teatro de Gil vicente era denunciar, criticar e mostrar algumas mudanças que afetavam a
sociedade, como por exemplo, o desejo de ascendência social, o adultério, a imoralidade do clero, entre outros. Estes
comportamentos são denunciados através de personagens-tipo e da linguagem cómica. Nesta farsa reconehcemos alguns tipos:
→a alcoviteira e os judeus (Lianor Vaz, Latão e Vidal)- figuras gananciosas que agem com um fim económico;
→Pêro Marques- personagem rústica, serve para fazer rir a gente da corte com a sua ignorância e simplicidade.
→o Escudeiro Brás da Mata- género de parasita, vadio, que imita os padrões da nobreza (ex: tocar guitarra, faz serenatas, finge-
se corajoso, mas é medroso e maltrata o moço). Não trabalha e passa fome.
→o Ermitão- há uma conformidade entre os atos e os ideias pois invés de procurar renunciar o mudo e a pobreza, busca a
riqueza e os prazeres que não estão ligados à religião.
5. Linguagem e estilo
Gil Vicente procurou adequar a linguagem de cada personagem ao seu grupo social ou à atividade que desempenhava.
a) Pêro Marques fala como lavrador que é, de forma simples, muito provinciana e por veze, confusa, visto que não é
instruído.
b) Inês Pereira, a Mãe e Lianor Vaz falam como mulheres do povo recorrendo muito a ditados populares e a
provérbios.
c) Bras da Mata, como pretende enganr Inês, fala com ela de um modo galante sendo o seu discurso rebuscado. Já
com o moço, usa uma linguagem mais coloquial e agressiva, tal como faz com Inês depois do casamento.
d) Os Judeus recorrem a uma linguagem de cariz popular e , a dada altura usam rituais judaicos .
1. Contextualização histórico-literárica:
A idade média foi considerada uma época de trevas, de ignorância e de atraso. Existia uma grande vitalidade intelectual
na idade média já que, durante este longo periodo, se sucederam os “renascimentos” e os esforços para recriar a sabedoria
clássica. O renascimento pode definir-se como um moviemnto cultural que marca a transição da idade média para a idade
moderna e teve repercurssões politicas, sociais, económicos e culturais. Em Portugal, o renasciemnto surgiu na segunda metade
do século XVI e apresentou a particularidade de estar ligado à expansão maritima.
A lirica tradicional seguem uma estrutura comum da poesia palaciana, um mote desenvolvido em voltas ou glosas.
o Mote- verso ou conjunto de versos que começam o poema e que servem para apresentar a ideia que será desenvolvida
nos versos seguintes.
o Glosas ou voltas- versos que aparecem depois do mote agrupados em estrofes. Ao recuperar o tema explicitado no
mote, a glosa pode reptir um ou mais vezes o mote, funcionando assim, como um refrão.
Já a inspiração clássica está present na transformação das composições em decassilabos que podiam ser em formas de
odes, sonetos ou canções.
1. Visão Global:
A epopeia “os Lusíadas” é uma narrativa em verso destinada a celebrar feitos grandiosos de um heroi, neste caso coletivo – o
povo. Esta obra pode ser reconhecida por epopeia porque:
Estrura interna
❖ Proposição (apresentação do assunto): nesta parte Camões propõe-se cantar as navegações e conquista no Oriente nos
reinados de D.Manuel e de D. João III., as vitórias em África de D.João I a D. Manuel e a organização do país durante a
1ªdinastia.
❖ Invocação (súplica de inspiração para escrever o poema): 1ª súplica às ninfas do Tejo (Tágides) para que o ajudem na
organização do poema; 2ª súplica a Caliope, porque estão em causa os mais importantes feitos lusitanos; 3ª súplica às
ninfas do Tejo e do Mondego, queixando-se dos seus infortúnios; 4ª nova invocação a Calíope para que o inspire para
terminar a obra.
❖ Dedicatória (oferecimento da obra a D. Sebasteão): esta dedicatória ao rei D. Sebasteão reflete a esperança do povo
português no novo monarca e sobretudo, na possibilidade de retomar a expansão no Norte de África.
❖ Narração (desenvolvimento do assunto): iniciada in media res (quando a frota já se encontrava no canal de
Moçambique a caminho de Melinde), apresenta momentos retrospetivos da História de Portugal e da viagem,
momentos prospetivos como sonhos, presságios, profecias e um Epilogo, o regresso dos nautas, incluindo o episódio da
Ilha dos Amores.
Estrutura externa: forma narrativa; versos decassilábicos; rimas com esquema abababcc; estâncias- oitavas; poema
dividido em dez cantos.
Proposição: Estância 1 a 3 do Canto I
4
E vós, Tágides minhas, pois criado
Tendes em mi um novo engenho ardente,
Se sempre em verso humilde celebrado
Foi de mi vosso rio alegremente,
Dai-me agora um som alto e sublimado,
Um estilo grandíloco e corrente, Camões tem plena consciência da grandiosidade do que vai
Por que de vossas águas Febo ordene cantar e, por isso, sabe que o estilo do seu canto de ser
Que não tenham enveja às de Hipocrene.
“grandíloco” e fluente. O poeta logo no início, pede ajuda e
5 inspiração às ninfas do Tejo.
Dai-me ũa fúria grande e sonorosa, Só estas divindades poderiam fazer despertar no poeta “um novo
E não de agreste avena ou frauta ruda, engenho ardente”, um ”som alto e sublimado”, que não se
Mas de tuba canora e belicosa, assemelha ao da poesia bucólica, mas é antes um som digno
Que o peito acende e a cor ao gesto
muda; capaz dedar ânimo e provocar emoções.
Dai-me igual canto aos feitos da famosa
Gente vossa, que a Marte tanto ajuda;
Que se espalhe e se cante no universo,
Se tão sublime preço cabe em verso.
Dedicatória: Estância 6 a 18 do Canto I
A dedicatória não era um elemento estrutural obrigatório do género épico, mas Luís de Camões decide dedicar o seu
poema ao rei D. Sebastião, a quem louva pelo que representa para a independência de Portugal e para o aumento do mundo
cristão. os louvores, segue-se o apelo.
Referindo-se com modéstia à sua obra, que designa como “um pregão do ninho (...) paterno”, pede ao Rei que a leia.
Na breve exposição que faz do assunto d’Os Lusíadas, o poeta evidencia um aspecto particularmente importante, a obra não
versará heróis e factos lendários ou fantasiosos, como todas as epopeias anteriores, mas matéria histórica. Documenta-o
nomeando alguns heróis nacionais que valoriza pelo confronto com os de outras epopeias.
O discurso da Dedicatória organiza-se, pois, segundo esta lógica — louvor, apelo de carácter pessoal e argumentos que
o fundamentem, incitamento/apelo de carácter nacional e, em jeito de conclusão, breve reforço do apelo pessoal.
Na estância 6, D. Sebastião é-nos apresentado como defensor nato da liberdade da Nação, como o continuador da
dilatação da Fé e do Império, como o Rei temido pelo Infiel, como o homem certo no tempo certo, «dado ao mundo por Deus».
Na estância 10 e 11, o poeta pede a D. Sebastião que ponha os olhos no poema que desinteressadamente fez e lhe
dedica, no qual ele verá os grandes feitos dos portugueses, reais e não fingidos, maiores do que os narrados nas antigas
epopeias, de tal forma que o jovem rei se poderia julgar mais feliz como rei de tal gente do que como rei do mundo todo
(hipérbole).
O poeta desliga a glória de ser conhecido pela sua obra do «prémio vil», já que o moveu o «amor da pátria».
Os Lusíadas são fonte de glória para Camões pode ver-se nos quatro primeiros versos da estrofe 10, em que o poeta
afirma que foi levado a escrever o seu poema, não pelo desejo de um prémio vil (material), mas de um prémio alto e quase
eterno. Esse prémio é a fama de grande poeta entre os portugueses.
O poeta exalta D. Sebastião como jovem rei destinado pelo Fado (destino) a grandes feitos, num império já imenso, mas
que ele acrescentaria ainda, dilatando a fé e o império.
O louvor de D. Sebastião está pois, em ser apresentado como um jovem-rei em que o povo português tudo espera, rei
que a providência faz surgir para retomar a grandeza dos feitos portugueses. A ideia do jovem rei como salvador da pátria
reflete a crise em que a nação já se encontrava, mas ela estava lá tão firme no povo que não desapareceu da sua alma nem com
a morte do rei. O sebastianismo é precisamente isso: a imagem de um rei fatalmente destinado a ser salvador de uma nação em
crise.
Naração
➢ A narração tem inicio quando a ação já vai a meio, ou seja, in media res.Quando se inicia o relato da viagem (ação
central), os portugueses já tinham percorrido metade do caminho, encontrando-se no oceano Índico.
➢ A parte inicial da viagem só será narrada posteriormente, num processo de retrospetiva – analepse.
A narração é então a articulação dos quatro planos.
Resumo dos Cantos
Canto I
▪ Proposição- apresentação do assunto do poema: cântico das grandes figuras da saga nacional- navegadores,
conquistadores, ...
▪ Invocação- o poeta pede inspiração às ninfas do Tejo, para que elas lhe concedam um estilo adequando à grandeza dos
feitos nacionais que vai cantar e divulgar por todo o mundo.
▪ Dedicatória- o poema é dedicado a D.Sebasteão, que é incentivadoa continuar os grandes feitos dos seus antepassados,
em especial os da expansão de carácter de guerra e religioso e elogio dos herois portugueses.
▪ Inicio da narração: enquanto a armada de Vasco da Gama já se encontra no Índico, reúne-se o Consílio dos Deus (1º
episódio do plano dos deuses), convocado por Júpiter, com o objetivo de decidir se os Portugueses devem ou não ser
apoiados na sua aventura marítima . Vénus e Marte estão do lado dos portugues; Baco está contra e recusa-se a ajudar,
pois teme ser esquecido no Oriente. Júpiter cede aos argumentos da deusa do amor e do deus da guerra, decidindo que
os portugueses devem chegar à India, dando cumprimento ao destino (fado). Apesar desta decisão, Baco prepara
ciladas aos Portugueses na ilha de Moçambique e em Quíloa. Aqui a intervenção de Vénus, a protetora dos nautas,
salvará os navegadores que rumarão a Mombaça.
▪ O canto feha com uma reflexão do poeta: a vida oferece tºão pouca segurança ao homem, apresentando-se como
“caminho de vida nunca certo”.
Canto II
▪ Em mombaça, a armada de Vasco da Gama é recebida pelo rei, que influenciado por Baco, prepara uma armadilha.
Mais uma vez, vénus intervém a favor dos Portugueses. Com a colaboração das nereidas , impede a entrada dos
portugues no porto de Mombaça.
▪ Vasco da Gama, tomando consciência do perigo que haviam corrido, dirige uma prece aos céus, agradecendo terem
sido salvos.
▪ Uma vez em Melinde, o rei receve os portugueses calorosamente e faz uma visita armada, pedindo que lhe conte as
“guerras famosas e excelentes”.
Canto III
▪ O poeta, consciente da grandeza da tarefa que lhe é pedida – narrar-, invoca Caliope, para que ela lhe dê a
inspiração condizente com a narrativa da história de Portugal que vai encetar. Assim, ao longo deste e do
canto seguinte, o plano da história de portugal é inserido na narrativa.
▪ A narrativa de Vasco da Gama é longa e inclui bastante informação como a localização de portugal na europa,
a descrição da europa, a história primitiva e lendária de Portugal...
▪ O canto termina com uma reflexão, motivada pelo amor de D. Fernando por D. Leonor de Teles cujo tema é
precisamente o poder do amor.
Canto IV
• Vasco da Gama continua a sua narrativa, relatando acontecimentos da segunda dinastia, como a crise após a
morte de D.Fernando, a batalha de aljubarrota, o reinado de D.João I (...), até ao reinado de D. Manuel e os
com destaque da explicaçãodos preparativos da viagem maritima à India.
• O canto termina com o episódio do Velho do Restelo que culmina com uma reflexão sobre a ambição
desmedida do Homem.
Canto V
• Este canto ocupa-se da narrativa da viagem da armada de Vasco da Gama de Lisboa a Melinde, em que o
comandante luso conta ao rei de Melinde episódios dessa viagem, com destaque, para o encontro com o
gigante Adamastor , durante o qual se destacam também as profecias dos desastres e naufrágios a ocorrer no
cabo das tormentas e o escorbuto que atacou grande parte da tripulação.
• Vasco da Gama conclui a sua narrativa e depois o poeta encerra o canto com uma reflexão que critica os
portugueses, seus contemporâneos pelo desprezo pelas Letras.
Canto VI
• O peta recupera o estatuto de narrador, contando a saida da armada de Melinde a caminho de Calecute,
orientada por um piloto melindano (de Melinde). Baco não se conforma com a iminente chegada dos
Portugueses à Índia, desce ao plácio de Neptuno e é convocado um consilio dos deuses marinhos. Após essa
acesa discussão, a decisão é apoiar Baco no seu capricho. Para tal, ordena Éolo que solte os ventos irados, com
o objetivode destruir a armada portuguesa.
• No mar ainda calmo, os marinheiros passam tempo a ouvir histórias como o episódio dos Doze de Inglaterra
(*), contada por Fernão Veloso.
• De repente surge de forma violenta uma tempestade. Vasco da Gama com medo do seu fim, dirige uma prece
à Divina Guarda. Esta prece é ouvida por Vénus , que mais uma vez socorre os portugueses com a ajuda das
ninfas, as quais, com o seu poder sedutor, acalmando os ventos. Vasco da Gama agradece a Deus o sucesso da
viagem.
• A finalizar o vanto, o poeta volta a refletir sobre o verdadeiro valor da glória.
Canto VII
• Com a armada em Calecute, o canto começa com uma reflexão do poeta: um elogio ao espirito de cruzada
lusitano e uma critica severa às nações europeias que não seguem o exemplo de Portugal na sua expansão da
fé cristã.
• Descreve-se Índia.
• Ao encerrar o canto, uma nova lamentação do poeta. Camões, ao invocar as ninfas do Tejo e do Mondego,
queixa-se dos seus infortunios, criticando, também todos aqueles que oprimem e exploram o povo. Porém
reconhece com ironia amarga que o não apreço pelo seu trabalho desencorajará futuros escitores.
Canto VIII
• Paulo da Gama, novo narrador, relata ao Catual alguns episódios da história de Portugal, destacando a
coragem de alguns heróis miticos e/ou históricos.
• Terminada esta analepse na estrutura do poema, Catual e seus companheiros abandonam a nau.
• Entretanto os sacrifícios aos deuses, que o Samorim mandara fazer, vaticinam que "a nova gente" iria impor
"eterno cativeiro" à Índia. Também Baco - agora pela última vez - aparece em sonhos a um sacerdote e em
forma de "profeta falso" inspira-lhe ódio de morte contra os portugueses. O samorim que fora advertido por
esse falso sacerdote, interroga Vasco da Gama. Este procura esclarecer a situação dizendo que passará pela
troca de fazendas europeias por especiarias orientais. No entento o Catual opõe-se à decisaão e prende o
capitão, e este só consegue regressar à armada após subornar o catual que, a troco de fazendas europeias, lhe
permite regressar a bordo.
• Camões termina o Canto fazendo pertinentes considerações moralistas acerca dos malefícios do ouro "no rico,
assi como no pobre".
Canto IX
• Utrapassados alguns contrantempos, os portugues sempre ajudados por Monçaide, inicam a sua viagem de
regresso à pátria. Vénus, permanentemente atenta, resolve preparar-lhes um surpresa, uma recompensa por
todos os sacrificios passados. Cria uma ilha divina e maravilhosa, povoada por ninfas que se oferecerão aos nautas.
Estes, viverão momentos de amor e de prazer que constituem um prémio merecido para quem tão alto fez subir o
nome de Portugal.
• Vasco da Gama encontra-se com Tétis no seu palácio e a ninfa explica-lhe que este repouso é a compensação do
trabalho dos marinheiros.
• O poeta explica a simbologia da ilha e termina tecendo considerações sobre a verdadeira forma de antigir a fama e
a imortalidade.
Canto X
• Tétis e as restantes ninfas oferecem um banquete aos marinheiros durante o qual uma ninfa narra os feitos
futuros dos lusitanos no Oriente, não sem antes, o poema ter de novo invocando caliope.
• Tétis leva Vasco da Gama até ao alto de um monte e aí mostra a máquina do mundo e os locais por onde se
estenderá o Império Português.
• Por fim, os naegadores embarcam rumo a Portugal trazendo para a sua pátria e para o seu rei glória e titulos
novos.
• O canto encerra com um lamento do poeta pelo facto de o seu talento não ser recoenhecido sobretudo por
aqueles a quem canta (para os portugueses). Exorta D.Sebastão a dar continuidade à glória dos portugueses
oferecendo-se para servir o rei e a pátria. O poeta aponta ainda um caminho: o norte de África.
4. Refleções do poeta
Luís de Camões, n´Os Lusíadas, não consegue calar a voz crítica da sua consciência nem a sua emoção. Então,
interrompendo o tom épico, umas vezes, a sua palavra ganha uma feição didáctica, moral e severamente crítica. Outras vezes,
expressa o lamento e o queixume de quem sente amargamente a ingratidão, ou os desconcertos do mundo.
Canto I (105-106) Limites da condição humana: Os perigos que espreitam o ser humano (o herói), tão pequeno diante
das forças poderosas da natureza (tempestades, o mar, o vento...), do poder da guerra e dos traiçoeiros enganos dos inimigos.
❖ Canto III Poder do amor: surge do tema do amor de D. Fernando por D.Leonor
❖ Canto IV ambição desmedida do homem
❖ Canto V (92-100) Desprezo das artes e das letras: O poeta lamenta o desprezo que os Portugueses valorizam as letras,
pois apesar de serem de terra de heróis, não reconhecem o valor da arte.
❖ Canto VI (95-99)Verdadeiro valor da glória: Nestas estâncias, o Poeta realça o verdadeiro valor das honras e da glória
alcançado por mérito próprio. O herói faz-se pela sua coragem e virtude, pela generosidade da sua entrega a causas
desinteressadas.
❖ Canto VII (78-93) Lamento pelos infortúnios da vida: Camões elogia o Espírito de Cruzadas dos Portugueses,
destacando-os de outros povos. O poeta, invoca as Ninfas do Tejo e do Mondego, queixando-se da ingratidão de que é
vítima. Ele que sonhava com a coroa de louros dos poetas, vê-se votado ao esquecimento e à sorte mais mesquinha,
não lhe reconhecendo, os que detêm o poder, o serviço que presta à Pátria.
❖ Canto VIII (96-99) o poder corrupto do ouro: Faz-se, nestas estâncias, uma severa crítica; o alvo é o poder corruptor do
dinheiro e do «ouro».
❖ Canto IX (93-99) verdadeiro caminho para atingir a fama: O poeta incita os homens a alcançarem a verdadeira glória e a
fama, que não se conseguem pela cobiça, a ambição ou a tirania; mas pela justiça, a coragem e o heroismo
desinteressado.
❖ Canto X (145-156) lamentos pela falta de reconhecimento do povo: O poeta volta a referir-se à importância das Letras
(Literatura) e desabafa que já está cansado de se dirigir a quem não quer escutar o seu canto, «gente surda e
endurecida». Exorta o Rei a concretizar novas glórias.
Antiepopeia- a riqueza do poema está na vertente didática e interventiva, nesta capaciadade de Camões mostrar o
outro lado da epopeia (antiepopeia). Na verdade, os momentos em que o poeta tece criticas aos portugueses ou quando deixa
conselhos dos seus contemporâneos, a matéria épica e o canto sublime dão lugar à antiepopeia, isto é, ao reconhecimento e à
condenação da vileza e da miséria humana.
História trágico-maritima
I. Caracteristicas
Esta obra narra breves episódios de naufrágios da época dos Descobrimentos. As histórias são verdadeiras e
diretamente relacionadas com esse momento marcante. Relatam o lado trágico dos Descobrimentos como a destruição de
embarcações, perda de mercadoria e de vidas humanas.
• Função sociológica- saber noticias de parentes ou amigos que tinham partido em viagem.
• Função didática-transmitir ensinamentos para as viagens futuras.
• Função de exemplaridade- “demonstração exemplar da justiça divina”.
II. Estrutura narrativa→ antecedentes – partida – tempestade – naufrágio – Arribana – Peregrinação – Retorno.
IV. Autores→ nem sempre constam autores precisos, mas a maior parte da narrativa apresenta autoria de alguns
sobreviventes dos naufrágios.
I. Inicio da Viagem:
Os primeiros paragrafos deste capitulo V menciona que esta história decorre num período em que o país se encontrava
em decadência política, social e moral. A corrupção dos valores e a ganância dos portugueses são criticados de forma subtil
através da viagem narrada, representando a nau Santo António uma metonímia de Portugal.
Os paragrafos 2-4 apresentam de forma sintética outros factos relevantes da vida e da infância do protagonista desta
narrativa.
Segue-se um relato das suas ações, com vista a destacar as qualidades de guerreiro, bem como as qualidades morais,
como preparação para a narração da viagem que Jorge de Albuquerque Coelho decide empreender da vila de Olinda até Lisboa,
uma vez que a capitania estava pacificada.
A segunda parte do excerto é dedicada ao inico da viagem na nau “Santo António” sobre a qual nos é dito que ia
“carregado de muita fazenda” e que saiu do “belo porto da vila de Olinda” no dia 16 de maio de 65. Esta narração está repleta
de referências temporais ao longo do texto o que marca a sucessão dos acontecimentos.
Logo no inicio da viagem começam os contratempos. Com efeito, não tinham saido da barra, o vento conduziu a nau
para um baixo. Foram socorridos por batéis, mas a nau só desencalhou quando cortaram os mastros, o que obrigou a regressar
ao porto, onde foi examinada e novamente preparada e carregada.
Perante este incidente, é curioso observar as duas reações distintas: os amigos de Jorge de Albuuerque Coelho
aconselharam-no a não embarcar; ele, pelo contrário, não deu ouvidos e embarcou com os outros passageiros.
No entanto, a viagem começou com novos obstáculos: a mudança do vento obrigou a atirar a carga ao mar, o casco
acabou por abrir, um furacão partiu um mastro; ocorreram trovoadas.
Assim, a deterioração da nau (mastros cortados, logo na primeira viagem), o atraso na partida (a primeira viagem foi
mal sucedida) e o excesso de carga (poucos dias depois da segunda partida, tiveram de deitar mercadoria ao mar) são as causas
que fazem prever a tragédia que se avizinha.