Location via proxy:   [ UP ]  
[Report a bug]   [Manage cookies]                

Camoes Lirico

Fazer download em doc, pdf ou txt
Fazer download em doc, pdf ou txt
Você está na página 1de 8

ESCOLA SECUNDÁRIA D.

MANUEL - I - BEJA

CAMÕES LÍRICO - breve síntese

A Poesia Trovadoresca, após um longo período de auge, começou a decair após a morte do rei
D. Dinis. Este declínio poético prolongou- se por cerca de um século durante o qual se
desenvolveu a Didáctica e a Historiografia.
As razões que levaram a esta decadência foram:

- outros interesses económicos provocados pela expansão que levaram à criação da


burguesia endinheirada /espírito mercantil que não favorece o trabalho de imaginação.

- os reis deixaram de ser mecenas (protectores das artes e das letras ) e eles próprios
não herdaram a inclinação para trovar.

- o problema da sucessão em 1383 provocou a fuga de nobres poetas para Castela e


refugiaram- se na corte onde lhes era dada ajuda.

Como voltou a ressurgir a poesia em Portugal?

A partir dos meados do séc. XV nas cortes de D. Afonso I, D. João II e D. Manuel I renasceu o
culto da arte poética. Porquê?
- Restabelecida a paz com Castela, procedeu- se a uma política de intercâmbio cultural com
esse país, fomenta- se o intercâmbio luso- castelhano.

- Surge, então, uma poesia de cariz palaciano que animava os serões do Paço. Esta poesia teve
então um papel lúdico e de entretenimento.

- A corte foi considerada o centro de cultura e local de "cousas de folgar" onde os fidalgos se
concentravam para se entregarem aos prazeres da dança, da música e da poesia.

- O grande homem que promoveu esses serões foi D. Afonso V e foi no seu tempo que ela mais
se intensificou. O Paço começou a ser a Biblioteca Nacional do reino - é uma escola de espírito
clássico.

- D. João II e a sua corte teve também grande esplendor, pois o rei prezava a poesia e sentindo
que a sociabilidade dos serões era a melhor maneira de ter os fidalgos na mão, protegeu- os
largamente, protegendo, assim o absolutismo.
Como foi recolhida toda essa poesia de tão variados autores?

Toda a obra poética dos reinados referidos foi organizada por Garcia de Resende, resultando
deste trabalho o Cancioneiro Geral.
Garcia de Resende nasceu em Évora por volta de 1470 e foi secretário particular de D. João II,
tendo gozado da confiança do monarca. Conheceu grandes sucessos históricos, viveu plenamente
a vida da corte e era conhecedor de toda a renascença espiritual que se avizinhava. Escreveu:
"Trovas à morte de Inês de Castro" e foi o coleccionador do Cancioneiro.
Neste cancioneiro, publicado em 1516, desfilam poesias de cerca de 286 autores e constitui um
precioso documento sobre a sociedade portuguesa do séc XV.
Este cancioneiro não tem origem nos primitivos cancioneiros trovadorescos, mas é de tradição
castelhana.
Há, então no Cancioneiro Geral dois tipos de influência:

- a influência Castelhana pelo grande desenvolvimento da sua poesia visto o


prestígio que aí era dado aos poetas. Tal influência reflecte- se na inclusão de composições em
língua castelhana e no abandono da versificação típica trovadoresca e introdução da Redondilha
em composições com Mote e Glosa.

- a influência Italiana - esta influência manifesta- se, sobretudo através de reflexos de


Dante e Petrarca, constituindo um prenúncio do Classicismo que se aproximava.

As composições poéticas mais características do Cancioneiro Geral são :


o Vilancete que se compõe de um mote de 2 ou 3 versos e uma glosa de 7 versos, sendo o
último verso da Glosa a repetição com ou sem variantes do último verso do mote; a Cantiga, de
tom mais sério e convencional, consta de um mote de 4 ou 5 versos e uma glosa de 8 a 10
versos; a Esparsa é uma composição de uma só estrofe que varia entre 8, 9 ou 10 versos.
Duas influências italianas predominam nas composições do Cancioneiro:

- Dante

precursores do Renascimento literário


- Petrarca

A influência de Dante manifesta- se de forma profunda e consiste em falar de amor


relacionando- o com a visão extra- terrena daqueles que sofrem no inferno por terem amado. O
poeta cria ambientes macrabos, transporta- nos às profundezas do inferno para mostrar esse
espectáculo de sofrimento tanto mais profundos quanto maior fosse a recordação dos bens
passados. Aí se ouvem os queixumes dos condenados por causa do amor a que se entregaram na
Terra. Tal é visível nas "Trovas à morte de Inês de Castro" onde a voz de Inês, de além- túmulo
fala e relata o seu sofrimento.
A influência de Petrarca é directa e profunda, porque encontra correspondências no nosso
temperamento, uma vez que o lirismo petrarquista na sua concepção de amor puro e ideal, já se
encontravam nos nossos trovadores de amor cortês onde a "senhor" era idealizada e
espiritualizada.
No Petrarquismo é escolhida a vida solitária e o poeta maltratado pelo amor refugia- se na
Natureza e busca nela imagens que lhe permitam criar um confidente a quem confessa as suas
amargas meditações de amor.
O Petrarquismo consiste, pois, na livre expansão da alma enamorada de uma mulher ideal,
uma mulher dotada de todas as perfeições e com graças terrenas que se ama com um amor que
aspira a libertar- se da mancha da sensualidade como meio de ascender à contemplação divina,
mas que a cada passo deseja possuir- se. É o amor platónico, ideal e espiritual.

Essa mulher ideal apresentava um determinado tipo de beleza : cabelos de oiro, olhar brando
e sereno, riso terno e subtil, gesto manso, olhos verdes ou azuis, tez branca e rosada e lábios
vermelhos.

A época clássica inicia- se no séc XVI e o primeiro período dessa época integra- se no grande
movimento cultural do Renascimento pelo que foi um tempo áureo da nossa criação literária e
todos os géneros literários foram tratados de forma excepcional.
O Renascimento é considerado o movimento artístico , literário e filosófico que vai desde os
finais do séc XIV ao séc XVI, tendo- se expandido de Itália para outros países da Europa. Para
os humanistas ( o Homem é o centro de todas as atenções) o Renascimento representava a
orgulhosa convicção de que por um conhecimento mais extenso e exacto da cultura greco-
romana, as letras e as artes voltariam a ter o seu antigo esplendor.
Não se pode, no entanto, dizer que tenha havido uma ruptura entre a Idade Média e o
Renascimento, mas sim um processo de continuidade, por um lado porque a Idade Média nunca
deixou de manter contacto com os autores antigos e, por outro lado, porque o Renascimento deu
continuidade a certos aspectos anteriores.
Coexistiram , assim, princípios e conceitos novos e velhos, religiosos e profanos, autoritários e
individualistas.

A professora :
Ana Paula Oliveira
Lirismo Camoniano

Camões é não só considerado o maior lírico português, mas também um dos maiores líricos de
todos os tempos . Na sua lírica coexiste a tradição poética nacional e a novidade do estilo novo
renascentista . Por outras palavras, Camões assume a nova poética clássica com moderação sem
romper com a velha tradição lírica galaico- portuguesa.
Na sua poesia coexistem, pois os velhos e os novos géneros, os velhos e os novos metros, as
novas e as velhas convenções literárias. Como tal, destacam- se no seu lirismo duas correntes
poéticas :

a Tradicional * ____ Medida Velha,* já cultivada no Cancioneiro Geral de Garcia de Resende


(cantigas, vilancetes, esparsas e trovas ), com versos de 5 ou 7 sílabas. São normalmente poemas
de circunstância, por vezes convencionais e engenhosos;

por outro lado :

a Clássica *____ Medida Nova ,* de origem italiana introduzida por Sá de Miranda. Esta
inovação trouxe o decassílabo e abriu as portas ao Soneto, à Canção à Ode, etc.

No conjunto da sua lírica Camões privilegia variados temas.

Temas da Medida Velha : - o mar;


- a fonte;
- coisas de folgar;
- queixumes do coração;
- olhos verdes;
- futilidades;
- além de outras composições que são o resultado das
circunstâncias da vida do poeta e da sua experiência.
Podemos dizer que a sua poesia se identifica com a sua profunda cultura e com a sua vida
agitada e o seu temperamento apaixonado.

Temas da Medida Nova : - o amor petrarquista;


- o amor carnal;
- o destino;
- a saudade;
- os erros e o amor;
- o desconcerto do mundo;
- a mudança;
- temas religiosos;
- o absurdo e outras composições que são o resultado da vida
do poeta, do sentimento ardente e apaixonado e também da sua cultura.
É de salientar que a maior parte destas composições adoptam a Medida Nova que o
Renascimento pôs em voga e alguns géneros líricos herdados da estética clássica :

- Sonetos;
- Odes;
- Canções;
- Elegias, etc....

No conjunto da sua obra lírica, sente- se a fecunda influência clássica. Os seus modelos foram
Virgílio (poeta latino ) e Homero ( poeta grego ) para além de Ovídio e Horácio.
Também é muito visível a influência de Petrarca que Camões aceita e adopta de forma muito
intensa, muito embora alguns dos temas derivassem já da poesia provençal e do amor cortês, nos
quais a Mulher é vista como ser superior, quase divino. Também a atitude platónica do amante
perante a senhora, a morte pelo amor que são temas que Petrarca já fala com o seu novo estilo,
mas que derivam, simultaneamente das nossas correntes poéticas trovadorescas e palacianas.

A MULHER

Os conceitos de amor passivo e activo já definidos pressupõe, como é obvio, a existência de


dois tipos de mulher :

1º) a que é intocável, misteriosa, sempre ausente mesmo quando presente __ a ausência é a
sua presença ou a presença é a sua ausência, ela está sempre para além do "véu terrestre"-,
perante a qual o poeta se coloca de joelhos em atitude de vassalagem e de adoração. É a Laura
de Petrarca. "O poeta toscano levara à sua forma extrema a concepção que encontramos
virtualmente nos trovadores provençais e nos romances de cavalaria. A mulher é para ele o
objecto por excelência do homem. Nada tem de comum com ele : é uma representação que se
põe diante dele. (...) O objecto da musa de Petrarca, Laura, cantada, viva e morta, ao longo de
dezenas de anos, exprime inalteravelmente o mesmo ideal que resplandece como um sol sem
nuvens. Ela é a beleza, com os seus cabelos que fazem perder o preço ao ouro, o seu gesto
sereno, a sua alegria grave, a sua harmonia pura e exacta, que dá sentido à Natureza, como as
ninfas de Boticelli no meio das flores, mas sem o corpo visível. É inacessível e intocável. O seu
sorriso é impessoal como o de Gioconda ( ... ) Viva não é deste mundo. Petrarca chora
inconsolavelmente a sua ausência, sempre no mesmo tom elegíaco. ( ... ).A morte dela não é um
desastre, antes uma nova forma de ausência - ausência a que se reduziu sempre a presença de
Laura." E, sendo uma imagem que está escrita na alma, é principalmente na ausência que ela se
torna evidente à contemplação interior. ( ... )
Por estar longe da amada o Poeta vê mais intensamente dentro da alma, a essência da sua
beleza, de que os cabelos, os olhos, as faces, são apenas, como diria Petrarca, o "véu terrestre".
Sem embargo de o Poeta dizer que o objecto da sua visão é superior a tudo o que cantaram Dante
e Petrarca, é na realidade a imagem de Beatriz e Laura a que ele vê na sua contemplação : é a
ideia, o objecto, que os poetas vêm apurando desde os trovadores provençais.

António José Saraiva, op. cit. p. 69


2º) Outro tipo de mulher é a terrena, modelada de formas ondulantes e atraentes, perante a
qual o homem se sente irresistivelmente atraído, causando- lhe a alegria dos sentidos. É a
Vénus que enche os Lusíadas e cujas formas graciosas apaziguam tempestades e vinganças. É a
mulher deste mundo que o poeta viu morrer à sua frente, afogada em naufrágio nas águas do rio
Mecom; é a mulher que o poeta viu na corte de D. João III, pela qual se apaixonou mesmo
sabendo da impossibilidade de a conquistar por razões de ordem social; é a Inês de Castro que
ama loucamente D. Pedro, mesmo sabendo que esse amor pode custar- lhe a própria vida.
Para concluir, referimos uma vez mais as palavras de A. José Saraiva, op. cit. 86 : " Há pois,
uma oposição profunda entre as duas ideias da lírica : Laura e Vénus. Uma é centrífuga em
relação à terra, outra é centrípeta, uma é a negação do sensível, outra é a sua afirmação; uma
cabe dentro dos moldes da hierarquia feudal, outra quebra- os; uma é transcendentalista, outra
é imanentista. A poesia de Camões acha- se partida pelo meio".

A MUDANÇA

" O tema do tempo e da mudança ( a que o renascentista é tão sensível ) informa muitas
composições de Camões. O poeta analisa- o para distinguir o tempo natural, onde a evolução
tem regresso e no seu ciclo uma certa permanência, do tempo humano irreversível, instável, que
muda as coisas sem uma lei ou uma razão, apenas com um sentido : para pior. Um tempo
"errado". A reflexão sobre o tempo resulta numa análise imbuída de cepticismo sobre a
consistência do bem passado (...).
Duvida- se de que alguma vez ele tenha existido e não seja mais que um efeito de contraste
perante a infelicidade presente, uma ilusão da memória que inventaria uma felicidade passada
que não existiu. Ou, se existiu, serviu apenas para "semente" do mal ( ... ).

Maria Vitalina Leal de Matos

No âmbito dos valores humanistas, muito fixados no homem e na existência temporal, a morte
e a mudança para a velhice constituem preocupações irresolúveis.
O humanista sofre com a Mudança no sentido do envelhecimento, sofre pela incapacidade de a
superar; sofre ao ver que a Mudança na Natureza se renova ciclicamente, ao passo que na vida
humana a Mudança é irreversível. O carácter irreversível do sentido da vida e da morte contribui
para que o poeta não acredite na felicidade terrena e procure, por vezes, o sentido do espiritual e
do divino - "...mas o melhor de tudo é crer em Cristo. "

A professora :
Ana Paula Oliveira
A SAUDADE

Se recordassemos algumas outras composições, das mais genuinamente camonianas, veríamos


quase sempre o mesmo esquema da ausência e do homem exilado. Sejam, por exemplo, alguns
dos sonetos a Dinamene "Ó céu, a terra, o vento sossegado". O poeta, diante do mar, pede às
ondas que lhe restituam a sua ninfa, mas ouve, somente, o bater do mar : "Ninguém lhe fala; o
mar de longe bate/ ( ... ) Leva- lhe o vento a voz, que ao vento deita..." ( ... )

No soneto " Ah! minha Dinamene", o desgosto do poeta perante a morte em naufrágio, da
amada, acha pequeno o sacrifício da vida, porque " tem por pouco o viver triste ", isto é, a sua
condição de exilado à qual é preferível a morte. O soneto " Alma minha gentil " repete,
evidentemente, o esquema da vida exilada, " ca na terra sempre triste ", longe da amada que
"repousa lá no céu eternamente " (...)

Esta vida, retraindo- se do mundo para dentro da alma , este recolhimento do bulício, da cor,
do pitoresco para a "pureza" de vida, serena e quieta, cria um tom macerado de consciência triste
pela mais aprofundada convicção de situação em exílio. Tristeza, no entanto, que se apresenta
como característica de aceitação serena por parte de anima, arquétipo feminino da alma, da
essencial nostalgia da criatura. Não se trata de mera Saudade da Idade de Oiro nem mesmo de
regresso à infância ou à mãe; é nostalgia de um antes de ser, o gosto de ser triste. E se essa
tristeza é nobre e essencial, " morrer de puro triste, / Que maior contentamento?" (...)

" A vivência mais comum do amor consiste na Saudade, não já encarada segundo o
platonismo, com a ausência que se torna condição de aperfeiçoamento, mas apenas sentida como
carência insuportável ( ... ). A ausência do sujeito em relação a si próprio, deriva da absorção
contínua do "amador na coisa amada", pela qual ele coincidiria com ela e consigo próprio; mas,
na prática, provoca exactamente o contrário : a divisão no interior do sujeito que acaba por se
desconhecer".

Maria Vitalina Leal de Matos in "Introdução à Poesia de Luís de Camões

A Professora :
Ana Paula Oliveira
CAMÕES LÍRICO ( aproximação da poesia tradicional deste com os temas tratados no.
cancioneiros trovadorescos e no Cancioneiro Geral de Garcia de Resende)

Camões retoma temas da poesia tradicional como a fonte, o mar , os olhos verdes ou cousas
de folgar e gentilezas, já tratados nos cancioneiros trovadorescos e no Cancioneiro Geral de
Garcia de Resende. As redondilhas de Camões, afirma Georges Le Gentil na obra de Camões, "
poemas de forma fixa que se poderiam agrupar sob a denominação mais geral e mais expressiva
de Medida Velha, ligam- se, por um lado, à tradição cortês, tornada apanágio de um escol social,
por outro, ao folclore, preservado ou exumado pelos músicos. ( ... )
O encanto das redondilhas de Camões provém deste paradoxal compromisso entre o requinte e
a ingenuidade. Ele podia escolher entre as combinações variadas das glosas, das esparsas, das
trovas dos vilancetes, das endechas e das cantigas. ( ... ) Em geral, Camões adopta a forma do
mote e das voltas. O mote apresenta- se sob o aspecto de uma curta citação tirada de uma velha
cantiga popular espanhola ou portuguesa. É o tema inicial sobre o qual ele vai "bordar" as suas
variações. Através desse tema, reencontramos a inspiração das Cantigas de Amigo
Lendo os poemas : "Descalça vai pera a fonte ", "Na fonte está Lianor" e "Pastora da Serra",
ocorre imediatamente a imagem da donzela das Cantigas de Amigo que vai buscar água à fonte,
lavar aí os seus cabelos ou simplesmente encontrar- se com o amigo, que pergunta à mãe ou às
amigas pelo seu amado, ou à imagem da ingénua pastora apascentando o seu rebanho num
cenário bucólico convidativo ao amor, que é galanteada pelo cavaleiro andante inebriado pela
beleza do cenário da donzela e da sua maravilhosa melodia.

O Professor :
Carlos Vargens

Você também pode gostar