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Estudo Solo Cimento PDF

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

ESCOLA POLITÉCNICA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA METALÚRGICA E DE MATERIAIS
CURSO DE ENGENHARIA DE MATERIAIS
PROJETO DE CONCLUSÃO DE CURSO

Autora: Priscilla Henriques Mieli

AVALIAÇÃO DO TIJOLO MODULAR DE SOLO-CIMENTO


COMO MATERIAL NA CONSTRUÇÃO CIVIL

Aprovado por:

____________________________________________
Profº: Célio Albano da Costa Neto (Orientador)

____________________________________________
Profº: Romildo Dias Tolêdo Filho

____________________________________________
Profº: Tsuneharu Ogasawara

Rio de Janeiro
Julho de 2009

MIELI, PRISCILLA HENRIQUES

AVALIAÇÃO DO TIJOLO MODULAR DE SOLO-CIMENTO


COMO MATERIAL NA CONSTRUÇÃO CIVIL

[Rio de Janeiro] 2009

(DEMM-POLI/UFRJ, Engenharia de Materiais, 2009)


p. 48 xii 29,7 cm

Projeto de Conclusão de Curso – Universidade Federal do Rio de Janeiro,


Escola Politécnica, Departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais,
Curso de Engenharia de Materiais

1 – Solo-cimento
2 – Tijolo ecológico
3 – Tijolo modular

ii
“A maior recompensa do nosso trabalho não é o que nos pagam por ele,
mas aquilo em que ele nos transforma.”
(John Ruskin)

iii
Dedico este trabalho à Deus, ao meu filho Eduardo,
ao meu marido e companheiro Leonardo,
ao meu irmão Luiz Felipe e
aos meus pais Ana Cristina e Carlos Alberto
por todo apoio e esforço ao longo de todos esses anos.

iv
Agradecimentos

Agradeço à Deus pela minha vida e por todas as oportunidades que Ele me
deu. Ao meu filho Eduardo por cada sorriso e carinho e por ser o principal motivo de
mais essa conquista em minha vida. Ao meu marido e companheiro Leonardo por todo
apoio e compreensão. Aos meus pais Ana Cristina e Carlos Alberto pelos
ensinamentos e conselhos, pela dedicação e esforço ao longo de todos esses anos.
Aos familiares e amigos que me incentivaram, apoiaram e, mesmo diante de todas as
dificuldades, não me deixaram desistir desse projeto.

Ao professor Célio, pela orientação e conselhos.

Ao professor Romildo e às engenheiras Reila e Ana Catarina por todo apoio,


atenção e ensinamentos.

À cada profissional do Departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais


da UFRJ pela disponibilidade, paciência e compreensão com que me atenderam e
responderam às minhas dúvidas e questionamentos.

À Construecol e aos seus profisssionais que nos cederam os materiais e


técnicas para o desenvolvimento deste trabalho.

À todos que, de alguma forma, colaboraram para que este trabalho se tornasse
possível.

v
PROJETO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA
METALÚRGICA E DE MATERIAIS DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL
DO RIO DE JANEIRO, COMO UM DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO
GRAU DE ENGENHEIRA DE MATERIAIS

AVALIAÇÃO DO TIJOLO MODULAR DE SOLO-CIMENTO


COMO MATERIAL NA CONSTRUÇÃO CIVIL

Priscilla Henriques Mieli

Julho/2009

Orientador: Célio Albano da Costa Neto, Ph.D


Palavras-chave: solo-cimento; tijolo ecológico; tijolo modular.

O objetivo deste trabalho é realizar um estudo sobre as propriedades e características


do tijolo solo-cimento, com o intuito de produzir um material que seja barato, ecologicamente
correto, de boa qualidade e com grande importância para o crescimento da qualidade e
produtividade dos serviços de construção civil. Além da questão do material, a busca de novas
soluções construtivas, o emprego viável de novas ferramentas, a reciclagem de resíduos, o
déficit habitacional, o desenvolvimento sustentável e a eliminação de desperdício no canteiro
de obras através da racionalização de materiais e mão-de-obra são desafios a serem
encarados por pesquisadores, engenheiros, arquitetos e a própria sociedade.
Esse contexto faz com que novos materiais, ou ainda materiais de elevado
desempenho e sistemas construtivos mais eficientes sejam os principais objetivos na tentativa
de estabelecer uma relação saudável entre baixo custo e qualidade das obras sem desprezar a
cultura, a realidade de consumo e os limites da mão-de-obra.
Para tal estudo, o auxílio da empresa Construecol foi de grande importância, uma vez
que todo o material e técnicas utilizadas foram cedidos pela empresa citada. Dessa forma, a
fim de obter informações que permitiram averiguar a eficácia desse material, foram realizados
ensaios de caracterização do solo utilizado na composição do tijolo de solo-cimento, de
resistência à compressão simples e de absorção d’água dos tijolos e comparados com outros
materiais largamente utilizados no mercado da construção civil atualmente. Os resultados
apontam que o tijolo de solo-cimento pode ser produzido com qualidade e baixo custo, desde
que respeitadas as normas de produção e qualidade, sendo assim, uma boa opção para o
setor da construção civil.

vi
SUMÁRIO

vii
ÍNDICE DE FIGURAS

FIGURA 1 - ESTRUTURA DO SOLO ...................................................................................................... 5

FIGURA 2 – IDADE EM FUNÇÃO DO AUMENTO DA RESISTÊNCIA PARA DIFERENTES

COMPOSTOS DO CIMENTO ................................................................................................................. 10

FIGURA 3 – COMPOSIÇÃO DO TIJOLO SOLO-CIMENTO .............................................................. 11

FIGURA 4 – DIFRATÔMETRO SHIMADZU – MODELO XRD 6000 – LABORATÓRIO DE

DIFRAÇÃO DE RAIOS-X DO DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA METALÚRGICA E DE

MATERIAIS DA UFRJ ............................................................................................................................. 22

FIGURA 5 – MICROSCÓPIO ELETRÔNICO DE VARREDURA – LABMIC - UFRJ ....................... 23

FIGURA 6 – PRENSA UTILIZADA NO ENSAIO DE COMPRESSÃO SIMPLES ............................. 26

FIGURA 7 – SOBREPOSIÇÃO DOS TIJOLOS PARA POSTERIOR REALIZAÇÃO DO ENSAIO . 26

FIGURA 8 – TIJOLOS SECOS EM ESTUFA A 105ºC ATÉ CONSTÂNCIA DE PESO ..................... 28

FIGURA 9 – TIJOLOS IMERSOS EM ÁGUA ....................................................................................... 28

FIGURA 10 – DIFRATOGRAMA DO SOLO EM ANÁLISE ............................................................... 32

FIGURA 11 – DISTÂNCIAS INTERPLANARES OBTIDAS NO ENSAIO DO SOLO EM ANÁLISE

(EM CIMA) CONFRONTADAS COM DISTÂNCIAS INTERPLANARES REFERENTES AOS

MINERAIS POSSIVELMENTE PRESENTES NO SOLO EM ANÁLISE (EM BAIXO) ..................... 33

FIGURA 12 – DISTÂNCIAS INTERPLANARES REFERENTES A CADA MINERAL

POSSIVELMENTE PRESENTE NO SOLO EM ANÁLISE ................................................................... 33

FIGURA 13 – MEV E RESPECTIVOS DIFRATOGRAMAS (OURO) DO SOLO EM ANÁLISE COM

AUMENTO DE 50X ................................................................................................................................. 35

FIGURA 14 – MEV E RESPECTIVO DIFRATOGRAMA (OURO) COM AUMENTO DE 1000X . . . 36

FIGURA 15 – MEV E RESPECTIVO DIFRATOGRAMA (CARBONO) COM AUMENTO DE

1000X ......................................................................................................................................................... 36

viii
FIGURA 16 – MEV E RESPECTIVO DIFRATOGRAMA (CARBONO) COM AUMENTO DE

3000X ......................................................................................................................................................... 36

FIGURA 17 – TIJOLOS APÓS ENSAIO DE COMPRESSÃO SIMPLES (VISTA FRONTAL E

LATERAL) ................................................................................................................................................ 38

FIGURA 18 – DISPERSÃO DOS RESULTADOS DO ENSAIO DE COMPRESSÃO DOS TIJOLOS

COM 7 DIAS E COM MAIS DE 28 DIAS DE CURA ............................................................................ 39

FIGURA 19 – GRÁFICO REFERENTE AO ENSAIO DE ABSORÇÃO D’ÁGUA ............................. 40

ix
ÍNDICE DE TABELAS

TABELA 1 – FAIXAS APROXIMADAS DOS PRINCIPAIS COMPONENTES DE UMA AMOSTRA

DE CIMENTO ............................................................................................................................................. 9

TABELA 2 – RESULTADOS DOS ENSAIOS DE TIJOLOS DE SOLO-CIMENTO ........................... 13

TABELA 3 – CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-MECÂNICA DE MISTURAS DE SOLO-CIMENTO . . 13

TABELA 4 – TENSÕES DE RUPTURA (MPA) DE CORPOS-DE-PROVA DE SOLO-CIMENTO . . 14

TABELA 5 – RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO SIMPLES E CAPACIDADE DE ABSORÇÃO

D’ÁGUA DOS TIJOLOS DE SOLO-CIMENTO ..................................................................................... 15

TABELA 6 – PRODUTIVIDADE DAS PRENSAS PARA COMPONENTES DE SOLO-CIMENTO. .25

TABELA 7 – LIMITES DE RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO ESPECIFICADOS PARA CONTROLE

DE QUALIDADE DOS TIJOLOS DE SOLO-CIMENTO ...................................................................... 27

TABELA 8 – LIMITES DE ABSORÇÃO D’ÁGUA ESPECIFICADOS PARA CONTROLE DE

QUALIDADE DOS TIJOLOS DE SOLO-CIMENTO ............................................................................. 29

TABELA 9 – CARACTERÍSTICAS FÍSICO-MECÂNICAS DO SOLO ............................................... 30

TABELA 10 – CLASSIFICAÇÃO DE CONSISTÊNCIA DO SOLO DE ACORDO COM O IP ......... 31

TABELA 11 – CLASSIFICAÇÃO DO PH DO SOLO ............................................................................ 32

TABELA 12 – CLASSIFICAÇÃO DOS ARGILOMINERAIS APRESENTADOS NO ENSAIO DE

RAIO-X DO SOLO EM ANÁLISE .......................................................................................................... 34

TABELA 13 – ELEMENTOS E RESPECTIVOS PERCENTUAIS DE PESO APRESENTADOS NO

ENSAIO DE EDS COM OURO ............................................................................................................... 35

TABELA 14 – ELEMENTOS E RESPECTIVOS PERCENTUAIS DE PESO APRESENTADOS NO

ENSAIO DE EDS COM CARBONO........................................................................................................ 35

TABELA 15 – RESULTADOS DO ENSAIO DE COMPRESSÃO SIMPLES ...................................... 37

TABELA 16 – RESULTADO DO ENSAIO DE ABSORÇÃO D’ÁGUA .............................................. 40

x
TABELA 17 – COMPARATIVO ENTRE OS PRINCIPAIS TIPOS DE ALVENARIA UTILIZADOS

NA CONSTRUÇÃO ATUALMENTE ..................................................................................................... 41

xi
INTRODUÇÃO

A construção civil é uma das atividades mais importantes da economia


brasileira e assim será por muito tempo, face ao enorme déficit habitacional, conhecido
de longa data, a premente necessidade de crescimento e a geração de empregos no
país. Atualmente, assim como há tempos passados, em situações de retomada de
crescimento e mesmo em meio a uma crise econômica mundial, visualiza-se rápida
resposta do setor, proporcionando volumes vultosos de investimentos e geração de
empregos. Isto faz com que esta atividade adquira contornos de destaque e posição
de caráter estratégico na economia brasileira. No entanto,apesar do grande potencial
do setor, ainda é possível observar atrasos notáveis em termos de tecnologia
construtiva, como por exemplo o desperdício no canteiro de obras, o que induz à
geração de grandes volumes de entulho, muitas vezes lançados em locais
inadequados e que em pouco tempo não suportarão mais esses volumes, chegando a
saturação e gerando mais um problema de alocação de resíduos no Brasil.

Por outro lado, ao longo de nossa história, o solo sempre foi amplamente
aplicado em soluções arquitetônicas, por ser um material abundante e de fácil
obtenção e manuseio, de baixo custo e apropriado para as mais diversas aplicações
em construções, havendo registros de sua aplicação até em culturas muito antigas
como a egípcia, e distintas, como a grega e a romana. A prova da eficiência desse
material é que existem construções feitas com materiais derivados do solo que datam
de vários séculos e resistem até os dias de hoje, preservando a estabilidade estrutural,
como por exemplo a cidade histórica de Ouro Preto, em Minas Gerais, que tem
aproximadamente quatro séculos de história e a maior parte desta, construída com o
uso do solo. Concomitantemente, o uso da alvenaria como sistema construtivo tem
forte expressividade cultural, sendo que o tijolo pode ser considerado o componente
pré-moldado mais antigo e também o mais empregado pelo homem na construção
civil.

A busca de novas soluções construtivas, o emprego viável de novas


ferramentas, a reciclagem de resíduos, o déficit habitacional, o desenvolvimento
sustentável e a eliminação do desperdício no canteiro de obras através da
racionalização e reciclagem de materiais fazem com que novos materiais, ou ainda,
materiais de elevado desempenho, e sistemas construtivos mais eficientes sejam os
principais objetivos na tentativa de estabelecer uma relação saudável entre baixo
custo e qualidade da obra.

1
Em estimativa feita pela ONU, para satisfazer as necessidades elementares de
moradia no mundo até final do ano 2000, havia necessidade de construção de pelo
menos 500 milhões de unidades habitacionais. Nesse contexto, o uso do solo-cimento
pode significar o retorno da utilização do solo, pois trata-se de uma matéria-prima
abundante, com potencial para reduzir o custo das construções habitacionais e induzir
os projetistas ao hábito de construir harmonizando projeto arquitetônico, materiais
locais e sistema construtivo.

Desse modo, o uso dos tijolos de solo-cimento, produzidos por meio de


prensas manuais ou hidráulicas, com aplicações de técnicas simples e soluções
viáveis, está em conformidade com os objetivos acima mencionados e será abordado
como tema deste trabalho.

O objetivo principal é realizar um estudo sobre as propriedades e


características do tijolo solo-cimento, com o intuito de produzir um material que seja
barato, ecologicamente correto, de boa qualidade e com grande importância para o
crescimento da qualidade e produtividade dos serviços de construção civil.

Na composição do solo-cimento, o solo é o material que entra em maior


proporção, devendo ser selecionado de modo que permita o menor consumo possível
de cimento. Quando não se dispõe de um solo com as características desejadas,
alguns autores, objetivando a obtenção de um material apropriado, consideram a
possibilidade de se misturar dois ou mais solos, ou mesmo de se adicionar areia, de
modo que o resultado seja favorável técnica e economicamente.

Na realização deste trabalho, visando a confecção dos tijolos, utilizou-se o solo


de uma jazida, conhecida por Morada do Sol, localizada na cidade de Itaboraí, no
estado do Rio de Janeiro. O cimento utilizado foi o Portland CPIII-RS-32 da marca
Nassau e a água é a mesma distribuída pela CEDAE (Companhia Estadual de Água e
Esgoto). A composição de solo-cimento analisada foi preparada empregando-se a
seguinte dosagem, em volume: 7,5 partes de solo; 1 parte de cimento; 0,5 partes de
areia; 0,25 partes de cal e umidade de 5% do peso total da mistura.

2
1. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

1.1 HISTÓRIA DO TIJOLO SOLO-CIMENTO

Segundo a Associação Brasielira de Cimento Portland (ABCP), o solo-cimento


é o produto resultante da mistura íntima de solo, cimento portland e água, que quando
compactados na umidade ótima e sob a máxima massa específica seca, em
proporções previamente estabelecidas, adquire resistência e durabilidade através das
reações de hidratação do cimento. Os principais fatores que afetam as propriedades
do solo-cimento são: tipo de solo, teor de cimento, teor de umidade, compactação e
homogeneidade da mistura, além da idade e do processo de cura.

Em 1929, Proctor descobria a relação umidade / peso específico aparente na


compactação de solos, o que permitia o início do desenvolvimento do solo-cimento
para diversos tipos de construções, tais como: pavimentação, revestimento de canais,
diques, reservatórios e barragens de terra, estabilização de taludes, injeções, ladrilhos,
tijolos, blocos, painéis e paredes monolíticas. Os primeiros estudos do solo-cimento
em grande escala foram feitos por Moore-Fields e Mill, nos Estados Unidos em 1932.

Em 1944, a American Society for Testing and Materials (ASTM) normalizava os


ensaios, sendo seguida por outras entidades, tais como a American Association of
State Highway Officials (AASHO) e a Portland Cement Association (PCA). Tais
estudos foram rapidamente estendidos à Europa, principalmente Alemanha (na
construção de aeroportos na época da guerra), Inglaterra e América do Sul (Brasil,
Argentina e Colômbia).

No Brasil, o interesse pelo assunto aumentou após a regulamentação do


material e aplicação do mesmo pela ABCP e a primeira obra em solo-cimento foi
realizada em 1945, uma casa de bombas para abastecer as obras do aeroporto de
Santarém - Pará, com 42 m 2. Em seguida, em Petrópolis - RJ, no local denominado
Vale Florido, foram construídas casas residenciais com paredes monolíticas de solo-
cimento.

No entanto, o interesse pelo solo-cimento na construção de habitações (como


componente de alvenaria) foi desaparecendo, no Brasil, na medida em que outros
materiais, na maioria dos casos, mais industrializados, surgiam no mercado. Foi então
que em 1978, quando o extinto BNH (Banco Nacional da Habitação) amparado por
estudos feitos pelo IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo)
e pelo CEPED (Centro de Pesquisas e Desenvolvimento) que comprovavam o bom
3
desempenho do solo-cimento e a possibilidade de redução de custos, aprovou a
técnica para a construção de habitações populares. Desde então, a experiência
brasileira vem sendo bastante ampliada, com aplicação de novas técnicas
construtivas, avanços na tecnologia dos materiais e aprimoramento dos equipamentos
de produção. Hoje, por exemplo, se dispõe de equipamentos para a produção de
blocos intertravados, que embora tenham custo mais elevado, possibilitam a
passagem de tubulações e propiciam maior rapidez na execução da alvenaria, o que
reduz o custo final da obra.

Dessa forma, atualmente, a utilização deste tipo de material é bastante


expressiva em obras de pavimentação, reforços e melhorias de solos, em barragens e
contenções, construções comerciais, além das já citadas casas populares.

1.2 O SOLO

A formação dos solos é causada por fatores como agentes atmosféricos, água,
variações de temperatura e decomposições químicas que, continuamente, atacam a
superfície terrestre e transformam as rochas em solo.

Os solos podem ser definidos como um conjunto de partículas sólidas,


provenientes da desagregação de rochas por ações físicas e químicas, com água (ou
outro líquido) e ar (Figura 1). Dessa forma, pode-se configurar o solo como uma
estrutura porosa, sendo que as partículas, de modo geral, encontram-se livres para se
deslocarem e, essa movimentação muda o comportamento dos solos, uma vez que
altera as porcentagens, em volume, de suas fases constituintes (sólidos, ar e água).

4
Figura 1 – Estrutura do solo

Como citado anteriormente, o solo é composto por partículas sólidas, por


líquidos e gases. A parte sólida, insolúvel em água, é constituída de minerais e
material orgânico e esses minerais são subdivididos em dois grandes grupos: os
inertes, ou fração grossa e os argilo-minerais, que são ativos quimicamente e
conferem plasticidade e coesão ao solo.

1.2.1 ESTABILIZAÇÃO DO SOLO

É preciso notar que o emprego do solo como material de construção deve ser
realizado com critério, pois podem ocorrer alguns problemas devido às propriedades
desse material, que são muito complexas e heterogêneas, conforme exposto
anteriormente.

Os princípios que regem a estabilização dos solos tendem a conferir ao


produto final melhor estabilidade dimensional, aumento de resistência mecânica para
patamares definidos pela utilização, diminuição da permeabilidade, controle da
fissuração por retração por secagem, resistência à erosão e abrasão superficial e,
conseqüentemente, aumento da durabilidade do material. Além disso, todo processo
de estabilização modifica as propriedades do sistema solo-água-ar, de forma que a
estabilização pode ser direcionada para apenas duas características do solo: a textura
(grau de finura do solo) e a estrutura.

De fato, a estabilização, de qualquer forma, promove:

• A redução do volume de vazios, o que influencia sobre a porosidade;

• O preenchimento dos vazios que não podem ser eliminados por completo,
alterando as características de permeabilidade do solo;

• A melhoria da aderência entre os grãos, conferindo maior densidade ao


solo, influenciando diretamente na resistência mecânica.

Existem três métodos principais de estabilização dos solos: estabilização


mecânica, estabilização física e estabilização química. A estabilização mecânica
consiste em compactar o solo por meio de uma ação (aplicação de uma energia)
mecânica. Os resultados desse método afetam a densidade, a resistência mecânica, a

5
compressibilidade, a permeabilidade e a porosidade. A estabilização física atua
diretamente sobre a textura do solo, ou seja, frações de grãos de diferentes
granulometrias e, portanto, otimizam-se as proporções entre areia, silte e argila, fato
que causa um melhor empacotamento dos grãos. Ocorre estabilização química
quando outros materiais são adicionados ao solo, modificando suas propriedades ou
por reação físico-química entre os grãos e o material, ou criando uma matriz que
aglutina e cobre os grãos. Dessa forma, a opção pelo tipo adequado de estabilização e
a escolha dos agentes estabilizadores é influenciada por uma série de fatores como:
viabilidade econômica, finalidade da obra, características dos materiais e as
propriedades do solo que se deseja corrigir ou adequar.

Quando o agente estabilizador do solo é o cimento ocorrem reações de


hidratação dos silicatos e aluminatos presentes no cimento, formando um gel que
preenche parte dos vazios da massa e une os grãos adjacentes do solo, conferindo a
ele resistência inicial; paralelamente a este processo, ocorrem reações iônicas que
provocam a troca de cátions das estruturas argilominerais do solo com os íons de
cálcio provenientes da hidratação do cimento adicionado. Devido a esta troca, o solo
torna-se mais granular, a adesividade é reduzida assim como a sensibilidade à
variação de umidade e à variação volumétrica tornam-se menores. Além destas
modificações iniciais, Abiko (1980) afirmou que, ao longo do tempo, formam-se
compostos cimentantes que contribuem para o melhoramento de propriedades do
material, tais como resistência, durabilidade e estabilidade volumétrica.

Já na estabilização do solo com a cal, primeiramente ocorre hidratação da cal,


que modifica o pH do solo e provoca floculação das argilas em razão das reações de
troca catiônicas. Imediatamente, o material sofre redução da expansão e da retração e
melhora sua plasticidade. Com o tempo, o ataque da argila pela cal produz reações
pozolânicas e fenômenos de carbonetação, conferindo melhores características geo-
mecânicas ao conjunto (GUIMARÃES, 1995).

1.2.2 COMPACTAÇÃO DO SOLO

A compactação do solo é o processo pelo qual suas partículas são forçadas a


agruparem-se mais estreitamente, através da redução nos vazios de ar, geralmente
por meios mecânicos.

6
Um dos mais importantes princípios da mecânica dos solos diz que a
densidade de um solo compactado é função do teor de umidade no momento de sua
compactação. Para uma energia de compactação constante, ao se adicionar água ao
solo, sua densidade aparente aumentará até um certo ponto, chamado umidade
ótima1. Ao acrescentar teores de umidade acima do ótimo, a densidade torna a
reduzir, pois o excesso de água absorve parte da energia de compactação e redistribui
ao sistema, afastando as partículas sólidas.

Na verdade, o teor ótimo promove uma lubrificação das partículas, facilitando,


quando se imprime uma energia de compactação, o preenchimento de todos os vazios
possíveis. O teor ótimo de cimento ou cal a ser adicionado ao solo depende dos
critérios técnicos (resistência, durabilidade) que se pretende alcançar. Abiko (1985), ao
analisar sistemas de solo-cimento e solo-cal para componentes de alvenaria, indicou
para solos arenosos o traço de 1:10, 1:12 e 1:14 (cimento:solo seco, em volume) e,
para solos argilosos, a adição de 5% a 10% (em massa) de cal.

Entende-se, portanto, que solos com maiores quantidades de finos, quando


compactados, demandam maiores teores de água para atingirem a umidade ótima,
devido à maior área superficial do solo. De um modo geral, solos de granulometria
desuniformes são ideais, pois além de requererem menor teor de estabilizante, os
espaços existentes entre os grãos maiores são preenchidos por partículas menores do
próprio solo e, neste caso, os produtos formados das reações de solo-aditivo, ao invés
de preencher os vazios, agem de forma integral na ligação entre os grãos. Quando a
granulometria do solo não é adequada, pode-se corrigi-la adicionando-se outros tipos
de solo, tal como nos trabalhos de Sousa e Barbosa (2000), quando dois tipos de solo
caracterizados como arenosos foram corrigidos com a adição de finos (silte + argila),
assim promovendo a coesão do solo para moldagem de tijolos prensados.

Após a compactação, o solo adquire nova configuração e, esta, afeta


significativamente as características mecânicas e, conseqüentemente, a porosidade e
permeabilidade do material. Além disso, as propriedades físico-mecânicas (resistência
à compressão, durabilidade e absorção de água) do sistema solo-agente estabilizante
compactados estão intimamente relacionadas com as condições de cura (umidade e
temperatura) e compactação, ou seja, deve-se trabalhar com umidades de moldagem
em torno do teor ótimo pois, quanto mais denso o sistema, maior a sua resistência.
Quanto maior for o efeito da estabilização do solo, menor deve ser a perda de massa,

1
É o teor de umidade correspondente à massa específica seca máxima.
7
indicando que o componente construtivo possui durabilidade e resistência (PICCHI et
al.,1990).

1.3 CIMENTO

O cimento Portland é um pó fino com propriedades aglomerantes, aglutinantes


ou ligantes, que endurece sob ação da água e que, depois de endurecido, mesmo que
seja novamente submetido à ação da água, esse material não se decompõe mais. O
cimento também pode ser tecnicamente definido como um aglomerante hidráulico
obtido pela moagem do clínquer, com adição de gesso (serve como regulador do
tempo de início de hidratação ou tempo inicial de “pega”) e outras substâncias que
determinam o tipo de cimento. O clínquer é o resultado da mistura de calcário, argilas
e, em menor proporção, minério de ferro, submetida a um processo chamado
clinquerização. Quando reduzido a pó, o clínquer tem composição química específica
e propriedades físicas de cimento, contendo basicamente uma série de compostos
anidros, dos quais pode-se destacar:

• Silicato tricálcico, ou alita (CaO)3SiO2;

• Silicato dicálcico, ou belita (CaO)2SiO2;

• Aluminato tricálcico (CaO)3 Al2O3;

• Ferroaluminato tetracálcico, ou ferrita (CaO)4 Al2O3Fe2O3.

Tabela 1 – Faixas aproximadas dos principais componentes de uma amostra de cimento.

COMPONENTE FÓRMULA QÍMICA FÓRMULA USUAL PROPORÇÃO (%)

Silicato tricálcico (CaO) 3SiO2 C3S 45 a 75


Silicato dicálcico (CaO) 2SiO2 C2S 7 a 35
Aluminato tricálcico (CaO)3Al 2O3 C3A 0 a 13
Ferroaluminato tetracálcico (CaO) 4Al2O3Fe2O3 C4AF 1 a 18

8
O conhecimento dos produtos formados pela hidratação do cimento, bem como
dos diversos fatores (calor liberado e velocidade) que constituem essa reação, é de
grande importância para o uso prático do cimento Portland. De fato, por se tratar de
um componente do solo-cimento, é preciso compreender algumas características
tecnológicas desse material.

As propriedades dos principais componentes do cimento em hidratação são as


seguintes:

• C3A – reage nos primeiros minutos e ocasiona elevado calor de hidratação,


propicia pouco desenvolvimento de resistência e forte retração;

• C3S – responsável pelo desenvolvimento da resistência nas idades iniciais (3 a


28 dias) e propicia alto desprendimento de calor, libera cerca de 40% em
massa de hidróxido de cálcio (Ca(OH)2);

• C2S – proporciona o desenvolvimento da resistência em idades mais


avançadas (mais de 28 dias) com baixa liberação de calor, produz cerca de
18% em massa de Ca(OH)2;

• C4AF – desenvolvimento lento e pequeno de resistência mecânica e boa


resistência ao ataque por sulfatos.

A Figura 2 mostra um gráfico do aumento da resistência à compressão em


função do tempo, desenvolvida pelos diferentes compostos do cimento.

9
Figura 2 – Idade em função do aumento da resistência para
diferentes compostos do cimento.

No solo-cimento, assim como em concretos e argamassas, a natureza do


cimento deve ser considerada para a proposta de desenvolvimento de pesquisas que
visam melhorar o desempenho desse material. Sabe-se que diferentes composições
do cimento conduzem a comportamentos distintos da mistura de solo-cimento,
principalmente no que se refere à fissuração por retração. Os cimentos com elevada
saturação de cal contém sempre uma quantidade expressiva de cal livre e esta,
quando hidratada, provoca expansões que reduzem a retração do material. Por isso, o
aumento do C3S na composição do cimento, diminui a retração do solo-cimento. No
entanto, a retração aumenta com teores mais elevados de C3A.

Diversas pesquisas demonstram evolução acerca da composição de cimentos


e suas implicações na estabilização de solos. Por exemplo, a influência do cimento
Portland de alto forno como estabilizadores de solos, incrementam a resistência
mecânica à compressão e reduzem o índice de plasticidade em solos argilosos, o que
comprova a eficiência e o potencial de utilização de alternativas tecnológicas na
composição de cimentos. A compreensão dos tipos de cimento e suas propriedades
tecnológicas, aliada ao correto entendimento das variáveis que constituem os solos,
significa ampliar as possibilidades de desenvolvimento do solo-cimento, na busca de
um material de elevado desempenho.

10
1.4 SOLO-CIMENTO

Solo-cimento é o material obtido pela mistura de solo, cimento e água (Figura


3).Trata-se de um processo físico-químico de estabilização, no qual as conseqüências
decorrem de uma estruturação resultante da reorientação das partículas sólidas do
solo com a deposição de substâncias cimentantes nos contatos intergranulares,
alterando, portanto, a quantidade relativa de cada uma das três fases – sólido, água e
ar – que constituem o solo.

Figura 3 – Composição do tijolo solo-cimento.

À partir de pesquisas mais aprofundadas sobre a estabilização do solo com


cimento, o mesmo passou a ser usado, principalmente na pavimentação de estradas.
Somente ao final da década de 1940, através de algumas instituições como a
Associação Brasileira de Cimento Portland – ABCP, o Centro de Pesquisas e
Desenvolvimento de Camaçari / Ba – CEPED, e o Instituto de Pesquisas Tecnológicas
de São Paulo – IPT, o Brasil resolveu utilizar o solo-cimento como material alternativo
de construção.

A adição de cimento ao solo permite obter um material com as seguintes


vantagens:

• A absorção e a perda de umidade do material não causam variações


volumétricas consideráveis;

• O material não se deteriora quando submerso em água;

• Há aumento da resistência à compressão;

• É mais durável, pois possui uma menor permeabilidade.

Por outro lado, o teor de cimento na mistura solo-cimento, pode comprometer a


qualidade do mesmo, assim como o tipo de solo, o método de mistura e a

11
compactação. No entanto, sabe-se que, destes fatores, o solo é o que exerce maior
influência e, se este for inadequado, pouco se poderá fazer para obter um produto
satisfatório. No caso do teor de cimento, o aumento deste resulta no aumento da
resistência à compressão e, conseqüentemente, da durabilidade, independente do tipo
de solo. Porém, se o teor de cimento for muito elevado e as condições de cura forem
inadequadas, é provável que ocorram fissuras no material, causadas pela retração por
secagem. A compactação adequada, por sua vez, é essencial para obtenção de um
solo-cimento satisfatório, pois é esta que vai garantir que o material atinja um
determinado peso específico, ou densidade aparente, que lhe confira resistência
mecânica apropriada para um determinado fim.

No estudo de fissuras em paredes de tijolos de solo-cimento, realizado por


Nascimento (1993), foram utilizados para a construção dos painéis, tijolos
confeccionados com três tipos de solo: argiloso (A4)2, areno-argiloso (A2-6) e arenoso
(A2-4) que foram estabilizados com cimento (7%, em massa). Os tijolos foram moldados
em prensa hidráulica e, durante a cura, permaneceram úmidos durante 7 dias e
protegidos das intempéries. Os resultados dos testes de resistência à compressão
simples e de absorção d’água (Tabela 2) dos tijolos permitiram à autora verificar que
os valores referentes às resistências ultrapassaram o valor mínimo exigido pela
norma, sugerindo que o teor de cimento a ser adicionado no solo poderia ser ainda
menor que o utilizado nos testes. Já com relação aos valoes de absorção d’água, os
tijolos de solo-cimento apresentaram valores aceitáveis pela norma. No entanto,
dentre os três tipos de solo utilizados, o que apresentou melhor desempenho geral foi
o solo arenoso.

Tabela 2 – Resultados dos ensaios de tijolos de solo-cimento.

2
Classificação dos solos segundo a American Association of State Highway Officials (AASHO).
12
Ferreira (2003) estudou a resistência à compressão simples e absorção d’água
do material solo-cimento através da determinação experimental em corpos-de-prova
cilíndricos, tijolos e painéis. Os solos utilizados foram arenoso (A2-4) e argiloso (A5-6)
sendo adicionados a estes solos os teores de 6% e 10% de cimento Portland. Os
resultados encontrados pelo autor para a resistência à compressão simples e
absorção d’água estão mostrados na Tabela 3. O referido autor, com base nesses
valores, recomendou solos com características semelhantes àquelas do solo arenoso
estudado para estabilização com cimento, sendo um material promissor para o
atendimento às demandas por tecnologias apropriadas.

Tabela 3 – Caracterização físico-mecânica de misturas de solo-cimento.

O objetivo do trabalho de Soares et al. (2004) foi apresentar os resultados dos


ensaios de estabilização com cimento de dois solos da cidade de Santa Maria – RS,
através dos quais tornou-se viável a construção de uma habitação com paredes
monolíticas de solo-cimento. O estudo compreendeu a estabilização de dois solos
arenosos (A2-4 e A1-b) com cimento tipo CP-IV (Pozolânico), utilizando-se os traços
1:12, 1:13 e 1:15 (cimento: solo, em massa). Para cada traço foram moldados 6
corpos-de-prova sendo metade para ruptura aos 7 dias de idade e a outra metade
para ruptura aos 28 dias de idade. A Tabela 4 apresenta os resultados médios de
resistência à compressão dos corpos-de-prova, na qual os autores puderam observar
que todos os traços das duas amostras de solos atenderam à especificação do
CEPED, que recomenda a resistência mínima à compressão de 1 MPa, aos 28 dias de
idade, para uso em paredes monolíticas de solo-cimento.

13
Tabela 4 – Tensões de ruptura (MPa) de corpos-de-prova de solo-cimento.

No entanto, em relação à construção da casa de solo-cimento, Soares et al.


(2004) utilizaram o solo A2-4 e o traço 1:12 em função da durabilidade. A fundação da
casa foi feita em concreto ciclópico3, as paredes monolíticas foram executadas através
da compactação do solo em fôrmas, em camadas de 15 cm, com um soquete com
peso variando de 2,5 Kg a 3,0 Kg, sendo as paredes internas construídas com 13,5 cm
de espessura e as externas com 20 cm. Segundo relatos finais dos autores, a técnica
de construção de habitações com paredes monolíticas pode ser adotada facilmente,
necessitando de uso de ferramentas simples e proporcionando geração de trabalho e
renda para mão-de-obra pouco qualificada. Após 1 ano de uso, a habitação ainda
possui bom estado de conservação, não havendo trincas nas paredes e infiltração por
umidade, comprovando seu bom desempenho frente as intempéries. As principais
características que causaram satisfação do proprietário da habitação foram a boa
resistência e aparência da mesma, além do excelente conforto térmico.

Dentro do Programa de Melhoria da Moradia dos Funcionários de Baixa Renda


da Universidade Federal de Goiás (Conjunto Nossa Morada, Goiânia - Go), Ferreira et
al. (2003) estudaram tijolos prensados de solo-cimento, em parades de alvenaria auto-
portante, empregados no referido programa habitacional, comparando-os com tijolos
maciços comuns e tijolos furados, com o intuito de definir critérios de aplicação prática,
controle de patologias e comparação de custos. Para tal estudo, foi empregado na
fabricação dos tijolos de solo-cimento, um solo argiloso (A6), o qual teve sua
granulometria corrigida através da adição de 10% de areia, além da adição de 10% de
cimento Portland (CP II - E 32). Os tijolos foram fabricados com máquina de
acionamento mecânico e a cura foi efetuada após 6 horas de moldagem e durante os
7 primeiros dias, com aspersão de água através de regador munido de chuveiro em
um galpão de modo a evitar os efeitos do vento e a incidênca de raios solares. De
todos os lotes de tijolos de solo-cimento foram retirados 3 tijolos, os quais foram
submetidos aos ensaios de compressão simples e absorção d’água (Tabela 5).

3
Concreto onde se usa pedras de mão ou matacões para aumentar seu volume e peso.
14
Tabela 5 – Resistência à compressão simples e capacidade de absorção d’água dos
tijolos de solo-cimento.

Ferreira et al. (2003) observaram um período de 28 dias entre a fabricação e o


uso dos tijolos a fim de se garantir que os efeitos da retração volumétrica devido à
secagem fossem minimizados. Para a fabricação da casa de tijolos de solo-cimento, a
fundação empregada pelos autores foi a do tipo direta e contínua, através do
assentamento de dois tijolos em espelho e posterior preenchimento com concreto.
Para o assentamento dos tijolos de solo-cimento utilizaram-se da argamassa de traço
1:2:9 (cimento:cal:areia média, em volume) e fator água/cimento 0,50. Já para a
cobertura, as lajes foram confeccionadas através da combinação de vigotas pré-
moldadas de perfil triangular (10x10x10 cm3) e lajotas (20x20x10 cm3). Devido ao
ótimo acabamento final, a alvenaria de tijolos de solo-cimento foi entregue com
paredes internas sem revestimento, sendo, no entanto, as paredes externas
impermeabilizadas. Em relação à parte econômica, seguindo os mesmos parâmetros
de comparação, o custo da casa de tijolo de solo-cimento foi 17,5% menor do que o da
casa de tijolo maciço comum e 85% menor que o da casa construída com tijolo furado.

Arini (2000), com base nas experiências práticas efetuadas em laboratórios e


canteiros de obra, dissertou sobre a tecnologia de produção da alvenaria estabilizada
por cimentação, concluindo que tijolos de solo estabilizados com 6% de cimento, em
volume, são mais indicados para utilização como tijolos estruturais. Por outro lado, os
tijolos estabilizados com 1% ou 2% de cimento, em volume, são mais indicados para
utilização como material de vedação.

Cartilhas como “O Solo-Cimento na Fabricação de Tijolo Modular”, produzida


pela empresa Sahara(1998); livros e boletins técnicos como “Manual de Construção

15
com Solo-Cimento”, produzido pelo CEPED (1984a), o “O Solo-Cimento e suas
aplicações Rurais”, produzido pela ABCP (1989), o “Solo-Cimento para fins
construtivos” de Myrrha (2003); relatórios técnicos como “Paredes Monolíticas de Solo-
Cimento: Hospital Adriano Jorge”, produzido pela ABCP (1979), entre outros ajudaram
a difundir as técnicas construtivas do sistema solo-cimento, bem como apresentar aos
usuários as vantagens e confiabilidade que se deve ter no produto.

1.5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante dos resultados citados anteriormente, pode-se concluir que materiais


alternativos como solo-cimento são promissores nos âmbitos econômico, social e
funcional. Sua utilização pode contribuir no sentido de baratear os custos envolvidos
em pequenas construções, possibilitando a inserção de tecnologias apropriadas e a
obtenção de um produto menos poluente que os convencionais, uma vez que sua
produção não exige a queima, consequentemente não lança resíduos no ar e também
não provoca desmatamento.

No entanto, ainda há necessidade de se estudar, mais aprofundadamente,


aspectos técnicos, tais como propriedades mecânicas e durabilidade dos materiais
alternativos. Além disso, deve-se levar em consideração a importância da
disseminação desta tecnologia para o meio produtivo, tentando assim melhorar a
aceitabilidade e emprego do material pelo usuário.

16
2. MATERIAIS E MÉTODOS

2.1 MATERIAL

2.1.1 SOLO

O solo utilizado para a realização deste trabalho foi retirado de uma jazida
chamada Morada do Sol, localizada na cidade de Itaboraí - RJ e cuja classe textual foi
classificada pelo Sistema Brasileiro de Classificação de Solos – SBCS - como
argiloarenosa.

O solo foi submetido a diversos testes com a finalidade de avaliar seus efeitos
sobre a qualidade do produto final, o tijolo de solo-cimento.

2.1.2 CIMENTO

Foi utilizado o cimento Portland CPIII-RS-32 (cimento de alto-forno resistente à


sulfatos), da marca NASSAU, cujas caracteristicas físicas, químicas e mecânicas
atendem aos requisitos da norma NBR 5735 (ABNT, 1991).

2.1.3 CAL

Foi utilizada cal hidratada CH-III (de uso corrente em pinturas), da marca
MINERCAL, a qual atende às especificações da norma NBR 7175 (ABNT, 1992a). Foi
adquirida em casa comercial idônea do ramo da construção civil.

2.1.4 ÁGUA

Durante todo o experimento a água utilizada foi a mesma distribuída pela


CEDAE (Companhia Estadual de Água e Esgoto), que é classificada como potável
estando, portanto, de acordo com as normas estabelecidas para a produção do tijolo
de solo-cimento.

17
2.2 MÉTODOS

2.2.1 PREPARAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO FÍSICA E


MICROESTRUTURAL DO SOLO

Em todo o experimento foi utilizada a fração de solo passante na peneira ABNT


4,8 mm. As amostras então peneiradas foram secas ao ar para posterior utilização.

A preparação das amostras para a realização dos ensaios de caracterização foi


realizada conforme a norma NBR 6457 (ABNT, 1986a). Os ensaios aplicados ao solo
foram os seguintes:

• Análise granulométrica, por peneiramento, de acordo com a norma NBR


7181 (ABNT, 1984a);

• Determinação dos limites de liquidez e de plasticidade de acordo com


as normas NBR 6459 (ABNT, 1984c) e NBR 7180 (ABNT, 1984d),
respectivamente;

• Determinação do pH;

• Determinação da composição do solo através dos ensaios de Raio-X e


Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV);

2.2.1.1 ANÁLISE GRANULOMÉTRICA DO SOLO

Para a realização deste ensaio, feito no Laboratório de Análises de Solos e


Plantas – Instituto de Agronomia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - ,
foi tomada a quantidade de amostra preparada de acordo com o disposto no método
de ensaio, correspondente à norma NBR 6457 (ABNT, 1986a). A realização deste
ensaio se deu através da passagem de toda a massa inicial pela série de peneiras do
peneirador RO-TAP®. Após 10 minutos de peneiramento, em cada peneira
encontraram-se retidas as partículas com granulometria maior ou igual à mesma e
passantes na abertura anterior, além das partículas passantes em todas as peneiras
que ficaram retidas no fundo. Na segunda etapa do ensaio, a massa do resíduo de
cada peneira e do fundo foram pesadas e anotadas em uma tabela.

18
2.2.1.2 ENSAIO DE DETERMINAÇÃO DO LIMITE DE
LIQUIDEZ DO SOLO

A realização deste ensaio se deu com secagem prévia da amostra (NBR


6457 - ABNT, 1986a) e através dos procedimentos estabelecidos na norma
NBR 6459 (ABNT, 1984c), a qual determina que o limite de liquidez, ou seja,
o teor de umidade no qual o solo deixa de apresentar plasticidade, é
estabelecido através do ensaio conhecido por “Casa Grande”. O ensaio foi
realizado no Laboratório de Análises de Solos e Plantas, do Instituto de
Agronomia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ).

Neste ensaio, a amostra, sob diferentes níveis de umidade, é colocada em


um recipiente côncavo do equipamento denominado “Casa Grande”. Antes de
iniciar o ensaio, é feito um corte em bisel (1 cm de altura, 2 mm de largura e
60º de inclinação das paredes) nas amostras, que são submetidas a um
determinado número de batidas. Para cada nível de umidade, computa-se um
número de batidas, até que as paredes do corte em bisel da amostra se
juntem em uma espessura de 1 polegada. Esse procedimento é feito de
forma que se obtenha um conjunto de dados pareados de umidade da
amostra e número de batidas. É recomendado que o conjunto de dados
atenda uma faixa de número de batidas entre 18 e 32. Os dados são então
plotados em um gráfico, a partir do qual se estima a umidade que equivalha a
um número de 25 batidas.

2.2.1.3 ENSAIO DE DETERMINAÇÃO DO LIMITE DE


PLASTICIDADE DO SOLO

Para a realização do ensaio que determina o limite de plasticidade - teor de


umidade no qual o solo começa a apresentar consistência plástica - foram
seguidos os procedimentos estabelecidos na norma NBR 7180 (ABNT,
1984d), com secagem prévia da amostra (NBR 6457 - ABNT, 1986a). Este
ensaio também foi realizado no Laboratório de Análises de Solos e Plantas,
do Instituto de Agronomia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.

19
Dessa forma, o L.P. foi determinado a partir de amostras de solo fino e seco,
as quais foram umidecidas e moldadas em cilíndros de 3 a 4 mm de diâmetro.
De acordo com a metodologia, a umidade referente ao L.P. é atingida quando
os cilindros, em função do trabalho em uma superfície lisa, começam a
apresentar rachaduras. O resultado final, média de pelo menos três valores
de umidade considerados satisfatórios, deve ser expresso em porcentagem,
aproximado para o valor inteiro mais próximo.

2.2.1.4 ENSAIO DE DETERMINAÇÃO DO PH DO SOLO

O ensaio de detrminação do pH tem como objetivo determinar o grau de


alcalinidade ou acidez do solo em análise. Esse procedimento é importante, visto que
quanto mais ácido for o solo, maior será a quantidade de aditivos necessários à sua
estabilização.

A determinação do pH, realizada no Laboratório de Análises de Solos e Plantas


do Instituto de Agronomia da UFRRJ, foi feita em água, na proporção 1:2,5 (TFSA 4:
água destilada). O aparelho usado nessa determinação é o potenciômetro, que é
provido de eletrodos de vidro e de calomelano, e deve ser calibrado com soluções
tampão (padrões) de pH 7,0 e pH 4,0, visto que a maior parte dos solos apresenta pH
dentro desse intervalo. Após a calibração do potenciômetro, faz-se a leitura do pH nas
amostras e determina-se a classe de relação do solo.

2.2.1.5 ENSAIO DE DIFRAÇÃO DE RAIOS-X APLICADO AO SOLO

Dentre as técnicas de caracterização de materiais, a mais indicada na


determinação das fases cristalinas presentes em materiais cerâmicos é a difração de
raios-x. Isto é possível porque, na maior parte dos sólidos (cristais), os átomos se
ordenam em planos cristalinos separados entre si por distâncias da mesma ordem de
grandeza dos comprimentos de onda dos raios-x.

Ao incidir um feixe de raios-x em um cristal, o mesmo interage com átomos


presentes, originando o fenômeno de difração. A difração de raios-x ocorre segundo a
Lei de Bragg (Equação 1), a qual estabelece a relação entre o ângulo de difração e a

4
Terra Fina Seca ao Ar.
20
distância entre os planos que a originaram, que são característicos para cada fase
cristalina.

nλ = 2d sen θ

onde:

n = número inteiro
λ = comprimento de onda dos raios-x incidentes
d = distância interplanar
θ = ângulo de difração

Dentre as vantagens da técnica de difração de raios-x para a caracterização de


fases, destacam-se a simplicidade e rapidez do método, a possibilidade de análise de
materiais compostos por uma mistura de fases e uma análise quantitativa destas
fases, além da confiabilidade dos resultados obtidos, visto que o perfil de difração
obtido é característico para cada fase cristalina.

Como um dos objetivos deste trabalho foi a caracterização dos argilominerais


presentes no solo estudado, a utilização da técnica de difração de raios-x tornou-se
ainda mais indicada, pois uma análise química reportaria somente os elementos
químicos presentes no material, mas não a forma como eles estão ligados. Por outro
lado, na caracterização de argilas, o elevado teor de quartzo da amostra e sua
facilidade de orientar-se resultam em picos bem definidos e de grande intensidade
desta fase cristalina, prejudicando, muitas vezes, a identificação e caracterização das
demais fases. Além disso, para algumas fases, muitas vezes os picos apresentados
estão deslocados ou, em certos casos, nem aparecem. Isso porque é preciso levar em
consideração no momento da análise de dados, alguns parâmetros como por exemplo,
o comprimento de onda do tubo utilizado no ensaio de referência, pois caso não seja o
mesmo, esses deslocamentos já são esperados, ou seja, caso o comprimento de onda
do material em análise seja maior do que o comprimento de onda do material de
referência, haverá um deslocamento do pico para a direita. Já em relação aos picos
que não aparecem, um ponto importante é a intensidade dos picos do mineral de
referência, por exemplo, se um pico tem aproximadamente 30% de intensidade do

21
mineral de referência, pode ser que ele nem apareça no mineral em estudo, caso sua
intensidade nesse último seja igualmente pequena.

O ensaio de difração de raios-x para caracterização do solo em questão foi


realizado em um difratômetro Shimadzu – modelo XRD 6000 (Figura 4), varrendo-se
de 10º a 80º (escala 2θ) com velocidade do goniômetro de 4º/min e tubo de cobre
(λ=1,5418 Å), que encontra-se no Laboratório de Difração de Raios-X do
Departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais, da Universidade Federal do
Rio de Janeiro (UFRJ). Foi usado cerca de 20,0 mg de solo seco, desagregado e com
granulometria inferior à peneira #ABNT 200 (abertura de 0,074 mm). Após o término
do ensaio, as distâncias interplanares (d) referentes aos picos apresentados no
difratograma foram confrontadas com as distâncias interplanares características de
cada fase.

Figura 4: Difratômetro Shimadzu – modelo XRD 6000 – Laboratório de Difração de Raios-X do


Departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais da UFRJ

2.2.1.6 ENSAIO DE MICROSCOPIA ELETRÔNICA DE VARREDURA


(MEV) ASSOCIADO À ESPECTROMETRIA DE ENERGIA
DISPERSIVA DE RAIOS-X (EDS)

Para a realização da microscopia eletrônica de varedura usou-se uma pequena


amostra do solo, que foi colocada, na primeira parte da análise, sobre uma fita de ouro
e, na segunda parte sobre uma fita de carbono, ambas com tensão de aceleração do
feixe de elétrons de 15,0 kV e sinais emitidos por elétrons secundários. O microscópio

22
eletrônico utilizado foi o Jeol 2000 FX, do Laboratório Multi-usuário de Microscopia
Eletrônica (LABMIC) do Departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais da
UFRJ, conforme mostra a Figura 5.

Figura 5: Microscópio eletrônico de varredura – LABMIC - UFRJ.

O princípio de realização de uma microscopia de varredura, consiste em um


feixe de elétrons com cerca de 20 kV, gerado em um canhão, que é desmagnificado
por um conjunto de lentes eletromagnéticas que agem como condensadores. Este
feixe é focalizado sobre a amostra e, mediante bobinas defletoras, percorre uma
varredura sobre pequena região da mesma. Como consequência, uma série de sinais
são emitidos, dos quais destacam-se inicialmente elétrons secundários com cerca de
50 eV. Estes elétrons são captados por um detetor cuja resposta modula o brilho de
um tubo de raios catódicos e que é varrido em sincronismo com o feixe eletrônico.
Portanto, a cada ponto da amostra corresponde um ponto da tela e nela é mapeada a
resposta do objeto ao feixe de excitação. Já o aumento é obtido pela relação entre a
área varrida sobre a amostra e a área da tela do tubo.

O EDS (Energy Dispersive x-ray Detector – Espectrometria de Energia


Dispersiva de Raios-X) é um acessório essencial no estudo da caracterização
microscópica de materiais. Quando o feixe de elétrons incide sobre um mineral, os
elétrons mais externos dos átomos assim como os íons constituintes são excitados e,
consequentemente, mudam de nível energético. Ao retornarem à sua posição inicial,
liberam a energia adquirida, a qual é emitida em comprimento de onda no espectro de
raios-x. Um detetor instalado na câmara de vácuo do MEV mede a energia associada
a esse elétron. Como os elétrons de um determinado átomo possuem energias

23
distintas, é possível, no ponto de incidência do feixe, determinar quais os elementos
químicos estão presentes naquele local e assim identificar em instantes que mineral
está sendo observado. O diâmetro reduzido do feixe permite a determinação da
composição mineral em amostras de tamanhos muito reduzidos (< 5 µm), permitindo
assim, uma análise quase que pontual.

O uso em conjunto dessas duas técnicas é de grande importância, pois


enquanto o MEV proporciona nítidas imagens (ainda que virtuais, uma vez que o que
se vê no monitor do computador é a transcodificação da energia emitida pelas
partículas, ao invés da radiação emitida pela luz, ao qual estamos acostumados), o
EDS permite sua imediata identificação. Além da identificação mineral, o equipamento
ainda permite o mapeamento da distribuição de elementos químicos por minerais,
gerando mapas composicionais de elementos desejados.

2.2.2 CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-MECÂNICA DOS TIJOLOS


DE SOLO-CIMENTO

2.2.2.1 PROCESSO DE PRODUÇÃO DOS TIJOLOS DE SOLO-


CIMENTO

Os tijolos foram moldados de acordo com os procedimentos estabelecidos na


norma NBR 10833 (ABNT, 1989). A primeira etapa do processo produtivo foi a
preparação do solo, que consistiu na desaglomeração (destorroamento), pulverização
e peneiramento do mesmo, de forma a garantir que o solo utilizado possui
granulometria inferior a 4,8 mm.

Após o peneiramento, adicionou-se o cimento ao solo preparado e realizou-se


uma mistura manual com os materiais secos, até a completa homogeneização, que é
alcançada quando a mistura adquire coloração uniforme. A água foi adicionada em
forma de chuveiro até a obtenção da umidade ideal, ou seja, uma argamassa ainda
desaglomerada (farofada) aprovada no teste prático do bolo. Esse teste é bem simples
e bastante utilizado no dia-a-dia da produção dos tijolos; consiste em encher a mão
com a mistura de solo-cimento já úmida e, em seguida, aperta-se essa porção com
muita força contra a palma da mão. Ao abrir a mão, o bolo formado deve apresentar as
marcas dos dedos com nitidez e, ao partir em duas partes, o bolo não deve esfarelar.

24
Se o bolo esfarelar ao partir, é porque a mistura está precisando de mais água e se a
mão ficar suja com uma certa umidade, é porque há excesso de água.

Após tais procedimentos, a mistura foi transferida para a prensa, a qual possui
dois moldes, de forma que dois tijolos foram feitos a cada prensagem. A prensa
utilizada foi a ECO PREMIUM 2600 MA, da empresa Ecomáquinas. Essa prensa é
classificada como manual hidráulica e possui uma tensão de compactação que varia
de 2,0 a 10,0 MPa, uma taxa de compactação5 de aproximadamente 1,65 e pode
produzir até 2800 tijolos por dia (Tabela 6). Logo após a prensagem, os tijolos foram
levados para a cura, à sombra, durante o periodo de 7 dias e umidecidos constante e
frequentemente com regador munido de chuveiro, a fim de garantir cura necessária.

Tabela 6 – Produtividade das prensas para componentes de solo-cimento.

TENSÃO DE TAXA DE
PRODUÇÃO
TIPO DE PRENSA COMPACTAÇÃO COMPACTAÇÃO
(tijolos / dia)
(MPa) DO SOLO

Mecânica 1,5 - 2,0 1,38 300 a 1200


Manual
Hidráulica 2,0 - 10,0 1,65 2000 a 2800
Mecânica 4,0 - 24,0 > 1,65 1600 a 12000
Motorizada
Hidráulica > 20,0 > 2,00

Fonte: Grande (2003)

2.2.2.2 ENSAIO DE COMPRESSÃO SIMPLES APLICADO AOS


TIJOLOS DE SOLO-CIMENTO

Os tijolos foram submetidos ao teste de compressão simples de acordo com os


procedimentos estabelecidos na norma NBR 10836 (ABNT, 1984). A prensa utilizada
no ensaio (Figura 6) foi uma máquina hidráulica, servo controlada, da marca
Shimadzu, com capacidade máxima total de 1000 KN (100 toneladas), apesar da faixa
de carga de trabalho ter sido de 100 KN. O ensaio foi realizado no Laboratório de
Estruturas e Materiais Fernando L. L. B. Carneiro (LABEST) do Departamento de
Engenharia Civil da UFRJ. Foram utilizados dois tijolos em cada análise, os quais
foram colocados um em cima do outro, de forma que a altura ficasse proporcional à
base, conforme se pode observar na Figura 7. Essa estrutura é utilizada para uma

5
A taxa de compactação corresponde à relação entre os volumes da mistura no estado solto e em
estado compactado, sendo diretamente proporcional à tensão de compactação.
25
melhor dissipação da carga aplicada e, consequentemente, um resultado mais
próximo da realidade.

Figura 6: Prensa utilizada no ensaio de compressão simples.

Figura 7: Sobreposição dos tijolos para posterior realização do ensaio.

Os resultados foram calculados individualmente para cada tijolo, dividindo-se a


carga de ruptura pela área da seção transversal do mesmo. A resistência média foi
determinada pela média aritmética de três ensaios.

Esses resultados são importantes, uma vez que, segundo Franco (1998), a
resistência dos tijolos é a grande responsável pela resistência da alvenaria, que
aumenta modestamente com o aumento da resistência da argamassa, mas cresce
consideravelmente com a resistência dos tijolos.

26
Ainda segundo a norma NBR 10836 (ABNT, 1989), o valor médio da
resistência à compressão dos tijolos analisados deve ser, no mínimo, igual a 2,0 MPa
(20 Kgf/cm2), de modo que nenhum dos valores individuais esteja abaixo de 1,7 MPa
(17 Kgf/cm2), na idade mínima de 7 dias (Tabela 7).

Tabela 7 - Limites de resistência à compressão especificados para controle de


qualidade dos tijolos de solo-cimento.

2.2.2.3 ENSAIO DE ABSORÇÃO D’ÁGUA APLICADO AOS TIJOLOS


DE SOLO-CIMENTO

O ensaio de absorção d’água aplicado aos tijolos foi realizado no Laboratório


de Análises Químicas e Processamentos Cerâmicos da UFRJ, de acordo com os
procedimentos estabelecidos na norma NBR 10836 (ABNT, 1989). Dessa forma, os
tijolos foram levados à estufa, entre 105ºC e 110ºC, até constância de massa,
obtendo-se assim, a massa do tijolo seco em estufa, em gramas. Em seguida os tijolos
foram imersos em água durante 24 hs (Figuras 8 e 9). Após este período, os tijolos
foram retirados, enxugados superficialmente e novamente pesados, anotando-se a
massa saturada, em gramas, dos mesmos. Os valores individuais de absorção d’água,
expressos em porcentagem, foram obtidos pela Equação 2 e a absorção média foi
determinada pela média aritmética de quatro repetições.

A = [(M2 – M1) / M1] x 100%

onde:
A = absorção d’água (%);
M1 = massa do tijolo seco em estufa (g);
M2 = massa do tijolo saturado (g).

27
Figura 8: Tijolos secos em estufa a 105ºC até constância de peso.

Figura 9: Tijolos imersos em água.

Também segundo a norma NBR 10836 (ABNT, 1984), os valores médios de


absorção de água não devem ser superiores a 20%, nem apresentar valores
individuais superiores a 22% (Tabela 8).

28
Tabela 8 - Limites de absorção d’água especificados para controle de qualidade dos
tijolos de solo-cimento.

29
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 CARACTERIZAÇÃO FÍSICA E MICROESTRUTURAL DO


SOLO

A Tabela 9 sumariza os resultados dos ensaios de caracterização física


aplicados ao solo utilizado para a produção dos tijolos de solo-cimento.

Tabela 9 – Características físico-mecânicas do solo.

Parâmetros Resultados obtidos


Areia Grossa (0,60 - 2,00 mm) 1,40%
Areia Média (0,20 - 0,60 mm) 32,60%
Areia Fina (0,06 - 0,20 mm) 16,00%
Distribuição Silte (0,002 - 0,06 mm) 5,30%
Granulométrica Argila (< 0,002 mm) 44,70%
Porcentagem que passa na
peneira nº 200 (0,074 mm)
52,20%
Limite de Liquidez (LL) 33,00%
Limite de Plasticidade (LP) 19,00%
Índices Físicos
Índice de Plasticidade (IP) 14,00
pH 5,8
Classe Textual Simplificada (SBCS) Argilosa
Classificação
Classe Textual Detalhada (SBCS) Argiloarenosa

De acordo com os resultados apresentados na tabela acima, o solo, que foi


classificado como argiloarenoso pelo Sistema Brasileiro de Classificação de Solos –
SBCS - apresentou uma quantidade de finos (silte + argila) de 50%, o que, segundo a
literatura, é um solo aceitável para a produção do tijolo modular de solo-cimento, mas
que exigirá maiores quantidade de aditivos químicos para o processo de estabilização.

Em relação aos índices de consistência, o solo apresentou limite de liquidez,


que é o teor de umidade no qual o solo deixa de apresentar plasticidade, de 33%. Já o
limite de plasticidade apresentado foi de 19%, ou seja, o teor de umidade no qual o
solo começa a apresentar consistência plástica. O índice de plasticidade (IP), que é o
intervalo de umidade em que o solo se mantém plástico, é obtido através dos

30
resultados apresentados pelo limite de liquidez e limite de plasticidade conforme a
Equação 3.

IP = LL – LP

onde:
IP = Índice de plasticidade;
LL = Limite de liquidez;
LP = Limite de plasticidade.

Dessa forma, o resultado obtido para esta amostra foi IP = 14 e assim


caracterizada como um solo medianamente plástico (Tabela 10), segundo a
classificação de Jenkins (Caputo, 1988).

Tabela 10 – Classificação de consistência do solo de acordo com o IP.

IP Classificação
1–7 Fracamente Plástico
7 – 15 Medianamente Plástico
> 15 Altamente Plástico

Segundo a literatura, quanto maior o índice de plasticidade do solo, maior será


a dificuldade para estabilizá-lo, uma vez que o material estará mais sujeito às
variações dimensionais, resultantes do inchamento do solo quando úmido e de sua
retração quando seco.

Da mesma forma, o resultado obtido em relação ao pH da amostra (pH=5,8),


caracteriza a mesma como um solo moderadamente ácido (Tabela 11), segundo a
classificação da Embrapa Solos e, sabe-se que quanto mais ácido o solo, maior será
a necessidade de estabilizantes.

31
Tabela 11 – Classificação do pH do solo.

CLASSES pH (solo/água 1: 2,5)

Extremamente ácido < 4,3

Fortemente ácido 4,3 – 5,3

Moderadamente ácido 5,4 – 6,5

Praticamente Neutro 6,6 – 7,3

Moderadamente Alcalino 7,4 – 8,3

Fortemente Alcalino > 8,3

Fonte: Embrapa Solos.

Segundo Abiko (1985), a prática tem demonstrado que os solos mais


adequados, para confecção desse tipo de tijolo, possuem as seguintes características:
100% de partículas passando na peneira ABNT 4,8 mm (nº 4); entre 10% e 50%
passando na peneira ABNT 0,075 mm (nº 200); limite de liquidez ≤ 45% e índice de
plasticidade ≤ 18%. Dessa forma, os resultados dos ensaios de caracterização
(Tabela 9) mostraram que, apesar de o solo analisado apresentar uma porcentagem
passante na peneira nº 200 com 2,2% acima do limite estabelecido, ele está de acordo
com os pré-requisitos relatados pelo autor.

Para complementar os estudos sobre o solo em questão, foram feitas ainda


análises sobre a composição química (Figuras 10, 11 e 12), através de ensaios de
difração de raios-x e EDS (Espectrometria de Energia Dispersiva de Raios-x). No
entanto, é importante ressaltar que os resultados apresentados para estes ensaios
referem-se somente à análise qualitativa dos minerais, não tendo sido trabalhada sua
quantificação.

Figura 10 – Difratograma do solo em análise.

32
Figura 11 – Distâncias interplanares obtidas no ensaio do solo em análise (em cima)
confrontadas com distâncias interplanares referentes aos minerais possivelmente
presentes no solo em análise (em baixo).

Figura 12 – Distâncias interplanares referentes a cada mineral


possivelmente presente no solo em análise.

33
Tabela 12 – Classificação dos argilominerais apresentados no ensaio de raio-x do solo
em análise.

Cor Fórmula Química Nome do Mineral

SiO2 Óxido de Silício (Quartzo)


Al 2Si 2O5(OH) 4 Hidróxido de Silicato de Alumínio (Halloysita)
Al 2Si 2O5(OH) 4 Hidróxido de Silicato de Alumínio (Caulinita)
Al 2O 3 Óxido de Alumínio
FeTiO 3 Óxido de Titânio e Ferro
Fe3Si 2O5(OH)4 Hidróxido de Silicato de Ferro

Os resultados referentes à granulometria e ensaio de consistência do solo,


observados na Tabela 9, indicam que este solo possui uma mineralogia pouco ativa
(quartzo, óxido-hidróxido de ferro e alumínio e argilominerais do grupo da caulinita),
como era de se esperar para solos desenvolvidos em clima tropical. Os resultados do
ensaio de raio-x (Tabela 12), confirmaram essa mineralogia esperada e mostraram a
presença dos seguintes argilominerais neste solo: alto teor de quartzo, haloisita (grupo
da caulinita) e caulinita, óxido de alumínio, óxido de titânio e ferro e silicato de ferro
hidratado.

Através do ensaio de microscopia eletrônica de varredura (MEV) associado ao


EDS, foi possível confirmar essa mineralogia apresentada nos ensaios anteriores. A
Tabela 13, junto com a Tabela 14, sumarizam os elementos assim como os
respectivos percentuais de peso apresentados por cada um, no EDS feito com ouro e
com carbono respectivamente. No entanto, por se tratar de uma análise qualitativa e
não quantitativa, tomamos esses valores somente como ilustração em relação à
presença deles no solo analisado.

34
Tabela 13 – Elementos e respectivos percentuais de peso apresentados no ensaio de
EDS com ouro.

EDS OURO
% peso
elementos amostra 1 amostra 2 amostra 3 amostra 4 amostra 5 amostra 6 amostra 7 média
O-K 29,2 37,02 37,00 10,52 36,37 38,92 26,51 30,79
Al - K 11,21 11,02 12,41 8,12 9,35 13,09 11,93 11,02
Si - K 11,35 11,41 12,47 7,41 9,24 14,38 12,45 11,24
Ti - K 0,83 0,62 0,39 0,88 0,36 0,00 0,81 0,56
Fe - K 5,33 3,51 4,40 6,65 2,88 4,73 6,04 4,79
k-k 0 0,00 0,00 0,22 0,00 0,00 0,00 0,03

Tabela 14 – Elementos e respectivos percentuais de peso apresentados no ensaio de


EDS com carbono.

EDS CARBONO
% peso
elementos amostra 1 amostra 2 amostra 3 média
O-K 47,82 32,82 48,10 42,91
Al - K 12,72 3,08 11,48 9,09
Si - K 13,05 23,51 11,80 16,12
Ti - K 0,34 0,41 0,88 0,54
Fe - K 4,42 2,04 3,56 3,34
k-k 0,00 0,00 0,24 0,08

Figura 13 – MEV e respectivos difratogramas (ouro) do solo em análise com aumento de 50x.

35
Figura 14 – MEV e respectivo difratograma (ouro) com aumento de 1000x.

Figura 15 - MEV e respectivo difratograma (carbono) com aumento de 1000x.

Figura 16 - MEV e respectivo difratograma (carbono) com aumento de 3000x.

36
3.2 CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-MECÂNICA DOS TIJOLOS DE
SOLO-CIMENTO

A Tabela 15 sumariza os resultados do ensaio de compressão simples


aplicado aos tijolos de solo-cimento, com 7 dias e com mais de 28 dias.

Tabela 15: Resultados do ensaio de compressão simples.

RESULTADOS DOS
DADOS DA AMOSTRA
ENSAIOS
Área de Resistência (MPa)
Nº Tipo de Largura Comprimento Carga de
carregamento
amostra Pavimento (cm) (cm) ruptura (KN) 7 dias 28 dias
(cm2)
Tijolo solo-
tijolo 1 cimento 12,5 25,0 252,12 17,81 0,71
Tijolo solo-
tijolo 2 cimento 12,5 25,0 252,12 18,44 0,73
Tijolo solo-
tijolo 3 cimento 12,5 25,0 252,12 18,40 0,73
Tijolo solo-
tijolo 4 cimento 12,5 25,0 252,12 22,59 0,90
Tijolo solo-
tijolo 5 cimento 12,5 25,0 252,12 31,60 1,25
Tijolo solo-
tijolo 6 cimento 12,5 25,0 252,12 36,94 1,47

Os resultados do ensaio de compressão simples foram divididos em duas


etapas: a primeira que foi realizada com tijolos em idade de 7 dias e a segunda com
tijolos com mais de 28 dias de cura.

Em relação à primeira etapa, o menor resultado foi o do tijolo 1, que rompeu


com uma carga de 17,81 KN, obtendo uma resistência de 0,71 MPa. Já os tijolos 3 e 4
obtiveram uma resistência de 0,73 MPa cada, fazendo com que a média desses três
resultados ficasse em 0,72 MPa.

Na segunda etapa do ensaio, obtivemos um valor muito abaixo do esperado


para o tijolo 4 (Figura 17), uma vez que este tinha mais de 28 dias de cura e rompeu
com uma carga de 22,59 KN, obtendo assim, uma resistência de 0,90 MPa. No
entanto, os tijolos 5 e 6 obtiveram resultados significativos, fazendo com que a média
da resistência dos três resultados (tijolos 4, 5 e 6) ficasse em 1,21 MPa.
37
No geral, os resultados não foram satisfatórios, uma vez que os valores
observados estão bem abaixo do recomendado pela norma NBR 10836 (ABNT, 1984),
que diz que o valor médio da resistência à compressão dos tijolos analisados deve ser,
no mínimo, igual a 2,0 MPa (20 Kgf/cm2), de modo que nenhum dos valores individuais
esteja abaixo de 1,7 MPa (17 Kgf/cm2), na idade mínima de 7 dias.

Por outro lado, apesar de os resultados não satisfazerem a norma, é preciso


observar que a resistência média aumentou em aproximadamente 68% em relação
aos tijolos com 7 dias de cura e os tijolos com mais de 28 dias de cura, de onde pode-
se concluir que a resistência dos tijolos de solo-cimento aumenta consideravelmente
com o tempo (Figura 18).

Figura 17: Tijolos após ensaio de compressão simples (vista frontal e lateral).

38
Figura 18 – Dispersão dos resultados do ensaio de compressão
dos tijolos com 7 dias e com 28 dias de cura.

Outro ponto importante em relação aos resultados do ensaio de resistência a


compressão que deve ser analisado é o fato de que os tijolos ensaiados foram
assentados a seco, ou seja, somente encaixados. Pesquisas anteriores, revelaram
que a resistência a compressão de prismas compostos por dois ou três tijolos
assentados com argamassa é cerca de 30% superior em comparação aos prismas
compostos por tijolos assentados a seco. Ou seja, a presença da argamassa,
realmente contribui para um melhor desempenho estrutural da parede, distribuindo de
maneira eficiente os esforços durante o carregamento. Essas observações são
explicadas pelas milimétricas diferenças dimensionais dos encaixes dos tijolos e da
rugosidade da superfície com pequenas imperfeições que provocam concentrações de
tensões durante a aplicação da carga (Grande, 2003).

Quanto aos resultados do ensaio de absorção d’água, que podem ser


observados na Tabela 16, o menor valor individual, que foi de 12,59%, foi obtido pelo
tijolo 2 e o maior, que foi de 15,57%, foi alcançado pelo tijolo 3. Já a média aritmética,
estabelecida através dos resultados dos quatro tijolos, ficou em 13,72% de absorção
d’água. No entanto, todos os valores atenderam às especificações da norma NBR
10836 (ABNT, 1984), que estabelece, como máximo, o valor médio de 20% e nenhum
valor individual superior a 22%. Um outro dado interessante que pode ser ressaltado

39
através desse resultado, é o de que 99,5% da absorção d’água dos tijolos se dá nas
primeiras 24 h de imersão, conforme apresentado na Figura 19.

Tabela 16 – Resultado do ensaio de absorção d’água.

Massa do tijolo (Kg)

como seco em imersão imersão imersão imersão imersão imersão absorção


recebido estufa após 24 hs após 25 hs após 26 hs após 48 hs após 49 hs após 120 hs d'água (%)

Tijolo 1 2,954 2,742 3,102 3,105 3,106 3,112 3,112 3,121 13,13

Tijolo 2 3,040 2,844 3,202 3,203 3,204 3,208 3,210 3,218 12,59

Tijolo 3 2,870 2,716 3,139 3,141 3,142 3,146 3,148 3,156 15,57

Tijolo 4 2,949 2,736 3,108 3,109 3,110 3,115 3,115 3,125 13,60

Figura 19 – Gráfico referente ao ensaio de absorção d’água.

Pesquisas realizadas anteriormente no setor da construção civil, mostraram


que os tijolos de solo-cimento apresentam grande potencial para serem aplicados
largamente, não só pela questão do material em si, mas também pela busca de novas
soluções construtivas. Isso se deve, principalmente, ao fato da relação entre o
desempenho do material e as questões de sustentabilidade, ou seja, às ações
destinadas à redução do impacto ambiental no setor.

40
Dessa forma, a produção do tijolo modular de solo-cimento está em
conformidade com as questões mencionadas anteriormente, visto que se trata de um
material ecologicamente correto, ou seja, demanda menor cosumo energético na
extração de matéria-prima, dispensa a queima na sua fabricação, reduz
consideravelmente os desperdícios no canteiro do obras - devido ao sistema
construtivo modular - além de possuir boa capacidade termo-acústica e permitir a
incorporação de resíduos industriais na sua composição, desde que os critérios de
utilização sejam amplamente avaliados e estejam em conformidade com as exigências
do material.

A Tabela 17, mostra um comparativo entre os quatro principais tipos de


alvenaria utilizados na construção civil atualmente: o bloco de concreto, o tijolo
cerâmico maciço, o tijolo cerâmico de 8 furos e o tijolo modular de solo-cimento.

Tabela 17 – Comparativo entre os principais tipos de alvenaria utilizados na construção


civil atualmente.

Alvenaria Tijolo Alvenaria Tijolo Alvenaria Solo-


Alvenaria Bloco de Concreto
Cerâmico Maciço C erâmico 8 Furo s Cimen to

Dimensões Nomin ais (cm) Parede Parede Parede Parede Parede


20x20x40 15x20x40 10x20x40 1 Tijolo 1/2 Tijolo 1 Tijolo 1/2 Tijolo 1 Tijolo
Nº Peças (m 2) 28 18
12,5 12,5 12,5 145 79 58
16* 11*
Peso Unitário Aprox. (Kg) 14,5 11 9 1,8 1,8 2,9 2 ,9 2,6

Peso da Alven aria (K g/m 2) 181,2 5 137,5 112,5 261 142,2 110 72 150,8

Argamassa de Assent. (Kg/m 2) 15 13,5 10,5 90 45 45 20 -

C hapisco (Kg/m 2) - - - - - 15 15 -
2
Massa G rossa (Kg/m ) - - - 30 30 30 30 -

2 15 15 15 15 15 15 15 -
Massa Fina (Kg/m )

Total (Kg/m 2) 211,2 5 1 66 138 396 232,2 215 152 150,8


(*) N° de p eças de tijolo cerâmico maciço que comp letam o m²

Avaliando esses materiais em relação à produtividade e custo, podemos


perceber que quando levamos em consideração a quantidade de tijolos utilizados em
uma parede, a alvenaria de solo-cimento (58 tijolos) fica atrás, somente, da alvenaria
de tijolo cerâmico maciço, que dentre as analisadas, é a que utiliza um maior número
de peças por m2, chegando a até 145 tijolos. Por outro lado, se analisarmos a
quantidade de material de acabamento (argamassa, chapisco, massa grossa e massa
fina) utilizada, podemos compreender porque o custo final da obra feita com tijolo de

41
solo-cimento fica menor. Esse talvez seja o dado mais importante dessa avaliação,
pois enquanto os outros tipos de alvenaria necessitam de materiais de acabamento, a
alvenaria de solo-cimento pode ser utilizada como fabricada, não necessitando dessa
etapa de construção. Dessa forma, o custo final da obra fica bem reduzido, podendo
chegar a até 30% menos do que quando realizada com alvenaria de tijolo cerâmico.

Essa diferença no custo final deve-se não somente a eliminação de materiais


de acabamento, mas também à redução da utilização de mão-de-obra, visto que o
tempo de conclusão da obra é mais rápido. Além disso, é importante ressaltar que,
devido ao sistema construtivo modular, há uma considerável redução do desperdício
de materiais como entulho, ferro, madeira, argamassa que pode girar em torno de
10% a 15 % do valor final da obra.

Portanto, tem-se um material ecologicamente correto, com qualidade e baixo


custo e que não necessita de mão-de-obra especializada.

42
CONCLUSÃO

Conforme a exposição inicial deste trabalho, os objetivos desta pesquisa


centraram-se em análises de desempenho do tijolo modular de solo-cimento e sua
relação com questões de sustentabilidade na construção civil.

Dessa forma, as principais conclusões são:

I. O material analisado foi produzido com a proporção de 50% areia e


50% argila. No entanto, verificamos através de testes como
granulometria, índice de plasticidade e pH, que esta proporção não é a
mais indicada, visto que é necessário uma quantidade maior de aditivos
para o processo de estabilização;

II. em relação ao ensaio de compressão, os tijolos analisados não


obtiveram o resultado mínimo exigido por norma. É provável que isso
possa ter ocorrido devido à pouca quantidade de cimento adicionada à
mistura, visto que se tratava de um solo argiloarenoso (50% areia e
50% argila);

III. os tijolos produzidos atenderam às especificações mencionadas na


norma técnica para o ensaio de absorção d’água, que mostra um bom
grau de compactação dos mesmos;

IV. quanto ao custo e à produtividade da alvenaria, observou-se que o


emprego do tijolo modular de solo-cimento, assim como do bloco de
concreto, propicia melhor rendimento de mão-de-obra e material em
comparação com tijolos cerâmicos maciços e de 8 furos;

43
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