Educacao - Surdos - Releitura - Primeira - Escola Publica Surdos Paris Congresso Milao1880
Educacao - Surdos - Releitura - Primeira - Escola Publica Surdos Paris Congresso Milao1880
Educacao - Surdos - Releitura - Primeira - Escola Publica Surdos Paris Congresso Milao1880
Vilmar Silva2
Robert Castel
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Livro em processo de organização por Ronice Muller Quadros, a ser publicado, provavelmente, pela Editora
Artes Médicas em 2006.
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Mestre em Educação e pesquisador do Núcleo de Estudos e Pesquisa em Educação de Surdos (NEPES) do
Centro Federal de Educação Tecnológica de Santa Catarina – CEFET/SC.
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O termo ideologia é compreendido neste estudo segundo a concepção de Aranha (1998:26) “Conjunto de
representações e idéias, bem como normas de conduta por meio das quais o homem é levado a pensar, sentir, e
agir de uma determinada maneira, [...] Essa consciência da realidade é na verdade uma falsa consciência, na
medida que camufla a divisão existente dentro da sociedade, apresentando-a como una e harmônica, como se
todos partilhassem dos mesmos objetivos e ideais.”
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Quadros (S/D) apresenta os seguintes direitos humanos lingüísticos:
a) que todos os seres humanos têm direito de identificarem-se com uma língua materna(s) e de serem aceitos e
respeitados por isso;
b) que todos têm o direito de aprender a língua materna(s) completamente, nas suas formas oral (quando
fisiologicamente possível) e escrita (pressupondo que a minoria lingüística seja educada na sua língua
materna);
c) que todos têm o direito de usar sua língua materna em todas as situações oficiais (inclusive na escola);
d) que qualquer mudança que ocorra na língua materna seja voluntária e nunca imposta.
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O exercício da cidadania pressupõe um envolvimento consciente e atuante de todos os cidadãos. Para tanto, é
preciso que os cidadãos sejam capazes de visualizar os contornos sociais de forma crítica, reconhecendo as
diferenças histórica e culturalmente constituídas.
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Neste texto, pretende-se, à luz das reflexões de alguns autores, tais como Sánchez
(1990); Skliar (1997), Japiassu (1991) entre outros, historicizar6 o processo de inclusão dos
surdos no espaço educacional, através de dois fatos considerados determinantes na história da
educação de surdos: a criação da primeira Escola Pública para Surdos em Paris e o Congresso
de Milão, em 1880.
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Severino (1994:12) diz que ao historicizar "estamos sendo convidados a pensar o nosso mundo de hoje,
pensando a própria construção desse mundo pela humanidade. É que o mundo, tal qual o conhecemos e
vivenciamos hoje, é o fruto de um esforço solidário e concorrente das sociedades que vêm formando a
humanidade a cada época da história."
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Soares (1999:17) relata que “Cardano, para avaliar o grau de aprendizagem dos surdos, fez sua investigação a
partir dos que haviam nascidos surdos, dos que adquiriram a surdez antes de aprender a falar, dos que
adquiriram depois de aprender a falar e, finalmente, dos que a adquiriram depois de aprender a falar e a
escrever. Sua conclusão, após esses estudos, era a de que a surdez não trazia prejuízos para o desenvolvimento
da inteligência e que a educação dessas pessoas poderia ser feita pelo ensino da leitura, que era a forma dos
surdos ouvirem, e da escrita, que era a forma deles falarem.”
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Skliar (1997:19-20) menciona que na “Grécia, como también después en Roma, la palavra sordo se referia a
las cosas en el sentido de falante, de deficiente, mientras que mudo expresaba a calidad de fealdad, vacío,
privado de color. Las dos palavras clássicas para denominar en griego al mudo y al sordo eran enéos e kofos.
Enéos significa mudo y en este sentido fue utilizada por Platão y Aristóteles; Kofos, referido a las cosas, se
refere a vacio, ineficaz, etc. Lo interessante de este término es que además fue empleado com el significado de
obtusidade, estupidez e deficiencia psíquica. [...] Además del conocimiento de la cultura y la admiración por la
belleza física los romanos heredaron de los griegos la noción filosófica que o pensamiento se desarrolha sólo a
través de la palavra articulad y que la capacidad de hablar es más bien un hecho institivo que adquirido o
aprendido. Por eso se consideró absurda la intención de enseñar a hablar a quienes eran naturalmente incapaces
de hacerlo y aprenderlo.”
Com esta concepção e com a leitura que os gregos e romanos tinham do trabalho, vê-se o que, provavelmente,
restava aos surdos, no dizer de Ponce (1990:40-67): “em Esparta os filhos defeituosos ou débeis eram
imolados, porque os interesses da classe proprietária ficariam comprometidos se um lote passasse às mãos de
um herdeiro incapaz para o manejo das armas”. E em Roma “o desprezo por todas as formas de trabalho [...] os
escultores e os pintores estavam num nível tão inferior como o de qualquer artesão. Só se conhece em Roma
um jovem nobre que se dedicou a esses misteres: o neto de Messala. Mas essa exceção não pode ser mais
eloqüente: Messala permitiu que ele aprendesse pintura porque se tratava de uma criança surdo-muda.”
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Apesar da relevância dos resultados da pesquisa para os surdos, devido à ruptura de
uma lógica dominante, o episódio teve pouca repercussão, pois a educação de surdos, na
época, se destinava aos filhos de ricos e nobres, que queriam garantir a continuidade de seus
bens materiais no próprio seio familiar, pois o filho surdo, em alguns casos, teria que ter
alguns conhecimentos para administrar os bens da família. Um exemplo prático está na
atuação do monge beneditino Pedro Ponce de Leon (1510-1584)9, que se dedicou à educação
desses surdos da corte espanhola.
Enquanto o monge beneditino se preocupava com a educação de surdos ricos e nobres,
os surdos que não nasceram em berço de ouro provavelmente estariam no rol dos chamados
vagabundos10, em situações de verdadeira miséria, pelo isolamento social e pela falta de
trabalho, como bem coloca Castel (1998:140), ao referir-se à carta que um controlador geral,
na França, em 1764, dirigiu aos intendentes com o seguinte conselho:
São justamente os surdos vagabundos que viviam nas ruas de Paris que, junto com um
ouvinte, o abade L’Epée, viabilizam uma mudança drástica, porém, positiva, na história da
educação dos surdos.
Esse agrupamento de surdos permitiu a criação da primeira Escola Pública para Surdos
em Paris, em 1760, provavelmente movidos pelos fortes ventos que assolavam a sociedade
francesa. Esse fato, vinculado à história das instituições de surdos, é um fato determinante no
processo de construção e de expansão da organização política, social e educacional dos surdos
no continente europeu e em diversos países do continente americano.
Para compreender a relevância desse fato na história da educação dos surdos, é
necessário perceber que a França, no século XVIII, era um verdadeiro barril de pólvora. Os
levantes eram permanentes e a pequena burguesia em expansão, apoiada pelos camponeses e
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Soares (1999:21) relata que “não se tem conhecimento detalhado da sua metodologia. O que existe são
informações isoladas e Ponce não teria deixado nada escrito sobre seu trabalho. A única coisa que se sabe é
que ele teria iniciado, primeiro, o ensino da escrita, através dos nomes dos objetos e, num momento seguinte,
teria passado ao ensino da fala, começando pelos elementos fonéticos.”
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Para Castel (1998:139), “os dois critérios constitutivos da categoria de vagabundo tornaram-se explícitos: a
ausência de trabalho, isto é, a ociosidade associada à falta de recursos, e o fato de ser sem ‘fé nem lei’, isto é,
sem pertencimento comunitário”.
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artesãos, não admitiam mais as benesses feudais que ainda predominavam na monarquia
francesa, principalmente no Primeiro e Segundo Estado11.
Para a crescente burguesia os regulamentos, restrições e contenções do comércio e da
indústria, a concessão de privilégios à nobreza e ao clero, os obstáculos ao progresso da
ciência e as novas leis não estavam permitindo a expansão de mercado. Portanto, para
assegurar seus interesses, a única alternativa que lhe restava era fazer uma incursão mais
forte, ou seja, apoiar os levantes e contribuir para uma mudança política na sociedade
francesa.
É nesse cenário que os membros do Terceiro Estado, camponeses, artesãos e burguesia
unem-se, teoricamente, através de um denominador comum: acabar com os privilégios do
Primeiro e Segundo Estado. Todos queriam ser alguma coisa, como relata um de seus líderes,
o abade Sieyès citado por HUBERMAN (1986:150) num folheto popular intitulado: “O que é
o Terceiro Estado?”
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Nesse período a França era composta basicamente por três classes sociais. O Primeiro Estado e o Segundo
Estado eram formados pelas classes privilegiadas: clero e nobreza. O clero tinha cerca de 130.000 membros, e
a nobreza aproximadamente 140.000. O Terceiro Estado era a classe sem privilégios, ou seja, o povo, que na
realidade representava mais de 95% da população dos 25 milhões de franceses. Porém, no Terceiro Estado, as
diferenças de riqueza entre os sem privilégios eram enormes. Cerca de 250.000 constituíam a burguesia e
estavam relativamente bem, em comparação com o restante da população do Terceiro Estado. Um outro grupo
era de artesãos e seu número se elevava a 2 milhões e meio. E cerca de 22 milhões eram camponeses que
trabalhavam na terra. Era com os impostos do Terceiro Estado que o clero e nobreza sobreviviam.
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século XVIII, “a nova produção de fábrica gera o espaço para o surgimento da moderna
instituição escolar pública. Fábrica e escola nascem juntas.” É justamente nesse período que
se deu a criação da primeira Escola Pública para Surdos em Paris. A educação, frente às novas
relações sociais impostas pelo meio produtivo, passou a traduzir o interesse da burguesia em
ascensão, ao privilegiar no processo educacional as artes mecânicas:
A especulação e a prática constituem a principal diferença que distingue as ciências das artes.
Em geral, pode-se dar o nome de arte a qualquer sistema de conhecimentos que é possível
traduzir em regras [...] Mas assim como existem regras para as operações da inteligência ou a
alma, assim também existem regras para as operações do corpo [...] Daí a distinção das artes
liberais e mecânicas e a superioridade que se dá às primeiras sobre as segundas [...]
superioridade que, sem dúvida, é injusta por muitos motivo (D’ALEMBERT, citado por
MANACORDA, 1999: 240).
Nesse momento histórico, educar todos os homens e reorganizar o saber através das
artes mecânicas são os grandes objetivos da burguesia, de utopistas, reformadores e
revolucionários, passando a ser o eixo estruturante e organizativo das Escolas Públicas. E de
novo os interesses da burguesia prevalecem.
Os surdos que faziam parte do Terceiro Estado, mesmo que sujeitos às relações sociais
vigentes, provavelmente como os artesãos e camponeses, também queriam “ser alguma
coisa”, como bem disse o abade Sievès. Partícipes desse cenário revolucionário, com
transformações profundas no tecido social, juntam-se ao abade L’Epée, talvez por saberem,
como ensina Marx (1996:378), que “a força do homem isolado é mínima, mas a junção dessas
forças mínimas gera uma força total maior do que a soma das forças reunidas” e, nessa junção
de forças, criam a primeira Escola Pública para Surdos em Paris.
No convívio com os surdos o abade L’Epée percebe que os gestos cumpriam as
mesmas funções das línguas faladas, e, portanto, permitiam uma comunicação efetiva entre
eles. E assim inicia-se o processo de reconhecimento da língua de sinais. Não apenas em
discursos mas em práticas metodológicas desenvolvidas por ele na primeira Escola Pública
para Surdos em Paris. Além disso, para o abade, os sons articulados não eram o essencial na
educação de surdos, mas sim a possibilidade que tinham de aprender a ler e a escrever através
da língua de sinais, pois essa era a forma natural que possuíam para expressar suas idéias. A
língua utilizada no processo educativo era a de sinais. É interessante realçar que, nessa época,
a educação de surdos tinha os mesmos objetivos que a educação dos ouvintes, ou seja, o
acesso à leitura. Para o abade, a comunicação em sala de aula se efetivava graças ao domínio
que ambos, professores e alunos, tinham da língua de sinais, portanto, não se justificava
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poucos alunos surdos nesse espaço, mas sim classes com a mesma arquitetura das escolas
públicas para ouvintes.
Sendo a língua de sinais a essência no processo pedagógico, os resultados alcançados
não se restringiam ao pequeno círculo de alunos contemplados no trabalho do monge
beneditino Pedro Ponce de Leon. Skliar (1997:31) relata que, em 1850, a proporção de surdos
professores de crianças surdas, alcançava o índice de 50%. Além disso, enfatiza: “Los
estudiantes sordos eran alfabetizados e instruidos en la misma proporción que los oyentes.”
Na Escola Pública para Surdos em Paris, após cinco ou seis anos de formação, os surdos
dominavam a língua de sinais francesa, o francês escrito, o latim e uma outra língua
estrangeira também de forma escrita. Além da leitura e da escrita em três línguas distintas, os
alunos surdos tinham acesso aos conhecimentos de geografia, astronomia, álgebra, etc., bem
como artes de ofício e atividades físicas.
Ainda, conforme Skliar (1997:27), para sensibilizar a comunidade parisiense o abade
tinha como prática fazer demonstrações públicas anuais para mostrar a relevância de seu
método. Para tanto, convidava educadores e filósofos para a apresentação. Nessas
demonstrações os alunos surdos deviam responder duzentas perguntas do tipo: O que se
pensava sobre a terra antes de Copérnico? Devido ao giro da Terra em torno de si mesma, que
fenômenos podemos observar? E essas perguntas deveriam ser respondidas em latim, francês
e/ou italiano.
Além do reconhecimento da língua de sinais no processo pedagógico, a Escola Pública
para Surdos em Paris tinha como eixo orientador a formação profissional, cujo resultado era
traduzido na formação de professores surdos para as comunidades surdas e a formação de
profissionais em escultura, pintura, teatro e artes de ofício, como litografia, jardinagem,
marcenaria e artes gráficas.
Sánchez (1990:54) destaca que a divulgação dos trabalhos do abade L’Epée e a adoção
de seu método pedagógico em muitas escolas públicas, geralmente com a coordenação direta
de ex-alunos da Escola Pública para Surdos em Paris, permitiu aos surdos, não só da França,
mas também em países como Rússia, Escandinávia, Itália e Estados Unidos, a possibilidade
de destacarem-se e ocuparem cargos importantes na sociedade de seu tempo.
No processo de expansão e organização das comunidades surdas se verifica, depois de
um século da criação da Escola Pública para Surdos de Paris, na Europa, a organização de
várias associações de caráter sindical. A socióloga Widell, citada por Carvalho (1992:20-26),
mostra que, em 1866, um grupo de artesãos fundou a Associação dos Surdos-Mudos em
Copenhague devido à influência de uma Associação de Surdos de Berlim. O objetivo
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principal das associações era de manter a qualidade de vida dos surdos em caso de doença,
morte e desemprego, além de oferecer conferências nas mais diversas áreas do conhecimento.
Apesar das características específicas da comunidade surda, as associações tinham
uma forma de organização política semelhante à dos ouvintes. Segundo a socióloga, a
fotografia dos fundadores da associação de Copenhague mostra um grupo de orgulhosos
cidadãos com raízes numa forte tradição de profissionais especializados e educados na língua
de sinais. Os surdos dessa entidade desenvolviam atividades profissionais nas mais diversas
áreas da arte de ofício, buscando caracterizar no trabalho a sua experiência visual.
Na posição de trabalhadores, os surdos conseguem professores bem qualificados para
o Instituto de Surdos-Mudos em Copenhague e, discutindo com os líderes da comunidade de
ouvintes, intervinham e propunham mudanças sociais, principalmente no campo do trabalho e
da educação de surdos.
Trabalhar com ofício12 era um ato singular, e, por experiência, os surdos sabiam bem.
A propósito, Aued (1999:28) deixa claro que as mãos individualizam as pessoas. As mãos
hábeis geram homens diferentes e artes singulares. Nessa época, sem dúvida, a característica
“mãos hábeis”, que se concretiza no reconhecimento da língua de sinais e na arte de ofícios, é
a mola propulsora da inserção dos surdos na educação e no mundo do trabalho.
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Para Aued (1999:27), “os ofícios dizem respeito ao tempo [...] que predominava o fazer com as mãos [...] O
mundo ‘do fazer’ com as mãos é marcado pela presença singular do mestre e da transferência do seu saber para
o aprendiz”.
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A discussão foi extremamente agitada e, por ampla maioria, o Congresso declarou que
o método oral, na educação de surdos, deveria ser preferido em relação ao gestual, pois as
palavras eram, para os ouvintes, indubitavelmente superiores aos gestos.
Skliar (1997:45) cita o conjunto de resoluções votadas no Congresso que demonstram
a substituição da língua de sinais pela língua oral na educação de surdos:
Desde então, na maioria dos países, até os nossos dias, decide-se pelo predomínio de
uma única equação, segundo a qual a educação dos surdos se reduz à língua oral.
Para justificar a deliberação do Congresso, que foi determinante na história da
educação de surdos, não podemos argumentar que o processo pedagógico estava com
problemas e precisava ser modificado. Pelo contrário, a educação pública para surdos através
das línguas de sinais, como vimos anteriormente, vinha alcançando seus objetivos e
conquistando seu espaço nas mesmas condições dos ouvintes. Portanto, dentro desse quadro,
pode-se levantar a seguinte questão: que razões foram engendradas ao longo da história da
humanidade que autorizaram cento e sessenta e quatro pessoas ouvintes a decidirem o rumo
da educação de surdos?
Para Skliar (1997:50), as razões dessa posição estavam vinculadas a questões políticas,
filosóficas e religiosas:
Los políticos del estado italiano aprobaron el método oral porque facilitaba el proyecto general
de alfabetización del país, eliminando un factor de desviación lingüística – la lengua de señas
– en un território que buscaba incessantemente su unidad nacional y, por lo tanto, lingüística.
Las ciências humanas y pedagógicas legitimaron la elección oralista pues respetaban la
concepción filosófica aristotélica que la sustentaba: el mundo de las ideas, de la abstracción y
de la razón, en oposición al mundo de lo concreto y de lo material, reflejados respectivamente
en la palabra y en el gesto. El clero, finalmente, justificó la elección oralista a través de
argumentos espirituales y confessionales.
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René Descartes(1596-1650) fez seus estudos no Colégio Jeuíta de La Flèche. Cursou direito em Poitieres, mas
pôs-se à procura de novos conhecimentos, buscando reunir os saberes da física, matemática e filosofia. Resgata
a metafísica em novas bases, de modo a poder conciliar suas verdades fundamentais com os novos
conhecimentos da ciência nascente sobre o mundo e sobre o homem. Morre na Suécia em 1650, vitima de
pneumonia.
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pode ser explicado cientificamente:
O mundo é composto de matéria como à maneira de uma máquina. Nosso corpo também deve
ser concebido como uma máquina. O verdadeiro uso da máquina é que podemos ver nela, não
somente cada peça que compõe, mas sobretudo seu próprio funcionamento. Em outras
palavras, com o modelo da máquina, o inteligível se torna visível. O mecanicismo cartesiano
permite explicar o que é conhecido por aquilo que não pode ser conhecido. Nos órgãos
corporais, como em uma máquina, a finalidade é instituída por aquele que concebeu e sentida
por aquele que dela se serve. Os órgãos corporais são, pois, comparáveis às engrenagens de
uma máquina que não possuem neles mesmos nenhuma disposição natural para se unir uns aos
outros. A comparação do corpo com uma máquina, notadamente como um relógio, não insinua
que a natureza do corpo seja a de uma máquina, mas que o corpo não possui uma natureza,
isto é, um conjunto de propriedades específicas e inerentes a ele. Portanto, não é a alma que
anima o corpo que Deus constituiu. Donde sua suposição dos animais-máquinas: os animais e
os corpos dos homens são como máquinas, porque não pensam e agem como autômatos.
entonces, va ser rechazado por sua condición de tal, y la pedagogía será la vía por la qual se
intentará no educarlo, sino corregir-lo. [...] La preocupación de los maestros, la meta de la
educación, no será ya más la transmissión de conocimientos y valores de la cultura, para lo
qual se procuraba que el sordo dominasse el lenguagem, sino enderezar a quines son vistos
como deformados. La enseñanza del habla ocupa el lugar de toda educación, se convierte en el
medio y el fin de la rehabilitación del sordo, el rescate de su sordera, para encauzarlo por el
camino recto, el de la gente normal.
O ato de historicizar o processo de inclusão dos surdos no espaço educacional, através dos
dois fatos considerados determinantes na história da educação de surdos, dentre outras coisas, permitiu
compreender que o discurso atual de se propor uma escola que acolha a todos em suas diferenças pode
ser visto no mínimo de duas formas.
Uma delas através da visão medicalizada da surdez com a “pedagogia corretiva” (Congresso
de Milão), que pode ser exemplificada com uma fala da entrevista da professora Maria Tereza
Mantoan, em maio de 2005, concedida a revista Nova Escola:
É até positivo que o professor de uma criança surda não saiba libras, porque ela tem que
entender a língua portuguesa escrita. Ter noções de libras facilita a comunicação, mas não é
essencial para a aula”.
A outra através do reconhecimento político da surdez (Escola Pública para Surdos em Paris)
como é proposto pela professora Candau (2003:5) na perspectiva intercultural de educação,
entendendo que:
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA