John Leith
John Leith
John Leith
John Leith, A Tradição Reformada: Uma Maneira de Ser a Comunidade Cristã (São
Paulo: Pendão Real, 1996), 394 pp., com índices remissivos. Traduzido do
original em inglês An Introduction to the Reformed Tradition: A Way of Being the
Christian Community (1977).
Nos seis capítulos do livro, Leith discute a tradição reformada. No capítulo 1, que versa
sobre a “tradicionização [sic] da fé,” ele discute a formação das tradições reformadas
como obra humana e ao mesmo tempo do Espírito. Conclui que a tradição reformada não
pretende ser a única tradição cristã, mas sim mais uma forma pela qual a Igreja de Cristo
tem existido neste mundo (p. 32). O capítulo 2 trata das igrejas reformadas, traçando a
sua origem e formação histórica na Reforma suíça, seguida de sua difusão na Europa e
Estados Unidos. O capítulo conclui com um apêndice muito útil sobre o presbiterianismo
brasileiro elaborado por Gerson Correia de Lacerda, um dos tradutores da obra. O
capítulo 3 aborda o ethos da tradição reformada, destacando suas características
distintivas, como a majestade e glória de Deus, a polêmica contra a idolatria, a realização
dos propósitos divinos na história e a simplicidade, entre outras. O leitor mais atento
poderia perguntar o que há de distintamente reformado nessas características, já que os
arminianos João Wesley e John Fletcher, além dos católicos Hans Küng e Paul Hoffmann,
poderiam encaixar-se nessas categorias, a julgar por seus escritos.
O Apêndice G, escrito por Ricardo W. Irwin e Eduardo Galasso Faria, reserva ainda mais
surpresas. Entre as personalidades consideradas como representativas do movimento
reformado encontramos Charles Finney, Karl Barth, Emil Brunner, os irmãos Niebuhr,
Richard Shaull e Jürgen Moltmann, entre outros. Estranhamos a ausência de reformados
modernos como Herman Dooyeweerd, Cornelius Van Til, J. I. Packer, Martyn Lloyd-Jones
e R. C. Sproul, teólogos que têm publicado extenso material reformado e cujas obras
estão sendo cada vez mais traduzidas no Brasil. A inclusão de Jane D. Douglass diante da
omissão de tantos outros nomes de maior peso para a tradição reformada moderna
infelizmente parece refletir o critério ideológico que já estava evidente desde o início da
obra.
O capítulo final trata das perspectivas da tradição reformada, com ênfase na Bíblia como
Palavra de Deus e no testemunho do Espírito Santo. Leitores calvinistas provavelmente
teriam apreciado uma clareza maior sobre esses assuntos, diante do conflito moderno
sobre a autoridade das Escrituras.
Leith tem o hábito incômodo de referir-se a Barth e Brunner como proponentes modernos
da tradição reformada, sem demonstrar qualquer consciência da distância que separa
ambos de Calvino, como já foi convincentemente demonstrado por Cornelius Van Til em
Christianity and Barthianism (1962). Ainda em 1962, Van Til publicou Barth’s Christology,
uma síntese do desvio de Barth da cristologia calvinista. Em 1964, publicou Karl Barth
and Evangelicalism. Nessa obra, Van Til demonstra como Barth, apesar de empregar a
linguagem e a terminologia usada pelos cristãos evangélicos e ortodoxos, desvia-se de
pontos centrais da fé reformada (Van Til aponta o universalismo de Barth e sua
interpretação de milagres como o nascimento virginal como algo que não aconteceu na
história humana). Leith também recebe calorosamente Reinhold Niebuhr na tradição
reformada, apesar de o mesmo negar que a morte e a ressurreição de Cristo sejam
histórico-redentoras no sentido bíblico (são mais uma revelação da profunda relação
existencial entre Deus e o ser humano).