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Texto 1 Historicidade Do Povo Surdo

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Unidade 04

CRONOGRAMA DE HISTÓRIA DE SURDOS

O ser surdo está presente como sinal e marca de


uma diferença, de uma cultura e de uma alteridade
que não equivale à dos ouvintes.
Autor desconhecido

Iniciaremos esta unidade mencionando algumas versões históricas de


surdos oficiais registrados em muitos livros. Os fatos listados no cronograma
abaixo seguem na seqüência em cinco grandes períodos: Pré-História, Idade
Antiga ou Antiguidade, Idade Média, Idade Moderna e Idade Contemporânea.
Esperamos que venham a convir para que todos possam analisar os seus
estudos com antecedência já com um conhecimento prévio dos assuntos a serem
abordados.
Cito alguns trechos interessante do artigo produzido pela autora
Nascimento (acesso 20/09/2006)1, segundo ela, um professor surdo da França,
Berthier escreveu que:
“Inicia a história na antigüidade, relatando as conhecidas
atrocidades realizadas contra os surdos pelos espartanos, que
condenavam a criança a sofrer a mesma morte reservada ao
retardado ou ao deformado: "A infortunada criança era
prontamente asfixiada ou tinha sua garganta cortada ou era
lançada de um precipício para dentro das ondas. Era uma traição
poupar uma criatura de quem a nação nada poderia esperar"
(BERTHIER, 1984, p.165).

As narrativas das experiências de vida de sujeitos surdos mostram que não


existem só as versões de professores ouvintes, abades, médicos, políticos e
outros. Nas comunidades surdas, a associação dos surdos é um dos lugares mais
propícios para dar „voz‟ a essas novas fontes!
Este cronograma é extração de várias partes de muitas publicações sobre a

1
Nascimento, Lilian Cristine Ribeiro, “UM POUCO MAIS DA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO DOS
SURDOS, SEGUNDO FERDINAND BERTHIER”,
http://143.106.58.55/revista/viewarticle.php?id=126&layout=abstract acesso: 20/09/2006.
história dos surdos, isto não quer dizer que toda a história é verictica ou não, para
isto há uma grande necessidade de uma pesquisa mais profunda para comprovar
cada fato histórico registrado, assim como afirma Berthier:
“Até esse ponto sua narrativa da história dos surdos não
apresenta nenhuma novidade, mas ao iniciar o relato da
educação dos surdos a partir da idade moderna, nos surpreende
com a afirmação de que é um erro considerar Pedro Ponce de
León (1520 - 1584) o primeiro professor de surdos”

“Ainda tratando de professores espanhóis, Berthier nos revela sua


indignação ao ver Juan Pablo Bonet (1579-1629), autor do livro
"Arte para enseñar a hablar a los mudos", creditar a si a
descoberta de como ensinar o surdo a falar. Segundo Berthier, tal
crédito poderia ser reivindicado por seu rival Ramirez de Carrion,
que era surdo congênito e teve sucesso, no julgamento dos
críticos de seu tempo, em um experimento com Emmanuel
Philibert, o príncipe surdo de Carignan. “Seu livro, publicado nove
anos depois do de Bonet, recebeu o título Maravillas de
naturaleza, em que se contienen dos mil secretos de cosas
naturales, 1629”. (BERTHIER, 1984, p. 170).”

Bíblia: E trouxeram-lhe um surdo, que falava


dificilmente: e rogaram-lhe que pusesse a mão sobre ele. E
Idade Antiga tirando-o à parte de entre multidão, meteu-lhe os dedos nos
Escrita a 476 d.C, ouvidos; e, cuspindo, tocou-lhe na língua. E levantando os olhos
ao céu, suspirou, e disse: Efatá; isto é, Abre-te. E logo se abriram
os seus ouvidos, e a prisão da língua se desfez, e falava
perfeitamente. E ordenou-lhes que a ninguém o dissessem; mas,
quanto mais lho proibia, tanto mais o divulgavam. E admirando-
se sobremaneira, diziam: Tudo faz bem: faz ouvir os surdos e
falar os mudos. (Marcos, 7: 31-37)

Na Roma não perdoavam os surdos porque achavam que


eram pessoas castigadas ou enfeitiçadas, a questão era resolvida
por abandono ou com a eliminação física – jogavam os surdos
em rio Tiger. Só se salvavam aqueles que do rio conseguiam
sobreviver ou aqueles cujos pais os escondiam, mas era muito
raro – e também faziam os surdos de escravos obrigando-os a
passar toda a vida dentro do moinho de trigo empurrando a
manivela.
Na Grecia, os surdos eram considerados inválidos e muito
incômodo para a sociedade, por isto eram condenados à morte –
lançados abaixo do topo de rochedos de Taygéte, nas águas de
Barathere - e os sobreviventes viviam miseravelmente como
escravos ou abandonados só.

Para Egito e Pérsia, os surdos eram considerados como criaturas


privilegiadas, enviados dos deuses, porque acreditavam que eles
comunicavam em segredo com os deuses. Havia um forte
sentimento humanitário e respeito, protegiam e tributavam aos
surdos a adoração, no entanto, os surdos tinham vida inativa e
não eram educados

500 a.C.
O filósofo Hipócrates associou a clareza da palavra com
a mobilidade da língua, mas nada falou sobre a audição

470 a.C.
O filósofo heródoto classificava os surdos como “Seres
castigados pelos deuses”.

O filósofo grego Sócrates perguntou ao seu discípulo


Hermógenes: “Suponha que nós não tenhamos voz ou língua, e
queiramos indicar objetos um ao outro. Não deveríamos nós,
como os surdos-mudos, fazer sinais com as mãos, a cabeça e o
resto do corpo?” Hermógenes respondeu: “Como poderia ser de
outra maneira, Sócrates?” (Cratylus de Plato, discípulo e
cronista, 368 a.C.).

355 a.C.
O filósofo Aristóteles (384 – 322 a.C.) acreditava que
quando não se falavam, consequentemente não possuíam
linguagem e tampouco pensamento, dizia que: “... de todas as
sensações, é a audição que contribuiu mais para a inteligência e
o conhecimento..., portanto, os nascidos surdo-mudo se tornam
insensatos e naturalmente incapazes de razão”, ele achava
absurdo a intenção de ensinar o surdo a falar.

Idade Média Não davam tratamento digno aos surdos, colocava-os em imensa
476 - 1453 fogueira. Os surdos eram sujeitos estranhos e objetos de
curiosidades da sociedade.

Aos surdos eram proibido receberem a comunhão porque eram


incapazes de confessar seus pecados, também haviam decretos
bíblicos contra o casamento de duas pessoas surdas só sendo
permitido aqueles que recebiam favor do Papa.

Também existiam leis que proibiam os surdos de receberem


heranças, de votar e enfim, de todos os direitos como cidadãos.

530
Os monges beneditinos, na Itália, empregavam uma
forma de sinais para comunicar entre eles, a fim de não violar o
rígido votos de silêncio.

Idade moderna 1500


1453 – 1789 Girolamo Cardano (1501-1576) era médico filósofo que
reconhecia a habilidade do surdo para a razão, afirmava que
“...a surdez e mudez não é o impedimento para desenvolver a
aprendizagem e o meio melhor dos surdos de aprender é através
da escrita... e que era um crime não instruir um surdo-mudo.”
Ele utilizava a língua de sinais e escrita com os surdos.

O monge beneditino Pedro Ponce de Leon (1510-1584),


na Espanha, estabeleceu a primeira escola para surdos em um
monastério de Valladolid, inicialmente ensinava latim, grego e
italiano, conceitos de física e astronomia aos dois irmãos surdos,
Francisco e Pedro Velasco, membros de uma importante família
de aristocratas espanhóis; Francisco conquistou o direito de
receber a herança como marquês de Berlanger e Pedro se tornou
padre com a permissão do Papa. Ponce de Leon usava como
metodologia a dactilologia, escrita e oralização. Mais tarde ele
criou escola para professores de surdos. Porém ele não publicou
nada em sua vida e depois de sua morte o seu método caiu no
esquecimento porque a tradição na época era de guardar segredos
sobre os métodos de educação de surdos.

Nesta época, só os surdos que conseguiam falar tinham direito à


herança.

Fray de Melchor Yebra, de Madrid, escreveu livro


chamado “Refugium Infirmorum” ,que descreve e ilustra o
alfabeto manual da época. 1613
Na Espanha, Juan Pablo Bonet (1579-1623) iniciou a
educação com outro membro surdo da família Velasco, Dom
Luís, através de sinais, treinamento da fala e o uso de alfabeto
dactilologia, teve tanto sucesso que foi nomeado pelo rei
Henrique IV como “Marquês de Frenzo”.
O Juan Pablo Bonet publicou o primeiro livro sobre a
educação de surdos em que expunha o seu método oral,
“Reduccion de las letras y arte para enseñar a hablar a los
mudos” no ano de 1620 em Madrid, Espanha. Bonet defendia
também o ensino precoce de alfabeto manual aos surdos.

1644
John Bulwer (1614-1684) publicou “Chirologia e
Natural Language of the Hand”, onde preconiza a utilização de
alfabeto manual, língua de sinais e leitura labial, idéia
defendida pelo George Dalgarno anos mais tarde.

John Bulwer acreditava que a língua de sinais era


universal e seus elementos constituídos icônicos.

1648
John Bulwer publicou “Philocopus”, onde afirmava que
a língua de sinais era capaz de expressar os mesmos conceitos
que a língua oral

1700
Johan Conrad Ammon (1669-1724), médico suíço
desenvolveu e publicou método pedagógico da fala e da leitura
labial: “Surdus Laquens”.

1741
Jacob Rodrigues Pereire (1715-1780),foi provavelmente
o primeiro professor de surdos na França, oralizou a sua irmã
surda e utilizou o ensino de fala e de exercícios auditivos com os
surdos. A Academia Francesa de Ciências reconheceu o grande
progresso alcançado por Pereire: “Não tem nenhuma dificuldade
em admitir que a arte de leitura labial com suas reconhecidas
limitações, (...) será de grande utilidade para os outros surdos-
mudos da mesma classe, (...) assim como o alfabeto manual que o
Pereira utiliza”.

.1755
Samuel Heinicke (1729-1790) o “Pai do Método
Alemão” – Oralismo puro – iniciou as bases da filosofia
oralista, onde um grande valor era atribuído somente à fala, em
Alemanha.
Samuel Heinicke publicou uma obra “Observações sobre os
Mudos e sobre a Palavra”.
Em ano de 1778 o Samuel Heinicke fundou a primeira escola de
oralismo puro em Leipzig, inicialmente a sua escola tinha 9
alunos surdos. Em carta escrita à L’Epée, o Heinicke narra:
“meus alunos são ensinados por meio de um processo fácil e lento
de fala em sua língua pátria e língua estrangeira através da voz
clara e com distintas entonações para a habitações e
compreensão

Uma pessoa muito conhecida na história de educação dos


surdos, o abade Charles Michel de L’Epée (1712-1789) conheceu
duas irmãs gêmeas surdas que se comunicavam através de
gestos, iniciou e manteve contato com os surdos carentes e
humildes que perambulavam pela cidade de Paris, procurando
aprender seu meio de comunicação e levar a efeito os primeiros
estudos sérios sobre a língua de sinais. Procurou instruir os
surdos em sua própria casa, com as combinações de língua de
sinais e gramática francesa sinalizada denominado de “Sinais
métodicos”. L’Epée recebeu muita crítica pelo seu trabalho,
principalmente dos educadores oralistas, entre eles, o Samuel
Heinicke.
Todo o trabalho de abade L’Epée com os surdos dependia
dos recursos financeiros das famílias dos surdos e das ajudas de
caridades da sociedade.
Abade Charles Michel de L’Epée fundou a primeira
escola pública para os surdos “Instituto para Jovens Surdos e
Mudos de Paris” e treinou inúmeros professores para surdos.
O abade Charles Michel de L’Epée publicou sobre o ensino dos
surdos e mudos por meio de sinais metódicos: “A verdadeira
maneira de instruir os surdos-mudos”, o abade colocou as regras
sintáticas e também o alfabeto manual inventado pelo Pablo
Bonnet e esta obra foi mais tarde completada com a teoria pelo
abade Roch-Ambroise Sicard.

1760
Thomas Braidwood abre a primeira escola para surdos
na Inglaterra, ele ensinava aos surdos os significados das
palavras e sua pronúncia, valorizando a leitura orofacial

Idade contemporânea 1789


1789 até os nossos dias Abade Charles Michel de L’Epée morre. Na ocasião de
sua morte, ele já tinha fundado 21 escolas para surdos na
França e na Europa.

1802
Jean marc Itard, Estados Unidos, afirmava que o surdo
podia ser treinado para ouvir palavras, ele foi o responsável pelo
clássico trabalho com Victor, o “garoto selvagem” (o menino que
foi encontrado vivendo junto com os lobos na floresta de
Aveyron, no sul da França), considerando o comportamento
semelhante à um animal por falta de socialização e educação,
apesar de não ter obtido sucesso com o “selvagem” na relação à
língua francesa, mas influenciou na educação especial com o seu
programa de adaptação do ambiente; afirmava que o ensino de
língua de sinais implicava o estímulo de percepção de memória,
de atenção e dos sentidos.

1814
Em Hartford, nos Estados unidos, o reverendo Thomas
Hopkins Gallaudet (1787-1851) observava as crianças
brincando no seu jardim quando percebeu que uma menina,
Alice Gogswell, não participava das brincadeiras por ser surda e
era rejeitada das demais crianças. Gallaudet ficou
profundamente tocado pelo mutismo da Alice e pelo fato de ela
não ter uma escola para freqüentar, pois na época não havia
nenhuma escola de surdos nos Estados Unidos. Gallaudet
tentou ensinar-lhe pessoalmente e juntamente com o pai da
menina, o Dr. Masson Fitch Gogswell, pensou na possibilidade
de criar uma escola para surdos.
O americano Thomas Hopkins Gallaudet parte à Europa para
buscar métodos de ensino aos surdos. Na Inglaterra, o
Gallaudet foi conhecer o trabalho realizado por Braidwood, em
escola “Watson’s Asylum” (uma escola onde os métodos eram
secretos, caros e ciumentamente guardados) que usava a língua
oral na educação dos surdos, porém foi impedido e recusaram-lhe
a expor a metodologia, não tendo outra opção o Gallaudet
partiu para a França onde foi bem acolhido e impressionou-se
com o método de língua de sinais usado pelo abade Sicard.
Thomas Hopkins Gallaudet volta à América trazendo o
professor surdo Laurent Clerc, melhor aluno do “Instituto
Nacional para Surdos Mudos”, de Paris. Durante a travessia de
52 dias na viagem de volta ao Estados Unidos, Clerc ensinou a
língua de sinais para Gallaudet que por sua vez lhe ensinou o
inglês.
Thomas H. Gallaudet, junto com Clerc fundou em Hartford, 15
de abril, a primeira escola permanente para surdos nos Estados
Unidos, “Asilo de Connecticut para Educação e Ensino de
pessoas Surdas e Mudas”. Com o sucesso imediato da escola
levou à abertura de outras escolas de surdos pelos Estados
Undisos, quase todos os professores de surdos já eram usuários
fluentes em língua de sinais e muitos eram surdos também.

1846
Alexander Melville Bell, professor de surdos, o pai do
célebre inventor de telefone Alexander Grahan Bell, inventou
um código de símbolos chamado “Fala vísivel” ou “Linguagem
vísivel”, sistema que utilizava desenhos dos lábios, garganta,
língua, dentes e palato, para que os surdos repitam os
movimentos e os sons indicados pelo professor.

1855
Eduardo Huet, professor surdo com experiência de
mestrado e cursos em Paris, chega ao Brasil sob beneplácido do
imperador D.Pedro II, com a intenção de abrir uma escola para
pessoas surdas.

1857
Foi fundada a primeira escola para surdos no Rio de
Janeiro – Brasil, o “Imperial Instituto dos Surdos-Mudos”,hoje,
“Instituto Nacional de Educação de Surdos”– INES, criada
pela Lei nº 939 (ou 839?) no dia 26 de setembro. Foi nesta
escola que surgiu, da mistura da língua de sinais francesa com
os sistemas já usados pelos surdos de várias regiões do Brasil, a
LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais). Dezembro do mesmo
ano, o Eduardo Huet apresentou ao grupo de pessoas na
presença do imperador D.Pedro II os resultados de seu trabalho
causando boa impressão.
1861
Ernest Huet foi embora do Brasil devido aos seus
problemas pessoais, para lecionar aos surdos no México, neste
período o INES ficou sendo dirigido por Frei do Carmo que logo
abandonou o cargo alegando: “Não agüento as confusões” e com
isto foi substituído por Ernesto do Prado Seixa.

1862
Foi contratado para cargo de diretor do INES, Rio de
Janeiro, o Dr. Manoel Magalhães Couto, que não tinha
experiência de educação com os surdos.

1864
Foi fundado a primeira universidade nacional para
surdos “Universidade Gallaudet” em Washington – Estados
Unidos, um sonho de Thomas Hopkins Gallaudet realizado pelo
filho do mesmo, Edward Miner Gallaudet (1837-1917)

1867
Alexander Grahan Bell (1847-1922), nos Estados
Unidos, dedicou-se aos estudos sobre acústica e fonética.

1868
Após a inspeção governamental, o INES foi considerado
um asilo de surdos, então o dr. Manoel Magalhães foi demitido
e o sr. Tobias Leite assumiu a direção.

Entre os anos 1870 e 1890, o Alexander Grahan Bell publicou


vários artigos criticando casamentos entre pessoas surdas, a
cultura surda e as escolas residenciais para surdos, alegando que
são os fatores o isolamento dos surdos com a sociedade. Ele era
contra a língua de sinais argumentando que a mesma não
propiciavam o desenvolvimento intelectual dos surdos.
1872
Alexander Graham Bell abriu sua própria escola para
treinar os professores de surdos em Boston, publicou livreto com
método “ O pioneiro da fala visível”, a continuação do trabalho
do pai.
1873
Alexander Graham Bell deu aulas de fisiologia da voz
para surdos na Universidader de Boston. Lá ele conheceu a
surda Mabel Gardiner Hulbard com quem se casou no ano 1877.

1875
Um ex-aluno do INES, Flausino José da Gama, aos 18
anos, publicou “Iconografia dos Signaes dos Surdos-Mudos”, o
primeiro dicionário de língua de sinais no Brasil.
1880
Realizou-se Congresso Internacional de Surdo-Mudez,
em Milão – Itália, onde o método oral foi votado o mais
adequado a ser adotado pelas escolas de surdos e a língua de
sinais foi proibida oficialmente alegando que a mesma destruía
a capacidade da fala dos surdos, argumentando que os surdos
são “preguiçosos” para falar, preferindo a usar a língua de
sinais. O Alexander Graham Bell teve grande influência neste
congresso. Este congresso foi organizado, patrocinado e
conduzido por muitos especialistas ouvintes na área de surdez,
todos defensores do oralismo puro (a maioria já havia
empenhado muito antes de congresso em fazer prevalecer o
método oral puro no ensino dos surdos). Na ocasião de votação
na assembléia geral realizada no congresso todos os professores
surdos foram negados o direito de votar e excluídos, dos 164
representantes presentes ouvintes, apenas 5 dos Estados Unidos
votaram contra o oralismo puro.

Nasce a Hellen Keller em Alabama, Estados Unidos.


Ela ficou cega, surda e muda aos 2 anos de idade. Aos 7 anos foi
confiada a professora Anne Mansfield Sullivan, que lhe ensinou
o alfabeto manual tatil (método empregado pelos surdos-cegos).
Hellen Keller obteve graus universitários e publicou trabalhos
autobiográficos.
1932
O escultor surdo, Antônio Pitanga, pernambucano,
formado pela escola de Belas Artes, foi vencedor dos prêmios:
Medalha de prata (escultura Menino sorrindo), Medalha de
ouro (Escultura Ícaro) e o prêmio viagem à Europa (com a
escultura Paraguassú).

1951
Um surdo, Vicente de Paulo Penido Burnier foi
ordenado como padre no dia 22 de setembro. Ele esperou
durante 3 anos uma liberação do Papa da Lei Direito Canônico
que na época proibia surdo de se tornar padre.

1957
Por decreto imperial, Lei nº 3.198, de 6 de julho, o
“Imperial Instituto dos Surdos-Mudos” passou a chamar-se
“Instituto Nacional de Educação dos Surdos” – INES. Nesta
época a Ana Rímola de Faria Daoria assumiu a direção do
INES com a assessoria da professora Alpia Couto , proibiram a
língua de sinais oficialmente nas salas de aula, mesmo com a
proibição os alunos surdos continuaram usar a língua de sinais
nos corredores e nos pátios da escola.

1960
Willian Stokoe publicou “Linguage Structure: na
Outline of the Visual Communication System of the American
Deaf” afirmando que ASL é uma língua com todas as
características da língua oral. Esta publicação foi uma semente
de todas as pesquisas que floresceram em Estados Unidos e na
Europa.

1961
O surdo brasileiro Jorge Sérgio L. Guimarães publicou no
Rio de Janeiro o livro “Até onde vai o Surdo”, onde narra suas
experiências de pessoa surda em forma de crônicas.
1969
A Universidade Gallaudet adotou a Comunicação Total.

O padre americano Eugênio Oates publicou no Brasil


“Linguagem das Mãos”, que contém 1258 sinais fotografados.

1977
Foi criada a FENEIDA (Federação Nacional de
Educação e Integração dos Deficientes Auditivos) composta
apenas por pessoas ouvintes envolvidas com a problemática da
surdez.

Foi lançado o livro de poemas: “Ansia de amar” do surdo


Jorge Sérgio Gimarães, após a morte do mesmo.

1994
Foi fundada a CBDS, Confederação Brasileira de
desportos de Surdos, em São Paulo- Brasil

1986
Estreou o filme “Filhos do Silêncio”, na qual pela
primeira vez uma atriz surda, a Marlee Matlin, conquistou o
Oscar de melhor atriz em Estados Unidos.

1987
Foi fundada a FENEIS– Federação Nacional de
Educação e Integração dos Surdos , no Rio de Janeiro – Brasil,
sendo que a mesma foi reestruturada da antiga ex-FENEIDA.
A FENEIS conquistou a sua sede própria no dia 8 de
janeiro de 1993, Rio de Janeiro - Brasil.

1997
Closed Caption (acesso à exibição de legenda na
televisão) foi iniciado pela primeira vez no Brasil, na emissora
Rede Globo, o Jornal Nacional, em mês de setembro.
1999
Foi lançada a primeira revista da FENEIS, com capa
ilustrativa do desenhista surdo Silas Queirós

2002
Formação de agentes multiplicadores Libras em Contexto
em MEC/Feneis.

2006
Iniciou Letras/libras com 9 polos
Unidades 05
DIFERENTES OLHARES NA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO DOS SURDOS

A análise histórica busca, justamente, captar o


aleatório que casualmente conduziu à produção de um
resultado específico que, contudo, parece necessário.
(Goldman, 1998, p.89-90)

A historia de surdos registrada segue várias trajetórias, nas quais citarei


algumas visões diferenciadas que são por um lado a história da educação dos
surdos que contém muito de Historicismo, ou seja a história escrita onde
predomina a hegemonia dos poderosos; a história na visão da influência
preponderante e superioridade e por outro lado, a Historia Cultural‟, ou seja a
história na visão das diferentes culturas, em nosso caso, dos povos surdos, que
infelizmente tem poucos registros. Segue reflexão da autora SÁ a respeito da
história de surdos:
“Em síntese, a história dos surdos, contada pelos não-surdos, é
mais ou menos assim: primeiramente os surdos foram
„descobertos‟ pelos ouvintes, depois eles foram isolados da
sociedade para serem „educados‟ e afinal conseguirem ser como
os ouvintes; quando não mais se pôde isola-los, porque eles
começaram a formar grupos que se fortaleciam, tentou-se
dispersa-los, para que não criassem guetos. (2004, p.3)

e por ultimo há outra visão: a história na visão crítica, que seria o historicismo e a
história cultural mistas.

Diferentes olhares na história de surdos:


1- Historicismo / História hegemonia: O historicismo é a doutrina segundo a
qual cada período da história tem crenças e valores únicos, devendo cada
fenômeno ser entendido através do seu contexto histórico; no caso de história de
surdos é a valorização excessiva da história do colonizador. Em Estudos Surdos,
segundo a PERLIN (2003), para os surdos, a definição de historicismo é a história
concebida na visão do colonizador, isto é do ouvintismo
Exemplo do que poderia ser o historicismo de hoje:
Entrega aos especialistas uma criança surda saudável, mas que se torna
uma criança „deficiente‟ ao ser avaliada, que agora é rotulada com um modelo de
enfermidade baseado no grau de surdez e a partir daí os especialistas
preocupam-se em minimizar a educação destinada aos considerados normais e
acreditando que dessa forma estão usando de tempo em oferecer tratamento
cliníco-terapêutico para cura desta enfermidade.

2- História cultural: é uma nova forma de a história de surdos trabalhar dando


lugar à cultura e não mais a historia escrita sob as visões do colonizador”. A
História Cultural reflete os movimentos mundiais de surdos procurando não ter
uma tendência em priorizar apenas os fatos vivenciados pelos educadores
ouvintes, tornando-se uma história das instituições escolares e das metodologias
ouvintistas de ensino e sim procurar levar através de relatos, depoimentos, fatos
vivenciados e observações de povo surdo, misturando-se em um emaranhado de
acontecimentos e ações, levadas a cabo por associações, federações, escolas e
movimentos de surdos que são desconhecidas pela grande maioria das pessoas.

Aspectos que se referem a história cultural de hoje:


Piadas e contação de histórias;
Artes surdas;
Teatro com expressão visual e corporal;
Comportamentos;
Pedagogia surda
Artefatos tecnológicos em casas e escolas de surdos: despertadores vibradores,
tdd/ts, celulares com torpedos, closed caption, campainhas com luz, babá
sinalizadores, etc.

3- História na visão crítica: “Pode haver historicismo e história cultural que se


misturam e usam o jogo de „camuflagem‟ que aqui indica como „espaço‟ diante
dos olhos como incompleto, como fragmento, corte, máscara, escudo,
representação e/ou fingimento. O uso dessa „máscara‟ pode ser consciente ou
não, que pode até estar banhado de dúvidas e/ou dificuldades de aceitação e
lutam contra ela, acreditando que esta intenção é sincera, sendo assim que
acham mais fácil ignorar do que a ter que conviver com as verdades que por
vezes podem ser dolorosas ou medo de se expressar num grupo que luta contra
as práticas ouvintistas e não quer „enxergar‟ o outro lado da história. Mas devesse
ter sido visto abertamente de outro modo, de outro ângulo e/ou algo escaparam ao
alcance dos seus olhos e não perceberam.
Exemplos de prática da história crítica de hoje
Bilinguísmo mascarado
Respeito de cultura surda?
Relação de Poder: Ouvintes X Surdos

Vejamos na tabela abaixo de como são as representações dos sujeitos


surdos em diferentes olhares:

Historicismo História crítica História Cultural

 Os surdos narrados como  Os surdos narrados como  Os surdos narrados como


deficientes e patológicos „coitadinhos‟ que precisam sujeitos com experiências
de ajuda para se visuais
promoverem, se integrar

 Os surdos são  Os surdos têm capacidade,  As identidades surdas são


categorizados em graus mas dependentes. múltiplas e multifacetadas
de surdez

 A educação deve ter um  A educação como caridade,  A educação de surdos


caráter clinico-terapêutico surdos „precisam‟ de ajuda deve ter respeito à
e de reabilitação para apoio escolar, porque diferença cultural
tem dificuldades de
acompanhar.

 A língua de sinais é  A língua de sinais é usada  A língua de sinais é a


prejudicial aos surdos como apoio ou recurso. manifestação da diferença
lingüística-cultural relativa
aos surdos
Unidade 06
HISTORICISMO: O CONFLITO DO CONGRESSO DE MILÃO 1880

Esta história dos surdos é uma decepção, simplesmente


reinvocando e reescrevendo a dominação e a exclusão que têm
mais freqüentemente sido conhecidas como os “marcadores”
da experiência histórica das pessoas surdas
(Wrigley, 1996)

Nenhuma outra ocorrência na história da educação de surdos teve um


grande impacto nas vidas e na educação dos povos surdos. Houve a tentativa de
fazer da língua de sinais em extinção.
Em 6 até 11 de setembro de 1880, houve um congresso internacional de
educadores surdos em cidade de Milão na Itália. Neste congresso, foi feita uma
votação proibindo oficialmente a língua dos sinais na educação de surdos.
Este congresso foi organizado, patrocinado e conduzido por muitos
especialistas ouvintistas, todos defensores do oralismo puro. Do total de 164
delegados, 56 eram oralistas franceses e 66 eram oralistas italianos; assim, havia
74% de oralistas da França e da Itália. Alexander Grahan Bell teve grande
influência neste congresso.
Os únicos países contra a proibição eram os Estados Unidos e Grã-
Bretanha, havia professores surdos também, mas as suas „vozes‟ não foram
ouvidas e excluídas de seus direitos de votarem.
Vejam as seguintes oito definições que foram declaradas e votadas
durante o Congresso, que mudou drasticamente toda a história de surdos.

Definição 1
Considerando em exceção de preferência de sinais do que de fala ao
integrar o surdo-mudo à sociedade, e em dar-lhe um conhecimento melhor da
língua,
Declara:
Que o método oral deve ser preferido do que a de língua de sinais para o ensino e
na educação dos surdos-mudos.
160 votação a favor e 4 contra em 7/9/1880.

Definição 2
Considerando que o uso simultâneo da fala e de língua de sinais tem a
desvantagem de prejudicar a fala, a leitura labial e a precisão das idéias,
Declara:
Que o método oral puro deve ser preferido.
150 votação a favor e 16 contra em 9/9/1880.

Definição 3
Considerando que um grande número de surdos-mudos não estão
recebendo os benefícios da educação, e que esta circunstância é devida à
ineficácia das famílias e das instituições.
Recomenda:
que os governos tomem as medidas necessárias para que todos os surdos-mudos
possam receber educação.
Votação a favor unanimemente em 10/9/1880.

Definição 4
Considerando-se que o ensino ao surdo oralizado pelo Método Oral Puro
deve se assemelhar tanto quanto possível ao ensino daqueles que ouvem e falam,
Declara:
a) Que o meio mais natural e mais eficaz através do qual o surdo oralizado pode
adquirir o conhecimento da língua é o método “intuitivo”, o qual consiste em
expressar-se primeiramente pela fala, e em seguida através da escrita, os objetos
e os fatos que são colocados diante dos olhos dos alunos.
b) Que no período inicial, ou maternal, o surdo-mudo deve ser conduzido à
observação de formas gramaticais por meio de exemplos e de exercícios práticos,
e no segundo período ele deve receber auxílio para deduzir as regras gramaticais
a partir dos exemplos, expressadas com o máximo de simplicidade e clareza.
c) Que os livros, escritos com palavras e em formas lingüísticas familiares aos
alunos, estejam sempre acessíveis.
Aprovado em 11/09/1880.

Definição 5
Considerando-se a carência de livros elementares o suficiente para auxiliar
no desenvolvimento gradual e progressivo da língua,
Recomenda:
Que os professores do sistema oral devem se dedicar à publicação de obras
especiais sobre o assunto.
Aprovado em 11/09/1880.

Definição 6
Considerando-se os resultados obtidos por meio de várias pesquisas
realizadas a respeito de surdos-mudos de todas as idades e condições que
haviam se evadido da escola há muito tempo, e que quando tinham de responder
a perguntas sobre diversos assuntos, responderam corretamente, com clareza de
articulação suficiente e conseguiram ler os lábios de seus interlocutores com
grande facilidade,
Declara:
a) Que os surdos-mudos ensinados pelo método oral puro não se esquecem, após
ter deixado a escola, os conhecimentos que lá adquiriram, mas os desenvolvem
continuamente através das conversação e da leitura, quando estas são facilitadas.
b) Que em sua conversação com pessoas ouvintes, os surdos-mudos fazem uso
exclusivo da fala.
c) Que a fala e a leitura labial, muito longe de terem sido abandonadas, são
desenvolvidas através de prática.
Aprovado em 11/09/1880..

Definição 7
Considerando-se que o ensino de surdos-mudos através da fala tem
exigências peculiares; considerando-se também que a experiência dos
professores de surdos-mudos é quase unânime,
Declara:
a) Que a idade mais favorável para admitir uma criança surda na escola é entre
oito e dez anos.
b) Que o período letivo deve ter ao menos sete anos; mas preferencialmente oito
anos.
c) Que nenhum professor pode ensinar um grupo de mais de dez crianças no
método oral puro.
Aprovado em 11/09/1880.

Definição 8
Considerando-se que a aplicação do método oral puro nas instituições
onde ele ainda não esta em pleno funcionamento, deve ser - para evitar um
fracasso do contrário inevitável - prudente, gradual, progressiva.
Recomenda:
a) Que os alunos com ingresso recente nas escolas devem formar um grupo em
si, onde o ensino poderia ser ministrado através da fala.
b) Que estes alunos devem absolutamente ser separados de outros alunos que
tiveram defasagem no ensino através da fala, e cuja educação será finalizada
através de sinais.
c) Que um novo grupo oralizado seja estabelecido todos os anos, e que todos os
alunos antigos que
foram ensinados por sinais terminem sua educação.
Aprovado em 11/09/1880.

Obviamente vocês já perceberam que a causa do oralismo puro já era


vitoriosa, por causa do número de presentes de sujeitos ouvintistas; assim
demonstrou-se que o triunfo do oralismo puro já estava determinado antes mesmo
de o congresso iniciar.
O que aconteceu depois?
Após o congresso, a maioria dos países adotou rapidamente o método
oral nas escolas para surdos, proibindo oficialmente a língua de sinais, decaiu
muito o número de surdos envolvidos na educação de surdos. Em 1960, nos
Estados Unidos, eram somente 12% os professores surdos como o resto do
mundo.
Em conseqüência disto, a qualidade da educação dos surdos diminuiu e
as crianças surdas saíam das escolas com qualificações inferiores e habilidades
sociais limitadas.
Ali começou uma longa e sofrida batalha do povo surdo para defender o
seu direito lingüístico cultural, as associações dos surdos se uniram mais, os
povos surdos que lutam para evitar a extinção das suas línguas de sinais.
Unidade 07
REFLETINDO NAS DIFERENÇAS CULTURAIS SURDAS
NA HISTÓRIA DE EDUCAÇÃO.

A sociedade impõe limites,


Mas isso não significa que a cultura surda
Não tenha permissão para se desenvolver.
Jonna Widell

As Informações históricas relativas a fatos como a chegada dos


portugueses ao Brasil ou a abolição da escravatura são de fácil acesso em
documentos. Nesses registros, no entanto, só se encontram versões oficiais.
Existem muitas outras fontes importantes omitidas, no entanto, o que pensavam
os índios e os escravos nesses momentos históricos? São poucos os documentos
que trazem a „voz‟ desses dois grupos.
Isto ocorre o mesmo com o povo surdo, a história que surgiu é a história
feita segundo sujeitos ouvintes elogiando professores ouvintes pela iniciativa de
trabalhos com os surdos e pela tecnologia oralista. Onde está a história das
associações de surdos? De professores surdos? De sujeitos surdos bem-
sucedidos? Da pedagogia surda? A história cultural de surdos quase nunca lhes é
contada, visto que este seria um passo importante para a legitimação do modelo
cultural do „Ser Surdo‟. Conforme Wrigley (1996, p. 38):

Pintar psicohistórias de grandes homens lutando para obter um


lugar na história das civilizações dos que ouvem tem pouco ou
nada a ver com representar as circunstâncias históricas das
pessoas Surdas vivendo à margem daquelas sociedades que
ouvem.

A votação do Congresso de Milão provocou um "rombo" que ocasionou


uma queda na educação de surdos e agora os povos surdos estão criando forças
e ânimo para levantarem-se e lutarem pelos seus direitos à educação.
Na fase ‘isolamento cultural‟, a língua de sinais esteve proibida por mais
de 100 anos, mas sempre esteve viva na mente dos povos surdos até hoje; no
entanto, o desafio é mudar a história dos surdos.

Na fase de ‘revelação cultural‟, antes do Milão, houve muitos professores


surdos, escritores surdos, artistas surdos, líderes e militantes das comunidades
surdas que é de extrema importância pesquisarmos e registrarmos.

Vou citar alguns exemplos e almejo que os povos surdos continuem


registrando outros exemplos para enriquecer a história cultural.

Um dos mais brilhante professor surdo da história cultural dos surdos é o


Ferdinando Berthier, ele nasceu no ano de 1803 em cidade de Louhans, França.

Iniciou a educação com 8 anos em Instituto Nacional de Jovens Surdos-


Mudos de Paris - INjS e depois de se formar passou a lecionar no mesmo local
durante mais de 40 anos. Enquanto foi professor de surdos o seu método de
ensino tinha por base a identidade surda e língua de sinais.

Berthier escreveu vários livros e artigos de história de surdos, defendendo


o povo surdo, a língua de sinais, a cultura surda, a educação, sobre artistas
surdos e determinados surdos que fazem a poesia em LSF (Língua de sinais
francês), também relatou as atrocidades cometidos pelo Povo Esparta contra o
Povo Surdo, comentou que o Congresso de Milao “é um catástrofe para as
pessoas surdas de França se as decisões forem aplicadas”. e outros2, a obra
escrita que mais foi destacado foi a biografia de L‟Epeé “Um surdo antes e depois
do abade L‟Epeé”, que resultou o oferecimento de um prêmio especial que era
dado anualmente aos sujeitos lustres da sociedade francesa: ao L‟Epeé.

Em 1834, com seus companheiros surdos, Lenoir, Forestier (que depois


dessa época foi diretor de escola de surdos em Lyon), criaram uma comitê de
surdos-mudos. Dentre os dez membros desse comitê estava o Frederic Peysson
de Montpelier, um pintor destacado que pintou alguns anos depois um quadro “Os
últimos momentos de l‟Epee” e o italiano Torino Mosca, também pintor.

Neste comitê decidiram organizar todos os anos um banquete dos

2
(para saber mais ler o artigo publicado no site:
http://143.106.58.55/revista/viewarticle.php?id=126&layout=abstract )
surdos-mudos para homenagear ao abade L‟Epée, que foram de grandes
sucessos e com isto nasceu o „movimento de surdos‟.

Participavam neste banquete muitos surdos estrangeiros, de Itália,


Inglaterra, Alemanha e Estados Unidos, entre eles estavam o John Carlin (aluno
de Laurent Clerc) e outros.

Fonte: FISCHER, Renate & LANE, Harlan (eds.) Looking Back – International
Studies on Sign Language and Communication of the Deaf. SIGNUM PRESS.
1993. v.20

O Berthier e seus companheiros criaram a primeira Associação de Surdos


visando recolher sujeitos surdos, que foi a „semente‟ para a criação das outras
associações dos surdos no mundo todo.

Berthier Recebeu o prêmio French Legion of Honor (Legião de Honra


Francesa).

O interessante é que através de relatos de Berthier notamos que muitos


dos nomes que foram aclamados na história de surdos como heróis salvadores de
povos surdos eram por ele considerados plagiadores e outras vezes charlatões,
mas enaltece o L”Epée, embora não concorde com alguns feitos do mesmo,
vemos a seguir a citação dele (apud NASCIMENTO):

Até então, como eu já havia explicado, todos os educadores de surdos


interpretavam o princípio que “nossa mente não contém nada que não
chegou lá através dos sentidos” como se seu único trabalho fosse dar a
estes desafortunados o uso mecânico da fala. Ao contrário, l'Epée foi o
primeiro a vislumbrar na linguagem mímica ainda imperfeita deles, meios
mais seguros e simples de comunicação e uma mais direta e clara
tradução de pensamento. (2006, p. 256)

Outro surdo, o Pierre Pelissier, além de professor da Instituição Imperial de


Paris, também era um poeta e membro ativo da “Sociedade Central de Educação
de Assistência aos Surdos-Mudos”. Foi ele quem elaborou um manual de sinais, a
“iconografia de sinais”, que mais tarde no ano de 1875, foi reproduzida pelo surdo
brasileiro Flausino de Gama.
Na atividade obrigatória dessa unidade vocês continuarão pesquisando e
vão surpreender ao verem que tiveram muitos professores surdos que foram
importantes na história de educação dos surdos e não são registrados.
Unidade 08
REPRESENTAÇÕES DE SURDOS NO BRASIL EM DEFESA DA
EDUCAÇÃO DE SURDOS

Para o movimento surdo, contam as instâncias que afirma


a busca do direito do indivíduo surdo em ser diferente
em questões sociais, políticas e econômicas
que envolvem o mundo do trabalho, da saúde,
da educação, do bem-estar social
Perlin, 1998

As comunidades surdas no Brasil têm uma história longa. O povo surdo


brasileiro deixou muitas tradições e histórias em suas organizações das
comunidades surdas, que podem ser associação de surdos, federações de
surdos, confederações e outros.
Associação iniciou diante de uma necessidade de povos surdos terem um
espaço ao se unirem e resistirem contra as práticas ouvintistas que não
respeitavam a cultura deles.
No ínicio as associações de surdos tinham exclusivamente o objetivo de
natureza social devido ao baixo padrão de vida no século XVIII, os sujeitos surdos
tinham a finalidade de ajudar uns aos outros em caso de doença, morte e
desemprego e, além disso, as associações se propunham a fornecer informações
e incentivos através de conferências e entretenimentos relevantes. (Widel, 1992).
Como afirma MONTEIRO:

“(...)Há pessoas surdas em toda a parte do Brasil. Porém, muitos surdos


são invisíveis à Sociedade (...): a) Nos Lugares Comuns ( praças, bares,
cinemas, clubes, etc. ), b) Nas Associações de Surdos, c) Nas Escolas e
Universidades, d) Nas Clínicas, e) Nas Igrejas” (2006, p.280)

Hoje as associações de surdos fornecem muitas atividades de lazer,


cultural, esportivos, sociais e outros.

As principais comunidades surdas


1- Associações de Surdos: Uma associação de surdos surge em função de
reunir sujeitos surdos que participam e compartilham os mesmos interesses em
comuns, assim como os costumes, as história, as tradições em comuns, em uma
determinada localidade, geralmente em uma sede própria ou alugada, ou cedida
pelo governo e outros espaços físicos.
A Associação de Surdos representa importante espaço de encontro entre
os sujeitos surdos da comunidade surda. Importantes movimentos em prol a
causa de surdos se originaram e ainda se resultam das reuniões e assembléias
nas associações de surdos que ocorrem por todo o Brasil.

2- Federação Nacional de Educação de Surdos / FENEIS: é uma entidade


filantrópica, sem fins lucrativos com finalidade sócio-cultural, assistencial e
educacional que tem por objetivo a defesa e a luta dos direitos da Comunidade
Surda Brasileira. É filiada a Federação Mundial dos Surdos.

3- Confederação Brasileira de Desportos dos Surdos / CBDS. Esta


confederação organiza e regulamenta muitas práticas de muitas modalidades de
esportes de povo surdos, também promove competições entre as associações de
surdos e outros.

4- Federação Estaduais Esportivas de Surdos. promove intercâmbios de


esportes dentre as várias associações de surdos do Estado.

3- Outras Instituições : associações de pais e amigos de surdos,


Associações de intérpretes de Libras, escolas de surdos e outros.

4- Representantes religiosas: pastorais de surdos, ministério de


keiraihaguiai, grupos de jovens de igrejas, etc...

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