2 Grupo Possesão PAFP
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FACULDADE DE EDUCAÇÃO
DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA
LICENCIATURA EM PSICOLOGIA
Discente:
Aída Mandhate
Crishula Celestina
Cristina Vilanculos
Eulália Marrina
Ercília Cumba
Nilza Machava
Jaime Mavie
Nilza Macia
Docente:
Dra. Isalia Mate
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Índice
1. Introdução..................................................................................................................1
1.2. Metodologia........................................................................................................1
5. Possessão no Cristianismo.........................................................................................7
7.Conclusão.....................................................................................................................10
8. Referências bibliográficas...........................................................................................11
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1. Introdução
1.2. Metodologia
Para a realização do trabalho o grupo recorreu a pesquisa bibliográfica, onde Gil (2008)
advoga que esta pesquisa é desenvolvida a partir de material já elaborado constituído
por manuais e artigos científico e discussão intragrupal. O trabalho encontra se
estruturado da seguinte maneira: Introdução, revisão de literatura, desenvolvimento,
conclusão e referências bibliográficas.
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2. Definição dos conceitos
Tradição - É um conjunto de padrões de crenças, valores, significados, formas de
comportamento, conhecimento e saber, passados de geração em geração pelo nosso
processo de socialização. E que não se pode afirmar como uma réplica exacta de uma
prática anterior, porque as tradições são criadas e recriadas através de um processo
histórico (Honwana, 2002).
Firth (1959) citado por Honwana (2002), define posse pelos espíritos como uma forma
de transe em que as acções comportamentais de uma pessoa são interpretadas como
prova de controlo do seu comportamento por um espírito normalmente exterior a si
próprio. Beattie e Middleton (1969) citado por Honwana (2002) acrescentam a esta
definição a ideia de que a possessão pelos espíritos pode incluir um transe tanto real
como presumido.
Para Cranpazano (1977), citado por Bairrão, Dias e Miguel (2013), possessão é um
idioma cultural colectivamente compartilhados, capaz de fornecer aos indivíduos e
grupos que dele se utilizam a capacidade de articular, comunicar e elaborar as mais
variadas experiencias e situações de vida quotidiana.
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comunidade falecidos, assim como de estrangeiros, como é o caso dos Nguni ou Ndau
com quem tiveram uma interacção próxima (Honwana, 2002).
Jackson (1978), defende que numa multiplicidade de palcos, indivíduos e grupos não
possuídos tem também a possibilidade de negociar, predefinir e recriar múltiplas
identidades (tanto pessoais como colectivas) tendo como referência o fenómeno da
possessão pelos espíritos. Tal acontece por meio de processos como adivinhação e a
cura, em que o diagnóstico do adivinho identifica uma transgressão de normas sociais
ou um comportamento incorrecto, exigindo-se uma reparação através de rituais.
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O conhecimento esotérico que certos indivíduos adquirem através da posse pelos
espíritos dá-lhes a base do poder para o controlo e influenciar os outros membros da
comunidade (Honwana, 2002).
Quando alguém morre e o seu corpo é enterrado, crê-se que o seu espírito permanece
como manifestação do seu poder, personalidade e conhecimento na sociedade, ou seja,
espíritos dos mortos exercem uma poderosa influência sobre os vivos e por isso, para
que haja harmonia os indivíduos têm que os acomodar e seguir a sua vontade. Deste
modo, o mundo espiritual é uma continuidade do mundo dos vivos no sentido em que,
mesmo após a morte, os mais velhos continuam a orientar e controlar os seus
descendentes (Honwana, 2002).
Quando a pessoa fica possuída pelos espíritos o fenómeno é referido pelas seguintes
expressões locais. «Fulano/a tal a niSwikwembu», que significa ele/a tem espíritos; ou
«fulano/a tal a humelivihi Swikwembu». Estas expressões poderão sugerir que os
espíritos se encontram sempre no corpo da pessoa ou, pelo menos, que alguma força
espiritual pode iniciar, estes encontram-se dormentes em cada pessoa até ser escolhida
para desenvolver suas potencialidades (Honwana, 2002).
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A possessão pelos espíritos implicando os estados de consciência alterados ou transe
«real» surge no último quarto do século XIX quando os povos Tsonga ficaram expostos
ao transe real através dos grupos externos à região, com os quais interagiram (Honwana,
2002).
A interacção entre estes vários grupos deu lugar a um novo tipo de praticante de
medicina tradicional: o nyamusoro. Esta nova figura incorpora os três tipos de seres
espirituais (Nguni, Ndau e Tsonga) combinando os seus poderes e funções (Honwana,
2002).
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aumentou consideravelmente por causa de um movimento conhecido por murrimi, era o
nome de uma porção mágica distribuída para a população para ser bebida em rituais
especiais. Este era reconhecido poderes especiais como os de protecção de indivíduos e
grupos contra o feitiço e outros males, azares da vida e a capacidade de trazer paz e
harmonia às comunidades (Honwana, 2002).
Apesar dos severos castigos a que estava sujeita, a população nativa continuava a
praticar os seus cultos e não abandonava as suas raízes e tradições. Os antepassados
orientavam os régulos na governação do território e nas suas relações com os
governantes portugueses. Os principais rituais que eram tolerados são: mhamba, que se
destinava a kuphahla; os rituais da chuva (mbelele), destinados a promover a fertilidade
da terra e a boa produção agrícola; os rituais (vukanyi) que se realizavam
principalmente para evitar maus comportamentos e conflitos durante o período do
vukanyi (Honwana, 2002).
Numa determinada altura, era difícil realizar tais rituais por causa dos portugueses mas
posteriormente, eles acabaram por aceita-los, embora continuassem a proibir os
tinyangas (curandeiros, adivinhos e médiuns) e os valoyi (ceifeiros ou mágicos).
Quando os seus projectos estavam em risco, as autoridades coloniais por vezes
aceitavam a realização de rituais visando apaziguar os espíritos ancestrais (Honwana,
2002).
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particularmente as que se relacionavam com a possessão pelos espíritos, o culto dos
antepassados e a feitiçaria (Honwana, 2002).
5. Possessão no Cristianismo
As Igrejas Zione, levam a cabo rituais associados sobretudo a desordens espirituais
através de acções de purificação e protecção com água salgada e cinzas (Kiernan 1978),
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mas também com o uso de vaselina (vimbhela), de objectos e elementos variados que os
seus profetas identificam através de sonhos e visões. Nos processos de cura, incluindo a
fase de diagnóstico, são marcados por fortes ambiguidades e elipses (Cavallo, 2013).
A posse pelos espíritos constitui o centro do qual gravitam as actividades dos Tinyanga,
e ela também é uma das principais características dos rituais de cura Zionistas. A
revelação Zionista articula-se através da posse pelos espíritos, isto é, os profetas são
possuidos pelos agentes espirituais que os inspiram e ajudam na sua tarefa de curar
(Honwana, 2002).
Apesar de usarem algumas forças espirituais para a cura, os Zionistas não aceitam os
espíritos dos Vanguni e Vandau integrados na região através do processo Mpfhukwa,
porém, aceitam os espíritos dos antepassados da família, os tinguluvi e
mahlonga(Honwana, 2002).
Aquino (2019) afirma que a Igreja católica admite a possibilidade da possessão, tanto
que recentemente actualizou o ritual do exorcismo. Desta forma, o exorcismo é quando
a igreja exige publicamente e com autoridade em nome de Jesus Cristo, que uma pessoa
ou objecto seja protegidos contra a influência do mal e subtraídos a seu domínio. E as
razões pelas quais uma pessoa possa ser dominada pelo demónio, não são muito claras,
mas certamente pode ser causada por uma vida de pecado, vivências esotéricas, falta
dos sacramentos especialmente do baptismo e outras razões.
O exorcismo solene chamado grande exorcismo só pode ser praticado por um sacerdote
preparado para realizá-lo com a permissão do bispo, nele é necessário proceder com
prudência, observando estritamente as regras estabelecidas pela Igreja. Este tem como
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finalidade expulsar os demónios ou livrar da influência demoníaca, e isto advém pela
autoridade espiritual que Jesus confiou a sua Igreja (Aquino, 2019).
Gibbs e Boyden (1996), citados por Honwana (2002), mostram que a terapia individual
levada a cabo por um psicólogo ocidental podia ser ineficaz na interpretação da
possessão por duas razões:
A primeira: não tomava em consideração o papel dos espíritos ancestrais, dos espíritos
malévolos e de outras forças sobrenaturais nos processos etiológicos que dão origem às
doenças;
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7. Conclusão
A possessão consiste em um domínio que o demónio exerce directamente sobre o corpo
e indirectamente sobre a alma de uma pessoa. Esta se converte em um instrumento cego,
dócil, fatalmente obediente ao poder perverso e despótico do demónio. A possessão
permite aos indivíduos e grupos comunicarem e manterem relações saudáveis tendo em
conta o contexto cultural e considerando os seus antepassados como parte das suas
vivências e experiências quotidianas.
A psicologia concebe a possessão como uma perturbação mental que precisa ser tratada
com base em terapias individuais e medicamentos para aliviar a dor dos pacientes.
A religião cristã representada pelas igrejas zione e católica apresenta visões diferentes
em relação ao fenómeno de possessão. Os ziones interpretam a possessão como um dom
divino que nos permite manter relações com os nossos antepassados, estes que fazem
parte das nossas decisões, sendo a participação deles importantes na nossa vida. Em
contra partida, a igreja católica interpreta a possessão como um fenómeno diabólico no
qual um espírito maligno exerce um poder sobre pessoa, e esta torna-se inevitavelmente
obediente ao diabo.
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8. Referências bibliográficas
Aquino, F. (2019). O que é possessão diabólica? Universo católico. Consultado em
19.03.2020. disponível em: www.universocatolico.com.br/index.php? /O-que-e-
possessao-diabolica.html
Dias, R.N. & Bairrão, J.F.M.H. (2013). Trajectórias Investigativas da Possessão: Uma
Abordagem Etnopsicológica. Universidade de São Paulo (Ribeirão Preto), Brasil.
Consultado em 19/03/2020.Disponível em http://dx.doi.org/10.5327/Z1982-
1247201300020010
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9. Anexo 1: Caso empréstimo desperdiçado
Hulene "A"; vive momentos marcado por empréstimos bancários. No ano passado
Dadinha fez empréstimo em dois bancos da cidade de Maputo, seu esposo com quem
vive com ela perguntou lhe o porquê de tantos empréstimos bancários, em resposta
Dadinha afirmou que queria realizar seus sonhos de ampliar sua casa e comprar um
carro de marca BMW, mais isso não chegou de acontecer pois o valor desapareceu das
suas mãos e nem sabe explicar o que fez concretamente com o valor. Um dos bancos ao
se aperceber de que Dadinha não estava a cumprir com o combinado queria confiscar os
seus bens que era a casa com que construiu com o seu esposo dai seus padrinhos
prontificaram se em pagar sua divida, feito isso não tardou Dadinha recebeu novamente
uma notificação de um dos bancos fazendo lhe a cobrança da divida pois não estava a
cumprir com as cláusulas por ela assinadas.
Dai que as dividas atormentavam lhe, que começou a ter maus sonhos constantemente, e
quando seu esposo a questionava, ela alegava sonhar com a charà, que morreu a quinze
(15) anos mandando contrair dividas que ia ajudar a pagar. Preocupados com a Dadinha,
o esposo e seus pais levaram-na à uma igreja profética onde ela manifestou um espírito
que dizia: sou chara dela, vocês sabem que eu não tenho filhos, vocês nunca se
lembram de mim e nunca fizeram missa para mim, por isso eu tenho rancor de vocês e
para me vingar eu guio a vossa filha a fazer empréstimos em banco sem motivos
concretos para que ela seja mal vista na família e criar conflitos com o seu esposo. O
Pastor orou pela Dadinha e ela voltou ao seu estado normal. Porém alguns dias depois,
Dadinha começou a entrar em transe em casa e os pais decidiram desta vez levá-la a um
curandeiro.
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10. Anexo 2: Confrontação do caso com a obra na mão de Deus e o tema
A luz da obra na mão de Deus (p. 63), na mente do povo, a doença é provocada, e as
pessoas com doença mental são vistas como quem está a pagar por algum mal que fez.
No caso acima percebe-se que o espírito que possui a Dadinha, vem para fazer pagar a
família da Dadinha pelo facto de terem se esquecido da chara dela.
A família pode ajudar a vencer a influência desses maus espíritos, pois é considerada
um escudo, uma defesa contra essas tentações (p.82), neste caso os pais e o esposo
preocupados com a filha, procuraram ajuda na Igreja, e como não resultou recorreram
ao curandeiro.
Percebe-se que aqueles que se julgam mortos estão sempre connosco, como entidades
invisíveis (p. 91), uma vez que o espírito da chara de Dadinha, alega ou reclama que
ninguém visita a sua campa, pior porque nem teve filhos.
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