Síntese de Corantes Sais de Diazônio
Síntese de Corantes Sais de Diazônio
Síntese de Corantes Sais de Diazônio
Objetivo
Procedimento Experimental
A síntese dos corantes consistiu num conjunto de seis etapas sequenciais, acilação,
nitração, hidrólise, recristalização, preparação do sal de diazônio reação de acoplamento, partindo
da anilina. O procedimento experimental de cada uma das etapas foi realizado de acordo com o
recomendado na apostila de Química Orgânica Experimental II, com pequenas alterações para
uma melhor adaptação às necessidades/disponibilidades do laboratório devidamente especificadas
a seguir.
Para a síntese da acetanilida, foi empregado excesso de anidrido acético (10,5mL ao invés
dos 9mL recomendados) e foi utilizada água à temperatura ambiente para a reação.
Na síntese da p-nitroacetanilida, devido à erros de cálculo, foram utilizados 2,75mL de
HNO3 ao invés dos 4,15mL recomendados na apostila. Para a lavagem do sólido durante a
filtração, foi utilizada solução aquosa de bicarbonato de sódio.
No procedimento de hidrólise da p-nitroacetanilida, para a preparação da solução de ácido
sulfúrico 70% foram utilizados 12mL de H2SO4 concentrado (98%), 8mL de água destilada e 1
pedra de gelo (~5g), assim, a solução ácida final preparada encontrava-se numa concentração
inferior à recomendada na apostila. Para a alcalinização da mistura após a hidrólise, foram
utilizados 40mL de NaOH 20% e 6 “escamas” de NaOH sólido P.A. Diferentemente do
procedimento recomendado pela apostila, não foi realizado teste de confirmação da p-nitroanilina.
Posterior a etapa de hidrólise da p-nitroacetanilida (síntese da p-nitroanilina) foi realizada
injeção de uma amostra do sólido obtido, solubilizado em CCl4, em equipamento de CG-MS
utilizando coluna de fase reversa e programação com rampa de aquecimento.
Para a recristalização do sólido obtido, em erlenmeyer, foram aquecidos 44mL de água e o
sólido em chapa elétrica e, ao surgirem os primeiros sinais de ebulição da água, adicionou-se
10mL de etanol e prosseguiu-se com aquecimento até total solubilização da p-nitroanilina, quando
a mistura foi retirada do aquecimento e resfriada à temperatura ambiente. O sólido recristalizado foi
filtrado, lavado com água gelada e acondicionado para secar à temperatura ambiente.
Para o experimento de ponto de fusão do sólido recristalizado, realizado em duplicata,
aqueceu-se (com bico de Bunsen) uma amostra do sólido, em capilar imerso em um tubo de Thiele
preenchido com óleo.
O procedimento da preparação do sal de diazônio foi realizado utilizando-se metade das
quantidades recomendadas para todos os reagentes e solventes. Em seguida, a mistura obtida foi
dividida em duas partes, à primeira foram adicionadas algumas gotas de anisol e à segunda
floroglucinol dissolvido em etanol. Não foi realizada reação de confirmação.
Resultados e discussões
A primeira etapa deste processo, a acilação da anilina, teve como finalidade a proteção do
grupo amino e tornar o anel aromático menos reativo, visto que uma nitração direta da anilina,
fazendo uso da mistura HNO3/H2SO4, pode levar à múltiplas nitrações, oxidações e/ou
decomposições do grupo amino.²³4 Essa proteção torna a molécula menos reativa porque, ao
introduzir um grupo carbonila a molécula, o par de elétrons não-ligantes do nitrogênio passa a
estabelecer uma interação de ressonância com o oxigênio da carbonila, reduzindo sua
disponibilidade para interações com os orbitais π do anel aromático.² Apesar da substituição do
grupo NH2 pelo NHCOR, a orientação de substituição orto/para da molécula é mantida.³
Ao misturar a água e anilina, obteve-se uma mistura castanho-amarelada e não
homogênea, devido à baixa solubilidade da anilina em água (3,7g/100mL H2O). 4Este fato pode ser
explicado porque, apesar de as aminas poderem realizar ligações de hidrogênio com a água
(devido à presença do grupo –NH2), sua baixa polaridade o tamanho da parte hidrofóbica da
molécula de anilina (o anel aromático) dificulta a formação de micelas e, consequentemente, a
solubilização em meio aquoso. 4
Após a adição do anidrido acético, houve a formação de precipitado (amarelado com
aspecto de “espuma”), indicando a ocorrência de uma reação, neste caso, uma acilação, onde o
anidrido acético atua como agente acilante.5
Como proposto no esquema de intermediários 1, o par de elétrons não-ligantes do
nitrogênio realiza um ataque nucleofílico em um dos carbonos do grupo carbonila do anidrido
acético, gerando acetanilida e ácido acético. Após a liberação de um próton e o restabelecimento
do par de elétrons não-ligantes do nitrogênio, apesar de raro, pode ocorrer um segundo ataque do
nitrogênio ao anidrido acético, dando origem a uma diacetil anilina³ ,5 Entretanto, a presença de
água no meio reacional tende a hidrolisar estas possíveis moléculas de diacetiladas, conduzindo a
reação majoritariamente para a formação da acetanilida³,5 . Ademais, nesta reação, a água também
atua absorvendo o calor liberado durante a reação, visto que esta reação é extremamente
exotérmica e pode ocorrer projeção da mistura reacional.
É importante destacar que estão presentes no meio reacional a anilina e a água, e que
ambas podem atuar como nucleófilo sobre o anidrido acético, desencadeando, respectivamente,
em uma acetilação e uma hidrólise. Entretanto, a reação de acetilação ocorre preferencialmente
(mais rapidamente) devido ao fato de a anilina ser um nucleófilo melhor² e a reação da água com o
anidrido acético ser lenta.6
A adição de água após a acilação tem como finalidade “encerrar” a reação ao hidrolisar das
moléculas de anidrido restantes (gerando ácido acético) 4, e um resfriamento em banho, a fim de
promover uma maior precipitação da acetanilida, através da redução da temperatura do meio
reacional. Então, o sólido obtido, branco/incolor levemente amarelado, foi filtrado e lavado com
água gelada, a fim de evitar a solubilização da acetanilida e, portanto, a perda de material durante
a filtração, mas ser capaz de retirar a anilina que ainda estivesse presente no material. Após a
devida secagem, o sólido obtido foi pesado (9,5g) e obteve-se o rendimento de 88%.
Quanto aos testes de solubilidade, a anilina mostrou-se insolúvel em meio aquoso neutro
(formação de duas fases), e solubilizou-se após a adição de HCl 20%. Por outro lado, a acetanilida
mostrou-se insolúvel mesmo em meio ácido. Tais resultados devem-se ao fato de que as aminas
(pKa do ácido conjugado 4.6) são mais básicas que as amidas (pKa do ácido conjugado <0).
Dessa forma, as primeiras solubilizam-se em meio aquoso ácido devido a reações ácido-base com
o ácido, formando sais, que são solúveis em água. Já as amidas são muito pouco básicas, logo,
em contato com ácidos, não formam sais, permanecendo insolúveis em meio aquoso.²
Para o procedimento de nitração da acetanilida, a mistura de acetanilida, obtida na etapa
anterior, e ácido acético glacial, formou uma suspensão amarelo claro de acetanilida
(heterogênea). Ao adicionar ácido sulfúrico concentrado à mistura, ocorreu a solubilização
completa da acetanilida e o aumento de temperatura do meio reacional (processo exotérmico), e
deu origem a um líquido viscoso transparente, de coloração rosê/salmon. A mistura de ácido
acético/ácido sulfúrico tem como objetivo manter conduzir a nitração de maneira mais controlada e
moderada, mantendo a mistura do agente nitrante com força média.5
Para o banho de gelo, foi empregada uma a mistura de gelo, água e NaCl, que possui um
maior poder de resfriamento, porque a presença do sal na mistura (água e sal) resulta no
abaixamento da temperatura de fusão da água, ocasionado pela maior estabilidade entrópica da
solução água-NaCl, devido ao fato desta ser molecularmente mais desorganizada do que o
solvente puro, neste caso, a água.7
Como proposto no esquema 2, através de uma reação ácido-base entre os ácidos nítrico e
sulfúrico, a mistura HNO3/H2SO4 fornece o íon nitrônio (NO2+), que age como eletrófilo sobre os
elétrons π do anel aromático da acetanilida, que, após a liberação de um próton(H+), restabelece a
aromaticidade do anel. O rigoroso controle de temperatura durante a adição da mistura nitrante
teve como finalidade conduzir a reação para a formação de produtos para-substituídos (evitando
os orto-nitrados) através do controle cinético da reação 8, visto que, apesar de uma maior
disponibilidade de carbonos orto para o ataque do NO2+ (logo, uma reação estatisticamente mais
provável), os produtos para-substituídos possuem estado de transição de menor energia, por conta
de um menor impedimento estérico nessa posição. ² A p-nitroacetalinida, devido ao fato de os
grupos NHCOR e NO2 estarem mais afastados, é também mais estável (possui menor energia)
que a o-nitroacetanilida, o que, à baixa temperatura com que foi conduzida a reação, evita a
reversão da reação, o que levaria a um retorno aos reagentes e a possibilidade de formação dos
produtos orto-substituídos.8
Figura 2 – Esquema de intermediários 2 (síntese da p-nitroacetanilida)
Para a etapa de acoplamento, a solução de sal de diazônio foi dividida em duas partes. À
primeira foram adicionadas algumas gotas de anisol, entretanto, não houve mudança na coloração
da mistura, permanecendo amarelo claro. Foram realizados também testes mudando-se o pH do
meio através da adição de NaOH concentrado, o que provocou a saída de gases da solução mas
não houve alteração de cor.
Ao analisar um possível esquema de intermediários 6 é possível concluir que um
acoplamento entre o cloreto de p-nitrobenzeno diazônio e o anisol deve ocorrer majoritariamente
em para (em relação ao OCH3 do anisol) devido ao caráter orto/para dirigente dos éteres (Daley e
Daley 936) e ao maior impedimento estérico na posição orto. Assim, conforme a proposta de
intermediários 6, o cloreto de p-nitrobenzeno diazônio age como eletrófilo sobre o par de elétrons
pi do anel aromático do anisol e, após a liberação de um próton (H+), a aromaticidade do anel é
restabelecida e tem-se o produto final.(Daley & Daley p.956)
A liberação de gases ao adicionar NaOH(aq) à mistura pode ser explicada, por exemplo,
através de uma reação entre a hidroxila da base e as moléculas de sal de diazônio que não
reagiram com o anisol (não acoplaram). Conforme proposto no esquema de intermediários 7, esta
reação produz o p-nitrofenol, que em meio ácido tende a ficar desprotonado, e N2(g).
Figura 7 – Esquema de intermediários 7 (reação do cloreto de p-nitrobenzeno com NaOH)
Ao analisar a molécula de floroglucinol é possível verificar que seu anel aromático encontra-
se fortemente ativado devido à presença de três hidroxilas ligadas à este, o que torna o
floroglucinol ainda mais suscetível ao acoplamento com o sal de diazônio. Nesta reação, devido à
geometria da molécula de floroglucinol, em qualquer dos carbonos sem substituintes que ocorra o
acoplamento, o composto azo resultante é o mesmo. Em se tratando da mudança de coloração
causada pela alteração do pH do meio, visto que a coloração dos compostos azo está ligada a
deslocalização de elétrons pi através dos aneis em conjugação 4, uma explicação para este
fenômeno é que, à presença de base, os hidrogênios das hidroxilas da molécula podem ser
capturados, e a base conjugada pode ser facilmente estabilizada por ressonância.
Já quanto ao composto azo formado pelo acoplamento com anisol, seus hidrogênios
encontram-se ligados à carbonos, o que os torna menos ácidos (em comparação com o composto
azo formado com a molécula de floroglucinol) devido à dificuldade de estabilização da base
conjugada, visto que carbânions possuem alta energia.
Conclusão
Referências bibliográficas
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