Location via proxy:   [ UP ]  
[Report a bug]   [Manage cookies]                

APOSTILA CURSO DE LITURGIA - Missa - PDF - Paróquia Sagrado ...

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 65

ÍNDICE

ASSUNTO PÁG
Preliminares
1. A Missa: testemunho de fé de todos os tempos 05
2. Importância e dignidade da Missa 05
3. A Missa: uma tradição que nunca se interrompe e que se atualiza 06
4. A Missa: uma oração comunitária 07
5. As celebrações dos primeiros cristãos 08
6. Evolução da Liturgia no Brasil 09
7. O espaço litúrgico – presbitério 10
8. O Crucifixo no centro do Altar 12
9. A Cadeira da Presidência litúrgica 13
10. As partes do sacerdote e as partes do povo 14
11. Gestos e posições corporais e o silêncio na Liturgia 15
12. A função litúrgica do animador 17

Ritos Iniciais
13. Procissão da Entrada 20
14. Os Ritos Iniciais segundo o Missal Romano 21
15. As saudações do Apóstolo Paulo e a saudação inicial da Missa 22
16. Ato Penitencial – Kyrie 23
17. História do “Gloria in excelsis” 24
18. O Hino do Gloria (significado) 25
19. Oração do Dia ou Coleta (histórico e formação) 27
20. Oração da Coleta segundo o Missal Romano 28

Liturgia da Palavra
21. Liturgia da Palavra (visão histórica) 31
22. Liturgia da Palavra (visão geral) 32
23. As Leituras Bíblicas e o Salmo Responsorial 34
24. Os “comentários” na Liturgia da Palavra 35
25. Inclinemos o ouvido do coração 36
26. Liturgia da Palavra segundo o Missal Romano 38
27. O “Aleluia” 38
28. Proclamação do Evangelho 40
29. Evangeliário 41
30. A homilia, a profissão de fé, a oração universal 43

Liturgia Eucarística
31. Preparação das oferendas (visão histórica) 45
32. Os dons escolhidos pelo Senhor e o significado da nossa oferta 46
33. Liturgia Eucarística (ordem da celebração) 47
34. Apresentação das oferendas segundo o Missal Romano 48
35. O Prefácio e o Sanctus-Benedictus 49
36. Oração Eucarística conforme o Missal Romano 50
37. Rito da Comunhão 52
38. A distribuição da Comunhão 53

Ritos Finais
39. Ritos Finais 55

Anexos
I. Como preparar uma celebração eucarística 57
II. O serviço do Leitor na Liturgia (dicas práticas) 61
2

ORAÇÃO DOS QUE ATUAM NA SAGRADA LITURGIA

Ó Pai, cuja beleza infinita é sinalizada na Liturgia,


que a arte de celebrar retamente garanta a participação
plena, ativa e frutuosa de Vosso povo;
leve-nos a reconhecer que, pela Liturgia, “obra em favor do povo”,
tomamos parte na obra Divina, que continua em Sua Igreja,
com Ela e por Ela, a Obra da redenção.
A Liturgia seja a fonte donde haurimos forças,
e ápice para o qual tende nossa vida e a missão da Igreja.
A Liturgia seja fonte pura e perene de “água viva”,
à qual todo sedento pode alcançar gratuitamente o dom de Deus.
Participando desta forma
plena, ativa e frutuosa dos sagrados mistérios,
toda a existência cristã se torne
“sacrifício vivo, santo e agradável a Deus”,
verdadeiro “culto espiritual”.
Tudo isto Vos pedimos por Jesus Cristo,
na unidade do Espírito Santo,
que convosco doa a Sagrada Liturgia.

AMÉM
3

A SANTA MISSA SEGUNDO O RITO ROMANO


(Evolução histórica)
PRIMEIROS CONCÍLIO DE CONCÍLIO
CRISTÃOS1 TRENTO VATICANO II
Orações ao pé do Altar Procissão da Entrada
“No dia chamado o dia do Intróito Sinal da Cruz e Saudação
sol, todos, nas cidades e nos Kyrie Ato Penitencial
campos, se reúnem num Gloria Kyrie
mesmo lugar” Oração da coleta Gloria
Oração da coleta
“Lêem-se as memórias dos Epístola I Leitura
apóstolos e os escritos dos Gradual Salmo Responsorial
profetas tanto quanto o Aleluia ou Trato II Leitura
tempo o permite.” Evangelho Aclamação ao Evangelho
Evangelho
“Quando o leitor acabou,
aquele que preside faz um
discurso para admoestar e Sermão Homilia
exortar à imitação destes
belos ensinamentos.”
“Em seguida, levantamo-nos Profissão de Fé
todos e oramos em comum, Profissão de Fé Preces dos Fiéis
em voz alta.”
“Logo que termina a oração, Procissão das Oferendas
apresenta-se o pão, o vinho e Ofertório Ofertório
a água.”
“O que preside faz subir ao
céu, o mais fervorosamente Prefácio - Sanctus Prefácio - Sanctus
possível, as súplicas e Cânon Romano Oração Eucarística
eucaristias, e todo o povo (Por Cristo – Amen) (Por Cristo – Amém)
responde por aclamação:
Amém!”
Pater Noster Pai Nosso
Rito da Paz Rito da Paz
*** Agnus Dei Agnus Dei (fração do pão)
Orações de preparação à Orações de preparação à
comunhão comunhão
“Depois faz-se a distribuição
das coisas consagradas por Comunhão do sacerdote Comunhão do sacerdote
cada um dos presentes, Comunhão dos fiéis Procissão da Comunhão
enviando-se a parte Post-communio Oração após a comunhão
respectiva aos ausentes, por
intermédio dos diáconos.”
Ite Missa est
*** Bênção Final Bênção Final
Último Evangelho
1
Segundo os relatos de São Justino, mártir.
PRINCÍPIOS BÁSICOS DA CONSTITUIÇÃO
4

SACROSSANCTUM CONCILIUM2

DO CONCÍLIO VATICANO II

SOBRE A SAGRADA LITURGIA

• Qualquer celebração litúrgica é obra de Cristo (§ 7º)

• Pela Liturgia da terra, participamos, já saboreando, da Liturgia do Céu (§ 8º)

• A Liturgia é a meta da ação da Igreja e, ao mesmo tempo, a fonte de toda Sua força
(§ 10º)

• Os fiéis devem participar ativa, consciente e plenamente da Liturgia (§ 14)

• A regulação da Liturgia compete unicamente à Igreja, isto é, à Santa Sé e, somente


dentro de limites estabelecidos, ao Bispo e à Conferência Episcopal. Por isso,
ninguém mais, mesmo que seja sacerdote, ouse, por sua iniciativa, acrescentar,
suprimir ou mudar seja o que for em matéria litúrgica. (§ 22)

• Os leitores, comentadores, cantores, desempenham autêntico ministério litúrgico.


Por isso, devem exercer seu serviço com devoção autêntica e do modo como convém
a tão grande mistério. É necessário que sejam instruídos do espírito litúrgico, cada
um a seus modo. É preciso que sejam formados para que cada um execute
perfeitamente a parte que lhe compete. (§ 29)

• A música na Liturgia tem por finalidade a glória de Deus e a santificação dos fiéis (§
112)

• As obras de arte sacra, os paramentos, as alfaias, devem consagrar um “nobre


beleza”, sem suntuosidades. (§ 124)

2
Do latim: O Sagrado Concílio. Foi o primeiro documento emanado pelo Concílio Vaticano II (04.12.1963), o que demonstra a
importância da Liturgia na vida da Igreja.
5
1. A MISSA: TESTEMUNHO DE FÉ DE TODOS OS TEMPOS
Quando Cristo Senhor estava para celebrar com os discípulos a ceia pascal, na qual
instituiu o sacrifício do seu Corpo e Sangue, mandou preparar uma grande sala mobilada (Lc 22,
12). A Igreja sempre entendeu que esta ordem lhe dizia respeito e, por isso, foi estabelecendo
normas para a celebração da santíssima Eucaristia.
Naquela mesma noite em que ia ser entregue, o Senhor tomou o pão e o vinho; deu graças
(ao pé da letra, do grego, eucaristiou) e pronunciou sobre o pão e o vinho as palavras que
mudaram a substância deles no seu próprio Corpo e Sangue. Depois, partiu o pão consagrado e
distribuiu-o entre os Apóstolos, bem como o Cálice com vinho.
Estes elementos essenciais da Instituição da Eucaristia aparecem exatamente nas primeiras
assembléias dos cristãos que os fiéis denominavam “fração do pão” ou “refeição do Senhor”.
Ao longo dos séculos, a Igreja sempre afirmou a natureza da Missa como verdadeiro
sacrifício de Cristo. Assim foi no Concílio de Trento, reafirmado no Concílio Vaticano II.
Isso é bem visível nas Orações Eucarísticas quando o sacerdote, dirigindo-se a Deus, em
nome de todo o povo, dá-Lhe graças e oferece o sacrifício vivo e santo, ou seja, a oblação da
Igreja e a Vítima, por cuja imolação Deus quis ser aplacado, e ora também para que o Corpo e
Sangue de Cristo sejam um sacrifício agradável ao Pai e salutar para todo o mundo.
Assim, no novo Missal, a regra de orar (lex orandi) da Igreja corresponde à regra de crer
(lex credendi). Consequentemente, a Missa é ao mesmo tempo sacrifício de louvor, de ação de
graças, de propiciação e de satisfação.
É na Missa que vemos claramente a natureza do sacerdócio ministerial, próprio do
presbítero (padre). Ele, em nome de Cristo, oferece o sacrifício e preside a assembléia do povo
santo. Os próprios ritos demonstram a importância deste ministério, já que lhe confere as partes
mais importantes da celebração.
Porém, ao iluminar a importância do ministério do presbítero, a Missa também coloca em
relevo o sacerdócio real dos fiéis. Com efeito, a celebração da Eucaristia é ação de toda a Igreja;
nesta ação, cada um intervém fazendo só e tudo o que lhe compete, conforme a sua posição dentro
do povo de Deus. Este povo é o povo de Deus, adquirido pelo Sangue de Cristo, congregado pelo
Senhor, alimentado com a sua palavra; povo chamado para fazer subir até Deus as preces de toda
a família humana; povo que em Cristo dá graças pelo mistério da salvação, oferecendo o seu
Sacrifício; povo, finalmente, que, pela comunhão do Corpo e Sangue de Cristo, se consolida na
unidade. E este povo, embora seja santo pela sua origem, vai continuamente crescendo em
santidade, através da participação consciente, ativa e frutuosa no mistério eucarístico.

2. IMPORTÂNCIA E DIGNIDADE DA MISSA


A celebração da Missa, como ação de Cristo e do povo de Deus hierarquicamente
ordenado, é o centro de toda a vida cristã, tanto para a Igreja, quer universal quer local, como para
cada um dos fiéis. Nela culmina toda a ação pela qual Deus, em Cristo, santifica o mundo, bem
como todo o culto pelo qual os homens, por meio de Cristo, Filho de Deus, no Espírito Santo,
prestam adoração ao Pai. Nela se comemoram também, ao longo do ano, os mistérios da
Redenção, de tal forma que eles se tornam, de algum modo, presentes. Todas as outras ações
sagradas e todas as obras da vida cristã com ela estão relacionadas, dela derivam e a ela se
ordenam.
Por isso, é da máxima importância que a celebração da Missa de tal modo se ordene que
ministros sagrados e fiéis, participando nela cada qual segundo a sua condição, colham os mais
6
abundantes frutos. Foi para isso que Cristo instituiu o sacrifício eucarístico do seu Corpo e
Sangue e o confiou à Igreja, sua amada esposa, como memorial da sua paixão e ressurreição.
Isto se conseguirá se for levado em conta as circunstâncias particulares de cada assembléia
litúrgica, se for ordenada toda a celebração de forma a conduzir os fiéis àquela participação
consciente, ativa e plena, de corpo e espírito, ardente de fé, esperança e caridade, que a Igreja
deseja e a própria natureza da celebração reclama, e que, por força do Batismo, constitui direito e
dever do povo cristão.
Embora nem sempre se consiga uma presença e uma participação ativa dos fiéis que
manifestem com toda a clareza a natureza comunitária e eclesial da celebração, mesmo assim ela é
eficaz, porque é ação de Cristo e da Igreja. Ou seja: não é a participação do povo ou não que dará
mais eficácia aos frutos da Missa. Ela já os têm por si próprios, porque é ação do próprio Cristo.
A celebração eucarística, como toda a Liturgia, realiza-se por meio de sinais que se pode
perceber, pelos quais se alimenta, fortalece e exprime a fé. Para isso, deve haver o máximo
cuidado em escolher e ordenar as formas e os elementos propostos pela Igreja que, atendendo às
circunstâncias de pessoas e lugares, mais intensamente favoreçam a participação ativa e plena e
mais eficazmente contribuam para o bem espiritual dos fiéis.
Para que a celebração esteja mais plenamente de acordo com a letra e o espírito da sagrada
Liturgia, são permitidas algumas adaptações que consistem, muitas vezes, na escolha de certos
ritos e textos, como são os cantos, as leituras, as orações, monições e os gestos, de forma a
corresponderem melhor às necessidades, à preparação e à capacidade dos participantes; elas são
da responsabilidade do sacerdote celebrante. Lembre-se contudo o sacerdote que ele próprio é
servidor da sagrada Liturgia, e que não lhe é permitido, por sua livre iniciativa, acrescentar,
suprimir ou mudar seja o que for na celebração da Missa, como manda o Sagrado Concílio
Vaticano II na Constituição Sacrosanctum Concilium. Enfim, há possibilidade de adaptações, mas
sempre dentro das normas litúrgicas. A criatividade litúrgica para a Missa, tem limites.

3. A MISSA: UMA TRADIÇÃO QUE NUNCA SE INTERROMPE E QUE SE


ATUALIZA

O Concílio Vaticano II, como é sabido, em sua primeira Constituição, que começa com as
palavras Sacrossanctum Concilio (O Sacrossanto Concílio) tratou da reforma da Liturgia para
deixá-la mais próxima da realidade do nosso tempo. Para essa reforma, foram usados alguns
princípios, sendo o principal aquele que determinava que os ritos deveriam ser restaurados em
conformidade com a antiga norma dos Santos Padres. Isto é, que deveria se voltar às origens, ao
ensinamento dos primeiros Padres da Igreja.
Na verdade, o Novo Missal veio aperfeiçoar o primeiro, aquele antigo Missal de 1570, que
foi preparado por ordem do Concílio de Trento.
A Igreja, desde o tempo dos Apóstolos, sempre celebrou a Eucaristia. Com o Concílio de
Trento, as formas litúrgicas foram unificadas, especialmente para dar resposta às heresias que
estavam colocando em perigo a fé católica sobre a presença real e permanente de Cristo na
Eucaristia.
O Papa São Pio V (que promulgou o Missal de 1570), tinha a preocupação de guardar a
tradição que vinha desde os tempos apostólicos e coloca-la no Missal. Porém, muito dos
ensinamentos dos primeiros Padres não foi inserido nas normas, por motivos diversos,
especialmente pelas limitações de pesquisa da época.
7
Hoje em dia, ao contrário, aquela “norma dos Santos Padres”, que os corretores do Missal
de S. Pio V se propunham seguir, encontra-se enriquecida com numerosos estudos de eruditos.
Após a descoberta de numerosos documentos litúrgicos, também se conhecem melhor as tradições
dos primeiros séculos, anteriores à formação dos ritos do Oriente e do Ocidente. Também se
aprofundou o estudo principalmente dos Padres da antiguidade cristã, como S. Irineu, S.
Ambrósio, S. Cirilo de Jerusalém, S. João Crisóstomo.
Por isso, o princípio de buscar na antiguidade as bases litúrgicas não reclama somente a
conservação daquelas tradições que nos legaram os nossos antepassados imediatos; exige também
que se abranja e examine mais profundamente todo o passado da Igreja e todos esses diversos
modos pelos quais se exprimiu a única e mesma fé, através das mais variadas formas de cultura e
civilização, nas diferentes regiões. Isso demonstra como o Espírito Santo inspira ao povo de Deus
uma admirável fidelidade à verdadeira Fé, por mais variadas que se apresentem as formas da
oração e dos ritos sagrados.
Adaptação às novas circunstâncias
O novo Missal (Concílio Vaticano II) demonstra a “regra de oração” (lex orandi), ou seja,,
a forma de celebrar da Igreja Romana. Ao mesmo tempo salvaguarda o depósito da Fé de todos os
tempos.
Embora os Padres do II Concílio do Vaticano tenham reafirmado os dogmas do Concílio de
Trento, estavam numa época da vida do mundo muito distante daquela, o que os levou a
apresentar, no campo pastoral, resoluções e orientações impensáveis quatro séculos atrás.
Exemplo dessas novas orientações e resoluções são (a) o grande valor catequético e
didático da celebração da Missa; (b) a permissão para o uso da língua vernácula em algumas
partes da Missa; (c) a participação ativa, frutuosa e autêntica do povo na Missa; (d) a comunhão
sob duas espécies...
Desse modo, a Igreja, mantendo-se fiel à sua missão de mestra da verdade, conservando o
que é “antigo”, isto é, o depósito da tradição, cumpre também o dever de considerar e adotar o que
é “novo” (cf. Mt 13, 52). Por isso, uma parte do novo Missal apresenta orações da Igreja mais
diretamente orientadas para as necessidades dos nossos tempos. Da mesma forma, utiliza textos
da mais antiga tradição, atualizando suas frases e expressões para a realidade atual, sem jamais
alterar a sua substância.
Deste modo, as normas litúrgicas do Concílio de Trento foram em grande parte
completadas e aperfeiçoadas pelas do II Concílio do Vaticano, que pôde levar a termo os esforços
no sentido de aproximar mais os fiéis da sagrada Liturgia, esforços estes desenvolvidos ao longo
dos últimos quatro séculos, sobretudo nos tempos mais recentes, graças especialmente ao zelo
litúrgico de S. Pio X e seus Sucessores.

4. A MISSA: UMA ORAÇÃO COMUNITÁRIA


A Missa é a prece unânime dos cristão que, em conjunto, oferecem a Deus o sacrifício de
seu Filho Jesus Cristo. “Por mais numerosos que sejamos” escrevia São Paulo, “nós formamos
um só corpo, pois todos participamos do mesmo e único Pão.” (ICor X,17)
Quando nós compreendermos profundamente este caráter coletivo da Missa, poderemos
apreciar todo seu valor e saborear cada pormenor que parece insignificante. E o gosto será maior
quando dela participarmos ativamente, e quando a considerarmos como a nossa verdadeira oração,
aquela oração que,, de uma maneira única, nos une a Nosso Senhor e a todos os nossos irmãos.
8
A Missa é a resposta da Igreja àquela ordem que Jesus deu aos seus Apóstolos de
renovarem o banquete sagrado durante o qual Ele instituiu a Eucaristia.
A nossa oração é participação no diálogo de Cristo com o Pai e da oração que lhe dirigiu
durante sua vida terrena em nome e pela salvação de todos.
O Concílio Vaticano II deu especial relevo para a participação ativa, plena e frutuosa de
todo o povo de Deus na celebração Eucarística. A renovação litúrgica operada pelo Concílio,
trouxe muitos avanços mas, infelizmente, ao mesmo tempo, certa incompreensão acerca do
sentido dessa participação.
Participação ativa não se resume a meras atitudes exteriores durante a celebração, por
exemplo: sentar, levantar, responder às orações em voz alta... Na realidade, a participação ativa
desejada pelo Concílio, deve ser entendida com maior profundidade, a partir de uma consciência
mais clara do mistério que é celebrado e de sua relação com a vida do dia-a-dia.
Portanto, já que a Missa é uma oração comunitária, os fiéis devem participar não só
“ativamente”, mas de forma “autêntica”, isto é, desempenhando cada um a parte que lhe compete,
com unção, com espírito de caridade, humildade e, sobretudo de união a Cristo.
Há muitos que criticam a Santa Missa porque dizem não compreender seus ritos.
Argumentam que num templo evangélico, até os não iniciados conseguem rezar com os outros,
enquanto na Missa católica não entendem nada.
Ora, precisamos dar resposta a essas queixas. O que os críticos precisam entender é que a
Missa não é uma oração como as outras: é a maior oração da Igreja. E, sendo assim, é
essencialmente uma “ação”, um “drama” no sentido literário.
Com efeito, a Missa reproduz aquele que foi o mais emocionante dos dramas, porque Jesus,
antes de morrer, pensando no sacrifício do Calvário, realizou os mesmos “atos” à mesa, na
presença dos seus Apóstolos: tomou o pão, deu graças, partiu-o e, tendo-o transformado no seu
próprio corpo, distribuiu-os pelos convidados.
Ou seja: Jesus antecipou na Ceia aquilo que iria realizar no outro dia (sexta-feira Santa) no
Calvário.
Idênticos são os gestos que o padre repete no Altar.
Quando se entender ao menos isso, a Missa já terá um sentido maior e a participação, além
de ativa, será frutuosa e autêntica, como pede o Concílio Vaticano II.

5. AS CELEBRAÇÕES DOS PRIMEIROS CRISTÃOS


Os cristãos, desde sempre, seguiram o mandamento do senhor de «Fazer isto em Sua
memória.». O Livro dos Atos dos Apóstolos nos relatam como os cristãos da época apostólica
eram “unânimes e perseverantes na oração” (At I,14), “mostravam-se assíduos ao ensinamento
dos apóstolos, à comunhão fraterna, à fração do pão e às orações.” (At II,42). São Paulo, por sua
vez, na Carta aos Coríntios, prescreve algumas ordens para as assembléias (ICor XI,1-34).
Muitos atos destas primeiras assembléias cristãs tinham relação e eram adaptadas das
cerimônias judaicas nas sinagogas. São Justino, que viveu por volta do século II, narra como era a
cerimônia eucarística que se seguia à administração do Batismo:
“Depois de termos lavado aquele que crê e se juntou a nós, conduzimo-lo ao lugar onde estão
reunidos os que nós chamamos de irmãos. Fazemos com fervor orações (...). Quando as orações
terminam, damos uns aos outros o beijo da paz.
Em seguida, leva-se àquele que preside à assembléia dos irmãos pão e uma taça de vinho misturado
com água. Ele pega nestes objetos e louva e glorifica o Pai do universo pelo nome do Filho e do
9
Espírito Santo; depois faz uma longa eucaristia por todos os bens que recebemos dele. Quando
termina as orações da eucaristia, todas as pessoas presentes exclamam: Amém, que é uma palavra
hebraica que significa: assim seja. Quando aquele que preside faz a eucaristia (ação de graças) e
todos o povo respondeu, os ministros que chamamos diáconos distribuem a todos os assistentes o
pão, o vinho e a água consagrados, e levam-nos também aos ausentes.”

Eis agora a ordem das reuniões dominicais:


“No dia chamado o dia do sol, todos, nas cidades e nos campos, se reúnem num mesmo lugar:
lêem-se as memórias dos apóstolos e os escritos dos profetas tanto quanto o tempo o permite.
Quando o leitor acabou, aquele que preside faz um discurso para admoestar e exortar à imitação
destes belos ensinamentos. Em seguida, levantamo-nos todos e oramos em comum, em voz alta.
Depois, como já dissemos, logo que termina a oração, apresenta-se o pão, o vinho e a água. O que
preside faz subir ao céu, o mais fervorosamente possível, as súplicas e eucaristias, e todo o povo
responde por aclamação: Amém! Depois faz-se a distribuição das coisas consagradas por cada um
dos presentes, enviando-se a parte respectiva aos ausentes, por intermédio dos diáconos.
Não tomamos estes alimentos à maneira dum pão vulgar. Mas assim como Jesus Cristo nosso
Salvador, feito homem por virtude da palavra divina, tomou a nossa carne e o nosso sangue, assim
também estes alimentos, eucaristizados pela virtude da própria palavra de Cristo, devem nutrir por
transformação a nossa carne e o nosso sangue, pois neles se contém carne e sangue deste Jesus
feito carne, segundo as instruções que nos foram dadas. Os que vivem na abundância e querem dar,
dão livremente o que querem, e a quantidade recolhida é entregue ao que preside, para que preste
assistência aos órfãos, às viúvas, aos doentes, aos indigentes, aos prisioneiros, aos hóspedes, aos
estrangeiros, num palavra, para que socorra todos os necessitados.”3

Este relato nos dá uma idéia clara de como eram as reuniões dos cristãos nos primeiros
séculos. A ordem original dos ritos sofrerá algumas modificações com o passar do tempo:
umas partes serão alongadas, outras abreviadas. A nossa liturgia da Sexta-feira Santa, até a
adoração da cruz, é a reprodução fiel do início da Missa romana, no início do século IV.
Nosso Rito segue a liturgia celebrada na Igreja de Roma que, como vimos, tem o Papa
como suprema autoridade nesta matéria.

6. EVOLUÇÃO DA LITURGIA NO BRASIL


Anos 60
Um grande entusiasmo marcou a acolhida das reformas do Concílio Vaticano II. O uso do português
modificou profundamente o estilo das celebrações. No altar, o sacerdote voltado para o povo pôs a presidência face
a face com o povo, criando novo espaço e nova comunicação na assembléia litúrgica. Os ritos foram simplificados e
tornados mais claros para facilitar a compreensão e a participação do povo. O canto das partes da Missa também
deu nova vida às celebrações. Multiplicaram-se os cursos de Liturgia, onde se insistiu na necessidade da
participação ativa dos fiéis e do exercício das diversas funções: comentarista, leitores, animador, grupo de canto.
Aos poucos foram sendo introduzidos novos instrumentos musicais. Neste período, aparecem também algumas
dificuldades: a lentidão e a demora das traduções oficiais deu lugar a alguns interpretar e aplicar os documentos do
Concílio de forma autônoma e, por vezes, arbitrária. As iniciativas tomadas nem sempre foram de acordo com
aquilo que o Concílio pedia. Exageraram o descaso com o aspecto jurídico do culto que, sendo comunitário, precisa
de normas. Por isso, avançaram o sinal de tal modo que não foi fácil retroceder quando necessário. Por outro lado, a
descoberta do sentido e do valor da Liturgia como cume e fonte da vida da Igreja fez com que se abandonassem
certas devoções populares. Não se conseguiu ainda preencher o vazio deixado pelo seu abandono.

3
S. JUSTINO, Primeira apologia, 65, 66 e 67.
10
Anos 70
Três principais aspectos caracterizam este período: (a) a introdução dos novos livros litúrgicos, (b)
os documentos pastorais, (c) abertura da Igreja para a dimensão social. Nesse contexto, aparecem
elementos positivos e negativos da caminhada litúrgica. Foi positivo o novo modo de celebrar os
sacramentos. A Penitência, por exemplo, se enriqueceu com as celebrações comunitárias, segundo o novo
Ritual. E a Unção dos Enfermos tomou outras dimensões, mais na linha da Pastoral da Saúde. A
valorização dos ministérios na Liturgia estimula o aparecimento de novos ministérios na pastoral e a
mulher consegue lugar de destaque na Liturgia mais participada. Enfim, tem início a valorização da
religiosidade popular em suas diversas formas e expressões. Há, porém, elementos negativos nessa
década. Com a deficiente formação litúrgica nos seminários e a insuficiente reciclagem oferecida ao clero,
os padres, em geral, ficaram privados da espiritualidade litúrgica, ao mesmo tempo em que, no culto,
infiltrava-se descabido desprezo pelas rubricas (normas litúrgicas) indispensáveis. Ao mesmo tempo,
surgiu um novo “rubricismo”: o uso servil dos folhetos. Sensível foi nesse período a diminuição na
confissão particular. O exercício das “confissões comunitárias” não bem orientado, privou o povo das
riqueza da confissão sacramental. Em alguns lugares, reduziu-se a Missa a mero meio de mentalização
ideológica. Em que pese a benéfica integração da religiosidade do povo, parece, às vezes, que se alimenta
a possibilidade de outra Liturgia, a “popular” em oposição à oficial.

Anos 80
Nessa época, junto com um certo cansaço no campo da Liturgia, cresce uma busca de soluções em
nível mais profundo. Persistem falhas já apontadas, como deficiente formação litúrgica dos agentes em
todos os níveis, com uma defasagem agravante entre leigos que estudam e um clero pouco interessado.
Cerca de 70% das celebrações dominicais são realizadas comunitariamente sem um ministro ordenado.
Abrem-se perspectivas para a difícil tarefa de fazer confluir numa Liturgia viva, as riquezas da tradição
romana, da religiosidade popular, da oração comprometida com a transformação do mundo e a oração de
louvor cada vez mais difundida, sobretudo nas grande cidades nos grupos de oração, como pediu o Papa
João Paulo II em sua mensagem ao episcopado brasileiro de 1986. Estes desafios são os nossos, ainda
hoje. Muitos avanços se fizeram. Porém muitos erros permanecem...

7. O ESPAÇO LITÚRGICO - PRESBITÉRIO


Bem sabemos que a Liturgia Eucarística, por ser o centro e ápice da vida da Igreja é
revestida de todo o decoro e solenidade, sendo celebrada num templo dedicado ao Senhor. Dentro
deste templo, destacam-se espaços diferentes: o lugar dos fiéis, o lugar do coro, o lugar dos
ministros. Aqui nos deteremos ao presbitério, lugar central e mais importante de todo o espaço
litúrgico da Missa, onde Cristo se dá na Palavra e no Pão.
O presbitério é o lugar onde fica o altar e o ambão. É nele que o sacerdote, o diácono e os
demais ministros exercem o seu ministério. Ele se distingue do todo da Igreja geralmente por estar
num local mais elevado e, além disso, é recomendável que seja bem amplo para que a celebração
da Eucaristia se desenrole comodamente e possa ser vista por todos.
Altar
Nos primeiros séculos, a mesa do altar foi muitas vezes uma laje colocada sobre o túmulo
de um mártir. O memorial da morte do Salvador não podia ser celebrado mais dignamente do que
sobre o túmulo dos fiéis que morreram por amor de Cristo. Por isso, nos Altares de hoje, é
colocada uma pedra, chamada pedra d’ara, onde são depositadas relíquias dos santos.
O Altar, por si só, merece toda nossa veneração. Durante muito tempo o povo cristão
gostava de beijar o altar fora dos ofícios litúrgicos.
11
O Altar é, efetivamente, o local onde Jesus prolonga a sua imolação por nós. Cristo é o
altar vivo donde, escreve São Paulo, sobe para Deus a nossa hóstia de louvor. (Hb XIII,10-15)
Nosso Altar de pedra é o símbolo deste verdadeiro altar que é Jesus; ele foi consagrado,
ungido, isto é, “cristificado”; ele representa Cristo. É por isso que, na Missa, o sacerdote após
beijar o Altar, rende-lhe as homenagens da incensação.
É o Altar o centro da ação de graças que se realiza pela Eucaristia. É a Mesa do Senhor.
Por uma antiga tradição, como acima referido, o Missal prescreve que o Altar seja fixo e de pedra
natural. A CNBB pode permitir o uso de outros materiais dignos, sólidos e bem trabalhados.
Em reverência para com a celebração do memorial do Senhor, deve-se colocar sobre o altar
onde se celebra ao menos uma toalha de cor branca, que combine com a forma do Altar.
Na ornamentação do altar, deve-se observar moderação, especialmente nos tempos do
Advento e da Quaresma. Ao invés de se colocar as flores sobre o Altar, é preferível que sejam
colocadas próximas a ele.
Sobre a mesa do altar podem ser colocadas somente as coisas necessárias para a celebração
da Missa, ou seja: o Evangeliário (da entrada até a proclamação do Evangelho), o cálice, a patena
e o cibório (desde a apresentação das oferendas até a purificação), além do corporal, do
purificatório, a pala e o missal. Finalmente, se disponham de modo discreto os aparelhos de som.
Os castiçais requeridos pelas ações litúrgicas para manifestarem a reverência e o caráter
festivo da celebração devem ser, no mínimo dois, ou também quatro ou seis, sobretudo quando se
trata da Missa dominical ou festiva de preceito. Quando é o Bispo que celebra, colocam-se sete
velas. Estes castiçais devem ser colocados, como parecer melhor, sobre o Altar ou próximos a ele,
levando em conta as proporções do altar e do presbitério, de modo a formarem um conjunto
harmonioso e que não impeça os fiéis de verem aquilo que se realiza ou se coloca sobre o Altar.
Deve haver também sobre o altar ou em torno dele, uma cruz, com a imagem do
crucificado, que pode ser trazida na procissão da entrada. Convém que essa cruz – que serve para
lembrar aos fiéis a Paixão do Senhor – permaneça junto ao altar também fora das celebrações
litúrgicas.
Ambão
A dignidade da Palavra de Deus requer na Igreja um lugar digno de onde possa ser
anunciada e para onde se volte espontaneamente a atenção dos fiéis no momento da liturgia da
Palavra.
De modo geral, convém que esse lugar seja uma estrutura estável e não uma simples
estante móvel. O ambão seja disposto de tal modo em relação à forma da Igreja que os ministros
ordenados e os leitores possam ser vistos e ouvidos facilmente pelos fiéis.
Do ambão são proferidas somente as leituras, o salmo responsorial e o anúncio da Páscoa
no sábado Santo. Também se podem proferir a homilia e as preces. A dignidade do ambão exige
que a ele suba somente o ministro da Palavra. Os comentários e motivações à Missa, portanto, não
devem jamais ser proferidos do Ambão. Devem, antes, estar num local inferior para não
atrapalhar e confundir quanto à diferença e dignidade que tem a Palavra do Senhor em relação a
essas intervenções. Também o cantor não deve conduzir o canto nem motiva-lo do ambão.
A cadeira para o sacerdote celebrante e outras cadeiras
A cadeira do sacerdote celebrante deve manifestar a sua função que é presidir a assembléia
e dirigir a oração. Por isso, o lugar mais apropriado para esta cadeira é de frente para o povo, no
fundo do presbitério, a não ser que a estrutura do edifício ou outras circunstâncias impeçam a
comunicação entre o sacerdote e a assembléia, ou se no Altar-mór estiver presente o sacrário.
12
Deve-se evitar toda espécie de trono.
No presbitério, também são colocadas cadeiras para os sacerdotes concelebrantes ou outros
presbíteros que participam da celebração. A cadeira do diácono deve estar junto daquela do
celebrante.
Para os demais ministros, as cadeiras sejam dispostas de modo que se distingam claramente
das cadeiras do clero e eles possam exercer com facilidade a função que lhes for confiada.

8. O CRUCIFIXO NO CENTRO DO ALTAR


O Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, no n. 218 propõe a pergunta: “O que é a
liturgia?”; e responde:
“A liturgia é a celebração do Mistério de Cristo e em particular do seu Mistério Pascal.
Na liturgia, pelo exercício da função sacerdotal de Jesus Cristo, a santificação dos
homens é significada e realizada mediante sinais, e é exercido, pelo Corpo místico de
Cristo, ou seja pela Cabeça e pelos membros, o culto público devido a Deus.”

Por esta definição, s ecompreende que no centro da ação litúrgica da Igreja está Cristo,
Sumo e Eterno Sacerdote e o seu Mistério pascal de Paixão, Morte e Ressurreição. A celebração
litúrgica deve ser transparência celebrativa desta verdade teológica. Desde muitos séculos, o sinal
escolhido pela Igreja para o orientamento do coração e do corpo durante a liturgia é a
representação de Jesus crucificado.
A centralidade do crucifixo na celebração do culto divino podia ser melhor vista no
passado, quando vigia o costume de, tanto o sacerdote quanto os fiéis, voltarem-se, durante a
celebração eucarística, para o crucifixo, colocado no centro, sobre o altar (acima do sacrário), que,
via de regra, estava encostado na parede. Para o atual costume de celebrar “voltado para o povo”,
frequentemente o crucifixo é hoje colocado ao lado do altar, perdendo, assim, a posição central.
O então teólogo e cardeal Joseph Ratzinger por várias vezes havia sublinhado que, também
durante a celebração “voltado para o povo”, o crucifixo deveria manter a sua posição central,
sendo impossível pensar que a representação do Senhor crucificado – que exprime o seu sacrifício
e, portanto, o significado mais importante da Eucaristia – possa de qualquer maneira atrapalhar.
Eleito Papa, Bento XVI, no prefácio ao primeiro volume da sua Obra Magna (que recolhe
os seus escritos como teólogo), disse estar feliz pelo fato que, cada vez mais esteja ganhando
terreno a proposta que ele havia indicado no seu célebre livro Introdução ao espírito da Liturgia.
Tal proposta consistia na sugestão de “não proceder a novas transformações, mas, simplesmente,
colocar a cruz ao centro do altar, para a qual possam olhar juntos tanto o sacerdote quanto os fiéis,
para deixarem-se guiar, de tal modo, ao Senhor, a quem todos se dirigem juntos em oração”.
O crucifixo no centro do altar evoca tantos esplêndidos significados da sagrada liturgia,
dentre os quais se pode citar o que é ensinado no n. 618 do Catecismo da Igreja Católica; uma
passagem que se conclui com uma bela citação de Santa Rosa de Lima:
618. A cruz é o único sacrifício de Cristo, mediador único entre Deus e os homens. Mas
porque, na sua pessoa divina encarnada «Ele Se uniu, de certo modo, a cada homem»,
«a todos dá a possibilidade de se associarem a este mistério pascal, por um modo só de
Deus conhecido». Convida os discípulos a tomarem a sua cruz e a segui-Lo porque
sofreu por nós, deixando-nos o exemplo, para que sigamos os seus passos. De fato, quer
associar ao seu sacrifício redentor aqueles mesmos que são os primeiros beneficiários.
13
Isto realiza-se, em maior grau, em sua Mãe, associada, mais intimamente do que
ninguém, ao mistério do seu sofrimento redentor:
Há uma só escada verdadeira fora do paraíso; fora da cruz, não há outra escada por
onde se suba ao céu».

9. A CADEIRA DA PRESIDÊNCIA LITÚRGICA


Frei José Ariovaldo Silva
A cadeira da presidência litúrgica é muito importante, pois evoca a presença de Cristo
como aquele que, na verdade, preside a assembléia litúrgica na pessoa do sacerdote celebrante.
Foi a partir do Concílio Vaticano II que a Igreja resgatou o sentido e valor litúrgico da cadeira da
presidência, esquecido por muitos e muitos séculos. Tanto que se prevê até mesmo uma bênção
especial para a mesma, quando colocada na igreja para uso litúrgico permanente.
A Instrução Geral sobre o Missal Romano, n.º 310, ordena o seguinte, a respeito deste lugar
especial do espaço litúrgico:
“A cadeira do sacerdote celebrante deve manifestar a sua função de presidir a
assembléia e dirigir a oração. Por isso, o seu lugar mais apropriado é de frente para o
povo no fundo do presbitério, a não ser que a estrutura do edifício sagrado ou outras
circunstâncias o impeçam, por exemplo, se a demasiada distância torna difícil a
comunicação entre o sacerdote e a assembléia, ou se o tabernáculo ocupar o centro do
presbitério, atrás do altar. Evite-se toda espécie de trono. Antes de ser destinada ao uso
litúrgico, convém que se faça a bênção da cadeira da presidência segundo o rito
descrito no Ritual Romano”.

Como se vê, usam-se as expressões “cadeira do sacerdote celebrante” ou “cadeira da


presidência”. Trata-se de uma cadeira especial e própria para a função de quem, na pessoa de
Cristo, preside a celebração eucarística, isto é, para o “sacerdote celebrante”. Uma cadeira que se
distingue das outras usadas pelos outros ministros. Mas também, como ordena a Instrução, não se
chegue ao exagero de transformá-la numa espécie de trono, pois a presidência é antes de tudo um
“serviço”. Significativos são os textos próprios para o rito de bênção da cadeira da presidência.
Por exemplo, sugere-se, como exortação inicial, o seguinte:
“Hoje esta nova cadeira vai ser entregue, pela primeira vez, ao uso litúrgico. Amados
irmãos, louvemos a Deus nosso Senhor, que se digna estar presente em seus ministros,
dedicados aos deveres sagrados, por meio deles ensinando, governando e santificando
os fiéis; e peçamos a Ele que faça sempre mais dignos os que exercem tão santas
funções” (Ritual de bênçãos, n.º 885).

No fundo, é a figura divina de Cristo Senhor na sua tríplice função de sacerdote, mestre
(profeta) e pastor, que está sendo evocado. E a cadeira da presidência litúrgica, bem distinta e
situada no espaço da celebração, nos faz sentir melhor, a presença viva deste Cristo na pessoa do
sacerdote celebrante. Também a oração de bênção da cadeira da presidência deixa entrever o
sentido teológico-litúrgico e espiritual que ela (a cadeira) deve evocar.
Diz a oração:
“Louvamos a uma só voz, Senhor, o vosso nome e humildemente vos suplicamos: como
bom Pastor, que viestes para reunir, num só rebanho, vossas ovelhas dispersas, com a
cooperação daqueles que escolhestes, dai o alimento da verdade aos vossos fiéis, e
conduzi-os com segurança, para que, um dia, ovelhas e pastores, mereçam ser, com
14
alegria, recebidos na habitação eterna. Vós que viveis e reinais para sempre” –
“Amém” (cf. ibid., n.º 890).

Portanto, o presidir é antes de tudo um “serviço” à assembléia reunida, que vem do Servo
de todos, Jesus Cristo. Daí a conseqüência prática de toda esta teologia resgatada a partir do
Concílio Vaticano II. A saber: para visualizar o mistério da presidência de Cristo na pessoa do
ministro (cf. SC 14), a Igreja recomenda que se coloque em destaque a cadeira de quem preside.
Como vimos pela nova Instrução Geral sobre o Missal Romano:
“A cadeira do sacerdote celebrante deve manifestar a sua função de presidir a assembléia
e dirigir a oração”, pois, como já insistimos, a cadeira presidencial em destaque evoca a presença
invisível do Cristo que preside a Liturgia na pessoa do ministro. Graças a Deus, hoje muitíssimas
comunidades já têm consciência deste detalhe de sua vida litúrgica. Colocam em suas igrejas a
cadeira da presidência com certo destaque, e até mesmo com bom gosto artístico, e, assim, podem
celebrar a Liturgia de maneira mais plena, consciente e ativa. Outras estão em vias de
aperfeiçoamento. Oxalá, um dia todas possam melhor sentir o Cristo invisível (mestre, sacerdote e
pastor) na pessoa de quem preside a Liturgia, também pelo destaque que é dado à cadeira que
ocupa.

10. AS PARTES DO SACERDOTE E AS PARTES DO POVO


A Missa tem uma certa hierarquia, ou seja, algumas partes são reservadas somente ao
ministro ordenado (presbítero), noutras, exige-se a participação de toda a comunidade eclesial. É
importante que, no dizer da Constituição da Sagrada Liturgia, “cada um faça somente aquilo que
lhe compete”.

O sacerdote
A beleza e a harmonia da ação litúrgica encontram significativa expressão na ordem com
que cada um é chamado a participar ativamente nela. Isso requer o conhecimento das diversas
funções hierárquicas da celebração. É bom lembrar que a participação ativa não significa todo
mundo fazer tudo, ou seja, causar uma confusão pela incapacidade de distinguir, na comunhão
eclesial, as diversas funções que cabem a cada um.
É importantíssimo que exista uma clareza com relação às funções específicas e próprias do
sacerdote. Conforme a Tradição da Igreja, desde os tempos apostólicos, é ele quem preside a
celebração eucarística inteira, desde a saudação inicial até a bênção final. Ele representa Jesus
Cristo, cabeça da Igreja e, por isso, exerce essa função de “presidir” a celebração. O sacerdote,
quando presente, jamais poderá ser substituído na presidência da celebração por outra pessoa.
Deve-se cuidar para que o excesso de intervenções na Missa não retire do sacerdote esse seu
caráter presidencial.
Dentre as partes que competem ao sacerdote, ocupa o primeiro lugar a Oração Eucarística,
que é o centro de toda a celebração. A Oração Eucarística só pode ser proferida pelo sacerdote
celebrante e, se houverem outros concelebrantes, por eles onde for indicado. Portanto, desde após
o Sanctus até a doxologia Por Cristo, é somente a voz do sacerdote que deve ser ouvida e
acompanhada. Ele, em nome de todos, eleva a Deus a ação de graças, ou seja, a Eucaristia. Os
fiéis participam respondendo após o Eis o mistério da Fé e a resposta mais importante de toda a
Liturgia: o Amém que encerra a Oração Eucarística. Desde os primeiros cristãos tem sido assim.
No Brasil, a pedido da CNBB, a Santa Sé autorizou alguns refrões para serem ditos durante
a Oração Eucarística, tais como: Santificai nossa oferenda... Recebei, ó Senhor a nossa oferta...
15
Estas intervenções, porém, não são obrigatórias, podendo ser omitidas em qualquer Missa (por
exemplo, nas Missas de dia de semana). A regra é que a Oração Eucarística seja proferida sem
intervenções. Quando for oportuno, é conveniente que se convide o povo para responder dizendo
ou cantando. O que se deve cuidar, porém, é que elas não se tornem a regra, mas que fique claro
que são uma concessão excepcional somente para o Brasil.
Cabe também ao sacerdote fazer as três orações principais da Missa (Coleta, Sobre as
Oferendas e Após a Comunhão). O sacerdote, presidindo a comunidade como representante de
Cristo, dirige a Deus estas orações em nome de todo o povo santo. Por isso, estas orações são
chamadas “orações presidenciais”.
Também compete ao sacerdote dar algumas breves explicações introdutórias dos ritos que
são chamadas “monições” em alguns momentos da Missa (e, talvez, pode-se considerar que são
estes os “comentários” permitidos pela Liturgia: (a) após o sinal da cruz e a saudação no início da
Missa e antes do Ato Penitencial, (b) na Liturgia da Palavra, antes das leituras, (c) na Oração
Eucarística, antes do Prefácio, nunca, porém, dentro da própria Oração.
É também o sacerdote quem proclama o Evangelho (se não tiver um diácono presente) e
profere a homilia, bem como dá a bênção final.
Os fiéis
Sendo a Missa, uma celebração comunitária, assume uma grande importância os diálogos
entre o sacerdote e os fiéis reunidos, bem como as aclamações. Elas não são apenas sinais
externos que mostram ser uma celebração “comunitária”, mas promovem e realizam a comunhão
entre o sacerdote e o povo.
Os fiéis, portanto, participam, em primeiro lugar, respondendo às orações do sacerdote e
proferindo as aclamações que lhe são próprias.
Outras partes em que se deve promover a participação plena dos fiéis são: ato penitencial,
profissão de fé, preces dos fiéis (oração universal) e a oração do Senhor (Pai Nosso).
As respostas e orações do povo, bem como do sacerdote, podem ser sempre cantadas.
Nesse ponto, é bom ressaltar a importância fundamental que tem o canto na Liturgia. Pode-
se dizer, sem excluir uma da outra, que ele é oração (quando se canta as partes próprias da Missa)
e também é função (quando acompanha um rito, por exemplo, a entrada, a procissão das oferendas
e da comunhão).

11. GESTOS E POSIÇÕES CORPORAIS E O SILÊNCIO NA LITURGIA


A própria experiência do nosso dia-a-dia nos ensina que a atitude do corpo tem certa
relação com o recolhimento e com as aspirações da alma. Assim, por exemplo, se estamos
cansados nos curvamos, se estamos atentos nos colocamos eretos... O corpo pode distrair-nos das
nossas reflexões, mas pode também nos ajudar a concentrar a atenção dos nossos pensamentos.
O corpo arrasta o espírito, o olhar também reza; um gesto pode evocar tantas recordações!
Assim, os sinais da cruz não recordam o memorial da paixão e morte do nosso Salvador
crucificado? A inclinação do corpo não será a atitude natural do culpado que implora perdão? E
como havemos de exprimir melhor a nossa adoração, do que dobrando o joelho? O celebrante
estende os braços para os fiéis a fim de os convidar a uma oração comum; depois levanta-os,
como quem quer dirigir as suas orações para Deus; em seguida, junta-os e inclina a cabeça ao
nome de Jesus, mediador por nós.
16
Esta “mímica” provará duas coisas a quem queira refletir: em primeiro lugar, que toda a
assembléia deve fundir-se numa mesma oração; em segundo lugar, que o que está a suceder no
altar interessa a todos os presentes.
Pena é que durante a “ação” da missa, um grande número de fiéis se porte como simples
espectadores, quando a liturgia os convida a serem atores juntamente com o sacerdote e em união
com ele, quer pela atitude (de pé, de joelhos ou sentados), quer reproduzindo certos gestos do
celebrante (sinais da cruz, bater no peito, inclinações de cabeça), gestos que fazem participar os
fiéis nos diversos atos da Missa.
Por isso é importante que também o sacerdote realize perfeitamente os “atos” da Santa
Missa para que o povo possa participar mais digna e ativamente.
Os críticos da Missa começarão a descobrir que nós fazemos uma oração coletiva quando
virem todos os fiéis unidos externamente aos ritos litúrgicos. E ficarão bem convencidos quando
os ouvirem “dialogar” com o celebrante ou quando verificarem que toda a assembléia acompanha,
em silêncio, as mesmas orações.
Os gestos e posições do corpo tanto do sacerdote, do diácono e dos ministros, como do
povo, devem contribuir para que se compreenda o verdadeiro significado das diversas partes e
favoreça a participação de todos.

De pé
Os fiéis permanecem de pé: do início do canto da entrada ou enquanto o sacerdote se
aproxima do altar, até o final da oração do dia; durante o canto do Aleluia, antes do Evangelho;
durante a proclamação do Evangelho; durante a profissão de Fé e a oração universal (preces); do
Orai irmãos até o fim da Missa, exceto nas partes citadas em seguida.

Sentados
Sentam-se os fiéis durante as leituras antes do Evangelho e durante o salmo responsorial;
durante a homilia e durante a preparação da oferendas (ofertório); se for conveniente, também
enquanto se observa o silêncio sagrado após a Comunhão.

De joelhos
Ajoelha-se durante a consagração (a não ser por motivo de saúde ou falta de espaço).
Contudo, os que não se ajoelham na consagração, devem fazer uma inclinação profunda com todo
o corpo enquanto o sacerdote faz genuflexão após a consagração. Onde é costume o povo
permanecer de joelhos do fim do Sanctus até o final da Oração Eucarística e antes da comunhão
quando o sacerdote diz Eis o Cordeiro de Deus, é louvável que seja mantido.
É extremamente importante ajoelhar-se durante os momentos salientes da Oração
Eucarística. Com isso, exprime-se a consciência de que estamos diante da majestade infinita de
Deus que chega até nós humildemente nos sinais sacramentais.
Na Missa, o sacerdote celebrante faz três genuflexões: depois da apresentação da hóstia,
após a apresentação do cálice e antes da comunhão.
Se no presbitério está o Sacrário, todos devem fazer genuflexão quando chegarem ao altar e
quando dele se retirarem, não, porém, durante a celebração da Missa.
Os ministros que levam a cruz e as velas na procissão, ao invés da genuflexão, fazem uma
inclinação com a cabeça.
17
Inclinação
Pela inclinação se manifesta a reverência e a honra que se atribui às pessoas ou símbolos.
Há duas espécies de inclinação: de cabeça e de corpo.
• faz-se inclinação de cabeça quando se nomeiam juntamente as Três Pessoas da Santíssima
Trindade, ao nome de Jesus, da Virgem Maria e do Santo em cuja honra se celebra a
Missa;
• inclinação de corpo ou inclinação profunda o sacerdote faz na oração silenciosa antes de
proclamar o Evangelho, ao final da apresentação das oferendas e enquanto profere as
palavras da consagração.

São também considerados gestos as procissões (entrada, oferendas, comunhão). Por isso,
devem sempre ser feitas com muita calma, dignidade e solenidade.

O Silêncio
O silêncio é também oração. Muitas vezes ele é mais profundo do que milhares de palavras
que não são sequer absorvidas pelos fiéis. A liturgia prescreve que se observe silêncio:
* no ato penitencial
* após o convite de cada oração (coleta, sobre as oferendas, após a comunhão)
* após uma leitura ou a homilia
* após a comunhão.
Convém que já antes da própria celebração se conserve o silêncio na Igreja, na sacristia e
mesmo nos lugares mais próximos, para que todos se disponham devota e devidamente para
realizarem os sagrados mistérios.
É bom sempre lembrar que o princípio do silêncio na Liturgia de maneira genérica pode ser
exprimido pela frase: o silêncio ajuda a rezar!

12. A FUNÇÃO LITÚRGICA DO “ANIMADOR”


Adaptado de: Márcio Carvalho; Movimento Litúrgico
Com a reforma litúrgica trazida pelo II Concílio Vaticano, inseriu-se, na Constituição sobre
a Liturgia, uma solicitação para que os ritos fossem o mais simples possíveis e que não
necessitassem de muitas explicações. Ao mesmo tempo, sabendo da falta de conhecimento
litúrgico de muitos fiéis, os padres conciliares previram a possibilidade de existir um
“comentador” que, brevemente, explicasse os ritos, especialmente aqueles usados com menos
freqüência.
A Instrução Geral do Missal Romano o chama de “comentador” (comentarista) no número
105b: “Incumbido de fazer aos fiéis, se for oportuno, breves explicações e admonições, a fim de os
introduzir na celebração e os dispor a compreendê-la melhor". E adverte: "As admonições do comentador
devem ser cuidadosamente preparadas e muito sóbrias. No desempenho da sua função, o comentador
deve colocar-se em lugar adequado, à frente dos fiéis, mas não no ambão”.
Essa função é dispensável em grande parte das assembléias que já estão bastante
familiarizadas com a Missa atual. Explicações, neste caso, tornam-se inoportunas. Hoje, nossas
assembléias já tem um sentido comum de responder às orações, sentar-se, levantar.
A Instrução do Missal não trata dos “comentários” a serem feitos pelo animador, mas
somente daqueles que o sacerdote deve fazer e que são:
(a) após o sinal da cruz e a saudação;
(b) antes da Oração dos fiéis
(c) antes do Pai-nosso.
18
Além disso, a análise atenta mostra ainda mais: alguns “comentários” quebram o ritmo
normal da Liturgia, por exemplo, no caso citado da admonição inicial, quando o comentarista faz
seu “comentário” (às vezes mini-homilias) e logo em seguida o padre também faz esta motivação
inicial, que lhe compete, repetindo e cansando os fiéis.
Os lugares costumeiros de se ouvir “comentários” são
(a) no início da celebração,
(b) antes da Liturgia da Palavra
(c) antes da Liturgia Eucarística.
Em alguns lugares, as equipes “incham” ainda mais a celebração colocando “comentários”
antes de cada leitura e evangelho e antes da comunhão. Vejamos como são de fato estas passagens
na Instrução Geral do Missal Romano:

- Antes da Liturgia da Palavra:


“128. Terminada a oração coleta, todos se sentam. O sacerdote pode, com brevíssimas palavras,
introduzir os fiéis na liturgia da palavra”.
- Entre as leituras:
Não há referência para comentário aqui. Muito pelo contrário, a Instrução é clara: “Pode então
observar-se, se for oportuno, um breve espaço de silêncio, para que todos meditem brevemente no
que ouviram”. Antes do Evangelho também não há espaço porque, conforme a Instrução: “131.
Depois (da leitura) todos se levantam e canta-se o Aleluia”.
- Antes das preces:
“138. Terminado o Símbolo (Creio), o sacerdote, de pé junto da cadeira, de mãos juntas, convida
os fiéis à oração universal com uma breve admonição”. Portanto, quem convida o povo a orar é o
sacerdote e não o animador ou leitor. Este apenas proclama as preces.
- Antes da Liturgia Eucarística:
Em princípio não há espaço porque a Instrução diz: “139. Terminada a oração universal, todos se
sentam, e começa o cântico do ofertório”. Porém, em determinadas ocasiões, especialmente
quando há procissão das oferendas ou a oferta é destinada para uma obra específica, aconselha-se
que seja feito um brevíssimo comentário indicando o motivo da coleta ou o sentido dos dons
oferecidos.
- Antes da Comunhão:
Não há comentário, sequer espaço de silêncio. “159. Enquanto o sacerdote recebe o Sacramento,
começa-se o canto da Comunhão”.

Vemos, assim, que a função litúrgica do animador hoje estaria bem reduzida,
principalmente quando a assembléia está “acostumada” à celebração.
Resumindo, suas funções específicas são:

a) Proclamar as intenções no início da Missa.


b) Durante a celebração, dirigir as respostas e orações próprias do povo ao
microfone.
c) Convidar, brevemente, para o início da celebração (sem saudar o povo), ex: Vamos
dar início à nossa celebração, cantando...
d) Fazer uma breve motivação inicial, falando sobre o sentido da Missa do Dia, mas
somente após o sinal-da-cruz e a saudação do sacerdote.
e) Fazer um breve comentário (se for oportuno) sobre o sentido geral das Leituras do
Dia, antes de todas elas e nunca entre elas.
19
f) Referir o sentido da coleta do dia durante o ofertório (quando houver coleta especial) ou o
significado da procissão das oferendasl, quando houver.
g) Dar à comunidade os avisos finais após a oração da Comunhão.

Algumas grandes celebrações, principalmente campais, podem carecer de algumas


intervenções a mais de um animador. Além disso, deve-se evitar ao máximo os “comandos”:
Levantar! Sentar! Ajoelhar!
A função do “animador” foi muito importante, sem dúvida, nos tempos imediatamente
posteriores à reforma litúrgica da década de 60, em que o povo certamente estranharia uma nova
forma de celebrar se não tivesse a ajuda de alguns comentários. Hoje, porém, os tempos são
outros.
20

RITOS INICIAIS
13. PROCISSÃO DA ENTRADA – Visão histórica
Os séculos V e VI foram a “idade de ouro” da Liturgia. Nesse período, o povo tem lugar
determinado dentro do edifício: os homens à direita, as mulheres à esquerda. Os cantores ficam
agrupados acima da nave central, na chamada cantoria, fazendo parte do povo. Ao fundo do
presbitério, onde hoje está, em muitas Igrejas como a nossa, o Altar-mór, fica a cátedra, isto é, a
cadeira episcopal (do Bispo); dali o celebrante vê todos os fiéis. Também os fiéis o enxergam.
Nada o esconde. Com este espaço litúrgico, as funções de cada um ficam bem mais claras,
especialmente a função do sacerdote: ele é o presidente da assembléia.
Contudo, a atenção de todos volta-se para o altar que se levanta à entrada do presbitério. O
Altar tem a forma de uma mesa: é a “mesa do Senhor”4. Nenhuma ornamentação supérfula altera
a majestosa nudez do altar.
A assembléia (ecclesia) coloca-se em volta da mesa sobre a qual os acólitos estenderão
uma toalha.
O ofício vai começar. A porta do secretarium (nossa atual “sacristia”), que fica anexo à
igreja e onde o pontífice e sua comitiva se paramentaram, abriu-se enfim. Sai primeiro um acólito
e toda a assembléia se levantou à sua passagem, porque este jovem clérigo traz consigo, com todo
o respeito, o livro dos Evangelhos. Um subdiácono (ordem suprimida pelo Concílio Vaticano II)
espera-o no santuário para pegar no evangeliário e colocá-lo sobre o altar.
Depois desta cerimônia preliminar, o cortejo avançava processionalmente em direção à
nave, enquanto a Schola (o Coro) cantava um salmo de introdução.
À frente ia um subdiácono com o turíbulo; depois, adiante do celebrante e dos diáconos,
sete acólitos que levavam cada um o seu castiçal aceso. Estas sete velas eram uma evocação das
visões de S. João descritas no Apocalipse; nelas o Apóstolo chama a Cristo: “Aquele que caminha
no meio dos sete candeeiros de ouro”5.
Antes de chegar ao altar, o cortejo parava. Dois acólitos apresentavam à veneração do
pontífice um cofre com as sagradas hóstias que haviam ficado da missa precedente.
Ao chegar em frente do Altar, o celebrante inclinava-se e dava o beijo da paz aos seus
assistentes. Tendo feito o sinal da Cruz na fronte, ajoelhava sobre um genuflexório móvel e orava
em silêncio. A Schola terminava então o canto do salmo, dando-lhe por conclusão a doxologia
habitual, Gloria Patri... (Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo...). No fim, o celebrante
levantava-se e subia os degraus. Depois, beijava o Altar e o livro dos Evangelhos. A seguir,
dirigia-se à cátedra, enquanto os sete ceroferários (que carregavam as sete velas) colocavam os
castiçais em volta do Altar.

4
ICor X, 21
5
Ap I,12-13; II,1
21
Na época de Carlos Magno (por volta do ano 800), estabeleceu-se a norma de levar a
cruz à frente das procissões, a cruz processional, que era colocada atrás do Altar. Por isso, hoje, há
a regra de colocar-se sobre o Altar uma cruz entre seis castiçais.

14. OS RITOS INICIAIS (1ª parte) – Uma visão geral segundo as normas do Missal
Os ritos que precedem a Liturgia da palavra – entrada, saudação, ato penitencial, Kírie
(Senhor, tende piedade de nós), Glória e oração coleta – têm o caráter de exórdio, ou seja, de
introdução e preparação para o que se vai celebrar.
A finalidade principal desta “introdução” é estabelecer a comunhão entre os fiéis reunidos
e prepara-los para ouvir a Palavra de Deus e celebrarem dignamente a Eucaristia.
Tendo vindo da agitação do mundo, os fiéis precisam para por alguns instantes para se
prepararem a fim de melhor celebrar o grande mistério de Cristo.
Existem algumas celebrações em que esses ritos são suprimidos ou substituídos. Por
exemplo: * no Domingo de Ramos, são substituídos pela bênção e procissão dos ramos; * no dia 2
de fevereiro, pela bênção das velas; * na Vigília Pascal, pela bênção do fogo novo e Proclamação
da Páscoa.

Entrada
Reunido o povo, enquanto entra o sacerdote com o diácono e os ministros, inicia-se o
cântico de entrada. A finalidade deste cântico é dar início à celebração, favorecer a união dos fiéis
reunidos e introduzi-los no mistério do tempo litúrgico ou da festa, e ao mesmo tempo
acompanhar a procissão de entrada do sacerdote e dos ministros. Pode ser um salmo introdutório
ou mesmo outro canto aprovado pela Conferência dos Bispos.
Caso não seja entoado canto de entrada, isto é, entrando o sacerdote e ministros em
silêncio, o sacerdote ou todos os fiéis com ele, recitam a Antífona da Entrada que vem descrita no
Missal.
É conveniente que, aos domingos e dias festivos, faça-se uma procissão um pouco maior e
mais solene. Neste caso, a ordem da entrada é a seguinte:
1. o turiferário com o turíbulo fumegante, caso se use o incenso
2. os ceroferários com as velas acesas e, entre eles, um acólito ou ministro com a cruz;
3. os acólitos e outros ministros (leitores, ministros da comunhão...)
4. o leitor, que pode levar o Evangeliário um pouco elevado, mas nunca o Lecionário.
5. o sacerdote que vai celebrar a Missa.
A cruz adornada com a imagem de Cristo crucificado e levada na procissão pode colocar-se
junto do altar, para se tornar a cruz do altar, que deve ser apenas uma, ou então seja guardada; os
candelabros, porém, colocam-se sobre o altar ou junto dele; o Evangeliário depõe-se sobre o altar

Saudação do altar e da assembléia


Chegados ao presbitério, o sacerdote, o diácono e os ministros saúdam o altar com
inclinação profunda. Caso haja, no presbitério, sacrário, todos fazem genuflexão antes de se
aproximarem do Altar.
Em sinal de veneração, o sacerdote e o diácono beijam então o altar; e, se for oportuno, o
sacerdote incensa a cruz e o altar.
Terminado o cântico de entrada, o sacerdote, de pé junto da cadeira, e toda a assembléia
fazem sobre si próprios o sinal da cruz, mas somente o sacerdote diz as palavras: Em nome do Pai
e do Filho e do Espírito Santo ao que todos respondem em uníssono, Amém. É muito importante
22
que seja ressaltada essa questão porque o Sacerdote é quem preside a Missa, portanto é ele, em
nome de Cristo que nos introduz neste mistério. Além disso, as palavras do sinal da cruz nunca
devem ser trocadas, nem quando forem cantadas. Por uma questão literária e teológica, jamais se
diz ou se canta: “em nome do Pai, em nome do Filho, em nome do Espírito Santo.”. A reunião é
em nome de UM SÓ DEUS, embora em três pessoas.

Saudação inicial
Após o sinal da Cruz, o sacerdote, faz uma das saudações previstas no Missal (ex.: A graça
de Nosso Senhor Jesus Cristo...), fazendo com que a comunidade reunida sinta a presença do
Senhor. Com esta saudação e a resposta do povo (Bendito seja Deus que nos reuniu...), manifesta-
se o mistério da Igreja reunida. Portanto, a melhor saudação não é bom dia ou boa tarde, mas sim
as próprias palavras dos Apóstolos.

Motivação Inicial
Depois da saudação do povo, o sacerdote, ou o diácono, ou outro ministro, pode, com palavras
muito breves, introduzir os fiéis na Missa do dia.
Aqui fica claro que o momento para se fazer o “comentário inicial” não é antes da procissão da
entrada e, sim, após a saudação do presidente. Isso porque, quem deve, em primeiro lugar, dirigir-
se ao povo em nome de Cristo é o sacerdote e não o comentarista. E o sacerdote o faz com a
saudação bíblica prevista, ao contrário do que ocorre, muitas vezes em nossos comentários, com
uma saudação “jovial” como: “bom dia”, “sejam bem-vindos”, fazendo a Missa mais parecer-se
com uma “apresentação”, um concerto, um: “Senhoras e Senhores!”, “Respeitável Público!”...

15. AS SAUDAÇÕES DO APÓSTOLO PAULO: Uma luz para nossas saudações


litúrgicas
Frei José Ariovaldo da Silva, OFM
Quando saudamos alguém, manifestamos-lhe carinho, admiração, estima e reconhecimento
e, ao mesmo tempo, desejamos-lhe o melhor para a sua vida. Colocamo-nos como servidores de
quem saudamos. É o que fazia Paulo em suas cartas dirigidas às comunidades e a pessoas amigas.
O apóstolo sempre iniciava as cartas com uma saudação humilde e carinhosa, augurando o melhor
para os seus destinatários.
Penso então nas saudações iniciais de nossas celebrações litúrgicas: Com que atitude
espiritual se expressa o melhor para a assembléia reunida? Ou apenas se lê, formalmente, uma
“fórmula” escrita no Missal (ou, quem sabe, num folheto)? É bom lembrar que, na Liturgia,
saudar é uma forma de se relacionar ‘humanamente’ com a assembléia; e mais, é uma forma de
celebrar o ‘mistério’ que nos re-úne num só corpo.
Então, com que atitude espiritual Paulo saúda? Ele o faz numa atitude de servo: “servo de
Jesus Cristo” (cf. Rm 1,1; Fl 1,1), “servo de Deus” (Tt 1,1). Isto é, como quem se dirige não em
próprio nome, mas a serviço do Ressuscitado. Por isso, ele se põe também numa atitude humilde
de simples “apóstolo”, de alguém que se sente chamado e enviado, “não da parte de homem nem
por intermédio de homem” (cf. Gl 1,1), mas de Jesus Cristo, o Ressuscitado: “Apóstolo de Jesus
Cristo por vontade de Deus” (Ef 1,1; cf. Rm 1,1; 1Cor 1,1; 2Cor 1,1; Cl 1,1; 1Tm 1,1; Tm 1,1; Tt
1,1), “escolhido para o Evangelho de Deus” (cf. Rm 1,1-4)...
Como se pode ver, a atitude de Paulo, que transparece ao saudar seus “ouvintes”, é de total
obediência a Deus; como quem, na atitude de “servo”, ao saudar se deixa conduzir pela fala do
Senhor. De tal maneira que, na sua saudação, podemos experimentar o próprio Senhor ‘falando’.
23
Por isso que a nossa Liturgia se serve precisamente das saudações paulinas para as saudações
litúrgicas. E a atitude decorrente, a exemplo de Paulo, com certeza deverá ser esta: que, na ação
de saudar a assembléia, quem saúda deixe a Liturgia falar.
Por isso que Paulo expressa carinho em suas saudações. De fato, em Cristo ele demonstra
simpatia pelos destinatários de suas cartas, chamando-os de “amados e santos de Deus” (cf. Rm
1,7; 1Cor 1,2), “igreja de Deus e irmãos..., santificados em Cristo Jesus, com todos os que
invocam o nome de Nosso Senhor Jesus Cristo” (cf. 1Cor 1,2; 2Cor 1,1), “santos e fiéis em Cristo
Jesus” (Ef 1,1; cf. Fl 1,1), “amado filho” Timóteo (2Tm 1,2), “verdadeiro filho, pela fé, Tito” (Tt
1,4), amigo e colaborador Filêmon, irmã Ápia, companheiro de luta Arquipo com a igreja que se
reúne em sua casa (cf. Fm 1,1-2).
E o quê de melhor Paulo deseja em suas saudações iniciais aos destinatários? Tudo o que
vem do Pai, do Senhor ressuscitado e do Espírito Santo, e que ele resume nestas duas palavras: a
graça e a paz. Graça, certamente, como presença gratuita da salvação de Deus; paz, com certeza,
como vida em abundância, decorrente da experiência de comunhão fraterna em Cristo e no
Espírito: “Graça e paz estejam convosco” (cf. Rm 1,7; 1Cor 1,3; 2Cor 1,2; Gl 1,3; Ef 1,2; 6,23-24;
Fl 1,2; Cl 1,2; 1Ts 1,1; 2Ts 1,2; 1Tm 1,2; 2Tm 1,2; Tt 1,4; Fm 1,3). Também a “misericórdia” (cf.
2Tm 1,2). E, no interior de três cartas, o apóstolo ainda amplia: “Que o Senhor dirija os vossos
corações para o amor de Deus e a paciência de Cristo” (cf. 2Ts 3,5); “que o Deus da esperança
vos encha de completa alegria e paz na fé, para que abundeis em esperança pela força do Espírito
Santo” (Rm 15,13); “paz aos irmãos e caridade com fé da parte de Deus Pai e do Senhor Jesus
Cristo. A graça esteja com todos os que amam Nosso Senhor Jesus Cristo com amor eterno” (Ef
6,23-24).
Agora, veja que coisa interessante: Tudo o que Paulo deseja em suas saudações às
comunidades, encontra-se hoje de alguma maneira resumido na fórmula litúrgica de saudação
inicial da missa: “A graça de nosso Senhor Jesus Cristo, o amor do Pai e a comunhão do Espírito
Santo estejam convosco”. Ou ainda: “A graça e a paz de Deus, nosso Pai, e de Jesus Cristo, nosso
Senhor, estejam convosco”. As demais fórmulas de saudação inicial são elaboradas a partir das
saudações paulinas de 2Ts 3,5, Rm 15,13, Ef 6,23, e a saudação petrina de 1Pd 1,1-2.
As fórmulas estão aí, riquíssimas de conteúdo teológico-litúrgico. E temos agora um
desafio pela frente: proclamar a saudação inicial, na Liturgia, com a atitude espiritual de servos do
Ressuscitado e o carinho de irmãos de todos, com que Paulo saudava os irmãos. Na saudação,
bem proclamada, a assembléia litúrgica tem o direito e dever de experimentar a presença do
Senhor e vivenciar seu próprio mistério: Igreja reunida no amor de Cristo (cf. Instrução Geral
sobre o Missal Romano, n. 50).
Por isso, inclusive, é mais que conveniente evitar substituir estas fórmulas de saudação por
outras mais pobres, apenas de momento (“bom dia”, “boa tarde”, “boa noite” etc.). Ou, pior
ainda, fazer longos comentários e “homilias” antes do sinal da cruz e da preciosa, teológica,
litúrgica e oportuna saudação.

16. ATO PENITENCIAL – KYRIE (Segundo as normas do Missal Romano)

Após a saudação e a admonição introdutória do sentido da Missa do dia, o sacerdote


convida ao ato penitencial, o qual, após uma breve pausa de silêncio, é feito por toda a
comunidade. Então todos proferem uma fórmula de confissão geral e termina-se com a absolvição
do sacerdote. Esta absolvição, porém, não é a mesma do sacramento da penitência, significando,
portanto, que o ato penitencial não exime ninguém da confissão sacramental.
24
Podem ser cantadas músicas de Ato Penitencial, desde que a letra utilizada seja de
alguma das formas prescritas. Quaisquer outros cantos, ainda que implorem o perdão de Deus e
demonstrem arrependimento dos pecados, estão excluídos por não se encaixarem no Ordinário da
Missa, do qual o Ato Penitencial é integrante.
O Missal oferece três fórmulas de se proceder ao ato penitencial:
1) Confesso a Deus todo-poderoso...
2) Tende compaixão de nós, Senhor...
3) Senhor... tende piedade de nós!
Em algumas Missas, o Ato Penitencial é omitido devido a algum outro rito. Isso ocorre,
principalmente no tempo pascal onde se pode fazer, às vezes, a bênção e a aspersão da água
em memória do batismo.
Outras situações em que o Ato Penitencial é omitido são as Missas: 02 de fevereiro
(Apresentação do Senhor) que é substituído pela bênção das velas; Quarta-feira de cinzas,
substituído pela distribuição das cinzas; Domingo de Ramos, substituído pela bênção e procissão
dos ramos...
Depois do ato penitencial, deve-se sempre dizer o Kyrie, que no português foi traduzido
para: Senhor, tende piedade de nós. Na verdade, a tradução foi um tanto quanto infeliz, visto que
esta invocação não significa um pedido de perdão, mas sim, um clamor ao Senhor, uma
“louvação” por sua misericórdia que, praticamente, introduz o hino do Glória. Somente não se
canta ou reza o Kyrie quando já foram ditas as invocações no Ato Penitencial (isto é, quando se
usa a 3a fórmula).
Portanto, o “Ato Penitencial” desenvolve-se em dois momentos: a confissão geral e a
invocação da misericórdia.
Antes do Concílio Vaticano II, o pedido de perdão era feito na “Ante-Missa”, isto é, nas
orações “ao pé do Altar”, o que demonstrava bem o caráter introdutório dos ritos iniciais, onde
hoje está posto este rito.
Sua função primordial é nos preparar “melhor celebrarmos os santos mistérios”.

17. O “GLORIA IN EXCELSIS” - (Visão histórica)


“Todas as ladainhas terminavam por uma ou várias orações. A ladainha do início da
Missa, da qual conservamos apenas as respostas Kyrie eleison, também encerrava com uma
oração. Normalmente, a oração chamada “coleta” vem a seguir ao último Kyrie. Entretanto,
todos os domingos, exceto durante o Advento e a Quaresma, o celebrante entoa neste momento o
Gloria in excelsis, que todos continuam.”
Qual o motivo desta “interrupção” entre o fim da ladainha e a oração?
Em princípio, parece estranho porque o Gloria não está relacionado nem com o que vem
antes dele, nem com o que lhe vem após. Porém, é um hino que apareceu desde cedo na Missa
romana, mas outras igrejas (rito galicano, ritos orientais) não o adotaram.
Entretanto, este hino, que é chamado o “hino angélico por excelência”, já que suas palavras
iniciais evocam o anúncio dos Anjos na noite de Natal, foi muito conhecido nas diferentes igrejas
dos primeiros séculos.
O Gloria in excelsis está entre as primeiras obras da literatura cristã. O seu ritmos é livre e
o seu caráter poético se reconhece pela cadência das frases. É um hino de origem grega, sendo um
dos mais antigos cânticos usados na Igreja.
25
Sem dificuldade podemos notar que não há um único termo neste hino que não pertença
ao Evangelho, às Epístolas de São Paulo ou aos escritos de São João. Não merece este hino,
portanto, a nossa estima até pela sua antiguidade?
Foi em Roma que pela primeira vez o Gloria passou dos ofícios menores para a celebração
eucarística. Era cantado apenas uma vez ao ano: na primeira missa (meia-noite) do Natal. No
século VI, o papa Symaco estendeu o seu uso a todas as missas de domingo assim como às festas
dos mártires, mas somente quando a Missa era celebrada pelo Bispo. Em princípio, os simples
sacerdotes só tiveram o privilégio de entoar o Gloria nas celebrações do dia de Páscoa e, depois,
na primeira Missa que celebravam após a ordenação. Por volta do século XI os sacerdotes, assim
como os bispos, recitavam ordinariamente o Gloria, exceto em épocas ou dias de penitência, o
que ainda hoje se observa.
Este hino compõe-se de duas partes consagradas ao Pai e ao Filho, ambas de igual
importância. O Espírito Santo não é mencionado senão em último lugar, numa breve conclusão, a
qual é sem dúvida uma adição, pois não aparece nos textos mais antigos. Ao contrário de ser um
hino à Santíssima Trindade, é um louvor de ação de graças e, exatamente por isso, se adapta
perfeitamente à Missa.
O Glória, como hino de gratidão dos filhos de Deus, ficaria igualmente bem se colocado após
a Comunhão. Todavia, colocando-o nos ritos iniciais, o rito romano nos dá uma lição muito útil:
convida-nos a agradecer antes de receber o que nos torna mais dignos na hora de recebermos.
Se estamos reunidos ao redor do Altar, é para pedir perdão e solicitar novos auxílios mas,
primeiramente, para louvar Deus, para glorificar o autor de todos os dons e, especialmente, do
grande dom que é o seu próprio Filho. A missa é a grande “ação de graças”.
O Gloria da nossa Missa, tão belo e alegre, deve desenvolver em nós o espírito de ação de
graças. Temos muito que agradecer, e, por isso, é preciso que o egoísmo tenha lançado em nós
raízes profundas para que não pronunciemos com freqüência essa pequena palavra: “obrigado”.
Este espírito de gratidão nos ajuda a encontrar o que é bom nos outros, o que é belo nas
pessoas. Pensemos muitas vezes n que recebemos de Deus e estaremos menos descontentes com a
nossa vida. Pensemos em tudo o que os homens, nossos irmãos, nos dão, no bem que nos fazem, e
seremos para com eles mais justos e mais dedicados. Então, em vez de estarmos sofrendo com as
nossas penas, descobrimos ao lado da dor, motivos de esperança. O hábito de agradecer é meio
poderoso para possuirmos a paz de coração, a paz prometida aos homens de boa vontade.

18. O HINO DO GLÓRIA


O Glória é um antiquíssimo e venerável hino com que a Igreja, congregada no Espírito
Santo, glorifica e suplica a Deus e ao Cordeiro. Não é permitido substituir o texto deste hino por
outro. É começado pelo sacerdote ou, se for oportuno, por um cantor, ou pela schola (coral), e é
cantado ou por todos em conjunto, ou pelo povo alternando com a schola, ou só pela schola. Se
não é cantado, é recitado ou por todos em conjunto ou por dois coros alternadamente. O hino do
glória não é uma louvação à Santíssima Trindade.
Canta-se ou recita-se nos domingos fora do Advento e da Quaresma, bem como nas
solenidades e festas, e em particulares celebrações mais solenes.
Analisemos cada parte deste hino:
“Glória a Deus nas alturas
e paz na terra aos homens por ele amados”
26
O cântico abre com as palavras que ressoaram sobre o berço do Filho de Deus, na noite
do seu nascimento. O mistério da Encarnação ia mudar radicalmente as relações do homem com
Deus. Na pessoa de Jesus, o homem podia render a Deus uma homenagem proporcionada à sua
santidade, e Deus já não veria sobre a face da terra uma raça rebelde: o homem pecador
desapareceria atrás do amor do mais obediente dos filhos. Por isso, os anjos cantam: Glória a
Deus nas alturas e paz na terra aos homens por Ele amados (de boa vontade).
A reconciliação entre Deus e o homem anunciada na noite de Natal foi selada sobre a Cruz
pelo sacrifício que cada uma das nossas Missas comemora e prolonga. A eucaristia realiza a
declaração solene dos anjos: ela é o sacrifício que presta a Deus a maior glória que Ele pode
receber dos homens ela é o sacramento pelo qual Deus nos concede as suas graças mais
abundantes. A Sagrada comunhão estabelece a paz nas nossas almas perturbadas pelo pecado,
vem em auxílio dos pobres homens que “querem o bem” mas nem sempre podem realizá-lo.
Como vemos, o canto do Glória põe em relevo o objeto da Eucaristia que é, ao mesmo tempo,
dom que Deus no faz e oferenda que nós apresentamos a Deus.
“Senhor Deus, rei dos Céus, Deus Pai todo-poderoso.
Nós Vos louvamos, nós Vos bendizemos, nós Vos adoramos, nós Vos glorificamos,
nós Vos damos graças por Vossa imensa glória.”
Primeiramente, rendemos glória ao Pai.
O homem deve adorar o Criador antes de solicitar os seus favores. E não há paz na terra a
não ser que os homens queiram reconhecer de boa vontade a soberania de Deus. Por isso nós o
louvamos, nós o bendizemos, nós o adoramos, nós o glorificamos.
Embora estas diferentes formas da nossa homenagem à majestade divina se assemelhem,
há pequenas diferenças entre cada um dos verbos: louvar, bendizer adorar, glorificar. O louvor é
uma atitude intelectual, exprime a oferenda da nossa inteligência a Deus; é o nosso coração que o
bendiz; a adoração é um ato de vontade que nos coloca submissos à vontade daquele que é o
nosso Senhor. Todas as potências da nossa alma afirmam que pertencemos inteiramente a Deus,
cuja glória confessamos: “nós vos damos graças” – é a definição da Eucaristia (dar graças)!
Reparai nas palavras que seguem.
No decorrer da Missa, teremos muitas ocasiões de agradecer a Deus os seus benefícios para
conosco. No Glória, agradecemos-lhe não pelo que fez, mas pelo que é: pela vossa imensa glória!
Nós lhe rendemos graças porque Ele é Deus. Estamos gratos a Ele porque sabemos que Ele existe.
A sua grandeza, o seu poder, o seu mistério, ao contrário de nos afastarem ou darem medo, dão ao
nosso espírito uma paz profunda: é a alegria da fé.
Certamente Deus é a causa necessária de tudo quanto existe, mas muitas vezes as suas leis
nos deixam confusos. Felizmente, Ele não é o “Deus dos filósofos e dos sábios”; um laço mais
forte e mais doce o prende ao coração do homem – Ele é o Deus do Evangelho, e foi Cristo quem
nos ensinou o Seu Nome: PAI! Um Pai todo-poderoso. É um poder colocado ao serviço de sua
bondade. A sua misericórdia não é menos infinita que a sua justiça. Temos um Pai, uma Pai todo-
poderoso. Que não fará Ele pelo bem dos seus filhos? O que já não fez? “Por amor de nós, não
poupou seu próprio Filho”.
27
“Senhor Jesus Cristo, Filho Unigênito,
Senhor Deus, Cordeiro de Deus, Filho de Deus Pai.
Vós que tirais o pecado do mundo, tende piedade de nós.
Vós que tirais o pecado do mundo, acolhei a nossa súplica.
Vós que estais à direita do Pai, tende piedade de nós.”
E eis que o hino louva agora a Jesus Cristo, por quem a paz desceu sobre a Terra. A vida e
a obra do nosso Salvador são recordadas a nós numa síntese profunda.
Em primeiro lugar, recordamos que Ele existe antes de todas as coisas Ele é o Filho único,
o Unigênito (Senhor Jesus Cristo, Filho Unigênito). Ele se encarnou. É, ao mesmo tempo o
Senhor Deus, Cordeiro de Deus, Filho de Deus Pai que veio habitar entre nós para nos salvar.
O hino do Gloria insiste na função redentora de Jesus, citando por duas vezes a palavra do
Evangelho, “Vós que tirais o pecado do mundo” cuja tradução comporta dois sentidos, para os
quais são necessárias duas palavras diferentes.
Sim, Ele tira o pecado do mundo, mas para o arrebatar é preciso suportá-lo. Isso
percebemos quando olhamos a pesada cruz que o derrubou ao chão e na qual Ele foi levantado.
Portanto, poderia-se dizer: Vós que suportais e tirais o pecado dos homens, tende piedade de nós,
acolhei a nossa súplica”.
Entretanto, nada pode ser contrário à eficácia do Seu sacrifício, pois Cristo ressuscitou,
entrou na sua glória onde intercede sem fim por nós: Vós que estais à direita do Pai, tende
piedade de nós.
Nestas aclamações está resumida toda a missão de Jesus Cristo.
Sempre que o Filho de Deus se torna sacramentalmente presente sobre o Altar na
Eucaristia, põe à disposição dos homens, seus irmãos, o sacrifício e a morte que, diante de Deus,
nos libertam do pecado.
“Só Vós sois o Santo, só Vós o Senhor, só Vós o Altíssimo, Jesus Cristo,
com o Espírito Santo, na glória de Deus Pai. Amém”
A Missa é o ato pelo qual Jesus Cristo exerce sobre a terra a mediação entre Deus e os
homens. O Altar é a “fronteira” entre o céu e a terra. E, enquanto esperamos aquele que um dia há
de passar por esta fronteira, o nosso cântico saúda-O numa linguagem familiar às línguas orientais
e parecida com o Sanctus: só Vós sois o Santo, só Vós o Senhor, só Vós o Altíssimo... E termina
numa fórmula trinitária, rigorosamente doxológica: com o Espírito Santo, na glória de Deus Pai.
Amém.

19. ORAÇÃO DO DIA ou DA COLETA (histórico e formação)


Nos primeiros séculos, ao fim da ladainha (ou depois do Gloria), o pontífice, de pé, à
cadeira, saudava a assistência com as palavras de Jesus aos seus apóstolos: “A paz esteja
convosco!”. Hoje, quando a Missa é celebrada pelo Bispo, ainda diz esta saudação. O sacerdote,
mais modestamente, dirige aos fiéis a saudação de Booz aos seus ceifeiros6: O Senhor esteja
convosco, ou profere uma das saudações paulinas previstas no Missal.
O presidente da celebração canta ou profere o Oremus para convidar a assembléia a orar
com ele. “A nossa oração é pública e coletiva”, dizia São Cipriano, “e quando oramos, oramos
não por um só, mas por todo o povo”7.
Uma coisa podemos notar: todas as orações essenciais da Missa são rezadas no plural.
6
Ruth, II,4
7
De Domin. Orat., 8
28
Em algumas celebrações (por exemplo na Sexta-feira Santa), conservou-se o antigo uso
segundo o qual, depois do Oremus do celebrante, o diácono acrescentava: dobremos o joelho. A
multidão dobrava então o joelho, e entregava-se durante alguns instantes a uma oração silenciosa,
até que o ministro respondesse: Levantai-vos! Todos se levantavam e elevavam as mãos em
atitude de orante. Não somente o sacerdote, mas todo o povo o fazia.
Este gesto tão natural da oração existia entre os judeus. Os pagãos também oravam com as
mãos e braços estendidos acima da cabeça, palmas voltadas, na posição de quem espera receber
um dom.
A Igreja nada tinha contra este gesto universal. São Paulo exige somente que nossas mãos
sejam puras quando nós as levantamos para orar. Entretanto, os cristãos, desejando distinguir-se
dos pagãos, modificaram a posição das mãos e voltaram as palmas noutro sentido “para se
assemelharem ao salvador sobre a cruz” mas baixando os braços. “Não levantemos as mãos com
ostentação, diz Tertuliano, mas conservemo-las elevadas com moderação e dignidade, e o nosso
rosto exprima também humildade”.8
Será exigir demais aos fiéis que, durante a oração, permaneçam de pé? Nesse momento,
somo pedintes: e não se pode imaginar alguém que fique sentado enquanto pede.
Muito se discute acerca da origem do nome desta oração “Oração da coleta”. Para uns, esta
oração que abre a celebração litúrgica, devia a sua denominação ao fato de ser dita quando a
assembléia estava reunida (colecta) na igreja Segundo outros, esta palavra devia entender-se no
sentido de uma oração-resumo e isto por dois motivos: ou porque ela vinha como conclusão de
todos os piedosos enunciados na ladainha; ou ais simplesmente, porque o celebrante “coletava”
mentalmente os votos que os fiéis tinham formulado em silêncio, durante o tempo em que
estavam ajoelhados, como falamos acima.
No princípio, todas as orações da função eucarística eram improvisadas pelo oficiante.
Assim também acontecia com a oração da coleta. Por isso, elas podiam ser bastante longas por
vezes. Todavia, surgiu a necessidade de limitar as facilidades concedias aos improvisadores e dar
à oração pública uma forma correta. Chegou-se, portanto, à redação das coletas como estão nos
Missais. Não são conhecidos os seus autores, embora devam pertencer aos primeiros Padres da
Igreja.

20. ORAÇÃO DA COLETA (segundo o Missal Romano)


O Sacerdote, da cadeira, convida o povo à oração; e todos, juntamente com ele, se
recolhem uns momentos em silêncio, a fim de tomarem consciência de que se encontram na
presença de Deus e poderem formular interiormente as suas intenções. Então o sacerdote diz a
oração que se chama «coleta», pela qual se exprime o caráter da celebração. Segundo a tradição
antiga da Igreja, a oração dirige-se habitualmente a Deus Pai, por Cristo, no Espírito Santo, e
termina com a conclusão trinitária (Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do
Espírito Santo). O povo associa-se a esta súplica e faz sua a oração pela aclamação Amém.
A oração da coleta (como a do ofertório e do pós-comunhão) obedecem a regras fixas tanto no
que diz respeito ao cursus, isto é, à cadência das frase em harmonia, como no que se refere à
ordem dos pensamentos expressos.
1. As coletas começam por uma invocação a Deus considerado em toda a sua unidade, o Eterno,
o Todo-poderoso. Nas coletas romanas, Deus nunca é chamado de “Pai”. Muitas coletas do

8
De Oratione, caps. 14 e 17
29
Advento foram modificadas e atualmente dirigem-se ao Filho, o Salvador tão ardentemente
desejado. Nenhuma oração invoca diretamente o Espírito Santo.
2. A invocação é seguida de um motivo que autoriza a confiança de que seremos ouvidos, ou a
evocação do mistério da festa do dia.
3. Vem depois a petição/pedido, que desenvolve mais ou menos o objeto da súplica.
4. Finalmente, a conclusão apoia nosso pedido na intercessão do único mediador, Nosso Senhor
Jesus Cristo, e rende homenagem à indivisível Trindade.

Exemplos de coleta com motivo:


Um domingo do Tempo Comum
Invocação – Deus eterno e todo-poderoso
Motivo – cuja bondade tão generosa ultrapassa os méritos e os desejos de quem vos implora
Petição/pedido – espalhai sobre nós a vossa misericórdia para nos perdoar as faltas que perturbam
a nossa consciência para dar-nos além disso, o que a nossa oração não ousa pedir.
Conclusão – Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
Exemplo de coleta inspirada pelo mistério celebrado (evocação)
Missa de Natal
Invocação – Ó Deus,
Evocação do mistério – que iluminastes esta santíssima noite com os clarões da verdadeira luz,
Petição – dignai-vos conceder-nos, a nós que na terra conhecemos os mistérios desta luz, a graça
de saborearmos no céu as alegrias d’Aquele
Conclusão – que vive e reina convosco na unidade de Deus Espírito Santo.

A oração da coleta é oração de todos, oração da Igreja. Isso porque, quando o celebrante
termina a conclusão trinitária, todos os fiéis ratificam o que ele acaba de dizer, respondendo ao
mesmo tempo e em voz alta: Amém.
Num dos sermões, Santo Agostinho mostra o alcance deste Amém dos fiéis:
“Porventura é em vão que desejamos todas estas coisas para vós? Não; porque vós subscreveis
estas nossas súplicas, respondendo conscientemente: Amém. O vosso Amém, meus irmãos, é a
vossa assinatura, a vossa aprovação, o vosso consentimento.”9

Amen, que nós traduzimos com exatidão pela fórmula “assim seja”, é uma palavra hebraica
que os judeus empregavam, quer para tomar um compromisso, quer para formular um voto.
Servia também para confirmar uma verdade, e Cristo usava dela para dizer: “Amen, amen dico
vobis” – Em verdade, em verdade vos digo...
Amen é a última palavra da Bíblia. É ela que encerra a revelação cristã. E o livro do
Apocalipse, descrevendo a liturgia celeste, faz ressoar o Amen como o cântico de louvor da Igreja
triunfante. Amen é realmente a última palavra de toda a oração, a última palavra de toda a
santidade; pois que é a santidade, se não a adesão total e amorosa do homem à vontade de Deus?
“O que vós quereis, Senhor, assim se faça! Eu digo amém a tudo o que vós me pedis”.
Sendo membros de uma unidade, devemos sair do nosso individualismo e rezar no plural
com a liturgia, fazer nossos os votos e esperanças de todos os cristãos e de todos os homens –
pronunciar palavras de alegria mesmo se o nosso coração está triste, tomar atitudes de humildade
– pensar nos outros quando nós mesmos não estamos em segurança.

9
Fragmenta Sermon. P.L. XXXIX, col 1721
30
E isto, longe de abafar a nossa personalidade, enriquece-a, dilata-a. Desde o Oremos até o
Amém, as nossa coletas convidam-nos à oração coletiva, a oração da comunidade cristã, a oração
de todos por todos. É bem o caso de se dizer com alegria, profundidade e força: Amém!
31

LITURGIA DA PALAVRA
21. LITURGIA DA PALAVRA – Visão histórica
Depois da oração coletiva, o pontífice sentava-se no trono. Neste momento, eram os
ministros subalternos que entravam em função. O antigo privilégio do bispo hoje tornou-se regra
comum: clero e fiéis também sentam-se.
Nos primeiros séculos, orar sentado era irreverência. “Ninguém se senta em presença duma
pessoa que se quer reverenciar” dizia Tertuliano, “com maior razão, quando se está na presença
de Deus”10 Nos dias de jejum, os cristãos oravam de joelhos, mas ao domingo e durante os
cinquenta dias do tempo pascal, ficavam de pé durante o ofício, que era bastante longo. Os
assistentes, porém, estavam autorizados a apoiar-se num cajado, exceto durante a leitura do
Evangelho. Mais tarde foi autorizado o uso de pequenas cadeiras antes do ofertório, mas somente
durante as leituras e durante o sermão e os cânticos, nunca durante uma oração.
Sentavam-se para ouvir as primeiras leituras, que constituíam a parte principal e a mais
antiga da ante-missa. Devendo ser explicadas em seguida, destinavam-se a instruir os fiéis na
doutrina de Cristo e nos seus deveres cristãos. Os catecúmenos (aqueles que se preparavam para o
Batismo) assistiam a esta parte não sacrificial da liturgia.]
Liam-se, então, fragmentos da Bíblia, cuja escolha era deixada ao arbítrio do bispo, que
também determinava o número de leituras e sua extensão. Quando ele julgasse que uma leitura era
já suficientemente longa, interrompia o leitor, dizendo: Deo gratias (Graças a Deus!). E seguiam-
se outras leituras enquanto o presidente julgasse conveniente.
Desde muito cedo, porém, o número normal de leituras foi fixado e três: a primeira, tirada
do Antigo Testamento, que se chamava Profecia; a segunda, tirada da parte apostólica do Novo
Testamento, era chamada o Apóstolo ou a Epístola. Vinha, finalmente, uma passagem do
Evangelho.
Nota-se, desde muito cedo, a preocupação de diminuir a duração do ofício. No decorrer do
século V, exceto para algumas missas, as leituras eram reduzidas a duas: a Epístola e o
Evangelho.
Antes da leitura, um diácono chamava a atenção de todos: “State cum silentio, audiens
attente” (Estai em silêncio e escutai atentamente). Esta recomendação não era supérfula, como se
deduz da exclamação de Santo Ambrósio: “Como é difícil conseguir o silêncio na igreja quando
se fazem as leituras”11. E contudo, a leitura era lida dirigindo-se ao povo na língua que o povo
falava.
E para que os fiéis mais afastados percebessem a leitura, o leitor subia a um estrado (em
latim pulpitum, nome que os ingleses conservaram) ou a uma tribuna, que pela sua raiz grega se
costuma chamar ambon.
O leitorado era – e ainda é – um dos graus menores da hierarquia sagrada. Quando um
clérigo é ordenado leitor, o bispo indica-lhe as suas atribuições: “Quando lerdes, colocai-vos num
10
De Oratione, cap. 16
11
In Psalm. I, praef. 9
32
lugar elevado da igreja, a fim de serdes vistos e ouvidos por todos. Esforçai-vos por ler as
santas leituras de modo claro e distinto, para que os fiéis compreendam e fiquem edificados.
Seria mau que, por negligência vossa, a verdade fosse alterada em detrimento dos auditores.”
A preferência que se dá ao Evangelho da missa, não pode nos levar a negligenciar as outras
leituras da Missa, especialmente a da Carta dos Apóstolos. Isso porque, ouvindo os ensinamentos
dos Apóstolos, podemos assemelhar-nos aos fiéis da primeira comunidade de Jerusalém “que
eram assíduos à pregação dos Apóstolos”12
Papias, bispo da Frígia na primeira metade do século II, num livro que chegou até nós
fragmentado, confia-nos que todos se compraziam em interrogar os “anciãos” que tinham
conhecido os Apóstolos. “Quando encontrava um deles” escreve, “interrogava-o. Que dizia
André? Que dizia Pedro? Que dizia Filipe, Tomé, Tiago, João, Matias, e tal outro dos discípulos
do Senhor?... pois eu pensava que nem todos os livros podiam trazer-me tanto proveito como os
dados recolhidos duma palavra viva e permanente.” A leitura (principalmente a do Novo
Testamento) faz chegar até nós um eco deste ensinamento apostólico do qual saiu a nossa fé
cristã.
As Leituras são para nós sempre uma luz: por isso, podemos terminar coma a aclamação
que a Igreja nos confia, depois que o bispo deixou de pronunciá-la: Deo gratias (Graças a Deus!).
Porventura não demos nós agradecer a Deus por nos ter escolhido para sermos do número
daqueles que têm a felicidade de conhecer a verdade? Deo gratias! Esta exclamação encerra
também o propósito de cumprir alegremente os conselhos do escritor sagrado. Finalmente, não
deveriam estas duas palavras constituir uma jaculatória familiar aos cristãos? Deo gratias!
escrevia Santo Agostinho, “nenhuma palavra é mais breve ao dizer, mais alegre ao ouvir, maior
ao compreender, mais frutuosa na prática.”13

22. LITURGIA DA PALAVRA (Visão geral)


A Liturgia da Palavra é constituída pelas seguintes partes:
(1) 1ª Leitura, (2) Salmo Responsorial, (3) 2ª Leitura, (4) Aclamação ao Evangelho, (5)
Proclamação do Evangelho, (6) Homilia, (7) Profissão de Fé, (8) Oração dos Fiéis (Preces).
A parte principal da Liturgia da Palavra é constituída pelas leituras da Sagrada Escritura e
pelos cantos que ocorrem entre elas. Esta parte principal é desenvolvida e concluída pela homilia,
profissão de fé e a oração universal ou dos fiéis. Nas leituras explanadas pela homilia Deus fala ao
seu povo, revela o mistério da redenção e da salvação, e oferece alimento espiritual; e o próprio
Cristo, por sua palavra, se faz presente no meio dos fiéis. Pelo silêncio e pelos cantos, o povo se
apropria dessa Palavra de Deus e a ela adere pela profissão de fé; alimentado por essa palavra,
reza na oração universal pelas necessidades de toda a Igreja e pela salvação do mundo inteiro.

O Silêncio
A Liturgia da Palavra deve ser celebrada de tal modo que favoreça a meditação; por isso
deve ser evitado de todas as maneira qualquer pressa que impeça o recolhimento. Fazem parte da
Liturgia da Palavra, também momentos de silêncio, de acordo com a assembléia reunida. Por estes
momentos de silêncio, sob a ação do Espírito Santo, se acolhe no coração a Palavra de Deus e se
prepara a resposta pela oração.

12
At II,42
13
Epist, XLI
33
Convém que estes momentos de silêncio sejam observados, por exemplo, antes de se
iniciar a própria liturgia da Palavra, após a primeira e a segunda leitura, como também após o
término da homilia.

O Ambão
A dignidade da Palavra de Deus requer na Igreja um lugar digno de onde possa ser
anunciada e para onde se volte espontaneamente a atenção dos fiéis no momento da liturgia da
Palavra.
No recinto da Igreja deve existir um lugar elevado, fixo, adequadamente disposto e com a
devida nobreza, que ao mesmo tempo corresponda à dignidade da Palavra de Deus e lembre aos
fiéis que na missa se prepara a mesa da Palavra de Deus e do corpo de Cristo, e que ajude da
melhor maneira possível a que os fiéis ouçam bem e estejam atentos durante a liturgia da palavra.
Por isso se deve procurar, segundo a estrutura de cada igreja, que haja uma harmonia entre o
ambão e o altar.
De modo geral, convém que este lugar seja uma estrutura estável e não uma simples estante
móvel. O ambão seja disposto de tal modo em relação à forma da Igreja que os ministros
ordenados e os leitores possam ser vistos e ouvidos facilmente pelos fiéis.
Convém que o ambão, de acordo com a sua estrutura seja adornado com sobriedade, ou de
mandeira permanente ou, ao menos ocasionalmente, nos dias mais solnes.
Do ambão são proferidas somente as leituras, o salmo responsorial e a proclamação da
Páscoa; também se podem proferir a homilia e as intenções da oração universal ou oração dos
fiéis.
Para que o ambão ajude, da melhor maneira possível, nas celebrações, deve ser amplo,
porque em algumas ocasiões têm que estar nele vários ministros. Além disso, é preciso procurar
que os leitores que estão no ambão tenham suficiente luz para ler o texto e, na medida do possível,
bons microfones para que os fiéis possam escutá-los facilmente.
A dignidade do ambão exige que a ele suba somente o ministro da palavra. Não é
conveniente que subam ao ambão outras pessoas, como o comentarista, o cantor, o dirigente do
coro.

Os livros para anunciar a Palavra de Deus nas celebrações


Os livros onde se tiram as leituras da Palavra de Deus, assim como os ministros, as atitudes, os
lugares e demais coisas, lembram aos fiéis a presença de Deus que fala a seu povo. Portanto, é preciso
procurar que os próprios livros, que são sinais e símbolos das realidades do alto na ação litúrgica,
sejam verdadeiramente dignos, decorosos e belos.
Sendo sempre o anúncio do evangelho o ponto alto da Liturgia da Palavra, tanto a tradição do
Oriente quando a do Ocidente mantiveram uma diferença entre o Evangelho e as demais leituras. Com
efeito, o livro dos Evangelhos (Evangeliário) era elaborado com grande cuidado, adornado e venerado
mais do que qualquer outro lecionário (livro que contém todas as leituras). Portanto, é muito
conveniente que também em nossos dias, nas catedrais, nas paróquias e Igrejas maiores e mais
concorridas, haja um Evangeliário, formosamente adornado e diferente do livro das demais leituras.
Este é o livro entregue ao diácono na sua ordenação, e na ordenação episcopal é colocado e sustentado
sobre a cabeça do eleito.
Por último, os livros das leituras que se utilizam na celebração, pela dignidade que a Palavra de
Deus exige, não devem ser substituídos por outros subsídios de ordem pastoral, por exemplo, pelos
folhetos que se fazem para que os fiéis preparem as leituras ou as meditem pessoalmente.
34

23. AS LEITURAS BÍBLICAS e o SALMO RESPONSORIAL


Terminada a oração do dia (ou da coleta), todos se assentam. O sacerdote pode, com
brevíssimas palavras, introduzir os fiéis na Liturgia da Palavra. O leitor, por sua vez, dirige-se ao
ambão e, do Lecionário já aí colocado antes da Missa, proclama a primeira leitura que todos
escutam. No fim, o leitor profere a aclamação Palavra do Senhor, respondendo todos Graças a
Deus.
Se for oportuno, pode-se observar um breve espaço de silêncio, para que todos meditem o
que ouviram.
Em seguida, o salmista ou o próprio leitor que proclamou a 1a Leitura profere os versículos
do salmo ao que o povo normalmente responde com o refrão. Quando há segunda leitura, vale o
que foi dito para a primeira.

Leituras Bíblicas
Através das leituras, é preparada para os fiéis a mesa da Palavra de Deus e se abrem para
eles os tesouros da Bíblia. Por isso, não é permitido que na celebração da Missa, as leituras
bíblicas, juntamente com os cânticos tirados da Sagrada Escritura (Salmo e Aclamção), sejam
suprimidas, nem abreviadas nem, coisa ainda mais grave, substituídas por outras leituras não
bíblicas.
Na celebração da missa com povo, as leituras são sempre proferidas do ambão.
Por tradição, o ofício de proferir as leituras não é função do presidente da celebração, mas
sim uma função ministerial, isto é, do ministro da Palavra. As leituras sejam, portanto,
proclamadas pelo leitor. O Evangelho, porém, deve ser anunciado pelo diácono ou, na sua
ausência, por um sacerdote, nunca por um leigo. Na falta de outro leitor idôneo, o sacerdote
celebrante proferirá também as demais leituras.
Depois de cada leitura, quem leu profere a aclamação “Palavra do Senhor” e o povo
reunido, por sua resposta “Graças a Deus!” presta honra à Palavra de Deus, acolhida com fé e com
ânimo agradecido.
A proclamação do Evangelho constitui o ponto alto da liturgia da palavra. A própria
Liturgia ensina que se deve manifestar ao Evangelho a maior veneração, uma vez que é o
momento em que se presta honra especial, tanto por parte de quem vai anunciá-la (através da
oração e bênção), como pelos fiéis, através das aclamações que reconhecem e professam que
Cristo está presente e lhes fala, e que ouvem de pé a sua leitura.
O que mais contribui para uma adequada comunicação da Palavra de Deus à assembléia
por meio das leituras é a própria maneira de proclamar dos leitores, que devem fazê-lo em voz alta
e clara, tendo conhecimento do que lêem.

Salmo Responsorial
Após a primeira leitura, segue-se o salmo responsorial, que é parte integrante da Liturgia da
Palavra. É um momento de grande importância litúrgica e pastoral, porque favorece a meditação
da Palavra de Deus.
O Salmo responsorial corresponda a cada leitura e normalmente seja tomado do
Lecionário.
O Salmo responsorial, tem uma importância singular. Por isso, é preciso instruir
constantemente os fiéis sobre o modo de escutar a Palavra de Deus que nos é transmitida pelos
salmos, e sobre o modo de converter estes salmos em oração da Igreja. Isso “se realizará mais
35
facilmente quando se promover com diligência, entre o clero, um conhecimento mais profundo
dos salmos, segundo o sentido com que se cantam na sagrada liturgia, e quando se fizer que
participem disso todos os fiéis com uma catequese oportuna.”14
O Salmo responsorial preferencialmente deve ser cantado. Há duas formas de cantar o
salmo depois da primeira leitura: a forma responsorial e a forma direta. Na forma responsorial,
que se deve preferir sempre que possível, o salmista ou o cantor do salmo canta as estrofes do
salmo e toda a assembléia participa cantando a resposta. Na forma direta, os almo é cantado sem
que a assembléia intercale a resposta, e o cantam, ou o salmista ou o cantor do salmo sozinho, e a
assembléia escuta, ou então o salmista e os fiéis juntos.
O canto do salmo ou da resposta, contribuem muito para compreender o sentido espiritual
do salmo e para meditá-lo profundamente.

Recentemente, na Exortação Apostólica Pós-Sinodal Sacramentum Caritatis (22/02/2007),


o Santo Padre Bento XVI assim se manifestou:
Juntamente com o Sínodo, peço que a liturgia da palavra seja sempre devidamente preparada
e vivida. Recomendo, pois, vivamente que se tenha grande cuidado, nas liturgias, com a
proclamação da palavra de Deus por leitores bem preparados; nunca nos esqueçamos de
que, « quando na igreja se lê a Sagrada Escritura, é o próprio Deus que fala ao seu povo, é
Cristo presente na sua palavra que anuncia o Evangelho ». Se as circunstâncias o
recomendarem, pode-se pensar numas breves palavras de introdução, que ajudem os fiéis a
tomar renovada consciência do momento. Para ser bem compreendida, a palavra de Deus
deve ser escutada e acolhida com espírito eclesial e cientes da sua unidade com o sacramento
eucarístico. Com efeito, a palavra que anunciamos e ouvimos é o Verbo feito carne (Jo 1, 14)
e possui uma referência intrínseca à pessoa de Cristo e à modalidade sacramental da sua
permanência: Cristo não fala no passado mas no nosso presente, tal como Ele está presente
na acção litúrgica. Neste horizonte sacramental da revelação cristã, o conhecimento e o
estudo da palavra de Deus permitem-nos valorizar, celebrar e viver melhor a Eucaristia;
também aqui se mostra em toda a sua verdade a conhecida asserção: « A ignorância da
Escritura é ignorância de Cristo ».15

24. OS “COMENTÁRIOS” NA LITURGIA DA PALAVRA


Pe. Carlos Gustavo Haas
É comum em nossas celebrações o uso de subsídios, mais conhecidos como “folhetos” para
orientar e ajudar as comunidades a bem celebrar. Além dos “comentários” no início da celebração,
na preparação das oferendas, na comunhão e no final (sobre eles falaremos em outra
oportunidade), alguns folhetos apresentam um “comentário” para cada uma das leituras enquanto
que outros apresentam apenas um comentário geral, no início da Liturgia da Palavra. Qual a
maneira correta?
Na celebração litúrgica, as “introduções”, os “comentários”, prestam o serviço de “iniciar”,
despertar, dispor a assembléia para a ação litúrgica que irá acontecer. Para usarmos um termo dos
Meios de Comunicação Social, estas “introduções” poderiam ser comparadas às “chamadas” que
anunciam e preparam a assembléia para a escuta do Senhor.
No caso específico da Liturgia da Palavra, não é absolutamente necessário um
“comentário”. Poderia muito bem ser dispensado. Mas muitas comunidades sentem a necessidade
14
PAULO VI. Instrução Laudis canticum
15
BENTO XVI, Exortação Apostólica Pós-Sinodal Sacramentum Caritatis, n. 45
36
de uma pequena “motivação” ou introdução. Neste caso, é conveniente fazer apenas um
comentário para introduzir a Liturgia da Palavra, com a finalidade de preparar e dispor os
fiéis a ouvirem atentamente as três leituras (1a. leitura, 2a. leitura e Evangelho).
Por quê? Desta forma, daremos mais valor à Palavra proclamada. Esta não pode ser
interrompida ou intercalada com comentários e explicações que quebrem sua unidade e o ritmo da
celebração. A explicação e a atualização da Palavra devem ser feitas em seu local próprio, a
homilia.
A assembléia litúrgica não é apenas destinatária da ação litúrgica, mas é protagonista, povo
sacerdotal, não dependendo de “palavras de ordem” para participar. A liturgia não é apenas
“palavra” mas uma ação ritual-simbólico-sacramental. Por isso, muito mais do que um
“comentário”, é a atitude do leitor, do salmista, do diácono ou do presidente da assembléia que vai
ajudar para que a Palavra seja ouvida e acolhida. Neste contexto, para uma frutuosa proclamação
e acolhida da Palavra, adquirem muita importância o ambão, sua localização e sua ornamentação;
um bom microfone; a veste litúrgica própria dos leitores, um refrão orante.

Observemos o que dizem dois documentos litúrgicos:


a) Sacrosanctum Concilium, 35: “Procure-se também inculcar, por todos os modos, uma catequese
mais diretamente litúrgica, e prevejam-se nas próprias cerimônias, quando necessário, breves
esclarecimentos, feitos só nos momentos mais oportunos, pelo sacerdote ou ministro competente,
com palavras prescritas ou semelhantes às prescritas”.
b) Instrução Geral ao Missal Romano, 31: “Da mesma forma cabe ao sacerdote, no desempenho
da função de presidente da assembléia, proferir certas admoestações previstas no próprio rito.
Quando estiver estabelecido pelas rubricas, o celebrante pode adaptá-las um pouco para que
atendam à compreensão dos participantes; cuide, contudo, o sacerdote de manter sempre o sentido
da exortação proposta no livro litúrgico e a expresse em poucas palavras. Pode, com brevíssimas
palavras, introduzir os fiéis na missa do dia, após a saudação inicial e antes do rito penitencial, na
liturgia da palavra, antes das leituras; na Oração eucarística, antes do Prefácio, nunca, porém,
dentro da própria Oração; pode ainda encerrar toda a ação sagrada antes da despedida” .

Seria interessante retomar tudo o que o Missal Romano prevê para a celebração da Liturgia da
Palavra, com destaque aos momentos de silêncio após cada leitura (cf. IGMR, 128-134). Aí está
claro que os “comentários” não têm a finalidade de dar informações catequéticas ou moralistas,
mas devem ser mistagógicos, isto é, conduzir a assembléia à plena participação da ação litúrgica.
Devem ser convites de cunho espiritual, sempre discretos, orantes, a serviço do diálogo entre
Deus e seu povo reunido, portanto, sem interrupção do fluxo do rito. Vale lembrar um dos
princípios na ação litúrgica: “que as nossas palavras na Liturgia não neguem a Palavra, mas a
sirvam”.

25. INCLINEMOS O OUVIDO DO CORAÇÃO (cf. Provérbios IV,20-21)


Liturgia em Mutirão
Impossível imaginar, hoje, uma celebração cristã em qualquer uma das Igrejas, sem leitura
bíblica.
Em primeiro lugar, é importante ter presente que a leitura se faz em função da escuta.
Lemos as Sagradas Escrituras para que sejam escutadas não só com o ouvido do corpo, mas ainda
com o ouvido da mente e do coração. Ler e escutar: dois verbos que correspondem a duas ações
diferentes. Ler é a ação do leitor. Escutar é a ação da assembléia ouvinte.
37
Por que não é aconselhável que toda a assembléia acompanhe a leitura, seja no folheto,
seja na Bíblia?
Primeiro:
Porque a Liturgia da Palavra é um diálogo entre Deus e seu povo, entre Jesus Cristo e sua
Igreja reunido. Aquele que proclama a Palavra representa para nós o próprio Senhor que nos
dirige a Palavra. Cabe-nos neste momento uma atitude de escuta, olhando para o leitor ou a
leitora, recebendo a palavra do Senhor e acolhendo-a no coração. «Palavra», no sentido profundo,
não é só idéia, informação. É relação. É comunhão que se cria também pelo olhar, pelo tom de
voz, pelos silêncios. Estamos falando, portanto, da estrutura ministerial da proclamação da
Palavra. A Palavra vem à comunidade reunida e a cada um de seus participantes, pelo ministério
do leitor ou da leitora.
Segundo:
Por causa do caráter comunitário da Liturgia da Palavra. A Palavra é dirigida a um grupo
de pessoas que, pela Palavra, tornam-se uma comunidade, tornam-se Igreja. Não podemos
individualizar a leitura. E é isto que acontece quando cada indivíduo se curva sobre o seu folheto
ou sua Bíblia, fazendo a sua leitura, no seu ritmo... Além do mais, quando o leitor termina, uns
ainda estão soletrando no meio do texto, enquanto outros mais “espertos” já terminaram há muito
tempo. (E nem vamos tocar aqui no problema de todos terem de comprar “a mesma Bíblia”, ou
seja, a mesma tradução e edição!)
Terceiro:
Além das duas questões litúrgicas citadas, há também uma questão cultural: a cultura
brasileira é uma cultura predominantemente oral, e não letrada. As pessoas têm facilidade de
ouvir, falar, contar histórias e casos, narrar, dramatizar, cantar... Não têm a mesma facilidade para
ler e escrever. Mas não precisam do papel: a memória individual e coletiva (mitos, ritos, cantos...)
é suficiente. Insistir na leitura individual do folheto ou da Bíblia durante a celebração é forçar a
cultura do povo.
Além disso, há um motivo da ordem da comunicação: numa assembléia litúrgica, o papel
na mão das pessoas impede a comunicação entre elas. Liturgia é ação, é celebração, é festa. Tu
consegues imaginar uma festa em que os convidados enfiam o olhar o tempo todo no papel, para
acompanhar com a leitura individual tudo o que vai sendo dito?
Por fim, é evidente que não basta tirar o folheto ou a Bíblia da mão da comunidade reunida
para que a Palavra seja escutada! Para escutar, não basta utilizar o aparelho auditivo, o ouvido
“físico”, digamos assim. É preciso que abramos o ouvido do coração. Escutar é, antes de tudo,
criar um espaço dentro da gente para acolher o Outro.
Mas a escuta “física” é símbolo e caminho para a escuta interior. As duas escutas estão
profundamente ligadas. Estamos falando aqui da estrutura sacramental da proclamação da
Palavra. A graça passa pelos sinais sensíveis que a expressam (cf. SC 7)
Assim, escutar é ser todo ouvido. Deixar o Outro entrar em nossa vida, pela escuta e
assimilação de Sua Palavra. Deixar que esta Palavra atinja todo o nosso ser: nossos sentidos,
nossa mente, nosso coração, nossos valores, nossos projetos... E abrir os ouvidos para deixar
entrar o Sopro Divino, para ouvir o que o Espírito diz às Igrejas. Por isso, escutar é a condição
básica da Aliança com o Deus de Israel e o Deus de Jesus Cristo: «ESCUTA, ISRAEL, Shemá,
Israel..., Javé nosso Deus é o Único!» (Dt VI,4).
Quando, na liturgia da Palavra, trocamos a escuta da comunidade pela leitura do texto
bíblico, estamos destruindo um simbolismo muito profundo, fundamental, raiz de nossa fé. É da
Palavra recebida pelo ministério de outra pessoa que somos iniciados na Aliança (cf. Rm X,14-
38
17). É da Palavra ouvida e acolhida no Sopro do Espírito que nasce a possibilidade de uma
resposta adequada ao Pai: o «Sim» incondicional da obediência do Filho. Afinal, obedecer vem do
latim “oboedire, abaudire”, que significa literalmente “ouvir da parte de alguém”. Não significa
sujeitar-se cegamente, mas dar uma resposta pessoal a partir daquilo que se ouviu.

26. LITURGIA DA PALAVRA - Conforme as prescrições do Missal Romano


Enquanto se canta o Aleluia ou o outro cântico, o sacerdote impõe e benze o incenso,
quando se usa. De seguida, profundamente inclinado diante do altar, de mãos juntas, diz em
silêncio a oração: Ó Deus todo-poderoso, purificai-me o coração e os lábios para que eu
anuncie dignamente o vosso santo Evangelho. Toma então o Evangeliário, se está sobre o altar, e
dirige-se para o ambão, levando o Evangeliário um pouco elevado, precedido pelos ministros
leigos, que podem levar o turíbulo e os círios. Os presentes voltam-se para o ambão, manifestando
uma especial reverência ao Evangelho de Cristo.
Tendo chegado ao ambão, o sacerdote abre o livro e, de mão juntas, diz: O Senhor esteja
convosco (Dominus vobiscum); o povo responde: Ele está no meio de nós (Et cum spiritu tuo), e a
seguir Evangelho de Nosso Senhor... (Lectio sancti Evangelii...), fazendo o sinal da cruz sobre o
livro e sobre si mesmo na fronte, na boca e no peito, e todos fazem o mesmo. O povo aclama,
dizendo: Glória a Vós, Senhor (Gloria tibi, Domine). Depois, se se usa o incenso, o sacerdote
incensa o livro. A seguir proclama o Evangelho, e no fim diz a aclamação: Palavra da salvação
(Verbum Domini). Todos respondem: Glória a Vós, Senhor (Laus tibi, Christe). O sacerdote beija
o livro, dizendo em silêncio: Pelas palavras do santo Evangelho sejam perdoados os nossos
pecados!
Se não há leitor, é o próprio sacerdote que de pé proclama, no ambão, todas as leituras e o
salmo. Ali também, se se usa o incenso, impõe incenso e benze-o, e, profundamente inclinado, diz
: Purificai o meu coração (Munda cor meum).
O sacerdote, em pé, da cadeira ou do próprio ambão, ou, se for oportuno, noutro lugar
conveniente, faz a homilia. Terminada a homilia, pode observar-se, se for oportuno, um espaço de
silêncio.
O Símbolo (Creio) é cantado ou recitado pelo sacerdote juntamente com o povo, estando
todos de pé. Às palavras E encarnou, etc. (Et incarnatus est, etc.), todos se inclinam
profundamente; porém, nas solenidades da Anunciação e do Natal do Senhor, genuflectem.
Terminado o Símbolo, o sacerdote, de pé junto da cadeira, de mãos juntas, convida os fiéis
à oração universal com uma breve admonição. Então um diácono ou um cantor, ou um leitor ou
outro, no ambão ou noutro lugar conveniente, voltado para o povo, propõe as intenções, a que o
povo responde suplicante com a sua parte. Por fim o sacerdote, de braços abertos, conclui as
preces com uma oração.

27. O “ALELUIA”
“Aleluia”! Esta exclamação hebraica vem do livro dos Salmo e significa: Louvai o Senhor!
Desde muito cedo, esta exclamação foi incorporada nos ofícios da Igreja Oriental e, assim,
passou do culto para a vida corrente. Os marinheiros, quando as embarcações se cruzavam,
saudavam-se duma extremidade à outra com um “Aleluia”. No ano de 429 os cristãos da Bretanha
venceram os Saxões tendo o Aleluia como o grito de guerra. Não somente se dizia, mas também
39
se cantava o Aleluia. São Jerônimo, o tradutor da Bíblia, ao atravessar os campos de Belém,
ouvia que os lavradores cantavam o Aleluia enquanto trabalhavam. Foi ele, aliás, quem importou
o Aleluia para a Igreja de Roma, e por ele sabemos ainda que esta aclamação foi cantada nos
funerais de Fabíola.
O Aleluia penetrou no rito romano da Missa por um fenômeno semelhante àquele que fez
entrar nela o Gloria.
Em princípio, o Aleluia era executado em Roma só uma vez por ano, no dia de Páscoa,
como um cântico de circunstância. O historiador Sozomeno dá-nos a conhecer um provérbio que
circulava em Roma no século V: “Digne-se Deus conceder-me que eu ouça e cante o Aleluia”.
Do domingo de Páscoa, o Aleluia foi se estendendo aos cinquenta dias do tempo pascal, e
no fim do século VII, S. Gregório ordenou que em todas as missas dominicais, fora da Quaresma,
o Aleluia substituísse o antigo “Tracto” (que era um responsório cantado após o Salmo e antes do
Evangelho). O grande papa Gregório “não previu todas as consequencias desta medida”, escreve o
Cardeal Schuster. Ele quiser recordar perpetuamente que o domingo é a comemoração semanla da
Ressurreição do Salvador; mas dentro em breve, as festas dos mártires, dos confessores, das
virgens, forma equiparadas à celebração do domingo e também receberam o privilégio do Aleluia.
“O que nas origens fora o cântico pascal por excelência, torna-se o cântico quotidiano do
coro. O Aleluia perde assim toda a esplendorosa beleza que tivera para os antigos, que o entoavam
na aurora da noite pascal, quando, com Cristo triunfador da morte, o exército branco dos novos
batizados saía processionalmente do batistério para se aproximar pela primeira vez do Altar
eucarístico do Senhor”, continua o Cardeal Schuster.
A partir da Idade Média, o Aelluia desaparece do domingo anterior à quaresma para só
aparecer na Vigília Pascal, sendo cantado três vezes pelo celebrante que eleva progressivamente a
voz, subindo meio tom de cada vez, enquanto os fiéis o repetem imediatamente com entusiasmo.
Além disso, durante o tempo pascal, o Salmo é substituído por um responsório “aleluiático”, ou
seja, com a resposta sempre Aleluia.
Em princípio, o Aleluia está ligado a um versículo de um salmo. No entanto, nem sempre o
versículo do Aleluia é tirado dos salmos, mas de qualquer outro livro da Escritura ou da Tradição.
Hoje, a Instrução Geral do Missal Romano assim dispõe:
Depois da leitura, que precede imediatamente o Evangelho, canta-se o Aleluia ou outro cântico,
indicado pelas rubricas, conforme o tempo litúrgico. Deste modo a aclamação constitui um rito ou
um acto com valor por si próprio, pelo qual a assembleia dos fiéis acolhe e saúda o Senhor, que lhe
vai falar no Evangelho, e professa a sua fé por meio do canto. É cantada por todos de pé, iniciada
pela schola ou por um cantor, e pode-se repetir, se for conveniente; mas o versículo é cantado pela
schola ou pelo cantor.
a) O Aleluia canta-se em todos os tempos fora da Quaresma. Os versículos tomam-se do
Leccionário ou do Gradual;
b) Na Quaresma, em vez do Aleluia canta-se o versículo antes do Evangelho que vem no
Leccionário. Também se pode cantar outro salmo ou tracto, como se indica no Gradual.
No caso de haver uma só leitura antes do Evangelho:
a) nos tempos em que se diz Aleluia, pode escolher-se ou o salmo aleluiático, ou o salmo e o Aleluia
com o seu versículo;
b) no tempo em que não se diz Aleluia, pode escolher-se ou o salmo e o versículo antes do
Evangelho ou apenas o salmo.
c) O Aleluia ou o versículo antes do Evangelho, se não são cantados, podem omitir-se.
A sequência, que excepto nos dias da Páscoa e do Pentecostes é facultativa, canta-se depois do
Aleluia.
40

28. PROCLAMAÇÃO DO EVANGELHO


A missa solene conservou os principais traços do cerimonial imponente que marcava a
proclamação do Evangelho nos primeiros séculos. Logo que o subdiácono acabava de ler a
Epístola no púlpito ou ambão, o diácono, a quem competia a recitação cantada do Evangelho,
pedia a bênção do pontífice, depois de lhe ter beijado os pés. Depois, o diácono dirigia-se ao Altar
sobre o qual tinha sido colocado o livro dos Evangelhos desde o começo da Missa. Beijava o
evangeliário e pegava-o.
Ainda quando não existia imprensa, as igrejas escreviam os evangeliários, ornando-os com
iluminuras maravilhosas e as encadernações eram ornamentadas de ouro, marfim e pedras preciosas.
Isso demonstra a veneração que, desde sempre, a Igreja teve pelo livro dos Evangelhos. Ao contrário
de qualquer outro livro litúrgico, o Evangeliário, na Missa, representa o próprio Cristo.
A leitura pública do Evangelho, desde a antiguidade, era acompanhada pelas maiores
honras, especialmente no Oriente. O cheiro do incenso enchia toda a Igreja, acendiam-se velas,
“mesmo quando o sol brilhava em todo o seu esplendor”, escrevia São Jerônimo, “porque a chama
das velas não se destina a dissipar as trevas, mas é um sinal de alegria”16. Foi São Jerônimo, sem
dúvida, quem fez introduzir na Missa romana estes costumes orientais.
Uma procissão triunfal, levando o Evangelho, conduzia o diácono ao púlpito. Faziam
escolta três subdiáconos: o primeiro, à frente, com o turíbulo aceso. Dois acólitos levavam círios
acesos à maneira do que então se fazia em Roma diante do imperador.
Desde que o Evangelho é lido nas igrejas cristãs, sempre os fiéis o escutaram de pé. No
tempo em que não se usavam bancos nas igrejas, os fiéis que se apoiavam num cajado para
descansarem um pouco, deixavam-no no chão durante a leitura do Evangelho; só o bispo
conservava o seu báculo na mão (como ainda faz hoje). Na Idade Média, os militares tiram a
espada da bainha. Em todos os tempos os fiéis fizeram neste momento o sinal da cruz.
Aliás, este gesto do sinal da cruz, tão antigo, não é feito da maneira habitual – que surgiu
pelo século XI –, mas à maneira dos primeiros cristãos: com um só dedo, na testa. Isso se sabe
através das Actas dos Mártires, segundo as quais, pelo depoimento de um pagão que denunciou
São Narciso e o seu diácono, relata: “Sei que eles eram cristãos, porque a cada instante faziam o
sinal da cruz na testa”.
Com o tempo, foi-se acrescentando a cruz sobre os lábios e sobre o coração. O seu
simbolismo é claro: os ensinamentos de Jesus devem iluminar as nossas inteligências, inspirar as
nossas palavras e sobretudo penetrar e transformar os nossos corações. Ele é feito enquanto se diz
o Nome de Jesus, isto é: Proclamação do Evangelho de JESUS + CRISTO, segundo...
Quando a leitura terminava, o pontífice agradecia ao diácono com estas palavras: Pax tibi.
Após isso, um subdiácono pegava no evangeliário e dava-o a beijar ao oficiante, aos seus
ministros, ao clero e finalmente ao povo. Este costume desapareceu no século XIII. Desde então,
só o celebrante é quem beija o Evangeliário.
Foi a influência do rito galicano que acrescentou as aclamações: Glória a vós, Senhor, no
início e Louvor a vós, ó Cristo, ao final.
Adaptemos à nossa época o culto respeitoso dos nossos antepassados pelos evangeliários.
Todas as casas católicas deveriam ter em lugar de destaque, o Livro dos Evangelhos. E na
celebração da Missa, deve ser claramente o momomento culminante da Liturgia da Palavra, como
o é a consagração na Liturgia Eucarística.
16
Contra Vigilantium, c. 8
41
“Não percamos uma só palavra do santo Evangelho”, dizia Orígenes. “Com efeito, se ao
comungardes tendes tanto cuidado em que não caia ao chão o mais pequeno fragmento, deveis
considerar também um mal desprezar uma só palavra de Jesus Cristo”.
O Evangelho deve ser lido lentamente pelo sacerdote celebrante, um concelebrante ou por
um diácono. É alimento forte demais para se tomar depressa; só pode aproveitar-se se for
assimilado, e para ser assimilado precisa ser saboreado. Por isso devemos dar a cada frase tempo
de penetrar na nossa alma, meditar docemente a passagem estudada, fazer reviver em nosso
espírito a cena que o autor sagrado nos apresenta.
Mas não se trata somente de satisfazer uma curiosidade intelectual. A leitura do Evangelho
– mesmo quotidiana – preder-nos-á cada vez mais à pessoa de Jesus, de tal modo que os seus
pensamentos e sentimentos se tornarão os nossos também. Espontaneamente vamos modelando a
nossa alma pela alma daquele que ternamente amamos. O fato de termos reconstituído uma página
do Evangelho, situando-a no quadro que lhe é próprio, faz-nos reviver o tempo de Jesus; mas é
preciso mais: devemos fazer reviver Jesus no nosso tempo, e, primeiramente, fazê-lo reviver na
nossa vida. Assim, o Evangelho nos fará verdadeiros cristãos. Ele será, em toda a força da
palavra, um livro de vida, o livro da verdadeira Vida.

29. EVANGELIÁRIO
O Evangelho no quadro da Revelação
Por toda a história da salvação, Deus se manifestou e fez-se presente por palavras e gestos.
Deste modo, Ele entrou na história humana e se tornou “conhecível”.
A salvação, de forma mais suprema e anunciada por Deus através dos profetas, se revela e
se cumpre definitivamente em Cristo, já que, vendo Jesus, se vê o Pai (cf. Jo 14,9).
Para que fosse preservado integralmente esta “boa Nova” (isto é, o Evangelho) através dos
tempos e todos os homens pudessem conhecê-lo e, através disso, alcançar a salvação, foi confiado
pelo próprio Senhor à pregação apostólica e à transmissão por escrito pelos evangelistas.
No centro das Escrituras está o Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus. O Evangelho –
testemunho da revelação de Deus em Jesus Cristo – goza de uma particular preeminência não só
dentro das Escrituras, mas do próprio Novo Testamento.

O Evangelho na Liturgia da Igreja


Único é o mistério da salvação, aquele de Cristo, como única é a sua atualização na
celebração litúrgica, não só mediante a celebração dos sacramentos, mas na própria proclamação
das Escrituras, especialmente do Evangelho.
Portanto, a celebração litúrgica se baseia na Escritura e dela toma sua força. É o Espírito
Santo que torna eficaz a proclamação litúrgica e transforma o coração dos fiéis.
Desde sua origem, a Igreja sempre venerou a Escritura – em particular o Evangelho – da
mesma forma que venera o próprio Corpo de Cristo.
“À palavra de Deus e ao mistério eucarístico, a Igreja sempre tributou e, sobretudo,
quis estabelecer que se tributasse a mesma veneração, ainda que não no mesmo culto;
animada pelo exemplo do seu fundador, a Igreja jamais cessou de celebrar o mistério
pascal, reunindo-se para ler “em todas as Escrituras aquilo que a Ele se referia” (Lc
24,27) e atualizar, com o memorial do Senhor e os Sacramentos, a obra da salvação”.17

17
ORDEM DAS LEITURAS DA MISSA, n. 21
42
A exemplo de Cristo, que no próprio dia da sua ressurreição confortou os discípulos de
Emaús ao longo do caminho, a Igreja nunca deixou de reunir-se para fazer memória dos mistérios
da salvação, especialmente aos domingos, não só através da “fração do pão”, mas também com a
proclamação da Palavra de Deus, particularmente naqueles textos da Escritura que, segundo o
testemunho do evangelista Lucas (Cf. Lc 24,27.44-47), o próprio Cristo ressuscitado deveria
explicar aos discípulos:
“Segundo a tradição apostólica, que tem origem no mesmo dia da ressurreição de Cristo, a
Igreja celebra o mistério pascal no oitavo dia, naquele que se chama justamente dia do
Senhor ou domingo. Neste dia, assim, os fiéis devem reunir-se em assembléia para escutar a
Palavra de Deus e participar da Eucaristia e, dessa forma, fazer memória da paixão, da
ressurreição e da glória do Senhor Jesus, e render graças a Deus que os regenerou na
esperança viva por meio da ressurreição de Jesus Cristo dos mortos (I Pd 1,13)”18

O Evangeliário
A centralidade de Cristo na economia da salvação baseia e determina a preeminência que a
Igreja reserva ao Evangelho, colocando-o ao centro da Liturgia da Palavra, assim como funda
todos os gestos de respeito e de veneração a ele tributados, como o beijo e a incensação, a
elevação ou a procissão acompanhada das velas e do incenso.
À leitura do Evangelho se deve o máximo respeito; assim ensina a própria Liturgia porque a
distingue das outras leituras com particulares honras; seja por parte do ministro encarregado
de proclamá-la, que se prepara com a bênção ou com a oração; seja por parte dos fiéis, os
quais, com a aclamação reconhecem e professam que Cristo está presente e lhes fala, e
escutam a leitura permanecendo em pé; seja por meio dos sinais de veneração que se rende
ao livro dos Evangelhos”19

Da mesma maneira, por motivo do primado que goza o Evangelho e


“porque o anúncio do Evangelho constitui sempre o ápice da liturgia da Palavra, a tradição litúrgica, seja
oriental ou ocidental, sempre fez uma certa distinção entre os livros das leituras. O livro do Evangelho era, de
fato, preparado e ornado com o máximo cuidado e era objeto de veneração mais do que outro livro destinado às
leituras.20

O Evangeliário contém, portanto, o texto dos quatro evangelhos. Por isso, é símbolo
peculiar de Cristo (IGMR, n. 349), e, consequentemente, superior a todos os outros livros
litúrgicos (assim compreendidos aqueles que recolhem as outras leituras da Sagrada Escritura).
Dele não só são proclamadas as passagens do curso das celebrações, mas está ao centro de uma
vasta série de gestos rituais, que lhe consagram a importância e o alto valor simbólico.
Nem sempre o Evangeliário esteve presente nas ações litúrgicas e apenas recente e
acanhadamente vem sendo usado, sobretudo após o Concílio Ecumênico Vaticano II.
Por ser uma peça do Culto Divino, como o Cálice e a Patena, sempre teve uma capa
artisticamente trabalhada. Às vezes, com incisões em ouro e prata e pedras preciosas; outras
vezes, uma capa com bordado ou pintura ou esmalte ou, ainda, outro trabalho em couro; porém
sempre com a face do Cristo, ou o Pantocrátor ou outra ora representando o Mistério Pascal.

18
SACROSSANTUM CONCILIUM, n. 106
19
PRINCÍPIOS E NORMAS GERAIS DO MISSAL ROMANO, ed. 1983, n. 35
20
ORDEM DAS LEITURAS DA MISSA, n 36
43
30. A HOMILIA, A PROFISSÃO DE FÉ, A ORAÇÃO UNIVERSAL
A homilia
A homilia é parte da liturgia e muito recomendada. É um elemento necessário para
alimentar a vida cristã. Deve ser a explanação de algum aspecto das leituras da Sagrada Escritura
ou de algum texto do Ordinário (Ato Penitencial, Glória, Creio, Sanctus, Cordeiro de Deus) ou do
Próprio da Missa do dia (Orações, canto..) , tendo sempre em conta o mistério que se celebra, bem
como as características de quem está ouvindo.
Habitualmente a homilia deve ser feita pelo sacerdote celebrante ou por um sacerdote
concelebrante, por ele encarregado, ou algumas vezes, se for oportuno, também por um diácono,
mas nunca por um leigo. Em casos especiais e por justa causa, a homilia também pode ser feita,
por um Bispo ou presbítero que se encontra na celebração mas que não está concelebrando.
Nos domingos e festas de preceito, deve haver homilia em todas as Missas celebradas com
participação do povo, e não pode omitir-se senão por causa grave. Além disso, é recomendada,
particularmente nos dias feriais do Advento, Quaresma e Tempo Pascal, e também noutras festas e
ocasiões em que é maior a afluência do povo à Igreja. Depois da homilia, observe-se
oportunamente um breve espaço de silêncio.

Profissão de fé
O símbolo, ou profissão de fé, tem como finalidade permitir que todo o povo reunido,
responda à palavra de Deus anunciada nas leituras da sagrada Escritura e exposta na homilia.
Proclamando a regra da fé, o fiel recorda e professa os grandes mistérios da fé, antes de
começarem a ser celebrados estes mistérios na Eucaristia. Somente podem ser proferidas as
fórmulas aprovadas liturgicamente que é o Símbolo dos Apóstolos e o Símbolo Niceno-
Constantinopolitano.
O símbolo deve ser cantado ou recitado pelo sacerdote juntamente com o povo, nos
domingos e nas solenidades. Pode também dizer-se em celebrações especiais mais solenes.
Às palavras: foi concebido pelo poder do Espírito Santo, nasceu da Virgem Maria ou e se
encarnou por obra do Espírito Santo no seio da Virgem Maria e se fez homem, todos devem fazer
uma inclinação profunda. Dois dias no ano, a profissão de fé neste grande mistério da encarnação
é ornada com uma solenidade especial: 25 de dezembro e 25 de março. Nestes dias, ao invés de
inclinar-se, todos devem ajoelhar-se enquanto estas palavras são proclamadas.

Oração universal
Na oração universal ou oração dos fiéis, o povo responde, de algum modo à palavra de
Deus recebida na fé. Além disso, exerce o seu sacerdócio batismal apresentando preces a Deus
pela salvação de todos. Convém que em todas as Missas com participação do povo se faça esta
oração, na qual se pede pela santa Igreja, pelos governantes, pelos que se encontram em
necessidade, por todos os homens em geral e pela salvação do mundo inteiro.
Normalmente a ordem das intenções é a seguinte:
a) pelas necessidades da Igreja;
b) pelas autoridades civis e pela salvação do mundo;
c) por aqueles que sofrem dificuldades;
d) pela comunidade local.
Em celebrações especiais – por exemplo, Confirmação, Matrimónio, Exéquias – a ordem
das intenções pode acomodar-se às circunstâncias.
44
O importante é que as preces sejam sóbrias, simples, objetivas, curtas e compreensíveis
aos fiéis. Afinal, é uma oração do próprio povo.
Compete ao sacerdote celebrante dirigir da cadeira esta prece. Ele próprio a introduz com
uma breve admonição, na qual convida os fiéis a orar, e a conclui com uma oração. As intenções
que se propõem, formuladas de forma sóbria, com sábia liberdade e em poucas palavras, devem
exprimir a súplica de toda a comunidade. Pode-se usar a fórmula de composição das Orações da
Coleta: (1) invocação (2) motivo (3) pedido (4) conclusão.
Ex:
Jesus, Bom Pastor (invocação), que nos destes o sacramento da Vossa Igreja (motivo),
protegei o Papa, os Bispos e todo o clero (pedido). Nós Vos pedimos. (conclusão)
Habitualmente são enunciadas do ambão ou de outro lugar conveniente, por um diácono,
por um cantor, por um leitor, ou por um fiel leigo.
O povo, de pé, faz suas estas súplicas, ou com uma resposta comum proferida depois de
cada intenção, ou orando em silêncio.
45

LITURGIA EUCARÍSTICA

31. PREPARAÇÃO DAS OFERENDAS – Visão histórica


No início do ofertório, o diácono estandia sobre o altar uma grande toalha, com a qual
cobria as oferendas. Aqui está a origem do corporal e da pala, que se coloca sobre o Altar e o
cálice.
Eram os fiéis que vinham oferecer ao celebrante o pão e o vinho: este pão não era diferente
do que se comia na mesa de família. Na maioria das vezes, nestes pãezinhos redondos era
desenhada uma cruz. Era sempre um pão fermentado. O uso do pão ázimo aparece somente no
século IX. Este costume recordava aos cristãos o pão da páscoa judaica de que o Senhor se servira
na instituição da Eucaristia.
O vinho era apresentado pelos fiéis em pequenas garrafas, cujo conteúdo o diácono lançava
no cálice. Uma vez cheio o cálice, o resto do vinho era colocado numa grande ânfora confiada ao
cuidado de um aólito. O vinho que os fiéis traziam era o vinho comum servido na refeição de cada
dia.
Na antiguidade, nem os judeus nem os pagãos usavam vinho puro. Aquele de que Jesus se
serviu na Ceia era, com certeza, misturado com água. Na liturgia sempre se conservou este
costume de ao vinho ser misturada a água.
Quem oferecia água na missa papal? Este detalhe é muito interessante: era a Schola (o
Coral). Efetivamente, os cantores não participavam da procissão das oferendas porque estavam
ocupados com o canto do Salmo. Um subdiácono aproximava-se deles, e um dignatário da Schola,
o “arquiparafonista”, oferecia-lhe uma galheta de água que, ao ser colocada no cálice tinha direito
a uma bênção especial. O sinal-da-cruz, antigo sinal da estima do papa para com os seus cantores,
tornou-se um rito normal. Hoje, a gota de água derramada no vinho é sinal da nossa participação
(do povo) no sacrifício de Cristo.
Concluído o ofertório do clero e do povo, o pontífice apresentava a sua oblação pessoal,
isto é, levava as suas oferendas. Depois, lavava as mãos. Sobre o altar, colocava-se um grande
cálice guarnecido de duas asas; só era consagrado o vinho que ele continha; no momento da
comunhão, o diácono misturava-o ao vinho das outras ânforas, em quantidade julgada necessária
para o número dos comungantes; do mesmo modo, o celebrante consagrava a porção de pão
exigida para a comunhão do povo.
Geralmente as quantidades oferecidas eram superiores às necessidades do serviço
eucarístico; o excesso tornava-se a parte dos pobres e do clero.
Os fiéis depressa criaram o hábito de apresentar ao ofertório além do pão e do vinho, outros
dons destinados à alimentação dos pobres, à sustentação do culto e dos seus ministros. Não tardou
uma confusão terrível.
Por isso, os Concílios do IV século tiveram de ordenar que o povo apresentasse ao
celebrante apenas o pão e o vinho; as outras oferendas seriam colocadas num lugar próximo do
altar, para receber uma bênção especial durante a missa.
46
Com tudo isso, o rito tão expressivo do ofertório estava condenado a desaparecer,
especialmente, também, pelo emprego exclusivo de pão ázimo no santo sacrifício, o que já não
permitia aos fiéis trazer ao altar o pão comum de suas casas.
No início do século XI, o papa S. Gregório VII obriga todo o cristão a esforçar-se por
oferecer alguma coisa sempre que participe da Missa. Este qualquer coisa era dinheiro. A
oferenda de dons naturais foi substituída por um valor oferecido ao celebrante. A oferta que
damos na Missa, não é, portanto, uma esmola qualquer, não é um “pedido de patrocínio que se faz
em favor de uma obra”, mas conserva na sua origem um caráter religioso: está relacionada com o
santo sacrifício. Hoje, como ontem, os fiéis privam-se de alguma coisa a fim de cooperar
visivelmente no grande ato que se realiza no Altar.

32. OS DONS ESCOLHIDOS PELO SENHOR E O SIGNIFICADO DA NOSSA


OFERTA
Se o Senhor escolheu o pão e o vinho para serem o sinal, o sacramento que nos une à sua
unidade, esta escolha merece a nossa reflexão.
No banquete ritual dos judeus que precedeu a ceia eucarística, Jesus poderia ter escolhido
outras iguarias colocadas sobre a sua mesa para transformar em sua carne.
O cordeiro pascal, o cordeiro sem mancha, não era porventura uma figura eloquente do seu
próprio sacrifício? As ervas amargas não teriam recordado melhor a aspereza das suas dores
durante a Paixão? Se Ele quis unir-se a nós por meio do pão e do vinho, não foi porque via já
nestes alimentos universais e elementares uma primeira cooperação do homem com Deus, o
trabalho do homem sobre os dons naturais de Deus: o trigo e a vinha?
O pão comido com o suor do rosto não é uma metáfora: não há pedaço de pão que não
lembre os duros trabalhaso do preparo das terras e das sementeiras, a testa suada do ceifeiro, a
fadiga dos braços que malharam o trigo e o amassaram antes de entrar no forno ardente.
Lê-se na vida do papa São Gregório Magno, que num domingo uma senhora da aristocracia
romana, no momento de comungar das mãos do papa, não pode reprimir um sorriso. Vendo isto, o
austero pontífice recusou-lhe a comunhão e, no fim da Missa, chamou a senhora à sacristia para
lhe pedir contas de sua irreverência. Cheia de confusão, a matrona respondeu que tinha
reconhecido nas santas espécies o próprio pão que ela fabricara com as suas mãos e apresentara no
momento do ofertório. E não queria acreditar que o que as suas mãos haviam preparado lhe fosse
restituído agora como o Corpo do Senhor.
Certamente o episódio teria sido muito mais edificante se a boa senhora tivesse respondido
que não podia reprimir a sua alegria porque encontrava nesta coincidência uma atenção do Senhor
que, deste modo, pagava a oferenda que ela havia feito. Pelo menos é esta a lição que nós
podemos tirar do ofertório: o que entregamos, o Senhor nos devolve transformados em Seu Corpo
e Sangue Santíssimos.
Há uma verdadeira troca entre os nossos dons e o dom que Jesus nos faz de seu Corpo. O
corpo e o sangue de Cristo, alimento da nossa alma, tomam o pão e o vinho, frutos do nosso
trabalho de cada dia, para chegar até nós. Podemos ver neste ato que o Senhor quis ligar a
Eucaristia às nossas atividades comuns e humildes do dia-a-dia.
A pequena moeda que dais no momento do ofertório é fruto do vosso trabalho, ou uma
pequena parcela de vossas economias. Graças ao vosso bem, a Igreja construirá templos e altares,
formará e sustentará padres e missionários, e tudo para perpetuar sobre a terra o sacrifício de Jesus
Cristo. Em troca, Jesus vai santificar a nossa vida, pois é a nossa vida quotidiana, a nossa vida
47
carregada de ocupações que o seu sacrifício quer transformar para fazer dela uma hóstia de
louvor.
Além disso, tendo em vista que uma parte dos nossos dons deve caber aos pobres, não
haverá melhor preparação da vossa comunhão eucarística do que esta distribuição dos bens
naturais por aqueles que são menos favorecidos do que nós.
A nossa modesta contribuição material não é portanto, inútil, segundo o testemunho da
Oração Sobre as Oferendas da terça-feira de Pentecostes: “Que a oferenda destes dons, Senhor,
nos purifique e nos tone dignos de participar no sacrifício!”
Mas, acima de tudo, precisamos compreender que a força purificadora deste pequenino
dom provém do fato de ele ser sinal da nossa oferta interior.

33. LITURGIA EUCARÍSTICA - Ordem da celebração


Terminada a oração universal, todos se sentam, e começa o cântico do ofertório, se há
procissão dos dons.
O acólito ou outro ministro leigo coloca sobre o altar o corporal, o sanguinho, o cálice, a pala e o
missal.
Convém que a participação dos fiéis se manifeste pela oferta quer do pão e do vinho
destinados à celebração da Eucaristia, quer de outros dons destinados às necessidades da Igreja e
dos pobres.
As ofertas dos fiéis são recebidas pelo sacerdote com a ajuda do acólito ou de outro ministro. O
pão e o vinho destinados à Eucaristia são levados ao celebrante, que os depõe sobre o altar; os
outros dons são colocados noutro lugar conveniente.
O sacerdote, junto do altar, recebe a patena com o pão; e, sustentando-a, com ambas as
mãos, um pouco elevada sobre o altar, diz em silêncio (secreto):
Bendito sejais, Senhor, Deus do universo, pelo pão que recebemos de vossa bondade, fruto
da terra e do trabalho humano, que agora vos apresentamos, e para nós se vai tornar pão da vida.
Em seguida, depõe a patena com o pão sobre o corporal.
O sacerdote vai depois ao lado do altar, onde o ministro lhe apresenta as galhetas, e deita
no cálice o vinho e um pouco de água, dizendo em silêncio:
Pelo mistério desta água e deste vinho possamos participar da divindade do vosso Filho,
que se dignou assumir a nossa humanidade.

Volta ao meio do altar, toma o cálice com ambas as mãos e, sustentando-o um pouco
elevado sobre o altar, diz em voz baixa:
Bendito sejais, Senhor, Deus do universo, pelo vinho que recebemos de vossa bondade,
fruto da videira e do trabalho humano, que agora vos apresentamos e para nós se vai tornar vinho
da salvação.
Depõe, em seguida, o cálice sobre o corporal e, se parecer oportuno, cobre-o com a pala.
Se não há cântico do ofertório ou não se toca o órgão, o sacerdote pode, na apresentação do
pão e do vinho, dizer em voz alta as fórmulas de bênção, às quais o povo aclama: Bendito seja
Deus para sempre.
Colocado o cálice no altar, o sacerdote inclina-se profundamente e diz em silêncio:
De coração contrito e humilde, sejamos, Senhor, acolhidos por vós; e seja o nosso
sacrifício de tal modo oferecido que vos agrade, Senhor, nosso Deus.
48
A seguir, se é usado o incenso, o sacerdote impõe-o no turíbulo e incensa as oferendas, a
cruz e o altar. Um ministro, de pé ao lado do altar, incensa o sacerdote, e depois o povo.
Depois da oração: De coração contrito e humilde ou depois da incensação, o sacerdote vai
ao lado do altar e lava as mãos, dizendo em silêncio, enquanto o ministro lhe serve a água:
Lavai-me, Senhor, de minhas faltas e purificai-me de meus pecados.

O sacerdote vem ao meio do altar e, voltado para o povo, abrindo e juntando as mãos,
convida-o à oração, dizendo: Orai, irmãos, etc... (Em Portugal pode o sacerdote dizer apenas
Oremos, sem resposta do povo). O povo levanta-se e responde: Receba o Senhor. Depois o
sacerdote, recita, de braços abertos, a oração sobre as oblatas. No fim o povo aclama: Amém.
Recentemente, o Santo Padre Bento XVI, na Exortação Apostólica pós-sinodal
Sacramentum Caritatis, assim se manifestou quanto à apresentação das oferendas:
“Os padres sinodais chamaram a atenção também para a apresentação das oferendas.
Não se trata simplesmente duma espécie de «intervalo» entre a liturgia da palavra e a
liturgia eucarística, o que faria, sem dúvida, atenuar o sentido de um único rito
composto de duas partes interligadas; realmente, neste gesto humilde e simples,
encerra-se um significado muito grande: no pão e no vinho que levamos ao altar, toda a
criação é assumida por Cristo Redentor para ser transformada e apresentada ao Pai.
Nesta perspectiva, levamos ao altar também todo o sofrimento e tribulação do mundo,
na certeza de que tudo é precioso aos olhos de Deus. Este gesto não necessita de ser
enfatizado com descabidas complicações para ser vivido no seu significado autêntico: o
mesmo permite valorizar a participação primeira que Deus pede ao homem, ou seja,
levar em si mesmo a obra divina à perfeição, e dar assim pleno sentido ao trabalho
humano que, através da celebração eucarística, fica unido ao sacrifício redentor de
Cristo.” (SC 47)

34. APRESENTAÇÃO DAS OFERENDAS (Segundo o Missal Romano)

Na última Ceia, Cristo instituiu o sacrifício e banquete pascal. Todas as vezes que o
sacerdote – representando Jesus – faz o mesmo que o Senhor fez e mandou aos discípulos que
fizessem em sua memória, se torna continuamente presente o sacrifício da cruz. Ou seja, a Missa
atualiza e faz se tornar presente o sacrifício de Jesus na Cruz.
Cristo tomou o pão e o cálice, pronunciou a ação de graças, partiu o pão e deu-o aos seus
discípulos, dizendo: «Tomai, comei, bebei: isto é o meu Corpo; este é o cálice do meu Sangue.
Fazei isto em memória de Mim». Foi a partir destas palavras e gestos de Cristo que a Igreja
organizou toda a celebração da liturgia eucarística. Efetivamente:
1) Na preparação dos dons, levam-se ao altar o pão e o vinho com água, isto é, os mesmos
elementos que Cristo tomou em suas mãos.
2) Na Oração eucarística, dão-se graças a Deus por toda a obra da salvação, e as oferendas
convertem-se no Corpo e Sangue de Cristo.
3) Pela fração do pão e pela Comunhão, os fiéis, embora muitos, recebem, de um só pão, o
Corpo e Sangue do Senhor, do mesmo modo que os Apóstolos o receberam das mãos do próprio
Cristo.
49
Preparação dos dons
A iniciar a liturgia eucarística, levam-se para o altar os dons, que vão se transformar no
Corpo e Sangue de Cristo.
Em primeiro lugar, prepara-se o altar ou mesa do Senhor, que é o centro de toda a liturgia
eucarística; nele se coloca o corporal, o purificador (ou sanguíneo), o Missal e o cálice.
Em seguida são trazidas as oferendas. É de louvar que o pão e o vinho sejam apresentados
pelos fiéis. Recebidos pelo sacerdote ou pelo diácono em lugar conveniente, são depois levados
para o altar. Embora, hoje em dia, os fiéis já não tragam do seu próprio pão e vinho, como se fazia
noutros tempos, no entanto o rito desta apresentação conserva ainda valor e significado espiritual.
Portanto, as oferendas trazidas são aquelas que serão usadas no Sacrifício Eucarístico, isto
é, o pão (hóstias) e o vinho que serão consagrados, não qualquer pão ou qualquer “jarra” de vinho.
Além do pão e do vinho, são permitidas ofertas em dinheiro e outros dons, destinados aos
pobres ou à Igreja, e tanto podem ser trazidos pelos fiéis como recolhidos dentro da Igreja. Estes
dons serão dispostos em lugar conveniente, fora da mesa eucarística.
A procissão em que se levam os dons é acompanhada do cântico do ofertório, que se prolonga
pelo menos até que os dons tenham sido depostos sobre o altar. O rito do ofertório pode ser
sempre acompanhado de canto.
O pão e o vinho são depostos sobre o altar pelo sacerdote, acompanhados das fórmulas
prescritas. O sacerdote pode incensar os dons colocados sobre o altar, depois a cruz e o próprio
altar. Deste modo se pretende significar que a oblação e oração da Igreja se elevam, como a
fumaça do incenso, à presença de Deus. Depois, por um diácono ou outro ministro, é incensado o
próprio sacerdote, por causa do sagrado ministério, e o povo, em razão da dignidade baptismal.
A seguir, o sacerdote lava as mãos, ao lado do altar: com este rito se exprime o desejo de
uma purificação interior.

Oração sobre as oferendas


Colocadas as oferendas sobre o altar e realizados os ritos próprios, o sacerdote convida os
fiéis a orar juntamente consigo e recita a oração sobre as oferendas. Assim termina a preparação
dos dons e tudo está preparado para a Oração eucarística.
A própria oração Eucarística, dentro do esquema das orações da Missa, encerra o rito da
preparação das oferendas, como antigamente encerrava a procissão das oferendas.

35. O PREFÁCIO E O SANCTUS-BENEDICTUS


Ao tomar o pão e o cálice, o Evangelho conta que Jesus deu graças. A Liturgia da nossa
Missa segue fielmente os gestos do Salvador. Durante o ofertório, o celebrante tomou o pão e o
vinho oferecidos pelos presentes e colocou-os no meio do Altar. Agora vai «dar graças». Com o
Prefácio inicia-se a Oração Eucarística. No decorrer desta “ação de graças” a Deus por nos ter
dado o Seu Filho, as próprias palavras de Jesus vão transformar de novo o nosso pão no seu Corpo
e o nosso vinho no seu Sangue.
A Oração Eucarística começa por um diálogo entre o sacerdote e a assembléia. Este
diálogo está presente na Liturgia desde o século III. O Prefácio não é apenas uma “introdução” à
Oração Eucarística, mas também faz parte dela.
O Prefácios variam de acordo com o Tempo Litúrgico ou a Festa que se celebra. Contudo,
a conclusão é idêntica em todos eles. Ele faz-nos sentir que somos incapazes de darmos a Deus o
justo louvor; levanta o nosso espírito para as alturas, até o mais alto dos céus, junto à oração e à
50
adoração dos Anjos e Arcanjos. Todos, ao mesmo tempo, céu e terra, numa voz unânime, o
sacerdote e a multidão, ao som do órgão e dos sinos (como se fazia antigamente), entoam o
Trisagion, ou seja, o louvor perene que os Anjos cantam na presença de Deus no Céu: Santo,
Santo, Santo, é o Senhor Deus do Universo. O Céu e a Terra proclamam a Vossa glória.
Este canto que, em princípio, foi muito breve, quebra a continuidade do prefácio para
permitir à assembléia a sua intervenção pessoal na grande ação de graças. O Sanctus dirige-se
primeiramente ao Deus três vezes santo, Senhor de toda a criação, para celebrar em seguida o
nosso mediador, Jesus Cristo.
As primeiras palavras do Sanctus são exatamente as que o profeta Isaías ouviu dos lábios
dos Serafins que cercavam o Senhor, quando este lhe confiou a sua missão: Santo, Santo, Santo é
o Senhor Deus dos Exércitos!21
A Liturgia acrescenta a este texto o grito com que o povo de Jerusalém saudou o Salvador à
sua entrada na cidade santa, no dia de Ramos: Hosana nas alturas! Hosana é uma palavra
hebraica que equivale à nossa exclamação: Viva!
No Benedictus, que vem a seguir (Bendito o que vem em nome do Senhor), é o próprio
Jesus Cristo que é aclamado. Essa frase apareceu na Liturgia no século IV, mas num outro lugar
da Missa: imediatamente antes da comunhão. É o versículo do Salmo 117,20 que ecoa também
pelas ruas de Jerusalém no momento da entrada triunfal de Jesus.
Após o Benedictus, o silêncio é profundo. Só a voz do sacerdote, em nome de todo o povo,
eleva a “ação de graças” ao Pai e repete as palavras e gestos de Jesus, consagrando o pão e o
vinho no seu Corpo e Sangue, pela força do Espírito Santo.

36. ORAÇÃO EUCARÍSTICA (Conforme Instrução Geral do Missal Romano)


A Oração Eucarística é o centro e o ápice de toda a celebração. É uma prece de ação de
graças e santificação. No início, o sacerdote convida o povo a “elevar os corações” ao Senhor e o
associa à prece que dirige a Deus Pai, por Cristo, no Espírito Santo, em nome de toda a
comunidade. Ou seja, neste momento fica muito claro a grandeza do ministério sacerdotal. Ele, e
só ele, representando todo o povo, se dirige a Deus. A oração Eucarística exige que todos a ouçam
respeitosamente e em silêncio.
Os elementos da Oração Eucarística são os seguintes:
a) Ação de graças: isso se vê principalmente no Prefácio, no qual o sacerdote, em nome de todo
o povo santo, glorifica a Deus Pai e lhe agradece por toda a obra da salvação ou por um dos
seus aspectos (motivos particulares), de acordo com o dia, a festa ou o tempo. É este o
momento de “louvar a Deus” por ex.: pelo casal, pelos jovens, etc. Mas sempre se usa uma das
formas de Prefácio previstas no Missal e aprovadas pela Igreja. Não são permitidas
“invenções” do sacerdote.
b) Aclamação: pela aclamação, toda a assembléia, unida aos Anjos e Santos, entoa o Sanctus.
Esta aclamação é uma parte própria da Oração Eucarística e é proferida por todo o povo com o
sacerdote.
c) Epiclese: neste ponto, a Igreja implora por meio de invocações especiais a força do Espírito
Santo (mandai Vosso Espírito Santo a fim de que nossas ofertas...) para que os dons oferecidos
pelo ser humano sejam consagrados, isto é, se tornem o Corpo e Sangue de Cristo, e que a
hóstia imaculada se torne a salvação daqueles que vão recebê-la em Comunhão.

21
Is, VI,3
51
d) Narrativa da instituição e a consagração: pelas palavras e ações de Cristo (Isto é o meu
Corpo – Isto é o meu sangue – tomar o pão nas mãos...), se realiza o sacrifício que ele institui
na Última Ceia, ao oferecer o seu Corpo e Sangue sob as espécies de pão e vinho. Entregou
estes dons santíssimos aos seus apóstolos como comida e bebida e deu-lhes a ordem de repetir
e perpetuar este mistério.
e) Anamnese: cumprindo a ordem recebida de Cristo através dos Apóstolos, a Igreja faz a
memória do próprio Cristo, relembrando principalmente a sua beata paixão, a gloriosa
ressurreição e a ascensão aos céus. (Anunciamos, Senhor, a Vossa morte e proclamamos a
Vossa ressurreição).
f) Oblação: a Igreja, em particular a assembléia reunida naquele momento realizando esta
memória, oferece ao Pai, no Espírito Santo, a hóstia imaculada; ela deseja, porém, que os fiéis
não apenas ofereçam a hóstia imaculada, mas aprendam a oferecer-se a si próprios, e se
aperfeiçoem cada vez mais, pela mediação do Cristo, na união com Deus e com o próximo,
para que finalmente Deus seja tudo em todos. Este é o momento do verdadeiro “ofertório”.
(Nós Vos oferecemos, ó Pai, o pão da vida e o cálice da salvação...)
g) Intercessões: por elas, se exprime que a Eucaristia não é uma oração particular, mas celebrada
em comunhão com toda a Igreja, tanto a do céu como a da terra. A oblação é feita por ela e por
todos os seus membros vivos e falecidos, que foram chamados a participar da redenção e da
salvação obtidas pelo Corpo e Sangue de Cristo. (Lembrai-vos, ó Pai da Vossa Igreja que se
faz presente – Lembrai-vos também dos nossos irmãos e irmãs que partiram desta vida...)
h) Doxologia final: exprime a glorificação de Deus. É rezada pelo sacerdote sozinho e
confirmada e concluída pela aclamação AMÉM do povo.

Recentemente, a Instrução Redemptionis Sacramentum (2004) veio aclarar algumas


questões e alertar para que não se cometessem certos abusos. Assim determinou:
Só se podem utilizar as Orações Eucarísticas que se encontram no Missal Romano ou
aquelas que têm sido legitimamente aprovadas pela Sé apostólica. «Não se pode tolerar que
alguns sacerdotes reivindiquem para si o direito de compor orações eucarísticas», nem modificar o
texto aprovado pela Igreja, nem utilizar outras composições feitas por pessoas privadas.
A proclamação da Oração Eucarística, que por sua natureza, é o cume de toda a celebração,
é própria e exclusiva do sacerdote, em virtude de sua ordenação. Portanto, é um abuso fazer que
algumas partes da Oração Eucarística sejam pronunciadas pelo diácono, por um ministro leigo, ou
ainda por um só ou por todos os fiéis juntos. A Oração Eucarística, portanto, deve ser pronunciada
em sua totalidade, tão somente pelo Sacerdote.
Enquanto o Sacerdote celebrante pronuncia a Oração Eucarística, «não se realizarão outras
orações ou cantos e estarão em silêncio o órgão e os outros instrumentos musicais», salvo as
aclamações do povo.
Sem dúvida, o povo participa sempre ativamente e nunca de forma puramente passiva: «se
associa ao sacerdote na fé e com o silêncio, também com as intervenções indicadas no curso da
Oração Eucarística, que são: as respostas no diálogo do Prefácio, o Santo, a aclamação depois da
consagração e a aclamação «Amém», depois da doxologia final, assim como outras aclamações
aprovadas pela Conferência de Bispos e confirmadas pela santa Sé».
Em alguns lugares se tem difundido o abuso de que o sacerdote parte a hóstia no momento
da consagração, durante a celebração da santa Missa. Este abuso se realiza contra a tradição da
Igreja. Seja reprovado e corrigido com urgência.
Na Oração Eucarística não se omita a menção do Sumo Pontífice e do Bispo diocesano,
conservando assim uma antiqüíssima tradição e manifestando a Comunhão eclesial. Com efeito,
52
«a reunião eclesial da assembléia eucarística é a Comunhão com o próprio Bispo e com o
Romano Pontífice».

37. RITO DA COMUNHÃO


Terminada a Oração Eucarística, inicia-se o Rito da Comunhão. A celebração eucarística é
a ceia pascal e, por isso, convém que, segundo o que Jesus mandou, o Seu Corpo e Sangue sejam
recebidos como alimento espiritual pelos fiéis devidamente preparados. Esta é a finalidade da
fração do pão e os outros ritos preparatórios, pelos quais os fiéis são imediatamente encaminhados
à comunhão. Não devem ser demasiadamente alongados, porque o mais importante da celebração
Eucarística já foi realizado.

A Oração do Senhor
No Pai Nosso pede-se o pão de cada dia que, para os cristãos é, antes de tudo, o pão
eucarístico. Não é, portanto, uma oração nesta ou naquela intenção, mas é para nos preparar para
receber o Corpo do Senhor. É o sacerdote quem faz o convite para que os fiéis orem com ele,
utilizando uma das fórmulas de convite previstas no Missal. A oração é rezada pelo sacerdote
juntamente com todo o povo.
Ao final não se diz Amém. Por quê? Porque a oração do Senhor na Liturgia, não termina
com o mas livrai-nos do mal. O sacerdote continua a oração sozinho no chamado embolismo, que
começa com as palavras: Livrai-nos de todos os males, ó Pai... É assim chamado porque
desenvolve o último pedido do Pai Nosso, isto é, suplica que toda a comunidade dos fiéis seja
libertada do poder do Maligno.
O povo encerra o embolismo com a aclamação: Vosso é o Reino, o poder e a glória para
sempre! Aqui, de fato, encerra-se a oração do Pai Nosso.

Rito da Paz
Segue-se o rito da paz, no qual a Igreja implora a paz e a unidade para si mesma e para toda
a família humana. O sacerdote, sozinho, em nome de todos, profere a oração: Senhor Jesus Cristo,
dissestes aos Vossos Apóstolos... e todos confirmam ao final com o Amém. Em seguida, o
sacerdote saúda os fiéis com as mesmas palavras do Cristo ressuscitado aos discípulos: A paz
esteja convosco... e os fiéis exprimem entre si a comunhão eclesial e mútua caridade antes de
comungar o sacramento, através do “abraço da paz”.
A Eucaristia é, por sua natureza, sacramento de paz. A saudação da paz exprime isso e é
um sinal de grande valor (Jo 14,27). Neste tempo cheio de conflitos, este gesto adquire um relevo
particular, pois a Igreja sente cada vez mais como sua missão própria a de implorar ao Senhor o
dom da paz e da unidade para si mesma e para a família humana inteira.
Os Bispos do mundo inteiro, reunidos com o Papa no Sínodo sobre a Eucaristia (2005)
insistiram para que se moderasse neste gesto. Isso porque ele pode assumir expressões excessivas,
causando um pouco de confusão na assembléia precisamente antes da comunhão. Porém, é bom
lembrar que nada tira ao alto valor do gesto a sobriedade no cumprimento para se manter um
clima apropriado à celebração, limitando, por exemplo, a saudação da paz a quem está mais
próximo.22
O costume de dar a paz um pouco antes de distribuir a sagrada Comunhão, no Rito
Romano, não tem um sentido de reconciliação, nem de perdão dos pecados, mas sim significa a

22
Sacramentum Caritatis, n. 49
53
paz, a Comunhão e a caridade, antes de receber a Santíssima Eucaristia. O sentido de conversão
ou de reconciliação entre os irmãos se manifesta claramente no ato penitencial que se realiza no
início da Missa.23
A CNBB, na XI Assembléia Geral de 1970 decidiu que o rito da paz seja realizado por
cumprimento entre as pessoas do modo com que as mesmas se cumprimente entre si em qualquer
lugar público.
Durante o abraço da paz, que deve ser sóbrio e rápido, não há previsão de cantos, porque o
canto importante neste momento é o que vem em seguida, na fração do pão.

Fração do Pão
O sacerdote parte, então, o pão eucarístico, imitando o gesto realizado por Cristo na última
Ceia. Este gesto da “fração do pão”, no tempo dos Apóstolos deu nome a toda a ação eucarística.
Significa que muitos fiéis formam um só Corpo pela Comunhão no único pão da vida, que é o
Cristo, morto e ressuscitado pela salvação do mundo.
A fração do pão inicia quando se acaba de dar o abraço da paz, e é realizada com a devida
reverência, mas de uma forma que não se prolongue desnecessariamente nem sejam considerada
de excessiva importância. Ester rito é reservado ao sacerdote e ao diácono.
O sacerdote faz a fração do pão e coloca uma parte da hóstia no cálice, para significar a
unidade do Corpo e do Sangue do Senhor na obra da salvação, ou seja, o Corpo vivo e glorioso de
Cristo Jesus. O grupo dos cantores ou o cantor canta ou, ao menos, diz em voz alta, a súplica:
Cordeiro de Deus, à qual o povo responde. A invocação acompanha a fração do pão; por isso,
pode-se repetir quantas vezes for necessário até o final do rito. A última vez conclui-se com as
palavras dai-nos a paz.

38. A DISTRIBUIÇÃO DA COMUNHÃO e os RITOS FINAIS


Terminada a fração do pão, o sacerdote se prepara por uma oração em silêncio para receber
frutuosamente o Corpo e Sangue de Cristo. Os fiéis fazem o mesmo, rezando em silêncio. A
seguir, o sacerdote mostra aos fiéis o pão eucarístico sobre a patena ou sobre o cálice e convida-os
ao banquete de Cristo: Felizes os convidados para a Ceia do Senhor, eis o Cordeiro de Deus...
Depois, unindo-se aos fiéis, o sacerdote faz um ato de humildade, usando as palavras prescritas do
Evangelho: Senhor, eu não sou digno...
É muito recomendável que os fiéis, como também o próprio sacerdote deve fazer, recebam
o Corpo do Senhor em hóstias consagradas na mesma Missa e participem do cálice (comunhão
sob as duas espécies) nos casos previstos para que, também através dos sinais, a Comunhão se
manifeste mais claramente como participação no sacrifício celebrado atualmente.
Enquanto o sacerdote comunga, entoa-se o canto da comunhão. Portanto, não há espaço
aqui para comentários ou sequer para silêncio. O povo, interiorizado, está se preparando para
receber o Senhor. Quanto ao lugar do silêncio é após a comunhão dos fiéis, como veremos.
Assim, terminada a oração Senhor eu não sou digno, o canto deve ser imediatamente entoado.
O Papa, em nome dos Sínodo dos Bispos sobre a Eucaristia (2005) pediu encarecidamente
que seja feito o possível para que o gesto da distribuição da Eucaristia, na sua simplicidade,
corresponda ao seu valor de encontro pessoal com o Senhor Jesus no sacramento. Ressaltou um
problema pastoral freqüente: em determinadas circunstâncias como nas Missas celebradas por
ocasião de matrimônios, funerais ou acontecimentos parecidos, encontram-se presentes na
23
Redemptionis Sacramentum, n. 71
54
celebração, além de fiéis praticantes, outros que talvez há anos não se aproximam do Altar, ou
estão impedidos, ou pertencem a outras confissões cristãs, ou mesmo, outras religiões. Há
necessidade de encontrar formas breves e incisivas para alertar a todos sobre o sentido da
comunhão sacramental e sobre as condições que se requerem para a sua recepção. Em situações
onde não se posa garantir a necessária clareza quanto ao significado da Eucaristia, deve-se
ponderar a oportunidade de substituir a celebração eucarística por uma celebração da palavra de
Deus.24
É de responsabilidade do sacerdote celebrante distribuir a Comunhão e, se for o caso, é
ajudado por outros sacerdotes e diáconos ou, em último caso, também pelos Ministros
Extraordinários da Comunhão. A Missa não deve prosseguir enquanto não tiver terminado a
Comunhão dos fiéis.
A forma da comunhão é de joelhos ou de pé. Não é permitido aos fiéis receber por si
mesmos o pão consagrado nem o cálice consagrado e muito menos passar de mão em mão entre
si. Se os fiéis comungarem de pé, recomenda-se que, antes de receberem o Sacramento, façam
devida reverência. Todo fiel tem sempre direito a escolher se deseja receber a sagrada Comunhão
na boca ou se, o que vai comungar quer receber na mão o Sacramento. A forma ordinário, porém,
é de joelhos e na boca. Se, porém, for permitida a comunhão de pé e na mão, deve-se ter o
máximo cuidado para que o comungante consuma imediatamente a hóstia, na frente do ministro e
ninguém se desloque (retorne) tendo na mão as espécies eucarísticas. Se existe perigo de
profanação, não se distribua aos fiéis a Comunhão na mão. A bandeja para a comunhão dos fiéis
deve ser mantida, para evitar o perigo de que caia a hóstia sagrada ou algum fragmento.
O fiel leigo que já recebeu a Santíssima Eucaristia no dia, pode receber outra vez no
mesmo dia, somente dentro da celebração eucarística na qual participe.

A Comunhão sob as duas espécies


Para administrar aos fiéis leigos a sagrada Comunhão sob as duas espécies, devem-se ter
em conta as orientações litúrgicas e também aquelas da Conferência Episcopal.
As normas do Missal admitem que, nos casos em que se administra a sagrada Comunhão
sob as duas espécies, o Sangue do Senhor pode ser bebido do cálice ou por “intinção”.
Não é permitido ao comungante molhar por si mesmo a hóstia no cálice, nem receber na
mão a hóstia molhada.
Em geral, a CNBB (33ª Assembléia Geral), com aprovação da Santa Sé, ampliou o uso da
Comunhão sob as duas espécies para diversas circunstâncias, como encontros, Missas jubilares
etc.
Terminada a distribuição da Comunhão, o sacerdote e os fiéis oram por algum tempo em
silêncio. Se desejar, toda a assembléia pode entoar ainda um salmo ou outro canto de louvor ou
hino.
A Igreja louva e recomenda imensamente estes instantes de silêncio sagrado.
Para completar a oração do povo de Deus e encerrar todo o rito da Comunhão, o sacerdote
profere a oração depois da Comunhão, na qual implora os frutos do mistério celebrado. Portanto, a
Oração encerra o Rio da Comunhão e não é “oração final” da Missa. Assim, qualquer mensagem,
aviso etc, deve ser feito após esta oração.

24
Sacramentum Caritatis, n. 50
55

RITOS FINAIS
Ritos Finais

Aos ritos de encerramento pertencem


• breves comunicações, se forem necessárias;
• saudação e bênção do sacerdote que, em certos dias e ocasiões, é enriquecida e expressa
pela oração sobre o povo ou por outra fórmula mais solene;
• despedida do povo pelo diácono ou pelo sacerdote (Ide em paz...), para que cada qual
retorne às suas boas obras, louvando e bendizendo a Deus;
• o beijo do altar pelo sacerdote e o diácono e, em seguida, a inclinação profunda ao altar
pelo sacerdote, diácono e outros ministros (ou genuflexão no caso de haver sacrário no
presbitério).
56

ANEXOS
COMO PREPARAR UMA CELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA
57

(Equipe de celebração Litúrgica passo a passo)

1º Passo: Leitura da Palavra


Ler o Evangelho e as Leituras do Dia da Missa, fazendo as seguintes reflexões:
a) Qual o tema geral da Missa e o Tempo Litúrgico que estamos celebrando?
b) Qual a frase fundamental que usaremos como “guia” para a Missa?
c) Como esta Palavra pode ser posta em prática na nossa comunidade?
d) Como ajudaremos o povo a melhor celebrar a Eucaristia à luz desta Palavra?

2º Passo: Espaço Litúrgico


Iluminados pela Palavra de Deus, sua mensagem para o dia e seu sentido, organizamos, em
primeiro lugar, o espaço litúrgico
a) Como estará organizado nosso presbitério? Haverá algum símbolo especial para colocar
em lugar de destaque? (ex. Cruz, Círio Pascal, imagem de Nossa Senhora...)
b) Qual a ornamentação do Altar? (flores não são colocadas no Tempo de Advento e
Quaresma)
c) Quais as cores litúrgicas deste dia?
d) Como se vestirão os que atuarão na Liturgia? (roupa comum, alvas, opas...)

3º Passo: Ministérios
Tendo organizado como será o espaço litúrgico, passa-se à distribuição das funções
ministeriais.
a) Quem será o comentarista da Missa? (colocar o nome e analisar a situação da Missa do
Dia: se será necessário fazer muitas ou poucas intervenções, responder no microfone as
orações etc...)
b) Quem proclamará a primeira Leitura? (colocar o nome da pessoa e já passar a Leitura
para haver uma verdadeira preparação a fim de que, na hora, a pessoa leia com clareza e
devoção, ciente de que está emprestando sua voz para Deus)
c) Quem recitará o salmo? (caso não seja cantado pelo Coro, é importante que uma pessoa
bem preparada recite o Salmo responsorial. Caso haja poucas pessoas para auxiliar na
execução da Liturgia, quem proclamou a 1ª Leitura poderá proclamar o Salmo).
d) Quem proclamará a 2ª Leitura? (mesma situação que o ponto “b” acima).
e) As preces serão feitas por quem? (como as preces são a “oração do povo”, seria
interessante que não fosse feita pelos leitores, mas por uma outra pessoa. Além disso, é
melhor que seja proclamada do lugar onde está o comentarista, e não do ambão).
f) Quem fará a acolhida na porta da Igreja? (Este é um ministério muito importante, porque
demonstra a acolhida que Cristo dá àqueles que vão celebrar. É interessante combinar
com os Movimentos e Pastorais para que façam essa parte com alegria, simpatia e
sinceridade. Ideal seria que nunca faltasse uma “pastoral da acolhida” nas nossas
celebrações, nem que fosse só para dar um “bom dia” e entregar o livro ou folheto de
cantos).
4º Passo: Procissões
58

PROCISSÃO DA ENTRADA
(a) A procissão da entrada será solene (da porta da Igreja) ou simples (da sacristia)?
(b) Dentro da ordem prevista para a procissão (tanto da sacristia como da porta da Igreja),
quem participará? (colocar o nome do responsável por cada coisa) A ordem da procissão
sempre é a seguinte:
1. Turíbulo e incenso (se houver) (2 pessoas)
2. Cruz e duas velas (3 pessoas)
3. Evangeliário (se houver) (1 pessoa)
4. Leitores (I Leitura, Salmo, II Leitura) (2 ou 3 pessoas)
5. Ministros da Eucaristia (1 ou 2 pessoas)
6. Padre celebrante.

PROCISSÃO DAS OFERENDAS


(a) Será feita procissão das oferendas?
(b) Dentre os previstos, quais os dons serão levados ao Altar? (hóstias, vinho, água)
(c) Quem levará as oferendas? (Definir quem participará. De preferência alguém que não
esteja já atuando na Liturgia do Dia. A família pode ser bem valorizada neste momento)
1. patena com hóstia (1 pessoa)
2. cibórios com hóstias (1 ou + pessoas dependendo do número)
3. galhetas de água e vinho (1 pessoa ou 2 pessoas)
(d) Como será feita a coleta: com procissão do povo até os cofres ou passando as “caixinhas”?
(e) Quem se responsabilizará pelas caixinhas? (obviamente não os leitores, muito menos os
Ministros da Eucaristia e o comentador)

5º Passo: Comentários
Uma vez definidas e distribuídas todas as funções da Liturgia, passa-se à última parte
que é a composição dos comentários a serem lidos pelo comentarista ou animador e as preces
dos fiéis. Estes comentários e preces podem ser elaborados por toda a equipe, pelo sacerdote ou
mesmo pelo próprio comentador. Os folhetos e sugestões podem ajudar, mas o ideal é utilizar a
criatividade à luz do Evangelho, e não de modelos desconexos com a realidade do local. O
importante é que sejam: curtos, objetivos e bem preparados, como pede o Concílio Vaticano II.
Quais comentários se deve fazer?

a) CONVITE PARA O INÍCIO DA MISSA


Pontualmente no horário marcado para o início da Missa, pode-se fazer um convite:
Ex.: Vamos nos colocar de pé para o início desta celebração, cantando...
(Embora seja uma prática já comum, não se deve dizer “bom dia, boa tarde, boa noite...”.
A acolhida pessoal será feita na porta da Igreja e a saudação de boas vindas deverá ser feita por
quem preside a celebração, que é o SACERDOTE!)
b) MOTIVAÇÃO INICIAL
59

Terminado o canto da entrada, o sacerdote faz o sinal da Cruz e profere a saudação


inicial: A graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, o amor do Pai... etc. Terminada esta saudação é que,
combinando com o sacerdote, o comentarista poderá fazer uma breve introdução sobre o
sentido da Missa do dia, se for oportuno.
Ex.: Hoje celebramos o Domingo, dia do Senhor (ou a Festa tal). Neste dia, a
Liturgia nos ensina que .... Como irmãos, celebremos a Eucaristia, mistério de
Cristo e da Igreja.

c) ATO PENITENCIAL e GLÓRIA


Nestes momentos não cabem comentários. Isso porque, no Ato Penitencial é o Sacerdote,
como presidente da celebração que deve convidar o povo a pedir perdão. O Glória, por sua vez,
é um hino de louvor e não um agradecimento por isso ou por aquilo. A função do comentarista,
neste momento, se resume a responder às invocações de perdão e a acompanhar a oração do
glória. Poderá, também, apenas anunciar o número do canto.

d) INTRODUÇÃO À LITURGIA DA PALAVRA


Antes de todas as Leituras (e não entre elas), pode-se fazer (se for oportuno), um breve
comentário sobre a Liturgia da Palavra do Dia. É importante que se tenha bem claro que a
homilia com a explicação das Leituras compete ao sacerdote.
Este comentário, portanto, não pode e não deve ser muito extenso e querer explicar tudo.
É apenas uma introdução para o povo entender o que será feito. Além disso, caso na Motivação
Inicial (letra “b”) já se tenha referido o tema da Liturgia da Palavra, não há necessidade deste
comentário.
É importante considerar que, tendo terminado a oração da coleta, o Padre vai se sentar.
Geralmente, vendo esta atitude do sacerdote, todos se sentam. Não há necessidade, então,
daquele comando: “SENTADOS!”. Basta o comentarista esperar uns segundos, sem afobação,
que todos se sentarão. Então poderá proferir a introdução à Liturgia da Palavra.
Outra coisa importante de ser ressaltada e que não é necessária é aquele comando ao final
do comentários: “ESCUTEMOS A LEITURA”. É óbvio que todos estão sentados para escutar a
Leitura. E o que é óbvio, em Liturgia, não deve ser dito. O silêncio vale mais que mil palavras.
Ex.: A Liturgia da Palavra deste dia (deste Domingo) tem como tema central ...
ou A pergunta básica que devemos nos fazer é: ..... ou Jesus ensina...

e) PRECES DOS FIÉIS


Terminada a Profissão de Fé (Creio), o sacerdote convida o povo para que dirija a Deus
suas preces. É importante que a Equipe forneça ao padre, antes da Missa, qual a resposta das
preces (cantada ou rezada) para que ele convide o povo a responder.
Assim como os comentários, as preces devem ser curtas e objetivas para que o povo
compreenda as intenções, ou seja, entenda sobre o que e para quem se está rezando. Não devem
ser muitas. Geralmente usa-se 4 preces. Em ocasiões especiais esse número pode aumentar.
Além disso, elas devem estar iluminadas pelo Evangelho do Dia, isto é, deverão ser
60

feitas com base naquilo que se está celebrando. Por exemplo, num dia em que Jesus fala de pão,
pode-se pedir o pão para quem tem fome etc... No dia das mães, pelas mães...
A Liturgia prevê uma ordem para as preces na Missa, sendo que podem ser adaptadas às
circunstâncias do dia sem muitas alterações para não se perder o sentido. É bom lembrar que as
preces são a oração da Igreja como um todo. A ordem prevista pelas normas litúrgicas é:
1ª PRECE – Pela Igreja e suas necessidades (pode-se fazer pelo Papa, Bispos, clero...)
2ª PRECE – Pelas autoridades civis e pela salvação do mundo.
3ª PRECE – Por aqueles que sofrem dificuldades.
4ª PRECE – Pela comunidade local

f) INTRODUÇÃO À LITURGIA EUCARÍSTICA


Neste momento não caberia comentário, a não ser que no dia seja feita uma procissão das
oferendas mais solene ou a coleta seja para um motivo especial. Caso contrário, apenas para
convidar ao canto de ofertório.

f) CONVITE À COMUNHÃO, MENSAGEM FINAL e AVISOS


Estas duas intervenções caíram praticamente em desuso nos dias atuais. Isso porque,
todos sabem o momento da comunhão. Portanto, não há espaço para comentários que quebram
o clima da oração. No máximo, o comentarista pode anunciar o canto da comunhão em seguida
ao padre terminar a oração Senhor eu não sou digno e não após o Padre comungar. Isso porque o
canto da comunhão deve iniciar enquanto o sacerdote também comunga.
A mensagem final também não é prevista pela Liturgia. Após a comunhão, deve-se
observar momentos de silêncio. No máximo, terminado o canto da comunhão, o comentarista
pode convidar o povo a permanecer alguns instantes em silêncio na companhia de Jesus. Nada
mais é necessário. Todos os documentos da Igreja insistem para que o momento após a
comunhão seja de silêncio absoluto.
Quanto aos avisos, o momento para dá-los não é após o silêncio da comunhão e, sim, após a
oração que o Padre faz. É bom combinar com o padre sobre os avisos para ver se há naquele dia ou
semana e se são realmente necessários de se dar antes da bênção final. Caso não precise, após a
oração vai-se direto para a bênção final.

É IMPORTANTE LEMBRAR
• A equipe deve se organizar para chegar, no mínimo, VINTE MINUTOS
antes do início da Missa, para ver se tudo está no lugar, testar microfones,
distribuir livros, combinar os cantos com o Coral (se já não foi feito na
reunião com a equipe) etc.
• A sacristia não é lugar de REUNIÃO, mas o lugar onde o sacerdote se
prepara para celebrar. Portanto, as combinações devem ser todas feitas numa
reunião anterior da Equipe. Na hora, só as combinações finais com o
sacerdote.
Alguns minutos antes da Missa, fazer uma oração conjunta entre todos
61

os que vão atuar na Missa com o sacerdote. Da mesma forma, terminada a
Missa, repetir a oração conjunta.
• Ler as INTENÇÕES de Missa, se forem muitas, DEZ MINUTOS antes do
início da Missa, para que se possa ter uns instantes de silêncio entre o término
das intenções e o início da Missa.
• NÃO IMPROVISAR! Ter tudo preparado, organizado e distribuído. O
povo nota qualquer confusão e isso atrapalha a oração. A equipe deve ser um
instrumento para ajudar o povo a CELEBRAR MELHOR e não para
atrapalha-lo.
• CADA UM FAZ A SUA PARTE. Para isso há distribuição de funções. A
Igreja pede que ninguém seja “multifuncional”, mas que cada um só faça
aquilo que lhe compete. Portanto: Leitor é Leitor (e não ministro da
Eucaristia, nem comentador), Ministro da Eucaristia faz a sua parte (e não é
quem deve passar as caixinhas da coleta ou ler as Leituras). Assim a Liturgia
fica mais rica e mais participativa e vão se envolvendo mais pessoas.

Que estes passos nos ajudem a preparar melhor as nossas celebrações e celebrar melhor, a fim de que exista
uma participação ativa, autêntica e frutuosa do povo na Liturgia, como pede o Concílio Vaticano II.

O SERVIÇO DO LEITOR NA LITURGIA


Algumas sugestões para exercer bem o ministério de leitor nas celebrações litúrgicas.

1. Preparar a leitura
A. Conhecer e compreender o texto
Compreender o sentido do texto, captar a sua estrutura, as suas articulações, os seus pontos mais
altos, a sua vivacidade.
- Quem fala no texto? A quem fala? Sobre quê? Com que finalidade?
- De que gênero de texto se trata? Um relato? Uma exortação? Um diálogo? Uma oração? Uma censura?
- O que sentem os personagens que aparecem no texto?
- Há palavras difíceis de compreender? Que significam?
- O texto é divisível em partes? Onde começa e acaba cada parte?
B. Preparar uma leitura expressiva
Ver que entoação se deve dar a cada frase, quais são as frases que se devem ressaltar, onde estão os
pontos e as vírgulas, qual a pontuação do texto.
- Quais as palavras mais importantes e as expressões ou frases principais que é importante destacar?
- Onde fazer pausa, breve ou prolongada?
- Onde evitar a pausa?
- Qual o tom de voz (ou tons de voz) adequado ao texto?
62
- Qual o ritmo (as acentuações, os encadeamentos) e o movimento (acelerado, rápido, espaçado, lento)
que se deve usar, no texto ou nas partes?
C. Ler o texto em voz alta
- Ler o texto antes, em voz alta e várias vezes, com exercícios parcelares e com o texto completo.
- Identificar as armadilhas fonéticas, em que palavras se poderá tropeçar, etc.
- Articular e pronunciar bem cada palavra e cada sílaba; não negligenciar as consoantes.
- Não deixar cair demasiado o tom de voz, mesmo nos pontos finais; o verdadeiro ponto final está no fim
do texto.

2. Tarefa do leitor: exprimir os sentimentos do autor e dos personagens


- A celebração litúrgica atualiza a palavra. O texto escrito torna-se palavra viva hoje, naquele lugar e para
aquela assembléia. "Deus fala hoje ao seu povo". É importante conhecer o texto e também conhecer o
contexto da celebração.
- Não se trata de dramatizar, ou melhor dizendo, de criar uma ilusão, uma encenação, mas de reproduzir
ou tornar vivos um texto e um acontecimento. Não se trata de atrair a atenção para a pessoa do leitor,
mas para a palavra e ação divinas.
- O leitor tem a responsabilidade de, usando os seus dotes oratórios, a sua técnica refinada e a sua arte
de falar, promover o encontro vital e a comunhão entre Deus que fala e os ouvintes.

3. Examinar alguns pormenores antes da celebração


- O Lecionário está no ambão (não uma revista ou jornal, ou folhetos)? Está aberto na página própria?
- O microfone está ligado? O volume, o tom e a altura estão corretos? Evite-se o seu ajuste durante a
celebração, mediante o sopro ou os dois toques de dedos da praxe, ou outros ruídos perturbadores.
- A que distância deve estar a boca para que a voz seja audível e expressiva?

4. Saber deslocar-se para o ambão


- Situar-se, desde o começo da celebração, num lugar não muito afastado do ambão. Saber se há lugares
previstos para os leitores. Tentar não vir de um lugar distante da igreja.
- Não avançar para o ambão antes de estar concluído o que precede cada leitura (oração, canto,
comentário). Não aproximar-se do ambão quando se está a dizer ou a cantar outra coisa.
- Caminhar com um passo normal, sem ostentação nem precipitação, sem rigidez nem displicência, mas
com uma digna e ritmada naturalidade.

5. Postura
- Quando estiver diante do ambão, deve ter em conta a posição do corpo. Não se trata de adotar posturas
rígidas, nem demasiado descontraídas.
- Pés bem assentes, levemente afastados e firmes. Não balancear-se, nem cruzar os pés, nem estar apoiado
apenas num pé, com pés cruzados ou um à frente e outro atrás.
- Não debruçado sobre o ambão, nem com os braços cruzados ou as mãos nos bolsos. Os braços poderão
manter-se pendentes ao longo do corpo, ou dobrados para permitir um leve e discreto apoio das mãos
na orla central do ambão (evitando tocar o Lecionário a fim de não o danificar).
- Colocar-se à distância adequada do microfone para que se ouça bem. Por causa da distância,
freqüentemente, ouve-se mal. Não começar, portanto, enquanto o microfone não estiver ajustado à sua
medida (que deverá ser feito antes: a medida adequada costuma ser a um palmo da boca e na direcção
da mesma). E lembrar-se que os estampidos que acontecem ou os ruídos que se fazem diante do
microfone são ampliados.

6. Apresentação
- Não trajar algo que possa distrair ou ofender os presentes, seja por ostentação, seja por desleixo, pouco
conveniente ou ridículo (camisetas de anúncios, vestuário desalinhado ou sujo, penteados estranhos...).
63
- Ter critério e apresentar-se como pessoa educada e normal.

7. Antes de começar
- Esperar que toda a assembléia esteja sentada e tranqüila e se tenha criado um ambiente de silêncio e
escuta.
- Respirar calma e profundamente.
- Guardar uma breve pausa para olhar a assembléia, a fim de a registrar na mente, para estabelecer com ela
contato direto antes de iniciar a proclamação e pedir a sua atenção, pois é para ela que se dirige.

8. Título
- Ler só o título bíblico. Nunca se leia "Primeira Leitura" ou "Salmo responsorial", ou a frase em itálico
que precede a leitura.
- Não deve ser o leitor a ler também a introdução à leitura ou o comentário que a antecede.
- Após a leitura do título, faça-se uma pausa para destacar o texto que vai ser proclamado.

9. Ler com a cabeça levantada


- A cabeça deve estar direita, no prolongamento do corpo.
- Procurar ler com a cabeça levantada.
- Com a cabeça levantada, a assembléia enxerga um rosto e o leitor exprime um texto dirigido à
assembléia e não devolvido ao livro.
- O olhar deverá manter o contacto com a assembléia sem ser necessário os constantes e perturbantes
exercícios de levantar e baixar a cabeça.
- Ao longo da leitura, com naturalidade, olhar também de vez em quando para a assembléia. Estas
olhadelas, no meio da leitura, não se têm que impor como um propósito, o que seria artificial. Mas se
sair naturalmente, poderá ser útil, especialmente nas frases mais relevantes: ajuda a acentuá-las, a criar
um clima comunitário, e a ler mais devagar.
- Com a cabeça levantada, a própria voz ganha em clareza e volume. O tom de voz será mais alto e,
portanto, mais fácil de captar.
- Se o ambão é baixo, será sempre melhor suster o livro nas mãos, levantando-o, que baixar a cabeça.

10. Ler devagar


- O ouvinte não é um gravador, mas uma mente humana que requer tempo para sentir, reagir, ouvir,
entender, coordenar e assimilar. Geralmente, lê-se depressa e não se fazem as pausas adequadas, como
pede o texto lido. A pontuação oral nem sempre coincide com a pontuação escrita. A leitura rápida
pode cortar o contato com a assembléia.
- Lembrar que, geralmente, temos a tendência de ler rápido demais. Colocar-se no lugar dos ouvintes que
estão descobrindo o texto.
- Saber fazer pausas. Um silêncio longo para o leitor, é curto para o ouvinte.
- O principal defeito dos leitores costuma ser ler depressa. Se lermos depressa, as pessoas, com algum
esforço, poderão conseguir entender-nos, mas aquilo que lemos não entrará no seu interior.
Recordemos: este continua a ser o principal defeito.
- Além de ler devagar, há que manter um “tom geral de calma”. Deve-se evitar o estilo do leitor que sobe
ao ambão depressa, começa a leitura sem olhar as pessoas e, ao acabar, foge ainda mais depressa. Não
deve ser assim: deve-se chegar ao ambão, respirar antes de começar a ler, lendo pausadamente, fazendo
uma pausa no final, antes de dizer "Palavra do Senhor", escutar no ambão a resposta da assembléia e
voltar ao lugar. Aprender a ler sem pressa, com aprumo e segurança custa; por isso, é importante fazer
os ensaios e provas que forem necessários: é a única maneira!
64
11. Durante a leitura
- Evitar apagar-se, diminuir a cada frase ou, mais ainda, no fim do texto: a leitura exige uma continuidade.
Não baixar o tom nos finais de frase. As últimas sílabas de cada frase têm que se ouvir tão bem como
todas as restantes. Infelizmente, a tendência é para nestas sílabas se baixar o tom tornando-as
ininteligíveis.
- Boa pronúncia.
- Vocalizar. Ou seja, remarcar cada sílaba, mover os lábios e a boca, não atropelar a leitura. Sem afetação
nem teatro, mas recordando que se está “atuando” em público, e que o público tem que captar tudo
bem. E uma atuação em público é distinta de uma conversa na rua.
- Evitar o tom cantante, falsamente atrativo; o tom teatral faz Deus de cortina. Repetindo: quem tem de
aparecer é Deus, e não o leitor.

12. Concluir a leitura


- Antes de dizer "Palavra do Senhor", fazer uma pausa após a última frase.
- Dizer a aclamação olhando para a assembléia.
- Dizer só "Palavra do Senhor" e nada mais (p.e.: "Irmãos, esta é a Palavra do Senhor" ou outras
expressões semelhantes). Trata-se de uma aclamação e não de uma explicação. Dizê-lo em tom de
aclamação, e não de explicação catequética, ou de informação. Importa que se sinta o caráter de
aclamação pela forma como é dito.
- Seria mais expressivo que esta aclamação fosse cantada (pelo leitor, primeiramente, ou, em caso de
necessidade, por outra pessoa). Não sendo cantada, deveria ser dita em tom de voz mais elevado
(entenda-se, não necessariamente num volume mais forte, gritado).
- Não abandonar o ambão antes da resposta da assembléia.
- Deixar o Lecionário aberto na página do Salmo responsorial ou da 2ª Leitura, para que fique pronto para
o leitor que se segue.
- Regressar ao lugar com calma e naturalidade, em passo normal e firme.

13. Salmo responsorial


- O salmo responsorial deve ser cantado, se possível por outro ministro: o salmista. Se tiver de ser recitado,
seja outro ministro a fazê-lo, e, não havendo outra pessoa, poderá ser o próprio leitor da 1ª Leitura, nunca
o da 2ª Leitura.
- O refrão do salmo, ao menos, deveria ser sempre cantado. Quando é recitado tem menos impacto.
- É pedagógico que a assembléia repita, depois de cada estrofe do salmo, uma frase cantada simples e
expressiva, que resuma a atitude espiritual do salmo (e, por conseguinte, da primeira leitura) – o refrão.
- Não é necessário que o refrão coincida literalmente com o que está no Leccionário, mas que respeite o seu
sentido.
Fontes:• Josep Lligadas, O leitor e o animador, Paulinas, Lisboa 2000
• Secretariado Diocesano de Liturgia do Porto, artigos diversos
65

FONTES

• CONSTITUIÇÃO SACROSANCTUM CONCILIUM, do Concílio Vaticano II


(1963);

• INSTRUÇÃO GERAL DO MISSAL ROMANO: Terceira Edição Típica (2000);

• INTRODUÇÃO AO LECIONÁRIO;

• REDEMPTIONIS SACRAMENTUM, Instrução da Congregação do Culto


Divino e Disciplina dos Sacramentos (2004);

• SACRAMENTUM CARITATIS, Exortação apostólica pós-sinodal do Papa


Bento XVI (2007);

• ANIMAÇÃO DA VIDA LITÚRGICA NO BRASIL, CNBB

• CHEVROT, Georges. A Santa Missa.

• RATZINGER, Joseph. O Espírito da Liturgia.

• OFÍCIO DAS CELEBRAÇÕES LITÚRGICAS DO SUMO PONTÍFICE;

• BROADBECK, Rafael Vitola. Erros litúrgicos e soluções para coibi-los.

Você também pode gostar