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Curso de Engenharia Civil Disciplina: Geologia de Engenharia Professor: João Paulo Souza

Silva Semestre 2013/1

Geologia Aplicada a Barragens

Felipe Barbosa, Guilherme Almeida, Juan Lício, Kalleb Luan, Lavidson Ferreira e Luís

Alexandre. Acadêmicos do Curso de Engenharia Civil da Universidade Federal do Tocantins,


UFT-Brasil.

RESUMO: Este artigo apresenta a definição de barragem como obra de engenharia civil
enfatizando a importância dos profissionais de geologia para contemplação de um
empreendimento utilizável em sua totalidade e um bem comum para a população. São
abordados também o estudo de caso de três barragens, a de Pericumã (Maranhão), a no rio
kwanza (Angola) e no rio Farinha (Paraíba), constatando-se que muitos problemas de
barragens são resultados de uma má política pública concomitantemente com erros de projetos
e execução.

Palavras-Chave: Barragem, Engenharia Civil, Geologia, Problemas das barragens.

1. INTRODUÇÃO:

Importante elemento, indispensável em uma sociedade, as barragens são construções


fundamentais ao desenvolvimento da região onde é construída. Uma grande barragem é um
tipo de obra que mais influencia o meio ambiente, pois ela modifica o regime do rio, os níveis
freáticos e as paisagens próximas, além de que as formações geológicas saturadas pelo
represamento passam a ter comportamento diferente.

Segundo Seddon (2000 apud LADEIRA, 2007), em 2000 o Brasil contava com cerca de 594
barragens, enquanto China estava em torno de 2.0; EUA, 6.575; Índia, 4.291; Japão, 5.675,
porém o Brasil possui um grande potencial hídrico a ser explorado. Esses números ressaltam a
importância da segurança em obras de barragem no contexto mundial.

Nesse sentido, o presente artigo tem como objetivo apresentar a importância dos estudos
geológicos e geotécnicos na construção da uma barragem, assim como a importância dela
para a região, os tipos, os fatores condicionantes de projeto, em especial problemas em
fundação, alguns dos principais problemas enfrentados no cotidiano e as soluções mais
comuns nas barragens. Esses levantamentos são importantes para auxiliar a compreensão da
geologia e da geotecnia no trabalho de construção de uma barragem.

2. DEFINIÇÃO E FINALIDADE DE UMA BARRAGEM

Filho (2008) define uma barragem, como sendo um elemento estrutural, construído
transversalmente a vales ou depressões com o objetivo de elevar o nível da água dos cursos
naturais, ou para formar reservatório destinado à acumulação de água. Este tipo de estrutura,
seja ela concebida de materiais rochosos, terrosos ou de concreto, pode ser projetado com
múltiplos propósitos, afim de que satisfaça as necessidades de projeto.

As finalidades que regem a construção de uma barragem são muitas, podendo ser exploradas
individualmente ou em conjunto. As principais são:

Geração de energia elétrica nas chamadas Usinas Hidroelétricas;


Abastecimento de água nos setores residenciais e industriais e agrícolas;

Contenção de enchentes, destinadas a proteger os territórios a jusante da barragem;

Irrigação de produtos agrícolas;

Contenção de sedimentos;

Navegação;

Turismo e Lazer;

Piscicultura nas comunidades ribeirinhas;

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Silva Semestre 2013/1

Dessa forma, em relação à escolha do local para construção de uma barragem deve ser feita
segundo um planejamento geral em que interferem as condições geológicas e geotécnicas da
região, além de fatores hidráulicos, hidrelétricos, político, econômico, social e ambiental.

Além disso, a escolha do local de uma barragem está diretamente ligada à concepção e aos
objetivos do empreendimento, por exemplo, para a geração de energia é necessário um maior
desnível topográfico e uma maior vazão. A escolha do eixo do barramento está associada a
aspectos operacionais e econômicos, pois pretende-se possuir menor o volume de aterro,
melhores condições de fundação, menores distâncias de transporte dos materiais de
construção, evitando assim menores custos com a obra. A escolha do tipo de barragem está
associada a aspectos técnicos diversos, como as condições de acesso, condições de
fundação, as condições topográficas, a disponibilidade de matérias de construção no local,
dentre outros aspectos que interferem diretamente na escolha do tipo de barragem.

3. TIPOS DE BARRAGENS

As barragens podem ser classificadas em diferentes tipos, de acordo com o seu objetivo, seu
projeto hidráulico e os tipos de materiais empregados na construção. Com relação a este último
aspecto, podemos dividir em dois grandes grupos:

Barragem de Concreto;

Barragem de Terra e/ou Enroncamento;

As barragens de concreto são aquelas construídas essencialmente com materiais granulares


produzidos artificialmente aos quais se adicionam cimento e aditivos químicos.

As barragens de terra e/ou enrocamento são aquelas construídas com materiais naturais tais
como argilas, siltes e areias ou com materiais produzidos artificialmente tais como britas e
enrocamentos.

3.1 BARRAGEM DE CONCRETO


São barragens construídas em sua maioria a partir de materiais artificiais aos quais
adicionamos cimento e aditivos químicos. Dentre os modelos mais comuns deste tipo de
barragem podemos destacar três: Barragem de concreto gravidade, barragem de concreto em
arco e barragem em contraforte, podendo estas ser construídas com a utilização de concreto
armado ou rolado.

3.1.1 BARRAGENS DE CONCRETO GRAVIDADE

As Barragens de Gravidade são constituídas por uma parede de concreto que consegue resistir
à pressão da água pelo seu próprio peso, distribuindo as tensões para o solo do leito do rio.
Esse tipo de barragem apresenta estabilidade devido ao peso e largura da base adequada à
resistência da fundação.

As principais forças que atuam nela são peso do concreto, pressão da água no paramento de
jusante, pressão da água no paramento de montante, peso da água no paramento de jusante e
sub-pressão. Para que esse modelo apresente maior eficácia, a barragem deve ser maciça,
apresentando material construtivo de alta densidade.

Figura 1– Ilustração de uma Barragem de Concreto Gravidade. 3.1.2 BARRAGEM DE


CONCRETO EM ARCO

São barragens que precisam de condições de terreno especiais para ser utilizadas. Seu
formato em arco permite que as pressões sejam distribuídas para suas ombreiras, isso faz com
que a força aplicada na barragem seja distribuída para as margens e fundo do rio, por isso as
margens precisam ser altas e

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Silva Semestre 2013/1 constituídas de rocha sã e resistente. Geralmente são barragens
inseridas em vales estreitos ou canyons.

O consumo de concreto nesse tipo de barragem é muito menor que nas barragens de
gravidade, o que resulta em menores custos de implantação, entretanto por se tratar de um
projeto mais elaborado a mão de obra necessária deve apresentar alto nível de especialização.

Figura 2– Exemplo de uma Barragem de Concreto em Arco.

3.1.3 BARRAGEM DE CONCRETO EM CONTRAFORTES

Neste caso, a barragem é formada por uma laje impermeável a montante, apoiada em
contrafortes verticais, exercendo compressão na fundação maior do que na barragem de
concreto de gravidade. Sendo assim, a fundação onde será apoiada uma barragem de
concreto com contrafortes deve ser rocha com elevada rigidez (SAYÃO, 2009).

Contrafortes são estruturas que para reforçar paredes, geralmente construídas na superfície
externa ou interna agindo como um “aliviador” de pressão. Quando comparamos esse tipo de
barragem com as de concreto gravidade podemos observar como principais vantagens o
menor volume e menor sub-pressão na base, porém, as barragens com contrafortes exigem
um projeto estrutural mais complexo.

Figura 3– Exemplo de uma Barragem de Concreto em Contrafortes.

3.2 BARRAGEM DE TERRA

O Brasil é o país que mais desenvolveu tecnologias para o projeto, construção e controle de
barragens de terra devido a grande quantidade de rios no país. Historicamente, observa-se que
este fato aconteceu porque as regiões onde foram construídas as primeiras barragens de
grande porte eram ricas em argila e pobre em granito para concreto.

A barragem de terra se aplica à praticamente qualquer fundação, e com a utilização de


métodos modernos, pode-se fazer artifício de qualquer tipo de solo para a construção desta. A
segurança proporcionada por este método é outro fator relevante. A vantagem das barragens
de terra sobre as outras é que podem ser construídas sobre quase todo tipo de fundação, além
disso, são relativamente baratas e não exigem pessoal muito especializado.

No entanto, barragens de terra também apresentam riscos, que devem ser minuciosamente
prevenidos através de excelentes sondagens geológico-geotécnicas que possam permitir a
construção desta com segurança. Segundo Gomes et al. (2005 apud LADEIRA, 2007), a
avaliação do risco deve começar pelo estudo de modos de falhas para estimar as
probabilidades e consequências associadas a cada um dos riscos identificados. Podemos citar
entre os problemas: vertedouro insuficiente e mal calculado, o que pode acarretar inundações;
fundações porosas, que geram o solapamento; material de má qualidade e má construção.

Segundo Cruz (1996 apud LADEIRA, 2007), as observações de rupturas ocorridas no passado

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Silva Semestre 2013/1 demonstram que o fenômeno de piping é regido pela estatística dos
extremos, ou seja, a resistência à tração ou coesão é que condicionam a formação desse
fenômeno. Nos laboratórios, as condições para determinação do fator de segurança estão sob
controle, e os ensaios são submetidos a cenários de estatística das médias, o que não ocorre
no ambiente real das barragens.

Foster et al. (1998 apud LADEIRA, 2007), afirma que o piping pode se desenvolver por
processo degenerativo ou envelhecimento das estruturas. A probabilidade de rupturas em
barragens mais antigas é bem maior do que em barragens mais novas, pois a probabilidade de
ruptura em barragens construídas antes de 1950 é 7,5 vezes maior que barragens construídas
após esse ano.

As barragens de terra possuem grande volume, os taludes suaves, devem apresentar bastante
inclinação e compatibilidade com a resistência ao cisalhamento do material após compactação.
Têm base larga para distribuir o peso e aumentar a seção de percolação. Podem ter seção
homogênea ou zonada, dependendo da disponibilidade de materiais de construção nas
proximidades do barramento. Nas barragens zonadas há um núcleo de material impermeável e
duas zonas externas, em geral construídas com materiais mais permeáveis e mais resistentes
aos deslizamentos.

Segundo Geraldes (1998 apud VERGARA, 2012) o corpo da barragem de terra e/ou
enrocamento é uma estrutura trapezoidal homogênea ou zonada e está constituído por
diversos materiais que cumprem funções distintas. As barragens de terra e/ou enrocamento
destinadas ao armazenamento permanente de água devem possuir um elevado grau de
estanqueidade (presença de um elemento de vedação). Possuem comumente um sistema de
drenagem interna eficiente (presença de um elemento drenante) e coeficientes de segurança
elevados, tanto para a possibilidade de ocorrência de erosão interna como para possibilidade
de ruptura por cisalhamento (presença de um elemento estabilizante).

Para Geraldes (2008 apud VERGARA, 2012) a estrutura das barragens de terra deve
assegurar: uma impermeabilização tal que impeça a perda de água através do maciço da
barragem; o projeto deve garantir a respectiva estabilidade; o talude à montante deve ser
protegido contra ondas; sistemas de drenagem eficazes que protejam as barragens das poro-
pressões; controle dos assentamentos da barragem ao longo do tempo.

As barragens de terra e/ou enrocamento devem ter sistemas de extravasamento bem


dimensionados que lhes confiram elevados coeficientes de segurança contra a possibilidade de
galgamento. Segundo Cruz (1996 apud VERGARA, 2012) a escolha do tipo da barragem
sempre deve atentar para dois elementos fundamentais: a parte vedante e a parte que confere
a estabilidade.

O local escolhido para a construção de uma barragem de terra deve: possuir solo estável; não
apresentar afloramentos rochosos; ser um estreitamento ou uma garganta do curso d'água;
possuir pequena declividade à montante; ter a montante mais espraiada possível; não possuir
nascentes; não possuir estratificações salinas no leito da represa; possibilitar o uso de água por
gravidade; estar próximo do ponto de extração da terra usada no aterro.

Uma das coisas difíceis é a construção do filtro drenante. Ele é formado por diversas camadas,
uma de areia fina, outra de areia grossa e outra de brita. A finalidade do filtro é segurar as
partículas sólidas que eventualmente sejam carregadas pela água durante a percolação pelo
seio da barragem. Caso a água leve embora as partículas sólidas, a barragem vai ficando
porosa e um dia pode vir a desmoronar. É possível saber se está havendo ou não
carregamento de partículas sólidas olhando a água que sai na forma de minas no pé de jusante
da barragem. Se sair com cor de barro é por que está havendo carregamento de material.

O filtro é chamado também de Filtro Invertido por que as camadas de areia e pedra estão
posicionadas ao contrário do que acontece num filtro para limpeza de água. Qualquer gota de
água que consiga penetrar no seio da barragem é captada pelo filtro e este encaminha a água
para a galeria de serviço. A face de montante da barragem precisa receber uma boa proteção,
pois o local recebe muitas ondas que vêm do reservatório. Além disso, o nível do reservatório
não é constante, sendo alto no período das chuvas e baixo durante a estiagem. A principal
desvantagem das barragens de terra, é que podem ser afetadas

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Silva Semestre 2013/1 pelas condições climáticas, pois a execução dos aterros é paralisada
em períodos chuvosos.

3.2.1 BARRAGEM DE TERRA HOMOGÊNEA

Para Marsal & Reséndiz (1975 apud VERGARA, 2012), este tipo de barragem é construída
quase exclusivamente com terra compactada, tem pelo menos uma proteção contra a
ocorrência de ondas no talude de montante. É a mais comum onde é utilizado um único tipo de
solo. Os taludes, a montante e a jusante devem ter inclinações adequadas conforme o tipo de
solo. Deve ser construído um dreno vertical ou inclinado de areia selecionada de granulometria
ao tipo de solo utilizado, ou por brita confinada em geotêxtil. Deve ter ainda um dreno ou tapete
horizontal de areia selecionada ou brita confinada em geotêxtil. Constrói-se também o cut-off
que é a parte do aterro que se insere na fundação.
Quando a qualidade do solo é boa não é necessário o cut-off. O talude de montante deve ser
protegido com enrocamente (rip-rap) ou laje armada ou tapete asfáltico. De acordo com o fetch,
que o comprimento maior da superfície da água da barragem e no qual incide o vento.
Conforme o comprimento do fetch tem-se a espessura mínima em cm do rip-rap no talude de
montante.

Constituída praticamente por um único material, com permeabilidade suficientemente reduzida


para permitir níveis aceitáveis de percolação. As inclinações dos taludes a montante e jusante
são diferentes por regra, tendo em vista adequarem-se aos diversos tipos de ações. No perfil
homogêneo é muito provável que na base do talude de jusante ocorram ressurgências, caso o
aterro e a fundação não garantam a necessária estanqueidade. Ao verificarem-se
ressurgências, haverá forças de percolação que produzirão erosão tubular interna, pelo que é
mais frequente recorrer a um perfil homogêneo modificado. (LANÇA, 1997)

3.2.2 BARRAGEM ZONADA

Formada por solos com diferentes características, utilizando-se o solo disponível com o
coeficiente de permeabilidade menor no núcleo central com função vedante, sendo o solo mais
permeável ou enrocamento utilizado nos taludes. Esta denominação é usada para barragens
nas quais não há um único material predominante no maciço. Geraldes (2002 apud VERGARA,
2012) descreve as funções dos diferentes materiais presentes neste tipo de seção, por
exemplo, o material argiloso do núcleo impede a percolação da água, os dois maciços
estabilizadores situados a montante e a jusante do núcleo que pretendem garantir a
estabilidade da obra, um conjunto de drenos e filtros que visam a captar as águas de infiltração
e uma proteção do talude de montante constituído por materiais de enrocamento para diminuir
os efeitos da ação da água.

Este tipo de barragens não apresenta uma vantagem marcante sobre as barragens de terra
homogêneas, pois, a escolha de uma seção típica ou outra depende fundamentalmente do tipo
de solo existente no local, da topografia e da geologia, do regime hidrológico, etc. Assis (2003
apud VERGARA, 2012) determina a escolha entre seção homogênea ou zoneada pela
presença de materiais de construção disponíveis e seus respectivos custos.

Existem também, barragens zonadas que em vez de possuírem um núcleo central são
constituídas por um talude a montante de material impermeável e um talude a jusante de
material permeável com funções estruturais. É importante a existência de um filtro fazendo a
fronteira entre o material impermeável e o talude de jusante para evitar fenômenos de erosão
interna provocados por forças de percolação que tendem a arrastar os filtros.

3.3. BARRAGEM DE ENROCAMENTO

Esse tipo de barragem é aquele em que são utilizados blocos de rocha de tamanho variável e
uma membrana impermeável na face de montante. O custo para a produção de grandes
quantidades de rocha, para a construção desse tipo de barragem, somente é econômico em
áreas onde o custo do concreto fosse elevado ou onde ocorresse escassez de materiais
terrosos e houvesse, ainda, excesso de rocha dura e resistente. Devemos lembrar que a rocha
de fundação adequada para uma barragem de enrocamento pode não ser aceitável para uma
de concreto. (MARANGON, 2004)

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Segundo Marangon (2004), a rocha que deve preencher a maior parte da barragem precisa ser
inalterada pelo intemperismo, não sendo facilmente desintegrada ou quebrada. Rochas que,
quando sujeitas à ação de explosivos, fragmentam-se facilmente em pedaços muito pequenos,
com elevada porcentagem de lascas e pó, são igualmente inadequadas. As rochas para essas
barragens, devem ter resistência ao intemperismo físico e químico, como gnaisse, diabásio,
etc. Os blocos de rocha são colocados de modo a se obter o maior contato entre suas
superfícies e os vazios entre elas, que são preenchidos por material de menor tamanho.

4. FATORES CONDICIONANTES PARA CONSTRUÇÃO DE UMA BARRAGEM

Antes de iniciar um projeto de barragem, o geólogo e/ou engenheiro deve ter conhecimento das
condicionantes que possam exercer influência na obra. Após essa análise, os profissionais
devem escolher o método de implantação mais adequado para o local.

Para essa escolha é necessário o conhecimento de: caracterização das fundações; morfologia
das bacias hidrográfica e hidráulica; caracterização dos materiais naturais de construção;
fatores geológicos, como cobertura do solo e aspectos tectônicos; e impactos ao meio
ambiente que podem ocorrer com a implantação da barragem. A caracterização das fundações
é feito a partir do conhecimento sobre os tipos de solos da região.

Outros fatores condicionantes são: transição solorocha, origem do solo, características


geotécnicas, permeabilidade; paleocanais aluvionares; barragens de concreto devem ser
apoiadas em fundações de rocha; execução de ensaios in-situ e de laboratório para
determinação da resistência mecânica para fundações e permeabilidade. (ZINGANO, 2005)

Esses fatores são relevantes para construção de barragens, já que para cada situação é
estipulado um método de implantação da obra, onde a melhor relação custo x benefício deve
ser aplicada. Os aspectos tectônicos estão relacionados aos fatores condicionantes na
construção de uma barragem, no sentido de que os movimentos tectônicos possam afetar o
maciço rochoso, exigindo assim, tratamentos tantos superficiais quanto subsuperficiais do
maciço.

Os tratamentos superficiais são feitos por meios do levantamento e análise de dados através
de estudos superficiais, que se iniciam ainda no escritório, dos fatores fisiográficos, geológicos,
hidrogeológicos e geotécnicos, não só da barragem, mas de toda bacia hidrográfica. Esse
estudo continua no escritório até a fase de foto interpretação geológica. Após essa fase, o
estudo segue para o campo, onde inicia-se o processo de identificação superficial dos materiais
naturais de construção.

A investigação subsuperficial que completa a fase inicial. Esta é elaborada por meio de
diversos tipos de prospecção e de ensaios necessários, que servem para o conhecimento mais
aprofundado das feições geotécnicas e geológicas do projeto que vai ser implantado.

A questão da análise dos impactos ambientais gerados é também um fator muito importante na
construção de barragens. Dessa forma, é necessário fazer um levantamento das famílias que
serão afetadas com a construção, a região que deve ser alagada, as espécies presentes no
ecossistema, afim de que possa elaborar medidas que reduza esses impactos, para que os
impactos causados não sejam maiores do que os benefícios gerados pela construção da
barragem.

Para prever os impactos nos componentes físicos utilizam variadas metodologias, sendo uma
das mais utilizadas os modelos físicos em escala reduzida, reproduzindo a área a ser
implantada a obra com as características ambientais locais. (ABES, 1987).

4.1 PROBLEMAS E TRATAMENTOS EM FUNDAÇÕES


Em uma barragem é normal haver alguma deformação, tanto na fundação quanto nas
ombreiras. A rocha normalmente oferece uma resistência satisfatória como fundação, porém o
maciço rochoso apresenta alguns planos de fraqueza, ou seja, fraturas ou até mesmo falhas,
que diminuem a resistência do mesmo, pois servem de canal de percolação da água. Segundo
Filho (2008), se o material sobre o qual se assentará a barragem é rochoso admite-se uma

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Silva Semestre 2013/1 deformação elástica e se o material for terroso espera-se uma
deformação plástica.

Deve-se ficar atento para a permeabilidade das fundações, já que todo maciço, seja ele
rochoso ou terroso, possui certa permeabilidade devido à presença de poros. Segundo Filho
(2008), a presença e passagem de água pela fundação podem criar problemas relativos à
pressão neutra e a erosão interna (piping). Dessa forma, na construção de uma barragem é
fundamental que diminua essa permeabilidade a níveis aceitáveis para segurança da
construção.

Os métodos utilizados para controlar a percolação de água e a pressão neutra são: tapetes
impermeabilizantes; cortinas de impermeabilização seguidas de drenos a jusante em barragens
de concreto; trincheiras de vedação; filtros em barragens de terra; diafragma plástico, dentre
outros métodos. Para tratamento de maciços terrosos utilizam-se diafragma plástico ou
trincheira de vedação.

Segundo Ré (1977, apud FILHO, 2008) o diafragma plástico consiste na abertura de uma vala
no solo, o qual fica protegido de desabamentos, durante e após a escavação, por uma lama.
Esta vala, depois de retirada a lama, recebe o material impermeabilizante. A Trincheira de
vedação, também conhecida como “cut-off”, é uma trincheira preenchida com material
impermeável, como o solo argiloso, a fim de evitar ou reduzir a percolação da água na
fundação ou aumentar-lhe o caminho de percolação. Para tratamento de maciços rochosos
fraturados, um dos mais comuns é o de injeção de caldas de cimento que pode ser tipo cortina
ou de tapete, com a finalidade de diminuir a permeabilidade do maciço rochoso.

5. ESTUDOS DE CASOS – PROBLEMAS E SOLUÇÕES

Para ilustrar melhor o artigo e tratar de problemas que realmente existem no cotidiano da
engenharia civil e também da geologia, três barragens serviram de estudo de caso: A primeira
se localiza-se em Pinheiro, na baixada Maranhense (Maranhão – Brasil), no rio Pericumã. Já a
segunda está localizada na bacia do Rio Kwanza, no município de

Cacuso, ao norte da Angola. E a última está localizada no interior da Paraíba, mais


precisamente no município de Patos.

Essas 3 barragens são exemplos de que os maiores problemas em barragens são causados
principalmente pela não prestação de serviço de reparos, descaso público, e péssima
manutenção preventiva. É feita uma análise isolada de cada caso, mostrando os problemas
que cada barragem enfrenta atualmente.
A barragem de pinheiro, no interior do maranhão, enfrenta sérios problemas na estrutura, em
1982 ela foi inaugurada com a função de represar água doce do Pericumã e impedir a invasão
da água salgada. Após 31 anos de inauguração ela nunca passou por uma reforma, e, além
disso, ela também sofre sem a falta de manutenção adequada. Com o título de maior obra
social da região, deveria tomar melhores providencias para manter a obra de pé por um tempo
maior.

Figura 4– Comportas da barragem de Pinheiro.

Alguns problemas podem ser visualmente confirmados, como corrosão das estruturas de ferro
da barragem, as comportas apresentam cabos de aço rompidos a mais de anos, e por mais
que esses problemas estejam sido comprovados, as peças nunca foram trocadas. Todo o
sistema de vedação das comportas, que deveria evitar a passagem da água do mar para o rio
está comprometido e em alguns trechos já há vazamentos.

Quando foi inaugurada a barragem trabalhava com qualquer desnível de água, hoje já não é
possível, devido aos problemas estruturais presentes. Os motores de içamento das comportas
trabalham com menos da metade da sua capacidade. Todos esses problemas estão agravados
devido a uma má

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Silva Semestre 2013/1 administração, e manutenção precária, pois uma obra de engenharia,
mesmo que feita para durar anos, em curtos períodos de tempo, é necessário uma avaliação e
uma manutenção adequada, essa barragem do interior do Maranhão é uma prova de que falta
de cuidados técnicos podem acarretar sérios problemas e prejuízos.

A segunda barragem a analisar é na Angola que que também passa por problemas parecidos
de descaso do governo público como no Brasil. Essa por sua vez já na inauguração apresentou
problemas estruturais que não foram assumidos pelos reais culpados.

Figura 5– Barragem Rio Kwanza.

A barragem apresentou problemas de estabilidade logo no início, isso impedia que a barragem
fosse cheia até seu limite. Esse tipo de problema, segundo especialistas, é comum em
barragens do tipo enrocamento, sendo essa barragem, localizada em Capanda, uma dos
maiores, desse método construtivo, que se conhece a nível mundial.

Em dezembro de 2011 houve intervenções de emergência na barragem, e só assim a


barragem começou a ser cheia de forma controlada, mas devido a falta de chuvas não foi
possível alcançar o limite máximo do nível de água. Mas ainda segundo o Ministro da Energia e
Águas Capanda, após a intervenção ela poderá trabalhar normalmente desde que passe pelas
manutenções periódicas necessárias.

Devido a erros de cálculo já na concepção da obra, problemas foram intensificando-se, e por


mais que o governo na região tenha se esforçado para melhorar a situação da barragem, o
problema é muito delicado e exige uma atenção maior, se mesmo com isso ela ainda tivesse
sido abandonada pelos responsáveis, problemas sociais e ecológicos teriam proporções bem
maiores.

A terceira barragem abordada é a Barragem da farinha, localizada em Patos, no interior da


Paraíba, que está em estado de quase abandono, com inúmeros problemas estruturais à vista.
Os problemas são diversos, fissura na parede do sangrador, além de infiltrações por baixo do
mesmo que provoca perda contínua de água, existência de formigueiros no balde que
representa perigo, assoreamento que diminui a capacidade de volume do reservatório, o mato
toma de conta da estrutura impedindo ainda a visibilidade dos problemas.

Figura 6 – Fissura no Sangrador da Barragem da Farinha.

Segundo relatos, técnicos e engenheiros, ligados ao estado, estiveram no local, prometeram


melhorias, mas nada foi feito sobre os problemas encontrados, que segundo a reportagem, da
qual esse texto foi baseado, os problemas podem ser ainda maiores se forem feitas análises
mais precisas, pois os problemas destacados são apenas visuais. O desperdício de água
potável devido a fissuras na estrutura é um dos problemas. O Problema não é nem o
vazamento da água em si, mas para onde vai toda essa água desperdiçada, segundo
moradores, ela acaba desbocando no rio mais poluído da região, ou seja, é água potável sendo
jogada no esgoto. Mas o que fazer para acabar com esse desperdício?

Primeiramente uma manutenção técnica deve ser realizada para melhorar as condições de
conservação do vazamento, e ver a possível implantação de um açude para armazenar a água
que escoa. Outra possível solução seria também o aprofundamento do canal.

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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Constata-se que obras de engenharia do tipo barragens devem ser melhores planejadas, tendo
em vista que este tipo de empreendimento é de alto custo e alta complexidade, e caso ocorra
problemas após o termino da obra, os investimentos para reparação são muito superiores aos
que seriam se o projeto e a execução fossem mais bem elaborados e empregados,
respectivamente. Para evitar problemas de obras de barragens, primeiramente o profissional
técnico tem a obrigação de ser altamente qualificado, sendo que este deve estar amparado
com estudos geotécnicos, estudos hidrológicos, topografia do local, estudos do subsolo, entre
outras informações necessárias para um bom planejamento da obra.

Outro ponto a ser considerado é o método construtivo, pois dependendo da urgência e das
intenções dos governantes - haja vista o impacto social que este tipo de intervenção causa na
comunidade e na economia do estado – há uma intervenção e troca de
responsabilidades/favores entre governantes e construtoras, ou seja, (em alguns casos) a obra
não é construída com as devidas especificações técnicas, para garantir a qualidade e a
usualidade com eficiência da barragem, os resultados são visíveis nos três exemplos citados
neste artigo.
No geral, os problemas de obras de barragens, tanto no Brasil como no mundo, não são só de
engenharia, mas também são problemas administrativos, pois este tipo de construção requer
controles técnicos constantes, como medição do nível e da pressão da água nos taludes,
controle da permeabilidade, e os controles técnicos só são empregados quando há as
condições financeiras para tal, todavia, o poder público nem sempre possibilita a manutenção
de barragens ou qualquer outra obra de engenharia civil.

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABES-Associação Brasileira de Engenharia Sanitária. Curso de Impacto Ambiental e Relatórios


de Impacto Ambiental. Rio de Janeiro, 1987. 300p.

COSTA, Walter Duarte. Geologia de Barragens. São Paulo: Oficina de Textos, 2012.

FILHO, Carlos Leite Maciel. Introdução a Geologia de engenharia. 3 ed. Santa Maria: Ed. da
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