Este documento discute o trabalho de Gareth Morgan e Gibson Burrell sobre paradigmas sociológicos e análise organizacional. Apresenta o modelo de quatro paradigmas proposto por eles e discute seu impacto na popularização de perspectivas críticas na teoria organizacional, bem como as críticas posteriores a seu trabalho.
Este documento discute o trabalho de Gareth Morgan e Gibson Burrell sobre paradigmas sociológicos e análise organizacional. Apresenta o modelo de quatro paradigmas proposto por eles e discute seu impacto na popularização de perspectivas críticas na teoria organizacional, bem como as críticas posteriores a seu trabalho.
Este documento discute o trabalho de Gareth Morgan e Gibson Burrell sobre paradigmas sociológicos e análise organizacional. Apresenta o modelo de quatro paradigmas proposto por eles e discute seu impacto na popularização de perspectivas críticas na teoria organizacional, bem como as críticas posteriores a seu trabalho.
Este documento discute o trabalho de Gareth Morgan e Gibson Burrell sobre paradigmas sociológicos e análise organizacional. Apresenta o modelo de quatro paradigmas proposto por eles e discute seu impacto na popularização de perspectivas críticas na teoria organizacional, bem como as críticas posteriores a seu trabalho.
A discussão sobre os paradigmas em estudos organizacionais, que Gareth Morgan toma por empréstimo de seu trabalho de 1979 com Gibson Burrell, é, em nosso entender, essencial ao pesquisador do campo. Com este artigo de 1980, que ora reproduzimos, Morgan – à época um doutorando galês saído de Lancaster, na Inglaterra, e começando a vida acadêmica na América do Norte – conseguiu veicular sua perspectiva pouco convencional sobre teoria organizacional na mais tradicional publicação do campo: a Administrative Science Quarterly. O artigo apresenta dois elementos. O primeiro é a exposição de seu modelo de “paradigmas sociológicos”, ou seja, uma base ontológica e epistemológica que, segundo Morgan e Burrell, fundamentariam as teorias organizacionais modernas. No livro publicado no ano anterior, e que Morgan procura sintetizar no artigo, Burrell e Morgan (1979) sugeriam que o campo de teoria organizacional seria formado por uma série de posições epistemológicas e ontológicas de base, as quais formariam algumas posições metateóricas a priori no desenvolvimento científico em análise organizacional. Cada um desses quase-paradigmas paralelos coexistiria na área e influenciaria teorias que seriam aprisionadas por seus próprios pressupostos e desconheceriam ou ignorariam os demais “silos” representados por “campos concorrentes”. Por sua vez, cada um desses campos de conhecimento iniciariam ciclos (ditos “paradigmáticos”) semelhantes aos que Kuhn (1970) havia descrito a partir de seu conceito de “resolução de quebra-cabeças” (McCourt, 1997). De forma didática, Burrell e Morgan (1979) apresentaram à academia de Administração norte-americana um modelo de categorização dos campos paradigmáticos. Os autores sobrepunham dois eixos: um representaria os pressupostos metateóricos sobre a natureza da ciência, opondo a ciência “objetivista” à ciência “subjetivista”, enquanto o outro simbolizaria as premissas metateóricas sobre a natureza da sociedade, contrastando uma sociologia da “regulação” a uma sociologia da “mudança radical”. O conhecido diagrama que resulta da sobreposição desses dois eixos define o que os autores entendem ser os quatro principais paradigmas que fundamentariam – ou que poderiam fundamentar – a análise organizacional. Seu argumento é que o desconhecimento dessa realidade paradigmática inconsciente e indiscutida, bem como a aceitação tácita quase hegemônica do paradigma funcionalista (no quadrante objetivista e regulacionista do diagrama), estariam aprisionando e limitando o desenvolvimento do campo, e seria sua missão “libertá-lo” e expandir seus limites. Ou seja, a intenção seria a de, em primeiro lugar, sugerir que o campo cresceria em reflexividade e riqueza se os distintos paradigmas pudessem se reconhecer e eventualmente dialogar no processo de desenvolvimento científico e, em segundo lugar, desvendar caminhos metateóricos pouco explorados e promissores, além do funcionalismo dominante, especialmente os referenciais críticos e interpretativos. O segundo elemento apresentado pelo texto de Morgan é sua conceituação da visão metáfora da teoria organizacional e da realidade organizacional, que foi divulgada no Brasil pela publicação, em 1996, do livro Imagens da organização (Editora Atlas). Em função da ampla divulgação deste segundo elemento, ele não será aqui comentado. Vale, entretanto, registrar que: (a) ambos os elementos originam-se do mesmo trabalho de Morgan com Burrell, seu professor em Lancaster; (b) a discussão sobre metáforas que Morgan inicia neste artigo em 1980 é um esforço de refinamento e aprofundamento do criticado conceito de “analogia” utilizado no livro de 1979 (McCourt, 1997; Oswick, Keenoy e Grant, 2002); (c) o trabalho marca também um afastamento entre mestre e aluno – enquanto Morgan focaliza a análise metafórica, aprofundando e popularizando seu trabalho com Burrell (Palmer e Dunford, 1996), este último segue um caminho de busca e exploração de rumos alternativos aos próprios quatro paradigmas, divulgando e patrocinando o movimento pós-modernista em análise organizacional (Burrell, 1996; Cooper e Burrell, 1994) e a corrente feminista em organizações (Burrell, 1984); e (d) o caminho que Morgan iniciou o guindou à condição de superstar na análise organizacional (especialmente fora dos EUA), levou-o cada vez mais a legitimar o conceito de metáforas organizacionais e, ao menos nos últimos 10 anos, conduziu- o a uma carreira de palestrante e consultor internacional (para observar a vida e trajetória intelectual de Morgan, veja, entre outros, www.schulich. yorku.ca e www.imaginiz.com). De qualquer forma, o impacto do trabalho de Burrell e Morgan no campo é inquestionável, em grande parte pelo artigo de 1980 e por sua seqüência (Morgan, 1983). Nos últimos 25 anos, Burrell e Morgan tiverem um papel crucial: primeiro, na popularização e crescente aceitação de tradições teóricas críticas e interpretativas na teoria organizacional; e, segundo, na promoção de diálogos interparadigmáticos, dos quais o texto de Lewis e Grimes, também aqui traduzido, irá se ocupar extensivamente. No Brasil, a popularização do conceito de paradigmas de Burrell e Morgan na década de 1980, bem como do trabalho de Morgan sobre metáforas durante os anos 1990, foram cruciais na popularização e legitimação de perspectivas críticas em organizações. Trabalhos hoje clássicos no Brasil (e.g. Machado-da-Silva et al., 1990) usaram os quatro paradigmas para analisar a produção científica, o que desde então foi reproduzido como protocolo de análise, quase sempre evidenciando a preocupante hegemonia do funcionalismo na teoria organizacional que se faz e se reproduz no Brasil, e promovendo a diversidade paradigmática na direção de outros referenciais. O uso de Burrell e Morgan para a formação de mestres e doutores foi intensivo, especialmente entre meados da década de 1980 e meados da década de 1990, pelas mãos de professores tais como Fernando C. Prestes Motta, Carlos Osmar Bertero, Maria Tereza Fleury, Sylvia Vergara, Clóvis Machado-da-Silva, Roberto Fachin e Tânia Fischer, entre muitos outros. Paradoxalmente, a partir de meados da década de 1990, talvez pela divulgação do livro Imagens da organização, o trabalho de Burrell e Morgan cai drasticamente de uso. Por exemplo, entre 1997 e 2002, dentre as quase 50 mil citações registradas em todos os trabalhos publicados nos Enanpads, apenas 14 são feitas ao livro de Burrell e Morgan, de 1979. No mesmo período, Morgan é citado quase 200 vezes (um terço delas na área de organizações), dois terços das quais são citações ao livro Imagens da organização. Ou seja, a redução do uso desse importante trabalho, que o livro de Morgan não substitui em nenhuma medida, faz de “Paradigmas sociológicos e análise organizacional” um dos textos mais influentes, porém menos efetivamente lidos, da teoria organizacional. Desejamos que a disponibilização deste artigo de Morgan abra novamente caminho para a sua utilização no Brasil. Por outro lado, o trabalho de Burrell e Morgan também passou a ser criticado. De acordo com alguns críticos, o modelo de paradigmas simultâneos que Burrell e Morgan propuseram catalisou a proliferação de perspectivas concorrentes, ou ao menos sua popularização e aceitação no campo. Além disso, também gerou polarização e segregação. Assim, ao evidenciar diferenças elementares, Burrell e Morgan promoveram a segregação das perspectivas. Muitos críticos (veja revisão, por exemplo, em McCourt, 1997; Oswick, Keenoy e Grant, 2002) apontaram a excessiva ortodoxia da chamada “incomensurabilidade paradigmática” e o banimento do diálogo e o crescimento interparadigmático com conseqüências negativas do trabalho de Burrell e Morgan. Morgan respondeu a essa polêmica aprofundando a discussão de analogias e metáforas e advogando a maximização da reflexividade e da capacidade analítica que tal abordagem geraria, tanto para pesquisadores quanto para profissionais (Morgan, 1996). Por sua vez, Burrell (1996) reagiu a Morgan criticando a excessiva promiscuidade paradigmática e sugerindo que Morgan poderia estar dando a falsa impressão de que paradigmas e modelos metateóricos são intercambiáveis como produtos em prateleiras de supermercados. Outros teóricos argumentaram que a proliferação paradigmática promoveu a “anarquia” no campo, que deveria ater-se a um paradigma dominante, em geral aquele relacionado ao postulante (por exemplo, ver Donaldson, 1985) ou por ele escolhido (Pfeffer, 1997). Nesta primeira edição da série, selecionamos também o instigante texto de Lewis e Grimes, publicado em 1999 na prestigiosa Academy of Management Review, para exemplificar a corrente que defende o diálogo e co-desenvolvimento interparadigmático, e que procura desenvolver pesquisa e gerar conhecimento por meio da oposição sistemática e proposital de perspectivas opostas. O texto é bem construído e atualizado. Além disso, oferece recursos importantes ao pesquisador. Em primeiro lugar, o texto registra a produção dos pesquisadores “multiparadigmáticos” e “interparadigmáticos”, incluindo vários tipos e formas de manifestação dessas abordagens. Acredito que, como eu, o leitor que já admirava ou aplicava abordagens interparadigmáticas irá achar curiosa e relevadora a sua desconstrução na tipologia de aplicações levada a cabo pelos autores. Em segundo lugar, o trabalho tem grande mérito também pela prescrição estruturada da abordagem de pesquisa interparadigmática, denominada “metatriangulação”, uma técnica que eles revisam e ampliam neste artigo. Em terceiro lugar, cabe registrar que o texto tem grande valor também para leitores não acadêmicos, ou leitores acadêmicos mais próximos da prática gerencial, pois traz um exemplo de aplicação da técnica de metatriangulação a um caso de tecnologia avançada de manufatura. Lewis e Grimes revêem e ampliam significativamente o trabalho de Burrell e Morgan 20 anos após a publicação do livro que popularizou a categorização paradigmática em estudos organizacionais. Estimo que o leitor de RAE – seja para sua própria formação ou desenvolvimento, seja para o seu uso em pesquisa ou no ensino – verá grande utilidade nestas duas obras.
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