Tecnicas de Alimentação de Ferros Fundidos COLFUN 2012
Tecnicas de Alimentação de Ferros Fundidos COLFUN 2012
Tecnicas de Alimentação de Ferros Fundidos COLFUN 2012
CINZENTOS E NODULARES 1
2
Ricardo Fuoco
Resumo
Durante a solidificação dos ferros fundidos com grafita ocorrem 3 tipos de variações
volumétricas, a saber: a) contração primária durante a redução de temperatura do líquido e
durante o começo da formação de austenita; b) expansão devido à formação de fases em
conjunto com a grafita (formação das células eutéticas); c) contração secundária em
decorrência da formação de fases sólidas entre as células eutéticas.
1. Introdução
2
Rechupes formados durante a primeira fase de contração são conhecidos como
rechupes primários. Estes rechupes apresentam como características típicas a formação de
rebaixos nas superfícies externas das peças fundidas (Figura 2) ou vazios internos com
(2-4)
superfície interna lisa e, geralmente, com a presença de gotas de re-enchimento(exudação) ,
como apresentam as Figuras 3 e 4.
(a) (b)
Figura 2 - Aspecto típico de rebaixamento da superfície externa da peça (rechupe primário) em
componente de ferro fundido nodular (a e b).
(a) (b)
Figura 3 - Aspecto típico de porosidades de rechupe primário com aspecto liso e com “gota” de
re-enchimento (refluxo) na parte inferior da porosidade em componente de freio de ferro
(2-4)
fundido cinzento (a e b) .
3
(a) (b)
Figura 4 - Aspecto típico de porosidades de rechupe primário com aspecto liso e com “gota” de
re-enchimento (refluxo) na parte inferior da porosidade em virabrequim de ferro fundido nodular
(4)
(a e b) .
(a) (b)
Figura 5 - Aspecto típico de porosidades de rechupe secundário (microporosidades
aglomeradas) na ligação entre massalote e peça de ferro fundido nodular (a e b).
4
2. Modo de solidificação dos ferros fundidos cinzentos
A Figura 6 ilustra o crescimento das células eutéticas em ferros fundidos cinzentos (a),
além de descrever a diferença no grau de nucleação em ferros fundidos com grafita do tipo A
(crescimento com elevado grau de nucleação da grafita) e do tipo D (crescimento com baixo
(5)
grau de nucleação) (b) .
(a) (b)
(c)
5
Figura 7 – Microestruturas de ferro fundido cinzento resfriados bruscamente durante a
solidificação (“congelando o crescimento das células eutéticas) de modo a permitir a
(6)
observação das células eutéticas . O líquido remanescente no momento do resfriamento
rápido solidifica como ferro fundido sem grafita, aparecendo como fase clara nas
microestruturas.
O modo de solidificação dos ferros fundido cinzentos promove pelo menos duas etapas
(1-4)
de contração volumétrica, separadas por uma etapa de expansão volumétrica , a saber:
1. Contração primária decorrente da redução de volume do líquido ao se
resfriar da temperatura de vazamento até o começo de solidificação,
seguida da contração de solidificação das dendritas de austenita;
2. Expansão volumétrica decorrente da formação das células eutícas;
3. Contração secundária decorrente da contração de solidificação da austenita
do eutético que envolve as células eutéticas e das fases intercelulares
(austenita e, eventualmente, carbonetos eutéticos e Steadita);
6
3. Modo de solidificação dos ferros fundidos nodulares
7
(a)
(b)
(c)
8
Figura 11 – Microestrutura de ferro fundido nodular ferrítico com colônias de perlita distribuídas
nas regiões interdendríticas, confirmando que o padrão de segregação é interdendrítico, como
proposto nas Figuras 10b e 10c.
O modo de solidificação dos ferros nodulares promove pelo menos duas etapas de
(1-4)
contração volumétrica, separadas por uma etapa de expansão volumétrica , a saber:
1. Contração primária decorrente da redução de volume do líquido ao se
resfriar da temperatura de vazamento até o começo de solidificação,
seguida da contração de solidificação das dendritas de austenita (a
expansão volumétrica decorrente da expansão da grafita primária
normalmente é desconsiderada por ser de valor pequeno);
2. Expansão volumétrica decorrente da precipitação de grafita do eutético;
3. Contração secundária decorrente da contração de solidificação da
austenita do eutético que envolve os nódulos de grafita e das fases
intercelulares (austenita e, eventualmente, carbonetos eutéticos);
9
4. Técnicas de Alimentação de Ferros Fundidos Cinzentos e
Nodulares
a)
b)
c)
Figura 12 – Esquema ilustrando a alimentação de uma peça de aço através do uso de
massalote. A técnica utilizada é a solidificação direcional, ou seja, a solidificação da peça deve
ocorrer antes da solidificação do pescoço de ligação massalote/peça e, finalmente, ocorre a
solidificação do massalote.
Devido ao modo de solidificação dos ferros fundidos formar poças de líquido isoladas
(vide Figuras 7 e 9), a alimentação da contração secundária destas poças de líquido pelos
massalotes só é eficaz em peças que apresentam elevados gradientes térmicos em direção a
estes massalotes, deixando canais intercelulares para a passagem do líquido vindo dos
massalotes.
10
Um exemplo tradicional deste tipo de alimentação é o bloco em Y, utilizado para
obtenção de corpos de prova para avaliação de propriedades mecânicas em ferros fundidos
nodulares, como ilustra a Figura 13.
Figura 13 – Esquema de fundição de blocos em “Y” segundo norma ASTM A536, utilizando
alimentação tradicional, com baixo rendimento metálico. Adaptado da referência 4.
a)
b)
c)
Figura 14 – Esquema ilustrando a alimentação de uma peça de ferro fundido através do uso de
massalote. Note que com a solidificação direcional para o massalote, podem restar poças de
metal líquido isoladas do contato do massalote pelas células eutéticas. Estas poças de metal
líquido desenvolverão porosidades (rechupes secundários).
11
Como a técnica de solidificação direcional não é eficiente na maioria dos casos de
peças de ferros fundidos, a técnica de alimentação tipicamente utilizada é completamente
diferente.
No caso dos ferros fundidos com grafita, os massalotes devem alimentar somente a
contração primária inicial, ocorrendo a solidificação da ligação entre massalote e peça, no início
da expansão da grafita (antes do final da solidificação da peça).
12
Esta técnica também exige que o molde apresente resistência mecânica suficiente para
não se deformar durante o processo de expansão da grafita, o que aliviaria a pressão do
líquido e distorceria as dimensões externas da peça, promovendo o inchamento da peça.
Para ferros fundidos nodulares esta mesma recomendação pode ser utilizada, mas
como as expansões decorrentes da formação da grafita são muito mais intensas, para
minimizar os problemas de inchamento de moldes, normalmente se permite algum escape de
líquido por refluxo para os massalotes, aliviando o excesso de pressão. Assim, para ferros
fundidos nodulares recomenda-se que o pescoço apresente módulo de resfriamento de
50% a 80% do módulo da região a ser alimentada, ou seja, a solidificação do pescoço
deve ocorrer um pouco depois do começo da formação da grafita.
(12-14)
Alguns autores indicam correlações gráficas entre o módulo de resfriamento da
peça e o módulo de resfriamento do pescoço para ferros fundidos nodulares, como mostra a
Figura 16.
13
Mpeça = 0,6 cm
Mpeça = 0,9 cm
Mpescoço = 0,45 cm
Figura 17 – Exemplo prático de alimentação de peça de ferro fundido nodular com módulo de
resfriamento da região grossa de 0,9cm. A alimentação da região grossa é feita através de uma
região fina da peça, com módulo de resfriamento de 0,6cm, através do uso de massalote com
pescoço de ligação massalote/peça com módulo de resfriamento de 0,45cm (50% do módulo
da região grossa da peça).
Estas recomendações de dimensões dos pescoços auxiliam na alimentação das peças
de ferros fundidos, mas não garantem o resultado final por depender de outras variáveis de
processo, tais como: as condições de solidificação do ferro fundido, a temperatura de
vazamento e a resistência do molde de areia.
Esta variável pode explicar a grande maioria das crises de defeitos de rechupe
observadas em produções seriadas de peças de ferros fundidos sem nenhuma explicação
aparente.
14
5. Avaliação da Eficiência de Alimentação pelo Aspecto Típico dos
Massalotes
Figura 18– Aspecto típico de massalotes de peças de ferros fundidos cinzentos em que o
sistema de alimentação teve um bom funcionamento (b) e em sistema de alimentação que
permitiu escape de pressão, com ocorrência de refluxo da peça (a).
Como em ferros fundidos nodulares a geração de pressão sobre o molde é muito mais
intensa do que em ferros fundidos cinzentos, a técnica de alimentação utilizada é permitir o
escape de parte da pressão gerada no início da formação do eutético, evitando a deformação
da peça fundida por inchamento. Para isto, as dimensões dos pescoços devem ser maiores do
que no caso de ferros fundidos cinzentos.
15
Desta forma, num primeiro momento o massalote supre a contração primária da peça
e, em seguida, permite escape de alguma pressão gerada na cavidade do molde na forma de
refluxo de líquido para o massalote. O restante da expansão da grafita ocorre com a cavidade
do molde isolada, contribuindo para o aumento de sua pressão interna. Durante a contração
secundária, esta pressão acumulada é parcialmente aliviada, mas sem o risco de ocorrência de
rechupe secundário.
(a) (b)
Figura 19 - Aspecto típico de massalote de alívio de pressão cortado (a), exibindo o rechupe e
um sinal de refluxo de metal da peça (gota de re-enchimento). Aspecto típico de massalote de
alívio de pressão em que o pescoço fechou prematuramente (b), apresentando rechupe sem
sinal de refluxo, o que pode levar ao inchamento da cavidade.
16
(a)
(b)
(c)
Figura 20 – Peça fundida em ferro nodular com módulo do pescoço inferior ao necessário, que
acabou por sofrer inchamento da superfície superior da peça (a). Peça fundida em ferro nodular
com pequeno comprimento do pescoço que promove a distorção do módulo geométrico do
pescoço devido ao superaquecimento da areia entre massalote e região elevada da peça.
Como resultado, o pescoço apresenta tempo de solidificação excessivo, promovendo a
formação de rechupe secundário (b e c).
17
6. Uso de Simulação de Solidificação para Projeto de Alimentação de Peças
Fundidas
Este tipo de interpretação errônea dos resultados de simulação poderia levar a projetos
(17)
com um número de massalotes excessivo e com rendimentos metálicos baixos :
a)
a) b)
Figura 21 – Resultados de simulação de solidificação de carcaça de ferro fundido nodular.
Note-se que foram utilizados dois conceitos distintos neste projeto de alimentação: o pescoço e
massalote foram projetados para solidificação direcional (a) e o anel inferior (com módulo de
resfriamento de 0,491cm) tem sua alimentação através de uma parede com módulo de
resfriamento de 0,296cm (60% do módulo da região a ser alimentada) (b).
18
A Figura 22 apresenta um exemplo de resultado de simulação de um virabrequim que,
apesar de apresentar solidificação prematura do pescoço, como recomendado na técnica de
alimentação de ferro fundido nodular, apresentou porosidades de rechupe secundário. A
Figura 23 apresenta o aspecto das porosidades de rechupe secundário que ficaram visíveis
após a usinagem da peça.
19
Figura 24 – Simulação de solidificação inicial, com solidificação do pescoço em 18 s, que
apresentou porosidades de rechupe secundário e a nova condição, com pescoço reduzido,
com solidificação do pescoço em 14 s, onde as porosidades de rechupe secundário não foram
observadas.
20
a)
b)
c)
Figura 25 – Diferentes dimensões de pescoço de ligação entre massalote e peça (manga de
eixo em ferro fundido nodular) resultando em diferentes tempos de solidificação do pescoço e
diferentes frações de metal no estado líquido na peça.
21
2. Com o pescoço correspondente a 60% do tempo de solidificação da
parte grossa da peça (Figura 25b) a solidificação do pescoço ocorreria no final da
contração líquida. Possivelmente, a alimentação da contração primária ocorreria
com metal vindo do massalote através do pescoço e, com sua solidificação, a
pressão de expansão da grafita promoveria a alimentação da contração
secundária. Nesta condição, provavelmente a alimentação da peça seria bem
sucedida.
a) b)
Neste caso extremo, a concentração de calor foi tão elevada que percebe-se a
formação de rechupe primário (rebaixamento externo) na superfície da peça junto ao
massalote.
Ao mesmo tempo, como o pescoço ficou aberto por longo tempo, verifica-se a
formação de porosidades de rechupe secundário na região da quebra do massalote, como
mostra a Figura 27.
22
a) b) c)
a)
b)
Figura 28 – Exemplo de peça com 3 pontos quentes que poderiam ser alimentada por um
único massalote colocado na região central da peça (a). Os pontos quentes laterais poderiam
ser alimentados pelo ponto quente central desde o módulo de resfriamento das regiões
intermediárias fossem superiores a 50% do módulo de resfriamento de cada um dos pontos
quentes laterais (b).
23
O tamanho do pescoço de ligação do massalote com a região central da peça foi
projetado para ter módulo entre 0,4 cm e 0,6 cm, entre 50% e 80% do módulo da região central
da peça (0,8 cm). O resultado final do projeto de alimentação é apresentado na Figura 29.
24
Figura 30 – Resultado da simulação da peça evidenciando a presença de 3 pontos quentes na
peça (setas).
A partir deste resultado, o massalote central foi projetado para ter um pescoço com
módulo entre 0,45 cm e 0,72 cm, entre 50% e 80% do módulo de resfriamento da região central
da peça (0,9 cm). O resultado final do projeto de alimentação é apresentado na Figura 32.
25
Figura 32 – Resultados de simulação do sistema de alimentação com um único massalote
central. O aspecto típico dos massalotes cortados mostra que houve alimentação da contração
primária, sem a ocorrência de refluxo (setas).
7. Comentários Finais
A técnica de alimentação de peças em ferros fundidos com grafita não deve utilizar o
conceito de solidificação direcional normalmente aplicado a outras ligas fundidas. A técnica
mais utilizada considera massalotes somente para alimentar as contrações primárias e usa a
expansão da grafita como forma de acumular pressão no líquido remanescente, garantido a
alimentação da contração secundária.
26
8. Referências Bibliográficas
27