Almeida EduardoDe D
Almeida EduardoDe D
Almeida EduardoDe D
EDUARDO DE ALMEIDA
CAMPINAS - SP
2018
EDUARDO DE ALMEIDA
CAMPINAS - SP
2018
Tese de Doutorado defendida por Eduardo de Almeida e aprovada em 22 de novembro de
2018 pela banca examinadora constituída pelos doutores:
______________________________________________________________________
Prof. Dr. Osvaldir Pereira Taranto
FEQ/UNICAMP
______________________________________________________________________
Prof. Dr. Guilherme José de Castilho
FEQ/UNICAMP
______________________________________________________________________
Profa. Dra. Louise Emy Kurozawa
FEA/UNICAMP
______________________________________________________________________
Prof. Dr. Song Won Park
EP/USP
______________________________________________________________________
Prof. Dr. Wanderley Pereira Oliveira
FCFRP/USP
Aos meus pais, Péricles de Almeida e Mirandiva Puggina de Almeida, pelas lições de
respeito, humildade e caráter.
À Profa. Dra. Maria Aparecida Silva por todo seu conhecimento repassado e por ter
acreditado em meu trabalho, uma pessoa esplêndida a quem serei para sempre grato.
Aos professores, Prof. Dr. Guillermo Alfonso Roca Alarcón, Prof. Dr. Edgardo Olivares
Gómez e Prof. Dr. Ricardo Baldassin Jr. pelas experiências profissionais compartilhadas
durante a fase de estudos com o classificador pneumático.
Ao Prof. Dr. Nicolas Spogis, um grande amigo que por inúmeras vezes compartilhou
toda sua experiência com simulações, algumas vezes enquanto degustávamos algumas cervejas
caseiras de sua autoria.
Ao Prof. Dr. Milton Mori por ter gentilmente cedido o espaço no PQGe (Laboratório
de Pesquisa em Processos Químicos e Gestão Empresarial) para a execução deste trabalho .
À empresa Engineering Simulation and Scientific Software (ESSS) por todo suporte
técnico prestado para que fosse possível o desenvolvimento do presente estudo.
The scope of this study was to evaluate the sugarcane bagasse behavior when
separated into groups of particles in a fluidized bed. Computational simulations were performed
using the ANSYS Fluent® and ROCKY DEM® software, which modeled the separation tests
based on Computational Fluid Dynamics (CFD) and Discrete Elements Methods (DEM). The
simulations allowed the analysis of the separation by varying different air velocities and the
moisture content of the particles. The best results were obtained when physical characteristics
of the bagasse at equilibrium moisture, approximately 7% moisture, w.b., and using the
CFD/DEM coupling called 2-Way were simulated, i.e. with the fluid phase interfering on the
solid behavior and vice versa. When it was simulated the bagasse with physical characteristics
that allows classify it as being wet, around 50% w.b., it has been found that it was an ideal
model since the separation of the wet bagasse under normal atmospheric conditions of
temperature and pressure promotes the natural drying of the material during the separation
process. It has been concluded that the adopted models were very satisfactory depending on the
group of particles that were intended to be separated and the results of the simulations were
validated through the comparison with laboratory tests. The simulation experiments were
relevant considering the possibility of expanding the use of the models in simulations of other
processes that use the fluidization of sugarcane bagasse such as drying, pyrolysis, gasification
and others, allowing the study and development of equipment near an ideal configuration,
saving time and high investments.
Figura 34: Ilustração esquemática das forças e velocidades atuantes nas partículas 104
i e j durante sua colisão. (MOSTOUFI et al., 2016)
Figura 35: Diferentes abordagens do tratamento das partículas a) método 107
superfície não resolvida e b) método superfície resolvida.
(MOSTOUFI et al., 2016)
Figura 36: Estrutura do acoplamento explícito no modelo CFD-DEM superfície 112
não-resolvida. (Adaptado de MOSTOUFI et al., 2016)
Figura 37: Método analítico de determinação da porosidade no volume de 113
controle. (MOSTOUFI et al., 2016)
Figura 38: Método PCM para a determinação da porosidade no volume de 114
controle. (MOSTOUFI et al., 2016)
Figura 39: Método PCM com compensação para a determinação da porosidade 114
no volume de controle (MOSTOUFI et al., 2016)
Figura 40: Método do sub-elemento para a determinação da porosidade no 115
volume de controle. (Adaptado de MOSTOUFI et al., 2016)
Figura 41: Configuração das partículas no leito fluidizado circulante após 0,7s de 123
simulação. (CHU e YU, 2008)
Figura 42: Padrões de fluxo das partículas para as velocidades a) 10 b) 13 c) 18,5 124
d) 30,5 e e) 30,5 m/s. (ZOU et al., 2009)
Figura 43: Perfis de porosidade na tubulação do transporte pneumático diluído de 125
partículas. (adaptado de STURM et al., 2010)
Figura 44: Perfis de velocidades das partículas após 2s de simulação para os casos 126
com o tubo a) horizontal-vertical b) vertical-horizontal e c) horizontal-
horizontal. (adaptado de GUI et al., 2015)
Figura 45: Resultados da simulação a) velocidade do gás b) lei de arraste de 128
Ganser c) comparação entre leis de arraste. (adaptado de ALMEIDA
et al.,2015)
Figura 46: Simulação do movimento das partículas úmidas no riser. (Wang et al., 132
2014)
Figura 47: Formatos padrões de partículas disponíveis no software Rocky DEM® 134
aptos a edição. (ROCKY, 2017)
Figura 48: Alguns exemplos de elementos que podem ser simulados. (ROCKY, 134
2017)
Figura 49: Incremento de velocidade de simulação no software Rocky DEM® 140
possibilitado pelo uso de GPU. (ENGISOFT, 2017)
Figura 50: a) Esquema do equipamento elutriador utilizado nos experimentos de 142
caracterização (LENÇO, 2010) b) zoom no tubo sedimentador
elutriador com suas respectivas medidas
Figura 51: Típica curva de carregamento e descarga em uma colisão elasto- 148
plástica normal
Figura 52: Modelo elasto-plástico esfera macia. (MOSTOUFI et al., 2016) 149
Figura 53: Aparato utilizado para medição experimental do ângulo de repouso da 153
palha de milho. (Adptado de ILELEJI; ZHOU, 2008)
Figura 54: Variáveis utilizadas na medição do ângulo de repouso. (Adptado de 154
ILELEJI; ZHOU, 2008)
Figura 55: Distribuição de massas de partículas usadas na simulação 162
Figura 56: Aproximação para as dimensões das partículas de bagaço. (LENÇO, 162
2010)
Figura 57: Formato da partícula escolhido no software Rocky DEM 163
Figura 58: Malha utilizada na simulação 1 via a) malha inteira b) detalha saída 166
inferior c) detalhe da saída superior d) detalhe da alimentação
Figura 59: Malha utilizada na simulação 2 vias a) malha inteira b) detalha saída 167
inferior c) detalhe na saída superior d) detalhe na alimentação
Figura 60: Massas das partículas obtidas nas saídas superior e inferior da 169
simulação 1 via, umidade de equilíbrio, velocidade do ar de 1,5 m.s -1
Figura 61: Massas das partículas obtidas nas saídas superior e inferior da 169
simulação 1 via, umidade de equilíbrio, velocidade do ar de 1,7 m.s-1
Figura 62: Massas das partículas obtidas nas saídas superior e inferior da 170
simulação 1 via, umidade de equilíbrio, velocidade do ar de 2,0 m.s-1
Figura 63: Massas das partículas obtidas nas saídas superior e inferior da 170
simulação 1 via, umidade de equilíbrio, velocidade do ar de 3,0 m.s-1
Figura 64: Massas das partículas obtidas nas saídas superior e inferior da 171
simulação 1 via, umidade de equilíbrio, velocidade do ar de 3,5 m.s-1
Figura 65: Massas das partículas obtidas nas saídas superior e inferior da 171
simulação 1 via, umidade de equilíbrio, velocidade do ar de 4,5 m.s -1
Figura 66: Zoom da separação de bagaço próximo da saída inferior na simulação 172
1 via do bagaço em umidade de equilíbrio variando as velocidades do
ar de a) 1,5 m.s-1 b)1,7 m.s-1 c) 2,0 m.s-1 d) 3,0 m.s-1 e) 3,5 m.s-1 f)
4,5 m.s-1
Figura 67: Zoom da separação de bagaço próximo da saída superior e alimentação 173
na simulação 1 via do bagaço em umidade de equilíbrio variando as
velocidades do ar de a) 1,5 m.s-1 b)1,7 m.s-1 c) 2,0 m.s-1 d) 3,0 m.s-1
e) 3,5 m.s-1 f) 4,5 m.s-1
Figura 68: Massas das partículas obtidas nas saídas superior e inferior da 175
simulação 2 vias, umidade de equilíbrio, velocidade do ar de 1,7 m.s-1
Figura 69: Massas das partículas obtidas nas saídas superior e inferior da 176
simulação 2 vias, umidade de equilíbrio, velocidade do ar de 2,8 m.s -1
Figura 70: Massas das partículas obtidas nas saídas superior e inferior da 176
simulação 2 vias, umidade de equilíbrio, velocidade do ar de 3,9 m.s -1
Figura 71: Massas das partículas obtidas nas saídas superior e inferior da 177
simulação 2 vias, umidade de equilíbrio, velocidade do ar de 4,5 m.s -1
Figura 72: Massas das partículas obtidas nas saídas superior e inferior da 177
simulação 2 vias, umidade de equilíbrio, velocidade do ar de 5,0 m.s-1
Figura 73: Massas das partículas obtidas nas saídas superior e inferior da 178
simulação 2 vias, umidade de equilíbrio, velocidade do ar de 6,4 m.s-1
Figura 74: Partículas formando uma pilha após serem despejadas do funil 180
Figura 76: Massas das partículas obtidas nas saídas superior e inferior da 181
simulação 2 vias, bagaço úmido, velocidade do ar de 1,7 m.s-1
Figura 77: Massas das partículas obtidas nas saídas superior e inferior da 182
simulação 2 vias, bagaço úmido, velocidade do ar de 2,8 m.s-1
Figura 78: Massas das partículas obtidas nas saídas superior e inferior da 182
simulação 2 vias, bagaço úmido, velocidade do ar de 3,9 m.s-1
Figura 79: Massas das partículas obtidas nas saídas superior e inferior da 183
simulação 2 vias, bagaço úmido, velocidade do ar de 4,5 m.s-1
Figura 80: Massas das partículas obtidas nas saídas superior e inferior da 183
simulação 2 vias, bagaço úmido, velocidade do ar de 5,0 m.s-1
Figura 81: Massas das partículas obtidas nas saídas superior e inferior da 184
simulação 2 vias, bagaço úmido, velocidade do ar de 6,4 m.s-1
Figura 82: Porcentagens de massa acumuladas do bagaço em umidade de 185
equilíbrio separadas variando as velocidades do ar
Figura 83: Porcentagens de massa acumuladas do bagaço úmido separadas 185
variando as velocidades do ar
Figura 84: Comparação da separação do bagaço com velocidade do ar a 4,5 m.s- 186
1 a) seco 2 Vias e b) úmido 2 Vias
Figura 85: Massas das partículas obtidas nas saídas superior e inferior da 188
simulação 2 vias, umidade de equilíbrio, considerando a força de
adesão, velocidade do ar de 5,0 m.s-1
Figura 86: Aglomerado de partículas que ficou estável após 11 segundos da 188
simulação até o seu final, vista x-y
Figura 87: Zoom do aglomerado de partículas que ficou estável após 11 segundos 189
da simulação até o seu final, vista x-y
Figura 88: Aglomerado de partículas que ficou estável após 11 segundos da 189
simulação até o seu final, vista x-z
Figura 89: Malha utilizada na simulação com Acoplamento 1 Via 213
Figura 98: Visão do software ROCKY® após importação da geometria e criação 219
da entrada de partículas
Figura 99: Adição de materiais 220
Figura 106: Malha utilizada nos testes com destaque para a saída inferior 226
Figura 109: Escolha do modelo Euleriano com duas fases, sendo uma o ar e a outra 228
as partículas
Figura 110: Selecionando o modelo de turbulência 229
𝛿𝑛 Sobreposição normal m
𝛿𝑛,0 Sobreposição normal residual após completada a fase de
m
descarga
𝛿𝑡 Sobreposição tangencial -
⃗⃗ 𝑒𝑙
∆𝑀 𝑟 Mudança incremental no torque de rolamento elástico N.m
ΔP Diferencial de pressão no leito Pa
ε Porosidade do leito -
ηr Relação de amortecimento viscosa do torque de rolamento -
𝜇𝑑 Coeficiente de atrito dinâmico
µg Viscosidade dinâmica do fluido kg.m-1.s-1
𝜇𝑟 Coeficiente de resistência ao rolamento do modelo A -
𝜇𝑟′ Coeficiente de resistência ao rolamento do modelo B -
𝜇𝑟" Coeficiente de resistência ao rolamento do modelo C -
𝜇𝑠 Coeficiente de atrito estático -
ϼf Densidade do fluido kg.m-3
ρp Densidade da partícula kg.m-3
ρpm Densidade da fase sólida de massa m kg.m-3
ρreal Densidade real das partículas kg.m-3
𝜎̿𝑔 Tensor de tensões para a fase gasosa Pa
̿pm
σ Tensor de tensões para a fase sólida Pa
∅𝑐 Variável de fluido armazenadas no centro da célula -
∅𝑓,𝑖 Valor da propriedade do fluido interpolado na face da célula -
∅𝑝 Variável de fluido armazenadas na posição da partícula -
φi Fração volumétrica da partícula i que pertence à célula estimada -
φs Esfericidade da partícula -
𝜏 Escalar de tempo s
⃡
τg Tensor das tensões de cisalhamento do gás Pa
τ̿pm Tensor das tensões viscosas para a fase sólida Pa
||Ur|| Norma do vetor da velocidade relativa m.s-1
̿
U Tensor unitário -
𝜔
̂ 𝑖𝑗 vetor unitário da velocidade angular das partículas i e j rad.s-1
SUMÁRIO
RESUMO ................................................................................................................................... 8
ABSTRACT .............................................................................................................................. 9
CAPÍTULO 1
INTRODUÇÃO
professores Dr. Luís Augusto Barbosa Cortez (Feagri / Unicamp) e Dr. Guillermo A. Roca
Alarcon (Universidad de Oriente / Cuba), contando com auxílio da Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), detalhado conforme a Figura 2.
CAPÍTULO 2
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
1999). As folhas são compostas por folhas verdes e folhas secas, as últimas também
denominadas por palha (SANTOS et al., 2013). Para a melhor compreensão das definições, a
Figura 3 apresenta as partes constituintes da cana-de-açúcar.
Pela análise das curvas da Figura 05, percebe-se que o bagaço obtido por moagem
apresenta em sua constituição aproximadamente 15% das partículas maiores que 12 mm,
enquanto que o bagaço obtido por difusão a porcentagem de partículas maiores que 12 mm
aumenta para em torno de 43% (CTC, 2012).
No trabalho realizado por Arnao (2007), a comparação entre a distribuição do
tamanho de partículas do bagaço obtido por moagem e difusores confirma que o bagaço oriundo
da difusão apresenta uma porcentagem de partículas com dimensões superiores a 5,66 mm
muito superior ao apresentado pelo bagaço oriundo do processo de moagem, conforme Figura
6.
38
Após a etapa da moagem, o bagaço obtido na ordem de 240 kg a 280 kg por tonelada
de cana processada é enviado para a caldeira, sendo o combustível responsável pela geração de
energia térmica, caso do vapor utilizado para concentração do caldo, destilação e desidratação
do etanol, bem como energia elétrica para acionamento de equipamentos como moendas,
desfibradores, picadores, exaustores e bombas (CORTEZ et al.,2008; LEAL, 2010).
A sobra de bagaço passou a ocorrer após as usinas terem alcançado a
autossuficiência energética, com caldeiras operando aproximadamente com vapor a pressão de
22 bar e temperatura de 300º C, com tal sobra variando de 0% a 10%, sendo que tais valores
podem aumentar significativamente caso a palha de cana-de-açúcar, hoje deixada no campo
após a colheita mecânica, seja utilizada na geração de energia.
Por outro lado, o caldo da cana, que atualmente é o principal substrato utilizado
pelas usinas brasileiras para fermentação alcoólica e posterior produção de etanol, apresentando
concentrações de 10% a 19% de açúcares logo que extraído, segue para as dornas de
fermentação (CORTEZ et al., 2008).
A etapa final da produção de etanol de cana-de-açúcar é a destilação do mosto
fermentando, ou vinho, que ocorre nas colunas de destilação. Nesta etapa pode-se obter o álcool
hidratado, com graduação alcoólica em torno de 93,2° INPM, geralmente utilizado como
combustível de automóveis, ou o álcool anidro, a partir da desidratação do álcool hidratado,
com teor alcoólico superior a 99,3° INPM, em geral utilizado como aditivo à gasolina.
Se for possível integrar o processo de produção de etanol de segunda geração ao
processo atualmente utilizado nas usinas, o equipamento classificador pneumático de partículas
de bagaço, objeto desse estudo, poderia ser alocado na linha de produção, inclusive com a
40
saturados e insaturados, proteínas e flavonóides, que podem ser extraídos com solventes
orgânicos, sendo que alguns deles também podem ser extraídos em água (GOLDSTEIN, 1981).
2.1.2.3 Água
Com relação à água presente no bagaço, a mesma apresenta-se retida neste por
mecanismos de adsorção e capilaridade. A adsorção se deve à capacidade dos componentes
químicos presentes no bagaço de adsorverem moléculas de água, sendo que tal mecanismo
depende das condições de umidade relativa do ambiente. Já a retenção de água por capilaridade
e tensão superficial se deve à natureza porosa do bagaço (TRIANA et al., 1990).
A elevada umidade do bagaço inviabiliza uma série de processos a serem realizados
com tal biomassa como seu transporte a grandes distâncias, gaseificação (exige bagaço com
umidade de até 15%), melhoria na eficiência de caldeiras, entre outros. Deste modo, empresas
e centros de pesquisa vêm desenvolvendo e testando equipamentos que promovam a secagem
do bagaço (CTC, 2012).
O material fibroso corresponde a toda fração sólida orgânica do bagaço, não solúvel
em água, descontando os extrativos, encontrada originalmente no caule da cana-de-açúcar,
apresentando valores de densidade absoluta próximos de 1470 kg/m3 (CGEE, 2009). Encontra-
se em sua constituição fibras exteriores próximas da casca, ricas em feixes fibrovasculares e
outras formas fibrosas que garantem resistência e dureza ao tecido vegetal, quantidades
abundantes de células parenquimatosas, com paredes porosas que possuem função de reserva
de sacarose e condução de nutrientes a pequenas distâncias, e segmentos de vasos, com função
de condução de nutrientes e distintos das células parenquimatosas pelo seu grande
comprimento. Em menor quantidade encontram-se as células epidérmicas, que dão origem ao
tecido de revestimento e caracterizadas por apresentarem bordas irregulares (SANJUÁN et al.,
2001; TRIANA et al., 1990).
A Tabela 1 apresenta a composição morfológica do material fibroso do bagaço de
cana-de-açúcar limpo.
42
2.1.2.4.1 Casca
2.1.2.4.2 Fibra
2.1.2.4.3 Medula
A densidade aparente de uma partícula pode ser definida como a razão entre a massa
desta pelo seu volume, incluindo os seus poros, dada na unidade de kg/m3. Tal propriedade é
muito importante quando se estuda a fluidodinâmica de um material, pois, a massa e o volume
da partícula estão intimamente relacionados a suas características de fluidização.
No trabalho de Lenço (2010) foi mensurado o volume de uma quantidade conhecida
de partículas de bagaço por meio da técnica de avaliação do deslocamento do fluido de trabalho,
no caso o n-heptano, em um picnômetro. Sabendo o volume médio das partículas e sua massa
foi possível determinar a sua densidade aparente média.
A Figura 15 apresenta os resultados das densidades aparentes médias obtidas para
diferentes frações de bagaço, estando a umidade de equilíbrio em torno de 7% (base úmida),
que haviam sido separadas pneumaticamente por meio do seu arraste em um tubo, variando a
velocidade do ar. Para tanto foram realizados dois experimentos denominados amostra 1 e
amostra 2.
47
Figura 15: Densidades aparentes médias das partículas de bagaço em função de suas
velocidades de separação. (LENÇO, 2010)
Como já destacado no item 1.1 do capítulo 1, diversos produtos podem ser obtidos
a partir do bagaço de cana, sendo muitos deles oriundos do bagaço hidrolisado. Considerando
especificamente o caso do aumento da produção de etanol derivado de bagaço, será enfatizado
neste item alguns aspectos relevantes do método da hidrólise enzimática por entender que o
mesmo possui o maior potencial a ser viável em processos industriais, conforme argumentos
que serão apresentados. No final do item são mostrados alguns dados relevantes obtidos a partir
da hidrólise enzimática de partículas de bagaço de cana separadas pneumaticamente em um
equipamento classificador.
Devido ao fato de haver sobras de bagaço na usina, como comentado no item 2.1.1,
vislumbra-se obter etanol a partir dos açúcares fermentáveis desta biomassa, os quais podem
ser extraídos pelo processo de hidrólise e, assim, aumentar a produção de etanol sem a
necessidade de expansão de áreas de cultivo de cana-de-açúcar. Deste modo, o estudo de alguns
cenários prevê que a produtividade atual de 85 litros de etanol por tonelada de cana, situação
atualmente comum em destilarias do setor sucroalcooleiro, poderia aumentar com a
viabilização do processo de hidrólise para até 124 litros de etanol por tonelada de cana-de-
açúcar até o ano de 2025 considerando o caso mais otimista, segundo avaliação do Centro de
Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE, 2009).
Em escala laboratorial, a hidrólise do bagaço de cana-de-açúcar já consiste em um
processo consolidado, porém apresenta uma série de gargalos quando se trata de escala
industrial, sendo o principal deles a viabilidade econômica (SOCCOL et al., 2010).
Existem diferentes métodos de hidrólise propostos, sendo destacada a utilização de
duas rotas principais. A primeira rota trata da hidrólise ácida, nesta ocorre a degradação da
celulose em glicose em um intervalo curto de tempo, alguns minutos ou horas, tanto em meio
ácido diluído a elevadas temperaturas (190 a 240 ºC) como concentrado, utilizando geralmente
ácido sulfúrico ou clorídrico (OLSSON et al., 2005; SÁNCHES; CARDONA, 2008).
Porém, os principais inconvenientes são que em meio ácido diluído é inevitável a
degradação da glicose em hidroximetilfurfural, xilose em furfural, entre outros componentes
tóxicos à levedura que inibem a posterior atividade fermentativa. Por outro lado, em meio ácido
concentrado, o uso de grandes quantidades de ácido torna-se um fator econômico crítico
(SÁNCHES; CARDONA, 2008).
Já a segunda rota utiliza o pré-tratamento da biomassa seguido de sua hidrólise
enzimática para produção de açúcares redutores a partir da celulose. Neste caso, tem-se um
processo lento, chegando a durar dias; no entanto, tem demonstrado melhores resultados na
50
As frações ditas finas e grossas foram então hidrolisadas nas seguintes condições:
Enzimas - cellulase NS 50013, 15 FPU/g de matéria seca, e β-glucosidase NS 50010, 50 UI/g
de matéria seca; 2% de sólidos; temperatura de 47 °C; pH 5,0. As frações médias foram
avaliadas, mas devido à pequena porcentagem do material separada nessa fração decidiu-se
focar os testes nas outras frações. As frações grossas necessitaram ser moídas antes da hidrólise,
apresentando diâmetro médio de partícula de aproximadamente 0,2 mm, já as finas foram
submetidas ao mesmo método do modo como foram separadas, com diâmetro médio de
partícula na ordem de 0,4 mm (ALMEIDA, 2012).
A Figura 18 apresenta fotografias das frações fina e grossa e também da fração
grossa moída, fornecendo ao leitor uma ideia do material descrito.
∆P x At = W (01)
2
dp umf ρf
Rep,mf = ( ) (06)
μg
1,75
k1 = ε3 (08)
mf φs
150(1-εmf )
k2 = (09)
ε3mf φ2s
estudos, cabendo ao pesquisador decidir qual deles apresenta as condições em que melhor se
enquadra a situação onde se pretende avaliar a mínima velocidade de fluidização (KUNII;
LEVENSPIEL, 1991).
A partir da velocidade de mínima fluidização, o leito passa da condição de leito fixo
para leito fluidizado e, aumentando-se a velocidade de passagem do gás, observa-se
sequencialmente, mas que não necessariamente ocorram em tal evolução, os regimes de
fluidização homogênea, fluidização borbulhante, fluidização pistonada, fluidização turbulenta,
fluidização rápida e transporte pneumático.
Pela observação dos regimes de fluidização da Figura 20, nota-se que até o regime
de fluidização pistonada o leito fluidizado apresenta duas zonas distintas, caracterizadas por
uma fase densa de partículas e tendo acima desta uma superfície mais ou menos distinta que a
separa da fase dispersa, onde a densidade dos sólidos decresce com a altura do leito. A seção
do tubo entre a superfície da fase densa e a saída da vazão de gás é denominada freeboard e sua
altura é denominada altura de freeboard (Hf) (KUNII; LEVENSPIEL, 1991).
57
Segundo Klinzing et al. (2010), existem dois tipos básicos de sistema gás-sólido,
um denominado sistema em fase densa e o outro em fase diluída, que podem ser classificados
conhecendo-se a concentração de sólidos no tubo.
À transição abrupta entre os regimes das fases densa e diluída denomina-se
condição chocking, caracterizada por um colapso no movimento da suspensão das partículas,
dando origem a um escoamento pulsátil, ou slugging flow, cuja característica é a de ser um
escoamento instável e com quedas de pressão elevadas e oscilatórias (KLINZING et al., 2010).
Muitos pesquisadores têm classificado ao longo dos anos a condição de choking, tais como,
Leung et al. (1971); Bandrowski; Kacmarzyk. (1981); Bi et al. (1993).
Devido à importância do regime choking, vários autores trabalharam para
determinar correlações que buscam predizer a velocidade crítica do fluido em tal regime,
citando alguns, como Leung et al. (1971), Yang (1975) e Matsen (1982).
Avaliando a transição de regimes de fases densa e diluída para o transporte vertical,
muitos pesquisadores vêm propondo ao longo do tempo diagramas que representam tal
transição, citando Zenz e Othmer (1960), Yerushalmi et al. (1976), Leung (1980), Matsen
(1982), Grace (1986), Rizk (1986). Na maioria dos estudos, os diagramas são feitos baseando-
se na velocidade do gás, vazões de partículas e na queda de pressão pela altura do leito
considerado. Um exemplo de diagrama pode ser verificado na Figura 22.
59
Figura 22: Diagrama das fases densa e diluída no transporte pneumático. (adaptado
de KLINZING et al., 2010)
regime diluído pode ser classificado como uma vazão alta de gás arrastando uma porção
homogênea de sólidos com concentração abaixo de 5%. Já o regime denso com uma vazão
relativamente baixa de gás arrastando uma elevada concentração de sólidos, conferindo
heterogeneidade à suspensão, uma vez que se observa aglomerados e recirculação de tais
sólidos, com valores de porosidade do leito variando de 0,75 a 0,80 (LEUNG, 1980).
Alguns pesquisadores deduziram empiricamente como prever o local exato da
mudança de regime por meio de equações, como foi o caso de Rizk (1986), outros, como
aqueles citados no início desse item, elaboraram diagramas que variaram dos mais simples até
formatos bem elaborados. A questão é que existe muita discussão acerca das divergências
encontradas na forma de definir e identificar limites e fica claro que no regime denso a
compreensão do fenômeno é um desafio maior visto que existem muitas variações no modo do
escoamento no intervalo que contempla do escoamento pulsátil até o início do regime diluído.
Para este trabalho, as operações ocorreram apenas no regime diluído.
Existe também a possibilidade de a transição entre os regimes da fase diluída e
densa ocorrer de forma difusa. Nesse caso, a porosidade do leito é reduzida gradativamente e
passam a coexistir dentro do tubo diferentes regiões de transporte, havendo circulação interna
das partículas. Assim, observa-se em destaque uma região de escoamento diluído e movimento
ascendente da fase sólida na parte central do tubo, e uma região de escoamento denso e
descendente das partículas próxima das paredes do tubo, conforme a Figura 23 (KLINZING et
al., 2010).
61
A principal força volumar é a força de empuxo, que pode ser definida como a força
exercida sobre uma partícula submersa em um fluido, apresentando intensidade proporcional
ao peso do fluido deslocado por tal partícula. Porém, a força de empuxo pode ser negligenciada
no caso do transporte pneumático vertical, visto que esta contribui pouco para o movimento de
elevação das partículas devido à baixa densidade do meio fluido de transporte
(ANANDHAKRISHNAN; SARKAR, 2011).
63
1 dvp 3 2 t dvp dτ
FD =-3πdp μg vp - 2 mf - 2 dp ∫0 ( dτ ) (12)
t √(t-τ)
1
FStokes =Cd Ap ρf‖Ur ‖Ur (13)
2
F
CD = (1⁄2arraste
)ρ U2 A
(14)
f r p
ρf dp Ur
Rep = (15)
μg
entre 0,2 e 1000 o regime é dito intermediário ou de transição e, nesse caso, o coeficiente de
66
arraste passa a ser uma função do número de Reynolds, dado por 𝐶𝐷 = 𝑓[𝑅𝑒𝑝 ]; e, finalmente,
para Rep maior que 1000 o regime é dito turbulento ou regime de Newton, observando-se nesse
regime que a força sobre a partícula é em grande parte devido à inércia do fluido ao invés de
sua viscosidade, sendo o coeficiente de arraste constante e dado por 𝐶𝐷 = 0,44.
Existe ainda a classificação para o regime quando Rep excede o valor de 2x105, dito
regime supercrítico, caracterizado por uma queda acentuada do valor do coeficiente de arraste
para valores próximos de 0,1, sendo que a partir desse ponto começa a ocorrer um ligeiro
aumento de tal valor à medida que o número de Reynolds vai aumentando. A avaliação do
coeficiente de arraste de partículas em regimes supercríticos ainda foi pouco explorada.
(KLINZING et al., 2010)
A partir das observações anteriores, começaram a ser propostas correções para as
aproximações dos regimes de fluidização dependendo do número de Reynolds da partícula e,
assim, muitas correlações de coeficiente de arraste para partículas esféricas surgiram, até que
Pettyjohn e Christiansen (1948) introduziram fatores de correção “K” para a determinação de
correlações de coeficientes de arraste de partículas não esféricas.
O fator de correção “K” é uma razão entre a velocidade relativa de uma partícula
com o fluido pela velocidade relativa entre uma esfera de volume equivalente à partícula e o
fluido. A partir de então, novos trabalhos surgiram propondo novas correlações para o
coeficiente de arraste dependendo, além do número de Reynolds da partícula, também da
esfericidade da mesma. A esfericidade é definida como a razão entre a área superficial da esfera
e área superficial da partícula, ambas com o mesmo volume (WADELL, 1933).
A Figura 24 apresenta um gráfico relacionando o número de Reynolds da partícula
com o coeficiente de arraste da mesma, variando-se os valores da esfericidade.
67
Pela Figura 24, nota-se que o coeficiente de arraste foi representado por 𝐶𝐷∞, isso
porque tal nomenclatura representa o coeficiente de arraste de uma partícula em uma diluição
infinita, ou seja, sem influência de outras partículas ou paredes.
Porém, deve-se atentar ao fato de que é reconhecido que o arrasto aumenta à medida
que se aumenta a concentração de partículas no leito e, deste modo, deve-se considerar a
porosidade do leito como um fator importante na determinação do coeficiente de arraste.
Wen e Yu (1966) estabeleceram uma correlação empírica relacionando o efeito da
porosidade do leito sobre o coeficiente de arraste de partículas.
Uma partícula esférica em queda livre em um meio fluido está sujeita à ação de três
forças que são a gravitacional, de empuxo e arraste. A força resultante da ação das três forças
descritas anteriormente é dita força de aceleração. Quando o balanço de forças é atingido, a
força de aceleração se torna nula e a partícula passa a cair em velocidade constante, denominada
velocidade terminal da partícula (HAIDER; LEVENSPIEL, 1989).
Assim,
FG - FE – FD = FA (17)
FG = FE + FD (18)
1⁄2
4dp (ρp -ρf )g
Ut = [ ] (20)
3ρf Cd
realizada no início deste item a respeito do balanço de forças na partícula, ou pelo gráfico
proveniente de tal equação.
Ga=18Rep (1+0,15Re0,687
p )+ 0,315Re2p⁄(1+4,25 x 104 Re-1,16
p ) (22)
dp Ut ρp 2
Rep = ( ) (23)
μg
Vs ρ
ε=1- =1- (24)
V ρreal
v
vε = ε (25)
73
Logo, para um fluxo de partículas finas muito diluído pode-se considerar que
quando as partículas se encontram em equilíbrio estático no leito a diferença entre as
velocidades da partícula e do gás passa a ser a própria velocidade terminal, conforme equação
27 (KLINZING et al., 2010).
A Figura 28 permite a comparação das velocidades terminais obtidas dos trabalhos de Arnao
(2007), que calculou as velocidades terminais para o bagaço obtido por moendas, difusores e
mistura destes, além dos trabalhos de Barbosa e Menegalli (1986) e Aralde et al. (1991).
1
Se = (28)
(ρp -ρf )dp
se aproxima do formato cônico formada por sólidos dispersos e não compactados, sendo tal
pilha originada depois que os sólidos escoaram de um funil acima de uma superfície plana.
Figura 30: Ângulo de repouso αM formado após os sólidos escorrerem pelo funil
(SCHULZE, 2008).
duas fases a diferença de densidades entre as fases é muito grande, o que torna as demais forças
interfaciais insignificantes.
Pode-se representar a força de arraste atuando sobre uma partícula num escoamento
gás-fluido como sendo o produto do coeficiente de transferência da quantidade de movimento
pela velocidade de deslizamento entre as fases.
Diversos trabalhos foram realizados ao longo dos anos com o intuito de estudar as
correlações existentes para determinação do coeficiente de arraste na interface, citando alguns
como Gidaspow (1994), Almstedt et al. (1996) e Ishii e Hibiki (2011).
As equações de Navier-Stokes que serão apresentadas na sequência tratam tanto a
fase dispersa como a fase transportadora por meio de uma abordagem Euleriana-Euleriana
clássica. Reiterando, tais equações apresentam alguns termos que são devidos à interação entre
fases, relacionados com o transporte de massa, quantidade de movimento e energia através da
interface. Além disso, na simulação computacional o conjunto das equações de continuidade e
momento são acoplados de tal forma que a soma das frações volumétricas de todas as fases seja
igual à unidade para cada célula computacional.
A conservação de massa da fase gasosa é dada pela equação 29.
∂fg ρ
f
+∇.(fgρf vg )=0 (29)
∂t
Para a fase sólida, a mesma pode ser formada por diversos grupos de partículas,
cada um com uma massa m, sendo que a soma das massas de todos os grupos da fase sólida
fornece a massa total M no escoamento. Deste modo, para cada massa m tem-se a conservação
de massa descrita na equação 30.
∂fpm ρ
pm
+∇. (fpmρpmvpm ) =0 (30)
∂t
∂
(fg ρf vg )+∇(fg ρfvg vg )=∇σ̿ g+fg ρfg-Fg-p (31)
∂t
O tensor de tensões da fase gasosa pode ser escrito conforme a equação 32.
̿ +τ
σ̿ g =-Pg U ⃡g (32)
Para um fluido Newtoniano, o tensor de tensões viscosas pode ser modelo seguindo
a relação tensão/deformação conforme a hipótese de Stokes:
̿ g +fgλg tr(D
τg =2fg μg D
⃡ ̿
̿ g )Q (33)
̿ g = 1 [∇vg +(∇vg )T ]
D (34)
2
Para o termo Fg-p, referente à força de interação entre as fases gasosa e sólida,
presente na equação da quantidade de movimento da fase gasosa pode-se simplificá-lo
considerando apenas o arrasto como força relevante.
Dessa forma, o termo Fg-p pode ser escrito conforme a equação 35.
∂
(fpmρpmvpm ) +∇ (fpmρpmvpm vpm ) =∇σ̿ pm+fpmρpmg-Fg-p - ∑M
m=1, l≠m Qml (36)
∂t
-Ppl ̿ pl
pm U+τ̿pm se fg ≤f*g
σ̿ pm= { v (37)
-PpmU̿ +τ̿vpm se fg >f*g
Nos trabalhos de Lun et al. (1984), Jenike (1987), Schaeffer (1987) e O´Brien et al.
(1993) podem ser encontradas as formulações necessárias para os cálculos das pressões e
tensões, tanto no regime plástico como viscoso, da fase sólida.
87
Neste caso pode ser utilizada uma versão simplificada da teoria cinética utilizada
por Syamlal (1987) para representar o termo βpml conforme a equação 39.
2 2
3(1+eml)(π⁄2+Cfml π ⁄8)fplρplfpm ρpm (dpl+dpm ) g0ml |vpl-vpm |
βpml = (39)
2π(ρpld3pl +ρpm d3pm )
1 3dpldpm fpj
g0ml = f + ∑M
j=1 (40)
g f2g (dpl+dpm ) dpj
Os principais métodos numéricos são o método dos volumes finitos, das diferenças
finitas e dos elementos finitos. A escolha do método numérico apropriado é muito importante
uma vez que dependendo do método utilizado pode-se obter resultados não físicos e não
preditivos quando comparados aos resultados experimentais.
Dentre os métodos citados, o dos volumes finitos apresenta algumas vantagens
destacando que a discretização espacial é realizada diretamente no espaço físico sendo um
método muito flexível, podendo ser aplicado a malhas estruturadas ou não estruturadas.
Denomina-se malha ao conjunto de volumes de controle presentes em um sistema, onde as
malhas estruturadas possuem uma numeração sequencial fixa para cada volume em relação ao
seu vizinho, sendo que na malha não-estruturada tal numeração é aleatória (FERZIGER;
PERIC´, 2002).
O método dos volumes finitos foi aplicado pela primeira vez por McDonald (1971)
para a simulação em duas dimensões de fluidos invíscidos. No caso da resolução de problemas
multifásicos, o método dos volumes finitos, proposto por Patankar (1980), é adequado devido
ao seu caráter conservativo.
O primeiro passo para utilização do método dos volumes finitos é dividir o domínio
de interesse em diversos volumes de controle. As células, ou volumes de controle, devem ser
pequenas o suficiente para a captura das principais características do fluxo, e grandes o
suficiente, de preferência maiores que o tamanho da maior partícula individual, que permita o
cálculo das propriedades médias, tais como porosidade, interações, etc, em cada célula.
89
∂
(ρϕ)+divJ=Sϕ (42)
∂t
J=(ρv
⃗ )ϕ+[-Γgradϕ] (43)
convecção difusão
∂
(ρϕ) + div(ρv
⃗ )ϕ = div([-Γgradϕ]) + Sϕ (44)
∂t
Por meio da aproximação das somas dos fluxos que cruzam as faces individuais do
volume de controle as equações vão sendo resolvidas, provenientes do balanço infinitesimal de
uma propriedade ϕ, como por exemplo, massa, quantidade de movimento, energia, etc,
representando o princípio físico da conservação da propriedade em questão. A acurácia da
discretização espacial depende do esquema particular com que os fluxos são avaliados
(MALISKA, 2004).
Em suma, as equações discretizadas são as integrais das equações de conservação
sobre os volumes de controle. As fases, sólida e gás, são consideradas como contínuos
interpenetrantes que compartilham espaço em cada volume de controle. As equações
discretizadas em conjunto com as condições iniciais e de contorno são resolvidas
simultaneamente para que se obtenha a solução convergida. O acoplamento das equações
governantes para cada fase se dá pela mudança de momento na interface e pela condição de
fração volumétrica, a qual requer que o somatório das frações volumétricas de cada fase seja
igual à unidade (MALISKA, 2004).
Porém, a resolução das equações governantes em problemas que envolvam o
escoamento de fluidos não é trivial devido principalmente à não linearidade das equações de
conservação de quantidade de movimento. Assim, de modo a linearizar a equação discretizada
para contornar tal problema são propostos alguns métodos, sendo um dos mais aceitos aquele
em que são combinadas as equações de continuidade e de quantidade de movimento com o
intuito de obter uma equação para a pressão do escoamento (MALISKA, 2004).
Dentre alguns métodos que se valem do princípio do acoplamento velocidade-
pressão, aquele que costumeiramente se aplica é o dito método SIMPLE, introduzido por
Patankar (1980).
91
Uma definição para o Método dos Elementos Discretos seria uma ferramenta de
modelagem que permite o estudo da dinâmica de um grande número de corpos distintos e com
formas arbitrárias.
O Método dos Elementos Discretos modela a força total experimentada por
partículas individuais ou grão de um sistema granular e em seguida lista suas acelerações,
velocidades e posições em um período de tempo. A força total é a soma das forças de contato
(partícula-partícula e partícula-paredes) e das forças de não contato (tais como as forças
gravitacional, magnetismo e eletrostática) (LAÍN; SOMMERFELD, 2013). A interação entre
partículas pode ocorrer através de suas áreas de contato ou efeitos interpartícula.
Na modelagem DEM as partículas podem ser consideradas como sendo rígidas ou
deformáveis, duas formulações quanto ao tipo de colisão, ditos modelos de esfera-rígido e de
esfera-macia, embora tais formulações não sejam restritas apenas a esferas (MOSTOUFI et al.,
2016).
A escolha do modelo apropriado vai depender das condições operacionais e dos
recursos computacionais disponíveis.
O uso do modelo esfera-rígida é principalmente aplicado em um sistema diluído
por ser eficaz em termos computacionais, mesmo que a modelagem utilizando esfera-macia
também seja aplicável a tal situação. O fato do modelo esfera-rígida ser mais eficaz em termos
computacionais para sistemas diluídos é devido ao tempo de contato entre cada corpo ser muito
menor que o tempo médio entre colisões sucessivas, e, portanto, cada contato pode ser
considerado instantâneo e em par (MOSTOUFI et al., 2016).
No caso de sistemas densos, devido aos longos tempos de contato e múltiplos
contatos existentes entre partículas o modelo esfera-macia é mais adequado. Na sequência serão
apresentadas algumas características principais de cada modelo (MOSTOUFI et al., 2016).
dv
⃗i d2 ⃗xi p-p g-p ext
mi =mi ⃗ ij +F
= ∑j∈LCi F ⃗ i +F
⃗i (45)
dt dt2
dω
⃗i d2 φ
⃗i tang rot
Ii =Ii ⃗⃗⃗ ij +M
= ∑j∈LCi (M ⃗⃗⃗ ij ) (46)
dt dt2
𝑡𝑎𝑛𝑔
⃗⃗ 𝑖𝑗
Nesse caso, o termo 𝑀 é o torque tangencial produzido pela colisão partícula-
partícula. A força de colisão partícula-partícula atuando no ponto de contato é a causadora de
⃗⃗ 𝑖𝑗
tal torque. Já o termo 𝑀 𝑟𝑜𝑡
é referido como atrito de rolamento, que também é outro tipo de
torque agindo na partícula i. Uma vez que tal torque se opõe ao rolamento da partícula, o mesmo
também é conhecido como torque de resistência ao rolamento (MOSTOUFI et al., 2016).
Conclui-se da equação 46 que a velocidade angular da partícula i não se altera caso
a mesma não esteja em contato com nenhuma outra partícula.
As partículas em contato também sofrem ação do torque, que pode ser decomposto
em duas contribuições: o torque rotacional, que é causado pelos contatos interpartícula na
direção tangencial, e o torque resistente ao rolamento, que aparece devido à desigualdade da
distribuição da pressão de controle na área de contato (AI et al., 2011).
O torque rotacional causa a rotação da partícula, uma vez que a força de contato é
transformada do ponto de contato para o centro de massa da partícula. Desse modo, o torque
rotacional é definido conforme a equação 47 (AI et al., 2011).
t c
⃗⃗⃗ ij =ri n⃗ ij ×F
M ⃗ ij (47)
Onde, ⃗⃗ 𝑖𝑗
𝑀 𝑡
torque tangencial sobre a partícula i devido contato com a partícula j
[N.m];
𝑟𝑖 raio da partícula i [m];
𝑛⃗𝑖𝑗 vetor unitário que aponta da partícula i para a partícula j;
r n
⃗M
⃗⃗ ij =-μ Reff |F
⃗ ij | ω
̂ ij (48)
r
Onde, ⃗⃗ 𝑖𝑗
𝑀 𝑟
é o torque de resistência ao rolamento na partícula i devido ao
contato com a partícula j [N.m];
𝜇𝑟 é o coeficiente de resistência ao rolamento do modelo A;
𝑅𝑒𝑓𝑓 é o raio efetivo [m];
⃗ i -ω
ω ⃗j
ω
̂ ij = |ω⃗ -ω⃗ | (49)
i j
Onde, 𝜔
̂ 𝑖𝑗 é o vetor unitário da velocidade angular das partículas i e j;
⃗ 𝑖 é a velocidade rotacional da partícula i [rad.s-1];
𝜔
⃗ 𝑗 é a velocidade rotacional da partícula j [rad.s-1];
𝜔
Neste modelo, não havendo mudança na força normal de contato, equação 48, um
torque constante é aplicado sobre as partículas em colisão. O sinal negativo enfatiza que o
torque se opõe ao movimento de rotação relativa da partícula.
r n
⃗⃗ ij =-μ' Reff |F
⃗M ⃗ ij | |V
⃗⃗ w |w
̂ ij (50)
r
Onde, ⃗⃗ 𝑖𝑗
𝑀 𝑟
é o torque de resistência ao rolamento na partícula i devido ao
contato com a partícula j [N.m];
𝜇𝑟′ é o coeficiente de resistência ao rolamento do modelo B [s.m-1];
𝑅𝑒𝑓𝑓 é o raio efetivo [m];
⃗⃗ w =(ω
V ⃗⃗ i ×ri n⃗ ij -ω
⃗ j ×rj n⃗ ji ) (51)
Esse tipo de modelo é mais realístico que os modelos tipo A pois, o mesmo leva em
⃗𝑤 , que torna o torque igual a zero caso não haja rolamento entre
consideração o termo 𝑉
partículas.
r r r
⃗⃗⃗ ij =M
M ⃗⃗⃗ el +M
⃗⃗⃗ diss (52)
Onde, ⃗⃗ 𝑖𝑗
𝑀 𝑟
é o torque de resistência ao rolamento na partícula i devido ao
contato com a partícula j [N.m];
⃗⃗ 𝑒𝑙
𝑀 𝑟
é o torque de rolamento elástico [N.m];
⃗⃗ 𝑑𝑖𝑠𝑠
𝑀 𝑟
é o torque de rolamento viscoso [N.m];
r r r
⃗M
⃗⃗ el,new =M
⃗⃗⃗ el,old +∆M
⃗⃗⃗ el ω
̂ ij (53)
Onde, ⃗⃗ 𝑒𝑙,𝑛𝑒𝑤
𝑀 𝑟
é o torque de rolamento elástico no passo de tempo atual [N.m];
⃗⃗ 𝑒𝑙,𝑜𝑙𝑑
𝑀 𝑟
é o torque de rolamento elástico no passo de tempo anterior
[N.m];
⃗⃗ 𝑒𝑙
∆𝑀 𝑟
é a mudança incremental no torque de rolamento elástico [N.m];
𝜔
̂ 𝑖𝑗 é o vetor unitário da velocidade angular das partículas i e j;
⃗⃗ 𝑒𝑙
∆𝑀 𝑟
é definido conforme a equação 54.
r
⃗⃗⃗ el =-kr∆θr
∆M (54)
⃗⃗ 𝑒𝑙,𝑛𝑒𝑤
Existe, no entanto, uma limitação no torque da mola, quando |𝑀 𝑟
| > 𝑀𝑟𝑚
ocorre a completa mobilização e o torque elástico é calculado segundo a equação 55 (AI et al.,
2011).
r
⃗⃗⃗ el,new | =Mm
|M r (55)
n
Mm " ⃗
r =μr Reff |Fij | (56)
dθr r
r - (Cr )ω
̂ ij ⃗⃗⃗ el,new | <Mm
p/ |M r
⃗M
⃗⃗ diss = { dt
dθr r (57)
- (ξCr )ω
̂ ij ⃗⃗⃗ el | =Mm
p/ |M r
dt
1 1
Ir = (I +m r2 + I +m r2 ) (59)
i i i j j j
Logo, deduz-se que sempre que 𝛿𝑛 > 0 existe o contato físico entre as partículas.
104
Figura 34: Ilustração esquemática das forças e velocidades atuantes nas partículas i
e j durante sua colisão. (MOSTOUFI et al., 2016)
Com relação à velocidade relativa entre as partículas em colisão, a mesma pode ser
definida segundo a equação 61 (MOSTOUFI et al., 2016).
v⃗ ij =v
⃗ i -v
⃗ j +(ri ω
⃗ i +rj ω
⃗ j )×n⃗ ij (61)
O vetor normal está localizado entre os pontos do centro da partícula i até o centro
da partícula j, dado pela equação 62 (MOSTOUFI et al., 2016).
105
⃗xi -x
⃗j
n⃗ ij = |x⃗ -x⃗ | (62)
i j
n
v⃗ ij =(v
⃗ ij n⃗ ij )n⃗ ij (63)
t n
v⃗ ij =v
⃗ ij -v
⃗ ij (64)
O vetor velocidade relativa tangencial também pode ser reescrito de acordo com o
vetor tangencial 𝑡𝑖𝑗 no ponto de contato segundo a equação 65 (MOSTOUFI et al., 2016).
t t
v⃗ ij =|v
⃗ ij |tij (65)
Desse modo, a expressão para a velocidade relativa tangencial é dada pela equação
66 (MOSTOUFI et al., 2016).
t
vrt =v
⃗ ij tij (66)
A sobreposição tangencial pode então ser calculada uma vez que foi verificada a
ocorrência de velocidade tangencial no ponto de contato da colisão. Para tanto, a sobreposição
tangencial, 𝛿𝑡 , pode ser calculada segundo a equação 67 (MOSTOUFI et al., 2016).
t
δt = ∫t vrt dt (67)
0
106
Para a resolução da equação 67, deve-se utilizar um método iterativo onde, para
cada passo de tempo, a sobreposição tangencial calculada em um instante é somada à
sobreposição tangencial do passo anterior, conforme a equação 68 (MOSTOUFI et al., 2016).
Tal abordagem serve como uma boa estimativa da integração analítica da equação
67.
Já a força de colisão das partículas no ponto de contato 𝑓𝑖𝑗𝑐 , pode ser decomposta
nas forças normal, 𝑓𝑖𝑗𝑛 , e tangencial, 𝑓𝑖𝑗𝑡 , de acordo com a equação 69 (MOSTOUFI et al., 2016).
c n t
⃗Fij =F
⃗ ij +F
⃗ ij (69)
Pelo lado CFD, as propriedades do fluido são definidas dentro das células de
dimensões Δx, bidimensionais neste exemplo, que em conjunto preenchem todo o domínio do
sistema. Assim, no acoplamento CFD-DEM superfície resolvida, ilustração (b) da Figura 35,
em que o tamanho do volume de controle é muito menor que o tamanho da partícula, são obtidos
perfis detalhados de campos fluidos em torno de todas partículas (MOSTOUFI et al., 2016).
Tais perfis são integrados para que sejam obtidas as forças hidrodinâmicas totais e
as forças que atuam sobre partículas individuais. Tal tratamento é custoso em termos
computacionais, isto porque é preciso resolver as equações da fase fluida para todos volumes
de controle, e considerando sistemas onde domínio da fase fluida é muito extenso, com muitas
partículas em análise, tal abordagem se torna inviável (MOSTOUFI et al., 2016).
Já no acoplamento CFD-DEM superfície não-resolvida, ilustração (a) da Figura 35,
os tamanhos das células são muito maiores que o tamanho das partículas, possibilitando o
estudo de sistemas com milhares ou até milhões de partículas (MOSTOUFI et al., 2016).
Com relação às considerações adotadas nas equações governamentais, três
conjuntos de formulações têm sido frequentemente utilizados para descrever tais equações,
chamados modelos original, A e B.
O modelo original apresenta a mesma metodologia adotada para a resolução de
problemas multifásicos onde ambas fases são consideradas contínuas, obviamente utilizando
outras equações para descrição da parte sólido no caso DEM. O modelo A é uma variação do
modelo original e apresenta como principal característica o compartilhamento da pressão entre
108
as fases fluida e sólida. Já no caso do modelo B a pressão é considerada somente para a fase
fluida (MOSTOUFI et al., 2016).
Diversos estudos testando os modelos, como os realizados por Feng e Yu (2004),
Zhou et al. (2010) e Di Renzo e Di Maio (2007), permitiram a conclusão de que o modelo A é
aplicável a todos tipos de fluxos gás-sólido. Já o modelo B é preferencialmente aplicável a
fluxos gás-sólido simples, sendo que sua validade é desconhecida para soluções complexas
como em sistemas polidispersos, hidrociclones e fluidizações turbulenta e rápida.
Desse modo, a partir deste ponto será enfatizado o acoplamento CFD-DEM
superfície não-resolvida, modelo original e modelo A.
Baseado no modelo esfera-macia, descrito no item 2.3.2.1.2, nota-se na sua equação
de movimento proposta (Eq. 45) que um dos termos é a força de interação fluido-partícula,
𝐹𝑖𝑔−𝑝 . Tal termo representa a força exercida pelo fluido sobre a superfície de uma partícula,
sendo determinado na abordagem CFD-DEM superfície não resolvida por expressões analíticas
ou empíricas de propriedades do fluido na vizinhança da partícula. Em tal abordagem a força
superficial é decomposta linearmente em forças independentes conforme a equação 70
(MOSTOUFI et al., 2016).
g-p d u ∇p ∇τ
⃡ l
⃗Fi =F
⃗ i +F
⃗ i +F
⃗ i +F
⃗ i +F
⃗i (70)
A força 𝐹𝑖𝑔−𝑝 é estimada na escala das partículas enquanto que seu termo análogo,
presente na equação de momento da fase fluida, que representa a força de interação volumétrica
partícula-fluido agindo sobre o fluido, deve ser calculado para cada volume de controle. Devido
a essa diferença de escalas das forças de interação entre as fases fluida e sólida foram
desenvolvidos diferentes esquemas, revisados por Feng e Yu (2004).
Dentre os esquemas, existe um em que o cálculo da força de interação fluido-
partícula não apresenta tantas dificuldades de aplicação. Neste, a força de interação fluido-
partícula agindo sobre as partículas individuais é primeiramente estimada em uma célula, então
essa força é somada em todas partículas presentes na célula para estimar a força de interação
fluido-partícula (MOSTOUFI et al., 2016).
As formulações para o cálculo do termo força de interação que serão apresentadas
na sequência são baseadas nesse esquema.
No item 2.3.1 foram apresentadas as equações governantes no caso de uma
abordagem Euleriana-Euleriana para um problema multifásico. Nas Equações (31) e (36)
surgiram o termo Fg-p que é o valor médio volumétrico de forças agindo nas partículas devido
ao fluido ao redor. Tais equações mostram que o acoplamento pode ser obtido quando os
mesmos termos fonte são utilizados para as fases fluida e sólida. A força Fg-p pode ser
decomposta em duas partes:
• Variação macroscópica no tensor de tensão do fluido, 𝜎̿𝑔 , que inclui a pressão
do fluido e o tensor de tensão viscoso;
• Variações detalhadas no tensor de tensão do ponto em torno de um partícula, que
é a força de arraste exercida sobre as partículas;
Usando metodologia similar ao algoritmo desenvolvido por Patankar (1980) é
possível estabelecer relações de acoplamento no caso CFD-DEM. Para tanto, consideremos um
primeiro modelo, denominado modelo original, em que a equação de conservação de momento
da fase fluida é a mesma daquela da equação 31, repetida aqui na equação 71.
∂
⃡f+fg ρg g-Fg-p
(fgρg vg ) +∇ (fg ρg vg vg ) =-∇p+ ∇τ (71)
∂t
g-p 1 g-p 1 d u ∇p ∇τ
⃡ l
⃗ =
F ∑ki=1
v ⃗
Fi = ∑ki=1
v ⃗ i +F
(F ⃗ i +F
⃗ i +F
⃗ i +F
⃗ i) (72)
Vcell Vcell
g-p 1 ∇p ∇τ
⃡ 1 d u l
⃗F = ∑ki=1
v ⃗ i +F
(F ⃗ i )+ ∑ki=1
v ⃗
(Fi + ⃗Fi +F
⃗ i) (73)
Vcell Vcell
A primeira soma do lado direito pode ser reescrita como a equação 74.
1 ∇p ∇τ
⃡
∑ki=1
v
(F ⃗ i ) = 1 ∑ki=1
⃗ i +F v
(Vi ∇p-Vi ∇τ
⃡f )=fp ∇p-fp ∇τ
⃡f (74)
Vcell V cell
g-p A
⃗ =fp ∇p-fp ∇τ
F ⃗
⃡f +F (75)
A d u l
Onde, ⃗F = 1 ∑ki=1
v ⃗
(Fi + ⃗Fi +F
⃗ i );
V cell
A equação do momento da fase fluida neste caso é dada pela equação 76, que é a
equação principal do modelo A.
∂ A
(f ρ v ) +∇ (fg ρg vg vg ) =-fp ∇p+fp ∇τ ⃗ +fg ρ g
⃡f-F (76)
∂t g g g g
111
Nota-se que apesar de serem nomeados de modo diferente, tanto o modelo original
como o modelo A são fisicamente os mesmos. A diferença no modelo A é devido à força de
interação do tensor de tensão do fluido sobre partículas ser separada da força de interação
fluido-partícula.
Para o cálculo das forças de interação fluido-partícula é necessário o conhecimento
dos valores lagrangeanos da velocidade do fluido ou da fração volumétrica do fluido em um
volume de controle na posição da partícula. Desse modo os valores lagrangeanos das variáveis
eulerianas podem ser estimados com base na sua distribuição espacial conforme a equação 77
(WU et al., 2009).
nf ∅ A
∑i=1 f,i f,i
∅p =∅c +(xp +xc ) (77)
Vcell
1
fg =1- V ∑ki=1
v
φi Vi (78)
cell
Embora o método analítico seja acurado, o mesmo é muito difícil de ser aplicado
em malhas irregulares e/ou quando as partículas apresentam formatos irregulares.
Por outro lado, os métodos não-analíticos são mais simples e podem ser aplicados
a qualquer tipo de malha e formato de partícula.
Como exemplo de método não-analítico pode ser citado o método do centro da
partícula (PCM- Particle Center Method), que assume que se o centro da partícula está
localizado dento da célula computacional, todo o volume da partícula é assumido estar dentro
da célula, conforme ilustra a Figura 38 (MOSTOUFI et al., 2016).
114
1
fg =1- ∑ki=1
c
Vi (79)
Vcell
Neste caso, a fração volumétrica do fluido é estimada pela média, f média, de todas as
frações volumétricas de fluido em relação ao número de deslocamentos, ndesl. Testes da acurácia
dos métodos PCM e PCM compensado mostraram que para ambos métodos há um aumento do
erro médio à medida que os volumes de controle têm suas dimensões encurtadas em relação ao
tamanho da partícula analisada. Mesmo assim, o método da compensação pode melhorar a
precisão da determinação da porosidade em até uma ordem de grandeza (MOSTOUFI et al.,
2016).
Uma outra abordagem parecida com os métodos PCM e PCM compensado foi
desenvolvida para melhorar ainda mais a precisão da determinação fração volumétrica na
célula, denominada método do sub-elemento. Neste método a partícula é sub-dividida em Ne
partes iguais com os pontos centrais de tais partes definidos como C i,j. Assim, se o centro de
um sub-elemento de uma partícula está dentro de uma determinada célula é assumido que todo
o volume de tal sub-elemento faz parte da referida célula (MOSTOUFI et al., 2016).
Δt
m= Δt f (80)
p
Existem vários pacotes de softwares que simulam CFD com capacidade para
simular fluxos multifásicos, e que estão disponíveis no mercado.
Praticamente todos softwares com pacote CFD tem a capacidade de resolver casos
envolvendo fluxos fluido de fase simples. Porém, existem alguns que são capacitados a resolver
alguns fluxos multifásicos. Destacando os três softwares mais populares com tal aptidão tem-
se o Fluent®, CFX® e o STAR-CDTM.
O Fluent® tem a capacidade de resolver problemas com fluxos multifásicos por
meio de modelos Eulerianos mistos, Euleriano-Euleriano ou Euleriano-Lagrangeano. Porém, o
modelo Euleriano-Lagrangeano neste caso assume que a fase dispersa ocupa uma fração
volumétrica baixa, mesmo aceitando elevado carregamento de massa, o que torna o uso desse
modelo inapropriado em qualquer aplicação onde a fração volumétrica da fase dispersa não
pode ser negligenciada. O software permite a incorporação de funções definidas pelo usuário
(UDF) e é particularmente reconhecido pela sua competência em modelar gotículas e ciclones
separadores (GENT, 2009).
O software CFX® tem capacidades similares ao Fluent ®. Já o STAR-CDTM tem a
capacidade resolver fluxos multifásicos utilizando modelos Euleriano-Euleriano e Euleriano-
Lagrangeano, e similarmente ao Fluent ® tem a capacidade de modelar fluxos de gotículas e
pequenas partículas sólidas (GENT, 2009).
118
Outros softwares CFD com capacidade para resolução de fluxo multifásico são o
Flow 3D®, especializado em modelar fluxos de superfície livre e mistura multifásica;
openFOAMTM, que apresenta código aberto; além de PhoenixTM e PORFLOWTM (GENT,
2009).
Porém, muitos desses códigos são focados em simular sistemas que envolvam
fluxos líquidos ou em meios porosos, não sendo ideais no caso da simulação envolvendo fluxos
de sólidos.
Assim, com o aumento da popularidade da modelagem DEM devido à sua
habilidade em modelar com precisão a dinâmica de fluxo de sólidos polidispersos em um
sistema, tem surgido muitos softwares aptos a simular tal método.
No entanto, a simulação que considera o acoplamento CFD-DEM apresenta
algumas dificuldades, sendo que uma das principais diz respeito à exigência de poderio
computacional para a realização de todos cálculos envolvidos. De modo geral, o código
numérico CFD-DEM pode ser desenvolvido para ser executado de modo sequencial ou
paralelo. Um código sequencial, considerando as capacidades computacionais disponíveis
atualmente, torna viável a execução em apenas poucos segundos de simulação em tempo real
de um sistema gás-sólido com menos de 105 partículas e células (MOSTOUFI et al., 2016).
Desse modo, o sucesso das simulações envolvendo CFD-DEM depende
basicamente da implementação de algoritmos numéricos eficientes e da paralelização do
código. A paralelização pode ser dividida em duas categorias: paralelização de memória
distribuída e paralelização de memória compartilhada (MOSTOUFI et al., 2016).
A paralelização de memória distribuída fornece um número quase ilimitado de
unidades de processamento e espaço de memória, o que a torna adequada principalmente para
uso em simulações CFD, porém sofre com a demora de transferência de dados entre nós e de
comunicação (MOSTOUFI et al., 2016).
Já a paralelização de memória compartilhada se adequa bem aos códigos DEM,
uma vez que, permite a distribuição de tarefas computacionais entre os processadores na etapa
dos cálculos em loop. No entanto, as máquinas de memória compartilhada fornecem um número
limitado de unidades de processamento e espaço de memória, restringindo o tamanho do
problema em alguns casos (MOSTOUFI et al., 2016).
Consequentemente, não existe um modelo único e robusto de paralelização do
código CFD-DEM. O que vem sendo feito nos dias atuais é a utilização de uma mistura de
119
torque de rolamento e atrito, atuação da força de campo gravitacional e força de arraste para as
partículas. Já o campo fluido foi calculado a partir das equações de Navier-Stokes da
continuidade com base nas variáveis médias locais sobre cada célula. Os autores observaram
em suas simulações que a maioria das partículas se chocavam na parede do ciclone logo na
entrada e em seguida desciam por esta, conforme é observado em experimentos práticos,
também notando o acúmulo de partículas na região onde havia maior intensidade de interação
entre as mesmas. Os autores também avaliaram a influência das partículas no fluxo de gás e
observaram que a velocidade tangencial é notoriamente reduzida quando maior carga de
partículas é alimentada. Com relação à velocidade axial, quando as partículas são carregadas,
as regiões com maiores velocidades axiais se movem em direção ao centro do ciclone e a
tradicional estrutura de vórtice observada no fluxo de gás puro é destruída. Os autores
comprovaram desse modo o quão significante são as considerações a respeito das interações
partícula-partícula e gás-partícula.
Nesse mesmo trabalho, Chu e Yu (2008) utilizaram o mesmo modelo das
simulações em ciclone para simular um leito fluidizado circulante. A simulação continha 20.000
partículas esféricas com 3 diâmetros diferentes, 0,500 mm, 0,375 mm e 0,250 mm, todas com
densidade igual a 2.500 kg/m3. A velocidade superficial do ar injetado uniformemente pelo
fundo do leito era de 5 m/s. Os autores verificaram na simulação que as mesmas conseguiram
capturar três características clássicas observadas em trabalhos experimentais com leito
fluidizado circulante. A primeira delas foi a segregação axial de sólidos, onde as partículas
maiores ficaram principalmente no fundo do leito e as menores no topo. A segunda foi a
distribuição axial dos sólidos no leito num formato de “S”, em que a concentração de sólidos
varia significativamente, em geral, sendo alta no fundo e baixa no topo do leito. A terceira
característica observada diz respeito à estrutura de fluxo anular-central, responsável por causar
o retorno e promover a mistura de partículas no leito. É sabido que no escoamento contendo
apenas fluido a velocidade próxima na parede é menor que no centro do leito devido o atrito
fluido-parede (condição de não deslizamento). Por conta dessa característica observa-se o
fenômeno em que as concentrações de partículas são mais altas próximas da parede do que no
centro, resultando que na região central do leito as partículas sempre se movem na direção do
fluxo fluido, mas podem se mover tanto na mesma direção quanto na contrária quando estão
próximas das paredes.
Na Figura 41 é possível notar algumas das características observadas pelos autores
por meio das simulações.
123
Figura 41: Configuração das partículas no leito fluidizado circulante após 0,7s de
simulação. (CHU e YU, 2008)
quando este começa a se curvar. Durante a curva as partículas continuam com sua trajetória
junto à parede devido a força centrífuga.
A Figura 43 apresenta diversos perfis de porosidade observados em diferentes
comprimentos da tubulação. Também foi observada uma redução da velocidade das partículas
na curva devido o choque e atrito entre as partículas e a parede, sendo a velocidade inicial
retomada quando o tubo se torna horizontal. Foi concluído que tal modelo pode ser uma opção
para a avaliação do transporte de partículas em equipamentos de escala industrial.
11,9 m/s no caso horizontal-vertical e 16 m/s nos demais casos. Os comprimentos dos tubos de
entrada e saída de partículas eram de 0,5 m e 1 m, respectivamente, com diâmetro interno de 5
cm. Os resultados foram comparados com simulações que utilizaram os modelos tradicionais,
que consideram o efeito da fração volumétrica na fase gasosa. Os autores concluíram que com
exceção do caso horizontal-horizontal, os demais casos apresentaram concordância entre os
modelos para a taxa de dispersão do cordão de partículas formado e a velocidade das partículas,
assim, a adoção do modelo simplificado significaria em redução de tempos de simulação. Os
autores não especificaram claramente se utilizaram algum software comercial, porém, em um
trecho do artigo citam uma equação do modelo presente no software EDEM ®, o que leva a
entender que tal software foi utilizado no trabalho.
A Figura 44 apresenta o perfil de velocidades das partículas após dois segundos de
simulação para os diferentes casos.
Figura 44: Perfis de velocidades das partículas após 2s de simulação para os casos
com o tubo a) horizontal-vertical b) vertical-horizontal e c) horizontal-horizontal. (adaptado de
GUI et al., 2015)
Dessa forma, algumas simplificações podem ser adotadas de modo a ter um menor
custo computacional como, por exemplo, a consideração de que a força ponte líquida é formada
pela somatória das forças capilares e viscosas. Maiores detalhes do equacionamento desse tipo
de modelagem podem ser encontrados nos trabalhos de Mikami et al. (1998) e Li et al. (2011).
Outra maneira de avaliar as forças interpartículas é através de alguns índices obtidos
empiricamente, como razão de Hausner, tensão de cisalhamento e ângulo de repouso.
Avaliando o ângulo de repouso, parte-se do princípio que os efeitos advindos da competição
entre as forças interpartícula e inerciais determinam o comportamento do material polidisperso.
Logo, à medida que aumenta a razão da força interpartícula para força inercial o material se
torna mais coeso e o ângulo de repouso aumenta (TEGZES et al., 1999).
No trabalho de Tegzes et al. (1999) foram medidos os ângulos de repouso de
partículas esféricas de vidro, com diâmetro de 0,9 mm, variando as dimensões do sistema de
medição e o teor de umidade. Os autores observaram um aumento linear do ângulo de repouso
com o aumento do teor de umidade do material, sendo tal comportamento observado no regime
denominado por estes de granular.
São encontrados vários trabalhos na literatura que se valem da modelagem CFD-
DEM para simular leitos fluidizados contendo partículas úmidas, ou seja, modelando as forças
interpartículas entre estas, citando Zhu et al. (2011) e Lim et al. (2013) e He et al. (2014).
Como trabalhos mais recentes pode-se citar Watano et al. (2016), onde os autores
estudaram a adesão partícula-partícula por uma ponte líquida dinâmica através de simulação
numérica direta. Assim, foi simulada a adesão entre duas partículas em colisão mediada por
uma gota líquida aglutinante. Neste caso o modelo implementado considerava o movimento das
fases líquida, sólida e gasosa.
Foram investigados os efeitos da molhabilidade das partículas em uma velocidade
crítica para a adesão destas, ou seja, um estudo sobre a adesão entre partículas colidindo. Os
autores (Watano et al., 2016) reportaram que a velocidade crítica exibiu um valor máximo local
com um aumento no ângulo de contato, enquanto a força da ponte líquida estática diminuiu
monotonicamente com o aumento do ângulo de contato. Logo, concluíram que houve um efeito
combinado da força instantânea e da deformação dinâmica da ponte líquida, resultando na
dependência não monotônica da velocidade crítica para a adesão das partículas no ângulo de
contato.
No trabalho de Song et al. (2017) foi simulado um leito fluidizado denso, em duas
dimensões, utilizando modelagem CFD-DEM para avaliar as características de fluidização de
131
partículas úmidas. Para simular a colisão das partículas úmidas foi utilizado um modelo de
contato cm histerese. Tal modelo de colisão era apto a prever os comportamentos de rebote e
aderência das partículas sob influência da velocidade de colisão, teor de umidade, viscosidade
líquida e tensão superficial. Foi observado nos resultados da simulação que as partículas úmidas
se aglomeraram com a passagem do gás, sendo que as bolhas que estavam se formando no leito
tornaram-se canais preferenciais de gás. Também foi verificado que com o aumento da coesão
entre partículas a recirculação interna destas foi restringida e os canais de gás tornaram-se
estáveis.
Ainda são raros trabalhos que abordem a simulação de partículas úmidas em leito
fluidizado rápido. Um destaque fica para o trabalho de Wang et al. (2014), neste foram
estudados o comportamento dos fluxos para partículas sob diferentes teores de umidade e
também uma análise quantitativa de aglomerados de partículas úmidas sendo arrastadas num
riser.
Neste caso os autores desenvolveram um código FORTRAN para simular o fluxo
gás-sólido no riser. Além disso, o riser foi simulado em duas dimensões, com medidas de 0,5
m de altura e 0,04 m de largura, com velocidade do gás de 2,5 m/s. As partículas usadas eram
esferas de vidro com dimensões de 0,02 mm, não sendo especificada sua densidade, porém, no
trabalho que foi comparado pelos autores para validação dos resultados o valor da densidade
das esferas era de 2400 kg/m3, sendo provavelmente este o valor utilizado.
Para gerar o efeito de fluxo circulante as partículas que eram arrastadas para fora
do riser, na parte superior, eram imediatamente inseridas na parte inferior, em uma posição
aleatória e com velocidade zero.
As principais observações a partir dos resultados das simulações foram que tanto
para partículas secas como úmidas o fluxo gás-partícula seguiu um padrão “core-annulus” em
que as velocidades são menores nas paredes e maiores no centro do riser. Devido a tal
fenômeno, Wang et al. (2014) observaram que havia uma diferença de velocidade próximo das
paredes que propiciava o retorno e mistura das partículas nesta região. Para as partículas secas
a estrutura do fluxo vertical observado foi a divisão em duas regiões sendo uma densa na parte
inferior e uma diluída na superior. No caso das partículas úmidas o comportamento foi
justamente o contrário, com maiores aglomerados de partículas na parte superior e uma região
mais diluída na parte inferior.
A Figura 46 apresenta o resultado de uma das simulações de Wang et al. (2014)
com partículas úmidas. Segundo os autores, tal comportamento é devido às partículas secas se
132
unirem de maneira soltas próximas das paredes, sendo que os aglomerados vão se dispersando
com a evolução do fluxo. Já no caso das partículas úmidas estas começam a se aglomerar nas
partes mais altas do riser devido ao aumento de choques entre as mesmas, com atuação da força
ponte líquida.
Figura 46: Simulação do movimento das partículas úmidas no riser. (Wang et al.,
2014)
CAPÍTULO 3
Neste trabalho foram utilizados os softwares ANSYS Fluent ® e Rocky DEM® nas
simulações. A seguir apresenta-se um detalhamento do software Rocky DEM®.
O software Rocky DEM®, pertencente às empresas GDI e ESSS, foi desenvolvido
com o intuito de melhorar a solução de problemas que envolvem a modelagem de elementos
discretos, sendo um poderoso software 3D que simula de forma rápida e precisa o
comportamento do fluxo granular de partículas com diferentes formas e tamanhos dentro de um
tubo de transporte, em moinhos ou em outros equipamentos de manipulação de materiais
(ROCKY, 2017).
Algumas capacidades diferenciais que destacam o software Rocky DEM® de outros
códigos para resolução de modelos DEM incluem a sua capacidade de processamento em Multi-
GPU, discretização de partículas não arredondadas, aptidão para simulação de quebras de
partículas sem a perda de massa ou volume, visualização do desgaste de superfícies, entre outras
(ROCKY, 2017).
Além disso, a conexão entre o os softwares ANSYS Fluent ® e Rocky DEM® foi
especialmente desenvolvida de modo que a tarefa de configurar o acoplamento CFD-DEM
fosse fácil, menos propensa a erros e garantindo a consistência entre as físicas envolvidas
(ROCKY, 2017).
O software Rocky DEM® simula fluxos de partículas por meio do método dos
elementos discretos e, portanto, não necessita da criação de malhas para tal. Assim, não é
necessária nenhuma lei constitutiva de tensão-deformação do material, ao invés disso, uma
relação de tensão-deformação pode ser obtida como resultado do modelo DEM. A malha,
contendo os volumes de controle do domínio fluido, é utilizada apenas pelo software ANSYS
Fluent® para a resolução do meio contínuo (ROCKY, 2017).
Com relação à análise do algoritmo de uma simulação no software Rocky DEM ®,
tal simulação começa com a importação da geometria a ser avaliada, seguida da configuração
dos grupos de partículas, escolhendo seus formatos, dimensões, densidades, entre outras
propriedades. O software Rocky DEM® apresenta alguns formatos padrão de partículas simples
que podem ser editados, Figura 47, mas também permite que o usuário crie seu próprio formato
e o exporte para utilização.
134
Figura 48: Alguns exemplos de elementos que podem ser simulados. (ROCKY,
2017)
Esse modo de representação das partículas tem mais aspectos favoráveis do que
contrários quando comparado com o modelo de multi-esferas, presente na maioria dos pacotes
softwares comercias, tais como, PFCTM, STAR-CDTM, EDEM®, entre outros. A Tabela 4
resume a comparação de alguns pontos.
135
Superfícies
irregulares causam Não há indução de atrito
Atrito
atritos maiores que a na simulação
realidade
Grandes relações de Grandes relações de
aspecto, bordas aspecto, bordas afiadas e
Razão de Aspecto
afiadas e cantos são cantos são representados
limitações com acurácia
Não permite a quebra
a não ser que uma Podem quebrar e passar a
Ruptura
cadeia de esferas ter diferentes formatos
ligadas seja usada
Fonte: ROCKY, 2017
simulações CFD devem ser seguidas, tais como, evitar células de baixa qualidade e variações
de volumes entre células adjacentes, aumentar a densidade da malha em regiões de forte
gradiente de pressão, entre outras.
São exportadas do ANSYS Fluent® derivadas de pressão, extraídas das soluções
CFD, que são utilizadas pelo software Rocky DEM® para o cálculo das forças de ascensão e
gradiente de pressão adicional. É recomendado, mesmo para o caso da simulação da fase
simples com propriedades constantes, que a magnitude e direção da aceleração gravitacional,
além da densidade de referência bem como a localização da pressão sejam definidas
manualmente, assumindo não existirem condições de contorno que definem referências de
pressão.
Na equação de momento resolvida pelo ANSYS Fluent®, equação 81, a solução do
campo de pressão modificada (p’) representa a variação da pressão estática devido ao fluxo e à
pressão hidrostática na densidade de referência, dada pela equação 82.
∂
(ρgvg ) +∇ (ρgvg vg ) =-∇p' +∇τ
⃡g+ρ g (81)
∂t g
volume da maior partícula do sistema. Obviamente pode ocorrer de alguns volumes de controle
gerados serem menores que as dimensões da partícula devido a detalhes da geometria ou a
presença de fortes gradientes na região, mesmo assim os cálculos continuam sendo realizados
pelo software, porém, os resultados do acoplamento nestas regiões são menos acurados. Logo,
as tradicionais recomendações para geração de dimensões de malha CFD para captura precisa
de efeitos na camada limite podem ser ignoradas neste caso.
Para a configuração de um acoplamento CFD-DEM duas vias o software ANSYS
Fluent® deve ser configurado com o modelo Euleriano multifásico, onde uma das fases deve ser
definida como sendo fase partículas. Tal procedimento considera que o número de fases deve
ser o número de fases fluidas +1, uma vez que as partículas serão representadas pela fase
adicional.
A fase partícula deve ser configurada como fase secundária e os termos da mudança
de momento entre os fluidos e partículas são calculados pelo software Rocky DEM ®, portanto,
os coeficientes de transferência de momento entre as fases partícula e fluida não necessitam ser
configurados, a menos que exista mais de uma fase fluida e, neste caso, a interação entre as
fases fluidas deve ser devidamente configurada. Características das partículas, coeficientes de
transferências entre fases e propriedades do material da fase particulada são definidos no
software Rocky DEM®.
Como o software Rocky DEM® é responsável pela solução da fase particulada,
informações da fração volumétrica e velocidades das partículas devem vir do solucionador
DEM, assim, as frações volumétricas e velocidades da fase particulada devem ser configuradas
com o valor zero na inicialização e nos contornos. No software ANSYS Fluent ®, na
inicialização do campo de fluxo, a fração volumétrica da fase particulada também dever ser
configurada como zero no domínio. As frações volumétricas das partículas vão sendo
atualizadas com o decorrer do processo de acoplamento.
No software ANSYS Fluent®, deve ser utilizado o método SIMPLE fase acoplada
(PC-SIMPLE) como método de acoplamento pressão-velocidade, bem como, um esquema
transiente de primeira ordem. Também é recomendado a definição de um passo de tempo
razoável, uma vez que este será atualizado logo que o acoplamento se inicia, de modo a ser um
múltiplo inteiro do passo de tempo utilizado no software Rocky DEM®.
Citando algumas limitações do acoplamento duas vias, têm-se:
No ANSYS Fluent® só podem ser utilizadas simulações 3D no modo de precisão
dupla;
139
O software ANSYS Fluent® pode ser executado apenas nos modos serial ou
paralelo local; o número de processadores é definido na inteface de acoplamento do Rocky
DEM®;
No ANSYS Fluent® apenas o acoplamento do momento é permitido com o
acoplamento multifásico Euleriano. Modelos de transferência de energia, transporte de espécies
e transferência de massa não são permitidos;
No ANSYS Fluent® não são suportadas malhas móveis ou adaptáveis. Também não
sendo permitida a inclusão de termos fontes adicionais, funções definidas pelo usuário (UDF)
e escalares definidos pelo usuário.
Retomando a análise do algoritmo de resolução utilizado pelo software Rocky
DEM®, em suma, após a definição das principais propriedades e leis de interação entre
partículas e fluido pelo usuário, o algoritmo primeiramente localiza todos os contornos e as
partículas na vizinhança com as quais a partícula entrará em contato. Em seguida são calculadas
as somas de todas as forças e momentos que agem nas partículas, podendo incluir junto desta
etapa os cálculos referentes a um dos dois tipos de acoplamento com CFD previamente
descritos.
Posteriormente, a simulação DEM utiliza as informações a respeito das posições e
velocidades atuais de cada partícula para movê-las a suas novas localizações na simulação. A
partir daí o processo é retomado ao início e assim, continua sucessivamente, até que o tempo
de simulação seja atingido.
Uma descrição mais detalhada do algoritmo de acoplamento CFD-DEM foi
apresentada no item 2.3.2.2. Com relação aos modelos de forças de contato utilizados pelo
software Rocky DEM®, os mesmos são: modelo elasto-plástico para determinação da força de
contato; modelos adesivos de força normal e força linear, para determinação da força de adesão
entre partículas e contornos; modelo elástico com atrito, para determinação da força de contato
tangencial. Tais modelos são descritos em detalhes no capítulo 4.
O código do software Rocky DEM® foi escrito de modo a possibilitar a utilização
da plataforma CUDA (Compute Unified Device Architecture), que a grosso modo é uma
extensão para a linguagem de programação C, que permite a utilização da computação paralela.
Com isso, é possível acelerar a carga de trabalho computacional usando unidades de
processamento gráfico (GPU), também conhecidas como placas de vídeo. Desse modo, a GPU
passa a atuar como se fosse mais uma CPU executando os cálculos dentro da máquina. A
140
CAPÍTULO 4
MATERIAIS E MÉTODOS
de um único experimento com sete rodadas, sendo as velocidades escolhidas: 0,501 m.s-1; 0,710
m.s-1; 1,062 m.s-1; 1,578 m.s-1; 1,963 m.s-1; 2,277 m.s-1; > 2,277 m.s-1.
Basicamente o bagaço integral, estando à umidade de equilíbrio de
aproximadamente 7%, base úmida, era alimentado e parte dele era elutriado e coletado no
precipitador de partículas, enquanto outra parte era coletada por baixo, na caixa de partículas.
A velocidade de passagem do ar era então aumentada e as partículas que foram
coletadas pelo fundo, na caixa, eram alimentadas novamente, separando outro grupo de
partículas no precipitador, e assim sucessivamente até que todas partículas fossem arrastadas.
Os grupos de partículas separados foram então caracterizados, sendo tais informações aquelas
utilizadas nas simulações.
Cabe destacar que no trabalho de Lenço (2010) o bagaço foi alimentado
manualmente utilizando uma rosca alimentadora de 0,02 m de passo e 0,05 m de diâmetro. No
caso deste trabalho, como o objetivo foi a avaliação teórica da separação das partículas de
bagaço, optou-se por utilizar como alimentação um funil simples, sendo os diâmetros da
abertura maior de 0,2 m e da menor de 0,05 m. As partículas eram então geradas na parte
superior do funil e por ação da gravidade desciam pelo mesmo até alcançarem o tubo elutriador.
Para estudos futuros do dimensionamento de equipamentos seria interessante uma avaliação
teórica a respeito dos possíveis sistemas de alimentação.
A respeito das propriedades do bagaço necessárias para a simulação, algumas foram
obtidas diretamente da tese de Lenço (2010), como as densidades e dimensões das partículas,
além dessas, outras propriedades de igual importância para o entendimento teórico do processo
também foram calculadas a partir de dados obtidos da mesma tese, como a velocidade terminal
das partículas. Os resultados experimentais de separação, obtidos por Lenço (2010), foram
aqueles utilizados para validar os resultados da simulação realizada no presente trabalho.
A seguir são apresentados os modelos matemáticos e de simulação numérica
propostos para descrever o fenômeno de separação de partículas de bagaço, as propriedades do
bagaço e do ar utilizadas e os métodos de solução estudados.
descreve o movimento das partículas por meio das leis de movimento de Newton, permitindo a
obtenção de resultados realísticos.
Por tal abordagem se realiza separadamente a modelagem do fluido, modelo
Euleriano, e do movimento de partículas, modelo Lagrangeano, acoplando-os para que seja
obtido o resultado final.
∂fg ρ
g
+∇. (fg ρg vg ) =0 (83)
∂t
∂
⃡g +fgρg g-Fg-p
(fgρg vg ) +∇ (fg ρg vg ) =-∇p+ ∇τ (84)
∂t
∂ μg,t
(f ρ k) +∇∙ (fgρg v̅ g k) =∇∙ [(μg+ ) ∇k] +Pk -fg ρg ε (85)
∂t g g σk
∂ μg,t ε
(f ρ ε) +∇∙ (fgρg v̅ g ε) =∇∙ [(μg+ ) ∇ε] + k (Cε1 Pk-Cε2 fg ρgε) (86)
∂t g g σε
146
Em que as constantes tomam os valores: Cε1 = 1,44; Cε2 = 1,92; σk = 1,0 e σε = 1,3.
Pk é o produto turbulento devido às forças viscosas e de empuxo, expresso por:
2
Pk =μg,t ∇vg ∙(∇v̅ g +∇v̅ Tg )- 3 ∇∙v̅ g (3μg.t ∇∙v̅ g +fgρg k) +Pkb (87)
Considerando o termo de produção de empuxo, Pkb, nulo já que não ocorre a geração
de turbulência pelo mesmo.
Maiores detalhes sobre o modelo k-ε podem ser consultados no trabalho de Launder
e Spalding (1974).
Para que seja obtida a solução particular de um problema envolvendo um sistema
de equações diferenciais parciais, como as descritas anteriormente, é necessário que sejam
conhecidas as condições iniciais e de contorno do problema.
Assim, para o escoamento do fluido pelo tubo adotou-se como condição inicial que
tal escoamento estava em repouso, ou seja, as velocidades e a pressão no tubo foram
consideradas inicialmente nulas.
Como condições de contorno adotou-se que nas paredes do tubo a condição era de
não deslizamento, a entrada de ar do tubo foi governada pela magnitude da velocidade de
entrada, variando seu valor para cada simulação, e na saída do ar foi imposta uma condição de
pressão igual a zero, com o objetivo de promover um gradiente de pressão que provoque o
escoamento através do tubo.
Um modelo que prediz com boa acurácia a força normal de contato é o dito modelo
elástico-plástico. O modelo elástico-plástico segue dois requerimentos principais, que são: a
força tem de ser repulsiva; e a força de contato normal tem de permitir significante dissipação
de energia, uma vez que um meio granular é um sistema extremamente dissipativo.
Neste trabalho foi utilizada uma combinação entre o modelo eslasto-plástico com
histerese, aplicado na direção normal da colisão, e o modelo viscoelástico linear com atrito,
aplicado na direção tangencial da colisão.
Nos itens seguintes são apresentadas algumas características dos modelos adotados
na realização desse trabalho para a determinação das forças normal e tangencial durante a
colisão das partículas.
Porém, a fase de descarga, devido à perda de energia na colisão, diverge do modelo de Hertz
deixando de seguir a curva de carregamento.
Assim, a inclinação da curva de carregamento é a mesma independente da
velocidade de impacto, já a curva de descarga apresenta maiores inclinações quanto maiores
forem as velocidades de choque. Isto significa que na curva de descarga a fração de energia
cinética dissipada aumenta com o aumento da velocidade de impacto.
Uma ilustração de uma curva que relaciona a força normal de colisão, 𝐹 𝑛 , com a
sobreposição normal, 𝛿𝑛 , de uma partícula colidindo contra uma superfície plana é apresentada
na figura 51.
Assim, na fase de carregamento a mola com menor rigidez é ativada, enquanto que
na fase de descarga a mola com maior rigidez governa a força de interação entre as partículas
colidindo.
A força normal pode então ser calculada segundo equação 88.
k
en =√k l (89)
ul
π meff
tcol = 2 √ (1+en) (90)
kl
Para calcular a sobreposição normal residual é proposta a equação 91, que relaciona
os termos da velocidade de impacto, massa efetiva e rigidezes de carregamento e descarga.
Desse modo, caso não haja deslizamento no contato, pode-se calcular a força
tangencial conforme a equação 92.
t n
⃗ ij =μ F
F ⃗ (92)
s ij
t n
⃗Fij =μ ⃗Fij (93)
d
Logo, se a fração de força é igual a 1, significa que a força adesiva será igual à força
da gravidade aplicada à partícula. No caso do contato entre duas partículas de massa diferentes,
a menor dentre as duas é considerada nos cálculos de força da gravidade.
𝑡
Onde, 𝐹𝑛,𝑎𝑑ℎ é a força de contato normal adesiva no atual tempo, t [N];
sn é o overlap normal de contato durante o tempo atual, t (é assumido ser
positivo quando as partículas se aproximam umas das outras e negativo
quando se separam)
m1 e m2 são as massas das partículas em contato [kg];
g é a aceleração da gravidade [m.s-2];
fadh é a fração de força;
É importante ressaltar que tal modelo necessita de uma calibração adequada, como
por exemplo, a medição de testes de ângulo de repouso do material, de modo que os efeitos
adesivos de aglomeração, como aqueles devido à presença de forças de ponte líquida, sejam
preditivos.
Para a determinação do valor da constante da fração de força que representa o
bagaço úmido procedeu-se à simulação do experimento para determinação do ângulo de
repouso do mesmo. Isto porque quando a adesão entre partículas está presente no contato da
153
180
α° = ATAN[2(H-h´ )⁄d] (96)
π
Desse trabalho, os autores obtiveram como resultados que para a palha úmida os
valores do ângulo de repouso em graus foram de 49,3 ± 0,5, 49,2 ± 0,5, 45,0 ± 0,5, 45,9 ± 0,5,
para o material assim que obtido do campo e também após ter sido moído e ficarem retidos nas
peneiras de diâmetros 6,4 mm, 3,2 mm, e 1,6 mm, respectivamente.
Cabe ressaltar que devido à manipulação do material e também devido ao aumento
da área superficial, à medida que o material foi sendo moído, os autores verificaram que os
teores de umidade das amostras úmidas diminuíram devido à secagem natural que ocorreu.
Assim, para a amostra logo que obtida do campo a umidade mensurada e usada nos
experimentos foi de 63,2%, para a amostra moída e retida na peneira de 6,4 mm o teor de
155
umidade foi de 57,0%, aquela retida na peneira de 3,2mm o teor de umidade foi de 27,4% e
aquela retida na peneira de 1,6mm apresentou teor de umidade de 19,8 %.
Como para o bagaço de cana o teor de umidade costuma ser em torno de 50% logo
que obtido da sua moagem na usina e, além disso, nos experimentos conduzidos por Lenço
(2010) o diâmetro médio do conjunto de partículas variou nos diferentes grupos de 1,2 mm até
4,4 mm, foi considerado para este trabalho que a obtenção de um ângulo de repouso próximo
dos valores entre 45° e 49° seria satisfatória para representar o bagaço úmido.
Assim, foram conduzidas simulações específicas no software Rocky DEM® para
determinação do ângulo de repouso, utilizando as dimensões exatas do funil e a distância entre
a sua abertura inferior e o anteparo onde era formada a pilha de bagaço, conforme o trabalho de
Zhou e Ileleji (2008). Desse modo, as simulações foram conduzidas variando-se a fração de
força entre as partículas, fadh na equação 95, presente no modelo adesivo de força normal
avaliado.
Conforme a fração de força testada era aumentada a força adesiva entre as partículas
também aumentava, assim, as partículas que caiam do funil formavam pilhas com ângulos de
repouso cada vez maiores. Tal procedimento foi realizado variando a força adesiva até o limite
em que as partículas ficaram presas na abertura inferior do funil devido ao fato de serem
formados aglomerados de partículas com dimensões maiores que tal abertura.
Ao final das simulações no software Rocky DEM® da descarga das partículas pelo
funil foram medidos os ângulos de repouso das pilhas de partículas obtidas. O valor da força
adesiva entre partículas que foi adotado nas posteriores simulações de separação, visando
representação do bagaço úmido, foi aquele que permitiu a formação de um ângulo de repouso
o mais próximo possível ao ângulo de repouso da palha de milho determinado no trabalho de
Ileleji e Zhou (2008).
O acoplamento entre as fases fluido e partícula se dá pela força 𝐹𝑖𝑔−𝑝 , tal força é
estimada na escala das partículas enquanto que seu termo análogo está presente na equação de
momento da fase fluida.
Assim, a força 𝐹𝑖𝑔−𝑝 está presente na segunda Lei de Newton aplicada ao centro de
massa de cada partícula, conforme a equação 97.
156
dv
⃗i d2 ⃗xi p-p g-p ext
mi =mi ⃗ ij +F
= ∑j∈LCi F ⃗ i +F
⃗i (97)
dt dt2
g-p d ∇p
⃗ i =F
F ⃗ i +F
⃗i (98)
∂
⃡f+fg ρg g-Fg-p
(fgρg vg ) +∇ (fg ρg vg vg ) =-∇p+ ∇τ (99)
∂t
157
g-p 1 ∇p 1 d
⃗F = ∑ki=1
v ⃗ i )+
(F ∑ki=1
v ⃗
(Fi ) (100)
Vcell Vcell
1 ∇p
∑ki=1
v ⃗ i ) = 1 ∑ki=1
(F v
(Vi ∇p)=fp ∇p (101)
Vcell V cell
Já a segunda soma é definida agora como 𝐹 𝐴 , e a equação 100 pode ser então
reescrita como (102).
g-p A
⃗F =fp ∇p+F
⃗ (102)
A 1 d
Onde, ⃗F = ∑ki=1
v ⃗
(Fi ) [N.m-3];
Vcell
A força de arrasto exercida sobre uma única partícula isolada difere daquela que
atua sobre uma partícula cercada por outras ao seu redor, sendo necessária a adoção de um
coeficiente que corrija tal deficiência.
Assim, para esta condição em específico pode-se reescrever 𝐹 𝐴 conforme a equação
103.
A
⃗ =β(vg -vp )
F (103)
3 (1-fg )ρg CD
β= 4 |vp -vg | (104)
dp
CD 24 0.6567 0,4305
= Re [1+0,1118(Rep k1 k2) ]+ 3305 (105)
k2 p k1 k2 1+
Rep k1 k2
1 -1
1d 2 d
k1 = (3 dn + 3 ϕ-2 ) -2,25 Dv (106)
v
0,5743
k2 = 101,8148(-log10ϕ) (107)
Para este trabalho o coeficiente de arraste escolhido foi o proposto por Di Felice
(1994). Nesse caso, trata-se de uma correlação de coeficiente de arraste baseada em dados
experimentais de arraste de partículas simples adaptada para o caso do escoamento denso de
partículas.
A correlação em questão é dada por:
CD =CD0 f2-γ
g (108)
Sendo,
4,8 2
CD0 = (0,63+ Re0,5 ) (109)
e,
2
-[1,5- log10 (fg Re) ]
γ=3,7-0,65exp { } (110)
2
A correlação utilizada para calcular o torque exercido pelo fluido sobre a partícula
foi o Modelo C, descrito no item 2.3.2.1.3.3 do capítulo 2.
Os principais dados necessários para a realização dos setups das simulações foram
obtidos de experimentos reais realizados por LENÇO (2010) e/ou calculados a partir destes.
A Tabela 5 a seguir apresenta os dados determinados por Lenço (2010).
161
Para a resolução dos modelos propostos também foi necessário determinar algumas
propriedades que foram calculadas a partir dos dados experimentais de Lenço (2010), conforme
apresentado na Tabela 6.
Utilizou-se para a resolução dos modelos propostos o Método dos Volumes Finitos
para resolver o caso da passagem de ar através do riser no software ANSYS Fluent e o Método
dos Elementos Discretos (DEM) para resolver a interação gás-sólido pelo software ROCKY.
O software ANSYS Fluent valendo-se da fluidodinâmica computacional (CFD),
auxilia a análise de sistemas que envolvem fluxo de fluidos, transferência de calor, combustão,
etc, por meio de simulação computacional baseada nos volumes finitos para a solução das
equações da continuidade. No caso desse trabalho foi utilizado o algoritmo SIMPLE.
Tal algoritmo utiliza a relação entre velocidades e correções de pressão para forçar
a conservação de massa e obter o campo de pressão.
Assim, para a resolução do problema de passagem do ar no tubo utilizado nas
simulações gerou-se uma malha no software ICEM 14.0, contendo os volumes de controle no
interior do mesmo, nos quais o software Fluent aplicou seu algoritmo para resolução do modelo
proposto.
Para o caso da simulação 1 via a malha projetada no tubo foi desenvolvida de modo
a ter um bom grau de refinamento, uma vez que apenas os resultados relativos à passagem de
ar serão utilizados para posterior acoplamento com a avaliação discreta das partículas.
166
Figura 58: Malha utilizada na simulação 1 via a) malha inteira b) detalha saída
inferior c) detalhe da saída superior d) detalhe da alimentação.
Figura 59: Malha utilizada na simulação 2 vias a) malha inteira b) detalha saída
inferior c) detalhe na saída superior d) detalhe na alimentação.
CAPÍTULO 5
RESULTADOS E DISCUSSÃO
14
12
10
massa (g)
8 superior
6 inferior
4
0
partícula partícula partícula partícula partícula partícula
<2> <3> <4> <5> <6> <7>
Figura 60: Massas das partículas obtidas nas saídas superior e inferior da simulação
1 via, umidade de equilíbrio, velocidade do ar de 1,5 m.s-1.
14
12
10
massa (g)
8 superior
6
inferior
4
0
partícula partícula partícula partícula partícula partícula
<2> <3> <4> <5> <6> <7>
Figura 61: Massas das partículas obtidas nas saídas superior e inferior da simulação
1 via, umidade de equilíbrio, velocidade do ar de 1,7 m.s-1.
170
14
12
10
massa (g)
8 superior
6 inferior
4
0
partícula partícula partícula partícula partícula partícula
<2> <3> <4> <5> <6> <7>
Figura 62: Massas das partículas obtidas nas saídas superior e inferior da simulação
1 via, umidade de equilíbrio, velocidade do ar de 2,0 m.s-1.
14
12
10
massa (g)
8 superior
6
inferior
4
0
partícula partícula partícula partícula partícula partícula
<2> <3> <4> <5> <6> <7>
Figura 63: Massas das partículas obtidas nas saídas superior e inferior da simulação
1 via, umidade de equilíbrio, velocidade do ar de 3,0 m.s-1.
171
14
12
10
massa (g)
8 superior
6 inferior
4
0
partícula partícula partícula partícula partícula partícula
<2> <3> <4> <5> <6> <7>
Figura 64: Massas das partículas obtidas nas saídas superior e inferior da simulação
1 via, umidade de equilíbrio, velocidade do ar de 3,5 m.s-1.
14
12
10
massa (g)
8 superior
6 inferior
4
0
partícula partícula partícula partícula partícula partícula
<2> <3> <4> <5> <6> <7>
Figura 65: Massas das partículas obtidas nas saídas superior e inferior da simulação
1 via, umidade de equilíbrio, velocidade do ar de 4,5 m.s-1.
172
A Figura 60 mostra que a velocidade de 1,5 m.s-1 é ideal para separação das
partículas do grupo 2, arrastando quase todas partículas de tal grupo e uma pequena
porcentagem de partículas do grupo 3.
Já no caso das Figuras 61, 62 e 63, cujas velocidades do ar adotadas foram
respectivamente 1,7 m.s-1, 2,0 m.s-1 e 3,0 m.s-1, notou-se uma dificuldade maior para separação
de grupos específicos de partículas, não conseguindo separar apenas partículas do grupo
pretendido e inferiores.
Uma das possibilidades para explicar tal observação é o fato das velocidades
terminais das partículas serem próximas umas das outras, conforme Tabela 7 do Capítulo 4, em
que se nota que a velocidade terminal das partículas do grupo 4 é 1,5 vezes maior que a
velocidade terminal das partículas do grupo 3 e a velocidade terminal das partículas do grupo
5 é 1,2 vezes maior que velocidade terminal das partículas do grupo 4.
Outra explicação para a dificuldade em separar partículas dos grupos 3 a 5 em
específico pode ser obtida da observação das Figuras 66 e 67, de onde é possível notar que,
quando as velocidades do ar adotas são mais baixas, partículas que deveriam ser arrastadas para
a saída superior ainda são coletadas pelo fundo. Isto devido possivelmente ao fato de que quanto
mais baixas as velocidades do ar, ocorre a maior concentração de partículas no leito, sendo
reconhecido que em concentrações mais altas as partículas são mais restritas pelas partículas
vizinhas, e os sólidos e o gás atuam de maneira mais fluida, como para reduzir a velocidade do
deslizamento (KLINZING et al., 2010).
Assim, o contato entre partículas e com as paredes do tubo acarreta na
predominância da força gravitacional no equilíbrio das forças, fazendo com que as partículas
caiam e, além disso, as partículas maiores em queda também podem arrastar as menores para o
fundo devido ao contato durante a separação.
Por outro lado, usando a velocidade média do ar de 3,5 m.s-1 no tubo, quase todas
as partículas foram arrastadas para o topo, apenas separando o grupo 7, como esperado quando
comparado a velocidade do ar com as velocidades terminal das partículas. Por fim, simulando
a velocidade do ar 4,5 m.s-1, quase todas as partículas foram completamente arrastadas
separando apenas alguns gramas de partículas do grupo 7 na saída inferior, devido justamente
à menor concentração de partículas nesta situação.
175
14
12
10
massa (g)
8 superior
6 inferior
4
2
0
partícula partícula partícula partícula partícula partícula
<2> <3> <4> <5> <6> <7>
Figura 68: Massas das partículas obtidas nas saídas superior e inferior da simulação
2 vias, umidade de equilíbrio, velocidade do ar de 1,7 m.s-1.
176
14
12
10
massa (g)
8 superior
6 inferior
4
2
0
partícula partícula partícula partícula partícula partícula
<2> <3> <4> <5> <6> <7>
Figura 69: Massas das partículas obtidas nas saídas superior e inferior da simulação
2 vias, umidade de equilíbrio, velocidade do ar de 2,8 m.s-1.
14
12
10
massa (g)
8 superior
6 inferior
4
2
0
partícula partícula partícula partícula partícula partícula
<2> <3> <4> <5> <6> <7>
Figura 70: Massas das partículas obtidas nas saídas superior e inferior da simulação
2 vias, umidade de equilíbrio, velocidade do ar de 3,9 m.s-1.
177
14
12
10
massa (g)
8 superior
6 inferior
4
2
0
partícula partícula partícula partícula partícula partícula
<2> <3> <4> <5> <6> <7>
Figura 71: Massas das partículas obtidas nas saídas superior e inferior da simulação
2 vias, umidade de equilíbrio, velocidade do ar de 4,5 m.s-1.
14
12
10
massa (g)
8 superior
6 inferior
4
2
0
partícula partícula partícula partícula partícula partícula
<2> <3> <4> <5> <6> <7>
Figura 72: Massas das partículas obtidas nas saídas superior e inferior da simulação
2 vias, umidade de equilíbrio, velocidade do ar de 5,0 m.s-1.
178
14
12
10
massa (g)
8 superior
6 inferior
4
2
0
partícula partícula partícula partícula partícula partícula
<2> <3> <4> <5> <6> <7>
Figura 73: Massas das partículas obtidas nas saídas superior e inferior da simulação
2 vias, umidade de equilíbrio, velocidade do ar de 6,4 m.s-1.
apresenta uma aproximação razoável da realidade, sendo que tal método economiza muito
tempo computacional, cerca de 1 semana simulando cada caso.
Já para o caso da separação dos grupos menores de partículas, grupos 2, 3, 4 e 5, a
simulação 2 Vias se apresentou mais preditiva do fenômeno, valendo a pena despender mais
tempo, porém, obtendo resultados muito próximos daqueles obtidos em experimentos reais,
cabendo a realização de alguns ajustes das velocidades do ar adotadas para refinamento dos
resultados.
de bagaço foram conduzidas, alterando-se o fator de coesão entre as partículas até que o mesmo
se aproximasse do ângulo da palha de milho. No presente estudo, obteve-se o ângulo de 43°
quando utilizado o fator de coesão entre partículas igual a 3 no software ROCKY ®.
Figura 74: Partículas formando uma pilha após serem despejadas do funil.
14
12
10
massa (g)
8 superior
6 inferior
4
2
0
partícula partícula partícula partícula partícula partícula
<2> <3> <4> <5> <6> <7>
Figura 76: Massas das partículas obtidas nas saídas superior e inferior da
simulação 2 vias, bagaço úmido, velocidade do ar de 1,7 m.s-1.
182
14
12
10
massa (g)
8 superior
6 inferior
4
2
0
partícula partícula partícula partícula partícula partícula
<2> <3> <4> <5> <6> <7>
Figura 77: Massas das partículas obtidas nas saídas superior e inferior da
simulação 2 vias, bagaço úmido, velocidade do ar de 2,8 m.s-1.
12
10
massa (g)
8
superior
6
inferior
4
0
partícula partícula partícula partícula partícula partícula
<2> <3> <4> <5> <6> <7>
Figura 78: Massas das partículas obtidas nas saídas superior e inferior da simulação
2 vias, bagaço úmido, velocidade do ar de 3,9 m.s-1.
183
12
10
massa (g)
8
superior
6
inferior
4
0
partícula partícula partícula partícula partícula partícula
<2> <3> <4> <5> <6> <7>
Figura 79: Massas das partículas obtidas nas saídas superior e inferior da simulação
2 vias, bagaço úmido, velocidade do ar de 4,5 m.s-1.
12
10
massa (g)
8
superior
6
inferior
4
0
partícula partícula partícula partícula partícula partícula
<2> <3> <4> <5> <6> <7>
Figura 80: Massas das partículas obtidas nas saídas superior e inferior da simulação
2 vias, bagaço úmido, velocidade do ar de 5,0 m.s-1.
184
14
12
10
massa (g)
8 superior
6 inferior
4
2
0
partícula partícula partícula partícula partícula partícula
<2> <3> <4> <5> <6> <7>
Figura 81: Massas das partículas obtidas nas saídas superior e inferior da simulação
2 vias, bagaço úmido, velocidade do ar de 6,4 m.s-1.
50
45
40
35
30 simulação
25
20 real
15
10
5
0
vel 1,7 vel 2,8 vel 3,9 vel 4,5 vel 5,0 vel 6,4
Velocidades (m/s)
50
45
40
35
30 simulação
25
20 real
15
10
5
0
vel 1,7 vel 2,8 vel 3,9 vel 4,5 vel 5,0 vel 6,4
Velocidades (m/s)
um grupo específico de partículas for dividida por um fator médio, obtém-se valores próximos
das velocidades do ar observada nos experimentos reais.
Desse modo, no caso das simulações 1 Via, se as velocidades adotadas nas
simulações forem divididas por um fator de valor 1,64, os valores observados serão próximos
dos valores reais do ar adotadas por Lenço (2010), descritos na Tabela 9. De modo análogo
para o caso 2 vias, se as velocidades simuladas forem divididas pelo valor 2,44 os resultados
encontrados também se aproximam das velocidades observadas nos experimentos reais. Logo,
na construção de equipamentos reais deve-se levar em consideração tais fatores para correção
das velocidades, lembrando que tais correções são válidas quando as configurações das
partículas que formam o bagaço simulado estejam próximas daquelas utilizadas neste trabalho.
Para o caso em que o bagaço estava úmido, a avaliação do histograma acumulativo
de massa já apresenta uma discrepância grande entre o experimento real e o simulado. Essa
diferença se deve ao fato de que no experimento real, a cada rodada de separação, o material
vinha sendo inevitavelmente seco aos poucos e no caso simulado a umidade foi mantida
constante. Dessa maneira, se comparado o perfil de ambos os experimentos reais, com o bagaço
em umidade de equilíbrio e com o bagaço úmido, nota-se que os mesmos são muito similares e
seguem a mesma tendência.
Já no caso simulado é garantido que o bagaço considerado úmido não tem suas
características físicas alteradas nos experimentos e, portanto, pode servir como um parâmetro
muito interessante quando deseja-se compreender melhor certo fenômeno de transporte
pneumático do bagaço com tais características., apesar de ser um caso irreal, visto que o bagaço
em contato com o ar vai perder umidade, modificando suas propriedades. Devendo tal caso ser
tratado como um caso limite ideal.
Para pesquisas futuras do desenvolvimento de um modelo envolvendo a secagem
do material deverá ser estudada uma correlação que descreva, além da transferência de massa,
o fenômeno da diminuição da força de adesão entre as mesmas, sendo os principais parâmetros
a serem considerados em tal relação o tempo de residência da partícula no classificador e as
propriedades do fluido de transporte.
De modo a demonstrar que tal correlação deverá estar em boa concordância com o
fenômeno real foi realizada a simulação de um caso em que a densidade do bagaço é a mesma
daquele em umidade de equilíbrio, porém com a força de adesão constante como se o material
estivesse úmido. Os resultados serão apresentados nas Figuras 85 a 88.
188
14
12
10
massa (g)
8 superior
6 inferior
4
2
0
partícula partícula partícula partícula partícula partícula
<2> <3> <4> <5> <6> <7>
Figura 85: Massas das partículas obtidas nas saídas superior e inferior da simulação
2 vias, umidade de equilíbrio, considerando a força de adesão, velocidade do ar de 5,0 m.s-1.
Figura 87: Zoom do aglomerado de partículas que ficou estável após 11 segundos
da simulação até o seu final, vista x-y.
CAPÍTULO 6
CONCLUSÕES
garantido que as características do material não são alteradas, com isso tal ferramenta se
mostrou muito importante quando se pretende avaliar processos que utilizem o bagaço úmido.
No caso de um estudo futuro da secagem do material durante o transporte das
partículas pode-se considerar uma nova correlação que faça parte do modelo de modo que,
dependendo do tempo de residência das partículas no leito e de características do fluido, haja a
transferência de massa das partículas, com a perda da umidade e consequente redução das
densidades, acompanhada da diminuição da força de adesão entre as mesmas.
Por fim, foi destacada a importância do estudo teórico de classificação pneumática
de partículas de bagaço, principalmente quando o objetivo é a separação de frações bem
definidas de tal biomassa, como a fibra e a medula. Sendo que em determinados processos,
como a produção de papel, a medula é indesejável, uma vez que é responsável por dificultar a
drenagem de água durante o processo. Por outro lado, considerando a hidrólise enzimática, tal
fração apresenta rendimentos de conversão de celulose em açúcares fermentáveis superiores
aos das demais frações quando nenhum pré-tratamento do material é realizado, o que auxilia na
redução de custos de tal processo.
Logo, sabendo que com velocidades do ar de até 0,7 m.s-1 pode ser separada a fração
medula, com velocidades intermediárias entre 0,7 e 2,0 m.s-1 separa-se a fibra e velocidades
superiores a 2,0 m.s-1 separa-se a casca, poderão ser feitos testes e simulações da classificação
pneumática de bagaço em equipamentos separadores visando o desenvolvimento destes para
serem utilizados nos referidos processos.
Além disso, os parâmetros de simulação apresentados no presente trabalho também
podem ser estendidos a diversos outros processos que utilizam a fluidização do bagaço de cana-
de-açúcar como a pirólise, gaseificação, secagem pneumática e outros, permitindo o estudo e
desenvolvimento de tais equipamentos perto de uma configuração ideal, economizando tempo
e reduzindo custos para tanto.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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models in discrete element simulations. Powder Technology, v. 206, p. 269-282,
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ARALDE, L. E., TOSI, E., TAPIZ, L., PAZ, D., CÁRDENAZ, G. J. Determinação
da velocidade de transporte pneumático do bagaço de cana de açúcar. Revista
Industrial y Agrícola de Tucumán, v. 69, p. 15-22, 1991.
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APÊNDICE
A primeira etapa foi abrir a malha no software ANSYS Fluent®, se nota que foi feita
uma simplificação do equipamento real apresentado, utilizando obviamente apenas a parte de
interesse onde acontece a separação de partículas. O desenho simula as dimensões reais do
equipamento, com altura de 1,5 metros e diâmetro do tubo de 0,1 metro.
Nos parâmetros gerais é importante estar atento que será uma simulação em estado
estacionário, uma vez que a simulação DEM não irá interferir na simulação CFD.
Nos modelos, se escolheu o modelo k-ε de turbulência mantendo-se os valores das
constantes os mesmos que já estavam como padrão no software, conforme Figura 92.
Na aba das condições de contorno, na entrada de ar, que coincide com a saída do
bagaço sedimentado, foi escolhida a velocidade pelo qual o ar passaria pelo elutriador, nesse
caso 4,5 m.s-1. Para a saída de ar, que coincide com a saída de bagaço elutriado a condição
escolhida foi “pressure-outlet” com valor 0.
A Figura 94 apresenta a edição das condições de contorno no software.
216
Após clicar em Custom Geometry basta procurar o arquivo com o caso simulado
pelo software ANSYS Fluent® e abrí-lo, aparecerá uma janela para confirmar a orientação dos
eixos e as dimensões, então a geometria aparecerá e para que a mesma seja projetada na área
de trabalho, basta manter pressionado o botão esquerdo do mouse sobre Geometries e arrastá-
lo até tal área.
Nesse caso em específico a entrada de partículas do equipamento é um orifício
relativamente pequeno, o que dificulta a geração de partículas, para sanar essa dificuldade
decidiu-se por criar um funil por onde as partículas seriam criadas e escorreriam pra dentro do
equipamento. A criação do mesmo pode ser feita com qualquer software específico para o
mesmo e não é necessário se preocupar com a qualidade da malha pois, o Método dos Elementos
Discretos é livre de malha. Após a criação do funil basta importar a geometria como descrito
anteriormente.
A etapa seguinte foi criar o local da entrada de partículas, para tanto, ao clicar com
o botão direito do mouse sobre Geometries aparecerá a janela de importação, mas nesse caso
deverá clicar com o botão esquerdo em Create e em seguida em Inlet. No editor de dados na
aba Geometry, deve-se nomear para entrada partículas e escolher o tipo de geometria e as
coordenadas e dimensões da entrada. Ainda no editor, em Simulation Configuration escolher o
tempo de início e final de alimentação das partículas, nesse caso foi decidido alimentar o
equipamento por 2 segundos. A Figura 98 dá uma visão geral até esse ponto.
Com as partículas e suas vazões mássicas definidas o próximo passo é definir o tipo
de acoplamento, que nesse caso é o de 1 Via. Assim, clicando no ícone CFD coupling com o
botão esquerdo do mouse, no editor de dados, deve-se escolher a opção Fluent One Way Steady
State e em seguida selecionar o arquivo de extensão “.f2r” que foi aquele exportado do ANSYS
Fluent®.
Aparecerá então o ícone Fluent One Way Steady State, logo abaixo de CFD
coupling, e pela seleção do primeiro, por meio do editor de dados, pode-se então definir a lei
de arraste (Drag Law), que nesse caso foi a lei proposta por Ganser. Os demais parâmetros
foram mantidos como o padrão já fornecido pelo software. A Figura 103 ilustra essa etapa.
224
Figura 106: Malha utilizada nos testes com destaque para a saída inferior.
227
O próximo passo é definir o material, nesse caso serão criadas duas fases fluidas, a
primeira se refere ao ar e a segunda às partículas, como se fosse proceder uma modelagem
Euleriana-Euleriana, logo deve-se selecionar esse tipo de modelo e adicionar a partícula como
fase secundária. Assim, o software ROCKY® atuará posteriormente compartilhando dados de
simulação por meio dessa fase de partículas criada, isentando o usuário de se preocupar com os
parâmetros das partículas no software ANSYS Fluent ®, já que suas propriedades deverão ser
definidas no software ROCKY®.
228
Figura 109: Escolha do modelo Euleriano com duas fases, sendo uma o ar e a outra
as partículas.
Fazendo o setup das condições de contorno, deve-se apenas certificar que tanto as
velocidades como as frações volumétricas das partículas em todos os contornos devem ser
iguais a zero.
Partindo para a parte de solução do problema, deve-se inicialmente atentar para os
métodos de solução, onde no acoplamento pressão-velocidade deve-se escolher “Phase coupled
SIMPLE” e na formulação transiente selecionar “First Order Implicit”.
Após essa etapa, ainda configurando a solução, deve-se inicializar os parâmetros,
com o cuidado de manter como 0 as velocidades e frações volumétricas de partículas, uma vez
que o perfil de fração volumétrica das partículas inicial será atualizado tão logo se inicializar o
software ROCKY® com seus parâmetros, de acordo com a Figura 113.
Finalizando, deve-se definir o caminho para exportar os resultados da simulação,
conforme a Figura 114, e definir um passo de tempo razoável, apresentado na Figura 115. O
passo de tempo será atualizado após o acoplamento, de modo a ser um múltiplo inteiro do passo
do ROCKY®.
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