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Rio de Janeiro
Dezembro de 2017
METODOLOGIA DE DESATIVAÇÃO ACELERADA EM CATALISADORES COM
MODELAGEM MATEMÁTICA DO PROCESSO DE HDT
Examinada por:
________________________________________________
Prof.ª Vera Maria Martins Salim, D.Sc
________________________________________________
Prof. Argimiro Resende Secchi, D.Sc
________________________________________________
Dr. Neuman Solange de Resende, D.Sc
________________________________________________
Prof. José Carlos Costa da Silva Pinto, D.Sc
________________________________________________
Prof. Arnaldo da Costa Faro Júnior, D.Sc
________________________________________________
Dr. José Luiz Zotin, D.Sc
iii
AGRADECIMENTOS
Primeiramente agradeço a Deus por ter me proporcionado mais essa
oportunidade na minha vida. Sempre me abrindo portas e estando ao meu lado a todo o
momento.
Agradeço a meus pais, Gílson e Márcia, que sempre me deram suporte,
incentivo, amor e palavras de carinho nos momentos mais difíceis dessa caminhada.
Todo o esforço que vocês fizeram e fazem até hoje me incentiva a continuar. Obrigado
por tudo!
Agradeço também a minha tia Antônia, a minha avó Marina e a minha irmã
Layla que estiveram sempre ao meu lado. A meu irmão Tiago, que estará sempre
comigo em meus pensamentos e coração. Sei que você sempre torceu e torce muito por
mim. Saudades eternas de você. Ao meu sobrinho, Pedro Arthur, que é minha alegria e
conforto nos momentos dificeis. A minha família, primos, primas, tios e tias que me
ajudaram a concluir mais essa etapa.
A minha namorada Camila, obrigado por estar comigo e ter tido paciência em
períodos que eu estava desanimado e achava que tudo estava errado. Sua amizade,
companheirismo, amor e compreensão me deram forças para tornar este trabalho
possível.
Agradeço aos meus professores Vera, Argimiro e Neuman pela orientação,
suporte e incentivo. A professora Vera que acreditou em mim desde o início, mesmo
não me conhecendo. Quando bati à sua porta me presenteou com uma oportunidade
única, muito obrigado. A professora Neuman, que me ajudou tanto na parte de redação
dos textos, na postura e apresentação de trabalhos e por estar sempre disponível. Ao
professor Argimiro, que sempre me incentivou a ir cada vez mais longe na área de
modelagem e simulação. Obrigado pelas oportunidades proporcionadas para meu
crescimento pessoal e profissional.
Agradeço ao CNPq e CAPES pelo apoio financeiro. E aos amigos que fiz
durante o doutorado: Alberth, Renata, Vinícius, Arthur, Francine, Jaqueline, Amanda,
Carla, Klynsmann, Masoud, Anderson, Marcileny e João, obrigado pelo apoio e
amizade. Aos amigos de laboratório, Cláudio e Edimário, obrigado pela ajuda e amizade
durante todo o tempo que passei aí com vocês. Ao Marcelo Edral, que me ajudou tanto
no desenvolvimento desse trabalho.
Enfim, obrigado a todos que me ajudaram de alguma forma.
iv
Resumo da Tese apresentada à COPPE/UFRJ como parte dos requisitos necessários
para a obtenção do grau de Doutor em Ciências (D.Sc.)
Dezembro/ 2017
v
Abstract of Thesis presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the
requirements for the degree of Doctor of Science (D.Sc.)
December/ 2017
A challenge to the new regulatory requirements that restrict the sulfur emission
is the suitable selection of hydrotreating catalysts (HDT). This work studies the
accelerated deactivation by coke deposition in commercial HDT catalysts and the
phenomenological modeling of the process. Deactivation by coke formation and
deposition was studied using a kinetic approach with typical operating conditions of
industrial units employing medium distillates. Continuous monitoring of the process
through density, sulfur content and FTIR and NMR spectrometry analyzes allowed a
simple and direct correlation between the composition of aromatic, sulfur and nitrogen
compounds and catalytic bed activity. The phenomenological model, developed from a
fixed bed reactor, allowed the kinetic parameters estimation with small deviations
between experimental and predicted data by the model. The integration between the
phenomenological model and experimental data of residual activity showed that the
Accelerated Deactivation Methodology (MDA) is representative of the deactivation
phenomenon in industrial units. Finaly, this model is a suitable and fast tool for the
HDT catalysts evaluation.
vi
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 1
2.1.1 Cargas................................................................................................ 6
vii
4.1.1 Caracterização da natureza química ................................................ 80
viii
LISTA DE FIGURAS
ix
Figura 22 - Teor de coque depositado em função do teor de poliaromáticos
(adaptado de WIVEL et al., 1991). ................................................................................ 35
Figura 23 - Rota de formação do coque térmico a partir de radicais livres
(FURIMSKY e MASSOTH, 1999). ............................................................................... 37
Figura 24 - Rota de formação de coque com participação de carbocátions
(MAGNOUX et al., 2006).............................................................................................. 37
Figura 25 - Rotas para formação do coque a partir do pireno(WANG et al.,
2016). .............................................................................................................................. 38
Figura 26 - Classificação de reatores catalíticos heterogêneos (FROMENT e
BISCHOFF, 1990). ......................................................................................................... 42
Figura 27 - Fluxograma simplificado da unidade 3R-HDT-20 - Vinci
Technologies................................................................................................................... 57
Figura 28 - Unidade 3R-HDT-20 - Vinci Technologies: (a) Seção de alimentação
e (b) de reação................................................................................................................. 58
Figura 29 - 3R-HDT-20 - Vinci Technologies - seção de separação. ................ 59
Figura 30 - Configuração final do reator. ........................................................... 60
Figura 31 - Espectros de infravermelho (FTIR) das cargas A e B. .................... 81
Figura 32 - Espectros de infravermelho (FTIR) da carga A com os padrões
internos - compostos aromáticos. ................................................................................... 82
Figura 33 - Espectros obtidos a partir da carga A e dos padrões internos. ......... 83
Figura 34 - Espectros de infravermelho (FTIR) da carga A e com os padrões
internos - compostos sulfurados e nitrogenados. ............................................................ 84
Figura 35 - Espectros de infravermelho (FTIR) da carga B e com os padrões
internos - compostos sulfurados e nitrogenados. ............................................................ 84
Figura 36 - Espectros RMN 1H: a) carga A; b) carga B...................................... 85
Figura 37 - Análise de densidade na etapa de estabilização. .............................. 87
Figura 38 - Teor de enxofre na etapa de estabilização. ...................................... 87
Figura 39 - Espectroscopia por infravermelho (FTIR) da etapa de estabilização.
........................................................................................................................................ 88
Figura 40 - Espectros de infravermelho (FTIR) da carga A e dos produtos,
variando-se a severidade das condições operacionais. ................................................... 90
Figura 41 - Espectros de ressonância magnética nuclear (RMN) 1H: a) carga A;
b) amostra 1; c) amostra 2. ............................................................................................. 91
Figura 42 - Densidade versus teor de enxofre para as duas cargas..................... 92
x
Figura 43 - Espectros de infravermelho (FTIR) da carga A e das amostras
obtidas em pressões diferentes. ...................................................................................... 92
Figura 44 - Espectros de FTIR das amostras P1 e P2 e da carga na região dos
compostos aromáticos. ................................................................................................... 93
Figura 45 - Espectros de RMN 1H: a) amostra P1; b) amostra P2. .................... 93
Figura 46 - Valores de densidade nos testes de desativação acelerada. ............. 94
Figura 47 - Teor de enxofre no produto nos testes de desativação acelerada. .... 95
Figura 48 - Espectros de infravermelho (FTIR) da carga A e amostras na Etapa
1. ..................................................................................................................................... 96
Figura 49 - Espectros de infravermelho (FTIR) da carga B e amostras. ............ 97
Figura 50 - Espectros de FTIR das cargas e das amostras 12 e 24 na Etapa 2: a)
carga A b) carga B .......................................................................................................... 97
Figura 51 - Conversões iniciais e finais da reação de HDS dos produtos obtidos a
partir da carga A (a) e B (b). ........................................................................................... 99
Figura 52 - Densidades iniciais e finais dos produtos obtidos a partir da carga A
(a) e B (b)........................................................................................................................ 99
Figura 53 - Distribuição do tamanho dos poros dos leitos catalíticos. ............. 100
Figura 54 - Análise de sensibilidade dos parâmetros estimados: (■) mHDS, (●)
mHDN, (▲) k0,HDS, (x) k0,HDN, (*) EaHDS, (♦) EaHDN. ..................................................... 107
Figura 55 - Comparação entre as concentrações experimentais e preditas. ..... 109
Figura 56 - Perfis dos teores/concentrações na fase líquida: a) enxofre, b)
nitrogênio, c) H2 d) H2S e NH3. .................................................................................... 110
Figura 57 - Avaliação do fator de efetividade para a reação de HDN. ............. 113
Figura 58 - Análise de convergência da malha, a) perfis dos teores de enxofre, b)
perfis obtidos na saída do reator. .................................................................................. 153
xi
LISTA DE TABELAS
xii
Tabela 22 - Propriedades texturais dos catalisadores virgem e residuais. ........ 100
Tabela 23 - Especificações para a solução numérica ........................................ 102
Tabela 24 - Valores típicos dos parâmetros cinéticos para reações de HDS e
HDN ............................................................................................................................. 104
Tabela 25 - Propriedades físico-químicas da carga, leito e partícula ............... 105
Tabela 26 - Valores estimados dos parâmetros ................................................ 105
Tabela 27 - Concentrações de enxofre e nitrogênio: experimental x predito ... 108
Tabela 28 - Análise preditiva ............................................................................ 109
Tabela 29 - Fator de efetividade x posição do leito catalítico .......................... 112
Tabela 30 - Parâmetro cinético após etapa de desativação ............................... 114
Tabela 31 - Especificações para a solução numérica no leito e na partícula .... 116
Tabela 32 - Parâmetros cinéticos e seus valores estimados .............................. 116
Tabela 33 - Modelo com difusão intrapartícula, concentração: experimental x
predito ........................................................................................................................... 117
Tabela 34 - Fator de efetividade x posição do leito catalítico para modelo com
difusão intrapartícula .................................................................................................... 118
xiii
NOMENCLATURA
SÍMBOLOS - MODELAGEM FENOMENOLÓGICA
dt Diâmetro do reator, cm
xiv
Palim Pressão parcial de H2 na entrada, MPa
r Raio da partícula, cm
T Temperatura, K
Letras Gregas
εS Porosidade do catalisador
xv
ρS Densidade do catalisador, g/cm3
ϕs Fator de Forma
Superscripts
G Fase gasosa
L Fase líquida
S Fase sólida
xvi
1 INTRODUÇÃO
Querosene de
aviação 4,3%
Etanol 14%
Óleo diesel
46,4%
Gasolina
29,4%
Gás natural
Biodiesel 2,3% Outras 1,3% 2,0%
1
compostos orgânicos voláteis e materiais particulados, pressionam cada vez mais o setor
de refino de petróleo em relação à especificação dos combustíveis. Para as indústrias
deste setor é necessário aumentar a produção mas em contrapartida é requerido que
esses combustíveis possuam baixos teores de contaminantes, número de cetano
adequado e representem um menor risco ambiental e à saúde humana.
Neste panorama, surge o hidrotratamento (HDT), que é um dos mais importantes
processos catalíticos na indústria de refino do petróleo e vem sendo utilizado há mais de
60 anos para obter combustíveis de melhor qualidade a partir de qualquer fração de
petróleo. Como em todo processo catalítico, os catalisadores de HDT são continuamente
desativados em condições de operação em reatores industriais. A atividade catalítica
para operações industriais é mantida através do aumento constante da temperatura de
reação, mantendo as especificações desejadas do produto e também um monitoramento
do processo de desativação. No entanto, o aumento da temperatura de reação tem
limites devido à restrições metalúrgicas, equilíbrio termodinâmico do processo, reações
de craqueamento termico e desativação mais rápida do catalisador (COOPER et al.,
1986; ANCHEYTA, 2015).
Devido à sua importância industrial, o desenvolvimento e seleção de
catalisadores de HDT com maior vida útil, alto desempenho e mais resistente à
desativação exigem atenção especial. No entanto, o tempo necessário para o catalisador
perder atividade significativamente por deposição de coque em hidrotratamento de
destilados médios é elevado (2 a 3 anos), tornando seu estudo, na forma tradicional,
mais caro e trabalhoso. Com base nisso, uma alternativa que se configura é através de
testes de desativação acelerada. O princípio dos testes consiste em aumentar a
severidade das condições operacionais, para que em um curto intervalo de tempo seja
possível observar o fenômeno de desativação.
Os testes de desativação acelerada apresentam alguns desafios que precisam ser
levados em conta no planejamento experimental. Um dos grandes problemas é tornar o
fenômeno de desativação representativo para uma unidade industrial. A aplicação dessa
metodologia exige um profundo conhecimento da desativação, das variáveis
operacionais mais importantes e quais os seus efeitos no processo. Segundo PACHECO
(2008), deve-se escolher parâmetros que sejam comuns tanto à unidade industrial como
à planta piloto, por exemplo, a caracterização dos produtos gerados e a caracterização
dos catalisadores coqueados.
2
A abordagem tradicional de avaliação da perda de atividade por deposição de
coque é feita pela caracterização dos catalisadores coqueados (WIVEL et al, 1991;
RANA et al., 2013; MEDEROS et al., 2013). Contudo, a obtenção desses materiais para
um monitoramento contínuo do processo de desativação acelerada torna-se uma tarefa
difícil à medida que os sistemas de reação são fechados e pressurizados. Ou seja, a
remoção dos sólidos/amostragem do leito catalitico não é uma tarefa simples tanto em
unidades de bancada como em reatores industriais. Além disso, o coque formado pode
diferir dependendo de sua posição nos leitos catalíticos.
Em trabalhos anteriores do grupo, utilizou-se uma abordagem cinética aliada à
caracterização dos produtos para uma avaliação criteriosa do fenômeno desativação.
Esta metodologia mostrou-se mais promissora pela possibilidade de analisar cada reação
de HDT de forma individual (PACHECO, 2008; PACHECO et al., 2011).
Além disso, a modelagem fenomenológica do processo de HDT tem se mostrado
uma importante ferramenta no estudo desse processo. É encontrada uma ampla literatura
nesse campo de estudo (KORSTEN e HOFFMAN, 1996; AVRAAM e VASALOS,
2003; MACÍAS e ANCHEYTA, 2004; JARULLAH et al., 2010 e 2011). Contudo a
estimação dos parâmetros cinéticos com acurácia e confiabilidade utilizando dados
estatísticos é uma lacuna a ser preenchida. Do mesmo modo, o uso de um planejamento
experimental para tornar mais eficiente à estimação também é pouco encontrado.
Partindo da premissa, já bem estabelecida, de que a desativação de catalisadores
de HDT ocorre com uma cinética lenta e, fundamentalmente, por deposição de coque,
na ausência de metais pesados na carga; este trabalho procura apresentar uma
contribuição na linha de estudo da desativação acelarada de catalisadores de HDT,
usando simultaneamente uma abordagem experimental e de modelagem
fenomenológica.
Neste sentido os objetivos abaixo apresentados foram estabelecidos para
direcionar o desenvolvimento deste trabalho.
1.1 Objetivos
3
i. Planejamento, preparação e execução dos testes catalíticos na unidade de
bancada;
ii. Caracterização e análise das duas cargas industriais utilizadas;
iii. Avaliação da etapa de estabilização e das atividades iniciais e residuais
dos leitos catalíticos para ambas as cargas;
iv. Monitoramento contínuo da desativação acelerada dos catalisadores de
HDT através da caracterização dos produtos;
v. Desenvolvimento e estruturação do modelo fenomenológico do processo
de HDT;
vi. Estimação dos parâmetros cinéticos das reações de HDS e HDN a partir
de um planejamento experimental;
vii. Simulação do processo de HDT e estimativa do consumo de hidrogênio
das reações.
4
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
5
(hidrogenação de compostos aromáticos, HDA) e de hidrogenação de olefinas e
diolefinas (HO). As principais condições operacionais relacionadas a qualidade dos
combustíveis são:
Temperatura;
Pressão parcial de hidrogênio;
Velocidade espacial horária líquida (LHSV).
2.1.1 Cargas
6
Tabela 2 - Típicos compostos encontrados nas frações do petróleo (TOPSØE et
al.,1996).
Compostos sulfurados
Mercaptanas, sulfetos e R-SH R-S-R' R-S-S-R'
dissulfetos
Tiofenos, benzotiofenos e
dibenzotiofenos
Compostos nitrogenados
Pirróis, indóis e carbazóis,
piridina, quinolinas
Compostos oxigenados
Furanos, ácidos
carboxílicos e fenóis
Aromáticos
Benzenos, tetralins e
fenilbenzenos
Naftalenos e antracenos
7
O óleo diesel é uma das cargas utilizadas nesse trabalho e apresenta grande
relevância no cenário nacional, sendo constituído por uma mistura de hidrocarbonetos
parafínicos, naftênicos (ciclo alcanos) e aromáticos. É um combustível líquido cuja
principal característica é sua queima em câmaras de combustão a alta taxa de
compressão. No Brasil, o diesel pode ser comercializado de acordo com a sua aplicação:
rodoviário ou marítimo. A resolução de n° 42/2009 da ANP (ANP, 2009). permite
também a utilização do diesel em outras aplicações, denominadas off road, que inclui o
uso para fins ferroviários, agropecuários, industrial e geração de energia elétrica. A
resolução n° 50 da ANP (ANP, 2013) classifica o óleo diesel rodoviário em dois tipos:
1. Óleo diesel A: combustível produzido por processos de refino de petróleo
e processamento de gás natural destinado a veículos dotados de motores do ciclo Diesel,
de uso rodoviário, sem adição de biodiesel.
2. Óleo diesel B: combustível produzido por processos de refino de petróleo
e processamento de gás natural destinado a veículos dotados de motores do ciclo Diesel,
de uso rodoviário, com adição de biodiesel no teor estabelecido pela legislação vigente.
A resolução também estabelece que tanto o óleo diesel A como o B devem
apresentar a seguinte nomenclatura, conforme o teor máximo de enxofre:
i. Óleo diesel A S10 e B S10: combustíveis com teor de enxofre máximo de
10 mg/kg;
ii. Óleo diesel A S500 e B S500: combustíveis com teor de enxofre máximo
de 500 mg/kg.
O óleo diesel recebe alguns aditivos em sua composição. Esses aditivos
aprimoram algumas características, visando maior desempenho do combustível. Os
aditivos, normalmente incorporados aos combustíveis, são antiespumantes,
desemulsificantes, detergentes, dispersantes e inibidores de corrosão
(CONFEDERAÇÃO NACIONAL DO TRANSPORTE - CNT, 2012).
Visando atender às especificações da ANP, utilizam-se ensaios baseados nas
normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) ou da American Society
for Testing and Materials (ASTM). A especificação em vigor (Tabela 3) para o óleo
diesel produzido a partir do refino do petróleo e utilizado no transporte rodoviário foi
estabelecida pela resolução ANP n° 50, de 23 de dezembro de 2013.
8
Tabela 3 - Especificação do óleo diesel S10 comercializado no Brasil. Fonte: ANP
(2013) - resolução n°50.
Característica Unidade Limite Método
ASTM
Aparência -
Límpido e isento
Aspecto - Visual
de impurezas
Cor - obs(1) Visual
Cor ASTM, máx 3,0 D1500 / D6045
Composição
Teor de biodiesel %v obs(2) -
D2622 / D5453 / D7039 /
Enxofre total, máx mg/kg 10
D7212 / D7220
Destilação
10%v recuperados, mín. °C 180,0 D86
50%v recuperados, mín. °C 245,0 a 295,0 D86
95%v recuperados, mín. °C 370,0 D86
Massa específica a 20°C kg/m3 815 a 850 D1298 / D4052
Ponto de Fulgor, mín. °C 38 D56 / D93 / D3828
Viscosidade cinemática a 40°C mm2/s 2,0 a 4,5 D445
Variável
Ponto de entupimento de
°C conforme estação D6371
filtro a frio, máx.
do ano
Número de cetano, mín. ou Número
- 48 D613 / D6890 / D7170
de cetano derivado (NCD), mín
Resíduo de carbono no resíduo dos
% massa 0,25 D524
10% finais da destilação, máx.
Cinzas, máx. % massa 0,010 D482
Corrosividade ao cobre, 3h a 50°C, máx. - 1 D130
Teor de água, máx mg/kg 200 D6304 / EN ISO 12937
Contaminação total, máx mg/kg 24 EN 12662
Água e sedimentos, máx. % volume 0,05 D2709
Hidrocarbonetos policíclicos, máx. % massa 11 D5186 / D6591
Estabilidade à oxidação, máx. mg/100ml 2,5 D2274 / D5304
mg
Índice de neutralização Anotar(3) D974
KOH/g
Lubricidade, máx. μm obs(4) ISO 12156 / D6079
Condutividade elétrica, mín. pS/m 25 D2624 / D4308
(1) Usualmente incolor a amarelada, pode apresentar-se levemente alterada para as tonalidades marrom e alaranjada devido à
coloração do biodiesel;
(2) Conforme estabelecido pela legislação vigente. Será admitida variação de +- 0,5% volume;
(3) Recomenda-se manter um registro dos valores encontrados para a propriedade visado o estabelecimento futuro de um valor para
especificação;
(4) Poderá ser determinada pelos métodos ISO 12156 ou ASTM D6079, sendo aplicáveis os limites de 460μm e 520μm,
respectivamente. A medida de lubricidade deverá ser realizada em amostra com biodiesel, no teor estabelecido pela legislação
vigente.
9
alterações de cor do óleo podem indicar problemas no processo produtivo,
contaminação ou degradação (CNT, 2012). O controle da densidade visa uma obtenção
da mistura ar/combustível balanceada, isto porque os motores são projetados para operar
em uma determinada faixa de densidade. Assim, as variações na densidade levam a uma
significativa variação na massa de combustível injetado, prejudicando uma queima
eficiente do diesel no motor (FERREIRA, 2011). Já a percentagem de água e
sedimentos acima dos níveis pré-fixados são altamente danosos ao diesel, pois
prejudicam sua combustão, aceleraram a saturação dos filtros e provocam danos ao
sistema de combustível.
Como visto, a especificação do óleo diesel define diversas características
fundamentais para assegurar a qualidade do produto comercializado. Algumas dessas
características estão ligadas diretamente a severidade do processo de HDT, como, por
exemplo, o número de cetano e a densidade estão associados a saturação dos
aromáticos; já a redução do teor de enxofre e aromáticos reduzem a lubricidade do
diesel, podendo assim requerer o uso de aditivos.
10
concentração mínima de enxofre (~ 8 ppm). Observou-se que, quanto menor a pressão
parcial do hidrogênio, maior é a temperatura necessária para atingir o teor desejado de S
no produto. Além disso, os autores concluíram que, ao utilizar uma corrente com maior
porcentagem de aromáticos e em condições de baixas pressões parciais de H2, ocorreu
um favorecimento da desativação do catalisador devido à formação de coque.
A reatividade dos compostos organossulfurados diminui à medida que o número
de anéis aromáticos e/ou substituintes metila aumenta na estrutura (Figura 2). A
remoção do enxofre ocorre com ou sem a hidrogenação do anel heterocíclico. O
mecanismo que envolve a hidrogenação prévia do anel pode ser afetado pelas condições
operacionais do processo, visto que em determinadas temperaturas pode ocorrer o
equilíbrio químico. Assim, a remoção de enxofre por meio de hidrogenação pode ser
inibida a baixas pressões e elevadas temperaturas, devido à baixa concentração de
equilíbrio dos intermediários hidrogenados (KABE et al., 2000).
Estudos cinéticos mostraram que um dos compostos mais refratários às reações
de HDS é o 4,6-di-metil-dibenzotiofeno, e sua taxa de reação, se comparada ao
dibenzotiofeno, para uma reação de pseudo-primeira ordem é dez vezes inferior
(KAGAMI et al., 2003).
11
A reação de HDS é exotérmica e praticamente irreversível sob condições
operacionais usadas na indústria (340-425 °C e 55-170 atm). As Figura 3, 4 e 5
apresentam os possíveis mecanismos da reação de HDS para os compostos de tiofeno,
benzotiofeno e dibenzotiofeno. respectivamente.
No caso do tiofeno, observa-se que existem dois caminhos paralelos, o primeiro
através da hidrodessulfurização direta do composto, formando o butadieno; já no
segundo ocorre a hidrogenação para o tetrahidrotiofeno e em seguida a dessulfurização
para o 1-buteno. Nota-se também a formação de intermediários no processo, entretanto
somente traços são encontrados no produto final, sugerindo que são altamente reativos e
formam rapidamente o butano (ZHOU et al., 2006).
12
A rota da reação de HDS do dibenzotiofeno foi proposta por HOUALLA et al.
(1978), como mostrado na Figura 5. Dependendo do catalisador e das condições
operacionais, pode-se ter a quebra direta da ligação C-S ou a saturação de um ciclo
aromático seguido da quebra da ligação C-S (BABICH e MOULIJN, 2003).
13
HDN (LEDOUX et al., 1984; PILLE et al., 1997; CINIBULK e VIT, 2000). Por ser
uma molécula bem estudada, seu esquema reacional é bem entendido, como mostrado
na Figura 6.
14
Na eliminação de Hofmann (Figura 8), ocorre a formação de um nitrogênio
quaternário com a ajuda de uma estrutura ácida, criando assim um grupo mais fácil de
ser eliminado. Uma base promove a eliminação pela remoção do átomo de hidrogênio
na posição β (HANLON, 1987).
15
compostos se adsorvem mais fortemente nos sítios ativos ácidos do catalisador. Este
resultado está de acordo com o trabalho desenvolvido por ZEUTHEN et al. (2001). Os
autores verificaram a grande influência dos compostos nitrogenados básicos na
conversão das reações de HDS no óleo diesel. Foi concluído que o H2S formado nas
reações de HDS tem um papel importante na reação de HDN inibindo fracamente as
etapas de hidrogenação/hidrogenólise. Entretanto, pode acelerar a taxa geral da reação
de HDN porque promove a quebra da ligação C-N. Esse favorecimento foi associado à
manutenção do catalisador em um estado completamente sulfetado, visto que as
espécies sulfuradas se tornam instáveis na superfície do catalisador e decompõem-se
rapidamente na falta de enxofre na carga (SATTERFIELD et al., 1980).
Mais recentemente, FARAG et al. (2014) investigaram a competição entre as
reações do dibenzotiofeno e da quinolina no processo de HDT. Os autores observaram
que o H2S decorrente da hidrodessulfurização promoveu a transformação do 1,2,3,4-
tetrahidroquinolina (THQ1) para a orto-propilanilina (OPA). Observaram também que a
presença do dibenzotiofeno aumentou a atividade e a seletividade em relação às
produções de C9. Assim, os autores sugerem que a interação entre as moléculas de
dibenzotiofeno e os sítios ativos ocorreu de modo a estabilizar e aumentar a acidez dos
sitíos responsáveis pelas reações de hidrodesnitrogenação.
16
Tabela 4 - Propriedades de bio-óleos (HUBER et al., 2006).
Bio-óleo de Bio-óleo de Bio-óleo
Propriedade
liquefação pirólise hidrotratado
Carbono (%m/m) 72,6 43,5 85,3-89,2
Hidrogênio (%m/m) 8,0 7,3 10,5-14,1
Oxigênio (%m/m) 16,3 49,2 0,0-0,7
Enxofre (%m/m) 45 29,0 0,005
Razão H/C 1,21 1,23 1,40-1,97
Densidade (g/mL) 1,15 24,8 0,796-0,926
Viscosidade (cP) 15000 (61°C) 59 (40°C) 1,0-6 (23°C)
17
sulfetado de CoMo, benzeno foi o principal produto obtido. Já RYYMIN et al. (2010)
detectaram pequenas quantidades de cliclohexil ciclohexano utilizando o catalisador
sulfetado NiMo.
18
HDA. Um dos motivos é que os metais podem estar "escondidos" ou "blindados" nas
micelas, e a reação de HDA tem a finalidade de liberar os clusters metálicos (ASOAKA
et al., 1987). A rota de reação de HDM é complexa e envolve uma série de etapas, como
proposto por JANSSEN et al. (1996): (i) hidrogenações sequenciais dos anéis; ii) ataque
ácido (H+) e hidrogenólise das ligações C-N, levando à quebra do anel e à remoção do
composto metálico; iii) formação dos hidrocarbonetos e deposição do sulfeto metálico
(Figura 13).
19
volume pode aumentar em 40% do seu valor para conversões normais de processo
(GARY e HANDWERK, 2001). BARON et al. (1992) e GIALELLA et al. (1992)
mostraram que somente em pressões parciais maiores ou iguais a 10,4 MPa e LHSV de
2,0 h-1 é possível atingir o valor de 10% em volume de aromáticos para destilados
médios.
SPARE e GATES (1981) propuseram rotas reacionais para diversos tipos de
compostos aromáticos em condições normais de operação, 375°C e 75 atm. Observaram
que as reações são reversíveis e aproximadamente de primeira ordem para todos os
compostos estudados (Figura 14).
Figura 14 - Rotas e taxas de reação (h-1) para os compostos aromáticos com catalisador
de CoO-MoO3 sulfetado/ γ-Al2O3 (adaptado de SPARE e GATES, 1981).
20
Figura 15 - Efeitos das condições operacionais na reação de HDA (adaptado de YOES e
ASIM, 1987).
Para o diesel, os principais compostos aromáticos encontrados são os mono-, di-
e triaromáticos. Geralmente, os hidrocarbonetos contendo mais de três anéis aromáticos
(poliaromáticos) não são encontrados nos destilados médios (STANISLAUS E
COOPER, 2006). A Tabela 5 apresenta as quantidades dos compostos aromáticos para
dois tipos de gasóleos.
21
intuito de observar o efeito desta escolha na hidrogenação de aromáticos em frações do
petróleo. Os autores observaram que o catalisador de níquel e tungstênio aumentou a
saturação de aromáticos e, por conseguinte, elevou a conversão na reação de HDS.
Justificam esta afirmação através da diminuição na inibição causada pelos compostos
aromáticos na reação de HDS, convertendo assim os compostos organossulfurados mais
refratários.
Além dos problemas citados anteriormente, os compostos aromáticos,
principalmente os poliaromáticos, são tidos como notáveis precursores de coque. Essa
característica faz com que a presença destes compostos exerça papel importante no
mecanismo de desativação por deposição de coque (PACHECO, 2008).
2.1.3 Catalisadores
23
A Haldor Topsϕe, uma fabricante de catalisadores mundialmente conhecida,
produziram uma série de catalisadores baseados nesses sítios, chamados de Brim sites.
De fato, os catalisadores sulfetados NiMo ou CoMo possuem esses sítios, sendo
específicos para tratar correntes com elevados teores de enxofre e nitrogênio, sendo
utilizados em tempos de campanha com grande duração.
MORGADO et al. (2009) propuseram utilizar dióxido de titânio (TiO2)
nanoestruturado como suporte dos catalisadores de HDT. Dentre as vantagens do uso de
TiO2 nanoestruturado, a formação de grandes áreas superficiais e a interação entre
alguns planos do suporte com as bordas de MoS, favoreceram o aumento da atividade
catalítica nestas regiões. Mais recentemente, ZEPEDA et al. (2016), estudando como a
adição de fósforo à estrutura do suporte afeta as reações de HDT, para cargas com
elevada quantidade de compostos nitrogenados, concluíram que não houve alteração da
atividade para a reação de HDS e que, para a reação de HDN, a formação de fases mais
ativas do tipo II aumentou a atividade.
Por outro lado, existem trabalhos que alteraram a fase ativa do catalisador na
busca por maiores atividades (YUN e LEE, 2014; WANG et al., 2015). Os catalisadores
baseados em fosfetos de metais de transição foram estudados como opções. Isto porque
estes materiais podem apresentar altas atividades catalíticas para a reação de HDS e
manter uma boa atividade na etapa de hidrogenação dos compostos aromáticos e
nitrogenados. Podem-se citar o fosfeto de molibdênio (MoP), fosfeto de níquel (Ni2P) e
fosfeto de tungstênio (WP) como representantes deste novo grupo de catalisadores de
HDT.
Os catalisadores não suportados também chamam a atenção no cenário atual,
visto que suportes ácidos como a alumina podem facilitar o processo de desativação do
catalisador - adsorção dos nitrogenados com caráter básico inibindo a reação de HDS.
OLIVAS et al. (2008) estudaram o desempenho deste tipo de catalisador. A fase ativa
escolhida foi o sulfeto de molibdênio (MoS2)e utilizou-se os metais de transição
cobalto, níquel e ferro como promotores. Os autores observaram resultados satisfatórios
de atividade para todos os promotores utilizados.
24
causa uma preocupação contínua, visto que a substituição e/ou parada de uma unidade
devido à perda de atividade catalítica custa milhões de dólares (ARGYLE e
BARTHOLOMEW, 2015). O tempo necessário para um catalisador desativar varia com
o processo. No processo de FCC, por exemplo, o catalisador é desativado em questão de
segundos, já no processo de HDT a perda de atividade catalítica é lenta e é viável
manter o inventário durante toda a campanha, que dura aproximadamente três anos.
A desativação pode ocorrer por diversos mecanismos, tanto de natureza química
como física, como mostrado na Tabela 6. Dentre esses mecanismos, a deposição de
coque e/ou metais é o principal causador de perda de atividade nos processos de HDT.
Apesar do interesse neste trabalho ser o estudo da desativação por deposição de coque,
uma breve discussão dos outros mecanismos é apresentado nas secções seguintes.
2.1.4.1 Envenenamento
O envenenamento de catalisadores consiste na forte quimissorção de reagentes,
produtos ou impurezas nos sítios ativos. Portanto, para uma espécie agir como um
veneno vai depender principalmente da sua força de adsorção. Além do bloqueio dos
sítios ativos (efeito geométrico), os venenos adsorvidos podem induzir a mudanças na
estrutura eletrônica da superfície (OUDAR e WISE, 1985). De acordo com ARGYLE e
BARTHOLOMEW (2015), a atividade catalítica pode ser afetada de três maneiras:
i. Forte adsorção do átomo do veneno na superfície que bloqueia no mínimo
um sítio ativo na superfície;
25
ii. Mudança na estrutura eletrônica dos sítios ativos mais próximos, devido à
forte interação entre veneno e superfície, modificando assim a sua
habilidade de adsorver e/ou dissociar as moléculas dos reagentes;
iii. Reestruturação da superfície catalítica, devido à forte quimissorção do
veneno, podendo causar mudanças drásticas nas propriedades do catalisador
- afeta especialmente reações sensíveis à estrutura superficial.
A Tabela 7 classifica os venenos catalíticos de acordo com sua origem química e
o tipo de interação com os metais (ARGYLE e BARTHOLOMEW, 2015). Já a Tabela
8 apresenta uma lista de típicos venenos encontrados em processos catalíticos
industriais (FORZATTI e LIETTI, 1999).
Tabela 7 - Venenos classificados de acordo com sua estrutura química (ARGYLE e
BARTHOLOMEW, 2015)
Venenos catalíticos Exemplos Interação com os metais
Grupos VA e VIA* N, P, As, Sb, O, S, Se, Te Através dos orbitais s e p.
Através dos orbitais s e p.
Grupo VIIA* F, Cl, Br, I
Formação de haletos voláteis.
Metais pesados tóxicos e As, Pb, Hg, Bi, Sn, Cd, Cu, Ocupam os orbitais d. Podem
íons Fe formar ligas.
CO, NO, HCN, benzeno,
Moléculas que adsorvem Quimissorção por múltiplas
acetileno, outros
com múltiplas ligações ligações.
hidrocarbonetos insaturados
26
quantidade de veneno quimissorvido. Já para os venenos seletivos, os sítios ativos mais
energéticos serão envenenados primeiramente (1 função); isto pode ocasionar várias
relações entre a atividade catalítica e a quantidade de veneno quimissorvido.
Muitos venenos ocorrem naturalmente nas correntes de carga que serão tratadas
nos processos catalíticos. Uma fonte adicional pode ser a própria produção do
catalisador, por exemplo, os resíduos de sulfato e cloreto (HAWKINS, 2007).
Os compostos nitrogenados presentes nas cargas tem um relevante papel nas
reações de HDT, visto que a adsorção desses compostos na superfície catalítica podem
inibir as outras reações através da competição pelos sítios. LAVOPA e SATTERFIELD
(1988), LAREDO et al. (2001) e ABID et al. (2016) estudaram o efeito inibitório dos
compostos nitrogenados na reação de HDS do tiofeno. Dentre os compostos utilizados
em ambos os trabalhos, a força de adsorção aumentou na seguinte ordem: amônia <
anilina < piridina < indol < quinolina. Estes resultados sugeriram que a basicidade do
composto, medida através da afinidade protônica (basicidade no estado gasoso), foi o
principal fator na determinação da força de interação com a superfície catalítica, ou seja,
o indol tem um maior impacto na reação do tiofeno que a amônia por estar mais
fortemente adsorvido.
TURAGA et al. (2003) avaliaram como dois tipos de compostos nitrogenados,
os básicos (quinolina) e os não básicos (carbazóis), influenciavam a reação de HDS.
Como esperado, a quinolina inibiu fortemente a reação, visto sua forte adsorção nos
sítios ácidos e de hidrogenação. Já para o carbazol, os efeitos na atividade de HDS
dependeram do tipo de catalisador utilizado nos testes. Enquanto que para o catalisador
CoMo/Al2O3 o efeito foi pequeno, para o CoMo/MCM-41 foi um grande inibidor. Isto
ocorreu devido as diferentes atividades dos dois catalisadores para a reação de HDN. O
carbazol não é básico, porém seus intermediários decorrentes da reação de HDN podem
ser básicos, adsorvendo nos sítios do catalisador.
Os venenos podem ajudar na dessorção de enxofre adsorvido nos sítios de
dessulfuração do catalisador. DONG et al. (1997) observaram que o coque formado a
partir dos nitrogenados depositados na superfície catalítica tiveram menos impacto na
desativação se comparado aos catalisadores com o mesmo teor de coque mas sem
nitrogenados. Isto foi atribuído a forte adsorção desses compostos em sítios inativos do
catalisador, formando um tipo de coque "inerte".
A importância da aromaticidade do heteroátomo no processo de envenenamento
dos catalisadores foi avaliado por VALENCIA et al. (2012). Moléculas como pirrol (5
27
átomos) e piridina (6 átomos) foram estudados por meio da teoria do funcional da
densidade (DFT - Density Functional Theory). Os autores concluíram que anéis com 5
membros quebram a planaridade da estrutura devido à interação do próton do
heteroátomo, o que desestabiliza a aromaticidade do composto. Para a piridina isso não
ocorre devido ao par de elétrons do nitrogênio que adsorve no sítio, ou seja, manteve-se
a estrutura de 6 elétrons π do composto. Essa interação estável causa o envenenamento
do catalisador para a HDS dos compostos sulfurados refratários. Utilizando a mesma
técnica (DFT), HUMBERT et al. (2016) também estudaram a competição de adsorção
dos compostos sulfurados e nitrogenados. Os resultados indicaram um forte adsorção
dos grupos N- tanto nos sítios da fase Mo como nos sítios -SH da fase ativa do
catalisador. Isso explicou porque a reação do dimetil-dibenzotiofeno foi tão afetada pela
presença da piridina, visto que a 1° etapa da hidrodessulfurização ocorre nos SCI-Mo.
28
Segundo BARTHOLOMEW (2001) e FORZATTI e LIETTI (1999) existem
alguns mecanismos que explicam o crescimento dos cristalitos metálicos. Os principais
são migração atômica e migração dos cristalitos (Figura 16). A migração atômica
envolve o "descolamento" de pequenos átomos metálicos de um cristalito e o transporte
destes átomos entre a superfície até sua captura por cristalitos maiores, que são mais
estáveis devido a menor contribuição da energia de superfície. A migração dos
cristalitos envolve o seu transporte como um todo pela superfície do suporte até a
colisão e coalescência das partículas. Alguns fatores, além da temperatura, podem
influenciar a taxa de sinterização de um catalisador. Os mais citados são: sistema de
reação, tipo de metal, suporte, promotores e tamanho de poros (BARTHOLOMEW,
1997).
29
estável. Além disso, a fase ativa de sulfeto de molibdênio também é estável nas
condições operacionais geralmente usadas no processo de HDT (entre 300 e 420°C).
30
2.1.4.4 Deposição e/ou recobrimento
Dentre os mecanismos de desativação, a deposição de coque e/ou metais é o
principal causador de perda de atividade nos processos de HDT. Este processo de
desativação é um fenômeno de natureza física, onde ocorre a deposição de espécies da
fase fluida na superfície catalítica. A perda de atividade catalítica resulta tanto do
bloqueio direto dos sítios ativos, causando uma restrição ao acesso dos reagentes ou, em
casos mais avançados, o bloqueio dos poros do catalisador, impedindo o acesso aos
sítios catalíticos (Figura 17).
Figura 17 - Deposição do coque nos sítios ativos e o bloqueio dos poros do catalisador
(adaptado de BARTHOLOMEW, 2001).
32
baseada na importância da localização e da estrutura do coque depositado, ao invés de
quantidade. Também foram propostos dois modelos para mostrar a evolução da
formação de coque na superfície catalítica (Figura 19):
1) Bloqueio na entrada dos poros. Causa uma rápida desativação catalítica
visto que os reagentes não conseguem acessar os sítios ativos. Este modelo
pode ocorrer quando se tem aumento muito rápido da temperatura de
reação.
2) Deposição uniforme nos poros. Este modelo está associado ao bom controle
do processo e da correta escolha do catalisador.
33
Figura 20 - Perfis da deposição de coque e metais (adaptado de FURIMSKY e
MASSOTH, 1999).
34
Figura 21 - Perfis de vanádio e coque depositados no leito catalítico: topo, meio e fundo
(adaptado de MAITY et al., 2012).
35
O descontrole do processo e a rápida elevação de temperatura da reação pode
aumentar a quantidade de coque formado. DE JONG et al. (1994-a e 1994-b) mostraram
o efeito da temperatura de reação na formação de coque no hidroprocessamento de
gasóleo em condições severas. Eles verificaram que a quantidade de coque depositado
na superfície aumentou continuamente com a elevação de temperatura até um máximo e
depois caiu drasticamente devido às mudanças nas vazões de alimentação. Este
resultado está de acordo com o trabalho de TAILLEUR (2008), em que o aumento de
temperatura causou maior desativação devido à perda de sítios ácidos pelo recobrimento
com coque.
Compostos baseados em silício também podem afetar as reações de HDT devido
à sua alta afinidade com determinados suportes, como a alumina. Esses compostos,
polímeros com átomos de silício, agem como antiespumantes e dependendo do processo
utilizado nas refinarias podem ser carregados para as unidades de hidrotratamento. No
caso da alumina, as espécies com silício interagem com a superfície formando sítios
ácidos de Brönsted (Al-O-Si). Assim, as reações que dependem inicialmente da etapa de
hidrogenação, como HDN, são bem afetadas pela presença de Si na carga (PÉREZ-
ROMO et al., 2012).
Os mecanismos de formação do coque são complexos, mas de modo geral
podem ser interpretados como uma condensação e polimerização na superfície que
resulta em macromoléculas (FORZATTI e LIETTI, 1999).
Segundo FURIMSKY e MASSOTH (1999), é possível identificar duas rotas
principais para a formação do coque: com a participação de carbocátions (coque
catalítico) e através de radicais livres (coque térmico). Entretanto existe a possibilidade
dos dois mecanismos ocorrerem ao mesmo tempo. O tipo de rota depende de fatores
como a natureza da carga, condições operacionais e características do catalisador e do
suporte. TOWFIGHI et al. (2002) propuseram três possíveis formas de mecanismo:
i. mecanismo de coqueamento catalítico: moléculas de hidrocarbonetos
quimissorvem na superfície e por uma reação química na superfície formam
o coque. Os carbonos formados difundem através da superfície metálica;
ficando os metais sobrepostos aos átomos de carbono. Este tipo de coque é
chamado de coque filamentar, não sendo o caso dos processos de HDT.
ii. mecanismo de coqueamento catalítico radicalar: formação de radicais livres
de compostos poliaromáticos por uma desidrogenação incompleta. Esses
36
compostos reagem rapidamente com outras cadeias, formando
macromoléculas;
iii. condensação poliaromática: formação de aromáticos polinucleares na fase
gasosa via reações de radicais livres. Este processo se torna mais importante
a temperaturas acima de 700°C.
Os radicais livres são produzidos por reações de craqueamento térmico e podem
se combinar gerando moléculas maiores, Figura 23, que se depositam na superfície em
forma de coque, a menos que sejam rapidamente eliminados (REYNIERS e
FROMENT, 1994). Uma maneira de se evitar a formação desses radicais é manter
elevada a pressão parcial de hidrogênio.
37
WANG et al. (2016) estudaram as diferentes rotas de formação de precursores
do coque a partir do hidroprocessamento do pireno. Foi observado que a falta de
hidrogenação da estrutura do anel e também sua ruptura (formação de aromáticos com
cadeias menores) levaram a formação de macromoléculas depositadas na superfície,
como mostrado na Figura 25.
38
Os fabricantes de catalisadores de HDT também utilizam a desativação
acelerada para comparação de catalisadores. SKYUM et al. (2006) compararam dois
tipos de catalisadores que foram desenvolvidos para a produção de diesel com
baixíssimas concentrações de enxofre. Com o objetivo de avaliar o desempenho do
catalisador em longo prazo, considerando os efeitos de desativação, utilizaram testes de
desativação acelerada, que consistiram em impor condições severas de reação ao
catalisador durante três semanas. As condições utilizadas nestes testes foram: (i)
utilização de uma carga mais pesada; (ii) altas temperatura; (iii) diminuição da razão
hidrogênio/carga.
Os testes em condições mais severas também podem ser usados para avaliar o
impacto da deposição de metais e coque na atividade catalítica. Com esse objetivo,
MAITY et al. (2008) impregnaram vanádio em diversas concentrações, desde o
catalisador virgem (0% mássico de V) até catalisadores com valores máximos de 15%.
Os resultados mostraram que quanto maior a concentração de vanádio na superfície,
menor foram o volume total dos poros e a distribuição de tamanho do catalisador
residual e que o vanádio depositado afetou tanto as reações de HDS e HDM. Essas
observações também foram obtidas por ANCHEYTA et al. (2003) e MAITY et al.
(2011.b), só que ao invés de realizarem a impregnação dos catalisadores, utilizaram-se
cargas mais pesadas com maiores concentrações de asfaltenos e metais.
PACHECO et al. (2011), empregando a metodologia de desativação acelerada,
propuseram utilizar as cinéticas das reações de HDT, para, em curtos espaços de tempo,
prever o desempenho de catalisadores em unidades industriais. Através do uso de
temperatura normalizada de reação e uma modelagem simplificada do processo, foi
possível mostrar que a desativação por coque tende a ser uniforme para todas as reações
observadas (HDS, HDN e HDA) e que a atividade residual do catalisador usado nas
unidades pilotos foi similar aos catalisadores usados em unidades industriais. Além
disso, a metodologia proposta para os testes de desativação acelerada efetivamente
desativou o catalisador por deposição por coque. Com o mesmo enfoque na cinética das
reações, VENKATESH et al. (2012) estudaram a perda de atividade catalítica por
deposição de coque em curtos intervalos de tempo: 100, 200 e 300 horas de reação. Eles
observaram que, dependendo do estágio de desativação do catalisador, a qualidade do
produto hidrotratado sofre mudanças devido ao coqueamento e a polimerização dos
compostos aromáticos. AHMED et al. (2013) estudaram os efeitos da perda de
atividade em resíduos de vácuo através de condições de desativação aceleradas. Foram
39
utilizadas altas temperaturas de reação no envelhecimento acelerado do catalisador, o
que resultou em grandes quantidades de coque depositado e com elevada aromaticidade.
Isto foi atribuído à diminuição da atividade de hidrogenação do catalisador.
40
liquido podem mover-se no mesmo sentido, co-corrente, ou em sentidos opostos,
contracorrente.
Os reatores de leito fixo convencionais consistem em uma coluna de 10 a 30 m
de altura possuindo um ou mais leitos catalíticos distribuídos ao longo da coluna. Como
as reações de HDT são exotérmicas, a injeção de correntes de resfriamento ao longo da
coluna (quenches) pode ser necessária. Nesse tipo de configuração é geralmente
utilizado somente com uma corrente de gás hidrogênio. Entretanto tem sido reportado o
uso de outros sistemas, como a combinação dos quenches de H2 com trocadores de calor
visando uma integração energética no processo de HDT (MUÑOZ et al., 2005). Cita-se
também quenches de correntes líquidas, onde a maior capacidade calorífica e a redução
dos custos de compressão tornam-se vantajosas no processo como um todo
(ANCHEYTA, 2015). Porém esse sistema não é muito utilizado visto a maior
complexidade em sua operação - condições e configurações de planta diferentes dos
sistemas usuais com H2.
Em unidades industriais, devido à necessidade de melhorar o transporte do H2
para a superfície catalítica, o tipo de escoamento mais utilizado é o co-corrente com
fluxo descendente (DUDUKOVIC et al., 2002). Esse tipo de configuração é usualmente
caracterizado por menores fluxos de H2 comparando-se com o fluxo da carga, ou seja, a
reações de HDT são limitadas pela fase gasosa. Algumas vantagens e desvantagens
desse tipo de sistema foram enumeradas por MEDEROS et al. ( 2009):
Vantagens:
escoamento do líquido se aproxima do comportamento empistonado,
proporcionando conversões elevadas;
possibilidade de operação em pressões e temperaturas mais elevadas;
baixa perda de carga ao longo do leito;
menores investimentos e custos operacionais;
uma menor perda de catalisador durante o processo.
Desvantagens:
limitações ao uso de líquidos viscosos ou que formam espuma;
baixa efetividade do catalisador devido ao uso de partículas de
catalisador com tamanho grande;
desativação do catalisador por deposição/recobrimento;
desmontagem do reator para substituição/reposição do catalisador;
41
grande parte do leito catalítico está no alcance de gases como H2S e NH3
(formados durante o processo de HDT), e estes tem um efeito de inibição
para reações de compostos sulfurados refratários, como o dibenzotiofeno.
Relacionado ao fenômeno de desativação citado anteriormente, é importante
salientar que a desativação faz parte do processo de HDT e não exclusivamente desse
sistema catalítico. A desativação do leito pode ser minimizada ou retardada adotando-se
algumas medidas como, por exemplo, o uso de um leito de guarda para remoção prévia
de metais pesados (Ni e V) antes da carga alcançar o leito catalítico principal, o qual
possui alta atividade para as demais reações, como HDS, HDN e HDA.
Utilizando como base os reatores de leito fixo no processo de HDT, FROMENT
e BISCHOFF (1990) introduziram a classificação mais popular para os modelos
contínuos adiabáticos e não adiabáticos (Figura 26).
Modelos Heterogêneos
Escoamento
Dispersão axial Gradientes no interior da partícula
empistonado
42
complexos provavelmente necessitarão resolver as equações de dinâmica dos fluidos
(Navier-Stokes) por soluções numéricas utilizando ferramentas de fluidodinâmica
computacional.
O artigo usado como base para a modelagem de processos de HDT em diversos
trabalhos atuais foi proposto por KORSTEN e HOFFMAN (1996). Foi apresentada uma
modelagem matemática do processo de HDS para o gasóleo de vácuo em reatores de
leito fixo. Os autores basearam os balanços de massa na teoria de dois filmes para
contabilizar os efeitos de transporte entre as fases, além de conter correlações para
estimar os coeficientes de transferência de massa, solubilidade dos gases e propriedades
do óleo. Apesar das hipóteses consideradas para a construção do modelo, como
desprezar os efeitos de dispersão e de desativação, os resultados obtidos foram
relevantes para a área de modelagem de processos de HDT, isso porque mesmo com as
considerações impostas, o modelo desenvolvido teve um bom ajuste com os dados
experimentais obtidos em uma unidade piloto. Alguns dos resultados obtidos foram as
simulações dos perfis de concentração de enxofre e sulfeto de enxofre no reator e efeitos
de pressão e da razão gás/óleo na hidrodessulfurização.
Algumas das hipóteses usadas por KORSTEN e HOFFMAN (1996), para o
desenvolvimento do modelo, foram analisadas mais cuidadosamente por outros autores.
AVRAAM e VASALOS (2003) observaram que para o hidrotratamento de frações
leves foi necessário considerar a volatilização dos componentes, visto que esse efeito
consome parte do calor gerado pelas reações de HDT. Esse comportamento pôde ser
comprovado através da diminuição na temperatura ao longo do leito catalítico.
Através da modelagem e simulação do processo, os impactos de mudanças na
configuração no leito catalítico, nos modos de operação e nos tipos de catalisadores
utilizados também podem ser observados. MACÍAS e ANCHEYTA (2004) avaliaram
como o formato das partículas dos catalisadores, desde esferas simples até catalisadores
com formato lobular, alteram as características e o comportamento da reação de HDS,
tais como, os gradientes de concentração intrapartícula, os perfis de teor de enxofre no
produto e as quedas de pressão ao longo do leito. Já MEDEROS e ANCHEYTA (2007)
apresentaram uma extensa revisão sobre as operações co-corrente e contracorrente e
suas implicações no processo. Através das simulações, utilizando ambos os modos de
operação, observaram que o desempenho do reator em contracorrente foi superior. Isso
ocorreu devido à diminuição dos efeitos de inibição de alguns produtos, como H2S, em
algumas regiões do leito onde essas espécies tendem a se concentrar.
43
ALVAREZ e ANCHEYTA (2008) propuseram a modelagem do
hidrotratamento de um resíduo atmosférico (13 °API) em um sistema de múltiplos leitos
catalíticos. Esses leitos foram fracionados do seguinte modo: i) inicio: composto por um
catalisador com alta atividade para as reações de HDM; ii) parte central: catalisador
com alta atividade para HDM e HDS; iii) final: alta atividade HDS e HDN. Para a
formulação dos balanços de massa e energia, os autores desprezaram a desativação do
catalisador ao assumirem que as amostras de produto foram coletadas em estado
estacionário após o período inicial de desativação. Os resultados permitiram
acompanhar os perfis de concentração dos compostos nas fases gasosa, líquida e sólida.
Observou-se também que devido à maior efetividade do catalisador, os reatores
industriais tiveram um desempenho de 8 a 18% superior à unidade piloto empregada.
ALVAREZ et al. (2009) realizaram uma análise detalhada da modelagem
incluindo o sistema de quenchs no processo, tanto de H2 como de correntes líquidas. O
modelo desenvolvido foi discutido para os resultados obtidos na unidade de bancada e
também para simular unidades industriais. Essa última abordagem foi utilizada para
analisar os diferentes esquemas de quenchs do ponto de vista econômico. Os autores
observaram que as vantagens em se utilizar correntes líquidas foram a diminuição da
severidade das reações, o que pode mitigar os efeitos da desativação, e a diminuição do
consumo de insumos, como gases e água de refrigeração.
Modelos dinâmicos são muito empregados para simular o processo em unidades
industriais de HDT. MEDEROS et al. (2006) obtiveram os dados experimentais em
unidade de bancada para estimar os parâmetros cinéticos e assim utilizar na simulação
de um reator isotérmico industrial. O modelo proposto conseguiu prever o
comportamento dinâmico da unidade industrial usando diversas condições operacionais.
Já MEDEROS et al. (2012), além do modelo em estado transiente, realizaram uma
abordagem mecanística das reações de HDS, HDN, HDA e HGO. Por exemplo, as
reações de HDA foram estudadas de forma sequencial: poliaromáticos para
diaromáticos, diaromáticos para monoaromáticos e monoaromáticos para cadeias
saturadas, sendo que cada etapa possuiu uma cinética individual. Outra informação
provista foi o fator de efetividade do catalisador, que é utilizado para estimar os efeitos
difusivos interno da partícula no modelo matemático. Além do bom ajuste dos
resultados obtidos na simulação aos dados experimentais, os autores concluíram que
maiores pressões parciais de H2 favoreceram a conversão de enxofre. Isso se deve ao
aumento da solubilidade do hidrogênio na fase líquida, ou seja, uma maior concentração
44
de H2 difundiu à superfície catalítica. Ressalta-se que esse efeito tem limites, visto que a
partir de determinado valor de pressão, a fase líquida está saturada com H2, ou seja, um
aumento na pressão do sistema não irá acarretar em uma elevação nas taxas de reação.
Os trabalhos desenvolvidos por JARULLAH et al. (2010 e 2011) utilizaram a
técnica de planejamento de experimentos (fatorial completo 33) para a estimação dos
parâmetros cinéticos das reações para o modelo fenomenológico proposto. O
planejamento proposto incluía como variáveis relevantes no processo, a pressão, a
temperatura e a LHSV. Utilizando técnicas de regressão não linear foi possível estimar
as ordens de reação, energias de ativação e fatores pré-exponenciais com pequenos
desvios. O ajuste entre os dados experimentais e os preditos para os parâmetros
estimados foram baixos, considerando a complexidade do modelo.
TOOSI et al. (2014) utilizaram dados obtidos na literatura para avaliar a
capacidade preditiva de um modelo matemático. Um dos objetivos dos autores foi
demonstrar que não seria possível o emprego de um conjunto de parâmetros cinéticos de
uma unidade na modelagem e simulação de outra planta. Essa restrição é proveniente
das diferenças existentes para cada processo, como as condições de operação, tipo de
catalisador, carga e arranjo experimental, bem como das limitações do modelo
empregado, fato não explorado pelos autores. Essa observação também foi ressaltada
por CHACÓN et al. (2012), cujos parâmetros cinéticos tiveram que ser estimados para
o modelo proposto a partir de dados obtidos na literatura.
Conforme mostrado na revisão da literatura, a modelagem matemática do
processo de HDT necessita de um bom entendimento dos fenômenos que ocorrem
simultaneamente no leito. Não menos importante é a proposição de modelos cinéticos
que representem as reações de HDT. Essa não é uma tarefa fácil, visto que a quantidade
de impurezas presentes nas cargas é elevada, desde estruturas simples como
mercaptanas e piridinas, até compostos orgânicos mais complexos, como
dibenzotiofenos e porfirinas.
Neste contexto, existe uma abordagem tradicional que considera cada composto
e todas as possíveis reações. Essa abordagem necessita de um detalhado conhecimento
dos mecanismos, mas possibilita descrever realmente o caminho da reação. Sua
aplicação para cargas reais deve levar em conta a complexidade da mistura de
hidrocarbonetos e as limitações analíticas e computacionais.
Pode-se simplificar o problema com outra abordagem mais usada na literatura:
agrupando espécies de compostos equivalentes em blocos ou agrupamentos (lumps).
45
Desse modo, diminui-se o número de compostos, gerando um menor conjunto de
parâmetros cinéticos a serem analisados e estimados.
CALLEJAS e MARTINEZ (2000) estudaram a cinética de HCC de um resíduo
de petróleo. Em seu trabalho, dividiram a carga em três agrupamentos de acordo com a
o ponto de ebulição: resíduo atmosférico, óleos leves e gases. Desse modo, a partir de
uma destilação simulada dos produtos líquidos obtidos no processo, foi possível estimar
a distribuição dos pontos de ebulição das amostras de óleo, ou seja, a partir de um
modelo com base em agrupamentos (faixa de destilação do produto) estimaram-se as
constantes cinéticas das reações de modo independente. Do mesmo modo, o trabalho de
BOTCHWEY et al. (2004) dividiu as amostras de óleo (alimentação e produto) em
quatro grupos de acordo com o ponto de ebulição. A distribuição dos pontos de ebulição
foi realizada por destilação simulada por cromatografia líquida.
RODRÍGUEZ et al. (2012) aplicaram diversas abordagens cinéticas na
modelagem e simulação para a HDS de um gasóleo. Os autores partiram de abordagens
mais simples, modelo unidimensional pseudo-homogêneo e taxa de reação descrita pela
lei da potência, e foram aumentando a complexidade progressivamente. Na abordagem
final foi assumido um modelo heterogêneo com cinética da reação descrita pela equação
de Langmuir-Hinshelwood. Os autores observaram que o modelo mais complexo não
pôde representar fielmente a reação de HDS, isso porque a complexidade das cinéticas
envolvidas no processo e as correlações disponíveis para o cálculo da transferência de
massa entre as fases não foram desenvolvidas para o processo de HDT. Por fim, os
autores ressaltam que a decisão de se escolher determinada abordagem depende da
disponibilidade e qualidade dos dados experimentais e da confiabilidade das correlações
tanto no cálculo das propriedades físico-químicas como dos termos relacionados aos
gradientes de concentração.
Sabendo do importante papel dos combustíveis renováveis no cenário atual,
ANAND et al. (2016) estudaram a cinética, termodinâmica e os mecanismos do
hidroprocessamento de óleos baseados em triglicerídeos. No contexto da cinética de
reação, os autores organizaram os possíveis caminhos da reação em modelos empíricos
de agrupamentos, cada um com sua respectiva cinética e mecanismo. No total foram
propostos oito caminhos, sendo analisados individualmente a partir dos dados
experimentais.
Além dos agrupamentos de acordo com a faixa de destilação, podem-se citar
também os agrupamentos discretos, modelos com base em pseudocomponentes e os
46
agrupamentos contínuos, no qual considera que as propriedades da mistura reacional, os
caminhos reacionais básicos e a seletividade estão associados às reações (ANCHEYTA,
2015). Por último, podem-se mencionar também agrupamentos orientados à estrutura e
aos modelos de eventos únicos. Os agrupamentos orientados à estrutura realizam a
modelagem à nível molecular, sendo que a maioria das informações é obtida por meio
de técnicas analíticas modernas. O conceito de eventos únicos utiliza modelos baseados
na teoria do estado de transição e na termodinâmica estatística.
Conforme mencionado neste trabalho, a crescente oferta de cargas mais pesadas
vem demandando catalisadores com maior resistência aos efeitos de desativação. Neste
cenário, a modelagem desse fenômeno será de grande importância, permitindo a melhor
avaliação do processo, a determinação do tempo de campanha da unidade industrial e
uma melhor avaliação econômica do processo.
Modelos envolvendo a desativação catalítica requerem um esforço ainda maior
no entendimento do processo (cinética de desativação) e nos mecanismos de reação. A
abordagem empírica é a mais utilizada por tornar mais simples a obtenção dos modelos
de desativação, mas a interpretação dos resultados só é válida para as condições
operacionais em que foi definida (FROMENT e BISCHOFF, 1990).
Para os processos de HDT, nos quais a deposição por coque é o principal
mecanismo de desativação, os modelos cinéticos para a formação do coque podem ser
divididos em três tipos de reações (GUISNET et al., 2008):
Reações competitivas ou em paralelo: coque se forma a partir da
transformação dos reagentes;
Reações sucessivas ou em série: coque se forma a partir de transformações
dos produtos;
Reações mistas: coque se forma a partir de transformações alternadas dos
produtos e reagentes.
FROMENT (2001) estudou a modelagem clássica da desativação por deposição
de coque considerando os balanços de massa no reator, na partícula e no sítio ativo do
catalisador. Foi enfatizado que uma das principais dificuldades para propor modelos de
desativação é encontrar a apropriada taxa de reação na qual o coque é formado. O autor
também comenta que a função da taxa de desativação deve ser expressa em termos do
agente de desativação, ou seja, o precursor do coque. Isto significa que a quantidade de
coque no sítio catalítico tem que ser conhecida, sendo necessária a equação da taxa de
formação do precursor de coque. Essa equação é de grande importância para o estudo
47
cinético do processo. Contudo, o descobrimento do mecanismo de formação de coque e
qual seu efeito sobre a atividade do catalisador torna-se um exercício de modelagem
cinética, geralmente aplicada à reação principal. Para processos complexos, como o
caso do HDT, trata-se de uma tarefa árdua devido à grande quantidade de compostos
presentes na carga.
KRAUSE (2011) incluiu em sua análise do processo de HDT, um modelo
matemático que relacionava a perda de atividade catalítica com as variáveis
operacionais e a carga utilizada na planta industrial. O enfoque foi avaliar a desativação
através das cinéticas das reações e não na caracterização do catalisador residual. O
modelo proposto para a cinética de desativação foi descrito pela equação obtida por
YAMAMOTO et al. (1988), que relacionava o teor de coque acumulado na superfície
do catalisador com a atividade catalítica. Foi possível prever com boa qualidade o
comportamento real de uma unidade industrial com efeitos de desativação e efetuar
estudos de otimização do processo através da modelagem e simulação. Entretanto uma
das dificuldades encontradas na abordagem utilizada foi a obtenção de uma relação real
que expressasse a quantidade de precursores de coque na carga, visto que além dos
compostos aromáticos presentes, as próprias reações de HDS e HDN podem gerar
compostos capazes de desativar o catalisador. Lembra-se que os compostos sulfurados e
nitrogenados em sua maioria são estruturas com anéis aromáticos e que após a remoção
dos átomos de enxofre e nitrogênio, esses anéis podem se polimerizar e condensar na
superfície.
As equações (1), (2) e (3) apresentam as relações utilizadas na obtenção da
concentração de coque acumulada na superfície do catalisador através da reação de
coqueamento dos precursores do coque (compostos aromáticos), cálculo do teor do
coque em função da concentração acumulada na superfície e a equação de desativação
em função do tempo de campanha e do teor de coque.
∂CKs s (1)
= A(t)k coq Ccoq
∂t
CKs ML R C/H
%K = (2)
ρL
A(t) = 1 − a(%K)b (3)
48
em que CKs é a concentração de coque acumulada na superfície (mol/cm3s), A(t) é a
função correspondente a atividade catalítica em função do tempo de campanha, Ccoqs é a
concentração dos precursores de coque (mol/cm3), %K é o teor de coque acumulado,
ML é a massa molar da carga, RC/H é a razão carbono/hidrogênio da carga utilizada, ρL é
a massa específica da carga e a e b são parâmetros do modelo de Yamamoto et al.
(1988).
Dependendo do estágio da campanha, as contribuições do coque ou de metais na
perda de atividade catalítica diferem entre si. CENTENO et al. (2012) propuseram uma
função para representar a desativação catalítica, ϕj (z,t), que contabilizasse tanto os
efeitos de deposição do coque como a de metais em função do tempo de campanha,
como mostrado na equação (4). Na metodologia desenvolvida, foram utilizadas três
temperaturas (380, 400 e 420 °C) com duração de 240 horas em cada condição.
1
ϕj (z, t) = βj
− (xMOC (z, t))γj (4)
(1 + αj t)
49
Além da influência do coque e metais na perda de atividade, os modelos de
desativação podem ser de dois tipos: baseados em função do tempo ou a partir do coque
depositado na superfície. FERNANDES et al. (2012) realizaram uma comparação entre
estas duas propostas na simulação de uma unidade de craqueamento catalítico. O
coeficiente de atividade catalítica (ϕ) foi descrito em função da ordem de desativação
(d), da constante de desativação (αX) e de uma variável X, que pode ser tanto o tempo
de campanha ou a quantidade de coque depositado, conforme mostrado na equação (5).
Apesar de pequenas diferenças observadas nas funções a partir de perturbações nas
vazões da carga e do fluxo de ar admitido no regenerador, os autores concluíram que
ambas as funções apresentaram um comportamento semelhante.
1
ϕ = [1 + (d − 1)αX X]1−d (5)
0
rHDS = a(t) rHDS (6)
50
O segundo modelo proposto representa o decaimento da atividade em função do
tempo, equação (9), proposta por FROMENT (2001).
1
ϕi = (10)
(1 + k di t)mi
51
O estudo da desativação por bloqueio dos poros do catalisador através da
modelagem matemática é mais trabalhoso, devido tanto ao equacionamento como da
sua resolução. ELIZALDE e ANCHEYTA (2013), utilizando essa abordagem da
desativação por deposição de metais, conseguiram prever a atividade catalítica e a vida
útil do catalisador durante um determinado período de teste catalítico. ELIZALDE e
ANCHEYTA (2014) complementaram esse estudo de forma a analisar a perda de
atividade catalítica durante todo o período da desativação. O modelo desenvolvido foi
baseado no balanço dos sítios ativos do catalisador, em que cada reação do HDT ocorria
em um sítio específico. Os autores observaram que no início da corrida ocorreu uma
rápida perda de atividade devido à deposição de coque nos sítios. A partir do estágio
intermediário da corrida (200 horas), o principal agente causador da desativação foi a
deposição de metais, enquanto que a deposição de coque ficou constante neste período.
A utilização de modelos de desativação em aplicações industriais foi estudada
por SØRENSEN (2014). De modo a não relacionar o modelo em função explícita do
tempo, o autor optou por avaliar o fenômeno de desativação através dos perfis de
temperatura observados no leito catalítico para os diversos compostos analisados. O
modelo proposto de desativação, equação (11), compreendeu as taxas dos componentes
que podem formar coque durante a reação com efeito de recuperação dos sítios por
formação de água. O termo ki é a constante de reação em função da temperatura e xi a
fração molar do componente i.
∂a ∑Ni=1 k i (T)xi
− = (11)
∂t 1 + k H2O (T)xH2O
52
independente. Além disso, os próprios produtos formados podem agir como inibidores
paras as reações, como é o caso do sulfeto de hidrogênio e dos compostos nitrogenados.
Verificou-se também que a deposição de coque e/ou metais é o principal causador da
perda de atividade nos catalisadores de HDT. Para o estudo desse fenômeno de
desativação, a abordagem mais utilizada é a caracaterização dos catalisadores
coqueados.
A necessidade de se processar, cada vez mais, cargas pesadas na indústria de
refino de petróleo torna o hidrotratamento um dos principais processos nas refinarias.
Assim, torna-se imperativo o desenvolvimento e estudo de novas abordagens para o
processo. Nesse cenário com o elevado teor de impurezas e compostos aromáticos
presentes nas frações de petróleo, a perda de vida útil precoce dos catalisadores
industriais de HDT devido à desativação, por deposição de coque e/ou metais, gera
enormes custos econômicos para a indústria. Assim, o estudo da desativação nesses
processos é de elevada importância para as refinarias.
A perda de atividade em catalisadores de HDT para destilados médios é lenta,
podendo levar de 2 a 3 anos para se ter uma queda significativa na atividade,
necessitando-se assim de alternativas para a rápida seleção e discriminação de
catalisadores com maior vida útil e desempenho. A alternativa é acelerar o efeito de
desativação, de modo que seja possível, em curtos espaços de tempo, obter relevantes
informações sobre a desativação de catalisadores comerciais de HDT. Contudo, a
aplicação de metodologias de desativação acelerada para os processos de HDT é pouco
utilizada, como visto na revisão da literatura.
Relativo aos trabalhos sobre modelagem matemática do processo de HDT existe
diversos trabalhos disponíveis na literatura científica. Contudo, uma abordagem mais
criteriosa do modelo proposto e da estimação dos parâmetros cinéticos ainda é uma
lacuna a ser preenchida. Estudos da hidrodinâmica do reator e um planejamento
experimental para determinação do melhor conjunto de parâmetros que se ajustem ao
modelo são ferramentas necessárias para a obtenção de melhores resultados na
modelagem e simulação do processo de HDT.
53
3 MATERIAIS E MÉTODOS
3.1.1 Catalisador
a) Análise de Densidade
A densidade pode ser definida como a relação entre as massas específicas
(massa por unidade de volume da amostra) de duas substâncias, uma delas tomada
como padrão (normalmente água a 4°C, cuja massa específica nesta temperatura é
54
considerada exatamente igual a 1,0g/ml). A análise foi realizada usando um densímetro
digital do fabricante Anton Paar, modelo DMA 450, segundo o método ASTM D-4052-
96 (2002) com réplicas e repetibilidade de 0,0001.
A densidade é fundamental para o acompanhamento do processo de HDT em
planta piloto, por ser uma análise simples e rápida, que fornece um indicativo confiável
do nível de atividade global do catalisador e da estabilidade do processo.
55
poliaromático: naftaleno;
sulfurados: tiofeno e dibenzotiofeno;
nitrogenados: N,N-dietilanilina.
e) Composição química por Ressonância Magnética Nuclear (RMN)
As análises foram realizadas usando um espectrômetro Varian Mercury VX-300.
O núcleo estudado nesse trabalho foi o de ¹H, com o aparelho configurado para 300
MHz. Para a quantificação dos compostos aromáticos realizou-se a integração das áreas
normalizadas para 100 usando a faixa de 9,0 a 6,5 ppm (região de aromáticos) e de 4.0 a
0.5 ppm (região de alifáticos).
56
Reator
P
Vaso separador
de alta pressão
N2
manômetro
P
A unidade pode ser descrita através das suas três seções principais: seção da
carga, seção de reação e seção de separação dos produtos.
Na seção da carga é realizada a alimentação do óleo diesel e do hidrogênio. A
unidade possui dois tanques de carga, comuns aos três sistemas de reação, três bombas
de injeção de carga com seus respectivos alinhamentos e dispositivos de proteção. O
tanque responsável pelo armazenamento da carga de teste é posicionado sobre uma
balança eletrônica, enquanto o outro é destinado às etapas de sulfetação e limpeza da
unidade. Esses tanques podem ser pressurizados com nitrogênio para inertizar a carga e
auxiliar na operação das bombas. Para injeção da carga é utilizada uma bomba dosadora
de pistão de alta pressão sendo o monitoramento da pressão realizado na linha jusante à
bomba. O controle de vazão do hidrogênio é realizado por controladores mássicos, de
57
forma independente para cada um dos três sistemas de reação. Após o bombeamento da
carga, o óleo é misturado com o hidrogênio e então segue para a entrada do reator. A
Figura 28.a mostra os tanques de armazenamento da carga e a linha de alimentação
gasosa com seus respectivos manômetros.
Na seção de reação (Figura 28.b), cada um dos sistemas é composto por um
reator tubular de aço inox com diâmetro interno de 0,78 cm e comprimento de
aproximadamente 47 cm com as respectivas fornalhas de aquecimento elétrico. Os
testes catalíticos são conduzidos com o reator operando de forma isotérmica e
escoamento ascendente, garantindo assim o molhamento completo do leito. A fornalha
elétrica possui três resistências distribuídas ao longo do reator tubular formando zonas
de aquecimento independentes, sendo que essas zonas são controladas através de
controladores PID. Internamente ao reator há um poço axial equipado com três
termopares posicionados em cada uma das diferentes zonas de aquecimento.
Externamente ao reator, há dois termopares adicionais, um exclusivo para segurança e
outro na superfície para comparação com a temperatura do interior do tubo.
A seção de separação dos produtos de cada um dos três sistemas é composta por
dois estágios de separação gás/líquido. O primeiro vaso separador opera na pressão do
teste catalítico (alta pressão), enquanto o segundo opera em baixa pressão, com injeção
58
de N2 (Figura 29). Há também um sistema de amostragem individual e um sistema
único de quantificação do volume de gás gerado.
Após a saída do reator, o efluente é encaminhado para o vaso separador de alta
pressão. Pelo topo do vaso é liberada a fase gasosa, composta quase totalmente pelo
hidrogênio não consumido na reação e por H2S e NH3 formados no processo. A corrente
líquida, drenada pelo fundo do vaso separador com controle de nível, é enviada para o
separador de baixa pressão. Nesta etapa, gases dissolvidos no produto hidrotratado são
removidos através do borbulhamento com o gás nitrogênio (etapa de retificação). Após
o segundo estágio de separação, a fase líquida é drenada, pelo fundo do vaso podendo
ser direcionada para o sistema de recolhimento automático de amostras ou para o tanque
de recolhimento de produto final. As fases gasosas, oriundas de ambos os estágios de
separação, são enviadas para o medidor de gás, onde o volume gerado pode ser
contabilizado. Nesta seção existem detectores automáticos de H2 e H2S, com seus
respectivos alarmes associados a concentrações limites destes compostos. Caso esses
limites sejam atingidos, o intertravamento da unidade é acionado automaticamente.
59
b) Procedimentos iniciais
Antecedendo os testes de avaliação da atividade catalítica e de desativação
acelerada é preciso realizar as etapas de i) carregamento do reator; ii) sulfetação do
catalisador; iii) estabilização do leito catalítico de forma criteriosa para possibilitar a
análise comparativa dos resultados experimentais.
i) Carregamento do reator:
O carregamento do catalisador no reator, uma das etapas críticas do processo, foi
padronizado para todos os testes de modo que os resultados obtidos possam ser
comparados entre si. Desta forma procura-se minimizar efeitos que possa afetar a
representatividade dos dados experimentais tais como; efeitos de parede, molhamento
da superfície do catalisador e transferência de calor e massa.
O carregamento do reator tubular obedeceu ao procedimento operacional
descrito a seguir. Preenchimento da região inicial com material inerte (carbeto de silício,
120 mesh) objetivando uma boa distribuição de líquido e um alto grau de molhamento
das partículas de catalisador. A seguir é carregada uma mistura homogênea, em
proporção volumétrica de 1:1 de catalisador (7,5 g) diluído no material inerte. Esta
diluição minimiza os efeitos de distribuição radial e axial de temperatura e
concentrações no interior do reator. O leito catalítico está localizado na região em que a
temperatura de reação é mantida constante pelas malhas de controle. A região de saída
do reator também é preenchida com inertes, responsáveis pela retenção mecânica do
leito, minimização de perda de calor e estabilidade do fluxo de saída. A Figura 30
mostra a configuração final do reator.
60
ii) Sulfetação do catalisador:
A sulfetação, usualmente denominada como ativação catalítica, consiste na
transformação do óxido precursor em uma fase ativa sulfetada. Esta etapa é precedida
de um pré-tratamento, para secagem do leito catalítico, realizado através do
aquecimento do reator durante 18 horas a 120 °C em fluxo 10NL/h de hidrogênio sob
90 bar de pressão de hidrogênio.
Para sulfetação é usada uma carga dopada com agente sulfetante, dissulfeto de
carbono (CS2), numa concentração de enxofre próxima de 2% em massa. A carga
utilizada foi previamente hidrotratada (d20/4 °C = 0,88, S= 5000 mg/kg, N= 140 mg/kg),
sem a presença de compostos olefínicos. Esta etapa é realizada na temperatura de 340°C
usando em fluxo 12NL/h de hidrogênio, LHSV de 0,6 h-1 sob 90 bar de pressão durante
aproximadamente 27 horas.
61
3.3 Metodologia de Desativação Acelerada (MDA)
62
3.4 Desenvolvimento do modelo fenomenológico
63
partícula (LB/dpe) (MEDEROS et al., 2009). Existem vários valores dessa razão
proposta por diferentes pesquisadores para negligenciar o efeito de dispersão axial,
como mostrado na Tabela 12. Neste trabalho foi empregado o critério de MEARS
(LB/dpe>350), que foi obtido para aplicação em unidades de bancada de hidrotratamento
de gasóleo. O valor medido de LB neste trabalho foi de 26,9 cm, já o diâmetro médio da
partícula incluindo a diluição com as partículas de inertes foi de 0,02 cm. Assim, a razão
LB/dpe teve o valor de 1345, mais que suficiente para se desprezar os efeitos difusivos e
garantir que o reator opere em escoamento pistonado. Ressalta-se que somente foram
considerados os efeitos de dispersão na fase líquida devido ao excesso de hidrogênio
presente no sistema catalítico (PEREGO e PERATELLO, 1995).
Tabela 12 - Critérios para desprezar a dispersão axial.
LB/dpe Aplicação Autor(es)
> 25 Minimizar dispersão axial em torres de recheio Scott (1935)
Carberry e Wendel
> 50 Reatores isotérmicos
(1963)
Dispersão axial mínima em unidades de bancada de HDT
> 350 Mears (1974)
para processamento de gasóleo
Evitar a retro mistura (back-mixing) criada pelos efeitos
> 100 Sie (1991)
difusivos nos reatores de leito empacotado
Desprezar efeitos de retro mistura em reatores de leito
> 50 Ancheyta et al. (2002)
fixo com duas fases
64
piloto foi de 35,5, ou seja, a configuração do leito catalítico foi esquematizada de
maneira eficiente. O critério proposto por GIERMAN et al. (1988) relaciona as forças
de atrito com as forças gravitacionais no leito, equação (12). De acordo com os autores,
se o fluxo de líquido sobre a superfície da partícula do catalisador é regido pela força de
atrito em vez da gravidade, o fluido tende a se espalhar.
μL uL
> 5 × 10−6 (12)
ρL dpe 2 g
65
Em relação aos fenômenos de vaporização e condensação no leito catalítico, a
modelagem de ambos é uma tarefa difícil nos reatores de leito fixo. Além disso, dados
experimentais sobre o equilíbrio líquido-vapor para reatores de HDT ainda são escassos
na literatura. De acordo com AKGERMAN et al. (1985), para processos com altas
conversões de HDS, a diferença entre um modelo que leva em conta ou não a
volatilização é pequena devido à redução do reagente limitante. Na unidade de bancada,
as conversões das reações estudadas (HDS e HDN), na maioria dos casos, foram
planejadas para estarem em níveis superiores a 95%, então se espera que o efeito da
vaporização seja mínimo. CHEN et al. (2009) também observaram que elevadas
concentrações de compostos aromáticos diminui a probabilidade dos compostos
volatilizarem. Em vista disso, a carga utilizada nos experimentos deste trabalho é uma
mistura de gasóleo leve e pesado com grande quantidade de compostos aromáticos e
elevada massa molar, o que torna satisfatória a hipótese de desconsiderar esse efeito.
Para desprezar os efeitos de desativação, as condições operacionais utilizadas
nos testes catalíticos realizados na etapa de modelagem e estimação de parâmetros
foram adequadas para evitar a formação e deposição de coque nos sítios do catalisador
(FURIMSKY e MASSOTH, 1999). Como descrito na metodologia experimental (Seção
3.2), a rápida perda de atividade no início do processo de HDT ocorreu na etapa de
estabilização. Portanto, nos testes realizados a deposição do coque não afetou
significativamente a atividade catalítica.
Para estimar os efeitos da resistência à difusão intrapartícula dos compostos
utilizou-se o fator de efetividade do catalisador como variavel responsavél por essa
avaliação. Considera-se também que os poros são de tamanho uniforme, não ocorrendo
estreitamento dos canais.
No caso deste trabalho, as amostras de produto coletadas nos testes catalíticos
foram obtidas considerando o sistema em estado estacionário. A hipótese de estado
transiente foi considerada com objetivo de estruturar um modelo no processo de HDT
mais geral, que pode ser aplicado em diversas situações. Os índices G, L e S foram
usados para identificar as fases gasosa, líquida e sólida respectivamente.
66
3.4.1 Balanços de massa
68
consumo e a produção de cada composto. Já o sinal ± indica se está sendo produzido ou
consumido no processo.
Nreações
∂CiS
εS (1 − εB ) ( ) = K Si aS (CiL − CiS ) ± ξ ρB η ∑ rj (CiS , T) (25)
∂t
j=1
Ci S (0, z) = 0 (26)
69
constante de equilíbrio de adsorção do H2S (cm3/mol), mHDS e nHDS são as ordens de
reação. Observa-se que o expoente 2 no denominador representa o número de sítios de
adsorção para a molécula de H2S. Embora tanto o sulfeto de hidrogênio como os
compostos nitrogenados possam inibir a reação, nesse trabalho considerou-se somente o
efeito do primeiro na taxa de hidrodessulfurização. Para considerar os efeitos dos
nitrogenados, outra equação cinética teria que ser proposta, aumento assim a
complexidade do modelo.
𝑚HDS 𝑛HDS
(CSS ) S
(CH2 )
rHDS = k HDS 2
(28)
S
(1+K H2S CH2S )
2761 (29)
( )
K H2S (T)=41769,84 exp RT
S mHDN S nHDN
rHDN = k HDN (CN ) (CH2 ) (31)
70
A constante de velocidade (j= HDS ou HDN) para cada reação foi definida de
acordo com a lei de Arrhenius, equação (32), em que k0,j é o fator pré- exponencial e Eaj
é a energia de ativação (J/mol).
−Eaj
( ) (32)
k j = k 0,j exp RT
ρ𝐿𝑐𝑎𝑟𝑔𝑎
Ci alim = W (33)
MMi i
vm
Hi = (34)
λ i ρL
71
e da amônia são válidas para condições operacionais típicas de processo de HDT
(temperatura entre 300 e 420 °C e densidade na faixa entre 0,7 e 0,9 g/cm3).
Para o hidrogênio, a solubilidade é dada pela equação (35), ρ20 é a massa
específica do líquido a 20°C em g/cm3 (KORSTEN e HOFFMANN, 1996).
T 1
λH2 =a0 +a1 T+a2 +a3 T 2 +a4 (35)
ρ20 ρ20 2
72
porque para gases ligeiramente solúveis, como é o caso do H2, a resistência a
transferência de massa no filme gasoso pode ser negligenciada (ZHUKOVA et al.,
1990). O termo (KiL.aL), que corresponde a transferência de massa, pode ser
determinado pela correlação de GOTO e SMITH (1975), equação (41), em que GL é o
fluxo de massa da fase líquida (g/cm2.s), μL é a viscosidade do líquido (cP) e DiL é o
coeficiente de difusividade molecular do componente i na mistura líquida (cm2/s). Os
termos α1 e α2 são constantes, consideradas as mesmas usadas por KORSTEN e
HOFFMAN (1996), α1 = 7 cm-1,6 e α2 = 0,4. A sensibilidade dos resultados a variações
dessas constantes é muito pequena, portanto a consideração não leva a erro
significativo.
α 0,5
K Li aL GL 2 μL (41)
=α1 ( L ) ( L L )
DLi μ ρ Di
vL0,267 T
DLi =8,93.10-8 (44)
vi0,433 μL
73
método ASTM D-86 em °R, d60 é a densidade do líquido a 60°F (lb/ft3) e ML é a massa
molar do óleo diesel. Já para a determinação do volume molar dos gases (v i = H2, H2S e
NH3), foi utilizada a equação de estado de Van der Waals.
0,5 1/3
K Si GL μL (47)
=1,8 ( S L ) ( L L)
DLi aS a μ ρ Di
Vc
ξ= (48)
Vc + Vi
Vp
6S (49)
p
dpe cat =
ϕs
74
calculados de acordo com a forma do catalisador, no caso, forma de pellets com lóbulos
no formato trilobular(ANCHEYTA, 2015).
Para a determinação do diâmetro da partícula no leito catalítico (dpe)
considerando a adição das partículas inertes, utilizou-se o diâmetro médio de Sauter,
equação (50), em que o termo xi é a fração mássica e dpe cat é o diâmetro do catalisador
e/ou inerte.
1
dpe = xi (50)
∑
dpe cat
A fração de vazios do leito catalítico pode ser estimada pela correlação reportada
por FROMENT e BISCHOFF (1990) e MACÍAS e ANCHEYTA (2004), equação (51),
em que dt é o diâmetro do reator (cm).
2
d
( t − 2)
dpe
εB = 0,38 + 0,073 1 + (51)
d 2
( t)
[ dpe ]
ρB
ρS = (52)
1 − εB
A área interfacial líquido-sólido (aS) para um reator de leito fixo pode ser
definida de acordo com a equação (53). Já a porosidade do catalisador pode ser
estimada pela equação (54),
6
aS = (1 − εB ) (53)
dpe
εS = ρS Vg (54)
75
em que Vg é o volume total de poros do catalisador (cm3/g). Vg foi determinado pelo
método BJH com as informações de caracterização textural (adsorção de N2 a 77K
usando um equipamento Micrometrics® modelo ASAP 2000).
O fator de efetividade (ηj, j = HDS ou HDN) é definido como a razão entre a
velocidade de reação volumétrica média dentro da partícula (com resistência à difusão)
e a taxa de reação na superfície externa da partícula. Esse importante parâmetro depende
principalmente da porosidade do catalisador, do tamanho das moléculas dos reagentes,
da difusividade e da taxa de reação. Os gradientes de concentração gerados no interior
da partícula também são funções desses parâmetros.
A equação (55) foi definida por THIELE (1939) para o cálculo de η, cuja
solução analítica só é possível para reações simples e para expressões de velocidade de
primeira ordem e de ordem zero. Os termos rjcat e rs representam as taxas de reações no
interior do sólido e nas condições de superfície, respectivamente.
1 Vp n + 1 ρS k j (CiS )n−1
Φj = ( ) √( ) (56)
ϕs Sp 2 Def,i
εS 1
Def,i = (57)
τ 1 1
( L) + ( G )
[ Di DiK ]
76
em que o termo τ é o fator de tortuosidade do catalisador (os poros do catalisador não
tem orientação normal a partir da superfície). O seu valor varia geralmente entre 2 e 7, e
no modelo proposto é usado τ = 4 (MACÍAS e ANCHEYTA, 2004).
A difusividade de Knudsen (DGiK ), equação (58), é função do raio da partícula (rg)
em cm, da massa molar do componente i (MMi) em g/mol, da temperatura (T) em K e
da constante dos gases ideais (R) em J/mol/K . O raio médio do poro foi obtido pelo
método BJH com as informações de caracterização textural (adsorção de N2 a 77K
usando um equipamento Micrometrics® modelo ASAP 2000).
tanh Φj
ηj = (59)
Φj
A equação é valida para modelos cinéticos que utilizam a Lei de Potência e/ou
Langmuir-Hinshelwood, catalisadores em forma de pellets, entre outros; é necessário
também que o módulo de Thiele seja inferior a três e ordens de reação iguais ou maiores
que um.
Como observado nesta seção e nas anteriores, a modelagem do processo de HDT
envolve diversos parâmetros. As limitações de alguns modelos encontrados na literatura
estão relacionadas ao número de parâmetros envolvidos, confiabilidade dos resultados e
exatidão dos cálculos.
77
repetições na condição central foi planejado com um total de sete experimentos,
mostrado na Tabela 13. A temperatura e o LHSV foram os fatores escolhidos no
planejamento devido aos efeitos que exercem nas variáveis de saída monitoradas -
teores de enxofre e nitrogênio no produto hidrotratado. A temperatura tem uma forte
influência nas taxas de reação, difusividade molecular, coeficientes de transferência de
massa nas interfaces, solubilidade e constante de Henry. Já o LHSV também é uma
variável operacional relevante que determina a eficiência do processo. Ressalta-se que
as condições operacionais utilizadas foram compatíveis com valores empregados em
unidades industriais e trabalhos anteriores do grupo.
78
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
79
Tabela 16 - Propriedades das cargas utilizadas.
Cargas A B
Grau API 29,5 30,4
3
Densidade 20°C (g/cm ) 0,8899 0,8696
Teor de Enxofre (ASTM D5453) mg/kg 4053 3814
Teor de Nitrogênio Total (ASTM D5762) mg/kg 1214 1365
Aromáticos por SFC* (ASTM D 5186)
Saturados %m/m 64,2 53,2
Olefinas %m/m 7,6
Monoaromáticos %m/m 14,2 22,6
Diaromáticos %m/m 16,4 13,5
Triaromáticos %m/m 4,4 0
Poliaromáticos %m/m 0,9 3,3
Aromáticos Totais %m/m 35,9 39,4
Destilação Simulada (ASTM D-2887-04a)
PIE / 5% °C 160 / 235 169 / 201
10% / 20% °C 260 / 288 211 / 229
30% / 40% °C 310 / 333 244 / 258
50% / 60% °C 356 / 378 270 / 283
70% / 80% °C 402 / 426 298 / 315
85% / 90% °C 438 / 452 326 / 339
95% / PFE °C 474 / 534 357 / 374
*SFC - cromatografia em fluido supercrítico
80
Figura 31 - Espectros de infravermelho (FTIR) das cargas A e B.
Analisando os espectros da Figura 31, as duas cargas apresentaram intensidades
de absorbâncias semelhantes na região dos grupos aminas (1360-1100 cm-1),
relacionadas aos compostos nitrogenados. Já nas regiões de compostos aromáticos
(1650-1500 cm-1 e 900-700 cm-1) observou-se uma maior intensidade das bandas no
espectro da carga B que o da carga A. Compostos olefínicos, presentes na região entre
1100 - 900 cm-1 foram identificados nas duas cargas. Estes resultados estão de acordo
com os de cromatografia liquida mostrados na Tabela 16.
Região
Grupo funcional Observações
(cm-1)
81
Com o intuito de melhor identificar os grupos funcionais nas cargas foram
realizadas análises da carga com a adição de compostos aromáticos padrões (benzeno,
naftaleno, p-xileno, tolueno), sulfurados (tiofeno e dibenzotiofeno) e nitrogenados
(N,N- dietilanilina). Os respectivos espectros de infravermelho (FTIR) são apresentados
nas Figuras 32, 34 e 35.
82
Figura 33 - Espectros obtidos a partir da carga A e dos padrões internos.
Os espectros de infravermelho das amostras com compostos sulfurados e
nitrogenados são mostrados nas Figuras 34 (cargas A) e 35 (carga B).
A banda em 715 cm-1, relacionada aos compostos monoaromáticos, permitiu a
identificação do tiofeno. No caso do dibenzotiofeno, identificou-se a banda em 743 cm-
1
, relacionada aos quatro átomos de hidrogênios adjacentes na molécula.
Para as cargas com N,N-dietilanilina, foi observado aumento de intensidade nas
seguintes bandas de absorbância: 701 cm-1, relacionada aos cinco átomos de hidrogênio
adjacentes, 1180-1290 cm-1, característiscas de aminas, e 1490-1635 cm-1, relativas a
compostos aromáticos.
83
Figura 34 - Espectros de infravermelho (FTIR) da carga A e com os padrões internos -
compostos sulfurados e nitrogenados.
84
Figura 36 - Espectros RMN 1H: a) carga A; b) carga B.
De acordo com os resultados na Figura 38.a, a carga A apresentou 94,85% de
hidrogênios alifáticos e 5,15% de hidrogênios aromáticos. Para carga B, Figura 39.b, os
valores de alifáticos foram menores (92,34%) e consequentemente, os de aromáticos
maiores (7,66%). Esses resultados por RMN confirmam quantitativamente, as
caracterizações por FTIR e por cromatografia líquida, de que a carga B apresenta uma
maior aromaticidade que a carga A.
Considerando a qualidade e precisão dos resultados obtidos na análise das
cargas, optou-se por utilizar as técnicas de espectroscopia por FTIR e RMN, para
acompanhar as modificações que ocorrem durante o processo de HDT, além do
tradicional monitoramento por análises de densidade e teor de enxofre no produto. Foi
acompanhado o consumo e/ou formação de compostos tanto nas avaliações iniciais da
atividade, quanto na etapa de desativação acelerada do leito catalítico.
85
4.2 Testes catalíticos e desativação acelerada
Carga de
Produto
estabilização
Densidade 20/4ºC (g/cm3) 0,8713 0,8365
Teor de Nitrogênio (mg/kg) 679 n.d.
Teor de enxofre (mg/kg) 3500 29
saturados 68,5 84,8
monoaromáticos 12 11,7
Hidrocarbonetos (%m/m) diaromáticos 15,9 3,4
triaromáticos 3,2 n.d.
poliaromáticos 0,4 n.d.
n.d. – não detectado
86
foram realizadas em duplicatas e a variação nos resultados de densidade foi na quinta
casa decimal; assim, as barras de erro foram eliminadas do gráfico. Da mesma forma se
justifica para o teor de enxofre, onde o erro máximo foi na ordem de 5%.
0,8400
0,8390
Densidade (g/cm3)
0,8380
0,8370
0,8360
0,8350
0,8340
0,8330
0 20 40 60 80 100
Tempo de estabilização (h)
700
600
Teor de enxofre (mg/kg)
500
400
300
200
100
0
0 20 40 60 80 100
87
A partir de 40 horas de reação, atinge-se um patamar com valor de densidade e
teor de enxofre iguais a 0,8365 g/cm3 e 29 mg/kg, respectivamente. Esses resultados
mostram que a duração que foi estabelecida para esta etapa, de 100 horas, garante, com
boa margem de segurança, que o leito catalítico está condicionado para o início dos
testes. Tempo semelhante foi empregado por ALVAREZ et al. (2009).
Para complementar a avaliação dessa etapa, a carga e o produto final foram
também analisados por FTIR. Pelos espectros apresentados na Figura 39, observa-se
uma redução na intensidade das bandas em todas as regiões de interesse, que pode ser
atribuída às reações de HDS, HDN e HDA.
Nas regiões de compostos aromáticos (700 - 900 e 1500 -1650 cm-1) a redução
significativa na intensidadedas das bandas indica as elevadas taxas de saturação dos
anéis aromáticos, confirmando os resultados obtidos por cromatografia (Tabela 18). Por
outro lado, para a banda característica de compostos monoaromáticos (725 cm-1) a
redução foi menor. Como visto na caracterização do produto final (Tabela 18), a
quantidade desses compostos se manteve em concentrações próximas a da carga inicial.
88
escolhida foi de 330 a 370°C e para a LHSV, de 0,5 a 1,5 h-1. Em todos os testes
realizados, a razão H2/óleo e a pressão do sistema foram mantidas constantes, em 800
m3/m3 e 90 bar, respectivamente.
As condições operacionais dos testes catalíticos, com os respectivos resultados
de densidade e teor de enxofre, são apresentadas na Tabela 19.
89
desempenho similar do leito catalítico independentemente da carga empregada.
Também na condição menos severa, LHSV= 1,5 h-1 e T= 330 °C, a atividade do
catalisador manteve uma remoçãosatisfatória de enxofre para ambas as cargas, com
75,5% para a A e 83%, para a B. Os produtos obtidos nas condições de maior (amostras
1) e menor severidade (amostra 2) foram também analisados por FTIR e RMN, e os
resultados são apresentados nas Figuras 40 e 41, respectivamente.
Observa-se, a partir dos espectros de FTIR da Figura 40, que as bandas em 743 e
810 cm-1, relativas aos compostos sulfurados, poliaromáticos e nitrogenados, da amostra
1, tiveram uma redução significativa em suas intensidades com relação à amostra 2 e à
carga. Como já dito, essa redução está relacionada às reações de HDS, HDN e HDA.
Por outro lado, não se observou alteração nas bandas relativas aos compostos
monoaromáticos (725 cm-1), para as duas amostras. Ou seja, as condições operacionais
empregadas não foram severas o suficiente para proporcionar uma elevada saturação
desses compostos.
Corroborando os resultados por FTIR, as análises por RMN confirmaram
quantitativamente que a saturação dos compostos aromáticos foi maior na amostra 1,
resultando em metade da quantidade inicial de hidrogênios aromáticos encontrados na
carga. Pela Figura 41.b observa-se que a amostra 1 teve 97,80% de hidrogênios
alifáticos e 2,20% de aromáticos, enquanto a amostra 2 (Figura 41.c), apresentou
96,35% e 3,65%, de alifáticos e aromáticos, respectivamente.
90
Figura 41 - Espectros de ressonância magnética nuclear (RMN) 1H: a) carga A; b)
amostra 1; c) amostra 2.
91
1200
1000
600
400
200
0
0,835 0,845 0,855 0,865 0,875 0,885
Densidade (g/cm3)
92
A ampliação do espectro, na região onde foram observadas as maiores
diferenças (700-800 cm-1), é apresentada na Figura 44. Observa-se para o espectro da
amostra P2, a formação de duas bandas, inexistentes na carga, em 701 e 767 cm-1,
características de compostos poliaromáticos (SILVERSTEIN et al., 2007).
De acordo com os resultados obtidos por FTIR e RMN, pode-se afirmar que a
menor pressão para a amostra P2 (30 bar) afetou a taxa de reação de HDA, diminuindo
93
concentração de hidrogênio disponível na superfície catalítica, além de favorecer a
formação de compostos poliaromáticos. De fato, as reações de hidrogenação são
reversíveis, sendo o deslocamento do equilíbrio favorecido por altas pressões e baixas
temperaturas (MEDEROS et al., 2012).
Também a reação de HDS é impactada pela disponibilidade de hidrogênio na
superfície catalítica, como constatado nos teores de enxofre obtidos para as amostras P1
(S = 416 mg/kg) e P2 (S = 142 mg/kg). Apesar do efeito da pressão ser proporcional a
reação de HDS, de modo a saturar mais os compostos aromáticos e remover os
nitrogenados (menor inibição na hidrodessulfurização), observou-se o efeito oposto. Na
amostra P1, apesar da alta pressão (90 bar), a competição pelos sítios entre as reações
(HDS, HDN, HDA) pode ter contribuído para a menor remoção de enxofre. Já para a
amostra P2, 30 bar, acredita-se que a rota preferencial de reação foi a quebra direta da
ligacao C-S (hidrogenólise).
Teste A Teste B
0,8700
0,8650 Etapa 1 Etapa 2
Densidade (g/cm3)
0,8600
0,8550
0,8500
0,8450
0,8400
0,8350
0,8300
0,8250
0,8200
2 12 22 32 42 52 62 72 82 92 102
Tempo de corrida (h)
94
Teste A Teste B
100 Etapa 2
Etapa 1
95
compostos já estão presentes, embora em menor proporção. Como apresentado na
revisão da literatura, a formação desses radicais é favorecida por elevadas temperaturas
de reação. Assim, a deposição de coque pode ser atribuída à formação de compostos
mais pesados, devida à polimerização desses radicais.
Os espectros de FTIR obtidos para os produtos, amostras 12 e 24, da etapa de
desativação (Etapa 2) para os dois testes são apresentados na Figura 50. Para o Teste A,
observa-se que a intensidade das bandas relacionadas aos compostos aromáticos (700-
900 e 1500-1650 cm-1) foi próxima para as amostras 12 e 24. Já no Teste B, nota-se uma
maior variação na intensidade das bandas desses compostos, indicando assim que as
reações de HDA foram mais afetadas nessa etapa.
Também pela análise de densidade e de teor de enxofre, é possivel constatar que
a carga B foi mais afetada pela formação de compostos pesados e pela desativação do
catalisador na Etapa 2. Para o Teste A, a variação de densidade foi igual a 7,8x10-3
g/cm3 e a de teor de enxofre, igual a 20 mg/kg. Para a carga B, foi de 9,5x10-3 g/cm3 e
40 mg/kg respectivamente.
96
Figura 49 - Espectros de infravermelho (FTIR) da carga B e amostras.
Para melhor avaliar a desativação nas reações de hidrogenação nas duas etapas,
utilizou-se a técnica de RMN, relacionando aromáticos e alifáticos. Os resultados são
apresentados na Tabela 20.
Observa-se que no início da Etapa 1, (amostras 1, t= 4,5h), o percentual de
hidrogênios aromáticos apresentou uma queda significativa, comparado ao das cargas,
97
relacionada à alta atividade para reações de hidrogenação, decorrente da elevada
temperatura (420ºC). Já no final dessa etapa, (amostras 11, t= 45h), o aumento de
aromaticidade, evidencia a desativação para a HDA. Vale salientar que este efeito de
desativação é mais expressivo para o Teste A.
98
Tabela 21 - Dados experimentais e resultados obtidos da atividade catalítica residual
80 80
Conversão HDS (%)
Conversão HDS (%)
60 60
40 40
20 20
0
0
1 2 3 4 5
1 2 3 4 5
Produto Produto
Figura 51 - Conversões iniciais e finais da reação de HDS dos produtos obtidos a partir
da carga A (a) e B (b).
0,88300 0,862
0,88100 0,86
0,858
Densidade (g/cm3)
0,87900
Densidade (g/cm3)
0,856
0,87700
0,854
0,87500 0,852
0,87300 0,85
0,87100 0,848
0,86900 0,846
0,86700
0,844
0,842
0,86500
1 2 3 4 5
1 2 3 4 5
Produto Produto
Figura 52 - Densidades iniciais e finais dos produtos obtidos a partir da carga A (a) e B
(b).
99
Os catalisadores residuais, previamente pré-tratados e separados dos diluintes,
foram obtidos após a etapa de desativação e caracterizados pelas suas respectivas
propriedades texturais, como mostrado na Tabela 22. As amostras de catalisadores
foram denominadas de acordo com o teste realizado, A e B. A Figura 53 apresenta a
distribuição de tamanho dos poros dos leitos.
A caracterização textural, aqui utilizada para confirmar a desativação do
catalisador, mostrou a perda de área específica do catalisador pela deposição de coque.
A perda de superfície específica foi de 75 e 68% para os leitos A e B, respectivamente,
indicando. Uma maior deposição de coque no leito A. Além disso, os raios médios dos
poros, de ambos os leitos residuais, foram maiores que do catalisador virgem. Isso
indica que o coque preencheu os poros de menor tamanho inicialmente.
Tabela 22 - Propriedades texturais dos catalisadores virgem e residuais.
Catalisador
Propriedades Virgem A B
Superfície específica (m2/g) 205 53 66
Raio médio do poro (Å) 68,5 83,9 90
3
Volume (cm /g) 0,39 0,200 0,223
0,8
0,7
Leito A
0,6
dV/dlog(D) (cm3/g.A)
0,5 Leito B
0,4 Virgem
0,3
0,2
0,1
0
1,2 1,7 2,2 2,7 3,2
log (Diâmetro do Poro) (Å)
100
4.2.5 Conclusões parciais
101
4.3 Modelagem matemática
102
A técnica para estimação dos parâmetros do modelo foi o algoritmo complex,
que é um método direto de busca chamado de poliedros flexíveis (NELDER e MEAD,
1965). Nesse método, um hiperpoliedro com m+1 vértices, em que m é o número de
parâmetros é montado e seu pior vértice, ou seja, o que tem maior valor da função
objetivo, em um problema de minimização, é substituído por outro colinear desse e do
centróide (média da soma dos m melhores pontos). O algoritmo de otimização envolve
quatro operações básicas: reflexão, expansão, contração e redução. Assumindo uma
distribuição normal dos erros, experimento bem feito, variáveis independentes sem erro,
modelo perfeito, os erros das variáveis dependentes são todos iguais e independentes, a
função objetivo (SSE) foi definida de acordo com a equação (63), em que NE é o
número de experimentos, Γ as variáveis de saída analisadas (teores de enxofre e
nitrogênio no produto), cujos sobrescritos C e E representam os valores preditos pelo
modelo e os dados experimentais, respectivamente.
NE
2
SSE = ∑(ΓiC − ΓiE ) (63)
i=1
103
propriedades do leito catalítico e a configuração do reator. Comparando-se com
trabalhos que utilizavam cargas similares, os valores também foram próximos
(MEDEROS et al., 2012; DIETZ et al., 2014).
Tabela 24 - Valores típicos dos parâmetros cinéticos para reações de HDS e HDN
Catalisador, carga, modelo
Referência Parâmetros cinéticos
cinético
HDS:
Korsten e Hoffmann NiMo/Al2O3, gasóleo de vácuo
ordens: S= 1 b); H2= 0,45 b);
(1996) e modelo LH a)
k0=0,5106 ; Ea= 72,5 c).
HDS:
CoMo/Al2O3 e NiMo/Al2O3, ordem S= 1,17; Ea= 103;
mistura de óleo leve e pesado e k0,HDS= 3,5109 d).
Alvarez e Ancheyta (2008)
modelos PL a) para as reações de HDN:
HDS e HDN ordem N= 2 b); Ea= 94;
k0,HDN= 1,6103 d).
HDS:
NiMo/Al2O3, gasóleo leve e
ordens: S= 0,993; H2= 0,49; Ea= 90.
Chacón et al. (2011) modelo LH para as reações de
HDN:
HDS e HDN
ordens: N= 1; H2= 1; Ea= 80.
HDS:
CoMo/Al2O3, óleo cru e
Jarullah et al. (2010 e ordens: S= 1,14; H2= 0,47; Ea= 50.
modelos LH para HDS e PL
2011) HDN:
para HDN
ordens: N= 1,67; H2= 0,35; Ea= 71.
HDS:
CoMo/Al2O3, gasóleo de DA e) e
ordens: S= 1,8; H2=0,96; Ea= 150.
Mederos et al. (2012) modelos LH para HDS e PL
HDN:
para HDN
ordem N= 1; Ea= 172.
HDS:
NiMo/Al2O3, óleo extra-pesado
Martinez e Ancheyta ordens: S= 1,34; H2=0,4; Ea= 112.
e modelos LH para HDS e PL
(2014) HDN:
para HDN
ordem N= 2; Ea= 104.
HDS:
NiMo/Al2O3, diesel e modelo
Dietz (2014) ordens: S=1; H2= 0,45; Ea= 131;
LH
k0= 4,71011 b).
a) LH - Langmuir-Hinshelwood e PL - lei da potência; b) Ordens de reação relativas a concentração de enxofre (S),
nitrogenio (N) e hidrogenio (H2); c) k0 =(cm3/(g.s)).(cm3/mol)0,45 e Ea=kJ/mol; d) k0,HDS= (wt%0.17 (mol cm3)0.5 h1),
k0,HDN= (wppm-1 h-1); e) DA: destilação atmosférica.
104
Tabela 25 - Propriedades físico-químicas da carga, leito e partícula
Propriedades da carga - mistura óleo diesel leve e pesado 1:1
Densidade 20/4 °C (g/cm3) 0,8901
Teor de enxofre (mg/kg) 4053
Teor de nitrogênio (mg/kg) 1241
Parâmetros do reator
Diâmetro do reator (cm) 0,78
Comprimento do leito catalítico diluído (cm) 26,9
2
Área da seção transversal (cm ) 0,48
Fração de vazios no leito 0,52
Propriedades do catalisador
Porosidade 0,53
3
Massa específica (g/cm ) 1,56
Raio médio do poro (cm) 4,3810-7
Raio da partícula (cm) 0,05
Volume geométrico total (cm3) 2,5910-3
Área superficial externa total (cm2) 0,119
105
de confiança foram considerados pequenos, o que indica uma boa estimação do valor
real da variável. Estatisticamente, quando o valor (1 p) é maior que o nível de
significância assumido (no nosso trabalho foi de 95%), a hipótese de o parâmetro ser
nulo é rejeitado. A significância dos parâmetros, com exceção das ordens de hidrogênio
(nHDS e nHDN), foram próximos de 1. Isso indica que nenhum deles inclui zero dentro do
intervalo estimado, o que mostra a boa qualidade dos parâmetros obtidos. No entanto, as
ordens de reação de hidrogênio têm a chance de serem nulas, o que implica que esse
parâmetro pode ser removido do modelo desenvolvido. Isso sugere que a concentração
de hidrogênio no leito catalítico não afeta as variáveis de saída, ou seja, os teores de
enxofre e nitrogênio no produto. Uma das razões para esse resultado foi os coeficientes
estequiométricos assumidos das reações de HDS e HDN. Considerou-se que os valores
dos coeficientes estavam relacionados ao mecanismo generalizado das reações, como
definido nas equações (27) e (30). Porém, como mencionado na revisão da literatura,
existem diversos compostos no diesel, cada um com seu respectivo mecanismo de
reação. Assim, os coeficientes não expressaram como esses compostos (reagentes e
produtos) estavam relacionados entre si - consumo e geração. Além disso, a pressão
total utilizada, 90 bar, assegurou que o sistema de reação apresentava um excesso de H2
na fase líquida - a solubilidade do hidrogênio é proporcional à pressão. Em outras
palavras, a dependência das taxas de reação de HDS e HDN com variações na
concentração de hidrogênio era bastante baixa, mostrada pelas ordens de reação e as
respectivas significâncias obtidas.
A análise da sensibilidade dos parâmetros foi realizada para assegurar que o
conjunto de parâmetros cinéticos estimados correspondesse ai melhor conjunto de
parâmetros que se ajustassem ao modelo com pequenos desvios (VARMA et al., 1999).
Essa análise foi aplicada a cada parâmetro por meio da perturbação de seu valor -
geralmente na faixa de ± 20% - mantendo os outros parâmetros em seu valor estimado
(ALCÁZAR e ANCHEYTA, 2007). Para cada perturbação nos valores dos parâmetros,
a função objetivo é reavaliada. O melhor conjunto é confirmado se todas as
perturbações, em todos os parâmetros, fornecerem um valor da função objetivo maior
do que o obtido para o valor estimado inicialmente.
Aqui, essa análise foi aplicada para os parâmetros mHDS, mHDN, k0,HDS, EaHDS,
k0,HDN e EaHDN por meio de perturbações de ± 20% em seu valor. Para as ordens de
reação de hidrogênio (nHDS e nHDN) essa análise não foi empregada porque ambos os
parâmetros, como mencionado anteriormente, não foram significativos e têm a chance
106
de serem nulos e podem ser removidos do modelo matemático desenvolvido. A Figura
54 mostra a porcentagem de perturbação para cada parâmetro como função do valor da
função objetivo correspondente.
Figura 54 - Análise de sensibilidade dos parâmetros estimados: (■) mHDS, (●) mHDN, (▲)
k0,HDS, (x) k0,HDN, (*) EaHDS, (♦) EaHDN.
107
relativos médios também foram determinados para ambas as reações. Foram
encontrados valores de 3,3% para a reação de HDS e 3% para a de HDN. Esses valores
foram considerados baixos, visto a complexidade tanto do modelo proposto como dos
experimentos realizados na unidade de bancada.
108
Figura 55 - Comparação entre as concentrações experimentais e preditas.
109
4.3.3 Simulação do processo e consumo de hidrogênio
111
em que NL/L é litros de gás hidrogênio nas condições padrão por litro óleo.
Como cada experimento foi realizado em uma condição operacional especifica,
realizou-se a soma do consumo de H2 para os 12 testes catalíticos. Para a reação de
HDS o consumo foi igual a 113 NL/L; já para a reação de HDN, o consumo médio foi
igual a 16,6 NL/L. O maior consumo para a reação de HDS está relacionado a elevada
concentração dos compostos sulfurados na carga.
Para produção de diesel S10 (teor de enxofre menor que 10 ppm), o consumo de
H2 para um teste catalítico com 99,7% de conversão foi de 10 NL/L. Os resultados
obtidos por LEE et al. (2008) mostraram que para a hidrodessulfurização de um gasóleo
com teor de enxofre igual a 6400 mg/kg, o consumo de H2 para produção de produto
S10 foi de 22 NL/L. Essa diferença entre o resultado da unidade de bancada e o da
literatura, pode estar relacionado à abordagem utilizada para seu cálculo e as próprias
condições em que os testes foram realizados (leito catalítico, unidade piloto,
configuração do reator, etc.).
O fator de efetividade (η) foi usado para avaliar a importância das limitações de
difusão dentro dos poros do catalisador. Neste trabalho foi obtido através do módulo de
Thiele (Φj ), Equação (59), que é inversamente proporcional a η. De acordo com a
definição do Φj , Equação (56), a concentração dos reagentes na superfície do catalisador
(CiS) diminui em função do comprimento do leito, enquanto que a difusividade efetiva
DLef,i é constante. Então, a razão (CiS/DLef,i ) é reduzida conforme o final do leito é
atingido, o que resulta em valores menores de Φj . A Tabela 29 apresenta os valores de η
como função da posição axial no leito catalítico obtido para as reações de HDS e HDN.
113
intrapartícula do que o efeito direto da temperatura na difusividade. Com relação à
variável LHSV, um aumento nesse parâmetro provoca uma menor variação na
efetividade do que a temperatura de reação. Isso sugere que a difusão interna não
depende diretamente das taxas de fluxo. A dependência de LHSV com η está associada à
difusão externa dos compostos, que é de fato função das taxas de fluxo (MACÍAS e
ANCHEYTA, 2004). Maiores fluxos levam a uma grande quantidade de reagentes na
superfície do catalisador, o que aumenta a restrição a difusão.
114
testes de desativação acelerada (MDA) são representativas do fenômeno que ocorre em
unidades industriais e também reprodutíveis em diferentes unidades piloto.
Nreações
∂CiS ∂2 CiS D efi ∂CiS
(1 )
εS − εB ( ) =D efi ( 2 ) + ( ) ± ρB ∑ rjcat (CiS , T) (66)
∂t ∂r r ∂r
j=1
em que o termo CiS é a concentração dos compostos (i= gasosos e não voláteis) no
interior da partícula (mol/cm3), Def i é a difusividade efetiva do composto i (cm2/s), r é o
raio da partícula (cm) e rjcat é a velocidade da reação j no interior do sólido (mol/cm3.s).
As condições iniciais e de contorno para o sistema descrito acima podem ser
vistas nas equações (67) até (69).
Ci S (0, r) = 0 (67)
∂Ci S (68)
| =0
∂r r=0
115
H2S e NH3, sulfurados e nitrogenados). Essa correlação pode ser aplicada para casos
envolvendo poros com distribuição de tamanho unimodal e misturas muito diluídas.
εS 1
D efi =
τ 1 1 (70)
( G ) + ( L)
DKi Di
116
Do mesmo modo que no modelo anterior, os parâmetros relacionados às ordens
de hidrogênio para enxofre e o nitrogênio não foram significativos. Como esperado, o
excesso de hidrogênio na fase líquida e a não estimação dos coeficientes
estequiométricos ocasionaram na possibilidade de ambos os parâmetros serem nulos no
modelo proposto.
A partir dos parâmetros estimados, realizou-se a comparação entre as
concentrações experimentais e calculadas (preditas) para enxofre e nitrogênio (mg/kg)
em todas as condições operacionais estudadas e seus respectivos desvios relativos,
conforme mostrado na Tabela 33. Foi encontrado um valor médio de desvio de 3% para
a reação HDS e 4% para a reação HDN. Observa-se que para determinadas condições,
os desvios foram acima de 6%, principalmente para concentrações muito baixas.
Tabela 34 - Fator de efetividade x posição do leito catalítico para modelo com difusão
intrapartícula
118
4.3.7 Conclusões parciais
119
5 CONCLUSÕES GERAIS
120
De forma geral, foi aprofundado, neste trabalho, o entendimento do processo de
hidrotratamento, seus efeitos na desativação acelerada, possibilitando sua aplicação
direta na discriminação do desempenho de catalisadores comerciais.
Trabalhos e publicações:
Dois trabalhos (anexo) decorrentes deste estudo da desativação acelerada de
catalisadores de HDT e da modelagem fenomenológica do processo foram publicados
em periódicos científicos internacionais (NOVAES et al., 2017a; 2017b).
Destaca-se ainda a participação em evento nacional, com a apresentação de
trabalhos relativos a esses resultados, (NOVAES et al., 2016a; 2016b) - trabalho
premiado como melhor apresentação oral no COBEQ 2016.
121
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133
ANEXOS
Artigo 1
134
135
136
137
138
139
140
141
142
143
Artigo 2
144
145
146
147
148
149
150
151
Modelo matemático
n+1
n+1 (x,
y(x, t) ≅ y t) = ∑ lj (x) yj (t) (72)
j=0
n n
∂y(t) ∂y(t)n dlj (x)
| ≅ | = ∑ | y (t) = ∑ Aij yj (t) (73)
∂x xi ∂x xi dx x j
j=0 j=0
n n
∂2 y(t) ∂y 2 (t)n d2 lj (x)
| ≅ | = ∑ | y (t) = ∑ Bij yj (t) (74)
∂x 2 x ∂x 2 x dx 2 x j
i i j=0 i j=0
em que lj(x) são os polinômios interpoladores e Aij e Bij são as matrizes geradas para
resolução das derivadas de 1² e 2° ordem respectivamente. Ressaltando que as variáveis
dependentes nos modelos propostos são as pressões parciais (H2, NH3 e H2S) e as
concentrações na fase fluida e no interior dos poros (H2, NH3, H2S, compostos
sulfurados e nitrogenados).
As propriedades do polinômio de Jacobi implicam que o resíduo gerado a partir
dos polinômios interpoladores sejam nulos nos pontos de colocação ortogonal, as raízes
do polinômio de Jacobi. A escolha dos valores dos parâmetros, α e β, relacionados a
função peso (w(x)) foram zero e um respectivamente. Esses valores estão relacionados
ao tratamento das equações, como as mudanças de variáveis. Esta escolha implica que
na resolução do problema para o leito catalítico, a função peso foi de w(z)=z.
No caso do modelo com difusão intrapartícula, onde foi utilizado o método de
aproximação polinomial para a resolução das equações no interior dos poros, a escolha
de α e β são de extrema importância. Isto porque no cálculo da quadratura para
determinação do fator de efetividade, a escolha indiscriminada desses parâmetros leva a
valores errados na solução numérica da integral. No nosso trabalho foi incluído os dois
extremos na resolução do problema, assim a função peso modificada (Lobatto) foi
w(r)=(1-r)α +1 β+1
r . Portanto, os valores obtidos de α e β modificados são um e dois,
respectivamente.
152
A análise de convergência foi realizada através dos resultados dos teores de
enxofre e nitrogênio. As Figuras 58 a) e b) mostram as análises para os teores de
enxofre ao variar-se a quantidade de pontos internos do método para resolução do
modelo na fase fluida. As duas figuras adotaram a mesma legenda; sendo que na Figura
58 b), a região de saída do reator ficou em evidência.
a) 4500 3 pontos
Teor de enxofre (ppm)
4000 5 pontos
3500 7 pontos
3000 9 pontos
2500 11 pontos
2000
1500
1000
500
0
0 5 10 15 20 25 30
Comprimento do reator (cm)
b) 200
3 pontos
5 pontos
150
7 pontos
9 pontos
100 11 pontos
50
0
18 20 22 24 26 28
153