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Alquimia 1

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Lição 1 – Alquimia na Prática

O pequeno catecismo “Cânones Basilianos” ou “Aforismos de Basílio” é um breve


tratado com os princípios básicos da Alquimia, publicado pelo Pe. De Castaigne,
especialmente dedicado aos reis Henrique IV e Luís XIII, no ano de 1681. Surgido após
a fama de Paracelso e do tratado “Céu dos Filósofos”, sua explicação mistura a
exposição tomista-aristotélica, comum à época, com conceitos já consagrados da
Alquimia, Sufismo e Cabalá.
Foi atribuído ao alquimista Basílio Valentino, por parecer uma resposta ao consagrado
“As Doze Chaves da Filosofia”, mas com menos enigmas e de linguagem mais direta.
Em pequenos aforismos, explicados pelos nossos mestres, o estudante será levado não
só ao entendimento dos pontos chaves da Alquimia, como também à própria
interpretação da linguagem simbólica.
Por ser um texto fundamental, pedimos muita atenção e diligência neste estudo. As
palavras abaixo serão fundamentais para que o estudante possa avançar nas meditações
e também no entendimento acadêmico-histórico dos textos alquímicos.

Cânon 1.
Hermes Trismegisto chamado de Pai dos Filósofos por ter buscado a subsistência de
uma só essência criada nos três reinos: mineral, vegetal e animal. Nesta essência criada,
ele reconheceu todo o poder e virtude das naturezas vegetal, animal e mineral.
Comentário: Hermes Trismegisto, a figura lendária dos alquimistas, é chamado de “Pai
dos Filósofos”. Sua figura foi moldada durante a Idade Média, como uma entidade
psicopompa (que vai entre céu – terra – submundo), ou seja, o arquétipo do homem
realizado, que transita entre as duas tríades: céu (animal), terra (vegetal) e mineral
(submundo). Neste ponto, identificamos muitos ensinamentos alquímicos. O primeiro
aspecto, céu – animal, representa a morada divina, que emanou o homem, o rei da
criação animal e dominador dos outros dois reinos. O segundo, que é o da terra –
vegetal, representa a vegetação que nasce e cresce da terra, representando, ao mesmo
tempo, vida estável mas também inerte e, finalmente, o aspecto mineral -submundo, que
é o das pedras preciosas e mineiras, encontrados “sob a terra”.
Na obra alquímica, estes três aspectos são trabalhados, pois no homem também há céu –
terra – submundo, como também há animal, vegetal e mineral. A jornada alquímica
começa na terra, o elemento mais estável, mas também o mais pesado e também da
própria condenação do homem não-desperto: “és pó e ao pó voltarás” (Gênesis 3:19), e
para alcançar ao céu, ele precisa descer ao submundo, pois as pedras e minerais da Obra
estão justamente no submundo; vem daí o mote V.I.T.R.I.O.L., Visita Interiora Terrae,
Rectificando, Invenies Occultum Lapidem (Visita o Centro da Terra, Retificando-te,
encontrarás a Pedra Oculta). A Tradição entende esta linguagem de diversas formas,
uma delas é a antiga doutrina hebraica da Geena ou purgatório, onde a alma passa um
período de reflexão para purgar suas transgressões e ficar pronta ao Paraíso.
Cânon 2
A natureza do mercúrio é volátil como neve, é branca e coagulada, seu poder vegetativo
é incomum: o mercúrio é um espírito comum aos grandes e pequeno. Deste mercúrio
surge e movimenta o fluxo da natureza humana, segundo a alma racional.
Comentário: O Mercúrio representa o aspecto feminino – intelectivo da raça humana;
desta forma, é um agente passivo, seu “poder vegetativo incomum” diz respeito a esta
capacidade da nossa intuição – intelecção de ser passiva e, portanto, vegetativa, mas
também capaz de moldar as coisas ao redor. Isto é, o alquimista deve aprender a
dominar e trabalhar o seu mercúrio, que pode ser traiçoeiro e tóxico. A sua contraparte,
o enxofre, é o aspecto masculino e ativo, representado na noesis renascentista de várias
formas: rei, guerreiro, falo, raio.
O cânon, portanto, nos alerta para um dos principais pontos da Obra, que é o controle
das emoções, intelecções e intuições. Apesar da passividade, este aspecto é “branco e
coagulado” e aqui o alquimista o compara à neve. A neve possui uma natureza
coagulada, mas se desfaz com facilidade quando exposta ao calor.
Cânon 3
Quanto à virtude anímica, ela é justamente a intermediária entre o Espírito e o corpo,
uma vez que, esta virtude, atua como a ligação entre os mundos, é uma espécie de elo,
que na consiste no enxofre, que é como um óleo vermelho transparente, como o Sol no
Mundo Superior e o coração humano no Mundo Inferior.
Comentário: Finalmente, o enxofre, que é o elemento ativo, ou seja, ligado à ação
animal e instintiva animal do ser humano. Ou seja, somos divididos em dois aspectos
instintivos: um animal (enxofre) e outro emocional (mercúrio). Precisamos da
descoberta filosofal dos dois; o homem apenas ativo e instintivo – animal não passa de
uma besta desgovernada; mas o homem apenas passivo e instintivo – emocional é um
escravo das emoções.
O enxofre é apresentado como um óleo vermelho e transparente, ou seja, aqui temos
uma linguagem alquímica cabalista: como no tratado do Rabino Abraham Elazar e no
“Tanya”, do Alter Rebbe, este aspecto humano é chamado de “alma animal”, que corre
quase junto ao sangue e, desta forma, acaba recebendo todos os aspectos do sangue,
sendo apresentado como um “óleo vermelho transparente”, ou seja, um sangue sutil.
Cânone 4
Finalmente, o mineral, que é como um corpo de sal: é um corpo de admirável virtude e
odor. Quando o sal é separado das impurezas da terra, ele recebe um aspecto diferente
do mercúrio apenas em espessura e consistência.
Comentário: O sal surge enquanto fruto de enxofre (masculino) e mercúrio (passivo),
representando o corpo. O corpo humano, portanto, é a manifestação das vontades de
alma animal (enxofre) e espírito intelectivo (mercúrio). Quando separado das impurezas
da terra, ou seja, as más inclinações de alma e espírito – ou seja, o corpo do realizado na
Obra Alquímica é um corpo espiritualizado, isto é, um corpo agente passivo, como o
intelecto, mas que é capaz de dominar as emoções e instintos. Outrossim, o corpo da
pessoa em estado de ignorância transita entre atividade – passividade, sendo apenas um
veículo das emoções e instintos negativos.
Cânone 5
Estas três subsistências, consideradas como uma só essência criada, constituem e
estabelecem o limbo do Mundo Superior e do Mundo Superior. O homem foi formado
no primeiro, quando foi feito de seu pó da terra, e depois chegou à alma racional
microcósmica imortal, imediatamente inspirado por Deus: e que, como uma Rainha, é o
motivo e causa diretora de todas as funções que estão em 1 Nome.
Comentário: As três subsistências (animal, vegetal e mineral) partem da mesma essência
e, a partir delas, o homem foi formado, de baixo pra cima. Ou seja, ele é feito do “pó da
terra”, o elemento que também é ligado ao útero feminino, já que o homem é formado
por terra e seu destino final é a terra do túmulo, para também virar pó; nesta visão, o
útero, como a outra terra, é um portal de reencarnação. Curiosamente, o antropólogo
Gilbert Durand afirmou: “A vida humana é um salto de túmulo a túmulo”, pois o estado
uterino é semelhante ao estado do túmulo, escuro e silencioso. A alma racional
microcósmica universal já foi objeto de muitos tratados e escritos; a alma microcósmica
racional alcançada pelo homem foi representada em Gênesis pela “queda” de Adão e
Eva, compreendida indevidamente como um ato de pecado. Mas compreendendo o
texto a partir de uma perspectiva alquímica ou cabalista, a “queda” foi apenas o alcance
desta alma racional, capaz de escolher entre o bem e o mal. Este aspecto é como uma
“rainha”, ao dirigir os elementos passivos do homem, que aqui é uma passividade em
relação ao caminho divino.

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