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Gênero Narrativo / Elementos Da Narrativa: Monitoria 3

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PRÉ-UNIVERSITÁRIO OFICINA DO SABER Aluno(a):

DISCIPLINA: Literatura PROFESSORA: Suéllen da Mata


Data: 19 / 02 / 2021

CURSO PREPARATÓRIO PARA O VESTIBULAR UERJ 2021

GÊNERO NARRATIVO / ELEMENTOS DA NARRATIVA Monitoria 3

QUESTÃO 1

Passeio à infância
Primeiro vamos lá embaixo no córrego; pegamos dois pequenos carás dourados. E como faz calor, veja, os
lagostins saem da toca. Quer ir de batelão, na ilha, comer ingá? Ou vamos ficar bestando nessa areia onde o
sol dourado atravessa a água rasa? Não catemos pedrinhas redondas para a atiradeira, porque é urgente subir
no morro; os sanhaços estão bicando os cajus maduros. É janeiro, grande mês de janeiro!

Podemos cortar folhas de pita, ir para o outro lado do morro e descer escorregando no capim até a beira do
açude. Com dois paus de pita, faremos uma balsa, e, como o carnaval é no mês que vem, vamos apanhar
tabatinga para fazer fôrmas de máscaras. Ou então vamos jogar bola-preta: do outro lado do jardim tem pé
de saboneteira. Se quiser, vamos. Converta-se, bela mulher estranha, numa simples menina de pernas
magras e vamos passear nessa infância de uma terra longe. É verdade que jamais comeu angu de fundo de
panela?

Bem pouca coisa eu sei: mas tudo que sei lhe ensino. Estaremos debaixo da goiabeira; eu cortarei uma
forquilha com o canivete. Mas não consigo imaginá-la assim; talvez se na praia ainda houver pitangueiras…
Havia pitangueiras na praia? Tenho uma ideia vaga de pitangueiras junto à praia. Iremos catar conchas cor-
de-rosa e búzios crespos, ou armar o alçapão junto do brejo para pegar papa-capim. Quer? Agora devem ser
três horas da tarde, as galinhas lá fora estão cacarejando de sono, você gosta de fruta-pão amassada com
manteiga? Eu lhe dou aipim ainda quente com melado. Talvez você fosse como aquela menina rica, de fora,
que achou horroroso o nosso pobre doce de abóbora e coco.

Mas eu a levarei para a beira do ribeirão, na sombra fria do bambual; ali pescarei piaus. Há rolinhas. Ou
então ir descendo o rio numa canoa bem devagar e de repente dar um galope na correnteza, passando rente
às pedras, como se a canoa fosse um cavalo solto. Ou nadar mar afora até não poder mais e depois virar e
ficar olhando as nuvens brancas. Bem pouca coisa eu sei; os outros meninos riram de mim porque cortei
uma iba de assa-peixe. Lembro-me que vi o ladrão morrer afogado com os soldados de canoa dando tiros, e
havia uma mulher do outro lado do rio gritando.

Mas como eu poderia, mulher estranha, convertê-la em menina para subir comigo pela capoeira? Uma vez vi
uma urutu junto de um tronco queimado; e me lembro de muitas meninas. Tinha uma que era para mim uma
adoração. Ah, paixão de infância, paixão que não amarga. Assim eu queria gostar de você, mulher estranha
que ora venho conhecer, homem maduro. Homem maduro, ido e vivido; mas quando a olhei, você estava
distraída, meus olhos eram outra vez os encantados olhos daquele menino feio do segundo ano primário que
quase não tinha coragem de olhar a menina um pouco mais alta da ponta direita do banco.

Adoração de infância. Ao menos você conhece um passarinho chamado saíra? É um passarinho miúdo:
imagine uma saíra grande que de súbito aparecesse a um menino que só tivesse visto coleiros e curiós, ou
pobres cambaxirras. Imagine um arco-íris visto na mais remota infância, sobre os morros e o rio. O menino
da roça que pela primeira vez vê as algas do mar se balançando sob a onda clara, junto da pedra.

Ardente da mais pura paixão de beleza é a adoração de infância. Na minha adolescência você seria uma
tortura. Quero levá-la para a meninice. Bem pouca coisa eu sei; uma vez na fazenda riram: ele não sabe nem
passar um barbicacho! Mas o que eu sei lhe ensino; são pequenas coisas de mato e de água, são humildes
coisas, e você é tão bela e estranha! Inutilmente tento convertê-la em menina de pernas magras, o joelho
ralado, um pouco de lama seca do brejo no meio dos dedos dos pés.

Linda como a areia que a onda ondeou. Saíra grande! Na adolescência me torturaria; mas sou um homem
maduro. Ainda assim às vezes é como um bando de sanhaços bicando cajus de meu cajueiro, um cardume de
peixes dourados avançando, saltando ao sol, na piracema; um bambual com sombra fria, onde ouvi silvo de
cobra, e eu quisera tanto dormir. Tanto dormir! Preciso de um sossego na beira do rio, com remanso, com
cigarras. Mas você é como se houvesse demasiadas cigarras cantando numa pobre tarde de homem.

(BRAGA, Rubem. 50 crônicas escolhidas – 3ª edição – Rio de Janeiro: BestBolso, 2011.)

De acordo com os propósitos do autor, pode-se afirmar, tendo em vista o foco narrativo assumido no texto,
que o narrador, elemento do mundo ficcional,

a) tende à neutralidade através de sua posição pessoal apresentada no texto.

b) se aproxima em alguns momentos – e se distancia em outros – dos personagens e da ação.

c) submete os fatos aos efeitos de sua objetividade, apresentando-os com marcas emocionais.

d) participa dos dados e fatos do mundo construído, constituindo o que se chama narrador-personagem.

QUESTÃO 2

A partida

Acordei pela madrugada. A princípio com tranquilidade, e logo com obstinação, quis novamente dormir.
Inútil, o sono esgotara-se. Com precaução, acendi um fósforo: passava das três. Restava-me, portanto,
menos de duas horas, pois o trem chegaria às cinco. Veio-me então o desejo de não passar mais nem uma
hora naquela casa. Partir, sem dizer nada, deixar quanto antes minhas cadeias de disciplina e de amor.
Com receio de fazer barulho, dirigi-me à cozinha, lavei o rosto, os dentes, penteei-me E, voltando ao meu
quarto, vesti-me. Calcei os sapatos, sentei-me um instante à beira da cama. Minha avó continuava dormindo.
Deveria fugir ou falar com ela? Ora, algumas palavras… Que me custava acordá-la, dizer-lhe adeus?

LINS, O. A partida. Melhores contos. Seleção e prefácio de Sandra Nitrini. São Paulo: Global, 2003.

No texto, o personagem narrador, na iminência da partida, descreve a sua hesitação em separar-se da avó.
Esse sentimento contraditório fica claramente expresso no trecho:

a) “A princípio com tranquilidade, e logo com obstinação, quis novamente dormir”


b) “Restava-me, portanto, menos de duas horas, pois o trem chegaria às cinco”
c) “Calcei os sapatos, sentei-me um instante à beira da cama”
d) “Partir, sem dizer nada, deixar quanto antes minhas cadeias de disciplina e amor”
e) “Deveria fugir ou falar com ela? Ora, algumas palavras…”
QUESTÃO 3

(UERJ – Vestibular 2001 – Adaptado)

Leia o texto abaixo e responda à questão.

Certo milionário brasileiro foi traído pela esposa. Quis gritar, mas a infiel disse-lhe sem medo:
— “Eu não amo você, nem você a mim. Não temos nenhum amor a trair”.
O marido baixou a cabeça. Doeu-lhe, porém, o escândalo. Resolveu viajar para a China, certo de que a
distância é o esquecimento. Primeiro, andou em Hong Kong. Um dia, apanhou o automóvel e corre como
um louco. Foi parar quase na fronteira com a China. Desce e percorre, a pé, uma aldeia miserável. Viu, por
toda a parte, as faces escavadas da fome. Até que entra na primeira porta. Tinha sede e queria beber. Olhou
aquela miséria abjeta. E, súbito, vê surgir, como num milagre, uma menina linda, linda. Aquela beleza
absurda, no meio de sordidez tamanha, parecia um delírio. O amor começou ali. Um amor que não tinha fim,
nem princípio, que começara muito antes e continuaria muito depois. Não houve uma palavra entre os dois,
nunca. Um não conhecia a língua do outro. Mas, pouco a pouco, o brasileiro foi percebendo esta verdade: –
são as palavras que separam. Durou um ano o amor sem palavras. Os dois formavam um maravilhoso ser
único. Até que, de repente, o brasileiro teve que voltar para o Brasil. Foi também um adeus sem palavras.
Quando embarcou, ele a viu num junco que queria seguir o navio eternamente. Ele ficou muito tempo
olhando. Depois não viu mais o junco. A menina não voltou. Morreu só, tão só. Passou de um silêncio a
outro silêncio mais profundo.

(RODRIGUES, Nelson. A cabra vadia: novas confissões. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.)

O narrador de um conto assume determinados pontos de vista para conduzir o seu leitor a observar o mundo
sob perspectivas diversificadas. No conto de Nelson Rodrigues, a narrativa busca emocionar o leitor por
meio do seguinte recurso:

a) expressa diretamente o ponto de vista do personagem milionário


b) expressa de maneira indireta o ponto de vista da personagem chinesa
c) alterna o ponto de vista do personagem milionário com o do narrador
d) alterna o ponto de vista do personagem milionário com o da personagem chinesa

QUESTÃO 4

Considere o texto:

“O incidente que se vai narrar, e de que Antares foi teatro na sexta-feira 13 de dezembro do ano de 1963,
tornou essa localidade conhecida e de certo modo famosa da noite para o dia. (…) Bem, mas não convém
antecipar fatos nem ditos. Melhor será contar primeiro, de maneira tão sucinta e imparcial quanto possível, a
história de Antares e de seus habitantes, para que se possa ter uma ideia mais clara do palco, do cenário e
principalmente das personagens principais, bem como da comparsaria, desse drama talvez inédito nos anais
da espécie humana.” (Érico Veríssimo)

Assinale a alternativa que evidencia o papel do narrador no fragmento acima:

a) O narrador tem senso prático, utilitário e quer transmitir uma experiência pessoal.

b) É um narrador introspectivo, que relata experiências que aconteceram no passado, em 1963.

c) Em atitude semelhante à de um jornalista ou de um espectador, escreve para narrar o que aconteceu com x
ou y em tal lugar ou tal hora.
d) É um narrador neutro, que não deixa o leitor perceber sua presença.

QUESTÃO 5

Com base no texto abaixo, indique a alternativa cujo elemento estruturador da narrativa não foi interposto no
episódio:

“Porque não quis pagar uma garrafa de cerveja, Pedro da Silva, pedreiro, de trinta anos, residente na rua
Xavier, 25, Penha, matou ontem em Vigário Geral, o seu colega Joaquim de Oliveira.”

a) o lugar

b) a época

c) as personagens

d) o modo

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