Nivel Sintatico I
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O que é sintaxe?
Na visão da Gramática Tradicional, conforme Berlinck, Augusto e Scher
(2003), o termo sintaxe remete à parte da gramática dedicada à descri-
ção do modo como as palavras são combinadas para compor sentenças,
sendo essa descrição organizada sob a forma de regras. Estas são obtidas
por meio do arrolamento de um grande número de autores consagrados,
a partir dos quais são listadas, sob a denominação de regras, as formas
empregadas por eles para combinar e organizar as palavras em sentenças
e as sentenças em texto. Algumas dessas regras, inclusive, são bem co-
nhecidas. Pense no caso da regra que estabelece a ordem direta (sujeito-
-verbo-complementos) para a organização dos constituintes da sentença.
qualquer língua natural tem um conhecimento inato sobre como os itens lexi-
cais de sua língua se organizam para formar expressões mais e mais complexas,
até chegar ao nível da sentença” (NEGRÃO; SCHER; VIOTTI, 2007b, p. 81). É nesse
conhecimento inato, como ele se organiza e como organiza a língua, que o ge-
rativismo está interessado.
A sintaxe espacial
Ao tratar da análise linguística da sintaxe da Libras, Quadros e Karnopp (2004,
p. 127) advertem que para cumprir tal tarefa é preciso que o interessado “enxer-
gue” “esse sistema que é visual-espacial e não oral-auditivo.” Em relação a isso, as
autoras argumentam: “[d]e certa forma, tal desafio apresenta certo grau de difi-
culdade aos linguistas; no entanto, abre portas para as investigações no campo
da Teoria da Gramática enquanto manifestação possível da capacidade da lin-
guagem humana” (QUADROS; KARNOPP, 2004, p. 127).
Por ser uma língua espaço-visual, a Libras “monta” suas sentenças distribuin-
do os constituintes (sinais) de uma determinada maneira no espaço, sendo que
relações espaciais específicas são empregadas para desempenhar variados
papéis gramaticais. Um exemplo é o de identificação de referentes no discurso.
Na Libras, os referentes (eu, ele, você, nós, eles, relações anafóricas etc.), presen-
tes fisicamente ou não, são identificados por sua associação a uma localização
no espaço, sendo que diferentes recursos podem ser empregados. A seguir, são
ilustradas as possibilidades apresentadas pelas autoras:
IX (Casa).
X (Casa) NOVA.
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Provavelmente, por óbvia as autoras querem significar que a referência é do conhecimento dos envolvidos na situação de comunicação, isto é, faz
parte do conhecimento compartilhado dos indivíduos em interação.
(eu) IR (casa).
Marca de concordância verbal por meio da direção dos olhos – notação < >do.
< > n.
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O nível sintático I
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Diz respeito às perguntas feitas com pronome interrogativo (que, quem, quando e onde), por exemplo: “O que João comprou?”, “Quem não foi
para a aula ontem?” e “Onde estão meus livros?”.
Marca de interrogativa do tipo S/N (cuja resposta só pode ser sim ou não)
– notação < >sn.
Agora que você já conhece um pouco mais do uso do espaço e outros recur-
sos para estabelecer relações sintáticas na Libras, pode se dedicar, com menos
dificuldade, à compreensão da ordem sintática nessa língua, tema da próxima
seção.
(1a) Eu, por acaso, encontrei a pessoa que você procurava. (S-Adj-V-O)
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O símbolo IX representa a incorporação do referente no espaço, significa, então, que um referente como “ele” foi sinalizado pelo recurso de esta-
belecer um ponto específico no espaço para fazer menção a esse referente.
EU LIVRO <PERDER>mc
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Nesse caso, um dos objetos internos da sentença (Maria) foi movido para antes do verbo, motivo pelo qual as autoras identificam essa estrutura
como SOV.
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Para facilitar a análise, já que ela será feita de forma linear, é bom colocar os
constituintes na ordem direta (sujeito, verbo, objeto e adjuntos):
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Aqui se está empregando uma representação da estrutura diferente do sistema de representação arbórea proposto pela Gramática Gerativa, a
intenção é facilitar a sua compreensão, já que para dominar a representação gerativa de uma sentença são requeridos muitos pressupostos teóricos
que não cabem para o momento.
Texto complementar
Sintaxe
(LEITE, 2008, p. 28-30)
Em Liddell (1978), uma história repleta de personagens sem nome foi ela-
borada a fim de se verificar como orações relativas eram produzidas na ASL.
Foi solicitado a alguns surdos que lessem e memorizassem a história para, em
seguida, recontá-la em ASL. Ao notar que as expressões faciais dos narradores
pareciam estar desempenhando um papel importante, Liddell tirou fotos da
tela do televisor em cada sinal isolado. Com isso ele pôde constatar que os
sinalizadores mantinham uma expressão facial em uma posição de cabeça
particular durante todo o período em que realizavam os sinais relacionados
à relativa, configuração essa que mudava tão logo um nova predicação era
iniciada, como mostra a figura abaixo – reproduzida de Liddell (2003a, p. 54).
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RECENTE CACHORR@ PERSEGUIR GAT@ VIR CASA
Dicas de estudo
Artigo científico, “O empreendimento Gerativo”, de José Borges Neto, do
livro Introdução à Linguística: fundamentos epistemológicos, de Fernanda
Mussalim e Ana Cristina Bentes. São Paulo: Cortez, 2004. v. 3.
Atividades
1. Explane sobre a diferença entre a análise linguística da Gramática Tradicional
e da Gramática Gerativa.
Referências
BERLINCK, R. de A.; AUGUSTO, M. R. A.; SCHER, A.P. Sintaxe. In: MUSSALIN, Fernan-
da; BENTES, Ana Cristina (Orgs.) Introdução à Linguística: domínios e fronteiras.
3. ed. São Paulo: Cortez, 2003. v.1.
FELIPE, Tanya Amara. A estrutura frasal na LSCB. In: Anais do IV Encontro Nacio-
nal da ANPOLL, Recife, 1989.
NEGRÃO, Esmeralda Vailati; SCHER, Ana Paula; VIOTTI, Evani de Carvalho. A com-
petência linguistica. In: FIORIN, José Luiz (Org.). Introdução à Linguística I: ob-
jetos teóricos. 5. ed. São Paulo: Contexto, 2007a.
______. Sintaxe: explorando a estrutura da sentença. In: FIORIN, José Luiz (Org.).
Introdução à Linguística II: princípios de análise. 4. ed. São Paulo: Contexto,
2007b.
Gabarito
1. Resposta mínima deve contemplar o fato de que a Gramática Normativa es-
tabelece o que é sintaxe e como se estruturam as sentenças de uma língua a
partir da elaboração de regras do bem falar e do bem escrever com base na
análise de como escritores consagrados empregam as estruturas sintáticas
da língua. A Gramática Gerativa, por sua vez, está interessada na sintaxe en-
quanto representação mental das estruturas linguísticas. Assim, na Gramáti-
ca Gerativa, interessa a análise de estruturas sintáticas tal como se acredita
que elas estejam organizadas na mente do falante.
3. A descoberta dos sinais não manuais foi o fenômeno que levou à revisão da
ideia de que a ordem dos constituintes das sentenças na ASL seria livre. Isso
ocorreu pois estudos evidenciaram que os sinais não manuais são empre-
gados para marcar estruturas sintáticas e relações entre os constituintes nas
sentenças. Desse modo, o uso de determinados sinais não manuais acarreta
ordens específicas dos constituintes.