(Tradução) Suano - Os Primeiros Impérios Comerciais
(Tradução) Suano - Os Primeiros Impérios Comerciais
(Tradução) Suano - Os Primeiros Impérios Comerciais
1Tradução, para fins didáticos, de SUANO, M. First Trading Empires: from Prehistory to 1000
BC. In: ABULAFIA, D. (ed). The Mediterranean in History. London: Thames and Hudson,
2003, p. 67-97.
XIX, na tentativa de classificar o homem não apenas em termos de artefato, mas
também de acordo com os mamíferos que que eles dependiam para sua
subsistência (como uma era dos mamutes ou era das renas). Entretanto, a
perspectiva tecnológica era muito forte para era modificada, continuando a ser
usada não menos por causa da sua pura utilidade.
Clark herdou e foi capaz de colocar em bom uso uma longa tradição
europeia de consideração do ambiente dos primeiros homens e ofereceu um novo
modelo para a pré-história humana. Graças a ele, diferentes configurações
ecológicas dentro da Europa, e os estágios pelos quais a economia se desenvolveu,
como as transformações entre as sociedades de caçadores-coletores para
comunidades agrícolas, foram claramente estabelecidas como a base para a
cultura material (tomando como evidências casas e assentamentos, assim como
manufaturas) e também a base para rede de trocas (incluindo viagem e
transporte). Zonas diferentes têm diferentes perfis econômicos, então uma área
pode se dedicar a caçar e coletar, enquanto outra tem um desenvolvimento
agrícola. É também importante levar em consideração os insights de Clark sobre
Fernand Braudel; apesar dos seus comentários sobre a pré-história mediterrânea
precisarem ser modificadas na luz [68] do conhecimento atual, sua perspectiva
geral tem que ser levada em conta: seu objetivo era de mostrar os sucessos e
experiências mediterrâneas poderiam ser entendidas se tomadas em conta como
um todo e, ainda mais, que elas deveriam ser retomadas em relação entre si, como
o presente capítulo tentará fazer.
Os primeiros tempos
A idade do Bronze
O período que mais nos interessa aqui é a formação dos primeiros impérios
mercantis, em particular as redes micênicas e fenícias, na medida em que eles
foram os primeiros a dominar o Mediterrâneo e assim tiveram um papel crítico
na formação de seu perfil cultural. Certamente, a navegação no Mediterrâneo
começou muito antes da Idade do Bronze. Lascas de obsidiana da ilha de Melos
encontrados na Grécia continental e no sul da Argólida são as evidências mais
antigas para demonstrar o grau de habilidade de navegação no Mediterrâneo tão
longe quanto no Paleolítico, cerca de 7000 a.C. De todo modo, a navegação antiga
dependeu muito do ambiente. Ventos do inverno e do final do verão, como os
ventos etésios no Egeu, permitiam uma navegação segura na travessia Egito-
Creta em somente cinco dias, um ponto esclarecido por ninguém mais que
Odisseu no livro XIV da Odisséia. Sem dúvida a cabotagem costeira e a forma
preferida da navegação nos tempos mais remotos, seja por causa de necessidades
técnicas ou por causa da constante necessidade de água fresca para aqueles a
bordo. Assentamentos costeiros e portos eram, pois, peças chave na formatação
das rotas marítimas. Os vestígios de assentamentos e portos neolíticos e da Idade
do Bronze, combinados a outros achados de cultura material e aos estudos de
distâncias e ventos indicam uma rota setentrional da Ática para a Anatólia via
Kea, Tinos, Mikonos, Ikaria e Samos; uma rota central da Argólida para a
Anatólia via Cíclades; uma rota meridional via Creta, pulando de uma ilha a outra
até Rodes e a Anatólia. Quanto às distâncias maiores, acredita-se que a rota
circular mais frequente no Mediterrâneo antigo fosse da direita para a esquerda:
do Egeu para Creta e então para o Egito, Levante, Chipre, costa da Anatólia,
Cíclades, Creta e de volta para o Egeu. Existiram, certamente, outras rotas
regionais (Egeu/Itália, Creta/Egito, Egito/Chipre, Chipre/Levante) e
alternativas, tais como Egito/Creta via costa da Líbia. Os vestígios de docas de
pedra e dados de arqueologia costeira indicam a presença de atividade marítima
ao longo de todo o Egeu desde a Idade do Bronze Inicial e o uso das ilhas como
[74] pontes através de distâncias maiores. Tal prática sem dúvida permitiu a
existência de pequenas redes de comércio regional ou local, assim como fomentou
o comércio de longa distância.
Embora nenhuma evidência física de navios egeus tenha sido encontrada
até agora, existem muitas representações gráficas deles. A mais antiga, até agora,
parecem ser os longos navios de chumbo, de Naxos, datados do III milênio a.C.,
embora alguns sugiram que não se tratam propriamente de navios, mas canoas.
O mesmo formato aparece nas chamadas “frigideiras” de terracota (objetos de
função desconhecida) encontradas da Grécia continental à Anatólia e muito
numerosas nas Cíclades. Existem muitas outras representações de navios longos
e sua evolução técnica, assim como dos barcos de dois andares, identificáveis a
partir de imagens em selos e cerâmica minóicos. Até agora, não existe evidência
para navios de guerra minóicos. O fragmento do Heládico Médio de um [75]
pythos de Egina, com a única representação existente de navegadores armados, e
os afrescos em miniatura de Tera sugerem, pelas lanças carregadas pelos homens,
que eles não eram guerreiros do mar mas invasores prontos para batalhas
costeiras. Os afrescos de Tera ainda contém nove tipos diferentes de barcos
apenas no friso norte, e tal variedade levou alguns estudiosos a pensar que a cena
se refere a uma procissão religiosa. Além do fato comum de que povos
navegadores atribuem significado cultual para sua interrelação com o mar e suas
forças, que estes barcos eram dispositivos marítimos confiáveis é confirmado por
um texto encontrado em Mari que se refere a um caphtorita (i.e., cretense)
recebendo um carregamento de estanho no porto de Ugarit por volta do final do
século XVIII a.C.
De qualquer modo, os dados da navegação e marinharia da Idade do
Bronze é vasta e foi brilhantemente disposta em conjunto por Wachsmann, que
estudou a tecnologia de construção e as técnicas de navegação bem como as rotas
e guerras marítimas do período. A variedade de soluções apresentada para os
problemas da construção de navios apenas demonstra a autonomia individual do
desenvolvimento cultural de vários povos mediterrânicos do período. Os dados
disponíveis, incluindo as fontes escritas posteriores, foram estudadas a partir da
perspectiva de uma suposta talassocracia ou império marítimo minóico. Tal
conceito tem sido comum por cerca de 2500 anos, a partir dos comentários de
Tucídides acerca do rei Minos e seu império; mas nós também conhecemos não
menos de 16 outras talassocracias (ródia, lídia, cipriota, fenícia etc) listadas nas
Crônicas de Eusébio, onde ele descreve, com base em fontes muito mais antigas,
o exercício de controle político e militar sobre segmentos do Mediterrâneo
durante a Idade do Bronze Tardia e a Idade do Ferro. Entretanto, o conceito de
talassocracia foi recentemente reconsiderado, em parte com bases arqueológicas,
como veremos a seguir, e parcialmente com base na ideia de que o poder político
controlando o mar para o comércio é muito intimamente modelado na Atenas
clássica. Isto, mais do que qualquer consciência profunda de Tucídides acerca dos
desenvolvimentos na região do Egeu mil anos antes de sua época, pode ser o
modelo do que ele na verdade diz: “Minos fez a si mesmo senhor dos mares gregos
e subjugou as Cíclades, expulsando os cários e estabelecendo seus filhos no
controle de novos assentamentos no seu lugar; e, naturalmente, para o transporte
seguro de suas rendas, ele fez tudo o que pode para suprimir a pirataria”.
Existem, inclusive, muitos traços “minóicos” nestas ilhas (arquitetura,
cerâmica, hábito funerário, religião) e as fortificações em várias delas (Melos,
Ceos, Egina) [76] levou alguns estudiosos a ver as Cíclades como um cordão de
segurança que protegia uma Creta sem fortificações. Entretanto, na medida em
que nós não temos como dizer quem realmente governada estas ilhas, elas podem
ser igualmente bastiões minóicos ou, pelo contrário, como suas fortificações
indicam, serem locais independentes de Creta. Nós devemos, portanto, nos
afastarmos da visão tradicional de uma “colonização” minóica dos mares ao redor
de Creta, e adotar uma abordagem que enfatiza as funções econômicas e sociais
do comércio.
As ilhas
Leitura complementar