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(Tradução) Suano - Os Primeiros Impérios Comerciais

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Os primeiros impérios comerciais: da pré-

história ao ano 1000 a.C.1

Marlene Suano (Universidade de São Paulo)

[67] O mundo mediterrânico antigo, geográfica e historicamente falando,


se estende dos Pilares de Hércules (atual Estreito de Gibraltar) até o Oriente
Médio e o Crescente Fértil (os vales do Tigre e do Eufrates). As linhagens
culturais, as rotas comerciais e os movimentos políticos do mundo antigo eram
drenados para o Mediterrâneo do mesmo modo como os rios fluíam para o mar
interior. O grande número de culturas, estados e períodos cronológicos, bem
como a profunda diferença entre os documentos disponíveis, forçou sua
historiografia a se constituir com base no conhecimento extremamente
especializado nos tradicionalmente distintos campos da Assiriologia, Egiptologia,
Hititologia, História Grega e Romana e Pré-História Europeia, todas as quais
devem ser consideradas em conjunto caso se queira dar sentido aos
desenvolvimentos do Mediterrâneo primitivo. O objetivo deste capítulo, pois, é
apresentar não uma visão genérica e superficial de todos os povos do
Mediterrâneo um a um mas, ao contrário, mostrar as ligações entre eles. Pois,
quando se procura entender a história do Mediterrâneo, encontra-se o que
poderia ser descrito figurativamente como curiosos nós, aos quais a fragmentada
historiografia que nós praticamos não é capaz de desfazer. Lidando com estes
particulares problemas, nós seremos capazes de dar sentido à sua história.
O arqueólogo britânico Stuart Piggott ironicamente notou em 1965 que a
consideração tecnológica foi, nos últimos 100 anos, a principal determinante no
estudo do passado remoto, dada a ênfase tradicional na ideia de idades da pedra
e metal. O resultado foi uma estrutura cronológica que se provou quase
impossível de escapar. Mas uma nova perspectiva foi adotada por J.G.D. Clark,
que em 1952 mostrou que seria frutífero analisar o desenvolvimento humano em
outros termos, olhando para questões sobre subsistência e econômicas. Tal
perspectiva estava presente, mas era minoria, na arqueologia francesa do século

1Tradução, para fins didáticos, de SUANO, M. First Trading Empires: from Prehistory to 1000
BC. In: ABULAFIA, D. (ed). The Mediterranean in History. London: Thames and Hudson,
2003, p. 67-97.
XIX, na tentativa de classificar o homem não apenas em termos de artefato, mas
também de acordo com os mamíferos que que eles dependiam para sua
subsistência (como uma era dos mamutes ou era das renas). Entretanto, a
perspectiva tecnológica era muito forte para era modificada, continuando a ser
usada não menos por causa da sua pura utilidade.
Clark herdou e foi capaz de colocar em bom uso uma longa tradição
europeia de consideração do ambiente dos primeiros homens e ofereceu um novo
modelo para a pré-história humana. Graças a ele, diferentes configurações
ecológicas dentro da Europa, e os estágios pelos quais a economia se desenvolveu,
como as transformações entre as sociedades de caçadores-coletores para
comunidades agrícolas, foram claramente estabelecidas como a base para a
cultura material (tomando como evidências casas e assentamentos, assim como
manufaturas) e também a base para rede de trocas (incluindo viagem e
transporte). Zonas diferentes têm diferentes perfis econômicos, então uma área
pode se dedicar a caçar e coletar, enquanto outra tem um desenvolvimento
agrícola. É também importante levar em consideração os insights de Clark sobre
Fernand Braudel; apesar dos seus comentários sobre a pré-história mediterrânea
precisarem ser modificadas na luz [68] do conhecimento atual, sua perspectiva
geral tem que ser levada em conta: seu objetivo era de mostrar os sucessos e
experiências mediterrâneas poderiam ser entendidas se tomadas em conta como
um todo e, ainda mais, que elas deveriam ser retomadas em relação entre si, como
o presente capítulo tentará fazer.

Os primeiros tempos

Na tentativa de entender a relação entre os homens e o oceano na área


mediterrânea, não apenas a vegetação precisa ser considerada, mas também as
atividades econômicas costeiras e marítimas, e tomadas em contraste com o
conhecimento ecológico que ajuda a relatar a presença de focas caçadas, durante
o período paleolítico superior, nas cavernas de Dordogon, a 200 Km da costa, e
muitos outros dados arqueológicos inexplicáveis de outra maneira. Rios e costas
devem ser examinados em conjunto para ser possível captar algo dos movimentos
e da conquista do espaço físico pelos primeiros humanos. Rios eram, inclusive,
meios naturais de transporte, um ponto claramente afirmado pelo escritor
romano Estrabão. A partir do sistema mediterrânico o acesso pode ser alcançado
para o sistema europeu de grandes rios, tais como o Danúbio e o Reno, e é muito
interessante notar quão profundamente na Europa foram encontrados peças
egípcias e cretenses. Entretanto, embora os vales dos rios não foram sempre os
principais veículos do comércio interno; como Clarck acreditava, o Danúbio
exercia um papel extremamente importante na conexão do oriente e do ocidente
antes que o Mediterrâneo se tornasse a principal ligação entre estas duas regiões.
Este período se estende por cerca de 25000 anos, de 35000/30000 a cerca de
10000/8000 a.C.
Um período tão longo e complexo na história da humanidade não pode ser
brevemente resumido, e seria incorreto assumir a ausência de mudança cultural
ao longo dele todo. Mesmo assim, sítios arqueológicos em Israel revelam uma
cultura da Idade da Pedra bastante similar àquela conhecida no Mediterrâneo
ocidental, das cavernas calcárias da Espanha, França e norte da Itália. O crânio
de Galileu e os esqueletos encontrados no Monte Carmelo são bastante similares
aos dos homens e mulheres neandertais da Europa cujos ossos foram
encontrados tão longe quanto ao rochedo de Gibraltar (inclusive, a primeira
descoberta do que é hoje identificado como ossos neandertais ocorreu em
Gibraltar, mas a “mulher de Gibraltar” não foi identificada de início pelo que ela
era). O homem de neandertal era em grande medida um fenômeno da Idade do
Gelo, um tipo de hominídeo que se adaptou bem ao duro clima da Europa durante
o Paleolítico superior, mas que mostrou menos inventividade do que os humanos
modernos, os quais, pacificamente ou não, acabaram por substituir os
neandertais, e foram os autores das magníficas pinturas rupestres da caverna de
Lascaux no sul da França, de Altamira no norte da Espanha, e de muitos outros
lugares. Que a população se espalhou pela Itália, Espanha e Grécia é bastante
claro, mas quais línguas se desenvolveram deste grupo e como diferentes grupos
étnicos se diferiram uns dos outros é ainda um mistério. É certamente possível,
como o geneticista Cavalli-Sforza tem argumentado, que a língua basca é um
vestígio da língua falada em grandes áreas da Europa desde tão antes quanto o
Paleolítico superior.
O Levante, entretanto, exige mais atenção, embora nesta época ainda não
fosse sujeito às poderosas influências do Egito e da Mesopotâmia que iriam
posteriormente moldar sua civilização na aurora da história registrada por
escrito. O Levante é visto hoje como o lugar onde plantas foram pela primeira vez
cultivadas, por volta do final do XI e início do X milênio a.C. Foi aqui, junto da
Anatólia, que os assentamentos concentrados, com efeito as primeiras cidades,
emergiram pela primeira vez. Assim Jericó tem uma impressionante sequência
de edifícios neolíticos, muros e pisos polidos, um pórtico com pilares de madeira
e nenhuma cerâmica, embora, embora os 7 últimos estratos (de um total de 17)
revelem implementos de cobre. Tanto os implementos de sílex quanto os de cobre
achados em Jericó são úteis para a agricultura, um dado que lança dúvidas sobre
a antiga concepção de que agricultura e cerâmica seriam intimamente
relacionadas. Pois, de fato, a Revolução Neolítica, que é geralmente vista como
um processo de domesticação de plantas e animais, levou muitos milhares anos
para se desenvolver, começando no Paleolítico e culminando, até onde os dados
recentes permitem pensar, na criação de aldeias no sul da Ásia entre 10000 e
7000 a.C. A pesquisa sobre este assunto continua a produzir resultados
impressionantes: os dados necessários estão claramente presentes do Zagro até o
centro da Anatólia, através do Crescente Fértil e do Levante, e estão sendo
identificados, especialmente no Levante e na Anatólia, onde o sítio vital de Çatal
Huyuk foi reaberto e está sendo escavado por uma equipe britânica, americana e
turca.
Durante o Neolítico, nossas referências ao uso do mar Mediterrâneo são
escassas. Homens certamente exploraram o mar de modo a compensar as pobres
colheitas durante as secas nas terras, explorando entre outros recursos a presença
dos nutritivos atuns, os quais, embora difíceis de serem capturados, poderiam ser
encontrados em abundância no Mar Negro bem como no próprio Mediterrâneo.
Embora nenhuma embarcação seja conhecida por nós, alguns estudiosos que eles
podem ter sido algo como os papirella (jangadas de junco ainda presentes na ilha
de Corfu, uma das quais atravessou, em 1988, o trecho entre o Laurion e Melos,
com cinco pessoas a bordo) ou jangadas sustentadas por bolsas de pele infladas.
Jangadas de junco eram conhecidas no vale do Nilo até o século XX; e canoas,
uma solução imemorial encontrada em todo o mundo, certamente está no ponto
inicial de uma extremamente longa história do domínio da navegação. É
interessante notar que o termo “amarrar junto” é o mais recorrente no
vocabulário egípcio da fabricação de barcos; assim nossa atenção é atraída para o
ambiente, para os recursos em madeira e metais bem como os implementos e a
tecnologia de amarração, especialmente rebites de metal, hastes e pregos desde
que, como o eminente arqueólogo marxista Gordon Childe observou, o machado
e o cinzel pariram o verdadeiro barco. Recursos terrestres e marítimos eram,
portanto, quase literalmente amarrados junto pela humanidade como uma base
necessária para sua mobilidade e para a conquista do espaço mediterrânico.

A idade do Bronze

Este foi um dos mais conturbados períodos da história do homem e o


Mediterrâneo oriental foi seu epicentro. Entretanto, quando falamos em Idade do
Bronze, devemos ter em mente que não há uma definição cronológica única. A
Idade do Bronze na Europa Central foi datada entre o século XIV e VIII a.C., e
isto foi refinado recentemente com o uso de métodos da física nuclear e da
dendrocronologia. A cronologia da Europa mediterrânica foi estabelecida a partir
da combinação de datações da Europa central e do Egeu, a qual foi depois ligada
a datações estabelecidas para sítios egípcios e mesopotâmicos; esta cronologia,
conhecida como “histórico-arqueológica”, situa a Idade do Bronze entre os anos
3000 e 1200 a.C. Nem todos estão contentes com as sequências cronológicas
existentes, e o as técnicas do Carbono-14, da dendrocronologia, do
arqueomagnetismo e da termoluminiscência estão aos poucos reescrevendo a
cronologia mediterrânica; contudo, atualmente são estas as correlações
disponíveis para os arqueólogos trabalharem. Evidências com radiocarbono
calibrado da Anatólia pode ser cruzada com culturas do sul do Egeu na Idade do
Bronze, e embora mais pesquisa seja necessária, a visão atual é que as duas
cronologias - a “clássica” e a “dendro-datada” - em geral concordam.
Não somente no Levante, mas também nas terras da Anatólia até a Pérsia,
tiveram um importante papel no desenvolvimento da agricultura, do comércio e
na criação de concentração de riquezas sem precedentes. Algumas características
da combinação de riqueza e poder são encontradas na Anatólia na mesma época
em que elas aparecem na Mesopotâmia e no Egito na Idade do Bronze, durante o
terceiro milênio. Pois, numa época em que a Europa mediterrânica e continental
estava passando por várias fases de desenvolvimento cultural neolítico, o
Mediterrâneo oriental estava dando forma aos elementos que criariam a mais
impressionante e melhor balanceada estrutura de poder político na história do
homem antigo. Esta nova estrutura política pode ser observada a partir de quatro
pontos de referência, e pode ser esquematicamente disposta na forma de uma
cruz irregular que teria como seus quatro braços a Anatólia hitita, o Egito
faraônico, o Egeu minóico e as civilizações da Mesopotâmia. Tomados em
conjunto, eles são em geral referidos como “impérios da Idade do Bronze”.
Estas grandes unidades territoriais operaram na base de uma autoridade
central (o Grande Rei, o Faraó) que delegavam poderes regionais a reis menores
ou príncipes. Tal estrutura significava que um a maior parte do território era
dividido entre pequenos reinos com dinastias locais sujeitas a um nível mais alto
de autoridade imperial, aquela do Palácio, que assumia a responsabilidade sobre
os aspectos da vida econômica e política em comum. Embora tenham existido
diferenças entre estas unidades, que estavam longe de serem irrelevantes, as
similaridades permitiam um sistema bastante harmonizado. No Oriente, a
civilização suméria experimentava um período de grande riqueza, e sua indústria
metalífera produzia bronze (instrumentos, armas, ornamentos e vasos, contendo
de 5 a 10% de estanho). Comunidades mesopotâmicas posteriores, governadas
pelos impérios acadianos, babilônicos e assírios, dependiam do comércio de
longa distância tanto para a importação de matérias-primas (especialmente
metais) e exportação de produtos manufaturados (tecidos, implementos de
bronze e vários tipos de artesanato que alcançavam o Egito, a Síria, a Anatólia, o
Egeu e mesmo a Europa central). Isto também servia como uma ligação para o
Egito, amplamente dependente do comércio mesopotâmico e com laços íntimos
com senhorios sírios que ficavam entre as terras governadas diretamente pelos
faraós e os impérios mesopotâmicos. Ao norte, hititas, senhores da Anatólia, do
norte da Síria às margens do mar Negro, tiveram um papel significativo na
história da Idade do Bronze, e particularmente na sua crise final, um papel que
apenas recentemente foi descoberto. A oeste ficava o Egeu, guardado por Tróia, o
último bastião da Anatólia, fixado bem na fronteira com o mundo do Egeu. Sua
história, tão importante para o desenvolvimento da cultura ocidental, estava
firmemente entrelaçada com a história do resto do Mediterrâneo oriental. A
arqueologia transformou Tróia de uma lenda para uma cidade em nove níveis,
uma cidade-fortificação supervisionando a entrada para o estreito de Dardanelos
(e portanto para o mar Negro e o Danúbio, as principais entradas para o coração
da Europa).
[72] No meio destas unidades regionais de poder centralizado, as quais
sabemos que mantinham relações umas com as outras como iguais, ficava o
Levante, com importantes principados como Ugarit na costa da Síria, e Chipre,
que sofreu uma série de tentativas de anexação tanto do Egito quanto dos hititas,
sem falar da forte presença do poder econômico egeu em e ao redor de Chipre e
do Levante. Estas unidades menores de poder, por sua vez, também se
relacionavam entre si como iguais, produzindo um conjunto bastante formal de
convenções para o adequado relacionamento entre um Grande Rei e um Grande
Rei Irmão, entre um Pequeno Rei e um Grande Rei, e entre um Pequeno Rei e um
Pequeno Rei irmão. Um exemplo bem conhecido destes laços entre reis menores
para um período pouco posterior é o relacionamento entre Salomão, rei dos
israelitas, e Hiram, rei de Tiro, como registrado livro bíblico dos Reis.
A civilização hitita foi a última grande adição ao conhecimento do
Mediterrâneo oriental. Nunca mencionada nos textos gregos, sua existência
desapareceu da história da humanidade até o século XIX, quando a descoberta
das Cartas de Amarna revelaram um poderoso reino na Anatólia no II milênio
a.C. As escavações alemãs em Bogazkoy em 1906 revelaram os arquivos de
Hattusa, a capital do Hatti. Além dos tabletes escritos em acadiano, a linguagem
diplomática do período, a maioria dos outros estava escrita na língua
indoeuropéia hoje conhecida como hitita. Desde então, nosso conhecimento
sobre os hititas e o Império do Hatti cresceu consideravelmente: 26 templos
foram escavados em Hattusa e mais de 3000 selos impressos foram encontrados
durante as escavações recentes. O trabalho arqueológico ao longo da Anatólia
produziu massas de dados e expôs o balanço de poderes imperiais no
Mediterrâneo oriental da Idade do Bronze.
Além da estrutura econômica baseada em palácios, uma das principais
características comuns destas sociedades, nós podemos ver o quão profundo era
seu contato social quando consideramos os temas recorrentes dos mitos de
fundação. Estes ligam o Hatti (os 31 filhos da rainha de Carquemish foram
colocados no rio dentro de um cesto de juncos), o Egito e os israelitas [73] (na
história de Moisés e os juncos) e a Mesopotâmia (com lendas similares da infância
do rei Sargão II), e estes temas seriam posteriormente vistos em formas variadas
também na Pérsia (Ciro) e mesmo em Roma (Rômulo e Remo): a criança
abandonada, a gentileza maternal da natureza (as águas, os animais selvagens
dóceis), a criação ignorante acerca de sua verdadeira origem e o grande destino
final de criar uma nação para seus companheiros. Elas não são simples
coincidência ou mera cópia. Consciência deste profundo relacionamento também
estava presente no mito de Europa, uma princesa fenícia raptada por Zeus, que
apareceu como um touro branco e a carregou para Creta, onde ela foi mãe de
Minos, o grande rei egeu e senhor supremo dos mares. De acordo com a versão
mais difundida deste mito, sua mãe e seus irmãos (entre os quais estava Cadmo,
que fundaria a beócia Tebas) saíram à sua procura, em vão. Nenhum deles
retornou ao Levante, escolhendo permanecer no Ocidente. A pesquisa recente
sugere que a direção deve ter sido a oposta: Europa pode ter sido um nome do
norte da Grécia e a heroína teria sido investida com atributos orientais, incluindo
uma origem fenícia, devido à confusão com o nome de seu pai, Fênix, em uma
data muito posterior. Não obstante estas contradições, o mito de Europa oferece
valiosas pistas a respeito da profunda marca deixada pela consciência de que
Creta foi um importante berço cultural, com um papel particular de unir Ocidente
e Oriente.

O sistema econômico da Idade do Bronze

O período que mais nos interessa aqui é a formação dos primeiros impérios
mercantis, em particular as redes micênicas e fenícias, na medida em que eles
foram os primeiros a dominar o Mediterrâneo e assim tiveram um papel crítico
na formação de seu perfil cultural. Certamente, a navegação no Mediterrâneo
começou muito antes da Idade do Bronze. Lascas de obsidiana da ilha de Melos
encontrados na Grécia continental e no sul da Argólida são as evidências mais
antigas para demonstrar o grau de habilidade de navegação no Mediterrâneo tão
longe quanto no Paleolítico, cerca de 7000 a.C. De todo modo, a navegação antiga
dependeu muito do ambiente. Ventos do inverno e do final do verão, como os
ventos etésios no Egeu, permitiam uma navegação segura na travessia Egito-
Creta em somente cinco dias, um ponto esclarecido por ninguém mais que
Odisseu no livro XIV da Odisséia. Sem dúvida a cabotagem costeira e a forma
preferida da navegação nos tempos mais remotos, seja por causa de necessidades
técnicas ou por causa da constante necessidade de água fresca para aqueles a
bordo. Assentamentos costeiros e portos eram, pois, peças chave na formatação
das rotas marítimas. Os vestígios de assentamentos e portos neolíticos e da Idade
do Bronze, combinados a outros achados de cultura material e aos estudos de
distâncias e ventos indicam uma rota setentrional da Ática para a Anatólia via
Kea, Tinos, Mikonos, Ikaria e Samos; uma rota central da Argólida para a
Anatólia via Cíclades; uma rota meridional via Creta, pulando de uma ilha a outra
até Rodes e a Anatólia. Quanto às distâncias maiores, acredita-se que a rota
circular mais frequente no Mediterrâneo antigo fosse da direita para a esquerda:
do Egeu para Creta e então para o Egito, Levante, Chipre, costa da Anatólia,
Cíclades, Creta e de volta para o Egeu. Existiram, certamente, outras rotas
regionais (Egeu/Itália, Creta/Egito, Egito/Chipre, Chipre/Levante) e
alternativas, tais como Egito/Creta via costa da Líbia. Os vestígios de docas de
pedra e dados de arqueologia costeira indicam a presença de atividade marítima
ao longo de todo o Egeu desde a Idade do Bronze Inicial e o uso das ilhas como
[74] pontes através de distâncias maiores. Tal prática sem dúvida permitiu a
existência de pequenas redes de comércio regional ou local, assim como fomentou
o comércio de longa distância.
Embora nenhuma evidência física de navios egeus tenha sido encontrada
até agora, existem muitas representações gráficas deles. A mais antiga, até agora,
parecem ser os longos navios de chumbo, de Naxos, datados do III milênio a.C.,
embora alguns sugiram que não se tratam propriamente de navios, mas canoas.
O mesmo formato aparece nas chamadas “frigideiras” de terracota (objetos de
função desconhecida) encontradas da Grécia continental à Anatólia e muito
numerosas nas Cíclades. Existem muitas outras representações de navios longos
e sua evolução técnica, assim como dos barcos de dois andares, identificáveis a
partir de imagens em selos e cerâmica minóicos. Até agora, não existe evidência
para navios de guerra minóicos. O fragmento do Heládico Médio de um [75]
pythos de Egina, com a única representação existente de navegadores armados, e
os afrescos em miniatura de Tera sugerem, pelas lanças carregadas pelos homens,
que eles não eram guerreiros do mar mas invasores prontos para batalhas
costeiras. Os afrescos de Tera ainda contém nove tipos diferentes de barcos
apenas no friso norte, e tal variedade levou alguns estudiosos a pensar que a cena
se refere a uma procissão religiosa. Além do fato comum de que povos
navegadores atribuem significado cultual para sua interrelação com o mar e suas
forças, que estes barcos eram dispositivos marítimos confiáveis é confirmado por
um texto encontrado em Mari que se refere a um caphtorita (i.e., cretense)
recebendo um carregamento de estanho no porto de Ugarit por volta do final do
século XVIII a.C.
De qualquer modo, os dados da navegação e marinharia da Idade do
Bronze é vasta e foi brilhantemente disposta em conjunto por Wachsmann, que
estudou a tecnologia de construção e as técnicas de navegação bem como as rotas
e guerras marítimas do período. A variedade de soluções apresentada para os
problemas da construção de navios apenas demonstra a autonomia individual do
desenvolvimento cultural de vários povos mediterrânicos do período. Os dados
disponíveis, incluindo as fontes escritas posteriores, foram estudadas a partir da
perspectiva de uma suposta talassocracia ou império marítimo minóico. Tal
conceito tem sido comum por cerca de 2500 anos, a partir dos comentários de
Tucídides acerca do rei Minos e seu império; mas nós também conhecemos não
menos de 16 outras talassocracias (ródia, lídia, cipriota, fenícia etc) listadas nas
Crônicas de Eusébio, onde ele descreve, com base em fontes muito mais antigas,
o exercício de controle político e militar sobre segmentos do Mediterrâneo
durante a Idade do Bronze Tardia e a Idade do Ferro. Entretanto, o conceito de
talassocracia foi recentemente reconsiderado, em parte com bases arqueológicas,
como veremos a seguir, e parcialmente com base na ideia de que o poder político
controlando o mar para o comércio é muito intimamente modelado na Atenas
clássica. Isto, mais do que qualquer consciência profunda de Tucídides acerca dos
desenvolvimentos na região do Egeu mil anos antes de sua época, pode ser o
modelo do que ele na verdade diz: “Minos fez a si mesmo senhor dos mares gregos
e subjugou as Cíclades, expulsando os cários e estabelecendo seus filhos no
controle de novos assentamentos no seu lugar; e, naturalmente, para o transporte
seguro de suas rendas, ele fez tudo o que pode para suprimir a pirataria”.
Existem, inclusive, muitos traços “minóicos” nestas ilhas (arquitetura,
cerâmica, hábito funerário, religião) e as fortificações em várias delas (Melos,
Ceos, Egina) [76] levou alguns estudiosos a ver as Cíclades como um cordão de
segurança que protegia uma Creta sem fortificações. Entretanto, na medida em
que nós não temos como dizer quem realmente governada estas ilhas, elas podem
ser igualmente bastiões minóicos ou, pelo contrário, como suas fortificações
indicam, serem locais independentes de Creta. Nós devemos, portanto, nos
afastarmos da visão tradicional de uma “colonização” minóica dos mares ao redor
de Creta, e adotar uma abordagem que enfatiza as funções econômicas e sociais
do comércio.

Comércio de longa distância

Os minóicos comerciavam com as ilhas vizinhas desde o período Neolítico,


e com Lípari, Sicília, Egito e Levante desde a Idade do Bronze Antigo. Portos e
assentamentos costeiros que foram a base para a difundida noção de “colônias”
começaram a ser reconsideradas à luz de teorias acerca da natureza do comércio,
com foco não mais nos resultados materiais do contato mas em seu significado,
que pode ser visto na necessidade de bens de prestígio entre elites emergentes e,
com certeza, periféricas. Assim, a presença de minóicos é detectada tão longe
quanto a Transilvânia e o Danúbio. Sua presença na Itália, do Bronze Antigo ao
Médio, é conhecida nas ilhas Eólias (na chamada cultura Capo Graziano), Sicília
(a cultura Castelluccio) e na Sardenha, mas é bastante escassa em outras regiões.
A transição da cultura minóica para a micênica merece uma atenção mais
detida, na medida em que dados arqueológicos recentes indicam que ambas as
culturas não eram mutuamente antagônicas em todas as épocas, embora por volta
de 1450 a.C. a micênica se tornou dominante. Os caftor dos tabletes de Mari e da
Bíblia, os keftiu e kefti dos egípcios, entabularam contatos com os hititas da
Anatólia central, Egito, Mitani e os reinos mesopotâmicos. Os grandes palácios
de Cnossos e Malia em Creta, e de Pilos no continente, não deixam dúvida acerca
do extenso poder e riqueza do estado minóico. Acredita-se que a erupção do
vulcão Thera em 1470 a.C. em grande medida contribuiu para o
desmantelamento do poder minóico, quando habitantes não somente da Grécia
continental como também da Anatólia ocidental tomaram a enfraquecida ilha.
Como eles fizeram isso, entretanto, permanece uma questão aberta. A presença
de uma nova forma de escrita, conhecida como Linear B, do século XV em diante,
impeliram alguns estudiosos a pensar que os continentais inclusive tomaram a
área que passou a ser referida, a partir de então, como Minóico-Micênica e, logo
depois, Micênica; a linguagem dos tabletes em Linear B de Cnossos, assim como
do continente, era uma forma arcaica de grego, enquanto aquela da similar mas
apenas parcialmente decifrada escrita precedente (o Linear A) pode ter sido
relacionada às línguas faladas na Ásia Menor, em particular o luvita. Entretanto,
estudos recentes mostram similaridades do Linear A com línguas semíticas
antigas, com muitas palavras sendo praticamente as mesmas. Tudo isso,
entretanto, permanece bastante controverso, e a documentação epigráfica inclui
uma inscrição, o famoso Disco de Festo, que é inscrito com uma misteriosa escrita
que não é encontrada em nenhum outro lugar. Seria certamente um erro supor
que todos os cretenses partilhassem uma mesma língua e origem étnica; por
exemplo, a Bíblia registra os caftor como o lugar de origem dos filisteus, e depois
existiram outros grupos na ilha, como os falantes da língua eteocretense e, de
acordo com a Odisséia de Homero, os “pelásgicos”, cuja cultura e possíveis
origens diferem daquelas dos outros cretenses. Entretanto, o movimento oposto
pode também ter sido verdadeiro, a julgar pelas impressionantes similaridades
entre o palácio de Mari na Idade do Bronze, no norte da Mesopotâmia, e os
palácios cretenses da Idade do Bronze.
[77, 78] Tomando os portos, rotas de comércio, “colônias” clientes dos
minóicos, os micênicos aumentaram ainda mais o território com o qual
mantinham contato. As naturezas de seu contato no Mediterrâneo oriental e
ocidental eram bastante diferentes, sem dúvida devido ao fato de que os parceiros
encontrados em cada lado eram fundamentalmente diferentes. De um lado, nas
terras orientais, nós temos vestígios inclusive escritos de sociedades altamente
organizadas apresentando traços similares, como foi visto acima. Do outro lado,
populações italianas, siceliotas e sardenhas tinha uma estrutura social
completamente diferentes, e as relações que eles criaram com os micênicos
obrigatoriamente eram bastante diferentes. Com estudos que vão além de simples
tipologias é possível ver como as duas estruturas sociais diferentes usavam o
mesmo tipo de cultura material estabelecida no topo de um sistema econômico
diferente, como, por exemplo, os sistemas de estocagem familiar presente nos
assentamentos micênicos na Itália, o que não era uma prática micênica.
Os micênicos abordaram a Itália fazendo uso de um ambiente que eles
conheciam muito bem: as ilhas e os arquipélagos da costa tirrênica, do norte da
Sicília (as ilhas eólias: Lipari, Filicudi, Panarea, Salina) ao golfo de Nápoles
(Vivara, Isquia). Sua presença na Itália é datada do final do século XV até o século
XII a.C., e se concentrava em 60 sítios, um quarto dos quais no golfo de Tarento
e na costa sul do Adriático. É curioso observar que embora a maior parte dos
estudiosos veja a busca de metais como a razão para este contato, a zona italiana
metalúrgica por excelência, a região tirrênica central, fornece evidência para
apenas 3 assentamentos, de Luni sul Mignone, San Giovenale e Monte Rovello; e
nem minas sardenhas nem calábrias parecem ter sido exploradas antes da Idade
do Bronze Tardio da Itália, entre os séculos XI e X a.C. Além de datar estas
evidências, a discussão centrou-se no caráter dos assentamentos micênicos, e a
maior parte dos estudiosos concorda que eles eram mais permanentes do que
temporários. Restam dois pontos, porém, em relação a sua distância das zonas
metalíferas e, em consequência, o significado de sua chegada à Itália.
A sugestão de que as elites indígenas encorajaram este contato com
objetivo de obter bens de prestígio é bastante difundida entre arqueólogos de
orientação antropológica, tais como Knapp, Marazzi e Sestieri. Entretanto,
considerando a baixa porcentagem de bens de prestígio de proveniência micênica
e a grande quantidade de vasos feitos localmente a partir de estilo micênico, uma
característica vista normalmente como evidência de residência permanente, eu
sugeriria que o intercâmbio pode também ter tomado a forma de aprendizado de
algumas das técnicas micênicas, tais como a fabricação de metal, por exemplo,
em troca do uso de portos, de modo a monitorar o comércio de diversos artigos
que passavam ao longo desta rota (estanho e cobre, âmbar, sal, couros, madeira
etc), uma situação já detectada na costa da Síria durante a Idade do Bronze Tardia
e também sugerida pelo naufrágio do Cabo Gelidonya, o qual carregava a bordo
utensílios de metal, sucatas de metal e equipamentos de fundição os quais
estavam sendo usados no momento que o navio afundou. Esta possibilidade deve
ser associada à troca de outros bens, tais como óleo, vinhos e perfumes. De
qualquer maneira, a cronologia destes quase 300 anos precisa ser muito refinada
de modo a contribuir para a compreensão dos processos de ocupação dos espaços
envolvidos. Como por vezes ocorre, nós só sabemos que a presença micênica
começa na Sardenha depois de outras regiões na Itália e que há um crescimento
do contato da metade do século XIII até o século XI a.C. A ideia de uma base
terrestre, tão importante para o comércio de longa distância, deveria, novamente,
ser examinada [79] à luz das rotas de comércio para a qual podem ter servido;
também é importante considerar que as paradas insulares no Mediterrâneo não
eram somente portos a serem usados quando a ocasião exigia, mas sim
verdadeiros parceiros comerciais envolvidos nessa rede de comércio. Entre
aqueles que adotaram abordagens teóricas para a pré-história do Mediterrâneo
tem havido mudanças significativas de pensamento: os antigos modelos
econômicos para o estudo do comércio foram sobrepujados por uma ênfase na
coexistência de atividades de troca de presentes e comércio controlado por
palácios por oposição ao comércio visando o lucro, a noção de relacionamento
entre centro(s) e periferia, bem como ideias de troca desigual, “comunidades-
portas” empoleiradas nos extremos de outras culturas e comunidades
diaspóricas, conceitos tais que se provarão vitais para nossa explicação final, e
que têm sido aplicados por arqueólogos eminentes tais como Colin Renfrew, que
utiliza as abordagens de Immanuel Wallerstein em seu estudo sobre as relações
entre centro e periferia na primeira modernidade.
[80]

As ilhas

O papel das ilhas do Mediterrâneo parece ser bastante diferente no cenário


geral da Idade do Bronze. Aqui nós vamos nos concentrar nas ilhas do
Mediterrâneo ocidental, embora seja importante ter em mente que ao longo deste
período a Sardenha abrigou uma civilização extraordinária, a cultura nurágica,
que deixou evidências, na forma de seus castelos ou nuraghi e suas aldeias
circundantes, de uma sociedade militarizada e fragmentada, embora fosse
provavelmente uma civilização rica; deixou registro de suas conquistas na
fabricação de metais em suas figurinhas de bronze que sobreviveram ao período
nurágico, produzidas do século XV ao VI a.C. Entretanto, embora a Sardenha e a
Sicília tenham sido paradas óbvias na rota do Mediterrâneo ocidental, Creta
funcionava como um dos pontos nodais, um tipo de portal no Mediterrâneo
ligando Oriente e Ocidente. Suas características como centro e não como periferia
são indicadas pela própria estrutura de seus palácios, pela natureza de sua cultura
material e seu papel no funcionamento geral da rede do sistema da Idade do
Bronze, como seu pólo ocidental.
As Cíclades e Rodes eram claramente pontes entre Creta e a Anatólia. Uma
das características interessantes das Cíclades neste período e sua intensa
atividade econômica (agricultura, metalurgia, mineração de prata, comércio) que
combinava assentamentos rurais e urbanos. A cidade de Acrotiri em Tera, um
importante porto egeu, é frequentemente chamada de “Pompeia do antigo Egeu”,
graça à sua sobrevivência intacta abaixo de 30 metros de escombros de uma
grande erupção vulcânica por volta de 1400 a.C.; há evidência de uma
impressionante estrutura urbana, com edifícios de múltiplos andares, uma
característica que o Egeu só veria novamente, de modo tão consistente, cerca de
mil anos mais tarde, na ilha de Delos no período helenístico. Chipre, entretanto,
era de uma natureza bastante diferente. Muito próxima do poder do Egito (a 400
km do Delta) e do Hatti (a 70 km da costa da Anatólia) e somente a 95 km do
Levante, Chipre era um canal ligando mundos diferentes durante a Idade do
Bronze Médio e Tardio. Ela aparece como “Alashiya” em documentos
cuneiformes e hieróglifos do Egito. Os nomes próprios [81] dos habitantes de
Chipre que são conhecidos por nós demonstra múltiplas ligações com o Levante,
embora sua população tivesse uma composição multiétnica: egípcios, semitas,
hititas, hurritas etc. O papel de Chipre no sistema de comércio regional do
Mediterrâneo dependia fortemente não somente de sua localização geográfica,
mas também de suas ricas minas de cobre. Embora neutra durante o conflito
Hatti-Egito pela conquista do Levante durante os séculos XIV e XIII a.C., ela de
fato conseguiu evitar o domínio hitita, bem como as tentativas de egípcios e
outros, tais como os governantes de Ugarit, de afirmar soberania sobre a ilha.
Acerca de Rodes e das ilhas do Dodecaneso (“Doze ilhas”), uma pesquisa
arqueológica mais completa ainda é necessária, ainda que do noroeste da ilha já
tenhamos dados impressionantes. O assentamento de Trianda, datada da Idade
do Bronze Médio, apresente muitos elementos culturais troianos, e a cidade na
Idade do Bronze Tardia se estendia por 30 acres, mais do que a metade do
tamanho de Acrotiri em Tera na mesma época. Trianda era um porto muito
importante, não somente para a rota entre a Anatólia e Creta, mas também para
o comércio oriental. As 125 câmaras em estilo micênico encontradas próximas de
Ialysos fornece aos estudiosos uma rica quantidade de dados atribuídos aos anos
1400-1300 a.C. A riqueza do material é tal que alguns estudiosos, vendo ali um
dos principais centros micênicos nas ilhas, associam Trianda à Terra dos
Ahhiyawa, mencionada consistentemente nos textos cuneiformes hititas dos
séculos XV-XIII a.C., um lugar ao qual agora é necessário se voltar.

A “Terra dos Ahhiyawa”

Por cerca de 70 anos estudiosos debateram a ideia de que a “Terra dos


Ahhiyawa” dos textos hititias deveria ser identificada à Acaia, a terra dos Aqueus,
ou, em outras palavras, os primeiros gregos. Em muitos textos hititas que tratam
da Anatólia ocidental, existem referências a pessoas partindo pelo mar para
Ahhiyawa, um problemático reino não submetido ao Hatti e responsável, até onde
os documentos escritos afirmam, por fomentar rebeliões entre os territórios
vassalos ao Hatti na Anatólia ocidental, como veremos em breve. Os reis do Hatti
e os de Ahhiyawa eram ambos “Grandes Reis”, chamando um ao outro de “Meu
Irmão”; e, a partir do fato de que o único outro reino fora da Anatólia ocidental
para o qual há evidência é Micenas, a identificação com os primeiros gregos de
início pareceu promissora. Entretanto, também é possível situal Ahhiyawa na
Tróade, no noroeste da Anatólia, equacionando a “Wilusa” dos textos hititas a
Ílion, nome alternativo de Tróia, que nos tempos pré-clássico deve ter sido
pronunciado como Wilios. Esta sugestão - que associa Ahhiyawa a Tróia - não
recebeu muito apoio por causa da referência consistente, nos textos hititas, de
pessoas deixando Millawatha (Mileto) por mar no caminho de Ahhiyawa. De fato,
estudos linguísticos apontam para a possibilidade de que dentro da palavra
Ahhiyawa existe o termo Akw-a (água), com Ahhiya(k)wa significando ilhas ou
região de ilhas. Portanto, a Ahhiyawa hitita muito provavelmente significou tanto
o Egeu quanto Micenas. Sem diminuir o mérito desta discussão, eu acredito que
vale a pena sugerir que o simples “fugiram para o mar” (ou por barco) de
Millawatha/Mileto não é, em si mesmo, um argumento consistente para localizar
Ahhiyawa fora da Anatólia. Não importa quando estas fugas aconteciam, os
perseguidos estavam fugindo dos exércitos hititas, os quais estvaam,
evidentemente, ocupando as estradas ao longo da costa. Embora não tenhamos
referências a exércitos hititas sendo transportados por navios, uma carta do rei
de Ugarit para o rei de Alashiya, datada do final do século XIII a.C., nos informa
que a frota de Ugarit, bem como sua infantaria e cavalaria, está longe da costa de
Lukka e certamente [82] à disposição dos hititas - sua infantaria muito
provavelmente na maior parte das vezes se movia no continente, e uso do mar
como uma rota de fuga destes exércitos parece fazer sentido.
A Wilusa hitita, entretanto, carrega toda a questão de Tróia e da Guerra de
Tróia. Numerosos estudos, alguns sérios, outros apenas baseados em palpites,
tentaram encontrar a guerra de Tróia “real” e histórica, por trás da Ilíada de
Homero. O arqueólogo americano Carl Blegen dividiu o monte Hissarlik no
noroeste da Anatólia em 9 níveis, identificou Tróia VIIa como a cidade lendária.
A discussão sobre o tema cresceu desde então. A questão central é esta: se os
aqueus/ahhiyawas estão presentes nos registros hititas, onde nos registros está a
guerra de Tróia? Considerando seriamente todos os dados e estudos, o livro de
Michael Wood Em busca da Guerra de Tróia tentou responder esta questão. Um
dos principais documentos a nossa disposição são os chamados Anais de
Tudhaliyas, datados de por volta de 1440-1404 a.C. Neste documento, o Grande
Rei do Hatti, que conquistou Arzawa, no oeste da Anatólia, lista 22 estados
associados com Assuwa contra o Hatti. Acredita-se que estes nomes foram
listados do sul para o norte, começando com Lukka (Lícia), ao longo da Terra do
Rio Seha, até os dois últimos nomes mencionados: Wilusa e Taruisa. Embora a
associação fonética de Wiluyisa e Wilios-Ilios e Taruisa-Truisa-Troja-Troia
pareça possível, alguns poucos estudiosos permanecem reticentes.
Entretanto, na medida em que Homero utiliza os dois nomes, Tróia
(normalmente entendida como a cidade) e Ílion (como o território), parece
consistente pensar que, durante os séculos XIV-XIII a.C., os vestígios que nós
conhecemos como Tróia, no sítio de Hissarlik, estava sob o controle do Império
Hitita, ao ponto de que Wilusa assinou um tratado com o Hatti durante o [83]
tempo de Muwatallis (1296-1272 a.C.), e alguns detalhes deste tratado merecem
atenção. Para começar, o Rei de Wilusa mencionado neste tratado é Alaksandus,
nome bastante raro na Anatólia e que remete manifestadamente ao príncipe
Alexandre de Tróia da Ilíada, mais conhecido como Paris. Outra evidência pode
ser aduzida a esta, a saber, os deuses de Wilusa e do Hatti que são invocados como
testemunhas no final do tratado: Apaliunas é muito provavelmente uma forma
arcaica de Apolo (o cipriota Apeilon, o dórico Apellon), o protetor homérico de
Tróia. Como Wood afirma, Achaiwoi/Akkaiwoi/Ahhiywa,
Alaksandus/Alexandros, Taruisa/Troia, Wilusa/Wilios/Ilios podem todas ser
consideradas pelos cautelosos como meras semelhanças, “mas quatro
semelhanças é acreditar demais em coincidência”.
No que se refere à cronologia dos eventos, Heródoto situa a guerra de Tróia
na metade do século XIII a.C., enquanto que o ano de 1184 a.C. é amplamente
citado, com base nas fontes clássicas, como a data para a queda de Tróia. A Tróia
VIIa de Blegen, considerada pela maioria como a Tróia Homérica, é datada de
1250 a.C., enquanto que as referências para o que pode ser Tróia nos textos hititas
apontam para a Tróia VI de Blegen como a provável cidade-fortaleza da lenda.
Nós devemos estar cientes de que provavelmente, nunca houve uma Tróia do tipo
da descrita na Ilíada de Homero. Muitos estudiosos parecem concordar que a
chamada sociedade homérica descrita em seus poemas carrega elementos de três
períodos distintos: a Idade do Bronze micênica, a Idade Obscura da Grécia e a
Primeira Idade do Ferro. O épico da Guerra de Tróia teria levado séculos para ser
compilado no que foi chamado de “gradual acumulação de tradições”, muitas das
quais foram inspiradas por uma variedade de incidentes históricos, nenhum dos
quais é exatamente descrito. Ainda assim, considerando que a arqueologia do
oeste da Anatólia está ainda em sua infância, deve ainda aparecer novas
evidências para resolver a identificação de Tróia nas fontes hititas. No momento,
o que importa é a evidência clara de que existiram sérias disputas entre
Ahhiiyawas/Aqueus e Hititas sobre a área ocidental da Anatólia. Inclusive, o
tratado de Alaksandus não evitou que os hititas atacassem Wilusa logo depois de
assiná-lo, como é dolorosamente visível na chamada Carta de Manapa-Tarhunta
e na Carta de Tawagalawa, ambas datadas de meados do século XIII a.C.
A Carta de Tawagalawa é particularmente interessante, na medida em que
ela menciona um acordo de paz relacionado a uma disputa prévia sobre Wilusa
entre o Hatti e Ahhiyawa. A Catra de Tawagalawa é usada hoje como principal
documento que atesta a expansão e pressão ahhiyawa-micênica na Ásia ocidental,
na medida em que o irmão do Grande Rei de Ahhiyawa, Tawagalawa (ou
Tawakalawa, que para alguns equivale a Eteowokelewes - Eteocles), incitava a
rebelião entre os vassalos hititas do oeste da Anatólia, ao colaborar com o
renegado hitita Piyramandu. Hattusili III é aparentemente o rei hitita que
escreveu esta carta a um rei de Ahhiyawa não nomeado, pedindo a ele que
enviasse de volta Piyramandu, pois ele fugira com Tawagalawa de Millawatha-
Mileto para Ahhiyawa. O que é certo é o estado de belingerância quase
permanente no oeste da Anatólia, a partir de cerca de 1450-1430 a.C., a data do
chamado Indiciamento de Madduwatta. Este tablete hitita afirma que
Madduwatta, um rei menor no oeste da Anatólia, foi expulso de seu país por
Attarissiyas, “o homem de Ahhiyawa”. Além de ser a mais antiga referência a
Ahhiyawa, nós precisamos considerar este conflito de longa-duração pelo poder
quando tentamos compreender o colapso do sistema da Idade do Bronze. Nós
podemos inclusive parar e contemplar a impressionante semelhança entre o
nome Attarissiyas e o nome do pai de Agamemnon, Atreu. Este estado de coisas
não passou despercebido nem mesmo no Egito, onde houve referência a que “as
ilhas do Grande Verde estavam agitadas”. [84] De fato, as fontes egípcias abrem
um dos mais excepcionais enigmas acerca das civilizações do Mediterrâneo
oriental neste período, o problema dos “Povos do Mar”.

A crise da Idade do Bronze e os Povos do Mar

A vida no Mediterrâneo oriental se caracterizava durante a Idade do


Bronze Inicial e Média pela quase permanente pressão da guerra endêmica.
Terras, recursos e pessoas eram capturadas em uma situação sempre em
movimento de violência e conquista. De guerras menores a vizinhos mais fracos
ou vassalos insubordinados àquelas entre os poderosos reinos (Egito vs. Hatti,
Hatti vs. Mitanni, Egito vs. Mitanni, Hatti vs. Babilônia) nenhum país estava
tranquilo. Um grau de equilíbrio, embora precário, de fato emergiu, e permitiu a
criação destes extraordinários reinos que ainda hoje incitam espanto e admiração
por suas conquistas. Este equilíbrio era mantido por uma séria e profissional rede
diplomática, usando o acadiano como língua franca, que ligava estes países e
produziu a maior parte dos documentos escritos disponíveis hoje para a pesquisa.
E então, (na visão tradicional, repentinamente) todo este mundo entrou em
colapso no século XII a.C., levando a Idade do Bronze do Mediterrâneo oriental
ao fim: isto é o que aprendemos, e ensinamos, por volta dos últimos cem anos,
graças aos mais prestigiosos estudiosos da passagem do século XIX para o XX,
tais como Rougé, Maspero, Petrie e Macalister.
A estes estudiosos nós devemos as primeiras explicações da turbulência
que abalou o Mediterrâneo oriental durante uma crise na história do homem de
tal magnitude que já foi comparada à queda do Império Romano. Seus raciocínios
foram construídos a partir de um misto de registros escritos (especialmente
hititas e egípcios), tradições lendárias gregas (com foco especial para os épicos
homéricos) e material iconográfico (principalmente egípcio). A partir de então,
estudiosos escolheram lados, entusiasticamente defendendo uma ou outra
“causa” para um fim tão abrupto de um período na História. Muitas
possibilidades foram sugeridas, estudadas e debatidas em muitos fóruns de
pesquisa acadêmica: cataclismas, safras fracassadas, seca, fome e migração em
massa. Uma perspectiva importante concerne os Povos do Mar e seu
impressionante poder destrutivo, com sua consequente responsabilidade pelo
fim da alta civilização da Idade do Bronze na região. Tão logo novos documentos
vieram à tona, eles eram imediatamente inseridos nas teorias estabelecidas ou
usados na construção de novas. Entretanto, diferentes traduções, interpretações
e datações, todas entrelaçadas juntas, tornaram este período e um perigoso
campo minado acadêmico.
Os registros escritos, a maior parte em hieróglifos egípcios e em hitita, mas
também em Linear B e acadiano, sem falar na Bíblia, levantaram a questão crucial
da datação, e a igualmente difícil questão dos nomes que diferentes países usam
para indicar os outros países em línguas diferentes. Algumas destas atribuições,
após longas discussões, são agora aceitos como seguros, tais como
Keftiu/Kaftor/Kaphtor (Creta), Katti/Kitti/Ketta (Hatti ou Khatti), Peleset
(filisteus), Lukki/Lukka (Lícia), Millawatha/Millawantha (Mileto),
Alasiya/Alashiya (Chipre ou, ao menos, sua principal cidade), enquanto outros
são ainda bastante contestados, tais como Ahhiyawa/Akkaywoi (Aqueus), ou
pesadamente debatidos, como Danuna/Danaans (Dânaos),
Teresh/Tursha/Tyrsenoi/Tyrrheneans (Tirrenos/Etruscos), Taruisa/Truisa
(Tróia), Shekelesh/Shekels/Siculi (Sicilianos), Sherden/Shardana (Sardenhos),
para mencionando apenas alguns. Este não é o lugar para examinarmos a
substancial historiografia sobre os Povos do Mar desde que Rougé começou a usar
o termo em [85] 1867, nem retraçarmos a discussão sobre cada um destes Povos
do Mar, sua origem e seu destino final. Basta mencionar que a conexão entre os
Sherden e a Sardenha, os Shekels aos sículos da Sicília e os Teresh aos etruscos
recua até o início da pesquisa sobre o tema, e ainda não há conclusão para o
debate. Semelhanças nas descrições de ataques marítimos nos poemas
homéricos e nas fontes egípcias foram explicadas como coincidência ou como
evidência direta da natureza destes ataques. Novas evidências podem ser
esperadas dos testes de DNA, da linguística e de outros instrumentos de pesquisa
mais novos. No momento, entretanto, ainda estamos limitados a fazer o melhor
que podemos com os documentos conhecidos e os novos dados arqueológicos que
crescem ano após ano, especialmente vindos de pesquisas em Israel, Síria e
Turquia.
Entretanto, existem alguns problemas a serem esclarecidos de início, o
primeiro sendo a própria definição de “Povos do Mar” e sua chegada a partir de
“ilhas” no Grande Verde. Alguns autores apontam a impropriedade destes
termos, tentando ver no “Grande Verde” não como um mar, mas como as terras
pantanosas na próxima Punt, ou sugerindo que “ilhas” foi uma má tradução,
desde que os egípcios, não tendo ilhas, também não teriam palavras para elas.
Mas estas objeções podem ser dispensadas com segurança. “Grande Verde”
significava o Mediterrâneo e os egípcios certamente ouviram falar de ilhas (em
particular Keftiu/Crete). No presente, a mais antiga referência escrita que nós
temos para estes guerreiros do mar - como mercenários com os egípcios em
Biblos e atacando áreas no Mediterrâneo oriental - estão nas cartas cuneiformes
de Amarna, datadas do século XIV a.C. Também existe uma estela celebrando a
vitória do faraó Seti I sobre saqueadores vindos das terras a leste do Jordão em
1300 a.C. Esta situação não era nova para o Egito: saqueadores asiáticos ou talvez
simples pastores sedentos eram conhecidos no e ao redor do Delta a partir da 6a.
dinastia. Os chamados “hapiru” (uma palavra que alguns associam aos “hebreus”,
embora tenha um significa mais amplo) e os “hubshu”, exilados sem terras, eram
uma preocupação para o Egito, enquanto que mercenários, chamados
“mariannu”, tais como os Sherden/Shardana eram normalmente usados no
exército egípcio.
Do Egito nós temos três conjuntos importantes de documentos: (a)
inscrições e representações pictóricas da batalha de Kadesh (1274 a.C.),
especialmente do templo de Abu Simbel; (b) relatos dos ataques do líbios e seus
aliados aos Egito durante o reino de Merneptah (1236-1223 a.C.): a grande
Inscrição de Karnak, a Estela Athribis, a Coluna do Cairo, o Hino da Vitória; (c)
os relatos do ataque ao Egito por uma coalizão de povos durante o reinado de
Ramsés III(1198-1166 a.C.): o Papiro Harris e os relevos do templo tebano de
Medinet Habu. Destas fontes muitos estudiosos derivam seu conhecimento dos
“povos do mar”, a despeito da referência à presença de “nortistas vindos de todos
os países” (Hino da Vitória) viajando com carros, tendas, esposas e crianças,
gado, cerâmica etc. De acordo com a inscrição de Karnak, eles eram os Ekwesh,
Shekelesh, Teresh/Tursha, Meshwesh, Lukka e Sherden/Shardana, todos sob a
liderança do chefe líbio Meryey, filho de Ded. Eles foram repelidos e Meryey foi
morto em combate. Enquanto os relevos de Medinet Habu retratam a vitória de
Ramsés III sobre os Peleset, Shekelesh, Weshesh, Denyen e Sikala, o Papiro
Harris inclui os Sherden/Shardana à lista e afirma que eles chegaram por terra,
do norte, e pelo mar. A inscrição de Medinet Habu é a referência clássica a eles:
[87]
Os países estrangeiros fizeram uma conspiração nas suas ilhas. As terras
foram removidas e espalhadas no combate, de uma só vez. Nenhum país
poderia resistir às suas armas, desde o Hatti, Kode (Kizzuwatna), Carchemish,
Yereth (Arzawa) e Yeres (Alashiya). Eles foram cortados. Um acampamento foi
montado em Amor (Amurru). Eles desolaram seu povo e sua terra estava como
aquilo que nunca havia ocorrido. Eles estava vindo enquanto as chamas eram
preparadas antes deles, em direção ao Egito. Sua conferação eram os Peleset,
Tjeker, Shekelesh, Denyen e Weshesh, terras unidas. Eles lançaram suas mãos
sobre terra de todo o circuito da terra.
[88]
Estas fontes egípcias, além de ajudar-nos a compreender a ideologia e a
propaganda faraônica, apresenta-nos interessantes questões que estão
finalmente levando a uma compreensão do período conhecido como “a crise do
final da Idade do Bronze”. Primeiro de tudo, os Lukka, que são mencionados nas
Cartas de Amarna atacando o Egito e sitiando aldeias em Chipre, ficaram do lado
dos hititas contra o Egito na Batalha de Qadesh, e não aparecem com aqueles
povos que atacaram o Egito sob Merneptah e Ramsés III. Os Sherden, pelo
contrário, que lutaram com Ramsés II em Qadesh, atacaram o Egito sob
Merneptah e Ramsés III, o que sugere que, ao menos durante estes 200 anos, não
existiam alianças claramente desenhadas e de longa duração. Os relevos da
Batalha de Qadesh e os relevos de Medinet Habu apresentam uma rica variedade
de características individuais dos Povos do Mar, incluindo estilos de cabelo e
armamento; [89] estudiosos foram capazes de realizar palpites perspicazes sobre
suas afiliações étnicas. Tomando estes dados em consideração, como é possível
reconciliar lendas de ferozes invasores do mar com a referência a agricultores
desenraizados suas famílias e rebanhos?
Os Arquivos de Ugarit enfatizam o mar, mencionando os “Sikala/S-K-
L/Shekels que amam o mar”, e o pedido final de ajuda da cidade para o rei de
Alashiya, diante de “7 barcos inimigos se aproximando”. A visão tradicional dos
movimentos dos Povos do Mar como sendo uma consequência da destruição dos
palácios micênicos do final do século XIII a.C., é ainda amplamente aceita. Eles
povos errantes, belicosos e à procura de terras para saquear ou se assentar, são
ainda considerados por muitos como reminiscentes do estado de coisas posterior
à Guerra de Tróia, nas fontes literárias. Entretanto, fica claro que os Povos do Mar
foram um elemento muito importante da ruptura do sistema da Idade do Bronze
no Mediterrâneo oriental e foram ainda mais importantes no estabelecimento de
uma nova ordem política e econômica que deu origem ao mundo clássico. As
razões naturais para o colapso que por muitos é simplesmente chamado de
“catástrofe” tem sido exaustivamente discutidas e, atualmente, somente a seca
e consequente crise nas colheitas e fome são ainda vistas como fatores
importantes para a queda do Império Hitita, mesmo que isso mal explique
colapso total de um sistema econômico que ligava estados tão poderosos uns aos
outros.
É interessante notar que os estudiosos estão finalmente reconsiderando o
modo no qual a história do período foi escrita, antes de abordar a maneira na qual
ela aconteceu. Esta reconsideração segue duas linhas paralelas. A primeira
simplesmente foca na validade histórica das fontes egípcias, e a segunda discute
os modos pelos quais estas fontes foram usadas na historiografia moderna.
Embora ainda tomadas como principal referência por muitos, a validade
das fontes egípcias como narrativas verídicas em relação aos Povos do Mar tem
sido fortemente contestada, com base na ideia de que Ramsés III visava emular
seu famoso homônimo ao reivindicar glórias similares. Estudos recentes alertam
para o perigo de usar fontes iconográficas egípcias como documentos
“históricos”, desde a fabricação física dos relevos e seu uso nas inscrições da
sociedade egípcia durante a invasão napoleônica do Egito em 1798 (sic), e seu uso
por de Rougé na criação imaginativa da identidade do que ele chamou de “os
povos do Mar Mediterrâneo”, vagamente vistos como dânaos, aqueus, sardenhos,
etruscos, lícios, sicilianos etc, engajados na busca pela Terra Prometida como
uma contínua onda de povos conquistadores, foi posteriormente substanciada
pelas descobertas arqueológicas de Flinders Petrie e outros. O que é
particularmente impressionante é o uso persistente destes modelos explicativos
datados e o fato de que, mais de um século depois, sua substituição por novas
explicações ainda está na sua infância. Inclusive, durante aproximadamente os
últimos dez anos, nós vimos a retomada extraordinária de uma das interpretações
vitorianas dos Povos do Mar, aquela de seu papel criativo e “civilizatório”,
sugerido pelo escavador de Gezer que viu os filisteus (identificados por ele ao
Povo do Mar “Peleset”) como “a única raça culta ou artística que ocupou o solo da
Palestina”.
Baseados em pesquisas arqueológicas em Chipre e Israel, estudiosos
excepcionais tais como Raban, Mazar, Stager, Moshe e Trude Dothan,
“reabilitaram” os Povos do Mar, movendo-os de seu papel como saqueadores
nômades para o de construtores de cidades, de “causa” do colapso do sistema da
Idade do Bronze para o estímulo e força revitalizadora em um mundo em colapso.
O papel construtivo dos Povos do Mar no Levante e sua contribuição para a
civilização é fortemente baseada na crença de que a arquitetura ashlar [90]
(usando pedras aparadas quadrangulares) e artigos Micênicos das fases IIIb e IIIc
foram levados para Canaã, via Chipre, por Povos do Mar originados do mar Egeu:
os P-L-S, ou Peleset, ou filisteus. Tal hipótese é reforçada pela equação com os
filisteus mencionados na Bíblia, entre os quais pode-se encontrar traços
observáveis de cultura material egéia. A tradição bíblia registra, também, que
Deus trouxe os filisteus de Caphtor (Creta) assim como Ele trouxe os israelitas ao
Egito. No mínimo, nós podemos ver aqui uma impressionante evidência para a
disrupção causada pelas invasões dos Povos do Mar.

O colapso do sistema da Idade do Bronze como uma reação em


cadeia mediterrânica

Existe ao menos uma coisa sobre a qual os estudiosos modernos


concordam: o sistema econômico e social da Idade do Bronze, baseado no
controle estatal, entrelaçando os grandes e pequenos estados do Mediterrâneo
oriental, colapsou e foi substituído, quase imediatamente, por uma nova ordem
social, com o estado recuando em face de uma economia muito mais aberta e
empreendedora. A maioria dos estudiosos vê o colapso como resultado de um
grande número de circunstâncias – o desmantelamento das civilizações
palacianas, ou desastres naturais, ou as invasões dos Povos do Mar, ou mudanças
na arte da guerra, ou uma combinação de muitas circunstâncias acima.
Entretanto, se interpretarmos estas “razões” como, pelo contrário, o produto do
colapso, as questões devem ser formuladas de modo diferente, e começaremos a
obter outras e muito surpreendentes conjuntos de respostas. Alguns destes
conjuntos procuram explicar o colapso como resultado de fatores internos a estas
sociedades, mas aqui nós buscaremos modelos explicativos que vão além dos
eventos e que nos ajudem a descrever a estrutura geral na qual eles estavam
inseridos. Assim sendo, com base em um espírito crítico à ideia de que o colapso
do sistema da Idade do Bronze somente ocorreu devido às suas fraquezas
internas, nós tentaremos sugerir onde estas fraquezas residiam e como elas
contribuíram para o resultado final.
Em 1977, Pereira de Castro tomou a ruptura dos estados suseranos, há
muito tempo responsáveis pelo fluxo do comércio de longa distância controlado
pelo estado, como o fator principal do desmantelamento do sistema da Idade do
Bronze. Tal ruptura demorou algum tempo para se desenvolver, tendo como um
de seus gatilhos a crescente independência das culturas Urnfield no interior da
Europa, que passaram de uma estrutura econômica e social de venda de minérios
para uma de produção de metais. O primeiro centro a ser afetado teria sido o
Egeu, que precisou começar a importar cobre e estanho dos países do Oriente
Próximo de modo a dar conta de sua própria produção de metais. O naufrágio do
Cabo Gelidonya, partindo para o Egeu com um carregamento completo de
estanho e cobre do Levante, ajudaram Pereira de Castro a elaborar esta hipótese.
Neste esquema, os estados vassalos da Anatólia ocidental tornaram-se rebeldes e
começaram a romper a submissão ao Hatti, apoiados por Ahhiyawa. A ruptura
das dependências econômicas teria sido ampliada depois, com a disponibilidade
do ferro, a qual teria tornado obsoleto a rede comercial de longa distância que
carregava estanho e cobre. Childe acreditava na “democracia” da tecnologia do
ferro, disseminando-se rápido e dispensando a organização palaciana necessária
para o comércio da Idade do Bronze. Alguns discordaram dele insistindo que a
tecnologia do ferro começou depois do colapso do sistema da Idade do Bronze.
Mas além do fato que a ideia de um monopólio hitita da tecnologia do ferro há
muito provou-se infundada e de que objetos de ferro podiam ser encontrados no
Mediterrâneo oriental já a partir dos séculos XIV e XIII a.C., nós agora temos
importantes dados que estabelecem Chipre como um dos principais centros para
a produção de ferro no período a presença de ferro fundido em sítios dos Balcãs
datados do século XV a.C.
[91,92] Os dados arqueológicos recentes de Chipre deram suporte para
uma muito interessante explicação de Sheratt para o fim do sistema da Idade do
Bronze: Chipre abrigou comunidades que produziam bronze a partir de sucata,
ferro utilitário e cerâmica que era negociada abaixo no nível do comércio da elite
ou do comércio controlado pelo estado, deste modo funcionando como um fator
subversivo desequilibrando a rede econômica dos grandes impérios e ajudando a
leva-los ao colapso final. Operando esta rede econômica subterrânea e subversiva
estavam ninguém mais que os chamados Povos do Mar, baseados em chipre, uma
ilha, até onde sabemos, sem nenhuma estrutura palaciana. Tal explicação por ser
elegantemente amparada por uma das Cartas de Amarna, exatamente aquela em
que o faraó reclamava ao rei de Alashiya acerca dos Lukka e dos Alashiyanos
atacarem o Egito em conjunto. A isto o rei de Alashiya respondia que não era
verdade, pois os Lukka estavam tomando uma cidade alashiyana depois da outra
durante os anos anteriores.
Entretanto, embora Pereira de Castro e Sheratt concordem, como o faz a
maioria dos estudiosos, com a teoria de que os Povos do Mar vieram de algum
lugar da Anatólia ocidental, eles não explicam porque estes povos começaram a
se mover. Eu gostaria desse modo de sugerir um olhar mais específico na história
do Hatti. É bastante claro que o Império Hitita não poderia extrair riquezas de
sua frágil agricultura e do pastoreio. Sua riqueza vinha do comércio - em grande
parte como intermediário - e de um incessante processo de conquista: novas
terras, novos súditos, novo tributo, uma nova força de trabalho, e novos
guerreiros [93] para reforçar a rede cultural de expropriação existente. Os Feitos
Reais, ou memórias, dos principais Grandes Reis hititas (algumas vezes escritos
por parte de seu herdeiro) orgulhosamente descrevem tais conquistas, a violenta
submissão de terras inimigas ou territórios rebeldes agitados por destruição,
pilhagem, incêndio e escravização de homens, mulheres e crianças.
Que seres humanos eram uma mercadoria prestigiosa durante a Idade do
Bronze é atestado nos tabletes de Pilos (com sua longa lista de escravas das mais
diversas origens mediterrânicas), nos documentos administrativos hititas
atribuindo o trabalho nos moinhos a prisioneiros escravizados (cegados
especialmente para a tarefa) e as descrições homéricas de ataques cujo principal
objetivo era a captura de nativos, como Odisseu fez no Delta do Egito. Entretanto,
o que deve ser particularmente enfatizado é a atenção obsessiva aos prisioneiros,
fugitivos, deportados e desertores observada em todos os tratados hititas. Eu
gostaria de sugerir que a própria construção do Império Hitita produziu, ao longo
de 400 anos de guerra endêmica e conquista implacável, uma massa de pessoas
desenraizadas, párias desterrados que conseguiram escapar do jugo,
provavelmente “vivendo em navios”, como o tablete de Ugarit nos informa a
respeito dos Shekels/Shikala, que estabeleceram bases em áreas desertas de
Chipre, fora do alcance das estruturas palacianas (os quais, de qualquer modo,
não são conhecidos em Chipre), de onde eles produziram seus produtos e
negociavam fora da rede oficinal, afrouxando laços de vassalagem e
reciprocidade, subvertendo e finalmente ajudando a desequilibrar e destruir o
sistema antigo.
Se observarmos este período a partir desta nova perspectiva, podemos
entender o padrão diferente de destruição e abandono (o Egeu, a maior parte do
Hatti, partes da costa Síria, o reino de Ugarit), destruição e reconstrução (partes
da costa do Levante, partes de Chipre) e terras intocadas (artes de Chipre, da
costa Síria e do sul da Anatólia) como o possível resultado do persistente
ressentimento ou laços de amizade dos Povos do Mar com estas regiões, conforme
o caso. O simples fato de que Chipre não representa um nível uniforme de
destruição e que a Mesopotâmia passou incólume pela catástrofe parece
fortalecer esta interpretação. De fato, a Mesopotâmia não tinha minérios de ferro
e continuava a depender do comércio de longa distância para obtê-lo. Podemos,
desse modo, olhar para Chipre e para a costa do Levante de modo a entender a
abertura de uma nova era do ferro, o domínio de mercadores livres baseados em
cidades-estados como Tiro Bíblos e Sídon, mas também espalhados em pequenas
aldeias e assentamentos rurais. Estes homens falavam ugarita, moabita, hebraico,
aramaico e outros dialetos semíticos, e desenvolveram a escrita que é a ancestral
do alfabeto moderno. Graças a Heródoto eles entraram para a história como os
fenícios, mas eles chamavam a si mesmos de Cana’ani, cananeus. A tradição
acadêmica ocidental estava habituada a olhar para a história por trás dos poemas
épicos homéricos e falhou em vê-los como parte de um repertório que pertenceu
a uma cultura mediterrânica oriental mais ampla. De fato, não apenas Helena
mas também Sarah e Hurray foram abduzidas para os palácios do Rei Pbl’s em
Udume para os palácios do Faraó e da Gerar filistina (Gênesis 12.15, 20.2). As três
foram recuperadas pelos seus maridos: rei Menelau, rei Abraão e rei Kret.
Não cessamos de nos surpreender o quão pequena era a bacia do
Mediterrâneo. Uma das principais figuras do panteão grego clássico era associada
à deusa oriental Ishtar/Ashatarte/Ashdoda: asaber, a deusa Afrodite, ligada à
fertilidade, protetora dos marinheiros e pescadores, nascida de uma concha, em
Chipre, e casa com Hefesto, deus da metalurgia: a multifacetada Deusa
Mediterrânica Oriental, o espírito do Mediterrâneo.
[94] O fluxo de impérios, as viagens dos primeiros mercadores
aventureiros, a difusão da cultura egípcia e de outras culturas orientais ao longo
do Mediterrâneo oriental e, eventualmente, ocidental - estes foram os grandes
temas que espantaram observadores desde que Heródoto e Tucídides começaram
a escrever suas histórias, e que são também amplamente refletidas no registro
arqueológico. Elas foram registradas, em uma extensiva sobreposição de mito e
fantasia, nas obras de Homero: o império micênico em seus últimos dias,
desperdiçando sua energia no saque de Tróia; as andanças de Odisseu em seu
navio pelo Mediterrâneo; enquanto outros ciclos míticos contam as aventuras de
Jasão no Mar Negro. Tradições tanto etruscas quanto romanas registram
migrações a partir do Oriente; a viagem do troiano Enéias, para o Lácio via
Cartago, parece ter sido também apreciada pelos etruscos, enquanto Heródoto
menciona como um príncipe lídio, Tirseno, liderou metade de seu povo em uma
grande migração para fugir das terras assoladas pela fome, até fundar as cidades
tirrênicas da Etrúria. Ainda que os estudiosos há muito duvidem que todos ou
algum etrusco tenham sido migrantes do Oriente, o que é importante aqui é a
poderosa consciência que a Idade do Bronze chegou ao fim com um movimento
populacional de larga escala. Centros de cultura avançada como a civilização
nurágica na Sardenha entraram em declínio; Creta, há tempos a casa de força da
civilização minóica e depois da primeira civilização grega, a dos micênicos, entrou
em declínio, seja devido às erupções vulcânicas do Egeu ou a crises econômicas e
políticas internas e externas. O final do II milênio foi registrado em textos
egípcios como a era dos Povos do Mar, cujos nomes estranhamente remetem aos
nomes de territórios e povos no Mediterrâneo posterior: os Shardana, que alguns
conectaram à Sardenha, os Tursha, que podem ser conectados aos habitantes
tirrenos do Egeu (que serão novamente tratados no próximo capítulo), os
Peleshet, cujo nome remete aos filisteus e aos “pelasgos”, um termo usado pelos
escritores gregos do período clássico como um termo guarda-chuva para
descrever os antigos povos nã-gregos na região do Egeu. Existiram certamente
povos não-gregos no Egeu no período clássico, como uma famosa inscrição do
século VI a.C. em Lemnos, em uma língua relacionada à língua etrusca, mas
aparentemente [97] diferente dela, revela: a única evidência de que a língua
etrusca tinha parentes entre as línguas do Mediterrâneo antigo. De fato, não
devemos nos surpreender ao descobrir que o Mediterrãneo continha uma
multidão de ramos étnicos e linguísticos, produto de séculos de migração, guerra,
reassentamento e peregrinação a santuários religiosos. Ainda era assim que se
apresentava nas épocas medieval e moderna; homogeneidade étnica e linguística
chegou tarde, se foi mesmo hoje alcançada.
Uma migração gerou pouco impacto nos escritores de inscrições oficiais
no Egito e nas terras vizinhas, mas estava destinada a ter um impacto muito maior
na civilização do Mediterrâneo e do mundo todo do que o movimento atribuído
aos filisteus, tirrênios e outros: a chegada dos israelistas à terra de Canaã. A
pesquisa recente tende a tratar as histórias da Bíblia mais como literatura do que
como história, e o registro arqueológico não é capaz de demonstrar exatamente
onde Abraão, Moisés e os heróis bíblicos andaram. Por volta da Idade do Ferro,
entretanto, os habitantes semitas das terras altas de Canaã de fato identificavam
a si mesmos às 12 tribos que escaparam da escravidão na terra do Egito, com
ajuda do único Deus verdadeiro que foi o criador do universo. Novamente, existe
muito debate acerca de quando os israelitas começaram a pensar que este Deus
específico era o único Deus no universo, embora lendas antigas de Elijah e outros
profetas eram certamente contundentes acerca de falsos deuses, de um modo que
dificilmente sugere qualquer crença de que eles existiam. O debate também é
levantado acerca de quão verdadeiramente importante eram os reinos
estabelecidos por estas tribos: os textos bíblicos sem dúvida exageram o tamanho
do reino de Davi, para o relato do conflito cotidiano entre israelitas que
empunhavam bronze e invasores filisteus que empunhavam ferro, enquanto
egípcios, assírios e outros grandes impérios tentaram estabelecer domínio sobre
a região, são suficientemente reais. Assim como são os relatos de diversos centros
de culto, tal como o de Shiloh, e das tentativas de centralizar o culto de Deus no
novo santuário de Jerusalém por volta de 1000 a.C. Isto foi acompanhado pela
emergência de uma elite letrada, que adaptou o alfabeto fenício; por volta da
época do exílio babilônico em 586 a.C. o profeta Jeremias e o escriba Baruque
eram ativos na compilação e agrupamento de tradições e leis dos hebreus.
Embora a tradição religiosa atribua os primeiros cinco livros da Bíblia a Moisés,
que teria os recebido de Deus, uma esmagadora tendência da pesquisa moderna,
tanto judaica quanto cristã, tem sido vê-los como compilações tardias, reunidas
a partir de uma variedade de tradições sacerdotais, e finalmente editada pelo
escriba Ezra no final do século VI a.C. quando os judeus (como eles seriam então
chamados) retornaram a sua terra após uma breve mas dolorosa estadia nas
águas da Babilônia. A terra que os israelitas habitavam oferecia meios de
subsistência para cultivadores de trigo e cevada e para pastores de ovelhas e
cabras; seus vestígios materiais, exceto por ocasionais itens de luxo que devem
ter agraciado uma corte principesca, sugerem que esta era uma terra onde a vida
era vivida de modo simples. O que era produzido eram ideias religiosos e sociais,
não artefatos de luxo. Embora alguns dos temas morais presentes na literatura
hebraica antiga tenha pontos em comum com as culturas vizinhas (foram feitas
comparações entre o Código de Hamurabi da Babilônia e os códigos legais do
Pentateuco), a dupla ênfase no serviço para um Deus e nas ordens de Deus para
a vivência de uma vida ética não tinham precedentes.
Assim, jogada entre Egito, Assíria e Babilônia, a religião hebraica e
inclusive o povo judeu foram forjados no cadinho do Mediterrâneo oriental.
Embora os hebreus procurassem rejeitar o Egito faraônico e as tentações da
Babilônia, suas experiências no Egito e na Mesopotâmia estão na raiz das
experiências que os levaram a ver ação da mão de Deus na história.

Leitura complementar

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