O Profissional para Lidar Com As Perdas e Elaboração Do Luto 1 P 1
O Profissional para Lidar Com As Perdas e Elaboração Do Luto 1 P 1
O Profissional para Lidar Com As Perdas e Elaboração Do Luto 1 P 1
ELABORAÇÃO DO LUTO
1
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 3
CONSIDERAÇÕES IMPORTANTES........................................................................ 17
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 18
1
NOSSA HISTÓRIA
2
Luto e perdas repentinas: contribuições da Terapia Cognitivo-Comportamental (
Adaptado)
INTRODUÇÃO
3
A partir disso, houve um período em que aconteceram mudanças na atitude diante
da morte, focando-se no dia derradeiro de cada um. A finitude era altamente ligada às
religiões, suas causas eram atribuídas à vontade do ser divino, superior. Frente a isso, a
entrada ao paraíso era julgada de acordo com as ações realizadas, a fé e a devoção. Na
assombração por essa avaliação sobressaltavam-se a culpa e o medo, fazendo com que
iniciassem o processo na busca de salvação no além. Nesse sentido, Giacóia (2005) refere
que boa parte dos judeus e dos cristãos acreditam na ressurreição, na passagem para o
inferno ou paraíso, dependendo dos pecados cometidos na Terra.
Ariès (1990) enfatiza outro aspecto importante na antiguidade: a percepção da
morte como certo romantismo. A tendência filosófica do romantismo, as poesias, a
música, contribuiu a desvendar o misterioso, o irracional, o imaginário. Libertou a
fantasia, as emoções e possibilitou o encontro com as lembranças do passado, diminuindo
o silêncio implícito.
O mesmo autor salienta que, com o avanço da ciência e o crescimento da
industrialização, é percebido também o inconformismo diante da morte de si mesmo e do
outro, uma vez que a prosperidade do coletivo está ameaçada. Porém, essas mudanças
socioculturais vão mais além, provocam o afastamento da morte no cotidiano. Aos
enfermos é omitida a morte iminente, e perante a sociedade a morte é camuflada, pois é
vista como tabu-objeto de interdição. A incapacidade de impedi-la caracterizava-se pelo
silêncio. Este, por sua vez, fora imposto pela sociedade, tornando a expressão da morte
interdita - os sentimentos, gestos, palavras e atitudes quase inaudíveis.
Posteriormente a isso, diante das descobertas da ciência, ocorre uma ruptura entre
a morte e a religião. A ideia de que a morte era uma punição de um ser supremo, é
desmascarada no momento em que a ciência revela as causas pelas doenças, causando
assim, um abalo nos credos religiosos (Ariès, 1990).
Sobretudo, é no século XX que os avanços tecnológicos e os estudos da medicina
aumentam a capacidade humana para adiar a morte, e por isso o sofrimento torna-se
vergonhoso. Ariès (1990) enfatiza que a sociedade impossibilita a expressão da dor por
morte, então ela passa a ser reprimida, escondida, solitária. Assim, contribui para o
aumento do desconforto das repercussões da perda, pois, perante a sociedade, a morte, o
feio e o diferente não têm mais espaço (Rabelo, 2006).
Como visto, no passado, observa-se que houve (e ainda há) muitas formas de
perceber a morte. Nesse sentido, cabe expor que cada cultura abrange inúmeras
representações do significado da morte. Hoje a morte é vista como um tabu, cercada por
4
mistérios, crenças, e, independentemente de suas causas ou formas, ocorrem frequentes
negações sobre esse tema obscuro e encoberto, um assunto do qual não podemos fugir,
pois mais cedo ou mais tarde vamos nos deparar com isso em nossas vidas (Combinato
& Queiroz, 2006). No entanto, geralmente as pessoas não estão preparadas para lidar com
a finitude humana, o que torna mais difícil e delicada a aceitação do encerramento do
ciclo da vida (Barbosa, 2006).
Além do mais, não se pode deixar de esclarecer que o significado de morte varia
em diferentes civilizações, em diferentes culturas, religiões, credos e, principalmente, no
tipo de morte. Cada uma delas possui valores e características sobre o conceito da finitude
humana, acabando por refletir nos rituais da morte e do morrer, que são itens bastante
relativos diante da diversidade, tornando-se características peculiares dos povos.
Este mistério que é a morte gera medo, medo do desconhecido talvez, que pode
acarretar em muitas dores físicas, emocionais e psicológicas. A morte é um fenômeno que
pode desencadear ou gerar uma sensação de fragilidade, não só para quem está morrendo,
mas também para os familiares, amigos, etc. É um momento difícil de ser enfrentado. O
rompimento do vínculo afetivo existente, o nível de aceitação, o tipo de morte - repentina
ou não, são determinantes essenciais na elaboração dessa perda (Lisboa & Crepaldi,
2003).
Dentre esses determinantes, cabe destacar a forma com que a morte ocorre, pois
acredita-se que estas influenciam diretamente no enlutado, seja na intensidade, seja na
duração dos sintomas. A respeito disso, Moura (2006) afirma que, quando ocorre uma
perda devido a alguma doença degenerativa, ou uma morte natural e esperada, as pessoas
possuem um tempo maior para se prepararem e até se conformam mais rapidamente com
a partida do ente querido. O luto antecipatório é bastante encontrado nesses casos, pois
as pessoas passam a ter sintomas de raiva, depressão, ajustes de papéis familiares e, de
acordo com alguns estudiosos, são facilitadores da vivência do luto. Já, com perdas
súbitas, o processo de elaboração do luto se torna mais complexo, pois tem o elemento
surpresa, sem sinais, sem indício algum. Essas mortes são, por exemplo, devido a um
AVC (Acidente Vascular Cerebral), a acidentes automobilísticos, a suicídio, etc. As
pessoas próximas ficam tentando encontrar os porquês, os detalhes das mortes (como foi,
onde foi). Elas precisam achar um entendimento racional de como aconteceu, isso lhes é
fundamental para aliviar a dor, ansiedade e confusão do enlutado (Moura, 2006).
Nessa perspectiva, Parkes (1998) relata que as pessoas que haviam perdido um
ente querido, repentinamente, choravam mais, sentiam-se entorpecidos e tinham mais
5
saudades que as outras pessoas. Ainda, foi percebido que a perda súbita dos filhos, em
acidentes automobilísticos, proporcionou nos pais mais raiva, depressão, culpa e, por
consequência, mais problemas com a saúde, além de lembranças dolorosas da pessoa que
morreu, do que em filhos que vieram a falecer por alguma doença da qual os pais tinham
conhecimento. Com isso, fica claro que morte repentina, inesperada e precoce é preditora
considerada complicadora para elaboração do luto normal; pode gerar problemas
psicológicos como a depressão e a ansiedade (Parkes, 1998).
Nessa ótica, releva destacar que todos os tipos de perdas acabam afetando as
pessoas que raramente saem ilesas desse pesar. O grau de parestesco, o gênero, o tipo de
morte, os vínculos e os recursos internos disponíveis são itens que possibilitam ou não a
elaboração do luto normal. Parkes (1998) aponta que o luto normal é uma resposta
saudável a um fator estressante que é a perda significativa de um ente querido. Quando
refere-se a uma resposta saudável, implica na capacidade de expressar a dor. Seja
reconhecendo, reajustando e investindo em novos vínculos.
Entretanto, quando esses recursos são escassos, pode levar ao processo de luto
complicado. O luto complicado é manifestado por sintomas físicos e mentais que
fortemente propiciam a negação e a repressão da dor pela perda. Encontram-se incapazes,
pressionados pela sociedade a se controlar, não manifestar suas tristezas, e, por
consequência, se sentem solitários, frágeis e depressivos (Parkes, 1998).
Nesse sentido, muitos enlutados não conseguem restituir a perda. Não receberam
apoio suficiente capaz de amenizar o sofrimento, ou não se encontraram encorajados a
solicitar algum tipo de auxílio (Crepaldi & Lisboa, 2003). No entanto, algumas delas
acabam por buscar ajuda, nos consultórios médicos e psicológicos, com intuito de findar
com a dor e a reorganização de suas vidas.
Devido a essas questões, destaca-se o objetivo deste artigo: realizar uma revisão
teórica acerca de com o que a Psicoterapia Cognitivo-Comportamental tem a contribuir,
de como trabalhar nos consultórios a elaboração da perda repentina de um ente querido e
apresentar possíveis contribuições a esses pacientes enlutados.
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
6
desses erros de pensamento, acaba-se proporcionando sofrimentos emocionais, físicos e
psicológicos e, de acordo com os autores Dattilio e Freeman (2004), dentre os eventos
ameaçadores e críticos, situações de crise e situações da perda de um ente querido podem
ser situações ativadoras dessas crenças disfuncionais.
De acordo com o exposto, as crenças a respeito da perda de um ente querido, serão
ativadas e processadas pelo entendimento que o indivíduo tem em relação à morte, ou
seja, a reação dependerá do estilo de enfrentamento e dos padrões anteriormente
aprendidos e internalizados, interferindo e refletindo, principalmente, na alteração
emocional e comportamental, devido aos erros do pensamento (Remor, 1999).
No estudo realizado por Bretâs, Oliveira e Yamaguti (2006) com estudantes de
enfermagem, desvenda-se crenças sobre a morte; na maior parte delas, revelou-se a
aceitação da morte e do processo de morrer. Em outra pesquisa realizada, as autoras
encontraram falas que representam o sofrimento, a angústia, a raiva, principalmente
quando a morte se deu devido a um acidente automobilístico, além de crenças da
continuação da vida após a morte, acometidos pela perda do ente querido (Basso & Marin,
2010). Estas são algumas falas que podem ser encontradas em estudos, as quais nos
revelam algumas crenças sobre a morte para os participantes das pesquisas, para alguns,
trazendo certo conforto e alívio ao acreditarem e se apegarem aos credos e princípios de
cada religião, buscando subsídios e influenciando na maneira de pensar e aceitar a morte
(Gutierres & Ciampone, 2007).
Concomitantemente a isso, numa pesquisa realizada por Lückemeyer (2008), com
uma mãe que perdeu seu filho num acidente automobilístico, pôde-se verificar
sentimentos de fracasso, de incapacidade, por não conseguir prevenir a morte do filho.
Além disso, sentimentos de culpa, imensa ansiedade e apatia também foram relatados por
ela. Isso é encontrado na literatura quando Kovács (1992) salienta que a morte ocorrida
de maneira brusca e repentina tem uma potencialidade de paralisação, desorganização,
impotência, desesperança e desamparo, como descrito pela participante do estudo
anteriormente citado.
Dentre as reações mencionadas, é visível que as implicações frente à morte são
inúmeras e, na maioria das vezes, afetam os enlutados, tornando-os incapacitados na
reorganização de suas vidas, tanto no contexto familiar como no social. Questões
relacionadas à religião, mais especificamente sobre reencarnação, são, muitas vezes,
lembradas e referidas nas pesquisas, pois acredita-se que essa crença de vida após a morte
fornece um certo alívio nas pessoas enlutadas (Giacóia, 2005). Num estudo feito por
7
Peruzzo, Jung, Soares e Scarparo (2007), os participantes da amostra relataram acreditar
que a pessoa morta está num lugar bonito, bem e feliz, que pode ouvir e ver o que acontece
depois da morte.
Os sentimentos de incapacidade, de vulnerabilidade são os preditores das
dificuldades intrínsecas da perda; aliás, são os grandes geradores da desorganização que
atinge as pessoas que perderam um ente querido. Dentre as dificuldades citadas, é
importante apontar o quão difícil se torna a aceitação, a fase de readaptação em preencher
o vazio que a pessoa querida deixou. A elaboração de outras perdas anteriores e as crenças
relativas à morte também podem ser fatores que interferem no luto. Para a efetivação do
luto, Elizabeth Kübler-Ross, referência no assunto, propôs cinco estágios: a negação e o
isolamento, a raiva, a barganha, a depressão e a aceitação.
8
em que conseguem expressar de forma mais clara sentimentos, emoções, frustrações e
dificuldades que as circundam. Quanto mais negarem, mais dificilmente chegarão a este
último estágio. Cabe ressaltar que, esses estágios não são um roteiro a ser seguido e que
podem sofrer alterações de acordo com cada perspectiva pessoal.
9
problemas, levar o indivíduo a desenvolver um funcionamento disfuncional como
resposta à perda, como por exemplo, o luto complicado.
Nesse sentido, a perda de um ente querido é um fator gerador de muito estresse;
se não for elaborada de uma forma funcional, pode trazer inúmeras repercussões na vida
de um indivíduo. Parkes (1998) coloca que o processo do luto tende a causar desconforto,
alterar funções, aumentar níveis de ansiedade, em potencial maior para aqueles que
presenciaram o momento em que o ente faleceu.
Então, o modelo da Terapia Cognitivo-Comportamental mostra-se válido,
importante no tratamento de situações traumáticas e tem sido a escolha inicial de vários
algoritmos de tratamento. Devido a isso, o próximo subitem apresenta a contribuição
desta terapia para a morte repentina. Como não há padrões específicos na teoria cognitiva
acerca do luto, aborda-se os principais modelos cognitivos que englobam evidentemente
os aspectos de processamento de informação, como por exemplo: representações mentais,
acesso, avaliação e execução de respostas. É exatamente nesse contexto que o trabalho
busca contribuir.
A maioria das pessoas que passam por situações de estresse, como a perda de um
ente querido, desenvolve respostas de enfrentamento desadaptativas, ou seja, uma
estratégia que a pessoa apresenta em certas circunstâncias para conseguir lidar com o
evento traumático. De acordo com Young, Klosko e Weishaar (2008), em algum
momento os Esquemas Iniciais Disfuncionais (EIDs) latentes, caracterizados por um
conjunto de crenças globais e enraizadas, com pressuposições e regras acerca do mundo,
podem ser ativados devido a uma situação, alterando e predominando sobre humor bem
como sobre o comportamento de um indivíduo.
Os mesmos autores afirmam que lutar, fugir, paralisar-se são as principais
respostas à ameaça. Nos esquemas, essas respostas são denominadas de:
1) hipercompensação: quando eles lutam contra o esquema pensando, agindo,
sentindo como se o oposto do esquema fosse verdadeiro;
2) evitação: os pacientes organizam suas vidas para que o esquema não seja
ativado, bloqueiam pensamentos e imagens para evitar sentimentos ativados pelo
esquema; e
10
3) resignação: quando os pacientes consentem o esquema, aceitam como
verdadeiro, não tentam evitar nem lutar contra ele. É através desses processos que os
esquemas continuam ativos na vida psíquica de um indivíduo (Young et al., 2008).
Ao abordarmos os estágios de reação à perda e as fases do luto descritas
respectivamente por Kübler-Ross (2005) e Bowlby (1990), percebe-se que as respostas
geradas pelo sofrimento da perda de um ente querido são respostas que os indivíduos
apresentam diante de um evento estressor. Portanto, a perda repentina de um ente querido
pode ser considerada um evento ameaçador à integridade física, psicológica e social de
um indivíduo. Devido a isso, como resposta de enfrentamento, alguns esquemas são
ativados, e, para amenizar os sentimentos provocados, os pacientes podem então
hipercompensar, evitar ou resignar tais esquemas.
Esquemas de privação emocional, abandono, defectividade, além de esquemas de
inibição emocional, são caracterizados, principalmente, por uma evitação na expressão
de sentimentos e pensamentos. São mecanismos defensivos que barram emoções
desagradáveis ao indivíduo e podem ser encontrados nos primeiros estágios de reação à
perda e nas fases do luto descritas por Kübler-Ross (2005) e Bowlby (1990), pois a
negação e o entorpecimento não deixam de ser uma resposta de enfrentamento
desadaptativa frente à situação de perda por morte.
Crenças do esquema de abandono também são ativadas no anseio. É o momento
em que os enlutados passam a buscar incessantemente pela pessoa que partiu,
hipergeneralizando: "Se ele me deixou, as outras pessoas vão me deixar também". A
barganha tem relação com a manutenção esquemática, pois envolve perdas e ganhos. Este
também é o momento em que os indivíduos fazem acordos ou negociações com o intuito
de alcançar algo profundamente desejado. Ou tudo ou nada: "Se Deus não atender meu
pedido, não sei o que será de mim".
A personalização aparece quando os indivíduos assumem a culpa pelo fato
ocorrido: "Ele morreu por minha culpa, não podia ter deixado sair com o carro", pois,
além dos sentimentos de culpa e de revolta, eles encontram-se raivosos consigo mesmos.
A raiva é percebida como uma prévia aceitação da realidade, caracterizada por esquemas
de abuso: "Ele me sacaneou, não podia ter feito isso comigo".
Já a depressão, o desespero e a desorganização poderão ser encontrados quando
ativos esquemas de dependência/incompetência, de fracasso, de negatividade/pessimismo
e de vulnerabilidade, por não conseguirem enfrentar a situação sozinhos. Algumas
crenças e erros de pensamento manifestar-se-ão, como: catastrofização, abstração seletiva
11
e pensamento dicotômico: "Eu não sou capaz de lidar com isso"; "Tudo está perdido";
"Não tenho saída"; "Eu não vou me recuperar dessa perda, vou entrar em depressão".
Essas comparações feitas com o ponto de vista cognitivo revelam o quão
importante e fluente são os esquemas que regem os pensamentos e as atitudes das pessoas.
É por meio deles e dos erros de pensamento que a TCC vai poder auxiliar os pacientes
enlutados na busca de um alívio e melhor aceitação da perda do ente querido e de todas
as implicações que nela repercute. O impacto gerado por uma perda pode ser tão doloroso
que impossibilita os indivíduos de uma recuperação saudável. Sendo assim, a
reorganização e a aceitação são uma etapa difícil de alcançar, e, muitas vezes, é devido a
elas que é solicitada uma ajuda de um profissional. Em seguida, aborda-se algumas
contribuições e os passos de uma intervenção psicoterapêutica baseada na TCC.
12
cognitivos como fisiológicos, motores e comportamentais. As alterações são fatores que
podem dificultar o bom andamento do tratamento, prejudicando o funcionamento da
terapia e sua meta principal, que é servir como uma facilitadora no processo de
readaptação do indivíduo.
Sugestiona-se ao terapeuta expressar empatia, respeitar e adequar-se ao o ritmo
do paciente, principalmente no decorrer do uso das estratégias e técnicas terapêuticas.
Adequar-se ao funcionamento do paciente e não confrontar diretamente com ele, pois há
grandes chances de ele desenvolver resistência ao tratamento. Outro ponto importante é
não fornecer informações nem desnecessárias nem insuficientes, não negar dados que lhe
são solicitados, para que se evitem maiores distorções cognitivas. Sempre que possível,
indica-se estimular a autoeficácia do enlutado, para que ele tenha conhecimento das suas
capacidades estratégicas e condições para lidar com esse momento difícil (Miller &
Rollnick, 2001).
13
"Desde quando fulano faleceu, as pessoas não me procuraram mais [...]. Se esse
pensamento fosse verdade, como me sentiria?".
• Treino de Habilidades Sociais: aumentar e ensinar novas habilidades
cognitivas como o automonitoramento, habilidades verbais e, principalmente,
comportamentais, para que o enlutado consiga perceber e lidar melhor com o ambiente
(Caballo, 2003). Neste caso, recomenda-se que possam ser listadas algumas situações em
que o paciente apresenta dificuldades para resolver. Na maioria das vezes, os pacientes
enlutados encontram-se deprimidos e tendem a antecipar sentimentos negativos, bem
como avaliam erroneamente o grau de dificuldade. Diante das situações listadas e por
meio de um ensaio comportamental, avalia-se como o paciente se comportaria em
determinada situação, e juntos, paciente e terapeuta, treinam uma resposta adaptativa: "Já
que treinamos em sessão, o que você acha de tentar aplicar nas situações que, num
primeiro momento, você consideraria embaraçosas?"; "O que aconteceria se você
tentasse?".
• Estratégias de Coping: o conjunto das estratégias utilizadas pelas pessoas para
adaptarem-se a circunstâncias adversas, ou seja, uma resposta cognitiva e
comportamental ao estresse, com objetivo de suavizar características aversivas. É preciso
que os pacientes busquem novas estratégias de enfrentamento, frente às anteriormente
internalizadas (Lisboa et al., 2005;Folkman & Lazarus, 1980). Indica-se o levantamento
de outros eventos adversos na vida dos enlutados e quais estratégias foram úteis para
amenizar os sintomas gerados: "Quando você se encontrou numa situação difícil, como
você lidou com ela?"; "Se uma pessoa amiga estivesse na mesma situação na qual você
se encontra, que conselho daria a ela?".
• Restruturação Cognitiva: numa colaboração entre paciente e terapeuta,
identifica-se pensamentos irracionais e catastróficos, exame das evidências favoráveis e
contrárias aos pensamentos distorcidos, a fim de avaliar e perceber outros pensamentos
mais adaptativos (Beck, 1997). Nesse momento, pode ser usado o modelo A-B-C
(A=situação, B=pensamento, C=consequência) para auxiliar o paciente a identificar a
situação perturbadora e o pensamento automático: "O que aconteceu para eu me sentir
assim?"; "O que passou pela minha cabeça?". Identificado esse pensamento, o segundo
passo é avaliar a veracidade desse pensamento: "Que evidências eu tenho para comprovar
esse pensamento?"; "Esse pensamento é realista?". Num último momento, orienta-se o
paciente a desafiar e substituir o pensamento por afirmações mais racionais: "Qual
14
vantagem tenho em manter esse pensamento irracional?"; "Qual seria o pensamento
saudável nessa situação?".
• Prevenção e Recaída: psicoeducar o enlutado quanto ao seu funcionamento,
suas dificuldades e também sua autoeficácia (Beck, et al., 1979). No decorrer do processo
psicoterapêutico, foi lhe orientado a utilizar estratégias e habilidades para lidar de maneira
eficaz com o problema percebido. Ao se deparar com outras situações, terá recursos para
enfrentar possíveis problemas: "Quais os pródromos de um evento adverso?"; "Que
situações são consideradas como situação de risco?"; "Que estratégicas disponíveis me
auxiliariam neste momento?".
Em termos de técnicas
15
você?", "Se isso fosse verdade, o que quer dizer de você?" são utilizadas para evocar as
crenças centrais (Beck, 1997).
• Dessensibilização Sistemática: paciente e terapeuta hierarquizam quais
situações são mais ansiogênicas ao paciente, e, gradativamente, do menor ao maior evento
ansiogênico, há a confrontação deste com a finalidade de dessensibilização (D'Zurilla &
Goldfried, 1971).
Em suma, a TCC é composta por inúmeros instrumentos que podem ser usados
no decorrer dos tratamentos para auxiliar na modificação de padrões de funcionamento
disfuncionais, provedores de sofrimento. O objetivo foi poder descrever apenas algumas
delas, as mais relevantes e utilizadas na psicoterapia de um paciente enlutado. Ressalta-
se que são poucos materiais encontrados na literatura que abordam o luto com ênfase na
teoria cognitiva e comportamental. A proposta deste artigo, foi colher dados e estudos
que pudessem nos guiar em como poder trabalhar na prática clínica o luto resultante de
uma perda repentina e suas prováveis reflexões na vida de um paciente enlutado.
É fundamental enfatizar a importância de inicialmente proporcionar um
acolhimento, um vínculo empático na terapia. O terapeuta terá a função de facilitar a
expressão dos sentimentos associados à perda do ente querido, observando todas as
implicações que ela trará ao paciente. Claro que, para isso, é necessário levar em conta as
crenças que o paciente enlutado tem acerca da morte e seus pensamentos disfuncionais.
Outro item básico é que as técnicas e estratégias cognitivas e comportamentais possam
aumentar as características adaptativas e auxiliar na tomada de decisões e na busca de
novas atividades e relacionamentos, a fim de melhor elaborar a perda.
Além disso, conceitos errôneos podem potencializar complicações nos níveis
cognitivos e funcionais, podendo gerar transtornos depressivos e ansiosos. Imperativos
como: "devo que", "tenho que" são facilmente encontrados e alimentam sentimentos de
culpa e inadequação. A intervenção psicoterapêutica também orientará o paciente a
buscar concepções mais realísticas e menos destrutivas ao seu funcionamento,
fortalecendo suas capacidades de autonomia e desempenho (Frade & Barragán, 2005).
É imprescindível também, considerar aspectos de vulnerabilidade, crises de raiva,
intensa ansiedade e culpa, assim como verificar a existência da negação, repressão, além
da resistência à mudança. Assim, uma avaliação cuidadosa permitirá a identificação dos
fatores de risco do processo do luto, como também os recursos disponíveis da rede de
apoio, para evitar chegar a um luto complicado (Parkes, 1998).
16
CONSIDERAÇÕES IMPORTANTES
Frente à revisão teórica exposta neste artigo, a respeito da morte repentina e das
repercussões desse evento estressor na vida de uma pessoa, conclui-se que, sem dúvida
nenhuma, é um evento provedor de sofrimento e de grandes alterações psicológicas,
fisiológicas, comportamentais, bem como alterações no contexto social em que o enlutado
está inserido. No entanto, as dificuldades que irão surgir poderão incapacitar e
desorganizar a vida das pessoas enlutadas a tal ponto de não conseguirem suprir
sentimentos desagradáveis. Neste momento, recorrem a um auxílio de um profissional da
saúde, e, quando solicitada à ajuda de um psicólogo, este tende a priorizar o acolhimento
e a escuta ao paciente enlutado.
Para este auxílio psicológico, foram sugeridos alguns pontos essenciais da Terapia
Cognitivo-Comportamental, pois acredita-se que, por ela ser breve, estruturada, focal,
tende a ter uma importante contribuição para o alívio dos sintomas gerados pela perda
repentina. De acordo com os teóricos embasadores da TCC, os comportamentos são
regidos pelos pensamentos, que na maioria das vezes apresentam-se disfuncionais,
desadaptativos, causam sofrimento aos indivíduos, inabilitando e incapacitando na
reorganização de suas vidas, em grau maior se influenciados por um evento estressor que
é a perda repentina de um ente querido. Portanto, podem ser utilizados alguns
instrumentos como estratégias e técnicas psicoterapêuticas que colaboram para o alívio
de sintomas e a melhora do paciente.
Viu-se que as estratégias e técnicas anteriormente listadas não possuem uma
ordem regrada e um roteiro a ser seguido, como também foi destacado que os estágios de
reação à perda e as fases do luto podem sofrer alterações na ordem e intensidade. Perante
essas considerações, indica-se que o terapeuta respeite e adapte-se ao funcionamento do
paciente enlutado e, como já referido, utilize aspectos positivos como a expressão da
empatia e a não confrontação para concretizar a obtenção do êxito.
O objetivo deste artigo foi enriquecer e proporcionar ao leitor alguns aspectos
relativos a um auxílio terapêutico diante de um evento estressor, que é a perda repentina
de um ente querido, baseando-se no manejo da Terapia Cognitivo-Comportamental.
Como não há muitos estudos brasileiros que abordem o luto gerado por uma perda
repentina, neste referencial teórico proposto, salienta-se que novas pesquisas possam ser
realizadas, colocando à disposição dos profissionais interessados materiais atualizados,
relacionados a este tema.
17
REFERÊNCIAS
Araújo, P. V. R., & Vieira, M. J (2001). As atitudes do homem frente à morte e o morrer.
Revista Texto e Contexto Enfermagem, 10 (3), 101-117.
Beck, A. T., Rush, A. J., Shaw, B. F., & Emery, G. (1979). Cognitive therapy of
depression: a treatment manual. New York: Guilford Press.
Beck, J. (1997). Terapia Cognitiva: Teoria e Prática. Porto Alegre: Artes Médicas.
(Original publicado em 1995).
Bowlby, J. (1990). Apego e perda. A natureza do vínculo (Álvaro Cabral, Trad.). São
Paulo: Martins Fontes. (Original publicado em 1969).
Combinato, D. S., & Queiroz, M. de S. (2006). Morte: Uma Visão Psicossocial. Estudos
de Psicologia, 11(2),209-216.
D'Zurilla, T. J., & Goldfried, M. R. (1971). Problem solving and behavior modification.
Journal of Abnormal Psychology, 78, 107-126.
Frade, L. P., & Barragán, C. M. (2005). O manejo do luto em crianças e adolescentes sob
o enfoque cognitivo-comportamental. Em: V. E. Caballo & M. A. Simón (Orgs.), Manual
de Psicologia Clínica Infantil e do Adolescente - Transtornos Gerais (p. 187-209). São
Paulo: Santos.
18
Garner, D. (1997). Psychoeducational principles in treatment. In: D. Garner & P.
Garfinkel (Eds.), Handbook of treatment for eating disorders (p. 145-177). New York:
The Guilford Press.
Kübler-Ross, E. (2005). Sobre a morte e o morrer (Paulo Menezes, Trad.). São Paulo:
Martins Fontes.
Lisboa, C., Koller, S. H., Ribas, F. F., Bitencourt, K., Oliveira, L., Porciuncula, L. P., et
al. (2002). Estratégias de coping de crianças vítimas e não vítimas de violência doméstica.
Psicologia: Reflexão e Crítica, 15(2),345-362.
Lückemeyer, R. M. B. (2008). Aonde está você agora além de aqui dentro de mim? Um
estudo de caso acerca do luto materno decorrente de morte trágica. Trabalho de Conclusão
de Curso. Curso de Psicologia, Universidade do Sul de Santa Catarina. Palhoça - SC.
Miller, W., & Rollnick, S. (2001). A Entrevista Motivacional. Porto Alegre: Artes
Médicas.
Parkes, C. M. (1998). Luto: estudos sobre a perda na vida adulta (Maria Helena Franco
Bromberg, Trad.). São Paulo: Summus.
Peruzzo, A. S., Jung, B. M. G., Soares, T., & Scarparo, H. B. K. (2007). A expressão e a
elaboração do luto por adolescentes e adultos jovens através da internet. Estudos e
Pesquisas em Psicologia, 7(3),449-461.
Young, J., Klosko, J., & Weishaar, M. (2008) Terapia do esquema. Guia de técnicas
cognitivo-comportamentais inovadoras. Porto Alegre: Artmed.
19