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Manual Da Ação Libertaria

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Manual da Ação Libertária

MANUAL DA AÇÃO
LIBERTÁRIA
É NECESSÁRIO PRATICAR A LIBERDADE
E LUTAR POR ELA.

JOHN GALT
Manual da Ação Libertária

SUMÁRIO
Introdução

O que quer dizer Libertarianismo?


Da Ordem Natural

Da Filosofia Libertária

Da Lei Natural

Das Estratégias da Liberdade

Do Princípio da Incerteza Política e suas Consequências

O que é Ação Libertária?


A Ação Direta como Anarquista

Como Deve Ser a Ação Libertária


Autogestão

Revisionismo

Interdisciplinariedade

Agorismo

Gestão de Riscos na Cartilha Agorista

Da Desobediência Civil

Do Mercado Negro

Da Formação dos Mercados Alternativos

Do processo de organização

Da Sonegação

Do Armamento

Da Libertação dos Presos Políticos

Das Criptomoedas

Das alternativas ao Bitcoin


Manual da Ação Libertária

Nano e a morte das taxas

Monero e a privacidade absoluta

ETH e os Contratos Inteligentes

LBRY e o futuro do mercado de bens digitais

Como Abordar Agentes do Estado

Do caso Dâniel Fraga

Da Secessão

Da Propriedade Intelectual

Libertarianismo e as Ruas

Falso histórico de conquistas das mobilizações populares

O foco errado

A mídia, a engenharia do consentimento e o medo

Os sequestros do método e da pauta

Os Conhecimentos da Guerrilha Revolucionária


Breves Considerações sobre o Manual do Guerrilheiro
de Carlos Marighella

Das Estratégias da Esquerda Revolucionária

O Comunismo Como Uma Falha Social

Do Bom Combate

Considerações Finais

Referências
Manual da Ação Libertária

INTRODUÇÃO
Este livro foi escrito por libertários que tem como objetivo
auxiliar no processo pelo qual as pessoas se tornam livres
para seguirem seus próprios objetivos e buscarem a felicidade.
Esperamos que ao final deste livro, que não é nada mais e nada
menos do que um manual de estratégias políticas da ação direta
libertária, você compreenda que não é necessário somente o
exercício de nosso pensamento para a conclusão e a efetivação das
nossas ideias, mas que é necessário praticar a liberdade e lutar por
ela de todas as maneiras possíveis.

Dito isto, é importante salientar que, sendo esta obra apenas


um manual, ela não tem por objetivo trazer respostas a todas as
soluções possíveis de conflitos no mundo, tampouco justificar to-
das as questões que permeiam a ética da propriedade, bem como da
economia baseada na propriedade privada dos meios de produção.

O objetivo aqui é mostrar a vocês o que é a ação direta liber-


tária e quais são suas possibilidades. Também são apresentadas
considerações sobre outras formas de ação direta, comentando e
constatando seus problemas e/ou soluções, quando houverem.

Além disso, é importante constatar o porquê deste livro estar


sendo escrito.
Manual da Ação Libertária

Você já deve ter reparado no fato de que apesar de haverem li-


vros libertários anarcocapitalistas sobre estratégias de como ven-
cer o estatismo, como “O que deve ser feito”, de Hans Hermann
Hoppe1, onde o autor apresenta como o estado poderia vir a acabar,
ou “O Manifesto do Novo Libertário”, de Samuel E. Konkin III2,
nunca antes foi escrito um manual para o libertário com sugestões
práticas de como deve agir.

Nessa direção, é indispensável pensarmos em um livro como


parâmetro, aqui escolhemos o “Manual do Guerrilheiro”, de
Carlos Marighella3, pois, apesar de todas as discordâncias com
o mesmo, ele é útil para exemplificar os parâmetros de ação de
nossos inimigos políticos. Os libertários ainda não tem seu
próprio livro deste tipo. É preciso lembrar também que nossas
ideias são bem mais recentes.

O surgimento da ideia do libertarianismo, como conhe-


cemos hoje, foi na segunda metade do século XX, por Mur-
ray N. Rothbard4, mas claro, sem desconsiderar a influên-
cia dos proto-austríacos e proto-libertários à construção do
pensamento libertário5.
1 Hans-Hermann Hoppe (1949-presente) é um filósofo e economista alemão-americano
da escola austríaca de economia e filosofia.
2 Samuel Konkin III (1947-2004) foi o autor do New Libertarian Manifesto e um defen-
sor da filosofia política que ele chamou de agorismo.
3 Carlos Marighella (1911-1956) foi um político, escritor e guerrilheiro comunista mar-
xista-leninista brasileiro.
4 Murray Newton Rothbard (1926-1995) foi um filósofo e economista americano da Es-
cola Austríaca de Economia e, desenvolveu a partir de Ludwig Von Mises, seu professor,
aquilo que chamamos de austro-libertarismo.
5 Me refiro aos influenciadores da Escola Austríaca, fundada por Carl Menger, como
Gustave de Molinari e Richard Cantillon.
Manual da Ação Libertária

Assim, a ação direta libertária, que os leitores aprenderão mais


à frente sobre, será a grande atração deste livro aos libertários.
Não descreveremos aqui instruções para outro tipo de público,
pois o foco do livro é ensinar a buscar a liberdade civil, política e
ética para aqueles que já a concebem como fim político último. Isso
pois, mesmo com todos os pesares da ação coercitiva do estado que
seriam motivos para descartarmos a ação direta libertária, essa já
se tornou uma necessidade, um passo necessário e urgente para a
libertação dos libertários dos laços do inimigo.

O estado, tal qual nos ensinou Rothbard, é a maior corporação


parasitária da história. Ele suga todo o suprimento financeiro dos
indivíduos, ainda que nunca tenham assinado espécie alguma de
contrato para isso, muito menos um contrato social, contra seu
consentimento. Essa grande corporação, por deter a força para
si, faz o que bem entende com seus súditos: rouba, por meio dos
impostos, controlando a criminalidade, de forma bem ineficiente
por parte das forças armadas, escolhendo aqueles atos que serão
ou não crimes por meio de critérios arbitrários e administra a
sociedade da pior forma possível. Não é necessário citar aqui exem-
plos da precariedade estatal pois todos sabemos o quão ruim está a
educação, a saúde e a segurança global, com poucas exceções
dignas de menção em parte da Europa, alguns estados dos EUA e
parte da Ásia continental. Sem contar as diversas crises econômi-
cas globais que se fazem presente em alguns momentos da história.

Mais contundente ainda é que mesmo nesses países onde há


alguma prosperidade econômica, as possibilidades de inovação,
Manual da Ação Libertária

produção e distribuição da riqueza negadas pelo estado são cons-


tantemente trazidas à tona na mente do libertário ao se deparar
com a pobreza humana diária. Afinal, pior do que aquilo que vemos
é aquilo que não vemos, são as consequências implícitas não inten-
cionais do estado.

Por último, mas não menos importante, é imprescindível men-


cionar que, uma vez que estamos num contexto permanente de
violação de propriedade, por parte do estado, tal como estaríamos
diante de qualquer outra gangue, mas em uma escala monstruosa-
mente maior, isso em algum momento se tornaria e está se tornan-
do cada vez mais intolerável.

Sempre haverão algumas pessoas que percebem a verdadeira


natureza do estado e que farão o possível para não mais fazerem
parte dessa ordem social. E para atender pessoas como essas, sur-
giram livros como esse.

A coerção e a falta de valores éticos dessa organização, que é o


fator que a fez surgir e ocupar tamanho papel em nossa sociedade,
sempre com a intenção de satisfazer os grupos de poder que o ali-
mentam, é o mesmo fator que o fará ruir.

E é por meio dessas pessoas, radicais, intransigentes, insisten-


tes e inventivas que a história não escrita do libertarianismo é
escrita no livro do mundo.
Manual da Ação Libertária

O QUE QUER DIZER


LIBERTARIANISMO?

Apesar de não ser o objetivo deste livro detalhar toda a teoria


por trás do libertarianismo, é importante darmos uma breve intro-
dução sobre a definição e as implicações do libertarianismo.

O libertarianismo é uma corrente filosófica que é caracterizada


pela ética de propriedade privada e, consequentemente, pela não
agressão a indivíduos pacíficos.

O Libertarianismo surgiu na segunda metade do século XX,


com a função de pôr luz sobre o estado e nos livrar de uma
sociedade que pensa na coerção como meio de alcançar objetivos
sociais que não de estrita defesa dos indivíduos.
Manual da Ação Libertária

Seu fundador foi Murray N. Rothbard, um filósofo e intelectu-


al da corrente que veio a desembocar na mais extrema ponta da
lib right 6. Rothbard sustentou que o estado não é um agente de
serviço social, como ele se diz ser, e muito menos algo que “nós
somos”, com todos os compromissos significativos do uso dessa
demagogia que ele tanto usa para se promover ideologicamente.
O estado é uma gangue de ladrões operando em larga escala que
detém o monopólio político, clamando para si a exclusividade do
uso legítimo da força.

A ética é uma área da filosofia que estuda as normas, o certo e o


errado, o que pode e o que não pode ser feito. Mas, o que queremos
dizer com ética de propriedade privada? Analisaremos as condi-
ções nas quais surge a ideia de propriedade privada, decompondo
o componente social e filosófico da propriedade privada para que
se entenda melhor a extensão desses conceitos.

Da Ordem Natural
As condições que fizeram a sociedade prosperar e alcançar o
atual status que possui no mundo seguem um paradigma que po-
demos nomear como “ordem natural’’. Esta ordem é ordem no
sentido de ser um caminho não conflituoso, um conjunto de al-
ternativas que não exige que vontades mutuamente excludentes
acerca dos mais diversos dilemas e encontros sociais, vontades
6 Traduzido como “extrema-direita”, aqui no Brasil nós, libertários, com raras exceções,
não nos denominamos dessa maneira. Mas nos estados Unidos da América, os termos
“lib right” e “lib left” são bastante usados pois há diversos seguimentos da esquerda e da
direita, as quais Rothbard também explica em “Esquerda e Direita: Perspectivas Para a
Liberdade”, um de seus mais conhecidos ensaios.
Manual da Ação Libertária

apenas resolvidas pela imposição da força de uma vontade sobre a


outra sejam a matéria com a qual a sociedade se organiza. Porém,
esses conflitos, substancialmente disputas por recursos escassos,
em parte significativas das vezes acontecem pela própria vontade
dos iniciadores destes conflitos. Toda vez que os conflitos se dão,
eles contrapõem a ordem natural.

A prova de que esta ordem natural é uma realidade do trato


social é que agora mesmo estamos fazendo uso de nosso intelecto
para pensar nas ideias de interação sem que precisemos do uso
da força. Uma demonstração evidente que a posição que encara o
mundo à luz do uso da força física contra terceiros seja apenas uma
das formas pelo qual o mundo pode ser visto. Para nós, libertá-
rios, o uso da força ocupa uma parte acessória no trato social, a de
reparar ações nas quais força ou fraude tenham sido empregadas
previamente.

Mas não há nada nesse argumento voltado a provar a ordem


natural, se foi isto que você pensou. Tenho plena consciência de
que precisaríamos ir muito mais a fundo na prova de uma ordem
natural para que ela seja provada em todos os seus sentidos, e não
apenas experimentada. Todavia, este não é o objetivo deste livro,
e acredito que o mero apelo a experiência aqui faça seu papel sufi-
cientemente bem.

Sendo assim, podemos retornar à questão crucial que tratamos


aqui: o estado viola a ordem natural. E é necessário ter certeza
acerca dos termos em que isso ocorre. Essa certeza da vida coti-
Manual da Ação Libertária

diana se mostra pelo fato de que ele atua da mesma maneira que
um gangue de ladrões, pois as trocas voluntárias que acontecem no
dia-a-dia de um trabalhador, de uma dona de casa ou de um grupo
de amigos, por exemplo, são consideradas de um tipo inferior de
interação caso não estejam em consonância com aquilo que os po-
líticos consideraram belo e moral.

Na verdade, até mesmo políticos têm certa dificuldade em se-


rem os caras maus da história o tempo todo. A maior parte das
relações de qualquer político são pacíficas e voluntárias e ainda
que ele faça suas transações com dinheiro roubado de indivíduos
pacíficos, o aspecto ilegítimo do mesmo exige um olhar menos su-
perficial típico do fato que a teia social é em si pacífica e definidora
dominante das relações sociais.

E sei qual pode ser sua dúvida: é o conflito causado apenas pelo
estado? E a resposta é certamente não, apesar dele ser a maior
organização coercitiva que exista hoje. O fato é: não estamos aqui
interagindo por conta dos conflitos causados pelo estado. Esta-
mos interagindo livremente porque, apesar de todos os conflitos e
agressões que o estado inicia, nós temos nossa liberdade, que é a
primazia do ser humano em sua essência.

Lutar por essa liberdade, então, é essencial. Todas as interações


livres de conflitos fazem parte da busca da natureza humana, vale
citar nesse sentido um artigo denominado “Uma Nova Justificação
da Lei Natural”.
Manual da Ação Libertária

“A práxis, enquanto presente em torno da discussão da ética, de-


monstra que agir é buscar maior conforto. Dessa forma, se todos
estamos buscando um ponto em comum, i.e., evitar o desconfor-
to, então os conflitos, onde a busca por maior conforto em detri-
mento do conforto é evidente, tem que ser evitados em razão de
se alcançar uma harmonia, que os seres de direito alcancem seus
fins sem a violação dos fins buscados pelos outros indivíduos.”
(Universidade Libertária, 2020)”

Entendemos então que a extensão da praxiologia à ética nos


leva a conclusão de que o dever de evitar conflitos é parte da es-

sência do ser humano.

Da Filosofia Libertária
Nessa direção, podemos enfim entender o que é a filosofia li-
bertária. Isso porque, apesar de todas as discussões que permeiam
o significado da filosofia, sabemos que todas as filosofias têm em
comum investigar os conceitos, e o conceito crucial investigado na
corrente libertária da filosofia é a ética de propriedade.

Como já sabemos, a ética é um sistema normativo, i.e., ela


investiga o certo e o errado. A grande questão levantada na filo-
sofia libertária sempre foi encontrar uma justificação consistente
para a ética de propriedade. Afinal, as pessoas tem posses sobre
as coisas, no sentido do uso exclusivo não oposto fisicamente de
X sobre determinado recurso Y, as pessoas tem a posse de fato e é
necessário entender em quais casos ela é ou não é legítima.
Manual da Ação Libertária

E nesse segmento nós temos diversos argumentos diferentes


uns dos outros, sendo alguns destes argumentos utilitaristas, jus-
naturalistas e intuicionistas. Mas, não estou aqui para explicar
cada um, embora, meu próximo ponto seja explicar do que se trata
a lei natural.

Da Lei Natural
A lei natural é a norma intrínseca à natureza do ser humano.
Isso significa que existe de fato um conjunto de comportamentos
que seja próprio de nós e outros que escapam a essa característi-
ca de serem próprios, definidores da essência de X nos múltiplos
mundos possíveis em que X se manifestou, fazendo alusão a famo-
sa paráfrase de Rothbard em Plantinga, então essa propriedade de
nós não pode ser retirada de nós de forma alguma sem que este-
jamos tirando parte vital de nossas essências. E, caso seja violada,
o indivíduo que o fizer é um perturbador dessa ordem. Mas isso
é apenas um esclarecimento semântico, uma consequência natural
do enunciado de que existe uma natureza humana e comporta-
mentos que dela possam ser derivados. Isso não cria ainda a ideia
de direito. A prova da lei natural pode ser realizada da seguinte
maneira:

“O argumento que eu defendo assume o princípio de universa-


lização, o evitamento de conflitos, a apropriação originária e, é
claro, a lei natural. Mas a justificação para essa lei, diferente dos
demais argumentos que usaram pressupostos do discurso ou do caso
de Locke, que acabou por ser guilhotinado, é um argumento basea-
do na assunção dos próprios violadores de propriedade a favor da
Manual da Ação Libertária

propriedade. Se até mesmo os agressores não estão dispostos a serem


agredidos, o conceito de agressão se explica pelo não consentimen-
to da violação de propriedade feita. Sendo assim, se os agressores
não aceitam que sejam agredidos, não é possível que seja justificado
agredir a outrem.” (Op. cit.)

Ou seja, em meu argumento, a justificação para a propriedade


privada recai sob o princípio de universalização, isto é, sobre o que
faríamos para evitar os conflitos, já que esses são uma possibilida-
de real advinda da própria natureza humana, sobre uma assunção
universal de propriedade privada como algo que não deva ser vio-
lado. Isto porque até mesmo os agressores não aceitam sua própria
agressão, e para não estarem errados, é claro que precisaríamos
respeitar universalmente este direito para que haja coerência ar-
gumentativa.

Caso isso não seja assumido pelos agressores, aí se tornaria vio-


lável a propriedade deles. Mas, este não parece ser o caso. Portanto,
a propriedade privada figura na práxis como um valor universal,

e qualquer um que violar este direito é um violador da lei natural.

Das Estratégias da Liberdade


No capítulo trinta de “A Ética da Liberdade”, Murray N.
Rothbard diz que ainda não surgiu nenhum esboço sobre como
deveria ser a estratégia da liberdade, isto é, os meios pelos quais se
forem seguidos nos tiram do caminho da servidão e nos levam em
direção ao caminho da liberdade. Ele complementa também que:
Manual da Ação Libertária

“Na verdade, não só para a liberdade, as estratégias volta-


das para alcançar qualquer tipo de objetivo social desejado têm
sido consideradas geralmente uma questão de experimentos ca-
suais, de tentativa e erro, algo como “agarre o quanto puder”.
(Rothbard, p. 335).

Isto é, quase nunca experimentamos liberdade de fato, nós ape-


nas nos seguramos a ela.

Outro ponto que Rothbard salienta é que nossa busca parte de


uma filosofia buscando uma política, e não de uma política buscan-
do uma filosofia. Devemos nos diferenciar aqui para não pensar-
mos que somos como ideólogos, i.e., que estamos buscando uma
política ideal, mas, na verdade, somos indivíduos que, baseados
numa filosofia, que é a lei natural, buscamos os princípios ideais
de nossa própria ação. E essa é a maior diferença nossa para com
nossos inimigos revolucionários, que acreditam em ideologias e
utopias.

Nunca, então, confundam ou deixem que confundam comunis-


mo, liberalismo, progressismo, conservadorismo e tantos outros
ismos com o libertarianismo anarcocapitalista.

Rothbard também explica que “um mundo libertário seria


um em que cada indivíduo seria livre para encontrar e buscar
seus próprios fins – para “buscar a felicidade””, ao contrário da
situação na qual nos encontramos, escravizados pelo estado, nos-
sos lucros sendo tomados contra nossa vontade e nossa busca de
felicidade é atrapalhada pelos empecilhos de suas leis coercitivas.
Manual da Ação Libertária

“Pode-se pensar que o libertário, a pessoa comprometida com o


“sistema natural de liberdade” (na frase de Adam Smith), quase
que por definição assegura o objetivo da liberdade como seu mais
elevado fim político.” (Op. cit, p. 337).

A liberdade, dessa forma, é um princípio da ação, o mais elevado


fim político do homem. É um princípio de justiça, tendo em vista
que pretende pôr um fim na violência dos homens. E mesmo que
essa violência vá sempre existir em algum nível, a sede libertária
se mostra presente em afirmar isso como um erro ético.

Então, se a liberdade se mostrou ser o objetivo político ver-


dadeiro, deveríamos então buscar os meios mais eficientes para o
alcance desse fim, ou seja, se queremos ser livres, o que temos que
fazer é buscar ações que nos levem, de fato, ao alcance desse fim.

“Os objetivos libertários – incluindo a abolição imediata de in-


vasões à liberdade – são “praticáveis” no sentido de que eles pode-
riam ser alcançados se um número suficiente de pessoas concordasse
com eles, e que, se alcançados, o sistema libertário resultante seria
viável. O objetivo da liberdade imediata não é impraticável, irrea-
lista ou “Utópico” porque – ao contrário de objetivos como a “eli-
minação da pobreza” – a sua realização é inteiramente dependente
da vontade do homem. Se, por exemplo, todo mundo repentina e
imediatamente concordasse com as vantagens predominantes da li-
berdade, então a liberdade total seria alcançada imediatamente. A
estimativa estratégica de como deve ser trilhado o caminho que leva
à liberdade é, logicamente, uma questão completamente distinta”
(Op cit., p. 338).
Manual da Ação Libertária

Bem, o que precisamos fazer está então claro para todos nós.
Mas qual estratégia o libertário deveria adotar para que isso
aconteça?

Em sua busca por respostas, Rothbard nos diz, primeiramente,


o que não adotar como estratégia. Ele explica que nos parece bas-
tante proveitoso que a receita dos impostos diminuíssem progres-
sivamente, mas que isso parece implicar numa assunção de que o
ritmo em que a liberdade caminha é melhor aos poucos do que com
resultados imediatos.

Além disso, ele também constata que, com isso, estaríamos as-
sumindo que há um lado bom no uso do estado. Ele continua:

“Na realidade, existe outro erro grave na ideia de um programa


abrangente e planejado voltado para a liberdade. Pois o próprio
ritmo cauteloso e estudado, a própria natureza de total abrangência
do programa, implica que o estado não é realmente o inimigo da
humanidade, que é possível e desejável que se use o estado para exe-
cutar um movimento planejado e calculado em direção à liberdade”
(Op. cit., p. 341).

Sendo assim, nós, libertários, embora nos pareça bastante pro-


veitoso usufruir de uma estratégia em que usamos o estado com o
objetivo da diminuição do mesmo, precisamos compreendermos
que isso seria assumir uma função do estado para com a liberdade.
Manual da Ação Libertária

Entretanto, Rothbard também enxerga isso com outro olhar: a


ideia de que os cortes no estado devem acontecer é essencial, pois
diminui qualquer ação parasítica e violenta do estado contra os
indivíduos, então ele encontra um meio termo:

“Por exemplo, libertários podem muito bem pressionar por uma redu-
ção drástica, ou revogação, do imposto de renda; mas eles não poderiam
jamais fazer isso enquanto defendem ao mesmo tempo a sua substituição
por um imposto sobre vendas ou outra forma de imposto.” (Op. cit., p.
341)

Ou seja, libertários, para alcançar seus fins, precisam se posicio-


nar contra qualquer aumento ou diminuição de impostos, mas eles
nunca poderiam ser a favor de qualquer substituição de planeja-
mento estatal por outro planejamento estatal.

A substituição de um imposto, por exemplo, seria contraditório


com qualquer ação libertária. Em época de crises econômicas, dívi-
das públicas e déficits fiscais, é comum vermos pessoas que lutam
por reformas liberais, como a reforma tributária aqui no Brasil.
Isso pois o sistema tributário do país é o mais complexo do mundo.
Todavia, deveríamos estar falando sobre extinção dos impostos,
pois o imposto é uma forma de agressão. Mas isso não é o que
acontece e acabamos por falar em substituição de um imposto pelo
outro.

“Mas, uma vez que a cobrança de impostos é um ato maligno de


agressão, deixar de dar as boas vindas com entusiasmo a um corte
de impostos enfraquece e contradiz o objetivo libertário. A hora de
se opor aos gastos do governo é quando o orçamento está sendo
Manual da Ação Libertária

considerado ou votado, momento este em que o libertário deveria


igualmente exigir cortes drásticos nas despesas. A atividade go-
vernamental deve ser reduzida onde e quando se conseguir; qual-
quer oposição a uma específica redução de impostos – ou gastos – é
inadmissível, pois ela contradiz os princípios libertários e o objetivo
libertário.” (Op. cit., p. 342).

Rothbard diz que devemos estabelecer prioridades e não nos


esquecer do credo libertário. Ele exemplifica que se vivêssemos em
uma ilha pequena, sendo dependentes de faróis marítimos, talvez
a agenda libertária não fosse nossa prioridade de sobrevivência.
Entretanto, ela não deve ser esquecida se você se considera um
libertário, e muito menos desprezada pelo mesmo.

Isto porque a vitória da liberdade total é nosso mais elevado


fim político. Nosso norte libertário é então o seguinte, seguindo a
conclusão de Murray N. Rothbard:

“Concluímos então esta parte da questão da estratégia afirman-


do que a vitória da liberdade total é o mais elevado fim político;
que a fundamentação apropriada para este objetivo é uma paixão
moral pela justiça; que o fim deveria ser buscado através dos meios
mais rápidos e eficazes possíveis; que se deve sempre manter o fim
em vista e alcançá-lo o mais rapidamente possível; e que os meios
escolhidos nunca devem contradizer o objetivo – seja ao defender
o gradualismo, ao empregar ou defender alguma agressão contra
a liberdade, ao defender o planejamento de programas elabora-
dos, ao deixar de agarrar qualquer oportunidade de reduzir o po-
der do estado ou ao permitir que o aumentem em qualquer área”
(Op. cit, p. 343).
Manual da Ação Libertária

Assim, fica claro que a prioridade do libertário repousa sobre


a revogação das agressões estatais, como uma estratégia para o
alcance da liberdade, e não de uma escala que fica em menor prio-
ridade dentre a gradação dos valores da liberdade. Ou seja, não
devemos priorizar a substituição de impostos, por exemplo, a re-
vogação desses mesmos impostos. Isso pois, embora a diminuição
tributária possa ser gradativa, isto seria priorizar os fatores erra-
dos em primeiro lugar.

Do Princípio da Incerteza Política e


suas Consequências
Algo que é notável de colocar é que a ação libertária precisa
estar amparada em algumas estruturas fundamentais essenciais. A
ação de um indivíduo é tal que lidamos com coisas ativas diferente
de lidarmos com coisas passivas. É tal que lidamos com seres vivos
autônomos, que não conseguimos explicar em todas as suas nuan-
ces, em verdade não conseguimos nem sequer listar nem sequer
aquilo que configura o que chamamos de Eu.

Na ação em uma sociedade, o número de Eus com o qual pre-


cisamos lidar, todos eles em primeira pessoa, com o pouco de in-
formação que enunciados em terceira pessoa e declarações exter-
nas desses Eus podem nos dar é uma realidade imediata. O que
seus pais, filhos, irmãos, cônjuges mais desejam? Quais foram seus
maiores medos? Como reagiriam a uma determinada música?
Se pouco podemos dizer de nossos familiares, quem dirá de outros.
Manual da Ação Libertária

A ação política, tida como aquela que possui efeitos erga omnes,
para todos em todos os tempos, é ainda mais incerta. O que políti-
cos farão ou deixarão de fazer, o efeito de determinado pedaço de
papel por sobre as considerações políticas reais das pessoas, a ação
dos policiais que irão aplicar determinada lei, a percepção da po-
pulação sobre a mesma, dos tribunais, dos ativistas políticos e por
último dos afetados por esse determinado papel, não temos acesso
em absoluto a essas informações. A nós, cabe apenas especular.

Essa nuância faz com que nós tenhamos que entender as frases
acima de Rothbard sobre uma dupla camada. Em parte, é verdade
que precisamos nos opor ao crescimento do estado onde ele se der.
E não nos opomos a nenhuma ação de diminuição dele, onde for
possível.

Mas, isso certamente torna-nos incrivelmente mais céticos em


relação a quais são os atos políticos, no sentido de terem efeitos
erga omnes, eram possíveis a um libertário.

Embora isso não seja uma condenação em número, gênero e


grau a participação dos libertários na política, é um alerta. Esse
livro foi pensado, entre outros motivos, em parte porque porque o
caminho democrático no Brasil está impossibilitado por uma série
de problemas estruturais como: ausência de candidatura indepen-
dente, inexistência de uma legislação que garanta livre exercício
de expressão, discricionariedade dos gastos públicos extremamen-
te reduzida e uma concentração gigantesca de poderes na esfera
nacional.
Manual da Ação Libertária

Esses são impedimentos adicionais a um caso brasileiro que


tornam os casos estrangeiros de resistência anti-democrática por
fins democráticos distantes da nossa realidade atual.

Mesmo nos casos estrangeiros, a existência de um cenário na-


turalmente pouco receptivo a essas medidas, com uma dificuldade
significativa de fazer um caso populista libertário (embora já te-
nhamos ouvido de um que tenha tentado), a grande tendência de
corrupção e contradição em relação a práxis dos ideais em ambien-
te tão contrário e contraditório em si mesmo bem como a incerteza
das decisões políticas já é o suficiente para motivar a crença geral
de que os esforços políticos eleitorais estão fadados ao fracasso.

Na prática, isso nos dá a noção de que devemos tentar interferir


nos rumos políticos da atualidade, e isso é possível sem ser através
do processo eleitoral. A via que deve ser tentada é a via do con-
vencimento, do debate, da demonstração de força política. Alguns
movimentos que se caracterizam por esse tipo de aproximação são
o ProArmas e o Combustível Sem Imposto. Movimentos que es-
tão a todo momento comentando e incentivando as diminuições de
impostos e regulações, exercendo uma influência sem deixarem-se
levar pelos meandros da particularidade polític

Mas, por melhores que sejam esses movimentos, eles são peda-
ços minúsculos da ação do sujeito na pólis e prescindem da neces-
sária integração da própria ação do sujeito, aos princípios motiva-
dores da ação. É aí que entra a ação direta libertária.
Manual da Ação Libertária

O QUE É AÇÃO
LIBERTÁRIA?

Agora que você já sabe o que é o libertarianismo, é preciso com-


preender a ação libertária. Tal ação se caracteriza por ser a inicia-
tiva de agir em prol do ressarcimento do indivíduo e da tentativa
de legítima defesa frente às ações coercitivas do estado-nação. É
uma ação de emancipação do sujeito. Uma vez que o estado usa da
força e viola a propriedade privada dos indivíduos, estes têm o seu
direito de se defender e de evitar serem violados.

Todos nós presenciamos o quanto ninguém aguenta mais as


ações ilegítimas do estado, mesmo que muitos as defendam. Pergun-
te a um empreendedor brasileiro se ele gosta da carga tributária de
impostos que ele recebe, ou da burocracia por trás de seu negócio,
Manual da Ação Libertária

e, muito provavelmente, ele dirá que não, embora possa dizer que
acredita estar certo aliviar os mais pobres, taxando os mais ricos.
Mas, na verdade, tudo o que ele quer é se ver livre de parte dos
seus encargos morais, em sua tomada de decisões, e, por isso, ter-
ceiriza essa responsabilidade forçada pelo próprio governo a ou-
trem, a fim de evitar maiores aborrecimentos.

Esse duplipensar é característico dos processos democráticos.


A partir do momento em que estamos todos lutando por bens co-
muns abstratos, esquecemos os bens particulares concretos. O pai,
pobre de marré, de um ativista libertário aguerrido, estava certa
vez comentando sobre como ele paga feliz seus impostos para que
os pobres tenham acesso a hospitais. Quando confrontado com o
fato que era ele mesmo o público da política pública que estava
pagando, ele se viu chocado, afinal há meses ele pagava modestas
parcelas de um plano de saúde, para não depender do SUS.

A ação libertária é tão somente a tentativa de tomar suas pró-


prias decisões individualmente, à luz da sua própria emancipação
e não coletivamente à luz de um abstrato qualquer. Isto é, trata-se
da análise do impedimento factual de outros tomarem as decisões
pelo indivíduo. Esta é a forma mais resumida deste conceito. O
estado, em seus modus operandi, tem a sua tomada de decisões
orientada ao todo, tome por exemplo as democracias representati-
vas, onde elegemos nossos representantes.

Mas estes mesmos não nos representam, pois apenas o indiví-


duo pode deliberar seus meios e fins. Assim, os políticos, que não
Manual da Ação Libertária

são os mesmos beneficiários de suas ideias, acabam por definir a


decisão final, por meio de votos do coletivo de políticos.

Entretanto, sabemos que os coletivos são apenas abstra-


ções, amontoados de indivíduos. E se apenas o indivíduo sabe li-
dar com sua vontade, por ser ele mesmo o autor de sua vonta-
de, outros não deveriam decidir por ele. Por exemplo, uma mãe
pode saber bem o que o filho realmente quer para o jantar, mas
ela possui um laço afetivo com ele, e, ainda sim, pode errar em
seu planejamento porque a vontade do filho é inalcançável, i.e.,
ela pode mudar. Agora, quem mesmo pode sempre saber disso?
Apenas o próprio indivíduo.

Você pode argumentar que o sujeito, muita das vezes, não sabe
o que ele mesmo quer, e até mesmo trazer situações em que o in-
divíduo tenha tomado más decisões. Mas, o que lhe faria acredi-
tar que políticos poderiam vir a tomar decisões melhores que as
pessoas? Políticos, em sua maior parte, não conhecem seu próprio
povo, ainda mais quando estamos tratando de um país inteiro, de
uma nação. Até mesmo a prefeitura, limitada por governar uma
cidade, não está apta a conhecer todos os que dominam. Falta in-
formação e principalmente falta um referencial. a decisão de um
determinado sujeito é sempre ruim para-si e não ruim em-si.7

Por qual razão poderíamos pensar que a vontade da maio-


ria seria a vontade do povo? Nações não pensam, e nem

7 Esse dilema é justamente o dilema do cálculo econômico. Mesmo pressupondo que o


agente tenha toda a informação possível, não há um sistema hábil de feedback para orien-
tar a ação.
Manual da Ação Libertária

deliberam nada. Assim, a vontade da maioria impera concreta-


mente como uma ditadura a curto prazo, que decide, democrati-
camente, quem manda na vida de quem durante certo período. A
democracia é a ditadura da maioria sob a forma de uma minoria
organizada a lá Gaetano Mosca, e o estado-nação trouxe à tona
a negação do indivíduo, de um modo geral. A ação libertária está
entre nós para mudar isso.

A Ação Direta como Anarquista


Agora que você já sabe o que é a ação libertária, iremos falar
um pouco sobre a ação direta. O conceito é uma classificação dos
atos políticos, uma divisão entre ação direta e ação indireta. Assim,
a ação indireta se refere aos atos políticos que são feitos indireta-
mente, como o voto democrático, onde você elege quem irá te “re-
presentar”. E as ações feitas diretamente são aquelas que eliminam
a utilização de um aparato institucional. São ações como greves,
ocupações, invasões, etc.

Algumas destas ações podem ser conhecidas por meio da obra


“O Manual do Guerrilheiro”, de Carlos Marighella, que foi um
pioneiro da práxis do marxismo-leninista da esquerda brasilei-
ra. Mais à frente, desta obra, comentários serão tecidos sobre sua
obra. Por hora, você pode consultar o livro do Marighella se quiser
entender mais a fundo a respeito das táticas de combate ao estado
por parte da esquerda. No entanto, temos aqui outro tipo de ação
direta, que não é revolucionária: a ação direta libertária.
Manual da Ação Libertária

Primeiramente, gostaria de constatar que, tanto a ação revolu-


cionária, quanto a ação libertária anarco-capitalista, possuem ori-
gens anarquistas. O que é o anarquismo? Tal conceito descreve
uma corrente de ideias que pretendem pôr um fim ao estado. Mui-
tos contestam a origem do termo, i.e., sua etimologia. A etimologia
é o estudo do nascimento dos termos, e como todas as palavras, a
palavra ‘anarquismo’ também nasceu em algum contexto.

Sobre sua origem, ‘anarquismo’ surgiu dos termos ‘anarkhía’,


que significa ausência de poder/autoridade, e ‘ismo’, conjunto de
ideias. Há muitas críticas em relação ao anarquismo, pois há fontes
que apontam para uma ausência total de hierarquia. Mas, não é
bem por aí.

A ausência de hierarquia do anarquismo foi pensada por parte


do primeiro grupo a criar ideias anarquistas registradas, o chama-
do de anarquismo clássico, de Bakunin, Proudhon e cia. Porém, o
termo já existia desde a Grécia Antiga, com o significado de nega-
ção do Poder/Autoridade e manifestações anarquistas tendo sido
presentes, embora em sua forma menos teórica, em toda a história.

Assim, as ideias de ações diretas tratam-se da aplicação das


ideias anarquistas, uma vez que estes não confiam e contestam as
ações do estado, mostrando sua força contra o mesmo de maneira
que nos oponhamos à ação do estado onde ele se manifestar, con-
testando seu poder e sua autoridade.
Manual da Ação Libertária

É sobre uma forma de encarar a política ausente de parâmetros


verticais de ver o mundo, sobre negar a autoridade política, sobre
enxergar a sociedade como a soma dos indivíduos.8 9

É melhor registrada pela máxima: “Nem colaboração com o es-


tado! Nem militarização da luta!”

8 Abordagens que lidam com a ideia da microfísica do poder de Michel Foucault geral-
mente removem considerações mais amplas de poder político em prol de micro-compar-
ticipações do poder, mas esse tipo de abordagem não elimina as relações de dominação
onde elas efetivamente ocorrerem. Agir de um jeito que se possa dizer “governamental”
é fundamentalmente e na práxis uma forma de compor a abstração contra qual os anar-
quistas se opõem.
9 Sobre o assunto ver a importante obra libertária sobre o assunto O Problema da Auto-
ridade Política de Michael Huemer
Manual da Ação Libertária

COMO DEVE SER A AÇÃO


LIBERTÁRIA

A ação direta libertária é a maior arma que temos contra o


estado. Enquanto revolucionários se protegem com armas de fogo,
os libertários se protegem de formas excepcionais. Isso porque o
libertário reconhece que o estado não é o responsável pela ordem
vigente, mas um parasita dessa ordem e que portanto a maior parte
das interações para com ele são ações realizadas voluntariamente,
sem resistência da população, graças ao sucesso não de um arma-
mento incrível das forças armadas, mas do armamento ideológico.

Nesse sentido, Murray N. Rothbard explica que a maior pri-


mazia do estado sobre o indivíduo é a sua propaganda ideológica,
infiltrando-se no âmago da sociedade para retirar de cada um a
Manual da Ação Libertária

responsabilidade e a noção do alcance das suas decisões. O estado


domina tudo e todos. Desde o pensamento religioso até o plane-
jamento da educação, ele se divulga por uma campanha irrestrita,
sem pudores. E muitos compram seu discurso, suas promessas e
sua política. Como sustentou em “Anatomia do estado”:

“O estado é quase universalmente considerado uma instituição de


serviço social. Alguns teóricos veneram o estado como sendo a apo-
teose da sociedade; outros consideram-no uma organização afável,
embora muitas vezes ineficiente, que tem o intuito de alcançar ob-
jetivos sociais. Porém quase todos o consideram um meio necessário
para se atingir os objetivos da humanidade, um meio a ser usado
contra o “setor privado” e que frequentemente ganha essa disputa
pelos recursos. Com o advento da democracia, a identificação do es-
tado com a sociedade foi redobrada ao ponto de ser comum ouvir a
vocalização de sentimentos que violam quase todos os princípios da
razão e do senso comum, tais como: “nós somos o governo” ou “nós
somos o estado”.” (Rothbard, pag. 7).

A arma do voto é nada além de uma ferramenta que o


estado usa para parecer legítimo, isto é, para fazer pensarmos estar
escolhendo um representante, mas não nos dado o direito de
nós próprios nos representarmos. Mas, ora, a educação e a
saúde não estão sempre um caos? Por quê, se a promessa de nossos
“representantes” é sempre da mudança de planejamento catastró-
fico para uma segura e sólida ordem? A única medida que não po-
deria ser considerada prima facie uma medida eficiente para mudar
um país é o voto, justamente porque ele já é tentado uma vez a cada
quatro anos sem nenhuma indicação de que está dando certo. 10

10 Devo essa constatação ao líder do Combustível Sem Imposto, Alexandre Nascimento.


Manual da Ação Libertária

Mas, então, o que os libertários, i.e., as pessoas que não caem


na “ladainha” do estado podem fazer para lutar contra o mesmo?
Bem… isso não é uma tarefa fácil de se responder, mas tenha em
mente que, assim como uma ovelha que foge do matadouro, os in-
divíduos preferem evitar serem violados, ainda que alguns não sai-
bam da armadilha em que estão enfiados.

Nessa perspectiva, a arma libertária é apresentar aos indivíduos


uma solução para a vida deles sem que precisem do estado. E digo
mais: muitas destas soluções já estão em vigor, e são utilizadas por
pessoas que nem mesmo são contra o estado, ou que são e nem se
deram conta. Aqui no Brasil é uma questão muito cristalina acerca
da sobrevivência, as pessoas precisam sobreviver e seria impossível
fazê-lo com tantas intervenções do estado e por isso mesmo aqui
se consolidou o famoso Jeitinho Brasileiro, uma verdadeira arma
contra a burocracia e as normas verticais impostas pelo estado.

Algumas destas formas diretas de combate ao estado se tratam


de violações da própria lei do estado, como a sonegação de impos-
tos, a libertação de presos políticos, o homeschooling, a secessão,
armamento, etc, que serão tratados neste livro.

Por hora, adianta-se ao leitor que as páginas deste manual


podem ser proibidas no seu país, com todo tipo de mecanismo local
voltado a punir legalmente essas medidas.

Além disso, o libertário tem em mente, ou, ao menos, deve ter,


que seus princípios estão acima da lei do estado, pois, de lei, as
Manual da Ação Libertária

normas do estado têm apenas o nome. Isso porque uma lei é uma
regra capaz de evitar conflitos se for seguida por todos. E a grande
maioria das normas do estado se refere a qualquer outra coisa que
possa dar vantagem aos amigos do rei.

Nesse contexto, podemos dizer que o libertário deve agir por


meios não convencionais, isto é, meios que sejam inconvenientes
do ponto de vista do estado. Questionar poderia ser uma arma
bastante eficaz para lidar com a oposição da academia. Ao cur-
sar minha faculdade, sempre houve uma pressão para que eu vies-
se justificar minhas posições e assim o fiz. Mas e o adversário?
Raramente estava disposto a dar argumentos convincentes e vá-
lidos a respeito do estado que tanto defendia. O estado está certo
por princípio, uma loucura para qualquer um que tente trazer a
razão em uma discussão sobre filosofia política.

O fato é que o jeito que você vai lidar com o grupo de intelec-
tuais e com o grupo de pessoas mais humildes é bastante diferen-
te. O intelectual possui a arrogância blindada a argumentos váli-
dos, se escondendo através do planejamento estatal da educação
que é pró-estado e que se legitima por meio de sua lei arbitrária e
aprovada pelos próprios parasitas. Mas quanto às pessoas mais
humildes, trabalhadoras e donas de casa, não será a mesma coisa.

Os intelectuais são em geral os melhores alunos da sala.


Aqueles que os professores melhor conseguiram passar seus ensi-
namentos e consequentemente aqueles que estão mais contamina-
dos já que os seus ensinamentos partem da premissa suprema de
Manual da Ação Libertária

que a democracia é a melhor forma de governo, que deve haver um


estado e até pior, que o estado somos nós.

A forma de lidar com esses grupos é variável, e a tendência é


que você não consiga convencer muitos. Afinal, argumentos são
válidos para justificar teses e refutar outros argumentos, mas nem
eu e nem você temos tamanho poder de persuasão que permita a
aquele que enxerga a questão de uma forma tão íntima se render à
razão. Entretanto, o que chama atenção aqui é que o processo não
trata-se de um processo de convencimento, é algo um tanto mais
simples. É sobre inaugurar a dúvida. É sobre a luz posta sobre a
face maligna do estado. Então grite suas respostas, ponha em che-
que seus argumentos, questione. Somente o indivíduo é capaz de
criar suas crenças e ter o autoconhecimento de seus erros.

Ninguém é blindado, e ninguém é inocente demais. E é aí que


reside o poder de uma educação libertária, mais que liberal no
sentido de desinteressada, libertadora.

Muitas iniciativas estão sendo criadas nesse sentido,


geralmente em três grandes eixos que podem e estão a servir
prontamente aos objetivos libertários:
Manual da Ação Libertária

Autogestão
Muito se fala em utilizar a antiga estratégia gramscista de con-
trapor os intelectuais burgueses por meio da produção intelectu-
al, tendo em vista que o próprio estado burguês seria a fonte de
origem dos intelectuais voltados a explicá-lo. Ele propõe:

“Uma filosofia da práxis só pode apresentar-se, inicialmente, em


atitude polêmica e crítica, como superação da maneira de pensar
precedente e do pensamento concreto existente (ou mundo cultural
existente). E, portanto, antes de tudo, como crítica do “senso co-
mum” (e isto após basear-se sobre o senso comum para demonstrar
que “todos” são filósofos e que não se trata de introduzir ex novo
uma ciência na vida individual de “todos”, mas de inovar e tor-
nar “crítica” uma atividade já existente); e, posteriormente, como
crítica da filosofia dos intelectuais, que deu origem à história da
filosofia e que, enquanto individual (e, de fato, ela se desenvolve es-
sencialmente na atividade de indivíduos singulares particularmen-
te dotados), pode ser considerada como “culminâncias” de progresso
do senso comum, pelo menos do senso comum dos estratos mais cultos
da sociedade e, através desses, também do senso comum popular.
(Gramsci 1981, 18).”

Gramsci acredita veementemente que não há algo como uma


ordem natural. Ele acredita que a ordem aqui estabelecida é oriun-
da do senso comum, que a concebe da mesma forma como a deixou
de conceber em eras anteriores. Nesse sentido, a mudança social só
poderia se dar por meio do convencimento intelectual das massas,
no sentido de uma atividade crítica do pensar para com os atos do
mundo, do chamado bom senso orientado por, pelo e para o parti-
do. Tudo emanando de uma classe que se quer ver no poder.
Manual da Ação Libertária

Só há um problema aqui. Diferente dos outros grupos e ideolo-


gias sociais que encontram-se de fato em algum lugar na disputa
inconciliável entre classes, o libertarianismo não tem uma classe
para fazer sua. Mesmo as análises de classes como a de Conger, ou
a de Hoppe, não estão fazendo mais do que identificar que há um
conjunto de indivíduos que antagoniza a perspectiva libertária por
meio de atos coercitivos. Longe de identificarem uma tendência
social, eles estão tratando da mentalidade criminosa (estatista) em
si mesma e não como um ato oriundo de um pensamento de classe.

Essa percepção faz com que a nossa análise social seja muito
mais próxima a um realismo quanto às instituições do que a um
pensamento fundamental de que as instituições estão cooptadas
por esse ou aquele pensamento.

Os problemas estão nas próprias instituições e na forma como


essas foram concebidas como inimigas veementes da ordem natu-
ral, o tipo de pensamento dominante é uma variação do estatismo
propriamente dito e esse não tem forma própria, é apenas impulso
para o conflito.

Nesse sentido, não há o que pensar-se em tomar as universi-


dades e o meio cultural. As instituições são moldadas para o jogo
político, o jogo do todos contra todos, são mecanismos que surgem
justamente para propagar planos de atuação política. Em nada
configuram as instituições criadas pela ação não intencional dos
indivíduos que Menger com tanta eloquência caracterizou.
Manual da Ação Libertária

Tratam-se de constructos artificiais, voltados a engenharia


social e a extirpação do pensamento crítico real.

Então qual é a alternativa dado que a tomada dessas instituições


é jogar em terreno inimigo? A criação imediata de mecanismos de
escoamento da ordem natural. Um exemplo claro é a Universidade
Libertária. Criada com a intenção de fomentar as discussões no-
vamente e criar uma Universidade a parte, fora das universidades
contaminadas pelo MEC, criar uma universidade em que o ensino
seja de fato livre e libertador.

Isso não significa que o ensinamento de tal Universidade seja


sobre libertarianismo em si mesmo. A Universidade é libertária
em um sentido muito mais amplo e todos os pensamentos são am-
plamente aceitos nela, de marxistas a liberais, de anarquistas a
conservadores, todos os grupos são bem vindos na Universidade
Libertária. Mas, ela é libertária no sentido que é feita para além
dos parâmetros do MEC, para além das grades que foram provi-
denciadas e pensadas pelo aparato burocrático.

Ela busca emancipar os sujeitos de algumas crenças fundamen-


tais a esses modelos, como a existência de um parâmetro de au-
toridade que emana do consenso da academia, como o financia-
mento forçado da perpetuação das ideias de dado grupo, como a
existência de parâmetros quase metafísicos de pesquisa que se não
seguidos invalidam o conteúdo, de uma quase adoração para com a
ferrenha indústria de artigos e periódicos.
Manual da Ação Libertária

Ela então se faz diferente e integra o estudo à vida do sujeito. Só


existem as aulas que há retorno para que ocorram. Sendo assim,
um curso de filosofia pode perfeitamente carecer de aulas elabora-
das sobre Immanuel Kant, Tomás de Aquino ou de qualquer au-
tor libertário perfeitamente. Da mesma forma, um professor deve
dar aulas caso queira, escrever caso queira, pesquisar caso queira.
Depende apenas de si como fará para reunir as condições de finan-
ciamento de si mesmo, e mantém uma relação com a Universidade
Libertária na qual essa é apenas uma das partes envolvidas nas
transações que efetivamente pagam seus salários.

Ainda mais, a Universidade Libertária foi criada para dar diplo-


mas daquilo que efetivamente vier a ensinar, algo que há muito as
grades engessadas não tem espaço para permitir. Afinal, se o sujei-
to quer aprender filosofia da ciência, porque deve estudar lógica?
Se quer estudar impressionismo, porque deve estudar cubismo?
Porque é ensinado a ele mais do que ele gostaria?

A Universidade Libertária não tem uma fórmula pronta para


as questões educacionais. Ela se caracteriza apenas por abrir
as portas para todas as possibilidades que não sejam a resposta
pronta criada pelo MEC, para essa porta já há universidades
demais mundo afora. Esse mecanismo auto-gestionário, essa fór-
mula de repensar as relações para além dos parâmetros determi-
nados pelo estado, se concentrando em criar ao invés de mudar
aquilo que foi moldado para não ser mudado é a marca desse eixo.
Manual da Ação Libertária

Revisionismo
Outro eixo extremamente importante é a adoção sistematiza-
da do Revisionismo. É a percepção que a estrutura social é tão
múltipla que as respostas a todos os eventos humanos já terem
sido encontradas cria profunda estranheza em todos que pensam
sobre de forma mais atenta. O pensamento da revolução científica
é interessante e pode nos ajudar aqui. Há a falsa ideia de que os
cientistas do passado estão linearmente conectados com o pensa-
mento de hoje.

Sobre isso diz o brilhante Thomas Kuhn:

“O manual sugere que os cientistas procuram realizar, desde os


primeiros empreendimentos científicos, os objetivos particulares pre-
sentes nos paradigmas atuais. Num processo frequentemente com-
parado à adição de tijolos a uma construção, os cientistas juntaram
um a um os fatos, conceitos, leis ou teorias ao caudal de informações
proporcionado pelo manual científico contemporâneo. Mas não é
assim que uma ciência se desenvolve. Muitos dos quebra-cabeças
da ciência normal contemporânea passaram a existir somente de-
pois da revolução científica mais recente. Poucos deles remontam ao
início histórico da disciplina na qual aparecem atualmente.
As gerações anteriores ocuparam-se com seus próprios problemas,
com seus próprios instrumentos e cânones de resolução. E não fo-
ram apenas os problemas que mudaram, mas toda a rede de fatos e
teorias que o paradigma dos manuais adapta à natureza.”

Não temos nenhum motivo razoável para acreditar que


tenhamos uma linearidade entre a percepção antiga e a percepção
atual do mundo e tal linearidade só pode ser possível se pensada a
Manual da Ação Libertária

luz de um fio condutor aprioristicamente provado na história, de


elementos que estejam disponíveis a todos em todos os tempos e
todos os lugares. Somente à luz de tais reflexões sobre a natureza
humana é que é possível enxergar uma linearidade entre os para-
digmas do passado e do presente.

Sendo assim, a postura que temos que adotar é clara. Precisa-


mos revisitar constantemente os documentos de todos os eventos
históricos, de todas as descobertas científicas e interpretar nossas
ponderações com originalidade quando assim o for, mas demons-
trar que elas poderiam apenas ser parte integrante da própria re-
flexão da época. Isso é uma atitude extremamente importante. Isso
faz com que os mais diversos eventos históricos comecem a ser
visualizados do único componente histórico de todos os eventos
históricos, do dado mínimo: a experiência do indivíduo.

Interdisciplinariedade
Um libertário deve estar profundamente orientado ao fato que a
realidade se apresenta em duas camadas reais e que se comunicam
entre si. A esfera do ideal e a esfera do real. A ação é o instrumento
pelo qual nós transitamos da esfera do que esperamos que aconte-
ça, de nossas especulações, da projeção dos comportamentos para
o que efetivamente acontece, para a concretização ou fracasso das
nossas especulações, para o comportamento concreto.

Ao mesmo tempo em que agimos, atualizamos nossas perspec-


tivas baseados na experiência e então temos uma nova noção do
Manual da Ação Libertária

parâmetro de ação, dos nossos fins, objetivos que almejamos com


as ações. Isso significa que a experiência é um dos parâmetros que
traz a perspectiva sob a qual iremos lançar nossas especulações.
E isso não se dá de forma diferente com as especulações de cunho
teórico.

As ideologias, o liberalismo, o anarquismo, o conservadorismo,


o socialismo e também o libertarianismo, elas existem e são adota-
das pelas pessoas em função da existência de uma parcela comum
de experiência entre as pessoas. Segurança, Liberdade, Tradição,
Partilha, Propriedade. São todos conceitos que fazem menção a
parcelas reais de experiência e que desembocam nas teorias que
deram origem a essas cosmovisões. Ignorar qualquer uma dessas é
ignorar parte da realidade.

O libertário não pode se dar a esse luxo. Deve ler e analisar as


diversas correntes e entender melhor cada uma das parcelas da
realidade que se apresentam diante de si, aproveitando o que se
puder aproveitar de cada uma delas. É nesse sentido que a ação
libertária deve ser interdisciplinar, no sentido de aproveitar ao má-
ximo as reflexões de outras correntes.

Ela também deve ser interdisciplinar no sentido de abranger


todos os indivíduos, com todas as suas capacidades e todas as suas
possibilidades.
Manual da Ação Libertária

Um programador morreria de fome há trezentos anos


atrás, na ausência da expertise do trabalhador no campo11.
Só a divisão de trabalho é capaz de possibilitar a existência do
programador.

E é nesse sentido que devemos ser o mais amplos o possível


para todos os tipos de conhecimento e suas aplicações para a ação
libertária.

Do pedreiro ao físico quântico, todos têm o que adicionar.

Agorismo
Existem diversas correntes libertárias. O gradualismo se ca-
racteriza pela diminuição progressiva do estado por meio da ação
política dentro do próprio estado, enquanto o purismo se caracte-
riza por ações onde os libertários não se envolvem com o estado
como medida de combate, como, por exemplo, não votando, não se
elegendo e buscando não usar serviços do estado. O agorismo se
mostrou ser uma medida em que são usadas formas de vida onde
tentamos nos blindar do estado, emancipando-nos como indivídu-
os através da prática consistente da contra-economia aliada aos
princípios libertários.

O contexto do surgimento do agorismo se deu nos Estados


Unidos, no final do século XX, por meio de Samuel Edward Konkin
III. Em 1968 ele descobriu o libertarianismo ao ler o livro “Revolta
11 Devo essa constatação a um grande defensor da liberdade que participou de discus-
sões importantes para a confecção desse livro.
Manual da Ação Libertária

na Lua” de Robert Heinlein, cujo título original em inglês é “The


Moon Is a Harsh Mistress”. O livro é um romance, sendo assim,
uma ficção, onde conta sobre a revolução libertária que se deu com
a colonização da lua contra seus governantes da Terra. Ele ficou
fascinado pela visão “anarquista racional”, assim descrita no livro,
do personagem “Professor Bernardo de la Paz”, o líder intelec-
tual dos rebeldes na Lua. Mais tarde, Konkin foi estudar química
na Universidade de Wisconsin, nos Estados Unidos, onde através
de seu colega de quarto descobriu os textos da filósofa e roman-
cista Ayn Rand e, depois, dos economistas Ludwig Von Mises e
Murray N. Rothbard. Durante seus estudos também descobriu que o
Professor Bernardo De La Paz, personagem do livro que havia
aberto seus olhos, era baseado em uma pessoa real, o pensador
anarquista de mercado Robert LeFevre.

Em sua obra, “O Manifesto do Novo Libertário”, ele questiona a


respeito de como os libertários devem viver sua vida. E é levado a
concluir que os libertários devem evitar todas as formas possíveis
de dependência do estado.

É importante compreendermos o que é a contra-economia, para


investigar o agorismo ainda mais a fundo, pois a economia faz par-
te do nosso dia-a-dia. Ela é usada pelo estado para controlar a
população, pois a anatomia do estado é de uma entidade coercitiva
que obriga as pessoas à se sujeitarem às suas decisões mas que
fraca demais para sujeitar a todos o tempo todo, precisa fazê-lo de
forma indireta. Com isso, o poder que tem em suas mãos o permite
violar a liberdade individual.
Manual da Ação Libertária

Outro fator que torna importante entender a economia, é


que ela te faz entender como funciona o mundo. Como já dizia o
próprio Konkin:

“Se as pessoas entendessem de economia, governos coercitivos não


existiriam” (Konkin, 2017).

A economia é o fenômeno da ação humana dos indivíduos bus-


cando satisfazer seu conforto diante da escassez material. A es-
cassez é a origem de todos os conflitos e com a economia não é
diferente. Um mercado surge sempre quando há uma apreciação
subjetiva a ser atendida que seja procedida por uma oferta, e como
essa oferta não é infinita, vem à tona a produção e o consumo dos
bens, que se tornarão bens econômicos ao serem misturados bens
de natureza e trabalho humano aplicado.

A prática do agorismo não ocorre, e não deve ocorrer, apenas


porque defendemos o libertarianismo ideologicamente, mas por-
que queremos também nos proteger economicamente. Há razões
o suficiente para descartar totalmente o planejamento econômico
estatal e buscar um sistema que opere para fora das operações do
estado.

etimologia da palavra Agorismo vem da palavra grega Ágora,


que eram os mercados livres onde se discutia política na Grécia
Antiga. Apesar da palavra “ágora” se parecer com a palavra “ago-
ra”, que significa “neste momento”, o termo não possui nenhuma
relação com este significado. Agorismo é um neologismo criado
por Samuel Konkin III.
Manual da Ação Libertária

Gestão de Riscos na Cartilha Agorista


Suponha que você deseje fazer algo Contra Econômico. Para ser
específico, você pode comprar algo por US $10.000 e vendê-lo por
US $20.000. Sua sobrecarga regular é de US $5000. Seu lucro
líquido sobre o investimento é de US $5.000 (em um investimento
de US $15.000, que é 33%, extremamente alto), mas, como há um
risco, como você pode saber se vale a pena?

Digamos que o governo afirme que ele pega 20% daqueles que
fazem o que você quer fazer. Se você for pego, a penalidade será
uma multa (máxima) de US $50.000 ou seis meses de prisão. Sua
“desvantagem-arriscada”, então, é de 20% de US $50.000, ou seja,
US $10.000.

Neste exemplo, não valeria a pena: ganhar US $5.000, mas ar-


riscar perder US $10.000. Se a taxa de apreensão fosse de 10% e a
multa de US $25.000, seu risco seria de US $2.500 para um ganho
de US $5.000. Como é óbvio, você poderia ser pego uma vez em
dez, pagar suas multas e ainda sair à frente.

Naturalmente, todos esses cálculos fazem certas suposições sobre


seus valores subjetivos. Você pode temer riscos ao ponto de adoecer,
e logicamente que qualquer risco para você é demais. Mas também
você pode amar frustrar o estado e assumir altos riscos por ganhos
mais baixos apenas para se divertir.

Na verdade, uma estimativa de risco mais realista incluiria o


preço de um advogado para vencer suas acusações e a probabilidade
de ser condenado após a apreensão.

Suponha que o adiantamento pelo seu advogado aumente sua


sobrecarga em US $1.000 por transação. Agora, sua recompensa é
de US $4.000, mas a taxa de condenações (com barganha e atrasos
Manual da Ação Libertária

nos tribunais) é de apenas 20%. (Novamente, isso é alto em muitas


jurisdições; muitos casos são descartados muito antes de serem jul-
gados.)

Agora seu risco, usando nossos primeiros números, é 20% de 20%


de US $50.000, ou US $2.000. Com um lucro de US $4.000, uma
perda de US $2.000 deteria poucos empreendedores. Se você quiser
uma fórmula simples para o seu próprio negócio, tente isto:

Pagamento Contra-Econômico = Lucro - perda = (Preço


prometido) menos (custo mais12 despesas gerais) menos ((penali-
dade ou multa) x (probabilidade de prisão) x (probabilidade de
condenação)). Se positivo, vá em frente. Se negativo, não vá.
(Konkin III 2018, 47/48).

Esse trecho da Cartilha Agorista foi aproveitado em sua intei-


reza pelo seu caráter incrivelmente didático em relação a como
considerar a contra-economia no papel para decidir se os riscos
devem ou não ser tomados. Nossos comentários aqui devem ser
voltados a trazer um paralelo ainda mais significativo em relação à
essa tomada de decisões.

Quando é que nós podemos considerar que a decisão é subje-


tivamente mais apreciável? Há algum caráter que possa contra-
balançar o risco de ser preso? É aqui que entra o incrível Jeitinho
Brasileiro. Aqui, a maior parte dos processos não vai para frente.
Aqui, a maior parte dos assassinatos não são investigados. Com
12 A fórmula do autor original abate despesas gerais do custo. Porém, é logicamente
dedutível que quanto mais despesas você têm menos você lucra, então seria mais inteli-
gente somar os custos às despesas gerais. A fórmula original do autor é a seguinte: Pa-
gamento Contra-Econômico = Lucro - perda = (Preço prometido) menos (custo menos
despesas gerais) menos ((penalidade ou multa) x (probabilidade de prisão) x (probabilida-
de de condenação))
Manual da Ação Libertária

uma advogado suficientemente displicente, a maior parte dos casos


demora tanto tempo para ser julgado que será improvável que a
pena ainda esteja vigente.

Temos um raro cenário no Brasil em que a mesma coisa que


cria tanta impunidade para bandidos e marginais também é uma de
nossas principais armas. Duvida dessa premissa? Pesquise o tempo
médio de um processo penal numa pesquisa rápida no CNJ. Esses
dados mudam ano a ano, estado a estado, então não valeria a pena
trazer uma pesquisa sem alcance nacional, mas é certo que o tempo
decorrido do processo é um alívio significativo nessa consideração
de riscos.

Além do mais, o tratamento em qualquer país para crimes vio-


lentos e crimes não violentos é significativamente diferente. Li-
bertários costumam envolver-se em crimes sem vítima, de menor
potencial ofensivo, indicando penas menores e mais brandas.

Da Desobediência Civil
A desobediência civil é caracterizada como uma ação que viola
a vontade do poder civil do estado, Mas, como isso é possível se
estamos sendo dominados pelo Leviatã? Com tudo isso que foi
dito, eu espero que o caro leitor tenha entendido que, embora pa-
reça impossível se livrar do estado, a vontade do estado é recor-
rentemente violada.

Basta olhar os noticiários e veremos a corrupção e outras for-


mas de violações de propriedades que não sejam feitas pelo estado.
Manual da Ação Libertária

Ainda sim, antes de bater em qualquer espantalho, peço ao


leitor que entenda que o que eu quero dizer não é que você deva
sair por aí cometendo diversos crimes. O que estou querendo dizer
é que você, libertário, deve violar a vontade do estado em tudo
aquilo que concerne a se defender daquele.

A desobediência civil é, dessa forma, uma legítima defesa contra


o inimigo, que é gangue de ladrões dos parasitas do estado. Com
isso, ainda que você venha a ser perseguido pelo mesmo, ser pego
em emboscadas, ser intimado a depor, ser ainda mais roubado…
tudo valerá a pena se você for capaz de se livrar dele de alguma
maneira.

É verdade que há muitos libertários usuários do estado.


É impossível viver em uma estado-nação sem usar pelo menos
algum serviço deste, como, por exemplo, andar na rua.

Não é possível uma pessoa flutuar pelo espaço, logo, todos nós,
indivíduos, cometemos alguma forma de violação de propriedade.
Mas, isso não significa que nossa vontade de violação foi posta
em funcionamento, apenas a vontade de agir livremente, embora
sejamos violadores dos indivíduos que foram obrigados a financiar
aquela parte usada por nós, seja lá quem quer que seja.

Assim como outros são violadores por usarem partes as quais


nós fomos obrigados a pagar.

É importante frisar: não há dolo aqui.


Manual da Ação Libertária

Entretanto, nenhuma obediência civil compulsória demons-


tra a invalidade do libertarianismo, pois o homem ser antiético é
próprio da sua natureza limitada e imperfeita, especialmente se
este vive no território coercitivo de um estado-nação.

Na verdade, isso só demonstra o quanto o sistema compulsório


do estado é complexo e problemático. O que não se deve aceitar le-
vianamente é a obediência civil quando o oposto poderia ser feito.

Com tudo o que foi dito, é necessário também falar no caso de


David Thoreau, que escreveu um livro com este mesmo título,
A desobediência civil. Thoreau foi um homem que foi preso pelo
estado americano por sonegação de impostos para não financiar
a guerra presente em sua época. Isso será bastante importante
para o capítulo, mais à frente, de presos políticos, e ainda mais
importante para o nosso próximo capítulo, sobre a sonegação de
impostos. A desobediência civil é nossa obrigação maior.

Como afirma Murray N. Rothbard:

“Devemos, portanto, enfatizar a ideia de que “nós” não somos


o estado; o governo não somos “nós”. O estado não “represen-
ta” de nenhuma forma concreta a maioria das pessoas1 . Mas,
mesmo que o fizesse, mesmo que 70% das pessoas decidissem
assassinar os restantes 30%, isso ainda assim seria um homicí-
dio em massa e não um suicídio voluntário por parte da minoria
chacinada. Não se pode permitir que nenhuma metáfora organicis-
ta, nenhuma banalidade irrelevante, obscurece este fato essencial.”
(Rothbard, pag. 8).”
Manual da Ação Libertária

O que fazer então? Tome o hábito de desrespeitar as normas do


estado. Em tempos de quarentena, evite ao máximo respeitar as
normas onde quer que isso represente subserviência ao estado.13

Não vote, não se apresente ao quartel, não tenha um diplo-


ma (ou, de preferência compre-o, essa é a expressão final de des-
prezo ao amor que o sistema tem pelos diplomas), não contrate
indivíduos usando a CLT, não atenda fiscais e funcionários públi-
cos em seu estabelecimento, não tenha uma CNH, não ligue para
as normas do estado, tenha um gato14 em sua casa, fure um poço,
venda sem nota.

Claro que se em alguma dessas questões o estado criar empeci-


lhos o suficiente para desmotivar a ação, como por exemplo o des-
ligamento dos seus documentos caso não se apresente ao quartel
ou até mesmo a prisão caso não use máscara em algum lugar, você
pode reconsiderar fazer essas coisas.

Mas, na medida em que o risco for controlado, na medida em


que puder fazer essas coisas sem receber grandes oposições do
estado, faça-o. Onde puder resistir, seja resistência.

Ninguém está pedindo a você para que seja um mártir, mas que
onde conseguir criar dano ao estado, que se crie.

13 Isso não é uma carta branca para desrespeitar normas privadas. Se discorda de uma
norma privada, apenas boicote o local em questão. Além do mais, se você concorda com
a norma do estado, ela não é uma norma do estado para ti, mas uma expressão da sua
própria vontade. Se acha que deve usar máscaras, por exemplo, por algum motivo maior
do que as ordens do estado, use-as.
14 Desvio da energia elétrica antes dela passar pelo registro.
Manual da Ação Libertária

Do Mercado Negro
Existe uma divisão entre as cores dos tipos de mercados. Mer-
cado negro, branco, cinza e vermelho. O mercado negro se trata
de práticas, que embora sejam ilegais, são morais e salutares, o
mercado vermelho se referem às as práticas que são banidas pelo
estado e são imorais/violentas; o mercado cinza são as práticas
banidas salvo quando aprovadas pelo estado; o mercado rosa são
as práticas aprovadas e conduzidas pelo estado, que são violentas/
coercitivas; e o mercado branco são práticas aprovadas pelo estado.

Aqui iremos nos limitar a falar do mercado negro. O quão re-


levante o mercado negro, no mundo e no Brasil, é? E qual o seu
tamanho?

É complexo mensurar o tamanho do mercado negro, os quais,


nós, libertários agoristas chamamos de “contraeconomia”. Isso não
quer dizer que a contra-economia é o mercado negro, ou todo ele.
Na verdade, sabemos que o mercado negro faz absurdos, mas não
em todos os casos. Então, aqui, nos limitamos a defender ações
não-agressivas do mercado negro.

É importante constatar também que há formas de


contra-economia que não são práticas do mercado negro, como a
sonegação, mas demonstraremos isso nos próximos tópicos.

Nessa direção, os praticantes da contra-economia precisam


se esconder, por questão de proteger a sua própria segurança,
então, apenas por esse motivo, já é muito difícil encontrar informa-
Manual da Ação Libertária

ções referente a esses mercados. Além disso, medir o tamanho do


mercado já é uma tarefa complexa, normalmente a única forma é
através dos relatórios governamentais utilizados para tributação.
Mas, mesmo nesses casos, a tarefa é complexa, pois as pessoas
podem reportar de forma errada, intencionalmente ou não.

Além disso, cada país têm suas próprias leis e categorizações,


bem como as organizações anti-mercado-negro. A ONU (Orga-
nização das Nações Unidas), por exemplo, tem um escritório para
“Drogas e Crimes”, em que faz relatórios anuais do número de
apreensões de drogas, de armas, de animais selvagens e outras eco-
nomias normalmente proibidas pelos estados.

Apesar de não divulgarem mais estimativas sobre o tamanho do


mercado de drogas, eles fizeram essa estimativa em 2005. Nesse
relatório de 2005, eles estimaram que em 2003 o mercado ilegal de
drogas era de 320 bilhões de dólares no ano.

Fazendo algumas estimativas baseadas nos números atualiza-


dos que a própria ONU oferece, como número de pessoas que uti-
lizaram drogas ilegais e número de apreensões de droga, fizemos
algumas estimativas, chegando em algo em torno 727 bilhões de
dólares ao ano.

Falando apenas de economia informal, no Brasil ela representa


pelo menos 17% do PIB. Isso é o que as estimativas mais conser-
vadoras demonstram, mas algumas estimativas, como as de um
estudo do Fundo Monetário Internacional, o valor da economia
Manual da Ação Libertária

informal no Brasil chega a mais de 35% do PIB brasileiro. E se


somarmos outros setores, esse número pode ser ainda maior.

O mercado de drogas, por exemplo, se utilizarmos as mesmas


estimativas com base nos dados da ONU, chegamos em um mer-
cado de 20,3 bilhões de dólares por ano no Brasil. Isso representa
mais de um por cento do PIB brasileiro.

Estimando o tamanho do mercado de prostituição, soma-se


mais um bilhão de dólares. Apenas para comparação, a agricultura
no Brasil representa 4,4% do PIB e a indústria automotiva repre-
senta 6%. Estamos dizendo que a contra-economia no Brasil pode
representar até 6 vezes o tamanho da indústria automotiva.

Da Formação dos Mercados Alternativos


A coisa mais importante a se ter em mente é que por maior que
sejam os mercados alternativos no Brasil é que eles não possuem
uma identidade propriamente libertária. Eles são imbuídos de
uma ótica de informalidade misturada com sobrevivência. Tome
a Uruguaiana ou a 25 de março como exemplos. Ali, diversos atos
relativos a mercados negros e cinzas ocorrem de forma livre, até
mesmo ligados ao mercado vermelho, na forma de clínicas de abor-
to/remédios abortivos.

Entretanto, não há uma perspectiva entre aquelas pessoas de


que eles estejam fazendo algo propriamente dito libertário, o que
impede que eles partilhem das mesmas posições que nós na prática
Manual da Ação Libertária

em várias situações. Um exemplo claro é a quantidade de produ-


tos roubados e falsificações fraudulentas que encontramos nesses
locais. Por esse e outros motivos se faz necessária a criação de
locais tipicamente libertários.

Para isso, propõe-se aqui a criação de redes locais utilizando-se


do sistema de Trust Chain, no qual a integridade dos membros é
garantida por uma rede. A ideia é simples, começando-se por ânco-
ras de confiança, nós estabelecemos uma cadeia em que os primei-
ros membros possuirão um indivíduo em comum que será aquele
que dirá que todos aqueles indivíduos fundadores são indivíduos
confiáveis.

Logo depois, esses membros confiáveis podem relacionar-se


entre si baseados na confiança na âncora por eles. Emanando dessa
confiança que todos tem no fundador, eles passam a poder inserir
novos membros na cadeia, responsabilizando-se pelo membro em
questão. Para ilustrar:
Manual da Ação Libertária

Numa rede como essas, todos os indivíduos estão autenticados,


e todos os indivíduos podem fazer transações com todos os indiví-
duos anteriores e de outras cadeias subsequentes da primeira. Cla-
ro que para cada âncora menor, a entrada em cadeias de derivação
colaterais são menos confiáveis que cadeias diretas, mas isso não
impede que elas estejam assinadas para início de conversa.

Pense assim: João fundou uma Trust Chain. Ele conhece Pedro,
Ricardo e Marco e confia neles. Pedro, Ricardo e Marco tem uma
relação de distância entre eles. Agora, pense que Ricardo, Daniel
e Pedro chamem três indivíduos, Ricardinho, Marquinho e Pedri-
nho, cada um deles agora é parte da rede. Eles confiam na rede
porque Ricardo, Marcos e Pedro, respectivamente, confiam na rede
por confiarem em João. Sendo assim,a chance deles aceitarem fazer
uma troca com Pedro, Ricardo e Marco está no quanto confiam no
julgamento de quem os trouxe para a rede sobre a confiança em
João.

Agora, imagine que Marquinhos decide chamar Marcão e Mar-


co Aurélio para a rede. Ao chamá-los, quando eles realizam trocas
com Marco eles estão a uma pessoa de distância, Marquinhos, e
por confiarem no julgamento de Marquinhos sobre Marco é que
aceitam transacionar com Marco.

Claro que é mais fácil quando isso acontece e as relações são


diretas. Mais difícil seria se Marco Aurélio fosse ter uma relação
com Pedrinho.
Manual da Ação Libertária

Ele depende de confiar no julgamento de Marquinho sobre


Marco, no julgamento de Marco sobre João, no julgamento de João
sobre Pedro e no julgamento de Pedro sobre Pedrinho.

Algo como na figura:

Agora, conjecturando que Marco Aurélio e Marco façam trocas


bem sucedidas com Pedrinho e com Ricardo não, que ele acabe
protagonizando uma fraude que é identificada por todos.

O que acontece? A cadeia de confiança que envolve Ricardo é


removida da Trust Chain, mas a cadeia que envolve as relações
com Pedro e Pedrinho é aumentada.

Como na figura abaixo:


Manual da Ação Libertária

Qual a cadeia mais confiável? A que possui um número maior de


conectores. Sabemos que ela não apenas reúne mais recursos, mas
que foi posta à prova mais vezes. A cadeia oriunda de Marco au-
mentou mais do que a cadeia oriunda de Pedro, ela foi mais testada
do que a de Pedro, porque mais confiança precisou ser administra-
da (a distância de pedro para a âncora é menor do que a de Marcão
e Marco Aurélio)

Quando uma cadeia tem milhares de transações bem sucedi-


das, quando ela possui vários e vários membros sem se desfazer,
é possível pensar em transacionar níveis acima e preservar-se nas
relações de mais confiança. Enquanto isso não é possível nas rela-
ções colaterais

Sendo assim, a melhor forma de aplicar o conceito de trust


chain de forma segura é expandi-lo.
Manual da Ação Libertária

E para isso, recomenda-se a criação de grupos locais envolvidos


com mercados paralelos. Recomenda-se a utilização de tokens es-
pecíficos para os grupos, de tal forma que o dinheiro em questão
seja transferido única e exclusivamente nesse token. Isso faz com
que a transação não passe em moeda estatal e seja menos reconhe-
cível.

Além do mais, recomenda-se a troca de produtos simples, como


carne, leite, ovos, roupas e afins. Fazendo-se o possível para in-
cluir pessoas do dia-a-dia nessa trust chain, de preferência criando
um sistema de reputação para privilegiar determinados braços da
trust chain baseado no número de transações e reputação histórica
da mesma.

Essa teia também tem a vantagem que a relação entre Marco


Aurélio e Ricardinho que resultou em fraude só aconteceu porque
Marco Aurélio foi informado da existência de outros ramos da ca-
deia, porque do contrário, uma mesma trust chain pode ter diver-
sos ramos sem que os participantes saibam quem são aqueles que
participam nos outros ramos, ou até mesmo em níveis superiores
dentro daquele mesmo ramos

Ramos mais confiáveis irão prosperar enquanto ramos menos


confiáveis irão morrer. É só pensar que Marquinhos agora dá ori-
gem a dois ramos diferentes que podem convergir ou não, baseado
em se eles vão ou não querer que convirja quando repassarem a
chave para a próxima pessoa da cadeia. Além do mais, isso solucio-
na um problema que seria a corrupção de ramos da cadeia.
Manual da Ação Libertária

Caso Marco Aurélio ao indicar alguém erre na sua indicação, o


ramo maior de Marcão continuará ativo, sem contaminação.

Isso se dá porque o fiel de todas as balanças, a âncora que


poderia contaminar a todos, é João e todos os outros ramos só
terão um problema se esse primeiro braço for contaminado.
E, até mesmo nesse caso, é possível quebrar a cadeia e continuar de
um determinado ponto. Digamos que João seja preso e seja consi-
derado contaminado. O que aconteceria com os outros ramos seria
a contaminação geral. Mas, ramos menores podem continuar suas
transações normalmente, por meio da criação de um novo token ou
da adoção do token com a matriz começando em Marco ou Pedro,
com a “queima” dos tokens em posse de João, pela inaceitabilidade
dos tokens por não passarem pela assinatura vigente.

Para isso, basta que todos os signatários reconheçam a altera-


ção do ramo de Marco em uma âncora primária. As assinaturas
anteriores seriam deletadas, removendo o ramo de Pedro, mas não
as interações de Pedrinho e outros desse ramo com o ramo maior,
preservando a memória das relações bem sucedidas da cadeia.

Mantendo assim um sofisticado sistema de reputação que, de-


pois de iniciado, não poderia ser parado nem mesmo pela prisão
dos membros fundadores ou por rixas entre os membros que po-
dem a qualquer momento optarem por ramos menores e quebra-
rem a corrente em prol da saúde da rede.
Manual da Ação Libertária

Do processo de organização
Quanto ao começo, comece imediatamente por algum lugar.
Você necessariamente será líder ou liderado nesse processo. Se for
líder, comece imediatamente a reunir os membros que tem inte-
resse em sua localidade. A internet é um lugar interessante para
começar, mas não descarte o boca a boca na sua região. Se for ser
liderado (e a maior parte de nós será), se coloque à disposição,
coloque seu bolso, seu tempo, sua rede de conhecidos e seu conhe-
cimento técnico à disposição.

Ninguém está dizendo pra deixar de sustentar-se e pensar ex-


clusivamente num coletivo. Parte dos valores morais de um liber-
tário o levam a acreditar que homem algum deve ser um fardo
para o outro. Mas, o de direcionar concretamente recursos para a
mudança que deseja ver no mundo. Se decidirem usar-se de algum
aparato tecnológico desde o início, considere usar redes já bem es-
tabelecidas, ou investir no aprimoramento de alguma rede já usa-
da, tendo em vista que redes já testadas são mais fortes.

Busquem morar próximo de outros libertários, ruas libertárias


devem ser pensadas buscando-se sempre como critério a propen-
são a ação libertária nessa localidade. Baixa resistência policial,
baixo efetivo, cultura local propícia e afins.15
15 Uma objeção natural a essa questão é que isso tornaria fácil demais prender libertá-
rios, já que estariam todos juntos. Mas, a questão é mais simples do que parece, existem
limites práticos e mesmo que se quisesse manter todas as lideranças libertárias no mes-
mo local não seria possível. Essas limitações, de todo tipo de ordem, seja por inimizade
ou de recursos suficientes para tal, mantém o equilíbrio de localidades necessário para
que a perpetuação e sobrevivência Essas limitações, de todo tipo de ordem, seja por ini-
mizade ou de recursos suficientes para tal, mantém o equilíbrio de localidades necessário
para que a perpetuação e sobrevivência do credo libertário seja possível.
Manual da Ação Libertária

Outra coisa a ser pensada é que os libertários precisarão de


fundações e rostos para esse processo. Considerações quanto a li-
bertação de presos políticos serão feitas mais a frente, mas já vale
salientar que esses serão os primeiros a serem presos. Vale lembrar
também a necessidade da manutenção de frentes amplas entre li-
bertários com a finalidade de consolidar redes do tipo. Já somos
numerosos o suficiente para que algo assim seja possível, o que
impede os libertários atuais com maiores públicos de consolidar
algo do tipo é tão somente a inércia, a dedicação ao meio político
eleitoral e a intriga não produtiva entre os grupos.

Da Sonegação
A sonegação de impostos é o não pagamento de impostos, des-
viando o dinheiro que, supostamente, iria para a Receita Fede-
ral, para outro cofre que não para os “cofres públicos”. Inclusive,
este mesmo nome, “cofres públicos” é uma piada, tendo em vista
que não temos acesso aos nossos próprios bens e estes não foram
tomados pela nossa vontade.

Não há nada de público em algo que eu não possa ir lá e fazer


uso quando quiser. Trata-se da propriedade privada dos gover-
nantes.

Muitos famosos já foram suspeitos de sonegação de impostos,


desde o ídolo Neymar, do futebol brasileiro, até Renan Santos, um
dos líderes do MBL - Movimento Brasil Livre, um movimento
político de direita, mesmo este também tendo defendido que im-
Manual da Ação Libertária

posto não era roubo por conta da dívida histórica com seus an-
cestrais. Nós sabemos muito bem da enorme carga de impostos
que temos aqui no Brasil, pois somos, diariamente, taxados sobre
diversos espectros econômicos, como no consumo, na renda, na
importação, etc. Mas uma coisa que chama muita atenção é a com-
plexidade deste sistema tributário.

Esse livro de 7 toneladas e 2,10 de altura é a legislação brasilei-


ra tributária consolidada parcialmente. Ninguém sabe realmente
o que precisa pagar de impostos. Se fossemos pagar tudo o que é
supostamente devido, não faríamos mais nada a não ser calcular
impostos, taxas e deduções. É justamente desse cenário que con-
vidamos você a se aproveitar. Não há porque pensar em pagar a
totalidade dos seus impostos. Em verdade, deve-se sempre fazer
a opção por certo nível de sonegação. Para isso, existirão sempre
diversas possibilidades que estão operantes em determinado perí-
odo tributário.

Algumas são mais permanentes e é delas que iremos tratar.


A primeira delas é a utilização de laranjas. Um laranja é alguém
que empresta seu CPF para que determinada fonte de renda que
faria a renda/patrimônio do sonegador ser maior do que o X que
o estado considera isento ou pagador de uma alíquota menor, ou
ainda pagador de um valor menor não venha a pagar o valor cheio
relativo às cobranças.
Manual da Ação Libertária

A utilização de laranjas é extremamente importante. Um


grupo de amigos próximos utilizam-se da famosa dupla MEI16
+ Laranjas para fazerem com que negócios que giram 1 a 1.5
milhão de reais ao ano não paguem impostos.

Além dos laranjas, temos a famosa compra fantasma. É a


compra que é feita de um fornecedor sem nota fiscal e que é re-
passada para o consumidor com uma espécie de nota recibo,
que não carrega consigo a nota fiscal. Os donos do estabeleci-
mento então emitem apenas uma parcela das notas reais e eva-
dem-se de milhares em impostos. Essa tática era mais usada
antigamente porque o fluxo de dinheiro físico permitia aos ne-
gócios que não passassem por sistemas bancários integrados.
Hoje, em tempos de cartão de crédito, é cada vez mais difícil se
valer dessa tática. Mas, tudo indica que com a crescente da ado-
ção de criptos, tenhamos mais e mais novas compras fantasmas
ocorrendo.

Além disso, descontos para compra à vista são extremamente


importantes, na medida em que dinheiro físico é hoje mais escondi-
do da fiscalização do que dinheiro virtual. Uma recomendação em
tempos de inflação é a compra (sempre por meios escusos e discre-
tos) de ouro e reservas de valor similares como o bitcoin, já que a
valorização desses ativos é difícil das autoridades perceberem.

Uma dica valiosa é o receber em moeda estrangeira. Sempre


que puder fuja do real. Isso é necessário porque as formas de busca
16 Modelo de tributação voltado apenas a pequenos empreendedores, com alíquotas de
imposto menores e isenção de até R$60.000 ao ano em impostos.
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dos órgãos de justiça, como o Renajud, Infojud e afins é sempre


através de instituições bancárias e patrimônios estáticos. Quando
seu dinheiro está centrado em alguma empresa estrangeira você
foge bastante da jurisdição imediata do governo brasileiro, evi-
tando assim o fisco, ainda que eles venham a suspeitar de alguma
atividade incomum.

Do Armamento
O desarmamento da população é uma das formas mais eficazes
que o estado encontrou para controlar seu povo. O controle da
população que os parasitas possuem se dá, em sua maior conta,
porque ele detém o monopólio do uso da força. Na verdade, o que o
estado é, segundo Murray N. Rothbard, em “Anatomia do estado”
é isso: A organização dos meios políticos, e os meios políticos são
o monopólio do uso da força. Ter armas é essencial, não apenas
porque dilui o poder do estado, mas também porque coíbe abusos.

Sabemos bem que se um libertário andar demais na “linha” que


implica a lei estatal, ele será tratado como um gado pronto para o
matadouro. Isso porque o estado nos desarma justamente com a
expectativa de nos deixar indefesos. Até nos países onde o arma-
mento é liberado há limitação, pois não é permitido todo o poder
bélico na mão de um indivíduo que o interesse do estado é mani-
pular.

O fato é que é um grande absurdo que o estado nos impeça de


nós mesmos nos protegermos. Isso é pensado com a justificativa de
Manual da Ação Libertária

evitar crimes. Todavia, por acaso, bandidos deixam de ter armas?


Creio que não. As únicas pessoas que deixam de ter seu próprio
armamento somos eu e você, que somos, para estes lobos, ovelhas
prontas para o matadouro - e quem poupa lobo sacrifica a ovelha.

Um pai de família pode muito bem ser um assassino assim


como pode muito bem ser alguém que quer proteger a sua família.
Não há como verificar isso sem que essa hipótese seja testada.

Dito isso, o armamento na casa de cada libertário é uma


necessidade.

Para isso, algumas medidas vêm a calhar.

• Frequente um campo de tiro: O melhor lugar para


ter acesso a armas é perto de quem já tem acesso a armas.
Encontrar ali pessoas para converter ao libertarianismo é
poder passar armas de um lado para outro em possíveis
conflitos armados.

• Imprima armas 3d. Alguns libertários estão comprando


armas 3d e propositadamente alardeando isso aos sete mares.
O movimento que está se dando no Brasil nesse sentido tem
uma direção: incentivar a impressão de armas 3D. Aborde per-
sonalidades libertárias que tenham impressoras 3D. Providen-
cie o material e caso seja necessário algum upgrade específico
para aquela arma, a cortesia diz que esses gastos devem sair
do seu bolso.
Manual da Ação Libertária

• Caso more no Rio de Janeiro ou em São Paulo (ou qual-


quer região relacionada semelhante), há algumas favelas que
são profundamente abertas à venda de armas, contate liber-
tários da região em prol da localização desses. Agoristas em
geral, principalmente aqueles que usam drogas, possuem
contatos nessas favelas.

• Evite comprar armas quentes (com registros na polícia e


afins). Muitas vezes um disparo realizado por uma arma quen-
te te rende mais problemas do que a arma fria. Uma alterna-
tiva é comprar a arma quente e realizar correções no chassi
da arma. Outra alternativa é comprar a arma de alguns dos
poucos libertários que são torneiros mecânicos e similares.

Da Libertação dos Presos Políticos


Com a intensidade da atividade libertária aumentando, aumen-
tará também o cometimento de “crimes”, dentro das definições
estatais para “crime”. e mais perigosa a vida se tornará. Nesse con-
texto, o estado, que não quer ter o seu poderio ameaçado, irá nos
caçar e nos colocar sob pressão. O que pode acontecer é sempre
muito sério, pois uma das possibilidades é a tortura, e não é neces-
sário que o governo seja uma ditadura militar para isso acontecer.

Caso um de nós sejamos presos, é quase uma obrigação nos-


sa como libertários, trabalhar no processo de libertação desses
presos. É claro, sempre começando pelos componentes secundá-
rios associados a tal: auxílio às famílias que estejam dependentes,
Manual da Ação Libertária

financiamento e administração de eventuais continuações das


atividades criminosas (apenas de crimes sem vítimas) que esses
estivessem realizando para sustento de sua família, envio de
cigarros e outros itens úteis para a cadeia bem como a divulgação
sistemática na mídia do acontecimento.

Além disso, há a necessidade de se trabalhar na fuga da pri-


são desse libertário. Fugas são relativamente comuns nas cadeias
brasileiras e são importantes justamente porque há pouco envol-
vimento dos libertários com as facções e manter a atividade crimi-
nosa libertária como na verdade “criminosa”, apenas com a prática
de crimes sem vítima, é algo vital.

Entretanto, caso esse preso considere viável a hipótese de


formar relações na cadeia, com vistas a continuar a prática de
atividades “criminosas”, um roteiro de ações é importante de
manter em vista. É necessário criar um sinal para todos ali de que
você é um libertário. Pessoas procuram pessoas e embora alguns
presos possam fazer isso em vão, quão recompensador não será o
momento em que seu símbolo for respondido com generosidade?

Sendo assim, a tatuagem de símbolos que façam menção ao


libertarianismo, como a cobra de Gadsden, seriam interessantes.17
Idealmente, formar uma facção na cadeia poderia ser uma solução
interessante para evitar que indivíduos pacíficos venham a envol-
ver-se em atividades criminosas. A propagação de ideais libertá-
17 Atenção a diferenciação entre a Cobra de Gadsden e outras cobras. A cobra habitual
já é um símbolo em algumas cadeias que remonta a fofoca e traição. Mas, passa inteira-
mente batida em outras cadeias. Entender isso é extremamente importante no contexto
específico, não tatue algo que possa fazê-lo ser morto.
Manual da Ação Libertária

rios na cadeia também deve ser tentada. Afinal, poucos indivídu-


os conhecem mais a força de repreensão do estado que presos, a
prisão acaba retirando o véu por sobre a verdadeira face maligna
do estado.

Tudo isso deve ser feito visando e buscando ao máximo a


manutenção dos princípios de propriedade privada, usando-se a
força apenas para defesa.

Entretanto, vale lembrar que do ponto de vista da ação libertá-


ria os agentes penitenciários são literais sequestradores e o uso da

força contra os mesmos pode ter isso em mente.

Das Criptomoedas
O Bitcoin, herdeiro que é da tradição libertária, cypherpunk e
cripto-anarquista, vem resolver alguns problemas incríveis, como
o problema dos generais bizantinos, e vem aplicar questões de pre-
ferência temporal à criação da moeda.

A extensão dessas soluções precisa ser estabelecida na mente


do libertário para que ele entenda nitidamente a revolução silen-
ciosa que foi o Bitcoin.

Então, comecemos pelo básico. Qual o primeiro problema que o


Bitcoin veio resolver? Partindo-se do princípio que toda moeda é
um meio de troca indireto entre dois indivíduos que estão trocan-
do o produto A pelo produto Moeda para então irem com a Moeda
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no estabelecimento X que vende o produto D que eles queriam, ao


invés de múltiplos escambos, ou seja, fazer trocas de A com B, B
com C e então C com D para obter D; nós entendemos que a moe-
da é um ativo circulante que depende estritamente da nossa capaci-
dade de irmos até o estabelecimento X e vermos a moeda aceita ali.

Só que para isso é necessário confiar-se que a moeda em ques-


tão, usada para comprar o produto A, de fato será aceita no estabe-
lecimento X. Para isso, não basta apenas que estes aceitem a moe-
da Real, por exemplo. É necessário que no ato de venda do produto
A pela moeda Real, de fato a moeda Real esteja sendo usada e não
uma falsificação ou coisa do tipo.

Para isso, a solução dada pelo estado foi relativamente simples e


consistiu em dois lados - um sistema de verificação físico, a famosa
marca d’água da nota, e a proibição de todos os outros de emitirem
moeda, ainda que eles tenham ouro para lastrear essa emissão. Daí
surge a casa da moeda. Veja que houveram dois sistemas unidos
aqui, um sistema jurídico de oposição a novos emitentes e um sis-
tema prévio de verificação das moedas para apoiar os comerciantes.

O sistema jurídico aqui evidentemente só precisa existir jus-


tamente porque, apesar de dificultar o processo de falsificação, o
sistema tinha falhas. Agora, qual a única forma de resolver esse
problema sem a utilização de um sistema central lidando com os
casos em que as falsificações passassem? 0O processo de auten-
ticação tem que ser extremamente rigoroso, eficiente a ponto de
independer de um ente coercitivo forçando o sistema na outra
Manual da Ação Libertária

ponta. Fisicamente, não era possível resolver esse problema sem


chamar atenção do estado. Para lidar melhor sem a intervenção do
governo, essa luta por uma moeda sem controle estatal partiu para
o mundo digital.

Existe um problema bem simples, mas inacreditavelmente com-


plexo para uma moeda virtual e que impediu essa solução de surgir
durante anos. Uma vez que eu gasto meu dinheiro físico em um es-
tabelecimento, não há formas de gastar novamente esse dinheiro.
Ele agora é propriedade de outra pessoa. Mas, em virtude da forma
como funciona a computação, em essência é tudo uma série de 0 e
1, assim há o problema desse dinheiro poder ser gasto duas vezes e
você acreditar que o dobro, o triplo, o quanto mais um sujeito mal
intencionado quisesse, de riqueza estaria circulando na economia.
Uma catástrofe que faria até mesmo os keynesianos mais radicais
questionarem a oferta monetária dessa economia virtual.

Além disso, uma moeda que surge em oposição ao componente


centralizador da moeda estatal é naturalmente uma moeda sujeita
a ataques por parte dos estados e de uma série de bandidos que
com o estado são lidados pelo uso da força física. É necessário en-
contrar uma forma de impedir seguramente ataques ao sistema,
por meio de um sistema de coordenação que permita a aqueles que
são boas figuras se distanciar daqueles que seriam problemas para
a moeda.
Manual da Ação Libertária

O problema que melhor ilustra isso é o problema dos gene-


rais bizantinos. Um castelo deve ser invadido, um bem equipado e
bem guardado. Os generais estão cercando o castelo. O general A
planeja lançar o ataque. Entretanto, como o exército está bem es-
palhado, o general não tem um controle centralizado sobre ele. O
único jeito de derrotar o castelo é se as forças bizantinas lançarem
um ataque planejado e sincronizado. Se houver alguma comunica-
ção errônea, o ataque vai falhar. Em termos de planejamento co-
mum, o único jeito que os generais tem de sincronizar os ataques
é enviar mensagem por mensageiros.

Dito isso, há diversos cenários que podem levar à falha. Os men-


sageiros podem ser traidores, passando mensagens incorretas. Um
dos mensageiros pode ser capturado e a mensagem pode acabar
vazando, algum dos generais pode acabar traindo o exército. Em
suma, existem diversos obstáculos que concernem à possibilidade
de coordenar generais afastados entre si. E é esse cenário que as-
solava todos os apoiadores de uma moeda privada virtual.

A solução foi genial. Verificamos o dinheiro físico usando os


elementos físicos contidos na moeda, então porque não verificar a
moeda pelos atributos dela? Para isso, foi criado um grande mural
público. Esse mural possui todas as transações que já foram reali-
zadas. E cada nova transação terá necessariamente uma cópia de
todo esse mural incluído nele18.

18 Na verdade, o que consta na transação é uma divisão entre o cabeçalho e o corpo do


bloco, onde em cada bloco consta uma menção a transação anterior, garantindo a preser-
vação da rede em cadeia. Mas, esse é um detalhe técnico.
Manual da Ação Libertária

Incluiu-se um processo de checagem, esse trabalho de checa-


gem era basicamente a tarefa ingrata, porém bem remunerada, de
descobrir qual seria a numeração do próximo bloco que iria para
o mural.

O algoritmo escolhido foi o sha256, um algoritmo que tem a


característica de só poder ser resolvido passando por todas as pos-
sibilidades dele e apresentando elas para o sistema.

Isso impede que mensageiros, isto é mineradores, tentem achar


o número por outro tipo de caminho mais curto, que não exigisse
passar por esse processo de checagem dispendioso.

Apenas a transação com maior número de blocos e confirma-


ções é que é adotada pelo resto da rede. É uma forma de basear o
sistema na prova de trabalho e não na confiança19.

Além disso, os blocos que entram no sistema são ajustados para


terem uma dificuldade padrão, essa dificuldade faz com que os nú-
meros dos blocos sejam encontrados a cada 10 minutos. Caso os
blocos estejam sendo encontrados mais rápido do que em 10 minu-
tos, então a dificuldade para achar o novo bloco será aumentada, o
contrário irá diminuir a dificuldade da rede.

Com esses sistemas, enquanto o bitcoin tiver 50% + 1 dos seu


poder computacional sendo utilizado por agentes bem intenciona-
dos, ele poderá manter-se íntegro como moeda.
19 Na verdade, o sistema é baseado no consenso criado pela prova de trabalho, mas isso
exigiria discutir outros modelos possíveis de consenso, tarefa que exigiria um espaço que
não há num manual.
Manual da Ação Libertária

Esse mecanismo, aliado a sistemas como a Trust Chain apre-


sentada anteriormente, é extremamente importante para fazer ca-
minhos paralelos que não dependam da verificação de uma entida-
de centralizadora como o estado

Algumas dicas relevantes para o uso do bitcoin que provavel-


mente serão úteis durante um bom tempo são:

• Para mais segurança e privacidade, rode um “node”


completo. É possível apoiar esse processo por man-
ter uma cópia integral e conectada a rede de todo o
mural do bitcoin: blockchain, a corrente de blocos.
É uma forma fácil de fazer uma carteira sem depender de ter-
ceiros, além de ajudar a manter descentralizada a rede. É pos-
sível baixá-la no site https://bitcoin.org/en/bitcoin-core/.

• Evite corretoras (exchanges) centralizadas, principal-


mente aquelas que mantêm registros da sua identidade. Duas
exchanges extremamente úteis (e antigas) para qualquer um
que queira se ocupar disso são a https://bisq.network/ e a
https://localbitcoins.com/

• Procure carteiras que sejam multi-assinaturas, esta solu-


ção exige múltiplas assinaturas de diferentes chaves para tran-
sacionar o saldo; estas chaves podem ser distribuídas entre
diferentes indivíduos ou em diferentes locais de sua preferên-
cia, assim você pode ter mais controle do seu criptoativo.

• Faça backups seguros de suas chaves. Para


Manual da Ação Libertária

backups digitais, uma dica importante é criptografar


com uma boa senha e distribuir o arquivo em diferen-
tes locais como na nuvem, em pendrives, CDs, HDs e etc.
Você também pode usar paper-wallets, em que você anota a
chave em um papel e guarda-o com segurança. Para quem esti-
ver disposto a gastar um pouco mais, existem hardwares espe-
cializados no armazenamento seguro de chaves privadas, são
as hard-wallets. E por último, uma solução ainda mais avan-
çada são as brain-wallets - é possível memorizar palavras que
juntas formam sua chave privada (mnemonic), deixando-as em
lugar nenhum a não ser em sua cabeça - é um método arris-
cado, pois você pode esquecer, mas que prova o nível de sigilo
que uma criptomoeda pode dar-nos.

• Adote soluções sidechain. A comunidade bitcoin é extre-


mamente ativa e está sempre procurando formas de resolver
problemas estruturais como a Rede Lightning, uma solução de
camada, que vem para diminuir o peso no bolso daqueles que
querem fazer pequenas transações em Bitcoin sem pagar taxas
excessivas, criando canais de pagamento.

• Procure por Coin Join e BTC Pay Server. A primeira é


uma forma de embaralhar os participantes de uma transação
em busca de mais privacidade e o segundo é um terminal de
pagamento para empresas que querem passar a aceitar bitcoin.

• Entenda o conceito por trás das chaves públicas e priva-


das. Procure por algoritmos de curva elíptica e Função Trap-
Manual da Ação Libertária

door. Ler o White Paper do Bitcoin também é uma boa pedida.


Infelizmente desenvolver a matemática por trás da coisa toda
não seria possível aqui.

Das alternativas ao Bitcoin


Sendo um livre mercado de fato, sem as barreiras estatais, todos
os dias novas criptomoedas surgem, buscando solucionar diferen-
tes necessidades. Algumas tentam ser apenas mais eficientes que o
Bitcoin, como as criptomoedas baseadas em diferentes protocolos
de consenso como o PoS (Proof of Stake) e suas variações, en-
quanto outras tentam solucionar problemas completamente dife-
rentes, como os criptoativos de contratos inteligentes e criação de
tokens, as criptomoedas focadas em anonimato, armazenamento
descentralizado, stablecoins e etc.

Diversos outros projetos estão acontecendo, com diversos ou-


tros surgindo todos os dias. Como são tecnologias novas, ainda
é cedo para dizer quais serão mais populares; caberá ao mercado
decidir com base em suas principais demandas. Mas é inegável o
quanto várias delas já estão contribuindo para uma sociedade cada
vez mais livre.

Citemos algumas menções honrosas abaixo com o único propó-


sito elucidativo:
Manual da Ação Libertária

Nano e a morte das taxas

O surgimento de novos modelos de consenso possibilitou ainda


mais inovações e vantagens, como uma segurança descentralizada
mais robusta e transparente sem a necessidade de alto gasto ener-
gético proveniente do tradicional PoW (Proof of Work), taxas
zero e maior escalabilidade.

Um dos projetos que destaca-se neste sentido é a Nano, uma


criptomoeda criada do zero com uma arquitetura original deno-
minada “Block-Lattice”, onde cada conta possui sua própria blo-
ckchain, possibilitando transações instantâneas e escalabilidade
virtualmente ilimitada

Por ser assíncrona, a rede da Nano não impõe limites artifi-


ciais de confirmações por segundo. Ao transacionar, basta que seu
bloco seja válido, isto é, siga as regras da rede, como ter um saldo
válido e a assinatura corresponder à conta proprietária, que a rede
confirmará o seu bloco o mais rápido possível, geralmente levando
menos de 200 ms (1/5 de segundo).

Esse processo de confirmação é chamado de eleição e os respon-


sáveis pela votação são os PRs (Principals Representatives) - aqui
adentramos no sistema de consenso da Nano, o ORV (Open Repre-
sentative Voting) - um mecanismo de consenso único, semelhante
ao DPoS (Delegated Proof of Stake), porém mais aberto20.

20 As principais criptomoedas que usam DPoS geralmente limitam o número de Repre-


sentatives, exigem configurações especiais dos Representantives e nem sempre são de
fato “abertas” para novos Reps, têm métodos de staking e etc. Exemplos: EOS e Bitshares
Manual da Ação Libertária

Neste, cada stake-holder (usuário com algum saldo em Nano)


tem um peso de voto nas eleições da rede de acordo com seu stake;
por exemplo, se existem 100 milhões de Nano, alguém que tenha 1
milhão de Nano possui 1% do peso de voto.

Ele pode então rodar um Node com sua conta ou pode dele-
gar esse peso de voto para outra conta, de outro Node - chama-
mos uma conta votante com peso de stake de Representative. Os
PRs são aqueles com 0.1% do poder de voto online ou mais e é o
hardware destes que define a velocidade e capacidade da rede Nano.

Portanto, os usuários também podem ajudar a rede proativa-


mente, delegando seu poder de voto para os melhores Reps, ou
seja, aqueles mais confiáveis e com melhores hardwares21.

No ORV da Nano, cada bloco é considerado confirmado ao


atingir-se um determinado consenso, atualmente 67%. Assim, é
preciso que a massiva maioria do peso de voto estivesse concentra-
do em agentes maliciosos para a rede ser corrompida; no entanto a
tendência é naturalmente oposta: os stake-holders com mais quan-
tidade de Nano são os mais interessados em manter a rede segura,
afinal são eles quem tem mais a ganhar ou a perder; isto é a teoria
dos jogos aplicada ao consenso da rede.

Na Nano todas as unidades foram criadas de uma única vez


(133 milhões de Nano) e distribuídas por captcha, portanto não há
21 Como toda eleição é assinada por cada Rep, podemos armazenar e auditar o histó-
rico de votos de cada Rep. bem como avaliar seu hardware de acordo com seu tempo de
resposta. Muitos serviços dispobilizam tais dados como https://mynano.ninja,
https://nanocrawler.cc e carteiras como https://nault.cc/
Manual da Ação Libertária

inflação; pelo contrário: deflação. E por não haver um grande gasto


energético em mineração, não há necessidade de grandes incenti-
vos para custodiar os validadores (PRs), como através da inflação
como recompensa.

Atualmente um computador mediano é suficiente para rodar


um node da Nano. Ainda sim, alguns alegam que a falta de incen-
tivo seria um problema, porém é necessário lembrar que também
não há incentivo financeiro imediato para alguém rodar um Full
Node Bitcoin, o que não impediu-o de ter milhares de full nodes
espalhados pelo mundo22 (não confundir com mineradores23). O
que incentiva os indivíduos a rodarem nodes na Nano, bem como
full nodes Bitcoin, geralmente é sua necessidade de incorporá-los
em suas aplicações.

Exchanges, gateways de pagamento, aplicativos de criptomo-


edas como carteiras, jogos, websites, bem como lojas e diversos
outros negócios formais ou informais que aceitem o criptoativo ou
estejam relacionados ao seu ecossistema e etc. tem seus próprios
motivos e incentivos para rodar um node. Além, evidentemente,
dos já mencionados stake-holders, com seus próprios incentivos
financeiros de manter a rede segura, como investidores.

Podemos ainda mencionar que uma vantagem desse sistema é


que a validação não se concentra na mão de quem tem mais capital
para comprar hardware sofisticado, como acontece no PoW, e nem
22 Lista de full nodes Bitcoin ao redor do mundo: https://bitnodes.io/
23 Além da quantidade de mineradores Bitcoin ser muito menor que a quantidade de
full nodes e o hashrate ser concentrado em poucos deles, nem todo minerador é necessa-
riamente um full node; especialmente em pools, a maioria usa o node de terceiros.
Manual da Ação Libertária

cria incentivos para estabelecimento de um monopólio, os maiores


incentivos dos players são os de cooperação.

Assim, toda transação Nano pode ter taxa zero. Mas, um


problema nasce com isso: o spam também cai para custo próximo
de zero. Para impedir, só aí a Nano usa um mecanismo de PoW:
cada usuário é responsável por resolver um pequeno puzzle mate-
mático para cada bloco criado. Este cálculo requer processamento
que, apesar de ser milhões de vezes menor que o gasto energético
de um minerador Bitcoin24, é suficiente para criar um custo extra
para quem deseja floodar a rede.

Há uma possibilidade desse sistema anti-spam e outros detalhes


mudarem, juntamente com as novas mudanças de priorização de
blocos que estão sendo incorporadas a partir da v22.

Afinal a Nano está em constante aperfeiçoamento, porém


sempre com o foco de ser uma criptomoeda, com função de moeda
- nem mais, nem menos - seu slogan é também seu legado e define
bem seu objetivo, o que devemos esperar da Nano: “Do one thing
and do it well” (algo como “faça uma única coisa e a faça bem”).

24 Uma estimativa é que atualmente cada transação Bitcoin usa 6 milhões de vezes mais
energia elétrica.
Manual da Ação Libertária

Monero e a privacidade absoluta

Tudo parecia excelente quando Satoshi Nakamoto pensou no


Bitcoin. Agora, pessoas de todos os lugares do mundo poderiam
trocar sem o intermédio do estado no meio desse processo.

Uma moeda privada por excelência. Mas, nem tudo é perfeito e


logo surgiram as exchanges. Como sabemos, a blockchain é públi-
ca e armazena todas as transações realizadas nela. Isso não era um
problema para a privacidade porque eram apenas números e você
não poderia conectar aqueles números a ninguém em específico.

As exchanges mudaram esse processo aplicando o que chama-


mos de KYC, know your customer, em português, conheça seu
cliente. Agora são requeridas formas de identificação das pessoas,
armazenando a identidade e os dados de todos aqueles que rea-
lizam compras nelas. Isso acabou com a privacidade do Bitcoin.
Afinal, era possível rastrear o dinheiro até a fonte original, até o
seu dono. A Monero trouxe algumas soluções para esse problema.

Para o remetente, adotou a ideia de ring signatures. Com esses


anéis não é possível dizer quem assinou determinada transação,
agrupando signatários não presentes na transação com o signa-
tário presente. Para a transação, adotou a ideia de Ring CT, que
esconde a transação, omitindo seu valor da rede, para qualquer
participante que não os membros da transação.
Manual da Ação Libertária

Como ele faz isso? Usando um sistema de Public Key e de Pu-


blic Spend Key, a public spend key é uma chave de uso único e é
ela que é compartilhada. Enquanto isso, seu endereço público em
si continua anônimo e preservado dos olhos externos, mantendo
todas as transações e seus valores totalmente anônimos.

Além disso, a Monero utiliza-se do algoritmo Random X, um


algoritmo ASIC resistente, que permite a virtualmente qualquer
um minerar Monero, retirando o poder dos grandes mineradores
e tornando a mineração mais descentralizada.

ETH e os Contratos Inteligentes

A Ethereum é uma plataforma descentralizada baseada em


blockchain que trouxe uma grande inovação em relação ao Bitcoin:
além de servir como moeda, ela pode executar scripts utilizando
uma rede internacional de nós públicos, isto é, em linguagem de
um leigo, permite que códigos de programação sejam rodados na
rede de forma descentralizada.

Essa ferramenta permite uma série de inovações, algumas das


quais já estão mais consolidadas, como os ICOs e tokens, e outras
ainda em fase inicial, mas que aparentemente vem com grande po-
tencial, como as DeFi e as NFTs.
Manual da Ação Libertária

Atualmente, mecanismo de consenso utilizado é o


proof-of-work – mas não por muito tempo: uma nova atualização de
código, a Ethereum 2.0 25, irá migrar a Ethereum para validação
por proof-of-stake.

A Ethereum consiste basicamente de Ethereum Virtual


Machine (EVM), Ether, Smart Contracts e GAS.

EVM

Uma máquina de estados que permite a execução de códigos na


rede Ethereum. Todos nodes da rede Ethereum mantém uma có-
pia do estado26 da EVM. Qualquer participante da rede pode emitir
solicitações para que a EVM execute uma computação arbitrária.

Quando tal solicitação é emitida, outros participantes da rede


podem verificar, validar e executar a computação. Isso gera uma
mudança no estado da EVM, que é enviado e propagado por toda
a rede Ethereum.

O registro de todas as transações, tal qual o estado atual da


EVM, é armazenado na blockchain, que por sua vez é armazenada
e acordada por todos os nodes.

25 A Ethereum irá atualizar para PoS


26 Na Ethereum, o estado é uma estrutura de dados chamada de Modified Merkle Patri-
cia Tree, que mantém todas contas conectadas por hashes e redutíveis à uma única hash
raíz armazenada na blockchain.
Manual da Ação Libertária

ETHER

A criptomoeda utilizada pelos usuários da Ethereum, um Token


que alimenta a rede. Qualquer participante que emite uma solici-
tação de transação deve oferecer alguma quantia de Ether para a
rede, como uma recompensa a quem fizer o trabalho de verificar
a transação, executar, enviar para a blockchain e a difundir para a
rede.

SMART CONTRACTS

São programas executáveis que rodam na blockchain da Ethe-


reum, são uma coleção de códigos, suas funções, e dados, seu esta-
do, que são armazenados em um endereço específico na blockchain
da Ethereum. Os smart contracts são um tipo de conta Ethereum,
i.e, eles têm saldo de conta e podem enviar e receber transações
através da rede, mas eles não são controlados por um usuário, eles
são implementados na rede e rodam de acordo com o programado.

São escritos em linguagens de programação específicas27.


Desenvolvedores enviam programas para a EVM, por uma taxa
paga à rede, e usuários podem enviar transações que executam
uma função definida no smart contract, por uma taxa paga à rede.
Aplicativos descentralizados, dapps, podem interagir, sem a neces-
sidade de permissão, com smart contracts implementados na rede.

27 As linguagens de programação mais mantidas são as Solidity e a Vyper,


também existem outras, como a Yul e a Yul+, que é uma extensão à Yul. Elas
são compiladas para bytecode EVM.
Manual da Ação Libertária

Qualquer aplicação pode integrar smart contracts em seu fun-


cionamento, qualquer pessoa pode instalar um novo smart con-
tract na rede Ethereum para adicionar funcionalidades que aten-
dam às necessidades de sua aplicação.

Para uma aplicação interagir com a blockchain, ela deve se co-


nectar a um node Ethereum. Feito isso, sua aplicação pode ler da-
dos da blockchain, bem como enviar novas transações para a rede

No entanto, há algumas limitações aos smart contracts: não


podem obter informações sobre eventos do mundo real. Oráculos28
são uma forma de contornar esse problema.

GAS

A unidade fundamental que mede a quantidade de esforço


computacional necessário para executar operações na rede
Ethereum. Cada transação na Ethereum requer recursos
computacionais para ser executada, cada transação requer uma
taxa. GAS é a taxa necessária para conduzir uma transação bem
sucedida na Ethereum.

Contas e Carteiras

Uma conta não é uma carteira. Uma carteira é um par de chaves


associado com uma conta de usuário. A Ethereum tem dois tipos
de contas, a de propriedade externa e a de contrato.
28 São sistemas que podem prover dados externos para Smart Contracts da Ethereum.
Oracles
Manual da Ação Libertária

A conta de propriedade externa, conta de usuário, é controla-


da por quem detém as chaves privadas. A conta de contrato é um
smart contract implementado na rede e controlado por código. Os
dois tipos de contas podem receber, armazenar e enviar Ether e
Tokens, e interagir com smart contracts implementados na rede.

As principais diferenças entre as contas de usuário e contas de


contrato são que criar contas de usuário não têm custo, elas po-
dem iniciar transações e as transações entre contas de usuário são
apenas transações de Ether, já as contas de contrato têm um custo
na criação porque usa o armazenamento da rede, elas só podem en-
viar transações em resposta a receber uma transação e transações
de uma conta externa para uma conta de contrato podem ativar
códigos que podem executar várias diferentes ações.

DeFi

Abreviação de Decentralized Finance, finanças descentraliza-


das são uma alternativa ao sistema financeiro centralizado atual,
são dapps, contratos, que oferecem serviços e produtos financeiros
sem uma autoridade central – que pode bloquear ou negar paga-
mentos ou acesso a serviços.

Há vários tipos de serviços e produtos: empréstimos, como a


Aave, Maker e Compound; exchanges descentralizadas (DEX),
como a Uniswap; derivativos, como a Synthetix; pagamentos, como
a Polygon e Flexa; ativos, como a Vesper e Yearn.Finance.
Manual da Ação Libertária

As aplicações DeFi envolvem qualquer serviço financeiro,


abrindo oportunidades que permitem combinar diversos serviços.
Daí o termo Money Lego. Um exemplo comum é usar um agrega-
dor de preços e taxas para troca de Ether por DAI29 , se seleciona
a DEX desejada e realiza a troca, se faz um empréstimo de DAI a
fim de receber juros, e então é possível adicionar um seguro para
garantir que se está coberto caso algo dê errado, como o devedor
não pagar o empréstimo.

Embora as DeFi possuam muitas vantagens é aconselhável ter


em mente, também, seus riscos. Smart contracts já tiveram alguns
problemas no passado, um caso recente foi o xFORCE30, quando
hackers encontraram formas de fazer exploits, se aproveitando
de vulnerabilidades no código dos smart contracts, escoando o
contrato.

Tokens padrão EC20, ICOs e NFTs

Através de smart contracts e utilizando o padrão EC20 da


Ethereum, é possível criar ativos digitais de forma relativamente
simples, sem ser necessário criar uma blockchain totalmente nova.

Algumas das principais formas de utilizar estes tokens é através


de ICOs e NFTs, que vamos explicar a seguir.

ICOs ou Initial Coin Offers (“Oferta Inicial de Moedas”), é um


processo similar a um IPO - a abertura de capital em uma bolsa de

29 A Dai é uma stablecoin muito usada nas aplicações DeFi.


30 Force DAO, A DeFi Hedge Fund, Loses Over 5k in xFORCE Token Exploit
Manual da Ação Libertária

valores, mas realizada totalmente através da rede Ethereum. Uma


entidade cria ou “emite” tokens e os revende para investidores a
fim de levantar fundos para uma empresa ou empreendimento.
Essas tokens funcionam exatamente como uma ação no mercado
financeiro, se o empreendimento tem sucesso o valor delas tende a
subir, com o investidor obtendo lucros, ou se as pessoas não acre-
ditarem no projeto ou ele falir, o token tende a perder valor.

Já as NFTs, Non Fungible Tokens (em português “Token Não


Fungível”) são um outro tipo de ativo digital, em que cada um de-
les é único e não pode ser dividido - por isso, não fungível. Um uso
prático delas é transformar uma obra de arte digital em uma NFT,
fazendo com que seja possível provar a data em que foi primeira-
mente criado e vincular este NFT com um único proprietário.

Assim, este ativo digital passa a ser único e escasso, ao contrário


de um simples arquivo digital que ao se fazer uma cópia perde-se
quem era o dono original, uma vez que as cópias são exatamente
iguais, diferentemente de um NFT.

Todos estes exemplos demonstram o grande potencial da rede


Ethereum e as infinitas possibilidades que ele oferece aos seus
usuários.
Manual da Ação Libertária

LBRY e o futuro do mercado de bens


digitais
Com a intenção de modificar as nossas perspectivas acerca da
produção de informação e entretenimento, o LBRY é um mercado
de bens digitais aberto, justo e eficiente.

Qual é sua solução essencial para o problema dos intermediá-


rios nessas áreas (gravadoras, produtoras, galerias de arte, etc)?

A associação de um nome único a alguma unidade de um bem


digital, como um filme, um livro ou um jogo, algo parecido com o
sistema de domínios e subdomínios que se alastrou pela internet.
E qual a genialidade da coisa toda?

A utilização de um protocolo que pode ser acessível a qualquer


um, da mesma forma que hoje se utilizam no mundo todo os pro-
tocolos HTTP, IP e outros, só que de forma descentralizada, não
dependendo de um servidor central.

Três grandes mudanças são realizadas pelo LBRY em relação a


como as coisas são feitas hoje com intermediários.

1. É possível para o próprio criador criar uma taxa de visua-


lização que será cobrada para visualizar determinado conteúdo.
2. O conteúdo publicado no LBRY não é voltado a uma rede
ou a um computador específico, mas é ao invés disso publicado
num formato de amplo acesso.
Manual da Ação Libertária

3. Controlado pela comunidade, não é possível nem a LBRY.


inc (criadora do protocolo) apagar unilateralmente um determi-
nado conteúdo. O único que pode fazê-lo é o próprio criador do
conteúdo.

O formato essencial é o NameSpace, ou domínio de nome e é


para onde são feitos os uploads dos bens digitais. Quem controla
um domínio de nome descreve o que ele contém, o que custa para
acessá-lo, a quem será pago e onde achá-lo.

A pessoa que possui ali armazenada a maior quantidade de


LBC (moeda do protocolo) controla a metadata associada a aquele
domínio.31 É um formato essencialmente capitalista onde o Search
Engine Optimization é inteiramente transparente e todos sabem
quais são os critérios para subir na pesquisa e passar a controlar
o domínio.

O protocolo LBRY em sua forma mais pura, foi desenhado


para satisfazer 2 necessidades básicas que a internet e o protoco-
lo HTML há tempos não dava conta de suprir: a necessidade de
preservação dos conteúdos e o anonimato. O fato do conteúdo ser
formatado e enviado para uma blockchain garante acessibilidade
perpétua a esse conteúdo mesmo que o mesmo seja censurado ou
descatalogado em suas plataformas mais acessíveis com Youtube
ou o próprio Odysee ou outras aplicações do protocolo HTTP .

31 Esse armazenamento de LBC pode ser feito pelo dono do domínio ou por fã daquele
conteúdo na forma de doações ou do boost, alocando LBC temporariamente no conteúdo
de alguém.
Manual da Ação Libertária

Por exemplo, se por algum motivo um certo conteúdo foi blo-


queado em um país por causa do seu governo ou deletado de uma
plataforma HTTP, o interessado poderá para sempre acessar o
mesmo através do aplicativo ou pela lbrynet usando um terminal.
Isso porque a principal missão da lbry é garantir um backup eter-
no livre de censuras ou regras unilaterais. Além do mais, a LBRY
oferece a opção de interações anônimas garantindo segurança para
o usuário.

A LBRY Foundation tem o LBRY (aplicativo) e o Odysee (con-


corrente do Youtube e Torrent). No LBRY nós temos uma interfa-
ce simplificada, sem filtros de conteúdo, voltada a ser um porta-voz
do protocolo LBRY, no outro nós temos uma empresa voltada a ser
um tanto mais livre e mais sincera em relação aos momentos de
monetização e consumo do conteúdo. Pode-se dizer que o LBRY
tem uma pegada mais sem fins lucrativos, voltada a expandir o
protocolo e que o Odysee é uma empresa com fins lucrativos.

Paralelamente, dois desenvolvedores individuais construíram a


LBRYnomics que é um grande ranking e mantenedor das estatís-
ticas relativas ao protocolo LBRY.

Como diz a própria LBRY, imagine se o Bitcoin se fundisse com


o BitTorrent, isso é LBRY.
Manual da Ação Libertária

Como Abordar Agentes do Estado


Uma das principais consequências do excesso de legislação e da
incompetência estatal ao criar e escrever a legislação é o excesso
de poder que é deixado nas mãos dos agentes do estado. E aqui não
estamos falando sobre políticos, deputados, prefeitos ou governa-
dores, mas sim do poder dos servidores públicos que interagem
diariamente com os cidadãos.

Veja, por exemplo, o caso da legislação de trânsito no Brasil,


que possui um dos limites e punições mais rígidas do mundo em
relação ao consumo de álcool ao dirigir.

Não existe um limite mínimo de álcool na legislação, mesmo


um valor ínfimo como 0,001 mg/L de álcool no sangue já é consi-
derado uma infração. Em relação à punição, é aplicada uma multa
de mais de R $3.000 e suspensão do direito de dirigir por pelo
menos 12 meses.

Além disso, se o valor identificado no bafômetro for


maior que 0,3 mg/L, o indivíduo pode ser condenado à
prisão de 6 meses a 3 anos, mesmo que não tenha causado nenhuma
vítima ou mesmo nem apresentado sinais de embriaguez.

Ao realizar uma blitz, o policial deve realizar o teste do bafôme-


tro naqueles que ele suspeitar que estão embriagados, mas ele sabe
que se o cidadão realmente tiver consumido algo de álcool terá um
grande prejuízo, além de poder até perder a fonte de renda no caso
de dirigir também profissionalmente.
Manual da Ação Libertária

Dessa forma, o filtro para quem deve fazer o teste depende


da característica do agente: um agente mais rígido, fará em mais
pessoas, um menos rígido fará apenas naqueles que estiverem com
fortes indícios (a exceção são as blitz específicas para a lei seca, em
que todos são testados. Neste caso o oficial tem menos poder de
influência).

Da mesma forma, se o oficial “vai com a cara” do indivíduo,


pode pegar mais leve, se, por algum motivo, “não for com a cara”,
pode acabar dificultando a vida do indivíduo.

O mesmo acontece nas repartições públicas. Se o servidor, o


único que pode prestar aquele serviço para você, estiver de bom
humor e achar você simpático, ele realiza um atendimento rápido e
eficiente. Se não, pode prolongar o atendimento e criar inúmeros
empecilhos para você.

Infelizmente, com certa frequência não temos opção a não ser


lidar com um agente do estado. Vamos analisar aqui três momen-
tos diferentes e o que pode ser feito em cada um deles.

Primeiro, é o momento antes da abordagem. Quando é


possível se preparar com antecedência, deve-se estudar a legisla-
ção e buscar falhas que podem ser aproveitadas. Além disso, esse
conhecimento prévio é essencial para que o agente estatal não abu-
se da posição e te obrigue a fazer coisas que não poderia pela lei.
Por mais que esse conhecimento não seja uma garantia, é um bom
início e facilita a próxima etapa.
Manual da Ação Libertária

Já quando a abordagem acontece, deve-se tomar uma atitude


de dissimulação e não de confronto. Lembra-se do exemplo do
policial que escolhe para o teste quem ele “não vai com a cara”?
É nesse ponto que agimos. Uma abordagem dissimulada, em que
se é simpático e de simulação de um “seguidor das leis”, ajuda na
interação e, em alguns casos, pode até mesmo resolver o problema.
Dê justificativas e desculpas, apele para o emocional, mas nunca
adote o confronto direto.

Note que a vida desses profissionais depende da renda extor-


quida através dos impostos, eles são cúmplices no crime. Assim, de
nada adianta gritar “imposto é roubo” ou “estado é uma quadrilha”
que eles nunca vão admitir. Além do mais, a partir do momento
que a confrontação se inicia, a disposição do agente para resolver
vai praticamente para zero, apenas piorando o cenário.

Entretanto, em muitos casos esta abordagem não será o sufi-


ciente e será necessário partir para o terceiro momento, que é uma
estratégia de redução de prejuízos. Durante a realização da segun-
da etapa, de interação direta com o agente, será possível avaliar se
ele está aberto para o pagamento de propina ou não.

Frequentemente os próprios agentes dão indícios, falando sobre


“cafezinhos”, sobre ajudar ele em algo, sobre levar alimentos para
os filhos. Nunca é direto e claro, mas ao se observar as palavras
escolhidas é possível identificar. Caso não perceba estas indicações,
é possível de forma bem indireta insinuar se ele está aberto a tais
atitudes.
Manual da Ação Libertária

Outra coisa que deve-se levar em consideração neste momento


é o custo-benefício. Se o valor de uma multa é de R$300, não faz
sentido correr o risco de pagar R$300 de propina, ou talvez nem
mesmo R$250 dado o risco.

O mesmo vale para o risco. Se o agente não deu nenhuma aber-


tura, o risco de um prejuízo grande pode ser alto e não valer a
pena. Assim, algumas vezes o melhor custo-benefício é retroceder,
aceitar o prejuízo ou tentar novamente com outro agente em outro
momento.

É importante destacar, entretanto, que ao lidar com um agente


do estado a situação é sempre de um custo ou prejuízo. Não há
nada a se ganhar nessa relação. É por esse motivo que o relaciona-
mento continuado e frequente com um agente estatal corrupto não
é ético. A partir do momento em que se entra em uma relação deste
tipo, você passa a fazer parte da gangue. Por esse motivo, o ideal é

evitar o contato com os sanguessugas o máximo possível.

Do caso Dâniel Fraga


Daniel Alves Fraga é um anarcocapitalista e agorista que pos-
tava vídeos no YouTube falando sobre anarcocapitalismo, sobre
como resistir ao estado e demonstrando como fazia isso na prática,
no dia a dia. Seu canal pode ser encontrado em:

https://www.youtube.com/c/DanielFragaBR/videos.
Manual da Ação Libertária

Em 2012 ele já publicava vídeos ensinando sobre anarcocapi-


talismo e divulgando o Bitcoin como uma forma de resistir a ele,
lembrando que nessa época o Bitcoin tinha apenas 3 anos de exis-
tência e um único bitcoin valia apenas 12 dólares.

Sendo um agorista e colocando skin in the game, ele comprou


muito bitcoin ao longo do tempo e incentivou seus seguidores a
fazer o mesmo. Enquanto isso, continuava com seu desafio ao esta-
do e aos agentes estatais.

Alguns exemplos foram suas campanhas contra a deputada do


PDT Cidinha Campos, que havia acionado a justiça para tirar um
vídeo do vlogueiro Ricardo Gama do ar, e um vídeo criticando
Alexandre Branco (PSDB), um candidato à prefeitura de São José
dos Campos que tentou usar o poder estatal para censurar um post
sobre ele no Facebook.

Em 2015 aconteceu o caso mais famoso. Por causa de um vídeo


que ele havia feito chamado “Por que Religião é Pior que Crack”,
ele foi processado e dois policiais foram até a casa dele levar uma
intimação.

Dâniel Fraga foi até a porta enquanto filmava, o que deixou os


policiais civis incomodados. Ele se negou a receber a intimação e
respondeu dizendo que eles trabalhavam para uma máfia, a máfia
estatal, que coage pessoas pacíficas, e que ele era forçado a pagar
o salário dos policiais através dos impostos, além de várias outras
verdades.32
32 O vídeo pode ser encontrado em https://www.dailymotion.com/video/x34oxc9.
Manual da Ação Libertária

Sendo continuamente perseguido através de processos judiciais,


vindo dos policiais e de diversos políticos, Dâniel Fraga chegou a
ser condenado pela justiça estatal a pagar mais de R $1.000.000 e
ir para prisão caso o vídeo não fosse removido.

Ele ignorou completamente a decisão judicial, transformou


todo o seu dinheiro em bitcoin e desapareceu. Quando a justiça
bloqueou seus bens, encontrou apenas R$5 em suas contas ban-
cárias. Depois disso ele ainda interagiu algumas poucas vezes na
internet, mas ninguém nunca foi capaz de descobrir seu paradeiro
e nem a justiça de encontrá-lo.

O libertário André Rufino recentemente disse ter conversado


com Dâniel e que ele está bem, apesar de também não saber do
paradeiro de seu amigo.

O caso de Dâniel Fraga exemplifica bem um caso de ação ago-


rista, de ação em desafio ao estado. É um dos exemplos mais claros
de uma pessoa que sacrificou sua rotina e seu dia a dia em defesa
de seus valores e princípios. Ele é um exemplo para todo libertário

que deseja uma sociedade livre.


Manual da Ação Libertária

Da Secessão
A secessão é a divisão de um país em dois ou mais países e faz
parte do arcabouço de estratégias que podem ser utilizadas pe-
los libertários. A seguir vamos ver como esta estratégia pode
contribuir para um mundo mais livre.

Primeiro é necessário entender que os limites e fronteiras entre


os países foram criados pelas forças históricas, as quais a maioria
foi injusta e coercitiva, com muitas resultando em minorias opri-
midas e maiorias saqueando.

Mas por que dois estados separados em uma área é me-


lhor do ponto de vista libertário do que apenas um estado
nesta mesma área? Por uma série de motivos: (i) a descentralização
é benéfica para a liberdade; (ii) quanto mais fragmentado estiver
o mundo, menos poder pode ser concentrado na mão de um único
país ou governo; e (iii) quanto mais minorias tiverem seus próprios
governos, menos chances de elas serem oprimidas por outros es-
tados.

E a estratégia de secessão vai além. Conforme mais e mais


secessões forem ocorrendo, mais claro fica que elas podem se divi-
dir ainda mais, descentralizando e diminuindo a concentração de
poder ainda mais, até que finalmente seja demonstrado o princípio
de que o indivíduo pode se separar, que é legítima a adoção de uma
posição derradeira diante da tirania, em busca da nossa liberdade.

Claro que existem contratempos fortes relacionados à seces-


Manual da Ação Libertária

são, dos quais dois que se podem citar é que não necessariamente
aquele novo estado em questão terá menos controle sobre seus
cidadãos do que o estado antigo e que certamente os gastos da
administração pública se tornarão mais incisivos, ainda assim
temos motivos para acreditar que, mesmo quando o estado é capaz
de passar por uma alteração do tipo, ainda preservaria-se forte-
mente a vantagem associada à ausência de coordenação do esta-
do em relação à interação com indivíduos dado que mesmo que o
estado diminua para milhares de cidades pequenas, cada interação
com a cidade possui um efeito social menos mascarado que ações
mais distantes, é mais fácil cobrar, revoltar-se e reagir quando a
distância do centro do poder é menor.

Recomenda-se fortemente a criação/associação a grupos sepa-


ratistas na sua cidade, bem como a particularização dos fenômenos
políticos, se preocupando com como a sua cidade, até mesmo o
seu bairro, lidarão com os eventos, fugindo totalmente da palavra
nacional e estadual onde for possível.

Da Propriedade Intelectual
Apesar do nome, “propriedade” intelectual nada tem a ver com
propriedade privada. Muito pelo contrário, ela é utilizada como
forma de o estado oferecer uma escassez artificial de bens não
escassos, interferindo na propriedade privada daqueles que não
possuem a “propriedade” intelectual.

Explico: se uma pessoa tem o “direito” a uma sequência de


Manual da Ação Libertária

palavras ou sons (no fim a propriedade intelectual é isso, um direi-


to exclusivo a utilizar determinada sequência ou padrão), significa
que todas as outras pessoas do mundo não podem utilizar suas
canetas, cadernos ou mesmo seu corpo e sua voz, da forma que
desejarem.

Pois, reconhecido um “direito à propriedade intelectual”, ago-


ra o direito à propriedade privada não é mais absoluto. Ele tem
um “se”, e um “se” bem grande: você pode utilizar seu corpo e
suas propriedades da forma como desejar, EXCETO na sequên-
cia ou na forma que todas as pessoas do mundo já fizeram an-
tes nos últimos X anos. Esse é um breve (bem breve) resumo do
argumento. Você pode encontrar ele completo no livro Contra a
Propriedade Intelectual do autor libertário Stephan Kinsella.

Dito isso, como um libertário pode ajudar a diminuir o impac-


to deste injusto monopólio estatal? São diversas as formas, mas
vamos nos concentrar em três principais: utilizar o domínio públi-
co, consumir pirataria e disponibilizar materiais piratas.

Começando pelo domínio público. Uma forma de diminuir a


força do monopólio estatal é fazendo com que a maior quantidade
de conteúdo possível esteja disponível como domínio público. E
para isso, nada melhor que começar dando o exemplo, colocando
todos os materiais e conteúdos produzidos por você em domínio
público.

Isso traz uma série de benefícios:


Manual da Ação Libertária

• Prova de forma utilitária que o fim da propriedade inte-


lectual não gera desincentivo para a produção de conteúdo ou
inovação;

• Protege quem não acredita em propriedade intelectual e


copia o conteúdo. Sem a expressa declaração de que os mate-
riais estão em domínio público, quem vier a utilizar pode ter o
receio de ser processado;

• Lidera pelo exemplo e mostra consistência no seu discur-


so. Não faz sentido defender o fim da propriedade intelectual e
se utilizar dela para se beneficiar.

Note que o material deve ser colocado em domínio público e


não em Creative Commons. Apesar de o Creative Commons ser
mais livre que as licenças tradicionais, ele ainda impede o uso
em diversos casos (dependendo do tipo de Creative Commons
utilizado).

Outra forma de praticar o Agorismo em relação à propriedade


intelectual é através do consumo de conteúdo pirateado, incenti-
vando aqueles que disponibilizam conteúdo gratuitamente. A for-
ma mais simples de se fazer isso é através de compartilhamento de
conteúdo P2P (peer-to-peer), como por exemplo através de arqui-
vos torrent.

Lembre-se, entretanto, de se proteger ao consumir estes


conteúdos, tanto de hackers quanto da milícia estatal. Para tan-
to, utilize as métricas de qualidade dos indexadores de conteú-
Manual da Ação Libertária

do torrent e utilize uma VPN, algo indispensável em alguns pa-


íses. Além disso, considere também que não há nada de errado
em pagar por um conteúdo. Se você gostou de algo e gostaria de
recompensar o criador, não tem nada de antilibertário - muito pelo
contrário - em pagar ou doar para esse produtor.

Por fim, você pode contribuir distribuindo e disponibilizan-


do conteúdos piratas. A forma mais fácil é sendo um seed de ar-
quivos torrent, mas se você tiver conhecimentos avançados em
programação pode também disponibilizar versões crackeadas de
softwares protegidos.

Libertarianismo e as Ruas
Vivendo em uma sociedade sob forte impacto das interven-
ções estatais, não é incomum ver libertários que, na esperança de
colocar em evidência as ideias libertárias, unam-se a movimen-
tos de rua. Há, de fato, até mesmo um furor entre alguns amigos
libertários em manifestar-se publicamente nas ruas, expondo-se
a toda violência policial, apontando diretamente inconsistências
nas ideias de políticos democratas, esses que se encontram visi-
velmente cada vez mais próximos do socialismo. Quase como se
algum número significativo de transeuntes fosse parar para ana-
lisar a pauta apresentada, ou como se a mídia fosse veicular a
pauta de forma honesta, levando a mensagem libertária a diversas
pessoas.

A intenção central é apresentar a tese de que há muito pouca


Manual da Ação Libertária

eficiência e quase nenhuma eficácia na adesão dos movimentos de


rua para um libertário. Esta estratégia tende apenas a colaborar

com o estado, o grande inimigo histórico da liberdade.

Falso histórico de conquistas das


mobilizações populares
Baseando-se em manifestações históricas que supostamente
surtiram algum efeito, os ativistas de rua abstraem alguma rele-
vância destes atos e daí, concluem que, de fato, mídia e políticos
ouvem a “voz das ruas”. Isso não poderia estar mais distante da
verdade e do contexto histórico brasileiro.

Dentre os principais protestos de rua em Banânia, nome mais


adequado e doravante usado para denominar essa terra dos políti-
cos bananas chamada Brasil, destacamos: o DIRETAS JÁ, FORA
COLLOR, NÃO VAI TER COPA e FORA DILMA, e também o
REFERENDO DO DESARMAMENTO ocorrido em 2005, não
como ato de mobilização popular, mas como exemplo fático de que
a política institucionalizada simplesmente não se importa com a
opinião popular.

Se não, vejamos:

• “DIRETAS JÁ” foi um movimento civil de reivindica-


ção por eleições presidenciais diretas no Brasil ocorrido entre
1983 e 1984. A possibilidade de eleições diretas para a Presi-
dência da República no Brasil se concretizaria com a votação
Manual da Ação Libertária

da proposta de Emenda Constitucional Dante de Oliveira pelo


Congresso.

É importante mencionar que este movimento, dito popular,


contou com a organização e interesses de parasitas burocratas,
políticos, ligados a partidos diretamente beneficiados pelo “voto
democrático”. Tanto que estes mesmos parasitas burocratas par-
ticiparam da constituinte de 1987 e promulgaram a constituição
federal de 1988. Que elevou ainda mais os poderes da podre classe
política.

• “OS CARAS PINTADAS, FORA COLLOR” Os caras


pintadas foi o nome pelo qual ficou conhecido o movimento
estudantil brasileiro realizado no decorrer do ano de 1992 que
teve, como objetivo principal, o impeachment do presidente do
Brasil na época, Fernando Collor de Mello.

O movimento popular baseou-se nas denúncias de corrupção


que pesaram contra o presidente e, ainda, em suas medidas econô-
micas impopulares, e contou com a adesão de milhares de jovens
em todo o país. O nome “caras pintadas” refere-se à principal for-
ma de expressão e símbolo do movimento: as cores verde e amare-
lo pintadas no rosto dos manifestantes.

De fato, Collor causou um verdadeiro alvoroço ao recorrer ao


confisco da poupança para frear a inflação, fantasma que assolava o
país desde a década anterior com os devaneios políticos de Sarney.
Mas não foi apenas isso.
Manual da Ação Libertária

Collor “abriu o mercado” para montadoras de veículos do


exterior, trazendo pesada concorrência ao oligopólio nacional de
VOLKSWAGEN, FORD e FIAT. Talvez o único acerto em meio a
um plano econômico desastroso e práticas intervencionistas como
congelamento de preços, mas algo extremamente impopular, uma
vez que este conglomerado de montadoras já estabelecido em Ba-
nânia possuía muita força política e uma bela fatia do mercado de
trabalho. Além, é claro, de um investimento pesado em mídia como
TV Globo, TV Record, TV Bandeirantes etc.

É notório que a TV Globo, até nos dias de hoje, se mantém


como um dos stakeholders principais da cultura nacional de
Banânia (como Cristiano Chiocca elucidou em sua palestra bri-
lhante no PFS 2019), imaginem quando não havia redes sociais,
youtube etc. De fato, não se pode negar que Collor contou com
grande apoio desta empresa em sua campanha política e que tudo
se inverteu quando o “caçador de marajás” peitou as montadoras,
grandes anunciantes, e a mídia, como não poderia deixar de ser,
tomou parte do cartel oligopolista.

Estas montadoras também realizavam “doações” para a cam-


panha de diversos parlamentares, o que apenas “engrossou o
coro” contra Collor. Que mesmo após sua renúncia, foi julgado e
condenado.

• Os protestos no Brasil contra a Copa do Mundo de 2014,


vulgarmente conhecido como “NÃO VAI TER COPA” foi uma
série de manifestações populares havidas entre junho de 2013
Manual da Ação Libertária

e julho de 2014, por todo o Brasil e principalmente nas capi-


tais onde se realizaram jogos da copa do mundo, em protesto
contra os gastos na construção de estádios e estruturas para
abrigar a Copa do Mundo FIFA de 2014.

Não só houve copa em 2014, como os gastos públicos foram


muito além daqueles inicialmente propostos e muitas das obras
prometidas para o evento, como o “trem bala entre são Paulo e
Rio de Janeiro” prometidos pela então presidente Dilma Rousseff
jamais foram sequer iniciadas, assim como boa parte dos gigantes-
cos estádios foram parcialmente entregues e em menos de um ano
já contavam com avarias, indicando novamente como a escassez de
qualidade é característica fundamental de toda obra pública.

• “FORA DILMA” Os protestos contra o, assumidamente


esquerdista, governo Dilma Rousseff foram manifestações
populares que ocorreram em diversas regiões do Brasil, no
contexto da crise político-econômica iniciada em 2014, tendo
como principais objetivos protestar contra o governo Dilma
Rousseff e defender a Operação Lava Jato.

O movimento reuniu milhões de pessoas nos dias 15 de março,


12 de abril, 16 de agosto e 13 de dezembro de 2015, e, segundo
algumas estimativas, foram as maiores mobilizações populares no
país desde o início da Nova República.

Manifestações populares voltaram a ocorrer em todas as


regiões do Brasil no dia 13 de março de 2016. Foi o maior ato
político na história do Brasil, superando as Diretas já.
Manual da Ação Libertária

Estas manifestações foram organizadas pelo MBL, Movimento


Brasil Livre, que alguns anos depois demonstrou-se um grupo de
democratas alpinistas sociais, com sede de poder e apadrinhamen-
to político de diversos candidatos.

• O REFERENDO SOBRE A PROIBIÇÃO DA COMER-


CIALIZAÇÃO DE ARMAS DE FOGO E MUNIÇÕES,
ocorrido no Brasil a 23 de outubro de 2005, não aprovou o
artigo 35 do Estatuto do Desarmamento (Lei 10826 de 22 de
dezembro de 2003). Tal artigo apresentava a seguinte reda-
ção: “art. 35 — É proibida a comercialização de arma de fogo
e munição em todo o território nacional, salvo para as enti-
dades previstas no art. 6º desta Lei”. O referendo estava pre-
visto e tinha, inclusive, data marcada no próprio Estatuto do
Desarmamento.

Pela gravidade do assunto, a necessidade de submeter o artigo


35 a um referendo já havia sido constatada durante o projeto e
desenvolvimento da lei. A sua realização foi promulgada pelo Se-
nado Federal a 7 de julho de 2005 pelo decreto legislativo n° 780.
No artigo 2º deste decreto ficava estipulado que a consulta popular
seria feita com a seguinte questão: “O comércio de armas de fogo e
munição deve ser proibido no Brasil?”.

Se por um lado, populares e uma parte da mídia, como a rede


bandeirantes, se mobilizaram para a conscientização da popula-
ção de seu direito e necessidade de portar armas, gigantes como
a Rede Globo, por meio de seu canal de TV Aberta e do Jornal
Manual da Ação Libertária

O Globo, manifestaram em múltiplos editoriais e posições institu-


cionais, bem como o PT (Partido dos Trabalhadores), em especial
o então Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, apoia-
ram pública e oficialmente o “sim”.

Surpreso com a aliança? Após ter sido prejudicado pela mesma


Globo nas eleições de 1989, é de se imaginar um antagonismo e até
mesmo um ódio do grupo do gigante midiático e o parasita, mas
não, não há ressentimentos neste mundo, após a queda de Collor a
rede Globo e seu conglomerado apoiaram políticos publicamente
de esquerda como Fernando Henrique Cardoso e posteriormente,
Lula, que ganhou até uma filme, “Lula, filho do Brasil” em sua ho-
menagem.

Nas urnas, os eleitores puderam optar pelas resposta “sim”


ou “não”, pelo voto em branco ou pelo voto nulo. O resultado
foi de 59.109.265 votos respondendo “não” (63,94%), enquanto
33.333.045 votaram pelo “sim” (36,06%). Ou seja, o artigo que res-
tringiria a comercialização não foi aprovado e não chegaria sequer
a vigorar, correto? Não em Banânia!

Efeitos na prática? Nenhum! O artigo 35, assim como todo o


estatuto do desarmamento entrou em vigência e o comercio de
armas e, portanto, o direito do cidadão de promover sua defesa,
sofreram pesada interferência estatal.

Este referendo foi apenas mais uma das armadilhas democrá-


ticas, pois com uma pesada campanha a favor do desarmamento
Manual da Ação Libertária

acreditava-se que a vitória dos desarmamentistas seria certa e en-


tão a lei do desarmamento gozaria de legitimidade democrática
baseada na manifestação de vontade da maioria dos eleitores em
aprová-la. Contudo, como não ocorreu o esperado, ignorou-se o
resultado e sancionou-se o famigerado trecho desta lei como se o
referendo jamais tivesse existido.

Percebam, a vontade popular, salvo em consonância com os


interesses políticos destes parasitas e conglomerados oligopólios,
torna-se totalmente irrelevante.

Peço que notem a semelhança entre a fotografia de


Lindbergh Farias em meio aos caras pintadas do “Fora Collor” e Kim
Kataguiri e Fernando Holiday em meio ao “Fora Dilma”.
Apesar de ideologicamente divergentes, sendo um assumidamente
comunista e os dois outros, “Liberais”, são frutos da mesma árvore
podre, a democracia representativa.

De fato, apesar das fotografias impactantes, nenhuma destas


mobilizações populares resultou em nada além de aproveitamento
político para grupos oportunistas.

Diversas outras manifestações foram feitas no mesmo período e


por serem infrutíferas ou simplesmente ineficazes, não obtiveram
relevância. Trata-se de um sequestro da pauta popular pelo meio
político, algo que em um modelo democrático (e vil) é totalmente
esperado.
Manual da Ação Libertária

O foco errado
Primeiro, precisamos definir qual é o foco, ou, quem é
“o inimigo”. Como podemos ver, a maioria das manifestações
mencionadas, exceto pelo “diretas já” que tinham como escopo a
implantação de uma democracia representativa após anos de
governo militar, tinham PESSOAS como o inimigo, sejam elas
Collor ou Dilma.

Notem que apesar dos supostos resultados destas manifesta-


ções, o estado manteve-se em constante expansão. Apesar de uma
ou outra agressão contar com reação imediata, como no caso do
confisco das poupanças (que durou 18 meses), de forma fluída a
ação estatal buscou outros meios para não ter desfalcado seu
inflado e cada vez mais gigantesco orçamento, de forma a manter
as obras populistas e realizar compras indiretas de votos.

Neste trecho é relevante mencionar e explicar a trilogia Matrix,


onde Neo é popularmente tido como herói, enquanto o Arquiteto,
agente Smith e outros softwares são costumeiramente colocados
como vilões da trama.

No primeiro filme, Neo acorda da Matrix, que seria um mundo


virtual. Este evento é tipo por muitos como um homem que sai
da caverna na “alegoria da caverna” de Platão. Ele descobre que o
mundo onde vivia era uma simulação e que “Zion”, o mundo em
que agora se encontrava, era um ambiente de constante conflito
entre humanos e máquinas, que lhes exploravam.
Manual da Ação Libertária

Ao acordar, a primeira escolha de Neo é dada por Morpheus.


Ele poderia tomar a pílula azul e permanecer na sua ignorância,
retornando à Matrix, ou tomar a pílula vermelha e permanecer
neste ambiente de conflitos. Neo escolhe a pílula vermelha, assim
como muitos de nós.

Neo, tido como “o escolhido”, é levado por uma série de huma-


nos a diversas simulações onde é possível aprender artes marciais
por software, por exemplo, e nestas simulações é confrontado por
uma série de agentes da Matrix, entre eles o agente Smith. Neo e
Smith protagonizam diversas batalhas nestes ambientes simulados
marcando em ambos os estereótipos de protagonismo e antagonis-
mo.

Até que, no segundo filme, Neo é levado a consultar-se com o


Oráculo, que estudou os seres humanos e chegou à conclusão de
que humanos são escravos da escolha, que seria baseada em um
valor mental que variaria conforme as experiências sensoriais des-
tes humanos, chamaremos escolha de “ação” e este valor mental
variável de “motivação ou propósito”.

O Oráculo percebe que ao controlar o propósito dos seres


humanos, controlará também suas ações e que então não haveria
como os seres humanos rejeitarem a Matrix, que também podemos
chamar de estado. Desta forma, Zion também seria uma simulação.
Manual da Ação Libertária

Um lugar bastante desagradável, no qual o conflito entre


humanos e máquinas é uma constante, produzindo assim uma série
de experimentos para com os humanos que acordassem da Matrix,
bem como seus filhos, induzindo-os a ter uma divindade humana,
em quem depositavam suas esperanças, o escolhido, Neo.

O Oráculo possui o poder de “prever o futuro”, por conhecer


das motivações ou propósitos destes humanos. Excluindo aqueles
de motivação diversa e mantendo um padrão social nas simulações.
Zion se mostra outro mundo “virtual” quando Neo consegue feitos
inumanos, como paralisar projéteis em sua direção, prever o traje-
to de uma bala, corromper o código do agente Smith, ver o código
fonte, que podemos chamar de causalidade, uma conexões entre
todas as ações.

Em nome do controle sobre os zionetes humanos, é criado um


programa que simularia um ser humano de forma tão perfeita que
ele sequer sabe que não é humano. Este seria o escolhido e ajudaria
as máquinas inconscientemente a moldar as escolhas dos zionetes.
Neo está destinado a destruir Zion e os humanos, reiniciando o
software. Este é Neo. Ignorando o restante da trama, voltemos ao
texto…

Com efeito, o leviatã apenas atualiza seu software, como um


“bom” parasita, o estado apenas demarca as zonas de confronto
com seu hospedeiro, o tecido social, e assim, contorna tais pontos.
Mas a expansão, sua única meta, se mantém.
Manual da Ação Libertária

Neo é então um pretenso herói que se propõe a ingressar no


Sistema para destruí-lo, mas acaba por lhe beneficiar, moldando
assim as escolhas dos indivíduos de forma que a essência da luta
contra a agressão, o estado, jamais seja sequer ventilada.

Portanto, como libertários, não nos caberia focar no inimigo


real? Há um ônibus em chamas em sua direção, o que mudará para
substituir seu motorista? Pode sim alterar ou até mesmo reduzir
uma ou outra agressão pontual, mas crer que isto fará com que os

tentáculos do Leviatã fiquem menores é uma insanidade.

A mídia, a engenharia do consentimento


e o medo
O que o Oráculo faz em Matrix é a chamada Engenharia do
Consentimento. O Oráculo introduz todas as informações de
forma a controlar boa parte das motivações dos humanos.
Mantendo assim suas ações dentro de um esperado padrão. Algo
muito próximo ao que a mídia faz em nosso mundo real.

De fato, dos três poderes da república, o mais temido é o


quarto. A mídia possui os meios para transformar um candidato
em um herói nacional, condená-lo publicamente, cassar seu man-
dato, lhe atribuir amor ou ódio popular, causar medo, mastigando e
digerindo informações que são passadas diretamente aos cidadãos.
Manual da Ação Libertária

Exatamente como em 1984, onde George Orwell retratou com


o “grande irmão” fiscalizando os cidadãos pelo aparelho televi-
sor, os grandes conglomerados de mídia possuem tentáculos pro-
fundos em nosso tecido social induzindo situações e controlando
reações.

A rotina exaustiva nas grandes metrópoles é um grande fator


determinante para a exposição dos cidadãos ao poder de engenha-
ria de consentimento pela grande mídia. Cansados, aceitam sem
contestar as informações processadas, embutidas e enlatadas dos
telejornais. Trata-se da pílula azul, de Matrix. Um confortável véu
de ignorância que impede o humano de acessar a verdade.

Como mencionado anteriormente, Fernando Collor de Melo foi


beneficiado pelo Grupo Globo, maior grupo de mídia de Banânia e
um dos maiores do mundo, durante as eleições e quando resolveu
opor-se ao oligopólio das montadoras de veículo, grandes clientes
do grupo, sua remoção do cargo tornou-se vital para esta emis-
sora, que iniciou uma verdadeira cruzada ao político, que gerou
uma CPI, Comissão Parlamentar de Inquérito, e culminou em um
processo de Impeachment, que mesmo após a renúncia de Collor
lhe condenou.

É possível observar a manipulação midiática em todas as


eleições. Sempre há um candidato que representaria o apocalipse,
um antagonista, aquele que “trará o Comunismo a Banânia,” ou
ainda que “vai matar negros e pobres nas ruas”.
Manual da Ação Libertária

Trata-se do uso do medo, como informação, de forma a manter


as motivações dos telespectadores, ouvintes e leitores dentro de
um “padrão previsível”.

O medo é um dos instintos mais primitivos entre os humanos,


trata-se do estado afetivo suscitado pela consciência do perigo ou
que, ao contrário, suscita essa consciência. Foi primordial para
garantir a sobrevivência do humano primitivo e ainda possui
grande relevância dentre os fatores decisivos do homem moderno.

Com as rédeas em mãos, a grande mídia utiliza o medo para


direcionar as ações de seu público de forma a manter seu público e
as ações políticas dentro de um padrão que lhe seja minimamente
previsível.

Assim, a mídia pauta a política institucionalizada de forma a


manter o controle sobre “as bordas da janela de Overton”33.

Você deve ter percebido que neste texto preferi utilizar a


expressão: “mídia” à expressão “imprensa”. Podem direcionar-se
ao mesmo corpo de profissionais, contudo, não são sinônimos.

33 A janela de Overton, também conhecida como janela do discurso, descreve a gama de


ideias toleradas no discurso público. De acordo com a descrição de Overton, sua janela
inclui uma gama de políticas consideradas politicamente aceitáveis no clima atual da
opinião pública, que um político pode recomendar sem ser considerado excessivamente
extremo para obter ou manter cargos públicos.
Manual da Ação Libertária

Vejamos os significados:

• Imprensa é a designação coletiva dos veículos de comuni-


cação que exercem o Jornalismo e outras funções de comuni-
cação informativa — em contraste com a comunicação pura-
mente propagandística ou de entretenimento.

• Mídia vem do Latim “media”, significa meios, designa a


função, o profissional, a área, o trabalho de mídia ou o ato de
planejar, desenvolver, pensar e praticar mídia, nas agências de
publicidade. E depois, passou a usar-se também para os meios
de comunicação em geral.

Desta forma, temos que o termo “imprensa” não se relaciona


com conteúdos propagandísticos e de puro entretenimento, nes-
te texto incluo estes conteúdos, pois na engenharia do consenti-
mento são induzidas necessidades, vontades, medos, desejos e até
paixões ao público, por todos os meios midiaticamente possíveis,
comerciais, filmes, telenovelas, reality shows, telejornais, há toda
uma gama de produtos para manipulação e indução da massa.

Com efeito, a mídia só dará atenção a estas manifestações de rua


enquanto a pauta for compatível com seus interesses ou de seus
clientes. Trata-se de mera ilusão e uma gigantesca ingenuidade o
libertário acreditar que será exposto em qualquer destas mídias
sem que haja uma vexatória ridicularização e uma tosca exposição
de uma versão cômica e distorcida de suas ideias.
Manual da Ação Libertária

O libertário será ridicularizado, pintado como um esquizofrê-


nico, exposto como um utópico lunático. Afinal, “onde já se viu?
Quem esse cara pensa que ele é para querer realizar suas conexões
sociais e fazer trocas voluntárias sem um parasita, um bandido es-
tacionário, lhe medindo, regulando e punindo?”.

Todo aquele que sair do padrão do Oráculo, ops… mídia, será


marginalizado e desmoralizado. Serão utilizadas falácias34 e outros
meios ardis para desmerecer a pauta, o importante para a grande
mídia não é a qualidade da informação mas o quanto estas infor-
mações veiculadas poderão ser utilizadas para a construção de uma
narrativa que lhes permita a engenharia do consentimento.

A imprensa, contudo, ao contrário do estado, não é essencial-


mente má e agressora. Apesar de toda a sujeira dos oligopólios e
grandes conglomerados, a atividade de imprensa livre é essencial.

A informação e sobretudo a clareza nas informações é primor-


dial para que o indivíduo forme seu juízo de valor. O juízo de valor
de cada indivíduo é formado por ética, moral e consciência.

As informações serão comparadas com o juízo individual e


produzirão motivações ou propósitos, os quais levarão o indivíduo
a agir.

34 Envenenamento do poço ou Envenenando o poço, ou ainda, tentativa de envenenar


o poço, trata-se de um dispositivo retórico em que informações diversas sobre um alvo
são preventivamente apresentadas a uma audiência, com a intenção de desacreditar ou de
ridicularizar tudo o que aquela pessoa tem a dizer.
Manual da Ação Libertária

Até mesmo parasitas burocratas como Imperadores e políticos


reconhecem a importância da informação na sociedade:

“O canhão matou o feudalismo; a tinta matará a sociedade moder-


na.” (Napoleão Bonaparte).

“Nossa liberdade depende da liberdade de imprensa, e ela não


pode ser limitada sem ser perdida.” (Thomas Jefferson).

No mesmo sentido se posicionam o romancista Orwell e, mais


recentemente, o Cypherpunk Julian Assange:

“Se a liberdade significa alguma coisa, será sobretudo o di-


reito de dizer às outras pessoas o que elas não querem ouvir.”
(George Orwell).

“A liberdade é a liberdade de dizer que dois e dois são quatro.


Quando se concorda nisto o resto vem por si.” (George Orwell).

“Não deve haver mais conversas tolas sobre perseguir qualquer


meio de comunicação, seja o Wikileaks, seja o ‘The New York Ti-
mes’.” (Julian Assange).

Ora, e como não? O mesmo “poder” que pode ser utilizado para
o mal, como frisamos neste capítulo, também poderia ser utilizado
para o bem. O problema apontado aqui é a influência e existên-
cia de agressores, manipuladores, profissionais fajutos e redações
vis, tais comportamentos sequer seriam aceitos em uma socieda-
de pautada em uma moral anti-agressão, seriam imediatamente
removidos fisicamente, e nada importaria quanto dinheiro, apadri-
nhamento ou anunciantes estes agressores possuíssem.
Manual da Ação Libertária

Os sequestros do método e da pauta

O sequestro do método

De vez em quando uma parcela da população unida em


protestos, levando uma mensagem, paralisando uma via,
chamando atenção para um determinado ponto, poderia até ser um
método midiaticamente relevante para a publicidade de uma pauta
popular.

Poderia, mas não mais o é. Por definição, a democracia é a


sobreposição da ideia de uma maioria sobre uma minoria. Qual a
diferença de como estas ideias da minoria serão expostas?

A não ser que a mobilização conte com a adesão da maioria, ou


seja, 50%+1 (no Brasil, mais de 100 milhões de pessoas) daqueles
eleitores, os políticos irão simplesmente ignorar.

Trabalhei em um dos locais preferidos dos manifestantes, a Av.


Paulista, e é simplesmente incrível a quantidade de manifestações
por ali. Em mais de 2 anos, rara foi uma quinta ou sexta-feira em
que não houvesse a “paralisação da via”.

Eram sindicatos de funcionários protestando por melhores sa-


lários, contra projetos de lei de previdência, a favor de políticos
de esquerda, a favor de políticos de direita, comemorando títulos
de futebol ou lamentando fatos e atrocidades pelo mundo, a única
certeza que se tem é que: NINGUÉM MAIS SEQUER LIGA!
Manual da Ação Libertária

Os motoristas de táxi e aplicativos de mobilidade urbana, já


sabem como evitar estas manifestações, os programas de TV e de
rádio já sabem como cobrir de forma a evidenciar os impactos no
trânsito e não as pautas, os trabalhadores da região já sabem como
contornar os impactos destas manifestações para ir ao trabalho e
retornar à suas casas.

De fato, só é possível chamar a atenção do transeunte desavisa-


do que se encontra em meio a uma algazarra destas e ao invés de
criar empatia pela a pauta, cria-se um distanciamento entre este e
os mobilizados, uma vez que lhe causaram apenas desconforto e
não aproximação.

Como mencionado, o método encontra-se saturado, em uma


metrópole como São Paulo, nem o trânsito causado por estas aglo-
merações consegue chamar a atenção para a pauta proposta, de
fato, e infelizmente, bons propósitos e boas reivindicações seriam
perdidas em meio a tantas e tantas manifestações sem qualquer
efeito prático.

Porém, não irei negar que é possível algum benefício “à causa”.


É possível que estas reuniões de pessoas atraiam os mais diversos
interesses e dentre estes interessados, muitas pessoas que jamais
tiveram contato com conteúdo libertário tenham um primeiro
contato, contudo, vejam, o benefício seria apenas trazer alguns dos
manifestantes à causa libertária e não levar publicidade.
Manual da Ação Libertária

Sequestro da pauta

As pautas das manifestações refletem uma vontade


popular e, portanto, possuem certo grau de legitimidade formal,
ou seja, a manifestação de vontade é publica e voluntária entre os
manifestantes, então qual é o problema com a exposição de ideias
da parte dos manifestantes?

Por princípio, o estado não possui qualquer legitimidade, seja


formal, seja aquela que produz efeitos entre os agentes, seja mate-
rial, aquela que produz efeitos para além dos agentes.

Mesmo pautas formalmente legítimas necessitariam gozar de


unanimidade dos que serão impactados, os “contribuintes” e “juris-
dicionados”, para ter legitimidade material, o que somente ocorre
nas pautas sob o prisma da ética.

Explico: o estado, apesar de ilegítimo de todas as formas pos-


síveis(formal e material), não erra ao condenar crimes contra a
propriedade como roubos, estupros, homicídios.

Pois há uma demanda social da parte dos jurisdicionados para


que, apesar da ilegitimidade estatal, diversas agressões sejam pu-
nidas. O que atribui legitimidade a estas punições não é a existên-
cia do estado, é a demanda popular por punição a estas agressões,
indevidamente sequestrada e monopolizada pelo estado.
Manual da Ação Libertária

Há um sequestro destes temas pela via política para assim,


utilizando-se de engenharia de consentimento, impor uma pseudo-
-legitimação psicossocial.

No mesmo diapasão ocorre com as pautas das manifestações


populares, ao serem apresentadas a parasitas e aproveitadores
políticos e elas se tornam mera propaganda eleitoral para seus
“porta-bandeiras”.

O que era para ser uma ação de conscientização política


entre os manifestantes e demais “jurisdicionados”, “contribuintes”,
torna-se então mera propaganda política para a oposição, que irá
promover-se e angariar votos.

Um dos princípios da democracia representativa é a alternância


de poder, que seria uma variação entre os agressores de forma que,
de tempo em tempo, os comandantes deste sistema são trocados,
com uma suposta ajuda do público que irá escolher quem serão os
seus “novos representantes”.

Chamo isso de “pêndulo democrático”. Aquele que pro-


mete políticas públicas sociais geralmente se coloca à es-
querda, aquele que supostamente irá atuar de forma a rom-
per esta cadeia de assistencialismo, se coloca à direita.
Contudo, não passam de pernas da mesma tesoura.

O pêndulo democrático é uma estratégia de perpetuação do poder


estatal, atua reciclando as “leis” (na verdade, meras regras autoritá-
Manual da Ação Libertária

rias), de forma a agradar cada vez uma determinada parcela da popu-


lação. Formando verdadeiros currais eleitorais, prendendo a visão
política em uma falsa dicotomia.

As pautas populares contrárias à “ala esquerda” do pêndulo,


quando esta estiver no poder, serão utilizadas pela “ala direita”
do pêndulo para chegar ao poder, assim, o manifestante apenas
fomenta o discurso político institucionalizado, criando assim um
aparente conflito, favorecendo a suposta oposição interna estatal,
sem contudo, contrapor-se de fato ao estado.

Outro princípio da ciência política que as democracias repre-


sentativas se balizam são os freios e contrapesos. Trata-se da limi-
tação de poderes entre os representantes de forma a nenhum deles
possuir amplos poderes e assim, preservando o “interesse estatal”.

Desta forma, se por milagre um dos eleitos for pessoa ínte-


gra, de caráter ilibado e de ideias anti-estatais, sua influência será
dissolvida em um mar de liberais, comunistas e socialistas, de
forma a não produzir impacto algum.

Ao final, somente o estado ganha, a pauta exposta pela mani-


festação é anexada ao aparato estatal, seja como proposta políti-
ca de engenharia social (o que seria uma agressão aos indivíduos
que não se manifestaram a favor desta ideia), seja como “ponto de
confronto sensível” o que, de forma eleitoreira, levará a evitá-lo, de
fato, aqueles valores que seriam roubados naquele ano o serão, o
estado criará outra forma de tomar este dinheiro.
Manual da Ação Libertária

Notem: A ESSÊNCIA DO PROBLEMA NUNCA SERÁ


ATACADA PELO ESTADO PORQUE ELE É A ESSÊNCIA DO
PROBLEMA.
Manual da Ação Libertária

OS CONHECIMENTOS DA
GUERRILHA REVOLUCIONÁRIA

“Se a ação política institucional exclui as pessoas comuns do pro-


cesso de resolução dos seus problemas, a luta armada colabora outro
tanto, erigindo-se em “muralha de aço” ao povo, que assim perma-
nece eternamente na situação de telespectador. (Conferência sobre
Anarquismo e Não-Violência, Itália. 1980.)”

Agora vamos entender e contrabalancear a tão infame e defen-


dida ação revolucionária. A literatura sobre o assunto é ampla e é
com certeza um dos maiores trunfos dos marxistas, mas uma obra
em especial chama bastante atenção: O Manual do Guerrilheiro
Urbano, de Carlos Marighella.

Marighella, por sua vez, foi um pioneiro do socialismo-


comunismo, que aprendeu com Mao Tsé Tung, ex-ditador
comunista chinês que levou o sistema chinês a beira do colapso
Manual da Ação Libertária

por conta de sua falha em realizar o cálculo econômico. A fome


e a miséria se tornaram a mais imponente presença em todo o
território da China. Num contexto de ditadura militar do Brasil,
Marighella e seus companheiros se tornaram não só pioneiros,
mas guerrilheiros urbanos preparados em larga escala para atacar
o estado - o que não é um erro em si, mas um delírio resultado da
ausência da compreensão acerca do que o estado realmente é.

Breves Considerações sobre o Manual do


Guerrilheiro de Carlos Marighella
O Manual do Guerrilheiro, de Carlos Marighella, é um
blockbuster pros adeptos do socialismo. Ele utiliza-se de uma das
premissas mais poderosas de resistência, uma que os libertários
estão bem acostumados a apoiar: a descentralização.

Veja esse trecho do manual:

“Nenhum grupo de fogo pode permanecer inativo esperando or-


dens de “cima”. Sua obrigação é atuar. Qualquer guerrilheiro ur-
bano que queira estabelecer um grupo de fogo e começar a ação pode
fazê-lo e desta forma fazer-se parte da organização. Este método
de ação elimina a necessidade de conhecer quem está realizando as
ações, já que existe a livre iniciativa e o único ponto de importância
é aumentar substancialmente o volume da atividade guerrilheira
para desgastar o governo e obrigá-lo à defensiva. O grupo de fogo
é o instrumento de ação organizada. Com ele, as operações da guer-
rilha e as táticas são planejadas, lançadas e executadas com êxito.
O comando geral conta com o grupo de fogo para realizar seus ob-
jetivos de natureza estratégica e para fazê-lo em qualquer parte do
Manual da Ação Libertária

país. Por sua parte, ajuda os grupos de fogo com suas dificuldades
e necessidades. A organização é uma rede indestrutível de grupos
de fogo e de coordenações entre eles, que funciona simples e pratica-
mente com o comando geral e que também participam nos ataques;
e organização que existe com o único propósito, simples e puro, de
ação revolucionária. “

É até curioso se você parar para pensar como os revolucioná-


rios que pretendem centralizar toda a produção e as áreas mais
íntimas da vida humana são os mesmos que utilizam-se da des-
centralização como meio de ação revolucionária. Os mesmos que
pregam grandes exércitos são aqueles que pregam a guerrilha como
mecanismo para destruir esses grandes exércitos. Uma verdadeira
contradição. Até mesmo reconhecem o caráter descentralizado da
informação:

“Para o completo êxito na batalha contra os espiões é essencial


a organização de um serviço de contra-espionagem ou contra-in-
teligência. No entanto, com respeito à 24 informação, não pode ser
reduzida a somente saber os movimentos do inimigo e evitar a in-
filtração de seus espiões. A informação tem que ser ampla, tem que
incluir tudo, incluindo os dados mais significativos. Há uma técni-
ca de obter informação e o guerrilheiro urbano a tem que dominar.
Seguindo esta técnica, a informação é obtida naturalmente, como
uma parte da vida das pessoas. O guerrilheiro urbano, vivendo em
meio da população e movendo-se entre eles, tem que prestar atenção
a todo tipo de conversação e reações humanas, aprendendo a escon-
der seus interesses com grande juízo e destreza.”

Una isso a uma interminável e completa ausência de escrú-


pulos. Isso autoriza os revolucionários a fazerem basicamente
Manual da Ação Libertária

qualquer coisa que queiram. Não é incomum ver personagens


políticos mentindo descaradamente, fazendo alianças com mega
empresários, planejando atentados, matando civis no processo.
A Revolução é sangue generalizado para todos os lados, menos da
burguesia que tanto tentam alcançar, essa é sempre a que menos
sangra.

“O guerrilheiro urbano não teme desmantelar ou destruir o


presente sistema econômico, político e social brasileiro, já que sua
meta é ajudar ao guerrilheiro rural e colaborar para a criação de
um sistema totalmente novo e uma estrutura revolucionária social
e política, com as massas armadas no poder.” (Marighella, pag. 7).

Das Estratégias da Esquerda


Revolucionária
Agora que entendemos o que a esquerda revolucionária não tem
medo de ser e de que forma ela pretende operar, podemos tratar
especificamente de cada estratégia, e aqui é válido citar O Manual.

Comecemos com seus objetivos:

“O guerrilheiro urbano é um inimigo implacável do


governo e infringe dano sistemático às autoridades e aos homens que
dominam e exercem o poder. O trabalho principal do guerrilheiro
urbano é de distrair, cansar e desmoralizar os militares, a ditadura
militar e as forças repressivas, como também atacar e destruir as
riquezas dos norte- americanos, os gerentes estrangeiros, e a alta classe
brasileira.” (Marighella, pag. 4).
Manual da Ação Libertária

Isso acontece porque o guerrilheiro está disposto a passar por


cima de todos que entram em seu caminho. Eles atacam as auto-
ridades, não porque estas são somente antiéticas ou ruins para a
qualidade econômica, mas porque são representantes dos capitalis-
tas expropriadores. E então ingressam em uma luta armada com
a elite dominante a fim de substituir aquela expropriação, da qual
são acusados, por outro tipo de expropriação que os companheiros
de Marighella, assim como o próprio, não admitem.

Eles acumulam um poder bélico para que estejam prontos para


atacar o inimigo. Trata-se de uma revolução armada bastante
cuidadosa por parte de nossos inimigos. A revolução tem plena
certeza de onde quer chegar.

Veja o planejamento de armas que Marighella registrou:

“As armas do guerrilheiro urbano são armas leves, facilmente


trocadas, usualmente capturadas do inimigo, compradas ou feitas
no momento.” (Op. cit, p. 11).

Toda sua logística está baseada em sob a fórmula de CCEM:


Comida, combustível, equipamento e munições.

Segundo ele:

“A lógica convencional se refere aos problemas de mantimento


para um exército regular das forças armadas, transportada em
veículos com bases fixas e linhas de fornecimentos.” (Op. cit, p. 16).
Manual da Ação Libertária

A guerra armada que ele propõe se trata de pôr os militares


contra um grupo armado e fragmentado intencionalmente. Seus
ataques são, em maioria, contra as principais corporações do
estado, como os bancos, a sede do governo federal, as prisões, etc.

Não devo deixar de constatar que, para o revolucionário que


começa do nada e que não têm apoio desde o princípio, a logís-
tica originária é sob a fórmula MDAME: mecanização, dinheiro,
munições e explosivos. O guerrilheiro não é um homem de negó-
cios, mas um homem de promessa, segundo o autor.

Eles possuem preparação técnica como acampar, treinar, esca-


lar dentre outras utilidades físicas que pretendem criar para pre-
parar seu próprio exército auxiliar. Algumas outras habilidades
que eles têm são a medicina auxiliar, o conhecimento de química e
o conhecimento topográfico. Mas o tiro é a principal, é a “razão da
existência do guerrilheiro urbano” (p. 14).

É indispensável para o guerrilheiro ter conhecimento do ter-


reno, cercar a polícia e preparar emboscadas. Para isso deve haver
entre eles alguém que tenha conhecimento mecânico para pôr um
fim na ruptura da comunicação e dos transportes do inimigo.

Assim, uma das maiores estratégias do revolucionário é a


sabotagem.

“a. interceptar de propósito a polícia com outros veículos ou


por inconveniências casuais ou danos; mas neste caso o veículo em
questão não deve ser legal ou ter placas de licença verdadeiras;
Manual da Ação Libertária

b. obstruir a estrada com árvores caídas, pedras, valas, letreiros


de trânsito falsos, estradas obstruídas ou desvios, e outros meios
engenhosos;

c. colocar minas caseiras no caminho da polícia, utilizar


gasolina, ou jogar bombas Molotov para incendiar seus veículos;

d. disparar uma rajada de balas de metralhadora ou armas tais


como a FAL contra o motor e pneus dos veículos envolvidos na
perseguição.” (Op. cit., p. 23).

Por último, gostaria de deixar para a reflexão do leitor a lista


das principais estratégias do guerrilheiro urbano:

“Antes de qualquer ação, o guerrilheiro urbano tem que pen-


sar nos métodos e no pessoal disponível para realizar a ação.
As operações e ações que demandam a preparação técnica do guer-
rilheiro urbano não podem ser executadas por alguém que carece de
destrezas técnicas. Com estas precauções, os modelos de ação que o
guerrilheiro urbano pode realizar são os seguintes:

a. assaltos

b. invasões

c. ocupações

d. emboscadas

e. táticas de rua

f. greves e interrupções de trabalho

g. deserções, desvios, tomadas, expropriações de armas, munições


e explosivos
Manual da Ação Libertária

h. libertação de prisioneiros

i. execuções

j. seqüestros

l. sabotagem

m. terrorismo

n. propaganda armada

o. guerra de nervos”

(Op. cit., p. 29).

O Comunismo Como Uma Falha Social


O comunismo, proposto pelo filósofo e sociólogo Karl Marx35.
Ser comunista significa acreditar na derrubada violenta da ordem
social existente, com vistas a trazer uma sociedade baseada na co-
letivização dos meios de produção, sendo seu expoente o socialis-
mo, a economia coletivista por excelência.

Existem duas abordagens que são mais comumente tratadas


entre o debate em torno do método: o individualismo metodológi-
co e o coletivismo metodológico. Tanto o individualismo quanto o
coletivismo são metodologias aplicadas às ciências sociais e essen-
ciais para a formulação das ideologias.

35 Karl Marx foi um filósofo, sociólogo, historiador, economista, jornalista e revolucio-


nário socialista. Nascido na Prússia, mais tarde se tornou apátrida e passou grande parte
de sua vida em Londres, no Reino Unido.
Manual da Ação Libertária

O individualismo é a avaliação da sociedade por meio da essên-


cia do indivíduo, uma vez encontrado um critério conceitual da
ação humana as interações particulares dos indivíduos são subju-
gadas por uma regra geral. Em termos gerais, é um conceito que
exprime a afirmação da liberdade do homem, e isso exige reivindi-
cação política, econômica, moral e social.

Individualismo não é ilhar-se. Isto é, essa metodologia se trata


da compreensão do todo por meio do denominador comum que
é o indivíduo. Assim, não se separa em partes e muito menos se
reduz um todo às partes, ou as parte ao todo, como o coletivismo
faz. Ao contrário: é avaliado a condição geral que torna alguém um
indivíduo, para assim compreender o tecido social.

Enquanto isso, o coletivismo é uma análise do tecido social


que divide o mundo entre um grupo de indivíduos opressores
e um grupo de oprimidos. Os opressores, segundo estes, são os
vindivíduos em posições sociais mais privilegiadas, enquanto os
oprimidos são indivíduos nas posições menos privilegiadas. Esse
ponto de vista acredita também que são as forças materiais dispu-
tadas por ambos os grupos que determinam as relações sociais.

Mises adotou uma abordagem individualista porque, segundo


ele, como os coletivos não pensam e, portanto, não agem, não há
nenhuma força material que determine suas relações. Há apenas
indivíduos e somente eles podem determinar seus meios e tentar
alcançar seus fins, ninguém pode decidir suas pretensões por você.
Manual da Ação Libertária

E isso é um dado irredutível no conhecimento das ciências


sociais em geral como a economia.

Enquanto isso, Marx adotou a abordagem coletivista. Tal


qual se mostrou ser um erro do ponto de vista epistemológico, e
como todas as ciências, tanto as ciências sociais quanto as ciências
naturais estão fundadas na filosofia. Isso porque a filosofia inves-
tiga o conhecimento. Portanto, o coletivismo tem sua base destro-
çada pelos motivos supracitados, uma vez que sua base é o pensa-
mento coletivo, e os coletivos não pensam, não deliberam meios e
fins, e, dessa forma, não agem.

O ser humano tem sua própria maneira de agir em coletivida-


de, mas é importante separarmos essa coletividade de coletivismo.
O coletivismo é uma epistemologia cega que usa das artimanhas
do fato de que a sociedade é a cooperação entre os indivíduos, para
se afirmar como se o coletivo tomasse decisões e praticasse ações.
E isso é falso. Rothbard explica a vida coletiva dos indivíduos, de
maneira muito direta:

“O ser humano descobriu que, por meio do processo de troca


mútua e voluntária (comércio), a produtividade — e, logo, o
padrão de vida de todos os participantes desta troca — pode
aumentar significativamente.” (Rothbard, p. 11).
Manual da Ação Libertária

Do Bom Combate
Dado a diferença entre o coletivismo e o individualismo, é
importante não irmos tanto para o outro lado que não tenha-
mos em nós a necessidade de nos organizar. Em verdade, é um
motivo ainda maior para que todos tenham em mente que o que
irão perder com a inércia não é um ideal coletivo, maior do que
você e distante da sua realidade, mas tempo, recursos, educação,
saúde, estabilidade relativos às suas próprias vidas e você é justa-
mente o maior interessado.

Sobre isso, Rothbard esclarece:

“Novamente, tanto a teoria quanto o movimento se tornarão


fúteis e estéreis sem que um ajude o outro; a teoria morrerá na
praia se não contar com um movimento autoconsciente que se de-
dique a difundir a teoria e sua meta. Já o movimento se tornará
uma mera ação sem sentido se perder de vista a ideologia e a meta
que tem como alvo. Alguns teóricos libertários sentem que há algo
de impuro ou vergonhoso a respeito de um movimento vivo, com
indivíduos que realizam ações em prol dele; porém como é possí-
vel atingir a liberdade sem libertários para difundir a causa?”
(Rothbard, Manifesto Libertário).

E ainda:

“Porém é importante mencionar que as ideias não vagueiam


livremente por si só no meio do nada; elas só têm capacidade de
influência à medida que são adotadas e passadas adiante pelas
pessoas. Então, para a ideia da liberdade triunfar, deve exis-
tir um grupo ativo de libertários dedicados, pessoas com grande
Manual da Ação Libertária

conhecimento da causa da liberdade e dispostas a difundir a


mensagem para outras. Em suma, deve existir um movimen-
to libertário ativo e autoconsciente. Isto pode parecer óbvio, mas
tem sido observada uma relutância curiosa de muitos libertários
em se considerarem parte de um movimento deliberado e pro-
gressivo, ou de se envolver nas atividades do movimento. Toda-
via, consideremos o seguinte: houve alguma disciplina, ou algum
conjunto de ideias do passado, seja o budismo ou a física moder-
na, que foi capaz de avançar por si só e de obter aceitação sem
a existência de um “núcleo” dedicado de budistas ou de físicos?“
(Rothbard, Manifesto Libertário).

Mas, Rothbard não apenas dedicou-se a esclarecer a


necessidade de um movimento libertário, ele inclusive indicou a
necessidade real e veemente de possuirmos uma vanguarda liber-
tária. Uma série de pessoas que não apenas se especializam, mas se
profissionalizam na defesa do libertarianismo:

“A menção dos físicos chama a atenção para outro requisito


necessário ao sucesso do movimento: a existência de profissionais, de
pessoas que dediquem todo o seu tempo e o máximo de atenção ao
movimento ou à disciplina em questão. Nos séculos XVII e XVIII,
quando a física moderna surgiu como uma nova ciência, surgiram
sociedades científicas que eram basicamente compostas de amadores
interessados, que podem ser chamados de “Amigos da Física”, que
criaram uma atmosfera de estímulo e de apoio para a nova disci-
plina.

Mas, com certeza, a física não teria avançado muito se não


fosse pelos físicos profissionais, pessoas que fizeram da físi-
ca uma carreira de tempo integral, e que, por isso, puderam de-
dicar toda a sua energia ao fomento e ao avanço da disciplina.
Manual da Ação Libertária

A física certamente continuaria a ser um mero passatempo para


amadores se a profissão de físico não tivesse surgido. Ainda assim,
existem poucos libertários, apesar do espetacular crescimento das
ideias e do movimento nos últimos anos, que reconhecem a enorme
necessidade do desenvolvimento da liberdade como uma profissão,
como um núcleo central para o progresso tanto da teoria como das
condições da liberdade no mundo real.

Toda nova ideia e toda nova disciplina começa necessariamen-


te com uma ou poucas pessoas, e, a partir daí, difundem-se para
um núcleo mais amplo de convertidos e de partidários. Mesmo em
sua plenitude, devido à grande variedade de interesses e de ca-
pacidades dos homens, o movimento libertário estará inevitavel-
mente vinculado a uma minoria de profissionais. Então não há
nada de sinistro ou de “antidemocrático” em postular um grupo
de “vanguarda” de libertários, pois isto seria a mesma coisa que
falar em uma vanguarda de budistas ou de médicos. Esperamos
que esta vanguarda ajude a fazer com que uma maioria ou uma
minoria altamente influente da população adira (se não se dedica-
rem totalmente) à ideologia libertária. A presença de uma maioria
libertária entre os revolucionários norte-americanos, e na Ingla-
terra do século XIX, comprova que esta proeza não é impossível.”
(Rothbard, Ética da Liberdade).

O fato de uma vanguarda dessas beirar a inexistência no


Brasil é algo profundamente desconcertante. Nos Estados Unidos,
essa classe está bem estabelecida e as alianças possibilitam que o
espírito de corpo, aquele senso de lealdade típica dos libertários
floresça livremente a ponto de possibilitar grandes projetos.

Aqui, isto está totalmente morto.


Manual da Ação Libertária

Não há indícios que um movimento libertário fluorescente


esteja prestes a surgir e a principal causa disso está em um dos
maiores males que já afligiu o meio libertário: o fatalismo.

O fatalismo é a crença de que não importa o que se faça, o li-


bertarianismo irá acontecer em virtude da descentralização da in-
formação (ou de qualquer uma das múltiplas desculpas para tal).
Essa visão vai mais longe do que Rothbard jamais foi. Rothbard,
otimista inveterado, disse que um dia, talvez daqui a centenas de
anos, o libertarianismo iria vencer, porque o libertarianismo é ver-
dade e a verdade sempre vence, disse que o estado está um dia fada-
do a falir. Mas, nunca disse que isso INDEPENDERIA das nossas
ações, que isso viria quase como um presente dos céus, como se
estivéssemos diante do fim inexorável da história.

Essa visão está provocando grandes impactos na estrutura


geral do movimento. Menos gente do que deveríamos ter para ter
boas chances de sucesso está de fato ocupada em dedicar sua vida
a isso. Menos gente do que se estimaria, principalmente para uma
comunidade que viu seu patrimônio expandir muitíssimo com as
criptomoedas, é patrocinadora das ideias libertárias. Menos gente
interessada em construir cidades libertárias, menos gente interes-
sada na emancipação individual, menos gente lutando. Estamos
perdendo vários bons quadros para a política, a prostituta das
práticas de libertação, e esse parece ser um cenário que está bem
longe de mudar.
Manual da Ação Libertária

Diante do que foi aprendido sobre Marighella, diante da noção


fresca do que significa o coletivismo, seu caráter de fazer o indiví-
duo buscar continuamente um bem alheio ao mesmo perdendo a
noção do bem próprio, diante de todas as práticas libertárias lis-
tadas aqui, os diversos caminhos (e vale frisar que material sufi-
ciente para mais dois ou três livros desse tipo foram cortados para
manter o texto o mais próximo de um manual o possível) que a
ação libertária pode tomar, será que é sensato falar ainda em ação
política?

Será que não é o caso que a ação política vem DEPOIS da


criação de um cenário vívido de ação libertária, principalmente
no Brasil onde as condições em relação a liberdade de expressão
são tão frágeis? Será que a inércia num estado em que a liberdade
civil e econômica da população é solapada todos os dias não é por
demais otimista? Será que a ideia de conduzir as massas à
liberdade nos fez esquecer que nós somos parte dela?

Como sua vida mudou depois que você se tornou libertário?


O quanto você permitiu que suas convicções se tornassem parte da
sua vida? Será que vai permitir antes que seja tarde demais?
Manual da Ação Libertária

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Olhemos para a sociedade livre de Liberland36. Trata-se de um


país com leis privadas. É um empreendimento privado, mas de
governança voluntária, que atua como a cidade-estado Liberland.
Ela fica entre a Croácia e a Sérvia, na Europa, foi criada por um li-
bertário e tem fins lucrativos. Trata-se de uma república democrá-
tica onde os impostos são pagos se usados os serviços de cunho pú-
blico, como em Mônaco. Outras iniciativas do tipo como Prospera,
Seasteading, Free Private Cities estão pipocando no horizonte.

36 “No modelo libertário, a sociedade toma suas próprias decisões e, segundo ele, qual-
quer assistência deve vir de forma espontânea. “Quem desejar construir um hospital para
os necessitados pode fazer org... Leia mais em: https://veja.abril.com.br/mundo/liber-
land-o-pais-sem-governo-e-sem-cobranca-de-impostos/
Manual da Ação Libertária

Vale frisar a situação das Zonas Econômicas Especiais como a


própria ZEE Mônaco e Liechtenstein. No primeiro exemplo, os
impostos são voluntários; os cidadãos pagam se forem usar servi-
ços públicos. Apesar de ambas serem monarquias, possuem uma
forma de governar bem distinta dos demais governos. Monaco,
por sua vez, não cobra taxa obrigatória de impostos, o que signi-
fica que tanto esta quanto aquela são formas de governo voluntá-
rio. No segundo exemplo, a secessão é permitida pela sua própria
Constituição - o que é libertário, pois suas regras foram consenti-
das por todos aqueles que possuem maioria e decidiram se manter
naquele estado.

Existem diversas outras governanças pelo mundo afora ainda


sendo construídas e cotadas, vale destacar Akon City, construída
pelo cantor Akon juntamente com outros investidores milionários,
que será inaugurada em Senegal. Deve ser levado em conta que
esse modelo é uma cidade privada. Como aponta a plataforma Casa
Vogue, da Globo:

“Akon anunciou um acordo de US$6 bilhões (cerca de R$30,6


bilhões) com a KE International, empresa de engenharia sediada
nos Estados Unidos, para levar a cabo a ideia. A cidade, chama-
da Akon City, promete ter faculdades, aeroporto, shopping center,
hospitais, e também deve ser sustentável, com uma estação de re-
síduos e uma usina elétrica de energia solar. Acha pouco? Pois
saiba que, além disso, a ideia é que todo o comércio e a economia da
cidade devem funcionar com a Akon, criptomoeda também idealiza-
da pelo cantor e que, ele espera, possa ser usada em todo o continente
africano.” (Queiroz, 23 de julho de 2020).
Manual da Ação Libertária

A existência de um movimento libertário internacional é um


fato. Reuniões no mundo todo são realizadas entre libertários,
algumas mais e outras menos abertas ao público, com a intenção de
planejar, organizar e ordenar as ações em prol da liberdade.

O Bitcoin é um fato e cada vez mais iniciativas do tipo vem


surgindo. Os indivíduos suspeitam cada vez mais da figura do
estado e a tarefa parece estar cada vez mais próxima de agir do que
educar.

Não deve-se entender isso como um sinal de que a educação


libertária não deve ocorrer ou que não seja hora de educar, mas
que as condições em relação a existência de um mínimo teórico
no Brasil indicam a necessidade da tomada de algumas dessas
decisões no horizonte. Como os libertários irão reagir nos próxi-
mos anos irá definir a nossa participação nos eventos dessa metade
do século.

Precisamos abrir os horizontes para esse ávido movimento


internacional, nos caracterizando justamente por sermos os pri-
mos mais radicais, aqueles que mantêm a coordenação perfeita
entre a prática e a teoria.

Esse livro é um passo à frente na discussão para que isso


seja possível. O Alvorecer da Liberdade37 foi outro. A tradução
sistemática da obra inteira do SKIII foi outra.

37 Livro introdutório ao libertarianismo publicado pela Universidade Libertária:


https://www.universidadelibertaria.com.br/o-que-e-a-liberdade-o-alvorecer-da-liberda-
de/
Manual da Ação Libertária

A tradução de livros pelo atual Instituto Rothbard e pela


Editora Konkin, a criação do canal do Dâniel Fraga, a criação do
Visão Libertária38, a manutenção de um vívido movimento em
prol do purismo em relação à política no Brasil de alguns grupos
como a Foda-se o Estado, H³, SAL e outros foi mais um. Estamos
num caminho favorável para estarmos fazendo mais e mais pela
liberdade.

O quanto esses passos ecoarão depende de quanto eles serão


acompanhados da existência de um ávido movimento libertário
que irá incorporar essas ideias apresentadas na forma de ações
práticas.

Do quanto eles estarão dispostos a ler e a coordenar as ações,


para minimizar os riscos e possibilitar a integração dos libertá-
rios. Do quanto eles estão sedentos pela sua própria liberdade.
O futuro é nosso, para o bem ou para o mal.

38 Sem deixar de lamentar pelas suas profundas alusões ao fatalismo.


Manual da Ação Libertária

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