Asherah A Esposa de Deus
Asherah A Esposa de Deus
Asherah A Esposa de Deus
Politeísmo israelita
Francesca passou diversos anos analisando os contextos culturais e sociais da Bíblia, e
concluiu que Yahweh teve que competir com outras tantas divindades — como Molek,
Baal e El — até conquistar a posição de Todo Poderoso junto aos antigos israelitas.
Segundo explicou, apesar de Deus ordenar em um de seus 10 mandamentos “não terás
outros deuses diante de mim”, a própria Bíblia traz evidências de que outras entidades
eram adoradas juntamente com Ele.
Além disso, de acordo com a teóloga, o Livro dos Reis aponta que Deus tinha uma esposa,
e que ela era adorada juntamente com Ele. Asherah, a companheira de Yahweh, era
apresentada como uma divindade que se sentava ao lado do marido, e o texto bíblico
ainda revelaria que uma estátua da deusa ficava abrigada no interior de um templo em
Jerusalém, e que as sacerdotisas do local eram responsáveis por criar mantos
cerimoniais para ela
Além de aparecer na Bíblia, a ligação entre Yahweh e Asherah também é mencionada em
inscrições descobertas em fragmentos de cerâmica do século 8 a.C. encontrados em
Kuntillet Ajrud, no deserto do Sinai. Segundo Francesca, o texto se refere a um pedido
destinado ao “Casal Divino”, e outras tantas inscrições semelhantes foram recuperadas,
fortalecendo o corpo de evidências que apontam que os antigos israelitas acreditavam
que Deus tinha esposa.
Deusa da fertilidade
Aliás, apesar de a Bíblia condenar esse tipo de prática, os textos sugerem que a adoração
de divindades era muito comum em Jerusalém. E tanto ídolos como amuletos, incluindo
textos antigos, revelam que Asherah era uma poderosa deusa da fertilidade.
A “esposa” de Yahweh também era conhecida pelos nomes Istar e Astarte, e era de grande
importância para os povos do passado, sendo uma divindade ao mesmo tempo poderosa
e maternal.
Antes de ser associada à figura de Yahweh, Asherah era consorte de El, Deus supremo de
Canaã e pai de Baal. Na Bíblia ela frequentemente aparece como ha asherah e, nesses
casos, as escrituras não se referem a ela como sendo uma divindade, mas como um
símbolo presente nos altares de santuários israelitas dedicados a Yahweh, muitas vezes
na forma de árvores. Daí sua ligação com o “Deus dos Hebreus”, como também era
conhecido.
Árvore Sagrada
O estudioso J. Edward Wright, presidente de um centro de estudos judaicos e do Instituto
Albright de Pesquisas Arqueológicas, confirmou que diversas inscrições hebraicas
mencionam a ligação entre Yahweh e Asherah. Segundo disse, a suposta esposa de Deus
não foi completamente apagada da Bíblia, e ainda é possível encontrar vestígios de sua
existência em evidências arqueológicas textos de países que fazem fronteira com Israel e
a Judeia.
Muitas traduções se referem a Asherah como “Árvore Sagrada”, e de acordo com Wright,
essa referência foi criada para “esconder” a existência da deusa. As referências a Asherah
no Velho Testamento são raras e foram grandemente editadas pelos antigos autores
responsáveis por reunir os textos que seriam incluídos nas escrituras.
Aaron Broody, diretor do Museu Bade e professor de estudos relacionados com
arqueologia e a Bíblia, explicou que a figura de Asherah como “árvore” inclusive chegou a
ser simbolicamente cortada e queimada no exterior do Templo de Jerusalém por
religiosos que tentavam purificar o culto e focar na adoração de um único Deus homem,
Yahweh.
Francesca não é a primeira estudiosa a mencionar a ligação entre Yahweh e Asherah. Em
1967, o historiador Raphael Patai apresentou a teoria de que os antigos israelitas
adoravam às duas — e a muitas outras — divindades e, de lá para cá, outros vários
estudiosos publicaram estudos e livros sobre o tema. A teóloga retomou as pesquisas
sobre o assunto, e seus trabalhos acabaram se tornando tema de um polêmico
documentário produzido pela BBC.