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Psicologi Comunitri Livro

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Revisão técnica:

Caroline Bastos Capaverde


Graduada em Psicologia
Especialista em Psicoterapia Psicanalítica

P974 Psicologia social [recurso eletrônico] / Daiane Duarte Lopes...


[et al.] ; [revisão técnica: Caroline Bastos Capaverde]. –
Porto Alegre : SAGAH, 2018.

ISBN 978-85-9502-524-0

1. Psicologia social. I. Lopes, Daiane Duarte.


CDU 316.6

Catalogação na publicação: Karin Lorien Menoncin – CRB 10/2147


Psicologia comunitária
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Reconhecer a psicologia social experimental empírico-analítica e a


crise na psicologia social.
 Identificar o conceito de comunidade.
 Analisar a atuação prática da psicologia social comunitária.

Introdução
A psicologia comunitária é um ramo da psicologia social e se constitui na
resolução dos problemas sociais nas comunidades. A psicologia comunitária
busca trabalhar com sujeitos sociais em condições específicas, atentando
para as suas respectivas individualidades. Seus objetivos se referem à me-
lhoria das relações entre os sujeitos e entre estes, a natureza e instituições
sociais ou o seu empoderamento. Nessa perspectiva está todo o esforço para
a mobilização das comunidades na busca de melhores condições de vida.
A psicologia social constitui e é constituída por uma diversidade de
saberes que estimulam a problematização dos modos de viver, como as
representações sociais, os grupos e as instituições. Os campos problemá-
ticos criados a partir dos desdobramentos da psicologia social abriram
espaço para uma atuação mais efetiva da psicologia social.
Neste capitulo, você estudará sobre a crise na psicologia social, poderá
fazer uma reflexão sobre o conceito de comunidade e entenderá a prática
da psicologia social comunitária.

Implicações e atravessamentos
da crise na psicologia social
A psicologia social experimental empírico-analítica é uma abordagem da psicolo-
gia social que utiliza o método empírico analítico como ferramenta para estudar
os fenômenos observáveis do comportamento dos sujeitos e das sociedades. E
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restringe o desenvolvimento dos seus conhecimentos, gerando conceitos somente


por meio da observação de fatos que possam ser mensuráveis e estimáveis.
Esse rigor científico estabelecido pela psicologia social experimental empí-
rico-analítica, fixado pelas metodologias quantitativas de pesquisa, estruturava
desde um problema a ser investigado, assim como hipóteses que norteavam as
observações, sendo justamente este o ponto de instabilidade, que acabou por
despertar uma nova abordagem na psicologia social, a psicologia comunitária.
A psicologia comunitária emerge receptiva à compreensão de enfoques
históricos e antropológicos, com um olhar sensível ao contexto político e social.
Sem se ater a uma metodologia ou a uma teoria, não trouxe consigo um objeto
definido, mas um enfoque mais qualitativo sobre os modos de ser e de viver.
Surgiu como uma crítica à abordagem norte-americana, onde o psicólogo
social se posicionava de maneira distante aos objetos de estudo e ganhou
força com os movimentos da análise institucional na América Latina, que
posicionavam o pesquisador em meio ao estudo, como podemos acompanhar
na pesquisa-ação e na pesquisa participativa. Foi também problematizadora
do posicionamento elitista da psicologia, que até então se colocava à margem
de questões da zona periférica e rural das cidades, deixando de lado os operá-
rios, as favelas, a miséria, a violência, a pluralidade criativa no existir, como
podemos acompanhar uma representação na Figura 1.

Figura 1. Problematização do posicionamento elitista


da psicologia norte-americana.
Fonte: Rawpixel.com/Shutterstock.com.
Psicologia comunitária 3

No entanto, com o surgimento dessa nova visão da psicologia social e


na ânsia de atuação e posicionamento que esta abordagem convoca, fez da
concepção reflexiva uma urgência prática dessa psicologia que estava a nascer,
assim inserindo como campo, para o psicólogo comunitário, a militância, o
ativismo, a postura engajada e politizada, no lugar que anteriormente era
ocupado pela neutralidade.
Com isso, a crise na psicologia social foi atravessada pela necessidade de
se criar um campo problemático, onde se tornou indispensável à presença
de uma luta de forças que questionem demandas instituídas pela realidade.
Dessa maneira, a psicologia social, com um olhar sobre a comunidade,
busca construir um espaço para diálogos constantes, objetivando a criação
de territórios para inclusão de discussões para desenvolver estratégias de
mudança social.
Sob esse novo prisma, convocado pela autoanálise a respeito do efetivo
saber e fazer da psicologia social, a construção de novas metodologias, bem
como a estruturação de novos objetos teóricos se mostraram essenciais. A crise
na psicologia social foi implicada por uma abertura da consciência sobre a
atuação e a extensão do alcance do olhar e escuta que transformou um campo
que antes se denominava lugar antropológico, de maneira a alcançar um novo
sentido, podendo ser chamado de comunidade.

No Brasil, o golpe militar de 1964 teve influência especial na crise da psicologia social e
posterior ao surgimento da psicologia social comunitária. A década de 1960 foi marcada
por extrema repressão e violência, que promoveram um desconforto e uma comoção
aos psicólogos sociais, que passaram a questionar seu papel como produtores de
consciência e organização na sociedade (CAMPOS, 2001).

Comunidade
O termo comunidade se expressa tanto como um estado, no sentido do que é
comum ou está em concordância, como em um lugar, assumindo um sentido
de coletividade, corpo social. Assim, comunidade se assume tanto como
identidade em uniformidade e harmonia, como em conjunto, união de sujeitos
com interesses semelhantes, similarizando conceitualmente com povo, nação,
confraria, cultura (ARENDT, 1997).
4 Psicologia comunitária

Para a psicologia social, comunidade se refere a um espaço criador de


identidade, um campo relacional e histórico, onde é possível que cada membro
expresse a totalidade. Comunidade, para a psicologia social e as ciências sociais,
ocupa uma esfera paisagística em que só é possível seu existir enquanto seus
membros mantiverem certa unidade.
Assim, comunidade assume um caráter de invenção norteadora em direção
à clareza teórica. Para o estudo da comunidade, fica o compromisso com a
identificação do sujeito estudado com a paisagem a qual está inserido, levando
em conta a diversidade no viver desses sujeitos e a flexibilização fronteiriça
a que se apresentam.
Como referido por Arendt (1997), a contemporaneidade trouxe consigo
uma transitoriedade no viver, com um trânsito constante entre a residência,
que acaba por existir restritivamente, muitas vezes apenas como dormitório,
e os locais de trabalho, que dão espaço para a invenção de novas formas de
existir no mesmo espaço. Afinal de contas, nos locais de trabalho existem
normas e regras próprias que contrariam a legitimidade de ser plenamente
em cada sujeito.
Dessa maneira, podemos refletir sobre o conceito de comunidade na
contemporaneidade, onde a flexibilização entre os limites da comunidade,
que cada vez mais elásticos possibilitam a criação de novas potências.
Por exemplo, se pensarmos em uma comunidade, que outrora fechada em
si estava completamente imersa em seu próprio funcionamento, muitas
vezes causando prejuízos aos seus membros, seja pela violência, miséria,
falta de saneamento, maus hábitos entre outros, não conseguia permitir
o rompimento dos ciclos destrutivos, reproduzindo e sendo reprodutor,
perpetuando um funcionamento não benéfico ou antiproducente. Hoje com
o fluxo e o trânsito cada vez mais frequente, as informações conseguem
acessar os membros da comunidade, que as utilizam como ferramentas
para romper com hábitos disfuncionais ou proliferar práticas que possam
beneficiar a todos.
A comunidade pode então ser permanência, habitação e trânsito. Ocupando
um espaço em que seus membros residem e transitam, com fluxo permanente
para a constante construção do seu desenvolvimento.
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No filme dinamarquês A Comunidade, de 2016, do diretor Thomas Vinterberg, os


tensionamentos, descobertas, equilíbrios e conflitos de interesses comuns em uma
comunidade na década de 1970.

Psicologia social comunitária


Como vimos anteriormente, a psicologia social comunitária surgiu a partir da
crise na psicologia social, em inconformidade com o posicionamento neutro,
baseado no método empírico-analítico. A significante “comunitária” fala
de um lugar e implica atuação nesse lugar, visando ao desenvolvimento da
consciência dos sujeitos que habitam, sobre si, sobre seu habitar e sobre o
ambiente habitado.
A psicologia social comunitária oportuniza uma estrutura igualitária entre
as relações, unindo os membros de maneira a superar o individualismo, em
práticas que promovam à autogestão (CAMPOS, 2001). E utiliza a multiplici-
dade das inteligências dos membros e seu potencial produtivo para constituir
o desenvolvimento da autonomia da comunidade.
Ressaltando as intervenções com grupos, a psicologia social comunitária
acentua a construção das relações interpessoais e intergrupais. Potencializando
o desenvolvimento critico-ético e politizado sobre o viver na comunidade.
Sendo este o principal campo de mediação da psicologia social comunitária,
o estimulo na elaboração de possibilidades de mudança e a conscientização
de suas potencialidades.
Freire (1987) nos aponta para a importância comunicacional no desen-
volvimento e construção dos conhecimentos. O trabalho do psicólogo social
comunitário evolui conforme a progressão da dialogicidade. Pois, como apon-
tado anteriormente por Freire (1987), sem a comunicação baseada no diálogo,
a interação e a expressividade ficam restritas inibindo o aprendizado.
O desenvolvimento da criticidade se empenha a perceber a realidade a
qual a comunidade vive e está inserida. Como pensado por Freire (1996) a
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criticidade organiza o sujeito ao exercício da reflexão, potencializando seu olhar


para as diferenças e para o desenvolvimento de aprendizagens e mudanças.
A psicologia social comunitária possui em seu propósito a abertura para
a diversidade de conhecimentos e acredita na amplitude destes, por meio
das trocas cambiadas em meio ao diálogo. Cada sujeito possui em si uma
infinidade de potências criadoras que se estimuladas acabam por impulsionar
competências, e é essa convicção da psicologia social comunitária que a torna
única e promovedora de transformações.

A atuação do psicólogo comunitário acontece mais efetivamente de maneira interdis-


ciplinar, associando diferentes fontes conceituais e multidisciplinares, normalmente
formando equipe com o serviço social e com profissionais das áreas da saúde, de
forma a agregar conhecimentos e somar forçar para atingir a cada comunidade em
sua individualidade, com suas características únicas.

ARENDT, R. J. J. Psicologia comunitária: teoria e metodologia. Psicologia: Reflexão &


Crítica, Porto Alegre, v. 10, n. 1, p. 7-16, 1997.
CAMPOS, R. H. F. (Org.). Psicologia social comunitária: da solidariedade à autonomia.
Petrópolis: Vozes, 2001.
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São
Paulo: Paz e Terra, 1996.
FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 17. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

Leituras recomendadas
ARENDT, H. Entre o passado e o futuro. São Paulo: Perspectiva, 1972
CASTORIADIS, C. A instituição imaginária da sociedade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982.
FOUCALT, M. Microfisica do poder. 9. ed. Rio de Janeiro: Graal, 1990.
GUATTARI, F. Caosmose: um novo paradigma estético. São Paulo: Ed. 34, 1993.
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
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