Integração Da Dimensão Espacial Na Planificação de Uso de Terra Ao Nível Distrital - Estudo de Caso de Boane
Integração Da Dimensão Espacial Na Planificação de Uso de Terra Ao Nível Distrital - Estudo de Caso de Boane
Integração Da Dimensão Espacial Na Planificação de Uso de Terra Ao Nível Distrital - Estudo de Caso de Boane
Abstract. In Mozambique, during long decades land use planning at district level was based on stakeholders
auscultation without considering spatial data. But recently (first decade of year 2000), they understood how
important and essential is to associate that method with spatial data due to spatial analysis. Therefore, this research
seeks to enhance the integration of the spatial data to the district plans relating to the land use and land cover. In this
order, OLI/Landsat-8 image and soil database were considered integrating into a GIS environment. Digital image
processing techniques and spatial analysis were applied. Supervised classifications (Maxver and Isoseg) and overlay
methods were considered. Field data were also considered in order to enhance digital image classification methods.
As a result of the classification a map of land use and cover was generated containing 5 classes: water, vegetation,
exposed soil, urban and agricultural areas. Overlaying maps consisted in adding the generated land use map with
fertility map. As a results, a model of land use was generated too. This result revealed weaknesses in the land use
planning process at the district level and how, spatial data can be useful to promote best practices on the land use
planning process at district level. The methodology used is straightforward and easily reproduced and can be used to
assess other regions.
Palavras-chave: Geographic Information System, Remote Sensing, Image Processing, Modeling. Sistema de
Informação Geografica, Detecção remota, Processamento de imagens, Modelagem
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1. Introdução
A questão de uso de terra é um factor localizado, pois é algo que é observado numa
determinada circunscrição territorial. O levantamento do uso da terra numa dada região tornou-se
um aspecto fundamental para a compreensão dos padrões de organização do espaço e da relação
homem e o espaço (IBGE, 2006; MICOA, 2008). O levantamento do uso da terra é de grande
importância, na medida em que os efeitos do uso desordenado causam deterioração do ambiente
(BRITO e PRUDENTE, 2005).
As formas de uso de terra não só divergem entre espaços contrastantes (áreas urbanas e
rurais) mas também dentro da mesma categoria de unidade territorial é possível constatar diversas
assimetrias relacionadas com as formas de uso de terra o que torna necessário proceder um
planeamento de uso de terra consoante as características de uma dada região e as necessidades da
comunidade que aí habita (FAO, 1995; NIGAM, 1998).
Em Moçambique, vários projectos de desenvolvimento territorial elaborados em vários níveis
de divisão administrativa não punham em causa a componente espacial assentando-se na sua
maioria nos mecanismos de planificação participativa e na consulta comunitária para validar o
processo através dos seus correspondentes conselhos Consultivos de Postos Administrativos e de
Distrito para além dos mecanismos usados como reuniões públicas, diagnósticos rurais
participativo, seminários de priorização e avaliação conjunta e fora outros – Elaboração dos
PEDD “Plano Estratégico de Desenvolvimento Distrital” (MICOA, 2008).
O Governo de Moçambique definiu o distrito como “pólo de desenvolvimento”, ou seja
prioridade para todas iniciativas conducentes ao desenvolvimento do país, e por isso muitas
atenções foram sendo viradas a esta circunscrição territorial que detém vasta gama de recursos
naturais importantes para o desenvolvimento da comunidade e do distrito caso sejam
desenvolvidos projectos de planificação de uso de terra, pois determinadas formas de uso de terra,
têm suas repercussões. Os distritos têm-se deparado com problemas tais como ocupação
desordenada do espaço, conflitos de uso e aproveitamento da terra, degradação do meio ambiente
e esses afectam os propósitos de desenvolvimento, pois reflectem o uso insustentável do espaço
territorial e do potencial da terra.
A utilização de detecção remota ou sensoriamento remoto como técnica para análise do uso e
cobertura de terra permite o planeamento e administração de ocupação de forma ordenada e
racional, monitorar e avaliar áreas de vegetação natural (PEREIRA et al., 1989).
A aplicação da tecnologia de Sistemas de Informação Geográfica (SIG) facilita a maneira de
como o uso do solo pode ser monitorado, pois técnicas relativamente simples podem fornecer
informações que permite a avaliação pontual e temporal, reparação e readaptação dos usos, a um
custo aceitável. Uma questão importante na adopção das técnicas de SIG para o planeamento do
uso do solo é a actividade agrícola (PELEGRIN, 2001).
Montebelo et al. (2005), consideraram existência de grande interesse por parte da sociedade
sobre o uso e cobertura da terra, na medida em que para além de monitorar os possíveis impactos
ambientais, pode-se acompanhar o desenvolvimento socioeconómico de um local, tanto em escala
municipal, regional e até mesmo global.
Nesse âmbito, esta pesquisa procura realçar a necessidade da integração da dimensão espacial
na planificação de uso de terra ao nível distrital.
2. Metodologia do Trabalho
A pesquisa teve vários momentos, desde a aquisição dos materiais, processamentos e
produção cartográfica. Os materiais incluem imagem do sensor OLI do Landsat-8 correspondente
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a orbita 167 ponto 78 referente a data 8/09/2014 disponibilizada pela USGS através do endereço
http://earthexplorer.usgs.gov/, uma imagem quase pronta para o processo de classificação (USGS,
2012), banco de dados de solos (1994) disponibilizado pelo Instituto Nacional de Investigação
Agrária de Moçambique (IIAM). Estes dados foram processados em ambiente SIG, utilizando
softwares de visualização e tratamento de informação espacial.
A área de estudo é o distrito de Boane na Província de Maputo região sul de Moçambique,
com as seguintes coordenadas: 25.7134º S e 26.2547º S, e 32.1912o E e 32.4948o E, com uma
área de cerca de 815 km2 (MAE, 2005) (Figura 1).
É um distrito com clima sub-húmido, com duas estações bem definidas, a estação seca (entre
Abril e Setembro) e a chuvosa (entre Outubro e Março). A temperatura média anual é de 23,7ºC e
a precipitação média anual ronda aos 752 mm (MAE, 2005).
A imagem OLI foi processada segundo procedimentos de processamento digital de imagens
(PDI), utilizando a combinação falsa-cor RGB (564). A metodologia utilizada seguiu as seguintes
etapas: registro da imagem utilizando o método imagem/imagem por se ter percebido um
pequeno deslocamento da imagem; recorte da área de interesse (distrito de Boane), classificação
supervisionada usando os métodos Máxima verossimilhança (Maxver) e distância de
Mahalonobis (Isoseg) no sentido de buscar-se um classificador relativamente fiel (POWELL et al,
2004).
Em seguida fez-se o pós-processamento (correcção dos erros de classificação) e análise da
acurácia do mapeamento e a edição do mapa final de uso e aproveitamento de terra.
Na análise da acurácia utilizou-se como base amostras colectadas em campo que
representavam a verdade do terreno.
Relativamente ao banco de dados de solos usou-se o atributo fertilidade que foi convertido
para arquivo matricial de modo a se proceder a modelagem. Para a modelagem fez-se a
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reclassificação dos dois mapas (uso do solo e fertilidade) e através de operações algébricas
matriciais procedeu-se a sobreposição dos mesmos e cálculo das áreas que compõe cada classe.
3. Resultados e Discussão
3.1 Variação da fertilidade dos solos e Uso e cobertura da terra
A fertilidade dos solos esteve classificada em baixa, intermédia e alta com uma distribuição
espacial bem definida (Figura 2A), e o mapa de uso e cobertura de terra foi classificado em 5
classes: Água, Vegetação, Áreas habitadas, Solo exposto e Agropecuária (Figura 2B).
Figura 2: Classes de fertilidade dos solos (A) (Fonte: IIAM, 1994) e de uso e cobertura de terra
(B)
Relativamente à fertilidade, observou-se predomínio das áreas de baixa fertilidade, ocupando
uma área de 58138 ha correspondente a 57% de toda a extensão, seguindo a moderada com uma
área de 27584 ha (27%) e por fim alta com 16588 ha (16%). As áreas de alta fertilidade estão
distribuídas na sua maior extensão ao longo do curso dos rios, áreas que se observa predomínio
da prática a agricultura.
Atinente ao uso e cobertura de terra (Figura 2B), o classificador que apresentou melhor
desempenho foi o Maxver contudo com uma Exactidão Global e Índice Kappa relativamente
baixos na ordem dos 68% e 0.6 respectivamente. Através do pós-processamento, que consistiu no
refinamento da classificação pela edição matricial, foi possível melhorar o resultado da
classificação passando para 73% e 0.65 de Exactidão Global e Índice Kappa respectivamente
considerados aceitáveis (KONGALTON e GREEN, 1998). A variação do índice Kappa afecta a
variação da exactidão global.
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Pela matriz de confusão (Tabela 1) observou-se maior confusão entre as classes Solo exposto,
Área habitada e Agropecuária. Isso deveu-se, em certa medida ao facto das áreas habitadas serem
característicos de assentamento rurais e com ocupação não planificada com infra-estruturas
ligeiramente afastadas uma das outras deixando vazios de solo exposto. Outro facto se deveu a
data da aquisição da imagem que confere a época seca onde praticamente as áreas de pastagem
encontram-se relativamente sem cobertura vegetal e por isso confundirem-se com o Solo exposto
(Figura 3).
a A b b
’
a
'
c d e
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Com base nestes dados, constata-se fraquezas no processo de planeamento de uso de terra ao
nível distrital pois com base no princípio de uso de terra em vigor em Moçambique, as áreas de
alta fertilidade têm prioridade para o uso agrícola.
É de se realçar a contribuição da integração da dimensão espacial através da aplicação de
técnicas de detecção remota e processamento de imagens na planificação e monitoramento do uso
de terra.
4. Conclusões
De acordo com os resultados desta pesquisa concluiu-se que a integração da dimensão
espacial é uma metodologia não apenas bastante útil mas também necessária para a planificação
de uso de terra ao nível distrital. Com esta metodologia é possível acomodar as necessidades
distritais em função das suas potencialidades com base em informação espacial.
Além dos dados utilizados nesta pesquisa recomenda-se como seguimento deste trabalho a
inserção na modelagem de dados de relevo considerado extrema importância no âmbito da
planificação de uso de terra, podendo afectar os resultados aqui apresentados.
A metodologia utilizada é relativamente fácil e pode ser transferida para outras pesquisas
similares.
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