Anais XIV Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto, Natal, Brasil, 25-30 Abril 2009, INPE, P. 4247-4254
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artigo
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Abstract. The National and States water resources Politics brought new approach and
instruments to guarantee the integrated and decentralized water management. The
geoprocessing tool became a ally in democratic decision support groups. The aim of this
paper is to describe the use of geoprocessing as a support to diagnose water quality of Rio
Macaé hydrographic basin water course, and also to evaluate the soil uses and covertures
characteristics and the water usage. The results shows the realtionship betwen physical-
chemical parameters and soil use and coverture for each source data. Results also include in
terms of one of the many possible water quality indexes, such as WQI (IQA), and in
cartograms which exhibit spacialized information of the studied items. The WQI values
showed that Rio Macaé water quality can be considered good, in general terms. The main use
techinique was Geographic Information System (GIS) for synthesize the produced data and
for full comprehension by the Rio Macaé basin decision makers. The results now presented
can be considered as the start point in synthesizing necessary information and facilitate
decision-making processes required for managfor water courses classification which is the
main instrument of water resource management of VIII Hydrographic Region of Rio de
Janeiro, Brazil.
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1. Introdução
A lei das águas (Brasil, 1997) trouxe uma abordagem inovadora para gestão dos recursos
hídricos incorporando princípios de integração, descentralização e participação, assim como
instrumentos que visam o planejamento e o ordenamento dos usos múltiplos. Um dos maiores
desafios da gestão dos recursos hídricos é garantir a participação efetiva e democrática na
primeira instância de deliberação, os Comitês de Bacia Hidrográfica (CBHs). Portanto, é
indispensável que os CBHs disponham de informações adequadas para o processo decisório,
que é em si, conflitante.
A gestão dos recursos hídricos tem nas bacias hidrográficas uma estratégia que visa
proteger e restaurar a qualidade ambiental e, conseqüentemente, os ecossistemas aquáticos.
Esta abordagem baseia-se na constatação de que muitos dos problemas de qualidade e
quantidade de água são evitados ou resolvidos de maneira eficaz por meio de ações que
focalizem a bacia hidrográfica como um todo - as atividades desenvolvidas em sua área de
abrangência e os atores envolvidos. Portanto, discutir a gestão dos recursos hídricos no
âmbito da bacia hidrográfica significa, sobretudo, abordar as variáveis socioeconômicas desta
localidade.
Em princípio, de acordo com Leal (2000) apud Meneguete (2001) não se deve ficar
preso aos limites naturais da bacia (seus divisores d’água), tendo em vista que várias bacias
encontram-se interligadas por sistemas hidráulicos de reversão de águas, por redes de
drenagem urbana, por movimentos de terra de origem antrópica etc. Desta forma, a
delimitação territorial de uma bacia hidrográfica envolve, entre outros, estudos cartográficos e
de uso e ocupação do solo. Os limites naturais tornam-se dinâmicos e flexíveis e a bacia passa
a constituir um espaço de vivência, de conflitos e de organização de novas relações sociais.
Essa conceituação aponta para a imperiosa necessidade de se reconceituar a bacia
hidrográfica, ampliando seu conceito aplicado nos estudos geomorfológicos, hidrológicos e de
engenharia. Trata-se de compreendê-la como unidade físico-territorial de planejamento e
gerenciamento de forma abrangente.
Para tanto se faz importante afirmar que o uso de SIGs constitui-se em ferramenta
ampla e complexa de análise, que permite que várias possibilidades, tanto dos aspectos de
planejamento da organização sócio-espacial da bacia hidrográfica do Rio Macaé quanto dos
aspectos de recursos hídricos no âmbito da Política Estadual, sejam sobrepostas e sintetizadas
de forma integrada, atualizadas constantemente de maneira dinâmica, não limitando o número
de variáveis neste processo, ou seja, é um sistema aberto e multifinalitário, embora esteja com
a sua abrangência temática voltada para a gestão dos recursos hídricos. Ademais, proporciona
a integração dos dados espaciais da bacia e um modelo para o gerenciamento dos recursos
hídricos (SILVA, 2006).
Os referidos sistemas constituem o ambiente de inteligência que dá suporte de forma
lógica e estruturante à gestão e ao processo decisório das diferentes esferas de aplicação,
permitindo, inclusive, a construção de indicadores, baseados em análises geográficas, além de
coletar, armazenar, recuperar, transformar e visualizar dados. Esta tecnologia tem sido alvo de
crescente utilização no planejamento ambiental com forte adesão na gestão dos recursos
hídricos.
Os SIGs são utilizados como ferramenta de análise espacial, na modelagem e simulação
de cenários, como subsídio à elaboração de alternativas para a decisão da política de uso e
ocupação do solo, ordenamento territorial, equipamentos urbanos e monitoramento ambiental,
entre outras aplicações complexas, que envolvem diferentes componentes dinâmicos (MOTA,
1999).
Esta tecnologia permite integrar informações de dados cartográficos, cadastrais de
diferentes naturezas, variáveis ambientais, como as apresentadas neste capítulo, entre outras,
em um banco de dados unificado, o que reflete a multiplicidade de usos e a
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2. Metodologia de Trabalho
A metodologia incluiu as etapas de levantamento dos dados primários de qualidade da
água, levantamento do usos da água e a análise integrada da qualidade da água com o uso e
cobertura do solo. Os resultados foram sistematizados por meio do Índice de Qualidade da
Água (IQA) e gráficos, e todas as informações foram espacializadas.
Para caracterização da qualidade da água foram realizadas três coletas entre os períodos
de março a agosto de 2008 ao longo do leito principal da bacia. O rio foi subdividido em
quatro trechos: (i) alto; (ii) médio-alto; (iii) médio-baixo; e (iv) baixo curso e os 12 pontos de
coleta foram distribuídos pelos trechos. O procedimento para aplicação do IQA nesse estudo
foi detalhado por Pinheiro (2008) e tem como referência o Panorama da qualidade das águas
superficiais no Brasil publicado pela ANA (2005).
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Para o levantamento dos usos da água foi utilizado o Cadastro Nacional de Usuários dos
Recursos Hídricos (CNARH) do qual foram filtrados os usuários da bacia do rio Macaé por
cada segmento (abastecimento humano, industria, irrigação etc).
A partir da análise do uso do solo foi possível identificar a vocação das áreas, relacionar
os usos da água e inferir fontes de degradação difusas e de pressões antrópicas. Para esta
análise foi utilizado o mapa temático de uso solo e ocupação da terra da bacia hidrográfica do
rio Macaé do ano de 2005, produzido por Moté (2008) a partir de classificação visual da
imagem CBER 2005.
Para integrar os resultados obtidos da qualidade da água em cada ponto com o uso e
cobertura do solo, foram delimitadas sub-bacias para cada ponto coletado, ou seja, cada um
dos 12 pontos foram considerados um exutório. A partir dessa delimitação foi feito o recorte
do uso e cobertura em cada sub-bacia e esta foi caraterizada quanto a sua vocação principal e
as possíveis fontes de poluição. Finalmente, foi possível relacionar os parâmetros de
qualidade com as fontes poluidoras de cada sub-bacia.
Para manipulação das informações espacializadas em ambiente SIG, foram utilizados o
software ArcGis 9.2 – ESRI e a carta topográfica do IBGE na escala de 1:50.000. Por ser do
ano 1968, a carta topográfica não contempla a retificação no baixo curso do rio Macaé e do
rio São Pedro promovida pelo DNOS, tendo sido atualizada. Para as análises e elaboração de
mapas, as bases topográficas e os mapas temáticos foram reprojetadas para UTM (Universal
Transverse Mercator), fuso 24 estendido, para toda a bacia hidrográfica.
Para espacialização das informações da qualidade de água, do uso da água e para a
análise dos conflitos potenciais optou-se pela utilização de cartograma, no qual foram
extraídas todas as informações georreferenciadas do mapa temático, diminuindo o número de
referências cartográficas, facilitanto assim a visualização das informações relevantes para os
decisores. Os resultados preliminares do trabalho foram apresentados para os representantes
do CBH Macaé e das Ostras em dois momentos: em 10 de julho para a Plenária e em 17 de
setembro de 2008 para o Diretório Colegiado e Câmaras Técnicas.
3. Resultados e Discussão
A espacialização de dados e informações é de grande importância para gestores e
planejadores ambientais. A informação contida nos mapas temáticos são atualizadas,
minimizando erros de localização e utilização pretéritos em função de uma não verificação em
campo dos dados a serem aplicados em estudos e pesquisas. O mapa produzido (Figura 1)
mostra não só a localização da bacia hidrográfica no contexto estadual, mas também
informações georreferenciadas dos pontos de coleta de amostras de água para análise físico-
química e bacteriológica, objetivando obter resultados da qualidade da água no corpo hídrico
principal.
A Figura 2 apresenta o Geoprocessamento aliado ao uso de indicadores. Os indicadores
são modelos simplificados da realidade, facilitando a compreensão de fenômenos,
aumentando a capacidade de comunicação de dados brutos e adaptação de linguagem
(Magalhães Jr, 2007). Carli e colaboradores (2004) defendem que os indicadores serviriam
para aumentar a base de informações necessária para construção de procedimentos
participativos, e como consequência, tornar possível o processo de aprendizagem sobre a
questão dos recursos hídricos. O cartograma (Figura 2) apresenta de forma simples os
resultados obtidos nas duas primeiras campanhas e permitiu ao público, tanto as
representações da região serrana como da planície urbana, comparar a qualidade da água em
diversos trechos, iniciando assim um debate sobre as causas da qualidade ruim ou média em
alguns pontos.
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Figura 1. Mapa da bacia hidrográfica do rio Macaé, sua rede de drenagem e localização dos pontos de
coleta de amostras de água.
Figura 2. Cartograma dos resultados do IQA na bacia do rio Macaé (Pinheiro, 2008).
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Por isso, a relação dos dados de qualidade da água com o uso e cobertura do solo nas sub-
bacias se deram em três níveis: (i) para verificar a contribuição da sub-bacia como um todo;
(ii) para verificar a contribuição dos usos e ocupações marginais ao rio, na qual considerou-se
a delimitação do buffer de 50m da rede de drenagem - faixa maior que a indicada a de 30 m
para APP segundo Código Florestal e Resolução CONAMA n. 303 (Brasil, 1965; Brasil,
2002); e (iii) para verificar a contribuição local, na qual considerou-se 50m no entorno do
ponto e também as observações realizadas em visita, destacando possíveis intervenções
(Figura 3).
Figura 3 – Ilustração dos três níveis de contribuição do uso e ocupação do solo para qualidade da água, exemplo do
ponto MAC01. a) localização da sub-bacia do ponto; b) uso e ocupação do solo na sub-bacia; c) contribuição das
margens do rio principal na sub-bacia; e d) detalhe do uso e ocupação nas margens do rio principal sub-bacia.
Foram gerados mapas temáticos para cada sub-bacia considerando em cada uma dela os
três níveis de análise. Para melhor visualização, essas informações foram sistematizadas em
gráficos conforme exemplificado na Figura 4. As informações sintetizadas da qualidade da
água, por meio de indicadores de parâmetros não conformes, e os gráficos do uso e ocupação
do solo permitiram traçar na maioria dos pontos de coleta relações de causa-efeito. Na Figura
4 são apresentados dois exemplos dessa relação, o ponto MAC03 localizado a jusante da
localidade de Lumiar, distrito de Nova Friburgo e o ponto MAC10, já no município de
Macaé, a jusante da confluência de duas sub-bacias rurais.
No ponto MAC03 os indicadores de qualidade de água apontam alguns parâmetros não-
conformes (E. coli, turbidez, nitrato etc) e outras evidências de deterioração da qualidade,
como diminuição do oxigênio dissolvido e valor médio do IQA. Esses parâmetros juntos são
indicativos de poluição por esgoto, o que é factível uma vez que a amostragem se deu na
localidade com adensamento populacional e sem sistema de tratamento de esgotos. Nesse
caso, observando os três níveis de contribuição para o ponto MAC03 não se destaca nenhum
uso ou ocupação no território da sub-bacia que se correlacione com os indicadores
encontrados, sendo portanto atribuído a influência local, conforme ilustrado no gráfico
“contribuição local” (Figura 4a).
No ponto MAC10 percebe-se uma modificação intensa no uso e cobertura do solo quando
comparado ao alto e médio-alto curso da bacia. Os indicadores também são outros, como
aumento dos sólidos totais e do fósforo total (Figura 4b). Analisando as contribuições da
bacia e as marginais sugere-se que dado ao perfil agropecuário dessas terras, estas estão
sujeitas a processos de erosão e perdas e solos, refletindo nos altos valores de sólidos totais. O
fósforo total pode estar relacionado a contribuicão local já que o entorno do ponto de coleta
são áreas agrícolas, e nesse caso, com extensas plantações de feijão.
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Figura 4 – Exemplo da integração dos dados indicativos de qualidade de água com os dados do uso e ocupação do solo nas
sub-bacias doos pontos MAC03 (A) e MAC10 (B).
4. Conclusões
Os resultados apresentados são considerados de extrema importância para a bacia do rio
Macaé, pois a partir dessas informações foi possível discutir no âmbito do CBH a qualidade
dos recursos hídricos ao longo de todo curso principal da bacia e iniciar a discussão sobre
propostas de enquadramento. As informações sobre a qualidade da água na bacia eram
fragmentadas e focadas no baixo curso, no entanto este estudo possibilitou aos tomadores de
decisões um olhar integrado da qualidade e principalmente sua relação com a fonte poluidora
pontual ou difusa e com o uso e cobertua do solo. As informações espacializadas dos usos da
água também facilitaram a atualização de alguns dados pela Planária do CBH Macaé e das
Ostras, uma vez que as informações eram facilmente detectadas e interpretadas pelos atores
participantes. Ainda no âmbito do CBH também foi possível discutir possíveis áreas
prioritárias e trechos com restrições ao uso, onde a qualidade da água não se encontra
compatível com o uso atual. A partir desse estudo sugere-se a ampliação da rede de
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