Filosofia para Crianças
Filosofia para Crianças
Filosofia para Crianças
CENTRO DE EDUCAÇÃO
CURSO DE PEDAGOGIA
NATAL
2017
Catalogação da Publicação na Fonte.
35f.: il.
NATAL
2017
DANIELE APARECIDA FERREIRA LEMOS DO NASCIMENTO
BANCA EXAMINADORA
____________________________________________________
Profª Marisa Narcizo Sampaio (orientadora) – DPEC/CE
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
____________________________________________________
Prof. Lucrécrio Araújo de Sá Júnior – DPEC/CE
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
____________________________________________________
Profª Rosália de Fátima e Silva – DFPE/CE
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
NATAL
2017
A minha família e ao
meu namorado.
AGRADECIMENTOS
Primeiramente, agradeço aquele que chamamos Deus, pelo que aprendi durante
esses três anos e meio, pelas amizades construídas ao longo dessa jornada e por ter
concluído mais essa graduação.
Aos meus pais Fernando e Márcia, pelo amor incondicional, pela paciência, e
principalmente por terem me ensinado a importância do estudo, pois o único bem que
não pode ser tirado do ser humano é o conhecimento.
As minhas irmãs Fernanda e Maryanna, que mesmo, em alguns momentos de
forma inconsciente, me incentivaram a correr atrás de mais esse objetivo. Vocês foram
fundamentais para que eu não desistisse desse curso no meio do caminho.
Ao meu namorado Gabriel, por todo amor, carinho, compreensão e paciência.
Muito obrigada por compartilhar comigo os momentos de angústia, tristeza e alegria, e
principalmente por ser meu ponto de equilíbrio quando eu achava que as coisas não
iriam dar certo.
A minha orientadora Profª. Drª Marisa, que mesmo com todos os contratempos
me guiou até aqui, com muita competência e paciência.
Aos amigos que fiz ao longo dessa graduação. Agradeço principalmente a Alana,
Romênia, Kallyane, Fabiana, Sarah, Alyne e Thayse por terem tornado os últimos
semestres mais leves, além das ótimas histórias vividas e longos papos no corredor da
UFRN, pela amizade e por ajudar a tornar a vida acadêmica muito mais divertida.
A minha amiga Josina, sempre solícita no auxílio a qualquer tempo e hora, e que
mesmo a distância sempre estive me incentivando com suas palavras.
O presente artigo visa discutir a formação dos professores dos Anos Iniciais do Ensino
Fundamental para trabalhar conteúdos de Filosofia de forma sistemática com seus
alunos, pois são eles os responsáveis por trabalhar e fomentar nas crianças esse sujeito
crítico e questionador, capaz de pensar por si próprio e fazer suas escolhas. O ensino de
Filosofia para crianças é um dos caminhos para se formar sujeitos autônomos,
participativos na sociedade, criativos, críticos, reflexivos e melhor preparados para o
exercício da cidadania. Permite que o professor e o aluno tenham a experiência de uma
educação que tem como base o pensamento reflexivo. Dessa forma o professor que vai
trabalhar com o ensino de Filosofia para crianças precisa discutir na sua formação
conhecimentos para desenvolver uma prática que não deve estar baseada no ensino de
História da Filosofia. A construção desse artigo teve como ponto de partida a minha
observação do modo como as pedagogas que ensinam Filosofia para crianças na escola
em que trabalho conduziam as suas aulas e faziam seus planejamentos, isso me
inquietou e me fez partir para uma pesquisa bibliográfica para levantar quais eram as
necessidades formativas para professores dos anos iniciais que vão trabalhar com o
ensino de Filosofia para crianças. Para discutir essas necessidades de formação foram
estudados autores como Kohan (1998; 2004), Lipman (1990; 2002), entre outros que
discutem e fazem propostas para o ensino de Filosofia para crianças. É necessário que
os professores, pedagogos e pedagogas que vão trabalhar com o ensino de Filosofia para
crianças tenham uma formação apropriada no âmbito da Filosofia, como o
conhecimento de conceitos filosóficos e também de conteúdos que são próprios da
Filosofia. Para ensinar Filosofia para crianças o professor também tem que dominar os
conhecimentos pedagógicos contemporâneos para desenvolver um trabalho baseado na
diversidade, no aproveitamento das experiências dos alunos, na integração de
conhecimentos, no diálogo e na participação.
Palavras-chave: Ensino de Filosofia para Crianças. Formação de Professores. Diálogo.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO.................................................................................................. 10
2. A FILOSOFIA E O DIÁLOGO: A importância do ensino de Filosofia para
crianças ...................................................................................................................... 16
3. O PEDAGOGO E O ENSINO DE FILOSOFIA .............................................. 24
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................. 30
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 35
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1. INTRODUÇÃO
Diante dessa fragmentação no qual estamos imersos, o que vemos são crianças
que possuem dificuldades de manter relações umas com as outras, pois estabelecem
suas relações com máquinas desde cedo e dessa forma acabam perdendo a sua essência
humana, no sentido de se relacionarem presencialmente com outras crianças e também
apresentam dificuldades para interpretar um texto e pensar por si próprias. Nesse
sentido educar para um pensamento crítico e reflexivo torna-se um grande desafio para
os professores.
curricular dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental não se dá exclusivamente pelo fato
delas se preocuparem em formar cidadãos críticos e reflexivos, mas por esta se tornar
um diferencial na sua oferta educativa. No que tange às escolas públicas a ausência
dessa disciplina nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental faz com que esses alunos
sintam mais dificuldades de compreenderem a importância da mesma ao chegarem no
Ensino Médio, bem como tenham alguma defasagem no processo de aprendizagem de
matemática e linguagem.
Nessa escola particular onde atuo, o ensino de Filosofia está presente na grade
curricular desde o 1º ano do Ensino Fundamental, dessa forma desde cedo as crianças
tem contato com o pensamento filosófico. A escola adota um sistema de apoio ao ensino
que vem de Curitiba, que oferece os materiais didáticos, com conteúdos que já vem pré-
determinados, entretanto isso não impede que o professor possa readaptar esses
conteúdos à realidade dos seus alunos.
Kohan (2000) afirma que a Filosofia é ela mesma transformadora, seu exercício
impede o continuar pensando da forma que se pensava. Sendo assim, a presença do
ensino de Filosofia para crianças é de extrema necessidade, visto que ela é uma via que
pode possibilitar à criança pensar de forma autônoma e não mais simplesmente aceitar
as coisas como lhes são dadas sem que elas simplesmente não façam qualquer
questionamento ou que aquilo não lhes cause estranhamento. O ensino de Filosofia pode
e deve contribuir para a formação de sujeitos críticos através de uma educação
emancipatória que prioriza a formação de sujeitos autônomos. A educação tem uma
autoridade muito grande quando se trata de modificar uma sociedade, dessa forma o
ensino de Filosofia aparece como um instrumento extremamente necessário para que
seja possível formar cidadãos reflexivos, éticos, críticos e atuantes na sociedade.
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relacionar-me com meus alunos, porque são diferentes, porque não são aqueles do ano
passado”.
Assim confirmamos essa necessidade do professor saber que não existe uma
única metodologia e nem uma metodologia pronta que deve ser seguida a risca para se
ensinar Filosofia, como também não há para nenhuma outra área do conhecimento e que
cada turma para a qual ele lecionar vai ser singular. Existem diferentes metodologias de
ensino, cabe então ao professor escolher as que se adequam melhor aos seus alunos.
O professor deve ter claro que o ensino de Filosofia, principalmente para
crianças, deve partir de questionamentos, diálogos e investigação para que assim os
alunos possam pensar por si mesmos, bem como compreender a importância de tal
disciplina no currículo escolar. De acordo com Malacarne (2005)
O ensino de Filosofia para crianças tem início com o filósofo norte americano
Mathew Lipman na década de 1960, porém só chega ao Brasil na década de 1980,
exatamente na época em que estava acontecendo à abertura política para o processo de
redemocratização. De 1964 até 1985 o Brasil viveu o período da ditadura militar,
quando muitos direitos foram suprimidos e muitos abusos de autoridade foram
relatados. Nesse período houve inúmeras mudanças em nosso país e uma delas foi a
exclusão da Filosofia do currículo, deixando de ser disciplina obrigatória na formação
dos jovens. Valls (1983) afirmou que “a Filosofia, principalmente na segunda metade
dos anos 60, tornou-se indesejável, passou a ser considerada perniciosa e subversiva. Há
dois mil anos, Sócrates foi condenado à morte como sedutor da juventude e inimigo dos
deuses do Estado” (p. 42).
Rodhen (1980) afirmou que “o Estado tem medo de homens que fazem
verdadeira Filosofia. Tais homens, pela sua própria estatura de pensamento e de
homens, não servem ao Estado, e ele não os favorecerá” (p.8). A retirada da Filosofia
dos currículos escolares se deu por medo de que as ideias por ela difundidas chegassem
até a massa e que por isso esta se rebelasse contra o regime militar, dessa forma os
professores foram proibidos de exercer sua função, não apenas na sala de aula, mas na
sociedade, sendo, por muitas vezes, perseguidos e presos. No ano de 1971, com a
promulgação da Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) 5692/71, oficializou-
se a retirada da Filosofia dos currículos escolares, sendo substituída pela disciplina de
Educação Moral e Cívica. Só em 2006 o parecer n° 38/2006, do Conselho Nacional de
Educação (CNE), já tornava obrigatória a inclusão da Filosofia no Ensino Médio. Em
junho de 2008, depois de quase 40 anos, quando entrou em vigor da Lei nº 11.684, que
alterou a Lei nº 9.9394/1996, de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), o
ensino de Filosofia volta aos currículos escolares.
foi dito anteriormente, é preciso que o trabalho reflexivo seja feito voltado para a
realidade e necessidade de cada turma.
Na medida em que as crianças são estimuladas a pensar elas vão ficando mais
sensíveis, criativas e críticas à realidade na qual estão inseridas. A interação é uma via
fundamental para que as crianças através da mediação possam aprender. Dessa forma,
se faz necessário despertar na criança a dúvida e também a curiosidade, para que assim
o aluno possa adquirir novos conhecimentos. Um espaço que tem como foco a interação
é um ambiente propício para a construção do conhecimento.
O processo dialógico no ensino de Filosofia tem como foco fazer com que os
alunos possam expor suas sugestões e também suas ideias, para, a partir daí, serem
capazes de desenvolver novos conceitos. Para que exista o diálogo, se faz necessário
que duas ou mais pessoas estejam presentes e assim possam ouvir o ponto de vista do
interlocutor e mostrar pontos de vista divergentes e também convergentes.
O processo dialógico vai levar a criança à aprendizagem, uma vez que o mesmo
está ligado à interação entre o pensamento, conhecimento e suas experiências. À medida
que os pensamentos individuais são compartilhados, eles vão gerando a reflexão.
É por meio do diálogo que a criança compreende que ela tem direitos e deveres,
e nesse caso ela tem o dever de ouvir e respeitar o outro, mas também tem o direito de
falar. O aluno só sai do conhecimento prévio e passa a elaborar o seu conhecimento
quando é introduzida a relação com o outro.
O ensino de Filosofia para crianças por intermédio do processo dialógico pode
fazer com que as crianças estejam prontas para atuar na sociedade como cidadãos que
são capazes de respeitar os outros e também as leis.
O que é possível perceber através dessa unificação dos materiais didáticos é que
ela proporciona a padronização do conhecimento que é mediado na escola, bem como
viabiliza a desvalorização intelectual e criativa tanto do professor quanto do aluno.
É natural da criança criar, fantasiar, ter curiosidade e assim buscar conhecer
mais sobre as coisas que são do seu interesse, entretanto, quando chegam ao ambiente
escolar começa o procedimento de uniformização do pensamento, onde ela aprenderá a
pensar igual a todos. Com isso o aluno começa a abandonar sua autonomia e dá início a
um processo de repetição de conhecimento, onde ele apenas executa as tarefas que são
passadas pelo professor.
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Iniciais do Ensino Fundamental necessita estar acessível às discussões, bem como não
deve ter medo de explorar as questões que surgem durante as aulas e questionar seus
alunos, além de ser necessário que se tenha uma formação adequada no âmbito da
Filosofia para que assim ele não sinta tanta dificuldade em realizar seus planejamentos,
bem como compreender e adaptar os conteúdos filosóficos para a realidade da sua
turma, esta necessidade será abordada no próximo item.
que torna os professores alienados quanto a sua própria prática, uma vez que eles não
tem o seu espaço de reflexão.
Atualmente o profissional que trabalha com o Ensino de Filosofia para crianças
dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental é o pedagogo ou a pedagoga, entretanto o que
acontece é que esses profissionais em sua grande maioria não tiveram o ensino de
Filosofia em sua formação e, por falta dessa formação inicial, encontram muita
dificuldade de trabalhar com a Filosofia na sala de aula. Isso acaba refletindo de forma
negativa no seu planejamento e na condução das aulas, pois, por não dominarem o
assunto sentem dificuldades até mesmo de seguir seu planejamento inicial diante dos
questionamentos que vão surgindo por parte dos alunos. Kohan (2000) nos mostra que
Não existe professor sem planejamento, isso porque é ele quem vai direcionar a
aula e nortear a prática docente, porém o planejamento não é uma receita que deve ser
seguida a risca, tal qual foi pensado inicialmente. O planejamento é uma ferramenta
indispensável na organização profissional do professor, e que, com o domínio do seu
planejamento, ele tem condições de ir por caminhos diferentes dos previstos
inicialmente dependendo do que acontecer porque a sala de aula é um ambiente que tem
diversas variáveis. Sampaio (2007) aponta que:
Além disso, os alunos trazem consigo conhecimentos distintos que vão além dos
muros da escola. De acordo com Sampaio (2007)
Dessa forma cabe ao professor fazer com que as aulas tornem-se mais
significativas tomando um rumo diferente do inicialmente planejado, partindo do
interesse dos alunos e usando os acontecimentos, porém com o mesmo propósito, o de
fazer com que elas possam aprender.
Assim como o planejamento pode assumir um caráter flexível e proporcionar
outro caminho a aula, a Filosofia também, visto que ela vai proporcionar diversos
caminhos a serem seguidos, dessa forma é necessário que o professor tenha consciência
dessa peculiaridade filosófica e assim permitir que a aula possa fluir de forma a dar
prioridade a discussão e a fomentação do pensamento crítico e reflexivo dos alunos.
Diante desse quadro é preciso que esses professores tenham uma formação
apropriada para que eles possam trabalhar com o ensino de Filosofia nos Anos Iniciais
do Ensino Fundamental, uma vez que a Filosofia também é extremamente necessária na
formação desses profissionais, isso porque são eles os responsáveis por fomentar o
desenvolvimento intelectual e educacional dos seus alunos.
O professor dos Anos Iniciais precisa compreender que a Filosofia encontra-se
presente em tudo e que a criança quando questionada acerca das coisas que constituem a
sua realidade ela aprende a filosofar de uma maneira mais prazerosa, assim como o
processo de aprendizagem torna-se significativo para ela. Dessa forma, ele pode lançar
mão de estratégias, técnicas e recursos para que o processo dialógico aconteça da
melhor forma em sala de aula, de modo que possa proporcionar as crianças
compreenderem e atingirem as características de um diálogo filosófico.
Quando se trabalha com o ensino de Filosofia para crianças o professor pode
trabalhar com a leitura de histórias, filmes, músicas e etc, as quais vão possibilitar que
através do imaginário, as crianças possam começar a refletir e questionar. Matthew
Lipman em seu programa de Filosofia para crianças desenvolve seis novelas, que são
histórias as quais vão nortear em sala de aula o ensino de Filosofia, a primeira foi escrita
no ano de 1969. As novelas são divididas em faixas que vão abranger desder a educação
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infantil até o 9º ano do Ensino Fundamental. Cada novela pode possibilitar a formação
de alunos autônomos e reflexivos, porém tendo sempre o professor como mediador
desse processo. Sobre as novelas, Lipman (2002) afirma que:
Assim, podemos perceber uma preocupação por parte dele em trazer a Filosofia
para próximo da criança, utilizando-se de métodos os quais a mesma já tem
familiaridade e que também vai abrir caminho para que seja possível o diálogo. A partir
das novelas, as crianças serão incentivadas a refletir sobre as mesmas e os assuntos que
estão presentes ali, bem como a falar e ouvir os demais colegas. Entretanto, para
escolher as histórias com as quais irá trabalhar, o professor precisa conhecer a realidade
na qual os seus alunos encontram-se inseridos, assim ele terá os subsídios necessários
para problematizar e proporcionar uma discussão mais significativa na sua sala de aula.
Além disso, esse profissional, também precisa ser criativo, dinâmico e apresentar
diferentes recursos didáticos para contagiar seus alunos. Dessa forma, podemos afirmar
que o professor que trabalha com o ensino de Filosofia para crianças é um profissional
que se distingue dos demais, porque ele incentiva seus alunos a refletirem sobre a
realidade, a participação deles nos debates, a convivência democrática, respeito a pontos
de vista diferentes, a serem éticos, a criação de atitudes sociais, a se reconhecerem
cidadãos que podem modificar a realidade na qual estão inseridos e etc.
Apesar do método de Filosofia para crianças desenvolvido por Lipman ser um
caminho para que os professores possam trabalhar com o ensino de Filosofia em sala de
aula, vale salientar que eles não devem assumir o papel de meros reprodutores e menos
ainda que fiquem subordinados ao material didático. Um professor que é apenas um
mero reprodutor do conhecimento vai de encontro àquilo que a Filosofia mais preza que
é um pensamento autônomo, crítico e questionador. Gallo (2013) afirma que
Para trabalhar com o Ensino de Filosofia para crianças dos Anos Iniciais do
Ensino Fundamental antes de qualquer coisa é necessário que o professor tenha
conhecimento de conceitos filosóficos, bem como de conteúdos que são próprios da
Filosofia, além disso, tão importante quanto, é esse professor saber como adequar esses
conceitos e conteúdos próprios da Filosofia a uma linguagem que seja acessível e de
fácil compreensão para a faixa etária com a qual ele está trabalhando. Silveira (2001, p.
113) diz que “em resumo, para ser radical, rigorosa e de conjunto, ou seja, para ser
filosófica, a reflexão necessita contar com certos pressupostos teóricos e metodológicos
que precisam ser aprendidos”.
Podemos afirmar que o professor que tem um conhecimento didático e teórico
ele pode e deve produzir contextos significativos através uma adaptação didático-
metodológica, assim as crianças poderão compreender os conceitos filosóficos de forma
significativa sem achar que a Filosofia é algo inatingível por ela.
O professor antes de planejar suas aulas pode procurar conhecer a realidade da
turma, bem como fazer um levantamento prévio dos interesses da mesma, sobre isso
encontramos em Rondon (2011)
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O Ensino de Filosofia para crianças necessita de uma didática própria, uma vez
existe algo que faz com que a Filosofia seja a Filosofia e assim ela se diferencie da
ciência, da religião e etc. Rondon (2011) acredita que:
Por fim, para que o Ensino de Filosofia para crianças seja prazeroso tanto para
os alunos quanto para o professor, bem como para um bom andamento das aulas, é
necessário que o professor assuma o papel de mediador e não de detentor do
conhecimento, bem como fomente em sua sala de aula um ambiente investigativo onde
os alunos podem questionar, criar e discutir. O professor pode buscar transformar sua
sala de aula em uma comunidade de investigação, onde as aulas estão baseadas no
diálogo, conforme discutido anteriormente, para que assim o aluno possa desenvolver o
pensamento crítico e reflexivo, visto que vai ser o processo dialógico que irá levar a
criança a aprender através do contato com as experiências e opiniões dos outros alunos.
Para ensinar Filosofia para crianças, o (a) pedagogo (a) deve assumir a postura
de pesquisador e não apenas de um reprodutor do que já vem pronto nos livros didáticos
ou de métodos, como o de Lipman, o professor não pode privar-se de buscar novos
conhecimentos tanto para as suas aulas, quanto para a sua própria vida profissional.
Quando o professor se restringe apenas a seguir um livro didático ou a métodos já
prontos na sua atividade docente, ele acaba se restringindo a trabalhar com a reprodução
do que já está dado sem reflexão, além de perder características próprias da profissão
docente como a autonomia e a criação da sua prática, dessa forma a pluralidade e
diversidade que constituem o espaço escolar acabam sendo suprimidas da prática
pedagógica. Encontramos em Freire (2011)
devem ser ampliados para outras áreas. Apesar dos conteúdos conceituais serem
abstratos de acordo com Zabala (1998)
As condições de uma aprendizagem de conceitos ou princípios
coincidem exatamente com as que foram descritas como gerais e que
permitem que as aprendizagens sejam o mais significativas possível.
Trata-se de atividades complexas que provocam um verdadeiro
processo de elaboração e construção pessoal do conceito.[...] Trata-se
sempre de atividades que favoreçam a compreensão do conceito a fim
de utiliza-lo para a interpretação ou para o conhecimento de situações,
ou para a construção de outras ideias. (p. 43)
qual está inserido, tudo isso através do processo dialógico no qual o professor,
mediador, assume o papel fundamental.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A presença da Filosofia nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental reforça uma
visão de educação que se contrapõe à educação tradicional e propõe uma educação
baseada em um processo de ensino-aprendizagem dialógico e reflexivo, onde o aluno
vai debater e também refletir partindo de situações que estão presentes no seu cotidiano,
onde o objetivo é tornar esse aluno um cidadão crítico, reflexivo, que se reconhece
enquanto agente transformador da realidade na qual está inserido e que poderá refletir
criticamente sobre qualquer situação durante toda a sua vida.
A Filosofia é um dos caminhos pelo qual o professor passa a ver a criança como
sujeito autônomo no processo de construção do seu próprio conhecimento. Além disso,
a comunidade investigativa, que é estabelecida na sala de aula, pode proporcionar ao
aluno, por meio do diálogo, vivenciar situações de aprendizagem como a concentração,
a organização do raciocínio lógico, aprender a ouvir o outro, bem como refletir acerca
de tudo que está sendo falado, possibilitando assim um processo contínuo de construção
e reconstrução do pensamento.
O método desenvolvido por Matthew Lipman pode ser usado pelos professores
como um meio, ou melhor, um orientador para ensinar Filosofia para crianças,
entretanto, ele não deve ser seguido à risca, é mais adequado que seja apenas tomado
como base para que o professor crie a sua própria proposta didático-pedagógica que se
encaixe na realidade da sua turma. Além disso, o método Lipman encontra-se distante
da realidade do ensino brasileiro, uma vez que para um professor ter acesso a esse
método ele precisa desembolsar altos valores para fazer o curso, ainda assim esse
método não permite que o professor seja dono da sua prática educativa, uma vez que ele
deve apenas aplicar as aulas que já vem prontas. O que se pode perceber dentro desse
método Lipman é uma alienação dos profissionais, uma vez que eles perdem o espaço
35
REFERÊNCIAS
__________. O que você precisa saber sobre filosofia para crianças. Rio de Janeiro:
DP&A, 2000.
LIPMAN, M.; SHARP, A. M.; OSCANYAN, F. S. (Orgs). A filosofia vai à escola. São
Paulo: Summus, 1990.