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ISSN 1415-3033

Manejo Integrado de Pragas: Estratégias


e Táticas de Manejo para o Controle de
Insetos e Ácaros-praga em Hortaliças

141 Fotos: Alexandre Pinho de Moura


Técnica
Circular

Brasília, DF
Maio, 2015

Autores
Introdução
Alexandre Pinho de Moura Desde o ano de 2008, o Brasil é considerado o maior consumidor de agrotóxicos
Eng. Agr., D.Sc. em do mundo. Naquele ano, a indústria de agrotóxicos registrou faturamento da
Entomologia,
pesquisador da ordem de US$ 7,1 bilhões. Já no ano de 2010, conforme levantamento realizado
Embrapa Hortaliças pelo Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg),
Brasília, DF
anteriormente denominado Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para
Defesa Agrícola (Sindag), o segmento faturou US$ 7,24 bilhões, valor 9%
superior àquele registrado em 2009, superando, inclusive, o desempenho
obtido em 2008. Em 2009 foram comercializadas aproximadamente 725 mil
toneladas de produtos formulados, das quais 59% correspondem a herbicidas,
21% a inseticidas e acaricidas, 12% a fungicidas e 8% a outros compostos
(fumigantes, moluscicidas, nematicidas, etc.).

Considerando-se apenas as hortaliças, apesar do reduzido volume (< 4%) de


agrotóxicos utilizados no controle de pragas e doenças, quando comparado às
culturas da soja (48%), do milho (11%), da cana-de-açúcar (8%), do algodão
(7%) e do café (4%), vários são os relatos de produtos hortícolas contaminados
por esses compostos. As culturas do morangueiro, pimentão e tomateiro, por
exemplo, são alvos de grande número de aplicações de agrotóxicos visando
ao controle desses organismos, principalmente de compostos que apresentam
amplo espectro de ação, elevada toxicidade e não registrados para o controle de
pragas nessas culturas.
2 Manejo Integrado de Pragas: Estratégias e Táticas de Manejo para o Controle de
Insetos e Ácaros-praga em Hortaliças

Nesse contexto, segundo dados do Programa ambiente e a saúde do consumidor e do trabalhador


de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em rural, por meio do uso mínimo de agrotóxicos e
Alimentos (PARA), divulgados pela Agência da integração de práticas de manejo das culturas,
Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), conforme está previsto na filosofia do MIP.
referentes ao Relatório de Atividades de 2010,
das 2.488 amostras analisadas, 696 (28%) foram Assim sendo, a presente publicação tem como
consideradas insatisfatórias, ou seja, apresentavam objetivo apresentar e descrever as principais
irregularidades. Em 42 dessas amostras (1,7% estratégias e as diversas táticas de controle
do total) verificou-se presença de agrotóxicos em integrantes do MIP, com atenção especial às
níveis acima dos Limites Máximos de Resíduos hortaliças, e que devem ser implementadas
(LMR) permitidos e em 605 amostras (24,3% do para minimizar ou mesmo evitar a utilização de
total) constatou-se utilização de agrotóxicos não agrotóxicos no controle de artrópodes-praga nessas
autorizados (NA) para as culturas. culturas, de forma a melhorar a qualidade e a
segurança alimentar das hortaliças.
Ainda de acordo com o referido Relatório, dentre as
hortaliças, o pimentão foi a cultura que apresentou
o maior número de amostras com resultados Manejo integrado de pragas (MIP):
insatisfatórios (91,8%), seguido do morango aspectos gerais
(63,4%), do pepino (57,4%), da alface (54,2%), da
cenoura (49,6%), da beterraba (32,6%) e da couve O manejo integrado de pragas (MIP) é uma filosofia
(31,9%). de controle de pragas que procura preservar e/
ou incrementar os fatores de mortalidade natural,
Em seu último Relatório, divulgado em outubro de por meio do uso integrado de todas as técnicas
2014, a Anvisa constatou a presença de resíduos de combate possíveis e disponíveis, selecionadas
de agrotóxicos em níveis acima dos Limites com base em parâmetros ecológicos, econômicos
Máximos de Resíduos (LMR) permitidos em 1,9% e sociológicos. Visa, ainda, manter os níveis
do total de amostras coletadas; de agrotóxicos populacionais dessas pragas abaixo do nível de dano
não autorizados (NA) para a cultura em 21% do econômico (NDE) (Figura 1), por meio da utilização
total de amostras; e, de amostras com ambas as simultânea de diferentes técnicas ou táticas de
irregularidades (LMR + NA) em 1,9% do total, controle, de forma econômica e harmoniosa
sendo as culturas da abobrinha e da alface, aquelas com o ambiente. Vale ressaltar que valores de
que apresentaram o maior percentual de amostras NDE e de nível de controle (NC) (Figura 1) para
irregulares (48% e 45%, respectivamente). diferentes pragas, em várias hortaliças, encontram-
se disponibilizados em diversas publicações
Entretanto, há exemplos de que é possível
especializadas, no entanto, sugere-se consultar um
se produzirem hortaliças, bem como outras
engenheiro agrônomo para obtenção correta dessas
culturas, utilizando-se de forma correta e segura
informações.
as tecnologias disponíveis, notadamente os
agrotóxicos. Para a cultura da batata, por exemplo, A proposta do MIP surgiu na década de 1970,
o Relatório de Atividades de 2010 do Programa em resposta aos problemas decorrentes do uso
PARA evidencia que não foram constatadas indiscriminado e abusivo de agrotóxicos, tais como
irregularidades nas amostras analisadas. Além disso, resistência de pragas a inseticidas, mudança de
para a cultura da cebola, apenas 3,1% do total “status” de praga secundária para praga-chave,
de amostras analisadas apresentaram resultados ressurgência de pragas, eliminação de inimigos
insatisfatórios, relativos ao uso de agrotóxicos não naturais e polinizadores, contaminação ambiental
autorizados (NA) para a cultura. (solo e água) e de alimentos, intoxicação de
trabalhadores rurais, entre outros fatores, muitos
Nesse sentido, a utilização das estratégias e táticas
dos quais continuam a ocorrer até os dias atuais.
que integram o Manejo Integrado de Pragas e
Doenças (MIP) ressurge como alternativa importante A filosofia do MIP apresenta grande importância
de modo a se produzirem alimentos, notadamente para aqueles agroecossistemas que buscam
hortaliças, de melhor qualidade, respeitando o melhorar sua eficiência e competitividade, tanto
Manejo Integrado de Pragas: Estratégias e Táticas de Manejo para o Controle de 3
Insetos e Ácaros-praga em Hortaliças

nacional quanto internacionalmente. Assim sendo, econômicas e da praga, ou seja, 1) nada fazer, 2)
faz-se necessária a reestruturação do controle de reduzir as densidades populacionais das pragas, 3)
pragas que, em muitos casos, baseia-se no uso reduzir a suscetibilidade do hospedeiro às injúrias
de agrotóxicos e utiliza grande quantidade de causadas pelas pragas e, 4) combinar a redução
mão‑de‑obra mal qualificada. nas densidades das populações das pragas com a
redução da suscetibilidade hospedeira. Cada uma
dessas estratégias será descrita a seguir.
Arte: Alexandre Pinho de Moura

Nada fazer

Nem todas as injúrias causadas pelas pragas


resultam em perdas econômicas, uma vez que
muitos hospedeiros são capazes de tolerar
pequenas injúrias. Mas não é incomum que injúrias
insignificantes sejam confundidas com lesões
economicamente importantes. É mais provável que
esse fato ocorra quando a densidade populacional
da praga não é considerada em relação a um NDE
Figura 1. Níveis de dano econômico (NDE), de estabelecido. Assim sendo, quando a densidade
controle (NC) e de equilíbrio (NE) de uma população populacional da praga encontra-se abaixo do NC,
hipotética de praga. Fonte: adaptado de Pedigo e então a estratégia de “nada fazer” é considerada
Rice (2009). a abordagem correta. Caso contrário, o custo
associado à decisão de controlar a praga não
resultará em benefício econômico para o agricultor.
Estratégias e táticas de manejo utilizadas
Verifica-se que a estratégia de “nada fazer”
no MIP
é frequentemente utilizada quando os insetos
As estratégias básicas utilizadas no MIP encontram- causam danos indiretos ou quando um programa de
se diretamente relacionadas com as ações de: 1) manejo de pragas bem-sucedido reduz a densidade
prevenir; 2) conter; e, 3) nada fazer. Já as táticas de populacional das pragas e apenas o monitoramento
manejo são selecionadas em função da praga-chave das populações remanescentes se faz necessário.
(ou pragas-chave) da cultura em questão, sendo que,
Assim sendo, nenhuma tática de controle adicional
indiretamente, as demais pragas (secundárias ou
é utilizada na estratégia de “nada fazer”, o que não
ocasionais) têm seus níveis populacionais mantidos
significa que nenhum esforço seja necessário ou
abaixo do NC e somente causarão danos econômicos
que a supressão das pragas não esteja ocorrendo.
em situações especiais, quando então, deverão ser
Portanto, o monitoramento das populações das
controladas pela utilização de estratégias e táticas
pragas, por meio de amostragens frequentes se
específicas para cada caso.
faz necessário, de modo que se possa determinar
É importante lembrar que as estratégias que a estratégia de “nada fazer” é a resposta mais
correspondem aos objetivos e às metas a serem apropriada.
alcançadas e têm por finalidade eliminar ou
Isso significa que influências ambientais podem,
minimizar os danos causados por ácaros e insetos-
por si só, reduzir as densidades populacionais das
praga. Assim sendo, as estratégias devem ser
pragas, resultando na supressão destas. Um bom
planejadas antes do plantio, baseando-se em
exemplo a ser considerado diz respeito à redução
conhecimentos prévios sobre a cultura e de
de populações de tripes em diversas hortaliças, tais
possíveis problemas que deverão ser enfrentados.
como alho, cebola, morango, tomate, etc., durante
Estratégias os períodos mais frios do ano, uma vez que esses
insetos são beneficiados por períodos quentes e
Quatro tipos de estratégias podem ser secos, quando ocorrem explosões populacionais
desenvolvidos baseando-se em características dessa praga.
4 Manejo Integrado de Pragas: Estratégias e Táticas de Manejo para o Controle de
Insetos e Ácaros-praga em Hortaliças

Redução das densidades populacionais das pragas hospedeiro(s) com a(s) praga(s) são modificadas,
de forma a tornar o(s) hospedeiro(s) menos
Muito provavelmente, atuar de forma a reduzir suscetível(eis) a populações potencialmente
as densidades populacionais das pragas, com o prejudiciais da(s) praga(s). A aplicação dessa
objetivo de minimizar ou prevenir problemas de estratégia depende do desenvolvimento de
ordem fitossanitária é a estratégia de manejo mais cultivares melhoradas geneticamente e que se
frequentemente utilizada ao redor do mundo em apresentam tolerantes ou resistentes às pragas.
programas de MIP. Essa estratégia é geralmente
empregada de forma terapêutica, quando as É importante salientar que, em alguns casos, a
populações das pragas atingem o NDE ou de tolerância ou resistência que é expressa por uma
maneira preventiva, baseando-se em históricos de planta não reduz a população da praga; no entanto,
ocorrência das pragas em cada localidade. suas injúrias causam menor impacto negativo sobre
essa planta, quando em comparação com uma
Assim sendo, dois objetivos podem ser desejáveis
planta que não apresente tolerância ou resistência à
na tentativa de reduzir as densidades populacionais
praga, em igualdade de condições.
das pragas. Caso a densidade populacional média
da praga ao longo do tempo ou a posição geral Outro componente dessa estratégia, ou seja, a
de equilíbrio populacional sejam baixas, quando modificação ecológica de fatores que influenciam
comparadas ao NDE, então a melhor abordagem é na distribuição ou na abundância de uma praga,
diminuir os picos populacionais da referida praga. também pode ajudar a reduzir a suscetibilidade
Essa ação não mudará sensivelmente a posição hospedeira à praga. A realização de plantios em
geral de equilíbrio da praga, mas poderá evitar ambientes protegidos, tais como em casas-de-
danos durante a ocorrência de surtos populacionais. vegetação, estufas, telados, túneis alto e baixo
(inclusive aqueles cobertos com tecido não-tecido)
Porém, caso a posição geral de equilíbrio
ou o ajuste da data de plantio de uma cultura, de
populacional da praga encontre-se próxima ou
forma a criar uma assincronia entre a praga e o
acima do NDE estabelecido, então essa posição
estádio mais suscetível da cultura a essa praga, são
geral de equilíbrio deve ser reduzida, de modo que
bons exemplos desse componente.
os mais elevados picos populacionais da praga
a serem registrados nunca alcancem o NDE. Tal
Combinar redução nas populações das pragas e
redução pode ser obtida, por exemplo, manipulando
redução da suscetibilidade hospedeira
o ambiente de cultivo, de modo a torná-lo
desfavorável às pragas por meio de ações que Uma estratégia que combine os objetivos das
reduzam as chances de localização e colonização estratégias anteriores é um passo lógico no
da planta hospedeira, promovam a dispersão dos desenvolvimento de um programa de MIP. Nesse
indivíduos e afetem sua reprodução e sobrevivência. sentido, a utilização de uma abordagem mais
complexa, utilizando diferentes táticas de controle,
Outras ações que podem ser implementadas com
compatíveis entre si e ao mesmo tempo, muito
o objetivo de reduzir a densidade populacional das
provavelmente produzirá melhores resultados,
pragas incluem o uso de variedades resistentes, de
quando em comparação ao uso de uma única
feromônios, de armadilhas, de agrotóxicos, etc.
estratégia, por meio de apenas uma tática.
Redução da suscetibilidade hospedeira às injúrias
Há evidências demonstrando que o uso de uma
causadas pelas pragas
única estratégia está mais sujeito a falhas, quando
Reduzir a suscetibilidade das plantas cultivadas às uma única tática de controle é utilizada. Por
injúrias causadas pelas pragas é considerado uma outro lado, considerando-se uma abordagem mais
das estratégias mais eficazes e ambientalmente complexa, caso uma tática de controle não se
compatíveis, uma vez que essa estratégia não mostre eficiente, então outras táticas de controle
modifica a densidade populacional das pragas. atuam, de modo a ajudar a reduzir perdas. Tem-
Em vez disso, as relações e interações do(s) se, portanto, que o uso de múltiplas estratégias
Manejo Integrado de Pragas: Estratégias e Táticas de Manejo para o Controle de 5
Insetos e Ácaros-praga em Hortaliças

e táticas de controle de pragas surge como quarentena. Esse serviço também atua em casos de
o princípio básico no desenvolvimento de um exportação de produtos agrícolas e florestais que
programa de MIP. contém pragas.

Táticas b) Medidas obrigatórias: são medidas baseadas


em leis, que obrigam o agricultor ao controle de
Uma vez que uma estratégia de manejo de determinadas pragas, consideradas limitantes
pragas tenha sido desenvolvida, os métodos para as culturas. Como exemplo, pode-se citar a
de implementação dessa estratégia podem ser Instrução Normativa (IN), instituída pelo MAPA,
escolhidos. Tais métodos são chamados de táticas Secretaria de Defesa Agropecuária (SDA) (IN no
ou técnicas de manejo de pragas, sendo que várias 24, de 15 de abril de 2003), que regulamenta o
táticas podem ser utilizadas para implementar uma cultivo de tomate para processamento industrial
estratégia de manejo. em todo o Brasil, mediante calendário de plantio
anual, também conhecido como vazio sanitário do
Vale ressaltar que a adoção das táticas de manejo
tomateiro, a qual prevê um período de 60 a 120
envolve conhecimentos de agronomia, biologia,
dias consecutivos, livres de cultivo de tomate, bem
economia, meio ambiente, sociologia e legislação.
como exige a adoção de uma série de medidas
Assim sendo, informações sobre botânica, fisiologia
fitossanitárias para controle da mosca-branca
vegetal, aspectos fitotécnicos e fitossanitários da
Bemisia tabaci biótipo B (Hemiptera: Aleyrodidade) e
cultura, bem como sobre aspectos taxonômicos,
das viroses por ela transmitidas.
fisiológicos, bioecológicos e comportamentais
das pragas e de seus inimigos naturais, além c) Lei dos agrotóxicos: refere-se à Lei nº 7.802, de
de conhecimentos sobre a fenologia da cultura 11 de julho de 1989, que dispõe sobre a pesquisa,
e as estreitas relações existentes entre insetos a experimentação, a produção, a embalagem
ou ácaros-praga e as plantas, são de extrema e rotulagem, o transporte, o armazenamento,
importância e necessários para o planejamento de a comercialização, a propaganda comercial, a
programas de MIP. utilização, a importação, a exportação, o destino
final dos resíduos e embalagens, o registro, a
Com base nesses elementos, as táticas de controle
classificação, o controle, a inspeção e a fiscalização
devem ser selecionadas de acordo com parâmetros
de agrotóxicos, seus componentes e afins e dá
técnicos (eficácia), econômicos (relação custo-
outras providências. Esta Lei tem por finalidade,
benefício), ecotoxicológicos (preservação do
portanto, controlar a fabricação, a formulação,
ambiente e da saúde humana) e sociológicos
o comércio e o uso adequados, em termos de
(adaptáveis ao usuário/produtor). Algumas
toxicidade, segurança, eficiência e idoneidade dos
táticas de controle de pragas serão descritas e
inseticidas, além de obrigar o uso do Receituário
exemplificadas a seguir.
Agronômico para qualquer atividade envolvendo
Método legislativo o uso desses produtos. Quanto ao Receituário
Agronômico, trata-se de uma prescrição e
É um método de controle que se baseia em leis, orientação técnica para utilização de agrotóxico ou
decretos e portarias, quer sejam federais ou afim, emitida por profissional legalmente habilitado.
estaduais e que obrigam o cumprimento de medidas Tem como objetivo maximizar a eficiência no
de controle, tais como: controle de pragas fazendo o uso mais racional
possível desses produtos.
a) Serviço quarentenário: previne a entrada de
pragas exóticas e impede a disseminação/dispersão Método mecânico
de pragas nativas. Esse serviço é executado pelo
Serviço de Defesa Sanitária Vegetal, órgão do Consiste na utilização de medidas de controle
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento que causem a destruição direta dos organismos-
(MAPA), cujos técnicos inspecionam portos, praga ou que impeçam que estes causem injúrias
aeroportos e fronteiras, procurando tratar, destruir às culturas. Vale ressaltar que, frequentemente,
ou impedir a entrada de vegetais e animais os métodos mecânicos de controle são incluídos
atacados, por meio da aplicação do período de junto aos métodos culturais ou físicos, uma vez
6 Manejo Integrado de Pragas: Estratégias e Táticas de Manejo para o Controle de
Insetos e Ácaros-praga em Hortaliças

que semelhantemente a esses outros dois métodos, condições de cultivo sob condições controladas ou
apresentam alcance restrito e incluem a destruição no controle de pragas no armazenamento.
direta dos organismos-praga, os quais serão
c) Solarização do solo: trata-se de uma alternativa
descritos a seguir.
física visando à desinfecção do solo, ou seja,
a) Catação manual e esmagamento: consiste na é um processo hidrotérmico que consiste em
coleta e destruição direta de ovos, larvas ou ninfas, umedecer o solo e cobri-lo com filme plástico, que
pupas e/ou adultos dos organismos que estão deve ser mantido durante os períodos de elevadas
causando prejuízos na cultura. Trata-se de uma temperaturas e de intensa radiação solar. Esse
prática de uso limitado e restrita a pequenas áreas e método atua inativando ou inibindo o crescimento
quando a mão-de-obra é barata. de fitopatógenos, de artrópodes-praga e de
propágulos de plantas daninhas, sendo possível
b) Uso de barreiras: essa prática visa impedir ou sua aplicação em países tropicais e subtropicais.
dificultar o acesso de organismos fitófagos ao Sua utilização é recomendada em pequenas áreas
interior da área de cultivo, sendo muito utilizada em (viveiros, estufas e pequenas lavouras) de forma
viveiros, casas-de-vegetação, áreas experimentais, a reduzir a incidência de doenças causadas por
etc (Figura 2). patógenos de solo, bem como de insetos que
se alimentam de órgãos vegetais subterrâneos
(Figura 3) e de pragas que completam seu
Foto: Alexandre Pinho de Moura

desenvolvimento no solo.

Foto: Alexandre Pinho de Moura


Figura 2. Método mecânico de controle de pragas –
uso de barreira viva (vegetação mais alta ao fundo).

Método físico Figura 3. Larva de coró rizófago – Coleoptera:


Melolonthidae.
Diz respeito à aplicação de métodos de origem física
para o controle de artrópodes-praga, tais como:

a) Fogo: é utilizado na limpeza de áreas para d) Cobertura do solo com superfícies refletivas:
posterior implantação da cultura e atua destruindo é utilizada nas entrelinhas de cultivo, com o
os organismos-praga presentes naquela área. No intuito de refletir a radiação eletromagnética e
entanto, o uso do fogo no controle de pragas está causar repelência a insetos diurnos. O principal
cada vez menos frequente, uma vez que não se material utilizado nesse processo é a palha de
trata de um método seletivo, ou seja, causa impacto arroz (Figura 4); todavia, folhas de alumínio, filmes
negativo sobre as populações de inimigos naturais plásticos transparentes e filmes de polietileno
das pragas. também podem ser usados com eficiência. A palha
de arroz reflete radiações nas faixas do azul e do
b) Temperatura: consiste na manipulação da ultravioleta, causando repelência a pulgões, por
temperatura ambiente, tornando-a letal aos exemplo. A utilização desse método encontra-se
organismos-praga. Torna-se mais aplicável em restrita a pequenas áreas de cultivo e a culturas
Manejo Integrado de Pragas: Estratégias e Táticas de Manejo para o Controle de 7
Insetos e Ácaros-praga em Hortaliças

que sejam hospedeiras de afídeos (pulgões) e que f) Armadilhas luminosas: Essa técnica é utilizada
apresentem pequeno porte, como alface, almeirão para atrair e capturar insetos de hábito noturno
e brássicas. fototrópicos positivos, ou seja, aqueles que são
atraídos pela luz. A exemplo das armadilhas
adesivas coloridas, as armadilhas luminosas
Foto: Alexandre Pinho de Moura

(Figura 7) também apresentam baixa seletividade,


atraindo, capturando e matando muitos outros
insetos, inclusive insetos benéficos.

Foto: Alexandre Pinho de Moura


Figura 4. Método físico de controle de pragas –
cobertura do solo, nas entrelinhas de cultivo, com
palha de arroz.

Figura 6. Método físico de controle de pragas –


e) Armadilhas adesivas coloridas: consiste no uso
armadilha adesiva azul.
de cartolinas, lonas, filmes ou etiquetas plásticas,
de coloração amarela (para captura de pulgões e

Foto: Alexandre Pinho de Moura


moscas-brancas) (Figura 5) ou azul (para captura
de tripes) (Figura 6), untadas com óleo (vegetal
ou mineral) ou cola entomológica, visando atrair e
capturar insetos-praga. Entretanto, apresenta como
limitação a baixa seletividade de captura, ou seja,
além de atrair e capturar as pragas, muitos insetos
benéficos (parasitoides, predadores e polinizadores,
por exemplo) também são atraídos, capturados e
acabam morrendo.
Foto: Alexandre Pinho de Moura

Figura 5. Método físico de controle de pragas – Figura 7. Método físico de controle de pragas –
armadilha adesiva amarela. armadilha luminosa.
8 Manejo Integrado de Pragas: Estratégias e Táticas de Manejo para o Controle de
Insetos e Ácaros-praga em Hortaliças

Método comportamental ou etológico em cairomônios (atraentes – culturas armadilhas) e


alomônios (repelentes).
É um método de controle que se baseia no estudo
da fisiologia dos insetos e ácaros-praga e objetiva Método cultural ou manipulação do ambiente de
alcançar seu controle por meio da manipulação cultivo
de seus hábitos ou comportamento, podendo ser
dividido em dois tipos: hormônios e semioquímicos. O cultivo de espécies vegetais exóticas, como é
o caso da maioria das plantas cultivadas, requer a
a) Hormônios: são substâncias produzidas por utilização de práticas culturais que maximizem a
determinadas glândulas internas e lançadas produção face à adequação do ambiente de cultivo
diretamente na hemolinfa (sangue) dos insetos, às necessidades dessas espécies. É importante
sendo capazes de provocar reações específicas lembrar que o ambiente agrícola, muitas vezes
em seu corpo. Algumas dessas substâncias já são apresentando o cultivo de uma única espécie
atualmente sintetizadas (produzidas artificialmente) (monocultivo), mostra-se bastante simplificado e
e comercializadas visando ao controle de pragas em possibilita maior ocorrência de surtos populacionais
diversas culturas, sendo exemplos os inibidores da de artrópodes-praga, principalmente devido à grande
síntese de quitina, os precocenos e os juvenóides. disponibilidade de fontes alimentares adequadas
a esses organismos. No entanto, a utilização de
b) Semioquímicos: também são substâncias determinadas práticas culturais na lavoura poderá
produzidas por glândulas (internas ou externas) e possibilitar redução na ocorrência de elevadas
lançadas para fora do corpo dos insetos, sendo populações de artrópodes-praga.
capazes de provocar reações específicas em outro
indivíduo, da mesma espécie (feromônios) ou de Também denominado de manejo ecológico do
espécies diferentes (aleloquímicos). ambiente de cultivo, trata-se um método profilático
e que deve ser considerado como a primeira
– Feromônios: mediam a comunicação entre opção para controle das pragas, consistindo no
indivíduos da mesma espécie, podendo ser utilizados emprego de determinadas práticas culturais, que
no MIP para detecção (verificação da presença normalmente são utilizadas para o cultivo das
de pragas na cultura), no monitoramento (permite plantas. Dentre essas práticas culturais podem-se
estimar a densidade populacional da praga e citar as seguintes:
acompanhar sua dinâmica ao longo do tempo) e no
controle (por meio da coleta massal, confundimento a) Rotação de cultura: consiste em plantar,
e cultura armadilha) (Figuras 8A e 8B). alternadamente, culturas que não sejam hospedeiras
das mesmas pragas, de modo a quebrar ou
– Aleloquímicos: servem para mediar a comunicação interromper seu ciclo de desenvolvimento.
entre indivíduos de espécies diferentes e dividem-se
Fotos: Alexandre Pinho de Moura

A B

Figura 8. Método comportamental de controle de pragas – armadilha Delta iscada com feromônio sexual
sintético (A); septo de feromônio sexual sintético (B).
Manejo Integrado de Pragas: Estratégias e Táticas de Manejo para o Controle de 9
Insetos e Ácaros-praga em Hortaliças

b) Destruição de restos de cultura: deve-se realizar tegumento mole (pulgões, tripes, mosca-branca,
o arranquio e a destruição dos restos culturais para etc.), a aplicação de irrigação por meio do sistema
impedir que os insetos e ácaros-praga que utilizam de aspersão convencional ou via pivô central pode
a planta como hospedeira completem seu ciclo causar redução de suas populações.
de desenvolvimento ou mesmo de forma a evitar
que esses resíduos vegetais sirvam como fonte de h) Cultura armadilha: consiste no plantio de
alimento, refúgio ou proteção para outras espécies- variedades suscetíveis ao redor ou mesmo
praga. no interior da área de cultivo, para atrair os
organismos-praga para estas plantas e, sobre elas,
c) Aração do solo: visa expor os diversos estágios atuar realizando o controle. Essa técnica deve
(ovos, larvas ou ninfas, pupas e adultos) de ser utilizada com bastante critério, uma vez que
desenvolvimento dos organismos-praga que habitam a não realização de controle eficiente da praga
o solo, aos raios solares, à ação de pássaros, ou nas áreas cultivadas com variedades suscetíveis
mesmo eliminá-los, por meio da ação mecânica dos pode ocasionar picos populacionais prejudiciais à
implementos agrícolas. variedade principal cultivada.

d) Adubação: tem por finalidade fornecer uma boa i) Destruição de hospedeiros alternativos: nesse
nutrição à planta, tornando-a menos suscetível caso devem-se eliminar plantas que estejam
ao ataque de pragas. No entanto, o fornecimento ao redor ou no interior da área de cultivo, de
de alguns elementos pode provocar uma pseudo- forma a impedir que essas sejam utilizadas pelos
resistência ou resistência induzida à planta, organismos-praga como fontes alternativas de
causando mudanças fisiológicas nesta e tornando-a alimento e/ou abrigo.
desfavorável ao desenvolvimento do inseto.
j) Eliminação de plantas cultivadas ou daninhas
e) Alteração da época de plantio e/ou de colheita: com sintomas de viroses: esta medida visa reduzir
objetiva fazer com que o período de maior a fonte de inóculo da doença na lavoura ou nas
suscetibilidade da planta não coincida com os proximidades das áreas de cultivo, contribuindo
períodos de maior densidade populacional das para a quebra do ciclo biológico das pragas e para
pragas, reduzindo os danos causados à cultura. a redução da incidência da doença, minimizando os
prejuízos causados às culturas.
f) Poda ou desbaste: deve-se realizar o corte e a
destruição, principalmente de ramos de plantas Método de resistência de plantas a artrópodes
atacadas por brocas, de modo a se evitar sua fitófagos
multiplicação na área e que estas alcancem o ramo
principal e causem a morte das plantas. A utilização de plantas resistentes é considerada
uma tática ideal de manejo de pragas devido
g) Irrigação ou drenagem: existem insetos que à facilidade em sua adoção, especificidade,
habitam ambientes secos e, nessa condição, a persistência, efeito cumulativo, baixo custo,
aplicação de uma maior lâmina de irrigação pode relativa harmonia com o ambiente e possibilidade
desfavorecê-los; outros insetos se adaptam melhor de compatibilização com outros métodos de
em locais úmidos, podendo ser controlados por controle. Consiste na seleção e uso de espécies,
meio da realização de uma drenagem na área de subespécies, variedades ou acessos de plantas que,
cultivo. Um exemplo a ser citado é o do inseto devido às suas características genéticas, são menos
conhecido vulgarmente como “fungus gnats” danificadas que outras em igualdade de condições.
ou “mosquito do fungo” (Bradysia sp.) (Diptera:
Sciaridae), que é favorecido pela disponibilidade de As causas ou fatores da resistência de plantas a
matéria orgânica parcialmente decomposta aliada insetos e ácaros-praga podem ser físicas, químicas,
à alta umidade; o controle desse inseto pode ser morfológicas ou relacionadas ao comportamento
alcançado, por exemplo, eliminando-se o excesso do artrópode-praga e/ou à fisiologia do artrópode-
de umidade do substrato de cultivo, bem como praga ou da planta. As causas físicas encontram-
pelo aumento da iluminação e da ventilação do se relacionadas com diferenças no espectro
local de cultivo. No caso de insetos diminutos e de de reflexão de luz pelas plantas. Já as causas
10 Manejo Integrado de Pragas: Estratégias e Táticas de Manejo para o Controle de
Insetos e Ácaros-praga em Hortaliças

morfológicas interferem mecanicamente na seleção introdução e manipulação dos inimigos naturais


do hospedeiro, na alimentação, na digestão e pelo homem. Existem três estratégias de controle
na oviposição do artrópode e manifestam-se em biológico, que são descritas a seguir:
forma de tricomas (glandulares e não-glandulares),
devido à espessura da cutícula, pela presença de a) Manutenção das condições ambientais
cera na superfície foliar, pela presença de sílica (controle biológico por conservação): tem por
nos tecidos vegetais, pela disposição dos órgãos finalidade manter ou manipular adequadamente
nas plantas, entre outras características. Por outro as condições ambientais, de modo a favorecer a
lado, as causas químicas de resistência podem reprodução, o abrigo e a alimentação dos inimigos
atuar de duas maneiras sobre os artrópodes-praga, naturais (Figuras 9A e 9B). Exemplos: uso de
ou seja, influenciando seu comportamento ou faixas de vegetação nativa entre os talhões da
alterando sua fisiologia. Outros compostos da planta cultura; aumento na diversidade de espécies
também podem atuar como inibidores de processos cultivadas (policultivo); restringir o uso do fogo,
fisiológicos dos insetos, bem como causar-lhes de agrotóxicos, etc. Assim sendo, o planejamento
intoxicação. da distribuição das reservas de vegetação natural
é considerado um fator imprescindível no manejo
Os mecanismos apresentados pelas plantas e que as ambiental, uma vez que a simplificação do
tornam resistentes a artrópodes-praga são antibiose, ambiente em áreas muito extensas pode promover
antixenose (não-preferência) e tolerância, os quais o desaparecimento dos inimigos naturais que
são descritos a seguir: necessitam de ambientes diversificados como local
de abrigo, alimentação ou reprodução.
a) Antibiose: nesse mecanismo de resistência,
as plantas exercem efeitos adversos na biologia b) Multiplicação e liberação de agentes de controle
dos artrópodes-praga, tais como redução no peso biológico (controle biológico por incremento):
corporal, alterações no desenvolvimento, reduções consiste na criação massal e liberação de grande
na viabilidade, na fecundidade e prolongamento do número de inimigos naturais no ambiente de cultivo,
ciclo de vida. visando o controle das pragas. Isso é feito quando
a população de inimigos naturais no ambiente de
b) Antixenose: nesse caso, os artrópodes-praga cultivo não é suficiente para controlar as pragas
apresentam menor preferência de alimentação, ou quando não é possível melhorar as condições
oviposição ou abrigo pelas plantas resistentes. ambientais. Para implementação dessa estratégia
de controle biológico é necessário realizar um
c) Tolerância: para esse mecanismo, as plantas
bom programa de seleção dos inimigos naturais,
sofrem o ataque da praga, semelhantemente ao que
estudos de biologia da praga e de seus inimigos
ocorre com plantas suscetíveis (não tolerantes).
naturais, estudos da relação praga-inimigo natural,
Entretanto, as plantas tolerantes possuem a
desenvolvimento de técnicas de criação massal e
capacidade de suportar o ataque da praga e/ou
acompanhamento de sua ação após a liberação.
compensar as injúrias sofridas, sem que ocorra
redução em sua produção ou alterações na biologia c) Introdução de agentes exóticos de controle
da praga. biológico (controle biológico clássico): consiste na
introdução de inimigos naturais em locais onde eles
Método biológico
não ocorrem naturalmente, visando o controle de
pragas. Essa técnica tem sido bastante utilizada
O controle biológico de pragas é um método
com o objetivo de controlar pragas introduzidas
de controle exercido pelos inimigos naturais
(exóticas) no país.
(parasitoides, predadores, entomopatógenos
e competidores) e visa manter as populações
Método químico
dessas pragas em níveis toleráveis, abaixo do
NDE. O controle biológico pode ocorrer de forma Consiste na utilização de produtos químicos
natural, que consiste na ação dos inimigos naturais (agrotóxicos), que aplicados direta ou indiretamente
presentes nos agroecossistemas (sem intervenção sobre os insetos, respeitando as recomendações de
humana) ou de forma aplicada, consistindo na uso, provocam sua morte. Trata-se do método mais
Manejo Integrado de Pragas: Estratégias e Táticas de Manejo para o Controle de 11
Insetos e Ácaros-praga em Hortaliças

Fotos: Alexandre Pinho de Moura


A B

Figura 9. Método biológico de controle de pragas – agente de controle de ocorrência natural parasitando
pulgão (A); múmias de pulgões parasitados (B).

utilizado no controle de pragas devido à facilidade registrados no MAPA, para a cultura e para a praga-
de aquisição e de uso desses produtos, facilidade alvo em questão. Vale lembrar que o uso do método
de estabelecimento da relação causa-efeito, baixo químico apenas deve ser implementado em caráter
custo inicial, boa eficiência, etc. Entretanto, os emergencial, quando as demais táticas de controle
agrotóxicos apresentam as desvantagens de não de pragas falharem, de modo a impedir perdas
serem específicos, terem custo elevado em longo econômicas e prejuízos ao produtor.
prazo e por apresentarem-se tóxicos ao homem e a
outros animais. b) Proteção ao aplicador: os equipamentos de
proteção individual (EPIs) (Figura 10) são compostos
Muitos agrotóxicos, principalmente os lançados pelo macacão e avental impermeáveis, touca
recentemente no mercado e pertencentes a novos árabe, botas de borracha, luvas de nitrila, óculos
grupos químicos, apresentam baixa persistência protetor e máscara com filtros. Sua utilização é
e, portanto, baixo risco à saúde humana e ao obrigatória durante os procedimentos de manuseio
ambiente, desde que utilizados corretamente. dos agrotóxicos, de preparação da calda, durante a
aplicação da calda, após a aplicação da calda (caso
Assim, quando da definição de uso do método exista necessidade de entrar na área tratada com o
químico no controle de pragas, alguns critérios produto antes do término do intervalo de reentrada,
importantes devem ser considerados na escolha bem como quando da realização de manutenção e
e na utilização do produto e envolvem aspectos limpeza dos equipamentos de aplicação) e durante
técnicos, econômicos e ecotoxicológicos, tais a tríplice lavagem da embalagem (aplicável a
como proteção do aplicador, toxicidade ao homem embalagens rígidas que contiverem formulações
e ao ambiente, toxicidade às plantas cultivadas, miscíveis ou dispersíveis em água, quando do
eficiência, custo, seletividade aos organismos esvaziamento desta). O uso de EPIs também é
benéficos, horário de aplicação, dosagem utilizada, obrigatório durante o procedimento de descarte
período de carência, rotação de produtos quanto ao de embalagens vazias, quando se devem utilizar
seu modo de ação, etc. Algumas recomendações os seguintes componentes: macacão de algodão
gerais descritas a seguir devem ser consideradas hidrorrepelente com mangas compridas, luvas de
quando da escolha do método químico no controle nitrila e botas de borracha.
de artrópodes-praga.
c) Toxicidade ao homem e ao ambiente: na escolha
a) Somente utilizar agrotóxicos registrados no do(s) agrotóxico(s) a ser(em) utilizado(s) deve-
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento se dar preferência àquele(s) que apresente(m)
(MAPA): o controle de insetos e ácaros-praga em baixa toxicidade ao homem e que cause(m) menor
hortaliças, bem como em quaisquer culturas, apenas impacto negativo ao ambiente. A atenção a essa
deve ser realizado por meio do uso de agrotóxicos escolha visa reduzir os riscos de intoxicação por
12 Manejo Integrado de Pragas: Estratégias e Táticas de Manejo para o Controle de
Insetos e Ácaros-praga em Hortaliças

– Moderadamente tóxico (tarja azul) e classe IV –


Foto: Alexandre Pinho de Moura

Pouco tóxico (tarja verde).

d) Fitotoxicidade: quanto a esse aspecto deve-


se verificar se o agrotóxico escolhido apresenta
toxicidade à planta a ser tratada, uma vez que
sintomas de fitotoxicidade também podem depreciar
o valor do produto a ser comercializado. Com o
intuito de minimizar esse problema recomenda-se
realizar as aplicações em períodos de temperaturas
mais amenas, ou seja, antes das 9 horas da manhã
ou após as 5 horas da tarde.

e) Eficiência: para receberem permissão para serem


comercializados os agrotóxicos necessitam ser
testados quanto à sua eficiência no controle das
espécies-alvo, sendo liberados somente quando
apresentam eficiência de controle superior a 80%.
No entanto, o uso indiscriminado e abusivo de
agrotóxicos pode reduzir sua eficiência, devido à
seleção de populações de pragas resistentes. É
importante lembrar que insucessos no controle
das pragas também podem estar relacionados a
outros fatores, tais como aplicação em horários
inadequados, utilização de equipamentos
inapropriados, erro na calibração dos equipamentos
de aplicação, deficiência na cobertura de aplicação,
Figura 10. Equipamentos de proteção individual etc.
(EPIs).
f) Custo: objetivando reduzir os custos com
o controle de pragas e maximizar os ganhos
parte dos aplicadores e evitar efeitos adversos sobre recomenda-se utilizar, preferencialmente,
organismos não-alvo (parasitoides, predadores, agrotóxicos que apresentem baixo custo/ha e
entomopatógenos, competidores, polinizadores, somente em caráter emergencial.
aves, peixes, etc.) e contaminações do ambiente
(água e solo). Portanto, diversos cuidados devem g) Seletividade de agrotóxicos a organismos
ser tomados quando da utilização de agrotóxicos, benéficos: de modo geral, grande parte dos
inclusive obedecendo às recomendações da agrotóxicos disponíveis atualmente apresenta
tecnologia de aplicação, de modo a causar os amplo espectro de ação, sendo considerados
menores impactos negativos possíveis, ao aplicador ecologicamente perigosos. Assim sendo, os
e ao ambiente. produtos a serem escolhidos devem apresentar
características tais que sejam eficientes no combate
É importante lembrar que a toxicidade (dose letal 50 às pragas, mas que não afetem negativamente
– DL50, por exemplo) de um agrotóxico é expressa as espécies benéficas (parasitoides, predadores,
pela quantidade (em mg/kg de peso vivo) do entomopatógenos, polinizadores e microrganismos
produto que causa a morte de 50% dos organismos decompositores) e que por esse aspecto são
testados experimentalmente. Informações sobre denominados de seletivos.
a toxicidade de cada agrotóxico são apresentadas
na embalagem do produto na forma de classes Vale lembrar que a seletividade de um composto a
de toxicidade, da seguinte maneira: classe I – determinado organismo pode ser alcançada fazendo
Extremamente tóxico (tarja vermelha), classe com que a maior proporção do produto aplicado
II – Altamente tóxico (tarja amarela), classe III atinja a praga e não alcance o organismo não-alvo
Manejo Integrado de Pragas: Estratégias e Táticas de Manejo para o Controle de 13
Insetos e Ácaros-praga em Hortaliças

(aplicações realizadas em reboleiras, por exemplo), reduz a pressão de seleção sobre as populações
inclusive levando-se em consideração o horário das pragas. Quanto aos mecanismos de ação,
de menor ocorrência de organismos não-alvo, que os agrotóxicos podem ser classificados em: 1)
consiste no termo “seletividade ecológica”, ou por compostos que atuam na transmissão axônica
meio do uso de produtos intrinsecamente mais (moduladores de canais de sódio – piretróides;
tóxicos à praga do que ao organismo benéfico, bloqueadores dos canais de sódio – oxadiazinas),
o que conceitua a “seletividade fisiológica”. 2) compostos que atuam na transmissão sináptica
Provavelmente, a seletividade apresentada por (inibidores da enzima acetilcolinesterase –
um agrotóxico aplicado em condições de campo é organofosforados e carbamatos; agonistas da
resultante da combinação de ambas, a ecológica e a acetilcolina – neonicotinóides e espinosinas;
fisiológica. antagonistas da acetilcolina – cartape; agonistas
do ácido gama amino butírico ou GABA –
h) Horário de aplicação: conforme já comentado avermectinas e milbemicinas), 3) reguladores de
anteriormente, a aplicação de agrotóxicos crescimento dos insetos (inibidores da síntese de
deve ser realizada em horários em que a quitina – benzoilfeniluréias, buprofezin e ciromazina;
temperatura ambiente é mais amena, devido à agonistas do hormônio juvenil – piriproxifen;
menor movimentação de inimigos naturais e de agonistas de ecdisteróides – tebufenozide e
polinizadores, mas também por proporcionar maior metoxifenozide), 4) inibidores da respiração celular
eficiência de aplicação e melhor conforto aos (inibidores do transporte de elétrons – fenazaquin
aplicadores. e fenpiroximate; inibidores da síntese de ATP –
organoestâmicos e pirroles; inibidores da ATPase
i) Dosagem utilizada: nunca se devem utilizar
– propargite e diafentiuron) e 5) disruptores
dosagens diferentes daquelas recomendadas.
microbianos do intestino dos insetos (endotoxinas
O uso de dosagens elevadas pode favorecer
de Bacillus thuringiensis).
ao desenvolvimento de resistência por parte de
populações das pragas. Por outro lado, o uso Ressalta-se que o uso intensivo de agrotóxicos
de subdosagens pode causar fenômenos de no controle de pragas prejudica a ação dos
ressurgência de pragas e/ou a mudança do “status” agentes biológicos de controle, inclusive causando
do inseto exposto ao composto, devido ao efeito problemas como ressurgência de pragas-chave,
estimulante advindo de dosagens subletais. A explosões populacionais de pragas, erupções de
dosagem recomendada para o controle da praga pragas secundárias, seleção de populações de
vem descrita na bula do produto. pragas resistentes aos compostos, entre outros
aspectos. Isso se dá devido ao fato de muitos
j) Período de carência: o período de carência é o
agrotóxicos serem mais tóxicos aos inimigos
número de dias que deve ser respeitado entre a
naturais do que às pragas. Nesse sentido, deve-
última aplicação e a colheita. O respeito a esse
se objetivar o uso racional desses compostos e
prazo garante que o alimento colhido não possua
utilizá-los somente quando as populações das
resíduos do agrotóxico aplicado acima do limite
pragas atingirem seus respectivos níveis de controle
máximo permitido, desde que a aplicação do
(NC), informação esta que será obtida por meio
composto seja realizada seguindo as boas práticas
da realização de monitoramentos periódicos das
agrícolas. Informações sobre o período de carência
lavouras.
também são apresentadas na embalagem e na bula
do produto.
Manejo integrado de pragas (MIP) em
k) Rotação de produtos quanto ao modo de
ação: repetidas aplicações de agrotóxicos de hortaliças
mesmo modo de ação para o controle de pragas
que apresentam elevado potencial reprodutivo Para a adoção do MIP em hortaliças, bem como em
favorecem a seleção de populações de pragas diversas outras culturas, três etapas básicas devem
resistentes a esses compostos. Visando evitar ser consideradas: 1) a avaliação do agroecossistema
esse problema devem-se utilizar produtos que (monitoramento das pragas); 2) a tomada de
apresentem diferentes mecanismos de ação, o que decisão; e, 3) a seleção e uso planejados dos
14 Manejo Integrado de Pragas: Estratégias e Táticas de Manejo para o Controle de
Insetos e Ácaros-praga em Hortaliças

métodos de controle a serem adotados no combate condições climáticas do agroecossistema devem ser
às pragas. monitoradas constantemente, de modo que seja(m)
identificada(s) a(s) fase(s) de desenvolvimento
da(s) cultura(s) mais suscetível(eis) ao ataque da(s)
Avaliação do agroecossistema e tomada de
praga(s). Como exemplo apresenta-se a fenologia
decisão
do tomateiro e respectivas épocas de ocorrência de
Informações obtidas no próprio cultivo são utilizadas pragas (Figura 11).
para auxiliar na escolha das táticas (métodos) de
Assim sendo, semanalmente devem-se realizar
controle integrantes de programas de MIP. Na
vistorias nas áreas de produção, de modo a
avaliação do agroecossistema são monitoradas as
verificar a ocorrência de pragas, a detecção dos
populações das pragas, de seus inimigos naturais,
focos de infestação e se há necessidade ou não de
o estádio fenológico da cultura e os fatores
adoção de medidas adicionais de controle. Para a
(clima, práticas culturais, etc.) que influenciam na
realização do monitoramento recomenda-se dividir
ocorrência das pragas e dos inimigos naturais, bem
as áreas de cultivo conforme a cultura e a cultivar
como na suscetibilidade das plantas às infestações.
instalada, a idade das plantas, a topografia e as
Em virtude das diferenças existentes na duração características de fertilidade do terreno. Deve-se
do ciclo das diversas hortaliças cultivadas, bem percorrer toda a lavoura em zigue-zague e examinar
como das diferentes cultivares de cada cultura, as vinte pontos de amostragem por talhão, avaliando-
Arte: Miguel Michereff Filho

Figura 11. Fenologia do tomateiro e ocorrência de pragas. Adaptado de Zucchi et al. (1993).
Manejo Integrado de Pragas: Estratégias e Táticas de Manejo para o Controle de 15
Insetos e Ácaros-praga em Hortaliças

se cinco plantas por ponto amostral, em pontos quais devem ser instaladas em estacas de madeira
localizados no interior e nas bordaduras do cultivo. ou de bambu, na altura do topo das plantas. Estas
No monitoramento por meio de armadilhas, estas armadilhas podem ser inspecionadas diariamente,
devem ser instaladas dentro dos viveiros, de casas- o que permite identificar o momento exato da
de-vegetação, de telados e no campo, antes do chegada dos primeiros adultos na lavoura e a
transplante das mudas. As armadilhas devem ser localização dos focos de infestação. Mostram-se
distribuídas ao longo da bordadura e no interior bastante úteis na indicação do momento a partir do
da lavoura, de modo que os dados obtidos sejam qual o controle químico deve ser iniciado.
representativos de toda a área cultivada. A seguir
serão apresentadas as técnicas de monitoramento • Inspeção de plantas – caso o produtor não
para as principais pragas que atacam as hortaliças empregue armadilhas, os adultos de mosca-branca
no Brasil. podem ser monitorados por vistorias, feitas a cada
três dias, mediante inspeção direta da face inferior
Mosca-branca [Bemisia tabaci (Gennadius) biótipo B de folhas localizadas na parte superior das plantas,
– Hemiptera: Aleyrodidae] no viveiro e no campo definitivo. O monitoramento
da mosca-branca deve ser intensificado nos
É considerada uma importante praga para diversas primeiros 30 a 60 dias após o transplantio, a
culturas, atacando hortaliças, frutíferas, grandes depender da cultura e da cultivar plantada. Quando
culturas, plantas ornamentais, além de plantas da ocorrência de chuvas intensas recomenda-se que
daninhas. Dentre as hortaliças é considerada praga a inspeção seja adiada por 24 horas.
das culturas da berinjela, jiló, batata, pimenta,
pimentão, repolho, brócolos, couve-flor, melão, Tripes [Thrips tabaci Lindeman, Thrips palmi Karny
abobrinha, melancia, chuchu, pepino e tomateiro. e Frankliniella schultzei (Trybom) – Thysanoptera:
Thripidae]
A mosca-branca (Figura 12) é responsável por
causar danos diretos às plantas atacadas, devido Os tripes formam colônias numerosas e alimentam-
à sucção contínua de seiva e à ação toxicogênica se da seiva das plantas, atacando, dependendo da
associada à sua alimentação (injeção de toxinas). cultura, as folhas, as flores, as hastes e as gemas
Esses insetos excretam o excesso de seiva na apicais. Em culturas como alho, cebola e cebolinha,
forma de gotículas de substâncias adocicadas esses insetos abrigam-se nas bainhas das folhas,
(“honeydew”) sobre a planta, favorecendo o dificultando seu controle, mesmo que por meio do
desenvolvimento de fungos do gênero Capnodium, uso de agrotóxicos. A espécie T. tabaci ataca as
causadores da fumagina. Esse fungo cria uma culturas do agrião, brócolos, couve-flor, repolho,
capa enegrecida que dificulta a realização de alho, cebola, cebolinha e tomateiro. As outras duas
fotossíntese e prejudica a aparência das plantas
atacadas (Figuras 13A e 13B). Em altas densidades
Foto: Alexandre Pinho de Moura

populacionais a praga pode ocasionar a morte de


mudas e plantas jovens. A mosca-branca também
está associada à transmissão de fitoviroses para
algumas culturas, principalmente para o tomateiro,
representando sérios problemas para a cultura no
Brasil. A mosca-branca se contamina tanto na fase
de ninfa como na fase adulta, durante a alimentação
sobre a própria cultura ou em plantas da vegetação
espontânea infectadas.

•  Monitoramento de adultos com armadilhas


adesivas – podem ser usadas cartolinas, lonas,
plásticos ou etiquetas, de coloração amarelo-
ouro (Figura 5), untadas com óleo (vegetal ou
mineral) ou cola entomológica. Algumas empresas Figura 12. Adulto da mosca-branca Bemisia tabaci
especializadas já comercializam estas armadilhas, as biótipo B.
16 Manejo Integrado de Pragas: Estratégias e Táticas de Manejo para o Controle de
Insetos e Ácaros-praga em Hortaliças

Fotos: Alexandre Pinho de Moura


A B

Figura 13. Fumagina sobre folhas (A) e sobre frutos (B) de tomateiro.

espécies (T. palmi e F. schultzei), por sua vez, Pulgões [Aphis gossypii Glover, Brevicoryne
atacam as culturas da batata, berinjela, jiló, pimenta brassicae Linnaeus, Myzus persicae (Sulzer) e
e pimentão, sendo que F. schultzei também é Macrosiphum euphorbiae (Thomas) – Hemiptera:
considerada praga da cultura do quiabo. Aphididae]

Nas plantas, onde os insetos se alimentam, formam- Nas condições brasileiras, esses insetos
se áreas descoradas, que necrosam devido à morte reproduzem-se por partenogênese telítoca, ou
dos tecidos, podendo ocorrer desfolha prematura, seja, sem acasalamento e, tanto fêmeas adultas
como na cultura do tomateiro. Para algumas ápteras (sem asas) quanto aladas (com asas), darão
hortaliças, quando o ataque ocorre nas flores, causa origem a ninfas fêmeas; os pulgões são vivíparos,
esterilidade e/ou prejudica o desenvolvimento dos sendo que as fêmeas não depositam ovos e sim
frutos. No entanto, para algumas hortaliças, a maior ninfas diretamente sobre as folhas da planta. Cada
importância dos tripes como pragas se deve ao fato fêmea é capaz de gerar até 80 indivíduos durante
desses insetos serem vetores de viroses, como é o sua vida, também formando colônias numerosas
caso do vírus do vira-cabeça-do-tomateiro. em folhas, brotações e flores e podendo ocorrer
em diversas hortaliças ao longo de todo o ciclo de
• Monitoramento de adultos com armadilhas desenvolvimento da cultura.
adesivas – devem-se utilizar os mesmos modelos e
procedimentos descritos para a captura da mosca- Os pulgões alimentam-se continuamente,
branca, porém, usando armadilhas de coloração azul principalmente em tecidos jovens e tenros das
(Figura 6). plantas, por meio da sucção de seiva. Também são
responsáveis pela injeção de toxinas nas plantas,
• Batedura de ponteiros – esse método é adotado provocando definhamento de mudas e de plantas
na ausência de armadilhas para monitoramento. jovens, além de encarquilhamento das folhas, brotos
Consiste em agitar as folhas da região superior das e ramos. Altas infestações desses insetos podem
plantas presentes em cada ponto de amostragem afetar drasticamente a produção e causar a morte
(1 m de fileira de cultivo, por exemplo), sobre uma das plantas atacadas.
placa ou bandeja plástica de coloração branca
e avaliar a quantidade de insetos presentes na Assim como observado para a mosca-branca, os
superfície. As vistorias devem ser intensificadas pulgões excretam o excesso de seiva (“honeydew”)
quando da ocorrência de períodos quentes e secos. sobre as plantas, favorecendo o desenvolvimento da
fumagina, dificultando a realização da fotossíntese e
• Inspeção de plantas – adultos e ninfas de tripes prejudicando a aparência das plantas atacadas. No
também podem ser monitorados por meio da entanto, a maior importância dos pulgões se deve à
inspeção direta das plantas, contando-se o número sua capacidade de transmitir viroses às plantas, tais
de indivíduos presentes nas plantas. como o vírus-do-topo-amarelo do tomateiro (PYPV),
Manejo Integrado de Pragas: Estratégias e Táticas de Manejo para o Controle de 17
Insetos e Ácaros-praga em Hortaliças

os vírus Y e A da batata e o vírus-do-mosaico do Tetranychidae), Aculops lycopersici Massee e Aceria


pimentão (PVY), bem como o vírus-do-mosaico do (=Eriophyes) tulipae Keifer (Acari: Eriophyidae)
tomateiro ou mosaico comum (ToMV). e Polyphagotarsonemus latus (Banks) (Acari:
Tarsonemidae)]
Dentre as principais hortaliças cultivadas,
A. gossypii ataca as culturas da abóbora, abobrinha, As espécies T. urticae (Figura 15), T. evansi,
chuchu, melancia, melão, pepino e quiabo, enquanto T. marianae e T. ludeni pertencem à família
M. persicae e M. euphorbiae são considerados Tetranychidae e apresentam a característica de
pragas das culturas da batata, berinjela, jiló, tecer teias semelhantes às das aranhas sobre as
pimenta, pimentão e tomate. A espécie M. persicae folhas e ramos das plantas, que lhes conferem
também ataca diversas brássicas (agrião, brócolos, proteção contra a ação de inimigos naturais e
couve-flor e repolho), culturas estas também auxiliam no deslocamento entre folhas de uma
atacadas por B. brassicae. mesma planta ou mesmo entre plantas e onde
também depositam seus ovos.
• Monitoramento de adultos com armadilhas
adesivas – os procedimentos a serem adotados A primeira espécie (T. urticae) apresenta acentuado
são os mesmos descritos anteriormente para a dimorfismo sexual, sendo as fêmeas ovaladas e
captura da mosca-branca. Pode-se, também, utilizar os machos apresentando a extremidade posterior
armadilhas do tipo Moericke (bandeja pintada do abdome mais estreita. Geralmente, as fêmeas
de amarelo, contendo água e algumas gotas de apresentam duas manchas verde-escuras no
detergente) (Figura 14). Neste caso as armadilhas dorso, sendo uma de cada lado. Esta espécie
são colocadas no solo e dispostas nas entrelinhas de tetraniquídeo causa danos a várias espécies
na área de cultivo. de hortaliças, incluindo as culturas da abóbora,
berinjela, melancia, melão, morango, pepino,
• Batedura de ponteiros – esse método é adotado pimentão e tomate.
quando armadilhas não forem usadas para
monitoramento, seguindo-se a mesma operação O ácaro-vermelho T. evansi tem forma e tamanho
recomendada para os tripes. similares às das outras espécies de ácaros-
vermelhos. Porém, suas pernas, sobretudo as
• Inspeção de plantas – adultos e ninfas dos do primeiro par, são nitidamente mais largas
pulgões também podem ser monitorados por meio e apresentam coloração alaranjada. Os ovos
da inspeção direta das plantas, contando-se o são esféricos e apresentam coloração âmbar,
número de indivíduos presentes. tornando-se escuros à medida que o embrião se
desenvolve. Os embriões são de coloração clara
Ácaros [Tetranychus urticae (Koch), Tetranychus e transparente, enquanto as ninfas apresentam
evansi Baker & Pritchard, Tetranychus marianae coloração esverdeada, passando a adquirir uma
McGregor e Tetranychus ludeni Zacher (Acari: coloração semelhante à dos adultos à medida que
Foto: Alexandre Pinho de Moura

Foto: Alexandre Pinho de Moura

Figura 14. Armadilha colorida amarela do tipo Figura 15. Ácaros Tetranychus urticae em
Moericke. morangueiro.
18 Manejo Integrado de Pragas: Estratégias e Táticas de Manejo para o Controle de
Insetos e Ácaros-praga em Hortaliças

se desenvolvem. É considerado importante praga A espécie A. lycopersici tem corpo fusiforme,


das culturas da batata, berinjela, chuchu, pimentão comprimento variando de 0,15 mm a 0,2 mm,
e tomate. apresenta coloração branco leitosa e é invisível a
“olho nu”. Os ovos são depositados nas nervuras
Os adultos de T. marianae têm formato similar ou na base das folhas. Dois pares de pernas têm
à deutoninfa (segunda forma ninfal do ácaro), estruturas típicas semelhantes a garras na parte
porém é maior, apresentando cerca de 0,5 mm de posterior do tarso, denominadas pinças, contendo
comprimento e pernas relativamente mais longas. quatro pares de estrias. Esse ácaro ataca as culturas
O adulto recém-emergido tem coloração laranja da berinjela, pimentão e tomate.
pálido, tornando-se vermelho carmim com manchas
escuras nas laterais à medida que envelhece. O ácaro A. tulipae apresenta formato alongado e
Fêmeas adultas têm formato oval, enquanto os vermiforme. São invisíveis a “olho nu” e localizam-
machos são afilados na extremidade abdominal e se nas dobras das folhas. A temperatura ideal
apresentam coloração verde-amarelada. Os ovos para o desenvolvimento dessa espécie é de 25°C,
são esféricos, microscópicos, hialinos, mas tornam- enquanto a temperatura capaz de causar sua
se branco-translúcidos próximo da eclosão da larva. morte é de 45°C. Temperaturas inferiores a 6°C
A larva recém-eclodida é pequena, tem formato não permitem o desenvolvimento dessa praga. A
arredondado, coloração amarelo pálido e apresenta eclosão dos ovos é beneficiada por umidade relativa
três pares de pernas e olhos vermelhos. Após iniciar elevada, enquanto a condensação da água nas
a alimentação, a larva apresenta duas manchas folhas é prejudicial ao seu desenvolvimento.
escuras no dorso (sendo uma de cada lado) e
coloração verde amarelada. Essa espécie de ácaro O ácaro-branco, P. latus (Figura 16A), também
é considerada praga das culturas da batata-doce, conhecido como ácaro-tropical, ocorre em regiões
berinjela, jiló, pimenta, pimentão, quiabo e tomate. tropicais e subtropicais, tendo sido registrado em
um amplo espectro de hospedeiros, que incluem as
Também conhecido vulgarmente como ácaro- culturas da pimenta, pimentão e tomate.
vermelho, a espécie T. ludeni apresenta cerca de
0,45 mm de comprimento e coloração vermelha As fêmeas de P. latus medem cerca de 0,17 mm
intensa. Os machos adultos têm corpo fusiforme, de comprimento e 0,11 mm de largura. Colocam
são menores e mais rápidos que as fêmeas e seus ovos, de coloração branca, achatados e
apresentam coloração amarelo pálido. Já as fêmeas com saliências superficiais (Figura 16B), na face
adultas apresentam coloração vermelha intensa e inferior das folhas. Não tecem teias. Os machos
abdome cilíndrico, enquanto suas formas jovens são são menores, medem cerca de 0,14 mm de
de cor verde. Causa prejuízos às culturas do alho, comprimento e 0,08 mm de largura. Possuem o
cebola, pimenta, pimentão, quiabo e tomate. quarto par de pernas avantajado (tipo clavado), o
Fotos: Frederick Mendes Aguiar

ç
A B

Figura 16. Ácaros da espécie Polyphagotarsonemus latus (A); ovos do ácaro-branco (B).
Manejo Integrado de Pragas: Estratégias e Táticas de Manejo para o Controle de 19
Insetos e Ácaros-praga em Hortaliças

qual não exerce função de locomoção, mas permite ser realizado quando forem observados, em média,
carregar a “pupa” da fêmea (Figuras 17A e 17B), 10 ou mais adultos ou ninfas por folha.
para que a cópula seja garantida no momento de
sua emergência, funcionando como mecanismo Lagartas [Agrotis ipsilon (Hüfnagel), Helicoverpa
de perpetuação da espécie. Esses artrópodes se armigera (Hübner), Helicoverpa zea (Boddie),
reproduzem de forma sexuada, porém também Spodoptera frugiperda (J.E. Smith) (Lepidoptera:
ocorre partenogênese arrenótoca, onde fêmeas Noctuidae)]
virgens podem gerar machos para copular e originar
Agrotis ipsilon, conhecida vulgarmente como
novas colônias.
lagarta-rosca, é considerado um inseto polífago,
Seu desenvolvimento é favorecido, de modo geral, alimentando-se, além das culturas da alface, batata,
pela combinação de temperaturas elevadas e berinjela, brócolos, cebola, couve, couve-flor,
baixa umidade relativa do ar, associadas à baixa melancia, melão, morango, pimenta, pimentão,
luminosidade. Devido ao seu tamanho diminuto, repolho e tomate, de plantas ornamentais, grandes
a presença do ácaro-branco nos cultivos passa culturas e de plantas daninhas.
frequentemente despercebida, sendo detectado
Os adultos são mariposas com cerca de 35 mm
somente quando sua população já atingiu o NDE,
de envergadura, cujas asas anteriores são marrons
causando injúrias severas às plantas.
com algumas manchas pretas, sendo as posteriores
As colônias de todas essas espécies de ácaros semitransparentes. Uma fêmea oviposita, em média,
desenvolvem-se, preferencialmente, na face inferior 1.000 ovos, de coloração branca, nas folhas das
das folhas, mas podem ser vistas em ambas as plantas. As lagartas apresentam coloração pardo-
faces, quando em grandes populações e em ataques acinzentada escura (Figura 18) e podem atingir
intensos às culturas. cerca de 45 mm de comprimento. As lagartas
possuem hábitos noturnos, ficando enroladas em
• Inspeção de plantas – Esses ácaros devem abrigos no solo durante o dia. Completamente
ser amostrados no terço mediano das plantas, desenvolvida, a lagarta se transforma em pupa
coletando-se uma folha por planta, avaliando-se no solo, onde permanece até a emergência do
cinco plantas por ponto amostral, em um total de adulto. As lagartas seccionam as mudas, ainda na
20 pontos de amostragem por talhão, totalizando sementeira, como também no campo, cortando as
100 plantas. Deve-se avaliar a presença de adultos plantas rente ao solo.
e ninfas, em 1 cm2 de área do limbo foliar na
face inferior da folha, com auxílio de uma lupa de A espécie H. armigera foi recentemente introduzida
aumento de 10X. O controle dessas espécies deve no Brasil. Os primeiros focos da praga foram
Fotos: Frederick Mendes Aguiar

A B

Figura 17. Machos do ácaro-branco, Polyphagotarsonemus latus, transportando “pupa” da fêmea (A) e (B).
20 Manejo Integrado de Pragas: Estratégias e Táticas de Manejo para o Controle de
Insetos e Ácaros-praga em Hortaliças

Os ovos são depositados, isoladamente ou


Foto: Alexandre Pinho de Moura

agrupados, preferencialmente na face superior das


folhas das plantas hospedeiras, mas também sobre
os ramos, flores, frutos e brotações, normalmente
durante o período noturno. Os ovos apresentam
coloração branco-amarelada com aspecto brilhante
logo após a sua oviposição, assumindo coloração
marrom-escura próximo da eclosão.

A fase larval de H. armigera apresenta de cinco a


seis ínstares. A partir do terceiro ínstar, as larvas
apresentam coloração variando do amarelo-palha ao
verde, marrom-avermelhada ou preta, influenciada
pelo tipo de alimento consumido. Também são
Figura 18. Lagarta-rosca, Agrotis ipsilon. detalhes característicos das lagartas dessa espécie
a presença de finas linhas brancas laterais e
de pelos. A partir do quarto ínstar, as lagartas
registrados em 2011, na região oeste da Bahia. apresentam tubérculos abdominais bastante visíveis
Inicialmente, foram observadas elevadas infestações na região dorsal do primeiro segmento abdominal,
da praga em lavouras de algodão, soja, feijão e de coloração escura, os quais se encontram
milho. No entanto, sua ocorrência também já foi dispostos formando um semicírculo, em formato
registrada em hortaliças como tomateiro, pimentão, de sela. Quando tocadas, as lagartas apresentam
batata, ervilha e quiabo. Os frutos e tuberculos um comportamento bastante peculiar, encurvando-
atacados por essa praga tornam-se imprestáveis se de modo que sua cápsula cefálica aproxima-se
para o consumo. do primeiro par de falsas pernas, permanecendo
nesta posição por algum tempo. Completamente
Fêmeas adultas de H. armigera apresentam o desenvolvida, a lagarta apresenta de 30 a 40 mm
primeiro par de asas de coloração amarelada. Os de comprimento.
machos, por outro lado, exibem coloração geral
cinza-esverdeada e apresentam o terço distal da A pupa de H. armigera tem coloração marrom
asa ligeiramente mais escuro, contendo, ainda, brilhante e cerca de 17 mm de comprimento. A fase
uma pequena mancha escura, em formato de de pupa ocorre no solo, podendo ou não ocorrer
rim, na região central da asa (Figura 19). As asas diapusa nessa espécie, dependendo das condições
posteriores de ambos os sexos têm coloração climáticas.
mais clara em relação às anteriores e apresentam
Essa praga apresenta elevadas capacidades
a margem da extremidade apical de coloração
de sobrevivência e de adaptação a condições
marrom.
ambientais adversas, tais como calor, frio ou seca,
sendo possível a ocorrência de várias gerações ao
Foto: Alexandre Pinho de Moura

longo do ano, pois seu ciclo de ovo a adulto pode


ser completando de quatro a cinco semanas.

Também conhecida como lagarta-da-espiga do milho


e broca-grande-do-fruto do tomateiro, o adulto de H.
zea é uma mariposa que mede de 30 mm a 40 mm
de envergadura, apresentando asas anteriores de
coloração cinza-esverdeadas ou amareladas. Cada
fêmea pode ovipositar, em média, 1.000 ovos, os
quais são depositados ao anoitecer, em qualquer
parte da planta. Os ovos têm formato hemisférico,
medindo cerca de 1 mm de diâmetro e coloração
inicial branca, tornando-se marrom próximo à
Figura 19. Macho adulto de Helicoverpa armigera. eclosão.
Manejo Integrado de Pragas: Estratégias e Táticas de Manejo para o Controle de 21
Insetos e Ácaros-praga em Hortaliças

Lagartas recém-eclodidas apresentam coloração Os adultos de Liriomyza spp. são pequenas moscas
branca e cabeça de coloração marrom. de coloração geralmente escura, com manchas
Completamente desenvolvidas medem cerca de 40 amareladas nas laterais do corpo e no escutelo. Seu
mm a 50 mm de comprimento, possuindo coloração comprimento varia de 1,5 mm a 2 mm. Apresenta
variável como verde, marrom, branco-sujo e até asas translúcidas e o corpo revestido de cerdas,
preto, com listras longitudinais de duas a três cores. sendo o macho menor e mais escuro que a fêmea.
No solo, a lagarta confecciona uma espécie de Os adultos são facilmente dispersos pelo vento,
célula ou câmara, contendo uma galeria de saída podendo ser transportados a longas distâncias.
para a superfície do solo, para a emergência do
adulto, passando em seguida à fase de pupa. A As fêmeas depositam seus ovos endofiticamente
pupa mede, em média, 20 mm de comprimento e (dentro do tecido das plantas), sendo um ovo por
possui coloração marrom. punctura (punctura de oviposição). Cerca de 1/5
(um quinto) das puncturas realizadas pelas fêmeas
Já o adulto de S. frugiperda é uma mariposa que é de puncturas de oviposição, sendo as demais
mede cerca de 35 mm de envergadura e apresenta puncturas realizadas para alimentação. Cada fêmea
as asas anteriores de coloração parda-escura, pode ovipositar de 500 a 700 ovos, sendo estes
enquanto as posteriores são branca-acinzentadas, depositados, preferencialmente, pela manhã e nos
com pontos claros na região central de cada asa. seus primeiros dias de vida. Os ovos são elípticos,
As fêmeas realizam sua postura na parte superior de coloração branco-leitosa, transparentes e medem
das folhas formando massas de ovos, de cerca de aproximadamente 0,2 mm de comprimento e 0,13
100 ovos por vez, em camadas sobrepostas. Os mm de largura.
ovos apresentam coloração verde-clara, passando a
alaranjado, próximo à eclosão. As lagartas chegam a As larvas são ápodas, têm corpo cilíndrico, coloração
medir cerca de 50 mm de comprimento e apresentam inicial branca hialina e, posteriormente, amarela.
comportamento de canibalismo. Completamente Minam as folhas hospedeiras, alimentando-se
desenvolvida, a lagarta penetra no solo, sob a planta, do parênquima foliar, podendo atingir 6 mm de
onde se transforma em pupa. A pupa apresenta comprimento. As larvas transformam-se em pupas no
cerca de 15 mm de comprimento e possui coloração solo, a pouca profundidade ou aderidas às folhas.
avermelhada ou amarronzada. Ataca as culturas da
As principais espécies de moscas-minadoras que
alface, batata, cenoura, pimentão e tomate.
ocorrem no Brasil são Liriomyza huidobrensis
•  Inspeção de plantas – O monitoramento da (Blanchard), Liriomyza sativae Blanchard e Liriomyza
lagarta-rosca baseia-se na presença de plantas trifolii (Burgess), causando prejuízos nas culturas da
mortas cortadas à altura do solo, ao longo da batata, melancia, melão, pepino e tomate.
fileira de cultivo. O nível de controle adotado para
•  Inspeção de plantas – O monitoramento das
H. zea na cultura do tomateiro, por exemplo, é de
moscas-minadoras deve ser realizando avaliando-se
4 ovos/100 folhas (examinadas duas vezes por
folhas do ápice das plantas, em vinte pontos por
semana, ao acaso, no terço superior da planta) ou
talhão, sendo cinco plantas por ponto amostral,
1% de frutos danificados (amostrar 20 pontos por
totalizando 100 plantas avaliadas. O controle
talhão, sendo cinco plantas por ponto, avaliando-
dessas espécies deve ser realizado quando forem
se a presença de galerias nos frutos das primeiras
observados, em média, 20% de folhas minadas.
pencas). No caso da espécie S. frugiperda deve-
se realizar o monitoramento de machos dessa
Vaquinha Diabrotica speciosa (Germar) (Coleoptera:
espécie com armadilhas contendo feromônio sexual
Chrysomelidae)
sintético, quando esta espécie for predominante
na região. Para a espécie H. armigera, para as São besouros conhecidos vulgarmente como
condições brasileiras, ainda não foram determinados vaquinhas, “patriota” ou “brasileirinho”, que podem
os níveis de controle e de dano econômico. atacar as hortaliças ainda na sementeira, cortando
as mudas, como também no campo. Essa praga
Mosca-minadora Liriomyza spp. Mik (Diptera:
apresenta hábitos noturnos e caracteriza-se por ser
Agromyzidae)
um besouro de coloração verde com 5 mm a 6 mm
22 Manejo Integrado de Pragas: Estratégias e Táticas de Manejo para o Controle de
Insetos e Ácaros-praga em Hortaliças

de comprimento, de cabeça de coloração castanha, Lesmas e caracóis


tendo em cada élitro três manchas amareladas
(Figura 20). A fêmea deposita seus ovos no solo, Esses organismos são moluscos terrestres, de corpo
de onde eclodem as larvas, de coloração branco- mole e mucoso, que raspam as folhas, flores, ramos
leitosa, conhecidas vulgarmente como larvas- novos e raízes das hortaliças. Têm preferência por
alfinete que, completamente desenvolvidas, medem locais úmidos e sombreados, atacando as plantas,
cerca de 10 mm de comprimento, sendo que no principalmente, à noite ou em dias chuvosos.
último segmento abdominal, as larvas possuem uma A espécie Bradybaena similaris é conhecida
placa de coloração castanho-escura, quase preta. vulgarmente como caracol, de corpo marrom-claro
Os insetos adultos causam perfurações nas folhas e protegida por uma concha de formato helicoidal.
das plantas, podendo chegar a consumir totalmente As lesmas do gênero Vaginulus têm corpo comprido,
a parte aérea de mudas. Ataca as culturas da achatado e úmido e coloração parda, não sendo
batata, melancia, melão e tomate. protegida por carapaça. Seu corpo varia de 5 cm
a 7 cm. Lesmas e caracóis (Figuras 21A e 21B)
são pragas das culturas da alface, almeirão, agrião,
Foto: Alexandre Pinho de Moura

brócolos, couve-flor, rabanete, repolho e rúcula.

Seleção das táticas de controle

Caso seja necessário adotar alguma medida de


controle, deve-se optar por um plano de manejo
que envolva duas ou mais táticas de controle
compatíveis entre si. Diversas táticas ou métodos
de controle podem e devem ser usados para auxiliar
na implementação do MIP, dentre eles: o manejo
do ambiente de cultivo, o controle legislativo, o
Figura 20. Adulto de Diabrotica speciosa. controle biológico, o controle comportamental e o
controle químico.

•  Inspeção de plantas – Devem-se realizar amostragens a) Manejo do ambiente de cultivo


em vinte pontos por talhão, avaliando-se 5 (cinco)
plantas por ponto amostral, totalizando 100 plantas Consiste na aplicação do conhecimento agronômico
avaliadas. O controle dessa espécie deve ser disponível, a fim de prever possíveis prejuízos
realizado quando forem observadas, em média, 25% e tentar evitá-los com um programa de ações
das plantas avaliadas com ocorrência de desfolha. preventivas de boas práticas agrícolas. Envolve os
Fotos: Alexandre Pinho de Moura

A B

Figura 21. Caramujo em folha de quiabeiro (A) e em fruto de pimenta (B).


Manejo Integrado de Pragas: Estratégias e Táticas de Manejo para o Controle de 23
Insetos e Ácaros-praga em Hortaliças

métodos de controle cultural, físico e mecânico, ao redor da lavoura, de tal forma que tenham pelo
utilizados para reduzir as populações das pragas e menos 1 m de altura no momento do plantio da
seus danos. São medidas profiláticas que devem ser cultura, no intuito de retardar as infestações das
consideradas como a primeira linha de defesa contra pragas, bem como reduzir a incidência de fitoviroses
as pragas. Sua adoção tem efeito prolongado, não (controle de todas as espécies de pragas);
causa contaminação ambiental e é compatível com
outras táticas de controle. – Manejo da nutrição (adubação química e
orgânica mais equilibradas) conforme análise de
O ambiente de cultivo pode ser manejado de forma solo ou foliar e com base nos requerimentos da
a se tornar desfavorável às pragas, o que pode cultura, evitando-se a deficiência e/ou excesso
ser alcançado mediante adoção de práticas que de nutrientes (principalmente N) nas plantas.
reduzam as chances de localização e colonização Geralmente, o excesso de nitrogênio via adubação
da planta hospedeira, que promovam a dispersão proporciona maior conteúdo de aminoácidos livres
dos indivíduos e que afetem a reprodução e a e açúcares na planta, bem como a existência de
sobrevivência dos insetos e ácaros-praga na área tecidos mais tenros, favorecendo, principalmente,
cultivada. Face ao exposto recomenda-se, portanto, ao ataque de insetos sugadores, tais como
a adoção das seguintes medidas: mosca-branca, pulgões e tripes (F. schultzei,
T. palmi, T. tabaci, B. tabaci, M. persicae, M.
– Uso de sementes livres de infestações de insetos e
euphorbiae). Tais aminoácidos e açúcares aceleram
ácaros-praga (controle de A. lycopersici, A. tulipae,
T. evansi, T. marianae, T. ludeni, T. urticae, P. latus); o desenvolvimento dos insetos e aumentam sua
taxa reprodutiva, ocasionando surtos populacionais.
– Produção de mudas em viveiros com pedilúvio Os tecidos mais tenros são facilmente atacados
(caixa com cal virgem), antecâmaras e cobertos e digeridos pelas pragas, resultando em maiores
com telas (com malha máxima de 0,239 mm) à infestações e perdas na produção (demais espécies
prova de insetos sugadores (controle de A. gossypii, de pragas);
B. brassicae, B. tabaci, F. schultzei, M. persicae, M.
euphorbiae, T. tabaci, T. palmi); – Manejo adequado da irrigação de forma a
favorecer o estabelecimento rápido das plantas,
– Instalação do viveiro em local distante dos evitando-se o estresse hídrico, uma vez que plantas
plantios comerciais ou de plantios abandonados e sob estresse hídrico mostram-se mais suscetíveis ao
sempre longe do local definitivo de plantio (controle ataque de pragas (controle de todas as espécies de
de todas as espécies de pragas); pragas);

– Uso de cultivares de ciclo curto e adequação da – Cobertura do solo com superfície refletora de
época de plantio para a região, visando o escape da raios ultravioletas (casca de arroz ou palha), para
cultura de picos populacionais das pragas (controle dificultar a colonização dos pulgões e da mosca-
de todas as espécies de pragas); branca (controle de A. gossypii, B. brassicae, B.
– Isolamento dos talhões por data e área, evitando- tabaci, M. persicae, M. euphorbiae);
se o escalonamento de plantio (controle de todas as
– Uso de irrigação por pivô central ou por aspersão
espécies de pragas);
convencional para controle mecânico de pulgões (A.
– Preparo antecipado do solo para plantio (controle gossypii, B. brassicae, M. persicae, M. euphorbiae),
de A. ipsilon; D. speciosa, H. armigera, H. zea; S. de tripes (F. schultzei, T. palmi, T. tabaci), de
frugiperda); ácaros (A. lycopersici, A. tulipae, T. evansi, T.
ludeni, T. marianae, T. urticae, P. latus), de lagartas
– Plantio de talhões novos sempre no sentido pequenas (H. armigera, H. zea, S. frugiperda) e de
contrário ao vento dominante, para desfavorecer o mosca-branca (B. tabaci), presentes nas folhas da
deslocamento das pragas dos talhões velhos para os região superior das plantas;
novos (controle de todas as espécies de pragas);
– Eliminação imediata de plantas com sintomas
– Implantação de barreiras vivas permanentes ou de viroses, para reduzir o progresso da doença na
quebra-ventos (capim elefante ou cana-de-açúcar) lavoura (visa controlar a doença na área);
24 Manejo Integrado de Pragas: Estratégias e Táticas de Manejo para o Controle de
Insetos e Ácaros-praga em Hortaliças

– Eliminação de ervas daninhas e plantas silvestres o calendário de plantio e a época de colheita do


que sejam hospedeiras alternativas de pragas e tomateiro para processamento industrial, além da
fontes de inóculo de viroses das culturas, localizadas obrigatoriedade de destruição de restos culturais
nas proximidades da área (antes da implantação com vistas à redução da infestação de T. absoluta.
da cultura) e daquelas presentes no interior e nas
bordaduras do cultivo. A eliminação dessas plantas c) Controle biológico
contribui para a quebra do ciclo biológico das
O uso dos inimigos naturais no controle de pragas
pragas e para a redução da incidência das viroses,
é conhecido como controle biológico e se baseia
minimizando os prejuízos causados às culturas;
na regulação natural das populações de insetos
– Evitar a entrada de pessoas, veículos e caixas e ácaros que se alimentam de plantas. Dentre as
sujas nas áreas de cultivo. Busca-se, com essa diversas táticas que podem ser utilizadas no MIP,
medida, impedir o transporte de organismos-praga o controle biológico é considerado uma ferramenta
(insetos, ácaros e doenças) (todas as espécies de importante, pois se baseia no uso dos inimigos
pragas) oriundos de áreas contaminadas para o naturais para manter as populações das pragas em
interior da lavoura, interferindo na dispersão das níveis toleráveis, de maneira sustentável.
pragas e na disseminação de doenças;
Inimigos naturais são organismos que, para
– Destruição e incorporação de restos culturais e de completarem seu desenvolvimento, se alimentam das
cultivos abandonados ou com ciclo interrompido. pragas. Os inimigos naturais mais conhecidos são
Com essa medida, se elimina a população os predadores (joaninhas, vespas, bichos lixeiros,
remanescente de pragas (todas as espécies de etc.), que se alimentam de inúmeros indivíduos de
pragas) na área e se reduz o deslocamento desses uma ou de várias espécies de praga. Os parasitoides
organismos da lavoura mais velha para a mais nova; pertencem à outra categoria de inimigos naturais
e, em sua maioria, são vespas diminutas que se
– Eliminação de plantas voluntárias, oriundas de desenvolvem no interior ou sobre o corpo da praga.
cultivos anteriores (tigueras), antes do novo plantio Além desses agentes existem microrganismos como
na mesma área de cultivo. Visa-se interromper fungos, bactérias, vírus e nematoides, que causam
o ciclo de desenvolvimento das pragas (todas doenças e matam as pragas quando estas alcançam
as espécies de pragas) e reduzir seus níveis grandes populações no cultivo.
populacionais, bem como as fontes de inóculo de
viroses que ocorrem na cultura. O controle biológico pode ser dividido em natural
(conservativo) e aplicado (inoculativo ou inundativo).
b) Controle legislativo O controle biológico natural baseia-se no uso de
táticas conservacionistas de controle para preservar
Consiste em medidas de controle, preventivas
e/ou aumentar as populações de inimigos naturais
ou não, sempre embasadas em dispositivos
nativos, já presentes no agroecossistema, para que
legais (decretos, instruções normativas, portarias
possam manter os níveis populacionais das pragas
e resoluções). Procura normatizar datas de
abaixo do NDE. Já o controle biológico aplicado
plantio, impedir o escalonamento inadequado de
baseia-se na multiplicação de inimigos naturais
plantios, garantir a eliminação de restos culturais
em biofábricas para liberações inoculativas ou
e a existência de períodos livres de cultivo (vazio
inundativas em casas-de-vegetação ou no campo,
sanitário), bem como implementar medidas de
no momento em que a praga começa a colonizar a
mitigação de risco de pragas quarentenárias.
cultura ou quando atingir o NC. Assim, o produtor
Um dos primeiros casos de controle legislativo pode tirar proveito do controle biológico natural
aplicado ao tomateiro, por exemplo, foi por meio preservando e maximizando a ação dos inimigos
da publicação da Portaria no 53, de 27/02/1992, do naturais já existentes no agroecossistema (controle
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento biológico conservativo), por meio de táticas como:
(MAPA), dirigida aos perímetros irrigados do 1) manutenção do solo recoberto por vegetação ou
Submédio do Vale do São Francisco e a áreas por cobertura morta, por exemplo, ao se adotar o
irrigadas de municípios adjacentes nos Estados de plantio direto sobre palhada de milho ou milheto; 2)
Pernambuco e da Bahia, visando ao controle da uso de barreiras vivas nas bordaduras do cultivo; 3)
traça-do-tomateiro. Nesta portaria ficou estabelecido preservação das matas nativas próximas à cultura,
Manejo Integrado de Pragas: Estratégias e Táticas de Manejo para o Controle de 25
Insetos e Ácaros-praga em Hortaliças

as quais atuam como ilhas de reposição de inimigos coleta, manuseio e eliminação das lesmas e caracóis
naturais; 4) uso de inseticidas e acaricidas biológicos devem ser realizados com as mãos protegidas por
contendo microrganismos patogênicos às pragas; luvas ou sacos plásticos. Ao final da realização
5) uso de inseticidas e acaricidas químicos seletivos desta atividade, devem-se descartar as luvas e lavar
aos inimigos naturais; e, 6) aplicação seletiva de bem as mãos; 2) a utilização de restos de hortaliças,
inseticidas e acaricidas químicos (pulverização tais como talos, folhas, dentre outros, sobre jornais
apenas nos focos de infestação; produtos de ação e lonas plásticas, também serve como atrativos às
sistêmica, aplicados na etapa de viveiro). Tais táticas lesmas e caracóis; 3) alternativamente, pode-se
beneficiam a ocorrência e ação de diversos inimigos fazer uso de iscas colocadas dentro de caixas ou
naturais das pragas nas mais variadas culturas. latas destampadas, as quais são enterradas à altura
da superfície do solo. Pode-se utilizar como isca
d) Controle comportamental cerveja ou uma hortaliça, como o chuchu, misturada
As táticas comportamentais para o manejo dessas com sal. As lesmas e os caracóis são atraídos pela
pragas se baseiam no uso de armadilhas contendo isca contida dentro da caixa ou lata, bem como pela
iscas, visando à coleta e posterior controle desses ausência de luz e morrem pela ação do sal presente
organismos. no fundo do recipiente; 4) pode-se, também, realizar
a distribuição uniforme de pedaços crus de abóbora
– Uso de plantas iscas pulverizadas com solução ou chuchu na área cultivada, no final da tarde,
à base de açúcar ou melaço misturados com um procedendo-se, na manhã do dia seguinte, à coleta
inseticida, visando ao controle comportamental da das lesmas e caracóis atraídos; 5) por fim, pode-se
praga, associado ao controle químico (controle de fazer aplicação de cal extinta, em faixas de cerca
A. ipsilon); de 20 cm de largura, ao redor da cultura, após a
ocorrência de chuvas ou semanalmente, visando ao
– Algumas cucurbitáceas (Ceratosanthes hilariana controle dessas pragas.
– raiz; Cayaponia martiana – folhas), por conterem
uma substância atrativa chamada cucurbitacina, e) Controle químico
podem ser utilizadas como iscas (20 iscas/ha) para
o controle de adultos das vaquinhas (controle de D. O uso de inseticidas e acaricidas químicos tem sido
speciosa), também tratando-se parte de cada isca a principal tática de controle das pragas nas mais
com um inseticida; variadas culturas. Entretanto, o uso indiscriminado
de agrotóxicos tem elevado, substancialmente, o
Algumas opções de controle de lesmas do gênero custo de produção e pode acarretar sérios problemas,
Vaginulus, bem como da espécie de caracol B. como surgimento de populações de pragas
similaris também são descritas a seguir: resistentes aos produtos utilizados, ressurgência da
praga, erupção de pragas secundárias, eliminação
– 1) podem ser utilizados estopas ou panos de de organismos benéficos (polinizadores, inimigos
algodão embebidos em cerveja ou leite e distribuídos naturais e microrganismos decompositores), poluição
sobre a superfície da área cultivada, ao anoitecer. do ambiente, presença de resíduos tóxicos nas
Na manhã do dia seguinte, deve-se coletar as
hortaliças em níveis acima do tolerável e intoxicação
lesmas e caracóis atraídos por essas armadilhas e
dos produtores e consumidores.
que encontram-se abrigados embaixo destas. As
lesmas e caracóis coletados devem ser enterrados Nesse sentido, o controle eficaz dos insetos
em áreas distantes de poços ou cisternas, sendo sugadores vetores de fitoviroses representa
depositada sobre as pragas uma camada de cal o principal desafio para o MIP das hortaliças,
virgem não muito espessa. Todo esse procedimento tendo em vista que, nas áreas com histórico de
descrito deve ser repetido, diariamente, para que alta incidência de viroses, torna-se necessário
se obtenha o controle efetivo desses organismos. o emprego de inseticidas de forma preventiva.
O uso de sal de cozinha depositado sobre o solo ou Contudo, a concepção de que a simples aplicação
sobre a plantação não é recomendado, uma vez que de agrotóxicos para eliminar o inseto vetor é
não apresenta eficiência no controle das pragas e suficiente para o controle das viroses é equivocada,
pode acarretar a contaminação do solo e de águas sendo muito comum se observar cultivos com
superficiais e subterrâneas, além de prejudicar o intensa aplicação de inseticidas para controle de
desenvolvimento das plantas. Os processos de vetores e alta incidência de viroses.
26 Manejo Integrado de Pragas: Estratégias e Táticas de Manejo para o Controle de
Insetos e Ácaros-praga em Hortaliças

O manejo de insetos sugadores vetores de – Evitar o uso indiscriminado de fungicidas, já que


fitoviroses (A. gossypii, B. brassicae, B. tabaci, muitos desses produtos apresentam efeito nocivo
F. schultzei, T. palmi, T. tabaci, M. persicae, M. aos fungos entomopatogênicos que controlam
euphorbiae) deve preconizar várias táticas de insetos sugadores;
controle, adotadas simultaneamente, sendo todas
igualmente importantes. Especial atenção deve ser – Utilizar a dosagem recomendada pelo fabricante
dada na fase de produção de mudas e logo após e a quantidade de água conforme o estádio de
o estabelecimento das plantas no campo ou sob desenvolvimento de cada cultura, tendo atenção ao
cultivo protegido, para se evitar a infecção precoce período de carência do produto;
das fitoviroses. A produção de mudas deve ser feita
– Evitar a aplicação de mistura de inseticidas;
em locais protegidos contra os vetores, juntamente
com a aplicação de inseticidas de ação sistêmica via – Utilizar espalhante adesivo;
pulverização, por meio da imersão de sementeiras
ou ainda na forma de esguicho (“drench”). Para as – Ter cuidado com a fitotoxidez de inseticidas e
demais pragas, o controle químico somente deve ser acaricidas à cultura;
utilizado quando ocorrerem infestações que possam
acarretar perdas econômicas, adotando-se para – Utilizar, de forma alternada, produtos (inseticidas
isso o monitoramento das pragas com armadilhas ou acaricidas) de diferentes grupos químicos,
e a inspeção periódica direta das plantas. Para o levando-se em consideração seu modo de ação,
controle de lagartas (S. frugiperda, H. armigera, H. o estádio/estágio de desenvolvimento da praga
zea, A. ipsilon) recomenda-se utilizar inseticidas e a fase fenológica da cultura, de forma a evitar
de contato e de ação sistêmica e, se possível, os a ocorrência de resistência das pragas aos
produtos devem ser aplicados de forma seletiva, ou compostos. Para insetos sugadores (A. gossypii, B.
seja, primeiramente nas bordaduras do cultivo e nos brassicae, B. tabaci, F. schultzei, M. persicae, M.
focos de infestação, geralmente em reboleiras. euphorbiae, T. palmi, T. tabaci), cada produto deve
ser utilizado por um período de, no máximo, 21 dias
Quando do uso de inseticidas e acaricidas químicos, (três semanas), de modo a atuar apenas sobre uma
algumas precauções, a seguir descritas, devem geração da praga, sendo substituído por outro, caso
ser tomadas para que se alcance a eficiência seja necessário dar continuidade às pulverizações.
de controle desejada, causando o mínimo de Considerando este mesmo critério, no caso de
desequilíbrio biológico e evitando-se o surgimento lagartas (S. frugiperda, H. zea), o inseticida químico
de populações de pragas resistentes aos produtos. ou biológico deve ser empregado por um período de
até 28 dias (quatro semanas);
– Utilizar apenas os produtos registrados no MAPA
(consultar http://agrofit.agricultura.gov.br/agrofit_ – Realizar pulverizações com velocidade do vento
cons/principal_agrofit_cons) para cada cultura e variando entre 3 km/h e 10 km/h; de modo prático,
alvo-biológico; sugere-se realizar aplicações de inseticidas e
acaricidas quando da ocorrência de brisas leves (as
– Selecionar o inseticida por modo de ação e
folhas das plantas oscilam) ou de vento leve (as
grupo químico, tendo como referência o estágio de
desenvolvimento predominante da praga-alvo que folhas e ramos mais finos das plantas permanecem
for constatado a partir do monitoramento; em constante movimento); alternativamente, pode-
se medir a velocidade do vento por meio de um
– Dar preferência para produtos que sejam seletivos anemômetro, de modo a identificar a condição ideal
aos inimigos naturais e polinizadores e pouco do vento para realizar a aplicação de agrotóxicos;
tóxicos ao homem;
– As aplicações devem ser realizadas entre 6:00h
– Evitar o uso de produtos de amplo espectro e 9:00h ou partir das 17:00h, para se evitar rápida
de ação, como inseticidas piretroides e evaporação da água e a degradação dos produtos;
organofosforados, no inicio do ciclo da cultura, pois deve-se lembrar que a temperatura máxima
estes compostos provocam grande distúrbio no recomendada para aplicação de agrotóxicos deve
agroecossistema devido à elevada mortalidade que variar entre 27°C e 30°C;
causam aos inimigos naturais;
Manejo Integrado de Pragas: Estratégias e Táticas de Manejo para o Controle de 27
Insetos e Ácaros-praga em Hortaliças

– Ao aplicar inseticidas não sistêmicos, certificar- Referências


se de que as folhas, flores e frutos tenham boa
cobertura, lembrando sempre que insetos sugadores ANVISA. Programa de análise de resíduos de
(A. gossypii, B. brassicae, B. tabaci, F. schultzei, agrotóxicos em alimento (PARA): relatório
M. persicae, M. euphorbiae, T. palmi, T. tabaci) e complementar relativo à segunda etapa das
as lagartas (S. frugiperda, H. zea) permanecem na análises de amostras coletadas em 2012.
região inferior da folha e em locais sombreados; Brasília: Anvisa, 2014. 33 p. Disponível em:
<http://portal.anvisa.gov.br/wps/wcm/connect/
– Manter os equipamentos de aplicação em boas d67107004634368583a5bfec1b28f937/Relat%
condições de trabalho (pressão de aspersão C3%B3rio+PARA+2012+2%C2%AA+Etapa+-
recomendada, bicos adequados e bem regulados), +17_10_14-Final.pdf?MOD=AJPERES>. Acesso
garantindo a aplicação do produto na dosagem em: 21 nov. 2014.
correta;
_____. Programa de análise de resíduos de
– No manuseio dos agrotóxicos deve-se sempre agrotóxicos em alimentos (PARA): relatório
utilizar o equipamento de proteção individual (EPI) de atividades de 2011 e 2012. Brasília:
e seguir todas as recomendações constantes nas Anvisa, 2013. 45p. Disponível em: < http://
bulas dos produtos e no receituário agronômico; e, portal.anvisa.gov.br/wps/wcm/connect/
d480f50041ebb7a09db8bd3e2b7e7e4d/
– Sempre consultar um engenheiro agrônomo para
Relat%C3%B3rio%2BPARA%2B2011-12%2B-
obtenção de um receituário agronômico, contendo o
%2B30_10_13_1.pdf?MOD=AJPERES>. Acesso
produto mais indicado e recomendações de uso para
em: 06 jun. 2014.
cada praga, cultura e situação.
_____. Programa de análise de resíduos de
agrotóxicos em alimentos (PARA): relatório
Considerações finais
de atividades de 2010. Brasília: Anvisa,
Considerando-se o que foi apresentado nesta 2010. 26 p. Disponível em: < http://
publicação, verifica-se que problemas de ordem portal.anvisa.gov.br/wps/wcm/connect/
fitossanitária associados às mais variadas espécies b380fe004965d38ab6abf74ed75891ae/
de hortaliças, como a ocorrência de insetos e Relat%C3%B3rio+PARA+2010+-
ácaros-praga, podem resultar em importantes perdas +Vers%C3%A3o+Final.pdf?MOD=AJPERES>.
econômicas e afetar significativamente essa atividade Acesso em: 12 ago. 2013.
agrícola. Nesse sentido, o desenvolvimento e a
BACCI, L.; PICANÇO, M. C.; FERNANDES, F.
implementação, em nível regional, de um programa
L.; SILVA, N. R.; MARTINS, J. C. Estratégias
eficiente de MIP mostram-se de essencial
e táticas de manejo dos principais grupos de
importância, pois, somente assim, será possível suprir
ácaros e insetos-praga em hortaliças no Brasil. In:
a crescente demanda pela produção de hortaliças
ZAMBOLIM, L.; LOPES, C. A.; PICANÇO, M. C.;
de elevada qualidade e livres de contaminantes e,
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ao mesmo tempo, respeitar o ambiente e a saúde do
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consumidor e do trabalhador rural.
CARVALHO, G. A.; ZANETTI, R.; SILVA, A. L.;
Entretanto, também não se pode negar o MOURA, A. P.; VILELA, F. Z. Manejo integrado de
crescimento observado na produtividade dos mais pragas de hortaliças. Lavras: UFLA: FAEPE, 2004.
variados produtos agrícolas, proporcionado, dentre 69 p.
outros motivos, pela utilização de agrotóxicos
no combate às pragas. Contudo, conforme está INÁCIO, A. Venda de defensivos bate recorde no
previsto na filosofia do MIP, deve-se fazer uso Brasil. Jornal Valor Econômico, São Paulo, 17 fev.
mínimo de tais substâncias e somente em caráter 2011. Caderno B, p. 12.
emergencial, bem como por meio da integração
FARIAS, R. M.; MARTINS, C. R. Produção integrada
de práticas de manejo das culturas, de forma a
de frutas. Revista da Faculdade de Zootecnia,
se produzir alimentos, notadamente hortaliças, de
Veterinária e Agronomia, Uruguaiana, v. 9, n. 1, p.
melhor qualidade, respeitando o ambiente e a saúde
94-106, 2002.
do consumidor e do trabalhador rural.
28 Manejo Integrado de Pragas: Estratégias e Táticas de Manejo para o Controle de
Insetos e Ácaros-praga em Hortaliças

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Circular Embrapa Hortaliças Comitê de Presidente: Warley Marcos Nascimento

Técnica, 141 Endereço: Rodovia BR-060, trecho Brasília-Anápolis, Publicações Editor Técnico: Ricardo Borges Pereira
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1ª edição Expediente Supervisor editorial: George James


Normalização bibliográfica: Antonia Veras
1ª impressão (2015): 1.000 exemplares
Editoração eletrônica: André L. Garcia

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