Manejo Integrado de Pragas (MIP) Na Cultura Da Soja: Um Estudo de Caso Com Benefícios Econômicos e Ambientais
Manejo Integrado de Pragas (MIP) Na Cultura Da Soja: Um Estudo de Caso Com Benefícios Econômicos e Ambientais
Manejo Integrado de Pragas (MIP) Na Cultura Da Soja: Um Estudo de Caso Com Benefícios Econômicos e Ambientais
Junho / 2018
143
DOCUMENTOS 143
Viviane Santos
Bióloga, Dra. em Entomologia, professora do Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso do Sul, Campus
Dourados, MS.
Apresentação
Mais do que um conceito, o Manejo Integrado de Pragas (MIP) é uma
importante ferramenta de auxílio a ações estratégicas no controle de pragas,
com base em qualificado conhecimento científico, que muito pode contribuir
para a sustentabilidade econômica e ambiental da atividade agrícola.
Resultados obtidos........................................................................................16
Agradecimentos ............................................................................................41
Referências ...................................................................................................41
9
Introdução
A soja pode ser atacada por pragas, desde a emergência das plantas até a fase
de maturação fisiológica. Essas pragas são classificadas como de importância
primária, regional ou secundária, em função da sua frequência e abrangência
de ocorrência e do potencial de danos que causam na cultura (Hoffmann-
Campo et al., 2000; Ávila et al., 2003). Os problemas se iniciam com a presença
de lagartas na cobertura a ser dessecada (ex.: lagarta-do-cartucho ou lagarta-
rosca) e os insetos de solo (ex.: corós e percevejos-castanhos), seguidos pelas
pragas de superfície (ex.: elasmo, piolho-de-cobra, lesmas e caracóis), que
atacam especialmente as plântulas. Em seguida, vêm os besouros e as
lagartas (ex.: vaquinhas, lagarta-da-soja, lagarta-falsa-medideira, lagarta-das-
maçãs), que se alimentam de folhas, flores e até mesmo de vagens, e
finalmente os sugadores (ex.: mosca-branca e percevejos), que atacam as
folhas ou os grãos em formação (Tecnologias..., 2013).
Resultados obtidos
Área de Caarapó – safra 2014/ 2015
3,0
2,5
2,0
1,5
1,0
0,5
0,0
Spodoptera Percevejos Larva- Percevejo- Lagria Elasmopalpus
frugiperda arame castanho villosa lignosellus
14,0
12,0
a a
10,0
8,0
6,0
4,0
2,0
0,0
Área do MIP Área do produtor
1,4
1,2
a
1,0
0,8
0,6
0,4 a
0,2
0,0
Área do MIP Área do produtor
120
100
80
60
40
20
0
ut
.
ut
. v. v. ov
.
ov
. z. ez
.
ez
.
ez
.
ez
. n. n. n. n. v. v. v.
no no de ja /ja /ja /ja fe /fe /fe
/o /o 5/ / /n /n 3/ /d /d /d /d 8/ 14 21 28 4/ 12 19
22 29 11 19 26 12 17 24 31
Safra 2014/2015
100 90,7
90
80
70
Percentagem (%)
60
50
40
30
20
7,7
10 0,8 0,2 0,6
0
Anticarsia Helicoverpa sp. Chrysodeixis Heliothis Spodoptera
gemmatalis includens virescens frugiperda
95,4
100,0
90,0
80,0
70,0
Percentagem (%)
60,0
50,0
40,0
30,0
20,0
10,0 3,8
0,6 0,2 0,0
0,0
Anticarsia Helicoverpa sp. Chrysodeixis Heliothis Spodoptera
gemmatalis includens virescens frugiperda
300
Nº de insetos
250
200
150
100
50
0
ut
.
ut
. v. ov
. v. v. z. z. z. z. z. n. n. n. n. v. v. v.
no no no de de de de de ja /ja /ja /ja fe /fe /fe
/o /o 5/ /n / / 3/ / / / / 8/ 14 21 28 4/ 12 19
22 29 12 19 26 10 17 24 31
Safra 2014/2015
150
Nº de insetos
100
50
0
. v. . . . . . . . . . . . . . v. v.
ut no ov nov nov dez dez dez ez ez /jan /jan /jan /jan /fev /fe 9/fe
/o 5/ /n / / 3/ / / /d 1/d 8
29 12 19 26 10 17 24 3 14 21 28 4 12 1
Safra 2014/2015
350
300 Correlação = 0,53*
250
200
150
100
50
0
ut
.
ut
. v. v. v. v. z. z. z. z. z. n. n. n. n. v. v. v.
no no no no de de de de de ja /ja /ja /ja fe fe /fe
/o /o 5/ / / / 3/ / / / / 7/ 14 21 28 4/ 11
/
18
22 29 12 19 26 10 17 24 31
Data dos monitoramentos
Dose Custo
Aplicação Finalidade Produto
(g i.a./ha) (R$/ha)
Total 351,01
24 DOCUMENTOS 143
70
60
Nº de insetos
50
40
30
20
10
0
. . v. . . . . . . . . . . . . . v. v.
ut ut no ov nov nov dez dez dez ez ez /jan /jan /jan /jan /fev /fe 9/fe
/o /o 5/ /n / / 3/ / / /d 1/d 8
22 29 12 19 26 10 17 24 3 14 21 28 4 12 1
Safra 2014/2015
5
4
Nº de insetos
3
2
1
0
. . v. . . . . . . . . . . . . . v. v.
ut ut no ov nov nov dez dez dez ez ez /jan /jan /jan /jan /fev /fe 9/fe
/o /o 5/ /n / / 3/ / / /d 1/d 8
22 29 12 19 26 10 17 24 3 14 21 28 4 12 1
Safra 2014/2015
SUPERIOR
MEDIANA
INFERIOR
Figura 13. Papéis sensíveis instalados nas plantas de soja antes das pulverizações, à
esquerda, e deposição da calda nos papéis sensíveis após as pulverizações, à direita.
Safra 2014/2015. Caarapó, MS.
Economia/ha R$ 53,59
34,7
35,0
30,0
25,0
Parasitismo (%)
18,2
20,0
15,0
10,0
5,0
0,0
0,0
Ovos de percevejos Adultos de percevejos Lagartas (várias espécies)
Figura 16. Ovos de Euschistus heros parasitados por Telenomus podisi na área do
Manejo Integrado de Pragas (MIP). Safra 2014/2015. Caarapó, MS.
30
25
20
15
10
5
0
ut
.
ut
. v. v. v. v. z. z. z. z. z. n. n. n. n. v. v. v.
no no no no de de de de de ja /ja /ja /ja fe /fe /fe
/o /o 5/ / / / 3/ / / / / 8/ 14 21 28 4/ 12 19
22 29 12 19 26 10 17 24 31
Safra 2014/2015
7,0
6,0
5,0
4,0
3,0
2,0
1,0
0,0
t. v. v. v. v. z. z. z. z. z. n. n. n. n. v. v. v.
/ou no no no no de de de de de 8/
ja /ja /ja /ja 4/
fe /fe /fe
29 5/ 12
/
19
/
26
/ 3/ 10
/
17
/
24
/
31
/
14 21 28 12 19
Safra 2014/2015
60,0
50,0
a
40,0
30,0
b
20,0
10,0
0,0
Área do MIP Área do produtor
Figura 19. Rendimento de grãos de soja na área do Manejo Integrado de Pragas (MIP)
e na área do produtor. Safra 2014/2015. Caarapó, MS(1).
(1)
Em barras seguidas de mesma letra, os valores não diferem pelo teste de t (p < 0,05).
150
100
50
0
v. v. z. z. z. z. z. n. n. n. v. v. v. ar
.
no no de de de de de ja /ja /ja fe /fe /fe
/ / 4/ / / / / 7/ 19 27 4/ 12 27 2/
m
19 26 11 17 23 30
Safra 2015/2016
Figura 20. Mariposas capturadas nas armadilhas iscadas com feromônio sexual
durante o período de monitoramento na área do Manejo Integrado de Pragas (MIP).
Safra 2015/2016. Dourados, MS.
32 DOCUMENTOS 143
200
Número de insetos
Correlação = 0,61*
150
100
50
0
ov
.
ov
. z. z. ez
.
ez
.
ez
. n. n. n. v. v. v. ar
.
de de ja /ja /ja fe /fe /fe
/n /n 4/ / /d /d /d 7/ 19 27 4/ 12 27 2/
m
19 26 11 17 23 30
Datas de amostragens
Com base nos dados de amostragens de lagartas com o pano de batida, foram
tomadas as decisões de aplicação ou não de inseticidas para o controle
dessas pragas na área do MIP. Além das lagartas de C. includens, as lagartas
de Spodoptera cosmioides foram também abundantes na área do MIP (Figura
22) e na área do produtor (Figura 23). O pico de abundância das lagartas na
soja ocorreu em 7 de janeiro de 2016, tanto na área do MIP como na área do
produtor rural, período este em que a soja encontrava-se no estádio inicial de
desenvolvimento de vagens (R3).
Manejo Integrado de Pragas (MIP) na Cultura da Soja 33
80,0
70,1
70,0
60,0
Porcentagem (%)
50,0
40,0
29,8
30,0
20,0
10,0
0,0 0,1
0,0
Anticarsia Chrysodeixis Helicoverpa Spodoptera
gemmatalis includens armigera cosmioides
Figura 22. Proporção das diferentes espécies de lagartas capturadas pelo método do
pano-de-batida, na área do Manejo Integrado de Pragas (MIP). Safra 2015/2016.
Dourados, MS.
68,8
70,0
60,0
Porcentagem (%)
50,0
40,0
31,0
30,0
20,0
10,0
0,3 0,0
0,0
Anticarsia Chrysodeixis Helicoverpa Spodoptera
gemmatalis includens armigera cosmioides
Figura 23. Proporção das diferentes espécies de lagartas capturadas pelo método do
pano-de-batida, na área do produtor. Safra 2015/2016. Dourados, MS.
34 DOCUMENTOS 143
Para o controle de lagartas na área do MIP, foi realizada apenas uma aplicação
do inseticida clorantraniliprole na dose de 12,0 g i.a./ha (Figura 24 e Tabela 3).
Na área de soja manejada pelo próprio produtor, foram realizadas quatro
aplicações de inseticidas para o controle de lagartas (Figura 25 e Tabela 3),
sendo a primeira para lagartas, com metomil, na dose de 215,0 g i.a./ha; a
segunda com a mistura de lufenurom + profenofós, na dose de 20,0 g i.a./ha e
200 g i.a./ha, respectivamente; a terceira com o inseticida espinetoram, na
dose de 12,0 g i.a./ha, e a quarta com a mistura metomil + espinetoram, nas
doses de 215,0 g i.a./ha e 12,0 g i.a./ha, respectivamente (Tabela 3).
250
Nº de lagartas
200
150
100
50
0
v. v. z. z. z. z. z. n. n. n. v. v. v. ar
.
no no de de de de de ja /ja /ja fe fe fe
/ / 4/ / / / / 7/ 19 27 4/ 17
/
27
/
2/
m
19 26 11 17 23 30
Safra 2015/2016
Figura 24. Lagartas grandes, pequenas e totais capturadas pelo método do pano-de-
batida na área do Manejo Integrado de Pragas (MIP). Safra 2015/2016. Dourados,
MS(1).
(1)
A seta indica o momento da aplicação de inseticida.
Manejo Integrado de Pragas (MIP) na Cultura da Soja 35
Dose Custo
Aplicação Finalidade Produto
(g i.a./ha) (R$/ha)
200
Nº de lagartas
150
100
50
0
v. v. z. z. z. z. z. n. n. n. v. v. v. ar
.
no no de de de de de ja /ja /ja fe /fe /fe
/ / 4/ / / / / 7/ 19 27 4/ 17 27 2/
m
19 26 11 17 23 30
Safra 2015/2016
120
Nº de percevejos
100
80
60
40
20
0
v. v. z. z. z. z. z. n. n. n. v. v. v. ar
.
no no de de de de de ja ja ja fe /fe /fe
/ / 4/ / / / / 7/ 19
/
27
/ 4/ 17 27 2/
m
19 26 11 17 23 30
Safra 2015/2016
200
150
100
50
0
v. v. z. z. z. z. z. n. n. n. v. v. v. ar
.
no no de de de de de ja /ja /ja fe fe fe
/ / 4/ / / / / 7/ 19 27 4/ 17
/
27
/
2/
m
19 26 11 17 23 30
Safra 2015/2016
Economia/ha R$ 125,58
5,0
4,5
4,0
3,5
3,0
2,5
2,0
1,5
1,0
0,5
0,0
v. v. z. z. z. z. z. n. n. n. v. v. v. ar
.
no no de de de de de ja /ja /ja fe /fe /fe
/ / 4/ / / / / 7/ 19 27 4/ 17 27 2/
m
19 26 11 17 23 30
Safra 2015/2016
5,0
4,0
3,0
2,0
1,0
0,0
v. v. z. z. z. z. z. n. n. n. v. v. v. ar
.
no no de de de de de ja /ja /ja fe /fe /fe
/ / 4/ / / / / 7/ 19 27 4/ 17 27 2/
m
19 26 11 17 23 30
Safra 2015/2016
45,0
40,0
35,0
a a
30,0
25,0
20,0
15,0
10,0
5,0
0,0
Área do MIP Área do produtor
Figura 30. Rendimento de grãos de soja na área do Manejo Integrado de Pragas (MIP)
e na área conduzida pelo produtor. Safra 2015/2016. Dourados, MS(1).
(1)
Em barras seguidas de mesma letra, os valores não diferem pelo teste de t (p < 0,05).
Considerações finais
Com base nos resultados de manejo de pragas obtidos nas áreas do Manejo
Integrado de Pragas (MIP) e do produtor, considerando-se as duas safras em
que o estudo foi conduzido, pode-se inferir que o controle de pragas na cultura
da soja, seguindo os princípios e a filosofia do MIP, constitui uma prática que
reconhecidamente traz benefícios econômicos para os produtores rurais. Isto
porque esta estratégia de controle promove redução do número de aplicações
de inseticidas na safra, o que, consequentemente, reduz o custo fitossanitário
da lavoura de soja, garantindo assim maior margem de lucro para o produtor
rural. Em adição, a utilização do MIP na cultura da soja contribui para melhor
controle biológico natural no agroecossistema e reduz a contaminação
ambiental, uma vez que menos produtos são pulverizados anualmente, o que
contribui, indiretamente, para melhoria na qualidade de vida da população.
Manejo Integrado de Pragas (MIP) na Cultura da Soja 41
Agradecimentos
Agradecemos à Fundect pelo financiamento do projeto de pesquisa que gerou
esta publicação e pela concessão da Bolsa de DCR ao segundo autor.
Agradecemos, também, a Alceu Richetti pelo auxílio da análise econômica das
áreas de MIP-Soja; à empresa Du Pont Brasil pela doação dos inseticidas,
especialmente para o controle de lagartas; bem como aos produtores Tochio
Kuanna (Caarapó, MS) e Maicon André Zorzo (Dourados, MS) pela cessão das
áreas para condução do Manejo Integrado de Pragas na cultura da soja.
Referências
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