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Manejo Integrado de Pragas (MIP) Na Cultura Da Soja: Um Estudo de Caso Com Benefícios Econômicos e Ambientais

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ISSN 1679-043X

Junho / 2018

143

Manejo Integrado de Pragas (MIP)


na Cultura da Soja
Um estudo de caso com benefícios
econômicos e ambientais
ISSN 1679-043X
Junho, 2018

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária


Embrapa Agropecuária Oeste
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

DOCUMENTOS 143

Manejo Integrado de Pragas (MIP)


na Cultura da Soja
Um estudo de caso com benefícios
econômicos e ambientais

Crébio José Ávila


Viviane Santos

Embrapa Agropecuária Oeste


Dourados, MS
2018
Todos os direitos reservados.
A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte,
constitui violação dos direitos autorais (Lei nº 9.610).
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Embrapa Agropecuária Oeste

Eli de Lourdes Vasconcelos (CRB-569)


Autores
Crébio José Ávila
Engenheiro-agrônomo, Dr. em Entomologia, pesquisador da
Embrapa Agropecuária Oeste, Dourados, MS.

Viviane Santos
Bióloga, Dra. em Entomologia, professora do Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso do Sul, Campus
Dourados, MS.
Apresentação
Mais do que um conceito, o Manejo Integrado de Pragas (MIP) é uma
importante ferramenta de auxílio a ações estratégicas no controle de pragas,
com base em qualificado conhecimento científico, que muito pode contribuir
para a sustentabilidade econômica e ambiental da atividade agrícola.

Com eficiência e sucesso inegáveis, o MIP consolidou-se na cultura da soja


durante a década de 1980 e contribuiu para a drástica redução no número de
aplicações de inseticidas, com consequente queda nos custos do controle
fitossanitário e na diminuição de impactos ambientais da atividade agrícola.
Entretanto, por motivos diversos, embora consagrado, o MIP-Soja tem sido
abandonado.

O extenso conhecimento atualmente disponível sobre novas táticas de


controle de pragas, aliadas àquelas utilizadas e consagradas nos anos áureos
do MIP-Soja, reforçam a possibilidade de sucesso no manejo de pragas da
soja com ganhos econômicos e sustentabilidade ambiental, bastando para
isso a desejável percepção e o necessário engajamento da assistência técnica
e dos produtores rurais para o sucesso do MIP.

Esta publicação contempla resultados de estudos de casos de sucesso do


MIP-Soja em dois municípios de Mato Grosso do Sul, que evidenciam os
benefícios técnicos, relacionados à eficiência do manejo; econômicos, pela
redução do número de aplicação de inseticidas; e ambientais, justificando sua
adoção. Esperamos, assim, que este documento contribua para o
aprimoramento dos sistemas de produção, em benefício da agricultura e da
sociedade como um todo.

Guilherme Lafourcade Asmus


Chefe-Geral
Sumário
Introdução .......................................................................................................9

Localização e época de condução do MIP–Soja e avaliações realizadas ....12

Monitoramento de pragas iniciais ............................................................12

Monitoramento de pragas desfolhadoras e de brocas.............................13

Monitoramento de pragas que atacam vagens e grãos...........................14

Monitoramento de predadores e de parasitoides de lagartas e de


percevejos................................................................................................15

Análise econômica do manejo de pragas no projeto ...............................15

Resultados obtidos........................................................................................16

Área de Caarapó – safra 2014/2015........................................................16

Área de Dourados – safra 2015/2016......................................................30

Considerações finais .....................................................................................40

Agradecimentos ............................................................................................41

Referências ...................................................................................................41
9

Introdução
A soja pode ser atacada por pragas, desde a emergência das plantas até a fase
de maturação fisiológica. Essas pragas são classificadas como de importância
primária, regional ou secundária, em função da sua frequência e abrangência
de ocorrência e do potencial de danos que causam na cultura (Hoffmann-
Campo et al., 2000; Ávila et al., 2003). Os problemas se iniciam com a presença
de lagartas na cobertura a ser dessecada (ex.: lagarta-do-cartucho ou lagarta-
rosca) e os insetos de solo (ex.: corós e percevejos-castanhos), seguidos pelas
pragas de superfície (ex.: elasmo, piolho-de-cobra, lesmas e caracóis), que
atacam especialmente as plântulas. Em seguida, vêm os besouros e as
lagartas (ex.: vaquinhas, lagarta-da-soja, lagarta-falsa-medideira, lagarta-das-
maçãs), que se alimentam de folhas, flores e até mesmo de vagens, e
finalmente os sugadores (ex.: mosca-branca e percevejos), que atacam as
folhas ou os grãos em formação (Tecnologias..., 2013).

No início da década de 1970, antes da implementação dos trabalhos de


Manejo Integrado de Pragas (MIP) na cultura da soja, eram realizadas de seis
a sete aplicações de inseticidas durante o ciclo da cultura (Gazzoni, 1994). A
partir de 1975, iniciaram-se os trabalhos de MIP-Soja no Brasil por meio de
parceria envolvendo diferentes instituições de pesquisa e de extensão rural
(Panizzi et al., 1977). Após a determinação dos níveis de dano para as
principais pragas desfolhadoras e sugadoras na cultura, passou-se a
recomendar o uso de inseticidas apenas quando fosse necessário, ou seja,
quando as populações das pragas estivessem iguais ou acima do nível de
controle. Após alguns anos, aquele quadro alarmante do uso de inseticidas nas
lavouras de soja foi revertido para uma média de apenas duas aplicações por
safra. Na década de 1980, foi desenvolvido o controle biológico da lagarta da
soja por meio do uso do Baculovirus anticarsia (Moscardi, 1983), que
impulsionou ainda mais o MIP-Soja no Brasil. Nos anos 1990, uma nova tática
de manejo foi também incluída no MIP da soja, que foi o controle biológico dos
percevejos fitófagos por meio do uso de parasitoides de ovos (Corrêa-Ferreira,
1993).
10 DOCUMENTOS 143

A implementação do MIP reduziu em mais de 50% o uso de inseticidas nas


lavouras, sem quebra no rendimento de grãos da cultura (Gazzoni, 1994).
Todavia, especialmente na última década, tem-se observado um retrocesso
nos programas de manejo de pragas da soja, ou até, em muitas situações, de
abandono dessa estratégia, retornando novamente a um aumento excessivo
de aplicações de inseticidas nas lavouras, com consequências indesejáveis
dos pontos de vista econômico, ecológico e ambiental. Neste novo cenário, os
inseticidas deixaram de ser usados com base na população de pragas
amostradas nas lavouras, desrespeitando-se os níveis de ação preconizados
pela pesquisa, passando as pulverizações a serem realizadas com base em
critérios subjetivos, sendo muitas vezes as aplicações de inseticidas
programadas com base em calendários. Com o advento da soja transgênica
RR, resistente ao herbicida glifosato, que é recomendado para o controle de
plantas daninhas em pós-emergência na cultura, e com a chegada da
ferrugem-asiática no Brasil em 2001, a aplicação de herbicidas e de fungicidas
nas lavouras de soja teve um incremento acentuado (James, 2006). Muitas
vezes, os inseticidas têm sido aplicados na cultura em misturas de tanque com
herbicidas e/ou fungicidas, com o intuito de aproveitar a operação agrícola,
sem qualquer análise crítica da viabilidade ou não do uso dessas misturas.
Esse incremento do uso de fungicidas e herbicidas na soja, em adição às
aplicações de inseticidas de amplo espectro na cultura, tem contribuído para o
desequilíbrio biológico no agroecossistema, em consequência da mortalidade
dos inimigos naturais dos insetos-praga (Sosa-Gómez et al., 2003; Carmo et
al., 2008). Esse desequilíbrio biológico tem condicionado o aparecimento
frequente de ressurgências das pragas principais (lagartas e percevejos), bem
como de erupção de pragas secundárias, como é o exemplo da lagarta-falsa-
medideira, Chrysodeixis includens, a lagarta-das-maçãs, Heliothis virescens,
o complexo de Spodoptera e de ácaros (Ávila et al., 2003). No ano de 2013
também foi constatada a presença da lagarta Helicoverpa armigera atacando
plantas de soja em vários estados brasileiros (Czepak et al., 2013). Esta
espécie era antes mencionada como praga quarentenária no País, mas é
considerada uma das principais pragas que ataca diferentes hospedeiros em
diversos países (Ávila et al., 2013). Em adição a isso, tem-se constatado o
desenvolvimento de resistência dos percevejos fitófagos aos inseticidas
químicos mais comuns aplicados na soja (Sosa-Gómez et al., 2001),
Manejo Integrado de Pragas (MIP) na Cultura da Soja 11

acentuando-se os casos de insucesso de controle desse grupo de pragas na


cultura.

Diante desse cenário, há necessidade urgente de se desenvolver, atualizar


e/ou adequar novos conceitos e estratégias para o controle de pragas na soja,
visando resgatar o manejo integrado na cultura, para que se possa usufruir dos
seus benefícios. O MIP pode garantir um controle efetivo e organizado de
pragas na cultura da soja, minimizar o impacto ambiental dos produtos
químicos aplicados nas lavouras, proporcionar maior eficiência do controle
biológico natural no agroecossistema e, consequentemente, reduzir o custo de
produção na cultura (Chandler; Faust, 1998; Conte et al., 2015).

A possibilidade de sucesso da implementação do manejo de pragas na cultura


da soja é grande, especialmente em função da enorme quantidade de
informações e de táticas de controle disponíveis para o manejo desses
organismos no agroecossistema de soja. Dentre essas tecnologias, destacam-
se os níveis de ação estabelecidos pela pesquisa, especialmente para lagartas
e percevejos, os métodos efetivos de amostragens e de monitoramento das
pragas e de inimigos naturais, o controle biológico natural e aplicado na cultura,
a disponibilidade de produtos químicos e biológicos seletivos para serem
aplicados quando for realmente necessário, além das plantas transgênicas Bt
que expressam proteínas que são tóxicas, especialmente para lepidópteros. A
execução de um manejo organizado e efetivo na cultura pode proporcionar
benefícios econômicos, ecológicos e sociais na região em que o programa for
executado.

Este trabalho teve como objetivos estabelecer o monitoramento e o manejo


integrado dos insetos-praga e de seus inimigos naturais na soja, bem como
realizar a análise econômica dos custos e benefícios dessa estratégia de
controle de pragas na cultura.
12 DOCUMENTOS 143

Localização e época de condução do MIP–Soja e


avaliações realizadas
O trabalho de MIP foi conduzido durante duas safras consecutivas de soja,
sendo um na safra 2014/2015, no município de Caarapó, e outro na safra
2015/2016, no município de Dourados, ambos no estado de Mato Grosso do
Sul (MS). Em Caarapó, o trabalho foi conduzido em uma área de
aproximadamente 70 hectares, sendo que a propriedade situa-se no Distrito
de Cristalina (S22º31'22.4”, W054º46'14.7”), enquanto em Dourados a área foi
de 25 hectares, sendo a propriedade localizada no Distrito de Indápolis
(S22º10'828", W045º31'338"). Duas áreas comparativas foram também
manejadas segundo as orientações do produtor, e não tiveram interferência da
equipe do MIP, sendo uma de 50 hectares, em Caarapó, e outra de
20 hectares, em Dourados.

Na primeira safra (2014/2015), a semeadura da soja foi realizada em 10 de


outubro de 2014, utilizando-se 250 kg/ha do adubo 0-20-20 (N-P-K) no plantio
e sementes da cultivar Dom Mario II (Magna). Na segunda safra (2015/2016), a
semeadura foi realizada no dia 7 de novembro de 2015 com a cultivar Syn 1059
(Vtop), utilizando-se 150 kg/ha do adubo 08-40-00 (N-P-K), acrescido de
100 kg/ha de potássio (K2O), aplicado em cobertura. Em ambas as safras, as
sementes utilizadas na área em que foi conduzido o MIP foram tratadas com o
inseticida clorantraniliprole, na dose de 0,625 g i.a./kg de sementes, enquanto
na área do produtor as sementes foram tratadas com fipronil, na dose de
5 g i.a./kg de sementes. As demais práticas agronômicas de implantação e
condução das lavouras foram realizadas conforme as recomendações
técnicas da Comissão de Pesquisa de Soja da Região Central do Brasil
(Tecnologias..., 2013).

Monitoramento de pragas iniciais

A fim de garantir um manejo efetivo de pragas iniciais na cultura da soja, foi


realizado o monitoramento desse grupo de pragas, antes mesmo da
instalação da cultura na área a ser manejada. Na área de Caarapó havia
apenas resteva de milho do cultivo de outono inverno de 2014, enquanto a
Manejo Integrado de Pragas (MIP) na Cultura da Soja 13

área de Dourados continha plantas de braquiária que haviam sido cultivadas


em associação com a cultura do milho, na safrinha de 2015. Em ambas as
áreas foi feita inspeção para verificação da presença da lagarta-elasmo
(Elasmopalpus lignosellus), ou de outras pragas de solo e de superfície como
corós, lagarta-rosca, percevejos, lesmas e caramujos. Para isso, utilizou-se
uma estrutura metálica quadrada com 0,5 m de lado que foi lançada, ao acaso,
em cinco pontos distintos dentro da área, sobre a palhada; foram registrados
os insetos que estavam presentes nesta superfície do solo até a 0,3 m de
profundidade. Aos 7 dias após a completa emergência das plantas, avaliou-se
também o estande da cultura e a incidência da lagarta-elasmo na soja, tanto na
área do MIP quanto na área conduzida pelo produtor, sendo este último
considerado o padrão comparativo do manejo. Para isso, amostrou-se
10 m de fileira de plantas em dez pontos, dentro de cada área de cultivo da
soja.

Monitoramento de pragas desfolhadoras e de brocas

Com o aparecimento das primeiras folhas de soja, foram iniciadas as


amostragens de lagartas que atacam a parte aérea da soja, sendo este
monitoramento realizado semanalmente, até a fase de enchimento dos grãos.
As lagartas foram monitoradas utilizando-se o pano-de-batida, ou pelo método
visual, observando-se sua presença nas folhas novas, brotos e flores, uma vez
que no caso de H. armigera as lagartas não são facilmente detectadas com o
pano-de-batida. A densidade de lagartas na soja foi mensurada em oito pontos
distintos, tanto na área do MIP quanto na área do produtor.

Foram também instaladas armadilhas do tipo delta, as quais continham os


feromônios sexuais de Spodoptera frugiperda, Helicoverpa sp., H. virescens e
C. includens. Essas armadilhas foram instaladas em três pontos distintos
dentro da área do MIP, de maneira a constituir três repetições para cada
feromônio testado (Figura 1). Os septos contendo o feromônio sexual foram
substituídos mensalmente e os pisos adesivos utilizados para a captura das
mariposas, trocados semanalmente, quando os adultos coletados nas
armadilhas foram identificados e quantificados.
14 DOCUMENTOS 143
Fotos: Viviane Santos

Figura 1. Locais de monitoramento de mariposas na área do Manejo Integrado de


Pragas (MIP), safra 2014/2015, em Caarapó, MS(1).
(1)
As setas indicam os locais onde foram instaladas as quatro armadilhas iscadas com os diferentes feromônios
sexuais. Armadilha tipo delta contendo o septo com feromônio suspenso, à esquerda, e forca de madeira
utilizada para a suspensão das armadilhas, à direita.

Monitoramento de pragas que atacam vagens e grãos

Próximo ao início do período de florescimento da soja iniciou-se o


monitoramento de percevejos, tanto na área do MIP quanto na do produtor,
utilizando-se o pano-de-batida. Quando a densidade populacional de
percevejos, na área do MIP, atingiu o nível de controle para essas pragas ou se
posicionou próximo deste, foram realizadas as aplicações de inseticidas na
lavoura. O controle de percevejos na área do produtor foi realizado conforme
orientações do mesmo.
Manejo Integrado de Pragas (MIP) na Cultura da Soja 15

Monitoramento de predadores e de parasitoides de lagartas e


de percevejos

Os predadores de insetos-praga da soja foram monitorados e quantificados


utilizando-se o pano-de-batida, e identificados no menor nível taxonômico
possível. Para avaliar a ação de parasitoides e o grau de parasitismo em
insetos desfolhadores, as lagartas encontradas na cultura da soja foram
coletadas e levadas para o laboratório, onde foram mantidas em dieta artificial.
Os parasitoides emergidos das lagartas foram mortos e colocados em álcool
70%, para proceder a identificação específica, e determinado o percentual de
parasitismo nas lagartas coletadas na soja. Da mesma forma, ovos e adultos
de percevejos fitófagos foram coletados nas lavouras de soja, a fim de
identificar os parasitoides e quantificar a intensidade de parasitismo. Os ovos
dos percevejos foram mantidos em placa de Petri com papel filtro umedecido
em água, para observar a emergência das ninfas ou dos parasitoides. Já os
adultos do percevejo foram mantidos em Gerbox contendo vagens de soja
verde, para sua alimentação. Os parasitoides observados, tanto nos ovos
como nos adultos dos percevejos, foram colocados em álcool 70% e,
posteriormente, encaminhados à especialista, para a identificação específica.

Análise econômica do manejo de pragas no projeto

Na análise econômica dos dois sistemas de manejo (área do MIP e área do


produtor) foram considerados os preços dos produtos utilizados no controle de
pragas na cultura da soja, no mês de abril de 2015 e de maio de 2016,
respectivamente para as safras 2014/2015 e 2015/2016. Foram considerados
os custos com insumos, operações com máquinas e implementos e serviços
(mão de obra) por hectare, segundo Richetti (2012). Em adição, fez-se uma
análise extrapolada dos benefícios econômicos do manejo de pragas na área
do MIP, em comparação à área total de soja cultivada pelo produtor em sua
propriedade, bem como considerando o cenário de produção de soja em nível
estadual e nacional.
16 DOCUMENTOS 143

Resultados obtidos
Área de Caarapó – safra 2014/ 2015

Foram constatadas seis espécies de insetos associadas ao solo, por ocasião


da dessecação da área para o plantio da soja, com uma predominância nas
amostragens de percevejos (Figura 2), em especial das espécies Euschistus
heros (Fabr. 1974) e Dichelops melacanthus (Dallas, 1851).

Número médio de insetos/(0,5 m x 0,5 m)


3,5

3,0

2,5

2,0

1,5

1,0

0,5

0,0
Spodoptera Percevejos Larva- Percevejo- Lagria Elasmopalpus
frugiperda arame castanho villosa lignosellus

Figura 2. Pragas iniciais associadas ao solo, observadas na palhada da área de soja


conduzida com o Manejo Integrado de Pragas (MIP). Safra 2014/2015. Caarapó, MS.
Manejo Integrado de Pragas (MIP) na Cultura da Soja 17

Verificou-se que o estande da soja na área do MIP e do produtor foi similar,


apresentando, em média, 13,5 e 14,5 plantas por metro linear de fileira de
plantas, respectivamente (Figura 3). Já a incidência da lagarta-elasmo nas
plantas de soja foi numericamente maior na área do MIP, porém, não diferiu
estatisticamente daquela verificada na área do produtor (Figura 4).

Nas amostragens de adultos de lepidópteros, utilizando-se o feromônio


sexual, constatou-se a presença de mariposas das quatros espécies em que
seus feromônios sexuais foram testados (Figura 5). Todavia, os adultos da
lagarta-falsa-medideira, Chrysodeixis includens, apresentaram,
expressivamente, maior incidência, em todo o período de amostragem,
quando comparado às demais espécies observadas na área de cultivo da soja.

Estande médio da soja – Plantas/m de fileira


16,0

14,0

12,0
a a
10,0

8,0

6,0

4,0

2,0

0,0
Área do MIP Área do produtor

Figura 3. Estande médio da soja observado na área do Manejo Integrado de Pragas


(MIP) e na área do produtor. Safra 2014/2015. Caarapó, MS(1).
(1)
Em barras seguidas de mesma letra, os valores não diferem pelo teste de t (p < 0,05).
18 DOCUMENTOS 143

Nº médio de insetos/10 m de fileira de soja


1,6

1,4

1,2
a
1,0

0,8

0,6

0,4 a
0,2

0,0
Área do MIP Área do produtor

Figura 4. Incidência da lagarta-elasmo (Elasmopalpus lignosellus), na área do Manejo


Integrado de Pragas (MIP) e na área do produtor. Safra 2014/2015. Caarapó, MS(1).
(1)
Em barras seguidas de mesma letra, os valores não diferem pelo teste de t (p < 0,05).

Spodoptera frugiperda Heliothis virescens


Helicoverpa sp. Chrysodeixis includens
Nº de adultos/armadilha/semana

120
100
80
60
40
20
0
ut
.
ut
. v. v. ov
.
ov
. z. ez
.
ez
.
ez
.
ez
. n. n. n. n. v. v. v.
no no de ja /ja /ja /ja fe /fe /fe
/o /o 5/ / /n /n 3/ /d /d /d /d 8/ 14 21 28 4/ 12 19
22 29 11 19 26 12 17 24 31

Safra 2014/2015

Figura 5. Mariposas capturadas nas armadilhas iscadas com o feromônio sexual


durante o período de monitoramento de adultos, na área do Manejo Integrado de
Pragas (MIP). Safra 2014/2015. Caarapó, MS.
Manejo Integrado de Pragas (MIP) na Cultura da Soja 19

Com relação à incidência de lagartas na cultura da soja, verificou-se que a


espécie mais abundante foi C. includens, tanto na área do MIP quanto na área
do produtor (Figuras 6 e 7), sendo o pico de ocorrência observado em 7 de
janeiro de 2015, nos dois ambientes de amostragens (Figuras 8 e 9).
Observou-se correlação significativa (r = 0,53) entre o número de mariposas
capturadas nas armadilhas de feromônio e o número de lagartas de C.
includens amostrado com o pano-de-batida (Figura 10). Entretanto, esta
correlação não ocorreu para as demais espécies de Lepidoptera,
provavelmente, por causa da baixa população com que foram observadas na
área.

100 90,7
90
80
70
Percentagem (%)

60
50
40
30
20
7,7
10 0,8 0,2 0,6
0
Anticarsia Helicoverpa sp. Chrysodeixis Heliothis Spodoptera
gemmatalis includens virescens frugiperda

Figura 6. Proporção das diferentes espécies de lagartas capturadas pelo método do


pano-de-batida na área do Manejo Integrado de Pragas (MIP). Safra 2014/2015.
Caarapó, MS.
20 DOCUMENTOS 143

95,4
100,0

90,0

80,0

70,0
Percentagem (%)

60,0

50,0

40,0

30,0

20,0

10,0 3,8
0,6 0,2 0,0
0,0
Anticarsia Helicoverpa sp. Chrysodeixis Heliothis Spodoptera
gemmatalis includens virescens frugiperda

Figura 7. Proporção das diferentes espécies de lagartas capturadas pelo método do


pano-de-batida na área do produtor. Safra 2014/2015. Caarapó, MS. 2015.

Lagartas grandes Lagartas pequenas

300
Nº de insetos

250
200
150
100
50
0
ut
.
ut
. v. ov
. v. v. z. z. z. z. z. n. n. n. n. v. v. v.
no no no de de de de de ja /ja /ja /ja fe /fe /fe
/o /o 5/ /n / / 3/ / / / / 8/ 14 21 28 4/ 12 19
22 29 12 19 26 10 17 24 31

Safra 2014/2015

Figura 8. Lagartas grandes e pequenas capturadas pelo método do pano-de-batida na


área do Manejo Integrado de Pragas (MIP). Safra 2014/2015. Caarapó, MS(1).
(1)
As setas indicam os momentos das aplicações de inseticidas.
Manejo Integrado de Pragas (MIP) na Cultura da Soja 21

Lagartas grandes Lagartas pequenas

150
Nº de insetos

100

50

0
. v. . . . . . . . . . . . . . v. v.
ut no ov nov nov dez dez dez ez ez /jan /jan /jan /jan /fev /fe 9/fe
/o 5/ /n / / 3/ / / /d 1/d 8
29 12 19 26 10 17 24 3 14 21 28 4 12 1

Safra 2014/2015

Figura 9. Lagartas grandes e pequenas capturadas pelo método do pano-de-batida na


área do produtor. Safra 2014/2015. Caarapó, MS(1).
(1)
As setas indicam os momentos das aplicações de inseticidas.

Lagartas coletadas com bano-de-batida

500 Mariposas capturadas com armadilhas de feromônio sexual


450
400
Nº de insetos

350
300 Correlação = 0,53*
250
200
150
100
50
0
ut
.
ut
. v. v. v. v. z. z. z. z. z. n. n. n. n. v. v. v.
no no no no de de de de de ja /ja /ja /ja fe fe /fe
/o /o 5/ / / / 3/ / / / / 7/ 14 21 28 4/ 11
/
18
22 29 12 19 26 10 17 24 31
Data dos monitoramentos

Figura 10. Flutuação populacional de lagartas e de mariposas de Chrysodeixis


includens na área do Manejo Integrado de Pragas (MIP). Safra 2014/2015. Caarapó,
MS.
22 DOCUMENTOS 143

Para o controle dessas lagartas na área do MIP foram realizadas duas


aplicações de inseticidas (Figura 8, Tabela 1), sendo a primeira efetuada com
clorantraniliprole, na dose de 12,0 g i.a./ha, quando foi constatado um
excelente controle da lagarta- da-soja, mas deficiente para a lagarta-falsa-
medideira. Dessa forma, uma segunda pulverização para lagartas foi realizada
com o inseticida metomil, na dose de 215 g i.a./ha. Após esta segunda
aplicação, foi constatado controle intermediário da lagarta-falsa-medideira na
área do MIP (70% a 80%). Na área do produtor, foram realizadas três
aplicações de inseticidas para o controle de lagartas (Figura 9, Tabela 1),
sendo a primeira com a mistura dos inseticidas metomil + teflubenzurom nas
doses de 86,0 g i.a./ha e 21,0 g i.a./ha, respectivamente. A segunda e terceira
aplicações para lagartas foram realizadas com a mistura dos inseticidas
flubendiamida e metomil, nas doses de 33,6 g i.a./ha e 258,0 g i.a./ha,
respectivamente, proporcionando razoável controle de lagartas (Figura 9).

Com relação à ocorrência de percevejos fitófagos na soja, observou-se maior


incidência de ninfas do que de adultos, tanto na área do MIP quanto na área do
produtor, verificando-se dois picos populacionais da praga, sendo o primeiro
observado em 28 de janeiro de 2015 e o segundo em 18 de fevereiro de 2015
(Figuras 11 e 12). Na área do MIP, o controle de percevejos foi realizado com
duas aplicações de acefato + sal (Figura 11), empregando-se as doses
comerciais de 900,0 g i.a/ha + 0,5% de NaCl e 1.050,0 g i.a/ha + 0,5% de NaCl
(Tabela 1). Na área do produtor, foram realizadas três aplicações de inseticidas
(Figura 12), sendo duas com a mistura pronta bifentrina + imidacloprido na
dose de 87,5 + 17,5 g i.a/ha, respectivamente, e uma outra com a mistura dos
inseticidas bifentrina + imidacloprido (genérico), nas doses de 20,0 g i.a/ha +
175,0 g i.a/ha, respectivamente.

As pulverizações são, normalmente, mais eficazes para o controle das pragas


que se situam na parte superior das plantas de soja, como ficou evidenciado
por meio da comparação da deposição da calda de pulverização nos papéis
sensíveis que foram fixados nos estratos superior, mediano e inferior das
plantas (Figura 13). Isto reforça a necessidade de mais estudos que visem à
melhoria das tecnologias de aplicação de inseticidas, com o objetivo de
maximizar a eficiência do controle químico de pragas na cultura da soja.
Manejo Integrado de Pragas (MIP) na Cultura da Soja 23

Tabela 1. Custo da aplicação de inseticidas para o controle de lagartas e percevejos na


cultura da soja, na área do Manejo Integrado de Pragas (MIP) e na área do produtor.
Safra 2014/2015. Caarapó, MS.

Dose Custo
Aplicação Finalidade Produto
(g i.a./ha) (R$/ha)

Área de manejo do MIP


Primeira TS Clorantraniliprole 31,25 90,00
Segunda Foliar (Lagarta) Clorantraniliprole 12,0 47,52
Terceira Foliar (Lagarta) Metomil 215,0 40,60
Quarta Foliar (Percevejo) Acefato 900,0 56,80
Quinta Foliar (Percevejo) Acefato 1.050,0 62,50
Total 297,42
Área de manejo do produtor
Primeira TS Piraclostrobina + tiofanato- 2,5 + 22,5 + 25,0 31,34
metílico + fipronil

Segunda Foliar (lagarta) + Metomil + 86,0 + 29,80

Foliar (lagarta) Teflubenzurom 21,0 16,80

Terceira Foliar (lagarta) Flubendiamida 33,6 55,71


Quarta Foliar (lagarta) Metomil 258,0 44,20

Quinta Foliar (Percevejo) Imidacloprido + bifentrina 87,5 + 17,5 50,60


Sexta Foliar (Percevejo) Imidacloprido + bifentrina 87,5 + 17,5 50,60

Sétima Foliar (Percevejo) + Bifentrina + 20,0 + 64,96

Foliar (Percevejo) Imidacloprido 175,0 7,00

Total 351,01
24 DOCUMENTOS 143

Percevejos – adulto Percevejos – ninfa

70
60
Nº de insetos

50
40
30
20
10
0
. . v. . . . . . . . . . . . . . v. v.
ut ut no ov nov nov dez dez dez ez ez /jan /jan /jan /jan /fev /fe 9/fe
/o /o 5/ /n / / 3/ / / /d 1/d 8
22 29 12 19 26 10 17 24 3 14 21 28 4 12 1

Safra 2014/2015

Figura 11. Adultos e ninfas de percevejos capturados pelo método do pano-de-batida


na área do Manejo Integrado de Pragas (MIP). Safra 2014/2015. Caarapó, MS(1).
(1)
As setas indicam os momentos das aplicações de inseticidas.

Percevejos – adulto Percevejos – ninfa

5
4
Nº de insetos

3
2
1
0
. . v. . . . . . . . . . . . . . v. v.
ut ut no ov nov nov dez dez dez ez ez /jan /jan /jan /jan /fev /fe 9/fe
/o /o 5/ /n / / 3/ / / /d 1/d 8
22 29 12 19 26 10 17 24 3 14 21 28 4 12 1

Safra 2014/2015

Figura 12. Adultos e ninfas de percevejos capturados pelo método do pano-de-batida.


na área do produtor. Safra 2014/2015. Caarapó, MS(1).
(1)
As setas indicam os momentos das aplicações de inseticidas.
Manejo Integrado de Pragas (MIP) na Cultura da Soja 25
Fotos: Viviane Santos

SUPERIOR

MEDIANA

INFERIOR

Figura 13. Papéis sensíveis instalados nas plantas de soja antes das pulverizações, à
esquerda, e deposição da calda nos papéis sensíveis após as pulverizações, à direita.
Safra 2014/2015. Caarapó, MS.

Computando-se o número total de aplicações de inseticidas na parte aérea da


soja, para o controle de lagartas e percevejos durante a safra 2014/2015,
constatou-se que na área do MIP foram necessárias quatro aplicações
comparado a seis aplicações realizadas na área do produtor (Tabela 1).

Por meio da análise do custo dessas aplicações para o controle de lagartas e


de percevejos nos dois ambientes de manejo, verificou-se que na área do MIP
o custo total do controle de pragas/hectare foi de R$ 297,42, enquanto na área
conduzida pelo produtor o custo/hectare foi de R$ 351,01. Com isso, foi
possível obter uma economia de R$ 53,59, por hectare (Tabela 2). O produtor
proprietário da área onde o MIP foi conduzido cultiva uma área de 200 hectares
de soja. Se o produtor tivesse seguido as orientações do MIP, teria uma
economia em sua fazenda de R$ 10.178,00. Extrapolando-se este valor de
redução de custo para o estado de Mato Grosso do Sul, que teve uma área
cultivada com soja de 2.308.517 hectares na safra 2014/2015, o benefício
26 DOCUMENTOS 143

econômico para o estado seria de R$ 124.429.066,00. Já para o cenário do


Brasil, que teve uma área cultivada com soja de 31.504.200 hectares, nesta
mesma safra, o benefício econômico nacional seria de, aproximadamente,
1,7 bilhão de reais. Cabe salientar que o benefício ecológico e social da
redução da quantidade de ingredientes ativos aplicados no agroecossistema
de soja não foi considerado nesta análise.

Tabela 2. Inferências dos benefícios econômicos do Manejo Integrado de Pragas (MIP)


em nível do produtor, do estado de Mato Grosso do Sul (MS) e do Brasil. Safra
2014/2015. Caarapó, MS.

Economia/ha R$ 53,59

Área de soja do produtor 200 hectares


Economia do produtor R$ 10.178,00

Área de soja em MS – Safra 2014/2015 2.308.517 hectares


Economia em MS R$ 123.713.262,00

Área de soja no Brasil – Safra 2014/2015 31.504.200 hectares


Economia no Brasil R$ 1.688.310.078,00

Em adição, verificou-se que na área do MIP, cerca de 35% dos ovos de


percevejos e 18,2% das lagartas coletados apresentavam parasitismo por
algum tipo de inimigo natural (Figura 14), evidenciando que o MIP efetuado na
cultura da soja favoreceu o controle biológico natural no agroecossistema. O
parasitoide encontrado nas lagartas de C. includens foi o himenóptero
Copidosoma floridanum (Figura 15), enquanto o parasitoide observado em ovos
de E. heros foi um microhimenóptero Telenomus podisi (Figura 16). Foram
observadas, também, lagartas infectadas por vírus e fungos, tanto na área do
MIP quanto na área do produtor (Figuras 17 e 18). Todavia, não foram
constatados parasitoides em percevejos adultos (Figura 14).
Manejo Integrado de Pragas (MIP) na Cultura da Soja 27

34,7
35,0

30,0

25,0
Parasitismo (%)

18,2
20,0

15,0

10,0

5,0
0,0
0,0
Ovos de percevejos Adultos de percevejos Lagartas (várias espécies)

Figura 14. Percentagem de parasitismo observado em ovos e adultos de percevejos e


em lagartas, coletados na área do Manejo Integrado de Pragas (MIP). Safra 2014/2015.
Caarapó, MS.

Fotos: Viviane Santos

Figura 15. Parasitoides da espécie Copidosoma floridanum (Encyrtidae) observados


em lagartas Chrysodeixis includens na área do Manejo Integrado de Pragas (MIP).
Safra 2014/2015. Caarapó, MS.
28 DOCUMENTOS 143

Foto: Viviane Santos

Figura 16. Ovos de Euschistus heros parasitados por Telenomus podisi na área do
Manejo Integrado de Pragas (MIP). Safra 2014/2015. Caarapó, MS.

Baculovírus Geocoris Aranhas


Inimigos naturais/pano-de-batida

30
25
20
15
10
5
0
ut
.
ut
. v. v. v. v. z. z. z. z. z. n. n. n. n. v. v. v.
no no no no de de de de de ja /ja /ja /ja fe /fe /fe
/o /o 5/ / / / 3/ / / / / 8/ 14 21 28 4/ 12 19
22 29 12 19 26 10 17 24 31

Safra 2014/2015

Figura 17. Flutuação populacional de inimigos naturais na área do Manejo Integrado de


Pragas (MIP). Safra 2014/2015. Caarapó, MS.
Manejo Integrado de Pragas (MIP) na Cultura da Soja 29

Baculovírus Cycloneda Aranhas


Inimigos naturais/pano-de-batida

7,0
6,0
5,0
4,0
3,0
2,0
1,0
0,0
t. v. v. v. v. z. z. z. z. z. n. n. n. n. v. v. v.
/ou no no no no de de de de de 8/
ja /ja /ja /ja 4/
fe /fe /fe
29 5/ 12
/
19
/
26
/ 3/ 10
/
17
/
24
/
31
/
14 21 28 12 19

Safra 2014/2015

Figura 18. Flutuação populacional de inimigos naturais na área do produtor. Safra


2014/2015. Caarapó, MS.

Observou-se, de modo geral, maior população de inimigos naturais,


especialmente de aranhas, na área do MIP, quando comparado à densidade
populacional destes agentes de controle biológico encontrados na área
produtor (Figuras 17 e 18).

Quanto ao rendimento de grãos, verificou-se que na área do MIP a cultura da


soja apresentou maior produtividade em relação à área do produtor (Figura
19). Contudo, deve-se salientar que essa superioridade no rendimento de
grãos pode ser decorrente não somente das estratégias empregadas no MIP,
mas de outras causas como o tipo de solo utilizado nestas áreas de estudo ou
provenientes de outras causas não identificadas.
30 DOCUMENTOS 143

Rendimento de grãos (sacos/ha)


70,0

60,0

50,0
a
40,0

30,0
b
20,0

10,0

0,0
Área do MIP Área do produtor

Figura 19. Rendimento de grãos de soja na área do Manejo Integrado de Pragas (MIP)
e na área do produtor. Safra 2014/2015. Caarapó, MS(1).
(1)
Em barras seguidas de mesma letra, os valores não diferem pelo teste de t (p < 0,05).

Área de Dourados – safra 2015/2016

Não foram constatadas espécies de insetos associadas ao solo, tanto na área


do MIP como na área conduzida pelo produtor. A área em que foi implantada a
soja tinha como cobertura a braquiária, decorrente do cultivo antecessor de
milho safrinha, consorciado com essa gramínea. Essa cobertura pode ter
inibido o desenvolvimento de pragas de solo e de superfície, tanto na área do
MIP quanto na do produtor, que também tinha a braquiária como cobertura.
Verificou-se que os estandes, na área do MIP e na do produtor, foram similares,
apresentando, em média, 8,0 e 9,0 plantas por metro linear de fileira de soja,
respectivamente.

Nas amostragens de adultos de lepidópteros, utilizando-se armadilhas iscadas


com feromônio sexual, verificou-se as quatros espécies de mariposas em que
seus feromônios foram testados. Todavia, a espécie S. cosmioide foi a que
apresentou a maior incidência nas armadilhas de feromônio, especialmente
Manejo Integrado de Pragas (MIP) na Cultura da Soja 31

durante o mês de dezembro, quando comparada às demais espécies


capturadas (Figura 20). Apesar dos adultos de S. frugiperda serem
abundantes nas armadilhas de feromônio sexual, esta espécie não
apresentou importância econômica, uma vez que as lagartas não se
alimentavam das plantas de soja, mas sim da braquiária que se encontrava em
processo inicial de decomposição, como consequência da sua dessecação
para a semeadura da soja.

Dentre as lagartas desfolhadoras da soja, a espécie mais abundante foi C.


includens. Observou-se correlação significativa (r = 0,61) entre o número de
mariposas de C. includens, capturadas nas armadilhas de feromônio, e o
número de lagartas desta espécie amostradas com o pano-de-batida (Figura
21), sendo verificado, após a ocorrência do pico populacional de lagartas de C.
includens na área, o pico de mariposas desta espécie coletadas nas
armadilhas de feromônio sexual (Figuras 20 e 21).

Heliothis virescens Helicoverpa sp.


Spodoptera cosmioides Chrysodeixis includens
Nº de mariposas/armadilha

150

100

50

0
v. v. z. z. z. z. z. n. n. n. v. v. v. ar
.
no no de de de de de ja /ja /ja fe /fe /fe
/ / 4/ / / / / 7/ 19 27 4/ 12 27 2/
m
19 26 11 17 23 30

Safra 2015/2016

Figura 20. Mariposas capturadas nas armadilhas iscadas com feromônio sexual
durante o período de monitoramento na área do Manejo Integrado de Pragas (MIP).
Safra 2015/2016. Dourados, MS.
32 DOCUMENTOS 143

Adultos de C. includens – feromônio sexual


250
Lagartas de C. includens – pano-de-batida

200
Número de insetos

Correlação = 0,61*
150

100

50

0
ov
.
ov
. z. z. ez
.
ez
.
ez
. n. n. n. v. v. v. ar
.
de de ja /ja /ja fe /fe /fe
/n /n 4/ / /d /d /d 7/ 19 27 4/ 12 27 2/
m
19 26 11 17 23 30

Datas de amostragens

Figura 21. Flutuação populacional de lagartas e de mariposas de Chrysodeixis includens


na área do Manejo Integrado de Pragas (MIP). Safra 2015/2016. Dourados, MS.

Com base nos dados de amostragens de lagartas com o pano de batida, foram
tomadas as decisões de aplicação ou não de inseticidas para o controle
dessas pragas na área do MIP. Além das lagartas de C. includens, as lagartas
de Spodoptera cosmioides foram também abundantes na área do MIP (Figura
22) e na área do produtor (Figura 23). O pico de abundância das lagartas na
soja ocorreu em 7 de janeiro de 2016, tanto na área do MIP como na área do
produtor rural, período este em que a soja encontrava-se no estádio inicial de
desenvolvimento de vagens (R3).
Manejo Integrado de Pragas (MIP) na Cultura da Soja 33

80,0
70,1
70,0

60,0
Porcentagem (%)

50,0

40,0
29,8
30,0

20,0

10,0
0,0 0,1
0,0
Anticarsia Chrysodeixis Helicoverpa Spodoptera
gemmatalis includens armigera cosmioides

Figura 22. Proporção das diferentes espécies de lagartas capturadas pelo método do
pano-de-batida, na área do Manejo Integrado de Pragas (MIP). Safra 2015/2016.
Dourados, MS.

68,8
70,0

60,0
Porcentagem (%)

50,0

40,0
31,0
30,0

20,0

10,0
0,3 0,0
0,0
Anticarsia Chrysodeixis Helicoverpa Spodoptera
gemmatalis includens armigera cosmioides

Figura 23. Proporção das diferentes espécies de lagartas capturadas pelo método do
pano-de-batida, na área do produtor. Safra 2015/2016. Dourados, MS.
34 DOCUMENTOS 143

Para o controle de lagartas na área do MIP, foi realizada apenas uma aplicação
do inseticida clorantraniliprole na dose de 12,0 g i.a./ha (Figura 24 e Tabela 3).
Na área de soja manejada pelo próprio produtor, foram realizadas quatro
aplicações de inseticidas para o controle de lagartas (Figura 25 e Tabela 3),
sendo a primeira para lagartas, com metomil, na dose de 215,0 g i.a./ha; a
segunda com a mistura de lufenurom + profenofós, na dose de 20,0 g i.a./ha e
200 g i.a./ha, respectivamente; a terceira com o inseticida espinetoram, na
dose de 12,0 g i.a./ha, e a quarta com a mistura metomil + espinetoram, nas
doses de 215,0 g i.a./ha e 12,0 g i.a./ha, respectivamente (Tabela 3).

Lagartas grandes Lagartas pequenas Totais

250
Nº de lagartas

200

150

100

50

0
v. v. z. z. z. z. z. n. n. n. v. v. v. ar
.
no no de de de de de ja /ja /ja fe fe fe
/ / 4/ / / / / 7/ 19 27 4/ 17
/
27
/
2/
m
19 26 11 17 23 30

Safra 2015/2016

Figura 24. Lagartas grandes, pequenas e totais capturadas pelo método do pano-de-
batida na área do Manejo Integrado de Pragas (MIP). Safra 2015/2016. Dourados,
MS(1).
(1)
A seta indica o momento da aplicação de inseticida.
Manejo Integrado de Pragas (MIP) na Cultura da Soja 35

Tabela 3. Custo da aplicação dos inseticidas na cultura da soja, para o controle de


lagartas e percevejos, nas áreas do Manejo Integrado de Pragas (MIP) e do produtor.
Safra 2015/2016. Dourados, MS.

Dose Custo
Aplicação Finalidade Produto
(g i.a./ha) (R$/ha)

Área de manejo do MIP


Primeira TS Clorantraniliprole 31,25 90,00
Segunda Foliar (Lagarta) Clorantraniliprole 12,0 47,52
Terceira Foliar (Percevejo) Tiametoxam + lambadacialotrina 42,3 + 31,8 54,63
Quarta Foliar (Percevejo) Imidacloprido + bifentrina 62,5 + 2,5 46,71
Quinta Foliar (Percevejo) Tiametoxam + lambadacialotrina 35,2 + 26,5 47,58
Total 286,44
Área de manejo do produtor
Primeira TS Piraclostrobina + tiofanato- 2,5 + 22,5 + 25,0 31,34
metílico + fipronil

Segunda Foliar (lagarta) Metomil 215,0 31,33


Terceira Foliar (lagarta) Lufenurom + profenofós 20,0 + 200,0 39,13
Quarta Foliar (lagarta) Espinetroram 12,0 69,83
Quinta Foliar (lagarta) + Metomil + espinetoram + 215,0 + 12,0 + -

Foliar (Percevejo) tiametoxam + lambadacialotrina 42,3 + 31,8 131,13


Sexta Foliar (Percevejo) Tiametoxam + lambadacialotrina 42,3 + 31,8 54,63
Sétima Foliar (Percevejo) Tiametoxam + lambadacialotrina 42,3 + 31,8 54,63
Total R$ 412,02
36 DOCUMENTOS 143

Lagartas pequenas Lagartas grandes Lagartas totais

200
Nº de lagartas

150

100

50

0
v. v. z. z. z. z. z. n. n. n. v. v. v. ar
.
no no de de de de de ja /ja /ja fe /fe /fe
/ / 4/ / / / / 7/ 19 27 4/ 17 27 2/
m
19 26 11 17 23 30

Safra 2015/2016

Figura 25. Lagartas grandes e pequenas capturadas pelo método do pano-de-batida,


na área do produtor. Safra 2015/2016. Dourados, MS. 2016(1).
(1)
As setas indicam os momentos das aplicações de inseticidas.

Com relação à ocorrência de percevejos fitófagos na soja, observou-se maior


predominância de adultos em relação a ninfas, tanto na área do MIP quanto na
área manejada pelo produtor (Figuras 26 e 27). Na área do MIP foram
necessárias três aplicações de inseticidas para o controle de percevejos
(Figura 26, Tabela 3), sendo a primeira realizada com os inseticidas
tiametoxam + lambda-cialotrina + sal, na dose 42,3 g i.a./ha + 31,8 g i.a./ha +
0,5% de NaCl; a segunda com os inseticidas imidacloprido + bifentrina + sal,
nas doses de 62,5 g i.a./ha + 2,5 g i.a./ha + 0,5% de NaCl; e a terceira com os
inseticidas tiametoxam + lambda-cialotrina + sal, nas doses de 35,2 g i.a./ha +
26,5 g i.a./ha + 0,5% de NaCl (Tabela 3). Na área manejada pelo produtor
foram realizadas três aplicações (Figura 27, Tabela 3), utilizando-se apenas os
inseticidas tiametoxam + lambda-cialotrina nas doses de 42,3 g i.a./ha +
31,8 g i.a./ha, respectivamente (Tabela 3).
Manejo Integrado de Pragas (MIP) na Cultura da Soja 37

Ninfas grandes (NG) Adultos (A) Total (NG + A)

120
Nº de percevejos

100
80
60
40
20
0
v. v. z. z. z. z. z. n. n. n. v. v. v. ar
.
no no de de de de de ja ja ja fe /fe /fe
/ / 4/ / / / / 7/ 19
/
27
/ 4/ 17 27 2/
m
19 26 11 17 23 30

Safra 2015/2016

Figura 26. Adultos e ninfas de percevejos capturados pelo método do pano-de-batida,


na área do Manejo Integrado de Pragas (MIP). Safra 2015/2016. Dourados, MS(1).
(1)
As setas indicam os momentos das aplicações de inseticidas.

Ninfas grandes (NG) Adultos (A) Total (NG + A)


Nº de percevejos

200

150

100

50

0
v. v. z. z. z. z. z. n. n. n. v. v. v. ar
.
no no de de de de de ja /ja /ja fe fe fe
/ / 4/ / / / / 7/ 19 27 4/ 17
/
27
/
2/
m
19 26 11 17 23 30

Safra 2015/2016

Figura 27. Adultos e ninfas de percevejos capturados pelo método do pano-de-batida,


na área do produtor. Safra 2015/2016. Dourados, MS(1).
(1)
As setas indicam os momentos das aplicações de inseticidas.
38 DOCUMENTOS 143

Por meio da análise do custo das aplicações de inseticidas para o controle de


lagartas e percevejos, nos dois ambientes de controle de pragas, verificou-se
que na área do MIP houve uma economia de R$ 125,58 por hectare (Tabela 4).
O produtor proprietário da área onde o MIP foi conduzido cultiva uma área de
360 hectares de soja. Se o produtor tivesse seguido as orientações do MIP ele
teria uma economia na sua fazenda de R$ 45.208,80. Extrapolando-se este
valor de redução de custo para o estado de Mato Grosso do Sul, que teve uma
área cultivada com soja de 2.430.000 hectares na safra 2015/2016, o benefício
econômico em nível de estado seria de R$ 305.159.400,00, enquanto para o
cenário do Brasil, com uma área cultivada de 33.228.400 hectares nesta
mesma safra, o benefício econômico seria em torno de R$ 4 bilhões.

Os inimigos naturais encontrados nas áreas do MIP e do produtor eram


constituídos predominantemente por aranhas (Figuras 28 e 29). Na área do MIP
observou-se também uma baixa ocorrência do predador Lebia sp., enquanto o
fungo Nomureae rileyi apresentou-se em baixa incidência no final do ciclo da
soja, durante o início do mês de fevereiro, tanto na área do MIP quanto na do
produtor.

O rendimento de grãos de soja, na área do MIP, foi semelhante ao observado


na área manejada pelo produtor, sendo de 42,0 sacos/hectare e
44,5 sacos/hectare, respectivamente (Figura 30).

Tabela 4. Inferência dos benefícios econômicos do Manejo Integrado de Pragas (MIP)


em nível do produtor, do estado de Mato Grosso do Sul e do Brasil. Safra 2015/2016.
Dourados, MS.

Economia/ha R$ 125,58

Área de soja do produtor 360 hectares


Economia do produtor R$ 45.208,80

Área de soja em MS – Safra 2015/2016 2.430.000 hectares


Economia em MS R$ 305.159.400,00

Área de soja no Brasil – Safra 2015/2016 33.228.400 hectares


Economia no Brasil R$ 4.172.822.472,00
Manejo Integrado de Pragas (MIP) na Cultura da Soja 39

Lebia concinna Nomuraea rileyi Aranhas


Nº de inimigos naturais

5,0
4,5
4,0
3,5
3,0
2,5
2,0
1,5
1,0
0,5
0,0
v. v. z. z. z. z. z. n. n. n. v. v. v. ar
.
no no de de de de de ja /ja /ja fe /fe /fe
/ / 4/ / / / / 7/ 19 27 4/ 17 27 2/
m
19 26 11 17 23 30

Safra 2015/2016

Figura 28. Flutuação populacional de inimigos naturais na área do Manejo Integrado de


Pragas (MIP). Safra 2015/2016. Dourados, MS. 2015.

Nomuraea rileyi Aranhas


Nº de inimigos naturais

5,0

4,0

3,0

2,0

1,0

0,0
v. v. z. z. z. z. z. n. n. n. v. v. v. ar
.
no no de de de de de ja /ja /ja fe /fe /fe
/ / 4/ / / / / 7/ 19 27 4/ 17 27 2/
m
19 26 11 17 23 30

Safra 2015/2016

Figura 29. Flutuação populacional de inimigos naturais na área de estudo durante o


período de monitoramento na área do produtor. Safra 2015/2016. Dourados, MS. 2015.
40 DOCUMENTOS 143

Rendimento de grãos (sacos/ha)


50,0

45,0

40,0

35,0
a a
30,0

25,0

20,0

15,0

10,0

5,0

0,0
Área do MIP Área do produtor

Figura 30. Rendimento de grãos de soja na área do Manejo Integrado de Pragas (MIP)
e na área conduzida pelo produtor. Safra 2015/2016. Dourados, MS(1).
(1)
Em barras seguidas de mesma letra, os valores não diferem pelo teste de t (p < 0,05).

Considerações finais
Com base nos resultados de manejo de pragas obtidos nas áreas do Manejo
Integrado de Pragas (MIP) e do produtor, considerando-se as duas safras em
que o estudo foi conduzido, pode-se inferir que o controle de pragas na cultura
da soja, seguindo os princípios e a filosofia do MIP, constitui uma prática que
reconhecidamente traz benefícios econômicos para os produtores rurais. Isto
porque esta estratégia de controle promove redução do número de aplicações
de inseticidas na safra, o que, consequentemente, reduz o custo fitossanitário
da lavoura de soja, garantindo assim maior margem de lucro para o produtor
rural. Em adição, a utilização do MIP na cultura da soja contribui para melhor
controle biológico natural no agroecossistema e reduz a contaminação
ambiental, uma vez que menos produtos são pulverizados anualmente, o que
contribui, indiretamente, para melhoria na qualidade de vida da população.
Manejo Integrado de Pragas (MIP) na Cultura da Soja 41

Com outras táticas de controle de pragas na cultura da soja, associadas e em


consonância harmônica com o MIP, como é o caso das plantas transgênicas Bt
e o controle biológico aplicado de lagartas e de percevejos utilizando-se
parasitoides, espera-se que o número requerido de aplicações de inseticidas
na cultura possa ser ainda mais reduzido, conduzindo assim para o
estabelecimento de um ambiente biológico mais equilibrado no
agroecossistema e mais limpo do ponto de vista ambiental.

Espera-se que os resultados obtidos neste trabalho possam motivar a


assistência técnica e os produtores rurais a utilizarem com maior intensidade o
MIP em suas lavouras de soja e, com isso, obterem os benefícios econômicos,
ambientais e sociais que esta estratégia de controle de pragas proporciona,
como foi constatado neste estudo.

Agradecimentos
Agradecemos à Fundect pelo financiamento do projeto de pesquisa que gerou
esta publicação e pela concessão da Bolsa de DCR ao segundo autor.
Agradecemos, também, a Alceu Richetti pelo auxílio da análise econômica das
áreas de MIP-Soja; à empresa Du Pont Brasil pela doação dos inseticidas,
especialmente para o controle de lagartas; bem como aos produtores Tochio
Kuanna (Caarapó, MS) e Maicon André Zorzo (Dourados, MS) pela cessão das
áreas para condução do Manejo Integrado de Pragas na cultura da soja.

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CGPE 14592

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