Psicologia A Ciência Do Bem-Estar
Psicologia A Ciência Do Bem-Estar
Psicologia A Ciência Do Bem-Estar
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Reconhecem terem informado todas as fontes de financiamento recebidas para a consecução
da pesquisa.
APRESENTAÇÃO
CAPÍTULO 2................................................................................................................12
PATRIARCADO, HETERONORMATIVIDADE E TABU: O APAGAMENTO SOCIAL DA
MULHER LÉSBICA
Ingrid Freitas da Silva
Raquel Lisboa Tinoco Braga
Erika Conceição Gelenske Cunha
DOI 10.22533/at.ed.6042128012
CAPÍTULO 3................................................................................................................26
A ETIOLOGIA PSÍQUICA DAS FORMAS DE SOFRIMENTO PSÍQUICO CONTEMPORÂNEO:
DEPRESSÃO, RECURSO À DROGA E AUTOLESÃO
Claudia Henschel de Lima
Julia da Silva Cunha
Maria Stela Costa Vliese Zichtl Campos
Thalles Cavalcanti dos Santos Mendonça Sampaio
DOI 10.22533/at.ed.6042128013
CAPÍTULO 4................................................................................................................39
PSICANÁLISE E POLÍTICA: ANÁLISE DO DESAMPARO E O NEGACIONISMO NO
CENÁRIO DO CORONAVÍRUS (COVID-19)
Everaldo dos Santos Mendes
Amanda Marques Pimenta
Alex Junio Duarte Costa
DOI 10.22533/at.ed.6042128014
CAPÍTULO 5................................................................................................................56
ATENDIMENTO PSICOLÓGICO ONLINE: PERSPECTIVAS E DESAFIOS ATUAIS DA
PSICOTERAPIA
Adriana Barbosa Ribeiro
Luciane Patrícia Dias da Silva Eliane
Patrícia Ulkovski
DOI 10.22533/at.ed.6042128015
CAPÍTULO 6................................................................................................................65
A RELAÇÃO MÉDICO-PACIENTE: PRINCÍPIOS ÉTICOS E SITUAÇÕES-PROBLEMA
Rafael Nogueira Furtado
Isabela Maria Oliveira Souza
DOI 10.22533/at.ed.6042128016
SUMÁRIO
CAPÍTULO 7................................................................................................................74
O OLHAR DA GESTALT-TERAPIA SOBRE O DIAGNÓSTICO
Ana Paula de Souza Ferreira Esquivel
Renato Martins Ribeiro
Erika Gelenske
DOI 10.22533/at.ed.6042128017
CAPÍTULO 8................................................................................................................92
O QUE O ÓDIO AO(À) ‘BANDIDO(A)’ TEM A DIZER SOBRE A SOCIEDADE BRASILEIRA
CONTEMPORÂNEA
Gabriela Araújo Fornari
Sylvia Mara Pires de Freitas
DOI 10.22533/at.ed.6042128018
CAPÍTULO 9..............................................................................................................103
GRUPO DE APOIO NA CLÍNICA AMPLIADA PARA OS USUÁRIOS DO CENTRO POP
Karine da Cunha Leou
Marcos Moraes de Mendonça
Kelly Cristina Borges da Silva
Andressa Maria de Oliveira
Fabiana Cabral Gonçalves
Meire Perpétua Vieira Pinto
DOI 10.22533/at.ed.6042128019
CAPÍTULO 10............................................................................................................ 116
OS POSSÍVEIS EFEITOS DO ABORTO NA SAÚDE MENTAL DA MULHER BRASILEIRA
E O PAPEL DA PSICOLOGIA
Erika Conceição Gelenske Cunha
Karina Nunes Tavares Martins
Simone Langano Figueredo
DOI 10.22533/at.ed.60421280110
CAPÍTULO 11............................................................................................................127
AVALIAÇÃO PARA CIRURGIA BARIÁTRICA EM ADOLESCENTE COM SOBREPRESO
Fernanda Gonçalves da Silva
Rosicleide Araujo
Natália Nunes
Joice Barbosa
Joice Reis
DOI 10.22533/at.ed.60421280111
CAPÍTULO 12............................................................................................................138
A CONTRIBUIÇÃO DO PSICÓLOGO PARA AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA AO PORTE E
POSSE DE ARMA: UMA REVISÃO INTEGRATIVA
Marcela Vieira de Freitas
Michele Francisca Anteportam dos Santos
DOI 10.22533/at.ed.60421280112
SUMÁRIO
CAPÍTULO 13............................................................................................................160
IMPACTO SUBJETIVO DO DIAGNÓSTICO DO DIABETES MELLITUS GESTACIONAL
Mariana da Silva Pereira Reis
DOI 10.22533/at.ed.60421280113
CAPÍTULO 14............................................................................................................184
REABILITAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA – TRANSTORNO DO ESPECTRO DO AUTISMO
(TEA) COM COMORBIDADE DE DEFICIÊNCIA INTELECTUAL (DI)
Juliana Corrêa da Silva
Jessica Layanne Sousa Lima
Thais de Lima Alves Corrêa
DOI 10.22533/at.ed.60421280114
CAPÍTULO 15............................................................................................................197
HIERARQUIA DA PARENTALIDADE E POSSÍVEIS IMPACTOS NO DESENVOLVIMENTO
PSÍQUICO
Glauce Fonseca Bragança
Erika Conceição Gelenske Cunha
DOI 10.22533/at.ed.60421280115
CAPÍTULO 16............................................................................................................210
A IMPORTÂNCIA DO ACONSELHAMENTO PSICOLÓGICO NO TRATAMENTO DE
DOENÇAS CRÔNICAS
Daniele Amarilha Vioto
Thalía Zadroski
DOI 10.22533/at.ed.60421280116
CAPÍTULO 17............................................................................................................214
CONTRIBUIÇÕES DA PSICOLOGIA ESCOLAR E EDUCACIONAL PARA O MANEJO
DOS TRANSTORNOS DO NEURODESENVOLVIMENTO
Rafael Nogueira Furtado
Juliana Aparecida de Oliveira Camilo
DOI 10.22533/at.ed.60421280117
CAPÍTULO 18............................................................................................................221
CRIANÇAS E SUAS INFÂNCIAS: TECENDO EXPERIÊNCIAS NO ESPAÇO DO BAIRRO
Zuleica Pretto
Letícia Teles de Sousa Renata
Polidoro Aguiar
Tatiane Garceis dos Santos
DOI 10.22533/at.ed.60421280118
CAPÍTULO 19............................................................................................................236
“DE QUEM É A CULPA?” FATORES DE RISCOS DA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA PARA
O DESENVOLVIMENTO DO TRANSTORNO DE PERSONALIDADE ANTISSOCIAL
Yloma Fernanda de Oliveira Rocha
Élida da Costa Monção
SUMÁRIO
Ruth Raquel Soares de Farias
DOI 10.22533/at.ed.60421280119
CAPÍTULO 20............................................................................................................253
PERSPECTIVA TEMPORAL E REGULAÇÃO EMOCIONAL DE ESTUDANTES
UNIVERSITÁRIOS
Carlos Eduardo Nórte
Richard dos Santos Ferreira
Luan Felipe de Sousa Dantas
DOI 10.22533/at.ed.60421280120
CAPÍTULO 21............................................................................................................263
DO COLÓQUIO RELACIONAL E O GENOGRAMA: INSTRUMENTOS PARA UMA
ENTREVISTA CLÍNICA
Emilio-Ricci
DOI 10.22533/at.ed.60421280121
CAPÍTULO 22............................................................................................................277
RESILIENCIA Y AUTOCUIDADO: MIRADA Y ESTRATEGIA PARA UNA VIDA PLENA
Nestor Reyes Rubio
DOI 10.22533/at.ed.60421280122
CAPÍTULO 23............................................................................................................281
CONHECE-TE A TI MESMO E SÊ FELIZ!
Carlos Fernando Barboza da Silva
DOI 10.22533/at.ed.60421280123
CAPÍTULO 24............................................................................................................292
A IMPORTÂNCIA DAS ATIVIDADES LÚDICAS NA FORMAÇÃO HUMANA
Ezequiel Martins Ferreira
DOI 10.22533/at.ed.60421280124
CAPÍTULO 25............................................................................................................303
MÉTODO RESTAURATIVO E SAÚDE MENTAL: TEMPO, TOQUE, AFETO E DIÁLOGO
EM GRUPOS COM DE FADIGA DE EMPATIA
Miila Derzett
Felipe Brognoli
DOI 10.22533/at.ed.60421280125
SOBRE O ORGANIZADOR......................................................................................318
ÍNDICE REMISSIVO..................................................................................................319
SUMÁRIO
CAPÍTULO 1
doi
UM ESTUDO PSICANALÍTICO SOBRE
AS DIMENSÕES DO SUPEREU EM TRÊS
PERSONALIDADES FÍLMICAS
4 | RESULTADO E DISCUSSÕES
A partir da análise das personagens principais dos filmes: Veronika decide Morrer, O
Operário e As Horas, foi possível chegar às seguintes reflexões:
Nos três filmes o que está em pauta é a problemática da culpa inconsciente que
assola cada um dos protagonistas. Nesse prisma, dá para perceber que cada uma das
personagens vivia a culpa e conseguiu dar um destino a ela de modo diferenciado.
Porque isso aconteceu? Essa pergunta só poderá ser respondida se procurarmos
estudar cada um deles a partir da suposição de que estão situados numa posição clínica
estrutural diferente e esse fato, talvez, permita compreender como cada um lidou com os
2. Nesse sentido, é interessante ressaltar a tese sustentada por Lacan de que a única falta a que um sujeito pode se
culpar é a de ter cedido de seu próprio desejo.
5 | CONSIDERAÇÕES FINAIS
Segundo Garcia-Roza (2004), haveria um aspecto positivo presente na pulsão de
morte quando revestida em vontade de destruição, na medida em que se mostra enquanto
destruidora daquilo que está instituído, e, ao mesmo tempo, renovadora já que produz
disjunções e diferenciações imprescindíveis para o progresso da civilização. Como diria
uma citação bastante conhecida de Pablo Picasso: “todo ato de criação é, antes de tudo, um
ato de destruição”. Diferente disso é a pulsão sexual, que seria conservadora e produtora
de uniões, homogeneizações e até fixações em modos arcaicos de enfrentamento ante a
realidade.
Nos três exemplos de personalidades fílmicas citadas, houve uma tentativa de
destruição de algo para a reconstrução de outra coisa. Nem sempre essas tentativas
tiveram o efeito desejado, pois o próprio Supereu se interpôs e impossibilitou esse tipo de
utilização da energia destrutiva da pulsão de morte.
Ou seja, parece existir uma impossibilidade, provocada pelo princípio de prazer
(ao se transmutar em princípio de realidade, em consequência das interdições paternas
e sociais encarnadas na educação, na contenção libidinal e agressiva e na sublimação
destas tendências) de responder a esse imperativo da pulsão de morte, lançada no mundo
enquanto vontade de destruição do que está instituído externamente, vontade esta que
pressiona sempre à renovação, à mudança. O que acaba gerando um conflito, já que o Eu
enquanto sintetizador/conciliador e as pulsões sexuais enquanto produtoras de uniões e
homogeneizações não suportariam a tendência da pulsão de morte, em sua eterna busca
por mudança. Essa “[...] agressividade pode não conseguir encontrar satisfação no mundo
externo, porque se defronta com obstáculos reais. Se isto acontece, talvez ela se retraia
e aumente a quantidade de autodestrutividade reinante no interior [...]”. (FREUD, [1932]
1933/1996, p. 107).
O Supereu, por conseguinte, terminaria por se apropriar da energia destrutiva tornada
livre no aparato psíquico em virtude da não possibilidade de descarga no mundo externo,
para lançar críticas, admoestar e até castigar o Eu, assim como acontece na melancolia
e na paranoia que se caracterizam como os principais exemplos, ao lado da neurose
obsessiva, das manifestações escancaradas desta instância observadora e proibidora.
REFERÊNCIAS
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Janeiro: Imago, 1996.
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e outros trabalhos (1927-1931). Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de
Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
______. Alguns tipos de caráter encontrados no trabalho psicanalítico (1916). In. A história do
movimento psicanalítico, artigos sobre a metapsicologia e outros trabalhos (1914-1916). Edição
standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
GARCIA-ROZA, L. A. O mal radical em Freud. 5ª edição. Rio de janeiro: Jorge Zahar Ed., 2004.
LACAN, J. A agressividade em psicanálise. In. Escritos, Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1998.
MANNONI, O. Freud: uma biografia ilustrada. Rio de janeiro: Jorge Zahar Ed., 1994.
OLIVEIRA, M. M. Como fazer pesquisa qualitativa. 2ª ed. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 2008.
PRATA, M. R. Pulsão de morte: mortificação ou combate?In. Ágora, v.III, nº2, jul/dez, 115-135, 2000.
Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/agora. Acesso em 19/10/2010.
O OPERÁRIO (The Machnist). Direção: Brad Anderson. Tempo de Duração: 102 minutos. Ano de
Lançamento, 2004.
VERONIKA DECIDE MORRER (Veronika Decides to Die). Baseado no livro de Paulo Coelho. Direção:
Emily Young. Tempo de Duração: 102 minutos. Ano de Lançamento, 2009.
Com isso, este artigo justifica-se pela necessidade de romper com esse sistema
que visa o constante apagamento da lesbianidade, tendo em conta que para lutar contra as
estatísticas de violência é preciso primeiro sair da invisibilidade (LIMA 2018).
A pesquisa ocorrerá de forma bibliográfica, a partir de revisões de literaturas
clássicas, tendo como base as abordagens psicológicas da psicanálise de Freud e da
psicologia analítica de Jung, e também através de livros e artigos científicos atuais de
diversos autores, como Adrienne Rich, Monique Wittig, Naomi Wolf, entre outros. A pesquisa
apresenta caráter descritivo e qualitativo, visando compreender de modo interpretativo os
assuntos que serão abordados.
A partir disso, Wittig (1992/2006) enfatiza que essa estrutura fundada envolta da
ideia da diferença natural dos sexos, cria a sociedade de modo heterossexual, fazendo
com que as mulheres sejam submetidas à uma heterossexualidade compulsória. Segundo
Butler (2008) citado por Soares e Costa (2014, p.5): “A heteronormatividade baseia-se na
naturalidade e na associação obrigatória entre sexo e reprodução, criando um sistema de
1. Informação fornecida por Ajax Salvador e Santina Rodrigues na palestra: “Psicopatologia contemporânea como ima-
gem arquetípica” do congresso: “Mitos e seus reflexos na humanidade” do Instituto Junguiano de Ensino e Pesquisa,
realizado online em Outubro de 2020.
Ela deve ser sempre uma licenciosidade, deve ser instigada por satã, e nunca
é permitida, exceto nos confinamentos estritos do casamento, e ainda assim é
uma concessão à fraqueza humana enquanto o caminho mais elevado na vida
seria totalmente sem sexo (SANFORD 1988, p.95).
Desse modo, uma imagem que simboliza precisamente essa dimensão do feminino
renegado é a de Lilith, que conforme Koltuv (2017) explicita, ao negar-se à abrir mão de sua
liberdade para submeter-se à Adão, Lilith sai do Paraíso e vai para um exílio no deserto,
passando a ser considerada um demônio, a serpente que tenta Eva à comer o fruto proibido,
um ser impuro, uma prostituta sedutora que desvia os homens do caminho do bem, tudo
isso porque ela rompe com o sistema de opressão do patriarcado ao escolher: “a separação
diante da coerção ou submissão no interior do ‘abrigo da convicção tradicional’” (KOLTUV
2017, p.49). Sanford (1988) afirma que os indivíduos que não vivem em concordância
com o ideal coletivo são considerados inimigos, sendo despersonalizados e vistos como
objetos de ódio e não mais como seres humanos. Logo, as mulheres que assim como Lilith
reivindicam por igualdade e recusam-se a aceitar o encarceramento do sistema patriarcal,
são despersonalizadas a ponto de serem vistas como demoníacas, sendo suprimidas e
exiladas na sombra coletiva (KOLTUV 2017).
Além disso, Hollis (1997) afirma que a construção social da representação do
masculino é enraizada em um complexo de poder, onde a competição, violência, insegurança
e medo estão sempre presentes. Jung (2013) classifica os complexos como instâncias
energéticas autônomas da psique que ao serem ativadas assimilam e ultrapassam o
controle da consciência, tomando conta da personalidade e retirando a liberdade do ego.
Desse modo, tomados pelo complexo do poder, os homens constantemente oprimem as
mulheres na expectativa de que a partir desse controle sobre elas, consigam também
dominar seus próprios medos, já que: “o homem oprime aquilo que ele teme” (HOLLIS
1997, p. 48). Assim, Hollis (1997) completa que as opressões realizadas contra as mulheres
e contra os homossexuais são resultadas do medo do homem machista de reconhecer o
Desse modo, Dinis (2011) elucida que o reflexo da política de silenciamento surte
outro efeito significativo, transparecendo a sua hostilidade, também, no âmbito escolar e
fazendo com que assim a violência física, simbólica e verbal esteja presente desde as
primeiras socializações na vivência lésbica. As opressões constantes vividas em tal cenário
vêm a serem mascaradas por parte dos professores que omitem a ‘justificativa’ da violência
sofrida na tentativa de que outros estudantes não tenham conhecimento de outras formas
de expressões fora da heteronormatividade (LOURO, 1997 apud DINIS, 2011). Parte-se
então do princípio de que o silenciamento também é uma forma de violência, sendo assim:
Desse modo, Peres, Soares e Dias (2018) expressam que por mais que os
números de assassinatos e suicídios de lésbicas estejam crescendo, o lesbocídio ainda
não é reconhecido como um crime de ódio, contribuindo ainda mais para a manutenção
do apagamento lésbico, devido à escassez de informações relacionadas às mortes de
lésbicas, ainda mais quando são negras ou indígenas. Com isso, Peres, Soares e Dias
(2018, p. 103) explicitam que: “a ausência de informações é demonstrativo de lesbofobia,
de racismo, de machismo, de classismo e de tantos outros preconceitos agregados que
constroem o perfil e o sentido do descaso com estas pessoas no Brasil e no mundo”.
6 | CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base nas pesquisas realizadas durante a produção do presente artigo, ficou
claro que o sistema patriarcal e heteronormativo exerce influência direta no apagamento
social da mulher lésbica, visto que a construção da sociedade e da cultura, desde a
antiguidade até os dias atuais, teve como foco a perpetuação dos princípios patriarcais e
heteronormativos, eliminando tudo que fosse contrário aos valores pregados. Sendo assim,
dentro da sociedade patriarcal, o lugar atribuído à mulher é o de submissa ao homem,
devendo sempre estar à disposição das vontades e prazeres masculinos. Desse modo,
simplesmente pelo fato de existirem, as lésbicas contrariam toda essa estrutura sexista,
ameaçando sua continuidade, tornando-se, então, alvo de ódio, de violência, tanto física
quanto psicológica.
Dessa forma, de acordo com a perspectiva psicanalítica apresentada neste artigo,
a marginalização da lesbianidade aparece socialmente como uma existência ‘contagiosa’
atribuindo e impondo a ela característica de um objeto de tabu. Sendo assim, evidencia-se o
papel que a lei do tabu desempenha ao se tornar um mecanismo de controle heteronormativo
e patriarcal que passa a determinar quem torna-se ou não objeto de tabu, sustentando
assim os discursos de ódio de cunho religioso e/ou social contra a lesbianidade.
Conforme exposto na terceira sessão, a consciência coletiva na sociedade
ocidental sofre influências da cultura judaico-cristã, sendo estruturada a partir de princípios
patriarcais, assim, tudo que é contrário à tais princípios é considerado errado, visto como
ameaça e é exilado na sombra coletiva. Com isso, como a imagem ideal da mulher no
patriarcado é de pureza, castidade e devoção ao homem, as mulheres lésbicas, por não
estarem disponíveis à dominação masculina, assim como Lilith, são despersonificadas e
vistas como demoníacas.
REFERÊNCIAS
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BORIS, Georges Daniel Janja Bloc. CESÍDIO, Mirella de Holanda. Mulher, corpo e subjetividade:
uma análise desde o patriarcado à contemporaneidade. Revista Mal-estar e subjetividade. Vol. VII. N°2.
p. 451 – 478. Fortaleza. Setembro/2007.
BOURDIEU, Pierre. A dominação masculina: a condição feminina e a violência simbólica. 17. ed. Rio
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CARVALHO, Cintia Sousa; CALDERARO, Fernanda; SOUZA, Solange Jobin. O dispositivo “Saúde
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FACIO, Alda; FRIES, Lorena. Feminismo, género y patriarcado. Academia. Revista sobre enseñanza
del derecho de Buenos Aires, 2005.
FREUD, Sigmund. Totem e tabu. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de
Sigmund Freud, v. XIII, p. 13-163. Rio de Janeiro: Imago, 1996 (original publicado em 1913).
HOLLIS, James. Sob a sombra de saturno: a ferida e a cura dos homens. São Paulo: Paulus, 1997.
JUNG, Carl Gustav. A natureza da psique. 10. ed. Petrópolis: Vozes, 2013.
JUNG, Carl Gustav. Os arquétipos e o inconsciente coletivo. 11. ed. Petrópolis: Vozes, 2014.
KOLTUV, Barbara Black. O livro de Lilith: o resgate do lado sombrio do feminino universal. 2. ed. São
Paulo: Cultrix, 2017.
LIMA FILHO, Alberto Pereira. O pai e a psique. São Paulo: Paulus, 2002.
OTTO, Claricia. O feminismo no Brasil: suas múltiplas faces. Rev. Estud. Fem. v.12, n. 2, p. 238-241,
Florianópolis, 2004.
PERES, Milena Cristina Carneiro; SOARES, Suane Felippe; DIAS, Maria Clara. Dossiê sobre
lesbocídio no Brasil: de 2014 até 2017. Rio de Janeiro: Livros Ilimitados, 2018.
POMBO, Mariana. Crise do patriarcado e função paterna: um debate atual na psicanálise. Psicol.
Clin. Vol.30, n.3, p. 447-470. Rio de Janeiro, 2018.
SANFORD, John A. Mal: o lado sombrio da realidade. São Paulo: Paulus, 1988.
SOARES, Gilberta Santos; COSTA, Jussara Carneiro. Movimento lésbico e movimento feminista no
Brasil: recuperando encontros e desencontros. 2014.
WOLF, Naomi. O mito da beleza: como as imagens de beleza são usadas contras as mulheres. 12. ed.
Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 2020.
1 | INTRODUÇÃO
Desde a sua fundação no final do século XIX a psicanálise permite afirmar que
o ser humano é uma espécie do mal-estar. E na contemporaneidade isso se preserva
como evidência clínica. A fim de apaziguar o sentimento de mal-estar, o ser humano
lança mão de dispositivos diversos – que vão da ciência, da arte, da religião, até o uso de
narcóticos. O presente artigo interroga o sofrimento humano, tal como ele se apresenta
hoje na experiência da depressão, do recurso à droga e da autolesão, à luz do destino
assumido pelo recalcamento no mal-estar contemporâneo. Neste sentido, ele apresenta os
resultados da pesquisa básica em psicopatologia psicanalítica, conduzida no Laboratório de
Psicopatologia Fundamental em Estudos sobre a Subjetividade e Emergências Humanitárias,
articulado ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Rio
de Janeiro. Partindo, então, da preocupação em pensar o sofrimento humano por meio dos
processos de defesa elaborados por Freud para esclarecer a etiologia da neurose e da
psicose, a pesquisa desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Psicologia propõe a
investigação das formas de sofrimento psíquico contemporâneo (mais especificamente, a
depressão, o recurso à droga e a autolesão), com o objetivo de elaborar a hipótese sobre a
etiologia psíquica de seu desencadeamento. E, com isso, estabelecer alguns critérios para
o diagnóstico diferencial destas formas de sofrimento a partir da distinção entre neurose e
psicose.
O artigo está dividido em duas partes. A primeira parte será dedicada a apresentação
da fundamentação conceitual que conduziu a elaboração da hipótese etiológica para essas
Rascunho B (1893/1987)
Rascunho E- Como se origina a angústia? (1893/1990)
Carta 79 (1897/2006)
A sexualidade na etiologia das neuroses (1898/2015)
Três ensaios sobre a sexualidade (1905/2016)
Fantasias Histéricas e sua Relação com a Bissexualidade (1908/2015)
O Recalcamento (1915/2015)
1. “É extremamente lamentável que até agora esse lado tóxico dos processos mentais tenha escapado ao exame cien-
tífico”.(Freud, 1930 [1929]/1976, p.97)
3.1 Depressão
Os brasileiros lideram o ranking de ocorrência de ansiedade da Organização
Mundial da Saúde (OMS) e ocupam o quinto lugar entre os países com maior índice de
casos diagnosticados como depressão. Tais dados revelam a importância de se avançar
na pesquisa sobre sua etiologia.
As questões que circundam a depressão a partir das formulações freudianas
dizem respeito a irrupção pulsional no funcionamento psíquico, o que por sua vez tende
a mobilizar a eclosão da angústia. O levantamento das referências freudianas, conduzido
na seção anterior, fundamenta a nossa suspeita de que a depressão seja a manifestação
uma angústia aditiva como defesa contra a irrupção pulsional. Verifica-se nas formas de
expressão da depressão, a retração do investimento objetal, evidenciando uma posição
subjetiva paralisada e resultante do declínio do sentimento de vida. Contudo, a referência
freudiana de Inibição, Sintoma e angústia (1925-1926/1976) tem sido crucial para a
elaboração da hipótese de inibição. Neste texto, a angústia é compreendida enquanto
uma reação egóica a um perigo desconhecido: “(…) a análise tem revelado que se trata
de um perigo pulsional” (Freud, 1925-1926/1976, p.190). Entretanto, o eu aparelha-se de
processos de defesa contra a pulsão, como o recalcamento e o próprio sintoma. Relendo
as referências trabalhadas na seção anterior à luz desta formulação de Inibição, Sintoma
e angústia (1925-1926/1976), sustentamos a hipótese de que a perturbação da soldadura
entre a pulsão e a fantasia, no recalcamento, elucida a irrupção da pulsão no psiquismo. A
angústia advém como reação aditiva e paralisante à essa irrupção pulsional, na ausência
do sintoma.
“Como uma pessoa pode estar preenchida de vida e estar vazia? Para onde toda essa vida se esvai?”
(Fighting-Ghosts, Abril de 2018).
“Eu sempre procuro maneiras de lidar com esses pensamentos que vêm a todo minuto, e não importa
o quanto eu tente, as drogas sempre serão a melhor maneira. Eu quero estar entorpecida o tempo
todo.” (nicolethedopefiendqueen, Agosto de 2016).
3.3 Autolesão
A autolesão representa um problema cuja amplitude ainda não está nítida no Brasil.
O Ministério da Saúde indica que, entre 2011 e 2018 ocorreram 339.730 casos de autolesão
no país. Essa categoria inclui autoagressões, automutilações e tentativas de suicídio. As
ocorrências estão distribuídas na faixa etária de 15 a 29 anos (cerca de 45% dos casos).
Tomando como perspectiva a série histórica, observamos um salto dos números: em 8
anos, os casos passaram de 14.940, em 2011, para 95.061 em 2018.
Ao pensarmos na etiologia da irrupção das Non-Suicidal Self-Injurys (NSSI) e, mais
especificamente, da autolesão, temos, a partir do atendimento de sujeitos adolescentes,
bem como a leitura de testemunhos na rede social Tumbrl, como interrogação a correlação
direta entre sofrimento psíquico e incisão de cortes superficiais na pele com objetos afiados
(lâminas, facas, por exemplo). O problema reside na natureza desta incisão: o que leva o
funcionamento psíquico à recorrer à incisões cortantes no corpo?
A fim de desenhar o desenvolvimento de uma hipótese específica sobre a etiologia
da autolesão - tendo como base conceitual o traço aditivo decorrente da perturbação na
soldadura entre pulsão e fantasia - temos recorrido ao seminário sobre a angústia proferido
por Lacan (1962-1963/ 2005). Seguindo a direção dada por Lacan (1962-1963/2005),
identificamos o desencadeamento permanente, aditivo e parasitário da angústia, no
autolesão, como decorrente da experiência de destituição subjetiva operada no campo do
significante, em que se perde a condição de sujeito com emergência de uma dissimetria
especular muito próxima dos fenômenos tributários do autoerotismo sem, necessariamente,
afirmarmos uma suspeita de psicose. Sobre a dissimetria especular, Lacan (1962-
ɑ/i (ɑ).
Tudo bem. Eu mereço isso. (Cortar e Desejar, junto com O excesso aparece no sujeito.
uma foto de seus braços todos cortados, Outubro de 2016) O sujeito carrega em si a ideia de que
merece o corte.
Procedimento de incisão de cortes na
pele.
Porque você está tão quieto? Eu não sei, talvez porque O Outro é qualificado como quieto.
alguém muito importante me disse que eu sou ‘irritante’ e O excesso aparece no sujeito (sou
que eu ‘falo demais’ quando eu estava apenas tentando irritante, falo demais).
ser eu mesmo e agora eu estou com medo de ser eu Destituição subjetiva.
mesmo perto dos outros. (Apenas um Pouco Triste,
Outubro de 2016)
Mas quem se apaixona por uma garota O sujeito aparece na posição de menos-
Que tem o braço coberto de cicatrizes? valia.
Mas quem se apaixona por uma garota O corte se torna ao mesmo tempo
Cujo sorriso desaparece rapidamente? punição e erro. solução e problema.
Mas quem se apaixona por uma garota
Que não permite a si mesma ser amada?
Exatamente. (Perdendo a Cabeça-Ajuda, Outubro de 2016)
É difícil quando você constantemente se sente indesejado Sentimento de ser indesejado pelo
pra caralho. (Preenchido de Depressão, Outubro de 2016) Outro.
É triste dizer que esse website sabe mais sobre você do O Outro mais próximo é qualificado
que qualquer pessoa.- Triste, mas verdadeiro (Últimas como aquele que sabe menos do sujeito,
Palavras São Superestimadas, Fevereiro de 2017). do que o website.
Esses testemunhos sugerem que a autolesão possa ter valor de estrutura elementar
do significante, exatamente em quadros clínicos em que se verifica o recuo da determinação
do sujeito pelo significante (sou um cutter, por exemplo) e o desencadeamento da angústia.
Assim conforme indica a vinheta clínica e a tabela 1, hipotetiza-se que a autolesão permite
4 | CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente artigo apresentou o desenvolvimento da pesquisa conduzida pelo
Laboratório de Psicopatologia Fundamental em Estudos sobre a Subjetividade e
Emergências Humanitárias, articulado ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia da
Universidade Federal do Rio de Janeiro. Nela temos interrogado a etiologia da depressão,
do recurso à droga e da autolesão, à luz da dinâmica pulsional, localizando como hipótese
etiológica a ocorrência de uma perturbação na soldadura da pulsão em torno da fantasia.
Trata-se de uma hipótese no campo da psicopatologia psicanalítica, que possibilita uma
direção de pesquisa que preserva a referência ao psiquismo no entendimento das formas
de sofrimento humano no contemporâneo.
REFERÊNCIAS
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prelaunch/WDR18_Booklet_1_EXSUM.pdf
1 | INTRODUÇÃO
Não é preciso conhecer a pessoa perdida para afirmar que isso era uma vida.
O que se lamenta é a vida interrompida, a vida que deveria ter tido a chance
de viver mais, o valor que a pessoa carrega agora na vida dos outros, a ferida
que transforma permanentemente aqueles que sobrevivem. O sofrimento de
um outro não é o seu próprio, mas a perda que o estranho suporta atravessa
a perda pessoal que sente, potencialmente conectando estranhos em luto
(BUTLER, 2020, s/p.).
[...] Hoje não temos nada para comer. Queria convidar os filhos para suicidar-
nos. Desisti. Olhei meus filhos e fiquei com dó. Eles estão cheios de vida. Quem
vive, precisa comer. Fiquei nervosa, pensando: será que Deus esqueceu-me?
Será que ele ficou de mal comigo?” (JESUS, 2014, p. 174).
[...] Segundo dados da ONU Habitat, 1,6 mil milhões de pessoas não tem
habitação adequada e 25% da população mundial vive em bairros informais
sem infraestruturas nem saneamento básico, sem acesso a serviços públicos,
com escassez de água e de eletricidade. Vivem em espaços exíguos onde se
aglomeram famílias numerosas [...] (SANTOS, 2020, p. 18).
[...] No Sudão do Sul, onde mais de 1,6 milhão de pessoas estão deslocadas
internamente, são necessárias horas, se não dias, para chegar às unidades
de saúde, e a principal causa de morte é muitas vezes evitável, causada por
doenças para as quais já há remédios: malária e diarreia. No caso dos campos
de internamento às portas da Europa e dos EUA, a quarentena causada pelo
vírus impõe o dever ético humanitário de abrir as portas dos campos de
internamento sempre que não for possível criar neles as mínimas condições
de habitabilidade e de segurança exigidas pela pandemia (SANTOS, 2020,
pp. 19-20).
No século XXI, as pessoas com deficiência têm sido vítimas de outra forma de
dominação, além do capitalismo, do colonialismo e do patriarcado: o capacitismo. Trata-se
da forma como a sociedade contemporânea as discriminam, não reconhecendo as suas
necessidades especiais, não lhes facilitando acesso à mobilidade e às condições que lhes
permitiriam desfrutar da vida política como qualquer outra pessoa. Na vivência intersubjetiva,
as limitações impostas socialmente fazem com que as pessoas com deficiência se sintam
vivendo em quarentena permanente (SANTOS, 2020).
Particularmente numeroso no Norte global, o grupo das pessoas idosas é, em geral,
um dos grupos mais vulneráveis, mas a vulnerabilidade não é indiscriminada. No caso
concreto do Norte global, as condições de vida prevalecentes levaram a que boa parte
das pessoas idosas fosse depositada em lares, casas de repouso, asilos. Santos (2020)
mostra que, de acordo com as posses próprias ou da família, esses alojamentos podem ir
de cofres de luxo para joias até depósitos de lixo humano. No seio do mundo, a lista dos
indesejados em processo de subjetivação a Sul da quarentena está longe de ser exaustiva.
Não obstante, Rudolf von Ihering diz que o fim do direito é a paz e o meio para atingi-lo é
a luta:
5 | CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na vida política, a psicanálise pode descentrar sua atenção de si mesma,
despreocupar-se com seu status científico e social e propor-se a um serviço eficaz para
atender as necessidades dos pobres, psicossocialmente indesejados. No cenário do
coronavírus (COVID-19), a questão mais importante que confrontam as grandes maiorias
latino-americanas e caribenhas é a sua situação de miséria opressiva, sua condição de
dependência absoluta — marginalizante — que lhes impõe uma existência inumana e lhes
arrebata a capacidade para definir a sua vida concreta (MARTÍN-BARÓ, 2011).
No que tange os processos de subjetivação, a COVID-19 agrava uma situação de
crise a que a população mundial tem vindo a ser sujeitada, alcançando — em grande escala,
singularmente na América Latina e no Caribe — os grupos que compõem o fenômeno
psicossocial a que Santos (2020) chama de “Sul”: as mulheres (“as cuidadoras do mundo”);
os trabalhadores precários, informais, ditos autônomos (na América Latina, cerca de 50%
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manutencao-da-quarentena/> Acesso em: 05 out. 2020.
1 | INTRODUÇÃO
O surgimento de novas formas de comunicação na sociedade contemporânea,
bem como o advento de mecanismos de acesso online, emergem como alternativas para
a ampliação do atendimento psicoterápico. Diante dessas inovações, cada vez mais
profissionais da área da psicologia se deparam com dúvidas tais como o recebimento e
resposta de mensagens, e-mails e comunicações por softwares de comunicação via internet,
a possibilidade de um “encontro virtual” com pacientes, entre outros questionamentos
pertinentes para a prática clínica do psicólogo num novo contexto de comunicação cada
vez mais presente no setting terapêutico. (BARBOSA et al, 2013). Considerando-se as
potências de um novo sujeito, ágil e informatizado, surgem uma série de novas demandas
ao terapeuta: ao corresponder a demanda de agilidade e conectividade dos clientes, seria
atendido o apelo de não desligamento imposto por um mundo tecnológico, ou à fantasia
de onipotência que os pacientes nutrem em relação ao terapeuta, à medida que se lança
mão do uso dos aparatos midiáticos e tecnológicos? Fazer uma sessão via Skype com
um paciente que viaja significa necessariamente estar cedendo à fantasia de onipresença
(dele e do terapeuta)? Ou contém a possibilidade de criação de um campo de uma provável
relação? Estas e outras questões surgem quando se trata do atendimento online.
No Brasil, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) regulamenta por meio da
resolução nº 011/2012 os serviços realizados por meios tecnológicos de comunicação à
distância, “desde que pontuais, informativos, focados no tema proposto e que não firam
o disposto no Código de Ética do profissional de psicologia” (CFP, 2012, p. 02). Os meios
pelos quais essa modalidade de atendimento é feita são definidos como todas as interações
por computador com acesso à internet, por meio de televisão a cabo, aparelhos telefônicos,
aparelhos conjugados ou híbridos , ou qualquer outro meio de interação que possa vir a
ser implementado. Para a realização dos seguintes serviços: orientações psicológicas
até 20 atendimentos; os processos preliminares de seleção de pessoal; aplicação de
testes adequadamente regulamentados por resolução pertinente; supervisão do trabalho
de psicólogos realizada de forma ocasional ou complementar ao processo de formação
profissional presencial; atendimento eventual de clientes em deslocamento ou clientes
que momentaneamente se encontrem impossibilitados de comparecer ao atendimento
presencial e orientação psicológica.
Embora no Brasil o atendimento psicoterápico online seja regulamentado apenas
na forma de pesquisa, a intenção desse estudo bibliográfico é refletir sobre esta nova
6 | CONSIDERAÇÕES FINAIS
O modelo clássico, bem como a prática clínica e individual é, sem dúvida, aquele
que ainda apresenta maior disseminação. No entanto, é seguro afirmar que as novas
tecnologias vieram para ficar. Não é aconselhável a imposição de toda nova tecnologia,
nem de negar toda e qualquer forma de inovação tecnológica, logo se torna necessário
a compreensão e o reconhecimento das mudanças que ocorrem no contexto atual da
psicoterapia.
A manutenção de um modelo fechado da clínica tradicional pode impedir vislumbrar
as novas possibilidades que caminhos não percorridos oferecem. Não é uma imposição a
todos profissionais da psicologia, pois toda prática requer estudo, dedicação e sobre tudo
uma conduta ética. É preciso destacar que a tecnologia está cada vez mais presente no
cotidiano provocando transformações no tecido social. Dessa forma, se para a psicologia o
indivíduo e suas transformações são objetos de estudo, pressupõem-se que merecem uma
melhor compreensão e fundamentação dessa nova modalidade da psicoterapia.
Se a psicoterapia online e as intervenções realizadas neste processo são plenamente
válidas, ainda é impreciso afirmar. Contudo, os estudos citados anteriormente, demonstram
que em alguns casos ela é tão efetiva quanto a presencial, e em alguns momentos até mais
eficaz. No entanto, algumas questões quanto à confiança e estabelecimento de vínculo se
tornam mais difíceis de ser alcançados para alguns pacientes, ainda que possíveis.
Partindo dos argumentos expostos espera-se trazer à reflexão as práticas do
profissional de psicologia na contemporaneidade, mediante as novas modalidades de
atendimento psicoterápico online, acolhendo o sofrimento humano naquilo que pode ser
cuidado e apreendido enquanto vivência subjetiva e reveladora de sentidos dentro de uma
nova perspectiva. E que tais reflexões fomentem novas pesquisas que permitam fornecer
informações relevantes para a construção de uma nova prática de serviço psicológico,
que já se constitui uma área em desenvolvimento e expansão, apesar das restrições
ponderadas pelo CFP. Espera-se, ainda, que tais reflexões contribuam para elaborar e
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4.3 Telemedicina
Telemedicina (ou mais amplamente, a telessaúde) consiste no uso de tecnologias da
informação e comunicação para o fornecimento de serviços de saúde a distância. O contato
pode ser síncrono (isto é, em tempo real) ou assíncrono e inclui desde ações preventivas
até tratamentos. Manter a qualidade do relacionamento médico-paciente mediante a
telemedicina pode ser um desafio. No contata à distância, a comunicação verbal e não
verbal pode ser distorcida, o encontro tornar-se impessoal, e a impessoalidade dificultar
um bom rapport.
No entanto, a ferramenta tem seu valor ao facilitar o acesso à saúde, por exemplo, para
pessoas vivendo em áreas remotas, com dificuldades de locomoção ou com impedimento
de locomoção. Deste modo, o profissional deve esforçar-se para manter a qualidade da
relação com seu paciente, de modo que prevaleçam os benefícios da telemedicina.
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the most ethical realtionship? Hastings Cent Rep, v. 2, n. 3, p. 5-7, 1972. PMID: 4679693.
Assim, é o próprio paciente que vai dar sentido e significado para seus sintomas,
imaginação, sensações etc. O Gestalt-terapeuta auxilia a atenção do paciente para aquilo
que se mostra, que fica evidente, mas é o cliente que faz a interpretação da sua própria
Portanto, as características descritas por cada autor, servem como uma “bússola”,
um norte na construção do diagnóstico processual que acontece fenomenologicamente em
cada encontro no setting terapêutico. Pinto (2015) observou em seus atendimentos, que
os clientes costumam expressar dois estilos de personalidade, um que predomina e outro
auxiliando em proximidade (conforme relatado no parágrafo anterior). As características
de personalidade descritas por Pinto revelam uma configuração ajustada pela fronteira de
contato do cliente, com seus valores, crenças, regras, experiências de vida, modos de ser,
5 | CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao longo deste artigo a intensão foi demonstrar através de referenciais teóricos
o olhar que está para além daquilo que é tido como usualmente diagnosticado. Pois os
manuais que classificam o diagnóstico têm uma função, mas segundo a Gestalt-terapia não
se fecha neles. De acordo com Frazão (2015, p.85), “Elas descrevem o que há em comum
entre as pessoas portadoras de determinado distúrbio, mas não descrevem o conteúdo
singular delas em cada paciente, tampouco o seu significado.” Ainda assim, os autores não
têm a pretensão de que é um assunto que possa limitar-se a um ensaio, mas que demanda
inúmeros escritos e abre portas para excelentes e ricos debates.
Dito isso, considerou-se através das pesquisas, que o suporte baseado na filosofia
existencialista e fenomenológica da Gestalt-terapia evidencia e aprofunda sua teoria
humanista. Teoria essa que trabalhará a individualidade de cada pessoa de forma que cada
ser é único, possibilitando assim buscar a awareness através de ajustamentos criativos.
Avançando e trabalhando suas potencialidades que estão para além de diagnósticos
fechados, antes o olhar da Gestalt-terapia parte do pressuposto de que através de uma
relação dialógica terapeuta – cliente a compreensão diagnóstica vai sendo construída
em cada sessão e com a participação ativa do cliente, pois ele é o responsável pelo seu
crescimento dando sentido e significado a sua existência. Ou seja, como foi demonstrado,
através da observação no setting terapêutico, o profissional pode ir acompanhando o
diagnóstico flexível e mutável pelo qual seu cliente vai caminhando no decorrer do processo
e trabalhando isso durante o percurso da terapia.
Portanto, o olhar da Gestalt sobre o diagnóstico é antes de tudo humano, sem deixar
de ser profissional. Atento, sem deixar de ser livre. Teórico, sem deixar de ser criativo.
REFERÊNCIAS
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contato e os modos de ser. São Paulo: Summus, 2015. Formato: epub
RIBEIRO, Jorge Ponciano. Gestalt-terapia: refazendo um caminho. São Paulo: Summus, 2012.
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arttext&pid=S1809-68672015000200008&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 24 out. 2020.
Data de aceite: 01/02/2021 essa realidade, este trabalho objetiva refletir, pela
Data de submissão: 05/11/2020 perspectiva do existencialismo sartriano, mais
precisamente com o auxílio de seu pensamento
desenvolvido na obra Crítica da razão dialética,
sobre o que o crescente preconceito dirigido
Gabriela Araújo Fornari
ao(à) criminoso(a) pode elucidar sobre a atual
Programa de Pós-Graduação em Psicologia
sociedade brasileira. Ao buscar compreender
Pesquisadora no Laboratório Interinstitucional
de Estudos e Pesquisa em Fenomenologia e como o preconceito se forma e quais as variáveis
Existencialismo - LIEPPFEX/CNPq, integrante que contribuem para a crescente adesão aos
do Grupo de Estudos em Fenomenologia e discursos de ódio, Sartre nos aponta dois
Existencialismo – GEFEX; Departamento de elementos presentes nesse processo: o primeiro
Psicologia, Universidade Estadual de Maringá refere-se à paixão em aderir determinada ideia
Maringá-PR, Brasil aliada ao senso de preservação do grupo; e o
http://lattes.cnpq.br/6496026273509250 segundo, funda-se nos mecanismos utilizados
Sylvia Mara Pires de Freitas pelos sujeitos diante da iminência da escassez
de recursos materiais. Ressalta-se ainda a
Docente no Curso de Psicologia, docente e
orientadora no Programa de Pós-graduação temporalidade como elemento fundamental para
em Psicologia, integrante do Laboratório compreender determinado fenômeno, pois há
Interinstitucional de Estudos e Pesquisa em relação direta entre o contexto socio-histórico e
Fenomenologia e Existencialismo - LIEPPFEX/ a visão da população para com as pessoas que
CNPq, coordenadora do Grupo de Estudos em cometeram crime(s). Conclui-se que atualmente
Fenomenologia e Existencialismo – GEFEX grande parte da população considera os(as) ex-
Departamento de Psicologia, Universidade presidiários(as) como uma ameaça ao seu poder
Estadual de Maringá de consumo e à sua sobrevivência, legitimando
Maringá-Paraná, Brasil através dessa ideia a contraviolência dirigida
http://lattes.cnpq.br/4057123879317140
a eles(as). Essa forma de violência, por sua
vez, tem sido efetivada por meio das tentativas
de retirada de direitos, da mistificação, do
RESUMO: O fenômeno do ódio ao(à) bandido(a) preconceito e da supressão da liberdade
tem sido constatado com grande expressividade daqueles(as) reduzidos(as) à identidade de
no Brasil durante os últimos anos. Seguindo “bandidos(as)”.
a tendência Latino-Americana, a onda PALAVRAS-CHAVE: Criminalidade, Preconceito,
conservadora tem assolado o país, atingindo Direitos humanos, Conservadorismo,
o cerne não apenas do sistema político, mas Existencialismo.
também as ideias e as relações interpessoais de
grande parte da população. Para compreender
1 | INTRODUÇÃO
Este trabalho é construído a partir da experiência de uma das autoras enquanto
bolsista acadêmica do Programa Patronato, vinculado à Universidade Estadual do Oeste
do Paraná (UNIOESTE) Campus Toledo, durante o período de março de 2017 a janeiro
de 2019. Além desta atuação, o projeto de mestrado por ela desenvolvido no Programa
de Pós-Graduação em Psicologia, da Universidade Estadual de Maringá (PPI/UEM) tem
como tema de pesquisa a intersecção entre criminalidade, raça e gênero, partindo da
perspectiva dos sujeitos que cometeram crime(s) diante de suas próprias vivências. Essas
duas atividades a levaram à proximidade com o público denominado pelo senso comum
como “bandidos(as)”.
Percebe-se que o público, com o qual foi trabalhado no referido Programa
Patronato, e que atualmente é a população pesquisada no mestrado, vem sendo alvo de
inúmeros ataques nos últimos meses no país. A consciência deste fenômeno suscitou a
inquietação para buscar compreendê-lo. Destarte, neste trabalho, objetiva-se refletir sobre
o que esse crescente preconceito dirigido ao(à) criminoso(a) pode elucidar sobre a atual
sociedade brasileira. Considerando-se que a conduta desaprovadora diante das pessoas
que cometeram crime existe há séculos, acredita-se que esta reflexão é necessária, tendo
em conta o aumento da expressividade do preconceito e da violência nos últimos anos.
-duras-para-sistema-prisional-deixar-de-ser-leniente-com-detentos.ghtml?fbclid=IwAR0tjGxgKdQbLVofDye51jgUv-
mIyR7ZeqDH-TzUD-wU1x7f6fJ_5H-tyUnY
3. Reportagem na íntegra disponível em: http://midianinja.org/news/moro-quer-intensificar-o-controle-de-corpos-negros/
6. Com escassez Sartre (2002) menciona a existência em quantidade insuficiente de recursos naturais para toda a
população em determinado campo social.
5 | CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao analisar o preconceito dirigido ao(à) criminoso(a) no Brasil, o caráter temporal
desse fenômeno fica evidenciado, pois percebe-se a relação direta entre o contexto socio-
histórico de determinado local e a visão da população para com as pessoas que cometeram
crime(s). O contexto social que originou a criação das penas e medidas alternativas no
país, na década de 80, é extremamente discrepante do momento vivido hoje – se numa
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília-DF. Disponível em: http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituição.htm. Acesso em: 01 jul. 2019.
COSTA, Joel Luiz. Pacote ‘anticrime’ de Moro atinge diretamente a população periférica. Carta Capital,
Rio de Janeiro-RJ, 15 jul. 2019. Disponível em: https://www.cartacapital.com.br/blogs/perifaconnection/
pacote-anticrime-de-moro-atinge-diretamente-a-populacao-periferica-3. Acesso em: 1 ago. 2019.
DALLAGO, Cleonilda Sabaini Thomazini. Programa Patronato deixa de funcionar em Toledo. Jornal do
Oeste. 19 fev. 2020. Disponível em: https://jornaldooeste.com.br/toledo/programa-patronato-deixa-de-
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Disponível em: http://midianinja.org/news/moro-quer-intensificar-o-controle-de-corpos-negros/. Acesso
em: 5 fev. 2019.
MATOSO, Gabriel Palma e Filipe. Moro defende regras mais ‘duras’ para sistema prisional deixar de
ser ‘leniente’ com detentos. G1, Brasília, 8 nov. 2018. Disponível em: https://g1.globo.com/politica/
noticia/2018/11/08/moro-defende-regras-mais-duras-para-sistema-prisional-deixar-de-ser-leniente-com-
detentos.ghtml?fbclid=IwAR0tjGxgKdQbLVofDye51jgUvmIyR7ZeqDH-TzUD-wU1x7f6fJ_5H-tyUnY.
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SARTRE, Jean-Paul. Esboço para uma teoria das emoções. Porto Alegre: L&PM, 2014 (Obra original
publicada em 1939).
SARTRE, Jean-Paul. A questão judaica. São Paulo: Ática, 1955 (Obra original publicada em 1946).
SARTRE, Jean-Paul. Crítica da razão dialética: precedido por Questão de Método. Rio de Janeiro:
DP&A, 2002 (Obra original publicada em 1960).
Data de aceite: 01/02/2021 Outro objetivo foi verificar se existe adesão para
essa proposta de suporte e cuidado. Foram
realizados dez encontros, os quais totalizaram
33 participantes. Os instrumentos utilizados
Karine da Cunha Leou
para a coleta foram: registro dos encontros e
Uniamérica, Foz do Iguaçu, Paraná
dinâmicas de interação. Os principais temas que
Marcos Moraes de Mendonça repercutiram durante os grupos foram: família,
Uniamérica, Foz do Iguaçu, Paraná a vivência na rua, drogadição, oportunidade
de trabalho, motivação e enfrentamento das
Kelly Cristina Borges da Silva
situações do cotidiano. Dados obtidos apontam
Uniamérica, Foz do Iguaçu, Paraná
para a relevância de intervenções grupais,
Andressa Maria de Oliveira principalmente na área da saúde e no social,
Uniamérica, Foz do Iguaçu, Paraná além de instigar futuras investigações focadas
para essa população que utiliza os serviços
Fabiana Cabral Gonçalves do Centro POP, como auxílio na redução de
Uniamérica, Foz do Iguaçu, Paraná danos, moradia, acompanhamento psiquiátrico
Meire Perpétua Vieira Pinto e psicológico, tendo como base essas carestias
Orientadora - Esp. em Psicoterapia de repercutidas durantes os encontros. Considera-
Orientação Psicanalítica. Uniamérica, Foz do se que esse tipo de intervenção possibilita
Iguaçu, Paraná uma maneira de resgatar a existência da
individualidade e humanidade dessa população
em situação de rua, os quais têm experiências de
vida e possibilidade de contribuir na sociedade.
RESUMO: Com o aumento da população em PALAVRAS-CHAVE: População em Situação de
situação de rua, no contexto de Foz do Iguaçu, Rua, Grupo de apoio, Clínica ampliada.
verifica-se comprometimentos em vários âmbitos
da saúde. Suas formas de sobrevivências
1 | INTRODUÇÃO
envolvem o estigma sofrido por suas presenças
em meio ao público, a insalubridade, insegurança Sujeitos em situação de rua são
e outras variáveis prejudiciais. Devido a isso, expostos a contextos de alta vulnerabilidade
essa pesquisa de caráter qualitativo teve como como: violência (física, psicológica e sexual),
objetivo realizar um grupo de apoio heterogêneo
negligência, insegurança alimentar, ingestão de
e aberto com a função de troca de experiências e
água não tratada, sono prejudicado, variações
reflexões aos usuários do Centro de Referência
Especializado de Atendimento à População em de clima, autocuidados precários. Além de
Situação de Rua (Centro POP) de Foz do Iguaçu. perpassar por diversos comprometimentos na
2 | MÉTODO
2.1 Participantes
Participaram desta pesquisa 33 usuários do Centro de Referência Especializado em
Atendimentos à População em Situação de Rua situado em Foz do Iguaçu. Sendo 9,09%
do sexo feminino e 90,91% do sexo masculino entre 20 a 73 anos.
Masculino 90,91%
Feminino 9,09%
2.2 Instrumentos
Foi utilizado para essa pesquisa a ferramenta de grupo de apoio, com reuniões uma
vez por semana, o qual propôs um espaço para reflexões sobre a vida, para compartilhar
experiências, acolhimento e escuta ativa.
A escolha do tema e local foi aprovado e autorizado pelo órgão local, cada
participante assinou o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido seguindo um protocolo
ético para a pesquisa documental, foi utilizado conteúdos de produções científicas e
cartilhas relacionadas ao tema.
2.3 Local
O projeto foi realizado no Centro de Referência Especializado para População em
Situação de Rua (CENTRO POP). Situado na rua Monsenhor Guilherme, Nº527 em Foz do
Iguaçu - PR. O horário de funcionamento ocorre de segunda a domingo, das 07:00 às 18:00.
Funciona como uma unidade de emergência para as pessoas que estão em situação de
rua possam realizar sua higiene pessoal, alimentação, lavar roupas, descansar e receber
encaminhamentos de acordo com suas necessidades para outros locais, como: unidades
de saúde, Centro de Referência de Assistência Social para a verificação de documentos
ou auxílio-benefício, Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas, albergues e outros.
No que condiz ao espaço físico destinado aos encontros, cabe ressaltar que é um
ambiente arejado, livre de ruídos externos e propício para trabalhar o sigilo, desta forma
os participantes puderam ficar à vontade para expressar sentimentos, comportamentos e
pensamentos sem serem julgados.
3 | RESULTADOS
Ao convidá-los para participar do grupo de apoio, foi possível observar nos
participantes dúvidas, receios e desconfianças, em outros simpatia e uma oportunidade de
obter algum benefício.
1°Encontro Foi discutido o convívio diário dos usuários Devido ao grande número de participantes e
do Centro POP, assim como os desafios de o tempo limitado, não foi possível todos se
12 pessoas viver na rua, foram desenvolvidos temas pronunciarem, em sua maioria, preferiram
participando. como o uso de drogas, seus desafios e a escutar, ao invés de falar. Realizado o
16/03/2019 problemática em estar sozinho, na rua. No acolhimento dos relatos a respeito da
que condiz as técnicas do grupo foi possível vivência nas ruas, foi iniciado o processo
trabalhar o sigilo, o acolhimento e o respeito. de identificação dos participantes e
compartilhamento de experiências.
2°Encontro Foi possível discutir e acolher todos os Os relatos foram suas perspectivas no que
relatos, devido ao número de participantes condiz à serem tratados como “pessoas
6 pessoas reduzido. Nesse encontro foi trabalhado a invisíveis”, “pedintes”, “bandidos”, “drogados”
participando, rotina dos participantes, como: os desafios e etc. A maioria trouxe a meta de parar de
sendo que 2 já vividos no dia a dia, seus objetivos de vida utilizar drogas, tentar sair da situação de
haviam participado a curto prazo. rua. Foi possível verificar a importância da
anteriormente. atenção à essa população.
23/03/2019
3°Encontro Foi apresentado o objeto da palavra, Foi realizado o acolhimento das emoções
juntamente a caixa das emoções como que foram transparecidas devido às
6 pessoas ferramenta de extensão do grupo. Feito a dinâmicas realizadas, em sua maioria,
participaram, troca de experiências entre os participantes, relataram familiares que gostariam de
sendo que 4 já por meio de duas dinâmicas, a técnica de rever, do desejo de reviver momentos e a
haviam participado relaxamento por meio da respiração e a do presença do sentimento de arrependimento
anteriormente. sopro da vida, feito com velas que trazem da atual situação, além da troca dialógica de
30/03/2019 reflexões sobre a utilização do tempo atual superação e motivação entre os participantes.
em relação a perspectiva para o futuro.
4°Encontro Foi utilizado o objeto da palavra para manejo Dois participantes compartilharam suas
do grupo. Feito o acolhimento dos relatos, frustrações em relação a situação atual,
12 pessoas por meio da realização da dinâmica trazida o grupo pode acolhê-los. Teve presente
participaram, sendo do “papel amassado”, o qual proporciona uma participante com surto psicótico, a
que 1 já havia a reflexão sobre o “controle da vida” e os qual dificultou a dinâmica do grupo, porém,
participado. comportamentos relacionados. mesmo com esse comprometimento, foi
06/04/2019 possível realizar uma troca de experiências e
palavras de incentivo.
5°Encontro Foi trazido discussões ampla sobre as Foi explorado as histórias de cada
história de cada participante, com o intuito participante acolhido os relatos de medos,
2 pessoas de entender o real motivo de estarem nesta frustrações e as perspectivas para o futuro.
participaram, sendo situação e a percepção do que os mantém, Sobre a relação familiar como um dos fatores
que 1 já havia uma vez que esse tema foi o que trouxe como que contribui para a situação de rua. Foi
participado. reflexão para os participantes “moverem” primeira vez, que o foco não foi a respeito
13/04/2019 suas vidas. das condições financeiras ou drogadição,
mas sobre o autogerenciamento.
8°Encontro O número de participantes foi suficiente para Foi percebido uma interação entre os
5 pessoas desenvolver uma atmosfera de discussão participantes, a promoção de solidariedade
participaram, acerca das políticas públicas, uso de drogas, simultaneamente a realização de pequena
sendo que 2 solidão e dificuldade em conduzir a vida. quebra de preconceito entre os mesmos
haviam participado Além dos temas sobre os benefícios de ter frente aos funcionários públicos, uma
anteriormente. uma escuta ativa, sem julgar a experiência vez que foi realizado o trabalho de auto
04/05/2019 de outrem e o processo de mudança no que responsabilidade. O grupo acolheu os temas
condiz a respeito de erros e acertos. e discussões.
9°Encontro Foram discutidos diversos temas no convívio Dois participantes trouxeram relatos de
diário, tendo como foco abrir um espaço de abandono, além da forma de diferenciada
4 pessoas escuta e acolhimento dos relatos. Dessa de enfrentamento obtido pelos participantes
participaram, forma possibilitou o manejo de se trabalhar que tinham mesma idade. O grupo teve um
sendo que 1 já aspectos delicados sobre a vida dos bom desenvolvimento, pois estavam em um
havia participado participantes e temas como desemprego, estado sincrônico, podendo respeitar as falas
anteriormente. vida no cotidiano, escolhas, abandono e de todos.
18/05/2019 responsabilidade.
10°Encontro O último encontro foi pautado em realizar um O grupo trouxe feedback positivos sobre ter
apanhado dos temas trazidos durantes os um espaço para compartilhar experiências e
8 pessoas encontros, desde autonomia, perspectivas expressar emoções, sobre suas dificuldades
participaram, para o futuro, crítica individual, a situação que envolvem questões de drogadição,
sendo que 3 já atual vivida por cada participante e o que abandono, falta de oportunidades,
haviam participado o levou a estar nesta condição. Realizado complicações para obtenção de consultas
anteriormente. o processo de feedback da experiência médicas e medicamentos, além dessa troca
25/05/2019 obtida pelo grupo de apoio e realizado uma dialógica de incentivo e motivação.
confraternização de encerramento
Na tabela 5, verifica-se quais o olhar dos participantes com relação ao seu próprio
futuro, uma vez que cada indivíduo se encontra em uma situação diferente do próximo,
podemos destacar que a perspectiva positiva dos participantes se sobrepõe a negativa,
pois os integrantes do grupo sabiam quais as pequenas metas para mudar as perspectivas
vividas, entendendo que a situação em situação de rua é momentânea e não definitiva.
Desta forma destacamos os principais temas como metas, esperanças, medos e recaídas.
4 | DISCUSSÃO
Por meio de estudos realizados cujo temas envolvem a população em situação de
rua, foi possível validar os principais motivos que levam esse público à essa condição.
De acordo com a Pesquisa Nacional sobre a População em Situação de Rua (2009),
foram problemas de alcoolismos e/ou drogas (35,5%) desemprego (29,8%) e desavenças
familiares (29,1%), aspectos que coincidiram com a pesquisa presente realizada.
Embora existam os acolhimentos institucionais dos indivíduos em situação de rua,
realizado de acordo com o caderno do Centro POP (2009), o qual oferece um espaço
5 | CONCLUSÃO
No Centro POP não havia tido uma experiência de grupo de apoio, mesmo que a
prática grupal esteja presente na psicologia enquanto ciência. Por meio das dinâmicas
de grupos e temas, os usuários trouxeram contextos diferentes, principalmente no que
se refere a afetividade e ao uso de drogadição. Dessa maneira, foi possível trazer um
ambiente para o compartilhamento de angústias, histórias de superação e experiência.
A partir dos resultados e das observações feitas durante o grupo de apoio, foi
possível concluir o quanto é desafiador estabelecer vínculo para proporcionar um ambiente
de confiança, buscar compreensão sem julgamento e trazer suas individualidades por
meio das histórias repercutidas. A perspectiva de experiência com a população de rua
demandaram despojamento, empatia e principalmente o aprendizado de não desanimar
mesmo quando as condições forem diversas.
Por meio desta pesquisa, puderam-se identificar, estudar e avaliar pontos de vista
teórico e prático, que reforçam a importância de manter o grupo de apoio à esse público
em situação de rua. Além disso, vale destacar a fundamental relevância dos serviços de
acolhimento e fortalecimento do Centro POP para essa população e realizar discussões
sobre suas problemáticas para buscar-se estratégias de desenvolvimento para novos
projetos dentro da instituição.
Dados obtidos propõem a inevitabilidade de intervenções, principalmente na área
da saúde e social, além de possibilitar futuras pesquisas focado para essa população em
situação de rua, uma que uma das limitações encontrada durante esse estudo foi o tempo
reduzido de atuação, sendo necessário um aprofundamento maior acerca das condições
e vivências dos usuários da instituição. Com a continuidade do grupo pode-se promover
um processo maior de acolhimento e ser feito um acompanhamento mais diretivo dos
participantes.
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pp.275-285. ISSN 1414-3283.
• Descrever quais os efeitos na saúde mental da mulher que deseja abortar e ve-
rificar através de pesquisas bibliográficas qual o papel do psicólogo no trabalho
a respeito dos possíveis efeitos que o aborto pode causar na saúde mental da
mulher brasileira.
A elaboração teórica desse artigo se deu através de pesquisa bibliográfica, se
valendo também da leitura da legislação que trata o tema. Através dos dados que foram
levantados, pudemos observar os fatores sociais, de risco, de prevenção e principalmente
dos cuidados psicológicos no atendimento a esses possíveis efeitos que o aborto causa na
saúde mental da mulher brasileira.
2 | O QUE É ABORTO?
Devido às suas várias tipologias, o presente trabalho viu grande relevância em
discutir o aborto, visto que não é apenas debatido na área da saúde, mas se tratando de
crime em alguns casos, vale ressaltar a questão também no âmbito jurídico.
Dessa forma, vale ressaltar que, segundo o Dicionário Priberam (2020), o aborto
consiste na expulsão espontânea ou voluntariamente, de um feto ou embrião, antes do
tempo e sem condições de vitalidade fora do útero materno.
De acordo com o site JusBrasil (2020), no Brasil o aborto é crime, e só é permitido
em casos onde há risco de vida para a gestante ou quando a gravidez é resultado de um
estupro. Em 2012, o Supremo Tribunal Federal declarou que o aborto também é permitido
quando há a comprovação de que o feto é anencéfalo, que significa que o feto não apresenta
total ou parcialmente a calota craniana e o cérebro.
Em determinadas ocasiões, quando o aborto se enquadra no que é permitido,
algumas mulheres encontram fortes barreiras para interromper a gravidez, como por
exemplo, ter que comprovar o motivo do aborto com vários exames invasivos ou quando
a instituição não aceita o caso. Além desses problemas com o aborto legalizado, há um
grande número de aborto realizado clandestinamente em clínicas particulares ou auto-
provocado.
Todavia, o apoio que a mulher pode ter durante esse período de gravidez poderá
amenizar esse sofrimento provocado por aspectos sociais. De acordo com essa perspectiva,
a descriminalização do aborto faria com que o processo de decisão fosse facilitado se
tivesse o suporte da família e acompanhamento de profissionais da área.
É de suma importância o acompanhamento psicológico para a mulher nessa
situação frágil, sendo antes, durante ou depois da realização do aborto. Pois, dessa forma,
o profissional saberá conduzir e agir de determinadas formas que irá ajudar essa mulher.
Diante disso, é notória a falta de conteúdos científicos que possam auxiliar o trabalho
do psicólogo, indicando limitações metodológicas de estudos. Assim, se faz necessário,
que novas pesquisas aborde o tema de aborto, para que no futuro haja materiais
complementares para a atuação desse profissional nesse processo delicado.
Para contextualizar o exposto, foi pertinente trazer alguns casos que tiveram grande
repercussão na mídia. O primeiro caso é da atriz e cantora Mariana Rios - que sofreu um
aborto espontâneo. Segundo o portal G1 (22/07/2020), a atriz relata que ao saber que tinha
perdido o seu primeiro filho, tentou se manter tranquila, porém no dia seguinte desabou, e
o que ajudou foi ter o suporte e amparo do marido. Na entrevista, ela acrescenta: “Percebi
que muitas mulheres não falam sobre isso, sobre suas perdas. Recebi histórias de mulheres
que nunca tiveram liberdade para falar sobre o assunto”.
Nessa fala da Mariana, nota-se a importância do acompanhamento psicológico para
que essas mulheres aprendam a passar por esse processo de forma resiliente. Nota-se que,
mesmo a mulher tendo suporte emocional, pode gerar desamparo. Assim, o acolhimento
de um profissional de psicologia poderá ser um diferencial nesse processo, principalmente
para aquelas mulheres que não tem suporte familiar, acompanhamento médico, e um
ambiente adequado.
O segundo caso aconteceu recentemente no Brasil. As mídias retrataram um
acontecimento do caso de uma menina de 10 anos que foi abusada pelo tio. Nessa situação,
a menina engravidou e, diante disso, procurou a justiça para aprovação de um procedimento
de aborto. De acordo com o site da Revista Veja (2020), o juiz Antônio Moreira autorizou a
interrupção na gestação a menina de 10 anos, porém mesmo com a autorização, a criança
precisou ser levada para Recife (PE), porque o hospital do Espírito Santo se recusou a
realizar o procedimento. Vale ressaltar que diante a legislação brasileira, é permitido o
aborto em caso de estupro.
5 | CONSIDERAÇÕES FINAIS
De acordo com a Revista Bioética (2013), no Brasil o aborto só é legalizado nos
casos de gravidez decorrente de estupro, grave risco de vida à mãe e, mais recentemente,
nos casos de anencefalia. Desse modo, o Estado brasileiro disponibiliza o acesso pelo
Sistema de Único de Saúde (SUS), contudo, mesmo nesses casos, a mulher se depara
com grandes barreiras de acesso, como, por exemplo, locais que se negam em realizar o
aborto, mesmo dentro de premissas legais.
Além dessas barreiras para a realização do ato do aborto, há problemas relacionadas
aos efeitos que o aborto causa na saúde mental da mulher. O artigo de Cosme e Leal (1998,
apud SPECKHARD 1987), documentou que em uma determinada amostra de mulheres
apresentou efeitos adversos, mesmo depois de ter se passado muito tempo da situação
do aborto. No mesmo artigo, Cosme e Leal (1998, apud BARNARD 1990), apresentam a
informação sobre sintomas pós-traumáticos depois de 3 a 5 anos pós-aborto.
Percebe-se, através do estudo, que a saúde mental das mulheres reflete as tensões
e angústias do tema do abortamento induzido no Brasil.
Villela et al (2012) cogitam que condições mais graves de sofrimento mental podem
estar vinculadas às condições de criminalidade em que as mulheres realizam a interrupção
da gestação, à sós - e com medo.
Nesse momento tão delicado, se faz de extrema importância a presença de um
psicólogo em todo o processo. Afinal, através da orientação de um profissional da área,
pode-se pensar em se transformar um período tão difícil e controverso, em uma história de
onde se encontre ressignificação e superação.
Através da pesquisa elaborada, ressalta-se a importância da realização de pesquisas
que abordem o contexto atual do aborto. De acordo com a cultura que o Brasil tem em
relação ao tema, se faz necessário utilizar de forma educativa para melhor esclarecimento
do assunto para a sociedade, pois há muitas questões religiosas e morais envolvidas no
discurso que perpassa essa questão tão importante para a saúde da mulher.
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espontaneo-do-1o-filho-senti-que-voei-ate-o-ceu-e-despenquei.ghtml> Acesso em: 23 out. 2020
G1. Santos, SP, aprova lei que permite atendimento separado a grávidas que sofrerem
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<http://dx.doi.org/10.1590/S1413-81232012000700009> Acesso em: 09 mar. 2020
RESUMO: Apesar da pergunta a ser respondida mas, foi na década de 90 que foram criadas as
no processo de avaliação para Cirurgia Bariátrica primeiras unidades especializadas no tratamento
ser se o avaliado está apto ou inapto para fazer cirúrgico de obesidade mórbida com a estrutura
a Cirurgia Bariátrica, hoje entendo que isso de equipes multi e interdisciplinares. Essas
demanda uma avaliação holística, típica de
equipes são compostas por endocrinologista,
uma avaliação conceitualmente clínica, que vai
envolver não só características específicas desse cirurgião bariátrico, nutricionista ou nutrólogo,
paciente, mas sim motivadores para tomada psiquiatra ou psicólogo, anestesista, enfermeiro,
de decisão, suporte familiar, motivação para assistente social e eventualmente outros
aquela escolha. Muito ainda há para pesquisar
(cardiologista, pneumologista, fisioterapeuta,
e discutir com relação a Avaliação Psicológica
para CB, mas espero que o relato de experiência odontologista, etc.) especialistas com
apresetanado possa contribuir para prática de experiência em obesidade e Cirurgia Bariátrica.
nossos parceiros assim como fomentar novas A ampliação da procura pelo
discussões.
procedimento se dá em parte pelo alto índice de
PALAVRAS-CHAVE: Cirurgia Bariátrica,
obesidade que segundo o Ministério da Saúde
Avaliação Psicológica, Adolescente.
• Pacientes com IMC maior que 35 kg/m2 e afetado por comorbidezes (doenças
agravadas pela obesidade e que melhoram quando a mesma é tratada de for-
ma eficaz) que ameacem a vida, tais como diabetes tipo 2, apneia do sono,
hipertensão arterial, dislipidemia, doença coronariana, osteo-artrites e outras.
• abusadores de álcool;
• dependentes químicos;
• Ansiedade
• Depressão
• Comportamentos compulsivos
• Conscienciosidade
• Inteligência
• Suporte Familiar
Com base nestes critérios, desenvolvemos um plano de avaliação que permitisse
investigar estas características considerando as especificidades da Avaliação Psicológica
em Adolescente. O plano será apresentado detalhadamente no estudo de caso e consiste
nas etapas (Figura 1):
1
House , Tree, Person
2
Questionário de Personalidade para Crianças e Adolescente
3
Body Shape Questionnaire
4
Teste de Inteligência Geral Não Verbal
2 | ESTUDO DE CASO
Neste capitulo apresentaremos um estudo de caso cujo plano de avaliação integra
testes projetivos/expressivos e objetivos. Não há na literatura muitos instrumentos
com evidências de validade para esta população ou resoluções que apontem uma
• regressão
• fixação no passado
• impulsividade
• concretismo
• insegurança
• Sentimento de inadequação
• dependência.
4º encontro- EPQ-- J- Questionário de Personalidade para Crianças e Adolescente
e Psicoeducação
No quarto encontro aplicamos o instrumento EPQ-J de avaliação da Personalidade
para Crianças e Adolescente cuja finalidade é a avaliação de traços de personalidade e,
como atividade psicoeducacional, discutimos as complexidades do pós cirúrgico.
Os resultados do EPQ-J revelaram:
• Neuroticismo Alto - sujeitos com altos escores neste fator são definidos como
ansiosos, deprimidos, tensos, irracionais, tímidos, melancólicos, emotivos, com
tendência a sentir culpa e baixa autoestima
3 | CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apesar da pergunta a ser respondida no processo de avaliação para Cirurgia
Bariátrica ser se o avaliado está apto ou inapto para fazer a Cirurgia Bariátrica, hoje entendo
que isso demanda uma avaliação holística, típica de uma avaliação conceitualmente clínica,
que vai envolver não só características específicas desse paciente, mas sim motivadores
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p. 10-20, 2019.
1 | INTRODUÇÃO
Em tempos atuais, assuntos relacionados a comercialização e circulação de armas
estão ao lado das temáticas mais discutidas ligadas à Segurança Pública no plano de
prioridade mundial. Tanto a sociedade, quanto a governança visam em seus atos e ações,
proteger ao passo que disseminam condutas, saberes e ideias, a necessidade de poder
circular com arma de fogo livremente. Visto essa proteção, no Brasil, desde a edição do
Estatuto do Desarmamento (2003), o controle de armas tornou a posse e especialmente o
porte de armas mais restrito, e a avaliação psicológica passou a ser obrigatória, só após
ser considerado apto o candidato é autorizado a dar continuidade ao processo e avaliação
técnica.
Têm sido polarizadas e realçadas pelos mais diversos organismos (entidades
privadas, Estado), ações voltadas a Segurança Pública a circulação e registro de armas.
Nesse sentido, considerando as mudanças sociais no que diz respeito a crescente
participação da sociedade no gerenciamento de políticas protetivas do indivíduo e
compreendendo-se a necessidade de efetivação de políticas públicas direcionadas pelo
Estado à proteção cidadã.
Após a edição do Estatuto do Desarmamento no Brasil, que é a Lei nº 10826/03,
mostra que o controle de armas passou a ser um processo mais restrito, a posse é
concedida à policiais militares, responsáveis pela segurança pública, guardas municipais
em municípios com mais quinhentos mil habitantes, e demais funções apenas previstos
em legislação especificados segundo a referida lei (BRASIL, 2003). Sendo assim, para as
pessoas sem as profissões mencionadas anteriormente, o porte torna-se proibido.
Sobre a questão voltada a quem pode, ou não, ter a posse de uma arma,
profissionais de saúde ,tais como, psicólogos e psiquiatras, são essenciais para o papel
de desmistificador de que todo cidadão de bem pode possuir arma, pois, ele busca no
indivíduo características que podem ou não deixar de fora toda situação que o conduziu
até ali. Sendo assim, a função do psicólogo na sociedade é dar voz e vez para o sujeito
(SELL, 2016). Isso é possível através da avaliação psicológica que utiliza instrumentos e
técnicas especificas.
2 | MÉTODOS
Trata-se de uma pesquisa que se utilizou da revisão integrativa de literatura científica
existente sobre a temática, um dos métodos de pesquisa utilizados na prática baseada
em evidências que permite a incorporação dos resultados deste tipo de estudo na prática
clínica (MENDES; SILVEIRA; GALVAO, 2008), pois tem a finalidade de reunir e sintetizar
resultados de pesquisas sobre um delimitado tema ou questão, de maneira sistemática
e ordenada, que visa obter um profundo entendimento de um determinado fenômeno
baseando-se em estudos anteriores (BROOME, 2006).
Por se tratar de um método revisão amplo permite a inclusão de diferentes tipos de
pesquisa proporcionando uma compreensão mais completa do tema estudado, permitindo
3º) Análise crítica dos critérios e métodos empregados nos vários estudos
selecionados para determinar se são válidos metodologicamente;
3 | REFERENCIAL TEÓRICO
Na atuação profissional do psicólogo a avaliação se faz presente em todas as áreas,
pois para qualquer intervenção psicológica antes é preciso uma análise sobre o indivíduo
e meio que está inserido para compreender suas demandas. A avaliação psicológica só
pode ser realizada com base em teorias, técnicas e estudos cientificamente comprovados.
O Conselho Federal de Psicologia (CFP) define a avaliação psicológica como sendo
um processo técnico-científico de coleta de dados, estudos e interpretação de informações
a respeito dos fenômenos psicológicos, que são resultantes da relação do indivíduo com
a sociedade, utilizando-se, para tanto, de estratégias psicológicas, métodos, técnicas e
instrumentos. (RESOLUÇÃO CFP 07/2003).
A avalição psicológica torna possível investigar, descrever e/ou mensurar
características e processos psicológicos, como emoção, afeto, cognição, inteligência,
Sexo N %
Feminino 77 89,5
Masculino 9 10,5
Total 86 100,0
Faixa etária N %
20 - 29 anos 22 25,6
30 - 39 anos 37 43,0
40 - 49 anos 14 16,3
50 - 59 anos 7 8,1
Sem resposta 6 7,0
Total 86 100,0
Como pode ser visto, é apenas um exemplo de como o sistema Exner pode ser
aplicado, e como é confirmado por Nascimento (2002), para garantir a sua eficiência, tem
que se aplicar em uma comunidade específica.
O Teste de Apercepção Temática é Determinado como um teste projetivo
desenvolvido em 1935 por Henry Murray, foi desenvolvido para medir determinadas
características da personalidade, como os motivos, e foi muito utilizado no estudo da
motivação. Nesse teste, se utiliza como instrumento de avaliação, 31 lâminas com imagens
em preto e branco que representam diferentes situações da vida. Algumas delas são
comuns, enquanto outras estão especificamente indicadas em função do sexo e da idade
da pessoa avaliada. São apresentadas apenas 20 lâminas a cada indivíduo, divididas em
duas sessões.
Após observar cada imagem, a pessoa deve narrar uma história que contenha
passado, presente e futuro, enfatizando o que cada personagem está sentindo e pensando
(MENTE MARAVILHOSA, 2019). Por outro lado, as ações e emoções do restante dos
personagens serão uma projeção de como a pessoa percebe o seu ambiente. O que ela
deseja e o que teme que aconteça, bem como os impulsos inconscientes que tem e se
nega a reconhecer.
Este instrumento proporciona uma grande quantidade de informação sobre a
personalidade do indivíduo. Através das suas narrações, pode se elucidar a imagem que
ele tem de si mesmo, como são as relações com o seu entorno, e a existência de conflitos
latentes (PARADA, 2011).
4 | RESULTADOS E DISCUSSÕES
Foram encontrados nesta pesquisa 09 artigos que tratam e se enquadram na
temática proposta. Sendo compostos de 02 artigos entre o ano de 2000 e 2005 que embora
esteja como lapso temporal enorme, foram essenciais sobre sua contribuição basilar
da pesquisa. Foram utilizados ainda, artigos do ano de 2009 a 2013, que entraram na
pesquisa, para reforçar sobre o tema proposto, além de artigo do ano de 2016 a 2019, que
foram fundamentais para construir fundamentação recente como pode ser visto no (quadro
01).
Quadro 01 – Analise
5 | CONSIDERAÇÕES FINAIS
A avaliação psicológica em vários âmbitos tem ganhado notoriedade e principalmente
o reconhecimento merecido de sua credibilidade, com embasamento científico e ético, tanto
que passou a ser uma exigência da legislação brasileira para obtenção e porte de arma de
fogo. No entanto, uma limitação importante foi observada, e que caberia melhor investigação
em pesquisas futuras. Trata-se da escassez de pesquisas na área, principalmente no que
se refere a como os psicólogos estão conduzindo o processo de avaliação neste contexto.
Para os profissionais de psicologia, é sempre importantes a atenção ao que diz o
Código de Ética referentes à avaliação psicológica, especialmente o Art. 1º - que menciona
entre os deveres fundamentais dos psicólogos, a importância da responsabilidade
de exercer atividades apenas quando devidamente capacitado tanto pessoal como
teoricamente e tecnicamente. Assim como, a atenção a qualidade do serviço prestado em
condições dignas compatíveis com a natureza do serviço. Como por exemplo, um espaço
adequado, sem interferências externas para prezar pelo sigilo das informações e respeitar
rigorosamente as normas de aplicação de cada teste, em hipótese alguma é permitido
aplicar em grupo testes indicados para ter aplicação individual.
Portanto, aos profissionais de psicologia que desejam adentrarem na área de
avaliação psicológica para obtenção do porte de arma de fogo, é importante saber que ainda
não temos testes específicos, os mencionados aqui são os que respondem a necessidades
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WAISELFISZ, J,J. Mapa da violência 2016: homicídios por armas de fogo. Brasília, UNESCO, 2015.
ANEXO A
Exemplo de Laudo Psicológico conforme sugerido pela Polícia Federal para a avaliar a aptidão
ao manuseio de armas de fogo.
1 | O CASO DE ANTÔNIA
A participante Antônia demonstrou resistência inicial em participar deste estudo.
Com ela foram realizadas algumas visitas, num trabalho de aproximação e identificação
até que ela se sentiu à vontade e declarou seu interesse em participar deste estudo sem
que lhe fosse perguntado uma segunda vez.
Em todas as visitas, Antônia se encontrava sem a presença de um acompanhante.
Haviam quatro gestantes, contando com ela, dividindo a mesma enfermaria. As outras
três gestantes não tinham o diagnóstico de DM Gestacional. Durante as visitas, estava
sempre na companhia das demais gestantes, com poucos processos dialógicos, porém,
aparentemente, uma acabava fazendo companhia a outra.
Apesar da certa resistência inicial em participar da pesquisa e, de aparentar timidez,
Antônia se entregou ao processo dialógico, demonstrando grande interesse e curiosidade
pela pesquisa. Antônia relata que seu DM Gestacional foi diagnosticado entre o sétimo e o
oitavo mês de gestação, após um exame de rotina, como segue em sua fala:
Pra te falar a verdade... no alto risco eu vim só... me falaram: você tem uma
consulta no hospital... o posto de saúde vai te enviar pro hospital e... lá... eles
vão marcar uma consulta com você... Aí eles me ligaram... eu digo... eu vou
lá... aí quando eu cheguei aqui... nem se quer meu prontuário tinha voltado
pra cá ainda... e lá estavam outros exames... aí eu peguei... voltei né... e falei
pro meu médico... trouxe os exames anteriores... ele viu e falou assim... é... o
problema é mesmo grave... daí eu falei pra ele... eu to com exame marcado
pro dia... dia dois... que foi uma ecografia... Dia dois agora... aí ele falou...
tá bom... dia dois foi num domingo... então dia três... na segunda... você me
... Minha família tá toda longe, entendeu? Todo mundo trabalha, todo mundo...
eu to aqui só. Daqui a pouquinho o meu esposo chega aí, entendeu... E eu
não quero preocupar a minha mãe que tá longe... então eu digo que tá tudo
bem... Me viro...
A medida em que a fala de Antônia vai se estendendo, suas emoções vão aflorando
e ela começa a se posicionar sobre os aspectos e situações de sua vida, permitindo que
as configurações subjetivas em relação a sua nova dinâmica de vida (DM Gestacional
e a internação repentina) vão avançando cada vez mais. Neste trecho, aparentemente,
E. ... eu já acho que não combina bem, assim, esse Eu falei que eu quero uma
coisa bem simples, assim, pra ninguém botar apelidos... Porque a família toda tem apelido.
Até uma coisa pequena, um nome pequeno, simples, bonito, sem... aí... E. foi uma... na
verdade é minha avó. Minha vó falou assim “Eu gosto muito desse nome E. . Porque você
não coloca E. ?”. Aí eu falei “Ah, gostei também, num achei feio não”. Aí tou na dúvida. Mas
até então, tá em C. mesmo...
Neste trecho, Antônia fala sobre a dinâmica da escolha do nome do filho que está
para nascer. Aparece a “família” e sua “avó” como coadjuvantes no processo da escolha
do nome da criança, porém, se mantém em seu discurso a necessidade de se sentir na
posição de decisão. Esse comportamento se mantém em seu discurso, representando
como uma configuração subjetiva ativa, tornando esse espaço mais racional.
Antônia menciona ter ficado preocupada com o diagnóstico de DM Gestacional,
então, pedi-lhe que me falasse mais sobre como foi quando recebeu o diagnóstico, e ela
diz o seguinte:
Não... antes disso... a gente faz uma palestra... logo no início do pré-natal...
nunca faltei nenhuma consulta... sempre mantive meu pré-natal em dia...
tudo... aí... lá... essa enfermeira... que... que trabalhava com a gente... durante
o pré-natal... pra acompanhar... ela comentou... que tinha algumas gestantes
que durante a gestação... poderia ocorrer de... de... adquirir essa diabete...
de evoluir essa diabete né... de desenvolver... ai eu “Olha, na minha família
nunca teve... eu achei até que era uma coisa hereditária... “olha... na minha
família não tem nada disso”... E fiquei tranquila... Mas daí, já no final, veio
dando essa... essa alteração... mas... depois eu voltei lá... eu conversei com a
enfermeira... pessoalmente... assim... fora de... de consulta... essas coisas... e
fui tirar umas duvidas com ela... daí ela me explicou a situação do pâncreas...
que não tava conseguindo né... acompanhar né... mas que era comum... Que
a maioria das gestantes adquiri... só que umas avança mais... e outras... não
chega a evoluir... Pode virar uma coisa mais séria né... Eu tive outra gestação
que... idêntica a essa... sem dor... sem nada... nem enjoo eu senti... normal...
só nesse finalzinho que veio dá esse... essa diabetes gestacional... mas... to
tirando de letra...
É só o dedo... ahhh... ainda bem que é só o dedo (risos)... mas já tirei sangue
já hoje... Mas isso é bom... não acho ruim não sabe... independente de
qualquer coisa... é desconfortável... mas pra acompanhar... pra ver o que
é que tá acontecendo... eu prefiro que... que seja assim... antes eu tá aqui
acompanhada por profissionais, sabendo o que tão fazendo... do que eu tá
em casa fazendo a dieta sem... sem ter ao menos uma noção do que é que
tá acontecendo... porque só você pesquisando na internet... não te dar um
resultado... é isso...
E continua falando sobre o desconforto que vem sentindo com a própria gestação:
Eu não sei se é por conta... mas assim... por... eu não sei se é porque o neném
tá grande demais... eu to sentindo muita falta de ar já... sabe... ta aquela
coisa... procurando mesmo o ar... ta grande... e tá procurando um espaço
aqui... ai tá muito desconfortável... mas é só isso... só falta de ar mesmo...
demais... eu... uma vez eu comi doce... antes de descobrir também... eu comi
doce... não sei ao certo... mas me deu vontade de comer um chocolate... comi
o chocolate e logo em seguida deu uma ânsia de... ânsia de vômito... uma
náusea... aquela coisa estranha sabe... ai eu fiquei... achei estranho isso... ai
depois disso é que...
2 | O CASO DE ALESSANDRA
A participante Alessandra demonstrou interesse em participar deste estudo logo no
primeiro momento. Esta gestante já se encontrava internada há dois meses. Pareceu o
tempo todo bem à vontade e entregue a nossa conversação.
No início de nosso processo dialógico, Alessandra se encontrava sem
acompanhante. Na enfermaria havia apenas mais uma gestante. Alessandra demonstrava
ar de cansaço, possivelmente, pelo peso e tamanho da barriga.
Alessandra relata que seu DM Gestacional foi diagnosticado já durante a internação,
após um exame para verificar o andamento de um tumor cerebral. Ela conta o seguinte:
... a minha constatou mesmo com o exame do dedinho... que viu que
minha glicose tava alta... Aí... eles começaram a controlar com insulina e...
metiformina... e trocou a minha alimentação... Aí começou a controlar meu...
meu... meu... meu líquido, né... Meu líquido não... no caso... a minha glicose...
Tá estável... Só que o líquido continua a mesma coisa... Às vezes dá uma
diminuída, às vezes dá uma subida... uma subidinha... E fiz aquela morfológica
porque existe... diz que tem três razões... Só me lembro de duas... Uma das
razões do... da... da... desse problema do líquido... ou é má formação, ou
é... o... a diabete, que não tá sendo controlada... Existe uma outra que eu
também não sei te dizer, que... meu médico me falou e eu não consegui nem...
guardar... Mas eu sei que... a má formação foi descartado todas. A única
coisa que minha bebê tem é um... é um pequeno... ai meu deus, como é que
fala... um pequeno edema de couro cabeludo... bem pouquinho. Que diz que
tem alguns bebês que nascem também com isso. Só que eles só constatam
mesmo... qualquer má formação, porque eu fiz aquela morfológica que mostra
se existe alguma má formação... eu fiz aquela eletro... do coraçãozinho
do bebê, pra constatar se há também alguma... algum probleminha na
circulação... ou não... Não encontraram nada... nenhuma má formação. Então
não teve resposta em má formação do bebê, e também não teve resposta
em relação ao aumento do líquido com... é... a, a glicose, porque... porque a
glicose tá sendo controlada, e o líquido continua... sabe? Muito! É, agora só
ganhando pra saber a resposta. Os médicos falam, né... Tem crianças que...
que acontece isso... e não nasce com nada, eles dizem... Mas às vezes um
pequena má formação... uma valvulazinha pequena do coração tá... é coisas
pequenas que dá pra causar isso...
Ai... é complicado mesmo sair de casa... e ter que vir pro hospital... e passar
dois meses assim... é muito difícil. Mas... assim... eu tento levar um dia... um
dia atrás do outro. Tento viver o dia... e no final do dia... agradecer pelo dia...
porque se a gente for pensar... meu Deus... ainda falta tanto tempo... ainda
falta tantos dias... a gente acaba se estressando demais né? E a gente já fica
na gestação muito sensível... aí, você precisa da família... atenção... tudo...
dos filhos perto de você... e você tá dentro de um hospital... é muito mais
complicado... Tenho um filho de três anos e nove meses... Tenho uma filha de
dezesseis anos... E tem o meu esposo, né? Aí... quer dizer, a gente abandona
toda a casa... pra vir pra dentro do hospital... é muito complicado. A gente tem
que tá com a cabeça muito boa mesmo pra poder fazer isso.
Seus afetos não estão apenas centrados nos motivos de sua hospitalização, ela está
ligada a vida fora do hospital, sua família, expressando emoções fortes devido a saudade
que sente por conta dessa separação abrupta sofrida por conta da internação. Alessandra
demonstra compreender como sendo necessária a separação familiar neste momento de
internação, mesmo sentindo falta dos filhos e esposo. Quando lhe pergunto sobre a visita
da família, se tem visto os filhos, ela responde:
Nossa... Deus! Assim... eu... é... a gente começa a chorar... até com problema
de casa mesmo... Que a gente fica sabendo por telefone... E aí chora... e
aí lá vem a psicóloga... Fica horas conversando com a gente... A gente se
alivia... assim... a gente desabafa... e daqui a pouco ta tudo muito bem...
Aqui sempre acontece isso... Eu tenho uma coleguinha que tá chorando, e a
gente chama a psicóloga correndo... Pra poder ajudar, né? Porque... é difícil...
viu... a nossa gravidez... ainda no hospital! Hospital é um lugar muito difícil de
conviver. Toda hora um caso de alguém morrendo... Você tá vendo pessoas
com a mesma situação que você e acaba... falece... um filho falece e ela...
esses dias mesmo... teve uma moça que faleceu aqui com um problema de
pré- eclâmpsia... então a gente vê essas coisas acontecer e você fala assim
“Meu Deus, isso pode acontecer comigo!”... Aí a gente fica... assim... meia
chocada... Tem coisas assim... é bom você tá sendo traba... tá sendo tratada...
você tá sendo acompanhada por uma equipe muito boa... preparada... mas...
3 | O CASO DE MILENA
A participante Milena demonstrou bastante resistência, necessitando de um trabalho
de aproximação por meio de visitas num período de um mês até que ela declarasse seu
interesse em participar deste estudo.
Diferentemente de Antônia e Alessandra, Milena foi internada logo no início do
segundo trimestre da gestação devido as várias tentativas de aborto sem sucesso e o
excesso da ingestão de medicações sem prescrição médica e bebidas alcoólicas, como
ela mesmo relata:
Bom... nem sei como... mas cheguei nas 37 semanas... não quis tá grávida...
vou dar esse bebê depois dele nascer... tentei tirar um milhão de vezes... to
estudando ainda... o pai do bebê nem sabe quem eu sou... só quis brincar
de fazer sexo e eu cai na onda dele porque tava bêbada... vejo ele só de
longe mas ele nem fala comigo... comeu e foi embora saca... gastei a maior
grana pra tentar tirar o bebê... minha mãe quer me matar porque não quero
ficar com o bebê... daí ela me trouxe pra cá quando eu tava com umas 17
ou 18 semanas... nem lembro mais... só lembro que a placenta começou a
descolar... nem sei se é assim que fala... tive sangramento e... e daí ela me
Segundo esse recorte da fala de Milena, podemos verificar o quanto esta gestação
tem sido penosa. Para ela, a perda do estágio, e a distância das amigas, são consequências
geradas por esta a gestação e, portanto, pelo DM Gestacional. Seu posicionamento diante
da gestação, segundo sua fala, desde o início foi o de findar a gestação com tentativas de
aborto frustradas. A mãe, segundo ela, é a mantenedora desta gestação. O diálogo das
gestantes sobre a espera de seus bebes a incomoda, porém, existe uma “confusão” (grifo
nosso) de sentimentos em relação a esse bebê, quando ela diz “esse bebê não ta me
trazendo nada de bom... mas ele também não tem culpa...”
Aparentemente, Milena demonstra estar satisfeita com sua internação em relação a
distância familiar, como segue:
O único bom de tá aqui internada é poder ficar longe daquela família chata...
agora tá todo mundo pagando de bonzinho... como se a minhas tentativas de
aborto fossem as únicas da família... sei de muita gente que abortou na minha
família... mas... deixa eles... tudo tem volta... aqui to livre deles... sinto falta da
minha mãe.... mas ela vem aqui só pra brigar comigo... ela quer o bebê... mas
e eu? Será que ninguém vai pensar em mim? (...) Minha mãe me deixa com
dúvidas... não quero esse bebê... mas se ela não me deixar dar pra adoção...
vou ter que ficar com ele... pelo menos ela vem me ver... me dá carinho...
atenção... mesmo me torrando o saco... mãe é mãe né... acho que não nasci
pra ser mãe... sei lá... daqui a pouquinho ela chega... ela vem cuidar de mim...
Milena tem uma fala muito contraditória ao falar da mãe. A separação da família
parece um grande alívio para ela, porém, a presença e participação da mãe neste processo
de adoecimento, por mais que gere qualquer tipo de desconforto a Milena em relação a
gestação em virtude das críticas, se faz muito importante e necessária, pois, Milena parece
se sentir mais segura.
Milena tenta justificar suas tentativas de aborto em outras experiências já
vivenciadas em sua família. Aparentemente, ela parece atribuir a causa de seus problemas
às influências externas; neste caso, segundo ela, a família e a mãe seriam causadoras dos
desconfortos sofridos. Essa sensação de obrigação com a gravidez e o afastamento das
coisas que gosta de fazer, podem ser indicadores de uma dificuldade para gerar emoções
que mobilizem seu comportamento.
Em relação a vivência hospitalar diante dos procedimentos para o acompanhamento
de seu DM Gestacional, Milena diz o seguinte
O mal-estar emocional que ela vem alimentando em relação a gravidez e, que por
consequência, vem afetando sua saúde, definem uma configuração subjetiva na qual o
medo de permanecer doente começa a aparecer. É interessante como ela se mantém
passiva diante de seu adoecimento, culpando o bebê de seu adoecimento. Em nenhum
momento, durante nossa conversação, ela faz alguma reflexão sobre o seu autocuidado
em relação a sua saúde.
A dieta lhe aborrece, os procedimentos lhe incomodam, o bebê se torna o culpado;
em síntese, Milena não consegue produzir sentidos subjetivos que rompam com essas
barreiras que definem seu modo de vida atual, dando pouca atenção ao que poderia fazer
em prol de si mesma. Diante do tempo que ainda falta para o nascimento do bebê, ela
responde:
Nesse trecho, podemos perceber o quanto Milena está confusa em suas emoções
diante desta gestação. O tempo que ainda falta, a mãe que quer o neto, a mulher que
perdeu o bebê, e ela que já nem sabe mais o que quer, e que estava cheia de certezas.
Esse momento de hospitalização prolongada parece estar contribuindo para uma reflexão
dos fatos. Reflexões essas ainda muito conturbadas diante de tantas dúvidas e culpas.
4 | CONSIDERAÇÕES FINAIS
É importante salientar que em um ambiente de pesquisa não se trabalha apenas
com o sujeito ou sujeitos pesquisados, mas com um “mix” das vivências desse ou desses
sujeitos com as vivências do pesquisador. A pesquisa também é um ambiente de troca.
O jogo de cena sobre o qual produzimos as impressões sobre nós mesmos é esperado e
recebido pelo outro para a construção da sua impressão sobre nós. Tradições e posições
sociais também conduzem a condutas textualizadas.
Este estudo teve como finalidade principal, o entendimento de como gestantes com
o diagnóstico confirmado de Diabetes Mellitus Gestacional, hospitalizadas no alto risco
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1 | METODOLOGIA
Para a realização da meta-análise sobre a reabilitação neuropsicológica em
pacientes com Transtornos do Espectro do Autismo (TEA), foram necessárias pesquisas
bibliográficas em artigos periódicos, dissertações de mestrado e teses de doutoramento.
Para a busca do material de estudo foram utilizadas as bases de dados de Scielo e Google
Acadêmico, onde foram realizadas as pesquisas dos conceitos chaves sobre “Reabilitação
Neuropsicológica do Transtornos do Espectro do Autismo (TEA)”, “Sintomas do Transtornos
do Espectro do Autismo (TEA)”, “Deficiência Intelectual”, “Projeto Terapêutico Singular
(PTS)”, “Comportamentos do Transtornos do Espectro do Autismo (TEA)”, e “Manual
Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais”. As periodicidades das referências
bibliográficas foram limitadas entre o intervalo de 2006 e 2015, e as línguas foram o
Português-PT, Português-BRA e a língua Inglesa. Após as revisões bibliográficos de todos
os conteúdos de revisão literária foram selecionados os artigos considerados pertinentes
para a elaboração da pesquisa e reformulação da reabilitação.
Para a análise dos dados será realizado uma seletividade de todos os materiais
que foram localizados ao longo da pesquisa sobre a reabilitação neuropsicológica do
Transtornos do Espectro do Autismo (TEA). Em seguida será realizada uma análise
qualitativa dos dados que tem como ponto de partida o objetivo secundário da reabilitação
neuropsicológica e a implementação do projeto terapêutico singular em sujeitos que são
portadores do Transtornos do Espectro do Autismo (TEA) com comorbidade associada a
Deficiência Intelectual (DI).
4 | SINTOMATOLOGIA
As repercussões associadas ao Transtorno do Espectro Autista (TEA) estão
vinculadas a um conjunto de fatores que são de ordem neurodesenvolvimental e
concomitantes a manifestações de esfera comportamental. Essas manifestações
estão incluídas nos possíveis comprometimentos qualitativos que o sujeito pode vim a
apresentar, nomeadamente dificuldades de desenvolvimento sócio comunicativo, presença
de comportamentos persistente e estereotipados, repertório restrito relacionados aos
interesses em situações adversas e atividades comuns de rotina, fazendo assim com que
o sujeito reverbere algumas limitações e/ou dificuldades relacionadas ao convício social,
familiar, dentre outros (Ciquiguti, 2014 citado por Zanon, 2014).
As primeiras manifestações mais precisas e que denunciam o transtorno emergente
devem ocorrer antes dos 36 meses de nascimento do bebê, onde, essas manifestações
podem estar relacionadas a respostas de vinculação da mãe para com o bebê. Os problemas
Existem alguns fatores que precisam ser observados antes dos 24 meses de
nascimento do bebê e que posteriormente facilitam o diagnóstico precoce com redução
considerável no que diz respeito aos atrasos e/ou comorbidades associadas ao transtorno.
Dentre as sintomatologias que podem surgir, é necessário levar em consideração os
fatores de ordem médica, de ordem genética, a hereditariedade, a deficiência intelectual,
complicações perinatais, déficits sensoriais, déficits de linguagem, comprometimentos no
desenvolvimento social, falhas na brincadeira em grupos, falhas na simbolização, alterações
no desenvolvimento motor e psicomotor, alterações/seletividade/restrições na alimentação,
alterações relativas ao sono, regressão contínua no uso da linguagem e atraso no processo
da comunicação tardia da linguagem (Ciquiguti, 2014).
Os sintomas comportamentais do Transtorno do Espectro Autista podem variar a
partir das comorbidades que estão sendo apresentadas a dinâmica de vida da criança, os
comprometimentos mais comuns podem envolver 1) Os aspectos sociais. 2) Os aspectos
5 | REABILITAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA
A reabilitação neuropsicológica é remetida a um conjunto de intervenções que tem
por objetivos emergenciais as melhorias no que diz respeito aos impactos relacionados
aos problemas cognitivos, emocionais e sociais decorrentes de uma falha e/ou lesão
apresentada, auxiliando assim o paciente a alcançar precocemente o processo de
autonomia e de qualidade de vida (Wilson, 2008). A reabilitação neuropsicológica pode ser
definida como um processo ativo que está em constante busca de construções relacionadas
a psicoeducação e a capacitação contínua. O seu objetivo é que o sujeito alcance de forma
autônoma seus potenciais físicos, mentais e sociais (Kesselring & Beer, 2005).
As diretrizes da avaliação diagnóstica de atenção aos processos de reabilitação de
sujeitos portadores do autismo se iniciam com a vigilância constante e precoce do profissional
sobre as sintomatologias iniciais de problemas relacionados ao neurodesenvolvimento que
surgem ainda na primeira infância. O diagnóstico tem funcionalidades relacionadas ao exame
dos comportamentos observados que são claros e objetivos para a posterior classificação
diagnóstica caso a caso, segundo o CID-10. Essas diretrizes são fundamentais para
posteriormente o profissional obter subsídios adequados para o delineamento, por exemplo,
da implementação do Projeto Terapêutico Singular, para posteriores encaminhamento e
para as intervenções adequadas sempre levando em consideração a demanda que está
sendo apresentada pelo sujeito (Brasil, 2013). Torna-se necessário o desenvolvimento por
parte da equipe de estratégias que permitam trabalhar algumas das consequências que
advêm da condição do transtorno, que embora não consigam reverter os efeitos gerados
pela comorbidades apresentadas, possam restituir alguma autonomia ao sujeito e seus
respectivos familiares.
A condição do autismo pode ocasionar no sujeito alterações relativas ao processo
da linguagem, da sociabilidade, limitações em capacidades funcionais, no autocuidado e
nas interações familiares e sociais. O transtorno comumente vai ressaltar dos familiares/
cuidadores e profissionais uma atenção especial e com foco nos resultados positivos e
construtivos, as propostas do projeto terapêutico deve reverberar aspectos agregadores
6 | TRATAMENTO
O tratamento contínuo dos pacientes com Transtornos do Espectro do Autismo
(TEA) e a comorbidade de Deficiência Intelectual está associado a muitos fatores e áreas
especificas, onde, a psiquiatria, a psicologia e a neuropsicologia trabalham em conjunto
para fornecer as melhores possibilidades e estratégias de tratamento a depender da
idiossincrasia apresentada. O cruzamento entre os processos psicoterápicos e os fármacos
trazem grandes potencialidades para esses pacientes, trazendo posteriormente formas mais
adaptativas de comunicação, melhorias nos comportamentos irregulares apresentados,
níveis de stress menos acentuados, melhor concentração, dentre outras possibilidades.
O processo psicoterápico é fundamental concomitante a quaisquer outros tratamentos em
que o sujeito se disponibilize a participar, lembrando que a família se faz um fator essencial
dentro desse processo de construção, visto que, a família/cuidadores constituem parte
integrante fundamental no tratamento do TEA.
A intervenção realizada de ordem psicotrópica prioriza os fatores neuroquímicos
que são apresentados em pacientes que possuem o Transtornos do Espectro do Autismo.
É comum que crianças portadoras do transtorno tenham uma maior probabilidade
de apresentar níveis elevados de serotonina, porém, a literatura ainda não constata
anormalidades no campo da esfera cerebral (Gonçalves, 2014).
A literatura refere-se a alguns medicamentos/psicotrópicos que são comumente
utilizados no tratamento dos Transtornos do Espectro do Autismo (TEA) com comorbidades
relacionadas a Deficiência Intelectual, sempre a depender da sintomatologia da gravidade
do caso clínico e das comorbidades que são apresentadas, como por exemplo: inibidores da
recaptação da serotonina, bloqueadores de dopamina, fármacos envolvidos nos sistemas
de adrenalina e noradrenalina e a melatonina.
Uma das indicações comuns são os inibidores da recaptação da serotonina, esses
fármacos são normalmente receitados a sujeitos com sintomatologia de compulsões,
preocupações intensas e comportamentos de ordem repetitiva, dentre eles a fluoxetina,
paroxetina, sertralina, fluvoxamina e o citalopram (Gonçalves, 2014; Soares, 2017).
Uma possibilidade também muito utilizada no tratamento medicamentoso são
os bloqueadores de dopamina, os respectivos são responsáveis pela redução do
comportamento contestador (opositor) que o sujeito apresenta, dentre eles, a clozapina, o
metoclopromida e o wellbutrin (Gonçalves, 2014; Soares, 2017).
7 | DISCUSSÃO
Evidencia-se com os dados apresentados pela literatura que o Transtorno do
Espectro do Autismo tem associações multifatoriais e é necessário que o profissional esteja
atento a todo o corpo dos sintomas psicopatológicos que pode vim a ser apresentado,
principalmente com os sintomas relacionados as manifestações iniciais, aos aspectos
cognitivos, comportamentais e emocionais que podem ter início comum antes dos 3
anos de idade da criança. O clínico neuropsicólogo precisa estar atento ao longo das
avaliações sobre aspectos relacionados a forma de como o sujeito percebe e interpreta
os acontecimentos internos e externos, e posteriormente compreender as possíveis
vinculações que são realizadas com o contexto social.
Alguns autores reportam que após o diagnóstico neuropsicológico e de imagem
cerebral existem identificações de graves falhas cognitivas em sujeitos que apresentam
o diagnóstico de autismo, principalmente localizadas nos sulcos frontais, nos sulcos
temporais superiores, no funcionamento do lobo temporal, no giro fusiforme e na amígdala
(Zilbovicius & Colaboradores, 2006).
Além do diagnóstico da neuropsicologia é necessário também um exame físico
específico a nível neurológico/médico, pois, apresentam-se nos estudos evidências muito
claras de interrupções e de falhas nos circuitos cerebrais do sujeito portador do transtorno.
Existem alterações consideráveis nos sulcos temporais superiores, que é caracterizada
uma região importante para o processo da percepção e compreensão de estímulos sociais
CONCLUSÃO
O Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) é um transtorno que tem uma
variedade muito vasta de sintomas e/ou comorbidades que são apresentados durante
o desenvolvimento na infância, os sintomas podem ser muito invasivos, devastadores e
aniquiladores, onde, torna-se necessário o acompanhamento adequado para que o sujeito
obtenha uma melhor qualidade de vida. Nos casos clínicos de diagnósticos de autismo
a neuropsicologia trabalha em conjunto com a neurologia e com a psiquiatria, a fim de
neutralizar as repercussões negativas do transtorno.
É necessário identificar ao longo do processo, se o paciente e/ou a própria família
compreendem a dinâmica do diagnóstico, quais os sintomas e comorbidades que estão
associados ao transtorno, e suas posteriores formas de tratamento e acompanhamento.
O clínico neuropsicólogo, necessariamente, precisa ter domínio e aptidões sobre as
possíveis técnicas que pretende implementar durante o processo, como por exemplo ter
domínio sobre as intervenções do projeto terapêutico singular e suas repercussões no
paciente/família.
A avaliação e a reabilitação neuropsicológica em pacientes com transtorno do
tipo Espectro do Autismo são muito válidas, pois, compreendem o diagnóstico em uma
perspectiva qualitativa, onde, é investigado várias esferas cognitivas e emocionais da
estrutura subjetiva do paciente. No entanto, as escolhas pelos mecanismos de diagnósticos
e reabilitação neuropsicológica são de total competência do profissional, onde, um manejo
clínico de qualidade e com competências planejadas repercute em melhorias posteriores
na vida do paciente/família que sofrem com as repercussões do transtorno do autismo.
Bauman, M. Willis, D. W. Minshew, N. J. (2014). O HANS – Manual sobre Autismo. Disponível em www.
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Wilson, B.A. (2008). Neuropsychological rehabilitation. Annual Review of Clinical Psychology. 51-62.
Bray (1995), citado por Souza (2011); afirma que não existe consenso na definição
do funcionamento familiar saudável e patológica. Para a teoria sistêmica estrutural, limites
geracionais claros, definições de papéis e estruturas e funções determinadas segundo
o gênero são critérios importantes para determinar se uma relação familiar é funcional,
enquanto para a teoria do modelo circumplexo o critério utilizado seriam os níveis de
coesão e adaptabilidade.
As teorias sobre o funcionamento familiar sugerem quatro categorias que devem ser
avaliadas: composição familiar – descrição da estrutura da família e dos membros –; processo
familiar – inclui comportamentos e interações que caracterizam as relações familiares, tais
como conflito, diferenciação, comunicação, resolução de problemas e controle –; fatores
afetivos – emoções e expressão afetiva entre os membros – e organização familiar – refere-
se a papéis e regras, incluindo aspectos como fronteiras e hierarquia. A discussão é sobre
quais aspectos da relação familiar precisam ser avaliados. Em seu estudo, Bray encontrou
alguns fatores e processos-chave que são importantes para serem avaliados: comunicação,
emoções, papéis, conflito parental, resolução de problemas, vínculos e coesão, expressão
de afeto, intimidade, estresse, diferenciação e individuação. Nos artigos avaliados neste
presente estudo, os fatores mais analisados foram: envolvimento e expressão afetiva,
comunicação, desempenho de papéis, adaptação, resolução de problemas e controle do
comportamento. (BRAY,1995 apud SOUZA, 2011)
Na perspetiva sistémica a família deve ser vista como um agrupamento que ampara
a estrutura hierárquica dos seus membros; sendo constituída em subsistemas, ou seja, um
sistema dentro de outros sistemas e ela própria englobando outros sistemas com regras
que ajustam o relacionamento entre os membros da família.
Assim, no subsistema conjugal há a presença do eu, tu, e nós cônjugues. Surge
quando dois adultos se unem numa relação de reciprocidade e complementaridade,
formando um casal, poderá apresentar uma perda da individualidade mas um ganho em
sentido de pertença, cooperação, correlação. O subsistema filial, surge com o nascimento
do primeiro filho que modifica o sistema, seguindo-se outros filhos. O subsistema parental
tem como função essencial a educação, a proteção e a socialização. Por fim o subsistema
fraternal define as relações entre os irmãos, que dentro da normalidade deveriam ser
relações fortes desenvolvendo a cooperação mútua (RELVAS, 1996 apud DIAS, 2011).
• Estrutura
A estrutura familiar é um conjunto invisível de exigências funcionais que organiza as
maneiras pelas quais os seus membros interagem. Uma família é um sistema que opera
por meio de padrões transacionais. Transações repetidas estabelecem padrões de como,
quando e com quem se relacionar e esses padrões reforçam o sistema. Eles também
regulam o comportamento dos membros da família e são mantidos por dois sistemas
de repressão. O primeiro é genérico, envolvendo as regras universais que governam a
organização familiar; e o segundo é idiossincrático, envolvendo as expectativas mútuas de
membros específicos da família (MINUCHIN, 1982 apud SELAU, 2016)
• Subsistema
O sistema familiar se diferencia e exerce suas funções por meio de subsistemas.
Na família, cada indivíduo é um subsistema, assim como as díades esposo-esposa
(subsistema conjugal), pai-filho (subsistema parental), irmão-irmão (subsistema fraternal)
ou grupos maiores, que possibilitam a composição de outros subsistemas, por geração,
sexo, função ou interesse. Cada indivíduo pertence a diferentes subsistemas, nos quais há
diferentes níveis de poder e onde se aprende habilidades diferenciadas. A organização dos
subsistemas de uma família fornece treinamento valioso no processo de manutenção do
“eu sou” diferenciado (MINUCHIN, 1982 apud SELAU,2016).
• Fronteiras
As fronteiras de um subsistema são as regras que definem quem participa de cada
subsistema e como participa. A função das fronteiras é de proteger a diferenciação do
sistema e garantir sua particularidade, possibilitando o seu funcionamento eficaz. Para que
o funcionamento familiar seja funcional, estas fronteiras devem ser nítidas. A nitidez das
fronteiras dentro de uma família é um parâmetro útil para a avaliação do funcionamento
familiar (MINUCHIN, 1982 apud SELAU, 2016). É importante que o sistema familiar funcione
em equilíbrio, e para que isto aconteça, é preciso que a presença de um conjunto de regras
de comportamento e de funções dinâmicas se encontre em constante interação entre eles,
mas também no intercâmbio do sistema familiar com o exterior (BERTANLANNFFY, 1979
apud SELAU, 2016). As fronteiras nítidas são responsáveis pela construção de relações
esclarecidas nas quais as pessoas dizem ‘sim’ ou ‘não’ objetivamente e de acordo com as
demandas surgidas.
Quando não existem limites entre os subsistemas, as fronteiras tornam-se difusas, o
que promove um padrão de funcionamento emaranhado na família. Fronteiras difusas são
constituídas por relações complexas e papéis confusos, desse modo, não é estabelecida
de forma clara a função de cada membro. Por outro lado, quando os limites são excessivos,
as famílias podem desenvolver fronteiras rígidas, que caracterizam famílias com padrão de
funcionamento desligado, casos em que a comunicação por meio dos subsistemas se torna
difícil e as funções protetoras ficam prejudicadas, criando um distanciamento nas relações
entre as pessoas (MINUCHIN, 1982 apud SELAU, 2016).
Os problemas de ajustamento baseiam-se no fato de que o que ocorre num
indivíduo que vive numa família não decorre apenas de condições internas a ele, mas
também de um intenso intercâmbio com o contexto mais amplo no qual está inserido. Ele
não só recebe o impacto desse ambiente como atua sobre ele, influenciando-o. Num grupo
familiar disfuncional os modos de interação entre seus membros vão-se cristalizando,
quer na forma de distanciamento, ou de excessiva interferência na vida uns dos outros,
formando alianças entre alguns membros, deixando outros periféricos, ou transformando
outros em bodes expiatórios (geralmente a criança). Sintomas como baixo rendimento na
escola, agressividade, depressão são vistos como próprios da pessoa sintomática, e esta
é vista como um caso isolado. Nesse pano-de-fundo as famílias disfuncionais fracassam
CALIL, Vera L. L. Terapia Familiar e de Casal. 9. ed. São Paulo: Summus, 1987.
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2019. http://dx.doi.org/10.1590/S1413-73722007000200005.
1 | INTRODUÇÃO
O aconselhamento em saúde tem por objetivo intervir em ajudar o sujeito a manter
ou a melhorar a sua saúde, com a proposta de um estilo de vida saudável, que através
de comportamentos que gere saúde, alimentação, exercício físicos e uso de substância
e na maneira de adaptar o psicológico na alteração da saúde em atrito com o seu meio
interno, e a lidar com os sentimentos de incapacidade e desânimo. Isso tudo pode haver
mudanças pessoal para ajustamento de uma nova fase de vida em seu meio social, com a
participação de técnicos de saúde que estarão mais presentes no cotidiano.
O aconselhamento psicológico pode ser praticado, no âmbito da saúde em centros
de saúde, hospitais, maternidades, em empresas serviços de saúde ocupacional e serviços
e centros de reabilitação e em organizações comunitárias.
Segundo Trindade; Teixeira (2000) a relação clínica no aconselhamento envolve
3 componentes diferentes, cujo peso específico pode variar em cada intervenção ou em
cada entrevista em função das necessidades específicas do sujeito: (1) ajuda, para lidar
com as dificuldades, identificar as soluções, tomar decisões e mudar comportamentos;
(2) pedagógica, relacionada com a transmissão de informação e (3) de apoio, relacionado
com a transmissão de segurança emocional, facilitação do controlo interno e promoção
da autonomia pessoal.O presente trabalho tem como objetivo apresentar o benefício do
aconselhamento psicológico, nos cuidados de saúde e doença, em relação a diferentes
níveis de doença crônica como a Diabetes Mellitus.
2 | MÉTODOS
A pesquisa foi realizada uma busca nos arquivos da BIREME/Biblioteca Virtual
de Saúde BVS, com o uso dos descritivos: “aconselhamento psicológico em saúde” e
“aconselhamento psicológico na produção de saúde”. para o período de 2019 , lidos na
íntegra e discutidos.
A sistematização do material considerou a identificação do tema abordado e da
concepção do aconselhamento psicológico no tratamento de doenças crônicas que orientou
o recorte do objeto e subsidiou a sua análise.
3 | DISCUSSÃO
4 | CONCLUSÃO
Diante do trabalho produzido nota-se a importância do aconselhamento psicológico
nos casos de tratamento de doenças crônicas como a diabetes, sendo um meio de auxílio
para o indivíduo que encontra-se nessa situação, possibilitando através do atendimento
que o paciente sinta-se mais acolhido e que passe a compreender melhor tanto sobre
a doença em si como sobre o processo de auto- cuidado e prevenções, bem como das
mudanças comportamentais que serão necessárias ocorrerem durante esse processo de
adaptação a doença. A tomada de consciência levará a autonomia do paciente, o que
produzirá uma qualidade de vida melhor. Sendo assim o aconselhamento contribui para
o enfrentamento da doença e leva a reflexão sobre possíveis modos quem poderiam
contribuir para a produção de possíveis resoluções frente ao conflito que a doença causou.
REFERÊNCIAS
ANTÔNIO, Patrícia. A psicologia e a doença crônica: intervenção em grupo na diabetes mellitus.
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2 | MATERIALISMO HISTÓRICO-DIALÉTICO
A psicologia histórico-cultural tem como marco inicial os trabalhos de autores
como Lev Vygotsky, Alexander Luria e Alexei Leontiev. Na elaboração de seus trabalhos,
tais autores fundamentaram-se no método chamado “materialismo histórico-dialético”,
de maneira a organizar um novo sistema explicativo acerca da condição humana. O
materialismo histórico-dialético compreende a realidade a partir de processos históricos
em contínua transformação, os quais trazem em seu bojo contradições e antagonismos
(MARX; ENGELS, 1979).
O método postula que a condição humana se constitui a partir de relações sociais,
políticas e econômicas que operam em determinado contexto histórico. Na medida em que
os sujeitos agem e intervêm sobre a natureza, eles a modificam. Em contrapartida, esta
modificação da natureza cria condições de existência específicas que irão determinar a
consciência humana (MARX; ENGELS, 1979).
Para Marx e Engels, as condições e estruturas sociais criadas pela práxis humana
são atravessadas por interesses de classe, pela lógica de acumulação do capital e ideologias
dominantes. A influência destes interesses se faz presente também na educação burguesa,
REFERÊNCIAS
BOCK, A. M. Psicologia da educação: cumplicidade ideológica. In: ANTUNES, M. A.; MEIRA, M. E.
(Org.). Psicologia escolar: teorias críticas. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2003.
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educativas especiais. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seesp/ arquivos/pdf/salamanca.pdf.
Acesso em: 30 set 2020.
1 | INTRODUÇÃO
A partir do projeto intitulado “Pescadores de Cultura Os Sentidos da Infância no
Território da Costa do Sol Poente”, efetivado em um bairro de Florianópolis realizamos
uma pesquisa com crianças com o objetivo de reconhecer os sentidos que as crianças
residentes no distrito de Santo Antônio de Lisboa atribuíam às suas vivências a partir de
suas narrativas e de itinerários por elas realizados naquele território. Importante ressaltar
que pensar a infância na cidade envolve perceber as relações estabelecidas com os diversos
espaços físicos, sociais, culturais que incidem na construção de histórias singulares e
coletivas das crianças. Sobretudo, é elemento fundamental o entendimento dede que as
crianças são agentes de suas trajetórias tecidas com o território, bem como de mudança
nas comunidades em que vivem, conforme reflete Castro (2001).
Nesse sentido, seguindo os pressupostos do existencialismo sartriano, destacamos
que para compreender a infância é importante acessar os mundos sociais nos quais as
crianças circulam. De acordo com Schneider (2011, p.113-114), uma pessoa “só se humaniza
por estar inserida em um mundo que lhe possibilita contornos sociais e sociológicos” e,
nessa via, “não existe nenhum indivíduo que não esteja situado em um certo local, em um
dado tempo, em uma certa sociedade”. Isso significa dizer que a relação que cada sujeito
estabelece com o contexto em que vive se refere a uma dimensão maior, que pode ser
entendida como antropológica.
É por compartilharmos de uma mesma concreticidade histórica, portanto,
antropológica, que evidenciamos a capacidade de cada sujeito fazer-se como história
singular, atravessado por condicionantes universais que também o tecem (SARTRE, 2002).
Daquilo que é coletivo, isto é, que pode ser partilhado através dos espaços, paisagens
concretas e das matizes culturais, se desenrolam biografias marcadas por formas
particulares de experienciar e se apropriar do mundo.
Portanto, faz parte da constituição subjetiva de cada sujeito no mundo, um processo
constante de interiorização da exterioridade social - das produções que são estabelecidas
a priori à existência e, da exteriorização da apropriação individual - daquilo que abarca
a ação de co-responsabilidade de cada sujeito no tecimento da história social. Desse
4 | CONSIDERAÇÕES FINAIS
As andanças pelo bairro, assim como as atividades na escola, proporcionaram a
estas crianças compartilhar os sentidos construídos em suas vivências e cultura de pares
sobre a realidade em volta: a natureza, escola, cultura, brincadeiras, espaços do bairro.
Em cada encontro e trânsito que fizemos junto com este grupo de crianças pelo bairro,
pudemos perceber que estas crianças reconhecem a escola como um lugar importante, que
possibilita o acesso à cultura e garante ser alguém na vida; demonstraram conhecimento
do espaço de seu bairro, destacando a relação com a natureza como central em suas
vivências; revelavam que o cotidiano vivido no bairro, escola, vizinhança e eventos locais
permitiam um sentimento de pertença, também revelado a partir de histórias acerca
de moradores locais. Por outro lado, manifestaram em suas conversas o quanto são
capturadas pelas mídias eletrônicas e pela ânsia pelo consumo e pelos lazeres prontos.
Esses achados assinalam o quanto aquelas crianças estavam inseriam-se em uma cultura
universal, associada ao alcance das tecnologias e, sobretudo, nos espaços de seu bairro
e cultura local, que era permitido pelo fato das famílias viverem há muito tempo no bairro e
pelo incentivo da escola. Isso nos dá margem para ampliar discussões e pesquisas sobre
as noções de participação infantil e de comunidade.
Em suas falas, estas crianças muito comunicavam sobre características de suas
experiências de infância na contemporaneidade, em especial neste território localizado
no município de Florianópolis. Sobremaneira, pela efervescência de seus movimentos e
das brincadeiras que, constantemente, nos solicitaram presença e nos convidam a brincar
também, estas crianças demonstravam que a identificação do ser criança que faziam, tinha
associação direta entre a criança e o brincar. No acontecimento que é a infância, ignorar
o tanto de significações que são expressas na brincadeira, tornaria a oficina etnográfica
que construímos mais desinvestida daquilo que pulsava para estas crianças e reduziria as
possibilidades de compreender o que as crianças comunicam em ato.
Diante dessa trama, percebemos o quanto a constituição desse grupo coaduna com
uma identidade social do bairro – de famílias nativas e populares, do contato com paisagens
históricas e culturais, dos espaços de arte e incentivo à arte, como a Associação Baiacu de
Alguém; de aspectos urbanos como a circulação de transportes; de articulações sobre o
que viam do tráfico, violência e segurança e, especialmente, nos comunicaram a presença
significativa de relações de consumo. Todos estes aspectos evidenciam o quanto as linhas
de mediação entre crianças e seus pares e crianças e adultos de seu convívio, sedimenta
um pertencimento à cultura local. Visto que, dessa forma se pode ampliar as possibilidades
de laço social com a cidade e as percepções mais incorporadas pelas crianças sobre o que
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dez. 2002. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/pe/v7n2/v7n2a15. Acesso em: 05 de nov. 2020.
1 | INTRODUÇÃO
Fatores de riscos podem ser conceituados como a existência de variáveis
populacionais e individuais, envolvendo o comportamento humano ou seus desvios
(negligência, abuso ou violência), que poderiam ser intervindas ou observadas anteriormente
ao desenvolvimento dos transtornos, em especial o Transtorno de Personalidade Antissocial-
TPAS (SZCZERBACKIL, 2012).
Assim, fatores de risco são fatores de natureza biológica (individuais) ou
psicossociais, que se relacionam com eventos negativos de vida, incluindo a infância e
a adolescência e, quando presentes, aumentam a probabilidade da pessoa apresentar
problemas físicos, sociais ou emocionais ameaçando o desenvolvimento saudável do
sujeito, em uma fase peculiar (infância e adolescência) para inserção na fase adulta. Dentro
do modelo bioecológico, estes fatores são analisados não de forma isolada e independente,
mas sim a partir de uma perspectiva, na qual estas questões estão interrelacionadas dentro
de cada contexto da vida. Deve ser considerado a forma que o sujeito enfrentará uma
situação estressora, do contexto em que aconteceu o fenômeno, a sua rede de apoio, suas
características individuais e o momento em que está passando no seu desenvolvimento
(POLETTO; KOLLER, 2008).
Ademais, deve-se considerar o tempo, lugar, espaço e intensidade dos fatores de
riscos. A não existência de fatores de proteção, intensifica a probabilidade dos sujeitos
desenvolverem padrões de conduta deturpados. As condições socioculturais podem ser
fatores de riscos desencadeantes para o cometimento de ações transgressoras, como morar
e viver em ambientes de conflito familiar, sem perspectiva futura de trabalho (DELLECAVE;
BARBOZA, 2018).
2 | MÉTODO
O referido estudo é do tipo revisão sistemática, descritiva, que, justifica-se pela
natureza qualitativa, que se embasa em uma análise reflexiva, crítica e compreensiva
acerca dos materiais coletados, que fazem uso de dados qualitativos. Sob esse prisma,
a metodologia acerca da revisão sistemática foi escolhida pelo fato de se minimizar os
distintos vieses presentes em uma pesquisa, haja vista que a revisão sistemática minimiza
“o viés acerca da tendência de supervalorizar estudos que estejam de acordo com nossas
hipóteses iniciais e ignorar estudos que apontem para outras perspectivas” (KOLER et al.,
2014, p. 56).
Nesse sentido, para uma melhor organização da pesquisa, dividiu-se em oito etapas
fundamentadas conforme Akobeng (2014): a primeira etapa constituiu-se por delimitação do
tema, por ordem de afinidade de estudos e não incipiência de literatura. Já a segunda etapa
foi formada pela escolha das fontes de dados que foram: BVS Psi, Medline (Medical Literature
Analysis and Retrieval System Online) via PubMed, Lilacs (Literatura LatinoAmericana e do
Caribe em Ciências da Saúde), dissertações, teses e livros.A terceira etapa foi a eleição
das palavras-chave como descritores para a busca, que foram fatores de risco, fatores de
proteção, transtornos, personalidade, antissocial, tratamentos. No que tange a quarta etapa
foi realizado a busca e armazenamento dos resultados da terceira etapa, utilizando-se o
3 | RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram identificados 34 artigos, com base nos descritores da pesquisa, e publicados
nos últimos cinco anos, dos quais doze fizeram parte do escopo dessa revisão. Ademais,
01 dissertação e 03 livros, se adequaram aos critérios de inclusão denotados no referido
método, e conforme ilustrado no fluxograma (Figura 01).
Ainda com relação à seleção, ressalta-se a exclusão de contagem acerca da
duplicação de publicações. A maioria dos estudos apresentaram resultados em que
denotaram que os comportamentos antissociais têm sua origem na infância devido
a múltiplas variáveis que podem contribuir para a produção desses comportamentos
(violência familiar, problemas escolares, neurológicos, entre outros), bem como que está
mais presentes em sujeitos do sexo masculino. Essas variáveis são denominadas de
fatores de riscos, como já foi apresentado no referido estudo (SILVEIRA, et al.2015).
Após a realização do referido fluxograma, segue uma tabela (Tabela 01) que
descreve as relevantes características e os resultados dos estudos revisados. Após
seleção, descrição e análises, os conteúdos foram agrupados na formulação de quatro
categorias amplas, embasadas nos objetivos do estudo, sendo estas denominadas: 1)
Comportamentos na infância e adolescência de sujeitos com Transtorno de Personalidade
Antissocial; 2)Tipos de tratamentos realizados na infância e adolescência; 3)Impacto
dos fatores de riscos nas esferas subjacentes; 4) Fatores de proteção na infância e
adolescência que podem minimizar o desenvolvimento do Transtorno de Personalidade
Antissocial. Assim, as referidas categorias denotam o desfecho acerca dos fatores de
riscos que subsidiam o desenvolvimento do Transtorno em debate, haja vista que inúmeras
são variáveis relacionadas a fatores de riscos.
As categorias foram criadas considerando e dividindo os assuntos tratados durante
a pesquisa. Cada categoria foi analisada e dividida em consonância com os objetivos
específicos do estudo. Evitou-se categorias amplas, -embora sejam lineares-, haja vista
que as referidas perdem a homogeneidade do seu conteúdo, e podem subsidiar análises
muito diferentes, perdendo o significado substancial do estudo.
Com base nos estudos selecionados, sugere-se que, quando os fatores de riscos
surgirem apenas na adolescência, subsidia menores chances de desenvolver Transtorno
de Personalidade Antissocial, haja vista que o tempo e duração dos fatores de riscos
podem ser menores. Porém, isso não é regra, haja vista que deve-se considerar as
variáveis envolvidas no processo (SILVEIRA, et al. 2015). Nesse contexto, e considerando
os objetivos, as distintas variáveis e os achados, as categorias colocam que:
4 | CONSIDERAÇÕES FINAIS
As principais conclusões do estudo denotaram que cada sujeito vivencia
distintamente situações estressoras, sendo determinado o impacto. Os fatores de proteção
buscam ir ao encontro do impacto dos riscos para proporcionar formas de resoluções
das vivências diárias, minimizando as possibilidades de desenvolvimento de transtornos.
Ademais, não é apenas um fator de risco que irá determinar a ocorrência futura do
Transtorno. Faz-se necessário uma gama de considerações para que se proponha tal
diagnóstico. De fato, os riscos são evidenciados pela literatura científica, que são critérios
para um olhar apurado para intervenções sobre aspectos negativos durante a infância
e adolescência, minimizando assim a ocorrência ou a probabilidade da ocorrência. Em
linhas gerais, qualquer forma de comportamento considerado transgressor na infância e
na adolescência devem ser investigadas as causas e ocorrer intervenções para assim,
evitar a permanência desses comportamentos na fase adulta, se instalando ou não um
diagnóstico na fase adulta, o cuidado e a prevenção devem ser constante nas crianças
e adolescentes. Percebeu-se que não existe uma regra e nem absolutismo quando se
trata de desenvolvimento humano e a relação com os comportamentos. O que existe são
padrões de comportamentos, riscos e variáveis para se propor tratamentos precoces,
evitando assim o fechamento do diagnóstico de Transtorno de Personalidade Antissocial, e
ou outros dentro do referido grupo.
REFERÊNCIAS
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Editora Fi, 2018. cap. 11. p. 165-184.
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comportamentos antissociais persistentes. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 20, n. 3 p. 425-436,
2015. Disponível em: www.psicolestud.v20i3.28100. Acesso em 14 out. 2020.
1 | INTRODUÇÃO
As ações e emoções de uma pessoa, em um dado momento, dependem de sua
perspectiva de tempo total. Os quadros temporais passado, presente e futuro são utilizados
para codificar, armazenar e recordar eventos, como também para formar expectativas,
metas e possíveis enredos. O impacto do futuro e dos eventos passados no comportamento
presente é compreendido na medida em que eles estão presentes no modo como vemos
e sentimos o mundo, e utilizamos estratégias de enfrentamento frente as adversidades
cotidianas (ZIMBARDO e BOYD, 2008).
A Perspectiva Temporal (PT) como primeiramente evidenciada por Kurt Lewin
(1951/1967) apud Leite e Pasquali (2008), é definida como “a visão total do indivíduo sobre
seu passado e futuro psicológicos em um dado momento”. O conceito de Zimbardo e Boyd
(2008) complementa o anterior, na medida em que consideram a perspectiva temporal
como “um processo inconsciente por meio do qual o fluxo ininterrupto de experiências
pessoais e sociais é nomeado em categorias temporais, ou quadros temporais que
ajudam dar ordem, coerência e significado a esses eventos”. A despeito das propostas de
conceituação Van der Linde (2007) argumenta que não há um entendimento respeito da
natureza e da dimensão da PT, sendo esta uma questão necessária de ser esclarecida para
um melhor entendimento do conceito. A Percepção Temporal, às vezes, é identificada como
uma motivação, uma característica da personalidade ou um esquema cognitivo.
Uma perspectiva do tempo ideal é considerada como equilibrada, quando as
orientações temporais permitem o sujeito transitar de forma flexível entre elas de modo a se
adequar às diferentes situações e demandas cotidianas. Quando uma orientação temporal
específica é mais usada, causando perda de uso em outras, a pessoa pode se tornar
tendenciosa em sua perspectiva temporal. (Ortuno, Paixão e cols, 2013).
A orientação e a direção preferencial dos pensamentos e ações de uma pessoa
em relação ao passado, ao presente, ou ao futuro tem uma influência dinâmica nos seus
julgamentos, decisões e ações. A percepção que as pessoas têm da extensão do tempo
futuro ou da importância do passado exerce um papel importante no comportamento atual
e também gera implicações para emoção, cognição e motivação. Este aspecto do tempo é
denominado perspectiva temporal.
William James (1890/1950) apud Leite e Pasquali (2008) propôs que o presente é a
relação temporal criada entre os eventos sensoriais como acontecendo agora; o passado
2 | OBJETIVOS
O objetivo do presente trabalho é conhecer a relação da perspectiva temporal com
a regulação emocional em estudantes universitários. As hipóteses pautam que não existe
diferença entre gêneros nas estratégias de regulação emocional e perspectiva temporal.
Além disso, acredita-se que a perspectiva temporal equilibrada está associada com uma
maior regulação emocional.
3 | METODOLOGIA
Participantes: A amostra é composta de 90 estudantes do centro universitário Celso
Lisboa, de ambos os sexos, com idade entre 18 e 30 anos, que não podem ser alunos dos
pesquisadores, conhecer ou ter algum contato prévio com algum estagiário que faça parte
da equipe.
Instrumentos:
Questionário Sociodemográfico= esse questionário visa coletar dados referentes a
idade, sexo, estado civil, renda familiar, histórico de doença familiar, uso de tabaco e outras
drogas.
A Escala de Perspectiva Temporal (ZTPI)= É um instrumento composto por questões
que representam proposições sobre crenças, preferências e valores de indivíduos em
relação às experiências baseadas no tempo. O ZTPI solicita aos voluntários que indiquem
o quão uma afirmação é característica para eles em uma escala de 5 (cinco) pontos que
podem variar de 1 (um) como sendo muito incaracterístico ou 5 (cinco) como sendo muito
4 | RESULTADOS
Participaram 90 estudantes universitários, sendo 40 homens e 50 mulheres. Não
houveram diferenças significativas no Teste-T de Student (t-value= -0,16 e p= 0,57) em
5 | DISCUSSÃO
Existem poucos estudos sobre a influência da distorção da percepção temporal e
seus malefícios, e tão poucos são os estudos que relacionam esse componente cognitivo
com outros parâmetros externos e internos aos indivíduos. Desta forma, é extremamente
importante a avaliação dos efeitos da distorção da percepção do tempo em qualquer
segmento da população brasileira. Estudos sobre os aspectos cognitivos e a identificação
da prevalência e dos fatores de risco para o desenvolvimento de psicopatologias devem ser
produzidos para que seja possível a elaboração de medidas profiláticas (e.g. treinamento
aprimorado, suporte psicológico, emprego de psicofármacos), as quais poderão
proporcionar maior qualidade de vida aos indivíduos e aprimoramento dos serviços médicos
e psicológicos oferecidos aos mesmos.
Os resultados do presente estudo confirmam a hipótese da associação da percepção
do tempo com a saúde mental, em especial com a capacidade de gerenciar a forma como
sentimos e expressamos as emoções. Além disso, a hipótese de que haveria uma distinção
entre a regulação emocional e perspectiva temporal quanto ao sexo dos participantes foi
rejeitada. Os resultados demonstram que não há distinção quanto a facilidade de regular
emoções ou de ter uma perspectiva temporal equilibrada quanto ao sexo.
REFERÊNCIAS
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21. ZIMBARDO, Philip; BOYD, John. Putting Time in Perspective: A Valid, Reliable Individual-
Differences Metric. Journal of Personality and Social Psychology 1999, Vol. 77, No. 6, 1271-1288
Emilio-Ricci
Academia de Psicoterapia Familiar de Roma
FROM THE GENOGRAM TO THE
Diretor do Projeto Plataforma de Inovação
RELATIONAL COLLOQUIUM:
Social, Professor Associado, Escola de
TECHNIQUES FOR A CLINICAL
Psicologia, Universidad Católica del Norte
INTERVIEW
Antofagasta, Chile ABSTRACT: The most significant elements
of the use of the genogram and the relational
conversation during the clinical interview and its
use in observation and therapeutic work through
RESUMO: São apresentados e explorados
the relational-systemic approach are presented
os elementos mais significativos do uso do
and explored. A reading key is provided to be
genograma e do colóquio relacional durante a
able to decipher the affective processes of the
entrevista clínica e sua utilização na observação
“individual” life cycle and the discussion ends
e no trabalho terapêutico por meio da abordagem
to understand the processes of belonging and
relacional-sistêmico. É fornecida uma chave
separation. In addition to providing elements of
de leitura para poder decifrar os processos
discussion about the processes of training - also of
afetivos do ciclo vital “individual” e termina-se a
specialization - that confer greater competencies
discussão para compreender os processos de
and, undoubtedly, solid guiding ideas to transform
pertencimento e separação. Além de fornecer
the clinical interview into a therapeutic process
elementos de discussão sobre os processos
of change. Integrate effective resources for
de formação - também de especialização - que
intervention, observation, listening, personality,
conferem maiores competências e, sem dúvida,
authenticity; demonstrate complementary
sólidas ideias norteadoras para transformar a
activities that also allow, at graduation, to
entrevista clínica em um processo terapêutico
understand the personal implications that
de mudança. Integrar recursos eficazes de
therapeutic work entails - and that it is not a matter
intervenção, observação, escuta, personalidade,
of introducing restorative interventions in a limited
autenticidade; demonstrar atividades
time - proposing effective processes of reflection
complementares que também permitam, na
and growth, both professional and personal.
graduação, compreender as implicações
KEYWORDS: Relational colloquium, Genogram,
pessoais que o trabalho terapêutico acarreta
Clinical interview, Observation, Relational-
- e que não se trata de introduzir intervenções
systemic model.
reparadoras em um tempo limitado - propondo
processos efetivos de reflexão e crescimento,
tanto profissional quanto pessoal.
• modelos comportamentais,
• estilos de operação,
Figura 2. Genograma
Símbolos:
1 primeira geração (avós): homem quadrado, mulher circular, casamento em linha contínua horizontal
2 segunda geração (pais). Crianças indicadas da esquerda para a direita, aborto espontâneo em círculo
pequeno, gêmeos com dupla linha vertical
3 filhos ou netos de terceira geração. Círculo duplo (representação do alter ego), triângulo de gravidez, linha
de divórcio oblíqua dupla, cruz de aborto induzido, quadrado com cruz interna: morte
• nascimentos e mortes;
• separações e juntas,
• etc.
Além de mostrar as mudanças estruturais na família
• A separação das famílias de origem e a formação de um novo casal,
• O nascimento de crianças,
• o divórcio,
• o crescimento
• etc.
A utilidade da observação, por meio do genograma como modelo do ciclo evolutivo,
consiste não tanto na possibilidade, por parte do observador, de simplesmente identificar a
fase em que um indivíduo ou a própria família está “aqui e agora”; antes, em ser capaz de
observar a mudança e a reorganização familiar no processo de transição de uma fase para
outra. (individual, formação do casal; coabitação ou casamento; casal com filhos, casal com
filhos adolescentes, família trampolim, família idosa)
Tudo isso também requer uma compreensão dos próprios esquemas de comunicação
e de como as várias maneiras de entregar, obter ou receber informações foram aprendidas.
Em um processo tão dinâmico que também é possível aprender a se comunicar com
clareza, gerando novos padrões relacionais que permitem ao interlocutor compreender
com clareza o que se pensa e sente sobre um tema, por exemplo:
6 | CONCLUSÕES
O desafio que se coloca é revitalizar uma discussão que, creio, nem sempre acontece
e, com ela, a prática coerente de uma abordagem que, infelizmente, tem “negligenciado”
o seu objetivo principal há algum tempo: a família. Ou seja, no início do modelo relacional-
sistêmico, as duas palavras que determinaram a abordagem da intervenção foram “terapia
e família”, onde a primeira estava a serviço da segunda e sobretudo a “acompanhava” na
busca de novos recursos. evolucionário. Hoje a palavra terapia passou a ser o principal
interesse, deixando de lado o fundamento desse modelo. Além do mais, encontramos
insinuações que indicam uma prática que foi superada, falamos de ex-terapeutas de família;
aqueles que não desenvolvem mais a terapia familiar, ou não a fazem como sua atividade
predominante: definem-se terapeutas sistêmicos, terapeutas transgeracionais, etc. Parece
que uma prática terapêutica foi retomada de um modo tradicional, finalmente retornando a
um contexto individual. Embora os instrumentos clínicos desenvolvidos e aperfeiçoados por
“Caro Emilio,
Essa experiência esclareceu fundamentalmente para mim que as palavras e os
sentimentos que depositamos nos outros não se originam tanto de um impacto bidirecional,
mas de um risco pessoal.
E, portanto, que meu eixo central apreende nuances vitais para continuar na lacuna.
Tais como: Se você está ofendido ou chateado com algo ... terá que ser revisto.
Obrigado pelo que descobriste em mim, mas preferes que eu descubra. Pela
esperança que você transmite por acreditar tanto no seu trabalho, e pelo humor em
situações críticas.
Felicidades
Javiera “
“Emilio,
Estive com você na oficina de deficiência do terapeuta e trabalhei diretamente com
você. Digo-vos que estou a escrever este e-mail há três semanas, pois dia a dia tenho
vindo a fazer descobertas em relação ao que aconteceu e também nas mudanças que fiz
a partir desta experiência, pois pude tornar muito mais evidentes as minhas dificuldades.
REFERÊNCIAS
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Roma 1990.
4 | RESULTADOS
Quedando asentado que no es una investigación como tal, sino un trabajo de
psicoeducación a lo largo de diferentes eventos no solo académicos en nombre de la
Resiliencia y Autocuidado no existen resultados cualitativos, pero a nivel cuantitativo se
puede documentar en próximos trabajos.
REFERENCIAS
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SILVA, Juremir Machado da Silva. Ser feliz é tudo que se quer (ideias sobre o bem viver): filosofia
para ler no parque, no ônibus, na cama, na rede. Porto Alegre: Sulina, 2019.
Nesse sentido, a criança reconstrói suas ideias e ações. O cognitivo está em relação
ao social e afetivo. Na infância a criança vive um processo de adaptação progressiva ao
meio concreto. O conhecimento mental se dá a partir da ação do sujeito com seu meio.
Bem como, para Vygostky (1984), onde o meio social da criança é o alicerce de sua
vida futura. É através desse caminho que ela poderá construir seu próprio pensamento
e compreenderá seu derredor, através das pessoas que a rodeiam no convívio social,
mostrando ações, movimentos e formas de expressão. No contexto social da criança
ressalta Maluf apud Schaefer:
2 | CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com essa pesquisa, pode-se observar que através da atividade lúdica constou-se
que a criança fica apta em formar seus próprios conceitos, valorizando a autoconfiança e
a autoestima, algo que é fundamental para a construção da infância, bem como para os
desafios a serem enfrentados no futuro.
Compreende-se que o professor é o principal mediador dessas atividades lúdicas no
aprendizado infantil, e que a escola é o lugar ideal para essa mediação de conhecimentos
e culturas, promovendo socialização entre elas. Com as ações lúdicas as crianças tendem
a construir mais conhecimento e se sentirem mais estimuladas a realizarem as atividades
pedagógicas.
Assim, os exercícios lúdicos na educação infantil têm contribuído muito para a
socialização das crianças, assim como no desenvolvimento cognitivo e de aprendizagem.
Essas atividades são bastante significativas, porque desenvolvem a capacidade de atenção,
imaginação, linguagem tal qual todos os aspectos básicos referentes à apropriação do
conhecimento.
Logo, a escola e o professor atuam em parceria a fim de direcionar as atividades
como métodos pedagógicos, de modo que estimulem a interação social entre as crianças,
e assim desenvolver habilidades intelectivas no meio social.
Portanto, desenvolver as brincadeiras no contexto escolar exige que o professor
tenha fundamentação teórica bem estruturada, manejo e atenção para compreender a
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2 | FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.2 O Yoga
A palavra YOGA vem do sânscrito e significa ‘to Yoke’ em inglês e reunir em
português. Nos tempos primórdios, na civilização do Vale Hindu (entre 2000 e 4000 anos
a.C.) a prática de Yoga era usada para que o indivíduo encontrasse seu “Todo”, sua
essência. Os textos antigos de Yoga nos mostram lições que auxiliariam os praticantes a
alcançar maiores dimensões físicas, mentais e espirituais (LASATER, 1995).
Os aspectos físicos do yoga, como os ásanas (posturas) e os pranayamas (as
técnicas respiratórias) são os dois dos oito passos dentro do estudo do Darshanam Yoga,
os que temos de mais conhecido do Ocidente. Tradicionalmente, uma aula de yoga ou uma
prática pessoal, começa com posturas mais ativas seguidas de outras mais passivas ou
restaurativas. A Restaurativa é um método dentro da filosofia do Yoga, praticado desde os
ensinamentos do Mestre Iyengar (PUNE/ INDIA) e que atravessou oceanos e desenvolveu-
se no ocidente desde os anos 1950-60. Nos Estados Unidos, a norte-americana Judith
Hanson Lasater, uma das fundadoras do Yoga Journal, importante mídia que divulga o yoga
clássico e sua relação com a ciência desde os anos 1980, realizou algumas mudanças com
as aulas recuperativas das longas permanências em posturas de yoga exigidas pelo seu
mestre. Compilou o que hoje conhecemos como Relax n Renew (Relaxe e renova-se). O
objetivo da Yoga do método de Lasater é o de focar nas posturas restaurativas que requer
do aluno o mínimo de esforço e o máximo de conforto. Lasater descreve que é “dando
o apoio ao corpo com devidos acessórios, o corpo ao mesmo tempo que é estimulado
ao movimento é também estimulado a relaxar, estabelecendo um equilíbrio” (LASATER,
1995). Algumas posturas são possuidoras de um benefício bem amplo enquanto que outras
tem como o alvo um órgão como pulmão, por exemplo. Porém, todas possibilitam repostas
fisiológicas específicas que são benéficas para a saúde e podem reduzir os efeitos das
doenças psicossomáticas e relacionadas ao estresse crônico.
3 | MÉTODOLOGIA
O S.E.R - Sistema de Redução de Estresse e aumento de resiliência pelo Método
Restaurativo é um protocolo que intenta contribuir com a ampliação da compreensão de si
mesmo (autoconhecimento) fazendo do praticante um agente ativo no processo de cura,
gerando sentimento de pertencimento e sensação de bem estar. Tem o objetivo de melhorar
a qualidade de vida inclusive em territórios com situação de vulnerabilidade, reduzindo
efeitos causadores do estresse deletério, diminuindo o medo e aumentando sentimento de
segurança e suporte.
O protocolo intenta desenvolver uma mente capaz de agir de forma consciente e
ativa em prol da auto cura. O programa, que envolve uma seqüência de práticas físicas
e mentais, tem como objetivo específico acionar a resposta do relaxamento e suas
repercussões psicofísicas. Como objetivo geral pretende compartilhar técnicas de filosofias
milenares como o Yoga e o Budismo de forma laica e com embasamento científico. O
S.E.R. acolhe o praticante com práticas de yoga (posturas, respiração, meditação), atenção
plena (mindfulness/concentração), restaurativa (técnicas de relaxamento) e diálogo.
Promove um estado de regulação e equilíbrio biológico, capaz de auxiliar nos casos de
dor crônica, ansiedade, insônia, perturbações do sono, distúrbios emocionais, burnout
(esgotamento físico e mental intenso), fadiga, pressão alta, recuperação de cirurgias. É
importante destacar que trabalhar o relaxamento é também uma maneira de liberar as
emoções nefastas psicossomatizadas, quando o paciente entra em contato com essas
emoções, é possível tirar o foco dos pensamentos negativos que causam sensações ruins
e tomar a maior parte dos nossos pensamentos, pois a mente entende que não é mais
preciso estar no ‘modo sobrevivência’ em tempo integral.
4 | DISCUSSÃO
A experiência e oportunidade de compartilhar os saberes do yoga e budismo de
forma laica e com os cuidados e adaptações necessárias com esse grupo é de um ganho
imenso. Olhos atentos ao novo discurso tão distante de suas realidades e aos poucos
percebe-se a abertura dos participantes, o carinho, respeito pelo trabalho e sua seriedade
e o mais importante: a entrega. Durante o programa foi organizada um encontro com
os coordenadores do projeto, onde foi apresentando os objetivos da intervenção, seus
fundamentos e abordagem da psicologia que seguia (cognitivo-comportamental). Foi
apresentado aos coordenadores do projeto a visão da Medicina Humanista, que não olha
o outro a partir do seu desequilíbrio, mas busca compreender de forma singular o outro no
seu contexto de vida, valorizando muito mais a saúde do que a doença. Então, de certa
forma, já encontramos o grupo de usuários percebendo-os não como “normal ou anormal”,
de “loucos ou sadios”, de medicados ou não, mas como grupo de pessoas. Ponto. Como
um grupo de pessoas que intencionam melhoria de qualidade de vida e bem estar, como
tantos outros que trabalhamos todos os dias. Essa seria a postura : de mostrar ao grupo
que é assim que seriam vistos, como qualquer outro grupo, sem nenhuma particularidade
a não ser de seres humanos que trazem o desejo de diminuir sofrimento psíquico e o de
aumentar seu bem estar psicossocial a partir de pequenas novas posturas ou mudanças
em suas rotinas, como tempo para autocuidado, descanso, atividades físicas e consciência
alimentar.
Os cartões acima foram distribuídos para que todos tenham um lembrete das técnicas
experimentadas em grupos, e que foram discutidas em aula como um elemento na “caixa
de ferramentas”, que poderiam ser utilizado em qualquer lugar fora da sala do projeto. Na
5 | CONSIDERAÇÕES FINAIS
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A
Aborto 116, 117, 118, 119, 120, 121, 122, 123, 124, 125, 126, 176, 177, 267
Aconselhamento Psicológico 210, 211, 213
Adolescência 22, 32, 120, 124, 125, 136, 137, 208, 209, 236, 237, 238, 239, 241, 242, 243,
244, 245, 246, 247, 248, 249, 250, 251, 252, 264
Apagamento Lésbico 12, 13, 23, 24
Aspectos Psicológicos 65, 79, 130
Atendimento Psicológico 56, 58, 61, 64
Autoconhecimento 273, 281, 282, 290, 303, 309, 311, 312, 313
Autocuidado 67, 105, 165, 166, 178, 179, 182, 191, 192, 277, 278, 279, 280, 312, 313
Autolesão 26, 27, 28, 31, 34, 35, 36, 37
Avaliação Psicológica 127, 129, 130, 131, 132, 133, 136, 137, 138, 139, 140, 142, 143,
145, 146, 151, 153, 154, 155, 156, 157, 158, 261
C
Compreensão Diagnóstica 74, 75, 82, 89, 90
Comunicação 57, 58, 61, 63, 65, 66, 67, 69, 70, 71, 72, 112, 184, 186, 190, 191, 192, 193,
197, 199, 200, 201, 202, 203, 204, 205, 206, 207, 208, 212, 215, 217, 269, 271, 272, 273,
292, 317
Criminalidade 92, 93, 101, 119, 124, 252
D
Deficiência Intelectual 184, 187, 188, 189, 190, 193, 196
Depressão 2, 3, 17, 26, 27, 28, 31, 32, 36, 37, 59, 70, 104, 124, 131, 135, 180, 204, 246,
256, 287, 289, 315
Desamparo 21, 39, 41, 42, 43, 44, 45, 47, 51, 52, 53, 54, 55, 122
Diagnóstico 26, 27, 66, 69, 74, 75, 76, 77, 80, 81, 82, 83, 84, 89, 90, 143, 160, 163, 164,
165, 166, 167, 168, 170, 171, 176, 178, 179, 180, 182, 185, 186, 187, 189, 190, 191, 192,
194, 195, 236, 238, 239, 242, 243, 244, 247, 249, 250, 252, 315
Direitos Humanos 68, 92, 121
E
Entrevista Clínica 263, 264, 265
Estruturas Clínicas 1
Existencialismo 92, 98, 221, 222, 235, 286
G
Genograma 263, 266, 267, 268, 269, 270
Gestação 119, 122, 124, 160, 162, 163, 164, 165, 166, 167, 170, 171, 172, 173, 174, 176,
177, 178, 179, 183, 247, 251
Gestalt-Terapia 74, 75, 76, 77, 78, 79, 80, 81, 82, 83, 89, 90, 91
Grupo de Apoio 103, 105, 106, 107, 109, 113
H
Heteronormatividade 12, 13, 15, 16, 17, 20, 22, 24, 95
Heterossexualidade Compulsória 12, 13, 15, 16, 25
Hierarquia Familiar 197
I
Infâncias 221, 224, 226, 227, 232
L
Lesbianidade 12, 14, 16, 20, 21, 23, 24
M
Materialismo Histórico-Dialético 214, 215, 216
Modelo Relacional-Sistêmico 263, 264, 265, 273
Mudança 9, 56, 58, 59, 61, 62, 82, 86, 95, 97, 109, 134, 140, 197, 198, 200, 212, 222, 257,
263, 264, 269, 271, 290, 301, 306, 311, 312
N
Neuropsicologia 184, 193, 194, 195, 220
Novas Tecnologias 56, 61, 62, 63
P
Pandemia 39, 41, 42, 43, 45, 46, 48, 50, 52, 53, 54
Patriarcado 12, 13, 16, 17, 19, 20, 23, 24, 25, 50
Personalidades Fílmicas 1, 5, 9
Política 13, 15, 20, 21, 22, 24, 39, 42, 43, 50, 51, 52, 53, 54, 68, 69, 73, 79, 96, 104, 105,
109, 114, 180, 218, 283, 285, 317
Q
Qualidade de Vida 68, 104, 129, 135, 166, 179, 184, 191, 192, 193, 195, 213, 260, 303,
304, 306, 307, 308, 309, 312, 315, 316
R
Reabilitação 94, 184, 187, 191, 192, 193, 195, 210, 211, 316, 317
Regulação Emocional 253, 256, 257, 258, 260, 262
Relação Médico-Paciente 65, 66, 67, 68, 69
Resiliencia 277, 278, 279, 280
S
Saúde 13, 21, 24, 28, 32, 34, 41, 42, 43, 46, 47, 48, 49, 50, 52, 53, 58, 65, 66, 68, 69, 70,
71, 72, 73, 84, 99, 103, 104, 105, 106, 112, 113, 114, 116, 117, 118, 119, 120, 121, 122, 123,
124, 125, 126, 127, 129, 132, 136, 137, 139, 142, 156, 160, 161, 162, 163, 164, 165, 166,
167, 168, 169, 171, 172, 173, 174, 175, 176, 178, 179, 180, 181, 182, 183, 185, 189, 191,
192, 193, 196, 208, 210, 211, 212, 213, 230, 239, 242, 248, 251, 252, 253, 257, 260, 261,
265, 282, 288, 303, 304, 305, 307, 308, 312, 314, 316, 317
Supereu 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 17, 25
T
Telemedicina 65, 72
Transtornos do Neurodesenvolvimento 214, 218