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Artigo Eficiencia Caldeira

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AVALIAÇÃO DAS EMISSÕES DE MONÓXIDO DE CARBONO (CO) EM UMA


CALDEIRA FLAMOTUBULAR UTILIZANDO GÁS NATURAL

EVALUATION OF EMISSIONS OF CARBON MONOXIDE (CO) IN A FLAMOTUBULAR


BOILER USING NATURAL GAS

EVALUACIÓN DE LAS EMISIONES DE MONÓXIDO DE CARBONO EN UN CALDERO


DE LLAMA TUBULAR UTILIZANDO GAS NATURAL

Gilmar Geraldo Jorge


Engenheiro Ambiental/ Engenheiro de Segurança do Trabalho UNIFAESP-PR
E-mail: gilmar_gj_@hotmail.com

Angelo Augusto Valles de Sá Mazzarotto


Centro Universitário do Paraná- UNIFAESP.
E-mail: vallesdesa@gmail.com

Maria Carolina Vieira da Rocha


Engenheira de Bioprocessos e Biotecnologia/ UFPR; Bacharel em Ciências Biológicas/
Universidade Positivo; Mestre e Doutora em Engenharia de Recursos Hídricos e Ambiental/ UFPR;
Professora Adjunta I/UNIFAESP-PR
E-mail: mcarol.dhs@gmail.com

RESUMO

A poluição atmosférica vem aumentando com o crescimento industrial, e o desafio dos países tem
sido procurar mecanismos eficientes que controlem adequadamente os níveis destes poluentes. A
utilização de caldeiras é comum em muitas indústrias; porém, esses equipamentos são emissores
potenciais de poluição atmosférica e devem ter um controle rigoroso na sua operação. Entre estas
formas de controle, inclui-se a substituição de matérias-primas utilizadas no processo de queima,
por outras de menor potencial poluente, como é o caso do gás natural. Assim, este estudo teve como
objetivo avaliar a emissão de monóxido de carbono (CO) em uma caldeira flamotubular alimentada
por gás natural, monitorada por um período de três anos de funcionamento. Os resultados obtidos
em todas as análises estão de acordo com a norma estabelecida pela Resolução n° 436/ 2011 do
CONAMA (Conselho Nacional de Meio Ambiente), confirmando o uso deste combustível como
uma alternativa adequada para redução das emissões atmosféricas em sistemas de caldeiras
industriais.

Palavras-chave: Caldeira flamotubular, Gás natural, Monóxido de carbono

ABSTRACT

Air pollution has been considerably increased with industrial growth, and the challenge for
countries has been to find out efficient mechanisms that adequately control the levels of these
pollutants. The use of boilers is common in many industries; however, these equipments are
potential emitters of atmospheric pollution, and must have a strict control in their operation. Among
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these forms of control, the substitution of raw materials used in the burning process, for others with
lower polluting potential, such as natural gas, is included. Thus, this study aimed to evaluate the
emission of carbon monoxide (CO) in a flamedubular boiler fueled by natural gas, monitored for a
period of three years. The results obtained in all the analyzes were in accordance with the norm
established by Resolution No. 436/ 2011 of CONAMA (National Council of the Environment),
confirming the use of this fuel as an adequate alternative to reduce atmospheric emissions in
industrial boiler systems.

Keywords: Flamedubular boiler, Natural gas, Carbon monoxide

RESÚMEN

La contaminación atmosférica viene aumentando junto con el crecimiento industrial. El desafío de


los países ha sido buscar mecanismos eficientes que controlen adecuadamente los niveles de estos
contaminantes. El uso de calderas es común en diversas industrias; sin embargo, estos equipos son
emisores potenciales de contaminación atmosférica y deben tener un control riguroso en su
operación. Entre estas formas de control, se incluye la sustitución de materias primas utilizadas en
el proceso de quema, por otras de menor potencial contaminante, como es el caso del gas natural.
Así, este estudio tuvo como objetivo principal evaluar la emisión de monóxido de carbono (CO) en
una caldera pirotubular alimentada por gas natural, monitoreada em un período de tres años de
funcionamiento. Los resultados obtenidos en todos los análisis están de acuerdo con la norma
establecida por la Resolución N ° 436/2011 del CONAMA (Consejo Nacional de Medio Ambiente),
confirmando el uso de este combustible como una alternativa adecuada para reducción de las
emisiones atmosféricas en sistemas de calderas industriales.

Palabras clave: Caldera pirotubular, Gas natural, Monóxido de carbono

INTRODUÇÃO

De acordo com o Conselho Nacional do Meio Ambiente- CONAMA1, a poluição


atmosférica pode ser definida como qualquer forma de matéria, ou energia, que apresente
características que possam tornar o ar impróprio, nocivo ou ofensivo à saúde, ou ainda
inconveniente ao bem-estar público, à saúde da fauna, flora ou à vida em comunidade. De fato, os
poluentes atmosféricos estão majoritariamente associados ao aumento do efeito estufa; à destruição
da camada de ozônio na estratosfera; e à chuva ácida, já tendo sido descritos milhares de compostos
gasosos ou particulados que podem prejudicar a saúde humana e ambiental quando presentes no
ambiente2,3.
Entre os poluentes primários produzidos durante o processo de combustão, destaca-se o
monóxido de carbono (CO), composto gasoso altamente tóxico e produzido a partir da queima
incompleta de hidrocarbonetos. Em humanos, devido à falta de especificidade nos sintomas, muitos
casos de contaminações com CO não são adequadamente diagnosticados, levando a quadros
crônicos que podem culminar em danos cerebrais severos4. Além disso, o monóxido de carbono
influencia a química da atmosfera, contribuindo para o aquecimento global e a depleção da camada
de ozônio5,6.
Uma das principais fontes emissoras de poluentes atmosféricos, mais particularmente
monóxido de carbono, são as operações industriais que fazem uso da combustão em seus
processos7. O uso de caldeiras, por exemplo, visa gerar vapor através de uma troca térmica entre o
combustível e a água, o que tem sido amplamente utilizado para a geração de energia elétrica. É
importante salientar que, devido ao acúmulo de vapor sob elevadas pressões, estes equipamentos
estão sujeitos a rigorosas regulamentações como, por exemplo, a Norma Regulamentadora 13, do

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Ministério do Trabalho do Brasil (atualmente integrante do Ministério da Economia), que


estabelece características de fabricação e operação de caldeiras e vasos de pressão no país8.
A operação inadequada de caldeiras, entretanto, pode levar ao lançamento de grandes
quantidades de gases poluentes e material particulado na atmosfera, principalmente quando o
combustível utilizado é o carvão, e medidas de controle e monitoramento de emissões atmosféricas
são insuficientes3. Assim, visando minimizar os impactos causados pela operação de sistemas de
caldeiras, é possível substituir o carvão por combustíveis alternativos que causem menor dano
ambiental.
Apesar de ser classificado como um combustível de origem fóssil, por resultar da
decomposição da matéria orgânica de animais e plantas pré-históricas, o gás natural é inodoro,
incolor e de queima mais limpa que os demais combustíveis9. Composto primordialmente pelos
gases metano e etano, o gás natural destaca-se ainda pela maior segurança em seu transporte,
realizado mediante tubulações; pelo seu elevado rendimento térmico; e pela menor emissão de
poluentes atmosféricos, considerando-se que sua queima produz metade do dióxido de carbono
(CO2) quando comparada à queima de carvão, com a vantagem adicional de não lançar compostos
sulfurados na atmosfera, pois há reduzida concentração de enxofre em sua composição10.
Assim, tendo em vista a importância do monitoramento dos poluentes atmosféricos,
particularmente o gás monóxido de carbono, dada sua periculosidade à saúde humana e ambiental, o
presente estudo teve como objetivo avaliar as emissões de monóxido de carbono (CO) em uma
caldeira do tipo flamotubular, alimentada por gás natural. Os valores obtidos foram comparados
com os limites estabelecidos pela resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA)
n° 436, de 22 de dezembro de 201111, visando avaliar a segurança do uso do gás natural, em relação
à emissão de CO, na operação deste equipamento. É importante salientar que, para caldeiras com
potência nominal de até 10 MW, neste estudo definidas como caldeiras de pequeno porte, ficou
estabelecido pela Resolução CONAMA 436/2011, em seu anexo II, que o órgão ambiental
licenciador poderá aceitar a avaliação periódica apenas de monóxido de carbono como indicador
dos impactos atmosféricos ocasionados pela operação destes equipamentos.

MATERIAL E MÉTODOS

O equipamento caldeira avaliado neste estudo foi do tipo flamotubular, da marca TANGE,
modelo TG 80/10 (Fig. 1), fabricado no ano de 1997, com capacidade de geração de vapor de 1.040
kg/h e potência nominal de 0,91 MW. A caldeira operava 8 horas diárias, cinco vezes na semana,
em uma indústria de produção de asfalto, oscilando para períodos de até 12 horas diárias,
dependendo da demanda produtiva. Devido às férias coletivas, o equipamento permanecia dois
meses por ano inoperante, período utilizado para a realização da sua manutenção.
Caldeiras do tipo flamotubular funcionam realizando a queima do combustível com um
maçarico ou combustor. O calor desprendido aquece a tubulação contendo água, e os poluentes
gerados através da combustão são direcionados para uma chaminé, ou duto de exaustão, e lançados
na atmosfera. Assim, os efluentes atmosféricos gerados no processo de queima do gás natural
utilizado como combustível foram monitorados diretamente no duto de exaustão da caldeira
(diâmetro de 130 mm), em um orifício localizado a três metros a partir do nível do solo, no período
compreendido entre 2012 e 2014, tendo sido realizadas sete amostragens ao todo.
O monitoramento foi realizado utilizando-se um analisador de gases com microprocessador,
marca TELEGAN, modelo TEMPEST – 100. A sonda do analisador permaneceu inserida no ponto
de monitoramento por 3 minutos, e os dados obtidos foram armazenados na memória interna do
equipamento para posterior avaliação. Além do monóxido de carbono, também foram avaliados os
seguintes parâmetros: dióxido de enxofre (SO2); dióxido de carbono (CO2), óxidos de nitrogênio na
forma de NO2, oxigênio molecular (O2), temperatura dos gases e densidade colorimétrica.

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Fig. 1. Caldeira flamotubular alimentada com gás natural, marca Tange, modelo TG 80/10. As
emissões atmosféricas foram coletadas em orifício localizado no duto exaustor do equipamento

Fonte: o autor (2014)

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As coletas e análises dos gases de combustão da caldeira em estudo foram realizadas em um


período de três anos, visando avaliar se o tempo de operação do equipamento poderia influenciar na
emissão dos poluentes atmosféricos. Também, o monitoramento foi realizado em períodos de pleno
funcionamento e, no mínimo, duas horas após a partida diária da caldeira. De acordo com a
Resolução CONAMA 436/2011, para fontes que possuam caráter sazonal ou funcionamento não
contínuo ao longo do ano, o atendimento aos limites de emissão estabelecidos deverá ser verificado
nas condições que prevaleçam na maioria das horas operadas, comprovadas por meio de registros
operacionais.
Durante o monitoramento, a pluma gasosa não era perceptível visualmente, não havendo
presença de material particulado ou odor no entorno do lançamento. A temperatura ambiente variou
de 30,6 °C a 32 °C, com céu aberto e ventos moderados.
Na Tab. 1 são apresentados os valores obtidos para as análises realizadas. Apesar da
avaliação periódica obrigatória para caldeiras com potência de até 10 MW se referir apenas ao
monóxido de carbono, este estudo avaliou também outros parâmetros de qualidade do ar, visando
estabelecer relações entre os poluentes que possam auxiliar em um diagnóstico mais preciso sobre a
operação de caldeiras de pequeno porte, e os possíveis impactos ambientais ocasionados por
emissões atmosféricas decorrentes de suas atividades.
De acordo com os resultados, a temperatura média dos gases de combustão produzidos pela
caldeira foi igual a 158,8 °C. A temperatura dos gases de combustão, também denominada de
temperatura da pilha, é uma medida importante para a verificação da eficiência do equipamento,
sendo um reflexo do uso do combustível na caldeira. Estima-se que nesta temperatura, a eficiência
da queima do combustível e produção de vapor, considerando-se gás natural, esteja entre 83% e
84%. Temperaturas muito elevadas, como 250°C ou mais, indicam uma redução na eficiência do
processo de combustão, que também varia de acordo com o combustível utilizado12. É importante
salientar que a queda da eficiência no processo de combustão gera impactos negativos ao meio
ambiente, pois leva ao aumento da demanda de matéria-prima combustível necessária à geração de
energia e manutenção da produção9.

Tab. 1. Resultados dos parâmetros de qualidade do ar obtidos durante monitoramento dos efluentes
atmosféricos lançados no duto de exaustão de caldeira flamotubular alimentada com gás natural
Parâmetro Unidade Valores

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Jan/2012 Jun/2012 Nov/2012 Maio/2013 Out/2013 Mar/2014 Ago/2014


Temperatura dos gases °C 157 164,4 158,4 154,2 158 162 158
Densidade
% <20 <20 <20 <20 <20 <20 <20
colorimétrica
Monóxido de carbono
mg/ nm3 <1 <1 18 26 8 10,5 15,8
(CO)
Dióxido de enxofre
mg/ nm3 <1 <1 <1 <1 <1 <1 <1
(SO2)
Óxidos de nitrogênio
mg/ nm3 <1 110 140 133 95 72 68
(NOx)
Dióxido de carbono
% 7,3 7,4 8,9 9,2 5,2 5,8 6,2
(CO2)
Oxigênio molecular
% 8,2 7,9 6,8 7 9,4 9,8 8,7
(O2)

Outro parâmetro monitorado no período foi a densidade colorimétrica, que permitiu avaliar a
densidade da fumaça lançada na atmosfera, a partir da comparação com uma escala gráfica,
denominada de escala de Ringelmann. Em todo o período de amostragem, a densidade
colorimétrica ficou abaixo de 20%, estando de acordo com o que estabelece a Resolução CONAMA
nº 08, de 06 de dezembro de 199013 para áreas a serem atmosfericamente preservadas.
O principal parâmetro de interesse avaliado durante o estudo, entretanto, foi o monóxido de
carbono (CO), considerando-se sua importância como indicador da poluição atmosférica em
caldeiras com baixa potência nominal. Nos períodos referentes às duas primeiras amostragens
(janeiro e junho de 2012), a concentração encontrada foi bastante baixa, isto é, inferior a 1 mg/nm3
(ou 1 ppm). Nas demais amostragens, a concentração de CO aumentou, atingindo 26 mg/nm 3 em
2013 (Tab. 1). Estes valores podem ser explicados com base na demanda produtiva da indústria. De
novembro de 2012 a maio de 2013, a produção de asfalto foi mais elevada, e turnos de 12 horas de
operação da caldeira eram comuns no período. Um novo aumento da produção ocorreu entre março
e agosto de 2014, coincidindo, também, com concentrações mais elevadas de CO – 10,5 mg/nm3 e
15,8 mg/nm3, respectivamente.
É importante salientar que o aumento do tempo de operação da caldeira não implica,
necessariamente, na maior geração de CO. Entretanto, alguns fatores operacionais estão associados
ao aumento na produção deste gás, entre eles, a mistura inadequada do ar de combustão com o
combustível a ser consumido, e a ausência da combustão completa, devido ao fornecimento
insuficiente de ar ao equipamento. Assim, períodos de maior operação demandam ajustes no
equipamento visando sua adequada manutenção; entretanto, alguns fatores podem ser subestimados,
como por exemplo, o aumento da demanda de ar para resfriamento do sistema, levando à
inadequação do fornecimento de ar para a combustão e o consequente aumento na produção de
CO14. Entretanto, embora a concentração de CO tenha aumentado em algumas das amostragens
realizadas, todos os valores encontrados estiveram de acordo com a Resolução CONAMA nº
436/201111(Anexo II, item 3.1), que estabelece o limite máximo de emissão de CO como sendo
igual à 80 mg/ nm3 (ou 80 ppm), considerando-se sistemas de geração de calor, a partir da
combustão externa de gás natural, com potência nominal de até 10 MW.
A quantidade de poluentes atmosféricos gerados em um sistema de geração de calor está
intimamente relacionada com as características do combustível utilizado para a queima9. Entre os
combustíveis de origem fóssil, o gás natural é aquele cuja combustão apresenta menor produção de
poluentes atmosféricos e, portanto, uso mais adequado em sistemas de caldeiras, mesmo aquelas de
pequeno porte, como a que foi avaliada durante este estudo. Deve-se ressaltar, entretanto, que a
produção de CO não depende apenas do combustível, e a manutenção adequada do sistema, visando
uma maior eficiência no processo de combustão e a redução dos efluentes atmosféricos, deve ser
levada a efeito, mesmo em sistemas com baixa potência nominal12.

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O dióxido de enxofre (SO2) não apresentou concentrações significativas ao longo do estudo,


mantendo-se sempre abaixo do limite de detecção do equipamento (1 mg/ nm3 ou 1 ppm). Este
resultado está de acordo com as características do gás natural, que apresenta menor quantidade de
enxofre quando comparado com outros combustíveis fósseis, como o carvão. De fato, de acordo
com Coykendall10, dependendo do blend, ou mistura, o carvão pode apresentar até 5% de sua
composição em enxofre, que é convertido em óxidos de enxofre durante o processo de combustão.
Além de ser um agente danoso ao meio ambiente, originando material particulado na atmosfera e o
fenômeno conhecido como chuva ácida, o dióxido de enxofre também contribui para a corrosão e
incrustação em caldeiras, reduzindo o tempo de vida útil destes equipamentos15. Assim, a escolha
de combustíveis com reduzida concentração de enxofre torna-se vantajosa tanto do ponto de vista
ambiental, quanto operacional.
As concentrações de óxidos de nitrogênio, monitoradas na forma de NO2 durante o estudo,
variaram de abaixo do limite detectável (1 ppm), até o valor máximo de 140 mg/ nm3. Apesar do
dióxido de nitrogênio não apresentar limites de emissão para caldeiras de pequeno porte
estabelecidos na norma ambiental brasileira, cerca de 40% das emissões de óxidos de nitrogênio
oriundas de fontes estacionárias são originárias de caldeiras presentes em usinas elétricas16. Além
disso, quando presente na atmosfera, o dióxido de nitrogênio torna-se altamente reativo, podendo
originar ozônio troposférico, o que acarreta diversos riscos à saúde humana e ambiental3. Dessa
forma, a minimização da emissão de dióxido de nitrogênio na atmosfera, mesmo em sistemas de
geração de calor de pequeno porte, deve ser entendida como um importante mecanismo para a
redução da poluição atmosférica em centros urbanos. Uma das formas em se alcançar este objetivo
encontra-se na adição de ar excedente para a combustão nas caldeiras, com o controle da
temperatura da chama, o que além de minimizar a geração de óxidos de nitrogênio, também leva à
redução da produção de CO e material particulado12.
Outros parâmetros avaliados durante o estudo foram a porcentagem de dióxido de carbono
(CO2) e oxigênio molecular (O2) presentes no efluente atmosférico. Seu monitoramento reside na
importância de que, apesar de não serem diretamente tóxicos ao homem, estes parâmetros podem
informar sobre a eficiência da combustão das caldeiras. Para o uso de gás natural como
combustível, o teor de CO2 considerado ótimo no efluente de combustão encontra-se em torno de
10%17. Entre as amostragens realizadas, aquela cuja concentração de CO2 mais se aproximou deste
valor foi a de maio de 2013, em que foi observado um teor de 9,2% deste gás, período também
caracterizado pela maior atividade da caldeira e emissão mais elevada de monóxido de carbono.
Assim, para que efetivamente o processo possa unir eficiência à redução da emissão de efluentes
atmosféricos tóxicos, o monitoramento do processo deve ser acompanhado de medidas mitigadoras
do lançamento destes poluentes. Como visto anteriormente, esta redução está associada, entre
outros fatores, ao ar em excesso adicionado ao processo.
O oxigênio presente no efluente de combustão é um parâmetro associado diretamente ao ar
em excesso adicionado à combustão, que leva não só à maior eficiência de operação, como também
auxilia na redução da emissão de gases poluentes, como o CO. Valores entre 7% e 10% de O2 no
efluente atmosférico indicam eficiência entre 75% e 80%, dependendo da temperatura da pilha17.
Apesar de não serem indicadores diretos da poluição atmosférica, parâmetros relacionados à
eficiência da combustão podem ser utilizados na gestão e monitoramento de recursos, reduzindo os
impactos ambientais nos diversos setores produtivos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considerando o crescimento progressivo da poluição atmosférica nos centros urbanos, os


países, particularmente aqueles em desenvolvimento como o Brasil, tem como desafio reduzir a
quantidade de poluentes lançados na atmosfera sem, entretanto, comprometer o desenvolvimento

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econômico e social de suas populações. Para isso, é essencial que sejam estabelecidos mecanismos
para a redução dos impactos na atmosfera, monitorados através de normas e legislações específicas.
Durante um período de monitoramento de três anos, foram avaliadas as emissões
atmosféricas geradas pela combustão do gás natural em uma caldeira flamotubular, com destaque
para o CO gerado no processo. De acordo com a norma ambiental brasileira, este gás é o único
parâmetro de emissão a ser monitorado em sistemas de geração de calor de até 10 MW. Entretanto,
monitorar os lançamentos de outros gases contaminantes na atmosfera, como SO2 e NO2, torna-se
uma ferramenta útil para avaliar o impacto ambiental que caldeiras de pequeno porte, bastante
comuns em diversos setores produtivos, podem causar.
Dentre as diversas variáveis operacionais, aquela que mais interfere na produção de
poluentes atmosféricos é o combustível utilizado na combustão. Considerando-se os combustíveis
fósseis, o gás natural apresenta reduzidos impactos ambientais, principalmente quando comparado
ao carvão. Durante todo o período de monitoramento realizado neste estudo, as emissões de CO
originadas a partir da combustão do gás natural ficaram abaixo do limite máximo estabelecido pela
Resolução CONAMA nº 436/2011. O uso de fontes alternativas de combustível é, de fato, uma das
medidas indiretas mais eficazes de controle da poluição atmosférica, e deve ser considerada,
juntamente com o uso de tecnologias ambientalmente adequadas, para a minimização de efluentes
atmosféricos em fontes fixas instaladas no Brasil.

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