Livro 02
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Unidade II
5 Desenvolvimento intelectual, Motor, Emocional, Sexual e Social
nas diversas etapas da vida
Exemplo de aplicação
Observe crianças que possam estar perto de você em algum momento. Esteja atento à idade da
criança e tente identificar quais são as características que ela apresenta, tanto a nível físico‑motor como
intelectual e social. Se possível, observe crianças de diferentes idades, como uma de dois anos e outra
de quatro ou cinco.
É interessante que, com poucos anos de diferença, cada criança apresenta características muito
diferentes – claro que respeitando os aspectos individuais como o temperamento de cada uma, por
exemplo.
Esse exercício serve para ilustrar o papel da Psicologia do desenvolvimento, que tem por objetivo
estudar o ser humano em seus diferentes aspectos: motor, emocional, sexual e social, em cada etapa da
sua existência.
Outra maneira de conhecer na prática como ocorre o desenvolvimento humano é você procurar se
lembrar de cada fase da sua vida, desde as recordações mais remotas. Veja que cada momento teve suas
particularidades, suas características. Sua capacidade motora, sua maturidade sexual, a inteligência,
enfim, com o passar dos anos foi havendo uma transformação até você chegar ao que é hoje.
É assim que se dá o desenvolvimento humano. Cada etapa, desde o nascimento da criança, apresenta
suas características que se estendem até o final da vida.
Toda gestante precisa ser orientada quanto à necessidade do acompanhamento do pré‑natal para
que sua saúde e a do bebê estejam sob cuidados e para que o parto possa ser marcado como o início de
uma nova vida.
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Psicologia Aplicada à Fisioterapia
Figura 9 – Gestação
Convido você a caminhar neste estudo, em que aprenderemos sobre cada fase do desenvolvimento
e apresentaremos suas características, além de conhecer os autores que se dedicaram a pesquisa de
cada um dos aspectos dessas fases. Essa é uma oportunidade para que você posteriormente consiga
identificar as características do seu cliente de acordo com o momento do desenvolvimento em que ele
está vivendo.
Exemplo de aplicação
Peço também que você, como futuro fisioterapeuta, reflita sobre o quão importante é para sua
formação conhecer o ser humano em todas as suas dimensões, e não apenas fisicamente – afinal, o
corpo, conforme já estudado, carrega as marcas e a própria história da pessoa, o que inclui todas as
experiências do sujeito e de suas relações com o meio.
Tendo em vista a grande extensão do tema e dos aspectos a serem abordados sobre o desenvolvimento
humano, vamos nos ater apenas a alguns autores, pois nosso objetivo nesse momento é trazer noções
básicas, provocando você para que busque maior profundidade nos estudos, conforme o seu interesse.
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Unidade II
Podemos afirmar que o ser humano, se comparado a outras espécies da natureza, é um ser totalmente
dependente para que possa se desenvolver tanto física como emocionalmente. Se não houver um adulto
que assuma seus cuidados, o bebê não terá nenhuma chance de sobrevivência.
O recém‑nascido tem um crescimento acelerado nos três primeiros meses de vida, seguindo em
ritmo crescente durante todo o primeiro ano. De uma condição na qual a criança se apresenta sem
controle sobre sua coordenação motora, por volta dos doze meses, ele já assumiu a postura bípede e
inicia a marcha. Isso representa um grande avanço para o desenvolvimento psicomotor.
• princípio próximo distal, ou seja, do interior para o exterior. Tanto o crescimento quanto o
desenvolvimento motor ocorrem do centro do corpo para fora.
Das habilidades do recém‑nascido, podemos observar que muitas delas não precisam ser aprendidas,
como agarrar, engatinhar e andar, tendo em vista que a criança necessita apenas de espaço e liberdade
para que possa se movimentar.
Reflexos
O recém‑nascido apresenta uma série de respostas físicas involuntariamente, que são desencadeadas
por estímulos específicos chamados de reflexos. Alguns deles continuam presentes no adulto, como
piscar automaticamente quando há um sopro de ar nos olhos. Outras vezes, os reflexos são adaptativos
e essenciais para a sobrevivência do bebê, mas desaparecem durante o primeiro ano de vida, como é o
caso de sugar e deglutir.
• agarrar: ao esfregar a palma da mão do bebê com o dedo, ele irá segurar o dedo com força
(desaparece aos 3 ou 4 meses);
• moro: ao emitir um som alto próximo do bebê ou simular que ele esteja sendo derrubado, o bebê estende
os braços, pernas e dedos, arqueia as costas e atira a cabeça para trás (desaparece por volta dos 6 meses);
• marcha automática: segurando o bebê pelas axilas e deixando seus pés tocarem uma superfície
plana, o bebê fará movimentos de passos alternando os pés como se estivesse caminhando
(desaparece por volta de 8 semanas);
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Psicologia Aplicada à Fisioterapia
• babinski: ao esfregar a sola dos pés do bebê, começando dos dedos para o calcanhar: o bebê vai
abrir os dedos dos pés como um leque (desaparece por volta dos 8 a 12 meses);
• natação: colocar o bebê na água com o rosto voltado para baixo: o bebê fará movimentos
natatórios coordenados (desaparece por volta dos 4 meses).
Sobre o desenvolvimento motor da criança, Papalia, Olds e Feldman (2006, p. 181) afirmam:
Como vemos, é importante dar à criança oportunidade para que ela possa, na medida do seu
desenvolvimento, explorar o ambiente e crescer com equilíbrio e segurança.
Sobre o estudo do desenvolvimento motor, encontramos Arnold Gesell, cujos estudos estiveram
voltados aos aspectos maturacionais da criança.
Lembrete
Passamos agora a descrever algumas habilidades motoras da criança nos dois primeiros anos, de
acordo com Gesell (2000, apud RIBEIRO et al., s.d.):
1 mês
• Se removido o suporte da cabeça, esta penderá para um dos lados (ao sentar o bebê, a cabeça
cairá para trás).
• Quando em posição supina – deitado de costas – o bebê dobrará os braços sobre o tórax.
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Unidade II
• Quando em posição prona – deitado de bruços – ele elevará o tronco e virará a cabeça para
“libertar” o nariz.
• Quando em posição supina, se mostramos um objeto atraente, ele o seguirá até a linha média.
Podemos perceber que, ao nascer e no primeiro mês, o bebê não tem nenhum controle sobre seu
corpo. Quando carregado, é necessário ter muita atenção; quando de bruços, é importante ter cuidado,
pois nem sempre o bebê consegue “liberar” a respiração, já que não há nenhum controle sobre os
movimentos. Isso poderá colocá‑lo em risco.
2 meses
• Quando em posição prona, o bebê levantará a cabeça de uma superfície plana e a sustentará
por segundos (quando é puxado para a posição sentada, a cabeça pende bastante, mas não
completamente).
• Os olhos seguirão um objeto que se move horizontalmente, pelo menos até a linha média, com o
foco melhorado.
Observe que no segundo mês o bebê faz um breve ensaio tentando sustentar a cabeça. Além disso,
os olhos também seguem um objeto, mas apenas em um movimento horizontal.
3 meses
• Em posição sentada, o bebê ficará com a cabeça ereta, sem oscilar, por cinco segundos e suas
costas permanecem uniformemente arredondadas.
• Os olhos seguem continuamente uma argola pendurada em um barbante, à medida que esta se
movimenta em círculos (180 graus de deslocamento).
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Psicologia Aplicada à Fisioterapia
• Quando se coloca um objeto na mão do bebê, ele o segurará à frente dos olhos, tentará mordê‑lo
ou baterá nele, normalmente utilizando ambas as mãos.
Procure observar um bebê no terceiro mês de vida. É surpreendente como ele se esforça para se
movimentar e apresenta um controle um pouco melhor da cabeça quando em posição sentada; os olhos
se fixam e se movimentam acompanhando um objeto.
4 meses
• Quando na posição supina, virará para o lado. Os braços fazem movimentos de natação.
• A posição sentada é a preferida (com apoio). A curvatura das costas limita‑se à região lombar.
Interessante como gradativamente o bebê vai adquirindo melhor controle sobre o seu corpo. Nesta
fase (4 meses) a criança já insiste em permanecer na posição ereta. Ao brincar portando objetos e
levando as mãozinhas à boca está exercendo o autorreconhecimento.
5 meses
• Apoiando‑se nos dedos de alguém, quando deitado, é capaz de se puxar para a posição sentada,
pois já não pende.
• Quando em posição prona, ao levantar a cabeça, o maior peso está nos antebraços.
6 meses
• Quando em posição prona, toda a parte superior do abdômen fica acima da superfície (o bebê se
apoia nas mãos com os braços estendidos).
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Unidade II
• Quando em posição prona, empurra‑se mais com as mãos do que com os pés, movimentando‑se
para trás.
• Mantém a mão estendida em direção a um objeto, durante diversos segundos, tentando agarrá‑lo
e, se está ao seu alcance, agarra‑o com facilidade.
• É capaz de agarrar um cordão, com pressão palmar, e passa objetos de uma mão para a outra.
Observe que o bebê já faz um breve ensaio para as conquistas que fará nos próximos meses. Além de
conseguir virar‑se, segura objetos e tenta se apoiar quando sentado.
7 meses
• Quando em posição prona, consegue levantar o tórax usando somente uma das mãos.
• É capaz de tirar um objeto de dentro do outro (um cubo de dentro de uma caneca, por exemplo).
• Pega objetos com o polegar e os dedos em completa posição, sem o uso da palma das mãos.
A interação da criança com o mundo a sua volta é evidente e suas conquistas corporais progridem
a cada dia.
8 meses
• Movimenta‑se para frente e para trás, sobre as mãos e os joelhos, os quais trabalham juntos
(engatinhar dois).
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Psicologia Aplicada à Fisioterapia
Todo ensaio que o bebê fez com seu corpo nos meses anteriores lhe garante agora a exploração do
ambiente, já que ele é capaz de engatinhar.
9 meses
10 meses
• Puxa‑se para ficar em pé e mover‑se nessa posição, segurando na mobília ou na mão de alguém.
• Quando um cubo é dado para o bebê e depois outro, ele normalmente bate um contra o outro,
quando um terceiro é colocado à sua frente, ele tenta pegá‑lo.
• Quando uma bolinha é oferecida ao bebê, ele aproxima o indicador do objeto fazendo oposição
polegar‑indicador em uma preensão em pinça.
Aos dez meses, o bebê vai gradativamente se colocando na posição bípede, apoiando‑se nos móveis
ou objetos, e isso é importante – afinal, seus membros inferiores precisam ser exercitados. Em breve ele
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Unidade II
estará caminhando. Sua interação social também apresenta avanços: o bebê interage mais e melhor
com as pessoas à sua volta.
11 meses
• Consegue colocar um objeto pequeno dentro de um maior (primeira evidência de que já pode
soltar).
12 meses
• Em seguida a uma demonstração, consegue fazer algum tipo de marca de lápis sobre um papel.
Sabemos que muitas crianças iniciam a marcha aos 12 meses, mas a cronologia é apenas uma
referência, pois sabemos que algumas crianças iniciam a marcha um pouco antes e outras iniciarão um
pouco depois. Observe que as construções com cubos são ações intelectuais que se aprimoram cada vez
mais.
14 meses
• É capaz de andar três metros sozinho, de forma normal, com alteração equidistante dos pés.
• A única forma que a criança consegue para sair da posição de pé para a sentada é deixando‑se
“cair”.
• É capaz de segurar, tirar e recolocar encaixes simples no tabuleiro (dando‑se o tabuleiro com as
formas dentro).
O desenvolvimento motor apresenta grandes avanços, permitindo à criança cada vez mais a
exploração do ambiente.
16 meses
• Depois de uma demonstração, o bebê rabiscará um papel com um lápis com a mão fechada.
Nesse momento não há mais como conter a criança. A marcha lhe garante a autonomia para
explorar o ambiente. É importante que ela receba estímulos para as atividades manuais, mas também é
necessário garantir sua segurança, afinal, suas explorações não têm limites e podem colocá‑la em risco.
18 meses
• Não é capaz de chutar uma bola, dá um passo em direção a ela; entretanto, na hora de chutar,
erra o alvo.
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Unidade II
• Imita traços.
• Controla a colher.
Grandes avanços foram conquistados, movimentos de puxar, agarrar e arremessar são atividades de
grande descoberta para a criança. Agora ela explora suas possibilidades de ação sobre o ambiente.
21 meses
Próxima dos dois anos de idade, a criança se sente livre e em condições para abrir e fechar, assim
como fazer chutes e movimentos sem fim.
24 meses
• Desembrulha embalagens.
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Psicologia Aplicada à Fisioterapia
Comparativamente, aos observarmos uma criança em suas primeiras semanas de vida e aos
dois anos de idade, temos que as conquistas motoras, cognitivas e sociais são enormes no período.
Afinal, a criança deixa uma condição de total dependência para, gradativamente, conquistar sua
autonomia.
Usaremos como referência para o estudo sobre o desenvolvimento cognitivo da criança o estudo
realizado por Jean Piaget.
Formado em Biologia, iniciou seu trabalho na área da educação observando a interação dos seus
filhos com o meio, quando percebeu que as crianças possuem uma forma particular de pensar e aprender.
Para Piaget, o conhecimento construído pelo homem é resultado do seu esforço de compreender e
dar significado ao mundo. Nessa tentativa de interação e compreensão do meio, o homem desenvolve
equipamentos neurológicos herdados que facilitam o funcionamento intelectual, havendo coincidência
entre a atividade psíquica e a atividade biológica.
Em seu trabalho, Piaget dividiu o desenvolvimento no que ele chamou de estágios. De acordo com
ele, o primeiro estágio sensório‑motor está composto por seis subestágios que vão fluindo de um para o
outro à medida que o bebê vai adquirindo padrões mais organizados de comportamento. Apresentamos
a seguir uma síntese desses subestágios:
• 1º estágio (sensório‑motor):
– de 1 a 4 meses: experimentação com o próprio corpo, como colocar o dedo na boca. Experiências
que inicialmente ocorrem por acaso e, posteriormente, já são feitas intencionalmente;
É evidente que há outros teóricos que estudaram o desenvolvimento cognitivo, mas conforme já
colocado, estamos nos atendo aos aspectos básicos dos temas aqui apresentados.
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Unidade II
Embora os bebês apresentem padrões comuns de desenvolvimento, podemos observar que desde o
nascimento cada um demonstra uma personalidade diferente, o que nos leva a questionar as influências
inatas como do ambiente onde estão inseridas. Vejamos alguns autores que voltaram seus estudos para
o desenvolvimento da personalidade da criança.
Sigmund Freud, médico psiquiatra, desenvolveu seu trabalho sobre o desenvolvimento humano e
infantil afirmando que a sexualidade está presente na pessoa desde o seu nascimento. A libido, nas
palavras de Freud (apud BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 1999, p. 74), é “a energia dos instintos sexuais”. No
início da vida, a função sexual está ligada à sobrevivência; portanto, o prazer é encontrado no próprio
corpo.
Para ele, o período de desenvolvimento da sexualidade é longo e complexo até chegar à sexualidade
adulta, em que as funções de reprodução e obtenção do prazer podem estar associadas tanto no homem
como na mulher.
• fase oral (de 0 a 2 anos): a manifestação mais precoce é a sucção, que tende a ser exercida
por si mesma na ausência de um estímulo específico em outros objetos ou regiões do corpo,
tornando‑se essas zonas erógenas, isto é, geradoras de prazer.
Conforme a criança vai se desenvolvendo, outras fases vão ocorrendo. Veremos isso mais adiante.
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Psicologia Aplicada à Fisioterapia
Outro teórico que se dedicou ao estudo do desenvolvimento foi Erick Erickson, que desenvolveu seu
trabalho partindo do aprofundamento da teoria psicossexual de Freud, mas rejeitando que se explique
a personalidade apenas com base na sexualidade. Erickson acredita na importância da infância para o
desenvolvimento da personalidade; para ele, esta continua a se desenvolver para além dos cinco anos
de idade.
Em seu trabalho, Erickson propõe oito estágios do desenvolvimento psicossocial por meio dos
quais um ser humano em desenvolvimento saudável deveria passar da infância para a idade adulta. É
importante que cada fase do desenvolvimento seja bem resolvida para que a fase seguinte possa ser
superada sem problemas.
De acordo com Erik Erickson, os bebês, nos primeiros 18 meses de vida, experimentam a primeira de
oito crises e que irão influenciar o desenvolvimento da personalidade por toda vida:
Nessa fase o desenvolvimento motor da criança tem grandes avanços. Ela pode pular, saltar e correr,
envolvendo os grandes músculos corporais.
Outras habilidades da criança nessa fase são reproduzidas aqui de acordo com Gesell (2000, apud
RIBEIRO et al., s.d.):
2 anos e meio
Aos dois anos e meio, é interessante como a criança gosta de fazer experimentos, como andar na
ponta dos pés, correr e exercitar os membros superiores. Tais atividades fazem com que ela aprenda a
reconhecer suas capacidades motoras.
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Unidade II
3 anos
Conforme a criança vai ganhando controle sobre a marcha e também equilíbrio corporal, suas
atividades corporais também vão se ampliando.
4 anos
• Corre pelas escadas para baixo e para cima. Corre velozmente no triciclo.
• Gosta de atividades que exigem equilíbrio. É capaz de transportar uma xícara com líquido sem
entornar.
• Ao pintar, trabalha com precisão durante algum tempo, mas muda de ideia.
• Gosta de ver seu nome escrito nos desenhos que faz e começa a copiar.
• Pode ter a noção do número de letras do nome e pode desenhar primeiro duas letras e marcá‑las
no modelo para não se enganar. Identifica várias letras. Utiliza a tesoura e tenta cortar em linha
reta.
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Psicologia Aplicada à Fisioterapia
Observe que, aos quatro anos, as atividades se ampliaram e a interação da criança com o ambiente
começa a esboçar as atividades que irão prepará‑la para a alfabetização.
5 anos
• Há maior facilidade e melhor domínio da atividade física geral, e também mais economia de
movimento.
• O domínio dos grandes músculos continua a ser maior do que o dos pequenos.
• Brinca no mesmo lugar durante períodos mais longos, mas muda de postura (de pé para sentado
ou de cócoras).
• Gosta de pular cercas e muda frequentemente de atividade. Salta de cima de uma mesa.
• Gosta de dar movimento a uma história que está contando. Corre, salta por cima da mesa e das
cadeiras ou mete‑se por baixo delas. Atira coisas, inclusive lama e neve, e começa a utilizar mais
as mãos do que os braços para agarrar uma bola, mas falha com frequência.
• Constrói com blocos, geralmente no chão, edifica torres de vários andares ou estruturas baixas, de
plano irregular, com caminhos e pequenos cercados.
• Gosta de colorir figuras com lápis de cor e de colar coisas simples, mas o faz desajeitadamente.
• Faz um desenho representando o contorno de uma figura (faz, em geral, uma em cada página) e
reconhece que ficou “esquisito”.
É interessante que nessa fase do desenvolvimento a criança seja estimulada em sua criatividade, pois
é comum haver o interesse pelo desenho, assim como pelas brincadeiras que possibilitam o exercício
corporal.
• Pinta sobre um cavalete ou no chão, com pincéis grandes e em grandes folhas de papel. Pode
gostar de fazer letras dessa maneira.
• É capaz de amarrar os sapatos e de abotoar e desabotoar os botões da roupa que consegue ver.
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Unidade II
• Coloca bem os dedos sobre as teclas do piano e pode experimentar tocar acordes.
• Esta é a idade focal, visualmente. A criança tende a sentar‑se com o tronco direito, com o trabalho
diretamente em frente de si. Tem consciência da totalidade de espaço, mas não o abrange todo ao
mesmo tempo. Em vez disso, move‑se de um ponto restrito para o próximo.
• Pode prestar atenção em qualquer coisa sem olhar diretamente para ela – pode olhar através dela
ou mesmo em uma direção diferente.
Assim como nas etapas anteriores, há sempre a integração de todos os aspectos do desenvolvimento.
Vemos que a criança desenvolve habilidades de coordenação motora fina, como é o caso de amarrar
os sapatos, e a parte cognitiva também se faz presente, visto que esta é uma atividade intelectual
importante no processo de aprendizagem da criança.
5 anos e meio
• Pede que troque seu triciclo por uma bicicleta; muitas crianças experimentam, com agrado, andar
de bicicleta.
• Muitas crianças mostram interesse em aprender a desenhar o seu nome próprio e gostam de
sublinhar letras maiúsculas e palavras em um livro de seu conhecimento.
• Mais visualidade experimental do que aos cinco anos; porém, pode perder facilmente a orientação
e, desse modo, inverter números ou letras.
6 anos
• Muito ativa; quase constantemente em movimento. Atividade por vezes desastrada; a criança
exagera e dá um trambolhão.
• O corpo está em equilíbrio ativo quando anda de balanço, pratica jogos de atividade entoando
canções ou salta ao som da música.
• Entretém‑se com frequência lutando, dando cambalhotas, engatinhando e brincando com outra
criança de luta ou de pegador.
• Muda os blocos grandes e as peças do mobiliário de um lugar para o outro, para fazer casa, e salta
para cima ou para dentro delas. Atira bolas para cima ou de encontro a uma parede e às vezes
consegue agarrá‑las antes de cair no chão.
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Psicologia Aplicada à Fisioterapia
• Experimenta andar de patins, saltar em comprimento com corrida e fazer exercício de barras.
• Começa bem muitos de seus trabalhos, mas precisa de ajuda e orientação para completá‑los.
• Mostra‑se agora mais decidida, ainda que, vez ou outra, ainda seja hesitante, mas maneja
ferramentas e materiais.
De acordo com Piaget, nesta fase a criança viverá o segundo estágio do desenvolvimento cognitivo,
chamado de pré‑operatório, que segue dos dois aos sete anos, aproximadamente.
• animismo: a compreensão da realidade física é muito mais limitada do que aquela que aparece nos
anos posteriores. A criança tende a confundir os aspectos objetivos com os subjetivos, acredita em
histórias mágicas e fantasiosas e costuma atribuir vida e características aos objetos inanimados.
Por exemplo: pensa que a mesa é responsável por ter batido nela. Confunde, com frequência, os
sonhos com a realidade;
• conservação: a criança atém‑se a uma coisa por vez. Ela consegue perceber um aspecto do
objeto por vez; por exemplo, se percebe o comprimento, não percebe a largura;
75
Unidade II
• falta de reversibilidade: a criança não percebe que as coisas podem ser somadas ou subtraídas.
A quantidade de água de um recipiente continua o mesmo, apesar de apresentar forma diferente.
Nesta etapa do desenvolvimento a criança estará vivendo duas das fases do desenvolvimento
psicossexual, conforme Freud. São elas:
• fase fálica: na qual a zona de erotização é o órgão sexual (de 4 a 6 anos de idade). Sobre essa
fase, Stratton e Hayes (2003, p. 91) afirmam:
A teoria freudiana foi encarada com muito espanto pela sociedade de sua época e até hoje
encontramos opositores ao trabalho por ele desenvolvido. Entretanto, é importante conhecer seu
trabalho em profundidade para que possamos criticá‑lo.
Nesta etapa do desenvolvimento, Erick Erickson irá afirmar que a criança precisa lidar com os
seguintes conflitos:
• autonomia versus dúvida (dos 2 aos 3 ou 4 anos): nesse momento a criança precisa treinar
suas habilidades motora e mental e se orgulha de suas realizações. Se os pais dão oportunidade
e liberdade para que ela possa executar tarefas simples, mas que a fazem se sentir capaz, irá
prevalecer o sentido de autonomia. Porém, se os pais se mostram superprotetores e tiram da criança
a oportunidade de exploração, o sentimento será de dúvida quanto à sua própria capacidade. Vale
lembrar que nessa fase a criança está sendo treinada para deixar de usar fralda e é importante que
os pais a incentivem para isso, pois atitudes de repressão exagerada irão despertar sentimentos de
dúvida com relação a si mesma;
• iniciativa versus culpa (dos 4 aos 5 ou 6 anos, aproximadamente): coincide com a fase fálica de
Freud. A criança manifesta, em geral, o desejo de executar tarefas tanto motoras como intelectuais.
Os pais podem incentivar, mas também gerar na criança sentimentos de incapacidade e culpa por
não conseguir executar aquilo que esperam dela. É nessa fase que a criança descobre as diferenças
sexuais e a diferença nos papéis do homem e da mulher na sociedade.
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Psicologia Aplicada à Fisioterapia
Nesta fase do desenvolvimento o foco das atenções está voltado para a vida escolar da criança. A
socialização e as novas aprendizagens podem ser encaradas como um desafio tanto para ela como para
a família, que também precisa se adaptar às grandes diferenças que a criança passa a apresentar em
todos os aspectos do seu desenvolvimento.
Quanto às suas habilidades motoras, apresentamos as aquisições, conforme Gesell (2000, apud
RIBEIRO et al., s.d.):
7 anos
• Tem “revoadas” em relação a algumas atividades, como patins de rodas, pular corda, jogar bola ou
peteca.
• Deseja imensamente ter uma bicicleta sua e é capaz de guiar até certa distância, embora o seu
domínio da bicicleta seja ainda limitado.
• Segura com força no lápis e o pega muitas vezes perto da ponta. A força que faz para escrever é
variável, mas tende a ser exagerada. À medida que a letra se torna menor a pressão diminui.
• A maior parte distrai‑se menos com o movimento periférico do que aos seis.
8 anos
• Aprende a pular corda e pode desistir quando começa a falhar, mas não é capaz de variar o ritmo
enquanto está pulando.
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Unidade II
• Muitas crianças gostam de danças populares, mas só lhes agradam os ritmos de natureza dramática
e espontânea.
• A coordenação de olhos e mãos é mais rápida e mais natural; larga com facilidade um objeto.
• Gosta que controlem o tempo para fazer um trabalho, mas não se esforça por concluí‑lo no
tempo marcado.
• É provável que haja um desnível entre aquilo que quer fazer pelas suas mãos e aquilo de que é
capaz.
• Começa a desenhar com perspectiva; desenha as figuras de uma cena com boas proporções.
9 anos
78
Psicologia Aplicada à Fisioterapia
Neste período ocorre uma profunda modificação na capacidade intelectual da criança. O egocentrismo
e as características da fase anterior são abandonados e ela passa a entender o mundo a partir de uma
nova perspectiva na qual ela consegue realizar uma ação objetiva, acompanhá‑la e revertê‑la se assim
o desejar.
• o mundo concreto recebe maior atenção, já que ela pode perceber as coisas, compará‑las,
colocá‑las em ordem e separá‑las;
Em geral, nesta fase, as crianças são menos egocêntricas do que na fase anterior e mais preparadas
para tarefas que exigem raciocínio lógico, embora se constate que seu pensamento ainda está voltado
para o aqui e agora, ou seja, para as experiências concretas.
Observação
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Unidade II
Nesta fase a criança não possui ainda uma plena compreensão de emoções dirigidas para si
mesma, como a vergonha e o orgulho. Por esta razão ela encontra dificuldade para reconciliar emoções
aparentemente conflitantes, ou seja, reconhecer que pode experimentar diferentes reações emocionais
ao mesmo tempo.
É nessa crise de desenvolvimento da personalidade que Erick Erickson estabelece a quarta crise
denominada como:
• indústria versus inferioridade: esta fase coincide com o período da latência descrito por Freud.
Nesta fase a criança aprende que é capaz de realizar e dominar tarefas. Quando ela recebe
incentivo, aprende a ter prazer naquilo que faz e sente orgulho de estar produzindo (indústria),
sentindo motivação para continuar. Ao contrário, quando sente frustração por não conseguir
realizar uma tarefa, recebe excesso de críticas (por exemplo, com palavras desmotivadoras), e se
sentirá frustrada, desenvolvendo um senso de incompetência.
É importante que a criança se sinta valorizada na execução de suas tarefas, pois isso irá permitir que
ela construa uma autoestima de confiança e adquira autonomia para continuar desenvolvendo suas
habilidades.
Em alguns momentos ela irá se deparar com a frustração de não conseguir realizar determinadas
tarefas, mas de acordo com Erickson, para o enfrentamento dessa crise e o equilíbrio nas relações da
criança, é necessário em alguns momentos que ela também viva a frustração.
Quanto ao desenvolvimento psicossexual, Freud denominou essa fase como latência, pois para ele
os desejos sexuais ficam reprimidos e o interesse da criança está voltado para a socialização.
Para sua melhor compreensão, é importante esclarecer que o complexo de Édipo ocorre, de acordo
com a teoria freudiana, na fase fálica e se caracteriza pelo desejo amoroso e hostil da criança em relação
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Psicologia Aplicada à Fisioterapia
aos pais. A criança deseja para si o genitor do sexo oposto ao seu, demonstrando ciúmes do outro, que
é visto como rival.
Valores morais aparecem, conforme descrevem os autores, e a criança tem preferência em estar
próximo de outras do mesmo sexo, havendo certa rejeição pelo oposto, já que no período de latência o
interesse da criança se volta para a socialização, ampliando as relações interpessoais.
Lembrete
Esta é uma fase em que o desenvolvimento físico apresenta grandes transformações. Você saberia
explicar quais são as diferenças entre adolescência e puberdade? Com certeza deve ter uma noção, mas
para que possamos esclarecer sob o ponto de vista científico, recorremos a Papalia, Olds e Feldman
(2006, pp. 440‑441):
Assim, puberdade é um marco no que se refere às mudanças biológicas que a criança terá agora que
enfrentar. Para tanto, ela terá que se adaptar às profundas transformações do seu corpo, marcando o
final da infância.
São momentos importantes nesta fase a primeira ejaculação dos meninos, que ocorre por volta dos
14 anos, e o primeiro período menstrual das meninas, chamado de menarca, que acontece por volta dos
13 anos de idade.
Quanto à adolescência, ela é marcada pelas transformações psicossociais. Podemos considerar que
esta é a fase mais complexa e dinâmica, do ponto de vista físico e emocional, na vida do ser humano.
Com o corpo em franco desenvolvimento, o jovem agora necessita se reconhecer tanto fisicamente
quanto emocionalmente. Papalia, Olds e Feldman (2006, p. 443) apresentam as características das
mudanças fisiológicas na adolescência.
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Unidade II
• Características femininas:
– crescimento corporal;
– menarca;
– pelos axilares.
• Características masculinas:
– crescimento corporal;
– alteração na voz;
Se em alguns momentos ele se vê como um adulto, em outros poderá sentir o inverso, ou seja, se ver
como uma criança. Nesse sentido, os pais também precisam se adaptar, pois o filho deixou de ser uma
criança e agora questiona e demonstra sua própria vontade com firmeza e até com certa intolerância.
De acordo com Papalia, Olds e Feldman (2006), as mudanças biológicas da puberdade, que sinalizam o
fim da infância, resultam em rápido crescimento em altura e peso, mudanças nas proporções e na forma
do corpo e obtenção de maturidade sexual. Essas mudanças físicas radicais fazem parte de um longo e
complexo processo de amadurecimento que se inicia mesmo antes do nascimento, e suas ramificações
psicológicas continuam até a vida adulta.
Meninos e meninas crescem de maneira diferente. Um menino torna‑se maior em geral; os ombros
alargam‑se, as pernas tornam‑se mais longas em relação ao peito e os antebraços mais longos em
relação aos braços e à altura. A pélvis de uma menina alarga‑se para facilitar o parto e camadas de
gordura formam‑se logo abaixo da pele, dando‑lhe uma aparência mais arredondada.
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Psicologia Aplicada à Fisioterapia
Do ponto de vista cognitivo, Piaget, afirma que os adolescentes entram no nível mais elevado de
desenvolvimento cognitivo e chamou esse período de:
• período das operações formais: neste momento se desenvolve a capacidade para o pensamento
abstrato. Surge então um modo novo e mais flexível de pensar e manipular as informações. O
adolescente não está mais limitado ao aqui e agora, sendo capaz de compreender o tempo
histórico e o espaço. É capaz de utilizar símbolos, podendo assim aprender álgebra e cálculos.
Sobre o desenvolvimento no período das operações formais de Piaget, Papalia, Olds e Feldman (2006)
escrevem que, em síntese:
O raciocínio hipotético‑dedutivo permite que o jovem crie hipóteses e possa pensar nos resultados
possíveis para sua hipótese sem haver necessidade de comprovação concreta, conforme ocorria na fase
anterior.
Em todas as etapas do desenvolvimento é importante que haja estímulo para que o sujeito continue
sua caminhada e obtenha cada vez mais condições e preparo para viver as etapas seguintes. Assim,
poderá enfrentar o mundo e construir uma vida adulta saudável tanto física como psicologicamente.
De acordo com a teoria de Erick Erickson, a principal tarefa do adolescente é confrontar a seguinte
crise:
83
Unidade II
Sabemos que a adolescência é marcada como uma fase difícil tanto para o jovem quanto para a
família; afinal, os pais de certa maneira perdem a criança e precisam reconhecer o filho, que agora se
apresenta com vontade própria e, na maioria das vezes, questionando e contestando tudo (o mundo, de
maneira geral). Por sua vez, o adolescente também precisa se reconhecer e descobrir quem de fato ele
é, conforme Erickson descreve.
É um momento difícil e faz com que o jovem busque no grupo de amigos a referência para sua
identidade. Assim, é possível que ele frequente diferentes grupos, sejam eles da escola, grupos religiosos
ou tantos outros. Todos os valores sociais e familiares são questionados. O que até então era aceito sem
dificuldades é agora contestado.
• tendência grupal;
Como vemos, são características que demandam uma grande flutuação emocional por parte do
jovem. Por isso há a justificativa dos autores em considerarem isso como uma síndrome: não há uma
patologia, mas a série de contradições justifica o uso da palavra síndrome.
84
Psicologia Aplicada à Fisioterapia
fase genital: última fase descrita por Freud. Precede o estado final do desenvolvimento sexual e a
organização genital definitiva. A libido não está mais voltada para o próprio corpo, mas se projeta para
o outro.
Saiba mais
Figura 11 – Adolescentes
Os adolescentes tendem a passar mais tempo com os amigos do que com os pais, embora o
relacionamento com eles continue sendo próximo. O grupo pode exercer uma influência tanto positiva
como negativa no adolescente.
De acordo com as autoras, do ponto de vista físico, os jovens geralmente se encontram em uma fase
em que suas capacidades físicas e de saúde estão normais, sendo que é na fase adulta que se assenta a
base para o funcionamento físico de todo o restante da vida. É também no período que estão no auge
do funcionamento sensório e motor.
Por volta dos 20 anos, a maioria das funções corporais está plenamente desenvolvida. A acuidade
visual é máxima aproximadamente dos 20 aos 40 anos; e o paladar, o olfato e a sensibilidade à dor e à
temperatura geralmente permanecem inalterados até pelo menos os 45 anos.
É importante que a pessoa desenvolva nessa fase hábitos saudáveis, mantenha uma alimentação
equilibrada e não faça uso de substâncias que irão por em risco sua vida.
Atualmente, observamos que a obesidade está cada vez mais presente na população em geral.
O uso de tabaco e principalmente álcool e outras drogas se faz presente e compromete a saúde das
pessoas, o que faz com que as autoridades considerem os comportamentos de risco um problema de
ordem pública.
Quanto aos aspectos cognitivos do jovem adulto, as estruturas intelectuais se encontram em seu
apogeu. É possível que a escolha profissional se dê pela conclusão do Ensino Médio ou pela continuidade
do Ensino Superior. Embora Piaget considerasse o estágio das operações pós‑formais como o auge do
desenvolvimento cognitivo, outros autores afirmam que a mudança na capacidade cognitiva do jovem
adulto ultrapassam o último estágio de Piaget e apresentam o:
Do ponto de vista psicossocial, Erick Erickson apresenta nesta fase a sexta crise de desenvolvimento
psicossocial:
• intimidade versus isolamento: ocorre da fase final da adolescência até os primeiros anos
da maturidade (meia‑idade). A intimidade está na capacidade do indivíduo em estabelecer
relacionamentos não somente sexuais, mas também amizades intensas e duradouras.
A base dos relacionamentos íntimos tem início no começo da vida adulta jovem. Esse é um período
de profundas mudanças nos relacionamentos pessoais, em que as pessoas estabelecem, renegociam ou
consolidam laços baseados na amizade, na sexualidade e no amor.
Na vida adulta, as amizades tendem a se centrar nas atividades de trabalho e de criação dos filhos e
no compartilhamento de segredos e conselhos. Geralmente se baseiam em interesses e valores mútuos
86
Psicologia Aplicada à Fisioterapia
e desenvolvem‑se entre pessoas da mesma geração ou da mesma etapa de vida familiar, que validam as
crenças e o comportamento uma das outras.
Idade adulta
Também conhecida como meia‑idade, é, em termos gerais, um período movimentado, às vezes difícil,
que costuma ser repleta de muitas responsabilidades e de múltiplos papéis.
Nessa fase é tempo de olhar tanto para frente como para trás, ou seja, para aquilo que já se viveu
e para o que ainda virá. Pode ser uma época para fazer um balanço, reavaliar objetivos e aspirações e
decidir como melhor utilizar a parte restante do ciclo de vida.
Com relação aos aspectos físicos, ocorrem mudanças fisiológicas resultantes do envelhecimento
biológico e da constituição genética, mas o acúmulo de fatores comportamentais e de estilo de vida,
desde a infância, afetam a probabilidade e a extensão das mudanças físicas. A saúde e os hábitos de estilo
de vida nos anos intermediários também influenciam o que acontece nos anos posteriores. Algumas
alterações que ocorrem nessa fase:
• perda da visão de perto. É comum também a perda na acuidade visual ou nitidez da visão, entre
outros problemas;
• a pele pode tornar‑se menos tesa e lisa, pois os tecidos imediatamente abaixo da superfície
perdem gordura e colágeno;
• a perda óssea acelera‑se após os 50 anos, ocorrendo duas vezes mais rápido nas mulheres do que
nos homens, levando à osteoporose;
• doenças cardíacas tornam‑se mais comuns ao final dos 40 e início dos 50 anos, principalmente
nos homens.
Próximo aos 50 anos, a mulher terá a perda da menstruação, marcando assim o fim do ciclo
reprodutivo, e entrará na fase da menopausa. Além dos sintomas físicos, como secura vaginal, dores
articulares ou musculares, dores de cabeça, fadiga, insônia e ganho de peso, ocorrem também os
problemas psicológicos.
Tal período pode ser estressante para a mulher por se tratar de um marco no seu desenvolvimento. É
necessário estar atento e oferecer apoio para que ela atravesse esta fase sem muitos transtornos.
Pesquisas apontadas por Cattel, 1965; Horn, 1967, 1968, 1970, 1982a, 1982b; Horn e Hofer, 1992
(apud PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006, p. 609) distinguem dois tipos de inteligência nesta fase:
87
Unidade II
• inteligência fluída: capacidade de aplicar as faculdades mentais a novos problemas que exigem
pouco ou nenhum conhecimento prévio, envolvendo a percepção de relações, a formação de
conceitos e a extração de inferências. Tais capacidades são determinadas pela condição neurológica
e tendem a declinar com a idade;
As autoras afirmam ainda que tipicamente a inteligência fluída atinge o máximo nos anos iniciais
da vida adulta, e que a inteligência cristalizada tende a melhorar com a meia‑idade ou mesmo próximo
do final da vida do indivíduo.
Em relação as aspectos psicossociais, Erick Erickson (apud PAPALIA, 2006) considerava o período
em torno dos 40 anos como a época em que as pessoas passam pela sétima crise normativa, que ele
descreveu como:
Nesta fase já não há mais a preocupação com a criação ativa dos filhos e com o fato deles terem
saído definitivamente para ter sua própria vida. Quando os filhos tornam‑se adultos, os laços entre pais
e filhos geralmente diminuem de importância, mas esses laços normalmente duram enquanto os pais
viverem.
A saída dos filhos de casa (síndrome do ninho vazio) não indica o fim da paternidade e da maternidade,
e sim uma transição para uma nova etapa: o relacionamento entre pais e filhos adultos.
Com o prolongamento do ciclo da vida, os cientistas estão cada vez mais concentrando a atenção
sobre o que acontece com o corpo humano na passagem do tempo.
As mudanças fisiológicas na terceira idade são altamente variáveis. Muitos dos declínios comumente
associados ao envelhecimento podem, na verdade, ser efeitos de doenças em vez de causas.
Alguns sistemas corporais declinam mais rápido do que outros. Entre as mudanças mais graves
estão aquelas que acometem o coração. Seu ritmo tende a tornar‑se mais lento e irregular, depósitos
de gordura acumulam‑se ao seu redor, podendo interferir em seu funcionamento, e a pressão arterial
costumar aumentar.
88
Psicologia Aplicada à Fisioterapia
Com relação à altura, ela diminui da idade adulta inicial à velhice porque os discos entre as vértebras
da coluna atrofiam‑se. Os indivíduos podem parecer ainda mais baixos devido à postura encurvada.
Os homens tendem a sofrer de osteoporose 10 anos mais tarde do que as mulheres devido à maior
massa óssea e a perdas hormonais mais graduais. Outro aspecto importante que pode afetar a saúde
é um declínio na capacidade de reserva orgânica, que ajuda os sistemas corporais a funcionar em
momentos de estresse.
Embora o declínio físico geralmente seja imperceptível na vida cotidiana, as pessoas mais velhas
geralmente não conseguem responder às demandas físicas de situações estressantes com a mesma
rapidez e eficiência que antes.
Adultos mais velhos são particularmente suscetíveis a quedas devido à reduzida sensibilidade das
células receptoras que levam ao cérebro informações sobre a posição do corpo no espaço – informações
necessárias para manter o equilíbrio. Reflexos mais lentos, menor força muscular e perda de visão e de
percepção de profundidade também contribuem para a perda de equilíbrio.
Falhas na memória costumam ser consideradas um sinal de velhice, mas no que se refere à memória,
assim como em outras capacidades cognitivas, o funcionamento das pessoas mais velhas varia bastante.
Mudanças neurológicas, assim como a piora na velocidade perceptual, podem explicar grande parte do
declínio no funcionamento da memória em adultos mais velhos.
Quanto ao funcionamento sexual na terceira idade, o fator mais importante na sua manutenção é a
atividade sexual regular ao longo dos anos. Muitas pessoas mais velhas são sexualmente ativas, embora
a frequência e a intensidade da experiência geralmente sejam menores do que para adultos jovens.
A aprendizagem vitalícia pode manter pessoas mais velhas mentalmente alertas. Adultos mais velhos
aprendem melhor quando os materiais e métodos são adaptados às necessidades dessa faixa etária.
89
Unidade II
Do ponto de vista psicossocial, a idade adulta já foi considerada um período relativamente estável.
Freud acreditava que a partir dos 50 anos de idade a personalidade estivesse permanentemente formada
e que os processos mentais fossem inflexíveis a partir de então.
Carl Gustav Jung (apud PAPALIA, 2006), afirmava que o desenvolvimento saudável na meia‑idade
exige individuação. Até os 40 anos, os adultos concentram‑se nas obrigações com a família e com
a sociedade, desenvolvendo os aspectos da personalidade que os ajudarão a alcançar os objetivos
externos.
Na meia‑idade, as pessoas direcionam sua preocupação aos “eus” interiores, espirituais. Jung ainda
afirma que duas tarefas necessárias, embora difíceis nessa fase do desenvolvimento, são abrir mão da
juventude e reconhecer a imortalidade.
Saiba mais
Em seu oitavo e último ciclo, Erick Erickson denomina esta crise como:
• integridade versus desespero: é necessário que o adulto mais velho avalie, resuma e aceite a
própria vida para poder então aceitar o fim dela. O desespero advém daqueles que não alcançam
à aceitação e percebem que o tempo é curto demais para buscar outros caminhos para si.
Como nas fases anteriores, Erickson coloca a inevitável e necessária condição de se viver o lado
aparentemente “negativo” da crise. No caso, as pessoas precisam lamentar sua vulnerabilidade e a
condição transitória da existência.
Com relação à saúde mental e também no nível comportamental, suas manifestações na velhice são
devastadoras. Aproximadamente dois terços dos casos de demência podem ser causados pelo mal de
Alzheimer, distúrbio degenerativo e progressivo do cérebro.
Sintomas de depressão são comuns também em pessoas mais velhas, mas, muitas vezes, são ignorados
por serem erroneamente considerados um acontecimento natural do envelhecimento.
90
Psicologia Aplicada à Fisioterapia
Algumas pessoas mais velhas deprimem‑se como resultado de perdas físicas e emocionais. Alguns
aparentes “distúrbios cerebrais”, na verdade, devem‑se à depressão, mas esta pode ser abrandada se as
pessoas mais velhas procurarem ajuda.
Lembrete
Concluímos aqui esta breve apresentação sobre o ciclo do desenvolvimento humano. Teríamos muito
mais a discorrer, mas diante de outros temas também importantes para a sua formação, deixaremos que
você busque maior aprofundamento e use os conhecimentos que foram aqui trazidos para aumentar
seu conhecimento sobre as dimensões do ser humano.
Caro aluno, passamos agora para o estudo da psicomotricidade. Iniciaremos conhecendo um pouco
da sua história, na Grécia Antiga, período em que Platão discutia o dualismo corpo‑alma, que seria
abordado posteriormente também por Descartes. Sobre esse assunto, encontramos no Dicionário de
Filosofia a seguinte explicação:
Para a Filosofia da época, o centro das discussões era a alma, que Platão definia como princípio ou
essência e cuja natureza era imortal – ao contrário do corpo, que é visto como mortal e considerado
apenas “abrigo” da alma.
Sobre esta discussão, Le Boulch (1987), educador físico, doutor em Medicina e especialista nas áreas
de reabilitação funcional e psicomotricidade, comenta:
Para Platão, a alma humana é perfeita e faz parte de um mundo perfeito das ideias; o corpo vive em
contínuo processo de mudança de aparência, mas a alma nunca muda.
Passando para o século XIX, encontramos Charcot (1825‑1893), que é considerado o primeiro
psiquiatra do mundo. Ele fez experimentos sobre o fenômeno do “membro fantasma”, ou seja, quando
um indivíduo amputado conserva a impressão da existência do membro que perdeu. Um exemplo dessa
situação ocorre quando a pessoa tem uma das pernas amputada e, mesmo sabendo que aquele membro
não mais existe, sente dores e até coceiras, como se ele existisse. A pessoa com deficiência, ao viver tais
momentos, demonstra grande sofrimento, tendo em vista que as sensações são percebidas como reais.
Após essa breve discussão inicial, vemos que atualmente o debate nos parece invertido, ou seja, se
na antiguidade ele era centrado na alma, hoje em dia, opostamente, encontramos o culto ao corpo, a
valorização da beleza física, o que nem sempre é possível alcançar.
A palavra psicomotricidade é formada pelo termo grego psyché, que significa alma, e mais a palavra
moto, originada do latim e que significa movimento frequente.
92
Psicologia Aplicada à Fisioterapia
[...] é a ciência que tem como objeto de estudo o homem através do seu
corpo em movimento e em relação ao seu mundo interno e externo.
O prof. Dr. Júlio de Ajuriaguerra define psicomotricidade, conforme citado pelo Instituto Superior de
Psicomotricidade e Educação (s.d.), da seguinte forma:
A profa. Dra. Maria Beatriz da Silva Loureiro, diretora do mesmo instituto e presidente da Organization
Internationale de Psychomotricité et Relaxation Paris‑France – OIPR no Brasil define psicomotricidade
conforme visto a seguir:
Após essa breve exposição, vamos iniciar com o trabalho realizado pelo neurologista Henry Head,
que em 1911 deu origem à noção de “esquema postural”, conceito desenvolvido posteriormente por
Schilder.
Para melhor compreensão do trabalho realizado por Head, citamos Tavares e Cunha (2003), que nos
trazem a seguinte explicação:
93
Unidade II
De acordo com Head (apud COSTE, 1978), a noção de imagem espacial – quer dizer, a presença do
corpo no espaço – vem a somar com a dimensão temporal. Isso quer dizer que esse mesmo corpo se
apresenta orientado no tempo, tendo em vista que o esquema postural não é algo estático (ou seja, algo
inativo), e sim essencialmente plástico, dinâmico, em constante construção, tendo que se haver com as
aferências sensoriais, quer dizer, dirigida para os centros nervosos, e interoceptivas (proveniente das
víceras) e proprioceptivas (dos músculos e das articulações).
• os esquemas posturais, que asseguram a apreciação do tono postural e da posição (das partes)
do corpo no espaço;
O trabalho de Head aponta para a imagem tridimensional, ou seja, a imagem que temos de nós
mesmos, essencialmente dinâmica e que integra todas as experiências perceptivas motoras, afetivas e
sexuais – que de acordo com Gonçalves (1994) fazem parte das estruturas psicobiológicas com as quais
o indivíduo conta.
Foi a partir desse esquema postural que decorreu a noção mais clássica e admitida que Schilder
utiliza para descrever e desenvolver a imagem do corpo, definida como uma representação mental da
forma como nosso corpo nos aparece ou se torna presente.
Os estudos da neurologia e da fisiologia somados aos de Head e Pick, mais a contribuição de Schilder,
os dados da Psicologia e as experiências da psicanálise, irão culminar com uma abordagem global do
corpo concebido, conforme afirma Coste (1978, p. 21), como uma “entidade psicológica e fisiológica
indissociável”. Segundo o autor,
Foi com Bonnier (1833, apud COSTE) que surgiu a ideia da representação topológica do corpo, que se
baseia na noção de um espaço não quantitativo, o primeiro esquema cujas alterações patológicas
determinam o surgimento de certos distúrbios – ou seja, doenças.
Sobre a conceituação da psicomotricidade pela psicanálise, temos que o corpo tem um papel central
e dinâmico e que os fenômenos inconscientes têm um papel fundamental nas estruturas e significações
vividas pelo corpo, no comportamento humano, sobre suas obras e em seus pensamentos mais abstratos.
De acordo com Sigmund Freud (1856‑1939), médico psiquiatra e autor da psicanálise, o corpo está
na origem de todas as pulsões vitais e orgânicas do ser humano. É por meio dele que se inscrevem as
experiências do prazer, ligadas às da satisfação – por exemplo, a criança com fome irá experimentar
o sofrimento e também o prazer ao receber o alimento. Independentemente da satisfação, a criança
poderá reviver sua necessidade chupando seu dedinho ou levando um objeto até a boca.
Vamos à definição da palavra pulsão, tendo em vista que é um termo com significado específico e
muito encontrado nos trabalhos de Freud:
A construção do corpo investido pela libido está presente do nascimento até o período mais elaborado
do narcisismo secundário, e somente é possível no desenvolvimento de uma vida relacional satisfatória
da criança com as pessoas em sua volta – em primeiro lugar, um relacionamento com a mãe, que como
se espera deve ser a pessoa central na qual a criança irá organizar suas percepções. Conforme afirma
Coste (1978), é ela, a mãe, quem cultiva e prepara o corpo da criança e, posteriormente, fará com que
esta simbolize e dê nomes às coisas.
95
Unidade II
O termo libido, utilizado por Freud em seus trabalhos, significa, de acordo com Laplanche e Pontalis
(2001, p. 267),
[...] que na medida em que a pulsão sexual representa uma força que
exerce uma “pressão”, a libido é definida por Freud como a energia dessa
pulsão. É este aspecto quantitativo que vai prevalecer no que se tornará,
a partir da concepção do narcisismo e de uma libido do ego, a “teoria
da libido”.
A compreensão correta dos termos criados por Freud para explicar sua teoria são fundamentais
no nosso estudo, visto que sem a sua compreensão não conseguiremos entender sua aplicação na
psicomotricidade. O termo narcisismo é explicado por Laplanche e Pontalis (2001) do seguinte modo:
“[...] o narcisismo primário designa um estado precoce em que a criança investe toda a sua libido em si
mesma. O narcisismo secundário designa um retorno ao ego da libido retirada dos seus investimentos
objetais” (LAPLANCHE; PONTALIS, 2001, p. 290).
Muitos autores, baseados nos trabalhos desenvolvidos por Freud, deixaram contribuições importantes,
cada um abordando determinado aspecto do desenvolvimento da criança. Um exemplo é Renné Spitz
(1887‑1974), outro importante estudioso que teve como formação a medicina e tornou‑se psicanalista.
Seu trabalho esteve voltado para o estudo sobre a afetividade e a formação da personalidade da criança
no primeiro ano de vida.
Observação
Aprofundando um pouco mais nosso estudo sobre os conceitos psicomotores, vamos aos seus
principais aspectos, iniciando com o “esquema corporal”.
I – Esquema corporal
A expressão esquema corporal supõe conceitos e doutrinas diferentes, variando de acordo com o
ângulo pelo qual ela for encarada e se há maior destaque ao aspecto motor, sensorial ou aos processos
psíquicos inconscientes.
96
Psicologia Aplicada à Fisioterapia
Ainda sobre o esquema corporal, Wallon (apud LE BOULCH 1986, p. 37) afirma que:
[...] não se trata de um dado inicial nem de uma entidade biológica ou física.
É o resultado e a condição para relações adequadas entre o indivíduo e seu
meio.
Sobre as relações que se estabelecem entre o sujeito e o meio, Meur e Staes (1989) afirmam que a
criança percebe‑se e percebe os seres e as coisas que a cercam, em função de sua pessoa. É importante
observar que os autores não especificam exatamente em que fase do desenvolvimento da criança isso
ocorre, citando apenas o termo “a criança”.
Se usarmos o Estatuto da Criança e do Adolescente (BRASIL, 1990), que considera como criança a
pessoa até doze anos incompletos, podemos concluir, sobre a afirmativa dos autores, que o “perceber e
perceber‑se” da criança ocorre a partir de um processo e durante todo o seu desenvolvimento.
À medida que a criança percebe que seu corpo lhe obedece, que ela o conhece e que pode utilizá‑lo
não apenas para se movimentar, mas também para agir, ela se sentirá cada vez melhor.
II –Tônus
O tônus é fundamental na abordagem psicomotora humana, pois abrange muitos aspectos. Coste
(1978, pp. 24‑25) explica que o tônus:
Figura 13
Coste (1978) apresenta a distinção entre diferentes movimentos baseado na teoria de Pavlov,
pesquisador russo que viveu de 1849 a 1935 e elaborou uma importante teoria sobre o comportamento
que inclui os:
– adquiridos ou condicionados, que como o próprio nome diz, vamos aprendendo por
meio das experiências positivas ou negativas pelas quais passamos. Podemos dizer que os
reproduzimos de maneira “automática”. Como exemplo, citamos os comportamentos e ritos
socioculturais, como as festas de carnaval ou junina. Nessas ocasiões há uma visível alteração
no comportamento das pessoas, que pode variar de acordo com o seu envolvimento com essas
realidades.
• hipertonia: aumento do tono, que pode ocorrer em determinado ou em vários grupos musculares.
Fonseca (1995) descreve que a criança hipertônica se apresenta menos extensível, ativa e com um
desenvolvimento postural mais precoce, vindo daí a sua predisposição para a marcha e para a
exploração do espaço envolvente. Consequentemente, as suas atividades mentais surgem mais
impulsivas, dinâmicas e, por esta razão, mais descoordenadas e inadequadas.
98
Psicologia Aplicada à Fisioterapia
• Laço gama: mecanismo desvendado por Sherrington (1896, apud COSTE, 1978), explica o processo
da contração muscular independente da influência do sistema nervoso.
Quando usamos a palavra tônus, estamos nos referindo à tonicidade, pois ambas se referem ao
mesmo tema. Sobre isso, Fonseca (1995, p. 122) esclarece que:
Podemos afirmar que não é possível o estudo da psicomotricidade sem que haja o conhecimento
sobre o tônus ou a tonicidade, pois toda a motricidade necessita do suporte da tonicidade.
Inicialmente, vamos entender o sentido de movimento no seu aspecto mais amplo, apoiados no que
traz o dicionário Michaelis (1998), no qual o termo significa:
Apesar da generalidade citada pelo autor, é importante entender movimento como canal de
expressão de todos os aspectos do desenvolvimento: cognitivo, afetivo, relacional e social. Temos então
que movimento é um canal de expressão de todo tipo de afeto e emoções da pessoa.
Figura 14
Na imagem podemos observar o movimento que o grupo realiza e que há uma sincronicidade entre
o esquema corporal, a função tônica e o movimento por meio do gesto representado a partir da ação do
grupo. É tão real que expressamos nossos sentimentos e emoções por meio do corpo.
Exemplo de aplicação
É possível analisar a figura e refletir sobre o que ela nos transmite. Outro exercício interessante é
analisar fotografias que temos guardadas em nossa casa. Quanto mais antigas, mais interessante se
100
Psicologia Aplicada à Fisioterapia
torna a observação. Tente fazer esse exercício, observe as expressões e disposições das pessoas; além da
análise, você poderá se divertir com os modismos representados da época.
Por meio do corpo expressamos nossos sentimentos e emoções. Podemos afirmar que será a partir
do movimento que tais expressões poderão ser efetivadas.
Há um ato motor presente mesmo nos estágios mais primitivos do desenvolvimento humano, como
acontece com o recém‑nascido, quando os movimentos são reflexos e acontecem independentes da
vontade e sem que a criança tenha conhecimento dele.
IV – A comunicação
Podemos considerar a comunicação, conforme o dicionário Michaelis (1998), como função essencial
na reeducação psicomotora, sendo definida em seu sentido comum como:
Coste (1978, pp. 30‑40) nos chama a atenção sobre a possibilidade de haver uma deturpação do
significado real da comunicação, que muitas vezes é usada fora do seu verdadeiro propósito. Usado no
seu sentido científico, afirma o autor que:
Voltando‑se para o aspecto dos meios de comunicação, Aristóteles e Descartes já assinalavam que a
linguagem, como meio de comunicação, distingue o homem dos outros animais – o que significa dizer
que há comunicação entre os outros seres, mas apenas o homem é capaz de fazer uso da língua. Assim,
o homem é capaz de se comunicar e organizar o mundo.
Quando usamos os termos língua e linguagem, temos que estar atentos de que há diversos meios
ou recursos que o homem utiliza para se comunicar. Na figura a seguir, vemos uma mão, simbolizando
a linguagem das pessoas com dificuldade ou ausência da audição.
101
Unidade II
Figura 15
Coste (1978) afirma que vivemos em um mundo de significados, onde a comunicação acontece em
diferentes situações, como os gestos e os movimentos corporais. Em tudo há uma comunicação, um
significado que precisa ser traduzido e interpretado.
Como vimos, o corpo é o veículo que usamos para transmitir nossos pensamentos, nossos sentimento
e emoções. Entretanto, podemos afirmar também que o corpo é o transmissor de uma mensagem e isso
independente do nosso desejo ou da nossa autorização, pois todos os nossos gestos e atitudes podem
sempre ser interpretados pelas outras pessoas de acordo com aquilo que elas veem.
É fundamental que você, como profissional, esteja atento a todas as formas de sinais de comunicação
que a pessoa possa estar transmitindo. Muitas vezes estamos condicionados a interpretar a linguagem
oral e corremos o risco de não nos atentarmos às outras formas de comunicação da pessoa, assim como
de não atendermos de maneira integral as necessidades que o outro apresenta. Assim, é importante
que você esteja atento como profissional e observe todos os mecanismos que o sujeito utiliza para se
comunicar.
A pessoa que busca atuar na aplicação da psicomotricidade deve ter interesse em atender à criança
desde o seu nascimento (passando por todas as etapas dessa fase), o adolescente e as características que
lhe são peculiares, o adulto e também o idoso.
102
Psicologia Aplicada à Fisioterapia
Outras possibilidades de trabalho para o profissional da psicomotricidade são também junto à família
e nas organizações. Dessa forma, o mercado de trabalho pode ser desenvolvido em:
• creches;
• escolas maternais;
• academias;
• clínicas multidisciplinares;
• postos de saúde;
• hospitais.
Como você pode notar, são muitas as áreas em que o profissional pode estar desenvolvendo
seu trabalho. O importante é que você se identifique com uma delas, se especialize e invista para
que possa desenvolver seu trabalho de maneira a atender às necessidades daqueles que irão
procurá‑lo.
Saiba mais
103
Unidade II
Conforme mencionamos anteriormente, adoecer traz inúmeros transtornos para a vida de qualquer
pessoa e, consequentemente, para a família. A doença transforma e invade o sujeito, muitas vezes
deixando‑o em uma posição de impotência e de dependência.
Quando isso ocorre por um breve período, a pessoa passará por um sofrimento; porém, passando
aquele momento, ela terá condições de se recuperar e assumir novamente seu papel na família e no
meio em que convive.
Vamos iniciar nosso tema tratando dos aspectos psicológicos do paciente cardíaco e/ou com
problemas pulmonares.
É necessário esclarecer que em nosso estudo sobre algumas doenças não estaremos detalhando os
aspectos fisiológicos e nem os tipos de patologias que podem ocorrer em determinado órgão. Nosso
estudo estará voltado para a representação da doença e para os aspectos psicoemocionais referentes a
ela.
O coração tem uma conotação muito particular para as pessoas. Quando aflitos e ansiosos, sentimos
nosso coração acelerar. Simbolicamente ele representa nossas emoções – que o digam as pessoas
apaixonadas. É comum ouvirmos a expressão “falar com o coração”. Mesmo na tristeza e na angústia,
ouve‑se falar que o coração está “partido”. Assim, encontramos uma forte ligação entre o coração e as
emoções, o que nos leva a pensar que adoecer do coração é como ter as emoções sem o seu principal
abrigo. E aí todo o ser fica doente, tanto física quanto emocionalmente.
Figura 16 – Coração
104
Psicologia Aplicada à Fisioterapia
Da mesma forma que o coração, os pulmões também têm sua representação simbólica; afinal, a vida
“sopra” e entra nos pulmões, garantido a existência de todos.
Sobre as doenças cardíacas, Silva e Machado (2008, p. 14) afirmam que estudos mostram que
fatores psicossociais acarretam impactos emocionais, comportamentais e biológicos, contribuindo
significativamente para a origem da expressão doença coronariana. Comentam os autores:
Há ampla literatura sobre o tema. Diversos autores apontam para características de personalidade
de comportamento associadas ao paciente cardíaco, com a descrição de dois padrões, conhecidos como
tipo A e tipo D, descritos do seguinte modo:
• tipo A: pessoa mais impaciente; apresenta autoritarismo, baixa tolerância à frustração e expressão
inadequada do afeto;
• tipo D: apresenta inibição social, baixa assertividade, hostilidade velada e expressão emocional
contida.
Podemos observar que o traço comum entre esses dois padrões é a hostilidade. Devemos considerar
também que essas características podem se manifestar de diferentes formas, dependendo de outros
elementos da personalidade, de suas crenças e expectativas e também das experiências já vividas com
situações de adoecimento, além dos fatores sócio‑familiares.
6.2 Dermatologia
Assim como o coração tem suas representações simbólicas, a pele também apresenta suas
características.
De acordo com Paul Schilder (1935, apud MONDARTO; CUTRIM JÚNIOR; MELLO FILHO, 2007), o
conceito de imagem corporal ganhou destaque na classe médica pela sua veracidade, visto que todos têm
uma imagem interna que corresponde às fantasias sobre o que somos. Sobre a doença de pele, escreve:
“[...] obviamente, o advento da doença a pele, que é sempre visível, confere as sensações de impureza,
sujeira e fealdade” (SCHILDER, 1935, apud MONDARTO; CUTRIM JÚNIOR; MELLO FILHO, 2007, p. 223).
Neste sentido, temos que a pele é uma roupagem contínua e flexível, nos envolvendo completamente;
105
Unidade II
assim, não há como disfarçar ou esconder os problemas e alterações que nela aparecerem, e a pessoa
com alterações dermatológicas ficará totalmente exposta.
Figura 17 – Vitiligo
A figura confirma a dificuldade da pessoa com alteração na pele, que não tem como ocultar isso,
pois as manchas se espalham pelo corpo da pessoa. Além de sofrerem os transtornos com a própria
doença, muitos se sentem constrangidos pelas reações e questionamentos que as outras pessoas fazem
a respeito.
Observação
A pele é o mais antigo e sensível dos nossos órgãos e por meio dela nos comunicamos; podemos
considerar a pele como nosso mais eficiente protetor. Quando afirmamos que a pele reveste todo o
corpo, é importante saber que parte modificada da pele recobre a córnea transparente de nossos olhos;
ela também se vira para dentro para revestir orifícios como a boca, as narinas e o canal anal.
Usando como referência Ashley (1988, pp. 27‑28) para nossa apresentação, temos que a pele se
renova continuamente durante toda nossa existência, o que ocorre por meio da atividade das células de
suas camadas profundas.
Após o nascimento, a pele é chamada a constituir muitas respostas adaptativas novas a um meio
ambiente ainda mais complexo do que aquele ao qual esteve exposta no útero.
106
Psicologia Aplicada à Fisioterapia
A pele está equipada para responder a todos os estímulos transmitidos pelo meio atmosférico,
como gases, partículas, parasitas, vírus, bactérias e mudanças na pressão, umidade, temperatura,
luz, radiação etc. Das muitas funções físicas da pele, segundo Ashley (1988, pp. 27‑28), temos que
ela é:
• produtora de queratina;
• reguladora da temperatura;
• autopurificadora.
107
Unidade II
Além disso, a secreção produzida pelas glândulas sebáceas lubrifica a pele e os pêlos, isolando o
corpo contra chuva e frio e provavelmente ajudando no extermínio de bactérias.
A traumatologia e a ortopedia são especialidades da Medicina que cuidam dos defeitos físicos e
também dos acidentes, colaborando tanto na prevenção quanto na correção dos defeitos da criança.
Muitos são os defeitos e as ocorrências que podem acontecer nessa área da Medicina. Um deles diz respeito
aos defeitos congênitos e que necessitam de correção, como é o caso do chamado “pé torto congênito”.
Nesse caso, a criança nasce com o pé torcido para dentro, com a planta do pé apontando para a
linha mediana do corpo, e a impressão que se tem é a de que a criança apoiaria o pé no solo como se
fosse caminhar. E isso poderá acontecer, ou seja, ela passará a caminhar assim se não for submetida à
correção.
No caso das correções cirúrgicas é importante que a criança seja acompanhada até a puberdade ou
por mais tempo, tendo em vista que há chance de o problema voltar mesmo tendo sido tratado. Outro
defeito congênito e de difícil percepção é a “luxação congênita do quadril”, caso em que a cabeça do
fêmur está deslocada de seu encaixe natural. Em todos os casos a criança deve ser levada ao especialista,
pois quanto antes for realizada a correção, maiores são as chances de recuperação.
Além dos casos congênitos, acidentes das mais diversas naturezas geram preocupação, em especial
os acidentes de trânsito, que necessitam de atenção das autoridades e cuidado por parte das equipes
de saúde.
O fisioterapeuta encontra nas unidades de ortopedia e traumatologia um campo amplo para o seu
trabalho, tendo em vista que se inserem nesta área desde problemas considerados mais simples até os
mais complexos, como a amputação de membros.
6.4 Psiquiatria
Nesta área médica, assim como nas demais, é necessário que os profissionais estejam capacitados
para trabalhar com pessoas que apresentam dificuldades psíquicas e/ou mentais. Seus pacientes podem
apresentar comportamentos psiquiátricos ou perturbações que vão desde os mais leves aos mais
profundos.
[...] em muitos momentos de sua vida uma pessoa pode viver situações
difíceis e de sofrimento tão intenso que pensa que algo vai arrebentar
dentro de si, que não vai suportar, que vai perder o controle sobre si mesma
[...] que vai enlouquecer. Isto pode ocorrer quando se perde alguém muito
próximo e querido, em situações altamente estressantes, em que o indivíduo
108
Psicologia Aplicada à Fisioterapia
Nos dias atuais, podemos observar que chega até a ser comum encontrarmos pessoas ansiosas e
inseguras que necessitam de ajuda para poder superar suas dificuldades.
São esses quadros que, provavelmente, mais provocam catástrofes clínicas e exigem que haja uma
intervenção imediata por parte dos profissionais (MELEIRO, 2002).
Sobre o suicídio, Morris e Maisto (2004) comentam que as pessoas que pensam em cometer suicídio
estão muito desesperançadas. Consideram que as coisas não podem melhorar e não veem saída para as
suas dificuldades. Essa percepção é a depressão ao extremo, e não um estado mental do qual a pessoa
pode sair com facilidade.
Dizer que as coisas não são tão ruins não irá ajudar –ao contrário, pode até agravar a situação,
pois o suicida tenderá a pensar que ninguém entende o seu sofrimento. É fundamental que a família
seja orientada e possa ajudar também a equipe no acompanhamento da pessoa suicida, que deve ser
mantida sob vigilância até que receba o atendimento adequado.
Encerramos aqui o estudo sobre as especialidades médicas e suas especificidades. Quero lembrá‑lo
de que em todas as situações é fundamental que o profissional decida sobre a área que deseja atuar,
aquela com a qual sinta maior afinidade. É também primordial que busque aprofundar‑se a partir de um
profundo estudo teórico‑prático.
Quanto à participação da família, não podemos nos esquecer que esta tem um papel importantíssimo
no acompanhamento e na recuperação da pessoa doente.
109
Unidade II
Conforme você também já aprendeu, a doença atinge também a família, que precisa ser ouvida e
orientada, pois sua colaboração irá afetar diretamente a pessoa em tratamento.
Prezado aluno, para iniciar nossos estudos sobre o estresse, convido você a analisar a figura a seguir:
Figura 18
O que você acha que pode estar acontecendo ao rapaz? Tudo nos leva a pensar que algo não está
bem. Poderíamos perguntar: “Está o rapaz estressado?” Parece que sim.
Tornou‑se comum ouvir pessoas dizendo que estão com estresse – mas sabemos exatamente o que
é o estresse? Novaes e Knobel (2008, p. 231) dão a seguinte explicação sobre o assunto:
A síndrome geral de estresse descrita por Selye (apud Lipp, 2002) apresenta três estágios, sendo eles:
• estágio de resistência: surge quando a ação do estressor é prolongada, exigindo uma adaptação
do organismo. No caso de a pessoa conseguir retirar ou eliminar aquilo que provocou o estresse
110
Psicologia Aplicada à Fisioterapia
Pesquisadora do estresse, Lipp (2002) identificou uma fase intermediária no trabalho desenvolvido
por Seley em 1936 que denominou de “quase exaustão”. Ela descreve as fases do estresse da seguinte
maneira:
• fase de alerta: considerada a fase positiva do estresse. O ser humano energiza‑se por meio
da produção de adrenalina, a sobrevivência é preservada e uma sensação de plenitude é
frequentemente alcançada;
• fase de resistência: a pessoa automaticamente tenta lidar com seus estressores de modo a
manter a homeostase interna. Se os fatores estressantes persistirem em frequência e intensidade,
há uma quebra na resistência da pessoa e ela passa à fase seguinte;
• fase de exaustão: quando doenças graves podem ocorrer nos órgãos mais vulneráveis, como
enfarte, úlceras e psoríase, entre outras. A depressão passa a fazer parte do quadro de sintomas
do estresse na fase de quase‑exaustão e se prolonga na fase de exaustão.
Como vemos, o estresse é algo sério e necessita ser encarado dessa forma. Há casos de pessoas que
são às vezes acometidas por doenças graves e até vítimas de morte súbita, o que pode ter ocorrido pelo
fato de a pessoa estar na fase de exaustão do estresse. Entretanto, muitas vezes a pessoa se queixa e até
admite que precisa mudar, mas infelizmente acaba deixando que o pior lhe aconteça.
De acordo com Morris e Maisto (2004), o termo estressor refere‑se a qualquer exigência do
ambiente que cria um estado de tensão ou ameaça e requer mudança ou adaptação. Muitas situações
nos levam a mudar nosso comportamento de alguma maneira, mas somente algumas provocam o
estresse.
O estresse não está limitado apenas a situações perigosas ou desagradáveis. As coisas boas também
provocam estresse porque “[...] requerem mudança ou adaptação se o indivíduo quiser ir ao encontro de
suas necessidades” (MORRIS, 1990, p. 72, apud, MORRIS; MAISTO, 2004, p. 374).
Lazarus (1981, apud MORRIS; MAISTO, 2004), afirma que não são os acontecimentos dramáticos que
fazem a diferença, mas os acontecimentos do dia a dia, sejam provocados ou não por acontecimentos
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Unidade II
maiores. Os acontecimentos maiores, assim como os menores, são estressantes porque provocam
sentimentos de pressão, frustração e conflito, que são definidos como se vê a seguir:
• pressão: ocorre quando nos sentimos forçados a acelerar, intensificar ou mudar a direção de nosso
comportamento, ou quando nos sentimos compelidos a melhorar nosso desempenho (MORRIS,
1990, apud MORRIS; MAISTO, 2004);
• frustração: ocorre quando uma pessoa é impedida de alcançar um objetivo pelo fato de haver
alguma coisa ou alguém no caminho;
Com relação ao estresse, é importante que estejamos atentos não apenas às pessoas a nossa volta,
mas a nós mesmos, pois é fato que há um nível de exigência cada vez maior em cima de todos. A
competitividade e a necessidade de galgar níveis cada vez maiores tanto no nível pessoal como no
profissional faz com que a pessoa não perceba que muitas vezes ela esteja adoecendo, e não relaciona
isso com o seu nível de estresse.
Burnout
De acordo com Lipp (2002), burnout, além de significar “consumir‑se em chamas” é considerado
um estresse ocupacional, caracterizando‑se pelo sentimento profundo de frustração e exaustão com
relação ao trabalho.
Em geral, atividades profissionais que exigem o cuidado para com o outro são mais propensas a
desenvolver o burnout em seus profissionais, como ocorre com as pessoas da saúde e com os professores.
Gradativamente, a pessoa com burnout passa a ter sentimentos de desânimo com relação ao seu
trabalho; isso vai aos poucos tomando conta de todas as áreas da sua vida. Inicialmente como uma
sensação de inquietação, vai aos poucos tirando a disposição para o que até então era motivo de alegria.
É o caso, por exemplo, do fisioterapeuta, que acumula excesso de trabalho e reserva cada vez menos
tempo para si mesmo. Lipp (2002, p. 65) explica que:
112
Psicologia Aplicada à Fisioterapia
É importante estar atendo para que as expectativas com relação ao outro não estejam além da
possibilidade do que ele pode desenvolver; caso contrário, haverá a frustração para o profissional, e o
acúmulo de expectativas acabam por gerar o burnout.
Vale notar que os sinais do burnout vão surgindo gradativamente, sendo quase imperceptíveis
no início. De modo acumulativo, levam a pessoa a desenvolver rejeição pelo seu trabalho. Suas fases,
conforme descritas por Lipp (2002), são as seguintes:
• realismo: quando o profissional percebe que suas expectativas iniciais são irreais;
• apatia e burnout total: marcado pela sensação de desespero, fracasso e perda da autoestima e
da autoconfiança. Há pessimismo e falta de perspectiva.
Além de sintomas físicos, o burnout provoca também sintomas psíquicos, conforme descreve
Benevides‑Pereira (2002, pp. 39‑40):
113
Unidade II
Tão importante quanto o estresse é também o burnout; portanto, é fundamental que o profissional
esteja atento e evite chegar ao esgotamento extremo, que culminará com os sintomas descritos.
Outra questão se refere à diferença entre estresse e burnout. Vale lembrar que o estresse é negativo,
mas encontramos em sua primeira fase o aspecto positivo, ou seja, a fase de alerta. No caso do burnout
não há nada positivo, pelo contrário: ele sempre tem um caráter negativo.
Resumo
A fase adulta está dividida em: jovem adulto (20‑40 anos) e idade
adulta (40‑65 anos). Piaget considera que neste estágio o pensamento é
pós‑formal, caracterizado pela capacidade que o adulto tem de lidar com
as incertezas, inconsistências e contradições. A partir da idade adulta, o
indivíduo apresenta alterações físicas importantes, sendo mais comuns aos
homens as doenças cardíacas, e as mulheres encerram o ciclo reprodutivo,
115
Unidade II
Embora o estresse seja algo negativo, sua primeira fase é positiva, tendo
em vista que ela faz com que o indivíduo se movimente e busque solução
para aquilo que o causa. No caso do burnout, ele é sempre negativo.
116
Psicologia Aplicada à Fisioterapia
Exercícios
Questão 1. Vinícius, 4 anos de idade, nasceu de parto normal e sua saúde tem sido excelente até o
momento. Seus pais procuram desenvolver no filho hábitos saudáveis no que se refere à alimentação e
também ao sono. Desde os 2 anos Vinícius frequenta a escola, pois seus pais consideram que é importante
que o filho tenha convivência com outras crianças e também porque ambos passam a maior parte do
dia em atividades profissionais.
A) Vinícius está na fase oral do desenvolvimento psicossocial. Seu estágio cognitivo é o pós‑formal
e, com relação à atividade físico‑motora, amarra sapatos.
B) Vinícius se apresenta na fase de latência – afinal, ele já está na escola. Quanto ao desenvolvimento
cognitivo, sua fase é a operacional concreta. A respeito do aspecto físico‑motor, nessa idade já é
capaz de andar de bicicleta.
C) Vinícius apresenta nessa idade prazer nas atividades que exigem equilíbrio, no que se refere ao seu
desenvolvimento físico‑motor. Quanto ao aspecto psicossocial, encontra‑se na fase fálica. Seu
estágio cognitivo é o pré‑operacional.
D) Vinicius, aos 4 anos, acaba de entrar na fase cognitiva que Piaget denominou sensório‑motora.
Com relação ao seu desenvolvimento psicossocial, está na fase anal e seu desenvolvimento
físico‑motor lhe permite andar na ponta dos pés e saltar com os pés juntos.
A) Alternativa incorreta.
117
Unidade II
B) Alternativa incorreta.
C) Alternativa correta.
Justificativa: em relação ao desenvolvimento psicossocial, a fase fálica se dá dos 4 aos 6 anos de idade.
O estágio cognitivo pré‑operatório ocorre dos 2 aos 6 anos de idade. O desenvolvimento físico‑motor
que permite prazer nas atividades de equilíbrio se dá aos 4 anos de idade.
D) Alternativa incorreta.
E) Alternativa incorreta.
Questão 2. Glória trabalha em um grande banco há cinco anos atuando diretamente com o
público na resolução de seus problemas de conta corrente. Os conflitos que surgem no dia a dia e a
constante falta de solução e de apoio de seus superiores tem feito com que Glória comece a apresentar
desinteresse por seu trabalho. Nas últimas semanas, após sentir fortes dores na região do estômago,
teve o diagnóstico de úlcera.
A) Fase de resistência.
B) Fase de exaustão.
C) Fase de alerta.
E) Fase de burnout.
A) Alternativa incorreta.
Justificativa: na fase de resistência, a pessoa tenta lidar com seus estressores de modo a manter a
homeostase interna. Se a pessoa não conseguir resolver a causa, haverá a quebra da resistência e ela
passará para a próxima fase.
B) Alternativa correta.
Justificativa: na fase de exaustão, doenças graves ocorrem nos órgãos mais vulneráveis. A depressão
passa também a fazer parte do quadro de sintomas do estresse.
C) Alternativa incorreta.
Justificativa: a fase de alerta é considerada a fase positiva do estresse. Nela, a pessoa se energiza,
produzindo adrenalina e a sobrevivência é preservada.
D) Alternativa incorreta.
E) Alternativa incorreta.
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