Distúrbios Sensoriais, Motores e de Locomoção - Resumo
Distúrbios Sensoriais, Motores e de Locomoção - Resumo
Distúrbios Sensoriais, Motores e de Locomoção - Resumo
Objetivos :
1- EXAME NEUROLÓGICO
2- CONCEITUAR NEUROPATIA PERIFÉRICA
3- GUILLAIN- BARRÉ
4- MIASTENIA GRAVIS
Marcha ou equilíbrio dinâmico qualquer distúrbio da marcha = disbasia. A disbasia pode ser uni ou bilateral.
Alguns tipos:
Marcha espástica: hipertonia da musculatura extensora e as pernas se cruzam uma na frente da outra, os pés se
arrastam – lesão piramidal; pode ser uni. ou bilat.
Marcha escarvante: paralisia da musc. dorsiflexora dos artelhos e pé, inervada pelo fibular; pode ser uni ou
bilat.
Marcha atáxica cerebelar (“marcha ebriosa”): lembra indivíduo em estado de embriaguez alcoólica – distúrbio
cerebelar. A região cerebelar ligada ao equilíbrio dinâmico (marcha) é o córtex do vérmis, e tb. regiões
paleocerebelares correspondentes aos MMII do homúnculo paleocerebelar.
Marcha atáxica sensitiva: lesões no sistema lemniscal, sendo as + freqs. aquelas afecções que se localizam nos
funículos posts. da medula (Mielinólise Funicular). Semelhante à marcha cerebelar (insegura e titubeante),
entretanto, esta é rigorosam. fiscalizada pelo olhar.
Marcha petit-pas: idosos portadores de arteriosclerose cerebral generalizada, paralisia pseudobulbar, atrofia
cortical da senilidade. Caracterizada pelo pcte. dar passos muito curtos e arrastar os pés como se estivesse
dançando “marchinha”.
Marcha parkinsoniana: a marcha vagarosa do pcte. parkinsoniano, o doente anda como um bloco, enrijecido,
s/ mvto. automático dos braços. A cabeça inclinada p/ frente e os passos miúdos e rápidos, dando a impressão
de que o doente vai cair p/ frente.
Marcha helicópode, ceifante ou hemiplégica: ao andar, o pcte. mantém o MS fletido em 90° no cotovelo e em
adução e a mão fechada em leve pronação. O MI do mesmo lado é espástico, e o joelho não flexiona, por isso,
a perna se arrasta descrevendo um semicírculo qdo. o pcte. troca o passo. Ocorre na hemiplegia (dça. vascular
encefálica).
Marcha anserina: acentuação da lordose lombar e inclinação do tronco ora p/ D ora p/ E, alternadam.
Encontrada em dças. musculares e traduz diminuição da força dos mm. pélvicos e das coxas.
Marcha tabética: p/ se locomover, o pcte. mantém o olhar fixo no chão; os MMII são levantados abrupta e
explosivam. e, ao serem recolocados no chão, os calcanhares tocam o solo pesadam. C/ olhos fechados, a
marcha piora acentuadam. ou é impossível. Indica a perda da sensib. proprioceptiva por lesão do cordão post.
da medula (tabes dorsalis – neurolues).
Marcha vestibular: lateropulsão qdo. anda. Lesão no labirinto.
Marcha claudicante: o pcte. manca p/ um dos lados. Ocorre na insuf. arterial periférica e em lesões do ap.
locomotor.
EQUILÍBRIO
Solicitar ao pcte. p/ assumir a posição ereta, c/ os pés juntos e olhos abertos. O examinador deverá estar ao lado do
pcte. Pequenas oscilações podem surgir e freqüentem. não são patológicas. Verificar se o pcte. está utilizando o
controle visual, se “precisa enxergar o piso” p/ manter-se de pé.
Em seqüência, solicitar ao pcte. que feche os olhos.
Alterações do equilíbro já podem ser sugeridas pelo exame da marcha.
Síndrome cerebelar axial: alterações no equilíbrio ocorrem mesmo c/ controle visual, e p/ manter-se de pé, o
pcte. alarga sua base de sustentação (MMII afastados) e exibe oscilações do tronco. Em muitos casos de ataxia
cerebelar axial, o pcte. possui incapacidade da marcha (abasia), o mesmo ocorrendo c/ o equilíbrio (astasia).
Mielinólise funicular: lesões dos funículos posts. da medula. Alterações já na marcha. Embora demonstre
instabilidade, é capaz de ficar em pé desde que haja controle visual. Logo após fechar os olhos, as oscilações
aumentam e a queda é inevitável (Sinal de Romberg).
Lesão labiríntica: lesão do n. vestibular. Tanto a marcha como o equilíbrio apresentam desvios sempre p/ um
lado.
MOTRICIDADE VOLUNTÁRIA - é estudada por meio de duas técnicas: uma para análise da motricidade
espontânea e outra para avaliação da força muscular.
Motricidade espontânea:
1. Flexão e extensão dos artelhos, pés, pernas.
2. Flexão e extensão dos dedos, mãos, braços.
Inspecionar energia e velocidade, simetria.
Observar maior ou menor grau de dificuldade respiratória, denunciando déficit do diafragma e/ou dos
músculos. respiratórios.
Mvtos. finos: abotoar roupas
Força muscular: o paciente faz os mesmos movimentos da motricidade espontânea, mas com oposição aplicada pelo
examinador. Nos casos de discreta ou duvidosa deficiência motora dos membros, realizamos as provas deficitárias,
representadas pelas provas de Barré, Mingazzini e dos braços estendidos.
0 – s/ mvtos.
1 – mvto. quase imperceptível
2 - mvtos. somente c/ a força da gravidade eliminada
3 - mvtos. somente contra a força da gravidade
4 - mvtos. contra gravidade e resistência, mas sub-normal
5 - força normal.
Padrão de fraqueza: n. periférico único; raiz nervosa única; difusa / simétrica / proximal > ou < distal;
piramidal (extensores > flexores nos braços, flexores > extensores nas pernas).
Tônus muscular é o estado de tensão constante a que estão submetidos os músculos, tanto em repouso (tônus de
postura) quanto em movimento (tônus de ação). O exame é realizado com o paciente deitado e em completo
relaxamento muscular. Técnica: inspeção, palpação de massas musculares (para ver o grau de consistência muscular),
movimentos passivos (observar se há resistência ou se a passividade está além do normal) e balanço passivo.
COORDENAÇÃO MOTORA
Qdo. examinamos a marcha, o equilíbrio e a motricidade voluntária, já é possível detectar distúrbios da coordenação
(ataxias).
Manobra calcanhar-joelho – MMII: pcte. em dec. dorsal, solicitar que encoste o calcanhar D sobre o joelho E
e, em seqüência, deslizar o calcanhar sobre a crista da tíbia. Realizar em 2 etapas: inicialm. c/ olhos abertos e
depois s/ controle visual. Assim, constataremos se a ataxia é cerebelar ou sensitiva (neste último, ocorre
acentuamento pronunciado dos erros ao abolir o controle visual). Pode ser uni ou bilat., sim. ou assimétrica.
Manobra índex-naso – MMSS: MS em total abdução, e c/ indicador em extensão, tocar a ponta do indicador
na ponta do próprio nariz. C/ e s/ controle visual. Testar ambos MMSS separadamente. Caso a incoordenação
seja muito discreta, realizar a manobra naso-índex (o paciente toca a ponta do seu indicador na ponta do seu
nariz e depois a ponta do indicador do examinador e novamente a ponta de seu nariz, sendo que o examinador
moverá o seu indicador para diferentes posições ao longo do teste).
Disdiadococinesia: incapacidade de executar movimentos coordenados e alternados, p. ex., pronação e
supinação das mãos.
Manobra do rechaço (Stewart-Holmes): incapacidade de abortar um movimento quando se retira a oposição
ao mesmo, lembrar de proteger o rosto do pcte. para evitar que a continuidade do movimento machuque o
pcte.
REFLEXOS:
Reflexo patelar: flexão passiva da perna e golpear tendão patelar. Resposta = extensão da perna.
Reflexo aquileu: MIE flexionado, c/ a mão E o examinador promove ligeira flexão dorsal do pé e golpeia
tendão de aquiles com mão D. Resposta = flexão plantar do pé.
MMSS: normalm. hipoativos. Hiperatividade é sempre patológica.
Reflexo estilorradial: apoiar a mão D do pcte. em nossa região palmar E e percutir apófise estilóide do rádio.
Resposta = flexão do antebraço.
Reflexo bicipital: c/ antebraço do pcte. “descansando” sobre o do examinador, pressionar o tendão do bíceps
c/ polegar E e percutir sobre o mesmo. Resposta = contração do bíceps.
Reflexo tricipital: braço do pcte. apoiado sobre palma da mão do examinador, percutir tendão do tríceps.
Resposta = extensão do antebraço.
Gradação
0 - ausente apesar de facilitação
1 - diminuído
2 - normal
3 - hiperativo
4 - hiperativo c/ clônus
SENSIBILIDADE
SENSIBILIDADE EXTEROCEPTIVA
Sensibilidade dolorosa epicrítica: forma de sensib. dolorosa cutânea que possui sist. neuronal bem definido
(Sist. Extralemniscal). Pesquisa-se c/ pcte. em dec. dorsal, semidespido, pressionando uma agulha sobre a pele
do pcte. Iniciar pesquisa pelos MMII; o pcte. c/ olhos fechados. Nas polineuropatias periféricas, a anestesia
dolorosa ocorre apenas nas extremidades distais dos membros (anestesia em bota e luva). A sensibilidade
térmica possui a mesma rota da dolorosa epicrítica, por isso a sua pesquisa é dispensável.
Sensibilidade táctil: examinada c/ um pincel ou chumaço de algodão. Orientação semelhante à acima.
SENSIBILIDADE PROPRIOCEPTIVA CONSCIENTE
Cinestesia: pesquisa-se c/ pcte. em dec. dorsal e olhos fechados, executamos mvtos. passivos e sucessivos de
flexão ventral e dorsal do hálux e pedir p/ pcte. identificar os mvtos. imprimidos. Lesões no Sist. Lemniscal
levam a comprometim. da cinestesia iniciando-se pelas extremidades.
Artrestesia ou sensib. postural: pcte. em dec. dorsal, olhos fechados, segurar hálux pelas faces laterais, e o
colocamos lentam. p/ cima ou p/ baixo e o pcte. deverá assinalar qual a posição imposta pelo examinador.
Maioria das lesões no Sist. Lemniscal exibe comprometimento da sensib. cinético-postural, mas em lesões +
amenas, o comprometimento postural precede ao da cinestesia.
Palestesia ou sensib. vibratória: muitas vezes, é a única forma de sensib. proprioceptiva consciente a ser
comprometida; em neuropatias diabéticas e em vários casos de mielinólise funicular. Pesquisa-se através de
um diapasão, de 128 vibrações, colocando-o sobre saliências ósseas dos MMII e MMSS; o pcte. deve acusar
a sensação percebida.
NERVOS CRANIANOS
I par: Olfatório - Utilização de substâncias aromáticas – café, tabaco, erva-doce .... Sua perda, denomina-se anosmia.
Maioria das vezes, tratam-se de hiposmias bilats., por rinites crônicas.
II par: Óptico
Acuidade visual: é testada através de escalas impressas com caracteres de dimensão variável. Para cada olho,
verifica-se a acuidade visual para longe, que será expressa por uma fração que existe ao lado das diversas
fileiras de letras. O paciente deve ser colocado cerca de seis metros da escala, para que a acomodação não
ocorra. Grosseiramente, solicitar ao pcte. que identifique qtos. dedos estamos mostrando, em várias distâncias;
pesquisamos 1 olho e depois o outro.
Campos visuais: método de confrontamento – o campo visual de cada olho será testado separadamente,
pelo método da confrontação, em que o examinador e o paciente se colocam um em frente ao outro, fixando
os respectivos olhos (OE do examinador, OD do paciente e vice-versa).O campo visual do examinador é,
então, confrontado com o do paciente, usando-se os dedos do examinador em movimentos nas extremidades
do campo visual – deslocamento visualizado nos campos temporais e nasais. Alterações: hemianopsia
homônima ou heterônima, quadrantanopsia, escotomas, amaurose.
Reflexos pupilares: reflexo fotomotor e consensual – incidir a luz sobre a pupila de 1 olho e depois sobre a
pupila do outro; o foco de luz deve incidir lateralm. A via aferente é representada por trechos das vias ópticas,
e a eferente pelas vias parassimpáticas do III par.
Fundo de olho: obrigatória, pp. se o pcte. queixar-se de cefaléia. O papiledema destaca-se pelo borram. dos
contornos papilares, ingurgitam. vascular e, às vezes, pela presença de focos hemorrágicos; a atrofia destaca-
se pela coloração branca, de bordos nítidos. Observar: córnea, disco óptico, retina, mácula e vasos sangüíneos.
III, IV e VI pares: Oculomotor, Troclear e Abducente - motricidade ocular – a paralisia de qualquer músculo
dependente deles originará a diplopia. Lesão do n. abducente, constata-se o desvio medial do globo ocular
(estrabismo convergente), e, no caso do n. oculomotor, constata-se ptose palpebral; elevando-se passivam. a pálpebra,
observaremos o desvio lat. do globo ocular e midríase. P/ o exame do n. troclear, solicitar ao pcte. que olhe p/ um
lado e p/ baixo e examinamos o olho aduzido. A pesquisa da paralisia supranuclear envolve a observação do olhar, lat.
e verticalm.; as paralisias do olhar quase sempre revelam comprometim. sério do mesencéfalo (paralisia da
verticalidade) ou da ponte (paralisia da lateralidade); esta última tb. pode ocorrer em lesões fontais graves. Nistagmo:
direção precipitante do olhar, caráter horizontal, vertical ou rotatório.
V par: a pesquisa do n. trigêmeo é realizada através do exame da sensib. dolorosa epicrítica e tátil protopática da face
e através do exame da motricidade dos músculos mastigatórios (contração dos temporais e masseterinos – elevadores
da mandíbula). Os mvtos. de lateralidade da mandíbula dependem dos músculos pterigoídeos lats., lembrando-se que a
lesão de um dos trigêmeos provoca o desvio lat. da mandíbula p/ o lado lesado (devido à ação cruzada dos
pterigoídeos lats.). Podemos considerar aqui a pesquisa do reflexo corneano (ou reflexo córneo-palpebral), visto que a
via aferente é constituída pelo ramo oftálmico. A via eferente é o facial, visto que a resposta é a contração do orbicular
da pálpebra. Esse reflexo é precocem. abolido nos procs. compressivos sobre o V par (Neurinoma do acústico). Técn.
de pesquisa = tocar a córnea c/ um filete de algodão, incidindo lateralm. p/ que o pcte. não o visualize; como resposta
temos a contração do orbicular da pálpebra.
VII par: encarrega-se da inervação da musculatura relac. à mímica e tb. da gustação dos 2/3 ants. da língua, sensib.
exteroceptiva de peq. região da concha auditiva, inervação das glds. lacrimal e salivar (exceto parótida) e sensib.
proprioceptiva da musc. mencionada. Rotineiram., pesquisamos somente através dos exames dos músculos da mímica.
Solicitar ao pcte. que enrugue a testa (mm. frontais), que feche os olhos c/ energia e o examinador tenta abri-los
(orbicular da pálpebra), que mostre os dentes s/ abrir a boca.
VIII par
N. coclear: a diminuição da capacidade auditiva (hipoacusia) e a abolição (acusia) podem ter etiologia
relacionada à orelha externa ou média (surdez de condução) ou à orelha interna ou do n. coclear (surdez
neuro-sensorial). Podemos pesquisar, grosseiram., através do tique-taque de um relógio ou fricção do cabelo
do paciente próximo ao conduto auditivo. Prova de Rinne = coloque um diapasão vibrando em frente ao
meato auditivo externo e pergunte se o paciente pode escutá-lo. Coloque-o a seguir sobre a mastóide e peça
que diga quando o som cessar. Quando isto acontecer, coloque o diapasão novamente em frente ao meato.
Normalmente o som ainda será audível. Na surdez de condução, isto não ocorre. Na surdez neuro-sensorial,
tanto a condução óssea quanto a aérea estão reduzidas, mas a aérea permanece melhor que é o que
normalmente ocorre no teste. Prova de Weber = o diapasão é colocado no centro da testa e pergunta-se ao
paciente se ele escuta o som por toda a cabeça, em ambos os ouvidos ou se predominantemente de um lado.
Na surdez neuro-sensorial, o som será ouvido pelo lado normal, mas na surdez de condução, ele será
conduzido para o ouvido afetado.
N. vestibular: baseia-se no exame do equilíbrio e da marcha.
IX, X, XI e XII pares: compreendem os nn. cranianos bulbares. A pesquisa é feita em conjunto, examinando-se a cav.
oral, c/ lanterna e solicitamos ao pcte. que fale “ah” e inspecionamos a elevação do véu palatino (IX e X pares). Em
seguida, examinamos a língua: motricidade, atrofia, fasciculações (XII par) e projeção da língua p/ fora (na
hemiparalisia ocorrerá desvio da ponta p/ o lado da lesão). Disfagia, disfonia e disartria ocorrem em lesões dos
núcleos ambíguo e do hipoglosso (IX, X e XII) ou em lesões bilats. supranucleares, p. ex., lesões bilats. da via
corticonuclear (pseudobulbares). A pesquisa da raiz espinhal do XI nervo é feita através do exame dos mm.
esternocleidomastóideo e trapézio – pedir para o paciente lateralizar a cabeça e elevar os ombros – comparar ambos os
lados.
Pescoço e coluna cervical- carótidas (palpação e ausculta, comparando a amplitude de ambas e verificando se existe
frêmito ou sopro), ausculta da região supraclavicular, limitação dos movimentos (extensão, flexão, rotação e
lateralização da cabeça), rigidez da nuca, prova de Brudzinski (paciente em decúbito dorsal e membros estendidos, o
examinador repousa uma das mãos sobre o tórax do paciente e, com a outra colocada na região occipital, executa uma
flexão forçada da cabeça; paciente flete os membros inferiores).
Coluna lombossacra- limitação dos movimentos (flexão, extensão, rotação e lateralização da coluna), provas de
estiramento da raiz nervosa (prova de Lasegue, prova de Kernig).
Epidemiologia: acomete mais o sexo feminino, predominando nas faixas etárias de 20-30 anos (mulheres) e 40-50
anos (homens). Sua incidência está aumentando em idosos.
Clínica: as grandes marcas da doença são: (1) preferência pela musculatura ocular; (2) fatigabilidade. As queixas
iniciais costumam ser ptose e diplopia, que pioram ao longo do dia. A fraqueza da musculatura bulbar leva à disartria
e à disfagia. O comprometimento da mímica facial é responsável por uma face típica (facies miastênica). Com o
tempo, surge fraqueza muscular nos membros, do tipo proximal. A história natural costuma seguir esta ordem:
musculatura ocular – bulbar – membros; entretanto, diversas variações são possíveis. São comuns exacerbações e
remissões. Existe uma forma da doença que acomete apenas a musculatura ocular (forma ocular pura), bem como é
possível a transmissão placentária de autoanticorpos, causando a miastenia gravis neonatal. É importante saber que
o principal fator de descompensação da miastenia são as infecções intercorrentes, as quais devem ser tratadas o
quanto antes (evitar a “crise miastênica”).
Diagnóstico: a fraqueza associada à rápida fatigabilidade é extremamente sugestiva de miastenia, podendo-se até
demonstrar esse fenômeno no exame físico (ao testar a motricidade ocular, forçamos o paciente a olhar rápido para
cima dez vezes. Observa-se ptose progressiva).
Os exames recomendados são a dosagem do anticorpo anti-AchR (presente em 85% dos casos – exame
confirmatório) e a eletroneuromiografia (que mostra o padrão “decremental” após estimulação repetida – exame
sugestivo). Alguns casos só são positivos para o antiquinase músculo-específica (o que também confirma o
diagnóstico).
Se após esses testes ainda estivermos em dúvida, podemos utilizar o famoso teste do edrofônio (Tensilon). Este
anticolinesterásico (inibe a enzima que degrada a acetilcolina) tem ação imediata e meia-vida curta. Focalizamos a
atenção sobre determinado deficit muscular e imediatamente o observamos após 2 mg de edrofônio IV. Se houver
uma nítida melhora, o teste é positivo. Quando não, ainda podemos repetir o teste com 8 mg para ter certeza. É
obrigatório monitorizar os sinais vitais, e qualquer paraefeito importante (bradicardia + síncope) deve ser revertido
com atropina. A TC de tórax deve sempre ser solicitada, para avaliar o aspecto do timo.
Outras entidades que obrigatoriamente devem ser consideradas no diagnóstico diferencial são os distúrbios da
função tireoidiana. O hipertireoidismo, por exemplo, pode originar um quadro clínico semelhante ao da MG, bem
como a sua ocorrência em pacientes com MG estabelecida pode ser um fator de descompensação do quadro.
Tratamento: deve ser iniciado com drogas anticolinesterásicas, sendo a mais utilizada a piridostigmina (mestinon)
30-120 mg VO 3-5x/dia. A timectomia deve ser feita nos casos de timoma, e atualmente também é recomendada de
forma empírica em todos os pacientes entre a puberdade e os 55 anos (mesmo sem timoma, 85% melhoram). A
plasmaférese é útil no pré-operatório de indivíduos mais comprometidos. Os imunossupressores são necessários em
quase todos os casos, inicialmente corticoide (prednisona), pelo seu início de ação mais rápido, objetivando-se,
contudo, desmamar o corticoide com o tempo e deixar o paciente em uso crônico de micofenolato (droga de
escolha), azatioprina ou ciclosporina.
“Crise miastênica”: piora aguda do quadro que evolui para insuficiência ventilatória. O paciente deve receber
ventilação mecânica invasiva e ser avaliado para a existência de infecções ou medicamentos recém-introduzidos. O
tratamento específico é a plasmaférese, sendo a imunoglobulina uma alternativa menos invasiva. O
anticolinesterásico deve ser retirado, a princípio, para se fazer o diagnóstico diferencial com crise colinérgica
(intoxicação “muscarínica”: insuficiência respiratória por broncoespasmo + broncorreia).