12 .Política 2020 Isaac Abrao
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Apontamentos de Filosofia – Francisco Manyanga – 12ª Classe, CD/CN, Ficha nº 1 IIº Trimestre 2020Pág. 1 de 19
2. CONVIVÊNCIA POLÍTICA ENTRE OS HOMENS:
2.1. Noções Básicas:
2.1.1. Política e Filosofia política
Política: O conceito de “política” tem origem na palavra grega politiké ou “polis” que etimologicamente quer dizer
cidade. Sendo assim, a política é a ciência ou arte de governar a cidade ou uma nação. A política na antiga Grécia
era traduzida por, República que em latim “Res + publicae” que significa “as coisas públicas”. Sendo assim,a
República significaria um regime político, ou constituição de uma cidade, de uma comunidade, etc. Aristóteles
entendia a política como a arte ou ciência de governar bem a cidade. Para ele, o homem é um animal político,
sociável, pelo simples facto de viver em sociedade.
A política actualmente é concebida como um conjunto de acções levadas a efeito por indivíduos, grupos e
governantes com vista a resolver os problemas com que se depara uma colectividade humana. Estas práticas são
orientadas por imperativos, tais como: o bem comum, a ordem pública, a justiça social, a harmonia e o equilíbrio
social. O conceito de política, entendido como forma de actividade ou pática humana, está estreitamente ligado ao de
poder, quer compreendendo “a luta por sua conquista, manutenção e expansão” segundo Maquiavel, quer as
instituições por meio das quais ele se exerce, ou a reflexão sobre a sua origem, estrutura e razão de ser. O poder é
tradicionalmente entendido Hobbes como “meios adequados à obtenção de qualquer vantagem”; por Russell como
“conjunto dos meios que permitem alcançar os efeitos desejados”.
De acordo com Bobbio, existem três formas de poder, nomeadamente: poder económico, ideológico e poder
político: O poder económico - vale-se da posse de certos bens necessários, que leva àqueles que não os têm a manter
um certo comportamento. O poder ideológico - é o exercido através da influência que uns (detentores do poder:
Sacerdotes, Pastores, Líderes comunitários ou de partidos e organizações sociais ou afins) exercem sobre os demais
determinando-lhes o comportamento. O poder político – é o poder do homem sobre outros homens. Uma das formas
de exercício deste tipo de poder é a força, pela coerção. As outras formas de poder são exercidas por persuasão, quer
através das limitações económicas, quer através do discurso. Por outras palavras, o poder político é a faculdade que
um povo possui de, por autoridade própria, instituir órgãos que exerçam o senhorio de um território e nele criem e
imponham normas jurídicas, dispondo dos necessários meios de coacção. Assim, o poder político têm três
características principais: a exclusividadetendência de não permitir a organização de uma força concorrente, por
exemplo, grupos armados independentes que ameaçam o seu monopólio de uso da força, como resulta do nº3 artigo
52 da CRM “São proibidas as associações armadas de tipo militar ou paramilitar e as que promovam a violência, o
racismo, a xenofobia ou que prossigam fins contrários à lei.”; a universalidade, que é a capacidade de tomar
decisões para toda a colectividade e por fim a inclusividade que é a possibilidade de intervir, de modo imperativo, em
todas as esferas possíveis da actividade de membros do grupo e de encaminhar tais actividade aos fins desejados ou de
desviá-los de um fim não desejado Ex. A intervenção do Presidente da República no Moçambola.
A política é uma ciência porquedescreve, analisa e prevê os factos políticos. A finalidade ou função da política e da
comunidade política é assegurar o bem comum, a ordem pública, a justiça, a paz, o bem-estar e o equilíbrio
social. A disciplina que investiga sobre a política chama-se ciência política. A ciência políticaanalisa o Estado, a
soberania, a hegemonia, os regimes políticos, os governos, as linhas históricas, em regimes democráticos.
2.1.4. Estado / Nação. Elementos do Estado: Governantes, Governados, Constituição (caso da Constituição de
Moçambique), Soberania, Símbolos nacionais.
2.1.5.1. Estado/ Nação
Estado é uma instituição organizada política, social e juridicamente, ocupando um território definido, normalmente
onde a lei máxima é uma constituição escrita, e dirigida por um governo que possui soberania reconhecida tanto
interna como externamente. O Estado é legítimo quando age de acordo com o direito e de acordo com os interesses da
maioria. Um Estado tem como elementos fundamentais: o povo, o território e o poder político.
Nação. O conceito nação é muitas vezes associado ao de Estado. A nação é a comunidade natural de homens que,
reunidos num mesmo território, possuem em comum a origem, os costumes, cultura, e raça (factores objectivos)
e a consciência do grupo humano de que esses elementos comunitários estão presentes (factores subjectivos). A
maior parte dos Estados modernos constituíram-se em nações, na medida que os povos foram se unindo e
adquirindo sentimentos de pertença de uma mesma nação, como, por exemplo, a França, a Itália, Moçambique,
Estados formados por vários povos e culturas, que constituem hoje uma mesma nação.
Exercícios: 1
1. Quando é que um Estado é legítimo?
2. De entre os três fundamentais elementos do Estado: o povo, o território e o poder político, qual deles é
indispensável? Porquê?
3. Nos dias de hoje, podemos considerar Moçambique como uma verdadeira Nação? Justifica.
4. Quais foram as principais mudanças que ocorreram em Moçambique com a alteração da Constituição de
1990.
5. Qual é entidade superior de um país, acima da qual não existe nenhuma outra? Defina-a. Como é que
manifesta.
6. O que é que se pretende dizer quando se diz que em democracia, a soberania nacional reside no Povo.
7. Se entendemos que o homem é um animal político pelo facto de viver em sociedade e, por isso, é chamado a
participar activamente na vida política. Imagina-te estar a viver numa cidade com problemas de saneamento,
lixo, estradas esburacadas, enchente nos hospitais, estudares em condições não adequadas. Que meios usarias
para reverter a situação?
2.2.3 A Filosofia Política na Idade Moderna (Machiavelli, Hobbes, Locke e Rosseau e Montesquieu)
A Modernidade tem o seu início no século XV até aos fins do século XVIII. O marco teórico da época moderna é a
exaltação da ciência e política. Na Filosofia política da idade moderna, o pensamento filosófico caracterizou-se
pelo primado da razão humana e desinteresse pela metafísica.
2.2.3.4. Jean-Jacques Rousseau (28 de Junho de 1712, Genebra, Suíça – 02 de Julho de 1778, 66 anos,
Ermenoville, França)
A. Vida:Jean-Jacques Rousseau, simplesmente Rousseau, foi um importante filósofo, teórico político, escritor e
compositor autodidactasuíço. É considerado um dos principais filósofos do iluminismo e um precursor do romantismo.
Amigo de Diderot e Voltaire onde se tornaram enciclopedistas, divulgando ideias de tolerância religiosa, confiança na
razão livre, oposição à autoridade excessiva, naturalismo, entusiasmo pelas técnicas e pelo progresso. Os grandes
princípios da filosofia rousseanianasão: o estado de natureza, o estado de sociedade, o contrato social, a teoria da
vontade geral e o conceito de soberania popular
B. obras:A sua obra política fundamental é “O Contrato Social” (1762). Outras obras com relevância política são
“Projecto para a Constituição da Córsega” (1765) e “Considerações sobre o Governo da Polónia e sobre a sua
Reforma” (1772).
Exercício: 4
1. A concepção política de Maquiavel é consequência da sua concepção antropológica.
2. Qual é o fim último do príncipe no Estado para Maquiavel?
3. O que é que significa governar para Maquiavel? Porquê?
4. Diga como Maquiavel concebe o homem e como deve ser o comportamento do príncipe.
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Comenta as seguintes expressões maquiavélicas:
5. “Os fins justificam os meios”, “razão de Estado”.
6. O governante deve partir do pressuposto de que todos os homens são réus ou seja, o príncipe deve ser uma
espécie de lobo vestido de cordeiro”
7. Explica porque é que na visão de Thomas Hobbes, no Estado Natural, o homem encontra-se constantemente
numa situação de guerra de todos contra todos, e, por isso, comporta-se, em relação aos outros, como um
verdadeiro lobo (homo hominilupus) foi?
8. “O maior dos poderes é poder do Estado, resultado da soma de poderes de todos os homens na formação do
contrato social” Thomas Hobbes.
a) De que poderes é que se trata na formulação dos poderes de Bobbio?
b) Como é que John Locke se propõe discutir os direitos do homem na sua relação com o Estado?
Porque é que para Locke, a autoridade do Estado só é legítima quando usa o poder para o bem dos cidadãos.
9. Rousseau é um dos expoentes do iluminismo francês e autor da obra “O contrato Social”. Quais as principais
ideias expressas nessa obra?
10. “O homem nasce bom mas a sociedade é que lhe o corrompe”.
a) Com esta afirmação, Rousseau pretendia rejeitar a tese defendida por que filósofo? Qual tese é essa?
b) Caracterize o estado de natureza de Rousseau.
c) Quais são as causas da sua corrupção.
d) Como é que se soluciona o problema da corrupção do homem em Rousseau?
11. Que consequências advém para aqueles que recusarem conformar seus comportamentos à vontade geral?
12. Moçambique é um Estado de Direito que se enquadra na Teoria de Montesquieu. Apresenta a divisão
tripartida do poder político rousseuniana presentes na organização política da sociedade moçambicana.
13. Qual é o problema que Rousseau pretendia resolver com a sua teoria de separação de poderes?
14. Diferencie o direito das gentes do direito político em Montesquieu.
15. Montesquieu procura determinar os diversos tipos de associação política do Estado. Preenche o quadro
seguinte:
Formas de Governo Titular do poder Formas de actuação Princípio de actuação
Monarquia
Despotismo
República
2.3.1 Contextualização do debate sobre a Filosofia africana: Podemos falar de “Filosofia em África ou Filosofia
africana? Que implicações?”
No século XVIII, em um contexto histórico de colonização, aparece na Europa para a Filosofia o seguinte problema:
há ou não uma filosofia africana? A resposta que o debate vai produzir reflecte a visão do mundo e a compreensão
que o colonizador europeu tinha de África e do africano na época. Posteriormente, no século XX, esse problema será
levantado outra vez, graças à obra “La Philosophie Bantoue” do missionário franciscano Placide Tempels,
publicada em 1945. Tal debate ou polémica nos envia desde logo às páginas da História Geral da África.
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T.P.C. para os voluntários do dia: investigar vida e obra do Padre Tempels e falar do conteúdo da obra “La PhilosophieBantue”.
Para os voluntários da próxima aula, pesquisar vida e obra de Hypatias, que foi a primeira mulher filósofa.
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certo ponto, os críticos abrem a possibilidade da existência da filosofia africana, questionando em que moldes tal
filosofia deverá ser feita para que seja chamada filosofia africana. Neste debate sobre a Filosofia Africana, a
questão mais discutida é o estatuto da oralidade tradicional africana, problema este que se prende-se com falta de
escrita. A filosofia etíope é tida como um caso especial pela existência de uma certa tradição de filosofia escrita.
2.3.2 As Principais Correntes Filosóficas Africanas: Etno-filosofia, Filosofia Política e a Filosofia Profissional
3.2.1 A Etnofilosofia. A Oralidade e a Lateralidade na Filosofia Africana
A etnofilosofia ou a corrente tradicionalista considera todos os elementos do africano presente nos contos, lendas,
fábulas, mitos, nos provérbios nas tradições africanas como sinais de existência da filosofia africana. A
etnofilosofia deriva da etnologia, que esta por sua vez deriva de etnia. Entende-se etnia ao conjunto de indivíduos
unidos por características somáticas, culturais, linguagens comuns, etc. Os etnofilósofos são assim chamados por
terem feito estudos de etnias africanas. Eles defendem que toda a filosofia é filosofia cultural, isto é, ninguém faz
filosofia sem se basear em alguma cultura. Esta escola sustenta que a filosofia africana repousa nos provérbios, nas
máximas, nos costumes que os africanos de hoje herdaram dos seus antepassados através da tradição oral. Por isso, a
função do filósofo africano que se refere à filosofia africana é a de coleccionar, interpretar e difundir os
provérbios, contos folclóricos, mitos e outro material deste tipo. Assim, a etno-filosofia é uma visão do mundo
que se baseia em tradições, rituais, sistemas de crenças, mitos e linguagens africanas, ou seja, é uma filosofia
mítica (existência, origem e finalidade dos africanos), cosmológica, ao debruçar-se dos modos de vida (usos e
costumes do africano) e é subjacente às estruturas linguísticas, isto é, analisa se nas estruturas linguísticas há
um pensamento coerente, lógico, que constitui a base da construção de todo o pensamento mítico ou
cosmológico. O intento dos filósofos desta corrente é provar ao homem branco, Ocidental que em África existe
filosofia. Eles estudavam um aspecto numa tribo ou num grupo étnico particular. Esses aspectos são: a língua, o mito,
a religião, as lendas, a cultura, características somáticas, psicológicas, etc.
Representantes: Placide Tempels, Alexis Kagame, John Mbiti, P. Laléyé,Cheik Anta Diop, A. Ndaw, M. Sylla,
M. Griaule; Leopold Senghor, etc2.
Tempels dizia que existe uma filosofia do negro, sempre existiu filosofia africana, só que ela é diferente na forma e no
conteúdo da filosofia europeia. O padre Placide Tempels no seu livro intitulado “La Philosophie bantue”, que sonha
com uma cristianização acelerada, tem por objectivo pôr ao lume a sabedoria popular e os sistemas de pensamento
tradicionais e contribuir assim para a edificação de uma Filosofia Africana. Tempels na sua obra Filosofia Bantu
defendeu a ideia de que os Bantu não só têm uma mentalidade lógica, mas também possuem um sistema lógico,
uma filosofia positiva completa do universo, do homem e das coisas que o rodeiam, da vida, da morte e da
sobrevivência. Para Tempels os Bantu possuem uma ontologia, por conseguinte uma filosofia.
Para Anyanw, a missão do filósofo africano é de compreender e explicar, os princípios sobre os quais se baseia cada
uma das culturas africanas. O método da filosofia Africana segundo Anyanwu consiste na análise da experiência
africana,da sua cultura e princípios que os rege.
Alexis Kagame, (Padre católico do Ruanda), considerado pai da etno-filosofia por Hountondji, escreveu a obra “A
Filosofia Bantu Ruandês do ser”, inspirando-se na filosofia aristotélica, onde na sua reflexão desenvolveu as
categorias aristotélicas do ser, através da análise gramatical rigorosa das estruturas linguísticas. A partir desta obra,
vários estudantes africanos defenderam as suas teses, cada um deles com a filosofia bantu da sua língua vernácula
(genuína, nacional ou da pátria).
Cheik Anta Diop (historiador afrocêntrico senegalês) teve como instrumento étnico a cultura. Em “Nações Negras e
Cultura”, Diop esforça-se em mostrar as influências das culturas africanas na formação da cultura grega que deu
origem à filosofia. Ele recorda que o próprio Tales, Pitágoras, Heródoto fizeram viagens até ao Egipto. Ele defende
que “a civilização universal foi essencialmente uma civilização africana negra”, não só, descobriu muitas
semelhanças entre o Antigo Egipto e as culturas africanas, como também, encontra inclusive, pontos comuns entre as
línguas faraónicas antigas e as línguas africanas modernas. Sustenta ainda que as civilizações europeias derivam do
Antigo Egipto.
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T.P.C. para os voluntários do dia: investigar vida e obra de Alex Kagame, John Mbiti, Cheik Anta Diop e Leopold
Senghor . Para os voluntários da próxima aula, pesquisar vida e obra de Anyanwu, Franz Crahay, M. Towa, Weredu.
Criticas: Figuram na lista dos críticos da etnofilosofia: Hountondji, Franz Crahay, E. Boulaga, M. Towa, Oruka,
Weredu, entre outros. A questão que os críticos colocam é: Uma simples catalogação de mitos, crença e provérbios
pode-se considerar filosofia africana? Pode-se falar de Física ou Química Africanas, da mesma forma que eles falam
da Filosofia Africana. Como obviamente a resposta é não, eles negam a ideia da existência de uma Filosofia Africana.
Paulin Hountondji, ao criticar a etnofilosofia, diz que “A filosofia começa onde a opinião e a sabedoria popular
terminam”, porque ambas são uma concepção acrítica da tradição e da autoridade dos costumes.As críticas
formuladas por P. Hountondji na problemática da existência da Filosofia Africana têm a ver com a colectividade,
misticidade e oralidade dos africanos. Para Hountondji, o termo etnofilosofia significa um trabalho desenvolvido por
etnólogos com pretensão filosófica. Hountondji usou o termo “etno-filosofia” para reagir à ideia da existência da
filosofia africana de Temples, que na visão de Hountondji, Temples parte dos dados etno-filosóficos concernentes à
cultura bantu e se serve do modelo filosófico da Escolástica (Aristóteles e S. Tomas) cuja finalidade era de
evangelizar, libertar teologicamente e civilizar o homem africano; a intensidade da aspiração da vida dos bantu, a
fecundidade, a união constituíra para Temples elementos fundamentais para aprofundar o seu pensamento para
defender a tese de que o comportamento dos bantus deve ser
Uma das grandes controvérsias entre J. Mbiti e PaulinHountondji é acerca do papel do estatuto da oralidade
compreendido como um comportamento racional, que se apoia num sistema coerente do pensamento.
Contra - críticas:
K.C. Anyanwu: começa por atacar o pensamento de Hountondji ao dizer: “há peritos que acreditam que a filosofia é a
mesma em África, na Ásia, na Europa e afirmando que uma filosofia distintamente africana, não existe”. Pelo
contrário, toda a filosofia é filosofia cultural, isto é, é filosofia condicionada e limitada pela cultura, ou por
outras palavras, o universal é sempre particular, local. A filosofia africana tem que partir do dado concreto, isto é,
a vida de cada dia, a prática dos costumes religiosos e morais, o trabalho e o tempo de lazer.
Na visão de Kwasi Wiredu o pensamento africano tradicional contém elementos que são filosóficos, visto estarem
relacionados com o homem e o mundo.
Para Olabiyi Babaida Yai, é necessário fazer uma discussão racional com Hountoundji que, pela sua definição
eurocêntrica da filosofia, nega a filosofia africana. Assim como o mito foi a base da filosofia grega, pode-se dizer que
a base da filosofia africana é a cultura com os seus mitos e crenças.
Segundo A. Ndaw, a Filosofia Africana precisa ter em conta a tradição a fim de que o homem negro reencontre a sua
identidade. O interesse pelos contos, provérbios, ritos de iniciação, pelos mitos deve ser objecto da ontologia com
objectivo claro de “encontrar um pensamento que nos une é comum e evitar uma confusão entre o que pende ao
racismo e um pensamento aberto, sobre o universal”. O autor acrescenta: através dos mitos negro-africanos, “o que
nós queremos atingir não são as ideologias, mas as palavras de vida que nos permitem compreender a nós
mesmos”.
Pan-africanismo vs Negritude
Com o objectivo comum de lutar pela liberdade, estes dois movimentos foram desenvolvidos por estudantes e
académicos africanos residentes em Inglaterra e em França, respectivamente. O primeiro, o pan-africanismo, lutava
pela emancipação política de todos africanos, ao passo que o segundo, a negritude, lutava pela unidade dos negros sob
o ponto de vista cultural, como veremos mais pormenorizadamente na unidade didáctica que fala sobre a filosofia
africana.
O Pan-africanismo
O termo Pan-africanismo vem do grego, pan (toda) e africanismo (referindo-se a elementos africanos). A origem do
termo é inserido na corrente filosófica-política historicista do século XIX sobre o destino dos povos. [2].
É discutido se a autoria da expressão pertence a William Edward Burghardt Du Bois ou Henry Sylvester Williams.
O aparecimento do movimento pan-africano coincide com dois aspectos históricos inesquecíveis para os
africanos, nomeadamente o fim do comércio dos escravos e o início do colonialismo. A motivação do surgimento
do Pan-africanismo foi de âmbito político.
o pan-africanismo é um movimento político, filosófico e social que promove a defesa dos direitos do povo africano e
da unidade do continente africano no âmbito de um único Estado soberano, para todos os africanos, tanto na África
como em diáspora.
A teoria pan-africanista foi desenvolvida principalmente pelos indivíduos na diáspora americana descendentes de
africanos escravizados e pessoas nascidas na África a partir de meados do século XX como William Edward
Burghardt Du Bois e Marcus Mosiah Garvey, entre outros, e posteriormente levados para a arena política por africanos
como Kwame Nkrumah.
O primeiro encontro histórico de africanos (Pan-africanismo) teve como objectivo estruturar a ideologia
necessária para unir os africanos oprimidos e escravizados realizou-se nos EUA, em 1900.
Ainda assim, o movimento tem conseguido dois dos seus principais objectivos, a unidade espiritual e política da
África, sob o pretexto de um Estado único, e pela capacidade de criar condições de prosperidade para todos os
africanos.
Negritude
Negritude (Négritude em francês) foi o nome dado a uma corrente literária que agregou escritores negros de países
que foram colonizados pela França. Os objectivos da Negritude são a valorização da cultura negra em países africanos
ou com populações afro-descendentes expressivas que foram vítimas da opressão colonialista.
foi Aimé Césaire quem criou o termo em 1935, no número 3 da revista L'étudiant noir ("O estudante negro") e no seu
livro de poemas “Cahier d’un retour au pays natal”. Com o conceito pretendia-se em primeiro lugar reivindicar a
identidade negra e sua cultura, perante a cultura francesa dominante e opressora, e que, ademais, era o instrumento da
administração colonial francesa (Discurso sobre o colonialismo, Caderno dum retorno ao país nataletc.). O conceito
foi retomado mais adiante por LeopoldSedar Senghor, que o aprofunda, opondo a razão helénica à emoção negra.
Mais tarde o próprio Césaire admitiu o conceito ser racista e Senghor dirá, houve, no começo da filosofia da
negritude, um racismo anti-racista.
Segundo Senghor, a negritude é o conjunto de valores culturais do mundo negro. Para Césaire, esta palavra designa
em primeiro lugar a repulsa. Repulsa ante a assimilação cultural; repulsa por uma determinada imagem do negro
tranquilo, incapaz de construir uma civilização. O cultural está acima do político.Jean Paul Sartre definirá a
negritude como a negação da negação do homem negro.
O projecto da Negritude resume-se em três conceitos identidade, fidelidade e solidariedade e deveu-se a
personalidades tais como Senghor, Césaire e Damas. A Negritude surge tomando várias formas e variados nomes
como Movimento do renascimento negro, segundo Du Bois; “Regresso a África”,de Marcus Garvey e “o
desenvolvimento segregado” de Booker Washington.
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Renascimento Africano
O Renascimento Africana é um conceito de que o povo e as nações da África devem superar os atuais desafios com
que se defronta o continente, promovendo uma renovação cultural, científica e económica. A noção de Renascimento
Africana foi inicialmente formulada pelo antropólogo e historiador senegalês Cheikh Anta Diop, em 1946, mais tarde
popularizado por Nelson Mandela (1994) e Thabo Mbeki (1999 - 2008).
O povo africano conheceu várias humilhações, facto que o levou a sentir-se inferior a outros povos, sobretudo os
europeus, que o escravizaram durante séculos. Sendo assim, é necessário desenvolver uma ideologia que levasse o
homem africano a renascer e a sentir-se um homem igual aos outros. Renascer significava tornar a nascer. Depois do
nascimento biológico, o africano precisava de voltar a nascer psicologicamente para recuperar a auto-estima extirpada
pelos colonizadores.
Azekiwe dizia “ensinai o africano que renasce a ser homem”, pretendendo dizer que o africano tem dignidade, tem
história, uma cultura e devia se orgulhar com isso. Nkrumah assinala que o africano é um ser espiritual, dotado de
dignidade e inteligência, é hospitaleiro, diferente do europeu que é individualista competitivo e materialista.
Em Abril de 1997, Mbeki articulou os elementos constitutivos do Renascimento Africana como: coesão social,
democracia, reconstrução económica e crescimento e a inserção da África, de forma significativa, no cenário
geopolítico mundial.
Em 11 de Outubro de 1999, foi fundado o African Renaissance Institute (ARI) em Pretória, sediado em Gaborone,
Botswana e suas prioridades incluem o desenvolvimento de recursos humanos, ciência e tecnologia, agricultura,
nutrição e saúde, cultura, comércio, paz e boa governação a na África.
3.2.3 Filosofia Profissional e Académica: a Africanidade da Filosofia
Esta corrente entende que a filosofia existe quando haja filósofos singulares, conscientes da pesquisa filosófica, pois
ser filósofo comporta em lançar-se na pesquisa livre e permanente da verdade que se expressa e não contemplada,
como acontece na religião. A Filosofia Africana como disciplina académica e profissional tem a função importante de
analisar e interpretar a realidade em geral, com relação à realidade africana.
Os críticos da etnofilosofia dizem que não podemos confundir o emprego do termo filosofia usando-o no sentido
ideológico. Filosofia é uma palavra que se usa para designar uma ciência rigorosamente científica. Reivindicar que os
africanos tenham a sua própria filosofia seria cair nas mãos dos colonizadores, que querem dar ou manter a desilusão
de que os africanos têm a sua filosofia, porque o que nós temos são mitos, crenças e provérbios. Eles negam, portanto,
uma filosofia estritamente africana. A questão da existência de uma filosofia africana para encontrar solução deve
levar em conta o surgimento do desenvolvimento espontâneo e autônomo da sociedade africana. Dessa forma, os
filósofos africanos estão obrigados a inventar sua própria definição de filosofia em virtude de seu tempo e lugar.
Representantes:Paulin Hountondji, Ngoma Binda, Ntite Mukendi, Eboussi Boulaga, Franz Crahay, Marcien
Towa, Kwasi Wiredu e Odera Oruka, entre outros.
Paulin Hountondji filósofo beniniano (Benin) na sua obra “African Philosophy, Mythe and Reality de 1974” torna-se
um dos grandes críticos contra a existência da filosofia africana fazendo-se valer com os seguintes argumentos:
Filosofia, no seu sentido restrito, para Hountondji é uma disciplina científica, teorética e individual, assim como a
linguística, a álgebra e, portanto, não se pode substituí-la por crenças populares, práticas tradicionais,
comportamento popular de um povo qualquer. Seria um abuso da palavra filosofia. A filosofia não se deve
identificar com o mito ou com a religião tradicional. A filosofia emerge sempre em oposição ao mito, às religiões
tradicionais e à sua respectivo dogmatismo e conservadorismo. O que é dogmático não pode ser filosófico.Hountondji
enfatiza a importância da escrita na criação de uma Filosofia Africana;
A relação filosófica para com o mito e as religiões tradicionais não é uma relação arquivista ou arqueológica com
função de sistematização e perpetuação dela, nem sequer uma protectora desse passado popular, ao contrário, a relação
da filosofia com o mito e a religião tradicional é de continuidade, transformação consciente, crítica contínua da
tradição do povo perante os desafios encarados pelo povo no presente e no futuro. Portanto, a filosofia deve abrir os
horizontes do povo para enfrentar os desafios do futuro. Querer que a filosofia africana exista não tem sentido.
PaulinHountondji,no fim, pensa que a Filosofia Africana deve ser um tipo de literatura produzida por Africano e
que versa sobre os problemas africanos.Todos nós concordamos que a FA não pode nascer “ex nihil” (do nada), mas
que necessariamente parte da herança cultural. Contudo, esta herança cultural não consiste necessariamente em olhar
atrás. A FA deve ser uma confrontação criativa das suas ideias com o presente e o futuro.
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Hountondji afirma que o problema que se coloca é substancialmente a ideia de filosofia quando é qualificada pela
palavra africana, se esta palavra (filosofia) mantém ainda o seu significado original. Na sua opinião, é que a
universalidade da filosofia deve ser conservada. Não é que a filosofia deva tratar necessariamente os mesmos temas ou
fazer as mesmas perguntas, mas porque as diferenças de conteúdos são significativas. É preciso notar que os primeiros
propagandistas da FA foram homens da Igreja, como por exemplo: Tempels (Belga), Alexis Kagame (Ruandês), John
Mbiti (keniano) Vicente Mulago (congolês). Estes pensadores queriam somente encontrar bases psicológicas para
implantar o Evangelho no terreno africano, sem prejudicar a ninguém.
Quando a palavra filosofia é qualificada pela palavra africana não tem o mesmo significado que quando se fala da
filosofia ocidental do século XIX. “Parece-me que uma palavra muda o seu significado se aplicada à Europa, à
América em vez da África. Este é um fenómeno comum, como Odera Oruka (keniano) humoristicamente comenta:
“o que é superstição é apresentado como religião africana. O Ocidente é esperado que diga é mesmo assim, religião
africana; o que é mito é apresentado pelos africanos como filosofia africana, e os africanos estão a espera que os
ocidentais confirmem que não é mito, mas filosofia africana. O que é claramente ditadura é considerada como
democracia africana e a cultura europeia é esperada a apoiar que é mesmo assim”. Nós manipulamos as palavras em
nome da cultura africana. O que é pseudodesenvolvimento (desenvolvimento da elite, favoritismo) é descrito na África
como desenvolvimento cultural e esperamos que o Ocidente aplauda tudo isso como desenvolvimento africano”.
Portanto, segundo Hountondji, as palavras mudam o seu significado quando passam do contexto europeu ao contexto
africano. O papel criador da FA tem de ser actuado por filósofos africanos que são sujeitos da actividade filosófica
como os protagonistas.
A africanidade da FA só emerge a partir duma actividade filosófica de discussão, crítica dos africanos que são
filósofos. A africanidade consiste na pertença dos filósofos ao continente africano. A africanidade não consiste em
falar da África ou em tratar de problemas africanos, ao contrário, consiste na partilha e na conversa entre africanos que
são filósofos qualificados e profissionais que usam a razão de maneira crítica e criadora.