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Monografia TC Nepomuceno

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1

ACADEMIA DE POLÍCIA MILITAR


CENTRO DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO

Adriano Nepomuceno de Carvalho

INTELIGÊNCIA DE SEGURANÇA PÚBLICA: análise ergonômica da Demanda, Tarefa,


Atividade e Estratégia Operatória, e proposta de indicadores

Belo Horizonte-MG
2020
2

Adriano Nepomuceno de Carvalho

INTELIGÊNCIA DE SEGURANÇA PÚBLICA: análise ergonômica da Demanda, Tarefa,


Atividade e Estratégia Operatória, e proposta de indicadores

Monografia apresentada ao Centro de Pesquisa e Pós-


Graduação da Academia de Polícia Militar de Minas
Gerais, como requisito parcial para obtenção do título de
Especialista em Segurança Pública, no Curso de
Especialização em Gestão Estratégica da Segurança
Pública - CEGESP 2020.

Orientador: Prof. Dr. Gilberto Protásio dos Reis.

Belo Horizonte-MG
2020
3

ACADEMIA DA POLÍCIA MILITAR


ATA DE APRESENTAÇÃO PÚBLICA DE MONOGRAFIA

Aos _________ dias do mês de __________ do ano de ______, às _____h, no auditório


_________________________, na Academia de Polícia Militar, presentes todos os membros
da Banca Examinadora, foi realizada a apresentação pública do TCC, na modalidade
PRESENCIAL a MONOGRAFIA intitulada “INTELIGÊNCIA DE SEGURANÇA
PÚBLICA: análise ergonômica da Demanda, Tarefa, Atividade e Estratégia Operatória, e
proposta de indicadores”, elaborada pelo Tenente-Coronel PM Adriano Nepomuceno de
Carvalho, como requisito para obtenção do título de Especialista em Gestão Estratégica da
Segurança Pública, do Curso de Gestão Estratégica da Segurança Pública - CEGESP 2020 -,
realizado pelo Centro de Pós-Graduação e Pesquisa da Academia de Polícia Militar. Após a
apresentação pública do trabalho, o discente foi arguido pelos membros da Banca Examinadora,
composta pelo orientador, Dr. Gilberto Protásio dos Reis, Cel PM QOR e pelos avaliadores
Cel PM Leonardo Carvalhar Maciel, Comandante da 14a. Região da Polícia Militar, E Cel
PM Júlio César Gomes Meneguite, Diretor de Inteligência da Polícia Militar.
Após reunião, a Banca Examinadora considerou que a monografia preenche os requisitos
exigidos e decidiu por _________________ pela _______________, sendo atribuída a nota
__________.

Este documento expressa o que ocorreu durante a avaliação e vai assinado pelos membros da
Banca Examinadora.

Orientador: Cel PM QOR Gilberto Protásio dos Reis.


Ass.: ______________________________________________________________________
Titulação: Doutor em Ciências Sociais - PUC Minas - 2016.
Avaliador 1: Cel PM Leonardo Carvalhar Maciel.
Ass.: ______________________________________________________________________
Titulação: ___________________________________________________________________
Avaliador 2: Cel PM Júlio César Gomes Meneguite.
Ass.: ______________________________________________________________________
Titulação: ___________________________________________________________________

(a) WELSON BARBOSA REZENDE, CEL PM


COMANDANTE DA APM
4

Dedico este trabalho a todos os policiais militares que


labutam na atividade de Inteligência de Segurança
Pública da Polícia Militar de Minas Gerais.
5

AGRADECIMENTOS

Ao Diretor de Inteligência da Polícia Militar de Minas


Gerais, Cel PM Júlio César Gomes Meneguite, a
quem tenho a honra de servir como subordinado e
cujo exemplo de gosto por estudos de conexões
funcionou como inspiração para este trabalho..

Ao Prof. Dr. Gilberto Protásio dos Reis, Cel PM


QOR, pelo zelo e rigor com que orientou este trabalho
e pelos ensinamentos que permanecerão por toda a
vida. Qualquer incorreção que ainda esteja presente
nesta pesquisa acadêmica terá sido fruto exclusivo da
limitação intelectual do pesquisador, uma vez que os
ensinamentos foram extensos e rigorosos.

Aos companheiros do Grupo de Combate às


Organizações Criminosas (GCOC), que tanto me
realizam com seu companheirismo e dedicação.
6

RESUMO

Este estudo teve como tema Ergonomia do trabalho Policial Militar e, como título,
“INTELIGÊNCIA DE SEGURANÇA PÚBLICA: análise ergonômica da Demanda, Tarefa,
Atividade e Estratégia Operatória, e proposta de indicadores”. O estudo está dividido em duas
grandes partes. A primeira abrange os capítulos 1, 2 e 3. Eles trazem as noções introdutórias,
os aspectos básicos relativos à atividade científica (padrões, raciocínio científico e indicadores)
e o aprofundamento em quatro conceitos específicos, relacionados à interseção temática entre
a Ergonomia e a atividade de Inteligência de Segurança Pública. São eles: Demanda
Ergonômica, com a significação de conjunto de aspectos imediata ou mediatamente
impactantes no campo de atuação institucional da Polícia Militar, presentes nos ambientes
externo e interno da Corporação, já assimilados ou ainda não pela doutrina e estrutura de
Inteligência de Segurança Pública (ISP), Tarefa Ergonômica, que foi estudada com o sentido
de agregado de normas, processos de trabalho e organização estrutural, pelos quais os policiais
militares lotados em funções de ISP têm de se nortear para desenvolver suas respectivas
atividades profissionais, Atividade Ergonômica, que foi compreendida nesta pesquisa
monográfica como aquilo que os integrantes do Sistema de Inteligência da Polícia Militar de
Minas Gerais (SIPOM) fazem para dar conta das missões recebidas ou respostas às
necessidades de atuação percebidas por eles no seu respectivo âmbito de trabalho, ainda que
não estejam incorporadas à doutrina de atuação setorial, e Estratégia Operatória Ergonômica,
que teve o significado de conjunto de decisões mentais tomadas pelos integrantes do Sistema,
no nível individual e subjetivo, visando cumprir suas atribuições funcionais. A segunda parte
da monografia vai dos capítulos 4 a 6. Neles está a Metodologia, em seguida é retomado o que
foi tratado na parte 1, pondo-se isso à luz dos resultados da pesquisa de campo feita com
integrantes dos três níveis do SIPOM, por meio da qual ficou confirmada a hipótese de que a
Atividade ergonômica supera a Tarefa e alcança e Demanda, e sugerindo indicadores para uso
em todo o Sistema. Por fim, há um capítulo de conclusão e sugestões.

Palavras-chaves: Inteligência de Segurança Pública. Desinformação. Estratégia. Ergonomia.


Indicadores.
7

ABSTRACT

Este estudo teve como tema Ergonomia do trabalho Policial Militar e, como título,
“INTELIGÊNCIA DE SEGURANÇA PÚBLICA: análise ergonômica da Demanda, Tarefa,
Atividade e Estratégia Operatória, e proposta de indicadores”. O estudo está dividido em duas
grandes partes. A primeira abrange os capítulos 1, 2 e 3. Eles trazem as noções introdutórias,
os aspectos básicos relativos à atividade científica (padrões, raciocínio científico e indicadores)
e o aprofundamento em quatro conceitos específicos, relacionados à interseção temática entre
a Ergonomia e a atividade de Inteligência de Segurança Pública. São eles: Demanda
Ergonômica, com a significação de conjunto de aspectos imediata ou mediatamente
impactantes no campo de atuação institucional da Polícia Militar, presentes nos ambientes
externo e interno da Corporação, já assimilados ou ainda não pela doutrina e estrutura de
Inteligência de Segurança Pública (ISP), Tarefa Ergonômica, que foi estudada com o sentido
de agregado de normas, processos de trabalho e organização estrutural, pelos quais os policiais
militares lotados em funções de ISP têm de se nortear para desenvolver suas respectivas
atividades profissionais, Atividade Ergonômica, que foi compreendida nesta pesquisa
monográfica como aquilo que os integrantes do Sistema de Inteligência da Polícia Militar de
Minas Gerais (SIPOM) fazem para dar conta das missões recebidas ou respostas às
necessidades de atuação percebidas por eles no seu respectivo âmbito de trabalho, ainda que
não estejam incorporadas à doutrina de atuação setorial, e Estratégia Operatória Ergonômica,
que teve o significado de conjunto de decisões mentais tomadas pelos integrantes do Sistema,
no nível individual e subjetivo, visando cumprir suas atribuições funcionais. A segunda parte
da monografia vai dos capítulos 4 a 6. Neles está a Metodologia, em seguida é retomado o que
foi tratado na parte 1, pondo-se isso à luz dos resultados da pesquisa de campo feita com
integrantes dos três níveis do SIPOM, por meio da qual ficou confirmada a hipótese de que a
Atividade ergonômica supera a Tarefa e alcança e Demanda, e sugerindo indicadores para uso
em todo o Sistema. Por fim, há um capítulo de conclusão e sugestões.

Keywords: Public Security Intelligence. Disinformation. Strategy. Ergonomics. Indicators.


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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AA Operação Anti-Apóstolo
AA Agência de Área
AC Agência Central
ADPF Ação Declartória de Princípio Fundamental
AE Agência Especial
AECB Associção dos Ex-Combatentes do Brasil
AIE Agência de Inteligência Estratégica
AR Agência Regional
ARE Agência Regional Especial
AGR Assessoria de Gestão para Resultados
ADO Assessoria de Desenvolvimento Operacional
BDCI Banco de Crédito de Comércio Internacional
BPM Batalhão de Polícia Militar
CBMDF Corpo de Bombeiros Militares do Distrito Federal
CEGESP Curso de Especialização em Gestão Estratégica de Segurança Pública
Cia PM Ind Companhia Independente de Polícia Militar
Cia PM Companhia de Polícia Militar
COPOM Centro de Operações Policiais Militares
CPOR Centro de Preparação de Oficiais da Reserva
CPC Comando de Policiamento da Capital
CPE Comando de Policiamento Especializado
CTPM Colégio Tiradents da Polícia Militar
CV Comando Vermelho
DINT Diretoria de Inteligência
ESINT Escola de Inteligência
FBI Federal Bureau of Investigation
FJP Fundação João Pinheiro
FSSPX Fraternidade Sacerdotal São Pio X
GAECO Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado do Ministério
Público de Minas Gerais
GCOC Grupo de Combate às Organizações Criminosas
GDO Gestão do Desenvolvimento Operacional
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IPPF International Professional Practices Framework


IPSM Instituto de Previdência dos Servidores Militares do Estado de Minas Gerais.
ISP Inteligência de Segurança Pública
KGB Komitet Gosudarstveno Bezopasnosti (Comitê de Segurança do Estado).
MPMG Ministério Público do Estado de Minas Gerais
NA Núcleo de Agência
NEB Núcleo Especial de Busca
NEP Núcleo de Estratégias e Pesquisas da Primeira Região da Polícia Militar
NIC Núcleo de Inteligência Criminal
NPC Nexo Político-Criminal
NRB Núcleo Regional de Busca
OMS Organização Mundial de Saúde.
Pel PM Pelotões de Polícia Militar
PCB Partido Comunista Brasileiro
PCdoB Partido Comunista do Brasil
PDS Partido Democrático Social
PFL Partido da Frente Liberal
PJ Partido da Juventude
PMMG Polícia Militar de Minas Gerais
PSC Partido Social Cristão
PSOL Partido Socialismo e Liberdade
PSTU Partido Socialista dos Trablhadores Unificados
PT Partido dos Trabalhadores
RCSO Redes de Colaboração de Segurança Pública
REDS Registro de Eventos de Defesa Social
RPM Região da Polícia Militar
RQV Repressão Qualificada da Violência
SI Subagências de Inteligência
SEPLAG Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão
SIPOM Sistema de Inteligência da Polícia Militar
SNI Serviço Nacional de Informações
STF Supremo Tribunal Federal
TPA Treinamento Policial Avançado
TPB Treinamento Policial Básico
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UEOp Unidade de Execução Operacional


UNICEF Fundo das Nações Unidas para a Infância
URSS União das Repúblicas Socialistas Soviéticas
YP Young Progressive
ZQC Zona Quente de Criminalidade
11

LISTA DE TABELAS

TABELA 1 - AUTORIA, COAUTORIA OU SUSPEITA DE MENORES CONVIVENTES


TOTAL, PARCIAL OU NÃO CONVIVENTES COM PAI/MÃE - 01/01/2019 a 31/12/2019 -
BELO HORIZONTE-MG.
12

“A inteligência organizacional se estrutura na forma de um ciclo


contínuo de atividades que abrangem o sensoriamento do ambiente, o
desenvolvimento da percepção e a criação de novas significações por
meio da interpretação dos dados disponíveis.” (DINELLI, 2018, p. 103)

“Uma das mais impressionantes revelações do Professor Robert L.


Heilbroner, em The Future as History [...] é a da atual aliança de ciência
ou saber do mais criativo no Ocidente com military capabilities [...] a
pesquisa em torno de assuntos militares condicionando ou provocando
as mais criativas pesquisas extramilitares dos nossos dias no Ocidente.”
(FREYRE, 1980, p. 16)

“Já está mais do que na hora de revidar.” (DOUGLASS, 2001, p. iv.)


13

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................... 15

PRESSUPOSTOS DE INVESTIGAÇÃO DA CIÊNCIA POLICIAL


2 26
NA INTELIGÊNCIA DE SEGURANÇA PÚBLICA .........................

2.1 O estudo de padrões como caraterística da atividade científica ....... 27

2.2 Alguns padrões comprovados pelos cientistas....................................... 43

Significado do estudo de padrões para a Inteligência de Segurança


2.3 50
Pública.......................................................................................................

Indicadores como meio para a Inteligência de Segurança Pública


2.4 63
monitorar padrões....................................................................................

ERGONOMIA DA ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA DE


3 71
SEGURANÇA PÚBLICA .......................................................................

3.1 A Demanda Ergonômica de Inteligência de Segurança Pública........... 81

3.2 A Tarefa Ergonômica de Inteligência de Iegurança Pública............... 105

3.3 A Atividade Ergonômica de Inteligência de Iegurança Pública.......... 114

A Estratégia Operatória Ergonômica de Inteligência de Iegurança


3.4 124
Pública…………………………………………………………………...

4 143
METODOLOGIA....................................................................................

4.1 Tema e suas delimitações ...................................................................... 144

4.2 Objetivo geral.......................................................................................... 146

4.3 Objetivos específicos................................................................................ 146

4.4 Tipo de pesquisa....................................................................................... 147


14

4.5 Natureza da pesquisa................................................................................ 147

4.6 Método de abordagem............................................................................. 147

4.7 Método de procedimento......................................................................... 147

4.8 Técnicas de pesquisa................................................................................ 148

APRESENTAÇÃO, INTERPRETAÇÃO E ANÁLISE DOS


5 151
DADOS......................................................................................................

5.1 Síntese dos dados coletados .................................................................... 151

5.2 Análise dos dados..................................................................................... 165

5.3 Proposta de indicadores........................................................................... 170

6 CONCLUSÃO, SUGESTÕES E AGENDA DE PESQUISAS............. 177

REFERÊNCIAS ...................................................................................... 182

APÊNDICE ÚNICO: INSTRUMENTO DE PESQUISA……………. 196


15

1 INTRODUÇÃO

Olhar a Inteligência de Segurança Pública (ISP) de fora para dentro e usar esse
movimento centrípeto para enxergar padrões e propor indicadores. Olhar novamente, de dentro
para fora e aplicar a essa mirada o modo de atuar dos policiais militares, que de tudo desconfiam
e gostam de pensar no seu dever profissional de cuidar da sociedade como quem cuida de sua
própria família. Em resumo, esta é a ideia concretizada nesta monografia. Os ambientes externo
e interno têm valor instrutivo para quem os observe.
O professional de ISP é um tipo específico de policial militar que tem o curioso
hábito de, pela falta ou raridade da farda, parecer o menos militar dentre seus colegas de
profissão e, ao mesmo tempo, trabalhar animado de proteger a Polícia Militar contra ameaças
que o comum dos demais setores nem cogitam que possam estar sendo enfrentadas.
No olhar para fora, metafórica e simbolicamente, pode ser identificado um
estudioso, Joseph D. Douglass, o qual é considerado referência em pesquisa sobre uso político
de Drogas. O texto desta monografia prossegue a observação e com ela se avista um cientista
policial mineiro, Guilherme Bicalho Mourão Dinelli, do Corpo de Bombeiros Militar de Minas
Gerais. A dúvida inevitável forma-se na mente, que procura entender o que um profissional
dessa atividade poderia ter a contribuir sobre o âmbito de preocupações de ISP. Novo olhar,
mais uma coleta: desta vez, o levantamento traz um homem da Sociologia. essa polêmica
ciência da sociedade. Avista-se o sociólogo pernambucano Gilberto de Mello Freyre (1900-
1987), que aparece ali, fazendo afirmações estimulantes a respeito de potencialidades
animadoras da pesquisa feita por militares.1
Recolhidos alguns escritos deles, pesadas as suas palavras, meditadas com cuidado,
o pesquisador ajusta-as na apresentação desta pesquisa, como quem, de dentro de casa, põe um
tripé sob uma luneta-quase-telescópio para enxergar cidades e pessoas mais de perto. Trata-se
de meida, não para lhes invadir a privacidade, mas à procura de quem poderia estar se
movimentando furtivamente nas ruas com gazuas2 e outros ferramentais, à procura da próxima
vítima.
Esse trio de pensadores tem um valor simbólico muito específico nesta monografia:
eles têm algo em comum. Nenhum deles pertence ou pertenceu ao Sistema de Inteligência da
Polícia Militar (SIPOM). Todos têm ou tiveram biografias externas à Corporação de Tiradentes.

1
Essas afirmações estão no Prefácio de um livro, “Ocidente traído” (BOAVENTURA, 1980), de autoria do
professor e amigo dos militares brasileiros Jorge Boaventura de Souza e Silva (1921-2005).
2
Chaves falsas, geralmente produzidas de modo artesanal por delinquentes, para com elas arrombar fechaduras.
16

O olhar deles é “estrangeiro” em relação aos quadros da tropa d’O Alferes Joaquim José da
Silva Xavier. Eles não são os únicos nessa situação: vários outros autores e circunstâncias
externas a esse Sistema estão organizados nesta pesquisa, para ajudar a pensar em uma proposta
de indicadores que a Comunidade de Inteligência dessa que já foi chamada de Força Pública
possa utilizar para uma autoavaliação permanente de seu desempenho, na luta contra a
criminalidade.
Em conjunto, as ideias desse trio de autores escolhidos para a abertura do texto
sugerem a oportunidade do olhar ser feito também para dentro da PMMG, a fim de esclarecer
algumas inevitáveis perguntas. Uma dessas dúvidas é sobre se haveria como propor um ciclo
contínuo de atividades de Inteligência, capaz de abranger o sensoriamento do ambiente. Outra
dúvida: na construção da proposta, seria possível desenvolver uma percepção mais ampliada
sobre a realidade nas pessoas desse campo de atuação da Polícia Militar de Minas Gerais
(PMMG)? Uma terceira indagação: existiriam condições de dar um caráter instrumental a esse
ciclo e a essa percepção, por meio um sistema de indicadores baseados nos dados, informações
e conhecimentos disponíveis? Uma última incógnita, tão desafiadora quanto as outras: os
indicadores poderiam ser usados para o SIPOM interpretar contextos macro da criminalidade,
quase nunca percebidos de modo suficiente pelo policiamento ostensivo?
Esta monografia é uma tentativa de dar, pelo menos provisoriamente e de de modo
precário, uma resposta positiva a todas essas indagações. Afinal, elas resultam, em primeiro
lugar, de uma espécie de “mensagem a Garcia” (HUBBARD, 1983), dada não ao personagem
do texto inspirador sobre o homem chamado Rowan. Este, durante a guerra entre os Estados
Unidos e a Espanha, que veio a ser vencida pelos americanos, recebeu do presidente americano
William McKinley (1843-1901) a missão de se comunicar com o chefe dos revoltosos, de nome
Garcia, que estava no interior do sertão de Cuba, e lhe entregar uma mensagem.
Trazendo esses casos para o presente da realidade desta monografia, equivalendo a
ter vindo daquele governante estadunidense, o ato de designação veio do Comando-Geral da
Polícia Militar, por ocasião das designações de pesquisadores-alunos da Turma 2020 do Curso
de Especialização em Gestão Estratégica da Segurança Pública (CEGESP). A missão dada foi
a de propor indicadores de Inteligência para a PMMG. Essa ordem, recebida no interior de um
outro sertão, o Sistema de Inteligência da Polícia Militar (SIPOM), espera-se modestamente
que tenha sido cumprida.
A atividade de Inteligência consiste na “coleta de informações sem o
consentimento, a cooperação ou mesmo o conhecimento por parte dos alvos da ação.”
(SHULSKY, 1995 apud CEPIK, 2003, p. 249). Portanto, há certos objetivos podem ter sido
17

definidos e concretizados por um órgão de Inteligência para impactar em destinatários pré-


escolhidos e reescolhidos, para estes virem a ser atingidos sem se darem conta. Esta, portanto,
é uma pesquisa sobre algumas estratégias deflagradas por uma determinada agência de
Inteligência situada fora do território nacional, que atingiram direta e indiretamente a Polícia
Militar de Minas Gerais. Essas estratégias desafiam o modo atual de olhar a ISP.
Uma característica comum nos hábitos dos policiais militares é a predisposição a
observar e analisar o ambiente. Isso resulta de certas predisposições profissionais básicas. Por
causa delas, de acordo com Reis (2016), esse tipo de trabalhadores valoriza a preparação mental
e física antes do agir. Eles fazem isso como etapa fundamental para o enfrentamento físico e
até bélico, visando ao domínio do oponente. Essa síntese apresentada pelo referido autor torna
possível entender por que é comum esse tipo de profissional escolher nos ambientes onde tenha
de ficar por alguma razão, uma localização que lhe garanta melhores condições de supremacia
sobre potenciais agressores, e faz isso até mesmo quando está em horário de folga, divertindo-
se com seus entes queridos.
Esse jeito de olhar para o ambiente, buscando reduzir as chances de ser
surpreendido, é parte do treinamento mental próprio dos policiais militares, que combina a
predisposição ao uso da força (REIS, 2016) e o instruir-se, isto é, o “letramento” (REIS, 2016,
p. 101-154). O autor afirma que essas predisposições constituem o “habitus”, ou seja, uma
inclinação comportamental profissional “[...] estruturante e estruturada: é estrutura[nte], porque
consiste em uma instituição em que são coetâneas a dimensão micro (subjetividade) e a macro
(objetividade) da ação policial; é estruturada, pois conforma valores e crenças” (REIS, 2016, p.
28).
Acrescenta o autor que tal inclinação comportamental é ainda composta dos
seguintes aspectos: pela estética militar, pela valorização da hierarquia e da disciplina, pelo
preparo para o enfrentamento físico e até com uso de arma de fogo para o domínio do oponente,
pelo patriotism e pelo espírito de corpo distinto das motivações que unem os civis e a
valorização do saber teórico (REIS, 2016). Por causa desta última característica (letramento,
instruir-se), esse tipo de profissional faz intenso uso das ações de observar e analisar. Fazer isso
é uma questão de sobrevivência, especialmente para os que estejam em serviço de rua.
As polícias militares podem ser consideradas um tipo organizacional que guarda
em sua essência alguns traços próprios de exércitos e é possível encontrar um destes consistindo
em fonte daquelas. Tratam-se dos primórdios dessas instituições (Polícias Militares) no
Ocidente, o que se deu na França do rei João O Bom. Naquela ocasião, a tropa policial militar
se formou da estrutura do exército francês, com a missão de policiar os lugares deixados
18

desolados no rastro dos confrontos contra os ingleses na Guerra dos Cem Anos (REIS, 2016).
Essa conexão identitária continua existindo nas organizações ocidentais decorrentes daquele
tipo organizacional e a PMMG é uma delas (REIS, 2016).
Na História recente do mundo, os exércitos da Inglaterra, e posteriormente, de
diversas outras nações, uniram-se e enfrentaram a Alemanha durante a II Grande Guerra
Mundial. A vitória sobre esta última (Alemanha) foi uma surpresa, pois o país derrotado possuía
melhores recursos logísticos, bélicos e, além disso, vinha de uma sequência de vitórias contra
outros povos do continente europeu. Um dos fatores que fez diferença no caso inglês foi o uso
pioneiro da ciência da computação, mediante emprego do método de cálculo de probabilidades
chamado Colossus, desenvolvido pela equipe de Alan Mathison Turing (1912-1954). Turing
decifrou os códigos de comunicação alemães, os quais, por sua vez, eram produzidos por um
computador chamado Enigma. Isso foi importante para a identificação e antecipação dos
ataques alemães, mediante o conhecimento das coordenadas de ofensiva tática daquele país
(LEAVIT, 2015).
A estratégia inglesa contra os alemães nazistas foi olhar o ambiente do adversário
em busca de padrões que ajudassem a compreender e prever os próximos ataques. Uma das
lições possíveis desse caso de sucesso é que a atividade científica pode ser direcionada para
ajudar na defesa de uma sociedade contra seus agressores, pelo caminho da observação
sistematizada de táticas do oponente.
Esse aprendizado inglês serve para pensar sobre uma parte do trabalho policial
military (ISP), cuja missão é fazer essa análise do ambiente em que os oponentes vivem sua
rotina, para a contribuição ao sucesso organizacional. Os policiais militaes de ISP investigam
conexões entre pessoas e situações. Esse grupo interno às polícias militares não faz isso
unicamente para se antecipar ao policiamento e se lançar nos lugares de certos movimentos de
indivíduos e grupos envolvidos com crimes ou intenções de cometê-los. Em vez disso, utiliza
a capacidade observacional de ler por dentro a criminalidade para ajudar a corporação a
entender o mundo do crime e das correlações que o estruturam. Em seguida, passa isso para o
setor que planeja o emprego da tropa e, aí, sim, a atividade policial típica se concretiza.
Esse segmento é chamado genericamente pelo nome do que os seus integrantes
fazem: usar a inteligência. Os profissionais dessa área, Inteligência, buscam dominar
indiretamente esse oponente genérico que é a criminalidade. São trabalhadores que veem como
um dever prático utilizar ao máximo o potencial humano de “intus legere” (ler por dentro) as
situações.
19

O tema encomendado pelo Comando-Geral da PMMG para a realização desta


Monografia foi a “Análise da viabilidade de criação de indicadores setoriais priorizados para o
SIPOM, nos moldes da Resolução nº 4.877, de 21 de janeiro de 2020 (Plano Estratégico
2020/2023 da PMMG), e Diretriz 8002.2/2020 (GDO - Gestão do Desempenho Operacional)”.
A recomendação para a concretização da pesquisa teve a marca do encomendante:
a de gestor. No entanto, foi feita a um estudante de uma pós-graduação, o curso denominado
CEGESP. Por isso, uma adequação temática foi necessária. Mostrou-se preciso situar o texto
da designação para concretizar a investigação científica, no campo teórico em que ela se insere,
que é a Ergonomia.
Segundo Tersac e Maggi (2004, p. 97), Ergonomia é o campo de estudos que cuida
do “processo de ação”. Para os autores, o campo da “ação” humana é bastante abrangente: pode
ser completamente individual, sem qualquer tipo de reflexo no grupo social em que a pessoa
está, como, por exemplo, quebrar um graveto de madeira estando no meio do deserto, como
também um agir que gera reflexos no grupo social, a exemplo de cometer um crime.
Para o objeto desta monografia, interessou a idéia que fica entre a ação pura, na
qual o indivíduo faz algo sem qualquer intenção ou produção de resultado prático sobre seus
semelhantes, e a estrutura social pura, isto é, o arranjo em que o grupo está organizado. Em
suma, interessaram as atitudes que os indivíduos praticam e que geram intencionalmente
consequências na estrutura da sociedade.
Tais conceitos podem ser usados para pensar a respeito da atividade de ISP: ação
equivale aos movimentos da criminalidade, às tentativas e concretizações de crime, e estrutura
social corresponde aos profissionais de inteligência vistos como uma comunidade. Então, como
a Ergonomia é o estudo do processo de ação, ela serve para estudar a encomenda objeto desta
Monografia.
Ao mostrar esse direcionamento, o Comando-Geral da PMMG deu o tom da
resposta esperada: indicou querer a contribuição do pesquisador, do cientista policial. Como
todo profissional de ciências, este procura o universal por trás das coisas particulares. Dessa
forma, trazendo a questão para o ambiente policial militar, o universal equivale ao conjunto das
relações sociais. As coisas de alcance apenas restrito, as particulares, correspondem a uma certa
prática delituosa de um indivíduo ou de um grupo local de agentes criminosos. O macro e o
micro podem afetar, portanto, a Corporação como um todo ou apenas o desempenho de uma de
suas unidades (Frações PM).
O encomendante foi ainda mais específico: anseou por metrificações, medições,
mensurações; quis indicadores. Para um gestor, esses são itens técnicos de um painel de
20

monitoramento destinado a cuidar de certas rotinas. Para um pesquisador, porém, eles têm o
significado de coisa mais ampla. Indicadores, nesse caso, representam o topo, o cume, o ponto
mais elevado de um diagnóstico de certos perigos reais e rotineiros do ambiente, perigos esses
passíveis de levar a organização à extinção.
Contextualizando com o dia a dia, pode-se dizer que os indicadores exercem
funções semelhantes ao painel de instrumentos de um veículo automotor, ou de um avião, que
mostra informações essenciais à condução da máquina. Entretanto, para que a informação seja
exibida no mostrador, requer que, antes, tenha havido antes uma complexa estrutura em
funcionamento, que coleta os detalhes (parciais, do ambiente e da máquina) possibilitadores do
funcionamento do maquinário. O medidor, portanto, representa o indicador. O trabalho do
cientista (nesse caso, o ergonomista) consiste em criar o mecanismo, o processo de coleta
automática de dados em pontos específicos da estrutura, o painel para que o próprio sistema
entregue aos gestores, resumidamente e com fácil possibilidade de compreensão, a informação.
Por isso, o indicador é o topo, pois representa o estágio final de uma sequência de
coleta de dados situados em pontos específicos de uma engrenagem. Portanto, para este trabalho
de investigação, o pesquisador foi além das normas mencionadas pelo encomendante quando
fez a designação. Tal foi necessário porque, dentre os perigos que podem levar à Corporação à
extinção ou a um nível preocupante de ineficiência contra a criminalidade, alguns já foram
percebidos e conceituados por estudiosos do tema. Esses conceitos foram utilizados nesta
monografia, a partir de palavras tomadas emprestado da Ergonomia.
O gestor administra os números de um painel acabado; já o cientista é obrigado a ir
além. Ele tem de pensar nos padrões que estejam ocultos na realidade. Ele deve perguntar até
mesmo se o painel está abrangente o suficiente para servir de plataforma de observação. A
rotina para o cientista é buscar padrões. Ele sabe que o real é sempre complexo, difícil de
entender, dominar e manter sob controle. Entretanto, ele também sabe que o real é observável
e redutível a fórmulas.
Então, a autoridade designadora do pesquisador quis a proposta de indicadores, mas
não como técnica de gestão e sim, como resultado de uma investigação a respeito dos padrões
que há ocultos sob essa coisa macro chamada criminalidade. Com efeito, esta, a criminalidade,
requer atenção por parte dos profissionais de ISP, por uma comunidade de Inteligência,
portanto.
Na Corporação, existe o Sistema de Inteligência da Polícia Militar (SIPOM),
conforme estabelece a Diretriz 3.01.01/2019, DGEOp (MINAS GERAIS, 2019). Essa estrutura
tem por missão institucional a realização de investigações da criminalidade (investigação
21

policial preventiva), função típica da Polícia, que tem por missão principal o prevenir crimes,
por meio das suas agências.
Nesse sentido, de acordo com o mesmo documento diretivo, o SIPOM deve orientar
e subsidiar o lançamento do efetivo policial no “teatro de operações”, por meio da coleta, busca,
análise e interpretação de dados, transformando-os em informações e conhecimentos, sejam
estratégicos, táticos ou operacionais. Essa metodologia se presta a antecipar a eclosão de delitos
e a orientar o emprego da Polícia Militar com cientificidade, seja na prevenção, seja na
repressão qualificada da criminalidade.
Reforçando a mesma ideia, na DGEOp (MINAS GERAIS, 2019), está afirmado
que a ISP, enquanto atividade exercida pelo SIPOM, consiste em realizar o processamento
metódico e sistemático de informações, a fim de fornecer estofo para potencializar os serviços
da PMMG, mediante decisões científicas. Esse atributo de cientificidade mostra que o sistema
é feito para ser conduzido não apenas com o olhar de gestores, mas também com o de
pesquisadores e cientistas.
Nesta monografia, estão presentes análises que interessam aos níveis estratégico,
tático e operacional do SIPOM. Esse alcance foi resultante do fato de que os indicadores
propostos ao final desta pesquisa foram específicos para cada um desses níveis e subdivisões.
Isso significa que o olhar acadêmico sobre o objeto de estudo buscou o universal, sem perder a
referência do particular em que ele está concretizado, neste caso, a divisão estrutural desse
sistema.
A GDO, Gestão do Desempenho Operacional, está materializada na Diretriz
8002.2/2020-CG (MINAS GERAIS, 2020b). Sua criação pelo Comando da Polícia Militar se
deu no ano de 2015, diante de uma necessidade de padronização de metodologia para
acompanhamento e avaliação de resultados operacionais na Instituição. Tal Diretriz traz a
informação de que a Corporação procura uma metodologia científica para análise do fenômeno
criminal (MINAS GERAIS, 2020b, p. 10). Logo, novamente, reforça-se o argumento de que o
segmento genericamente denominado Inteligência tem característica de prática de um aspecto
da atividade científica.
A criação da GDO no ano de 2015 foi uma decorrência natural da metodologia
IGESP (Integração da Gestão em Segurança Pública), que por sua vez houvera sido implantada
na PMMG no ano de 2005, com a proposta de um modelo de gestão orientada para resultados,
que se chamou Polícia Científica ou “controle científico” da polícia (MINAS GERAIS, 2020b).
Àquela época, foram estudados e estabelecidos os primeiros indicadores de desempenho para a
Polícia Militar (SOUZA e REIS, 2011). A partir de 2015, essa metodologia se converteu na
22

GDO, que vem sendo reeditada periodicamente, sendo a última versão publicada em 09 de
janeiro de 2020 (MINAS GERAIS, 2020b).
Conforme indicado na GDO, seu alinhamento com o Plano Estratégico da Polícia
Militar é natural e necessário, vez que estabelece os referenciais estratégicos, com base na
análise dos ambientes interno e externo, e define as políticas setoriais que servirão de base aos
objetivos estratégicos elaborados pelo Plano (MINAS GERAIS, 2020b).
O Plano Estratégico 2020/2023, publicado em 14 de janeiro de 2020 (MINAS
GERAIS, 2020a), traz a formulação de doze objetivos estratégicos, vinculados aos quais se
criaram indicadores, metas, iniciativas e projetos estratégicos. Dentre as iniciativas, interessou
a esta pesquisa o “fortalecimento da Inteligência de Segurança Pública (ISP)” (MINAS
GERAIS, 2020a, p. 11).
O trabalho nesta monografia foi destinado a atender exatamente a essa iniciativa.
Tratou-se de medida necessária porque não há, seja na GDO, seja na edição atual do Plano
Estratégico, indicadores setoriais priorizados para o SIPOM, cujo papel na produção de
segurança pública, em ambos documentos, está estipulado em linhas gerais, mas carente de
objetivação. Logo, premente era a necessidade de construir indicadores.
Para isso, inicialmente, foi investigado o que havia (e ainda há) na realidade externa
à Polícia Militar, incidente sobre o trabalho da Corporação e que, por isso, reclama a atenção
por parte da Inteligência. Em seguida, foram estudadas doutrinas e bases teóricas relativas a
indicadores de desempenho, bem como as legislações existentes na Corporação que abrangem
esse assunto.
Após, passou-se novamente à análise do ambiente externo e interno, mas, desta
vez, de modo mais instrumental, mostrando, no ambiente externo, estruturas que podem
funcionar como fomentadoras de desordenamento social, bem como outras que podem ser
parceiras e trabalhar em conjunto com a PMMG para promover a paz pública. Além disso,
foram ainda indicadas ferramentas de apoio no ambiente interno ao SIPOM, úteis a fomentar e
otimizar o atingimento dos resultados que se espera dos indicadores propostos.
O tema da pesquisa requereu deixar claro que o conhecimento da Demanda, da
Tarefa, da Atividade de da Estratégia Operatória é pressuposto básico para a propositura de
indicadores. Usando-se a metáfora de um doença grave e silenciosa, como um câncer, por
exemplo, a Demanda significa a existência da doença no corpo e os indicadores equivalem aos
exames periódicos, destinados à sua prevenção e tratamento tempestivo. A inexistência dos
indicadores representa, nesse caso, o convívio passivo e desatento com um mal grave, capaz de
levar à morte.
23

Já a Tarefa Ergonômica equivale ao sistema imunológico, que, quanto mais


deficitário estiver, mais exposto a novas infecções e patologias fica o organismo, o qual, nessa
metáfora, corresponde ao próprio SIPOM. Quanto à Atividade Ergonômica, o seu equivalente
metafórico é o da circulação sanguínea, que garante movimento e vida ao corpo como um todo.
Por fim, a Estratégia Operatória é a medula óssea, na qual são gerados reflexos anteriores aos
do próprio cérebro, para que, mesmo não havendo percepção do perigo em outros níveis do
organismo, uma resposta instantânea seja dada, quase inconscientemente. O paralelo com o
SIPOM, neste último caso, é que seus integrantes precisam estar bem preparados para que, nas
situações imprevistas, consigam fazer aquilo que se espera deles.
Em termos de segurança pública, as organizações de serviço da área de ISP
equivalem aos médicos especialistas que têm o dever de manter saudável esse corpo abstrato,
que é a sociedade. A Inteligência de Segurança Pública é o complexo formado por estruturas,
estratégias e táticas de diagnóstico sobre ameaças à saúde da sociedade, no tocante à
criminalidade. Esta, a criminalidade, é considerada aqui no sentido mais amplo, de qualquer
mal que afete a saúde do corpo social.
A preservação da ordem pública é o nome genérico da responsabilidade que a
sociedade deposita nas mãos da Polícia Militar. Para os integrantes da área de ISP, essa
confiança da população significa implicitamente o dever de manter a supremacia da capacidade
de antecipação do Estado em relação às pessoas e circunstâncias que possam comprometer a
ordem pública.
O estudo da Demanda, da Tarefa, da Atividade e da Estratégia Operatória de ISP
ainda é precário e meramente inicial na Corporação. De certo modo, a atenção acadêmica e
doutrinária a essas dimensões ergonômicas do trabalho policial é insipiente (com “s” mesmo),
na comunidade de inteligência da PMMG. Esse adjetivo, caso seja tomado com o significado
de ausência de saberes, talvez não faça justiça ao volume e profundidade do trabalho diuturno
que é realizado pelos profissionais do SIPOM. Entretanto, o uso dessa adjetivação destina-se
apenas a informar que essa comunidade já dera alguns passos em direção a se fazer reger por
indicadores. Tal ocorrera na Região PM encarregada de cuidar do Município de Belo Horizonte,
mas, depois desse passo, era preciso que fossem dados outros. Assim, o adjetivo melhor é
parecido com o anterior: incipiente, com “c”, que significa principiante, em fase inicial.
Todos que observem a ISP na atualidade podem notar que a busca pela excelência,
a dedicação, o zelo, o profissionalismo, a objetividade, tudo isso e outros méritos mais estão
presentes no trabalho do SIPOM. Porém, também está evidente a inexistência de rotinas de
monitoramento de aspectos mais amplos da realidade da segurança pública, ou de um
24

acompanhamento, mediante gráficos, de aspectos referentes ao desempenho ou à situação da


Inteligência organizacional perante padrões. Padrões esses em que seus objetos possam ser
situados e transformados em análises estatísticas de tendências e outras potencialidades de uma
das discplinas da Ciência da Informação, que é a Estatística. O sintoma mais aparente dessa
insipiência é a ausência de indicadores.
Voltando à metáfora do painel de instrumentos de um veículo, onde os indicadores
são representados pelos mostradores, é preciso haver um sistema de captação periódica de
informações da realidade externa que alimente os mostradores. Dessa forma, a partir das
sínteses informativas neles apresentadas, o condutor do veículo pode tomar decisões oportunas.
No caso da ISP, a ausência dos indicadores (logo, o desconhecimento da Demanda, Tarefa,
Atividade e Estratégia Operatória Ergonômicas) representa, metaforicamente, uma pessoa
dirigindo um veículo, à noite, sem mecanismos que permitam enxergar os perigos que haja pelo
caminho e sem disport de informações básicas da máquina, como, por exemplo, temperatura do
motor, nível do combustível, entre outros. Nesse exemplo metafórico, o veículo é a própria
sociedade, à qual a PMMG tenta conduzir para que sua viagem seja tranquila e segura.
A realidade normativa confirma essa metáfora, pois o SIPOM, conforme a
DEGEOp, tem a missão de processar, metódica e sistematicamente, informações, a fim de
subsidiar decisões dos comandantes com cientificidade, para promover a paz pública (MINAS
GERAIS, opus citatum).
Neste ano de 2020, ciente dessa lacuna, o Comando-Geral da PMMG encomendou,
como visto, a presente pesquisa, com o fim de, por ela, lhe serem propostos os indicadores.
Entretanto, conforme já mencionado, o indicador é a fase final de um processo quádruplo de
conhecimento. Este se inicia, necessariamente, com a identificação da Demanda, passando em
seguida aos três níveis, que podem ser mentalmente visualizados como sendo círculos
concêntricos cada vez mais restritos. Destes, a Demanda Ergonômica é o maior, a Tarefa
Ergonômica vem em seguida, depois, com alcance ainda menor, está o círculo relativo à
Atividade Ergonômica e, por fim, com o menor diâmetro, vem o âmbito da Estratégia
Operatória Ergonômica.
Estudar a Demanda, a Tarefa, a atividade e a Estratégia Operatória Ergonômicas de
ISP é semear no campo da Engenharia de Produção. A PMMG já colheu dois bons frutos do
aproveitamento das potencialidades explicativas do saber dos engenheiros. Um deles foi o
programa “Polícia de Resultados”, que nasceu do projeto MAPA, no ano 2000, e do qual
resultou a introdução de novas técnicas para aferição periódica de desempenho das Companhias
PM do Comando de Policiamento de Capital (REIS, 2006b, p. 16). O outro fruto foi o “IGESP”
25

(REIS, opus citatum, p. 16-18), que modificou os sistemas produtivos integrados e foi a base
para a atual GDO (MINAS GERAIS, 2020b), conforme já indicado.
Nesse novo passo de investigação, que foi a presente monografia, as atenções foram
voltadas para explorar uma das potencialidades da Ergonomia, que é a análise da Demanda,
bem como da Tarefa, da Atividade e da Estratégia Operatória relativas à ISP. Para um começo
de caminhada em direção a esse objetivo de investigação científica, o Capítulo 3, mais à frente,
aprofunda um pouco mais nas potencialidades da Ergonomia, por meio do trato da Demanda,
Tarefa, Atividade e Estratégia Operatória Ergonômica da Inteligência de Segurança Pública.
No Capítulo 2 a seguir, estão tratados os pressupostos para a investigação da
Ciência. No Capítulo 3, foram aprofundados os conceito do que é a Ergonomia e sua aplicação
na ciência policial e na ISP. O Capítulo 4 contém a metodologia utilizada estudo monográfico.
No Capítulo 5, são apresentados os dados da pesquisa de campo, os quais são contrapostos com
a teoria utilizada nos capítulos 2 e 3. Posteriormente, desta contraposição, são aduzidos os
indicadores. Por último, no Capítulo 6, estão a conclusão desta monografia e uma agenda de
pesquisas. Encontra-se nesta monografia, encerrando-a logo após as referências bibliográficas,
o inteiro teor do instrument de pesquisa (Apêndice único).
A seguir, como já informado, está o Capítulo 2.
26

2 PRESSUPOSTOS DE INVESTIGAÇÃO DA CIÊNCIA POLICIAL NA


INTELIGÊNCIA DE SEGURANÇA PÚBLICA

Todo profissional tem o dever moral de indicar os fundamentos de seu ofício. Isso
é necessário por uma questão de transparência e honestidade da prática daquilo que esse
trabalhador exerça como profissão. Uma outra utilidade desse cuidado é a de ajudá-lo a se
prevenir contra acusação de prática de alguma impostura intelectual.
Sobre este assunto específico, Sokal e Bricmont (2014) afirmam que têm ocorrido
abusos da ciência por determinada ala de pensadores, que ele identifica serem os filósofos pós-
modernos. Para demonstrar isso, Sokal e Bricmont (2014), junto com um colega pesquisador,
chamado Jean Bricmont, conseguiu publicar um trabalho em uma importante revista científica,
a “Social Text”. O teste foi feito usando uma linguagem científica rebuscada e, nisso, foi
aprovado pelo conselho editorial, mesmo tendo sido construído cheio de absurdos intencionais,
disfarçados por uma linguagem difícil, intencionalmente usada para parecer erudita, mas, no
entanto, não passava de floreios de retórica3.
A atividade policial, no sentido amplo, é considerada a parte técnica de um ramo
científico chamado Ciência Policial. De acordo com Gomes (2010), esta é fruto da busca por
“maior legitimidade, eficiência, eficácia, economia e ética [...] buscando as soluções inter e
transdisciplinares, que garantam uma resposta humana e realista [...].” (GOMES, 2010, p. 111).
Valente (2010) afirma que a Ciência Policial “é essencial para a realização do ser
humano, por dotar a Polícia de um padrão de actuação científico racional epistêmico centrado
em um equilíbrio construtivo.” (VALENTE, 2010, p. 85). Ele afirma também que é um erro de
compreensão a respeito do que esse ramo científico constitui acreditar que seu centro deva ser
a teoria da persuasão, porque tal equívoco “gera uma actuação policial fora do racionalismo
mínimo e abre espaço para o arbítrio do actor policial [...] ampliação típica dos estados
totalitários e autoritários [...] restritiva de direitos e liberdades fundamentais.” (VALENTE,
2010,p. 82).
Para este capítulo, foram desenvolvidas quatro abordagens, cada qual em seu
subcapítulo, todas elas ligadas a dois aspectos: por um lado, ao entendimento de que a Ciência
Policial é legítima para compreender, alertar e dar meios para os cidadãos resistirem a todo tipo
de esforço totalitário de supressão da capacidade de pensar, e de tentativas de manipulação da
realidade por parte de grupos que tentem se valer da própria imagem de legitimidade e de

3
Essa noção de disfarce está retomada ao se tratar da Demanda (subcapítulo 3.1) e da Estratégia Operatória
(subcapítulo 3.4)
27

garantias do raciocínio livre, evocadas por palavras como “ciência”, “liberdade religiosa” e
“liberdade de opinião política”. Por outro lado, tais abordagens ligam-se à ideia geral do título,
conforme os seguintes títulos subordinados: o “Estudo dos padrões como caraterística da
atividade científica”, “Alguns padrões comprovados pelos cientistas”, “O significado do estudo
dos padrões para a Inteligência de Segurança Pública” e “Indicadores como meio para a
Inteligência de Segurança Pública monitorar padrões”.

2.1 O Estudo dos padrões como caraterística da atividade científica

A ciência é uma atividade profissional intelectual destinada ao estudo investigatório


sobre padrões da natureza. Esse entendimento começou, na História da Ciência, com os
esforços dos pensadores gregos no sentido de identificar as padronagens perceptíveis no mundo
físico e metafísico. Alonso (2001) afirma: “El vocablo ciencia [...] denota aquella actividad
cultural humana que tiene como objetivo la constituición y fundamentación de un cuerpo
sistemático del saber [...] cuyas regularidades quiere explicar y predecir; [...]” (ALONSO, 2001,
p. 13)
A característica básica da ciência é, então, a busca pelas regularidades presentes
nos objetos de estudo. Sem prejuízo dos aprofundamentos ainda neste capítulo 4, deve-se
considerer que, na atividade de ISP, pelo menos três objetos de estudo têm relação com esse
conceito de atividade cultural que busca explicar e predizer padrões.
O primeiro objeto refere-se ao significado da dedicação dos profissionais da
Inteligência que se voltam a olhar para o interior da PMMG. Eles fazem isso procurando notar,
no conjunto dos integrantes da tropa, a eventual formação de padrões que a aproximem ou
distanciem das entranhas da corrupção, para, com isso, evitar que a Corporação entre em
processo de desintegração e, no final, seja extinta. Cuidar disso é necessário para evitar que a
Corporação decaia de tal maneira que se torne inadiável às autoridades políticas fazer com que
seja extinta por ato governamental, como aconteceu, segundo Flôro (2013), com a organização
antecessora, chamada Companhias de Dragões.5
A atividade de ISP tem também o significado de acompanhamento sistemático do
que acontece fora da Polícia Militar. Isso é feito em busca de padrões que ajudem a
compreender a criminalidade, para assim identificar, acompanhar e contribuir para desmantelar

4
No subcapítulo 2.3.
5
Volta-se a isso no subcapítulo 3.4.
28

organizações criminosas. Existe um ponto médio entre olhar para fora e observar analisando
dentro da Corporação: a ISP pode ser identificada com o dever de procurar um padrão a meio
caminho dessas duas referidas potencialidades. Uma aplicação dessa noção mediana é a
potencial atenção do SIPOM à influência de fatores externos na mudança da lealdade dos
policiais militares a tudo que está simbolizado na Bandeira Nacional6.
A atividade científica é, pois, a típica busca por conhecer padrões, visando controlar
e predizer eventos particulares resultantes deles. Aristóteles (385 a.C. - 323 a.C.) destacou-se
dentre os seus contemporâneos quando identificou os seguintes padrões na natureza: ato e
potência, matéria e forma (ARISTÓTELES, 2006). Potência é o estado inicial dos limites da
natureza de um ser e é capaz de se concretizar sob certas condições (de uma pedra de granito,
por exemplo, podem ser criadas diferentes estátuas, que ela tem potência de vir a ser, desde
sempre); ato é a realização da potencialidade de um ser (o trabalho do escultor que cria a estátua
a partir da pedra); matéria é a indeterminação pura da substância genérica da qual todos os seres
do mundo físico são constituídos (a pedra, em si); forma é o fator delimitador que dá
inteligibilidade ao ser material (a estátua, depois de pronta, ou seja, a pedra com um forma
específica).
Estudando esses pares de conceitos aristotélicos, Caetano (2006) afirmou que
houve uma perda muito significativa na compreensão desses padrões presentes na natureza a
partir do momento em que se espalhou entre os estudiosos a ideia de que os universais não
existissem. Essa ideia, vinda de Guilherme de Ockham, é chmamda de nominalismo. A razão
de ter passado a ser conhecida assim é que, de acordo com Scherer (2018), o que o inventor
dessa negação dos universais fez foi afirmar que estes (os universais) não teriam existência real,
nem mesmo nas coisas, e seriam apenas nomes dados pelos seres humanos a aspectos
observados nos seres.

[...] os universais são meros nomina ou flatos votis, ou seja, não existem por si nem
nas coisas; são apenas nomes que damos a aspectos dos entes, os quais entes existem
apenas como puras particularidades” (OCKHAM, 1985, p. 59, apud SCHERER,
2018, p. 159).

Ockham acreditava, então, que somente existiria a matéria, apenas indivíduos, não
o universal. Segundo Fedeli (2020), tais ideias daquele pensador medieval lançaram os
fundamentos de três correntes de ideias da Filosofia moderna - o materialismo, o racionalismo
e o empirismo – “Para Ockham, não existiria o universal, mas apenas o indivíduo. Portanto, a

6
Volta-se a isso em 3.4
29

matéria era alçada à condição de única realidade. Nada haveria de universal, nem verdade e
nem lei.” Além disso, “Ockham vai lançar as bases do materialismo, do racionalismo e do
empirismo da filosofia moderna.” (FEDELI, 2020, p. 4)
No século XX, essas ideias caíram por terra. Um conjunto de descobertas feitas na
primeira metade dos anos 1900 refutou essa hipótese. Contra o materialismo de Okcham, ficou
provado que o Universo, o Cosmos, esse conjunto de estrelas, planetas, asteróides, galáxias,
nebulosas e outras realidades observáveis, algumas a olho nu, outras com ajuda de telescópios,
tudo isso um dia começou a existir no tempo. Isso foi descoberto primeiro por Georges-Henri
Édouard Lemaître (1894-1966), um padre que era também didicado à Astronomia (NATURE,
2011). Depois, foi confirmado por outros estudiosos do tema, dentre eles Hubble, dois anos
após o padre Lemaîte (AGNOLI; BARTELLONI, 2013).
Segundo Agnoli e Bartelloni (2013), “Será preciso chegar à metade dos anos 60,
com a descoberta da ‘radiação cósmica de fundo’, para se retornar às ideias de Lemaître e
confirmar os seus estudos sobre a expansão do universo a partir de um movimento inicial.”
(AGNOLI; BARTELLONI, 2013, p. 103). Antes de ser atropelado pela descoberta do Big
Bang, o nominalismo de Okcham inspirou seguidores. Immanuel Kant (1724-1804) foi um
deles. O nominalismo veio a ser aprimorado por esse seguidor: de acordo com Guisalberti
(2010), “Na modernidade, o influxo de Ockham é relevante também nos seguidores do
empirismo, na lógica transcendente e na filosofia moral de Kant.” (GUISALBERTI, 2010, p.
1).
Existe um elo entre Kant e Ockham, portanto. A influência de Kant na ciência
posterior a ele pode ser compreendida quando se leva em conta o poder que ele atribuía à razão
humana em relação a tudo sobre o que o homem é capaz de pensar. Por limitações de espaço
da monografia, a demonstração precisa ficar muito restrita a um único objeto de estudo, Deus,
que é o mais complexo dentre os que podem ser estudados. Com efeito, em relação a esse Ser,
existem noções como eternidade, inascibilidade, onisciência, onipotência, onipresença e outros,
noções essas que não se encontram em outros objetos de estudo. Analisar a maneira como Kant
enfrentou esse que é o mais complexo dos casos facilita compreender o extremismo a que ele
fez o nominalismo de Ockham chegar.
Kant afirmou que o referido Ser (Deus) seria apenas fruto de uma ideia reguladora
criada pela razão humana. Sobre isso, Amora (2012) afirma que, para Kant, Deus não é o Ser
de onde provém a existência de tudo aquilo que não é capaz de criar a si mesmo, mas sim “uma
simples ideia reguladora imposta pela razão para dar sentido ao mundo e à práxis humana e
cujo acesso só podemos alcançar enquanto seres morais [...]” (AMORA, 2012, p. 49).
30

Foge aos objetivos e limites desta monografia enfrentar o tema “Deus”, mas fica
nítido que, se Kant estiver certo, tal Ser de fato não passará de fruto da mente humana. Logo,
será apenas uma simples ideia reguladora que a razão humana impõe aos objetos de estudo em
geral, para lhes dar sentido e compreensibilidade. Tal pressuposto de Kant pode ser admitido
apenas se, nessa ideia que ele formulou a respeito do referido Ser, couberem aquelas que
inegavelmente são relativas a tal palavra, tal objeto de estudo.
De acordo com Aristóteles (2006), uma ideia conexa a tal Ser é a de “causa
incausada”, outra é “motor imóvel”. Outras, que pertencem ao senso comum, são eternidade,
inascibilidade, onisciência, onipotência, onipresença. Essas ideias, portanto, não cabem naqela
Kanteana de um fruto do intelecto humano, criado para dar sentido ao mundo e à práxis humana.
Não cabe porque, na Física moderna, o início da existência do universo anteriormente à
existência do homem é algo já fora de dúvida.
Logo, a mente humana não pode criar o que já exisitia antes da humanidade. Com
efeito, o ser humano teve o início posteriormente ao Big Bang. De igual sorte, não pode ser
atribuído ao universo o atributo da existência autocriada, autocriação, ou seja, o Univeso não
pode ter criado a si mesmo. Como os seres humanos tiveram início existencial posterior ao do
universo, não é possível atribuir a ninguém da espécie humana nem a eternidade, tampouco a
inascibilidade. Por isso, na ideia de Deus (causa incausada, adaptando-se de Aristóteles, que
nasceu e morreu antes de Jesus Cristo e não era Judeu. Sendo assim, não se concebe que
convivesse com o conceito do Deus único), cabem palavras que são incabíveis para o Universo
e para um tipo de ser que começou a existir bem depois dele, o homem. Logo, é absurdo que
Deus seja fruto da mente humana. Isso porque, sendo Ele a causa incausada, sempre exisitiu,
enquanto o homem tem sua exisitência a partir de certo momento no tempo e no espaço.
A consequência é que, ao ficar evidente o absurdo em que Kant incorreu, volta a
fazer sentido a noção de causa não causada, de Aristóteles (2006). Ela não serve para esta
monografia, que não tem como objeto de estudo Deus. Contudo, serve a busca pelas causas das
coisas, pelas relações de causalidade entre fatos no mundo, que volta a ter sentido, validade,
coerência e admissibilidade após o impacto que a descoberta do Bib Bang teve sobre o
pressuposto inventado por Ockham, para o qual só existia a matéria. O mesmo se dá para o
pressuposto resultante desse, formulado por um discípulo de Ockham (Kant), para quem a razão
humana teria certa “mania” de padronização, à qual as pessoas chamam de Deus.
A queda da validade dos pressupostos de Ockham e Kant, por conta da descoberta
da expansão do Universo a partir do Big Bang, feita por Lamaître (1931) e consolidada por
Hubble dois anos depois (AGNOLI; BARTELLONI, 2013), traz de volta a aplicabilidade à
31

ciência daquela constatação obtida por Aristóteles (2006), na Grécia Antiga: existe uma causa
não causada.
A certeza de tal existência é um poderoso estimulante para que os cientistas de todas
as áreas possam buscar no mundo os vários padrões que incidem sobre objetos de menor
abrangência, isto é, os seres (com “s” minúsculo) em geral, sinônimos de causas causadas por
outras. Tomados por esse estímulo realista, os cientistas podem enfim escapar daquele estado
de esterilidade explicativa, daquela estagnação denunciada por Sorokin (1968) sobre o
resultado geral em que variados campos do saber haviam chegado na primeira metade do século
XX: uma paralisia gerada pela adesão à renúncia kantiana de conhecer a essência das coisas,
de saber a verdade sobre os objetos estudados.
Caiu assim o pressuposto de que a mente humana não seria capaz de atingir a “coisa
em si”, originário do nominalismo de Ockham e de uma das correntes de seguidores dele, o
racionalismo de Kant. Essa expressão, “coisa em si”, significa a verdade sobre a coisa que esteja
sendo estudada, ou seja, a essência de cada objeto de estudo científico, que extropla aquilo que
os cinco sentidos humanos são capazes de captar (JOLIVET, 1965). Dentro dessa ótica
Kanteana, portanto, a “coisa em si”, a essência de cada coisa, a verdade, em suma, não poderia
ser alcançada pela mente humana.
Por sua vez, a palavra universais tem o significado de característica distintiva que
pode ser abstraída de cada conjunto de seres, por meio da qual estes são conhecidos como
pertencentes a um e não a outro tipo de seres (ANTICERI; REALE, 2017). Trazendo para uma
linguagem mais prática, pode-se usar o modo de expressão utilizado por Aristóteles (2010), que
faz referência a animais quando se põe a explicar alguns dos seus conceitos. Ele utiliza o cavalo
como espécie e como particular, para mostrar que ele está inserido em um gênero denominado
animal:

Substância, em sua acepção mais própria e mais estrita, na acepção fundamental do


termo, é aquilo que não é dito de um sujeito nem em um sujeito. A título de exemplo,
podemos tomar este homem em particular ou este cavalo em particular. Entretanto,
realmente nos referimos a substâncias secundárias, aquelas dentro das quais - sendo
elas espécies - estão incluídas as substâncias primárias ou primeiras e aquelas dentro
das quais - sendo estas gêneros - estão contidas as próprias espécies. Por exemplo,
incluímos um homem particular na espécie denominada humana e a própria espécie,
por sua vez, e incluída no gênero denominado animal. Estes, a saber, ser humano e
animal, de outro modo espécie e gêneros, são, por conseguinte, substâncias
secundárias. Do que dissemos, fica evidente que o nome e a definição dos predicados
podem ser ambos afirmados do sujeito. (ARISTÓTELES, 2010, p. 42)

Voltando ao significado de universais e tomando em conta a comparação com


animais feita por Aristóteles, de forma um pouco mais simplificada, pode-se comparar outro
32

gênero desses, os cachorros, cujo nome científico que remete a um padrão universal é Canis
lupus familiaris, de acordo com Dewey e Bhagat (2002). Um universal, nesse exemplo, é o
cachorro. Todo e qualquer cão o é, independentemente da raça, tamanho, cor, pelagem e outras
variações.
Caso se tome um animal em particular, de nome Rex, por exemplo, tem-se um
indivíduo que materializa o tipo de ser (universal) chamado cachorro. Mudando para outro
animal e para uma categoria mais ampla de raciocínio, se for tomada uma jiboia para estudo,
esta individualiza, em si, as características do ser universal chamado serpent. Esse universal
(serpent), por sua vez, tem inúmeras outras ramificações (cascavel, sucuri, naja, cobra coral,
jararaca, entre outras), que se concretizam em seres individuais.
Então, cachorro é um universal, do qual Rex é uma expressão particularizada.
Ampliando o raciocínio, serpente é outro universal, do qual jiboia, cascavel, jararaca, são
expressões restritivas, mas, ainda assim, igualmente abrangentes de uma série de seres que
possuem características próprias desse ser tipicamente rastejante.
O pressuposto defendido por Ockham (inexistência real dos universais) induzem a
acreditar na possibilidade de se fazer ciência de um ser em particular, sem levar em
consideração os aspectos que o situam na respectiva universalidade que pode ser percebida em
características essenciais dele. O pressuposto é falso porque não existe ciência do particular,
porque há sempre abstração em seguida ao contato com o “ser” particularizado e vem da
abstração, essa etapa segunda, não do contato (etapa primeira) a atividade chamada científica.
Nascimento (2019) explica isso em outros termos: “na origem do conhecimento científico está
a ‘experiência’ que nos fornece o material a partir do qual formamos (por abstração) os
conceitos que compomos e dividimos ao julgar.” (NASCIMENTO, 2019, p. 61). Logo, a partir
de uma concretização individual (o Rex, por exemplo), por abstração, formamos o conceito do
seu universal (cachorro, passível de diversas outras concretizações).
A consequência desse jeito de funcionar do cérebro humano é que o nominalismo
fica evidente como absurdo, porque o processo mental de abstrair a partir da experiência é
espontâneo, inevitável, tipicamente humano. Não é possível conhecer sem passar da etapa da
experiência para a da abstração. Por causa disso, quem conhece algo, só o ficou conhecendo
devido a essa natural sequência cerebral, que começa no experimentar e se aperfeiçoa no
abstrair.
Em consequência do nominalismo ser absurdo, as três correntes filhas dele - o
materialismo, o racionalismo e o empirismo, conforme Fedeli (2020) - também são absurdas: o
nominalismo gera o materialismo, quando o primeiro (nominalismo) induz a acreditar que só
33

existam as coisas individuais. Como estas são em sua maioria formadas de matéria (átomos),
disso vem o excesso de valorização da matéria, até o ponto de dizer que somente a matéria
exista.
O materialismo é absurdo, pois as descobertas da ciência, no século XX, levaram a
perceber que os próprios átomos são, na realidade, agregados de uma grande quantidade de
partículas distintas, ou seja, de seres possuidores de existência propria (RODNEY,2013).
Trazendo isso para a realidade da ISP, signfica que o materialismo levaria a
acreditar que as causas da criminalidade e do seu aumento e diversificação seriam explicáveis
principalmente como resultado das condições materiais de existência de pessoas de bem que,
em algum momento, começaram a ser más. Esse pressuposto caiu por terra quando, no século
XX, foi descoberto que a conduta violenta não resulta da existência em sociedade civilizada.
Ela é um padrão notado muito antes de se falar em civilização, segundo Keeley (2012).
O nominalismo gera o racionalismo, quando aquele (o nominalismo) induz à crença
de que os universais não existam. Em consequência, faz acreditar que tudo que existe tem
existência em função da razão humana percebê-lo como tal para que, só então, ele passe a ser
algo a que o conhecedor dá um nome. Ou seja, a razão dos seres humanos seria a medida de
todas as coisas. Isso caiu por terra com a descoberta, no século XX, de que o Universo teve um
começo no tempo e que o homem começou a existir somente muito depois disso. Por ter
começado a existir no tempo, o Universo não deu causa à sua própria existência.
Trazendo para a prática da atividade de ISP, o racionalismo levaria a acreditar que
os fatores relacionados à prática de crimes por policiais militares desviantes em sua conduta
profissional seriam apenas os percebidos pela comunidade de inteligência e que nenhum desses
fatores teria como causa alguma razão maior do que as escolhas feitas pelos mencionados
desviantes.
É inegável que o ser humano existe, é inteligente e teve existência inicial somente
muito após a matéria que forma todo o Universo ter começado a existir. Disso fica evidente que
a inteligência humana não é criação do homem e que este não deu causa à sua própria
inteligência. Isso fica bem óbvio quando se vê que, até hoje, o cérebro humano intriga os
estudiosos que se dedicam a tentar entendê-lo em toda a sua complexidade. Seria absurdo
acreditar que o criador de uma coisa (nesse caso o cérebro) não entenda completamente aquilo
que ele tenha criado. Por essas razões, o racionalismo é absurdo. E a inteligencia humana, sem
dúvida, existe.
O nominalismo puro e dois dos seus filhos, o materialismo e o racionalismo, são
absurdos. O empirismo padece do mesmo mal e é como os outros dois, viciado na sua origem.
34

O nominalismo gera o empirismo, quando aquele (nominalismo) induz a acreditar que todo
conhecimento dependa da experiência. A realidade é que o conhecimento vem da abstração
resultante do contato mental do conhecedor com o ser conhecido. Isso pode ser feito à distância.
Por exemplo, o profissional de ISP não precisa tornar-se viciado em cocaína para conhecer os
seus efeitos, nem tem necessidade de integrar a estratégia de uso das drogas ilícitas.
Tal estratégia foi, segundo Douglass (2001), estabelecida no século XX pelos
seguidores de Lênin que definiram esse propósito para a América como um todo. Conforme o
autor, foi como um ardil para fazer os viciados trocarem a lealdade à pátria e à família deles
pela lealdade ao fornecedor da droga e, indiretamente, ao partido leninista que a controlaria.
Dessa forma, os nominalistas em geral, todos eles seguidores de Ockham, negam o
método científico quanto aos moldes em que foi inventado pelo próprio Aristóteles (2008): "[...]
quanto ao método, os seguidores de Ockham opõem à concepção do conhecimento científico
aristotélico, caracterizado pela universalidade e pela necessidade [...], o conhecimento
científico do particular e o probabilismo” (ANTICERE; REALE, 2017, p. 630). Universalidade
e necessidade existem juntas no conhecimento científico e essa junção dá origem ao significado
aristotélico de “epistéme”: Os mesmos autores afirmam sobre essa palavra que “com o termo
epistéme Aristóteles entendia justamente um tipo de saber universal e necessário”
(ANTICERE; REALE, 2017, p. 630).
A consequência do método de Ockham é que a negação dos universais leva “à
rejeição de toda hipostatização de tipo metafísico de entidades como o movimento, o espaço o
tempo, o lugar natural, etc” (ANTICERE; REALE, 2017, p. 626). Hipostatização é a união de
duas naturezas no mesmo ser, como se vê, por exemplo, em um dos objetos de estudo da Física,
chamado luz. Esta possui, segundo Eisberg e Reisnick (1979), natureza de onda e de partícula
ao mesmo tempo.
A palavra movimento significa, na Filosofia, a concretização de uma
potencialidade. De acordo com Aristóteles (2006), uma coisa tem movimento quando passa da
potência ao ato, da possibilidade à concretude. Adler (2010) afirma que esse tipo de
movimentação acontece nos seres que trocam de lugar, ou de cor, ou de formato e tamanho
(balão), mas ocorre também com o coelho que morre, com a pedra que seja transformada em
pirâmide e outras situações corriqueiras. Ele acrescenta que “em todas as instâncias de geração
e de corrupção, tanto naturais quanto artificiais, ou a matéria em si ou os materiais de um corpo
passam por algum tipo de transformação.” (ADLER, 2010, p. 47)
A noção de movimento vai, porém, ainda mais longe e possui maiores aplicações.
Ela significa algo tomar um determinado rumo, assumir certa tendência, como, por exemplo, a
35

conduta profissional de um policial militar. Espera-se que ela não tenha movimento, que não
mude, que seja sempre a mesma daquela aprendida nos cursos, nos manuais, nos regulamentos,
nas leis enfim.
Pode, porém, acontecer que determinado fator leve esse guardião da sociedade a se
corromper, a aceitar irmanar-se com os delinquentes. Nesse ponto, é que, para a atividade de
ISP, o conjunto de padrões, de fatores que podem desencadear esse tipo de mudança, de
reorientação, precisa ser conhecido e monitorado, preventivamente. Por isso, é que o
profissional de Inteligência precisa entender o que é e para que serve, por exemplo, um rito que
dê significado mais profundo à adesão voluntária dos policiais militares aos pilares da
hierarquia e da disciplina. Um retorno a esse ponto está feito nos subcapítulos 3.1 e 3.4.
O estudo aprofundado de cada uma dessas correntes (materialismo, racionalismo e
empirismo) e das implicações e aplicações do conceito de hipostatização fugiria aos fins desta
monografia. Basta dizer, com Aristóteles (2006), que existem, inclusive em cada ser particular,
coisas metafísicas das quais ele depende para ser o que é. Por exemplo: o concavidade. A
pesquisadora Arlene Reis (REIS, 2001) exemplifica isso em termos aristotélicos: “o chato é o
composto de nariz mais côncavo; chato é o côncavo no nariz.” (REIS, 2001, p. 133).
Perceber o universal nas coisas individuais, nos fatos isolados, nos casos
específicos, é o que caracteriza o trabalho científico propriamente dito. Isso, portanto, requer a
negação do pressuposto nominalista e a admissão do pressuposto hilemorfista, uma vez que o
hilemorfismo concretiza o universal em seres individuais. É o exemplo do caso anteriormente
citado, entre cachorro (universal) e Rex (individual). Ora, observando Rex, pode-se perceber
características presentes em todos os demais cachorros.
Numa abordagem mais ampla, pode-se dizer que a atividade do cientista é perceber
relações entre universais e, nesse sentido, captar os padrões constantes nesses elos. Como,
porém, os universais existem nos seres concretizados, o estudo dos padrões requer atenção às
coisas concretas, às conexões entre elas, às relações de causalidade. Na atividade de ISP, isso
significa estar atento aos elos entre, por exemplo, estimulação da sexualidade em crianças e
adolescents e estratégia de Inteligência que use a potencialidade disso para fomentar aumento
da criminalidade. Esse ele é relevante, porque pode facilitar a mudança no padrão de lealdade
dessas crianças e adolescentes que, antes, gostavam da Polícia e, a partir dessa estimulação,
começam a gostar de armas, combates, tráfico, troca de tiros. Em seguida, após intensa
doutrinação ideológica vinda dos mesmos formuladores da tal estratégia, passam a detestar
policiais militares e a vê-los como inimigos a serem eliminados.
36

Elster (1994) alerta sobre a distinção entre causalidade e concomitância. Essa


diferenciação é útil para compreender que a forma é concomitante com a matéria de que os
seres são feitos e que, somente mediante a forma, é possível estudar esses seres. Considerando
que a forma é aquilo que situa cada grupo de indivíduos em um tipo de ser (a estátua depois de
esculpida, voltando ao exemplo de Aristóteles) e que a ciência é o estudo dos padrões, então
estes (os padrões) estão para a forma como a matéria está para os indivíduos.
Uma interpretação nominalista da realidade, do tipo materialista, nega os universais
ao induzir todos a pensar que a causa da criminalidade seriam as diferenças entre ricos e pobres,
negros e brancos, hetero e homossexuais, mulheres e homens, patrões e empregados, alunos e
professores e outras supostas chaves de leitura sempre baseadas na noção de luta de classes.
Esse materialismo dificulta, por isso, a compreensão dos padrões e das relações causais
observáveis na realidade do mundo. Um deles é o padrão de que, independentemente de
aspectos desses supostos conflitos entre antagonistas, todos estes têm, como diria Aristóteles
(2008), potência de cometer delitos, de se tornarem agentes de crimes, ainda que o antagonismo
seja eliminado.
Uma interpretação nominalista do real, na modalidade racionalista, leva a negar a
existência de padrões que extrapolam a iniciativa humana, como por exemplo o padrão de
funcionamento do cérebro. Sobre esse tema, Nghiem (2018) afirma que (o cérebro) pode ser
profundamente afetado por sons parecidos com pancadas contidos em músicas, afetando
inclusive o modo como a pessoa que ouça isso passa a se comportar fisicamente após certo
tempo de exposição a tais sons. Mais grave do que isso: a música pode alterar o caráter de uma
pessoa:

Ao lado da escuta total do rock, a audição deste enquanto música ambiente foi
estudada particularmente em suas consequências sobre os resultados escolares: foram
acompanhados, comparando-se as notas obtidas nos exames trimestrais, três grupos
de estudantes. E, desde 1975, nos Estados Unidos da América, provou-se que o rock,
enquanto música de fundo ou de ambiente, diminui claramente o rendimento nos
estudos superiores, em comparação com a música clássica. No fundo, isso nada tem
de espantoso, pois o ritmo afro excita a emotividade, e, por isso mesmo, sempre
obnublia [tornar obscuro, escurecer] mais ou menos a consciência. [...] E, no entanto,
muitos pais continuam se perguntando se verdadeiramente as músicas jovens podem
transformar seus filhos, no mau sentido, por exemplo alterando sua personalidade. O
tam-tam é, portanto, um fator de retardamento mental [...]” (NGHIEM, 2018, p. 85)

No Brasil, alguns estilos de música, como a “dança da boquinha da garrafa” dos


anos 1990, ou alguns ritmos atuais de funk, como, por exemplo, a música “Nada mudou”, de
McRick, mostram a pertinência do raciocínio de Story (2001). Segundo esse autor, a Escola
Leninista está por trás d estimulação deliberada dos adolescentes para estimulção á pornografia.
37

Na data de 23/09/2020, o clipe com a referida música de McRick, no sítio do YouTube7, contava
com 26.014.341 de visualizações. Para melhor contextualizar, e evidenciar a adequabilidade
com o que afirma Story(2001), a seguir apresenta-se a letra da mencionada canção.

Nada mudou

Vai segurando, 'tá? MC Rick chegou


Putaria braba, é com nós memo, fala, porra
Fala, porra.

Desce maladeza, sobe maladeza


Vai representando dando coça de b[...]eta
Desce, desce maladeza, sobe maladeza
Vai representando dando coça de b[...]eta
Oi, que t[...]ão, que isso? 'Tá de sacanagem
Oi, que t[...]ão, que isso? 'Tá de sacanagem
Mete a boca no talento, oi, com a lí[...]ua ela faz massagem
Mete a boca no talento, e com a língua, canta comigo
Eu vou g[...], 'tá quase, vou g[...], 'tá quase
Vou g[...], toma leite na sua face
Eu vou g[...], 'tá quase, vou g[...], 'tá quase
Vou g[...], toma leite na sua face

Não se assusta, senta na p[...] dura


Não se assusta, senta na p[...] dura
Tu não é mais nova, tu já é manga madura

A tropa 'tá na pista, fecha a cara, só malandro


A tropa 'tá na pista, fecha a cara, só malandro
Vai me dando, vem me dando, vai me dando, vem me dando
Skol Beats vai pro sangue enquanto eu vou te sarrando
Vai me dando, vem me dando, vai me dando, vem me dando
Skol Beats vai pro sangue enquanto eu vou te sarrando

Princesa é sempre bem-vinda, brota, meu amor


Tchuquinha é sempre bem-vinda, brota, meu amor
Nada mudou, papagaio8 é o setor
Nada mudou, papagaio é o setor
Nada, nada mudou, papagaio é o setor

[...]

'Tô cheio de t[...] no p[...]


Doido pra comer seu c[...].

Putaria braba, é com nós memo, fala, porra


Fala, porra (mais ou menos)
(Skol Beats vai pro sangue).

(MC RICK, 2018).

7
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=b-NY3G8q6As. Acesso em 23/09/2020
8
Morro do Papagaio, em Belo Horizonte.
38

Como se pode observar, fica muito evidente a relação causa-efeito entre o que
afirma Story (2001) e o exemplo, retirado do ambiente cultural (música) de artista proveniente
da Capital Mineira (Morro do Papagaio).
A esse mesmo respeito, Skousen (2018) afirma que tal tipo de estimulação é parte
de uma agenda traçada pelos leninistas, que contém quarenta e cinco metas. Dentre elas, ele
aponta pelo menos duas que têm nítido elo, como alertado por Story (2001): “24. Eliminar todas
as leis sobre obscenidade, dando a elas o rótulo de ‘censura’ e violação da liberdade de
expressão e imprensa. 25. Quebrar os padrões culturais de moralidade através da promoção de
pornografia e obscenidade em livros, revistas, filmes, rádio e TV.” (SKOUSEN, 2018, p. 308).9
Quando se usa a expressão princípio metafísico inerente ao fato, o que se quer
afirmar é que há uma deliberada estimulação, e manipulação, de certos fatores, inerentes à
natureza humana, tendo em vista produzir certos efeitos comportamentais em determinados
públicos. Isso só é observável e compreensível quando se sabe de antemão que, nesse caso
concreto exemplificado, a estimulação deliberada da quebra de padrões de moralidade mediante
a obscenidade é algo que tem sido feito de maneira planejada por um causador bem objetivo.
Story (2001) menciona a Escola Leninista como sendo tal órgão.
Existem então uma organização, a Escola Leninista, um plano de manipulação, um
público-alvo, uma vasta literatura mostrando que o alvo é também o Brasil, uma produtora
musical, uma música com letra que se enquadra no perfil da estratégia referida, enfim, estão
presentes todos os elementos que permitem conectar o caso particular (o vídeo de McRick) a
um universal, gerado por um um serviço de Inteligência estrangeiro.
Tudo isso está à disposição, à espera de que os cientistas policiais lotados na ISP
joguem luz sobre as relações causais, sobre os universais presentes no caso concreto (música
despudorada, público jovem, estimulação da sexualidade e da criminalidade no Morro do
Papagaio em Belo Horizonte, com uso da mesma tática internacional explicitada por Story
(2001) e dos objetivos 24 e 25, também internacionais, apontados por Skousen (2018).
É esse tipo de material de trabalho que a ISP tem à disposição. Basta conectar o
micro ao macro, o particular ao universal, para que fique clara essa ocorrência policial que,

9
Chama atenção que esse estudo requer mais aprofundamento, para identificar o padrão e certificar sua origem.
Trata-se de um particular que tem o seu universal. Este, com o adequado emprego da Ciência Policial, é passível
de ser identificado pontualmente. A expectativa desta pesquisa é despertar o SIPOM para que volte seu olhar para
essa e outras áreas da criminalidade, em que relações de causalidade e padrões de estimulação direta e indireta
esperam por ser identificados e monitorados. A descoberta da origem (o princípio metafísico inerente), como
também já mencionado, será consequência natural desse primeiro passo. A necessidade, agora, é compreender que
há um estímulo ao desordenamento social, o qual é identificável pela busca de padrões, pela visão do universal a
partir do particular.
39

somente por meio da atividade científica, é possível caracterizar, demonstrar e ofertar às


autoridades competentes para a tomada de decisão. De posse dessas informacoes, as
mencionadas autoridades poderão convidar à análise desse padrão, por exemplo, o Ministério
Público, da seara dos Direitos Humanos, e o Poder Judiciário, quanto à Vara da Infância e da
Juventude. É o olhar metafísico do pesquisador que torna possível iluminar tudo isso e lidar
com uma incitação indireta à predisposição ao cometimento de crimes.
O universal presente na situação concreta descrita consiste, no nível macro, na
estratégia leninista e, no âmbito micro, a música do McRick (2018). Eles ganham significado
quando colocados no contexto espaço-temporal de sua convergência macro-micro: a região de
fácil trânsito de traficantes e de aliciamento de menores para a prostitiuição e para o
cometimento de delitos. Região essa conhecida pela PMMG como local de alto risco de
incidência de criminalidade violenta.
O cientista carece da existência dos universais para conseguir trabalhar, isto é, para
tratar das conexões entre seres e eventos particularizados no tempo e no espaço. É a partir dessa
base hilemórfica (o universal, forma, no particular, matéria) de compreensão dos seres que os
cientistas em geral aplicam o único método capaz de produzir ciência, que é o da adequação
entre a inteligência e a coisa observada. Essa exclusividade inerente ao método científico resulta
de um fato: a inteligência humana é capaz de perceber tanto os seres particulares como a
pertença desses particulares aos universais a eles correlatos.
De acordo com Vilela (1974), conhecimento pré-científico é aquele que “ignora a
natureza das coisas, as leis que as regem ou suas causas” (VILELA, 1974, p. 4). O mesmo autor
afirma que conhecimento científico “é um conhecimento explicativo, um conhecimento que
apreende a natureza das coisas, as leis que regem suas causas” (VILELA, 1974, p. 5). Assim, o
estudo de padrões é a atividade científica propriamente dita e sua matéria prima são os
universais inerentes ao seres, às relações causais que conectam esses mesmos universais às
situações concretas de relacionamento entre os seres.
O entendimento a respeito do que a ciência é nem sempre recebe a devida
consideração por todos os seus utilizadores. Holton (1979) tem uma concepção de temas do
pensamento científico bastante nominalista. É o que se vê quando ele estuda, como produtos
do trabalho científico, “um ensaio público, uma anotação de laboratório, uma troca de cartas”
(HOLTON, 1979, p. 17). Contudo, esse mesmo autor sai desse nível nominalista e avança rumo
aos universais inerentes aos objetos quando afirma que, para entender o conteúdo científico
dessas coisas, é preciso tentar “estabelecer sua consciência (dentro da área do conhecimento
40

científico público na área do evento) dos chamados fatos, dados, leis, teorias técnicas e tradições
científicas” (HOLTON, 1979, p. 17).
É nesse sentido amplo, de busca por leis em eventos particulares, que se situa a
prática do método científico propriamente dito, o qual é, segundo Sproviero (2002), a
adequação entre a inteligência do observador e a coisa por ele observada. Desse modo, o
exercício da prática científica é a busca pela “universitas” referente ao ser e a outra “universitas”
concernente à relação causal. O fato é que não existe ciência do particular, porque isso
constituiria uma transgressão à condição básica do labor científico que é, segundo Vilela,
“conhecimento certo pelas causas (ou leis dos fenômenos).” (VILELA, 1974, p. 5).
Existe um movimento de retomada dessa concepção aristotélica de ciência na
comunidade científica. Segundo Casanova (2013), o já mencionado nominalismo de Ockham
mostra-se insuficiente para dar conta da realidade e o mesmo se pode afirmar quanto ao
mecanicismo de René Descartes. O primeiro porque induz a uma negação dos universais, que
são realidades notáveis em cada ser individual, e o segundo porque quis trocar a confiança de
que o mundo é real, pela confiança de que o processo de auto-conhecimento dele, que ele disse
ter desembocado na certeza de que a dúvida seria o ponto mais firme do pensamento.
Na mesma linha de verificação dessas incoerências, Smith (2017) afirma que as
descobertas da ciência no campo da Física do século XX mostram que o universo não é uma
estrutura regida por leis absolutas, tendo isso sido percebido e formulado por Albert Einstein,
ao que deu o nome de Teoria da Relatividade, avanço esse que afetou a compreensão sobre
espaço e tempo.
Outra descoberta importante, segundo Borella (2017), resultou na Teoria Quântica,
que modifica as certezas que os físicos tinham a respeito da estrutura da matéria. Juntas, a
Teoria da Relatividade e a Teoria Quântica pesam contra uma interpretação materialista sobre
o que é o universo. Apesar disso, o materialismo do século XIX continua sendo tomado como
se fosse verdadeiro, pelas pessoas que não perceberam ainda o quanto o materialismo é falho.

[...] nossa ideia a respeito do cosmos precisa ser completamente transformada, tanto
no que diz respeito à sua estrutura espaço-temporal (Relatividade) quanto à
estruturação da matéria (Teoria Quântica), isso se ainda considerarmos possível tecer
qualquer representação integral do universo. De todo modo, o fato é que o
materialismo do século XIX tornou-se, enfim, uma superstição. Nos últimos cem
anos, o panorama cosmológico e epistemológico de nossa cultura foi profundamente
alterado. No entanto, filósofos, teólogos e exegetas ainda não tomaram ciência dessa
realidade [...]. Já é passada a hora de tomarmos consciência plena da revolução
cosmológica que ocorreu. [...] na convicção, compartilhada com a ciência oficial, de
que o mundo é uma realidade exclusivamente material” (BORELLA, 2017, p. 12-13).
41

Nesse contexto, tal visão materialista e mecanicista perdeu a sustentabilidade, segundo


o mesmo Borella (2017). Tal novo cenário faz necessária a volta da interpretação metafísica no
sentido aristotélico de “filosofia do ser”, ou seja, de um processo verticalizado de investigação
do real, em lugar daquele que vigora desde que se passou a buscar apenas cadeias causais por
meio da atividade científica.

A ciência, em sentido tradicional, é uma forma de ‘ler o ícone” - o que em nada se


parece com a visão baconiana! A ciência, na concepção de Bacon, lida com a
descoberta das cadeias causais que levam um fenômeno a outro, um esforço que pode
gerar previsibilidade e controle; a ciência tradicional, por sua vez, busca relacionar os
fenômenos à realidade, ou ao princípio do qual são a manifestação, um esforço que
leva, idealmente, à iluminação. Em resumo, aquela é, em sua busca, ‘horizontal’; esta,
‘vertical’. [...] é notável que a ciência contemporânea, na sua melhor manifestação,
não é tão baconiana quanto se poderia imaginar a partir do que dizem os livros
didáticos. [...] Essa distinção entre os conceitos moderno e tradicional de ciência se
faz notar principalmente nos pressupostos epistemológicos. Poder ser que não
saibamos o que se passa na mente de um cientista moderno, mas sabemos ao menos
o que deveria se passar, de acordo com os cânones vigentes: o cientista deveria
analisar os dados ou as informações adquiridas pelos sentidos. [...] A sophia perennis,
por sua vez, provê uma gama infinitamente maior de possibilidades cognitivas [...]
(SMITH, 2017, p. 33)

Essa retomada do modelo clássico de ciência faz com que, em vez de descobrir as
cadeias causais que levam de uma aparência a outra aparência, no sentido kantiano desta
palavra, ou seja, de um fenômeno a outro fenômeno, a ciência tradicional relaciona fatos
isolados (particulares) ao princípio do qual eles são uma expressão. Ou seja, a ciência
tradicional nega o nominalismo e seus frutos (materialismo, racionalismo e empirismo), porque
eles impedem a leitura verticalizada que relacione os fenômenos à realidade. Obstaculizam ir a
algo mais amplo em que eles estejam situados.
Na busca dos padrões está, portanto, o desafio de relacionar as coisas (para a
atividade de ISP, são os crimes e o medo do crime) ao princípio metafísico do qual elas
constituam a manifestação - nesse caso, o princípio é o da tendência do homem a ser leal a algo,
em geral, ao seu grupo. Sobre isso, a importante descoberta feita por Victor Cathrein no ínício
do século XX - o padrão moral da consciência universal (CATHREIN, 1914) - tem relevância
e utilidade para que o profissional de Inteligência possa mostrar que a estratégia leninista é algo
factível: mudar a matriz de lealdades de seus alvos, por meio da exposição intensa à
pornografia.
Por exemplo, quando se fala em crimes envolvendo estupro, tráfico de mulheres e
pedofilia, é necessário procurar o princípio ao qual essas ocorrências estão conectadas. Nesse
sentido, afirma Story (2001) que existe uma agenda de disseminação de mentalidades e
42

condutas, junto ao público adolescente dos países do continente americano, feita pela Escola
Leninista de Política Sexual, “louvando sua natureza selvagem, estimulando com literatura
sexual e propaganda para ele ou suas práticas, como ensinado no Sexpol [a referida escola
leninista]” (STORY, 2001, p. 9).
Diz-se do princípio que é metafísico porque a metafísica significa exatamente o
estudo do universal envolvido em cada situação. Segundo Bini (2006), metafísica, para
Aristóteles, era o aspecto ontológico dos seres estudados. Por sua vez, Aristóteles (2010) afirma
que a ontologia é a parte da Filosofia que estuda a substância primeira, a essência dos seres:
“substância, em sua acepção mais própria e mais estrita, na acepção fundamental do termo, é
aquilo que não é dito de um sujeito nem em um sujeito” (ARISTÓTELES, 2010, p. 42). Logo,
substância é o universal que se concretiza em cada ser particular e que ajuda a situar esse ser
dentro de um conjunto de seres (mas é maior do que o ser individualizado).
No caso dos delitos de cunho sexual, para serem bem entendidos em termos de ISP,
eles devem ser considerados não no sentido isolado, numérico, quantitativo, nominalista, mas
sim, como possível expressão da concretização de uma estratégia de aumento da criminalidade,
por meio da deterioração estimulada da qualidade dos relacionamentos, de acordo com o que
afirma Douglass (2001).
Essa acepção é válida e legítima também para outros tipos de crimes, como, por
exemplo, o tráfico de drogas. Segundo Douglass (2001), existe uma ofensiva por parte de
algumas nações, desde os anos 1940, que consiste na:

produção e distribuição de drogas para [...] financimento de atividades de natureza


subversiva no exterior; para corromper e enfraquecer as pessoas do mundo livre [e
essa] operação subversiva deve ser reconhecida como uma forma peculiar de guerra
química clandestina, na qual a vítima se expõe voluntariamente a ataques químicos
(DOUGLASS, 2001, p. 28-29).

Essas informações genéricas a respeito da aplicação do conceito de universais à


compreensão de que a ciência se rege pelo estudo de padrões não se restringe aos casos
exemplificados. Um conjunto de descobertas em variados campos científicos vêm sendo feitas,
especialmente a partir do início do século XX, e servem para concretizar a demonstração de
que, realmente, o objeto de trabalho, a matéria prima própria do cientista é a observação e
compreensão de padrões.
Esse deve ser também o objeto dos profissionais de inteligência de segurança
pública. Só mediante o uso do método científico é que se pode arriscar a enfrentar esse mundo
43

tendencioso e carregado de desinformação. No subcapítulo a seguir, mostra-se um pouco mais


a importância e a necessidade da identificação de padrões.

2.2 Alguns padrões comprovados pelos cientistas

A busca por aspectos generalizáveis, isto é, pelos universais, já produziu


interessantes frutos na atividade científica. Ilustram esse fato algumas descobertas, conforme
se pode notar pelo que se mostra a seguir, em campos do conhecimento bastante distintos entre
si, como a Antropologia, a Psicologia do Desenvolvimento, a Física e outros. A utilidade disso
para refletir sobre ISP é: se os padrões já foram encontrados em tantos campos do saber, é de
se esperar que eles possam também ser percebidos no campo específico da Ciência Policial.
Um desses padrões descobertos pelos cientistas é o padrão universal da consciência
moral (CATHREIN, 1914). Esse antropólogo descobriu que, em várias tribos pesquisadas,
existia uma padronagem quanto a nenhum dos grupos aceitar em seu interior a presença de
traidores, pertencentes ao próprio grupo, contra a respectiva coletividade. Para a ISP, isso serve
para pensar que os criminosos também se enquadram em pelo menos um padrão que se aplica
a pessoas que não cometeram delitos. Tal padrão é o de não aceitar o traidor.
Conhecer o que se passa entre delinquentes a partir do que também ocorre com não
envolvidos em crimes é útil para ver que indivíduos não envolvidos em crimes são de mesma
natureza do que os que os cometem. Por mais óbvio que isso pareça, tem a utilidade de refutar
a noção de alguns serem vítimas da sociedade. Isso porque, se todos são iguais, com certeza,
não são os da maioria da mesma sociedade os responsáveis pelas escolhas da minoria que se
decide a ingressar no mundo do crime.
Outro padrão descoberto pela comunidade científica foi o padrão do “DNA moral”
(BLOOM, 2014). Esse pesquisador descobriu, ao fazer pesquisas com pessoas a partir de três
meses de idade, que todas elas apresentavam rudimentos de discernimento entre bondade e
maldade, bem como sobre compaixão e justiça, em etapas de pré-socialização. Tais descobertas
ajudaram a sedimentar, por meio da Psicologia do Desenvolvimento, na área de estudos do Paul
Bloom e sua equipe, a certeza de que a cultura não é o substrato mais profundo, do ponto de
vista psicológico, utilizável para explicar condutas sociais.
Outro padrão encontrado pelos cientistas foi o da origem da ideia de Deus
(SCHMIDT, 1932). Nesse estudo de campo, o autor realizou levantamentos visando investigar
a sustentabilidade ou insustentabilidade de um certo pressuposto, até então tomado como
verdade, que existia na comunidade científica dos antropólogos e que se baseava na afirmação,
44

meramente gratuita e de gabinete, feita também pelo antropólogo Edward Tylor (1832-1917).
Para este, a ideia de Deus houvera tido, como principiadora, a crença humana de que certos
acontecimentos da natureza fossem uma divindade. Tylor (1871), sem qualquer verificação em
pesquisa de campo, empírica, atribuiu a essa crença o nome de animismo, que significa a
disposição humana a pensar que diferentes coisas da natureza sejam divindades.
Outro padrão observado pelos cientistas foi o do dispositivo mental inato, presente
em todas as pessoas, de estar sempre fazendo certo tipo de escolhas, dotadas de um significado
moral (o agente pensa em algo como melhor do que outro, como mais oportuno do que outro,
como preferível a outro, em várias situações do seu dia-a-dia). O nome dado a isso é
“sindérese”. Esse padrão foi detalhado por Tomás de Aquino (1225-1274 d. C.) e significa a
existência de uma predisposição, em todo indivíduo da espécie humana, de uma característica
mental inata que leva cada pessoa a evitar o que lhe parece um mal a si mesma e a buscar o que
lhe parece um bem a si própria (AQUINO, 2016, 2015).
Reis, Moreira e Ferreira (2018) afirmam que a sindérese é o que está sob a conduta
criminosa, em termos de escolha pelo indivíduo delinquente daquilo que ele antes percebera na
sua própria cabeça que era errado fazer. Afirmam também que as teorias que atribuem a outros
fatores o cometimento de delitos e que, na sua estruturação, põem de lado a sindérese, são
resultantes de um erro de raciocínio que tem duas vertentes: a sensorialista, que desconsidera
os elementos espirituais da consciência humana, e a idealista, que despreza os aspectos
materiais, físicos, da percepção por todos os indivíduos da espécie humana de que existem
coisas que eles não aceitariam que fossem feitas consigo, sendo tais coisas os próprios delitos.
Piègues (2015) afirma a esse respeito que é tipicamente humano buscar a felicidade,
seja no poder, na riqueza, na fama ou na aquisição de títulos de destaque perante o grupo.
Entretanto, assevera o autor, em todos esses casos, ocorre o padrão da insatisfação, porque a
causa da felicidade só produz o efeito pretendido pelo que a busca quando ela seja superior a
ele. Para Piègues (2015), esse não é o caso nem do poder, nem da riqueza, nem da fama, nem
das honrarias.
Tem-se ainda o padrão do naturalismo e da negação do livre arbítrio nas obras
escritas sobre o paradigma da ciência moderna (LEWIS, 2017). Ele afirma que existe, no
Naturalismo, um pressuposto que leva todos os pesquisadores aderidos a este a supor que, no
universo, tudo o que acontece ocorra dentro de um evento total. Fora disso, nada poderia
ocorrer. Todas as explicações a respeito de todos os acontecimentos são consideradas como
parte desse fato total. O ponto frágil do Naturalismo é, segundo o mesmo Lewis (2017), que ele
não deixa espaço para a liberdade e imprevisibilidade humana, enfim, o livre arbítrio.
45

Outro padrão: analisando o que se passou na tentativa por Margaret Mead, de provar
a influência da cultura na definição dos papéis sociais de homens e mulheres, Carvalho (2012)
comenta que os resultados dessa pesquisa foram todos refutados por meio de nova pesquisa de
campo. Esta última foi realizada por um colega dela, que refez o percurso e analisou as fontes,
chegando à conclusão de que falhas de método haviam comprometido a credibilidade da própria
pesquisadora e dos resultados alcançados por ela. Carvalho (2012) afirma que se tratou de um
conjunto de erros metodológicos básicos, dentre eles o de a pesquisadora, que era muito jovem,
não conhecer o idioma local e não ter se mudado para dentro da tribo, à qual ela visitava
somente aos fins de semana.
O mencionado colega dela, John Derek Freeman (FREEMAN, 1983), refez todo o
percurso de campo que ela tinha feito, conferiu dados, ouviu pessoas, conferiu registros e, ao
final, mostrou que esse conceito construído por ela não se baseava na realidade, mas sim, num
erro de pesquisa: ela não conhecia o idioma dos povos pesquisados, não passava com eles a não
ser finais de semana, não havia se mudado para dentro das tribos pesquisadas e tinha
vinculações com o ponto de vista do orientador chefe dela, Franz Boas, o qual afirmava que
tudo se explicava pela cultura.

Ela [Mead] esqueceu de mencionar, no entanto [após intuir que homem e mulher
fossem meros papéis sociais], que enquanto esses homens efeminados [efeminamento
que ela tivera tomado como fato porque alguns deles pintavam os lábios] espancavam
suas esposas, exterminavam os povos vizinhos e colecionavam suas cabeças, as
mulheres cuidavam das crianças. A maquilagem dos Tchambuli, que Mead achou tão
efeminada, era um direito que os homens ganhavam ao praticarem o seu primeiro
homicídio e, portanto, não estava ligada à beleza, e sim ao status, uma típica
preocupação masculina. Em seus estudos sobre a cultura de Samoa, a ideologia de
Mead também prevaleceu sobre suas pesquisas científicas. De acordo com ela,
tratava-se de uma sociedade pacífica na qual as mulheres e os homens tinham igual
liberdade sexual. Em 1983, no entanto, o antropólogo Derek Freeman publicou um
livro contestando seriamente as observações de Mead em Samoa, e com isso sua
grande reputação como etnógrafa. Quando chegou em Samoa, Mead era uma jovem
ingênua de 23 anos impregnada de determinismo cultural. [...] Mead passou nove
meses em Samoa, não falava a língua quando chegou, e optou por não morar entre os
nativos, pois achava incômodo dormir na aldeia. Freeman estava bem familiarizado
com a língua e passou seis anos vivendo entre os nativos. Portanto, é curioso (e
sintomático) que a Associação Americana de Antropologia, em defesa de Mead, tenha
votado pela denúncia das descobertas de Freeman como não-científicas. A influência
de Mead sobre as sociedades desenvolvidas não pode ser menosprezada. Seu livro
Coming of age in Samoa [...] se tornou um best seller de sua época. [...] Seu nome se
tornou sinônimo de antropologia e ela se tornou uma das maiores gurus dos EUA. (No
Brasil, Samoa ficou associada a uma marca de sandálias para pessoas livres e felizes.)
Tais ideias, no entanto, foram questionadas por muitos antropólogos sérios, que
sempre consideraram os estudos etnográficos de Mead superficiais. (CARVALHO,
2012, p. 212-214).
46

Por isso (por causa do pressuosto idealista de a cultura ser o substrato mais profundo
da vida social), ela se precipitou ao afirmar que o uso de pintura nos lábios feita por homens
era sinônimo de feminilidade. Na realidade, significava ter obtido o direito de usar aquele tipo
de pintura, depois de ter demonstrado ser um guerreiro valente. Carvalho (2012) afirma que
Margareth Mead cometeu equívocos e esquecimentos estranhos que prejudicaram a
credibilidade da pesquisa dela.
De fato, Freeman (1983) contrariou as afirmações feitas pela antropóloga Margaret
Mead (MEAD, 1928), de que as sociedades humanas por ela pesquisadas não apresentavam
aquilo que ficou conhecido pelo nome de papeis sociais relacionados a homem e mulher. Esse
insucesso da referida estudiosa da natureza humana serviu para manter intacto o que se sabia
até então, e que continua sendo a realidade cada vez mais reforçada, ainda que indo na
contramão da chamada ideologia de gênero, segundo a qual o gênero masculino e o feminino
seriam construções culturais.
A relevância desse tipo de situação envolvendo Margaret Mead e Derek Freeman,
para a atividade de ISP, é que a pesquisa realizada pela mencionada antropóloga não tinha então
lastro na realidade. Entretanto, após publicada, teve e continua tendo até os dias atuais uma
influência considerável, sendo tomada como se fosse verdade.
É sintomático e suspeito que uma pesquisa com esse nível de invalidação continue
sendo propagada entre os antropólogos e estes junto aos seus alunos, influenciando sucessivas
gerações de pesquisadores e de leigos. Com isso, estes, não sabendo ou não querendo saber da
invalidação das conclusões a que ela chegou, propagam suas ideias e dão continuidade a algo
que, no mínimo, coincide com aquela tática identificada por Douglass (2001): a dos objetivos
traçados pelos leninistas (coincidentemente no mesmo período!), de usar a hiperssexualização
de menores como arma de guerra para desestabilizar as culturas que os leninistas elegeram
como alvos. Com isso, pretendiam provocar uma mudança no padrão de lealdades, antes à
família, à pátria, à comunidade local respectiva.
De acordo com Sorokin (1961), a revolução sexual americana foi feita sob esses
moldes revolucionários. Complementa o autor que um de seus efeitos foi diminuir a disposição
dos jovens a formar novas famílias, bem como foi a indisposição para enxergar as pessoas de
seu convívio com paciência, tendendo, ao contrário, a um egoísmo, a uma incapacidade de
aceitar os defeitos do outro, de perdoar, de relevar.
Para os propósitos de ISP, há uma utilidade da reflexão sobre o caso relativo à
propagação das ideias dessa fraude científica de proporções colossais envolvendo Margaret
Mead: a curiosa coincidência entre o ativismo revolucionário feito pela referida antropóloga e
47

o ativismo partidário revolucionário feito por Lênin, bem como pelo ativismo liberal promovido
pelos (aparentes) adversários políticos do mesmo Lênin. Segundo Skousen (2018), certa meta
(nº 32) da agenda leninista é “32. Apoiar qualquer movimento socialista para obter controle
centralizado de qualquer parte da cultura - educação, agências sociais, programas de bem-estar,
clínicas de saúde mental etc.” (SKOUSEN, 2018, p. 361).
Interessa, então, para a ISP, enxergar o que está por trás da cortina da impostura
científica e o impacto disso na segurança pública. Wiker (2011) levanta a pergunta sobre por
que os antropólogos e sucessivas gerações de professores universitários simplesmente ignoram
que o trabalho de Margaret Mead é tão cheio de erros tão óbvios e continuam a fazer dele uma
leitura obrigatória nos cursos para seus alunos.

A pergunta a fazer é: como se explica que “Crescer em Samoa” [de Margaret Mead]
- um livro que Orans [Martin Orans, que analisou o livro, reforçando e indo mais a
fundo nas constatações de Derek Freeman] mostra estar pejado de “profundos erros
metodológicos” e diminuído por uma “pobreza ou ausência de dados que sustentem a
argumentação” - se tenha tornado uma obra tão influente? Mais especificamente:
“Como é possível que os antropólogos e outros eminentes acadêmicos tenham
praticamente ignorado erros tão óbvios? Como é possível que sucessivas gerações de
professores universitários tenham feito deste livro uma obra de leitura obrigatória para
os seus alunos? Como é possível que um trabalho tão cheio de erros tenha servido de
trampolim para a fama?”. Observa Orans que a primeira razão é “ideológica”. “Nós
queríamos que as descobertas de Mead fossem verdadeiras, estávamos convencidos
de que todos nos beneficiaríamos com um código sexual permissivo. Por outro lado,
estas descobertas constituíram um trunfo para os defensores da importância da cultura
em detrimento da biologia [...]. (WIKER, 2011, p. 240).

Pracontal (2014) afirma que uma impostura científica é uma “[...] mentira que
consiste em fazer passar por científico um discurso, uma teoria, uma tese, uma experiência, um
dado, uma observação, um fato etc. que não é [...]” (PRACONTAL, 2004, p. v). Orans (1996),
citado por Wiker (2011), afirma que o caso de Margareth Mead explica-se por um projeto de
colocar a Cultura no lugar da Biologia e assim levar adiante um propósito de engenharia social,
baseado no propósito de “resolver problemas humanos através de mudanças sociais, enquanto
a ênfase na Biologia salientava que os nossos problemas tinha por base a natureza humana, não
sendo por isso erradicáveis” (ORANS, 1996, p. 123-24, apud WIKER, 2011, p. 240). Ou seja,
o objetivo oculto era o de reduzir a liberdade das pessoas em serem naturais e forçá-las a se
enquadrar em um quadro ideológico que satisfizesse os reformadores. Mead (1928) era parte
de um projeto de reengenharia social.
O que está então oculto sob a ocorrência inegável de impostura científica de
Margaret Mead? A busca do controle sobre a população por um grupo de ideólogos, reduzindo
a liberdade de seus membros em fazer escolhas naturais (formar famílias, educar os filhos de
48

acordo com padrões de sociabilidade aceitáveis, manter os cidadãos superiores ao Estado e este
um servo daqueles, enfim, conservar a democracia e a supremacia da vontade popular).
Para a ISP, o relevante é: há necessidade estratégica de manter a PMMG sendo um
patrimônio do povo mineiro, em vez de ser capturada por grupos ideológicos. De acordo com
Reis (2016), foi da captura por grupos ideológicos que nasceram as polícias políticas, na era
dos Estados nações, por meio das quais os direitos dos cidadãos foram reduzidos e até
suprimidos. Assim, fazer da Escola de Inteligência da Diretoria homônima o local de
mapeamento constante de imposturas científicas e emissão de alertas ao Nível Estratégico sobre
isso é importante para evitar que a Corporação se torne a antítese do que tem a missão de ser:
uma garantidora de direitos e liberdades fundamentais dos cidadãos.
Monitorar as imposturas científicas, enquanto padrão, é o meio para evitar a
instalação de grupos totalitaristas, disfarçados de cientistas, nos ambientes de pesquisa e de
propagação de ideias da própria PMMG, tais como os colégios Tiradentes e os centros de ensino
profissional. Nesses educandários, a utilidade da atenção pela ISP é evitar que especialmente
os primeiros se tornem fomentadores indiretos da criminalidade. Com efeito, ideias como as
defendidas por Margaret Mead estimulam a formação de cidadãos violentos em seus
relacionamentos afetivos, à media que estimulm o desregramento social que, por sua vez, de
acordo com Story (2001), é parte de uma estratégia leninista para tornar os jovens viciados e
violentos.
Contra o iealismo ativista de Margaret Mead está a ciência realista: Larimore e
Larimore (2008) descobriram que o cérebro do homem realiza operações predominantemente
diferentes do cérebro da mulher, dentre elas a maneira como os olhos se movem diante de
objetos desconhecidos: o olho masculino fixa-se em pontos específicos, ao passo que o olho
feminino faz uma varredura, como quem quer mapear todos os detalhes. Isso explica, segundo
eles, a característica tipicamente feminina da maternidade, que exige da pessoa uma capacidade
de compreender sinais de fome, dor ou algum outro tipo de necessidade, que as mulheres
conseguem identificar com muito maior velocidade e eficiência do que os homens, quando
ambos estejam segurando bebês.
Além das áreas do conhecimento mencionadas como ilustração de que a atividade
científica típica é a de busca por compreender padrões, há um estudo voltado para a observação
da atividade policial: é aquele desenvolvido por David Bayley. Nesse estudo, o autor demonstra
que existem padrões de policiamento, em uma escala comparativa internacional. Conforme o
autor, são evidências o poder de polícia, que é sempre o de manter e restabelecer a ordem; a
função desempenhada pelos policiais que é, em todos os lugares, a de se exporem a uma
49

recepção antipática, e o contingenciamento político da polícia de modo apartidário visando ao


controle do seu modo de agir (BAYLEY, 2017).
Esse conjunto de padrões foi observado por Bayley (2017) entre os anos de 1976 a
1978 nos seguintes países e respectivas localidades: Department l’Essonne, no sul de Paris,
França; o Condado de Suffolk, perto (a Nordeste) de Londres, na Grã-Bretanha; uma zona
urbana e uma rural em cada um dos Estados chamados Uttar Pradesh, Orissa e Tamil Nadu, na
Índia; em Oslo e Rjukan, na Noruega; a divisão B e o Ocidente Rural, na ilha de Cingapura; o
Distrito Policial de Petta e o de Kahataduwa, ambos no Distrito de Colombo, no Srilanka, e os
condados de Chaffee, Fort Morgan e a cidade de Denver, capital, todos no Estado do Colorado,
Estados Unidos da América (BAYLEY, 2017).
Sousa (2007) afirma que a ideia de institucionalidade, entendida como predomínio
de lógicas comportamentais baseadas em funções e posições hierárquicas é um traço muito forte
da cultura da PMMG e que isso é muito valorizado pelos integrantes dessa corporação. Essas
afirmações da autora tem valor para mostrar que a cultura policial militar, pelo menos a que ela
investigou, é bem favorável ao uso de uma lógica padronizada de olhar para a realidade e de
dar aos casos concretos um tratamento também padronizado.
Para a atividade de ISP, isso é bastante interessante, porque o agente de inteligência
transita em contextos e ambientes de outras instituições parceiras, as quais sempre esperam um
alto nível de respeito aos padrões da respectiva organização. Esse é o caso do Ministério
Público, com o qual a PMMG vem mantendo um padrão de relacionamento dedicado à proteção
da integridade física dos Promotores de Justiça, nos casos em que a atuação destes põe em risco
a vida do membro do Parquet.
Um estudo nesse sentido foi desenvolvido por Silva (2006), o qual afirma que a
PMMG implantou (em razão do assassinato de um Promotor de Justiça, ocorrido com
participação de um policial militar, defronte do prédio da Justiça Eleitoral, na Avenida Prudente
de Morais, em Belo Horizonte) um centro de segurança e inteligência institucionais. Este foi
montado dentro da estrutura do Ministério Público, com a missão de monitorar situações de
risco real envolvendo autoridades daquele órgão público.
Então, é preciso tomar cuidado para não incorrer no descuido que se passou com
Margaret Mead, pois o estudo de universais pelos praticantes da atividade científica requer
algumas cautelas. Isso é importante porque, sem a adoção de cautelas na investigação da
realidade, o serviço de Inteligência pode ficar exposto ao que Paola (2008) chamou de
“desinformatsya em ação”. Ele afirma que, dentre os principais padrões pelos quais a
desinformação tem sido concretizada, um deles é a guerra assimétrica. Esta, por sua vez,
50

significa “dar tacitamente a um dos lados beligerantes o direito absoluto de usar de todos os
meios de ação, por mais vis e criminosos [que sejam], explorando ao mesmo tempo os
compromissos morais e legais que amarram as mãos de adversário” (PAOLA, 2008, p. 60).
O ocorrido no caso da Margaret Mead é útil para entender que, sem entrar no mérito
da real intenção dela, a legitimidade da ciência pode ser usada maliciosamente para fazer passar,
sem filtro, junto aos países ou grupo de países visados, uma deturpação da realidade com o fim
de desarticular, ou paralisar, a capacidade de respostas da comunidade científica e, dentro desta,
a comunidade de Inteligência. Sobre o padrão desse tipo de expediente desinformacional, o
método kantiano de relativização da verdade vem sendo usado em larga escala como tática de
guerra cultural. De acordo com Reis (2020),

[...] trata-se da estimulação do subjetivismo absoluto nas populações-alvo, que


consiste no uso de certos pressupostos para colocar as comunidades de intelectuais
em estado permanente de paralisia e inoperância (REIS, 2020, p. 3)

Por subjetivismo absoluto, pode-se entender hipótese kantiana da impossibilidade


da inteligência humana alcançar a verdade, o que faz com que se seja obrigado a aceitar, como
válidas, quaisquer afirmações, de quaisquer pessoas, independentemente de terem ou não um
fundamento razoável e/ou demonstrável. O perigo desse modelo é que ele induz a que as
pessoas e as instituições, incluindo o serviço de Inteligência se vejam obrigados a se calar diante
de inverdades e a admitir que elas sejam disseminadas na tropa. No dia a dia policial, os
militares estão bem acostumados a vivenciar essa realidade, como, por exemplo, quando são
nominados como “fascistas”, “racistas”, “autoritários”, “homofóbicos”, entre tantos outros.
Por isso, é importante que a comunidade de Inteligência saiba ler padrões,
identificar situações de cunho desinformativo e otimizar sua capacidade de inteligir. Isso vale
também para os estudiosos que se lançam a investigações no campo da Ciência Policial e, nesta,
também os que dedicam atenções à análise da atividade de Inteligência. É disso que se cuida
no subcapítulo a seguir.

2.3 Significado do estudo de padrões para a Inteligência de Segurança Pública

O inteligir é uma característica e uma capacidade tipicamente humana. Significa ler


por dentro a coisa inteligida. Assim é porque a origem desta palavra, sua etimologia, remete a
“intus” (dentro, ou por dentro) e “legere”, que tem o sentido de fazer a leitura. Em outras
palavras, é a faculdade tipicamente humana de capturar o universal dentro de cada particular e,
51

em seguida, relacionar esse universal a outros, em busca da compreensão de um elo de


causalidade.
Agostinho de Hipona (354-430 d. C.) considera, segundo Gílson (2006), que o
processo da inteligência envolve os sentidos físicos e um sentido interior, que unifica suas
impressões e possibilita entender o que a coisa observada é. Na mesma direção, Tomás de
Aquino (AQUINO, 2013) afirma que inteligir é adequar o observador ao observado, por meio
de uma relação da inteligência daquele que observa com a coisa por ele estudada. Corção (1952)
registra que, na mentalidade moderna, é comum as pessoas confundirem o ato de conhecer algo
com o de formular uma opinião sobre esse algo.

Na era moderna, a opinião é tomada como se fosse um tipo de conhecimento, quando


na realidade é um potente bloqueador do intelecto contra a realidade por parte do
opinante, pela subjugação da faculdade da inteligência pela faculdade da vontade.
No fenômeno da opinião, o sujeito usa o objeto apenas como referência de
verbalização, como tática mental para fazer parecer que o objeto tenha alguma
importância no pensamento que o opinante vá exprimir, mas de fato a intenção é ter
razão e não a de refletir sobre o tema da manifestação. (CORÇÃO, 1952, p. 63)

O conjunto das referidas afirmações de Agostinho apud Gilson (2006), Aquino


(2013) e Corção (1952) faz ver que inteligir é muito diferente de ter uma impressão pessoal
sobre algo. É, na verdade, totalmente distinto da ideia kantiana de formar na cabeça uma
representação a respeito de uma coisa, sempre de modo diferente do que outra pessoa forma na
cabeça dela sobre a mesma coisa. Inteligir é captar o ser, a essência, o universal, o
enquadramento da coisa em algo verificável, concretizado em seres reais do mesmo gênero e
espécie.
Usar a faculdade da inteligência é, nesse sentido, abstrair, partindo, não de uma
convenção, mas de uma constatação, não de um consenso, mas de um fato concreto. Quando
isso é feito dentro da estrutura do Estado ou da Administração Pública, esse modo padronizado
de captação do real leva à garantia do princípio da impessoalidade dos atos dos integranes de
cada órgao estatal.
Na atividade específica do combate à criminalidade, inteligir é respeitar a realidade
e investir contra ela por meio de cuidados próprios do ato de abordar. Na mesma atividade
combativa, esse inteligir é impessoal, portanto, não opinativo. É condição de atender a
ocorrência policial seguindo protocolos de resposta a cada tipo criminal. É também sinônimo
de não expor aquele que aborda o fato concreto (o suspeito) a riscos de modo imprudente.
Também nessa mesma profissão estatal, o inteligir tem a significação de garantir a
supremacia do Estado sobre a criminalidade, por meio da devida reunião de detalhes, a qual
52

torne possível assessorar de modo eficiente as autoridades encarregadas da tomada de decisão.


Bauman (2008) afirma que, nas sociedades modernas, a existência e perpetuação do Estado
depende da garantia por ele (Estado) da sua própria supremacia contra o que possa colocar em
risco o corpo, a propriedade e a existência dos pagadores de impostos.
Trazendo para a reflexão sobre a atividade de Inteligência, isso quer dizer que essa
supremacia depende de um olhar contínuo, pelos agentes públicos designados nesse campo de
atuação, sobre aquilo que possa colocar em risco a capacidade do Estado sobrepujar a
criminalidade. Isso vai muito além de ter armamentos em qualidade e quantidade superiores à
dos criminosos, porque abrange uma dimensão mais ampla, bem anterior ao próprio emprego
do policiamento.
Essa amplitude maior da análise alcança uma esfera de ocupações e preocupações
com aquilo que os criminosos comuniquem entre si, nos seus contatos interpessoais; aquilo que
esses mesmos delinquentes articulem uns com os outros dentro e fora do território policiado;
num sentido mais atual, significa o cuidado do agente de inteligência com os macro-processos
da criminalidade, ou seja, as suas manifestações organizadas internacionalmente ou dentro de
um escopo de desestabilização da sociedade ou de partes dela, com o propósito de dominar o
espaço por meio do caos.
A metáfora do personagem fictício Coringa, em uma cidade devastada pelo caos, é
o ideal que tem sido planejado em estruturas cada vez mais sofisticadas de comunicação entre
“o mundo da lei” (instituições nas quais os criminosos encontram apoio para lavagem de
dinheiro e outras práticas de dissimulação) e “o mundo fora da lei” (estruturas, por vezes até
estatais, montadas e geridas para administrar internacionalmente complexos processos de
práticas criminosas organizadas, como por exemplo, aquilo que observa nos estados falidos).
Estados falidos constituem, segundo Rufin (1996), em coisas resultantes do fim da
guerra fria e implosão da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Segundo o autor
mencionado, consistem-se em estruturas outrora estatais que possuem assento na Organização
da Nações Unidas, porém são comandadas e integradas por organizações criminosas que
ocuparam o poder político após o fim dos repasses econômicos que os dois lados da guerra fria
antes enviavam para esses entes estatais. Os mesmos Estados transformaram-se, a partir do fim
desse embate velado entre russos e americanos, em organizações criminosas com verniz de
Estado e que ficam localizadas nas extremidades da divisa geográfica entre a Europa e a antiga
URSS.
Uma potencial relevância disso para a atividade de ISP é: para se manterem
conscientes a respeito do alcance e das maneiras de agir dos integrantes de organizações
53

criminosas ligadas ao tráfico de drogas e de armas, os profissionais de Inteligência precisa estar


atentos ao desafio étnico. Segundo Ziegler (2003), a eficiência no combate a esse tipo de
organização é um grande desafio.

Na construção das organizações criminosas, o etnocentrismo desempenha um papel


determinante. Para percebê-lo, basta ouvir os relatos de juízes de instrução franceses,
austríacos, alemães e ingleses às voltas com bandos cazaques, chechenos, kosovares,
cingaleses etc. Exasperados, os juízes deparam-se constantemente com um muro.
Uma mesma frustração aflige os investigadores e policiais: penetrar um cartel étnico
é frequentemente uma missão impossível. [...] Abro aqui um parêntese: recuso,
naturalmente, qualquer critério racista. Não quero dar a impressão de que basta que
as forças policiais europeias passem a combater os carteis etnocêntricos do Cáucaso,
dos Bálcãs, da Rússia e de outras regiões. Antes de mais nada, existem organizações
criminais francesas, alemãs etc. que não atendem ao critério do etnocentrismo.
Depois, existem carteis multiétnicos. Mas nem por isso deixa de ser verdade que para
os procuradores, juízes e policiais da Europa ocidental as formações criminosas
etnocêntricas constituem, hoje, de longe, os adversários mais resistentes. [...] a
identidade étnica pertence antes de mais nada à esfera da subjetividade coletiva. [...]
O que se aplica às formações sociais em geral aplica-se também e sobretudo aos
carteis do crime organizado. As hierarquias criminosas construídas sobre base étnica
são as mais eficientes de todas. (ZIEGLER, 2003, p. 71-72)

Sendo tão importante e desafiadora, a questão étnica não pode ser subestimada nos
levantamentos feitos pela ISP. Glenny (2008) afirma que Fuzhou, na China, “não é uma capital
de província qualquer - é o centro de uma das maiores atividades ilegais do planeta: o
contrabando de trabalhadores migrantes chineses.” (GLENNY, 2008, p. 380). De acordo com
esse autor, a principal capital econômica brasileira (São Paulo) foi um dos lugares onde os
fujianeses estabeleceram-se, com o propósito de dominar a comunidade chinesa local e ali
firmar os objetivos escusos ligados à criminalidade.

Pressionados pelo crescimento populacional acelerado e pelas altas taxas de


desemprego no campo, mais de meio milhão de fujianeses foram contrabandeados
para o exterior entre 1985 e 1995. Cerca de 20% deles desembarcaram na Costa Leste
dos Estados Unidos e se dirigiram a Nova York, incluindo a maioria das 286 almas
que nadaram do Golden Venture até a costa de Nova York depois que o navio
encalhou, em 1993, e sua carga humana finalmente se amotinou após meses de maus-
tratos. Em São Paulo, em Belgrado, em Berlim, em Dubai e na África do Sul, os
fujianeses se estabeleceram ou passaram a dominar as comunidades chinesas. [...] São
os cabeças-de-serpente, ou traficantes de pessoas, os responsáveis por isso. Esses
homens e mulheres bombeiam gente incessantemente para o interior de barcos, aviões
e trens, abastecendo o que hoje é a maior rede de contrabando de trabalho migrante
do mundo. E, em troca, os migrantes bombeiam dinheiro de volta a Fujian. Eles
reduzem a taxa de desemprego na província. Que não reste dúvida - os cabeças-de-
serpente contam com o apoio tácito das autoridades, tanto graças às regras do NPC
[Nexo Político-Criminal] como porque, num nível mais elevado da cadeia alimentar
política, não interessa a Pequim interromper esse comércio. As autoridades locais
apoiam descaradamente a emigração, e alguns se consideram parte de uma “nova zona
chinesa de ultramar.” (GLENNY, 2008, p. 380-381).
54

O contrabando de trabalho migrante é, por isso, uma realidade que chegou ao


Estado de São Paulo, em sua capital homônima, por volta da metade dos anos 1990. Isso é
importante para entender a importância da atenção pela ISP da PMMG à variável étnica
mencionada por Ziegler (2003), por causa do significado potencial para entender as redes de
organizações criminosas atuantes no Brasil. Longe de ser uma atenção racista ou xenofóbica, a
razão para isso é que, por trás desse tipo de ilícito em que o trabalho é contrabandeado, existe
o NPC, que é “um relacionamento profundamente corrupto entre os magnatas da região e os
líderes locais do Partido. O governo chinês tem assistido perplexo à multiplicação dessa prole
maligna pelo país. Pequim se sente ameaçada pelo NPC [...].” (GLENNY, 2008, p. 376)
A esse respeito Ziegler (2003), afirma que a necessidade da atividade de
Inteligência ser usada para lidar com questões de alcance internacional tem desafiado os
Estados soberanos a fazer o emprego de figuras como a do toupeira. Este é, na prática, um
policial descaracterizado e infiltrado, possuidor de autorização, inclusive, para envolver-se nas
mesmas práticas dos criminosos até o limite do razoável. Desse modo, espera-se, com os
toupeiras, conseguir olhar por dentro essas organizações e, no momento certo, contribuir para
desmantelá-las de dentro para for a (ZIEGLER, 2003). Para o SIPOM, o desafio que está posto
para lidar eficientemente com essa realidade é que tal nível de infiltração requer antes
administrar a referida variável étnica referida por Ziegler (2003).
A atividade de ISP resulta de um desdobramento da atividade de Inteligência em
geral. Esta última abrange a coleta de informações em ambientes diplomáticos e a busca por
conhecer o adversário e suas disposições, em termos de localização tática de tropas. Hamada e
Moreira (2017) afirmam que há três fontes históricas relacionadas à estruturação de serviços de
Inteligência - a diplomática, a de guerra de contra-inteligência e a dos órgãos de segurança
pública:

A atividade de inteligência, enquanto utilizada como aparato organizacional do


Estado, é constituída de três fontes históricas originárias, as quais compõem as
organizações atuais de inteligência, a saber: diplomacia, que diz respeito à coleta de
informações em embaixadas ou durante representações diplomáticas; a guerra,
enquanto obtenção do conhecimento do inimigo e disposições de seu efetivo e, por
último, o policiamento e inteligência de segurança pública, que, em suma, faz
referência ao policiamento político para resguardar o governo de ações de
conspiradores e indivíduos contrários aos governos (HAMADA; MOREIRA, 2017,
p. 15).

Nesse sentido, há um papel específico da Atividade de Inteligência de Segurança


Pública e ele se enquadra em, pelo menos, uma das quatro razões afirmadas por Lowenthal
55

(2006), mencionadas por Hamada (2017), a saber: “evitar surpresa estratégica, fornecer
experiência a longo prazo, apoiar o processo de planejamento de políticas e manter o sigilo de
informações, necessidades e métodos.” (LOWENTHAL, 2006, apud HAMADA, 2017, p. 188).
Conforme Douglass (2001), o fato de certos delitos virem sendo estimulados na
América Latina como parte de uma estratégia de causação do caos para concretização de uma
meta política é altamente significativo para o estudo da Inteligência de Segurança Pública. Esta
deve visar à compreensão de padrões, não mais se limitando ao propósito de compreender e
desmantelar organizações criminosas ou prevenir crimes pontuais. Isso significaria não
restringir esse conceito de Inteligência ao apoio de planejar políticas e manter o sigilo de
informações.
Esse olhar mais amplo requer conceber a Inteligência de Segurança Pública como
algo útil para evitar surpresa estratégica e monitorar, dentro de uma lógica de longo prazo, os
efeitos dessa estimulação ao desordenamento social. Significa que essa área de ação estatal se
caracteriza por aquilo que está definido na Resolução nº 01/2009 (BRASIL, 2009), que
implementa o decreto 3.695/2000 (BRASIL, 2000). Essas normas trazem, respectivamente, a
definição do que é atividade de inteligência e instituem o Subsistema de Inteligência Pública
no âmbito do Sistema Brasileiro de Inteligência. A mencionada norma resolutiva traz, no inciso
III do parágrafo 4 do artigo 1, a noção de que Inteligência de Segurança Pública consiste em
uma “atividade permanente e sistemática, via ações especializadas, que visa identificar,
acompanhar e avaliar ameaças reais ou potenciais sobre a segurança pública” (BRASIL, 2009).
A atenção a macroprocessos de funcionamento de organizações criminosas
significa, sem dúvida, um novo e abrangente alcance dessa atividade estatal de ISP. No entanto,
é importante prestar atenção a algo ainda mais sério e desafiador, que reclama o olhar por parte
dos órgãos de Inteligência. Trata-se da causação deliberada de enfraquecimento da capacidade
das gerações de estudantes que vão sucedendo as antigas nos postos de Inteligência de
Segurança Pública. A estimulação à decrepitude mental e ineficiência cognitive são o padrão
do ataque Segundo Skousen (2008). Tais coisas mostram um objetivo bem definido, planejado
para minar a capacidade dos países alvo de perceber a tempo os ataques e a gravidade deles
contra suas defesas culturais (SKOUSEN, 2008).
A esse respeito, Boaventura (1980) afirma que vem ocorrendo contra as sociedades
ocidentais uma bem orquestrada estratégia de avanço do modo de ser e de viver coletivista de
certos países, os quais, para sobrepujar os governos adversários e as respectivas soberanias
nacionais, optam pela via do desmantelamento dos pilares culturais dos países-alvos. Trata-se
de uma nova modalidade de guerra, que é cultural, muito mais eficaz do que as bélicas, que
56

criam adversários e estimulam a disposição para a luta nas populações atingidas. Já o ataque à
cultura faz, silenciosamente, o que canhões e tanques não conseguem ruidosamente: implodir
o que sustenta a coletividade de sentimentos que forma a cultura.
Baseando-se indiretamente na pesquisa de Hillery (1955) e diretamente na de
McMillan e Chavis (1986), Nepomuceno et al (2017) afirma que o sentimento de comunidade
é o sentir-se pertencente a um certo grupo amplo populacional e “[...] de se importar com as
pessoas do lugar e de se sentir importante para elas. Relaciona-se a uma fé de que o
compromisso de estar em coletividade é capaz de satisfazer necessidades pessoais.”
(NEPOMUCENO et al, 2017, p. 75).
Estes mesmos últimos autores referidos, baseados desta feita em Sarason (1974),
reproduzem-lhe, em tradução livre, a afirmação de que se trata “[d]o sentimento de que somos
parte de uma rede de relacionamentos de suporte mútuo, sempre disponível e da qual podemos
depender” (SARASON, 1974, p. 1, apud NEPOMUCENO et al, 2017, p. 75). Por fim, este
último quarteto de autores liderados por Bárbara Barbosa Nepomuceno afirmam a expressão e
certo rol de sinônimos: “Sentimento de comunidade, sentido de comunidade, senso de
comunidade, sentido psicológico de comunidade são traduções possíveis para Sense of
Community, termo criado por Seymour Sarason, em 1974 [...].” (NEPOMUCENO et al, 2017,
p. 75)
Cumpre destacar que, para esta pesquisa, importou menos a origem dessas
estratégias, seja no que toca a pessoas ou nações, e mais a existência, as implicações das
estratégias, a forma como se manifestam e o impacto delas no mundo real, na área da segurança
pública. A necessidade do SIPOM é exatamente esta, qual seja, identificá-las, para fins de
neutralização dos seus possíveis impactos na PMMG. No mesmo sengido, deve o SIPOM
compreender as conexões entre esses fatores amplos e as consequências da criminalidade que
eles desencadeiam no nível micro (condutas criminosas por membros de uma específica
comunidade contra concidadãos) e macro (prática do delito de destruição cultural do povo
adversário mediante a tentativa de sua subjugação cultural para que se torne decadente e
maleável).
Um exemplo desse tipo de relação causal é, de um lado, a meta número 41 da
agenda de Lênin para as Américas (estimular o desmantelamento familiar dos países
adversários como forma de dar velocidade à revolução), conforme Skousen (2018), e, de outro
lado, no nível micro, o efeito real de famílias desestruturadas, enquanto variável qualitativa.
Esta, segundo Oliveira (2005), interfere sobre a configuração mental de pessoas envolvidas
com a criminalidade. Para esse autor (OLIVEIRA, 2005), em cidades brasileiras com população
57

acima de 100.000 hab (cem mil habitantes), a variável família monoparental dirigida por mulher
é significativa perante a variável envolvimento de menores em atividades criminosas.
Diante disso, o olhar do analista de ISP precisa ser sofisticado para compreender
que uma variável que bem poderia ser chamada de “ruptura de estruturas biparentais” teria
relevância para a identificação de um padrão de conexão. Esse padrão seria entre estímulo
cultural ao surgimento dessas estruturas rompidas e causação indireta de envolvimento com o
mundo do crime de jovens egressos dessas estruturas familiares.
A título de exemplo, em uma pesquisa superficial, tomando por base apenas o ano
de 2019, conforme dados do sistema REDS10, 21,99% dos menores apreendidos pela PMMG
em Belo Horizonte pertenciam a famílias monoparentais, logo, dirigidas por mulheres. Foi
possível chegar a essa conclusão pela ausência do nome do pai, informação transmitida pelo
menor quando do lançamento de seus dados de qualificação no REDS. A tabela a seguir traz os
dados:

TABELA 1 - AUTORIA, COAUTORIA OU SUSPEITA DE MENORES CONVIVENTES


TOTAL, PARCIAL OU NÃO CONVIVENTES COM PAI/MÃE - 01/01/2019 a 31/12/2019 -
BELO HORIZONTE-MG.

REGISTROS/ SEM PAI E TOTAL SEM UM


TOTAIS SEM MÃE SEM PAI
PERCENTUAIS MÃE DOS PAIS

Ocorrências 8853 425 1947 417 2372

Percentuais - 4.80% 21.99% 4.71% 26.79%


Fonte: Sistema REDS (2019).

Entretanto, o interesse para a atividade de Inteligência não é, nesse tipo de caso,


restrito a tal estimulação para desagregar núcleos familiares. Antes, requer do observador
(cientista policial) a atenção à natureza suspeita do uso da ficção inventada por Morgan (2014),
de existência de uma sociedade original matriarcal, como se fosse uma verdade sociológica na
formação acadêmica, justamente dos profissionais que irão ocupar função de analistas de
inteligência.
Da mesma forma que, segundo Orans (1996), mencionado nas linhas anteriores,
existe oculta na propagação de pseudociência por parte de certos de intelectuais uma consciente
e deliberada estratégia de ocupação de espaço para obter controle sobre organizações. Essa

10
Registro de Eventos de Defesa Social: o REDS é um sistema informatizado, com formulários próprios, no qual
se fazem os registros de ocorrência pelas organizações policiais em Minas Gerais. O sistema foi criado pela PMMG
em meados do ano de 2005 e, posteriormente, expandido, quando teve acesso liberado a outras forças de segurança
no Estado.
58

estratégia no mínimo coincide com a apontada por Skousen (2018) quanto à agenda leninista e
requer atenção pelo SIPOM.
Isso é relevante à medida que existem vários públicos atuantes dentro da PMMG
que trazem para a Corporação uma continuada oferta de teorias: assistentes sociais na área de
educação escolar e assistência social, psicólogos no Quadro de Especialistas e nos convênios
de atendimento à tropa, providenciados pelo Instituto de Previdência dos Servidores Militares
(IPSM), advogados nas assessorias jurídicas das Unidades e pedagogos nas escolas civis
(CTPM) e Unidades encarregadas total ou parcialmente da educação profissional.
Afirmando o mesmo com outras palavras, o alcance da atividade de Inteligência é
importante também quanto à apreciação da qualidade das explicações ofertadas pelas
comunidades científicas, em relação a objetos de interesse para a prevenção criminal. Conforme
explicado por Lowenthal (2001), uma das finalidades da atividade de Inteligência é apoiar o
planejamento de políticas públicas.
Nesse caso, inteligir significa ler por dentro a tática sub-reptícia de pessoas que
aportam na PMMG com o discurso de contribuir para seu progresso, mas que, na verdade, sejam
possuidoras de compromissos escusos e não declarados. Essas pessoas, muitas vezes, recebem
remuneração vinda de grupos de ativistas que nada querem, a não ser fazer implodir a
Corporação por meio de ideias lançadas no seio da tropa, seja na área educacional, seja na seara
dos seus pilares culturais, ainda que indiretamente. Por exemplo, se um agressor cultural de
proporções compatíveis com o vulto da estratégia leninista quisesse desestabilizar algum
aspecto do sentimento de comunidade da sociedade brasileira, e houvesse potencial disso
produzir impacto ainda mais danoso à própria PMMG, isso deveria receber atenção preventiva
e reativa por parte do SIPOM.
Por sua vez, essas disciplinas são absorvidas pelos planejadores das políticas
públicas como sendo boas para reverter fatores causadores da criminalidade. Então, para a
atividade de ISP, interessa munir os seus próprios analistas de saberes do tipo acadêmico que
os levem a escapar de macroprocessos de embotamento da inteligência, como aquele
mencionado por Gordon (2017): o gramscismo.
De acordo com esse autor, foi criada artificialmente no Brasil, uma “comunidade
imaginada”, após o fim do regime militar dos anos 1960-1980. Trata-se de uma ilusão mantida
na e pela classe intelectual brasileira, para instalar e conservar na população, especialmente a
dos seus alunos nas universidades, a ideia de que os militares que tomaram o poder político em
1964 hajam sido um obstáculo ao avanço do país (GORDON, 2017).
59

Para sustentar essa projeção, os intelectuais aderidos a essa comunidade de


iluminados foram submetidos ao (e se tornaram submetedores em seguida de seus discentes)
método de Antonio Francesco Gramsci (1891-1937), um político marxista italiano: tornaram-
se intelectuais orgânicos, ou seja, pessoas que usam o seu lugar de fala e sua respeitabilidade
enquanto possuidor de um diploma e um cargo na comunidade científica, para corromper as
inteligências, tendo eles próprios sido as primeiras vítimas desse processo (GORDON, 2017).
O valor disso para os profissionais do SIPOM está em poderem, na atividade de
ISP, iniciar um protagonismo em identificar os fatores causadores da criminalidade que
resultem da ação dessa “comunidade imaginada”, papel que esse Sistema ainda não assumiu
em plenitude. Isso foi apenas iniciado na época em que a PMMG, sob o comando do então
Comandante-Geral Coronel José Geraldo de Oliveira, tomou a iniciativa de fazer sua parte na
contenção do ambiente que havia se instalado no país, de generalizada ação de revolucionários
que acreditavam na legitimidade do uso de meios violentos para a conquista do poder político
nacional. Com isso, ele contribuiu decisivament para o fracasso da tentative de transformer o
Brasil emp alco de uma revolução comunista armada.
De acordo com referido autor (GORDON, 2017), faz parte de uma estratégia
revolucionária o domínio das inteligências e das suas capacidades, no meio da classe dos
intelectuais brasileiros, tendo em vista fazer essas comunidades de pesquisadores, em vez de
explicar a realidade, praticar uma cartilha ideológica. Conforme explica, essas comunidades,
em lugar de ajudar a resolver problemas, cooperam para concretização de uma cartilha prévia;
ao contrário de investigar para conhecer a realidade, buscam encaixar o fato em explicações
prévias, padronizadas, fundadas não em pesquisa empírica, mas, ao reverso disso, em metas a
serem concretizadas para a tomada do poder político e econômico do país. No decorrer deste
trabalho, são apresentados exemplos mais detalhados dessa afirmativa.
Nesse mesmo sentido, Puggina (2015) afirma que está em andamento na sociedade
brasileira um esforço muito bem articulado, de cunho ideológico, para, de todos os modos
possíveis e que se mostrarem necessários, alcançar a supremacia política em prejuízo da
liberdade de pensar das pessoas, nos mais variados ambientes de convívio social.
Isso é relevante para a reflexão sobre Inteligência de Segurança Pública. Afinal, o
pressuposto da eficiência dessa atividade estatal é justamente que os intelectos dos analistas
estejam bem formados para o livre e pleno exercício da capacidade de inteligir. Sem a presença
maciça desse atributo entre os que exercem o trabalho de inteligência, inevitavelmente, a
qualidade desta tende a cair ou até a prejudicar os fins a que se destina.
60

Por tudo isso, um padrão necessariamente relevante para observação, no seio da


comunidade de inteligência, é o nível de desembaraço mental dos agentes de inteligência em
relação a pseudo estudos e pseudo teorias que comumente integrem as grades curriculares de
cursos nos quais esteja a pleno vapor aquele tipo de ataque à capacidade de inteligir mencionado
por Gordon (2017).
Citam-se ainda, como exemplo, aqueles apontados por Bernadin (2012). Segundo
esse autor, a área de educação vem sendo tomada por um projeto internacional originado na
França e expandido a partir da UNESCO. Conforme explica, esse projeto se destina a substituir
a função da escola de preparar as inteligências para serem livres e criativas, por um outro
propósito, maquiavélico, antipedagógico, cujo objetivo consiste em provocar o embotamento
das inteligências dos estudantes. A partir desse ponto, o próximo passo é fazê-los se
transformarem em meros autômatos, maleáveis, a serviço da dominação por parte de uma elite
reduzida, dentro de uma lógica de nova ordem mundial (BERNADIN, 2012).
A atividade de inteligência depende, para existir, de que o Estado que a utilize tenha
objetivos muito precisos em relação ao ideal de gerir informações. O caso dos Estados Unidos
é bem emblemático a esse respeito, porque, naquele país, foram usadas políticas de esterilização
em massa de uma parte da população, secretamente, pelo governo norte-americano, visando
criar uma raça que pudesse prevalecer naquele território.
Isso aconteceu, segundo Black (2003), no início do século XX e o nome que foi
dado a esse projeto foi o de eugenia. Esta se consistiu em reunir uma parte da intelectualidade
norte-americana e investidores do mesmo país para contabilizar traços populacionais visando
tornar possível esterilizar e praticar eutanásia contra integrantes da população que o grupo
selecionador considerasse fora do ideal de uma raça superior.
O alcance dessa ação foi de tal envergadura que, segundo Black (2003), no ano de
1927, a Suprema Corte e quase três dezenas de Estados daquele país envolveram-se em um
movimento de promulgação de leis relacionadas ao estímulo à esterilização e provocação da
morte dos públicos escolhidos, dentre eles índios e latinos. Essas experiências relacionadas à
eugenia foram uma base importante para, pouco mais de uma década depois, os alemães
aproveitarem esse conhecimento para implantar campos de concentração (BLACK, 2003).
No conjunto dos escritos desta monografia, está dada uma atenção maior a
contextos e fenômenos ligados ao coletivismo, sem a correspondente ênfase em relação ao
liberalismo norte-americano e suas consequências. Essa maior atenção resulta não de um
preferência pela temática da visão de mundo coletivista, suas consequências na segurança
pública e suas implicações na ISP. Resulta, em vez disso, de um fato reconhecido entre os
61

estudiosos da atividade de Inteligência (SKOUSEN, 2018; DOUGLASS, 2001; STORY,


2001): o protagonismo da visão de mundo coletivizante propagada pelos países aderidos às
ideias de Vladimir Ilyich Ulianov (1870-1924), também conhecido pelo nome de Lênin.
O estudo de possíveis indicadores de ISP não pode passar ao largo da atenção aos
efeitos diretos e indiretos de tais ideias no campo de trabalho da PMMG, a segurança pública.
É mais urgente compreender esses efeitos, pois um conjunto de fatores relacionados ao aumento
da criminalidade está conectado a esse coletivismo. Em certos momentos, nos quais há um
enlace entre o coletivismo e o liberalismo, isso merece e recebe a devida atenção. A ênfase,
porém, recai sobre a dissimulação generalizada dos reais propósitos de causar profunda
instabilização da ordem pública, vista nesta monografia pela lente dos efeitos da adesão de
seguidores de Lênin a algumas iniciativas dele.
Segundo Cruz (2013, p. 34), “a primeira escola de inteligência foi criada pelos
russos, base para a Okhrana, polícia secreta dos czares” (CRUZ, 2013, p. 34). Por sua vez,
Pacepa e Rychlak (2015) afirmam que a prática da desinformação, comum e institucional para
os russos, é usada ativamente nos dias atuais, como ação estratégica para transformar o modo
como as sociedades adversárias interpretam os fatos. O destaque à Rússia como fonte relevante
para compreender um padrão que merece atenção da atividade de Inteligência vem de um fato
ocorrido envolvendo um czar e a rainha Catarina:

[...] os manuais ensinavam que, nascida na Rússia do século XVIII, a desinformação


era fruto da relação amorosa entre Catarina a Grande e o príncipe Grigory Potemkin,
o seu principal conselheiro político e militar. Em 1787, Potemkin, à época governador
geral da Nova Rússia (atual Ucrânia) levou a Imperadora para um passeio pela
Crimeia, em cuja anexação, tomando-a dos turcos 4 anos antes, ele auxiliara. Para
impressioná-la, Potemkin fizera com que falsas aldeias fossem erigidas ao longo da
rota pela qual a Imperatriz passaria. Uma dessas aldeias de fachada, erigida junto à
foz do pequeno Rio Bug, foi longe a ponto de dar as boas vindas à imperatriz com um
arco triunfal no qual se lia: ‘Este é o caminho para Constantinopla’ [...]. Há um
provérbio que diz que mentira tem perna curta; isso pode ser verdade em outro lugar,
mas na Rússia pós tsarista, a desinformação se tornou uma política nacional que teve
papel maior na definição de passado e presente no país do que até mesmo Potemkin
jamais poderia prever (PACEPA; RYCHLAK, 2015, p. 70-71).

Depois disso, segundo Pacepa e Rychlak (2015), esse método foi sofisticado e
transformado como um padrão por parte da Rússia, sob o nome de “dezinformatsiya”. É
inegável, portanto, que uma atenção ao emprego desse sofisticado método russo leva a
compreender como coisa altamente relevante o seu modo de interferir na área de Inteligência e
o impacto disso sobre a segurança pública. Isso porque essa “ciência da desinformação” tem
por método a “alteração de mentes” (PACEPA e RYCHLAK, 2015, p. 72).
62

Esse método consiste em dissimular, em contextos aparentemente inofensivos,


como o Conselho Mundial da Paz, a Federação Mundial de Sindicatos, a União Internacional
de Estudantes e a Federação Mundial da Juventude Democrática, a sofisticada tática russa de
não atacar frontalmente seus adversários. Ao invés disso, usam-se essas organizações em sua
inofensividade para serem novas “aldeias de Potemkin”, todas internacionais, praticando por
meio delas a distorção dos fatos a partir de um “cerne de verdade”.
Desse modo, valendo-se da localização, por exemplo, do Conselho Mundial da Paz
(sediado em Paris), os soviéticos fizeram, como desinformação, a comunidade internacional
acreditar que tal organização pacifista fosse algo historicamente derivado do esforço francês
(PACEPA; RYCHLAK, 2015).
Ainda conforme esses autores, o mesmo expediente continuou sendo praticado após
a implosão da União Soviética, porque as aldeias de Potemkin internacionais que o Kremlin,
silenciosa e metodicamente, houvera construído antes desse colapso, continuaram funcionando
em outros países. À frente, sempre havia pessoas de renome, para emprestar o peso de sua
reputação à construção da imagem desejada de que cada uma dessas aldeias nada tivesse a ver
com os russos. Constitui exemplo concreto nesse sentido o caso de Romesh Chandra, comunista
indiano que, presidindo o Conselho Mundial da Paz, nos anos 70. Ele solicitou a todas as filiais
presentes em 112 países manifestar-se contra a guerra no Vietnã (PACEPA; RYCHLAK,
2015).
No Brasil, percebe-se a desinformação, entre outros, na educação, por meio do
embotamento da capacidade de inteligir, de ler por dentro as pessoas e de perceber a causa dos
fenômenos que as afetam (GORDON, 2017). Pacepa e Rychlak (2015) atribuem essa causa, a
origem, aos russos. Entretanto, para os fins desta monografia, tomou-se o cuidado de não se ser
tão taxativo. Isso porque, embora nascida e aperfeiçoada na Rússia, essa prática (a
desinformação) é hoje largamente utilizada por praticamente todos os países, pois compõe o rol
das possibilidades da atividade de Inteligência.
Interessou, e interessa, para esta pesquisa, despertar nos integrantes do SIPOM o
olhar científico para perceber a desinformação naquilo que afeta a segurança pública. Interessa
indicar o fomento para treiná-los e melhor habilitá-los a lidar com a desinformação (presente
em nosso país, além da educação, nos meios de comunicação, na cultura, influenciando em
órgãos públicos, no ambiente familiar, etc), visando neutralizar seus efeitos e reverter isso em
prol da segurança pública e do fortalecimento da Polícia Militar.
Para tal, conforme se observa no todo deste trabalho, apresentam-se os fomentos à
capacidade de inteligir e os mecanismos de sua melhoria contínua, que são os indicadores, fim
63

prático desta monografia. Os passos subsequentes, após se implantar essa primeira etapa
(mudança de foco intelectual para os profissionais de ISP), naturalmente, levarão a identificar
a origem, a fonte (da desinformação). Para este momento, contudo, esse não foi o objetivo.

2.4 Indicadores como meio para a inteligência de segurança pública monitorar padrões

Nas seções anteriores deste Capítulo, foram tratados os aspectos que se mostraram
importantes, como prévios, à específica abordagem da temática dos indicadores. Esta é
essencial ao debate realizado nesta monografia, porém a finalidade desta seção ainda não é a
de tratar especificamente de indicadores de inteligência de segurança pública. Tal é procedido
em 5.3, mas em tom propositivo.
O propósito, aqui, é o de lançar alguns apontamentos mais amplos, referentes ao
conceito e aos contextos de indicador, procurando-se indicar, em primeiro lugar, a generalidade
da presença do uso de indicadores na vida cotidiana e nos campos do conhecimento científico.
Em seguida, lança-se um olhar em relação a como a PMMG vem lidando com essa temática.
Por fim, o subcapítulo cuida da abrangência da atividade de Inteligência, quanto a como ela
precisa ser aprimorada, para se tornar objeto de mensurações periódicas, tanto internas, quanto
externas.
Isso que será feito não se confunde com as análises especificas, observáveis no
capitulo seguinte, sobre as interfaces entre a área de ISP e os conceitos trazidos da Ergonomia,
especificamente os de Demanda, Tarefa, Atividade e Estratégia Operatória.
Passando-se à finalidade particular deste subcapítulo, é necessário enumerar, sem
pretenção de esgotar o alcance da enumeração, aquelas situações com as quais a sociedade já
convive com indicadores. Estes são parte do cotidiano das pessoas, nas rotinas de uso de
automóveis, aeronaves, certos eletrodomésticos, elevadores, em contextos de tratamento da
saúde. Os indicadores estão presentes até como aferição de temperaturas em geladeiras de
postos de conveniência, nos quais os consumidores escolhem a bebida de sua preferência para
consumo imediato, valendo-se da informação contida em mostradores cada vez mais precisos,
referentes ao nível de congelamento ou resfriamento em que o líquido a ser comprado encontre-
se naquele momento.
Olhando agora para uma dimensão mais sofisticada, porém pertencente à mesma
generalidade do cotidiano das pessoas, na qual estas se beneficiam de indicadores para seu
próprio bem estar ou para cumprir bem uma tarefa ou um estudo científico, cabem, algumas
outras ilustrações, quais sejam: os casos de painéis climáticos utilizados para subsidiar políticas
64

públicas e decisões governamentais de âmbito internacional, nas conversações a respeito do


clima; monitores de situação das rupturas na camada de subsolo de onde provêm os terremotos,
os quais indicam uma escala de gravidade e de efeitos possíveis, relacionados a tremores de
terra.
Outros exemplos possíveis são os casos em que os resultados dessa mensuração
ficam disponíveis para uso por parte dos órgãos de mídia, quase que instantaneamente após o
evento geológico; os indicativos numéricos da velocidade de propagação de doenças na
população, sendo exemplo mais recente aqueles relacionados ao índice de ocupação de leitos
hospitalares, decorrente da contaminação pelo vírus conhecido por COVID-19.
Neste último caso, verificou-se, inclusive, o uso de certa metodologia de
mensuração, para justificar ações de titulares do poder Executivo de Estados e Municípios. Co
efeito, basendo-se em indicadores, foram tomadas dicisões políticas relativas ao fechamento ou
abertura de fronteiras, bem como de estabelecimentos comerciais e espaços urbanos de uso
contínuo, especialmente praças públicas, ruas, escolas, terminais rodoviários, aeroportos,
agências públicas de atendimento bancário, casas lotéricas e outros ambientes. Em todos eles,
a rotina foi, de alguma forma, impactada pela tentativa dos agentes políticos de controlar o
avanço da pandemia.
Os cientistas, especialmente os das ciências exatas, são os maiores utilizadores de
“réguas” dos mais variados tipos, construídas no âmbito das respectivas comunidades
científicas para facilitação do exercício das atividades de pesquisa. Ilustram essa afirmação os
indicadores referentes à resiliência de materiais na Engenharia, às escalas de observação da
umidade relativa do ar e da previsão sobre precipitação pluviométrica na Geografia, entre
outros.
Também se podem citar os aparelhos destinados à captação da velocidade no
deslocamento do vento, na aeronáutica; os mensuradores automáticos da velocidade com que
automóveis ultrapassam certos pontos das rodovias onde as autoridades policiais hajam
distribuído radares, e nisso está situada uma parte das Ciências Policiais relativamente às
infrações de trânsito; os indicadores relativos à magnitude do som, embutidos em pequenos
aparelhos conhecidos pelo nome de decibelímetros. Estes últimos, em geral, servem ao uso por
profissionais capacitados, para o desempenho de atribuições fiscalizatórias na área do saber
chamada Administração Pública.
Além dos citados, podem constar da lista os indicadores de consumo de energia
elétrica e água, utilizados em grande escala principalmente nos centros urbanos, por particulares
contratantes de serviços relacionados aos aparelhos que as empresas fornecedoras de água, luz,
65

gás, e outras implantam numa determinada parte acessível das propriedades particulares dos
consumidores. O mesmoo se dá em prédios públicos, sendo que, nesses casos de uso desses
aparelhos, as áreas do saber chamada a contribuir são a Mecânica, a Hidráulica e a Física
Elétrica.
Como se vê, é extremamente comum que as pessoas se vejam na atualidade,
envolvidas em situações nas quais algo está sendo medido, acompanhado, monitorado,
controlado, contabilizado enfim. A realidade está sendo observada mediante instrumentos,
mecanismos e processos de contagem e tomada de decisão em cima dos resultados dos
respectivos tipos de acompanhamento.
Isso abrange, além dos casos já citados, as medições periódicas de temperatura do
corpo e peso nas farmácias, bem como o monitoramento do consumo de pacotes de internet,
tevê a cabo e telefonia. Os resultados dessas medições periódicas, são usados para definir
preços, dietas, tratamentos, continuidade ou modificação do volume de acesso à rede mundial
de computadores, além de acompanhamento da quantidade de ar ou de nitrogênio, ou ainda de
combustível nos postos onde os usuários de veículos costumam ir para procedimentos
preliminares à realização de viagens. Em síntese, monitorar é algo com o que a população
convive, ora passivamente, ora de modo ativo, nas mais variadas circunstâncias da vida em
sociedade.
A Polícia Militar, como parte da representação do Estado para a proteção da
sociedade, não tem estado alheia a essa “civilização de contadores”. Por isso é útil a experiência
acumulada pela Corporação do Alferes Tiradentes para evidenciar essa atenção ao valor do
monitoramento para o alcance de objetivos institucionais.
O controle implantado, no ano de 2004, na sede regional chamada de Comando de
Policiamento da Capital, na cidade de Belo Horizonte, é exemplificativo da atenção por parte
dos gestores públicos quanto ao valor prático do uso de indicadores. De acordo com a Secretaria
de Estado de Planejamento e Gestão de Minas Gerais (SEPLAG), em parecer conjunto dado
em companhia da representação da Escola de Governo da Fundação João Pinheiro, a inovação
chamada “Controle Científico da Polícia” foi reconhecida como ideia inovadora implementada
no ano de 2006. Esse reconhecimento veio após as construções técnicas e teóricas que levaram
esse mesmo órgão público e essa escola pública a concederem à PMMG a primeira colocação
no prêmio “Excelência em Gestão Pública no Estado de Minas Gerais" (MINAS GERAIS,
2007).
Essa inovação consistiu na criação e aplicação de indicadores de desempenho, que
foram, em seguida, testados e aplicados para balizar o relacionamento entre a Unidade de
66

Direção Intermediária responsável pela capital do Estado e as unidades operacionais (Batalhões


e Companhias) subordinadas a esse Comando Regional (SOUZA; REIS, 2011; REIS, 2006;
SOUZA; REIS, 2005, p. 27-28).
Esse conjunto de indicadores foi implementado na Corporação, também em outras
Regiões, por força de decisão do Nível Estratégico, que os considerou úteis para nortear o
relacionamento entre as Regiões e seus Batalhões. Para dar conta da amplitude e variedade dos
processos informacionais decorrentes dessa ampliação, o comando da PMMG reestruturou-se,
de modo a passar a contar com uma assessoria nova, especializada na construção de acordos de
resultados entre o Estado-Maior e os Comandantes Regionais. O nome dessa inovação
estrutural foi o de Assessoria de Gestão para Resultados (AGR) e, no ano de 2007, a SEPLAG
e a FJP concederam à PMMG novamente o prêmio “Excelência em Gestão Pública do Estado
de Minas Gerais” (CÂNDIDO, 2008).
Passado algum tempo, e visando abarcar um rol ainda mais amplo e complexo de
aspectos da gestão da Polícia Militar, inclusive administrativos, a AGR foi transformada em
Unidade chefiada por Coronel, com o nome de Assessoria de Desenvolvimento Organizacional,
ADO (GARCIAS, 2015).
O uso de indicadores do “Controle Científico da Polícia” propiciou na PMMG todo
um avanço quanto à maneira de lidar com os dados e as informações atinentes aos mais variados
setores e aos três níveis institucionais (Estratégico, Tático e Operacional). O cerne desse modelo
foi o tripé metodológico denominado método-metodologia-padrão, o qual consiste, de acordo
com Reis (2006), respectivamente, no seguinte: o método é o recorte da realidade que se tenha
decidido monitorar, bem como a fórmula matemática viabilizadora disso. Por exemplo, na área
de Pessoal, o absenteísmo e a proporção entre punições e recompensas; no âmbito do
Planejamento e Operações, o impacto sobre índices de criminalidade e índices de criminalidade
violenta; no segmento da Logística, a disponibilidade da frota; na seara da Comunicação
Organizacional, a proporção entre matérias negativas e positivas veiculadas espontaneamente
pelos órgãos de mídia.
A área de ISP contemplou, na etapa inicial dessa inovação, portanto entre 2004 e
2006, o recorte temático voltado para o Policiamento Velado, ou seja, não foi extamente um
indicador de Inteligência, mas tão somente algo direcionado para os reflexos provenientes do
próprio lançamento, visando a resultados operacionais imediatos. Souza e Reis (2005) afirmam
que, comparativamente ao modelo tradicional, em que o policiamento velado era avaliado
mediante “Análise de relatórios de serviço, para detecção de eventuais irregularidades”, o novo
67

modelo inovou, mediante “Análise, com atribuição de valores numéricos, da relação entre o
objetivo do lançamento e os resultados alcançados” (SOUZA; REIS, 2005, p. 19).
Quanto à metodologia comum aos indicadores do “Controle Científico da Polícia”,
Souza e Reis (2005) afirmam que se trata da especificação do passo a passo necessário para
transformar um simples dado em uma informação, por meio de uma sequência de etapas de
coleta e de aplicação da fórmula matemática constante da etapa anterior (o Método dessa
tipologia). Nesse aspecto, no processo de mensuração, está a indicação, para cada indicador, de
como, onde, quando e quem fará certos procedimentos de coleta, na sua respectiva área de
monitoramento.
Finalmente, Segundo Souza e Reis (2005), como aspecto final desse modelo, a
tipologia ora considerada exprime-se por meio da palavra “Padrão”. Este tem o signifiado de o
tipo de referencial a ser usado para cada caso medido, tendo em vista uma adequação entre o
tipo de desempenho pretendido e o indicador utilizado para observá-lo:

Indicador do Emprego do Policiamento Velado: tem por método a avaliação da


eficiência do emprego de policiais militares em trajes civis para auxílio a operações
policiais militares. Possui fórmula própria. A metodologia faz com que se analise [m]
numérica e qualitativamente os benefícios decorrentes da cada emprego. O padrão é
o referencial em relação à própria unidade referenciada, que tem liberdade para lançar
ou não essa espécie de policiamento. (SOUZA; REIS, 2005, p. 30)

Método, Metodologia e Padrão, constituem, por isso, a lógica comum a esse jeito
de usar indicadores (SOUZ; REIS, 2008). Estes foram o ponto de partida para uma nova
maneira de a Polícia Militar olhar para si mesma, quanto ao seu funcionamento interno e ao seu
desempenho externo. Além desse tripé, há um outro conceito usado para fins do Controle
Científico da Polícia que também foi útil nesta pesquisa, qual seja, o de comunidade gestora.
Segundo Reis (2006), as comunidades gestoras são representadas por um conjunto de
administradores, subdivididos em áreas de atuação e geridos por uma pessoa específica. Por
exemplo, o chefe da Seção de Recursos Humanos (P1) de uma Região da Polícia Militar (RPM),
tecnicamente, coordena as seções respectivas em cada Unidade Operacional, o mesmo se dando
com a área de Comunicação Social, Logística, etc. Conforme Reis (2006):

“Comunidades gestoras” é expressão utilizada para designar genericamente o grande


conjunto de administradores das agências policiais avaliadas pela 8ª RPM [1ª RPM],
subdividido em áreas afetas aos respectivos agrupamentos de indicadores. Cada
comunidade é liderada por um setor de assessoria do Comando da Região [...]. As
seções de Recursos Humanos, Inteligência, Operações, Logística, Comunicação
Social e Estatística e Geoprocessamento possuem sob sua coordenação grupos de
seções ou servidores localizadas ou lotados, respectivamente, nas agências policiais
68

avaliadas. Reunidos, esses grupos formam comunidades e, com isto, dão vida ao
sistema de gerenciamento dos indicadores. (REIS, 2006, p. 36)

Esse conceito é importante no âmbito da ISP, à medida em que há uma comunidade


dessas para o SIPOM, composta pela Diretoria de Inteligência (DINT) e, tecnicamente, abaixo
dela, as Seções de Inteligência (P2) da Regiões, das Unidades de Execução Operacional
(UEOp) e subsequentes. Ao conjunto desses gestores, portanto, dá-se o nome de comunidade
gestora. Em momento posterior nesta monografia, no subcapítulo 5.4, esse tema é retomado,
para se explicar sobre a gestão dos indicadores propostos.
Essa lógica continua presente até os dias atuais, ainda que esses três pilares não
mais estejam aparecendo nas descrições dos novos indicadores. É, ilustrativamente, esse o caso
da descrição que Garcias (2015) faz, relativamente a como foi implementada a gestão
estratégica da PMMG, quanto à criação e à contribuição da Assessoria de Desenvolvimento
Organizacional (ADO).
Nessa pesquisa, Garcia (2015) não menciona, na relação das referências
bibliográficas, fontes teóricas internas que serviram de esteio à construção do modo de
administrar do qual a criação dessa assessoria foi resultante. Como prova disso, a expressão
“Controle Científico da Polícia” não aparece nessa pesquisa, ainda que tendo sido ela produzida
na mesma Escola de Governo que, alguns anos antes, co-premiara, junto com a SEPLAG, esse
invento feito na Corporação.
Apesar dessa omissão, a lógica utilizada pela PMMG continua a mesma: escolhe o
aspecto gerencial que pretende monitorar, define junto aos responsáveis pelo monitoramento e
aos fornecedores dos dados o processo de coleta e conversão dos mesmos em informações,
concluindo a apreciação dos resultados a partir de certos padrões de desempenho predefinidos.
Assim, a ADO é, na prática, o que foi o Núcleos de Estratégias e Pesquisas no CPC, quando
tudo isso começou. De acordo com Reis (2006), tal setor chamava-se Núcleo de Engenharia de
Produção, Estratégias e Pesquisas e foi criado em 2004, nesse Comando Regional, que, então,
chamava-se Oitava Região da Polícia Militar.

A avaliação de desempenho de agências policiais na 8ª RPM possui, para o suporte


técnico, dois setores: o Núcleo de Estratégias e Pesquisa (NEP) e a Seção de
Estatística e Geoprocessamento [...] que prestam às demais seções do Estado Maior
da Região, às comunidades gestoras por elas coordenadas e às agências subordinadas
a esse comando regional, suporte relativo, respectivamente, à montagem de fórmulas
estatísticas para os indicadores e análises dos índices criminais para as reuniões entre
o comando da Região e os comandantes das Unidades a ela vinculadas por
subordinação, e a adequação da linguagem ao vocabulário lógico, isento de termos
inexatos, na descrição dos respectivos indicadores (REIS, 2006, p. 37-38).
69

O mencionado setor desse Comando (CPC) constituía, enfim, uma inovação


estrutural na administração dessa Unidade tática da Polícia Militar, com a missão de prestar
auxílio às seções do “staff”, para desenvolver e atualizar os indicadores respectivos e assessorar
quanto à inteligibilidade dos respectivos métodos, metodologias e padrões:

Sob uma outra forma de esclarecimento sobre o papel desses dois setores, pode-se
afirmar que o primeiro (NEP) exerce a incumbência de auxiliar as seções do Estado-
Maior da Região no desenvolvimento e atualização dos seus indicadores recíprocos,
verificando a sua adequação a uma linguagem suficientemente lógica e didática, a
ponto de ser comunicável e replicado por qualquer pessoa. Isto é, o NEP cuida da
comunicabilidade científica do indicador, condição basilar à sua utilização em
qualquer contexto, produzindo os mesmos resultados, independentemente do usuário.
(REIS, 2006, p. 39).

Entre o NEP do CPC (REIS, 2006) e a ADO do Comando-Geral (CÂNDIDO,


2008), o que mudou então foi a amplitude. Isso porque esta última continua lidando com
indicadores e auxiliando as seções do Estado-Maior Geral a formularem os parâmetros e os
propósitos relacionados ao que a PMMG vai monitorar e àquilo que o nível estratégico se decida
a pactuar com os escalões subordinados, em termos de metas a serem alcançadas.
Desempenhando sua missão, a ADO auxiliou na construção do Plano Estratégico
da PMMG (MINAS GERAIS, 2020a). Neste, verificam-se, para a área de ISP, as seguintes
políticas setoriais: “fortalecimento da atividade de inteligência. Integração de sistemas e
compartilhamento de dados e informações, com foco nos indicadores finalísticos. Atuação
integrada e em suporte aos demais setores da organização” (MINAS GERAIS, 2020a, p. 22).
No mesmo documento, está escrito que, para a área de Inteligência, pretende-se dar
atenção aos processos de trabalho, a fim de “Modernizar o Sistema de Inteligência da Polícia
Militar (SIPOM), com foco na inteligência preditiva aplicada à atividade finalística da
Corporação” (MINAS GERAIS, 2020a, p. 25).
Curiosamente, a área de Inteligência é exceção à regra observável na Diretriz que
traz os indicadores por meio dos quais cada setor da PMMG tem seu desempenho avaliado.
Essa ausência de indicadores na GDO (MINAS GERAIS, 2020b) para a atividade de ISP enseja
recorrer ao campo do conhecimento especificamente dedicado a uma abordagem sistêmica
sobre os aspectos do trabalho humano, que é a Ergonomia.
Nesse caso, o referido labor é o da ISP, o qual, como já mencionado, recebeu uma
atenção específica mas, ainda sim, muito misturada com a atividade fim, quando houve a
implantação do “Controle Científico da Polícia” no CPC em meados da primeira década deste
século. Para explorar, com a devida profundidade, as potencialidades desse campo do
70

conhecimento que tem por objeto o trabalho humano, o capítulo a seguir traz uma interface
entre a ISP, o uso de indicadores e a Ergonomia.
71

3 ERGONOMIA DA ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA DE SEGURANÇA PÚBLICA

A Polícia Militar de Minas Gerais é uma organização de serviços bissecular,


respeitada pela responsabilidade com que enfrenta o desafio relativo a cada tempo. O
desempenho da Corporação diante desses desafios vem resultando sempre da escolha de
caminhos novos, os quais têm a força de ligar as novidades às tradições. A análise ergonômica
tem tido um uso ainda tímido, mas muito significativo, na reflexão a respeito do que a PMMG
faz, de como isso é feito e com que fundamentos essas apreciações são concretizadas.
Um exemplo nesse sentido, deste ano de 2020, é o uso da Ergonomia para pensar
sobre planejamento de emprego da tropa, no nível das Companhias que integram os Batalhões
em todo o Estado e dos Pelotões que compõem as Companhias independentes no mesmo amplo
território. Trata-se de um estudo desenvolvido por Soares (2020), que utiliza os conceitos de
Demanda, Tarefa, Atividade e Estratégia Operatória para observar a maneira como a
Corporação aplica o conceito de operações de repressão qualificada da violência (RQV), quanto
a cerco e bloqueio, batida policial, incursão em zona quente de criminalidade (ZQC) e ocupação
de pontos críticos em ZQC11.
O estudo concretizado por Sares (2020) é uma evidência muito atual de que é
possível olhar para a realidade operacional da Polícia Militar, buscar ali padrões e ler essas
regularidades usando o método próprio dos ergonomistas. Este consiste, segundo Iida (2002),
em três possibilidades de contribuições: uma é a “Ergonomia de Concepção”, que “ocorre
quando a contribuição ergonômica se faz durante a fase inicial de projeto do produto, da
máquina ou do ambiente” (IIDA, 2002, p.7). Outra vertente é a “Ergonomia de Correção”, que
“é aplicada em situações reais, já existentes, para resolver problemas que se refletem na
segurança, na fadiga excessiva, em doenças do trabalhador ou na quantidade e qualidade da
produção.” (IIDA, 2002, p. 7-8). A terceira de abordagem possível nos enfoques ergonômicos
é “Ergonomia de Conscientização”, cujo objeto de estudo é o tipo de mudanças que afetam os
postos de trabalho e sobre os quais a organização tenha de praticar e estimular atenções, a fim

11
Dentre as principais conclusões dessa pesquisa de campo feita por Soares (2020), uma delas foi de que há
necessidade da atualização da norma que regula esse tipo de operação, a fim de que o vocabulário da Ergonomia
seja assimilado pelas normas institucionais, par auxílio à melhor compreensão de como preencher corretamente
os relatórios e sobre de que maneira se deve gerir o emprego operacional: “no curso desta pesquisa, restou
envidraçado que existe um hiato entre o que é prescrito nas normas e o que, de fato, é realizado pelos planejadores
das operações. Isso lhe exige uma criatividade além da norma, o que, ao cabo, personaliza a ação de comando e
pode comprometer o entendimento da tarefa e, consequentemente o desempenho no indicador de RQV. Quanto a
isso, sugerem-se estudos para edição de uma diretriz para sistematizar ferramentas de suporte aos processo
decisório, como forma de fundamentar a tomada de decisão dos planejadores de operação e proporcionar um
otimização da atividade-fim.” (SOARES, 2020, p. 107).
72

de modificar, alterar ou introduzir novas soluções. Tal é necessário porque “novos problemas
poderão surgir a qualquer tempo, devido ao desgaste natural das máquinas e equipamentos, a
modificações introduzidas pelo serviço de manutenção, alteração dos produtos e da
programação da produção [...].” (IIDA, 2002, p. 8).
O enfoque trazido para a ISP tem um alcance que abrange as três facetas da
Ergonomia mencionadas pelo Iida (2002). É “de concepção” porque não existem ainda
indicadores de Inteligência na Polícia Militar e essa é a razão da realização desta monografia.
É de correção porque a situação em que está a ocorrer o trabalho da ISP, sem indicadores
precisos, reflete-se, principalmente, na qualidade da produção, além de poder provocar fadiga
ou doenças nos integrantes do SIPOM, devido à falta de um objetivo claramente identificado
para nortear os trabalhos. É também de conscientização porque, com esta pesquisa, pretende-
se iluminar a demanda, isto é, aquelas situações do ambiente externo e interno da Corporação
que existem, influem na PMMG mas, ante a falta de um olhar atento e perscrutador, podem
passar desapercebidas pelo profissional de ISP. No capítulo 2 e no presente capítulo 3, fez-se
um esforço muito grande para explicitar a demanda, exatamente para gerar a conscientização.
Seguindo um caminho de investigação parecido com o de Soares (2020) e
submetendo-se aos conceitos de Iida (2002) e outros autores, que estão devidamente apontados
em toda esta pesquisa, este capítulo tem o objetivo de tratar das relações entre Inteligência de
Segurança Pública e Ergonomia. A maneira como isso está feito é a seguinte: reflexões que
abrangem a ideia teórica e prática, ora de ISP, ora de Ergonomia, mas sempre tendo como norte
o alcance de quatro conceitos desse último ramo do conhecimento, quais sejam: Demanda
Ergonômica, Tarefa ergonômica, Atividade Ergonômica e Estratégia Operatória Ergonômica.
Demanda Ergonômica significa o conjunto de aspectos que produzem impacto
direto (imediato) ou indireto (mediatamente) no campo de atuação institucional da Polícia
Militar. Tais fatores estão presentes nos ambientes externo e interno da Corporação. Essa
presença dos referidos fatores pode ser verificada de maneira que são perceptíveis, já
assimilados, ou ainda não incorporados pela doutrina e estrutura de Inteligência de Segurança
Pública (ISP).
A Tarefa Ergonômica é o agregado de normas, processos de trabalho e organização
estrutural, pelos quais os policiais militares lotados em funções de ISP têm de se nortear para
desenvolver suas respectivas atividades profissionais.
Atividade Ergonômica, nesta pesquisa monográfica, está compreendida como
aquilo que os integrantes do Sistema de Inteligência da Polícia Militar de Minas Gerais
(SIPOM) fazem para dar conta das missões recebidas ou produzir respostas às necessidades de
73

atuação percebidas por eles no seu respectivo âmbito de trabalho. Pode, por isso, estar
incorporada à doutrina de atuação setorial do referido Sistema.
Estratégia Operatória Ergonômica significa o conjunto operações mentais que
precedem as decisões tomadas pelos integrantes da Comunidade de Inteligência, no nível
individual e subjetivo. A razão de ser desse último aspecto da Ergonomia é que, nele, os
indivíduos fazem escolhas, visando cumprir suas atribuições funcionais.
O presente capítulo é, quando comparado aos demais, equivalente à parte mais
robusta e mais aprofundada desta pesquisa. O motivo para isso pode ser deduzido do título da
monografia (“Inteligência de segurança pública: análise ergonômica da Demanda, Tarefa,
Atividade, Estratégia Operatória e proposta de indicadores”). As quatro vertentes da
Ergonomia, enfocadas neste capítulo, estão tratadas com uma intenção de que os enfoques
escolhidos proporcionem alguma clareza sobre a relevância e urgência que envolve cada
aspecto ergonômico apreciado. É a partir da análise sobre eles que se torna possível entender o
contexto mais profundo em que o combate à criminalidade e a preservação da Polícia Militar
para esse fim mostram-se mais claramente.
Analisar a Demanda passa pela compreensão do seu significado para os
ergonomistas, porque não é uma demanda comum, é algo relacionado ao trabalho. Seja aquele
trabalho feito pela Polícia Militar de Minas para prevenir e reagir à criminalidade, seja aquele
labor feito pela corporação para se manter íntegra no contato com mundo do crime, é tudo
trabalho, igualmente. Semelhantes raciocínios valem para os outros aspectos da Ergonomia
enfocados neste capítulo.
Se, metaforicamente, a atividade de ISP pudesse ser considerada semelhante à de
uma empresa de faxina, o trabalho dos integrantes do SIPOM significaria o ato de limpar ou
conter o avanço da sujeira do lado de fora de uma casa e, também, o ato de ter limpa a roupa
que se usa no desempenho dessa manutenção. Sujeira e limpeza têm, metaforicamente, um
significado laboral, um sentido de preocupação rotineira que os agentes policiais militares
lotados na atividade de ISP tomam como bússola de seu trabalho.
Pressupondo-se ainda válida a comparação metafórica anterior, de conservação da
farda limpa, e sem qualquer intuito de, ao usar essa imagem comparativa, reduzir a importância
do SIPOM, o que se faz na seara da inteligência não se confunde com a atividade de
Corregedoria. Desse modo, o limpar tem um sentido mais amplo, menos nominal, pois,
enquanto a equipe subordinada ao Corregedor da PMMG tem um olhar voltado para os casos
particulares de desvio de conduta, a ISP tem deveres mais amplos, de observar tendências , de
investigar causas próximas e remotas, de antecipar providências à instalação de certos fatores
74

de risco. Fatores esses que podem ser tanto aqueles que dizem respeito a ofensivas de
organizações criminosas na segurança pública, como aqueles outros, menos explícitos, de
potencial instabilização ou precarização das vigas que mantêm funcionando a própria PMMG.
Por isso, a ISP tem a missão de se ocupar dos universais referentes a essa limpeza
interna. Igualmente, precisa indicar as padronagens, as tendências, as grandes linhas de
inclinação ou de mudança de rumos da cultura organizacional que possam impactar ou estejam
tendo impacto na integridade desse “ser” chamado Polícia Militar.
Conforme se vê ainda neste capítulo, o tempo presente não é mais aquele em que
as maiores preocupações da Polícia Militar, quanto aos seus integrantes, limitavam-se a
identificar desvios de conduta e punir os responsáveis. Em outros tempos, as tradicionais P/2
dos Batalhões cuidavam dessas coisas e as P/3 encarregavam-se de planejar o combate à
criminalidade. Atualmente, a realidade é bem outra: as instituições estão sob ataque, este possui
um natureza bem mais complexa e sofisticada, que extrapola consideravelmente tudo aquilo
que antes justificava a existência de um serviço de informações policiais militares. No decorrer
deste capítulo, esse tema é detalhado.
A Polícia Militar é um “ser” que possui contornos próprios, que a fazem
inconfundível, como um bloco cultural que é, ao mesmo tempo, policial e militar, um monólito
identificável a partir de certos traços de sua identidade, de seu “DNA”. Por sua vez,
externamente, o que a ISP faz é garantir a supremacia do Estado contra a criminalidade,
principalmente a integridade da Polícia Militar contra os grandes movimentos de oscilação da
cultura da sociedade, espontâneos ou provocados por fatores estranhos a ela.
Essa garantia é feita intelectualmente, coletando dados, transformando-os em
informações e, por fim, convertendo-os em conhecimento útil para a tomada de decisão, seja
por parte do Comando-Geral, seja por outras Corporações ou organizações públicas que
trabalhem em parceria com a Polícia Militar no mesmo propósito de entender, controlar e
mitigar a criminalidade. É o caso, por exemplo, do Ministério Público e do Tribunal de Justiça
de Minas Gerais.
Esse trabalho de Inteligência que produz conhecimento é, nesse contexto,
equivalente ao de “escanear” a realidade interna e externa, constantemente procurando
oscilações relevantes, no padrão interno dos pilares organizacionais e no padrão externo da
ordem pública.
Esse trabalho da ISP não se limita a contemplar e, portanto, vai além de observar e
mapear a Demanda Ergonômica. O trabalho possui também um alcance normativo e estrutural,
porque a luta contra a criminalidade e a manutenção da saúde organizacional exigem criar
75

normas, padronizar condutas e adequar as estruturas, tudo isso dentro da ideia de ISP. Por
exemplo, o esforço de alcançar eficiência leva ao dever de uma autoavaliação contínua pela
própria ISP, por meio de mecanismos de retroalimentação. Isso, por sua vez, requer estudo
permanente do que esteja acontecendo fora dos muros da Polícia Militar e dentro dos quadros
da Corporação.
Assim, se, no ambiente externo, acontece algo relevante como a deflagração de uma
estratégia de alcance internacional em algum canto do planeta, destinada a paralisar, intimidar
ou inviabilizar o exercício do mencionado mapeamento nos países escolhidos como alvos dessa
estratégia, isso é de interesse da ISP da PMMG. Tal se dá porque a Corporação pode figurar,
sem o saber, na lista dos alvos escolhidos.
A escolha desses alvos e o modo de ataque pode ser pela via não bélica e sim, por
outra via, como, por exemplo, a da Inteligência de Estado. Sobre isso, Skousen (2018) afirma
que uma das metas atuais dos leninistas é “desacreditar e, por fim, desmantelar o FBI [Federal
Bureau of Investigation]” (SKOUSEN 2018, p. 309).
Não só uma das principais agências de inteligência do mundo ocidental está sob
ataque. Os outros países do mesmo ocidente também o estão e, de acordo com Douglass (2001),
coincide quem faz o papel de atacante. Conforme o mencionado autor, a partir dos anos 1960,
houve a intensificação para, usando o serviço de Inteligência, fazer das drogas um meio para
expandir a guerra contra os países-alvo, inclusive com infiltração no crime organizado.

A estratégia revolucionária básica atualizada tomou forma nos anos de 1954 a 1956.
[...] havia cinco principais esforços na estratégia modernizada. Primeiro foi o
treinamento reforçado de líderes para os movimentos revolucionários - os quadros
civis, militares e de inteligência [...]. O terceiro passo foi o tráfico internacional de
drogas e narcóticos. As drogas foram incorporadas na estratégia para travar a guerra
revolucionária como uma arma política e de inteligência [...] para o desdobramento
contra as “sociedades burguesas” e como mecanismo para recrutar agentes de
influência em todo o mundo. O quarto passo foi infiltrar-se no crime organizado e,
além disso, estabelecer sindicatos do crime organizado, patrocinado pelo bloqueio
soviético em todo o mundo. O quinto passo foi planejar e se preparar para sabotagem
em todo o mundo. [...] A decisão de Moscou sobre o crime organizado foi feita em
1955. Ela também deveria ser uma operação global direcionada a todos os países, não
apenas aos Estados Unidos, embora o crime organizado nos Estados Unidos,
juntamente com a França, Alemanha e Itália, eram [fossem] alvos primários. O
principal motivo para a infiltração do crime organizado foi a crença soviética de que
informações de alta qualidade - informações sobre corrupção política, dinheiro e
negócios, relações internacionais, tráfico de drogas e contra-inteligência - se
encontravam no crime organizado [...]. O primeiro plano foi implementado em 1956.
A Tchecoslováquia recebeu instruções sobre as operações a serem realizadas no
âmbito das operações de inteligência [...]. O Plano instruiu a inteligências estratégica
tchecoslovaca a se infiltrar em 17 diferentes grupos do crime organizado, bem como
na máfia na França, Itália, Áustria, América Latina e Alemanha. (DOUGLASS,
2001, p. 33, destaque nosso).
76

Esse ataque à atividade de Inteligência da maior economia do mundo, e às demais,


parece sugerir mais que apenas uma atenção aos seus efeitos sobre a estimulação da
criminalidade. Com base nessa aparentemente válida constatação, a PMMG poderia tirar como
proveito que a sua ISP deva se ocupar apenas de assuntos externos, sem olhar para dentro.
Assim, os raciocínios a respeito de como a Ergonomia seja útil para a ISP ficariam restritos ao
conceito de Demanda Ergonômica, pois esta expressão faz olhar para o ambiente externo das
organizações que a estejam utilizando.
Essa guerra declarada por um serviço de Inteligência contra vários outros tem uma
amplitude que extrapola o simples jogo da espionagem e contraespionagem entre agências,
porque, segundo Carré (1972), o propósito da agência leninista levou seus esforços para muito
mais longe do que isso: fez com que fosse deflagrada uma operação específica, nos anos 30, de
alcance internacional, denominada “Operação Anti Apóstolo”, sintetizada pelos planejadores
na sigla “AA”.
Por meio de tal iniciativa da equipe de Vladimir Lenin, à época Primeiro Ministro
da União Soviética, a principal instituição que esse líder via como um obstáculo ao seus
objetivos foi a escolhida para receber de modo intensivo, inscrições por parte de agentes. Estes
tinham por missão ingressar nas escolas que a instituição-alvo mantinha abertas em vários
lugares do mundo, chamadas seminários. Após isso, deveriam se formar, seguir carreira e ficar
o tempo todo a postos para o acionamento da fase 2 da operação, a qual seria ativada no
momento que fosse mais indicado. No subcapítulo 3.1 desta monografia, esse assunto é
detalhado.
A relevância disso para a inteligência de segurança pública da PMMG soa
aparentemente inexistente. Entretanto, essa aparência de irrelevância é, ela própria, fruto de
dois padrões, o coletivismo de Adam Weishaupt (1748-1830) e o coletivismo de Auguste
Comte (1798-1857). Os dois pertencem aos séculos XVIII e XIX e isso induz a pensar que
fugiria aos objetivos desta monografia ir tão longe no tempo. Mas esse não é o caso, pois os
reflexos desses pensadores vieram a se abater sobre a PMMG apenas no início do século XX
(o positivism) e meados do memo século XX (o coletivismo weishoutiano, mais conhecido na
sua vertente popularizada, o marxismo).
Contudo, quando se conhece o nome mais específico do que cada um desses autores
fez, as coisas começam a ganhar um tom de atualidade e fatos que pareciam desconexos se
mostram dentro do mesmo padrão relevante para a ISP. Sem entrar propriamente nos detalhes,
os quais estão contidos no subcapítulo 3.1, basta, por enquanto, frisar que o coletivismo de
Adam Weishaupt é aquele contra o qual a PMMG foi toda mobilizada, em parceria com o
77

Exército Brasileiro, no início dos anos 1960, sob o comando do Cel José Geraldo de Oliveira,
sendo Governador do Estado Francelino Pereira.
Quanto ao coletivismo de Auguste Comte, a sua relevância para a ISP é que foi por
causa dele que a PMMG começou, desde a virada do Século XIX para o XX, a tratar seus pilares
institucionais de um modo estimulador daquilo que, a partir dos anos 60 até meados dos anos
1990, foi, aos poucos, desgastando o tecido das complexas relações entre os dois quadros de
pessoal (Oficiais e Praças). Isso culminou na primeira e mais grave greve de policiais militares
que balançou, não apenas a PMMG, mas, em efeito dominó, várias outras corporações coirmãs.
Por isso, as particularidades e as interfaces desses dois coletivismos merecem atenção.
No entanto, conforme já mencionado neste capítulo, esse olhar exclusivista sobre o
ambiente externo à Polícia Militar pela ISP configuraria um erro estratégico. Com efeito, os
desafios, os perigos, as ameaças, possíveis e observáveis no ambiente interno, de interesse da
mesma ISP, ficariam esquecidos, subestimados, menosprezados, tratados de modo apenas
figurativo, com eventuais e muito esporádicas consultas ao SIPOM por parte de outros setores
da Polícia Militar.
A realidade, entretanto, é que a expressão Tarefa Ergonômica (que significa normas
e estruturas de trabalho) e a expressão Atividade Ergonômica (que significa o que se faz para
cumprir as prescrições contidas nas normas, em atenção à missão organizacional), bem como a
expressão Estratégia Operatória Ergonômica (que significa o modo como cada profissional do
SIPOM se comporta para cumprir sua tarefa, por meio da atividade), todas elas, reunidas,
servem para olhar para dentro da Corporação. Elas estão detalhadas nos subcapítulos 3.2, 3.3 e
3.4 respectivamente. A Demanda Ergonômica, que ajuda a olhar para o ambiente externo, está
detalhada, no subcapítulo 3.1.
O que sugere olhar para dentro da Polícia Militar, por meio da ISP, são as
consequências de uma observação procedida por Freitas (2003), o qual afirma que, na ocasião
em que “uma comunidade ou audiência se convence da validade de determinada afirmação,
isso pode dever-se a uma deficiência da própria comunidade ou da audiência e não, aos méritos
da afirmação” (FREITAS, 2003, p. 238).
De maneira semelhante, se, em alguma comunidade científica que tenha
representantes na PMMG e atribuições relacionadas à educação profissional e escolar, ocorra,
de modo consensual, uma adesão a determinada “teoria”, e tal comunidade queira trazer para
aplicação na PMMG essa teoria, isso que parece apenas um tema da competência dos
pedagogos da Academia de Polícia Militar e dos da Diretoria de Educação Escolar e Assistência
Social (DEEAS), que cuidam, ambos, dos cursos profissionais da PMMG e das grades
78

curriculares do Colégio Tiradentes, extrapola essas pessoas: essas coisas têm relação com a ISP
porque o contato desta com os assuntos decorrentes da Demanda Ergonômica a torna totalmente
acostumada a perceber os efeitos do ambiente externo sobre o ambiente interno.
Benedetti (2020) afirma que “a área educacional é inteiramente dominada pelo
socioconstrutivismo e pelo sociointeracionismo [...] [que] são simplesmente falácias pseudo
científicas”. (BENEDETTI, 2020, p. 17-18). Isso ocorre porque a própria comunidade que traga
a “boa” novidade poderá estar sendo manipulada por algum grupo de intelectuais e estrategistas
externos a ela, que tenham objetivos específicos de usar a mesma comunidade para propagar
pseudo ciência como forma de enfraquecer o uso pleno da razão. Esse é o caso, por exemplo,
do uso da comunidade dos pedagogos afirmados por Bernadin (2012) como via indireta para
solapar, nas inteligências das pessoas que frequentem ambientes escolares, a capacidade de
pensar com clareza sobre a realidade.
A título meramente exemplificativo da importância da atenção a esses
desdobramentos internos de decisões externas, um caso particular mostra-se útil para a melhor
compreensão: trata-se da assimilação pelo setor de doutrina operacional da PMMG de uma
versão distorcida do significado da expressão direitos humanos, conforme está detalhado no
subcapítulo 3.2. O efeito momentâneo disso foi o da incorporação de uma forma de agir
operacionalmente que, na prática, paralisava as tropas diante de situações que requeriam
resposta firme e imediata. Somente depois de perceber os efeitos danosos dessa assimilação,
foi que a Polícia Militar fez um recuo, revisou sua diretriz de Direitos Humanos e interrompeu
o efeito paralisante que essa norma estava provocando no atendimento de certas ocorrências
policiais12.
Foi o caso do comportamento operacional tolerante para com obstrução de vias
públicas com uso de pneus em chamas, em horário de pico de trânsito, por parte de pessoas que
se diziam exercedoras do direito “sagrado” à manifestação política. O mesmo se deu em
ocorrências de reintegração de posse, nas quais os manifestantes, invasores de terra, até então
vinham contando com a passividade e lentidão da Polícia Militar no teatro de operações. Nesses
casos, a PMMG não se dera conta de que sua lentidão desgastava sua autoridade e sua imagem
de força pública destinada a conservar um dos pilares da democracia brasileira, que é o direito
de propriedade.

12
Em 20 de dezembro de 2018, foi publicada Diretriz de Direitos Humanos nº 3.01.09/2018-CG (MINAS
GERAIS, 2018b). Além de revogar a Dretriz anterior, de 2010, a nova Diretriz contém recomendação sobre o
ensino na PMMG na área que lhe é afeta: “As grades curriculares dos diversos cursos da Polícia Militar, bem como
no [do] treinamento policial militar Básico (TPB) deverão ser adequados à presente Diretriz a partir de janeiro de
2019, de forma a contemplar as novas estratégias do Comando-Geral” (MINAS GERAIS, 2018b, p. 45).
79

No mesmo sentido, desgastava-se também quanto a assegurar a plenitude de um


outro pilar do mesmo regime democrático, que é o dever de obediência às ordens judiciais por
parte de quem esteja mencionado nelas como destinatário da determinação expedida por
Magistrado (pessoa individual ou grupo de pessoas) para que se saia de um certo lugar.
A ISP da PMMG tem de olhar sempre para fora, aprendendo todos os dias como a
guerra entre serviços de inteligência esteja se desenrolando. Por conta dessa prática, torna-se o
setor mais indicado para processar essas informações e lhes atribuir significado, comunicando-
o aos setores internos e os alertando a respeito desses “respingos”, reflexos, efeitos colaterais
decorrentes dessa guerra maior.
O olhar privilegiado da ISP sobre essas coisas faz com que o SIPOM tenha papel
muito importante no ato de prevenir que a PM, em primeira mão, evite passar pelo desgaste
fundado numa norma que ela mesma fez contra si, para, só depois, recuar diante dessa norma,
depois de esta lhe causar dano.
O SIPOM tem legitimidade para subsidiar o setor de doutrina de emprego
operacional da PMMG com informações e conhecimentos que mostrem a relação de
causalidade entre um particular, a invasão de terra do imóvel “x”, e o universal em que ele está
inserido. Esse unvieral poderá ser o ataque a um pilar da sociedade brasileira, que é o dever do
Estado evitar, por meio da Polícia Militar, que pessoas ou grupos ataquem o direito de
propriedade de outras pessoas ou grupos. Tudo isso, ante o olhar da ISP, pode ter um significado
mais amplo.
Tal postura profissional vai muito além de evitar furto e roubo e encontra aplicação
no dever de evitar, por exemplo, que Juizes de Direito sejam banalizados em suas ordens. O
mesmo dever dever se aplica a poupar que cidadãos proprietários de imóveis sejam atacados,
ou ainda que Promotores de Justiça atuantes contra organizações criminosas envolvidas com o
comércio ilegal de imóveis, ou móveis, sejam agredidos pelos usurpadores. Sobre este ultimo
exeplo, ocorreu um caso recente, no início dos anos 2000 deste século, quando um Promotor
de Justiça foi assassinado porque lutava contra a mafia dos combustíveis13
Essas considerações iniciais já dão condições de tratar, a seguir, do alcance e
relevância das expressões tiradas da Ergonomia, já mencionadas, refletindo sobre como elas
importam e ajudam a iluminar o que existe de relação entre elas e a atividade de ISP, a começar
da expressão Demanda Ergonômica.

13
Promotor de Justiça Francisco José Lins do Rego, vítima de homicídio em 25/01/2002, praticado por um policial
militar de folga, a mando de operador de máfia de postos de combustíveis que era investigado pelo referido
membro do Ministério Público.
80

A união de duas palavras gregas - “ergon”, que significa trabalho, com “nomos”,
que tem o significado de regras - é o que dá origem à palavra Ergonomia. Tem aumentado muito
o uso das potencialidades dela, para ajudar a estudar o mundo do trabalho. Falzon (2014) afirma
que essa área do conhecimento está situada em um ponto de tensão entre olhar as organizações
e o seu desempenho, quanto à eficiência, confiabilidade, qualidade, produtividade e outros
aspectos, e observar as pessoas em situações de trabalho, sob as dimensões do conforto,
segurança, satisfação, saúde, facilidade de uso de instrumentos e uma longa lista de outros itens.
Essa área do saber é um desdobramento da Engenharia de Produção e os temas que
se escutam nela são relacionados ao que cada organização estudada prescreve para os seus
integrantes. À essa prescrição, dá-se o nome de Tarefa, cujo significado abrange normas e
estruturas. Já àquilo que as pessoas fazem diante dessas parametrizações (diante da Tarefa),
dá-se o nome de Atividade. Além desses dois conceitos, existem outros. Contudo, apenas mais
dois interessam a esta pesquisa e estão contidos neste capítulo, quais sejam, o de Demanda e o
de Estratégia Operatória.
Demanda significa o contexto externo da organização, justificador da existência
desta. Estratégia Operatória é sinônimo de conjunto condutas e ideias que os executores de uma
determinada atividade utilizam, para conseguirem lidar com imprevistos ou se manterem
eficientes diante das lacunas encontradas no caso concreto em termos da ausência de previsão
sobre como proceder. Na PMMG, por exemplo, esse termo é culturalmente denominado
“engenho e arte”. Em termos mais grotescos, pode-se mencionar aquela desagradável expressão
que os militares mais antigos costumam contar que, às vezes, escutavam de seus superiores
quando se deparavam com uma situação cuja solução não era previamente conhecida: “- Se
vira!”.
Outra forma como a Estratégia Operatória pode ser ilustrada na realidade da Polícia
Militar é a referente ao conjunto de improvisos que os executores de uma determinada missão
tinham de fazer para concretizá-la e que, para isso, praticavam a criatividade e o compromisso
com o resultado. A expressão “mensagem à Garcia” é bem iluminadora dessa realidade.
Esse é o lado positivo da Estratégia Operatória, mas, neste capítulo, está também
tratado o lado negativo. Este consiste na radicalização da individualidade do policial militar e
nas consequências disso: o desvio de conduta, o adoecimento mental sem a procura de ajuda
oportuna ou sem que a ajuda encontrada seja suficiente, o alcoolismo, o autoextermínio, a
inobservância dos padrões de atuação operacional (decaindo para o abuso de autoridade), entre
outros.
81

A esse tipo de radicalização da individualidade pode-se nominar subjetivismo


absoluto, que consiste em o indivíduo tomar a si mesmo como o melhor e único padrão de
conduta a seguir. Dessa forma, apenas ele determina a si mesmo, sem a necessidade de se
submeter a regras ou a autoridades, pensamento esse cujo estímulo alguns atribuem ao filósofo
alemão Immanuel Kant (1724-1804). No subcapítulo 3.4, esse assunto é detalhado.
Para a atividade de Inteligência, chama-se novamente à atenção, importam os
padrões que estejam presentes nisso, não os desvios de conduta em si. Estes já são
acompanhados pelas atividades de Corregedoria da Polícia Militar. A atividade de ISP contém,
portanto, aspectos que possibilitam refletir sobre ela usando-se essas quatro palavras. Começa-
se pela Demanda e, na sequência, apontam-se as aplicações dos conceitos de Tarefa, Atividade
e Estratégia Operatória.

3.1 A Demanda Ergonômica de Inteligência de Segurança Pública

Nas quatro seções do capítulo anterior, procurou-se mostrar que a realidade pode
ser lida em relação a padrões. O método científico de raciocínio é o meio útil para observá-los.
Por sua vez, a atividade de Inteligência é parte desse esforço de identificar padrões com
cientificidade e, por fim, a ISP pode ser sofisticada por meio do uso de indicadores.
Essas quatro abordagens são importantes como preâmbulo para pensar sobre a
Ergonomia, na sua interface com a ISP. Neste momento, é oportuno usar os mesmos
pressupostos discutidos no Capítulo 2 para tratar Demanda Ergonômica da Inteligência de
Segurança Pública. Na prática, isso significa descrever situações amplas envolvendo
consequências de aumento da criminalidade, nas quais a Inteligência estrangeira foi usada
contra a ISP.
A contribuição que esse exercício mental pode dar é a de mostrar o quanto a
atividade de Inteligência serve para enxergar a realidade, os padrões que estão presentes nessa
realidade e que interessam à ISP. Com efeito, há casos concretos, aparentemente desconexos
uns dos outros, que ganham significado e clareza, quando colocados em uma lógica
universalista, por meio da qual se busque identificar o universal oculto por trás dos eventos
particulares.
Dinelli (2018), reportando-se a Carvalho (2001), afirma que “a inteligência
organizacional se estrutura na forma de um ciclo contínuo de atividades que abrangem o
sensoriamento do ambiente, o desenvolvimento da percepção e a criação de novas significações
82

por meio da interpretação dos dados disponíveis”. (CARVALHO, 2001, apud DINELLI, 2018,
p. 103).
É disso que cuida este subcapítulo, isto é, de mostrar alguns padrões no ambiente
para cujo sensoriamento a percepção do profissional de ISP precisa estar bem desenvolvida,
senão esses padrões poderão passar completamente despercebidos aos profissionais de
Inteligência da Corporção. É uma atitude mental que requer, conforme anteriormente apontado,
a disposição para reconhecer o universal por trás de cada evento particular.
Afirmando de outra maneira, pode-se conseguir identificar uma causa comum em
efeitos, aparente diversos e desconexos. Essa é, portanto, a Demanda para a Inteligência de
Segurança Pública: conhecer as causas para, a partir delas, trabalhar para neutralizar seus
efeitos. Contudo, o primeiro passo é compreender o que exatamente significa esse termo
(Demanda). É o que se passa a tratar agora.
A palavra Demanda costuma ser empregada, no senso comum, com o sentido de
pedido. O que é demandado é visto, então, como aquilo que um determinado interessado
solicitou. Levada para o campo do atendimento judiciário, por exemplo, essa mesma palavra
representa o conflito entre duas partes, que é apresentado a um Juiz, o qual expressará a palavra
final sobre a quem pertença o direito, ou a razão, relativa àquele conflito.
Na Ergonomia, Demanda reflete, segundo Guérin et al. (2005), as relações e as
preocupações existentes na sociedade em determinado momento e que interessam à
organização:

Uma demanda social é uma demanda expressa num quadro institucional. Pode vir de
uma direção de empresa, de uma comissão de fábrica, de uma organização
profissional ou sindical, etc. Toda demanda é a expressão de um certo número de
objetivos não necessariamente compartilhados por todos os parceiros. Às vezes, são
até contraditórios. É sempre necessário fazer a análise de uma demanda socialmente
expressa, para definir seu objeto e as possibilidades de ação [...]. Podem se distinguir
dois grandes tipos de demanda para uma ação ergonômica: as que são formuladas na
origem de um projeto de concepção que transforma profundamente a atividade dos
trabalhadores da empresa [...]. O campo que pode ser coberto por esse tipo de ação
ergonômica é, a priori, extremamente amplo. [Já] As que são formuladas no quadro
de sua evolução permanente têm por objeto tratar de questões não-resolvidas às vezes
por um longo período e que, progressivamente, vão atingindo um nível de importância
tal que tratar delas se torna indispensável. (GUÉRIN et al, 2005, p. 87).

Aplicando essas ideias de Guérin et al (2005) para pensar sobre a ISP, a Demanda
Ergonômica se torna interessante para considerer a “direção de empresa”(de onde provém a
demanda social) como sendo interesse público implícito na razão de existir da Polícia Militar.
Pode estar ainda representada, por exemplo, no desejo de certos grupos profissionais (os
policiais militares da atividade operacional e os da atividade atividade administrativa, ou ambos
83

em conjunto) de enfrentar a criminalidade e manter as pessoas protegidas contra todo tipo de


maquinação destinado a espalhar o medo e a morte na sociedade. Os “objetivos não
necessariamente compartilhados por todos os parceiros” significam, na segurança pública, a
existência de certas desagradáveis atuações por parte de outros órgãos, contra os objetivos
maiores de preservar a ordem pública.
Pode a Demanda, neste último caso, ser apontada como o exemplo a relação
inadequada entre o governo de Leonel Brizola, no Rio de Janeiro, e pesos determindas de
comunidades nas quais elas estavam envolvidas com a prática de crimes e ali costumavam se
esconder. Moura Brasil (2020) afirma que o referido titular do poder Executivo suspendeu todas
as ações da polícia nesses espaços urbanos do Rio de Janeiro. Ao tomar essa decisão, abriu
caminho para a transformação desses lugares em feudos de traficantes de drogas e, em razão
disso, deu-se a popularização de certa substância entorpecente, a cocaína, com um curioso
apelido, “brizola” (MOURA BRASIL, 2020, p.1).
É, portanto, uma Demanda para a Polícia Militar, proveniente de um “parceiro”
cujo objetivo, além de não haver sido compartilhado, é incompatível com os valores
institucionais. Já o efeitos da ação, ao contrário, impactam diretamente a atividade policial
militar. Esse tipo de Demanda, portanto, conforme Dinelli (2018) e Carvalho (2001), precisa
ser monitorado no ambiente, percebido e interpretado adequadamente pelo profissional de ISP.
O aludido político (parceiro com objetivos não compartilhados) que recebeu essa
“homenagem” era do Poder Executivo. Entretanto, o profissional de Inteligência precisa estar
atento à realidade, para acompanhar e monitorar esse tipo de Demanda, que pode provir de
qualquer “parceiro”. A proibição de ação policial nos morros cariocas, por exemplo, não
necessariamente é um fato isolado. Pode obedecer a uma lógica mais ampla, que consiste em
fazer com que cada vez maiores extratos da sociedade e do Estado trabalhem a favor da mesma
meta, da mesma agenda. Nesse caso, a atitude de Leonel Brizola, estranhamente, veio a ser, no
ano corrente (2020), repetida, não por parte do Poder que controla a Polícia, mas sim, do Poder
Judiciário14.
Então, como os efeitos de tais decisões têm impactos profundos no trabalho da
Polícia Militar, a ISP precisa monitorar, identificar a origem, as motivações, entre outros. Pessi
e Souza (2017) afirmam que a sociedade brasileira tem sido palco de uma ideologia
bandidólatra, a qual se apresenta identificável com uma adaptação de uma certa expressão

14
A Ação Declaratória de Princípio Fundamental (ADPF) n. 635, de 04 de agosto de 2020, estabelece, com o
placar de 9 a 2, que operações policiais estão proibidas em comunidades no Rio de Janeiro, exceto em casos
extraordinários. Disponível em http://www.conjur.com.br/dl/adpf-rio-fachin.pdf. Acesso em 04/10/2020.
84

popular, conhecida como “lobo em pele de cordeiro”. Mudando o tom da conversa,


agressivamente, os autores renomeiam a expressão, chamando-a, em tom inegavelmente ácido,
“o lobo em toga de cordeiro”. Trata-se de uma situação nova, que, conforme os autores, implica
o Poder Judiciário contra o interesse público e a favor dos objetivos de pessoas dedicadas ao
cometimento de crimes (PESSI; SOUZA, 2017).
A recente decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), de proibir, salvo casos
previamente discutidos e autorizados, a realização de ações policiais militares nos morros
cariocas, sob o argumento da pandemia do COVID-19, indica que ato praticado por Leonel
Brizola foi repetido, desta vez por Magistrados. Sem entrar no mérito da citada decisão, nem
adotar o tom agressivo de Pessi e Souza (2017), o que se pode afirmar, indubitavelmente, é
que esse tipo de Demanda Ergonômica é passível e necessário de ser monitorado pela ISP.
Repetindo, seus efeitos afetam diretamente a Polícia Militar.
Voltando às afirmações feitas pelo jornalista Felipe Moura Brasil, pode-se
asseverar que elas retratam um dos aspectos de algo maior: a relação entre algo legítimo, que é
a luta política, e outra coisa que não tem legitimidade dentro do conceito de democracia, a
prática de associação entre pessoas para o cometimento de crimes.
Amorim (1993) afirma que existe uma história secreta do crime organizado no Rio
de Janeiro e que, nesses bastidores, está a origem do Comando Vermelho (CV). Conforme o
jornalista, essa origem resulta de uma associação entre ideias de libertação popular observadas
num determinado grupo de presos do presídio da Ilha Grande e vontades de prática de crimes
por um outro tipo de público, também preso no mesmo estabelecimento.
Carvalho (2014) afirma que o caso do Rio de Janeiro é a concretização de uma
paralisia na capacidade do Poder Público enfrentar um processo de ampliação espacial e de
poderio bélico do Comando Vermelho. A origem disso, conforme o autor, está em um um
entrosamento, detalhado em um dos livros do jornalista Carlos Amorim:

AS ESQUERDAS E O CRIME ORGANIZADO “Comando Vermelho. A História


Secreta do Crime Organizado”, de Carlos Amorim, é um trabalho de valor
excepcional, cuja leitura se recomenda a todos os brasileiros que se preocupem com
o futuro deste país. Futuro do qual se pode ter um vislumbre pelas palavras de Willian
Lima da Silva, o “Professor”, fundador e guru do Comando Vermelho [...]:
“conseguimos aquilo que a guerrilha não conseguiu, o apoio da população carente.
Vou aos morros e vejo crianças com disposição, fumando e vendendo baseado.
Futuramente, elas serão três milhões de adolescentes, que matarão vocês [a polícia]
nas esquinas. Já pensou o que serão três milhões de adolescentes e dez milhões de
desempregados em armas?” A quem entenda isso como mera expressão de um delírio
megalômano, o livro de Carlos Amorim mostra que a sinistra profecia já está em curso
de realização: o Comando Vermelho não apenas domina dois quintos do território do
Grande Rio, desfrutando aí [d]o monopólio dos sequestros, do comércio de carros
roubados, do tráfico de drogas, mas exerce também nessa área funções de governo,
85

por meio do terror alternado com lisonjas paternalistas. (CARVALHO, 2014, p. 97-
98)

Essas considerações de Carvalho (2014) fazem supor que a expansão do crime


organizado no Rio de Janeiro seria resultante da associação entre agentes políticos brasileiros e
membros da organização criminosa chamada Comando Vermelho. Ampliando esse conceito,
Story (2001), afirma que existe uma bem estruturada estratégia de uso das drogas como fator
psicopolítico para criar nos países visados, na chamada Guerra Psicopolítica deflagrada por
Vladimir Lenin, um ambiente propício entre os adolescentes para que sejam combinadas
algumas características destrutivas, quais sejam: a inutilidade, a ociosidade, a selvageria, o vício
em literatura sexual e a propaganda leninista de transformação do mundo.
O objetivo maior por trás dessa estratégia, conforme o autor, é instalar nesses
lugares a ganância por drogas, a liberdade descontrolada, o mal comportamento sexual e a
escuta dócil às ideias revolucionárias leninistas. Story (2001) arremata afirmando que tal
situação idealizada configura uma etapa necessária para criar o caos nesses ambientes e, assim,
ter maior facilidade de, em seguida, fazer um realinhamento de lealdades. Nesse realinhamento,
a lealdade à nação de cada país-alvo é substituída pela lealdade ao projeto revolucionário do
referido estrategista:

A juventude da sociedade, em particular, deveria ser alvo - uma vez que, no devido
tempo, assumiria posições de influência com seus valores e lealdade corroídos “e
mudados” para o benefício irreversível da revolução. Ao disponibilizar prontamente
drogas disponíveis de vários tipos, dando ao adolescente álcool, louvando sua
natureza selvagem, estimulando-o com literatura sexual e propaganda para ele [...], o
operador psicopolítico pode criar a atitude necessária do caos, ociosidade e inutilidade
[...]. Ele pode, a partir de sua posição como autoridade na mente, aconselhar todas as
formas de medidas destrutivas. [Como educador] ele pode ensinar a falta de controle
dessa criança em casa. Ele pode instruir, em uma situação ótima, a nação inteira em
como lidar com as crianças - e instruí-las para que as crianças, sem controle, sem uma
casa real, possam correr despreocupadamente com a responsabilidade de sua nação
ou de si mesmas. O desalinhamento da lealdade da juventude a uma nação [não
comunista] estabelece o estágio adequado para um realinhamento de suas lealdades
com o comunismo. Criando uma ganância por drogas, mal comportamento sexual e
liberdade descontrolada e apresentado isso a eles como um benefício [...], com
facilidade trará nosso realinhamento [de lealdades]. [...] Essa substância maligna é
certamente um subproduto do programa contínuo de armas químicas e biológicas [...]
o flagelo mundial das drogas foi sequestrado, desenvolvido e cooptado por agentes de
inteligência estrangeiros e tornou-se uma dimensão primária da Revolução Mundial
Leninista contínua [...]. (STORY, 2001, p. 9-10).

E vale relembrar, o trecho citado de Story (2001) traz à mente o funk de McRick
(Nada mudou), já mencionado no subcapítulo 2.1 desta monografia. O que indicam as obras
referenciadas é que há um elo entre propagação da criminalidade, estimulação da decadência
comportamental das crianças e dos adolescentes, uso de argumentações em defesa disso e a
86

atividade de inteligência por parte dos estrategistas estrangeiros e seus asselcas lolcais que têm
a missão de administrar esse plano.
Então, o que parece um problema operacional para as polícias é, na verdade, um
problema de Inteligência de Segurança Pública. Com efeito, da parte dos planejadores leninistas
e dos profissionais de ISP dos países visados, a Inteligência tem papel fundamental, mas com
uma abrangência que ultrapassa a tradicional área do apoio ao policiamento ostensivo. Como
se nota, o campo da batalha para a propagação das drogas, eleito pelos atacantes, não é o da
troca de tiros com a polícia e sim, o da cultura.
Por isso, mencionou-se, no início deste subcapítulo, a necessidade de os
profissionais de ISP enxergarem, na realidade, os padrões que estão presentes nessa mesma
realidade e que interessam à Segurança Pública. Com efeito, há casos concretos, aparentemente
desconexos uns dos outros, que podem partir de uma fonte comum. Enxergar padrões deve ser
a essência desse tipo de profissional.
Como se percebe, a realidade indica que o propósito leninista é usar o flagelo das
drogas para mudar as disposições mentais das nações definidas como alvos, a fim de que os
seus integrantes percam a lealdade ao seu próprio povo e passem a ter lealdade a um grupo
sediado fora dos limites dos países-alvo. É cabível aqui a informação já mencionada no início
do Capítulo 3, acerca do que escreveu Douglass (2001)15. Sobre esse tema, o autor destaca que,
a partir dos anos 1960, os serviços de Inteligência foram usados ativamente para expandir a
guerra contra os países-alvo por meio das drogas, mesmo com infiltração no crime organizado.
Essas afirmações de Douglas (2001) reforçam aquelas feitas por Amorim (1993) e
Carvalho (2014) quanto ao elo entre política, atividade de Inteligência e crime organizado.
Existe, contudo, uma outra frente, em que a atividade de inteligência novamente foi mobilizada.

15
“A estratégia revolucionária básica atualizada tomou forma nos anos de 1954 a 1956. [...] havia cinco principais
esforços na estratégia modernizada. Primeiro foi o treinamento reforçado de líderes para os movimentos
revolucionários - os quadros civis, militares e de inteligência [...]. O terceiro passo foi o tráfico internacional de
drogas e narcóticos. As drogas foram incorporadas na estratégia para travar a guerra revolucionária como uma
arma política e de inteligência [...] para o desdobramento contra as “sociedades burguesas” e como mecanismo
para recrutar agentes de influência em todo o mundo. O quarto passo foi infiltrar-se no crime organizado e, além
disso, estabelecer sindicatos do crime organizado, patrocinado pelo bloqueio soviético em todo o mundo. O quinto
passo foi planejar e se preparar para sabotagem em todo o mundo. [...] A decisão de Moscou sobre o crime
organizado foi feita em 1955. Ela também deveria ser uma operação global direcionada a todos os países, não
apenas aos Estados Unidos, embora o crime organizado nos Estados Unidos, juntamente com a França, Alemanha
e Itália, eram alvos primários. O principal motivo para a infiltração do crime organizado foi a crença soviética de
que informações de alta qualidade - informações sobre corrupção política, dinheiro e negócios, relações
internacionais, tráfico de drogas e contra-inteligência - se encontravam no crime organizado [...]. O primeiro plano
foi implementado em 1956. A Checoslováquia recebeu instruções sobre as operações a serem realizadas no âmbito
das operações de inteligência [...]. O Plano instrui a inteligências estratégica checoslovaca a se infiltrar em 17
diferentes grupos do crime organizado, bem como na máfia na França, Itália, Áustria, América Latina e
Alemanha”. (DOUGLASS, 2001, p. 33).
87

Desta vez, buscou-se o alcance de objetivos de redução da soberania dos países-alvo e de


substituição da lealdade pátria pela lealdade partidária no público dos jovens.
Isso aconteceu, segundo Carré (1972), mediante a criação de um planejamento
estratégico de longo prazo, nos anos 30, por Lenin, caracterizado pela infiltração de agentes
leninistas naquela organização internacional que ele considerava sua grande adversária: a Igreja
Católica Apostólica Romana.
O objetivo era promover infiltrações de agenes jovens a partir de vários países em
Seminários católicos, sendo missão dos infiltrados procurar ter um comportamento exemplar,
para merecerem as promoções às variadas funções eclesiásticas. O ato desejado seguinte para
os infiltrados, como consequência desse comportamento exemplar, foi que, no momento certo,
ativassem a operação de guerra, que consistiria em fazer um movimento interno na instituição
infiltrada, para alterar pontos aparentemente banais, tendo em vista criar uma determinada
maneira de a instituição alvo passar a sabotar-se de modo praticamente imperceptível para os
seus integrantes.
De acordo com Wiltgen (2007), do final dos anos 1950 até o fim da década seguinte,
houve intensa mobilização nos bastidores das estruturas eclesiásticas católicas da Bélgica,
França, Áustria, Suíça, Países Baixos e Alemanha. Dessas articulações resultou a formação de
um movimento que, durante o Concílio Vaticano II, desencadeou na Igreja uma profunda
alteração nas doutrinas e formulações impactantes na cultura religiosa dessa instituição.
De acordo com Libânio (1983), formaram-se, em decorrência da convocação do
Concílio Vaticano II, em 1961, pelo Papa João XXIII, várias frentes e velocidades de auto
demolição da Igreja. Conforme o autor, um dos aspectos dessa demolição foi o abandono de
um cerimonial clássico de oração pública chamado rito de Pio V.
Existe, portanto, um ataque à virtude do nacionalismo, feito em duas frentes: uma
direcionada a transformar a lealdade das crianças e dos adolescentes ao seu respectivo grupo
familiar e nacional. Isso se deu por meio da estimulação da sexualidade, do consumo de bebidas
alcoólicas e do acesso a variados tipos de drogas, explorando assim a potencialidade da
exacerbação da agressividade. Outro é o ataque ao principal rito religioso de coesão social do
ocidente.
Especificamente a respeito da primeira estratégia, Skousen (2018) afirma que
algumas das metas do programa leninista para o controle dessa faixa das populações alvo,
destinadas a lhes estimular o comportamento agressivo e à perda da noção de fidelidade ao seus
grupos de origem, são:
88

13. Acabar com todos o juramentos de fidelidade [...]. Em 1949, por exemplo, uma
iniciativa dos Jovens Progressistas (“Young Progressives” - YP) exigiu que as
universidades abolissem os juramentos de lealdade dos estudantes que participassem
dos programas ROTC [o autor informa, em nota de rodapé que o ROTC é semelhante
ao Centro de Preparação de Oficiais da Reserva - CPOR - brasileiro]. O YP alegou
que, se os juramentos fossem autorizados, constituíram endosso oficial pela
universidade, o que faria deles igualmente vinculativos a todos os alunos [...].
(SKOUSEN, 2018, p. 346).

Essa meta, de número 13, é parte de um conjunto maior também destinado ao


público infanto-juvenil. Isso fica evidente pela análise das metas número 17 e 18, que dizem
respeito a como atingir esse público no ambiente escolar. Segundo Skousen (2018), o controle
é feito, direta e indiretamente, por meio da suavização dos currículos, de modo a não tocar em
qualquer assunto que permita perceber a estratégia leninista e abafar, na classe dos professores,
qualquer ato de reação.
Além disso, reduzir a capacidade de raciocínio dos jovens e trocar o ensino de
conhecimentos por uma doutrinação e propaganda partidária; na mesma linhagem, segue a meta
número 18, que visa manipular a classe estudantil em geral, por meio de jornais, pela
estimulação da ideia que é cara aos jovens, de tais veículos de mídia serem “uma voz
independente” (SKOUSEN, 2018, p. 349):

17. Controlar as escolas. Usá-las como meio de transmissão do socialismo e da


propaganda comunista vigente. Suavizar o currículo. Controlar as associações de
professores. Impor a linha do partido nos livros didáticos. Por exemplo, pintar a
cultura acidental, o capitalismo e os valores tradicionais americanos como fonte de
divisão, unilaterais, gananciosos, racistas ou antiquados [...]. Os resultados do
currículo suavizado estão sendo medidos. Em 2003, americanos de 15 anos, estavam
classificados na metade inferior, entre todas a nações, cujas competências em
matemática, leitura e ciência foram examinadas. A redução de uma educação sólida
vem acompanhada do vício nacional em mundo fantásticos, criados com realismo,
cor, som, dimensão e trama, via televisão, internet e videogames [...]. Aqueles que
buscam o controle final sobre as vidas americanas devem começar pelos cidadãos
desacreditados e analfabetos, maleáveis a uma falsa narrativa e ao esquecimento. 18.
Controlar todos os jornais estudantis [...]. As publicações estudantis mudaram de tom:
em vez de servirem como amostra profissional que comporia o currículo do aluno,
passou-se a encorajar nelas a expressão de uma “voz independente”. (SKOUSEN,
2018, p. 348-349).

Esse ataque ao nacionalismo, consiste, portanto, em uma crítica aos juramentos de


lealdade patriótica, alteração dos currículos para que se tornem instrumentos de propaganda,
influência junto à classe de professores para que não mais ensinem e sim doutrinem e invasão
maciça dos veículos de mídia estudantis. Trata-se de um ato planejado, deflagrado e monitorado
no âmbito da atividade de Inteligência, nesse caso pela Komitet Gosudarstveno Bezopasnosti -
Comitê de Segurança do Estado (KGB), segundo Skousen (2018).
89

De acordo com Hazony (2019), o nacionalismo é uma virtude que advém da


estruturação de um grupo em famílias e estas interligadas entre si e a círculos mais amplos de
convivência harmônicos em relação a elas. Nessa estruturação, todos se unem em torno de
valores comuns, norteados pelo compromisso de cada geração preservar os deveres de lealdade
mútua, a religião, o idioma e as tradições para passá-las à geração seguinte.
Ainda Segundo Hazony (2019), quando falta a virtude do nacionalismo (que nada
tem a ver com o nazismo, falsamente considerado nacionalista, quando, na verdade, era
totalitário e almejava subjugar todas as outras nações), os integrantes da sociedade resistem a
cumprir as leis e a se sacrificar pela coletividade. Cada indivíduo no nacionalismo é leal à tribo,
ao clã, à nação e, por causa disso, abre mão da violência como forma de solucionar conflitos.
Além disso, o Estado nacionalista segue na contramão do kantismo, porque Kant defendia a
criação de uma superestrutrua estatal a que deveriam estar submetidos todos os povos e via,
nesse ideal, o meio para o triunfo da razão (HAZONY, 2019).
O nacionalismo é, então, o grande alvo atacado tanto pelos coletivistas
materialistas, que veem como prioritário alterar as condições materiais de existência dos
detentores de menores porções de recursos pela via da tomada violenta do poder em relação às
autoridades da respectiva nação. A virtude do nacionalismo é também visada, como alvo a ser
destruído, pelos idealistas kantianos aderidos à meta de suprimir as identidades nacionais e
instaurar como substituto uma ordem mundial.
Fica assim fácil perceber que o ataque aos militares brasileiros, estaduais e federais,
que evitaram a instauração de um regime político de matriz coletivista e materialista, em 1964,
é fruto da corrupção da inteligência de uma parcela significativa da classe dos intelectuais.
Estes, conforme mencionado por Gordon (2017), referido no subcapítulo 2.3, não estão
aderidos ao nacionalismo. Tratando de sua experiência pessoal como alguém que esteve por
um tempo sob os efeitos da intensa doutrinação anti-patriótica, Silveira (2016) afirma que a
visão que lhe haviam passado a respeito da tomada do poder em 1964 é o contrário da realidade,
a qual ele começou a enxergar depois que passou a refletir sobre o que de fato pretendiam os
revoltosos que antes ele via como os bondosos e vítimas:

Ao participar da elaboração de Golpe de 1964: o que os livros de história não


contaram, tive por objetivo fazer um contraponto a muitas afirmações que são feitas
a respeito do regime militar, que sempre serviram de muletas explicativas para quase
todos os problemas do país e que raramente são contestadas. [...] a maioria das coisas
que historiadores, sociólogos e jornalistas afirmam a respeito do regime de 1964 é
falsa. [...] Durante o curso de graduação em história, aprendi uma série de coisas sobre
a história do Brasil que me convenceram de que o golpe de 1964 fora um ato
perpetrado pelos militares com o intuito de destruir a organização sindical dos
90

trabalhadores, de acabar com as organizações estudantis e imbecilizar a população


brasileira, criando as condições políticas adequadas para entregar a pátria ao
imperialismo americano e deixar a população alienada. Essa formação equivocada me
conduziu à militância política partidária e a grupos de estudos marxistas [...] minha
militância no Partido Comunista Brasileiro (PCB) e minha formação universitária em
história me levaram a odiar os militares brasileiros. (SILVEIRA, 2016, p. 5)

A virtude do nacionalismo tem sido atacada no Brasil, conforme pode ser


constatado nessas afirmações de Silveira (2016): o ataque tem sido feito por historiadores,
sociólogos e jornalistas, de acordo com o mesmo autor de “Golpe de 1964: o que os livros…”.
Na mesma direção, Carpenedo e Almeida (2015), reportando-se a um determinado antropólogo
brasileiro quanto ao comentário desse intelectual em relação à ideia de desmilitarizar as
polícias, observam que, para ele, o militarismo teria plantado no cerne da democracia brasileira
algo extremamente negativo. Por isso, uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que
levasse à desmilitarização seria, no entendimento de tal defensor, o qual foi ex-Secretário
Nacional de Segurança Pública, um grande bem para o regime democrático brasileiro.

[...] como apontado por Luis Eduardo Soares–Ex-secretário Nacional de Segurança


Pública, Antropólogo e autor de vários estudos e livros na área de segurança pública-
, o qual auxiliou o Senador Lindhberg na construção da Proposta: “Não creio que seja
aprovada, pois promoveria uma verdadeira revolução na arquitetura institucional da
segurança pública. Mas pelo menos agora há uma bandeira concreta pela qual lutar e
um caminho apontado. Muitos discordarão, outros concordarão, mas um modelo está
aí, sobre a mesa para o debate público”. Além disso, conclui: “Se a PEC for acolhida,
estará iniciado o desmonte das tenazes que a ditadura deixou plantadas no coração da
democracia brasileira. Estará aberta a porta para a transformação profunda das
culturas corporativas que impedem a identificação dos agentes da segurança pública
com os valores da cidadania”. (CARPENEDO; ALMEIDA, 2015, p. 2)

Existe então uma demonização dos militares e do regime militar, que são colocados
como antítese do progresso, do avanço e da democracia por certos intelectuais. Sant’Ana (2014)
afirma que esse tipo de posicionamento, em que os militares são associados à ideia de
retrocesso, de bloqueio à democracia, de incapacidade para atender os anseios da população, é
uma imagem que continuamente vem sendo plantada nas inteligências de um público de
adolescentes e jovens, nos ambientes escolares. Com isso ele indica inclusive uma das fontes
usadas para tal fim de distorção, que é a produção intelectual de Steven Runcinman a respeito
da História das Cruzadas.

Inoculando-se nos adolescentes e nos jovens, durante aulas da educação obrigatória


do sistema de ensino nacional, doses maciças de informação distorcida, proveniente
de versões igualmente distorcidas dos fatos, como se vê nos três volumes de The
History of Crusades, de Steve Runciman, tem-se induzido esse público a detestar o
militarismo. Desse modo tem-se feito a juventude, nas escolas de primeiro e segundo
graus e nas Universidades, acreditar em algo que não respeita a História do que fora
e do que é hoje a ética da Cavalaria, uma ilustre desconhecida de toda essa parcela da
91

população. Com essa distorção, que se poderia chamar de “o efeito Runciman”, tenta-
se colar a imagem das Polícias e Bombeiros Militares à de alguns abusos cometidos
por parte do grupo encarregado da ditadura militar. Isso tudo tem sido conduzido sem
se fazer aos militares federais a justiça de levar em conta que, entre 1964, ano da
tomada do poder com apoio popular, até 1985, ano da devolução do poder a um
presidente civil, veio de dentro do próprio regime (com Castelo Branco, o primeiro
Presidente do regime e João Batista Figueiredo, o último), o esforço para que houvesse
a imediata devolução do poder aos civis, ainda na década de 1960 e depois em meados
dos anos 80. O Marechal Castelo Branco era homem de tendência nitidamente
moderada e ele não queria a continuidade do regime militar. (SANT’ANA, 2014, p.
2)

O campo do conhecimento científico denominado História é, conforme afirmado


por Sant’Ana (2014), usado contra os militares e em desacordo com a realidade, por ativistas
que distorcem os fatos, utilizando para isso o respaldo em um autor (Steve Runciman), que
ataca o militarismo ocidental na sua origem, que são as Cruzadas. Tal estratégia de ataque à
imagem dos que lutaram junto com a população civil contra os revolucionários tem, portanto,
uma ancoragem na prática educacional dos públicos cativos de salas de aula, que são inundados
por esse tipo de propaganda:

Para agravar ainda mais a atmosfera intelectual desfavorável aos militares federais,
há também a propaganda enganosa atacando a nobreza do militarismo das PM's
[Polícias Militares] e BM's [Bombeiros Militares] do Brasil. Pratica-se isso em larga
escala, nos cursos de primeiro, segundo e terceiro graus. Essas deturpações impedem
aos jovens conhecer a verdade e a beleza da ética cavalariana dessas mesmas
organizações. Para tornar esses ataques convincentes, omitem-se no ensino as
contribuições de historiadores como René Grousset (autor dos três volumes de
Histoire des Croisades, publicado em Paris em 1934); Joseph-François Michaud
(autor dos sete volumes de “História das cruzadas”, disponível desde 1956 no Brasil),
e Thomas Madden (autor de The New Concise History of the Crusades de The Fourth
Crusade: Event, Aftermath, and Perceptions, publicados nos Estados Unidos em 1999
e 2008, respectivamente). Com isso tem sido impedido a muitas jovens inteligências
respirar o ar puro de um “efeito Grousset-Michaud-Madden”, porque não é possível
admirar os militares estaduais sem entender o que foi a Cavalaria no Medievo. E só
se concretiza isso dando à juventude acesso a tais fontes, como parte das grades
curriculares do ensino público nos três níveis da Federação. (SANT’ANA, 2014, p.
2)

As escolas, até mesmo as do nível universitário, estão, de acordo com Sant’Ana


(2014) sendo usadas como ambiente de propaganda ideológica contra os militares. Isso que ele
afirma coincide com a meta nº 17 da agenda dos seguidores de Lênin, que, segundo Skousen
(2018) é: “17. Controlar as escolas. Usá-las como meio de transmissão do socialismo e da
propaganda comunista vigente.” (SKOUSEN, 2018, p. 348). Além dessa meta da agenda
leninista, “há o esforço ativo para reescrever a história.” (SKOUSEN, 2018, p. 349).
Para a atividade de ISP, está posto então o desafio de ser uma base de disseminação
de informações para os públicos escolares da PMMG, que estudam nos seus colégios Tiradentes
92

e na Academia de Polícia Militar, a fim de que não sejam também eles utilizados como parte
da estratégia de reescrita deliberadamente adulteradora da História. Enfrentar esse tipo de
ataque cultural na base da distorção em que ele ocorre passa, então, pela questão do acesso e
disponibilização deste às fontes de pesquisa própria, para que o propósito, também presente na
mesma meta nº 17, de “Suavizar o currículo”, não resulte na manipulação de conteúdos
curriculares desses cursos e ambientes, contra a realidade e em prejuízo da Polícia Militar.
A virtude do nacionalismo está sob ataque na cultura ocidental e isso tem sido feito
por meio da ocupação de espaços por parte dos manipuladores, nos ambientes escolares em
geral, com uso de uma literatura que promove uma ruptura entre as gerações atuais e as que
defenderam a civilização ocidental por meio das Cruzadas, na Europa. No caso brasileiro, isso
vem sendo promovido, de acordo com Sant’Ana (2014), mediante um esforço de manipulação
das gerações atuais para que rompam com a geração anterior e deixem de querer conservar o
legado daquela que protegeu o país, nos anos 1960-1980, contra os portadores da agenda
leninista.
Existe então um ataque à virtude do nacionalismo do Brasil, por meio de ativismo
ideológico no ambiente escolar, conforme Sant’Ana (2014). Essa estratégia é parte de uma
agenda leninista, conforme Skousen (2018). O modo de operacionalização dessa ofensiva é o
esforço para fazer a classe dos militares brasileiros ser detestada pelas pessoas que passam pelos
bancos escolares, de acordo com Silveira (2016). Tal movimento de distorção dos fatos vem
sendo feito por meio da classe dos professores, que são usados como massa de manobra para
servirem de “intelectuais orgânicos” nesses lugares, nos dizeres de Gordon (2017). A maneira
de concretizar a destruição do nacionalismo nas consciências das novas gerações está sendo a
distorção da História dos militares ocidentais, relativamente às Cruzadas, de acordo com
Sant’Ana (2014). A ruptura dos elos entre as gerações, quanto à lealdade, é um jeito de atacar
a virtude do nacionalismo, segundo Hazony (2019).
O ataque à virtude do nacionalismo em terras brasileiras é, portanto, um padrão
cultural que atinge os profissionais de segurança pública da ala que lida mais diretamente no
enfrentamento à criminalidade, que são os policiais militares operacionais fadados. Uma nova
leitura atenta a Hazony (2019) leva a ver por que tais defensores foram eleitos como alvos pelos
leninistas.
Os militares possuem o dever de manter vívido na sociedade o seu elemento de
coesão, que é o amor à Pátria. No caso das Polícias Militares, esse patriotismo é, Segundo Reis
(2018), um traço de sua dualidade cultural e se sustenta na reafirmação do compromisso de
dedicação integral ao serviço policial militar, mesmo que isso signifique colocar em risco
93

própria vida e até sacrificar esse bem. Com certeza, para que uma pessoa esteja realmente
comprometida nesse nível de devotamento à Pátria, tem de haver nela muito mais do que um
conjunto de conhecimentos relacionados ao valor dessa proteção.
Essa âncora moral dos dispostos a se sacrificar pela Nação é dependente de uma
poderosa motivação. Existe, na atualidade, no Brasil, certo esforço para conservar nos policiais
militares esse espírito de sacrifício. Basicamente dois vetores se destacam quanto à potência de
suscitar motivações realmente poderosas, além de caracterizadas por uma profundidade e uma
durabilidade que exerçam sobre esses profissionais essa força para amar a terra materna e
proteger os irmãos nacionais.
Um desses vetores é o positivismo, o outro é a religiosidade do rito de Pio V. O
primeiro e o segundo são observáveis em relação ao padrão que eles determinam, na
reafirmação contínua da disposição em servir ao país. Esses padrões ficam mais nítidos quando
se olha para eles procurando o rito pelo qual eles se expressam. O positivismo se exprime por
meio de cerimonias em que a Bandeira Nacional tem a completa centralidade.
Paradoxalmente, segundo Torres (2018), é próprio do positivismo a aversão à
guerra. Isso é curioso, porque a virtude do nacionalismo, segundo, Hazony (2019), é
caracterizada pela disposição em defender a Pátria e conservá-la contra tudo que possa destruí-
la. Esse mesmo caráter de luta é um traço bem marcante da cultura policial militar: de acordo
com Soares (2020), é típico dos comandantes de Companhia da Polícia Militar exercerem as
atividades de planejadores de operações, “constrangendo-a, não no sentido der autoritarismo,
mas de exercício de autoridade inerente ao ato de comandar, num espaço territorial definido
segundo a estrutura de um Batalhão ou Companhia Ind [Independente].” (SOARES, 2020, p.
54).
Esse ato de constranger diz respeito a programar situações em que a tropa use a
força, enfrente a criminalidade, ocupe pontos críticos em ZQC, faça cercos e bloqueios,
concretize batidas policiais, ingresse em locais e situações perigosas, muitas vezes de arma em
punho, para impedir ações criminosas (SOARES, 2020). Esse é o modo dos policiais militares
praticarem a virtude do nacionalismo e consequentemente o patriotismo, porque juram dedicar-
se a fazer isso no dia de suas formaturas, sendo que tal juramento é feito solenemente em uma
cerimonia positivista, no momento da formatura no curso.
Além do positivismo, o fator chamado religiosidade tem também, sob certas
modalidades, um determinado potencial de favorecer o nacionalismo e o patriotismo. Nessa
ideia de religiosidade, não se inclui o multiculturalismo, porque, de acordo com Bock-Côté
(2019), tem havido desde os anos 1960-1970 a propagação de uma ideia chamada Ethos da
94

diversidade identitária, que consiste em um dever imposto a todos os indivíduos e todas as


instituições de “abrir-se para essa diversidade e igualmente converter as instituições e
representações coletivas em nome da abertura ao outro”. (BOCK-CÔTÉ, 2019, p. 11).
De acordo com essa concepção de mundo, esse seria o ponto insuperável, o patamar
máximo em razão do qual “a emancipação do homem passaria pela extensão da lógica
igualitária a todas as relações sociais e ao reconhecimento das identidades que, um dia ou outro,
foram marginalizadas”. (BOCK-CÔTÉ, 2019, p. 11).
Esse movimento referido por Bock-Côté (2019) é propagado como uma religião
política que obriga a aderir ao seu pressuposto de passar a tratar a todos os excluídos como
novos cidadãos que mereçam ser emancipados da antiga situação marginal. O problema e a
relevância disso para a atividade de inteligência é que essa “religião civil16” força a incluir e
tratar como vítimas da sociedade tradicional também os indivíduos que, deliberadamente,
escolhem a vida de praticantes de crimes. Isso fica bem nítido na ideia de um dos integrantes
da Escola de Frankfurt, chamado Herbert Marcuse. De acordo com Marcuse (1973), os
marginais, os delinquentes de todo o tipo são os substitutos dos proletários de Karl Marx para
a revolução, sendo que o meio de fazer isso é levar as pessoas a ver toda ação contraria a esse
novo exército como sendo uma opressão, um injustiça.
Segundo Reis (2018), a estratégia de Herbert Marcuse é relevante para entender a
segurança pública porque visa “promover uma inversão de valores que faz as Polícias Militares
parecerem erradas e os criminosos parecerem como vítimas.” (REIS, 2018, p. 46). O mesmo
autor afirma que o utopismo marcuseano tem por finalidade induzir a população a perceber de
modo invertido as virtudes e os vícios, de maneira que o que causa males à sociedade seja visto
como bom e o grupo de policiais militares (grupo que não é mencionado por Marcuse, mas que
o autor insere em sua análise) que protege a sociedade seja visto como mau.
O propósito dessa inversão é constituir um exército atípico que sirva à revolução
para fazer aquilo o que os trabalhadores liderados por Marx não conseguiram concretizar. Em
lugar dos proletários, uma nova tropa, possuidora de “uma predisposição muito maior para a
atividade revolucionária que a dos que o marxismo defende que deveriam, mas não fizeram, a

16
Religião civil é a estrutura cultural artificial, construída pela Escola de Frankfurt, que leva a considerar herética
toda ideia de resistência a tratar grupos que os intelectuais dessa escola elejam como redimidos de uma antiga
opressão e incumbidos de instalar o novo paraíso na terra, como se fossem ainda não emancipados. É religiosa
essa imposição porque os discordantes são alvo de intensa crítica e taxados de inimigos da democracia. Segundo
Bock-Côté (2019), o multiculturalismo é uma religião civil porque obriga todos a reverenciarem-no como sendo
o alfa e o ômega dos regimes democráticos.
95

revolução do proletariado” (REIS, 2018, p. 36). Esse objetivo geral de Herbert Marcuse é
interessante porque ataca a autoridade:

O objetivo geral marcuseano é, pois, oferecer supostas explicações capazes de


constranger pais a não corrigir seus filhos, professores a não reprovar seus alunos,
policiais a não usarem força contra infratores da lei [...]. O Primeiro Comando da
Capital (PCC), que em meados da década inicial do século XXI orquestrou ações
contra o sistema prisional e a Polícia Militar de São Paulo (PMESP), e demais
quadrilhas formadas por traficantes de drogas, armas e pessoas, são fruto da utopia
marcuseana. Em nome desta são reunidos, contra as forças policiais, indivíduos com
formação e títulos acadêmicos comprometidos, não com a ciência, mas apenas com a
concretização da utopia de Herbert Marcuse, e presos condenados pelo poder
Judiciário a cumprir longas penas restritivas de liberdade. As mobilizações para a
descriminalização no uso de drogas e redução de penas de pessoas envolvidas com o
tráfico, o apoio por certos veículos de mídia e profissionais desta, à agressão por
criminosos contra agentes da lei, sob o argumento de luta contra abusos no uso da
força física em ocorrências policiais [...]”. (REIS, 2018, p. 36-37).

Está havendo, então, um padrão de religião civil que se impõe à sociedade, força
todos a aceitar uma inversão de valores e que põe a atividade de repressão à criminalidade como
um mal que deve ser extirpado, tendo em vista a instalação de um tipo de paraíso na Terra.
Neste, os novos salvadores da sociedade são os criminosos e os vilões, , os condenados, os
antidemocratas. Os considerados párias, usurpadores da paz social são, dentre outros, os
policiais militares.
O ataque à importância social e à imagem dos policiais militares, bem como à
relevância dos pais perante os filhos, professores em relação a seus alunos e outras figuras de
autoridade é parte da mesma lógica em que se deixa de cultuar a Pátria, a Nação, a lealdade ao
grupo de origem, enfim, a vida na civilização ocidental.
Esse desprestígio em que a utopia marcuseana tenta jogar a autoridade é a vertente
atualizada de algo bem anterior, a revolução contra o modo de pensar dos ocidentais. De acordo
com Delassus (2000), desde o século XVIII, a autoridade paterna vem sendo atacada e
esvaziada e, no livro Le Socialisme Intégral, Benoît Malon defende a radical abolição da
autoridade paterna. Esta “sempre foi considerada, em toda a parte [...] como uma das bases da
ordem social, necessária a todos os povos, em todos os tempos, como um dos elementos
invariáveis da condição social.” (DELASSUS, 2000, p. 139).
A função da autoridade paterna em toda sociedade é que se trata “daquela que é a
única autoridade que, em virtude da lei natural, permanece devotada aos seus subordinados. Só
a autoridade paterna [que] poderá cumprir aquilo que é superior às forças de qualquer
autoridade pública.” (RIBBE, 1879, apud DELASSUS, 2000, p. 140).
96

Uma obra tão antiga faz suspeitar que a validade de suas afirmações teria se perdido
com o decurso do tempo. Contudo, segundo Espada (1998), variadas pesquisas de campo
realizadas nos Estados Unidos e na Inglaterra evidenciaram a relação causal de forte base
estatística “entre a fragmentação da família, o aumento da delinquência juvenil, o aumento do
consumo de drogas e o aumento da criminalidade violenta.” (ESPADA, 1998, apud
DELASSUS, 2000, p. 9).
As afirmações de Espada (1998) têm como marco temporal o final dos anos 60,
porque ele afirma, em 1998, que “ao longo dos últimos 30 anos, milhares de estudos empíricos
nos EUA e na Inglaterra [...]”. (ESPADA, 1998, p.89, apud DELASSUS, 2000, p. 9). Essa
informação temporal do inicio do problema da criminalidade ou do seu profundo agravamento
coincide com a de Fukuyama (2000), segundo o qual:

A Grande Ruptura caracterizou-se por níveis crescentes de criminalidade e de


desordem social, pelo declínio da família e dos laços de parentesco como fonte de
coesão social, e por níveis cada vez mais baixos de confiança. Todas essas mudanças
começaram a manifestar-se numa vasta gama de países desenvolvidos nos anos 60, e
fizeram-se com grande rapidez em comparação com outros períodos de subversão das
normas.” (FUKUYAMA, 2000, p. 97).

Os anos 1960 possuem, então, alta relevância para a compreensão de um novo


padrão na realidade social: o de crescentes índices de criminalidade associados ao de
decrescentes fatores de coesão social, representados pela decadência dos elos de parentesco e
das famílias tradicionais. Dois acontecimentos tiveram grande relevância nesse período. Um
foram as manifestações na França em maio de 1968 e outro foi o Concílio do Vaticano II. Por
limitação de espaço e pela maior identificação deste ultimo com a temática da religiosidade,
apenas o acontecimento referido por último terá, a seguir, uma atenção.
O Concílio Vaticano II foi o principal acontecimento de alcance internacional que
se norteou pela ideia da flexibilização quase completa de todas as normas relacionadas ao tipo
de influência que a Igreja vinha exercendo até então sobre as sociedades ocidentais. De acordo
com Lefebvre (2010), uma perplexidade geral instalou-se entre os católicos de todo o mundo a
partir do final dos anos 60:

Que os católicos deste final do século XX estejam perplexos quem o negará? Que o
fenômeno seja relativamente recente, correspondendo aos 20 últimos anos da história
da Igreja, basta observar o que sucede para estar persuadido disso. Há pouco tempo o
caminho já estava previamente traçado; ou se seguia ou não [...] hoje, muitos não mais
o sabem. Ouvem-se nas igrejas tantos ditos estarrecedores, lêem-se tantas declarações
contrárias ao que tinha sido sempre ensinado que a duvida se insinuou nos espíritos
[...]. “De todos os lados espalharam-se ideias que contradizem a verdade que foi
revelada e sempre ensinada. Verdadeiras heresias foram divulgadas nos domínios do
dogma e da moral, suscitando dúvidas, confusão, rebelião. A própria liturgia foi
97

violada. Mergulhados num relativismo intelectual e moral, os cristãos são tentados


por um Iluminismo vagamente moralista [,] por um cristianismo sociológico, sem
dogma definido e sem moralidade objetiva”. Essa perplexidade se manifesta a todos
os instantes nas conversas, nos escritos, nos jornais, nas emissões radiofônicas ou
televisionadas, o comportamento dos católicos, traduzindo-se este último numa
diminuição considerável da prática como o testemunham as estatísticas, uma
desafeição relativamente à missão e aos sacramentos, um relaxamento geral nos
costumes [...]. (LEFEBVRE, 2015, p.16)

Além diso, Segundo Lefebvre (2015), as diferenças entre os sacerdotes e leigos


foram quase anuladas totalmente:

Nas igrejas, os altares foram destruídos ou mudados de destino em proveito de uma


mesa, frequentemente móvel ou encaixada. O tabernáculo não ocupa mais o lugar de
honra, na maior parte das vezes; foi dissimulado sobre um sustentáculo e posto ao
lado: onde ele ficou no centro [,] o sacerdote, ao rezar a missa, lhe volta as costas.
Celebrante e fieis face a face, celebrando em conjunto. Qualquer um pode tocar os
vasos sagrados, frequentemente substituídos por cestos, pratos, tigelas de louça;
leigos, inclusive mulheres, distribuem a comunhão que se recebe na mão. O Corpo de
Cristo é tratado com uma falta de reverência que insinua uma dúvida sobre a realidade
da transubstanciação. (LEFEBVRE, 2015, p. 48).

Essa reviravolta no catolicismo foi, segundo Wiltgen (2007), promovida por um


grupo de sacerdotes, lotados em países às margens do Rio Reno, que surpreenderam a todos os
presentes no Concílio Vaticano II ao solicitar que os textos preparatórios que norteariam os
trabalhos, todos eles de cunho tradicionalista, fossem deixados de lado para dar lugar à uma
criatividade que viesse em função dessa substituição. Desse modo, seis países europeus
(Alemanha, Áustria, Bélgica, França, Países Baixos e Suiça) formaram uma aliança de maneira
tal que conseguiram introduzir ideias e teólogos completamente opostos ao que antes se vinha
acreditando e declarando nos últimos vinte séculos de existência da referida instituição
religiosa.
Conforme Lefebvre (1991), em razão disso, a Igreja tornou-se palco de um processo
de autodestruição, que se evidenciou nos seguintes aspectos: abriu mão do padrão institucional
de uso do latim como idioma próprio de sua principal oração pública, denominada rito de Pio
V, o qual consiste em o sacerdote fazer as orações virado de frente para o Sacrário e o Altar.
Na missa nova, o sacerdote fica de frente para o público e de costas para o Sacrário.
Antes de continuar, é necessário explicar o que é o Sacrário e sua importância
primordial na cultura católica. Deduzindo-se de Faber (1929), trata-se de uma pequena taberna,
em formato retangular, assemelhada a uma porta dupla de catedral, com profundidade de
aproximadamente 20 centímetros e altura de aproximadamente 40 centímetros. Nessa taberna,
o sacerdote mantém uma Hóstia Consagrada, que, por sua vez, fica dentro de um cálice seco
revestido internamente com ouro, chamado âmbula.
98

Ainda Segundo Faber (1929), nesse tabernáculo, centro da cultura católica, está
Jesus de Nazaré, pessoalmente, em um corpo vivo, sob aparência de um filete de pão, resultado
de uma concretização de sua promessa de permanecer no mundo, fisicamente, até o final dos
tempos. Por isso, do lado de fora dessa pequena taberna, sempre havia uma indicação luminosa,
destinada a alertar os presentes a respeito de estarem todos diante de Deus, razão pela qual
deveriam fazer no ambiente todos os atos de modéstia, reverencia e adoração, próprios de um
súdito em relação ao seu rei.
Entretanto, a missa nova colocou o sacerdote, um homem, de costas para o Sacrário
(segundo a cultura católica, Jesus Cristo, materializado na Hóstia Consagrada) e de frente para
os fiéis, o que simboliza colocar o ser humano num grau de importância maior do que o próprio
Deus (a Quem se passou a dar as costas). Por isso, a mudança desse rito, embora pareça simples,
em verdade, pode ter representado o desfazimento do pilar básico da religião católica, a
submissão a algo infinitamente maior do que o ser humano, que é Deus. A partir desse novo
rito, na cultura católica, o homem passou a ocupar o lugar central.
O interesse geral disso é que a cultura católica está para a cultura ocidental, segundo
Woods Júnior (2008), como fundadora, ou seja, o mundo ocidental foi edificado, comforme
esse autor, sobre os pressupostos e cosmovisão do catolicismo. No mesmo sentido, Stark (2007)
afirma que essa instituição religiosa inventou o capitalismo, o qual, segundo o autor:

Não foi inventado numa casa comercial veneziana nem num banco protestante
holandês. Foi desenvolvido, a partir do inicio do séc. IX, por monges católicos que,
apesar de desprezar as coisas terrenas, procuraram assegurar a boa economia de
respectivos centros monásticos. Mais extraordinário ainda, enquanto desenvolveram
o capitalismo, estes cristãos devotos viram a necessidade de reformular as doutrinas
para compatibilizar a fé com o progresso econômico [...]. A palavra [capitalismo] não
surgiu como conceito econômico, mas como palavra negativa, e foi utilizada pela
primeira vez por autores de esquerda no séc. XIX para atacar a riqueza e o privilégio.
Adaptar a palavra a uma análise séria é um pouco como tentar fazer um conceito social
científico da expressão porco reaccionário. (STARK, 2007, p. 105).

O mesmo Stark (2007) afirma que a ciência moderna não começou no século XVI
com Copérnico, mas, sim, com Jean Buridan (1300-1358), que antecipou a primeira lei do
movimento de Newton ao cunhar a palavra “ímpeto”, para descrever como os astros começaram
um dia a ter movimento e como esse movimento continua desde então por não sofrer nenhuma
resistência no vácuo. O mesmo Buridan afirmou também, Segundo Leite (2012), que a terra
realiza um giro sobre seu próprio eixo. Essa ideia foi aprimorada por um outro cristão da mesma
universidade de Paris, Nicolau D’Oresmi (1325-1382), que demonstrou que a Terra girava em
99

torno de seu próprio eixo e superou as duas objeções que, até então, impediam chegar-se a essa
percepção.
Existe, portanto, uma estreita relação entra essa religiosidade específica e a ciência,
o que reforça a utilidade da compreensão, um pouco maior sobre o que a infiltração soviética
nos quadros dessa instituição, nos anos 30, desembocando no Concílio Vaticano II, de fato,
provocou, na Igreja e em instituições conexas a ela. De acordo Lefebvre (1991), o Concílio
Vaticano II criou dentro da Igreja uma outra igreja, operação que, na prática, fez com que a
Igreja fosse ocultada pela novidade. Esta se apresenta como sendo a Igreja original (de dois mil
anos), mas é profundamente diferente dela e funciona, na verdade, como fator de auto-
demolição.
Para fazer uma equivalência, trazendo para uma linguagem do quotidiano policial
militar, pode-se usar a metáfora de um infrator, disfarçado de um parente que vem visitar seu
ente querido. Com essa aparência de pessoa da família, consegue entrar no seio do lar da vítima
e lá se instalar. Oportunamente, assim que lhe surge ocasião propícia, amordaça o dono da casa,
tranca-o no porão, assume sua identidade (do dono da casa) e os negócios da família.
A partir daí, passa a conviver com a esposa, filhos, netos, parentes e demais pessoas
conhecidas. Ao cabo de tudo isso, copia as roupas, os gestos e demais aparências do legítimo
senhor daquele ambiente. Entretanto, como se trata de um infrator, de uma pessoa mal
intencionada, vai dilapidando o patrimônio, a harmonia do lar, afastando entes queridos e
chamando para dentro de casa todos seus comparsas e demais pessoas que desejavam,
ilegitimamente, a posse da propriedade e da felicidade que antes reinava naquela família.
Nesse sentido, os parentes mais próximos, que conhecem as sutilezas e detalhes da
personalidade do verdadeiro dono da casa, percebem que estão diante de um impostor e tentam
desmascará-lo. Entretanto, esbarram na enorme dificuldade em denunciar o caso à família,
vizinhos e à polícia, porque o disfarce usado pelo infrator é extremamente sedutor e já
conquistou a simpatia geral.
Essa metáfora do parente que reconhece o crime e quer denunciar o fato às
autoridades, mas que se depara com enorme obstáculos para isso, decorrentes da fama que o
invasor conquistou, serve para ilustrar qual tem sido, desde o Concílio do Vaticano II, a curiosa
situação dos católicos que desejavam manter a identidade institucional da Igreja.
É o caso, por exemplo, do que aconteceu com Arcebispo católico francês Dom
Marcel Lefebvre (1905-1991). No ano de 1976, o órgão do Partido Comunista Soviético
chamado “Izvestia” e o diário comunista “L’Unitá” dirigiram um um protesto contra ele ao
titular máximo da Igreja naquele momento, que era o Papa Paulo VI. Já haviam se passado
100

cerca de onze anos do término do Concílio Vaticano II (que houvera durado de 1962 a 1965).
A reclamação era contra o mencionado Arcebispo, de que ele estava atrapalhando a efetiva
concretização dos objetivos do Concílio Vaticano II (LEFEBVRE 1991):

Não se viu um dia, no ano 76 [1976], o “Izvestia”, órgão do partido comunista russo,
reclamar de Paulo VI em nome do Vaticano II minha função e a de Ecône [escola
fundada por Marcel Lefebvre, localizada na Suiça, na aldeia de Valais, com a
finalidade de conservar a tradição católica e da formação de turmas sucessivas de
novos sacerdotes para saber rezar rito de Pio V como oração pública e atender os
pedidos de católicos em todo o mundo por serviços tradicionais católicos, raios como
batizados, casamentos, visitas a enfermos e outros]? Igualmente, o diário comunista
“L’Unitá expressou uma solicitação similar, reservando-lhe uma página inteira,
quando pronunciei meu sermão em Lilie [cidade localizada no norte da França, perto
da fronteira com a Bélgica, região com maior aglomeração urbana do país] em 29 de
agosto de 1976. Como estava furioso, por causa de meus ataques ao comunismo!
Dirigindo-se a Paulo VI, diziam: “tomai consciência do perigo que representa
Lefebvre, e continuai o magnífico movimento de aproximação iniciado com o
ecumenismo do Vaticano II”. É um pouco incômodo ter amigos como estes, não lhes
parece? Triste ilustração de uma regra que temos destacado. O liberalismo leva do
compromisso à traição [...]. Com efeito, nos põe em uma situação muito delicada em
relação a tal chefe, seja Paulo VI, seja João Paulo II”. (LEFEBVRE, 1991, p. 135)

Nessa citação, há dois elementos curiosos. Os reclamantes parabenizam o Papa pelo


Concílio Vaticano II e postulam que ele seja continuado até as últimas consequências.
Colocam-se assim em harmonia com o destinatário da mensagem. Contudo, o histórico de todo
o relacionamento entre a Igreja e os reclamantes era de conflito, choque, guerra intensa. Outra
curiosidade nessa citação é que os que reclamam unem-se ao seu ouvinte contra um
subordinado deste, sendo causa do protesto o esforço dele para conservar a Igreja, seus ritos, o
modo de vestir dos sacerdotes, os pressupostos teológicos, as orações, o jeito de rezar a missa
e todo o conjunto de costumes chamado genericamente de Tradição.
Essa inusitada confiança dos que pedem providencias disciplinares (os comunistas)
acreditando que medidas drásticas serão tomadas contra ele (Lefebvre) e argumentando como
justificativa para essa reprimenda o Concílio Vaticano II, faz entrever que este tivera
desencadeado as mudanças desejadas pelos reclamantes.
Conforme Carré (1972), uma detalhada descrição, coincidentemente afirmando
isso, foi encontrada por ela, a própria Carré, quando ela cuidava de um paciente, como
enfermeira, em um hospital onde ela trabalhava: esse paciente que se envolvera em um acidente
grave. Ele era sacerdote católico moribundo e o que ela encontrou foi um relatório de
Inteligência. Como ele faleceu sob seus cuidados e não apareceram parentes, ela se viu obrigada
a mexer nos pertences do falecido, ocasião em que fez a surpreendente descoberta dessa
operação internacional de Inteligência, da qual o falecido sacerdote fizera parte. O teor do
documento informava minúcias de como ele, sacerdote, nos anos 30, junto com centenas de
101

outros colegas em várias partes do mundo, tinha sido introduzido na estrutura nos seminários,
na condição de pacato seminarista, mas com a missão de provocar uma implosão da Igreja no
longo prazo. O Concílio Vaticano II coincide com essa implosão, porque, segundo Libânio
(1983), tal Concílio implantou na Igreja uma fábrica para sua auto-demolição.
O modo pelo qual o processo de implosão foi concretizado consistiu, segundo
Lefebvre (1991), na implantação de um rito substituto do clássico, com o nome de missa nova,
no início dos anos 70. Isso leva a pensar que a situação tenha impactado apenas na maneira de
rezar publicamente, ou, dizendo de outra forma, no cerimonial (liturgia). Porém, um outro elo
não pode ser subestimado. Esse rito era o centro da cultura dessa denominação religiosa, mas,
como ela ainda era o cerne da cultura ocidental na época, a mudança desse rito teve repercussão
na cultura ocidental desde então, como uma bomba atômica que produz efeitos muito além do
local onde foi detonada.
Dentre os efeitos, interessam apenas aqueles que implicam em um novo padrão útil
para entender a segurança pública. Ele foi o da geração de uma força centrífuga na cultura
ocidental que provocou sucessivas ondas de desagregação social em instituições que
gravitavam em torno da cultura ocidental tradicional capitaneada pela Igreja.
Entre essas instituições, uma é a PMMG, que depende muito dos pilares da
hierarquia e disciplina, os quais eram estimulados e reforçados porque estavam atrelados à
noção de que fazer sacrifícios pelo outro era um bem em si mesmo. Ora, submeter-se à
hierarquia e disciplina militares requer sacrifícios uma doação de si mesmo. Como o rito deixou
de existir, a Corporação passou a contar, de modo mais frequente, apenas com um substituto
disso, que é uma noção também sacrificial, porém mais individualizada, que vem dos variados
modos de crer e manifestar religiosidade (REIS, 2016) e vem do positivismo também.
O rito extinto e as decisões do Concílio do vaticano II, portanto, tiveram efeito na
PMMG. A instituição, que desde D. Antônio de Noronha, sustentava-se em três pilares,
hierarquia, disciplina e religiosidade sacrificial, enfraqueceu-se em um deles, o último. Este
possuía uma função especifica: garantir a solidez dos outros dois pilares (REIS 2016).
A partir dos anos 1980, segundo Reis (2016), a atenção ao peso estratégico da
religiosidade sarificial, que era simbolizada pela presença de um Capelão na estrutura
administrativa do Estado-Maior da PMMG, foi abandonada, ou seja, não foi mais considerada
uma variável de relevância estratégica. Com isso, o sentimento de religiosidade sacrificial e,
por via de consequência, o espírito de submissão a algo maior (nesse caso, a Deus) mudou
quanto ao padrão, passando de uma noçãoinstitucionante para outra individualizante. O mesmo
se deu com os ranchos, que, antes alimentavam a todos os militares, e, depois, deixaram de
102

existir, passando cada um a ser o responsável pela própria alimentação. No mundo militar, como
é amplamente sabido, o sentimento de submissão a algo superior, dentro de uma visão
coletivizante, em que todos estejam submetidos aos mesmos pressupostos religiosos facilitam
(não determinam) a disposição de todos a dar o mesmo tipo de resposta diante de uma situação.
Isso não é uma individualidade do cristianismo, pois o Exército Romano era, de
acordo com Belloc (2012) conhecido por sua coesão interna e a grande maior de sua tropa
norteava-se pelo mesmo padrão de crença, que era o arianismo.
Ocorre que, nos últimos tempos, especialmente após o movimento grevista de 1997
(que pode ser considerado um movimento endógeno de implosão), a PMMG vem sofrendo
ataques aos outros dois pilares, à hierarquia e disciplina militares. Diversas são as forças e
organizações que pregam a desmilitarização das polícias. A título de exemplo, no sítio do
Partido dos Trabalhadores (PT), consta a matéria “É preciso 'desmilitarizar’ as forças policiais
brasileiras”17. No mesmo sentido, no endereço eletrônico do Partido Socialista dos
Trabalhadores Unificado (PSTU), entre os “16 pontos de um programa socialista para o Brasil
contra a crise capitalista”, está o ponto 14, segundo o qual: “14- Pelo fim da criminalização das
lutas e da pobreza! Revogação da lei antiterrorismo! Desmilitarização da PM e
descriminalização das drogas!”18. Apenas para mencionar mais um exemplo, no sítio do Partido
Socialismo e Liberdade (PSOL), consta a assertiva: “Juntos, debateremos a desmilitarização
das polícias, a construção do policial enquanto um trabalhador (e não soldado) e a
descriminalização das drogas, buscando romper com o senso comum no debate sobre segurança
pública"19.
Necessário é explicar que a identificação desse tipo de ameaça não é objeto desta
pesquisa. Os casos citados no parágrafo anterior, objeto de busca livre à rede mundial de
computadores, são meramente exemplificativos. O que se quer chamar atenção é para o fato de
que as ameaças existem e que a ISP precisa monitorá-las, conhecê-las a fundo, identificar-lhes
a origem, especialmente se têm uma origem comum. Uma razão mais cientifica, justificadora
dessa atenção, é que, coincidentemente, o mesmo esforço de eliminação da viga cultura
sustentadora, segundo Carré (1972), levou a Igreja à implosão. Aparentemente é o que agora
essas agremiações políticas se esforçam para fazer com Polícia Militar. Tirar-lhe os pilares é

17
Disponível em: https://pt.org.br/e-preciso-desmilitarizar-as-forcas-policiais-brasileiras/. Acesso em
05/10/2020.
18
Disponível em: https://www.pstu.org.br/16-pontos-de-um-programa-socialista-para-o-brasil-contra-a-
crise-capitalista/. Acesso em 05/10/2020.
19
Disponível em: ttps://psol50.org.br/grupo-de-policiais-antifascistas-do-rj-se-filia-ao-psol/. Acesso em
05/10/2020.
103

essencial para concretizar o mesmo propósito que motivou o referido grupo, nos anos 1930,
mediante uma estratégia que durou três décadas, a trabalhar intensamente pela eliminação do
obstáculo (o rito de Pio V) à instalação do caos e da desordem pública.
A busca desse ideal é parte do plano, contido no Manifesto Comunista, de, primeiro,
jogar por terra às instituições ocidentais e, em seguida, implantar a utopia do paraíso terrestre,
em que não haja diferença nenhuma entre os integrantes da sociedade. De acordo com Pereira
(2003), o comunismo “almeja uma sociedade com uma classe única e, portanto, sem governo
algum.” (PEREIRA, 2003, p. 7).
A hierarquia e disciplina, o militarismo enfim, é o que sustenta a PMMG. O
desfazimento desses pilares significa a implosão da Instituição. Curiosamente, dois dos partidos
políticos que buscam a desmilitarização da Polícia Militar são defensores da descriminalização
das drogas e, também, proclamadores do socialismo. Portanto, é possível inferir aí um padrão,
conforme amplamente tratado por Story (2001) e Douglass (2001), sobre a estratégia leninista
de tomada do poder.
Imprescindível apontar novamente para o que afirmaram Reis (2016) e Carre
(1972). Após o desfazimento do rito de São Pio V, nos idos de 196o, a Igreja Católica está a se
fragmentar e a se enfraquecer. Para comprovar isso, basta se observar pelas ruas e bairros de
qualquer cidade em todo o mundo ociedental e ver um crescente esvaziamento dos templos
católicos e a contínua renúncia, por parte dos católicos, a coisas a que antes nenhum renunciava:
padres renunciando à batina, missas com o padre virado de costas para o Sacrário, templos
católicos em que o Sacrário saiu da posição central e passou a ficar em pequenos cômodos
laterais.
Necessário esclarecer, neste momento, que não é intenção do pesquisador emitir
qualquer juízo de valor sobre crença religiosa ou mesmo defender tal ou qual credo. Trata-se
aqui, unicamente de explicitar que desmontar ritos básicos, que sustentam uma instituição, pode
levá-la à ruína. No caso da Igreja Católica, a mudança de seu rito colocou-a em processo de
esvaziamento e perda de credibilidade pública, fato este evidenciado pela crescente evasão de
seus próprios fiéis para outras agremiações e cultos. No caso da PMMG, comparativamente, a
implosão de seus ritos, decorrente de uma desmilitarização, poderia levar a efeitos parecidos
com aqueles conseguidos pelos leninistas em relação à força da institucionalidade que havia na
Igreja.
Uma pequena amostra disso já começa a despontar, como, por exemplo, a existência
de milícias compostas por policiais criando redutos de domínio onde o ingresso da Polícia
Militar é sempre complexo, como se vê atualmente no Rio de Janeiro. Um aprofundamento de
104

estudo sobre a evolução da segurança privada no território do Estado mineiro poderia ser útil
também, para investigar com mais detalhes se a PMMG estaria já padecendo dos mesmos
problemas e/ou perdendo espaço.
Uma pesquisa prospectiva em relação a se a PMMG estaria a perder espaço e vigor
identitário fugiria aos objetivos desta monografia. Porém, é possível, pelo menos, olhar para
trás, buscando compreender se, de alguma forma, a tática leninista de implosão da Igreja teria
respingado Polícia Militar mineira. Afinal de contas, conforme Silveira (1991) e Reis (2016),
o Capitão-General Dom Antonio de Noronha, ao criar a PMMG em 1775, instituiu três três
pilares, sendo um deles um rito para contínua retroalimentação dos outros dois (REIS, 2016).
Tratam-se da hierarquia e disciplina, pilares organizacionais, e da religiosidade centrada no
rito de Pio V como fator de reforço desses blocos de sustentação identitária. Entretanto, esse
fator agregador, que funcionou durante dos primeiros 191 anos de existência da PMMG, está
profundamente afetado, desde os anos 1960. Merece pesquisa propria verificar se a greve de
1997 teria sido consequência disso.
Os outros dois pilares (hierarquia e disciplina militares) estão sob ataque por parte
de agremiações políticas, pertencentes à mesma matriz de Inteligência da qual partira em 1930
a Operação Anti- Apóstolo. Esta, segundo Carré (1972), foi a que deu início ao processo de
auto demolição do catolicismo.
Então, é de suma importância que a ISP monitore esse tipo de perigo. Não se pode
ignorar que a Igreja Católica Apostólica Romana, que se manteve sólida e perene por mais de
1.960 anos, está a ruir após o desfazimento de um rito interno aparentemente simples. Então, a
PMMG, com seus 245 anos, obviamente, precisa ser objeto de uma atenção continuada no
tocante à saúde organizacional dos seus pilares. Tal pode ocorrer por intermédio de indicadores,
e é exatamente a isto que se presta a presente monografia. No subcapítulo 5.3, sugerem-se
alguns.
Para lidar nessa realidade, destaque-se, o profissional de ISP precisa estar em plenas
condições de fazer o sensoriamento do ambiente. Afinal, fazer ciência, conforme Wise e Bawer
(2019), “é procurar padrões repetitivos [...], fazer conexões [...] descobrir fatos, entender os
conceitos científicos e conectá-los [...]” (WISE; BAWER, 2019, p. 397- 398). Esse é o papel
em que a Inteligência de Segurança Pública tem potência (aristotelicamente falando) de
desempenhar. Os indicadores são o mecanismo do qual essa potencia pode se concretizar e vir
a se tornar ato, conforme diria Aristóteles (2006).
Nas considerações feitas até agora neste subcapítulo, procurou-se mostrar que
existe uma coisa que pode ser recortada da realidade e que ajuda a pensar sobre Inteligência de
105

Segurança Pública. Essa coisa é o ataque às bases culturais. A PMMG tem bases culturais, que
se chamam hierarquia e disciplina militares. Foi também mostrado que a maneira de concretizar
esses ataques, para que surtam seus efeitos, é trocar a matriz da lealdade ao grupo, por exemplo,
fazendo com que jovens sejam estimulados de tal maneira que eles já não tenham compromisso
com as gerações anteriores e estejam prontos para ser direcionados nos rumos que o
influenciador queira.
Desse modo, para a Polícia Militar, é preciso um olhar para fora, quanto ao que está
estimulando o aumento da criminalidade, e um olhar para dentro, buscando identificar o que
possa colocar em perigo os seus pilares institucionais. Um indicador adequado e
suficientemente abrangente disso tem então de abarcar essa verificação externa e esse
acompanhamento interno. Este último está tratado no subcapítulo 3.4, restando então enfocar
apenas os elementos de indicador para acompanhar o ambiente externo, ou seja, aquilo que
esteja aumentando artificialmente a criminalidade e no qual a Inteligência possa interferir. Tal
enfoque está no subcapítulo 5.3.

3.2 A Tarefa Ergonômica de inteligência de segurança pública

A realidade do mundo é sempre muito mais abrangente do que as normas que os


grupos humanos inventam para nortear as várias categorias de trabalhadores de organizações
ou de pessoas do mundo civil alcançadas pelos respectivos aparatos de normatividade. É assim,
porque a natureza do que genericamente se conhece por meio da palavra realidade é muito mais
difusa, profunda, complexa, instável, desafiadora, do que aquele rol de escritos que os grupos
humanos se põem a construir, no esforço contínuo de criar parâmetros de ação.
Essa amplitude é justificativa para que aqueles que vão agir sobre ela e tentar
produzir efeitos nela coloquem-se em campo com a prudência de evitar ao máximo o improviso
de abster-se o mais possível da inovação inspirada na pura vontade própria. A subjetividade
diante do mar de incertezas e de aspectos mutáveis que formam o chamado mundo real requer
das pessoas, no nível individual, uma prudência para não se perder, não fazer esforços
desnecessários, não escolher caminhos que levem a becos sem saída e a desperdícios de tempo
e de dinheiro.
Isso é muito mais verdadeiro e urgente quando se trata de pessoas que não estejam
atuando em nome próprio, que integrem estruturas organizacionais pre-existentes, que
componham essas organizações como ocupantes de funções específicas e que, por tudo isso,
tenham um dever funcional de evitar a ineficiência da organização por elas integradas.
106

O próprio conceito de organização, dado por Morgan (2006) indica o cabimento de


se considerarem os aspectos normativos desse ser como apenas parte, sempre marcada pela
precariedade, de uma intenção de colocar várias pessoas ao mesmo tempo buscando o mesmo
objetivo. Uma das “imagens” de que Morgan (2006) lança mão para descrever essa coisa
chamada organização é a de máquinas. Estas, segundo a metáfora usada pelo autor, podem ser
vistas como “empresas racionais planejadas e estruturadas para atingir determinados fins. A
maquina organizacional tem metas e objetivos. Ela é planejada como estrutra racional de tarefas
e atividades” (MORGAN, 2006, p. 33).
Existe então a possibilidade da reflexão a respeito de uma organização, que
considere a sua estrutura, as tarefas, em que essa estrutura se concretiza, a intenção deliberada
de reger o maquinário organizacional em função de metas e de objetivos. Com todas as
limitações que o uso de metáforas para descrever as organizações requer, ainda assim essa
descrição feita por Morgan (2006) é bem interessante para pensar sobre como o conceito de
Tarefa Ergonômica ajuda a iluminar o que é o SIPOM.
A tarefa é a prescrição. Nessa pequena frase está contida a ideia básica que une
leigos e especialistas em relação ao que a palavra central da referida frase significa. Quando o
conceito é aprofundado, passa a contar com outras palavras, tais como normas e estruturas,
fazendo assim a mesma frase poder ser enunciada com uma noção mais ampla. Segundo
Abrahão et al (2011):

a tarefa é entendida como um conjunto de prescrições, com relação àquilo que o


trabalhador deve fazer, segundo determinadas normas e padrões de
quantidade/qualidade e por meio de equipamentos e ferramentas específicas. A tarefa,
da mesma forma, abrange as condições de trabalho, pois elas influenciam as
possibilidades de ação [...]. O universo da tarefa deve compreender: As características
dos dispositivos técnicos; As características do produto a transformar, ou do serviço
a prestar; Os elementos a considerar par atingir os objetivos. (ABRAHÃO et al, 2011,
p. 49).

Tanto na conceituação simples como na mais robusta, a Tarefa Ergonômica pode


ser definida como tudo aquilo que circunscreve o trabalho e serve de bússola para o trabalhador
saber o que deve fazer, sem precisar voltar a todo momento ao autor da ordem e perguntar
detalhes. Para não ter que se arriscar a adivinhar nem improvisar a todo momento, o profissional
precisa conhecer os limites da ação e estar bem situado com relação ao ambiente laboral: as
demarcações funcionais de cada pessoa no trabalho, os modos como cada nível deve se
comunicar com o superior ou o lateral e assim por diante.
A atividade de Inteligência é um âmbito profissional que funciona dentro de uma
lógica bem organizada que pode ser observada a partir da noção de Tarefa Ergonômica.
107

Aplicando-se esta à ISP, tal expressão da Ergonomia abrange o detalhamento de pessoal em


termos de unidades de lotação dos postos e graduações, os tipos de documentos por meio dos
quais os integrantes da ISP se comunicam e transmitem ideias (um código criptográfico, por
exemplo), os parâmetros de classificação do que seja tratado (níveis de reserva e requisitos para
acesso a pessoas integrantes do SIPOM) e outros aspectos.
Se a ISP como um todo pudesse ser comparada a um automóvel, poderia ser
afirmado, metaforicamente também, que tal tipo organizado de trabalho corresponde ao chassi
do veículo, que é sua espinha dorsal, aquilo que exerce no carro o papel de esqueleto basilar, a
parte nem sempre visível que sustém o automóvel. É o “DNA” da coisa que especifica, distinta
de outras, em ligação com a qual esse meio de transporte de pessoas e cargas é capaz de suportar
pesos e ser posto para servir às finalidades a que se destina.
O chassi não são as rodas, mas estas dependem dele para ter em que se apoiar e
comunicar movimento a todo o veículo. O chassi não é o motor, porém inegavelmente possui
importância vital para que este seja posto em um posição apropriada para que funcione bem. O
chassi não é também a carroceria, em que todo o acabamento se concretiza, com os metais de
revestimento, vidros e outros itens relevantes que garantem o conforto dos usuários. De modo
análogo, essa carroceria, na ISP, é um conjunto de coisas que não estão necessariamente escritas
ou regulamentadas, mas que são feitas com boa intenção e disposição, como interpretação
lógica da maneira pela qual se deve preencher a lacuna normativa. Porém, é, por meio delas, as
rodas, todo o automóvel toca o chão da realidade.
Analogamente, a ISP toma contato com a realidade em razão da existência da
realidade em razão da existência de uma norma que regulamenta a estrutura de ISP e a torna
distinta de outros setores da Administração e da atuação operacional da PMMG. No chassi,
encontram-se, formalizadas e em uso contínuo, as regras do bem pensar que os primeiros
realizadores de missões dessa área (Inteligência) da profissão policial militar intuíram um dia e
puseram em prática. A necessidade da realização do serviço em trajes civis é o traço mais
conhecido de tal intuição, para que a atividade de inteligir seja feita de modo disfarçado. As
regras são concretizadoras de parte das necessidades percebidas pelos profissionais de ISP em
relação ao que essa comunidade haja precisado formalizar.
Após a etapa em que os engenheiros projetistas do automóvel dão concretude ao
chassi, eles fornecem, por meio dele, os parâmetros básicos a respeito de todo o restante, eles
começam a poder se preocupar com o desempenho desse veículo em variados locais e
circunstâncias. Em determinado momento, é preciso disponibilizar a quem for usar aquele carro
a sua lataria, motor e fiações necessárias para que a coisa funcione como um sistema de
108

interligação entre tanque de combustível, pedal do acelerador e o motor, ou entre o eixo de


direção, as rodas e os freios, ou ainda entre o gerador de energia elétrica, os controles dos vidros
das portas, as engrenagens que garantem o sobe-e-desce dessas janelas transparentes e por aí
vai.
Em Ergonomia, as normas e estruturas, quando vistas em conjunto, são chamadas
de Tarefa Ergonômica. Na ISP, essa expressão abrange os regulamentos (desde as leis
definidoras do SIPOM, até as placas de “acesso restrito” postas nas portas das instalações onde
os profissionais trabalham) e as interconexões entre os níveis Estratégico, Tático e Operacional
dessa mesma seara de trabalho policial militar.
O profissionais de ISP, além do arcabouço jurídico a que estão sujeitos em
decorrência de serem policiais militares, submetem-se ainda a normas específicas que regem a
atividade de Inteligência de Segurança Pública e os meandros de sua prática laboral. Não foi
objetivo desta monografia esmiuçar a legislação que rege o SIPOM, mas propor indicadores
setoriais para o serviço. Por isso, não se consumiu tempo excessivo nesse tipo de detalhamento,
mas apenas o necessário para explicar que existe legislação que rege, pontualmente, a atividade.
De maneira geral, a DEGEOp (MINAS GERAIS, 2019) estipula as linhas gerais do
que os profissionais lotados na atividade de ISP devem fazer. Conforme mencionado
documento, o “Sistema de Inteligência da Polícia Militar (SIPOM), [tem o] intuito de orientar
e subsidiar o lançamento do efetivo policial no teatro de operações”. (MINAS GERAIS, 2019,
p. 55). Complementado o conceito, nessa Diretriz, estipula-se que:

[...] a Inteligência de Segurança Pública (ISP) tem por finalidade coletar e buscar
dados, que, após análise e interpretação, são transformados em informações e
conhecimentos estratégicos, táticos e operacionais. Visa antecipar a eclosão de delitos
e orientar o planejamento para emprego de seu efetivo e meios com cientificidade,
possibilitando a prevenção e repressão qualificadas da criminalidade. (MINAS
GERAIS, 2019, p. 55).

Ainda sobre a Inteligência de Segurança Pública e DEGEOp (MINAS GERAIS,


2019), a Diretriz estabelece a que ISP se trata de atividade que deve, como missão básica,
interpretar o ambiente criminal, “[...] identificar e detectar situações [de risco] e elencar fatores
capazes de neutralizar ações criminosas” (MINAS GERAIS, 2019, p. 56). Portanto, a
comunidade de Inteligência é encarregada de gerenciar e concretizar a ISP e assim seus
profissionais precisam ter habilidades para identificar estratégias capazes de reduzir a
criminalidade e violência e assessorarem plenamente acerca de fato danoso à segurança pública
que esteja a ocorrer e sobre qual a medida mais eficaz para interferir no ambiente, de maneira
a otimizar o cumprimento da missão da PMMG. A norma em questão contem a recomendação
109

de que a Inteligência potencialize os serviços da Corporação e otimize sua atuação operacional,


de forma a institucionalizar o conceito de Polícia Orientada pela ISP.
Conforme a DEGEOp (MINAS GERAIS, 2019), o SIPOM, para dar cabo às suas
missões, estrutura-se de acordo com a seguinte articulação:

a) Nível estratégico:
- Agência de Inteligência Estratégica (AIE): Seção Estratégica de Inteligência do
Estado-Maior (EMPM-2);
b) Nível tático:
- Agência Central (AC): Diretoria de Inteligência (DInt);
- Agência Regional (AR): Região de Polícia Militar (RPM);
- Agência Regional Especializada (ARE): Comando de Policiamento Especializado
(CPE);
c) Nível operacional:
- Agência de Área (AA): Batalhão de Polícia Militar (BPM) e Companhia
Independente de Polícia Militar (Cia PM Ind);
- Agência Especial (AE): Unidades Especializadas;
- Subagências de Inteligência (SI): Companhias de Polícia Militar (Cia PM);
- Núcleos de Agências (NA): Pelotões de Polícia Militar (Pel PM);
- Núcleo Especial de Busca (NEB): constituído pelo Comandante-Geral e
instaladas/coordenadas pela DINT, em qualquer parte do Estado, para missões
especiais, quando a situação exigir;
- Núcleo Regional de Busca (NRB): estrutura de Inteligência que pode,
excepcionalmente, ser constituída e instalada pelo Comandante da RPM [...] num
período de até 30 (trinta) dias [...]. Os NRB serão preponderantemente operacionais e
dissolvidos tão logo cumpram a missão para a qual foram constituídos. (MINAS
GERAIS, 2019, p. 57)

Além dessa diretriz geral de funcionamento, a ISP possui normas específicas para
o serviço; contudo, o conteúdo destas é protegido por sigilo e tem divulgação restrita,
considerando a peculiaridade e sensibilidade desse tipo de atividade20. A necessidade do sigilo
é inerente aos serviços de Inteligência no mundo inteiro, fato que pode ser facilmente
compreendido observando-se, por exemplo, alguns casos de operações de Inteligência
estrangeira mencionados nesta pesquisa. Contudo, a fim de que não reste dúvidas a esse
respeito, explica-se que a atividade de Inteligência de Segurança Pública da PMMG é
devidamente regulamentada e fiscalizada pelas autoridades credenciadas e autorizadas a
conhecer pelo arcabouço jurídico.
Assim como um automóvel pode funcionar sem que esteja pronto um painel que
facilite o acompanhamento do desempenho do veículo, o trabalho de inteligir a criminalidade
pode ser feito sem um conjunto de indicadores. Essa é exatamente a situação da atividade de

20
Resolução 4.610, de 03 de outubro de 2017, aprova a regulamentação dos procedimentos para as operações de
ISP; Resolução 4.609, de 03 de outubro de 2017, aprova os conceitos estabelecidos para produção de conhecimento
de ISP; Resolução 4.694, de 20 de agosto de 2018, aprova a regulamentação dos procedimentos para a contra
inteligência de segurança publica; Resolução 4.693, de 20 de agosto de 2018, aprova as diretrizes para o
planejamento, a execução, a coordenação e o controle de ISP na PMMG. Citar nas notas referencias
110

ISP nos dias atuais: é um carro que funciona bem, com bom desempenho, mas sem um painel,
contando apenas com a dedicação, o profissionalismo, o espírito de sacrifício e o compromisso
institucional dos seus profissionais.
A ausência de um painel não impede que o veículo funcione, mas dificulta ao seu
condutor ter certeza do “status” acerca dos múltiplos aspectos do automóvel a cada momento.
Apesar de que a inexistência de um rol de indicadores não tem obstaculizado o funcionamento
do SIPOM, deixa-o muito dependente do talento individual dos seus integrantes e requer destes
gastar energias com a rotina em vez de olhar para a realidade da Demanda Ergonômica de ISP,
já discutida no capítulo 3.1 na sua inteireza, o que prejudica enfrentar as ameaças com a
profundidade que o tipo complexo dos perigos ali presentes representa para a própria
sobrevivência da Polícia Militar.
Tomando-se emprestada mais uma vez a riqueza de possibilidades que as metáforas
contêm, a inexistência de um painel de indicadores causa lentidão na compreensão do todo,
porque o ambiente externo, quando olhado sem o auxilio desse painel, tende a se mostrar como
um emaranhado de fragmentos, em vez de uma coisa claramente definida em seus contornos,
visível em toda a sua profundidade e periculosidade. Sem o painel de indicadores, o olhar do
gestor fica mais exposto ao risco de só captar coisas particulares, em vez de enxergar os
universais.
Isso, na prática, representa o perigo de pessoas muito bem intencionadas, atuando
com a máxima dedicação e comprometimento, terem de fazer um esforço acima do normal para
comunicar tudo aquilo que, por méritos pessoais, elas estejam conseguindo ver, para além dos
“cacos” de realidade. O que há de perigoso nisso é que a eficiência do SIPOM fique muito
sujeita ao que Takeuchi e Nonaka (2008) chamam de conhecimento tácito.
O conhecimento tácito, para os autores, é aquele profundamente enraizado na
experiencia pessoal e corporal do indivíduo, bem como em seu mundo intelectual e emocional.
Por isso, sendo fruto da experiência pessoal direta, é difícil de visualizar, de explicar, de
formalizar e de compartilhar. O conhecimento tácito, portanto, pertence ao mundo
personalíssimo de uma pessoa e compõe o que ela é, sua maneira de ver e de interagir com o
ambiente próximo e distante (NONAKA e TAKEUCHI, 2008).
Os autores detalham ainda mais o conhecimento tácito, explicando que é composto
por “[...] habilidades informais e de difícil detecção, muitas vezes captadas no termo ‘know-
how’[...], [n]as inspirações derivadas da experiência [...]”. (TAKEUCHI; NONAKA, 2008, p.
19). A isso, eles chamam dimensão cognitiva, que consiste em:
111

[...] crenças, percepções, ideais, valores, emoções e modelos mentais tão inseridos em
nós que os consideramos naturais. Embora não possa ser articulada muito facilmente,
essa dimensão do conhecimento tácito dá forma ao modo como percebemos o mundo
em torno de nós (TAKEUCHI; NONAKA, 2008, p.19).

Essas demarcações conceituais feitas por essa dupla de autores japoneses podem
ser úteis à demonstração de que uma ausência de painel de indicadores possui a potencialidade
de induzir a uma administração personalista. Isso é algo que merce preocupações, porque destoa
do dever de impessoalidade dos atos da Administração Pública.
Os SIPOM é uma estrutura da Administração Pública e, por causa dessa sua
natureza, é melhor que os seus gestores, os quais são pessoas responsáveis e desejosas de aplicar
os princípios administrativos disponham de um meio adicional para concretizar o espírito
público que tentam imprimir a todos os seus atos e a todas as suas intervenções na realidade.
A concretização da existência de um painel de indicadores para o SIPOM traz, por
tudo isso, o beneficio implícito de aproveitamento ainda melhor da capacidade e do
conhecimento tácito dos gestores do sistema posicionados nos variados níveis do SIPOM. Um
painel de indicadores tem, assim, a potencialidade de sofisticar a tarefa ergonômica de ISP e
tornar a sua execução ainda mais identificada com o ideal de uma administração pública
gerencial, em que predomine a vivência do princípio constitucional da impessoalidade. Isso
porque o conhecimento tácito tem um forte conteúdo de pessoalidade, segundo Nonaka e
Takeuchi (2008).
No Distrito Federal, no campo da Inteligência de Segurança Pública e, de modo
mais restrito, em uma organização externa à Polícia Militar, que é o Corpo de Bombeiros Militar
do Distrito Federal (CBMDF), existe um determinado dispositivo de norma que serve para
ilustrar a relação entre Tarefa Ergonômica de ISP e uso de indicadores para concretizá-la: de
acordo com Botelho (2018), No artigo 6, inciso VII, do Decreto criador da Agência Central,
está disposto que é competência do Centro de Inteligência “VII - monitorar as informações
veiculadas nos diversos meios de comunicação visando à produção de conhecimentos de
interesse da corporação;”. (BOTELHO, 2018, p. 135).
Essa atribuição de tal setor da inteligência do Bombeiro Militar apenas ilustra que
existe um elo entre norma e monitoramento. O estudo a da Demanda Ergonômica, já feito em
3.1, trouxe detalhes da coisa observada, daquilo que se pode monitorar. Querer fazer o
monitoramento é diferente de fazê-lo por meio de indicadores, quando o interessado queira usar
a palavra como simples rotina de assistir programas de mídia, por exemplo, emitindo relatórios
a respeito de trechos encontrados.
112

Entretanto, um detalhado monitoramento que conduza para fora do nominalismo


(tratado no Capítulo 2, com o significado de negação da existência de universais,
consequentemente subestimação do fato de que as coisas rotineiras acontecem dentro de certos
padrões), compõe-se de algo que leva a enxergar, nos casos particulares monitorados, uma coisa
mais ampla, que é a padronagem do ataque à Polícia Militar, a frequência com que este seja
efetuado por determinado órgão de mídia, a adesão do jornalista ou editor do programa de mídia
a certas agremiações políticas, dentre outros fatores que só são perceptíveis quando se tenha
em mente a busca de um padrão.
Essa potencialidade precisada estar presente na leitura não nominalista do ambiente
em que a ISP seja praticada, porque é muito útil para enxergar, por exemplo, aquilo que Derosa
(2016) chama de transformação social efetuada mediante a transformação da mídia de massa
em uma máquina de propaganda. Segundo ele, esse é o caso brasileiro:

Ao longo das ultimas décadas, a função informativa dos jornais foi sendo
progressivamente substituída pela função transformadora da realidade. A
comunicação tem [passou a ter] por definição uma função informativa e um efeito
transformador. Afinal, a difusão de fatos gera novos fatos, mas agora o efeito assume
gradativamente o status de função essencial da comunicação [...] hoje praticamente
todos os cursos universitários propõem o estudo de suas disciplinas aliado à função
da transformação social. A transformação pode ser encarada como uma disciplina
obrigatória em todos os cursos, que se travestem muitas vezes de belas e humanitária
intenções. Essa mudança de função deve o seu caráter em pare a mudanças culturais,
trazidas pela própria evolução de estudos sociais aplicadas às utopias políticas
disponíveis. Grupos inspirados no antigo Clube de Roma, como Bilderberg,
Sociedade Fabiana, Fundações Ford, McArthur, Open Society, entre tantas outras,
encontraram um meio de financiar e orientar os estudos científicos de relevância
internacional durante o último século. Quais estudo que é dito e repetido nos meios
de comunicação veio da mente de meia dúzia de metacapitalistas seduzidos pela
utopia da sociedade socialista global, a chamada nova ordem mundial[...]. A crença
inquestionável na necessidade de transformação dos padrões culturais representa hoje
um muro intransponível à inteligência de milhares de estudantes de todas as áreas que
chegam às universidades e são bombardeados com estímulos aos mais delirantes
sonhos de sociedade perfeita [...]. Do mesmo modo que a ciência moderna ambicionou
o controle técnico da natureza, donde vem a crítica pós-moderna e ecológica, a nova
utopia da reconstrução da mente humana por meio da engenharia social foi sendo
sedimentada por teorias e agentes políticos [...]. (DEROSA, 2016, p. 22-23).

Essas afirmações realizadas por Derosa (2016) podem ser aliadas à reflexão a
respeito do componente normativo (norma do CBMDF que prevê monitoramento de mídia) da
ISP mencionado por Botelho (2018). De tal associação vem a certeza de que não basta
monitorar mídia, é imprescindível saber que o teor da coisa monitorada tem estado praticamente
todo contaminado por uma utopia de transformação da realidade, o teor do noticiado vem sendo
viciado, o conteúdo da notícia está tendencioso e, de tal maneira recheado da utopia
transformadora do mundo que se o agente de Inteligência não estiver devidamente instruído,
113

ele próprio se tornará uma vítima de algo que vai muito além da notícia, pois ele, integrante da
administração pública, pensando estar cumprindo uma tarefa de monitoramento, poderá, na
realidade, estar sendo convertido, convencido, mediante a mensagem de fundo da notícia
monitorada, a uma visão de mundo deliberadamente utópica.
Isso mostra que não basta ter normas regulando o funcionamento da ISP, não é
suficiente possuir profissionais que cumpram essas normas, é fundamental que o pessoal
empregado nessa Tarefa Ergonômica passe continuamente por uma capacitação na qual o
cumpridor da norma seja mentalmente protegido do efeito contaminante da coisa com a qual
ele terá de lidar.
Metaforicamente, isso equivale a enviar a campo certo contingente de coletadores
de “cacos” de realidade, mas tendo antes vestido esses profissionais com um traje que consiga
suportar a alta radioatividade presente no campo onde haverá a tal coleta. Em termos ainda mais
práticos para ilustrar a metáfora, o envio de agentes de ISP a missões de monitorar o que quer
que seja pode conter um elemento de risco maior do que existia em tempos passados, porque
tem o potencial de equivale a um deslocamento, sem trajes de proteção, pelas ruas das cidades
e pelos corredores da usina localizados no raio de alcance do acidente atômico de Chernobyl
(ocorrido em 26 de abril de 1986, em razão da explosão de um dos reatores da usina nuclear
localizado próxima à cidade de Pripiat, no norte da Ucrânia).
Esse elo necessário entre norma e cuidados necessários ao desempenho indica que
a tarefa ergonômica possui um ingrediente de contínua dependência da capacitação dos
profissionais de ISP, a fim de que a norma, de fato, produza os efeitos pretendidos com ela.
Portanto, a Demanda Ergonômica é um elemento importante, que deve ser conhecido para que
o ato de cumprir as normas (adequar-se à Tarefa Ergonômica) seja sempre coerente com a
intenção de que a estrutura de ISP sirva, realmente, de chassi para que esse “automovel” rode
por todos os terrenos, percorra todas as trilhas, inclusive aquelas do tipo “off-road”.
A Tarefa Ergonômica de ISP tem conexões inseparáveis com a Demanda
Ergonômica da mesma ISP. Esses elos não se esgotam na capacitação permanente. Eles
dependem de algo ainda mais específico, que diz respeito ao agir propriamente dito da
comunidade de inteligência, ao “colocar a mão na massa” que é requerido diuturnamente dessa
comunidade chamada SIPOM. Por causa disso, no próximo subcapítulo, é feito um
aprofundamento a respeito do significado da expressão Atividade Ergonômica de ISP.
114

3.3 A Atividade Ergonômica de Inteligência de Segurança Pública

A Atividade Ergonômica de Inteligência de Segurança Pública tem duas facetas:


uma é referente ao que os profissionais da comunidade conhecida por SIPOM fazem, no seu
esforço quotidiano de cumprir as normas referentes ao trabalho, isto é, diz respeito à
concretização da Tarefa Ergonômica, em relação às normas e também concerne às estruturas
genericamente conhecidas por SIPOM. Tudo o que se faz a partir do prescrito é Atividade
Ergonômica.
O outro aspecto, a oura faceta dessa expressão da Ergonomia é referente ao que as
pessoas fazem no ambiente externo que seja fruto direto e indireto de uma orientação ou
prescrição vinda de outro órgão de Inteligência (a KGB, com seus planos internacionais, é o
exemplo mais vívido) ou provenientes de algum tipo orquestrado e deliberado de ação no
âmbito da criminalidade, em cujo nascedouro possa ser encontrado um esforço consciente por
instabilização a ordem pública.
Esse é o caso das ações de pessoas pertencentes a organizações externas à Polícia
Militar que fazem coisas ou tomam decisões nitidamente voltadas para desarticular,
enfraquecer, ridicularizar, subverter o trabalho da Corporação, como, por exemplo, a produção
de peças jurídicas que não tenham uma justificativa plausível, mas sim, a penas, quando
concretizadas, anulam todo o conjunto de esforços que os organismos de segurança pública
tenham feito para conter determinada organização criminosa.
Nessa segunda face da Atividade Ergonômica estão os atos de soltura de criminosos
em circunstâncias curiosas, nas quais se veja uma articulação entre pedidos vindos de partidos
políticos, decisões monocráticas de autoridades públicas e dificultação de uma resposta
tempestiva por parte dos órgãos policiais em geral para reverter aquele quadro. É o caso, por
exemplo, da ação feita por manifestantes em Belo Horizonte no ano de 2014, em que eles, após
confrontados pela Polícia Militar passaram a atirar bolinhas de gude nos cavalos da PMMG,
visando a feri-los.
A expressão Atividade Ergonômica possui um elemento em comum com a
comunidade de ISP. Esse aspecto que une as duas coisas é a ideia de ação, porque o SIPOM
tem como crença comum a noção de que Inteligência constitui uma atividade. O inteligir,
enquanto se age, é, por isso, o cerne, pelo menos em termos de denominação, é a característica
central do que carinhosamente se costuma chamar de serviço secreto, ou pejorativamente,
reduto dos arapongas.
115

A palavra final de tal apelido (Araponga) remete a uma ave, que, por sinal, é muito
barulhenta, razão pela qual não serve para identificar adequadamente a coisa pretendida pela
ironia. No entanto, pode-se recorrer justamente à ideia oposta, de silêncio, de ação feita com
profunda discrição, para identificar aquilo que configura a razão de ser da atividade de ISP. É
o que afirma Oliveira (2011), ao explicar que a ave símbolo da Inteligência Brasileira não é
aquela objeto da mencionado sarcasmo: “Araponga, não! É o carcará.” (OLIVEIRA, 2011, p.
45).
É importante, para os fins desta monografia, compreender como surgiu esse apelido
depreciativo. De acordo com Oliveira (2011):

O termo “Araponga” foi cunhado por Dias Gomes, mordaz soteropolitano [nascido
em Salvador, na Bahia], nos idos de 1990. Tarcísio Meira, o artista “global”,
representava o agente bem “trapalhão” Aristênio Catanduva, de codinome
“Araponga” - parodiando o eterno 007, James Bond - que tentava por todos os meios
convencer seus superiores a reativar o Serviço Nacional de Informações (SNI).
Naquela época, Fernando Affonso Collor de Melo assumiu a Presidência da Republica
e seu primeiro ato foi extinguir o SNI [...]. Do substantivo “araponga” (ave
pertencente à subfamília Cotingidae, gênero Procnias) derivou-se o funesto adjetivo
“arapongagem” para designar qualquer atividade supostamente de Inteligência -
aquela onde se busca conhecimentos para assessorar o decisor (OLIVEIRA, 2011, p.
45).

Colocando em prática o método de sair do particular e enxergar nele o universal,


ou seja, o padrão em que ele se insere, pode-se constatar que não é acidental o fato de que foi
Dias Gomes (1922-1989) quem popularizou a pecha implícita na palavra araponga, em desfavor
da credibilidade e da seriedade do serviço de Inteligência brasileiro. O mencionado autor de
novelas era filiado a uma agremiação política (PCB21) que consistia, na época (e continua
sendo) um satélite do serviço de Inteligência outrora conhecido por KGB.
O que possibilita notar a relação entre os partidos de esquerda e a Agência Central
de Inteligência Soviética, antiga KGB, é que, nas metas traçadas por aquela agência, estão, de
acordo com Skousen (2018), as de: “21. Ocupar as posições chave no rádio, na televisão e no
cinema [...]. 32. Apoiar qualquer movimento socialista para obter controle centralizado de
qualquer parte da cultura [...]. 35. Descreditar e, por fim, desmantelar o FBI.” (SKOUSEN,
2018, p. 308-309).
Dias Gomes alcançou proeminência alcançada como autor de novelas na televisão
brasileira. A obra dele recebeu apoio para exercer o controle sobre essa parte da cultura, que é

21
A pertença desse intelectual à referida agremiação política está bem demonstrada no sítio do Partido Comunista
Brasileiro, que exalta Dias Gomes e lhe classifica como comunista e socialista. Disponível em:
https://pcb.org.br/portal2/16763/dias-gomes/. Acesso em 25/10/2020.
116

o entretenimento da população mediante novelas, no caso em questão com uma ironia


desacreditadora da comunidade de Inteligência brasileira, tudo feito por meio desse membro do
PCB. Nos acontecimentos da realidade brasileira expressos nessas três metas, pode-se notar um
padrão, pois evidenciam que as mencionadas situações ligadas à pessoa de Dias Gomes
concretizaram no Brasil as metas número 21, 32 e 35 aludidas por Skolsen (2018).
Essa situação envolvendo o Dias Gomes deixa muito nítida a amplitude da
expressão Atividade Ergonômica de ISP. Com efeito, esta serve para observar não apenas o que
os profissionais de Inteligência fazem para conter a criminalidade, mas também notar como
pessoas aparentemente sem qualquer relação com a Inteligência fazem coisas que são
concretizadoras de um plano oriundo de um órgão dessa natureza, neste caso a KGB.
O detalhe mencionado por Oliveira (2011), de que houve a extinção do SNI e, logo
após, uma intensa exposição negativa em um programa exibido em vários capítulos pela Rede
Globo de Televisão, programa esse feito por Dias Gomes, membro do PCB, remete o agir do
referido intelectual à Agência Central de Inteligência soviética e às metas número 21, 32 e 35.
Não é supresa então, quando se olha para aquele período que era o primeiro após o
fim do Regime Militar no Brasil e se nota que, em 1985, apenas cinco anos antes da extinção
do SNI, tinha havido duas inovações legislativas de amplo alcance por parte dos parlamentares
brasileiros: a aprovação da Emenda Constitucional número 25, em maio daquele ano, e da lei
número 7.454, aprovada quatro meses depois. De acordo com Casarões (2008), esses dois
produtos legislativos impactaram organização partidária brasileira de modo profundo, ao
levarem à abolição da fidelidade e à suspensão de restrições que antes vigoravam a respeito do
funcionamento de partidos comunistas, dentre outros reflexos:

Além da reacomodação interna além da reacomodação do PDS [Partido Democrático


Social] para o PFL [Partido da Frente Liberal], uma segunda modificação da
legislação partidária levada a cabo em 1985 - por meio da Emenda Constitucional nº
25, de maio, e da Lei nº 7.450, de setembro - , imprimiu um tom “desregulamentador”
aos assuntos referentes à organização partidária no advento da Nova República [...].
Os impactos imediatos da nova legislação foram a recomposição dos partidos
comunistas - o Partido Comunista Brasileiro (PCB) e o Partido Comunista do Brasil
(PC do B) - e a proliferação de pequenas legendas, como o Partido da Juventude (PJ),
o Partido Social Cristão (PSC) e o Partido da Reconstrução Nacional (PRN),
utilizados por Collor para amparar institucionalmente sua candidatura em 1989 [...].
(CASARÕES, 2008, p. 61-62)

Coincidentemente, uma das metas do projeto internacional leninista, segundo


Skousen (2018), é “12. Resistir a qualquer tentativa de declarar o partido comunista ilegal”.
(SKOUSEN, 2018, p. 17). O que há de curioso nesse acontecimento de grande amplitude do
117

mundo legislativo brasileiro é que, ao fim do Regime Militar, que tivera combatido os Partidos
Comunistas, deu-se a concretização da meta nº 12 do plano internacional leninista.
Foge aos propósitos desta análise aprofundar possíveis relações entre Collor de
Melo e a instância da atividade de Inteligência dos então chamados soviéticos, mas,
curiosamente, a União Soviética ainda demoraria um ano para sofrer uma implosão quando esse
Presidente da República extinguiu do SNI. Esse ato presidencial, quando visto no conjunto de
ocorrências políticas no período, particularmente a aprovação da Emenda Constitucional e da
lei referidas por Casarões (2008) indica algo maior: uma Agência de Inteligência tendo seu
objetivo concretizado e outra Agência de Inteligência, a do país alvo (República Federativa do
Brasil) sofrendo um duro revés.
De acordo com Guérin (2005), a atividade profissional de um trabalhador é algo
correlacionado à sua saúde. Ele afirma também que os elos entre trabalho e saúde são
complexos e que as agressões à salubridade do trabalhador não se restringem a acidentes que
ele possa sofrer enquanto realiza e concretiza os seus deveres. Nem sempre, segundo esses
mesmos autores, as agressões à saúde do trabalhador são coisa grave, que chegue a justificar o
fornecimento a ele de um tratamento ou mesmo de uma licença médica, porque nem todas as
causas agressivas podem ser percebidas facilmente. Às vezes, o que provoca um descompasso
entre o que o trabalhador tenta fazer e o que ele consegue são os aspectos referentes à carga de
trabalho.
Essa visão genérica que Guérin e pesquisadores associados (2005) lançam luz a
respeito de o que a Atividade Ergonômica ajuda a notar. Existem aspectos importantes do
estudo do tema que vão muito além da noção comum, a qual limita a ideia de atividade à de
coisas que se faz enquanto se trabalha ou em razão do trabalho. Dentro dessa perspectiva mais
ampliada de reflexão a respeito do que é a atividade, pode-se pensar sobre como a ISP se
configura, do ponto de vista daquilo que os seus profissionais fazem.
De acordo com Cardoso (2008), citado por Felix (2018), “a ISP realiza a coleta e
busca de informações, análise e difusão de conhecimentos, que propicie uma ação antecipada
das instituições de defesa social [...]”. (FELIX, 2018, p. 193). Essa delimitação do que significa
trabalhar no âmbito da Inteligência é o meio para entender que as pessoas lotadas nessa
comunidade são coletoras, analistas e difusoras de conhecimento. Elas fazem isso tudo
norteadas pela intenção de garantir a supremacia dos órgãos estatais perante as ameaças das
quais elas realizam coleta, busca, análise e difusão desses mesmos elementos presentes na
realidade. Assim, sem que seja possível esgotar o rol de coisas coletadas, buscadas, analisadas
118

e difundidas pelo SIPOM, pelo menos um exemplo mais atual e robusto serve para ilustrar essa
minuciosa atividade.
Um caso concreto de Atividade Ergonômica de ISP é o Núcleo de Inteligência
Criminal (NIC). Este consiste em uma espécie de híbrido entre a Polícia Militar e o Ministério
Público, situado fisicamente na estrutura do Parquet mineiro, esse núcleo é o responsável e, ao
mesmo tempo, o executor das duas potencialidade legalmente embasadas que há na Tarefa
Ergonômica (normas e estruturas) das duas organizações públicas que o compõem: o Ministério
Público tem potência de tomar certas medidas, como presidir uma investigação, atribuição essa
que a Polícia Militar não possui, exceto para os crimes militares e infrações administrativas.
Por sua vez, a Polícia Militar, devido à sua capilaridade, coesão, uniformidade de
procedimentos e previsibilidade de conduta segundo cada posição hierárquica e funcional
(decorrentes de sua natureza militar), tem potência de, por meio da atividade de ISP, concretizar
ações e operações hábeis a esclarecer crimes. Tais ilícitos podem interessar ao Ministério
Público investigar, contudo lhe faltam os meios para transformar idéias em resultados, para sair
do nível da perspectiva e ingressar no da concretitude.
O NIC é ainda elemento estranho na estrutura normativa (Tarefa Ergonômica),
tando da PMMG quanto do MPMG. No entanto, ancorados nas possibilidades que a
discricionariedade abrange para serem criativos, os integrantes dos dois órgãos têm se unido
em um município específico (o de Uberlândia, no Triângulo Mineiro) e, dessa união, têm vindo
frutos que, para dizer o mínimo, servem de experiência confirmadora, mais uma vez da grande
potencialidade que a união dessas duas organizações possui.
A primeira e mais ampla união entre o Parquet e a PMMG, já bem testada e
sedimentada na cultura organizacional, começou a acontecer logo após a agressão letal
perpetrada contra a pessoa de um integrante do Ministério Público mineiro (SILVA, 2008).
Nesse caso, a Atividade Ergonômica, enquanto conceito, no nível da criminalidade, suscitou
nas duas organizações públicas afetadas pelo assassinato do Promotor de Justiça uma vontade
firme em estabelecer uma parceria contra a criminalidade, mediante a redução ao máximo das
fronteiras que separam as duas identidades organizacionais.
Naquela época, mediante a Resolução Conjunta nº 02/2002 (MINAS GERAIS,
2002), criou-se O Grupo de Combate às Organizações Criminosas (GCOC), composto por
integrantes da PMMG e Promotores de Justiça. Esse grupo evoluiu para o que hoje se denomina
Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO), que conta com 14
unidades no Estado de Minas Gerais, todas caracgterizadas pelo trabalho conjunto de policiais
militares e membros do Parquet (MINAS GERAIS, 2020).
119

O GAECO já se encontra num nível de institucionalizado que permite afirmar que


nele há Tarefa Ergonômica bem estruturada. Prova disso são as normas e resoluções acima
mencionadas (MINAS GERAIS, 2020, 2002).
Além desse grupo, existe também um outro âmbito de união der forças entre a
Polícia Militar e o Ministério Público mineiro. Conforme já mencionado, trata-se do NIC.
Neste, ocorre a produção conjunta de respostas contra a criminalidade em assuntos que, em
termos de repercussão, tem uma amplitude mais restrita. Porém os delitos aí perseguidos são
aqueles que normalmente dependeriam de investigações da Polícia Civil, mas que, juntos, o
Parquet e a PMMG unem esforços para esclarecer e agir sobre os responsáveis.
O nível de regulamentação dessa frente de trabalho conjunto é ainda bastante
rudimentar quanto à construção de uma norma detalhada de cooperação. Entretanto, o fato de
as duas organizações envolvidas terem uma forte institucionalidade respectiva, com funções e
atribuições muito bem definidas e respeitadas, faz do NIC um ambiente no qual a baixa
ocorrência de conhecimentos explícitos que norteiem o trabalho, as normas que preexistem a
esse núcleo sejam ali utilizadas dentro de uma exploração profunda dos aspectos que nelas
possibilitam fazer juntos o que os órgãos fariam separados.
Um exemplo bem básico a respeito do NIC é a persecução de algum infrator que
esteja praticando furtos seguidos em determinado ponto da cidade de Belo Horizonte. Em
condições normais, a baixa letalidade da conduta faria com que ele fosse albergado e
beneficiado pela ideia de menor potencial ofensivo, e a Lei respectiva (BRASIL, 1995)
beneficia-lo-ia. Esse tipo de caso não seria também não seria alcançado por uma possível
atuação do GAECO, que possui a atribuição de agir apenas no caso de organizações criminosas
(quatro ou mais indivíduos articulando-se para o cometimento de um mesmo delito, entre outras
condições).
Esse caso da interação entre a Polícia Militar e o Ministério Público não esgota o
tema das parcerias interinstitucionais contra o mundo do crime. Conforme Almeida (2009),
entre o final do primeiro ano da década de 50 e o início do ano de 1956, o Coronel Pedro
Ferreira dos Santos titularizou a Delegacia de Polícia Civil da cidade de Governador Valadares.
Na época, aquele centro urbano era considerado a “cidadela do crime” e o mencionado Oficial
ali atuou desmantelando o esquema de condutas ilícitas gerador dessa fama que recaía sobre
aquele lugar:

De novembro de 1950 a janeiro de 1956 - por cinco anos e dois meses - Pedro Ferreira
dos Santos foi o titular da Delegacia de Polícia de Governador Valadares. Chegou
primeiro tenente, aureolado com a fama de policial incomum - já era uma figura com
120

contornos de mito - trazendo em seu currículo passagens dignas dos famosos filmes
faroeste então na moda. Suas façanhas nos vales dos rios Doce, São Mateus, Mucuri
e Jequitinhonha ainda ressoavam nos meios policiais mineiros e eram cantadas em
prosa e verso pela população interiorana. Em dois anos, vencendo obstáculos de toda
ordem, impusera a convivência harmoniosa e pacífica nas cidades de Nova Lima e
Raposos que, antes, constituíam palco de sangrentos conflitos entre comunistas e
democratas, tendo por pano de fundo o malfadado “jogo do bicho”. Fora
movimentado para Governador Valadares com uma dupla missão que o antecessor de
JK - o estadista Milton Campos - lhe transmitira pessoalmente: 1) garantir a vida, a
integridade física e a posse do prefeito eleito, Raimundo Albergaria e 2) acabar com
a cidadela do crime, que se arraigara e tomara vulto na cidade [...]. A Delegacia de
Polícia, antes balcão de negócios de transações escórias, metamorfoesara-se numa
repartição pública séria e de respeito, onde o cidadão poderia entrar, expor seu
problema e requerer solução. O Delegado de Polícia e seus agentes - escrivão,
investigadores, soldados - ostentavam a postura de servidores do povo. (ALMEIDA,
2009, p. 321-322).

Esse caso relativo ao Coronel Pedro Ferreira, indica que, na cultura policial militar,
o jeito de fazer as coisas é bastante padronizado. Souza (2007) afirma que, na PMMG, as
palavras hierarquia e disciplina são muito valorizadas e há uma ênfase a valores e ritos, bem
como existe uma simbologia bem expressiva que é utilizada pelos policiais para conservar a
identidade da Corporação.
Reis (2016) afirma que existem certos fatores culturais na PMMG que fazem com
que ela apresente uma dualidade marcada, por um lado, pela predisposição ao uso da força e,
por outro, pela estética militar, valorização da hierarquia e da disciplina militares, preparo para
o embate físico e até bélico visando ao domínio do oponente, patriotismo, espírito de corpo
militar e uma valorização significativa do saber teórico.
Esta última vertente cultural é chamada pelo autor de “habitus” do letramento
policial militar. Ele afirma também que, pelo menos durante as primeira dezenove décadas de
existência, essa Corporação granjeou um alto nível der credibilidade perante a população e,
nesse período, foi marcante a formação de uma camada de cultura à qual o autor chamou de
homo militaris religiosus, espécie de sedimento para a saúde organizacional, por ter um efeito
fixador da hierarquia e disciplina militares (REIS, 2016).
Esses apontamentos reunidos por Almeida (2009) sobre o Coronel Pedro Ferreira
atuando como Delegado da Polícia Civil guardam uma relação com o que agora se verifica
quanto ao NIC: em ambos os casos, o lastro supridor da inexistência de normas bem detalhadas,
ou seja, a compensação para a baixa incidência de Tarefa Ergonômica foi e tem sido a cultura
da Polícia Militar, daí a importância de que, para a sobrevivência organizacional, essa sua
riqueza cultura seja compreendida e conservada o máximo possível, porque disso depende a
facilitação dos relacionamentos com outros órgãos, como é o caso atual observado no
Ministério Público, onde a PMMG mantém o GCOC.
121

Essa realidade da atuação conjunta é verificável também quanto à Prefeitura


Municipal de Belo Horizonte, ao Tribunal de Justiça de Minas Gerais, ao Gabinete Militar do
Governador, à Coordenadoria Estadual de Defesa Civil e a Assembleia legislativa de Minas
Gerais, além da Secretaria Nacional de Segurança Pública e outros órgãos e missões
interorganizacionais, em que os integrantes da PMMG são enviados levando na bagagem
apenas a cultura policial militar.
Lá chegando, norteados pelas lógicas comportamentais decorrentes dessa cultura,
esses policiais militares atuam dentro de um padrão de previsibilidade sem nem mesmo haver
ali ainda, naquele ambiente interorganizacional, uma regulamentação especifica. Isso mostra
que a Atividade Ergonômica é algo não necessariamente condicionado à preexistência ou à
solidez de um arcabouço normativo sobre como trabalhar. Apesar disso, o desempenho se
concretiza e se mantém mesmo que variem os designados, porque as suas posições hierárquicas
e os seus sentidos de missão tendem a apresentar as características da mínima ou inexistente
regulamentação, sendo que os policiais militares assumem essa circunstância provisória como
algo a ser contornado com criativamente, disciplina e dedicação. O sentido de missão e o que
resulta dele, nesses contextos, são o fator que advém da alta institucionalidade da cultura da
PMMG, à qual é sinônimo de forte significado simbólico, norteador de condutas, conforme
Sousa (2007).
A Ergonomia oferece a noção de habilidade como fio condutor imprescindível para
a análise ergonômica e, nesse contexto, tem pelo menos três significados, que Abrahão e et all
(2011) chamam de dimensões: uma é definida como aquilo que o trabalhador concretiza
visando tornar visível a acolhida à tarefa recebida; num segundo âmbito de significação,
Atividade Ergonômica diz respeito às questões físicas, musculares e neurológicas da pessoa
que trabalha e para isso utiliza movimentos, gestos, direcionamento do olhar e outras
dimensões; num terceiro tipo de pontencial significado, a Atividade Ergonômica concerne às
Estratégias Operatórias (no esquema utilizado nesta monografia, tal expressão é estudada
separadamente).

O conceito de Atividade, fio condutor da análise ergonômica, pode ser compreendido


sob diferentes dimensões: a) Uma delas pode ser definida como sendo o que o
trabalhador faz: suas ações suas decisões para atingir os objetivos definidos na tarefa
ou redefinidos de acordo com o real; b) A outra considera a forma como o trabalhador
usa de si para atingir os objetivos. Essa dimensão contempla o funcionamento
muscular, a produção em troca de energia, o funcionamento do sistema nervoso,
central e periférico, enfim, todo uso, o dispor do corpo dos seus mais diferentes
aspectos para agir. As dimensões dessa ação podem ser avaliadas por meio de
comportamentos observáveis, como a fala, a direção do olhar, os gestos, os
movimentos os deslocamentos. É evidente que nessa dimensão podemos situar
aspectos conscientes e inconscientes do funcionamento mental. A dimensão psíquica
122

do trabalho, as relações de prazer e sofrimento funcionam como moduladores do


funcionamento orgânico e como um dos aspectos do uso de si para realizar ações; c)
A atividade pode ser analisada também a partir das estratégias operatórias adotadas
pelo trabalhador para cumprir as metas e com as condições fornecidas. [...]. Ainda
podemos considerar que, para desenvolver uma determinada ação, é preciso deixar de
fazer outras. (ABRAHÃO et al, 2011, p. 52-53)

De todas as considerações feitas nessa detalhada relação oferecida por esses


autores, uma que lembra bastante o trabalho policial militar de ISP é a última (alínea “c”),
porque, de fato, para desenvolver suas atividades profissionais, o integrante do SIPOM deixa
de fazer outras, ele se abstém de fazer aquilo que um delinquente faria, ele procura lidar com
os criminosos sem transpor a fronteira que o distingue da conduta delinquente, ele se ocupa de
encontrar os meios para refletir os atos próprios do profissional que se sabe encarregado de
empurrar sempre para cada mais longe a fronteira do mundo do crime, apesar de ter que tomar
contato intenso com ela.
Por isso, o agir do integrante do SIPOM é marcado pela abstenção, muitas vezes
até mesmo em relação aos seus colegas de trabalho lotados em outros contextos da estrutura
organizacional. A separação é de tal intensidade que, por exemplo, os nomes dos policiais
militares lotados nas Agências diversas do SIPOM não estão acessíveis na versão
particularizada da rede mundial de computadores que a PMMG usa, denominada “IntranetPM”.
O profissional de Inteligência é, nesse sentido, aquele que trabalha para uma
Corporação que legalmente deve mostrar-se, mediante policiamento ostensivo, enquanto ele, o
policial militar lotado no SIPOM, vive às ocultas, comunica-se de modo restrito, velado,
trabalha em locais das Unidades em que sua Agência está situada, que são obrigatoriamente
vetados ao ingresso policiais militares que atuam no policiamento fardado.
Isso faz com que os ambientes de trabalho da comunidade de ISP sejam ilhas de
ocultação em um mar de ostensividade. Em todos os lugares da estrutura organizacional onde
funciona uma agência de Inteligência, há sempre esse padrão. Em razão dessa abstenção quanto
a aparecer, o profissional de Inteligência deixa também de se mostrar à hora de receber os
méritos ou de a Polícia Militar concretizar esforços iniciados pela comunidade dos ocultos, no
trato com a criminalidade: o SIPOM faz boa parte da preparação para o ato final de prisão, mas
deixa os holofotes para a ala da PMMG que trabalha no policiamento rotineiro, explícito e
visível a todo tempo para a população.
Em razão dessa abstenção permanente de aparecer, os indicadores relacionados ao
que o SIPOM faz estão, no nível ideal, marcados pela característica de dizerem respeito não à
concretização da atividade fim da PMMG, pelo menos não diretamente. No subcapítulo 5.3,
123

estão abordados os contornos vários de uma proposta de mensuração periódica do desempenho


da PMMG, no que tange ao SIPOM. Por hora, é suficiente destacar que as linhas gerais que
caracterizam os indicadores da atividade de ISP repousam na ideia de processo, de um
“durante”, quando considerado o âmbito maior das atividades da Polícia Militar.
A mencionada abstenção de agir em relação aos colegas de trabalho que são
ostensivos, bem como aos praticantes de delitos que esses profissionais da ostensividade
reprimem é um ponto forte da atividade do SIPOM. Por esse motivo a intenção geral que move
a Comunidade de Inteligência é a de saber antes, de modo bem prévio à atuação do
policiamento. É Também a de conhecer com igual antecipação detalhes que fazem de certos
integrantes da sociedade como um todo os futuros alvos certeiros da ação policial.
Por esse motivo, ilustrativamente, levantamentos jornalísticos detalhados como o
feito por Caco Barcellos a respeito da criminalidade no Morro Dona Marta, no Rio de Janeiro
(BARCELLOS 2004), são uma rotina dentro da comunidade no SIPOM, porque ela prioridade
é conhecer profundamente, enquanto, no policiamento ostensivo, o ato prioritário é o de agir
declaradamente, de modo visível e dissuasório.
Para fins de Ergonomia, apesar de dar atenção a casos concretos, a atividade de ISP
não é nominalista22. Há um grande interesse em compreender as interconexões entre pessoas
envolvidas com o crime e outras que componham o contexto de relações dos delinquentes com
o âmbito de suas necessidades práticas de viver, coexistir, alimentar-se, morar e demais
aspectos comuns de todo cidadão. Por isso, o estudo de redes sociais vem se tornando uma
realidade, segundo Hamada (2017), tendo em vista a produção de conhecimentos de ISP e, para
isso, a PMMG institucionalizou, em janeiro de 2016, a REDE DE COLABORAÇÃO EM
SEGURANÇA PÚBLICA (RCSP) (HAMADA, 2017).
Nesse caso, o propósito da Inteligência indica como interface a área da
Comunicação Organizacional, porque o Facebook é usado com uma finalidade específica de
propagar em alta velocidade uma determinada informação: “uma informação relevante, como
roubo, fuga de preso ou sucesso na prevenção do crime, pode ser facilmente propagada entre
os nós da rede sem a necessidade de seguir a cadeia de comando imposta pela estrutura
organizacional”. (HAMADA, 2017, p. 164-165).

22
Negação dos universais, que, segundo essa corrente de pensamento, não teriam existência real, nem mesmo nas
coisas, e seriam apenas nomes dados pelos seres humanos a aspectos observados nos seres. Logo, segundo essa
teoria, somente existiria a matéria, apenas indivíduos, não o universal (OCKHAM, 1985, p. 59, apud SCHERER,
2018, p. 159).
124

Partindo-se de todas as considerações reunidas neste subcapítulo, remete-se, a partir


deste ponto às propostas de indicadores que escapam à finalidade desta seção da monografia e,
por isso, estão contidas, de maneira não exaustiva, no subcapítulo 5.3, onde a lógica de método,
metodologia e padrão está melhor aproveitada. Por agora, está, a seguir, a análisedo derradeiro
conceito selecionado na Ergonomia para esta investigação mongráfica, o de Estratégia
Operatória.

3.4 A Estratégia Operatória Ergonômica de inteligência de segurança pública

A ideia geral contida neste subcapítulo é de que as pessoas, individualmente, fazem


escolhas que são relevantes para a Ergonomia. Isso está feito quanto ao estudo do significado
que impacta essas ações. O conceito de Estratégia Operatória Ergonômica é tratado aqui de um
modo amplo, porém, visa esclarecer a relevância dos fatores que interferem justamente na
formulação mental dessas escolhas pelos respectivos agentes.
Os agentes estão aqui considerados como tomadores de decisão, vistos não a partir
da lógica de por que agem, mas apenas quanto ao que está por trás da estimulação de certas
condutas. Estudam-se neste subcapítulo alguns fatores ambientais que aqui são tomados a partir
da noção de influência cultural centrípeta ou centrífuga sobre a escolha dos indivíduos, tando
da sociedade cicil quanto da própria PMMG, mas com ênfase nos integrantes desta.
Este subcapítulo completa as análises feitas nos três anteriores, que trataram da
aplicação teórica e prática dos conceitos tirados da Ergonomia, denominados Demanda
Ergonômica, Tarefa Ergonômica e Atividade Ergonômica. Os três anteriores tiveram como
característica básica e comum uma orientação de uso para pensar sobre realidades que afetam
a criminalidade e a Polícia Militar no nível das suas estruturas, da sua visão de conjunto, e são
sua missão constitucional. Já neste subcapítulo, o enfoque é mais voltado para assuntos que
afetam a dimensão subjetiva dos integrantes da sociedade e dos membros dos quadros da
própria corporação.
Um traço inerente a todos os subcapítulos anteriores, que é a atenção à Inteligência
de Segurança Pública, continua sendo aqui a ancoragem de todos os raciocínios. Por opção
metodológica e limitação de espaço da monografia, nem todas as questões que impactam sobre
a Estratégia Operatória ergonômica, no campo da ISP, puderam ser tratadas aqui.
Uma delas, talvez a maior, que mereceria aprofundamento, é aquela referente ao
que Scala (2004) chama de “multinacional da morte”, que consiste, basicamente, em uma
deliberada ação que envolve um modus operandi prático de ataque à sociedade. Porém, não se
125

trata de uma lógica que remete a uma estratégia internacional de subjugação das
individualidades, mas pelo contrário, trata-se de um programa complexo de controle
demográfico internacional muito apreciado pela direita política, ou seja, pelos liberais.
Referindo-se a isso, Scala (2004) afirma que tal estratégia engloba organismos
multilaterais de crédito, organizações dependentes das Nações Unidas, lobbies integrados por
Grupos Parlamentares Internacionais e, no ponto operacional da estrutura, 178 filiais nacionais
desse macro-programa. Nessas organizações, conforme o autor, são aglutinadas e dirigidas
todas as atividades privadas de ataque à individualidade dos cidadãos, no nível mais profundo
de seus direitos, tendo por objetivo final a própria extinção demográfica, sob a fachada do
planejamento familiar:

[...] o objetivo real da “multinacional da morte”: fazer diminuir as taxas de natalidade


dos países pobres, até alcançar as dos países ricos, até alcançar o atual equilíbrio dos
países ricos e, por conseguinte, a continuidade da submissão do Terceiro Mundo aos
países desenvolvidos. [...]. Quatro são os grupos de organismos que atuam
perfeitamente inter-relacionados, mas com âmbitos e modalidades operativas
próprias: 1) Os organismos multilaterais de crédito [...] Condicionam toda ajuda
econômica externa ao cumprimento de metas demográficas pautadas em cada
empréstimo. 2) Alguns organismos dependentes das Nações Unidas, principalmente
a Organização Mundial de Saúde (OMS) [...] e o Fundo da Nações Unidas para a
Saúde (UNICEF). Exercem coação em nível de governo, a fim de que adotem políticas
de controle de natalidade. Supervisionam os programas financiados nacional ou
internacionalmente, destinados à saúde “reprodutiva” - ou seja, à implantação do
planejamento familiar nos hospitais públicos - e a educação em matéria de saúde,
população e sexo. “Capacitam” funcionários, agentes sociais e educadores para que
executem os programas ditos acima. (SCALA, 2004, p. 16)

Além desses dois grupos, há outros dois, de acordo com Scala (2004): aqueles
integradso por agentes politicos, que agem nos ambientes das decisões legislativas, e um outro,
compost pelas filiais nacionais da chamada “internacional da morte”.

[…] 3) Os Grupos Parlamentares Internacionais, verdadeiros lobbies integrados por


legisladores e ex-legisladores dos países cuja função é coagir seus pares e os
funcionários dos poderes executivos e judiciário, a fim de que adotem em seus
respectivos âmbitos, as políticas de controle populacional. 4) A IPPF [“multinacional
da morte”] e suas 178 filiais nacionais [...] aglutinam e dirigem toda a atividade
privada em torno do planejamento familiar. Para isso, abrem clínicas onde se realizam
todo tipo de atividade contraceptiva (incluindo abortos e esterilizações se a legislação
local o permite; caso contrário, lutam pela despenalização de ambos) [...]. À parte
destes grupos organizados, colabora com o objetivo geopolítico dos países do Norte
toda uma casta de indivíduos que encontra nisso uma forma muito lucrativa de ganhar
a vida: os laboratórios e fabricantes de contraceptivos; muitos médicos ginecologistas
e todos os aborteiros; funcionários públicos da IPPF e/ou das Nações Unidas;
psicanalistas e muitos psicólogos; “educadores” e “terapeutas sexuais”; os donos e
beneficiários das cadeias pornográficas no cinema, na televisão, no teatro e nos meios
gráficos; proxenetas, prostitutas [...]. (SCALA, 2004, p. 16-17).
126

Para a comunidade do SIPOM, é relevante conhecer e compreender a existência e


as características dessa organização complexa, porque ela articula em vários níveis uma série
de agentes, os quais podem estar por trás de problemas concretos da criminalidade, tais como
tráfico de órgãos, tráfico de seres humanos, desaparecimento de pessoas, fraudes no sistema de
saúde, traficando Drogas, utilizadas como alternativas para manter viciados que, por sua vez,
trabalham e tráfico de drogas como parte dos esquemas de aliciamento ou captura de novas
vítimas. Inobstante toda a negatividade que esse tipo de conduta possui, a maneira articulada
pela qual os integrantes dessa organização atuam indica que, entre eles, existe aquele elemento
básico de toda a sociedade, que é a coesão.
A Polícia Militar, quando atua contra esse tipo de delinquência, vale-se desse
pressuposto da coesão justamente para procurar os elos que fazem desses infratores da lei uma
quadrilha, uma organização criminosa, uma espécie de empresa no sentido negativo, mas que
só alcança eficiência porque atua extraindo o potencial do trabalho em equipe. A coesão é, por
isso, uma característica que se verifica também em organizações criminosas.
A ISP pode ser aprimorada quanto ao nível de eficiência no combate a esse tipo de
agrupamento e de empreendimento coletivo, caso a Comunidade de Inteligência reconheça que
certos tipos de delitos dependem da participação de muitos, às vezes posicionados em contextos
de licitude. Ziegler (2003) afirma que o Banco de Crédito de Comércio Internacional (BBCI) é
um exemplo de como o mundo da licitude, por vezes, toca o da ilicitude e gera cooperação. Ele
afirma que essa instituição bancária pode ser considerada “um dos mais poderosos cartéis da
criminalidade organizada que já existiu no planeta.” (ZIEGLER, 2003, p. 197).
Esse banco possuía sucursais em 73 países, sendo que, nos Estados Unidos e na
Europa Ocidental, o BBCI possuía 400 agências. Dessa instituição, vinham financiamentos em
grande escala, bem como filantropia pública, mediante a manutenção de orfanatos, escolas,
centros de pesquisa científica, asilos, centros de ensino e clínicas estruturadas com tecnologia
avançada. Além disso, esse banco “concedia créditos astronômicos aos mais diversos governos
[...]. Suas armas eram a opacidade e o segredo.” (ZIEGLER, 2003, p. 200).
As informações ora extraídas da pesquisa feita por Ziegler (2003) indicam que,
realmente, quando se trata de criminalidade, é preciso ao observador estar atento à possibilidade
de uma aparência de legalidade, que esteja ocultando uma sequência de delitos. O fato de esse
banco possuir clínicas de ponta é um dos elementos para pensar na possibilidade de sua
interface com a organização internacional que Scala (2004) menciona, tratada anteriormente
neste subapítulo.
127

Outro elemento que chama a atenção, sem que isso esgote as possibilidades de
compreensão do mundo do crime, é que, assim como a atividade de Inteligência é feita,
primando-se pela opacidade e pelo segredo, também assim age certa parcela dos criminosos,
especialmente aqueles que se articulam de modo internacional, como é o caso do BBCI.
A relevância disso, em termos concretos, para a Comunidade do SIPOM, é que, às
vezes, determinado espaço policiado que apresente uma queda de criminalidade pode significar,
em vez de motivo de comemoração de um suposto sucesso do policiamento, apenas uma
mudança do perfil dos criminosos daquele território. Estes, nesses casos, podem ter passado
certa matriz violenta e sanguinária para uma outra, negocial e corruptora de policiais. Isso é
possível nos casos em que os dirigentes rechacem o cometimento de homicídios ou crimes que
chamem muita atenção do policiamento.
Assim, nos constextos mencionados por Sacala (2004) e Ziegler (2003), o instinto
gregário típico da natureza humana pode ser justamente aproveitado para mais facilmente criar
facilidades de uso por parte de organizações criminosas, de todo o potencial que existe no hábito
humano de interagir. Para a ISP, interessa especialmente aquele tipo de tentativa de interação
com a polícia que venha baseado no objetivo de fazer com que os policiais mudem de lado e
trabalhem exercendo a atividade policial como cobertura para ações ilícitas.
Por tudo isso é que a expressão Atividade Ergonômica tem uma abrangência que
remete à necessidade de acompanhamento de padrões financeiros da tropa, conectando, com o
auxilio de órgãos governamentais, como a Receita Federal, por exemplo, dados de integrantes
da tropa e acompanhado os movimentos de organizações criminosas internacionais, cuja
expansão dependa da cooperação, pelo menos por omissão, do policiamento.
A coesão é, portanto, um ingrediente importante para entender como se formam, se
expandem-se e são conservadas as organizações, sejam as dedicadas a práticas lícitas, sejam as
do outro tipo, que faz do cometimento de crimes o seu negócio, o seu modo de existir, a sua
razão de ser. As pessoas que integram a sociedade possuem então um senso gregário e isso pode
ser usado tanto para o bem quanto para o mal, interessando, por isso, compreender por que é
importante aproveitar, na comunidade do SIPOM, o potencial explicativo de fatores que
estimulam a coesão, especialmente algum que tenha já sido utilizado pela Polícia Militar para
manter a sua tropa coesa. Em termos militares, Reis (2016) afirma que um instrumento usado
por um longo período de tempo foi um determinado rito, consistente num cerimonial religioso
militar, sobre o qual foi alicerçado e mantido coeso o Regimento Regular de Cavalaria de
Minas.
128

Toda cultura organizacional precisa de um elemento de coesão. Ainda que uma


sociedade seja revolucionária e seja regida por novos valores, essa necessidade permanece.
Rodrigues (2015) afirma que, na Revolução Francesa, “os revolucionários de 1789, viram, de
fato, necessidade de um novo elo social, equiparável ao religioso, capaz de conferir coesão e
eternidade à sociedade revolucionária e seus novos valores”. (RODRIGUES, 2015, p. 224-225).
Mathiez (1904), citado pelo mesmo autor, afirma que não havia, por parte dos revolucionários,
um propósito deliberado de anulação de toda a herança do cristianismo.

[Buscou-se] Esfacelar a religião tradicional, manipular seus ritos e implantar


impiedosamente o reinado do ateísmo cívico [...] e transmudar cultos religiosos em
cultos cívicos-revolucionários apenas pelo propósito político [...] [porque] as relações
entre religião e revolução, espontaneamente, livres de todo o artifício político o drama
religioso do alvorecer da revolução e da sua primeira grande festa (a da Federação),
que mudaria as outras [...]. Em consequência, combatendo a Igreja enquanto
instituição, a Revolução Francesa reservaria às efemérides a importante função social
de assegurar o conforto, a esperança e intermediar o vínculo com o sagrado, antes
confiado à Igreja. (MATHIEZ, 1904, apud RODRIGUES, 2015, p. 225).

Nessas considerações de Mathiez (1904, apud RODRIGUES, 2015), fica evidente


que os ritos têm um valor próprio e fundamental para a cultura e isso é algo que se conserva
mesmo em situações nas quais tenha sido feita alguma inserção artificial. Essa autonomia dos
ritos em relação à cultura faz com que eles exerçam nelas algo parecido com uma “variável
independente”, de modo que a cultura depende deles como um edifício depende do chão em
que ele se sustenta, porque, sem esse piso, a cultura desaparece.
A natureza de um rito foge à noção de proveito prático instantâneo, não sendo, por
isso, correto tirar um rito de uma cultura apenas porque não esteja evidente nele uma utilidade
prática imediata. Foi isso que os revolucionários franceses perceberam assim que puseram
abaixo o rito que, desde antes da França ter sido fundada, no século IX, já existia e houvera
sido usado para lançar as suas bases enquanto sociedade e nação.
Esse aprendizado prático por parte dos revolucionários fez com que tivessem de
manter, pelo menos, a roupagem do rito anterior, que estava no cerne da cultura francesa e que
reunia a disposição de todos os fundadores da França de conservá-la na sua unidade e
viabilidade.
Brito e Pereira (1996) afirmam que “os ritos e rituais organizacionais também
expressam valores estabelecidos no passado e reiterados no presente”. (BRITO; PEREIRA,
1996, p. 143). Os ritos organizacionais, de acordo com Beyer e Trice (1984), citados por Brito
e Pereira (1996), “se destinam a manter a unidade e identidade organizacional”(BEYER;
TRICE, 1984, apud BRITO; PEREIRA, 1996, p. 143).
129

Ritos são importantes para as culturas sociais, mesmo as civis. Almeida e Martins
(2003), estudando as culturas da Brigada Militar e da Polícia Civil do Rio Grande do Sul,
afirmam que a noção de sacrifício é o cerne dos ritos, materializado em um ritual, e toda a
sociedade tem necessidade deles:

[...] os ritos, enquanto modo de coexistência dos seres humanos, atividade refletida
produzida por organizações humanas e forma de objetivação intencional do
pensamento em comportamentos simbólicos, têm sua execução imperativa para
recriar periodicamente a identidade moral da sociedade. Não há sociedade, qualquer
que seja sua escala, que não sinta a necessidade de, periodicamente, reafirmar seus
valores comuns. É daí que nasce o comportamento ritual, cujo protótipo encontra-se
no sacrifício, pouco importando que o objeto daquele sejam palavras, gestos, cantos,
posições, danças, objetos, animais, seres humanos ou o pensamento em sua forma
aparentemente mais pura e decantada. Não há sociedade que, de um modo ou de outro,
próxima ou remotamente, não esteja fundada sobre o rito e, conseqüentemente
baseada em alguma forma de dom e sacrifício. (ALMEIDA; MARTINS, 2003, p.6)

Do conjunto dessas afirmações, com destaque para a última fonte citada


(ALMEIDA; MARTINS, 2003), é possível antever a importância do tema, a possibilidade de
investigá-lo em relação à Polícia Militar e os elementos básicos da caracterização de um
indicador que o conecte à noção de Estratégia Operatória Ergonômica.
O mundo do trabalho dos profissionais de ISP faz com que estes tenham de manter
atenção às coisas que não estejam evidentes. Essa necessidade de lidar constantemente com o
que é feito às ocultas cria, para esses profissionais, a situação de precisarem entender os padrões
presentes nas condutas, especialmente aquelas praticadas por criminosos. É assim que a área de
inteligência conhece, interpreta e informa aos escalões próprios, a fim de que estes tomem
decisões a partir do que o SIPOM os ajudou a conhecer.
Olhar para fora da Corporação em busca de padrões relativos à criminalidade é,
portanto, uma rotina à qual se dedicam os profissionais da ISP. Esse trabalho tem vários
apoiadores não pertencentes à ISP: é o caso do Ministério Público, por meio, dentre outros, do
GAECO, da Polícia Civil, nas suas várias frentes de investigação, e até de outras instâncias do
sistema de Inteligência brasileiro, aí considerados o Exército, a ABIn e outros.
Existe, porém, uma necessidade de olhar para o que não se enquadra nessa
característica rotineira dos profissionais de ISP da PMMG. Trata-se da necessidade de observar
os grandes movimentos centrípetos (em direção ao centro) e centrífugos (em direção ao
exterior) da tropa, relativamente às escolhas que os policiais militares fazem e as que eles são
obrigados a fazer.
Neste ponto, cabe considerar, com Dawson (2012), que existe um traço
antropológico comum a todos os seres humanos. Esse traço é a característica que toda pessoa
130

tem de procurar para si um centro, em torno do qual ele faz girar a sua vida. Essa característica
é de se ligar a algo superior a ela ou que a pessoa acredite ser um grande bem ou o bem maior
que lhe trará realização plena.
Esse tipo de investigação é desaconselhado, e até criticado, por certa corrente de
ideias denominada positivismo, sendo Auguste Comte (1798- 1857) o principal crítico de
qualquer análise da realidade que seja formulada a partir de noções metafísicas. Ele escreveu,
em defesa desse repúdio, a “Lei dos Três Estados”. De acordo com esse autor, teria havido um
tempo na humanidade em que o animismo, politeísmo e monoteísmo tinham dominado os
espíritos (COMTE, 2002).
Conforme o mencionado autor, no animismo, as pessoas acreditavam que objetos
concretos do dia a dia tivessem vida e vontade própria e, por isso, os seres humanos os tratavam
como divindades. Depois disso, a humanidade teria evoluído para o politeísmo, acreditando que
houvesse deuses regendo o mundo, controlando-o de modo absoluto. Na sequência, de acordo
com o mesmo Auguste Comte, teriam passado a acreditar que o mundo era regido por apenas
um deus que, de acordo com esse estudioso, era o Deus cristão (COMTE, 2002).
Esses três momentos (animista, politeísta e monoteísta) teriam então caracterizado
uma etapa da evolução espiritual da humanidade, à qual esse pensador chamou de “estado
teológico”. Tal etapa foi, segundo ele, superada por um outro degrau, chamado “estado
metafísico”, em que os fatos da natureza passaram a ser explicados como resultantes de forças
ocultas, alguns, e por fatores resultantes do mundo sobrenatural, outros. Por fim, superando as
etapas anteriores, passou-se a deixar de lado a busca pelas causas absolutas e pela compreensão
da finalidade última de cada coisa. A partir daí, concentraram-se os espíritos em estudar e
descobrir as leis da natureza capazes de explicar os acontecimentos do mundo físico. (COMTE,
2002).
Esse último estágio, segundo o mesmo filósofo, seria o mais avançado, o único
digno do nome de ciência e o único que deveria ser levado a sério. O argumento era o de que o
“estado teológico” seria ultrapassado, o “estado metafísico” seria infantil e apenas o “estado
positivo” seria a única coisa digna de ser levado a sério (COMTE, 2002).
Apesar dessas considerações feitas pelo Auguste Comte, ele mesmo caiu em
descrédito perante seus seguidores, ao afirmar que haveria, como parte do “estado positivo”, a
“Religião da Humanidade”, da qual ele seria o anunciador, e uma mulher casada a quem ele
admirava e havia sido abandonada pelo marido, chamada Clotilde De Vaux (1815-1846), era a
encarnação representativa da própria humanidade (COMTE, 1979).
131

Análises da realidade, centradas na metafísica aristotélica ou no padrão da crença


religiosa de cada pessoa, seriam contrárias aos requisitos de estudos sérios. Essa era a ideia
defendida por Auguste Comte. Entretanto, quando ele se apaixonou por Clotilde, inventou um
esquema de explicação da realidade baseado justamente em uma teologia nova. Assim, o
pressuposto por ele atacado inicialmente e chamado de descabido, o “estado teológico”, acabou
minando as próprias bases a filosofia comteana.
A descoberta feita por Wilhelm Schmidt (1868-1954), décadas após a morte de
Auguste Comte, veio estabelecer cabimento do estudo das culturas humanas e dos seus
integrantes como algo válido, científico e relevante para se compreender padrões. Essa
descoberta foi a de que a origem da ideia de Deus, nas várias tribos antigas, espalhadas em
variados pontos do planeta, obedeceu no início de cada tribo a um mesmo padrão de crenças, o
monoteísmo. Neste, teve-se a atribuição de uma personalidade a um ser superior, a crença de
que esse mesmo ser vivia em um patamar acima dos seres humanos e que tal ser, cujo nome
varia de tribo para tribo, castigava, após a morte, os maus e premiava, também após a morte, os
que não tivessem feito mal aos seus co-habitantes da mesma tribo (SCHMIDT, 1932).
Existe uma utilidade adicional dessa pesquisa de campo feita pelo antropólogo
Wilhelm Schmidt: ela ajuda a jogar luz sobre uma obra que serviu de base para a sua pesquisa
de campo e cujas afirmações tal pesquisa acabou por contestar. Tratam-se das assertivas de um
outro antropólogo, chamado Edward Burnett Tylor (1832-1917): no ano de 1871, houvera
publicado, sem pesquisa de campo, o livro “Primitive Culture” (TYLOR, 1871). Nesse livro,
ele houvera defendido que a origem da ideia de Deus fora inicialmente animista, depois
politeísta e, por fim, monoteísta.
Tal esquema é o mesmo do Auguste Comte. Entretanto, o estudo de Schmidt (1932)
o suplanta, o mesmo podendo ser afirmado quanto a um outro estudioso do tema,
contemporâneo de Wilhelm Schmidt, chamado Émile Durkheim. Estudando as crenças de
algumas tribos da Austrália, ele concluiu que a religião fosse algo relacionado à segurança
emocional, gerado pela vida em comunidade (DURKHEIM, 2000).
O Estudo de Durkheim (2000) se mostrou geograficamente mais restrito que o de
Schmidt (1932) à medida que o primeiro atribuiu à invenção, pelo grupo, da ideia de Deus e
acreditou que esse padrão fosse coletivista. O coletivismo de Émile Durkheim, conforme Aaron
(2003), baseia-se na ideia de que a verdade seria fruto de consenso. Isso quer dizer que, para
Durkheim (2000), a verdade era, sempre, produto do entendimento coletivo do grupo e não,
algo universal, que é o que é, independentemente do que pensam as pessoas. Por isso, Émile
132

Durkheim aparentava ter um desprezo por essa base do pensamento científico, que é a
construção de raciocínios a partir de universais.
Para fins de contextualizar os quatro autores, explica-se o seguinte: Auguste Comte
faleceu em 1857; Tylor faleceu em 1917; Durkheim faleceu também em 1917; Wilhelm
Schmidt faleceu em 1954. Portanto, a pesquisa deste último é a mais recente e forneceu
subsídios à comunidade científica para entender que a origem da ideia de Deus não é nem
animista ou politeísta, como pensava Tylor (1871). Serviu também, indiretamente, para
verificar que Auguste Comte, na sua escala a respeito dos degraus de evolução do espírito,
estava tão equivocado que ele próprio caiu em um dos inventos dele mesmo (Comte), que é a
Religião da Humanidade, porque, se o estado positivo fosse tão avançado, dentro deste não
caberia uma religião. Isso mostra que o tal “estado teológico” (de espírito) não é ultrapassado
e que Comte quis apenas reeditá-lo, colocando assim mesmo no centro de uma nova religião.
Tal detalhe é importante porque, mais adiante, está tratado o padrão do rito
positivista dentro da PMMG, visto aí como etapa intermediária entre o abandono do rito
clássico cristão,na década de 1870, e o início de um individualismo radical nas crenças. Esse é
enquadrável na noção de Estratégia Operatória, que, por sua vez, está mais adiante mostrada
como sendo o que se tornou possível fazer predominar na cultura da PMMG, em termos de
religiosidade, a partir de meados do século XX, com todas as consequências disso.
Essas informações estão a ser mencionadas aqui porque, neste capítulo, abordou-se
a influência do sentimento religioso na hierarquia e disciplina militares e, para tal, adotou-se o
pressuposto monoteísta. Por isso, antes de entrar no assunto em si, julgou-se conveniente
demonstrar a validade dessa abordagem, a monoteísta, enquanto categoria de análise lastreada
na descoberta do Wilhelm Schmidt. Afirmando o mesmo de outra maneira, a análise para fins
de ISP está a ser feita, não de uma perspectivas idealista, como a de Tylor (1871) ou Comte
(2002), mas de uma perspectiva empírica, percebida na Antropologia a partir de uma pesquisa
de campo de alcance internacional, a de Wilhelm Schmidt ( SCHMIDT, 1932).
Nas linhas anteriores, foi mencionado haver um padrão centrípeto e um centrífugo
agindo sobre as individualidades da tropa, na dimensão da vida que, segundo Dalson (2012), é
central na existência de cada cultura, ainda que seus integrantes não se apercebam disso. Foi
preciso fazer uma rápida observação sobre Comte (2002), Durkheim (2000) e Tylor (1871),
porque os pressupostos defendidos por eles, além de terem se mostrado frágeis, não servem
para estudar essa padronagem da natureza centrípeta e centrífuga da Estratégia Operatória dos
integrantes da Polícia Militar e sua significação para a atividade de ISP.
133

Feito esse breve parêntesis, aberto e fechado em torno desses três autores, ficou
mais fácil analisar os dois padrões pretendidos neste subcapítulo: o movimento centrípeto
resultante do rito de Pio V e do rito positivista, bem como o movimento centrífugo decorrente
do abandono do rito de Pio X e estímulo vindo de seu concorrente e candidato a substituto, o
rito de Paulo VI, também conhecido como “Missa Nova”. Esta se encontra contemplada, nesta
análise, apenas indiretamente, porque o que interessa é a mudança na padronagem cultural em
que o rito de Pio V estava ancorado e o fato de seu abandono pela PMMG de tê-la ter a tornado
porosa, a partir início dos anos 70 (data da nova Missa) ao modelo subjetivista de Immanuel
Kant, como se vê a seguir.
No primeiro movimento da cultura da PMMG, foi analisado o que aconteceu na
PMMG desde a estabilização da sua cultura, em 1775, por meio de um rito que foi adotado em
todos os seus quartéis até o início dos anos 1970. Outro rito (o positivista comteano), também
centrípeto, foi estudado quanto à sua implantação, na virada do século e vigência até os dias
atuais. Uma atenção final foi dedicada à coexistência do rito positivista e de ritos baseados na
subjetividade absoluta, tendo por referência as ideias de Immanuel Kant.
Voltando à Estratégia Operatória dos profissionais de ISP (para manter atenção às
coisas que não são evidentes, lidar constantemente com o que é feito às ocultas, entender os
padrões presentes nas condutas das pessoas, entre outros), essa missão, e os próprios militares,
costumam receber pouca atenção. Com efeito, esses profissionais têm de trabalhar de modo
discreto, e os esquemas mentais em que eles ancoram o seu trabalho são sempre voltados para
garantir a supremacia da Polícia Militar contra a criminalidade. Então, precisam da devida
atenção.
Segundo Trierweiller et al (2008), Estratégia Operatória é aquilo que o trabalhador
faz para administrar as variabilidades que aparecem nas situações do trabalho. É a saída que ele
encontra para lidar com as incompatibilidades e os desequilíbrios que aparecem no momento
de ele concretizar a sua missão, entre o que lhe mandaram fazer e o que, de fato, ele consegue:

Ao realizar o seu trabalho, o trabalhador desenvolve uma série de estratégias


operatórias que usualmente são caracterizadas pelo perfil individual, pela
competência profissional, pelo seu estado de saúde e pela forma que o trabalho está
organizado. Tais estratégias servem para lidar com os desequilíbrios e
incompatibilidades existentes entre as diferentes lógicas (da produção, dos
trabalhadores e dos usuários dos serviços ou dos produtos) e que se manifestam sobre
a forma de incidentes críticos, tais como: filas de espera, reclamações, erros,
retrabalhos [...]. Dito de outro modo, as estratégias operatórias são recursos que os
trabalhadores utilizam para gerir as variabilidades presentes em maior ou menor grau
em qualquer situação de trabalho. Ou seja, são os modos de fazer e regular o trabalho
e visam preservar as normas organizacionais para atingir o objetivo final proposto
tanto pela organização quanto pelo trabalhador e o outros membros ali presentes. De
134

uma forma geral, diz-se que, no processo de regulação das variabilidades presentes
nos processos de trabalho, os trabalhadores produzem modos operatórios para cumprir
os objetivos organizacionais e, em última instância, preservar sua saúde .
(TRIERWEILLER et al, 2008, p. 102)

Trazendo esse conceito para a realidade da Polícia Militar, a Estratégia Operatória


leva a ideia de “engenho e arte” na prática da discricionariedade. Isso é uma coisa positiva e
até estimulada como justificativa para recebimento de recompensas simbólicas (medalhas,
elogio individual, nota meritória, dispensa do serviço e até promoções por ato de bravura).
Existe, porém, um lado negativo da Estratégia Operatória policial militar, o qual
interessa à ISP: é a radicalização da individualidade por parte de alguns policiais militares que
escolham dar às situações do trabalho soluções não-institucionais. É o caso que ocorre, por
exemplo, quando, para alcançar uma meta de redução de homicídios, o militar registra a
ocorrência como “encontro de cadáver”.
Outro exemplo ocorre quando, para cumprir a meta de atender todas as ocorrências
passadas pelo Centro de Operações Policiais Militares (COPOM), o militar deixa de
comparecer aos locais e registra o fato como “solicitante não encontrado” ou “solicitante
dispensou a viatura”. Em casos extremos, pode ocorrer de o militar, para lidar com o sentimento
resultante de, por força do serviço, ter que tirar a vida de alguém, deixar de manifestar suas
dúvidas metafísicas a respeito de se matar é correto e, a partir daí, passar ao largo do conceito
metafísico que sustenta a ação legítima, que é o conceito de guerra justa.
Se desconsiderar isso, o policial militar pode vir a se sentir culpado, como se tivesse
feito algo errado e a adoecer em razão dessa incompreensão. Esse adoecimento pode ser, entre
outros, não querer mais atuar ou tornar-se um matador. Neste último caso, ele não é protegido
pela necessidade institucional, ou seja, pela guerra justa. Segundo Reis (2016), esse conceito
tem natureza religiosa e metafísica:

[...] guerra justa é uma expressão religiosa, cristã, medieval, que significa atuar sem
culpabilidade para proteger públicos abrangidos pela missão da tropa contra agressões
injustas: “na idade média, ser eficiente enquadrava-se no conceito de ação justa, e o
critério para aferição disso foram os parâmetros que a Igreja se empenhou em
demarcar ao cavaleiros. Nesse período, a eficiência policial foi promovida sob o
contingenciamento comportamental dos integrantes da cavalaria, sob a forma de
imposição de obrigações à nobreza pela Igreja, que delimitou o entendimento de
guerra justa e de públicos protegidos da ação [abusiva] dos cavaleiros: as mulheres,
os padres, os comerciantes. Apesar de a Igreja ter tido um papel tão proeminente, o
seu desempenho no Medievo, como já visto, foi o de polícia das consciências,
portanto, os efeitos da sua influência direcionaram-se para produzir frutos no foro
íntimo e não o de uma organização de repressão criminal.” (REIS, 2016, p. 93).
135

Conforme já apontado no item 3.1, a Polícia Militar de Minas Gerais teve uma sua
primeira versão, as Companhias de Dragões. Contudo, segundo Floro (2013), as mesmas foram
extintas, sendo a causa da extinção a corrupção dos policiais militares. Aplicando à análise
daquele contexto o conceito de Estratégia Operatória, este serve para afirmar que a causa da
extinção daquela primeira Corporação foi o fato de seus integrantes terem se desviado para uma
Estratégia Operatória negative, centrífuga. Por isso, a atividade de Inteligência, na atualidade,
tem boas razões para não se descuidar dessa possibilidade, que é a de uma tropa se perder por
causa de escolhas que fujam à institucionalidade esperada.
Segundo Reis (2016), o motor de criação da nova corporação policial militar foi a
preocupação com a qualidade moral e isso foi obtido por meio da ênfase na edificação dos
pilares da hierarquia e disciplina, em cima de um piso que garantisse a renovação contínua da
disposição em respeitar esses pilares. O meio para fazer isso foi a ênfase na religiosidade do
rito de Pio V. Dessa estratégia, conforme o autor, resultou a fusão do Homo militaris com o
Homo militaris religiosus:

o militarismo da PMMG foi influenciado por uma cultura religiosa. Essa combinação
militarizada-religiosizada deu ensejo ao “Homo militaris religiosus”, uma “pessoa
social”, um “nós” que se sentia no dever moral de arrostar perigos e praticar [...] a
“unidade do sistema sacrificial.” (REIS, 2016, p. 186).

Esse trecho indica que, por causa da religiosidade, os policiais militares foram
conservados em uma mentalidade sacrificial, um coletivo que não eliminava as suas
individualidades mas fazia com que todos se comportassem como um “nós”. O mesmo autor
afirma que esse sujeito social estava contido em algo bastante parecido que, na época, era a
sociedade mineira, na qual havia, porém, certas situações de cooperação entre pretos e brancos
para a prática de delitos. Esses ilícitos eram combatidos por essa tropa de homens, também de
pretos e brancos, que se irmanava mediante a religiosidade cristã e que continua existindo no
tempo, dentro do mesmo padrão, até o início dos anos 1970. Andrade (1988) chamou a isso de
espírito de religiosidade da Força Pública de Minas e indicou o que isso significava na prática.

O ESPÍRITO DE RELIGIOSIDADE DA FORÇA PÚBLICA DE MINAS[.] O


Soldado mineiro foi sempre religioso. O arquivo da Força Pública está cheio de
documentos que provam a vigorosa fé da nossa milícia [...]. Compreendiam muito
bem os antigos comandantes que, sem religião, seria difícil manter a disciplina na
tropa. Havia capelas em todos os quartéis e o Soldado era obrigado a assistir,
diariamente, à missa. [...]. A disciplina, sempre austera, tornava-se verdadeiramente
férrea quando se tratava de assuntos religiosos. Aliás, dado o fervor da tropa,
raramente os comandantes eram obrigados a agir nesses casos. Em regra, os Soldados
nunca deixavam de assistir à missa [rito de Pio V] e comungar nos dias determinados
pelos seus superiores. Os velhos comandantes da milícia mineira, cem anos atrás
[provavelmente 1888], ao lado da severidade, cultivavam a doçura. Há ordens de
136

extrema candura: “o Soldado Francisco Ambrósio tem direito a três dias de férias para
ir ver a sua boa tia que se acha de cama”. “O Soldado João Pedro vai passar uma
semana na terra de seu nascimento para ver seus queridos pais”. Eram assim bondosos
e simples os velhos comandantes. Os antigos livros estão repletos de ordens ditadas
pelo coração. Era naturalmente a religião que temperava a religiosidade e a doçura,
tornando sempre respeitados os superiores que tratavam os Soldados como filhos. Tão
grande era o fervor do Soldado mineiro que a monarquia chegava a conceder honras
militares às imagens. [...]. Em todos os Quartéis de Minas, durante mais de 80 anos,
houve, pela manhã, meio dia e seis horas da tarde, o toque de corneta chamado, nas
casernas, o “toque da Trindade”. Era um aviso de recolhimento e oração. Outra
solenidade religiosa desaparecida é a missa denominada pelos Soldados mineiros de
“missa forma”. Era uma cerimônia de grande brilho. Uma Companhia de guerra
ocupava todo o corpo da Igreja. Os militares ajoelhavam-se de acordo com o velho
estilo. O joelho direito no chão, apoiando a mão esquerda no fuzil, com baioneta
calada. No momento da consagração, rufavam os tambores e a banda tocava o Hino
Nacional. As carabinas, nesse instante, tinha as bocas voltadas para o chão.
(ANDRADE, 1988, p. 59-60).

Esses contsumes, de acordo com Andrade (1988), foram encerrados com a queda
da monarquia. “Com a República, todas essas práticas foram abolidas” (ANDRADE, 1988, p.
91). De acordo com Reis (2016), o cerimonial que se abandonou é justamente aquele que o
fundador da PMMG, Capitão-General e Governador da Capitania D. Antônio de Noronha,
houvera trazido para implantar a nova Polícia Militar, após o fracasso da tentativa anterior da
chamada Companhia de Dragões: “Segundo Cotta (2014), em 1775, o Capitão-General D.
Antônio de Noronha dissolve as três companhias de Dragões e cria o Regimento Regular de
Cavalaria de Minas, composto, não só por portugueses, mas também por Filhos de Minas.”
(COTTA, 2014, p.20).
A causa da extinção foi, de acordo com Floro (2013), que os Dragões “encarregados
do policiamento, corromperam-se e já não prestavam para o serviço a que se destinaram”.
(FLORO, 2013, p. 107). O objetivo do Governador, Capitão-General D. Antônio, foi, segundo
Reis (2016), fixar a cultura do Regimento nos pilares da hierarquia e disciplina e colocar como
alicerce para essas duas vigas um elemento aglutinador dos integrantes da nova tropa. Para isso,
ele usou o tal rito para proteger a nova Corporação contra os fatores desagregadores e de desvio
de conduta que haviam levado a anterior à decadência e extinção.
De acordo com Cotta (2006), “um dos elementos aglutinadores dos integrantes do
Corpo de Guardas Municipais e, posteriormente, do Corpo Policial de Minas, foi, segundo
Djalma de Andrade, o espírito de religiosidade” (COTTA, 2006, p. 80). Carvalho (2014) afirma
que, na variada legislação mineira, no período que vai de 1831 a 1890, estão presentes nos
quadros da PMMG os especialistas na aplicação e preservação do rito de Pio V. Silveira (1991)
afirma que tal tipo de especialista já começara a existir formalmente nos quadros dessa
Corporação, no seu nível estratégico, no momento de fundação desse Corpo Militar.
137

A tropa paga da Capitania de Minas [.] Com o tempo, as Companhias de Dragões


foram se desorganizando em virtude da “má qualidade de seus componentes,
reduzidos a oficiais e soldados disperso e que se excusavam ao serviço, distribuindo
as Companhias de Pedestres, composta [s] de escravos dos Oficiais e seus amigos,
que recebiam para si o sôldo dêles. Foi um fim melancólico o dessas Companhias.
Por ocasião de sua dissolução em 1775, as três Companhias dispunham de 242
praças nas fôlhas, mal fardadas e mal armadas” [Augusto de Lima Júnior, no livro
Crônica Militar]. Recolhido então o seu armamento, o Governador D. Antônio de
Noronha levantou um Regimento de Cavalaria de 400 praças, que depois elevou para
600, retirando dos corpos auxiliares os melhores elementos, dando o nome de Tropa
Paga da Cavalaria de Minas. A êste corpo, foram agregadas uma Companhia de 73
praças de caçadores de infantaria e 30 pedestres do serviço do correio e outra de 130
caçadores do mato. Foi êste o seu primeiro quadro de oficiais: comandante - o
Governador e Capitão-General. Estado-Maior - Ten-Cel Francisco de Paula Freire de
Andrada (destacado no Rio de Janeiro até segunda ordem); Sargento-Mor Pedro
Afonso Galvão de São Martinho (vindo de um Regimento de Alentejo); Quartel-
Mestre, Antonio Dias de Marcelo; Capelão, Padre Manoel Gonçalves Solano;
Cirurgião-Mor, José Pereira dos Santos.[...] Sexta Companhia - Cap Baltazar João
Mayrink; Ten João Gonçalves de Castro; Alferes Joaquim José da Silva Xavier (vindo
como praça do Rio de Janeiro). (SILVEIRA, 1991, p. 31-32).

Passadas várias décadas, chegou o ano de 1962. Neste, segundo Kloppenburg


(1971), aconteceu um encontro internacional de bispos de todo o mundo, convocado pelo Papa
João XXIII, com a finalidade de discutir possíveis aprimoramentos doutrinários da referida
agremiação religiosa. Após o final desse encontro, o Papa sucessor, chamado Paulo VI,
convidou, segundo Bugnini (2018), os líderes de seis diferentes denominações não católicas
para ajudar a estruturar um tipo de missa adequado ao modo de crer dos protestantes.
Segundo Bourmaud (2006), Jean Guitton afirmou que houve, por parte do Papa
Paulo VI, a intenção de tornar a missa tradicional católica em algo mais parecido com a missa
calvinista, mediante a eliminação ou atenuação de aspectos do rito de São Pio V. Bugnini (2018)
afirmou que o novo rito, de cuja elaboração ele esteve incumbido, ficou desprovido de todas as
características que podiam desagradar os não católicos. A partir daí, o rito religioso que
mantinha essa argamassa cultural chamada tradição católica foi substituído por um outro, mais
parecido com uma liberalidade de interpretação individual (subjetivismo) sobre todas as
questões dessa mesma religiosidade.
A Atividade de Inteligência é realizada na PMMG dentro de certas rotinas. Estas
são perceptíveis no fato de que existem níveis escalonados de responsabilidade territorial, bem
como uma natureza técnica de parte dessa comunidade, neste caso recaindo sobre a Diretoria
de Inteligência.
Existe, também, no ambiente monitorado (a criminalidade), algum sentido de
organização, aspecto indispensável, percebido pelos criminosos, para que seus
empreendimentos sobrevivam e resistam às investidas do policiamento. Desse modo, pode-se
138

falar em aumento da capacidade de observação do SIPOM como um potencial ainda


inexplorado de mapeamento e uso, em favor da PMMG, dos padrões, tanto internos quanto
externos.
Internamente, interessa a coesão da tropa, o mesmo podendo ser dito quanto aos
fatores que prejudiquem isso. Externamente, mostra-se interessante olhar a coesão das
organizações criminosas e os meios utilizados para esse fim (por exemplo: estimulando os
jovens à perda da lealdade familiar em troca da lealdade ao chefe do tráfico). Em conjunto, é
amplo o campo de possibilidades e da realidade sobre como funciona o mundo do crime e sobre
como o SIPOM pode se valer de pontos fortes da cultura da PMMG para sobrepujá-lo. É útil
pensar sobre que indicadores poderiam ser desenvolvidos ou intuídos dessa realidade ampla, a
fim de serem utilizados em benefício do alcance dos objetivos do SIPOM.
Duas palavras podem, nesse contexto, funcionar como chaves de leitura, nas
reflexões preliminares que embasem a construção de indicadores. São elas: centrípeta e
centrífuga. Estas parecem melhor alocadas quando usadas no seu ambiente típico, que é o da
Física. Lá, elas indicam a tendência de certas forcas que impulsionam para o centro ou para
longe dele algum objeto influenciando na sua trajetória. Quem dirija seu automóvel por uma
rodovia e passe por uma curva na qual os cálculos feitos pelos engenheiros não tenham sido
muito eficientes, percebe logo a relevância das forças centrípeta e centrífuga, conforme entre
com velocidade maior ou menor em uma curva mal projetada.
Outro campo da física, que é a Astronomia, também serve de contexto para ilustrar
o valor das noções de força centrípeta e centrífuga: o satélite natural da Terra, a Lua, é
conservado orbitando o planeta, pelo predomínio de algo que evita que sua rota se distancie do
globo terrestre. Sem pretender entrar pelos âmbitos dos cálculos que mostram isso, serve apenas
a lembrança de que algo, calculável, mas invisível, exerce um poderio sobre o mencionado
satélite e o conserva assim, orbitando sem se desgarrar de sua previsível rota.
Trazendo essa noção, tanto a das rodovias, quanto a dos corpos celestes, para a
reflexão a respeito da atividade de Inteligência, as palavras centrípeta e centrífuga têm
cabimento para descrever o tipo de causa que conserva criminosos delinquindo e policiais
trabalhando contra eles. Para a Polícia Militar, o interesse principal, com certeza, é sobre como
evitar que outras forças, estranhas ao Código de Ética da Corporação e à legislação penal
correlate, exerçam uma influência sobre os integrantes da tropa, lançando-os de modo
centrífugo em direções e rotas indesejadas pela Polícia Militar.
Exemplificativamente, a greve de 1997 foi um momento em que as forças
centrífugas ditaram os rumos dos acontecimentos e transformaram a PMMG em difusora de um
139

sinal centrífugo que alcançou outras corporações coirmãs. Somente após um esforço hercúleo,
essa Polícia Militar conseguiu recobrar o domínio sobre os fatores centrífugos e restabelecer a
estabilidade costumeira. Contudo, naquele episódio, a corporação viu se formarem resíduos
nada desprezíveis, dentre eles o aumento da politização das questões que, antes, eram inerentes
ao ato de comandar. Não é novidade mais a presença de lideranças antigas e novas,
especialmente provindas de posições hierárquicas mais próximas da base, no entorno, ou no
horizonte das práticas políticas, muitas vezes buscando alvejar o nível estratégico da
Corporação. Por isso, exercer funções de comando em variados níveis na PMMG passou a
requerer uma atenção à tropa e aos fatores centrífugos ali latentes.
Em uma considerável parcela das análises deste subcapítulo e do 3.1, foram
lançadas certas considerações a respeito do chamado rito de São Pio V. Em menor quantidade,
também se fizeram alguns aportes em torno do rito positivista de culto à bandeira. Tais
apreciações parecem, à primeira vista, sem um utilidade prática para um estudo voltado ao
desenvolvimento de enfoques destinados à propossitura de indicadores de ISP. Porém, as
reflexões em torno das palavras centrípeto e centrífugo alcançam o seu maior potencial quando
usadas para compreender o valor de que uma Corporação tão exposta a fatores centrífugos
monitore a si própria. É de suma importância conhecer em que nível as forças que puxam para
fora da conduta ilibada estejam se impondo sobre as forças que atraiam para as condutas
corretas, desejáveis dos policiais militares.
O rito positivista estimula, segundo Torres (2018), o culto aos antepassados, o amor
à Bandeira Nacional e a devoção à humanidade, tratando esta como uma divindade. Exceto
quanto a esta última, que é uma coisa própria do Positivismo, o devotamento à Pátria e o culto
aos antepassados tem uma origem anterior que remete à própria instituição-matriz de todas as
Polícias Militares. De acordo com Reis (2016), essa estrutura matricial original foi a Cavalaria
medieval: de acordo como Gautier (1959), os cavalarianos eram provenientes dos povos
bárbaros e tornavam-se membros daquela Corporação após firmarem o compromisso de amar
a terra de seu nascimento e de proteger as pessoas dessa terra, buscando sempre a verdade e o
bem. Olhando-se para esses traços que Torres (2018) atribui ao Positivismo e comparando-os
com aqueles mencionados por Gautier (1959), percebe-se que uma parte das coisas cultuadas
pelo Positivismo não veio deste, mas sim, da matriz de crenças que tal movimento, liderado por
Auguste Comte buscou sem sucesso aprimorar.
Essa matriz era, segundo o mesmo Torres (2018), o Cristianismo. Isso faz recordar
que, paralelamente ao Positivismo, um outro fator centrípeto também discutido neste
subcapítulo, foi uma realidade presente na Cavalaria Medieval e na formação do Regimento
140

Regular de Cavalaria de Minas (o rito de Pio V.). Quando se pensa em fatores centrípetos e
centrífugos, o referencial da centralidade para a qual converge ou da qual se distancia é a própria
cultura da Polícia Militar.
Considerando que, segundo White (2009), cultura é o produto da capacidade
humana de “originar, definir e atribuir significados de forma livre e arbitrária, coisas e
acontecimentos no muno externo, bem como de compreender esses significados” (WHITE,
2009, p.9), a longa duração do rito de Pio V na cultura da PMMG é a base mais disponível
seguida, quanto à frequência pela doutrina positivista, para se pensar em indicadores que
meçam em que medida esteja predominando na PMMG o centrípeto sobre o centrífugo.
Assim é, porque fica nítido o quanto o Positivismo tem um valor simbólico para a
Corporação, que, todos os anos, em suas variadas frações, presta culto aos seus antepassados
(atualmente chamados de veteranos) e faz cerimonias em que a continência à Bandeira, o
apresentar-armas, o desfile de tropa tendo à frente o porta-Bandeira, o costume, por meio de
um corneteiro, de hastear e arriar a Bandeira, o hábito da continência entre todas as pessoas
que estão no nível abaixo da Bandeira Nacional, divididos em superiores, pares e subordinados,
tudo isso não pertence propriamente ao Positivismo, mas é reforçado por ele.
De modo parecido, o rito de São Pio V também estimula a valorizado dos
antepassados, busca suscitar e conservar na tropa o amor à Pátria, mas se distingue do
Positivismo porque este estimula o ambiente de pacifismo, ao passo que o rito de Pio V se
ancora na ideia de guerra uma justa entre Deus, com suas tropas. Neste ponto, o ato do fundador
da PM de ter trazido esse rito para o interior de sua tropa foi de preservar a cultura
organizacional da corrupção de costumes, do desvio de finalidade e do caminho rumo ao
precipício que houvera jogado no chão a credibilidade da Corporação anterior. Ilustram issso
as já mencionadas afirmações de Silveira (1991) de que o fundador da PMMG, logo após
extinguir a Corporação anterior por problemas graves de corrupção generalizada na tropa, criou
uma nova organização policial, pondo em seu nível estratégico um capelão.
É possível que existam outros meios de garantir que a tropa da Polícia Militar esteja
aderida centripetamente à herança cultural de valorização da Bandeira, de valorização dos
direitos humanos, de zelo pela hierarquia e disciplina, de espírito de sacrifício, de espírito de
corpo. O fato, porém, é que, no momento, o Positivismo e o rito de Pio V são os dois
mecanismos que a Polícia Militar testou e que têm elementos capazes de concertar a cultura da
Corporação nos seus pilares primordiais da hierarquia e disciplina. Nos levantamentos feitos
para esta monografia, não foram encontrados outros instrumentos tão longevos quantos esses:
o rito positivista, que converte em parte o de Pio V, existe na Corporação desde a Proclamação
141

da República. Já o rito de sacrifício existiu na Polícia Militar no período de 1775 a 1960 e, hoje,
só se conserva de modo muito pontul, por esforço de pareceria entre a Fraternidade Sacerdotal
São Pio X (FSSPX) e Associação dos Ex-combatentes do Brasil (AECB).
As razões do que foi tratado neste subcapítulo e no 3.1 sobre o rito de Pio V se
devem ao fato de que ele tem uma orientação que pode ser interpretada como centrípeta. Assim
o é porque ele coloca toda a cultura, todas as pessoas integrantes dessa cultura, todos os atos
praticados por essas pessoas que a integram, todas as explicações a respeito de por que fazer ou
deixar de fazer algo, tudo isso como satélites, como coisas laterais, incluindo, nesta condição,
o próprio ser humano. No rito de Pio V, o ser humano é tratado como súdito, como pessoa que
deve se subordinar a uma autoridade maior do que ele e maior do que o celebrante, autoridade
essa que, de acordo com esse rito, está presente fisicamente no ambiente, dentro do Sacrário.
Por isso, o sacerdote fica a maior parte do tempo de frente para esse lugar, pois nele está a maior
autoridade presente, superior, inclusive, ao celebrante. Assim, entende-se que o rito de Pio V
tenha orientação centrípeta, pois todos se voltam para um único ponto de referência: o Corpo
de Cristo.
O mesmo tom centrípeto se dá com o rito positivista, que também faz todos ficarem
voltados para o mesmo ponto (em uma cerimonia cívico-militar), a Bandeira Nacional. Mesmo
a maior autoridade que esteja presente volta-se para para prestar culto à Bandeira. Na cultura
militar, o policial é obrigado, quando a Bandeira está incorporada, ao passar por ela, a parar,
volver-se, tomar a posição de sentido e fazer continência antes de prosseguir seu movimento.
A mesma submissão se observa atos de arriamento e hasteamento da Bandeira.
No rito de Pio V, há algo semelhante: o fiel, ao passar pelo Sacrário, que fica sempre
no centro do templo, deve se ajoelhar, fazer o sinal da cruz (persignar-se) e, só depois disso,
continuar seu movimento.
Com a missa nova, a centralidade do Sacrário e da Hóstia consagrada foi substituída
pela centralidade do sacerdote. Para que isso acontecesse, o altar acima do qual, incrustado na
parede, ficava o Sacrário, deixou de ter a função de remeter ao sacrário e foi trocado por uma
mesa. Atrás dessa mesa, o sacerdote passou a entrar e, dali, como quem preside uma reunião,
tornou-se o centro das atenções durante todo o rito. O Sacrário foi deslocado do centro do tempo
para um cômodo pequeno lateral (LEFEBVRE, 1991).
Essa mudança do rito pode ser interpretada como de orientação centrífuga, pois o
coloca o homem na posição central e Deus (materializado na Hóstia Consagrada), assume
posição física satélite. O que antes representava um culto absoluto a Deus ganhou contornos de
um culto ao homem. Conforme Lefebvre (1991), trocou-se a ideia de deveres do homem perante
142

os direitos de Deus pela idéia da irrelevância de Deus perante os direitos do homem: nas
palavras do autor o “culto do homem”. Daí, a razão da interpretação de ter sido uma mudança
centrífuga em relação à Igreja, uma vez que o Cristianismo, bem como as demais religiões de
origem monoteísta, funcionam como um meio de chegar a Deus.
Fazendo uma comparação com o Positivismo, é uma mudança que se assemelharia
à maior autoridade presente em um cerimônia civil-militar receber honras militares reservadas
à Bandeira Nacional (o fato de esta ser carregada por uma guarda de honra durante um desfile,
por exemplo).
Metaforicamente e levando em consideração o que se tratou neste subcapítulo, que
é a Estratégia Operatória Ergonômica, é possível comparar esses acontecimentos com algo que
ocorre na Polícia Militar, que são os desvios de conduta. Estes podem ser interpretados como
de orientação centrípeta ou centrífuga. No primeiro caso, o desvio de conduta é aquele que não
ataca os pilares Corporação, pois ocorre quando o militar, para cumprir um objetivo
institucional, excede ou se omite em alguma conduta. Contudo, sua lealdade à Polícia Militar
não se esvai, pois ele não buscou um benefício individual, apenas para si, ou seja, não se
colocou em posição central, acima da PMMG. Já no desvio de conduta de orientação centrífuga,
o militar busca uma vantagem individual, colocando-se como o centro e a única fonte de decisão
sobre o que é certo ou errado. Ele não busca um fim institucional, mas apenas locupletar-se. É
o caso, por exemplo, da corrupção.
No capítulo 5.3, esse tema é retomado para fins de proposta de indicador. Antes
disso, contudo, passa-se o capítulo 4, que traz o detalhamento da metodologia utilizada para o
desenvolvimento desta pesquisa monográfica.
143

4 METODOLOGIA

O capítulo 2 foi colocado no centro das análises o valor do método científico,


quanto à necessidade da busca por padrões na investigação do real. Ao longo dele, procurou-se
dar alguns exemplos e iniciar uma reflexão sobre sua aplicabilidade ao estudo da Inteligência
de Segurança Pública. O capítulo 3 trouxe um primeiro contato com essa lógica de raciocínio,
que consiste na adequação da inteligência à coisa observada, ou adaequatio. O modo de trato
com esse jeito de raciocinar foi direcionado para um campo bem específico da Engenharia, que
é a Ergonomia. Em razão da aplicação desse método, o modo de tratar da Inteligência de
Segurança Pública começou no subcapítulo 2.4 e avançou por todo o capítulo 3, sempre tendo
por norte a intenção preparatória de uma proposta de indicadores.
O conceito de Ergonomia é o de estudo da relação entre o homem e seu labor. Por
causa da opção, adotada nesta monografia, de utilizar um método não nominalista (os detalhes
estão no capítulo 2) procurou-se utilizar a adaequatio, como caminho de investigação do real.
Na ciência dos ergonomistas, existem, de acordo com Daniellou (2004), abordagens que
consideram o trabalho em relação ao homem, ao passo que outras valorizam a relação contrária.
Nesta monografia, optou-se pela segunda, por ser mais coerente com a ideia da adequação da
inteligência à coisa observada. Por causa disso, a linha diretiva das abordagens dos capítulos 2
e 3 foi a de descrever a realidade que se apresenta para os profissionais do SIPOM. Isso foi
feito em detrimento de uma lógica que tomasse como conceito implícito de Ergonomia o de
adaptação do trabalho ao homem.
De acordo com Iida (2002), “é muito mais difícil adaptar o homem ao trabalho”
(IIDA, 2002, p.1). Nesta monografia, buscou-se enfrentar tal dificuldade, sendo que isso
decorre também da opção pela adequação do intelecto do pesquisador à coisa observada, ainda
que incômoda, ainda que potencialmente capaz de provocar choque com tendências
investigativas diferentes. Iida (2002) afirma também que o objeto da Ergonomia é o estudo do
ambiente que envolve o homem durante o trabalho. Essa via de abordagem foi a seguida aqui,
com a intenção de, com isso, ofertar indicadores de fato lastreados não em preferências, mas
em necessidades de sobrevivência da Polícia Militar e de ofertar, ao final (subcapítulo 5.3), uma
contribuição realista, ainda que desafiadora.
O presente capítulo é uma continuação dessa linha não antropocêntrica de
abordagem do objeto. Visando esclarecer isso, encontram-se, a seguir os tópicos: “4.1 Tema e
suas delimitações”, “4.2 Objetivo Geral”, “4.3 Objetivos específicos”, “4.4 Tipo de pesquisa”,
144

“4.5 Natureza da pesquisa”, “4.6 Método de abordagem”, “4.7 Método de procedimento” e “4.8
Técnicas de pesquisa”.

4.1 Tema e suas delimitações

O tema sugerido pelo encomendante desta monografia foi Análise da viabilidade


de criação de indicadores setoriais priorizados para o SIPOM, nos moldes da Resolução nº
4.877, de 21 de janeiro de 2020, que consiste no Plano Estratégico 2020/2023 da PMMG
(MINAS GERAIS, 2020a), e na Diretriz 8002.2/2020 – GDO (MINAS GERAIS, 2020b).
Em linguagem acadêmica da Ergonomia, isso significa que o tema, diz respeito, em
parte, à Demanda formadora da tarefa de ISP, entendida a palavra no sentido que os
ergonomistas lhe dão, que é aquilo que existe no ambiente e no espaço e no tempo e interessa
à organização (DANNIELOU, 2004; HUBALT, 2004; GUÉRIN, 2005).
Da Ergonomia, vêm os termos Demanda, Tarefa, Atividade e Estratégia Operatória,
já trabalhados no capítulo 3. Conforme lá mencionado e trazendo para a linguagem da ISP, a
demanda, portanto, é maior que a tarefa, a atividade e a Estratégia Operatória, a tarefa pode ser
reformulada, se necessário, e as pessoas que a executam podem ter uma percepção mais ampla
sobre a missão a cumprir.
Olhar inicialmente para a demanda, portanto, significa a possibilidade de rever a
tarefa e a atividade. E, repetindo-se, é exatamente o que se fez neste trabalho de pesquisa:
analisou-se a demanda, a fim fazer proposições que ajudassem a reduzir a distância entre o
prescrito (tarefa) e o executado (atividade).
Essa encomenda de pesquisa feita pelo Comando-Geral da Corporação, de uma
análise quanto à viabilidade da criação de indicadores, portanto, levou à busca por uma resposta
no campo da macroergonomia. É assim porque a dimensão da demanda é maior do que a tarefa
e a atividade, e a Ergonomia comum se ocupa apenas da relação entre estas, quais sejam, a
tarefa e a atividade.
Pelas razões acima reunidas, uma boa delimitação do tema conduziu à combinação
entre algo da Ciência Policial, que é a Inteligência de Segurança Pública, com algo que pertence
à Ergonomia, a Análise Ergonômica da Demanda. A metáfora do painel veicular volta a ser útil
neste ponto, para evidenciar a relação entre demanda e indicadores. Estes têm de exprimir o
acerto da Corporação em relação às respostas que dê à demanda, ou seja, os indicadores
precisam estar em conformidade com a demanda, para só então estarem conformes à tarefa e à
atividade.
145

O conceito de indicadores, para os fins desta monografia, é sinônimo de algo


abrangido pela ideia de “controle científico da polícia”, isto é, pela ciência chamada método,
metodologia e padrão, os quais são utilizados para definir medidores de desempenho setorial
na Polícia Militar de Minas Gerais: método é a especificação do recorte da realidade
considerada, bem como a fórmula de cálculo; metodologia é a sequência de procedimentos,
desde a coleta de dados até a sua transformação em um número calculado com a fórmula; padrão
é o parâmetro tipológico inerente ao que se está medindo e compatível com a natureza da coisa
medida. (SOUZA; REIS, 2005).
A compreensão da demanda é vital para o acerto na formulação do indicador. Sem
conhecer a demanda, não há como falar em um indicador que, de fato, seja um norteador de
providência. Por causa disso, os indicadores seriam incompletos se eles não considerassem a
demanda.
Segundo Silva e Pessa (2017), na descrição do problema ou situação que requeira
providência, cabe buscar entender a dimensão e natureza da coisa demandada. Trazendo essa
afirmação para o escopo desta monografia, isso significa que a análise ergonômica da demanda
é fundamental para cumprir o recomendado pela autoridade encomendante.
Do exposto, chegou-se à seguinte delimitação do tema: Inteligência de Segurança
Pública: análise da demanda, tarefa, atividade e Estratégia Operatória ergonômicas e proposta
de indicadores. Considerando que essas quatro palavras, trazidas da Ergonomia servem, nela,
para analisar o trabalho humano e que, nesta monografia, o tipo de labor estudado foi o da
inteligência de segurança pública, o objeto aqui foi o trabalho de ISP.
A prática científica é o ato do pesquisador se colocar diante do objeto buscando
compreender algo que ainda não tenha sido explorado ou que mereça um reestudo por parte da
comunidade científica. Ao fazer isso, o cientista, reconhecendo o que seja um hiato do
conhecimento, coloca-se em direção ao objeto como quem quer entender e esclarecer essa
lacuna. O nome dessa busca é problema de pesquisa.
Na presente monografia a indagação norteadora foi: É possível extrair indicadores
de padrões observáveis na demanda, tarefa, atividade e Estratégia Operatória ergonômicas
referente à ISP, no âmbito da missão constitucional PMMG de preservação da ordem pública?
Como resposta preliminar, levantou-se a hipótese de que fosse possível deduzir da
demanda, tarefa, atividade e Estratégia Operatória ergonômicas de ISP, indicadores para uso
pelo SIPOM nos níveis estratégico, tático e operacional da PMMG.
Para melhor exploração da verdade provisória levantada, foram cogitadas as
seguintes hipóteses secundárias: a) existe um desordenamento social estimulado que afeta a
146

segurança pública não percebido suficientemente pela comunidade de ISP da PMMG e b) a


atividade ergonômica na ISP supera a tarefa e alcança a demanda ergonômica.
Utilizando outras palavras para dizer a mesma afirmação, isso significou que se
trabalhou com a hipótese secundária a, de que estão acontecendo coisas de interesse da ISP
porque a origem delas é relacionada a serviços de Inteligência, mas tais acontecimentos tem um
nível de amplitude tal que não fazem parte das preocupações da comunidade de ISP, pelo menos
não em toda a sua profundidade.
Quanto à hipótese secundária b, colocando-a com outros palavras, trabalhou-se com
a cogitação prévia de que, na comunidade de Inteligência da PMMG, estão sendo feitas
determinadas ações que ainda não estão incorporadas às normas de funcionamento do SIPOM,
apesar de serem exercidas por profissionais designados onde isso está acontecendo (MPMG).

4.2 Objetivo Geral

Compreender ergonomicamente a Inteligência de Segurança Pública na PMMG.

4.3 Objetivos específicos

Segundo Abrahão (2011), a compreensão do trabalho passa pela apreciação das


coisas que sugerem preocupações e justificam a existência do labor analisado (Demanda
Ergonômica), as normas e estruturas que norteiam o trabalho dos profissionais observados pelos
ergonomista (Tarefa Ergonômica), o conjunto de ações que os trabalhadores praticam no
trabalho (Atividade Ergonômica) e, finalmente, as providências que o trabalhador adota no caso
concreto, isto é, os processos mentais dos quais o trabalhador se vale para desempenhar suas
missões (Estratégia Operatória Ergonômica). Diante disso, os objetivos específicos da
monografia foram:
a) Caracterizar a Demanda Ergonômica de ISP quanto a fatores do ambiente
externo, direta ou indiretamente danosos à segurança pública;
b) Estudar a Tarefa Ergonômica do SIPOM;
c) Compreender a Atividade Ergonômica de ISP;
d) Investigar a Estratégia Operatória Ergonômica, real ou potencialmente
impactante sobre os indivíduos, na esfera de preocupações próprias da ISP;
e) Verificar percepções básicas da comunidade de ISP a respeito de assuntos
relacionados ao objeto da pesquisa;
147

f) Propor indicadores relativos à Demanda, Tarefa, Atividade e Estratégia


Operatória relacionadas à ISP.

4.4 Tipo de pesquisa

Tratou-se de pesquisa qualitative. Buscou-se, por meio de apreciação bibliográfica,


documental e aplicação de questionários, proporcionar familiaridade com o problema e torná-
lo mais explícito, para aprimorar ideias e descobrir intuições para sua solução.

4.5 Natureza da pesquisa

A pesquisa foi qualitativa quanto à investigação da Demanda, Tarefa, Atividade e


Estratégia Operatória Ergonômica e quantitativa quanto à percepção dos gestores.

4.6 Método de abordagem

O método de abordagem foi uma combinação entre traços do dedutivo (partindo de


contextos macro, para poder refletir sobre seu impacto direto ou indireto sobre a Corporação,
aplicado no capítulo 2, para apreciar a importância do uso de universais para compreender bem
os particulares. No capítulo 3, empregaram-se deduções para apreciar contextos complexos,
alguns de alcance internacional, direta ou indiretamente relacionados à atividade de
Inteligência) e traços do hipotético dedutivo (materializado por meio de pesquisa de campo com
os titulares de agências do nível estratégico, tático e operacional do SIPOM. Perguntaram-se-
lhes questões que, devido ao cunho exploratório da pesquisa, precisaram ficar num âmbito mais
superficial e genérico, em vez de aprofundar, nesse levantamento de percepções, detalhes que
até o momento não estivessem sendo debatidos de modo frequente na comunidade de
inteligência da PMMG).

4.7 Método de procedimento

Para estruturar as perguntas dos instrumentos de pesquisa destinados à verificação


das hipóteses secundárias, o método de procedimento foram a Análise Ergométrica do Trabalho
(Capítulo 3) e, no Capítulo 5, pesquisa de campo dirigida a titulares de Agências de Inteligência
148

da PMMG, exceto o Diretor de Inteligência. Quanto à interpretação dos resultados da pesquisa


de campo, o método de procedimento foi o estatístico.

4.8 Técnicas de pesquisa

a) Documentação indireta

Foi feita pesquisa bibliográfica para sustentar as reflexões a respeito dos elos entre
buscas pelos universais, atividade científica atividade de Inteligência e uso de indicadores.
Além disso, realizou-se pesquisa documental sobre as normas (contidas na Tarefa) que regem
atualmente a temática de atuação da ISP, tais como o Plano Estratégico (MINAS GERAIS,
2020a) e a GDO (MINAS GERAIS, 2020b), dentre outras. Por fim, ainda como pesquisa
documental, foram colhidos documentos relativos à atuação conjunta da PMMG e do Ministério
Público do Estado de Minas Gerais (MPMG) no Grupo de Atuação Especializado de Combate
Crime Organizado (GAECO).

b) Documentação direta

Foi procedida pesquisa de campo com amostra significativa da população de


policiais militares lotados no SIPOM, para verificação das duas hipóteses principal e
secundárias. Embora inicialmente previsto no projeto de pesquisa, devido ao curto espaço de
tempo para esta monografia, bem como à profundidade teórica que se optou por fazer, tornou-
se inviável a realização de entrevistas semiestruturadas com o Diretor de Inteligência da Polícia
Militar, o Comandante da Primeira Região da Polícia Militar e o Promotor de Justiça
Coordenador do GAECO do MPMG, com os quais seria tratado sobre o NIC. Entretanto, à
medida que se foi explorando o objeto, percebeu-se que esse núcleo é uma pequena parte de
um dos apectos da análise feita. Ademais, o assunto foi tratado na Diretoria de Inteligência e
no GAECO, estando já em construção o primeiro NIC par atuar na 1ª RPM, tendo a DInt
disponibilizado o efetivo para tal23.

c) Delimitação do universo

23
Está em andamento na Diretoria de Inteligência um projeto piloto para o primeiro NIC destinado a atuar na
Região Metropolitana de BH.
149

O universo da pesquisa foi todo o conjunto dos policiais militares gestores do


SIPOM, totalizando 136 pessoas. O questionário foi enviado aos chefes das 104 Agências de
Área (AA), aos titulares das 23 Agências Regionais (AR) e Agências Regionais Especiais
(ARE), aos responsáveis pelas 09 Agências Especiais (AE), totalizando, até aí, 136
respondentes. Somaram-se a esse grupo 09 Oficiais chefes de Seção da Diretoria de Inteligência
(DInt), o Subdiretor de Inteligência e o chefe da PM2 (AIE), somando 145. Portanto, o universo
abrangeu todos os gestores.
O pesquisador, que Chefia uma Seção da Diretoria de Inteligência, a DInt 5
(GCOC) foi, por questões de ordem ética, excluído do rol de destinatários, o que abaixou o
universo para 144 respondentes. Destes, 20 não responderam, mas isso não representou
prejuízos à pesquisa, pois 115 pessoas responderam, o que satisfez a quantidade mínima, que
era de 21 pessoas.
Os titulares de Agências e chefes de Seção do SIPOM foram uma população de 145
(centro e quarenta e cinco) indivíduos24, com diferentes tempos de serviço. Foi-lhes dirigido
um questionário estruturado contendo 15 questões. Foi utilizada a escala Likert, procurando-se
avaliar o nível de concordância dos respondentes. Por se tratar de uma amostra quantitativa e
finite, utilizou-se a fórmula de cálculos apresentada a seguir, com a margem de erro de 5% e
nível de confiança de 95%:

n = (1,962 * 0,05 * 145) / [0,052 * (145-1) + (1,962 * 0,5 *0,5)]


n = 21

24
informações recebidas da Diretoria de inteligência, via email, no mês de outubro de 2020.
150

Diante disso, foi enviada mensagem via painel administrativo com “link” de acesso
ao questionário, no dia 02 de outubro de 2020, a todas as Agências do SIPOM. Findo o prazo
para as respostas, houve 115 questionários respondidos. Essa quantidade superou o mínimo
necessário, calculado segundo a fórmula de Stevenson.
Na tabulação dos dados, foi verificado que, dos 115 policiais militares remetentes
de questionários respondidos, 63,5% pertencem a unidade operacionais, 27%, ao nível tático e
9,6% estão lotados no nível estratégico. Portanto, a grande maioria está lotada em unidades
operacionais. Constatou-se também que, quanto ao tempo de serviço na Polícia Militar, 46,1%
possuem mais de 20 anos desde que ingressaram na corporação, 27% têm entre 15 e 20 anos
incompletos de serviço desde esse ingresso, 20% estão entre 10 e 15 anos incompletos de
serviço, 4,3% tem entre 05 e 10 anos na Corporação e 2,6% possuem menos de 5 anos de serviço
na PMMG. Portanto 73,1% dos respondentes tem, pelo menos, 15 anos de serviço e 93% têm,
no mínimo, 10 anos, desde que ingressaram na Corporação. Logo, é uma tropa bem experiente
quanto à atuação fora do SIPOM.
Quanto ao tempo de serviço na atividade de ISP, 55,7% tem, no máximo, 5 anos
incompletos na comunidade do SIPOM e 76,6%, até 10 anos incompletos na atividade. Assim,
é uma tropa experiente na Polícia Militar, porém com pouco tempo na atividade de ISP.
Diante desse público e suas respostas, é agora possível apreciar, tanto
particularizadamente como em conjunto aquilo que os respondentes emitiram quanto às
indagações que lhes foram dirigidas. O capítulo 5, que está na sequência, traz essas
considerações, além de uma apreciação quanto ao que as respostas significam e à proposta de
indicadores resultante do que foi respondido na investigação de campo e do que foi pesquisado
durante o levantamento bibliográfico.
151

5 APRESENTAÇÃO, INTERPRETAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

Este capítulo se destina a trazer os resultados da pesquisa de campo realizada junto


aos gestores do SIPOM, além de, ao final, propor alguns indicadores. De maneira intermediária,
esta parte da monografia é dedicada também à interpretação e análise do material coletado à
luz das discussões teóricas empreendias nos capítulos 2 e 3. Assim sendo, a divisão estrutural
desta parte da presente investigação é: “5.1 Síntese dos dados coletados”, “5.2 Análise dos
dados” e “5.3 Proposta de indicadores".
A pesquisa coletou dados dos chefes de Agência de Inteligência de todo o Estado,
aí incluídos chefes de AA, AR, AE, ARE, AIE e AC, conforme demonstrado no subapítulo 4.8,
buscando elementos hábeis a confrontar a teoria de base usada para esta monografia. Na
sequência, está a síntese dos dados coletados, que representa a preparação, um primeiro passo
para o subcapítulo seguinte, que é a análise dos dados.

5.1 Síntese dos dados coletados

As primeiras informações coletadas estão no gráfico 1 e trazem o perfil da


comunidade de ISP, situando os respondentes quanto à sua localização estratégica,
tática/intermediária ou operacional. Verifica-se que a maioria dos respondentes, seguida do
grupo intermediário e, por fim, do menor grupo correspondem a uma pirâmide institucional da
Polícia Militar de ponta-cabeça, porque os respondentes predominam na base, ou seja, as
respostas trazem, via de regra, a vocalização daquilo que quem é do nível de execução
operacional percebe.

Gráfico 1 Nível da Unidade em que o pesquisado desenvolve suas rotinas de trabalho na


comunidade de Inteligência de Segurança Pública da Polícia Militar de Minas Gerais, em
outubro de 2020.

Fonte: dados da pesquisa


152

Como se pode notar, 63% dos respondentes está no nível Operacional, 27%, no
nível Tático/Intermediário e 9,6% no nível Estratégico. Nota-se, portanto, que a maioria está
posicionada na atividade operacional, ou seja, no combate direto à criminalidade. É interessante
verificar agora há quanto tempo essas pessoas pretencem à fileiras da Polícia Militar.
O gráfico 2 cuida da questão sobre o tempo de serviço prestado pelo respondente
na PMMG, ou seja, a quantidade de anos desde que ingressou na Corporação. Nesse gráfico,
pode-se enxergar que quase 50% é de pessoas bem antigas nos quadros da Polícia Militar, onde
trabalham há mais de 20 anos e que essa realidade também fica notável quando se somam a
essas respostas aquelas oferecidas pelo público de respondentes que possui entre 15 e 20 anos
na Corporação. Quando somado aos que responderam possuir até 15 anos incompletos de
serviço, esse numero chega à quase totalidade dos que responderam, perfazendo mais de 90%
das respostas.

Gráfico 2 - Tempo de serviço, em anos, prestado na PMMG pelos chefes de Agência em Minas
Gerais, em outubro de 2020.

Fonte: dados da pesquisa

O tempo de serviço na Polícia Militar nem sempre significa que a pessoa tenha uma
grande experiência de rua, porém, conciliando o resultado desse gráfico com o anterior fica
nítido que esse público é o que faz a atividade de ISP ter um contato mais estreito com as rotinas
de combate à criminalidade nos Batalhões e Companhias Independentes. A visão dessas pessoas
é lastreada predominantemente pelo que acontece na base; assim, a noção de Estratégia
Operatória Ergonômica é interessante para pensar sobre essa tropa. Isso porque é um
contingente do SIPOM que recebe cobrança dos outros dois níveis (Tático, Intermediário e
Estratégico) e, ao mesmo tempo, sente na pele as pressões que vêm do Comando da Unidade
Operacional onde estão lotados, o que tende a forçá-los a ser criativos, em vez de cair na rotina,
153

sob pena de sua Unidade ser prejudicada na avaliação de desempenho feita periodicamente pelo
nível estratégico.
Na sequência, está o gráfico 3. Ele diz respeito ao tempo de serviço que o
respondente possui na atividade de ISP, portanto, a tendência é que seja no máximo igual ao
gráfico anterior, porque, naquele, estão retratadas as respostas à pergunta sobre o tempo de
serviço na corporação e, neste, pergunta-se qual a experiência na atividade específica der ISP.
Somando-se os grupos “1 a 5 anos incompletos”, “5 a 10 anos incompletos” e “10 a 15 anos
incompletos", chega-se a quase 90% das respostas, indicando assim que é uma tropa com pouco
tempo na atividade de Inteligência, quando comparado à experiência profissional de
pertencimento à Polícia Militar.
A resposta a essa pergunta mostra um sentido contrário às respostas à indagação
anterior. Apesar de a maioria possuir mais de 20 anos de serviços prestados na PMMG, na
atividade de ISP, a maioria de 55,7%, ainda não possui 5 anos completos na atividade. Logo,
tem grande experiência no trato com as questões convencionais da Polícia Militar, mas pouca
vivência com o mundo da Inteligência. Essa realidade se mostra no segundo maior percentual,
20,9%, que ainda não possui 10 anos completos na ISP. Policiais Militares entre 10 e 15 anos
incompletos, houve 13,9% dos respondentes, seguidos por 7% com tempo entre 15 e 20 anos.
Com mais de 20 anos na ISP, sobraram 2,5% dos pesquisados.

Gráfico 3 - Tempo de serviço (quantidade de anos desde que ingressou pela primeira vez em
uma rotina de ISP) prestado na atividade de ISP da PMMG em Minas Gerais, outubro de 2020.

Fonte: dados da pesquisa

Portanto, os policiais militares que labutam na atividade de ISP, em sua maioria,


possuem menor experiência nessa modalidade de trabalho e, sendo, assim, podem estar mais
passíveis de erros, decorrentes da menor vivência prática.
154

A pergunta cuja resposta está no gráfico a seguir teve por objetivo aferir como o
profissional de ISP percebe o crime e identifica como preveni-lo, especialmente se consegue
identificar padrões, uma causa comum ou geral, cujo efeito seja a prática do crime. O que se
procurou identificar foi se o militar estava apto a enxergar além das aparências, isto é,
identificar se ele percebe o crime como o problema em si ou como uma manifestação de algo
anterior, a causa da ação delituosa.

Gráfico 4 - Considerações dos chefes de Agências de Inteligência da PMMG sobre se


consideram que a prevenção contra a criminalidade possa ser feita de modo melhor, se forem
monitorados alguns elos entre fatores que normalmente se apresentam desconectados uns dos
outros (as causas do crime, ao invés de a ocorrência do crime apenas), no dia a dia da luta contra
a criminalidade, em Minas Gerais, outubro de 2020.

Fonte: dados da pesquisa

Como se nota, na percepção dos respondentes, 94,7% concordam que há elos


monitoráveis entre fatores aparentemente desconexos e que a prevenção à criminalidade pode
ser mais efetiva, caso esses elos e as causas sejam monitorados. As respostas a seguir se prestam
a clarear essa compreensão.
Por meio da próxima pergunta (Gráfico 5), procurou-se saber se os chefes de
Agência enxergam algum tipo de padrão na conduta dos criminosos com os quais a ISP lida.
Como se nota, a maioria, 91,4%, concordam, ou seja, enxergam um padrão de previsibilidade
na conduta dos criminosos. Contudo, repetindo o que se viu em relação à resposta anterior,
49,6% tem dúvidas ou ressalvas. Há ainda um percentual de 7% que discorda de praticamente
toda a assertiva, ou seja, não percebe padrão de previsibilidade no modus operandi criminoso.
Veja-se:
155

Gráfico 5 - Resposta dos chefes de Agência de ISP da PMMG sobre se a conduta dos criminosos
com os quais a ISP tem de lidar ocorre sempre (ou na maioria das vezes) dentro um certo padrão
de previsibilidade (perfil biográfico, modus operandi, tipos de crime em que se envolvem, tipos
de condutas praticadas, maneira de tentar confundir a polícia, entre outros), em Minas Gerais,
outubro de 2020.

Fonte: dados da pesquisa

Na sequência (Gráfico 6), estão condensadas respostas ao que foi perguntado aos
chefes de Agência de ISP se percebem uma estimulação à criminalidade na sociedade por parte
dos veículos de comunicação de massa. É o que se mostra agora.

Gráfico 6 - Resposta dos chefes de Agência de ISP da PMMG sobre se, baseando-se na
experiência de ISP que possuem agora, estaria correto afirmar que tem ocorrido na sociedade
uma estimulação ao comportamento criminoso de modo sutil pelos veículos de comunicação
de massa, em Minas Gerais, outubro de 2020.

Fonte: dados da pesquisa

Percebe-se, nessa resposta, uma divisão um pouco maior das opiniões; 48,7 dos
respondentes concordam totalmente, ou seja, têm plena convicção de que os veículos de
comunicação de massa, sutilmente, estimulam o comportamento criminoso. Já 34,8%
concordam com algum tipo de dúvida ou ressalva e 10,4% discordam de praticamente toda a
156

afirmação. Estes últimos, portanto, não enxergam uma estimulação ao crime pelos veículos de
comunicação. Um percentual restante de 6,1% discorda totalmente ou não tem opinião formada
a respeito do tema.
A próxima pergunta (Gráfico 7) buscou verificar como os profissionais de ISP
enxergam os infratores, especialmente se seriam pessoas de moral materialista, sem se
preocupar com o direito dos outros ou com as regras de convívio social. Veja-se:

Gráfico 7- Resposta dos chefes de Agência de ISP da PMMG sobre se, baseando-se na
experiência de ISP que possuem agora, estaria correto afirmar que, nos comportamentos ilícitos
monitorados na atividade profissional de ISP, predominam pessoas materialistas, isto é, que
não se preocupam com valores morais universais (respeito ao direito do outro a viver e não ser
privado de seus bens materiais, respeito ao direito do outro de ir e vir sem ser molestado, etc)
das regras de convívio social, em Minas Gerais, outubro de 2020.

Fonte: dados da pesquisa

Aqui, há uma tendência à unanimidade. De fato, 94,8% acreditam que os


criminosos são materialistas e não se preocupam com o direito dos outros nem com as regras
de convívio social. Um percentual de 3,5% não tem opinião formada a respeito e 1,7% dos
entrevistados discordam de praticamente toda a assertiva. Essa unanimidade conduz à
interpretação de que os profissionais de ISP destinatários do questionário têm, eles mesmos,
uma visão materialista, ou seja, estão a conseguir enxergar apenas a superfície da realidade,
deixando escapar os padrões motivacionais que fazem os criminosos estabelecerem algum tipo
de lealdade entre si.
Logo à frente (Gráfico 8), ainda buscando identificar como o profissional de ISP
enxerga o criminoso, notadamente se o vê como uma pessoa idealista, isto é, que pratica o crime
movida por um ideal de ter fama, poder, expressar revolta contra a sociedade, entre outros. A
seguir, estão as respostas obtidas.
157

Gráfico 8 - Resposta dos chefes de Agência de ISP da PMMG sobre se, baseando-se na
experiência de ISP que possuem agora, estaria correto afirmar que, nos comportamentos ilícitos
monitorados nessa atividade profissional, predominam pessoas idealistas, isto é, que não se
preocupam com aspectos financeiros das regras de convívio social e, por isso, cometem crimes
levadas predominantemente por algum ideal de vida, como o de ter poder, ter fama, ou expressar
por meio do crime uma revolta com a sociedade, em Minas Gerais, outubro de 2020.

Fonte: dados da pesquisa

As respostas a esta pergunta foram as mais destoantes até este ponto do


questionário. Trata-se de diferença de um ponto que desperta atenção, pois indica, claramente,
que os profissionais de ISP apresentam padrões diferentes de compreensão da realidade. Um
grupo que representa 13% do total de respondentes concorda plenamente, ou seja, entendem
que prevalece, entre os criminosos, pessoas idealista que motivam sua conduta ilegal por algum
ideal de vida (fama, status, poder, revolta contra a sociedade). Entretanto, 20% discorda
totalmente do enunciado. Dentre os que discordam com dúvidas ou ressalvas, tem-se o maior
percentual, 33,9%, percentual esse que é maior do que o daquelas que concordam com dúvidas
ou ressalvas, que é de 27%.
Completando esse quadro disforme, 6,1% não têm opinião formada a respeito. Esse
gráfico traz então uma dispersão muito grande nas respostas, diferentemente do anterior. Diante
das explicações materialistas, há uma alta convicção de concordância, ao passo que, em relação
ao idealismo, não há consenso. Isso indica que, diante do fenômeno do idealismo na realidade,
o grupo não consegue perceber, o que reforça o entendimento comentado na resposta anterior
que que os chefes de Agência de Inteligência estão ainda com uma visão materialista e
nominalista, ou seja, não estão enxergando os universais, os padrões.
A seguir, têm-se três gráficos com resposta à pergunta que se fez para saber a
utilidade que os profissionais de ISP entrevistados veem na possibilidade de receberem intensa
carga de conhecimentos sobre o que causa a criminalidade. A percepção está retratada, quanto
158

ao nível Estratégico, no gráfico 9, quanto ao nível Tático/Intermediário, o gráfico 10 traz as


respostas e, por último, no que se refere ao nível Operacional, tem-se o gráfico 11.

Gráfico 9 - Resposta dos chefes de Agência de ISP da PMMG sobre se, nos bancos escolares
de formação para atuar na atividade de ISP, eles consideram útil que os policiais militares
recebam uma intensa carga de conhecimentos relacionados ao que causa a criminalidade,
quanto ao NÍVEL ESTRATÉGICO, em Minas Gerais, outubro de 2020.

Fonte: dados da pesquisa

Para o nível estratégico, 75,6% dos respondentes concordam com a necessidade de


quem esteja lotado no nível Estratégico receba intensa carga de conhecimento sobre o que causa
o crime. Entretanto, 31,3% apresentaram dúvidas ou ressalvas sobre o tema e 15,7% discordam
de praticamente toda a assertiva. Um percentual de 7,1% dos respondentes, sequer tinha opinião
formada a respeito. Houve, ainda, um percentual de 2,6% que discordou totalmente, ou seja,
entendeu que não era necessária a transmissão de conhecimento sobre o que causa o crime ao
nível Estratégico.
Logo, para nessa parcela, ficou claro que os respondentes, ou não entendem ou que
é o nível estratégico, ou acham que esse nível não precisa saber identificar o que causa o crime.
As duas possibilidades são preocupantes, porque todos os profissionais de ISP deveriam
enxergar o nível Estratégico como aquele que ajuda o SIPOM a identificar interconexões
ocultas. Redigindo de outra forma, essa parcela se aproxima muito de uma interpretação
nominalista da realidade. Outra possibilidade de interpretação disso é que o nível Estratégico
não esteja dando contribuições para essa parcela dos respondentes realizarem seu trabalho. A
seguir, a mesma pergunta referente ao nível Tático/Intermediário.
159

Gráfico 10 - Resposta dos chefes de Agência de ISP da PMMG sobre se, nos bancos escolares
de formação para atuar na atividade de ISP, eles consideram útil que os policiais militares
recebam uma intensa carga de conhecimentos relacionados ao que causa a criminalidade,
quanto ao TÁTICO/INTERMEDIÁRIO, em Minas Gerais, outubro de 2020.

Fonte: dados da pesquisa

Para a maioria dos respondentes, houve um entendimento um pouco diferente


daquele verificado no gráfico anterior. O percentual dos que concordam com a afirmativa
aumentou, indo para 85,2%, dos quais 47,8% concordaram totalmente. O percentual do que
discordaram (com apenas alguns pontos de concordância) também foi menor (9,6%), o mesmo
se dando quanto aos que não tinham opinião formada (3,5%), restando ainda um percentual de
1,7%, que discordaram totalmente. A maioria considerou que o nível Intermediário do SIPOM
tenha uma necessidade de receber uma carga de conhecimentos maior. Nesse gráfico 10, nota-
se que, comparado com o anterior, os que discordam são em menor quantidade quanto à
importância do nível Intermediário enxergar causalidades do crime.
Isso quer dizer que a expectativa da comunidade do SIPOM em relação ao nível
Estratégico é menor quanto a dar explicações, que ajudem a entender o fenômeno criminal,
quando essa expectativa é comparada com as respostas relacionadas a como eles veem o nível
Intermediário. Quer dizer ainda que eles esperam mais do nível Intermediário do que do
Estratégico.
O gráfico a seguir, que retrata a percepção da necessidade do recebimento de
intensa carga de conhecimentos acerca da causa do crime ao nível Operacional, finaliza esta
parte do questionário. Essa pergunta se destina a identificar o valor que os respondentes dão a
que o professional de ISP que estiver lotado em Unidades da PMMG encarregadas diretamente
pelo combate à criminalidade receba uma preparação maior para entender o que está ocultoe
perceber os padrões.
160

Gráfico 11 - Resposta dos chefes de Agência de ISP da PMMG sobre se, nos bancos escolares
de formação para atuar na atividade de ISP, eles consideram útil que os policiais militares
recebam uma intensa carga de conhecimentos relacionados ao que causa a criminalidade,
quanto ao OPERACIONAL, em Minas Gerais, outubro de 2020.

Fonte: dados da pesquisa

Os respondentes, quando levados a pensar sobre a importância do conhecimento


das causas da criminalidade, afirmaram que ela é extremamente necessária para quem esteja
lotado na base do SIPOM. Esse gráfico, quando lido em conjunto com o gráfico 1, indica que
essa percepção da necessidade de informação vem do nível Operacional, porque o público
predominante dos respondentes (63,5%, conforme gráfico 1) está lotado em Unidades
operacionais e os números de valorização de um saber mais profundo mostram essa expectativa
quanto a esse nível.
Isso quer dizer que o pessoal que está no nível Operacional con sidera importante
que eles conheçam essas conexões mais profundas: 67% concordam totalmente e 26,1%
concordam com algumas dúvidas ou ressalvas quanto à necessidade desse repasse. Isso soma
93,1%, o que significa que os coordenadores da ISP no Estado, os chefes de Agência de
Inteligência, entendem que combater a criminalidade e compreentender o que a causa é
atividade atinente em muito maior grau ao nível operacional. Os que discordaram (com poucas
ressalvas) ou responderm que não têm opinião a respeito perfizeram 6,9%, o que torna esse
percentual com pouca significação em relação ao todo. No subcapítulo seguinte, os dados da
pesquisa foram analisados em profundidade maior.
O próximo gráfico continuou a abordar a criminalidade e em que medida esta pode
ser útil para solucionar os problemas de segurança pública afetos à ISP.
161

Gráfico 12 - Resposta dos chefes de Agência de ISP da PMMG sobre se a criminalidade, como
um todo, pode ser considerada uma importante fonte de fatores a monitorar pela atividade de
ISP, em Minas Gerais, outubro de 2020.

Fonte: dados da pesquisa

Neste ponto, houve uma unanimidade entre os pesquisados quanto à concordância


com a assertiva do enunciado da questão. Quase a totalidade (99,1%, dos quais 28,7% têm
algumas dúvidas ou ressalvas) concordou que a criminalidade é uma fonte importante de fatores
a monitorar pela ISP. Chama atenção que, embora os respondentes, de maneira quase unânime,
tenham entendido que a criminalidade é uma importante fonte de fatores a monitorar, conforme
os três gráficos anteriores, essa mesma unanimidade não se mostrou quanto a receber instrução
e treinamento sobre o que causa o crime. Portanto, reforça-se novamente que a comunidade de
ISP está tendente a uma interpretação nominalista, materialista, da realidade. As respostas à
presente pergunta indicavam uma dificuldade maior em enxergar padrões, em vislumbrar um
universal por detrás da concretização de cada evento particular.
Os gráficos seguintes retratam outro tipo de situação, que é o quão adequadas
estariam na ótica dos respondentes as normas para o monitoramento da criminalidade pela ISP.
Veja-se:
162

Gráfico 13 - Resposta dos chefes de Agência de ISP da PMMG sobre se as vigentes normas
que norteiam o trabalho de ISP no nível em que estão lotados precisam ser aprimoradas para
que seja possível monitorar melhor a criminalidade, em Minas Gerais, outubro de 2020.

Fonte: dados da pesquisa

Para 80% dos respondentes, as normas precisam ser aprimoradas. Desse total,
43,5% afirmaram ter algumas dúvidas ou ressalvas. Ainda houve 7% sem opinião formada e
11,3 % que discordaram (mantendo poucos pontos de concordância). Essas respostas indicam
que os profissionais de ISP entendem estar com alguma limitação normativa que pode interferir
no produto de seus trabalhos.
Na sequência, continuando com a mesma temática, estão respostas acerca de se os
profissionais de ISP estão a precisar adotar medidas práticas e legais não previstas nas normas,
para cumprirem suas missões.

Gráfico 14 - Resposta dos chefes de Agência de ISP da PMMG sobre se, para que o setor em
que trabalham seja eficiente contra a criminalidade, tem sido necessário tomar providências
práticas e legais que são mais abrangentes do que aquelas descritas nos manuais de ISP, em
Minas Gerais, outubro de 2020.

Fonte: dados da pesquisa


163

Na mesma lógica das respostas à questão anterior, as quais indicaram que as normas
precisam ser aprimoradas, para esta pergunta, os pesquisados (80% deles) afirmaram que
adotam medidas práticas que são mais abrangentes do que as previstas nos manuais. Essa é,
portanto, uma questão que suscita atenção, para compreender adequadamente as causas desse
estado de coisas. No item 5.2 adiante, essa questão será melhor trabalhada.
No próximo gráfico, ainda no mesmo tema sobre a perfeita sinergia entre as normas
e o que é praticado, apresentam-se informações acerca de se os profissionais da ISP pesquisados
percebem lacunas entre o que fazem e as previsões do que fazer.

Gráfico 15 - Resposta dos chefes de Agência de ISP da PMMG sobre se sentem, quando
realizam atividades de ISP, a necessidade de suprir lacunas existentes nas rotinas (normas) do
meu setor de trabalho, para que a Unidade em que estejam lotados consiga ser eficiente contra
a criminalidade, em Minas Gerais, outubro de 2020.

Fonte: dados da pesquisa

Na mesma lógica das duas questões anteriores a respeito do mesmo tema, 80,9%
dos entrevistados responderam que sentem a necessidade de suprir lacunas entre o exercício de
suas atividades de ISP e as previsões normativas a que estão sujeitos. Novamente, os dados da
pesquisa reforçam a existência de um hiato entre o que é previsto e aquilo que é necessário para
uma ação eficiente contra a criminalidade.
O penúltimo gráfico, a seguir, traz os resultados da auscuta feita aos chefes de
Agência de Inteligência sobre a questão da educação continuada e se esta poderia aumentar a
eficiência da ISP contra a criminalidade.
164

Gráfico 16 - Resposta dos chefes de Agência de ISP da PMMG sobre se sente que, se houver
uma capacitação continuada, ainda que à distância, dos profissionais que atuam com a atividade
de Inteligência de Segurança Pública, isso poderá proporcionar um aumento expressivo da
eficiência da ISP contra a criminalidade na Unidade em que estão lotados, em Minas Gerais,
outubro de 2020.

Fonte: dados da pesquisa

Aqui, para esta pergunta, quase a totalidade dos entrevistados, 97,4% (28,7% com
algumas dúvidas ou ressalvas) concordaram com que uma educação continuada proporcionaria
aumento da eficiência da ISP.
Por último, tem-se o gráfico sobre se os respondentes entendem que o NIC (Núcleo
de Inteligência Criminal) seria uma ferramenta adequada à melhoria dos resultados objetivos
na ISP.

Gráfico 17 - Resposta dos chefes de Agência de ISP da PMMG sobre se a união de esforços
entre a Polícia Militar e o Ministério Público, para o combate a ações criminosas, utilizando o
“NIC” (Núcleo de Inteligência Criminal), seria útil para esclarecer ilícitos e prevenir o crime
de forma mais efetiva do que os serviços prestados unicamente pela ISP têm conseguido lograr,
em Minas Gerais, outubro de 2020.

Fonte: dados da pesquisa


165

Com relação a essa pergunta sobre o NIC, novamente, teve-se uma resposta quase
unânime. Considerando que 7% responderam não ter opinião formada a respeito (ou seja, não
sabem do que se trata ou, mesmo sabendo, não conhecem os resultados a ponto de formar uma
opinião), praticamente todo o restante (92,2%) entenderam que o NIC é uma modalidade de
trabalho conjunto entre a PMMG e o MPMG, mais efetivo do que aquele prestado unicamente
pela ISP da Polícia Militar.
Dessa resposta é possível deduzir que o NIC apresenta um potencial de respostas
consideravelmente alto. Se essa análise for feita levando em consideração respostas anteriores
de acordo com as quais os profissionais de ISP sentem que as normas não são suficientes para
cobrir a inteireza da atividade, que sentem lacunas entre o previsto e o que precisa ser feito, e
ainda que, para o exercício prático de suas atribuições, é necessário transcender em parte as
normas, o NIC pode ser um mecanismo hábil a suprir essas mencionadas lacunas e elevar a
efetividade da ISP na PMMG e desta , fora da ISP, no combate à criminalidade.
Para melhor compreender isso, no subcapítulo seguinte, foram feitas analises mais
pormenorizadas dos dados da pesquisa. É o que se mostra a seguir.

5.2 Análise dos dados

Realiza-se, neste subcapítulo, uma apreciação dos resultados da investigação de


campo contidos no subcapítulo 5.1, a seguir apreciados com auxílio dos fundamentos
bibliográficos reunidos nos capítulos 2 e 3. Trata-se, por isso, de uma etapa preparatória para a
propositura dos indicadores, no próximo subcapítulo.
No gráfico 1, verificou-se que a maioria dos respondentes pertence ao nível
Operacional do SIPOM. O percentual de 63% é alto no conjunto das respostas e serve para
constatar que os resultados da pesquisa de campo tratam, predominantemente, de quem não tem
muito tempo para fazer digressões mais profundas e menos nominalistas aerca da realidade da
ISP. Isso significa que as considerações feitas nos capítulos 2 e 3, para que o SIPOM funcione
bem, podem ser objeto de uma ênfase maior em programas de atualização permanente dos
integrantes da comunidade de Inteligência lotados no nível Operacional.
A análise do gráfico 2 possibilita ver que a tropa de respondentes é
significativamente experiente, com a quase totalidade (93,1%) possuindo, pelo menos, dez anos
de serviço. Esse dado é interessante para notar que é um público já acostumado às normas da
Polícia Militar e, por causa disso, bem calejado em termos de como se deve agir e de que normas
orientam o trabalho. Assim, a Tarefa Ergonômica é algo com o que esse público já tomou um
166

contato significativo, anos a fio, no mínimo uma década. Essa idade predominante da tropa,
passando de dez anos, é um dado positivo a respeito do público de respondentes, porque pode
indicar que são pessoas já bastante conhecedoras sas normas e que já têm um sólido
conhecimento sobre como a Polícia Militar funciona, bem como sabem a respeito do tipo de
desafio que a Corporação enfrenta para lidar com a criminalidade. Por causa disso, é uma tropa
potencialmente em condições melhores para poder intuir padrões a partir de fatos isolados.
As respostas mostradas nos gráficos seguintes indicaram que essa tropa tem, na
PMMG, mais experiência operacional fora do que na atividade própria de ISP. De fato, o
gráfico 1 indicou que 63,5% dos respondentes está na atividade Operacional do SIPOM. Por
sua vez, o gráfico 2 informou que a maioria, 93,2%, já é experiente de Polícia, com no mínimo
10 anos de serviço. O gráfico 3 serviu para iluminar melhor essa questão (militares com mais
experiência em policiamento ostensivo do que com a atividade de Inteligência), na medida em
que indicou um percentual muito alto de respondentes, 55,7%, que ainda não completou nem 5
anos de atuação na ISP.
O gráfico 3, que trata do tempo de serviço dos respondentes na atividade de ISP,
conforme mencionado anteriormente, trouxe a predominância de pessoas com pouca
experiência. Mais da metade, 55,7%, têm, no máximo, 5 anos de serviço incompletos. O perfil
desse público é então o de pessoas que, cronologicamente, possuem bastante contato com a
Demanda Ergonômica, como se vê no gráfico 2 (73% de pessoas com, pelo menos, 15 anos de
serviço) e é, ao mesmo tempo, um público que lidou menos com a atividade de ISP, pois 76,6%
tem, no máximo, 10 anos de serviço na ISP. O conceito de Tarefa Ergonômica tem então um
baixo poder explicativo nesse público, porque esse é um pessoal que lida há pouco tempo com
as normas, com a estrutura da ISP, ao passo que esse mesmo contingente de tropa, por causa
do perfil mostrado no gráfico 2, tem um lastro de experiência operacional maior do que o tempo
já passado na ISP. Isso quer dizer que entendem mais a respeito de como funcionam as coisas
na fora da ISP do que dentro dessa comunidade.
O gráfico 4, quando analisado junto com o gráfico 11, indicou que o público lotado
na base piramidal do SIPOM possui uma alta expectativa de aprender sobre elos entre fatores
que normalmente estão desconectados uns dos outros, mas que têm relevância para ajudar a
entender melhor a criminalidade: 94,7% dos respondentes concordou com que a prevenção
criminal pode ser melhor monitorada caso sejam definidas como itens de monitoramento as
relações causais da conduta criminosa (gráfico 4). No mesmo sentido, 83,1% dos respondentes
concordam que os profissionais lotados no nível operacional do SIPOM poderão trabalhar
167

melhor, se receberem uma intensa carga de conhecimento afeto ao que causa a criminalidade
(gráfico 11).
Em conjunto, esses dois resultados serviram para notar que esse segmento da tropa
de Inteligência quer executar a atividade Ergonômica de um jeito mais profundo, o que, na
prática, significa que é preciso aprimorar a Tarefa Ergonômica, ou seja, organizar o
conhecimento e dissemina-lo no SIPOM por meio de cursos continuados, os quais tenham por
conteúdo temáticas e debates que, a principio, interessariam apenas ao nível Estratégico. O
profissional lotado na base do triângulo do SIPOM é engajado, interessado e estudioso, mas
não sabe a que instância recorrer para conhecer mais a Demanda Ergonômica, entendendo-a de
uma forma que extrapole o trato com casos particulares. O profissional de ISP deposita, por
isso, sobre onde menos se espera, que é o nível de Execução, uma expectativa que, em
condições normais, só seria de se esperar do nível de seus Comandantes.
O resultado dos dois gráficos indica que o gestor lotado na base do sistema está
sentindo falta de algo mais sofisticado para que exerça o domínio mais aguçado da realidade
relativamente ao mundo do crime, no seu espaço de responsabilidade territorial. A apreciação
desses dois gráficos permite afirmar, ainda, que a hipótese secundaria “a” (existe um
desordenamento social estimulado que afeta a segurança pública, não percebido
suficientemente pela comunidade de ISP da PMMG) foi parcialmente refutada, porque a
maioria dos respondentes, possivelmente em razão de ter uma experiência na PMMG maior
fora da ISP do que nela, apresenta uma alta expectativa de entender melhor a Demanda
Ergonômica para exercer de um jeito mais eficiente a Atividade Ergonômica.
Isso quer dizer que esse gestor reconhece que ignora a devida amplitude do que está
acontecendo na segurança pública em termos de relações causais profundas entre fatores da
criminalidade, mas quer aprender as explicações, em vez de esperar receber pronto de seus
superiores dos níveis Tático/Intermediário e Estratégico. Significa também que o público
respondente, então, está percebendo no seu ambiente de trabalho, tomado aqui no sentido
macro, algo a mais do que mera sequência de atos criminosos. Ele só não sabe o que é a causa
da criminalidade ou do aumento dela, mas acredita que as respostas possam ser alcançadas lhe
lhe seja dada uma capacitação contínua sobre tais nexos.
Escrevendo de oura forma, os respondentes conseguem intuir a existência de um
universal e têm plena convicção de sua existência. Contudo, não dispõem, na sua Agência, de
conhecimentos que tornem possível enxergar o que está oculto e usar essa compreensão maior
ora desejada para fazer um trabalho mais eficiente no seu nível de responsabilidade funcional.
Eles sentem nitidamente que algo está errado e isso lhes causa uma inquietação, ou seja, sofrem
168

por intuir a Demanda Ergonômica, sentir que poderiam fazer algo a respeito, mas não sabem
como, pois não dispõem da devida bagagem de conhecimentos que os habilitaria a tal.
Trazendo isso para a linguagem da Ergonomia, pode-se falar, então, que é um
sofrimento que não chega a constituir motivo para que o pessoal da comunidade do SIPOM se
submeter a licenciamento médico, mas que requer uma atenção, pois é sintoma de alguém que
é exigido a apresentar resultados, mas não conta com o ferramental completo para isso. É
relevante para a teoria ergonômica tudo aquilo que faz um trabalhador ter de passar por algo
que esteja acima do peso que seu corpo consiga suportar sem esforço. Segundo Guérin (2005),
“As agressões à saúde identificadas no decorrer de uma análise do trabalho não atingem
necessariamente um nível de gravidade que justifique um tratamento ou uma licença médica.
Ao contrário, trata-se de localizar sinais precoces [...] antes que apareçam consequências
irreversíveis” (GUÉRIN et al, 2005, p. 64).
A hipótese secundária “b” (“a Atividade Ergonômica na ISP supera a Tarefa e
alcança a Demanda ergonômica”) foi totalmente confirmada, porque essa confirmação
dependia de, na pesquisa de campo, ser encontrado um descompasso entre o que os
profissionais de ISP estão fazendo e aquilo que as normas preveem. Tal ação diz respeito,
logicamente, à iniciativa de tentar conter a criminalidade com o uso da estrutura de pessoal do
SIPOM, diretamente ou em suporte ao policiamento ostensivo. Conforme foi constatado por
meio dos gráficos 13, 14 e 15, os gestores de ISP afirmaram, predominantemente, ao
responderem às questões que lhes foram dirigidas, que eles têm feito coisas e tomado
providências que não estão previstas nas normas vigentes de funcionamento do SIPOM, apesar
de as ações serem todas elas embasadas em outras estruturas normativas.
Nos três gráficos analisados, os percentuais de concordância praticamente se
repetem: quando perguntados a respeito de se as vigentes normas norteadores do trabalho de
ISP na sua Agência de Inteligência precisariam ser aprimoradas, a fim de possibilitar o
monitoramento da criminalidade de um jeito mais eficiente, 80% dos respondentes
concordaram. Em seguida, diante da indagação sobre se seu setor de trabalho estava tomando
providências práticas e legais mais abrangentes do que as descritas nos manuais de Inteligência,
novamente, 80% concordaram. Por fim, no gráfico 15, ao serem consultados a respeito de se
realizam atividades de ISP que preenchem lacunas das normas, a fim de que a sua Unidade
alcance eficiência contra a criminalidade, 80,9% responderam afirmativamente.
Trazendo para a linguagem da Ergonomia, isso quer dizer que, para cumprir bem a
sua missão, o profissional de Inteligência está tendo de ir além daquilo que os manuais de usos
corrente do SIPOM preveem, isto é, estão indo além da Tarefa Ergonômica.
169

Em conjunto, esses três gráficos analisados permitem ainda uma outra constatação
que, para ficar evidente, requer a lembrança do gráfico 1, onde se lê que 63,5% dos respondentes
estão lotados em Agências de Inteligência do nível Operacional. O que então, adicionalmente,
os gráficos 13, 14 e 15 revelam é que, predominantemente no nível da base do SIPOM, as
pessoas estão trabalhando de uma forma que não chega a ser ilegal, porém há um deliberado
esforço por suprir aquilo que o nível Estratégico e o nível Tático/Intermediário deveriam estar
fornecendo, isto é, parâmetros formais, investimentos estruturais e outros tipos de itens próprios
daquilo que os ergonomistas chamam de Tarefa Ergonômica.
É compreensível esse resultado, apesar de ele indicar a necessidade de uma reflexão
sobre o que as Agências do SIPOM, localizadas nos níveis Tático/Intermediário e no
Estratégico devam ou possam fazer, diferentemente do que as Agências de Unidades
operacionais estão fazendo. O que há de compreensível nisso é que as pessoas saem de
Batalhões, por promoção ou transferência, assumem funções dentro do SIPOM em outro
patamar mais elevado, porém, continuam dispondo de suas experiêncisa anteriores como
refêrencia para atuação funcional no novo nível. Assim, a propositura de indicadores para os
níveis Estratégico, Tático e Operacional tende a, com o tempo, fazer com que os dois âmbitos
de menor abrangência dessa pirâmide (o do meio e o do topo) tenham algo específico e
distintivo com o que se ocupar.
Ao mesmo tempo, aquelas funções próprias do nível operacional tenderão, nesse
rearranjo advindo dos indicadores, a produzir uma necessidade menor de aí se fazerem coisas
que indiquem improvisação em relação ao prescrito. Cobrados quanto ao seu desempenho no
trato com a criminalidade, os Comandantes de Unidades em que essas Agências de Área estão
localizadas, não têm, no momento, outra coisa a fazer em relação a elas a não ser exigir que
improvisem e que não fiquem esperando uma atualização da doutrina de emprego do SIPOM
para agirem. A incorporação de indicadores específicos de cada nível poderá mudar esse
context.
A propositura de alguns meios de acompanhamento sistemático do desempenho dos
profissionais de ISP, vistos não como indivíduos, mas coletivamente em suas respectivas
Agências, além da verificação das hipóteses, fez parte do projeto que embasou este esforço de
investigação. Assim se fez para, por meio dessas proposições, arrematar a pesquisa
propriamente dita, dando-lhe um sentido de meio para o aprimoramento da gestão da
Inteligência na PMMG. Por essas razões, estão lançadas, na sequência, algumas considerações
referentes a parâmetros que se mostram úteis à concretização do pretendido apontamento de
170

como fazer para monitorar a Demanda, a Tarefa, a Atividade e a Estratégia Operatória de ISP
na Corporação.

5.3 Proposta de indicadores

A Ergonomia, enquanto âmbito de estudos, possui algumas regras do bom proceder.


Elas norteiam os trabalhos dos ergonomistas e fazem com que a análise ergonômica obedeça a
uma certa lógica. Essas normas de atuação são também chamadas de prescrição. No entanto
não significam aí uma coisa que o ergonomista faz, mas sim o que ele orienta a organização
sobre o que deve ser feito de acordo com o que tinha sido observado por ele.
A prescrição, nesse aspecto, equivale ao que o médico faz após analisar o estado de
saúde do paciente: prescreve-lhe, em forma de receita, o que esse deva fazer para ficar bem ou
para continuar bem. Geralmente, quando um médico chega a expedir uma receita, isso resulta
de algum problema diagnosticado na saúde do indivíduo que ele tenha atendido. Na Ergonomia,
porém, a razão de ser das prescrições está mais no nível (não da necessidade) do “paciente” e,
sim, dos deveres profissionais e sociais dos ergonomistas.
As regras da prática da Ergonomia, em bom trocadilho, prescrevem aos
ergonomistas, sempre depois de analisar um posto de trabalho, o que ele deve prescrever.
Lamonde (2014) afirma que “as prescrições constituem, portanto, um dever profissional e social
do ergonomistas” (LAMONDE, 2014, p. 331). O mesmo autor afirma que existem alguns
objetos da prescrição, que são categorias nas quais podem ser incluídas as recomendações que
todo ergonomista faz na etapa final de seu trabalho. Um objeto, dentre os possíveis, recebe o
nome de “dispositivos imateriais (regras e instruções escritas, programas de computador etc)
[…]” (LAMONDE, 2014, p. 333).
Os indicadores, a seguir propostos, equivalem à parte da Análise Ergonômica que
consiste em cumprir essa regra de prescrever algo, não para ensinar o que fazer, mas para
obedecer a uma definição metodológica que vem da própria Ergonomia. Nesse caso, além da
procedência ser a desse campo de estudos, a formulação de indicadores resulta de expectativa
da própria autoridade encomendante da pesquisa, que, no caso desrta monografia, foi o titular
máximo da PMMG, o qual dentro de suas atribuições, anualmente define objetos de pesquisa
para alunos do CEGESP.
O modo como as prescrições (os indicadores) estão dispostos neste subcapítulo
obedece à mesma sequência com que o capítulo 3 foi estruturado, isto é, primeiro vem cada
171

indicador atinente à Demanda Ergonômica, em seguida, os da Tarefa, depois os da Atividade


e, encerrando o capítulo, os da Estratégia Operatória.
Foi estudado, no subcapítulo 3.1, determinado conjunto de situações que criam
riscos potenciais para a Polícia Militar. Está no referido trecho da monografia o apontamento
de que a segurança pública vem sendo intencionalmente instabilizada por determinados grupos
e sob certas justificativas deles para fazerem isso. É preciso que a PMMG monitore essas
iniciativas, procurando acompanhar em que medida elas possam ser capazes de afetar o
desempenho da própria Corporação. Assim, em relação à Demanda Ergonômica, duas coisas
necessariamente precisam ser monitoradas: uma é a desorganização social estimulada e outra
consiste na capacidade dos integrantes do SIPOM compreenderem o que vejam. Os indicadores
que podem tornar possível concretizar esses dois ideais precisam ter a seguinte estrutura:
a) A desorganização social estimulada é o objeto propriamente dito do primeiro
indicador. Na terminologia do “controle científico da polícia”, o nome do que vai ser
monitorado chama-se Método (REIS, 2006), o qual se completa com uma fórmula.
Denominação e expressão matemática da medição integram, portanto, a primeira parte do
indicador, segunda Souza e Reis (2005).
Escolhido o nome do que vai ser medido, agora se indica o caminho matemático de
sua medição, que é: quantidade de ataques em cada categoria25 dividida pela quantidade total
de ataques no ano. Esse numerador da equação deve conter, como variável sempre específica a
categoria de ataque em que o total se caracteriza, de modo que o somatório dessas variáveis
contidas no numerador tenha que ser sempre, no máximo, igual ao total contido no denominador
da equação. Esta, por sua vez, é nada mais que o universo dos ataques que, no período, hajam
sido sofridos pela sociedade no total de agressões dirigidas à Corporação no período analisado.
As categorias possíveis, componentes do numerador, podem ser ampliadas, à
medida em que for havendo o surgimento de novas, ou reduzidas, caso comece a acontecer a
evidenciação de que certo ataque provenha da mesma fonte, tendo apenas nome diferente ou
aparência diferente, dissimulada pelo atacante. Exemplificativamente, uma categoria de ataque
pode ser a oferta de uma reclamação por um partido político ou uma Promotoria de Justiça,
sendo que o teor do ofertado configure, na apreciação da Agência Central, em uma agressão

25
exemplificativamente, alguns nomes de categorias podem ser:
“Identificação e Monitoramento de Desordenamento Social estimulado por órgãos públicos”
“Identificação e Monitoramento de Desordenamento Social Estimulado pelo Pela Cultura (obras literárias, filmes,
música)”
“Identificação e Monitoramento de Desordenamento Social Estimulado pela Educação”
“Identificação e Monitoramento de Desordenamento Social Estimulado pela mídia”
“Outros, a cargo do Diretor de Inteligência”
172

injusta contra o alvo, o qual pode ser a Polícia Militar enquanto instituição ou seus integrantes
isoladamente, mas atacados na condição de policiais militares.
A Metodologia de todo indicador consiste, segundo Reis (2006), no passo a passo,
desde a coleta de dados até o seu lançamento na fórmula. No caso concreto desse indicador, o
sequencial da coleta deveria consistir nos seguintes momentos: o integrante da Agência de Área
(AC), cumprindo suas atribuições normais e abrangidas pela ideia de coleta, recolhe um “caco
de realidade” e lançá-lo-ia na planilha própria26; o membro da AC, de posse da síntese
qualitativa e quantitativa, referente a todo o Estado no período (anual, semestral, bimestral,
semanal, conforme a necessidade e interesse do Diretor) emitiria à autoridade interessada, que
pode ser do próprio SIPOM ou de fora dele (como, por exemplo, o Diretor de Educação Escolar
e Assistência Social da PMMG, o Comandante da Academia de Polícia Militar, ou ainda o
Diretor de Recursos Humanos da Corporação e assim sucessivamente), um alerta de ocorrência
de estímulo à desorganização social; paralelamente, esse mesmo emissor, aciona a ESInt, a fim
de atualiza-la quanto ao assunto, fornecendo nesse ato a quantidade e a qualidade dos ataques,
num relatório próprio, de maneira que a ESInt pudesse avaliar a necessidade de um curso, de
uma instrução, de um ofício, de uma atualização doutrinária, de um reunião interna, de uma
sugestão de agendo do Comandante-Geral com o titular da fonte da ameaça, dentre outras
possibilidades decisórias. Como etapa final da metodologia a ESInt prepara um relatório anual
para exposição pormenorizada pelo chefe da AC ao Alto-Comando.
O Padrão desse indicador é o referencial, do tipo “quanto menor, melhor”, mas é
também o de desempenho-meta, no sentido de que ser desejável que certos ataques de certas
origens cessem após serem devidamente identificados, delimitados e comunicados à autoridade
competente. Um desordenamento social estimulado pode ser: soltura de preso e audiência de
custódia após ter flagrado pela Polícia Militar portando um fuzil; proibição de que forças
policiais ocupem certos espaços; músicas com conteúdo depreciativo das relações
interpessoais, como mencionado no capítulo 2, e outros.
b) Indicador de Capacidade de Percepção da Realidade: o Método desse item do
painel da AC consistiria em aplicar a seguinte fórmula matemática: no numerador da equação,
o desempenho de cada Agência de Inteligência, que seria representada, no período, pelos
avaliados em um teste do nível de atualização do avaliado. No denominador, constaria a
quantidade total de desempenhos das Agências representadas no universo de avaliados. A

26
Usa-se aqui a palavra planilha a título provisório para designar o ambiente virtual em que a Agência Central
haja recomendado aos coletadores das AA fazer os lançamentos de nomes, profissão, órgão de atuação, teor do
ataque e outros detalhes relevantes.
173

fórmula, nesse caso, poderá sofrer alguma calibragemse existir a possibilidade do número ser
inexpressivo ou de difícil comunicação.
A Metodologia seria composta por uma sequência de procedimentos de coleta
assim enumeráveis: periodicamente, o setor de recursos humanos da Agência Central emitiria
um escala de participantes do treinamento policial avançando (TPA), divididos de modo a
abranger suficientemente pelo menos uma amostra significativa o todo da comunidade do
SIPOM. Os integrantes do Sistema, participantes do treinamento, seriam submetidos a uma
verificação de conhecimento escrita, após um período de aulas de atualização, a cargo da ESInt.
De posse dos resultados dos testes, o administrador do indicador lançaria os números, calcularia
e comunicaria o resultado ao Diretor. Este, por sua vez, decidiria a melhor providência a tomar
diante do caso concreto do resultado da aplicação da fórmula ao SIPOM no período. Dentre as
providências possíveis, a AC enviaria os resultados ao Comando-Geral para se integrar aos
demais números de avaliação de desempenho organizacional da PMMG.
O Padrão adequado é o referencial, isto é, a nota emitida pelo SIPOM, como um
todo, teria que estar sempre dentro da média dos demais sistemas e Unidades da PMMG.
Internamente ao SIPOM, esse Padrão, em vez de referencial poderia ser o de desempenho-meta,
de modo que todas as Agências tivessem de alcançar uma média ou explicar o baixo
desempenho.
Concluídos os indicadores da Demanda Ergonômica, estão dispostos a seguir
aqueles referentes à Tarefa Ergonômica. Esta, para a Ergonomia, relaciona-se “às expectativas
da empresa em relação ao que ela deve fazer, aos objetivos a cumprir [...] e como ela deve agir
para alcançar esses objetivos”. (ABRAHÃO, 2011. p. 49).
Nesta monografia, foram tratados dois assuntos que são enquadráveis na noção de
Tarefa Ergonômica. Um deles foi a pesquisa de campo quanto à coleta da percepção dos
integrantes do SIPOM, no que se refere à relação entre Tarefa e Demanda Ergonômicas. As
questões que serviram a esse fim estão nos gráficos 13 (referente à resposta dos chefes de
Agência de ISP da PMMG sobre “se as vigentes normas que norteiam o trabalho de ISP no
nível em que estão lotados precisam ser aprimoradas para que seja possível monitorar melhor
a criminalidade”) , 14 (referente à resposta dos chefes de Agência de ISP da PMMG sobre se,
“para que o setor em que trabalho seja eficiente contra a criminalidade, tem sido necessário
tomar providências práticas e legais que são mais abrangentes do que aquelas descritas nos
manuais de ISP”) e 15 (referente às resposta dos chefes de Agência de ISP da PMMG a respeito
de “se sinto, quando realizo atividades de ISP, a necessidade de suprir lacunas existentes nas
174

rotinas [normas] do meu setor de trabalho, para que a Unidade em que estou lotado consiga ser
eficiente contra a criminalidade”).
O outro foi o NIC, tratado no subcapítulo 3.3, sendo que esse núcleo é aquele que,
experimentalmente, tem funcionado no município de Uberlândia e visa realizar prisões em
ações conjuntas entre o Ministério Público e a Polícia Militar, exceto em casos de organização
criminosa. Lá na mencionada seção monográfica, o NIC foi tratado como Atividade porque ele
não tem ainda uma regulamentação. Então, está sendo considerado aqui para que passe a fazer
parte da Tarefa, ou seja, não será tratado aqui como indicador, mas como sugestão de
aprimoramento normativo. Ante o exposto, realiza-se abaixo a propositura de um item para
monitoramento da Tarefa Ergonômica referente à ISP.
c) Quanto ao Método esse contributo para o painel de ISP possui o nome Indicador
de Conformidade da Tarefa perante a Demanda e sua fórmula poderia consistir em: no
numerador, o percentual de concordantes, total ou parcialmente e, no denominador, a
quantidade de Agências do SIPOM abrangidas pela análise, ou a quantidade total absoluta de
agentes do SIPOM, número este que serviria para indicar o universo da análise.
A Metodologia poderia ter, como etapas, primeiro a emissão periódica, pela AC,
a todo o SIPOM, das questões idênticas às dos enunciados dos gráficos 13, 14 e 15
anteriormente indicados. Em seguida, de posse das respostas, a Agência Central avaliaria o
resultado no ano respectivo dessa aplicação e mobilizaria o setor de doutrina da ESInt para
investigar melhor o problema e conhecer as necessidades. Para este fim específico
(conhecimento das insuficiências da doutrina em relação à Demanda Ergonômica) a ESInt faria
inserir no mesmo questionário um campo próprio para manifestação dos respondentes e
providenciaria a atualização doutrinária decorrente.
O Padrão desse indicador consistiria na meta de não haver nenhuma necessidade
de atualização e, por isso, toda vez que, dessas pesquisas visse esses resultados isso significaria
que a AC estaria com desempenho satisfatório.
Encerrada essa propositura relativa á Tarefa Ergonômica, passa-se agora à
Atividade Ergonômica. Esta é, conforme abordado no subcapítulo 3.3, tudo aquilo que o
trabalhador faz em função de suas atribuições. Nesta monografia, ela foi considerada com o
significado de ação do Integrante de ISP e dos delinquentes, motivadores do trabalho do
primeiro grupo. Apresenta-se, por isso, uma proposta que contempla, ao mesmo tempo, os dois
grupos.
d) Quanto ao Método, o nome do instrumento para monitorar a Atividade
Ergonômica poderia ser Indicador de Impacto Operacional de ISP. A fórmula relativa a esse
175

medidor consistiria em, no numerador, colocar a quantidade de prisões efetuadas pelas Unidade
Operacionais em razão de comprovada atuação da P2 no combate aos delitos definidos como
crimes violentos27 na GDO (MINAS GERAIS, 2020b); quanto ao denominador, nele seria
posto o total de prisões efetuadas pelas mesmas Unidades Operacionais no período.
A Metodologia dar-se-ia do seguinte modo: a cada prisão efetuada pela Unidade
Operacional, em decorrência de suporte prestado por alguma Agência de Inteligência,
independentemente de qual, o encarregado pelos lançamentos na Agência faria o lançamento
no devido sistema indicado pela AC para esse fim; de posse desses dados, o setor próprio da
AC faria a montagem do cálculo, cruzando esse dado com a estatística da Polícia Militar,
atinente ao total de prisões. Por fim, o titular da Agência Central discutiria esses dados
periodicamente nas reuniões do próprio SIPOM, da GDO ou outras necessárias, fazendo as
correções de rumo que viessem a se mostrar oportunas.
O Padrão seria o de desempenho-meta, de o SIPOM possuir sempre alguma
participação no total das prisões efetuadas pela Polícia Militar. Tendo em vista auxiliar no
alcance sempre satisfatório das metas, sugere-se a criação de NIC, em todas a Unidades onde
for possível, tomando-se por base a experiência atual desenvolvida no município de
Uberlândia/MG.
O último dos conceitos estudados no capítulo 3, trazidos da Ergonomia, foi o de
Estratégia Operatória Ergonômica de ISP. Tal expressão significa, conforme já apontado, tudo
aquilo que, no nível mental, o trabalhador faz para conseguir lidar com a variabilidade e
imprevisibilidade das situações de serviço. Nas abordagens feitas ao tema, no referido capítulo,
a chave de leitura utilizada foi a de forças centrípetas e centrífugas incidentes sobre a cultura
organizacional da Polícia Militar.
Na condição de geradores de movimento centrípeto, foram estudados os ritos do
positivismo e o de estabilização da cultura implantado na PM pelo seu fundador, o Capitão-
General D. Antonio de Noronha (o rito de Pio V). Essa mesma chave de leitura foi usada para
falar sobre desvio de conduta, o qual, naquele subcapítulo, foi abordado quanto a dois tipos: o
centrífugo consiste em o militar cruzar a linha que separa o delinquente do guardião da
sociedade considerado quanto ao beneficiário do ato ilícito, ou seja, quando próprio policial
militar desviante seja o único beneficiado; por outro lado, quanto ao desvio de conduta

27
Homicídio - Consumado/Tentado, Extorsão Consumado/Tentado, Roubo Consumado/Tentado, Extorsão
mediante sequestro Consumado/Tentado, Estupro Consumado/Tentado, Estupro de vulnerável
Consumado/Tentado, Disparo de arma de fogo ou Acionamento de Munição Consumado/Tentado.
176

centrípeto, este foi enfocado na qualidade de tipo de conduta ilícita que não configura uma
ultrapassagem da linha divisória entre policiais militares e criminosos.
Outra característica do desvio de orientação centrípeta é que se trata de Estratégia
Operatória para atingir um fim institucional, ou seja, o militar que envereda por esses caminhos
persegue um objeto da Corporação e não aufere qualquer vantagem pessoal decorrente de sua
conduta.
O indicador afeto à Estratégia Operatória de ISP consistiria no meio para monitorar,
entre os desvios de conduta de policiais militares, qual a tendência, se centrífuga ou centrípeta.
Para tal, tomar-se-ia como pressuposto que os delitos centrífugos têm uma força de erosão
altíssima da cultura da PMMG e de colocação da Instituição na mesma rota que, segundo
Silveira (1991), levou à extinção em 1775 da “PMMG anterior”, as Companhias de Dragões.
e) O Método (nome é fórmula) consiste no Indicador de Impacto Correicional. A
fórmula relativa a esse medidor consistiria em, no numerador, a quantidade de prisões efetuadas
pelas Unidade Correicionais em razão de comprovada atuação da P2, nos delitos definidos
como centrífugos e, no denominador, o total de esclarecimentos de ilícitos centrífugos
efetuados pelas mesmas Unidades correicionais no período.
A Metodologia dar-se-ia do seguinte modo: a cada esclarecimento obtido pela
Unidade correicional, em decorrência de suporte prestado por alguma Agência de Inteligência,
independentemente de qual, o encarregado pelos lançamentos na Agência faria o lançamento
disso no devido sistema indicado pela AC para esse fim; de posse desse dados, o setor próprio
da AC faria a montagem do cálculo e entregaria o resultado ao titular da Agência Central, que
discutiria esses dados periodicamente, nas reuniões do próprio SIPOM, da GDO ou outras
necessárias, fazendo as correções de rumo que viessem a se mostrar oportunas.
O Padrão seria o de desempenho-meta, de o SIPOM possuir sempre alguma
participação no total dos esclarecimentos efetuadas pela Polícia Militar.
Finalizada essa etapa propositiva, passa-se agora à fase de encerraamento deste
estudo monográfico, mediante uma conclusão, algumas breves sugestões e a cogitação de um
agenda de pesquisas para desenvolvimento por futuros pesquisadores.
177

6 CONCLUSÃO, SUGESTÕES E AGENDA DE PESQUISAS

Nesta monografia buscou-se, tanto quanto que possível “ler por dentro” (intus
legere) a realidade da Inteligência de Segurança Pública. Esse propósito foi dividido em alguma
etapas, que corresponderam aos capítulos. Já na Introdução, foi realizada uma leitura mais
ampla das potencialidades do tema e anunciada a perspectiva de usar a Ergonomia como
“binóculo, telescópio e microscópio” da Atividade de Inteligência.
No capítulo 2, procedeu-se a uma focalização dos aspectos da ciência que
pareceram ter alguma relevância para a discussão a respeito da busca por padrões e indicadores
relativos à Inteligência, o que se destinou a mostrar que a ISP é lastreada em algo da ciência.
No capítulo 3, buscou-se enfrentar as quatro subtemáticas da Ergonomia que, desde
o início, houvera-se escolhido: Demanda, Tarefa, Atividade e Estratégia Operatória. Nesse
ponto da pesquisa, tentou-se fazer uma adequação entre um pouco do que tem sido procedido
na comunidade internacional e a realidade mais específica do trabalho policial militar.
No capítulo 4, houve a indicação de alguns parâmetros como base base de valor
metodológico e que serviram de alicerce ou de bússola para a condução dos trabalhos.
Novamente aí ficou bem nítido o cunho exploratório da pesquisa, ou seja, o seu propósito de
ingressar em algumas discussões que, até o momento, não estavam postas nos debates da
comunidade de Inteligência da PMMG. A intenção, nesse aspecto foi a de jogar luz em alguns
fatores que, geralmente, todos conhecem mas a cujo teor não é comum as pessoas dirigirem
atenção destinada a indagar sobre alguma conexão com a atividade de Inteligência.
No capítulo 5, trouxeram-se as percepções dos gestores do SIPOM, em torno de
aspectos direta ou indiretamente ligados aos referidos quatro conceitos tomados de empréstimo
da Ergonomia, acima tratados como subtemáticas desta.
Durante esse percurso exploratório, foram perseguidos seis objetivos, os quais
consistiram em: caracterizar a Demanda Ergonômica de ISP quanto a fatores do ambiente
externo, direta ou indiretamente danosos à segurança pública; estudar a Tarefa Ergonômica do
SIPOM; compreender a Atividade Ergonômica de ISP; investigar a Estratégia Operatória
Ergonômica, real ou potencialmente impactante sobre os indivíduos na esfera de preocupações
próprias da ISP; propor indicadores relativos à Demanda, Tarefa, Atividade e Estratégia
Operatória relacionadas à ISP; verificar percepções básicas da comunidade de ISP a respeito de
assuntos relacionados ao objeto da pesquisa.
O primeiro objetivo foi alcançado por meio do capítulo 3.1. O segundo propósito
foi concretizado na subseção 2 do mesmo capítulo. O terceiro intuito ganhou concretude no
178

subcapítulo 3.3. O quarto propósito teve concretude na seção final também lançada no referido
capítulo. O quinto intuito materializou-se mediante o subcapítulo 5.1 e o sexto objetivo foi
alcançado no subcapítulo 5.3. Portanto, todos os objetivos da monografia foram alcançados.
A hipótese principal (“é possível deduzir da demanda, tarefa, atividade e Estratégia
Operatória ergonômicas de ISP indicadores para uso pelo SIPOM nos níveis estratégico, tático
e operacional da PMMG”) foi comprovada por meio da extração de elementos que, após
lançados em uma tipologia que a PMMG já utiliza (“controle científico da polícia”, que norteia
a construção de indicadores usando os conceitos de método, metodologia e padrão), deram
origem a indicadores, os quais estão propostos no subcapítulo 5.3.
A hipótese secundária “a” (“existe um desordenamento social estimulado que afeta
a segurança pública não percebido suficientemente pela comunidade de ISP da PMMG”) foi
parcilament refutada, em rezão da análise conjunta das respostas contidas nos gráficos 4 e 11.
A pesquisa de campo indicou que o público lotado na base piramidal do SIPOM possui uma
alta expectativa de aprender sobre elos entre fatores que normalmente estão desconectados uns
dos outros, mas que têm relevância para ajudar a entender melhor a criminalidade: 94,7% dos
respondentes concordou com que a prevenção criminal pode ser melhor monitorada caso sejam
definidas como itens de monitoramento as relações causais da conduta criminosa (gráfico 4).
No mesmo sentido, 83,1% dos respondentes concordam que os profissionais lotados no nível
operacional do SIPOM poderão trabalhar melhor, se receberem uma intensa carga de
conhecimento afeto ao que causa a criminalidade (gráfico 11).
Esses resultados mostraram que o profissional lotado na base do triângulo do
SIPOM é engajado, interessado e estudioso, mas não sabe a que instância recorrer para conhecer
mais a Demanda Ergonômica, entendendo-a de uma forma que extrapole o trato com casos
particulares.O resultado dos dois gráficos indica que o gestor lotado na base do Sistema está
sentindo falta de algo mais sofisticado para que exerça o domínio mais aguçado da realidade
relativamente ao mundo do crime, no seu espaço de responsabilidade territorial. A maioria dos
respondentes, possivelmente em razão de ter uma experiência na PMMG maior fora da ISP do
que nela, apresenta uma alta expectativa de entender melhor a Demanda Ergonômica para
exercer de um jeito mais eficiente a Atividade Ergonômica.
Isso quer dizer que esse gestor reconhece que ignora a devida amplitude do que está
acontecendo na segurança pública em termos de relações causais profundas entre fatores da
criminalidade, mas quer aprender as explicações. Significa também que percebe no seu
ambiente de trabalho algo a mais do que mera sequência de atos criminosos. Eles conseguem
intuir a existência de um universal e têm plena convicção de sua existência. Contudo, não
179

dispõem de conhecimentos que tornem possível enxergar o que está oculto e usar essa
compreensão maior ora desejada para fazer um trabalho mais eficiente no seu nível de
responsabilidade funcional. Por isso a hipótesee seeuncária “a” foi parcialmente refutada, pois
o desordanamento social estimulado é intuído pelos gestores do SIPOM, que percebem que
algo está errado, contudo não conseguem identificar do que se trata. Falta-lhes a base teórica,
como, por exemplo, aquela que foi tratada nos capítulos 2 e 3 desta monografia.
Em razão da constatação sobre a a refutação parcial da hipótese secundária “a”,
sugeriu-se a criação e execução, pela ESInt, de um TPA, pelo qual se possa subsidiar os
integranes do SIPOM com comhecimentos intelectuais que facilitem a melhor compreensão da
Demanda Ergonômica de ISP.
A hipótese secundária b (“a Atividade Ergonômica na ISP supera a Tarefa e alcança
Demanda Ergonômica”) foi confirmada, por meio do resultado da pesquisa disponível no
gráfico 14. Neste, vê-se que os respondentes, num percentual de 80% relataram que têm
necessitado tomar providencias práticas e legais que ainda não estão descritas nos manuais de
ISP para agir eficientemente contra a criminalidade. Em linguagem da Ergonomia, isso quer
dizer que a Atividade Ergonômica supera e alcança a Demanda.
Chegou-se a essa mesma constatação, de confirmação da hipótese secundária b, por
meio do resultado do gráfico 15, onde se viu que 80,9% dos respondentes têm sentido a
necessidade de suprir lacunas que existem nas normas e nas rotinas do setor de trabalho para
conseguiram ajudar suas Unidades a serem eficientes contra a criminalidade.
Em razão de a hipótese secundária “b” ter sido confirmada, conforme gráficos 13,
14 e 15, sugere-se que ocorra uma atualização das normas que regem o funcionamento do
SIPOM, de modo tal que a necessidade percebida especialmente na base desse sistema
(conforme gráfico 1, a maioria dos respondentes está no nível Operacional do SIPOM) seja
devida e oportunamente suprida. Assim, poder-se-á, em tese, aumentar a eficiência da
comunidade de ISP contra a criminalidade, no território do Estado de Minas Gerais.
Essa sugestão de aprimoramento normativo alcança também aquilo que se
constatou por meio do gráfico 17: a concordância por parte de 92,2% dos respondentes de que
o combate a ações criminosas pode ser aprimorado mediante utilização do “NIC”, atribuindo-
lhe a missão de esclarecer ilícito e prevenir crimes com o trabalho da ISP concretizado na prisão
de criminosos. O significado disso, no linguajar da Ergonomia é que a Tarefa Ergonômica não
está suficientemente atualizada para dar conta da Demanda Ergonômica percebida pelos
gestores do SIPOM. De forma um pouco mais objetiva, significa inserir, na estrutura normativa
da ISP, a faculdade dos comandantes de Regiões lançarem mão do NIC como solução para
180

prevenir e reagir mais eficientemente contra a criminalidade. De igual sorte, a adoção desse
ajuste normativo contornaria a atual situação desconfortável exposta pelos respondentes nos
gráfico 14 e 14, de terem que fazer coisas que, apesar de serem legais, não estão ainda nos
manuais de ISP.
Visando ainda suprir essa lacuna percebida na Tarefa Ergonômica, sugere-se que a
Adjuntoria de Doutrina, atualmente vinculada à PM2/EMPM e sediada em local fisicamente
distante da DInt, seja conectada com a Agência Central, especificamente com a ESInt. A partir
daí, tal setor da Diretoria de Inteligência ficaria encarregado da aplicação contínua do TPA
(Treinamento Policial Avançado). Nesse novo estado de coisas, a ESInt passaria a ter as
seguintes atribuições: manter, mediante capacitação continuada, um nível de excelência do
SIPOM quanto ao conhecimento aprofundado sobre os fatores de estimulação ao
comportamento criminoso e ao desordenamento social estimulado, presentes nos veículos de
comunicação de massa e em outros órgãos (podendo ser públicos ou privados), além de um
domínio sobre os usos indevidos que têm sido feitos por meio da atividade de inteligência para
desestabilizar, implodir ou inutilizar a a segurança pública e/ou a PMMG.
Sugere-se que a ESInt, na formulação dos programas para a capacitação continuada
e para o TPA, insira disciplinas que gerem uma modificação do atual estado de pulverização de
percepções do SIPOM a respeito do idealismo (recusa de ver o real, da forma como ele é, e
tentativa de subverter o mundo para que a realidade se encaixe no esquema idealizado, como,
por exemplo, o tipo de idealismo que levou o intelectual brasileiro Dias Gomes [ligado ao PCB]
a, no início dos anos 90 deste século, tentar ridicularizar a importância e nobreza do serviço de
Inteligência brasileiro, mediante o apelido pejorativo [o de Araponga] por ele lançado em uma
série da TV Globo), conforme tratado no capítulo 3.
Sugere-se ainda que a ESInt, reforçada pela conexão com o setor de Doutrina,
monitore a Matriz curricular do Colégio Tiradentes, visando emitir alertas preventivos e
reativos contra a inserção de enfoques que sejam potencialmente capazes de modificar, em
prejuízo da PMMG, a matriz cultural de lealdade dos alunos à farda e à cultura policial militar.
Como sugestão final, propõe-se que a Corregedoria do Polícia Militar passe a
priorizar nas suas ações a investigação de desvios de conduta do tipo centrífugos, porque estes
dizem respeito à corrupção e, nesse sentido, têm um potencial de destruição da Polícia Militar
muito significativo, a exemplo do que ocorreu com a Corporação que precedeu a PMMG, a
qual foi, como visto, extinta por causa de profunda corrupção no corpo de tropa.
Concluída essa empreitada, pode-se agora aspirer a que, num future próximo, a ISP
na PMMG torne-se fortalecida mediante as inovações indicadas.
181

A título de agenda de pesquisa, sugere-se testar, com voluntários, o poder de


“centripetação” dos ritos de Pio V e o positivista nos lugares da PMMG onde a coesão social e
os “habitus” (espírito de sacrifício, valorização da hierarquia e disciplina, patriotismo e outros)
possuam uma relevância histórica (o primeiro) ou cerimonialística e simbólica (o segundo) mais
expressiva.
Sugere-se também que o atual formato de prioridades da Corregedoria da Polícia
Militar possa ser estudado academicamente, quanto a em que medida a adoção de uma ênfase
sobre desvios de conduta centrífugos (os de corrupção e equivalentes) poderia ser melhor
classificá-los, monitorá-los e mensurados por meio de indicadores co-geridos com o SIPOM.
182

REFERÊNCIAS

ABRAHÃO, Júlia [et al]. Introdução à Ergonomia: da prática à teoria. 1reimp. São Paulo:
Blucher, 2011.

ADLER, Mortimer J. Aristóteles para todos: uma introdução simples a um pensamento


complexo. Tradução de Pedro Sette-Câmara. São Paulo: É Realizações, 2010.

AGNOLI, Francesco; BARTELLONI, Andrea. Cientistas de batina: de Copérnico, pai do


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196

APÊNDICE ÚNICO: INSTRUMENTO DE PESQUISA

Caro policial militar,


Sou aluno do Curso de Especialização em Gestão Estratégica de Segurança Pública (CEGESP)
do ano de 2020. Como tal, estou responsável por uma pesquisa cujo tema é: "Análise da
viabilidade de criação de indicadores setoriais priorizados para o SIPOM nos moldes da
Resolução nº 4.877, de 21 de janeiro de 2020, que consiste no Plano Estratégico 2020/2023 da
PMMG, e na Diretriz 8002.2/2020 – GDO”. Visando atender às necessidades da pesquisa,
solicito sua colaboração, mediante o preenchimento das respostas às perguntas a seguir
enumeradas. Sua participação é muito importante!
Cordialmente,
Adriano Nepomuceno de Carvalho, Ten Cel PM
Aluno CEGESP/2020
1) Indique a seguir alguns dados que serão úteis para traçar um perfil geral sobre a
comunidade de ISP da PMMG:
a) Nível da Unidade em que você desenvolve suas rotinas de trabalho atualmente:
( ) Estratégico. ( ) Tático/Intermediário. ( ) Operacional.
b) Tempo de serviço seu na PMMG (quantidade de anos desde que ingressou na Corporação):
( ) 1 a 5 anos incompletos. ( ) 5 a 10 anos incompletos. ( ) 10 a 15 anos incompletos.
( ) 15 a 20 anos incompletos. ( ) Mais de 20 anos.
c) b) Tempo de serviço seu na atividade de ISP da PMMG (quantidade de anos desde que
ingressou pela primeira vez em uma rotina de ISP):
( ) 1 a 5 anos incompletos. ( ) 5 a 10 anos incompletos. ( ) 10 a 15 anos incompletos.
( ) 15 a 20 anos incompletos. ( ) Mais de 20 anos.
2) Como profissional de ISP, considero que a prevenção contra a criminalidade poderia
ser feita de modo melhor, se fossem monitorados alguns elos entre fatores que
normalmente se apresentam desconectados uns dos outros (as causas do crime, ao invés
de a ocorrência do crime apenas), no dia a dia da luta contra a criminalidade.
( ) Concordo totalmente.
( ) Concordo, tendo apenas algumas dúvidas ou ressalvas a respeito dessa afirmação.
( ) Não tenho opinião formada a respeito.
( ) Discordo de praticamente todo o teor dessa afirmação, tendo apenas alguns pontos de
concordância em relação ao afirmado.
( ) Discordo totalmente da afirmação contida no enunciado.
3) A conduta dos criminosos com os quais a ISP tem de lidar ocorre sempre (ou na maioria
das vezes) dentro um certo padrão de previsibilidade(perfil biográfico, modus operandi,
tipos de crime em que se envolvem, tipos de condutas praticadas, maneira de tentar
confundir a polícia, entre outros).
( ) Concordo totalmente.
( ) Concordo, tendo apenas algumas dúvidas ou ressalvas a respeito dessa afirmação.
( ) Não tenho opinião formada a respeito.
( ) Discordo de praticamente todo o teor dessa afirmação, tendo apenas alguns pontos de
concordância em relação ao afirmado.
( ) Discordo totalmente da afirmação contida no enunciado.
197

4) Baseando-se na experiência de ISP que você possui agora, estaria correto afirmar que
tem ocorrido na sociedade uma estimulação ao comportamento criminoso de modo sutil
pelos veículos de comunicação de massa?
( ) Concordo totalmente.
( ) Concordo, tendo apenas algumas dúvidas ou ressalvas a respeito dessa afirmação.
( ) Não tenho opinião formada a respeito.
( ) Discordo de praticamente todo o teor dessa afirmação, tendo apenas alguns pontos de
concordância em relação ao afirmado.
( ) Discordo totalmente da afirmação contida no enunciado.
5) Baseando-se na experiência de ISP que você possui agora, estaria correto afirmar que,
nos comportamentos ilícitos monitorados na sua atividade profissional, predominam
pessoas materialistas, isto é, que não se preocupam com valores morais universais
(respeito ao direito do outro a viver e não ser privando-se seus bens materiais, respeito ao
direito do útero de ir e vir sem ser molestado, etc) das regras de convívio social?
( ) Concordo totalmente.
( ) Concordo, tendo apenas algumas dúvidas ou ressalvas a respeito dessa afirmação.
( ) Não tenho opinião formada a respeito.
( ) Discordo de praticamente todo o teor dessa afirmação, tendo apenas alguns pontos de
concordância em relação ao afirmado.
( ) Discordo totalmente da afirmação contida no enunciado.
6) Baseando-se na experiência de ISP que você possui agora, estaria correto afirmar que,
nos comportamentos ilícitos monitorados na sua atividade profissional, predominem
pessoas idealistas, isto é, que não se preocupam com aspectos financeiros das regras de
convívio social e por isso cometem crimes levadas predominantemente por algum ideal de
vida, como o de ter poder, ter fama, ou expressar por meio do crime uma revolta com a
sociedade?
( ) Concordo totalmente.
( ) Concordo, tendo apenas algumas dúvidas ou ressalvas a respeito dessa afirmação.
( ) Não tenho opinião formada a respeito.
( ) Discordo de praticamente todo o teor dessa afirmação, tendo apenas alguns pontos de
concordância em relação ao afirmado.
( ) Discordo totalmente da afirmação contida no enunciado.
7) Nos bancos escolares de formação para atuar na atividade de ISP, você considera útil
que os policiais militares recebam uma intensa carga de conhecimentos relacionados ao
que causa a criminalidade, quanto ao NÍVEL ESTRATÉGICO?
( ) Concordo totalmente.
( ) Concordo, tendo apenas algumas dúvidas ou ressalvas a respeito dessa afirmação.
( ) Não tenho opinião formada a respeito.
( ) Discordo de praticamente todo o teor dessa afirmação, tendo apenas alguns pontos de
concordância em relação ao afirmado.
( ) Discordo totalmente da afirmação contida no enunciado.
8) Nos bancos escolares de formação para atuar na atividade de ISP, você considera útil
que os policiais militares recebam uma intensa carga de conhecimentos relacionados ao
que causa a criminalidade, quanto ao NÍVEL TÁTICO/INTERMEDIÁRIO?
198

( ) Concordo totalmente.
( ) Concordo, tendo apenas algumas dúvidas ou ressalvas a respeito dessa afirmação.
( ) Não tenho opinião formada a respeito.
( ) Discordo de praticamente todo o teor dessa afirmação, tendo apenas alguns pontos de
concordância em relação ao afirmado.
( ) Discordo totalmente da afirmação contida no enunciado.
9) Nos bancos escolares de formação para atuar na atividade de ISP, você considera útil
que os policiais militares recebam uma intensa carga de conhecimentos relacionados ao
que causa a criminalidade, quanto ao NÍVEL OPERACIONAL?
( ) Concordo totalmente.
( ) Concordo, tendo apenas algumas dúvidas ou ressalvas a respeito dessa afirmação.
( ) Não tenho opinião formada a respeito.
( ) Discordo de praticamente todo o teor dessa afirmação, tendo apenas alguns pontos de
concordância em relação ao afirmado.
( ) Discordo totalmente da afirmação contida no enunciado.
10) A criminalidade, como um todo, pode ser considerada uma importante fonte de fatores
de monitoramento pela atividade de ISP.
( ) Concordo totalmente.
( ) Concordo, tendo apenas algumas dúvidas ou ressalvas a respeito dessa afirmação.
( ) Não tenho opinião formada a respeito.
( ) Discordo de praticamente todo o teor dessa afirmação, tendo apenas alguns pontos de
concordância em relação ao afirmado.
( ) Discordo totalmente da afirmação contida no enunciado.
11) As vigentes normas que norteiam o trabalho de ISP no nível em que estou lotado
precisam ser aprimoradas para que seja possível monitorar melhor a criminalidade.
( ) Concordo totalmente.
( ) Concordo, tendo apenas algumas dúvidas ou ressalvas a respeito dessa afirmação.
( ) Não tenho opinião formada a respeito.
( ) Discordo de praticamente todo o teor dessa afirmação, tendo apenas alguns pontos de
concordância em relação ao afirmado.
( ) Discordo totalmente da afirmação contida no enunciado.
12) Para que setor que eu trabalho seja eficiente contra a criminalidade, tem sido
necessário tomar providências práticas e legais que são mais abrangentes do que aquelas
descritas nos manuais de ISP.
( ) Concordo totalmente.
( ) Concordo, tendo apenas algumas dúvidas ou ressalvas a respeito dessa afirmação.
( ) Não tenho opinião formada a respeito.
( ) Discordo de praticamente todo o teor dessa afirmação, tendo apenas alguns pontos de
concordância em relação ao afirmado.
( ) Discordo totalmente da afirmação contida no enunciado.
13) Sinto, quando realizo atividades de ISP, a necessidade de suprir lacunas existentes nas
rotinas (normas) do meu setor de trabalho, para que a Unidade em que estou lotado
consiga ser eficiente contra a criminalidade.
( ) Concordo totalmente.
199

( ) Concordo, tendo apenas algumas dúvidas ou ressalvas a respeito dessa afirmação.


( ) Não tenho opinião formada a respeito.
( ) Discordo de praticamente todo o teor dessa afirmação, tendo apenas alguns pontos de
concordância em relação ao afirmado.
( ) Discordo totalmente da afirmação contida no enunciado.
14) Sinto que, se houver uma capacitação continuada, ainda que à distancia, dos
profissionais que atuam com a atividade de inteligência de segurança pública, isso poderá
proporcionar um aumento expressivo da eficiência da ISP da Unidade em que estou
lotado contra a criminalidade.
( ) Concordo totalmente.
( ) Concordo, tendo apenas algumas dúvidas ou ressalvas a respeito dessa afirmação.
( ) Não tenho opinião formada a respeito.
( ) Discordo de praticamente todo o teor dessa afirmação, tendo apenas alguns pontos de
concordância em relação ao afirmado.
( ) Discordo totalmente da afirmação contida no enunciado.
15) A união de esforços entre a Polícia Militar e o Ministério Público, para o combate a
ações criminosas, utilizando o “NIC” (Núcleo de Inteligência Criminal), é útil para
esclarecer ilícitos e prevenir o crime de forma mais efetiva do que os serviços prestados
unicamente pela ISP tem conseguido fazer.
( ) Concordo totalmente.
( ) Concordo, tendo apenas algumas dúvidas ou ressalvas a respeito dessa afirmação.
( ) Não tenho opinião formada a respeito.
( ) Discordo de praticamente todo o teor dessa afirmação, tendo apenas alguns pontos de
concordância em relação ao afirmado.
( ) Discordo totalmente da afirmação contida no enunciado.
POR FAVOR, COMENTE AQUI ESSA SUA RESPOSTA: __________________________
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