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Wiersbe - Efesios

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E f ésio s

ESBOÇO 1. Maridos e esposas - 5:18-33


Tema-chave: As riquezas do cristão em Cristo 2. Pais e filhos - 6:1-4
Versículo-chave: Efésios 1:3 3. Senhores e servos - 6:5-9
D. Andar em vitória - 6:10-24
l DOUTRINA: NOSSAS RIQUEZAS
EM CRISTO - CAPÍTULOS 1 - 3 CONTEÚDO
A. Nossos bens espirituais em Cristo - 1:4-14 1. Santos que vivem
1. Da parte do Pai - 1:4-6 (Ef 1:1-3)...................................... 8
2. Da parte do Filho - 1:7-12 2. Grandes riquezas
3. Da parte do Espírito - 1:13,14 (Ef 1:4-14)................................... 12
Primeira oração - pedindo iluminação - 3. O extrato bancário
1:15-23 (Ef 1:15-23)..................................17
B. Nossa situação espiritual em Cristo - 4. Fora do cemitério
2 :1-22 (Ef 2:1-10)................................... 21
1. Exaltados e assentados no trono - 2:1-10 5. A grande missão de paz
2. Reconciliados e colocados no templo - (Ef 2:11-22)..................................27
2 :11-22 6. O segredo é revelado
Segunda oração - pedindo capacitação - (Ef 3:1-13)................................... 33
3:1-21 7. Usem suas riquezas
(os w. 2-13 são um interlúdio) (Ef 3:14-21)..................................39
8. Vamos andar juntos
II. DEVER: NOSSAS (Ef 4:1-16)................................... 44
RESPONSABILIDADES EM 9. Vida nova, roupas novas
CRISTO - CAPÍTULOS 4 - 6 (Ef 4:17-32)..................................50
A. Andar em união - 4:1-16 10. Imitando nosso Pai
B. Andar em pureza - 4:17 - 5:17 (Ef 5:1-17)................................... 56
1. Andar de modo diferente dos outros 11. O lar é um pedaço do céu
gentios - 4:17-32 (Ef 5:18-33)..................................62
2. Andar em amor - 5:1-6 12. O senhorio de Cristo
3. Andar como filhos da luz - 5:7-14 (Ef 6:1-9)..................................... 68
4. Andar com cuidado - 5:15-17 13. Estamos no exército
C. Andar em harmonia - 5:18 - 6:9 (Ef 6:10-24)..................................74
1 Saulo de Tarso tornou-se Paulo, o após­
tolo aos gentios (At 9:15). Enquanto minis­
trava na igreja de Antioquia, foi chamado
pelo Espírito para levar o evangelho aos gen­
S a n t o s q u e V iv em tios e obedeceu (At 13:1-3). O Livro de Atos
registra três jornadas missionárias que leva­
E f é s ío s 1:1-3 ram Paulo a diversas partes do império ro­
mano em uma das maiores empreitadas
evangelísticas da história da Igreja. Paulo mi­
nistrou pela primeira vez em Éfeso por volta
do ano 53, mas não ficou na cidade (At
18:19-21). Dois anos depois, enquanto rea­

E
la entrou para a história como a "mulher lizava sua terceira jornada missionária, Pau­
mais sovina da América" e, no entanto, lo passou pelo menos dois anos em Éfeso e
quando morreu em 1916, "H etty" Green providenciou para que toda a região fosse
deixou um espólio estimado em mais de 100 evangelizada (At 19:1-20). Durante esses
milhões de dólares. Ela comia mingau de anos, fundou uma igreja forte na cidade
aveia frio para não gastar gás de cozinha. dedicada ao culto da deusa Diana. Para uma
Seu filho teve de sofrer uma amputação, pois descrição do ministério de Paulo em Éfeso,
ela demorou tanto tempo para encontrar ver Atos 20, e, para uma explicação sobre a
atendimento gratuito que o caso tornou-se oposição que o ministério de Paulo sofreu
incurável. Era rica e, no entanto, escolheu nesse local, ver Atos 19:21-41.
viver como indigente. Quase dez anos depois, Paulo escreveu
Excêntrica? Sem dúvida alguma! Malu­ a seus amigos queridos em Éfeso. O apósto­
ca? Talvez... mas não a ponto de alguém pro­ lo estava preso em Roma (Ef 3:1; 4:1; 6:20)
var isso. Foi tão insensata que apressou a e desejava compartilhar com esses cristãos
própria morte ao sofrer uma apoplexia, en­ as grandes verdades que o Senhor havia lhe
quanto discutia sobre as vantagens de be­ ensinado acerca de Cristo e da Igreja. A fim
ber leite desnatado! No entanto, inúmeros de entender melhor o contexto histórico, é
cristãos hoje em dia vivem como Hetty interessante comparar Efésios 6:21, 22 com
Green: possuem riquezas ilimitadas a sua dis­ Colossenses 4:7-9 e Filemom. Um escravo
posição e, no entanto, vivem como indigen­ chamado Onésimo fugiu de seu senhor,
tes. Foi para cristãos desse tipo que Paulo Filemom, que vivia em Colossos. Enquanto
escreveu a Epístola aos Efésios. estava em Roma, Onésimo encontrou-se
com Paulo e se converteu. Tíquico, um dos
1. O aut o r ( E f 1 :1 a ) pastores da igreja de Colossos, que talvez
Há certos nomes na história que identifica­ se reunia na casa de Filemom, também esta­
mos de imediato, e "Paulo" é um deles. Seu va em Roma para discutir alguns problemas
nome, originalmente, era "Saulo" (At 7:58); com Paulo. Assim, o apóstolo aproveitou a
e, uma vez que era da tribo de Benjamim presença desses dois homens e enviou três
(Fp 3:5), é provável que tenha recebido esse cartas a seus amigos: A Epístola aos Efésios,
nome por causa de Saul, o primeiro rei de a Epístola aos Colossenses e a Epístola a
Israel (1 Sm 9). Ao contrário de seu homôni­ Filemom. Ao mesmo tempo, enviou Onési­
mo, Saulo de Tarso era obediente e fiel em mo de volta a seu senhor.
seu serviço ao Senhor. Rabino devoto, Saulo Assim, a carta foi escrita em Roma por
tornou-se um líder do movimento anticristão volta do ano 62 d.C. Apesar de estar sendo
em Jerusalém (At 9:1, 2; Gl 1:13, 14). Mas, julgado, Paulo demonstrou sua preocupação
enquanto exercia essa atividade, Paulo foi com as igrejas que havia fundado. Como
"capturado" por Jesus Cristo e convertido apóstolo, "enviado com uma comissão", ti­
(At 9:3ss; 26). nha a obrigação de lhes ensinar a Palavra

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' f-M-f
E F É S I O S 1:1-3 9

de Deus e de procurar edificá-las na fé {Ef tirado "do m undo" e colocado "em Cristo".
4:11, 12). O cristão está no mundo fisicam ente, mas
não é do mundo espiritualmente (Jo 17:14­
2. A co n g reg ação (E f 1:1b, 2) 16). Com o um mergulhador, ele existe e atua
É de se surpreender que Paulo dirija sua car­ num am biente que lhe é estranho mediante
ta aos santos? Afinal, os santos são pessoas o uso de um equipam ento especial - nesse
que já morreram e que, em vida, alcança­ caso, a presença interior do Espírito Santo
ram tam anha proem inência espiritual que de Deus. Todo cristão verdadeiro possui o
receberam esse título especial: santos. O u Espírito Santo (Rm 8:9; 1 Co 6:19, 20), e é
será que não é bem assim? pelo poder do Espírito que os cristãos são
Nenhum a palavra do N ovo Testamento capazes de existir e de atuar no mundo.
sofreu mais do que o termo santo. Até mes­ Agora, a pergunta im portante: de que
mo o dicionário define um santo com o "um a maneira essas pessoas de Éfeso tornaram-se
pessoa oficialm ente recon hecida por sua santas? A resposta pode ser encontrada em
santidade de vid a". Q uem é encarregado duas palavras "fiéis" e "graça" (Ef 1:1, 2).
desse reconhecim ento oficial? Norm alm en­ Q uand o Paulo dirige sua carta aos "santos...
te, alguma instituição religiosa, e o proces­ e fiéis em Cristo Jesus", não está se dirigin­
so pelo qual o indivíduo torna-se um santo do a dois grupos diferentes. O termo fiel re­
é conhecido com o canonização. A vida da fere-se "àqueles que crêem em Cristo Jesus".
pessoa falecida é examinada com cuidado, Essas pessoas não eram salvas porque le­
a fim de averiguar se ela é qualificada para vavam uma vida fiel, mas sim porque de­
receber esse título. Se o caráter e a conduta positaram sua fé em Cristo e receberam a
da pessoa são considerados irrepreensíveis salvação. Esse fato fica claro em Efésios 1:12­
e se ela realizou pelo menos dois milagres, 14, 19.
então é qualificada para a canonização. O termo graça é usado doze vezes em
Por mais interessante que seja esse pro­ Efésios e se refere à "bondade de Deus para
cedim ento, não encontram os fundam ento com pessoas indignas". A graça e a fé apare­
para ele na Bíblia. Em nove ocasiões desta cem juntas com freqüência na Bíblia e, com
carta sucinta, Paulo dirige-se a seus leitores certeza, devem atuar juntas na salvação, pois
chamando-os de santos (Ef 1:1, 15, 18; 2:19; a única forma de experimentar a graça e a
3:8, 18; 4:12; 5:3; 6:18). São santos vivos, salvação é por m eio da fé (Ef 2:8, 9).
não mortos, apesar de, outrora, terem esta­ A expressão "em Cristo [Jesus]" é usada
do mortos "nos [seus] delitos e pecados" (Ef quinze vezes nessa carta! Descreve a situa­
2:1-3). Também fica claro que jam ais reali­ ção espiritual do cristão: ele é identificado
zaram algum milagre, apesar de terem expe­ com Cristo, está em Cristo e, portanto, pode
rim entado um m ilagre ao crer em Cristo lançar mão das riquezas de Cristo para sua
com o seu Salvador (Ef 2:4-10). vida diária.
O term o santo é apenas uma das muitas
designações usadas no N ovo Testam ento 3. O o b je tiv o (E f 1:3)
para descrever "aquele que creu em Jesus M esm o que trate de vários assuntos diferen­
Cristo com o Salvador". A pessoa está "viva" tes, cada livro da Bíblia tem seu tema e sua
não apenas fisicamente, mas também espi­ mensagem específicos. Gênesis é o livro dos
ritualmente (Ef 2:1). O s cristãos são chama­ princípios; M ateus é o livro do reino; Gálatas
dos de discípulos (At 9:1, 10, 19, 25, 26, 36, é o livro da liberdade. Efésios 1:3 apresenta
38), aqueles que são do Cam inho (At 9:2) e o tema desta epístola: as riquezas do cristão
santos (At 9:13, 32, 41). em Cristo.
A d esignação santo significa alguém A fo nte d e nossas b ênçãos. "Be n d ito
"separado". É relacionada a santificado, que o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo."
significa "colocado à parte". Q uando o peca­ Deus o Pai nos tornou ricos em Jesus Cris­
dor crê em Jesus Cristo com o Salvador, é to! Q uando nascemos de novo e passamos
10 E F É S I O S 1:1-3

a fazer parte da família de Deus, nascemos de Cristo, esse tal não é dele" (Rm 8:9). A
ricos. Por meio de Cristo, temos parte nas menos que tenhamos o testemunho do Espí­
riquezas da graça de Deus (Ef 1:7; 2:7), na rito (Rm 8:15, 16), não podemos lançar mão
glória de Deus (Ef 1:18; 3:16), na misericór­ das riquezas do Espírito.
dia de Deus (Ef 2:4) e nas "insondáveis ri­ A esfera das nossas bênçãos. Nossas
quezas de Cristo" (Ef 3:8). Nosso Pai celestial bênçãos encontram-se "nas regiões celestiais
não é pobre; ele é rico - e nos tornou ricos em Cristo", uma oração que talvez possa ser
em seu Filho. traduzida mais claramente por "nas coisas
J. Paul Getty, um dos homens mais abas­ do céu em Cristo". A pessoa não salva se inte­
tados do mundo, tinha um patrimônio esti­ ressa primeiramente pelas coisas da Terra,
mado de 1,3 milhões de dólares. A renda pois esse é o lugar onde ela vive. Jesus chama
semanal de alguns dos "xeiques do petró­ indivíduos desse tipo de "filhos do mundo"
leo" é de vários milhões. No entanto, toda (Lc 16:8). A vida cristã gira em torno do céu.
essa opulência não passa de uma ninharia, Sua cidadania encontra-se no céu (Fp 3:20);
se comparada às riquezas espirituais que seu nome está escrito no céu (Lc 10:20); seu
temos em Cristo. Nesta carta, Paulo expli­ Pai está no céu (Cl 3:1 ss). O evangelista D.
ca o que são essas riquezas e como pode­ L. Moody costumava advertir sobre pessoas
mos fazer uso disso para ter uma vida cristã que "pensavam tanto no céu a ponto de não
verdadeira. valerem coisa alguma na Terra", mas não é
A abrangência de nossas bênçãos. Te­ isso o que Paulo está descrevendo. As "re­
mos "toda sorte de bênção espiritual", uma giões celestiais" referem-se ao lugar onde
declaração que pode ser traduzida por "to­ Jesus Cristo encontra-se neste exato momen­
das as bênçãos do Espírito", com referência to (Ef 1:2) e onde o cristão está assentado
ao Espírito Santo de Deus. No Antigo Testa­ com ele (Ef 2:6). Nossas batalhas não são
mento, Deus prometeu bênçãos materiais a contra carne e sangue na Terra, mas sim con­
Israel, seu povo aqui na Terra, como recom­ tra as potestades satânicas "nas regiões ce­
pensa por sua obediência (Dt 28:1-13). Hoje, lestes" (Ef 6:12).
ele promete suprir todas as nossas necessi­ Na verdade, o cristão atua em duas es­
dades "segundo a sua riqueza em glória, há feras: na humana e na divina, na visível e na
de suprir, em Cristo Jesus" (Fp 4:19), mas invisível. Em termos físicos, encontra-se na Ter­
não promete nos resguardar da pobreza nem ra, em um corpo humano, mas em termos
da dor. O Pai nos deu todas as bênçãos do espirituais, encontra-se assentado com Cris­
Espírito, tudo de que precisamos para ter to na esfera celestial - esfera que oferece o
uma vida cristã bem-sucedida e gratifican- poder e a direção para a vida aqui na Terra.
te. O espiritual é mais importante do que o O presidente dos Estados Unidos não está
material. sempre em sua cadeira no gabinete da Casa
O Espírito é mencionado diversas vezes Branca, mas essa cadeira representa a es­
nessa carta, pois ele canaliza as riquezas do fera de sua vida e poder. Não importa onde
Pai para nós por meio do Filho. A falta de ele esteja, ele é o presidente, pois somen­
conhecimento ou de dependência da provi­ te ele tem o privilégio de ocupar esse lugar.
são do Espírito Santo corresponde a uma vida O mesmo acontece com o cristão: encon­
de pobreza espiritual. Não é de se admirar tra-se assentado nas regiões celestiais com
que Paulo tenha começado seu ministério Jesus Cristo, e essa é a base de sua vida e
em Éfeso perguntando a alguns cristãos poder.
professos se conheciam, de fato, o Espírito Quando Vitória era jovem, não lhe foi
Santo (At 19:1-7). Hoje se pode perguntar revelado que seria a próxima governante
aos que se dizem cristãos se receberam o da Inglaterra para que não se tornasse uma
Espírito Santo quando creram em Cristo. Se garotinha mimada. Quando, por fim, seu
a resposta for negativa, não houve salvação tutor permitiu que ela descobrisse por sua
verdadeira. "E, se alguém não tem o Espírito própria conta que, um dia, seria a rainha

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EFÉSIOS 1:1-3 11

da Inglaterra, ela reagiu declarando: "Então, riqueza que Cristo tem em sua Igreja, O
vou me comportar bem!" Sua vida seria apóstolo usou o termo "riquezas" anterior­
regida por seu cargo. Onde quer que esti­ mente, mas pode ser interessante observar
vesse, Vitória seria controlada pelo fato de outros termos "financeiros", como kança
que se assentava no trono da Inglaterra. (Ef 1:11,14,18; 5:5); p/en/tüc/e (Ef í :10,23;
Para os leitores de Paulo, era bastante 3:19; 4:13); enc/ier (4:10; 5:18), Paulo está
significativo ele estar escrevendo sobre ri­ dizendo: "sejam ricos!"
quezas, pois Éfeso era considerado o "ban­
co” da Ásia. A cidade abrigava uma das sete 4, A ANÁLISE
maravilhas do mundo, o templo magnífico A epístola de Paulo aos Efésíos é tão bem
de Diana, constituindo um centro não ape­ estruturada quanto o grande templo de
nas de idolatria, mas também de riquezas, Diana e contém belezas e riquezas ainda
Alguns dos maiores tesouros de arte do mun­ maiores! fieámosas riquezas pela fé e as
do antigo encontravam-se nesse tempio gran­ investimos por meio das obras. Sem esse
dioso. Em sua carta, Paulo compara a Igreja equilíbrio, nossos bens espirituais não nos
de Cristo com um templo e explica a grande trazem benefício algum.
2 Convém observar que Deus nos esco­
lheu mesmo antes de criar o universo, de
modo que nossa salvação deve-se inteira­
mente a sua graça, não a qualquer coisa que
G r a n d es R iq u ez a s tenhamos feito. Ele nos escolheu em Cristo,
não em nós mesmos. Também nos escolheu
E f é s ío s 1 :4 -14 com um propósito: para sermos santos e
irrepreensíveis. Na Bíblia, a eleição é sem­
pre para alguma coisa. É um privilégio que
traz consigo uma grande responsabilidade.
O pecador reage à graça de Deus con­
tra a própria vontade? Não, porque a graça

U
ma das tiras de história em quadrinhos de Deus cria dentro dele a disposição para
mais engraçadas que já vi mostrava um agir. O mistério da soberania divina e da res­
advogado todo empolado lendo o testamen­ ponsabilidade humana não será desvenda­
to de um cliente a um grupo de parentes do nesta vida. Tanto uma quanto a outra são
gananciosos. A legenda dizia: "Eu, John ensinadas na Bíblia (Jo 6:37) e são verdadei­
Jones, mental e fisicamente apto, gastei tudo ras e essenciais.
o que tinha!" Podemos observar que as três Pessoas
Quando Jesus escreveu seu testamento da Trindade encontram-se envolvidas na
para a Igreja, nos deu acesso a suas rique­ salvação (ver também 1 Pe 1:3). No que se
zas espirituais. Em vez de gastar tudo, Jesus refere a Deus Pai, fomos salvos quando ele
Cristo pagou por tudo. Sua morte na cruz e nos escolheu em Cristo na eternidade pas­
sua ressurreição viabilizaram nossa salvação. sada. Mas isso não é suficiente para concre­
Ele nos incluiu em seu testamento e tizar a salvação. No que se refere a Deus
morreu a fim de que esse testamento pu­ Filho, fomos salvos quando ele morreu por
desse entrar em vigor. Então, ressuscitou nós na cruz. No que se refere a Deus Espí­
dentre os mortos para se tornar nosso Advo­ rito, fomos salvos quando cedemos à sua
gado no céu e garantir que as cláusulas do persuasão e recebemos a Cristo como Sal­
testamento fossem devidamente cumpridas! vador. O que teve início na eternidade pas­
Nesta frase extensa, Paulo cita apenas sada cumpre-se no presente e se estende
algumas das bênçãos que fazem parte da para sempre!
nossa riqueza espiritual. Ele nos adotou (v. 5). Deparamo-nos
aqui com o verbo predestinar, que com tan­
1. B ên ç ã o s d e D eu s , o P a i ( E f 1 :4- 6) ta freqüência é interpretado de maneira equi­
f/e nos escolheu (v. 4). Esta é a doutrina vocada. De acordo com seu uso na Bíblia,
maravilhosa da eleição, uma doutrina que refere-se, essencialmente, ao que Deus faz
deixa alguns maravilhados e outros per­ pelos salvos. As Escrituras não ensinam, em
plexos. Um professor do seminário me dis­ parte alguma, que certas pessoas são pre­
se certa vez: "Tente explicar a eleição e pode destinadas para o inferno, pois esse termo
acabar perdendo o juízo; tente livrar-se dela refere-se apenas aos filhos de Deus. Predes­
e perderá a alma!" Todos os cristãos con­ tinar significa simplesmente "ordenar de an­
cordam que a salvação começa em Deus, temão, predeterminar". A eleição refere-se
não no ser humano. "Não fostes vós que a pessoas, enquanto a predestinação refere-
me escolhestes a mim; pelo contrário, eu se a propósitos. Os acontecimentos ligados
vos escolhi a vós outros" (Jo 15:16). Aban­ à crucificação de Cristo foram predestina­
donado aos próprios recursos, o pecador dos (At 4:25-28). Deus predestinou nossa
não procura Deus (Rm 3:10, 11); em seu adoração (Ef 1:5) e nossa conformidade com
amor, é Deus quem procura o pecador (Lc Cristo (Rm 8:29, 30), bem como nossa he­
19:10). rança futura (Ef 1:11).
E F É S I O S 1 :4-1 4 13

A adoção possui sentido duplo, presen­ romano cerca de seis milhões de escravos
te e futuro. N ão entramos na família de Deus comprados e vendidos com o se fossem ob­
por adoção, mas sim por regeneração - pelo jetos. N o entanto, era possível com prar um
novo nascim ento (Jo 3:1-18; 1 Pe 1:22-25). escravo para libertá-lo, e foi isso o que Jesus
A adoção é o ato pelo qual Deus coloca os fez por nós. Pagou com o próprio sangue
que nasceram de novo em uma posição de (1 Pe 1:18ss) e, desse modo, nos libertou da
filhos adultos dentro de sua família. Faz isso Lei (G l 5:1), da escravidão do pecado (Rm
para que possamos com eçar de im ediato a 6) e do poder de Satanás e do mundo (Gl
nos apropriar de nossa herança e a desfru­ 1:4; Cl 1:13, 14). Se fôssemos escravos, se­
tar nossas riquezas espirituais! Um bebê não ríamos pobres, mas somos ricos porque so­
pode herdar legalmente uma herança (G l 4:1 - mos filhos!
7), mas um adulto sim... e deve fazer isso! E le nos p erd oou (v. 7b). O verbo per­
Isso significa que não precisamos esperar até doar significa "levar em bora". Essa idéia nos
nos tornarm os experientes na fé para nos traz à memória o ritual realizado em Israel
apropriarmos de nossas riquezas em Cristo. no D ia da Expiação, quando o sum o sa­
O sentido futuro da adoção encontra-se cerdote enviava o bode expiatório para o
em Romanos 8:22, 23, o corpo glorificado deserto (Lv 16). Primeiro, o sacerdote sacri­
que receberem os quando Jesus voltar. Dian­ ficava um de dois bodes e aspergia o san­
te de Deus, já somos considerados adultos gue diante de Deus sobre o propiciatório.
em sua família, mas o mundo não consegue Em seguida, confessava os pecados de Is­
ver isso. Q uando Cristo voltar, essa adoção rael, enquanto impunha as mãos sobre o ou­
se tornará pública, para que todos vejam! tro bode que, depois, era levado ao deserto
Ele nos aceito u (v. 6). N ão podem os nos para nunca mais ser visto. Cristo morreu para
tornar aceitáveis a Deus; mas ele, em sua levar nossos pecados embora, a fim de que
graça, providenciou para que fôssemos acei­ nunca mais sejam vistos (SI 103:12; Jo 1:29).
tos em Cristo. Essa é nossa posição eterna e N ão há qualquer acusação registrada con­
imutável. A segunda parte desse versículo tra nós, pois nossos pecados foram levados
também pode ser traduzida literalmente por embora! O pecado nos em pobrece, mas a
"[a graça] da qual ele nos cobriu no Am a­ graça nos enriquece!
do". A idéia é a mesma. Pela graça de Deus E le nos revelou a vontade de D eus (w .
em Cristo, somos aceitos por ele. A o escre­ 8-10). Esta epístola fala com freqüência do
ver a epístola a Filem om para incentivá-lo a plano de Deus para seu povo, plano não ple­
aceitar de volta seu escravo fugido, Onésim o, nam ente com p ree nd id o nem m esm o no
Paulo usa a mesma argumentação. "Pagarei tempo de Paulo. O termo m istério não tem
qualquer coisa que porventura ele lhe deva. relação alguma com coisas sinistras. Antes,
Receba-o com o receberias a m im " (Fm 17­ refere-se a "um 'segredo sagrado' outrora
19, parafraseado). Não é difícil ver o paralelo. oculto , mas agora revelad o ao po vo de
Deus". Nós, cristãos, fazemos parte do "cír­
2. B ên ç ã o s de D eu s , o F il h o culo mais íntim o" de Deus. Tomamos co ­
( E f 1 :7 - 1 2 ) nhecim ento do segredo de que, um dia,
N ão devem os imaginar que cada Pessoa da Deus unirá todas as coisas em Cristo. Des­
Trindade opere de m odo independente, pois de que o pecado entrou no mundo, tudo se
todas trabalharam juntas para possibilitar encontra em um processo de desintegração.
nossa salvação. N o entanto, cada Pessoa tem Prim eiro, o hom em foi separado de Deus
um ministério especial a realizar, um "dep ó­ (G n 3). Depois, o homem foi separado do
sito espiritual" com o qual contribui em nos­ homem, quando Caim matou Abel (Gn 4).
sa vida. O s seres humanos tentaram manter algum
Ele nos rem iu (v. 7a). O verbo rem ir sig­ tipo de unidade ao construir a torre de Babel
nifica "com p rar e libertar m ediante o pa­ (G n 11), mas Deus julgou-os e dispersou-os
gam ento de um preço". Havia no império pelo mundo afora. Deus cham ou Abraão e
14 E F É S I O S 1 :4-1 4

fez distinção entre judeus e gentios, man­ Os efésios ouviram "a palavra da ver­
tendo essa distinção até a morte de Cristo dade" e descobriram que era, para eles, "o
na cruz. O pecado continua a causar sepa­ evangelho da vossa salvação" (Ef 1:13). Ape­
ração por toda parte, mas em Cristo Deus sar de a Bíblia ensinar a eleição, também
reunirá todas as coisas no apogeu das eras. declara: "Ide por todo o mundo e pregai o
Fazemos parte desse plano eterno extraor­ evangelho a toda criatura" (M c 16:15). A
dinário! pessoa que está evangelizando não discute
Ele nos fez herança (w . 11, 12). Algumas a eleição com os não salvos, pois se trata de
versões da Bíblia dizem "no qual também um "segredo de família" dos santos. Simples­
obtivemos uma herança", mas essa frase mente anuncia a verdade do evangelho e
pode ser traduzida por "no qual fomos tam­ convida os outros a crerem em Cristo. O
bém feitos herança". As duas afirmações são Espírito Santo cuida do resto. D. L. Moody
verdadeiras, e uma inclui a outra. Em Cristo, costumava orar: "Senhor, salva os eleitos e,
temos uma herança maravilhosa (1 Pe 1:1­ depois, elege mais alguns!" O mesmo Deus
4), e em Cristo somos uma herança. Somos que determina o fim - a salvação das almas
preciosos para ele. Que preço altíssimo Deus - também determina os meios para alcan­
pagou para nos comprar e nos tornar parte çar esse fim - a pregação do evangelho no
de sua herança! Deus, o Filho, é o presen­ poder do Espírito.
te de amor do Pai para nós; e nós somos o Os efésios ouviram a Palavra e creram, e
presente de amor do Pai para o Filho. Ao ler foi essa fé que os salvou (Ef 2:8, 9). É um
João 17, é possível observar quantas vezes padrão de acordo com o que Paulo escre­
Cristo nos chama de "aqueles que me des­ veu em Romanos 10:13-15. Convém ler essa
te". A Igreja é o corpo de Cristo {Ef 1:22, passagem com grande atenção, pois consti­
23), seu edifício (Ef 2:19-22), e sua noiva (Ef tui o plano de Deus para o evangelismo.
5:22, 23); a herança futura de Cristo en­ Quando os efésios creram, foram "selados
contra-se entrelaçada com sua Igreja. Somos com o Espírito Santo". A expressão "tendo
"co-herdeiros com Cristo" (Rm 8:1 7), o que nele também crido" indica que receberam
significa que ele não pode apropriar-se de o Espírito no mesmo instante em que cre­
sua herança sem nós! ram em Cristo. Receber o Espírito não é uma
experiência subseqüente à conversão (ler At
3. B ên ç ã o s d e D eu s , o E s pír it o San t o 10:34-48).
(E f 1 :1 3 , 1 4 ) A que se refere esse ato de selar realiza­
Da eternidade passada (Ef 1:4-6) e da histó­ do pelo Espírito Santo? Em primeiro lugar,
ria passada (Ef 1:7-12), vamos agora para a indica uma transação concluída. Até hoje,
experiência imediata dos cristãos efésios. O quando documentos legais importantes são
Espírito Santo havia operado na vida deles, tramitados, recebem um selo oficial para in­
e sabiam disso. dicar a conclusão da transação. Esse selo
f/e nos selou (v. 13). O processo todo também denota posse: Deus colocou seu
da salvação é apresentado nesse versículo, selo em nós, pois nos comprou, de modo
de modo que devemos examiná-lo com cui­ que pertencemos a ele (1 Co 6:19, 20). Indi­
dado. Ele nos mostra de que maneira um ca, ainda, segurança e proteção. O selo ro­
pecador torna-se um santo. Primeiro, o pe­ mano colocado no túmulo de Jesus tinha
cador ouve o evangelho da salvação. São as esse significado (M t 27:62-66). Assim, o cris­
boas-novas de que Cristo morreu por nossos tão pertence a Deus e está seguro e pro­
pecados, foi sepultado e ressuscitou (1 Co tegido, pois faz parte de uma transação
15:1 ss). Os efésios eram gentios, e o evan­ completada. De acordo com João 14:16,17,
gelho foi dado para a salvação "primeiro do o Espírito Santo habita no cristão para sem­
judeu" (Rm 1:16). Mas Paulo, um judeu, le­ pre. É possível entristecer o Espírito e, desse
vou o evangelho aos gentios ao comparti­ modo, perder as bênçãos de seu ministério
lhar com eles a Palavra de Deus. (Ef 4:30), mas ele não nos abandona.
E F É S I O S 1 :4-1 4 15

Um selo tam bém pode ser usado com o N este cap ítulo, exam inam os algum as
m arca de au te n ticid a d e . Assim co m o a doutrinas bíblicas fundam entais, todas rela­
assinatura numa carta atesta a genuinidade cionadas ao tema das nossas riquezas em
do docum ento, a presença do Espírito pro­ Cristo. Pode ser proveitoso recapitular o que
va que o cristão é autêntico. "E, se alguém esses versículos ensinam.
não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é 1. As verdadeiras riquezas vêm de Deus.
d ele" (Rm 8:9). O que garante a autentici­ É um grande estím ulo saber que o Pai, o
dade de nossa fé não é apenas a confissão Filho e o Espírito Santo estão operando em
de nossos lábios, nossas atividades religio­ nosso favor, a fim de nos enriquecer. D eus
sas ou boas obras, mas também o testemu­ não apenas nos abençoa "ricam ente para
nho do Espírito. nosso aprazim ento" (1 Tm 6:17), mas tam­
E le nos d eu um p e n h o r (v. 14). Penhor bém nos conced e riquezas eternas sem as
é um a palavra fascin ante! N o tem po de quais todos os outros bens não teriam va­
Paulo, significava "u m a entrada paga para lor algum.
garantir a com pra final de um bem ou pro­ Um a esposa aflita procurou um conse­
p rie d ad e ". A in da hoje, costuma-se pagar lheiro cristão e lhe contou a triste história
uma entrada na com pra de um im óvel ou de seu casam ento que estava preste a che­
de algum outro bem de valor mais eleva­ gar ao fim.
do. O Espírito Santo é a "p rim eira presta­ - M as temos tanta coisa! - com entou a
çã o " e garantia de Deus a seus filhos de mulher várias vezes. - Veja só este anel de
que ele term inará sua obra e, no devido diam ante em meu dedo. Vale uma fortuna!
tem po, os conduzirá à glória. O "resgate Temos uma m ansão cara em um condom í­
da sua p ropried ad e" refere-se à redenção nio de alto padrão. Temos três carros e uma
do corp o na volta de Cristo (Rm 8:18-23; casa nas montanhas. Temos tudo o que di­
1 jo 3:1-3). Esse "resg ate" dá-se em três nheiro pode com prar!
estágios: - É bom ter as coisas que o dinheiro
pode com prar - o conselheiro lhe respon­
• Fomos remidos pela fé em Jesus Cristo deu -, desde que não perca as coisas que
(Ef 1:7). o dinheiro não pode com prar. D e que lhe
• Estamos sendo remidos à medida que adiante ter uma mansão, se você não tem
o Espírito Santo opera em nossa vida um lar? D e que lhe serve um anel caríssi­
e nos torna mais semelhantes a Cristo mo, se vo cê não tem am or?
(Rm 8:1-4). Em Cristo, temos "tudo o que dinheiro
• Seremos remidos quando Cristo voltar não pode com prar", e essas riquezas espiri­
e nos tornarmos como ele. tuais dão acesso a todos os bens da vasta
criação de Deus. Desfrutam os as dádivas
N o entanto, o term o traduzido por penhor porque conhecem os e amamos o Doador.
tam bém significa um a "aliança de noivado". 2. Todas essas riquezas são concedidas
É assim que esse term o costum a ser usado pela graça de D eus e para sua glória. É in­
hoje em dia na G récia. Afinal, o anel de teressante o bservar que, depois de cad a
noivado não é uma garantia de que certas seção principal em Efésios 1:4-14, Paulo
promessas serão cum pridas? Nosso relacio­ acrescenta o propósito dessas dádivas. Por
nam ento com Deus, por m eio de Cristo, que Deus, o Pai, nos escolheu, adotou e
não é simplesmente de caráter com ercial; é aceitou? "Para louvor da glória de sua gra­
uma experiência pessoal de amor. Cristo é o ça" (Ef 1:6). Por que Deus, o Filho, nos re­
noivo e a Igreja é a noiva. Sabem os que ele miu, perdoou, revelou a nós a vontade de
voltará para tom ar sua noiva para si, pois D eus e nos fez parte da herança de Deus?
ele nos fez essa promessa e nos deu o Esptri- "A fim de sermos para louvor da sua glória"
to com o "aliança de noivado". Q u e maior (Ef 1:12). Por que Deus, o Espírito, nos selou
garantia poderíam os querer? e se tornou a garantia das nossas bênçãos
16 E F É S I O S 1 :4-1 4

futuras? "[Para] louvor da sua glória" (Ef dos dois percebeu que o filho pequeno esta­
1:14). va ouvindo. Por fim, o menino interrompeu
Muitas vezes, imaginamos que o motivo a conversa e sugeriu:
principal pelo qual Deus salva os pecadores - É simples: é só escrever num daqueles
é sua compaixão por eles ou seu desejo de pedaços de papel...
livrá-los do julgamento eterno; mas o propó­ O menino ainda não entendia que era
sito supremo de Deus é sua glória. A cria­ necessário ter dinheiro no banco para cobrir
ção revela sua sabedoria e poder, enquanto o que fosse escrito "num daqueles pedaços
a Igreja revela seu amor e graça. Não pode­ de papel". Mas, tratando-se de nossas rique­
mos fazer coisa alguma para conquistar ou zas espirituais, esse é um problema que nun­
merecer essas riquezas espirituais; só nos ca enfrentamos.
resta recebê-las pela graça, mediante a fé. Charles Spurgeon escreveu um peque­
3. Essas riquezas são apenas o começo! no livro de devocionais chamado Um talão
Há sempre mais riquezas espirituais das de cheques do banco da fé. Nele, oferecia
quais podemos nos apropriar no Senhor em uma promessa da Bíblia para cada dia do
nossa jornada com ele. A Bíblia é nosso guia; ano acompanhada de uma mensagem de-
o Espírito Santo é nosso Mestre. Ao sondar vocional curta. Descrevia cada promessa
a Palavra de Deus, descobrimos riquezas como sendo tão real quanto dinheiro no
cada vez maiores que possuímos em Cristo, banco a qualquer um que se apropriasse dela
planejadas pelo Pai, compradas pelo Filho e pela fé, como quem escreve um cheque de
oferecidas pelo Espírito. Não temos necessi­ um valor que se encontra em sua conta ban­
dade alguma de viver em pobreza quando cária. Pela fé, podemos nos apropriar das
toda a riqueza de Deus está a nosso dispor! promessas de Deus e lançar mão de sua ri­
Um amigo meu discutia alguns proble­ queza ilimitada para suprir todas as nossas
mas financeiros com a esposa, e nenhum necessidades.

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que estavam guardados num dos depósitos
3 de Hearst. O magnata havia procurado de­
sesperadamente algo que já lhe pertencia!
Se houvesse olhado a relação de seus pró­
O E x t r a t o B a n c á r io prios tesouros, teria poupado um bocado
de trabalho e dinheiro.
Ef é s io s 1 :1 5 -2 3 O desejo de Paulo era que os cristãos
de Éfeso entendessem a grande riqueza que
tinham em Cristo. O apóstolo sabia da fé e
do amor dos efésios e se regozijava com eles.
A vida cristã possui duas dim ensões insepa­
ráveis: a fé em Deus e o am or aos homens.

N
o dia 6 de janeiro de 1822, a esposa N o entanto, Paulo sabia que a fé e o am or
de um pastor pobre na Alem anha deu eram apenas o com eço. H avia muito mais
à luz um menino. M al sabia ela que, um dia, para os efésios descobrirem, e foi por isso
seu filho ficaria conhecido no mundo inteiro que o apóstolo orou por eles e por nós.
e se tornaria extrem am ente rico. Q uan d o Nas orações que Paulo fez na prisão (Ef
Heinrich Schliem ann tinha 7 anos de idade, 1:15-23; 3:14-21; Fp 1:9-11; Cl 1:9-12), en­
ficou fascinado com uma gravura que retra­ contram os as bênçãos que desejava que
tava a antiga cidade de Tróia em chamas. seus convertidos desfrutassem. Em nenhu­
Ao contrário da maioria das pessoas, Heinrich ma dessas orações, ele pede coisas materiais.
acreditava que os dois grandes poemas de Sua ênfase é sobre a percepção espiritual e
Hom ero, a Ilíada e a Odisséia, eram basea­ sobre o verdadeiro caráter cristão. N ão pede
dos em fatos reais e se pôs a provar sua con­ que Deus lhes dê aquilo que não têm, mas
vicção. Em 1873, descobriu o local da antiga sim que Deus lhes revele o que já possuem.
cidade de Tróia, além de um tesouro fabulo­ Antes de estudar os quatro pedidos de
so, que contrabandeou para fora do país, Paulo em sua "súplica por ilum inação", de­
provocando a ira do governo turco. Schlie­ vem os observar dois fatos. Em primeiro lugar,
mann tornou-se um homem rico e famoso, esse esclarecim ento vem do Espírito Santo.
pois ousou acreditar num relato antigo e agiu Ele é o "Espírito de sabedoria e entendim en­
em função de sua fé. to" (Is 11:2; Jo 14:25, 26; 16:12-14). O ser
Descobrim os que, quando aceitam os a hum ano não é capaz de com preender as
Cristo, "nascem os ricos". M as não basta sa­ coisas de Deus contando apenas com sua
ber esse fato; devem os também crescer no mente natural. Precisa que o Espírito o ilumi­
entendim ento do que são nossas riquezas, ne (1 Co 2:9-16). O Espírito Santo revela a
a fim de usá-las para a glória de Deus. M ui­ verdade da Palavra e, então, nos dá a sabe­
tos cristãos nunca verificam seu "extrato ban­ doria para compreendê-la e aplicá-la. Também
cário " para descobrir as riquezas espirituais nos concede o poder - a capacitação - para
abundantes que Deus depositou na conta colocar a verdade em prática (Ef 3:14-21).
deles por meio de Jesus Cristo. São com o o Em segundo iugar, essa ilum inação é
falecido editor de jornais W illiam Randolph dada ao coração daquele que crê (Ef 1:18).
Hearst, que investiu uma fortuna para cole­ Consideramos o coração a parte em ocional
cionar obras de arte do mundo todo. Um do ser humano, mas, na Bíblia, ele represen­
dia, Hearst deparou-se com a descrição de ta o ser interior e inclui as em oções, a mente
alguns objetos de valor que desejou incluir e a volição. O ser interior, o coração, possui
em sua coleção e enviou seu agente para o faculdades espirituais paralelas aos sentidos
exterior a fim de encontrar as tais peças. do corpo. Pode ver (SI 119:18; Jo 3:3), ouvir
Depois de meses de busca, o agente enviou- (M t 13:9; H b 5:11), provar (SI 34:8; 1 Pe 2:3),
lhe um relatório contando que finalm ente cheirar (Fp 4:18; 2 Co 2:14) e tocar (At 17:2 7).
havia achado os tesouros e com unicando Era a isso que Jesus se referia quando disse
18 E F É S I O S 1 :1 5-23

do povo: "vendo, não vêem; e, ouvindo, não derrotar o inimigo, mas esse não é o propó­
ouvem" {M t 13:13). A incapacidade de ver sito maior do texto bíblico.
e compreender as coisas espirituais não deve
ser atribuída à inteligência, mas sim ao cora­ 2. P a r a c o n h eç er m o s o c h a ma men t o
ção. Os oíhos do coração devem ser aber­ d e D e u s ( E f 1 :1 8 a )
tos pelo Espírito de Deus. 0 termo chamado é de grande importância
para o vocabulário cristão. A palavra igreja é
1. P a r a c o n h e ç e r m o s a D e u s uma combinação de dois termos gregos que j
( E f 1 :1 7 b) significam "chamado para fora". Paulo não j

Trata-se, evidentemente, da mais elevada de se cansava de testemunhar que Deus o havia j

todas as formas de conhecimento. O ateu chamado "pela sua graça" (Gl 1:15); e lem- :
afirma que não há Deus a ser conhecido, e brou a Timóteo que o cristão possui uma "san- j
o agnóstico afirma que, se há um Deus, não ta vocação [chamado]" (2 Tm 1:9). Fomos j

temos como conhecê-lo. No entanto, Paulo "[chamados] das trevas para a sua mara- j

teve um encontro com Deus na pessoa de vilhosa luz" (1 Pe 2:9), e até mesmo "[cha­
Jesus Cristo e sabia que um ser humano não mados] à sua eterna glória" (1 Pe 5:10). O
é capaz de entender verdadeiramente coisa chamamento de Deus se dá por causa de
alguma sem o conhecimento de Deus. sua graça, não de algum mérito que por- :
Essa ignorância intencional de Deus ventura tenhamos.
conduziu a humanidade à corrupção e à Paulo deseja que nos conscientizemos
condenação. Em Romanos 1:18ss, Paulo da esperança que possuímos em virtude des­
descreve os estágios da degeneração huma­ se chamamento (Ef 4:4). Alguns chamamen­
na: ignorar a Deus deliberadamente, dedi­ tos não oferecem esperança alguma, mas
car-se à idolatria (colocar uma mentira no nosso chamamento em Cristo nos garante
lugar da verdade) e, por fim, se entregar à um futuro maravilhoso. É importante lembrar
imoralidade e à indecência. Onde isso co­ sempre que, na Bíblia, o termo esperança
meça? Na recusa em conhecer a Deus como não significa "espero que isso aconteça",
Criador, Sustentador, Governante, Salvador como uma criança que espera ganhar uma
e Juiz. bicicleta no Natal. Esse termo bíblico impli­
O cristão deve crescer no conhecimen­ ca "certeza quanto ao futuro". O cristão es­
to de Deus. A salvação é o conhecimento pera, evidentemente, pela volta de Jesus
pessoal de Deus (Jo 17:3). A santificação é Cristo para buscar sua Igreja (1 Ts 4:13-18;
o conhecimento crescente de Deus (Fp 1 Jo 3:1-3). Quando estávamos perdidos,
3:10). A glorificação é o conhecimento per­ "não [tínhamos] esperança" (Ef 2:12); mas
feito de Deus (1 Co 13:9-12). Uma vez que em Jesus, temos "uma viva esperança" (1 Pe
fomos criados à imagem de Deus (Gn 1:26­ 1:3) que nos dá ânimo a cada dia.
28), quanto melhor o conhecermos, melhor Kenneth Chafin, um conhecido escritor
conheceremos a nós mesmos e uns aos ou­ batista, conta a história de um pastor e de
tros. Não basta conhecer a Deus somente um diácono que foram visitar uma família
como Salvador. Devemos conhecê-lo como não cristã que estava indo aos cultos em
Pai, Amigo e Guia, e, quanto melhor o co­ sua igreja. Ao parar o carro em frente à casa,
nhecermos, mais gratificante será nossa vida viram que era quase uma mansão, cercada
espiritual. por um gramado impecável. Havia dois car­
Certa vez, um cristão comentou comigo ros na garagem e, por uma janela panorâ­
depois de um estudo bíblico: mica, podia-se ver o pai lá dentro, sentado
- Foi bom eu ter vindo hoje! Aprendi numa grande poltrona, assistindo à televi­
dois versículos para usar contra meu vizinho são. O diácono voltou-se para o pastor e
insuportável! perguntou:
Sem dúvida, há ocasiões em que a Pa­ - Que boas-novas temos para anunciar
lavra de Deus é como uma espada para a alguém como e/e?

. -I .11 4h ..I i .■ ht ..I i K H l» Ui- n ' I ‘ II I I. 'I | 1 H|M|N " '| l < * l» ‘ ■I ' ■
■ ■n >■ - ii ■■Ml'
E F É S I O S 1 :1 5-23 19

Com o é fácil confundir preços com va­ a viver de maneira dedicada e consagrada
lores. Éfeso era uma cidade rica. Abrigava o ao Senhor.
tem plo de Diana, uma das m aravilhas do
mundo antigo. Hoje, apesar de ser um pa­ 4. P a r a c o n h ec er m o s o po d e r de
raíso arqueológico, perdeu sua riqueza e D eu s (E f 1 :1 9 - 2 3 )
esplendor. M as neste exato m om ento, os Ao nos tornar sua herança, D eus demonstra
cristãos que viveram em Éfeso estão no céu, seu amor. A o nos prometer um futuro mara­
desfrutando a glória de Deus! vilhoso, ele estimula nossa esperança. Paulo
A esperança referente a nosso chamado oferece algo para desafiar nossa fé: "a su­
deve ser uma força dinâm ica em nossa vida, prema grandeza do seu poder para com os
estimulando-nos a ser puros (1 Jo 2:28 - 3:3), que crem os" (Ef 1:19). Essa verdade é tão
obedientes (H b 13:17) e fiéis (Lc 12:42-48). m agnífica que Paulo usa uma porção de
O fato de que, um dia, verem os Cristo e se­ palavras diferentes do vocabulário grego para
remos com o ele deve nos m otivar a viver mostrá-la com clareza: dunamis - "poder",
com o Cristo hoje. com o nas palavras dínam o e dinamite; ener-
geia - "o peração", com o em energia; kratos
3. P ar a c o n h e c e r m o s a s r iq u e z a s de - "forte"; ischus - "poder". Efésios 1:19 pode
D eu s (E f 1 :1 8 b ) ser traduzido por: "E qual a grandeza insu­
Essa oração não se refere à nossa herança perável de seu poder para conosco que cre­
em Cristo (Ef 1:11), mas sim à herança dele mos, segundo a operação do poder da sua
em nós. Trata-se de uma verdade extraordi­ força". O apóstolo está se referindo à ener­
nária - que Deus nos considera parte de gia divina, dinâm ica e eterna que se encon­
sua grande riqueza! Assim com o a riqueza tra a nosso dispor!
de uma pessoa traz honra para seu nome, a Afinal, de que adianta possuir riquezas
Igreja tam bém glorificará a Deus por causa quando não se tem energia para usá-las? O u
do que ele investiu nos santos. Q uando Je­ o m edo de que ladrões a levarão é tanto
sus Cristo voltar, viverem os "para louvor da que não se é capaz de desfrutá-las? John D.
glória de sua graça" (Ef 1:6). Rockefeller foi o primeiro bilionário do mun­
Deus nos trata com base no futuro, não do. Diz-se que, durante muitos anos, ele vi­
no passado. Q uand o G id eão foi covarde, veu à base de leite e biscoitos por causa de
Deus lhe disse: "O S e n h o r é contigo, homem problemas de estômago decorrentes de uma
valente" (Jz 6:12). E Jesus declarou ao irmão preocupação excessiva com suas riquezas.
de André: "Tu és Simão, o filho de João; tu Raram ente desfrutava um a boa noite de
serás cham ado Cefas (que quer dizer Pedro)" sono e sempre tinha guardas a sua porta.
(Jo 1:42). Rico, porém miserável! Q uando com eçou a
G ideão tornou-se um homem de grande dividir sua riqueza com outras pessoas por
bravura, e Sim ão tornou-se Pedro, uma ro­ meio de grandes projetos filantrópicos, sua
cha. Nós, cristãos, vivem os no futuro; nossa saúde m elhorou consideravelm ente, e ele
vida é controlada por aquilo que seremos viveu até uma idade avançada.
quando Cristo voltar. Um a vez que somos he­ Nós, cristãos, precisamos de poder por
rança de Deus, vivem os de modo a lhe agra­ vários motivos. Em primeiro lugar, somos fra­
dar e a glorificá-lo. cos demais por natureza para dar o devido
Essa verdade indica que Cristo não en­ valor e nos apropriarm os dessas riquezas, a
trará em sua glória prom etida até que a Igre­ fim de usá-las corretamente. "O espírito, na
ja esteja presente para compartilhá-la com verdade, está pronto, mas a carne é fraca"
ele. Foi isso que ele pediu antes de morrer, (M t 26:41). Entregar essa riqueza espiritual
e sua oração será respondida (Jo 1 7:24). imensa a um simples ser humano, vivendo
Cristo será glorificado em nós (2 Ts 1:10), e com sabedoria e força humanas, seria com o
nós serem os glorificados nele (C l 3:4). A entregar uma bom ba atômica a uma crian­
consciência desse fato deve levar o cristão ça de 2 anos de idade. O poder de Deus
20 E F É S I O S 1:15-23

capacita-nos para que usemos as riquezas explica isso em mais detalhes posteriormen­
de Deus. te.) Também nos encontramos assentados
No entanto, há um segundo motivo pelo nos lugares celestiais (Ef 2:6), e todas as coi­
qual precisamos do poder de Deus. Há ini­ sas estão debaixo de nossos pés.
migos que desejam tomar essas riquezas de Não é de se admirar que Paulo deseje
nós (Ef 1:21; 6:11, 12). Jamais seríamos ca­ que saibamos da "suprema grandeza do
pazes de derrotar esses adversários espiri­ seu poder para com os que cremos"! Sem
tuais com as próprias forças, mas é possível esse poder, não é possível lançar mão de
fazê-lo pelo poder do Espírito. Paulo tem nossa grande riqueza em Cristo.
como objetivo conscientizar-nos da grande­ Lembro-me de acompanhar uma senho­
za do poder de Deus, de modo que não ra de nossa igreja ao hospital para tentar
falhemos no uso de nossas riquezas e que convencer o marido dela a assinar um do­
não sejamos privados delas pelo inimigo. cumento autorizando-a a usar a conta cor­
A ressurreição de Jesus Cristo manifes­ rente dele para pagar algumas dívidas. O
tou esse poder. No Antigo Testamento, as homem estava tão debilitado que não con­
pessoas mediam o poder de Deus por sua seguiu assinar o documento. Por fim, diante
criação (Is 40:12-27) ou pelo milagre do de algumas testemunhas, ele fez um X no
êxodo de Israel do Egito (Jr 16:14). Hoje em papel. A fraqueza dele quase privou a espo­
dia, porém, medimos o poder de Deus pelo sa de seus bens.
milagre da ressurreição de Cristo. Ela não se Por intermédio de Cristo, que ressuscitou
limita a Cristo ter sido trazido de volta dos e subiu ao céu, o poder do Espírito Santo
mortos, pois ele também subiu ao céu e está encontra-se à disposição de todos os cris­
assentado no lugar de autoridade, à destra tãos, pela fé. Seu poder é "para com os que
de Deus. Ele não é somente nosso Salvador; cremos" (Ef 1:19). É a graça que provê as
também é Soberano (At 2:25-36). Nenhuma riquezas, mas é a fé que se apropria delas.
autoridade ou potestade - seja humana ou Somos salvos "pela graça [...] mediante a fé"
espiritual - é maior do que Jesus Cristo, o (Ef 2:8, 9), e vivemos "pela graça de Deus"
Filho exaltado de Deus. Ele está "acima de (1 Co 15:10).
tudo" e nenhum inimigo futuro poderá Nos quatro Evangelhos, vê-se o poder de
vencê-lo, pois ele já foi exaltado muito aci­ Deus operando no ministério de Jesus Cristo,
ma de todas as potências. mas no Livro de Atos, vê-se o mesmo poder
Mas de que maneira isso se aplica a nós operando em homens e mulheres comuns,
hoje? Em Efésios 1:22, 23, Paulo esclarece a membros do corpo de Cristo. Pedro passou
aplicação prática. Pelo fato de sermos cris­ por uma transformação extraordinária entre
tãos, fazemos parte da Igreja, o corpo de o fim dos Evangelhos e o começo de Atos. A
Cristo, e ele é o Cabeça. Isso significa que que se deveu essa mudança tão radical? Ao
existe uma ligação viva entre nós e Cristo. poder da ressurreição de Jesus Cristo (At 1:8).
Em termos físicos, a cabeça controla o cor­ A maior falta de energia hoje em dia não
po e garante seu funcionamento adequado. acontece em nossas grandes cidades e a
Danos causados a certas regiões do cérebro maior falta de combustível não afeta nossos
podem provocar deficiências e paralisia a carros. Falta energia, combustível e poder
partes correspondentes do corpo. Cristo é em nossa vida. A oração de Paulo será res­
nosso Cabeça espiritual. Somos ligados a ele pondida em sua vida? Você começará, a
por meio do Espírito como membros de seu partir de hoje, a conhecer por experiência
corpo. Isso significa que temos parte em sua própria o ser de Deus - seu chamamento,
ressurreição, ascensão e exaltação. (Paulo suas riquezas e seu poder?

i | , -IN I , . .I |t| 4- ■ II IIW l|i' I . ' I | M| | 1 . HjM|H » | ■'! m •* '| • ** 1 I* 1 ■t‘ "H
deplorável da pessoa não salva. O b serve
4 suas características:
Está m orta (v. 1). É evidente que se tra­
ta de uma m orte espiritual; ou seja, essa
F o r a d o C e m it é r io pessoa não é capaz de entender nem de
apreciar as coisas espirituais. N ão possui
Ef é s io s 2 :1 -1 0 qualquer vida espiritual e, por si mesma, não
é capaz de fazer coisa alguma agradável a
Deus. Assim com o uma pessoa fisicam en­
te m orta não reage a estímulos aplicados
ao corpo, também a pessoa espiritualm en­
te morta não consegue reagir às coisas es­

D
epois de descrever nossos bens espi­ pirituais. Um cadáver não é capaz de ouvir
rituais em Cristo, Paulo volta a aten­ as conversas que se passam no velório. N ão
ção para uma verdade com plem entar: nossa tem fom e nem sede; não sente dor; está
posição espiritual em Cristo. Primeiro, expli­ morto. O mesmo se aplica ao ser interior
ca o que Deus fez pelos pecadores em geral; do não salvo.
em seguida, fala do que Deus fez mais es­ Suas faculdades espirituais não funcio­
pecificam ente pelos gentios. O pecador que nam e não podem funcionar, enquanto Deus
creu em Cristo foi exaltado e assentando no não lhe der vida. Essa morte espiritual é cau­
trono (Ef 2:1-10), e os judeus e gentios que sada pelos "delitos e pecados" (Ef 2:1). "Por­
creram foram reconciliados e edificados jun­ que o salário do pecado é a m orte" (Rm
tos no tem plo (Ef 2:11-22). Q u e milagre da 6:23). Na Bíblia, a m orte significa, essencial­
graça de Deus! Som os tirados do grande ce­ mente, "separação", não apenas em termos
mitério do pecado e colocados na sala glo­ físicos, com o o espírito separado do corpo
riosa do trono. (Tg 2:26), mas também em termos espirituais,
Talvez a maneira mais fácil de abordar com o o espírito separado de Deus (Is 59:2).
esse parágrafo longo seja observar dentro O incrédulo não está enfermo; está mor­
dele quatro obras específicas. to! N ão precisa ser reanim ado; precisa ser
ressuscitad o. Todos os p ecad o res estão
1 . A O B R A D O PECA D O CO NTRA NÓ S mortos, e a única diferença entre um peca­
(E f 2:1-3) dor e outro é seu estado de decom posição.
Certa vez, uma editora pediu uma foto mi­ O s perdidos abandonados nos becos da ci­
nha que pudesse usar para am pliar em ta­ dade parecem mais decrépitos do que um
m anho real e colocar em seu estande num líder proem inente também não salvo, mas
congresso para prom over minhas fitas cas­ os dois se encontram igualm ente mortos
sete. Um amigo meu tirou a foto, e foi uma em pecado - e um cadáver não pode estar
experiência nova para mim. Estava acostu­ mais morto do que outro! Isso significa que
mado a posar sentado para fotos que mos­ nosso mundo é um grande cem itério, cheio
travam só a cab eça e os ombros, o que é de pessoas que, mesmo vivas, estão mortas
muito diferente de ficar em pé para uma (1 Tm 5:6).
foto de corpo inteiro. Tive de prestar aten­ É desobediente (w . 2, 3a). Esse foi o co­
ção em minha postura, os pés precisavam meço da morte espiritual do homem - sua
ficar no lugar certo, e os braços e mãos, desobed iência à vontade do seu Criador.
norm alm ente m eio esquecidos, tinham de Deus disse: "Porq ue, no dia em que dela
estar na posição correta. Felizmente, meu comeres, certam ente m orrerás" (G n 2:1 7).
amigo fotógrafo era profissional, e conse­ Satanás disse: "É certo que não m orrereis"
guim os um a foto boa em pouco tem po. (G n 3:4), e porque creram numa mentira, o
Nestes três versículos, Paulo apresenta um primeiro homem e a primeira mulher peca­
retrato co m pleto da co n d içã o espiritual ram e experim entaram a m orte espiritual
22 E F É S I O S 2:1-10

imediata e, posteriormente, a morte física. comporta-se como um cachorro" e, eviden­


Desde então, a humanidade tem vivido em temente, muitas pessoas que gostavam de
desobediência a Deus. Há três forças que cães se interessaram pelo tema e foram
estimulam o ser humano a desobedecer: o ouvir a mensagem. O conteúdo de sua pre­
mundo, o diabo e a carne. gação era óbvio, mas com freqüência igno­
O mundo faz pressão sobre cada pes­ rado: "Um cachorro comporta-se como um
soa para que viva em conformidade com o cachorro porque tem a natureza de um ca­
sistema (Rm 12:2). Jesus Cristo não era "deste chorro". Se, de algum modo, pudéssemos
mundo", e seu povo também não é (Jo 8:23; transplantar a natureza de um cachorro para
17:14). Mas, consciente ou inconsciente­ um gato, o comportamento do gato mudaria
mente, os incrédulos são controlados pelos radicalmente. Por que o pecador comporta-
valores e pelas atitudes deste mundo. se como pecador? Porque tem a natureza
O diabo é "o espírito que agora atua nos de um pecador (SI 51:5; 58:3). A Bíblia re­
filhos da desobediência", isso não significa fere-se a essa natureza pecaminosa como
que Satanás opere pessoalmente na vida de "a carne".
cada indivíduo não salvo, uma vez que ele É de se admirar que o incrédulo seja
é um ser criado e limitado pelo espaço. Ao desobediente a Deus? Afinal, é controlado
contrário de Deus, que é onipresente, Sata­ pelo mundo, pelo Diabo e pela carne, os
nás não pode estar em todo lugar ao mesmo três grandes inimigos de Deus! E não é ca­
tempo. Mas, por meio de seus ajudantes, os paz de mudar sua natureza nem de vencer
demônios (Ef 6:11, 12), e de seu poder so­ com as próprias forças o mundo e o diabo.
bre o sistema deste mundo (Jo 12:31), Sata­ Precisa da ajuda externa que só pode vir
nás influencia a vida de todos os não salvos de Deus.
e também procura influenciar a vida dos É depravada (v. 3b). O pecador vive para
cristãos. Ele deseja tornar todos "filhos da de­ agradar "os desejos da carne e os anseios
sobediência" (Ef 2:2; 5:6). Ele próprio foi da mente" (tradução literal). Seus atos são
desobediente a Deus e quer que outros pecaminosos porque seus apetites são pe­
também o sejam. caminosos. Quando usamos o adjetivo de­
Um dos principais instrumentos de Sata­ pravado para descrever um indivíduo não
nás para levar as pessoas a desobedecer a salvo, não estamos dizendo que ele faz so­
Deus é a mentira. Satanás é um mentiroso mente o mal, ou que é incapaz de fazer
(Jo 8:44), e foi sua mentira no início da his­ qualquer bem. Antes, simplesmente dizemos
tória do mundo - "é certo que não morre­ que é incapaz de fazer qualquer coisa para
reis" - que lançou toda a raça humana nas merecer a salvação ou para se adequar aos
profundezas do pecado. As multidões incré­ padrões elevados da santidade de Deus. Je­
dulas que vivem dentro do sistema do mun­ sus disse que os pecadores fazem o bem
do hoje em dia desobedecem a Deus porque uns aos outros (Lc 6:33) e a seus filhos (Lc
crêem nas mentiras de Satanás. Quando uma 11:13), mas não podem fazer coisa alguma
pessoa crê numa mentira e a coloca em prá­ considerada espiritualmente agradável a
tica, torna-se filha da desobediência. Deus. Os habitantes de Malta que ajuda­
A carne é a terceira força que estimula o ram Paulo e seus amigos depois do naufrágio
não salvo a desobedecer a Deus. Ao falar sem dúvida fizeram boas obras, mas ainda
da carne, Paulo não está se referindo ao assim precisavam ser salvos (At 28:1, 2).
corpo, pois o corpo humano, em st, não é Está condenada (v. 3c). Por sua nature­
pecaminoso. A carne diz respeito à nature­ za, filhos da ira! Por suas obras, filhos da
za decaída com a qual nascemos, que dese­ desobediência! O não salvo já está conde­
ja controlar o corpo e a mente e nos fazer nado (Jo 3:18). A sentença foi declarada,
desobedecer a Deus. Um evangelista ami­ mas Deus, em sua misericórdia, está adian­
go meu certa vez anunciou que pregaria so­ do a execução dessa sentença (2 Pe 3:8­
bre o seguinte tema: "Por que seu cachorro 10). O ser humano não é capaz de salvar a

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E F É S I O S 2:1-1 0 23

si mesmo, mas Deus, em sua graça, entra espiritual pelo poder do Espírito, por meio
em cena para possibilitar a salvação. "M as da Palavra. O s quatro Evangelhos relatam que
D eu s" - que diferença enorm e essas duas Jesus ressuscitou três pessoas dentre os
palavras fazem! Isso nos leva à segunda obra. mortos: o filho de uma viúva (Lc 7:11-1 7), a
filha de Jairo (Lc 8:49-56) e Lázaro (Jo 11:41­
2. A o b r a de D e u s p o r n ó s (E f 2:4-9) 46). Em cada caso, deu vida ao proferir a
O homem pecam inoso é colocado em se­ Palavra. "Porque a palavra de Deus é viva, e
gundo plano, e a aten ção volta-se agora eficaz" (H b 4:12). Essas três ressurreições
para Deus. "Ao S e n h o r pertence a salvação!" físicas retratam a ressurreição espiritual que
(Jn 2:9). Som os lembrados de quatro coisas ocorre quando o pecador ouve a Palavra e
que Deus fez em favor dos pecadores, a crê (Jo 5:24).
fim de salvá-los das conseqüências de seus M as nossa ressurreição espiritual é muito
pecados. maior, pois realiza nossa união com Cristo:
E le nos am ou (v. 4). Por natureza, "D eus Deus "nos deu vida juntam ente com Cris­
é am or" (1 Jo 4:8). M as Deus amaria mes­ to". Som os unidos com ele com o membros
mo que não houvesse pecadores, pois o do seu corpo (Ef 1:22, 23), de modo que
amor faz parte do seu ser. D e acordo com com partilham os sua vida ressurreta e seu
os teólogos, o amor é um dos atributos de poder (Ef 1:19, 20).
Deus. N o entanto, Deus apresenta dois ti­ E le nos exaltou (v. 6). N ão somos res­
pos de atributos: aqueles que possui de per suscitados dentre os mortos e abandonados
si (atributos intrínsecos, com o a vida, o amor no cem itério. Um a vez que fom os unidos
e a santidade) e aqueles por m eio dos quais com Cristo, também fom os exaltados com
se relaciona com sua criação, especialm en­ ele e compartilham os de seu trono nos lu­
te com o ser humano (atributos relativos). gares celestiais. Em termos físicos, estamos
Por exemplo: Deus é, por natureza, verda­ na Terra, mas, em termos espirituais, estamos
de, mas quando se relaciona aos seres hu­ "nos lugares celestiais em Cristo Jesus". As­
manos, a verdade de Deus transforma-se em sim com o Lázaro, fom os cham ad os do
fidelidade. Deus é, por natureza, santo; mas, túmulo para nos assentar com Cristo e des­
em relação ao homem, essa santidade tor­ frutar sua com unhão (Jo 12:1, 2).
na-se justiça. E le nos guarda (w . 7-9). O propósito de
O amor é um dos atributos intrínsecos Deus ao nos redimir não é apenas nos sal­
de Deus, mas quando esse am or é relacio­ var do inferno, por maior que seja essa obra.
nado aos pecadores, transforma-se em graça Seu propósito maior ao nos salvar é que a
e m isericórdia. Deus é "rico em misericórdia" Igreja glorifique a graça de Deus por toda
(Ef 2:4) e em "graça" (Ef 2:7), e essas riquezas a eternidade (Ef 1:6, 12, 14). Assim, se Deus
possibilitam a salvação do pecador. Algumas tem um propósito eterno para cumprirmos,
pessoas ficam estarrecidas quando desco­ ele nos guardará por toda a eternidade. Con­
brem que não somos salvos "pelo amor de siderando-se que não fomos salvos por cau­
D eus", mas sim pela misericórdia e pela gra­ sa de nossas obras, não podem os perder
ça de Deus. Em sua misericórdia, ele deixa nossa salvação por causa de nossas obras
de nos dar aquilo que merecem os; em sua más. A graça representa a salvação inteira­
graça, ele nos dá aquilo que não m erece­ mente à parte de qualquer mérito nosso. Sig­
mos. E tudo isso é possível por causa da mor­ nifica que Deus faz tudo por am or a Jesus!
te de Jesus Cristo na cruz. Foi no Calvário Nossa salvação é a dádiva de Deus. (N o gre­
que Deus demonstrou seu ódio pelo peca­ go, o demonstrativo isto em Efésios 2:8 é
do e seu amor pelos pecadores (Rm 5:8; Jo neutro; enquanto fé é um substantivo femi­
3:16). nino. Logo, isto não pode se referir à fé. Re­
Ele nos vivifíco u (v. 5). Isso significa que fere-se, antes, à experiência da salvação em
nos deu vida, mesmo quando estávamos mor­ sua totalidade, inclusive a fé.) A salvação é
tos em pecados. Realizou essa ressurreição uma dádiva, não uma recompensa.
24 E F É S I O S 2:1-10

A salvação não pode ser "de obras", pois alguém sofre, o Espírito de Deus ministra à
a obra salvadora já foi concluída na cruz. vida. O sofrimento conduz de volta à Pala­
Essa é a obra que Deus realiza por nós e é vra e à oração, e o ciclo se repete.
uma obra consumada (Jo 17:1-4; 19:30). Não Muitos cristãos acreditam que a conver­
podemos acrescentar coisa alguma a ela (Hb são é a única experiência importante e que
10:1-14); não ousamos subtrair coisa algu­ não há nada depois. Trata-se, porém, de uma
ma dela. Quando Jesus morreu, o véu do idéia equivocada. Podemos usar a ressurrei­
templo rasgou-se de alto a baixo em duas ção de Lázaro como exemplo. Depois que
partes, mostrando que, a partir de então, o Jesus ressuscitou Lázaro dentre os mortos,
caminho para Deus estava aberto. Não ha­ disse: "Desatai-o e deixai-o ir" (Jo 11:44). Em
via mais necessidades de realizar sacrifícios outras palavras: "Agora, esse homem está
aqui na Terra. Um único sacrifício - o do vivo. Tirem-no da sua mortalha!" Paulo tem
Cordeiro de Deus - havia consumado a gran­ esse conceito em mente em Efésios 4:22­
de obra da salvação. Deus fez tudo, e o fez 24: "no sentido de que, quanto ao trato pas­
por sua graça. sado, vos despojeis do velho homem, que
O pecado opera contra nós, e Deus ope­ se corrompe segundo as concupiscências
ra por nós, mas a grande obra da conversão do engano, e vos renoveis no espírito do
é apenas o começo. vosso entendimento, e vos revistais do novo
homem, criado segundo Deus, em justiça e
3. A o br a de D eu s em n ó s ( E f 2 :1 0 a ) retidão procedentes da verdade". Colos-
"Pois somos feitura dele, criados em Cristo senses 3:1 apresenta a mesma mensagem:
Jesus". A palavra grega traduzida por "feitura" "Portanto, se fostes ressuscitados juntamen­
é poiema, de onde vem nosso termo "poe­ te com Cristo, buscai as coisas lá do alto".
ma". Significa "aquilo que é feito, um pro­ O mesmo poder de ressurreição que nos
duto manufaturado". Em outras palavras, salvou e nos tirou do cemitério do pecado
nossa conversão não é o fim; é apenas o pode nos ajudar diariamente a viver para
começo. Fazemos parte da nova criação de Cristo e a glorificá-lo. Deus pagou um alto
Deus (ver 2 Co 5:17), e Deus continua a preço ao realizar sua obra por nós na cruz.
operar em nós, a fim de nos tornar confor­ Hoje, com base nesse preço pago no Cal­
mes com seu plano para nossa vida. Seu vário, ele opera em nós de modo a nos tor­
propósito é nos fazer mais semelhantes a nar mais semelhantes a Cristo. Deus não
Cristo (Rm 8:29). pode realizar sua obra em nós antes de con­
Mas de que maneira Deus opera em nós? sumar sua obra por nós, quando cremos em
Por meio do Espírito Santo, "porque Deus é seu Filho. Além disso, não pode operar por
quem efetua em vós tanto o querer como o meio de nós antes de operar em nós. Por isso,
realizar, segundo a sua boa vontade" (Fp é importante separar um tempo cada dia para
2:13). Cristo consumou sua obra de reden­ estudar a Palavra e orar, como também é
ção na cruz, mas ressuscitou dentre os mor­ importante sujeitar-se a Cristo em tempos
tos e voltou para o céu, de onde realiza sua de sofrimento. Afinal, é por intermédio da
obra inacabada de aperfeiçoar a sua igreja Palavra, da oração e do sofrimento que Deus
(Ef 4:7-16; Hb 13:20, 21). Cristo capacita- opera em nós.
nos para nossa jornada e nosso trabalho aqui A Bíblia mostra vários exemplos desse
na Terra. Para isso, emprega três instrumen­ princípio. Deus passou quarenta anos ope­
tos especiais: a Palavra de Deus (1 Ts 2:13), rando na vida de Moisés antes de poder
a oração (Ef 3:20, 21) e o sofrimento (1 Pe agir por meio dele. No começo de seu mi­
4:11-14). Ao ler a Palavra de Deus, com­ nistério, Moisés era impetuoso e dependia
preendê-la, meditar sobre ela e se alimentar das próprias forças. Matou um egípcio e
dela, a Palavra opera na vida, purificando-a teve de fugir do Egito, o que dificilmente
e nutrindo-a. Ao orar, o Espírito de Deus pode ser considerado um bom começo pa­
opera na pessoa e libera poder. E, quando ra um ministério. Mas, durante os quarenta
E F É S I O S 2:1-1 0 25

anos que passou trabalhando com o um hu­ As "obras" sobre as quais Paulo escreve
milde pastor de ovelhas no deserto, Moisés em Efésios 2:10 apresentam duas caracterís­
experimentou a obra de Deus em sua vida, ticas especiais. Em primeiro lugar, são "b oas"
preparando-o para mais quarenta anos de obras, em contraste com as "obras das tre­
serviço dedicado. vas" e as "obras perversas". A o fazer um
H á outros exemplos. José sofreu duran­ contraste entre Efésios 2:10 e Efésios 2:2,
te treze anos antes de D eus colocá-lo no vem os com o Satanás opera dentro dos não
trono do Egito com o o segundo em autori­ salvos e, portanto, as obras desses indivíduos
dade depois do Faraó. Davi foi ungido rei não podem ser boas. M as é Deus quem
ainda adolescente, mas só subiu ao trono opera no cristão, e, portanto, suas obras são
depois de sofrer vários anos no exílio. O boas - não porque o próprio indivíduo é
apóstolo Paulo passou três anos na Arábia bom, mas porque possui uma natureza que
depois de sua conversão, período durante lhe foi dada por Deus e porque o Espírito
o qual, sem dúvida alguma, experimentou a Santo opera nele e por meio dele, a fim de
obra mais profunda de Deus preparando-o produzir essas boas obras.
para o ministério. Deus precisa operar em Infelizmente, muitos convertidos subes­
nós antes de operar p or m eio de nós; e isso timam o lugar das boas obras na vida cristã.
nos leva à quarta obra desta passagem. Um a vez que não somos salvos pelas boas
obras, tem-se a idéia equivocada de que, na
4. D eu s o pe r a po r m e io d e n ó s verdade, as obras são más. "Assim brilhe tam­
(E f 2 :1 0 b) bém a vossa luz diante dos homens, para
Som os "criados em Cristo Jesus para boas que vejam as vossas boas obras e glorifi­
obras". N ão somos salvos por boas obras, mas quem a vosso Pai que está nos céus" (M t
para boas obras. O conhecido teólogo João 5:16). N ão realizamos boas obras para glori­
Calvino escreveu: "Som ente a fé justifica, mas ficar a nós mesmos, mas sim para glorificar
a fé justificadora não pode jamais estar só". a Deus. Paulo desejava que Cristo fosse en­
N ão somos salvos pela fé acrescida de obras, grandecido em seu corpo, mesmo que isso
mas sim por uma fé operante. A passagem significasse a morte (Fp 1:20, 21). Devem os
fundamental que trata desse tema é Tiago 2, "[superabundar] em toda boa obra" (2 Co
em que o autor ressalta que a fé salvadora 9:8) e "[frutificar] em toda boa ob ra" (Cl
deve sempre redundar em uma vida transfor­ 1:10). Um dos resultados de um conheci­
mada. N ão basta dizer que temos fé; deve­ mento da Bíblia é que o cristão torna-se "per­
mos demonstrá-la pelas nossas obras. feito e perfeitam ente habilitado para toda
A Bíblia fala de vários tipos diferentes de boa obra" (2 Tm 3:17). Com o cristãos, deve­
obras. Existem as "ob ras da le i" que não mos ser "zeloso[s] de boas obras" (Tt 2:14).
podem salvar (G l 2:16; 3:11). Existem tam­ Nossas boas obras são, na verdade, "sacrifí­
bém as "obras da carne", relacionadas em cios espirituais" que oferecem os a Deus (H b
Gálatas 5:19-21. Paulo fala das "obras das 13:16).
trevas" (Rm 13:12; Ef 5:11). Tudo indica que É importante observar que não criamos
as "obras m ortas", m encionadas em Hebreus essas boas obras. Elas são resultantes da ope­
6:1, são as que conduzem à morte, pois "o ração de Deus em nosso coração. "Porque
salário do pecado é a m orte" (Rm 6:23). As Deus é quem efetua em vós tanto o querer
"obras de justiça" em Tito 3:5 referem-se às com o o realizar, segundo a sua boa vonta­
obras religiosas ou a outros atos de bondade d e" (Fp 2:13). O segredo das boas obras de
que os pecadores tentam realizar a fim de Paulo era a "graça de D eus" (1 Co 15:10).
obter a salvação. Isaías declara que "todas Nossas boas obras demonstram que nasce­
as nossas justiças [são] com o trapo da imun­ mos de novo. "N em todo o que me diz:
dícia" (Is 64:6). Se nossas obras de justiça Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus,
são imundas, podem os imaginar a aparência mas aquele que faz a vontade de meu Pai,
de nossos pecados! que está nos céus" (M t 7:21). Também são
26 E F É S I O S 2:1-10

testemunho para os perdidos (1 Pe 2:12). anda nas boas obras que Deus preparou
Garantem aos salvos o direito de serem para ele.
ouvidos. Que declaração extraordinária! Signifi­
Um pastor amigo meu conta de uma ca que Deus tem um plano para nossa vida
senhora cristã que costumava visitar um lar e que devemos andar dentro da vontade
de idosos próximo a sua casa. Um dia, no­ dele, a fim de realizar esse plano. Paulo não
tou um homem sentado sozinho olhando está falando de "destino" - uma sina im­
para a bandeja do jantar. pessoal que controla nossa vida a despeito
- Qual o problema? - perguntou a mu­ de qualquer coisa que façamos. Está falan­
lher gentilmente. do do plano elaborado pela graça de um
- Eu lhe digo! - respondeu o homem Pai celestial amoroso, que deseja o que há
com um sotaque forte. - Eu sou judeu e não de melhor para nós. A vontade de Deus
posso comer isto aqui! vem do coração de Deus. "O conselho do
- O que você gostaria de comer? - per­ S en h o r dura para sempre; os desígnios do seu
guntou a mulher. coração, por todas as gerações" (SI 33:11).
- Gostaria de uma tigela de sopa bem Descobrim os a vontade maravilhosa de
quentinha. Deus para nossa vida à medida que esta
A mulher voltou para casa, preparou uma nos é revelada pelo Espírito através da Pala­
sopa e, com a permissão da administração vra (1 Co 2:9-13).
do asilo, serviu-a ao homem. Nas semanas Pode ser proveitoso encerrar este capí­
subseqüentes, visitou aquele senhor várias tulo com um balanço pessoal. Qual destas
vezes, sempre levando o tipo de comida de quatro obras você está experimentando em
que ele gostava e, por fim, acabou condu­ sua vida? O pecado atua contra você, pois
zindo-o a Cristo. Sem dúvida, preparar sopa ainda não creu em Cristo? Então creia nele
pode ser um sacrifício espiritual, uma boa agora! Você já experimentou a obra de Deus
obra para glória de Deus. por você, em você e por seu intermédio?
No entanto, essas obras não apenas são Está usando as vestes de um morto ou
boas, mas também foram "preparadas". as vestes da graça? Desfruta a liberdade que
"Boas obras, as quais Deus de antemão pre­ possui em Cristo ou ainda está preso pelos
parou para que andássemos nelas" (Ef 2:10). hábitos de sua antiga vida no cemitério do
Esse termo só é usado no original do Novo pecado? Como cristão, você foi ressuscita­
Testamento mais uma vez, em Romanos do e assentando em um trono. Viva de acor­
9:23: "a fim de que também desse a co­ do com sua posição em Cristo! Ele operou
nhecer as riquezas da sua glória em vasos por você; agora, permita que ele opere em
de misericórdia, que para glória preparou de você e por seu intermédio, a fim de lhe dar
antemão". O incrédulo anda "segundo o uma vida empolgante e criativa para a gló­
curso deste mundo" (Ef 2:2), mas o cristão ria de Deus.

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jam ais havia feito parte das intenções de
5 Deus para seu povo. O fato de o judeu re­
ceber um sinal físico da aliança não com ­
provava que ele era um homem de fé (Rm
A G r a n d e M is s ã o 2:25-29; G i 5:6; 6:15). O s que creram em

de Pa z Cristo receberam a circun cisão espiritual


"não por interm édio de m ãos" (Cl 2:11).
M as desde o momento em que cham ou
Ef é s io s 2 :1 1 -2 2
Abraão, Deus fez uma distinção entre judeus
e gentios. Seu propósito com isso não era
que os judeus se vangloriassem , mas que
fossem uma bênção e ajudassem os gentios.
// P a z em nosso tempo! Paz com honra!" Deus os separou para usá-los com o um ca­
r Alguns ainda se lembram dessas pa­ nal de sua revelação e bondade às nações
lavras do primeiro ministro inglês, Sir N eville pagãs. Infelizmente, porém, Israel preservou
Cham berlain, quando ele voltou de uma sé­ essa diferença em termos nacionais e ritua-
rie de conferências na Alem anha em 1938. lísticos, mas não em term os morais. Israel
Estava certo de que havia detido A dolf Hitler. tornou-se com o as nações perdidas a seu
E, no entanto, um ano depois, Hitler invadiu redor. Por esse motivo, Deus teve de disci­
a Polônia e, em 3 de setembro de 1939, a plinar seu povo em várias ocasiões, uma vez
Inglaterra declarou guerra contra a Alem a­ que se recusaram a manter a separação es­
nha. A grande missão de paz de Chamberlain piritual e a ministrar às nações em nom e do
havia fracassado. Deus verdadeiro.
Ao que parece, essa é a sina da m aioria A palavra mais apropriada para descre­
das missões de paz. Li em algum lugar que, ver os gentios é sem. Essa carência revelava-
entre 1500 a.C. e 850 d.C., foram seladas se em vários aspectos.
7.500 "alian ças etern as" entre diferentes Sem Cristo. O s efésios adoravam a deu­
nações na esperança de prom over a paz, sa Diana e, antes de ouvirem o evangelho,
mas nenhuma delas durou mais de dois anos. não sabiam coisa alguma a respeito de Cris­
A única aliança eterna que perdurou - e que to. O s que afirmam que as religiões pagãs
jam ais será rompida - foi aquela feita pelo são tão aceitáveis para Deus quanto a fé
Deus eterno, selada pelo sangue de Jesus cristã terão dificuldade em aceitar essa pas­
Cristo. Nesta seção, Paulo explica a missão sagem, pois Paulo refere-se à situação dos
de paz de Cristo, uma obra momentosa que efésios sem Cristo com o uma tragédia in­
pode ser sintetizada em três palavras ex­ contestável. N o entanto, é im portante ter
trem am ente importantes: separação, recon­ sempre em mente que todo indivíduo não
ciliação e unificação. salvo, quer judeu quer gentio, está "fo ra" de
Cristo e que isso representa condenação.
1 . S e p a r a ç ã o : a s it u a ç ã o a n t e r io r Sem cid ad ania. Deus cham ou o povo
d o s g e n tio s (E f 2:11, 12) de Israel e os constituiu em uma nação, à
N os dez primeiros versículos de Efésios 2, qual ele deu suas leis e bênçãos. Um gen­
Paulo tratou da salvação dos pecadores em tio podia passar a fazer parte de Israel co­
geral; agora se volta para a obra específica mo prosélito, mas não nascia nessa nação
de Cristo em favor dos gentios. A maioria tão especial. Israel era a nação de Deus em
dos convertidos da igreja de Éfeso era gen­ um sentido que não se aplicava a nenhum
tia e sabia que grande parte do plano de povo gentio.
Deus no Antigo Testamento envolvia o povo Sem alianças. Por certo, os gentios fa­
de Israel. Durante séculos, a "circu ncisão " ziam parte da aliança de Deus com Abraão
(o p ovo de Is ra el) h avia d esp rez ad o a (G n 12:1-3), mas Deus não fez aliança algu­
"incircuncisão" (os gentios), uma atitude que ma com as nações gentias. O s gentios eram
28 E F É S I O S 2:1 1-22

"estrangeiros" e "forasteiros" - fato que o verdadeiro. Deu sua Palavra a seu povo es­
povo de Israel não permitia jamais que es­ colhido e, por meio deles, enviou ao mun­
quecessem. Muitos fariseus costumavam do o Salvador (Rm 9:1-5). Israel deveria ser
orar diariamente: "Ó Deus, dou-te graças, luz para os gentios, a fim de que estes tam­
pois sou judeu, não gentio". bém fossem salvos. Mas, infelizmente, Israel
Sem esperança. De acordo com os his­ tornou-se como os gentios e, por pouco, sua
toriadores, uma grande nuvem de desespe­ luz não se apagou. Esse fato serve de adver­
rança cobria o mundo antigo. As filosofias tência para a Igreja nos dias de hoje. É quan­
eram vazias; as tradições estavam sumin­ do se parece menos com o mundo que a
do; as religiões mostravam-se incapazes de Igreja pode fazer mais pelo mundo.
ajudar o ser humano a encarar tanto a vida
quanto a morte. As pessoas ansiavam por 2 . R e c o n c il ia ç ã o : a o b r a d e D eu s em
trespassar esse véu e encontrar do outro FAVOR DOS GENTIOS ( E f 2 :1 3 - 1 8 )
lado alguma mensagem de esperança, mas As palavras "mas, agora" em Efésios 2:13 são
tal mensagem não existia {1 Ts 4:13-18). paralelas a "mas Deus" em Efésios 2:4. As
Sem Deus. Os pagãos tinham uma pro­ duas expressões referem-se à intervenção de
fusão de deuses, como Paulo descobriu em Deus pela graça em favor dos pecadores. A
Atenas (At 17:16-23). Alguém disse que, na­ palavra-chave desta seção é "inimizade" (Ef
quela época, era mais fácil encontrar um 2:15, 16); e podemos observar que é uma
deus do que um homem em Atenas. "H á inimizade dupla: entre os judeus e gentios
muitos deuses e muitos senhores" (1 Co 8:5). (Ef 2:1 3-15) e entre os pecadores e Deus (Ef
No entanto, por mais religiosos ou moral­ 2:16-18). Nesta passagem, Paulo descreve a
mente virtuosos que fossem, os pagãos não maior missão de paz da história: Jesus Cris­
conheciam o Deus verdadeiro. O autor do to não apenas reconciliou judeus e gentios,
Salmo 115 apresenta um contraste entre mas também reconciliou ambos com ele
o Deus verdadeiro e os ídolos dos pagãos. próprio em um só corpo, a Igreja.
Convém observar que a situação espiri­ O termo reconciliar significa "estabe­
tual dos gentios não foi causada por Deus, lecer paz entre". Um marido aflito deseja
mas sim pelos próprios pecados acintosos ser reconciliado com a esposa que o aban­
deles. Paulo afirmou que os gentios conhe­ donou; uma mãe preocupada deseja ser
ciam o Deus verdadeiro, mas se recusavam reconciliada com uma filha desobediente;
deliberadamente a honrá-lo (Rm 1:18-23). e o pecador perdido precisa ser reconcilia­
A história das religiões não mostra o ser do com Deus. O pecado é o grande separa­
humano partindo do politeísmo (vários deu­ dor neste mundo. Tem causado separação
ses) e, depois, descobrindo gradativamente entre as pessoas desde o início da história
o único Deus verdadeiro. Antes, mostra a humana. Quando Adão e Eva pecaram, fo­
triste realidade de indivíduos conscientes da ram separados de Deus. Não tardou para
verdade sobre Deus deliberadamente se afas­ que seus filhos fossem separados um do
tando dela! Não se trata de uma história de outro e para que Caim matasse Abel. A Terra
evolução, mas sim de involução! Os onze encheu-se de violência (Gn 6:5-13), e o jul­
primeiros capítulos de Gênesis mostram o gamento parecia a única solução possí­
declínio da raça humana e, de Gênesis 12 vel. No entanto, mesmo depois do dilúvio,
(o chamado de Abraão) em diante, a histó­ os seres humanos pecaram contra Deus e
ria do povo de Israel. Deus separou Israel uns contra os outros e tentaram até se unir
dos gentios para que também pudesse sal­ sem a ajuda de Deus. O resultado foi outro
var os gentios. "Porque a salvação vem dos julgamento que dispersou as nações e con­
judeus" (jo 4:22). fundiu as línguas. Foi então que Deus cha­
Deus chamou o povo de Israel, come­ mou Abraão, e, por meio do povo de Israel,
çando com Abraão, para que, por seu in­ Jesus Cristo veio ao mundo. Foi sua obra
termédio, se revelasse como o único Deus na cruz que aboliu a inimizade entre os

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E F É S I O S 2:1 1-22 29

judeus e os gentios e entre os pecadores Nenhum estrangeiro pode transpor a


e Deus. barreira que cerca o santuário e seus re­
A in im izad e entre os ju d eu s e os gen­ cintos. Qualquer um flagrado em tal ato
tios (w . 13-15). Deus fez distinção entre ju­ poderá culpar somente a si mesmo pela
deus e gentios para cum prir seus propósitos morte decorrente dessa transgressão.
de salvação. Mas, uma vez que esses pro­
pósitos foram cum pridos, deixou de haver Foi esse muro que o povo pensou que Paulo
qualquer diferença. N a verdade, fazia parte havia ultrapassado com seus amigos gentios,
de seu plano que tal distinção fosse elimina­ quando os judeus o atacaram e am eaçaram
da para sempre, o que ocorreu por intermé­ matá-lo no tem plo (At 21:28-31).
dio da obra de reconciliação realizada por A fim de judeus e gentios se reconcilia­
Cristo. rem, era preciso derrubar esse muro, e foi
Era essa lição que a Igreja tinha tanta isso o que Cristo fez na cruz. Jesus pagou
dificu ld ade em com preender. Durante sé­ com seu sangue para acabar de uma vez
culos, os judeus haviam sido diferentes dos por todas com a inim izade. Q u an d o ele
gentios - na religião, na maneira de se ves­ morreu, o véu do templo foi literalmente ras­
tir, na alim entação e nas leis. Até Pedro ser gado ao meio, e o muro de separação foi
enviado aos gentios (At 10), a Igreja não teve (figurativamente) derrubado. A o cumprir os
problemas. M as a partir do momento em que preceitos da Lei em sua vida justa e ao levar
os gentios com eçaram a ser salvos dentro sobre si a m aldição da Lei em sua morte
dos mesmos termos que os judeus, os con­ sacrificial (G l 3:10-13), Jesus removeu as bar­
flitos com eçaram a surgir. O s cristãos judeus reiras legais que separavam os judeus dos
repreenderam Pedro por visitar os gentios e gentios. Durante séculos, houve uma distin­
com er com eles (At 11), e alguns represen­ ção entre eles, mas hoje "n ão há distinção
tantes da Igreja reuniram-se para uma assem­ entre judeu e grego, uma vez que o mesmo
bléia importante visando determinar o lugar é o Senhor de todos, rico para com todos
dos gentios dentro da Igreja (A t 15). Um gen­ os que o invocam. Porque: Todo aquele que
tio deveria passar a ser judeu antes de se invocar o nome do Senhor será salvo" (Rm
tornar cristão? A conclusão a que chegaram 10:12, 13).
foi: "N ã o ! Judeus e gentios são salvos da Judeus e gentios foram unidos em Jesus
mesma forma: pela fé em Jesus Cristo". A Cristo. "Ele é a nossa paz" (Ef 2:14). Por meio
inimizade não existia mais! de Cristo, os gentios que estavam longe fo­
A causa dessa inim izade era a Lei, pois ram aproximados (Ef 2:13,17). Assim, a obra
ela fazia clara distinção entre judeus e gen­ de Cristo redundou no fim da inim izade pela
tios. As leis alimentares lembravam os judeus abolição da Lei e pela criação de um novo
de que Deus havia determ inado uma dife­ homem, a Igreja, o corpo de Cristo. O ter­
rença entre alimentos limpos e imundos (Lv mo abo lir significa sim plesm ente "anular".
11:44-47). M as os gentios não obedeciam a A Lei não tem mais poder sobre judeus nem
essas leis e, portanto, eram considerados im­ gentios, uma vez que, em Cristo, todos os
puros. O profeta Ezequiel lembrou os sacer­ que crêem não estão sob a Lei, mas sim sob
dotes de sua incum bência de ensinar o povo a graça. A justiça da Lei, que revelava a san­
de Israel "a distinguir entre o santo e o pro­ tidade de Deus, continua sendo o padrão
fano e [...] entre o im undo e o lim po" (Ez de Deus. N o entanto, ela é cum prida no cris­
44:23). O s preceitos dados por Deus a Is­ tão pelo Espírito Santo (Rm 8:1-4). A Igreja
rael constituíam um muro de separação en­ prim itiva dem orou a se acostum ar com a
tre os judeus e as outras nações. Aliás, havia idéia de que "não há distinção". N a verda­
um muro no tem plo judeu separando o pátio de, há certos grupos religiosos que até hoje
dos gentios do restante da área do templo. não aprenderam essa lição, pois estão ten­
O s arqueólogos descobriram uma inscrição tando co lo car os cristãos debaixo da Lei
do templo de Herodes que diz: outra vez (G l 4:8-11; 5:1; Cl 2:13-23).
30 E F É S I O S 2:11-22

Cristo é "a nossa paz" (Ef 2:14) e ele Um homem e uma mulher foram, um dia,
"[fez] a paz" (Ef 2:15). Em Efésios 2:15, o a meu escritório e disseram que precisavam
verbo fazer significa "criar". A Igreja, o corpo de ajuda.
de Cristo, é a nova criatura de Deus (2 Co - Minha esposa e eu queremos recan-
5:17). Na velha criatura, tudo se desinte­ celar... - disse ele meio atrapalhado. Entendi
grava por causa do pecado, mas na nova que o ele tinha em mente era dizer "recon­
criatura, a justiça promove a unidade. "Des- ciliar", mas, em certo sentido, "recanceiar"
sarte, não pode haver judeu nem grego; era mesmo a palavra certa. Haviam peca­
nem escravo nem liberto; nem homem nem do um contra o outro (e contra o Senhor), e
mulher; porque todos vós sois um em Cris­ não poderia haver harmonia entre eles até
to Jesus" (Gl 3:28). Podemos fazer um con­ seus pecados fossem cancelados.
traste entre a antiga situação dos gentios e Um Deus de amor deseja reconciliar o
sua nova situação ao observarmos o modo pecador consigo, mas um Deus de santida­
maravilhoso como Cristo operou em favor de deve certificar-se de que o pecado será
deles na cruz. julgado. Deus resolveu esse problema en­
viando seu Filho para ser o sacrifício pelos
Antiga situação Nova situação nossos pecados, revelando, desse modo, seu
"Sem Cristo" "em Cristo Jesus" amor e, ao mesmo tempo, cumprindo os
Separados (Ef 2:13) preceitos da justiça (ver Cl 2:13, 14).
"Estranhos" "nação santa" (1 Pe 2:9) Jesus Cristo é "a nossa paz" (Ef 2:14), ele
"Forasteiros" "já não sois estrangeiros" "[fez] a paz" (Ef 2:15) e "evangelizou paz"
(Ef 2:19) (Ef 2:1 7). Como Juiz, poderia ter vindo para
"Sem esperança" "chamados numa só declarar guerra. Mas, em sua graça, ele veio
esperança" (Ef 4:4) trazer uma mensagem de paz (Lc 2:8-14;
"Sem Deus" "Bendito o Deus e Pai de 4:16-19). Em Cristo, judeus e gentios têm
(Ef 2:12) nosso Senhor Jesus paz entre si e todos têm livre acesso a Deus
Cristo" (Ef 1:3) (Rm 5:1, 2). Isso nos traz à memória o véu
que se rasgou quando Cristo morreu (M t
A inim izade entre os pecadores e Deus (w . 27:50,51; Hb 10:14-25). A reconciliação está
16-18). Não era necessário apenas que os consumada!
gentios fossem reconciliados com Deus, mas
também que tanto judeus quanto gentios 3 . U n if i c a ç ã o : a s it u a ç ã o d e ju d eu s
fossem reconciliados com Deus. Foi a essa e g e n tio s em C r i s t o ( E f 2 :1 9 - 2 2 )
conclusão que os apóstolos chegaram na as­ Paulo repete o termo "um" para enfatizar a
sembléia em Jerusalém, registrada em Atos obra unificadora de Cristo: "de ambos fez
15. De acordo com Pedro, Deus "não esta­ um" (Ef 2:14); "um novo homem" (Ef 2:15);
beleceu distinção alguma entre nós [judeus] "um só corpo" (Ef 2:16); "um Espírito" (Ef
e eles [gentios], purificando-lhes pela fé o 2:18). Cristo superou todo o distanciamento
coração [...]. Mas cremos que fomos salvos e divisão espiritual. Nos últimos versículos
pela graça do Senhor Jesus, como também deste capítulo, Paulo apresenta três retratos
aqueles o foram" (At 15:9, 11). A questão que ilustram a unidade dos judeus e gen­
não era os gentios passarem a ser judeus pa­ tios dentro da Igreja.
ra se tornarem cristãos, mas sim os judeus Uma só nação (v. 19a). Israel era a nação
reconhecerem que eram pecadores como escolhida de Deus, mas o povo rejeitou seu
os gentios. "Porque não há distinção, pois Redentor e sofreu as conseqüências. O rei­
todos pecaram e carecem da glória de Deus" no lhes foi tirado e "entregue a um povo que
(Rm 3:22, 23). A mesma Lei que separava lhe produza os respectivos frutos" (Mt 21:43).
os gentios dos judeus também separava os Essa "nova nação" é a Igreja, a "raça eleita
homens de Deus, e Cristo levou sobre si a [...] povo de propriedade exclusiva de Deus"
maldição da Lei. (Êx 19:6; 1 Pe 2:9). No Antigo Testamento,

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E F É S I O S 2:1 1-22 31

as nações eram separadas de acordo com 3:11) e a Pedra Angular (SI 118:22; Is 8:14).
sua descendência de Sem, Cam ou Jafé (Gn A pedra angular é responsável pela inte­
10). N o Livro de Atos, vemos essas três fa­ gração da estrutura; Jesus Cristo uniu ju­
mílias unidas em Cristo. Em Atos 8, um des­ deus e gentios na Igreja. Essa referência ao
cendente de Cam - o tesoureiro etíope - é templo era significativa tanto para os judeus
salvo; em Atos 9, um descendente de Sem quanto para os gentios da igreja de Éfeso.
- Saulo de Tarso - torna-se o apóstolo Pau­ O s jud eus se lem brariam do tem plo de
lo; em Atos 10, os descendentes de Jafé - Herodes em Jerusalém , e os gentios pensa­
os gentios da casa de Cornélio, o centurião riam no grande tem plo de Diana. Um dia,
rom ano - são salvos. O pecado dividiu a os dois templos seriam destruídos, mas o
humanidade, mas Cristo, pelo seu Espírito, tem plo de Cristo perm anecerá para sem­
promove a unidade. Todos os cristãos, qual­ pre. "Edificarei a minha igreja" (M t 16:18).
quer que seja sua origem étnica, pertencem O Espírito Santo realiza essa obra pegando
à nação santa e são cidadãos do céu (Fp pedras mortas do poço do pecado (SI 40:2),
3:20, 21). dando-lhes vida e colocando-as com todo
U m a só fam ília (v. 19b). Por meio da fé amor no tem plo de Deus (1 Pe 2:5). Esse
em Cristo, passamos a fazer parte da família tem plo é "bem ajustado" com o corpo de
de Deus e ele se torna nosso Pai. Essa famí­ Cristo (Ef 2:21; 4:16), de m odo que cada
lia maravilhosa pode ser encontrada em dois parte cum p re o p ropó sito d eterm in ad o
lugares, "tanto no céu com o sobre a terra" por Deus.
(Ef 3:15). O s cristãos vivos estão aqui na ter­ Ao fazer uma retrospectiva deste capí­
ra; os cristãos que morreram estão no céu. tulo, não podemos deixar de louvar a Deus
Nenhum dos filhos de Deus está "debaixo pelas obras de sua graça em favor dos pe­
da terra" (Fp 2:10) ou em qualquer outro cadores. Por meio de Cristo, ele nos ressus­
lugar do universo. A despeito de todas as citou dentre os mortos e nos assentou no
distinções raciais, nacionais ou físicas que trono. Ele nos reconciliou e nos colocou em
possuímos, somos todos irmãos e irmãs den­ seu templo. Nem a m orte nem o distancia­
tro dessa família. mento espiritual podem derrotar a graça de
Um só tem plo (w . 20-22). N o Livro de Deus! Ele, porém , não apenas nos salvou
Gênesis, Deus "andava" com seu povo (G n individualm ente, com o também nos incluiu
5:22, 24; 6:9); mas em Êxodo, decidiu "ha­ em sua Igreja coletivam ente. Q u e privilé­
bitar" com seu povo (Êx 25:8). Deus habi­ gio enorm e fazer parte do plano eterno
tou no tabernáculo (Êx 40:34-38) até que os de Deus!
pecados de Israel obrigaram a glória a partir Isso nos leva a duas aplicações práticas
(1 Sm 4). Posteriormente, Deus habitou no ao encerrar este estudo.
templo (1 Rs 8:1-11); mas, infelizmente, Is­ Em primeiro lugar, você já experimentou
rael voltou a pecar, e a glória partiu outra pessoalmente a graça de Deus? Você se en­
vez (Ez 10:18, 19). A próxima habitação de contra espiritualmente morto e afastado de
Deus foi o corpo de Cristo (Jo 1:14), que os Deus? O u já creu em Cristo e recebeu a vida
homens pregaram numa cruz. Hoje, por in­ eterna que somente ele pode dar? Se não
term édio do Espírito Santo, Deus habita na tem certeza da sua situação espiritual, gos­
Igreja, o tem plo de Deus. N ão habita em taria de instá-lo a se entregar a Cristo pela fé
tem plos construídos por mãos hum anas, e crer nele. Com o a nação de Israel, talvez
nem mesmo nos templos da igreja (At 7:48­ você tenha recebido vários privilégios es­
50). Antes, habita no coração dos que cre­ pirituais, mas tenha rejeitado o Deus que os
ram em Cristo (1 Co 6:19, 20), e na Igreja concedeu. O u, com o os gentios, talvez te­
com o um todo (Ef 2:20-22). nha se afastado de Deus para viver delibe­
O alicerce da Igreja foi lançado pelos radamente em pecado e desobediência. Em
apóstolos e pelos profetas do N ovo Testa­ qualquer um dos casos, "n ão há distinção,
mento. Jesus Cristo é o Fundam ento (1 Co pois todos pecaram e carecem da glória
32 E F É S I O S 2:1 1-22

de Deus" (Rm 3:22, 23). Invoque o nome pacificadores, porque serão chamados filhos
de Cristo, e ele o salvará. de Deus" (Mt 5:9).
Em segundo íugar, se você já é um cris­ Um missionário pregava na feira de um
tão, está levando outros à fé em Cristo? vilarejo, e algumas pessoas riam dele, pois
Como alguém que foi ressurreto dentre os não era um homem muito bem-apessoado.
mortos, você está andando "em novidade Ele ignorou a zombaria por algum tempo,
de vida" (Rm 6:4)? Compartilha as boas-no­ mas, por fim, disse à multidão: "É verdade
vas da "paz com Deus" com os que ainda que eu não tenho cabelos bonitos, pois sou
estão em guerra com ele? praticamente careca. Também não tenho
Jesus Cristo morreu para promover a re­ dentes bonitos, pois isto aqui é uma denta­
conciliação. Devemos viver de modo a tornar dura feita por um protético. Não tenho um
a mensagem da reconciliação algo pessoal. rosto bonito nem posso comprar roupas sofis­
Deus "nos deu o ministério da reconcilia­ ticadas. Mas de uma coisa estou certo: tenho
ção" (2 Co 5:18). Somos seus embaixadores pés formosos!" E citou o versículo de Isaías:
da paz (2 Co 5:20). Nossos pés devem es­ "Q ue formosos são sobre os montes os pés
tar calçados "com a preparação do evange­ do que anuncia as boas-novas, que faz ouvir
lho da paz" (Ef 6:1 5). "Bem-aventurados os a paz" (Is 52:7). Você tem pés formosos?

i 1 14 'J • I* ' IHUI I I " i I • I -i|i I I' || | I W |W K 11 - { I -ii D » ■' 11 ■ 'I*- '• ■ I» f -i
Igreja. N o Novo Testamento, um m istério não
6 é algo enigmático ou indecifrável, mas sim
"um a verdade que Deus manteve oculta em
eras passadas, mas que agora foi revelada
O S eg r ed o É R ev el a d o àqueles que pertencem à sua família". Um
mistério é um "segredo santo", obscuro para
E f é s io s 3 :1 - 1 3 os incrédulos, mas com preendido e guar­
dado com o um bem valioso pelo povo de
Deus.
Paulo explica o m istério - os cristãos
gentios encontram-se unidos aos cristãos ju­
deus em um só corpo, a Igreja (Ef 3:6). O

H
á algum tempo atrás, depus em uma apóstolo havia m encionado anteriorm ente
audiência pela guarda de uma criança. essa nova obra de Deus, de modo que seus
Fiquei feliz peio fato de o processo estar cor­ leitores já estavam a par do conceito (Ef 1:10;
rendo em um tribunal do interior e não de 2:11, 22). Agora, porém, Paulo explica o im­
uma cidade grande, pois foi minha primeira pacto extraordinário desse "segredo santo"
experiência com o testemunha. Depois dis­ que tomou conta de sua vida e de seu mi­
so, descobri que a localização do tribunal nistério. Na verdade, sua explicação é qua­
não faz muita diferença. Todos os julgamen­ se uma digressão da carta, pois o apóstolo
tos podem ser difíceis, e depor com o teste­ com eça esta seção com a intenção de orar
munha não é nada divertido. por seus leitores. É interessante com parar
A primeira pergunta do procurador pe­ Efésios 3:1 e 14. O uso que ele faz dos ter­
gou-me desprevenido. mos "prisioneiro" e "gentios" leva-o a esse
- Reverendo, o senhor acredita que um esclarecim ento importante acerca do "m is­
homem que cumpriu pena pode ser consi­ tério da igreja", e, em sua explicação, Paulo
derado apto para educar uma criança? mostra que esse "m istério" é relevante para
M inha resposta não agradou muito ao quatro partes envolvidas.
juiz, pois eu deveria ter dito apenas "sim "
ou "n ã o ". Em vez disso, com ecei falando 1 . S u a r e le v â n c ia p a ra P a u l o
lentamente, tentando ganhar tempo: (E f 3:1-5)
- Bem, creio que depende do homem. A melhor maneira de com preender a impor­
Algum as pessoas bastante conhecidas fo­ tância do "m istério" para a vida de Paulo é
ram para prisão e contribuíram com suas observar as duas descrições que ele faz de
experiências para fazer do mundo um lugar sua própria pessoa nesta seção. C om eça
melhor. Foi o caso de John Bunyan e do gran­ cham ando a si mesmo de "prisioneiro" (Ef
de apóstolo Paulo. 3:1) e, em seguida, usa a designação "m i­
Poderia ter dado mais exemplos da Bí­ nistro" (Ef 3:7). Paulo era prisioneiro porque
blia, mas senti que o tribunal não estava cria no novo plano de Deus, cujo propósito
considerando minha resposta aceitável. era unir os cristãos judeus e gentios em um
Em duas ocasiões nessa carta, Paulo lem­ só corpo, a Igreja. Para os judeus ortodoxos
bra seus leitores de que ele é um prisioneiro do tem po de Paulo, os gentios não passa­
(Ef 3:1; 4:1) e, ao concluí-la, refere-se a si mes­ vam de "cães", e a atitude de alguns dos
mo com o "embaixador em cadeias" (Ef 6:20). judeus cristãos para com os gentios não era
Sem dúvida, os efésios estavam perguntan­ muito melhor.
do: "P o r que Paulo está preso em Rom a? Q uando Cristo o salvou, Paulo era um
Por que Deus permitiu uma coisa dessas?" líder do judaísm o ortodoxo (G l 1:11-24; Fp
Neste parágrafo, Paulo explica sua situação 3:1-11); e, no entanto, pela providência divi­
e, ao mesmo tempo, esclarece uma das gran­ na, com eçou seu ministério em uma igreja
des verdades desta carta, o "m istério" da em Antioquia, constituída tanto de judeus
34 E F É S I O S 3:1-1 3

quanto de gentios (At 11:19-26). Na assem­ termo "economia" é uma derivação direta
bléia realizada em Jerusalém para determi­ do grego oikonomia, "a lei da casa" ou "mor­
nar a posição dos cristãos gentios, Paulo domia, intendência". Ao longo das eras,
defendeu bravamente a graça de Deus e a Deus administra seu plano de várias manei­
unidade da Igreja (At 15; Gl 2:1-10). ras, e, por vezes, os estudiosos da Bíblia cha­
Desde o início da vida cristã do apósto­ mam essas formas variadas de intendência
lo, Deus deixou claro para ele que o havia de "dispensações" (Ef T:9, 10). Os princípios
chamado para levar o evangelho aos gentios de Deus não mudam, mas seus métodos de
(At 9:15; 26:13-18), e Paulo permaneceu fiel tratar com a humanidade variam no decor­
a esse chamado. Sempre que ministrava, fun­ rer da história. "Ao discernir as eras, vemos
dava igrejas locais constituídas de cristãos que as Escrituras harmonizam-se com elas",
judeus e gentios, todos "um em Cristo Jesus" escreveu Agostinho.
(Gl 3:28). Deus fez de Paulo um despenseiro do
Uma vez que era o "apóstolo dos gen­ "mistério" e lhe deu a responsabilidade de
tios" (Rm 11:13; 15:15, 16; Ef 3:8; 1 Tm 2:7), compartilhar esse mistério com os gentios.
foi acusado de ter preconceito contra os Não bastava ganhá-los para Cristo e formar
judeus, especialmente contra os cristãos ju­ congregações locais. O apóstolo também
deus de Jerusalém e da Judéia em geral. A deveria ensinar-lhes sobre sua posição ma­
oferta especial que Paulo levantou para os ravilhosa em Cristo como membros do cor­
cristãos necessitados na Judéia tinha o pro­ po, participando da graça de Deus em pé
pósito de mostrar a boa vontade existente de igualdade com os judeus. Essa verdade
entre essas igrejas e as igrejas que Paulo fun­ não havia sido revelada nas Escrituras do
dou (Rm 15:25-33). Paulo entregou a oferta Antigo Testamento. Sua revelação se deu
pessoalmente (At 21:17-19), e tudo indica por meio dos apóstolos e profetas do No­
que foi bem recebido pelos cristãos da Ju­ vo Testamento (ver Ef 4:11) por intermédio
déia. Apesar das medidas drásticas que o do Espírito Santo. Deus revelou-a pessoal­
apóstolo tomou para tranqüilizar os cristãos mente a Paulo e o incumbiu de comparti­
judeus, houve tumulto no templo, e Paulo lhá-la com os cristãos gentios. Essa foi a
foi levado para a prisão (At 21:30-33). Ele se "dispensação" - ou intendência - que o
defendeu apresentando seu testemunho apóstolo recebeu do Senhor. Paulo havia
pessoal, e a multidão lhe deu ouvidos até sido um despenseiro fiel e, agora, se en­
ele falar dos "gentios". Ao ouvirem esse ter­ contrava preso em Roma. Como José no
mo, os judeus revoltaram-se novamente (At Antigo Testamento, sua intendência leal re­
22:22, 23). O restante do Livro de Atos rela­ sultou em sua prisão. Mas, no final, tudo o
ta a jornada de Paulo de Jerusalém a Roma que sucedeu a ambos serviu para glorificar
como "prisioneiro de Cristo Jesus, por amor a Deus grandemente e para salvar judeus
[dos] gentios" (Ef 3:1). Se Paulo tivesse ce­ e gentios.
dido em sua mensagem e incentivado os
preconceitos egoístas dos judeus, provavel­ 2 . S u a r el ev â n c ia pa r a o s g e n t io s
mente teria sido solto. ( E f 3 :6 - 8 )
Paulo não apenas era um "prisioneiro" Em Efésios 2:11-22, descobrimos que a obra
por causa do "mistério", como também era de Cristo na cruz não se ateve à salvação
um "ministro". Deus lhe deu uma "dispen- dos pecadores como indivíduos. Também
sação" (mordomia), a fim de que pudesse ir reconciliou judeus e gentios uns com os
aos gentios com as boas-novas da salvação outros e com Deus. Essa é a verdade que
em Cristo e também com a mensagem de Paulo apresenta aqui, e podemos imaginar
que, a partir de então, judeus e gentios eram como eram, de fato, boas-novas! A verdade
um em Cristo. O termo "dispensação" vem do "mistério" revela aos cristãos gentios que
de duas palavras gregas: oikos, que significa eles têm um relacionamento novo e maravi­
"casa", e nomos, que significa "lei". Nosso lhoso por meio de Jesus Cristo.

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E F É S I O S 3:1-1 3 35

Em prim eiro lugar, são co-herdeiros com Cristo" (Ef 3:8). Em ocasião anterior, Paulo
os judeus e têm parte nas riquezas espiri­ as cham a de "suprem a riqueza" (Ef 2:7), mas
tuais que Deus lhes deu em função de sua aqui as descreve com o sendo "insondáveis".
aliança com Abraão (G l 3:29). Em Cristo, não Também podem ser descritas com o "im pers­
há qualquer vantagem ou desvantagem em crutáveis", ou seja, tão vastas que não é
ser judeu ou gentio, pois participam os juntos possível encontrar seu fim. (Alguns estudio­
das riquezas de Cristo. O s gentios também sos acreditam que o sentido de "im pers­
são membros do corpo de Cristo, a Igreja. crutável" também indica que tal mistério não
"H á som ente um corp o" (Ef 4:4). O nasci­ poderia ser esquadrinhado no Antigo Testa­
mento hum ano determina as distinções ra­ mento, uma vez que Deus o havia mantido
ciais, mas o nascimento espiritual prom ove oculto.)
nossa união com o membros do mesmo cor­ Essas riquezas estão à disposição de to­
po (1 C o 12:12-14). Cristo é o Cabeça desse dos os cristãos? Sem dúvida! N a verdade,
corpo (Ef 5:22, 23), e cada membro partici­ Paulo deixa claro que ele próprio não tinha
pa do ministério (Ef 4:10-13). Além disso, em qualquer direito especial de reivindicar as
seu novo relacionam ento, os gentios são co- riquezas de Deus, pois se considerava "o
participantes das promessas de Deus. Em menor de todos os santos" (Ef 3:8). O nome
outros tempos, se encontravam fora da alian­ Paulo (Paulus) quer dizer "p eq ueno" em la­
ça e não tinham direito algum de reivindicar tim, e talvez Paulo usasse esse nom e por
as promessas de Deus (Ef 2:12); mas agora, saber quanto era insignificante (At 13:9). Ele
em Cristo, com partilham das promessas de cham a a si mesmo de "o m enor dos apósto­
Deus com os cristãos judeus. Em Romanos los" (1 C o 15:9), mas pelo menos era um
11:13-15, Paulo explica que os cristãos gen­ apóstolo, o que é mais do que podem os di­
tios têm parte nas riquezas que Deus deu a zer a nosso respeito. Aqui, ele se refere a si
Israel. M as em Rom anos 11:1-12, explica mesmo com o "o menor de todos os santos"
que, mesmo com a existência da Igreja, Deus (Ef 3:8) e, posteriormente, afirma ser "o prin­
não cancelou suas promessas a Israel. Hoje, cipal [dos pecadores]" (1 Tm 1:15). A com ­
a Igreja com partilha das riquezas espirituais preensão das verdades profundas da Palavra
de Israel, mas, um dia, Deus restaurará seu de Deus não torna o ser hum ano orgulho­
povo e cumprirá as promessas com respeito so; antes, lhe dá um coração quebrantado
a sua terra e a seu reino. e contrito.
"O m istério" não apenas permite que os
gentios entrem em um novo relacionam en­ 3 . S u a r e le v â n c ia p a ra o s a n jo s
to, com o também revela a existência de um (E f 3 : 9 , 1 0 )
novo poder a sua disposição (Ef 3:7). Esse Talvez a esta altura você esteja se pergun­
poder é demonstrado na vida de Paulo. Deus tando: "Po r que Deus manteve oculto por
o salvou pela graça e lhe deu uma dispen- tantos séculos esse segredo sobre a igreja?"
sação, um ministério especial para os gen­ Por certo, o Antigo Testamento afirma clara­
tios. O termo grego para "força", no versículo mente que Deus salvaria os gentios por meio
7, é energeia, de onde vem a palavra "ener­ de Israel, mas em parte alguma diz que tan­
gia". O term o grego para "p o d er" é dunamis, to judeus quanto gentios form ariam uma
de onde vêm as palavras "dinâm ico" e "di­ nova unidade: a Igreja, o corpo de Cristo.
nam ite". Paulo já havia falado sobre esse Foi esse mistério que o Espírito revelou a
grande poder em Efésios 1:19-23, e voltará Paulo e aos outros líderes da Igreja primitiva
a mencioná-lo em Efésios 3:20 e Efésios 4:16. e que os judeus tiveram tanta dificuldade
O grande poder da ressurreição de Cristo em aceitar.
encontra-se a nossa disposição para a vida Paulo diz que os "principados e potes­
e o serviço diário. tades" também fazem parte desse grande
Por fim, os gentios têm novas riquezas a segredo. D eus está "in stru ind o" os anjos
sua disposição: as "insondáveis riquezas de por meio da Igreja! Paulo usa a designação
36 E F É S I O S 3:1-13

"principados e potestades" para referir-se aos tivesse entendido toda a abrangência da


seres angelicais - tanto os bons quanto os obra da cruz, sem dúvida teria mudado seus
maus - criados por Deus (Ef 1:21; 6:12; Cl planos de acordo com isso.
1:16; 2:1 5). Os anjos são seres criados e não Deus ocultou esse plano maravilhoso
são oniscientes. Na verdade, Pedro mostra "desde os séculos", mas agora deseja que
que, no período do Antigo Testamento, os esse "mistério" seja conhecido por sua Igre­
anjos tinham curiosidade acerca do plano da ja. Foi por isso que ordenou Paulo como
salvação que Deus realizava na Terra (1 Pe "despenseiro" dessa grande verdade. Uma
1:10-12). Sem dúvida, os anjos regozijam-se tradução mais apropriada para Efésios 3:9
quando um pecador se arrepende (Lc 15:10); pode ser: "e fazer todos os homens com­
Paulo sugere que os anjos observam as ati­ preenderem o que vem a ser a dispensação
vidades da congregação local (1 Co 11:10). do mistério". Encontramos aqui uma decla­
Nas palavras do apóstolo, "nos tornamos es­ ração extraordinária: agora, todos os cristãos
petáculo ao mundo, tanto a anjos, como a devem ser despenseiros fiéis dessa grande
homens" (1 Co 4:9). verdade! Esse "segredo santo", tão impor­
Mas, afinal, o que os anjos aprendem tante para Paulo, para os gentios e para os
com a Igreja? "A multiforme sabedoria de anjos, agora se encontra em nossas mãos!
Deus" (Ef 3:10). Sem dúvida, os anjos sa­
bem do poder de Deus, observável em sua 4. D ev e s er r e l e v a n t e a o s c r is t ã o s d e
criação. No entanto, a sabedoria de Deus h o je (E f 3 :1 1 - 1 3 )
manifesta em sua nova criação, a Igreja, é Quando Deus salvou Paulo, confiou-lhe os
aigo inédito para eles. Os não salvos, inclu­ tesouros preciosos do evangelho (1 Tm 1:11).
sive os filósofos sábios, olham para o plano O apóstolo, por sua vez, transmitiu essas
divino de salvação e o consideram "loucura" verdades a pessoas fiéis, exortando-as a
(1 Co 1:18-31). Mas os anjos vêem Deus guardá-las e a compartilhá-las (2 Tm 2:2). "E
realizar seu plano de salvação e louvam sua tu, ó Timóteo, guarda o que te foi confiado"
sabedoria. Paulo a chama de multiforme sa­ (1 Tm 6:20). No fim de sua vida, Paulo de­
bedoria, expressão que tem o sentido de clarou para a glória de Deus: "Guardei a fé"
"variegado" ou "multicolorido", indicando (2 Tm 4:7). Durante o período apostólico,
a beleza e a variedade da sabedoria de Deus as verdades do evangelho e o "mistério" fo­
em seu grande plano de salvação. ram guardados, pregados e transmitidos a
No entanto, essa verdade apresenta ou­ cristãos fiéis.
tra faceta a ser explorada. O que os anjos No entanto, ao estudar a história da Igre­
maus estão aprendendo com o "mistério" ja, observamos que, uma a uma, várias des­
de Deus? Que seu líder, Satanás, não possui sas verdades fundamentais da Palavra de
sabedoria alguma! Satanás conhece a Bíblia Deus foram se perdendo ao longo dos sé­
e entendeu, pelos escritos do Antigo Tes­ culos. Deus sempre teve um povo fiel - uma
tamento, que o Salvador viria, quando ele minoria -, mas muitas verdades preciosas
viria, com o ele viria e onde ele viria. Com da Palavra foram soterradas pela teologia,
respeito à redenção, também entendeu po r pela tradição e pelos rituais. Então, o Espíri­
que ele viria. Mas, em parte aiguma do Anti­ to de Deus começou a abrir os olhos das
go Testamento, Satanás encontrou profecias almas que buscavam tais verdades, e estas
acerca da Igreja, o "mistério" dos judeus e lhe foram reveladas novamente. Martinho
gentios unidos em um só corpo! Satanás foi Lutero defendeu a justificação pela fé. Ou­
capaz de ver judeus incrédulos rejeitando tros líderes espirituais redescobriram a pes­
seu Messias e gentios crendo no Messias, soa e a obra do Espírito Santo, a verdade
mas não pôde ver tanto judeus quanto gen­ gloriosa da volta de Jesus Cristo e a alegria
tios unidos em um só corpo, assentados com da vida cristã vitoriosa. Nos úitimos anos,
Cristo nos lugares celestiais, completamen­ a revelação desse "mistério" tem voltado a
te vitoriosos sobre o Inimigo! Se Satanás despertar o coração do povo de Deus.

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E F É S I O S 3:1-1 3 37

Alegramo-nos por ser um só corpo "em Cris­ parte do propósito eterno de Deus em Cris­
to Jesus". to (Ef 3:11). Ignorar essa verdade é pecar
A maioria das pessoas se lembra de Na- contra o Pai que a intentou, contra o Filho
poleão Bonaparte com o o aspirante a con­ que a tornou possível e contra o Espírito que
quistador da Europa. Pouca gente pensa nele hoje procura operar em nossa vida de m odo
com o um patrono das artes e ciências, e, a cum prir os desígnios de Deus. Q uan do
no entanto, ele foi um benfeitor nessas duas com preendem os esse fato, crescem os em
áreas. Em julho de 1 798, N apoleão com e­ confiança e em fé (Ef 3:12). Q uando sabe­
çou a ocupar o Egito, mas em setembro de mos o que Deus está fazendo no m undo e
1801 foi obrigado a retirar-se. Em term os cooperam os com ele, podem os estar certos
de planos militares e políticos, esses três anos de que ele operará em nós e a nosso favor.
foram um fracasso absoluto, mas represen­ Todos os seus recursos divinos encontram-
taram uma vitória numa área de grande in­ se à disposição dos que desejam de cora­
teresse de Bonaparte - a arqueologia. Isso ção fazer sua vontade e ajudá-lo a cumprir
porque, em agosto de 1799, um francês seus propósitos aqui na Terra.
cham ado Boussand descobriu a Pedra de A Igreja primitiva acreditava que o evan­
Roseta em um local a cerca de cinqüenta gelho pertencia aos judeus, pois havia sido
quilôm etros de Alexandria. Essa descoberta transmitido primeiram ente para eles e, em
deu aos arqueólogos a chave para com pre­ seguida, p or m eio deles. Antes de Pedro ser
ender os hieróglifos egípcios e abriu a porta orientado por Deus a levar as boas-novas
para os estudos modernos sobre o Egito. aos gentios (At 10), os judeus cristãos acre­
O "m istério" é a "Pedra de Roseta" de ditavam que um gentio precisava tornar-se
Deus. É a chave para aquilo que ele prome­ judeu antes de se converter à fé cristã! Aos
teu no Antigo Testamento, que Cristo fez nos poucos, o Espírito Santo revelou à Igreja que
Evangelhos e a Igreja fez no Livro de Atos, Deus fazia algo novo: estava cham ando um
para o que Paulo e outros escritores ensi­ povo para seu nome, constituído tanto de
nam nas Epístolas e o que Deus ainda rea­ judeus quanto de gentios (At 15:14). D en­
lizará, conform e se encontra registrado no tro da igreja, não há distinções nacionais,
Livro de Apocalipse. O plano de Deus para raciais, políticas, físicas ou sociais. N ão há
os dias de hoje não é a "suprem acia de Is­ "judeu nem grego; nem escravo nem liber­
rael" (D t 28:1-13), mas sim a liderança de to; nem homem nem mulher; porque todos
Cristo sobre sua Igreja. Hoje, estamos debai­ vós sois um em Cristo Jesus" (G l 3:28).
xo de uma "dispensação" diferente daquela O discernim ento acerca do plano de
de M oisés e dos profetas e devem os cuidar Deus em nossa era não apenas leva o cris­
para não fazer confusão com aquilo que tão a confiar no Senhor, mas também lhe dá
Deus já esclareceu. coragem em m eio às situações difíceis da
M uitas igrejas de nosso tempo se mos­ vida. O sofrimento de Paulo pelos gentios
tram fracas e inexpressivas porque não com ­ representaria glória para os gentios. N o tem­
preendem o que possuem em Cristo. Isso po do Antigo Testamento, quando o povo
se deve, em muitos casos, a líderes espiri­ de Deus obedecia, Deus os abençoava em
tuais que não são bons "despenseiros do termos materiais, nacionais e físicos (D t 28);
mistério". Um a vez que não "[m anejam ] bem e, se lhe desobedeciam , ele retirava essas
a palavra da verdade" (2 Tm 2:15), confun­ bênçãos. M as não é assim que Deus se rela­
dem as pessoas com respeito a sua posição ciona com sua Igreja nos dias de hoje. Nos­
espiritual no Senhor e as privam da riqueza sas bênçãos são espirituais, não materiais (Ef
espiritual que se encontra a seu dispor em 1:3); todas elas nos foram dadas inteiram en­
Cristo. te em Cristo. Apropriamo-nos delas pela fé,
Essa verdade maravilhosa com respeito mas se desobedecerm os a Deus, ele não as
à Igreja não é um "plano B " que Deus ela­ revog ará. Sim p le sm en te de ix arem o s de
borou depois da criação. Pelo contrário, faz desfrutá-las e de ser enriquecidos por elas.
38 E F É S I O S 3:1-1 3

Sem dúvida, Paulo era um homem consa­ espiritual orientando-se pelo mapa errado.
grado e cheio do Espírito mas, ainda assim, Ou, ainda, podemos dizer que tentam cons­
sofria na prisão. O apóstolo deixa claro que truir uma casa usando o projeto errado. As
nem sempre o cristão consagrado experi­ igrejas de Deus na Terra - as congrega­
mentará bênçãos físicas e materiais (2 Co ções locais - não devem ser panelinhas gen­
4:7-12; 11:23 - 12:10). tias nem judaicas. Uma igreja alemã que se
Estava indo de carro para um compro­ recusa a receber um membro sueco é tão
misso e tentei usar um mapa que havia en­ antibíblica quanto uma congregação de ju­
contrado no porta-luva (tenho um péssimo deus que rejeita um gentio. A Igreja de Deus
senso de direção e, normalmente, minha não deve estar presa à cultura, às classes
esposa é quem serve de "navegadora"...). Por sociais ou a qualquer outra distinção física.
algum motivo, não conseguia encontrar a es­ É uma entidade espiritual que deve sujei­
trada na qual precisava entrar, de modo que tar-se à autoridade de Jesus Cristo no poder
parei em um posto para pedir informação. do Espírito.
- Esse mapa é do tempo da minha avó! Deus tem um "segredo", mas deseja
- exclamou o frentista. - Vou arranjar um revelá-lo! Se compreendermos qual é nossa
mapa atualizado para o senhor. E só seguir posição extraordinária em Cristo, viveremos
as indicações que não tem erro. - Ele estava de acordo com ela e compartilharemos a
certo. Segui o mapa novo e cheguei em tem­ bênção com outros. Esse segredo, tão im­
po para meu compromisso. portante para Paulo, para os gentios e para
Quem não entende o "mistério" de Deus os anjos, também deve ser importante pa­
em sua Igreja tenta avançar em sua jornada ra nós hoje.

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especial para orar. Abraão perm aneceu em
7 pé diante do Senhor quando orou por Sodo-
ma (G n 18:22), e Salom ão tam bém estava
em pé quando orou consagrando o templo
U s e m S u a s R iq u e z a s (1 Rs 8:22). Davi "ficou [se assentou] peran­
te [o S e n h o r ] " (1 Cr 17:16) ao orar pelo fu­
Ef é s io s 3 :1 4 -2 1 turo do seu reino. E Jesus "prostrou-se sobre
o seu rosto" (M t 26:39) enquanto orava no
Getsêm ani.
A ênfase sobre a postura espiritual fica
extrem am ente clara em Efésios. Com o pe­
cadores, encontramo-nos sepultados em um

E
sta passagem é a segunda de duas ora­ cem itério (Ef 2:1). M as quando crem os em
ções registradas em Efésios. A primeira Cristo, somos ressuscitados dos mortos e
encontra-se em Efésios 1:15-23 e enfatiza o assentados com Cristo nos lugares celestiais
esclarecim en to, enq uanto esta enfatiza a (Ef 2:4-6). Um a vez assentados com Cristo,
capacitação. N ão se refere tanto ao saber, poderem os andar de m odo agradável a ele
mas sim ao ser. É uma questão de apropriar- (Ef 4:1, 17; 5:2, 8, 15) e ficar firmes contra
se, pela fé, do que Deus tem para nós e de o diabo (Ef 6:10-13). N o entanto, a postura
fazer disso uma parte essencial da vida. Paulo que liga o "assentar" com o "an d ar" é o
está dizendo: "Q u e ro que tomem posse de "ajoelhar-se". É por m eio da oração que nos
sua riqueza, percebam com o ela é imensa e apropriamos das riquezas que nos permitem
com ecem a usá-la". viver e lutar com o cristãos. O mais im por­
Convém observar que, com o as outras tante não é dobrar os joelhos literalm ente,
orações do apóstolo na prisão (Fp 1:9-11; Cl mas sim prostrar o coração e a vontade dian­
1:9-12), estas duas súplicas tratam da condi­ te do Senhor e pedir que ele supra nossas
ção espiritual do ser interior, não das neces­ necessidades.
sidades materiais do corpo. Claro que não é Paulo dirige sua oração ao "Pai". N a Bí­
errado orar pedindo que Deus supra necessi­ blia, a oração é dirigida ao Pai, por meio do
dades físicas e materiais, mas a ênfase aqui é Filho e no Espírito. Esse é o padrão, mas
sobre a vida espiritual. Paulo sabia que, ha­ podem os encontrar p etições dirigidas ao
vendo ordem no ser interior, as necessida­ Filho e, possivelmente, ao Espírito (1 Ts 3:12,
des do ser exterior também serão atendidas 13). Em Efésios 1:3, Paulo cham a o "P a i" de
em seu devido tempo. Muitas de nossas ora­ "o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo".
ções concentram-se naquilo que precisamos Ele era o "D eus [...] de nosso Senhor Jesus
no plano físico e material, mas não expres­ Cristo" quando Jesus estava aqui na Terra,
sam as necessidades mais profundas do co­ pois, com o homem, Jesus viveu na depen­
ração. Pode ser proveitoso fazer nossas as dência total de Deus. Esse título nos faz lem­
palavras dessas orações da prisão e pedir que brar a hum anidade de Cristo. M as Deus é o
Deus trate de nosso ser interior, pois é nos "Pai de nosso Senhor Jesus Cristo", pois Je ­
lugares mais profundos de nosso ser que se sus Cristo é o Deus eterno, e esse título nos
encontram as maiores necessidades. faz lembrar sua divindade.
Em certo sentido, porém , os seres hu­
1. A in v o c a ç ã o (E f 3:14, 15) manos em geral e os cristãos em particular
A primeira coisa que cham a a atenção é a encontram-se relacionados à paternidade de
postura de Paulo: "M e ponho de joelhos" Deus. Paulo afirma que do Pai divino "tom a
(o que deve ter sido uma experiência inte­ o nom e toda família, tanto no céu com o
ressante para o soldado rom ano ao qual sobre a terra". O termo "fam ília" pode ser
Paulo estava acorrentado!). Em parte alguma traduzido por "p aternidade". Toda paterni­
a Bíblia ordena que se assuma uma postura dade no céu e na Terra tem origem no Pai e
toma dele seu nome. Ele é o grande Ser a diferença!" Uma afirmação triste porém
Original; toda paternidade não passa de uma verdadeira.
imitação. Adão é chamado de "filho de O poder do Espírito é concedido "segun­
Deus" (Lc 3:38), em uma referência a sua do a riqueza da sua glória" (Ef 3:16). Cristo
criação. Os cristãos são "filhos de Deus" por voltou à glória e enviou o Espírito do céu
meio do novo nascimento (Jo 1:11-13; 1 Jo para habitar dentro do seu povo e lhe dar
3:1,2). Não se pode dizer que todos os seres poder. Não é necessário trabalhar para obtê-
humanos são filhos de Deus por natureza. lo. Como é maravilhoso que Deus não nos
Pelo contrário, são filhos da desobediência conceda o poder do Espírito "c/e parte da
e filhos da ira (Ef 2:2, 3). Como Criador, Deus sua riqueza", mas sim "segundo a sua rique­
é o Pai de cada pessoa; mas como Salvador, za". Se um bilionário dá dez dólares a alguém,
é Pai apenas dos que crêem. As Escrituras trata-se de uma doação de parte de suas ri­
não falam, em parte alguma, de uma pater­ quezas; mas se ele dá um milhão de dóla­
nidade universal e salvadora de Deus. "Im­ res, trata-se de uma doação segundo suas
porta-vos nascer de novo" (Jo 3:7). riquezas ou de acordo com elas. No primei­
ro caso, há uma porção, e, no segundo, uma
2. A p e tiç ã o ( E f 3 :1 6 - 1 9 ) proporção.
Paulo faz quatro pedidos em sua oração, mas Esse poder encontra-se à disposição do
estes não devem ser considerados petições "ser interior", ou seja, da parte espiritual
individuais e isoladas. Esses quatro pedidos do ser humano onde Deus habita e opera.
assemelham-se mais a quatro partes de um O ser interior do pecador está morto (Ef 2:1),
telescópio. Um pedido conduz ao próximo, mas recebe vida quando Cristo é convida­
e assim por diante. O apóstolo ora para que do a entrar. O ser interior pode ver (SI
o ser interior seja espiritualmente fortaleci­ 119:18), ouvir (M t 13:9), provar (SI 34:8)
do, o que, por sua vez, conduzirá a uma ex­ e sentir (At 17:27), e deve ser "exercitado"
periência mais profunda com Cristo. Essa (1 Tm 4:7, 8). Também deve ser purificado
experiência mais profunda permitirá uma (SI 51:7) e nutrido (Mt 4:4). O ser exterior é
compreensão do grande amor de Deus, que perecível, mas o ser interior pode ser re­
resultará em "ser [tomado] de toda a pleni­ novado espiritualmente, a despeito da dete­
tude de Deus". Assim, Paulo ora pedindo for­ rioração física (2 Co 4:16-18). É esse poder
ça, profundidade, compreensão e plenitude. interior que permite ao cristão ser vitorioso.
Força (v. 16). A presença do Espírito San­ Ao afirmar que o Espírito Santo dá poder
to na vida do cristão dá testemunho de sua ao ser interior, dizemos que todas as nossas
salvação (Rm 8:9), mas o poder do Espírito faculdades espirituais são controladas por
dá a capacitação necessária para sua vida, Deus e que as exercitamos e crescemos na
e é esse poder que Paulo deseja para seus Palavra (Hb 5:12-14). Só é possível viver cor­
leitores. "Recebereis poder, ao descer sobre retamente para a glória de Deus quando
vós o Espírito Santo" (At 1:8). Jesus realizou nos entregamos ao Espírito e permitimos que
seu ministério na Terra pelo poder do Espí­ ele exerça controle absoluto. Para tanto,
rito (Lc 4:1,14; At 10:38), e esse é o único devemos alimentar nosso ser interior com a
recurso disponível para a vida cristã nos dias Palavra de Deus, orar e adorar, nos manter
de hoje. Ao lermos o Livro de Atos, vemos a puros e exercitar nossos sentidos por meio
importância do Espírito Santo na vida da igre­ da obediência que vem do amor.
ja, pois o Espírito é mencionado 59 vezes Profundidade (v. 17). A fim de transmi­
ao longo desse livro, o que corresponde a tir o conceito de profundidade espiritual,
um quarto das referências feitas a essa pes­ Paulo usa três imagens, ocultas em três ver­
soa da Trindade em todo o Novo Testamen­ bos: "habitar", "arraigar" e "alicerçar". O
to. Alguém disse: "Se Deus tirasse o Espírito verbo habitar significa, literalmente (seguin­
Santo deste mundo, a maioria das obras dos do a tradução do dr. Kenneth Wuest), "fazer
cristãos prosseguiria... e ninguém perceberia morada e sentir-se em casa". Sem dúvida,

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E F É S I O S 3:14-21 41

Cristo já residia no coração dos efésios, pois disso, os trabalhadores passaram várias se­
de outro m odo Pauio não teria se dirigido manas m oldando as sapatas de concreto.
a eles com o "santos" em efésios 1:1. Paulo Um dia, me queixei com o arquiteto, e ele
está pedindo que o povo de Deus tenha respondeu:
uma experiência mais profunda com Cris­
to. Seu desejo é que Cristo não apenas - Pastor, os alicerces são a parte mais
habite, mas tam bém se sinta em casa no importante da construção. Não se pode
co ração dos cristãos, indicando uma com u­ levantar um edifício alto sem alicerces
nhão cada vez mais íntima, não um relacio­ profundos.
nam ento superficial.
A vida de Abraão ilustra essa verdade. D esde então, essa frase tem sido um ser­
Q u an d o D eus estava preste a ab e nço ar mão para mim.
A b raão com um filho, visitou o patriarca As provações da vida testam a profun­
hebreu acom panhado de dois anjos. Eles didade da nossa experiência. Se dois uni­
entraram na tenda, conversaram com Abraão versitários dividem um apartam ento e se
e até com eram com ele. Sentiram-se em desentendem , podem procurar outra pes­
casa, pois ali vivia um hom em fiel e obe­ soa com quem morar, pois se trata de um
diente. O s visitantes também estavam lá para arranjo tem porário. M as se um m arido e
investigar os pecados de Sodoma, pois Deus uma esposa que se amam enfrentam um
planejava destruir tanto essa cidade quanto conflito, essa provação servirá para apro­
a cidade vizinha de Gom orra. Ló, um ho­ fundar ainda mais seu relacionam ento, à
mem tem ente ao Senhor, vivia em Sodoma, m edida que procurarem resolver seus pro­
e Deus desejava alertá-lo antes de mandar o blem as. A tem pestade revela a força das
julgamento. Deus enviou os dois anjos para raízes. Jesus contou uma história sobre dois
cum prir essa missão, mas ele próprio não construtores, ressaltando que um deies não
entrou na cidade (G n 18 - 19). A o contrário edificou alicerces profundos (M t 7:24-29).
da tenda de Abraão, a casa de Ló não era Paulo orou para que os cristãos tenham uma
um lugar onde Deus se sentia à vontade. experiência mais profunda com Cristo, pois
O verbo "arraigar" remete-nos à botâni­ som ente esse tipo de experiência poderá
ca. Um a árvore deve ter raízes profundas, a sustentá-los durante as tribulações mais se­
fim de se manter firme e obter nutrientes do veras da vida.
solo; o cristão deve encontrar-se profunda­ C om p reensão (vv. 18, 19a). O term o
mente arraigado no amor de Deus. O Sal­ "com p reensão" vem do latim prehendere,
mo 1:1-3 apresenta uma descrição perfeita que significa "prender", "segurar" e dá a idéia
dessa palavra, e Jerem ias 17:5-8 é um exce­ de tom ar algo para si. Com preender não sig­
lente com entário. U m a das perguntas mais nifica apenas entender algo no plano mental,
importantes que um cristão pode fazer a si mas também assimilar esse entendim ento no
mesmo é: "d e onde tiro meu sustento e es­ plano pessoal. Em outras palavras, uma pes­
tabilidade?" A fim de ter poder, a vida cristã soa pode entender um conceito sem tomá-
precisa de profundidade. lo para si. A preocupação de Paulo é que
"A licerçar" é um verbo relacionado à ar­ nos apropriem os da im ensidão do am or de
quitetura e se refere aos fundamentos sobre Deus. Ele deseja que vivam os em quatro di­
os quais edificam os. Nas duas primeiras igre­ mensões. Ao dar a terra a Abraão, Deus or­
jas que pastoreei, tivemos o privilégio de cons­ denou: "Levanta-te, percorre essa terra no
truir um tem plo novo e, nos dois projetos, a seu co m prim ento e na sua largura" (G n
impressão era que levaria uma eternidade 13:17). Abraão teve de dar um passo de fé e
para levantar a construção. Na segunda obra, se apropriar de sua herança. Hoje, porém,
gastamos uma soma exorbitante para exa­ temos uma herança em quatro dimensões:
minar o solo, pois estávamos construindo no largura, com prim ento, altura e profundida­
leito de um lago que havia secado. Depois de. A quarta dimensão de Deus é o amor!
42 E F É S I O S 3:14-21

No entanto, nos vemos diante de um "aperfeiçoado" significa "cheio até o limite").


paradoxo, pois Paulo deseja que conheça­ No que se refere a nossa posição, estamos
mos pessoalmente "o amor de Cristo, que completos nele, mas em termos práticos, des­
excede todo entendimento". Sabemos da frutamos somente da graça que somos ca­
existência de certas dimensões, mas estas pazes de compreender pela fé. Os recursos
não podem ser medidas. Esse "amor de Cris­ estão a nossa disposição. Tudo o que é pre­
to, que excede todo o entendimento" é pa­ ciso fazer é desfrutá-los. Mais adiante, Paulo
ralelo às "insondáveis riquezas de Cristo" {Ef voltará a tratar dessa plenitude (Ef 5:18-21),
3:8). Somos tão ricos em Cristo que nossas de modo que faremos outros comentários
riquezas não podem ser calculadas nem pelo sobre o assunto na seção correspondente.
mais moderno dos computadores.
Certa vez, vi uma história em quadri­ 3. A bên ç ã o ( E f 3 :2 0 , 2 1 )
nhos que mostrava um homem conversan­ Não é de se admirar que, depois de con­
do com um vendedor de barcos. Ao redor templar uma experiência espiritual tão ma­
deles, o show room estava cheio de iates e ravilhosa, Paulo tenha irrompido em uma
barcos sofisticados. Abaixo da figura esta­ doxologia, uma bendição apropriada para
va escrito: "Se o senhor precisa perguntar essa oração. Convém notar, mais uma vez,
o preço, é porque são caros demais para o a ênfase trinitária das palavras do apóstolo:
seu bolso!" Paulo ora a Deus Pai pedindo o poder inte­
Nenhum cristão precisa preocupar-se rior de Deus Espírito, oferecido a nós por
com seus recursos espirituais, questionan­ meio de Deus Filho.
do se estão à altura das exigências da vida. Talvez a melhor maneira de compreen­
Se orar pedindo força e profundidade espi­ der um pouco da grandeza dessa doxologia
ritual, será capaz de compreender - apro­ seja observar sua forma esquemática:
priar-se - de todos os recursos do amor e
da graça de Deus. "Tudo posso naquele que Àquele que é
me fortalece" (Fp 4:13). E qual é o resultado poderoso para fazer tudo
disso? mais do que tudo
Plenitude (v, 19b). Diz-se que a nature­ infinitamente mais do que tudo
za tem aversão ao vácuo. Isso explica por
que o ar e a água ocupam imediatamente Ao que parece, Paulo deseja usar todas as
qualquer espaço vazio. A natureza divina palavras possíveis para comunicar a imen­
também tem aversão ao vácuo. Deus dese­ sidão do poder de Deus que encontramos
ja que experimentemos plenitude. Uma tra­ em Jesus Cristo. O apóstolo encerra os dois
dução mais clara é "ser tomado po r toda capítulos anteriores com louvores a Deus por
plenitude de Deus". O Espírito Santo é o sua grande vitória em Cristo. Afirma que o
meio pelo qual obtemos essa plenitude (Ef poder de Cristo é tão grande que ele ressus­
5:18), cuja medida é o próprio Deus (Ef 4:11 - citou dentre os mortos e subiu aos lugares
16). É triste quando os cristãos usam medidas celestiais acima de todas as coisas (Ef 1:19­
erradas para examinar sua vida espiritual. 23) e reconciliou judeus e gentios uns com
Gostamos de tomar como parâmetro os cris­ os outros e com Deus, e agora Deus está
tãos mais fracos que conhecemos e, então, edificando um templo para sua glória eter­
nos gloriar do que supomos ser nossa supe­ na (Ef 2:19-22). Mas neste parágrafo que
rioridade espiritual. Paulo diz que Cristo é a estamos estudando, Paulo diz algo maravi­
medida e que não podemos (nem devemos) lhoso: esse poder infinitamente maior do que
nos gloriar de coisa alguma. Quando alcan­ tudo está a nossa disposição e vai muito além
çarmos a plenitude de Cristo, então teremos de tudo o que pedimos ou pensamos! Em
chegado ao limite. outras palavras, assim como o amor de Cris­
Em certo sentido, o cristão já "[está] aper­ to, seu poder excede toda compreensão e
feiçoado em Cristo" (ver Cl 2:9, 10, em que parâmetro humano. E é exatamente esse tipo

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EFÉSIO S 3:14-21 43

de poder que precisamos para andar com de viver e o caráter mundano das idéias e
Cristo e obter vitória nas batalhas espirituais. ações podem privar o cristão da energia
O termo grego usado para "poder" é e do poder necessários, tornando-o inade­
dunamis, a mesma palavra encontrada em quado para ser usado por Deus. "Porque sem
Efésios 3:7, e "operar" é energeia (energia), mim nada podeis fazer" (jo 15:5).
que aparece também em Efésios 1:11, 19; Por que Deus compartilha seu poder
2:2; 3:7 e 4:16. Existe certa energia poten­ conosco? A fim de que possamos construir
cial disponível, mas não utilizada, como a grandes igrejas para nossa própria glória? A
energia guardada em uma pilha. Mas a ener­ fim de nos envaidecermos com nossas reali­
gia de Deus é poder operante - poder que zações? De maneira alguma! "A ele seja a
atua em nossa vida. Esse poder opera em glória na Igreja". O Espírito de Deus foi con­
nós, no ser interior (Ef 3:16). Convém ler cedido para glorificar o Filho de Deus (Jo
Filipenses 2:12,13, pois são versículos para­ 16:14). A Igreja está aqui na Terra para glori­
lelos. É o Espírito Santo que libera o poder ficar a Cristo. Se nossa motivação maior for
da ressurreição de Cristo em nossa vida. glorificar a Deus edificando sua Igreja, en­
Em um dia de inverno, precisava compa­ tão Deus compartilhará seu poder conosco.
recer a um compromisso importante em Chi­ O poder do Espírito não é um luxo, é uma
cago, e, na noite anterior, toda a região foi necessidade.
atingida por uma forte tempestade de neve. O mais impressionante é que tudo o que
A casa onde eu estava não tinha garagem, fizermos no poder de Deus hoje glorificará
de modo que o carro não apenas ficou todo a Cristo "por todas as gerações, para todo
coberto de neve, mas também cheio de gelo o sempre" (Ef 3:21). O maior ministério da
nos pára-lamas e pára-choques. Depois que Igreja ainda está por vir. Aquilo que faze­
limpei a parte de cima, não foi difícil remo­ mos no presente é uma preparação para as
ver o acúmulo de gelo na parte inferior. Fui eras eternas, quando glorificaremos a Cris­
até um posto para abastecer e, ao pressio­ to para sempre.
nar o botão no painel para abrir o tanque de Ele é capaz de fazer tudo - mais do que
combustível, percebi que o mecanismo não tudo - infinitamente mais do que tudo!
estava funcionando. O frentista olhou debai­ Vamos começar a usar nossas riquezas
xo do pára-choque e descobriu o problema. espirituais, abrindo o coração para o Espíri­
Ao tirar o gelo acumulado, eu havia rompi­ to Santo e seguindo o exemplo de Paulo,
do o cabo que ligava a tampa à bateria. pedindo força para o ser interior, a fim de
Ao que parece, é isso o que acontece alcançar uma nova profundidade no amor
com muitos cristãos. Foram desligados de sua de Cristo, crescer em compreensão e expe­
fonte de energia. A incredulidade, os peca­ rimentar a plenitude espiritual. "Nada ten­
dos não confessados, o desleixo no modo des, porque não pedis" (Tg 4:2).
8 nas doutrinas ensinadas nos três primeiros
capítulos (Rm 12:1, 2 são versículos para­
lelos). A vida cristã não se fundamenta na
ignorância, mas sim no conhecimento, e,
V a mo s A n d a r J u n t o s quanto maior nossa compreensão da dou­
trina bíblica, mais fácil será cumprir os deve­
E f é s io s 4 :1 -1 6 res bíblicos. Quando as pessoas dizem: "não
venha me falar de doutrina - deixe-me viver
como um cristão!", revelam sua ignorância
acerca da maneira de o Espírito Santo ope­
rar na vida do cristão. Uma confissão seme­
lhante de ignorância é dizer: "as convicções

T
odas as epístolas de Paulo apresentam não são importantes; o que importa é viver
um excelente equilíbrio entre doutrina da maneira correta". Claro que as convic­
e dever, e Efésios é o exemplo perfeito. Os ções são importantes, pois elas determinam
três primeiros capítulos tratam de doutrina, nosso comportamento.
de nossas riquezas em Cristo, enquanto os O termo rogar indica que Deus, em seu
três últimos capítulos explicam os deveres, amor, nos insta a viver para sua glória. Não
nossas responsabilidades em Cristo. A idéia segue mais o padrão do Antigo Testamento,
central na primeira metade do livro é "ri­ no qual ele dizia: "se me seguir, eu o aben­
queza", e a palavra-chave da última meta­ çoarei". Agora, Deus diz: "Eu já o abençoei;
de é andar (Ef 4:1, 17; 5:2, 8, 15). Nestes agora, obedeça-me em resposta a meu amor
três capítulos, Paulo nos admoesta a andar e a minha graça". Ele nos chamou de modo
em unidade (Ef 4:1-16), pureza (Ef 4:17 - maravilhoso em Cristo; nossa responsabili­
5:1 7), harmonia (Ef 5:18 - 6:9) e vitória (Ef dade é viver à altura desse chamado.
6:10-24). A idéia central destes dezesseis versículos
Essas quatro maneiras de andar formam iniciais é a unidade dos cristãos em Cristo.
um paralelo perfeito com as doutrinas bási­ Trata-se simplesmente da aplicação prática
cas que o apóstolo ensinou nos três primei­ da doutrina ensinada na primeira metade da
ros capítulos. epístola: Deus está constituindo um corpo
e construindo um templo. Reconciliou os ju­
Nossas riquezas Nosso andar deus e gentios uns com os outros e consigo
Chamados pela graça Andar de modo mesmo em Cristo. A unidade dos cristãos
para pertencer ao digno de nosso em Cristo já é uma realidade espiritual. Nos­
corpo de Cristo chamado - a sa responsabilidade é guardar, proteger e pre­
(cap. 1) unidade do corpo servar essa unidade. Para isso, precisamos
(4:1-16) entender quatro fatos importantes.
Ressuscitados dentre Andar em pureza -
os mortos (2:1-10) despir-se da mortalha 1. A GRAÇA DA UNIDADE
(4:17- 5:17) ( E f 4 :1-3 )
Reconciliados (2:11-22) Andar em harmonia Unidade não é uniformidade. A unidade é
(5:18 - 6:9) de origem interior e constitui uma graça es­
A vitória de Cristo sobre Andar em vitória piritual, enquanto a uniformidade é resultante
Satanás é o mistério (6:10-24) de pressão exterior. Em outra epístola, Paulo
(cap. 3) usa o corpo humano para retratar a unidade
cristã (1 Co 12) e adapta a mesma ilustra­
Antes de estudar esta seção em detalhes, ção para esta seção (Ef 4:13-16). Cada parte
devemos observar dois termos importantes de do corpo é diferente das outras, e, no en­
Efésios 4:1: rogo e pois. O termo pois indica tanto, todas constituem uma só unidade e
que Paulo baseia suas exortações ao dever trabalham em conjunto.
E F É S I O S 4: 1-16 45

A fim de preservar a "unidade do Espírito", que Satanás desfere seus golpes para des­
devem os possuir as graças cristãs indispensá­ truir a unidade. A unidade espiritual de um
veis, e sete delas se encontram relacionadas lar, de uma classe de escoia dom inical ou
nesta passagem. A primeira é a h u m ilda d e. de uma igreja é responsabilidade de todas
Alguém disse: "hum ildade é a graça que per­ as pessoas envolvidas e também um traba­
demos quando descobrim os que a possuí­ lho infindável.
m os". Ser hum ilde significa co locar Cristo A última graça é a p a z: "n o vínculo da
em prim eiro lugar, os outros em segundo e paz". Para a descrição mais vívida de guerra
a si m esm o em último. Significa conhecer a e paz no N ovo Testamento, é interessante
si mesmo, aceitar-se e ser o que é para a gló­ ler Tiago 3:13 a 4:10. Convém observar que
ria do Senhor. Deus não condena o indiví­ o motivo para as guerras que acontecem em
duo por aceitar a si mesmo e aos dons que nível exterior são as guerras em andam ento
tem (Rm 12:3), mas não deseja que ninguém em nível interior. Se um cristão não está em
se considere su p e rio r nem in fe rio r ao que paz com Deus, não será capaz de conviver
de fato é. em paz com os outros cristãos. Q uand o a
M ansidão não é fraqueza, mas sim poder "p az de D eu s" reina em nosso coração ,
sob controle. Moisés era um homem manso podem os construir a unidade (Cl 3:15).
(Nm 12:3), no entanto, podemos ver o po­
der enorm e que exercia. Jesus Cristo era 2. A BASE PARA A U N ID A D E (E f 4:4-6)
"m anso e humilde de coração" (M t 11:29), H oje em dia, muitas pessoas tentam unir os
mas expulsou os cambistas do templo. Na cristãos de forma não bíblica. Fazem decla­
língua grega, esse termo é usado tanto para rações do tipo: "não estamos interessados
um rem édio que dá alívio, com o para um em doutrinas, mas sim no amor; vamos co­
potro dom ado e para um vento suave. Todos locar de lado as doutrinas e amar uns aos
esses casos implicam um poder controlado. outros!" M as Paulo não discute a unidade
Junto à mansidão vem a lon gan im idade, espiritual nos três primeiros capítulos; só toca
que significa, literalmente, "d e longo ânim o", nesse assunto depois de ter lançado os ali­
dotado da capacidade de tolerar desconfor­ cerces doutrinários. A pesar de nem todos
to sem revidar. Isso nos leva à p a ciê n cia ou os cristãos apresentarem um consenso quan­
a capacidade de suportar, uma graça que to a algumas questões secundárias da dou­
não pode ser experimentada sem amor. "O trina cristã, há uma concordância geral com
am or é paciente, é benigno" (1 C o 13:4). respeito às verdades fundam entais da fé. A
N a verdade, Paulo está descrevendo alguns unidade construída sobre qualquer outra
dos "frutos do Espírito" (G l 5:22, 23), pois a base que não seja a doutrina bíblica apóia-
"unidade do Espírito" (Ef 4:3) é resultado de se em alice rce s extrem am ente instáveis.
"[andar] no Espírito" (G l 5:16). Nesta passagem, Paulo cita sete realidades
A próxim a graça que contribui para a espirituais básicas que unem todos os cris­
unidade do Espírito é a diligência. O signifi­ tãos verdadeiros.
cado literal é "mostrar-se desejoso de man­ Um só corp o. Trata-se, evidentem ente,
ter ou de guardar a unidade do Espírito". do corpo de Cristo, do qual todo cristão é
Certa vez, ouvi um cristão de longa data di­ m em bro, inserido nessa unidade em sua
zer a dois jovens recém-casados: conversão pelo Espírito de Deus (1 C o 12:12­
- É m uito bom saber qu e vo cês se31). Esse corpo único é o m odelo para as
amam, mas se querem que seu casamento muitas congregações locais que Deus esta­
dê certo, vão ter de trabalhar para valer! beleceu ao redor do mundo. O fato de uma
O verbo usado neste versículo encon­ pessoa fazer parte de um corpo não a isen­
tra-se no particípio presente, indicando que ta da responsabilid ade de fazer parte de
devem os nos esforçar constantem ente para uma congregação local, pois é nessa com u­
manter a unidade. N a verdade, é quando pen­ nidade que usa seus dons espirituais e aju­
samos que as coisas estão mais tranqüilas da outros a crescer.
46 E F É S I O S 4:1-1 6

Um só Espírito. O mesmo Espírito Santo momento algum ordena que sejamos bati­
habita em cada um dos cristãos, de modo zados com o Espírito, pois já o fomos na con­
que pertencemos uns aos outros no Senhor. versão. No que se refere ao corpo único,
Encontramos cerca de doze referências ao existe um só batismo - o batismo do Espíri­
Espírito Santo em Efésios, pois ele é essen­ to. Mas no que se refere às congregações
cial para a nossa vida cristã. locais, há dois batismos: o batismo do Espí­
Uma só esperança da nossa vocação. rito e o batismo com água.
Trata-se de uma referência à volta do Senhor Um só Deus e Pai. Paulo gosta de en­
para levar sua Igreja ao céu. O Espírito Santo fatizar Deus com o Pai (Ef 1:3, 17; 2:18; 3:14;
que habita em nós é a garantia dessa pro­ 5:20). A união maravilhosa dos cristãos na
messa maravilhosa (Ef 1:13, 14). Paulo suge­ família de Deus fica evidente nessas pala­
re que o cristão consciente da existência de vras, pois Deus está acima de todas as coi­
um só corpo, que anda no Espírito e aguar­ sas, operando por meio de todas as coisas e
da a volta do Senhor promoverá a paz, não em todas as coisas. Somos filhos dentro da
o tumulto. mesma família, amando e servindo ao mes­
Um só Senhor. Ele é o Senhor Jesus Cris­ mo Pai, de modo que devemos ser capazes
to que morreu por nós, vive por nós e, um de andar juntos em união. Em uma família
dia, voltará para nos buscar. É difícil enten­ humana, os membros devem dar e receber,
der como dois cristãos que dizem servir ao a fim de manter a união do lar em amor, e
mesmo Senhor não conseguem andar em o mesmo se aplica à fam ília celestial de
união. Alguém perguntou a Ghandi, o líder Deus. A oração que Jesus ensinou a seus
espiritual indiano: "Q ual é o maior empeci­ discípulos é dirigida ao "Pai nosso" e não a
lho para o crescimento do cristianismo na "m eu Pai".
índia?" Ao que e!e respondeu: "O s cristãos". Uma das grandes preocupações de Pau­
Reconhecer o senhorio de Cristo é um pas­ lo é que os cristãos não rompam a unidade
so enorme em direção à unidade espiritual do Espírito ao concordar com falsas doutri­
no meio de seu povo. nas (Rm 16:17-20), e o apóstolo João faz
Uma só fé. Existe um conjunto definido uma advertência semelhante (2 Jo 6-11). A
de verdades que Cristo confiou a sua Igreja, igreja local não pode crer na paz a qualquer
que constitui "a fé". Judas a chama de "fé preço, pois a sabedoria de Deus é, "prim ei­
que uma vez por todas foi entregue aos san­ ramente, pura; depois, pacífica" (Tg 3:1 7). A
tos" (Jd 3). O s primeiros cristãos professa­ pureza da doutrina não produz, em si mes­
vam um conjunto de doutrinas básicas que ma, unidade espiritual, pois há igrejas fortes
ensinavam, guardavam e transmitiam a ou­ no que diz respeito à fé, mas fracas no que
tros (2 Tm 2:2). Os cristãos podem discor­ diz respeito ao amor. Por isso, Paulo une as
dar de certas questões de interpretação e duas coisas: "seguindo a verdade em amor"
prática eclesiástica, mas todos os seguido­ (Ef 4:15).
res autênticos de Cristo concordam no que
diz respeito "à fé", e se afastar "da fé" é pro­ 3. OS D O N S PARA A U N ID A D E
vocar desunião dentro do corpo de Cristo. (E f 4 :7 - 1 1 )
Um só batismo. Uma vez que, nesta pas­ Nesta seção, Paulo passa dos elem entos
sagem, Paulo está tratando do corpo único, comuns a todos os cristãos para a diversida­
esse "um só batismo" é, provavelmente, o de entre os cristãos. Trata da variedade e da
batismo do Espírito pelo qual, na conversão, individualidade dentro da unidade do Espíri­
ele insere no corpo de Cristo o pecador que to. Deus concede a cada cristão pelo me­
crê (1 Co 12:13). Não se trata de uma expe­ nos um dom espiritual (1 Co 12:1-12), que
riência que ocorre depois da conversão nem deve ser usado para unir e edificar o corpo
de uma experiência que o cristão deva pe­ de Cristo. Devemos fazer uma distinção en­
dir a Deus ou buscar. A Palavra ordena que tre "dons espirituais" e "aptidões naturais".
sejamos cheios do Espírito (Ef 5:18), mas em Quando nascemos neste mundo, Deus nos

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E F É S I O S 4:1-1 6 47

deu certas aptidões naturais, talentos para Paulo não cita propriamente os "dons", mas
áreas específicas, com o a mecânica, a arte, sim os quatro grupos de pessoas que os pos­
os esportes ou a música. Nesse sentido, nem suem e que Deus colocou na igreja.
todos os seres humanos são iguais, pois al­ Apóstolos (v. 11a). Esse termo significa
guns são mais inteligentes, fortes ou talento­ "alguém que foi enviado com uma comissão".
sos do que outros. Mas, na esfera espiritual, Jesus tinha muitos discípulos, mas escolheu
cada cristão possui pelo m enos um dom doze apóstolos (M t 10:1-4). Um discípulo é
espiritual, quaisquer que sejam suas aptidões um "seguidor" ou "aprendiz", mas um após­
naturais. Um dom espiritual é uma aptidão tolo é um "re p re sen ta n te n om ead o por
divinamente concedida para servir a Deus e Deus". O s apóstolos deveriam dar testemu­
aos outros cristãos de m odo a glorificar a nho da ressurreição (At 1:15-22), de m odo
Cristo e a edificar os irmãos e irmãs na fé. que precisavam ser homens que haviam vis­
D e que m aneira o cristão pode desco­ to o Cristo ressurreto pessoalmente (1 Co
brir e desenvolver seus dons? Pela com unhão 9:1, 2). H oje em dia, não existem mais após­
com outros cristãos na congregação local. tolos no sentido mais estrito do termo no
O s dons não são brinquedos para nossa pró­ N ovo Testamento. Esses homens ajudaram
pria diversão, mas sim instrumentos para a a lançar os alicerces da Igreja, "o fundamen­
edificação. Se não forem usados com amor, to dos apóstolos e profetas" (Ef 2:20), e uma
tornam-se armas de com bate, com o acon­ vez que esses alicerces estavam prontos, os
teceu na igreja de Corinto (1 Co 12 - 14). apóstolos deixaram de ser necessários. Deus
O s cristãos não devem viver isolados, pois, autenticou o ministério deles por m eio de mi­
afinal de contas, são membros do mesmo lagres (H b 2:1-4), de modo que não se deve
corpo. esperar que esses mesmos sinais sejam rea­
Paulo ensina que os dons são concedi­ lizados hoje. É evidente que, em um sentido
dos por Cristo por meio do Espírito Santo (Ef mais amplo, todo cristão tem um ministério
4:8-10). Cristo subiu ao céu vitorioso para apostólico. "Assim com o o Pai me enviou,
sempre. Vem os aqui a imagem de um con­ eu também vos envio" (Jo 20:21).
quistador militar levando seus cativos e divi­ Profetas (v. 11b). Costumamos imaginar
dindo os espólios com seus seguidores. o profeta com o aquele que prediz aconteci­
Neste caso, porém, os "cativos" não são seus mentos futuros, mas essa não é sua função
inimigos, mas sim os que lhe pertencem. O s principal. O profeta do N ovo Testamento era
pecadores eram prisioneiros do pecado, mas uma pessoa que proclam ava a Palavra de
Satanás foi levado cativo por Cristo. A té Deus (A t 11:28; Ef 3:5). O s cristãos da Igreja
mesm o a morte é um inim igo derrotado! primitiva não tinham Bíblias, e o N ovo Testa­
Q uand o veio à Terra, Cristo experimentou m ento ainda não havia term inado de ser
as mais profundas humilhações (Fp 2:5-11), escrito. De que maneira, então, as congre­
mas quando subiu ao céu, experimentou a gações locais poderiam saber qual era a
mais elevada exaltação possível. Paulo cita vontade de Deus? O Espírito com partilhava
o Salm o 68:18, aplicando a Jesus Cristo um a verdade de Deus com os que possuíam o
cântico de vitória escrito por Davi (Ef 4:8). dom da profecia. Paulo sugere que o dom
O N ovo Testam ento apresenta três lis­ da profecia era associado à com preensão
tas de dons espirituais: 1 Coríntios 12:4-11, de "todos os mistérios e toda a ciência" (1 C o
27-31; Rom anos 12:3-8 e Efésios 4:11. Um a 13:2), referindo-se, evidentem ente, às ver­
vez que essas listas não são idênticas, é pos­ dades espirituais. O propósito da profecia
sível que Paulo não tenha citado todos os era a "edificação, exortação e consolação"
dons que se encontram disponíveis. D e acor­ (1 Co 14:3, tradução literal). O s cristãos de
do com o apóstolo, alguns dons são mais hoje não obtêm o conhecim ento espiritual
importantes do que outros, mas todos os cris­ diretam ente do Espírito Santo, mas sim in­
tãos são necessários para que o corpo pos­ diretam ente, ao receber a instrução da Pa­
sa funcionar normalmente (1 Co 14:5, 39). lavra por m eio do Espírito. Assim com o os
48 E F É S I O S 4:1-16

apóstolos, os profetas tiveram um ministério Um missionário autônomo procurou um


fundacional na Igreja primitiva e não são pastor amigo meu para pedir uma contribui­
necessários hoje (Ef 2:20). ção financeira.
Evangelistas (v. 11c). "Portadores das - Para qual missão você trabalha? - per­
boas-novas". Esses indivíduos viajavam de um guntou meu amigo.
lugar para outro pregando o evangelho e - Não estou ligado a nenhuma organi­
ganhando almas para Cristo (At 8:26-40; zação - respondeu o missionário.
21:28). Todos os ministros devem evan­ - Então, de que igreja você é membro?
gelizar, mas isso não significa que todos se­ - perguntou meu amigo em seguida.
jam evangelistas (2 Tm 4:5). Os apóstolos e - Sou membro da igreja invisível! - repli­
profetas lançaram os alicerces para a Igreja, cou o outro.
e os evangelistas edificaram sobre esses fun­ Um tanto desconfiado, meu amigo in­
damentos ao ganhar os perdidos para Cristo. dagou:
Por certo, na Igreja primitiva, cada cristão - Quais os horários de culto em sua igre­
era uma testemunha (At 2:41-47; 11:19-21), ja? Quem é o pastor?
como também devemos ser. Hoje, porém, Exasperado, o missionário exclamou:
continuam existindo pessoas que possuem - Sua igreja não é a verdadeira igreja.
o dom de evangelizar. O fato de um cristão Pertenço à única igreja de verdade, que é a
não possuir esse dom não é desculpa para igreja invisível!
a falta de interesse pela alma dos perdidos e Ao que meu amigo respondeu:
pela negligência no testemunho. - Pois bem, eis aqui uma contribuição
Pastores e mestres (v. 11d). O fato de o em dinheiro invisível para ajudar você com
pronome "outros" não ser repetido entre seu ministério na igreja invisível!
esses dois termos indica que se trata de um Esse pastor não estava negando a exis­
único cargo com dois ministérios. A desig­ tência do corpo único de Cristo. Antes, afir­
nação pastor dá a entender que a congre­ mava que a igreja invisível (uso o termo
gação local é um rebanho de ovelhas (At apenas dentro desse contexto, pois é uma
20:28), e que é responsabilidade desse mi­ designação que não aparece em parte al­
nistro alimentar e conduzir o rebanho (1 Pe guma da Bíblia) ministra por meio da igre­
5:1-4, em que "presbítero" é outro nome ja visível.
para "pastor"). Ele o faz por meio da Palavra Os líderes aptos devem "preparar os san­
de Deus, o alimento que nutre as ovelhas. A tos para o trabalho do ministério, visando a
Palavra é a vara que guia e que disciplina as edificação do corpo de Cristo" (tradução li­
ovelhas. A Palavra de Deus oferece prote­ teral). Os membros da igreja não contratam
ção e provisão para a igreja local, e não há um pastor e lhe pagam um salário para que
entretenimento, comunhão ou qualquer ele faça todo o trabalho. Antes, o convidam
outra atividade religiosa que possa tomar e seguem sua liderança, enquanto ele, por
seu lugar. meio das Escrituras, os prepara a fim de que
trabalhem na obra (2 Tm 3:13-17). Os cris­
4 . O CRESCIMENTO DA UNIDADE tãos crescem quando se alimentam da Pala­
( E f 4 :1 2 - 1 6 ) vra de Deus e ministram uns aos outros. A
Nesta seção, Paulo olha para a Igreja em primeira evidência de crescimento espiritual
dois níveis. Vê o corpo de Cristo constituído é a semelhança a Cristo.
de verdadeiros cristãos crescendo gradual­ A segunda evidência é a estabilidade. O
mente até atingir a maturidade espiritual, "à cristão maduro não segue as novidades reli­
medida da estatura da plenitude de Cristo". giosas que surgem a cada dia. Os charlatões
Mas também vê a congregação local de cris­ também estão presentes nos meios evan­
tãos ministrando uns aos outros, crescendo gélicos, e seu objetivo é raptar os filhos de
juntos e, desse modo, experimentando uni­ Deus e levá-los para suas seitas, mas o cris­
dade espiritual. tão maduro reconhece as falsas doutrinas e
EFÉSIOS 4:1-16 49

se mantém afastado delas. Os membros das que pareça ser, tem um ministério a realizar
seitas não tentam ganhar almas para Cristo junto a outros cristãos. O corpo cresce quan­
nem fundam ministérios assistenciais em lu­ do os indivíduos crescem, e os indivíduos
gares pobres, pois não têm boas-novas a crescem quando se alimentam da Palavra e
pessoas vivendo na miséria, Seu grande alvo ministram uns aos outros. Convém observar
é o cristão imaturo, o que explica por que novamente a ênfase sobre o amor: "supor­
tantas seitas estão cheias de pessoas de igre­ tando-vos uns aos outros em amor" (Ef 4:2);
jas locais, especialmente das congregações "seguindo a verdade em amor" (Ef 4:15);
que não alimentam suas ovelhas com a Pa­ "efetua o seu próprio aumento para a
lavra de Deus, edificação de si mesmo em amor" (Ef 4:16).
A terceira evidência de maturidade é a O amor é o sistema circulatório do corpo.
verdade combinada com o amor: "seguindo De acordo com pesquisas científicas, os
a verdade em amor" (Ef 4:15). Alguém disse bebês que não recebem carinho não cres­
bem que verdade sem amor é brutalidade, cem normalmente e são mais susceptíveis a
mas amor sem verdade é hipocrisia. Há doenças, enquanto os bebês que são ama­
quem pense que, se amamos alguém, deve­ dos e recebem carinho crescem normalmen­
mos proteger essa pessoa da verdade para te e são mais fortes. O mesmo se aplica aos
não magoá-la. Uma das marcas da maturida­ filhos de Deus. Um cristão isolado não pode
de é a capacidade de compartilhar a verdade ministrar a outros nem ser ministrado por
com os irmãos e irmãs em Cristo e fazê-lo eles por meio dos dons.
em amor. "Leais são as feridas feitas pelo que Assim, a unidade espiritual não é algo
ama, porém os beijos de quem odeia são que criamos. Antes, é algo que já possuí­
enganosos" (Pv 27:6). mos em Cristo, que devemos proteger e
Outra evidência de maturidade é a coo­ manter. A verdade une, mas as mentiras di­
peração (Ef 4:16). Sabemos que, como mem­ videm. O amor une, mas o egoísmo divide.
bros de um só corpo e de uma congregação Assim, "seguindo a verdade em amor", pre­
local, pertencemos uns aos outros, influen­ paremos e edifiquemos uns aos outros, para
ciamos uns aos outros e precisamos uns dos que todos possamos crescer e nos tornar
outros. Cada cristão, por mais insignificante mais semelhantes a Cristo,
9 sobre a mente: pensamentos (Ef 4:17), igno­
rância (v. 18), "aprendeste a Cristo" (v. 20) e
entendimento (v. 23). A salvação começa
com o arrependimento, que é uma mudan­
V id a N o v a , R o u pa s ça de disposição mental. Quando a pessoa
N ovas crê em Cristo, toda a sua visão de mundo é
transformada, inclusive seus valores, seus
E f é s io s 4:1 7 -3 2 objetivos e sua forma de encarar a vida. O
que há de errado com a forma de pensar
do incrédulo? Seus pensamentos são fúteis
("vaidade"). Não cumprem qualquer propó­
sito concreto. Uma vez que não conhece a

A
Bíblia foi escrita não apenas para ser Deus, é incapaz de entender verdadeiramen­
estudada, mas também para ser obe­ te a si mesmo e ao mundo que o cerca. Esse
decida, e é por isso que as expressões como triste fato é relatado em Romanos 1:21-25.
"pois", "portanto" e "por essa razão" são Nosso mundo de hoje possui muito conhe­
repetidas com tanta freqüência na segunda cimento, mas pouca sabedoria. Thoreau ex­
metade de Efésios (4:1, 17, 25; 5:1, 7, 14, pressou tal verdade de maneira primorosa,
15, 17, 24). Paulo estava dizendo: "Eis o quando disse que temos "meios cada vez
que Cristo fez por vocês. Diante disso, eis mais perfeitos para alcançar fins sempre
o que vocês devem fazer para Cristo". De­ imperfeitos".
vemos ser praticantes da Palavra, não ape­ O pensamento da pessoa incrédula é fútil
nas ouvintes (Tg 1:22). O fato de termos sido porque é obscurecido. Ela se considera
chamados em Cristo (Ef 1.18) deve servir de esclarecida por rejeitar a Bíblia e acreditar
motivação para andarmos em unidade (Ef nas filosofias da moda, quando, na verdade,
4:1-16). E o fato de termos sido ressuscita­ está em trevas. "Inculcando-se por sábios,
dos dentre os mortos (Ef 2:1-10) deve nos mo­ tornaram-se loucos" (Rm 1:22). Acreditam,
tivar a andar em pureza (Ef 4:17 - 5:17) ou, de fato, que são pessoas sábias. Satanás ce­
como Paulo diz em Romanos: "andemos nós gou o entendimento dos incrédulos (2 Co
em novidade de vida" (Rm 6:4). Estamos vi­ 4:3-6), pois não deseja que vejam a verdade
vos em Cristo, não mortos no pecado; por­ em Jesus Cristo. Trata-se de uma cegueira
tanto: "[nos despojemos] do velho homem da mente que não lhes permite pensar com
[...] e [nos revistamos] do novo homem" (Ef clareza sobre as coisas espirituais.
4:22, 24). Vamos tirar nossas vestes de mor­ É evidente que o incrédulo encontra-se
tos e colocar as vestes da graça! morto em sua ignorância espiritual. A verda­
de e a vida andam juntas. Se cremos na ver­
1. A a d mo est a ç ã o ( E f 4 :1 7 - 1 9 ) dade de Deus, recebemos a vida de Deus.
Temos aqui um exemplo dos imperativos Seria de se imaginar que o incrédulo fizesse
negativos da vida cristã: "Não mais andeis de tudo para sair de uma situação espiritual
como também andam os gentios". Os cris­ tão terrível. Infelizmente, porém, encontra-
tãos não devem imitar o estilo de vida dos se escravizado pela dureza de seu coração.
incrédulos a seu redor. Estes se encontram Tornou-se insensível, pois se entregou ao pe­
"mortos nos [seus] delitos e pecados" (Ef 2:1), cado que o controla. Convém ler Romanos
enquanto os salvos foram ressuscitados den­ 1:18-32 para uma imagem mais nítida e com­
tre os mortos e receberam a vida eterna em pleta desses três versículos curtos.
Cristo. Paulo explica a diferença entre os O cristão não pode seguir o exemplo do
cristãos e os incrédulos. incrédulo, pois experimentou o milagre de
Em primeiro lugar, os cristãos têm uma ser ressuscitado dentre os mortos. Sua vida
forma de pensar diferente dos incrédulos. tem propósito e não é fútil. Sua mente en­
Convém observar a ênfase desta passagem contra-se repleta da luz da Palavra de Deus,

4 ■I ' IH
UI II" N1 41 I II | m
E F É S I O S 4:1 7-32 51

e seu coração transborda com a plenitude em que Paulo explica a identificação do cris­
da vida de Deus. Ele entrega seu corpo a tão com Cristo em sua morte, sepultam ento
Deus com o instrumento de justiça (Rm 6:13) e ressurreição. O apóstolo tam bém trata
e não ao pecado nem à satisfação de sua desse tema em Efésios 2:4-6 e em Colos-
concupiscência egoísta. Em todos os senti­ senses 3. Com o cristãos, não mudamos ape­
dos, o cristão é diferente do incrédulo, daí a nas nossa maneira de pensar, mas também
adm oestação: "N ão mais andeis com o tam­ nossa cidadania. Som os "novas criaturas" em
bém andam os gentios [incrédulos]". Cristo (2 C o 5:1 7), e, portanto, as idéias e
desejos da velha criatura não devem mais
2. A a rg u m e n ta ç ã o (E f 4:20-24) controlar nossa vida.
Paulo reforça sua adm oestação com um ar­ A ilustração mais simples dessa grandio­
gumento proveniente da experiência espiri­ sa verdade pode ser encontrada no relato
tual de seus leitores. M ais uma vez, a ênfase da ressurreição de Lázaro em Jo ão 11. Láza­
é sobre o pensamento ou sobre a forma do ro, um amigo de Jesus, já estava no túmulo
cristão de ver o mundo. "M as não foi assim fazia quatro dias, quando Jesus e seus discí­
que aprendestes a Cristo" {Ef 4:20). O após­ pulos chegaram a Betânia; até mesmo M ar­
tolo não diz "aprendeste sobre Cristo", pois ta reconheceu que, àquela altura, o corpo
é possível aprender sobre Cristo e jamais ex­ em decom posição estaria cheirando mal (Jo
perim entar a salvação. "Aprender a Cristo" 11:39). N o entanto, Jesus proferiu sua pala­
significa ter um relacionam ento pessoal com vra, e Lázaro voltou dos mortos, ilustrando
ele de m odo a conhecê-lo m elhor a cada João 5:24. E interessante observar as pala­
dia. Posso aprender sobre W inston Churchill, vras seguintes de Jesus: "Desatai-o e deixai-
pois tenho vários de seus livros e tenho meios o ir" (Jo 11:44). Removam a mortalha! Lázaro
de adquirir outros escritos sobre sua vida. não pertencia mais ao antigo dom ínio da
N o entanto, não posso aprender a Churchill, morte, pois estava vivo. Por que continuar
pois ele está morto. Jesus Cristo está vivo! vestido com os panos de um m orto? Dis­
Portanto, posso "aprender a Cristo" por meio pam-se do velho homem e se revistam do
da com unhão pessoal com ele. novo homem!
Essa com unhão é baseada na Palavra de Foi com base nesse fato que Paulo de­
Deus, capaz de ensinar "a verdade", confor­ senvolveu sua argumentação: o cristão não
me se encontra em Cristo. Q uanto melhor a pertence mais à velha corrupção do peca­
minha com preensão da Palavra de Deus, me­ do; antes, é uma nova criatura em Cristo.
lhor meu conhecim ento do Filho de Deus, Removam a mortalha! M as com o fazer isso?
pois a Bíblia toda é uma revelação do Senhor "e vos renoveis no espírito do vosso enten­
Jesus Cristo (Lc 24:27; Jo 5:39). O homem dim ento" (Ef 4:23). A conversão é uma crise
incrédulo é espiritualm ente ignorante, en­ que conduz a um processo. Por m eio de
quanto o cristão sabe das coisas da Palavra. Cristo, recebem os, de uma vez por todas,
O homem incrédulo não conhece a Cristo, uma nova posição com o novas criaturas, e
enquanto o cristão cresce em seu conheci­ a cada dia devem os nos apropriar pela fé
mento de Cristo a cada dia. Cremos na verda­ daquilo que ele nos deu. À medida que entre­
de e recebem os a vida; portanto, devemos gamos todo nosso ser a Deus, sua Palavra
andar "n o cam inho", não de acordo com o renova nossa mente (Rm 12:1, 2). "Santifi­
exem plo do mundo incrédulo. ca-os na verdade; a tua palavra é a verdade"
N o entanto, essa experiência de salva­ (Jo 17:17). À m edida que a mente com pre­
ção é mais profunda, pois resulta em uma ende a verdade da Palavra de Deus, é trans­
nova posição diante de Deus. O velho ho­ formada gradativãmente pelo Espírito, uma
mem (a vida antiga) foi colocado de lado, renovação que produz uma vida transfor­
de m odo que podem os, agora, andar em mada. Em termos físicos, somos o que co­
novidade de vida por m eio de Cristo. Efésios memos, mas em termos espirituais, somos o
4:22-24 é um resumo de Rom anos 5 a 8, que pensamos. "C om o imagina em sua alma,
52 E F É S I O S 4:1 7-32

assim ele é" (Pv 23:7). Por isso é importante O primeiro pecado a ser julgado na Igreja
que o cristão dedique diariamente um tem­ primitiva foi a mentira (At 5:1-11).
po para meditar na Palavra, orar e ter comu­ Ira (w . 26, 27). A ira é uma exacerba­
nhão com Cristo. ção emocional causada por algo que nos
desagrada. A ira, em si, não é pecado, pois
3. A a p lic a ç ã o (E f 4:25-32) Deus pode irar-se (Dt 9:8, 20; SI 2:12). A
Paulo não se atém a explicar o princípio e a "ira do S e n h o r" manifesta-se em várias oca­
deixar por isso mesmo. Antes, procura sem­ siões ao longo do Antigo Testamento (Nm
pre aplicá-lo às diferentes áreas da vida que 25:4; Jr 4:8; 12:13). A ira santa de Deus faz
precisam ser transformadas, e tem coragem parte de seu julgamento sobre o pecado,
até de citar pecados específicos. Nesta se­ como fica claro na ira demonstrada por Jesus
ção, o apóstolo fala de cinco pecados, diz ao purificar o templo (Mt 21:12, 13). A Bí­
que devemos evitá-los e explica por quê. blia fala com freqüência da ira "se acender"
M entira (v. 25). Uma mentira é uma (Êx 4:14; Nm 11:10; Dt 6:15; Js 7:1; 2 Sm
declaração contrária aos fatos, feita com a 6:7, etc.), comparando-a ao fogo. Por vezes,
intenção de enganar. Se digo a alguém que a ira de uma pessoa arde em segredo - o
é meio dia, mas depois descubro que meu que pode ser chamado de rancor; mas essa
relógio está atrasado, não se trata de uma mesma ira pode irromper subitamente e des­
mentira. Mas se lhe digo a hora errada a fim truir - o que pode ser chamado de furor.
de que a pessoa se atrase para uma reunião É difícil praticar a ira santa ou a indigna­
e, de algum modo, eu seja beneficiado, en­ ção justa, pois nossas emoções são distorci­
tão estou mentindo. Satanás é um mentiro­ das pelo pecado e não temos a onisciência
so (Jo 8:44) e deseja que todos creiam que de Deus, que vê tudo claramente e sabe de
Deus é mentiroso. "É assim que Deus disse tudo o que está para acontecer. Ao que pa­
[?]" (Gn 3:1). Sempre que dizemos a verda­ rece, segundo o princípio do Novo Testa­
de, o Espírito de Deus opera, mas sempre mento, devemos nos irar contra o pecado,
que contamos uma mentira, Satanás entra mas amar as pessoas. "Vós que amais o S e­
em ação. Por vezes, queremos crer que n h o r , detestai o mal" (SI 97:10).
estamos ajudando as pessoas ao mentir para É possível irar-se sem pecar, mas quem
elas, mas não é assim que funciona. Pode­ pecar deve acertar a questão sem demora e
mos não ver as tristes conseqüências de não deixar que o Sol se ponha sobre sua ira.
imediato, mas, mais cedo ou mais tarde, elas "Entra em acordo sem demora com o teu
aparecerão. "Porque mentira alguma jamais adversário" (M t 5:25). "Vai argüi-lo entre ti e
procede da verdade" (1 Jo 2:21). O inferno ele só" (Mt 18:15). Se não for apagado pelo
foi preparado para "todo aquele que ama e perdão, o fogo da ira se espalhará e destrui­
pratica a mentira" (Ap 22:15). Isso não signi­ rá a obra de Deus. Jesus deixou claro que a
fica que toda pessoa que mentiu algum dia ira é o primeiro passo para o homicídio (Mt
irá para o inferno, mas sim que as pessoas cuja 5:21-26), pois ela dá espaço para o inimigo
vida é controlada pela mentira - que amam trabalhar em nossa vida, e Satanás é homici­
a mentiram e que inventam mentiras - estão da (Jo 8:44). Satanás odeia a Deus e ao povo
condenadas à perdição eterna. A vida do de Deus, e, quando encontra um cristão que
cristão deve ser controlada pela verdade. tem em seu coração as centelhas da ira, ele
Convém observar o motivo que Paulo as atiça e põe mais lenha na fogueira, cau­
dá para se dizer a verdade: pertencemos uns sando grandes estragos no meio do povo
aos outros e a Cristo. Ele nos insta a edificar de Deus e na Igreja de Deus. Tanto a menti­
o corpo de Cristo (Ef 4:16) e a fazê-lo em ra quanto a ira "[dão] lugar ao diabo" (Ef
verdade. "Seguindo a verdade em amor" (Ef 4:27).
4:15). Como "membros uns dos outros", Quando eu morava em Chicago, uma
exercemos influência mútua, e não é possí­ dentre trinta e cinco mortes ocorridas na ci­
vel edificar uns aos outros sem a verdade. dade era por assassinato, e a maioria desses

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E F É S I O S 4:1 7-32 53

crimes envolvia parentes e amigos - aquilo (Jo 12:6) e faria o mesmo conosco se tives­
que a lei cham a de "crim e passional". Dois se a oportunidade. Q uan do tentou Eva, o
amigos com eçam a discutir (muitas vezes, inimigo fez dela uma ladra, pois ela tomou
quando há dinheiro em jogo), e um deles se para si um fruto que lhe era proibido. Eva,
enraivece, puxa uma faca ou arma de fogo por sua vez, levou Adão a roubar. O prim ei­
e mata o outro. H orácio estava certo quan­ ro Adão roubou e foi expulso do paraíso;
do disse: "a ira é uma forma tem porária de mas Cristo, o último Adão, disse a um la­
insanidade". drão: "H o je estarás com igo no paraíso" (Lc
U m a m ulher tentou justificar seu mau 23:43).
hum or dizendo: Paulo acrescenta o motivo para a adm o­
- N a hora, eu esto u ro, m as d ep o is estação. Devem os dizer a verdade porque
passa... somos "m em bros uns dos outros". Devem os
- Igual a um revolver - respondeu um controlar nossa ira para não "dar lugar ao
amigo. - Veja só o estrago que deixa para diabo". Devem os trabalhar e não roubar, a
trás. fim de ter "com que acudir ao necessitado".
"Q u a lq u e r um pode se irar", escreveu Seria de se esperar que o apóstolo dissesse:
Aristóteles. "M as irar-se com a pessoa certa, "Trabalhe a fim de ter o suficiente para si
na medida certa, no m om ento certo, com o mesmo e não ser tentado a roubar". Em vez
propósito certo e da maneira certa, isso não disso, porém, ele colocou o trabalho huma­
é fácil." no em um patamar muito mais elevado. Tra­
Salom ão apresenta uma excelente solu­ balhar para ajudar a outros é exatamente o
ção: "A resposta branda desvia o furor, mas oposto de roubar, ou seja, prejudicar a ou­
a palavra dura suscita a ira" (Pv 15:1). tros. Com essa adm oestação, Paulo tenta
Rou bo (v. 28). "N ã o furtarás" é um dos evitar o perigo de até m esm o o trabalho
D ez M andam entos, e, ao dar essa ordem , honesto tornar-se egoísta. Sem dúvida, era
Deus instituiu o direito à propriedade priva­ uma regra fundamental da Igreja primitiva:
da. U m a pessoa tem o direito de transfor­ "S e alguém não quer trabalhar, também não
mar a própria força em ganho e de usar esse com a" (2 Ts 3:10). Um cristão preguiçoso
ganho com o lhe aprouver. Deus deu uma rouba de si mesmo, dos outros e de Deus. É
porção de leis ao povo de Israel com respei­ evidente que Paulo não escrevia a cristãos
to à proteção de sua propriedade, e nossa que não p o d ia m trabalhar por causa de al­
lei atual incorporou vários desses princípios. guma deficiência incapacitante, mas sim aos
Roubar ou furtar era um pecado típico dos que não queria m trabalhar.
escravos no tem po de Paulo. M uitas vezes, O próprio Paulo era um exem plo de tra­
esses escravos não eram tratados co rre ­ balhador diligente, pois enquanto fundava
tam ente e viviam em estado constante de igrejas locais, trabalhava fazendo tendas.
necessidade, praticam ente sem qualquer am­ Todo rabino judeu aprendia um ofício, pois
paro da lei. A o escrever a Tito, Paulo insta-o eles mesmos diziam: "Aquele que não ensi­
a adm oestar os escravos a que "não furtem ", na o filho a trabalhar, o ensina a roubar". Ao
mas que sejam fiéis a seus senhores (Tt 2:10). longo das Escrituras, vem os que os homens
N o entanto, esse tipo de crim e não se limi­ que Deus cham ou estavam ocupados quan­
tava apenas aos escravos e era com etido do receberam seu cham ado. M oisés cuida­
pelos cidadãos em geral, pois Paulo está va de ovelhas; G id eão m alhava o trigo no
escrevendo a trabalhadores assalariados da lagar; Davi cuidava dos rebanhos de seu pai;
igreja de Éfeso (Ef 4:28). e os quatro primeiros discípulos lançavam
Além de ser mentiroso e homicida, Sata­ ou rem endavam redes de pesca. O próprio
nás também é ladrão. " O ladrão vem somen­ Jesus trabalhou com o carpinteiro.
te para roubar, matar e destruir; eu vim para Palavras torpes (v. 29). H á uma relação
que tenham vida e a tenham em abundân­ m uito próxim a entre o coração e a boca.
cia" (jo 10:10). Transformou Judas em ladrão "Po rq ue a b oca fala do que está cheio o
54 E F É S I O S 4:1 7-32

coração" (M t 12:34). Quando uma pessoa puras e piedosas. Nossa palavra deve ser
aceita a Cristo, esperamos ver mudanças em sempre moderada e, conforme o conselho
sua maneira de falar. É interessante estudar de Paulo, "sempre agradável, temperada com
a ocorrência da palavra boca no Livro de sal" (Cl 4:6). O apóstolo diz que devemos
Romanos e ver como Cristo transforma o falar de modo a edificar, não a destruir nos­
discurso de uma pessoa. A boca do peca­ sos ouvintes. Também devemos nos lembrar
dor é "cheia de maldição e de amargura" sempre de que nossas palavras têm poder,
(Rm 3:14); mas quando ele crê em Cristo, tanto para o bem quanto para o mal. Elas
com sua boca "[confessa] Jesus como Se­ devem ministrar graça e ajudar a aproximar
nhor" (Rm 10:9, 10). A boca do pecador outras pessoas de Cristo. Por certo, Satanás
condenado é calada diante do trono de incentiva o tipo de discurso que rebaixa as
Deus (Rm 3:19); mas da boca do cristão pessoas e destrói a obra de Cristo. Para os
saem louvores a Deus (Rm 15:6). Um dis­ que precisam ser lembrados do poder da lín­
curso transformado é reflexo de um cora­ gua, convém ler o terceiro capítulo de Tiago.
ção transformado. Sem dúvida, Paulo sabia Amargura (vv. 30-32). Estes versículos
dessa mudança por experiência própria, pois advertem sobre vários pecados de atitude e
antes de ser salvo, quando era rabino, vivia desenvolvem um pouco mais aquilo que
"respirando ainda ameaças e morte contra Paulo escreveu sobre a ira. A amargura refe­
os discípulos do Senhor" (At 9:1). Mas, de­ re-se a uma hostilidade arraigada que cor­
pois que creu em Cristo, passou por uma rompe o ser interior. Alguém faz algo que
mudança: "pois ele está orando" (At 9:11). nos contraria, e nutrimos uma disposição
Das ameaças para a oração em um passo negativa para com essa pessoa. "Maridos,
de fé! amai vossa esposa e não a trateis com amar­
O termo traduzido por torpe também é gura" (Cl 3:19). A amargura conduz à cólera,
usado em Mateus 7:1 7, 18 para se referir a que é a manifestação exterior e explosiva
frutos podres, e é uma designação para coi­ de sentimentos interiores. A raiva e a ira com
sas sem valor, más ou estragadas. Nossas freqüência levam ao tumulto ("gritaria") e
palavras não precisam ser "sujas" para ser à maledicência ("blasfêm ia"). O primeiro
sem valor. Por vezes, seguimos a maioria e caso envolve um conflito corporal, e o se­
tentamos impressionar as pessoas mostran­ gundo, um conflito verbal. É difícil crer que
do que não somos tão puritanos quanto um cristão possa agir dessa maneira, mas
imaginam. Talvez essa tenha sido a motiva­ isso acontece e, por esse motivo, o salmista
ção de Pedro quando a serva o acusou de nos adverte: "O h! Como é bom e agradável
ser um dos discípulos de Cristo e ele "come­ viverem unidos os irmãos!" (Sl 133:1).
çou [...] a praguejar e a jurar: Não conheço Um senhor de idade bem-apessoado
esse homem!" (Mt 26:74). Por vezes, os de­ passou por meu escritório um dia para me
sejos do velho homem reaparecem quando perguntar se eu poderia realizar a cerimô­
permitimos que "linguagem obscena" saia nia de seu casamento. Sugeri que ele me
da nossa boca (Cl 3:8). Devemos nos lem­ apresentasse à noiva para que pudéssemos
brar que, antes de sermos salvos, estávamos conversar e nos conhecer, uma vez que não
espiritualmente mortos (Ef 2:1-3) e, como gosto de fazer o casamento de pessoas des­
Lázaro, nossa deterioração produzia um conhecidas.
odor desagradável a Deus. Não é de se ad­ - Antes de ela entrar - disse ele -, dei­
mirar que Paulo tenha escrito sobre os ímpios xe-me explicar nossa situação. Nós dois já
que "a garganta deles é sepulcro aberto" (Rm fomos casados antes... um com o outro! Eu
3:13). me zangava muito e acabamos nos sepa­
A solução para esse problema é ter um rando. Então, cometi uma insensatez e pedi
coração repleto de bênçãos. Assim, preen­ o divórcio. Acho que nós dois éramos orgu­
cha seu coração com o amor de Cristo, para lhosos demais para pedir perdão. Ao longo
que seus lábios profiram apenas palavras desses anos, nós dois vivemos sozinhos e,

* i . ..ih ................... . i<* .j. . ii ..... .. i " H f 1 *«(||*i' » -* m •( 1 ■*'....... <•«* i' • | «t j
EFÉSIOS 4:17-32 55

agora, percebemos quanto fomos tolos. Nos­ nossa incapacidade de perdoar. Um espíri­
sa amargura nos privou das alegrias da vida, to rancoroso dá espaço ao trabalho do diabo
e agora desejamos nos casar novamente. e se torna um campo de batalha para os cris­
Quem sabe o Senhor pode nos dar alguns tãos. Se alguém nos magoa, intencionalmen­
anos de felicidade antes de morrermos.
*
te ou não, e não perdoamos essa pessoa,
A amargura e ira, muitas vezes decor­ começamos a desenvolver uma amargura
rentes de situações triviais, são capazes de que endurece nosso coração. Devemos ter
destruir lares, igrejas e amizades. um coração terno e bondoso, mas, em vez
Paulo apresenta três motivos pelos quais disso, ficamos com o coração empedernido
devemos evitar a amargura. Em primeiro lu­ e amargurado. Na verdade, não estamos
gar, ela entristece o Espírito Santo. Ele habi­ magoando a pessoa que nos feriu, mas ape­
ta dentro do cristão, e, quando o coração nas a nós mesmos. A amargura no coração
está cheio de amargura e de ira, o Espírito nos faz tratar os outros da mesma forma que
se entristece. Os que são pais têm uma idéia Satanás os trata, quando deveríamos tratá-
desse sentimento quando vêem os filhos los como Deus nos tratou. Em sua graça e
brigando em casa. O Espírito Santo encon­ bondade, ele nos perdoou, e devemos per­
tra sua maior alegria em um ambiente de doar os outros. Não perdoamos para nosso
amor, alegria e paz, pois esses são o "fruto próprio bem (apesar de sermos abençoados
do Espírito" que ele produz em nossa vida nesse processo), nem para o bem dos outros,
quando lhe obedecemos. O Espírito Santo mas sim por amor a Jesus Cristo. Aprender a
não pode nos deixar, pois nos selou até o perdoar e a esquecer é um dos segredos da
dia em que Cristo voltará para nos levar para vida cristã feliz.
nosso lar. Não perdemos a salvação por cau­ Assim, devemos andar de modo puro,
sa de nossas atitudes pecaminosas, mas, sem porque somos membros uns dos outros;
dúvida alguma, perdemos a alegria da salva­ Satanás quer espaço para agir em nossa vida;
ção e a plenitude das bênçãos do Espírito. devemos compartilhar com os outros; deve­
Em segundo lugar, nosso pecado entristece mos edificar uns aos outros; e não devemos
a Deus o Filho, que morreu por nós. Em ter­ entristecer a Deus. Afinai, fomos ressuscita­
ceiro iugar, entristece a Deus o Pai, que nos dos dentre os mortos... então por que ainda
perdoou quando aceitamos a Cristo. Aqui, usar vestes de mortos? Jesus nos diz o mes­
Paulo identifica, de maneira específica, a mo que falou sobre Lázaro: "Desatai-o e
causa fundamental da atitude amargurada: deixai-o ir".
10 não é o que acontece. É preciso ter amor
verdadeiro no coração, "porque o amor co­
bre multidão de pecados" (1 Pe 4:8).
Paulo apresenta vários motivos pelos
Imitando Nosso Pai quais o cristão deve andar em amor.
Ele é um filho de Deus. Uma vez que
E f é s io s 5:1-1 7 nasceu de novo pela fé em Cristo, o cristão
é "co-participante da natureza divina" (2 Pe
1:4); e, uma vez que "Deus é amor", nada
mais lógico do que os filhos de Deus anda­
rem em amor. Quando Paulo incentiva seus
leitores a "andar em amor", não está pedin­

O termo traduzido por "imitadores", em


Efésios 5:1, também apresenta o tema
desta seção. Paulo argumenta que os filhos
do que façam algo estranho à vida cristã,
pois recebemos uma nova natureza que
deseja expressar-se em amor. A velha natu­
são como os pais, fato que, para os que têm reza é essencialmente egoísta e, por esse
filhos, pode ser ao mesmo tempo animador motivo, levanta muros e declara guerra. Mas
e embaraçoso. Quase todos nós já vimos uma a nova natureza é amorosa e, portanto, cons­
criança sentada no banco do motorista do trói pontes e declara a paz.
carro tentando dirigir como o pai ou a mãe. Ele é um filho amado de Deus. "Sede,
Também não é difícil ver crianças imitando pois, imitadores de Deus, como filhos ama­
os pais em suas tarefas diárias e, infelizmen­ dos". Que maravilhoso pensar que Deus
te, fazendo os gestos de quem fuma ou toma refere-se a nós da mesma forma que se refe­
alguma bebida alcoólica. É bem possível que re a Jesus Cristo: "Este é o meu Filho amado,
a maior parte do aprendizado das crianças em quem me comprazo" (M t 3:17). Por cer­
se dê pela observação e imitação. to, o Pai nos ama da mesma forma que ama
Somos filhos de Deus, e devemos imitar seu Filho (Jo 17:23). Nascemos para um re­
o Pai. Essa é a base para as três admoesta­ lacionamento amoroso com o Pai, que de­
ções desta seção. Deus é amor (1 Jo 4:8), ve resultar em demonstração de amor pelo
portanto, devemos andar em amor (Ef 5:1, modo de vivermos. O que mais o Pai poderia
2). Deus é luz (1 Jo 1:5), portanto, devemos fazer a fim de expressar seu amor por nós?
andar como filhos da luz (Ef 5:3-14). Deus é Será que está pedindo muito ao dizer que
verdade (1 Jo 5:6), portanto, devemos an­ devemos "andar em amor" para lhe agradar?
dar em sabedoria (Ef 5:15-1 7). É evidente que Ele foi comprado por um alto preço.
cada uma dessas formas de andar é parte "Ninguém tem maior amor do que este: de
da exortação de Paulo para que andemos dar alguém a própria vida em favor dos seus
de modo puro. amigos" (Jo 15:13). Mas ele deu a vida pe­
los inimigos (Rm 5:10). Nosso amor por ele
1. A n d a r em a m o r ( E f 5 :1 , 2 ) é uma resposta a seu amor por nós. Paulo
Esta admoestação está ligada aos dois últi­ compara o sacrifício de Cristo na cruz com
mos versículos do capítulo anterior, em que o "aroma suave" dos sacrifícios do Antigo
Paulo nos adverte sobre a amargura e a ira. Testamento, apresentados no altar do templo
É triste quando essas atitudes aparecem na (Lv 1:9, 13, 17; 2:9). O conceito de "aroma
família de Deus. Como pastor, vi muito ran­ suave" expressa simplesmente que o sacrifí­
cor e amargura na vida de pessoas em fune­ cio é agradável a Deus. Não é uma suges­
rais e até mesmo em casamentos. Seria de tão de que Deus se agrade do pecado ao
se imaginar que, ao compartilhar a tristeza exigir a morte nem do fato de seu Filho pre­
da perda de um ente querido ou a alegria cisar ter morrido para salvar os pecadores.
da união de um casal, as pessoas esquece­ Antes, mostra que a morte de Cristo satisfez
riam o passado e tentariam entender-se. Mas a Lei santa de Deus e, portanto, é aceitável

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E F É S I O S 5:1-1 7 57

e agradável ao Pai. O s sacrifícios de arom a 2:16) descreve esses dois pecados. "Q u e
suave são descritos em Levítico 1 a 3: o não haja sequer sinal desses pecados!", diz
holocausto, a oferta de manjares e a oferta Paulo.
pacífica. O holocausto retrata a consagração Em Efésios 5:4, somos advertidos sobre
de Cristo a Deus; os manjares, a perfeição de os pecados da língua que, com o se sabe,
seu caráter; e as ofertas pacíficas, o fato são, na verdade, pecados do coração. Não
de ele ter prom ovido a paz entre os peca­ é difícil ver a relação entre os pecados cita­
dores e Deus. U m a vez que a oferta pelo dos em Efésios 5:3 e os m encionados em
pecado e a oferta pela culpa (Lv 4 - 5 ) re­ Efésios 5:4. Q uem possui desejos abjetos
tratam Cristo tom ando o lugar do pecador, normalmente desenvolve uma forma de falar
não são consid erad as ofertas de "arom a e um senso de humor igualm ente abjetos,
suave". Por certo, não há nada de agradá­ e, com freqüência, são pessoas que com e­
vel no pecado! tem ou com eteram pecados sexuais e gos­
Paulo com eça com o "andar em am or", tam de fazer piadas sobre esse tipo de coisa.
pois o am or é o elem ento fundam ental da Pode-se dizer muita coisa a respeito do ca­
vida cristã. Se andarmos em amor, não de­ ráter de uma pessoa ao se considerar o que
sobedecerem os a Deus nem farem os mal a faz rir e o que a faz chorar. O santo de Deus
a outros, "p ois quem ama o próximo tem não vê graça algum a em linguagem torpe
cum prido a lei" (Rm 13:8). É o Espírito Santo nem em piadas obscenas. Palavras vãs não
quem coloca esse am or em nosso coração são humor inocente, mas sim conversas sem
(Rm 5:5). sentido que degradam o ser hum ano e que
não edificam nem ministram graça alguma
2. A n d a r c o mo f il h o s d a l uz aos ouvintes (Ef 4:29). Paulo não está conde­
(E f 5 :3 - 1 4 ) nando as conversas corriqueiras do dia-a-dia,
Um a vez que "D eus é luz" e estamos imi­ pois parte considerável de nossa com unica­
tando o Pai, devem os andar na luz e não ter ção encaixa-se nessa categoria. Antes, está
qualquer relação com as trevas do pecado. condenando conversas insensatas, que não
Para deixar isso claro, Paulo apresenta três cumprem qualquer propósito salutar.
descrições dos cristãos. Chocarrices é a tradução de uma pala­
Som os santos (w . 3, 4). O u seja, "sepa­ vra que significa "fácil de alterar". O que
rados", e não pertencem os mais ao mundo sugere um tipo de pessoa com facilidade
de trevas a nosso redor. Fom os "[cham ados] para distorcer qualquer declaração e trans­
das trevas para a sua maravilhosa luz" (1 Pe formá-la em piada vulgar. O senso de hu­
2:9). Está abaixo da dignidade dos santos mor apurado é uma bênção, mas quando
entregar-se aos pecados do m undo de tre­ associado a uma mente impura ou a moti­
vas, e Paulo cita alguns desses pecados nesta vações abjetas, transforma-se em maldição.
passagem. Ele nos adverte sobre os peca­ Algumas pessoas astutas são capazes de, em
dos (im pudicícia e impurezas) tão comuns um instante, poluir qualquer conversa com
no tem po dele e nos dias de hoje. Infeliz­ piadas sem pre inoportunas ("in con venien ­
mente, esses pecados têm invadido os lares tes"). É muito melhor ter na ponta da língua
de cristãos, causando grande tristeza nas ações de graças ao Senhor! Esta é, sem dú­
igrejas locais. Pode parecer que a "co b iça" vida, a maneira mais apropriada de dar gló­
está fora de lugar ao ser m encionada junto ria a Deus e de manter pura a conversa.
com a impureza, mas os dois pecados são Um a mulher cristã foi à com em oração de
apenas expressões diferentes da mesma fra­ aniversário de casamento de uns amigos, sem
queza básica da natureza decaída: o desejo saber que, depois do jantar, haveria uma apre­
descontrolado. O impuro e o cobiçoso de­ sentação humorística de gosto duvidoso. O
sejam satisfazer um apetite tom ando algo suposto com ediante tentou divertir o públi­
que não lhes pertence. "A concupiscência co com piadas vulgares que aviltavam tudo o
da carne, a concupiscência dos olhos" (1 Jo que os convidados cristãos consideravam
58 E F É S I O S 5:1-1 7

santo e honrado. A certa altura, o come­ possa superabundar!" Paulo responde a essa
diante ficou com a boca seca e pediu, em argumentação absurda em Romanos 6. O
voz alta, a um dos garçons: pecado na vida do cristão é diferente do
- Poderia me trazer um copo de água, pecado na vida de um incrédulo: é pior!
por favor? Deus julga o pecado onde quer que ele o
Foi então que a mulher cristã acres­ encontre e não deseja encontrá-lo na vida
centou: dos próprios filhos. De acordo com minha
- Aproveite e traga também uma escova opinião pessoal, nenhum cristão verdadeiro
de dente e uma barra de sabão! pode se perder, mas cada um prova a reali­
Por certo, lavar a boca com sabão não dade de sua fé por uma vida obediente.
resolve o problema das conversas vulgares, Muitos professam a fé, mas não possuem
mas todos entenderam o que a mulher quis a fé (Mt 7:21-23). Um cristão não é impecá­
dizer. vel, mas é, cada vez mais, uma pessoa sem
Os cristãos que guardam a Palavra de pecado em sua vida. Uma vez que um cris­
Deus no coração (Cl 3:16) sempre terão a tão é um rei, não é digno de sua posição
palavra temperada com sal (Cl 4:6), pois a entregar-se às práticas do mundo perdido
graça no coração manifesta-se em graça nos que não faz parte do reino de Deus.
lábios. Somos luz (w. 7-14). Essa imagem é a
Somos reis (w . 5, 6). Entramos no reino tônica da passagem, pois Paulo admoesta
de Deus quando aceitamos a Cristo (Jo 3:3), seus leitores: "andai como filhos da luz".
mas também aguardamos a revelação plena Convém ler 2 Coríntios 6:14 a 7:1, um texto
de seu reino quando Cristo voltar (2 Tm 4:1). paralelo que apresenta o contraste existen­
Paulo deixa claro que quem vive em peca­ te entre o filho de Deus e o não salvo. Paulo
do de modo persistente e deliberado não não diz que estávamos "em trevas", mas sim
terá parte no reino de Deus. "Não herdarão que "éramos trevas". Agora que somos sal­
o reino de Deus os que tais coisas praticam" vos: "Q ue comunhão [pode haver] da luz
(Gl 5:21). Incontinente é uma tradução do com as trevas?" Afinal, a luz produz frutos,
termo grego pornos, de onde vem nossa mas as obras das trevas são estéreis em tudo
palavra pornografia, e se refere a "alguém o que se refere às coisas espirituais. "Por­
que pratica relações sexuais ilícitas". Os que o fruto da luz [ou 'a luz'] consiste em
moralmente impuros e os avarentos serão toda bondade, e justiça, e verdade". É im­
julgados com os incontinentes. Paulo equi­ possível permanecer nas trevas e na luz ao
para a avareza à idolatria, pois consiste na mesmo tempo!
adoração de algo além de Deus. Essas ad­ A luz produz "bondade", uma das mani­
vertências tratam da prática habitual do pe­ festações do fruto do Espírito (Gl 5:22). A
cado, não de um ato pecaminoso isolado. bondade é o "amor em ação". A justiça re­
Davi cometeu adultério e, no entanto, Deus fere-se à retidão de caráter diante de Deus e
o perdoou; quando chegou sua hora, Deus o de atitudes diante dos homens. Essas duas
levou para o céu. Certamente Davi foi disci­ qualidades são baseadas na verdade, que é
plinado pelo seu pecado, mas não foi rejei­ a conformidade com a Palavra e a vontade
tado por Deus. de Deus.
No tempo de Paulo, havia falsos mestres jesus falou sobre a luz e as trevas em
afirmando que os cristãos poderiam viver em várias ocasiões. "Assim brilhe também a vos­
pecado e permanecer impunes. Esses enga­ sa luz diante dos homens, para que vejam
nadores usavam de vários argumentos para as vossas boas obras e glorifiquem a vosso
convencer os convertidos ignorantes de que Pai que está nos céus" (Mt 5:16). "Pois todo
era possível pecar repetidamente e, ainda aquele que pratica o mal aborrece a luz e
assim, entrar no reino de Deus. "Vocês são não se chega para a luz, a fim de não serem
salvos pela graça!", diziam. "Portanto, pe­ argüidas as suas obras. Quem pratica a ver­
quem à vontade para que a graça de Deus dade aproxima-se da luz, a fim de que as

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E F É S I O S 5:1-1 7 59

suas obras sejam manifestas, porque feitas com as trevas e revelam os os elem entos
em D eus" (Jo 3:20, 21). sombrios do pecado, m ostrando com o são
Andar com o "filhos da luz" significa vi­ de fato.
ver diante de Deus, sem esconder coisa al­ Jesus disse: "Eu vim com o luz para o
guma. É relativam ente fácil esconder coisas m undo" (Jo 12:46).Também declarou a seus
de outras pessoas, pois elas não conseguem discípulos; "V ó s sois a luz do m undo" (M t
ver nosso coração e nossa mente, mas "to­ 5:14). Q uando Cristo estava aqui na Terra, a
das as coisas estão descobertas e patentes perfeição de seu caráter e de sua conduta
aos olhos daquele a quem temos de prestar m ostrava a p ecam in o sid ad e dos q ue se
contas" (H b 4:13). Toda vez que tomo um encontravam a seu redor. Esse é um dos mo­
avião, preciso passar por uma inspeção e dei­ tivos pelos quais os líderes religiosos o odia­
xar que os encarregados da segurança exa­ vam e tentaram destruí-lo. "Se eu não viera,
minem m inha bagagem. N ão me im porto nem lhes houvera falado, pecado não teriam;
nem um pouco, pois sei que é uma medida mas, agora, não têm desculpa do seu peca­
que ajuda a detectar a presença de bom ­ do " (Jo 15:22). Assim com o uma pessoa sau­
bas. N unca tive m edo de passar por um dos dável revela, ainda que inconscientem ente,
equipamentos de raios X nem de submeter as deficiências e enfermidades dos que ela
minha bagagem à verificação, pois sei que visita no hospital, também o cristão revela
não tenho coisa alguma a esconder. as trevas e o pecado a seu redor só de viver
Um escritor pediu permissão a Charles com o um seguidor de Cristo. Paulo diz para
Spurgeon para escrever a história da vid a viverm os em equilíbrio, dando um exemplo
dele, ao que o grande pregador respondeu: positivo ao andar na luz e mostrando o as­
"V o c ê pod e escrever m inha vid a no fir­ pecto negativo ao denunciar a perversidade
mamento; não tenho nada a esconder!" dos que estão em trevas. N ão basta simples­
M as "andar com o filhos da luz" também mente mostrar a perversidade dos que vivem
significa revelar a luz de Deus em nossa vida na escuridão. N ão basta apenas denunciar
diária. Por m eio de nosso caráter e condu­ o pecado. Também é preciso dar frutos.
ta, fevamos a luz de Deus a um mundo em N o entanto, Efésios 5:11 acautela-nos so­
trevas. O entendim ento da pessoa incrédu­ bre a m aneira correta de lidar com as "obras
la encontra-se cegado por Satanás (2 Co 4:3, infrutíferas das trevas". Ao que parece, o lema
4) e pelo pecado (Ef 4:17-19). A luz só pode hoje em dia é: "sem pre diga o que pensa!"
penetrar seu entendim ento quando lhe tes­ N o entanto, em se tratando de mostrar as
tem unham os e falam os de Cristo. Assim coisas im undas que vêm das trevas, essa
com o uma pessoa saudável pode ajudar um prática pode ser perigosa, pois, mesmo in­
enferm o, também um filho de Deus pode conscientem ente, é possível acabar divulgan­
conduzir um pecador perdido das trevas para do e prom ovendo o pecado. Paulo diz que
a maravilhosa luz de Deus. "o só referir é vergonha" (Ef 5:12). Alguns
A luz revela a Deus; a luz produz frutos; pregadores gostam de revelar tudo o que é
mas a luz tam bém mostra o que está erra­ sensacional, tanto que seus sermões estimu­
do. Nenhum cirurgião deseja operar em uma lam desejos ilícitos e dão aos inocentes mais
sala escura, pois qualquer erro pode custar inform ações do que precisam saber. "Q u e ­
uma vida. Com o um artista poderia pintar ro que sejais sábios para o bem e símplices
um quadro fiel a uma paisagem real sem para o m al" (Rm 16:19).
qualquer luz? A luz revela a verdade e mos­ Lembro-me de um amigo que trabalhava
tra o caráter, real das coisas. Isso explica por com jovens e que achava importante ler tudo
que os incrédulos procuram ficar longe da o que os adolescentes estavam lendo "para
igreja e da Bíblia. A luz de Deus revela seu entendê-los m elhor"; sua m ente tornou-se
verdadeiro caráter, e, talvez, este não seja tão poluída que ele próprio caiu em peca­
muito agradável. Q uan do nós, cristãos anda­ do. O cristão não precisa realizar uma au­
mos na luz, nos recusamos a ter com unhão tópsia de um corpo em decom posição para
60 E F É S I O S 5:1-17

mostrar seu estado de putrefação. Tudo o É um sinal de sabedoria (v. 15). Somen­
que precisa fazer é acender a luz! "Porque te um insensato deixa-se levar pelos ventos e
tudo que se manifesta é luz" (Ef 5:13). marés. Um homem sábio define um curso,
Quando pensamos em luz, pensamos põe-se a velejar e usa o leme para chegar a
em despertar para um novo dia, e é essa seu destino. Quando um homem quer cons­
imagem que Paulo apresenta (Ef 5:14), para­ truir uma casa, a primeira coisa que faz é
fraseando Isaías 60:1. Encontramos a mesma desenhar o projeto, a fim de saber como exe­
imagem em Romanos 13:11-13 e 1 Tessa- cutar a obra. Quantos cristãos, porém, plane­
lonicenses 5:1-10. A manhã de Páscoa em jam seu dia a fim de usar de modo sábio suas
que Cristo ressuscitou dentre os mortos foi oportunidades? É verdade que não sabemos
o raiar de um novo dia para o mundo. Nós, o que o dia pode trazer (Tg 4:13-17). Mas
cristãos, não estamos adormecidos em pe­ também é verdade que uma vida planejada
cado e morte. Fomos ressuscitados dentre está mais preparada para lidar com aconte­
os mortos por meio da fé em Cristo. As tre­ cimentos inesperados. Como disse alguém:
vas do cemitério ficaram para trás, e agora "Quando um piloto não sabe para que por­
andamos na luz da salvação. A salvação é o to está rumando, nenhum vento é o certo".
começo de um novo dia, e devemos viver A vida é curta (v. 16a). "Remir o tempo"
como quem pertence à luz, não às trevas. significa aproveitá-lo ao máximo. De acor­
"Lázaro, vem para fora!" do com um velho ditado chinês: "A oportu­
O cristão não tem nada a fazer nas tre­ nidade usa um topete pelo qual você pode
vas. Ele é um santo, o que significa que tem agarrá-la assim que a vê chegar. Depois que
direito "à parte que [lhe] cabe da herança ela passa, ninguém consegue pegá-la". O
dos santos na luz" (Cl 1:12). Ele é um rei, pois termo oportunidade vem do latim e signifi­
foi "[liberto] do império das trevas e [...] [trans­ ca "em direção ao porto". Indica um navio
portado] para o reino do Filho do seu amor" aproveitando o vento e a maré para chegar
(Cl 1:13). Ele é "luz no Senhor" (Ef 5:8). ao ancoradouro em segurança. A brevidade
da vida é um forte argumento para que se
3. A ndar e m s a b e d o r ia ( E f 5 :1 5 - 1 7 ) faça o melhor uso possível das oportunida­
A expressão "vede prudentemente" também des que Deus dá.
pode ser traduzida por "sede circunspetos". Os dias são maus (v. 16b). No tempo
O termo circunspeto vem de duas palavras de Paulo, isso significava que a perseguição
latinas que significam "olhar ao redor". O romana estava a caminho (1 Pe 4:12-19).
grego tem o sentido de precisão e exatidão, Vemos como é insensato desperdiçar as
ou seja, "andem com cuidado e exatidão". oportunidades de ganhar os perdidos quan­
O oposto seria andar de modo descuida­ do consideramos que, em breve, podemos
do e sem a devida orientação e prudência. ser privados de todas elas pelo avanço do
Não podemos deixar a vida cristã por conta pecado na sociedade! Se os dias eram maus
do acaso. Devemos tomar decisões sábias no tempo em que Paulo escreveu esta car­
e procurar fazer a vontade de Deus. ta, o que dizer dos dias de hoje?
Efésios 5:14, 15 são versículos inter-re- Deus nos deu entendim ento (v. 17a).
iacionados. Ao que parece, Paulo está di­ O termo com preender indica que devemos
zendo: "N ão andem enquanto dormem! usar nossa mente para descobrir e colocar
Acordem! Abram os olhos! Aproveitem o em prática a vontade de Deus. Muitos cris­
dia ao máximo!" Infelizmente, muita gente tãos imaginam que descobrir a vontade de
que se diz cristã passa pela vida como um Deus é uma experiência mística que sobre­
sonâmbulo, sem fazer o melhor uso possí­ puja o raciocínio claro. Descobrimos a Deus
vel das oportunidades que tem de viver para à medida que ele transforma a nossa men­
Cristo e servi-lo. Paulo apresenta vários mo­ te (Rm 12:1, 2); essa transformação é resul­
tivos para sermos precisos e cuidadosos em tante da Palavra de Deus, da oração, da
nosso modo de andar. meditação e da adoração. Se Deus nos deu

* ( ..ii-ti -» ■ I' .iM M W ifi i«t ';i i ii ' mui || - « i i i -in | M l I i . |in|M|k " ■» l » "i ft» • 11 i • 4*...........|"*l-|
EFÉSIOS 5:1-17 61

entendimento, espera que o usemos, Isso coração (Cl 3:15] e das circunstâncias (Rm
significa que descobrir a vontade de Deus 8:28], O cristão pode andar com cuidado e
envolve coletar fatos, examiná-los, ponderá- exatidão, pois sabe o que Deus deseja dele,
los e orar ao Senhor pedindo sabedoria (Tg Como o empreiteiro que segue o projeto
1:5), Deus não deseja que simplesmente saí- de construção, o cristão realiza o que o Ar-
(íamos qual é sua vontade, mas que tam­
bém a compií Encerra-se aqui a seção que chamamos
Deus(em mplano para a nossa wda de "Andar em Pureza", Sua ênfase é sobre
(v. 17b). Paulo menciona esse plano em a nova vida contrastada com a antiga vida,
Efésios 2:10, Deus nos salvou e tem um pro­ imitando a Deus, não ao mundo perverso a
pósito para nós, portanto devemos desco­ nosso redor, Na seção seguinte-"Andar em
bri-lo e conduzir a vida de acordo com ele, Harmonia", Paulo trata de relacionamentos
Deus revela seu plano por meio de sua Pala­ e mostra como a vida em Cristo pode trans­
vra (Cl 1:9,10], de seu Espírito em nosso formar nosso lar em um pedaço do céu,
11 também é passivo. Não enchemos a nós mes­
mos; antes, permitimos que o Espírito nos
encha. Nesse contexto, o verbo "encher"
*
não tem relação alguma com quantidade ou
O L a r E um Pe d aço conteúdo, como se fôssemos receptáculos
d o C éu vazios que precisam de certa quantia de
combustível espiritual para prosseguir. Na
E f é s ío s 5 :1 8 -3 3 Bíblia, encher significa "ser controlado por".
"Todos na sinagoga, ouvindo estas coisas,
se encheram de ira" (Lc 4:28), ou seja, "se
deixaram controlar pela ira" e, por isso, ten­
taram matar Jesus. "M as os judeus, vendo

N
as palavras de Charles Haddon Spur­ as multidões, tomaram-se de inveja" (At
geon: "Quando o lar é governado pela 13:45), isto é, controlados pela inveja, os
Palavra de Deus, podemos convidar anjos judeus opuseram-se ao ministério de Paulo
para se hospedarem conosco, e eles se sen­ e Barnabé. Ser "cheio do Espírito" é ser con­
tirão à vontade". trolado todo o tempo pelo Espírito em nos­
O problema é que muitos lares não são sa mente, em nossas emoções e na volição.
governados pela Palavra de Deus - mes­ Quando uma pessoa aceita a Cristo
mo aqueles constituídos por cristãos pro­ como Salvador, é batizada imediatamente
fessos e as conseqüências são trágicas. pelo Espírito e passa a fazer parte do corpo
Alguns lares, em vez de hospedarem anjos, de Cristo (1 Co 12:13). Em momento algum,
parecem deixar que os demônios tomem o Novo Testamento ordena que sejamos
conta. Muitos casamentos acabam na justi­ batizados pelo Espírito, pois essa é uma ex­
ça, e ninguém sabe por que tantos homens periência definitiva que ocorre na conver­
e mulheres vivem emocionalmente divor­ são. Em Pentecostes, os cristãos foram
ciados, ainda que continuem debaixo do batizados pelo Espírito quando este desceu
mesmo teto. O poeta William Cowper cha­ sobre eles, formando, desse modo, o corpo
mou o lar de "único êxtase do Paraíso que de Cristo (At 1:4, 5). Mas também "ficaram
sobreviveu à Queda", mas muitos lares pa­ cheios do Espírito Santo" (At 2:4), e foi esse
recem mais um posto avançado do inferno, preenchimento que lhes deu o poder de que
não um pedaço do céu. precisavam para testemunhar de Cristo (At
A solução está no Espírito Santo de Deus. 1:8). Em Atos 2, os cristãos judeus foram
Somente pelo poder do Espírito podemos batizados pelo Espírito, e em Atos 10, os
andar em harmonia como maridos e esposas cristãos gentios experimentaram o mesmo
{Ef 5:22-33), pais e filhos (Ef 6:1-4), emprega­ batismo (At 10:44-48; 11:15-17). Assim, o
dores e empregados (Ef 6:5-9). A unidade corpo de Cristo formou-se com judeus e gen­
do povo de Deus descrita por Paulo em tios (Ef 2:11-22). Esse batismo histórico, em
Efésios 4:1-16 deve traduzir-se na vida diá­ dois estágios, nunca mais se repetiu, assim
ria, a fim de desfrutar a harmonia que é um como também não houve outro Calvário.
antegozo do céu na Terra. No entanto, esse batismo torna-se pessoal
"Enchei-vos do Espírito" é a ordem de quando o pecador aceita a Cristo e o Espíri­
Deus, e ele espera que obedeçamos. Trata- to passa a habitar dentro dele, inserindo-o
se de um imperativo no plural, de modo que se no corpo de Cristo. O batismo do Espírito
aplica a todos os cristãos, não apenas a uns significa que passamos a pertencer ao cor­
poucos escolhidos. O verbo é usado no tem­ po de Cristo, enquanto o preenchimento
po presente - "continuem enchendo-vos" - com o Espírito significa que meu corpo per­
referindo-se, portanto, a uma experiência tence a Cristo.
que devemos desfrutar constantemente, Costumamos pensar no poder do Espíri­
não apenas em ocasiões especiais. O verbo to como o elemento necessário para pregar

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E F É S I O S 5:1 8-33 63

e testemunhar, o que é uma idéia correta de outra força, uma vez que o álcool possui
(ver A t 4:8, 31; 6:3, 5; 7:55; 13:9; os apósto­ efeito sedativo. Experimenta uma sensação
los foram cheios do Espírito repetidam ente de grande alívio - todos os seus problemas
depois da experiência inicial em Pentecos­ se dissipam e tudo lhe parece perfeito. O
tes). M as Paulo escreve que a plenitude do bêbado não tem vergonha de se expressar
Espírito também é necessária no lar. A fim (apesar de suas palavras e atitudes serem
de que nosso lar seja um pedaço do céu na vergonhosas) e não consegue esconder o
Terra, devem os ser controlados pelo Espírito que está se passando em sua vida.
Santo. M as com o uma pessoa pode saber Ao transpor essa imagem para o cristão
se está cheia ou não do Espírito? Paulo afir­ cheio do Espírito Santo, vem os que Deus
ma que há três evidências da plenitude do co n trola sua vid a; e le exp erim enta uma
Espírito na vida do cristão: ele é alegre (Ef alegria profunda e não tem m edo de se ex­
5:19), agradecido (Ef 5:20) e subm isso (Ef pressar para a glória de Deus. Claro que o
5:21-33). Paulo não m enciona milagres, lín­ bêbado está descontrolado, uma vez que
guas ou manifestações especiais. Afirm a que o álcool afeta seu cérebro; mas o cristão ex­
o lar pode ser um pedaço do céu na Terra, perimenta um maravilhoso domínio próprio
se todos os membros da família forem con­ que, na verdade, é D eus no controle. O
trolados pelo Espírito e forem alegres, agra­ dom ínio próprio é um fruto do Espírito (G I
decidos e submissos. 5:23). "O s espíritos dos profetas estão sujei­
tos aos próprios profetas" (1 Co 14:32). O
1. A l eg r es (E f 5:19) bêbado faz papel de tolo e causa em baraço
A alegria é um fruto do Espírito (G i 5:22). A para si mesmo, mas o cristão cheio do Espí­
alegria cristã não é uma em oção superficial rito glorifica a Deus e está disposto a ser
que sobe e desce com o um term ôm etro considerado "[lo uco ] por causa de Cristo"
acom panhando as mudanças do clim a no (1 C o 4:10). O bêbado cham a a atenção
lar. Antes, é uma experiência profunda de para si mesmo, enquanto o cristão cheio do
suficiência e segurança apesar das circuns­ Espírito dá testemunho de Cristo.
tâncias a nosso redor. O s cristãos podem Por certo, não é difícil viver e trabalhar
ter alegria mesmo em meio à dor e ao sofri­ com alguém que é cheio do Espírito e ale­
mento. Esse tipo de alegria não é um term ô­ gre. Um a pessoa assim tem um cântico em
metro, mas sim um termostato. Em vez de seu coração e em seus lábios. O s bêbados
subir e descer de acordo com a situação, costum am cantar, mas suas canções reve­
ela determ ina a temperatura espiritual das lam apenas o estado corrom pido de seu
circunstâncias. Paulo expressa tal verdade coração. O cântico do cristão cheio do Es­
muito bem, quando escreve: "Porque apren­ pírito vem de Deus e não pode ser entoado
di a viver contente em toda e qualquer situa­ sem o poder do Espírito. Deus até lhe dá
ção " (Fp 4:11). cânticos no meio da noite (SI 42:8). Apesar
A fim de ilustrar essa alegria, Paulo em­ da dor e da vergonha, Paulo e Silas foram
prega uma imagem conhecid a: a em bria­ capazes de cantar louvores a Deus em uma
guez: "E não vos embriagueis com vinho [...] prisão em Filipos (At 16:25), e o resultado
mas enchei-vos do Espírito" (Ef 5:18). Q u an­ foi a conversão do carcereiro e de sua famí­
do os cristãos em Pentecostes foram cheios lia. Q u e grande alegria eles experimentaram
com o Espírito, a multidão acusou-os de es­ no m eio da noite... e nem precisaram se em­
tarem inebriados com vinho novo (A t 2:13­ briagar para desfrutá-la!
15). H avia tam anha alegria no meio deles "O bar é o lugar onde os amigos se en­
que os incrédulos não conseguiram pensar contram !" Esse era o slogan de uma cam pa­
em uma com paração melhor. N o entanto, nha em um encarte especial do jornal que
podem os extrair algumas lições práticas im­ visava promover, durante um mês, os bares
portantes por m eio de contrastes. Em pri­ da cidade. D ecidi conferir a veracidade des­
meiro lugar, o bêbado está sob o controle sa d eclaração e, nas sem anas seguintes,
64 E F É S I O S 5:18-33

colecionei recortes de notícias relacionadas por todas as coisas em todo o tempo. Essa
a bares - todas elas falando de brigas e ho­ exortação, por si mesma, mostra quanto
micídios. O lugar onde os amigos se encon­ precisamos do Espírito Santo, pois jamais se­
tram! No entanto, essa manchete do jornai ríamos capazes de obedecer a esse manda­
me fez lembrar que é comum pessoas que mento com as próprias forças. Podemos, de
bebem juntas experimentarem certa afini­ fato, ser gratos em tempos de sofrimento,
dade e sociabilidade. Esse fato não deve de decepção e até mesmo de tristeza pro­
servir de justificativa para o consumo de be­ funda? É importante lembrar que Paulo esta­
bidas alcoólicas, mas argumenta em favor va na prisão quando escreveu essas palavras
da ilustração de Paulo: os cristãos cheios do e, no entanto, se mostrou agradecido por
Espírito Santo gostam de ficar juntos e de aquilo que Deus fazia na vida dele e em
experimentar uma união alegre no Senhor. favor dele (Ef 1:16; 5:4, 20; Fp 1:3; Cl 1:3,
Não precisam dos recursos artificiais do 12; 2:7; 3:17; 4:2). Quando um cristão se
mundo, pois têm o Espírito de Deus, e ele é vê em uma situação difícil, ele deve, imedia­
tudo de que necessitam. tamente, dar graças ao Pai em nome de Jesus
Cristo, pelo poder do Espírito, a fim de guar­
2 . A g r a d e c id o s ( E f 5 : 2 0 ) dar seu coração da murmuração e da preo­
Alguém definiu o lar como "o lugar onde cupação. O diabo entra em ação quando o
recebemos o melhor tratamento e do qual cristão começa a se queixar, mas as ações
mais nos queixamos". Uma grande verdade! de graças no Espírito derrotam o inimigo e
- Meu pai só fala comigo para me dar glorificam ao Senhor. "Em tudo, dai graças,
bronca ou perguntar sobre minhas notas - porque esta é a vontade de Deus em Cristo
disse-me um adolescente. - Todo mundo Jesus para convosco" (1 Ts 5:18).
precisa de um pouco de estímulo de vez A palavra gratidão tem origem no mesmo
em quando! radical que a palavra graça. Se experimenta­
De acordo com os conselheiros matri­ mos a graça de Deus, devemos ser gratos
moniais, uma das principais causas de pro­ por aquilo que Deus nos dá. Se refletísse­
blemas conjugais é que os cônjuges não dão mos mais sobre a graça de Deus, seríamos
o devido valor um ao outro. Expressar nossa mais gratos.
gratidão a Deus e uns pelos outros é um
dos segredos do lar feliz, e é o Espírito San­ 3 . Su b m is so s ( E f 5 :2 1 - 3 3 )
to que nos concede a graça da gratidão. Paulo aplica o princípio da harmonia a mari­
De que maneira um coração agradeci­ dos e esposas (Ef 5:21-33), a pais e filhos (Ef
do promove a harmonia no lar? Em primeiro 6:1-4), a senhores e servos (Ef 6:5-9) e co­
lugar, as pessoas verdadeiramente agradeci­ meça com uma admoestação para que um
das têm consciência de que são enriquecidas se sujeite ao outro (Ef 5:21). Isso quer dizer
pela vida dos outros, o que também é um que os filhos podem dar ordens aos pais, ou
sinal de humildade. Quem acredita que o que os mestres devem obedecer aos servos?
mundo sempre lhe deve algo nunca expres­ De maneira alguma! A submissão não tem
sa gratidão. Acredita que faz um favor aos relação alguma com a hierarquia de autori­
outros ao permitir que lhe sirvam. O cora­ dade; antes, é o que governa a operação da
ção agradecido normalmente é humilde e autoridade, a forma como esta é exercida e
reconhece de bom grado que Deus é a fon­ recebida. Em várias ocasiões, Jesus tentou
te de "Toda boa dádiva e todo dom perfei­ ensinar seus discípulos a não impor sua au­
to" (Tg 1:17). Como o presente de Maria toridade e a não procurar engrandecer-se à
para Jesus em João 12, a gratidão enche a custa de outros. Infelizmente, eles não conse­
casa com seu bom perfume. guiram aprender essa lição, e até mesmo na
Sem dúvida, todos nós somos gratos por última ceia ainda discutiam sobre quem era
certas coisas em ocasiões especiais; mas Pau­ o maior dentre eles (Lc 22.24-27). Quando Je­
lo ordena a seus leitores que sejam gratos sus lavou os pés dos discípulos, ensinou-lhes

mIUí l-t Mi li--" i -i ■MJ|I \ l,|| H■  i t|i.


E F É S I O S 5: 18- 33 65

que o m aior é aquele que usa sua autorida­ Deus em sua Palavra, seu casam ento com e­
de para e d ificar os outros, diferente dos çará a ser edificado sobre alicerces fracos.
fariseus, que buscavam cada vez mais auto­ O s pecados com etidos antes do casam en­
ridade para engrandecer a si mesmos. O s to ("Som os cristãos - não precisam os nos
cristãos devem considerar "os outros supe­ preocupar com as conseqüências disso!")
riores a si mesm os" (Rm 12:10; Fp 2:1-4). É acabam causando problemas depois do ca­
próprio do ser humano tentar promover a si samento. Sem dúvida, D eus pode perdoar,
mesmo, mas o Espírito Santo nos capacita mas ainda assim algo extremamente precioso
para que nos sujeitemos aos outros. se perdeu. Dr. W illiam Culbertson, ex-presi­
A o estudar as palavras de Paulo aos ma­ dente do Instituto Bíblico M oody, costum ava
ridos e esposas, devem os lembrar que esta­ advertir sobre "as tristes conseqüências dos
va escrevendo a cristãos. Ele não sugere em pecados perdoados", e os noivos cristãos
nenhum lugar que as mulheres sejam infe­ devem dar ouvidos a esse aviso.
riores aos homens ou que lhes sejam sujei­ Maridos, amem sua esposa (w . 25-33).
tas em toda situação. O fato de usar Cristo Paulo tem mais coisas a dizer aos maridos
e a Igreja com o ilustração é evidência de cristãos do que às esposas. O padrão que
que tem o lar cristão em mente. determ ina para eles é extrem am ente ele­
M u lh e re sse ja m submissas (w. 22-24). vado : am em sua esposa "co m o tam bém
O apóstolo dá dois motivos para essa ordem: Cristo amou a igreja". Paulo exalta o am or
o senhorio de Cristo (Ef 5:22) e a liderança conjugal ao nível mais alto possível, pois vê
do hom em em Cristo (Ef 5:23). Q uando a no lar cristão uma imagem do relacionam en­
esposa cristã sujeita-se a Cristo e deixa que to entre Cristo e a Igreja. Deus instituiu o ca­
ele seja o Senhor de sua vida, não tem difi­ samento por vários motivos. Dentre outras
culdade em sujeitar-se a seu marido. Isso não coisas, o casam ento supre as necessidades
significa que ela deva tornar-se uma escra­ em ocionais do ser humano. "N ão é bom que
va, pois o marido tam bém deve sujeitar-se a o homem esteja só" (G n 2:18). O casam en­
Cristo. Se ambos vivem sob o senhorio de to também tem o propósito social de gerar
Cristo, o resultado só pode ser harm onia. filhos para dar continuidade à raça humana
Liderança não é ditadura. "U m ao outro, (G n 1:28). Paulo fala de um propósito físico
ambos ao Senhor." A esposa e o m arido cris­ do casamento: ajudar o hom em e a mulher
tãos devem orar juntos e dedicar tem po ao a satisfazerem os desejos naturais que Deus
estudo da Palavra, a fim de conhecerem a lhes deu (1 C o 7:1-3). M as em Efésios 5,
vontade de D eus para sua vida pessoal e Paulo fala de um propósito espiritual do casa­
para seu lar. N a maioria dos conflitos conju­ mento, à medida que o marido e a esposa
gais que tenho tratado com o pastor, o mari­ experimentam, um em relação ao outro, a
do e a esposa não se sujeitam a Cristo, não submissão e o am or de Cristo (Ef 5:22, 23).
lêem a Palavra e não buscam a vontade de Se o marido tom ar o am or de Cristo pela
Deus a cada dia. Igreja com o padrão para o am or por sua es­
Isso explica por que um cristão deve se posa, ele a am ará de m odo sacrificial (Ef
casar com outro cristão e não viver "em jugo 5:25). Cristo entregou-se pela Igreja; da mes­
desigual" com um incrédulo (2 C o 6:14-18). ma forma, o marido entrega-se, por amor, à
Se o cristão é submisso a Cristo, não pro­ esposa. Jacó amava tanto a Raquel que se
curará com eçar um lar que desobedece à sacrificou catorze anos trabalhando para
Palavra de Deus. Um lar desse tipo é um obtê-la com o esposa. O verdadeiro amor cris­
co nvite a uma guerra civil desde o princí­ tão "n ão procura os seus interesses" (1 C o
pio. No entanto, há outro elem ento im por­ 13:5) - não é egoísta. Se um marido é sub­
tante a ser considerado. O casal cristão deve misso a Cristo e cheio do Espírito Santo, seu
sujeitar-se ao senhorio de Cristo mesmo an­ amor sacrificial pagará de bom grado o pre­
tes de se casar. A menos que orem juntos e ço necessário para que sua esposa possa
que busquem sinceram ente a vontade de servir e glorificar a Cristo no lar.
66 E F É S I O S 5:18-33

O amor do marido também será santi- amando o próprio corpo, uma vez que ele
ficador (Ef 5:26, 27). O termo santificar signi­ e a esposa são uma só carne. Ao amá-la,
fica "separar". Na cerimônia de casamento, ele também a nutre. Assim como o amor é
o marido é separado para a esposa, e esta é o sistema circulatório do corpo de Cristo (Ef
separada para o marido. Qualquer interferên­ 4:16), também é o alimento do lar. Não são
cia nesse arranjo feito por Deus é pecamino­ poucas as pessoas que confessam ter "fome
sa. Nos dias de hoje, Cristo está purificando de amor". No lar cristão, ninguém deve ca­
sua Igreja pelo ministério de sua Palavra (Jo recer de amor, pois marido e esposa devem
15:3; 17:1 7). O amor do marido pela esposa amar um ao outro de modo a suprir suas
deve ser purificador para ela (e para ele), necessidades físicas, emocionais e espiri­
de modo que ambos possam se tornar cada tuais. Se ambos se sujeitarem a Cristo, vive­
vez mais semelhantes a Cristo. Até mesmo rão um relacionamento tão gratificante que
seu relacionamento físico deve estar sob o não serão tentados a buscar qualquer coisa
controle de Deus, a fim de ser um canal para fora do casamento.
o enriquecimento espiritual e para o prazer O lar cristão deve ser uma ilustração da
pessoal (1 Co 7:3-5). O marido não deve relação de Cristo com sua Igreja. Cada cris­
"usar" a esposa para seu prazer; antes, deve tão é um membro do corpo de Cristo e deve
demonstrar um amor bondoso, mutuamen­ ajudar a nutrir o corpo em amor (Ef 4:16).
te gratificante e santificador. O casamento Somos um em Cristo. A Igreja é seu corpo e
é uma experiência de crescimento constan­ sua noiva, e o lar cristão é uma imagem divi­
te quando Cristo é o Senhor do lar. O amor namente instituída desse relacionamento.
sempre cresce e enriquece, enquanto o egoís­ Sem dúvida, isso torna o casamento um as­
mo faz justamente o contrário. sunto extremamente sério.
A Igreja de hoje não é perfeita; tem má­ Paulo refere-se à criação de Eva e à cons­
culas e rugas. As máculas são causadas pela tituição do primeiro lar (Gn 2:18-24). Adão
contaminação exterior, enquanto as rugas teve de dar uma parte de si mesmo para
vêm da deterioração interior. Uma vez que receber sua noiva, mas Cristo entregou-se
a Igreja é contaminada pelo mundo, precisa inteiramente para comprar sua noiva na
ser sempre purificada, e o agente dessa pu­ cruz. Deus abriu o lado de Adão, mas o ser
rificação é a Palavra de Deus. "E a si mesmo humano perverso traspassou o lado de Cris­
guardar-se incontaminado do mundo" (Tg to. A união entre marido e esposa é tama­
1:27). Estritamente falando, não deve haver nha que se tornam "uma só carne", uma
rugas na Igreja, pois elas são evidência de união ainda mais íntima do que a existente
envelhecimento e de deterioração interior. entre pais e filhos. A união do cristão com
À medida que a Igreja é nutrida pela Pala­ Cristo é mais íntima ainda e, ao contrário
vra, essas rugas devem desaparecer. Como do casamento humano, permanecerá pela
uma linda noiva, a Igreja deve ser pura e eternidade. Paulo encerra com uma admoes­
jovem, o que é possível por meio do Espírito tação final para que o marido ame a esposa
de Deus aplicando a Palavra de Deus. Um e para que a esposa reverencie (respeite) o
dia, quando Cristo voltar, a Igreja será apre­ marido, e tudo isso requer o poder do Espí­
sentada no céu como uma noiva imaculada rito Santo.
(Jd 24). Se a esposa e o marido cristãos têm o po­
O amor do marido pela esposa deve ser der do Espírito para capacitá-los e o exem­
sacrificial e santificador, mas também deve plo de Cristo para incentivá-los, por que
ser gratificante (Ef 5:28-30). No relacionamen­ tantos casamentos cristãos não dão certo?
to conjugal, o marido e a esposa tornam-se Alguém está fora da vontade de Deus. Só
"uma só carne". Portanto, tudo o que um porque dois cristãos se conhecem e se dão
faz ao outro, faz a si mesmo. Trata-se de uma bem, isso não significa que são feitos um para
experiência mutuamente gratificante. O ho­ o outro. Na verdade, nem todos os cristãos
mem que ama a esposa está, na verdade, devem se casar. Por vezes, é da vontade de

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EFÉSIOS 5:18-33 67

Deus que um cristão permaneça solteiro (Mt somos usados por ele. Deve haver um an­
19:12; 1 Co 7:7-9). É errado um cristão se seio profundo pela plenitude de Deus, uma
casar com um incrédulo, mas também é er­ confissão de que não podemos fazer a von­
rado dois cristãos se casarem fora da vonta­ tade dele sem seu poder. Devemos nos
de de Deus. apropriar da promessa de João 7:37-39: "Se
Mesmo que dois cristãos se casem den­ alguém tem sede, venha a mim e beba". De­
tro da vontade de Deus, devem permane­ vemos nos entregar a Cristo pela fé e, pela
cer dentro dela, a fim de que seu lar seja a fé, pedir-lhe a plenitude do Espírito e recebê-
expressão criativa da comunhão planejada la. Quando nos virmos alegres, agradecidos
por Deus. "Mas o fruto do Espírito é: amor" e submissos, saberemos que Deus respon­
(Gl 5:22), e, a menos que marido e esposa deu à nossa oração.
estejam andando no Espírito, não poderão Há mais um fator importante a ser consi­
compartilhar o amor de Cristo, cuja descri­ derado. O Espírito de Deus usa a Palavra de
ção tão bela encontra-se em 1 Coríntios 13. Deus para operar em nossa vida. Ao ler
A maioria dos problemas conjugais tem ori­ Colossenses 3:16 - 4:1, podemos observar
gem no pecado, e todo o pecado tem origem um paralelo com essa passagem de Efésios.
no egoísmo. A submissão a Cristo e um ao Também podemos observar que receber a
outro é a única maneira de vencer o egoís­ plenitude da Palavra de Deus produz alegria,
mo, pois quando nos sujeitamos, o Espírito gratidão e submissão. Em outras palavras,
Santo nos enche e nos torna capazes de quando somos controlados pela Palavra de
amar um ao outro de maneira sacrificial, Deus, somos cheios do Espírito de Deus.
santificadora e gratificante: da maneira como Não apenas maridos e esposas, mas todo
Cristo ama a Igreja. cristão precisa dedicar tempo diário à Pala­
A fim de experimentar a plenitude do vra de Cristo, deixando que esta habite nele
Espírito uma pessoa deve, antes, ter o Espíri­ ricamente, pois só então o Espírito de Deus
to em sua vida, ou seja, ser cristã. Em seguida, poderá operar na vida de modo a tornar a
deve haver um desejo sincero de glorificar a pessoa alegre, agradecida e submissa. É isso
Cristo, uma vez que esse é o motivo pelo o que significa transformar o lar - ou qual­
qual o Espírito Santo foi concedido ()o quer outro lugar onde Deus nos coloque -
16:14). Não usamos o Espírito Santo; antes, em um pedaço do céu.
12 quando estavam em casa. O apóstolo apre­
senta quatro motivos para os filhos obede­
cerem aos pais.
São cristãos ("no Senhor", v. Ia). Este
O S en h o r io d e C r ist o argumento é uma aplicação do tema da se­
ção toda: "sujeitando-vos uns aos outros no
E f é s ío s 6 :1 -9 temor de Cristo" (Ef 5:21). Quando alguém
se torna cristão, não é liberado das obriga­
ções normais da vida. Antes, sua fé em Cris­
to deve fazer desse indivíduo um filho mais
dedicado em seu lar. Para os colossenses,
Paulo reforçou essa admoestação dizendo:

D
epois de assistir a um programa de te­ "pois fazê-lo é grato diante do Senhor" (Cl
levisão sobre a juventude rebelde, o 3:20). Vemos aqui a harmonia no lar: a espo­
marido comentou com a esposa: sa é submissa ao marido "como ao Senhor";
- Que confusão! O que nossa geração o marido ama a esposa "como também Cris­
fez de errado? to amou a igreja"; e os filhos obedecem
E a esposa respondeu calmamente: "no Senhor".
- Teve filhos. A obediência é correta (v. 1b). Deus
Temos a impressão de que, para todo instituiu uma ordem natural que mostra cla­
lado que olharmos na sociedade moderna, ramente quando um ato é correto. Uma vez
vemos antagonismo, divisão e rebelião. que foram os pais que colocaram o filho no
Maridos e esposas se divorciando, filhos se mundo, e uma vez que eles têm mais co­
rebelando contra pais, patrões e funcioná­ nhecimento e sabedoria do que o filho, é
rios procurando novas maneiras de evitar correto o filho obedecer aos pais. Até mes­
greves e de manter a economia aquecida. mo os filhotes dos animais são ensinados a
Tentamos melhorar a situação pelo ensino, obedecer. A "versão moderna" de Efésios
peia legislação e por uma porção de outras 6:1 seria: "pais, obedeçam a seus filhos, pois
abordagens, mas nada parece funcionar. A isso os manterá satisfeitos e trará paz a seu
solução de Paulo para o antagonismo no lar lar". Mas isso é contrário à ordem natural
e na sociedade é a regeneração: um novo instituída por Deus!
coração dado por Deus e uma nova sujei­ A obediência é ordenada (v. 2a). Aqui,
ção a Cristo e uns aos outros. O plano ma­ Paulo cita o quinto mandamento (Êx 20:12;
ravilhoso de Deus é "em Cristo, de fazer Dt 5:16) e o aplica ao cristão do Novo Tes­
[tudo] convergir nele" (Ef 1:9, 10). Paulo in­ tamento. Isso não significa que o cristão vi­
dica que essa harmonia espiritual começa va "sob a Lei", pois Cristo nos libertou tanto
na vida dos cristãos que se sujeitam ao se­ da maldição quanto do jugo de escravidão
nhorio de Cristo. da Lei (Gl 3:13; 5:1). Mas a justiça da Lei
Nesta seção, o apóstolo admoesta qua­ ainda revela a santidade de Deus, e o Espíri­
tro grupos de cristãos sobre o que fazer para to Santo nos capacita a que pratiquemos
ter harmonia em Cristo. essa justiça em nossa vida diária (Rm 8:1-4).
Nove dos Dez Mandamentos são repetidos
1. F i l h o s c r is t ã o s ( E f 6 :1 -3) nas epístolas do Novo Testamento, a fim de
Paulo não diz aos pais para admoestarem serem observados pelos cristãos, com exce­
os filhos; ele mesmo o faz. Os filhos estavam ção de "Lembra-te do dia de sábado, para o
presentes na congregação quando essa car­ santificar". É tão errado um cristão desonrar
ta foi lida. Será que entenderam o que Pau­ aos pais quanto o era para um judeu do
lo escreveu? Será que nós entendemos? A Antigo Testamento.
família toda participava do culto e, sem dú­ "Honrar" os pais significa muito mais do
vida, os pais explicavam a Palavra aos filhos que simplesmente obedecer a eles. Significa

íI H .í liW A •HI .'I #»> i t« i'


E F É S I O S 6:1-9 69

mostrar respeito e am or por eles, cuidar de­ pais, mas porque Deus assim o ordenou. A
les enquanto precisarem de nós e procurar desobediência aos pais é uma forma de re­
honrá-los pela maneira com o vivemos. belião contra Deus. A situação triste dos lares
Um rapaz e uma moça vieram me procurar, de hoje é resultante da rejeição à Palavra de
pois estavam querendo se casar. Perguntei- Deus (Rm 1:28-30; 2 Tm 3:1-5). A criança é,
lhes se os pais dos dois haviam concordado por natureza, egoísta, mas, pelo poder do
com o casam ento. Eles trocaram um oíhar Espírito Santo, pode aprender a ob edecer
envergonhado e confessaram: aos pais e glorificar a Deus.
- Tínhamos esperança de que o senhor
não fizesse essa pergunta... 2. Pa is c r is t ã o s (E f 6:4)
Passei uma hora tentando convencê-los Se forem deixadas por co n ta própria, as
de que era um direito dos pais deles se re­ crianças tornam-se rebeldes, de m odo que
gozijarem com esse acontecim ento e que a é necessário os pais educarem os filhos. Anos
exclusão deles causaria mágoas profundas, atrás, o duque de W in d so r disse: "N u m a
as quais talvez nunca fossem curadas. casa norte-americana, tudo é controlado por
- M esm o que eles não sejam cristãos - botões, menos os filhos". A Bíblia registra os
expliquei são seus pais, e vocês lhes de­ resultados infelizes da negligência dos pais
vem am or e respeito. para com os filhos, quer dando um mau
Por fim, eles concordaram , e os planos exem plo, quer deixando de discipliná-los
que fizem os juntos agradaram a ambas as corretam ente. D avi mimou Absalão e deu
famílias. Se tivéssem os seguido o primeiro um péssimo exem plo, e as conseqüências
plano do casai, os dois teriam perdido a foram trágicas. Eli não disciplinou os filhos,
credibilidade para testemunhar a seus fami­ e estes, além de desgraçarem seu nom e,
liares. Em vez disso, puderam dar um bom trouxeram derrota sobre a nação de Israel.
testem unho de Jesus Cristo. Em sua velhice, Isaque mimou Esaú, e sua
A o b e d iê n cia traz b ên çãos (w . 2b-3). esposa demonstrou favoritismo por jacó, re­
O quinto m andam ento é acom panhado de sultando em um lar dividido. Jacó cultivava
uma promessa: "para que se prolonguem os seu favoritism o por José, quando Deus res­
teus dias na terra que o S e n h o r , teu Deus, te gatou o m enino de modo providencial e o
dá" (Êx 20:12). A princípio, essa promessa levou para o Egito, onde o transformou em
foi feita ao povo de Israel, quando este en­ um homem de caráter. Paulo diz que o pai
trou em Canaã, mas Paulo aplica-a aos cris­ tem várias responsabilidades para com os
tãos de hoje, dizendo que o filho cristão que filhos.
honrar ao pai pode esperar duas bênçãos. N ão d eve provocá-los. N o tem p o de
As coisas irão bem para ele e ele terá vida Paulo, o pai exercia autoridade suprem a so­
longa na Terra. Isso não significa que todas bre a família. Q u an d o uma criança nascia
as pessoas que morreram jovens desonra­ em uma fam ília rom ana, por exemplo, era
ram os pais. O apóstolo está declarando um tirada do quarto e colocada diante do pai.
princípio: quando os filhos obedecem aos Se ele a pegasse no colo, era sinal de que a
pais no Senhor, evitam muitos pecados e aceitava no lar. M as se não a pegasse, indi­
perigos e, desse modo, muitas coisas que cava que não a aceitava, e a criança deveria
poderiam am eaçar ou encu rtar sua vida. ser vendida, dada ou abandonada para mor­
Todavia, a vida não é medida apenas pela rer. Sem dúvida, o verdadeiro am or paterno
extensão de tempo, mas também pela quali­ não permitia tamanhas atrocidades, mas tais
dade da experiência. Deus enriquece a vida práticas eram legais naquela época. Paulo
do filho obediente, a despeito de quanto diz aos pais: "N ã o usem sua autoridade pa­
dure aqui na Terra. O pecado sempre em­ ra abusar de seus filhos; p elo con trário :
pobrece; a obediência sempre enriquece. incentivem e edifiquem a criança". Para os
Assim, o filho deve aprender a obedecer colossenses, o apóstolo escreveu: "Pais, não
ao pai e à mãe, não apenas porque são seus irriteis os vossos filhos, para que não fiquem
70 E F É S I O S 6:1-9

desanimados" (Cl 3:21). Assim, o oposto de como responsabilidade de alguma pessoa


"provocar" é "animar". ou instituição fora do lar, por mais que tais
Eu estava dando uma palestra a um gru­ elementos externos colaborem no proces­
po de estudantes sobre a oração e dizendo so. Deus incumbiu os pais de ensinar aos
que nosso Pai celeste está sempre disponí­ filhos os valores mais essenciais.
vel quando o buscamos. Para ilustrar esse Deve discipliná-los. O termo "criar" dá
fato, contei que a recepcionista do escritó­ a idéia de aprendizado por meio da discipli­
rio de nossa igreja tem uma lista que eu pre­ na. É traduzido por "corrigir" em Hebreus
parei com o nome de todas as pessoas que 12. Alguns psicólogos modernos opõem-se
podem falar comigo a qualquer momento, ao conceito "antiquado" de disciplina, e mui­
não importa o que eu esteja fazendo. Mes­ tos educadores seguem essa filosofia. Dizem
mo que esteja em uma reunião do conselho que devemos deixar as crianças se expres­
ou no meio de uma sessão de aconselha­ sarem e que, se as disciplinarmos, iremos
mento, se alguma dessas pessoas telefonar, distorcer seu caráter. No entanto, a discipli­
a recepcionista deve me chamar imediata­ na é um princípios fundamental da vida e
mente. Minha família está no topo da lista. uma demonstração de amor. "Porque o Se­
Ainda que o assunto pareça ser de impor­ nhor corrige a quem ama e açoita a todo
tância secundária, quero que minha família filho a quem recebe" (Hb 12:6). "O que re­
saiba que estou disponível. Depois dessa tém a vara aborrece a seu filho, mas o que o
palestra, um dos rapazes me perguntou: ama, cedo, o disciplina" (Pv 13:24).
- Você não quer me adotar? Nunca con­ É preciso, porém, certificar-se de estar
sigo falar com meu pai... E preciso tanto do disciplinando os filhos da maneira correta.
incentivo dele! Em primeiro lugar, deve-se discipliná-los em
Os pais provocam e desanimam os filhos amor, não com raiva, a fim de não ferir o
quando dizem uma coisa e fazem outra, corpo nem a alma da criança ou, possivel­
sempre criticando e nunca elogiando, sendo mente, os dois. Quem não é disciplinado,
incoerentes e injustos na disciplina, mostran­ evidentemente, não pode disciplinar a ou­
do favoritismo dentro de casa, fazendo pro­ tros, e explosões de raiva nunca trazem be­
messas e não cumprindo, deixando de levar nefício algum para os filhos nem para os
a sério problemas extremamente importan­ pais.
tes para os filhos. Os pais cristãos precisam Além disso, a disciplina deve ser justa e
da plenitude do Espírito para se mostrarem coerente.
sensíveis às necessidades e aos problemas - Meu pai é capaz de usar um canhão
dos filhos. para matar um pernilongo! - disse-me um
Deve nutri-los. O texto diz: "criai-os na adolescente. - Posso cometer homicídio e
disciplina e na admoestação do Senhor". O nada acontece ou posso ser considerado
verbo traduzido por "criar" é a mesma pala­ culpado de absolutamente tudo!
vra traduzida por "alimentar" em Efésios 5:29. A disciplina coerente aplicada com amor
O marido cristão deve nutrir a esposa e os dá segurança à criança. Ela pode não con­
filhos dando-lhes amor e ânimo no Senhor. cordar conosco, mas pelo menos sabe que
Não basta cuidar dos filhos fisicamente pro­ nos importamos o suficiente para criar al­
videnciando alimento, abrigo e roupas. Tam­ guns muros de proteção a seu redor até ela
bém deve lhes dar alimento emocional e ser capaz de tomar conta de si mesma.
espiritual. O desenvolvimento do menino - Nunca soube quais eram os meus li­
Jesus é um exemplo para nós: "E crescia Je­ mites - comentou uma moça rebelde -,
sus em sabedoria, estatura e graça, diante pois meus pais nunca se importaram comi­
de Deus e dos homens" (Lc 2:52). Vemos go o suficiente para me disciplinar. Acabei
aqui um crescimento equilibrado: intelectual, concluindo que, se não era importante para
físico, espiritual e social. Em parte alguma da eles, então por que deveria ser importante
Bíblia, a educação dos filhos é apresentada para mim?

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E F É S I O S 6:1-9 71

D eve instruí-los e incentivá-los. Esse é da mulher e no cuidado para com os ne­


o significado do termo "adm oestação". A fim cessitados, tam bém o m inistério de Paulo
de educar o filho, o pai e a mãe não usam contribuiu para acabar com a escravidão e
apenas ações, mas também palavras. N o Li­ promover a liberdade. N o entanto, o após­
vro de Provérbios, por exemplo, temos um tolo teve o cuidado de não confundir o sis­
registro inspirado de um pai com partilhan­ tema social com a ordem espiritual na Igreja
do conselhos sábios com o filho. O s filhos (1 Co 7:20-24).
nem sempre apreciam nossos conselhos, mas Paulo admoesta os servos a serem obe­
isso não elimina nossa obrigação de instruí- dientes e apresenta vários bons motivos. Em
los e de incentivá-los. É evidente que nossa primeiro lugar, estavam, na realidade, servin­
instrução deve sempre estar de acordo com do a Cristo. Por certo, possuíam um "senhor
a Palavra de Deus (ver 2 Tm 3:13-1 7). segundo a carn e", mas seu Senhor verda­
Q uando a Suprem a Corte deu seu ve­ deiro estava no céu (Ef 6:9). O fato de tanto
redicto contrário à obrigatoriedade de orar um em pregado quanto seu patrão serem
nas escolas públicas, o fam oso cartunista cristãos não é desculpa para que qualquer
H erblock publicou uma tira no jornal W a­ uma das partes trabalhe menos. Antes, é um
shington Post m ostrando um pai irado sa­ bom motivo para cada um ser mais fiel ao
cudindo um jornal para a família e gritando: outro. O em pregado deve dem onstrar o
- Só faltava essa! Agora querem que a devido respeito para com seu em pregador
gente ouça as crianças orando em casa? e não tentar se aproveitar dele. Deve dedi­
A resposta é: sim! O lar é o lugar onde car toda a sua atenção e energia ao traba­
as crianças devem aprender sobre o Senhor lho que está realizando ("na sinceridade do
e a vida cristã. É hora de os pais cristãos pa­ vosso coração"). A melhor m aneira de teste­
rarem de empurrar a responsabilidade para munhar no local de trabalho é demonstrar
os professores da escola dom inical e das diligência e com petência. O empregado cris­
escolas cristãs e com eçarem a educar seus tão evita o "serviço de aparência", trabalhan­
filhos. do apenas quando o patrão está olhando
ou trabalhando com afinco dobrado quando
3. S e r v o s c r i s t ã o s (Ef 6:5-8) está sendo observado, a fim de dar a impres­
O term o "servos" refere-se, sem dúvida al­ são de que é um funcionário exemplar.
guma, a escravos cristãos, mas certamente Em segundo lugar, fazer um bom traba­
podem os aplicar essas palavras aos empre­ lho é a vontade de Deus. Para o cristão, não
gados cristãos de hoje. N aquele tempo, é existe uma divisão entre sagrado e secular.
provável que houvesse cerca de seis milhões Um cristão pode fazer qualquer trabalho
de escravos no império romano, e a escra­ honesto com o um ministério para Cristo e
vidão era uma prática amplam ente aceita. para a glória de Deus. Assim, o em pregado
Em parte alguma do N ovo Testamento a es­ deve realizar seu trabalho "d e coração", pois
cravidão, em si, é atacada ou condenada, está servindo a Cristo e fazendo a vontade
apesar de a tônica geral do evangelho ser de Deus. Por vezes, esses escravos tinham
contra tal prática. O ministério de Paulo não de realizar tarefas que detestavam, mas, ain­
era derrubar o im pério romano nem quais­ da assim, deviam cumpri-las, desde que não
quer das suas normas instituídas, mas sim fossem contrárias à vontade de Deus. As
pregar o evangelho e ganhar os perdidos pa­ expressões "sinceridade do coração" e "fa­
ra Cristo. Por certo, no final das contas, seu zendo, de coração, a vontade de D eus" mos­
trabalho evangelístico levou à destruição do tram a importância de uma atitude correta
império romano, mas essa não era a motiva­ do coração no trabalho.
ção principal do apóstolo. Assim com o a pre­ Em terceiro lugar, Paulo argumenta que
gação de W e sley e de W hitefield resultou eles serão recom pensados pelo Senhor (Ef
na abolição da escravatura e no fim do tra­ 6:8). Naquele tempo, por mais instruídos e
balho infantil, na restauração da dignidade cultos que fossem, os escravos eram tratados
72 E F É S I O S 6:1-9

como propriedade de seu senhor. Havia a caros demais para serem destruídos. Paulo
possibilidade de um escravo culto que se sugere que o senhor cristão tem um modo
tornava cristão ser tratado com mais severi­ mais apropriado de incentivar a obediência
dade por seu senhor por causa da sua fé, e o serviço do que as ameaças de castigo.
mas esse tratamento ríspido não deveria O poder negativo do medo pode tornar o
impedir o servo de dar o melhor de si (1 Pe trabalhador menos produtivo, e é difícil man­
2:18-25). Devemos servir a Cristo, não aos ter esse tipo de motivação por muito tempo.
homens, pois receberemos nossa recompen­ A motivação positiva oferecida ao "[tratar]
sa de Cristo, não dos homens. os servos com justiça e com eqüidade" (Cl
4:1) é muito superior. O indivíduo que tem
4 . S e n h o r e s c r is t ã o s ( E f 6 : 9 ) parte nos frutos de seu labor trabalhará com
A fé cristã não promove a harmonia elimi­ mais capricho e afinco. Até mesmo no Anti­
nando distinções sociais ou culturais. Os ser­ go Testamento encontramos este mesmo
vos continuam sendo servos mesmo depois conselho: "Não te assenhorearás dele com
que aceitam a Cristo, e os senhores conti­ tirania; teme, porém, ao teu Deus" (Lv 25:43).
nuam sendo senhores. Antes, a fé cristã traz Deve sujeitar-se ao Senhor. "Sabendo
harmonia ao operar no coração. Cristo não que o Senhor, tanto deles como vosso, está
nos dá uma nova organização, mas sim uma no céu" (Ef 6:9). Vemos aqui o senhorio de
nova motivação. Tanto o servo quanto o se­ Cristo na prática. A esposa sujeita-se ao
nhor estão servindo a Cristo e procurando marido "como ao Senhor" (Ef 5:22), e o ma­
lhe agradar e, desse modo, podem trabalhar rido ama a esposa "como também Cristo
juntos para a glória de Deus. Quais são as amou a igreja" (Ef 5:25). Os filhos obede­
responsabilidades do senhor (patrão) cristão cem aos pais "no Senhor" (Ef 6:1), e os pais
com respeito a seus empregados? educam seus filhos "na disciplina e na ad­
D eve se preocup ar com o bem-estar moestação do Senhor" (Ef 6:4). Os servos
deles. "D e igual modo procedei para com são obedientes "como a Cristo" (Ef 6:5), e os
eles." Se o patrão espera que os trabalhado­ senhores tratam os servos como seu Senhor
res se empenhem ao máximo por ele, então que "está no céu" lhes ordena. Ao sujeitar-
ele próprio deve dar o melhor de si por eles. se ao Senhor, a pessoa não tem problema
O patrão serve ao Senhor de coração e es­ em sujeitar-se à autoridade de outrem.
pera que seus empregados façam o mesmo. Jesus disse que, para exercer autorida­
Não deve, portanto, explorar os que traba­ de, é preciso, antes de tudo, ser um servo
lham para ele. (M t 25:21). Quem não está debaixo de qual­
Um dos melhores exemplos bíblicos é quer autoridade não tem direito algum de
Boaz, no Livro de Rute. Ele cumprimentava exercer autoridade. Isso explica por que
seus trabalhadores dizendo: "O S en h o r seja muitos dos grandes homens da Bíblia foram
convosco!" e eles respondiam: "O S en h o r servos antes de Deus lhes dar autoridade:
te abençoe!" (Rt 2:4). Boaz mostrava-se sen­ José, Moisés, Davi e Neemias são apenas
sível para com as necessidades de seus em­ alguns exemplos. Mesmo depois que um
pregados e foi generoso para com Rute, uma indivíduo torna-se um líder, deve continuar
desconhecida. Seu relacionamento com os liderando para servir. De acordo com um
empregado era de respeito mútuo e de de­ provérbio africano: "O chefe é o servo de
sejo de glorificar ao Senhor. Como é triste todos". "E quem quiser ser o primeiro entre
quando um empregado comenta: vós será vosso servo" (M t 20:27).
- Meu patrão se diz cristão, mas não Um amigo meu foi promovido a um car­
parece! go elevado de diretoria e, infelizmente, o po­
Não deve ameaçá-los. Os senhores ro­ der lhe subiu à cabeça. Desfrutava tudo o que
manos tinham poder e autoridade legal para sua posição lhe oferecia e mais um pouco e
matar um escravo rebelde, apesar de pou­ nunca deixava passar uma oportunidade de
cos usarem desse direito. Os escravos eram mostrar a seus funcionários quem estava no
EFÉSIOS 6:1-9 73

comando. Com isso, porém, perdeu o respei­ conselhos, sem prevenção, nada fazendo
to dos funcionários, e a produtividade e efi­ com parcialidade" (1 Tm 5:21), Uma das ma­
ciência no departamento dele caíram de tal neiras mais rápidas de um líder causar divisão
modo que a empresa teve de colocar outra no meio de seus seguidores é demonstrar
pessoa em seu lugar. Meu amigo esqueceu favoritismo e parcialidade,
que tinlia um "Senhor no céu* e, por isso, não Encerra-se aqui a seção que chamamos de
conseguiu ser um bom “senhor na Terra", "Andar em harmonia", Se estivermos cheios
Não dmterfavoritismo, Deus não faz do Espírito Santo e se formos alegres, agra­
acepção de pessoas. Julgará o senhor e o decidos e submissos, poderemos desfrutar
servo por seus pecados ou recompensará harmonia nos relacionamentos em geral ao
o senhor e o servo por sua obediência (Ef viver e trabalhar com outros cristãos. Tam­
6:8), Um patrão cristão não tem privilégios bém teremos mais facilidade em trabalhar e
junto a Deus só por causa de seu cargo nem em testemunhar a incrédulos que, talvez,
deve demonstrar favoritismo para com os discordem de nós, O fruto do Espírito é o
que se encontram debaixo de sua autorida­ amor, o elemento de coesão mais podero­
de, Paulo adverte Timóteo: "guardes estes so do mundo,
13 1 .0 in im ig o (E f 6 :1 0 - 1 2 )
A unidade de inteligência m ilitar desem ­
penha papel crucial em uma guerra, pois
permite que os oficiais conheçam e com ­
Es t a mo s n o E x ér c it o preendam o inim igo. Se não souberm os
quem é o inimigo, onde ele está e o que é
E f é s io s 6 : 1 0 - 2 4 capaz de fazer, terem os d ificuld ade em
derrotá-lo. Deus nos instrui sobre o inimigo
não apenas em Efésios 6, mas ao longo de
toda a Bíblia, de modo que não há motivos
para sermos pegos de surpresa.
O líd e r - Satanás. O inimigo tem vários

M
ais cedo ou mais tarde, todo cristão nomes. D iabo significa "acusador", pois ele
percebe que sua vida com Cristo é acusa o povo de Deus dia e noite diante do
um campo de batalha e não um parque de trono de Deus (Ap 12:7-11). Satanás signifi­
diversões, e que, se não contar com a ajuda ca "adversário", pois ele é inimigo de Deus .
do Senhor, o inimigo que tem diante de si é Também é chamado de "tentador" (M t 4:3),
muito mais forte do que ele. É apropriado "hom icida" e "m entiroso" (Jo 8:44). É com­
Paulo usar uma imagem militar para ilustrar parado a um leão (1 Pe 5:8), a uma serpente
o conflito do cristão com Satanás. Ele próprio (Gn 3:1; Ap 12:9) e a um anjo de luz (2 Co
encontrava-se acorrentado a um soldado ro­ 11:13-15), sendo também denom inado "o
mano (Ef 6:20), e, por certo, seus leitores esta­ deus deste século" (2 Co 4:4).
vam acostumados com os soldados e seus De onde veio esse espírito criado que
equipamentos de guerra. Na verdade, Paulo procura se opor a Deus e derrotar a obra
demonstra uma predileção por ilustrações mi­ divina? Vários estudiosos acreditam que, na
litares (2 Co 10:4; 1 Tm 6:12; 2 Tm 2:3; 4:7). criação inicial, ele era Lúcifer, o "filho da alva"
Com o cristãos, enfrentamos três inimi­ (Is 14:12-15) lançado por terra por causa
gos: o mundo, a carne e o diabo (Ef 2:1-3). de seu orgulho e de seu desejo de ocupar o
"O mundo" refere-se ao sistema ao nosso trono de Deus. A origem de Satanás ainda
redor que se opõe a Deus e satisfaz "a con­ envolve inúmeros mistérios, mas seus atos e
cupiscência da carne, a concupiscência dos seu destino certamente não constituem mis­
olhos e a soberba da vida" (1 Jo 2:15-17). tério algum! Um a vez que é um ser criado e
"U m a sociedade sem Deus" - essa é uma que não é eterno como Deus, seus conhe­
definição simples, mas precisa, do que vem cimentos e atividades são limitados. Ao con­
a ser "o mundo". "A carne" é a velha nature­ trário de Deus, Satanás não é onisciente,
za que herdamos de Adão, uma natureza onipotente e onipresente. Então, como con­
que se opõe a Deus e que não é capaz de segue operar de modo tão eficaz em tantas
fazer qualquer coisa espiritual para agradar partes distintas do mundo? Ele o faz por meio
a Deus. Mas, por meio de sua morte e res­ de uma rede organizada de ajudantes.
surreição, Cristo venceu o mundo (Jo 16:33; Os ajudantes de Satanás. Paulo os cha­
Gl 6:14), a carne (Rm 6:1-6; Gl 2:20) e o ma de "principados e potestades [...] do­
diabo (Ef 1:19-23). Em outras palavras, como minadores [...] forças espirituais do mal, nas
cristãos, não estamos lutando para conquis­ regiões celestes" (Ef 6:12). Charles B. Williams
tar a vitória, mas sim lutando em vitória! O p rop õ e a seg uinte trad u ção para esse
Espírito de Deus no capacita para que nos versículo: "Pois nossa peleja não é somente
apropriemos, pela fé, da vitória de Cristo. contra inimigos humanos, mas contra os
Nos últimos versículos de sua carta, Pau­ governantes, autoridades e poderes cósmi­
lo trata de quatro verdades que, ao serem cos deste mundo tenebroso; ou seja, contra
compreendidas e aplicadas por seus leito­ os exércitos de espíritos do mal que nos
res, permitirão que vivam de modo vitorioso. desafiam na luta celestial". Este texto indica
E F É S I O S 6: 1 0 - 2 4 75

a existência de um exército definido de cria­ (2 C o 2:11). Algumas pessoas são sagazes e


turas dem oníacas que assistem Satanás em cheias de ardis "que induzem ao erro" (Ef
seus ataques contra os cristãos. O apósto­ 4:14), mas, por trás delas, se encontra o
lo Jo ão dá a entender que um terço dos maior de todos os enganadores: Satanás. Ele
anjos caiu junto com Satanás, quando ele se faz passar por anjo de luz (2 C o 11:14) e
se rebelou contra Deus (Ap 12:4), e Daniel procura cegar a mente hum ana para a ver­
escreveu que os anjos de Satanás lutam dade da Palavra de Deus. O fato de Paulo
contra os anjos de Deus para obter o con­ usar o termo "lu ta" indica que estamos en­
trole das nações (D n 10:13-20). H á um a volvidos em um confronto direto e que, por­
batalha espiritual em andam ento neste mun­ tanto, não somos apenas expectadores de
do, e "nas regiões celestiais" nós, cristãos, um jogo. Satanás deseja usar nosso inimigo
particip am os desse conflito. Tendo cons­ externo, o mundo, bem com o nosso inimi­
ciên cia desse fato, "andar em vitó ria" tor­ go interno, a carne, para nos derrotar. Suas
na-se algo de im portância vital para nós e armas e seu plano de batalha são terríveis.
para Deus.
O cerne da questão é que nossa batalha 2. O e q u ip a m e n t o (E f 6:13-17)
não é contra seres humanos, mas sim con­ Um a vez que lutamos contra inim igos na
tra poderes espirituais. Estamos perdendo esfera espiritual, precisamos de equipam en­
tem po lutando contra pessoas quando de­ tos ofensivos e defensivos. Deus nos supriu
veríam os lutar contra o diabo, que procura com "to d a a arm adura", e não devem os
controlar os indivíduos e transformá-los em deixar parte algum a de fora. Satanás sem­
inimigos da obra de Deus. Durante o minis­ pre procura uma área desprotegida para usar
tério de Paulo em Éfeso, ocorreu um tumul­ com o ponto de partida para seus ataques
to que poderia ter destruído a igreja (At (Ef 4:27). Paulo ordena a seus leitores que
19:21-41). Essa revolta não foi causada ape­ vistam a armadura, tomem as armas e resis­
nas por Dem étrio e por seus companheiros; tam a Satanás, e só podemos fazer tudo isso
por trás deles estavam Satanás e seus aju­ pela fé. Sabendo que Cristo já conquistou
dantes. Sem dúvida, Paulo e a igreja oraram, Satanás e que temos uma arm adura e armas
e a oposição foi calada. O conselho do rei espirituais a nossa disposição, aceitam os
da Síria a seus soldados pode ser aplicado a pela fé aquilo que Deus nos dá e enfrenta­
nossa batalha espiritual: "N ã o pelejareis nem mos o inimigo. O dia é mau e o inimigo é
contra pequ eno nem contra grande, mas mau, mas "se Deus é por nós, quem será
somente contra o rei" (1 Rs 22:31). contra nós?" (Rm 8:31).
A s ap tid ões d e Satanás. As adm oesta­ O cin to da verdade (v. 14a). Satanás é
ções de Paulo indicam que Satanás é um um m entiroso (Jo 8:44), mas o cristão cuja
inimigo forte (Ef 6:10-12) e que precisamos vida é controlada pela verdade o derrota­
do poder de Deus para sermos capazes de rá. O cinto mantinha unidas as outras par­
enfrentá-lo. Não devem os jam ais subestimar tes da armadura, e a verdade é o elem ento
o poder do diabo. N ão é por acaso que ele de integração na vida do cristão vitorioso.
é com parado com um leão e com um dra­ Um homem de integridade que tem a cons­
gão! O Livro de Jó mostra o que ele pode ciência lim pa pode enfrentar o inimigo sem
fazer com o corpo, o lar, as riquezas e os medo. O cinto também segurava a espada.
amigos de uma pessoa, jesus cham a Sata­ A m enos que pratiquemos a verdade, não
nás de ladrão, e diz que ele vem para "rou­ podem os usar a Palavra da verdade. Um a
bar, matar e destruir" (Jo 10:10). Satanás não vez que a m entira entra na vida do cristão,
é apenas forte, mas também astuto e malicio­ tudo com eça a se desintegrar. Por mais de
so, e lutamos contra "as ciladas do diabo". um ano, o rei Davi mentiu sobre seu peca­
Aqui, as ciladas referem-se a "artifícios as­ do com Bate-Seba, e nada deu certo. O s
tuciosos, estratagemas". O cristão não pode Salm os 32 e 51 falam do preço que ele teve
se dar o luxo de "lhe [ignorar] os desígnios" de pagar.
76 E F É S I O S 6:10-24

A couraça da justiça (v. 14b). Essa parte outro e marchar sobre o inimigo como uma
da armadura, feita de placas ou de cadeias parede sólida. Essa idéia sugere que os cris­
de metal, cobria a parte posterior e anterior tãos não estão sozinhos na batalha. A "fé"
do corpo desde o pescoço até a cintura. mencionada nesse versículo não é a fé
Simboliza a justificação do cristão em Cris­ salvadora, mas sim a fé viva, a confiança nas
to (2 Co 5:21) e sua vida justa no Senhor (Ef promessas e no poder de Deus. A fé é uma
4:24). Satanás é o acusador, mas não pode arma defensiva que nos protege dos dardos
acusar o cristão que está vivendo correta­ inflamados de Satanás. No tempo de Paulo,
mente no Espírito. O tipo de vida que leva­ os soldados atiravam flechas cujas pontas
mos ou nos fortalecerá de modo a resistirmos eram mergulhadas em alguma substância
aos ataques de Satanás ou dará espaço para inflamável, acesas e lançadas contra o inimi­
que ele nos derrote (2 Co 6:1-10). Quando go. Satanás lança "dardos inflamados" em
Satanás acusa o cristão, é a justiça de Cristo nosso coração e em nossa mente: mentiras,
que garante a salvação do que crê. Mas se pensamentos blasfemos, pensamentos de
não acompanharmos nossa posição justifi­ ódio contra outros, dúvidas e desejos arden­
cada em Cristo com a prática da justiça na tes pelo pecado. Se não apagarmos esses
vida diária, daremos ocasião aos ataques dardos pela fé, eles começam um incêndio
de Satanás. dentro de nós, e desobedecemos a Deus.
As sandálias do evangelho (v. 15). Os Não temos como saber quando Satanás lan­
soldados romanos usavam sandálias com çará um desses dardos contra nós, de modo
cravos na sola para dar mais apoio aos pés que devemos sempre viver pela fé e usar o
durante a batalha. A fim de "resistir" e de escudo da fé.
"permanecer inabaláveis", precisamos cal­ O capacete da salvação (v. 17). Satanás
çar os pés com o evangelho. Pelo fato de deseja atacar nossa mente, e foi assim que
termos com Deus a paz que vem do evan­ derrotou Eva (Gn 3; 2 Co 11:1-3). O capace­
gelho (Rm 5:1), não precisamos temer os te da salvação refere-se à mente controlada
ataques de Satanás nem dos homens. De­ por Deus. É triste que muitos cristãos não
vemos estar em paz com Deus e uns com considerem o intelecto importante, quando,
os outros, a fim de derrotarmos o diabo (Tg na realidade, ele tem papel crucial no cres­
4:1-7). No entanto, essas sandálias têm mais cimento, no serviço e na vitória do cristão.
um significado. Devemos estar preparados, Quando Deus controla a mente, Satanás não
cada dia, para levar o evangelho da paz ao consegue fazer o cristão se desviar. A pes­
mundo perdido. O cristão mais vitorioso é soa de fé que estuda a Bíblia e que aprende
o que dá testemunho. Se calçarmos as san­ o significado das Escrituras não se deixará
dálias do evangelho, teremos os "pés for­ enganar com facilidade. Precisamos ser "ins­
mosos" mencionados em Isaías 52:7 e em truídos, segundo é a verdade em Jesus" (Ef
Romanos 10:15. Satanás declarou guerra, 4:21). Devemos "[crescer] na graça e no
mas somos embaixadores da paz (2 Co conhecimento de nosso Senhor e Salvador
5:18-21) e, como tai, levamos conosco o Jesus Cristo" (2 Pe 3:18). Em todo lugar onde
evangelho da paz a todo lugar para onde ministrava, Paulo sempre ensinava aos recém-
vamos. convertidos as verdades da Palavra de Deus,
O escudo da fé (v. 16). Esse escudo gran­ e era esse capacete que os protegia das
de - normalmente, medindo cerca de 1,20m mentiras de Satanás.
de altura por 60 centímetros de largura - Certa tarde de domingo, visitei um ho­
era feito de madeira e revestido de couro mem que havia sido diácono em uma con­
resistente. O soldado o segurava diante de gregação local, mas que se envolvera com
si para protegê-lo de lanças, flechas e "dar­ uma seita. Sentamo-nos à mesa, ambos com a
dos inflamados". As beiradas do escudo ti­ Bíblia aberta, e procurei lhe mostrar a verda­
nham um formato que permitia a uma linha de da Palavra de Deus, mas percebi que
inteira de soldados encaixar um escudo no mentiras cegavam seu entendimento.

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E F É S I O S 6 : 1 0- 2 4 77

- Com o foi que você se afastou de uma Palavra quando a aceitam os pela fé e a usa­
igreja que ensina a Bíblia e se envolveu com mos. Um a espada material fere e mata, en­
essas crenças? - perguntei. Sua resposta me quanto a espada do Espírito cura feridas e
deixou pasmado. vivifica. M as quando usamos a espada con­
- Sabe, pastor, a culpa é da igreja. Eu tra Satanás, desferimos um golpe que o en­
não con hecia coisa algum a da Bíblia, e a fraquece e o im pede de atrapalhar a obra
igreja tam bém não me ensinou coisa algu­ de Deus.
ma. Q ueria estudar a Palavra, mas ninguém Q u an d o foi tentando p or Satanás no
me explicou com o fazê-lo. Então, a congre­ deserto, Cristo usou a espada do Espírito e
gação me elegeu diácono, um cargo para o derrotou o inimigo. Jesus declarou três ve­
qual eu não estava preparado. O peso foi zes: "está escrito" (Lc 4:1-13). É interessante
grande demais para mim. Um dia, ouvi um observar que Satanás também pode citar a
homem pregando sobre a Bíblia no rádio e Palavra: "porque está escrito" (Lc 4:10), mas
tive a impressão de que ele sabia o que di­ não o faz de maneira com pleta. O inimigo
zia. Com ecei a ler sua revista e a estudar tenta usar a Palavra de Deus para nos con­
seus livros, e agora estou convencido de que fundir, de m odo que é im portante conhecer
ele tem razão. todas as palavras que Deus nos deu. Alguém
É triste que, ao receber esse homem, sua disse que é possível provar qualquer coisa
igreja não tenha lhe provido o capacete da usando a Bíblia - o que é verdade, quando
salvação. Se tivessem praticado a verdade usamos versículos fora de contexto, om iti­
encontrada em 2 Tim óteo 2:2, ele não teria mos palavras e aplicam os certos versículos
sido mais uma vítim a da guerra espiritual. indevidam ente aos cristãos de hoje. Q uan­
A espada do Esp írito (v. 17b). Essa espa­ to m elhor se conhece a Palavra de Deus,
da é a arma ofensiva que Deus nos dá. O mais fácil é detectar as mentiras de Satanás
soldado rom ano usava em bainhada em seu e rejeitar suas ofertas.
cinto uma espada curta para com bates cor­ Em certo sentido, a "arm adura de D eus"
po a corpo. Hebreus 4:12 com para a Pala­ é uma imagem de Jesus Cristo. Ele é a Ver­
vra de Deus com uma espada pois é afiada dade (Jo 14:6); ele é nossa justiça (2 C o 5:21)
e capaz de penetrar o ser interior da mesma e nossa paz (Ef 2:14). Nossa fé só é possível
forma com o a espada material trespassa o por causa de sua fidelidade (Gl 2:20); ele é
corpo. Q uand o a Palavra nos convenceu do nossa salvação (Lc 2:30); e é a Palavra de
pecado, nosso coração foi "com p un gid o" Deus (Jo 1:1, 14). Isso significa que, quando
(At 2:37). Pedro tentou usar a espada para aceitam os a Cristo, também recebem os a
defender Jesus no Getsêm ani (Lc 22:47-51), armadura. Paulo disse aos rom anos com o
mas, em Pentecostes, aprendeu que a "es­ fazer uso da armadura (Rm 13:11-14): des­
pada do Espírito" é muito mais poderosa. pertar (Rm 13:11), deixar o pecado ("as obras
M oisés também tentou conquistar pela es­ das trevas") e "[revestir-se] das armas da luz"
pada (Êx 2:11-15), mas descobriu que a Pa­ (Rm 13:12). Fazemos isso "[revestindo-nos]
lavra de Deus, por si mesma, era suficiente do Senhor Jesus Cristo" (Rm 13:14). Pela fé,
para derrotar o Egito. colocam os a armadura e crem os que Deus
Um a espada material traspassa o corpo, dará a vitória. N o m om ento da salvação,
mas a Palavra de Deus traspassa o coração. vestimos a armadura de uma vez por todas.
À m edida que a espada material é usada, N o entanto, devem os nos ap ropriar dela
ela perde o corte; mas quando a Palavra de cada dia. Q uando o rei Davi tirou sua arm a­
Deus é usada em nossa vida, torna-se cada dura e voltou para seu palácio, colocou-se
vez mais afiada. Um a espada material deve em mais perigo do que se estivesse no cam ­
ser em punhada por um soldado, mas a es­ po de batalha (2 Sm 11). N un ca estamos
pada do Espírito tem seu próprio poder, pois fora do alcance dos ardis de Satanás, de
é "viva, e eficaz" (H b 4:12). O Espírito es­ m odo que jamais devem os ficar sem a ar­
creveu a Palavra, e o Espírito em punha a madura com pleta de Deus.
78 E F É S IO S 6:1 0-24

3. A e n e r g ia ( E f 6 :1 8 - 2 0 ) No tabernáculo do Antigo Testamento, an­


A oração é a energia que capacita o solda­ tes do véu que dava acesso ao Santo dos
do cristão a usar a armadura e a empunhar Santos, havia um pequeno altar de ouro em
a espada. Não somos capazes de lutar na que o sacerdote queimava incenso (Êx 30:1 -
batalha com nosso poder, por mais fortes 10; Lc 1:1-11). O incenso retrata a oração
ou habilidosos que julguemos ser. Quando e, para ser queimado no tabernáculo ou
Amaleque atacou Israel, Moisés foi para o templo, deveria ser preparado de acordo
alto do monte a fim de orar, enquanto Josué com as instruções de Deus, não segundo
usava a espada no vale (Êx 17:8-16). Os dois alguma fórmula humana. O fogo do altar
elementos foram essenciais para derrotar retrata o Espírito Santo, pois é ele que "acen­
Amaleque: a intercessão de Moisés no mon­ de" nossas orações dentro da vontade de
te e a espada de Josué em ação no vale. A Deus. É possível orar com fervor na carne e
oração é o poder para a vitória, mas não se não se comunicar com Deus. Também é pos­
trata de um tipo qualquer de oração. Paulo sível orar tranqüilamente no Espírito e ver a
diz como orar para derrotar Satanás. mão de Deus fazer grandes coisas.
O r a r em todo tempo. É evidente que O ra r com os olhos abertos. Vigiar sig­
isso não significa "proferir orações o tem­ nifica "manter-se alerta". A injunção para
po todo". Não somos ouvidos por causa "vigiar e orar" aparece com freqüência na
de nossas "vãs repetições" (Mt 6:7). "[Orar] Bíblia. Quando Neemias estava restau­
sem cessar" (1 Ts 5:17) significa estar sem­ rando os muros de Jerusalém e o inimigo
pre em comunhão com o Senhor, estar tentava impedi-lo de realizar essa obra,
conectado com ele a todo tempo. Ao orar, Neemias derrotou os adversários vigiando
o ideal é nunca dizer: "Senhor, colocamo- e orando. "Porém nós oramos ao nosso
nos em tua presença...", pois, na verdade, Deus e, como proteção, pusemos guarda
nunca deixamos a presença dele! O cris­ contra eles" (Ne 4:9). "Vigiar e orar" é o
tão deve orar "em todo tempo", pois está segredo para vencer o mundo (M c 13:33),
sempre sujeito a tentações e a ataques do a carne (M c 14:38) e o diabo (Ef 6:18).
diabo. Um ataque surpresa já derrotou mais Pedro adormeceu quando deveria estar
de um cristão que se esqueceu de "orar orando, e o resultado foi a vitória de Sata­
sem cessar". nás (M c 14:29-31, 67-72). Deus espera
O ra r com toda oração. Existe mais de que usemos os sentidos que nos deu para
uma forma de orar: oração, súplica, inter­ que, conduzidos pelo Espírito, possamos
cessão e ação de graças (Fp 4:6; 1 Tm 2:1). perceber quando Satanás está começando
O cristão que ora apenas para pedir coisas a operar.
para si está perdendo as bênçãos resultan­ Continuar a orar. A palavra perseve­
tes da intercessão e da ação de graças. Na rança significa, simplesmente, "persistir em
verdade, a ação de graças é uma grande algo e não desistir". Os primeiros cristãos
arma para derrotar Satanás. Assim como o oravam dessa maneira (At 1:14; 2:42; 6:4),
louvor, a oração tem poder transformador. e d evem os seguir seu exem plo (Rm
A intercessão por outros pode trazer vitó­ 12:12). A perseverança na oração não sig­
ria em nossa própria vida. "Mudou o S en h o r nifica que estamos tentando convencer
a sorte de Jó, quando este orava pelos seus Deus, mas sim que estamos profundamen­
amigos" (jó 42:10). te interessados e preocupados, e que não
O rar no Espírito. De acordo com o mo­ conseguimos descansar enquanto não re­
delo bíblico, oramos ao Pai, por meio do cebemos uma resposta de Deus. Nas pa­
Filho e no Espírito. Romanos 8:26, 27 mos­ lavras de Robert Law: "O rar não é insistir
tra que a única maneira de orar dentro da para que a vontade do homem seja feita
vontade de Deus é pelo poder do Espírito. no céu, mas sim para que a vontade de
De outro modo, nossas orações podem ser Deus seja feita na Terra" (Tests ofLife, [Grand
egoístas e estar fora do que Deus deseja. Rapids: Baker, 1968]). A maioria desiste

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EFÉStOS 6:10-24 79

exatamente quando Deus está preste a dar 4 .0 enc o r a ja ment o (Ef 6:21-24)
a vitória. Nem todos têm a disposição ne­ Não estamos travando essa batalha sozinhos.
cessária para passar uma noite inteira em Há outros cristãos conosco na luta, e deve­
oração sincera, mas todos podemos perse­ mos ter a preocupação de encorajar uns aos
verar muito mais do que costumamos fazer. outros. Paulo animou os efésios; Tíquico
A Igreja primitiva orou incessantemente encorajou Paulo (At 20:4); e Paulo o estava
enquanto Pedro estava na prisão e, no últi­ enviando de volta a Éfeso, a fim de ser um
mo instante, Deus lhe deu a resposta (At estímulo para os cristãos de lá. Paulo não
12:1-19). Devemos continuar orando até era o tipo de missionário que guardava se­
que o Espírito nos oriente a parar ou até que gredo sobre o que lhe acontecia. Desejava
Deus responda. Justamente no momento que o povo de Deus soubesse o que Deus
que sentirmos vontade de desistir, Deus fazia, como suas orações estavam sendo res­
dará a resposta. pondidas e como Satanás agia para se opor
Orar por todos os santos. As primeiras à obra. Suas motivações não eram egoístas
palavras da oração que Jesus ensinou são: nem tentava extrair algo deles.
"Pai nosso" e não "meu Pai". Oramos como É um grande estímulo saber que faze­
parte de uma grande família que também mos parte da família de Deus! Em parte al­
conversa com Deus e devemos orar pelos guma do Novo Testamento encontramos
demais membros da família. Até mesmo um cristão isolado. Os cristãos são como
Paulo pediu o apoio dos efésios em ora­ ovelhas: vivem em rebanhos. A igreja é um
ção - ele que já havia sido arrebatado ao exército, e os soldados precisam permane­
terceiro céu e voltado. Se Paulo precisa­ cer juntos e lutar juntos.
va das orações dos santos, tanto mais nós É interessante observar as palavras que
também precisamos! Se minhas orações Paulo usa para encerrar esta carta: paz,
cooperam para que outros santos derro­ amor, fé e graça! O apóstolo estava numa
tem Satanás, essa vitória também me aju­ prisão em Roma e, no entanto, era mais
dará. Convém observar que Paulo não rico do que o imperador. Quaisquer que
pede que orem por seu bem-estar ou segu­ sejam nossas circunstâncias, em Jesus Cris­
rança, mas pela eficácia em seu testemu­ to somos abençoados com "toda sorte de
nho e ministério. bênção espiritual"!

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