Medcel Ginecologia - Vol 1
Medcel Ginecologia - Vol 1
Medcel Ginecologia - Vol 1
1. Anatomia
Figura 1 - Anatomia do assoalho pélvico feminino
2. Estrutura pélvica
A - Bacia óssea
A - Vagina
B - Útero
C - Tubas uterinas
D - Ovários
E - Particularidades anatômicas
a) Ligamento largo
b) Paramétrios laterais
c) Períneo
A - Clitóris
a) Vulva e períneo
b) Cavidade pélvica
A - Gônadas
b) Ovários
Figura 13 - Estrutura no fórnice vaginal direito (seta): são os cistos de Gartner, estruturas
remanescentes dos ductos de Wolff que podem ser encontradas em algumas mulheres durante o
exame especular
g) Síndrome de Reifenstein
Importante
O tratamento da síndrome de Morris engloba a gonadectomia (pelo risco de
gonadoblastoma), reposição de estrogênio e avaliação da necessidade de
neovagina.
h) Síndrome de Swyer
i) Síndrome de Turner
Cariótipo: 45,X0;
Gônadas: “em fita” – disgenesia gonadal, logo, os ovários não funcionam.
Como não há cromossomo Y, não se forma o testículo; porém, para haver o
desenvolvimento de ovários, são necessários 2 cromossomos X. Logo, as
gônadas são indiferenciadas;
Fenótipo: pescoço alado, tórax “em escudo”, baixa estatura, afastamento dos
mamilos (hipertelorismo), nevos cutâneos, palato arqueado, unhas das mãos
pequenas e convexas; 4º e 5º metacarpiano curtos; implantação baixa de
cabelos; ausência de desenvolvimento puberal;
Infertilidade: útero e vagina são normais e respondem a hormônios
exógenos;
Mosaico para Turner: 45,X0/46,XX. O fenótipo semelhante ao da síndrome
de Turner, porém com maior estatura e menor número de anormalidades
cromossômicas. Há casos em que a infertilidade é o sintoma mais evidente;
Complicação para Turner: anomalias cardíacas, em especial coarctação da
aorta; anomalias renais; problemas auditivos; otite média; mastoidite; maior
incidência de hipertensão arterial, acloridria, diabetes e tireoidite de
Hashimoto.
Importante
A síndrome de Turner é o principal tipo de disgenesia gonadal. As gônadas
são indiferenciadas (“em fita”).
Figura 19 - Síndrome de Turner: pescoço alado e baixa implantação de cabelos>
Figura 20 - Síndrome de Turner: linfedema das mãos
Figura 21 - Síndrome de Turner: linfedema dos pés
j) Síndrome de Klinefelter
B - Malformações genitais
a) Anomalias uterinas
Podem ser diversas, de acordo com o grau de fusão e a regressão dos ductos
müllerianos.
Útero didelfo: sem fusão dos ductos müllerianos na linha média;
Úteros bicorno, septado e unicorno: absorção incompleta do septo
resultante da fusão.
Se não há o desenvolvimento adequado dos ductos müllerianos na
embriogênese, pode haver diversas outras alterações. Sempre que estivermos
diante de um diagnóstico de malformação mülleriana, será imperativa a
análise minuciosa do trato urinário concomitante. Dada a peculiaridade do
desenvolvimento embrionário simultâneo dos tratos urinário e reprodutivo, a
associação a malformações do trato urinário é significativa.
O diagnóstico das anomalias uterinas deve ser obtido pela anamnese (que
eventualmente apresenta queixas referentes ao ciclo menstrual, dificuldades
para engravidar ou manter a gestação) e pelo exame físico complementado
por ultrassonografias pélvica e transvaginal. A ressonância magnética é o
melhor exame de imagem para o diagnóstico das malformações müllerianas
em geral. Quando possível, histerossalpingografia, histeroscopia e/ou
videolaparoscopia podem ser realizadas para elucidação diagnóstica, e
histeroscopia e/ou videolaparoscopia podem ser terapêuticas nos casos em
que a remoção do septo é possível.
b) Malformações vaginais
Importante
A síndrome de Mayer-Rokitansky-Küster-Hauser é a 2ª maior causa de
amenorreia primária.
Septo vaginal vertical: falha na fusão dos ductos müllerianos; na maioria dos
casos, causa dispareunia e obstrução no canal do parto;
Septo vaginal transverso: falha na canalização vaginal quando deveria haver
a união da porção cranial oriunda dos ductos de Müller e da porção distal
oriunda do seio urogenital.
Figura 23 - Malformações uterinas e vaginais: (A) septo completo vaginal longitudinal + útero
didelfo; (B) septo vaginal longitudinal isolado; (C) septo parcial longitudinal e útero didelfo com um
dos lados atrófico
Figura 24 - Apresentação do hímen: (A) e (B) normal e de (C) a (I) com diferentes morfologias,
porém ressalte-se que são todos pérvios e permitem o escoamento do sangue menstrual
Figura 25 - Anomalias uterinas: (A) útero bicorno e septo vaginal longitudinal parcial; (B) útero
septado completo e septo vaginal longitudinal; (C) útero septado parcial; (D) útero didelfo e septo
vaginal longitudinal; (E) útero bicorno e septo vaginal longitudinal; (F) útero bicorno e vagina
normal; (G) útero normal; (H) septo vaginal longitudinal parcial; (I) útero unicorno; (J) útero
bicorno com um dos cornos atrofiado; (K) idem a (J); (L) útero bicorno e septo vaginal longitudinal
completo – um dos cornos apresenta criptomenorreia com retenção de sangue menstrual até a vagina
Figura 26 - Desenvolvimento gonadal
Figura 27 - Desenvolvimento da genitália interna
Figura 28 - Desenvolvimento da genitália externa
Resumo
Anatomia
Embriologia
1. Definição
A compreensão dos mecanismos fisiológicos do ciclo menstrual é
fundamental para o entendimento das alterações ginecológicas. O ciclo
menstrual pode ser dividido em etapas, a serem comentadas separadamente:
esteroidogênese ovariana, ciclo menstrual propriamente dito, ciclo
endometrial e muco cervical.
2. Eixo hipotalâmico-hipofisário-ovariano
A interação entre o hipotálamo, a hipófise e o ovário é responsável pelo ciclo
menstrual. O hipotálamo regula toda a produção da hipófise por meio da
secreção dos fatores de liberação hipofisários: hormônio de liberação das
gonadotrofinas (GnRH), hormônio de liberação do hormônio do crescimento
(GH), hormônio liberador da tireotrofina e fator de liberação de
corticotrofina, além do fator inibidor da prolactina, que é a dopamina.
A hipófise pode ser dividida em adeno-hipófise (porção anterior da hipófise),
responsável pela secreção de hormônio folículo-estimulante (FSH), hormônio
luteinizante (LH), hormônio tireoestimulante (TSH), hormônio
adrenocorticotrófico (ACTH), GH e prolactina, e neuro-hipófise (porção
posterior da hipófise), que secreta ocitocina e hormônio antidiurético. As
gonadotrofinas (FSH e LH) são responsáveis pela estimulação folicular,
ovulação e regulação da esteroidogênese ovariana. Por outro lado, sua síntese
e secreção dependem dos níveis de estrogênios, progesterona e inibina.
O controle da secreção do GnRH se dá por meio de retrocontrole, ou
feedback, e acontece em 3 níveis: alça longa, por meio dos hormônios
ovarianos; alça curta, pelos hormônios hipofisários; alça ultracurta, na qual o
GnRH age no hipotálamo, controlando sua própria produção. O GnRH
controla a liberação de 2 hormônios pela adeno-hipófise: FSH e LH. Para a
correta liberação hormonal, a secreção do GnRH acontece de forma pulsátil
(intermitente) e varia em frequência e amplitude durante o ciclo menstrual, o
que determina a produção do FSH ou LH. O aumento na frequência e na
amplitude da secreção pulsátil do GnRH, na metade do ciclo, favorece o
aumento do LH necessário à ovulação e início da fase lútea (2ª fase do ciclo
menstrual).
Diversos fatores estimulam a secreção do GnRH: noradrenalina, histamina,
aminoácidos, neuropeptídios, adenosina, substância P, óxido nítrico e os
próprios esteroides ovarianos. Uma vez liberado, o GnRH atinge a hipófise
por meio do sistema porta-hipofisário e estimula os gonadotrofos (células
especializadas em produzir gonadotrofinas) a liberar o FSH e o LH.
A - Fase folicular
B - Período ovulatório
C - Fase lútea
Ao término da ovulação e início da fase lútea, o corpo lúteo inicia a produção
de progesterona, e ocorre o 2º aumento no estradiol, mantendo a secreção
pulsátil do GnRH com maior amplitude, levando a maior liberação de LH,
quando comparado com a fase folicular. Dessa forma, os níveis de
progesterona aumentam subitamente após a ovulação e podem ser usados
como sinal presuntivo de que houve ovulação. O pico de progesterona ocorre
por volta do 8º dia após o pico de LH.
A manutenção nas taxas de estradiol no meio da fase lútea e a presença de
inibina A evita o aumento do FSH. A fase lútea é fixa e dura 14 dias. Portanto,
o tempo de permanência do corpo lúteo na superfície ovariana é de 14 dias.
Se não ocorre fecundação, o corpo lúteo sofre luteólise. Com a regressão do
corpo lúteo, no 14º dia da fase lútea, ocorre queda nos níveis de progesterona,
estradiol e inibina A, levando a descamação do endométrio (menstruação) e
escape do feedback negativo sobre o eixo hipotalâmico-hipofisário, com
consequente aumento na frequência dos pulsos de GnRH e FSH, iniciando um
novo ciclo. A Figura 8 ilustra, resumidamente, o eixo hipotalâmico-
hipofisário-ovariano.
Importante
Os níveis de progesterona aumentam subitamente após a ovulação e podem
ser usados como sinal presuntivo de que houve ovulação.
Importante
A fase folicular possui maior variabilidade em sua duração, portanto é
responsável pela variabilidade na duração do ciclo menstrual.
Figura 8 - Produção hormonal
Importante
O pico de estradiol fornece o sinal para o pico de LH, que ocorre cerca de
12 horas antes da ovulação e é considerado o evento fundamental para a
ovulação.
4. Ciclo endometrial
Os 2 terços superficiais do endométrio são a camada funcional (decídua
funcional), que se prolifera para receber o embrião e se descama, se não
houver gravidez, e a camada basal (decídua basal), mais profunda e que não
sofre proliferação significativa, mas é fonte de regeneração endometrial após
a menstruação.
Como já visto, são as diferentes concentrações de estradiol e progesterona ao
longo do ciclo menstrual que determinam as alterações endometriais. Na 1ª
fase do ciclo (fase folicular), ocorre a proliferação endometrial sob estímulo
estrogênico. O endométrio aumenta de espessura até cerca de 5mm, e suas
glândulas se apresentam estreitas e tubulares. Essa 1ª fase é conhecida como
proliferativa justamente por referir-se a esse padrão endometrial. Outra
característica importante é o aumento de células ciliadas e microvilosas,
responsáveis pela mobilização e distribuição das secreções endometriais na 2ª
fase (secretora).
Já na 2ª fase do ciclo (fase lútea), há acúmulo de glicogênio, e as glândulas
endometriais ficam edemaciadas e tortuosas, com arteríolas dilatadas e
espiraladas. Tal fase denomina-se secretora, também com alusão ao padrão
endometrial. O número de receptores de estrogênio cai, mas o de progesterona
permanece. A progesterona tem por função bloquear a maioria dos receptores
endometriais de estrogênio remanescentes.
A 3ª e última fase endometrial é a menstruação. Com a falta de esteroides
sexuais, há profundo espasmo vascular da artéria espiral, causando isquemia
endometrial. Simultaneamente, há ruptura dos lisossomas e liberação de
enzimas proteolíticas, que promovem destruição adicional do tecido. Essa
camada de endométrio é eliminada sob a forma de sangramento menstrual,
deixando a decídua basal como fonte para o crescimento endometrial
subsequente.
5. Muco cervical
O muco cervical também sofre profundas alterações com as variações
hormonais, de modo a tornar-se mais receptivo à passagem dos
espermatozoides na fase pré-ovulatória e menos receptivo na fase lútea tardia.
Na 1ª fase, as concentrações crescentes de E2 determinam o aumento na
quantidade de muco, que também fica mais fluido e com maior filância
(Figura 11). Nessa etapa, cristaliza-se “em folha de samambaia” quando
colocado sobre uma lâmina e aquecido (Figura 12). Na 2ª fase, o aumento
progressivo da progesterona o torna mais viscoso e espesso, com aspecto
opaco.
Figura 11 - Filância do muco na fase fértil
6. Esteroidogênese ovariana
Agora que já entendemos como ocorrem a regulação do eixo hipotalâmico-
hipofisário-ovariano e sua ação no endométrio, vamos compreender como
ocorre a produção dos hormônios femininos pelos ovários e suprarrenal.
A molécula-chave para a produção dos hormônios esteroides nos ovários e
nas glândulas adrenais é, principalmente, o LDL, absorvido da circulação
periférica. Por meio de vias (cascatas de reações) próprias de cada órgão, o
colesterol sofre transformações, chegando às moléculas finais. Há 2 vias
principais para a esteroidogênese – delta 4 e delta 5. O início delas e as
moléculas iniciais são semelhantes, mas a ativação preferencial de uma ou de
outra enzima determina a via a ser seguida, bem como os seus principais
produtos finais.
Figura 13 - Resumo da via de esteroidogênese
Dica
Existem 3 tipos de estrogênio: estradiol (E2), produzido pelos ovários;
estrona (E1), produzido predominantemente na periferia (tecido adiposo,
fígado e músculo); estriol (E3), produzido pela placenta.
D - Produção de androgênios
Os androgênios são produzidos exclusivamente pelos ovários e pelas
suprarrenais, em diferentes proporções. A regulação da síntese de androgênios
é realizada por LH, ACTH e fatores intraglandulares parácrinos.
Aproximadamente 80% da testosterona sérica circulam ligados à globulina
carreadora de hormônio sexual (SHBG, do inglês sex hormone-binding
globulin), 19% circulam ligados à albumina de forma instável e 1% na forma
livre (essa é a forma que tem atividade biológica). O SHBG apresenta síntese
hepática estimulada pelos estrogênios e pelo hormônio tireoidiano e inibida
pelos androgênios e pela insulina. Logo, a ação androgênica poderá ser
aumentada ou atenuada em função da produção de SHBG.
Outro fator que afeta clinicamente a resposta androgênica é a atividade da 5-
alfarredutase, encontrada nas células da unidade pilossebácea, que transforma
testosterona em diidrotestosterona (androgênio com atividade biológica mais
potente). Portanto, os níveis de SHBG e a atividade da 5-alfarredutase podem
modificar as ações da testosterona plasmática. Há, ainda, a conversão
periférica de androgênios em estrogênio realizado pela aromatase presente no
fígado, músculo e tecido adiposo.
As principais fontes androgênicas são testosterona, diidrotestosterona,
androstenediona, deidroepiandrosterona (DHEA) e S-DHEAS. A camada
reticular da suprarrenal sintetiza androgênios (esteroides C-19) a partir da
progesterona e da 17-hidroxiprogesterona, sob ação da 21-hidroxilase. Cerca
de 90% da secreção adrenal correspondem a DHEA ou S-DHEA.
Figura 17 - Produção da diidrotestosterona
Dica
O excedente de androgênios produzidos pelas células da teca também pode
ser convertido em estrogênio na periferia (aromatização periférica). Os
órgãos e tecidos que apresentam aromatase são tecido adiposo, fígado e
músculo esquelético. Por isso, mulheres obesas ou com sobrepeso
apresentam maior conversão periférica de androgênios em estrogênio. O
estrogênio periférico é a estrona.
Resumo
Colesterol
Eixo hipotalâmico-hipofisário-ovariano
Ciclo menstrual
Ciclo endometrial
Muco cervical
1. Definição
A anticoncepção consiste em permitir a uma mulher decidir quantos filhos
deseja ter e o momento de tê-los. Engloba, portanto, medidas contraceptivas e
progestacionais, alcançadas por meio de orientação adequada oferecida por
uma equipe multidisciplinar treinada para esse fim.
A paciente tem o direito de conhecer todos os métodos disponíveis, seus
riscos e benefícios para ter uma decisão livre e bem embasada. Esse
aconselhamento deve considerar as características próprias de cada mulher e
as de cada método.
Elaborado em 1933 por Raymond Pearl, o Índice de Pearl (IP) é o número de
falhas do método a cada 100 mulheres/ano. Objetivamente, acompanha-se
uma amostra de 100 mulheres usuárias do método por 1 ano. O número de
gestações ocorridas nesse intervalo de tempo é o IP. A Federação Brasileira
das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO), em
concordância com a Organização Mundial da Saúde (OMS), considera que o
método é eficaz quando o IP é inferior a 1 (IP <1). Diversos métodos
apresentam IP superior a 1, especialmente os comportamentais. Entretanto, as
orientações médicas devem ser feitas respeitando-se a satisfação da paciente
com o método, bem como seus valores sociais, culturais e religiosos. É
importante ressaltar que o IP varia entre o uso perfeito (ideal) e o uso habitual
(real, considerando esquecimento, uso inadequado), ou seja, como deveria ser
usado na teoria e como ocorre na prática.
Observe-se que todos os métodos que possuem IP abaixo de 1 com uso
correto (todos os hormonais, o dispositivo intrauterino – DIU – de cobre, o
DIU com levonorgestrel e os métodos cirúrgicos) são considerados eficazes.
2. Métodos contraceptivos
A - Comportamentais
Os índices de falha são altos com esses métodos, pois dependem de intensa
motivação do casal e variações biológicas individuais.
b) Coito interrompido
B - Barreira
São métodos anticoncepcionais que funcionam de forma mecânica ou
química, impedindo a ascensão dos espermatozoides pelo útero e pelas
trompas – não há fecundação do oócito nas tubas. A associação entre os
químicos e mecânicos aumenta a eficácia contraceptiva do método.
Além do preservativo feminino e do masculino, os métodos de barreira
cervical (diafragma, capuz cervical e esponjas) têm importante papel auxiliar
na redução da transmissão de ISTs, visto que a cérvice uterina é porta de
entrada para essas doenças.
Importante
O preservativo masculino e o feminino são os únicos métodos
anticoncepcionais que protegem contra infecções sexualmente
transmissíveis, inclusive HIV/AIDS.
Importante
Por apresentarem um Índice de Pearl (IP) inferior a 1, as questões de prova
costumam abordar casos de pacientes usuárias de condom como método
contraceptivo quando existe a possibilidade de gravidez. Gestação
ectópica, sangramento por abortamento e outras causas obstétricas devem
ser levados em conta como possibilidades diagnósticas. Dificilmente são
abordados casos de pacientes que usam métodos eficazes, como
anticoncepcionais hormonais ou DIU; em geral, o método citado é o
condom.
b) Capuz cervical
O capuz cervical, que não existe no Brasil, consiste em dispositivo de látex
que se adapta e adere ao colo uterino por sucção. Tem eficácia semelhante à
do diafragma, entretanto é bastante suscetível ao manuseio equivocado da
paciente. É contraindicado a casos de infecções vaginais ou Doença
Inflamatória Pélvica (DIP), virgens e quando há defeito anatômico que o
impeça de ser colocado.
c) Diafragma
E ainda:
Figura 2 - Diafragma
d) Espermicida
f) Dispositivo intrauterino
- Mecanismo de ação
O mecanismo de ação do DIU é a reação do tipo corpo estranho. A presença
do corpo estranho no interior da cavidade uterina aumenta a concentração de
marcadores inflamatórios no líquido uterino e tubário e altera o seu pH; dessa
forma, cria um ambiente hostil à sobrevivência do espermatozoide e à
ocorrência da fecundação. Com esse mecanismo, a possibilidade de
fecundação é muito baixa. Os íons de cobre também têm efeito direto na
motilidade espermática, reduzindo a capacidade de penetração no muco
cervical. Para a OMS, há a interferência em etapas prévias à fertilização, por
isso é considerado método não abortivo.
- Eficácia
Alta, com taxas de 0,6 gestação por 100 mulheres/ano. Sua durabilidade varia
de 5 a 10 anos, dependendo do modelo estudado. O DIU de cobre TCu 380A
tem durabilidade de 10 anos. O modelo Multiload tem validade de 5 anos.
- Indicações
Qualquer mulher sem contraindicação ao seu uso, especialmente aquelas que
buscam contracepção não hormonal, confiável, reversível e que independa do
coito.
- Efeitos colaterais
Pode ocorrer perfuração uterina durante a inserção do DIU. Fatores como
inserção pós-parto, operador inexperiente e útero extremamente
anteversofletido ou retrovertido são fatores de risco para o evento.
A expulsão do DIU varia de 2 a 10% das usuárias e geralmente ocorre nos
primeiros dias após a inserção. As taxas de inserção costumam ser
inversamente proporcionais ao tempo de inserção. Pós-parto, nuliparidade e
expulsão prévia do DIU são fatores de risco para o evento.
Podem-se observar dismenorreia, aumento do fluxo menstrual e sangramento
intermenstrual.
- Contraindicações
Importante
O DIU não é considerado abortivo, pois previne a fertilização.
Importante
O DIU não aumenta o risco de gravidez ectópica, mas, caso a gestação
ocorra, há maior chance de que ela o seja.
g) Dispositivo intrauterino medicado com progesterona
(sistema intrauterino liberador de levonorgestrel) –
Mirena®
h) Lactação e amenorreia
Importante
Durante a amamentação, normalmente se opta por métodos não hormonais
ou com progestogênio exclusivo, uma vez que o estrogênio influencia a
redução da lactação.
C - Métodos hormonais
Importante
Têm sido discutidas políticas públicas para a implementação de métodos
de longa duração, mas reversíveis para pacientes do Sistema Único de
Saúde (SUS). São métodos eficazes, de longa duração e com completa
reversibilidade após a interrupção, por isso denominados LARCs (Long-
Acting Reversible Contraceptives). Incluem-se na definição de LARCs o
DIU de cobre, o DIU com levonorgestrel e o implante subdérmico. Alguns
serviços já dispõem dos LARCs, sobretudo para pacientes adolescentes,
pela baixa adesão aos demais métodos ou por desejo da paciente.
d) Contracepção de emergência
Quando se opta pela Laqueadura Tubária (LT), o casal deve ter plena
consciência de que esse é um método definitivo (sua reversão é possível,
porém tem poucos resultados positivos) e requer intervenção cirúrgica e
anestesia (Figura 7). Quanto às técnicas, pode ser realizada por
videolaparoscopia, via abdominal (mini-Pfannenstiel ou periumbilical no
puerpério imediato) ou vaginal. As tubas podem ser cauterizadas,
seccionadas, ou pode-se optar pela utilização de um anel tubário ou grampo.
A Legislação Brasileira estipula que:
b) Masculino: vasectomia
Resumo
Índice de Pearl
Número de gestações ocorridas em 100 usuárias de um método
contraceptivo por ano
Classes de métodos contraceptivos
- Hormonais:
· Contraceptivos hormonais orais: contraceptivos de progestogênio
exclusivo (minipílula, indicada ao período de amamentação, ou
pílula de desogestrel, eficaz mesmo fora da lactação) e
contraceptivos orais combinados;
· Injetáveis: mensais (compostos de estrogênios naturais e
progestogênios) ou trimestrais (progestogênios exclusivos);
· Transdérmicos (adesivo) e anel vaginal: compostos mistos de
estrogênios sintéticos e progestogênios;
· Implantes: contêm progestogênio exclusivo liberado em
microdoses diárias;
· Contracepção de emergência: mais comumente, 1 comprimido de
levonorgestrel (750µg) a cada 12 horas em 2 tomadas ou 2
comprimidos em dose única (1,5mg), o mais precocemente
possível.
- Não hormonais:
· Barreira:
* Preservativos masculino e feminino: os únicos métodos
anticoncepcionais que protegem contra IST;
* Diafragma: objeto em formato de concha, colocado sobre o
colo uterino, ocluindo o canal cervical;
* Espermicida (ou espermaticida): tem como ação imobilizar e
destruir os espermatozoides;
* Esponja vaginal: absorção do sêmen e bloqueio da entrada
dos espermatozoides no canal cervical.
· DIU: método contraceptivo alojado dentro da cavidade uterina.
Atualmente, os modelos disponíveis são o DIU de cobre ou o SIU-
LNG (DIU com liberação de levonorgestrel);
· Comportamentais:
* “Tabelinha”: abstinência periódica nos dias considerados
férteis;
* Coito interrompido: ejaculação extravaginal;
* Muco cervical: observação das suas características, mais
fluido e elástico no período fértil;
* Temperatura basal: medidas diárias da temperatura basal,
elevação de cerca de 0,5°C é indicativa de ovulação (abster-se
de relações sexuais desde a menstruação até 3 dias após a
elevação da temperatura);
* Método sintotérmico: associação dos métodos do muco
cervical e temperatura basal ou muco cervical e “tabelinha”.
· Definitivos:
* LT: as tubas podem ser cauterizadas, seccionadas, ou pode-se
optar por um anel tubário ou grampo;
* Vasectomia: método contraceptivo definitivo masculino.
Mecanismos de ação dos métodos contraceptivos hormonais
combinados de estrogênios e progestogênios
(anticoncepcionais/injetáveis mensais/transdérmicos/anel vaginal)
- Espessamento do muco cervical;
- Hipotrofia endometrial;
- Alteração da motilidade tubária;
- Inibição da secreção de LH pela progesterona;
- Inibição do eixo hipotalâmico-hipofisário-ovariano.
Mecanismos de ação dos contraceptivos exclusivos de progestogênios
(minipílula, implante subcutâneo, SIU-LNG)
- Espessamento do muco cervical;
- Diminuição da motilidade tubária;
- Hipotrofia endometrial.
Amenorreias
Flávia Fairbanks Lima de Oliveira Marino
Aline Calixto
Jader Burtet
1. Introdução
Amenorreia é um dos assuntos mais frequentes nas questões das provas de
concursos médicos.
Quadro clínico
Amenorreia é a ausência de menstruação por 6 meses ou pelo tempo
correspondente a 3 ciclos consecutivos da paciente (é necessário avaliar, na
anamnese, o padrão habitual da paciente).
2. Classificação
Semiologicamente, a amenorreia é dividida em primária e secundária.
A - Primária
B - Secundária
Ausência de menstruação por 3 ciclos consecutivos ou por 180 dias (6 meses).
Indubitavelmente, a ocorrência de amenorreia secundária é muito maior do
que a primária.
3. Etiologia
Primeiramente, precisamos compreender que a amenorreia pode advir de
alterações em um dos seguintes pontos:
Importante
Atenção ao significado dos termos na definição das amenorreias: híper,
hipo ou eugonadotrófico têm a ver com os níveis de gonadotrofinas
(hormônio luteinizante – LH – e hormônio folículo-estimulante – FSH)
circulantes; híper ou hipogonadismo dizem respeito ao funcionamento dos
ovários (gônadas).
Figura 1 - Exigências básicas para a função menstrual normal
Fonte: Endocrinologia Ginecológica Clínica e Infertilidade, 8ª edição.
Hipogonadismo hipergonadotrófico:
45,X e variantes;
46,XX;
46,XY.
Eugonadismo:
Agenesia mülleriana;
Septo vaginal;
Hímen imperfurado;
Síndrome da insensibilidade androgênica;
Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP);
Hiperplasia de suprarrenal congênita;
Doença de Cushing;
Doença tireoidiana.
Níveis baixos de FSH sem o desenvolvimento das mamas:
Atraso constitucional;
Deficiência de hormônio liberador de gonadotrofina (GnRH);
Outras doenças do SNC;
Doença hipofisária;
Transtornos alimentares, estresse, excesso de exercícios.
Dica
A principal causa de amenorreia secundária é gestação.
Diagnóstico
A solicitação da fração beta da gonadotrofina coriônica humana (beta-
HCG) é o exame mandatório inicial na investigação da amenorreia
secundária.
B - Causas anatômicas
a) Herdadas
Importante
Os ductos müllerianos são responsáveis pela formação da genitália interna
feminina (útero, tubas e 2 terços superiores da vagina). A genitália externa
feminina desenvolve-se na ausência de androgênios; logo, na presença
destes, há formação de genitália externa masculina. O desenvolvimento dos
ductos de Wolff são responsáveis pela formação da genitália interna
masculina, e o desenvolvimento das mamas é um indicador confiável da
produção de estrogênio ou reposição exógena dele. Logo, se há
desenvolvimento da mama e não há menarca, possivelmente o distúrbio é
do sistema genital. O crescimento de pelos pubianos reflete a produção de
androgênios ou exposição exógena. Considere-se, ainda, que o
desenvolvimento mamário e de pelos deve ser proporcional, no mesmo
estágio. Assim, se há desenvolvimento das mamas, com pelos pubianos
reduzidos ou escassos, possivelmente há síndrome da insensibilidade
androgênica.
b) Adquiridas
Dica
Deve-se estar atento às questões que descrevem pacientes com
amenorreia submetidas a procedimentos cirúrgicos pélvicos, como
curetagem, parto cesárea e extração manual da placenta, além de
cicatrizes/sequelas de doença inflamatória pélvica aguda. O raciocínio
deve ser direcionado para a síndrome de Asherman caso o quadro
clínico seja compatível.
a) Hipogonadismo hipergonadotrófico
Adquiridas:
Manifestações clínicas:
c) Amenorreia eugonadotrófica
Dica
Falência ovariana prematura (ou precoce) é aquela que ocorre antes dos 40
anos.
4. Diagnóstico
São necessários, para o diagnóstico de amenorreia, anamnese completa e
exame físico, questionando e avaliando:
- Exames complementares
Os exames que fazem parte da investigação da amenorreia dividem-se em:
Laboratoriais:
Gonadotrofinas séricas (FSH/LH): estão elevadas nos
hipogonadismos hipergonadotróficos e baixas nos
hipogonadotróficos;
Estradiol sérico: está baixo nos hipogonadismos;
Hormônios da tireoide (TSH/T4 livre): para afastar
hipotireoidismo, causa comum de transtorno menstrual;
S-DHEA: está elevado nas doenças da suprarrenal, visto que esse
hormônio é produzido principalmente por essa glândula;
Androstenediona: eleva-se tanto em doenças ovarianas como nas
da suprarrenal;
Testosterona: eleva-se em doenças ovarianas produtoras desse
hormônio;
Cortisol;
17-alfa-hidroxiprogesterona: está elevada na HAC;
Prolactina: a ser estudada no fim deste capítulo;
Cariótipo: nas situações de suspeita de disgenesias gonadais.
De imagem:
Ultrassonografia (USG) pélvica: verificar a presença e o aspecto
dos órgãos genitais internos e a presença de cistos ou de tumores
anexiais;
Tomografia Computadorizada (TC): complementar a USG em
casos difíceis ou naqueles em que a USG não foi suficiente para a
elucidação diagnóstica;
Ressonância Nuclear Magnética (RNM): complementar à TC
e/ou à USG;
Radiografia de sela túrcica: avaliar a sela túrcica e inferir sobre o
tamanho da hipófise;
Radiografia de mãos e punhos: avaliar a idade óssea, que será
discordante da idade cronológica em uma série de doenças. A idade
óssea geralmente é compatível com o grau de maturidade do eixo.
Idade óssea adiantada significa desenvolvimento puberal verdadeiro
de causa central;
Histerossalpingografia ou histeroscopia para causas uterinas:
exames que permitem a visualização da cavidade uterina.
Importante
O teste do estrogênio + progesterona é um mimetismo do ciclo menstrual
fisiológico.
Figura 8 - Investigação de hipogonadismo
Diagnóstico
Para o diagnóstico de amenorreia, devem-se solicitar beta-HCG, TSH
ultrassensível e prolactina sérica.
Diagnóstico diferencial
Para as causas de anovulação, devem-se considerar extremos da menacma
(puberdade e climatério) e síndrome dos ovários policísticos.
Dica
Em caso de teste do estrogênio + progesterona negativo, deve-se
encaminhar a paciente para histeroscopia.
Importante
Em caso de hipogonadismo hipergonadotrófico com falência ovariana
como causa da amenorreia, deve-se solicitar cariótipo.
Importante
O teste do GnRH está indicado para avaliar hipogonadismo
hipogonadotrófico diante de um quadro de amenorreia, para avaliar
resposta da hipófise.
Figura 9 - Roteiro para diagnóstico topográfico
Figura 10 - Diagnóstico etiológico
6. Tratamento
Sempre que possível, deve ser dirigido à causa-base. De acordo com a
etiologia, o tratamento geral constitui-se em:
A - Hipogonadismo hipergonadotrófico
B - Hipogonadismo hipogonadotrófico
Quando a causa-base é a deficiência do GnRH, o tratamento consiste em
administrar GnRH; se é a deficiência de FSH/LH, devem-se administrar
gonadotrofinas exógenas.
D - Situações específicas
Criptomenorreia: tratamento cirúrgico, com remoção do obstáculo à
menstruação;
Síndrome de Asherman: lise das aderências por histeroscopia e
colocação de dispositivo intrauterino (mantido por, pelo menos, 3
meses);
Tumores do SNC: tratamento com neurocirurgião;
Hiperprolactinemia: agonistas da dopamina (bromocriptina ou
cabergolina);
Síndrome de Sheehan e tireoidopatias: acompanhamento e tratamento
clínico com endocrinologista;
Atraso fisiológico: baixas doses de estrogênio até o sangramento;
posteriormente, terapêutica cíclica com estrogênios e progestogênios;
Síndrome de Kallmann: ciclos de estrogênios e progestogênios;
gonadotrofinas e GnRH para induzir ovulações;
Amenorreia pós-pílula: dispositivo intrauterino ou citrato de clomifeno.
Resumo
Classificação da amenorreia
Exames de imagem
Devem ser adequados a cada caso, mas sempre se deve solicitar USG
pélvica ou transvaginal para avaliação uterina e ovariana, presença de
cistos etc., que pode ser complementada com TC de pelve ou RNM de
pelve para melhor acurácia em casos duvidosos e TC ou RNM
abdominal se há a necessidade de avaliar as suprarrenais na suspeita de
tumores.
Transtornos menstruais
Flávia Fairbanks Lima de Oliveira Marino
Aline Calixto
Jader Burtet
1. Introdução
Transtornos menstruais, como a hemorragia uterina disfuncional, o
hiperandrogenismo, a Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP) e a
hiperprolactinemia, constituem causas frequentes de procura aos serviços de
Ginecologia. Para o seu total entendimento, apresentaremos os conceitos de
normalidade do ciclo menstrual e os seus respectivos desvios.
2. Sangramento uterino anormal
Todo e qualquer tipo de alteração do padrão usual do ciclo menstrual recebe o
nome de Sangramento Uterino Anormal (SUA). Cada transtorno recebe uma
classificação semiológica, de acordo com o tipo de alteração. As alterações da
ciclicidade e do tempo de sangramento são definidas na anamnese de acordo
com o relato da paciente. As alterações de fluxo são mais bem qualificadas
pelo número de absorventes trocados diariamente. Apesar de cada alteração
representar uma variação de padrão, existem algumas divergências de acordo
com a bibliografia científica utilizada pela instituição que elabora a prova.
Todavia, essas diferenças são conceituais, e a grande maioria das questões não
se fixa nesses detalhes, visto que o intuito é entender qual é o padrão de ciclo
menstrual que o termo semiológico representa.
A etiopatogenia do SUA varia muito, de acordo com a faixa etária da
paciente. De modo geral, observamos:
A - Definição
Dica
A anovulação é a principal causa de sangramento uterino disfuncional nos
extremos da vida reprodutiva (adolescência e climatério).
B - Apresentação clínica
O SUD pode ter diversas intensidades, desde leve e insidiosa até grave e
emergencial. Comumente leva à instalação de um quadro anêmico agudo ou
crônico.
Quando a hemorragia é grave, a paciente apresenta alterações
hemodinâmicas, como hipotensão, taquicardia, vasoconstrição periférica e
palidez cutâneo-mucosa. Nesse caso, a conduta emergencial é restabelecer a
homeostase. Quando o SUD tem longa duração e menor intensidade, instala-
se a anemia ferropriva.
Quando a causa provável é ovulatória, o SUD apresenta-se com ciclicidade de
sangramento, podendo haver dismenorreia e alterações comportamentais
relacionadas ao ciclo. Nas formas anovulatórias, o sangramento profuso
costuma ser precedido de períodos de amenorreia e/ou menstruações
infrequentes.
Quando a causa é um distúrbio de outra glândula, outros sinais podem estar
presentes, como galactorreia na hiperprolactinemia; hirsutismo, acne e
obesidade na SOP; sinais de hipoestrogenismo na insuficiência ovariana. É
necessário descartar as principais causas de SUA (Tabela 3) antes de
diagnosticar SUD (diagnóstico de exclusão), por meio de anamnese, exame
físico e exames complementares:
Importante
O exame padrão-ouro para avaliação da cavidade intrauterina é a
histeroscopia.
C - Conduta
Anamnese e exame físico;
Avaliação de doença sistêmica subjacente (renal, hepática, hematopoética e
tireoide) e uso de medicações (hormonais, anticoagulantes, outras medicações
que possam alterar o eixo hipotalâmico-hipofisário-ovariano);
Laboratório: beta-HCG e hemograma (avaliar anemia e trombocitopenia).
A paciente está ovulando?
D - Tratamento
a) Clínico
b) Cirúrgico
c) Na Emergência
Reposição volêmica:
Repouso;
Estrogenoterapia intensiva: estrogênios conjugados 2,5mg VO a cada 4
horas, até cessar o sangramento ou até 3 doses. Em situações de menor
sangramento, pode ser prescrito 1,25mg de estrogênio conjugado por 7 a
10 dias. A terapia estrogênica deve ser seguida de progesterona. Pode ser
associada a terapia antifibrinolítica por curto período de tempo;
Em hemodinamicamente instáveis, pode-se optar por estrogênio equino
conjugado 25mg a cada 4 horas, até o sangramento desaparecer, por até
24 horas. Realiza-se terapia hormonal com progesterona posterior. O
estrogênio intravenoso provoca proliferação endometrial, ocasionando a
sua estabilização. Consequentemente, a paciente interrompe o
sangramento;
O tratamento com altas doses de estrogênio aumenta notavelmente o
risco de tromboembolismo;
A curetagem uterina é utilizada, se necessário, para estancar a
hemorragia. Deve-se sempre solicitar exame anatomopatológico do
produto obtido para diagnóstico etiológico;
Tratamento hormonal de manutenção com progestogênio na 2ª fase.
A - Definição
Compreende uma forma de hiperandrogenismo acompanhada por anovulação
crônica. É conhecida, também, como síndrome de Stein-Leventhal, por causa
dos 2 autores que a descreveram, em 1935, notando a associação entre
amenorreia, hirsutismo, obesidade e ovários policísticos. Outra denominação
mais recente, usada por alguns centros de referência, é a síndrome da
anovulação hiperandrogênica. Além disso, cursa com aumento do risco de
diabetes e doença cardiovascular.
B - Etiopatogenia
Sua etiopatogenia exata não está definida, mas é aceitável uma desordem no
processo normal de maturação folicular e ovulação, passando pelos seguintes
processos, basicamente: disfunção na produção de androgênios, anovulação,
hiperinsulinemia e obesidade.
Há uma disfunção primária na enzima CYP17 e no citocromo, com alteração
na produção de androgênios, levando a atresia folicular prematura e
anovulação. Portanto, não há pico na taxa de progesterona na fase lútea, mas
há manutenção na produção estrogênica ovariana, culminando com alterações
na produção de GnRH e aumento na produção de hormônio luteinizante (LH).
O LH encontra-se aumentado em relação ao hormônio folículo-estimulante –
FSH (relação >2:1). Há aumento da produção androgênica pela hiperplasia
das células tecais sob estímulo do LH. Os níveis relativamente baixos de FSH
inibem a maturação folicular adequada e o fenômeno de dominância folicular,
persistindo folículos em estágios iniciais da maturação e folículos atrésicos, o
que forma o aspecto policístico.
Com o estado hiperandrogênico, há diminuição da Sex Hormone-Binding
Globulin (SHBG) e aumento dos esteroides sexuais livres. O estrogênio livre
aumentado age na hipófise, estimulando a secreção ainda maior de LH,
perpetuando o ciclo vicioso. A produção excessiva de androgênios e a sua
conversão em estrogênios constituem o substrato fisiopatológico da
anovulação crônica.
Figura 4 - Fisiopatologia da síndrome dos ovários policísticos
Figura 5 - (A) Desenvolvimento folicular normal e (B) anovulação proposta em paciente devido à
insulinemia
C - Hiperinsulinemia
Importante
O diagnóstico diferencial da síndrome dos ovários policísticos deve ser
feito com outras causas frequentes de hiperandrogenismo, como
hiperplasia suprarrenal de início tardio, neoplasia ovariana e de suprarrenal
produtoras de androgênios, síndrome de Cushing e uso de androgênio
exógeno.
Importante
A ultrassonografia transvaginal comprovando o aspecto polimicrocístico do
ovário não é mais imprescindível para o diagnóstico. Se a paciente
apresentar a alteração menstrual característica e sinais de hirsutismo, já
preencherá 2 dos 3 critérios diagnósticos da síndrome, e a comprovação
ultrassonográfica será desnecessária. Convém atentar-se para esses detalhes
nas questões de provas de concursos médicos.
- Exames laboratoriais
Dica
A metformina é usada para diminuição da resistência a insulina e pode
restaurar os ciclos ovulatórios. Esse medicamento é considerado excelente
tratamento para pacientes com síndrome dos ovários policísticos.
5. Hiperandrogenismo
A - Definição
B - Etiopatogenia
C - Apresentação clínica
Alopecia androgenética;
Aumento da massa muscular;
Aumento da gravidade da voz;
Aumento do clitóris;
Alterações menstruais: de menstruações infrequentes a amenorreia –
ciclos anovulatórios.
Esterilidade por fator ovulatório;
Abortamentos de 1º trimestre por insuficiência lútea;
Hirsutismo;
Acne;
Obesidade centrípeta;
Acantose nigricans – marcador de resistência a insulina.
b) Síndrome de Cushing
Pacientes que fazem uso exógeno de androgênios podem evoluir com sinais e
sintomas de hiperandrogenismo.
6. Hiperprolactinemia
A - Definição
B - Apresentação clínica
C - Etiologia
a) Uso de medicamentos
d) Doenças endócrinas
D - Diagnóstico
E - Tratamento
Resumo
Sangramento uterino anormal
Hiperandrogenismo
Hiperprolactinemia
1. Introdução
O climatério pode ser compreendido como o período da vida da mulher em
que há um declínio acentuado e progressivo da função ovariana, que tende ao
fim do patrimônio folicular e, com isso, da sua capacidade reprodutiva.
Representa a passagem do período reprodutivo (menacma) ao não
reprodutivo.
A síndrome do climatério corresponde ao conjunto de sinais e sintomas que
podem acompanhar essa fase e que estão relacionados à queda da função
ovariana, mas que nem sempre se manifestam.
Figura 1 - Climatério
Figura 2 - Variações hormonais no climatério
2. Definições pertinentes
A - Menopausa
C - Pós-menopausa
3. Propedêutica
Não há necessidade de dosagem de FSH, LH e estrogênios a pacientes com
idade considerada própria do climatério e com anamnese sugestiva, já que o
resultado não traz informações relevantes diante do que já foi obtido. Só há
indicação se há uma dúvida diagnóstica ou em pacientes com menos de 40
anos (nas pacientes com falência ovariana precoce, é necessário documentar o
diagnóstico com a dosagem de FSH). Segundo o Ministério da Saúde, a
propedêutica nessa fase engloba 4 etapas:
Doenças genéticas;
Tabagismo;
Quimioterapia;
Radioterapia pélvica;
Cirurgias ovarianas.
a) Sintomas vasomotores
b) Irregularidade menstrual
c) Alterações cardiovasculares
d) Osteopenia e osteoporose
A osteoporose deve ser avaliada com frequência nessa fase, assim como os
fatores de risco e as medidas preventivas. Pela privação estrogênica, há o
favorecimento da reabsorção óssea em detrimento da formação, já que os
estrogênios sabidamente inibem tal reabsorção quando em níveis normais. Na
pós-menopausa, notam-se elevação do cálcio sérico e da sua excreção
urinária, além de aumento da concentração plasmática de fósforo e
hidroxiprolina, que refletem o aumento do turnover de massa óssea. Isso
culmina com perda óssea progressiva, que pode ser percebida com
acompanhamento por densitometrias ósseas sucessivas. As fraturas mais
comuns nessa época são dos corpos vertebrais, do rádio distal e do colo
femoral.
A osteoporose é conhecida como doença silenciosa, pois as primeiras
manifestações ocorrem após 30 a 40% de perda óssea. As fraturas mais
comuns decorrentes são as de quadril, punho, corpos vertebrais e fêmur. O
médico que vem acompanhando a paciente nessa fase da vida deve identificar
o risco e prevenir ou diminuir os efeitos deletérios do hipoestrogenismo sobre
a massa óssea.
Figura 3 - Principais sintomas da menopausa
e) Alterações no sistema nervoso central e psicogênicas
D - Rastreamento de câncer
Os sítios dos principais tumores malignos que acometem essa faixa etária são
mama, colo e corpo do útero, ovários e cólon.
a) Mama
Realiza-se rastreamento por meio de mamografia (MMG) periódica, que deve
ser solicitada a cada 2 anos entre 50 e 69 anos, segundo as diretrizes do
Ministério da Saúde de 2016.
A ultrassonografia (USG) de mama é realizada de forma complementar à
MMG em situações específicas, como mamas densas e diferenciação entre
lesões císticas e sólidas, não sendo utilizada como método de rastreio de
câncer de mama. O Ministério da Saúde desencoraja o ensino do autoexame
de mama no rastreamento.
Dica
O Ministério da Saúde alterou as diretrizes para o rastreamento do câncer
de mama em 2015 e o manteve no protocolo de Atenção Básica à Saúde da
Mulher de 2016: a recomendação oficial é início aos 50 anos, com 1 exame
a cada 2 anos até os 69 anos.
b) Colo do útero
Não se trata de um tumor ginecológico, mas, por sua alta prevalência, também
deve ser objeto de rastreamento. Sugere-se a Pesquisa de Sangue Oculto
(PSO) nas fezes anualmente a partir dos 50 anos e, em casos positivos,
colonoscopia. Alguns recomendam associar PSO anual a colonoscopia a cada
5 anos, pela sua maior sensibilidade.
5. Tratamento
O tratamento visa à remissão dos principais sintomas referidos, além da
prevenção de eventos mórbidos e da melhora da qualidade de vida.
A - Orientações dietéticas
Em 2002, nos Estados Unidos, foi publicado o maior estudo prospectivo sobre
Terapia Hormonal (TH) do mundo. O WHI (Women’s Health Initiative)
apontou aumento da incidência de câncer de mama nas usuárias de TH e
aumento dos eventos cardiovasculares. Há uma série de vieses,
principalmente a faixa etária avaliada (média superior a 60 anos), o tempo de
início da TH pós-menopausa e características próprias prévias, como IMC,
pressão arterial etc. Mesmo assim, após a publicação do estudo, ocorreu uma
mudança nas indicações do tratamento, que ficaram restritas ao dos sintomas
vasomotores, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida.
A diretriz atual da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e
Obstetrícia (FEBRASGO) e da Associação Médica Brasileira (AMB) é
bastante clara: “a TH é eficaz no tratamento dos sintomas neurovegetativos,
neuroendócrinos e urogenitais. Assim, define-se que, quando houver
sintomas, haverá indicação para o uso de TH, pelo menos por curto período;
no entanto, esta não deverá ser prescrita na existência de alguma
contraindicação ou se a paciente, apesar de adequadamente informada, optar
por não usá-la. Assim, a TH será individualizada, com base em comum
acordo entre o médico e a paciente, em conformidade com os riscos e
benefícios particulares da mulher”.
De acordo com o Consenso Brasileiro da FEBRASGO 2014, as indicações
para TH sistêmica são:
Tratamento
Algumas condições são consideradas indicações de terapia de reposição
hormonal, como síndrome do climatério com sintomas pronunciados,
prevenção e manutenção da saúde sexual e mental (doença de Alzheimer),
da atrofia urogenital e tegumentar, da osteoporose e, discutivelmente, da
prevenção primária dos distúrbios coronarianos.
Dica
Paciente histerectomizada não precisa de progestogênio na terapia
hormonal. O estrogênio é que reduz sintomas e riscos cardiovasculares e de
osteoporose. O progestogênio apenas protege o endométrio de hiperplasia
endometrial e possível câncer de endométrio.
E - Tibolona
Trata-se de um derivado sintético da 19-nortestosterona, com ação
estrogênica, progestogênica e androgênica. A dose varia entre 1,25 e 2,5mg/d
e propicia alívio dos sintomas climatéricos, atuando sobre a massa óssea e
agindo favoravelmente sobre a libido. É o método de escolha quando há
sintomas de desejo sexual hipoativo. O efeito da tibolona sobre o perfil
lipídico é contrário à TH estroprogestacional. Podem ocorrer aumento
discreto do LDL e do colesterol total e diminuição discreta do HDL e dos
triglicérides.
A - Fitoestrogênios
Importante
Nos ensaios clínicos randomizados com fitoestrogênios, não houve
melhora estatisticamente comprovada em relação ao placebo. Portanto, não
há evidência científica que justifique o seu uso.
Resumo
Vulvovaginites e cervicites
Flávia Fairbanks Lima de Oliveira Marino
Camila Martim Sequeira Neto
Aline Calixto
Jader Burtet
1. Introdução
Denominam-se vulvovaginites os processos infecciosos que acometem a
vulva e a vagina, incluindo a ectocérvice.
Vulvovaginite é toda manifestação inflamatória e/ou infecciosa do trato
genital inferior (vulva, vagina e ectocérvice), que se manifesta por meio de
corrimento vaginal associado ou não a prurido, dor ou ardor ao urinar ou à
relação sexual e sensação de desconforto pélvico. Alguns casos, porém, são
assintomáticos.
Quando a infecção se localiza no canal endocervical, isto é, entre os orifícios
externo e interno do colo uterino, temos a cervicite, geralmente cursando com
saída de secreção pelo orifício externo do colo.
É importante compreender que vaginose bacteriana, candidíase vaginal,
vaginose citolítica, vaginite atrófica e vulvovaginites inespecíficas não são
consideradas Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs). A tricomoníase,
por sua vez, é considerada e deve ser abordada como IST.
A - Fluxo vaginal fisiológico
O fluxo vaginal fisiológico é branco ou transparente, homogêneo e inodoro e
possui pH ácido (de 4 a 4,5). Seu volume é variável, de acordo com o período
do fluxo menstrual, o emprego de hormônios, a excitação sexual etc. É
composto por muco cervical, células vaginais descamadas, secreções
glandulares (glândulas de Skene e de Bartholin) e micro-organismos da flora
normal.
B - Microbiota vaginal
2. Vulvovaginites
De maneira geral, as vulvovaginites são representadas por 3 patologias
principais: candidíase (Candida sp.), tricomoníase (Trichomonas sp.) e
vaginose bacteriana (flora polimicrobiana com predomínio de Gardnerella
vaginalis). Delas, a mais comum, atualmente, é a vaginose, que corresponde a
40 a 50% das infecções vaginais, seguida da candidíase. A tricomoníase, por
sua vez, é a única globalmente aceita como IST, tornando obrigatório o
tratamento do parceiro sexual. Esta recebe maior atenção em razão da
possibilidade de coinfecção com outras ISTs, especialmente HIV/AIDS e
sífilis. Outras causas de vulvovaginite são vaginose citolítica, vaginite
atrófica, vaginite inflamatória e vaginite por corpo estranho.
A - Vaginose bacteriana
É a vulvovaginite mais frequente.
a) Agentes
b) Queixa clínica
c) Etiopatogenia
Dica
Algumas questões de prova perguntam quais fatores aumentam o risco de
vaginose bacteriana. Convém atentar-se para o sexo oral, para as sucessivas
ejaculações intravaginais e pacientes que costumam realizar duchas
vaginais.
d) pH vaginal
Acima de 4,5.
f) Corrimento
g) Diagnóstico
Diagnóstico
O pH >4,5 é o critério mais sensível para vaginose bacteriana, porém o
menos específico, pois pode ser influenciado por sangramento, duchas e
coito. Já a presença de clue cells é o critério mais específico, contudo pode
estar ausente em até 40% dos casos.
h) Tratamento
Mulheres sintomáticas;
Grávidas;
Mulheres com comorbidades;
Mulheres que serão submetidas à inserção de dispositivo intrauterino;
Mulheres que serão submetidas a cirurgias ginecológicas;
Mulheres que serão submetidas a exames invasivos no trato genital (por
exemplo, histeroscopia).
B - Candidíase vulvovaginal
a) Agente
b) Queixa clínica
c) Etiopatogenia
d) pH vaginal
f) Candidíase recorrente
g) Fatores de risco
Dica
Convém atentar-se para os casos clínicos que direcionam para o
diagnóstico de candidíase. Os casos mais frequentemente abordados nas
provas de concursos médicos são pacientes com história de uso de
antibióticos.
h) Corrimento
i) Diagnóstico
j) Tratamento
O tratamento recomendado pelo Ministério da Saúde é o miconazol a 2% na
forma de creme vaginal por 7 dias ou a nistatina 100.000UI, por via vaginal,
por 14 dias, à noite. Fluconazol 150mg VO dose única é considerado
tratamento de 2ª opção – na realidade, todos os medicamentos derivados azóis
podem ser utilizados na candidíase.
São efeitos colaterais das medicações tópicas: ardência e irritação locais; são
efeitos colaterais do fluconazol: náuseas, dor abdominal, cefaleia e elevação
transitória das transaminases hepáticas (rara).
Durante a gestação e a lactação, o tratamento só pode ser realizado pela via
vaginal. São muito comuns recidivas na gestação.
Em casos de candidíase recorrente, pode-se indicar terapia de supressão com
fluconazol 150mg/d VO 1 vez por semana, por 6 meses.
Outras espécies de Candida, como glabrata e tropicalis, podem causar
sintomas vulvovaginais e tendem a ser resistentes ao tratamento. São mais
comuns em pacientes diabéticas, imunossuprimidas ou casos resistentes ao
tratamento com os antifúngicos convencionais. O tratamento indicado às
candidíases por espécies não albicans é o ácido bórico 600mg/d por via
vaginal por 7 dias. O tratamento do parceiro, por sua vez, não é recomendado.
Tratamento
Na gravidez, a ocorrência de candidíase vulvovaginal é alta. A
imunossupressão fisiológica da gestação é responsável por essa maior
incidência. O tratamento recomendado é o mesmo da não gestante.
Figura 7 - Candidíase, com realce para as pseudo-hifas
C - Tricomoníase
A vaginite por Trichomonas é causada pelo parasito Trichomonas vaginalis,
flagelado e transmitido sexualmente. Trata-se da IST não viral mais comum
no mundo.
a) Agente
Trichomonas vaginalis.
b) Queixa clínica
d) pH vaginal
pH vaginal >5.
Período pós-menstrual.
f) Corrimento
g) Diagnóstico
h) Tratamento
Importante
Tanto a tricomoníase quanto a vaginose bacteriana podem ser tratadas com
metronidazol. É importante alertar a paciente de que o consumo de álcool
associado pode provocar o famoso efeito dissulfiram-like ou efeito
Antabuse, que costuma cursar com cefaleia intensa, confusão mental,
tremores e sensação de morte iminente. Deve-se orientar a não consumir
álcool durante o tratamento com metronidazol e até 48 horas após o seu
término.
Figura 8 - Aspecto tigroide: colo com infecção por Trichomonas
i) Complicações
a) Vaginite atrófica
b) Vaginose citolítica
c) Vaginite inflamatória
Diagnóstico diferencial
A vaginose citolítica é uma condição subdiagnosticada, que pode ser
erroneamente interpretada como candidíase recorrente.
Figura 9 - Abordagem dos corrimentos vaginais
3. Cervicites
Cervicites são processos infecciosos e inflamatórios alojados dentro do canal
endocervical ou inflamações da mucosa endocervical, que, embora sejam
assintomáticas em 70 a 80% dos casos, se não tratadas acarretam DIP,
infertilidade, dor pélvica crônica e gestação ectópica. Os agentes etiológicos
mais comuns são Neisseria gonorrhoeae e Chlamydia trachomatis, embora
outros agentes possam estar envolvidos no processo infeccioso (Mycoplasma
hominis e Ureaplasma urealyticum). Portanto, trata-se de IST.
A - Fatores de risco
Mulheres sexualmente ativas <25 anos;
Novo parceiro sexual;
Múltiplos parceiros sexuais;
Mulheres com parceiros com IST;
História prévia ou presença de outra IST;
Uso irregular de preservativos.
B - Manifestação clínica
Secreção mucopurulenta com descarga presente pelo orifício externo do colo
do útero, sangramento devido a colo friável; possíveis prurido, disúria,
urgência miccional, dispareunia, sangramento intermenstrual ou pós-coito. A
presença de dor sugere comprometimento do trato genital acima do orifício
interno do colo uterino. À microscopia, observam-se leucócitos
polimorfonucleares.
C - Exame físico
Quadro clínico
Um número significativo de portadores é assintomático quanto a gonococo
ou Chlamydia. Deve-se convocar o parceiro sempre, para avaliação e
possível tratamento.
Figura 10 - Cervicite
D - Diagnóstico
Importante
Dada a alta prevalência de infecção coexistente por gonococo e Chlamydia
(cerca de 40 a 50% dos casos), recomenda-se sempre o tratamento
combinado para os 2 agentes.
4. Síndrome uretral
Denomina-se síndrome uretral a ocorrência de sintomas sugestivos de
infecção do trato urinário (disúria, polaciúria e urgência miccional) cujo
exame de urina tipo I apresenta leucocitúria e a urocultura é negativa. Essas
pacientes são frequentemente tratadas para infecção urinária sem melhora do
quadro clínico. Trata-se de uma infecção uretral pela Chlamydia trachomatis.
Como a bactéria tem comportamento intracelular obrigatório, não costuma ser
detectada na urocultura. A paciente deve ser tratada com azitromicina ou
doxiciclina.
Resumo
Vulvovaginites
Cervicites
Características principais
1. Sífilis adquirida
A - Introdução e definições
Trata-se de uma doença infecciosa, de transmissão sexual e, eventualmente,
transplacentária (representando, na criança, a síndrome da sífilis congênita). A
doença caracteriza-se por longos períodos de silêncio clínico e pela
capacidade de atingir múltiplos sistemas orgânicos. Além disso, apresenta
evolução crônica, sujeita a surtos de agudização e períodos de latência.
Dica
A sífilis é uma doença de notificação compulsória quando na gestação ou
congênita.
B - Etiologia
D - Achados clínicos
a) Sífilis primária
Dica
É conveniente lembrar as principais características da sífilis: lesão
ulcerada, rósea, de fundo limpo, por vezes brilhante, sem fenômenos
inflamatórios, com bordas elevadas, única e indolor.
Importante
A adenopatia pode ser o 1º sinal visível na sífilis primária. Como a úlcera
pode não ser percebida, o diagnóstico deve ser lembrado em casos de
adenopatia inguinal.
b) Sífilis secundária
Importante
A sífilis secundária aparece de 4 a 8 semanas após o surgimento do cancro
duro, causando lesões denominadas roséolas.
Dica
Em lesões de pele com descamação em extremidades, palmas das mãos e
plantas dos pés, deve ser investigada sífilis.
Figura 3 - A característica de lesões nas palmas das mãos e nas plantas dos pés é bastante indicativa
de sífilis secundária, principalmente se associada a úlceras descamativas; é o que faz diagnóstico
diferencial com outras infecções que podem causar úlceras pelo corpo (como varicela ou herpes-
simples disseminado)
Figura 4 - As lesões de pele da sífilis secundária são ricas em Treponema, e um eventual exame
direto nas lesões encontra o espiroqueta. Nessa fase, também são encontrados os maiores valores de
VDRL. Lembrar que, no diagnóstico diferencial com varicela e herpes-simples, os 2 últimos não
acometem a palma da mão e a planta do pé
d) Sífilis terciária
Importante
A sífilis terciária aparece depois de um período de latência variado e
acomete múltiplos órgãos e sistemas, como pele, sistema cardiovascular
(causando insuficiência aórtica e aneurisma aórtico), sistema nervoso
central (causando neurossífilis) e medula espinal (tabes dorsalis).
Importante
Todo paciente HIV positivo com infecção por sífilis deve realizar exame de
liquor para avaliação de infecção no sistema nervoso central.
Figura 6 - Mão e pé de paciente com AIDS, VDRL 1/1, conhecimento de sífilis primária há 5 anos,
tratamento prévio, mas que reativou lesões como sífilis secundária. A investigação de infecção
escondida no sistema nervoso central é essencial nesse perfil de paciente
Dica
Na sífilis no paciente imunodeprimido, as lesões principais são as de pele,
apresentando-se como difusas ou na forma de goma sifilítica.
- Sífilis congênita
F - Exames complementares
Na sífilis primária:
Importante
O VDRL é um teste não treponêmico que mensura anticorpos IgM e IgG
no soro, contra um antígeno cardiolipina-lecitina.
b) Testes treponêmicos
Dica
Os testes treponêmicos utilizam a imunofluorescência, são qualitativos e
importantes na confirmação da sífilis e incluem o FTA-ABS e o ELISA.
G - Diagnóstico de neurossífilis
O 1º passo é determinar se o paciente apresenta ou não sífilis, que pode ser
confirmada por meio da presença de testes não treponêmicos e treponêmicos
positivos, que ocorrem, virtualmente, em todos os casos de neurossífilis
recente, mas podem ser negativos em tabes dorsalis e outras formas tardias.
O diagnóstico pode ser confirmado com a punção liquórica, que demonstra
pleocitose linfocítica, elevação de proteínas ou VDRL reativo. O VDRL no
liquor é considerado o teste padrão-ouro, embora possa apresentar falsos
positivos em pacientes com sangramento durante a punção. Já o FTA-ABS é
muito sensível, porém pouco específico, e deve ser usado como exame
confirmatório.
Todos os portadores de HIV com VDRL e FTA-ABS positivos no sangue têm
indicação de punção liquórica, já que existe risco de evolução para sífilis
terciária com aumento de 19 vezes em relação à população em geral.
Recém-nascidos de mães não tratadas, mesmo que assintomáticos, devem ser
submetidos à coleta do líquido cerebrospinal para avaliação de alterações no
SNC, muito frequentes na sífilis.
Em pacientes que tenham VDRL sérico com valores muito altos, em especial
acima de 1/16 (ou seja, 1/32 ou maior), é fortemente recomendada (mesmo
sem infecção pelo HIV) a punção liquórica para descartar sífilis no SNC
precoce.
Importante
O FTA-ABS é um teste que pode ficar positivo pelo resto da vida. Não
pode, portanto, ser utilizado para avaliar resposta ao tratamento da sífilis.
Deve-se utilizar, para isso, o VDRL, entretanto este também pode demorar
a diminuir, dificultando a avaliação da terapêutica empregada.
I - Diagnóstico diferencial
2. Cancro mole
A - Introdução e definições
Trata-se de uma IST, com contágio exclusivo por essa via. Apresenta
evolução aguda e é mais frequente nas regiões tropicais, com alta
infectividade e baixa patogenicidade. Sua ocorrência é maior no sexo
masculino, a uma proporção de 10 a 20 casos em homens para 1 em mulheres.
A doença é denominada, ainda, cancroide, cancro venéreo e cancro de
Ducrey, e é conhecida, popularmente, por “cavalo”. O período de incubação
é, geralmente, de 3 a 5 dias e pode estender-se por até 2 semanas.
B - Etiologia
C - Achados clínicos
Importante
O cancro mole apresenta-se como lesão ulcerada de base mole, rasa, com
bordas irregulares, envolta por halo eritematoso e recoberta por exsudato
necrótico e purulento. As lesões são dolorosas e podem ter odor fétido.
Importante
No caso do cancro mole, deve-se lembrar que as lesões têm aspecto mais
raso e são muito dolorosas, com a base mole e irregular. Além disso, pode
haver mais de 1 lesão, e existe cicatriz residual, o que não ocorre na sífilis.
D - Diagnóstico diferencial
O diagnóstico diferencial é feito com cancro duro, linfogranuloma venéreo,
donovanose, herpes genital infectado, leishmaniose tegumentar americana,
paracoccidioidomicose e cancro misto de Rollet (coexistência do cancro mole
e duro). Como o principal diferencial do cancro mole é com a sífilis, a Tabela
6 mostra as principais diferenças entre as 2 doenças.
E - Exames complementares
Pesquisa direta: coleta do pus da lesão com coloração de Gram, o que revela
a presença de bacilos Gram negativos, dispostos em fila indiana ou formando
paliçadas no interior de polimorfonucleares, habitualmente aparecendo em
cadeias paralelas e acompanhados de cocos Gram positivos (fenômeno de
satelitismo);
Cultura: de difícil realização, mas é o exame diagnóstico mais sensível;
Biópsia: não recomendada de rotina, pois a histologia não é conclusiva.
F - Tratamento
3. Uretrite gonocócica
A - Introdução e definições
Trata-se de uma doença infectocontagiosa, pandêmica, transmitida por relação
sexual, sendo excepcional a contaminação acidental. Em alguns casos, pode
ser transmitida por sexo oral, originando faringite gonocócica.
B - Etiologia
C - Achados clínicos
Os sinais e os sintomas iniciais traduzem-se por prurido intrauretral, disúria,
eritema e edema do meato uretral, seguido de fluxo uretral mucoso que,
rapidamente, torna-se mucopurulento, de cor amarelo-esverdeada, com
eliminação de secreção de forma abundante e espontânea ou à mais leve
pressão. Caso a infecção atinja a uretra posterior, o quadro clínico pode estar
acompanhado de urgência miccional e polaciúria.
Nas mulheres, o quadro não apresenta exuberância clínica como nos homens.
Cerca de 60 a 80% das mulheres são assintomáticas. As pacientes que têm
sintomas podem apresentar disúria, urgência urinária e, menos
frequentemente, secreção amarelada. Nesse grupo, ocorrem, com maior
frequência, uretrites pouco sintomáticas, por esse motivo, semanas após a
uretrite, pode haver casos de artrite gonocócica.
As principais complicações nos homens são traduzidas por balanopostite,
particularmente em indivíduos com excesso de prepúcio, que se apresentam
com grande edema, intenso eritema e grande quantidade de secreção
purulenta; litrites, por infecção nos canais e glândulas de Littré; cowperites
(inflamação das glândulas de Cowper); prostatite; epididimite; raramente,
estenose de uretra (habitualmente, após múltiplos episódios de uretrite). Em
homossexuais masculinos, há corrimento anal, com frequente aparecimento
de fístulas e dores lancinantes.
Nas mulheres, as principais complicações são bartolinite, salpingite, gravidez
tubária, esterilidade e doença inflamatória pélvica. As pacientes podem
apresentar, ainda, peri-hepatite, que é a denominada síndrome de Fitz-Hugh-
Curtis.
Importante
Os sintomas clínicos da uretrite gonocócica incluem disúria, prurido
intrauretral, com eritema e edema do meato, com saída de secreção
mucopurulenta de cor amarelo-esverdeada e abundante.
D - Exames complementares
Pesquisa direta por exame bacterioscópico com material corado pelo Gram e
cultura em meio de Thayer-Martin modificado (exame de escolha).
E - Diagnóstico diferencial
a) Bacteriana
Chlamydia trachomatis;
Ureaplasma urealyticum;
Haemophilus vaginalis;
Streptococcus;
Enterococcus.
b) Parasitária
Trichomonas vaginalis.
c) Viral
Herpes-vírus.
d) Fúngica
Candida albicans.
e) Metabólica
Diabetes.
f) Traumática
F - Tratamento
Tratamento
O tratamento da uretrite gonocócica é feito com ceftriaxona, na dose única
de 250mg.
4. Linfogranuloma venéreo
A - Introdução
Trata-se de uma IST, com contágio exclusivo por essa via, de distribuição
mundial e etiologia bacteriana, também conhecida como doença de Nicolas-
Favre-Durand.
B - Etiologia
Tem como agente etiológico a Chlamydia trachomatis, espécie sorológica e
biologicamente distinta das demais espécies de Chlamydia. Os sorotipos
responsáveis são L1, L2 e L3.
C - Achados clínicos
Importante
O linfogranuloma venéreo, em seu estágio primário, é indolor e pode se
apresentar como pápula, ulceração superficial, involuindo sem deixar
cicatriz. No estágio secundário, ocorre disseminação linfática,
apresentando gânglios firmes, dolorosos, móveis, que rapidamente se
aderem à pele, a qual se torna eritematoedematosa e descamativa. Quando
a ruptura ocorre, há vários pontos de drenagem de secreção purulenta.
a) Estágio primário
O período de incubação é variável, em geral de 3 a 30 dias; ocorre a chamada
lesão de inoculação. Nos homens, a lesão primária localiza-se, com maior
frequência, na glande, no frênulo, no prepúcio ou no escroto. Nas mulheres, o
local mais frequentemente acometido é a parede posterior da vagina e a
cérvice.
A lesão primária é indolor, transitória e, muitas vezes, imperceptível. Pode
apresentar-se como pápula, ulceração superficial ou erosão, ou, ainda, como
uma lesão herpetiforme, que, em geral, involui rapidamente sem deixar
cicatriz e frequentemente não é notada pelo paciente, nem pelo médico.
Também chamada fase de sequelas, com grandes variações, que, em geral, são
resultados de lesões progressivas, hipertróficas e necróticas, ocorre
principalmente com as mulheres, uma vez que a drenagem linfática se faz,
preferencialmente, para o retroperitônio.
Caracteriza-se por proctite leve com muco, sangue e pus nas fezes,
acompanhada de tenesmo, febre, emagrecimento e dor. Evolui com fibrose e
estenose retal, fístulas reto e anovaginais, compressão vesical, abscessos
peritoneais e linfedema da genitália externa, que pode exibir o aspecto de
elefantíase (estiomene).
D - Exames complementares
E - Diagnóstico diferencial
Deve ser obtido com outras causas de úlceras genitais, com ou sem
linfadenopatia inguinal, como cancroide, sífilis primária, herpes genital e
donovanose. Doença da arranhadura do gato e infecções bacterianas
associadas à linfangite também devem ser ressaltadas no diagnóstico
diferencial.
F - Tratamento
5. Donovanose
A - Introdução
B - Etiologia
C - Achados clínicos
Importante
As formas ulcerosas da donovanose são geralmente aquelas de maior
dimensão, com secreção abundante e de crescimento por expansão, por
meio de autoinoculação.
E - Exames complementares
F - Tratamento
6. Herpes genital
A - Introdução
O herpes genital é transmitido, predominantemente, pelo contato sexual
(inclusive orogenital), com período de incubação de 3 a 14 dias, no caso de
primoinfecção sintomática; a transmissão pode acontecer, também, pelo
contato direto com lesões ou objetos contaminados. É necessária a presença
de solução de continuidade, pois o vírus não atravessa pele ou mucosas
íntegras.
B - Etiologia
Vírus herpes-simples (HSV), tipos 1 e 2 (o 1 é mais comumente relacionado a
herpes labial, e o 2, a herpes genital), pertencentes à família Herpesviridae.
C - Quadro clínico
Pode ser assintomático. Na fase prodrômica, ocorrem aumento de
sensibilidade, formigamento, mialgias, ardência ou prurido antecedendo o
aparecimento das lesões. Localiza-se, nos homens, mais frequentemente na
glande e no prepúcio; nas mulheres, nos pequenos e grandes lábios, clitóris,
fúrcula e colo do útero. As lesões iniciais são pápulas e vesículas agrupadas
com conteúdo claro ou citrino, que se rompem, originando ulcerações,
posteriormente recobertas por crostas sero-hemáticas. É comum a
coexistência dos três estágios de lesões (vesículas, úlceras e crostas).
Adenopatia inguinal dolorosa bilateral pode ocorrer em 50% dos casos.
Ocasionalmente, secreção uretral clara e, até mesmo, ardência miccional
podem estar presentes, consequentes de lesões intrauretrais. Além disso, é
possível que apareçam sintomas gerais, como febre e mal-estar. Assim como
no herpes-zóster, pacientes que têm infecção de repetição podem apresentar
quadros de lesões mais intensas, formando aspecto serpiginoso, semelhante ao
“cobreiro” do zóster.
No fim da infecção, mesmo assintomática, o HSV ascende pelos nervos
periféricos sensoriais, penetra nos núcleos das células ganglionares e ali
permanece em estado de latência.
As infecções podem ser recorrentes, e 60 a 90% dos pacientes apresentam
novos episódios nos primeiros 12 meses, por reativação dos vírus. A
recorrência das lesões pode associar-se a episódios de febre, exposição à
radiação ultravioleta, traumatismos, menstruação, estresse físico ou
emocional, antibioticoterapia prolongada e imunodeficiência. O quadro
clínico das recorrências é menos intenso do que o da primoinfecção e é
precedido de pródromos característicos, como aumento de sensibilidade no
local, prurido, “queimação”, mialgias e “fisgadas” nas pernas, nos quadris e
na região anogenital.
D - Exames complementares
Deve ser feito com cancro mole, sífilis, linfogranuloma venéreo, donovanose
e ulcerações traumáticas.
F - Tratamento
Aciclovir: 400mg VO, a cada 8 horas, por 5 dias; ou 200mg VO, a cada
4 horas, por 5 dias;
Valaciclovir: 500mg VO, a cada 12 horas, por 5 dias;
Fanciclovir: 125mg VO, a cada 12 horas, por 5 dias.
7. Abordagem sindrômica
O Ministério da Saúde propõe que as ISTs sejam abordadas de maneira
sindrômica, isto é, na impossibilidade de diagnóstico etiológico imediato, que
o paciente receba tratamento empírico de acordo com a síndrome clínica, para
que não se perca a oportunidade de tratamento de sua afecção e haja
interrupção da cadeia de transmissão.
O tratamento imediato das ISTs tem importância epidemiológica não somente
na transmissão delas próprias, mas também na transmissão do HIV. A
infecção genital ativa facilita tanto a transmissão quanto a aquisição do vírus
por via sexual. O paciente infectado pelo HIV apresenta maior quantidade de
partículas virais em seus fluidos genitais quando tem uma infecção genital
ativa, em virtude da maior replicação viral e de microssangramentos
provocados pela coinfecção, o que facilita a transmissão do vírus.
O paciente HIV negativo com IST tem maior predisposição a adquirir o HIV
por via sexual se exposto, seja pela solução de continuidade mucosa
ocasionada pela infecção, seja porque suas células imunológicas do trato
genital, ativadas pela presença de IST ativa, são mais suscetíveis à invasão
por esse vírus.
A seguir, recomendações feitas pelo Ministério da Saúde para a abordagem
sindrômica das ISTs.
Figura 14 - Abordagem sindrômica das úlceras genitais
Fonte: Ministério da Saúde, 2016.
Figura 15 - Abordagem sindrômica dos corrimentos uretrais
Fonte: Ministério da Saúde, 2016.