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Correção Da Ftg1 Wundt Psic B 2021 2022

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Correção da FTG1 – Psicologia B – Contributo de Wundt para a psicologia – turma 12ºA – 2021/2022

(Cotações: itens 1 a 6 x 30 pontos = 180 pontos + item 7 (20 pontos) = 200 pontos)

1. Caracterize nas suas linhas fundamentais o objeto de estudo e a finalidade da Psicologia na perspetiva de Wundt.

R: Wundt definiu como objeto de estudo da psicologia a vida mental, a consciência e os seus processos mentais
elementares. A finalidade da psicologia seria a descoberta das leis de associação dos elementos mais simples da mente
(as sensações) e a sua relação com estruturas do sistema nervoso, ou seja, a base fisiológica da experiência consciente.

2. Caracterize o método da psicologia proposto por Wundt.

R: O método formulado por Wundt chamava-se introspeção controlada ou analítica e tinha por alvo descobrir os
elementos mais simples da consciência, recorrendo-se à repetição das experiências em ambiente artificial. Os alunos
de Wundt eram as suas próprias ‘cobaias’: centravam-se e analisavam o que tinham ‘à mão’, ou seja, as suas próprias
experiências e as dos seus assistentes. Em 1879 Wundt cria o primeiro laboratório de psicologia experimental, em
Leipzig, na Alemanha. Adquiriu tal fama que vinham estudantes de todo o mundo trabalhar com ele. O objetivo de
Wundt era o estudo da experiência consciente ou dos estados de consciência do Homem, através do uso do método
introspetivo (introspeção significa observação da consciência por si própria). Os sujeitos das experiências, ‘cobaias’
voluntárias, eram submetidos a estímulos visuais, auditivos e táteis, tendo de descrever ao psicólogo o que ocorria
no seu interior (pensamentos, emoções) aquando das sensações provocadas. Ao psicólogo caberia a tarefa de anotar
e interpretar os resultados. E essa anotação era exaustiva (cerca de 10 mil observações sistemáticas, como descreve
o texto de Linda Davidoff). Este método, consistindo numa autoobservação ou observação interior, faz com que o
indivíduo tome consciência do que se passa no seu espírito, quais as sensações que tem em situações diferentes. Por
exemplo, perante a notícia de que acertou no euromilhões, um indivíduo tem reações de ordem psicológica (emoção,
imagens mentais, associação de ideias) e de ordem fisiológica (respiração ofegante, rubor, lágrimas ou riso, tremuras
musculares). À psicologia introspetiva interessa sobretudo a primeira ordem de fatores, os fenómenos psicológicos
descritos pela própria pessoa.

3. Por que razão se designa a escola de Wundt de «estruturalista»?

R: O paradigma de psicologia fundado por Wundt foi conhecido por duas categorias: associacionismo e
estruturalismo. Neste último caso, Wundt é estruturalista porque se dedicou a descobrir a ‘estrutura’ ou anatomia
dos processos mentais mais complexos, decompondo a consciência nos seus elementos mais simples, as sensações,
consideradas como os elementos ou unidades básicas de todos os fenómenos da mente. Influenciado pelas conceções
dos físicos, preocupados com a determinação dos elementos básicos da matéria – os átomos -, Wundt pretendia
interpretar a vida interior do ser humano em termos de atomismo psicológico. O seu modelo teórico estava inspirado
na química e entendia a vida mental consciente como uma espécie de química mental, em que a combinatória das
sensações tenderia a expressar, para o psicólogo experimental, as regularidades e leis de associação básicas. Nesta
ordem de ideias, descobrir as estruturas biológicas do sistema nervoso que são responsáveis pelas leis da experiência
consciente, confere ao modelo teórico de Wundt um estatuto de psicofisiologia. É por estas razões que Wundt é
designado ‘estruturalista’. A sua ideia, fundadora, foi mal compreendida à sua época. As neurociências atuais,
suportadas por modernos meios de imagiologia cerebral, podem ser entendidas à luz do paradigma psicofísico
concebido por Wundt.

4. Explique as principais críticas e limitações apontadas ao método de Wundt.

R: Podemos enumerar três críticas (e limitações) que afetaram a conceção do método introspetivo de Wundt e explicar
o seu significado como se segue. Há uma extrema impossibilidade de separar o observador do fenómeno observado:
são exatamente o mesmo. Logo, por esta impossibilidade coloca-se em causa o requisito essencial a qualquer ciência:
a objetividade e a imparcialidade num processo de observação sistemática e científica. Com efeito, é difícil o
observador observar-se a si mesmo. Outra crítica refere-se à mobilidade dos fenómenos psíquicos, estes nunca são
coincidentes no tempo com a sua observação. Portanto, não efetuamos nunca uma introspeção, mas sim uma
retrospeção. O observador não se pode dividir em dois, um que observa e um que é observado. Na realidade, só
depois de ter ocorrido é que se pode fazer um exercício de memória, por mais curto que seja o intervalo de tempo,
mas isso significa que o «facto» a observar na introspeção é sempre dado em segunda mão. Ora, isto conduz-nos a
uma terceira crítica: a tomada de consciência de um determinado fenómeno vai modificar esse mesmo fenómeno. A
análise racional de um facto psíquico vai eliminar, em grande parte, os componentes afetivos desse facto. Descrever
o que sentimos na mente não é o mesmo que sentir, há elementos que nos escapam na descrição e a linguagem
natural utilizada é ambígua, pouco precisa. Outra crítica possível significa que os dados da introspeção só podem ser
comunicados através da linguagem e muitas vezes, o sujeito tem dificuldade em exprimir por palavras o que sente.
Se se está muito emocionado (irado, colérico) não se consegue analisar nem exprimir a emoção. Por outro lado,
pacientes de meios socioculturais diferentes poderão utilizar formas de expressão diferentes para o mesmo
fenómeno. Qual delas deve merecer mais crédito por parte do psicólogo? Na realidade, outra crítica, a introspeção
despreza os factos de ordem fisiológica, que são objetivos, interessando-lhe apenas a subjetividade dos estados de
consciência. E por maior que seja o número de experiências repetidas, o elemento de subjetividade estará sempre
presente. Em conclusão, a crítica final, o método introspetivo não se pode aplicar aos domínios da psicologia infantil,
da psicopatologia (doentes mentais) ou da psicologia animal (um animal não consegue descrever o que nele se passa,
na sua mente).

5. «A Psicologia é o estudo sistemático dos comportamentos patológicos.» Será que esta é uma boa definição de
Psicologia? Porquê?

R: Não é uma boa definição de psicologia porque o seu domínio é muito limitado, ou o objeto da investigação é restrito,
pois só remete para o estudo de um aspeto do comportamento humano, o comportamento perturbado, os distúrbios
psíquicos, as doenças mentais cujas causas são especificamente psicológicas. Ora, o objeto da psicologia é muito mais
amplo do que o plano da psicopatologia (envolve outros domínios, como as emoções, a cognição, a linguagem, as
interações sociais, o desenvolvimento, a personalidade, a motivação, etc). Uma boa definição de psicologia, e
reconhecida e aceite atualmente pela comunidade dos cientistas desta área, é o estudo do comportamento e dos processos
mentais, dos seres humanos e dos animais não humanos. Em seguida, deve especificar-se o significado, com exemplos,
das noções de comportamento e de processos mentais.

6. «A Psicologia é ciência que estuda a vida mental.» Foi esta a primeira definição de Psicologia?

R: A afirmação é correta, foi a primeira definição de psicologia, criada por Wundt, com pretensão de estudar a
consciência e os seus processos mentais elementares. A caracterização deste primeiro objeto de estudo deve ser
complementada, na resposta, com exemplos de experiências realizadas no laboratório de Wundt.

7. Poder-se-á, de facto, considerar o modelo de psicologia concebido por Wundt, como científica? Porquê?

R: A resposta é negativa, ainda que existam algumas vozes que respondem em sentido contrário, advogando que basta
o recurso à metodologia experimental para se alcançar o estatuto de ciência para a psicologia. A psicologia não pode
ser entendida apenas como mais uma ciência de laboratório e seria muito estranho que assim fosse considerada numa
visão demasiado positivista. O objeto de estudo proposto por Wundt, aliás, era demasiado restrito, delimitava-se
apenas aos processos mentais na sua relação com a consciência. Além disso, decorria em ambiente artificial, deixando
de parte a vida real dos indivíduos, as relações sociais, a cultura. O método de Wundt foi bastante criticado pelas suas
limitações e deficiências e já conhecemos algumas delas na resposta à pergunta 4 desta ficha: o essencial da crítica é
esta – sem uma clara separação entre o sujeito observado (sujeito experimental) e o sujeito observador, a objetividade
está em questão e é seriamente abalada, por exemplo, pela interferência de fatores subjetivos e limitações inerentes
aos relatos fornecidos; é certo que Wundt tinha perfeita noção destas dificuldades e daí o recurso às repetições das
experiências, com o claro propósito de eliminar fatores subjetivos e aquilo a que se chama hoje “variáveis parasitas”
ou “variáveis estranhas”. Wundt considerava que só através de uma pesquisa laboratorial rigorosa e metódica se
poderia concretizar uma investigação objetiva. Esta sua opção, própria de um espírito científico (não devemos
esquecer que Wundt era formado em medicina), limitou a psicologia ao campo experimental, tornando-a ciência de
laboratório. Aliás, Wundt é reconhecido como o fundador do primeiro laboratório de psicologia do mundo (em Leipzig,
no ano de 1879) e desta forma, conferiu à psicologia um grau de objetividade nunca até então conseguido. No entanto,
o método introspetivo apresentava ainda problemas que não permitiram a afirmação plena da psicologia como
ciência. Embora o primeiro passo dado por Wundt, tenha sido um passo dado em falso, abriu novas perspetivas de
futuro para a psicologia. Não foi ainda com Wundt que a psicologia atingiu o tão desejado estatuto de ciência, tal só
acontecerá com o psicólogo norte-americano John Watson, quando define o estudo do comportamento observável
com o recurso a métodos de pesquisa objetivos e que eliminam a subjetividade do sujeito-observador. Em qualquer
caso, há que reconhecer a Wundt uma ideia fundadora, paradigmática, pela abordagem da vida mental e a procura
sistemática de estruturas do sistema nervoso responsáveis pelas leis de associação: é a ideia geral ou um pressuposto
que as atuais neurociências aprofundam – se queremos saber algo objetivo sobre o comportamento e os processos
mentais devemos procurar evidências no funcionamento do sistema nervoso, base psicofísica da vida mental. Wundt
foi alvo de críticas, as quais resultaram em boa parte da incompreensão das suas ideias à época em que viveu. Além
disso, um desconhecimento de uma parte significativa das suas obras e pensamento criaram mais um obstáculo a essa
melhor compreensão, facto a que não é estranho as sua publicações serem publicadas em língua alemã e esta não
constituir uma língua padrão da comunicação científica internacional, como acontece com a língua inglesa.

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