Location via proxy:   [ UP ]  
[Report a bug]   [Manage cookies]                

Interação Da Radiação Com A Matéria

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 29

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL –

INSTITUTO DE FÍSICA – UFRGS

Kamila Kojoroschi de Menezes

Interação da Radiação com a


Matéria - Aceleradores e
Proteção Radiológica

Porto Alegre

2008
Kamila Kojoroschi de Menezes

Interação da Radiação com a


Matéria - Aceleradores e Proteção
Radiológica

Monografia apresentada ao curso de


graduação em Física como trabalho de
conclusão de curso.
Orientador: Prof. Dr. Johnny Ferraz Dias.

Porto Alegre

2008

2
Agradeço aos professores do
Curso de Física pelo incentivo
constante no decorrer de todo
esse tempo de estudo.

3
Sumário

Resumo.........................................................................................................5

Abstract........................................................................................................5

Capítulo1- Introdução.................................................................................6

Capítulo 2 – A interação da Radiação com a Matéria.........................7

2.1 – Partículas carregadas pesadas................................................8

2.2 – Interação de elétrons e pósitrons..........................................10

2.3 – Interação de raios X e raios gama.........................................11

2.4 – Interação de nêutrons............................................................15

Capítulo 3 – Aceleradores.........................................................................16

3.1 – Aceleradores Eletrostáticos...................................................18

3.2 – Aceleradores Cíclicos.............................................................20

3.2.1 – Acelerador Cíclotron................................................20

3.2.2 – Acelerador Sincrocíclotron......................................22

3.2.3 – Acelerador Síncrotron..............................................22

3.3 – Aceleradores Lineares............................................................23

Capítulo 4 – Técnicas desenvolvidas no Laboratório de Implantação


Iônica..........................................................................................................25

Capítulo 5 – Levantamento Radiométrico no Laboratório de


Implantação Iônica....................................................................................26

Capítulo 6 – Conclusões............................................................................27

Capítulo 7 - Esboço da Planta do Laboratório de Implantação – IF –


UFRGS.........................................................................................................28

Bibliografia.................................................................................................29

4
Resumo

O objetivo deste trabalho é fazer uma revisão bibliográfica sobre a


interação da radiação com a matéria, os aceleradores de partículas, as
radiações que eles emitem, as formas de detecção das radiações emitidas e
finalmente os métodos usados na radioproteção.
O trabalho se inicia com uma revisão sobre a interação da radiação
com a matéria no contexto de detectores de radiação e os diversos tipos de
aceleradores de partículas, seus funcionamentos e suas aplicações. Neste
contexto, serão apresentados os equipamentos em operação no Laboratório
de Implantação Iônica do Instituto de Física da Universidade Federal do
Rio Grande do Sul, assim como as técnicas de suas aplicações e os tipos de
radiações emitidas por esses aceleradores. Finalmente serão feitas medições
da radiação de fundo do Laboratório de Implantação Iônica durante a
operação dos aceleradores. Faremos um levantamento radiométrico que
avaliará a blindagem dos aceleradores e apresentaremos um esboço da
planta do laboratório apontando os pontos de maior exposição aos
indivíduos que ali trabalham.

Abstract

The aim of this work is to present a bibliographical review of the


basic concepts in radiation-matter interaction. In particular, the interaction
of electromagnetic radiation, charged particles and neutrons with matter is
discussed. Moreover, an overview of particle accelerators and detectors is
carried out. Background radiation was evaluated in different sectors of the
Ion Implantation Laboratory using a Geiger-Muller detector. The results
show that no substantial radiation is present in the experimental area.

5
Capítulo 1

Introdução

O desenvolvimento de aceleradores de partículas se iniciou em 1932


com R.J. Van De Graaf, que desenvolveu um pequeno acelerador
eletrostático com uma voltagem de terminal de 1 MV. A partir de então,
devido a avanços tecnológicos, os assim chamados aceleradores Van de
Graaf “single ended” passaram a ter energias maiores de terminal até
adquirir um máximo de até 5 MV. Nos anos 60 se teve um avanço
fundamental na tecnologia de aceleradores com o desenvolvimento de um
acelerador Van de Graaf tipo Tandem que permitia alcançar uma voltagem
de terminal de 35 MV, contribuindo de uma forma decisiva ao
desenvolvimento da Física Nuclear. Por outro lado, e quase
simultaneamente, na Universidade de Berkeley Califórnia desenvolveu-se
um tipo diferente de acelerador, chamado de acelerador circular. Entre eles
podemos destacar primeiro o Cíclotron e posteriormente o Sincrocíclotron
com voltagem terminal semelhante aos aceleradores de Van De Graaf.
Além de íons leves como próton e partículas alfa, hoje em dia tais
aceleradores podem acelerar praticamente todos os elementos da Tabela
Periódica à energias da ordem de GeV e possuem várias aplicações. Os de
alta energia são dedicados à física nuclear de alta energia e física de
partículas elementares. Eles são altamente custosos e existem poucos no
mundo. Estes são resultado de uma ação conjunta de vários países e
conseqüentemente são de uso multinacional. Por outro lado, houve o
desenvolvimento de aceleradores tipo Tandem de baixa voltagem de
terminal (de 3 a 6 MV), equipamentos fundamentalmente dedicados à
Ciências dos Materiais. Finalmente é de se destacar que com o Cíclotron
aconteceu o mesmo processo. Em particular, esses aceleradores são muito
utilizados em terapia medicinal.

6
Capítulo 2

A Interação da Radiação com a Matéria

A operação de qualquer detector de radiação depende basicamente da


maneira com que a radiação a ser detectada interage com a matéria de seu
detector. Um entendimento da resposta de um tipo específico de detector
deve, portanto, ser baseada na familiaridade com os mecanismos
fundamentais pelos quais a radiação interage e perde a sua energia na
matéria.
Podemos organizar as quatro maiores categorias de radiações em
dois grupos da seguinte maneira:

Grupo I

Radiação de Partículas carregadas:

a. Partículas pesadas carregadas;


b. Elétrons;

Grupo II

Radiações sem carga:

c. Raios X e Raios Gama;


d. Nêutrons.

O grupo I consiste em partículas carregadas que interagem através de


interações coulombianas, enquanto o grupo II não está sujeito a forças
coulombianas. Essas radiações podem interagir com o núcleo ou com o
átomo como um todo, alterando radicalmente as propriedades da radiação
incidente. Os raios X e os raios gama podem, por exemplo, interagir com a
matéria de tal forma que toda ou parte de sua energia pode ser transferida
para os átomos e elétrons do meio por onde eles se propagam. Detectores
de radiação eletromagnética são adaptados para promover cada interação e
para parar os elétrons secundários resultantes, pois suas energias podem
contribuir para o sinal de saída e estão relacionadas com a radiação
incidente. Em contraste, nêutrons devem interagir de maneira a produzir
partículas pesadas carregadas secundárias, que então servirão como a base
do sinal do detector, pois o que detectamos é a interação dos nêutrons com
as partículas, e não os nêutrons em si. Por este motivo é interessante que

7
haja produção abundante de partículas pesadas carregadas, para que elas
interajam com o detector como resultado da interação com os nêutrons.

2.1 Partículas pesadas carregadas

Partículas pesadas carregadas, como partículas α, interagem com a


matéria principalmente através de forças coulombianas entre sua carga
positiva e os elétrons dos átomos do material. Apesar de interações das
partículas com os núcleos também serem possíveis, esses encontros
ocorrem muito raramente e eles, em geral, não são significantes na resposta
de detectores de radiação. Em vez disso, detectores de partículas carregadas
devem confiar nos resultados de interações com elétrons do meio para a sua
resposta.

Dependendo da energia que esta partícula carregada transfere para os


elétrons, estes podem sofrer excitações que podem resultar na ionização
dos átomos da amostra. A máxima energia que pode ser transferida de uma
partícula carregada de massa m com energia cinética E para um elétron de
massa mo em uma colisão é 4Emo/m , ou aproximadamente 1/500 da energia
da partícula por nucleon. Devido a esta pequena fração de energia, a
partícula incidente deve perder essa energia em muitas interações durante a
sua passagem através de um absorvedor. Em um dado tempo qualquer a
partícula terá interagido com muitos elétrons, causando o decréscimo
contínuo da sua velocidade até a partícula ser parada. As partículas
carregadas são, portanto, caracterizadas por um alcance definido em função
do material absorvedor e da própria partícula. O alcance representa a média
da distância além da qual nenhuma partícula irá penetrar.

O poder de freamento linear (linear stopping power) S para partículas


carregadas em um dado absorvedor é definido como a diferencial da
energia perdida por uma partícula no interior do material dividida pela
diferencial de comprimento de caminho atravessado:

 (1)


Este valor também é chamado de perda específica de energia ou


razão de energia perdida. Para partículas com um dado estado de carga, S
cresce quando a velocidade da partícula está decrescendo, ou seja, se
aumenta a velocidade da partícula o poder de freamento linear diminui. A
expressão clássica que descreve a perda específica de energia é conhecida
8
como a fórmula de Bethe [1]:

 4 4z2NB/m0v2, (2)


onde, B Z[ln(2m0v2/I) – ln(1- v2/c2) - v2/c2], (3)

v e ze são a velocidade e a carga da partícula incidente, N e Z são a


densidade e o número atômico do átomo absorvedor, m0 é a massa de
repouso do elétron e e é a carga elementar. Finalmente, I é um parâmetro
experimentalmente determinado para cada elemento e representa a energia
de excitação média e o potencial de ionização do absorvedor. B varia
lentamente com a energia da partícula. Partículas com grandes cargas terão
uma grande perda específica de energia. Partículas α, por exemplo,
perderão energia numa razão maior do que a de prótons da mesma
velocidade. Comparando diferentes materiais absorvedores, dE/dx depende
primeiramente do produto NZ, que está fora do termo logarítmico. Altos
números atômicos e materiais com alta densidade resultarão,
conseqüentemente, num grande poder de freamento linear. A fórmula de
Bethe começa a falhar para partículas de baixa energia, onde a troca de
carga entre a partícula e o absorvedor torna-se importante. A partícula
positivamente carregada tenderá a capturar os elétrons do absorvedor, o que
reduz sua carga efetiva e, conseqüentemente, resulta numa diminuição da
sua perda de energia. Ao final do trajeto, a partícula terá acumulado Z
elétrons e se tornará um átomo neutro.
A perda de energia ao longo da trajetória de uma partícula carregada
pode ser esboçada numa curva conhecida como curva de Bragg.

Fig. 1 Curva de Bragg. Poder de freamento para uma partícula alfa de 5,49 MeV em função do
caminho percorrido por esta partícula no ar.

9
Observamos que, durante a maior parte do trajeto, a partícula é freada,
ou seja, o poder linear de freamento S está aumentando com
aproximadamente 1/E como prediz a fórmula de Bethe. Próximo ao final
do percurso, a carga do íon é reduzida devido à captura eletrônica e a curva
cai. Notamos, a partir da curva na fig. 1, que o poder de freamento linear é
máximo quando a partícula atinge o seu maior alcance de penetração.

2.2 Interação de elétrons e pósitrons

Quando comparados a partícula carregadas, elétrons rápidos perdem


energia a uma baixa razão e seguem um caminho tortuoso através do
material absorvedor. Grandes desvios no caminho do elétron são possíveis
porque uma fração muito grande dessa energia pode ser perdida em um
único choque. Em adição, interações elétron – núcleo, que podem alterar
abruptamente a direção do elétron, algumas vezes ocorrem.

Uma expressão similar, também obtida por Bethe, para descrever a


perda específica de energia devido à ionização e excitação (as perdas
colisionais) por elétrons rápidos mostra que a perda de energia depende de
N, Z e do logaritmo de E [1]:

- (dE/dx)c
f(N,Z, lnE). (4)

Elétrons também diferem de partículas carregadas, pois eles podem


perder energia por processo radioativo bem como por interações
coulombianas. Essas perdas radioativas podem ser por Bremsstrahlung ou
radiação eletromagnética de freamento, que são emitidas quando o elétron é
desacelerado.

As perdas radioativas são mais importantes para elétrons de altas


energias e para materiais absorvedores de grande número atômico [1]:
- (dE/dx)r f(N,Z2, E). (5)
Para energias baixas de elétrons, a energia média de um fóton
emitido por Bremsstrahlung é baixa e é normalmente reabsorvida próximo
ao ponto de sua origem. Em alguns casos, entretanto, o escape de
Bremsstrahlung pode influenciar na resposta de pequenos detectores. O
poder linear de freamento total é a soma das perdas colisionais e

10
radioativas:
dE/dx= (dE/dx)c + (dE/dx)r. (6)

O fato de que os elétrons sofrem freqüentemente deflexões (desvios)


de grandes ângulos ao longo de sua trajetória leva ao fenômeno de
backscattering (retro-espalhamento). Um elétron ao entrar na superfície de
um absorvedor sofrerá deflecções suficientes para reemerger da superfície
através da qual ele entrou. Esses elétrons retro-espalhados não depositarão
toda a sua energia no meio absorvedor e, contudo, pode haver um efeito
significante na resposta de detectores designados a medir a energia de
elétrons incidentes externamente. Elétrons que retro-espalharam no
detector (na janela de entrada) escaparão completamente de detecção.
As forças coulombianas constituem o maior mecanismo de perda de
energia para partículas leves carregadas, quer a interação envolva uma
força repulsiva ou atrativa entre as partículas incidentes e os elétrons dos
átomos do meio. De fato, o trajeto de um pósitron em um absorvedor é
similar ao de elétrons, e sua perda de energia específica e alcance são quase
os mesmos para energias inicias iguais. Porém, pósitrons diferem
significativamente no que diz respeito à aniquilação de radiação que é
gerada no final do trajeto do pósitron.

Aniquilação de pares ocorre quando uma partícula encontra a sua


anti-partícula e, na interação, desaparecem produzindo radiação
eletromagnética. Na aniquilação elétron – pósitron, um elétron encontra-se
com um pósitron e ambos desaparecem originando um par de fótons que se
propagam em direções opostas com energia mínima de 0,511MeV cada
(massa de repouso do elétron). Esses fótons de 0,511MeV são muito
penetrantes quando comparado com o alcance do pósitron, o que faz com
que a deposição de energia aconteça mais longe do trajeto original do
pósitron.

2.3 Interação de raios X e gama

Apesar de um grande número de possíveis mecanismos de interação


ser conhecido para raios gama na matéria, somente três tipos apresentam
um papel importante na medição de radiação: Absorção (ou Efeito)
Fotoelétrica, Espalhamento Compton e Produção de Pares. Todos esses
processos levam a uma parcial ou completa transferência de energia do
fóton ao elétron. Eles resultam em uma mudança repentina e abrupta no

11
comportamento do fóton, em que ele ou desaparece inteiramente ou é
espalhado em ângulos significantes. Este comportamento está em contraste
com as partículas carregadas, que desaceleram gradualmente através de
contínuas e simultâneas interações com muitos átomos absorvedores.

No processo de absorção fotoelétrica, um fóton sofre uma interação


com um átomo absorvedor e desaparece completamente. Isso acontece
quando um fóton incidente sobre um átomo transfere sua energia a um
único elétron orbital, fazendo com que ele seja ejetado com uma energia
(Ee) que corresponde à diferença de energia do fóton incidente (Ef) e a
energia de ligação (Eb) do elétron no orbital:

Ee =Ef - Eb. (7)

O elétron que foi ejetado deixou uma vacância que rapidamente será
ocupada por um elétron de algum orbital de energia maior. Neste processo,
um ou mais raios X característicos serão gerados, mas a grande maioria
será absorvido próximo a sua origem.

Fig. 2 Efeito Fotoelétrico e raios X característicos.

Os raios X que não foram absorvidos podem influenciar na resposta


do detector. O Efeito Fotoelétrico é predominante nos casos em que o fóton
incidente é de baixa energia e o número atômico do material absorvedor é
alto.
O espalhamento Compton ocorre quando um fóton incidente sobre
um material e um elétron desse material são espalhados. Em Espalhamento
Compton, o fóton incidente é defletido através de um ângulo θ com
respeito à direção original. O fóton transfere uma parte de sua energia para
o elétron (que assumiremos em repouso inicialmente), que é então
conhecido como elétron recuado. Como todos os ângulos de espalhamento
12
são possíveis, a energia transferida ao elétron pode variar de zero a grandes
frações da energia do fóton gama. O fóton espalhado terá energia menor
que a inicial, bem como outra direção de propagação.

Fig.3 Espalhamento Compton.

A energia dos fótons espalhados após a colisão é dada por [1]:

hν’= hν /{1+hν/m0c2(1-cosθ)} (8)

onde, hν é a energia do fóton incidente, hν’ é a energia do fóton espalhado


e m0c2 é a energia de repouso do elétron (0,511MeV). Para pequenos
ângulos de espalhamento θ, muito pouca energia é transferida. Analisando
os casos extremos temos que: para θ=0º, o elétron espalhado tem energia
muito baixa, enquanto que o fóton espalhado tem aproximadamente a
mesma energia do fóton incidente. Para θ=π, o fóton gama incidente é
retro-espalhado na sua direção de origem, considerando que o elétron
recuou ao longo da direção de incidência do fóton. Este extremo representa
a máxima energia que pode ser transferida a um elétron numa única
interação Compton.
O Espalhamento Compton é predominante para radiações de energias
intermediárias sendo inversamente proporcional a energia do fóton
incidente e proporcional ao número atômico do átomo absorsor.

A produção de pares é energeticamente possível se a energia do


fóton gama incidente excede duas vezes a energia de repouso de um elétron
(ou seja, 1,022 MeV). Na interação (que deve ocorrer com o campo elétrico
do núcleo) o fóton gama desaparece dando lugar a um par elétron-pósitron.

13
Toda a energia transportada pelo fóton que exceder 1,022 MeV será
convertida em energia cinética e repartida pelo par elétron-pósitron.
Quando o pósitron se aniquilar, ao final de seu trajeto, produzirá dois
fótons de aniquilação.

Fig. 4 Esquema de produção de pósitrons e aniquilação de pósitrons.

Não existe uma expressão simples para a probabilidade de produção


de pares, mas a sua magnitude varia aproximadamente com o quadrado do
número atômico do material absorsor (~ Z2). A probabilidade de ocorrência
de produção de pares aumenta, não só com o aumento do numero atômico,
mas com o aumento de energia do fóton incidente. A importância relativa
dos três maiores processos de interação de raios gama com relação à
energia do fóton e diferentes materiais absorsores está ilustrada na figura
abaixo:

Fig. 5 Z do material absorsor X Energia hν em MeV .

O coeficiente linear de atenuação µ é dado por:


µ = τ(fotoelétrico) + σ(Compton) + κ(pares)
que é o resultado da soma dos coeficientes de atenuação linear de cada um

14
dos efeitos de interação. Este coeficiente depende da energia do feixe
incidente e do material atenuador, dado pela relação:
I=I0exp(-µt) (9)

onde, I e I0 são as intensidades do feixe após atravessar uma espessura t e


antes de atravessá-la, respectivamente.

2.4 Interação de Nêutrons

Da mesma maneira que os raios gama, nêutrons não carregam carga


e, portanto, não podem interagir com a matéria por meio de força
coulombiana. Nêutrons também podem penetrar uma longa distância na
matéria sem sofrer qualquer tipo de interação e podem ser invisíveis para
detectores comuns. Quando o nêutron sofre alguma interação, ela será com
o núcleo de algum material absorvedor e, como resultado desta interação, o
nêutron deve ou desaparecer totalmente ou ser substituído por uma ou mais
radiações secundárias, ou ainda, a energia ou direção do nêutron é alterada
significativamente. Em contraste com raios gama, a radiação secundária
resultante da interação de nêutrons é quase sempre constituída de partículas
carregadas. Nêutrons são blindados por materiais compostos por átomos
leves, de baixa massa (água, por exemplo). A probabilidade relativa dos
vários tipos de interação de nêutrons muda dramaticamente com a energia
do nêutron. Simplificando, dividiremos os nêutrons em duas categorias de
energia: nêutrons rápidos ou nêutrons lentos.
Para nêutrons lentos (com energias abaixo de 0,5eV), as interações
interessantes incluem espalhamento elástico com o núcleo absorvedor e as
reações nucleares. Por causa da pequena energia cinética dos nêutrons
lentos, muito pouca energia pode ser transferida para o núcleo num
espalhamento elástico. Conseqüentemente, esta não é uma interação na
qual os detectores de nêutrons devem ser baseados. Colisões elásticas
tendem a ser muito prováveis e servem para trazer o nêutron lento ao
equilíbrio térmico com o absorvedor antes de um diferente tipo de interação
ocorrer. Estes nêutrons nestas condições são os nêutrons térmicos, que à
temperatura ambiente, têm uma energia média em torno de 0,025 eV. As
interações de nêutrons lentos que realmente importam são aquelas que
induzem reações que podem criar radiações secundárias de energia
suficiente para ser detectada diretamente.
Já os nêutrons rápidos podem transferir uma energia maior devido à
sua maior energia cinética. Neste caso, ocorre um espalhamento inelástico

15
com o núcleo que recua e passa a um estado excitado durante a colisão. O
núcleo desexcita-se, em geral, emitindo uma radiação gama secundária. O
nêutron perde uma fração maior de sua energia do que perderia em uma
colisão elástica. Com as perdas de energia em sucessivos choques
inelásticos, o nêutron torna-se lento ou térmico. Espalhamentos inelásticos
e subseqüentes raios gama secundários desempenham um importante papel
na blindagem de nêutrons de alta energia, mas sãomcomplicadores
indesejáveis na maioria de detectores de nêutrons rápidos baseados em
espalhamento elástico.

Capítulo 3

Aceleradores

O propósito de um acelerador de partículas carregadas é direcionar


contra um alvo um feixe de um tipo específico de partículas com uma dada
energia. Um acelerador de partículas requer uma fonte de partículas
carregadas (elétrons de um filamento quente ou átomos ionizados de uma
fonte de íons), um campo elétrico para acelerar as partículas (~ 107 V em
alguns aceleradores), elementos focalizadores para agir contra a tendência
de divergir do feixe, defletores para dirigir o feixe na direção desejada, um
alvo de um material selecionado para o feixe colidir e uma câmara para
abrigar todos os componentes em alto vácuo e prevenir assim que o feixe
seja espalhado por moléculas do ar.
O design dos aceleradores varia de acordo com o propósito para o
qual ele será usado. Em alguns casos, é desejada alta tensão. Em outros,
alta intensidade. Aceleradores de elétrons, que se tornam relativísticos,
mesmo a baixas voltagens, e tem grande penetração na matéria, diferem
muito daqueles de íons pesados, que são, em geral, não-relativísticos e de
curtíssima penetração na matéria.
Cada acelerador deve ter uma seleção exata de energia e correntes
razoavelmente altas, porque a máxima precisão de muitos experimentos é
limitada pela estatística de contagem. Em muitos casos, para evitar a
destruição dos alvos causada pelo aquecimento resultante das colisões do
feixe, é necessário que o alvo seja constantemente resfriado.
Podemos classificar os aceleradores como: aceleradores de baixa,
média ou alta energia. Aceleradores de baixa energia produzem feixes num
intervalo de 10 a 100 MeV. São usados freqüentemente no estudo de

16
reações ou espalhamentos para explicar a estrutura de um estado final
específico, talvez até de estados excitados individuais. Aceleradores de
média energia operam num intervalo de aproximadamente 100 a 1000
MeV. Nestas energias, por exemplo, colisões de núcleons com núcleos
podem liberar π-mésons e, então, estes aceleradores são freqüentemente
usados para estudar o papel de um méson trocado na força nuclear.
Somente em alguns poucos casos estes aceleradores também são usados
para resolver estados excitados finais individuais. Os aceleradores de alta
energia produzem feixes de 1 GeV (1000 MeV) ou mais. Sua finalidade já
não é mais estudar a estrutura nuclear, mas sim produzir novas variedades
de partículas e estudar suas propriedades.
Em aceleradores eletrostáticos a fonte de íons, da qual se origina o
feixe de íons, contém um gás, que é ionizado, geralmente por uma súbita
descarga elétrica. Os íons positivamente carregados são extraídos por um
eletrodo a um potencial negativo da ordem de 10 kV. Para algumas
aplicações, é desejável ter um feixe de íons negativos. Neste caso, um feixe
de íons positivos é passado através de um gás neutro, pois existe uma
grande probabilidade de os íons positivos capturarem elétrons e tornarem-
se íons negativos. Os íons que permaneceram positivos, após atravessarem
o gás, são desviados por um campo elétrico ou magnético, deixando um
feixe só de íons negativos.

O sistema que transporta o feixe consiste de uma série de


dispositivos elétricos ou magnéticos que focalizam o feixe, focalizando-o
ou defletindo-o. Em analogia com ótica, esses instrumentos focalizadores
são chamados de lentes.

Eletroímãs podem mudar a direção de um feixe, como um prisma em


óptica, e também o decompor, pois o raio de curvatura de uma partícula
carregada em um campo magnético depende do momento. Eletroímãs são
também muito utilizados na análise (decomposição) do feixe de produtos
de uma reação, bem como para formar um feixe secundário de um tipo
especifico de partícula. Alvos para os feixes acelerados são tão variados
quanto os usos para o qual o acelerador é proposto. Por exemplo, para se
fazer uma espectrometria nuclear meticulosa, como o estudo de um estado
excitado específico e suas seções de choque, é desejável que se tenha a
menor perturbação possível dos feixes que entram e saem. Para isso são
usados alvos muito finos, da ordem de 10 µm. Por outro lado, se queremos

17
parar completamente um feixe de prótons de alta energia, para criar
partículas secundárias, então alvos grossos, da ordem de dezenas de cm,
devem ser usados. Ambos os alvos, finos ou grossos, devem ser resfriados
freqüentemente para extrair o calor depositado pelo feixe incidente.

Os equipamentos de detecção e análise são usados para registrar a


identidade, energia, tempo e direção dos produtos das reações.

3.1 Aceleradores Eletrostáticos

A maneira mais simples de se acelerar uma partícula é submetendo-a


a uma diferença de potencial V; se a partícula tem uma carga q, ela adquire
uma energia cinética de qV. A maior diferença de potencial que pode ser
mantida sob as condições do acelerador é em torno de 107 V. Assim, os
íons poderão adquirir uma energia cinética da ordem de 10MeV por
unidade de carga. Esta é a energia que precisamos para muitos estudos de
estruturas nucleares, e, por este motivo, este tipo de acelerador tem sido
bastante usado em laboratórios de física nuclear ao redor do mundo. A
tecnologia de aceleradores eletrostáticos consiste em estabilizar e manter
um terminal de alta voltagem para acelerar as partículas carregadas da fonte
de íons. O primeiro desenvolvimento deste tipo de acelerador para
aplicações em física nuclear foi em 1932 por Cockcroft e Walton (CW) que
construíram um equipamento que alcança um potencial de 800kV. O
gerador Cockcroft-Walton é basicamente um multiplicador de voltagem
que converte corrente alternada ou pulsos elétricos de corrente continua de
baixa voltagem em uma corrente contínua de alta voltagem. O principio
básico de operação é uma rede de capacitores e diodos que geram alta
voltagem. Essa técnica de multiplicação de voltagem foi usada por
Cockcroft e Walton para executar a primeira desintegração nuclear usando
partículas aceleradas artificialmente. Por causa da simplicidade de design, o
acelerador CW tem tido mais do que apenas interesse histórico, ele está em
uso ainda hoje para produzir fontes de nêutrons (por exemplo, 2H+2H → n
+ 3He, que pode ser obtido com umas poucas centenas de keV) e também
como um injetor de partículas, especialmente prótons, para aceleradores de
alta energia. O tipo mais comum de acelerador eletrostático em uso hoje
nos laboratórios de física nuclear é baseado no gerador de Van de Graaff. O
principio básico de funcionamento é a eletrostática fundamental: O Gerador
Van de Graaff é uma máquina que utiliza uma correia móvel para acumular
tensão eletrostática muito alta na cavidade de uma esfera de metal. No

18
interior do gerador de Van de Graaff, a correia móvel está acoplada a uma
roldana de plástico. Quando o motor aciona a roldana, a correia fricciona a
roldana de plástico, transferindo cargas negativas para ela. Enquanto o
motor continua a acionar a roldana, as cargas negativas na roldana
acumulam-se e induzem cargas positivas na escova de metal. O campo
elétrico, entre a roldana e a escova, aumenta, e o ar à volta da escova
ioniza-se. As cargas positivas das moléculas de ar são repelidas da escova e
transferidas para a superfície da correia. Estas cargas positivas são a seguir
transportadas para dentro da cavidade da esfera de metal, que se chama
abóbada, e transferidas, a partir da escova de metal, para a abóbada
esférica, através da ionização do ar. Este processo permite acumular uma
grande quantidade de cargas positivas na superfície da abóbada esférica, e
o seu potencial aumenta. O gerador de Van de Graaff está esquematizado
na Figura 6(a) e a Figura 6 (b) é uma das primeiras versões do Gerador Van
de Graaff:

(a) (b)

Fig. 6 (a) Esquema do Gerador de Van de Graaff. (b) Imagem de uma das primeiras versões.

Para evitar faiscamentos, o gerador é envolto em um tanque


pressurizado contendo aproximadamente 10 ou 20 atmosferas de um gás
isolante que inibe descargas; o hexafluoreto de enxofre (SF6) é um gás
quimicamente estável, não inflamável e é bastante usado hoje em dia. É um
isolante elétrico muito bom. Um tubo acelerador evacuado guia os íons da
fonte até o alvo, que está aterrado.
O acelerador de Van de Graaff tem uma enorme vantagem sobre o
acelerador Cockcroft-Walton. A voltagem terminal no Van de Graaff é
extremamente estável e não tem as oscilações de corrente alternada do

19
Cockcroft-Walton. Uma desvantagem do acelerador de Van de Graaff é a
baixa corrente de saída (µA) comparada com o Cockcroft-Walton (mA).
Todavia, correntes num intervalo de µA são suficientes para experimentos
de reações nucleares (de fato, altas correntes não seriam toleradas por
muitos alvos) e, como resultado, o Van de Graaff tornou-se o “carro-chefe”
da física nuclear de estrutura de baixa energia em 1960. Como a fonte de
íons é o ponto mais fraco num acelerador, ela requer uma grande atenção
de seu usuário. Podem ocorrer descargas nos filamentos que deverão ser
reparados, mas, como a fonte de íons se localiza no interior do terminal de
alta voltagem, a sua substituição ou manutenção requer que o aparelho seja
desligado por muitas horas, podendo causar transtornos. Um design
alternativo que elimina este problema (e o feixe ganha energia no processo)
é o acelerador Tandem Van de Graaff. Um feixe de íons negativos é
acelerado do terminal aterrado em direção ao terminal de alta voltagem no
centro de um tanque pressurizado, onde os íons entram em contato com um
gás que remove elétrons, resultando num íon de carga liquida positiva.
Estes íons são repelidos e acelerados para fora deste terminal de alta
voltagem positiva. A tensão é da ordem de milhões de volts (MV). Estes
aceleradores também produzem correntes de poucos micro-ampéres (µA).

3.2 Aceleradores Cíclicos

Além dos aceleradores lineares, existem os aceleradores cíclicos.


Este design de acelerador força a partícula a passar diversas vezes pelo
sistema de aceleração. A energia final das partículas depende da amplitude
da diferença de potencial aplicada e do número de voltas que elas
percorreram no dispositivo. Os tipos de aceleradores mais utilizados são o
cíclotron, o sincrocíclotron e o síncrotron.

3.2.1 Cíclotron

Os aceleradores do tipo cíclotron são aceleradores nos quais os feixes


de partículas sofrem a ação de um campo elétrico constante de alta
freqüência e de um campo magnético perpendicular e estático, que faz com
que o feixe realize ciclos recebendo um incremento na voltagem em cada
orbita até a energia da partícula atingir alguns MeV. O cíclotron possui
duas câmaras de metal semicirculares chamadas de “D’s”. Sua montagem é
numa câmara de vácuo entre os pólos de um eletromagneto. Os “D’s” são
conectados a uma fonte de voltagem alternada. Quando as partículas estão

20
dentro dos “D’s” elas não sentem o campo elétrico, mas o feixe é curvado
em um caminho circular pelo campo magnético. No espaçamento (gap)
entre os “D’s”, entretanto, as partículas sentem a voltagem que as acelera
fazendo que elas ganhem energia a cada ciclo. O design deste acelerador
cíclico foi concebido por Ernest Lawrence em 1929. Uma característica
interessante deste acelerador é que o tempo que uma partícula leva para
percorrer um caminho semicircular independe do raio deste caminho,
conforme a seguinte relação: t = mπ/qB, obtida a partir da expressão de
força de Lorentz para orbitas circulares (F=qvB=mv2/r - onde q é a carga da
partícula acelerada, v é a velocidade de deslocamento da partícula, B é a
componente do campo magnético uniforme e r é o raio do semi-circulo).
Como partículas circulam em raios muito grandes, elas ganham energia e
velocidades muito grandes e, o acréscimo no tamanho do caminho é
compensado pelo aumento da velocidade. Ou seja, se a partícula percorrer
um ciclo de raio curto num tempo t qualquer, ela levará o mesmo tempo t
para percorrer um ciclo de raio maior. Se meio período da voltagem ac
sobre os “D’s” é igual ao tempo de órbita semicircular, então o campo
alternado está em sincronismo com a passagem das partículas pelo gap, e a
partícula sente uma aceleração cada vez que cruza o gap.
Quando a velocidade das partículas atinge aproximadamente 10% da
velocidade da luz começa a ocorrer uma sensível variação da massa das
partículas acarretando numa variação do tempo, e conseqüentemente de
freqüência, para a partícula completar a trajetória semicircular. Ocorrendo
isto, não haverá mais sincronismo entre o alternador e o movimento da
partícula, pois é sabido que, ao variar a energia da particula, acaba havendo
o surgimento de uma diferença entre a freqüência de oscilação do potencial
acelerador e a freqüência de circulação da partícula num segmento da sua
trajetória. Este efeito gera um erro inflacionário, que aumenta a cada volta,
limitando assim a energia máxima da partícula.
A corrente nestes cíclotrons é da ordem de dezenas de micro-
ampéres, suficientes para o estudo detalhado de estrutura nuclear com
reações nucleares.

21
Fig. 7 Esquema de um Cíclotron

3.2.2 Síncrocíclotron

Para resolver o problema de erro inflacionário e superar a limitação


de energia do cíclotron, projetou-se um aparelho que possibilita variar a
freqüência aplicada aos “D’s”, de acordo com as necessidades de
focalização magnética e a variação relativística da massa dos íons. Sua
construção foi possibilitada pela existência de órbitas estáveis em que a
freqüência de revolução é igual a freqüência da voltagem aplicada aos
“D’s”. Se a freqüência de oscilação for diminuída, as partículas tendem a
permanecer nestas órbitas, absorvendo energia dos campos elétricos dos
“D’s”. Mantendo-se o sincronismo, as partículas ganham energia e
movimentam-se em órbitas de raios crescentes, até a órbita máxima
permitida pelo design do magneto.
Uma grande vantagem deste aparelho é que não existe limite no
número de revoluções necessárias para a obtenção de uma dada energia.

3.2.3 Síncrotrons

O desenvolvimento dos síncrotrons foi necessário para melhorar as


soluções de aceleração de partículas cujas trajetórias são de raios fixos.
Estes, da mesma forma que os cíclotrons, aceleram as partículas
eletricamente e as confinam em campos magnéticos. A diferença é que o
síncrotron utiliza o princípio da estabilidade de fase, mantendo desta forma
o sincronismo entre campo elétrico aplicado e a freqüência de revolução da
partícula.
O funcionamento se dá através de um campo magnético que causa a
deflexão da partícula para uma órbita circular, e cuja intensidade do campo
é modulada de forma cíclica, mantendo assim órbitas cujo raio é bastante
22
estável e constante, apesar do ganho de energia e massa conseqüentemente.
Uma vez que se usa o campo magnético para manter a órbita, em vez de
acelerá-la, as linhas de campo magnético só são necessárias na região
anular que é definida pela órbita. O campo é gerado por um eletromagneto
anular. Os síncrotrons de prótons são os aceleradores de partículas que
atingem maiores energias chegando a 800 GeV, enquanto o síncrotron de
elétrons alcança no máximo 12 GeV. A velocidade do próton só chega
próxima da velocidade da luz no vácuo com uma energia acima de 1 GeV.
O próton acelerado não perde energia por radiação, ou se perde é muito
pouco. Já os elétrons adquirem uma velocidade muito alta a energias
relativamente baixas, e quando defletidos por campos magnéticos irradiam
energia eletromagnética próxima do comprimento de onda dos raios X.
Essa energia irradiada precisa ser reposta pelo sistema acelerador.

Fig. 8 Esquema de um Síncrotron.

3.3 Aceleradores lineares

O acelerador linear, também chamado de LINAC (linear accelerator),


é um tipo de acelerador que faz a partícula seguir uma trajetória reta, onde
a energia final obtida é proporcional à soma das diferenças de potencial
geradas a partir dos mecanismos de aceleração dispostos ao longo da
trajetória, que proporcionam pequenos incrementos de energia à partícula.
Estes aceleradores podem ser de dois tipos: aceleradores de elétrons e
aceleradores de prótons. O princípio de funcionamento deles é ligeiramente
diferente.
O acelerador linear de elétrons consiste num sistema que utiliza um
campo eletromagnético longitudinal móvel, para fornecer energia cinética
para os elétrons. Este equipamento é provido de uma câmara de aceleração
composta de um tubo de vácuo cilíndrico, tipo cavidade ressonante, ou guia
de ondas, que orienta o campo acelerador. Existe também um amplificador
de potência de vários megawatts que excita as câmaras aceleradoras
(eletrodos) sucessivas e seqüenciais que forçam o deslocamento de uma
frente de onda progressiva no tubo. Esta frente de onda, uma vez
sincronizada pelos dispositivos aceleradores, se desloca cada vez com

23
maior velocidade, até chegar ao fim do tubo. O que assegura a
sincronização é a velocidade de fase da onda progressiva, que acaba por se
igualar à velocidade dos elétrons.
O acelerador linear de prótons utiliza o método de ondas
eletromagnéticas estacionárias para acelerar prótons. Os prótons possuem
massa em torno de duas mil vezes a dos elétrons, gerando uma barreira
para sua excitação através de uma guia por ondas progressivas que tenham
velocidade de fase igual à sua velocidade de avanço. Os prótons, cuja
energia é de quatro megavolts, têm cerca de dez por cento da velocidade da
luz, o que causa efeitos relativísticos. Estes fatores impossibilitam o uso da
técnica de guia de ondas da mesma forma que se usa para elétrons. Logo,
os aceleradores de ondas estacionárias são usados somente como injetores
de prótons para aceleradores cíclicos de grande energia que possuem
dispositivos para detectar e corrigir as distorções ocasionadas pelos efeitos
relativísticos.
Um acelerador linear é constituído de um tubo muito longo em
porções de comprimento variável, conforme figura 9. O feixe viaja através
de uma série de eletrodos ocos tubulares conectados alternadamente por
pólos opostos por uma fonte de voltagem ac. Partículas são aceleradas e
cruzam o gap (espaçamento) entre os eletrodos. No interior do eletrodo, a
partícula esta imersa numa região livre de campo elétrico por um tempo
igual à metade do período de voltagem ac. Desta maneira, a polaridade da
voltagem é revertida durante o tempo que a partícula está dentro do
eletrodo, e ela é, então, acelerada para fora, de forma a cruzar o próximo
gap. Por exemplo, se t/2 é o meio período da voltagem ac, então o
comprimento do n-ésimo eletrodo para partículas de velocidade vn deve ser
Ln=vnt/2. Para partículas não relativísticas de carga e, depois de atravessar
n gaps de diferença de voltagem V0, a energia cinética da partícula é
Tn=neV0=1/2mvn2 e então Ln=(neV0/2m)1/2t. Ou seja, o comprimento do
eletrodo deve, portanto, crescer com n1/2. Para partículas relativísticas, onde
v c, os comprimentos dos eletrodos são praticamente constantes.

Fig. 9 Esquema de um acelerador linear.

24
Capítulo 4

Técnicas desenvolvidas no Laboratório de Implantação Iônica

No laboratório de Implantação Iônica do Instituto de Física da


UFRGS, são desenvolvidas técnicas de modificação e análise de materiais.
As técnicas de modificação, implantação e irradiação iônica, são aplicadas
nos estudos básicos da interação íon-sólido, na dopagem de
semicondutores, na modificação de superfícies metálicas, na irradiação de
polímeros, etc.. As técnicas de análise utilizadas são RBS (Espectrometria
por retroespalhamento Rutherford), PIXE (Partícula Induzida por Emissão
de raios X), micro-PIXE, MEIS (Espalhamento de Íons de Média Energia),
ERDA (Análise por detecção de Recuo Elástico), Canalização e NRA
(Análise por Reação Nuclear). Tais técnicas têm como objetivo analisar
danos de irradiação, cristalinidade, processos de difusão, contaminação,
interfaces, localizar dopantes e analisar a composição de materiais e tecidos
biológicos.
A implantação iônica consiste na injeção de íons em sólidos,
modificando as suas propriedades elétricas, ópticas, químicas, mecânicas e
magnéticas. A implantação iônica consiste em uma técnica alternativa
única para produzir novos materiais, ligas e compostos meta estáveis, por
ser um processo fora do equilíbrio termodinâmico, pois estes materiais não
são obtidos por reações químicas ou tratamentos térmicos usuais. Hoje, a
mais importante aplicação da implantação iônica é na indústria da
microeletrônica como alternativa à tradicional difusão térmica de dopantes
no silício.
Chamamos de irradiação iônica quando o feixe de átomos atravessa
totalmente o filme ou a camada do material, produzindo efeitos através da
energia depositada no material.
Na análise de materiais, as técnicas citadas acima cobrem a detecção
de todos os elementos da tabela periódica, permitindo sua utilização em
muitas áreas da ciência dos materiais. As técnicas não são destrutivas e
trazem resultados quantitativos imediatos sem grande investimento em
preparação de amostras.
No Laboratório de Implantação Iônica, existem dois aceleradores
eletrostáticos: um acelerador de 500kV, do tipo Cockcroft –Walton (CW),
e outro de 3MV, o Tandetron.
No acelerador CW, são acelerados feixes de íons positivos para
aplicação das técnicas de: implantação iônica, reação nuclear (NRA-
nuclear reaction analysis), RBS (Rutherford Backscattering Spectrometry)
e MEIS (Medium Energy Ion Scattering).
O Tandetron tem como finalidade acelerar íons para as seguintes
técnicas: NRA, RBS, ERDA, Implantação, Micro-PIXE e PIXE (Particle-

25
Induced by X-ray Emission).
A espectrometria de retroespalhamento Rutherford (RBS) usa íons de
energia na região do MeV e é aplicada extensivamente na determinação
precisa da composição de materiais, na distribuição de impurezas e na
determinação da espessura de filmes. A medida do número e da energia dos
íons retro-espalhados pelos átomos na região próxima da superfície dos
materiais permite a identificação de suas massas atômicas e a determinação
da distribuição dos elementos do alvo, em função da profundidade da
amostra.
A técnica de análise MEIS é semelhante à RBS, e é utilizada na
análise de superfícies e alvos finos. A diferença se encontra no sistema de
detecção. No MEIS o sistema de detecção tem um poder de resolução de
0,3 keV, enquanto que na RBS a resolução é de 10 keV.
A presença de hidrogênio nos materiais (metais, ligas,
semicondutores, polímeros, etc.) não pode ser medida com RBS porque o
hidrogênio é o átomo mais leve. No entanto, a técnica de analise de átomos
por recuo elástico (ERDA – Elastic Recoil Detection Analysis) é utilizada
com vantagem para este fim. Usa-se um feixe incidente rasante de hélio ou
outro íon mais pesado, o qual colide com o átomo de H, que por ser mais
leve é arrancado da amostra e é medido no detector.
A técnica PIXE permite medir quantitativamente concentrações de
elementos numa amostra. A amostra em analise é irradiada por partículas
carregadas (prótons) de energias entre 1 e 3MeV que ejetam elétrons das
camadas mais internas dos átomos da amostra. Os raios X característicos
emitidos pela desexcitação dos átomos na amostra são analisados e sua
composição do alvo é determinada.

Capítulo 5

Levantamento Radiométrico no Laboratório de Implantação

Para realizar as medidas de taxa de exposição em pontos estratégicos


no Laboratório de Implantação, foi utilizado um detector do tipo Geiger-
Mueller. Este detector consiste numa câmara de ionização por pulso que é
um recipiente hermeticamente selado preenchido com um gás em que dois
eletrodos produzem um forte campo elétrico. Os eletrodos podem ser
planos, cilíndricos ou esféricos. As partículas cujas energias estão sendo
medidas ionizam o gás contido na câmara entre os eletrodos. As cargas
produzidas pela ionização são capturadas pelos eletrodos definindo um
potencial, e é este o valor que é medido.
O detector foi calibrado com uma fonte radioativa de 137Cs na faixa
de equivalente de dose para fótons de 0,02 à 8mSv/h ( taxa de exposição de
2 a 800mR/h).

26
As medidas de taxa de exposição no acelerador Tandetron foram
realizadas durante experimentos utilizando a técnica PIXE, onde a tensão
no terminal do acelerador era de 1MV, a corrente inicial e final eram de 20
e 5 µA respectivamente, e a energia final do feixe de prótons era de 2 MeV
produzindo um feixe de 2,5 x 2,5 mm2.
No acelerador CW, as medidas foram feitas sob as seguintes
condições: durante a técnica RBS os íons foram acelerados por uma tensão
de 300 kV onde um feixe de partículas alfa (He+) foi produzido com uma
corrente de 50 µA.
Na planta, estão esboçados os pontos onde foram realizadas as
medidas de taxa de exposição e os valores são apresentados na tabela 1.

Tabela 1.

Ponto Taxa de exposição (mR/h) Ponto Taxa de exposição (mR/h)


A 0,15 H 0,10
B 0,00 I 0,10
C 0,00 J 0,00
D 0,00 K 0,40
E 0,00 L 0,25
F 0,00 M 0,15
G 0,15 N 0,10

De acordo com os dados apresentados na tabela 1, é possível


observar que os pontos de maior exposição são os pontos identificados
pelas letras K e L, que podem ser visualizados no capítulo 7.

Capítulo 6

Conclusões

Neste trabalho foram apresentadas as principais formas de interação


de radiações por partículas carregadas, neutras e ondas eletromagnéticas,
com a matéria. Também foram apresentados os diversos tipos de
aceleradores de partículas.
Dentro do laboratório de implantação iônica do instituto de Física da
UFRGS, onde encontramos aceleradores eletrostáticos, foram realizadas
medições da taxa de exposição em pontos de maior probabilidade de haver
fuga das radiações emanadas pelos aceleradores. O objetivo destas
medições era avaliar se as blindagens dos aceleradores eram satisfatórias.

De acordo com as medidas realizadas e baseando-se nos limites


contidos na norma nacional, CNEN-NN 3.01 de janeiro de 2005, que limita
as doses anuais para indivíduos ocupacionalmente expostos em 20mSv/ano,
27
o que corresponde a 0,2 mR/h, conclui-se que não há necessidade de se
adicionar blindagens aos aceleradores nem otimizar a disposição das áreas
de trabalho, pois o posicionamento dos trabalhadores dentro do laboratório
já está otimizado em áreas onde não há taxa de exposição.
Os únicos pontos que apresentaram medidas acima do limite citado
(0,4 e 0,25mR/h) são um ponto na superfície do defletor de feixes e outro
no colimador 1, ambos de difícil acesso.

Capítulo 7

Esboço da Planta do Laboratório de Implantação – IF – UFRGS

28
Bibliografia

[1] G. F. Knoll, Radiation Detection and Measurement, second edition,


Michigan, 1989.

[2] K. S. Krane, Introductory Nuclear Physics, Oregon, 1988.

[3] R. D. Evans, The Atomic Nucleus, New York, 1982.

[4] I. Kaplan, Nuclear Physics, second edition, Cambridge, 1962.

29

Você também pode gostar