Analise Real
Analise Real
Analise Real
LICENCIATURA EM MATEMÁTICA
Ângelo Papa Neto
Zellaber Gondim Guimarães
Análise Real
FORTALEZA
2011
CDD – 515
Referências 150
Currículo 151
A partir do século XIX, houve uma crescente formalização destas noções, que pas-
saram a ser tratadas sob um novo padrão de rigor. Os personagens centrais destas
aulas serão os números reais e as funções reais de uma variável real que apresen-
tam alguma regularidade, seja do ponto de vista topológico (continuidade), seja
do ponto de vista geométrico (suavidade, ou seja, derivabilidade). Serão estudados
também os teoremas centrais do Cálculo, sob um ponto de vista mais geral e mais
profundo, dentro do espírito de crescente rigor que permeia o desenvolvimento dos
objetos matemáticos.
Bons estudos!
Objetivos:
• Reconhecer a necessidade do estudo dos números reais;
• Identificar as propriedades que caracterizam o conjunto dos números reais;
• Perceber a conexão entre números reais e pontos em uma reta.
IRRACIONAIS
OBJETIVOS
··Identificar as questões geométricas que
motivaram o estudo de números não racionais;
··Compreender os princípios básicos da teoria de
Eudoxo sobre as proporções.
8 Licenciatura em Matemática
+
b = e + e ,
n
Análise Real 9
A A combinação de frações
1
1 [0; n0 , n1 ,, ni ] =
1
n0 +
1
T n1 + +
1
1 ni-1 +
ni
é chamada fração contínua.
Para os pitagóricos, o algoritmo descrito acima sempre terminava em um número
finito de passos. Assim, dados dois segmentos de reta, existiria sempre uma medida
comum e todos os segmentos de reta seriam comensuráveis. Isto também significa
que, para os pitagóricos, uma fração contínua sempre seria finita. Hipaso, no entan-
to, conseguiu produzir uma fração contínua infinita, gerada a partir de dois segmen-
tos de reta incomensuráveis.
A insígnia da escola pitagórica era o pentagrama �������������������������������
, que é a figura obtida traçan-
do-se as diagonais de um pentágono regular.
VOCÊ SABIA?
10 Licenciatura em Matemática
d 1
j= =1 + = [1;1,1,1,]
a 1
1+
1+
Análise Real 11
3 5 8 13 F
1,2, , , , ,, n ,
2 3 5 8 Fn+1
12 Licenciatura em Matemática
A
1
T
1
Figura 4 – Quadrados semelhantes
Análise Real 13
14 Licenciatura em Matemática
a n n A
Sendo assim, < implica que ma < nb e < implica que nB < mA
b m m B
É notável que esta seja exatamente a ideia sobre a qual R. Dedekind, no século
XIX (logo, mais de 2200 anos depois de Eudoxo!), se baseou para definir número real
como um corte, ou seção.
Concluímos aqui nosso primeiro tópico, que tratou da origem histórica do estu-
do dos números irracionais. A descoberta dos números irracionais, compreendidos
pelos antigos gregos como magnitudes incomensuráveis, trouxe à tona a necessi-
dade de se trabalhar com um conjunto de números mais amplo do que o conjunto
Análise Real 15
16 Licenciatura em Matemática
OBJETIVOS
··Reconhecer as propriedades que definem o
conjunto dos números reais;
··Realizar intuitivamente a noção de completude
e perceber a necessidade de se considerar esta
noção.
N o Tópico 1 desta aula, vimos que os números racionais não são su-
ficientes para descrevermos todas as grandezas geométricas. Assim,
torna-se necessário o estudo de um conjunto numérico mais amplo,
mas que tenha ainda certas propriedades básicas.
Neste tópico, colocaremos de modo preciso que propriedades são essenciais para
a definição de número real. De um modo geral, os reais devem possuir uma estru-
tura algébrica (de corpo), uma estrutura combinatória (de conjunto totalmente or-
denado) e uma estrutura topológica (de conjunto completo), e estas três estruturas
devem ser compatíveis. Apresentaremos, então, a estrutura algébrica e a estrutura
combinatória dos reais, e assim veremos que os reais formam um corpo ordenado ar-
quimediano. Na Aula 2, estudaremos os aspectos topológicos do conjunto dos reais,
isto é, sua completude.
18 Licenciatura em Matemática
Análise Real 19
Podemos falar, então, no corpo dos números reais, que denotaremos provisori-
amente por R .Assim, por exemplo, a medida do segmento AC na Figura 7 1 + 2
, em que esta soma corresponde à soma do segmento AB , cuja medida é 1, com o
segmento BC , cuja medida é 2 . Da mesma forma, o perímetro de um triângulo
retângulo isósceles de cateto igual a 1 pode ser calculado operando-se normalmente
com as medidas dos catetos e da hipotenusa, que são números reais.
Figura 7 - Segmento AC
20 Licenciatura em Matemática
Análise Real 21
22 Licenciatura em Matemática
Análise Real 23
24 Licenciatura em Matemática
ATIVIDADES DE APROFUDAMENTO
1. Considere o plano cartesiano Q ´ Q , ou seja, o conjunto de pontos do plano que têm coordenadas
racionais. Sejam O a origem (0,0) e A o ponto de coordenadas (0,1) . Existe algum triângulo equilátero
em Q ´ Q , tendo OA como um dos lados? Por quê?
2. Seja ABC um triângulo isósceles retângulo em A e AD a altura relativa à hipotenusa, como
mostrado na figura abaixo.
Verifique que os triângulos ABC e ABD são semelhantes e que os segmentos AB e BD não
incomensuráveis. Discuta como este exemplo justifica a necessidade de se assumir a existência de
números não racionais para se trabalhar com semelhança de triângulos.
3. Determine a expansão dos seguintes números racionais como frações contínuas:
17
(a)
7
13
(b)
31
55
(c)
34
158
(d)
49
4. Demonstração de Euclides da irracionalidade de 2.
a
(a) Para obter uma contradição, suponha que 2 seja racional, isto é, 2=
. Verifique que
b
é possível supor que a e b sejam primos entre si, isto é, o máximo divisor comum de a e b é 1.
a
(b) Mostre que a igualdade 2 = implica a 2 = 2b2 .
b
(c) Mostre que a 2 = 2b2 implica que a é par.
(d) Mostre que a par implica b par.
(e) Conclua que o mdc de a e b é maior ou igual a 2 , o que é uma contradição (por quê?).
Análise Real 25
A (a) Verifique que o procedimento acima pode ser repetido indefinidamente e conclua que 2 admite
uma representação como fração contínua infinita [1;2,2,2] .
1
(b) Use o item (a) acima para mostrar que 2 é irracional. (Sugestão: repita o argumento usado no texto
T para demonstrar que a razão áurea j é irracional).
2 (c) Encontre a expansão de 5 como fração contínua infinita. (Sugestão: comece escrevendo
5 = 2 + 5 - 2 e repita o procedimento usado para 2 ).
Teorema de Tales.
O Teorema de Tales afirma que, se duas retas transversais cortam um feixe de retas paralelas, as magnitudes
dos segmentos delimitados pelas transversais são proporcionais. Com a notação da figura anterior, temos:
AB A¢B ¢
= .
BC B ¢C ¢
A proposta deste exercício é apresentar uma demonstração do Teorema de Tales que englobe os casos
em que os segmentos são incomensuráveis.
(a) Suponha, primeiramente, que AB e BC são comensuráveis. Seja e a medida comum destes
dois segmentos, ou seja, AB = m × e e BC = n × e , onde m e n são números naturais. Trace
m + n retas paralelas a AA¢ , dividindo o segmento AC em m + n segmentos congruentes
de medida e . Mostre que estas retas paralelas dividem o segmento A¢B ¢ em m partes e o
segmento B ¢C ¢ em n partes, todas com medida e . Conclua que o teorema é válido neste caso.
(b)Procure adaptar o argumento acima para o caso em que os segmentos AB e BC são
incomensuráveis.
26 Licenciatura em Matemática
No tópico 1 desta aula, veremos que esta ferramenta é o valor absoluto. No tópico
2 desta aula, veremos que um corpo ordenado arquimediano tem seus elementos
correspondendo bijetivamente aos pontos de uma reta se, e somente se, satisfaz a
propriedade “dos intervalos encaixantes”. Finalmente, no tópico 3, estabeleceremos
a noção de conjunto enumerável e veremos que os reais formam um conjunto não-
-enumerável.
Objetivos:
• Utilizar a noção de valor absoluto como ferramenta para determinar distâncias sobre a reta;
• Compreender os rudimentos da topologia na reta: abertos, fechados, pontos de acumulação e
fechos;
• Assimilar a necessidade da introdução da noção de completude, para garantir a correspondência
bijetiva entre números reais e pontos sobre a reta orientada;
• Compreender a noção de enumerabilidade e justificar a não-enumerabilidade do conjunto dos
números reais.
27
VALOR ABSOLUTO
OBJETIVOS
··Identificar a noção de valor absoluto e suas
propriedades mais relevantes ;
··Perceber a possibilidade de existirem vários
valores absolutos definidos em um corpo
ordenado;
··Desenvolver a noção de espaço métrico a partir
da noção de valor absoluto sobre os reais.
N a aula 1, vimos que o conjunto dos números reais possui uma estrutura al-
gébrica (de corpo) e uma estrutura combinatória (de conjunto totalmente
ordenado e arquimediano). O valor absoluto de um número é a maneira
pela qual se pode calcular distâncias entre números reais. Uma vez definido o valor
absoluto sobre um corpo ordenado, podemos introduzir uma estrutura adicional neste
corpo: a de espaço métrico. Neste tópico, estudaremos as principais propriedades do
valor absoluto e algumas das propriedades dos reais como espaço métrico.
Consideremos um corpo ordenado arquimediano K , por exemplo, o corpo
dos números racionais. Usamos a notação K + para indicar o conjunto dos elementos
não-negativos de K , ou seja,
K + ={a Î K |a ³ 0}.
Dado um elemento a Î K , um valor absoluto, ou módulo de a , é uma função
28 Licenciatura em Matemática
Análise Real 29
30 Licenciatura em Matemática
A
Figura 1 – 2
Dessa forma, o valor absoluto |a - b| mede a distân-
T
cia entre a e b . Se assumirmos que os números reais estão
ATENÇÃO! 1
em correspondência com os pontos de uma reta, o número
|a - b| mede o comprimento do segmento cujas extremi- Nosso principal objetivo é obter
dades são os pontos da reta correspondentes a a e b . um corpo ordenado arquimediano
contendo o corpo dos racionais,
Vamos denotar por o corpo dos números reais. Dado cujos elementos estejam em
um elemento a Î , existe um único ponto da reta orien- correspondência com os pontos de
tada que corresponde a a . Por não haver risco de confu- uma reta. Este é exatamente o corpo
dos números reais. A partir deste
são, podemos denotar este ponto também por a . Seja
ponto, assumiremos que existe um
d > 0 um número real positivo, o conjunto dos pontos da corpo ordenado arquimediano cujos
reta que estão a uma distância menor do que d do ponto pontos estão em correspondência
bijetiva com os pontos de uma
a é representado pelo intervalo mostrado na Figura 2.
reta. No Tópico 2, exibiremos uma
condição suficiente para que exista
esta correspondência.
Figura 2
Podemos escrever o conjunto {x Î |a - d < x < a + d} como um intervalo aber-
to (a - d , a + d ) , chamado intervalo aberto centrado em a . Outro modo de des-
crever este intervalo é
(a - d , a + d ) ={x Î ||x - a |< d}
ou seja, (a - d , a + d ) é o conjunto dos números reais que estão a uma distância
menor do que d do número a .
O valor absolu- to usual que definimos sobre o conjunto dos nú-
Análise Real 31
Exemplos:
1. Todo intervalo aberto é um subconjunto aberto de . De fato, se I = (a, b ) é
1
um intervalo aberto e a Î (a, b ) , então a < a < b . Se d = min {a - a, b - a}
, então a < a - d e a + d < b . Logo, (a - d , a + d ) Ì I , o 2que mostra que I é
um conjunto aberto.
2. Os intervalos (-¥, a ) e (a, +¥) são abertos. A verificação deste fato é simi-
lar à do exemplo anterior.
3. O conjunto - dos números reais não inteiros é aberto em . De fato,
- = nÎ(n, n + 1) é um união de intervalos abertos, logo, pelo exemplo 1
e pela condição (iii) acima, - é um aberto.
Um subconjunto F Í é dito fechado se seu complementar - F for um con-
junto aberto.
32 Licenciatura em Matemática
Análise Real 33
34 Licenciatura em Matemática
COMPLETUDE DE UM CORPO K
OBJETIVOS
··Compreender a noção de supremo e ínfimo de um
conjunto limitado e assimilar suas propriedades
básicas;
··Perceber que a completude de um corpo
ordenado é condição suficiente para que os
elementos de estejam em correspondência
bijetiva com os pontos de uma reta.
N este segundo tópico, veremos uma condição suficiente para que um cor-
po ordenado arquimediano K admita uma correspondência f : K ® t
bijetiva entre seus elementos e os pontos de uma reta t . Esta condição,
que chamamos completude, pode ser enunciada de diversas maneiras, dentre as
quais escolhemos, para o nosso texto, aquela que envolve a noção de supremo, que
será apresentada neste tópico. O principal resultado deste tópico é o Teorema 3, que
responde as perguntas levantadas na aula 1 e estabelece a representação geométrica
do corpo ordenado dos números reais.
Continuamos assumindo que existe um corpo ordenado e arquimediano, cujos
elementos estão em correspondência bijetiva com os pontos de uma reta orientada.
Este corpo contém o corpo dos números racionais e, pelo Teorema 1 da Aula 1,
é denso em . Isto significa que, para cada número real a e cada d > 0 , existe
um número racional r tal que |a - r |< d , ou seja,
r Î (a - d , a + d ) Ç
36 Licenciatura em Matemática
Exemplos:
1. O intervalo (0,1] é limitado superiormente e inferiormente. Os números
0,-1,-2 são cotas inferiores de (0,1]. Os números 1,2,3 são cotas superiores A
de (0,1]. 2
2. O conjunto dos números naturais não admite cota superior, mas qualquer
número negativo é cota inferior de .
T
2
3. O conjunto dos inteiros não admite cota superior nem cota inferior.
4. O intervalo (-¥,0] não admite cota inferior, mas 1 é uma cota superior de
(-¥,0] .
5. O conjunto de números racionais S ={r Î |r 2 < 2} é limitado superiormen-
te e 2 é uma cota superior de S .
Consideremos um conjunto S Ì limitado superiormente. O supremo S é a me-
nor entre todas as cotas superiores de S . O supremo de S é denotado por supS .
Como já foi observado no início deste tópico, o conjunto dos números reais, cuja
existência está sendo assumida a priori, tem em nossa discussão um caráter geomé-
trico, pelo menos provisoriamente. Mais precisamente, estamos assumindo a exis-
tência do corpo ordenado arquimediano cujos elementos estão em correspondên-
cia com os pontos de uma reta. É natural, portanto, que interpretemos a noção de
supremo geometricamente.
Figura 3 -
Na Figura 3, cada um dos pontos marcados à direita do conjunto S é uma cota
superior de S . O supremo é o ponto da reta assinalado por uma seta. Assim, o su-
premo de S é o ponto da reta mais à esquerda que ainda está à direita de S .
Devemos observar que o supremo de um conjunto não necessariamente coincide com
Análise Real 37
Figura 4 -
Reciprocamente, seja s um número real que satisfaz as condições 1 e 2. A
condição 1 implica imediatamente que s é uma cota superior de S . Se s ¢ < s , então
s ¢ = s - d , com d = s - s ¢ > 0 . A condição 2 implica, então, que existe x Î S tal que
s ¢ = s - d < x . Logo, s ¢ não pode ser cota superior de S . Mostramos assim que s é
38 Licenciatura em Matemática
Figura 5 -
Devemos, no entanto, admitir que o argumento acima, embora tenha um forte
apelo à intuição geométrica, carece de precisão e rigor.
Voltando ao exemplo 5, vamos mostrar que o conjunto S não possui supremo em
. Seja a = sup S , temos três possibilidades para a :
1. a 2 < 2 .
2. 2 < a 2 .
3. a 2 = 2 .
Se ocorre (i), consideremos o seguinte número racional
4a
b= > 0.
2 + a2
Podemos escrever 2
16a
b2 = < 2,
(2 - a 2 )2 + 8a 2
e esta última desigualdade é válida, pois, caso contrário, b2 ³ 2 implicaria
16a 2
³ 2 Þ 16a 2 ³ 2(2 - a 2 )2 + 16a 2 Þ 2(2 - a 2 )2 £ 0
(2 - a ) + 8a
2 2 2
um absurdo, pois a 2 < 2 implica 2(2 - a 2 )2 > 0 . Como b2 < 2 então b Î S . Por
outro lado, de a 2 < 2 temos
a2 a2 a2 1 1
a <2Û
2
<1 Û a 2 - <1 Û a 2 <1 + Û a 2 < (2 + a 2 ) < (2 + 2) = 2.
2 1 2 42 2 2
Segue daí que < , logo 1< o que é equivalente a
2 2+a 2
2+a 2
Análise Real 39
40 Licenciatura em Matemática
Demonstração: Vamos, primeiro, mostrar que f está bem definida, o que sig-
nifica que, para cada a Î R , existe um único ponto A da reta t tal que f(a ) = A .
De fato, se a Î , a construção que fizemos acima garante que f(a ) é único. Em
geral, se a é um elemento de R , não necessariamente racional, suponhamos que
f(a ) = A e f(a ) = B . Vamos mostrar que A = B . De fato, se A ¹ B , então um dos
dois pontos está à esquerda do outro. Para fixar ideias, podemos supor que B está à
esquerda de A . Como f(a ) = A , a condição (ii) e o fato de B estar à esquerda de A
implicam que existe r0 Î Ea tal que f(r0 ) está entre B e A , em particular, f(r0 )
está à direita de B . Por outro lado, como f(a ) = B , (i) implica que f(r ) está à es-
querda de B , para todo r Î Ea . Isto gera uma contradição, pois f(r ) estaria ao mes-
Análise Real 41
42 Licenciatura em Matemática
Análise Real 43
ENUMERABILIDADE
OBJETIVOS
··Compreender a noção de equivalência de
conjuntos;
··Saber justificar a enumerabilidade do conjunto
dos racionais e a não-enumerabilidade do
conjunto dos números reais.
Dados dois conjuntos finitos A e B , podemos decidir qual dos dois tem mais
elementos simplesmente contando o número de elementos de cada um. O matemáti-
co alemão, nascido na Rússia, Georg Ferdinand Ludwig Philipp Cantor (1845-1918)
estendeu esta possibilidade de comparação a conjuntos infinitos. Mais precisamen-
te, Cantor estabeleceu a noção de equivalência entre conjuntos (finitos ou infinitos),
que exploraremos, de maneira introdutória neste tópico.
Nosso principal objetivo é estabelecer que o conjunto dos números reais não é
equivalente ao conjunto dos números racionais: o primeiro possui “mais elementos”
do que o segundo, em um sentido que tornaremos preciso ao longo do tópico.
Dois conjuntos A e B são ditos equivalentes, de mesma cardinalidade, ou ain-
da equipotentes, se existe uma função bijetiva f : A ® B . A notação A ~ B indica
que A é equivalente a B . Notemos, primeiramente, que a equivalência entre con-
juntos, definida acima, tem as seguintes propriedades:
44 Licenciatura em Matemática
Demonstração: (1) AB se, e somente se, existe uma funçao bijetiva f : A ® B .
Como A é finito, existe um número natural n e uma função bijetiva g :{1,, n} ® A
. A função
f g :{1,, n} ® B
sendo a composta de duas funções bijetiva também uma função bijetiva. Logo
|B |= n =|A|.
Reciprocamente, se |A|=|B |= n , então existem funções bijetivas f :{1,, n} ® A
e g :{1,, n} ® B . Assim, a função g f -1 : A ® B é uma bijeção, o que mostra que
A B .
(2) Suponha, primeiro, que A B . Neste caso, existe uma função injetiva
f : A ® B . Supondo que |A|= m e |B |= n , existem bijeções g :{1,, m} ® A e
Análise Real 45
An = {ab Î
a +
/ éirredutívele a + b = n + 1 .
b }
1 1 2 1 3 2 2
Por exemplo: A1 ={ } , A2 ={ , } , A3 ={ , } . Observe que Î / A3 pois
1 2 1 3 1 1 22 3 4 5 6 2
não é uma fração irredutível. Mais dois exemplos: A6 ={ , , , , , } ,
1 3 5 7 6 5 4 3 2 1
A7 ={ , , , } .
7 5 3 1
46 Licenciatura em Matemática
1 2 1
geral, An ={ f (k ), f (k + 1),, f (m)} , onde k =|A1 |++|An-1 |+1 e m = k+|An | T
, para cada n ³ 2 . Como todos os elementos de cada An são distintos e dois conjun-
3
tos Ai e Aj , com i ¹ j , são distintos, temos que a função f é injetiva. Além disso,
como a união dos conjuntos An , n ³ 1 é igual ao conjunto + , a função f é sobre-
jetiva. Mostramos, assim, que a função f : ® + , dada acima, é bijetiva. Logo
é enumerável.
Seja, agora, - o conjunto dos números racionais negativos. A função
g : ® , dada por g (r ) = -r , é uma bijeção, logo e - são equipotentes
+ - +
2x - 1
Lema A função f : (0,1) ® , dada por f (x ) = , é bijetiva. Conse-
x(1 - x )
quentemente, os conjuntos (0,1) e são equipotentes.
2x - 1 x 2 + (x - 1)2
Demonstração: A derivada da função f (x ) = é f ¢( x ) = 2 . Lo-
x(1 - x ) x (x - 1)2
go, f ¢(x ) > 0 , para todo x Î (0,1) , o que mostra que a função f (x ) é monótona cres-
cente, portanto injetiva, no intervalo (0,1) .
Análise Real 47
48 Licenciatura em Matemática
Análise Real 49
Nesta aula, iniciaremos o estudo de funções de variáveis reais com imagem no con-
junto dos reais. De início, tomaremos como domínio o conjunto dos naturais, em-
bora, nesse caso, o domínio seja um conjunto simples e com menos elementos que
a imagem. No entanto, já poderemos ver resultados bem interessantes e exemplos
de funções as quais você, aluno, teve oportunidade de estudar no ensino médio.
Bons estudos!
Objetivos:
• Definir sequências e séries numéricas;
• Identificar as propriedades das sequências e séries;
• Reconhecer os principais teoremas sobre sequências e séries;
• Estabelecer relação entre teoria e prática.
51
DEFINIÇÃO DE SEQUÊNCIA
OBJETIVOS
··Estudar o comportamento de uma sequência;
··Entender o n-ésimo termo de uma sequência;
··Reconhecer os principais teoremas e aplicações.
52 Licenciatura em Matemática
Análise Real 53
1
Figura 2: Gráfico da função x(n=
) x=
n
n
54 Licenciatura em Matemática
1 1 1 1
Exemplo 5: xn= (1 + ) n e yn = 1 + + +…+ .
n 2! 3! n! A
O principal fato a ser analisado sobre uma sequência é verificar se ela tende ou não
para um número real fixo. No primeiro caso, dizemos que a sequência é convergente;
3
no segundo, dizemos que é divergente. Podemos, então, enunciar a seguinte definição. T
1
Definição 2: Dizemos que uma sequência x = ( xn ) n≥1 converge para um nú-
mero real a , ou tem limite o número real a , se dado ε > 0 pode-se encontrar
n0 ∈ tal que para todo n ≥ n0 implica que∣xn − a∣< ε . Em termos simbóli-
cos tem-se
∀ε > 0, ∃n0 ∈ : ∀n ≥ n0 ⇒∣xn − a∣< ε
Denotaremos a definição acima simbolicamente da seguinte forma:
lim n→∞ xn = a ou xn → a
Quando uma sequência não for convergente, dizemos que é divergente e re-
presentamos por: lim n→∞ xn = ∞ .
Vamos agora aplicar a definição dada acima para mostrar que a sequência do
Exemplo 2 tende a zero, isto é, xn → 0 . De
fato, dado ò > 0 arbitrário, escolha n0 ∈
tal que n0 > 1/ ò (um tal n0 pode ser escolhido
de acordo com o Princípio de Arquimedes). Se
n ≥ n0 então ATENÇÃO!
1 1
xn − 0 = xn = ≤ < Podemos afirmar, com base na definição dada
n n0 anteriormente, que o número real a ∈ é o
Um dos fatos que necessitamos mostrar é limite da sequência x = ( xn ) n ≥1 se, somente se,
se uma sequência tem apenas um único limite. para cada ε >0 o conjunto
Esse resultado garante que, não importa de
que maneira tentemos calcular o limite de uma x (a − , a + ) = {n ∈ : xn ∈ (a − , a + )}
−1
Análise Real 55
a−b
Demonstração: Seja dado = > 0 , então existe n0 ∈ tal que para todo
2
n1 ≥ n0 implica que . E para todo n2 ≥ n0 também implica que xn − b < / 2 . Agora
considere n = mín{n1 , n2 } , então para todo n ≥ n0 implica que
A a−b
3 a − b = a − xn + xn − b ≤ xn − a + xn − b < =
2
T ∣a − b∣
o que dá um absurdo, pois teríamos∣a − b∣< .
1 2
Dizemos que uma sequência ( xn ) n≥1 é injetiva se n ≠ m implica que xn ≠ xm , ou ainda
que xn = xm ⇒ n = m . Neste caso, diremos que a sequência tem termos dois a dois
distintos.
56 Licenciatura em Matemática
Dado a ∈ , temos que a é o limite de uma subsequência ( xnk ) k∈ de ( xn ) n≥1 se,
somente se, para todo > 0 , o conjunto dos índices n tais que xn ∈ (a − , a + ) é A
infinito. E podemos dar a definição.
3
Definição 5: Dada uma sequência ( xn ) n≥1 , chamamos de valor aderente da se- T
quência ( xn ) n≥1 ao número real a ∈ que é o limite de uma subsequência 1
( xnk ) k∈ ⊂ ( xn ) .
Conforme o exemplo anterior, uma sequência pode ser limitada e não ser
convergente. Veremos, entretanto, que há tipos de sequências cuja limitação garante
que é convergente. Por enquanto, segue o seguinte teorema.
ε
∣xn y=
n∣∣xn∣∣yn∣≤ c. <ε
∣∣c
Ou seja, dado > 0 , mostramos que existe n0 ∈ tal que para todo n ≥ n0 implica
xn yn < . Isso quer dizer que lim n→∞ xn yn = 0 como queríamos provar.
Demonstração: Com efeito, dado > 0 qualquer existe n0 ∈ tal que para todo
n ≥ n0 implica que xn − a < ⇔ xn ∈ (a − , a + ) . Isso nos diz que, a partir do
índice n0 + 1 , a sequência é limitada inferiormente por a - e superiormente por
a + . Então, tomando M = min {x1 , x2 ,…, xn0 , a − , a + }
e , segue que
}
M = max {x1 , x2 ,…, xn0 , a − , a + m ≤ xn ≤ M , ∀n ≥ n0 .
Análise Real 57
OBJETIVOS
··Entender as operações com sequências;
··Compreender a definição de subsequência;
··Conhecer as propriedades de sequência.
58 Licenciatura em Matemática
≤ M. xn − a + a . yn − b ≤ M. +a. ≤
2.M 2. a
ε
uma vez que podemos tomar xn − a ≤ e∣yn − b∣≤ , pois as sequên-
2.M 2.∣∣a
cias xn → a e yn → b .
d) Deixaremos como exercício para o aluno.
Vamos definir algumas sequências que serão importantes no decorrer do curso e
nos possibilitarão ver outros resultados.
Definição 6:
Diz-se que uma sequência ( xn ) n≥1 é crescente quando xn < xn +1 , ∀n ∈ ,
ou seja, x1 < x2 < x3 < < xn < . Se xn ≤ xn +1 , ∀∈ , a sequência é dita
não-decrescente.
Uma sequência ( xn ) n≥1 é decrescente quando xn > xn +1 , ∀n ∈ , isto é,
x1 > x2 > xn > . Agora, se xn ≥ xn +1 , ∀n ∈ , dizemos que a sequên-
cia é não-crescente.
Caro aluno, denominaremos os casos i) e ii) definidos acima como sequências mo-
nótonas. Assim, podemos enunciar o seguinte teorema.
Análise Real 59
3
1
T Exemplo 7: No exemplo 5, consideramos uma importante sequência xn= (1 + ) n
n
2 que define o número irracional e base dos logaritmos naturais. A primeira vez que
se teve notícia do surgimento desse número foi em um problema de juros compostos
contínuos (séc. XVII). Assim, temos que
1
=
e lim n→∞ (1 + ) n
n
Vamos mostrar que a sequência ( xn ) n≥1 dada acima é limitada e crescente e, por-
∑
n +1
1 1 2 k −1
xn +1 1+
= k =1
. 1 − 1 − 1 −
k ! n + 1 n + 1 n + 1
Se desprezarmos o último termo na expressão acima, estaremos somando até o
termo k = n , como em (2). Observe que cada termo que aparece acima entre parên-
teses é maior que os termos em (2), donde concluímos que xn +1 > xn , ou seja, a se-
quência é crescente. Para provarmos que ela é limitada, basta observarmos que cada
parêntese que surge em (2) é menor do que 1, de maneira que, para n > 1 , segue que
∑
n
1 1 1 1 1 1
xn < k =1
=2 + + + < 2 + + 2 + + n −1 < 3
k! 2! n! 2 2 2
1
Ora, sendo crescente e limitada, a sequência xn= (1 + ) n tem limite pelo Teorema 5 anterior.
n
O resultado que enunciamos a seguir é bastante importante, mas não será dada a
demonstração. Convidamos você, aluno, a vê-la nas referências que são dadas.
60 Licenciatura em Matemática
O aluno pode perceber que essa afirmação é mais forte que a dada no Teorema 5.
Foi tentando prová-la que o matemático K. Weierstrass (1815 – 1897) viu a necessi-
dade de fundamentar o conceito de números reais.
A
3
Definição 7: Uma sequência ( xn ) n≥1 é chamada de sequência de Cauchy quan-
T
do, para todo > 0 dado, existir n0 ∈ tal que xm − xn < para quaisquer
2
que sejam m, n > n0 . .
Análise Real 61
segue que
n > n0 , ou seja, xm − xn < para quaisquer que sejam m, n > n0 . E portanto, a se-
quência ( xn ) n≥1 é de Cauchy e concluímos que é convergente.
62 Licenciatura em Matemática
N este tópico, trataremos de sequências que não são convergentes, mas têm
certa regularidade, ou seja, os seus limites tornam-se ou mantêm-se arbi-
trariamente grandes positivamente.
Como foi mencionado no tópico 1, nem toda sequência ( xn ) é convergente. Dessa for-
ma, há sequências que divergem e mantêm certa regularidade, pois seus termos permane-
cem arbitrariamente grandes positivamente ou arbitrariamente grandes negativamente.
Quando uma sequência de números reais ( xn ) torna-se arbitrariamente grande posi-
tivamente ou tende para mais infinito, a denotaremos por limxn = +∞ . Assim, dado
M > 0 arbitrariamente grande, temos um n0 ∈ tal que n > n0 que implica xn > M
. Há apenas um número finito de termos ( xn ) tal que xn < M . Na realidade, n0 termos.
64 Licenciatura em Matemática
a = 1 + r , com r > 0 , dado M > 0 , pela desigualdade podemos obter coisas indeterminadas,
como ∞ − ∞ , ou seja, se limxn = +∞
de Bernoulli, temos que a n = (1 + r ) n > 1 + nr > M .
M −1 e limyn = −∞ . Nada podemos afirmar A
Basta tomar n > . Assim, se tomarmos sobre lim( xn + yn ) , pois pode ser que 3
M −1 r
n0 > e n > n0 , teremos o que queríamos, ou se- a sequência ( xn + yn ) seja convergente,
r ou tenda para +∞ , ou tenda −∞ , ou T
ja, a n > M . De acordo com o que vimos anteriormen-
finalmente não tenha limite algum. 3
te, segue que lima n = +∞ .
Análise Real 65
lim( xn + yn ) =
a.
A
3 Exemplo 10: Se x=
n n + 1 e yn = − n , então limxn = +∞ e limyn = −∞ . Porém,
( n +1 + n ) 1
T lim( xn +=
yn ) lim( n + 1 −=
n ) lim( n + 1 − n ). = lim = 0
( n +1 + n ) n +1 + n
3
Exemplo 11: Sejam xn = n 2 e yn = − n , então limxn = +∞ e limyn = −∞ ; no
entanto lim( xn + yn ) = lim(n 2 − n) = +∞ , pois n 2 − n= n(n − 1) > n , para n ≥ 2
. Portanto, lim( xn + yn ) = −∞ .
66 Licenciatura em Matemática
SÉRIES NUMÉRICAS
OBJETIVOS
··Entender as somas infinitas de termos;
··Fazer operações com somas infinitas;
··Analisar a convergência ou não das séries
numéricas.
68 Licenciatura em Matemática
Exemplo 15: Agora, daremos um exemplo de uma série que não é convergente.
∞
Considere a série ∑(−1)
n =1
n +1
= 1 − 1 + 1 − 1 + . Se considerarmos a soma parcial sn ,
temos que essa soma é zero se n = par , ou seja, s2n = 0 e é igual a 1, quando
n = ímpar , isto é, s2n +1 = 1 . Portanto, ela é divergente, pois as subsequências pares
e ímpares da soma parcial convergem para valores distintos. Uma sequência é con-
vergente se toda subsequência converge para o mesmo valor.
Análise Real 69
∞
nn nn n n n
Exemplo 17: Seja a série ∑ , como o termo geral xn = = . … >1
n =1 n ! n! 1 2 n
para todo n > 1 , segue do corolário 1 do teorema 8 que a série é divergente.
1
Exemplo 18: Vamos usar o teorema anterior para mostrar que a série ∑n é r
1 1
divergente para r < 1 , pois como 1/ n r > 1/ n para todo n ∈ , então ∑ > ∑ r
n n
. Como a série harmônica é divergente, segue que a série dada também diverge.
70 Licenciatura em Matemática
Análise Real 71
A
3 Demonstração: (a) Basta tomar n∣xn∣≤ k e isso existe porque a sequência con-
verge, com r < k < 1 . Disso segue que∣xn∣≤ k n para todo n ≥ n0 e, portanto, a série
T ∑
é limitada superiormente por uma série convergente k n
2 ∑
. Então ∣xn∣é convergente e, portanto, absolutamente
convergente. Os outros casos deixamos para você verificar
usando o teste de comparação.
Esperamos que você tenha achado interessantes os re-
SAIBA MAIS!
sultados de sequências e séries que tratamos nesta aula.
Mais informações sobre sequências e Recomendamos que procurem um livro de análise real pa-
séries acesse os links ra que possam se aprofundar mais no assunto e ver re-
sultados que, por falta de espaço neste material, não de-
www.ime.uerj.br/~calculo/LivroV/series.pdf
ram para ser tratados aqui. Na próxima aula, veremos uma
w w w. u f j f. b r / s a n d r o _ m a z o r c h e / pouco de noções topológicas na reta real.
files/2010/08/Séries.pdf
72 Licenciatura em Matemática
Olá, aluno(a),
Esta aula é uma preparação para a próxima aula, que tratará de limite de uma fun-
ção real. Embora o conceito de limite já tenha sido estudado por você, aluno, na
disciplina de Cálculo I, aqui você verá uma formulação mais rigorosa e cuidadosa de
algumas questões que não tinham sido formuladas, tais como os conjuntos em que
podemos tomar limites. Sabemos que, quando tomamos limites, os pontos tendem
para certo ponto. É sempre possível fazer isso, em qualquer conjunto? Essas e outras
são questões importantes, sinalizadas em Cálculo 1, serão agora vistas, pois naquela
disciplina não tínhamos como abordá-las.
O caráter desta aula é preparatório; não se trata, portanto, de uma abordagem com-
pleta e abrangente sobre a topologia da reta. No final desta aula, daremos algumas
referências para que você aprofunde seus conhecimentos.
Vamos lá?!
Objetivos:
• Compreender termos como conjuntos abertos, fechados, interior de um conjunto;
• Definir os principais conjuntos necessários à noção de limite;
• Reconhecer esses conjuntos e saber usá-los.
73
74 Licenciatura em Matemática
ponto a .
Análise Real 75
É importante que você, aluno, lembre que a noção de limite de uma sequência
A lim n®¥ xn = a pode ser reformulada usando a definição de aberto. De fato, se fizermos
4 A = (a − , a + ) para ò > 0 dado, então existe n0 Î tal que, para todo n > n0 , im-
plica que xn Î A . Agora, vejamos alguns exemplos de conjuntos abertos da reta real.
T
1
Exemplo 3: A reta real é obviamente um conjunto aberto, pois contém todo
intervalo (a, b) . O conjunto vazio Æ também é aberto, pois, para não ser aberto, te-
ríamos que obter um ponto x em Æ que não seja interior, isto é, para todo ò > 0 , o
intervalo (a − , a + ) ⊄ ∅ , mas isso não é possível, porque um tal x não existe em
um conjunto vazio. Ou seja, não se pode mostrar que o conjunto vazio não possui
ponto que não seja interior. Desse modo, só podemos concluir que o vazio é aberto.
76 Licenciatura em Matemática
Demonstração: Com efeito, seja x Î A = ÈAa qualquer, então x Î Aa0 para al-
aÎL
gum a0 Î L . Ora, como Aa0 é aberto, segue que existe > 0 tal que e, portanto, A
(x − , x + ) ⊂ Aa0 ⊂ A é aberto, como queríamos provar. █ A
4
Observação 3: Um espaço topológico G é uma coleção de subconjuntos abertos
da reta que satisfaz às seguintes condições: T
Æ e são abertos;
1
A intersecção de finitos abertos é também um conjunto aberto;
A união de uma família arbitrária de abertos é também um conjunto aberto.
Análise Real 77
OBJETIVOS
··Compreender a noção de fechados na reta real;
··Relacionar os conjuntos fechados com os
conjuntos abertos;
··Perceber a diferença entre conjuntos fechados e
abertos.
78 Licenciatura em Matemática
Análise Real 79
A1 ÇA2 ǼÇAn = [ Ç ( - F )] i
C
= -( ÈF) i
é fechado como o complemento de um aberto.
1£i£n 1£i£n
80 Licenciatura em Matemática
Análise Real 81
82 Licenciatura em Matemática
Análise Real 83
84 Licenciatura em Matemática
Olá, aluno(a),
Bons estudos!
Objetivos:
• Compreender a noção de limite de função;
• Identificar a noção de limite de sequências como caso particular da noção de limite de funções;
• Saber aplicar as propriedades de limites;
• Compreender as noções de limite lateral, limite infinito e limite no infinito.
85
OBJETIVOS
··Compreender a definição de limite.
··Obter, a partir da definição de limite, suas
propriedades.
86 Licenciatura em Matemática
Exemplos:
1. Seja f : (0,1) ® , dada por f (x ) = 2x + 1 . O número real 1 é um ponto de acu-
mulação de (0,1) . Assim, faz sentido calcularmos o limite lim(2x + 1) embora 1
x ®1
não seja um elemento de (0,1) . Em geral, para que o limite lim x®1f (x ) , com
f : X ® , faça sentido é suficiente que a seja um ponto de acumulação de X ,
mas a não precisa ser um elemento de X .
Para demonstrarmos que lim x®1(2x + 1) = 3 , procedemos da seguinte maneira:
e
dado e > 0 , existe d = > 0 tal que
2
Análise Real 87
88 Licenciatura em Matemática
Demonstração: Dado e > 0 , existem d1 > 0 e d2 > 0 tais que |x - a |< d1 implica
| f (x ) - L1 |< e / 2 e |x - a |< d2 implica | f (x ) - L2 |< e / 2 . Se d = min{d1 , d2 } , então
existe x Î X tal que |x - a |< d , pois a Î X ¢ . Para x Î X tal que |x - a |< d , temos
|x - a |< d1 e |x - a |< d2 . Logo, | f (x ) - L1 |< e / 2 e | f (x ) - L2 |< e / 2 . A
e e
5
Assim, |L1 - L2 |=|L1 - f (x ) + f (x ) - L2 |£| f (x ) - L1 |+| f ( x ) - L2 |< + = e ,
onde a primeira desigualdade é a desigualdade triangular.
2 2 T
Mostramos, dessa maneira, que |L1 - L2 |< e para todo e > 0 . Como L1 - L2 é um número
1
real fixado, a única possibilidade é que L1 - L2 = 0 , logo L1 = L2 , como queríamos demonstrar.
Análise Real 89
lim ( f (x ) × g (x )) = 0
x®a
90 Licenciatura em Matemática
Demonstração: Seja e = L / 2 > 0 . Pela definição de limite, existe d > 0 tal que, se
L 3L L
x Î (a - d , a + d ) então f (x ) Î (L - e, L + e) = ( , ) . Logo 0 < < f (x ) , o que im-
2 2 2
plica que f (x ) > 0 , para x Î (a - d , a + d ) .
f (x ) lim x®a f (x )
lim x®a = , desde que lim x®a g (x ) ¹ 0 .
4. g (x ) lim x®a g (x )
Análise Real 91
e e e e
< m× +|L1 |× = + =e
2m 2|L1 | 2 2
92 Licenciatura em Matemática
Com este resultado, chegamos ao final do nosso primeiro tópico desta aula 5. Exi-
bimos a definição formal de limite e usamos esta definição para demonstrarmos al-
guns teoremas fundamentais, como o Teorema do Confronto (Teorema 3) e o Teorema
da conservação do sinal (5). Obtivemos também algumas propriedades operatórias
do limite que serão úteis mais adiante.
Análise Real 93
LIMITES LATERAIS
OBJETIVOS
··Assimilar a noção de limite lateral;
··Usar a noção de limite lateral como critério para a
existência de limite bilateral em um ponto.
94 Licenciatura em Matemática
Demonstração: Suponha que lim x®a f (x ) = L . Pela definição de limite, isto significa
que, dado e > 0 , existe d > 0 tal que x Î (a - d , a + d ) implica | f (x ) - L|< e . Em
particular x Î (a - d , a ) implica | f (x ) - L|< e , logo lim x®a- f (x ) = L e x Î (a, a + d )
implica | f (x ) - L|< e , logo lim x®a+ f (x ) = L .
o caso em que d = d1 .
Análise Real 95
96 Licenciatura em Matemática
Análise Real 97
A
5 Demonstração: (Þ) Suponhamos que lim x®a f (x ) = L . Seja (xn ) uma sequência
que converge para a . Dado e > 0 , existe d > 0 tal que |x - a |< d implica
T | f (x ) - L|< e e, para cada d > 0 , existe N natural tal que n ³ N implica
2 |xn - a |< d . Temos, então, as seguintes implicações:
n ³ N Þ|xn - a |< d Þ| f (xn ) - L|< e.
Mostramos, assim, que, dado e > 0 , existe um número natural N tal que n ³ N
implica | f (xn ) - L|< e . Portanto lim f (xn ) = L .
(Ü) Reciprocamente, vamos supor que lim x®a f (x ) ¹ L e, a partir deste fato,
produziremos uma sequência (xn ) que converge para a tal que lim f (xn ) ¹ L . De
1
fato, para cada n ³ 1 natural, consideremos xn = a + . Dado d > 0 , existe (pela
1 n 1
propriedade arquimediana dos reais) n ³ 1 tal que < d , logo a - d < a < a + < a + d
n n
. Isso mostrea que lim xn = a . Por outro lado, como lim x®a f (x ) ¹ L , existe e > 0 tal
que, para todo d > 0 , a - d < x < a + d implica f (x ) Î / (L - e, L + e) , isto é,
| f (x ) - L|³ e . Em particular, xn Î (a - d , a + d ) , para n natural suficientemente
grande. Logo, f (xn ) Î
/ (L - e, L + e) , para n suficientemente grande, o que nos leva
a concluir que lim f (xn ) ¹ L . v
Encerramos aqui nosso segundo tópico, que tratou de limites laterais. Vimos que
é possível usar a ideia de limite lateral para testar se uma função possui limite em
um determinado ponto. Vimos, ainda, um resultado (Teorema 9), que nos permite
usar sequências para testar se um determinado limite existe ou não.
98 Licenciatura em Matemática
OBJETIVOS
··Compreender as noções de limite no infinito e de
limite infinito;
··Calcular limites no infinito de funções racionais.
se o grau do polinômio q(x ) é maior do que o grau do polinômio p(x ) . De fato, se-
jam p(x ) = a0 + a1x + + an x n e seja q(x ) = b0 + b1x + + bm x m , com m > n . Então
a0 a a
p( x ) + m1-1 + + mn-n
a0 + a1x + + an x n m 0
lim = lim = x x x = = 0.
x ®+¥ q( x ) x ®+¥ b + b x + + b x
m b b b
0 1 m 0
+ 1 + + m-1 + bm bm
x m x m-1 x
ATENÇÃO! Exemplos:
1
Os símbolos -¥ e +¥ não indi- 1. Se f : -{0} ® é dada por f (x ) = , então
x2
cam números. São símbolos que in- lim x®0 f (x ) = +¥ . Observemos, primeiramente, que
dicam o comportamento da função 0 não pertence ao domínio de f , mas 0 é ponto de
quando x tende a a . acumulação do conjunto -{0} . Dado N > 0 , seja
1
d= . Consequentemente, se |x - 0|< d , então
N
1 1 1
|x |< d Þ|x |< Þ x 2 < Þ f (x ) = 2 > N.
N N x
Isso mostra que lim x®0 f (x ) = +¥ , como queríamos.
(ln x ) = -¥ . De fato, dado N > 0 , seja d = e -N > 0 . Se 0 < x < d = e -N
2. lim x®0+
, então ln x < ln(e -N ) = -N , e isso mostra que lim x®0+ (ln x ) = -¥ .
Com estes exemplos, encerramos nosso terceiro tópico e nossa aula 5. Discutimos
a definição e as propriedades do limite de funções. Estudamos, também, os casos es-
peciais em que o limite é lateral, quando o limite ocorre com x tendendo a +¥ ou
a -¥ e ainda o caso em que o limite é infinito.
Objetivos:
• Compreender a definição de função contínua e interpretar geometricamente esta definição.
• Identificar se uma dada função é ou não é contínua.
• Enunciar, demonstrar e aplicar o Teorema do valor Intermediário.
105
OBJETIVOS
··Identificar funções contínuas e funções
descontínuas.
··Reconhecer e aplicar as propriedades das funções
contínuas.
lim f (x ) = f (a ).
x®a
EXEMPLOS:
1. A função f (x ) = senx é contínua. De fato, dadox -aaÎ ,
sen
x-a x+a 2 |×|cos x + a |×|x - a |.
|senx - sena |=|2sen cos |=|
2 2 x-a 2
2
A
6
T
1
EXEMPLOS:
A
6 Na aula 2, vimos a definição de conjunto aberto. Vamos usar esta definição para
caracterizar, no Teorema abaixo, as funções contínuas.
T
1
Teorema 3 Dado X Í , uma função f : X ® é contínua se, e somente se,
f -1 ( A) é um aberto, para todo aberto A Í .
Demonstração: Seja A ={x Î [a, b ]| f (x ) < d } . Como, por hipótese, f (a ) < d , te-
mos a Î A , logo A ¹ Æ . Tomemos a Î A . Uma vez que f (a ) < d e d < f (b) , temos
que a ¹ b . Mais precisamente, a Î [a, b ] e a ¹ b implicam a < b .
A função f é contínua em a , logo, dado e = d - f (a ) > 0 , c Î (a, b) existe d > 0
tal que [a, a + d ) Ì [a, b ] e
x Î [a, a + d ) Þ f (x ) Î [ f (a ), f (a ) + e).
Em particular, f (x ) < f (a ) + e = d . Assim, se x Î [a, a + d )
, então f (x ) < d , o que significa que [a, a + d ) Ì A . Disso con-
cluímos que o conjunto A não possui elemento máximo. SAIBA MAIS
Seja c = sup A . Dado n ³ 1 , existe xn Î A tal que Obtenha mais informações
1
c - < xn £ c . Logo, lim xn = c . Pelo Teorema de Heine (Teo- sobre o Teorema do Valor
n Médio assistindo ao vídeo
rema 9 da aula 5), f (c ) = lim f (xn ) £ d . Se f (c ) < d , então c per-
h t t p : / / w w w. y o u t u b e . c o m /
tenceria ao conjunto A , logo teríamos c = max A . Mas o con-
watch?v=Da84AXj2rvA
junto A não possui elemento máximo. Portanto, f (c ) < d não
ocorre. Como f (c ) £ d , deve necessariamente ocorrer a igual-
dade f (c ) = d , como queríamos.
Uma consequência importante do Teorema do Valor Interme- ATENÇÃO!
diário é o resultado abaixo, devido ao matemático Bernard Placi-
O Teorema 4 continua válido,
dus Johann Nepomuk Bolzano (1781-1848). com a mesma demonstração, no
caso em que f (b) < d < f (a ) .
Teorema 5 (Bolzano) Seja f : [a, b ] ® uma função
contínua. Se f (a ) e f (b) são números reais com
sinais contrários, então existe c Î [a, b ] tal que
f (c ) = 0 .
O Teorema 6 abaixo garante que uma função contínua leva intervalos em intervalos.
T Demonstração:
2 Primeiramente, suponhamos que f é limitada em I . Se-
ATENÇÃO! jam a = inf xÎI f (x ) e b = sup xÎI f (x ) . Temos f ( I ) Í (a, b )
. Se d é um número real tal que a < d < b , então existe
O Teorema 5 nos dá um método pa-
c Î I tal que f (c ) = d . Isso mostra que (a, b ) Í f ( I ) . As-
ra decidir se há alguma raiz de uma
equação do tipo f (x ) = 0 , com f sim, pode ocorrer f ( I ) = (a, b ) , f ( I ) = [a, b ) , f ( I ) = (a, b ]
contínua, em um dado intervalo ou f ( I ) = [a, b ] .
I = [a, b ] . Se f (a ) = 0 , ou f (b) = 0 , No caso em que f não é limitada, a única diferença
então a , ou b , é uma raiz da equa- é que f ( I ) pode ser um intervalo do tipo (a, +¥) ou
ção. Caso f (a ) ¹ 0 e f (b) ¹ 0 te- (-¥, b ) .
nham sinais contrários, o Teorema
de Bolzano afirma que há pelo me- Exemplos:
nos uma raiz de f (x ) = 0 no inte-
1. Considere a função polinomial P : ® , dada
rior do intervalo I .
por P (x ) = x 3 - 2x 2 - 3x + 1 . Temos P (0) =1> 0 e
é contínua em (0,1) mas não é contínua em [0,1] . Note que o Teorema do Valor
Intermediário não é válido para esta função, pois ela não é contínua em [0,1] . De
fato, d = -1 / 2 satisfaz f (0) < d < f (1) e não existe c Î [0,1] tal que f (c ) = -1 / 2 .
Com este resultado, encerramos a aula 6, que tratou das funções contínuas e de suas
propriedades, em especial do Teorema do Valor Intermediário e suas consequências.
ATIVIDADES DE APROFUDAMENTO
Funções continuas
(Elaborado pelo professor Ângelo Papa Neto)
1. Seja I Ì , f : I ® uma função e a Î I tal que f é descontínua em a .
- O ponto a Î I é chamado ponto de descontinuidade de primeira ordem se os limites laterais
L+ = lim x®a+ f (x ) e L- lim x®a- f (x ) existem. Se L+ = L- ¹ f (a ) , dizemos que a é uma
descontinuidade removível. Se L+ ¹ L- , dizemos que a é uma descontinuidade não-removível. Neste
caso, a diferença L+ - L- é chamada salto de descontinuidade de f em a .
- O ponto a Î I é chamado ponto de descontinuidade de segunda ordem se pelo menos um dos limites
laterais L+ ou L- não existe ou é infinito.
Para cada função f : ® abaixo, encontre (se existirem) os pontos de descontinuidade e verifique
se são de primeira ou de segunda ordem. No caso de existirem pontos de descontinuidade de primeira
ìï1 2
ïï (2x + 3) se -¥ < x £ 1
ïï 5
a) f ( x ) = ï í 6 - 5x se 1< x < 3
ïï
ïï x - 3 se 3 £ x < ¥
ïï
î
A
6
b) f ( x ) = ï
ì
ï-2x 2 se x £ 3 T
í
ïïî 3x se 3 < x 2
|2x - 3|
c) f ( x ) =
2x - 3
d) f ( x ) = x - êë x úû
x +2
e) f (x ) = x +
|x + 2|
ì
ï senx
ï
ï se x ¹ 0
f) f (x ) = í x
ï
ï
î 1
ï se x=0
d : ® {0,1}
2. A função , dada por
ïì1 se x Î
d (x ) = ïí
ïïî0 se x Î
/
é chamada função de Dirichlet, em homenagem a Johann Peter Gustav Lejeune Dirichlet (1805 – 1859).
Mostre que d é descontínua em cada x Î .
(Confira a biografia de Dirichlet, acessando o link
http://www-history.mcs.st-and.ac.uk/Biographies/Dirichlet.html)
definida no problema anterior. Mostre que esta função é contínua em apenas um ponto e encontre esse
ponto.
1
4. Considere a função f : -{1} ® , dada por f ( x ) = 1 - x . Encontre os pontos de descontinuidade
da função composta y = f ( f ( f ( x ))) . Esses pontos são descontinuidades removíveis?
5. Um monge tibetano deixa o monastério às 7 horas da manhã e segue sua caminhada usual para o topo
T contínua, mostre que existe (x, y ) Î S tal que f (x, y ) = f (-x,- y ) . Sugestão: Mesma ideia do
1
2 exercício anterior.
8. Sejam A e B duas regiões limitadas, com áreas finitas, de um mesmo plano. Mostre que existe uma
reta que divide A e B simultaneamente ao meio.
No mesmo espirito de aulas anteriores, não temos o objetivo de esgotar todo o as-
sunto, apresentaremos somente os principais resultados e deixaremos alguns para
o aluno fazer a pesquisa na literatura recomendada sobre o assunto para maiores
aprofundamentos.
Objetivos:
• Identificar as propriedades das funções deriváveis.
• Entender as aplicações das funções deriváveis.
• Relacionar as derivadas de uma função ao máximo e mínimo de uma função.
121
OBJETIVOS
··Compreender a definição de derivada de uma
função real.
··Saber reconhecer quais funções tem derivada.
ATENÇÃO!
De forma análoga à derivada ordinária de uma função f , po-
A partir daqui, faremos o uso de
demos definir as derivadas à direita e a esquerda, respectivamen-
várias notações para representar
te, por:
f (x0 + h) - f ( x0 ) a derivada de uma função, entre
f ' (x0 +) = lim
h® 0 + h dy
elas f ', , Dx0 f ou x
f (x0 + h ) - f ( x0 ) dx
f ' (x0 -) = lim
h ® 0- h
no caso dos limites existirem e fazendo as necessárias alterações na definição da
derivada ordinária, teremos a seguinte condição: A derivada ordinária existirá, se as
derivadas dos limites laterais existirem e forem iguais, ou seja,
f (x0 + h) - f ( x0 ) f (x0 + h ) - f ( x0 )
f ' (x0 +) = lim = f ' (x0 -) = lim
h® 0 + h h ® 0- h
Exemplo 1: Seja a função dada pela expressão f (x) = x , a função modular,
cujas derivadas laterais são representadas pelo gráfica abaixo:
iguais. Portanto, concluímos que a função dada acima não é derivável na origem.
f ( x ) - f ( x0 )
, então como f é derivável no ponto x0 , temos lim = f '(x0 ) . Daí segue que
x ® x0 x - x0
é f ( x ) - f (x0 ) ù
lim éë f (x) - f (x0 )ùû = lim ê ú .(x - x0 ) =
x ® x0 ê ú
ë x - x0
x ® x0
û
é f ( x ) - f ( x0 ) ù
= lim ê ú . lim (x - x0 ) = f ' (x0 ).0 = 0
x ® x0 ê ú x ® x0
ë x - x0 û
Logo f é contínua em x0 como queríamos provar.
. Então
Exemplo 2: Seja a função constante f (x) = c (constante ) para todo xÎ
f ' (x) = 0 . Com efeito, por definição temos:
f ( x ) - f ( x0 ) c -c
lim = lim =0
x ® x0 x - x0 x ® x0 x - x
0
Se f (x) = ax + b é uma função afim, tem-se que f ' (x) = a . Por definição, segue que:
f ( x ) - f ( x0 ) (ax + b) - (ax0 + b) a ( x - x0 )
lim = lim = lim =a
x ® x0 x - x0 x ® x0 x - x0 x ® x0 ( x - x )
0
f (x ) f (x)
lim
f (x ) x - a = f '(a )
= lim x - a =
x ® a
lim
x®a g (x ) x®a g (x ) g (x ) g '(a )
lim
x-a x ® a x -a
desde que, g '(a ) ¹ 0 . Podemos exemplificar essa regra, através da seguinte ques-
tão, que você teve a oportunidade de ver no Cálculo I, que é calcular o limite de
sen x (sen x )' x=0 cos 0
lim = = = 1 . Você deve observar que nesse exemplo fizemos
x®0 x (x )' x=0 1
uso da derivada da função (sen x) ' = cos x . Essa derivada pode ser provada usan-
OBJETIVOS
··• Analisar as propriedades operatórias da
derivada;
··• Estudar as propriedades operatórias através de
exemplos;
··• Fazer aplicações utilizando essas operações.
ççè g ÷÷ø 0 g ( x0 ) ¹ 0 .
g ( x )2
0
( f . g )(x) - ( f . g )(x0 ) f ( x ) g ( x ) - f (x 0 ) g ( x ) + f (x 0 ) g ( x ) - f (x 0 ) g ( x 0 )
T
= = 2
x - x0 x - x0
f ( x ) - f (x0 ) g ( x ) - g ( x0 )
= g ( x ) + f ( x0 )
x - x0 x - x0
então aplicando o limite no primeiro e terceiro membro da identidade anterior.
Ou seja,
ção f (x) = x n , " n Î é dada por f ' (x) = nx n-1 . Vamos aplicar a regra 3 da de-
T n
é m ù
n-1
2 ambos os membros da igualdade temos que (x m )' = mx m-1 = n. ê(x n )'ú e daí ex-
ê ú
æ m ö÷ m m -1 ë û
'
ç n ÷
traindo a raiz e dividindo por n obtemos que ççx ÷ = (x ) , e então vale para
n
è ÷ø n
,
todo racional r . E podemos estender este resultado para os números reais aÎ
pois sabemos que existe uma sequência de racionais rn ® a como a afirmação é vá-
lida para (x rn )' = rn .x rn -1 aplicando o limite resulta na afirmação para (x a )' = a.x a-1
.
para todo aÎ
Agora faremos uma importante propriedade que é a derivada da inversa de uma
função. Temos que toda função f : I ® contínua e injetiva sobre sua imagem
J = f ( I ) (poderíamos considerar, ao invés da injetividade, que f fosse monótona
em I ) tem uma inversa contínua f -1 : J ® I , admitiremos que f é derivável em
I e analisaremos a derivada da função inversa ( f -1 )' . Portanto, podemos enunciar.
Derivando a expressão acima e usando a regra da cadeia, ob- e f ' (x) = 3x 2 = 0 pa-
xÎ
temos ra x = 0 . Mas, a função inversa
(f o f ) (x ) = 1
'
f -1 ( y) = 3 y não é derivável
-1
f (x0 + h) - f ( x0 )
E como consequência, o limite lim = 0 , onde concluímos que
h
h® 0
f ' (x0 ) = 0 . E de maneira completamente análoga provamos quando x0 é um ponto
de mínimo.
A recíproca desse teorema não é válida, pois podemos ter f ' (x0 ) = 0 sem que o
ponto x0 seja um máximo ou um mínimo. Conforme vimos, a função f (x) = x 3 tem
derivada nula em x0 = 0 , mas esse ponto não é máximo, nem mínimo, como você
pode ver no gráfico abaixo:
é pù
Exemplo 5: Seja a função f : ê 0, ú ® com f (x) = x cos x , podemos ter que a
êë 4 úû
derivada não é necessariamente nula em todos os pontos de máximo ou de mínimo,
se estes são os extremos do intervalo. Pois, a função f (x) = x cos x tem um mínimo
em x = 0 (veja o gráfico a seguir) e um máximo em x = p / 4 , porém a sua derivada
não se anula nesses pontos. Uma vez que f ' (x) = cos (x) - xsen(x ) e f ' (0) = 1 > 0 e
A
7
T
2
f n ( x0 ) n
f (x0 + h) = f (x0 ) + f ' (x0 ).h + f "(x0 ) / 2.h2 + + .h + r (h)
n!
r (h)
onde lim = 0 . Chamamos de polinômio, pois podemos expressar uma fun-
h® 0 hn
ção f no ponto x0 por:
n
f i ( x0 ) i
p (h) = å .h
i=0 i!
que aproxima essa função até a ordem n.
Olá, aluno(a),
Nesse período, a Matemática era muito geométrica e não havia simbologia que
possibilitasse um maior desenvolvimento do cálculo integral. Ainda nesta aula, trata-
remos dos seguintes conceitos: no tópico 1, veremos a definição da integral de Rie-
mann e o critério para uma função real ser integrável; no tópico 2, apresentaremos
as propriedades da integral; no tópico 3, teremos o principal resultado desta aula,
que é o teorema fundamental do cálculo, e também faremos algumas aplicações.
Bons estudos!
Objetivos:
• Estudar os conceitos sobre a Integral de Riemann;
• Compreender e aplicar as definições da integral de Riemann.
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A INTEGRAL DE RIEMANN
OBJETIVOS
··Definir a integral como soma de retângulos sob o
gráfico da função;
··Analisar quando uma função real é integrável;
··Dar alguns exemplos de funções integráveis..
S ( f , P ) - S ( f , P ') = (Mi - Mi' )(xi - x ') + (Mi - Mi'' )(x '- xi-1 ) ³ 0 ,o que prova a
segunda desigualdade da soma superior dada no teorema 1. Deixamos para você,
aluno, fazer a prova da desigualdade da soma inferior que é feita de forma análoga. █
ò f (x) dx = sup s( f , P )
a
E analogamente, o conjunto das somas superiores é limitado inferiormente por m(b - a )
, logo tem um ínfimo finito, chamado a integral superior de f , que é dada por:
b
ò f (x) dx = inf S( f , P )
a
ò f (x) dx = 0 e ò f (x) dx = b - a .
a a
T concluímos que S ( f , P ') - s ( f , P ') < e . E por fim, a implicação iii)Þ i) segue natu-
1 ralmente da definição da soma superior e inferior.
Com esse resultado fechamos este tópico sobre definição de funções integráveis e
passaremos agora às propriedades da integral no tópico seguinte.
PROPRIEDADES DA INTEGRAL
OBJETIVOS
··Compreender as propriedades da integral;
··Aplicar tais propriedades em alguns exemplos.
f ± g é integrável e vale:
b
ò [ f (x) ± g (x)]dx = ò f (x) dx ± ò g (x) dx ;
b
a a a
Se c Î , temos que ò c. f (c) dx = c ò f (x) dx ;
a a b b
ò f ± ò g £ò f ± g
sobre todas as partições P do intervalo, teremos que e o mesmo
a a a
se pode concluir para a integral da soma superior e consequentemente:
¯ ¯
b b b b b b
ò f ± ò g £ò f ± g £ò f ± g £ò f ± ò g
a a a a a a
e quando as funções f e g são integráveis as três desigualdades se reduzem a
uma igualdade e daí segue o resultado.
OBJETIVOS
··Realizar o cálculo explícito da integral de uma
função;
··Compreender a integral como o valor da primitiva
de uma função;
··Entender algumas aplicações sobre o cálculo de
integrais.
G (x + h) - G ( x ) ò f (t) dt - ò f (t) dt 1
x +h x +h
h
- f (x ) = a
h
a
- f (x ) =
h ò f (t) dt - f (x) = ò [ f (t) - f (x)]dt
x x
x +h
e portanto temos que G (x + h) - G(x ) - f (x ) £ 1 f (t) - f (x ) dt . Se dado e > 0 ,
h h ò
x
escolhemos d > 0 para a função f contínua tal que f (x) - f (t ) < e com 0 < h £ d
A
G (x + h) - G ( x ) 1
x +h 8
, assim obtemos que - f (x) £ ò f (t) - f (x ) dt < e , como que-
h h x T
ríamos provar. 3
que dá o resultado. . █
ì 0, 0 £ x 1
ï
f (x ) = ï
í
ï
î1, 1 £ x £ 2
ï
x
T
g (c) c
3
Prova: Como f é uma função contínua, temos que f possui uma primitiva
Mas, por outro lado, a regra da cadeia dá (F g ) ' (t) = F ' ( g (t)). g ' (t) = f ( g (t)). g '(t )
e vemos que a função (F g ) é uma primitiva da função integrável f ( g (t)). g '(t ) .
Então, integrando e usando o teorema fundamental do cálculo, chegamos ao resul-
tado desejado:
d d
ò g (c)
f (x )dx = ò f ( g (t )). g '(t )dt
c
Com esse resultado, chegamos ao fim de mais uma disciplina. Espero que você
tenha apreciado a consistência e a produtividade dos argumentos que apresentamos
para caracterizar o conceito de uma função real, limites, derivadas e integrais. Es-
ses conceitos mudaram a visão e a forma de encarar os problemas em Matemática.
A Matemática deixa de tratar de objetos estáticos e passa a abordar objetos em mo-
vimento. Por isso, com essa ferramenta matemática, o homem tem conseguido feitos
inimagináveis.
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