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Sebenta EHP 17-18

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Capítulo 1 - O mental: alma, mente e

psicologia
O que é a mente?

O reino do mental
O mental é predominantemente, sentido em mim e detetado, a partir do
comportamento, nos outros.

É sentido em mim de maneira independente do corpo, nós somos capazes de nos


imaginar num corpo diferente do nosso e mesmo como um puro ponto de consciência. Apesar de
a mente precisar de corpo para agir, não é assim que nos sentimos. Por exemplo, mesmo
sabendo que é impossível, acreditamos que conseguimos fazer mal a uma pessoa apenas pela
nossa vontade sem qualquer intermediário corpóreo. E assim, encontrámos um dualismo: o que é
apenas corpo não é mente e o que é mental não é corporal.

Não nos custa imaginar que depois da morte a nossa alma continua a existir, pelo
contrário, faz-nos mais confusão pensar que deixámos de existir por completo. Ou seja, se
imaginássemos que a nossa consciência de existir continua na ausência do corpo, a nossa
agência seria bastante alterada, visto que, não veríamos, não poderíamos agir, nem sentiríamos
nada do que normalmente nos afeta. Assim, aquilo que é considerado “mente” parece ser o que
sentimos como subjetivo, o que acompanha os atos do nosso corpo: Espontaneamente fazemos
separação daquilo que é a sensação que acompanha os atos do corpo e esse mesmo corpo,
como coisas separadas.

A mente é invisível, mas é sentida de maneira concreta, vivida, ninguém tem nenhuma
imagem da sua mente, apenas temos consciência da sua existência. Por exemplo, quando
possuímos algo que pertencera anteriormente a outra pessoa, dizemos que esse objeto tem um
significado sentimental e por isso se comprarmos outro igual, não terá o mesmo significado. Isto
acontece porque toda a gente deixa algo de seu nos objetos que possui, ou seja, existe uma
transmissão invisível, mas concreta dos agentes para as coisas.

Precisamente por ser invisível é difícil de descrever a mente por falta de referentes
comuns. A mente é, pois, muito difícil de decompor em partes e analisar, parece que a nossa
mente não foi feita para se debruçar em si própria, mas apenas sobre as coisas que lhe são
exteriores. Por isso, o mundo da mente é o mundo do vago, do misterioso, e do não facilmente
analisável.

A mente primitiva e as suas características

Alma e agência
Existem culturas que não têm a palavra “mente”, mas todas têm
a palavra “alma”. Os etnólogos tentaram estabelecer pontos comuns
entre as mesmas e chegaram á conclusão que todas se referem á
inteligência/vontade. Existem almas do corpo responsáveis pela
animação do mesmo e almas mais independentes do mesmo, como por
exemplo, a alma dos xamãs que sai do corpo deles e vai ao inferno
buscar almas perdidas dos doentes. Estas almas mais independentes
podem ser mais agentes e conscientes (a mais pura sensação de mente) que se pensa
sobreviverem á morte do corpo. Assim, o conceito espontâneo, primitivo de alma é a noção de
estar vivo e de ser agente, de sentir e de agir, é exatamente a nossa experiência de viver.

Almas fora do corpo


Como vimos, as almas podem sair do corpo: um espírito pode tomar conta de um corpo
e assim é a alma do espírito que irá animar o corpo., a alma detentora desse corpo é como que
afastada ou anulada. Assim, existe um dualismo, implícito: mente e matéria não animada são
diferentes e é o mental que anima (dá vida, vontade e consciência) o corpo.

Agências desencarnadas: os espíritos


Um fenómeno curioso e pouco conhecido, é por exemplo que em
muitas culturas a morte não é considerada um fenómeno natural,
mas sim fruto da intenção de alguém e as mesmas acreditam que
existem espíritos benfazejos que interferem na vida das pessoas. Neste caso trata-se do que foi
explicado em cima: a separação da agência e do seu suporte material, ou seja, da alma e do
corpo.

Magia de contacto: as pertenças do mental


Como já foi referido fica algo de nosso nas coisas que possuímos, a explicação para isto
é que fica um resíduo de identidade, uma marca psicológica das pessoas nas coisas que possui e
usa. Existe a ideia (na mente primitiva) de que se pode fazer magia com os restos ou pertences
de outra pessoa, isto relaciona-se com outra ideia, também ela universal de que agindo sobre a
parte, se tem efeito no todo. Trata-se da magia de contacto: um objeto tem agência e essa
agência passa, por contacto, para outro objeto. É o principio da homeopatia (fruto do
pensamento mágico sem nenhum fundamento racional ou científico).

A mente primitiva entre nós: astrologia e parapsicologia


Existe uma crença espalhada (incompreensível para espíritos racionais) na astrologia,
que se baseia na ideia de que a posição dos astros influencia o futuro de cada um. Trata-se de
uma possibilidade teórica que de cada vez que foi testada se provou não ter qualquer
fundamento. Na raiz deste pensamento está a ideia de que existem agentes (astros, cartas) que
influenciam o nosso futuro. Claro que se trata de agentes (forças ocultas) que a mente primitiva
postula, mas que não existem.

A parapsicologia, essencialmente a ideia de transmissão de pensamento e psicocinese,


são típicos exemplos de pensamento primitivo. Não existe nenhuma razão para pensar que isto
é real, até porque tanto quanto sabemos não existe. É o facto de estas crenças serem tão
resistentes quer á razão, quer aos dados empíricos que é interessante: a nossa mente deteta
intenções e agentes invisíveis em tudo em tudo, o espírito racional tem sido a maior dificuldade
em convencer as pessoas de que se trata apenas de uma ilusão.

As teorias psicológicas têm como alvo subconjuntos da experiência


do mental
Estes fenómenos definem o mundo da alma e como a
alma é concebida espontaneamente como um espírito, o
mundo dos espíritos. Este mundo é uma fantasia do
irracional. Ocidente tem-se tentado afastar desse
irracionalismo para conseguir compreender o mundo
físico e o homem. Como o domínio da mente e o dos
espíritos têm a mesma origem, existe uma suspeita
intrínseca de magia no estudo da mente.
Como nenhuma pessoa racional aceita a magia, todos os pensadores que procuram
esclarecer o que é a mente, fizeram-no afastando-se do lado oculto. A experiência de mim como
agente é a mais fundamental. A questão da compreensão dos outros foi mesmo tratada, mas
deu origem a uma literatura extensa sobre as “paixões”, isto é, aquilo que são os desejos na
origem da nossa agência. Cada escola de pensamento sobre a mente tem origem na noção
espontânea de alma como agência, representação e intenção, quer sentidas pelo sujeito quer
inferidas nos outros.

Capítulo 2: Os primórdios da
psicologia na Grécia
Os gregos arcaicos

As personagens são psicologicamente opacas (corpos que se movem de acordo com as


suas paixões ou os desígnios dos deuses), as vontades e as emoções são as que se traduzem
pelas ações. Mesmo as paixões que moviam os homens eram consideradas produtos diretos das
entranhas e a morte era a morte do corpo, a alma, o que restava da vida era algo de
fantástico que não se assemelhava ao homem vivo. Na Grécia existiam vários termos para
mente:

Entre Psyche e Thymus, não existe grande diferença. Como vimos anteriormente na
mente primitiva, a alma tende a ser sincrética e são os etnólogos que estabelecem diferenças
analíticas. Para compreender o desenvolvimento intelectual da Grécia é necessário ter em conta
o extremo concretismo e visualismo, a preocupação com o que se vê e se pode descrever.
Explica-se o visível, não com o místico, mas com o visível e o plausivelmente inferível do visível.
Procurava-se explicar o mundo e não o homem, os gregos defenderam que tudo era feito de
matéria concreta (água, fogo, átomos...).

A especulação cósmica e a descoberta do pensamento


Quando considerámos o homem arcaico, há um dualismo concretista: inferimos sempre

uma mente de uma ação e considerámos que uma mente tem sempre que ter uma ação que lhe
corresponda. Assim, é com os gregos que a ação e o pensamento se separam e o pensamento é
analisado pela primeira vez no ocidente.

O íman, que atrai outros metais, parece vivo, ou seja, parece ter vontade (mente),
parece ter uma energia que se relaciona intencionalmente com o ambiente. Tales acreditava na
imortalidade da alma mas não na doutrina da metempsicose (a transmigração das almas).

Os físicos em termos do pensamento sobre a mente não se mostraram muito diferentes


dos arcaicos: “tudo está cheio de deuses”.

A corrente de pensamento dos físicos abriu um caminho importante: as coisas como as


vemos, têm uma realidade diferente a sua geometria e aquilo de que são feitas não é traduzido
naquilo que percecionamos. Assim, o pensamento emancipa-se da perceção:

• Xenófanes de Cólofon: as coisas não são como nós as imaginámos, mas são o que são
independentemente da maneira como as vemos, pensamento puro como independente
do comportamento.

• Heraclito de Éfeso: tudo quanto pensámos e sentimos é uma ilusão, o passado passou, é
incapturável e as semelhanças que tem com o presente são meramente ilusórias.

• Parménides de Eléia: a verdade física das coisas é eterna e imutável, mas os sentidos
enganam-nos, a realidade não é alcançada pelos sentidos, encontra-se num plano só
acedido pelo pensamento.
• Empédodes de Acragas (Materialismo): os objetos emitem eflúvios que são cópias de si
próprios, se existe diferença entre perceção e realidade é necessário saber como se faz
a tradução uma na outra.

• Leucipo de Mileto: tudo é determinado, as qualidades sensoriais são meras aparências.

• Protágoras de Abdera: cada um constrói a sua verdade a partir dos sentidos e essas
realidades são diferentes umas das outras.

Nos gregos a centração nas coisas e não na mente levou á compreensão de que as
próprias coisas são ilusões, este ponto de vista normalmente opõe-se ao realismo ingénuo. Os
gregos permaneceram centrados nas coisas e não na pessoa que vê essas coisas e verificaram
que as aparências podem enganar. E só no final deste processo apareceu a subjetividade.
Existe, assim, uma tendência para explicar o mundo e não o homem, explicar as coisas e não a
mente. Isto levou progressivamente ao ceticismo porque os pré-socráticos entenderam que o que
é observado não corresponde á realidade. A ideia da existência da alma é contestada, pois
esta é apenas parcialmente independente do corpo Este ceticismo veio gerar o sofismo.

A revolução socrático-platónica
Depois de Tales, compreendeu-se que o mundo físico não é animado, não é uma alma
que deve ser estudada em termos de intenções, o que levou os gregos a estudarem o mundo
como matéria tendo eles chegado á conclusão que os sentidos enganam. Assim, não existem
verdades tudo é subjetivo e o pensamento servia para defender o quiserem. É neste clima que
surge Sócrates.

Sócrates
Caracteriza-se por um método de interrogar sobre o que era socialmente estabelecido
como verdade ética e assim chegar á verdade verdadeira sobre os motivos do nosso
comportamento e pela crença da imortalidade da alma.

Sócrates acreditava que o conhecimento era possível e era necessário pois estava em
cada um de nós. Assim, o conhecimento chegava a partir de uma disciplina retórica e filosófica
adequada: ir argumentando e contrargumentando até que a verdade surgisse. A verdade não
está nos sentidos, a compreensão das verdades era possibilitada pela alma que conhecia
diretamente as essências e não as aparências. Ou seja, as verdades têm que ser procuradas no
próprio sujeito e apenas os mais sábios os que praticam a contemplação na mente, conseguem
compreender as essências puras.

Platão
Os gregos tinham primeiro isolado o mundo físico como diferente do sujeito, e
concentraram-se apenas no mundo físico. Platão diz que temos que nos ancorar no sujeito e não
no mundo físico para compreender a verdade. Mas esse sujeito parece subjetivo e tem
subjetividades diferentes em momentos diferentes e se eventualmente se afirmar que é apenas
ele a realidade das coisas, surge uma dificuldade e perante ela Platão constrói uma verdade
que o sujeito pode estudar: o mundo das ideias puras. Platão acreditava na reencarnação e na
vida da alma racional independentemente do corpo e que só quando a alma vivia nesse estado
incorpóreo teria acesso á verdade pura (verdades abstratas e os conceitos correspondentes ás
categorias das coisas que conhecemos.

Ideias puras como realidades não psicológicas


As ideias puras de Platão não são conceitos psicológicos, correspondem a realidades no
mundo ideal. O facto de todos os povos terem conteúdos diferentes para os mesmos conceitos
faz parecer que essas “realidades” são produtos necessários da mente e que esse mundo ideal
não existe. As ideias puras de Platão correspondem a uma transformação daquilo que é
puramente psicológico em coisa real. É a transformação de um conteúdo mental num conceito
abstrato (“pura e ideal”) e não num conceito grosseiramente material. Platão afirma a existência
dessas categorias abstratas como como coisa real, mas não material.

Análise das ideias de Platão quanto á mente


Platão conotou a mente como a parte mais nobre da nossa vida.

Psyche em Platão quer dizer mente, e o objetivo da Filosofia é encontrar formas


harmoniosas de existir individual e socialmente e transcender a luta pelo prazer e pelo poder. É
uma busca da felicidade na mente, não no poder físico, tem de se tentar ir para lá dos sentidos
e chegar a formulações estáveis e puras no domínio das ideias. Esta procura do conceito puro no
invisível (na mente e não na matéria), é influenciada pela ideia pitagórica de que o mais real
nas coisas é a estrutura e não aquilo de que as coisas são feitas.

Com exceção parcial do belo, chegar-se-ia às formas puras por formulação verbal:
usando o método socrático:

Viver no mundo das ideias seria a maneira de nos elevarmos a um grau de felicidade
mais seguro e menos contingente do que simplesmente procurarmos prazer. A alma é uma alma
motivada. Numa Alma não cultivada, os desejos são todos materiais, o desejo da alma é a
posse. Numa Alma harmoniosa esses objetivos são substituídos pelo desejo da posse das ideias
puras, quer-se possuí-las, mas para isso precisámos de aperfeiçoamento espiritual que nos
permita anular os desejos que nos afastam do mundo das ideias e cultivar o pensamento
abstrato. Platão queria chegar a uma formulação ética, não só da pessoa, mas da sociedade.

A psyche teria funções/níveis, o primeiro corresponde aos filósofos, é a razão (“o


racional”) e o segundo é a paixão, que luta contra os desejos mais básicos provenientes dos
apetites corporais.

A alma não pode ser una. Há impulsos de três tipos: pela verdade, pela honra e pela
carne, mas a pessoa justa deve impor o controlo dos motivos pela verdade. A razão, por
influência das ideias puras, procura o justo, o verdadeiro e o belo, mas os apetites querem só o
prazer. A paixão indigna-se com os nossos atos, guiados pelos apetites, que vão contra a razão.
A vida mental é, pois, um campo de luta constante e o objetivo do homem justo é conseguir
assegurar o domínio do justo, do verdadeiro e do belo.

Há três tipos de forças a agir na nossa alma: qualquer uma delas pode tomar
precedência e dominar a consciência (o Eu), mas uma delas, a razão, permite-nos escolher o
nosso rumo. A posição psicológica de Platão existe como fundamento de uma afirmação de
valores: uma ética, para melhorar o homem e a sociedade.

Chega-se ao mundo ideal pela mente, pela razão. O sujeito vê com o olhar da mente,
as ideias puras. A ênfase é ainda colocada no objeto do conhecimento e não no sujeito
conhecedor, mas a realidade a conhecer já não é física é uma representação da mente. Essa
mente é definida como conflito entre tendências e como conceitos abstratos.

Influência de Platão
Fundou a filosofia, a psicologia e a ideia de mente, toda a ideia da importância da
razão e do pensamento. No atual mundo materialista e obcecado com o consumo a mensagem
platónica tem menos força do que teve, embora a sua pertinência seja máxima, pois hoje em dia
não se procura o domínio da razão, mas dos apetites.

Aristóteles
Aristóteles não era anti platónico, pelo contrário, grande parte da sua filosofia
baseia-se em reinterpretações dos conceitos platónicos. No entanto, não aceitava a teoria das
formas: considerava que o espírito humano não possuía, as ideias do belo, do justo e do puro.
De facto, se é verdade que Aristóteles chamava a atenção para a natureza corporal e material
das funções da vida, reservava uma posição mais idealista e mais próxima do platonismo
quando se referia às capacidades epistémicas. Essas ideias, não poderiam ser alcançados pelos
sentidos: têm de ser identificados por categorias do pensamento.

Estas categorias não são


propriamente psicológicas, mas
são necessárias ao
entendimento, existem
independentemente da mente
mas têm de estar na mente
para que o pensamento seja
possível.
Assim, se é verdade que as ideias (no sentido platónico, ideias puras) não se encontram
na mente, esta não é virgem: não faz sentido pensar que os estados de conhecimento são inatos,
é preciso que uma estrutura possa receber outra para que essa outra se combine com a
primeira.

As ideias não estariam, então, presentes, mas sim a capacidade seria mental e anterior
à experiência, exatamente como o inatismo do nosso tempo defende. Aristóteles pensava que a
partir dos sentidos apenas se atinge o acidental: é a razão, ou a mente, que deve encontrar as
essências e os universais.

A mente é uma folha em branco: Apenas a experiência e os sentidos têm de lhe fornecer
a matéria-prima para ela funcionar e esta só é possível se houver, na razão, qualquer coisa de
prévio e que possibilite que a experiência seja recebida, avaliada e generalizada. A mente
deteta os universais através da generalização, mas não os cria: eles existem, não como coisa
física, mas como realidade do pensamento.

Distinção entre potência e realização: Significa que Aristóteles acreditava que o mundo
tinha um sentido, uma direção, que a natureza estava organizada teleologicamente. Acreditava
que todas as coisas se encontravam associadas num plano divino, em que cada coisa
desempenharia a sua função. Explicar a natureza e o Homem seria, então, uma tentativa de
desvendar o plano da natureza.

Todas as coisas são compostas de forma e de matéria: A forma determina a essência de


uma coisa, e a matéria pode ser transformada de maneira a tomar outra forma. A distinção
forma-matéria é importante porque dado que a forma determinaria a essência de uma coisa, e
que a alma é definida como forma (a alma é a forma do corpo), a psicologia de Aristóteles só
se compreender a partir dessa distinção.

A base do pensamento de Aristóteles é o hilemorfismo: todas as coisas têm matéria e


forma e matéria e forma são independentes, mas criam um ser uno. A alma é a forma do corpo,
mas por forma, no caso da alma, parece querer dizer a finalidade. Assim, a alma seria
responsável pelas funções (função=finalidade) que o corpo desempenha.
Para compreender qualquer fenómeno há que compreender a estrutura a partir da
função. Aristóteles chama-lhe forma e assimila a forma à alma (nos seres vivos), mas isso não nos
deve afastar do ponto central: estrutura e função, são duas realidades que devem ser
estudadas juntas. Há três almas diferentes: a vegetativa (alimentar/reprodutiva), a percetiva
(locomotora) e a racional. A alma humana contém a alma racional, a percetiva-locomotora e a
alimentar-reprodutiva. Inferindo a alma das finalidades/funções dos diferentes organismos
vivos, Aristóteles descreve vários tipos de alma consoante o tipo de organismo:

No Homem, aparece mais uma nova característica da alma: a mente (ou razão, ou
inteligência).
Assim, a mente pode ter consciência de si própria (a mente como ideia) e tentar
analisar-se, embora se funda com os problemas em que se concentra: a mente concentrada
sobre um assunto é totalmente preenchida por esse assunto e passa a “ser” esse assunto.

A mente é um espaço de virtualidade, em que as formas podem passar a ter existência


e a ser relacionadas umas com as outras. Esta conclusão permite afirmar que é esta inteligência
teórica o centro da atividade mental humana: seria o “eu” dos verbos, que tem consciência de
existir. O pensamento implicaria sempre imagens mentais, provenientes dos sentidos. Mas a
mente não é uma cópia desses sentidos pois nela tem que existir formas prévias que
identifiquem as ideias.

A ideia de mente em Aristóteles é inatista e é próxima da de Platão (as formas inatas


equivalem às ideias puras de Platão). Mas enquanto Platão fala de reminiscências das
verdades, isto é, de conteúdos, Aristóteles fala da capacidade de transformar o que existe
apenas em potência em realidades de pensamento: a alma não teria ideias puras, mas apenas
processos de chegar a formulações abstratas que são universalmente verdadeiras.

A mente tem possibilidade de derivar conceitos, de reconstruir os universais e de pensar


formas sem matéria – trata-se da atividade do pensamento abstrato – e essa possibilidade vem
de duas fontes: das imagens mentais e de uma espécie de reserva de formas que possibilita a
atividade mental.

Assim a alma
(o “eu”) seria
mortal e
apenas
permaneceria o
princípio da
mente ativa,
que não é
pessoal. Que é como dizer que o eu morre, mas que a inteligência que o tornou possível existe
independentemente de mim.

Para Aristóteles as ideias puras estão em nós em potência e são atingidas através do
motor que é a mente ativa. Mas essa mente ativa, tal como as ideias puras, é exterior à mente.
A mente adquire capacidades de organização e pensamento abstrato para chegar à verdade
e tem, em si, as regras necessárias para isso. É uma mente mais autónoma.

Conclusão sobre Aristóteles


A alma é, na maior parte, indissociável do corpo. A posição não é materialista e
Aristóteles, no início do texto, demarca-se do materialismo. É possível dizer-se que a posição é
funcionalista: identificam-se função e estrutura ao mesmo tempo. A ideia de que a alma é
indissociável do corpo é refutada no final do texto porque a mente não tem uma contrapartida
material e pelo menos uma parte sobrevive à morte do corpo. A mente faria uma espécie de
abstração das formas e relacioná-las-ia. A mente de Aristóteles implica três coisas diferentes,
mas relacionadas:

1. O mecanismo invisível que anima, dá vida aos organismos.


2. O princípio agente que é responsável, nos animais, pelo comportamento
intencional.
3. A capacidade de planeamento e de pensamento abstrato.
4. Um princípio espiritual que há em todos os homens e que lhes permite o
entendimento.

Aristóteles tentou integrar os vários significados que a palavra “alma” tinha no seu
tempo:

• Responsável pelo movimento e pela agência, pela vida, pelo desejo;


• Capaz de fazer juízos éticos e racionais e de contemplar o absoluto;
• É apenas material.

O objetivo da biologia e da psicologia seria compreender a função de ligação entre um


organismo e o seu ambiente. O facto de a mente racional, além das mentes animais, entrar neste
sistema explica-se facilmente: embora não sintamos necessariamente o pensamento como uma
relação com o ambiente é essa a sua função: pensamos sobre coisas e agentes, sobre o que
fazemos sobre essas coisas e esses agentes. Aparece como uma espécie de espaço de
virtualidade que permite o planeamento e também é a sede das formas puras. O elemento
platónico, idealista está presente na formulação aristotélica. A ideia de “formas puras” não é
nem mística nem ingénua: de facto, só conhecemos aquilo que temos estruturas para percecionar
e para entender. Ninguém consegue compreender afirmações como “o todo é mais pequeno do
que uma parte desse todo”. Ou seja, para haver qualquer entendimento é necessário que haja
estruturas internas prévias e que deem forma a esse entendimento.

Sobre a memória, dizia que os materiais mais organizados eram mais fáceis de
recordar. Ampliou as leis da associação, a contiguidade e o contraste (o frio lembra o quente)
como relações que permitiam a consolidação na memória.
O legado de Platão e Aristóteles
A mente relaciona-se com as coisas de maneira ativa e que a razão, o raciocínio é uma
entidade que pode ser analisada. Os pensadores socráticos compreenderam que a mente tem
regras que permitem a compreensão das coisas e que as coisas que conhecemos resultam da
atividade dessas regras. Sócrates abriu caminho ao criticar a lógica interna dos valores: Platão
afirmou a imaterialidade das ideias e a total autonomia do espírito, da mente e Aristóteles
corrigiu Platão dizendo que as ideias são imateriais, mas que precisam da interação entre a
mente e a perceção e estabeleceu a Psicologia com disciplina filosófica.

Capítulo 3: Do helenismo á idade


média
De Atenas ao Renascentismo
No período da Idade Média a mente a que se chamava alma é um conceito muito
importante. A partir do Renascimento o centro de interesse passa a ser mais o mundo em si do
que o homem, o ponto era a relação do homem com Deus.

O cristianismo e a alma

É evidente que o corpo morto se decompõe, logo como poderia o


corpo sobreviver?

• São Paulo (coríntios): opõe-se á ideia platónica de que apenas


o homem interior sobrevive, ele afirma que o homem integral
sobrevive. Para ele o homem interior, o nous, seria uma vontade de
submissão e abertura integral a Deus, e não uma mente ativa e
racional.
• Philo: defendia que as almas irracionais morrem com o corpo,
mas que permanece a alma racional, pensante e ativa. Foi a partir
dele que se exerceu uma influência neoplatónica.

Plotino
O seu pensamento baseia-se numa hierarquia:
Existe uma consciência que possui inteligência que, por sua vez, origina uma
alma que contempla as formas puras que a inteligência contém.

Por outro lado, esta alma seria um todo que seria corrompido ao contratar com a
matéria. Então, a salvação do homem consiste em elevar o pensamento às ideias puras e
abandonar o desejo das coisas materiais.

Santo Agostinho

Segundo Agostinho (tal como Platão) existiram, em nós, duas realidades em conflito:

● razão
● desejo

Os sentidos são a forma como a alma se apropria do corpo:

“Não é o mundo que nos chega pelos sentidos, é sim a mente que busca o
mundo fazendo uso dos sentidos.”

No entanto, difere de Platão pois crê numa mente una, ou consciente. O eu é sempre o
mesmo. Os diferentes estados mentais é que entram em conflito, fazendo o eu reagir de
diferentes modos a um estímulo.
Temístio
Defende explicitamente que a alma é agente do Eu. E distingue esse Eu do que é ser Eu.
Este último é a objetivação de que eu sou alguma coisa que é diferente da consciência de mim.
Há então uma diferença entre o Eu sujeito e o Eu objeto.

Autores Árabes e o Aristotelismo


Avicena ou Ibn Sinna
Apesar de muito influenciado por Aristóteles, há uma diferença significativa. Avicena (no
exemplo do homem vazio) conclui que a alma é imortal, independente do corpo e/ou sensação.
Ao contrário de Aristóteles que dizia que tudo morria com exceção da mente ativa que era
apenas o “armazém” das ideias puras (mais propriamente dos processos
que as permitiam ser alcançadas).

Este defende ainda a existência de faculdades superiores na nossa


alma e estas são 7:

Averróis ou Ibn Rushd


Principal intérprete de Aristóteles, sistematizou a
sua ideia em 6 conclusões:

● Unidade do intelecto e monopsiquismo: A mente ativa é apenas uma, é uma inteligência


separada comum a todas as pessoas;
● Negação da imortalidade pessoal: A inteligência agente seria exterior á alma que
apenas teria inteligência passiva, parte do corpo e que morreria com ele.
● Produção do mundo por uma cadeia de ações singulares: A causa primeira apenas
pode criar um ser, uma inteligência, que por sua vez pode criar outro ser. Deus não
interfere nos destinos humanos.
● Tudo o que é produzido por Deus é eterno e é a própria natureza de Deus: Isto é, o
mundo e Deus são a mesma coisa, não existe criação independente. O mundo sempre
existiu, não foi criado, não há possibilidade de o nada se transformar em coisa.
● Determinismo Absoluto: Tudo é determinado pelas leis do mundo, logo não existe
liberdade.
● Teoria das duas verdades: Não há clareza quanto há posição do autor se duas
verdades eram ou não convergentes. Argumento: Se a filosofia permite chegar á
verdade religiosa de forma racional, essa verdade religiosa não pode ser transmitida
ás pessoas pouco cultas que não são racionais. É necessário transmitir as ideias através
de parábolas ou retóricas.
A Mente na Baixa Idade Média
Pedro Hispano
Estudou a alma, e dizia que esta se situava no centro do mundo cognoscível em busca
ativa de três realidades:

● A forma pura e do primeiro ser (Deus);


● O mundo exterior
● A contemplação de si própria.

Esta alma possuiria três inteligências:

● A de Deus;
● A inteligência separada;
● O intelecto possível.

A alma dividia-se em dois:

● Alma superior (intelecto agente);


● Alma inferior (que lida com a vida quotidiana, assemelha-se ao intelecto possível onde
se geram as abstrações por contacto com a experiência, mas sobre direção de intelecto
agente).

Uma inovação para a época, é que Hispano atribui grande importância à


vontade/motivação.

São Tomás de Aquino


O seu pensamento vem clarificar as noções
aristotélicas, tentando enquadrá-lo na doutrina
cristã.

S. Tomás defende uma alma “tripartida” como


Aristóteles, mas “concentrada” na alma
superior/racional.

Conceção da mente em S. Tomás


● Alma racional – conhecimento e procura de universais.

● Alma sensitiva
o Apetite sensitivo – concupiscível (procura de prazer material) e irrascível
(enraivece facilmente).
o Sentidos internos/faculdades – imaginação, memória, estimação e senso
comum.
o Sentidos exteriores – 5 sentidos.
● Alma vegetativa – alimentar e reprodutiva.
Occam e o conceptualismo
Este autor deitou por terra todo o edifício do saber escolástico Occam vem trazer uma
outra dúvida e tentar responder-lhes. Um dos problemas mais centrais à psicologia é o das
categorias, mais corretamente perceber se elas são de facto reais ou se são um produto da
nossa mente. Por exemplo, a categoria “cão” existe realmente? Ou será apenas uma convenção
de linguagem ou generalizações da nossa mente? Esta é a Questão dos Universais a
que Occam tentou responder.

Segundo Boécio:

● Os universais existem na natureza e a mente capta-os;


● Os universais são construções do espirito.

Para responder surgem 2 correntes:

● Nominalismo – defende que os universais não existiram na mente sendo


construídos pela linguagem;
● Conceptualismo – os universais existem, mas são construídos pela mente. Por isso, não
são um bom guia para a verdade (opõe-se a Aristóteles que dizia que a informação
bem trabalhada pode levar à verdade).

Capítulo 4: Do Renascimento ao
Racionalismo
Renascimento
O Renascimento foi uma época em que o homem se deu conta da sua importância e do
seu impacto no mundo, mas com a centralização do poder real deu lugar à importância das
regras e das leis. Isto explicaria a existência de dois momentos da filosofia renascentista:

● Neoplatonismo;
● Ênfase nas leis científicas.

O neoplatonismo no seu início defendia que o Homem estava no centro do mundo.


Contundo, isso depressa se alterou. Foi Giordano Bruno que culminou este corte com o passado,
afastando a preocupação com o homem e a psicologia, dizendo que nem a Terra nem o Homem
são o centro do mundo. Desta forma centra-se o mundo apoiando-se no heliocentrismo de
Copérnico. Até então a ciência como hoje a entendemos não tinha lugar no pensamento
medieval. A ideia do mundo físico era baseada na crença na vontade de Deus. Ao que parece,
o cientismo aparece na época medieval, com Roger Bacon que defendia a necessidade de
conhecimento direto pela experiencia (tendo-se focado na visão).

Francis Bacon
Tal como Occam, valorizava a experiencia, opôs-se a Aristóteles criando uma filosofia
que se refere exclusivamente ao mundo físico. As palavras são meras etiquetas das coisas que
até então têm sido estudadas em relação umas com as outras, sem perceber realmente as
próprias coisas em si.

Galileu Galilei
Apresenta uma visão muito diferente de Francis, queria interpretar a natureza em
termos de leis como a matemática e a geometria, enquanto Francis queria conhece-la pelos
sentidos. Contudo, para podermos compreender a natureza através das leis da ciência temos
de compreender aquilo que vemos e que aquilo que existe não são a mesma coisa. Para isso,
Galileu vai distinguir:

● Qualidades primárias (que seriam do próprio objeto, por exemplo, forma e


tamanho e massa);
● Qualidades secundárias (aquelas que derivam da atividade subjetiva do sujeito,
por exemplo, cor).

A matemática e a geometria poderiam explicar as qualidades primárias. Com esta


posição, estabelece-se uma distinção entre ciências naturais e ciências do espirito/sociais.

Racionalismo
Descartes
Propôs-se a construir um edifício de conhecimento radicalmente novo,
apenas baseado na evidência da verdade. Para fazê-lo vai por tudo em
dúvida, incluindo os sentidos (refuta Aristóteles). Surge então o famoso Cogito que se resume na
ideia de que sei que existo porque me sinto, penso, tenho consciência de mim. A partir do
Cogito, Descartes ruma ao encontro da “verdade indubitável” que estaria na base de todo o
edifício do saber que se propunha conhecer. Para tal passa por todo um processo de raciocínio
desde a prova das ideias inatas até à afirmação de Deus
perfeito e infinito.

Natureza da mente
A mente não seria somente consciência de si mas
seria consciência das ideias. Ideias essas que
poderiam surgir de várias fontes e que nos permitiriam pensar no mundo.

A questão do eu
O eu seria toda a atividade psicológica consciente. Surge aqui o dualismo Cartesiano
em que eu (a alma) existe mesmo sem corpo e este (mortal) nada pensa é apenas matéria. Para
melhor compreendermos o dualismo, Descartes admite 2 realidades:

Para Descartes estas duas dimensões estabelecem uma ligação entre elas. Contudo o
autor não conseguiu explicar como esta ligação se estabelecia.

Descartes afirma ainda a mente como 2 modos principais:

● O intelecto puro (independente do corpo, que pensa nas ideias inatas);


● Imaginação e sentidos (que dependem da ligação corpo/mente e são as
imagens mentais).

Espinosa
Também racionalista, foi muito inspirado por Descartes, tanto que a sua 1ª obra é a
apresentação das suas ideias. No entanto existem diferenças, enquanto Descartes era dualista,
Espinosa era monista, defendia uma realidade una que seria Deus, ou seja mente = matéria =
Deus = natureza. Para Espinosa, corpo e mente são apenas 2 formas de conhecer o mundo: na
3ª e na 1ª pessoa. Para sim, pensamento = realidade e para compreender Deus temos de
adotar 3 géneros de pensamento:
● Empírico – Saber fazer algo, mas sem saber o quê e como elas
funcionam. Isto funciona no quotidiano mas não na ciência.
● Conhecimento racional – Conhecer as leis que regem as coisas (o
seu porquê) de forma a prevê-las.
● Pensamento intuitivo – Verdades inatas, lógicas, com apenas 1
solução (em Descartes são ideias inatas). Basicamente são as verdades intuitivas.

Teoria das paixões


A teoria das paixões diz que, a motivação básica de todos os seres (animais ou
humanos) é aumentarem a sua essência. Contudo, nós vivemos num ambiente que possui
condições que propiciam este aumento de poder e outras que o contrariam. Assim existem 2
paixões fundamentais:

● Alegria (positiva, perante um ambiente que me dá poder);


● Tristeza (a negativa, perante um ambiente que mo retira).

Espinosa refere ainda que, para aumentar o nosso poder queremos impor aos outros o
que pensamos, distinguindo entre “nós” (os aliados) e “eles” (os inimigos). Todas as
paixões/emoções são positivas na medida em que criadas pelo exterior, são reativas. Podemos
concluir que o Homem é dominado por essas paixões sem ter a noção disso. Assim o Homem não
é livre porque não conhece verdadeiramente a causa do seu comportamento (então as paixões
são o 1º modo de pensamento).

Para ser livre, o Homem teria de guiar-se pelo 3º modo de pensar e perceber o porque
faz o que faz (tornar-se-ia demasiado calculista e egoísta, na busca do poder/liberdade).

Capítulo 5: Do Empirismo a Kant

Galileu
Mostrou a capacidade de união entre a matemática
(racionalismo) e a observação (empirismo). O empirismo
encontra-se diretamente ligado à ideia de que tudo quanto
há para explicar deve ser analisado em termos do que se vê
ou se pode medir. No entanto, a adaptação do empirismo à
psicologia é difícil e vários autores chegaram mesmo a
afirmar que “o que não se vê não existe”.Os principais
empiristas na filosofia são anglo-saxónicos inspirados por Occam e Francis Bacon.

Hobbes
Foi um nominalista, assim, defendendo que as classes do nosso pensamento são apenas
nomes convencionais que se aplicam ao real, opõe-se a Descartes (no dualismo) dizendo que o
facto de se poder pensar na mente como independente do corpo não significa que ela o seja, é
um puro erro no uso das palavras e conceitos. Além de nominalista, Hobbes foi um empirista
mas não anti inatista. O que ele defende é o seguinte:

● O conhecimento mental vem dos sentidos (teoria semelhante a Hume) e nesse sentido
Hobbes é empirista.
● Porém é inatista ao construir a sua teoria das paixões (que já vimos ter sido iniciada por
Descartes) dando-lhe uma perspetiva muito diferente das anteriores. Enquanto Descartes
e Espinosa relatavam as emoções de um solitário, Hobbes completa-a com a observação
do comportamento em sociedade.

O resultado é, portanto, uma maior ênfase do papel das emoções na relação social.

Teoria das emoções


As emoções seriam provenientes do movimento do corpo que geraria uma paixão,
seguida de debilitação (assegurada pela imaginação).

A chave para compreender as paixões é, o conatus. É este impulso primordial o


desencadeador da ação e de toda a vida humana/animal.

A questão seguinte que se coloca é a da competição pela sobrevivência, que se dá pelo


facto de todos os seus terem necessidades e características semelhantes. O problema mais
central que os indivíduos têm de resolver é o do poder (paixão da glória) que assegura os
recursos necessários à sobrevivência, e além disso satisfaz-nos, dá-nos alegria (lembrar a teoria
das paixões de Espinosa).

Para Hobbes todo o ser procura poder (nem todas de igual forma) o que resulta numa
guerra contínua, perigo constante, desgraçada e sofrimento.

No entanto, alem da vontade de poder, o Homem tem capacidades de raciocinais que o


permitem pensar e compreender que pode ser bom prescindir do seu poder entregando-o a
alguém superior que os defende em conjunto.

Assim, Hobbes defende que um estado forte é a única alternativa a um estado de caos
social. Este estado forte (estado leviatã – poder e modo) funcionaria, pois, ao transmitir medo
(tendência para preservar a própria vida) a quem tentasse expandir demais o seu poder
garantiria a paz comum. Posto isto, Hobbes é um autor importante devido ao seu estudo
introspetivo da mente e das tendências para ação, as motivações e emoções. De acordo com
Hobbes, a riqueza e ambição são mal vistas porque todos a queremos de forma que não
queremos que os outros tenham.

John Locke
Em primeiro lugar, Locke parte da experiencia (enquanto os aristotélicos procuravam as
funções da alma e os cartesianos o conhecimento da verdade por meio de um processo rigoroso)
para chegar ao conhecimento através dela.

Além disso, Locke é inovador também ao determinar o seu objeto de estudo. Ele não se
concentra nas coisas em si, mas na nossa representação delas, como conseguimos pensar sobre
elas, como essas ideias se geram em nós. Não se interessa pela ontologia (o que é uma coisa)
mas sim pela epistemologia (o que sabemos dessa coisa). Esta representação é estudada na 1ª
pessoa por observação direta da mente:

Para quê inventar faculdades e não analisar para ver o que lá está realmente?

Preconceito Atomista
Toda a nossa mente é composta por fontes de conhecimento, isto é, todas as coisas são
compostas por elementos mínimos que se combinam em coisas mais complexas. Na mente
percecionamos os elementos mais simples e depois formaríamos sínteses com esses elementos
simples (designados por ideias simples). Têm duas fontes:

● O mundo exterior (as sensações – primárias [das coisas] e secundárias [da


mente que as perceciona]);
● O mundo interior (as reflexões – consciência da nossa atividade mental). São
as reflexões que nos dão conhecimento, as sensações não correspondem à
realidade. No entanto, as sensações primárias podem transmitir propriedades
do mundo real enquanto as secundárias não pois estas são construções da
nossa mente, por exemplo, a cor.

A fusão das ideias resulta nas ideias complexas. Que são contruídas a partir de ambas
as fontes, sensações e reflexões. Ou seja, a nossa mente é passivamente determinada pelas
sensações ou reflexões, mas as ideias complexas dependem mais da atividade da mente. Além
disso, as ideias complexas são de três tipos:
● Substância;
● Relação;
● Modo.

O eu em Locke
Locke distingue a ideia de substância corporal (corpo) e mental (a mente), são meros
agregados de ideias simples:
● De corpo – “coesão das componentes solidas e separáveis e um poder de
comunicação do impulso” (passivo).
● De mente – “pensamento, vontade, poder de pôr um corpo em movimento e da
liberdade” (agente).
● Comuns a ambas as ideias complexas são as ideias de existência, duração e
mobilidade.

O Homem pode então ser percecionado como uma máquina racional. Cuidado que
“Homem” (o que vejo nos outros) é diferente de “pessoa” (o que vejo em mim
independentemente do corpo/forma). O eu é a consciência e os seus limites (não do corpo, mas
das recordações) é a pessoa.
David Hume
Hume deu primazia, à sensação. Para ele, para explicar os problemas da filosofia da
mente seria suficiente usar o método da observação, da descrição da experiência mental. Hume
chama ao seu trabalho “Geografia Mental” pois tentou diretamente observar o processo de
conhecimento como ele ocorre, à semelhança de Locke.

Geografia Mental ou Anatomia da mente


Hume parte da posição de Locke em que temos acesso às perceções do mundo exterior
e reflexões do mundo interior. Ao que acrescenta:

“Temos uma perceção ao ver uma coisa e uma reflexão ao recordá-lo.”.

As perceções seriam dois tipos:

● As ideias (forma atenuada da impressão, ou se preferirmos, o seu registo em


ideias simples que combinadas originam ideias complexas);
● As impressões (perceção exata, nítida e intensa que temos ao, por exemplo,
observar algo diretamente.

As ideias seriam guardadas, mediante a intensidade da impressão, na memória ou na


imaginação.

Para Hume o mundo


mental é mais do que um
aglomerado de imagens mentais. Há, na mente, maneiras de relacionar essas imagens umas com
as outras, mediante 7 condições, das quais se destacam:

Semelhança;
Contiguidade – estão muitas vezes associadas, por exemplo, mesa e cadeira;
Causa-efeito – permite compreender as relações dinâmicas e hipotetizar o que
não vemos.

Para Hume, estas 3 regras de associação entre ideias simples era a chave para a
compreensão do funcionamento mental.

A ilusão do eu
Também Hume analisa a questão do “eu”, e diz que moldamos uma identidade própria
que não existe: não somos quem fomos mas associamos os estados sucessivos através da
memória. Assim, a noção de identidade é ilusão no sentido em que não é uma coisa, o “eu” seria
apenas consequência de associação de vários estados mentais (anteriores e o atual) que
afirmamos serem pensados pelo menos são ainda que por vezes cheguem a ser contraditórios.

A natureza humana em Hume


Tal como Locke e Espinosa, Hume centra todas as emoções numa distinção entre prazer
(ganho para Espinosa) e dor (perda para Espinosa).

A noção dessas paixões (emoções) poderia ser:

● direta (sentido por mim);


● indireta (sentido por empatia).

Para Hume todas as paixões têm uma


causa (impressão ou ideia) contudo no orgulho
(exceção de Hume) há o eu sujeito e o objeto
(o causador [sujeito] e o sofredor [objeto]). No
caso do orgulho eu sou o sujeito e objeto, no
caso do amor o objeto (onde se reflete a
paixão) é outro.

Hume não exclui o inatismo, as sensações dão conhecimento, não dão a razão.

Kant
Surge como reação a Hume, que afirma que o conhecimento vem dos sentidos
(empirismo) e é explicável pela “psicologia”. Kant não concorda totalmente com esta ideia. O
conhecimento vem dos sentidos sim, mas e antes de chegar aos sentidos? O que é isso de “haver
experiência”? Kant não tinha uma palavra para a ideia de “estrutura psicológica ANTERIOR ao
conhecimento”, portanto chama-lhe sempre “metafísica”. Estes processos ANTERIORES ao
conhecimento seriam os a priori e são inatos, determinando a sensibilidade e a razão, sendo a
condição para qualquer conhecimento.

A resposta de Kant
Quer a razão, quer a sensibilidade têm regras a priori que não são apenas a
associação. São algo que tem de compreender a origem dessa física da mente que estuda os
processos mentais como, por exemplo, a associação. Para isto, Kant vai estudar se existem a
priori sintéticos.

Kant quer saber se a razão cria conhecimento novo ou se o conhecimento vem só da


experiência, ou seja, distinguir sintético (o que gera novo conhecimento) e analítico (o que não
gera conhecimento). Se for verdade, o 2º caso, como Hume defendia, o metafisico deixa de ter
sentido, pois se o conhecimento deriva da experiência/físico para que serve a metafisica que
estuda “para além do físico”? Assim, Kant procurou provas de geração de conhecimento na
razão, independentemente dos sentidos.

● No caso de a “parte ser inferior ao todo” a própria definição de “parte” e


“todo” leva à conclusão da proposição acima. Neste caso em que o pensamento
lógico NÃO cria conhecimento, chama Kant, juízo a priori analítico.
● No entanto no caso de a=b e b=c, logo a=c, se verificar sempre mesmo que
não sejam estudados todos os números, gera conhecimento sem a
experimentação. Ou seja, é um juízo a priori sintético.

Esta conclusão apenas demonstra a necessidade de compreender em que é que a mente


influencia a apreensão da realidade exterior. Segundo Kant, interpretamos a nossa experiencia
com base nos a priori dos sentidos e do entendimento e nenhuma atividade humana escapa a
isso.

O eu transcendental e o eu empírico
A principal diferença é:

● O eu empírico – são os conteúdos da minha mente, os meus pensamentos / sentimentos /


perceção.
● O eu transcendental – são as condições necessárias par que haja unidade de
consciência (o que determina eu determinado estudo mental é meu), único sujeito de
experiência.

Como pode o mundo físico ser então conhecido? Kant responde com o método
transcendental, atual “funcionalismo”. Kant não descreve a mente, procura encontrar, por
raciocínio funcional, que operações da mente são necessárias para que haja conhecimento.

Capítulo 6: Contexto cultural dos


inícios da Psicologia científica
Comparação dos modelos da física e dos modelos do significado
A psicologia funda-se, no final do séc. XIX e inícios do séc. XX, na Alemanha, em pelo menos
três versões diferentes:

● A de Wundt, que apresenta ele próprio duas versões;


● A de Freud;
● Psicologia Gestalt.

Pouco depois desta fundação da psicologia na Alemanha, funda-se nos Estados Unidos
outra psicologia dita “da adaptação” que vai cedo dar ao condutismo.

Na Alemanha, durante o “século das universidades” (séc. XIX), que era o principal centro
de irradiação da psicologia académica, as universidades pretendiam produzir ciência. A ciência
podia fundar-se em dois modelos/correntes:
● Ciências naturais (lidam com a matéria);
● Ciências do espírito (lidam com a atividade mental).

Capítulo 7: Positivismo Materialista e a


Reação de Significado
Capítulo 8: Fundação da psicologia
Experimental
O papel de fundador da psicologia experimental tem dois candidatos: Fechner e
Wundt. Contundo, Wundt contribui muito mais para a fundação desta.

Fechner
Depois de estudar medicina, física e matemática, Fechner dedicou-se ao estudo da
sensação, por exemplo, as imagens secundárias ou consecutivas, que são, por exemplo, a
imagem que se reflete numa parede branca após olharmos para uma lâmpada acesa
fixamente.

Com os seus estudos, Fechner criou uma metodologia ainda hoje conhecida por limiares
diferenciais, que permitia detetar quais as menores diferenças necessárias para que se sentisse
uma mudança de estimulação – mínima diferença percetível.

Através desta metodologia chegou-se à Lei de Weber-Fechner que diz que a magnitude
da sensação (s) é igual a uma constante (k) vezes o logaritmo do estímulo (logR), esta função
(s=K×logR) representa a relação entre a magnitude de um estímulo inicial e a magnitude da
diferença necessária (diferença mínima percetível) para que seja detetada uma alteração.

Além desta, Fechner propôs outras formas de medir a sensação que conseguia convencer
a comunidade científica de que a relação entre o corpo e a alma era mensurável. Esta
demonstração foi crucial, dado que Kant declarou a impossibilidade de medir a mente.

Wundt
Declara-se Wundt como “pai” da psicologia experimental, uma vez que foi ele que
impulsionou o estudo experimental da mente e da consciência. Contudo, Wundt não considera a
psicologia apenas experimental e, desde logo, o deixou claro. Assim distinguiu “psicologia
experimental” de outras psicologias e defendeu que o método experimental não seria suficiente,
visto que as atividades humanas superiores, pensava Wundt, não eram abordáveis pela
experimentação.

Bases Intelectuais
Wundt formou-se em medicina com o Johannes Miller (que seguia os ideais de Kant).

Em 1863 publicou “Lições sobre a alma dos homens e dos animais” onde defendia que
toda a atividade mental poderia ser estudada pela elucidação dos processos neurofisiológicos
que a determinam. No entanto, com o evoluir do seu pensamento, repudiou essa ideia.
Esta evolução do pensamento de Wundt é notória na passagem progressiva da sua
crença de que a Fisiologia poderia explicar os processos mentais para uma crença de que a
Fisiologia apenas é boa como metodologia. Mais tarde, Wundt afirma que o método
experimental é insuficiente para estudar a mente porque além de características fisiológicas,
possui também culturais/ambientais.

Para compreender esta oposição entre Fisiologia e Psicologia é preciso ter presente a
distinção entre ciências da natureza e ciências do espirito. As primeiras tinham como lema
“reduzir todos os fenómenos a matéria”, enquanto as segundas consideram fenómenos culturais e
mentais irredutíveis a matéria e precisavam ser compreendidas e descritas ao nível em que
ocorriam. Assim, a psicologia de Wundt assenta nos dois campos.

Posição Filosófica
Wundt foi um filósofo que privilegia a psicologia (mas por razões filosóficas e não por
se interessar apenas pela questão da mente). Intelectualmente, Wundt defende ideais um pouco
contraditórios. Se, por um lado, defendia o positivismo (não especular, basear a teoria em
observação) e o elementarismo (a mente como produto de associação de elementos) por outro
lado, defende a tradição germânica da “mente ativa” (que apoia que a mente impõe ordem
aos dados dos sentidos e não é apenas consequência da informação exterior).

Para Wundt não haveria distinção entre os fenómenos do mundo físico e os fenómenos
mentais, declara portanto que seriam exatamente o mesmo mas, na ciência natural, se faria uma
abstração da subjetividade dos fenómenos (tal como Galileu pretendia, ser objetivos e estudar
apenas o que é do objeto (Qualidades Primárias) e não do observador (Qualidades
Secundárias).

Conclui que a psicologia deveria estar no centro das ciências naturais e do espirito,
estudando a subjetividade dos fenómenos e as consequências, mais objetivas, dessa
subjetividade, pois não se poderia compreender o todo olhando apenas a parte (como queriam
os materialistas).

Ideias Psicológicas
Apresentam-se em seguida os conceitos em Wundt:

Paralelismo psicofísico
Segundo esta ideia, físico e psicologia partiriam dos mesmos fenómenos, “representação
mental das coisas”, mas a Física abstrair-se-ia da parte psicológica da representação e a
Psicologia focar-se-ia nessa parte. Haverá assim uma causalidade física e uma causalidade
psicológica, ambos partes do mesmo fenómeno, mas independentes entre si. Perante este
paralelismo, a mente não pode ser explicada pela Física pois a mente é psicológica e a
Física descarta essa dimensão. Mas pode ser estudada empiricamente.

Elementos da consciência
Apesar de ser verdade que Wundt era um elementarista isso não significa que
acreditasse que a nossa experiencia das coisas fosse elementar. No entanto, haveriam sensações
elementares que se combinam sendo necessário, por análise psicológica, pô-las em evidência.
Isto é, ele claramente diz, que a experiência é una, ou seja que a nossa experiência das coisas
não se decompõe, mas diz também que a filosofia deve procurar os elementos “behind” da
consciência.
Ao tomar esta posição segue a posição de Hume de que existem sensações elementares
que se combinam e que seria importante evidencia-la. Estes elementos/sensações básicas são,
para Wundt, as sensações em si, mas também os “sentimentos” e a “vontade”.

Estes vários elementos combinar-se-iam por associação (que seria, na sua maioria,
inconsciente) não tendo nós consciência de todos os elementos (da parte) mas somente da sua
combinação (o todo). Mas como se processaria esta combinação?

● Combinação Passiva – associação não dirigida e atípica;


● Combinação Ativa – análise e síntese do que está na nossa consciência (será a
combinação típica).

Por outro lado, na nossa consciência haveria foco e periferia e, para haver combinação
ativa (análise e síntese) teria de evocar-se as coisas para o foco da consciência. Uma vez no
foco as coisas seriam percecionadas, ou seja, o Eu tem consciência nítida do que está no foco.
Aquilo que, por outro lado está na periferia seria aprendido não havendo consciência.

A perceção é sempre orientada por um esforço (é ativa) mas não há um agente que a
dirige, é sim impulsionada por 3 atividades/sensações subjetivas:

● Análise;
● Síntese;
● Orientação para uma finalidade.

Eu
Se o estado mental prototípico é a vontade, a mente está sempre como que em tensão
perante uma tarefa. Há então um polo organizador/uma direção para a resolução do
problema. O esforço da vontade une os elementos da consciência e é sentido como diferente
desses elementos. É esse sentimento de vontade que une o campo da consciência que Wundt
chama EU. E este sentimento (o “eu”) pode ocorrer como parte ou separado do corpo. Quando
separado pode ser:

● Por confusão com o conteúdo da mente;


● Como abstração (eu coisa).

O mais comum, no entanto, é ser sentido como uma experiência de vontade dirigida
para um problema que inclui corpo e mente. O eu não é uma ideia mas sim um sentimento
que resulta da interconexão de todas as coisas experienciais psicológicas.

Elementarismo e inatismo
Wundt era elementarista, acreditava que a mente se explicava por análise dos seus
componentes. Contudo Wundt também era bastante inatista, acreditava, entre outras coisas,
herança do adquirido, numa linguagem como resultado de preparações inatas, na expressão de
emoção inata, etc. Para haver aqui uma contradição, mas não é o caso, o elementarismo de
Wundt deve ser compreendido na seguinte perspetiva: há elementos e combinação de
elementos, mas essa combinação leva necessariamente a processos mentais típicos da espécie.

Para concluir, a grande herança de Wundt é a da fundação de uma psicologia de


laboratório segundo os métodos da fisiologia.
Capítulo 9: Reação do significado –
A Eteologia e a Teoria Gestalt
Os verdadeiros fundadores da etologia são o biólogo Uexkill e o ornitólogo Heinroth.
As ideias destes dois autores convergiram no trabalho de Lorenz que desenvolveu uma teoria
fascinante do comportamento com enfase na parte instintiva, mas que oferece a possibilidade
de se desenvolver no sentido humano.

Heinroth
Em biologia, cada espécie tem uma anatomia única. Porém, Heinroth notou que, além da
anatomia, o próprio comportamento também permitiria a identificação de espécies. Decidiu
então fundar uma disciplina, a Etologia com a qual pretendia listar/catalogar os vários
elementos comportamentais de algumas espécies. Neste trabalho eram identificados os
comportamentos, a sua função e a sua integração na sequência geral de comportamento. Estes
procedimentos têm, evidentemente, semelhança com a anatomia – fisiologia – grupos de
elementos que se integram num todo funcional

Uexkill
Era um fisiologista do comportamento, estudava a função e como a organização
anatómica resultava em funções comportamentais integradas. No seu tempo o modelo era
atomista, estudavam-se preparações para identificar mecanismos e suponha-se que esses
detalhes se integravam num todo, tipo maquina. Os organismos eram vistos como máquinas, sem
vontade e/ou mente. Uexkill estava descontente pois acreditava que os animais seriam sujeitos
de ação. Para o demonstrar, apresenta o seguinte argumento: O ciclo funcional.

Ciclo Funcional
Tudo começa na teoria dos reflexos (todo o nosso comportamento é um reflexo) que
Uexkill diz estar errada. Ele não nega a existência de outros reflexos a questão é que existe
também uma ligação ambiente-organismo.

Assim, o organismo vivo é composto, em vez de um reflexo, por vários ciclos funcionais
entre o ambiente e ele mesmo, tornando-se necessário, para caracterizar o organismo a estudar,
através do ciclo funcional, essa relação que se estabelece com o ambiente. Ou seja, o estímulo
vem do ambiente e faz o organismo reagir-lhe de determinada forma.

Conclui, Uexkill, aquilo a que se chama “reflexos” são, na verdade, elementos de um


plano que pode descrever-se em termos de pontos e contrapontos. Sendo o ponto o recetor de
significado (no organismo) e o contraponto o emissor de significado (no ambiente). Haveria
assim um ciclo perceção-ação em que o ponto = perceção e contraponto = desperta a
perceção. Mas o sujeito não recolher toda a informação, interpreta o ambiente e reage ao
estimulo que selecionar como relevante.

Cada par de ponto-contraponto descreve então um ciclo funcional que consiste:

● Isolamento percetivo de uma parte do ambiente;


● Resposta motora sobre o ambiente (não é um reflexo mas uma função
comportamental dirigida sobre o ambiente).

Cada organismo tem então vários ciclos funcionais que se interrelacionam de modo a
adaptar o animal ao seu ambiente.

Com Uexkill o comportamento é refletido como uma interpretação feita pelo


sujeito/animal de um objeto/ambiente ao qual o sujeito responderá, ou seja, o comportamento,
tal como a nossa mente, passa a ser a forma de interpretar o ambiente. Estando cada ciclo
funcional preparado para interpretar um ambiente diferente, de tal forma que cada ciclo
funcional caracteriza a espécie e o ambiente a que pertence, definindo o mundo de cada
animal.

A isto chamou-se a doutrina dos mundos próprios, ideia de que cada animal define o
mundo em que vive, que constrói pela ação e perceção (ideia Kantiana).

Etologia e Psicologia
A etologia não é uma psicologia, pelo menos no sentido mentalista da coisa. Porém
permite o acesso às representações do mundo possuídos pelos animais. Uexkill, como vimos:

● Defendia a necessidade de explicar os mundos próprios, por exemplo, a que


cada animal rege e como o faz;
● Compreendeu que a doutrina dos mundos próprios nos é aplicável à semelhança
dos animais.

Desta forma, o paradigma etológico permitia sem grande dificuldade progredir para
uma psicologia das representações em que se tentaria compreender a contribuição de a priori
em sentido Kantiano, da influência cultural e de uma psicologia da experiência.

A teoria de Gestalt
A “Teoria de Gestalt” transmite a ideia de que qualquer coisa tem, no seu todo,
propriedades impossíveis de identificar nas partes. Neste sentido, “Gestalt” = “propriedades do
todo”.

Percursores
O movimento Gestalt emerge de críticas feitas a Wundt que era elementarista. Gestalt
nega que o mundo seja elementar e possa ser sintetizado. Questiona, “como são os elementos
que criam o todo se são todos distintos? Não há síntese de elementos, mas sim uma experiência
total.”
Ehrenfels faz a primeira crítica ao elementarismo wundtiano defendendo que,
independentemente dos elementos do conjunto, haveria qualidades de conjunto que são
percecionados apenas na avaliação do conjunto, como a “aspereza” ou a “nitidez”.

Por outro lado, também Carl Stumpf se opôs a Wundt mostrando a insustentabilidade
da sua posição através do estudo de uma melodia, que avaliamos como um todo e não como
uma parte, tal como, diz Stumpf deveríamos fazer com a consciência/mente.

As ideias da psicologia de Gestalt


Independentemente de sermos mais inatistas ou ambientalistas, o nosso modelo de
compreensão da mente é fisiológico. Pensamos sempre que existe um organismo que filtra a
potencial informação que se encontra “lá fora” e a estrutura com base na organização do S.N.

Assim o processo seria:

Em todos os casos, o modelo de pensamento é igual: Mente como máquina que, a parte
dos mecanismos neurais e psicológicos, transforma a informação do ambiente e a torna
consciente e/ou gera comportamento.

A posição de Gestalt é completamente diferente. Como resultados de uma recusa em


aceitar a mente/consciência como análoga a uma máquina (ou seja, que a mente seria apenas
uma estrutura com regras firmes de transformação) que deveria ser explicada em termos das
construções que o sistema nervoso coloca à informação proveniente do ambiente, os Gestaltistas
sugerem que as próprias forças da natureza são organizadas, designadas por “Teoria do
campo de forças”.

De facto, Gestalt afirma que se deve compreender a mente e o comportamento em


termos da relação auto-organizada que a mente estabelece diretamente com o ambiente (e não
como uma máquina). Os Gestaltistas, contra todas as visões da mente concebidas anteriormente
e completamente não-elementarista, pretendiam assim: uma consciência concebida como o
processo de deteção de forças no ambiente, que seria inato.

Para tal, centram-se na experiência comum, quotidiano, de olhar para um objeto sobre
um fundo, ou seja, aprender o conjunto, e não os elementos que o constituem.

As regras de organização da psicologia de Gestalt são varias e todas implicam que a


mente impõe ao mundo físico uma estrutura que os elementos não têm intrinsecamente. Quer seja
tendência para ver figura sobre fundo ou padrão/grupos de elementos, eles são formados de
acordo com princípios:

● Proximidade – elementos próximos agrupam-se;


● Semelhança – elementos semelhantes agrupam-se;
● Continuidade – juntar elementos que perfazem símbolos que
conhecemos (por exemplo, pontos na vertical são um reta na vertical);
● Complemento – ou fechamento, de figuras conhecidas que se
apresentam incompletas;
● Boa forma – procuramos formas simples, simétricas, equilibradas e
completas.

Além disso, Gestalt mostrou também que se uma imagem for reversível quando vemos
uma das combinações não podemos ver a outra. O que significa que se veem sempre os
padrões de estímulos e não os elementos que o combinam.

Ainda assim, e mesmo quando não depende da aprendizagem (pois acontece o mesmo
com figuras desconhecidas), Gestalt segue a ideia, mostra de que a mente não impõe ordem,
deteta-a no mundo exterior que também a tem. Assim, o pensamento Gestaltista sobre o
processo de apreensão do mundo seria:

Desta forma a tarefa da psicologia seria


a identificação das leis gerais da dinâmica
segundo a teoria do campo, que diz que todas as atividades humanas ocorreriam num campo
de forças designadas por espaço vital (composto por todos os acontecimentos
passados/presentes e expectativas de futuro com o potencial de influenciarem o comportamento
por corresponderem às necessidades do sujeito) que seria único e individual como o “mundo
próprio” de Uexkill. O espaço vital sofreria tensão, quando em alerta para uma necessidade,
que se desfazeriam pela sua resolução (através de comportamento). Comprovado pelo Efeito
Ceigarnik que mostra que as pessoas se lembram melhor do que ficou para resolver, porque
causou tensão que não foi dispersada do espaço vital, do que foi resolvido até ao final.

Em Gestalt “não há espaço para o Eu” sendo este um polo do campo de forças. Como
pretende compreender como a mente deteta os campos de forças é pouco dependente do Eu.

Capítulo 10: A teoria de Jean Piaget


Piaget foi o último florilégio do pensamento europeu continental sobre a mente e foi a
última grande teoria propriamente psicológica.

A Etologia é muito próxima da teoria piagetiana…


Ambas procuram caracterizar as relações entre organismo e ambiente - mas a
“psicologia genética” de Piaget vai desaparecendo dos currículos da psicologia. Tal como a
Etologia, a psicologia genética parte da ideia de que o mundo representado tem de ser
construído – essa construção é um processo complexo que deve ser descrito através de estruturas
de entendimento (processos mentais). O pensamento biológico assenta na ideia de funções de
relação entre organismo e o meio – significa isto que toda a anatomia fisiológica se
compreende em termos de funções cujo funcionamento depende de estruturas internas que
processam o ambiente (processamento ativo). Piaget é claramente menos biólogo que os
etólogos. O seu interesse foio estudo da inteligência, não o estudo do comportamento.

Assim Uexkull defendia a necessidade de explicar quais os mundos próprios, quais os


estímulos a que os animais eram sensíveis e como reagiam a esses estímulos Uexkull
compreendeu também que a teoria dos mundos próprios se poderia aplicar à nossa espécie,
fazendo com que cada um de nós veja as coisas de um prisma diferente. Afirma que a
inteligência humana tem de ser caracterizada em termos de regras de funcionamento internas
que devem ser inferidas a partir das interações com o meio.

No entanto, têm objetivos diferentes…


A eteologia interessa-se por todos os tipos de interação.

Piaget interessou-se apenas pelas interações que lhe permitiam hipotetizar o


funcionamento da inteligência e dos juízos de verdade e morais. Interessou-se pelo próprio
pensamento (do homem ocidental), só se pode compreender a construção destas capacidades
através de uma perspetiva genética.

Ideia fundamental
Há estruturas iniciais (uma organização interna) que se vão aplicar ao mundo exterior
para assimilar esse mundo exterior. Para assimilar esse mundo, as estruturas internas têm de se
acomodar para se aplicarem ao aspeto particular a que estão a ser aplicadas. Outro
pressuposto da teoria de Piaget é que o conjunto de conceitos que assimilam o ambiente
modificam-se não progressiva mas subitamente: geram-se estádios de desenvolvimento, que se
podem usar para caracterizar certos períodos da vida da criança. Cada estádio evolui de tal
forma que certas experiências com o exterior destroem o seu equilíbrio – Piaget postula uma
tendência à equilibração das estruturas.

A identificação das estruturas lógicas que caracterizam cada estádio e a sequência de


modificações na lógica de um estádio para outro são os objetivos da teoria de Piaget.

O desenvolvimento psicológico
A teoria de Piaget distingue estádios e períodos. Períodos: Sensório-motor,
Pré-operatório e operatório concreto, operações formais.

Inteligência Sensório - Motora


Baseia-se, segundo Piaget, em reflexos e esquemas (esquema-ação aplicada ao
exterior). Os esquemas derivam dos reflexos – são acomodações dos reflexos a estímulos. Os
esquemas que consistem, por exemplo, no morder, agarrar, chupar, através das reações circulares
primárias (repetição do mesmo esquema), vão ser aplicados a uma grande quantidade de
objetos. Assim, de cada vez que há uma aplicação a um objeto, há uma assimilação desse
objeto ao esquema – o esquema tem de se acomodar ao objeto. Assim se
produzem esquemas novos por diferenciação. Nesta fase (sensório-motora), as
reações circulares são apenas comportamentais (não sendo necessário invocar
nenhum conceito de representação mental). É através destas reações circulares que
se produzem esquemas de interação com o meio cada vez mais complexos.

● Mais tarde surgem as reações circulares secundárias – comportamentos que


são mantidos de maneira a aumentar a exposição à estimulação:
o Reações circulares primárias – o reforço é o comportamento.
o Reações circulares secundárias – o reforço provem do ambiente (a
criança faz um comportamento para variar a estimulação
proveniente do ambiente).
1. Mais tarde as relações com o ambiente dependem das reações terciárias.
A principal diferença das secundárias é que a criança tem maior noção de
independência entre agente e agido: assim vai variar o seu comportamento de maneira
quase intencional para fazer variar a estimulação.

Piaget defende que há uma descentração progressiva do organismo relativamente ao


ambiente: Na criança muito pequena não há nenhuma separação entre organismo e ambiente.
Progressivamente, a criança compreende que ela e o ambiente são dois termos diferentes do
processo de ação e de conhecimento - reações circulares secundárias.

A cognição, segundo Piaget, existiria apenas na medida em que o sujeito se


diferenciasse do objeto e que o objeto existisse como independente da ação do sujeito
(constância – depois de fecharmos uma porta, o quarto continua lá ou deixou de existir?). Seria
então a existência de um mundo representado estável que permitiria falar de cognição. Este
mundo ocorre progressivamente, na medida em que sujeito e ambiente se vão diferenciando.

Fase pré-operatória
A criança existe num mundo que lhe é exterior, mas mantém uma grande autocentração
(centrada em si). A separação do eu e o ambiente torna-se progressivamente maior: a criança
começa a ter imagens mentais – estas imagens mentais não permitiriam ainda uma manipulação
mental.

Operações concretas
Mais tarde o comportamento da criança passa a ser mais plástico – operações concretas
(tem vários estádios e dura dos 6 aos 11 anos). O comportamento da criança, nas tarefas de
classificação, de conservação de objetos e de transformações, pode ser descrito em termos de
operações formais da lógica. Não interessam a Piaget as capacidades de atribuição de
significado, mas apenas as atividades que vão culminar adiante, nas operações formais (entre os
11 e os 15 anos).

Operações Formais
Esta fase caracteriza-se por uma autonomia das operações anteriores, que do
comportamento passam a ser interiorizadas – a representação que a criança faz do mundo é
menos acional e mais cognitiva. Segundo Piaget, a criança passa a ser um pensador com as
características que atribuía à ciência. É a necessidade que mostra que a criança chegou às
operações formais – é esta necessidade intelectual que mostra que a lógica da relação com o
ambiente passou para o plano mental.

Conclusão
Piaget interessou-se pelas géneses das categorias de espaço, tempo, objeto,
causalidade e não pela representação naturalista do ambiente – Piaget estava apenas
interessado em saber como surgia o pensamento.

Capítulo 11: Psicanálise


Sigmund Freud
Anteriormente a Freud, outros autores pensaram na pessoa com foco nas suas emoções.
De facto, as primeiras tentativas de Freud convenceram-no de que haveria poderosas
motivações inconscientes (ideia de Schopenhauer e Hartmann) frequentemente sexuais que
influenciavam o comportamento humano e que esse comportamento tem tendência a ser
interpretado através de falsas razões conscientes (Brenheim). A partir daqui, interpretou as
dificuldades em aceder às verdadeiras causas como uma resistência inconsciente em aceitar a
verdade. Para atingir as verdadeiras causas, Freud encontrou a associação livre, desenvolvendo
mais tarde a interpretação de sonhos que derivam de processos não-conscientes que estariam
meio que censurados, sendo necessária a sua interpretação.

Relações Objetais
Freud baseou todo o mecanismo da vida mental em relações objetais: as minhas
emoções em relação a outras pessoas. Para ele, uma perturbação emocional tinha sempre que
ver com o que o paciente sentia por outras pessoas ou pensava que essas pessoas sentiam.
Assim, as motivações na teoria freudiana são todas objetais e a interpretação de todos os
conteúdos da vida mental são representados em termos relacionais – este ponto é importante,
mas redutor, pois existem emoções e motivações que não têm que ver com aquilo que se sente
pelos outros. Esta interpretação de tudo em termos de sentimentos interpessoais pessoais parece
ter sido uma característica única de Freud: um pesadelo implicava medo de alguém e não
apenas medo.

Inconsciente e Repressão
Defendeu que haviam poderosas motivações inconscientes, frequentemente sexuais que
influenciavam o comportamento das pessoas, e que esses comportamentos tendiam a ser
interpretados em termos de razões (falsas) conscientes. Interpretou as dificuldades de acesso às
verdadeiras causas como uma resistência inconsciente em aceitar a verdade, que seria
censurada. Para atingir as verdadeiras causas, Freud encontrou um método mais seguro do que
a hipnose: a associação livre, que lhe foi sugerida quando um paciente que não foi
completamente hipnotizado começou a fazer associações de palavras que Freud conseguiu
interpretar. Mais tarde, desenvolveu a interpretação dos sonhos que eram diretamente
provenientes de processos não-conscientes. Contudo, mesmo nesses casos, a censura não se
encontraria ausente, de modo que seria necessária uma hermenêutica/interpretação do sonho
que traduzisse os seus símbolos e significados ocultos.

“O sonho, tal como um sistema neurótico, é a consequência da repressão sexual


e funcionaria como um escape aos processos de censura que o Eu introduz.”

Teoria de Freud
É complexa e evoluiu no tempo: dois tópicos que se referem à arquitetura mental.

1. Inconsciente, pré-consciente, consciente;


2. Ego, id e superego.

Primeiro Tópico e Sexualidade Infantil


Seguindo a técnica da associação livre e da interpretação dos resultados dessa
associação, Freud concluiu que o inconsciente não era apenas um repositório de conteúdos
censurado, mas também uma luta pela expressão desses conteúdos contra os mecanismos da
censura. Haveria, assim, duas forças diferentes em oposição:

● Os processos sexuais, que constituíram o chamado princípio do prazer, inconscientes e


que procuram exprimir-se;
● Princípio da realidade, determinado pelo comportamento que o sujeito tem de assumir.
Nesta fase, a vida psíquica é criada como polarizada entre as motivações de
autopreservação, conscientes (princípio da realidade) e as pulsões sexuais (princípio do prazer)
egoístas e passíveis de punição social. Na inter-relação entre estes dois princípios (o da
realidade e o do prazer) forma-se a sexualidade infantil, fundamentalmente egocêntrica, em
que o prazer seria sucessivamente sentido em 3 zonas erógenas do corpo: boca, ânus e pénis. A
origem destas três localizações liga-se ao facto de existirem atos sexuais que as implicam. Mas
além disto, Freud baseia-se no trabalho de Bölsche sobre a filogenia do sexo:

● Defendia a ideia de que a ontogénese recapitula a filogénese (a ideia é de que todos


passaríamos pelo estádio de peixe, de réptil e de mamífero inferior durante a vida
fetal). E isto também se passaria com a sexualidade e Bölsche propõe a ideia de que a
filogénese do sexo tem fases orais (reprodução pelo aparelho bucal), anal (união das
cloacas) e finalmente genital.

A teoria é incorreta, mas a ideia de Freud é que a sexualidade humana recapitularia


cada uma dessas fases e, para passar à seguinte, haveria repressão da anterior. A sexualidade
infantil segue estes vários estádios, e a criança vai assegurando o triunfo do princípio da
realidade sobre o princípio do prazer, culminando o complexo de Édipo: a criança deseja
sexualmente a mãe mas sente-se impedida pela posse efetiva que o pai tem do objeto dos seus
desejos. Na teoria freudiana, a mãe, associada com a satisfação dos desejos, é o primeiro
objeto sexual. Mas a criança tem de rivalizar com o seu próprio pai, que pode, em vingança,
castrá-la. Em consequência tem de se tornar igual ao pai e transferir o seu investimento sexual
para outras figuras, se o processo não for adequadamente resolvido haverá neurose. Como
podemos reparar até aqui, a teoria é apenas centrada no rapaz.

Também existem teorizações sobre a rapariga, mas parecem modificações da proposta


feita para os rapazes; o desenvolvimento da rapariga seria o mesmo do rapaz mas ela
dar-se-ia conta de que lhe falta o pénis. Assim, desenvolveria uma “inveja do pénis”, uma
espécie de consciência da sua inferioridade relativamente ao rapaz (pois o pénis simboliza
“dominância” e “poder”), que seria o traço distintivo do sexo feminino. A inveja do pénis
explicaria também a vontade de ter filhos, tendência para a masturbação clitoriana (o clítoris é
o equivalente feminino do pénis), a atração pelo pai (identificação com o pénis que lhe falta) e
a menosprezo/ódio sobre a mãe (pessoa castrada porque não tem pénis e que lhe deu passou
a mesma característica).

Segundo Tópico e Instinto de Morte


Na sequência da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), Freud modificou a sua teoria,
principalmente por ter sido impressionado pelo facto de os traumatizados de guerra tenderem a
sonhar, repetidamente, com as situações traumáticas. Freud e os seus discípulos nunca aceitaram
que os traumatismos de guerra fossem devidos à própria guerra.

Karl Abraham, um dos discípulos mais fiéis, chegou a propor que os traumatismos de
guerra eram provenientes da censura da homossexualidade provocada pelo contacto
prolongado com outros homens.

Esta “resistência” à causa óbvia das neuroses de guerra foi causada pela ideia
freudiana de que todas as neuroses têm origem sexual. De modo a explicar as repetições dos
sonhos traumáticos sem alterar essa afirmação, Freud criou uma pulsão de repetição consciente
que não se conformava com o princípio do prazer. Assim, distinguiu entre:
● Pulsões de vida (ou Eros, da mesma raiz etimológica de “erotismo”): eram pulsões
sexuais de reprodução;
● Pulsões de morte (ou Thanatos, personificação da morte): tendiam para a dissolução e
para a quebra de todos os laços, e eram responsáveis pela agressividade.

Estas duas pulsões(=tendências) estariam sempre em conflito. Assim, em vez de haver


oposição entre o princípio da realidade (a auto-preservação) e o princípio do prazer (as
pulsões sexuais), Freud agrupa:

● De um lado, princípios de auto-preservação do Eu e de auto-preservação da espécie,


que reúne sob Eros;
● E do outro, a pulsão de morte, Thanatos.

Mais tarde foi mostrado que o Ego era influenciado por modelos exteriores que não se
compreendiam nem em termos de Eros nem de Thanatos. Esta reflexão levou Freud a elaborar
um segundo tópico, isto é, um esquema das instâncias psíquicas/das entidades que participam no
dinamismo psíquico, que se sobrepõe ao tópico anterior (inconsciente, pré- consciente, consciente)
e muito diferente da oposição entre princípios do prazer e da realidade.

As instâncias do psiquismo seriam três:

● O Ego: É a parte mais consciente do Id. É o campo de ação dos elementos conscientes e
pré-conscientes (i.e., que podem facilmente voltar ao campo da consciência) e que
atingem o comportamento de forma mais ou menos acessível ao sujeito. É no Ego que se
faz a gestão dos outros determinantes da vida psíquica e do comportamento.
● O Superego: Corresponde à cristalização dos interditos e obrigações sociais impostos
pelos pais e que determinam o que é permitido, proibido e desejável;
● O Id: Constituído pelos impulsos profundos, de Eros e Thanatos. Seria esta zona mais
profunda do inconsciente, e cujos ecos chegariam mais alterados à consciência. Estes
impulsos poderiam ser sublimados, isto é, transformados de forma socialmente aceite e
útil por exemplo, um indivíduo com pulsões de destruição poderia sublimar essas pulsões
tornando-se cirurgião e Eros poderia sublimar-se na criatividade intelectual ou artística.

Freud e a Civilização
Freud acreditava que Eros e Thanatos poderiam ser sublimados. Defendia que a
abstinência sexual poderia canalizar a energia para, por exemplo para a criatividade
intelectual.

Tal como o sexo, o instinto de morte poderia ser canalizado para uma atividade
construtiva (por exemplo, o cirurgião sublimaria os seus instintos destruidores na mesa de
operações). Mas, esse processo pagar-se-ia caro: o desejo profundo dos indivíduos seria a
obtenção do prazer imediato e não a sua sublimação, que se acompanharia de sintomas
neuróticos ou de sofrimento. Como a civilização só é possível pela repressão desses instintos
primários, andaria de mãos dadas com a neurose.

Este tema foi muito importante, pois há aqui uma reflexão fundamental em torno do
mais grave dos problemas humanos: a oposição entre egocentrismo primário e o espírito de
cooperação requerido pelas culturas humanas.
Avaliação da Psicanálise Freudiana
Importância de um modelo bio-psico-social
De todas as teorias clássicas sobre a psicologia da nossa espécie, a freudiana é a única
que considera a pessoa de um ponto de vista realmente integrativo. A inovação principal, na
opinião do professor Saraiva, ocorre no seu segundo tópico (fase mais tardia da sua teoria).

Como já vimos em cima, Freud descreve o ser humano como um ser em conflito
permanente: determinado por motivações obscuras, animais (o id) e por regras interiorizadas de
conduta e mesmo de pensamento (o superego), há uma zona de consciência (o ego) onde esse
conflito é extinguido e controlado. Pode-se dizer que as pressões culturais interiorizadas não são
só provenientes dos pais, mas também das pressões do grupo. A nossa espécie funciona
precisamente na base de um conflito entre pulsões biológicas e instruções sociais que se
tornaram tão fortes que as sentimos como parte inata de nós próprios e que a única
possibilidade de compreender o conflito e de o resolver está na capacidade que temos em nos
compreender e nos sentir – de sermos psicólogos de nós próprios. Na opinião do professor, esta
é a grandeza da Psicanálise, que ao ter um quadro teórico rico, nunca se soube renovar. Porém,
a Psicanálise funcionou não como uma ciência, mas sim como uma religião, e foi essa a causa da
sua queda recente.

Conclusão
A psicanálise era uma teoria do homem integral (bio-psico-social). Solicitava motivações
biológicas e regras sociais, onde a pessoa estava dividida pela luta constante entre pressões
biológicas e papéis sociais interiorizados.

O professor concorda com esta visão, acha-a profunda e verdadeira. Parece-lhe que
esse conflito originou a maior parte dos problemas de adaptação das pessoas “não doentes” ao
seu ambiente e tem de ser. Este conflito, segundo o professor, é fundamental para fazer
compreender às pessoas o que elas são: o objetivo de qualquer psicologia. Mas a psicanálise
baseou-se num método imperfeito e em pressupostos teóricos impossíveis de avaliar e tornou-se,
desse modo, invulnerável a qualquer reformulação.

A psicanálise, como teoria, está, talvez, quase toda errada. Mas tinha um objeto de
estudo importante, o de explicar o porquê do comportamento e dos conflitos mentais. Ao ser
abandonada a teoria foi abandonado também esse objeto de estudo e criou-se um vazio. A
especialização, a desconfiança das teorias, a própria dúvida sobre o conceito de mente invisível,
têm bloqueado o preenchimento desse vazio.

Assim, os métodos e os conceitos explicativos da psicanálise devam ser evitados. Mas


devemos compreender que para nós sabermos de nós próprios (objeto de estudo) devemos ter
uma teoria nova e mais sólida.

Capítulo 13: A Psicologia na América


O porquê do declínio das grandes teorias?

Com a 2ª guerra a Europa perdeu “valor” que foi sendo ganho pela América do Norte.
Com a “fuga de cérebros” que se deu assistimos a uma modificação substancial dos
pensamentos. Enquanto na Europa se acreditava num investigador/pensador, nos Estados Unidos
da América defendia-se a produção e os resultados.

Atualmente procura-se o Homem para o modificar e não para estudá-lo. Assim perde-se
a tradição Europeia de estudar na 1ª pessoa (valor introspetivo) para adotarmos uma
psicologia na 3ª pessoa.

Capítulo 14: Elementos do


pensamento europeu na fundação da
psicologia Americana
Os primeiros psicólogos americanos fizeram sistemas que são um prolongamento do
pensamento europeu. O primeiro psicólogo importante foi Tichener (“falso” seguidor de Wundt)
seguindo-se-lhe William James que, apesar de nunca se ter integrado nas ideias da psicologia
americana, é considerado o seu primeiro psicólogo.

James
Ideias de James
James era contra a ideia de um método 100% experimental e no estudo exclusivo de
conteúdos objetivos. Assim, a sua psicologia une filosofia com a introspeção (como Wundt).
Defendia também, que a física não estuda a mente (a física estuda o que está “fora” e a mente
“de dentro”).
Metodologia
James é empírico, analisa e descreve o que sente da forma mais clara possível. No
entanto, tem por base a introspeção e descreve sensações mentais (é o único psicólogo moderno
que descreve a mente pura e simplesmente como a sente).

Anti-elementarismo
Defende que a mente deve ser estudada num todo e não por “partes”/elementos que,
dizia James, seriam apenas conceitos teóricas e não reais.

Segundo James não haveria elementos (sensações) mas um fluxo de consciência que
compunha a mente e que deveria ser estudado por introspeção. Este fluxo devia ter uma função
porque não faria sentido a evolução de algo tao complexo como a consciência se não tivesse
uma razão.

A função da consciência seria poder escolher os aspetos a que se dá atenção, estando


relacionada como livre-arbítrio e a vontade, por exemplo escolher o que nos ascende à mente. E
quem escolhe? O Eu! Neste fluxo de consciência distinguir-se iam dois tipos de experiências:

● Substantivas;
● Transitivas.

As primeiras são aquelas que conseguimos representar como objeto de atenção (por
exemplo, o computador), enquanto as segundas são muito mais difíceis de capturar porque não
se conseguem imobilizar e quando capturadas passam de imediato a substantivos.

Esta ideia é bastante interessante pois recordamos os resultados do nosso pensamento


(experiência substantiva) mas não os processos do pensamento em si (experiência transitiva).
Contudo, James descreve esse processo, explicando que as várias soluções em que pensamos e
apenas as coerentes/congruentes com o problema ascendem à consciência, funcionando o halo
como uma espécie de princípio de congruência da mente.

O Eu e o Mim/Meu
O Eu seria o centro da atividade consciente, o ponto central de mim próprio. James
chega à distinção Eu e Mim (ou, Eu – sujeito e Eu – objeto).

● O Eu é a consciência de existir que se nota particularmente bem quando


queremos fazer algo: o movimento que sentimos é “de dentro” para “fora” de
nós;
● O Mim é o que eu vejo de mim mesmo, ou seja, o que eu veria se me visse de
fora, comportamentalmente.

O eu tem 3 domínios:

● Mim material – coisas que achamos nossas, como por exemplo, livros, casa, pais,
etc. demonstra a importância da nossa relação com o meio, somos o centro do
nosso mundo e o que nos pertence faz parte de nós;
● Mim social – o papel que desempenhamos nas diferentes relações interpessoais
que estabelecemos;
● Mim espiritual – ou mental, é conjunto das nossas atividades mentais, este
“mim” é mais “Eu” que os outros que são mais “meu”, as coisas que penso, sinto,
acredito, defendo, etc.

Perifericismo (teoria das emoções)


James diz que a consciência seria informada das reações do corpo a um dado estimulo.
Ou seja, a ideia de que a consciência é determinada pelos estados do corpo e não
determinante destes. Isto é, o perifericismo (determinação da experiência central pelos
processos que lhe são periféricos) corresponde à fórmula:

Foi posteriormente modificada pois ia contra a ideia de livre-arbítrio que James postula
como função da consciência.

Hábito
Era a forma como a cultura nos manipula, determinando os nossos juízos. Ou seja, a
aprendizagem era vista como a raiz da fixidez comportamental. Apesar de pouco seguido,
James foi importante pois deu o impulso aos americanos para se afirmarem.

Capítulo 15: O Ethos americano e a


deriva para o condutismo
Herbert Spencer
Era um evolucionista lamarkiano e acreditava que o cérebro deveria ser compreendido
em termos das funções de sobrevivência que assegurava (estas funções assentavam em
associações entre imagens mentais). Tal como os animais, nos humanos havia seleção:

● Os mais competitivos triunfavam;


● Os menos aptos deixavam de se reproduzir (as classes desfavorecidas não
devem ser ajudadas porque isso seria premiar a produção dos menos capazes)
(os novos ricos eram os melhores sendo estes que triunfavam, não devendo ter
vergonha por isso – justificação do self-made man).

As suas ideias foram bem-recebidas nos Estados Unidos, a religião presbiteriana


adequa-se a esta visão competitiva do mundo. O facto da competição ser um fenómeno natural
não o faz ser um fenómeno desejável, tomar o que é natural como o que deve ser chama-se
“falácia naturalista”.

Lista de instintos, eugenia e testes de inteligência


Darwin
O evolucionismo de Spencer e de Darwin eram diferentes:

● Spencer defendia que a mente era uma máquina de associações entre imagens.
● Darwin: seguia uma psicologia que permitia descrever a mente em termos de
conjuntos e funções.
As duas posições convergem nas tentativas de gerar listas de instintos, de definir uma
política eugenista e no raciocínio. A lista dos instintos humanos procurava captar tendências para
a ação que pareciam universais, mas que eram bastante variáveis, não eram assentes em
definições experimentais ou procedimentais e por isso estavam longe de conseguir controlar o
corpo humano como uma máquina.

Galton
Convencido de que a humanização da sociedade tinha uma consequência muito
perigosa: ao ajudar os menos aptos estava a contribuir-se para degenerar a espécie. Tentou
fazer um teste, aceitando a afirmação empirista de que a inteligência vem dos sentidos (esta
teoria não floresceu na Inglaterra, mas nos Estados Unidos).

Alfred Binet
Inventou um teste para despistar crianças com dificuldades de aprendizagem (estes
testes indicavam o que se esperava em cada idade, tornando possível determinar quem estava
acima e abaixo da média).

Terman e Yerkes
Tentaram utilizar os testes para despistar os débeis entre os imigrantes. Estes testes eram
dependentes da linguagem e eram aplicados à pressa a pessoas exaustas depois de uma
viagem em condições por vezes terríveis e que mal sabiam, ou não sabiam falar inglês. Este
trabalho culminou na aplicação sistemática de testes a todos os recrutados do exército (o que
revelou que a maioria dos americanos brancos e nórdicos seriam débeis mentais).

Notas sobre o racismo na Psicologia


Tanto os governadores como os pensadores emitiam juízos racistas sobre os outros povos
e a história era, até meados do séc. XX, concebida como uma luta entre nações rivais. O
conhecimento científico atual nega o fundamento ao racismo.

Capítulo 16: A psicologia


propriamente Norte-Americana
Plano de fundo intelectual dos EUA no fim do século XIX
A visão que temos atualmente dos EUA não corresponde em nada á fase em que a
psicologia nasceu. Nessa época a investigação pura era mal vista. Neste território, ao contrário
da Europa as prioridades não eram as de espírito, mas sim as necessidades mais práticas de
subsistência. Numa época de mudança tudo era julgado em termos do seu valor sobre o
ambiente, foi a primazia utilitarista, em que:

● Se privilegiaram as consequências sobre as essências;


● Se procurava prever o ambiente, mais do que compreendê-lo;
● Era mais importante construir uma ponte, dirigir um conflito acerca de um contrato ou
curar uma doença do gado do que pensar na razão de ser das coisas.
Também havia uma recusa da integridade e a consequente exterioridade.
Utilitariamente as coisas eram avaliadas pela impressão que causavam, e os homens fugiam da
subjetividade, pouco produtiva e envergonhante:

● O calvinismo, ligado ao pudor vitoriano, uma época em que o corpo não podia ser
mencionado e as tendências para a autoanálise eram consideradas malsãs;
● O capitalismo, que produziu um tipo de homem tosco, rápido, pratico e sem vontade
nem capacidade de autoanálise psicológica.

Os problemas práticos dos norte americanos contrastavam com os europeus pois estes:

● Tinham um lastro de tradição muito mais pesado;


● A sociedade era imóvel, mais estruturada.

Os norte americanos: eram pragmáticos, valorizavam o concreto e os resultados (a


religião protestante reforçava essa ideia: o trabalho era um dever sagrado e a forma de ser
respeitado, o lucro era sinal que se tinha cumprido bem o seu dever). Criou-se assim uma
sociedade baseada no trabalho, na solução de problemas concretos, práticos e não teóricos,
onde cada pessoa devia trabalhar para si e na alteração do ambiente em que tinha de ser
adaptado ás pessoas.

As emoções eram vista como sinal de debilidade, não de romantismo. Esta época tinha
outro traço importante, o anti-intelectualismo. O que se queria eram soluções praticas, não
especulações; o que se pretendia era homens de ação e não teóricos ou pessoas que cultivavam
a cultura por si própria. Tudo isto teve grande influencia nos EUA e na Psicologia:

● As emoções são fraqueza;


● As teorias são patranhas;
● O que conta é o facto solido que se pode ver diante de nós.

Foi neste espirito de mistura entre o utilitarismo (previsão e quantificação), puritanismo


(recusa da interioridade), valorização da mudança (adaptação e modificação relativamente as
origens com resultados genericamente benéficos) que se tem de compreender o desenvolvimento
da psicologia americana.

Mudanças sociais no seculo XIX


Na europa assistiu-se à ascensão da burguesia e á industrialização; apareceu uma
impessoalidade que não existia antes e um potencial de mudança (transformações na produção,
revoltas sociais, ideologias da igualdade) que tornava o futuro menos certo. Na europa
existiram revoluções sociais e politicas, enquanto que nos EUA houve uma revolução de
mentalidade.

Na segunda metade deste seculo, nos EUA, desenvolveu-se uma classe nova: os homens
das profissões liberais. Pretenderam reformar o país no sentido de o tornar numa sociedade
coesa, igualitária e profissionalizada – era altura da tecnologia e da produtividade. A
sociedade estava em mudança e numa sociedade assim são necessários especialistas de
mudança, que segundo o proclamador John Dewey, deviam ser os psicólogos porque:

● As pessoas estavam apegadas a valores e hábitos antigos, e para mudara esses valores
e hábitos seria necessário compreender que valores e hábitos e que hábitos uma
sociedade perfeita deve ter;
● Esses valores e hábitos são, segundo Dewey, objetivos da Psicologia, e por isso devem
ser os psicólogos o fator de mudança, os especialistas na transformação das pessoas.

Não é por acaso que, a psicologia na europa, era um campo puramente académico e que,
nos EUA, se transforma numa profissão. É então neste contexto revolucionário, que se tem de
compreender o inicio da psicologia profissional. Nada do que esta era na Europa lhe poderia
dar o estatuto que se lhe pedia nos EUA: a psicologia era o estudo da consciência e dos
processos mentais. O estudo da consciência era experimental e o estudo dos processos mentais
menos. A mudança opera-se sobre processos mentais e não sobre produtos da consciência. Mas
os norte-americanos queriam peritos, queriam resultados rigorosos e visíveis. Mesmo a psicologia
dos processos de mudança tinha de ser experimental. Há então o desenvolvimento da psicologia
na América do Norte.

Funcionalismo e transição para o condutismo


No final do seculo XIX ocorre uma revolução mental nos Estados Unidos. Defendia-se que
o governo tinha de ser reformado de maneira a seguir os princípios científicos e que o próprio
homem americano tinha de mudar. Esta mudança foi levada a cabo por psicólogos. Assim se iria
construir uma sociedade baseada no trabalho, justiça, ciência e eficácia de cada pessoa no seu
posto de trabalho. Esse homem ideal ia ser treinado para ser útil sociavelmente.

Este movimento assenta na mudança e na adaptação a novos ambientes.


Compreende-se que não é a consciência que é predominantemente importante, mas sim a ação.
A ação sobre o ambiente, na forma de trabalho, deve ser o principal objetivo dos indivíduos. A
ação e a mudança pretendem-se ambas racionais, não há espaço para a emoção. Cria-se nos
EUA o ideal de homem ultra especializado, de ação, não de reflexão, e de uma mulher fraca,
emocional, religiosa.

A versão psicológica deste movimente não poderia ser o estruturalismo de Tichenner nem
a psicologia de James pois ambas eram sobre a mente e a consciência. No ethos
norte-americano a psicologia teria de ser o estudo da mudança e da ação.O que resultou foi um
movimento chamado funcionalismo.

Funcionalismo
Resulta em grande parte da psicologia de James: a mente e a consciência têm de ter
uma função de adaptação. Há uma questão que se tem de colocar: a das relações entre a
mente e o comportamento. Se a mente tem funções de adaptação ao ambiente, essa adaptação
certamente se irá traduzir em comportamento. De resto, só podemos saber da mente dos outros
através do comportamento que manifestam. a preocupação americana com a intervenção, a
eficácia e com a adaptação a situações novas (aprendizagem) levou a que a mente,
progressivamente, passasse a ser considerada como condição de adaptação comportamental ou
mais simplesmente, como alteração comportamental.

Mustenberg
Foi com Mustenberg, que se dedicava á psicologia industrial, que apareceu a
formulação que retirava explicitamente importância á consciência: assim, a consciência seria
apenas um epifenómeno da ação. Nomeadamente, seriamos informados pelos nossos músculos
de que queremos fazer uma coisa, e declaramos a nossa intenção de a fazer: a seguir fazemos
essa coisa. Como dissemos que íamos fazer a coisa que fizemos, pensamos que foi a nossa
consciência que determinou a nossa ação, mas na realidade, segundo Mustenberg, foi ao
contrario – a nossa ação é que determinou a nossa consciência. Esta teoria é um exagero da
posição de James: fazemos a coisa e depois é que sabemos que as vamos fazer.

Esta teoria não tinha nenhum fundamento empírico. Mustenberg preferiu dizer que a
mente não tinha efeito causal.

John Dewey
Pela mesma altura surgiu John Dewey que sugeriu que apenas eram conscientes os
momentos em que a nossa ação era entravada. Só neste caso a consciência interviria e o resto
seria feito com base no automatismo e hábitos. Há um pouco de verdade nesta ideia na medida
em que as tarefas automáticas são feitas com pouca atenção consciente, mas há um certo
exagero nesta teoria.

Psicologia animal
Foi na psicologia animal que o processo de passagem de psicologia a estudo do
comportamento e não da mente se realizou. O autor mais importante desta tendência (E.L.
Thorndiken) defendia a inutilidade do conceito de mente quando se investigavam animais e
crianças e para isto leu estudos de Romanes que defendia que quando se encontra uma
atividade que parece implicar inteligência, ou que nos faríamos usando a inteligência, admite-se
que os processos animais que a asseguram são tao inteligentes quanto os nossos. Ele mostra que
muita da adaptação comportamental animal se faz por processos de aprendizagem por ensaio
e erros.

Watson e o condutismo, quintessência da cultura Americana da


primeira metade do seculo XX
John Watson é considerado o fundador do condutismo e ao mesmo tempo da psicologia
moderna. Contudo, segundo Lahey, isso não é verdade: os elementos do condutismo watsiano
estavam já presentes antes dele e, em qualquer caso, o condutismo que se veio a desenvolver
era bastante diferente das propostas do Watson. A ideia que Watson criou a condutismo seria
um mito de fundação. Um mito de fundação é necessário a qualquer movimento que se afirma
relativamente a outros.

A razão pela qual Watson não pode ter sido realmente um revolucionário, é que todas
as alterações que ele propõe no seu manifesto estavam em curso no seu tempo. São elas:

● Tendência para estudar o comportamento em vez da mente;


● Tendência para considerar o comportamento como forma de adaptação
(aprendizagem);
● O perifericismo (pouca importância da vontade consciente na determinação do
comportamento);
● Enfase na psicologia como uma ciência natural;
● Preeminência da previsão e do controlo;
● A importância da psicologia como fator de reforma da sociedade.

Todas estas características se encontravam, antes de Watson, no funcionalismo. O único


elemento novo é a ideia de não se usar o conceito de mente e de não aceitar qualquer relato
introspetivo como fonte de conhecimento psicológico. Watson foi um marco tanto na psicologia
como na sociedade americana. Ele tem as características de todos os caudilhos intelectuais:

● Simplificava os assuntos em generalizações bem feitas;


● Capturava em palavras caras um problema difícil;
● Boa inteligência sintética;
● Capaz de relacionar bem os assuntos no plano abstrato.

Watson
Foi aluno de John Dewey mas declarou-o incompreensível. Por essa altura sofreu
influência de Jacques Loeb, um investigador que defendia que o estudo dos tropismos (alteração
do movimento) explicava todo o comportamento.

Segundo Loeb, os determinantes do comportamento eram


processos que nada têm a ver com a mente ou a consciência – isto é um
reducionismo muito forte. Este enfatiza 4 coisas diferentes:

● Os processos que controlam o comportamento são devido a uma


reação de estímulos externos;
● Essa reação nada tem a ver com a consciência;
● Todos os organismos são explicáveis a partir dos mesmos
processos;
● Esses processos são elementares.

Watson foi muito recetivo a esta visão e por isso todos estes princípios se encontrarão no
condutismo mais tarde. A fase de formação de Watson ocorreu sobre a tutela de Angell, que
era um dos psicólogos funcionalistas que não queriam abdicar dos relatos introspetivos, que
achava serem a condição necessária á psicologia. Contudo, Watson detestava a introspeção.

Fez a sua tese de doutoramento – onde pretendia encontrar relação entre o comportamento
e a fisiologia. Começou a defender uma psicologia sem o conceito de consciência. Na senda de
Thordnike, achava que o conceito de consciência era inútil no comportamento animal e que o
comportamento das crianças era compreensível em termos de comportamento sem qualquer
referência á mente.

O que Watson considerava ser o comportamento é um tanto diferente das definições da


fisiologia, condutismo posterior e posição da Etologia: a fisiologia estuda ‘respostas’ reflexo e a
etologia estuda padrões de motores e a organização sensorial e motivacional que permitem
ligação comportamental do organismo ao ambiente

O comportamento para Watson era a modificação adaptativa do organismo ao ambiente,


isto é, o resultado da aprendizagem e não exatamente o processo de aprendizagem. A
Etologia, se estudar uma modificação de aprendizagem, estuda a transformação dos padrões
motores e da seletividade percetiva. A posição de Watson difere em dois aspetos:

1. Não considerava o comportamento como composto de ciclos funcionais, mas apenas de


associações estimulo-resposta;
2. Enfatiza a aprendizagem e não a características de perceção/comportamento típicas
de cada espécie.

Seria a aprendizagem o principal objeto de estudo: a mudança adaptativa, isto é, a


possibilidade de um organismo se adaptar com eficácia a condições novas. A aprendizagem
dever-se-ia apenas á associação entre um estimulo, um comportamento e um reforço. É o
resultado, isto é, a modificação das funções do comportamento que interessa a Watson.
Esta posição também é diferente da Fisiologia, pois não se interessa por
comportamentos globais como ‘aproximação-evitamento’, mas por respostas específicas a
estímulos específicos.

Watson não queria estudar o animal reflexo a reflexo, ou seja, analiticamente, mas sim
a adaptação do animal como um todo ás alterações do ambiente. Watson tinha uma mente
sintética, focada em conclusões gerais sobre os processos.

Ao início, Watson acreditava que havia elementos inatos e adquiridos no


comportamento, mas com o tempo acabou por defender uma posição muito mais extrema: seria
o meio, não o inato, que determinaria o comportamento, pelo menos na nossa espécie. A razão
por que se convenceu disso é que definia inato apenas as reações observáveis logo a seguir ao
nascimento. Estas reações eram um conjunto de reflexos que rapidamente seriam modificáveis
pelo condicionamento. Para se compreender este ponto, pode-se considerar as reações que
Watson achava inatas. Havia vários movimentos do corpo que o seriam. Mas em termos mais
relevantes para a Psicologia, haveria 3 comportamentos emocionais inatos:

● O medo, desencadeado por barulhos fortes e por situações em que a criança esta em
risco de cair;
● A raiva, que ocorre perante uma contrariedade, quando a criança é impedida de se
mover;
● O amor, que não é bem definido e que parece ser o mais próximo de prazer. Watson
descreve-o como afetivo, bem-intencionado e amável.

Estas reações primárias combinar-se-iam durante a vida por condicionamento.

O comportamento é definido como atos motores. Em nenhum momento é necessário fazer


referência a entidades internas segundo Watson, ele quer substituir a noção de James, de fluxo
de consciência pela de fluxo de conduta. A ideia é que o desenvolvimento de uma pessoa se
compreende como uma contínua complexificação, por condicionamento, de respostas primárias.

Posição de Watson:

O comportamento tem funções de ligação com o ambiente e são essas funções


que são mais interessantes de estudar, tanto nos animais como nas crianças há
reações a estímulos que podem ser estudados e a noção de mente não ajuda
muito porque não há pensamento reflexivo.

Watson pretende que, mesmo no adulto, a formulação válida para as crianças também
se aplica. Os conceitos mentais são usos não científicos da linguagem. A posição de Watson
sobre o que são as emoções, no adulto-todo o simbolismo, toda a reação além do funcional
seria emocional.

Posição de Watson sobre o pensamento:

Originalmente não haveria pensamento, mas atividade nas cordas vocais. A


opinião é depois alterada para afirmar que o pensamento é uma sequência de
atos aprendidos. Se uma situação desencadear em nós predominantemente atos,
o pensamento será sem palavras – o que significa realmente que ‘…os hábitos
musculares aprendidos no discurso visível são responsáveis pelo discurso interno
ou implícito (pensamento) ‘.

A personalidade é um sistema de hábitos e quando dois ou mais sistemas de hábitos


entram em conflito há mudanças de proficiência (capacidade). Seria esta a origem da noção de
atenção. Todos os conceitos psicológicos são redefinidos em termos apenas de situação e
conduta. A ideia de Watson é anular tudo o que vem de dentro do organismo como ímpeto (a
agencia que sentimos ter) e reformular tudo em termos de músculos e glândulas que permitem
uma relação com o ambiente. A única diferença entre o organismo e a máquina, é que o
organismo aprende. Não há sequer uma procura das bases físicas da mente: a atenção dada
ao cérebro – é considerado como uma herança da noção de mente.

Entrou em debate com William McDougall, um psicólogo que defendia uma posição
muito próxima dos etólogos. Watson afirma que a ciência não existe, pura e simplesmente, que é
uma invenção, como a de alma. Disse que o cérebro não teria as funções que normalmente se lhe
atribuem, os comportamentos observáveis seriam iniciados externamente e mediamos por
‘comportamentos implícitos’- as atividades dos nervos, das glândulas e dos músculos. Pensar seria
assim um comportamento aprendido, não uma atividade mental ou sequer do cérebro, que não
iniciaria nenhum comportamento. A realidade psicológica seria apenas ação.

Todas estas teorias eram concordantes: Watson queria afirmar a não importância do
cérebro/mente e a importância dos músculos/ação. Trata-se da versão mais extrema da paixão
dos EUA pela ação e da desconfiança pelos intelectuais.

A psicologia é assim vista como uma pura ciência de matéria, com estímulos que
produzem uma ação visível sem que a consciência, mente ou livre-arbítrio desempenhem menor
papel. A psicologia, é assim aniquilada e substituída pela ciência da ação e da adaptação
acional ao ambiente. A psicologia transforma-se em ciência da aprendizagem não cognitiva.

O objetivo de Watson era prever rigorosamente e poder modificar o comportamento,


de acordo com a ideia de criação de um ‘Homem Novo’. Esta noção de previsão e controlo,
juntamente com as de aprendizagem e de determinação de comportamento a partir de fora,
são a chave da psicologia norte-americana até ao cognitivismo.

Apreciação do condustismo watsariano

É quase inconcebível que a psicologia proponha o desaparecimento desse mesmo


conceito, e decida que apenas vale apenas estudar os comportamentos modificados pela
aprendizagem. Negar tudo isto em nome do ceticismo parece incompreensível. O condicionismo
watsariano constitui uma regressão de muitos anos relativamente ao pensamento sobre a mente,
e ignora a evidência sobre do existir mental que foi descrito pelo menos desde Agostinho e
Avicena. Contexto em que isto ocorreu: América utilitária, concretista, ansiava pela mudança e
temia a interioridade. Os psicólogos queriam ser cientistas como os físicos. O condutismo é um
produto quintessencial americano, que não se compreende fora da cultura americana na
primeira metade do nosso século. Apesar de ser uma regressão no pensamento teve um mérito
inegável: a de ancorar as principais teorias psicológicas no comportamento. A psicologia do
comportamento foi vantajosa pois trouxe a psicologia mais para o centro da vida das pessoas e
permitiu compreender as regras as regras de controlo do comportamento, manipulando apenas
variáveis comportamentais e materiais é possível prever e manipular o comportamento.

A posição de Watson não difere muito da dos etólogos. A etologia estuda padrões
motores típicos da espécie e a maneira como esses padrões motores se coordenam e adaptam o
organismo ao ambiente, admitem construtos hipotéticos. Ambos são semelhantes no estudo da
conduta e da perceção na adaptação ao ambiente, lidam bem com o comportamento de
animais e crianças. A etologia é antimentalista.

Os dois grupos consideram a linguagem como uma espécie de justificação a posteriori


do comportamento e a preferir medidas físicas. Conclui-se que os etólogos são internalistas e
inatistas e que os condutistas são extremalistas e ambientalistas.

É vantajoso estudar a relação entre ambiente e organismo do que fazer apenas


introspeção da própria mente. Esta não devia ter sido banida da psicologia experimental, pois
permite obter dados sobre a relação com o exterior. Deveremos deixar o fisicalismo de lado,
pois se queremos estudar psicologia temos de estudar as representações mentais e o que
sentimos.

Novos condutismos
O condutismo foi dominante nos EUA ate ao final dos anos 60, e continuou influente até
aos anos 70. Foi vencido pelo cognitivismo, que não era assim tão diferente. Criou-se então
novos condutismos mais rigorosos, a seguir a Watson surgiu Clark Hull e Tolman, e eram mais
mentalistas que Watson e ambos reconheciam a necessidade de admitir variáveis internas para
explicar a aprendizagem. Hull admitia haver associações entre estímulos e respostas internas,
Tolman admitia a existência de ‘mapas espaciais’ (mentais) no organismo. Estes dois condutismos
estiveram na origem do cognitivismo.

O condutismo radical de Skinner


Entrou na psicologia por influencia de Pavlov, Jacques Loeb e Watson (todos
reducionistas antimaterialistas) e ficou conhecido pelo ênfase no controlo e precisão da conduta.

Filosofia de Skinner
É um teórico da aprendizagem – interesse na modificação do comportamento, mas com
base na aprendizagem tenta explicar todas as atividades humanas. Ao contrario de Watson,
não nega a mente nem a consciência, apenas a reformula em termos de conduta e
condicionamento.

A maquina sem maquinista


Na física um objeto só pode ser posto em movimento se uma força se exercer sobre ele,
o tipo de movimento depende das caraterísticas físicas do objeto e das do ambiente em que se
desloca. É esta teoria que o condutismo vai defender: o organismo é agido de fora, não
determina o seu próprio movimento. Na ausência de forças internas, teria de ser o ambiente a
determinar o movimento (não haveria maquinista, apenas a máquina).

Conceitos estruturadores do pensamento de Skinner


Equiparação do mentalismo com o vitalismo
O vitalismo parte de uma verificação: os organismos parecem ter prepósito, parecem
tecnológicos e orientados para fins. O argumento anti-vitalista foi sempre o de que na própria
estrutura da matéria encontra-se a explicação da teleologia da vida: aquilo que parece ser
uma vontade, uma inteligência superior a determinar o desenvolvimento ou o instinto seria
apenas a organização da matéria, determinada pela seleção natural e pela própria estrutura
física dos tecidos vivos. No estudo da conduta, a estratégia anti-vitalista consistia em mostrar
que o comportamento era determinado pela própria estrutura do sistema nervoso que
processava estímulos do ambiente que punham o organismo em ação.

Posição da terceira pessoa


Skinner afirma analisar a conduta dos outros a partir do exterior como observador
neutro. É como acontece na física: observa-se o que se passa em termos de leis da física,
considerando um agente como se fosse um objeto.

Justificação de um ambientalismo extremo


Skinner centra-se no fisicamente observável, logo, um estado mental se for concebido
como não físico, não poderia causar um estado físico. Não nega que haja reações inatas, mas o
que lhe interessa é a capacidade de modificação da conduta. O condutismo radical enfatiza,
com exclusão de fatores internos, o papel do ambiente. O externalismo tem duas formas:

● O ambiente determina, por aprendizagem, a conduta individual?!


● O ambiente determina, por seleção natural, as características do organismo, entre elas
a sensibilidade á aprendizagem?

O anti- mentalismo não implica que não haja interior


Watson negava a mente, Skinner não, ele admitia os estados internos.

O que significa conduta para os condutistas?

Para os etólogos o comportamento é composto de elementos motores que aparecem em


certos contextos de estímulo ou em resposta a variáveis internas. Skinner e Watson recusam
conceitos não observáveis e centram-se nas manifestações comportamentais desses conceitos.
Não estudam o comportamento, mas a tradução comportamental de conceitos mentais.

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