Sebenta EHP 17-18
Sebenta EHP 17-18
Sebenta EHP 17-18
psicologia
O que é a mente?
O reino do mental
O mental é predominantemente, sentido em mim e detetado, a partir do
comportamento, nos outros.
Não nos custa imaginar que depois da morte a nossa alma continua a existir, pelo
contrário, faz-nos mais confusão pensar que deixámos de existir por completo. Ou seja, se
imaginássemos que a nossa consciência de existir continua na ausência do corpo, a nossa
agência seria bastante alterada, visto que, não veríamos, não poderíamos agir, nem sentiríamos
nada do que normalmente nos afeta. Assim, aquilo que é considerado “mente” parece ser o que
sentimos como subjetivo, o que acompanha os atos do nosso corpo: Espontaneamente fazemos
separação daquilo que é a sensação que acompanha os atos do corpo e esse mesmo corpo,
como coisas separadas.
A mente é invisível, mas é sentida de maneira concreta, vivida, ninguém tem nenhuma
imagem da sua mente, apenas temos consciência da sua existência. Por exemplo, quando
possuímos algo que pertencera anteriormente a outra pessoa, dizemos que esse objeto tem um
significado sentimental e por isso se comprarmos outro igual, não terá o mesmo significado. Isto
acontece porque toda a gente deixa algo de seu nos objetos que possui, ou seja, existe uma
transmissão invisível, mas concreta dos agentes para as coisas.
Precisamente por ser invisível é difícil de descrever a mente por falta de referentes
comuns. A mente é, pois, muito difícil de decompor em partes e analisar, parece que a nossa
mente não foi feita para se debruçar em si própria, mas apenas sobre as coisas que lhe são
exteriores. Por isso, o mundo da mente é o mundo do vago, do misterioso, e do não facilmente
analisável.
Alma e agência
Existem culturas que não têm a palavra “mente”, mas todas têm
a palavra “alma”. Os etnólogos tentaram estabelecer pontos comuns
entre as mesmas e chegaram á conclusão que todas se referem á
inteligência/vontade. Existem almas do corpo responsáveis pela
animação do mesmo e almas mais independentes do mesmo, como por
exemplo, a alma dos xamãs que sai do corpo deles e vai ao inferno
buscar almas perdidas dos doentes. Estas almas mais independentes
podem ser mais agentes e conscientes (a mais pura sensação de mente) que se pensa
sobreviverem á morte do corpo. Assim, o conceito espontâneo, primitivo de alma é a noção de
estar vivo e de ser agente, de sentir e de agir, é exatamente a nossa experiência de viver.
Capítulo 2: Os primórdios da
psicologia na Grécia
Os gregos arcaicos
Entre Psyche e Thymus, não existe grande diferença. Como vimos anteriormente na
mente primitiva, a alma tende a ser sincrética e são os etnólogos que estabelecem diferenças
analíticas. Para compreender o desenvolvimento intelectual da Grécia é necessário ter em conta
o extremo concretismo e visualismo, a preocupação com o que se vê e se pode descrever.
Explica-se o visível, não com o místico, mas com o visível e o plausivelmente inferível do visível.
Procurava-se explicar o mundo e não o homem, os gregos defenderam que tudo era feito de
matéria concreta (água, fogo, átomos...).
uma mente de uma ação e considerámos que uma mente tem sempre que ter uma ação que lhe
corresponda. Assim, é com os gregos que a ação e o pensamento se separam e o pensamento é
analisado pela primeira vez no ocidente.
O íman, que atrai outros metais, parece vivo, ou seja, parece ter vontade (mente),
parece ter uma energia que se relaciona intencionalmente com o ambiente. Tales acreditava na
imortalidade da alma mas não na doutrina da metempsicose (a transmigração das almas).
• Xenófanes de Cólofon: as coisas não são como nós as imaginámos, mas são o que são
independentemente da maneira como as vemos, pensamento puro como independente
do comportamento.
• Heraclito de Éfeso: tudo quanto pensámos e sentimos é uma ilusão, o passado passou, é
incapturável e as semelhanças que tem com o presente são meramente ilusórias.
• Parménides de Eléia: a verdade física das coisas é eterna e imutável, mas os sentidos
enganam-nos, a realidade não é alcançada pelos sentidos, encontra-se num plano só
acedido pelo pensamento.
• Empédodes de Acragas (Materialismo): os objetos emitem eflúvios que são cópias de si
próprios, se existe diferença entre perceção e realidade é necessário saber como se faz
a tradução uma na outra.
• Protágoras de Abdera: cada um constrói a sua verdade a partir dos sentidos e essas
realidades são diferentes umas das outras.
Nos gregos a centração nas coisas e não na mente levou á compreensão de que as
próprias coisas são ilusões, este ponto de vista normalmente opõe-se ao realismo ingénuo. Os
gregos permaneceram centrados nas coisas e não na pessoa que vê essas coisas e verificaram
que as aparências podem enganar. E só no final deste processo apareceu a subjetividade.
Existe, assim, uma tendência para explicar o mundo e não o homem, explicar as coisas e não a
mente. Isto levou progressivamente ao ceticismo porque os pré-socráticos entenderam que o que
é observado não corresponde á realidade. A ideia da existência da alma é contestada, pois
esta é apenas parcialmente independente do corpo Este ceticismo veio gerar o sofismo.
A revolução socrático-platónica
Depois de Tales, compreendeu-se que o mundo físico não é animado, não é uma alma
que deve ser estudada em termos de intenções, o que levou os gregos a estudarem o mundo
como matéria tendo eles chegado á conclusão que os sentidos enganam. Assim, não existem
verdades tudo é subjetivo e o pensamento servia para defender o quiserem. É neste clima que
surge Sócrates.
Sócrates
Caracteriza-se por um método de interrogar sobre o que era socialmente estabelecido
como verdade ética e assim chegar á verdade verdadeira sobre os motivos do nosso
comportamento e pela crença da imortalidade da alma.
Sócrates acreditava que o conhecimento era possível e era necessário pois estava em
cada um de nós. Assim, o conhecimento chegava a partir de uma disciplina retórica e filosófica
adequada: ir argumentando e contrargumentando até que a verdade surgisse. A verdade não
está nos sentidos, a compreensão das verdades era possibilitada pela alma que conhecia
diretamente as essências e não as aparências. Ou seja, as verdades têm que ser procuradas no
próprio sujeito e apenas os mais sábios os que praticam a contemplação na mente, conseguem
compreender as essências puras.
Platão
Os gregos tinham primeiro isolado o mundo físico como diferente do sujeito, e
concentraram-se apenas no mundo físico. Platão diz que temos que nos ancorar no sujeito e não
no mundo físico para compreender a verdade. Mas esse sujeito parece subjetivo e tem
subjetividades diferentes em momentos diferentes e se eventualmente se afirmar que é apenas
ele a realidade das coisas, surge uma dificuldade e perante ela Platão constrói uma verdade
que o sujeito pode estudar: o mundo das ideias puras. Platão acreditava na reencarnação e na
vida da alma racional independentemente do corpo e que só quando a alma vivia nesse estado
incorpóreo teria acesso á verdade pura (verdades abstratas e os conceitos correspondentes ás
categorias das coisas que conhecemos.
Com exceção parcial do belo, chegar-se-ia às formas puras por formulação verbal:
usando o método socrático:
Viver no mundo das ideias seria a maneira de nos elevarmos a um grau de felicidade
mais seguro e menos contingente do que simplesmente procurarmos prazer. A alma é uma alma
motivada. Numa Alma não cultivada, os desejos são todos materiais, o desejo da alma é a
posse. Numa Alma harmoniosa esses objetivos são substituídos pelo desejo da posse das ideias
puras, quer-se possuí-las, mas para isso precisámos de aperfeiçoamento espiritual que nos
permita anular os desejos que nos afastam do mundo das ideias e cultivar o pensamento
abstrato. Platão queria chegar a uma formulação ética, não só da pessoa, mas da sociedade.
A alma não pode ser una. Há impulsos de três tipos: pela verdade, pela honra e pela
carne, mas a pessoa justa deve impor o controlo dos motivos pela verdade. A razão, por
influência das ideias puras, procura o justo, o verdadeiro e o belo, mas os apetites querem só o
prazer. A paixão indigna-se com os nossos atos, guiados pelos apetites, que vão contra a razão.
A vida mental é, pois, um campo de luta constante e o objetivo do homem justo é conseguir
assegurar o domínio do justo, do verdadeiro e do belo.
Há três tipos de forças a agir na nossa alma: qualquer uma delas pode tomar
precedência e dominar a consciência (o Eu), mas uma delas, a razão, permite-nos escolher o
nosso rumo. A posição psicológica de Platão existe como fundamento de uma afirmação de
valores: uma ética, para melhorar o homem e a sociedade.
Chega-se ao mundo ideal pela mente, pela razão. O sujeito vê com o olhar da mente,
as ideias puras. A ênfase é ainda colocada no objeto do conhecimento e não no sujeito
conhecedor, mas a realidade a conhecer já não é física é uma representação da mente. Essa
mente é definida como conflito entre tendências e como conceitos abstratos.
Influência de Platão
Fundou a filosofia, a psicologia e a ideia de mente, toda a ideia da importância da
razão e do pensamento. No atual mundo materialista e obcecado com o consumo a mensagem
platónica tem menos força do que teve, embora a sua pertinência seja máxima, pois hoje em dia
não se procura o domínio da razão, mas dos apetites.
Aristóteles
Aristóteles não era anti platónico, pelo contrário, grande parte da sua filosofia
baseia-se em reinterpretações dos conceitos platónicos. No entanto, não aceitava a teoria das
formas: considerava que o espírito humano não possuía, as ideias do belo, do justo e do puro.
De facto, se é verdade que Aristóteles chamava a atenção para a natureza corporal e material
das funções da vida, reservava uma posição mais idealista e mais próxima do platonismo
quando se referia às capacidades epistémicas. Essas ideias, não poderiam ser alcançados pelos
sentidos: têm de ser identificados por categorias do pensamento.
As ideias não estariam, então, presentes, mas sim a capacidade seria mental e anterior
à experiência, exatamente como o inatismo do nosso tempo defende. Aristóteles pensava que a
partir dos sentidos apenas se atinge o acidental: é a razão, ou a mente, que deve encontrar as
essências e os universais.
A mente é uma folha em branco: Apenas a experiência e os sentidos têm de lhe fornecer
a matéria-prima para ela funcionar e esta só é possível se houver, na razão, qualquer coisa de
prévio e que possibilite que a experiência seja recebida, avaliada e generalizada. A mente
deteta os universais através da generalização, mas não os cria: eles existem, não como coisa
física, mas como realidade do pensamento.
Distinção entre potência e realização: Significa que Aristóteles acreditava que o mundo
tinha um sentido, uma direção, que a natureza estava organizada teleologicamente. Acreditava
que todas as coisas se encontravam associadas num plano divino, em que cada coisa
desempenharia a sua função. Explicar a natureza e o Homem seria, então, uma tentativa de
desvendar o plano da natureza.
No Homem, aparece mais uma nova característica da alma: a mente (ou razão, ou
inteligência).
Assim, a mente pode ter consciência de si própria (a mente como ideia) e tentar
analisar-se, embora se funda com os problemas em que se concentra: a mente concentrada
sobre um assunto é totalmente preenchida por esse assunto e passa a “ser” esse assunto.
Assim a alma
(o “eu”) seria
mortal e
apenas
permaneceria o
princípio da
mente ativa,
que não é
pessoal. Que é como dizer que o eu morre, mas que a inteligência que o tornou possível existe
independentemente de mim.
Para Aristóteles as ideias puras estão em nós em potência e são atingidas através do
motor que é a mente ativa. Mas essa mente ativa, tal como as ideias puras, é exterior à mente.
A mente adquire capacidades de organização e pensamento abstrato para chegar à verdade
e tem, em si, as regras necessárias para isso. É uma mente mais autónoma.
Aristóteles tentou integrar os vários significados que a palavra “alma” tinha no seu
tempo:
Sobre a memória, dizia que os materiais mais organizados eram mais fáceis de
recordar. Ampliou as leis da associação, a contiguidade e o contraste (o frio lembra o quente)
como relações que permitiam a consolidação na memória.
O legado de Platão e Aristóteles
A mente relaciona-se com as coisas de maneira ativa e que a razão, o raciocínio é uma
entidade que pode ser analisada. Os pensadores socráticos compreenderam que a mente tem
regras que permitem a compreensão das coisas e que as coisas que conhecemos resultam da
atividade dessas regras. Sócrates abriu caminho ao criticar a lógica interna dos valores: Platão
afirmou a imaterialidade das ideias e a total autonomia do espírito, da mente e Aristóteles
corrigiu Platão dizendo que as ideias são imateriais, mas que precisam da interação entre a
mente e a perceção e estabeleceu a Psicologia com disciplina filosófica.
O cristianismo e a alma
Plotino
O seu pensamento baseia-se numa hierarquia:
Existe uma consciência que possui inteligência que, por sua vez, origina uma
alma que contempla as formas puras que a inteligência contém.
Por outro lado, esta alma seria um todo que seria corrompido ao contratar com a
matéria. Então, a salvação do homem consiste em elevar o pensamento às ideias puras e
abandonar o desejo das coisas materiais.
Santo Agostinho
Segundo Agostinho (tal como Platão) existiram, em nós, duas realidades em conflito:
● razão
● desejo
“Não é o mundo que nos chega pelos sentidos, é sim a mente que busca o
mundo fazendo uso dos sentidos.”
No entanto, difere de Platão pois crê numa mente una, ou consciente. O eu é sempre o
mesmo. Os diferentes estados mentais é que entram em conflito, fazendo o eu reagir de
diferentes modos a um estímulo.
Temístio
Defende explicitamente que a alma é agente do Eu. E distingue esse Eu do que é ser Eu.
Este último é a objetivação de que eu sou alguma coisa que é diferente da consciência de mim.
Há então uma diferença entre o Eu sujeito e o Eu objeto.
● A de Deus;
● A inteligência separada;
● O intelecto possível.
● Alma sensitiva
o Apetite sensitivo – concupiscível (procura de prazer material) e irrascível
(enraivece facilmente).
o Sentidos internos/faculdades – imaginação, memória, estimação e senso
comum.
o Sentidos exteriores – 5 sentidos.
● Alma vegetativa – alimentar e reprodutiva.
Occam e o conceptualismo
Este autor deitou por terra todo o edifício do saber escolástico Occam vem trazer uma
outra dúvida e tentar responder-lhes. Um dos problemas mais centrais à psicologia é o das
categorias, mais corretamente perceber se elas são de facto reais ou se são um produto da
nossa mente. Por exemplo, a categoria “cão” existe realmente? Ou será apenas uma convenção
de linguagem ou generalizações da nossa mente? Esta é a Questão dos Universais a
que Occam tentou responder.
Segundo Boécio:
Capítulo 4: Do Renascimento ao
Racionalismo
Renascimento
O Renascimento foi uma época em que o homem se deu conta da sua importância e do
seu impacto no mundo, mas com a centralização do poder real deu lugar à importância das
regras e das leis. Isto explicaria a existência de dois momentos da filosofia renascentista:
● Neoplatonismo;
● Ênfase nas leis científicas.
Francis Bacon
Tal como Occam, valorizava a experiencia, opôs-se a Aristóteles criando uma filosofia
que se refere exclusivamente ao mundo físico. As palavras são meras etiquetas das coisas que
até então têm sido estudadas em relação umas com as outras, sem perceber realmente as
próprias coisas em si.
Galileu Galilei
Apresenta uma visão muito diferente de Francis, queria interpretar a natureza em
termos de leis como a matemática e a geometria, enquanto Francis queria conhece-la pelos
sentidos. Contudo, para podermos compreender a natureza através das leis da ciência temos
de compreender aquilo que vemos e que aquilo que existe não são a mesma coisa. Para isso,
Galileu vai distinguir:
Racionalismo
Descartes
Propôs-se a construir um edifício de conhecimento radicalmente novo,
apenas baseado na evidência da verdade. Para fazê-lo vai por tudo em
dúvida, incluindo os sentidos (refuta Aristóteles). Surge então o famoso Cogito que se resume na
ideia de que sei que existo porque me sinto, penso, tenho consciência de mim. A partir do
Cogito, Descartes ruma ao encontro da “verdade indubitável” que estaria na base de todo o
edifício do saber que se propunha conhecer. Para tal passa por todo um processo de raciocínio
desde a prova das ideias inatas até à afirmação de Deus
perfeito e infinito.
Natureza da mente
A mente não seria somente consciência de si mas
seria consciência das ideias. Ideias essas que
poderiam surgir de várias fontes e que nos permitiriam pensar no mundo.
A questão do eu
O eu seria toda a atividade psicológica consciente. Surge aqui o dualismo Cartesiano
em que eu (a alma) existe mesmo sem corpo e este (mortal) nada pensa é apenas matéria. Para
melhor compreendermos o dualismo, Descartes admite 2 realidades:
Para Descartes estas duas dimensões estabelecem uma ligação entre elas. Contudo o
autor não conseguiu explicar como esta ligação se estabelecia.
Espinosa
Também racionalista, foi muito inspirado por Descartes, tanto que a sua 1ª obra é a
apresentação das suas ideias. No entanto existem diferenças, enquanto Descartes era dualista,
Espinosa era monista, defendia uma realidade una que seria Deus, ou seja mente = matéria =
Deus = natureza. Para Espinosa, corpo e mente são apenas 2 formas de conhecer o mundo: na
3ª e na 1ª pessoa. Para sim, pensamento = realidade e para compreender Deus temos de
adotar 3 géneros de pensamento:
● Empírico – Saber fazer algo, mas sem saber o quê e como elas
funcionam. Isto funciona no quotidiano mas não na ciência.
● Conhecimento racional – Conhecer as leis que regem as coisas (o
seu porquê) de forma a prevê-las.
● Pensamento intuitivo – Verdades inatas, lógicas, com apenas 1
solução (em Descartes são ideias inatas). Basicamente são as verdades intuitivas.
Espinosa refere ainda que, para aumentar o nosso poder queremos impor aos outros o
que pensamos, distinguindo entre “nós” (os aliados) e “eles” (os inimigos). Todas as
paixões/emoções são positivas na medida em que criadas pelo exterior, são reativas. Podemos
concluir que o Homem é dominado por essas paixões sem ter a noção disso. Assim o Homem não
é livre porque não conhece verdadeiramente a causa do seu comportamento (então as paixões
são o 1º modo de pensamento).
Para ser livre, o Homem teria de guiar-se pelo 3º modo de pensar e perceber o porque
faz o que faz (tornar-se-ia demasiado calculista e egoísta, na busca do poder/liberdade).
Galileu
Mostrou a capacidade de união entre a matemática
(racionalismo) e a observação (empirismo). O empirismo
encontra-se diretamente ligado à ideia de que tudo quanto
há para explicar deve ser analisado em termos do que se vê
ou se pode medir. No entanto, a adaptação do empirismo à
psicologia é difícil e vários autores chegaram mesmo a
afirmar que “o que não se vê não existe”.Os principais
empiristas na filosofia são anglo-saxónicos inspirados por Occam e Francis Bacon.
Hobbes
Foi um nominalista, assim, defendendo que as classes do nosso pensamento são apenas
nomes convencionais que se aplicam ao real, opõe-se a Descartes (no dualismo) dizendo que o
facto de se poder pensar na mente como independente do corpo não significa que ela o seja, é
um puro erro no uso das palavras e conceitos. Além de nominalista, Hobbes foi um empirista
mas não anti inatista. O que ele defende é o seguinte:
● O conhecimento mental vem dos sentidos (teoria semelhante a Hume) e nesse sentido
Hobbes é empirista.
● Porém é inatista ao construir a sua teoria das paixões (que já vimos ter sido iniciada por
Descartes) dando-lhe uma perspetiva muito diferente das anteriores. Enquanto Descartes
e Espinosa relatavam as emoções de um solitário, Hobbes completa-a com a observação
do comportamento em sociedade.
O resultado é, portanto, uma maior ênfase do papel das emoções na relação social.
Para Hobbes todo o ser procura poder (nem todas de igual forma) o que resulta numa
guerra contínua, perigo constante, desgraçada e sofrimento.
Assim, Hobbes defende que um estado forte é a única alternativa a um estado de caos
social. Este estado forte (estado leviatã – poder e modo) funcionaria, pois, ao transmitir medo
(tendência para preservar a própria vida) a quem tentasse expandir demais o seu poder
garantiria a paz comum. Posto isto, Hobbes é um autor importante devido ao seu estudo
introspetivo da mente e das tendências para ação, as motivações e emoções. De acordo com
Hobbes, a riqueza e ambição são mal vistas porque todos a queremos de forma que não
queremos que os outros tenham.
John Locke
Em primeiro lugar, Locke parte da experiencia (enquanto os aristotélicos procuravam as
funções da alma e os cartesianos o conhecimento da verdade por meio de um processo rigoroso)
para chegar ao conhecimento através dela.
Além disso, Locke é inovador também ao determinar o seu objeto de estudo. Ele não se
concentra nas coisas em si, mas na nossa representação delas, como conseguimos pensar sobre
elas, como essas ideias se geram em nós. Não se interessa pela ontologia (o que é uma coisa)
mas sim pela epistemologia (o que sabemos dessa coisa). Esta representação é estudada na 1ª
pessoa por observação direta da mente:
Para quê inventar faculdades e não analisar para ver o que lá está realmente?
Preconceito Atomista
Toda a nossa mente é composta por fontes de conhecimento, isto é, todas as coisas são
compostas por elementos mínimos que se combinam em coisas mais complexas. Na mente
percecionamos os elementos mais simples e depois formaríamos sínteses com esses elementos
simples (designados por ideias simples). Têm duas fontes:
A fusão das ideias resulta nas ideias complexas. Que são contruídas a partir de ambas
as fontes, sensações e reflexões. Ou seja, a nossa mente é passivamente determinada pelas
sensações ou reflexões, mas as ideias complexas dependem mais da atividade da mente. Além
disso, as ideias complexas são de três tipos:
● Substância;
● Relação;
● Modo.
O eu em Locke
Locke distingue a ideia de substância corporal (corpo) e mental (a mente), são meros
agregados de ideias simples:
● De corpo – “coesão das componentes solidas e separáveis e um poder de
comunicação do impulso” (passivo).
● De mente – “pensamento, vontade, poder de pôr um corpo em movimento e da
liberdade” (agente).
● Comuns a ambas as ideias complexas são as ideias de existência, duração e
mobilidade.
O Homem pode então ser percecionado como uma máquina racional. Cuidado que
“Homem” (o que vejo nos outros) é diferente de “pessoa” (o que vejo em mim
independentemente do corpo/forma). O eu é a consciência e os seus limites (não do corpo, mas
das recordações) é a pessoa.
David Hume
Hume deu primazia, à sensação. Para ele, para explicar os problemas da filosofia da
mente seria suficiente usar o método da observação, da descrição da experiência mental. Hume
chama ao seu trabalho “Geografia Mental” pois tentou diretamente observar o processo de
conhecimento como ele ocorre, à semelhança de Locke.
Semelhança;
Contiguidade – estão muitas vezes associadas, por exemplo, mesa e cadeira;
Causa-efeito – permite compreender as relações dinâmicas e hipotetizar o que
não vemos.
Para Hume, estas 3 regras de associação entre ideias simples era a chave para a
compreensão do funcionamento mental.
A ilusão do eu
Também Hume analisa a questão do “eu”, e diz que moldamos uma identidade própria
que não existe: não somos quem fomos mas associamos os estados sucessivos através da
memória. Assim, a noção de identidade é ilusão no sentido em que não é uma coisa, o “eu” seria
apenas consequência de associação de vários estados mentais (anteriores e o atual) que
afirmamos serem pensados pelo menos são ainda que por vezes cheguem a ser contraditórios.
Hume não exclui o inatismo, as sensações dão conhecimento, não dão a razão.
Kant
Surge como reação a Hume, que afirma que o conhecimento vem dos sentidos
(empirismo) e é explicável pela “psicologia”. Kant não concorda totalmente com esta ideia. O
conhecimento vem dos sentidos sim, mas e antes de chegar aos sentidos? O que é isso de “haver
experiência”? Kant não tinha uma palavra para a ideia de “estrutura psicológica ANTERIOR ao
conhecimento”, portanto chama-lhe sempre “metafísica”. Estes processos ANTERIORES ao
conhecimento seriam os a priori e são inatos, determinando a sensibilidade e a razão, sendo a
condição para qualquer conhecimento.
A resposta de Kant
Quer a razão, quer a sensibilidade têm regras a priori que não são apenas a
associação. São algo que tem de compreender a origem dessa física da mente que estuda os
processos mentais como, por exemplo, a associação. Para isto, Kant vai estudar se existem a
priori sintéticos.
O eu transcendental e o eu empírico
A principal diferença é:
Como pode o mundo físico ser então conhecido? Kant responde com o método
transcendental, atual “funcionalismo”. Kant não descreve a mente, procura encontrar, por
raciocínio funcional, que operações da mente são necessárias para que haja conhecimento.
Pouco depois desta fundação da psicologia na Alemanha, funda-se nos Estados Unidos
outra psicologia dita “da adaptação” que vai cedo dar ao condutismo.
Na Alemanha, durante o “século das universidades” (séc. XIX), que era o principal centro
de irradiação da psicologia académica, as universidades pretendiam produzir ciência. A ciência
podia fundar-se em dois modelos/correntes:
● Ciências naturais (lidam com a matéria);
● Ciências do espírito (lidam com a atividade mental).
Fechner
Depois de estudar medicina, física e matemática, Fechner dedicou-se ao estudo da
sensação, por exemplo, as imagens secundárias ou consecutivas, que são, por exemplo, a
imagem que se reflete numa parede branca após olharmos para uma lâmpada acesa
fixamente.
Com os seus estudos, Fechner criou uma metodologia ainda hoje conhecida por limiares
diferenciais, que permitia detetar quais as menores diferenças necessárias para que se sentisse
uma mudança de estimulação – mínima diferença percetível.
Através desta metodologia chegou-se à Lei de Weber-Fechner que diz que a magnitude
da sensação (s) é igual a uma constante (k) vezes o logaritmo do estímulo (logR), esta função
(s=K×logR) representa a relação entre a magnitude de um estímulo inicial e a magnitude da
diferença necessária (diferença mínima percetível) para que seja detetada uma alteração.
Além desta, Fechner propôs outras formas de medir a sensação que conseguia convencer
a comunidade científica de que a relação entre o corpo e a alma era mensurável. Esta
demonstração foi crucial, dado que Kant declarou a impossibilidade de medir a mente.
Wundt
Declara-se Wundt como “pai” da psicologia experimental, uma vez que foi ele que
impulsionou o estudo experimental da mente e da consciência. Contudo, Wundt não considera a
psicologia apenas experimental e, desde logo, o deixou claro. Assim distinguiu “psicologia
experimental” de outras psicologias e defendeu que o método experimental não seria suficiente,
visto que as atividades humanas superiores, pensava Wundt, não eram abordáveis pela
experimentação.
Bases Intelectuais
Wundt formou-se em medicina com o Johannes Miller (que seguia os ideais de Kant).
Em 1863 publicou “Lições sobre a alma dos homens e dos animais” onde defendia que
toda a atividade mental poderia ser estudada pela elucidação dos processos neurofisiológicos
que a determinam. No entanto, com o evoluir do seu pensamento, repudiou essa ideia.
Esta evolução do pensamento de Wundt é notória na passagem progressiva da sua
crença de que a Fisiologia poderia explicar os processos mentais para uma crença de que a
Fisiologia apenas é boa como metodologia. Mais tarde, Wundt afirma que o método
experimental é insuficiente para estudar a mente porque além de características fisiológicas,
possui também culturais/ambientais.
Para compreender esta oposição entre Fisiologia e Psicologia é preciso ter presente a
distinção entre ciências da natureza e ciências do espirito. As primeiras tinham como lema
“reduzir todos os fenómenos a matéria”, enquanto as segundas consideram fenómenos culturais e
mentais irredutíveis a matéria e precisavam ser compreendidas e descritas ao nível em que
ocorriam. Assim, a psicologia de Wundt assenta nos dois campos.
Posição Filosófica
Wundt foi um filósofo que privilegia a psicologia (mas por razões filosóficas e não por
se interessar apenas pela questão da mente). Intelectualmente, Wundt defende ideais um pouco
contraditórios. Se, por um lado, defendia o positivismo (não especular, basear a teoria em
observação) e o elementarismo (a mente como produto de associação de elementos) por outro
lado, defende a tradição germânica da “mente ativa” (que apoia que a mente impõe ordem
aos dados dos sentidos e não é apenas consequência da informação exterior).
Para Wundt não haveria distinção entre os fenómenos do mundo físico e os fenómenos
mentais, declara portanto que seriam exatamente o mesmo mas, na ciência natural, se faria uma
abstração da subjetividade dos fenómenos (tal como Galileu pretendia, ser objetivos e estudar
apenas o que é do objeto (Qualidades Primárias) e não do observador (Qualidades
Secundárias).
Conclui que a psicologia deveria estar no centro das ciências naturais e do espirito,
estudando a subjetividade dos fenómenos e as consequências, mais objetivas, dessa
subjetividade, pois não se poderia compreender o todo olhando apenas a parte (como queriam
os materialistas).
Ideias Psicológicas
Apresentam-se em seguida os conceitos em Wundt:
Paralelismo psicofísico
Segundo esta ideia, físico e psicologia partiriam dos mesmos fenómenos, “representação
mental das coisas”, mas a Física abstrair-se-ia da parte psicológica da representação e a
Psicologia focar-se-ia nessa parte. Haverá assim uma causalidade física e uma causalidade
psicológica, ambos partes do mesmo fenómeno, mas independentes entre si. Perante este
paralelismo, a mente não pode ser explicada pela Física pois a mente é psicológica e a
Física descarta essa dimensão. Mas pode ser estudada empiricamente.
Elementos da consciência
Apesar de ser verdade que Wundt era um elementarista isso não significa que
acreditasse que a nossa experiencia das coisas fosse elementar. No entanto, haveriam sensações
elementares que se combinam sendo necessário, por análise psicológica, pô-las em evidência.
Isto é, ele claramente diz, que a experiência é una, ou seja que a nossa experiência das coisas
não se decompõe, mas diz também que a filosofia deve procurar os elementos “behind” da
consciência.
Ao tomar esta posição segue a posição de Hume de que existem sensações elementares
que se combinam e que seria importante evidencia-la. Estes elementos/sensações básicas são,
para Wundt, as sensações em si, mas também os “sentimentos” e a “vontade”.
Estes vários elementos combinar-se-iam por associação (que seria, na sua maioria,
inconsciente) não tendo nós consciência de todos os elementos (da parte) mas somente da sua
combinação (o todo). Mas como se processaria esta combinação?
Por outro lado, na nossa consciência haveria foco e periferia e, para haver combinação
ativa (análise e síntese) teria de evocar-se as coisas para o foco da consciência. Uma vez no
foco as coisas seriam percecionadas, ou seja, o Eu tem consciência nítida do que está no foco.
Aquilo que, por outro lado está na periferia seria aprendido não havendo consciência.
A perceção é sempre orientada por um esforço (é ativa) mas não há um agente que a
dirige, é sim impulsionada por 3 atividades/sensações subjetivas:
● Análise;
● Síntese;
● Orientação para uma finalidade.
Eu
Se o estado mental prototípico é a vontade, a mente está sempre como que em tensão
perante uma tarefa. Há então um polo organizador/uma direção para a resolução do
problema. O esforço da vontade une os elementos da consciência e é sentido como diferente
desses elementos. É esse sentimento de vontade que une o campo da consciência que Wundt
chama EU. E este sentimento (o “eu”) pode ocorrer como parte ou separado do corpo. Quando
separado pode ser:
O mais comum, no entanto, é ser sentido como uma experiência de vontade dirigida
para um problema que inclui corpo e mente. O eu não é uma ideia mas sim um sentimento
que resulta da interconexão de todas as coisas experienciais psicológicas.
Elementarismo e inatismo
Wundt era elementarista, acreditava que a mente se explicava por análise dos seus
componentes. Contudo Wundt também era bastante inatista, acreditava, entre outras coisas,
herança do adquirido, numa linguagem como resultado de preparações inatas, na expressão de
emoção inata, etc. Para haver aqui uma contradição, mas não é o caso, o elementarismo de
Wundt deve ser compreendido na seguinte perspetiva: há elementos e combinação de
elementos, mas essa combinação leva necessariamente a processos mentais típicos da espécie.
Heinroth
Em biologia, cada espécie tem uma anatomia única. Porém, Heinroth notou que, além da
anatomia, o próprio comportamento também permitiria a identificação de espécies. Decidiu
então fundar uma disciplina, a Etologia com a qual pretendia listar/catalogar os vários
elementos comportamentais de algumas espécies. Neste trabalho eram identificados os
comportamentos, a sua função e a sua integração na sequência geral de comportamento. Estes
procedimentos têm, evidentemente, semelhança com a anatomia – fisiologia – grupos de
elementos que se integram num todo funcional
Uexkill
Era um fisiologista do comportamento, estudava a função e como a organização
anatómica resultava em funções comportamentais integradas. No seu tempo o modelo era
atomista, estudavam-se preparações para identificar mecanismos e suponha-se que esses
detalhes se integravam num todo, tipo maquina. Os organismos eram vistos como máquinas, sem
vontade e/ou mente. Uexkill estava descontente pois acreditava que os animais seriam sujeitos
de ação. Para o demonstrar, apresenta o seguinte argumento: O ciclo funcional.
Ciclo Funcional
Tudo começa na teoria dos reflexos (todo o nosso comportamento é um reflexo) que
Uexkill diz estar errada. Ele não nega a existência de outros reflexos a questão é que existe
também uma ligação ambiente-organismo.
Assim, o organismo vivo é composto, em vez de um reflexo, por vários ciclos funcionais
entre o ambiente e ele mesmo, tornando-se necessário, para caracterizar o organismo a estudar,
através do ciclo funcional, essa relação que se estabelece com o ambiente. Ou seja, o estímulo
vem do ambiente e faz o organismo reagir-lhe de determinada forma.
Cada organismo tem então vários ciclos funcionais que se interrelacionam de modo a
adaptar o animal ao seu ambiente.
A isto chamou-se a doutrina dos mundos próprios, ideia de que cada animal define o
mundo em que vive, que constrói pela ação e perceção (ideia Kantiana).
Etologia e Psicologia
A etologia não é uma psicologia, pelo menos no sentido mentalista da coisa. Porém
permite o acesso às representações do mundo possuídos pelos animais. Uexkill, como vimos:
Desta forma, o paradigma etológico permitia sem grande dificuldade progredir para
uma psicologia das representações em que se tentaria compreender a contribuição de a priori
em sentido Kantiano, da influência cultural e de uma psicologia da experiência.
A teoria de Gestalt
A “Teoria de Gestalt” transmite a ideia de que qualquer coisa tem, no seu todo,
propriedades impossíveis de identificar nas partes. Neste sentido, “Gestalt” = “propriedades do
todo”.
Percursores
O movimento Gestalt emerge de críticas feitas a Wundt que era elementarista. Gestalt
nega que o mundo seja elementar e possa ser sintetizado. Questiona, “como são os elementos
que criam o todo se são todos distintos? Não há síntese de elementos, mas sim uma experiência
total.”
Ehrenfels faz a primeira crítica ao elementarismo wundtiano defendendo que,
independentemente dos elementos do conjunto, haveria qualidades de conjunto que são
percecionados apenas na avaliação do conjunto, como a “aspereza” ou a “nitidez”.
Por outro lado, também Carl Stumpf se opôs a Wundt mostrando a insustentabilidade
da sua posição através do estudo de uma melodia, que avaliamos como um todo e não como
uma parte, tal como, diz Stumpf deveríamos fazer com a consciência/mente.
Em todos os casos, o modelo de pensamento é igual: Mente como máquina que, a parte
dos mecanismos neurais e psicológicos, transforma a informação do ambiente e a torna
consciente e/ou gera comportamento.
Para tal, centram-se na experiência comum, quotidiano, de olhar para um objeto sobre
um fundo, ou seja, aprender o conjunto, e não os elementos que o constituem.
Além disso, Gestalt mostrou também que se uma imagem for reversível quando vemos
uma das combinações não podemos ver a outra. O que significa que se veem sempre os
padrões de estímulos e não os elementos que o combinam.
Ainda assim, e mesmo quando não depende da aprendizagem (pois acontece o mesmo
com figuras desconhecidas), Gestalt segue a ideia, mostra de que a mente não impõe ordem,
deteta-a no mundo exterior que também a tem. Assim, o pensamento Gestaltista sobre o
processo de apreensão do mundo seria:
Em Gestalt “não há espaço para o Eu” sendo este um polo do campo de forças. Como
pretende compreender como a mente deteta os campos de forças é pouco dependente do Eu.
Ideia fundamental
Há estruturas iniciais (uma organização interna) que se vão aplicar ao mundo exterior
para assimilar esse mundo exterior. Para assimilar esse mundo, as estruturas internas têm de se
acomodar para se aplicarem ao aspeto particular a que estão a ser aplicadas. Outro
pressuposto da teoria de Piaget é que o conjunto de conceitos que assimilam o ambiente
modificam-se não progressiva mas subitamente: geram-se estádios de desenvolvimento, que se
podem usar para caracterizar certos períodos da vida da criança. Cada estádio evolui de tal
forma que certas experiências com o exterior destroem o seu equilíbrio – Piaget postula uma
tendência à equilibração das estruturas.
O desenvolvimento psicológico
A teoria de Piaget distingue estádios e períodos. Períodos: Sensório-motor,
Pré-operatório e operatório concreto, operações formais.
Fase pré-operatória
A criança existe num mundo que lhe é exterior, mas mantém uma grande autocentração
(centrada em si). A separação do eu e o ambiente torna-se progressivamente maior: a criança
começa a ter imagens mentais – estas imagens mentais não permitiriam ainda uma manipulação
mental.
Operações concretas
Mais tarde o comportamento da criança passa a ser mais plástico – operações concretas
(tem vários estádios e dura dos 6 aos 11 anos). O comportamento da criança, nas tarefas de
classificação, de conservação de objetos e de transformações, pode ser descrito em termos de
operações formais da lógica. Não interessam a Piaget as capacidades de atribuição de
significado, mas apenas as atividades que vão culminar adiante, nas operações formais (entre os
11 e os 15 anos).
Operações Formais
Esta fase caracteriza-se por uma autonomia das operações anteriores, que do
comportamento passam a ser interiorizadas – a representação que a criança faz do mundo é
menos acional e mais cognitiva. Segundo Piaget, a criança passa a ser um pensador com as
características que atribuía à ciência. É a necessidade que mostra que a criança chegou às
operações formais – é esta necessidade intelectual que mostra que a lógica da relação com o
ambiente passou para o plano mental.
Conclusão
Piaget interessou-se pelas géneses das categorias de espaço, tempo, objeto,
causalidade e não pela representação naturalista do ambiente – Piaget estava apenas
interessado em saber como surgia o pensamento.
Relações Objetais
Freud baseou todo o mecanismo da vida mental em relações objetais: as minhas
emoções em relação a outras pessoas. Para ele, uma perturbação emocional tinha sempre que
ver com o que o paciente sentia por outras pessoas ou pensava que essas pessoas sentiam.
Assim, as motivações na teoria freudiana são todas objetais e a interpretação de todos os
conteúdos da vida mental são representados em termos relacionais – este ponto é importante,
mas redutor, pois existem emoções e motivações que não têm que ver com aquilo que se sente
pelos outros. Esta interpretação de tudo em termos de sentimentos interpessoais pessoais parece
ter sido uma característica única de Freud: um pesadelo implicava medo de alguém e não
apenas medo.
Inconsciente e Repressão
Defendeu que haviam poderosas motivações inconscientes, frequentemente sexuais que
influenciavam o comportamento das pessoas, e que esses comportamentos tendiam a ser
interpretados em termos de razões (falsas) conscientes. Interpretou as dificuldades de acesso às
verdadeiras causas como uma resistência inconsciente em aceitar a verdade, que seria
censurada. Para atingir as verdadeiras causas, Freud encontrou um método mais seguro do que
a hipnose: a associação livre, que lhe foi sugerida quando um paciente que não foi
completamente hipnotizado começou a fazer associações de palavras que Freud conseguiu
interpretar. Mais tarde, desenvolveu a interpretação dos sonhos que eram diretamente
provenientes de processos não-conscientes. Contudo, mesmo nesses casos, a censura não se
encontraria ausente, de modo que seria necessária uma hermenêutica/interpretação do sonho
que traduzisse os seus símbolos e significados ocultos.
Teoria de Freud
É complexa e evoluiu no tempo: dois tópicos que se referem à arquitetura mental.
Karl Abraham, um dos discípulos mais fiéis, chegou a propor que os traumatismos de
guerra eram provenientes da censura da homossexualidade provocada pelo contacto
prolongado com outros homens.
Esta “resistência” à causa óbvia das neuroses de guerra foi causada pela ideia
freudiana de que todas as neuroses têm origem sexual. De modo a explicar as repetições dos
sonhos traumáticos sem alterar essa afirmação, Freud criou uma pulsão de repetição consciente
que não se conformava com o princípio do prazer. Assim, distinguiu entre:
● Pulsões de vida (ou Eros, da mesma raiz etimológica de “erotismo”): eram pulsões
sexuais de reprodução;
● Pulsões de morte (ou Thanatos, personificação da morte): tendiam para a dissolução e
para a quebra de todos os laços, e eram responsáveis pela agressividade.
Mais tarde foi mostrado que o Ego era influenciado por modelos exteriores que não se
compreendiam nem em termos de Eros nem de Thanatos. Esta reflexão levou Freud a elaborar
um segundo tópico, isto é, um esquema das instâncias psíquicas/das entidades que participam no
dinamismo psíquico, que se sobrepõe ao tópico anterior (inconsciente, pré- consciente, consciente)
e muito diferente da oposição entre princípios do prazer e da realidade.
● O Ego: É a parte mais consciente do Id. É o campo de ação dos elementos conscientes e
pré-conscientes (i.e., que podem facilmente voltar ao campo da consciência) e que
atingem o comportamento de forma mais ou menos acessível ao sujeito. É no Ego que se
faz a gestão dos outros determinantes da vida psíquica e do comportamento.
● O Superego: Corresponde à cristalização dos interditos e obrigações sociais impostos
pelos pais e que determinam o que é permitido, proibido e desejável;
● O Id: Constituído pelos impulsos profundos, de Eros e Thanatos. Seria esta zona mais
profunda do inconsciente, e cujos ecos chegariam mais alterados à consciência. Estes
impulsos poderiam ser sublimados, isto é, transformados de forma socialmente aceite e
útil por exemplo, um indivíduo com pulsões de destruição poderia sublimar essas pulsões
tornando-se cirurgião e Eros poderia sublimar-se na criatividade intelectual ou artística.
Freud e a Civilização
Freud acreditava que Eros e Thanatos poderiam ser sublimados. Defendia que a
abstinência sexual poderia canalizar a energia para, por exemplo para a criatividade
intelectual.
Tal como o sexo, o instinto de morte poderia ser canalizado para uma atividade
construtiva (por exemplo, o cirurgião sublimaria os seus instintos destruidores na mesa de
operações). Mas, esse processo pagar-se-ia caro: o desejo profundo dos indivíduos seria a
obtenção do prazer imediato e não a sua sublimação, que se acompanharia de sintomas
neuróticos ou de sofrimento. Como a civilização só é possível pela repressão desses instintos
primários, andaria de mãos dadas com a neurose.
Este tema foi muito importante, pois há aqui uma reflexão fundamental em torno do
mais grave dos problemas humanos: a oposição entre egocentrismo primário e o espírito de
cooperação requerido pelas culturas humanas.
Avaliação da Psicanálise Freudiana
Importância de um modelo bio-psico-social
De todas as teorias clássicas sobre a psicologia da nossa espécie, a freudiana é a única
que considera a pessoa de um ponto de vista realmente integrativo. A inovação principal, na
opinião do professor Saraiva, ocorre no seu segundo tópico (fase mais tardia da sua teoria).
Como já vimos em cima, Freud descreve o ser humano como um ser em conflito
permanente: determinado por motivações obscuras, animais (o id) e por regras interiorizadas de
conduta e mesmo de pensamento (o superego), há uma zona de consciência (o ego) onde esse
conflito é extinguido e controlado. Pode-se dizer que as pressões culturais interiorizadas não são
só provenientes dos pais, mas também das pressões do grupo. A nossa espécie funciona
precisamente na base de um conflito entre pulsões biológicas e instruções sociais que se
tornaram tão fortes que as sentimos como parte inata de nós próprios e que a única
possibilidade de compreender o conflito e de o resolver está na capacidade que temos em nos
compreender e nos sentir – de sermos psicólogos de nós próprios. Na opinião do professor, esta
é a grandeza da Psicanálise, que ao ter um quadro teórico rico, nunca se soube renovar. Porém,
a Psicanálise funcionou não como uma ciência, mas sim como uma religião, e foi essa a causa da
sua queda recente.
Conclusão
A psicanálise era uma teoria do homem integral (bio-psico-social). Solicitava motivações
biológicas e regras sociais, onde a pessoa estava dividida pela luta constante entre pressões
biológicas e papéis sociais interiorizados.
O professor concorda com esta visão, acha-a profunda e verdadeira. Parece-lhe que
esse conflito originou a maior parte dos problemas de adaptação das pessoas “não doentes” ao
seu ambiente e tem de ser. Este conflito, segundo o professor, é fundamental para fazer
compreender às pessoas o que elas são: o objetivo de qualquer psicologia. Mas a psicanálise
baseou-se num método imperfeito e em pressupostos teóricos impossíveis de avaliar e tornou-se,
desse modo, invulnerável a qualquer reformulação.
A psicanálise, como teoria, está, talvez, quase toda errada. Mas tinha um objeto de
estudo importante, o de explicar o porquê do comportamento e dos conflitos mentais. Ao ser
abandonada a teoria foi abandonado também esse objeto de estudo e criou-se um vazio. A
especialização, a desconfiança das teorias, a própria dúvida sobre o conceito de mente invisível,
têm bloqueado o preenchimento desse vazio.
Com a 2ª guerra a Europa perdeu “valor” que foi sendo ganho pela América do Norte.
Com a “fuga de cérebros” que se deu assistimos a uma modificação substancial dos
pensamentos. Enquanto na Europa se acreditava num investigador/pensador, nos Estados Unidos
da América defendia-se a produção e os resultados.
Atualmente procura-se o Homem para o modificar e não para estudá-lo. Assim perde-se
a tradição Europeia de estudar na 1ª pessoa (valor introspetivo) para adotarmos uma
psicologia na 3ª pessoa.
James
Ideias de James
James era contra a ideia de um método 100% experimental e no estudo exclusivo de
conteúdos objetivos. Assim, a sua psicologia une filosofia com a introspeção (como Wundt).
Defendia também, que a física não estuda a mente (a física estuda o que está “fora” e a mente
“de dentro”).
Metodologia
James é empírico, analisa e descreve o que sente da forma mais clara possível. No
entanto, tem por base a introspeção e descreve sensações mentais (é o único psicólogo moderno
que descreve a mente pura e simplesmente como a sente).
Anti-elementarismo
Defende que a mente deve ser estudada num todo e não por “partes”/elementos que,
dizia James, seriam apenas conceitos teóricas e não reais.
Segundo James não haveria elementos (sensações) mas um fluxo de consciência que
compunha a mente e que deveria ser estudado por introspeção. Este fluxo devia ter uma função
porque não faria sentido a evolução de algo tao complexo como a consciência se não tivesse
uma razão.
● Substantivas;
● Transitivas.
As primeiras são aquelas que conseguimos representar como objeto de atenção (por
exemplo, o computador), enquanto as segundas são muito mais difíceis de capturar porque não
se conseguem imobilizar e quando capturadas passam de imediato a substantivos.
O Eu e o Mim/Meu
O Eu seria o centro da atividade consciente, o ponto central de mim próprio. James
chega à distinção Eu e Mim (ou, Eu – sujeito e Eu – objeto).
O eu tem 3 domínios:
● Mim material – coisas que achamos nossas, como por exemplo, livros, casa, pais,
etc. demonstra a importância da nossa relação com o meio, somos o centro do
nosso mundo e o que nos pertence faz parte de nós;
● Mim social – o papel que desempenhamos nas diferentes relações interpessoais
que estabelecemos;
● Mim espiritual – ou mental, é conjunto das nossas atividades mentais, este
“mim” é mais “Eu” que os outros que são mais “meu”, as coisas que penso, sinto,
acredito, defendo, etc.
Foi posteriormente modificada pois ia contra a ideia de livre-arbítrio que James postula
como função da consciência.
Hábito
Era a forma como a cultura nos manipula, determinando os nossos juízos. Ou seja, a
aprendizagem era vista como a raiz da fixidez comportamental. Apesar de pouco seguido,
James foi importante pois deu o impulso aos americanos para se afirmarem.
● Spencer defendia que a mente era uma máquina de associações entre imagens.
● Darwin: seguia uma psicologia que permitia descrever a mente em termos de
conjuntos e funções.
As duas posições convergem nas tentativas de gerar listas de instintos, de definir uma
política eugenista e no raciocínio. A lista dos instintos humanos procurava captar tendências para
a ação que pareciam universais, mas que eram bastante variáveis, não eram assentes em
definições experimentais ou procedimentais e por isso estavam longe de conseguir controlar o
corpo humano como uma máquina.
Galton
Convencido de que a humanização da sociedade tinha uma consequência muito
perigosa: ao ajudar os menos aptos estava a contribuir-se para degenerar a espécie. Tentou
fazer um teste, aceitando a afirmação empirista de que a inteligência vem dos sentidos (esta
teoria não floresceu na Inglaterra, mas nos Estados Unidos).
Alfred Binet
Inventou um teste para despistar crianças com dificuldades de aprendizagem (estes
testes indicavam o que se esperava em cada idade, tornando possível determinar quem estava
acima e abaixo da média).
Terman e Yerkes
Tentaram utilizar os testes para despistar os débeis entre os imigrantes. Estes testes eram
dependentes da linguagem e eram aplicados à pressa a pessoas exaustas depois de uma
viagem em condições por vezes terríveis e que mal sabiam, ou não sabiam falar inglês. Este
trabalho culminou na aplicação sistemática de testes a todos os recrutados do exército (o que
revelou que a maioria dos americanos brancos e nórdicos seriam débeis mentais).
● O calvinismo, ligado ao pudor vitoriano, uma época em que o corpo não podia ser
mencionado e as tendências para a autoanálise eram consideradas malsãs;
● O capitalismo, que produziu um tipo de homem tosco, rápido, pratico e sem vontade
nem capacidade de autoanálise psicológica.
Os problemas práticos dos norte americanos contrastavam com os europeus pois estes:
As emoções eram vista como sinal de debilidade, não de romantismo. Esta época tinha
outro traço importante, o anti-intelectualismo. O que se queria eram soluções praticas, não
especulações; o que se pretendia era homens de ação e não teóricos ou pessoas que cultivavam
a cultura por si própria. Tudo isto teve grande influencia nos EUA e na Psicologia:
Na segunda metade deste seculo, nos EUA, desenvolveu-se uma classe nova: os homens
das profissões liberais. Pretenderam reformar o país no sentido de o tornar numa sociedade
coesa, igualitária e profissionalizada – era altura da tecnologia e da produtividade. A
sociedade estava em mudança e numa sociedade assim são necessários especialistas de
mudança, que segundo o proclamador John Dewey, deviam ser os psicólogos porque:
● As pessoas estavam apegadas a valores e hábitos antigos, e para mudara esses valores
e hábitos seria necessário compreender que valores e hábitos e que hábitos uma
sociedade perfeita deve ter;
● Esses valores e hábitos são, segundo Dewey, objetivos da Psicologia, e por isso devem
ser os psicólogos o fator de mudança, os especialistas na transformação das pessoas.
Não é por acaso que, a psicologia na europa, era um campo puramente académico e que,
nos EUA, se transforma numa profissão. É então neste contexto revolucionário, que se tem de
compreender o inicio da psicologia profissional. Nada do que esta era na Europa lhe poderia
dar o estatuto que se lhe pedia nos EUA: a psicologia era o estudo da consciência e dos
processos mentais. O estudo da consciência era experimental e o estudo dos processos mentais
menos. A mudança opera-se sobre processos mentais e não sobre produtos da consciência. Mas
os norte-americanos queriam peritos, queriam resultados rigorosos e visíveis. Mesmo a psicologia
dos processos de mudança tinha de ser experimental. Há então o desenvolvimento da psicologia
na América do Norte.
A versão psicológica deste movimente não poderia ser o estruturalismo de Tichenner nem
a psicologia de James pois ambas eram sobre a mente e a consciência. No ethos
norte-americano a psicologia teria de ser o estudo da mudança e da ação.O que resultou foi um
movimento chamado funcionalismo.
Funcionalismo
Resulta em grande parte da psicologia de James: a mente e a consciência têm de ter
uma função de adaptação. Há uma questão que se tem de colocar: a das relações entre a
mente e o comportamento. Se a mente tem funções de adaptação ao ambiente, essa adaptação
certamente se irá traduzir em comportamento. De resto, só podemos saber da mente dos outros
através do comportamento que manifestam. a preocupação americana com a intervenção, a
eficácia e com a adaptação a situações novas (aprendizagem) levou a que a mente,
progressivamente, passasse a ser considerada como condição de adaptação comportamental ou
mais simplesmente, como alteração comportamental.
Mustenberg
Foi com Mustenberg, que se dedicava á psicologia industrial, que apareceu a
formulação que retirava explicitamente importância á consciência: assim, a consciência seria
apenas um epifenómeno da ação. Nomeadamente, seriamos informados pelos nossos músculos
de que queremos fazer uma coisa, e declaramos a nossa intenção de a fazer: a seguir fazemos
essa coisa. Como dissemos que íamos fazer a coisa que fizemos, pensamos que foi a nossa
consciência que determinou a nossa ação, mas na realidade, segundo Mustenberg, foi ao
contrario – a nossa ação é que determinou a nossa consciência. Esta teoria é um exagero da
posição de James: fazemos a coisa e depois é que sabemos que as vamos fazer.
Esta teoria não tinha nenhum fundamento empírico. Mustenberg preferiu dizer que a
mente não tinha efeito causal.
John Dewey
Pela mesma altura surgiu John Dewey que sugeriu que apenas eram conscientes os
momentos em que a nossa ação era entravada. Só neste caso a consciência interviria e o resto
seria feito com base no automatismo e hábitos. Há um pouco de verdade nesta ideia na medida
em que as tarefas automáticas são feitas com pouca atenção consciente, mas há um certo
exagero nesta teoria.
Psicologia animal
Foi na psicologia animal que o processo de passagem de psicologia a estudo do
comportamento e não da mente se realizou. O autor mais importante desta tendência (E.L.
Thorndiken) defendia a inutilidade do conceito de mente quando se investigavam animais e
crianças e para isto leu estudos de Romanes que defendia que quando se encontra uma
atividade que parece implicar inteligência, ou que nos faríamos usando a inteligência, admite-se
que os processos animais que a asseguram são tao inteligentes quanto os nossos. Ele mostra que
muita da adaptação comportamental animal se faz por processos de aprendizagem por ensaio
e erros.
A razão pela qual Watson não pode ter sido realmente um revolucionário, é que todas
as alterações que ele propõe no seu manifesto estavam em curso no seu tempo. São elas:
Watson
Foi aluno de John Dewey mas declarou-o incompreensível. Por essa altura sofreu
influência de Jacques Loeb, um investigador que defendia que o estudo dos tropismos (alteração
do movimento) explicava todo o comportamento.
Watson foi muito recetivo a esta visão e por isso todos estes princípios se encontrarão no
condutismo mais tarde. A fase de formação de Watson ocorreu sobre a tutela de Angell, que
era um dos psicólogos funcionalistas que não queriam abdicar dos relatos introspetivos, que
achava serem a condição necessária á psicologia. Contudo, Watson detestava a introspeção.
Fez a sua tese de doutoramento – onde pretendia encontrar relação entre o comportamento
e a fisiologia. Começou a defender uma psicologia sem o conceito de consciência. Na senda de
Thordnike, achava que o conceito de consciência era inútil no comportamento animal e que o
comportamento das crianças era compreensível em termos de comportamento sem qualquer
referência á mente.
Watson não queria estudar o animal reflexo a reflexo, ou seja, analiticamente, mas sim
a adaptação do animal como um todo ás alterações do ambiente. Watson tinha uma mente
sintética, focada em conclusões gerais sobre os processos.
● O medo, desencadeado por barulhos fortes e por situações em que a criança esta em
risco de cair;
● A raiva, que ocorre perante uma contrariedade, quando a criança é impedida de se
mover;
● O amor, que não é bem definido e que parece ser o mais próximo de prazer. Watson
descreve-o como afetivo, bem-intencionado e amável.
Posição de Watson:
Watson pretende que, mesmo no adulto, a formulação válida para as crianças também
se aplica. Os conceitos mentais são usos não científicos da linguagem. A posição de Watson
sobre o que são as emoções, no adulto-todo o simbolismo, toda a reação além do funcional
seria emocional.
Entrou em debate com William McDougall, um psicólogo que defendia uma posição
muito próxima dos etólogos. Watson afirma que a ciência não existe, pura e simplesmente, que é
uma invenção, como a de alma. Disse que o cérebro não teria as funções que normalmente se lhe
atribuem, os comportamentos observáveis seriam iniciados externamente e mediamos por
‘comportamentos implícitos’- as atividades dos nervos, das glândulas e dos músculos. Pensar seria
assim um comportamento aprendido, não uma atividade mental ou sequer do cérebro, que não
iniciaria nenhum comportamento. A realidade psicológica seria apenas ação.
Todas estas teorias eram concordantes: Watson queria afirmar a não importância do
cérebro/mente e a importância dos músculos/ação. Trata-se da versão mais extrema da paixão
dos EUA pela ação e da desconfiança pelos intelectuais.
A psicologia é assim vista como uma pura ciência de matéria, com estímulos que
produzem uma ação visível sem que a consciência, mente ou livre-arbítrio desempenhem menor
papel. A psicologia, é assim aniquilada e substituída pela ciência da ação e da adaptação
acional ao ambiente. A psicologia transforma-se em ciência da aprendizagem não cognitiva.
A posição de Watson não difere muito da dos etólogos. A etologia estuda padrões
motores típicos da espécie e a maneira como esses padrões motores se coordenam e adaptam o
organismo ao ambiente, admitem construtos hipotéticos. Ambos são semelhantes no estudo da
conduta e da perceção na adaptação ao ambiente, lidam bem com o comportamento de
animais e crianças. A etologia é antimentalista.
Novos condutismos
O condutismo foi dominante nos EUA ate ao final dos anos 60, e continuou influente até
aos anos 70. Foi vencido pelo cognitivismo, que não era assim tão diferente. Criou-se então
novos condutismos mais rigorosos, a seguir a Watson surgiu Clark Hull e Tolman, e eram mais
mentalistas que Watson e ambos reconheciam a necessidade de admitir variáveis internas para
explicar a aprendizagem. Hull admitia haver associações entre estímulos e respostas internas,
Tolman admitia a existência de ‘mapas espaciais’ (mentais) no organismo. Estes dois condutismos
estiveram na origem do cognitivismo.
Filosofia de Skinner
É um teórico da aprendizagem – interesse na modificação do comportamento, mas com
base na aprendizagem tenta explicar todas as atividades humanas. Ao contrario de Watson,
não nega a mente nem a consciência, apenas a reformula em termos de conduta e
condicionamento.