Livro Unico
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Livro Unico
dos Materiais
Roberta Lopes Drekener
Éder Cícero Adão Simêncio
© 2019 por Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida
ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico,
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Conselho Acadêmico
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Grasiele Aparecida Lourenço
Isabel Cristina Chagas Barbin
Thatiane Cristina dos Santos de Carvalho Ribeiro
Revisão Técnica
Bárbara Nardi Melo
Éder Cícero Adão Simêncio
Roberta Lopes Drekener
Editorial
Elmir Carvalho da Silva (Coordenador)
Renata Jéssica Galdino (Coordenadora)
ISBN 978-85-522-1436-6
CDD 540
Thamiris Mantovani CRB-8/9491
2019
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza
CEP: 86041-100 — Londrina — PR
e-mail: editora.educacional@kroton.com.br
Homepage: http://www.kroton.com.br/
Sumário
Unidade 1
Átomos, moléculas e íons������������������������������������������������������������������������� 7
Seção 1.1
O átomo e a tabela periódica ........................................................ 9
Seção 1.2
Ligação química e estrutura molecular ����������������������������������� 26
Seção 1.3
Moléculas e íons��������������������������������������������������������������������������� 42
Unidade 2
Estudo de reações químicas e estados da matéria������������������������������ 57
Seção 2.1
Equações químicas���������������������������������������������������������������������� 59
Seção 2.2
Reações em solução aquosa�������������������������������������������������������� 74
Seção 2.3
Estados da matéria: gases, líquidos e sólidos��������������������������� 92
Unidade 3
Estruturas cristalinas����������������������������������������������������������������������������111
Seção 3.1
Estruturas cristalinas e sistemas cristalinos���������������������������112
Seção 3.2
Imperfeições cristalinas������������������������������������������������������������128
Seção 3.3
Difusão����������������������������������������������������������������������������������������140
Unidade 4
Propriedades, processamento e desempenho dos materiais�����������151
Seção 4.1
Propriedades, processamento
e desempenho dos materiais metálicos����������������������������������153
Seção 4.2
Propriedades, processamento
e desempenho dos materiais cerâmicos���������������������������������171
Seção 4.3
Propriedades, processamento
e desempenho dos materiais poliméricos e compósitos������187
Palavras do autor
S
eja bem-vindo à disciplina de Química e Ciência dos Materiais. Aqui
você aprenderá as bases da química e da ciência dos materiais. Você
já se deu conta que, ao seu redor, estão ocorrendo várias reações e
processos químicos? Quer um exemplo? Para qualquer lado que você olhar,
irá notar alguma reação ou processo químico ocorrendo; seu próprio corpo é
composto de inúmeros reatores químicos: as células. Você também compre-
enderá as importantes relações entre as estruturas químicas, os processa-
mentos, as propriedades e o desempenho de um material. Mas onde identi-
ficamos isso em nosso cotidiano? Um exemplo são os tipos de materiais que
podem ir ao micro-ondas, pois dependendo do material podemos ter uma
explosão. Portanto, é muito importante para sua formação acadêmica conse-
guir associar determinados eventos de seu cotidiano aos conceitos que serão
apresentados ao longo da disciplina. A química esteve presente em toda a
história da humanidade. No início, a química não era vista como ciência,
mas como algo utilitarista, isto é, desenvolvia o conhecimento para resolver
problemas sociais. Foi assim com o desenvolvimento dos primeiros materiais
de argila obtidos pelo homem após descobrir o fogo, com o surgimento de
tintas primitivas e de produtos de cerâmica no final do período Neolítico e
com todo o avanço dos egípcios antigos, que desenvolveram os perfumes,
alguns remédios, papiros e diversas tintas, entre outras coisas. Hoje, a química
é uma ciência e seus avanços e descobertas permitiram muitas melhorias no
dia a dia, estando intrinsecamente relacionados com a melhora da qualidade
de vida.
Quando chegarmos ao final da disciplina, você será capaz de conhecer e
compreender os conceitos básicos sobre átomos, moléculas e íons, assim como sua
importância dentro do estudo da química. Aplicando este conhecimento você irá
avançar no sentido de compreender os principais conceitos de reações químicas e
os estados da matéria, assim como os diferentes arranjos atômicos e as imperfeições
presentes em sólidos, além de entender os mecanismos de difusão atômica. Após
estudar ciência dos materiais, você será capaz ainda de analisar e compreender as
propriedades dos materiais para seleção, de modo a atender às características de
desempenho e processamento.
Na primeira unidade desta disciplina você irá estudar os átomos, como eles
se conectam para formar as moléculas, ou ainda como os íons se formam. Na
segunda unidade da disciplina, você irá aplicar os conhecimentos adquiridos
estudando equações químicas e reações em solução aquosa, finalizando a
unidade com o estudo dos diferentes estados da matéria. Na terceira unidade
você compreenderá as principais estruturas cristalinas dos diferentes tipos
de materiais e seus sistemas cristalinos, assim como os tipos de imperfei-
ções ou defeitos estruturais que são importantes na difusão no estado sólido.
Por fim, na quarta unidade da disciplina você estudará as principais proprie-
dades dos materiais e como o tipo de processamento influencia diretamente
na obtenção dessas características.
Vamos começar nossa jornada pela química e pela matéria!
Unidade 1
Convite ao estudo
Toda a matéria é constituída de pequenas partes, o átomo; e a química
estuda os átomos para então compreender como eles se conectam para
formar diferentes compostos, que apresentam diferentes propriedades. Por
exemplo, o sal se dissolve em água e permite que ocorra a condução de uma
corrente elétrica; já a glicose, embora se dissolva, não permite a condução
mencionada. O que estas duas moléculas têm de diferente? Os átomos que a
formam! Por isso um comportamento tão distinto.
Após estudar esta unidade de ensino você será capaz de conhecer e
compreender os conceitos básicos sobre átomos, moléculas e íons, assim
como sua importância dentro do estudo da química. Isso lhe permitirá saber
aplicar os conceitos de átomos, moléculas e íons em situações profissionais.
Imagine que você é um trainee em uma empresa que fabrica células
fotovoltaicas. Sua atribuição é acompanhar o processo de construção de
células fotovoltaicas, desde a preparação das placas até a montagem final e
manutenção. Em suas primeiras semanas, um lote de células fotovoltaicas
apresentou problema e foi devolvido. Seu gestor pediu que você investi-
gasse qual o problema, verificando se as células tinham como serem reapro-
veitadas. As células fotovoltaicas são constituídas de materiais com carac-
terísticas de semicondutores, como os que são utilizados em componentes
eletrônicos. Os principais semicondutores produzidos pela sua empresa são
silício (Si) com fósforo (P) e silício com boro (B). Você quer mostrar um
bom desempenho ao seu gestor, sendo assim, nada melhor que entender a
química envolvida neste processo. Nele, seu objetivo final é que as células
estejam funcionando, com o menor custo de manutenção possível. Mas
o que define o comportamento de um átomo? Como pode o comporta-
mento desses átomos afetar o funcionamento da célula? Qual o processo
que ocorre para que a célula funcione?
Para responder esta e outras perguntas, você deverá estudar sobre o átomo
e a tabela periódica, os conceitos de ligação química e estrutura molecular e
ainda as moléculas e íons.
Bons estudos!
Seção 1.1
Diálogo aberto
Quando olhamos uma tabela periódica dos elementos químicos já nos acostu-
mamos com seu formato e também já pensamos em átomos e suas subpartí-
culas elétron, próton e nêutron. Mas você já parou para pensar que nem sempre
foi assim? Na maior parte da nossa história, não se tinha nenhuma evidência
do átomo, ou nem se quer se pensava sobre ele. Todo este conhecimento foi
construído em pequenos passos, ou melhor, experimentos. A análise dos dados
conhecidos permitiu que se chegasse em uma organização dos elementos, e
ela é totalmente lógica. Além disso, a análise da tabela periódica nos fornece
inúmeras informações.
Você é trainee em uma fábrica de células fotovoltaicas, que além da montagem,
também fabrica semicondutores do tipo silício-fósforo e silício-boro. Logo no
início do seu treinamento, um lote de células apresentou problemas e seu gestor
pediu que você avaliasse a situação. Para entender qual é o problema do lote, você
precisa compreender os princípios básicos do funcionamento geral destas células.
Um exemplo de células fotovoltaicas produzidas na empresa em que você trabalha
são as compostas por diodos, que consistem em duas placas, uma contendo elétrons
livres e outra com espaço para receber elétrons, colocadas em contato (Figura
1.1). Porém, é preciso uma etapa extra para gerar a corrente elétrica, a luz solar.
Como transformamos energia solar em corrente elétrica? Entendendo a estrutura
atômica, você será capaz de entender a primeira parte desse processo. Seu segundo
passo é estudar os elementos presentes nas células, fazendo sua distribuição
eletrônica. Lembre-se de que dois dos principais produtos são os semicondutores
Si-P e Si-B. Você se perguntou por que o
Figura 1.1 | Esquema geral de funciona-
silício precisa ser dopado? O silício é um mento de uma célula fotovoltaica
material classificado como semicondutor,
por isso a passagem de elétrons por ele é
facilitada com sistemas, como o explicado
para a célula fotovoltaica. Para construir
o material semicondutor, é necessário
conhecer as propriedades dos átomos
envolvidos no processo.
Em sua resolução considere que os
valores de afinidade eletrônica são de -27
kJ/mol, -72 kJ/mol e -134kJ/mol, respecti-
vamente, para boro, fósforo e silício. Com Fonte: elaborada pela autora.
Reflita
A energia que é liberada varia de elemento para elemento. Você já
pensou em como esta energia pode ser liberada? A radiação eletro-
magnética, por exemplo, é uma maneira, calor é outra. Dependendo
Figura 1.6 | Representação dos átomos contendo seus números atômicos e massas atômicas
Saiba mais
Agora que você aprendeu sobre o átomo, suas subpartículas e sua massa
atômica, você pode acessar o simulador Phet para aplicar seus conhe-
cimentos sobre átomo, e também para aplicar conceitos de isótopos e
massa atômica.
Conhecimentos sobre o átomo:
PHET. Monte um átomo. [s.d.].
Conceitos de isótopos e massa atômica:
PHET. Isótopos e massa atômica. [s.d.].
2+ 3+
Mg (g) ® Mg (g) + e- EI = 7733 kJ/mol
2 2 6
1s 2s 2 p 1s 2 2s 2 2 p5
2s 2p 2s 2p
Avançando na prática
Descrição da situação-problema
Em vários processos industriais, a remoção de contaminantes é uma
etapa-chave do processo, melhorando a pureza de diversos produtos,
sendo que diferentes técnicas de purificação podem ser aplicadas.
Vamos nos colocar no lugar de uma engenheira que trabalha numa
fábrica de ração animal. Pelo processo de fabricação, muitos minérios
estavam contaminando o produto final e danificando alguns equipa-
mentos. Tentando uma alternativa para o problema, o diretor da
empresa lhe consultou sobre a compra de um tambor magnético de via
úmida. Para saber qual tipo de contaminantes o ímã irá remover, você
precisa saber quais substâncias apresentam atração por ímãs e assim
emitir um parecer sobre a compra do equipamento.
a) i – F; ii – F; iii – F; iv – V.
b) i – V; ii – V; iii – F; iv – V.
c) i – F; ii – V; iii – F; iv – V.
d) i – V; ii – V; iii – V; iv – V.
e) i – F; ii – F; iii – F; iv – F.
Diálogo aberto
Como um bom observador, você notou que dificilmente a matéria é composta
por um único tipo de átomo, mas, sim, pela combinação entre diferentes elementos.
Muitas perguntas podem ser realizadas a cerca dessa afirmação. Como esses
átomos se conectam? Qual a diferença entre sulfato de ferro e ferro metálico? Por
que eles se comportam de maneira tão diferente? Outra coisa que você já deve ter
observado é que um mesmo composto pode assumir mais de um estado, como a
água que pode ser sólida abaixo de 0 °C, líquida a temperatura ambiente e gasosa
acima de 100 °C, isso tudo claro, para a pressão atmosférica ao nível do mar. Mas o
que define se um composto será sólido, líquido ou gasoso a temperatura ambiente?
Para saber as repostas das duas perguntas, precisamos aprender sobre ligações
química e estrutura molecular.
Na indústria em que você é trainee, é sua responsabilidade encontrar a
razão de um lote de células fotovoltaicas ter apresentado problema. Até o
momento você entendeu o funcionamento básico de uma célula e compre-
endeu que a luz solar é responsável por gerar corrente elétrica no processo de
excitação de elétrons e que não são os átomos de B e P elementares que dão
as características necessárias para a célula fotovoltaica, devido a suas energias
de ionização e afinidades eletrônicas. Então, você precisa pensar em termos
de ligações químicas. O que são ligações químicas? Como fica o silício e os
átomos de fósforo e de boro? Eles estão conectados? Vamos entender esses
materiais e compreender os fundamentos químicos envolvidos no funciona-
mento desta forma limpa de geração de energia, podendo, assim, analisar o
lote problemático.
Para resolver esse problema, você precisa aprender sobre estruturas de
Lewis, ligações químicas iônicas, covalentes e metálicas, assim como polari-
dade e forças intermoleculares. Vamos ao trabalho?
Exemplificando
O sódio (Na) possui configuração eletrônica 1s 2 2s 2 2 p6 3s1 , em que 3s1 é a
camada de valência. Sua representação de Lewis é .
A configuração do oxigênio é 1s 2 2s 2 2 p 4 , sendo 2p 4 a camada de
Assimile
Elementos do grupo principal tendem a perder ou ganhar elétrons,
adquirindo a configuração de gás nobre. Átomos que perdem elétrons
formam cátions que são representados pela carga positiva (+), assim
Você pode explicar esta reação com base nas propriedades periódicas
estudadas anteriormente: elementos do grupo 1 e 2, do grupo principal,
apresentam energias de ionização baixas (tendem a perder elétrons facil-
mente), enquanto elementos do grupo 6 e 7 têm elevadas afinidades eletrô-
nicas (tendem a receber elétrons). Estas características explicam também a
reação de cálcio e oxigênio, levando à formação do composto iônico óxido
de cálcio ( Ca 2+O2- ). Compostos como Ca 2O não existem, pois nenhum dos
dois átomos está com a camada de valência completa pela doação/recebi-
mento de elétrons. Pela mesma razão Na 2Cl não existe, portanto, é de grande
importância sabermos a configuração eletrônica dos elementos.
Reflita
Compostos como Ca 2O não existem, pois nenhum dos dois átomos
está com a camada de valência completa pela doação/recebimento de
elétrons. Pela mesma razão Na 2Cl não existe, portanto, é de grande
importância sabermos a configuração eletrônica dos elementos.
átomos centrais C, N, P e S.
2) Contar o número total de elétrons de
valência de todos
os átomos. 3) Colocar um par de elétrons entre
Você pode verificar como são estes passos para o CH2O , aces-
sando o QR Code. Note que até no passo quatro, embora H e O
estejam com a camada de valência completa, o carbono não está.
Neste caso, mova um par de elétrons de um dos átomos terminais
para uma nova ligação, como no passo cinco.
Você deve usar estruturas de Lewis como uma boa representação das
moléculas, sendo elas neutras ou não. Utilizando estruturas de Lewis para
moléculas como HNO-3 , há diferença em qual átomo a carga negativa está?
Sim, as cargas negativas e positivas influenciarão onde as reações devem
ocorrer. Determinar a posição da carga consiste em calcular a carga formal
(CF) dos átomos em uma estrutura de Lewis: CF = ECV - [EI + 1 2 EL] , em
que ECV são os elétrons da camada de valência, EI elétrons isolados e EL
elétrons ligantes. EI são os elétrons não compartilhados em ligações e EL são
os elétrons que são compartilhados com outros átomos, lembre-se de que a
ligação representa sempre dois elétrons.
Vamos analisar três moléculas, água, uma das estruturas de ressonância
do CO23- e NO-3 . A água é uma molécula neutra, portanto, a soma de todas
as suas cargas formais deve ser 0, sendo que aqui todos os átomos possuem
CF =0 (Figura 1.12). Já no CO23- , a carga total deve ser 2-, pois como vemos
na Figura 1.12, temos dois oxigênios com carga -1 cada um. Finalizando, o
ânion NO-3 possui carga formal em todos os átomos, entretanto, a soma total
é a carga da molécula.
Figura 1.12 | Exemplos de cálculo de cargas formais
Até agora, vimos ligações covalentes como puras (apolares), ou seja, os átomos
dividem igualmente o par de elétrons. Entretanto, isso é válido apenas quando
temos dois átomos idênticos, como na molécula do gás cloro (Cl-Cl). Ligações
como O-H presentes na água são ditas ligações covalentes polares, ou seja, um
dos átomos atrai o par de elétrons com maior força. Lembre-se de que átomos
diferentes seguram seus elétrons da camada de valência com diferentes forças,
ou aceitam elétrons extras com maior ou menor facilidade (energia de ionização
e afinidade eletrônica), isso ocorre mesmo eles estando ligados. Linus Pauling
(1901-1994) propôs um parâmetro calculado a partir de Afinidade Eletrônica
(AE) e Energia de Ionização (EI), capaz de prever a polarização da ligação, a eletro-
negatividade ( c ). Os valores de eletronegatividade são conhecidos e tabelados,
podendo ser consultados na bibliografia sugerida na unidade. A eletronegatividade
dos átomos também é uma propriedade periódica, aumentando da direita para
a esquerda na tabela periódica e diminuindo de cima para baixo. Ligações como
HF são altamente polarizadas, pois a eletronegatividade do F é a maior da tabela,
4,0, e H é 2,2. Quando a diferença de eletronegatividade é muito grande, ocorre a
transferência total do par de elétrons, formando um composto iônico, como no
caso do NaCl (valores de eletronegatividade Na = 0,9 e Cl = 3,2). Na Figura 1.13,
vemos a diferença entre os tipos de ligações, note que como o átomo apresenta
apenas uma carga parcial na ligação covalente polar e não total como na ligação
iônica, o símbolo utilizado é d + ou d - para cargas parciais positivas ou negativas,
respectivamente (KOTZ, 2016, p. 387).
Figura 1.13 | Exemplos de ligações covalentes e iônica
Lembre-se de que você tem acesso ao livro pela biblioteca virtual na sua
área do aluno.
Então, vimos que moléculas podem ser formadas por ligações covalentes
e compostos iônicos por ligações iônicas. Como ocorre a ligação nos metais?
Os compostos metálicos são bons condutores elétricos e térmicos, brilhosos
e flexíveis. Características que não encaixam como compostos formados
por ligações covalentes nem como nos formados por ligações iônicas, em
sua totalidade. Realmente, entre átomos metálicos temos outros tipos de
ligações, as ligações metálicas.
Para você começar a entender a ligação metálica, precisa lembrar que
elementos pertencentes aos metais possuem baixa energia de ionização,
ou seja, eles perdem elétrons da camada de valência com facilidade. Agora,
vamos analisar o elemento lítio, ele possui apenas um elétron na camada de
valência e para atingir a regra do octeto, precisa de mais sete elétrons. Os
elétrons da camada de valência do lítio têm liberdade de movimento, devido
a sua baixa energia de ionização. Neste contexto, se tivermos oito átomos
de lítio, teremos uma camada de valência completa, sendo que os elétrons
estarão livres em torno dos átomos, formando um mar de elétrons. Uma
representação da ligação metálica está descrita na Figura 1.14.
A força da ligação metálica é maior em elementos que perdem mais
elétrons com facilidade, como o alumínio que forma o cátion Al 3+ , pois há
uma maior interação do cátion
Figura 1.14 | Representação da ligação metálica
com os elétrons quando compa-
rado com cátions de carga +1.
Agora que você sabe o que é
uma ligação metálica, podemos
analisar um pouco algumas
propriedades desses compostos.
O fato dos elétrons estarem se
movendo em torno dos cátions
Fonte: adaptada de Maia e Bianchi (2007, p. 109-110).
Com relação ao boro, vimos, nesta seção, que ele foge à regra do octeto
por permanecer estável mesmo com um orbital vazio. Ao substituirmos um
átomo de silício por um átomo de boro no cristal, teremos orbitais vagos para
receber elétrons (Figura 1.22).
Você lembrou que para Figura 1.22 | Cristal de silício dopado com boro
ocorrer o funcionamento
da célula, a placa contendo
elétrons livres deve ficar
voltada para o sol, para que
o processo de excitação de
elétrons movimente e faça com
que ocorra o fluxo para a placa
que possui a capacidade de
receber elétrons. Agora você
sabe que a placa contendo Si-P
possui elétrons livres e que a
placa Si-B recebe elétrons. Com
estas informações, você foi até a
linha de produção e evidenciou
que no dia de fabricação do
lote não funcional de células, Fonte: elaborada pela autora.
Avançando na prática
Descrição da situação-problema
Vamos imaginar que você está trabalhando em uma fábrica de insumos
químicos aplicados à agricultura e seu gestor solicitou que você selecione
solventes a serem aplicados em diferentes reações químicas, entre uma lista
de três solventes: água, cicloexano e etanol. Ele também disse a você que a
água é um solvente polar, seguido em polaridade pelo etanol. Já o cicloexano
é um solvente apolar. Sabendo que você estava no início do seu aprendizado
em química, ele informou que sais (compostos iônicos) são bastante solúveis
em água e que compostos polares dissolvem moléculas polares, assim como
apolares dissolvem moléculas apolares. Para selecionar os solventes a serem
empregados, você deve pegar a lista de compostos químicos e analisar quais
as ligações envolvidas em cada molécula. Sua lista de reagentes continha:
eteno ( H2C = CH2 ), cloreto de alumínio ( AlCl 3 ) e cloreto de metila
( CH3Cl ). Vamos começar nossa análise e escolher quais os solventes que
atuam melhor na solubilização de cada molécula.
Resolução da situação-problema
Inicialmente precisamos avaliar a eletronegatividade dos átomos envol-
vidos em cada molécula e determinar se as ligações são iônicas ou covalentes.
Vamos utilizar os dados da tabela a seguir:
Tabela 1.1 | Eletronegatividade de elementos selecionados
Elemento Eletronegatividade ( c )
Carbono (C) 2,5
Hidrogênio (H) 2,2
Alumínio (Al) 1,6
Com estes dados, observamos que devido ao fato do eteno ser simétrico,
ele é apolar. Já o clorometano é uma molécula polar. Com isso, para solubi-
lizar essas moléculas devemos usar cicloexano e etanol, respectivamente.
Moléculas e íons
Diálogo aberto
Quando você vai ao supermercado, como você compra os produtos
da sua lista? Alguns são por unidades, alguns por peso e outros
agrupados em pacotes, como é o caso dos ovos, que você pode comprar
em dúzia. Tudo isso diz respeito à quantidade de matéria, como neste
último exemplo dos ovos. Mas você já se perguntou como vemos a
quantidade de matéria ao falarmos de átomos, moléculas e íons, que são
espécies de tamanho tão pequeno que não conseguimos contar? E você
já se perguntou por que compostos químicos podem ser tão diferentes?
Agora falaremos sobre isso, os compostos que as diferentes ligações
fornecem e como fazemos para saber a sua quantidade de matéria.
Na indústria que você está trabalhando, ficou sob sua responsabili-
dade analisar a razão de um lote de células fotovoltaicas não estar funcio-
nando. Inicialmente você estudou o processo e os materiais envolvidos,
entendendo como que a célula funcionava. Na sequência, você desco-
briu que a montagem da célula estava incorreta. Porém, ao inverter as
placas o rendimento da célula continuou abaixo do esperado. Como a
célula fabricada pela empresa envolve placas de silício (Si) dopadas com
fósforo (P) e boro (B), você resolveu verificar o processo de fabricação
das placas. As pesquisas realizadas pela empresa no desenvolvimento
das suas células fotovoltaicas, indicaram que a dopagem ideal consiste
em 1 parte por milhão (ppm) do agente dopante em relação ao silício.
Você verificou no setor de produção das placas que no processo de
obtenção das placas estavam sendo adicionados 8´10-5 mol de fósforo
para 1 mol de silício para uma placa, e 3´10-6 mol de boro por mol de
silício para outra. Seu trabalho consiste em verificar se estas quanti-
dades estão corretas e tentar resolver o problema de baixo rendimento
das placas, mantendo a premissa inicial de baixo custo para a resolução
do problema.
Você vai precisar do conceito de mol que será visto nesta seção.
Além de prover medidas, o conceito de mol também permitirá que você
determine fórmulas moleculares. Outro ponto importante que veremos
nesta seção é sobre como descrevemos a quantidade de reagentes
em soluções.
Vamos começar a construir os conhecimentos necessários para
entender e acompanhar reações químicas!
Saiba mais
Você pode aprender mais sobre a construção de moléculas utilizando o
simulador no site do Phet. da Universidade do Colorado.
PHET Interactive Simulations. Build a Molecule.
Reflita
O ozônio apresenta uma fórmula molécula O3 . Como os átomos estão
ligados? A melhor representação para esta molécula é através de uma
estrutura de ressonância (Figura 1.29). Neste caso, as ligações entre
o átomo central e os átomos de cada ponta apresentarão tamanhos
diferentes entre si? E com relação a uma típica ligação entre átomos de
oxigênio, qual é o tamanho destas ligações?
Assimile
1 mol de qualquer matéria contém o mesmo número que existem de
átomos em 12 g de carbono-12.
Se em 12 g de carbono-12 existem 6,022 ´ 1023 moléculas, 1 mol de
canetas, por exemplo, corresponde a 6,022 ´ 1023 canetas. A massa
deste 1 mol de canetas dependerá do peso individual de cada caneta.
Exemplificando
Em uma amostra de rocha foram encontrados 2,34´1025 átomos
de ferro. Isso corresponde a quantos mols de átomos de ferro?
Para responder a esta pergunta, precisamos estabelecer a
seguinte relação:
Atenção
Ao falarmos em gramas estamos utilizando o plural, como na pergunta
“quantos gramas?” Mas ao utilizarmos a unidade de medida usamos no
singular 43 g. Para o mol é a mesma coisa, o plural de mol é mols (ou
moles), como na pergunta “quantos mols?” Mas quando utilizamos a
unidade de medida, como em 38,8 mol, não devemos colocar no plural.
Exemplificando
- O chumbo possui massa atômica 207,2 u, portanto, 207,2 g de massa
molar. Isso significa que 1 mol de átomos de chumbo tem massa de 180
g, sendo que este é o peso de 6,022 ´ 1023 átomos de chumbo.
- A molécula de glicose ( C 6H12O6 ) possui 6 átomos de carbono, 12 de
hidrogênio e 6 de oxigênio, utilizando a massa molar de cada um dos
elementos, multiplicando pelo número de vezes que aparece, chegamos
a massa molar da glicose: 12×6 + 1×12 + 16×6 = 180 g .
1 mol de glicose contém 180 g de glicose, que corresponde a 6,022 ´ 1023 .
- Para compostos iônicos, devemos usar a representação da proporção
mínima entre o cátion e o ânion, a unidade-fórmula. Assim, a massa
molar do cloreto de sódio é dada pela soma das massas molares dos
átomos de sódio e cloro: 23 + 35,5 = 58,5 g/mol de cloreto de sódio.
- Já o cloreto de cálcio apresenta uma proporção de dois átomos de cloro
para um de cálcio (lembre-se de que o cálcio possui 2 elétrons na camada
de valência, sendo um elétron doado a cada átomo de cloro). Assim, a
massa molar do CaCl 2 é 35,5 × 2 + 40 = 111 g/mol de cloreto de cálcio.
Agora, você deverá passar estes valores para mol. Novamente, consultando a
tabela periódica, você sabe que a massa molar do boro é de 10,8 g/mol. Realizando
os cálculos para o boro e repetindo a conta do silício teremos:
Avançando na prática
Descrição da situação-problema
O titânio é o nono elemento mais abundante na Terra, sendo bastante
aplicado na obtenção de ligas metálicas devido às suas características de
leveza e resistência térmica, sendo bastante empregado na aeronáutica. O
principal processo industrial para obtenção do titânio a partir de minerais é
o processo Kroll, que consiste em duas etapas:
FeTiO3 (s) + 7 Cl 2 (g) + 6 C (s) ® 2 TiCl 4(l) + 2 FeCl 3 (l) + 6 CO(g)
2 Mg (l) + TiCl 4(g) ® 2 MgCl 2 (l) + Ti(s)
Resolução da situação-problema
Para mapear o processo de obtenção de titânio, no primeiro ponto de
mapeamento, você pode adotar duas abordagens, como visto anteriormente:
1) A partir do mol: você sabe que 1 mol de FeTiO3 tem massa molar de
151,8 g ( 55,8(Fe)+48(Ti)+3´16(O)=151,8 g/mol ), então 345 g correspondem a
2,27 mol de moléculas de FeTiO3 (regra de 3).
Se 1 mol de FeTiO3 leva a 1 mol deTi, ao reagirmos 2,27 mol de minério,
vamos obter a mesma quantidade de Ti em mols, portanto 2,27 mol.
1 mol de Ti _____ 48 g
2,27 mol _____ x g de Ti
x = 109 g de Ti
Com isso, você definiu as quantidades de massa que devem ser utilizadas
de cada reagente, realizando o mapeamento inicial do processo.
a) C 9 H8O3 .
b) C 9 H8O3 .
c) C 9H12 NO .
d) C 9H10O2 .
e) C 8H6O3 .
KOTZ, J. C. et al. Química Geral e Reações Químicas. v. 1. 3. ed. São Paulo: Cengage Learning;
2016. 864 p.
MAIA, D. J.; BIANCHI, J. C. de A. Química Geral e Fundamentos. São Paulo: Pearson Prentice
Hall, 2007. 448 p.
Unidade 2
Convite ao estudo
Você usa a água diariamente em sua vida, comumente para beber ou gelar
bebidas. Ou seja, você usa a água nos estados líquido e sólido. E quantas reações
você já fez com água? Se já tomou um remédio efervescente ou usou fermento
químico, várias. Mas você já pensou em como controlamos os reagentes químicos
em uma reação? Será que o conceito de massa atômica sozinho consegue nos
dar a ideia de quantidade para uma reação? Nesta unidade, você será apresen-
tado ao conceito de mol e a partir daí irá trabalhar com reações químicas, apren-
dendo como medir os reagentes e acompanhando os processos de modo a obter
o melhor resultado. Afinal, química não consiste apenas em misturar reagentes
de qualquer maneira. Já pensou em todas as condições que você deve controlar
em uma reação além das quantidades de reagente? Temperatura e pressão são
exemplos disso. Afinal, o estado em que os compostos utilizados estarão, depende
dessas duas variáveis.
Por isso, é necessário que você compreenda os principais conceitos de
reações químicas e conheça os estados da matéria, a fim de que esteja capaci-
tado a acompanhar os processos químicos de sua prática profissional de
maneira eficaz em termos de resultados e segurança.
Para guiar nosso estudo, vamos nos colocar no lugar de um engenheiro
responsável por processos químicos, recém-contratado em uma indústria
de produtos químicos que está montando uma nova linha de produção. O
produto que será obtido é o hidróxido de sódio, também conhecido como
soda cáustica, produzida pela hidrólise aquosa de NaCl. Sua função como
responsável químico é estruturar o processo, através do cálculo de reagentes
envolvidos e da avaliação do rendimento, sendo que deverá controlar os
fatores temperatura e pressão após a reação, uma vez que os gases, que temos
como subprodutos, também podem ser reaproveitados. Como ocorre essa
reação? Como se medem reagentes químicos? Como calculamos o rendi-
mento da reação? Como podemos prever as condições finais de uma reação?
É necessário o controle de temperatura ou de pressão? Responder a essas
perguntas vai fornecer os detalhes que resultarão em um processo eficiente,
convertido em lucro para a empresa e também em segurança.
Na primeira seção, você aprenderá sobre o balanceamento de equações e
rendimento; na segunda seção estudará reações em meio aquoso; e finalizará
esta unidade com o estudo dos estados da matéria. Lembre-se de que estes
conceitos vão acompanhá-lo independentemente do processo químico, ou
seja, em escala laboratorial ou industrial. Então vamos aprender um pouco
mais sobre química!
Seção 2.1
Equações químicas
Diálogo aberto
Quantas reações químicas você vê ao seu redor? Ao fazer um bolo e
usar um fermento químico, por exemplo, você está reagindo um ácido
(comumente o ácido citríco) com uma base, o bicarbonato de sódio
( NaHCO3 ). Isso tudo para produzir gás carbônico ( CO2 ), que irá fazer
a massa do seu bolo crescer. Mas o que ocorre se você colocar muito
fermento? Ou se colocar pouco? Ou seu bolo crescerá muito e derra-
mará, ou não crescerá o suficiente. Nenhum desses casos é desejado. O
ideal é que você saiba a quantidade de fermento que deve ser adicionada
para saber quanto de CO2 será produzido. No caso do bolo, você não
precisa nem conhecer a reação, basta seguir a receita. Mas em reações
químicas, para obter melhores resultados, você deve saber qual a reação
envolvida no processo. Isso também implica em saber a quantidade de
reagentes que se deve usar para saber quanto de produto será obtido.
Você está se colocando no lugar de um engenheiro responsável pelo
processo químico, tendo sido contratado em uma fábrica que está implemen-
tando o processo de produção de NaOH a partir de NaCl e água via hidró-
lise eletrolítica, inicialmente à pressão atmosférica e à temperatura ambiente.
Esse processo pode ser descrito pela equação abaixo:
NaCl (aq) + H2O( ) ® NaOH(aq) + H2(g) + Cl 2(g)
Assimile
Independentemente do tipo de reação, para se realizar o balancea-
mento, devemos ter certeza de que as fórmulas estão corretas e elas
não podem ser alteradas. Por exemplo, CO2 não pode se transformar
em CO apenas para finalizar o balanceamento.
Exemplificando
Para a combustão da amônia temos:
equação não balanceada
NH3 (g) + O2 (g) ¾¾¾¾¾¾¾ ® NO (g) + H2O (g)
1) N está correto.
2) H: para termos o mesmo número de H dos dois lados, precisamos
multiplicar o lado da equação que apresenta número ímpar de átomos
por dois, logo, teremos duas moléculas de amônia, dando seis átomos de
H, portanto, devemos multiplicar a água por três.
equação não balanceada
2 NH3 (g) + O2 (g) ¾¾¾¾¾¾¾ ® NO (g) + 3 H2O (g)
3) Devemos voltar e corrigir N:
equação não balanceada
2 NH3 (g) + O2 (g) ¾¾¾¾¾¾¾ ® 2 NO (g) + 2 H2O (g)
4) O: novamente, o lado ímpar deve ser multiplicado por dois. Com isso
o número de hidrogênios deverá ser corrigido, multiplicando a amônia
e o NO por dois.
equação não balanceada
4 NH3 (g) + O2 (g) ¾¾¾¾¾¾¾ ® 4 NO (g) + 6 H2O (g)
5) Agora, precisamos balancear o oxigênio e podemos contar os átomos:
equação não balanceada
4 NH3 (g) + 5 O2 (g) ¾¾¾¾¾¾¾ ® 4 NO (g) + 6 H2O (g)
Reagentes: 4N, 12H, 10 O.
Produtos: 4N, (4O + 6O) e 12H.
4 NH3 (g) + 5 O2 (g) ® 4 NO (g) + 6 H2O (g)
Atenção
Elaborar esse tipo de tabela (relação estequiométrica de massa e mols
– e, às vezes, volume) auxilia bastante no trabalho com os cálculos
estequiométricos. A utilização da regra de três evita que você decore
fórmulas desnecessárias.
Exemplificando
Considere a equação balanceada da amônia:
N 2 (g) + 3H2 (g) ® 2NH3 (g)
70 ´ 6
X= = 15 g de H 2
28
Para massa de hidrogênio:
6 g de H2 reagem com 28 g de N 2
17 g ------------------ X
17 ´ 28
X= = 79,3 g de N2
6
Pela massa de nitrogênio, vemos que temos excesso de hidrogênio
na reação (17 g, sendo necessários 15 g). Pela massa de hidro-
gênio, seriam necessários 79,3 g de nitrogênio para que a reação
ocorresse. Logo, hidrogênio é o reagente em excesso e nitrogênio é
o reagente limitante.
Para calcular a massa de amônia obtida, devemos sempre utilizar o
reagente limitante, o nitrogênio. Como 28 g de nitrogênio formam 34 g
de amônia, podemos fazer outra regra de 3:
28 g N 2 ------------- 34 g NH3
70 ´ 34
70 g ------------------X g X= = 85 g de NH 3
28
Portanto, em uma reação com 70 g de nitrogênio e 17 g de hidrogênio,
serão obtidas 85 g de amônia e sobrarão 2 g de hidrogênio.
Exemplificando
Quando você usa fermento químico em bolo, você está realizando a
decomposição de bicarbonato de sódio pelo calor, produzindo carbo-
nato de sódio, gás carbônico e água. O gás carbônico é responsável por
fazer a massa do bolo crescer.
4NaHCO3 (aq) ® 2Na 2CO3 (aq) + 2CO2 (g) + 2H2O ( )
4 mols 2 mols
4 ´ 84 = 336 g 2 ´ 44 = 88 g
Fonte: elaborada pela autora.
rend. real
Rend. % = ´ 100
rend. teórico 0,524 g CO2 ---- 100 %
X ------------ 85 %
rend. real
85 % = ´ 100
0,524 g 85 ´ 0,524
X= = 0,445 g de CO 2
Rend. real = 0,445 g de CO2 100
Mas ela está balanceada? Você viu que o balanceamento de uma equação
ocorre através do método da tentativa e erro. Para isso, devemos começar por
um elemento que apareça menos vezes, como o sódio.
Sódio: temos um átomo nos reagentes e um no produto, portanto está ok.
Cloro: temos um átomo no reagente e dois no produto, portanto devemos
alterar esta estequiometria, sendo necessário rever o Na.
reação não balanceada
2 NaCl (aq) + H2O ( ) ¾¾¾¾¾¾ ® NaOH (aq) + H2 (g) + Cl 2 (g)
Então, os átomos de H e O:
reação não balanceada
2 NaCl (aq) + 2 H2O ( ) ¾¾¾¾¾¾ ® 2 NaOH (aq) + H2 (g) + Cl 2 (g)
Conte os átomos e verifique que agora sua equação está balanceada:
2 NaCl (aq) + 2 H2O ( ) ® 2 NaOH (aq) + H2 (g) + Cl 2 (g)
Como 2 mols de NaCl produzem 2 mols de NaOH, temos que:
117 g NaCl------ 80 g NaOH
x g -------- 100000 g NaOH x = 146250 g de NaOH = 146,25 kg de NaCl
Nesse resultado é considerado o rendimento teórico, ou seja, uma
conversão de 100%, na qual todo reagente se transforma em produto. Mas
lembre-se de que você foi informado pela equipe de laboratório que o rendi-
mento desta reação é de 83% utilizando reagentes com pureza de 99,9%.
Como a água é o solvente da reação, você pode deduzir que o NaCl é o
reagente limitante. Isso significa que os cálculos devem ser sempre realizados
rend. real
Rend. % = ´ 100 100 kg NaOH ---- 100%
rend. teórico
x kg ----- 83% x = 83 kg de NaOH
rend. real
83 % = ´ 100
100 kg
Avançando na prática
Resolução da situação-problema
Pela Equação 2.3, temos que 1 mol de sulfato de bário é obtido a partir de
1 mol de ácido sulfúrico. Então temos: 1 mol de BaSO4 --- 233,4 g
X ---- 43 mg ( 4,3´10-3 g )
X = 1,84´10-7 mol = 0,184 mmol de BaSO4
Com isso, 1 mol de ácido sulfúrico reage com 2 mols de hidróxido de sódio.
Assim você terá não apenas o resultado da análise, mas saberá também
quanto de NaOH será formado.
Diálogo aberto
Vamos pensar no uso de sal de cozinha (NaCl), por exemplo, em uma
sopa. Embora você apenas coloque o sal na água da sopa sem pensar na
química envolvida, você está falando de solubilizar o sal na água. E o que
acontece se o saleiro abrir e cair muito sal de uma única vez? Além de uma
sopa salgada, pode acontecer de o sal ficar no fundo da panela. Você talvez
não saiba, mas está trabalhando com conceitos de soluções aquosas nesse
processo todo. Mas soluções aquosas estão presentes em diversos outros
pontos de sua vida e você pode nem notar.
Alguma vez você já comprou dipirona líquida para tratar uma febre?
Você reparou que no rótulo tem um dado muito importante, quanto de
medicamento temos em 1 mL, por exemplo, 500 mg/mL. Este valor é a
concentração do medicamento, no caso uma solução aquosa. Normalmente
os medicamentos de uso oral líquidos, são diluídos em água. Para a
dipirona, o composto ativo é um sólido, diluído em um líquido. Quando
ingeridos, os medicamentos irão, em alguns casos, sofrer reações químicas
em nossos corpos, que são constituídos de água. Portanto, irão ocorrer
reações aquosas de diferentes tipos, de acordo com o método de ação do
medicamento inserido. Fora do seu corpo, reações aquosas também são
bastante úteis, como em alguns tipos de pilhas utilizadas para gerar energia.
Agora, você aprenderá sobre os processos que envolvem soluções aquosas,
solubilidade e reações aquosas, e isso fará você olhar o mundo ao seu redor
de um jeito diferente.
Você está se colocando no lugar do responsável químico por um
processo contratado para implementando da produção de NaOH a partir
de NaCl em uma fábrica. Você está na etapa final de implementação do
processo e precisa dimensionar o reator químico e conferir se as equações
utilizadas até o momento estão corretas, já que um erro na estequiometria
do processo acarreta em um erro de produção com grande impacto econô-
mico. Na segunda etapa de implementação do processo você aprendeu a
balancear a equação ( 2 NaCl (aq) + 2 H2O ( ) ® 2 NaOH (aq) + H2 (g) + Cl 2 (g) ) e a
utilizar os conceitos estequiométricos de rendimento. Você já sabe qual o
tipo de reação que está ocorrendo? Você consegue descrever o processo
químico? Para isso, antes, será preciso calcular a concentração da solução.
Como se calcula a concentração de uma solução? Qualquer concentração
é aceita em uma solução? Quais são os limites de concentração a serem
Reflita
Para o cloreto de sódio, a 20 °C, a solubilidade em água é descrita como
36 g em 100 g de água, sendo que um aumento da temperatura leva a um
aumento da solubilidade. O mesmo ocorre para a maioria dos sólidos.
O que acontece quando aquecemos um copo de refrigerante? Teremos
mais ou menos gás dissolvido no líquido? O que leva a estes resultados?
Exemplificando
Se você estiver trabalhando com uma solução de concentração 5 g/L de bicar-
bonato de sódio, quanto terá deste sal em 500 mL? Não se esqueça de passar
todas as medidas para a mesma unidade de medida (500 mL = 0,5 L).
Pela fórmula: Utilizando regra de 3:
A relação entre massa e mol deve estar clara para você, sendo assim,
também podemos descrever a relação de concentração como mol × L-1 , que
leva o nome de molaridade (M) e é uma das descrições de concentração
Exemplificando
Qual a quantidade, em gramas, de sulfato de cobre ( CuSO4 ) em 100 mL
de uma solução com concentração 0,45 M? Considere, para CuSO4 , MM
= 159,6 g/mol.
Resposta:
Pela fórmula: Utilizando regra de 3:
1M -------- 1mol ------ 1 L
0,45 M ----- X mol ----- 1L
m soluto h X = 0,45 mol
M= = 0,45 = soluto então,
Vsolução 0,1 L 0,45 mol ----- 1L
Y mol ----- 0,1 L
Y = 0,045 mol
hsoluto =0,045 mol 1 mol ------- 159,6 g
0,045 mol --- Z
m (g) Z = 7,18 g
hsoluto =
MM (g/mol)
m (g)
0,045 = m = 7,18 g
159,6 g/mol
Saiba mais
Podemos, ainda, representar a concentração em quantidade de matéria,
como fração molar, porcentagem em massa, porcentagem em volume,
partes por milhão (ppm) e partes por bilhão (ppb). Você pode ler mais
sobre estas representações em Soluções aquosas: concentrações e
reações nas páginas de 208 a 216 do livro de Maia e Bianchi.
MAIA, D. J.; BIANCHI, J. C. de A. Química geral e fundamentos. São
Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007.
Lembre-se de que você tem acesso a esse livro na biblioteca virtual, em
sua área do aluno.
Assimile
Equilíbrio químico não significa que nada está acontecendo e sim que
a concentração de reagentes e produtos se mantém inalterada. Como
você viu, para que moléculas passem a sólido, outras moléculas devem
se dissociar.
água
Ag 2SO4(s) 2Ag +(aq ) + SO24-(aq ) K ps = [Ag + ]2 ×[SO4 2- ] = 1,2 ´ 10-5
Atenção
Como demonstrado para o AgBr, podemos calcular o K ps a partir das
concentrações de íons em solução, mas podemos, com base no valor
de K ps , calcular a concentração dos íons em solução. Para o sulfato
de bário temos que para cada cátion bário é formado um ânion sulfato:
BaSO4 ® Ba 2+(aq ) + SO24-(aq ) . No início do processo de solubilização,
a concentração de cátions e ânions é zero, e, após atingir o equilíbrio,
tem-se uma concentração x de íons bário. Portanto, x também será
a concentração de ânions sulfato. Com K ps = 1,1´ 10-10 podemos
escrever K ps = x × x = 1,1´ 10-10 \ x 2 = 1,1´ 10-10 . Ao calcularmos
a raiz quadrada, temos x = 1,10´ 10-5 , sendo esta a concentração de
íons bário em solução e também de íons sulfato.
Lembrando da estequiometria, 1 mol de sulfato de bário formará 1 mol
de íons bário e 1 mol de íons sulfato. Portanto, no equilíbrio, temos que
1,10´ 10-5 mol de sulfato de bário foi solubilizado a cada litro de água.
Para você saber a solubilidade em gramas por litro, basta multiplicar este
valor pela massa molar (MM) do BaSO4 :
Exemplificando
Observe as reações:
Saiba mais
A força de ácidos em bases fracas dissociadas em qualquer solvente
é dada pela constante de acidez K a , que leva em conta o equilíbrio
Assimile
Na semiequação de oxidação do magnésio metálico, temos:
Mg (s) ® Mg 2+ + 2 e-
Na semiequação de redução do oxigênio, temos: O2 (g) + (2 e- )´ 2 ® 2O2-
A equação de oxirredução deve ser: 2 Mg (s) + O2 (g) ® 2MgO (s)
Atenção
Para a molécula Al 2O3 , você deve assumir um NOX de -2 para cada
átomo de oxigênio; sendo três átomos, temos -6, portanto, esta
Saiba mais
Cada espécie apresenta um potencial padrão de redução que determina
o quanto a reação será espontânea e quanto de energia a pilha produz.
Por exemplo, a reação de oxidorredução Cl 2 (g) Cl 2+(aq) 2H+(aq) H2 (g)
não é espontânea, e necessita que uma corrente seja passada por ela.
Você pode ver mais sobre diferença de potencial (ddp) de uma pilha,
assim como funcionamento de outras pilhas nas páginas de 890 a 896
do livro a seguir. KOTZ, J. C. et al. Química geral e reações químicas. São
Paulo: Cengage, 2016. v. 2.
Lembre-se de que você tem acesso a este e outros livros didáticos em
sua área do aluno, em Minha Biblioteca.
2NaCl (aq) + 2H2O (l) 2NaOH (aq) + H2 (g) + Cl 2 (g)
Com os dados de massa e volume, você terá definido que o reator deve
possuir um tamanho suficiente para esta quantidade de água, mais a adição
de sólidos. Como o sólido, ao ser adicionado na água, fará o nível de água
subir, devido à produção de gases na reação, para operar com segurança
você deve escolher um volume maior que o de solvente (aproximadamente
500 L). Então você pode requisitar um reator de, no mínimo, 600 L para
realizar a reação.
E sobre as especificações do reator, além de ser antioxidante (para
garantir que não ocorram reações paralelas de oxirredução, já que estamos
trabalhando com uma reação de oxirredução), qual outra característica é
necessária? Para responder a essa pergunta, precisamos calcular o pH da
solução após a reação, e, para isso, precisamos da concentração aproximada
de NaOH.
Como calculado anteriormente, essa massa produzirá 100 kg de NaOH
(83% de rendimento), sendo a massa molar do NaOH 50g/mol; assim,
teremos ao final da reação 2 Kmol de base, ou seja, 2 kmol de íons OH- . Para
calcularmos o volume final da solução, devemos pensar que 2000 mols de
água sofreram autoionização completa, sendo que os íons hidrônio reagiram
e os íons hidroxila permaneceram em solução. Como a massa molar da água
é 18g, 36.000 g de água autoionizaram ( 36 Kg » 36 L ), dando um volume
final de água de 405,5 - 36 » 369 L (levando em consideração que não houve
evaporação da água adicionalmente). Como temos 2000 mols de OH- em
489,44 L de água, a molaridade da solução de NaOH será 4,09 M.
Avançando na prática
Descrição da situação-problema
Você trabalha como analista júnior em um laboratório de análises
químicas e chegou uma amostra de minério de ferro para ser analisada.
Sabendo que o ferro pode ser convertido em ferro (II) de maneira quantita-
tiva, você propôs analisar este cátion, uma vez que ele pode ser novamente
oxidado a ferro (III) pelo permanganato de potássio, segundo reação não
balanceada a seguir:
MnO4 -(aq) + Fe2+(aq) + H+(aq) 2+ 3+
Mn (aq) + Fe (aq) + H2O ( )
Resolução da situação-problema
Inicialmente você precisa balancear a equação. Levando em conta o
movimento de elétrons, note que o manganês está ligado a quatro átomos
de oxigênio (NOX -2 cada um, portanto, -2´ 4 = -8 ), sendo que a carga do
íon era -1, logo, o NOX do Mn nos reagentes é +7, no produto +2, ou seja, foi
2. Comumente soluções são utilizadas para montar uma reação química ou utilizar
quantidades muito pequenas de um composto, ou para evitar que reações ocorram
violentamente (liberando muita energia) e que ocorram em grande extensão, de
maneira muito rápida, evitando acidentes.
Diálogo aberto
Você já parou para pensar que todos os elementos puros podem ser
encontrados como gases líquidos ou sólidos? Veja a água: no nosso dia a
dia a conhecemos em seus três estados: o gelo que utilizamos, a água que
bebemos e o vapor quando a fervemos. Mas você já pensou nos fatores que
definem o estado da matéria? A estrutura do composto é responsável por
essas propriedades físico-químicas, sendo que o estado em que se encontram
depende também da temperatura e da pressão. Como o grau de compactação
(moléculas por m³) varia, isso confere a cada estado da matéria comporta-
mentos únicos e também pontos de estudo diferentes. O que torna os três
estados únicos e interessantes por diversos pontos de vista.
Você está trabalhando em uma indústria que está implementando a
síntese de NaOH via eletrólise da água. Nesse processo os reagentes são NaCl
e água, ocorrendo a liberação dos gases hidrogênio e cloro, como descrito
na reação: 2NaCl (aq) + 2H2O (l) 2NaOH (aq) + H2 (g) + Cl 2 (g) . Até o momento
você trabalhou no estudo do processo pensando em quantidade de insumos
para produzir a quantia necessária ao teste da planta em termos de NaOH,
definida como 100 kg. O processo pode, neste momento, estar operacional
para testes, porém seu gestor pede uma análise da volumetria do reator que
você precisa utilizar devido à produção de gases. Lembre-se de que, para
executar a planta piloto, você já sabe que serão utilizados 176,2 kg de NaCl,
aproximadamente 450 mL de água e um reator de 600 L, com volume de
solução de aproximadamente 410 L. Quanto de gás será obtido em volume?
Quanta pressão o reator deve aguentar para trabalhar com segurança? O
volume do reator afetará a pressão? Sabendo que o reator que a indústria já
possui, opera em segurança com 200 atm, como você sugere que o teste seja
realizado? Para facilitar a análise, considere os gases obtidos como ideais,
trabalhe com duas temperaturas de processo (30 °C e 70 °C) e utilize como
tamanho base do reator o valor sugerido na seção anterior de 600 L. Em
L × atm
seus cálculos considere R = 0,082057 e desconsidere a solubilidade
K × mol
dos gases no solvente da reação, pois esta é uma aproximação.
Nesta seção, estudaremos os três estados da matéria: gases, líquidos e
sólidos; aprenderemos como medir a matéria em cada estado, como cada
estado se comporta, o que muda em cada um e quais pontos devem ser
observados com cuidado por serem mais importantes. Você terá, ainda,
Assimile
As leis de Charles e Boyle não dependem da natureza do gás
estudado, ou seja, valem para todos os gases, descrevendo qualquer
Exemplificando
A reação de decomposição de bicarbonato de sódio é descrita pela
reação: 4NaHCO3 (aq) ® 2Na 2CO3 (aq) + 2CO2 (g) + 2H2O ( ) . A completa
Você consegue explicar a lei dos gases pelo movimento das moléculas,
como descrito no quadro 2.2?
Quadro 2.2 | Análise da lei dos gases pelo movimento das moléculas
T e n constantes: ao diminuirmos o volume do recipiente que arma- æ1ö
zena um gás, aumentamos as colisões das moléculas com as paredes P = çç ÷÷÷× nRT
çè V ø
do recipiente, de modo que aumentamos a pressão.
100 U2
- / Estudo de reações químicas e estados da matéria
Figura 2.9 | Curvas de pressão de vapor do éter etílico, do etanol e da água
Reflita
No nível do mar (P = 760 mmHg), o ponto de ebulição da água é exata-
mente 100 °C (ponto de ebulição normal). Como você seca sua roupa
sem ter que aquecê-la até a temperatura de vaporização da água?
Assimile
“Quando forças atrativas juntam as moléculas, formam-se fases conden-
sadas. As repulsões dominam em distâncias pequenas” (ATKINS; JONES,
2012, p. 172). Fase condensada refere-se à fase sólida ou líquida.
Até agora, você estudou compostos nos estados gasoso e líquido, ou seja,
compostos com possibilidade de movimento das moléculas.
Agora, ao reduzir a temperatura de um composto até o ponto de as
moléculas terem energia cinética tão baixa que não “escapam” dos seus
vizinhos, obtém-se um composto na sua forma sólida. A temperatura varia de
molécula para molécula; por exemplo, a água é sólida a temperaturas abaixo
de 0 °C, já o alumínio é sólido até aproximadamente 660 °C. Os sólidos são
classificados de acordo com o tipo de ligação que mantém a conectividade
dos seus constituintes: moleculares, reticulares, metálicos ou iônicos. A
natureza dos sólidos (metálicos, iônicos ou moleculares) define suas caracte-
rísticas físico-químicas.
Um sólido cristalino é aquele em que os átomos, íons ou moléculas se
encontram em um arranjo ordenado; já um sólido amorfo é aquele que
não apresenta nenhum tipo de organização periódica ou regular dos consti-
tuintes do sólido. Você aprenderá muito mais sobre estrutura de sólidos na
próxima seção.
A transformação do estado sólido para o estado líquido é denominada
de fusão. Nesse processo, energia deve ser fornecida ao sistema para que as
moléculas aumentem sua energia cinética e passem a líquidos, estado em que
essa energia é absorvida como energia térmica na fusão, e sua variação é a
entalpia de fusão ( DHo fusão em kj/mol).
O processo inverso à fusão é a cristalização, e sua energia corresponde a -
DHo fusão , ou seja, a energia é liberada no processo. O ponto de fusão corresponde
à temperatura em que ocorre a passagem de um sólido para um líquido. Baixos
pontos de fusão correspondem a entalpias de fusão menores, assim como pontos
de fusão elevados indicam entalpias de fusão elevadas. Sólidos cristalinos puros
apresentam ponto de fusão bem definidos, sendo usualmente utilizado como dado
de caracterização de um composto. Já sólidos amorfos fundem ao longo de uma
faixa de temperatura, como é o caso do vidro. Lembre-se de que sólidos amorfos
não apresentam organização molecular repetida.
102 U2
- / Estudo de reações químicas e estados da matéria
Além de dados sobre a pureza, como no ponto de ebulição, a temperatura
em que uma amostra funde revela informações sobre as forças intermole-
culares. Compostos que se mantêm unidos por interações fortes, como os
sólidos iônicos, apresentam pontos de fusão maiores que compostos molecu-
lares (interações eletrostáticas são mais fortes que as forças de Van der Walls
ou que ligações de hidrogênio). À medida que ocorre o aumento da massa
molecular em uma série de compostos, o ponto de fusão também aumenta,
devido às forças de London serem mais intensas em moléculas maiores. Em
sólidos iônicos, quanto menor o tamanho do íon ou maior sua carga, maior
será a interação eletrostática, sendo, portanto, maior o ponto de fusão. Isso
pode ser observado na série de sais NaF (996 °C), NaCl (801 °C), NaBr (747
°C) e NaI (660 °C). Para os sólidos metálicos, alguns como o mercúrio (PF
-36 °C) são líquidos à temperatura ambiente; já outros como o tungstênio
(1908 °C) são sólidos a temperaturas bem elevadas. Essas características
definem muito suas aplicações.
Alguns compostos podem passar diretamente da fase sólida para a fase
gasosa em um processo conhecido como sublimação, energia que deve ser
fornecida para o sistema ( DHosublimação ).
Como mencionamos no início de nosso estudo desta unidade, as condi-
ções de temperatura e pressão influenciam se um composto será sólido,
líquido ou gasoso, e em algumas condições, mais de um estado pode coexistir.
Podemos representar todas essas informações em um único gráfico chamado
de diagrama de fases. A partir de um diagrama de fases você consegue obter
informações sobre qual será o estado da matéria em diferentes temperaturas
e pressões.
Para a água, você pode observar o diagrama de fases na Figura 2.10. As
curvas A-B, A-C e A-D demarcam o equilíbrio entre as fases. Note que a
inclinação da reta A-C é negativa e isso pode ser explicado pelo fato do gelo
apresentar maior volume que a água. A pressões maiores, a água apresenta
uma maior tendência a ser líquida, pois ocupa menos volume que quando
sólida, logo precisamos de uma temperatura ligeiramente maior para realizar
a fusão. Note que em combinações de pressão e temperatura que fiquem entre
as linhas A-C e A-D, você terá água líquida (por exemplo, pressão ambiente
de 1 atm e temperatura de 25 °C). Seguindo essa análise, o ponto a determina
uma condição em que a água está na forma sólida. Ao aumentarmos a tempe-
ratura, mantendo a pressão constante, chegaremos até o ponto b, em que há
equilíbrio entre as fases sólida e líquida. Seguindo o aumento da tempera-
tura, chegamos a uma condição em que a água é como um líquido até o ponto
c, no qual ocorre a passagem para a fase gasosa e, a partir deste ponto, em
qualquer temperatura a água será um gás.
104 U2
- / Estudo de reações químicas e estados da matéria
0,0585 kg NaCl ---- 1 mol
176,2 kg NaCl ---- x mol
x = 3012 mol de NaCl
Pela estequiometria da reação, cada mol de NaCl irá produzir 0,5 mol de
gás hidrogênio, 0,5 mol de gás cloro e 1 mol de NaOH. Ou seja, utilizando
3012 mol de NaCl, você obterá 3012 mol de NaOH, 1506 mol de gás hidro-
gênio (MM= 2 g/mol, 3 kg) e 1506 mol de gás cloro (MM = 70,9 g/mol,
106,8 kg). Observando as análises anteriores do processo, já temos o volume
total do reator (600 L) e um volume aproximado de 410 L de solução. Vamos
considerar, então, esse volume como o final ocupado no tanque, tendo
volume livre de 600 - 410 = 190 litros para os gases formados.
A fórmula ideal dos gases ideais é PV = nRT , na qual, ao se isolar a
nRT
pressão tem-se P = . Como a natureza dos gases independe, podemos
V
trabalhar com a soma dos valores de mol dos dois gases nesta equação
( 3012 mol + 3012 mol = 6024 mol ). Agora você deve ficar atento, pois
temos duas temperaturas a serem estudadas: 30 °C e 60 °C, que devem
estar em Kelvin, sendo que as temperaturas convertidas são 303,15 K
( 30 °C + 273,15 ) e 333,15 K ( 60 °C + 273,15 ). A Tabela 2.4 mostra os cálculos
L × atm
de pressão para cada temperatura, considerando R = 0,082057 .
K × mol
L × atm L × atm
0,082057 × 3012 mol × 303,15 K 0,082057 × 3012 mol × 333,15 K
P= K × mol P= K × mol
190 L 190 L
74925,2 L × atm 82339,9 L × atm
P= = 394,3 atm P= = 433, 4 atm
190 L 190 L
106 U2
- / Estudo de reações químicas e estados da matéria
Você deve elaborar um relatório contendo todas estas observações e, junto
ao seu gerente, tomar a decisão que melhor se adequa à empresa. Sua análise
ficou bem completa e você está quase no momento de montar o processo e
executar a implementação. Parabéns!
Avançando na prática
Projetando um airbag
Descrição da situação-problema
Quando há um choque violento de um carro com um muro, por exemplo,
o airbag é acionado e o motorista sofre menos danos. O funcionamento de
airbags é bem conhecido e envolve a reação de decomposição de azida de
sódio iniciada por um impulso elétrico acionado pelo choque da batida.
Nesta reação são produzidos sódio e gás nitrogênio que inflam o airbag. A
reação do airbag é:
2 NaN 3 (s) ® 2 Na (s) + 3 N2 (g)
Resolução da situação-problema
Para resolver este problema, você deve utilizar os conceitos estequio-
métricos, partindo dos dados do gás, para chegar a quantos mols de gás
nitrogênio devem ser obtidos; e utilizando os fatores estequiométricos deve
descobrir quantos mols de azida de sódio devem ser utilizados.
PV
Sobre o gás, usaremos n= , sendo que você deve considerar a tempera-
RT
tura ambiente de 22 °C (295,215 K) e a pressão para atm (se 1 atm = 760 mmHg,
O conceito descrito diz respeito à propriedade dos líquidos, estando relacionado com:
a) Adesão.
b) Tensão superficial.
c) Vaporização.
d) Pressão de vapor.
e) Coesão.
108 U2
- / Estudo de reações químicas e estados da matéria
exercida na bola, e ela diminui de volume, mantendo as mesmas moléculas de gás que
havia no início do processo.
Sobre a pressão de gases e a teoria cinética molecular, temos:
I- Ao aumentarmos o volume de um gás, a pressão aumenta, pois assim as moléculas
têm maior espaço para desenvolverem trajetórias.
II- Ao aumentarmos a temperatura, a energia cinética das moléculas aumenta, aumen-
tando assim sua velocidade, o choque com as paredes do frasco e também a pressão.
III- Ao adicionarmos mais gás em um recipiente, mantendo seu volume e
temperatura constantes, a pressão aumentará, pois haverá mais choque com as
paredes do recipiente.
BROWN, L. S.; HOLME, T. A. Química Geral Aplicada à Engenharia. 3. ed. São Paulo:
Cengage Learning, 2016.
KOTZ, J. C. et al. Química Geral e Reações Químicas. 3. ed. São Paulo: Cengage Learning,
2016. 864p. v. 1.
KOTZ, J. C. Química Geral e Reações Químicas. 3. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2017.
864 p. v. 2.
MAIA, D. J.; BIANCHI, J. C. de A. Química Geral e Fundamentos. São Paulo: Pearson Prentice
Hall, 2007. 448 p.
Estruturas cristalinas
Convite ao estudo
Em algum momento você já se questionou sobre a importância dos
diversos tipos de materiais em nosso cotidiano e em como eles impactam
nossa vida? Quer um exemplo simples? A maneira como você tem acesso
ao seu material de estudo: você pode tê-lo impresso em papel, ou como um
e-book para acessá-lo através de um computador, tablet ou smartphone.
Esses aparelhos normalmente são fabricados com diversos tipos de plásticos e
diferentes metais. Mas você já se questionou por que temos plásticos e metais
com propriedades tão distintas? Por exemplo, por que alguns plásticos podem
ir ao micro-ondas e outros não? Por que alguns metais são duros enquanto
outros são extremamente maleáveis? Esses e outros questionamentos serão
respondidos a partir dos estudos da Ciência dos Materiais.
Então vamos ao nosso desafio. Uma grande empresa metalúrgica produz
diversas ligas metálicas e recentemente investe na produção de ferro alfa
(ferro a ). Um comprador interessado nessa produção pretende utilizar a
propriedade ferromagnética do ferro a em aplicações que utilizam diferentes
temperaturas de trabalho. Você, como vendedor técnico da metalúrgica,
irá conduzir essa negociação. É possível realizar a caracterização da estru-
tura cristalina do ferro a ? Quais fenômenos podem estar envolvidos nesse
processo? Quais as possíveis imperfeições que os sólidos cristalinos podem
apresentar? Como o transporte de matéria por movimento é importante para
os metais e suas ligas? Assim, para responder a esses questionamentos, nesta
unidade daremos ênfase ao estudo da estrutura cristalina e conheceremos
as diversas maneiras em que os átomos estão arranjados; vamos aprender
os conceitos de célula unitária, polimorfismo, alotropia e conheceremos
os diferentes sistemas cristalinos. Por fim, veremos os tipos de imperfei-
ções presentes nos sólidos e compreenderemos o fenômeno de difusão. A
partir desses estudos você compreenderá os diferentes arranjos atômicos e
as imperfeições presentes em sólidos, assim como os mecanismos de difusão
atômica. Dessa forma, ao final dos estudos desta unidade, você será capaz de
identificar as principais estruturas e sistemas cristalinos, assim como identi-
ficar as principais imperfeições em cristais.
Bons estudos e boa negociação!
Seção 3.1
Diálogo aberto
No universo da Ciência dos Materiais estudamos a inter-relação entre
desempenho/custo, síntese/processamento, estrutura/composição e proprie-
dades. Vamos ver como essas relações são importantes? Você sabia que o
diamante e a grafita, por exemplo, são materiais compostos exclusivamente
por átomos de hidrogênio e carbono? No entanto, eles se diferem apenas em
relação ao tipo de ligação intermolecular e ao arranjo espacial, isto é, à estru-
tura, o que faz toda a diferença! Os diamantes apresentam elevada resistência
e rigidez, excelente condutividade térmica e baixa condutividade elétrica.
Já a grafita, é relativamente macia, apresenta baixa condutividade térmica
e elevada condutividade elétrica. Esse é um exemplo clássico de como as
inter-relações estudadas na Ciência dos Materiais são importantes para
determinação das aplicações dos materiais. Agora, imagine você atuando em
uma metalúrgica como vendedor técnico que atenderá uma empresa cliente
fabricante de discos rígidos. Esse cliente informou previamente que o metal
será utilizado em aplicações que requerem a retenção de memória. Entre os
diversos tipos de metais comercializados pela empresa em que trabalha, qual
metal poderia ser indicado para esse cliente? Quais as propriedades especí-
ficas necessárias para essa aplicação? A variação da temperatura influenciará
no comportamento metalúrgico do metal? Antes de quaisquer respostas
será importante você compreender de que maneira os átomos estão organi-
zados tridimensionalmente em um material, isto é, entender o conceito de
célula unitária.
Os átomos serão considerados esferas rígidas para que se compreenda
a organização atômica, para que seja possível calcular o volume de cada
célula unitária, e para que se possa prever o número de átomos internos
na célula e determinar a quantidade de átomos vizinhos, o que é chamado
de número de coordenação. Posteriormente, você compreenderá o fator
de empacotamento atômico e a densidade específica dos elementos
químicos a partir do seu arranjo atômico. Nesta seção, também serão
abordados dois conceitos muito parecidos e que estão relacionados ao
estudo da estrutura cristalina: o polimorfismo e a alotropia. Em seguida
você estudará os sete diferentes sistemas cristalinos e verá que na prática
todos os cristais se formam em um desses sistemas. Posteriormente você
será capaz de compreender que a partir dos sete sistemas cristalinos
existem 14 possíveis redes cristalinas e que normalmente, ao se trabalhar
com materiais sólidos, é necessário especificar uma posição atômica no
112 U3
- / Estruturas cristalinas
interior da célula unitária, uma direção ou plano cristalográfico. Mãos à
obra e seja persistente.
Bom trabalho!
114 U3
- / Estruturas cristalinas
volume total é preenchido. A quantidade de átomos vizinhos também é
denominada número de coordenação; assim a célula cúbica simples possui
número de coordenação igual a seis. O arranjo atômico de uma célula unitária
cúbica simples é representado em diferentes perspectivas na Figura 3.3.
Figura 3.3 | Célula unitária cúbica simples (CS)
116 U3
- / Estruturas cristalinas
VE
FEA =
Vc
VE = n 4 pR 3
3
4 pR 3
Em que: n é o número de átomos no interior da célula unitária e 3
é o volume de uma esfera.
Para cada tipo de célula unitária existe uma relação distinta do compri-
mento da aresta (a) e o raio atômico (R), assim como uma relação distinta
para o cálculo do volume da célula unitária, como são apresentadas na
Tabela 3.1:
Tabela 3.1 | Tipos, comprimentos e volumes das células unitárias
Exemplificando
O ródio apresenta raio atômico 0,134 nm, estrutura cristalina CFC e
peso atômico de 102,91 g/mol. Calcule sua massa específica.
118 U3
- / Estruturas cristalinas
Figura 3.7 | Representação de oito alótropos do carbono puro
Assimile
Algumas propriedades como a deformação sob carga, condutividade
elétrica e térmica e o módulo de elasticidade podem variar de acordo
com a orientação do cristal, assim como as propriedades do ferro.
120 U3
- / Estruturas cristalinas
Entre os sistemas cristalinos, o sistema cúbico é o que apresenta maior
grau de simetria, enquanto o sistema triclínico apresenta a menor simetria.
Embora existam apenas sete sistemas de cristais ou formas, existem 14 redes
cristalinas distintas, chamadas rede de Bravais, em homenagem a Auguste
Bravais (1811-1863), que foi um dos primeiros cristalógrafos franceses. A
rede de Bravais apresenta as seguintes redes cristalinas: três tipos cúbicos,
um tipo romboédrico, quatro tipos ortorrômbicos, dois tipos tetragonais, um
tipo hexagonal, um tipo triclínico e dois tipos monoclínicos (Figura 3.10).
Figura 3.10 | Rede de Bravais
Reflita
A mudança nas estruturas e redes cristalinas sempre envolvem uma
transformação nas propriedades dos materiais?
122 U3
- / Estruturas cristalinas
Figura 3.12 | Planos cristalográficos
124 U3
- / Estruturas cristalinas
Avançando na prática
Estruturas cristalinas
Descrição da situação-problema
Recentemente você foi contratado como analista em uma empresa que
fabrica cartões de crédito. Para a confecção dos cartões são utilizados alguns
tipos de plásticos e metais; para a tarja magnética são utilizados metais que
requerem a capacidade de armazenar dados como as informações do cliente,
as funções do cartão e as transações realizadas. Assim como o ferro a , o
cobalto é ferromagnético e essa característica, no primeiro caso, está relacio-
nada à temperatura e ao tipo de célula unitária. É possível afirmar que o
cobalto possui os mesmos tipos de células unitárias que o ferro nas mesmas
condições de temperatura? O cobalto poderia ser utilizado nessas aplicações?
Resolução da situação-problema
O cobalto é um elemento químico de símbolo Co e número atômico 27.
Tal como o níquel, o cobalto não é encontrado puro na natureza, sua forma
pura é obtida por fusão, isto é, por metalurgia extrativa. O cobalto é um metal
cinza-prateado, brilhante e duro; e assim como o ferro, é ferromagnético e
ocorre em duas estruturas cristalográficas: hexagonal compacta e cúbica
de face centrada. Da temperatura ambiente até 477 °C apresenta estrutura
HC; já em temperaturas superiores, na faixa de 477 °C a 1490 °C, é CFC;
no entanto, a diferença de energia é tão pequena que, na prática, é comum
o intercrescimento aleatório das duas estruturas. Assim, podemos concluir
que a característica ferromagnética dos metais não depende unicamente do
tipo de estrutura. Ao compararmos o ferro com o cobalto observa-se que os
metais apresentam estruturas cristalinas distintas: enquanto o ferro a 477 °C
possui estrutura cúbica de corpo centrado e não se observam quaisquer tipos
de transformação de célula unitária, o cobalto, nessa temperatura, possui
célula unitária hexagonal compacta (Figura 3.15).
1. A estrutura cristalina refere-se aos arranjos que os átomos podem assumir quando
os materiais estão no estado sólido, e descreve uma estrutura altamente ordenada
devido à natureza dos seus constituintes em formar padrões simétricos.
126 U3
- / Estruturas cristalinas
Assinale a alternativa que preenche corretamente as lacunas:
a) cúbica de corpo centrado; alternadas; quatro átomos; dois.
b) hexagonal compacta; lineares; seis átomos; quatro.
c) cúbica de face centrada; regulares; quatro átomos; 12.
d) cúbica simples; lineares; dois átomos; quatro.
e) hexagonal compacta; alternadas; seis átomos; 12.
A partir da estrutura cristalina e dos dados fornecidos sobre a prata, é correto afirmar
que o volume de sua célula unitária, em m 3 igual a:
a) 6,83´10-23
b) 6,32´1024
c) 6,83´10-29
d) 6,83´1023
e) 6,83´1029
Imperfeições cristalinas
Diálogo aberto
O estudo da Ciência dos Materiais é dinâmico e muito interessante,
pois a cada dia surgem novas ideias e novas necessidades que resultam no
desenvolvimento de novos materiais. Os metais e as ligas metálicas, por
exemplo, apresentam diversas propriedades. Você sabia que em algumas
marcas de smartphones são utilizados alguns metais como ouro e prata por
apresentarem uma ótima condutividade elétrica e maleabilidade? Já o ferro
nodular, por apresentar uma elevada resistência, é utilizado na fabricação
de virabrequins, engrenagens e outros componentes automotivos. Nesta
seção, vamos estudar sobre as imperfeições nos sólidos, isto é, os defeitos
nos materiais sólidos. No entanto, vamos compreender quão importante é a
presença desses defeitos nas propriedades dos materiais. Se não existissem
defeitos, os cristais não teriam cores, não existiriam os dispositivos eletrô-
nicos do estado sólido e alguns metais seriam tão resistentes que não
poderiam ser utilizados.
Portanto, é chegado o momento em que você, como vendedor técnico
de uma metalúrgica, está negociando a venda de um lote de ferro a para
um cliente bem exigente e que a cada momento tem uma nova dúvida.
Essa venda é muito importante para a metalúrgica, já que a empresa está
passando por uma expansão e precisa aumentar suas vendas. O cliente
utilizará o ferro a em diversas aplicações e em diferentes condições de
temperatura e você já esclareceu que o ferro a só apresenta a proprie-
dade de ser ferromagnético em temperaturas inferiores a 771 °C e, poste-
riormente, explicou porque esse metal de estrutura cúbica de corpo
centrado é maleável, flexível e apresenta baixa rigidez e propriedades
que estão relacionadas com o sistema cristalino. Pensando em novas
aplicações, o cliente questionou se existe a possibilidade de aumentar
a dureza do ferro a . Mas como é possível modificar a propriedade do
metal? Os metais apresentam algum tipo de impureza ou defeito? Quais
tipos de defeitos o ferro a pode apresentar? No estudo desta seção você
compreenderá o que significam as impurezas nos materiais sólidos e
também compreenderá que a adição de impurezas pode ser intencional
quando queremos alterar algumas propriedades iniciais dos materiais.
Você entenderá que os sólidos apresentam diferentes tipos de defeitos e
será capaz de identificá-los e distingui-los. Mais uma vez você recorrerá
aos estudos da Ciência dos Materiais para responder a essas questões
e, no final, conhecerá conceitos e aspectos importantes que devem ser
128 U3
- / Estruturas cristalinas
considerados na seleção de um material adequado para uma determi-
nada aplicação.
Então, vamos iniciar nossos estudos?
Boa sorte!
N Ar
N=
A
Exemplificando
Vamos determinar o número de lacunas no ferro em 900 °C, sabendo que
a massa específica do ferro é igual a 7,65 g cm3 , peso atômico igual a
55,85 g/mol, o número de Avogadro igual a 6,023´1023 átomos mol e
energia de formação de uma lacuna é 1,08 eV/átomo.
æ Q ö N r æ Q ö
N l = N exp çç- l ÷÷ = A exp çç- l ÷÷
çè kT ÷ø A çè kT ÷ø
(6,023 ´1023 átomos/mol)(7,65 g/cm 3 ) æ 1,08 eV/átomo ö÷
= exp çç- ÷
55,85 g/mol èç (8,62´10 eV/átomo × K)1173K ø÷
-5
ou 1,9´1024 m-3 .
130 U3
- / Estruturas cristalinas
de impureza substitucional são os átomos de zinco no latão, os quais têm raio
igual a 0,133 nm e substituem alguns átomos do cobre que têm raio 0,128
nm; e impureza intersticial, na qual os átomos são muito menores do que
os da rede cristalina. Esses tipos de átomos de impurezas intersticiais encai-
xam-se no espaço vazio entre os átomos da estrutura cristalina. É importante
destacar que a adição de impurezas também pode resultar na formação de
uma solução sólida que se forma quando a adição de soluto (elemento em
menor quantidade) ao material hospedeiro (solvente – material em maior
quantidade) não provoca nenhuma mudança na estrutura cristalina. A
Figura 3.17 apresenta os diferentes tipos de defeitos pontuais.
Figura 3.17 | Defeitos pontuais
132 U3
- / Estruturas cristalinas
Figura 3.20 | Vetor de Burgers
Reflita
Como o movimento das discordâncias podem ser fundamentais para a
deformação e aumento da resistência dos materiais?
134 U3
- / Estruturas cristalinas
mais se assemelham aos grãos da micrografia. A comparação dos quadros
para determinação do tamanho de grão está relacionada ao número médio
de grãos por polegada quadrada sob ampliação de 100´ . Esses parâmetros
estão relacionados pela equação:
N = 2n-1
Saiba mais
Quer aprender mais sobre os defeitos interfaciais? Acesse em sua biblio-
teca digital o Capítulo 4, Imperfeições nos Sólidos, de Callister e Rethwish
(2018), nas páginas de 108 a 110.
CALLISTER, W.; RETHWISH, D. G. Imperfeições nos Sólidos. In: CALLISTER,
W.; RETHWISH, D. G. Ciência e Engenharia de Materiais: uma intro-
dução. 9. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2018. p. 108-110.
136 U3
- / Estruturas cristalinas
O ferro a , assim como os outros materiais sólidos, pode apresentar
diversos tipos de defeitos, tais como: defeitos pontuais, defeitos lineares,
defeitos interfaciais e defeitos volumétricos. E como observamos, muitas
vezes a presença desses defeitos é imprescindível para termos materiais
com determinadas propriedades. Dessa forma, você foi capaz de explicar ao
cliente a maneira correta de manipular as propriedades do ferro a .
Avançando na prática
Imperfeições cristalinas
Descrição da situação-problema
Atuando em um laboratório de análise por microscopia eletrônica de
varredura (MEV), você obteve a micrografia apresentada na Figura 3.24.
Como responsável técnico pelo laboratório, você deve emitir um laudo
sobre os defeitos encontrados no material analisado: o dissulfeto de molib-
dênio ( MoS2 ) – um sólido branco utilizado como lubrificante devido às suas
propriedades de baixo atrito.
Figura 3.24 | Micrografia obtida por microscopia eletrônica de varredura (MEV)
Resolução da situação-problema
A micrografia apresentada do dissulfeto de molibdênio traz dois tipos
de defeitos: na Figura 3.24 (a) os átomos de molibdênio (Mo) substituem
os átomos de enxofre (S), ou seja, são considerados impurezas e defeitos
pontuais. Os defeitos pontuais do tipo impureza substitucional é quando um
1. Os cristais reais contêm um grande número de defeitos que variam desde quanti-
dades de impurezas à falta de átomos ou íons. Esses defeitos ou imperfeições contri-
buem para as propriedades dos materiais. Os defeitos pontuais são regiões em que
há a ausência de um átomo ou o átomo encontra-se em uma região irregular na
estrutura cristalina.
138 U3
- / Estruturas cristalinas
3. A classificação de imperfeições cristalinas é feita, frequentemente, de acordo com
a geometria ou com a dimensionalidade do defeito. As lacunas são defeitos comuns,
especialmente em altas temperaturas, quando os átomos estão frequentemente em
movimento e mudam de posições aleatoriamente, deixando para trás sítios da rede
vazios.
3
Sabendo que a massa específica da prata é igual a 9,5 g cm , peso atômico igual a
23
107,9 g/mol, o número de Avogadro igual a 6,023´10 átomos mol e energia de
formação de uma lacuna é 1,10 eV/átomo, o número de lacunas da prata a 800 °C é
igual a:
a) 3,63´1017 lacunas × m-3 .
b) 36,3´1017 lacunas × cm-3 .
c) 3,63´1017 lacunas × cm-3 .
d) 3,63´1019 lacunas × cm-3 .
e) 36,3´1019 lacunas × m-3 .
Difusão
Diálogo aberto
No nosso dia a dia é muito comum usufruirmos de equipamentos em que
algumas peças ou materiais dependeram do processo que envolva a movimen-
tação atômica, antes de sua aplicação/utilização. E onde podemos encontrar
essas peças ou materiais no nosso cotidiano? Um exemplo de um objeto em
que ocorre esse fenômeno é a garrafa plástica. Em seu processo de fabri-
cação ocorre a movimentação do dióxido de carbono ( CO2 ). Nesta última
seção vamos estudar sobre esse movimento que é conhecido como difusão
atômica, um fenômeno muito importante que nos ajuda a compreender
por que os materiais submetidos a tratamentos térmicos, como os metais,
apresentam melhoras em suas propriedades. O estudo da difusão nos ajuda
analisar a inter-relação entre a estrutura, o processamento, as propriedades e
o desempenho de um material. A partir dos mecanismos de difusão vamos
entender como é possível introduzir átomos de impurezas em sólidos crista-
linos e qual a relação com o tempo e a temperatura. Adicionalmente vamos
compreender que, para ocorrerem os fenômenos da difusão, é necessária a
presença de imperfeições na rede cristalina, como os defeitos de lacunas e os
defeitos em que átomos estão localizados em uma posição intersticial. Agora
vamos iniciar seu último desafio desta unidade: você, como vendedor técnico
de uma metalúrgica, está negociando a venda de um grande lote de ferro a
para um cliente bem exigente. O ferro alfa será utilizado em diversas aplica-
ções e em diferentes condições de temperatura, mas, por sigilo empresarial,
o cliente não lhe informou a aplicação exata. Justamente por esse motivo
você tem sido questionado sobre algumas características do material, como
as propriedades exibidas em certas temperaturas. No último contato você
esclareceu que o ferro alfa, assim como os outros materiais sólidos, pode
apresentar diversos tipos de defeitos, tais como: defeitos pontuais, defeitos
lineares, defeitos interfaciais e os defeitos volumétricos. E que muitas vezes
a presença desses defeitos são imprescindíveis para termos materiais com
determinadas propriedades. Mas, além de exigente, o cliente é muito curioso
e lançou uma nova pergunta: como é possível aumentar a dureza do ferro
alfa? É possível aumentar a dureza de uma engrenagem de aço, por exemplo?
No estudo desta seção você será capaz de descrever os dois mecanismos
da difusão e apontar as principais diferenças entre eles. Você também irá
adquirir a habilidade de calcular o coeficiente de difusão para um deter-
minado material a uma temperatura conhecida. Ao final desta seção, você
conhecerá os conceitos de difusão atômica e o movimento de átomos, assim
140 U3
- / Estruturas cristalinas
como a importância desses movimentos para a manipulação das proprie-
dades dos materiais.
Lembre-se, essa é sua última oportunidade de convencer o cliente e fechar
a venda.
Bons estudos e boa sorte!
Saiba mais
O artigo intitulado Difusão em Materiais Cerâmicos: um estudo preliminar
apresenta e discute o fenômeno da difusão nos materiais cerâmicos em
que foi possível constatar a ocorrência da interdifusão.
142 U3
- / Estruturas cristalinas
movimento. Essa energia é de origem vibracional e possibilita que o átomo
se desloque ao longo da rede cristalina, porém, apenas uma pequena fração
de átomos é capaz de se mover devido à magnitude das energias vibracionais.
A fração de átomos aumenta com o aumento da temperatura (CALLISTER,
2018, p.49). Especificamente nos materiais metálicos, os movimentos dos
átomos acontecem prioritariamente por difusão em lacunas e difusão
intersticial. Como o próprio nome sugere, na difusão em lacunas ocorre o
movimento do átomo e da lacuna existente na rede cristalina do metal, em
que o átomo ocupa a posição da lacuna e a lacuna passa a ocupar a posição
do átomo (Figura 3.28).
Figura 3.28 | Difusão por lacunas
Reflita
A quantidade de lacunas aumenta em função da temperatura. De que
forma esse fenômeno está relacionado à difusão?
dC
J = -D
dx
2
em que D é a constante de proporcionalidade ( m s ), o sinal negativo
indica a direção da difusão que se dá contra o gradiente de concentração
dC
, isto é, da concentração mais alta para a mais baixa (CALLISTER, 2013,
dx
p. 130). No entanto, na maioria das situações ocorre a difusão em regime
transiente ou não estacionário em que o fluxo de difusão e a concentração
de gradiente em um determinado ponto no interior do sólido variam com o
tempo. Assim, faz-se necessária a segunda lei de Fick, expressa por:
¶c ¶ æ ¶C ÷ö
= ççD ÷
¶t ¶x çè ¶x ÷ø
144 U3
- / Estruturas cristalinas
Assimile
A função erro de Gauss, também conhecida apenas como função erro, foi
desenvolvida para elaborar o cálculo da integral da distribuição normal.
Cu Cu 7,8´10-5 211
-5
Al Al 2,3´10 144
-4
C Fe- α 2,8´10 251
Exemplificando
É possível determinar o coeficiente de difusão do carbono a 600 °C?
Resposta: utilizando a equação abaixo e os dados da Tabela 3.2 temos:
146 U3
- / Estruturas cristalinas
Na Figura 3.30 é possível observar que a superfície da engrenagem foi
endurecida, isto é, houve o aumento da dureza superficial. A camada mais
externa da superfície foi endurecida por um tratamento térmico adequado
e em elevada temperatura, e permitiu que átomos de carbono da atmosfera
se difundissem, ou seja, se movimentassem para o interior da superfície da
engrenagem. A superfície que apresenta maior dureza é destacada na figura
como uma borda escura. O aumento do teor de carbono é o responsável
pelo aumento da dureza. Dessa forma, temos uma engrenagem de aço que
apresenta uma elevada resistência ao desgaste. Adicionalmente você foi capaz
de explicar que a difusão apresenta dois mecanismos: difusão por lacunas e
difusão intersticial. E explanou que quando o fluxo não varia com o tempo
ocorre a difusão em regime estacionário, e quando existe a variação do fluxo
a difusão ocorre em regime não estacionário. Você como um excelente e
dedicado vendedor conquistou a confiança do cliente e finalmente fechou a
venda do lote de ferro a .
Parabéns!
Avançando na prática
Difusão
Descrição da situação-problema
Atuando em uma empresa de telefonia, você foi acionado pelo gestor
pois um lote de sim card fabricado a partir de monocristais de silício (Figura
3.31) apresentou problemas quando testado em diversos smartphones. Para
que funcionem adequadamente, os chips foram submetidos a tratamentos
térmicos e você recebeu apenas a informação de que esses tratamentos são
utilizados em razão das impurezas. Mas o qual a função dessas impurezas
nessa aplicação? Os tratamentos térmicos promovem algum fenômeno
conhecido? Como eles funcionam? Sua hipótese será importante para
direcionar a investigação do problema.
Fonte: iStock .
Resolução da situação-problema
Os chips são encontrados em celulares, computadores, televisões e
smartphones; são fabricados por materiais semicondutores, como os
monocristais de silício. Para que os chips funcionem adequadamente eles são
submetidos a dois tratamentos térmicos: no primeiro, átomos de impurezas
são difundidos no silício a partir de uma fase gasosa cuja pressão é mantida
constante; já o segundo tratamento é utilizado para migrar os átomos das
impurezas que estão inicialmente na superfície para o interior do silício,
com o objetivo de obter uma distribuição de concentração de impurezas
mais uniforme sem o aumento do teor global das impurezas. Esse trata-
mento é conduzido a uma temperatura mais elevada que a primeira etapa
e exposto a uma atmosfera oxidante formando uma camada de óxido na
superfície. Qualquer tipo de problema durante os tratamentos térmicos
podem ocasionar o mau funcionamento dos sim cards. Nos dois tratamentos
térmicos observa-se o fenômeno da difusão, utilizada para manipular as
características do material.
148 U3
- / Estruturas cristalinas
c) Difusão por lacunas.
d) Difusão intersticial.
e) Autodifusão.
Convite ao estudo
O desenvolvimento e a pesquisa de novos materiais nos asseguram mais
conforto devido à melhora da qualidade de vida. Você conseguiria viver em
mundo sem a internet e outras tecnologias que nos proporcionam conforto
e praticidade? Certamente teríamos muita dificuldade, mas o fato é que
muitos avanços tecnológicos nos proporcionaram uma expectativa de vida
maior e melhor. Graças a materiais inovadores conseguimos captar a energia
solar e converter em energia elétrica, produzimos meios de transportes cada
vez mais velozes e seguros e meios de se comunicar mais eficientes, como
os celulares e smartphones. Neste momento talvez você esteja se questio-
nando: como é possível descobrir novos materiais ou então inovar os que
já conhecemos? E como é possível fabricar componentes, peças e produtos
que atendam às necessidades de uma aplicação específica? Se interpretarmos
as informações que já temos é possível concluirmos que a procura de um
determinado material surge da necessidade do homem, posteriormente, é
necessário compreender a estrutura e as propriedades para que possamos
estudar outros dois componentes muito importantes, o processamento e o
desempenho destes materiais. Assim, nessa unidade de ensino vamos estudar
alguns dos princípios fundamentais da ciência dos materiais: as propriedades,
os processamentos e o desempenho dos materiais metálicos, cerâmicos,
poliméricos e compósitos. Ao final desta unidade, você terá conhecido mais
alguns conceitos que lhe permitirão a análise e compreensão das proprie-
dades dos materiais para seleção, de modo a atender às características de
desempenho e processamento. Dessa forma, você será capaz de utilizar e
aplicar diferentes tipos de materiais de acordo com um determinado projeto.
É hora de enfrentarmos nosso próximo desafio: você foi contratado
como analista em um laboratório de análise de materiais que presta serviços
para diversas empresas. Em um primeiro momento, você será desafiado a
auxiliar uma empresa fabricante de componentes utilizados em motores de
combustão interna. Mas quais são as propriedades dos materiais metálicos?
Todos os componentes de um motor podem ser produzidos com o mesmo
metal ou liga metálica? Quais os processamentos utilizados para a obtenção
das peças com as propriedades desejadas? Em um segundo momento, será
a vez de auxiliar no projeto de órgãos artificiais e na utilização de materiais
cerâmicos empregados como implantes. Posteriormente, você auxiliará uma
empresa fabricante de próteses utilizadas na artroplastia do joelho ou do
quadril. Mas quais materiais podem ser utilizados nessa aplicação? Quais
as características de interesse desses materiais? Por fim, você ajudará uma
empresa na avaliação de dois materiais compósitos utilizados na fabricação
de componentes primários e secundários de aeronaves comercias. Mas como
você conseguirá prestar essas consultorias? Quais as características que
deverão ser avaliadas? Esses são alguns questionamentos que você será capaz
de responder ao concluir os estudos dessa unidade, portanto, seja persistente
e desenvolva um raciocínio crítico capaz de trazer sempre a resolução de
vários problemas.
Seção 4.1
Diálogo aberto
Caro aluno, iniciamos mais uma etapa rumo ao final do semestre. No
nosso dia a dia, utilizamos diversos tipos de materiais metálicos, não é
mesmo? Desde as estruturas metálicas utilizadas para construir nossas casas
aos talheres que utilizamos nas refeições, sempre temos a presença dos metais.
Nesta seção vamos conhecer as propriedades, processamentos de alguns
metais e suas ligas metálicas normalmente utilizadas em diversos setores
industriais. Vamos conhecer a composição, os agrupamentos de diversas
ligas metálicas e seus respectivos agrupamentos, aprender sobre os sistemas
de especificações e introduzir alguns dos principais métodos de processa-
mento. Dessa forma, você compreenderá a importância de termos estudado
todos esses temas e será capaz de selecionar os metais adequados para uma
determinada aplicação, que atenda todas as especificidades de utilização.
Você, recém contratado como analista em um laboratório de análise de
materiais, recebeu uma demanda para auxiliar uma fabricante de peças para
motores automotivos na escolha dos possíveis materiais utilizados na fabri-
cação de engrenagens e virabrequins. A Figura 4.1a apresenta um virabre-
quim, enquanto a Figura 4.1b apresenta uma engrenagem.
Figura 4.1 | Peças para motores automotivos (a) virabrequim; e (b) engrenagens
154 U4
- / Propriedades, processamento e desempenho dos materiais
Figura 4.2 | Coloração de íons metálicos em solução aquosa
Isso ajuda a explicar, por exemplo, por que a ferrugem ( Fe2O3 - óxido
de ferro) apresenta cor laranja (Figura 4.3a) e a Estátua da Liberdade,
feita de cobre (Figura 4.3b1), não apresenta mais a cor laranja brilhante
e metálica do cobre, mas uma cor verde pálida dada pela formação de
carbonato de cobre ( CuCO3 ), produto constituído a partir de oxidações
parciais que revestem as superfícies de metais como o cobre, bronze ou
latão (Figura 4.3b2).
Figura 4.3 | Ferrugem e Estátua da Liberdade
Assimile
As propriedades mecânicas de um material são aquelas que envolvem
uma reação a uma carga aplicada.
156 U4
- / Propriedades, processamento e desempenho dos materiais
Figura 4.4 | Orientações dos grãos em componentes metálicos
Reflita
Uma peça de metal fabricada por diferentes processos apresentam,
necessariamente, as mesmas propriedades mecânicas?
158 U4
- / Propriedades, processamento e desempenho dos materiais
calor e eletricidade. Em geral, a condutividade desses materiais aumenta
com a diminuição da temperatura, de modo que no zero absoluto (-273°C)
a condutividade é infinita; isto é, os metais se tornam supercondutores.
A condutividade térmica é aproveitada em radiadores de automóveis
e utensílios de cozinha enquanto a condutividade elétrica possibilita
que as distribuidoras de energia consigam transmitir eletricidade por
longas distâncias para fornecer luzes e energia elétrica às cidades mais
remotas a partir de estações de geração de eletricidade. Os circuitos em
aparelhos domésticos, aparelhos de televisão e computadores dependem,
por exemplo, da condutividade elétrica. Entre os metais, os condutores
de eletricidade mais eficazes são aqueles que têm um único elétron de
valência, que é livre para se movimentar e, assim, promove fortes reações
de repulsão entre os outros elétrons. Temos também os metais semicon-
dutores (ou metaloides) que possuem um número maior de elétrons de
valência (normalmente quatro ou mais) e são ineficientes na condução
de eletricidade. No entanto, quando são aquecidos ou dopados com
outros elementos semicondutores, como silício e germânio, tornam-se
condutores elétricos extremamente eficientes. A Figura 4.6 apresenta um
ímã flutuando sobre um supercondutor de alta temperatura, resfriado
com nitrogênio líquido.
Figura 4.6 | Imã flutuando sobre um supercondutor
160 U4
- / Propriedades, processamento e desempenho dos materiais
acima de 2,14% são denominadas ferros fundidos. Já os aços são ligas de
ferro-carbono que contêm outros elementos químicos em sua compo-
sição, como crômio (Cr), níquel (Ni), molibdênio (Mo), tungstênio (W),
entre outros. Nos aços, as propriedades mecânicas são sensíveis ao teor
de carbono, isto é, quanto maior a concentração de carbono mais duro e
menos dúctil é o aço. Dessa forma, os aços são classificados em aços com
baixo, médio e alto teor de carbono. Os aços com baixo teor de carbono
apresentam menos de 0,25% em peso de carbono (%p C), os com médio
teor de carbono possuem concentrações de 0,25 a 0,6 %p C e, finalmente,
os aços com alto teor de carbono apresentam concentrações superiores
a 0,6%p C. Nos aços, os átomos de carbono ocupam os interstícios da
estrutura cristalina do ferro, como mostra a representação da Figura 4.7,
porém, outros elementos de liga são adicionados propositalmente, por
diversas razões, a fim de melhorar as propriedades mecânicas dos aços e
a resistência à corrosão, como observado nos aços-ligas.
Figura 4.7 | Representação para estrutura CCC do Fe-C, por meio de esferas rígidas
162 U4
- / Propriedades, processamento e desempenho dos materiais
O Quadro 4.1 apresenta as principais aplicações de aços-carbono
comuns com baixo teor de carbono e de aços de alta resistência e baixa liga.
Quadro 4.1 | Principais aplicações de Aços-Carbono Comuns com baixo teor de carbono e la-
minados e aços ARBL
Aços
Número
AISI/SAE ou Aplicações
ASTM
Aços-Carbono com Baixo Teor de Carbono
1010 Painéis de automóveis, arames e pregos
1020 Aço estrutural, chapas e tubos
A36 Estrutural (pontes e edificações)
A516 Classe
Vasos de pressão para baixas temperaturas
70
Aços de Alta Resistência e Baixa Liga
A440 Estruturas rebitadas ou aparafusadas
A633 Classe E Estruturas utilizadas em baixas temperaturas
A656 Classe 1 Chassis de caminhões e vagões de trem
Os aços com médio teor de carbono (0,25 a 0,6 %p C) são mais resis-
tentes e menos dúcteis quando comparados aos aços de baixo teor de
carbono. Esses aços apresentam baixa temperabilidade e, assim, podem
ser tratados termicamente com sucesso em seções muito finas e com
elevada taxa de resfriamento. No entanto, a adição de elementos de liga,
como o níquel, cromo e molibdênio, melhora sua temperabilidade. Entre
as aplicações de aços com médio teor de carbono, temos a utilização
em vias e rodas férreas, componentes estruturais de elevada resistência,
na fabricação de engrenagens e virabrequins. A AISI, SAE e ASTM são
responsáveis por classificar e especificar os aços e ligas metálicas. As
especificações AISI/SAE consistem em um número com quatro dígitos,
os quais os dois primeiros correspondem ao tipo de liga, enquanto os
últimos dois dígitos representam a quantidade de carbono multiplicada
por 100. Para os aços-carbono comuns, os dois primeiros dígitos são 1
e 0, já para os aços-liga são especificadas outras combinações dos dois
dígitos iniciais.
Exemplificando
Os aços AISI/SAE 1020, 1045 e 1060 são exemplos de aços-carbono
comuns e possuem, respectivamente, 020, 0,45 e 0,60 % p C.
164 U4
- / Propriedades, processamento e desempenho dos materiais
Ferro branco: quando o teor de silício é inferior a 1%, em combinação
com taxas de resfriamento rápidas, não há tempo suficiente para a cemen-
tita se decompor, fazendo com que grande parte se conserve. A presença da
cementita torna a superfície fraturada esbranquiçada. Esse metal é utilizado
em cilindros de laminação em laminadores.
Ferro maleável: esses metais são formados após o tratamento térmico do
ferro fundido branco que é mantido por horas em uma temperatura de 800
a 900 °C. Posteriormente, o material é resfriado na temperatura ambiente,
promovendo a decomposição da cementita e, consequentemente, a formação
de grafita na forma de aglomerados envolvidos por uma matriz de ferrita ou
perlita, de acordo com a taxa de resfriamento. Algumas aplicações típicas
incluem: estradas de ferro e outros serviços pesados.
Ferro vermicular: como o próprio nome sugere, nesse tipo de liga a
grafita está disposta em forma de vermes em uma matriz perlítica ou ferrítica/
perlítica. A Figura 4.9 apresenta alguns exemplos da disposição das grafitas.
Figura 4.9 | Micrografia eletrônica de varredura mostrando da esquerda para a direita a grafita
lamelar, nodular e vermicular, respectivamente.
Outra classe dos materiais metálicos são os metais ou ligas não ferrosas. Estes
são fabricados com facilidade e de forma econômica. Entre eles destacam-se
as ligas de alumínio e cobre. As ligas de alumínio são caracterizadas pela baixa
densidade, alta condutividade térmica e elétrica, e boa resistência à corrosão. As
aplicações comuns de ligas de alumínio são: latas de bebidas, peças automotivas,
blocos de motores, carrocerias, estruturas de aeronaves etc. Algumas das ligas
de alumínio são capazes de aumentar a resistência por precipitação, enquanto
outras são reforçadas por trabalho a frio ou métodos de solução sólida.
As ligas de cobre são caracterizadas por apresentarem boa resistência à
corrosão em diversas atmosferas. Assim como as de alumínio, a maioria dessas
ligas são reforçadas por um ou outro trabalho a frio ou método de solução sólida.
O latão e o bronze são exemplos de ligas de cobre. O latão é uma liga de cobre e
zinco, enquanto o bronze é uma liga de cobre e estanho. Entre as principais aplica-
ções destacam-se o uso em bijuterias, moedas, instrumentos musicais, eletrônicos,
molas, instrumentos cirúrgicos e odontológicos, radiadores, entre outros.
166 U4
- / Propriedades, processamento e desempenho dos materiais
Quais os materiais mais indicados para essa fabricação? Quais os
métodos de processamento? Ao longo desta seção estudamos os principais
tipos de metais e vimos que esses materiais podem ser classificados de acordo
com sua composição em ligas metálicas ferrosas e não ferrosas, sendo que
a principal diferença entre elas é a quantidade de Fe. Você aprendeu que
as chamadas ligas ferrosas são diferenciadas com base na concentração de
carbono presente nesses metais entre aços com baixo, médio e alto teor de
carbono. As engrenagens e virabrequins são componentes mecânicos que
tipicamente são fabricados com aços com médio teor de carbono (0,25 a 0,6
%p C), apresentam baixa temperabilidade e podem ser tratados termicamente
com sucesso em seções muito finas e com elevada taxa de resfriamento. Essas
são características necessárias na fabricação de virabrequins e engrenagens,
que precisam apresentar elevada dureza superficial e núcleo mais dúctil e
tenaz para que a peça suporte os esforços solicitados e não frature. A Figura
4.11 apresenta uma engrenagem submetida a um tratamento térmico de
superfície.
Figura 4.11 | Engrenagem submetida a tratamento térmico de superfície.
Descrição da situação-problema
A empresa fabricante de componentes para motor está estudando a linha
de produção de blocos de motores. Você foi acionado para auxiliar nas etapas
de produção desse componente. O bloco do motor é a peça que aloja os cilin-
dros de um motor de combustão interna (Figura 4.12). Ele é chamado de
“bloco” porque geralmente é uma peça sólida do carro que abriga os cilindros
e seus componentes dentro de um cárter refrigerado e lubrificado.
Figura 4.12 | Bloco de um motor
168 U4
- / Propriedades, processamento e desempenho dos materiais
Faça valer a pena
Assinale a alternativa que apresenta a classificação dos metais e suas ligas de acordo
com a sua composição química:
a) Aços inoxidáveis e aços.
b) Aços e ligas.
c) Ferros fundidos e ferro nodular.
d) Metais ferrosos e não-ferrosos.
e) Ligas não ferrosas e aços inoxidáveis.
3. Os aços são ligas de ferro-carbono que contêm outros elementos químicos em sua
composição, como crômio (Cr), níquel (Ni), molibdênio (Mo), tungstênio (W), entre
outros. Nos aços, as propriedades mecânicas são sensíveis ao teor de carbono.
Analise as informações das colunas A e B:
Coluna A Coluna B
A. Baixo teor de carbono I Elemento predominante é o cromo.
B. Médio teor de carbono II Baixa temperabilidade mas eficiente têmpera superficial.
C. Alto teor de carbono III Resistentes ao desgaste e pouco dúcteis.
D. Aço inoxidável IV Microestrutura é basicamente composta por ferrita e perlita.
170 U4
- / Propriedades, processamento e desempenho dos materiais
Seção 4.2
Diálogo aberto
Quando falamos em material cerâmico, o que lhe vem à cabeça?
Normalmente, já pensamos nos materiais que estão a nossa volta como
os pisos, azulejos, telhas e louças. Esses são alguns exemplos de materiais
cerâmicos muito importantes, visto que sem eles não teríamos nossas habita-
ções da forma que conhecemos e nossa qualidade de vida seria afetada. No
entanto, existem diversos materiais cerâmicos que vão muito além dessas
aplicações. Por exemplo, para produzir as ligas metálicas é necessário a utili-
zação de containers revestidos por cerâmicas para reter o metal fundido, pois
o material cerâmico suporta temperaturas bem acima da temperatura de
fusão dos metais. Assim, nessa unidade de ensino vamos estudar sobre as
propriedades, processamento e desempenho dos materiais cerâmicos e para
iniciarmos nossos estudos imagine que você está atuando como analista em
um laboratório de análise de materiais que presta serviços para empresas
de diversos ramos. Nesse momento, você foi acionado por uma empresa
fabricante de próteses usadas na artroplastia do quadril ou do joelho (artro-
plastia é uma cirurgia indicada a pacientes com quadro crônico de artrite).
Nos joelhos, por exemplo, a lesão ou o desgaste da cartilagem entre os ossos
resulta no atrito ósseo, o que ocasiona dores e dificuldade de locomoção.
Assim, a superfície da cabeça dos ossos é substituída por superfícies metal-
-polietileno (Figura 4.13).
Figura 4.13 | Artroplastia do joelho (sequência do implante metal-polietileno)
Fonte: (a) e (d) https://goo.gl/rjXMZd; (b) e (c) https://goo.gl/d2DPrJ. Acesso em: 29 out. 2018.
Exemplificando
Vamos pensar no óxido de alumínio, qual deve ser o caráter iônico
desse composto? Sabendo que os valores de eletronegatividade do
alumínio (Al) e do oxigênio (O) são, respectivamente, 1,61 e 3,44. A
partir dessas informações temos:
172 U4
- / Propriedades, processamento e desempenho dos materiais
%CI = 1- exp éëê-0,25( X A - X B )2 ùûú ´100
%CI = 1- exp éêë-0,25(3, 44 -1,61)2 ùúû ´100
%CI = 1- exp éëê-0,25(1,83)2 ùûú ´100
%CI = 1- exp -0,25(3,35) ´100
%CI = 1- exp -0,84 ´100
%CI = 1- 0, 43 ´100
%CI = 57%
O óxido de alumínio é um exemplo de material cerâmico que
apresenta um bom percentual das duas ligações (iônicas e
covalentes), 57% iônica e 43% covalente.
Saiba mais
O artigo de:
PIRES, A. L. R; BIERHALZ, A. C. K.; MORAES, A. M. Biomateriais: tipos,
aplicações e mercado. Química Nova, v. 38, n. 7, p. 957-971, 2015, traz
174 U4
- / Propriedades, processamento e desempenho dos materiais
Figura 4.15 | Materiais cerâmicos submetidos a ensaios de flexão
Fonte: iStock.
Assimile
A resistividade elétrica é definida como a medida da oposição que um
material apresenta em relação ao fluxo de corrente elétrica. Essa proprie-
dade pode ser compreendida como o oposto da condutividade elétrica.
176 U4
- / Propriedades, processamento e desempenho dos materiais
piezoeletricidade utilizando a energia elétrica para criar um movimento
mecânico (alimentando o dispositivo) e depois, a partir desse movimento,
produzem eletricidade (gerando um sinal). A piezoeletricidade é geralmente
mais forte em materiais cerâmicos que também exibem piroeletricidade,
e todos os materiais piroelétricos são, do mesmo modo, piezoelétricos. A
piroeletricidade é a habilidade de alguns materiais produzirem temporaria-
mente um potencial elétrico quando aquecidos ou resfriados. Esses materiais
podem ser utilizados para converter energia térmica em mecânica ou elétrica.
Um cristal piroelétrico, após síntese em um forno, deixado para resfriar
sem nenhuma tensão aplicada, geralmente acumula uma carga estática de
milhares de volts. Esses materiais são utilizados em sensores de movimento,
em que um pequeno aumento da temperatura, a partir de um corpo quente
ao entrar em uma sala, é suficiente para produzir uma tensão mensurável no
cristal (Figura 4.17).
Figura 4.17 | Sensor de movimento com cerâmica piroelétrica
178 U4
- / Propriedades, processamento e desempenho dos materiais
A Figura 4.19 apresenta as estruturas da sílica amorfa ( SiO2 ), estrutura típica
de um vidro, e a estrutura desse mesmo material, mas como sólido cristalino.
Figura 4.19 | Estruturas atômicas da sílica
180 U4
- / Propriedades, processamento e desempenho dos materiais
Figura 4.21 | Técnicas de fabricação de cerâmicas
182 U4
- / Propriedades, processamento e desempenho dos materiais
Uma das técnicas mais populares para produzir formas relativamente simples de
produtos cerâmicos em grandes números é uma combinação de compactação e sinte-
rização, denominada como prensagem de pós. Basicamente, esse processo envolve a
aplicação de uma pressão igual em todas as direções a uma mistura de pó cerâmico,
a fim de aumentar sua densidade. Posteriormente, a peça moldada é submetida ao
cozimento, nessa etapa a peça se contrai e reduz a presença de porosidade.
Avançando na prática
Descrição da situação-problema
Uma empresa automobilística atualmente trabalha em um projeto com
diversos materiais aplicados ao sistema de frenagem. Os primeiros carros
utilizavam pastilhas de freios formados por placas metálicas de fricção à base
de resina e partículas metálicas que envolvem o disco de freio (Figura 4.25).
Figura 4.25 | Pastilhas de freios com material metálico
184 U4
- / Propriedades, processamento e desempenho dos materiais
Resolução da situação-problema
Os materiais cerâmicos já são utilizados em pastilhas e discos de freios,
como por exemplo, em aviões-caça de combate, em porta-aviões. Esses
materiais possibilitam frear as aeronaves em um trecho de 100 metros a
uma velocidade de 240 km/h. Não muito distante, a indústria automobilís-
tica de automóveis de luxo como a Porsche e a Mercedes já equipam alguns
modelos que utilizam materiais cerâmicos no sistema de freios. Nos carros
populares são utilizados discos de freios de ferro fundido e quando muito
exigidos atingem uma temperatura de até 500 °C. A utilização dos materiais
cerâmicos aumentam em até 25% a eficiência em relação ao sistema de ferro
fundido e por ter um coeficiente de atrito maior que o ferro fundido requer
uma distância muito menor para o automóvel parar. Os discos de cerâmicas
são capazes de atingir até 1400 °C e mantêm sua eficiência mesmo com
chuva, já que esses materiais não absorvem água. O sistema com material
cerâmico é aproximadamente 20 quilos mais leve do que o sistema de ferro
fundido e apresenta uma durabilidade aproximada de 300.000 quilômetros
para os discos e 60.000 quilômetros para as pastilhas.
3. O óxido de zinco (ZNO) é um composto inorgânico com fórmula ZnO que é ampla-
mente usado como um aditivo em vários materiais e produtos, incluindo borrachas,
plásticos, cerâmicas, vidro, cimento, lubrificantes, tintas, pomadas, adesivos, entre outros.
186 U4
- / Propriedades, processamento e desempenho dos materiais
Seção 4.3
Diálogo aberto
Em nosso dia a dia utilizamos diversos tipos de materiais. Mas você,
por exemplo, já se questionou o porquê alguns plásticos podem ir ao
micro-ondas e outros não? E que existem diferentes tipos de plásticos?
O material plástico utilizado na fabricação de garrafas de refrigerantes,
não é o mesmo tipo de plástico utilizado em cabos de panelas e, esses
dois tipos de plásticos são diferentes daqueles utilizados no solado de um
calçado, não é mesmo?
Nessa seção vamos estudar os materiais poliméricos também conhe-
cidos como plásticos, mas além desse tipo de material, você conhece
outra classe de material diferente dos metais ou cerâmicos? Vamos pensar
em duas aplicações: coletes à prova de balas e um carro de corrida. Nessas
aplicações temos algumas características parecidas, tanto o colete à prova
de balas quanto o carro de corrida devem ser os mais leves possíveis,
ao mesmo tempo que precisam de resistência ao impacto. Se usássemos
metais nessas aplicações teríamos um problema, a quantidade de aço
necessária para resistir ao impacto de uma bala tornaria inviável o uso de
coletes, da mesma forma que o peso do carro de corrida seria tão elevado
que talvez nem poderíamos mais chamá-los assim.
Nessa seção, além dos materiais poliméricos vamos conhecer os
materiais compósitos. Esses materiais são utilizados principalmente em
aplicações que necessitam de elevada resistência e baixo peso. Assim, para
iniciarmos nossos estudos, imagine que você está atuando em um labora-
tório de análise de materiais que presta consultoria para diversos clientes.
Nesse momento, você recebeu uma demanda de uma indústria aeronáutica
que atua na fabricação de componentes utilizados em aeronaves comer-
ciais. A empresa enviou duas amostras de materiais que foram subme-
tidas a um ensaio de impacto, no qual um pêndulo de impacto de massa,
comprimento, energia e altura conhecidos é solto, impactando o material
e causando uma deformação. O objetivo é verificar as propriedades dos
materiais (a) e (b) (Figura 4.26), uma vez que a empresa pretende utilizar
o material (b) como alternativa ao material (a).
Seção 4.3 / Propriedades, processamento e desempenho dos materiais poliméricos e compósitos - 187
Figura 4.26 | Amostras dos materiais (a) e (b)
188 U4
- / Propriedades, processamento e desempenho dos materiais
Figura 4.27 | Estruturas poliméricas (a) linear, (b) ramificada
Saiba mais
Ficou curioso sobre as propriedades mecânicas dos materiais polimé-
ricos? Pesquise mais sobre esse comportamento consultando a página
532 do livro:
ASKELAND, D. R.; WRIGHT, W. J. Ciência e engenharia dos materiais. São
Paulo: Cengage Learning, 2014.
Seção 4.3 / Propriedades, processamento e desempenho dos materiais poliméricos e compósitos - 189
A maioria dos polímeros produzidos são termoplásticos, o que signi-
fica dizer que, uma vez que o polímero é formado, ele pode ser fundido e
reutilizado, isto é, pode ser reciclado e novamente processado com facili-
dade. Polietileno tereftalato (PET), polipropileno (PP), poliestireno (PS)
e policloreto de vinila (PVC) são alguns exemplos de materiais termo-
plásticos. Esses materiais são normalmente fabricados pela aplicação
simultânea de calor e pressão. Os termoplásticos são polímeros lineares
sem qualquer ligação cruzada na estrutura, no qual longas cadeias
moleculares estão ligadas umas às outras por ligações secundárias e têm a
propriedade de aumentar a plasticidade com o aumento da temperatura,
que rompe as ligações secundárias entre cadeias moleculares. Outras
propriedades mecânicas dos polímeros termoplásticos como fluência,
tração, tenacidade, são afetadas pelo grau de polimerização, que pode ser
obtido a partir da equação:
massa molecular do polímero
Grau de polimerização =
massa molecular da unidade repetitiva
190 U4
- / Propriedades, processamento e desempenho dos materiais
Figura 4.28 | Estrutura polimérica reticulada típica de um termofixo
Exemplificando
As proteínas, por exemplo, são polímeros de condensação feitos a partir
de monômeros de aminoácidos, enquanto que os carboidratos são um
exemplo de polímero de condensação obtidos a partir de monômeros de
açúcares, como a glicose.
Seção 4.3 / Propriedades, processamento e desempenho dos materiais poliméricos e compósitos - 191
O tempo das reações de polimerização por condensação é maior quando
comparado ao das reações de polimerização por adição. Os fenóis-formal-
deídos, nylons e policarbonatos são exemplos de polímeros produzidos por
condensação. As reações de polimerização também ocorrem na técnica
sol-gel utilizada no processamento de materiais cerâmicos.
A maioria das propriedades dos polímeros são características intrín-
secas, isto é, de um polímero específico. As substâncias denominadas como
aditivos são introduzidas para melhorar ou modificar as propriedades dos
polímeros. Esses aditivos incluem cargas, plastificantes, estabilizadores,
corantes e retardantes de chama (CALLISTER, 2018). As cargas são usadas
para melhorar a resistência à tração e à compressão, a abrasão, a tenacidade
e a estabilidade dimensional e térmica. Pó de madeira, areia, argila, talco,
entre outros são alguns exemplos desses aditivos. Já os aditivos plastificantes
são utilizados quando o objetivo é melhorar a flexibilidade, ductilidade e a
tenacidade dos polímeros, diminuindo a temperatura de transição vítrea do
polímero. Os aditivos plastificantes são, geralmente, líquidos de baixo peso
molecular e utilizados em polímeros que são frágeis a uma temperatura
ambiente, o que melhora a tenacidade, ductilidade e flexibilidade e, conse-
quentemente, diminui a dureza e rigidez. Os estabilizadores são outro tipo
de aditivo polimérico que neutraliza os processos de deterioração como a
oxidação e radiação. Os corantes são os responsáveis por dar uma cor especí-
fica a um polímero. Esses corantes são adicionados na forma de pigmentos,
que permanecem como uma fase distinta ou tintas (matiz) que se dissolvem
no polímero.
Por fim, os aditivos retardantes de chama são usados para aumentar
a resistência ao fogo dos polímeros combustíveis, já que a maioria dos
materiais poliméricos é inflamável na forma pura. Esses aditivos interferem
no processo de combustão por meio da fase gasosa ou pela iniciação de uma
reação de combustão que gera menos calor (CALLISTER, 2018).
Outras propriedades interessantes dos materiais poliméricos são as visco-
elásticas, isto é, a capacidade que ao se deformar, simultaneamente sofrem
deformações elásticas e viscosas. Essas propriedades podem ser modifi-
cadas utilizando catalisadores que podem formar a chamada memory foam,
também conhecida como espuma de memória. Esse tipo de espuma é muito
mais macio à temperatura da pele humana quando comparado à tempe-
ratura ambiente. Um exemplo de polímeros viscoelásticos são as popular-
mente conhecidas espumas da NASA (National Aeronautics and Space
Administration), desenvolvidos por essa agência norte-americana em 1966.
Os materiais poliméricos podem ser processados por diversas técnicas
que serão determinadas com base em alguns fatores, como a natureza do
192 U4
- / Propriedades, processamento e desempenho dos materiais
material (ser termoplástico ou termorrígido), a temperatura de fusão (para
os termoplásticos) e a degradação (para os termorrígidos).
Assimile
A baquelite é um polímero termofixo utilizado na fabricação de peças de
automóveis, cabos de panela, entre outros. Lembrando que termofixo,
termorrígido e termoendurecível são sinônimos.
Seção 4.3 / Propriedades, processamento e desempenho dos materiais poliméricos e compósitos - 193
A moldagem por transferência difere da moldagem por compressão na
forma como os materiais são introduzidos na cavidade do molde, já que
o polímero é, primeiramente, fundido em uma câmara de transferência
aquecida e externa às cavidades do molde no qual será introduzido. Quando o
molde está fechado, um êmbolo força o material para o interior das cavidades
do molde, no qual o material é curado e moldado. Já a moldagem por injeção,
amplamente utilizado na fabricação de termoplásticos no qual a quantidade
correta do material peletizado é alimentada por uma moega de carregamento
para o interior de um cilindro, pelo movimento de um êmbolo ou pistão
(CALLISTER, 2018), conforme apresentado na Figura 4.30.
Figura 4.30 | Esquema de um equipamento de moldagem por injeção
194 U4
- / Propriedades, processamento e desempenho dos materiais
da carga aplicada enquanto as partículas impedem o movimento das
discordâncias, limitando a deformação permanente (plástica). O concreto
é um exemplo de compósito reforçado por partículas grandes, feito
de uma matriz de cimento que une partículas de diferentes tamanhos,
como areia e brita. As propriedades do cimento dissolvido em água, com
os materiais particulados, dependem do quão bem os materiais foram
misturados, do tamanho dos materiais particulados e da quantidade de
água. Água demais resulta em uma porosidade excessiva do concreto
solidificado, em contrapartida, com água insuficiente o concreto tende a
ficar com a superfície porosa e a compactação comprometida. O uso de
diferentes tamanhos de pedra e areia permite uma melhor compactação
do que quando são usadas partículas de tamanho semelhante, agora
ficou fácil compreender por que temos as popularmente chamadas areias
fina, média e grossa, por causa das diferentes granulometrias. Para os
compósitos reforçados por dispersão, o exemplo clássico é o compósito
à base de pó de alumínio sinterizado, no qual a matriz de alumínio é
endurecida com até 14% de óxido de alumínio. Esse compósito é utilizado
em reatores nucleares.
Reflita
Um reator nuclear é um sistema que contém e controla reações nucle-
ares em cadeia. Estes reatores são usados para geração de eletricidade,
movimentação de porta-aviões e submarinos, produção de radioisó-
topos para tratamentos médicos, entre outras aplicações. Com base
nestas informações, quais devem ser as propriedades dos materiais
compósitos que são utilizados na fabricação desses sistemas?
Seção 4.3 / Propriedades, processamento e desempenho dos materiais poliméricos e compósitos - 195
As propriedades dos compósitos dependem da natureza dos materiais
que são utilizados, isto é, das propriedades da fase matriz e da fase de reforço,
da geometria da fase dispersa e do grau de ligação entre as interfaces. Nos
compósitos as funções da matriz são: absorver as deformações, dar suporte
às fibras, partículas ou folhas e conferir resistência mecânica quando subme-
tidas à compressão.
Nos materiais compósitos termoendurecíveis são utilizadas resinas em
forma de reagentes, que são inseridas no molde e posteriormente curadas.
Além dos compósitos de matriz polimérica, temos os compósitos de matriz
cerâmica: estes materiais são leves, apresentam boa resistência e dureza.
Nos compósitos cerâmicos são utilizadas como fases de reforço fibras
de carbono, fibras de vidro, fibras de carbeto de silício, entre outros. Por
fim, temos os compósitos de matriz metálica, nos quais são utilizadas como
matrizes ligas metálicas de baixa densidade à base de alumínio, titânio e
magnésio. Nesse tipo de compósito, a maior parte dos materiais de reforço
empregados é cerâmica, como partículas de alumina, fibras de grafita e
filamentos de boro etc. A fibra de vidro é um exemplo muito comum de
materiais compósitos. Essa fibra é feita com pequenas fibras de vidro que
são envolvidas por uma resina polimérica. É um material de baixa densi-
dade, reciclável, apresenta pouca condutividade térmica, boa resistência à
corrosão e é um bom isolante elétrico. Apesar de não serem tão resistentes e
duras como os compósitos de fibra de carbono, as matérias-primas da fibra
de vidro são baratas e, quando comparada com alguns metais, esse compó-
sito apresenta melhores propriedades em termos de peso em massa, resis-
tência mecânica e facilidade de ser moldado em formas complexas. A fibra
de vidro pode estar disposta de forma aleatória, achatada para formar uma
folha ou em tecido e a matriz polimérica pode ser um polímero termoen-
durecível. Na maioria das vezes são utilizadas resinas epóxi, de poliéster ou
então um termoplástico.
Outro tipo de compósito muito importante são aqueles que possuem
como fase de reforço fibras ou mantas de carbono, como por exemplo, o
compósito carbono/epóxi que é classificado como um compósito estrutural.
Nesse tipo de compósito, além das propriedades dos materiais, o projeto
geométrico dos elementos estruturais é extremamente importante. Os
materiais compósitos podem ser classificados em duas categorias de acordo
com a construção do material: laminados, que têm camadas ligadas em
conjunto com orientações específicas da disposição das fibras (Figura 4.31),
e painéis sanduíche, que são materiais estruturais de múltiplas camadas
contendo um núcleo de baixa densidade entre camadas finas de materiais
compósitos, como visto anteriormente.
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- / Propriedades, processamento e desempenho dos materiais
Figura 4.31 | Compósito laminado
Seção 4.3 / Propriedades, processamento e desempenho dos materiais poliméricos e compósitos - 197
Figura 4.33 | Painéis sanduíche (honeycomb)
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- / Propriedades, processamento e desempenho dos materiais
ar retido. Terminada essa etapa, o compósito é deixado em repouso até a
completa secagem da matriz. O tempo de espera para secagem irá variar de
acordo com a espessura do compósito fabricado, quanto maior a quantidade
de camadas mais tempo para secagem. A Figura 4.34 apresenta algumas
dessas etapas da laminação manual para um corpo de prova utilizando uma
manta de fibras de carbono.
Figura 4.34 | Laminação manual (a) distribuição da resina polimérica e remoção de ar retido;
(b) secagem e compósito final.
Seção 4.3 / Propriedades, processamento e desempenho dos materiais poliméricos e compósitos - 199
A pultrusão é um processo de laminação contínuo utilizado principal-
mente para produção de longos perfis lineares de seção transversal constante.
Essa técnica de fabricação é muito semelhante à extrusão, exceto pelo fato
de que o material compósito deve ser puxado ao invés de ser empurrado
por meio de uma matriz, como acontece na extrusão. Na pultrusão as fibras
contínuas são impregnadas pela matriz, em seguida, moldados e curados
por um molde pré-aquecido ou um conjunto de fieiras. Uma vez curado,
o material é cortado. Algumas das aplicações típicas dessa técnica é a fabri-
cação de tubulação, tubos, escada e degraus, entre outros. A Figura 4.36
apresenta um esquemático da pultrusão.
Figura 4.36 | Processo de pultrusão
1 – Fibras contínuas / tapete de fibra tecida; 2 - rolete de tração, 3 – banho de resina; 4 – fibra embebida de
resina; 5 - matriz e fonte de calor; 6 – rolos de laminação; 7 – Polímero reforçado com fibras.
Fonte: adaptado de: https://goo.gl/u2zRuh. Acesso em: 29 nov. 18.
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- / Propriedades, processamento e desempenho dos materiais
Nesse processo de fabricação, um conjunto de metades de molde são carre-
gados com o material de reforço e, em seguida, fechados em conjunto. A resina
é então injetada sob pressão na cavidade do molde fechado contendo a manta
de fibras. O molde preenchido de resina é curado e após essa etapa as metades
do molde são separadas e a peça é removida para corte ou acabamento final.
Seção 4.3 / Propriedades, processamento e desempenho dos materiais poliméricos e compósitos - 201
entendido como um material que utiliza uma resina termoplástica, isto é,
uma resina que quando atinge determinada temperatura apresenta alta
viscosidade e facilidade para ser moldada e conformada, como a poli-éter-
-éter-cetona (PEEK), o sulfeto de polifenileno (PPS) e a polieterimida (PEI).
Já um compósito termorrígido utiliza-se de resinas que, uma vez aquecidas,
não podem ser mais remodeladas, como as resinas epóxis. Os compósitos
termorrígidos apresentam melhores propriedades mecânicas e maior resis-
tência à umidade quando comparados aos termoplásticos. Os dois materiais
apresentados na Figura 4.26 são compostos por camadas de fibra de carbono,
diferenciando o tipo de resina utilizado. A Figura 4.26a apresenta um compó-
sito termorrígido de carbono epóxi enquanto a Figura 4.26b um compósito
termoplástico (PPS), ambos foram sujeitos a um ensaio de impacto com
mesma energia no centro dos espécimes. Pela análise visual das figuras,
podemos concluir que o compósito-PPS (Figura 4.27b) apresenta uma região
de deformação maior quando comparado ao carbono epóxi (Figura 4.27a),
corroborando a premissa de que os compósitos termorrígidos têm melhores
propriedades mecânicas. Assim, a partir das características desses materiais,
você foi capaz de concluir que o material (b) pode ser utilizado como alter-
nativa à utilização do material (a) em aplicação que requerem uma menor
resistência ao impacto, já que esse material apresenta uma maior área de
deformação quando submetidos a diferentes níveis de energia.
Avançando na prática
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de vidro e da resina é realizada sobre a superfície preparada do molde por
uma pistola laminadora especialmente projetada. Nessa técnica são obtidas
peças com bom acabamento e alta resistência. A Figura 4.39 apresenta uma
banheira fabricada a partir desse método de fabricação.
Figura 4.38 | Banheira fabricada pela técnica de spray up.
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2. Os materiais compósitos são materiais típicos do consumo da indústria de tecno-
logias avançadas como a aeronáutica, automóveis, barcos, peças de esportes e dispo-
sitivos médicos. Os materiais compósitos, muitas vezes, são utilizados na substituição
de outro material como, por exemplo, os metais.
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- / Propriedades, processamento e desempenho dos materiais
Referências
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ed. Rio de Janeiro: LTC, 2018. 861p.
COLPAERT, H.; COSTA E SILVA, A. L. V. Metalografia dos Produtos Siderúrgicos Comuns.
4. ed. São Paulo: Blucher, 2008. 653p.
MARQUEZI, S. L.; CECCATTO, S. L. A usinabilidade nos aços para cementação SAE 8620 e
DIN 20MNCR5. Unoesc & Ciência – ACET, v. 3, n. 1, p. 91-108, 2011.
PRIMO, J. Welding Inspection Qualifications & Testing Procedures, 2012. 116p. Disponível
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SIMÊNCIO, E. C. A. Ciência dos materiais. 1. ed. Londrina: Editora e Distribuidora Educacional
S.A., 2016. 216p.
SHACKELFORD, J. F. Ciência dos Materiais. 6. ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil,
2008. 576p.